UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ALCÂNTARA: RIO OU VALÃO? Por: Lezil Francisco Vianna Orientador: Professora Maria Esther de Araujo Niterói 2004 2 Universidade Candido Mendes Lezil Francisco Vianna Alcântara rio ou valão? Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do certificado Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ em Planejamento e Educação Ambiental. 3 AGRADECIMENTO A equipe de mestres do curso de Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ em Planejamento e Educação Ambiental, que tão bem cumpriram os objetivos de solidificar, plantando em cada um a semente do despertar para novos rumos. 4 Tudo o que existe e vive precisa ser criado para continuar a existir e a viver. Uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Uma antiga fábula diz que a essência do ser humano reside no cuidado. O cuidado é mas fundamental do que a razão e a vontade. (Leonardo Boff, apresentação). 5 RESUMO O objetivo da referida pesquisa se faz pela necessidade de repensarmos a respeito da preservação dos recursos hídricos dentro do município de São Gonçalo. Sabemos entretanto, ser impossível , a preocupação isolada aos rios de uma região, pois, são parte de um contexto ambiental. São eles, na verdade, mostra real de que aqueles que dele fazem uso, agem irresponsavelmente no seu aproveitamento e respeito. O trabalho desenvolvido tem a natureza de fomentar um novo olhar para o despertar de novas ações, no entender o sentido de cidadania. Espera-se com isso, desenvolver em cada pessoa, interesses maiores, podendo resultar na mudança de comportamento. Estes serão frutos para ações conjuntas de objetivos unificados entre a população e seus representantes administrativos, já que o saneamento básico e tratamento adequado do mesmo, comprometem o caminho e avanço da despoluição de nossas águas, solo e ar. São estas importantes ferramentas: a educação, seriedade, responsabilidade, no comprometimento, da ética profissional e moral que poderão promover a intercepção do avanço poluidor. O processo exploratório global viabiliza o esgotamento de alguns recursos essenciais para a nossa existência. Precisamos buscar alternativas e ações conjuntas para possíveis formas de minimização para conter o desequilíbrio harmônico físico do planeta Terra. O presente trabalho se substância na Degradação Ambiental do Rio Alcântara em decorrência da evolução urbana concentrada em suas margens sem nenhum planejamento governamental por parte do município de São Gonçalo, localizado no Estado do Rio de Janeiro. Relata-se a seleção da Sub-Bacia Guaxindiba/Alcântara, a qual o Rio Alcântara é um dos afluentes mais importante, destacando os fatores geológicos, geomorfológicos, pedológicos, climáticos e a paisagem natural que compõem a área de estudo, pretendendo evidenciar os aspectos físicos, relacionados como o Rio em questão. O processo histórico de ocupação da área é relato de maneira que se compreende a evolução urbana e as conseqüências negativas e positivas do progresso numa região suburbana do Rio de Janeiro. Por drenar os rios no sentido sudeste-sul, desaguando na Baía de 6 Guanabara a Sub-Bacia Guaxindiba/Alcântara é contribuinte da poluição da Baía, deixando como conseqüência resíduos poluidores no solo oceânico e nas águas da Baía. Foram abordadas características regionais da Baía de Guanabara sua importância para o meio ambiente e necessidade da despoluição para benefício da população do Estado. 7 METODOLOGIA A metodologia baseou-se na análise de materiais de pesquisa sobre dinâmica fluvial, rede de drenagem em áreas urbanas, impactos ambientais, canalizações e retificações, da Baía de Guanabara e suas regiões vizinhas. Foram feitos levantamentos da qualidade da água encontrada nos rios Guaxindiba/ Alcântara, além de pesquisas na Biblioteca Municipal de São Gonçalo, Prefeitura Municipal de São Gonçalo, no Departamento de Proteção Ambiental de São Gonçalo, no Instituto Brasileiro de Línguas (IBEU), na Biblioteca da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em trabalho de campo com algumas áreas fotografadas. 8 SUMÁRIO I – APRESENTAÇÃO 1: A Bacia Hidrográfica Guaxindiba Alcântara 1.1 – Localização................................................................................ 1.2 – Descrição da água..................................................................... 1.3 – Geologia.................................................................................... 1.4 – Geomorfologia........................................................................... 1.5 – Pedologia................................................................................... 1.6 – Clima.......................................................................................... 1.7 – Vegetação.................................................................................. 1.8 – Qualidade das águas dos principais Rios da Bacia Guaxindiba/Alcântara................................................................ 11 12 13 14 14 15 15 16 2: O Rio Alcântara e a questão Ambiental 2.1 – História de São Gonçalo............................................................ 2.2 – Aspectos econômicos do passado............................................ 2.3 – Aspectos econômicos atuais..................................................... 2.4 – Aspectos ambientais e populacionais........................................ 2.5 – Problemas ocasionados pela urbanização................................ 2.6 – Ocupação e desmatamento das nascentes.............................. 2.7 – Ocupação e desmatamento das margens................................. 2.8 – Assoreamento............................................................................ 