XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
AVALIAÇÃO ESCOLAR: QUE BICHO É ESSE?
OLIVEIRA, Ingrid Priscila Souza1; SOUZA, Juliana dos Santos2; SOUSA, Vanessa Maria Aleixo de3; NANES,
Giselle4
Introdução
O presente relato de experiência faz parte de estudos realizados na disciplina Teorias Psicológicas da Aprendizagem
do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de
Garanhuns, UFRPE-UAG. Desta forma, objetivamos conhecer os avanços na concepção e prática da avaliação escolar,
visto que, conforme o Parâmetro Curricular Nacional (PCN) esta é um processo indissociável da relação de ensinoaprendizagem. Luckesi, em suas obras, reafirma esta questão, destacando o caráter contínuo e sistemático da avaliação,
que a esse modo caracteriza-se enquanto diagnostica da aprendizagem significativa.
Muito se discute acerca de se desenvolver uma nova postura docente diante do processo de ensino-aprendizagem, no
entanto a avaliação ainda não é levada em consideração, ou seja, já estão sendo dados passos em direção a proposta de
ensino que leve em consideração o aluno e suas especificidades e o momento de avaliação, ainda, está restrito a uma
verificação de conteúdos aprendidos/apreendidos. Afinal, como esta avaliação deve ser realizada? Qual a sua real
finalidade? Quais critérios devem ser levados em consideração?
Material e métodos
Para o estudo foi realizada uma entrevista com uma professora/gestora, licenciada em Matemática e pós-graduada em
psicopedagogia. A mesma possui quinze anos de experiência profissional, tendo atuado em todos os níveis de ensino, da
educação infantil a ensino médio, além da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente leciona matemática em
turmas de ensino médio e atua como gestora escolar de uma escola de educação infantil.
Tivemos por critérios de seleção da entrevistada sua vasta experiência profissional e sua área de formação e atuação, a
qual não permite o aluno errar, pois o aluno irá se munir de formulas e cálculos para que possa chegar a um resultado
exato e correto, falando a grosso modo. No texto iremos nos reportar a entrevistada enquanto “professora Maria”, nome
fictício, em virtude aos procedimentos éticos da pesquisa.
Resultados e Discussão
A. Concepção sobre avaliação
O PCN (2001, p.83) aponta que “a avaliação é compreendida como: elemento integrador entre aprendizagem e o
ensino; [...] conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido e como”. Luckesi (S/ano, p. 1)
define avaliação escolar enquanto “juízo de qualidade sobre dados relevantes para uma tomada de decisão”, em outras
palavras, a avaliação é o processo por meio do qual o docente irá acompanhar o desenvolvimento do educando diante
do conteúdo posto. Então o autor aponta três passos necessários a boa avaliação: O diagnostico do nível de desempenho
do estudante; A qualificação do diagnostico obtido em relação ao que é necessário ensinar no processo educativo; e, por
fim, tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados almejados. Então a avaliação fará sentido, se levar em
conta o desenvolvimento do educando. No discurso da docente visualizamos que esta trabalha a avaliação em
consonância com o autor, sempre refletindo sobre todo o processo de aprendizagem, “a avaliação escolar é a principal
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Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom
Pastor, S/N, Boa Vista – Garanhuns – PE – CEP: 55.296-901. Fone: (87) 3764-5500. E-mail: [email protected].
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Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom
Pastor, S/N, Boa Vista – Garanhuns – PE – CEP: 55.296-901. Fone: (87) 3764-5500. E-mail: [email protected].
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Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom
Pastor, S/N, Boa Vista – Garanhuns – PE – CEP: 55.296-901. Fone: (87) 3764-5500. E-mail: [email protected].
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Professora Assistente (Nível I) da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista
– Garanhuns – PE – CEP: 55.296-901. Fone: (87) 3764-5500.
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base da educação, por sua função como diagnóstica e como é, geradora de atitudes, só a parti da avaliação é possível se
planejar e fazer uma educação de qualidade[...]” (Recorte da fala da professora Maria).
O PCN (2001, p 81) defende, ainda, que a avaliação escolar subsidia o professor com elementos para uma reflexão
contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e retomada de aspectos que devem ser
revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual ou de todo grupo. A
atual prática da avaliação da aprendizagem escolar está a serviço de um modelo teórico de sociedade e de educação,
pois, a avaliação não é uma atividade neutra. Assim tem-se que colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia
que esteja preocupada com a educação enquanto mecanismo de transformação social. A professora Maria aponta um
olhar critico acerca da educação e da avaliação, quando em seu discurso aponta as dificuldades de realizar a auto
avaliação e tirar dos estudantes o medo de errar, o que segundo a mesma, os levam a cópia, a fila durante as provas.
