EVOLUÇÃO Tal como o Homem, a língua evolui. O novo acordo ortográfico é disso um exemplo. Mas para alguns é assassinar a língua e a cultura de um povo. Talvez o problema não seja uma questão cultural, mas antes uma questão de adaptação. Para os miúdos que aprendem a ler a questão nunca se irá colocar e vão-se rir quando virem mini-saia ao invés de minissaia, tal como nós fazemos com a pharmácia. Aprendemos a ler através do armazenamento de dados na memória. Cada letra é um bit de informação (eram 23 e ganhámos mais 3, K; W; Y), e cada sílaba é um chunk (conjunto de bits), depois, com a prática, cada sílaba transforma-se num bit e cada palavra transforma-se num chunk e, por sua vez, as palavras acabam por se transformar em bits. Passamos a ler cdaa palarva cmoo um segnemto de informação por si só. Por isso nos foi possível ler CORR3C7A-MEN7E A FRA5E AN73RI0R. Isto serve de modo a que se possa ler mais rápido e poupar espaço de memória. Tal como a passagem do escudo para o euro foi complicada para uns, também a assimilação das novas regras linguísticas o vão ser para todos aqueles que poucos ou nenhum erro cometem quando escrevem e da mesma forma quando lerem os erros dos outros. Temos tempo até 2015. Mas vai ser muito estranho ver os dias da semana e os meses iniciados com letra pequena. É um acordo flexível. Os títulos de obras iniciam-se com letra grande, mas depois cada palavra pode ser com letra pequena ou grande, é à escolha do freguês. Podemos ter Feios, porcos e maus ou podemos ter Feios, Porcos e Maus. O Senhor Professor também perde o respeito e pode passar a ser apenas senhor professor. No fundo é a adequação daquilo que se tem vindo a fazer… até porque em termos de disciplinas também é como se queira e tanto podemos ter Matemática como português. É, como disse, adequar. Se não se lê não se escreve. Agora passamos a fazer coleções e a lecionar sem sermos facciosos mas tentando ser perfeccionistas sem muita ficção. O ator continua a vestir fato para representar um ato e trazer até nós, de facto, o espetáculo, ainda que este seja compacto. Já o egípcio passa a usar anticoncecionais mesmo nas núpcias para não se dececionar. É claro que é uma opção, tal como a corrupção. Tudo não passa de uma questão de olfacto ou de olfato, é mesmo como se queira. Vila Nova de Foz Coa perde o chapelinho num ato heroico e vamos deixar de ler isoladamente a diferença do pelo que caiu pelo regaço. Faz-me lembrar a lengalenga da velha que tinha tinha e dava tudo o que tinha para lhe tirarem a tinha que ela tinha. Enquanto não me explicaram que tinha é uma doença de cabelo fiquei pelos cabelos com esta coisa. Para terminar, dizer apenas que farei um esforço para me adaptar e agradecer aos senhores que fizeram este acordo ortográfico por não acabarem com a acentuação gráfica de todas as palavras resolvendo assim o problema do cágado. Publicado no número 1 (dezembro de 2010) da revista electrónica & Letras