2.9 – Lançamento de esgotos sanitários e afluentes industriais........ 2.10 – A importância da despoluição da Baía de Guanabara............ 2.11 – A Educação Ambiental na Escola............................................ 2.12 – A escola como elo na comunidade.......................................... 17 17 18 18 21 22 24 26 27 28 30 31 3. Conclusão................................................................................................... 32 4. Referências bibliográficas........................................................................... 33 9 APRESENTAÇÃO As águas superficiais constituem parte da riqueza dos recursos hídricos de um país. O Brasil possui um imenso reservatório natural que se encontra ameaçado em muitas áreas do nosso território. O presente trabalho tem como objetivo analisar a influência do processo de urbanização na degradação ambiental verificada no Rio Alcântara, localizado no município de São Gonçalo na Baixada Fluminense, enumerando os principais fatores que desencadearam essa degradação. A intenção é apresentar a importância das bacias hidrográficas do município de São Gonçalo. Dividimos esta pesquisa em quatro partes. A primeira apresenta a descrição das áreas referente a bacia hidrográfica Guaxindiba/Alcântara, tendo como ponto de estudo a localização geográfica, a formação geológica, geomorfológica, pedológica, os fatores climáticos, a cobertura vegetal que formam um completo conjunto natural. Ela pretende mostrar como as bacias hidrográficas Guaxindiba/Alcântara apresentam em seus percursos ambientais propícios para o desenvolvimento de ecossistemas. A atual situação que se encontra o Rio Alcântara foi o que me despertou interesse, pois o mesmo drena uma área central do Bairro Alcântara, que chega a ser o bairro mais importante no que diz respeito à atividade comercial do município, predominando até mesmo sobre a sede do município. O objetivo de estudo dessa monografia inicia-se no ponto em que o Rio passa a se chamar Alcântara e no encontro da Bacia hidrográfica Guaxindiba/Alcântara com a Baía de Guanabara. Relatando as conseqüências desse encontro com a atual situação da Baía de Guanabara. Análises das nascentes e da foz demonstra a interferência antrópica, principalmente o desmatamento das cabeceiras que podem trazer uma maior carga de sedimentos a ser transportada pelo rio, verificando-se o assoreamento do leito fluvial, que pode repercutir em enchentes e inundações. O processo de urbanização ao longo do tempo é descrito na segunda, onde relata o desenvolvimento industrial e urbano do município de São Gonçalo, apontando as principais causas que levaram a degradação ambiental dos rios. 10 Nessa parte será apresentado à evolução, queda e retomada industrial do município e o efeito negativo do esgoto no curso dos rios e a poluição das águas. Sabendo-se que há um crescimento populacional desordenado que acarreta um processo de urbanização, devemos ressaltar que esta é a causa dos grandes problemas ambientais encontrados em escala mundial O estudo dos temas relacionados aos impactos ambientais causados pela ação do homem, está sendo bastante discutido atualmente. Este trabalho pretende propor ações dos órgãos governamentais e particulares para diminuir o impacto causado pelos problemas acima mencionados, melhorando a qualidade de vida da população ribeirinha que por serem de baixa renda, são os maiores prejudicados devido ao crescimento urbano e a falta de infraestrutura, sendo obrigados a se instalarem em áreas de risco, onde na época de enchentes, podem trazer perdas fatais. É preciso utilizar os conhecimentos adquiridos a fim de minimizar os impactos ambientais decorridos desse processo. A terceira, apresentará os problemas provocados pelas ocupações rebeirinhas, o assoreamento dos rios e as conseqüências desses fatores no percurso fluvial. Além, de relatar a contribuição do Rio Alcântara para o processo de poluição da Baía de Guanabara. A quarta, evidenciará o destino das águas da Bacia Guaxindiba/Alcântara. A Baía de Guanabara recebe grande quantidade de esgotos domésticos e industriais. A Bacia da Baía de Guanabara será descrito nessa parte como uma agente importante no contexto social do desenvolvimento urbano no Estado do Rio de Janeiro e as principais conseqüências desse progresso no meio ambiente. 11 1: A Bacia Hidrográfica Guaxindiba/Alcântara No espaço natural encontramos os cursos de água que constituem um processo morfogenético dos mais ativos na esculturação da paisagem natural. O seu estudo leva-nos a compreensão de numerosas questões sobre a importância dos agentes ativos e passivos no meio ambiente. 1.1 – Localização O município de São Gonçalo situado na Zona da Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro (Região Metropolitana do Rio de Janeiro) no lado oriental da Baía de Guanabara, possui uma área de 251,3km2, conforme dados do Centro de Informações e Dados do Estado (CIDE). Tem sua sede municipal por coordenadas geográficas 22º49’30’’ de latitude Sul e 43º02’30’’ de longitude ocidental. É cortado pelas rodovias: BR101, RJ104 e RJ106. Possui 25% de território serrano, 60% de baixadas e 15% de praias e restingas. Possui terreno plano com exceção da região sul onde se localiza as serras do município. Seu litoral corresponde a 20km às margens da Baía de Guanabara. A sua altitude é de 13m acima do nível do mar. Limita-se ao norte com o município de Itaboraí (da foz do Rio Guaxindiba até o alto do Gaiá na serra de Itaitindiba) e Baía de Guanabara, ao sul com o município de Maricá (no alto Gaiá, até a serra de Calaboca) e Niterói (da serra de Calaboca até a Baía de Guanabara), à leste com os municípios de