REVISTA UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba Ficha Catalográfica Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. v.1, n.1 (1993)São José dos Campos: UniVap, 1993v. : il. ; 30cm . Semestral com suplemento. ISSN 1517-3275 1 - Universidade do Vale do Paraíba A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos de trabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveram participação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação total ou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa à fonte. CORRESPONDÊNCIA UNIVAP - Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Urbanova CEP: 12244-000 – São José dos Campos - SP - Brasil Tel/Fax: (12) 3947-1036 E-mail: [email protected] Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova CEP: 12244-000 - São José dos Campos - SP Fone: (12) 3947-1000 - www.univap.br Campus Centro: Campus Urbanova: Campus Urbanova/Jacareí: acesso pela Avenida Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000 Campus Villa Branca: Estrada Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora Jacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000 Campus Aquarius: Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim Aquarius São José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090 Campus Platanus: Campus Caçapava: Praça Cândido Dias Castejón, 116 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3928-9800 Rua Paraibuna, 75 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3928-9800 Avenida Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000 Avenida Frei Orestes Girardi, 3 - Bairro Fracalanza Campos do Jordão - SP - CEP: 12460-000 - Tel.: (12) 3664-5388 / 3662-4667 Estrada Municipal Borda da Mata, 2020 Caçapava - SP - CEP: 12284-820 - Tel.: (12) 3655-4646 Supervisão Gráfica: Profa. Maria da Fátima Ramia Manfredini - Departamento de Cultura e Divulgação - Univap / Revisão: Prof. Antônio Ravanelli e Profa. Alene Estelle Alder Rangel / Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3947-1036 / Impressão: Jac Gráfica e Editora - (12) 3928-1555 / Publicação: Univap/2010 SUMÁRIO Baptista Gargione Filho Reitor Antonio de Souza Teixeira Júnior Vice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade Sociedade Ailton Teixeira Pró-Reitor de Administração e Finanças Elizabeth Moraes Liberato Pró-Reitora de Avaliação Maria Cristina Goulart Pupio Silva Pró-Reitora de Assuntos Jurídicos Maria da Fátima Ramia Manfredini Pró-Reitora de Cultura e Divulgação Acadêmica Maria Helena Beolchi Rios Ribeiro Pró-Reitora de Projetos e Ação Social Samuel Roberto Ximenes Costa Pró-Reitor de Educação Superior e Educação Continuada Frederico Lencioni Neto Diretor Geral do Campus Villa Branca - Jacareí Eduardo Jorge Brito Bastos Diretor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo Luiz Carlos Andrade de Aquino Diretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba Emilia Angela Loschiavo Arisawa Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde Manoel Otelino da Cunha Peixoto Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação Maria Valdelis Nunes Pereira Diretora da Faculdade de Educação e Artes Sandra Maria Fonseca da Costa Diretora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento COORDENAÇÃO GERAL Antonio de Souza Teixeira Júnior REVISÃO DE TEXTO Antônio Ravanelli e Alene Estelle Alder Rangel DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃO Glaucia Fernanda Barbosa Gomes CONSELHO EDITORIAL Alexandro Oto Hanefeld Amilton Maciel Monteiro Antonio de Souza Teixeira Júnior Antônio dos Santos Lopes Cláudio Roland Sonnenburg Elizabeth Moraes Liberato Francisco Pinto Barbosa Frederico Lencioni Neto Heitor Gurgulino de Souza Jair Cândido de Melo Luiz Carlos Scavarda do Carmo Maria da Fátima Ramia Manfredini Maria Tereza Dejuste de Paula Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo Rosangela Regis Cavalcanti Samuel Roberto Ximenes Costa Vera Maria Almeida Rodrigues Costa v. 16 n. 28 mar. 10 ISSN 1517-3275 PALAVRA DO REITOR. ..................................................................................... 5 EDITORIAL. .......................................................................................................... 7 A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9 A DOCUMENTAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL NA PERSPECTIVA DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Míriam Ogava Ilhara, Elizabeth Moraes Liberato ........................................... 1 3 OS ATRIBUTOS DE UM BOM TRABALHO MONOGRÁFICO: REFLEXÕES E DIRECIONAMENTOS Isabel C. dos Santos, Adriana L. Oliveira, Paulo Renato de Morais .............. 2 0 UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE RESENDE NO SÉCULO XIX Julio Cesar Fidelis Soares .................................................................................... 2 9 ESTUDO SOBRE A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO EM EMPRESAS DA REGIÃO DE CONSELHEIRO LAFAIETE Auxiliadôra Aaparecida de Matos, Ângela de Castro Ochôa, Christiane Garcia Ribeiro, Ney Far Senra de Oliveira ................................................................... 3 5 VÍNCULOS ENTRE EMPRESAS E INSTITUIÇÕES LOCAIS: O CASO DA INDÚSTRIA DE PEÇAS AUTOELÉTRICAS NO MUNICÍPIO DE PEDERNEIRAS-SP Fred Aparecido Matano, Fabiana Florian, Helena Carvalho De Lorenzo .... 4 3 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TURÍSTICO DA ALDEIA GUARANI BOA VISTA DO SERTÃO DO PROMIRIM, UBATUBA/SP Rodrigo de Campos Macedo, Wilson Cabral Sousa Jr. ..................................... 5 2 ELETRODEPOSIÇÃO DE FILMES DE POLIPIRROL EM MEIO AQUOSO CONTENDO ÁCIDO CÍTRICO Andréa Santos Liu, Márcia Cristina Bezerra Melo, Liu Yao Cho ................. 6 4 DIAGNÓSTICO DOS ATERROS MUNICIPAIS DO VALE DO PARAÍBA (VP) E LITORAL NORTE PAULISTA (LNP) Camila Soares Tobiezi, Fabiana Alves Fiore Pinto, Rafael Ivens da Silva Bueno, José Renato Baptista de Lima .............................................................. 7 0 AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO HIGIÊNICO EM COLMEIAS DE ABELHAS AFRICANIZADAS DA EMPRESA SER APIS EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Ágata Lise S. Silva, Josiane Aline S. Silva, Nádia M. R. de Campos Velho .. 7 8 PILOTO AUTOMÁTICO PARA ÔNIBUS: UMA REALIDADE BRASILEIRA Mauricio Micoski, Leopoldo R. Yoshioka, Renato D. Costa, Landulfo Silveira Júnior, Antonio S. Teixeira Júnior ...................................................... 8 8 MERCADO BRASILEIRO DE GLICERINA: UMA ANÁLISE A PARTIR DA INSERÇÃO DO BIODIESEL NA MATRIZ ENERGÉTICA NACIONAL Márcia França Ribeiro Fernandes dos Santos, Suzana Borschiver .............. 102 REABILITAÇÃO MOTORA EM HEMIPLÉGICOS ESPÁSTICOS APÓS TRATAMENTO COM ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEURO MUSCULAR Alecsandra Araújo Paula, Mário Oliveira Lima, Fernanda Pupio Silva Lima, Paulo Roberto Garcia Lucarelo, Sergio Takeshi T. de Freitas ..................... 112 ASSOCIAÇÃO DA LASERTERAPIA COM PAPAÍNA NA CICATRIZAÇÃO DE ÚLCERA DIABÉTICA EM MEMBRO INFERIOR RELATO DE CASO Ciliana A. G. S. Oliveira, Karen C. M. de Moraes, Newton Soares da Silva 119 TERAPIA FOTODINÂMICA ANTIMICROBIANA: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FOTOSSENSIBILIZANTES Frederico Müller, Vinícius C. Oliveira, Alexandre L. Oliveira, Newton S. Silva122 VIBRATIONAL MODES OF THE CYSTEINE MOLECULE AND THE STRETCHING FORCE CONSTANT OF THE DISULFIDE BOND OF CYSTINE Kumiko K. Sakane, Mituo Uehara, Airton A. Martin .................................. 130 PALAVRA DO REITOR Chegamos ao número 28 desta Revista. Procuramos espelhar, nos artigos publicados, os esforços de nossos pesquisadores, focalizando assuntos que deles mereceram maior análise e aprofundamento. Com isso, a Revista cumpre sua obrigação, como veículo da informação da Univap, de propiciar a presença da produção de seu corpo de colaboradores na mídia, além de abrir oportunidade para a apresentação de trabalhos de pesquisadores de outras instituições. A Revista vem propiciando, por exemplo, apresentar artigos envolvendo tecnologias importantes dedicadas ao bem estar das populações. Esse é o caso do artigo “Piloto Automático para Ônibus: uma realidade brasileira”. Com o término desse Projeto, São Paulo será a primeira cidade que poderá ter ônibus com piloto automático, semelhante ao que ocorre nos aviões comerciais, o que aproximará a qualidade do sistema ônibus ao sistema metrô, porém a um custo menor. O Projeto, parcialmente terminado, depende só de entendimentos à parte relativa à guiagem magnética, como explicaremos a seguir. No caso do metrô, as composições se locomovem sobre trilhos de aço. No caso do Projeto, a ser instalado no “Corredor Bandeirantes”, que liga, em São Paulo, o Mercado Municipal ao Sacomã, passando pelo bairro do Ipiranga, os ônibus trafegarão, guiados por uma “trilha magnética” composta por imãs, instalados a cada 2m de distância ao longo da pista, de modo a interagir com sensores magnéticos nos ônibus. Não é preciso atuação do motorista, durante o percurso. Ele só intervirá para freiar e parar o ônibus, nas plataformas de acesso, e para entrar em movimento. A aproximação das plataformas de embarque é processada pela automação introduzida. Este projeto aguarda disposição da direção da SPTRANS, que controla o transporte coletivo em São Paulo, para terminá-lo. O Projeto, além da guiagem magnética, levou a término a automação das estações, com entrada e fechamento de portas e comando de voz. Com esses elementos, hoje o Expresso Tiradentes é o modelo de corredor de transporte público em São Paulo., conseguindo que os ônibus nele trafeguem com velocidade média superior à do metrô, conforme pesquisa publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo”, em 17/8/08, C8, Reportagem “Raio X do Transporte Coletivo”. Assuntos como esse, que representam o coroamento da interação universidade/empresa em benefício da qualidade de vida do cidadão – usuário, são obrigação das universidades, e a UNIVAP os assume com decisão. Baptista Gargione Filho, Prof. Dr. Reitor da Univap EDITORIAL As universidades vêm assumindo, de modo crescente, encargos inerentes à tríplice função que as caracterizam: ensino – pesquisa – extensão. As atividades de extensão, no caso da UNIVAP, necessitam de dedicação incomum de seus pesquisadores de tempo integral, pois, numa cidade como São José dos Campos, com dois Parques Tecnológicos e quatro Incubadoras, com o Programa PRIME com 90 empresas classificadas e as chamadas da FINEP, FAPESP E CNPq, de ajuda econômica, há uma provocação permanente para empresários e acadêmicos apresentarem novos projetos inovadores. Estamos, no momento, conduzindo um projeto referente ao tratamento térmico de resíduos urbanos, por plasma, com vitrificação final das cinzas volantes, obtidas com captação dos gases formados, de modo a reter nos produtos finais, vitrificados, resíduos como metais pesados, impedindo-os de voltarem a criar problemas ambientais, se absorvidos pela terra. Outro exemplo é a substituição de hemodialisadores, importados em larga escala, sem produção até agora, no país, o que o projeto em andamento almeja obter. Esse projeto está sendo programado, com parceria da empresa QUIMLAB, ex-incubada e hoje empresa próspera, com 45 servidores, graduados, mestres e doutorados. E os exemplos se multiplicam: propostas de empresas de leds, para investigar a ação de nanoparticulados especiais para melhor produção de luz; e todo tipo de prestação de serviços são propiciadas pelos laboratórios da UNIVAP, ajudando empresas na melhora de seus produtos. Só que essas tarefas são executadas por profissionais ocupados em todo tipo de atividades, com presença em simpósios, publicando resultados de pesquisa, com aulas e ainda mais a prestação de serviços em tarefas importantes, mas de grandes responsabilidades imediatas, cobradas quando o projeto é iniciado e com obrigações que se estendem muitas vezes a prestação de contas e de esclarecimento de detalhes não suficientemente entendidos pelas agências de financiamento. E às empresas parceiras nos desenvolvimento interessa que os resultados proporcionem lucros rápidos e patentes garantindo direitos a quem dedicou tempo e dinheiro no desenvolvimento do produto ou serviço obtido. São interesses respeitáveis dos empresários mas que nem sempre encontram ressonância nos pesquisadores. E o progresso do mundo depende, muitas vezes, dessa sintonia entre universidade e empresa, buscando a inovação que é um importante capital proporcionador de bons lucros. Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr. Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade e Vice-reitor da UNIVAP A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede à Praça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade de São José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita no Ministério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Inscrição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filantrópica e comunitária, que não possui sócios de qualquer natureza, com seus recursos destinados integralmente à educação, instituída por escritura pública de 24 de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1º Ofício da Comarca de São José dos Campos, às folhas 93 vº/96 vº, do livro 275. A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantida pela FVE, tem como área de atuação prioritária o Distrito Geoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção da educação para o desenvolvimento da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte (DGE-31). Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi: a) Campus Centro, em São José dos Campos, situado à Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à Rua Paraibuna, 75. b) Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi, 2911. c) Campus Urbanova/Jacareí, com acesso pela Av. Shishima Hifumi, 2911. d) Campus Aquarius, em São José dos Campos, situado à Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181. e) Campus Villa Branca, localizado em Jacareí, na Estrada Municipal do Limoeiro, 250. f) Campus Platanus, localizado em Campos do Jordão, na Av. Frei Orestes Girardi, 3. g) Unidade Caçapava,na Estrada Municipal Borda da Mata, 2020. A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange os cursos e programas a seguir descritos: 1) Graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham sido classificados em processo seletivo. 2) Pós-graduação, compreendendo programas de Mestrado, Doutorado, Especialização e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam aos requisitos da UNIVAP. 3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP. 4) Educação a distância, com uso de novas tecnologias de comunicação. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educação integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e ainda de Formação Profissional e Técnica. A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se: 1) 2) 3) 4) numa função política, capaz de colocar a educação como fator de inovação e mudanças na Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31; numa função ética, de forma que, ao desenvolver a sua missão, observe e dissemine os valores positivos que dignificam o homem e a sua vida em sociedade; numa proposta de transformação social, voltada para a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte; no comprometimento da comunidade acadêmica com o desenvolvimento sustentável do País e, em especial, com a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sua principal área de atuação. A UNIVAP está em permanente interação com agentes sociais e culturais que com ela se identificam. Como decorrência da demanda de seus cursos ou dos serviços que presta, estabelece convênios com instituições públicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estes convênios resultam na cooperação técnica e científica, na qualificação de seus recursos humanos e tecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos e na prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizada na trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, traz consigo a marca da participação comunitária, a partir do compromisso que tem com a sociedade regional, alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica, na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidade e no exercício da tríplice função constitucional de assegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional, ensino e extensão. Como atividades de extensão, destacam-se, na UNIVAP, aquelas relativas à Comunidade Solidária, que têm por objetivo mobilizar ações que contribuam para a alfabetização e melhoria da qualidade de vida de populações carentes. Dentro deste Programa, foram realizadas, a partir de 1998, atividades nas áreas de Saúde, Higiene, Cidadania, Educação e Lazer, em Santa Bárbara (BA), Beruri (AM), Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE), Coreaú (CE), Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras (CE), Atalaia do Norte (AM), Pão de Açúcar (AL), Canguaretama (RN), Goianinha (RN), Maxaranguape (RN), Pedra Preta (RN), Preto Velho (RN), Vila Flor (RN) e 9 São Benedito (CE) e, no Vale do Paraíba, nas cidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Paraibuna, São Francisco Xavier e São José dos Campos. Com atuação no Vale do Paraíba, destacam-se: a) cursos de alfabetizadores, com 140 concluintes; b) projeto cultural Meu Bairro, sobre a história e origem do bairro de residência; c) visitas mensais de avaliação e acompanhamento das salas montadas em diversos bairros, seguidas de Mostra Cultural, com apresentações de teatro, dança, poesias na festa de encerramento; d) incentivos aos alfabetizadores a prosseguir estudos. A partir de janeiro de 2005, a UNIVAP participa do Projeto Rondon / Ministério da Defesa. Desde então atuou em: Atalaia do Norte (AM); Vale do Ribeira (SP) - Itaóca, Itapirapuã Paulista, Ribeira; Muribeca (SE); Piraí do Norte (BA); Jordão (AC); Madeiro (PI); Chuí (RS); Cerro Branco (RS); Curuá (PA); Itacajá (TO); Paranaiguara (GO). Todas as pesquisas institucionais da Universidade estão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), o qual executa programas e projetos e congrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP, envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nas áreas sócio-econômica, genômica, instrumentação biomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e desenvolvimentos educacionais, ciências ambientais e tecnologias espaciais, computação avançada, biomédicas, atrai e dá condições de trabalho a pesquisadores de grande experiência, do País e do exterior. Os alunos têm condições de participar, com os professores, de pesquisas, executando tarefas criativas, motivadoras, que propiciam a formulação de modelos e de simulações, trabalhando com equipamentos de primeira linha, e isto faz a diferença entre a memorização e a compreensão. Bolsas de estudo vêm sendo oferecidas a alunos e pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer por instituições como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP. O esforço da UNIVAP em construir, no Campus Urbanova, uma Universidade com instalações especiais para cada área de atuação, com atenção especial aos laboratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade, compatível com as exigências da sociedade atual. A UNIVAP, para o ano letivo de 2010, fiel ao lema de que “o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminhar mais seguro”, oferece, à comunidade da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, diversos cursos, que vão desde a Educação Infantil à Pós-Graduação, passando inclusive pelo Colégio Técnico Industrial e pela Faculdade da Terceira Idade. CURSOS DE GRADUAÇÃO - Administração - Arquitetura e Urbanismo - Artes Visuais - Biomedicina - Ciência da Computação - Ciências Biológicas - Ciências Contábeis - Comunicação Social: Jornalismo - Comunicação Social: Publicidade e Propaganda - Comunicação Social: Rádio e TV - Direito - Educação Física - Enfermagem - Engenharia Aeronáutica e Espaço - Engenharia Ambiental - Engenharia Biomédica - Engenharia Civil - Engenharia de Alimentos - Engenharia da Computação - Engenharia de Materiais - Engenharia Elétrica/Eletrônica - Engenharia Química - Farmácia - Física - Fisioterapia - Geografia - História - Letras (Português) - Matemática - Moda - Nutrição - Odontologia - Pedagogia - Química - Serviço Social - Terapia Ocupacional - Turismo CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA - Gastronomia 10 - Gestão Ambiental Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU - Doutorado - Mestrado - Engenharia Biomédica - Física e Astronomia - Bioengenharia - Engenharia Biomédica - Física e Astronomia - Planejamento Urbano e Regional LATO SENSU - Cursos de Especialização - Curso de Especialização a Distância - Alfabetização e Letramento - Análise de Falhas de Materiais - Contabilidade Internacional e Controladoria - Cultura Popular Brasileira - Docência para Educação Profissional na Área da Saúde - Enfermagem em Cuidados Críticos/Cardiologia - Engenharia da Qualidade - Gerontologia e Família - Gestão de Projetos - Gestão Empresarial - Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos - Neurologia Funcional - Planejamento e Gestão Ambiental - Psicopedagogia: Clínica e Institucional - Saúde da Família - Jornalismo Científico Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 - Cursos de Extensão - Gestão de Pessoas - Implantodontia - Periodontia 11 São José dos Campos Com cerca de 600.000 habitantes, São José dos Campos é o município com maior população na sua região, sendo que seu grande desenvolvimento começou realmente com a construção da Rodovia Presidente Dutra e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a localização estratégica e privilegiada entre São Paulo e Rio de Janeiro e a topografia apropriada para a construção de grandes indústrias possibilitaram que a cidade crescesse vertiginosamente na década de 70, passando a ser uma das áreas mais dinâmicas do Estado e a terceira maior taxa de crescimento da década de 80. De 1993 para cá, a cidade passou por grandes transformações, alcançando avanços na área da saúde, indústria e comércio, educação, da criança e adolescente, saneamento básico e construção civil. O comércio de São José dos Campos é bastante desenvolvido e vive um período de extensão, com vários centros de compras e grandes supermercados e Shopping Centers. Com mais de 800 indústrias, 4.000 estabelecimentos comerciais e superando 7.000 prestadores de serviço, o perfil industrial de São José dos Campos tem dois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespacial e aeronáutica, como a Embraer, e com a Petrobras, no tratamernto do petróleo e derivados, e outro diversificado, com indústrias, como a General Motors, Johnson & Johnson, Rhodia, Monsanto, Hitachi, Bundy, Ericsson, Eaton e outras. É, no Brasil, o 7º colocado em valor adicionado bruto (12,09 bilhões de reais) e o 10º em relação ao PIB (17,7 bilhões de reais), segundo dados do IBGE, em 2004. O orçamento de 2007 do município prevê receita de 998,6 milhões de reais, sendo 291,6 milhões para Educação e 271,8 milhões para Saúde. São José dos Campos possui, como resultado da atuação de suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais e dos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta, mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos destacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seus Institutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto de Fomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Instituto de Estudos Avançados. Com uma vida cultural bastante intensa, o município conta com uma Fundação Cultural e vários espaços culturais, como o Museu Municipal, galerias de arte, centros de exposição, casas de cultura, Museu de Aeronáutica, Teatro municipal, Cine-Teatro Benedito Alves da Silva, 12 Cine-Teatro Santana e o Teatro Univap Prof. Moacyr Benedicto de Souza, cinemas, emissoras de rádio FM e AM, Central Regional da TV Globo, jornais diários com circulação regional, além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares, Universitárias e de Pesquisa, como a da UNIVAP, a do INPE e a do ITA. A UNIVAP integra, com o CTA e do INPE, importante núcleo de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escola à Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e da Terceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorporação da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP, permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com empresas e instituições do município, notadamente as de ensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, além de interação com FAPESP, CNPq, FINEP-MCT e universidades do país e do exterior. As atividades de extensão ganharam grande reforço com a instituição do Parque Tecnológico Univap, cujo edifício-sede, inaugurado a 1 de abril de 2005 e já abriga cerca de 30 empresas portadoras de tecnologias de futuro, instaladas em edifício moderno, de sete pavimentos e 19.000 m2 de área construída. O edifício-sede já está com sua área de utilização totalmente ocupada e deve ser dada origem a novo edifício, para atender novos pretendentes. O campus Urbanova, com área de seis milhões de metros quadrados, constitui, com seus edifícios abrigando as Faculdades, o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IP&D, Biblioteca e Administração universitária, o Parque Tecnológico Univap, cujo edifício-sede foi descrito. De futuro, está previsto moderno Núcleo de Indústrias e Centros de Prestação de serviços, de médio e grande porte, dedicados, da mesma forma que o edifício-sede, a empresas de tecnologias geradoras de produtos inovadores. Um Centro de Residências próximo reunirá, no mesmo campus, empresários, pesquisadores, dirigentes universitários e docentes, num conjunto no qual Ciência e Tecnologia se completem e produzam resultados marcantes. O ideal, consubstanciado na definição de Universidade, como sendo a instituição que pratica, de modo indissociável, ensino, pesquisa e extensão, conforme preceitua o Art. 207 da Constitutição Federal, passa a ser uma realidade plena. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 A Documentação em Serviço Social na Perspectiva da Tecnologia da Informação Míriam Ogava Ihara * Elizabeth Moraes Liberato ** Resumo: Este trabalho pretende expor a importância da informação em processo informatizado como componente inserido na contemporaneidade da atuação do Assistente Social. Em parte, é um fenômeno decorrente do crescimento da tecnologia da informação nos diversos segmentos do mundo do trabalho, lazer e na sociedade em que vivemos. A questão preocupante estaria, sobretudo, na possibilidade de acesso às informações por profissionais da área administrativa, gerando insegurança quanto ao caráter sigiloso do trabalho que é realizado pelo Serviço Social e outras áreas interligadas pelo caráter interdisciplinar da ação, no contexto da Empresa. Palavras-chave: Documentação em Serviço Social, Tecnologia da Informação, sistemas de informatização, banco de dados. Abstract: This paper discusses the importance of computerized information as a component of contemporary Social Work. The improvement of information technologies is growing in diverse segments of work, leisure, and the society in general. The worry is that the access of data by the administrative professionals may lead to troubles with confidential information necessary in Social Work and similar areas. Key words: Documentation in Social Work, Information Technology, Information Systems, data processing. 1. INTRODUÇÃO A prática profissional do Assistente Social nas organizações/instituições e a compreensão de sua dinâmica na especificidade do Serviço Social de empresa apontam a necessidade de se trabalhar com as informações de modo organizado, informações essas que dão suporte à tomada de decisões. Assim, o texto discorre sobre a documentação em Serviço Social, permitindo visualizar a importância das informações em tempo real aliada à utilização da tecnologia da informação, para que o trabalho do Assistente Social possa tornar-se mais ágil, em um setor cada vez mais procurado na empresa, na atual conjuntura. Nesse setor de trabalho, ressaltamos a importância de se coletar, armazenar, organizar, preservar as informações referentes à memória dos casos e relatos, objetivando, com isso, subsidiar a formulação de novas propostas e * Graduada em Serviço Social da UNIVAP. ** Doutora em Serviço Social. Pró-Reitora de Avaliação e Professora da UNIVAP. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 políticas de ação, visando sempre a melhoria no atendimento e nos serviços. Diante das novas tendências de Serviço Social em empresa, que assume cada vez mais o seu papel na assessoria à gerência, entendemos que merece destaque a necessidade da qualificação dos profissionais da área, por meio de projetos de treinamento, capacitação ou formação a distância, mantendo-os atualizados e em sintonia com as novas exigências do mundo globalizado, entre elas as novas tecnologias de informação. 2. SERVIÇO SOCIAL – A AÇÃO PROFISSIONAL O Serviço Social, profissão que tem como foco a intervenção na realidade, tem como um dos seus objetivos somar-se às forças sociais em busca das transformações sociais a partir da intencionalidade de sua ação. A metodologia do Serviço Social compreende estudo dos métodos, das técnicas, dos instrumentos e das formas da prática profissional. Os métodos referidos correspondem às teorias sociais, que orientam a ação do profissional do Serviço Social. 13 Segundo Falcão (1981), [...] a metodologia do Serviço Social é ampla, abrangendo não só as operações definidas pelo método, mas, igualmente, um conjunto de princípios, de ações técnicas, de habilidades e atitudes. A metodologia do Serviço Social evoluiu, atingindo um nível de sistematização que lhe garantiu o conteúdo teórico e prático, com base no grau significativo de elaboração de sua prática. Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social constituem elaborações privativas do Assistente Social conforme art 5º, I, do Código de Ética do Assistente Social (1993). 1.1 Novas perspectivas de atuação profissional: o perfil do profissional, hoje As profissões se constituem e se desenvolvem na dinâmica das relações sociais e das forças produtivas de determinada sociedade. A prática do Serviço Social se insere nos movimentos das classes sociais constituintes do sistema capitalista. Desde os primórdios de sua criação, o Serviço Social encontra-se inserido nas contradições das relações sociais entre classes sociais e Estado. Ao atender as demandas da sociedade e as exigências das questões sociais, o assistente social define seu espaço profissional a partir da capacidade da profissão de responder às demandas dessa sociedade. Para tanto, deve investir no conhecimento técnico e intelectual continuado. Atualmente, no Brasil, a profissão está consolidada do ponto de vista de produção teórico-científica e da organização da categoria. Todavia, a atuação profissional exige que o Assistente Social tenha conhecimento do contexto histórico, incorpore conhecimento intelectual, ideológico e político, além do reconhecimento social da profissão. Para Guerra, o assistente social “é expressão histórica do movimento das classes sociais e resultado da implementação do projeto ético-político profissional” (GUERRA, 2002, p. 12). fissão é o de um técnico que compreende o significado político da sua profissão e que saiba analisar teoricamente os processos sociais sobre os quais a sua ação se debruça” (GUERRA, 2002, p. 25). 2. OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS EM SERVIÇO SOCIAL A concepção de instrumental compreende o conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem operacionalização da ação profissional; são meios pelos quais se realiza a ação. O instrumental é o conjunto de estratégias, articulações, incluindo a habilidade e conhecimento do agente que possibilita a realização da ação profissional, é o mecanismo que permite a realização da ação, sua operacionalização e avaliação. A técnica é entendida como habilidade no uso do instrumental; a criatividade está no uso da habilidade técnica e reside no agente. A linha operacional das profissões abrange não só o campo das técnicas, mas também conhecimentos e habilidades. É, ainda, a categoria profissional que os constrói a cada momento, partindo das finalidades das ações a desenvolver, dos determinantes políticos, sociais e institucionais. Conforme assinalam Martinelli e Koumrouyan, “À instituição, enquanto organização, cabe produzir instrumentais que garantam basicamente o acompanhamento dos programas em execução, a mensuração dos resultados obtidos e a relação estabelecida entre os custos e os benefícios. Tais instrumentais, de natureza quantitativa, respondem mais prontamente às exigências técnico-burocráticas e tem como característica básica o fato de serem produzidos nas instâncias superiores da instituição, diferentes portanto daquelas onde serão operacionalizados”. (MARTINELLI; KOUMROUYAN, 1994, p. 138) 2.1 Características do Instrumental O que define a profissão é a existência de interesses antagônicos entre as classes; para atender esse conflito o Estado cria mecanismos materiais e ideológicos que seriam as políticas sociais. Os instrumentais quantitativos são relacionados à eficiência, à padronização dos dados e informações solicitadas, respondem às diretrizes institucionais. É preciso ter criatividade, no sentido de interpretar os dados extraídos e, consequentemente, trazê-los para a prática. Como diz Guerra, saber compreender e analisar a conjuntura, ter a visão e saber antecipar o futuro, é um processo que trará ganho profissional, “o perfil de pro- Os instrumentais qualitativos correspondem ao compromisso e intencionalidade dos profissionais que os constroem e os utilizam, que visualizam o produto 14 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 final das ações, os resultados alcançados por meio da prática institucional, que usam de criatividade para construção coletiva do fazer profissional. O alcance e a direção do uso dos instrumentais são determinados pelo agente institucional e por sua consciência crítica. ética, é preciso atenção quanto ao sigilo dos prontuários do Serviço Social. “Os prontuários constituem material confidencial que não pode ser divulgado senão dentro de determinadas condições que se prendem à finalidade e ao funcionamento da entidade” (VIEIRA,1973, p. 305). Os instrumentais qualitativos estão associados à uma concepção educativa, como processo de acompanhamento de uma ação programática, com finalidade de produzir conhecimentos que aumentem a capacitação e a iniciativa para produzir transformações na ação profissional. O sigilo profissional é um dos deveres mais importantes visto que o usuário deposita toda confiança no profissional. Portanto, todos da equipe interdisciplinar, inclusive supervisores que tiverem acesso ao prontuário, deverão manter sigilo para preservar os dados do usuário. 2.2 A Documentação em Serviço Social 3. OS SERVIÇOS, BUROCRACIA DOS SERVIÇOS E O SERVIÇO SOCIAL Dentre os instrumentos de ação do Serviço Social, a documentação é um elemento importante. Diz Vieira, “A documentação do Serviço Social é o meio que permite relacionar o trabalho específico da entidade com a situação total da comunidade, averiguar as causas e os efeitos dos problemas sociais, avaliar o resultado da aplicação das técnicas, aperfeiçoar os profissionais e proporcionar uma visão de conjunto (...) .” (VIEIRA,1973, p. 297) A documentação é a parte concreta da metodologia do Serviço Social, que permite não somente registrar as observações e atividades, mas também analisar os processos, avaliar as condições, os problemas encontrados, os resultados, enfim sistematizar as ações. Para o Assistente Social, as informações colhidas no cotidiano de trabalho são impossíveis de serem memorizadas por muito tempo, em todos os seus detalhes; no entanto, os registros são imprescindíveis para o desempenho profissional. A importância da documentação está em como o Assistente Social vê a situação, a técnica empregada, a providência a ser tomada; possibilita verificar se a conduta foi adequada e os resultados obtidos para avaliar a prática à luz da teoria. Todas as abordagens, sejam individuais, grupais ou aquelas realizadas em nível de comunidade, devem ser registradas para permitir continuidade da ação profissional que permitirá analisar as diretrizes da entidade, os problemas encontrados, e a qualidade do atendimento. Os relatórios identificam o usuário e o tipo de demanda que busca o atendimento no Serviço Social. A falta de relatórios e estatísticas dificulta a interpretação dos processos do Serviço Social, principalmente na utilização dos serviços sociais públicos. Quanto à questão Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Serviço, na concepção de muitos, chega a ser entendido como uma atividade que implica utilidade e valores. As diversas visões trazem à tona uma série de questionamentos porque a “tendência é avaliar o serviço pela atividade que cumpre, pelo seu conteúdo, pelo que faz e como o faz” (KARSCH, 1989, p. 25). Segundo Karsch, o serviço se mostra como um mecanismo produtivo do capital monopolista, e se configura no modelo administrativo, sendo que, alguns elementos acabam se transformando, como autoridade, centralização, atribuições, prioridades. Os serviços surgem e desaparecem em consequência das transformações tecnológicas ou ideológicas. O serviço tem a função de fazer cumprir as normas e regras, as diretrizes impostas, a fim de atingir os objetivos propostos. Assim, os serviços burocratizam, seguindo detalhes bastante específicos para atender os interesses do poder. Embora haja tendência à desburocratização, vem aumentando cada vez mais as atividades burocráticas. No caso da empresa, o processo de trabalho está sempre em transformação. Para não se gastar em investimentos, técnicas e manutenções em máquinas, as empresas modificam o ritmo de trabalho, colocando serviços de estímulo aos recursos humanos. Para manter o equilíbrio entre o homem e máquina, os serviços internos buscam garantir o controle, através de estratégias de gestão. É o tamanho da empresa que determina as condições do processo do trabalho. Quando a empresa tem lucros, esses serviços são mantidos e quando não, a tendência é subtraí-los do processo produtivo. Hoje, desenvolvem-se serviços organizados, os departamentos deixam de ser apenas atividades e passam à cooperação. No sistema público, nos centros urbanos, o que se observa é que há, cada vez mais, a expansão de servi15 ços para dar conta das demandas e, principalmente, criar formas racionais de atendimento. As atividades técnicas também cumprem um ritual burocrático, em que um outro técnico pode não entender bem o que foi feito, mas aceita sem menor interesse pelo entendimento. Para Karsch, cada organização produz uma burocracia específica para “salvaguardar-se das ameaças, fazendo com que todos dependam de todos, eliminando os limites impostos pela divisão do trabalho”. (KARSCH, 1989, p. 36). O Serviço Social se insere na área de Serviços, como parte do processo de institucionalização da profissão nas instituições e organizações. 3.1 O Serviço Social e a Empresa Na fala de Karsch, as atividades que competem ao Serviço Social na empresa são diversas e derivam do: “[...] sistema de comunicações internas, as prioridades financeiras, o movimento do capital, o estilo da administração, as facilidades de compreensão, o excedente econômico, o avanço tecnológico, tudo transforma as necessidades e as utilidades, que caracterizam a existência e a subsistência do Serviço Social na empresa”. (KARSCH, 1989, p. 47) “A divisão de Serviço Social na empresa em questão auxiliada e incentivada pelo desenvolvimento tecnológico a serviço da cooperação (relatórios, índices e números fornecidos por computadores que criam novas referências de avaliação de produtividade) assume atividades de informação e comunicação que alimentam novas iniciativas de controle da crise e manutenção do equilíbrio interno” (KARSCH, 1989, p. 49) do para reduzir o absenteísmo, trabalhando nas questões que envolvem benefícios, entre outros. Diz Lemos: “[...] sob o enfoque de participação localizamos o Serviço Social com uma ação sistêmica, focalizando a organização como o seu cliente em potencial, constituindo-se entre outros, dos recursos humanos geradores dos fenômenos sociais e funcionais na organização”. (LEMOS,1990, p. 4) As empresas, ao longo dos anos, vêm reinventando a gestão organizacional por meio de um processo de inovação, cuja base, encontra-se nas formas de integrar a organização, a tecnologia e as pessoas. Neste sentido, para os profissionais do Serviço Social a informação passa a ser um elemento fundamental e é condição necessária para analisar os problemas e tomar as decisões. As novas tendências trouxeram bem mais que simples reflexos na utilização das informações, transformou a forma de atuação e a postura do profissional no processo decisório, como gerenciador de informações. 4. AREVOLUÇÃO INFORMACIONAL Lojkine, ao analisar a revolução informacional, apoia-se nos estudos de Locken e Bell. Ao referenciar sobre a Sociedade Pós-industrial, Locken (LOCKEN apud LOJKINE, 1994, p. 27) coloca em discussão as teses que defendem a ideia da substituição da produção material pela informação. Hoje, existem opiniões que invalidam tais pensamentos. No atual contexto, a produção da informação traria benefício no sentido de uma aproximação que implicaria nas relações dialéticas entre indústria e serviços, ciência e experiência, concepção e fabricação, entre assalariados da produção e assalariado da concepção. Os conhecimentos que os Assistentes Sociais possuem são utilizados para diminuir os elementos que põem em risco os objetivos das empresas, fornecem informações sobre o andamento do trabalho e das condições sociais. Para Bell, a sociedade informacional seria a sociedade do saber e do conhecimento teórico. Todos os recursos humanos, em qualquer estágio do processo de produção, estão interessados na inovação, destacando a interação ciência-inovação em cada fase, a inter-relação, a troca de informação em todos os setores da empresa, o que resulta em eficácia. Lemos assinala: “O Serviço Social na organização é verdadeiramente, um órgão de promoção dos recursos humanos e não de intermediação” (LEMOS, 1990, p. 5). 4.1 Os desafios da informatização Hoje, diante das novas tendências do Serviço Social em empresa, predomina o deslocamento do Serviço Social para a área de recursos humanos, em geral, assessorando a gerência, auxiliando na criação de comportamento produtivo da força de trabalho, contribuin- 16 O ser humano possui habilidades diversas, capaz de produzir, criar e memorizar. No entanto, apresenta limitações quanto à retenção total das informações. O fato é que neste mundo globalizado, segundo Quéau (2006), a “globalização não é universal, não afeta a todos da mesma maneira”, há uma diversidade, um número cada vez Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 maior de informações e acessos livres, que são impossíveis de memorizar, e ainda o que se recorda não é tão confiável. Além disso, nesta era da informação, o tempo disponível que as pessoas possuem é cada vez mais escasso. Com o avanço tecnológico nas mais variadas áreas, nota-se o impacto causado, principalmente na forma de viver do homem, seja no trabalho, seja no lazer; tudo isso leva à necessidade de buscar formas mais eficientes para trabalhar com as informações que são essenciais para o seu cotidiano. Hoje, uma pessoa, através da Internet, tem a facilidade de se comunicar virtualmente e acessar os mais diferentes tipos de informações; são informações que ela poderá usufruir para suprir suas necessidades, seja de ordem pessoal ou profissional. No entanto, as pessoas sofrem, também, uma sobrecarga de informações, ou seja, diariamente recebem mais informações do que pedem, precisam ou desejam, acarretando assim prejuízos à sua saúde. A poluição visual, por exemplo, traz consequências graves à capacidade de concentração, raciocínio, provocando distúrbios de sono e estresse, a tão conhecida doença contemporânea. No campo profissional, cada vez mais, as pessoas são solicitadas a absorver conhecimentos em todas as áreas, para tornarem-se competitivas no mercado de trabalho. O mercado de trabalho procura profissionais altamente qualificados, capacitados e polivalentes que desempenhem um conjunto diversificado de novas atividades, sejam criativos e bem relacionados. Muitos profissionais recorrem a cursos de pós-graduação para complementar seus conhecimentos, submetem-se constantemente a novos cursos, porém o mais importante no mercado de trabalho é ser um profissional qualificado no uso de tecnologias da informação. Hoje, a digitalização da informação, a cada dia, cresce de maneira desenfreada. Qual será o impacto disso? A tecnologia da informação impactará nos aspectos econômicos, sociais, culturais e até mesmo nos aspectos bio-psico-sociais, porque o homem se vê pressionado a adaptar-se à nova realidade. Atualmente, não se pode falar dos aspectos relacionados à tecnologia da informação sem mencionar a Internet, a estruturas de redes, a base de dados em CD, pen-driver, que são instrumentos de armazenamento de informações e outros assuntos que envolvam o uso de computadores. Neste sentido, um requisito essencial para o profissional, em qualquer área, é o domínio da tecnologia da informação que, a cada dia, se diversifica e alcança maior sofisticação. 5. O SERVIÇO SOCIAL E ATECNOLOGIADA INFORMAÇÃO, EM FUTURO PRÓXIMO Segundo Raffoul e Mcneec Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 (1) (1996), o Serviço Social deste novo milênio terá que se preocupar com o desenvolvimento da tecnologia da informação, inserida diretamente no cotidiano do Assistente Social. As mudanças na prática do Serviço Social, frente aos impactos da tecnologia da informação, afetarão não só os profissionais, mas seus usuários e serviços. A visão que se tem sobre a tecnologia de informação abrangerá, em suas muitas formas, o trabalho em rede a longa distância, que permite a transmissão não apenas em texto como também em voz e imagens. A cada dia, os computadores vêm correspondendo às expectativas humanas, interagindo com as pessoas, executando tarefas e se comunicando através de comandos falados ou por imagem e se tornarão mais eficazes, comuns e rotineiros. As comunicações estão sendo digitalizadas e a sua transmissão, seja de voz, dados, gráficos e vídeos, será enviada para qualquer localidade através de um único sistema de transmissão. A comunicação entre as pessoas, seja com seus familiares, com grupos será facilitada através de vídeo conferência, não sofrendo dificuldades com as barreiras da distância. Os computadores aumentaram sua capacidade de armazenagem de informações e possuem habilidades para criar as novas. Executarão atividades humanas e desafiarão as definições aceitas de inteligência humana e provocarão uma redefinição. O aumento da capacidade de processamento de informação é certo que aliviará muitas atividades cognitivas do homem. Na prática direta do Serviço Social o impacto ainda será menor se comparado ao que poderá advir, como o acesso aos programas de auto-ajuda interativos. Assim, ocorrerão inovações no dia a dia da prática do Serviço Social na forma como hoje está sendo desenvolvido. “Os registros dos clientes serão automatizados e o Assistente Social poderá se comunicar com o computador que registrará as informações em texto, para posterior utilização e análise.” (WALLACE; RONALD, 1996, p. 22 apud RAFFOUL; MCNEEC, 1996) Os Assistentes Sociais levarão o laptop para anotações, conectados à rede e poderão interagir com outros profissionais em qualquer lugar do mundo, poderão ter acesso e inserir informações, coordenar compromissos e obter informações. O Assistente poderá procurar um banco de dados bibliográficos para buscar informações sobre as novas intervenções. Com registros de cliente automatizados, o Assistente Social poderá fazer uma avaliação de seus trabalhos, programas e intervenções realizados e identificar 17 sua efetividade. Como dizem Wallace e Ronald, “Estas ferramentas funcionarão mais como um auxílio ao Assistente Social cuidando de muitas das tarefas de administração de informação rotineira, livrando o Assistente Social para se ocupar com os aspectos mais inovadores e altamente qualificados de prática” (WALLACE, RONALD, 1996, p. 22 apud RAFFOUL; MCNEEC, 1996). Irá o registro computadorizado cuidar da principal reclamação dos Assistentes Sociais hoje, a documentação escrita, a burocracia? “Com a explosão da Tecnologia da Informação o volume das informações armazenadas permitirá uma administração com maior eficácia. Assim, talvez os Assistentes Sociais gastem menos tempo documentando e analisando serviços, é quase certo que eles manterão melhor e mais informações sobre seus casos.” (WALLACE, RONALD, 1996, p. 23 apud RAFFOUL; MCNEEC, 1996) Com a TV interativa, compact disc-interativo (CD-i) e outras tecnologias de multimídia interativas, um conjunto de apoio psico-social de intervenção interativos estarão disponíveis. Estas tecnologias permitirão aos participantes interagirem com o programa a que estão assistindo. Num futuro não tão remoto, como tecnologia de auto-ajuda de multimídia, o novo papel do Serviço Social emergirá, no qual o Assistente Social fará parte da equipe do desenvolvimento de multimídia. As inovações, com certeza, dependerão de investimentos e recursos aplicados em tecnologia, mas é possível vislumbrar programas em que as comunidades serão contempladas para interagirem sem a necessidade dos participantes estarem no mesmo lugar. Os excluídos, como as pessoas ineptas, idoso frágil poderão participar através da tecnologia como vídeo conferência ou TV interativa. Para assegurar acesso igual à nova comunidade eletrônica, programas que proveem apoios para as pessoas de baixa-renda precisarão incluir apoios de tecnologia da informação. Os Assistentes Sociais precisarão ser os defensores de políticas que apoiam acesso igual à tecnologia e inclusão digital. As agências no ramo de atendimento de caso serão reconfiguradas para usar técnicas de vídeo conferência para contatar seus clientes. Desse modo, a família 18 que não tiver a tecnologia de vídeo conferência em casa poderá dispor de alguns pontos de acesso de bairro. Haverá um impacto profundo da tecnologia de informação no ensino e treinamento do Serviço Social, com exigências sobre o domínio do conhecimento, mas também de outras habilidades que serão requeridas na prática efetiva na era da informação. Há que se considerar que as pessoas que procuram o Serviço Social esperam agilidade no atendimento, solução de seus problemas urgentes e introdução de novos benefícios. A informação, além de ser uma ferramenta, é também um dos principais produtos do Serviço Social, devendo então ser observada a importância para o desenvolvimento de uma sistematização dos trabalhos e sua normatização, que proporcione e corresponda ao modelo de gestão proposto pela Instituição e sendo, ao mesmo tempo, fator de indução de mudanças internas. Assim, o Assistente Social deverá estar capacitado para lidar com o instrumental do Serviço Social em suas novas formas. Com a informatização no Serviço Social, a prática do Serviço Social sofrerá muitas mudanças. Exigirá mudança significativa no currículo do programa educacional do Serviço Social e atualização dos Assistentes Sociais. Precisarão ser competentes no uso da tecnologia da informação, precisarão saber o quê, como e quando usar ferramentas interativas de diagnóstico, como utilizar multimídia de intervenção interativa. Hoje, a informação no Serviço Social já tem focado estudos que valorizam a implantação de sistemas para tratamento das informações, como banco de dados integrados para o uso dos prontuários médicos, psicológicos e sociais, limitando o uso de cada área através do código de acesso por nível de usuário, para não violar as questões éticas de cada profissional e sua área de atuação. Faz parte deste processo a exigência de habilidades do novo profissional de Serviço Social no tratamento das informações, competência que deverá ser buscada por meio de cursos e treinamentos especializados. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entendemos que, o profissional deve dominar a utilização e o conhecimento da tecnologia da informação, buscando cursos, mantendo-se atualizado. Hoje, os equipamentos (hardware) são mais avançados em relação aos softwares. No entanto, os equipamentos se tornam rapidamente obsoletos e caem em desuso e os softwares, por sua vez, sofrem um processo mais lento, apresentando primeiramente, falhas críticas no sistema. Assim, a educação tecnológica é uma das formas mais efetivas para preparar o Assistente Social e romper com a Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 dificuldade que tem em manusear um micro computador. Assim como é preciso possibilitar que todos os membros da sociedade tenham acesso aos benefícios da tecnologia. Há de se considerar que o estudo da tecnologia da informação no Serviço Social é recente, ainda necessita de um entendimento não só conceitual, mas também de suas implicações. Atrelado a isso, deparamo-nos com a preservação das informações sigilosas, além da busca de recursos que possam garantir a segurança de todas as informações, seguindo sempre a ética profissional; é uma preocupação de todos atualmente, tendo em vista casos de violação de informações que ocorrem nesse mundo virtual. O registro dos usuários é considerado como um módulo básico de um sistema computadorizado que consistiria na formação de prontuário eletrônico, uma tentativa da implementação de um sistema de registro interdisciplinar. Apontamos aqui a dificuldade que o Serviço Social encontra para ser inserido nesse processo de informatização dentro das Instituições, que basicamente são estruturadas nessas tecnologias. Podemos concluir que se apresenta para o Serviço Social, ao atuar em diferentes setores ou áreas públicas ou privadas, o desafio da utilização das novas tecnologias, sem prejuízo para a especificidade e a confidencialidade de suas ações. 7. NOTA (1) Tradução do texto Future Issuel for Social Word Practice realizada pela autora deste trabalho. 8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Aprovado em 15 de março de 1993 com as alterações introduzidas pelas resoluções CFESS n.º 290/94 e 293/94. Publicado no Diário Oficial da União N 60, de 30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007 e alterado pela Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da União de 11.02.94. FALEIROS V. de P. Serviço Social: questões presentes para o futuro. Serviço Social & Sociedade, nº 50. São Paulo: Cortez, 1996. GUERRA Y. Novas perspectivas de atuação Profissional: O Perfil do profissional. Hoje, Construindo o Serviço Social. Revista do Instituto de Pesquisa e Estudos, Divisão Serviço Social, Instituição Toledo de Ensino, n. 10, maio 2002. KARSCH, U. M. S. O Serviço Social na Era dos Serviços. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989. LEMOS J. L.Serviço Social Organizacional – Tendências de Ação. Apostila de Consultoria em Recursos Humanos. São Paulo: 1990. LOJKINE, J. A revolução informacional contra a sociedade “pós-industrial”. Serviço Social e Sociedade, 45, ano XV. São Paulo: Cortez, ago 1994. MARTINELLI, M. L.; KOUMROUYAN, E. Um novo olhar para a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Serviço Social e Sociedade n. 45. São Paulo: Cortez, 1994. QUÉAU, P. A revolução da informação: em busca do bem comum. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: 5 de junho de 2006. RAFFOUL P. R.; MCNEEC, C. A. Future Issuel for Social Word Practice. New Jersey, USA: Allyn &Bacon, 1996. VIEIRA, B. O. Serviço Social: Processos e Técnicas. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1973. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 19 Os Atributos de um Bom Trabalho Monográfico: reflexões e direcionamentos Isabel Cristina dos Santos * Adriana Leônidas de Oliveira ** Paulo Renato de Morais *** Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar reflexões e direcionamentos acerca do planejamento e elaboração de monografias. Tem como base obras de estudiosos da área da metodologia científica de renome nacional e internacional, assim como a experiência dos autores. Busca contribuir com alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, e seus professores orientadores, quanto às características que um trabalho científico deverá apresentar para ser julgado bom, fornecendo diretrizes de como iniciar, executar e finalizar essa tarefa. Para isso, discute-se sobre a elaboração do projeto de pesquisa, alguns dos principais métodos e técnicas de pesquisa disponíveis e sobre a redação da monografia. Constata-se que, para ser considerada boa, uma monografia deverá exibir o chamado rigor científico, apresentando evidências de um intenso processo reflexivo e investigativo, voltado a responder às inquietações e proposições iniciais que motivaram a pesquisa e justificaram a escolha dos caminhos da investigação utilizados. Palavras-chave: Metodologia científica, técnicas de pesquisa, projeto de pesquisa, elaboração da monografia. Abstract: This paper aims to present reflections and give directions about the planning and preparation of monographic papers. It is based on the works of researchers in Scientific Methodology, of national and international reputation, as well as the experience of the authors. Its purpose is to make a contribution to graduate and undergraduate students, and their advisers, regarding the characteristics of a well conducted scientific research. This paper gives directions on how to initiate, execute, and conclude this task. A discussion is made about the preparation of a research project, the main scientific methods and techniques available to the researcher, and about the writing of the final monographic paper. The conclusion is that, to be considered good, the monographic paper should exhibit the so-called scientific rigor, presenting evidence of a solid reflection on the subject and a thorough investigative process, aiming to answer the initial propositions that motivated the research and justified the choice of the investigative paths chosen by the researcher. Key words: Scientific methodology, research techniques, research project, monographic paper. 1. INTRODUÇÃO A discussão sobre os atributos necessários para se realizar um bom trabalho monográfico deve começar pela seguinte questão: o que é uma monografia? Alcançar uma resposta clara a este questionamento permitirá ao aluno-pesquisador ter uma noção precisa de onde deve partir e aonde deve chegar. Salomon (1994, p. 179) define a monografia como Professora Doutora do Departamento de Economia, Contábeis e Administração da UNITAU. ** Professora Doutora do Departamento de Psicologia da UNITAU. *** Professor da FCSAC e IP&D da UNIVAP. o “tratamento escrito de um tema específico que resulte de pesquisa científica com o escopo de apresentar uma contribuição relevante ou original e pessoal à ciência”. O autor ainda ressalta que a monografia é o tratamento escrito aprofundado de um só assunto, de maneira descritiva e analítica, onde a reflexão é a tônica. Larosa e Ayres (2002) definem a monografia como um trabalho científico em que se procura apresentar a obtenção de contribuições pessoais à ciência, através do estudo de um assunto único e das reflexões obtidas neste processo. * 20 Tais definições evidenciam que a monografia é produto de uma construção intelectual do aluno-pesquisador que revela leitura, reflexão e interpretação sobre um tema da realidade. O valor de um trabalho dessa natu- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 reza é reconhecido pelo enfoque escolhido, pela lógica que orienta a exposição do referencial teórico e, particularmente, pela riqueza das análises, sínteses, interpretações, comentários e pontos de vista relatados. Não há monografia sem pesquisa científica, mas a monografia não é apenas um trabalho de redação ou de comunicação dos resultados de uma pesquisa. O trabalho monográfico apresenta um tratamento essencialmente reflexivo. Sem a marca da reflexão, a monografia transforma-se facilmente em um relatório de procedimentos de pesquisa ou compilação de obras alheias ou medíocre divulgação. Trata-se de um exercício de crescimento intelectual e profissional, de busca de conhecimento sobre a realidade: conhecer é apropriar-se de um objeto que lhe é exterior. Por isso, a “empreitada” para a construção de uma monografia exige perseverança, determinação e modéstia. A monografia pode ser concretizada com base em uma pesquisa bibliográfica (análise teórica, que se processa predominantemente pelo processo dedutivo) ou pesquisa empírica (que demanda método indutivo: experimento, observação, levantamento etc.). É o problema que determina o tipo de pesquisa a ser empreendida. Vale lembrar que trabalhos de conclusão de curso de graduação ou pós-graduação lato sensu, dissertação de mestrado e tese de doutoramento são, todas, monografias, variando o grau de exigência entre elas (INÁCIO FILHO, 1995). Assim, a complexidade de uma pesquisa científica tem uma escala compatível com os desafios propostos em cada nível de titulação pretendida. Desses, os que mais se destacam são: a) Ineditismo e Criatividade: Necessariamente visado pela pesquisa de doutoramento. Espera-se que o pesquisador a esse nível tenha desenvolvido grande capacidade crítica e de questionamento sobre os elementos formais da pesquisa, resultando em análises criativas e trabalhos inovadores, os quais possam contribuir para o enriquecimento dos fundamentos teóricos já conhecidos. É oportuno esclarecer a questão do ineditismo, o qual se entende como sinônimo de originalidade, a fim de se evitarem maiores equívocos. Originalidade, citando as idéias de Salomon (1994), significa, pela própria etimologia da palavra, “volta às origens”. Não se identifica, portanto, com novidade, mas sim com “retorno à essência”. Assim, exigir originalidade num trabalho não significa exigir total novidade, pois isso seria uma colocação ingênua e dificilmente atingível. Isso porque a ciência é um processo cumulativo, onde verdades provisórias são as verdades possíveis e, portanto, a revisão é constante. A exigência de ineditismo ou originalidade traduz-se em atualização, relevância contemporânea, trabalho que apresenta nova aborRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 dagem a um assunto já tratado, ou consegue estabelecer relações novas ou ainda propõe nova interpretação de questões controversas. b) Profundidade: Requisito visado pela pesquisa de mestrado e, mais destacadamente, na pesquisa de doutoramento. Profundidade não deve ser compreendida como volume de páginas geradas, e, sim, uma adequada cobertura dos principais aspectos diretamente relacionados ao tema em debate. c) Amplitude do Debate: Válido para qualquer trabalho monográfico, inclusive àqueles relativos à conclusão de cursos de graduação e pós-graduação lato sensu, mestrados e doutoramento. Ainda que nos três primeiros casos não haja exigências de trabalhos inéditos, convém ao pesquisador evidenciar as habilidades de consultas às diversas fontes e apresentar os conceitos e debates existentes sobre o tema. Para ser considerada válida, a monografia deverá ter sido o produto de um trabalho científico bem organizado e orientado. O objetivo deste artigo é discutir não apenas quais as características de uma boa monografia, mas também fornecer algumas diretrizes sobre como iniciar, executar e finalizar essa tarefa, aspectos a serem tratados a seguir. 2. O PROJETO DE PESQUISA Ao se buscar um resultado de valor excepcional, deve-se ter em conta que o projeto de pesquisa tem que estar descrito de modo claro e completo. Um começo inadequado pode trazer inúmeros desvios de enfoque e do tempo aplicado. A elaboração do projeto, portanto, configura-se um elemento organizador essencial à pesquisa, além de oferecer uma fonte de reflexão de alto valor agregado ao trabalho. Conforme enfatizam Victoriano e Garcia (1996, p.15), o projeto permite “[...] visualizar melhor o objeto de estudo, amadurecer as hipóteses e desenhar o mapa metodológico que deverá ser seguido na execução da monografia”. O projeto pode ser compreendido como o planejamento global de todo o processo de pesquisa, com a delimitação minuciosa de suas partes ou fases e recursos utilizados para sua realização (GIL, 2002). Pescuma e Castilho (2006) apontam que, sendo o projeto o registro do planejamento, irá orientar toda a pesquisa, e por isso não deve ser considerado apenas um documento a ser apresentado como mais um requisito burocrático, mas deve acompanhar constantemente o pesquisador em seu trabalho. 21 Como as pesquisas diferem muito entre si, não se pode falar em um roteiro rígido para elaboração de projetos de pesquisa. Sua estrutura será determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e pelo estilo de seus autores. Os elementos a serem apresentados e comentados a seguir, entretanto, podem ser considerados como fundamentais para que o projeto possa proporcionar o entendimento do processo de pesquisa que se planeja desenvolver. tudo quanto à relevância da pesquisa, a pertinência das hipóteses formuladas e atribuirá um sentido de coerência e razão na construção da monografia, em especial na conclusão. Uma monografia bem construída deverá apresentar coerência entre o tema, o problema, as escolhas metodológicas e as conclusões obtidas. 2.4 Formulação das Hipóteses 2.1 A Escolha do Tema e sua Delimitação Define, de maneira concisa, o campo de conhecimento da obra a ser desenvolvida, permitindo caracterizar o conteúdo do trabalho. O tema deverá ser relevante, tanto do ponto de vista da comunidade científica, quanto no campo da aplicação. Ou seja, o tema deverá cotejar um encaminhamento pragmático e aplicável à realidade profissional. Dado o tempo de relacionamento com os elementos da pesquisa, será mais promissor escolher um tema aderente ao cotidiano do pesquisador. Dessa forma, a condução da pesquisa poderá ser favorecida pela intimidade e convivência do autor com a situação descrita, ou minimamente, com o fato de o tema ter gerado inquietações criativas. A delimitação do tema corresponde à porção lógica do campo de debate sobre o qual se pretende pesquisar. Ao se estabelecer os limites do tema, ter-se-á maior clareza no foco e nos elementos indispensáveis à pesquisa. Deve-se observar que a delimitação do tema é diferente do título do trabalho, embora o segundo possa derivar da primeira. 2.2 Justificativa Na justificativa busca-se evidenciar qual a contribuição que o trabalho que se pretende realizar pode trazer. A relevância do trabalho deve ser apontada, tanto a de caráter pessoal, acadêmico, profissional e social. 2.3 O Problema a Ser Investigado Refere-se à questão especificamente tratada no trabalho. Deve ter uma abrangência percebida e uma circunscrição que permita manter o foco, uma vez que o problema atuará como um fio condutor para o encaminhamento da pesquisa, da análise dos dados coletados e da concentração de foco na redação final da monografia. O problema é geralmente expresso através de uma pergunta, da qual derivarão o quadro de hipóteses do trabalho. Uma definição clara do problema a ser investigado trará nexo ao desenvolvimento do trabalho, sobre- 22 A hipótese corresponde à idéia central previamente articulada que se pretende confirmar ou, ao menos, testar ao longo da pesquisa. A formulação de hipóteses é importante, pois oferece respostas antecipadas e provisórias ao problema de pesquisa. Todo trabalho científico deve apresentar uma argumentação que relacione o problema aos dados coletados e às hipóteses. O trabalho pode apresentar uma ou mais hipóteses que deverão ser demonstradas. Em alguns casos, é admissível relatar um conjunto de proposições a serem contempladas pela pesquisa. A hipótese deve refletir uma convicção inicial a ser verificada e não pressupostos já demonstrados ou conhecidos. Deve ser clara, concisa e escrita de forma afirmativa, formulada de maneira lógica, evidenciando as lacunas ou ambiguidades do assunto. 2.5 Objetivos Os objetivos mostram aonde se pretende chegar com o trabalho de pesquisa e, por isso, orientam o processo como um todo. Os objetivos de uma pesquisa serão extraídos diretamente do problema de pesquisa, sendo que num projeto deve-se evidenciar o objetivo geral e os objetivos específicos. O primeiro define, de modo geral, o que se pretende alcançar com a realização da pesquisa. Os objetivos específicos definem as etapas que devem ser cumpridas para se chegar ao objetivo geral. Os objetivos devem ser formulados com a utilização de verbos no infinitivo, tais como: explicar, avaliar, caracterizar, aplicar, verificar, determinar, entre outros. A escolha do verbo mais adequado será orientada pelo nível de pesquisa que se busca realizar. 2.6 Explicitação do Quadro Teórico O quadro teórico revela o conjunto lógico dos princípios, categorias e dos conceitos sob os quais o trabalho será desenvolvido e sobre os quais a reflexão se dará. Um quadro teórico bem definido pode enriquecer uma monografia, conferindo-lhe circunstância e uma dialética conceitual elevada com outros autores. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Um bom relatório monográfico apresenta unicidade de princípios, categorias e conceitos, mesmo que haja oposição de ideias entre os autores considerados (DE BRUYNE et al. apud LESSARD-HÉBERT, GOYETTE; BOUTIN, 2005). Quanto à revisão da bibliografia, um dos aspectos críticos a ser observado é a questão do diálogo entre os autores e a contribuição efetiva que estes poderão dar ao desenvolvimento do tema. Portanto, é imprescindível que a revisão bibliográfica seja ampla, tenha o maior elenco possível de abordagens relacionadas, dentre a bibliografia clássica e debates mais recentes acerca do tema pesquisado. Debates multidisciplinares são recomendados quando permitem o enriquecimento do pensamento investigativo. Uma pergunta importante a ser feita é se o uso de tais referências apoia o ponto de vista do autor e os pressupostos do trabalho ou contribui com análises críticas ou, ainda, se os enunciados se mantêm válidos, dada a existência de referências mais atualizadas, ou mesmo, o surgimento de postulados antagônicos ao tema proposto. Expor eventuais antagonismos pode representar a riqueza da contribuição do pesquisador. É importante ter em mente que o quadro teórico terá a finalidade de fundamentar o trabalho e não se trata de uma simples relação de obras que tratam do tema. Nele o pesquisador mostrará seu conhecimento e posição a respeito do tema. Naturalmente, deve ser observada a relevância do uso de bibliografia original, bem como das citações de segunda-mão, uma vez que essas podem conter algum tipo de análise ou de ideologia do autor que a apresentou, o que não necessariamente corresponde a uma tradução do espírito que regeu o momento e o contexto da elaboração original. Cada autor utiliza as citações de acordo com a proposta e contexto particular do seu trabalho. De acordo com a pesquisa conduzida por Ketchen e Gillis (2004), a falta de uma base teórica respeitável foi motivo para rejeição de artigos internacionais para 43% dos avaliadores. O segundo motivo mais destacado foi o de “conceitos e medidas sem alinhamento”, para 38% dos avaliadores. A terceira razão das rejeições referiu-se a “inadequado desenho de pesquisa (ou modelagem)”, para 34%; e o quarto motivo mais relevante, novamente relativo à base teórica, foi a falta de teoria, para 33% dos avaliadores. Dessa forma, uma cautelosa revisão bibliográfica poderá ensejar maiores possibilidades de aceitação do trabalho acadêmico, especialmente considerando dados da mesma pesquisa, que identificou que os recortes de análise dos dados foram motivos de rejeição em somente 3% das avaliações feitas. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 2.7 Escolha da Metodologia Uma vez que o problema a ser investigado esteja claramente delimitado, a escolha da metodologia deverá ser compatível à inquietude que se pretende responder. Neste momento, um método ou uma combinação favorável de métodos será aquele que maior nexo conferir ao processo de pesquisa e resposta. Uma boa monografia terá sido aquela que fizer melhor uso dos métodos de pesquisa disponíveis, visando conferir a maior credibilidade possível às conclusões obtidas. A pesquisa poderá apresentar os seguintes níveis: a) exploratório, quando visa explicitar a natureza de um problema formulado, apoiando a construção das hipóteses relacionadas e ao aprimoramento da ideia central da pesquisa; b) descritivo, quando se destina a relacionar características específicas de uma determinada população ou fenômeno, a partir das quais podem ser estabelecidas as relações entre as variáveis que compõem o objeto de estudo; c) explicativo, quando visa identificar os fatores que definem a natureza dos fenômenos ou facilitam sua compreensão em bases realistas, permitindo justificar a natureza e ordenação de fatos e eventos vinculados. 2.8 Estabelecimento do Cronograma de Pesquisa e Orçamento Todo trabalho científico deve ser orientado por um cronograma de execução que ofereça visibilidade dos esforços a serem depreendidos, para que sejam adequadamente planejados, e que comprometa o pesquisador e seu orientador. Sua principal função é indicar a sequência e as datas em que as ações referentes à pesquisa serão executadas. Quanto ao orçamento, devem-se prever os recursos humanos e materiais necessários, sendo que a previsão detalhada e precisa é ainda mais necessária ao se fazer um pedido de verbas para alguma instituição de fomento à pesquisa. 3. O MÉTODO DA PESQUISA Um trabalho de caráter científico somente se legitima a partir da definição e aplicação de uma adequada abordagem científica de pesquisa. Assim, o pesquisador deverá se esforçar para realizar as escolhas metodológicas que proporcionem a melhor abordagem ao objeto de estudo, contribuindo, assim, para o êxito de seu trabalho monográfico. 23 3.1 Abordagens de Pesquisa A escolha de uma ou outra abordagem de pesquisa está associada aos requisitos que permitirão o confronto entre a natureza do objeto a ser debatido e o problema estabelecido, de modo a viabilizar o encaminhamento do estudo. A abordagem escolhida deve apoiar a geração de ciência, seja do ponto de vista qualitativo ou teórico, seja do ponto de vista quantitativo ou matemático. Desse modo, uma pesquisa poderá utilizar as abordagens a seguir, única ou combinadamente. a) Pesquisa Quantitativa Permite a apreciação do conjunto de teorias, de enunciados e conceitos conhecidos e valorizados pela comunidade científica. Parte da análise do objeto, segundo a realidade preexistente, associando-a a uma teoria existente e que possa explicá-la, permitindo, então, a formulação de uma hipótese relacionada a conceitos mensuráveis, de modo que a teoria aplicada possa ser testada. Além disso, favorece a ampliação do conjunto de conhecimentos prévios, associados a essa teoria, dentro daquela realidade observada. Nessa abordagem, o valor intrínseco à pesquisa refere-se à possibilidade de mensuração dos fatos, eventos ou variáveis correlacionadas. pode ser tomada rigidamente, uma vez que muitas pesquisas não se enquadram facilmente nesses modelos, mas na maioria dos casos pode-se enunciá-las em dois grupos. No primeiro estão a pesquisa bibliográfica e a documental, as quais podem ser compreendidas da seguinte forma: a) Pesquisa Bibliográfica: Tem como objetivo conhecer, recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre o assunto. Apesar de todos os estudos exigirem uma exaustiva pesquisa bibliográfica, existem teses desenvolvidas exclusivamente a partir de tais fontes (GIL, 2002; VICTORIANO; GARCIA, 1996). b) Pesquisa Documental: Assemelha-se à pesquisa bibliográfica, mas a diferença essencial está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que já receberam tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 2002). É uma pesquisa realizada a partir da consideração de documentos autênticos, típicos de um levantamento de dados históricos em fontes designadas como primárias. Essa forma de pesquisa também considera fontes secundárias, como dados estatísticos ou demográficos elaborados por instituições confiáveis (PÁDUA, 1989). b) Pesquisa Qualitativa Nessa abordagem, o valor intrínseco da pesquisa reside na análise e compreensão dos efeitos de ordem psicossocial que um determinado objeto de estudo tem sobre o meio onde ele se situa e a interação com a dimensão humana que coexiste nesse dado meio. A pesquisa qualitativa busca uma profunda compreensão do contexto da situação; a pesquisa enfatiza processo, ou seja, a sequência dos fatos ao longo do tempo; a pesquisa geralmente emprega mais de uma fonte de dados (TEIXEIRA, 2005). 3.2 Delineamentos de Pesquisa Delineamento é o design da pesquisa, o qual revela a estratégia que se adota na pesquisa. Refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla. Segundo Gil (2002), o delineamento expressa em linhas gerais o desenvolvimento da pesquisa, com ênfase nos procedimentos de coleta e análise de dados. Podem ser verificados dois grandes grupos de delineamentos: aquele que se vale de fontes de papel e aquele cujos dados são fornecidos por pessoas. Como lembra Gil (2002), essa classificação não 24 No segundo grupo encontram-se, entre outros, os seguintes delineamentos: c) Pesquisa Experimental: É indicada para situações nas quais é possível manter as condições sob controle. Visa estabelecer relações de causa e efeito entre as variáveis analisadas. Esse método permite a intervenção do pesquisador (BRYMAN, 1995). Segundo Pádua (1989), a escolha desse método deve considerar a possibilidade de verificação e quantificação dos resultados. d) Levantamento: É a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Procedese à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado, para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados (GIL, 2002). e) Pesquisa-Ação: Enfatiza a aplicação de uma solução indicada pelo pesquisador a um problema real, diante do qual o pesquisador recomenda um conjunto de ações e observa o impacto de cada uma delas sobre o ambiente (BRYMAN, 1995). f) Estudo de Caso: Aborda uma ou mais empresas, Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 ou setores nelas inseridos, que possam conferir validade ao processo científico em relação ao objeto de estudo. Segundo Yin (1994), o estudo de caso é particularmente recomendado para a análise de eventos contemporâneos, para responder a indagações do tipo “como?” e “por quê?”, que estão fora do controle do pesquisador, de tal forma que possam ser melhor contextualizados e compreendidos. Para Yin (1994), o estudo de caso permite conhecer os fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos, preservando a visão completa e as características significativas de eventos da realidade e permitindo a contínua interação entre a teoria e os dados coletados. Quanto à escolha da abordagem e do delineamento (estratégia) a serem adotados na pesquisa, cabem algumas reflexões adicionais. Para Yin (1994), a escolha do método ou dos métodos combinados mais indicados para uma determinada pesquisa deverá levar em consideração alguns fatores particulares associados ao objeto da pesquisa. São eles: a) extensão do controle do pesquisador sobre o desdobramento dos eventos observados; e, b) analisar se o foco temporal da pesquisa e do objeto será compreendido por meio de eventos contemporâneos ou eventos históricos. O Quadro 1, a seguir, apoia a definição da estratégia a ser adotada na pesquisa. Quadro 1 - Situações Relevantes de Diferentes Estratégias de Pesquisa (YIN, 1994). De acordo com a natureza e a complexidade do problema, o pesquisador poderá optar por mais de uma abordagem para atender os requisitos da pesquisa. 4. O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA Quando se fala em desenvolvimento da pesquisa, deve-se ter em mente que dois processos complementares serão executados: a coleta e a análise dos dados. A seguir, apontam-se alguns direcionamentos que podem contribuir para essas tarefas. 4.1 A Coleta de Dados A condução da pesquisa requer a escolha de uma ou mais técnicas relacionadas à etapa de coleta de dados. Bryman (1995) propõe as seguintes técnicas de coleta de dados: a) Questionários Auto-Administrados: questões respondidas livremente pelos participantes; b) Entrevistas: questões específicas abordadas pelo Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 entrevistador diretamente ao entrevistado; c) Observação Participante: o pesquisador coleta observações ao participar de uma determinada situação; d) Observação Estruturada: o pesquisador coleta informações, segundo um plano pré-definido; e) Informações de Arquivos: é tratada como uma fonte de dados da qual o pesquisador obterá os dados em material preexistente para posterior análise. Outras técnicas que também podem ser utilizadas: • Formulário: o pesquisador elabora o instrumento com as questões dos dados pessoais e as questões específicas, e ele mesmo aplica, verbalmente. Cabe ao pesquisador o seu preenchimento (TEIXEIRA, 2005). • Grupo focal: segundo Morgan (1997), a coleta de dados neste método dá-se a partir da interação do grupo sobre um tema determinado pelo pesquisador. Por meio do grupo focal busca-se analisar a dinâmica interacional surgida durante as discussões em grupo, sendo possível perceber como o próprio grupo coloca as ideias de cada um, comparando-as, sintetizando-as e analisando-as. 25 Idealmente, a cada estratégia de pesquisa correlaciona-se uma técnica de coleta de dados. Bryman (1995) sugere, por exemplo, que a pesquisa de levantamento seja associada às entrevistas estruturadas e aos questionários auto-administrados. A pesquisa qualitativa utiliza mais frequentemente a observação participante do processo analisado, tendo apoio na entrevista não estruturada. Já as pesquisas experimentais, o estudo de caso e a pesquisa-ação podem estar associadas a diversas técnicas de coleta de dados. A coleta de dados deverá ser documentada com a utilização de instrumentos especialmente desenvolvidos para essa etapa. Esses documentos poderão ser desde questionários às fichas de controle e registro de eventos, de roteiro de entrevistas estruturadas aos chamados road maps, fluxogramas e outras formas de documentação de dados relativos ao comportamento do fenômeno observado. Na análise documental, uma lista de documentos, com referências completas, sítios de armazenamento da informação, poderá ser útil quando da verificação e validação de fontes consultadas, e para o acompanhamento da pesquisa pelo orientador. Algumas instituições de pesquisa estabelecem códigos de ética para o uso dos instrumentos. Portanto, além de desenvolvê-los sobre uma base conceitual explicitada na revisão teórica e inseri-los nos apêndices da monografia, os instrumentos devem ser submetidos à apreciação da ética, especialmente quanto ao uso de experiências de laboratório com cobaias ou de dados obtidos com pessoas, destacando que entrevistas somente poderão ser gravadas com a anuência do entrevistado. A garantia do exercício da ética nos procedimentos de pesquisa é, principalmente, oriunda das pesquisas em Ciências Naturais, mas se estendeu por vários campos do conhecimento. Pesquisa feita por Sifers et al. (2002) sobre o uso de dados demográficos em 260 artigos científicos revelou supressão nos dados publicados, dificultando a comparação entre os resultados obtidos com outras situações vivenciadas, limitando assim a contribuição científica da pesquisa, que é a sua finalidade. algum tipo de abordagem de análise. No caso de abordagem quantitativa, convém utilizar sistemas de processamento automático de dados que permitam inúmeras análises, inclusive detalhem com a clareza necessária e possível, segundo os acordos de sigilo, a descrição da amostra. Nos estudos quantitativos, apresentam-se os resultados obtidos na forma de tabelas ou gráficos; nos qualitativos, na forma descritiva com unidades de registro dos informantes. Deve-se então analisar e discutir os resultados obtidos, considerando os autores que dão suporte ao estudo e/ou marco teórico adotado, assim como as impressões e experiências do pesquisador (TEIXEIRA, 2005). Conclui-se o estudo considerando as hipóteses formuladas e os objetivos traçados e, em função dos resultados, é possível sugerir futuros estudos, visando o aprofundamento da questão estudada ou ainda uma proposta de ação que traga contribuição. 5. A REDAÇÃO DA MONOGRAFIA É importante que o trabalho seja redigido dentro de uma construção lógica que evidencie um começo, meio e fim, e siga um itinerário que permita ao leitor compreender o fluxo do raciocínio do autor no desenvolvimento e nas conclusões obtidas. Portanto, a organização da monografia deve contemplar: Pré-Texto: contendo, obrigatoriamente, Capa, Folha de rosto, Folha de Aprovação, Resumo, Abstract e Sumário. Introdução: visão ampla do cenário e dos principais indicadores utilizados, mudanças conjunturais. Deve apresentar a contextualização do tema, delimitação do tema, justificativa, formulação do problema, hipóteses, objetivos. Revisão Bibliográfica: descrição dos autores e principais contribuições destes ao objeto da pesquisa e seu desenvolvimento. Método: descrição do tipo de pesquisa, do local/ contexto, dos instrumentos, da população e amostra, procedimentos de coleta e análise dos dados. 4.2 Análise e Interpretação dos Dados Nos estudos quantitativos, conclui-se a coleta de dados quando se atinge a amostra determinada. Nos estudos qualitativos, conclui-se a coleta quando não houver mais novas informações (critério de saturação teórica) ou quando se considerarem suficientes os dados encontrados para responder ao problema de pesquisa. Assim, a pesquisa de campo deverá fornecer dados, qualitativos ou quantitativos, que possam ser tratados por 26 Resultados e Discussão: descrição dos principais resultados e seu confronto com o quadro de hipóteses ou de proposições e sua discussão à luz do referencial que embasou a pesquisa. Considerações Finais: conclusões e observações relevantes verificadas ao longo da pesquisa e do tratamento das informações. Apontamento das contribuições da pesquisa e desdobramentos recomendados. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Pós-Texto: referências, glossário (opcional), apêndice (opcional), anexo (opcional). Vale lembrar que apêndice é todo texto ou documento elaborado pelo autor e anexo é todo texto ou documento não elaborado pelo autor. A monografia está sujeita a um elenco de prérequisitos, os quais podem afetar a percepção dos leitores da banca examinadora sobre a qualidade do trabalho. Os principais pontos de verificação da monografia estão concentrados nas questões a seguir. As citações foram creditadas e destacadas, conforme o padrão adotado? As fontes citadas constam nas referências bibliográficas? As imagens ou abreviaturas inseridas no texto foram devidamente relacionadas nas listas de figuras, tabelas e gráficos e abreviaturas? Menção às letras de Anexos e Apêndices, em ordem de aparição? Houve identificação de número de página para assuntos destacados? Na alteração do texto ou imagem, houve mudança de páginas? Além dos aspectos descritos, que são uma fonte bastante provável de erros de revisão, poderá ser de boa prática recorrer a uma tabela de verificação como a proposta a seguir. As palavras-chave oferecem uma visão adequada do conteúdo do trabalho? O abstract foi revisado sempre que houve alteração no corpo do resumo? A Introdução situa, com clareza, o que o leitor deve esperar do trabalho? A ordem dos capítulos relata o grau de evolução da pesquisa? Todas as informações novas estão apresentadas? Há isenção de juízos de valor, opiniões pessoais, preconceitos, paixões etc.? O relatório está redigido na terceira pessoa, ou seja, impessoal? Houve uso restrito de adjetivos, superlativos e de preciosismos inatingíveis? As conclusões são pertinentes ao método de pesquisa ou à reflexão aplicada ao longo do projeto? Há coerência entre os autores citados e sua notória competência no tema? Há uma efetiva contribuição das conclusões na aplicação em novos estudos? Um dos aspectos importantes em relação ao conteúdo é a linearidade no desenvolvimento das ideias, texto e pesquisa. O relatório deve ser considerado como uma evolução gradual que respeita o nexo e a coerência entre os diversos conceitos em relação ao objeto da pesquisa, além da legitimidade do processo de levantamento de dados e de tratamento dos dados, conforme será relatado a seguir. c) Dimensão Teórico-Filosófica do Trabalho a) Dimensão Estética do Trabalho Toda instituição definirá os elementos estéticos do trabalho monográfico, segundo o padrão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ou outro. Vale a pena perguntar se: Os nomes do curso, aluno e orientador estão corretamente grafados? O sumário inclui todos os capítulos e tópicos, apêndices e anexos? As palavras em idioma estrangeiro estão grafadas em itálico? Há equilíbrio entre volume de texto e imagens aplicadas? As imagens têm o crédito da fonte de origem? A inserção de imagens foi previamente explicada e chamada? Deve ser considerada a impressão que os leitores e, especialmente a banca, terão ao ler o relatório monográfico. Convém submetê-lo a revisões independentes de modo a angariar a máxima atratividade estética. Igual cuidado deve ser tomado em relação ao conteúdo, conforme será descrito a seguir. b) Dimensão Conteúdo do Trabalho É importante que o desenvolvimento do trabalho seja feito em consenso entre o orientador e o pesquisador, e que esteja dentro de uma perspectiva arquitetônica compatível com o quadro de proposições da pesquisa, com equilíbrio no diálogo conceitual. Desse modo, é importante verificar os seguintes aspectos estruturais do trabalho: O resumo do trabalho abrange os objetivos, o método, os principais resultados e conclusões obtidas? Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Todo trabalho científico deve estar apoiado por fundamentos teóricos consistentes, sejam eles convergentes ou não. Cabe ao pesquisador questionar se: Há clareza, ao longo da exposição, sobre quais serão esses eixos conceituais? Foram pontuadas questões pertinentes aos eixos conceituais? As convergências e complementaridades entre os autores, ou divergências e disparidades foram destacadas e oportunamente debatidas? Esses eixos conceituais estão visíveis no modelo de referência utilizado? O modelo de tratamento das informações e dados coletados sustenta ou evidencia a base conceitual? Os principais conceitos perpassam a elaboração do instrumental de coleta de dados? Na etapa de análise e discussão dos dados, os principais autores selecionados são confrontados com os resultados obtidos? As considerações finais resgatam e sintetizam as orientações conceituais, fazendo um vis-à-vis com as conclusões obtidas? Esses são alguns dos principais cuidados que devem ser observados quando do desenvolvimento da pesquisa. De modo geral, destaca-se a necessidade de uma relação produtiva entre orientando e orientador: por mais engajado que o orientador esteja com o trabalho, é importante que o orientando assuma a responsabilidade sobre o desenvolvimento da pesquisa, com o cumprimento dos prazos estabelecidos e se aproprie do tema e do trabalho, pois ele é quem fará a defesa. 27 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma pesquisa científica deve servir de fonte de referência e inspirar outros pesquisadores para as derivações do tema pesquisado. Portanto, é importante registrar quais os desdobramentos possíveis a partir da pesquisa feita, indicando temas ou problemas que foram percebidos como passíveis de novas pesquisas. O trabalho científico pode e deve ser criativo. Busca-se colaborar no desenvolvimento da ciência e fazer avançar o conhecimento, aplicando-se o instrumental da ciência aos objetos e situações, buscando seu desvendamento e sua explicação. LESSARD-HÉBERT, M.; GOYETTE, G.; BOUTIN, G. Investigação qualitativa: fundamentos e práticas. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2005. MORGAN, D. Focus group as qualitative research. 2. ed. USA: Sage, 1997. PÁDUA, Elisabete M. M. de. O trabalho monográfico como iniciação à pesquisa científica. In: CARVALHO, Maria Cecília M. de. (Org.). Construindo o saber: metodologia científica, fundamentos e técnicas. 13. ed. Campinas: Papirus, 1989. p. 147-169. 7. REFERÊNCIAS PESCUMA, D.; CASTILHO, A. P. F. Projeto de pesquisa. O que é? Como fazer? Um guia para sua elaboração. São Paulo: Olho D´água, 2006. BRYMAN, A. Research methods and organization studies. London: Routledge, 1995. SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 1994. INÁCIO FILHO, G. A monografia na Universidade. 5. ed. São Paulo: Papirus, 1995. SIFERS, S. K.; PUDDY, R. W.; WARREN, J. S; ROBERTS, M. C. Reporting of demographics, methodology, and ethical procedures in journals in pediatric and child psychology. 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São Paulo: Publisher Brasil, 1996. YIN, Robert K. Case study research: design and methods. 2. ed. California: Sage Publications, 1994. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Uma Introdução ao Estudo da História da Educação no Município de Resende no Século XIX Julio Cesar Fidelis Soares * Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo preliminar sobre os professores e educadores e as escolas que atuavam em Resende, Província do Rio de Janeiro no século XIX, numa busca do que representaram socialmente. A análise dos elementos da representação social destes mestres e das suas escolas nos ajudará a entender um pouco mais sobre história da educação em Resende bem como da região do Vale do Paraíba Fluminense no período da produção cafeeira e suas interfaces com sociedade. Palavras-chave: Representações sociais, pesquisa educacional, escolas. Abstract: This article presents a preliminary study about the teachers, educators, and schools that were in Resende, Province of Rio de Janeiro in the nineteenth century, in search of what this socially represents. The analysis of the elements of these teacher’s social representation and their schools will help us to understand a little more about the history of the education in Resende as well as in the region of the Paraíba Valley in Rio de Janeiro during the period of coffee production and their interfaces within society. Key words: Social representations, educational research, schools. Todos nós sabemos que a educação é fator preponderante ou principal para o desenvolvimento de um país ou região, e não mero elemento de visualização de crescimento, mas um efetivo instrumento de desempenho nas mais diversas áreas de melhoria dos níveis de qualidade de vida econômica e social. Assim sendo, é necessário conhecer a história de nossas escolas para sabermos em que contexto elas foram criadas, sua organização, que cursos ofereciam, quais foram as atividades cívicas comemoradas e promovidas em cada período de sua existência. Quem foram seus dirigentes, seus professores e tantos outros aspectos próprios das pesquisas não quantitativas, mas com um foco extremamente qualitativo com que podemos aprender mais, não só sobre as escolas como um todo, mas também quem eram aqueles que trabalhavam no ambiente educacional. De outra maneira tal estudo nos dá possibilidade de conhecermos a história das unidades escolares através do resgate de seus documentos, documentos de extrema importância para o conhecimento histórico, pois * Mestre em História Social, Docente nas Faculdades Dom Bosco - AEDB Resende/RJ. Centro Universitário – UNIFOA. Vice-Presidente da Academia Resendense de História e Membro da Academia de História Militar e Terrestre do Brasil. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 conseguem registrar o dia a dia das atividades das unidades escolares. Pensando neste mundo da educação é que colocamos o nosso objetivo que é analisar ainda de forma preliminar, informações sobre a educação em Resende através de fontes de consulta primária para que os estudiosos e memorialistas da História da Educação, especificamente possam dar vida e voz à memória das antigas unidades escolares de Resende no século XIX. Nessa época, na região do Vale do Paraíba Fluminense, Resende despontou como pioneira na produção cafeeira e também como foco dispersor desta cultura para outras regiões do país. Assim, nosso estudo começa pelo primeiro relato ou registro sobre a educação na então Vila de Resende. Saint-Hilaire(1932), quando de sua viagem às Províncias de Minas Gerais e São Paulo, de passagem por Resende, fez o seguinte registro: Quanto mais me aproximo da Capitania do Rio de Janeiro mais consideráveis se tornam as plantações. Várias existem também muito importantes perto da Vila de Resende. Proprietários desta redondeza possuem 40,50,60 e até 100 mil pés de café. Pelo preço do gênero devem es- 29 tes fazendeiros ganhar somas enormes. Perguntei [...]em que empregavam o dinheiro. – O senhor pode ver [...]que não é construindo boas casas e mobiliandoas. Comem arroz e feijão. Vestuários também lhes custa pouco, nada gastam com educação dos filhos que se entorpecem na ignorância , são inteiramente alheios ao prazeres da convivência mas é o café que lhes traz dinheiro. Não se pode colher café senão com os negros; é pois comprando negros que gastam todas as rendas e o aumento da fortuna se presta muito mais para lhes satisfazer a vaidade do que para lhes aumentar o conforto. (SAINT-HILAIRE, 1822). Sabe-se, entretanto, que a educação começa a tomar forma no Brasil a partir da Independência. Segundo o professor Chrysógono Cavalcanti (1) (1998) em seus estudos sobre a educação em Resende, em 1824 a municipalidade pediu ao Imperador D. Pedro I que fossem criadas duas escolas de primeiras letras e uma Aula de Latim que teve como primeiro mestre o Padre Thomaz Villa Nova Portella. Numa visão da história econômica da região do Médio Vale do Paraíba, Resende foi citada por Zaluar, na década de 1860, como a mais importante das povoações do Vale. Era através de Resende que convergiam os produtos de parte das províncias de São Paulo e Minas para o mercado da corte, conforme relatam inúmeros estudos sobre o fluxo do comércio interno de abastecimento, mesmo dentro do período Colonial antecedente. Pelo que podemos pesquisar até o momento, vimos que a educação era realizada só para alguns e quem nos melhor relata este fato é Celina Whately (2003): Muitos dos filhos dos grandes cafeicultores eram mandados para o Rio, São Paulo, e até mesmo à Europa, para estudar. Quando voltavam, com títulos de advogados, engenheiro ou médico, eram recebidos com grande pompa em bailes promovidos pela elite resendense. (WHATELY, 2003). 