Ainda sobre a questão da avaliação escolar Luckesi (1998, p. 40) afirma, “de instrumento de diagnóstico para o
crescimento, a avaliação passa a ser um instrumento que ameaça e disciplina os alunos pelo medo. De instrumento de
libertação, passa a assumir o papel de espada ameaçadora que pode descer a qualquer hora sobre a cabeça daqueles que
ferirem possíveis ditames da ordem escolar”. Provas e exames são apenas instrumentos de classificação e seleção, que
não contribuem para a qualidade do aprendizado, nem para o acesso de todos ao sistema de ensino. Ainda é forte na
prática avaliativa a presença do autoritarismo. A entrevistada discorre que se utiliza de diferentes instrumentos, a fim de
que contemple as diferentes fases que se encontram cada individuo, em particular, e os diferentes ritmos de apreensão
do conhecimento. Desta forma, trabalha com avaliação em grupo e individual, utilizando-se, qualitativamente, dos
dados obtidos, ou seja, a construção efetivada pelo educando é mais importante para a aprendizagem do que as notas
tiradas.
Conforme Luckesi (1998, p.35), com a função classificatória, a avaliação constitui-se instrumento estático e frenador
do processo de crescimento; com a função diagnóstica, ao contrário, constitui-se momento dialético do processo de
avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia, do crescimento para a competência. O ato de
avaliar apresenta-se enquanto julgamento e não enquanto análise de desenvolvimento e aprendizagem. A educação
tradicional restringe o processo avaliativo à atribuição de uma nota final principalmente através de provas. Percebemos
este reflexo nacionalmente quando nos referimos aos exames, provas e pesquisas (IDEB, ENEM, Prova Brasil, Censo,
entre outras) aplicadas e desenvolvidas a fim de “diagnosticar” a qualidade do ensino e do processo educativo, no que
se refere à apreensão de conteúdos. Compreende-se que o processo de transformação desta concepção de avalição deve
iniciar na sala de aula, mas que se torna mais difícil pelo fato de que as instancias maiores que tratam da educação a
reforçam em suas práticas.
B. Erro como fonte de virtude
Diante do exposto, Luckesi (1998, p. 48) aponta que “a visão culposa do erro, na prática escolar, tem conduzido ao
uso permanente do castigo como forma de correção e direção da aprendizagem, tomando a avaliação como suporte da
decisão”. São diversas as formas de castigo apresentadas por parte dos educadores para com os estudantes que cometem
o erro. Antigamente o aluno era castigado fisicamente, temos enquanto exemplo mais comum, o uso da palmatória
(régua escolar) utilizada no intuito de bater no aluno que não respondesse adequadamente as perguntas acerca da lição.
Ou ainda quando o educando era colocado de joelhos sobre grãos de milho ou de feijão. Aos poucos estes castigos
foram perdendo seu caráter de agressão física, entretanto a violência permaneceu. Por certo tempo o castigo era
aplicado de forma intermediaria entre o físico e o moral, quando se deixava o aluno de pé em frente à turma durante a
aula, ou seja, era feita a exposição pública do erro. Podemos perceber que atualmente é utilizada a “violência simbólica”
discutida por Bourdieu (apud Luckesi, 1998), destacando-se a prática do educador que cria o clima de medo, tensão e
ansiedade entre os alunos, onde o propósito maior não é descobrir quem sabe o que foi ensinado, mas quem não
aprendeu, para então ridicularizar este aluno; ou ainda quando o educador aplica um teste surpresa. Dessa forma, a
vergonha e o medo de não saber responder o que foi proposto, ficaria de lição para o aluno que não aprendeu e de
exemplo para o restante da turma. Outra forma de castigo que está ganhando forma é a ameaça do castigo. O aluno
passa a sofrer por antecipação, por medo do que possa acontecer. “O castigo que emerge do erro – verdadeiro ou
suposto – marca o aluno tanto pelo seu conteúdo quanto pela sua forma”. (p.50). É uma marca que poderá refletir em
toda a vida do aluno, nas variadas relações sociais.
Na prática escolar, é a partir do erro que se desenvolve e se reforça no estudante a visão culposa da vida, o que faz
com que o educando cobre mais de si, levando-o a punir-se, também, pelos erros que cometeu. Luckesi (1998) afirma
que a escola é um dos maiores reforços do processo culposo que cada indivíduo carrega, apontando ainda que o motivo
pelo qual a escola não é vista enquanto ambiente de felicidade e satisfação deve-se ao clima de culpa, o castigo e o
medo desenvolvidos pelos educadores.
