UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS EVELIN CÁSSIA CAMARGO A MÃO-DE-OBRA FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO Varginha/MG 2014 EVELIN CÁSSIA CAMARGO A MÃO-DE-OBRA FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria. Orientador: Prof. Thiago Caliari Silva. Varginha/MG 2014 Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais, Meire Cremonezi e Rogério Camargo, por todo amor, dedicação, e esforços feitos em prol da minha felicidade e realização. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por sempre me amparar nos momentos mais difíceis, me dando força e sabedoria para superar os obstáculos e alcançar os meus objetivos, sempre com muita fé. Aos meus pais, Meire e Rogério que nunca desistiram de mim e sempre me incentivaram a seguir adiante com meus sonhos. Minha amada mãe, que é exemplo de amor e dedicação, que mesmo em cidades diferentes se fez presente em cada dia de cada ano da minha graduação, acompanhando todas minhas alegrias, aflições e conquistas. Meu amado pai, que é exemplo de força e inteligência, que me proporcionou a oportunidade de realizar meu desejo de estudar em uma Universidade Federal, sendo um espelho de integridade, caráter e sabedoria. Ao professor Thiago, que me orientou com todo seu conhecimento durante esse período, sendo sempre prestativo e paciente, além de uma imagem de profissional a ser seguida. Às minhas melhores amigas que trouxe comigo, Camila, Maiara, Heloísa, Fernanda, Maria Eugenia, Ana Clara e Maria Júlia, que sempre foram as melhores companhias, mesmo nos momentos mais difíceis, e que me ensinaram o verdadeiro sentido da palavra amizade, independentemente da situação. Às minhas melhores amigas que fiz nesses anos, Lízia, Isadora, Zamara, Neomisia, Bárbara, Cintia e Stephanie que se tornaram em uma verdadeira família, sempre me apoiando com todo amor e carinho. Também aos amigos Altierez, Alan, Renan e Igor, por todo auxilio prestado. Ao Silvino, por nesses últimos meses estar tão presente em minha vida, estando ao meu lado durante toda a elaboração do trabalho, cuidando de mim com todo carinho, amor e paciência. Por fim, agradeço a todos aqueles que passaram por mim durante a minha jornada na Universidade Federal de Alfenas, professores, técnicos, funcionários e amigos, que contribuíram diretamente ou indiretamente com a minha conquista, e fizeram desses, um dos melhores anos da minha vida. RESUMO Em uma sociedade baseada em uma cultura patriarcal, onde a figura masculina é dominante, a conquista da autonomia feminina parecia ser um desafio. Esse estudo busca analisar historicamente a inserção da mulher no mercado de trabalho, desde seus antecedentes mais antigos, como nas civilizações gregas e romanas, até os dados mais recentes no Brasil. É investigado também a relação da intensificação do trabalho feminino com a industrialização dos países, o crescimento das atividades das mulheres brasileiras a partir de 1930, com base nos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio, que ainda evidenciam a presença de desigualdade entre os gêneros, mas que também comprovam como o crescimento da produtividade feminina interfere no desenvolvimento da economia nacional. Palavras-chave: mão-de-obra feminina, trabalho, desigualdade de gênero. ABSTRACT In a patriarcal society, where men have always been the dominant gender, the achievement of feminine autonomy seemed like a big challenge. This study analyses historically how women got into the labor market, since Greeks and Romans, until nowadays in Brazil. It is also discussed how industrialization intensified female work, and the growth of the female activities in Brasil in 1930, according to th Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística and the Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio, according to whom despite of still having gender, inequality, the growth of female labor has influenced the economical development of the country. Keywords: female labor, labor, gender inequality LISTA DE FIGURAS Figura 1: Taxas de participação na população economicamente ativa, por sexo, no Brasil de 1950 à 2010. ............................................................................................................................. 25 Figura 2: Evolução das horas de trabalho da mulher, no Brasil, de 1992 à 2005. .................. 27 Figura 3: Proporção de trabalho formal e informal retirados da PNAD 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio) ....................................................................................................... 28 Figura 4: Mulheres de 15 anos ou mais com ao menos um filho, no Brasil, nos anos de 2000 e 2010. ......................................................................................................................................... 31 Figura 5: Média de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais, por gênero, no Brasil, de 1999 a 2010. ............................................................................................................................. 32 Figura 6: Chefes de família, por gênero, no Brasil, de 1992 à 2010. ...................................... 33 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Taxa de atividade de homens e mulheres e evolução da participação feminina na população economicamente ativa total no Brasil de 1872 a 1980. ........................................... 18 Tabela 2: Horas trabalhadas na ocupação principal pela população economicamente ativa de 10 anos ou mais no Brasil em 1980. ......................................................................................... 19 Tabela 3: Pessoas economicamente ativas de 10 anos ou mais, por sexo e rendimento médio mensal no Brasil, em 1980. ...................................................................................................... 19 Tabela 4: Distribuição percentual por setor e por sexo na cidade de São Paulo, em de 1985. 20 Tabela 5: População economicamente ativa, por sexo, no Brasil, de 1985 a 1995.................21 Tabela 6: Taxa de atividade, por sexo, no Brasil de 1985 a 1995...........................................22 Tabela 7: Proporções entre trabalhadores formais, por sexo, no Brasil, de 1985 a 1995........22 Tabela 8: Diferença salarial, por hora trabalhada, por gênero e por região, no Brasil, em 1995. .................................................................................................................................................. 23 Tabela 9: Distribuição percentual por setor de trabalho e por sexo no Brasil, em 1995. ........ 24 Tabela 10: População economicamente ativa com 10 anos ou mais, no Brasil, de 2010 até 2013. .................................................................................................................................................. 26 Tabela 11: Pessoas economicamente ativas de 10 anos ou mais, por sexo e rendimento médio mensal no Brasil, de 2003 à 2011. ............................................................................................ 29 Tabela 12: Rendimento médio da população economicamente ativa, por anos de estudo, gênero, no Brasil, nos anos de 2003 e 2011. ............................................................................ 30 Tabela 13: Percentual do rendimento familiar per capita, no Brasil, de 1993 a 2009............. 34 LISTA DE ABREVIATURAS IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio D.C – Depois de Cristo OIT – Organização Internacional do Trabalho EUA – Estados Unidos da América WLM - Women’s Liberation Movement ONU – Organização das Nações Unidas ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ODM CNDM - Conselho Nacional dos Direitos da Mulher RDIG - Relatório sobre o Desenvolvimento de Igualdade de Gênero MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10 2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 11 2.1 – Objetivo Geral ................................................................................................................. 