Maricá e Itaboraí e a oeste com a Baía de Guanabara (na rua Padre Marcelino, no Barreto até a foz ao rio Guaxindiba) e Niterói. São Gonçalo limita-se com Niterói em 20km, com Itaboraí em 29km, com Maricá em 78km, com a Baía de Guanabara em 20km2 . O mapa do município de São Gonçalo – divisão em distritos e municípios vizinhos. (mapa 01) 12 Mapa 01 1.2 – Descrição da área Segundo (GUERRA, 1993) as bacias hidrográficas é um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. Nas depressões longitudinais se verifica a concentração de águas das chuvas, isto é, do lençol de escoamento superficial, dando o lençol concentrado os rios. A noção de bacia hidrográfica obriga naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes divisores d’águas principais, afluentes e subafluentes. O sistema Rio Guaxindiba/Alcântara drena uma área com cerca de 144,60km2 e tem como principais contribuintes o Pendotiba, o Muriqui, o Camarão, o Guaxindiba, o Monjolo, o Goiânia e o Alcântara, sendo este último o de maior porte. Todos eles passam por áreas urbanizadas, recebendo dejetos oriundos de atividades industriais e domésticas. O Rio Alcântara possui como principais fornecedores, o Rio Sapê (drena 9km) que nasce no morro do Sapazel e o Rio Pendotiba (drena 5km), com nascente na Serra Grande, ambos localizados no município de Niterói. O encontro desses rios se dá no município de São Gonçalo, onde o rio formador recebe o nome de 13 Maria Paula (5km). Mais à jusante, recebe seu afluente, o Rio das Pedras (8km), que nasce no Morro do Castro. O Rio das Pedras desemboca na margem esquerda do Rio Colubandê (que é o nome pelo qual passa a ser denominado o Rio Maria Paula), drenado aproximadamente 11,7km2 . Recebe este nome ao passar pelo bairro de Colubandê, no município de São Gonçalo. O Rio Colubandê constitui o curso superior do rio Alcântara, que só recebe este nome ao cruzar a RJ-104, ele drena 61km. Antes de encontrar o rio Guaxindiba, recebe o rio Mutondo, que é afluente da margem esquerda do rio Alcântara, drenado 11km. O rio Mutondo recebe um afluente pela margem esquerda que drena 2,5km, esse afluente na possui nome. “O Rio Alcântara se situa na parte central do município de São Gonçalo, sendo afluente pela margem esquerda do Rio Guaxindiba no quilômetro 9.6, drena cerca de 84 km de regiões rurais, semi-urbanas e ainda partes mais urbanizadas na região da bacia do Rio Mutondo”. (PROJETO DE MACRODRENAGEM DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO). De acordo com esse projeto, podemos dizer que as curvas (meandros) do rio foram mantidas. A única modificação realizada foi uma suavização das curvas, não chegando, contudo, a retilinizá-lo. O Rio Guaxindiba, por sua vez, deságua na Baía de Guanabara, após atravessar o manguezal de Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, que abrange os municípios de Magé, Itaboraí e São Gonçalo. Esse rio situado nos distritos de Monjolos e Guaxindiba, onde drena 160km, sendo uma parte de área rural e uma pequena parcela de área urbana é drenada pelos rios Camarão e Mutondo (Alcântara). 1.3 – Geologia Os municípios de Niterói e São Gonçalo predominam as rochas do PréCambriano, com migmatitos e gnaisses, do tipo facoidal. Também ocorrem rochas alcalinas oriundas de um magnetismo cretácio-terciário, depósitos quartenários (BRAGA, 1990). A drenagem fluvial é constituída por um conjunto de canais de escoamento interligados. A área drenada por esse sistema fluvial depende da carga líquida 14 recebida pelas precipitações das chuvas e pela perda por evapotranspiração e infiltração. Tem papel importante no escoamento canalizado, na topografia, na cobertura vegetal, no tipo de solo, na litologia e na estrutura das rochas da bacia. A disposição espacial dos rios é controlada em grande parte pela estrutura geológica (HOWARD, 1967) in (CUNHA, 1994). Podemos encontrar camadas de seixos rolados nos barrancos de colinas, próximos à foz do rio Guaxindiba, rio este no qual o rio Alcântara deságua, e nas colinas da margem direita do rio Tribobó, em Colubandê (curso superior do rio Alcântara), onde os seixos possuem a forma sub-angular. Encontramos os seixos de quartzo revestido por uma densa camada de argila vermelha, que possuem alto teor de ferro. 1.4 – Geomorfologia Os municípios de São Gonçalo e Niterói, encontramos três unidades geomorfológicas: O Maciço Litorâneo, os Tabuleiros terciários e a Planície quartenária. O Maciço litorâneo ocupa 35% da área do município de São Gonçalo e pertence ao complexo da serra do Mar. Ao sul do município de São Gonçalo, encontramos os “mares de morros”, com morros que variam de 350 a 550 metros. Nessas áreas, as declividades das encostas são maiores que 30º dificultando à ocupação e, conseqüentemente, o desmatamento. 1.5 – Pedologia Nos municípios de Niterói e São Gonçalo, existem os seguintes solos: latossolo vermelho-amarelo, argissolo, hidromórfico ou gleissolo ou helomórfico ou faixa de areia. 15 1.6 – Clima O clima de município é influenciado pela localização, afastado do oceano Atlântico por aproximadamente 25km e tendo ao norte a Serra do Mar situada a 100 metros de altitude, e pela massa Equatorial Continental, e ao longo do ano pela massa tropical Atlântica. Essas duas massas vão provocar diferenças no clima. No verão, uma massa quente e úmida. Na maior parte do ano, Massa Tropical Atlântica (mTa), imprime a região o regime tropical úmido. No inverno, ocorrem freqüentes penetrações de massas de ar fria provenientes do sul (frente polar). Com essas massa polares ocorrem precipitações de longa duração (três dias). 