30 Esta mesma elite, que fazia questão de receber seus filhos quando voltavam dos estudos, era analfabeta. A exemplo disto temos o caso do Comendador Manoel Gonçalves Martins,que usava como assinatura um carimbo de ouro, o que valeu a alcunha de “Manoel Carimbo”. Ele foi tropeiro e quando pôde foi ser cafeicultor, uma história recorrente no ambiente do tropeirismo. Sua filha, Maria Benedita, que ficou conhecida como a “Rainha do Café”, era, como o pai, analfabeta, do qual herdou dez fazendas com uma enorme produtividade. Neste ambiente, as jovens moças eram educadas através de preceptoras, invariavelmente estrangeiras, quando, além do estudo das primeiras letras, aprendiam piano. Principalmente após os anos 1850, quando a importação foi liberada para bens de consumo de luxo, talvez uma compensação pela proibição do comércio de “mercadorias vivas”. Há ainda de se destacar o papel de certas organizações como a Maçonaria, que através de sua Loja Lealdade e Brio, fundou e manteve em 1883 (CAVALCANTI, C, 1998), uma escola primária noturna e gratuita para o ensino primário cujo mestre foi Jose Bento Furtado, direcionada sobretudo para filhos dos negros livres que não tinham onde estudar. Por volta das primeiras décadas do século XIX não havia escola pública, sendo que a primeira que se tem notícia foi fundada por Padre Joaquim Pereira Escobar, Presidente da Câmara em 1828, que implantou os serviços de Correio, criou Cemitério Público e a cadeia Pública, e criou uma escola pública de latim. Outra informação sobre a educação na então Vila de Resende é de 1844, num mapa de registros de estudantes que frequentavam as aulas de Gramática Latina e de Geometria, promovida pelo governo provincial que nos diz que em Resende havia 19 estudantes nestas atividades educacionais (2). Observando as tabelas explicativas do orçamento da despesa para os anos que vão de 1842 até 1850, vimos o registro do Padre e Latinista Paulino Jose Rodrigues dos Santos na cátedra de professor de Latim, da escola pública fundada por Padre Escobar, percebendo a quantia de 800$000 réis como proventos mensais, valor ao que parece, inalterado ao longo de todo o período citado acima. Olhando estes primeiros anos da educação em Resende, é interessante apresentarmos os dados referentes às despesas das Província do Rio de Janeiro com a “Instrucção Pública”. Assim procuramos agrupar os dados como demonstram o gráfico a seguir: Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Gráfico 1 - Despesas com instrução pública na província do Rio de Janeiro 1844-1851 O que vemos a partir de tais informações é que houve um crescimento nos valores destinados à instrução pública. Para o período relativo a 1845/1846 não nos foi dado a conhecer os valores empregados em Resende, entretanto há de se pensar que seja crescente, pois a tendência do conjunto é de crescimento, que gerou a necessidade de contratação de novos mestres e a preocupação da instalação de novas escolas, pois no Relatório Provincial de 1851, que trata da Instrução Pública, dá conta da existência de 21 escolas, frequentadas por 853 meninos e 76 meninas num total de 929 alunos na Província do Rio de Janeiro, fazendo referência que este número final é 30% maior do que do ano anterior. Neste mesmo relatório achamos um trecho que merece ser destacado, relativo à Resende: escritora, professora, abolicionista e republicana Nísia Floresta (4), que na capital do Império, fundara o Colégio Augusto na Rua do Paço, para colocar em prática suas ideias acerca da educação feminina, contidas em seu primeiro livro, “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”, de 1832. Joaquim Pinto Brasil (5), não se adaptando ao clima da cidade do Rio de Janeiro, muda-se, indo morar em Resende, no interior da província, onde, assim como ela, decide fundar um colégio que recebe o nome de Colégio Brasil (6). Ainda se achão sem escolas públicas, seis municípios, a saber: Santo Antonio de Sá, São João da Barra, Nova Friburgo, Rezende, Vassouras e São João do Príncipe. (3) Em nossa busca para identificar as unidades escolares precursoras, deparamos com uma tabela demonstrativa do orçamento e despesa para o período de 1843 a 1844. Esta nos informa de uma escola de instrução elementar na Vila de Resende, cujo mestre-escola era o senhor professor Joaquim José Jorge e, ainda conforme registro de 1844, figura a pessoa de Bernarda Emília do Prado Brandão como primeira mulher a assumir a função de professora pública de instrução elementar, em Resende, recebendo proventos de 600$000. Ainda este mesmo relatório, deu-nos notícia de que a Província, além de manter três liceus, matinha quatro cadeiras de latinidade (Aulas de Latim) que foram frequentadas por 56 alunos nas seguintes cidades: Cabo Frio (11 alunos), Itaborai (9 alunos), Parati (13 alunos) e em Resende (23 alunos). Este relatório ainda nos informa de um pedido de concessão para implantação de um Colégio particular em Resende, cujo solicitante foi o Dr. Joaquim Pinto Brasil que fora professor público de filosofia no Seminário de São José, na corte. Ele era irmão da Quanto à educação e ensino nos primórdios do núcleo de povoamento do Arraial de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova (hoje Resende), temos que o ensino era eminentemente particular, sendo o relato mais antigo o de 1795, tendo como mestre de primeiras letras o professor Francisco Silva (PEDREIRA, J. R., 1975). Em 1802, Resende era Vila e, neste ano, Francisco Antônio de Andrade era professor de aulas elementares (Classes Régias). Entre os anos de 1820-1821, temos respectivamente os professores parti- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 31 culares Manoel Guilherme Pereira Silva e Francisco Dias Moura. Ainda segundo Chistina Ramalho, em seus estudos sobre a poetisa e jornalista Narcisa Amália nos traz a informação sobre os pais dessa poetisa. Fundando em Resende de 1865 o Colégio Jácome para meninos, direção de Jácome Campos (7), e o Colégio N.Sra. da Conceição sob direção de D. Narcisa Inácia que era destinado ao ensino das meninas. Finalmente, esclarecemos que esse artigo se trata de um estudo preliminar, em que pretendemos dar impulso aos estudos da história de educação no município de Resende. Temos uma certeza de que ainda parece incipiente, entretanto sabemos da importância do levantamento de documentos para o estudo da história, como um todo, bem como nesta área da história regional da educação. No intuito de colaborar e incentivar novos pesquisadores interessados em tal tema é que apresentamos um quadro, anexo, com levantamento dos primeiros mestres e tipo de escola em que trabalhavam. Alguns nomes já foram citados ao longo do trabalho e deparamos com outros que vale a pena pesquisar sua origem e história, quem eram, bem como de que forma funcionavam estas escolas. Esses dados podem dar início, por exemplo, a um aprofundamento na documentação existente no acervo do Arquivo Histórico Municipal de Resende, que guarda peças ainda não estudadas. Essa pesquisa nos trará à luz uma nova visão da educação ministrada na região do Vale do Paraíba Fluminense, bem como na Resende do século XIX. NOTAS (1) Artigo de Chrysógono Cavalcanti (Professor de História / Direito / Quadro Magistério do Exército – AMAN). – A Educação – Resende 150 anos de cidade (1848-1998). Academia Resendense de História – Julho 1998 p.54. (2) Relatório de Provincial do Rio de Janeiro – 1844. Mappa sobre ensino na província com registro do secretário, João Candido de Deos e Silva. (3) Relatório de Província do Rio de Janeiro 1851 p.34 . nosso grifo. (4) Nísia Floresta, cujo nome verdadeiro era Dionísia Gonçalves Pinto, escreveu 15 livros, tendo sua obra conquistada grande prestígio. E não somente no Brasil, mas também em diversos países da Europa. Em 9 de novembro morre o irmão Joaquim Pinto Brasil, no Rio de Janeiro. (5) Joaquim Pinto Brasil foi professor do Dr. Luiz Pereira Barretto onde aprendeu as primeiras letras, fazendo ainda parte de seus preparatórios no Colégio Brasil, 32 uma das mais significativas figuras do pensamento nacional. Viveu oitenta e três anos, nascendo em Resende-RJ a 11 de janeiro de 1840 e falecendo em São Paulo a 11 de janeiro de 1923. http://www.sbhm.org.br/ index.asp?p=medicos_view&codigo=162 de 21/5/2007 20:50 e http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/ bio_os_farrapo.html de 21/5/2007. (6) Entretanto, ao pesquisarmos o Almanack Laemmert de 1854, este nos informa que tal colégio foi fundado em 11 de maio de 1851 como escola de instrução primaria e secundária, sendo denominado Collégio Resende (RAMALHO, C, 1999 . (7) Educador e poeta colaborou com diversos jornais da imprensa fluminense e paulista, foi agraciado com comenda da Ordem de Cristo, pelo Imperador D.Pedro II quando da visita a Resende em l874. BIBLIOGRAFIA BOPP, I. Casamentos na Matriz de Resende. 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Astro Resendense. 1865-1873. B. O Itatiaia. 1876-1890. C. “Almanack do Centenário de Rezende para Anno de 1902” – Ed. Typographia e Papelaria “Fonseca” – Resende-1902. Revista: Resende 150 anos de Cidade (l848-1998) Academia Resendense de História – ARDHIS – Publicação Comemorativa /Julho 1998 – Resende—RJ: Gráfica do Patronato. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 33 Quadro Anexo I: Educação em Resende Séc. XIX Fonte: Almanack Laemmert, 1846-1885. 34 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Estudo Sobre a Avaliação de Desempenho em Empresas da Região de Conselheiro Lafaiete Auxiliadôra Aparecida de Matos * Ângela de Castro Ochôa ** Christiane Garcia Ribeiro ** Ney Far Senra de Oliveira ** Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar os programas de Avaliação de Desempenho (AD) em empresas de diferentes segmentos numa mesma região e a percepção dos funcionários em relação ao assunto. Especificamente, pretendeu-se definir AD e os métodos existentes; identificar nas empresas pesquisadas os métodos de AD utilizados; verificar a opinião dos funcionários sobre a AD e comparar a satisfação com a AD nas empresas A, B, C, D e E. Os dados foram coletados através de 551 questionários aplicados em cinco empresas na região que compreende os municípios de Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco, Minas Gerais. Os resultados indicam que os funcionários avaliam a AD de forma positiva e relacionam os resultados da AD com treinamentos, aumento salarial e promoções. Palavras-chave: Avaliação de desempenho, feedback. Abstract: The objective of this work was to analyze the Performance Evaluation (PE) program in firms of different segments in the same region and how it is perceived by employees. Specifically, the intention was to define PE and existing methods; to identify which ones are used in the firms investigated; to determine employees’ opinion about the PE; and to compare their satisfaction with the PE between the firms A, B, C, D, and E. The information was collected through 551 questionnaires done in five firms within the region of Conselheiro Lafaiete, Congonhas, and Ouro Branco (Minas Gerais). The results indicate that the employees evaluate the PE in a positive way of relating results to trainings, salary increases, and promotions. Key words: Performance evaluation, feedback. 1. INTRODUÇÃO Avaliações estão sempre ocorrendo de forma natural e constante no dia a dia das pessoas, dentro e fora das organizações. A AD é um processo que busca auxiliar na estruturação de uma visão mais objetiva do potencial de cada funcionário, por se tratar de uma avaliação sistemática, que envolve não só o funcionário, mas também os supervisores ou aqueles que estejam familiarizados com os métodos de trabalho e com as metas da organização (SOUZA, 2003). A prática da avaliação, em seu sentido genérico, é inerente à natureza humana assim como é também a base * Docente e pesquisadora da Faculdade Santa Rita FaSaR. ** Graduandos do Curso de Administração de Empresas pela Faculdade Santa Rita - FaSaR. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 para tomada de decisão que está presente em toda escolha. As organizações buscam atrair e selecionar colaboradores que compartilham de seus valores e crenças e utilizam sistemas de reconhecimento para estimular e tentar garantir os desempenhos considerados adequados e desejáveis às suas realidades. Contudo, entre o desempenho real e o desempenho esperado pode ocorrer um hiato, que é muitas vezes designado como discrepância de desempenho. Para sanar essa situação é comum vermos as organizações delinearem diversas atividades e implantarem conceitos e metodologias que nem sempre atendem suas próprias necessidades. Muitas vezes, nestes processos, ocorrem efeitos opostos aos desejados, onde muitas expectativas são criadas e poucas são atendidas de forma positiva, ou que venham a representar um ganho representativo na trajetória de desenvolvimento pessoal/profissional dos trabalhadores (GIL, 2007). O assunto é extremamente delicado, principalmen35 te por envolver pessoas, uma vez que elas não podem ser tratadas apenas como instrumento de trabalho, mas como colaboradores essenciais para o sucesso da organização e por ser a AD uma ferramenta que ainda desperta resistência. Identificou-se o problema: Qual é o grau de satisfação dos funcionários das empresas “A”, “B”, “C”, D” e “E” sobre a AD?. Com isso, chegou-se à hipótese que o percentual de funcionários que acreditam que a AD é uma ferramenta que visa melhorar o seu próprio desempenho é baixo. Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar os programas de AD em empresas de diferentes segmentos numa mesma região e a percepção dos funcionários em relação ao assunto. Especificamente, pretendeu-se: definir AD e os métodos utilizados; identificar nas empresas pesquisadas, os métodos de AD utilizados; verificar a opinião dos funcionários sobre a AD e comparar a satisfação com a AD nas empresas “A”, “B”, “C”, “D” e “E”. Optou-se por selecionar empresas de diferentes segmentos de negócio, uma vez que o objeto de estudo é comum a todas as organizações, sendo: uma do setor de siderurgia, uma do setor mineração de ferro; uma do setor de mineração de manganês; uma concessionária de veículos leves e um hospital; que serão identificadas, a partir deste ponto, como empresas “A”, “B”, “C”, “D” e “E” respectivamente. Para compor a amostra de estudo foi utilizado o método probabilístico que permite que qualquer indivíduo da população possa vir a fazer parte da amostra. Foi realizado um sorteio aleatório dos números de matrículas dos funcionários até que se obteve o número da amostra. Admitiu-se um erro amostral de 5% que corresponde a uma margem de confiança de 95%. Para determinar o tamanho da amostra, utilizou-se a seguinte equação (LEVIN, 1987): n0 = 1 E 02 2. METODOLOGIA Esta pesquisa caracterizou-se como pesquisa descritiva que, conforme Gil (2002), tem como objetivo primordial a descrição das características de uma população. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a pesquisa bibliográfica e a aplicação de questionários em cinco empresas nos municípios de Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco em Minas Gerais. n= N .n0 N + n0 onde: N = Tamanho da população E0 = Erro amostral tolerável n0 = Primeira aproximação do tamanho da amostra n = Tamanho da amostra Tabela 1 - Identificação do tamanho da amostra por empresa Assim, de posse do número de funcionários por empresa (N) e admitindo-se um erro amostral (E0) de 5%, calculou-se o tamanho da amostra aproximado (n0) que define o tamanho da amostra por empresa (n), conforme indica a Tabela 1. 3. REFERENCIAL TEÓRICO A AD é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa no cargo e o seu potencial de desen- 36 volvimento futuro. Toda avaliação é um processo para estimular ou julgar o valor, a excelência, as qualidades de alguma pessoa (CHIAVENATO, 2008). A AD foi originalmente estruturada para mensurar o desempenho e o potencial do funcionário, tratando-se de uma avaliação sistemática, feita pelos supervisores ou outros hierarquicamente superiores familiarizados com as rotinas e demandas do trabalho. Ela é tradicionalmente definida como o processo que busca mensurar objeti- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 vamente o desempenho e fornecer aos colaboradores informações sobre a própria atuação, de forma que possam aperfeiçoá-la sem diminuir sua independência e motivação para a realização do trabalho. O desempenho reflete-se no sucesso da própria organização e talvez por isso é característica mais óbvia a ser medida (BERGAMINI; BERALDO, 2007). Observa-se que em muitas empresas o desempenho e a produtividade da equipe são muito valorizados, porém poucos funcionários parecem apresentar o perfil e o desempenho esperado. Segundo Gil (2007), é necessário para uma organização que ela mantenha um sistema de Avaliação do Desempenho tecnicamente elaborada. Sendo esta, uma maneira de evitar que a avaliação seja feita de forma superficial e unilateral, do chefe em relação ao supervisionado. No entanto na visão de Snell e Bateman (1998), a AD deveria preocupar-se com o nível habitual de desempenho no trabalho atual, em determinado período, a contar desde a última avaliação. Em muitas organizações a AD é tratada como um procedimento de grande importância na gestão de recursos humanos. Muitos gestores veem na avaliação do desempenho um conjunto de vantagens proveitosas para a melhoria da produtividade, sendo um meio para desenvolver os recursos humanos da organização. Isso porque a AD torna possível identificar o grau de contribuição de cada empregado para a organização, identificar os empregados que possuem qualificação superior à requerida pelo cargo, identificar em que medida os programas de treinamento têm contribuído para a melhoria do desempenho dos empregados, promover o autoconhecimento e o autodesenvolvimento dos empregados, além de fornecer subsídios para definir o perfil requerido dos ocupantes dos cargos, remuneração e promoção, e também para elaboração de planos de ação para desempenhos satisfatórios (CHIAVENATO, 2008). Através da avaliação podem ser observadas e avaliadas competências como: visão estratégica, planejamento, organização, responsabilidade, acompanhamento, liderança, delegação, tomada de decisão, solução de problemas, iniciativa, proatividade, criatividade e inovação, orientação a resultados, autodesenvolvimento, administração de conflitos, capacidade de negociação, flexibilidade e adaptação a mudanças, competências interpessoal e trabalho em equipe (CHIAVENATO, 2005). A AD é um instrumento utilizado pelas organizações há muito tempo, percebe-se que em muitas organizações há uma preocupação crescente em implantar algum sistema de avaliação, que vise conhecer a extensão em relação a cada um dos colaboradores, tais como identificar problemas de integração, supervisão, motivação, sub aproveitamento do potencial e outros. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Conforme a política de recursos humanos adotada pela organização, a responsabilidade pela avaliação do desempenho das pessoas pode ser atribuída ao gerente, ao próprio indivíduo, ao indivíduo e seu gerente conjuntamente, à equipe de trabalho, ao órgão de Gestão de Pessoal ou a uma comissão de avaliação do desempenho. Cada uma dessas alternativas, segundo Chiavenato (2008) envolve uma filosofia de ação: a) O Gerente: na maior parte das organizações, cabe ao gerente a responsabilidade de linha pelo desempenho de seus subordinados e por sua avaliação. Nelas, quem avalia o desempenho do pessoal é o próprio gerente ou supervisor, com a assessoria do órgão de Gestão de Pessoas que estabelece os meios e os critérios para tal avaliação. Como o gerente ou o supervisor não têm conhecimento especializado para projetar, manter e desenvolver um plano sistemático de avaliação das pessoas, o órgão de Gestão de Pessoas entra com a função de staff de montar, acompanhar e controlar o sistema, enquanto cada chefe mantém sua autoridade de linha avaliando o trabalho dos subordinados por meio do esquema traçado pelo sistema. Modernamente, esta linha de trabalho tem proporcionado maior liberdade e flexibilidade para que cada gerente seja realmente o gestor de seu pessoal. b) O próprio indivíduo: nas organizações mais democráticas, é o próprio indivíduo o responsável por seu desempenho e autoavaliação. Nessas organizações utiliza-se a autoavaliação do desempenho, em que cada pessoa se autoavalia quanto à sua performance, eficiência e eficácia, tendo em vista determinados parâmetros fornecidos pelo gerente ou pela organização. c) O indivíduo e o gerente: modernamente, as organizações estão adotando um avançado e dinâmico esquema de administração do desempenho. E aqui ressurge a velha Administração Por Objetivos (APO), agora com novas roupagens e sem aqueles conhecidos traumas provocados pela antiga arbitrariedade, autocracia e contínuo estado de tensão e aflição dos envolvidos que caracterizavam sua implantação na maioria de nossas organizações. A AD não é um fim em si mesma, mas um instrumento, um meio, uma ferramenta para melhorar os resultados dos recursos humanos da organização (GIL, 2007). Para alcançar esse objetivo básico – melhorar os resultados dos recursos humanos da empresa -, a avaliação do desempenho procura alcançar uma variedade de objetivos intermediários. Segundo Chiavenato (2004) a avaliação do desempenho pode ter os seguintes objetivos intermediários como: adequação do indivíduo ao cargo, treinamento, promoções, incentivo salarial ao bom desempenho, melhoria das relações humanas entre superi37 ores e subordinados, autoaperfeiçoamento do empregado, informações básicas para pesquisa de recursos humanos, estimativa do potencial de desenvolvimento dos empregados, estímulo à maior produtividade, conhecimento dos padrões de desempenho da organização, retroação (feedback) de informação ao próprio indivíduo avaliado, outras decisões de pessoal, como transferências, dispensas etc. Em resumo, os objetivos fundamentais da avaliação do desempenho podem ser apresentados em três facetas: • Permitir condições de medição do potencial humano no sentido de determinar sua plena aplicação. • Permitir o tratamento dos recursos humanos como importante vantagem competitiva da organização e cuja produtividade pode ser desenvolvida, dependendo, obviamente, da forma de administração. • Fornecer oportunidades de crescimento e condições de efetiva participação a todos os membros da organização, tendo em vista, de um lado, os objetivos organizacionais e, de outro, os objetivos individuais. Para Araújo (2006), a avaliação do desempenho, muitas vezes, pode servir de base às políticas de promoção das organizações. O processo é efetuado periodicamente, normalmente com caráter anual, e consiste na análise objetiva do comportamento do avaliado no seu trabalho, e posterior na comunicação dos resultados. Tradicionalmente compete aos superiores avaliarem os seus subordinados, estando a avaliação sujeita a correções posteriores para que os resultados finais sejam compatíveis com a política de promoções. Os métodos tradicionais de avaliação de desempenho que são mais utilizados pelas organizações brasileiras, segundo Carvalho e Nascimento (1997), Gil (2007), Bergamini e Beraldo (2007) e Chiavenato (2008), são: Métodos da Escala Gráfica: é o método de Avaliação de desempenho mais utilizado, divulgado e simples. Exige muitos cuidados, a fim de neutralizar a subjetividade e o pré-julgamento do avaliador para evitar interferências. Trata-se de um método que avalia o desempenho das pessoas através de fatores de avaliação previamente definidos e graduados. Utiliza um formulário de dupla entrada, no qual as linhas em sentido horizontal representam os fatores de avaliação de desempenho; enquanto as colunas em sentido vertical, representam os graus de variação daqueles fatores. Os fatores são previamente selecionados para definir em cada empregado as qualidades que se pretende avaliar. 38 Método da Escolha Forçada: Consiste em avaliar o desempenho dos indivíduos por intermédio e frases descritivas de determinadas alternativas de tipos de desempenho individual. Em cada bloco, ou conjunto composto de duas, quatro ou mais frases, o avaliador deve escolher, forçosamente, apenas uma ou duas alternativas, que mais se aplicam ao desempenho do empregado avaliado. Método de Pesquisa de Campo: é feito pelo chefe, com assessoria de um especialista (staff) em avaliação do desempenho. O especialista vai a cada sessão para entrevistar a chefia sobre o desempenho de seus respectivos subordinados. Embora a Avaliação seja responsabilidade de cada chefe, há uma ênfase na função de staff em assessorar da maneira mais completa. Métodos dos Incidentes Críticos: baseia-se no fato de que, no comportamento humano, existem certas características extremas, capazes de levar a resultados positivos. Uma técnica sistemática, por meio da qual o supervisor imediato observa e registra os fatos excepcionalmente positivos e os fatos excepcionalmente negativos a respeito do desempenho dos seus subordinados. Focaliza tanto as exceções positivas como as negativas no desempenho das pessoas. As exceções positivas devem ser realçadas e mais utilizadas, enquanto as exceções negativas devem ser corrigidas e eliminadas. Cada fator de avaliação é utilizado em termos de incidentes críticos ou excepcionais. Método de Comparação aos Pares: consiste em comparar dois a dois empregados de cada vez, e se anota na coluna da direita, aquele que é considerado melhor, quanto ao desempenho. Pode-se ainda, utilizar fatores de avaliação. Assim, cada folha do formulário seria ocupada por um fator de avaliação de desempenho. É um método pouco eficiente, então, recomenda-se sua utilização apenas quando os avaliadores não tiverem condições de usar métodos mais apurados de avaliação. Método de Frases Descritivas: é um método que não exige obrigatoriedade na escolha de frases. O avaliador assimila apenas as frases que caracterizam o desempenho do subordinado (sinal “+” ou “s”) e aquelas que realmente demonstram o oposto de seu desempenho (sinal “-” ou “n”). Método da Autoavaliação: é o método por meio do qual o próprio empregado é solicitado a fazer uma sincera análise de suas próprias características de desempenho. Pode utilizar sistemáticas variáveis, inclusive formulários baseados nos esquemas apresentados nos diversos métodos de AD já descritos. Também denominado de avaliação por competência. Para Chiavenato (2005) o primeiro passo nesta nova abordagem consiste na reformulação do papel dos funcionários no sistema Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 de avaliação. Eles devem fazer uma autoavaliação, identificando não apenas seus pontos fracos, mas seus pontos fortes e seus potenciais. Deixam de ser objetos passivos e passam a ser agentes ativos da avaliação de seu desempenho. Método de Avaliação por Resultados: liga-se aos programas de Administração por Objetivos. Este método baseia-se numa comprovação periódica entre os resultados fixados (ou separados) para cada funcionário e os resultados efetivamente alcançados. As conclusões a respeito dos resultados permitem a identificação dos pontos fortes e fracos do funcionário, bem como as providências necessárias para o próximo período. É considerado um método prático, embora seu funcionamento dependa sobremaneira das atitudes e dos pontos de vista do supervisor a respeito da avaliação do desempenho. Algumas empresas vêm utilizando novos métodos de AD devido às limitações dos métodos tradicionais de avaliação. Estes novos métodos se caracterizam por uma colocação totalmente nova do assunto: autoavaliação e autodireção das pessoas, maior participação do funcionário em seu próprio desenvolvimento pessoal, foco no futuro e na melhoria contínua do desempenho (VERGARA, 2000). De acordo com Chiavenato (2008), os rumos da AD têm sido marcados por dois fatores importantes. O primeiro deles é a gradativa substituição da organização funcional e departamentalizada pela organização por processos, alterando os sistemas de indicadores e de medições dentro das empresas. O segundo é a participação dos trabalhadores nos resultados das empresas, que requer um sistema de medições e indicadores que permita negociações francas e objetivas entre elas e seus funcionários. Assim sendo, muitas empresas vêm adotando a técnica de avaliação participativa por objetivos (APPO) ao avaliar o desempenho dos seus funcionários. Segundo Chiavenato (2008) a APPO se baseia em uma nova abordagem da APO (bem mais democrática, participativa, envolvente e motivadora). A AD tem várias aplicações e propósitos e deve ser vista como uma fonte integradora das práticas de Recursos Humanos. A avaliação deve ser como um processo de agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas (CHIAVENATO, 2005). A entrevista de avaliação do desempenho: para Chiavenato (2005), a comunicação do resultado da avaliação ao subordinado (feedback) é ponto fundamental de todos os sistemas de avaliação do desempenho. De nada adianta a avaliação sem que o maior interessado – o próprio empregado – tome conhecimento dela. É necessário dar-lhe conhecimento das informações relevantes e significativas de seu desempenho, a fim de que os objetivos possam ser plenamente alcançados. Essa comunicação é feita através da entrevista de AD. 4. RESULTADOS Para coletar os dados foram elaborados dois questionários distintos, sendo um direcionado ao departamento de Recursos Humanos de cada empresa, e o outro destinado aos funcionários, ambos com questões relacionadas às avaliações do desempenho realizadas. 4.1 Resultados dos questionários aplicados no setor de RH das empresas A, B, C, D e E Tabela 2 - Periodicidade da AD Tabela 3 - Responsável pela AD Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 39 Tabela 4 - Finalidade da AD 4.2 Resultados dos questionários aplicados para os funcionários das empresas A, B, C, D e E Tabela 5 - Tempo do funcionário na empresa Tabela 6 - Conhece o resultado da sua AD Tabela 7 - Opinião sobre a importância da AD Tabela 8 - Finalidade da AD de acordo com os funcionários Tabela 9 - O desempenho melhorou com o resultado da AD 40 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Tabela 10 - Obteve benefícios depois da AD Tabela 11 - Opinião sobre a última AD 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados indicam que 80% das empresas pesquisadas possuem o supervisor e o funcionário como responsáveis pela AD (Tabela 3). Segundo Chiavenato (2005) essa é uma forma dinâmica e moderna de avaliar, retomando a antiga Avaliação Por Objetivos (APO), sem as arbitrariedades que a caracterizaram quando surgiu. A APO agora é essencialmente democrática, participativa, envolvente e fortemente motivadora. A AD não é um fim em si mesma, mas um instrumento, um meio, uma ferramenta para melhorar os resultados dos recursos humanos. Assim, o feedback fornecido pela AD é fundamental para a eficiência do processo. Gil (2007) afirma que um dos principais objetivos da AD é proporcionar feedback para a correção dos pontos fracos dos funcionários, com vistas a melhorar o desenvolvimento de cada um. Nesse sentido, observou-se que 69,1% dos funcionários conhecem o resultado de sua AD. Destes, 51,1% concordam com o mesmo e 18% discordam deste resultado, como mostra a Tabela 6. Para melhorar os resultados dos recursos humanos da empresa a AD procura alcançar uma variedade de objetivos intermediários, tais como: adequação do indivíduo ao cargo; treinamento; promoções; incentivo salarial ao bom desempenho; melhoria das relações humanas entre superiores e subordinados; autoaperfeiçoamento do empregado; informações básicas para pesquisa de recursos humanos; estimativa do potencial de desenvolvimento dos empregados; estímulo à maior produtividade; conhecimento dos padrões de desempenho da organização; retroação (feedback) de informação ao próprio indivíduo avaliado; outras decisões de pessoal, como transferências e demissões (VERGARA, 2000). Nesse sentido, os resultados ilustrados na Tabela 4 indicam que para o setor de RH a finalidade da AD é identificar necessidade de treinamento (100%); 80% é para aumento salarial e 60% afirmam que é para promoRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 ção. Já para os funcionários a finalidade da AD é o treinamento (41,6%), a promoção dos funcionários (30,4%) e aumento salarial para 18,5% dos entrevistados, como indica a Tabela 8. A periodicidade com que a AD é realizada é indicada na Tabela 2, onde 60% das empresas estudadas realizam a AD anualmente. Segundo Lucena (1992), é necessário que a AD seja realizada de forma contínua e com o efetivo estabelecimento de seus parâmetros; isso é importante para evitar o Dia Nacional da Avaliação de Desempenho. A AD é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa no cargo e o seu potencial de desenvolvimento futuro. Toda avaliação é um processo para estimular ou julgar o valor. (CHIAVENATO, 2005). Nesse aspecto, a AD apresentou-se como uma ferramenta para melhorar o desempenho para 68,1% dos funcionários, conforme a Tabela 9, entretanto, 11,4% afirmam que não obtiveram um desempenho melhor. Em relação à obtenção de benefícios depois da AD, a Tabela 10 mostra que 42,6% dos funcionários obtiveram benefícios e 45,9% não. A última AD foi avaliada pelos funcionários da seguinte forma: 62,3% a consideraram boa e 26,3% regular (Tabela 11). 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de AD quando bem elaborado é um elemento crucial para a consecução dos objetivos organizacionais. Observa-se que em muitas empresas o desempenho e a produtividade da equipe são muito valorizados, porém poucos funcionários parecem apresentar o perfil e o desempenho esperado. É necessário para uma organização que ela mantenha um sistema de AD tecnicamente elaborado para evitar que a avaliação seja feita de forma superficial e unilateral, do chefe em relação ao supervisionado. Em função do objetivo deste trabalho que foi ana41 lisar os programas de AD em empresas de diferentes segmentos numa mesma região e a percepção dos funcionários em relação ao assunto, observou-se que a AD foi bem avaliada pelos funcionários. De modo geral, os funcionários percebem a relação da AD com ações posteriores, como treinamentos, promoções e aumento salarial. Além disso, os responsáveis pela AD são os supervisores em parceria com os funcionários. Essa forma de avaliar tende a reduzir a arbitrariedade da AD quando somente o supervisor avalia seus subordinados, mostrando-se como um fator positivo nas empresas estudadas. Nesse sentido, a hipótese elaborada para nortear essa pesquisa foi refutada, pois acreditava-se que o percentual de funcionários que percebiam a AD de forma positiva seria baixo. Entretanto, 94,2% dos funcionários afirmaram que a AD é importante para o funcionário e para a empresa (Tabela 7), 68,1% disseram que o desempenhou melhorou com o resultado da AD (Tabela 9) e, finalizando, 62,3% avaliaram a última AD como “boa” (Tabela 11). CARVALHO, A. V. de; NASCIMENTO, L. P. do. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira, 1997. CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9.ed. São Paulo: Campus, 2008. _______. Gerenciando com as Pessoas. São Paulo: Campus, 2005. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. _______. Gestão de Pessoas: um enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2007. LEVIN, J. Estatística aplicada às ciências humanas. 2.ed. São Paulo: Harbra, 1987. LUCENA, M. D. S. Avaliação de desempenho. São Paulo: Atlas, 1992. SNELL, S. A.; BATEMAN, T. S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, L. C. G. De. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo: Atlas, 2006. BERGAMINI, C. W.; BERALDO, D. G. R. Avaliação do desempenho humano nas empresas. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2007. 42 SOUZA, V. L. Gestão de desempenho: julgamento ou diálogo? 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. VERGARA, S. C. Gestão de Pessoas. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Vínculos entre Empresas e Instituições Locais: o caso da indústria de peças autoelétricas no município de Pederneiras-SP Fred Aparecido Matano * Fabiana Florian ** Helena Carvalho De Lorenzo *** Resumo: Os principais estudos sobre ganhos coletivos em segmentos produtivos apontam a importância do território, de vínculos de cooperação entre empresas e da presença mais ativa de atores locais como fatores explicativos da dinâmica econômica do segmento. Este artigo busca contribuir para estas perspectivas de estudos explicitando as condições em que ocorreram os ganhos coletivos no caso analisado. A pesquisa foi realizada em empresas de produção e recondicionamento de peças autoelétricas, localizadas no Município de Pederneiras - SP, com o objetivo de identificar e analisar as interações e vínculos existentes entre as empresas e instituições, a natureza dessas relações e seus efeitos sobre o conjunto. A escolha do caso pautou-se no caráter inovador da experiência, objeto de estudo. O estudo mostrou que as empresas conseguiram retomar sua expansão após forte crise que quase destruiu o setor, em razão dos seguintes fatores. Primeiramente, as condições especiais de expansão do mercado de reposição de peças autoelétricas surgidas após a reestruturação produtiva da indústria automobilística. Em segundo lugar, a retomada da expansão do setor está ligada ao desenvolvimento de parcerias, cooperação entre empresas e a criação de uma associação local de produtores. As melhorias na capacitação tecnológica de algumas empresas derivaram de processos interativos presentes e de relacionamentos que foram estabelecidos entre os agentes produtivos com seus fornecedores e clientes. A forte presença da associação garantiu para as empresas distribuição simétrica de informações sobre tecnologias e mercados, possibilitando e fortalecendo vínculos de confiança e de cooperação. Por outro lado, possibilitou também compreensão adequada das necessidades tecnológicas do segmento o que resultou no desenvolvimento de processos informais de aprendizado e na incorporação de processos inovativos incrementais. Palavras-chave: vínculos entre empresas e instituições, eficiência coletiva, aglomerações e arranjos produtivos locais, indústria de recondicionamento de peças auto-elétricas, setor metal mecânico. Abstract: The principal studies on collective gains in productive segments point to the importance of region, cooperation between companies, and more active presence of local actors as explanatory factors of a segment’s economical dynamics. This article attempts to contribute to the perspectives of studies explaining the conditions that occur in collective earnings in the analyzed case. The research was conducted in companies that produce and recondition automotive electric pieces, located in the Municipality of Pederneiras,– SP. The objective was to identify and analyze the interactions and existing links between the companies and institutions, the nature of those relationships, and their effects on the group. The case was chosen based in the innovative character of the trial. The study showed that the companies regained their expansion after a difficult crisis that almost destroyed the * Mestre pelo Programa em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente-UNIARA-Araraquara-SP. ** Docente no Curso de Ciências Econômicas e Tecnológicas da UNIARA-Araraquara-SP. *** Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente-UNIARAAraraquara-SP. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 43 segment because of the following factors. First, the special conditions of expansion in the market of automotive electric replacement pieces appeared after the productive restructuring of the automobile industry. Second, the return of expansion in the sector is linked to the development of partnerships, cooperation between companies, and the creation of an association of local producers. The improvements in the technological capability of some companies derive from the interactions and relationships that the productive agents have established with their suppliers and customers. A strong presence of the association guarantees the companies equal information to technologies and markets, making possible and strengthening bonds of trust and cooperation. On the other hand, the segment’s technological needs were adequately understood, which resulted in the development of informal learning processes and the incorporation of innovative growth processes. Key words: Links between companies and institutions, collective efficiency, gatherings and local productive arrangements, reconditioning of automotive electric pieces industry, mechanical metal sector. 1. INTRODUÇÃO As primeiras indústrias de recondicionamento de peças autoelétricas, também conhecidas como “induzidos”, surgiram no município de Pederneiras, na década de 1950 que, assim, se inseria no mercado formado pela nascente indústria automobilística brasileira. O induzido é uma peça elétrica que trabalha dentro do motor de arranque, ou do alternador, para dar partida nos carros ou para fazer os alternadores carregarem a bateria. Todo tipo de caminhão, carro, moto, trator, máquina, ou seja, sempre que existir motor ligado, há nele um induzido funcionando. Até o final da década de 1980 a produção local voltada para um produto recondicionado teve mercado definido e seguro, fato que fez fortalecer no município número bastante significativo de empresas direta e indiretamente relacionadas com esse segmento do ramo metal mecânico. No entanto, na década de 1990, quando os mercados nacionais de automóveis e autopeças passaram por profundas transformações com a vinda das montadoras e com os processos de reestruturação produtiva, a indústria local de induzidos quase desapareceu, gerando fechamento de elevado número de empresas e elevado desemprego na região. Porém, nos anos que se seguiram e na medida em que a produção flexível de carros se estabilizou, o mercado para revenda de carros usados e seminovos se expandiu, dando origem a um novo cenário para o setor. Neste contexto as indústrias de induzidos elétricos de Pederneiras puderam retomar seu processo de desenvolvimento, ligadas a esse mercado secundário. A pesquisa buscou analisar as especificidades da recuperação do setor e das empresas, a partir da hipótese de que a simples proximidade geográfica não assegura a consolidação do setor, mas que a cooperação e o desenvolvimento de processos inovativos são os principais responsáveis pelos ganhos coletivos. Outro pon- 44 to de partida para a organização da pesquisa foi à noção de que ganhos coletivos podem contribuir para a consolidação do setor e gerar vantagens competitivas para as empresas e para a região. Neste sentido investigaram-se, além da natureza do segmento, os vínculos que vêm se desenvolvendo entre empresas e instituições, e em que medida esses vínculos puderam trazer ganhos coletivos. Por ser um segmento inserido em cadeia produtiva de dimensão nacional - a cadeia automobilística nacional - e sendo o ramo de autopeças altamente dependente do setor automotivo, a possibilidade de consolidação de um núcleo mais sólido de produção dessas peças na região, fica muito dependente de mercados e tecnologias exógenas à região. Tal constatação poderia fragilizar grandemente a consolidação do segmento no local. Daí o interesse em entender as especificidades do processo de produção e do mercado desses produtos. Considerou-se, portanto, que por ser um agrupamento onde a tecnologia exerce um papel fundamental, o sucesso e a continuidade do agrupamento estão fortemente relacionados ao desenvolvimento de tecnologias que possam gerar melhorias e garantias de desenvolvimento endógeno. O presente artigo está estruturado de forma a apresentar na seção seguinte, seção 2, uma síntese do referencial analítico. Na seção 3 analisa a formação inicial das empresas no local, o impacto da crise ocorrida nos anos 90, em razão das mudanças no setor automobilístico e de autopeças e sua inserção na cadeia produtiva metal mecânico. Na seção 4 explica a metodologia da pesquisa e os procedimentos utilizados para a sua realização. Na seção 5 são apresentados os resultados da pesquisa enfatizando a reorganização recente das empresas, o perfil produtivo, produtos, mercados e emprego, a forma como ocorrem as inovações, a importância do conhecimento no setor e, na sequência, os vínculos de cooperação e as vantagens coletivas. O esforço final foi o de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 apurar o grau de articulação efetiva ou eventual existente entre as empresas e os agentes locais envolvidos, na perspectiva selecionada. Enfim, buscou-se conhecer os limites e potencialidade dos ganhos coletivos que resultaram das relações que vêm sendo desenvolvidas nesta nova fase de desenvolvimento do segmento. 2. REFERENCIAIS TEÓRICOS PARA O ESTUDO DOS VÍNCULOSENTREEMPRESASEGANHOSCOLETIVOS A reflexão aqui apresentada para subsidiar o estudo das relações sobre vínculos entre empresas e ganhos coletivos está apoiada em duas referências teóricas. Em primeiro lugar, nos estudos sobre as condições que explicam a apropriação de ganhos coletivos a partir do desenvolvimento de vínculos entre empresas e da atuação de atores locais. Em segundo lugar, e tendo em vista qualificar as condições segundo as quais os vínculos entre empresas podem transformar-se em vantagens coletivas, a pesquisa tomou como referência teórica os estudos sobre a importância de inovações incrementais e do aprendizado, no sentido desenvolvido pela corrente conhecida como neo shumpeteriana. Os estudos sobre as vantagens coletivas apropriadas por empresas de um mesmo segmento ou de segmentos complementares, em decorrência do desenvolvimento de vínculos entre empresas vêm-se ampliando desde os anos 70. Este interesse decorreu do sucesso obtido por aglomerações de empresas localizadas em territórios produtivos, hoje muito conhecidos, que se desenvolveram em razão das vantagens coletivas decorrentes de vínculos entre empresas. Foram os casos da Terceira Itália e os do Vale do Silício, nos EUA (BECATTINI, 1999). No entanto, essas ideias têm origens anteriores. As vantagens da aglomeração de produtores, levando-se em consideração o processo de concorrência capitalista, foram inicialmente apontadas pelo economista inglês Alfred Marshal. Para o autor mencionado, a noção de eficiência coletiva está associada à de “externalidades” ou de “economias externas”. A partir da pressuposição de retornos crescentes de escala, Marshall apontou que as firmas aglomeradas são capazes de apropriar-se de economias externas geradas pela aglomeração dos produtores, que não obteriam sucesso se tivessem atuando isoladamente. Os retornos crescentes de escala emergem da condição de especialização dos agentes participantes do processo de divisão social do trabalho, propiciando, assim, às unidades envolvidas ganhos de escala. Apesar de o conceito de “economias externas” ter se constituído em elemento essencial para compreensão das vantagens derivadas da aglomeração, seu alcance revelou-se limitado na medida em que abarca somente aqueles ganhos (ou perdas) resultantes da facilidade de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 acesso a insumos especializados, mão de obra, principalmente (SCHMITZ, 1997). Nesta direção, dentre os autores que mais recentemente abordaram a questão da eficiência coletiva, Porter (1990) mostrou que, além das vantagens coletivas que podem ser apropriadas pelas empresas a partir das mudanças nos processos produtivos decorrentes da introdução de novas tecnologias, da produção flexível e dos impactos da globalização, outras categorias analíticas são importantes para a compreensão da questão dos ganhos coletivos. Este autor procurou recuperar os principais elementos que explicam a importância e as relações entre o local e aglomerações setorializadas. Mostra que países ou regiões não serão necessariamente competitivos apenas em função de suas riquezas naturais ou de mão de obra barata: cooperação e divisão de estágios produtivos entre empresas de um aglomerado devem ocorrer em maior ou menor nível, e destaca a presença de instituições de apoio, tanto governamentais quanto privadas, sejam universidades, associações comerciais ou de classe, centros tecnológicos de desenvolvimento, dentre outros. Outros autores como Camagni (1991) e Schimitz (1997) realizaram vários estudos sobre o tema. Camagni (1991) explica o ganho competitivo por meio da geração de efeitos econômicos e aponta como economias externas, as noções de vantagens passivas e dinâmicas e de economias próximas geograficamente que apresentem elementos sinérgicos. Schmitz (1997) desenvolveu a noção da importância entre economias externas e ação conjunta, como responsáveis pela geração de eficiência coletiva. Estudou principalmente os casos de aglomerados de micro e pequenas empresas em países em desenvolvimento. Para qualificar o conceito de “eficiência coletiva”, o autor distingue eficiência coletiva planejada (conscientemente perseguida) da não planejada (incidental). Mostra que, além das externalidades (fatores não planejados), a eficiência coletiva é formada e definida por fatores deliberadamente planejados (ação conjunta: cooperação vertical e horizontal). Segundo Schmitz (1997), a ideia principal que emerge do conceito de eficiência coletiva é a de que as externalidades locais não são suficientes para explicar o desenvolvimento de aglomerações de micro e pequenas empresas. Destaca o papel da cooperação e das sinergias entre as empresas como um fator fundamental na construção das vantagens que vão resultar em ganhos para o conjunto. A importância da cooperação e sinergia entre as empresas também foi desenvolvida também por Cassaroto Filho e Pires (1998), autores mais voltados ao estudo de micro e pequenas empresas no Brasil, a partir das experiências de desenvolvimento regional italiana. 