11 2.2 – Objetivos Específicos ...................................................................................................... 11 3 – REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 11 3.1 - Contexto Histórico Mundial do Trabalho Feminino ........................................................ 11 3.2 - Contexto Histórico no Brasil do Trabalho Feminino de 1950 a 1990 ............................. 17 4 – CENÁRIO ATUAL BRASILEIRO ................................................................................ 25 5 – DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 35 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 38 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 39 10 1- INTRODUÇÃO As diferenças entre os sexos feminino e masculino é um fato que se pode analisar desde os primórdios da sociedade mundial até os dias atuais, principalmente quando se envolve o trabalho remunerado. De acordo com Rochadel (2007), nas civilizações mais antigas as mulheres apenas realizavam as tarefas domésticas e cuidados com sua prole, sem ter conhecimento dos acontecimentos gerais. Para os gregos, por exemplo, mulheres ganhavam alguma educação para que pudessem melhorar suas futuras gerações, com a restrição de poderem realizar apenas trabalhos domésticos, já que aquelas que ousavam trabalhar no comércio eram desprezadas. Nesse trabalho é realizado um estudo sobre o histórico da distinção entre os sexos no mercado de trabalho em um cenário mundial, descrevendo a relação entre homens e mulheres para os Gregos, Romanos, passando pelo período renascentista, com o episódio que ficou conhecido como “Caça às Bruxas”, entrando na Idade Moderna com o afloramento da indústria, que acabou denotando a necessidade da mão-de-obra feminina, e a consolidação do sistema capitalista. Também são apresentados fatos históricos importantes, como os movimentos sindicais do século XIX, a força dos movimentos feministas e as leis criadas para a defesa da igualdade de gênero. Em seguida é apresentada uma revisão bibliográfica sobre o histórico da desigualdade entre o sexo feminino e masculino no mercado de trabalho no Brasil, com a análise quantitativa e qualitativa de dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desde a década de 1970 até os anos 90. Na seção seguinte é feito um estudo sobre os dados relevantes mais recentes sobre o tema, a fim de demonstrar quais foram os avanços em relação ao combate à desigualdade entre os gêneros. Por fim, é exposta uma discussão sobre todos os pontos descritos anteriormente a fim de entender como a distinção entre os sexos se dá no Brasil, e como as mulheres estão conquistando seu espaço no mercado de trabalho. 11 2. OBJETIVOS 2.1 – Objetivo Geral Analisar o crescimento da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho, e ao mesmo tempo, a diminuição da desigualdade entre os sexos, em períodos destacados da história mundial e do Brasil. 2.2 – Objetivos Específicos - Estudar a história da inserção feminina no mercado de trabalho brasileiro de 1950 à 2013. - Identificar momentos chave que contribuíram para a diminuição da desigualdade entre os sexos feminino e masculino. - Identificar os principais problemas causados pela desigualdade entre os sexos. - Apresentar informações sobre a desigualdade entre os sexos no trabalho brasieleiro desde as primeiras décadas do século passado. - Discutir as diferenças salariais, de setores de ocupação, trabalhos informais e educação entre homens e mulheres. 3 – REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 - Contexto Histórico Mundial do Trabalho Feminino A diversificação econômica e social tem sido acompanhada em todo o mundo por uma participação feminina no mercado de trabalho. Entretanto, o processo de inclusão profissional não foi simples, devido a chamada divisão sexual. Por divisão sexual entende-se que: “em termos estritamente biológico, a divisão sexual exprime as diferenças, baseadas em características genéticas específicas, entre os indivíduos do sexo masculino e os indivíduos do sexo feminino, no que contribuem para a definição da identidade individual. Numa perspectiva sociológica, a divisão sexual constitui uma forma de desigualdade, que se articula com outras, como a classe, a etnia e a idade. Este tipo de divisão repercute-se sobre os homens e as mulheres nos diversos espaços da vida social” (SILVA, 2012) De acordo com o dicionário Aurélio, trabalho é a aplicação de forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim; é uma atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento, enquanto a 12 palavra emprego (Michaelis, 2009) relaciona-se com a função ou cargo ocupado que visa remuneração. Entretanto, essas que parecem traduções tão simples e comuns nos dias de hoje, significaram um problema sério para as possibilidades do sexo feminino no mercado de trabalho, visto que os trabalhos relacionados ao lar eram direcionados a elas, e os empregos eram funções estritamente masculinas. Inicialmente, como afirma Rochadel (2007), nos primórdios da sociedade, a mulher era cabida apenas a realização das tarefas domésticas e cuidados com sua prole, vivendo alheia aos acontecimentos ao seu entorno. Para os gregos, por exemplo, as suas mulheres ganhavam alguma educação, a fim de melhorar suas gerações, mas exercendo ainda apenas trabalhos domésticos, já que aquelas que ousavam trabalhar no comércio eram desprezadas. De acordo com Alves e Pitanguy (1985), elas ocupavam posição equivalente a dos escravos devido à execução de trabalhos manuais que eram desvalorizados pelos homens livres. Já em Atenas ser livre era, em primeiro lugar, ser homem, visto que esses mantinham suas esposas enclausuradas. Alves e Pitanguy (1985) expressam a sociedade ateniense na afirmação: “Tendo como função primordial a reprodução da espécie humana, a mulher não só gerava, amamentava e criava os filhos, como produzia tudo aquilo que era diretamente ligado à subsistência do homem: fiação, tecelagem, alimentação. (...) Essa divisão concreta de atividades correspondiam valorações diversas. “o fora de casa”, onde se desenvolvia as atividades consideradas mais nobres – filosofia, politica e artes – era o campo masculino.” (Alves e Pitanguy, 1985, p.11 e p.12) Já na civilização romana, com a existência do que era chamado juridicamente de pater famílias, que em latim significa pai da família, que era o mais elevado estatuto familiar na Roma Antiga, detinham todo o poder sobre mulher, filhos, servos e escravos. No ano de 195 D.C., as mulheres romanas foram até o senado protestar contra a exclusão do uso do transporte público, que era um direito apenas masculino. Porém, como elucidado por Alves e Pitanguy (1985), o senador Marcio Pórcio Catão respondeu ao protesto: “Lembrem-se do grande trabalho que temos tido para manter nossas mulheres tranquilas e para refrear-lhes a licenosidade, o que foi possível enquanto as leis nos ajudaram. Imaginem o que sucederá, daqui por diante, se tais leis forem revogadas e se as mulheres se puserem, legalmente considerando, em pé de igualdade com os homens! Os senhores sabem como são as mulheres: façam-nas suas iguais, e imediatamente elas quererão subir às suas costas para governa-los.” (Alves e Pitanguy, 1985, p.14 e p.15) 13 Os séculos iam se passando, mas a inserção social feminina não evoluía ao passo da sociedade. Na Idade Média, de acordo com Rochadel (2007), as mulheres começaram a exercer alguns trabalhos, porém sempre com destaque inferior em relação ao sexo oposto. Continuavam sendo discriminadas pelos ofícios exercidos, e eram sempre consideradas aprendizes, em todos os ramos das atividades realizadas. Com base em estudos demográficos, também é possível saber que existia uma maior população feminina adulta, graças as frequentes guerras que os homens estavam envolvidos. Sendo assim, como se referem Alves e Pitanguy (1985), as mulheres precisavam