1.7 – Vegetação A distribuição da cobertura vegetal do município compreende dois tipos distintos: as áreas com influência fluvio-marinha, os manguezais e as áreas de vegetação secundária, originalmente ocupada pela Mata Atlântica. O ecossistema florestal gonçalense sofreu um processo de devastação, encontra-se degradado. Nas áreas mais elevadas e acidentadas resta a floresta secundária da Mata Atlântica. A vegetação do município sofreu alterações, com o início da exploração da região, transformando o meio ambiente. Com essa transformação, temos como conseqüência os processos de erosão, perda da fauna na região e o desgaste do solo. Os manguezais localizam-se ao longo do litoral, nas margens dos rios e rodeados de pântanos, lagunas e lagoas. Atualmente, grandes partes dos manguezais do município de São Gonçalo foram modificadas para dar lugar à ocupação humana, restando apenas áreas protegidas pela Área de Proteção Ambiental, que em grandes partes dos manguezais foram eliminados com a construção da rodovia Niterói-Manilha e, até, para as obras do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). Todas essas transformações trouxeram um grande impacto ambiental à região. Sabemos 16 que os manguezais possuem como uma de suas funções “filtrar” os sedimentos carregados pelos rios, diminuindo assim, o assoreamento da Baía de Guanabara. 1.8 – Qualidade das águas dos principais rios da Bacia Guaxindiba/Alcântara A Bacia Guaxindiba/Alcântara é considerada, segundo a Resolução do CONAMA nº 020 de 18/06/86, que classifica as águas doces, salobras e salinas, como Classe 2, cujas águas são destinadas: a) ao abastecimento doméstico após tratamento convencional; b) à proteção de comunidades aquáticas; c) à recreação do contato primário (natação, esqui aquático e mergulho); d) à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas; e) à criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação. O Rio Alcântara possui uma vazão muito pequena (cerca de 0,1m2/s), sofre impacto bastante significativo em função do lançamento dos afluentes líquidos e lixo decorrente ao desenvolvimento urbano. Os rios mais poluídos são utilizados somente para o lançamento de despejos industriais, único uso possível com esta qualidade de água tão ruim. Para os demais rios, menos degradados, a manutenção de usos mais nobres, incluindo o uso de preservação da flora e fauna, deve ser realizada pelo Poder Público, buscando-se, como meta principal, a preservação do ecossistema da Baía de Guanabara. O Rio Guapi-Mirim tem a melhor qualidade de água na bacia e é fonte de abastecimento público de Niterói e São Gonçalo, com captação no canal de Imuna (Estação Laranjal). Nessa região, localiza-se a maior área de manguezais da Baía de Guanabara, englobando as desembocaduras dos rios Guapi-Mirim, Caceribu e Guaxindiba. 17 2: O Rio Alcântara e a questão Ambiental 2.1 – Histórico de São Gonçalo São Gonçalo teve o início de seu desenvolvimento a partir de terras doadas em sesmarias a Gonçalo Gonçalves,que edificou uma capela, sendo dedicada a São Gonçalo. Em 1890 à 22 de setembro, foi desmembrado de Niterói, constituído por freguesias de São Gonçalo, Itaipu e Cordeiro. No passado os rios Guaxindiba e Alcântara tiveram papel importante na economia da região. Transportavam através de suas águas, mercadorias como o Pau Brasil, produto que era bem explorado e comercializado na época. Além destes se destacaram depois, a cana-de-açúcar e por volta de 1930, também a citricultura. O café chegou no século XIX, para substituir a cana-de-açúcar. O milho, associavase à outros cultivos que provinham da lavoura. O gado também exerceu o seu papel junto as atividades da época. Na década de 50 o município foi um grande pólo industrial. Mas com o golpe de 1964 e conseqüentemente a ditadura militar, outros eixos foram estimulados a crescerem. Perde assim suas maiores indústrias. Em 1990 a cidade sofre um declínio. Sua população passa a servir de mão de obra para a cidade do Rio de Janeiro. Outro fato que consolidou esta posição inferior foi a construção da Ponte Rio Niterói, acelerando ainda mais o crescimento populacional de forma desordenada. Um exemplo deste crescimento, é o bairro de Jardim Catarina, estatisticamente comprovado, como o maior loteamento da América Latina. 2.2 – Aspectos econômicos do passado A economia do município, permaneceu centralizada na agricultura representada pela citricultura até a 2ª Guerra Mundial, com as seguintes plantações: laranja, abacaxi, pitanga. Chegou a desenvolver também o cultivo de rosas, goiabas, bananas e mandioca. A partir de 1930 surgiram então as indústrias. Até 1940, este setor foi o responsável pelo desenvolvimento da cidade e com isso as migrações foram 18 surgindo. A pecuária não significou muito para a produtividade do município, embora hoje ainda, a fazenda Nova Modelo Santa Edwirge (em Santa Isabel, no distrito de Ipiíba) é considerada de grande porte. Seu proprietário, Altineu Coutinho, com 600 matrizes, é um dos fornecedores da Cooperativa Central dos Produtores de Leite (CCPL). No passado, São Gonçalo teve seus momentos áureos, chegando a ser considerado o terceiro município do estado, quanto ao valor da produção, seguindo Barra Mansa (inclusive Volta Redonda) e Petrópolis. Foi também um dos maiores produtores agrícolas no período do Império. As indústrias exportaram produtos manufaturados tais como: vidro plano para o Egito, Índia, China e África do Sul; também tecidos para a Argentina e África do Sul. Tudo isso faz parte do passado histórico do município entre as décadas de 30 e 50. 