45 Inovações e aprendizado foram incorporados ao estudo das externalidades para a ampliação e apropriação das vantagens coletivas. Essas noções vêm atraindo atenção de diversos estudiosos, tendo como base a análise da dimensão sistêmica e territorial do processo de inovação e de aprendizagem e deste como função endógena do desenvolvimento econômico. Essas noções provieram do pensamento de autores de formação neo schumpeteriana, Dosi (1984) e, posteriormente, por Freeman (1994) e Lundval (1992) que mostraram o papel do conhecimento, da capacidade de aprendizado, da inovação como condições para a expansão de agrupamento produtivos. No Brasil destacam-se os estudos de Suzigan, Garcia, Furtado (1999); Cassiolato, Lastres, Maciel (2003). As inovações podem ser definidas como sendo uma busca, uma descoberta, uma experimentação, um desenvolvimento, uma imitação e uma adoção de novos produtos, novos processos e novas formas de organização. De modo mais específico, a inovação pode ser algo novo ou uma combinação de elementos já existentes. Nesta direção destacam-se as inovações incrementais que se referem à introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção dentro da empresa sem alteração na estrutura industrial, podendo gerar maior eficiência técnica, aumento da produtividade e da qualidade, redução de custos e ampliação das aplicações de um produto ou processo. Esses autores também ressaltam a atuação das economias externas oriundas da especialização e dos agentes produtivos concentrados geograficamente. Podem ser identificadas duas formas relevantes. A primeira se refere à presença de economias externas locais, que é a possibilidade de transbordamentos (spill-overs) de conhecimento e tecnologia. Essa proximidade facilita a circulação de informações e de conhecimentos, fomentando o processo de aprendizado local. A segunda forma de economia externa diz respeito à atração de fornecedores especializados em setores e segmentos da indústria e serviços, ligados à atividade principal mantida no aglomerado produtivo, ou seja, a formação de indústrias de correlatas e de apoio, além da presença de universidades e centros de pesquisa. Em síntese, os estudos sobre o tema mostram a possibilidade de ganhos coletivos com o desenvolvimento de vínculos entre empresas, que não estão restritos apenas às questões indicadas por sinais de preço e custos. A noção se completa tanto pela presença de competição e de cooperação, pela confiança e reciprocidade, quanto pelas inovações que são categorias importantes para se entender o adensamento do aglomerado e a incidência de ação conjunta no agrupamento. Por estas razões as empresas, principalmente as micro e pequenas, têm sido levadas a concentrarem suas estratégias no 46 desenvolvimento de suas capacidades inovativas, buscando inserção mais competitiva no mercado. Ou seja, o dinamismo do mercado faz com que as firmas busquem constantemente novas estratégias, conhecimentos, competências e capacidades produtivas que as diferenciem e que as coloquem à frente de novas situações que o mercado oferece. 3. A FORMAÇÃO DAS INDÚSTRIAS AUTOELÉTRICAS DO MUNICÍPIO DE PEDERNEIRAS-SP E O IMPACTO DAS MUDANÇAS NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO NACIONAL NOS ANOS 90 As primeiras atividades da indústria de recondicionamento de peças autoelétrica do setor metalmecânico também conhecida como “induzidos” surgiram em Pederneiras no final da década de 50, a partir de experiências de alguns empreendedores locais buscando reproduzir peças originais para motores de partida de veículos. Paralelamente, a presença no local de empresas, como Wolkswagen, Bosch e Wapsa, fez com que o setor se expandisse atendendo as necessidades do mercado, estimulando o recondicionamento de alguns componentes dos motores de partida. As peças recondicionadas ganharam o nome de “induzidos para motores de partida”. Em meados dos anos 60, vários outros pequenos empreendedores surgiram e o município começou a se destacar como um polo de recondicionamento de motores. Até meados dos anos 80, as empresas locais se dedicavam ao recondicionamento das peças originais dos motores de partida. A partir de 1986, formaram-se duas novas empresas (com a separação de um dos sócios da principal empresa local) que, além do recondicionamento de peças, começaram a produzir, por meios de cópias, novos componentes de motores, os induzidos de partida, para competir com os dos grandes fabricantes nacionais. Até então, vender induzidos recondicionados não havia sido tarefa muito difícil. No entanto, vender induzido novo, fabricado no município, tendo que competir com as grandes empresas criadoras do produto original foi uma questão bem mais complexa. Isto porque, ao mesmo tempo em que as empresas locais buscavam novas alternativas, o setor de autopeças nacional entrou em profunda crise que mudou totalmente sua estrutura produtiva com fortes impactos nas empresas do setor. A partir dos anos 90, com a abertura comercial da economia brasileira, as indústrias nacionais de automóveis e autopeças passaram por grandes transformações estruturais e com a vinda das montadoras definiu-se novo cenário para as indústrias automobilísticas e de autopeças. Os processos de desverticalização, globalização, hierarquização, redução e aproximação no Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 fornecimento de autopeças junto às montadoras, trouxeram como consequências, além da desnacionalização de grandes firmas locais, a redução dos níveis de emprego, mudanças nas condições de trabalho e nas qualificações exigidas ao setor. Também trouxeram consequências desastrosas para muitas empresas brasileiras do setor de autopeças, dentre as quais a pequena produção de induzidos de Pederneiras. Com o prosseguimento do processo de reestruturação produtiva no setor automobilístico nacional, os grandes fabricantes de autopeças iniciaram um forte ajuste administrativo e operacional com ênfase em reduções de custos, a fim de atenderem as novas exigências das montadoras. Em consequência, o setor de autopeças passou a incorporar empresas que fabricavam sob encomenda e prestavam serviços de montagem e manutenção industrial. As atividades que predominaram foram a usinagem, caldeiraria, e fundição. Os principais agentes do setor passaram a ser constituídos por empresas de menor porte, fornecedoras e não fornecedoras de grandes empresas, empresas clientes âncoras e outras empresas clientes, instituições de classe, pesquisa e ensino, de capacitação e desenvolvimento e fornecedores de matéria prima e insumos que, basicamente, são distribuidores e fornecedores de serviços (AERIP, 2006). O produto final da cadeia produtiva na qual o setor de peças autoelétricas faz parte é composto de inúmeros componentes oriundos de diversas tecnologias (eletroeletrônica e metal-mecânico, química, por exemplo). A produção de uma peça envolve crescente tecnologia, dado que há um processo de escolha e de homologação de parcerias entre empresas de autopeças e montadoras ligadas ao crescente aumento da demanda no mercado interno, que exige desempenho cada vez maior dos fornecedores. Tal exigência envolveu aprimoramento tecnológico constante para manter as empresas no mercado. A nova forma de organização da produção, em que pese a presença de empresas estrangeiras e do encerramento de muitas empresas nacionais, trouxe melhorias ao mercado na medida em que incentivou a concorrência e a busca pela qualidade nas empresas de autopeças. O mercado para carros usados, que se ampliou substancialmente, gerou possibilidades de vendas de peças de reposição, cuja produção teve também que se modernizar e incorporar tecnologias presentes nas próprias montadoras e em suas redes de fornecimento. Apesar das inúmeras dificuldades que surgiram no decorrer do processo de reconstrução, parte significativa das empresas do setor de autopeças, localizadas no Estado de São Paulo, pôde retomar sua posição no setor. Foi neste contexto que as empresas produtoras de autopeças de Pederneiras, objeto deste estudo, buscaram adaptar-se a processos que se apresentavam como inevitáveis. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa que deu origem a este trabalho pode ser enquadrada como um estudo de caso dado que, no contexto dos estudos sobre aglomerações produtivas, o caso estudado diferencia-se por suas especificidades locais. Trata-se também de um estudo descritivo e exploratório uma vez que não existe estudo algum anterior sobre esse conjunto de empresas, e que ele vai proporcionar um primeiro contato mais formalizado e acadêmico com objeto pesquisado. O estudo de caso foi realizado por meio de pesquisa em fontes secundárias e primárias. As principais bases utilizadas foram: a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, Fundação SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a AERIP (Associação das Empresas de Recondicionamento de Induzidos em Pederneiras - SP). A pesquisa primária foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com empresários e instituições, com o intuito de conhecer a dinâmica das empresas, de verificar a existência de vínculos produtivos locais com agentes públicos e privados e a intensidade das formas de interação. As categorias analíticas pesquisadas foram obtidas a partir das referências bibliográficas: produção e mercados, aprendizado e inovação, cooperação, papel das instituições e agentes públicos e privados. O universo pesquisado, em 2008, era constituído por 48 empresas formais, sendo que se supunha a existência de 32 empresas informais, em sua maioria pertencentes à classe CNAE (Cadastro Nacional de Atividades Econômicas) 3160-7 fabricação de materiais elétricos para veículos automotivos (inclusive baterias e recondicionadores). As empresas foram selecionadas a partir de uma amostra aleatória de 20 empresas, o que equivaleu a 41% do total, distribuídas em 11 micro empresas, 06 pequenas empresas e 03 médias empresas. 5. EVOLUÇÃO RECENTE DO SETOR DEAUTOPEÇAS EM PEDERNEIRAS 5.1 Empresas, produtos, mercados e emprego As empresas formais que compõem o núcleo do segmento estudado estão distribuídas nas seguintes atividades: 05 fabricantes de estator; 41 fabricantes de estator recondicionado; 05 fabricantes de induzidos de partida; 41 fabricantes de induzidos de partida recondicionados; 05 fabricantes de bobinas de campo; 19 fabricantes de bobinas de campo recondicionadas; 01 Fabricante de induzidos de dínamo; 41 fabricantes de induzidos de dínamo recondicionados; 05 fabricantes de chave magnética recondicionadas; 05 fabricantes de 47 impulsor de partida. Esses produtos estão inseridos na cadeia automobilística nacional, e das 48 empresas formais existentes no município, 48% da produção tem como destino o mercado nacional, 40% no mercado estadual, 10% permanecem na região. Desde 2000, pequena parcela de 2% vem sendo exportada. Os mercados nacionais, principalmente das regiões norte e nordeste são os principais focos para as peças autoelétricas. A busca pela inserção na cadeia automobilística tem sido uma das pre- ocupações básicas das empresas locais. Na década de 1980 a crise na indústria foi intensa, o que se pode observar pela redução do emprego industrial mostrado na Tabela1. Entretanto, entre os anos de 1995 e 2005, o emprego no setor apresentou crescente expansão mostrando significativos sinais de recuperação e elevada participação na economia do município. Tabela 1 - Evolução do Emprego em setores formais Município de Pederneiras - SP Fonte: RAIS/MTE, 2003. A partir de 1995, segundo informações da RAIS, o emprego no setor teve crescimento constante destacando-se elevada participação relacionada à fabricação e recondicionamento de induzidos, que é o núcleo central da produção industrial no município. A relação entre o total de emprego da indústria de materiais elétrico e o total de emprego no município passou de 1,6% em 1995 para 6,84 em 2005, evidenciando a importância da con- centração dessa atividade para o emprego do município (Tabela 2). Observou-se também que a indústria em relação ao número de empregados é o segundo maior empregador do município. Desde 1995, a indústria como um todo vem crescendo e, agregando também um aumento do número de empregados. Particularmente, o setor CNAE mais importante das indústrias no município é o de material elétrico para veículos exceto baterias. Tabela 2 - Evolução do total de estabelecimentos e empregados dos segmentos metal-mecânico Fonte: RAIS/MTE, 2005. 48 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 A origem do capital é nacional e as empresas são independentes, ou seja, não fazem parte de nenhum grupo econômico. Quanto à estrutura do capital, as fontes de recursos são sempre dos próprios sócios. Quanto ao grau de escolarização pode-se dizer que há um elevado nível de escolarização da mão de obra, uma vez que o ensino fundamental completo e o ensino médio completo constituem a maior parte da mão de obra. No entanto, há forte opinião dos empresários sobre a falta de qualificação técnica e adequada. Quanto às características das relações de trabalho ressalta-se que a pesquisa foi realizada no segmento formal, onde as relações de trabalho estão relativamente preservadas. Porém, há alto grau de informalidade. Não se observou trabalho infantil, dado que o sindicato não permite. Há também estagiários vindos de algumas instituições conveniadas das empresas. Mesmo no setor formal existem algumas relações informais (sem carteira assinada), mas em número reduzido. A pesquisa indicou elevada presença de terceirizações. 5.2 Inovações e a importância do conhecimento O conceito de inovação assumido nesta pesquisa é o que a relaciona com uma atividade interativa e social e destaca a importância da inovação incremental abrangendo a introdução de produtos e processos novos (mesmo que apenas para o mercado específico da empresa e para a própria empresa), bem como inovações de natureza organizacional. Para o caso em estudo, de maneira geral, as inovações observadas são simples (não há tecnologia de ponta) principalmente em produtos, mas são consideradas essenciais para a competitividade do setor. O estudo mostrou que estão ocorrendo avanços na divisão do trabalho técnico para a produção de um mesmo produto. Com o desenvolvimento de spin offs novas empresas surgiram a partir de outras, como a montagem no local de três empresas fabricantes de componentes (anéis, coletores e eixos). As pequenas empresas têm uma preocupação maior em inovação em produtos do que as micro e médias empresas. Essas inovações referem-se às novas peças, chaves magnéticas e impulsores de partida, que até então não eram recondicionados. Essas pequenas “inovações” significaram grandes avanços para a consolidação de indústria local. A ampliação de mercados decorrente desses novos produtos é explicativa da importância deles. Os maiores impactos resultantes da introdução de inovações ocorreram com o aumento da qualidade dos produtos. As inovações em processos ocorreram em pequena escala e voltadas à melhoria de processos para a produção dos novos induzidos. A aquisição de máquinas Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 foi uma necessidade para a implementação desses processos. A maioria das empresas programou mudanças significativas na estrutura organizacional. O resultado mais importante de introdução dessas inovações foi o aumento das vendas e da qualidade do produto, evidenciando que a preocupação das empresas em alcançar melhor padrão de produção, tentando-se aproximar-se do padrão nacional, encontra resposta no mercado. O treinamento e capacitação de recursos humanos estão mais presentes nas empresas de portes pequeno e médio já que estas empresas possuem melhores condições de capacitar alguns formandos de cursos técnicos localizados no aglomerado ou próximo, assim como estagiários e engenheiros. De maneira geral, as micro empresas possuem poucos recursos para investirem em treinamentos e capacitação e o estudo indica como principais deficiências a baixa capacitação profissional e empresarial. Os fatores que contribuíram para a melhoria do aprendizado e conhecimento foram internos à empresa, particularmente na área de produção que representa a principal fonte de informação para todas as empresas analisadas. Observou-se que algumas pequenas e médias dispõem de departamento de pesquisa e desenvolvimento mais avançados. As outras áreas de vendas e marketing e serviços de atendimento ao cliente são também importante fonte de aprendizado e conhecimento. A atuação das universidades e centros de pesquisa que envolve capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção ainda é baixa. As feiras, exibições e lojas são importantes principalmente para a média e micro empresas, respectivamente. É por meio das feiras nacionais e internacionais que as médias empresas buscam conhecer os novos modelos de peças e adaptam essas novas tecnologias ao local. 5.3 Vínculos de cooperação e atores locais O principal responsável pelo desenvolvimento da cooperação tem sido a presença de uma associação específica para o setor, a Associação das Empresas de Recondicionamento de Induzidos de Pederneiras-SP – AERIP, fundada em 2001. Uma das ações mais significativas desenvolvidas pela AERIP foi a garantia de fornecimento de informações técnicas e sobre o mercado para todas as empresas. Este fato possibilitou o desenvolvimento da confiança e da cooperação entre as empresas. As empresas começaram a se enxergar como complementares, deixando de produzir componentes tais como os anéis e os espaguetes, antes recondicionados, para produzir peças e produtos novos de outros associados. Dentre as principais ações que vêm sendo realizadas destacam-se ações voltadas para compras conjun49 tas (os associados têm comprado matéria prima em conjunto com preços menores e facilitadas condições de pagamento com fornecedores e distribuidores), para o desenvolvimento de tecnologias de produção, para a realização de Feiras. Também promoveu parcerias com a criação de escolas técnica (SENAI), em 2006, com a preparação de cursos técnicos para montagem e recondicionamento de peças autoelétricas. A presença do SEBRAE a partir de 2001 foi importante para criar uma visão conjunta de aglomerado, difundindo-se o conceito de arranjo produtivo local. Observou-se assim que a Associação é uma entidade com intensa ação local. Pode-se dizer que o nível de cooperação não está assegurado pela proximidade geográfica, mas dependeu de uma ação conjunta dos empresários que, para sair da forte crise, viram na cooperação alguma possibilidade de vantagem. As possibilidades de divisão do trabalho entre empresas possibilitadas pelas características técnicas do setor foram também condições essenciais para o incentivo à cooperação. Para o caso estudado as interações entre as empresas vêm sendo buscadas e são elas que respondem pela criação de economias externas. 5.4 Vantagens coletivas: a rede de fornecedores e a composição de produtos A importância das vantagens coletivas associadas ao ambiente local reflete um dos aspectos chave na análise do dinamismo competitivo e inovativo dos aglomerados. Para o caso estudado, as principais vantagens de localização no aglomerado foram a presença de fornecedores de insumos e matérias primas e infra-estrutura física. A maior parte das matérias primas, atualmente, é comercializada no local, tais como o fio esmaltado, a caixa de embalagens individual, fibras de poliéster, estanho, anel de ligação e verniz isolante que foram se instalando aos poucos no local, criando uma rede local de fornecedores. É importante destacar que o fornecimento de insumos realizado por empresas do município começou a se dar a partir de 2001, quando a produção local, principalmente de anéis, espaguetes e caixas para embalagens começou a ganhar o mercado. Em 2003, com a comercialização local de verniz isolante, estanho, chapa de aço e carretel em fibra, anéis e a venda de caixas para embalagens, os negócios no município se ampliaram e o setor de serviços ligado à atividade industrial criava complementaridades importantes para a formação de economias externas locais. Assim, a retomada no crescimento do setor foi possibilitada por fortes parcerias e vínculos que foram sendo estabelecidos à medida que os empresários come- 50 çaram a perceber a necessidade de ampliar a rede local e de produtores e fornecedores. Algumas vezes, segundo relatos de entrevistas, os empresários deixavam de adquirir insumos de fornecedores tradicionais para incentivar o empreendedorismo local. Alguns vínculos entre empresas puderam se desenvolver, em primeiro lugar pela presença de rede de fornecedores local e pelo avanço no processo de divisão do trabalho para a produção de um mesmo item. Foi o caso, por exemplo, das 14 empresas associadas que deixaram muitas vezes de comprar de fornecedores externos, para comprarem componentes e peças de fornecedores locais, valorizando seu produto final e valorizando o território. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo realizado mostrou em que a retomada de crescimento do setor dependeu de duas condições muito peculiares. Em primeiro lugar, da expansão do mercado nacional de reposição de peças para carros usados e seminovos. Em segundo lugar, da habilidade dos empresários locais que souberam aproveitar esse novo cenário para o setor, criando novas oportunidades a partir das características técnicas do setor e de uma visão empreendedora de seu negócio. O estudo realizado mostrou que a recuperação do setor, a partir de 1995, esteve ligada ao esforço dos empresários locais com relação às melhorias na capacitação tecnológica e tendências para a introdução de processos inovadores e que decorreram da compreensão, por parte deles, de que o setor exige contínua introdução de melhorias técnicas. Houve, pois, elevada participação dos empresários locais que puderam perceber que a tecnologia exerce papel fundamental no setor, mesmo em se tratando de peças para reposição. Também perceberam que o sucesso e a continuidade do agrupamento estão fortemente relacionados ao processo de desenvolvimento e aprimoramento de conhecimentos e inovações, melhor capacitação e aprendizado para gerar emprego qualificado e garantias de sustentabilidade do setor no município. A pesquisa mostrou que as melhorias na capacitação tecnológica de algumas empresas derivam de processos interativos presentes na área de processos de produção e de relacionamentos interativos que se estabeleceram entre os agentes produtivos, com seus fornecedores e clientes. Mostrou que para as melhorias na produção foram importantes os processos informais de aprendizado que resultam de incorporações de processos inovativos incrementais. O estudo, portanto, confirma com suas evidências que o desenvolvimento de economias externas é fundamental para a aquisição de vantagens coletivas derivadas da aglomeração, e que elas não podem ser desvinculadas da ação cooperativa e da confiança que Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 se desenvolve entre empresas e empresários. Mas os laços de confiança não são espontâneos e foram incentivados pela ação da associação local. No caso estudado, as atuações da associação e do sindicato do setor foram responsáveis pela cooperação; a reconstrução das empresas esteve apoiada na introdução de inovações, e na preocupação com o conhecimento. A introdução de inovações em produtos, processos e organizacionais foram fundamentais para a sobrevivência das empresas em um mercado que sofre forte influência do mundo globalizado. O estudo dos vínculos de cooperação mostrou a importância da formação de uma rede local de fornecedores que gerou ganhos coletivos e também contribuiu para o incremento de apropriação de ganhos em cadeia. O reforço da posição das empresas e de um ambiente mais direcionado para a modernização e capacitação certamente estimulou uma gradual adesão das demais empresas a este padrão mais competitivo. Neste contexto os graus de confiança e articulação efetivos ou eventuais que se desenvolveram foram fundamentais para a recuperação e fortalecimento do setor. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AERIP (Associação das Empresas de Recondicionamento de Induzidos em Pederneiras - SP). BECATTINI, G. Os Distritos Industriais na Itália. In: URANI, A. et al. Empresários e empregos nos novos territórios produtivos: o caso da Terceira Itália. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. CAMAGNI, R. “Local Milieu, uncertainty and innovation networks: towards a new dynamic theory of economic space”, in R. Camagni (1991) (editor), Innovation Networks: spatial perspectives, Londres: Belhaven Press, 1991. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L.H. Redes de Pequenas e médias empresas e Desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência italiana, São Paulo: Atlas, 1998. CASSIOLATO, J.E.; LASTRES H.M.M.; MACIEL, M.L. Pequena Empresa – Cooperação e Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro: UFRJ/IE. Relume Dumará, 2003. DOSI, G. Tecnical change and industrial transformation. Londres: Mcmillan, (Trends in innovation and its determinants: The ingredients of the innovative process), 1984. FREEMAN C. The economics of technical change: critical survey. Cambridge J. Econ., Cambridge, v. 18, p. 463- 514, 1994. LUNDVALL, B.A. National Systems of Innovation: Towards a theory of innovation and interactive learning. London: Pinter, 1992. PORTER, M. Vantagens competitivas das nações. Rio de Janeiro: Campus, 1990. SCHIMITZ, H. Eficiência coletiva: caminho de crescimento para a indústria de pequeno porte. ENSAIOS FEE, Ano 18, n. 2. Porto Alegre 1997. SINDIPEÇAS - Sindicato Nacional das Indústrias de componentes para veículos automotores. Desempenho anual: 2006,2007,2008. Disponível em: http:/ /www.sindipecas.org.br. Acesso em: 20 abr. 2009. SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J.; SAMPAIO, S. E. K. Aglomerações Industriais do Estado de São Paulo. Campinas: Unicamp, 1999. 51 Avaliação do Potencial Turístico da Aldeia Guarani Boa Vista do Sertão do Promirim, Ubatuba/SP Rodrigo de Campos Macedo * Wilson Cabral Sousa Junior ** Resumo: O conhecimento do potencial turístico é uma demanda de muitos que se interessam em empreender e/ou incrementar formas de geração de renda que aproveitem amenidades naturais e culturais, tais como gestores de unidades de conservação e planejadores públicos. Acredita-se que o turismo pode ser uma atividade econômica que as valorize e, consequentemente, incentive a conservação destes recursos. Avaliar corretamente o potencial a ser explorado por atividades turísticas é imprescindível para futuros empreendimentos; para isto, torna-se necessária a utilização de métodos e ferramentas de avaliação, tais como diagnósticos, inventários dos atrativos turísticos e prognósticos. Este trabalho avaliou o potencial turístico existente na Aldeia Boa Vista, a partir da execução de diagnóstico e inventário dos atrativos. O trabalho, além de definir roteiros, apresenta sugestões e recomendações, em especial voltadas para a minimização dos riscos socioambientais associados à aculturação e sobrepopulação, fato que aumentaria a pressão sobre os recursos naturais da região. Palavras-chave: Guarany, etnoturismo, diagnóstico socioambiental. Abstract: The knowledge of touristic potential is required to improving income generation by taking advantage of natural and cultural amenities. Tourism can be an economic activity that gives value and incentives for conservation of these resources. Correctly evaluating the potential utilization of a touristic activity is very important for future projects. That is why, methods and evaluation tools, like diagnostics and inventory of the touristic spots, should be used. This work evaluated the touristic potential that exists at Boa Vista village. Through diagnostics and an inventory of touristic attractions, roads were defined and alternatives were proposed. Furthermore, it presents some recommendations on minimizing environmental risks, especially those related to the acculturation and overpopulation and its pressure on the natural resources. Key words: Guarany, ethnotourism, environmental diagnostics. 1. INTRODUÇÃO características encontradas nestes territórios. Durante as oficinas do Projeto Novos Futuros no Horizonte dos Guarani da Aldeia Boa Vista – Plano de Negócio para o Artesanato Guarany, financiado pelo FNMA e executado pela CPI-SP, a comunidade solicitou ações para organizar um programa turístico como alternativa geradora de renda. Nascera a ideia para o presente trabalho nesta solicitação. A necessidade de proposição para obtenção de renda sem dependência da comercialização de palmito é um desejo comum para os que se preocupam com a sustentabilidade das TI´s. O turismo (mais especificamente, o etnoturismo) apresenta-se como uma atividade econômica potencial para as As comunidades indígenas, historicamente, sofreram drásticas mudanças em sua economia tradicional, desde a chegada dos não-índios. Os territórios em que hoje vivem – reduzidos em extensão, exauridos em seus recursos naturais, com terras de baixa produtividade, com pouca ou nenhuma área de caça, pesca, coleta e agricultura – são bastante diferentes daqueles que os abrigavam antes do ano de 1500 e que lhes davam perfeitas condições de se manterem segundo seus costumes tradicionais. Como exemplos notáveis, podem ser citados a disponibilidade de terras e dependência financeira, duas características fundamentais no entendimento das alterações sócio-econômicas ocorridas com esta etnia. Por outro lado, o contato intenso com a “civilização” ocidental introduziu nas sociedades indígenas a necessidade de consumo de produtos manufaturados. Observa-se que, * Mestrado em Sensoriamento Remoto - INPE. ** Doutorado em Economia Aplicada - UNICAMP. 52 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 quando as sociedades indígenas encontram a sociedade dos não-índios, imediatamente se instaura uma relação de dependência. As trocas mercantis entre os Guarani e a sociedade urbano-industrial ocorrem desde o início da colonização ibérica. As principais formas de renda utilizada pelos Guarani são a comercialização de produtos florestais e serviços de mão-de-obra braçal (CTI, 1997). Com a redução das áreas passíveis de utilização, as assistências governamentais passaram a ter maior relevância. Atualmente, não há grandes programas assistenciais como no passado, assim a necessidade de coexistir formas de geração de renda com a conservação cultural é premente. Surgem as possibilidades de agregação de valor nos produtos florestais (artesanatos, compotas, etc.) e as atividades econômicas relacionadas ao turismo. O conhecimento do potencial turístico é uma demanda de muitos que se interessam em empreender e/ou incrementar formas de geração de renda que aproveitem amenidades naturais e culturais (LEMOS, 1996). Acredita-se que o turismo pode ser uma atividade econômica que as valorize e, consequentemente, incentive a conservação destes recursos. Avaliar corretamente o potencial a ser explorado por atividades turísticas é imprescindível para futuros empreendimentos; para isto, torna-se necessária a utilização de métodos e ferramentas de avaliação, tais como diagnósticos e inventários dos atrativos turísticos. Os recursos naturais da região, embora possam prover os índios de madeira para o fogo, construção das casas e singelos utensílios domésticos e artesanatos, e palmito para venda, além de fornecer alguma caça e pesca ocasional, não são suficientes para garantir-lhes a subsistência. A maior parte dos alimentos consumidos é proveniente da Funai (Escola Indígena) ou comprada na cidade, sendo que a renda se origina na venda de palmitos e de artesanatos, o que é praticado em pequena escala. Além disso, alguns membros da comunidade realizam trabalhos remunerados, e outros recebem aposentadoria (1). Os Guarani residentes na Aldeia Boa Vista expressaram o desejo de estruturar e organizar atividades econômicas relacionadas ao turismo. Esta demanda é compatível com a estratégia que permeia as ações em andamento na Aldeia (2): disponibilizar formas de geração de renda compatíveis com a conservação dos recursos naturais e culturais, visando principalmente, reduzir a pressão sobre a extração de Euterpe edullis (palmito juçara), renda garantida e espécie-chave para a Mata Atlântica. Experiências promissoras tais como o Projeto Conservação dos Recursos Naturais através do Turismo Ecológico e da Gestão Participativa na região de Silves/AM Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 e a Capacitação de Guias Turísticos no Cambury/SP evidenciam os benefícios sociais destas ações. O turismo possui riscos, principalmente relacionados às alterações na qualidade dos recursos naturais e culturais. É muito importante que haja planejamento, com avaliações para a capacidade de carga e pesquisas sobre a influência do turismo na mudança cultural. Este trabalho pretende avaliar o potencial turístico existente na Aldeia Boa Vista, realizando-se um diagnóstico e um inventário dos atrativos, sugerindo-se alternativas. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Os Guarani O contato entre os Guarani e a civilização ocidental ocorre desde o século XVI. (MONTEIRO, 1994; RIBEIRO, 1995; FELIPIM, 2001). Os primeiros registros sobre este povo, também chamado de Carijó, Tapes, Aranchã, entre outros, foram feitos por cronistas, viajantes e jesuítas (FELIPIM, 2001). Pode-se dizer que os principais agentes depopulativos e deculturativos dos Guarani foram os bandeirantes e os jesuítas (MONTEIRO, 1994). Perfazem hoje um total de 35.000 indivíduos (FUNAI, 2001). Habitam os seguintes países: Paraguai, Argentina e, no Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. (ISA, 2008). Dividem-se em três subtribos: Kaiowá, Nhandeva e Mbyá, com costumes e dialetos diferentes, embora guardando certa semelhança entre si (SCHADEN, 1974). Os Guarani Mbyá são os que atualmente mais se preservam da sociedade não-índia. São também os menos influenciados pelo cristianismo. Os Mbyá possuem características “nômades”. Este grupo mantém uma referência de um território tradicional, de limites não muito claros (para a sociedade não-índia). As migrações são feitas dentro dos limites do território tradicional (CHEROBIM, 1986; CHASE-SARDI; 1992; LADEIRA, 1992; FELIPIM, 2001). Este hábito lhes assegura certa manutenção de seu espaço geográfico. Além disso, dificulta a assimilação de hábitos das populações vizinhas (CHEROBIM, 1986; FELIPIM, 2001). Os locais onde se assentam, conhecidos pela sociedade não indígena como aldeias, são por eles denominados de Tekoá, que são áreas em que podem viver de acordo com seus padrões culturais (LADEIRA, 1992; FELIPIM, 2001). Importante assinalar que atualmente Tekoá algum lhes garante auto-suficiência. Assim sendo, muitas migrações se fazem devido à escassez de recursos. Entretanto, raramente um Tekoá é totalmente abandonado, havendo um revezamento de famílias que o ocupam (GARLET, 1997; FELIPIM, 2001). Finalmente, a mobilidade Mbyá tem um forte apelo cultural, 53 visto que desde o século XVI há registros de migrações conduzidas por líderes religiosos – os caraí, (homensdeuses) – em busca da Yvy-Marãey, (a terra sem males), que pode ser alcançada a partir de algum ponto do litoral brasileiro (SCHADEN, 1974; NIMUENDAJÚ, 1987; LADEIRA, 1992; 2000; CICCARONE, 2000; VIETTA, 2000; FELIPIM, 2001). Schaden (1974), correlaciona essas migrações de caráter messiânico, conduzidas por um líder religioso, à crise cultural. Essa crise poderia ser tema de diversas teses científicas, dada a riqueza dos aspectos que a compõe, mas pode-se afirmar que os Guarani vivem uma crise de valores devido à impossibilidade de viverem de acordo com seus padrões tradicionais. Esta impossibilidade é causada por vários fatores, tais como o contato com novos valores, a incapacidade de seus mitos e preceitos não darem explicações satisfatórias acerca da nova realidade que agora os cerca, e a degradação ambiental das regiões onde habitam. 2.2 Turismo e Cultura – Algumas definições Turismo pode ser definido como a ciência, a arte e a atividade de atrair e transportar visitantes, alojá-los e cordialmente satisfazer suas necessidade e desejos. (MCINTOSH, 1977). É a soma dos fenômenos e das relações resultantes da viagem e da permanência de nãoresidentes, na medida em que não leva à residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade remuneratória. (HUNZIKER; KRAPF, 1942). A OMT (1968) convencionou que: • Turistas são visitantes temporários que permaneçam pelo menos vinte e quatro horas no país visitado, cuja finalidade da viagem pode ser classificada sob um dos seguintes tópicos: lazer, negócios, família, missões e conferência; • Excursionistas são visitantes temporários que permaneçam menos de vinte e quatro horas no país visitando; • Atrativos naturais são elementos do espaço geográfico que constituem a paisagem – recurso turístico importante. Serão identificados e indicados no inventário pela sua importância para uso turístico; • Atrativos turísticos são lugares, objetos ou acontecimentos de interesse turístico, que motivem o deslocamento de grupos humanos para conhecê-los. O turismo e o meio ambiente estão intrinsecamente ligados e são interdependentes. Devido ao grande crescimento do mercado de turismo, há a necessidade de encontrar formas de melhorar a relação entre os dois e torná-lo mais sustentável. Isto poderia envolver: • Pensamento holístico e o conceito de ecossistemas; • Controle de impactos negativos; 54 • Encorajamento de práticas corretas; • Manutenção de um senso de proporção; • Despertar da consciência entre os turistas e a indústria do turismo; • Preço pago para cobrir o custo ambiental do turismo; • Manutenção do equilíbrio entre conservação e desenvolvimento. De acordo com Swarbrook (2000), o ecoturismo não é necessariamente sustentável. Os ecoturistas não estão inicialmente motivados por um desejo de proteger o meio ambiente, mas, sim, de ver o ecossistema nativo em primeira mão. Se o ecoturismo tiver de crescer em uma área sem regulamentação, poderia facilmente tornar-se tão prejudicial quanto outras formas de turismo. Na verdade, por tender a ocorrer em áreas com ecossistemas frágeis e raros, ele poderia ser até mais prejudicial. Isso é particularmente verdade porque os ecoturistas estão sempre procurando novos destinos, mais exóticos que os anteriores, ao passo que muitos turistas habituais ficam felizes por passar as férias em complexos turísticos consagrados. Assim, os ecoturistas podem não estar satisfeitos até que tenham visitado todas as áreas do mundo, levando-lhes as bênçãos do turismo. Já Beni (2002) é um pouco mais otimista com o ecoturismo, afirmando que não é apenas turismo tradicional em áreas naturais. É atividade que tem de estar indissoluvelmente ligada ao trabalho de educação ambiental. Tem como principal elemento a contemplação e o contato com a natureza. Nele são analisados os fatores: espaço turístico natural e urbano e seu planejamento territorial; atrativos turísticos e consequência do turismo sobre o meio ambiente, preservação da flora, fauna e paisagens, compreendendo todas as funções, variáveis e regras de consistência de cada um desses fatores. Considerar o turismo como agente modificador de cultura pressupõe a explicação de dois pontos fundamentais: o que pode ser entendido como cultura e como modificação de culturas. Segundo Canclini (1985) cultura corresponde à produção de fenômenos que contribuem, mediante a representação ou reelaboração simbólicas das estruturas materiais, para a compreensão, reprodução ou transformação do sistema social, ou seja, a cultura diz respeito a todas as práticas e instituições dedicadas à administração, renovação e reestruturação do sentido. Assim a cultura aparece enquanto aspectos que garantem a perpetuação da coesão social ou sua transformação. O conceito de modificação cultural surge ao serem caracterizados os grupos sociais, mas especificamente para o presente estudo: residentes e turistas. A partir desta relação é que surge o fenômeno de modificação cultural, na qual um grupo passa a influenciar o outro. Essas percepções são aglutinadas na ideia de aculturação, que seria um conjunto de fenômenos Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 que resulta do contato direto e contínuo entre grupos culturais distintos, o que acarreta mudanças subsequentes nos tipos culturais de cada grupo (FIGUEIREDO, 1996). 2.3 O Turismo como atividade sustentável dos próprios mercados de turismo; • Aparecimento de fenômenos de disfunção social na família, patologia no processo de socialização, desintegração da comunidade; • Dependência do capital externo ou de estereótipos existentes em face do turismo. Segundo Beni (2002), o turismo é um eficiente meio para: • Promover a difusão de informações sobre uma determinada região ou localidade, seus valores naturais, culturais e sociais; • Abrir novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento econômico e cultural da região; • Integrar socialmente, incrementar, em determinados casos, a consciência nacional; • Promover o sentimento de liberdade mediante a abertura ao mundo, estabelecendo ou estendendo os contatos culturais, estimulando o interesse pelas viagens turísticas. Porém, pode provocar: • Degradação ou destruição dos recursos naturais; • Perda da autenticidade da cultura local; • Descrição estereotipada e falsa do turista e do país ou região de que procede, por falta de informação adequada; • Ausência de perspectivas para aqueles grupos da população local das áreas de destinação turística, que não obtém benefícios diretos das visitas dos turistas ou Um dos princípios largamente aceitos do turismo sustentável é a ideia de que só pode ser sustentável se a comunidade local estiver envolvida em seu planejamento e em sua administração. Entretanto, mesmo onde foram feitas tentativas de se alcançar esse objetivo, tem havido problemas, como os seguintes: • Há muitos grupos de interesse e pontos de vista individuais e não há uma maneira fácil de conciliá-los para alcançar um consenso; • Os mecanismos que são usados para esclarecer os pontos de vista da comunidade oferecem a chance para uma minoria de porta-vozes, que influenciarão e dominarão o processo. • Pode haver subvalorização ou ignorância dos pontos de vista locais que sejam contrários ao conhecimento vigente. • Conflitos que o debate causa podem ser sérios e continuar por um longo tempo depois que ele termina. Swarbrooke (2000) descreveu os principais aspectos e impactos relacionados às atividades turísticas. Podem ser benéficos ou maléficos e estão sintetizados no Quadro 1: Quadro 1 – Impactos positivos e negativos relacionados às atividades turísticas Fonte: Swarbrooke, 2000. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 55 Outro quadro interessante para conhecimento são os custos e benefícios econômicos do turismo: Quadro 2 – Custos e benefícios econômicos do turismo Fonte: Swarbrooke, 2000. Alguns dos maiores impactos do turismo sobre o meio ambiente (HUNTER; GREEN, 1996): • Transformação das características da área (paisagem) • Excesso de infra-estrutura • Impacto visual (novos estilos arquitetônicos) • Danos causados por excesso de trafegabilidade (erosão e compactação) • Poluição (sonora, atmosférica, solo, água) • Fauna e Flora Desde o início dos anos 90 a expressão “turismo sustentável” passou a ser utilizada com frequência. Ela encerra uma abordagem do turismo que reconhece a importância da comunidade local, a forma como as pessoas são tratadas e o desejo de maximizar os benefícios econômicos do turismo para essa comunidade. (SWARBROOKE, 2000) Por sustentável entende-se “desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais, sem comprometer a capacidade das pessoas satisfazerem as suas no futuro” (LAYRARGUES, 1998). Trata-se, portanto, de uma perspectiva a um prazo mais longo que o usual, e envolve uma necessidade de intervenção e planejamento. O conceito de sustentabilidade engloba claramente o meio ambiente, o sistema econômico e as pessoas envolvidas. Enquanto o termo sustentável só passou a ser usado explicitamente nos últimos 20 ou 30 anos, as ideias que o sustentam nasceram, por exemplo, nos modelos 56 mais remotos de planejamento urbano. Swarbrooke (2000) conclui que algumas das primeiras tentativas de se alcançar o desenvolvimento sustentável tenham sido as cidades e as metrópoles que foram planejadas e desenvolvidas pelos romanos. Pelo exposto anteriormente, conclui-se que turismo sustentável é simplesmente uma extensão do conceito de desenvolvimento sustentável. A ideia de que o desenvolvimento deve ser sustentável data de muitos séculos, principalmente devido à crescente industrialização e urbanização, processos que evidenciaram a necessidade de um desenvolvimento regrado. Contudo, a sustentabilidade só se tornou um assunto importante nos últimos anos em relação à indústria em geral, e ao turismo especificamente. Ainda segundo Swarbrooke (2000), o turismo sustentável deveria estar ligado à aplicação da definição do Relatório Brundtland de sustentabilidade no turismo: “Formas de turismo que satisfaçam hoje as necessidades dos turistas, da indústria do turismo e das comunidades locais, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades. É economicamente viável, mas não destrói os recursos dos quais o turismo no futuro dependerá, principalmente o meio ambiente e o tecido social da comunidade local.” Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Segundo Bramwell et al. (1996), turismo sustentável é um turismo que se desenvolve mais rápido possível, levando em consideração a capacidade de acomodação daquele momento, a população local e o meio ambiente. Durante a Conferência Globo 90, em Vancouver, foi compilada uma lista dos benefícios do turismo sustentável: • Estimula uma compreensão dos impactos do turismo nos ambientes natural, cultural e humano; • Assegura uma distribuição justa de benefícios e custos; • Gera empregos locais, tanto diretos quanto indiretos em outros setores de suporte e de gestão de recursos; • Estimula indústrias domésticas lucrativas; • Gera entradas de divisas para o país e injeta capital e dinheiro na economia local; • Diversifica a economia local, principalmente em áreas rurais; • Estimula o desenvolvimento do transporte local, das comunicações e de outras infraestruturas básicas da comunidade; • Cria facilidade de recreação que podem ser utilizadas pelas comunidades locais; • Estimula e auxilia a cobrir gastos com preservação de sítios arqueológicos, construções e locais históricos; • Encoraja o uso produtivo de terras que são consideradas marginais, permitindo que vastas regiões permaneçam cobertas por vegetação natural; • Intensifica a autoestima da comunidade local e oferece a oportunidade de uma maior compreensão e comunicação entre os povos de formação diversas; • Demonstra a importância dos recursos naturais e culturais para a economia de uma comunidade e seu bem-estar social, e pode ajudar a preservá-los; • Monitora, assessora e administra os impactos do turismo, desenvolve métodos confiáveis de obtenção de respostas e opõe-se a qualquer efeito negativo. 2.4 Diagnóstico e Inventário do Potencial Turístico De acordo com (WWF - World Wide Fund for Nature, 2003), o levantamento do potencial turístico representa a primeira e fundamental etapa do processo de planejamento estratégico da atividade turística. Inventariar é pesquisar e relacionar, de modo quantitativo e qualitativo, os bens (atrativos naturais ou culturais, acessos) e serviços (meios de hospedagem e guias) de uma determinada região. O inventário deve fornecer dados importantes para uma análise da situação atual da região de interesse e, no final deste processo de coleta e análise de dados, tem-se um diagnóstico do potencial turístico. Segundo Beni (2002), há a necessidade de se definir previamente os indicadores que subsidiarão o inventário, que por sua vez, se baseia nos indicadores selecionados e deve ser realizado de maneira objetiva e sistemática; Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 os dados obtidos demonstrarão a variedade de condições dos indicadores. Os inventários de recursos podem ser conduzidos em diferentes níveis de detalhe. O produto final será um mapa ou matriz das condições existentes em cada indicador ao longo da área inventariada. O processo de planejamento, aplicação e análise do inventário turístico é um conjunto de atividades que interage com diversas outras. Percebe-se que o inventário subsidia as ações de análise de viabilidade (WWF, 2003). Segundo Boiteux e Werner (2002), o inventário turístico é o início de uma série de ações preliminares para viabilização do empreendimento turístico: 1.Inventário turístico – levantamento do potencial turístico de determinada localidade e a hierarquização dos atrativos para segmentar a demanda; 2.Criação da sinalização turística – comunicação visual dos atrativos turísticos, e, linguagem padronizada e contemplada nos idiomas da demanda encontrada; 3.Informação turística – disponibilização de informações ao consumidor turístico, tais como postos de informações, etc.; 4.Capacitação turística –formação e a reciclagem dos prestadores de serviços nos cargos operacionais e gerenciais, assim como a conscientização da população; 5.Medidas legislativas – criação de uma política de incentivos fiscais; 6.Promoções turísticas – Efeitos multiplicadores de empreendedorismo vinculado ao turismo; 7.Aferição da qualidade – garantia do produto final e/ou aprimoramento nos rumos do produto. Beni (2002), descreve o planejamento turístico nas seguintes fases: 1.Qualificação vocacional do território (Zoneamento) – categorias, níveis de densidade e índices de densidade; 2.Inventário dos atrativos turísticos – Oferta absoluta, efetiva e total; 3.Vocação turística do núcleo receptor – A demanda por turismo apresenta ainda uma especificidade própria, consoante às diversas motivações, necessidades e preferências dos turistas pelo principal produto permanente ou eventual, que imprime sua vocação turística e seu conseqüente poder de atração, permitindo-lhe uma afluência autodeterminada ou dirigida; 4.Análise das instalações – Levantamento das instalações de recreação existentes e das possibilidades físicas e econômicas de implantação de novas instalações; 5.Inventário das instalações – O inventário indica as instalações e recursos turísticos existentes, sendo esses dados considerados como as necessidades de recreação e turismo; 57 6.Inventário combinado com projeções de população – O objetivo é relacionar a distribuição espacial local com a localização das instalações turístico-recreativas. O resultado é usualmente localizado em um mapa em que estão situadas as instalações existentes e as projetadas; 7.Capacidade de Utilização – Indica o limite das possibilidades do ambiente físico e ecológico para atender às necessidades do consumidor quanto às atividades de recreação e turismo. É o elo que relaciona valores físicos com as preocupações, preferências e atividades das pessoas engajadas em recreação e turismo. A partir da capacidade de utilização de cada instalação é projetada a demanda. Parte da oferta de recreação para projetar a demanda. Somente após o conhecimento do potencial atrativo, das lacunas e dificuldades para implementação e da visão e expectativas da comunidade é que um programa ou projeto de ecoturismo deve ser implantado (WWF, 2003). 