assumir os negócios da família, entender de contabilidade e legislação para saber conduzir as finanças, porém o principal ramo seguido por elas era a indústria doméstica (produção de alimentos e tecelagem). No entanto, a remuneração feminina sempre foi inferior a masculina, o que chegou a gerar conflitos, visto que os homens as acusavam de rebaixar o nível salarial, sendo até mesmo restrita de exercer sua profissão em determinados períodos. Ainda na Idade Média, como afirma Rochadel (2007), outro período marcou a história feminina na busca pela igualdade de gêneros, conhecido como “Caça às Bruxas”, foi um genocídio contra o sexo feminino ocorrido na Europa e nas Américas, visto que para cada dez bruxas assassinadas e torturadas, havia apenas um bruxo. As explicações para a perseguição das chamadas “feiticeiras”, seriam que as mulheres supostamente possuiriam conhecimentos que lhe conferiam maior espaço na sociedade, diminuindo o controle masculino. Já no período renascentista, a partir do final do século XIV até início do século XVII, Alves e Pitanguy (1985) descrevem uma diminuição ainda maior na posição social feminina, justamente quando o trabalho é valorizado como meio de transformação do mundo pelo homem, e o trabalho da mulher passa a ser desvalorizado. O trecho a seguir demonstra o caso: “A desvalorização do trabalho feminino, traduzida concretamente na atribuição de menor pagamento à mão-de-obra feminina que à masculina, encontra sua lógica no processo de acumulação de capital, onde a superexploração do trabalho da mulher (e do menor) cumpre função específica.” (Alves E Pitanguy, 1985, p.26 e p.27) Com essa diminuição, as atividades femininas passam a ser as de menores qualificações e de mais baixa remuneração, sendo a maior parte nas indústrias têxteis em geral, visto que nessa época a ideia de igualdade entre os sexos, mesmo que a nível religioso, era ainda intolerável, fazendo que um novo cenário apareça a partir do século XVII, onde as mulheres passam a realizar seus trabalhos a domicilio. 14 A modificação desse cenário se inicia em meados da Idade Moderna, a partir do século XVII. Com o desenvolvimento industrial, o sexo feminino começa a assumir novas ocupações no mercado de trabalho. Historicamente, como afirma Hanaoka (1997), nas economias précapitalistas, antes mesmo da Revolução Industrial, a força de trabalho feminina podia ser encontrada nos campos, nas manufaturas, lojas e até oficinas, como mão-de-obra artesanal. A Revolução Industrial estabeleceu a disputa do trabalho entre mulheres e homens, já que elas possuíam mão-de-obra mais barata, porém em menor quantidade, visto que ainda realizavam as tarefas domésticas. Nessa época, de acordo com Rochadel (2007), os trabalhadores sujeitavam-se a jornadas de trabalho de 14 a 16 horas diária, em condições subumanas para não perderem seus empregos, já que as relações de trabalho não eram interferidas pelo Estado, sendo que estes recebiam de acordo com o que seu patrão determinasse. Na França, as mulheres revolucionárias pediam à Assembléia Nacional a revogação da submissão feminina ao domínio masculino, como afirma Alves e Pitanguy (1985), ao exigirem mudanças na legislação sobre o casamento, que davam aos homens direitos absolutos sobre o corpo e os bens de sua mulher. No documento oficial apresentado à Assembléia Nacional, constava: “Destruístes os preconceitos do passado, mas permitiste que se mantivesse o mais antigo, que exclui dos cargos, das dignidades das honrarias e, sobretudo, de sentar-se entre vós, a metade dos habitantes do reino. (...) Destruíste o cetro do despotismo ... e todos os dias permitis que treze milhões de escravas suportem as cadeias de treze milhões de déspotas.” (Alves e Pitanguy, 1985, p.33) Já na Revolução Francesa, muitas publicações retratam a situação feminina na sociedade, abordando temas como trabalho, desigualdade legal, da participação política e da prostituição, visto que esse último atingia números significantes em Paris: a cada cinco mulheres solteiras, uma era prostituta no final do século XVIII. Entretando, um decreto em 1795, da Assembléia Nacional decreta o fim da participação feminina na esfera pública revolucionária (Alves e Pitanguy, 1985). Com a chegada do século XIX e a consolidação do sistema capitalista, consequências complexas sobre o processo produtivo e a organização do trabalho acarretaram mudanças profundas no mercado, e também na mão-de-obra feminina, já que o sistema de produção manufatureiro, o avanço tecnológico e o advindo das maquinas aumentaram o contingente feminino nas fábricas, porém com uma grande diferença salarial quando comparado a mão-deobra masculina. Na França, a remuneração feminina era em torno de 2,14 francos, contra 4,75 15 do sexo oposto; na Alemanha, as mulheres recebiam em média 10 marcos, e os homens, 20; em Massachussets os salários das mulheres eram cerca de 37 dólares, enquanto dos homens, 75. A explicação para essa diferença salarial tão expressiva era de que as mulheres necessitavam de menos, já que tinham ou deveriam ter quem as sustentassem. (Alves e Pitanguy, 1985) Com essas questões, começaram a surgir movimentos sindicais e reivindicações para regras mais rígidas no trabalho em que assegura-se o direito do trabalhador, atendendo também as reivindicações feitas para proteção feminina no mercado. Em 8 de março – posteriormente proclamado dia internacional da mulher – de 1857, operárias da indústria têxtil de Nova Iorque protestaram pela cidade a favor de uma condição de trabalho mais digna, porém foram violentamente reprimidas pela polícia local. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), O Tratado de Versalhes (1919) atendeu as reivindicações feitas no final do século XIX e início do século XX, limitando a jornada de trabalho a 8 horas diárias e 48 semanais, protegendo a maternidade, a luta contra o desemprego, a definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria e a proibição do trabalho noturno de mulheres menores de 18 anos. O Tratado também assegurou que: “O trabalho igual deve-se pagar salário igual, sem distinção de sexo do trabalhador” e “deve-se organizar, em cada Estado, serviço de inspeção que compreenda mulheres, a fim de assegurar a aplicação de leis e regulamentos para proteção dos trabalhadores.” (Tratado de Versalhes, Parte XIII, VI e XIX.) O século XIX se caracterizou, além das lutas operárias, também pelos direitos de cidadania, como o direito de votar e ser votado. Entretanto, o sufrágio masculino aconteceu bem antes do direito feminino ao voto, que foi uma luta específica e que se prolongou por sete décadas nos Estados Unidos e na Inglaterra, e por 40 anos, no Brasil. De acordo com Portela (2002), o primeiro país a conceder o voto ao sexo feminino foi a Nova Zelândia, no ano de 1893; já nos Estados Unidos, em 1920; na Inglaterra, apenas o alcançam em 1928. Já no Brasil, as mulheres conquistam o direito de voto em âmbito nacional no governo Getúlio Vargas, em 1932, apesar de dez Estados já exercerem o direito antes disso. Nas décadas de 1930 e 1940, as necessidades econômicas valorizaram muito a participação feminina no mercado de trabalho, graças à falta de mão-de-obra masculina devido ao esforço de guerra. De acordo com Lewis (1954), a transferência das mulheres de suas casas para o mercado de trabalho é um marco do desenvolvimento econômico, considerando o lucro gerado com a produção dos bens, antes produzidos em casa, em economia de grande escala de 16 especialização. Para ele, uma das maneiras mais seguras de aumentar o rendimento nacional acontece através da criação de novas fontes de ocupação fora de casa para a mão-de-obra feminina. Porém, com o final do conflito e o retorno da mão-de-obra masculina, o trabalho da mulher é novamente desvalorizado. Entretanto, o movimento feminista se intensifica nas décadas seguintes em vários países da Europa e nos Estados Unidos. Um episódio marcante, de acordo com Costa (2005) aconteceu