A razão do castigo estaria presente no fato de que o aluno não apreendeu os conhecimentos correspondentes ao padrão
determinado e preestabelecido. “Nessa perspectiva, o erro é sempre fonte de condenação e castigo, porque decorre de
uma culpa e esta, segundo os padrões correntes de entendimento, deve ser reparada” (p.52). A ideia de culpa está ligada
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a concepção filosófico-religiosa de que nascemos do pecado, devido nossa cultura ocidental-cristã que frisa o fato de
que Adão e Eva comeram o fruto proibido (o erro), foram expulsos do paraíso (o castigo) e todos teriam ao nascer a
marca do pecado originário (a culpa). A culpa gera limitações na vida bem como rigidez na conduta, o que reflete no
autocontrole de sentimentos e modos de agir. Contudo “a sociedade conservadora não suporta existir sem os
mecanismos de controle internalizados pelos indivíduos – a culpa é, assim, muito útil” (p.53).
Entretanto uma visão sadia do erro, como fonte de virtude, possibilita sua utilização de forma construtiva. “É preciso,
antes de mais nada, observar, para depois julgar. Nossa prática, entretanto, tem sido inversa: primeiro colocamos a
barreira do julgamento, e só depois tentamos observar os fatos. Neste caso, a observação fica “borrada” pelo
julgamento. (p.54). Compreende-se então que a utilização do erro como fonte de virtude só será possível se o educador
observar e analisar sua prática e o desenvolvimento de cada educando. Visto que o erro só existe se houver um padrão
considerado correto e sem padrão não há o erro. O que poderia haver era uma ação insatisfatória, ou seja, na buscar por
determinado objetivo podemos ser bem ou mal sucedidos, o que há, agora, são sucessos e insucessos e não erros.
Podemos perceber que cada sociedade possui seu próprio padrão que determina a moral, e dessa forma o que para
uma sociedade possa ser considerado errado, para outra pode ser considerado normal. É neste sentido que existem as
leis, como forma de determinar o padrão correto de convivência de dada sociedade. Dessa forma o aluno que não
demostra ter aprendido o padrão de conhecimento e habilidades, cometeu um erro em relação ao padrão. Portanto, os
erros da aprendizagem devem ser identificados e compreendidos para que então possam ser superados. Quando
perguntamos sobre a compreensão do erro por parte da professora Maria, a mesma nos relatou que este é a parte mais
importante da educação, e o que ela mais gosta no retorno das atividades para casa, é quando estas veem rabiscadas e
borradas, pois acredita que aquele aluno tentou e aos poucos irá construir dado conhecimento. E se o aluno errar, ela vai
à busca da raiz do erro para que possa mostrar ao aluno por onde ir.
A questão do erro, da culpa e do castigo na pratica escolar está intimamente articulada com a questão da avaliação da
aprendizagem, até mesmo pelo fato de que essa, na maioria das vezes, determina se houve o erro, de quem foi à culpa e
qual será o castigo. Em síntese a professora Maria aponta a valorização de todas as etapas do processo de aprendizagem
e toma por base o erro, como fonte de aprendizagem.
Através das leituras efetivadas e da entrevista realizada, concluímos que a avaliação escolar encontra-se em processo
de reconstrução de concepções, principalmente nos cursos de formação de professores, que já apresentam esse
direcionamento de avaliação enquanto processo diagnóstico. Na prática ainda está intimamente ligado ao
tradicionalismo, que traz reflexos das dificuldades de superação da avaliação como punição e da utilização do erro
como fonte de crescimento. Compreendemos assim que seremos agentes ativos na transformação dessa realidade, que
exige condutas diferenciadas nas práticas contemporâneas, pois no que se refere ao processo avaliativo o educador tem
autonomia para realização de tal, cabendo a esse buscar diferentes instrumentos de avaliação, observando e julgando o
que considerar pertinente a efetiva apreensão dos conhecimentos.
Agradecimentos
A UFRPE-UAG, por nos proporcionar a realização de estudos e pesquisas, como este apresentado, a partir da
proposta curricular do curso de Licenciatura em Pedagogia, onde nos permite um contato constante e de proximidade
com a realidade educacional brasileira vivenciada, principalmente através dos estudos locais.
A professora Giselle, pelo excelente trabalho que desenvolve enquanto docente sempre disponível a tirar nossas
duvidas.
Referências
BRASIL, Ministério da educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares
nacionais. 3ª ed. Brasília: 2001
FERRARI, Marcio. Entrevista com Cipriano Carlos Luckesi. In: Revista Abril. S/ano.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação Educacional Escolar: para além do autoritarismo. In: ______. Avaliação da
aprendizagem escolar. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1998 [1994]. P. 27-47.
______. Pratica Escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. In: ______. Avaliação da
aprendizagem escolar. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1998 [1994]. P. 27-47.
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