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Área de Estudo Fig. 1 – Localização da Terra Indígena Boa Vista no Estado de São Paulo. A Terra Indígena Boa Vista do Sertão do Promirim localiza-se no município de Ubatuba, litoral norte do Estado de São Paulo (Fig. 1). Abrange uma área de 920,66 ha. Sua demarcação física foi homologada através do Decreto Presidencial n.o 94.220, de 14 de abril de 1987. É cercada pelo PESM (Parque Estadual da Serra do Mar) e está totalmente inserida na Área Natural Tombada da Serra do Mar e na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em um vale das encostas montanhosas da Serra do Mar, recortada por vários rios e riachos, dentre eles o Rio Promirim. Nela são encontrados praticamente todos os ecossistemas representativos do bioma Mata Atlântica, com predominância da Floresta Ombrófila Densa. 58 A Floresta Ombrófila Densa é caracterizada por fanerófitos (macro e mesofanerófitos), lianas lenhosas e epífitas em abundância; dossel contínuo com cerca de 30m, além de árvores emergentes. Elevadas temperaturas (médias de 25o C) e alta precipitação, bem distribuída ao longo do ano, sem período seco (VELOSO et al., 1991, apud SMA/SP, 1998). Segundo Sant’anna (1995) (apud SMA/SP, 1998), no litoral norte, o período de chuvas se estende de novembro a abril, sendo que o semestre menos chuvoso acontece entre maio a outubro. Em 53 anos de análise (1941-1993), percebe-se forte tendência de diminuição das chuvas em Ubatuba na ordem de 20%, a maior do litoral paulista. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Conforme a SMA/SP (1998), no Município de Ubatuba existe um levantamento da vegetação da Floresta Atlântica de Encosta realizado por Silva & Leitão Filho (1982), em uma área da Estação Experimental do Instituto Agronômico de Campinas; e um segundo levantamento, realizado 12 anos mais tarde, na área em que se encontra o Núcleo Picinguaba, às margens do Rio da Fazenda, realizado por Sanchez (1994) (apud SMA/SP, 1998). Este fato ilustra como o conhecimento deste tipo de vegetação é ainda incipiente uma vez que apenas dois levantamentos florísticos foram realizados em ambientes com características distintas, apresentando uma composição de espécies bem diferenciada. coletadas foram plotadas em imagem orbital georreferenciada e, através delas, obteve-se o comprimento. Segundo Sanchez (1994) (apud SMA/SP, 1998), a Serra do Mar proporciona grande heterogeneidade ambiental, com encostas voltadas para o mar e para o continente, fazendo com que regimes de ventos, salinidade e precipitação sejam diferentes. Além disso, variações topográficas, solos com diferentes fertilidades, profundidades, idades pedogenéticas propiciam condições diferenciadas para o estabelecimento das espécies. Esta grande heterogeneidade ambiental é um indicador da grande diversidade de espécies encontradas na Mata Atlântica. Para a coleta das coordenadas geográficas dos pontos atrativos e dos roteiros, foi utilizado receptor de navegação Garmin V, sendo posteriormente plotados em imagem orbital CBERS, mosaico georreferenciado em composição RGB com resolução de 15m. 3.2 Inventário do Potencial Turístico De forma participativa, foram eleitas duas opções de roteiros: um nos arredores da aldeia e outros dois, um pouco mais distante, contemplado caminhada pela Mata Atlântica. Os roteiros foram escolhidos de forma participativa. Após esta definição, os trajetos foram percorridos, avaliando-se os níveis de dificuldade e coletando-se as coordenadas (pontos e linhas); além disso, os potenciais dos pontos interpretativos foram fotografados. As coordenadas Após estas etapas, houve diálogo com a comunidade sobre as estimativas de benefícios e riscos envolvidos, tais como a necessidade de pequenas melhorias nos trajetos, mas incerteza se haveria financiamento para tais melhorias. Através de assembleias, foi elaborada uma matriz de aspectos e impactos, no qual estes foram sintetizados por própria vontade da comunidade. 3.3 Sistema de Posicionamento Global e Imagens Orbitais Foram utilizados Autodesk CAD 2000 para os desenhos e ESRI Arc Map 9.2 para o georreferenciamento. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Fig. 2 a plotagem dos roteiros sobre imagem CBERS. Os números indicam os roteiros, sendo: 1 (roteiro nos arredores da aldeia) e 2-3 (roteiros mais distantes). Fig. 2 – Plotagem dos roteiros sobre imagem orbital CBERS 2. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 59 O pressuposto temático destes roteiros é o seguinte: Roteiro 1: Percurso “cultural”, em que o visitante tem a oportunidade de vivenciar o cotidiano dos guaranis na aldeia, observando de perto, os espaços privados (moradia e seus quintais) e os espaços públicos (locais destinados ao convívio social Guarani). tante tem a oportunidade de realizar uma trilha na Floresta Atlântica acompanhado de um guia guarani, cujas percepções, opiniões, mitos, etc., enriquecerão a experiência proporcionada ao visitante. No Quadro 3, estão descritos as distâncias, tempo médio e níveis de dificuldade para os roteiros propostos e para os acessos à Aldeia. Roteiros 2 e 3: Percurso “florestal”, em que o visiQuadro 3 - Descrições das medições obtidas nos roteiros A chegada à Aldeia pode gerar decepção ao visitante, que possui expectativas de um arranjo visual diferenciado e se depara com um aspecto tipicamente rural, à beira da BR-101. Não há qualquer alegoria que possa atrair; apenas uma rua não-pavimentada, casas de moradores locais e turista (não-índios) e um bar e mercearia. Após 1.600m através de uma estrada rural precária, chega-se à entrada da Aldeia. É necessário frisar que o acesso antigo não possibilitava a entrada de veículos, já que se tratava apenas de uma picada pela mata, sem qualquer placa ou indicação. Ao chegar ao local, há uma vista panorâmica com belo aspecto cênico, para a baía do Promirim (praia mais conservada de Ubatuba) – próprio nome da Aldeia. Por outro lado há uma infraestrutura básica: escola infantil, posto de saúde e uma construção destinada ao zelador (caseiro), todas de alvenaria e com estilo arquitetônico comum, não proporcionando ao visitante qualquer experiência de um ambiente indígena. Roteiro 1 - Aldeia Ao longo do Roteiro 1, é possível contemplar diversos atrativos, tais como a Casa de Reza, local onde são realizadas as rezas, espetáculos artísticos de música e dança e exposição de artesanatos; Casa da Cultura, ainda em construção (3); Poços do Promirim e, obviamente, a observação do cotidiano Guarani. Considerando-se as belezas naturais, o roteiro 1 apresenta algumas quedas d´água, existentes no percurso do Rio Promirim, que desembocará na praia do Promirim, sentido morro abaixo. Outra atração potencial presente no roteiro 1 são os diversos estilos arquitetônicos encontrados na aldeia, com casas de madeira, sapé e, mais contemporâneo, um projeto de construção de 50 casas padronizadas. Ao longo do percurso do roteiro 1 pode-se observar diferentes cenários que abordam desde aspectos relacionados à religião, culturais e antropológicos. A ideia temática deste roteiro é a proximidade da “vida 60 como ela é”, em uma terra indígena, contemplando passagens próximas às casas dos moradores locais, visualização de atividades cotidianas, tais como lavagem de roupa, banho às crianças, manutenção no quintal de roçados, brincadeiras das crianças. Um ponto de atenção em relação a este percurso é relacionado às condições precárias em certos trechos da trilha, geralmente sombreados e, portanto, permanentemente úmidos, locais que demandaria maior atenção com manutenção para o recebimento de visitantes. Roteiros 2 e 3 – Mata Atlântica Principais Atrativos: Vistas Panorâmicas e Árvores Expressivas. Os roteiros 2 e 3 são mais extensos com objetivos voltados para a Floresta Atlântica e, principalmente, para a possibilidade de realização da trilha acompanhado de um guia Guarani, com suas observações, percepções, etc. que, obviamente, enriquecem a experiência. Infra-Estrutura A infra-estrutura básica para o recebimento de visitantes depende das próprias instalações da Aldeia (Posto de Saúde e Escola, basicamente). Segundo as lideranças locais, haverá espaço para estacionamento. Há proibições para consumo de álcool e outras drogas (com exceção de nicotina) durante o passeio. Em relação à possibilidade de acampamentos, atualmente são proibidos em T.I´s, porém, se a comunidade assim o quiser (autonomia), provavelmente será possível contemplar esta modalidade também. Discussão Final A indústria do turismo e os turistas têm um inte- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 resse especial por culturas fossilizadas, que sejam pitorescas ou interessantes, por causa de seu valor de novidade ou pelo contraste com a cultura dos próprios turistas. Os folhetos estão repletos de menções como “intactos” e “inesgotável”. No entanto, a cultura está sempre mudando, e é provavelmente impossível e indesejável tentar preservar culturas. Parece estranho falar emocionalmente e nostalgicamente da necessidade de conservar uma cultura tradicional, que já vem sendo rejeitada por jovens autóctones, ávidos por adotar a cultura dos próprios turistas (pelo menos os hábitos de consumo). Existe o risco de que o interesse de hoje em conservar as culturas de ontem faça com que as novas culturas do amanhã sejam um tanto artificiais e carentes de dinamismo. Além disso, nenhuma cultura é estática. Sendo assim, não se pode esperar dos Mbyá, que têm um convívio frequente com a sociedade nacional envolvente, mesmo que este convívio, se, geralmente de maneira reservada, não cogitem novas possibilidades de subsistência, ainda mais quando os seus meios vão sendo radicalmente modificados. Por isto a importância de se realizarem estudos para dimensionamento da capacidade de carga e limites aceitáveis de mudanças (capacidade de utilização) antes do início de um empreendimento turístico. A capacidade de utilização indica o limite das possibilidades do ambiente físico e ecológico para atender às necessidades do consumidor de atividades de turismo e recreação. A partir da capacidade de utilização de cada instalação é projetada a demanda correspondente. A definição da capacidade é dada pelo somatório das capacidades de utilização em face dos padrões de espaço requeridos para recreação e ocupação global do território. A capacidade de carga de recurso turístico consiste no número máximo de visitantes, em um determinado período de tempo, que uma área pode suportar, antes que ocorram alterações por perturbações (novas ocupações, estradas, etc.). A análise da capacidade de carga turística é um instrumento que procura garantir a qualidade da oferta turística, conciliando diferentes fatores, como: satisfação dos turistas e da população residente, viabilidade econômica dos equipamentos, infra-estrutura turística, qualidade do meio ambiente e, ainda, busca conjugar os elementos tempo curto e tempo longo, ou seja, o tempo limitado que os visitantes dispõem para visitar e explorar a região com sua perenidade. É o ponto a partir do qual o ambiente físico, econômico e social será degradado, levando à destruição da imagem turística com o consequente descontentamento do visitante e da penalização da qualidade de vida da comunidade local. E ainda: com esse conceito pretende-se estabelecer, do ponto de vista quantitativo, o número de visitantes e o nível de desenvolvimento susceptíveis de não terem consequências negati- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 vas sobre os recursos naturais e culturais de um destino turístico. Um potencial instrumento metodológico para prevenir os impactos negativos do turismo é o Antimarketing, que está estreitamente ligada ao conceito de capacidade de carga e é conveniente ser feito após a determinação da capacidade de carga da localidade. O Antimarketing implica na manipulação de ações de marketing para desmotivar ou não estimular turistas potenciais a visitarem determinadas destinações. (RUSCHMANN, 1989). 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1 Turismo Sustentável O turismo sustentável não pode ser separado do debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentável em geral. Uma vez que a política de turismo sustentável encontra-se amplamente voltada para a distribuição de recursos finitos, é importante reconhecer que se trata de uma questão abertamente política; por isso, as soluções têm de ser políticas, e não meramente tecnocráticas. É preciso mais ênfase na dimensão social do turismo sustentável em termos de equidade social e impactos socioculturais. O turismo deve ser percebido como justo por todas as partes envolvidas, havendo viabilidade econômica de longo prazo no que se refere às organizações e destinações de turismo, baseando nos princípios do preço justo. A compatibilização entre geração de renda e conservação tem gerado mais mudanças do que preservações e fossilizações. Por isto, o gerenciamento adequado deve assegurar que o turismo opere de acordo com o conceito de “limites de alterações aceitáveis”, obviamente sem comprometer a capacidade de suporte ou carga. 5.2 Aldeia Boa Vista Há atrativos em potencial para organizar programas turísticos na aldeia Boa Vista do Sertão do Promirim, porém deve haver ações para evitar ou minimizar os riscos citados na matriz de aspectos e impactos – intensificação dos processos de aculturação e sobrepopulação no local, aumentando a pressão sobre os recursos naturais e ambientais. Um programa estruturado de Turismo envolverá capacitação e formação de monitores. Esta capacitação deverá ser compatível com as características culturais da comunidade. Uma ótima oportunidade é conjugar conhecimentos acerca dos recursos naturais e culturais regionais, com estórias, mitos e lendas Guarani. Os principais aspectos e impactos a serem aprofundados em estudos posteriores estão resumidos no Quadro 4, construído coletivamente com os moradores locais: 61 Quadro 4 - Principais aspectos e impactos envolvidos nos roteiros da Terra Indígena Boa Vista Recomenda-se uma avaliação da capacidade de carga e a coordenação de um programa estruturado de turismo, de maneira análoga às ações ocorridas na comunidade caiçara de Cambury e no próprio Núcleo Picinguaba, contemplando o Sertão da Fazenda e a Vila de Picinguaba. 6. NOTAS (1) CPI-SP - Plano de Negócio. (2) FUNAI, FNMA, CPI-SP - Aprimoramento da cadeia de custódia de artesanatos, manejo de palmito Juçara, mapeamento e revisão dos limites da TI, construção da casa de cultura e melhorias na infra-estrutura, tais como vias de acesso, energia elétrica e saneamento básico. (3) Obra financiada pelo MMA e MDS, através do Programa Carteira Indígena – com previsão para término em 2008. 7. REFERÊNCIAS BENI, M. C. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: Senac, 2002. 502p. BOITEUX, B.; WERNER, M. Promoção, Entretenimento e Planejamento Turístico.Série Turismo. São Paulo: Aleph, 2002, pp. 67-68. BRAMWELL, B. et al. (Ed.). Sustainable Tourism Management: Principles and Practice. Tilburg University Press, Tilburg, Netherlands, 1996, pp. 19-20. CANCLINI, N. G. As culturas populares no capitalismo. São Paulo. Brasiliense, 1983. contato. São Paulo: FFLCH/USP, 1986. 204p. CICCARONE, C. A viagem anterior. In: MELIÁ, B. (Org.). Suplemento Antropológico, 2000, pp.40-60. 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O aumento da concentração do pirrol levou ao aumento da espessura dos filmes depositados sobre as superfícies de platina e alumínio, sugerindo que o processo é controlado por difusão do monômero até a interface metal/solução. Foi observado por microscópio de varredura eletrônica, deposições de filmes de polipirrol homogêneos e compactos. A eficiência do filme de polipirrol, para proteger a superfície de alumínio contra corrosão foi investigada através de ensaios de polarização potenciodinâmica utilizando meio corrosivo de cloreto. Palavras-chave: Ácido cítrico, eletrodeposição, polipirrol, alumínio. Abstract: The electrochemical deposition of polypyrrole (PPy) films was investigated in the aqueous solution with citric acid. The influences of the metallic nature of the electrode and pyrrole concentration were studied in this medium. The increase of pyrrole concentration increases the thickness of the polypyrrole films deposited on the platinum and aluminum surface. This suggests that the process is controlled by the diffusion of the monomer onto the surface of the metal/solution. Scan electronic microscopy showed homogeneous and compact polypyrrole films. The corrosion protection of aluminum surfaces coated by polypyrrole films was investigated by potentiodynamic polarization curves using chloride as the aggressive medium. Key words: Citric acid, electrodeposition, polypyrrole, aluminum. 1. INTRODUÇÃO O polipirrol (PPy) é um polímero condutor que apresenta uma ampla possibilidade de aplicações, tais como baterias, músculos artificiais, sensores, proteção de metais oxidáveis contra corrosão, etc. O polímero é facilmente sintetizado por métodos químicos ou eletroquímicos (FAEZ et al., 2000). A eletrodeposição permite controlar as propriedades físicas e químicas do filme polimérico através das condições de síntese, tais como: densidade de corrente aplicada, temperatura, concentração de eletrólito ou tipo de eletrólito, concentração do monômero, natureza do metal que constitui o eletrodo de trabalho, dentre outras (IROH et al. 1998). O eletrodo de trabalho desempenha um papel chave no processo de eletropolimerização do pirrol. Uma vez que os filmes de polipirrol são produzidos por oxidação do monômero, * Professor(a) da UNIVAP. ** Mestranda em Bioengenharia, UNIVAP, 2009. 64 é importante que o metal que constitui o eletrodo de trabalho não oxide concorrentemente com o monômero. Por este motivo, geralmente os eletrodos de trabalho envolvidos na eletrodeposição de polipirrol são constituídos por metais mais nobres como platina e ouro (WANG et al. 2001). Entretanto, se as condições de síntese forem bem controladas, é possível depositar filmes homogêneos e aderentes de polipirrol sobre superfícies de alumínio (BRANZOI et al. 2002; EMREGUL; AKSUT, 2003; RIVIEIRA et al., 2004; MAAYTA; RAWASHDEH, 2004; HOLZLE et al., 2005; SILVAet al., 2005). Estudos realizados mostraram que filmes homogêneos e aderentes de polipirrol podem ser depositados sobre superfícies de alumínio em meio aquoso contendo ácido tartárico (LIU; OLIVEIRA, 2007). A literatura mostra que o ácido cítrico pode atuar como agente quelante, formando complexos com íons alumínio, os quais podem adsorver na interface óxido/metal (MOTEKAITIS; MARTELL, 1984). A adsorção desta camada pode dificultar a oxidação do alumínio sem inibir a oxidação do monômero. Além de influenciar no tipo de camada de óxido de alumínio (porosa ou barreira), o contra-íon do eletrólito Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 também é indispensável para a compensação das cargas dos polímeros condutores. A estrutura e a concentração destes íons (dopantes) afetam a condutividade, a estabilidade e a morfologia dos filmes de PPy. A concentração e a densidade de carga do dopante podem influenciar nas interações elétricas do tipo íon-íon, cadeia-cadeia, cadeia-íon e, por isso, alterar a condutividade do polímero (MOHAMMAD, 1999). O objetivo deste trabalho é avaliar a influência da concentração do monômero de pirrol e da natureza do metal que constitui o eletrodo de trabalho, na deposição eletroquímica de filmes de polipirrol, utilizando meio aquoso contendo ácido cítrico como eletrólito. A eficiência do filme polimérico para proteger a superfície de alumínio contra corrosão também foi avaliada por ensaios de polarização em meio de cloreto. A Fig. 1 apresenta a fórmula estrutural do ácido cítrico, que foi utilizado como eletrólito no presente trabalho. Fig. 1 - Fórmula estrutural do ácido cítrico utilizado como eletrólito. A morfologia das superfícies de alumínio recobertas por filmes de polipirrol foi analisada por um Microscópio de Varredura Eletrônica Jeol JXA-840A. Ensaios de corrosão para as superfícies de alumínio apenas polida e recoberta por polipirrol foram realizados em meio aquoso contendo 0,1 mol.L-1 de NaCl. A partir dos ensaios de polarização foram obtidas curvas de Tafel, das quais foram determinados parâmetros eletroquímicos (potencial de corrosão e densidades de correntes) que permitem avaliar a proteção do alumínio contra corrosão pelo filme polimérico. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A influência da concentração do monômero no processo de eletrodeposição dos filmes de polipirrol sobre eletrodo de platina foi investigada por voltametria cíclica. A Fig. 2 apresenta estes resultados. Foi observado na Fig. 2 que as correntes anódicas, associadas à formação do filme de polipirrol aumenta com o aumento da concentração do monômero. Estes resultados estão associados com o processo de difusão do monômero até a interface metal/solução, seguida pela oxidação do pirrol na superfície do eletrodo de alumínio (IROH, 1998). Quanto maior a concentração do monômero, mais rápida a reação de oxidação do pirrol na interface metal/solução. Este comportamento está coerente com o mecanismo proposto na Fig. 3, em que a etapa lenta do processo de eletrodeposição do polipirrol é a reação de oxidação do monômero (TINGRY, 1996). 2. MATERIAIS E MÉTODOS As soluções utilizadas na eletrodeposição do polipirrol foram preparadas dissolvendo 0,2 mol.L-1 de ácido cítrico (Merk) e variando-se a concentração do pirrol (Aldrich) entre 0,1 e 0,8 mol.L-1 em H2O destilada. O pH destas soluções foi igual a 1,82. Os filmes de polipirrol foram obtidos por voltametria cíclica, variando-se a janela do potencial de -1,0 a +2,0 V a uma velocidade de varredura de 5 mV.s-1. Os experimentos eletroquímicos foram realizados à temperatura de 25oC, em uma célula contendo três eletrodos. Os eletrodos de trabalho foram alumínio 99,7% embutido em Teflonâ com área exposta de 0,53 cm2, e platina, embutida em Teflonâ e com área exposta de 0,07 cm2. O eletrodo auxiliar foi um fio de platina e o eletrodo de referência foi um eletrodo de Ag/AgCl saturado. Utilizou-se um Potenciostato/Galvanostato da Microquímica (modelo MQPG-01). Antes de cada experimento os eletrodos de trabalho foram polidos com lixas de granulometria 400, 600, 1200 e feltro com óxido de alumínio e depois enxaguado com água destilada. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 2 - Primeiro ciclo de varredura de potencial para o processo de eletrodeposição de polipirrol em platina, utilizando-se soluções aquosas contendo 0,2 mol.L-1 de ácido cítrico e pirrol nas concentrações de: (1) 0,2, (2) 0,5 e (3) 0,8 mol.L-1. Velocidade de varredura de potencial de 5 mV.s-1. 65 Fig. 3 - Mecanismo envolvido na formação eletroquímica do polipirrol. A influência da natureza do metal que constitui o eletrodo de trabalho no processo de eletrodeposição de polipirrol em ácido cítrico foi investigada utilizando-se superfícies de alumínio e platina. A eletrodeposição do filme de PPy em superfícies de alumínio, neste meio, somente ocorreu quando a concentração do monômero foi igual ou superior a 0,5 mol.L-1. A Fig. 4 apresenta os resultados da comparação dos voltamogramas obtidos para a eletrodeposição do polipirrol nos diferentes substratos metálicos, utilizando-se meio aquoso contendo 0,2 mol.L-1 de ácido cítrico e 0,5 mol.L-1 de pirrol, pH 1,82. Fig. 4 - Primeiro ciclo de varredura de potencial para o processo de eletrodeposição de polipirrol em (1) platina e (2) alumínio. 66 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Os resultados apresentados na Fig. 4 mostram que, quando o alumínio foi utilizado como eletrodo de trabalho, a densidade de corrente anódica associada ao processo de formação do polipirrol é menor do que a apresentada para a superfície de platina. Este comportamento está relacionado com a presença de uma camada passiva de óxido de alumínio, que, em presença de ácido cítrico, dificulta a transferência de elétrons e consequentemente diminui a velocidade do processo de eletrodeposição. cos e/ou inorgânicos (WOLYNEC, 2003). A Fig. 6 apresenta as curvas de Tafel obtidas através de curvas de polarização potenciodinâmica. A morfologia da superfície de alumínio recoberta pelo filme de polipirrol foi estudada por Microscopia de Varredura Eletrônica (MEV). A Fig. 5 apresenta este resultado. Fig. 6 - Curvas de Tafel obtidas em NaCl para superfície de alumínio: (1) Polida e (2) Recoberta pelo filme de polipirrol. A Tabela 1 apresenta os parâmetros eletroquímicos obtidos das curvas de Tafel. Tabela 1 - Parâmetros de corrosão para as superfícies de alumínio polarizadas em NaCl Fig. 5 - Micrografia (MEV) da superfície de alumínio recoberta com o filme de polipirrol. Pode ser observado que o filme de polipirrol depositado em meio aquoso contendo ácido cítrico é compacto e homogêneo. A micrografia mostra que o filme possui uma estrutura cauliflower constituída por grãos micro-esféricos. Esta estrutura tem sido atribuída à dificuldade de intercalação do dopante na estrutura polimérica desordenada (YU, 2003). Para verificar a eficiência do filme polimérico em proteger superfícies de alumínio contra corrosão, foram realizados ensaios de polarização potenciodinâmica à velocidade de varredura de 5 mV.s-1, utilizando-se solução aquosa de NaCl 0,1 mol.L-1, pH 5,9 como meio corrosivo. A técnica de polarização potenciodinâmica tem sido largamente utilizada por grande número de pesquisadores na área de corrosão para avaliar a eficiência na proteção de metais oxidáveis por revestimentos orgâniRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 a. Potencial de Corrosão; b. Densidade de corrente de corrosão. Pode ser observado, através dos resultados apresentados na Fig. 6 e na Tabela 1, que houve deslocamento do potencial de corrosão para a direção mais positiva quando a superfície de alumínio está recoberta por polipirrol. Além disto, a Fig. 6 também mostra que as densidades de corrente anódicas, associadas à dissolução do metal, são menores quando o metal é revestido pelo polímero. Estes parâmetros indicam que houve inibição de corrosão da superfície de alumínio. Conforme apresentado na Tabela 1, a densidade de corrente de corrosão é maior para superfície de alumínio recoberta pelo filme de PPy do que para o metal sem 67 filme. Este comportamento tem sido atribuído às reações de redução que ocorrem na matrix polimérica que contribuem para aumentar a densidade de corrente catódica e consequentemente aumentam a corrente de corrosão (NAOI, 2000). O esquema apresentado na Fig. 7 mostra as possíveis reações envolvidas durante a polarização de superfícies de alumínio em meio contendo cloreto. Reações anódicas Al (s) → Al+3(aq) + 3e- (1) Reações catódicas 2 H2O + O2 + 4e- → 4 OH-(aq) (2) PPy dopado + ne- → PPy desdopado (3) Fig. 7 - Reações envolvidas no processo de corrosão de superfícies de alumínio. A ocorrência de reações de redução na matrix polimérica, como aquela apresentada na Equação 3 contribui para aumentar os valores das densidades de correntes catódicas, aumento da densidade de corrente de corrosão, o que justifica os resultados apresentados na Tabela 1. 4. CONCLUSÃO A presença de uma camada passiva de óxido sobre a superfície de alumínio dificulta o processo de eletrodeposição do polipirrol. Este comportamento foi demonstrado pelo maior valor de densidades de corrente anódicas, associadas à formação do polipirrol quando o eletrodo foi o de platina. Além disso, a concentração do monômero influencia neste processo, uma vez que o mecanismo proposto considera a reação de oxidação do pirrol como etapa lenta, quanto maior a concentração do monômero na interface metal/solução, maior a velocidade do crescimento do filme. A microscopia (MEV) da superfície de alumínio recoberta pelo polipirrol mostrou que, em meio aquoso contendo ácido cítrico, o filme polimérico apresentou uma morfologia compacta e homogênea. A técnica de polarização potenciodinâmica também mostrou que este filme pode inibir a corrosão de superfícies de alumínio. 5. REFERÊNCIAS BAZZAOUI, M.; MARTINS, L.; BAZZAOUI, E.A.; MARTINS, J.I. New single step electrosynthesis process of homogeneous and strongly adherent polypyrrole films on iron electrodes in aqueous medium. Electrochimica Acta, v.47, pp. 2953-2962, 2002. 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Influence of chromate, molybdate and tungstate on pit formation in chloride medium. Applied Surface Science, v.252, pp. 1117-1122, 2005. TINGRY, S. Synthèse et Application en Hydrogénation Electrocatalytique de Films de Polypyrrole Fonctionnalisés par des Complexes du Rhodium et de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 l’Iridium. 1996. 175f. Tese (Tese de Doutorado) Laboratoire d´Eletrochimie Organic et de Photochimie Rêdox, Université Joseph Fourier de Grenoble 1, França, 1996. WANG, L.X.; LI, X.G.; Yang, Y.L. Preparation, properties and applications of polypyrrole. Reactive & Functional Polymers, v.47, pp. 125-129, 2001. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 WOLYNEC, S. Técnicas Eletroquímicas em Corrosão. 1.ed. São Paulo: Edusp, 2003. YU, X.; CAO, C. Electrochemical study of the corrosion behavior of Ce sealing of anodized 2024 aluminum alloy. Thin Solid Films, v.423, pp. 252-256, 2003. 69 Diagnóstico dos Aterros Municipais do Vale do Paraíba (VP) e Litoral Norte Paulista (LNP) Camila Soares Tobiezi * Fabiana Alves Fiore Pinto ** Rafael Ivens da Silva Bueno *** José Renato Baptista de Lima **** Resumo: A questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil tem sido amplamente discutida na sociedade. No Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista o cenário não é muito diferente do resto do país, onde o problema da destinação final de resíduos ainda é presente. Embora existam aterros sanitários particulares, os órgãos públicos da região sofrem com os altos custos com reestruturação de seus aterros de resíduos ou com transporte até o aterro sanitário mais próximo. Um fator como a legalidade de funcionamento de aterros sem as devidas tecnologias de controle de poluição, contribui para o agravamento do problema. Com um maior detalhamento da situação atual dos aterros desta região verificou-se a necessidade da estruturação e da sistematização do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos por parte das administrações municipais buscando incentivar a implantação de ações estratégicas de gestão. Palavras-chave: Aterro sanitário, resíduos sólidos, chorume. Abstract: : The subject of the Urban Solid Waste in Brazil has been widely discussed in society. In the Paraíba Valley and São Paulo’s North Coast the scenario is not too different from the rest of the country, where the problem of the waste’s final destination is still present. Although private sanitary landfills exist, the municipalities of the region suffer the high costs of reorganizing its landfills or with transport to the nearest sanitary landfill. The legality of landfills without the proper technologies for pollution control aggravates the problem. Better details of the current situation in the region’s landfills verified the need for infrastructure and the systematization of urban solid waste management on the part of municipal administrations in an attempt to stimulate the introduction of strategic management actions. Key words: Sanitary landfill, solid waste, leachate. 1. INTRODUÇÃO Atualmente a destinação final de resíduos tem causado grande apreensão à sociedade devido à grande preocupação mundial quanto à preservação do meio * Turismóloga - Anhembi Morumbi, Especialização em Gestão Ambiental – UNIVAP. ** Engenheira Civil, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos – UFMG e Professora Adjunta a ETEP Faculdades. *** Engenheiro Sanitarista e Ambiental – UNITAU, Mestrando em Engenharia Mineral – USP. **** Engenheiro de Minas, Mestre e Doutor em Engenharia Mineral – USP e Professor Adjunto no Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo – USP. 70 ambiente. Ao mencionar o meio ambiente, há de se pensar não somente na preservação da fauna e flora do planeta, mas também nas inter-relações humanas envolvidas, pois o homem tem que interagir com o meio de maneira harmoniosa, para que possa haver um equilíbrio, mantendo ou melhorando a qualidade de vida. No setor da limpeza urbana, a destinação final representa um paradoxo: aterros com alta sofisticação técnica de engenharia coexistem com a destinação da maior parte do lixo em lixões sem controle algum. É certo que há muito a fazer, começando por uma demonstração da realidade do que representa este paradoxo e mostrando o papel do aterro sanitário para a sociedade. (JARDIM, 2006) A falta de atualização e a não sistematização das informações sobre os resíduos sólidos no Brasil tem reRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 presentado grave empecilho para o conhecimento mais amplo da situação destes serviços, o que dificulta o estabelecimento de políticas públicas para o melhor gerenciamento deste problema e, também, para direcionar a atuação das entidades governamentais ou privadas que tratam a questão (RUBERG; PHILIPPI, 1999). Outro fator importante e que deve ser considerado é a falta de dados consistentes e confiáveis sobre a geração dos resíduos e os serviços prestados nos municípios brasileiros e, em particular, em municípios do interior dos Estados brasileiros, além da falta de controle operacional e funcional das atividades de limpeza pública, pois isso dificulta a administração e o gerenciamento adequado do sistema (GOMES; MARTINS, 2003). A questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil tem sido amplamente discutida na sociedade, a partir dos vários levantamentos realizados da situação atual e perspectivas, para o setor. A conscientização quanto à degradação do meio ambiente ainda é para muitas pessoas um assunto desconhecido, os métodos de regeneração do solo e bio-alternativas ainda são pouco divulgados. No Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista o cenário não é muito diferente do resto do país, onde a problemática da destinação final de resíduos ainda é presente. Embora com a existência de aterros sanitários particulares, os órgãos públicos da região tem altos custos com a operação e adequação às exigências ambientais de seus aterros de resíduos ou com transporte até o aterro sanitário mais próximo. Apesar da falta de informações referentes aos aterros de resíduos desta mesorregião, verifica-se a existência de 04 (quatro) aterros sanitários particulares que recebem os resíduos de seus próprios municípios e de outros 12 (doze) municípios. Dos 25 (vinte e cinco) aterros restantes: - o município de Cunha envia para um aterro sanitário particular em Itaquaquecetuba/SP, não estudado neste diagnóstico por não fazer parte da região definida; - o município de Pindamonhangaba, embora seja público, é operado por uma empresa particular; - 24 (vinte e quatro) municípios da região possuem aterros em valas. Quanto às condições destes aterros, a CETESB relata, em seu Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares, referente ao ano de 2006, que 06 (seis) deles se encontram operando inadequadamente e 07 (sete) deles de forma controlada. Dos 28 municípios que opeRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 ram adequadamente, 16 (dezesseis) deles referem-se aos 04 (quatro) aterros sanitários particulares mencionados acima, enquanto que, os outros 12 municípios, com notas altas, classificam-se como aterros em valas, cuja operação não conta com medidas de proteção ambiental. A Portaria Minter Nº. 53 de 01 de março de 1979 considera que, para o bem estar público, de acordo com os padrões internacionais, o lixo de pelo menos 80% (oitenta por cento) da população urbana das cidades com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes deve ter um sistema de destinação final sanitariamente adequado. Embora não seja, atualmente, a melhor opção os aterros em valas, é a solução mais plausível pela limitação de verbas disponibilizadas pelos órgãos municipais. Um fator, como a legalização de aterros sem as devidas tecnologias de controle de poluição, atribui notas positivas nos relatórios elaborados pela CETESB, referência de informação, embora divergente da realidade destes aterros. Nesse contexto, este trabalho buscou inicialmente um maior detalhamento de informações qualiquantitativas dos aterros desta região cujo crescimento populacional, aliado ao incremento das atividades industriais, tem acarretado um aumento considerável na produção de resíduos. 2. MATERIAL E MÉTODOS De acordo com a NBR 10.004 de 2004 os resíduos sólidos são aqueles “Resíduos nos estados sólido e semissólido que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial, comercial, doméstica, hospitalar, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos de controle da poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviáveis seus lançamentos na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível”. Os vários métodos de destinação e tratamento de resíduos sólidos e líquidos fazem com que se tenham diversas configurações para que seja escolhida a configuração mais adequada para uma cidade. Busca-se, no entanto, adequá-los à quantidade de resíduos gerados. De uma forma geral este assunto permeou por várias áreas do conhecimento, desde o saneamento básico, meio ambiente, inserção social e econômica dos processos de triagem e reciclagem dos materiais, e mais recentemente, o aproveitamento energético dos gases provenientes dos aterros sanitários. De acordo com o Inventário Estadual de Resídu71 os Sólidos Domiciliares – 2006, elaborado pela CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, dos 645 municípios paulistas – 47,8% - tratam os resíduos sólidos urbanos de forma adequada, sendo esse índice referente a 308 municípios, o que significa que 80,7% das 28.397 toneladas diárias de lixo gerado no Estado são dispostas adequadamente. Isto se explica pelo fato de que as grandes cidades, que produzem maior quantidade de resíduos, dispõem de sistemas de tratamento e disposição de resíduos considerados adequados. Segundo o mesmo Inventário, 30% dos municípios do Estado de São Paulo continuam operando em condições controladas e 22,2% em condições inadequadas, indicando um avanço em relação aos dados registrados em 1997 de, respectivamente, 18% e 77,8%. Assim, são 143municípios operando em condições inadequadas e 194 municípios em condições controladas. 2.1 Universo Foram considerados neste trabalho, juntamente com os 35 municípios pertencentes ao Vale do Paraíba Paulista o município de Santa Isabel e Guararema que, embora não façam parte do Vale, são de responsabilidade da Agência Ambiental de Jacareí. O município de Cunha será desconsiderado uma vez que seus resíduos são destinados em aterro particular (PAJOAN Ltda.) em Itaquaquecetuba, ainda Estado de São Paulo, mas fora da região pré-selecionada. O Litoral Norte conta com apenas 04 municípios, sendo eles: Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Ilhabela. O inventário de 2006 conclui que, das 28.397 t/dia de lixo gerado em todo o Estado, 22.909 t (80,7%) são dispostas de forma adequada, 3.638 t (12,8%) de forma controlada e 1.850 t (6,5%) de forma inadequada, contra respectivamente 10,9%, 58,4% e 30,7% em 1997. Os dados acima são referentes às condições dos sistemas de disposição e tratamento de lixo doméstico nos municípios do Estado, considerando: as características de cada instalação, população urbana de cada cidade e produção de resíduos “per capita”, sem computar os resíduos gerados em indústrias, na limpeza de vias públicas, poda de árvores, limpeza de córregos e outros. Fig. 1 - Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista. Fonte: VILELA, 2005. Verifica-se assim que, ao longo dos últimos anos, houve melhora explícita da situação dos locais de disposição e tratamento de resíduos sólidos domiciliares no Estado de São Paulo. No entanto, ainda existe a necessidade de se continuar o esforço para melhorar essas condições, uma vez que ainda existem vários municípios dispondo seus resíduos de forma inadequada. Os 41 municípios, aqui apresentados como Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista, totalizam 2,3 milhões de habitantes, produzem todos os dias 1.167,5 t de lixo doméstico. Deste total, 76%, estão sendo tratadas em condições consideradas adequadas, de acordo com a CETESB. Dos outros 24%, 14,6% são tratados em condições controladas e 9,4%, em condições inadequadas. A malha viária permitiu uma densa ocupação urbana, organizada em torno de algumas cidades de portes médio e grande, revelando processos de conurbação já consolidados ou emergentes. As especificidades dos processos de urbanização e industrialização ocorridos provocaram mudanças muito visíveis na vida das cidades. De um lado, geraram grandes potencialidades e oportunidades em função da base produtiva (atividades modernas, centro de tecnologia de ponta, etc.) e de outro, acarretaram desequilíbrios de natureza ambiental e deficiências nos serviços básicos. Como mencionado anteriormente, quanto às condições destes aterros, a CETESB relata, em seu Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares, referente ao ano de 2006, que 06 (seis) deles encontram-se operando inadequadamente e 07 (sete) deles de forma controlada. Nesse cenário, cidades médias passaram a conviver com problemas típicos de cidades grandes, como é o caso dos municípios do Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista. 72 Dos 28 municípios que operam adequadamente, 16 (dezesseis) deles referem-se aos quatro aterros sanitários particulares mencionados acima. Estes aterros, operados pela iniciativa privada, são contratados pelas prefeituras ou empresas municipais, sob a forma de terceirização, que pagam pela quantidade, em peso de resíduo depositado no aterro. Os outros 12 municípios com notas altas possuem aterros em valas, cuja operação não conta com medidas de proteção ambiental. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 2.2 Metodologia de Pesquisa Uma pesquisa de campo foi aplicada junto aos responsáveis por estes aterros para possibilitar uma avaliação de suas condições atuais de forma a sistematizar estas informações em um inventário destes aterros de resíduos. O universo da pesquisa abrangeu os municípios mencionados, sendo ela aplicada pessoalmente, por telefone e, em alguns casos, pelos próprios responsáveis. A opção pelo trabalho em campo e abordagem direta se justifica pela necessidade de comunicação sobre o objeto do estudo em um grau mais elevado que permitisse fornecer esclarecimentos mais aprofundados e obter entendimento da real situação dos empreendimentos abordados. A pesquisa foi realizada de forma simplificada para com isso obter resultados rápidos e eficientes que pudessem ser utilizados de diversas formas após sua publicação. O formulário foi elaborado inicialmente com enfoque na geração de chorume, líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos que, somados com a ação da água das chuvas, se encarregam de lixiviar compostos orgânicos presentes nos aterros sanitários para o meio ambiente, mas foi modificado para que o contato e tempo de entrevista com os responsáveis pelos aterros de resíduos fossem mais bem utilizados. Foram inclusas então, no questionário, perguntas referentes ao licenciamento, vida útil, infra-estrutura, maquinários e equipamentos disponíveis, sistemas de controle de poluição operacionais e monitoramentos. A segunda fase constituiu-se na atribuição de valores à geração de chorume para os municípios da região, que desconhecem esses valores, com o propósito de ser utilizado como uma ferramenta de auxílio à gestão e ao gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Para se atingir o objetivo de estimar a geração de chorume na região, optou-se, nos casos de aterros em valas, onde não há a informação quantitativa da vazão do líquido percolado, por realizar os cálculos abaixo descritos. De acordo com a obra Limpeza Pública, (CETESB, 1980), o dimensionamento do sistema de drenagem é feito a partir do conhecimento da vazão de líquido percolado em cada dreno, determinada pela sua área de contribuição. Assim sendo, a vazão média do chorume é dada Q = PxAx K t Equação (1) Onde: Q = vazão média de líquido percolado (l/s) P = precipitação média anual (m) A = área do aterro (m²) t = número de segundos em 1 ano (31.536.000s) K = coeficiente que depende do grau de compactação do lixo Os índices pluviométricos obtidos juntos ao Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo - SIGRH correspondem aos valores de precipitação de chuva mensais dos dez últimos anos de dados obtidos. As planilhas de valores encontram-se no Apêndice B. Com estes dados foi possível obter uma média anual para utilização na fórmula. Os valores de tamanho das áreas de contribuição, ou seja, das áreas dos aterros de resíduos foram obtidos no questionário aplicado. Novamente, conforme proposto pela CETESB (1980), recomenda-se a adoção dos seguintes coeficientes: - para aterros fracamente compactados com peso específico de 0,4 a 0,7 t/m3, estima-se uma produção de chorume equivalente a 25 a 50% da precipitação média anual contribuinte à área do aterro; - para aterros fortemente compactados com peso específico - 0,7 t/m3, estima-se uma produção de chorume equivalente a 15 a 25% da precipitação média anual contribuinte à área do aterro. O calculo foi realizado para 100% dos aterros, sendo aplicado um valor mínimo de 10.000 m2 aos locais em que não foram fornecidos os valores de áreas do aterro. 2.3 Resultados Os dados obtidos na pesquisa, juntamente com informações adicionais passadas pelos responsáveis pelos aterros de resíduos entrevistados e pesquisas em fontes secundárias, permitiram a formulação de históricos sobre cada município e seus aterros de resíduos. Foram utilizados dados de toda sua vida útil, buscando expressar também as condições de tratamento desses resíduos por parte dos órgãos ambientais, tanto financeira quanto tecnologicamente. por: A pesquisa realizada conseguiu abranger 99% dos aterros da área delimitada para o estudo, não tendo sido Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 73 obtidas informações de apenas 01 município (Silveiras). Verificou-se que, de acordo com a pesquisa dos 27 aterros, 24 são aterros públicos, 02 são particulares e 01 é de economia mista. Destes, 18 são em valas e os outros 09 se utilizam de técnica de área, inclusos os dois particulares e o de economia mista. Dos 09 aterros que se utilizam de técnica de área, apenas o aterro de Ubatuba não possui licenciamento. Já dos 18 aterros em valas, 14 deles possuem licenciamento, enquanto 04 não. Todos os aterros recebem resíduos classificados como classe II – não perigosos, sendo que 23 deles recebem resíduos domiciliares de seu próprio município e os outros 04 recebem, além do próprio município os de outros 12 municípios. 05 deles recebem também resíduos urbanos provenientes de limpeza pública e 03 deles recebem também resíduos industriais. Apenas o aterro particular de Tremembé recebe também resíduos classe I – perigosos em uma outra célula com impermeabilização específica para tal tipo de resíduo. Dos aterros pesquisados, 01 deles está saturado (Roseira) e ainda não possui outro destino para seus resíduos; 03 deles se encerram ao fim de 2007 (Piquete, Caraguatatuba e Ubatuba); 01 se encerra ao fim de 2008 (São José dos Campos); 02 não sabem quanto ainda tem de vida útil (Areias e Taubaté); 12 deles ainda possuem uma vida útil de 2 a 10 anos; e os 08 restantes tem vida útil estimada de mais de 10 anos. Mais de metade (15 aterros) das amostras demonstrou aterros sem tipo algum de infra-estrutura, sendo apenas um terreno, cercado em algumas das vezes, onde o resíduo é despejado e coberto esporadicamente. Os outros 12 possuem desde portaria com guarita para controle de entrada e saída de resíduos até os mais completos com centros de triagem, galpões de manutenção e lavagem de caminhões, entre outros. Quanto aos valores de resíduos dispostos nestes aterros, o Quadro 1 apresenta uma comparação dos valores obtidos com a pesquisa e aqueles fornecidos pela CETESB. Quadro 1 - Apresentação comparativa das quantidades de resíduos dos municípios Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista entre a CETESB e a pesquisa realizada. Fonte: Inventário de Resíduos da CETESB, 2006 e fonte própria, 2007. 74 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Vale ressaltar que os valores anteriormente mencionados, de recebimento de resíduos divergem do Inventário da CETESB, sempre superando o valor estimado e isso pode ser explicado por algumas razões, dentre elas: - primeiramente, em muitos dos casos, o município recebe resíduos sólidos urbanos, inclusos limpeza urbana, como varrição e poda, e entulhos, quando no inventário só são considerados resíduos domésticos; - pela falta de controle de entrada de resíduos nos aterros; - a quantidade de resíduos gerada é calculada pela Prefeitura pela coleta (número de viagens e veículo utilizado) e pela CETESB, em função do tamanho da população; Dos aterros que se utilizam de técnicas de área, onde é prevista a impermeabilização da área, 06 deles se utilizam de mantas de PEAD (polietileno de alta densidade) e/ou argila. Ainda verificando infra-estrutura destes aterros, 01 (Ubatuba) não possui sistema de drenagem, enquanto 02 deles (Cruzeiro e Tremembé) possuem drenagem do tipo colchão drenante e os restantes possuem drenagem tipo espinha de peixe, intercalados ou não com os drenos de gás. Quanto ao armazenamento e tratamento do chorume, 01 município (Cruzeiro) mantém o chorume coletado em valas ainda não impermeabilizadas até a construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes própria. Os aterros de Pindamonhangaba e São José dos Campos realizam a recirculação do chorume e os 05 aterros restantes tratam o líquido percolado em Estações de Tratamento de Efluentes terceirizadas. Dos 27 aterros onde foram realizadas entrevistas, apenas 10 deles realizam qualquer tipo de análise, seja de líquidos percolados, águas superficiais, águas subterrâneas ou geotécnicas. De acordo com os dados obtidos na pesquisa foi possível obter um valor aproximado da geração de chorume de cada município. A somatória das vazões permitiu a obtenção de um valor total de 773 m3 de chorume gerados diariamente no Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista. De acordo com a pesquisa, 44,2%, ou seja, 341 m3/dia recebem tratamento adequado em ETE’s terceirizadas pelos aterros e 14,6% (113 m3/dia) é recirculado para os aterros. Os 318 m3/dia (41,1%) restantes infiltram para o solo sem nenhum tratamento. 