em 7 de setembro 1968 durante o concurso de Miss América, em que aproximadamente 400 ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement) protestaram a favor da liberdade feminina, colocando em frente ao evento objetos que simbolizavam a opressão das mulheres, com a finalidade de atear-lhes fogo, o que acabou não acontecendo. A atitude das manifestantes ficou conhecida como “Bra-Burning” (ou em português, “Queima dos Sutiãs”), e marcou a posição feminina nos EUA e no resto do mundo. Nas décadas seguintes, como afirmaram Alves e Pitanguy (1985) as lutas femininas englobam outras causas, além dos movimentos sufragistas dos anos passados, exigindo melhores remunerações a mão-de-obra feminina, o fim da desigualdade entre os gêneros, os direitos das mulheres, questionam as raízes culturais das desigualdades, denunciando a mística de que as mulheres são mais fracas e inferiores naturalmente quando comparadas ao homem, Em setembro de 2000, durante a Cúpula do Milênio, evento promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), 191 chefes de estado aprovaram a Declaração do Milênio, um compromisso político que sintetizava várias importantes conferencias da década de 1990 e propunha prioridades globais de desenvolvimento, a partir de 8 grandes objetivos, chamados de Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a serem conquistados até 2015, em ações de combate à fome e à pobreza, promoção da educação, igualdade de gênero, saúde, saneamento, meio ambiente e habitação. (Observatório de Gênero) Dentre os 8 objetivos descritos acima, dois se encaixam à igualdade de gêneros, que são, o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 3, que diz respeito a promoção da igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres e tem como meta eliminar as diferenças entre os sexos no ensino fundamental e médio, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, até 2015, e o ODM 5, que se refere a melhora da saúde materna, e que possui como meta diminuir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna. 17 3.2 - Contexto Histórico no Brasil do Trabalho Feminino de 1950 a 1990 No Brasil, de acordo com Rochadel (2007), as primeiras passagens sobre o trabalho das mulheres no país foram durante o Império, no século XIX, que assim como no resto do mundo, era bastante desvalorizado, já que enquanto os homens eram protegidos pelo Estado, as mulheres eram abandonadas, vivendo trancafiadas, sendo que as solteiras ajudavam suas mães nos serviços domésticos, enquanto as casadas, serviam aos seus maridos. A popularização do trabalho assalariado feminino no território brasileiro tem seu estopim na década de 1930, mesmo período em que as grandes indústrias se instauram no país, durante o governo de Getúlio Vargas, fazendo com que a mão-de-obra feminina fosse indispensável para suprir a demanda de empregos dessa nova fase. A regulamentação de medidas que favorecem o trabalho feminino é conquistada no Brasil, como cita Rochadel (2007), aos poucos, como por exemplo, a Constituição de 1934, que determinou pela primeira vez o princípio da igualdade dos gêneros e a diferença de salários para um mesmo trabalho, por motivo de sexo; a lei que assegura o trabalho pré e pós parto, através do Decreto n. 51.627, de 1962, que diz: “em hipótese alguma, deverá o empregador estar obrigado, pessoalmente, a custear as prestações referentes à licença-maternidade, a qual ficará a cargo de um sistema de seguro social obrigatório, ou de fundos públicos.” Assim a responsabilidade pelo pagamento do salário-maternidade é realizada pela Previdência Social, enquanto existir a relação entre empregador e empregado. Em 1967, a Constituição reduz o prazo para a aposentadoria feminina. Com essas novas leis, o espaço feminino no mercado começa a tomar maiores proporções em espaços significativos da sociedade. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa), na década de 1970, aproximadamente 69% das trabalhadoras se concentravam no setor terciário, enquanto 38% no setor de serviços, 16,1% em atividades sociais, já 10% na indústria de transformação, 6% no comércio, 3% na administração pública, 0,4% na indústria de construção, e 4,9% em outros ramos de atividade. Porém, como afirma Tossato: “em meados da década de 1970, há uma revitalização do setor industrial metalmecânico e de materiais elétricos, incorporando novos elementos aos seus produtos finais, incrementos estes que contaram com a incorporação do trabalho feminino em setores predominantemente masculinos da produção, como a metalurgia.” (TOSSATO, 2008, p. 291-292). 18 A sociedade começava uma jornada cada vez mais intensa em busca do fim da desigualdade entre os sexos, como estabeleceu a ONU, em seu artigo número 11 da Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a mulher, de 1979, que assegura salários iguais entre homens e mulheres para trabalhos de mesmo valor. Nos anos 80, as feministas embarcam na luta contra a violência às mulheres e pelo princípio de que os sexos são diferentes, mas não desiguais. Em 1985 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), subordinada ao Ministério da Justiça, com objetivo de eliminar a discriminação e aumentar a participação feminina nas atividades políticas, econômicas e culturais. Segue abaixo uma tabela descrevendo quantitativamente a participação feminina na população economicamente ativa no Brasil, de 1920 até 1980. Tabela 1: Taxa de atividade de homens e mulheres e evolução da participação feminina na população economicamente ativa total no Brasil de 1920 a 1980. PEA Feminina em relação a PEA total Taxa de Atividade Homem (%) Mulher (%) 1920 % 15.3 1940 88.8 19.2 15.9 1950 80.7 13.5 14.7 1960 77.7 16.4 17.9 1970 71.8 18.4 20.8 1980 73.1 26.9 27.5 Fonte: IBGE. Tabulação Própria. Nota-se que a partir da década de 1960 a mão-de-obra feminina cresce consideravelmente graças as leis e condições regulamentadoras, citadas anteriormente, conquistadas pelas lutas sociais. Entretanto, em termos comparativos, a força de trabalho feminina ainda é pequena comparada com outros países, como Estados Unidos, que em 1970 tinha 43,3% das mulheres trabalhando. (Brumer, 1988) Entretanto, na década de 1980 outro fator determinante na diferenciação do trabalho por sexo fica bastante explícito, como afirma Brumer (1988), com os dados das horas semanais trabalhadas por cada sexo. A mão-de-obra feminina ainda estava bastante ligada a subocupação 19 da mulher em trabalhos que exigiam menos horas de serviço, visto a dedicação dessas aos trabalhos domésticos, como mostra a tabela abaixo: Tabela 2: Horas trabalhadas na ocupação principal pela população economicamente ativa de 10 anos ou mais no Brasil em 1980. Horas semanais trabalhadas na ocupação principal Homens (%) Mulheres (%) Menos de 15 horas 0.6 2.3 De 15 a 29 horas 2.6 11.7 De 30 a 39 horas 7.5 14.3 De 40 a 48 horas 57.2 51.4 De 49 horas ou mais 32.1 20.3 Total 100 100 Fonte: IBGE. Tabulação Própria As informações da Tabela 3 apresentam o rendimento médio mensal por sexo para a década de 1980. Tabela 3: Pessoas economicamente ativas de 10 anos ou mais, por sexo e rendimento médio mensal no Brasil, em 1980. Rendimento Médio Mensal (Salário Mínimo) Homens (%) Mulheres (%) Total (%) Sem rendimento 7.3 9.1 7.8 Até 1 salário mínimo 27.4 42.5 32.6 De 1 até 2 salários mínimos 28.4 27.2 28.0 De 2 até 5 salários mínimos 24.2 15.4 21.8 20 De 5 até 10 salários mínimos 7.4 4.2 6.5 Mais de 10 salários mínimos 5.3 1.6 4.3 Total 100.0 100.0 100.0 Fonte: IBGE. Tabulação Própria. É possível analisar as diferenças salariais entre o sexo feminino e o masculino, e concluir que as mulheres eram maior número nos menores rendimentos mensais; 51,6% das mulheres recebiam até um salário mínimo nessa década, enquanto a maioria dos homens recebiam rendimentos acima de 1 salário mínimo. A maior diferença pode ainda ser vista na maior estrato de salários. A partir desses dados, é notório que mesmo a mão-de-obra feminina estando cada vez mais inserida no mercado de trabalho na década de 1980, as divergências entre as posições, remunerações e tipos de trabalho ainda era marcante entre os sexos, carregando traços do passado. Outro fator também bastante evidenciador da desigualdade entre os sexos da década de 1980 era a distribuição por setores da mão-de-obra feminina e masculina, deixando transparecer que muitos trabalhos ainda eram voltados só para os homens, como por exemplo o setor de construção civil, e em contrapartida, os serviços domésticos continuavam sendo dominados pelas mulheres, como era visto na cidade de São Paulo, em 1985, apresentados na tabela 4. Tabela 4: Distribuição percentual por setor e por sexo na cidade de São Paulo, em de 1985. Setor de Atividade Econômica Mulheres (%) Homens (%) Indústria de Transformação 25.2 36.6 Construção Civil ------ 5.2 Comércio 12.8 15.0 Serviços 40.3 41.0 Serviços Domésticos 20.8 0.9 Outros 0.6 1.1 Fonte: Araújo e Ribeiro (2002) com base na PNAD. Tabulação Própria. 