2.3 – Aspectos econômicos atuais Na atualidade o município de São Gonçalo não possui a mesma estrutura; sua economia já não é tão expressiva quanto no seu passado. A tendência de suas atividades econômicas estão concentradas no setor terciário, ou seja na prestação de serviços, merecendo destaque o Bairro de Alcântara e Nova Cidade. Ainda funcionam algumas indústrias e fábricas. Mesmo assim a cidade não gera empregos que atendam as necessidades de seus habitantes. Com isso se percebe que existe uma grande evasão de divisas e mão-de-obra que acabam por fornecer e favorecer as cidades de Niterói e Rio de Janeiro. Fato este comprovado por levantamento em 1995, apontando que dos aproximados 500 mil habitantes trabalhadores, apenas 150 mil trabalham na cidade. 2.4 – Aspectos Ambientais e Populacionais A paisagem natural de São Gonçalo já não oferece à sua população condições harmoniosas, ou seja, foi extremamente modificada e alterada, em vista de seu passado constituída por fazendas e sítios. 19 A ocupação por construções sem nenhuma observação as leis ambientais, continuam existindo. É característico nesta região, construções baixas com número menor de edifícios; possui pouca arborização. O meio ambiente deste município sofre com a pouca atenção, não só pelos órgãos administrativos, como também por parte da própria população. É fácil transitar pelas ruas e bairros e encontrar situações ambientais degradantes, entre as quais: - deficiência da coleta de lixo, pois a mesma não oferece serviços a totalidade de seus 96 bairros reconhecidos pela prefeitura. (Embora já se diga, existirem mais 13 bairros com reconhecimento da população). O esgoto, que assume papel principal na poluição dos rios. Este mesmo esgoto é lançado “in natura” em valas negras ou em manilhas coletoras de águas pluviais, em direção exclusiva para a Baía de Guanabara; o lixo também é lançado em lixão ou aterro sanitário, aproximadamente 500 toneladas por dia. Para este suposto aterro sanitário, que se localiza em Itaóca, previu-se construções e aprimoramentos, inclusive para reciclagem. Na verdade ainda não aconteceu. E assim, continua poluindo e comprometendo a região de Itaóca, que abriga um resto de manguezal, ainda ali existente. Segundo dados fornecidos pelo próprio Secretário de Meio Ambiente e Urbanização – Mário Edson Carvalho, existem projetos para cuidar do problema ambiental. Um deles é colocar em funcionamento a estação de tratamento de esgoto. Além desta prioridade, um outro que se intitula: “Adote uma praça” e a reurbanização da praia da Luz, que promete ser um dos cartões postais do município. E, finalmente a construção do Parque Ambiental de São Gonçalo. Deixando a iniciativa municipal, em dezembro de 1994 a ONG intitulada Nosso Pedaço, consolidou a realização de um projeto para conscientização pública de não jogar lixo nos rios. Ainda assim, fica claro que o problema é grave e merece melhor atenção, com ações permanentes, com planos efetivos na reconstrução e preservação de um meio ambiente tão doente. As pessoas, habitantes do lugar, demonstram baixa estima e pouco caso em relação ao meio em que vivem. O respeito e preservação Precisam ser trabalhados incansavelmente, junto às representações administrativas, comunidades diversas e principalmente nas escolas Municipais e Estaduais. A água, também é deficiente, não atende a população de forma integral. Esta água é proveniente da Serra de Cachoeira de Macacú, onde nasce o rio 20 Macacú. É canalizada no local de Imunana no Município de Magé, chegando até São Gonçalo pelo bombeamento para estação de tratamento de água (ETA), no bairro de Laranjal, em São Gonçalo (mapa 02). Mapa 02 – Abastecimento de água A população gonçalense está distribuída por cinco distritos: O 1º Distrito, São Gonçalo (Sede); o 2º Distrito, Ipiíba; o 3º Distrito, Monjolos; o 4º Distrito, Neves e o 5º Distrito, Sete Pontes. A influência do meio ambiente na saúde da população, alia-se ao fato da rede pública de saúde não atender nem acompanhar o crescimento populacional, em quantidade e qualidade. Em razão disso, os planos com clínicas, consultórios particulares, crescem e só atendem ao público de poder aquisitivo mais alto. Fora estes atendimentos, a população se serve da cidade vizinha, no hospital Universitário Antônio Pedro. Conforme informações da própria Prefeitura Municipal, somente 40% da população gonçalense possui saneamento básico (mapa 03). 21 Mapa 03 – Esgoto Sanitário 2.5 – Problemas ocasionados pela urbanização Na opinião de SANTOS (1990) o espaço é um reflexo da sociedade, uma tela de fundo onde os fatos sociais se inscrevem à vontade, na medida em que acontecem e que a transformação esses espaço é uma conseqüência da necessidade social do homem. A crescente concentração populacional no município de São Gonçalo e, conseqüentemente, a urbanização, encontramos o rio Alcântara bastante descaracterizado, sendo conhecido por grande parte da população como “valão”. Visto que a degradação do meio ambiente teve início com a ocupação do município, através de introdução da cultura da cana-de-açúcar, que foi a grande responsável pela eliminação da Mata Atlântica que existia em toda a extensão do município e a crescente industrialização que acarretou a poluição gradativa das águas do rio em estudo, por este estar localizado numa área central do bairro, trazendo grandes transformações no meio ambiente. 