2.4 FORMATAÇÃO DE FIGURAS E TABELAS Com os resultados das visitas aos municípios adotados como estudo de caso para o desenvolvimento deste trabalho, foi possível observar a necessidade da estruturação e da sistematização do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos por parte das administrações municipais do Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista. Desta forma, o objetivo principal deste estudo, foi estabelecido para que os resultados do trabalho pudessem ser utilizados para a definição de um sistema técnico organizacional para o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos que visasse a identificação de ações estratégicas de gestão e, também, que servisse para diagnosticar as formas de disposição final adotadas em municípios da região. Foram verificadas inicialmente as condições de lixões em aterros considerados adequados ou controlados que não possuem controle de entrada e saída de resíduos, além daqueles cujo aterramento não é constante. Outro fator relatado é a falta de fiscalização por parte das Prefeituras que permitem que os moradores do entorno despejem seu lixo irregularmente nos aterros ou mesmo adentrem à área para catação dos resíduos ali dispostos. Outro grande problema encontrado foi a disponibilidade de veículos pertencentes às Prefeituras que, por mais que tenham sido adquiridos para utilização no aterro, acabam por ser usados em outras atividades da Prefeitura. Verificaram-se casos onde o aterro era coberto espaçadamente revezando o equipamento com outras tarefas que não de operação do aterro ou até sendo executado somente quando havia veículo disponível, permitindo que o lixo ficasse exposto por grandes períodos de tempo. Atualmente o Relatório de Resíduos elaborado pela CETESB anualmente é a única fonte de informação sobre locais de disposição final e resíduos no Estado de São Paulo. Embora de extrema importância, acaba por aceitar certas condições previamente impostas por legislações e normas. Não é objetivo deste inventário o levantamento de todos os locais utilizados para descarga de resíduos sólidos, existentes no Estado. O conhecimento de todos esses locais é desejável como instrumento de planejamento, controle e avaliação da qualidade ambiental, contudo não é meta deste documento. Diversos fatores de complexo controle dificultam, nesse momento, a elaboração de um cadastro desse gênero. Nesse contexto, foi pesquisado com maior Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 75 detalhamento de informações quali-quantitativas dos aterros desta região para visualização da real situação onde os resíduos e sua destinação ainda não têm primazia junto aos órgãos municipais. Fig. 2 - Gráfico dos tipos de aterros. Fig. 3 - Gráfico das técnicas de aterros. Fig. 4 - Gráfico dos tipos de resíduos. Fig. 5 - Gráfico dos Resíduos não perigosos. Fig. 6 - Gráfico da infra-estrutura. Fig. 7 - Gráfico do controle de poluição. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dos aterros pesquisados, 01 (Roseira) deles está saturado e ainda não possui outro destino para seus resíduos; 03 (Piquete, Caraguatatuba e Ubatuba) deles se encerram no inicio de 2008; 01 (São José dos Campos) se encerra ao fim de 2008; 02 (Areias e Taubaté) não 76 sabem quanto ainda tem de vida útil; 12 deles ainda possuem uma vida útil de 2 a 10 anos; e os 08 restantes têm vida útil estimada de mais de 10 anos, sendo as alternativas atuais dos aterros de vida útil finda o transbordo de seus resíduos para aterros licenciados na mesma região. O detrimento dos aterros municipais é palpável, Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 sendo seus aterros em valas em grande maioria lixões sem quaisquer cuidados. Já os aterros particulares licenciados encontram-se em ótimas condições, uma vez que são submetidos a maior fiscalização por partes de órgãos públicos devido à enorme quantidade de resíduos que recebem. Em uma região onde 66,6% dos aterros foram desenvolvidos em valas e, por isso, não possuem impermeabilizações ou sistemas de drenagem e ainda são considerados adequados, é preciso incentivar a revisão das legislações cujas novas tecnologias ainda não são abordadas e ainda prever um redimensionamento do orçamento público para questões ambientais, em especial, a disposição final de resíduos sólidos. Outra alternativa seria, a já abordada pelo novo Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e em discussão na CETESB, regionalização dos aterros, onde sua viabilidade traria menores impactos e custos para os órgãos municipais, além do incitamento de melhoria da fiscalização. 4. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004. Classificação de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: Abnt; 2004. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL – CETESB. Limpeza pública. São Paulo: 1980. 126 p. JARDIM, F. Destino final – Problema ou solução? 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Após a introdução da abelha africana no Brasil, a apicultura nacional apresentou crescente desenvolvimento, pois devido a cruzamentos naturais com abelhas europeias, originou-se a abelha africanizada, que possui alta capacidade de higiene, rápida remoção de resíduos, resistência a enfermidades e parasitas, alta capacidade defensiva e de enxameação e rápida dominância genética, que foram fatores determinantes no seu sucesso adaptativo. A proposta deste trabalho foi realizar um processo de seleção biológica, através da avaliação do Comportamento Higiênico (CH) em colmeias de abelhas africanizadas. Após receber os enxames nas instalações da SER Apis, foi realizada a análise do CH, com registro fotográfico para compilação dos dados. Após a aplicação do método de perfuração de células crias, observou-se que 20 % das colônias avaliadas são consideradas higiênicas, sendo essas selecionadas para um apiário de matrizes. Através da seleção biológica, feita pela análise do CH, pode-se obter linhagens mais higiênicas, evitando assim a utilização de substâncias químicas, impedindo a contaminação dos produtos apícolas consumidos pelo homem. Palavras-chave: Comportamento, abelha africanizada, seleção biológica. Abstract: Bees are responsible for an important step in the reproduction of plants because some vegetal species totally depend on pollinators to guarantee perpetuation of the species. After the introduction of the African bee in Brazil, national beekeeping has increased due to the natural crossings with Europeans bees, leading to the Africanized honey bee, which have good hygiene, fast removal of residues, resistance to diseases and parasites, great defensive and swarming abilities, and fast genetic dominance, which had been determinative factors in the adaptive success. The proposal of this study was to conduct a biological selection through analyzing the hygienic behavior (HB) in beehives of Africanized bees. After receiving the swarms in the SER Apis installations, the HB was analyzed with a photographic register to compile data. The application of the method of cell perforation showed that 20% of the evaluated colonies are considered hygienic, and these were selected as matrices. Through the biological selection made by the HB analysis, it maybe possible to obtain more hygienic lineages, thus avoiding the use of chemicals which contaminate apicultural products consumed by humans. Key words: Behavior, Africanized honey bee, biological selection. 1. INTRODUÇÃO Desde a introdução da Apis mellifera, a apicultu- * Bióloga. ** Bióloga - Empresa SER Apis. *** Professora da UNIVAP. 78 ra brasileira tem apresentado crescente desenvolvimento, especialmente devido à capacidade de adaptação da abelha africana e as condições favoráveis à criação, resultantes do grande potencial apícola nacional (COUTO; COUTO, 2002). Em 1956 foi feita a introdução da A. mellifera scutellata, o que resultou na africanização de toda a apicultura brasileira (NOGUEIRA-NETO, 1972). Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 A alta capacidade de higiene e a rápida remoção de resíduos, larvas, abelhas doentes ou mortas, a maior resistência a enfermidades e parasitas, a capacidade defensiva e de enxameação, a rápida dominância genética, foram fatores determinantes no sucesso adaptativo da abelha africanizada. (SOMMER, 1996). As abelhas africanizadas têm mostrado maior resistência específica aos patógenos e parasitas e maior resistência inespecífica, como, por exemplo, por comportamento higiênico (MESSAGE, 2002 apud COUTO; COUTO, 2002). O comportamento higiênico (CH) é a capacidade das abelhas detectarem e removerem crias mortas, doentes, danificadas ou infestadas com ácaros no interior da colônia (ROTHENBUHLER, 1964). O CH é considerado uma das características comportamentais das abelhas melíferas utilizadas em programas de melhoramento, face a sua vinculação com a resistência a doenças de cria, e eliminação de ácaros do gênero Varroa (SPIVAK; GILLIAN, 1998). mento (GRAMACHO; GONÇALVES, 1994). O manejo adequado nas colméias e a seleção de abelhas que possuem Comportamento Higiênico de eficácia considerável melhorariam a qualidade dos produtos e consequentemente aumentaria a participação brasileira no mercado mundial, garantindo um produto saudável, que também será consumido internamente. (MESSAGE, 2002 apud COUTO; COUTO, 2002). A proposta deste trabalho foi realizar um processo de seleção biológica, através da avaliação do Comportamento Higiênico (CH) em colmeias de abelhas africanizadas coletadas em diferentes pontos da região da cidade de São José dos Campos – SP, visando à seleção dos enxames que apresentem o CH e reunindo-os em um apiário de matrizes. 2. MATERIALE MÉTODOS 2.1 Área de Estudo Há vários métodos de avaliação deste comportamento, dentre eles, os mais utilizados são, o método de congelamento de cria (Keer et al., 1970) e o método de perfuração de crias (NEWTON; OSTASIEWISKI, 1986), onde ambos são eficientes para o estudo do comporta- A pesquisa foi realizada em três apiários da empresa SER Apis (Fig. 1) situados no Núcleo de Apicultura Univap (NAU) localizado na Universidade do Vale do Paraíba Campus Urbanova em São José dos Campos - SP. Fig. 1 - Colmeias em seus respectivos apiários. 2.2 Material Biológico Os enxames de abelhas africanizadas (Fig. 2) utilizados para a análise do Comportamento Higiênico foram reunidos através de captura em abrigos naturais ou não e oriundos do processo enxameatório característico do comportamento destes insetos, totalizando 20 colônias avaliadas. Fig. 2 - Enxames de abelhas africanizadas. A – Rainha de um enxame de abelhas africanizadas. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 79 2.3 Alimentação Após cada etapa de verificação do Comportamento Higiênico das colônias, foi ministrada alimentação energética e proteica, que, no período de entressafra, suprem as necessidades dos enxames, garantindo, assim, alimentação necessária durante todo o ano. 2.4 Avaliação do Comportamento Higiênico (CH) crias, descrito por Newton e Ostasiewski (1986) e modificado por Gonçalves e Gramacho (1994). A escolha do método foi devido à eficácia considerável, fácil aplicação e por ser um dos métodos mais econômicos. De cada colônia avaliada, foi retirado um quadro de crias operculadas de operárias com idade entre dez e quatorze dias (Fig. 3); nessa idade, as crias apresentam coloração rosa nos olhos, facilitando a identificação. Utilizou-se o método de perfuração das células de Fig. 3 - Crias operculadas com idade entre dez e quatorze dias. Em seguida foram selecionadas duas áreas paralelas contendo 100 células operculadas cada, dispostas em dez linhas por dez fileiras. A primeira área escolhida (área A) foi utilizada para perfuração e a outra para controle ou testemunho, sem perfuração (área B). As células vazias encontradas eventualmente foram contabilizadas para ajuste do cálculo de porcentagem e para selecionar a área perfurada, sendo esta, a com o menor número de células vazias. As áreas foram demarcadas com o auxílio de um bisturi (Fig. 4). Fig. 4 - Demarcação das áreas. O método consta na perfuração de 100 células de crias operculadas com o auxílio de um alfinete entomológico (Fig. 5), que foi inserido no centro do 80 opérculo em direção às crias, perfurando-as e, podendo ou não causar a morte delas. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 5 - Perfuração da área A com o auxílio de um alfinete entomológico. Após este procedimento, o quadro utilizado foi devolvido a colmeia avaliada, permanecendo por 24 horas para que as operárias realizassem a desoperculação e remoção das crias afetadas, e então o quadro foi retirado após o tempo determinado e analisado em laboratório. Foram realizadas três perfurações em cada enxame, com intervalos de quinze dias. 2.5 Análise Estatística do Comportamento Higiênico Para a estimativa do CH de cada colônia foram contabilizadas as células operculadas submetidas à perfuração, e após 24 horas foram contabilizadas as células desoperculadas ou vazias, sendo dividido o total de células vazias pelo número de células perfuradas, obtendo a quantidade de crias desoperculadas ou removidas pelas operárias higiênicas. Células Vazias Células perfuradas = crias removidas CV1 = N° de células vazias 24 horas após a perfuração. CV = N° de células vazias antes da perfuração. CO = N° de células operculadas antes da perfuração. Z = Fator de Correção obtido no controle. • Fator de Correção Z: Z = Y x 100 A Z = Porcentagem de células limpas no controle. A = N° de células com crias operculadas. Y = N° de células vazias ou limpas contendo crias operculadas, removidas naturalmente. Sendo que Y = C-B. C = N° de células vazias na área de controle, após a introdução do favo na colônia analisada. Na área B foi calculado o Fator de Correção “Z” descrito por Moretto (1993), que corresponde à taxa de limpeza natural da área, que é subtraído do valor de células removidas na área A. B = N° de células vazias na área de controle antes do favo ser introduzido. A estimativa do valor de Z na área B ou controle é feita da mesma forma que para a área A, considerando que as células operculadas não são perfuradas na área controle (B), e as células vazias ou desoperculadas serão contadas 24 horas após a perfuração das células na área A. Após as três perfurações em cada enxame selecionado calculou-se a média do CH, para a seleção das melhores matrizes. Nos enxames considerados não higiênicos foi feita a substituição das rainhas, para futuramente se obter linhagens mais higiênicas, formando, assim, um apiário de elite. O resultado final é considerado somente se o valor do fator de correção (área B) for igual ou inferior a 10%. As fórmulas utilizadas para os cálculos de CH e de Z baseadas nos estudos de Gramacho (1999) foram: • CH: CH = CV1 – CV x 100 – Z CO Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 2.6 Seleção de Matrizes 3. RESULTADOS Para que uma colônia seja considerada higiênica, é necessário que o valor do CH seja superior a 80%, considerando somente o resultado em que o valor do fator de correção “Z” seja inferior a 10%, e dos 20 enxames analisados, em apenas três enxames não foi possível a verificação do Comportamento Higiênico. 81 3.1 Avaliação do Comportamento Higiênico 3.1.1 Enxames com o CH inferior a 80 % tamento higiênico inferior a 80% foram: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 10, 12, 13, 15, 16 e 17. Estes enxames não foram selecionados para o apiário de matrizes (Fig. 6). Os enxames que apresentaram o valor do compor- Fig. 6 - Média do CH em cada enxame não higiênico. O enxame seis foi o que obteve resultado menos satisfatório (Fig. 7), sendo o valor da 1ª perfuração de 40,43 %, da 2ª de 59,10% e da 3ª de 45,74%. As abelhas do enxame seis não são consideradas higiênicas, pois não removeram mais que 80% das crias afetadas. Fig. 7 - Perfurações realizadas no enxame 6. 3.1.2 Enxames com o CH superior a 80% Os enxames considerados higiênicos (Fig. 8) fo- ram os que obtiveram o valor do comportamento higiênico superior a 80%, após serem realizadas as três perfurações. Estes foram selecionados para o apiário de matrizes. Fig. 8 - Média do CH em cada enxame considerado higiênico. 82 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 3.1.3 Enxame 8 Em duas perfurações o CH foi superior a 90%, porém, na segunda perfuração, foi de 70,12%, obtendo a média de 86,33%, portanto essa colmeia é considerada higiênica, sendo selecionada como matriz. A média de crias danificadas que foram detectadas e removidas dos quadros analisados foi superior a 80%, e após a remoção das crias, as operárias depositaram alimento, pólen e mel, nas células desoperculadas (Fig. 9). Fig. 9 - Perfurações realizadas na caixa 8. 3.1.4 Enxame 9 O enxame nove foi o que obteve o melhor resultado na análise do comportamento higiênico, onde a média das perfurações foi de 93,39% (Fig. 10), sendo selecionado como matriz. Esta colônia foi a única a apresentar todos os resultados superiores a 80%, sendo a 1ª perfuração 92,35%, a 2ª perfuração 98,95 % e a 3ª perfuração 88,89%. Fig. 10 - Perfurações realizadas na caixa 9. 3.1.5 Enxame 11 A primeira e a terceira perfurações obtiveram va- lores acima de 97%, entretanto, na segunda perfuração, o valor do CH foi de 70,03 %. A média do CH foi de 89,30%, sendo considerada uma colônia higiênica (Fig. 11). Fig. 11 - Perfurações realizadas na caixa 11. O enxame foi selecionado como matriz, pois as abelhas detectaram e removeram as crias danificadas em Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 aproximadamente 24 horas. 83 3.1.6 Enxame 14 Na 1ª perfuração realizada o valor do CH foi de 61,24%, porém na 2ª perfuração foi de 88,04% e na 3ª apresentou resultado de 92,05%. A média do CH foi de 80,44 %, portanto esse enxame foi selecionado como uma das matrizes (Fig. 12). Fig. 12 - Perfurações realizadas na caixa 14. 3.1.7 Enxames 18, 19 e 20 Não foi possível realizar a análise do comportamento higiênico nesses enxames, pois não foram encon- tradas crias suficientes e na idade correta (entre 10 e 14 dias), sendo encontrada grande quantidade de crias mortas, talvez pelo uso de agrotóxico em plantas polinizadas por abelhas (Fig. 13) Fig. 13 - Quadro sem crias suficientes (esquerda), e quadro sem crias na idade correta (direita). Dos vinte enxames avaliados, apenas 20% foi considerado higiênico, sendo 65% não higiênico, e em 15% não foi possível realizar o CH (Fig. 14). Fig. 14 - Análise do CH nos enxames selecionados. Os enxames que obtiveram a média do CH superior a 80% foram selecionados como matrizes, para a for- 84 mação de um apiário de elite. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 4. DISCUSSÃO Após a introdução da abelha africana no Brasil, a apicultura nacional tem apresentado crescente desenvolvimento, pois, através de cruzamentos naturais entre abelhas européias e africanas, originou-se uma abelha com características próprias, mas muito semelhantes às africanas, denomidada abelha africanizada. O sucesso adaptativo desta abelha foi devido a alta capacidade de higiene e rápida remoção de resíduos, larvas, abelhas doentes ou mortas, a maior resistência a enfermidades e parasitas, alta capacidade defensiva e de enxameação e rápida dominância genética (SOMMER, 1996). As colônias do presente trabalho com alta capacidade higiênica removeram as crias afetadas em um curto periodo de tempo, apresentando as características citadas acima por Sommer (1996); considerando que fosse um patógeno, este seria removido da colmeia sem que infectasse as crias. Em consequência desta adaptação, observou-se que algumas doenças que anteriormente existiam no Brasil foram desaparecendo, porém outras foram introduzidas, como a Varroatose, mas não causam os mesmos problemas que afetavam as abelhas europeias. As abelhas africanizadas têm apresentado resistência a patógenos e parasitas, através do comportamento higiênico, uma característica genética que foi observada nas colônias analisadas. Aumeier, Rosenkranz e Gonçalves (2000) com o intuito de examinar o significado do comportamento higiênico presente em abelhas africanizadas na tolerância à Varroatose, comparou estas abelhas com as abelhas cárnicas no Brasil tropical, onde células de crias operculadas foram infestadas artificialmente por ácaros Varroa vivos, e analisadas após alguns dias. Pode-se observar que as abelhas africanizadas removeram uma quantidade significativamente maior do que as abelhas europeias. A abertura da célula e remoção das crias das abelhas são características independentes de uma resposta graduada por parte de operárias adultas com relação a células de crias infestadas por ácaros. De acordo com Pires et al. (1996), o valor comportamento higiênico em vinte colmeias de abelhas de origem europeia, situadas em um apiário experimental no nordeste de Portugal, foi considerado eficaz após um período de 48 horas, enquanto as abelhas africanizadas, consideradas adaptadas, com alta capacidade de detectar e remover as crias afetadas em apenas 24 horas, evitando, assim, que o patógeno se manifeste por toda a colônia. O comportamento higiênico é a capacidade que Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 as abelhas possuem de detectar e remover as crias mortas, doentes, danificadas ou infestadas por ácaros, e se manifesta através de dois pares de genes homozigotos, os genes desoperculador (dd) e removedor (rr). É considerado uma das características comportamentais das abelhas utilizadas em programas de melhoramento. Através do CH é que as abelhas realizam um controle biológico da colônia contra agentes infecciosos, pois conseguem detectar e remover as crias afetadas antes que a doença possa se desenvolver e ser transmitida para as demais crias, e antes que os sintomas sejam evidentes para os humanos, impedindo que a colônia seja afetada. As abelhas que não possuem os dois pares de genes homozigotos recessivos conseguem detectar e remover as crias infectadas, porém somente após a doença se tornar infecciosa, resultando em sua manifestação por toda a colônia. Nesses casos a utilização de produtos químicos para o controle do agente infeccioso se torna a única saída para os criadores e produtores, resultando assim, na contaminação dos produtos apícolas que são utilizados pelo homem. Vários são os métodos utilizados para a análise do comportamento higiênico, dentre eles, os mais utilizados são o método de congelamento de crias, desenvolvido por Keer et al. (1970), e o método de perfuração de células crias, desenvolvido por Newton e Ostasiewiski (1986) e modificado por Gramacho e Gonçalves (1994). O método de perfuração de células crias foi utilizado por ser eficaz, econômico e de rápida aplicação. Foi analisado o comportamento higiênico em vinte colmeias coletadas em abrigos naturais ou não, na região de São José dos Campos - SP, e constatou-se que apenas 20% são consideradas higiênicas, por apresentarem o CH superior a 80%. As perfurações foram realizadas com intervalos de quinze dias, pois, durante o vôo nupcial, a rainha virgem pode acasalar-se com até dezoito zangões, e durante o acasalamento, que demora menos de cinco segundos, o zangão everte o órgão genital (endófalo) dentro da rainha. O bulbo do endófalo se quebra e é deixado na rainha, e evita que o sêmen retorne, mas não evita que novos cruzamentos ocorram. Os espermatozóides penetram pela vagina, indo localizar-se na espermateca. O sêmen estocado será utilizado na fecundação de óvulos durante toda a vida da rainha, sendo que uma espermateca pode conservar em torno de 5,3 a 5,7 milhões de espermatozóides, e a rainha chega a pôr 2500 ovos por dia. Há uma troca contínua de material genético, por essa razão são realizadas de três a cinco perfurações em cada colônia. 85 Os enxames com CH superior a 80% foram selecionados como matrizes, para futuramente ser formado um apiário de elite com abelhas Apis mellifera, que sejam consideradas higiênicas, para evitar o aparecimento de patógenos e parasitas, tendo assim colônias saudáveis e populosas, aumentando a produção. De acordo com Santos, Carvalho e Silva (2004), os produtos quimioterápicos (antibióticos, ácidos, etc.) podem ter efeitos tóxicos, iatrogênios e residuais acumulativos, especialmente os antibióticos. Ainda podem deixar resíduos que interferem no metabolismo normal das abelhas e permanecem no mel e em outros produtos. É necessário o manejo adequado e a seleção de abelhas que possuem os genes do Comportamento Higiênico, evitando o uso de substâncias quimioterápicas e consequentemente a contaminação dos produtos produzidos pelas abelhas e utilizados pelo homem. Através da aplicação do método de perfuração de células crias foi possível analisar o Comportamento Higiênico das abelhas africanizadas, e selecionar as colônias com o valor do CH superior a 80% para um apiário de matrizes, onde haverá somente colônias consideradas higiênicas, capazes de detectar e remover crias infectadas por patógenos e parasitas, tornando-a saudável e populosa. 5. CONCLUSÕES Dos vinte enxames avaliados, apenas 20% foram considerados higiênicos, sendo 65% não higiênicos, e em 15% não foi possível realizar o CH, sendo assim, podese verificar a necessidade de uma aplicação sistemática do método de mapeamento do Comportamento Higiênico, assim como a seleção das colmeias com o valor do CH superior a 80%, substituição das rainhas nas colmeias com o valor do CH inferior a 80 % e formação do apiário de matrizes com colônias higiênicas. Através da aplicação do método de perfuração de células crias é possível analisar o Comportamento Higiênico das abelhas africanizadas, e selecionar as colônias com o valor do CH superior a 80% para um apiário de matrizes, onde haverá somente colônias higiênicas, mais populosas e saudáveis, aumentando gradativamente a produção. 6. AGRADECIMENTOS A Universidade do Vale do Paraíba pela oportunidade. Ao Sr. José Evaristo Merigo pela autorização para o desenvolvimento da pesquisa no Núcleo de Apicultura (NAU) e à Profa. Terezinha de Fátima Nogueira pela revisão do abstract. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUMEIER, P.; ROSENKRANZ, P.; GONÇALVES, L. S. A comparison of the hygienic response of Africanized and European (Apis mellifera carnica) honey bees to Varroainfested brood in tropical Brazil. Genet. Mol. Biol, v. 23, n.4, p.787-791, dez. 2000. BAKER, H. G.; HURD. JR, P. D. Intra-floral ecology. Ann. Rev. Entomol. v.13, p. 385-414, 1968. BARRETO, L. M. R. C.; FUNARI, S. R. C.; ORSI, R. O.; DIB, A. P. S. Produção de pólen no Brasil.; Editora Cabral. 2006. CHAUD-NETTO. J.; GOBBI. N.; MALASPINA, O. Biologia e técnicas de manejo de abelhas e vespas. In: BARRAVIERA, B. Ed. Venenos animais: uma visão integrada. Rio de Janeiro: EPUC, 1994, cap.12, p.173-193. COSTA, C.; IDE, S.; SIMONKA, C. E. Insetos imaturos: Metamorfose e identificação. Ribeirão Preto: Holos. 2006. p.205. COUTO, R. H. N.; COUTO, L. A. Apicultura: Manejo e produtos. 2. ed. Jaboticabal: FUNEP, 2002. p.191. _______. 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GRAMACHO, K. P.; GONÇALVES, L. S. Estudo comparativo dos métodos de congelamento e perfuração de crias para a avaliação do comportamento higiênico em abelhas africanizadas. In: Congresso 86 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Latinoiberoamericano de Apicultura, 4. Anais...Córdoba – Argentina. 1994. p. 45. GUIMARÃES, N.P. Apicultura: a Ciência da Longa Vida. 13 ed. Belo Horizonte. Ed. Itatiaia Ltda. 1989. p.131-134. KEER, W. E.; GONÇALVES, L. S.; BLOTTA, L. F.; MACIEL, H. B. Biologia comparada entre as abelhas italianas (Apis mellifera lingustica ), africana (Apis mellifera adansnii) e suas híbridas. In: Congresso Brasileiro de Apicultura, I, Anais, Florianópolis. 1970.p.151-185. LAROCA, S.; MICHENER, C. D.; HOFMEISTER, R. M. Long mouthparts among “short-tongued” bees and fine structure of the labium in Niltonia (Hymenoptera, Colletidae). J. Kans. Entomol. Soc. v. 62, n. 3, p. 400-410. 1989. LINSLEY, E. G. The ecology of solitary bees. Hilgardia, v. 27, n. 19, 1958.p.543-599. MANSON, W. 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O sistema é contido em trilho magnético, constituído por imãs implantados na pista, a cada 2m e controlado por sensores colocados no ônibus, para manter o veículo controlado, centrado e alinhado. O sistema não foi totalmente terminado em São Paulo por decisão da administração pública municipal. Palavras-chave: Guiagem magnética, imãs na pista, sensores no ônibus. Abstract: The Magnetic Guidance System - MGS - is a control system, developed in Brazil, for use in urban bus corridors known as “BRT - Bus Rapid Transit Corridors”. MGS technology can be applied to any kind of vehicle and aims to minimize the lane width (thus diminishing the expropriate costs and urban space impact), to raise the transport capacity (through the increase of the average speed), and to improve passenger accessibility (because the MGS stops in a uniform and small distance from the bus platform in a repetitive fashion during all the operation time, procedure known as “Precision Docking”). In the current stage, MGS does the lateral guidance of the vehicle and the human driver controls the speed using the conventional accelerator and brake pedals. When the lateral automatic guidance is active, MGS controls the steering system of the vehicle using a magnetic track as reference (the magnetic track is a sequence of discrete magnets spaced from 1m to 2m in the pavement). Thus, MGS’s function is to maintain the vehicle centered and aligned, within a tolerance margin, to the magnetic track. This work gives a general view about the developed technology and the practical results achieved with MGS. The system is not in operation in São Paulo because the public administration of the city decided not to conclude the Project. Key words: Magnetic guidance, magnets on the pavement, sensors on buses. 1. INTRODUÇÃO * Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA, com especialização em Engenharia de Software pela UNICAMP e Mestrado em Engenharia Eletrônica e Computação pelo ITA. ** Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA, Mestrado e Doutorado em Engenharia Eletrônica pelo Tokyo Institute of Technology. *** Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA e Mestrado em Engenharia Eletrônica pelo ITA. **** Bacharel e licenciado em Matemática pela USP, Pós-graduado em Física pela USP e Doutor em Ciências pela UNITAU/Conselho E. Educação. 88 O congestionamento do trânsito nas grandes cidades tem se tornado um tema recorrente. No entanto, ainda não se encontrou uma solução eficaz para a resolução dessa questão. Diante desse cenário, os corredores expressos de ônibus, também conhecido pela sigla BRT (Bus Rapid Transit), com a incorporação do Piloto Automático nos ônibus, utilizando sistema de guiagem automática, vem ganhando evidência nos países da Europa e nos Estados Unidos da América (SHILADOVER, 2007). No Brasil, a tecnologia de guiagem automática, baseada no sensoriamento magnético, está em desenvolvimento desde 2003, e atualmente encontra-se em fase Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 de certificação da tecnologia. No caso do metrô, as composições se movimentam sobre os trilhos de aço. No novo sistema, os ônibus se guiam automaticamente através de um trilho virtual. O trilho virtual é na verdade uma fileira linear de ímãs permanentes instalados abaixo da superfície da via. O ônibus possui sensores especiais que fazem a leitura dessa trilha magnética, e um computador de bordo, baseado nessa informação, controla a direção do veículo. O condutor continua presente no veículo, passando a cuidar apenas da velocidade (aceleração e frenagem), deixando a manobra de direção por conta do Piloto Automático (ZHANG et al., 2007; CHAN, 2002; CHAN, 2003; TAN; BOUGLER, 2000; GULDNER; TAN; PATWARDHAN, 1997). O presente artigo aborda as tecnologias envolvidas na implementação do piloto automático em ônibus, e apresenta os resultados já obtidos em um corredor de ônibus em São Paulo. 2. OPERAÇÃO DO SISTEMA O Piloto Automático é um sistema embarcado que assume o controle de direção do veículo, substituindo a função do motorista, passando a realizar manobras de aproximação e parada nas plataformas de embarque e desembarque, bem como o deslocamento do veículo entre as paradas. Esse tipo de sistema é também conhecido como Sistema de Guiagem Automática. O veículo poderá operar em três modos distintos, sendo eles: manual, semi-automático e automático. O modo manual refere-se à maneira convencional em que o próprio motorista controla o veículo. No modo semi-automático o sistema controlará a direção do veículo (guiagem lateral) sendo que a velocidade (aceleração e frenagem) continua sendo controlada pelo motorista. No modo automático tanto o controle da direção como a velocidade será realizada pelo sistema (guiagem lateral e longitudinal). Nesse artigo a abordagem é limitada à guiagem no modo semi-automático. Para que o sistema de guiagem magnética funcione é necessário que a via seja marcada com identificadores físicos de referência de posição. Diferentemente dos trilhos de trens ou de metrôs esses identificadores não criam barreiras mecânicas na via, pois são feitos de pequenos blocos de ímãs nela enterrados, ou são faixas de pintura rodoviária, dependendo do dispositivo de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 sensoriamento que pode ser magnético ou ótico. Nesse artigo trataremos especificamente do sensoriamento magnético. Considerando inicialmente o veículo em modo manual, seu posicionamento e deslocamento inicial caberão ao motorista, para que o sistema detecte o conjunto inicial de ímãs, permitindo ao computador de bordo calcular a posição lateral e o ângulo do veículo em relação ao eixo longitudinal centralizado em relação à via. Assim, após a leitura e processamento dos primeiros marcadores magnéticos, o sistema avisa o motorista, através de um terminal visual de informação (TVI), que está pronto para guiar o veículo. Então o motorista aciona uma chave de comutação, localizada do lado esquerdo do painel, que passará o controle do sistema de direção para o Piloto Automático. A partir de então o motorista retirará a mão do volante (hands free) preocupando-se somente com o controle de aceleração e frenagem do veículo. O TVI informará ao motorista o estado da guiagem através de barras verticais de sinalização de desvio lateral e de apresentação de mensagens. Em caso de necessidade o sistema sinalizará, através do TVI e de um alarme sonoro, que o motorista deverá reassumir o controle de direção do veículo. O motorista deverá acionar a chave de comutação e retomar o controle total do veículo. O Piloto Automático permite que a manobra de acostamento do ônibus na plataforma de parada seja feita de forma extremamente precisa e repetitiva. Pode-se programar o sistema para que o espaçamento entre as laterais do veículo e a plataforma seja da ordem de centímetros, dependendo das características da carroceria e da plataforma. O acostamento preciso (desvios menores que 1cm) e o nivelamento da altura da plataforma associado à utilização de ônibus de piso baixo (low-floor) permitem que o embarque e o desembarque dos passageiros seja feito de forma ágil e confortável, facilitando, inclusive, o acesso aos portadores de deficiências visual e motora (Decreto Federal No. 5296 de dezembro de 2004: Lei da Acessibilidade aos portadores de deficiência (BRASIL, 2004). A rapidez no embarque e desembarque dos passageiros e o menor tempo necessário para as manobras de acostamento e partida das paradas permitem aumentar significativamente a capacidade operacional de um corredor. Um estudo realizado num dos corredores de São Paulo verificou que o aumento da capacidade operacional, em função da redução do espaçamento lateral na parada (variação de 10cm a 100cm), pode chegar a 30%. 89 Fig. 1 - Ônibus com Piloto Automático trafega em corredor de ônibus de São Paulo. Outro fator que deve ser considerado na utilização do Piloto Automático é a capacidade de seguir uma rota pré-definida com desvios laterais muito pequenos, inferiores a 5cm ao longo do trajeto entre as estações. Isso permite que a largura da pista de rolamento do corredor seja a largura do ônibus (aproximadamente 255cm) mais uma pequena folga em ambos os lados. O estreitamento dos corredores permitiria melhor aproveitamento do viário além de reduções nos custos de desapropriações e pavimentação. Deve-se salientar ainda que o tráfego contínuo em vias estreitas acarreta o acúmulo de estresse no motorista do ônibus. Fig. 2 - Manobra de acostamento na parada do ônibus com Piloto Automático. Fig. 3 - Espaçamento lateral reduzido facilita o embarque e desembarque de passageiros. 90 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 4 - Piloto Automático permite que o ônibus trafegue em corredores estreitos. 3. ARQUITETURA DO SISTEMA ao eixo dianteiro do veículo. Serão descritos a seguir os principais componentes do sistema de guiagem magnética - SGM. Os magnetômetros medem os campos magnéticos nas vizinhanças de seus sensores e disponibilizam os valores lidos aos módulos de entrada analógica do Sistema Computacional. Esses valores são digitalizados e transmitidos, através da rede CAN, para o computador de Guiagem, que calcula o desvio lateral da frente do ônibus com relação aos ímãs que formam a trilha magnética, informação essa usada para controlar a direção do veículo. 3.1 Sistema computacional O sistema embarcado é construído em torno de um sistema computacional distribuído, cujos componentes principais são o Computador de Guiagem, a Rede CAN (Controller Area Network) e os Módulos Periféricos. 3.3 Atuador de direção A inteligência do Sistema Computacional encontra-se concentrada no Computador de Guiagem, que se comunica diretamente com a Leitora de Identificação de Trechos, o Terminal de Manutenção e o Computador de Supervisão. A comunicação do Computador de Guiagem com os demais módulos constituintes do SGM Embarcado é feita através de uma rede de comunicação de dados CAN. Completam o Sistema Computacional diversos módulos periféricos, que cumprem as funções de Entrada / Saída Digital, Entrada Analógica e Contador de pulsos. Estes dispositivos fazem uso da rede CAN para se comunicarem com o Computador de Guiagem. 3.2 Sensoriamento magnético O SGM Embarcado conta com um conjunto de magnetômetros cujos sensores são montados próximo Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Quando em guiagem automática, o SGM atua mecanicamente sobre o eixo da direção do veículo. Essa ação é feita através de um atuador de direção, que se conecta diretamente à Rede CAN, de onde recebe os comandos de esterçamento emanados do computador de guiagem. O motorista comanda a comutação do modo de guiagem lateral para Manual ou Automático através do Acionador Manual / Automático. O estado do acionador é lido por entradas digitais de um módulo periférico de entradas e saídas digitais. Uma saída digital desse mesmo módulo periférico é usada para comandar o atuador através do Acionador Manual / Automático, de forma tal que o atuador é acoplado ao eixo de direção apenas quando o Computador de Guiagem aceita um comando do motorista de colocação em modo Automático. Já o desacoplamento ocorre imediatamente após o motorista comandar a colocação em modo Manual, independentemente da confirmação do Computador de Guiagem. 91 3.4 Identificação de trechos 3.8 Suprimento de energia Outra das funções do SGM é a identificação de trechos que faz uso de etiquetas eletrônicas instaladas na via e de uma antena e leitora de etiquetas instaladas no veículo. Todo o SGM Embarcado recebe alimentação elétrica suprida por um sistema de suprimento de energia próprio. O estado da alimentação elétrica é supervisionado pelo Computador de Guiagem. A identificação de trechos também pode ser feita através da codificação dos ímãs da trilha magnética. 3.9 Cabos de interconexão O SGM faz uso da informação de trecho para requisitar ao controlador de velocidade do veículo a aplicação de limites de velocidade e a aplicação de sobretorque estabelecidos em cada trecho. A interconexão entre os diversos módulos do SGM é feita através de cabos de alimentação e de sinais (blindados). Os conectores são de fabricação especial para suportar as condições operacionais de um ônibus urbano. 3.10 Software de guiagem 3.5 Hodômetro O SGM conta com um hodômetro que gera pulsos elétricos que são lidos por um contador de pulsos, fornecendo diretamente a informação de distância percorrida e, indiretamente, de velocidade do veículo. O hodômetro é instalado no eixo do motor elétrico de tração. 3.6 Sensor de esterçamento O SGM conta ainda com um sensor de esterçamento para medir o ângulo de esterçamento das rodas dianteiras do veículo. O sensor de esterçamento é fixado no braço Pitman a fim de se obter imediatamente a resposta do atuador. Circuitos diferenciais e filtros condicionam o sinal. As funções do SGM são controladas por software. O software do sistema computacional é constituído de Sistema Operacional de Tempo Real, Software de Guiagem e Software do Terminal de Manutenção. As principais funções do software de guiagem são: aquisição de dados de sensoriamento magnético; aquisição de dados de sensores de esterçamento e hodômetro; leitura dos sinais de marcação de trecho (etiquetas eletrônicas ou códigos dos ímãs da trilha magnética); processamento dos sinais de sensoriamento; processamento do algoritmo de guiagem; controle do atuador de direção; comunicação com computador de supervisão. 4. DETECÇÃO DO DESVIO LATERAL 3.7 Painel de indicações O estado do SGM é informado ao motorista através de um Painel de Indicações. O painel, instalado em local de fácil visualização e protegido da incidência direta de luz solar, é constituído de lâmpadas que permitem ao motorista tomar conhecimento do estado operacional do sistema de guiagem. Além de indicações visuais existe também um alarme sonoro que auxilia a percepção do motorista. Os ímãs da trilha magnética são instalados a cada 2m no pavimento da via, rente ao solo. Os magnetômetros, instalados sob o ônibus próximos ao eixo dianteiro passam a uma altura de aproximadamente 30cm. Uma placa de blindagem magnética atenua as interferências do veículo sobre as medições dos magnetômetros. A disposição destes elementos no ônibus é ilustrada na Fig. 6. Fig. 5 - Painel de Informação de Guiagem. Fig. 6 - Instalação dos ímãs e dos magnetômetros. 92 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 O SGM executa 200 amostras por segundo dos cinco magnetômetros. O espaçamento lateral entre as amostras é dado pela distância entre os magnetômetros. O espaçamento longitudinal é dado pela distância percorrida entre amostras. A 54km/h, pouco acima da velocidade máxima de 50km/h do corredor, este espaçamento é de 7.5cm. Em velocidades menores, este espaçamento é menor. Assim, na velocidade máxima de operação, uma grade horizontal de amostras é criada, como ilustrado na Fig. 7, que mostra o percurso dos cinco magnetômetros (mag0 a mag4) ao longo da direção y, que é a direção de movimento do ônibus. Nesta figura, o campo gerado pelo ímã é mostrado como linhas de nível circulares, mostrando o campo constante ao redor do ponto em que o ímã está instalado. A região máxima de influência do ímã é da ordem de 0.44m ao redor de seu ponto de instalação. medição; µ0 a constante de permeabilidade magnética (1.26 x 10-6 ou 4π x 10-7 H/m) e M é o momento de dipolo magnético (A.m2). A Fig. 8 mostra o perfil de campo visto por três magnetômetros com diferentes desvios laterais em relação ao ímã. Ao campo do ímã, mostrado nas Figs. 7 e 8, somase o campo terrestre ambiente que, dependendo do local da operação, pode ser aproximadamente constante ou extremamente variável. O SGM foi testado em diversas condições de interferência magnética em São José dos Campos e no Corredor Expresso Tiradentes em São Paulo. Fig. 8 - Perfil de campo para 3 deslocamentos laterais. Fig. 7 - Grade de medição do campo magnético e região de influência do ímã. Na pista de testes do campus da Univap em São José dos Campos, operou-se sobre pavimento composto por bloquetes intertravados e sem ferragem. O campo ambiente, mostrado na Fig. 9, mostrou-se extremamente constante. O campo mostrado na Fig. 7 é o campo teórico, calculado a partir da equação (1) abaixo, que pode ser encontrada em Dennison (2008). Por medida de conveniência, os valores de campo magnético foram normalizados em relação ao ímã padrão usado no projeto. Bz = k * (3 * cos 2 θ − 1) / l 3 (1) Fig. 9 - Campo ambiente na pista de São José dos Campos. onde k = µ 0 * M /(4 * π ) (2) Nas equações (1) e (2), Bz é o campo magnético no ponto de medição, na direção do eixo do ímã, em Gauss; θ é o ângulo entre o eixo do ímã e a reta que liga o ímã ao ponto de medição; l a distância entre o ímã e o ponto de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 No Corredor Expresso Tiradentes operou-se em duas condições de pavimento e interferência distintas. No primeiro trecho, com pavimento composto por concreto com ferragem embutida, o campo ambiente medido apresentou interferências conforme mostrado na Fig. 10. Nesse caso observam-se variações importantes, com interferências de 10% a 30%, sendo em alguns pontos comparáveis ao campo gerado pelos ímãs. 93 No segundo trecho, com pavimento composto por placas de concreto armado com ferragem embutida, instalado sobre vigas “I” de aço apoiadas por colunas de concreto armado, o campo ambiente apresentou interferências significativas como é mostrado na Fig. 11. Neste caso, as variações são extremas, sendo em grande parte dos pontos, comparáveis ou superiores ao campo gerado pelos ímãs instalados na pista. Fig. 10 - Campo ambiente do corredor, trecho 1. Para a operação correta do SGM, foram selecionados dois tipos de ímãs: o tipo 1 a ser utilizado em locais de baixa interferência; o tipo 2, de maior intensidade, a ser utilizado em locais de alta interferência A Fig. 12 mostra um trecho da trilha de ímãs instalada na pista sem ferragens. A Fig. 13 mostra a leitura do mesmo trecho da Fig. 10 após a instalação da trilha de ímãs. A Fig. 14 mostra as simulações de ímãs do tipo 2 instalados no trecho registrado na Fig. 11. Fig. 11 - Campo ambiente no corredor, trecho 2. O processamento dos dados da grade de amostras, tratado em detalhes em trabalho anterior, é feito em duas etapas: processamento longitudinal e processamento lateral. 4.1 Processamento longitudinal Fig. 12 - Campo com imãs instalados no trecho da Fig. 9. Nesta etapa, o SGM busca identificar a passagem por um ímã. A identificação do ímã é feita comparando o perfil lido pelos magnetômetros com o perfil teórico esperado através de uma ferramenta matemática de correlação que produz um valor alto quando o perfil amostrado é semelhante ao perfil esperado e ambos estão na mesma posição, o que elimina grande parte das variações observadas nas Figs. 10 e 11. Uma segunda filtragem, feita a partir da distância conhecida entre ímãs, elimina os picos do campo que passaram pela correlação, isto é, os que se parecem com ímãs. 4.2 Processamento lateral Fig. 13 - Campo com imãs instalados no corredor, no trecho da Fig. 10. Uma vez determinada a posição do pico de campo gerado por um ímã, as leituras dos magnetômetros nesta posição são usadas para compor um perfil lateral do campo. A correlação é então novamente usada para determinar qual deslocamento lateral, em relação ao magnetômetro central, produz o máximo resultado. Este deslocamento da máxima correlação é o desvio lateral. 5. CONTROLE Do ponto de vista do controle, o ônibus com o SGM pode ser descrito a partir do diagrama de blocos da Fig. 15 e seus elementos são descritos a seguir. Fig. 14 - Simulação do campo com os ímãs no corredor, no trecho da Fig. 11. 94 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 5.1 A planta Como a operação do ônibus ocorre com acelerações laterais baixas, um modelo geométrico pode ser usado para representá-lo. A Fig. 16 mostra seus elementos principais. Fig. 15 - Diagrama em blocos do sistema do ponto de vista do Controle. ral x) a partir do esterçamento α imposto ao volante bem como o esterçamento a ser executado para produzir uma variação desejada no desvio lateral. 5.2 Os sensores Há três sensores disponíveis no SGM, que medem o desvio lateral x, a distância percorrida y e o esterçamento α. Além deles, o conhecimento prévio da trilha funciona como um sensor de curvatura ρ. O desvio lateral é medido a partir do processamento dos sinais dos magnetômetros. A distância percorrida é medida através de um encoder instalado no eixo de tração e um contador de pulsos. O esterçamento é o efetivamente assumido pelas rodas, a partir de um sensor instalado no braço Pitman, que liga a caixa hidráulica aos pneus. Como não é possível um ajuste mecânico perfeito e sem folgas do esterçamento zero (que faz o ônibus andar reto à frente), apenas as variações no esterçamento informado pelo sensor são usadas pelo controle. A curvatura é obtida pelo sistema a partir do conhecimento prévio do caminho a ser percorrido e de codificações inseridas na alteração da polaridade dos ímãs na trilha. 