21 Ainda na década de 1980, a Constituição de 88 foi de extrema importância na história dos direitos femininos já que nela constavam que todos eram iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e que homens e mulheres são iguais em direitos e deveres, seja na vida civil, no trabalho e na família; além de estabelecer leis defendendo os direitos humanos, individuais e coletivos, sociais, políticos, trabalhistas de seguridade social, da família e à propriedade. Dentro dos direitos trabalhistas englobavam também causas contra a diferença de salários, admissão e funções por motivo de sexo, exigiam mais regularidade à licença às gestantes, fortificação da proteção do mercado de trabalho da mulher, assistência gratuita aos filhos e dependentes em creches e pré-escolas, e também a defesa dos direitos das trabalhadoras domésticas. No início da década de noventa, com o advento da internet e a maior expansão de novos setores, a mão-de-obra feminina começa a crescer em ritmo acelerado no Brasil, como afirma Bruschini (1996), sendo muito mais expressiva do que o crescimento do trabalho masculino. Também é importante salientar que nesse período, o conceito do que era considerado trabalho também expandiu, incluindo atividades para o consumo, produção de subsistência familiar entre outras atividades antes desconsideradas. Para elucidar esse aumento quantitativamente, segue a Tabelas 05, que mostra o crescimento da população economicamente ativa, por sexo, no país, no período de 1985 a 1995 Tabela 5: População economicamente ativa, por sexo, no Brasil, de 1985 a 1995. Variação SEXO População Economicamente Ativa (em milhões) (%) 1985 1990 1995 Homens 36,6 41,6 44,2 20,8 Mulheres 18,4 22,9 30,0 63,0 Fonte: IBGE. Tabulação Própria 22 Outros dados importantes são sobre as taxas de atividade e a proporção entre os trabalhadores formais, por sexo no mesmo período no Brasil, que concretiza o crescimento da participação do sexo feminino no mercado de trabalho, como pode ser visto nas tabelas 06 e 07, a seguir: Tabela 6: Taxa de atividade, por sexo, no Brasil de 1985 a 1995. SEXO Taxa de atividade (%) Variação 1985 1990 1995 (%) Homens 76,0 75,3 78,3 3,03 Mulheres 36,9 39,2 53,4 44,71 Fonte: IBGE. Tabulação Própria Tabela 7: Proporções entre trabalhadores formais, por sexo, no Brasil, de 1985 a 1995. SEXO Proporções entre os trabalhadores formais (%) Variação 1985 1990 1995 (%) Homens 66,5 64,5 59,6 -10,37 Mulheres 33,5 35,5 40,4 20,6 Fonte: IBGE. Tabulação Própria Bruschini (1996) também relaciona a diminuição do número de filhos por mulher, principalmente nas grandes cidades, com o aumento da participação feminina no mercado, e também com o aumento da escolaridade, principalmente a maior entrada de mulheres nas universidades, concebidos nos anos 1990. Entretanto, mesmo com o aumento da população economicamente ativa feminina nessa década, a distinção salarial entre os sexos ainda era bastante marcante. Araújo e Ribeiro (2002) apresentam que o trabalho feminino tinha 23 remuneração, em média, 29% menor que a remuneração masculina, podendo se agravar particularmente em cada região, como podemos observar na tabela a seguir. Tabela 8: Diferença salarial, por hora trabalhada, por gênero e por região, no Brasil, em 1995. Região Homem Mulher % Mulher/Homem Sudeste 4.02 2.78 69.15 Norte 3.11 2.58 82.95 Nordeste 2.63 1.88 71.48 Sul 4.11 2.82 68.61 Centro-Oeste 3.86 2.92 75.64 Brasil 3.62 2.57 71.0 Fonte: Araújo e Ribeiro (2002) com base na PNAD. Tabulação Própria. Com base nos dados acima, é perceptível que a diferença salarial era bastante significante, chegando em algumas regiões, como na região Sul, a índices de 45,8% de diferenciação da remuneração da mão-de-obra masculina e feminina, onde o trabalho da mulher vale R$ 2,82/hora enquanto o do homem chega a R$ 4,11/hora. Já a menor diferença ocorre na região Norte, mas de acordo com Araújo e Ribeiro (2002), essa remuneração pode ser relacionada com os salários relativamente mais baixos de toda a população, em comparação à média nacional. Já a distribuição por setores da mão-de-obra feminina e masculina na década de 1990 apresenta divisão menos desigual do que na década passada, já que as mulheres estão presentes em mais setores econômicos. Mesmo assim, ainda há uma disparidade grande, como é o caso das atividades técnicas, cientificas e artísticas em que as mulheres ocupam cerca de 80% mais esse ramo (16,46% das mulheres contra 6,65), enquanto os homens estão aproximadamente 55% mais presentes na indústria do que o sexo oposto. Entretanto, as atividades administrativas e de comércio já apresentam números muito próximos. Também é possível notar que o setor de prestação de serviços ainda é mais ocupado pelas atividades femininas, sugerindo que essas ainda realizem trabalhos como por exemplo o 24 de empregadas domésticas, que estariam relacionados com os afazeres domésticos. Abaixo seguem os dados para melhor compreensão: Tabela 9: Distribuição percentual por setor de trabalho e por sexo no Brasil, em 1995. Setor de Atividade Econômica Homem (%) Mulher (%) Indústria 32.52 11.41 Técnico, cientifico, artístico, etc 6.65 16.46 Administrativo 17.15 19.81 Comércio 14.81 14.31 Transporte 10.32 1.06 Prestação de Serviços 2.37 27.57 Outras 16.18 9.38 Brasil 100 100 Fonte: Araújo e Ribeiro (2002) com base na PNAD. Tabulação Própria. Com o passar dos anos, e o início do novo milênio a economia foi se modificando e a sociedade passou a aceitar a participação feminina no mercado de trabalho, principalmente no setor industrial, anteriormente voltado só para o sexo masculino, devido as várias intervenções mundiais e convenções, como apresentado acima, na prerrogativa de eliminar o preconceito entre os gêneros, garantindo um cenário competitivo para ambos os sexos e quebrando as barreiras impostas pelas antigas culturas, assegurando melhores condições trabalhistas a todos que se encontram economicamente ativos. “As mulheres conheceram sucessivamente a escravatura, a servidão, o artesanato, a aparição da burguesia comerciante, a manufatura, a industrialização, as lutas operárias pelo melhoramento das condições de trabalho, de horários, de salários etc. Tal como os homens, as mulheres conheceram a sucessão dos utensílios de trabalho, da roda ao trator, do tear às máquinas de tecer elétricas, e a diversificação de tarefas, consequência dos materiais trabalhados e das técnicas (...). Nem mesmo a história social dos trabalhadores, nem a das técnicas e utensílios, nem a dos métodos de produção ou de organização, podem evidenciar as diferenças profundas que sempre existiram e ainda existem, entre o trabalho das mulheres e o dos homens ”. (SULLEROT, Evelyne, 1970) 25 4 – CENÁRIO ATUAL BRASILEIRO Como já visto no Contexto Histórico, o Brasil, assim como todos os outros países, passou por um processo de inserção do sexo feminino em seu mercado de trabalho, acarretando em um grande aumento de mão-de-obra da mulher na sociedade nas últimas décadas. Segundo dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1950 apenas 13,6% em média das mulheres trabalhavam ou procuravam emprego, enquanto em 2009, esse número cresceu para 52,7% em 60 anos, deixando evidente que o perfil do setor econômico foi alterado, se tornando mais flexível para as mulheres. É possível analisar o crescimento do sexo feminino no mercado de trabalho brasileiro através do gráfico abaixo: Figura 1: Taxas de participação na população economicamente ativa, por sexo, no Brasil de 1950 à 2010. 