22 Segundo CASTRO (2002) o conceito legal de meio ambiente, introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei Federal nº 6.938, de 31/8/81, que dispõe sobre a POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE, conferindo-lhe a devida amplitude em seu art. 3º, incisivo I: Art.3º Para fins previstos nesta lei, entende-se por: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis influências e alterações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 2.6 – Ocupação e desmatamento das nascentes Aliados à necessidade crescente de se encontrar áreas para serem ocupadas, na maioria das vezes, a população de baixa renda, vê-se obrigada a ocupar as nascentes dos rios Para que essa ocupação ocorra, é necessário desmatar a área a ser ocupada. Essa ocupação é feita sem levar em consideração o impacto ambiental que pode causar. Não só o impacto ambiental, mas também, prejuízos para a população que precisa se fixar nessas áreas de risco. Com o deslocamento, o solo fica desprotegido, estando também mais propício aos deslizamentos de terras, trazendo, contudo perdas humanas. Além disso, o processo de destruição que extrai a cobertura vegetal desde as cabeceiras dos rios passa a interferir nos processos de sedimentação e fornecimento de matéria orgânica às áreas adjacentes (no caso a Baía de Guanabara), com o aumento da turbidez de suas águas, conseqüentemente erosão e assoreamento, criando condições impróprias para o ecossistema fluvial. Para CUNHA (1994) as correntes fluviais podem transportar a carga sedimentar de diferentes maneiras (suspensão, saltação e rolamento) de acordo com a granulação das partículas (tamanho e forma) e as características da própria corrente (turbulência e forças hidrodinâmicas exercidas sobre as partículas). A capacidade de erosão das margens e do leito fluvial, bem como o transporte e deposição da carga do rio dependem, entre outros fatores, da velocidade das águas. (CUNHA, 1994). Esses rios apresentavam enorme 23 capacidade de escoamento, provocando enchentes ao longo do seu percurso e deslizamento em suas margens. (Foto 1) Foto 01: A nascente do Rio Alcântara se encontra em estado de degradação devido ao acumulo de lixo. Fonte: Foto in loco no período de fevereiro de 2004. (Lezil) O rio Alcântara no decorrer do processo de urbanização que foi submetido já sofre várias enchentes no seu percurso desabrigando muitas famílias que se alojaram em suas margens e destruindo pontes com o grande volume das águas e a força hidrodinâmica das suas correntezas. (Foto 02) Foto 02: O acumulo de lixo na nascente e o grande causador das enchentes no espaço urbano. Fonte: Foto in loco no período de fevereiro de 2004. (Lezil) 24 2.7 – Ocupação e desmatamento das margens A ação humana realiza as mudanças fluviais indiretas realizadas fora da área dos canais, mas que modificam o comportamento da descarga e da carga sólida do rio. Tais atividades estendem-se para a bacia hidrográfica e estão ligadas ao uso da terra, como a remoção da vegetação, desmatamento, emprego de práticas agrícolas indevidas, construção de prédios e urbanização (CUNHA, 1994). Numerosos contingentes dos países do sul e, em menor quantidade, dos países do norte vivem condenados a situações de duplo risco e, mesmo quando tem ciência de sua condição, a falta de outras opções obriga-os a conviver com o problema. Esse é o caso de moradores ribeirinhos e de encostas, que mesmo dos riscos continuam ocupando áreas impróprias e em conseqüência sofrem com as enchentes e as doenças causadas pela contaminação das águas fluviais. (Foto 03) Foto 03: A nascente do Rio Alcântara sofre conseqüências devido ao desmatamento em suas margens. Fonte: Foto in loco no período de fevereiro de 2004. (Lezil) Sabemos que essa ocupação, que se dá de forma ilegal, trazendo inúmeras conseqüências para o rio, como a retirada de vegetação das margens, aumentando a probabilidade de erosão e, possibilitando assim, o surgimento dessas ocupações ilegais, comumente chamadas de favelas. A vegetação retém o solo, impedindo a erosão de suas margens, onde muitas vezes as ocupações irregulares deixam o solo exposto e de fácil erosão. 25 Esse aglomerado humano nas margens dos rios necessitam de escoar os seus esgotos, que são lançados nos córregos. A presença de esgotos e restos de sedimentos domésticos causam uma série de doenças que são transmitidas pelo uso da água dos rios, além da presença das indústrias que se aglomeram também próximos aos rios. (GRÁFICO 01) Principais Doenças em São Gonçalo 13,37% 18,76% 11,23% 9,63% 7,49% Doenças Respiratórias Doenças de Pele Dengue Verminose Gripes / Virose Fonte: CIMA 2000 Cadastramento amostral Gráfico 01: As ocupações irregulares são as que mais sofrem com as conseqüências do processo urbano, devido ao aparecimento de doenças. Podemos observar no gráfico acima que as doenças respiratórias apresentam o índice mais alto devido ao lançamento de poluentes na atmosfera (13,37%). A doença de pele aparece em segundo lugar (11,76%), estando associada as micoses, sarna, alergias provocadas por mosquitos, seguida da Dengue (11,23%) e Verminose (9,63%). Na sub-Bacia Guaxindiba/Alcântara, verificamos um total desrespeito à faixa de proteção de 12 metros definida pela Superintendência Estadual de Rios e Lagos (SERLA). Há uma crescente ocupação às margens desse rio, sendo comprovado esse desrespeito com a presença do hipermercado Extra, os Condomínios 26 Residenciais, aglomeração de lojas as margens do rio Alcântara no centro do bairro de Alcântara. Essa região sofreu descaracterização do rio e pavimentação das ruas paralelas às margens do Rio Alcântara. Atualmente o Rio não apresenta margens e em sua orla encontramos intenso sistema rodoviário, com a presença de grande centro comercial e residencial. 