5.3 O atuador Fig. 16 - Elementos do Modelo Geométrico da Planta. Na Fig. 16, a Trilha é a referência para a medição do movimento; x é a distância lateral medida da trilha até o veículo, na direção perpendicular ao corpo do veículo, que é o valor medido pelos sensores (magnetômetros); de é a distância entre o eixo dianteiro e o traseiro; Ψé o ângulo horizontal entre o corpo do veículo e a trilha; α é o esterçamento do pneu dianteiro, que é o ângulo entre o corpo do ônibus e a direção para onde o pneu dianteiro está apontado; e ρ é a curvatura da trilha, dada pelo inverso do raio da circunferência tangente àquele local. Uma reta tem ρ = 0, ou seja, sua curvatura é zero. Considerando as hipóteses auxiliares de ângulos pequenos dadas por α < 6º e Ψ < 8º, as equações de movimento do modelo geométrico podem ser escritas em sua forma linear, dadas abaixo: É composto por um servo-motor conectado à barra de direção do ônibus (que liga o volante à caixa hidráulica), capaz de posicioná-la no ângulo comandado pelo controle. O conjunto do atuador mais a caixa hidráulica do ônibus apresenta um atraso na execução do comando de esterçamento, dado por: Tat = Tini + ∆α/ω (4) onde Tat é o tempo de atraso, Tini o tempo para o início do movimento do esterçamento após o comando, ∆α o esterçamento comandado e ω a velocidade angular da execução do comando. O atraso tem implicações importantes na estabilidade do sistema, uma vez que ele tem valor próximo ao tempo gasto pelo ônibus para percorrer a distância entre dois ímãs nas velocidades da operação urbana. 5.4 O controlador A lei de controle usada no SGM é deduzida a partir de (3) como o valor de α que anula o desvio lateral atual, x, em uma certa distância à frente, chamada ∆yc. (3) (5) Com as equações (3) é possível determinar o comportamento do ônibus (isto é, a evolução do desvio lateRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 onde x, α e ρ são as grandezas lidas a partir dos sensores e Ψé um valor estimado, através de um filtro de Kalman, 95 a partir das equações (3) e das medidas de x, y, α e ρ, na forma descrita em Welch e Bishop (2006). Uma vez que o sistema (3) é composto por 2 equações e 5 variáveis, as 4 medidas são suficientes para calcular o estado do ônibus e determinar Ψ. Os valores de Kx, Ki, KΨ e Kρ na lei de controle (5) são constantes que dependem de um parâmetro ∆yc que pode ser ajustado para sintonizar a operação do controlador. Valores muito grandes de ∆yc tornam a resposta do controlador mais lenta e tendem a produzir desvios laterais maiores. Por outro lado, valores muito pequenos de ∆yc tendem a produzir instabilidade no sistema, porque o próximo comando tende a acontecer antes do pneu ter terminado o posicionamento determinado pelo comando anterior. Assim, o valor escolhido para ∆yc é o menor que garanta uma operação estável do sistema. 5.5 Estabilidade A análise de estabilidade é feita usando o Espaço de Estados, descrito em Ogata (1985). Para isso, os modelos do ônibus e do controle são escritos em forma de equações de diferenças e traduzidos em uma equação matricial do tipo [Xk+1] = [G]*[Xk], onde [Xk] é o vetor estado do sistema em malha fechada no ímã k. Os autovalores de [G] têm duas propriedades de interesse para esta análise: 1) a estabilidade do sistema é garantida se os autovalores de [G] têm módulo menor que 1 e 2) os autovalores de [G] são os polos da resposta do sistema e a análise do módulo e ângulo de sua forma polar permite calcular o tempo de atenuação em termos do período de oscilação. Isto permite estabelecer uma segunda condição para a estabilidade do sistema, que deve atenuar suas oscilações em um tempo menor que o período de oscilação. Dado um autovalor complexo na forma polar , o período de atenuação a 10% do valor inicial Tat e o período de oscilação Tosc são calculados como: ção de qual é o esterçamento médio executado entre estes dois pontos. Como as mudanças de esterçamento são comandadas a partir da passagem pelos ímãs e o atuador apresenta um atraso na execução, o esterçamento médio entre dois ímãs é uma média ponderada entre o esterçamento antes do primeiro ímã e o novo esterçamento comandado a partir dele. Os pesos desta média são calculados a partir da velocidade e do atraso do atuador. Dependendo da velocidade, os comandos de esterçamento podem demorar mais que a chegada do próximo ímã para serem executados. Assim, a análise de estabilidade definiu duas situações: operação em velocidades baixas, abaixo de um limiar Vc, em que a execução do comando de esterçamento a partir do ímã k acontece entre os ímãs k e k+1 e velocidades altas, acima do limiar Vc, onde a execução do comando de esterçamento a partir do ímã k acontece entre os ímãs k+1 e k+2. Estas duas situações cobrem toda a faixa de operação prevista para o veículo. O valor de Vc é calculado a partir do atraso do atuador e da distância entre ímãs. Assim, a análise de estabilidade resulta no cálculo de ∆yc,min e ∆yc,otimo para a faixa de velocidades de interesse, observando o limiar Vc. A Fig. 17 mostra os resultados destes cálculos. Os limites da estabilidade foram testados em uma situação práticas: fixando o valor ∆yc=6m e aumentando continuamente a velocidade do ônibus em modo automático (guiado pelo SGM), o sistema operou de forma suave em velocidades baixas e apresentou tendências a oscilações laterais a partir de 50km/ h. Analisando pela Fig. 17, ∆yc=6m atende ambos os requisitos de estabilidade até V≈ 35km/h. Com V=50km/h ∆yc=6m já está bem abaixo de ∆yc,otimo e está quase ultrapassando o limiar de ∆yc,min. (6) (7) Com isso, dois valores de ∆yc são gerados a partir das condições de estabilidade: ∆yc,min representa o mínimo valor que não gera autovalores com módulo maior ou igual a 1. ∆yc,otimo representa o mínimo valor que garante todas oscilações atenuadas no primeiro período. A matriz [G] define o comportamento do ônibus ao viajar de um ímã para outro, o que demanda a defini- 96 Fig. 17 - Curvas de estabilidade do ônibus controlado. 6. SEGURANÇA A análise de segurança do SGM foi feita com base na norma IEC-61508, empregada para definição e alocação dos requisitos de segurança de um sistema de guiagem magnética de ônibus urbanos, incluindo as atividades de concepção e projeto específicas do ciclo de vida de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 segurança, envolvendo as etapas Conceito de Segurança, Escopo da Segurança, Análise de Perigos e Riscos, Requisitos Globais de Segurança e Alocação de Requisitos de Segurança. Destacam-se na metodologia adotada a aplicação do princípio da Controlabilidade para determinação dos riscos do sistema, e o papel relevante exercido pela técnica FTA (Fault Tree Analysis). A norma IEC 61508 adota uma abordagem baseada em risco para a determinação dos níveis de integridade de segurança requeridos para as funções de segurança de um sistema. Ela orienta como proceder para reduzir os riscos associados ao sistema abaixo de um risco tolerável, definido genericamente como o risco aceito em um determinado contexto tomando-se por base os valores correntes da sociedade (Carneiro et al., 2008). Foge ao escopo da norma, no entanto, a especificação do risco aceitável para cada um dos setores de aplicação (setor automotivo, no caso presente), tarefa atribuída aos comitês técnicos responsáveis por cada um desses setores. No caso do SGM, a determinação do risco tolerável foi feita pela aplicação do conceito de Controlabilidade, especificamente desenvolvido para o setor automobilístico pelo projeto DRIVE Safely e posteriormente adaptado e aprimorado por uma série de trabalhos, permitindo associação entre as categorias de controlabilidade e os níveis de integridade de segurança SIL, conforme definidos na norma IEC 61508, a que os riscos devem ser reduzidos. Similar, ainda que não idêntica, à classificação dos perigos associados a aeronaves, a Controlabilidade tem as características necessárias para o setor automotivo: independência das condições de tráfego, leva em conta a possibilidade de reação do motorista à ocorrência do perigo e é independente do número de unidades em circulação. As cinco categorias de controlabilidade são dadas a seguir: Categoria 4: Incontrolável - Relaciona-se a falhas cujos efeitos não são controláveis pelos ocupantes do veículo e que podem levar, muito provavelmente, a resultados extremamente graves. O resultado não pode ser influenciado pela ação humana. Categoria 3: Difícil de Controlar - Relaciona-se a falhas cujos efeitos não são normalmente controláveis pelos ocupantes do veículo mas que poderiam, sob circunstâncias favoráveis, ser influenciados por uma ação humana madura. Levarão, muito provavelmente, a resultados muito graves. Categoria 2: Debilitante – Relaciona-se a falhas cujos efeitos são usualmente controláveis por uma ação humana sensata e, apesar de haver uma redução na margem de segurança, esperam-se normalmente resultados que são, no pior caso, graves. Categoria 1: Distração - Relaciona-se a falhas que produzem limitações operacionais, mas uma ação humana normal limitará o resultado a, no pior caso, prejuízos menores. Categoria 0: Perturbação Somente - Relacionase a falhas onde a segurança não é afetada, e onde a satisfação dos usuários é a consideração principal. A Tabela 1 apresenta a associação entre as categorias de Controlabilidade e os correspondentes níveis de integridade de segurança correspondentes ao risco tolerável, conforme definidos na norma IEC 61508. Na coluna central são apresentadas as faixas de probabilidade de ocorrência de falhas inseguras associadas aos SIL correspondentes, conforme a norma IEC 61508. Tabela 1 - Controlabilidade e SIL O ciclo de vida do projeto do SGM é representado na Fig. 18, onde são destacadas, no retângulo inferior, as atividades específicas do ciclo de vida de segurança. Uma vez definidos o Plano, o Conceito e o Escopo de Segurança, a análise de perigos e riscos determinou os perigos relacionados ao SGM, as sequências de eventos que podem levar a eles e os riscos a eles associados. A determinação dos perigos associados ao SGM foi feita através de uma série de reuniões com a participação de especialistas de diversas áreas, as quais levaram à conclusão de que os perigos relevantes para a segurança funcional do SGM são aqueles, provocados pelo SGM ou por ele exacerbados, que podem levar aos seguintes eventos perigosos: choque do veículo com outros veículos, com laterais da pista de rolamento, com equipamentos urbanos ou outros objetos; atropelamento de pedestres; tombamento do veículo. A síntese das causas básicas desses eventos leva à identificação de três perigos: - Saída da Faixa – o SGM, quando, no modo Auto, leva o ônibus a sair de sua faixa de rolamento. - Impede Manual – o SGM, quando, no modo Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 97 Auto, impede ou dificulta que o motorista assuma o controle da direção. - Interferência - o SGM, quando, não no modo Auto, interfere sobre o sistema de direção do veículo, dificultando a ação do motorista. A análise destes perigos e suas implicações para o sistema levou à definição das Funções de Segurança, listadas na Tabela 2, cuja implementação garante que as fontes dos perigos permaneçam dentro da faixa de Controlabilidade desejada. segurança, o passo seguinte foi o de alocação desses requisitos a componentes de hardware e software. Para cada função de segurança foi estabelecido um diagrama de contexto que foi, em seguida, submetido a decomposição funcional, sendo evidenciados módulos de hardware e software que, em conjunto, pudessem implementá-la. Este processo levou à especificação dos requisitos de segurança a serem levados em conta pela arquitetura e pelo projeto detalhado do sistema, entre os quais destacam-se a especificação de acréscimos e alterações de hardware, a especificação de funções implementadas por software e a identificação da necessidade de medidas para aumento da imunidade contra EMI. Uma vez estabelecido um conjunto de funções de Fig. 18 - Ciclo de vida do projeto incluindo atividades de segurança. Tabela 2 - Funções de segurança 98 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 6.1 Acréscimos ou alterações de hardware Função 2 - Software de detecção de alteração do perfil magnético, com SIL 3. Aqueles definidos pela análise de segurança foFunção 3 - Software central AUTO OK, com SIL 3. ram: Medida 1 - Contactor, comandado por software, permitindo cortar a alimentação do servomotor. Deve ser comandado por módulo remoto de E/S distinto do que comanda o acoplamento da embreagem. Medida 2 - Tomar medidas adicionais contra curtos-circuitos entre condutores ou entre blocos terminais nos circuitos de comando da embreagem e de corte de alimentação do servomotor. Medida 3 - Duplicação do hodômetro e do contador de pulsos, sendo desnecessário o uso de módulos remotos de E/S distintos. Medida 4 - Redundância de magnetômetros, usando 5 magnetômetros ao invés de 3, que é o mínimo para a detecção da trilha. Medida 5 - Módulo Controlador AUTO OK, com SIL 2. O estado seguro correspondente a indicador AUTO OK apagado. Medida 6 - Batentes mecânicos ou fins de curso. Medida opcional, e apenas para grandes raios de curvatura. Além de apontar a necessidade das medidas listadas acima, o trabalho desenvolvido durante essa etapa mostrou ser desnecessária, ao contrário do que se imaginava até então, a redundância do computador que hospeda as funções de segurança implementadas por software. Isso permitiu, no projeto de arquitetura, alocar as funções vitais do sistema a um computador chamado de Computador Vital e as funções não vitais a um outro computador, chamado de Computador Não Vital. Uma das vantagens dessa separação é a diminuição da complexidade do software que deve ser desenvolvido com SIL 3. Além disso, ganhou-se flexibilidade no desenvolvimento do software do computador não vital, passando a ser possível o uso de ferramentas mais poderosas e o oferecimento de recursos mais sofisticados aos usuários do sistema. Função 4 - Software limitador de taxa de variação e de amplitude do ângulo de esterçamento, com SIL 2. Função 5 - Software de detecção de comando invariável, com SIL 2. Função 6 - Software de controle (protegido contra comando brusco), com SIL 1. Função 7 - Software de verificação do ângulo das rodas, com SIL 1. Função 8 - Software de supervisão do servomotor, com SIL 1. Função 9 - Software de detecção de desvio maior que o projetado, com SIL 1. Função 10 - Software de detecção de comando errático, com SIL 1. Função 11 - Software de detecção de falha de leitura do campo magnético, com SIL 1. 6.3 Medidas contra EMI Aquelas definidas pela análise de segurança foram: Medida 1 - Interface com sensor de esterçamento. Medida 2 - Saídas dos hodômetros. Deve impedir também interferências de causas comuns sobre ambos hodômetros. Medida 3 - Sinais analógicos envolvidos na medição do campo magnético. Medida 4 - Interferência cruzada entre os sinais analógicos envolvidos na medição do campo magnético, inclusive curtos-circuitos. 7. DESEMPENHO DO SISTEMA 6.2 Funções implementadas por software As funções definidas pela análise de segurança foram: Função 1 - Software de identificação de posição com relação à trilha, com SIL 3. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 O desempenho do SGM é verificado rotineiramente através de operações reais na pista e de simulações em laboratório. Durante as operações reais na pista o SGM registra todas as amostras coletadas dos sensores, bem como as medidas de desvio lateral e outros dados de desempenho, o que permite uma avaliação posterior precisa de seu comportamento. 99 As Figs. 19, 20 e 21 são exemplos de dados registrados pelo SGM durante uma operação de guiagem automática na trilha implantada no Corredor Expresso Tiradentes. A Fig. 19 mostra que o SGM consegue manter o ônibus sobre a trilha magnética com um desvio máximo de 5cm para cada lado, sendo que na maior parte do tempo este desvio é inferior a 2.5cm. A Fig. 20 mostra o perfil de velocidade aplicado durante a viagem. A redução aproximadamente no meio do caminho ocorreu para a passagem por uma estação (a parada Pedro II). A Fig. 21 mostra a curvatura da trilha ao longo do trajeto. Os raios correspondentes estão anotados próximos aos picos de curvatura. mulador usa os mesmos módulos de software que o SGM real para o filtro de Kalman e o controle, de forma que o desempenho no simulador pode ser testado sem alterar estes módulos. A Fig. 22 mostra a curva de desvio lateral obtida quando o controle do SGM é usado no simulador. Esta curva apresenta as mesmas características de desvio máximo e variação ponto a ponto que as verificadas no sistema real, registradas na Fig. 19, o que mostra que o simulador é um elemento importante para a avaliação do desempenho do SGM. Fig. 21 - Curvatura da trilha no mesmo teste da Fig. 19. Fig. 19 - Desvio lateral em guiagem automática no Corredor Expresso Tiradentes. Fig. 22 - Simulação da guiagem na trilha do Corredor Expresso Tiradentes. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Fig. 20 - Velocidade no mesmo teste da Fig. 19. A fim de estudar em detalhes o desempenho do SGM e ajustar seu controlador antes de levá-lo a campo, um simulador do ônibus foi desenvolvido para uso em laboratório. Ele usa um modelo não linear do veículo e introduz elementos do sistema real como folga na direção, atraso no comando de esterçamento, ruído na leitura do desvio lateral, ajuste da velocidade do ônibus e programação da trilha a ser percorrida. Além disso, o si- 100 Durante os ensaios de validação do sistema foram observadas as reações e as interações dos motoristas com relação ao Piloto Automático. Cerca de uma dezena de motoristas profissionais testaram o sistema no corredor expresso de São Paulo. Após uma explicação do funcionamento do sistema, os motoristas conduziam o veículo, inicialmente no modo manual, e depois comutavam para o modo de guiagem automática. O receio de retirar as mão do volante e deixar que um computador assumisse o controle da direção era nítido no início, principalmente nas passagens por paradas (distância lateral de alguns cm) e nas curvas. Entretanto, após os primeiros minutos criava-se um clima de confiança entre o motorista, agora no papel de supervisor, e o sistema de Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 guiagem automática. O ciclo de desenvolvimento do ônibus com sistema de guiagem magnética atingiu um marco significativo com o início da fase de certificação em um corredor expresso de São Paulo. Para o desenvolvimento de um novo produto como o SGM foi necessário o envolvimento de profissionais experientes em diversas áreas de conhecimento, incluindo especialistas em magnetismo, dinâmica veicular, controle, software de tempo real, confiabilidade e segurança entre outros. Também foi essencial a aplicação de práticas de engenharia de sistemas para a integração dos componentes do SGM e a integração do SGM com o veículo Do ponto de vista de produto o SGM será constituído de um kit de componentes mecânicos e eletrônicos que poderão ser instalados em qualquer tipo de chassis e carrocerias de ônibus do mercado, incluindo os articulados e bi-articulados, com eventuais adaptações mecânicas para a fixação dos suportes dos equipamentos e sensores. O computador embarcado permite ajuste de configuração para que parâmetros mecânicos do veículo sejam inseridos para sintonia da guiagem. Por fim, esforços de engenharia estão sendo feitos para que o custo do SGM seja uma pequena fração do preço do veículo. 9. REFERÊNCIAS SHILADOVER, S. E. et al. Lane Assist Systems for Bus Rapid Transit, Volume I : Technology Assessment, California PATH Rearch Report, University of California at Berkeley, November 2007. ZHANG, W. et al. Lane Assist Systems for Bus Rapid Transit, Volume II : Needs and Requirements, California PATH Rearch Report, University of California at Berkeley, November 2007. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 CHAN, C.Y. A System Review of Magnetic Sensing System for Ground Vehicle Control and Guidance. California Path Program, Berkeley, 2002. CHAN, C.Y.; TAN, H.S. Evaluation of Magnetic Markers as a Position Reference System for Ground Vehicle Guidance and Control. California Path Program, Berkeley, 2003. TAN, H.S.; BOUGLER, B. Experimental Studies on High Speed Vehicle Steering Control with Magnetic Marker Referencing System. California Path Program, Berkeley, 2000. GULDNER, J.; TAN, H.S.; PATWARDHAN, S. On Fundamental Issues of Vehicle Steering Control for Highway Automation. California Path Program, Berkeley, 1997. BRASIL. Decreto No. 5296, de 2 de dezembro de 2004. Normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. DENNISON, E. Magnet Formulas web site. Disponível em http://www.netdenizen.com/emagnet/offaxis/ mmoffaxis.htm. Acesso em 30 jun. 2008. WELCH, G; BISHOP, G. An Introduction to the Kalman Filter. Department of Computer Science – University of North Carolina at Chapel Hill, 2006. OGATA, K. Engenharia de Controle Moderno. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1985. CARNEIRO, C. C. G. et al. Automatic Steering and Functional Safety – and Application of IEC 61508. 14º Congresso SAE Brasil. Disponível em http:// www.sae.org/ technical/papers/2005-01-4175. Acesso em: 27 jun. 2008. 101 Mercado Brasileiro de Glicerina: uma análise a partir da inserção do biodiesel na matriz energética nacional Márcia França Ribeiro Fernandes dos Santos * Suzana Borschiver ** Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar e analisar informações sobre comércio brasileiro da glicerina, subproduto da produção de biodiesel. A metodologia consistiu em uma revisão bibliográfica complementada por pesquisa documental. A revisão bibliográfica abrangeu aspectos sobre informações gerais sobre a glicerina e suas principais aplicações, bem como identificar as principais rotas tecnológicas para a sua produção. Na pesquisa documental foi feito um levantamento de dados com base no banco de dados do Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (ALICE), acessado via web, a partir do código da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) obtido na Tarifa Externa Comum (TEC) disponibilizada no site do portal do exportador. A pesquisa revelou que a produção de glicerina no Brasil teve um aumento expressivo em função da inserção do biodiesel na matriz energética brasileira em conformidade com a Lei 11.097/2005. Palavras-chave: Biodiesel, glicerina, Brasil, comércio. Abstract: This article aims to present and analyze information on the Brazilian trade in glyccerin, a by-product of biodiesel. The methodology consisted of a literature review complemented by documentary research. The literature review covered aspects of general information about the glycerin and its main applications, and identify the main technological routes for its production. The documentary research was a survey based on data from the database of the Information Analysis System of Foreign Trade (IASFT), accessed via web, from the code of the Mercosur Common Nomenclature (MCN) obtained in the Common External Tariff (CET) available on the portal site of the exporter. The research showed that production of glycerol in Brazil has significantly increased due to the inclusion of biodiesel in the Brazilian energy matrix in accordance with the Law 11097/2005. Key words: Biodiesel, glycerin, Brazil, trade. 1. INTRODUÇÃO A química tem uma grande participação nos dias atuais com os inúmeros produtos fundamentais à humanidade, estando presente desde diversos combustíveis até os mais complexos medicamentos. Entretanto, a indústria química também gera inúmeros inconvenientes, como a formação de subprodutos tóxicos e a contaminação do ambiente e do próprio homem expostos a estes contaminantes (NOGUEIRA, 2007). A preocupação com estes inconvenientes pode ser claramente observada, pois, nos últimos anos, cresce continuamente a pressão sobre as indústrias químicas, tanto através da sociedade civil, como das autoridades * IBGE, Doutoranda em Engenharia Química/UFRJ. E-mail: [email protected] ** Orientadora e Professora da UFRJ/Escola de Química. E-mail: [email protected]. 102 governamentais, no sentido de aprimorar o desenvolvimento de processos, que sejam cada vez menos prejudiciais ao meio ambiente. (PRADO, 2003) Dentro da problemática industrial vigente, um dos principais problemas que se destaca é o grande volume de efluentes tóxicos produzidos por vários processos químicos. A implementação de tecnologias limpas em atividades industriais é sem dúvida um grande desafio para a indústria química mundial. Existem diversos estudos que abordam o problema e sugerem soluções para tornarem mais “verde” técnicas clássicas de produção, levando o setor industrial em direção a uma química sustentável. Sob o aspecto econômico, o aumento nos preços do petróleo fundamentado em especulações em torno das instabilidades políticas nas principais regiões produtoras do mundo também funciona como força motriz para busca de fontes alternativas de energia, na medida que estas podem se tornar mais competitivas. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 O Brasil tem vantagens comparativas significativas para a química verde, tanto em relação às suas possibilidades de produção agrícola, seja na área dos amiláceos, dos açúcares dos óleos vegetais ou mesmo da celulose e afins como também em termos de utilização de fontes renováveis de energia, que respondem por cerca de 41% de participação na OIE (Oferta Interna de Energia) enquanto a média mundial é de 14% e, de apenas 6% nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). (BORSCHIVER, 2006) 2. GLICERINA Entre as diversas alternativas de energias renováveis pode-se destacar o etanol e o biodiesel. Em relação ao biodiesel, sabe-se que o tema, que teve seu apogeu no começo dos anos oitenta, quando da elevação dos preços do petróleo pelo cartel dos países exportadores, torna a despertar o interesse das autoridades e pesquisadores. O Brasil se insere mundialmente na produção do biodiesel a partir da Lei 11.097/2005, ratificando a importância dos óleos vegetais como uma fonte renovável de energia, ambientalmente correta e que pode contribuir para redução do efeito estufa. Quando pura, a glicerina se apresenta na forma de um líquido viscoso transparente, incolor, inodoro, com gosto adocicado, sendo completamente miscível com a água e álcoois. Devido às suas propriedades em absorver água, a glicerina pode atuar como um hidratante e umectante em formulações de produtos cosméticos. Tal substância mantém a pele hidratada e protege contra o ressecamento. Alem disso, na produção de biodiesel a partir de qualquer triglicerídeo, há geração de aproximadamente 10 % de glicerina, como subproduto. O acréscimo da disponibilidade de glicerina no mercado brasileiro, com a implantação do B2 (mistura de 2% de biodiesel ao diesel), deverá ser da ordem de 60 a 80 mil toneladas por ano e com a introdução do B5 (mistura constituída de 5% de biodiesel ao diesel) em 2013, a previsão é que esta produção aumente para 150 mil toneladas por ano. Estes grandes volumes de glicerina previstos (subprodutos) só poderão ter mercado a preços muito inferiores aos atuais, afetando todo mercado de óleos-químicos (BORSCHIVER, 2006). Este artigo está dividido em três partes: a primeira apresenta informações gerais sobre a glicerina, suas principais aplicações e ilustra as principais rotas tecnológicas para sua produção; a segunda explica detalhadamente a metodologia utilizada para o levantamento de informações sobre o comércio brasileiro da glicerina; e a última mostra os principais resultados obtidos, buscando analisá-los dentro do contexto da produção nacional do biodiesel antes e depois de sua inserção na matriz energética nacional. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 O glicerol, também conhecido como glicerina ou 1,2,3-propanotriol, pode ser encontrado em todas as gorduras e óleo e é um intermediário importante no metabolismo dos seres vivos. O termo glicerol aplica-se geralmente ao composto puro, ou seja, ao 1,2,3-propanotriol, enquanto o termo glicerina aplica-se aos produtos comerciais que contenham 95% ou mais de glicerol na sua composição (BENAZZI, 2005). A glicerina pode ser vendida na sua forma bruta (glicerina natural), sem qualquer purificação ou purificação. São comercializados dois tipos de glicerina natural. O primeiro impõe uma especificação de 80% de glicerol, enquanto o segundo impõe como especificação 88 a 91% de glicerol. Quanto à glicerina purificada é classificada em glicerina técnica (99,5% de glicerol) ou glicerina farmacêutica (86 ou 99,5% de glicerol) (FELIZARDO et al, 2003 apud BENAZZI, 2005). 2.1 Aplicação Devido à combinação de suas propriedades físico-químicas, a glicerina apresenta uma ampla gama de utilizações. O fato de não ser tóxica, incolor e inodora, propriedades apreciadas pela indústria. Adicionalmente, a glicerina pode ser utilizada como amaciante em pães e a sua alta viscosidade permite a sua utilização em xaropes (ULLMANNS, 1992 apud BENAZZI, 2005). A glicerina é utilizada como lubrificante em equipamentos e/ou materiais na indústria têxtil, alimentar, farmacêutica e cosmética. Além disso, pode ser utilizada na produção de ésteres, poligliceróis e clorohidrinas. A Tabela 1 apresenta um detalhamento de alguns setores das as aplicações mais importantes da glicerina. 103 Tabela 1 – Setores e aplicações para o glicerol Fonte: Elaboração própria a partir de NOGUEIRA (2007). Além das utilizações atuais, existem estudos para encontrar novas aplicações e novos mercados para a glicerina, que tornariam ainda mais interessante a produção do biodiesel, considerando que a obtenção de um litro de biodiesel gera aproximadamente 300 ml de glicerina bruta, que vem misturada a água, ácidos graxos e sabão. Apenas após ser purificada a glicerina, pode ser utilizada na Indústria Química, farmacêutica, de cosméticos e alimentícia; no entanto, a tecnologia necessária para a extração das impurezas presentes na glicerina apresenta um custo elevado e é dominada por apenas algumas empresas no caso brasileiro (INSTITUTO CIÊNCIA HOJE, 2007). 2.2 Rotas Tecnológicas A Fig. 1 ilustra as principais rotas de obtenção da glicerina. Como o presente estudo enfatiza a produção da glicerina como subproduto da produção do biodiesel. Fontes de Glicerina Fig. 1 - Rotas de Obtenção da Glicerina. Fonte: NOGUEIRA, 2007. O processo de obtenção de biodiesel mais difundido no mundo e no Brasil é a transesterificação que envolve a reação química de triglicerídeos (óleos e gorduras vegetais ou animais) com álcoois (metanol ou etanol), catalisada por um ácido, base ou enzima, gerando o biodiesel e o sub-produto glicerol (PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2006). 104 A Fig. 2 apresenta as etapas do processo para a obtenção de biodiesel por meio da reação de transesterificação, ressaltando a geração de um subproduto principal, a glicerina, que encontra diversas aplicações na indústria química após a sua destilação (PLÁ, 2002 apud RATHMANN et al. 2006). Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 2 - Obtenção de biodiesel por meio da reação de transesterificação. Fonte: PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2006. Cabe destacar que a glicerina bruta, obtida da produção do biodiesel, já é um produto comercializável apesar da presença de impurezas. Entretanto, é preferível submetê-la a um processo de purificação de modo aumentar seu valor agregado. A purificação da glicerina é feita por meio da destilação a vácuo, resultando um produto límpido e transparente, chamado comercialmente de Glicerina Destilada. O produto desta destilação é chamado de resíduo glicérico e corresponde a uma faixa entre 10 a 15% do peso da glicerina bruta. 3. METODOLOGIA Foi utilizado como fonte de dados o banco de informações do Sistema de Análise de Informações de Comércio Exterior denominado ALICE, acessado via web. O Sistema ALICE, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), foi desenvolvido visando modernizar as formas de acesso e a sistemática de disseminação dos dados estatísticos das exportações e importações brasileiras (ALICE WEB, 2008). O ALICE WEB é atualizado mensalmente, quando da divulgação da balança comercial, e tem por base os dados obtidos a partir do SISCOMEX, sistema que administra o comércio exterior brasileiro. O acesso ao ALICE WEB é gratuito e a consulta é feita com base nos oito dígitos da NCM e que foi obtido na TEC disponibilizada no site do portal do exportador (PORTAL DO EXPORTADOR, 2008). A Tabela 2 ilustra os códigos de NCM referentes à glicerina. Tabela 2 - Códigos NCM referentes à glicerina No Sistema ALICE estão disponíveis para consulta as seguintes informações, tanto para a exportação quanto para a importação: (i) mercadoria; (ii) país; (iii) Bloco Econômico; (iv) Unidade da Federação (Estados e Distrito Federal); (v) Via de transporte; e (vi) Porto. Considerando que este sistema só permite o uso de dois Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 parâmetros de consulta, no presente estudo foram utilizados a mercadoria e o país. 3.1 Mercadoria Refere-se a todo produto objeto de uma exporta105 ção ou importação. Para efeito de classificação de mercadorias, o Brasil passou a utilizar, desde 1996, a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), utilizada igualmente pelos demais países partícipes do bloco (Argentina, Paraguai e Uruguai), baseado no Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH). primeiros formados pelo Sistema Harmonizado (capítulo, posição e subposição), e os dois últimos (item e subitem), criados de acordo com a definição estabelecida entre os países do Mercosul. A classificação das mercadorias na NCM rege-se pelas Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado. A Fig. 3 ilustra a estrutura do código NCM. A NCM é composta de oito dígitos, sendo os seis Fig. 3 - Estrutura do NCM. Fonte: ALICE WEB, 2008. 3.2 País O Sistema permite que a consulta seja feita a partir das exportações e importações feitas pelo Brasil durante para cada ano. O país de destino, ou seja, aquele para o qual o Brasil exporta, é aquele conhecido no momento do despacho como o último país para onde os bens se destinam. Por outro lado entende-se como país de origem, ou seja, aquele do qual o Brasil importa, o país onde foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último caso, o país de origem é aque- le no qual foi completada a última fase de processamento para que o produto adote sua forma final (como conceito definido pela convenção de Kyoto). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Exportação A Tabela 3 mostra as informações referentes ao Peso Líquido (Kg), o Valor exportado (US$ FOB) e o percentual de exportação em US$ FOB dos países que importam glicerina do Brasil para o triênio 2005-2007. Tabela 3 - Percentual exportado pelo Brasil por país Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos do ALICE WEB (2008). 106 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 A Fig. 4 mostra o percentual de exportação em US$ FOB dos principais países importadores de glicerina para o triênio 2005-2007. A análise da Tabela 3 e da Fig. 4 mostra uma mudança no cenário das exportações brasileiras de glicerina, considerando que no ano de 2005 o principal destino eram os EUA e o Chile, com cerca de 31,2% e 20,9% respectivamente. No entanto, no ano de 2007, os principais países são a China e a Malásia. Cabe destacar que a participação americana caiu quase 1.000% (de 31,2% para 3,7%). Isto pode ser justificado pelo aumento da produção e utilização de biodiesel no mercado americano, o que tem levado a uma maior produção da glicerina, levando assim a uma redução das importações deste produto. Fig. 4 - Percentual de exportação FOB. Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos do ALICE WEB (2008). 4.2 Importação A Tabela 4 mostra as informações referentes ao Peso Líquido (Kg), o Valor exportado (US$ FOB) e o percentual de importação em US$ FOB dos países que exportam glicerina do Brasil para o triênio 2005-2007. Tabela 4 - Percentual importado pelo Brasil por país Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008). Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 107 A Fig. 5 mostra o percentual de importação em US$ FOB dos principais países exportadores de glicerina para o triênio 2005-2007. A análise da Tabela 4 e da Fig. 5 mostra mudança no cenário das importações brasileiras de glicerina, considerando que no ano de 2005 a Alemanha dominava o mercado de exportações para o Brasil com cerca de 81%; no entanto, para o ano de 2007 a sua participação foi reduzida para pouco mais de 10%. Em 2007, os países que dominam o mercado são Indonésia, EUA e Malásia com, aproximadamente 41%, 21% e 16%, respectivamente. Tais países se destacam nas exportações de glicerina, considerando que eles têm investido na produção de biodiesel. Fig. 5 - Percentual de importação FOB. Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008). 4.3 Exportação x Importação - Balança Comercial A Tabela 5 ilustra os dados sobre exportação e importação para a glicerina para o período entre 2002 e 2007). Observa-se que os valores unitários de importa- ção foram maiores que o de exportação apenas para os anos de 2002 e 2006; nos demais anos, os valores unitários de exportação são maiores, ressaltando que no ano de 2007 o valor é quase o dobro. Tabela 5 - Exportação x Importação Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008). A Fig. 6 apresenta as informações sobre as expor- 108 tações, importações e saldo da balança comercial do glicerina no período entre 2002-2007. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 6 - Balança Comercial Brasileira para a Glicerina – período 2002-2007. Fonte: Elaboração própria a partir do ALICE WEB (2008). A Fig. 6 revela que as exportações do glicerol começaram a aumentar a partir do ano de 2005, que foi o ano da inserção do biodiesel na matriz energética brasileira de acordo com a Lei 11.097 (2005) que regula a mistura de biodiesel ao diesel de origem fóssil na seguinte proporção: Cabe destacar ainda que, com a posse do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, a questão de biocombustíveis, em especial o biodiesel e o bioetanol, se tornaram uma prioridade do governo, uma vez que o aumento da produção do biodiesel leva a uma aumento da geração de glicerina (subproduto). (i) de janeiro/2005 a janeiro de 2008: adição voluntária de 2% de biodiesel ao diesel; Com a expansão do mercado de biodiesel haverá um aumento considerável da produção mundial de glicerina; isto levará a um aumento da oferta deste produto que deverá resultar, pelo menos em um primeiro momento, na redução de seu preço, podendo ocasionar até mesmo o fechamento de algumas unidades de produção. Desta forma, para fins de análise de viabilidade do projeto biodiesel, a glicerina está sendo considerada como um produto de baixo valor agregado (PRATES et al, 2007). (ii) de janeiro/2005 a janeiro de 2013: adição obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel e adição voluntária de 5%; e (iii) a partir de janeiro de 2013: adição obrigatória de 5% de biodiesel ao diesel. Com isso, observa-se que a partir de 2005, com base na maior produção de biodiesel, houve também maior produção do subproduto glicerol, justificando ainda a redução da sua importação, e revertendo assim um saldo de balança comercial deficitário em 2004 para um panorama de crescimento da balança comercial. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 O efeito do aumento da demanda de glicerina pode ser visto através dos dados de consumo aparente, que consiste na soma do valor de produção mais importação diminuído da exportação, que são apresentados na Tabela 6 para os anos de 2006 e 2007 a partir dos dados do Relatório do Sistema Dinâmico de Informações (SDI) emitido pela Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM). 109 Tabela 6 - Produção - importação x exportação Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no RELATÓRIO SID (2006; 2007). A Tabela 6 revela que a produção de glicerina se reduziu à metade, tanto com relação à capacidade instalada como relativo à sua produção. Isto pode ser justificado considerando que, face ao aumento da produção de biodiesel, há um aumento da oferta de glicerina (subproduto do biodiesel) no mercado, levando a uma diminuição na sua produção pelas demais rotas tecnológicas apresentadas anteriormente. Além disso, verifica-se um aumento nas taxas de importação na ordem de 50% e um aumento expressivo na quantidade exportada, devido à expansão da produção de biodiesel no Brasil estimulada pelo marco regulatório criado pela implantação da Lei 11.097/2005. 5. CONCLUSÕES O objetivo deste trabalho foi utilizar dados de comércio exterior a fim de obter informações sobre o desempenho do subproduto da produção de biodiesel, a glicerina. A principal motivação deste estado foi verificar o mercado de biodiesel indiretamente, considerando a não existência de informações comerciais do biodiesel. O estudo indicou que os dados de exportação e produção destes produtos estão em franco crescimento e que os dados de importação estão em uma fase de declínio considerando a expansão da produção do biodiesel. Cabe destacar que o estudo é de grande relevância de modo a se traçar um panorama acerca do biodiesel, visto que este produto ainda não é uma commodity internacional. Tais estudos podem servir de subsídios para auxiliar os formuladores de políticas públicas e tomadores de decisão no sentido de transformar o biodiesel em commodities mundiais. Adicionalmente, o grande desafio de países em desenvolvimento, em especial do Brasil que apresenta uma série de vantagens comparativas e competitivas com relação aos biocombustíveis, é aumentar sua pauta de exportação de produtos com valor agregado e de grande 110 valor no mercado. 6. BIBLIOGRAFIA ALICE WEB. Site da Internet. Disponível em: < http:// aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 10 mai. 2008. BENAZZI, T.L. Estudo do comportamento de fases de sistemas contendo glicerol e óleo de oliva em propano na presença de surfactante. Rio Grande do Sul. Dissertação (Mestrado) – Programa de Mestrado em Engenharia de Alimentos, 2005. BORCHIVER, S. A Multidisciplinaridade da Química atuando na produção de fonte alternativa de energia e como produtora de produtos de maior valor agregado. Revista Brasileira de Engenharia Química ISSN 0102-9843, volume 22, número 3, 2006. CADERNOS NAE/Núcleo de assuntos Estratégicos da Presidência da República. No. 2 (jul. 2004). Brasiléia: Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, 2004. INSTITUTO CIÊNCIA HOJE. De coadjuvante a protagonista. Revista Ciência Hoje. Disponível em: <http:// www.cienciahoje.uol.com.br/3973>. Acesso em: 15 abr. 2007. NOGUEIRA, N.S. Monitoramento Tecnológico da Glicerina, co-produto da fabricação do biodiesel. Rio de Janeiro, 2007, 106f. Projeto Final do Curso de Engenharia Química UFRJ, Rio de Janeiro, 2007. PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA 2006-2011/ Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de produção e Agroenergia. 2. ed.rev. – Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. PORTAL DO EXPORTADOR. Site da Internet. Disponível em: <http://www.portaldoexportador.gov.br>. Aces- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 so em: 15 mai. 2008. PRATES, C.P.T., PIEROBON, E.C., COSTA, R.C. Formação do mercado de biodiesel no Brasil. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n.25, p. 39-64, mar. 2007. RATHMANN, R., BENEDETTI, O., PLÁ, J.A., PADULA, A.D. Biodiesel: uma alternativa estratégica na matriz energética brasileira? In: I Congresso da Rede de Tecnologia de Biodiesel, 2006. Disponível em: <http:// www.biodiesel.gov.br/docs/ArtigoBiodieselGINCOBUFRGS.pdf>. Acesso em: 15 jun, 2008. PRADO, A.G.S., 2003: Química verde, os desafios da química do novo milênio. Revista Química Nova, vol. 26, no. 5, 738-744, 2003. Disponível em http://www.scielo.br/ scielo. Acesso em: 25 abr. 2008. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 111 Reabilitação Motora em Hemiplégicos Espásticos após Tratamento com Estimulação Elétrica Neuro Muscular Alecsandra Araújo Paula * Mário Oliveira Lima ** Fernanda Pupio Silva Lima ** Paulo Roberto Garcia Lucareli *** Sergio Takeshi T. de Freitas **** Resumo: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma das principais causas de acometimento neurológico no adulto, com característica focal e súbita acomete o Polígono de Willis devido à oclusão ou ruptura de um vaso sanguíneo cerebral, podendo evoluir com perda do controle motor, alterações sensitivas, cognitivas, linguagem e coordenação. A maioria dos acometidos apresentam hipertonia espástica, decorrente a lesão do sistema piramidal dificultando as atividades da vida diária e a funcionalidade da marcha, pois um dos déficits observados consiste na perda da flexão seletiva da articulação do joelho do membro parético. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da estimulação elétrica neuromuscular (EENM) no músculo reto femoral em indivíduos acometidos pelo AVE, os quais apresentavam hemiparesia espástica. Foram avaliados dois sujeitos com média de idade de 57 anos. Ambos submetidos à avaliação semiológica e à avaliação do tônus muscular com os parâmetros da escala modificada de Ashworth pré e pós-intervenção terapêutica, além disso, foi proposta análise qualitativa e quantitativa da marcha, onde cada indivíduo caminhou 12 metros para que fosse coletado o tempo gasto e a velocidade durante o desempenho. Foram realizadas 20 sessões de EENM durante sete semanas. Os resultados obtidos demonstraram diminuição da espasticidade no músculo reto femoral, e melhora de tempo gasto no percurso entre a primeira e vigésima sessão foi de 6"47 milésimos para ambos os indivíduos. A EENM reduziu a espasticidade do músculo reto femoral de ambos os indivíduos e melhorou gradativamente a agilidade durante a marcha. Pode-se concluir que a estimulação elétrica neuromuscular trata-se de uma alternativa eficaz a ser utilizada no processo de reabilitação nestes indivíduos com hemiparesia espástica. Palavras-chave: Acidente vascular encefálico, hemiplegia espástica, estimulação elétrica neuromuscular (EENM). Abstract: Stroke is one off the most common cause of neurological incapacity in adults, with characteristic sudden and focused attacks in the Willis Polygon due to the occlusion or rupture of a cerebral blood vessel, which may cause loss of the motor control, senses, cognitive ability, language ability, and coordination. The majority of people inflicted by this disease present spastic hypertonia, resulting from the injury in the pyramidal system making daily activities and walking more difficult. One of the deficits observed is the loss of the selective joint flexion in knee of the paralyzed limb. The goal of this study was to evaluate the effect of the neuromuscular electrical stimulation (NMES) in the rectus femoris muscle in individuals who had had strokes and presented spastic hemiparesis in the contra lateral inferior limb due to the brain injury. Two individuals with the average age of 57 years were evaluated. Both underwent semiologic evaluation and muscular tone evaluation with parameters of the modified Ashworth scale before and after therapeutic intervention. In addition, * Mestranda em Engenharia Biomédica - IP&D/ UNIVAP, 2009. ** Professor(a) da FCS/UNIVAP. *** Professor do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo. **** Professor da UNIVAP, da Universidade Paulista UNIP e da Universidade Braz Cubas - UBC. 112 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 quantitative and qualitative analysis of the gait was performed when each individual walked 12 meters to collect the time and speed of the exercise. Twenty sessions of NMES during seven weeks were performed. The results demonstrated reduction of the spasticity of the rectus femoris muscle. An improvement in the time between the first and the twentieth sessions of about 6.47 milliseconds for both individual could be noticed. NMES reduced the spasticity of the rectus femoralis muscle in both individuals and they had gradual improvement in agility during the gait. Therefore, the electric neuromuscular stimulation demonstrated to be an efficient alternative to use in the rehabilitation of individuals with spastic hemiplegy. Key words: Stroke, spastic hemiplegia, neuromuscular electrical stimulation (NMES). INTRODUÇÃO Acidente Vascular Encefálico (AVE) é caracterizado por um déficit neurológico com característica focal e súbito acometendo o Polígono de Willis devido à oclusão ou ruptura de um vaso sanguíneo cerebral que pode evoluir com perda do controle motor, alterações sensitivas, alteração cognitiva e de linguagem, alteração de coordenação e coma (CHAVES, 2000; ABRAMO; MENDES; OLIVEIRA, 2004; CECATTO, 2005). A apresentação clínica do AVE segue na maioria das vezes padrões de hemiplegia espástica, significando paralisia completa ou parcial dos músculos do membro superior e inferior de um lado do corpo contralateral a lesão encefálica. Trata-se de um grupo capaz e auto-suficiente que tende a rejeitar o lado afetado e a eleger e inclinar-se para o lado não afetado e costuma adotar a postura flexora para membro superior e extensora para o membro inferior (BOBATH, 1989; STOKES, 1998; NEVES, 2005). As maiorias dos indivíduos sequelados de AVE apresentam hipertonia espástica, ou seja, espasticidade, definida como desordem neurológica devido lesão do sistema piramidal, caracterizado pelo aumento da velocidade dos reflexos tônicos, resultando uma hiperatividade do reflexo miotático, hiperreflexia, sinal de babinski, e clônus, com efeitos adversos na função cinesiofuncional. (KANDEL; SCWARTZ; JESSEL, 2000; NEUYENS et al., 2002; SALAME et al., 2003). Um dos músculos frequentemente acometidos pelas espasticidade é o músculo reto femoral, que compõe juntamente com outros três músculos o denominado quadríceps femoral, situado no anterior da coxa. Este músculo é denominado biarticular e está envolvido diretamente na função de flexão do quadril e extensão de joelho, dificultando assim, as atividades de vida diária (AVD´s) e alterando a funcionalidade da marcha, pois um dos déficits observados consiste na perda da flexão seletiva de joelho do membro parético (KANDEL; SCWARTZ; JESSEL, 2000; NEUYENS et al., 2002; Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 SALAME et al., 2003, KENDALL, McCREARY, PROVANCE,1995; MORAES et al., 2003). A espasticidade é a manifestação clínica de fácil reconhecimento e de difícil quantificação, porém é importante mensurá-la para determinar a intervenção terapêutica com melhora funcional, podendo ser através de escalas simplificadas como a escala modificada de Ashworth, que gradua a intensidade da hipertonia ao movimento passivo do membro com razoável credibilidade (DELISA; GANS, 2001). A ciência disponibiliza vários recursos que podemos utilizar para minimizar a espasticidade e melhorar as AVD´s do paciente, como: estimulação elétrica neuromuscular, toxina botulínica, hipertermoterapia, cinesioterapia, hidroterapia, hipotermoterapia entre outros (BRUNO et al., 2001). A utilização Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) tem demonstrado ser bastante útil no auxílio da reabilitação de pacientes neurológicos, sendo uma forma de produzir artificialmente contrações musculares visando restaurar, manter ou melhorar a capacidade funcional de um indivíduo, através da aplicação de corrente elétrica diretamente ao músculo que apresente o sistema nervoso periférico intacto (LIANZA et al., 2001 citar o paper da revista de neurología). E a melhora funcional proporcionada pela EENM no membro inferior lesado pode ser demonstrado através da análise da marcha realizada pela videogametria que permitirá analisar o ciclo da marcha, a distância, o tempo, a velocidade, e a aceleração obtida ao realizar a deambulação (NORDIN; FRANKEL, 2003). Diante disso, o objetivo desse estudo foi demonstrar o efeito da Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) no músculo espástico (reto femoral) dos indivíduos com hemiparesia. E verificar a velocidade da marcha, por meio de fórmula. 