90 80,8 80 77,2 71,8 72,4 71,5 70 69,6 67,1 60 48,9 50 % 44,1 40 32,9 26,6 30 20 13,6 16,5 18,5 1960 1970 10 0 1950 1980 Homem 1990 2000 2010 Mulher Fonte: IBGE. Elaboração Própria. É possível analisar que a entrada das mulheres no mercado de trabalho foi um pouco mais tardia, quando comparado a países do Hemisfério Norte, como afirma Madalozzo (2011), já que nesses países o grande fluxo se deu durante a Segunda Guerra Mundial, graças à falta de trabalhadores masculinos. No Brasil, pode-se verificar uma maior participação a partir dos anos 26 de 1980, quando a marca atinge cerca de 27%, mesma época em que a inflação chegou na marca de 200% ao ano (Alves e Primo 2013), o que acarretou a necessidade das mulheres complementarem a renda familiar. A alta permanece na década de 1990, como disse Hoffman e Leone (2004), graças à grande abertura econômica e a alta terceirização do setor. Entretanto, nesse mesmo período acontece um grande desemprego feminino, já que o aumento das vagas para mulheres no mercado de trabalho não foi suficiente para suportar a demanda. O crescimento da participação feminina continua nos anos 2000, com maior estabilização a partir da década atual. Esse dado pode ser analisado nos dados a seguir, que trazem a população economicamente ativa por sexo nos últimos 4 anos. Tabela 10: População economicamente ativa com 10 anos ou mais, no Brasil, de 2010 até 2013. 2010 Homens (%) 53.78 Mulheres (%) 46.22 Total 100.0 2011 53.89 46.11 100.0 2012 53.74 46.26 100.0 2013 53.46 46.54 100.0 Fonte: IBGE. Tabulação Própria. Outro ponto importante para ser analisado no cenário atual é o tipo de trabalho que as mulheres realizam. Como dito anteriormente, antigamente as mulheres estavam atreladas a atividades mais informais. De acordo com o gráfico seguinte, é possível perceber que o aumento da participação feminina no mercado de trabalho não modificou a média das mulheres que trabalham mais horas por dia, ou seja, aquelas que possuem trabalhos formais, já que se comparado a década de 1980 os números giram em torno de 50% da população feminina. Entretanto, o número de mulheres que trabalham com jornadas menores, aumentou significativamente nos últimos anos, quando comparado aos dados de 1980 que apresentavam índices de 14% da população feminina exercendo ofícios de 30 horas ou menos, e em 2005, esse número chegou a cerca de 28%, revelando que a mão-de-obra feminina continua exercendo ofícios de meio período, devido a seus afazeres domésticos, como cuidado com a casa e com 27 os filhos. Também é perceptível analisar que boa parte do contingente feminino que adentrou ao mercado de trabalho nesses últimos anos se encaixou na zona de trabalho informal, já que dessa forma também era possível conciliar a necessidade de complementar a renda com os trabalhos de casa. Figura 2: Evolução das horas de trabalho da mulher, no Brasil, de 1992 à 2005. 50 45 40 PORCENTAGEM 35 30 25 20 15 10 5 0 1992 1996 2000 2005 ANOS De 0 a 20 hrs De 20 a 30 hrs De 30 a 40 hrs Mais de 40 hrs Fonte: PNAD. Elaboração Própria. O gráfico apresenta como ocorreu a evolução do tipo de jornada semanal feminina, desde 1992 até 2005, de acordo com os dados das PNADs de 1992 até 2005. Isso representa que, mais de ¼ da população economicamente ativa feminina do país ainda possui jornadas menores, que não ultrapassam 30 horas semanais, o que evidencia um grande número de mulheres em trabalhos informais. Comparando com os dados antes expostos, da década de 1980, observa-se um aumento do trabalho secundário, ou informal, com menos horas de trabalho, evidenciando a grande participação dessa jornada no aumento da participação feminina na economia. 28 Figura 3: Proporção de trabalho formal e informal retirados da PNAD 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio) Fonte: IBGE A figura demonstra especificamente esse caso da informalidade da mão-de-obra feminina, principalmente nas regiões norte, nordeste e centro-oeste, onde atinge picos de 67,4%, contra 32,6% de trabalhos formais. Já na região sul e sudeste, o trabalho formal chega a 57,8%, evidenciando que também há um problema demográfico na desigualdade entre os sexos. Outra colocação que é imprescindível frisar é sobre a remuneração recebida por homens e mulheres, e como as diferenças entre os sexos estão diminuindo com o passar dos anos. De acordo com o IBGE (2012), o rendimento médio das atividades femininas em 2011 foi de R$ 1.341,81, equivalente a 72,3% da remuneração masculina, que era no mesmo ano R$ 1.857,63. Esses números evidenciam a evolução dos salários em relação ao ano de 2003, quando o rendimento médio das mulheres era R$ 1.076,04, cerca de 70,8% do que recebiam homens, que 29 tinham o salário de R$ 1519,07. Entre os anos analisados, os rendimentos femininos cresceram aproximadamente 24,9%, enquanto o masculino apresentou aumento de 22,3%. Tabela 11: Pessoas economicamente ativas de 10 anos ou mais, por sexo e rendimento médio mensal no Brasil, de 2003 a 2011. Rendimento Médio Homens Mulheres % Mulher/Homem 2003 1519.07 1076.04 70.8 2004 1500.46 1065.90 71.0 2005 1524.27 1084.59 71.2 2006 1590.77 1122.61 70.6 2007 1643.43 1158.89 70.5 2008 1696.82 1204.97 71.0 2009 1741.41 1259.19 72.3 2010 1808.39 1308.06 72.3 2011 1857.63 1343.81 72.3 Fonte: IBGE. Tabulação Própria. Ao comparar esses dados com os fornecidos em 1995, por exemplo, é possível analisar que a média nacional da razão do salário feminino em relação ao masculino não obteve um aumento muito significativo, visto que na década de 90 era em torno de 71%, o mesmo número apresentado nos primeiros anos de 2000, e que a partir de 2009 esse número permaneceu o mesmo até 2011. Cabe também ressaltar que mesmo os rendimentos das mulheres tendo crescido aproximadamente 2,5% a mais do que dos homens nos anos estudados, é perceptível que há a diferença de salários entre os gêneros se faz presente ao longo das décadas, mesmo com o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o que pode remeter que ainda existe um preconceito com a mão-de-obra feminina. 30 Ainda, a relação do nível de escolaridade com o salário recebido corrobora a desigualdade de gênero nos salários. De acordo com o IBGE (2012), independente dos anos de estudo da mulher, em média, elas recebem menos que os homens, como é possível ver abaixo. Tabela 12: Rendimento médio da população economicamente ativa, por anos de estudo e por sexo, no Brasil, nos anos de 2003 e 2011. Rendimento Homem médio (2003) Mulher (2003) % Mulher/Homem (2003) Homem (2011) Mulher (2011) % Mulher/Homem (2011) R$ 634.06 R$ 419.76 66.2 R$ 812.73 R$ 555.65 68.4 R$ 689.27 R$ 433.34 62.9 R$ 972.52 R$ 570.18 61.5 4 a 7 anos R$ 798.13 R$ 501.71 62.9 R$ 1045.24 R$ 640.08 61.2 8 a 10 anos R$ 940.46 R$ 601.53 64.0 R$ 1111.12 R$ 734.91 66.1 11 ou mais anos R$ 2437.74 R$ 1585.70 65.0 R$ 2467.49 R$ 1706.39 69.2 Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos Fonte: IBGE. Tabulação Própria. Com a comparação dos anos de 2003 e 2011, pode-se evidenciar que no primeiro ano analisado a menor disparidade se dava entre as mulheres e homens sem instruções ou com menos de um ano de instrução, onde a razão chegava a 66,2%, e a maior diferença entre 1 a 7 anos de estudo, onde a porcentagem era na casa de 62,9% dos rendimentos feminino em relação ao masculino. Já em 2011, a proporção diminuiu ainda mais entre os sexos com menos de um ano de instrução, sendo o rendimento médio feminino 68,4% do masculino. Nos estudos desse ano também pode-se destacar a diminuição da diferença dos salários entre as pessoas com mais anos de estudo. Contudo, um fator muito relevante para esse estudo foi apresentado no Censo 2000 do IBGE, o qual avaliou os dados dos sexos no país durante uma década, comparando os valores de 2000 e 2010, e mostrando que as brasileiras estão tendo filhos mais tarde, como apresentado a seguir. 