2.8 – Assoreamento De acordo com CASTRO (2002) a ampliação de áreas urbanizadas, repercute na capacidade de infiltração das águas no solo, favorecendo o escoamento superficial e a concentração das enxurradas. A urbanização afeta o funcionamento do ciclo hidrológico, pois interfere no rearranjo do armazenamento e na trajetória das águas. O homem ao introduzir novas maneiras para a transferência das águas, na área urbanizada e em torno das cidades, provoca alterações na estocagem hídrica nas áreas circunvizinhas e ocasiona possíveis efeitos adversos e imprevistos, no tocante ao uso do solo. Grande parte dos problemas encontrados no rio em análise (não só nele, mas em grande parte dos rios atualmente), são o resultado do crescimento da população e, conseqüentemente, à necessidade de incorporação de novas áreas para habitação e construção de indústrias. Com isso, há um desmatamento das suas margens contribuindo assim para um aumento na taxa de assoreamento não só do rio Alcântara, mas também da baía de Guanabara. As obras de canalização realizadas pelo DNO (DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS E SANEAMENTO) também contribuíram para que o rio transportasse uma maior carga de sedimentos e com a perda de energia, passasse a depositar esses sedimentos no seu leito, causando o assoreamento. Com o crescente assoreamento verificado em várias partes do rio Alcântara, tornam-se maiores as chances de, em dias de chuva forte, contribuir para as enchentes, já que esses rios, carregam ainda uma enorme carga de lixo. 27 2.9 – Lançamento de esgotos sanitários e afluentes industriais Segundo o ZONEAMENTO AMBIENTAL DE SÃO GONÇALO, até o ano de 1985, o município de São Gonçalo não possuía rede de esgotamento sanitário. Os esgotos do município eram lançados “ora nos sistemas de drenagem pluvial, ora ao longo de valas abertas nas ruas, que em ambos os casos, encontravam, seu destino final em córregos locais, por sua vez drenados para os rios” (ZONEAMENTO AMBIENTAL DO MUNICIPIO DE SÃO GONÇALO, 1997) Portanto, se verifica que quase todo esgoto da sub-bacia do rio Alcântara é lançado diretamente, sem nenhum tratamento, no rio Alcântara contribuindo para o seu atual estado de poluição, que é resultado do processo de urbanização. O lançamento de esgoto no Rio Alcântara proveniente das industrias e residências é o grande causador da perda para o ecossistema que vive em seu ambiente. (Foto 04) Foto 04 Fonte: Foto in loco no período de fevereiro de 2004. (Lezil) 28 Algumas empresas instaladas na região são responsáveis por atividades potencialmente poluidoras na área da bacia do Guaxindiba/Alcântara. A Sociedade Indústria de Refrigerantes S/A – Flecha, a Guanabara Química Industrial S/A – GETEC, Indústria e Comércio de Lux Ltda, o Laboratório B. BRAUN S/A – Produtos Farmacêuticos e a CCPL – Niterói (desativada) estão na lista da FEEMA das 155 indústrias prioritárias para o controle em toda Baía de Guanabara. Os resíduos sólidos urbanos coletados na bacia são dispostos nos vazadouros de Itaoca, em São Gonçalo, próximos a APA de Guapi-Mirim, cerca de 750 toneladas / dia e no Morro do Céu, em Niterói (cerca de 600 toneladas / dia). Na foz do Guaxindiba/Alcântara e de outros rios da bacia do leste da Guanabara. Em dezembro de 1998, foi inaugurada a rede de tratamento de esgoto do município de São Gonçalo, como parte do Programa de despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). Vale ressaltar que esse tratamento de esgotos só atenderá 30% da população local, onde 70% da população continuará despejando os seus dejetos sem nenhum tratamento nos rios. Atualmente podemos constatar que a rede de esgoto existe nos locais faltando canalização suficientes para trazer esses esgotos até as estações de tratamento. Os contribuintes dos rios Guaxindiba e Alcântara recebem grande carga orgânica de esgotos domésticos e industriais não tratados, apresentando alto grau de deterioração. São normalmente utilizadas como lixeira por uma significativa parcela da população não atendida pelos serviços públicos de limpeza urbana. As águas chegam ao baixo curso da bacia muito poluída, contribuindo para a degradação dos manguezais e da Baía de Guanabara. 2.10 – A importância da despoluição da Baía de Guanabara Segundo AMADOR (1997) o atual modelo de desenvolvimento econômico, especialmente urbano e industrial, é responsável pela poluição das águas e sedimentos da baía. A pobreza em seu quadro de miséria explicita, longe de se o responsável pela degradação da Baía, é vitima e conseqüência dos modelos perversos de desenvolvimento que a destruiu. 29 Nas últimas décadas o processo de degradação ambiental sofrido pela bacia hidrográfica da Baía de Guanabara tem prejudicado seriamente a qualidade de vida da população, principalmente os de baixa renda. A poluição ambiental de toda a região da baía afeta negativamente o meio ambiente, a saúde da população, bem como a sua economia a qual depende em boa parte do aproveitamento dos recursos naturais da região. A insuficiência dos sistemas de saneamento básico continua a afetar a saúde e o bem-estar da população e as condições de qualidade dos recursos ambientais na Baía de Guanabara. Um programa de saneamento básico é, portanto, primordial para a saúde da população que mora em torno da Baía de Guanabara. O desenvolvimento dos sistemas de esgotamento e tratamento de efluentes domésticos da bacia e urbanização com abastecimento de água nas moradias da população de baixa renda devem se planejados de forma associada. O governo federal juntamente com os órgãos estaduais e municipais do Estado do Rio de Janeiro, tem desenvolvido programas de recuperação e conscientização da preservação dos recursos naturais desse ecossistema. Entre esses programas de despoluição convém mencionar o PROGRAMA DE DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA (PDBG), por estar sendo desenvolvido no momento, pois os programas anteriores não foram totalmente concretizados ou se restringiu a regiões de sub-bacias por falta de recursos. O PDBG pretende reverter o processo de degradação vivido pela Baía de Guanabara e pode ser considerado o maior conjunto de obras de saneamento básico realizado nos últimos 20 anos no Estado do Rio de Janeiro. Mas, além das obras de saneamento, que representa 73% do orçamento total, o programa atual em coleta de lixo, projetos ambientais, macrodrenagem e mapeamento digital. O prazo previsto para execução do PDBG é de 15 a 20 anos e sua estimativa de custo chega a US$ 3,5 bilhões. O programa tem três objetivos inter-relacionados, listados a seguir. a) limpar a Baía de Guanabara e a área adjacente à baía; b) melhorar a qualidade de vida da população residente na Bacia da Baía de Guanabara; 30 c) reforçar as instituições governamentais locais, cujas atividades têm impacto positivo na Baía. O saneamento que engloba o abastecimento de água e esgotamento sanitário é o componente prioritário. 