31 Figura 4: Mulheres de 15 anos ou mais com ao menos um filho, no Brasil, nos anos de 2000 e 2010. 90 81,9 80 76 69,8 68,8 69,2 70 60,1 60 47,3 % 50 39,3 40 30 20 14,8 11,8 10 0 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos Total Idade 2000 2010 Fonte: IBGE. Elaboração Própria. Como é possível analisar, a proporção de mulheres com ao menos um filho no Brasil diminuiu em todas as faixas etárias, principalmente entre 20 a 24 anos, que caiu 8%, passando de 47,3% para 39,3%, e de 25 a 29 anos, que teve uma queda de 9,1%, já que em 2000, 69,2% das mulheres nessa idade tinha ao menos um filho, e em 2010, esse valor é de 60,1%. Para o IBGE, essa queda é um reflexo do aumento da escolarização feminino no território brasileiro, que passam a atrasar a maternidade para dar maior atenção aos estudos. Essa afirmação pode ser melhor evidenciada a partir do gráfico a seguir, que evidencia a média dos anos de estudo de homens e mulheres no Brasil: 32 Figura 5: Média de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais, por gênero, no Brasil, de 1999 a 2010. 8 7,4 Média de anos de estudo 7 6 6,3 5,7 6,7 6,6 7 7 5,9 5 4 3 2 1 0 1999 2003 2006 Anos Homem 2010 Mulher Fonte: IBGE e Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio. Elaboração Própria. Essas informações, retiradas do Censo 2010, remetem que nos anos analisados a média de anos de estudo feminina sempre foi maior que a masculina, tendo em 2010 a maior diferença, já que as mulheres estudam em média 0,4 anos a mais que os homens. A relação dos anos de escolaridade com a redução da porcentagem de mulheres com número de filhos por faixa etária é inversamente proporcional, já que com o aumento do tempo gasto com o estudo, a maternidade acaba, por conseguinte, diminuindo. Outra relação que pode ser feita a partir dessas informações é sobre o aumento da concentração feminina na chefia do lar. Com a diminuição da maternidade conjuntamente ao aumento da escolaridade, as mulheres passam a exercer um papel de maior importância na família, já que estará consequentemente mais inserida no mercado de trabalho, podendo comandar a renda da casa. Pode-se analisar o crescimento feminino como chefes do lar a partir do gráfico abaixo: 33 % Figura 6: Chefes de família, por gênero, no Brasil, de 1992 à 2010. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80,7 75,1 61,3 38,7 24,9 19,3 1992 2000 Anos Homem 2010 Mulher Fonte: IBGE. Elaboração Própria. Em 1992, o sexo masculino representava 80,7% da figura de chefe da família, considerada pelo IBGE aquela pessoa responsável pelos demais moradores do domicilio, sendo apenas 19,3% dos lares comandados pelas mulheres, uma diferença de 61,4% entre os sexos. Com o passar dos anos, o aumento da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho, aliado ao aumento dos estudos e a posterioridade da maternidade, como detalhados anteriormente, fazem com que a proporção feminina de chefia das famílias cresça significativamente. Em 2000, as mulheres passaram a comandar 24,9% dos 44,8 milhões de domicílios particulares, fazendo a diferença entre os sexos cair para 50,2%. Contudo, em 2010 essa diferença diminuiu para 22,6%, já que 38,7% dos 57,3 milhões lares passaram a ser chefiados pelo sexo feminino. Outra relação que pode ser feita a partir dessas informações, é sobre o crescimento da renda per capita1 do brasileiro, fornecida pela PNAD e pelo IBGE, que pode ser vinculada ao 1 Renda familiar per capita: é a renda calculada dividindo a remuneração total pelo número de moradores do domicilio. 34 aumento da participação feminina no trabalho, nos estudos e como chefes do lar, já que com o salário da mulher complementando o sustento da família, a renda total por individuo aumenta consideravelmente, como apresentado abaixo: Tabela 63: Percentual do rendimento familiar per capita, no Brasil, de 1993 a 2009. Rendimento 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 Até 1/2 salário mínimo 42,3 33 31,7 32,7 31,7 32,1 29,1 23,5 23,3 De 1/2 a 1 salário mínimo 25,2 26,1 25,5 26,4 26 27,4 27,8 27 27,2 14,8 18 19,3 18,5 19,1 19,3 21,5 24,3 24,8 4,9 6,6 7,1 6,6 7 6,5 7,2 8,2 8,3 3,9 5,8 5,5 5,3 5,4 5 5,3 6,2 6 3,3 5,3 5,4 4,9 5 4,4 4,8 5,5 5,1 De 1 a 2 salários mínimos De 2 a 3 salários mínimos De 3 a 5 salários mínimos Mais de 5 salários mínimos Fonte: IBGE. Elaboração Própria. De acordo com os dados, de 1993 a 2009 o rendimento familiar per capita se modificou consideravelmente, já que como exposto, o percentual em 1993 de até 1/2 salário mínimo por individuo passou de 42,3% para 23,3% no ano de 2009, um declínio de 19%, transparecendo que os menores rendimentos per capita estão dando lugar para maiores salários, como é possível ver nos demais grupos, nos quais todos tiveram crescimentos significantes, podendo estar diretamente relacionado a força de trabalho feminina, que complementa a renda familiar, fazendo com que a renda per capita cresça. Dessa forma, pode-se concluir que a diferença entre os gêneros vem diminuindo com os anos na economia brasileira, e que o trabalho feminino está cada vez mais competitivo no mercado, tornando-se indispensável para o crescimento da sociedade. Entretanto, como analisado nessa seção, a existência de uma diferença salarial e de oportunidades entre os sexos ainda é bastante marcante, mesmo com o aumento da especialização da mão-de-obra feminina. 35 Na próxima seção serão discutidos os resultados expostos acima, fazendo uma análise detalhadas a fim de entender como ocorreu a inserção da mulher no mercado de trabalho, as diferenças entre os sexos feminino e masculino, e a razão da distinção de gêneros ainda estar presente no Brasil. 5 – DISCUSSÃO De acordo com o Relatório sobre o Desenvolvimento de Igualdade de Gênero (RDIG) realizado em 2012, que busca entender a existência do hiato entre os sexos e busca propor soluções para essa diferença, o termo igualdade de gênero significa: O gênero se refere aos atributos sociais, comportamentais e culturais, expectativas e normas associadas a ser uma mulher ou um homem. Igualdade de gênero diz respeito a como esses aspectos determinam como mulheres e homens se relacionam um com o outro e para as diferenças resultantes do poder entre eles. (RDIG, 2012, p.4) Nesse trabalho foi realizado uma pesquisa histórica para tentar compreender a fundo as diferenças existentes entre os sexos feminino e o masculino, principalmente no mercado de trabalho, e a partir dela foi possível compreender que mensurar a desigualdade dos gêneros é mais complicada que fazê-la com outras, como por exemplo raça, como cita o RDIG (2012), que divide em três diferenças principais, sendo a primeira, a dificuldade de medir o bem-estar separadamente de homens e mulheres que vivem na mesma casa; a segunda, as preferencias e necessidades entre os sexos são diferentes; e a terceira, é que a distinção de renda e classe afetam diretamente a desigualdade de gênero. A literatura sobre o tema acaba se dividindo em relação a unidade de medida dos sexos, já que alguns autores definem como igualdade de gênero a igualdade de oportunidades que os sexos obtêm ao decorrer de sua vida, enquanto outros acreditam que essa medida tem a ver com a igualdade de resultados, já que presumem que as preferencias e atitudes são aprendidas com o ambiente e a cultura, e não são inerentes dos seres humanos. Porém nesse estudo são utilizadas ambas as medidas, já que é difícil mensurar resultados sem citar as oportunidades dos indivíduos. Como visto na revisão bibliográfica, o cenário econômico de trabalho feminino passou por muitas transformações, desde a inserção da mulher no mercado até os dias atuais. O que se pode compreender é que nas sociedades mais antigas, em que o meio de troca é rudimentar e que o sistema patriarcal é o principal instaurador de regras, o espaço para o desenvolvimento de uma mulher trabalhadora é muito limitado, visto que essas vivem as sombras do poder 36 masculino até meados do século XVII, graças a cultura de valorização da imagem do homem como superior ao sexo oposto, fazendo com que as oportunidades femininas na época fossem extremamente escassas. Com o passar dos anos, a mão-de-obra feminina passa a ganhar importância com o advento do capitalismo, e principalmente a partir da instauração da indústria em cada país. Dessa forma é possível concluir que a evolução da mulher no mercado de trabalho está diretamente ligada a industrialização das regiões, já que a oferta de trabalho cresce substancialmente, abrindo as portas para a contratação feminina. Nesse período do século XVIII, o qual ocorreu a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, vemos o crescimento da participação da mulher nas fábricas e nos movimentos sindicais, o que revela um aumento do poder de decisão feminino nos países europeus, palco do cenário revolucionário. Já nos séculos XIX e XX a força trabalhista feminina atinge outros territórios, assim como a industrialização, tais como Estados Unidos (séc. XIX) e a América Latina (séc. XX), entretanto a desigualdade salarial entre os gêneros se acentua fortemente, gerando o crescimento dos movimentos feministas, que buscavam os direitos das mulheres, como o sufrágio feminino e igualdade de remuneração entre os sexos. Pode-se entender que a evolução dos movimentos feministas também estão ligados ao crescimento industrial e ao desenvolvimento em cada país, já que enquanto a Nova Zelândia consegue o direito feminino ao voto em 1893, os Estados Unidos em 1920, o Brasil o tem apenas em 1932. Ao analisar a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro fica ainda mais claro perceber que o aumento do contingente feminino empregado está diretamente ligado ao estopim da industrialização de cada país. Enquanto nos países europeus o aumento da inserção das mulheres no mercado de trabalho se deu no século XVIII, no Brasil o crescimento ocorreu apenas na década de 1930, no governo de Getúlio Vargas, o qual investiu fortemente nas empresas nacionais, incentivando a industrialização pesada no país. Com o decorrer dos anos, a mão-de-obra da mulher se torna indispensável para suprir a demanda de alguns empregos relacionados a bens e serviços no país, mas ainda de forma limitada, tornando os movimentos que lutavam pelos direitos feministas mais ativos, em busca de igualdade salarial e de oportunidade entre os sexos. Com isso, a partir da década de 1970 ocorre um crescimento feminino considerável no mercado de trabalho. 37 Contudo, um ponto importante que se pôde analisar com esse estudo é que mesmo nos dias atuais, os quais são envoltos por fortes leis e vários trabalhos que buscam solucionar o problema da desigualdade de gênero, ainda é comum encontrar distinções entre as oportunidades, salário e cargos exercidos entre os sexos. Um exemplo disso é a porcentagem ainda marcante de mulheres que desenvolvem atividades informais, o que pode ser relacionado diretamente com os afazeres da casa ainda realizados, na grande maioria, pelo sexo feminino. Os rendimentos femininos, embora tenham aumentado recentemente, ainda apresentam índices menores do que os masculinos, trazendo como resultado cultural adquirido ao longo dos séculos que considera a mão-de-obra do homem mais valiosa que a da mulher. Entretanto, o melhor desempenho da economia brasileira pode ser relacionado diretamente com o crescimento da produtividade feminina, como visto anteriormente, já que estas estão se especializando cada vez mais, tendo mais anos de estudo que o sexo oposto, postergando a maternidade, ganhando mais espaço no meio laboral, se tornando, em muitas famílias, chefes do domicilio, e consequentemente, contribuindo com o aumento da renda da casa. Esse ciclo acaba movimentando vários outros setores da economia, já que com o aumento da renda, a propensão a gastar também é elevada. No Brasil, essa evolução feminina pode ser ligada as inúmeras políticas sociais realizadas pelos governos mais recentes, como é o caso do Bolsa Família2, citado pelo Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome (MDS) e por autores como Rego e Pizani (2013), que repassa junto ao auxílio financeiro, maior autonomia para as mulheres mais pobres dos domicílios atendidos, já que oferece maior poder de escolha, de oportunidade e até mesmo, de compra. De acordo com o MDS (2014), 93% das famílias beneficiadas com o Bolsa Família são chefiadas por mulheres, um número bem maior do que a média nacional, e que estas utilizam o dinheiro recebido para comprar, principalmente, alimentos e roupas, evidenciando quão importante as políticas sociais são para a autonomia feminina e a diminuição da desigualdade entre os gêneros. Dessa forma, é possível concluir através desse estudo que o sexo feminino passou por intensas transformações, quebrando barreiras, preconceitos e culturas, a fim de conquistar seu espaço na sociedade. No mercado de trabalho, elas passaram de simples coadjuvantes a um 2 Bolsa Família: De acordo com o MDS, é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo território nacional, objetivando aqueles com renda familiar per capita inferior a R$ 77,00 mensais. 38 papel essencial na economia mundial, capazes de modificar os cenários com suas contribuições, interferindo diretamente na melhoria das condições socais. 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se com esse estudo que a participação feminina no mercado de trabalho e na sociedade como um todo evoluiu de maneira significativa, se transformando em um elemento fundamental do crescimento econômico e do desenvolvimento mundial. Também foi possível estabelecer a importante relação entre a inserção da mão-de-obra feminina com o início da forte industrialização em cada país, já que a demanda por trabalhadores aumenta consideravelmente, abrindo espaço para as mulheres entrarem no sistema, fazendo com que o crescimento dos movimentos feministas acontecessem em diferentes épocas de acordo com cada região. No Brasil, a industrialização aconteceu por volta da década de 1930, época que a mão-de-obra feminina começa a tomar força, enquanto em outros países essa já era uma realidade há algum tempo. Contudo, ao analisar o cenário nacional recentemente, mesmo com o decorrer de vários séculos de adaptação e aceitação das atividades femininas, ainda foram constatados dados que comprovam a existência de diferenças salariais, de tipos de emprego e de oportunidades entre os gêneros, mostrando que a cultura herdada ainda permanece, mesmo que mais amena, até os dias atuais. Mas ao considerar apenas os dados relacionados aos avanços conquistados pelas mulheres no mercado, pode-se perceber que o sexo feminino está ganhando cada vez mais o cenário econômico, possuindo mais anos de estudo que o sexo oposto, o que pode ser descrito como um melhor preparo para enfrentar a concorrência, sendo mães mais velhas e tendo menos filhos, já que passam mais tempo estudando, transformando-as, muitas vezes, em chefes das famílias, complementando a renda per capita do domicilio. Esses avanços podem ser relacionados as políticas públicas, leis e incentivos praticados pelo governo nos últimos anos. Dessa forma, cabe ressaltar que apesar dos números não serem totalmente justos, a busca pela igualdade entre os sexos está caminhando para conquistar seu objetivo, tendo em vista a importância da participação feminina no mercado de trabalho atualmente. 39 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Branca Moreira, PITANGUY, Jacqueline. O que é FEMINISMO. São Paulo: Ed. 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