2.11 – A Educação Ambiental na Escola Neste início de século os problemas ambientais se tornaram crônicos e necessitam de medidas urgentes para que não evoluam para uma crise maior. O procedimento que deve levar a compreensão da realidade deve começar pela observação e reflexão da comunidade sobre os problemas ambientais que ali estão vivendo, pois a sua participação e atuação são fundamentais para um desenvolvimento sustentável. Nesta questão foi dado um grande passo quando a Ética e a Educação Ambiental foram incluídas como temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Através do intercâmbio escola e comunidade os professores devem despertar os alunos, e a todos os cidadãos para a importância dos recursos naturais e a constante degradação em que se encontram. Através desta integração e conscientização damos um passo do sentido de trabalharmos em conjunto para exercício da cidadania e melhoria do planeta. Foi em 1972, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, que se definiu pela primeira vez a importância da ação educativa nas ações ambientais, consolidada em 1975 com o Programa Internacional da Educação Ambiental pela Conferência de Belgrado. Em 1987 houve a Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, convocada pela Unesco e realizada em Moscou, reforçando a introdução na Educação Ambiental nos sistemas educacionais de todos os países. No Brasil, este tema se consolidou durante a Conferência Rio 92, da qual participaram representantes da sociedade civil e pública e foi aprovada a “Agenda 21”, na qual um de seus objetivos e estratégias mais importante foi a Educação Ambiental dirigida a todos os cidadãos, especialmente aos jovens. Um dos tratados 31 criados foi o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. O professor então, deve encarar esta questão com prioridade, pois a atuação do jovem interagindo com comunidades, instituições civis e públicas, enfim, a atuação de todos e o pleno exercício da cidadania será a melhor forma para se avaliar e controlar os problemas ambientais e se construir uma sociedade sustentável. 2.12 – A Escola como elo na comunidade A falta de consciência e informação das pessoas tem trazido permanentes problemas ao rio Alcântara. Suas águas estão contaminadas, o assoreamento intenso e o mau cheiro atinge as comunidades ao seu entorno; por isso é fundamental o papel da escola como elo entre professores, alunos, funcionários e comunidade. As ações conjuntas para melhorar a qualidade de vida humana e preservação do planeta Terra são fundamentais. E estas ganharão força na medida em que todos, conscientes da problemática do rio Alcântara e de seus direitos como cidadãos passarem a pleitear junto aos poderes públicos competentes, principalmente, saneamento básico. O município de São Gonçalo é carente principalmente em esgotamento sanitário ficando assim as comunidades, sem muita opção e acabam jogando seus dejetos diretamente nos rios. A escola deverá então cumprir o papel de orientador e conscientizador nesta questão levando a integração da sociedade civil e pública para que estes passem a adotar atitudes que visem a saúde e o bem estar de todos. 32 CONCLUSÃO Em nome do progresso e do desenvolvimento o homem vem atuando e modificando o meio ambiente e a dinâmica fluvial. Através da construção de pontes, da retificação e da drenagem, ocorreu todo o desequilíbrio do ecossistema que envolve a área em torno da Baía de Guanabara. O rio Alcântara, assim como os demais rios do município de São Gonçalo, encontram-se bastante descaracterizado, devido ao processo de urbanização, onde na falta de locais dignos para habitar. A população de baixa renda vê como único local para habitar as margens dos rios. Assim, eles precisam desmatar esta área. Sem rede de esgotos, a solução e despejá-lo diretamente no rio. Contundo é preciso conscientizar a população e o governo de que é preciso cuidar dos rios, pois é de vital importância para o desenvolvimento da vida, principal fonte de abastecimento de água para a população; Os órgãos governamentais devem desenvolver programas de educação ambiental a fim de conscientizar a população da importância em se preservar o meio ambiente e as bacias hidrográficas, de modo especial a sub-bacia do Rio Alcântara. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMADOR, Elmo da Silva. In ABREU, Mauricio de Almeida. (org). Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos. RJ. Biblioteca Carioca. 1997. AMABIS, J.M., Martho, G.R., Mizuguchi, Y. Biologia, v. 3. São Paulo. Moderna, 1979. ANTUNES, Aracy do Rego & TRINDADE, Maria de Lourdes Araújo & PAGANELL, Tomoyo Iyda & ROCHA, Ubiratan. Viva nossa turma. O município de São Gonçalo – os grupos, os espaços, os tempos. 1ª ed. RJ. Ed. Acces. 1996. BASTOS, Isabela, Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 2 dejun. 2002, suplemento Niterói, p. 3. 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