113 MATERIAIS E MÉTODOS Para consecução dos objetivos propostos deste trabalho, optou-se por uma pesquisa exploratória, quanto aos fins e uma pesquisa experimental quanto aos procedimentos. cedimentos experimentais que foram submetidos. Os sujeitos assinaram um termo de livre consentimento e, após a assinatura, foram submetidos à avaliação neurológica. PROCEDIMENTOS Os dois sujeitos foram submetidos à EENM durante 20 sessões, sendo 3 sessões por semana. SUJEITOS Participaram deste estudo dois indivíduos adultos com hemiparesia decorrente de AVE unilateral, sendo dois homens com média de idade de 57. O sujeito 1 apresentava comprometimento do hemisfério cerebral direito há 8 anos e o sujeito 2 do hemisfério cerebral direito há 2 anos. Todos os sujeitos receberam fisioterapia no mínimo três vezes por semana. Os sujeitos cumpriram com os seguintes critérios de inclusão: ADM completa, capacidade cognitiva, apresentar boa compreensão das instruções, não apresentar alterações visuais e frequência fidedigna, e foram excluídos igualmente os que apresentaram luxações, deformidades, rigidez em membros inferiores, déficit cognitivo grave, de atenção ou de linguagem. Os sujeitos foram recrutados na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Paulista - UNIP de São José dos Campos. Todos os sujeitos aceitaram participar voluntariamente do estudo e foram informados sobre os pro- Para determinar o estado clínico de espasticidade no membro inferior lesado, os pacientes avaliados estavam posicionados em decúbito dorsal, com membros inferiores em posição de repouso. Deste modo, na primeira, décima e vigésima sessão, foram realizadas duas avaliações do tônus muscular, estirando o músculo Reto Femoral, mensurando através da escala modificada de Ashworth, por 6 fisioterapeutas, método duplo cego, sendo uma avaliação antes da aplicação de EEMN e outra ao término da aplicação (ROCHA, PRETTE, PRETTE, 2008). Após a avaliação inicial, foi utilizado 1 canal do equipamento ORION TENS (Fig. 1) o qual atende todos os requisitos de segurança, com dois eletrodos de borracha de silicone medindo 4cm x 3cm, foram colocados superficialmente sobre o músculo Reto Femoral nas proximidades do ponto motor do músculo hipertônico. Entre o eletrodo e a pele do sujeito foi aplicado um gel, para diminuir a impedância da pele. Fig. 1 - Equipamento de Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM). Os parâmetros de EENM deveriam provocar uma evidente contração muscular o mais confortável possível, sendo assim foram escolhidos os valores seguintes: frequência 40 Hz, largura do pulso 150 ms, ciclo on/off de 5 segundos de estimulação e 10 segundos de repouso, durante 20 minutos de estimulação e a intensidade da corrente aplicada aos indivíduos foi escolhida durante a tera- 114 pia de acordo com a sensibilidade do indivíduo e poderia mudar caso ocorresse o fenômeno da acomodação. Na primeira, na décima e vigésima sessão os participantes foram preparados para uma situação experimental, em que deveriam realizar a tarefa de caminhar na velocidade normal, sob um tapete de E.V.A. azul, com 6 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 metros (m) de comprimento e 1 m de largura, cuja atividade era sair da linha de partida e retornar a ela, após completar os 6 m, portanto, cada participante caminhou 12 m, sendo 6 m na ida e 6 m na volta. Durante o experimento, foi coletado através de um cronômetro o tempo gasto para conclusão do percurso, onde posteriormente foi calculado a velocidade da marcha, através da seguinte fórmula . O desempenho dos participantes foi filmado por uma câmera de vídeo SONY (DVP – NS50P) posicionada de maneira que possibilitasse a visão sagital de cada lado e ântero-posterior de cada participante. A câmera encontrava-se fixada num tripé a uma altura de 1 metro 16 centímetros para sagital e 54 centímetros para ântero-posterior. É fundamental ressaltar que todos os indivíduos interromperam as sessões de fisioterapia convencional nos MMII durante o estudo. de EENM, durante a primeira, décima e vigésima sessão, os indivíduos foram avaliados e demonstraram os seguintes resultados quantificados pela análise estatística do desvio padrão pela escala modificada de Ashworth, sendo necessária uma adaptação com o grau 1+ da escala utilizada, que passou a corresponder a 1,5 para que todos os números fossem da classe dos cardinais. O sujeito 1, na primeira sessão antes da aplicação apresentou média 1,92 e desvio padrão de espasticidade quantificada pela escala modificada de Ashworth de 0,8612 e depois média 0,50 e 0,7746; na décima sessão apresentou média 2,08 e desvio padrão 0,7360 e 0,58 e 0,6646 respectivamente, demonstrando diminuição gradativa do grau de espasticidade entre a primeira e décima sessão, e não somente entre antes e depois a cada aplicação. Ao ser novamente avaliado na vigésima sessão, apresentou aumento se comparado com a última sessão, tendo 1,0 de média e desvio padrão 0,7746 e, logo após a intervenção, novamente demonstrou redução do grau de espasticidade com 0,25 de média e 0,6124 de desvio padrão. ANÁLISE DOS DADOS Na primeira, na décima e vigésima sessões, foram coletadas as avaliações com os parâmetros da escala modificada de Ashworth, as quais foram avaliadas individualmente pelas estagiárias, comparando-se os dados antes e depois da aplicação EENM. Estes dados foram calculados por meio de análise estatística expressa em média acompanhada do desvio padrão, tendo a seguinte fórmula res- pectivamente e . RESULTADOS Escala modificada de Ashworth: Como já mencionado, antes e depois da aplicação Com o sujeito 2 obtivemos os seguintes resultados; na primeira sessão a média e o desvio padrão antes EEMN foi de 1,67 e 0,6831 respectivamente e depois de 0,42 e 0,6646; na décima sessão antes da EEMN, a média foi de 1,0 e desvio padrão de 0,5477 e 0,33 de média e 0,5164 desvio padrão; e na vigésima sessão iniciou-se em 0,83 e 0,6831 de desvio padrão e após a aplicação média de 0,17 e desvio padrão de 0,4083. Neste sujeito podemos verificar que entre a primeira e a vigésima sessão o grau de espasticidade não se manteve embora em todas as aplicações o resultado depois da EEMN demonstrou valores cada vez menores. Ao compararmos os resultados da primeira sessão antes de EENM e vigésima sessão depois da EENM de ambos os sujeitos verificou-se a diminuição da espasticidade avaliada pela escala modificada de ashworth demonstrado pela tabela 2, calculado através do desvio padrão. Tabela 1 - Média e desvio padrão dos índices da escala modificada de Ashworth antes e após aplicação de EENM TEMPO E VELOCIDADE servados na Fig. 2. Os valores referentes aos tempos obtidos na situação experimental proposta aos sujeitos podem ser ob- Podemos verificar que com a evolução do experimento, ambos os sujeitos apresentaram melhora gradativa Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 115 de tempo entre a primeira e a vigésima sessão. O sujeito 1 iniciou o experimento utilizando 34"47 para concluir o percurso e finalizou o experimento com 28", e o sujeito 2, na primeira sessão, apresentou 29"50 para a conclusão do percurso e 23"03 ao fim do experimento. Surpreendentemente a melhora de tempo entre a primeira e vigésima sessão foi de 6"47 milésimos para ambos os participantes. Fig. 2 - Tempo(s) gasto no percurso. Do mesmo modo, observamos pela Fig. 3 o aumento gradual da velocidade durante o percurso, em que o sujeito 1 obteve um aumento da velocidade de 0,08 m/s entre a 1a e 20a sessão, sendo que na 1a sessão teve 0,35 m/s e na 20a foi de 0,43 m/s, enquanto o sujeito 2 demonstrou um aumento da velocidade de 0,11 m/s, o qual iniciou o experimento com a velocidade de 0,41 m/s, e na vigésima sessão atingiu 0,52 m/s, mostrando assim a aceleração durante a marcha. Fig. 3 - Velocidade durante o percurso. DISCUSSÃO A EENM surgiu em meados de 1871, quando Duchenne relatou a respeito dos efeitos da ativação elétrica do antagonista ao músculo espástico. Desde então, esta técnica vem sendo estudada e cada vez mais elaborada com finalidade de reduzir a espasticidade e com isso minimizar suas complicações (CASALIS; GIANNI, 2007). daram 86 pacientes que possuíam hipertonia espástica e foram submetidos à estimulação elétrica. Cerca de 80,23% obtiveram diminuição do grau de espasticidade após a intervenção terapêutica, do mesmo modo que Freitas et al. (2003) obtiveram resultados positivos ao utilizar desta mesma técnica no músculo tibial anterior de um paciente hipertônico. No entanto, observou-se neste estudo que os hemiplégicos espásticos obtiveram resultados benéficos, dando mais credibilidade a este recurso. Em função disso, Spaich e Taberning (2002) estu- 116 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Segundo Teive, Zonta e Kamugaiy (1998) e Corrêa et al. ( 2005), o músculo reto femoral é um dos mais atingidos e comprometidos pela espasticidade, desta forma a intervenção terapêutica deve promover condições que adeque o tônus, favorecendo assim os padrões normais de movimento. velocidade e melhora funcional da marcha, após a intervenção proposta. Apesar dos avanços no conhecimento do tratamento da espasticidade, ainda não existe cura para este sintoma de fácil reconhecimento durante o exame físico. A avaliação da espasticidade geralmente é subjetiva, pois, como diz os autores Casalis e Gianni (2007), a espasticidade pode ser mais fácil diagnosticar do que definir, mais fácil de definir do que tratar e talvez seja mais fácil de tratar do que quantificar. Observou-se durante este estudo a necessidade de métodos mais precisos para a avaliação e quantificação da espasticidade, pois a escala modificada de ashworth, apesar da facilidade em utilizá-la, possui fatores que podem influenciá-la. Sabendo desta dificuldade foram criadas várias escalas que procuram determinar o grau de hipertonia. Tais escalas, segundo Casalis e Gianni (2007), são aceitas universalmente, relativamente simples de serem administradas e facilmente reprodutíveis como a escala modificada de Ashworth, embora possa ser influenciada por condições do paciente ou do ambiente. É importante ressaltar que a EENM não deve ser vista e nem aplicada como um único recurso durante a reabilitação. CONCLUSÃO Após os resultados obtidos, concluímos que a EENM mostrou-se ser uma alternativa eficaz a ser utilizada no processo de reabilitação de indivíduos com hipertonia espástica do músculo reto femoral, deste modo,contribuindo com a redução da espasticidade e assim proporcionar maior independência e melhora funcional, diminuindo o tempo gasto e a velocidade da marcha. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Outros autores como Damiano et al., (2002), Pandyan et al., (2001) relatam a inconsistência da escala modificada de Ashworth, por não se tratar de uma avaliação 100% confiável. No estudo em questão, utilizamos desta escala como experimento e mesmo conquistando um resultado satisfatório e não induzido pelo método duplo cego, este modo de avaliação necessita de reformulações, para torna-se um método seguro e altamente confiável. A partir desses levantamentos, cabe-nos aceitar que existe a necessidade de quantificar mais precisamente a espasticidade. Outro experimento utilizado neste estudo foi o teste de velocidade da marcha, que consiste em cronometrar o tempo e calcular a velocidade necessária para a conclusão do percurso. ABRAMO, A.; MENDES, M. R. P.; OLIVEIRA, M. S. R. Acidente vascular encefálico: analise da função motora de um caso em tratamento na piscina aquecida. Fisioterapia Brasil, v. 5, n. 6, p. 484-5, nov/dez, 2004. BOBATH, B.; BOBATH, K. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. São Paulo: Manole, 1989. BRUNO, A. A. et al. Medicina da reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. CASALIS, M.E.P.; GIANNI, M. A. C. Espasticidade. In: MEDICINA de reabilitação: princípios e prática. São Paulo: Artes Médicas, 2007. p. 291-312. CECATTO, R.B. Aspectos clínicos. In: ASPECTOS clínicos e práticos da reabilitação: fisioterapia AACD. São Paulo: Artes Médicas, 2005. p.257-269. Podemos compreender, com base em TeixeiraSalmela et al., (2000), Sharp e Brower (1997) e Junqueira; Ribeiro; Scianni, (2004) que este teste é um dos indicadores de melhora na capacidade funcional, pois seus estudos demonstraram que, quanto menor o tempo para conclusão do percurso, mais veloz a marcha, mais independente torna-se o sujeito e mais apto a realizar as tarefas do dia a dia. CHAVES, M. L. F. Acidente cerebral encefálico: conceituação e fatores de risco. Revista Bras Hipertens, v. 4, p. 372-82 , 2000. Estas afirmações estão de acordo com o que encontramos em nosso estudo, ambos os sujeitos apresentaram diminuição do tempo de percurso e aumento na DELISA, J.A.; GANS; Tratado de medicina de reabilitação: princípios e pratica. 3. ed. São Paulo: Manole, v.2, 2001. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 CORRÊA F. I.; SOARES F.; ANDRADE V.D.; GONDO R. M.; PERE J. A.; FERNANDES A. O.; CORREA J.C.F.; Atividade muscular durante a marcha após acidente vascular encefálico. Arq Neuropsiquiatr 2005;63(3-B):847-851 117 FREITAS, S. T. T. et al. Efeito da Estimulação Elétrica Funcional (FES) no portador de paralisia cerebral do tipo espástica: relato de caso. VI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e III Encontro Americano de Pós Graduação pela Universidade do Vale do Paraíba - EPG, 2003. JUNQUEIRA, R. T.; RIBEIRO, A. M. B. E.; SCIANNI, A. A. Efeitos do fortalecimento muscular e sua relação com a atividade funcional e a espasticidade em indivíduos hemiparéticos. Rev. Bras. Fisioter, v. 8, n 3, p. 247-52, 2004. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. KENDALL, F. P.; McCREARY, E. K.; PROVANCE, P. G. Músculos: provas e funções. 4. ed. São Paulo: Manole, 1995. LIANZA, S. et al. Estimulação Elétrica Funcional (FES). Medicina da Reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. LIMA, M. O.; LIMA, F. P. S.; FREITAS, S. T. T.; RIBEIRO S. 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São Paulo: Artes Médicas, 2005. p. 359-381. 118 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Associação da Laserterapia com Papaína na Cicatrização de Úlcera Diabética em Membro Inferior - Relato de Caso Ciliana Antero Guimarães da Silva Oliveira * Karen Cristiane Martinez de Moraes ** Newton Soares da Silva *** Resumo: A síndrome do pé diabético é definida como quaisquer lesões, agudas ou crônicas, que ocorrem no pé dos pacientes diabéticos, em geral causadas pela presença de neuropatia periférica. Dentre algumas formas de tratamento destas feridas temos a papaína e o laser utilizados separadamente. Desta forma, objetivamos com esse relato divulgar os resultados da associação da laserterapia com papaína na cicatrização de úlceras diabéticas. Paciente de setenta e três anos, masculino, diabético com lesão em hálux esquerdo devido a neuropatia, com ótima resposta ao tratamento de laser associado à papaína. O uso do laser de baixa potência associado com a papaína no tratamento de úlceras diabéticas nos mostrou resultados positivos neste estudo, num período curto de tempo, onde a ferida evoluiu para completa cicatrização. Palavras-chave: Diabetes, laser, papaína. Abstract: The diabetic foot syndrome is defined as any chronic and acute injure that occurs in the diabetic patient foot generally caused by the presence of peripheral neuropathy. Some of the forms of treatment include papain and laser used separately. The main objective of this manuscript is to report the results of the association of laser therapy with papain in the healing of diabetic ulcers. A 73-year-old male diabetic patient with injuries in the left hallux, due to neuropathy, had good results to the laser treatment associated with papain. The use of a low potency laser associated with papain in the treatment of diabetic ulcers showed positive results in this study; in a short term period the wound completely healed. Key words: Diabetics, laser, papain. 1. INTRODUÇÃO O diabetes melito é uma doença crônica e metabólica definida pelo distúrbio de carboidrato, proteína e metabolismo de gordura caracterizada pela hiperglicemia resultante de defeitos da secreção insulínica, da ação insulínica ou de ambos (JORGE; DANTAS, 2003; GOLDENZWAIG, 2004). A síndrome do pé diabético é definida como quaisquer lesões, agudas ou crônicas, que ocorrem no pé dos pacientes diabéticos, em geral causadas pela presença de neuropatia periférica, doença oclusiva arterial perifé- * Enfermeira Estomaterapeuta. Docente nas Faculdades Integradas Teresa D‘Ávila - Lorena / SP. ** Doutora em Genética e Biologia Molecular - IP&D, UNIVAP. *** Doutor em Biociências e Biotecnologia. Laboratório de Biologia Celular e Tecidual - IP&D, UNIVAP Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 rica e redução da microcirculação na extremidade inferior (KUHN, 2006). Dentre algumas formas de tratamento destas feridas temos a papaína e o laser. A papaína é uma enzima proteolítica existente no látex do vegetal Carica papaya, que possui a propriedade de decompor substâncias protéicas, sendo extraída do látex do mamão desenvolvido, mas não amadurecido. Encontra-se comercializado em diferentes formas como em pó, gel e creme. O laser é uma forma de luz especial que é uma modalidade terapêutica atérmica (JORGE; DANTAS, 2003). A fotobioestimulação, estudada na década de 1980, definiu a aplicação do laser hélio-néon (He-Ne) como estimulação para a cicatrização e reparo dos tecidos. Os efeitos benéficos do laser podem ser rapidamente descritos como sendo de aceleração do processo cicatricial, aumento na formação do tecido de granulação (HAINA et al., 1992). Desta forma, objetivamos com esse relato divulgar os resultados da associação da laserterapia com papaína na cicatrização de úlceras diabéticas. 119 2. RELATO DE CASO J.B.S., mulato, natural de Virgínia – M.G., 73 anos, viúvo, motorista. Se encontra diabético, com ferida em M.I.E., ex-tabagista, nega etilismo, cardiopatia e hipertensão. Ferida sem dor e sem odor. Relata “bolha na ponta do dedo por causa do sapato, uso sapato o dia inteiro trabalhando, fui ao posto de saúde do meu bairro onde estouraram e virou uma ferida”. Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVAP (Protocolo n°L215/2006/CEP). Em 2/3/2006 iniciou o tratamento, onde o paciente era submetido a sessões diárias de limpeza da ferida com S.F.0.9% e aplicação do laser de baixa potência, da marca Ibramed, com 830nm de comprimento de onda, com densidade de energia de 1 J/cm², potência de 30mW, sendo aplicado ao redor de toda a borda da ferida, de forma contínua e estando o diodo a 1cm da pele do paciente, de forma perpendicular. Em seguida colocado papaína creme 2% em seu leito, ocluído com gase primária umedecida com S.F.0.9%, gase secundária seca e fechado com ata- dura. Todo este procedimento foi realizado desde o inicio do tratamento até o final (três meses). Além de orientações à saúde, como controle dos níveis glicêmicos diariamente, higiene, cuidados específicos com seu pé (pé diabético), nutrição, repouso, sapatos adequados e curativos diários. 3. RESULTADOS Ao iniciar o tratamento em 2/3/2006 a lesão (Fig. 1) se encontrava contaminada, sinais flogísticos presentes, sem exsudato, em seu leito tecido necrosado, esfacelos ao redor e sinal de tecido de granulação em suas bordas. Com quarenta dias de tratamento a lesão (Fig. 2) evoluiu, os sinais flogísticos estavam ausentes e a lesão se apresentava com tecido vitalizado. Ao final do tratamento, três meses após, a lesão (Fig. 3) evoluiu para completa cicatrização, em 9/6/2006. O paciente recebeu alta do ambulatório, sendo orientado a retornar dentro de um mês para monitoração de seu “pé diabético” e de seu estado clínico. Fig. 2 - Evolução da lesão. (12/4/06) Fig. 1 - Lesão na extremidade distal do halux esquerdo. (2/3/06) Fig. 3 - Final do tratamento, três meses após. (9/6/06). 120 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 4. DISCUSSÃO 5. CONCLUSÃO O curativo realizado diariamente foi mantido ocluído e úmido, desta forma sendo protegido de contaminação, favorecendo a decomposição da necrose e acelerando o processo de cicatrização. Portanto fazendo uso dos princípios para o curativo ideal (DEALEY, 2003). O uso do laser de baixa potência associado com a papaína no tratamento de úlceras diabéticas nos mostrou resultados positivos neste estudo, num período curto de tempo, onde a ferida evoluiu para completa cicatrização. Relatos de casos como este apresentado contribui para novos estudos da associação de terapias na cicatrização de feridas diabéticas. A ampliação do número de amostragem em projetos futuros irá demonstrar a efetividade da metodologia empregada neste caso em específico. Devido aos efeitos terapêuticos da papaína, como desbridante químico, antiinflamatório, bactericidabacteriostático e bioestimulante, ficou claro a decomposição do tecido desvitalizado em tão pouco tempo. O laser confirma sua indicação nesses casos pela melhora do quadro com o seu uso. As principais indicações dos Lasers de baixa intensidade na prática clínica têm sido identificadas como sendo para tratamento de feridas através do efeito de fotobioestimulação. Assim os lasers têm vindo a ser usados em condições que estão relacionadas com úlceras varicosas; úlceras diabéticas; úlceras de decúbito, particularmente onde estes casos assumiram um estatuto de cronicidade, por outro lado existe evidência que queimaduras e feridas pós-operatório respondem favoravelmente a tratamento de radiação laser (HAINA et al., 1992). A baixa densidade de energia utilizada neste caso (1J/cm2) se justifica em um procedimento leve que deve ser aplicado em pacientes diabéticco. Doses mais elevadas poderiam causar um processo de bioestimulação muito rápida do tecido adjacente com resultados não desejáveis, sempre lembrando que o processo de cicatrização em pacientes diabéticos é muito lento. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. P. E. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu, 2003. GOLDENZWAIG, N. R. S. C. Manual de Enfermagem Médico-Cirúrgico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. KUHN, P. O pé diabético. São Paulo: Atheneu, 2006. HAINA, D.; HEIN, R.; LANDTHALER, M.; KRIEG, T. Laser light of low power density does not influence chemotaxis and collagen synthesis of human dermal fibroblasts. Lasers Med. Sci. n. 7, pp. 79-83, 1992. DEALEY, C. Produtos para tratamento de feridas. In: Dealey, C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 1. ed. São Paulo: Atheneus, 2003. 121 Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana: um estudo comparativo entre fotossensibilizantes Frederico Müller * Vinícius Carneiro de Oliveira * Alexandre de Lima Oliveira * Newton Soares da Silva ** Resumo: A existência de resistência antibiótica entre bactérias patogênicas é iminente. Estudos para encontrar uma terapia alternativa antimicrobiana têm sido desenvolvidos. Esta terapia poderia ser através da combinação entre um corante atóxico (fotossensibilizante) e luz visível, conhecida como terapia fotodinâmica (PDT). O objetivo desse estudo foi induzir morte bacteriana pela PDT. Foram utilizados 2 fotossensibilizantes estudados de forma comparativa, um laser diodo de baixa potência e cultura de Staphylococcus aureus. Os experimentos mostraram que a PDT tem boa funcionalidade como alternativa para uma terapia antibiótica tópica. A despeito desses resultados experimentais promissores, somente uma controlada experimentação clínica pode provar a efetividade da PDT in vivo. Palavras-chave: Staphylococcus aureus, fotoquimioterapia, azul de metileno. Abstract: The existence of antibiotic resistance between pathogenic bacteria is imminent. Studies to find antimicrobial therapy alternatives which bacteria will not be able to develop resistance have been done. This therapy could be through the combination of an atoxic dye (photosensitizer) and visible light, known as Photodynamic Therapy (PDT). This study directed suitable photosensitizers against S. aureus. Two photosensitizers were compared using, a low potential diode laser with Staphyloccocus aureus as the target. The assays showed that PDT may be a functional alternative for topical antibiotic therapy. Despite these promising results, only a controlled clinical experimentation can prove the effectiveness of the PDT in vivo. Key words: Staphylococcus aureus, photochemotherapy, methylene blue. Cultura de Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA) constituem uma das maiores causas de infecção hospitalar no mundo, causando infecções significativas e morbidade em muitos pacientes (JONES; MONSTREY; GAMBIER, 1996). Muitas infecções são difíceis de se tratar e pacientes infectados por muito tempo requerem longa permanência hospitalar. Como terapia alternativa pode ser citada a Terapia Fotodinâmica (PDT), a qual provoca morte celular pela luz na presença de um agente fotossensibilizante. Quando envolve a morte de microorganismos, ela pode ser chamada de Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana (APDT). A excitação do fotossensibilizador se dá pela absorção de luz em um comprimento de onda apropriado e na presença de oxigênio, converte o fotossensibilizante para seu estado ativado, que por sua vez reage ou com um substrato local (reação tipo I) para formar radicais citotóxicos, ou com oxigênio molecular (reação tipo II) para produzir o oxigênio citotóxico singleto (WILSON; DOBSON; HARVEY, 1992). Esse oxigênio reativo gerado resulta em morte celular. * Mestre em Ciências Biológicas – IP&D, UNIVAP. ** Doutor em Biociências e Biotecnologia, Laboratório de Biologia Celular e Tecidual - IP&D, UNIVAP. Quem primeiro demonstrou a fotossensibilização letal de microorganismos foi Oscar Raab (RAAB, 1900 apud MAISCH et al., 2005). Ele demonstrou que a baixa concentração de azul de metileno poderia levar à morte o protozoário Paramecium caudatum frente à sua exposi- 1. INTRODUÇÃO A resistência bacteriana frente à antibioticoterapia convencional está conduzindo cada vez mais a elaboração de terapias antimicrobianas de interesse mundial (JEVONS, 1961). 122 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 ção à luz diária normal. A terapia fotodinâmica poderia ser útil como um simples caminho para tratar e controlar infecções MRSA. Ela teria duas grandes vantagens sobre antisépticos e antimicrobianos convencionais: primeiro, como nenhum dos dois componentes do sistema (luz e fotosenssibilizante) é inerentemente bactericida, o efeito antimicrobiano seria limitado para regiões luz-irradiadas em áreas fotossensibilizante-tratadas, evitando um desequilíbrio na microflora local com exceção daqueles que estão sendo alvejados; segundo, e talvez mais importante, o desenvolvimento de resistência para fotoquímica induzindo morte à qual é mediada predominantemente por oxigênio singleto, seria improvável (EMBLETON et al., 2002). Estudos anteriores nos revelaram uma grande escala de corantes que podem ser utilizados como agente fotossensibilizante: ftalocianinas, porfirinas, azul de toluidina, azul de metileno, dentre outros (BERTOLONI et al., 2000). Nós focamos nossos trabalhos em dois fotossensibilizantes: azul de metileno e uma ftalocianina (cloro-alumínio-ftalocianina tetrasulfonada) ambos atuando na faixa de absorção de 600 a 700nm. O azul de metileno foi o primeiro corante a ser utilizado na terapia fotodinâmica. É um composto relativamente barato e de fácil aquisição. Já os derivados da ftalocianina, são compostos mais recentes que mostram um futuro promissor. Elas são fotossensibilizantes de segunda geração assim como as porfirinas. Sua intensa absorção na faixa do vermelho visível (600-700nm), e sua longa permanência no estado ativado são fatores atribuídos a elas (SOUKOS et al., 1998). O fotossensibilizante utilizado (AlPcS4) segue estes fatores e possuem pico de absorção em 675nm. 2. OBJETIVOS Avaliar a ação da PDT em culturas de Staphylococcus aureus comparando a eficácia da cloroalumínio-ftalocianina tetrasulfonada e do azul de metileno como agentes fotossensibilizantes. 3. MATERIAL E MÉTODOS Cultura bacteriana: O organismo utilizado nesta investigação foi o Staphylococcus aureus (ATCC 14458). Para finalidades experimentais, algumas colônias foram inoculadas em 20ml de meio BHI (Brain Heart InfusionDifco) e incubadas overnight em estufa a 37°C, atingindo a fase exponencial de crescimento (3,04x106 bact/ml), de acordo com a leitura espectrofotométrica (Espectrofotômetro SpectraCount modelo BS10001 Packard BioScience Company). Laser e fotossensibilizantes: O equipamento utilizado neste estudo foi um laser diodo semicondutor com meio ativo de Arseneto de Gálio Alumínio (GaAlAs) nos parâmetros apontados na Quadro 1. Os agentes fotossensibilizantes empregados foram: azul de metileno (Synth) numa proporção de 0.01% peso/volume (CHAN; LAI, 2003) equivalente a 5,34µM e a cloro-alumínioftalocianina tetrasulfonada (AlPcS4) numa concentração de 35mM (BRAGA; PACHECO-SOARES, 2005) como sendo uma concentração eficaz. Quadro 1 - Parâmetros de irradiação do laser Arseneto de Gálio Alumínio (GaAlAs). Fotossensibilização e irradiação: Alíquotas foram distribuídas em placas contendo 24 poços na seguinte disposição formando os respectivos grupos: Grupo 1 (controle)*: 1000ml de cultura bacteriana; Grupo 2*: 965ml bactéria + 50ml de Triton X 100 – 1% + 35mM AlPcS4; Grupo 3*: 500ml bactéria + 500ml azul de metileno; Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Grupo 4**: 1000ml de bactéria; Grupo 5**: 965ml bactéria + 50ml de Triton X 100 – 1% + 35mM AlPcS4; Grupo 6**: 500ml bactéria + 500ml azul de metileno. * Grupos que não foram irradiados com laser; ** Grupos que receberam irradiação laser. 123 A cultura bacteriana após cultivo overnight para atingir a fase log de crescimento, foi repicada em alíquotas: 1000ml para o grupo controle e grupo apenas irradiado com laser (grupo 1 e 4), 965ml para o grupo onde seria adicionado AlPcS4 (grupo 2 e 5) e 500ml para o grupo onde seria adicionado azul de metileno (grupo 3 e 6), em uma placa de 24 poços distribuídos em triplicata para cada grupo em posições intercaladas. Nos poços onde seriam colocados os fotossensibilizantes, antes foi adicionado 50ml de Triton X 100 – 1% (SMETANA et al., 1994). Adicionou então alíquotas de 35ml de AlPcS4 nos poços dos grupos 2 e 5 e 500ml de azul de metileno nos poços dos grupos 3 e 6 e então deixou em incubação a 37° C no escuro por um período de 1 hora. Após esse período de incubação com os fotossensibilizantes, o conteúdo de cada poço foi transferido para tubos eppendorfs individuais e centrifugado a 14000rpm por 5 minutos para remoção do agente fotossensibilizante não captado. Em seguida descartouse o sobrenadante e ressuspendeu o sedimento em 1ml de PBS (salina 0,9 % estéril). O conteúdo de cada tubo eppendorf foi então recolocado nos seus respectivos poços para proceder a irradiação. Esta foi realizada no escuro com o laser diodo GaAlAs nos parâmetros já mencionados. Após a irradiação foram retiradas alíquotas de 100ml de cada poço e distribuídas uniformemente em placas de Petri com o auxílio da alça de Drigalski. Ao final as placas de Petri foram colocadas em estufa a 37°C por 24 horas para depois efetuar a leitura dos resultados. Método de leitura dos resultados: transcorridas 24 horas as placas de Petri foram fotografadas com máquina digital DSC-W5 (Sony Cybershot), sendo transferidas para um computador convencional para proceder com a contagem das colônias formadas através do programa UTHSCSA ImageTool Versão 3.0 e a significância foi obtida através do método ANOVA. 4. RESULTADOS Frações de sobrevivência bacteriana foram expressas como unidades formadoras de colônias (CFU – Colonies Formation Units), portanto foram obtidos valores CFU para colônias controle, colônias contendo apenas azul de metileno, colônias contendo apenas AlPcS4, colônias irradiadas com laser, colônias contendo azul de metileno e irradiadas com laser e colônias contendo AlPcS4 irradiadas com laser, depois de completadas 24 horas pós-experimento. Fig. 1 - Unidades Formadoras de Colônias de Staphylococcus aureus 24 horas após o experimento: A- Controle; B- Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada; C- Azul de Metileno; D- Laser; E- Azul de Metileno + Laser; F- Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada + Laser. Os valores de sobrevivência bacteriana foram indicados num processo comparativo com as colônias controle sendo considerados como 100% (3138 colônias em média - Fig. 1A). Num primeiro momento preconizou-se a contagem das colônias que foram incubadas apenas com 124 azul de metileno e com AlPcS4, obtendo os valores expressos no gráfico 1. A ALPcS4 manteve um número de CFU similar ao do controle, não apresentando assim atividade antimicrobiana quando usado isoladamente, com valor de 98,4% de sobrevivência bacteriana (3088 colôni- Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 as em média - Fig. 1B). Já o azul de metileno, na concentração usada, mostrou ser um fotossensibilizante que apresenta certa atividade antimicrobiana contra Staphylococcus aureus quando utilizado isoladamente, apresentando 54,01% de sobrevivência de bactérias (1695 colônias em média - Fig. 1C). Gráfico 1 - Efeitos propostos pelos fotossensibilizantes Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada (AlPcS4) e Azul de Metileno (A.M.) na ausência de laser sobre cultura de Staphylococcus aureus em comparação com o Controle (C); (P < 0,05). Quando as colônias irradiadas apenas com laser foram contadas, foi observado que ele não apresentou propriedade antimicrobiana como mostrado no Gráfico 2, pelo contrário, ele apresentou atividade bio-estimulatória, e sua contagem foi 3,1% acima do valor obtido no controle (3237 colônias em média - Fig. 1D). Ao contar as colônias que continham azul de metileno e AlPcS4 respectivamente, e irradiadas com laser, Gráfico 2, foram observados valores de sobrevivência bacteriana menores quando comparados ao controle, mostrando os seguintes valores de sobrevivência bacteriana: 43,75% para azul de metileno mais laser (1373 colônias em média - Fig. 1E) e 23,67% de sobrevivência bacteriana para AlPcS4 mais laser (744 colônias em média - Fig. 1F). Gráfico 2 - Efeitos propostos pelo Laser (L), Laser + Azul de Metileno (L+A.M.) e Laser + Cloro-AlumínioFtalocianina Tetrasulfonada (L+AlPcS4) sobre cultura de Staphylococcus aureus em comparação com o Controle (C);(P < 0,05). Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 125 Ao comparar os valores de bactérias que foram tratadas apenas com fotossensibilizante e aquelas que, além de conterem o mesmo, também foram irradiadas, foi observado que as placas com azul de metileno mais laser apresentaram uma pequena variação, obtendo um valor de 81% de sobrevivência bacteriana, já AlPcS4 possuiu uma variação bem considerável, com um valor 24,06% de sobrevivência, Gráfico 3, tendo como base a utilização isolada de cada fotossensibilizante como sendo 100%. Ou seja, das 1695 colônias que sobreviveram quando o azul de metileno foi utilizado isoladamente, 1373 ainda sobreviveram quando ele foi utilizado em conjunto com o laser (81% de sobrevivência) e das 3088 colônias que sobreviveram quando a ftalocianina foi utilizada isoladamente, apenas 744 colônias sobreviveram quando esta foi utilizada em conjunto com o laser (24,06% de sobrevivência). Gráfico 3 - Efeitos comparativos entre Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfona (AlPcS4) na ausência de laser; Laser + Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfona (L+AlPcS4); Azul de Metileno (A.M.) sem Laser, Laser + Azul de Metileno (L+A.M.) sobre cultura de Staphylococcus aureus (P < 0,05). 5. DISCUSSÃO Estudos anteriores demonstraram que a PDT contra Staphylococcus aureus pode possuir uma variação considerável de acordo com o fotossensibilizante utilizado. E foi estabelecido que, para organismos gram-positivos, tanto fotossensibilizantes carregados positivamente como os carregados negativamente são efetivos para mediar a PDT (JONES; MONSTREY; GAMBIER, 1996; MALIK; LADAN; NITZAN, 1990; MALIK; LADAN; NITZAN, 1992; MERCHAT et al., 1996A; MERCHAT et al., 1996B; MILLSON et al., 1996; MINNOCK et al., 1996; NITZAN; ASHKENAZI, 2001; ORTH et al., 1995; MAISCH et al., 2005; ROBERT et al., 1998; SAIJONMAA-KOULUMIES; LLOYD, 2002; SCHMIDT et al., 1998; SMETANA et al., 1994). Os resultados do presente estudo têm demonstrado significativa diferença quanto ao tipo de agente fotossensibilizante utilizado na PDT. De acordo com outros autores, o azul de metileno não é efetivo contra bactérias até que certa concentração inicial eficaz tenha sido descoberta (Merchat et al., 1996b; Wainwright, 1998). 126 Isso vale também para a ftalocianina, pois trabalhos anteriores não mostraram resultados significativos quando da utilização de concentrações diferentes da que foi usada nesse estudo. Embora não existam estudos detalhados sobre a carga iônica total carregada pelo muco extracelular (biofilme), existem trabalhos que mostram a interação hidrofóbica entre o muco bacteriano e superfícies causando adesão bacteriana e assim determinando sua patogenicidade (BROWN; FRANKL; PHANG, 1996; SAIJONMAA-KOULUMIES; LLOYD, 2002). Consequentemente, pode-se supor que as características do muco têm um significativo papel na determinação da ligação e penetração intracelular de fotossensibilizante que varia em carga e hidrofobicidade. Portanto uma maior ou menor morte bacteriana é determinada pelas características de sua superfície quanto à penetração do agente fotossensibilizante e também por suas características hidrofóbicas. A toxicidade do azul de metileno é reportada como sendo muito baixa. Ele tem sido usado em elevadas conRevista UniVap, v.16, n.28, 2010 centrações em vários diagnósticos e terapias, incluindo injeção intrarterial em cirurgias reconstrutivas (JONES; MONSTREY; GAMBIER, 1996), administração intravenosa (5mg/kg diluído em 500ml de solução glicosada) para tratamento de hiperparatireóidismo primário (ROBERT et al., 1998), em infusões contínuas para tratamento de choque séptico (BROWN; FRANKL; PHANG, 1996), sendo sua aplicação mais importante na PDT contra células neoplásicas (ORTH et al., 1995). Nesse estudo foi observado que o azul de metileno, quando utilizado isoladamente promoveu uma sobrevivência bacteriana bem abaixo do controle, podendo supor que ele apresentou atividade bactericida para o Staphylococcus aureus na ausência de irradiação. Um importante objetivo na investigação do processo de fotossensibilização na PDT é a elucidação do mecanismo de ação do agente fotossensibilizante selecionado, para determinar qual o tipo de reação ocorrida (tipo I ou tipo II). Portanto, é de interesse analisar se a morte bacteriana é mediada pela formação de radicais citotóxicos a partir de substratos locais ou se ela é mediada predominantemente pelo oxigênio reativo singleto, pois a eficiência de cada fotossensibilizante é baseada no tipo de reação que ele desencadeia. Estudos anteriores nos revelaram grande escala de corantes que podem ser usados como agente fotossensibilizante: ftalocianias, porfirinas, azul de metileno, azul de toluidina dentre outros (BERTOLONI et al., 2000), e todos mostraram ter atividade contra bactérias Gram+ e contra Gram- frente à irradiação (MILLSON et al., 1996; NITZAN; ASHKENAZI, 2001). Esta eficácia de morte bacteriana promovida por todos estes fotossensibilizantes tem sido confirmada como sendo significativamente diferente entre bactérias Gram+ e Gram-, com maior eficácia contra as bactérias Gram+ (MALIK; LADAN; NITZAN, 1992; MERCHAT et al., 1996a; NITZAN; ASHKENAZI, 2001). É geralmente aceito que a camada de peptídeoglicano de extratos de Staphylococcus sp é bastante permeável a antibióticos quando comparado a outras membranas de bactérias Gram- (HAMBLIN et al., 2002a; HAMBLIN et al., 2002b). Em contrapartida, concentrações significativas de fotossensibilizante ultrapassam a membrana citoplasmática de bactérias Gram+ induzindo danos irreversíveis via oxigênio singleto após irradiação. Morfologicamente as bactéria Gram+ diferem das Gram-, pois estas últimas apresentam uma membrana externa (bicamada lipídica) fora da camada de pepitídeoglicano (MALIK; LADAN; NITZAN, 1992). Existem evidências sugerindo que fotossensibilizantes que penetram no interior da bactéria pode ser mais efetivo que aqueles que agem na superfície bacteriana (HAMBLIN et al., 2002A; HAMBLIN et Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 al., 2002b). Isto não quer dizer que os agentes fotossensibilizantes que agem na superfície bacteriana não são eficazes, como muitos trabalhos anteriores já mostraram (BHATTI et al., 1998; BHATTI et al., 1997). Indicadores para essa nova ftalocianina mostram que ela teria uma boa eficácia para controlar a colonização bacteriana em funcionários e pacientes hospitalares, esterilizando feridas e desinfetando a pele e suas lesões, se for realçada sua eficácia antimicrobiana contra bactérias in vivo, em comparação com sua eficácia contra bactérias in vitro. Em contra-partida, o azul de metileno, por ter-se mostrado tóxico no estudo realizado, necessita de novas pesquisas para se chegar a uma concentração que seja menos tóxica e que promova menor sobrevivência bacteriana frente a irradiação. 6. CONCLUSÕES Os experimentos mostraram que os dois fotossensibilizantes empregados têm boa funcionalidade na PDT, principalmente a AlPcS4 que proporcionou melhores resultados quando comparada ao azul de metileno. Portanto a utilização deles para mediar morte bacteriana através da irradiação pode ser uma alternativa para uma terapia antibiótica tópica. A despeito desses resultados experimentais promissores, somente uma experimentação clínica controlada e minuciosa pode provar a eficácia da PDT para inativação de bactérias in vivo. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTOLONI, G.; LAURO, F. M.; CORTELLA, G.; MERCHAT, M. Photosensitizing activity of hematoporphyrin on Staphylococcus aureus cells. Biochimica et Biophysica Acta, v.1475, p. 169–74. 2000. BHATTI, M.; MACROBERT, A.; MEGHJI, S.; HENDERSON, B.; WILSON, M. A study of the uptake of toluidine blue O by Porphyromonas gingivalis and the mechanism of lethal photosensitization. Photochem. Photobiol., v. 68, p. 370-6, 1998. BHATTI, M.; MACROBERT, A.; MEGHJI, S.; HENDERSON, B.; WILSON, M. Effect of dosimetric and physiological factors on the lethal photosensitization of Porphyromonas gingivalis in vitro. Photochem. Photobiol., v. 65, n. 6, p. 1026-1031, 1997. BRAGA, F. M. P.; SOARES, C. P. Análise da sobrevivência de Yersinia enterocolitica após quimioterapia fotodinâmica antimicrobiana. 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Apresenta-se uma estimativa da constante de força de estiramento S-S. Palavras-chave: Cisteína, cistina, ligação S-S. 1. INTRODUCTION The disulfide bond plays an important role in the stabilization of the structure of protein molecules. In cystine, the disulfide bond is a covalent bond formed between the thiol groups of two vicinal cysteine residues. There are correlations between S-S and C-S stretching frequencies and molecular conformations of proteins and dialkyl sulfides (BRANDT et al., 2008; SUGETA; GO; MIYAZAWA, 1973). The disulfide stretching vibrations gives rise to a strong Raman band and a weak infrared-absorption band (SUGETA; GO; MIYAZAWA, 1973). Thus, usually, disulfide stretching frequency is obtained from Raman spectrum, whereas, the infrared band corresponding to the S-S stretching vibration is not mentioned in spectral studies of cystine. A normal coordinate analysis of the vibrational modes of the cysteine molecule has been published by Susi, Byler and Gerasimowicz (1983), which shows that there is extensive coupling of the skeletal vibration modes, which prevents approximate descriptions of the observed frequencies, with the exception of the band corresponding to the C-S stretching vibration. * Professor(a) da UNIVAP. E-mails: [email protected], [email protected], [email protected] 130 In this paper, we present the infrared-absorption spectra of cysteine and cystine, in the range 900 cm-1 to 350 cm-1, which corresponds to the skeletal vibration modes of the cysteine molecule. We make an estimate of the stretching force constant of the disulfide bond of cystine, with a reasoning based on Susi, Byler and Gerasimowicz (1983) normal coordinate analysis of the cysteine molecule, and on the observed frequencies corresponding to S-S and C-S stretching vibrational modes. 2. EXPERIMENTAL Cysteine and cystine, with purity higher than 97% have been purchased from Sigma-Aldrich. The spectra for both samples have been observed in the solid state, at room temperature, with a Perkin-Elmer GX FT-IR spectrophotometer. The precision was 4 cm-1 . 3. RESULTS AND DISCUSSION Fig. 1 shows the infrared-absorption spectra of cysteine and cystine, in the range 900 cm-1 to 350 cm-1. The band at 691 cm-1, corresponding to the C-S stretching vibration of cysteine (SUSI; BYLER; GERASIMOWICZ, 1983), can be clearly seen. At 499 cm-1 there is a shoulder which corresponds to the weak infrared-absorption band given rise by the S-S stretching vibration of the cystine molecule. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Fig. 1 - Infrared spectra of cysteine and cystine. Table 1 shows the wave-numbers (in cm-1) of the observed infrared-absorption bands of cysteine and cystine. Table 1 - Observed wave-numbers (cm-1) of cysteine and cystine Raman spectra of dialkyl disulfides, in the liquid state, show two bands, at 510 cm-1 and at 525 cm-1, that have been assigned as S-S stretching vibrations (Sugeta; Go; Miyazawa, 1973; Van Wart; Sheraga, 1986). Since the S-S stretching frequencies depend upon the molecular conformations about the C-S bond, Sugeta, Go and Miyazawa (1973) have concluded that the two Raman lines correspond to two different isomers. In the solid state only one isomer was observed (Sugeta; Go; Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Miyazawa, 1973; Van Wart; Sheraga, 1986). The infrared spectrum of cystine, shown in Fig. 1, has only one absorption band (at 499 cm-1) that can be assigned as S-S stretching vibration. The spectrum was obtained for the cystine in the solid state for which one isomer is expected to exist. However, it cannot be concluded from the observation of only one infrared band that only one isomer exists, because the infrared 131 absorption is weak. Therefore, Raman and infrared spectra are both needed for conformational studies. A rough estimate of the S-S stretching force constant can be made as follows. Susi, Byler and Gerasimowicz (1983) have shown that the band at 691 cm-1 can be assigned to the C-S stretching vibration mode, because, according to their calculations, 77% of the PED (potential energy distribution) of that band corresponds to the mentioned vibration mode. Thus, it is reasonable to model that vibration mode by a two-particle system with an effective reduced mass µCS defined by (2) we obtain kSS = 3.1 N.cm-1, which may be used, as the initial value of that constant, in a normal coordinate analysis of the vibrational modes of the cystine molecule. Wilson, Decius and Cross (1980) report the value kSS = 2.5 N.cm-1 for the H2S2 molecule. The difference between the two values for k SS can be understood considering that the success of transferring force constant values from one molecule to another is sensitive to the difference between environments of the bond in the two molecules and also to the number of interactions employed in the potential function. 4. CONCLUSIONS (1), where c is the light speed in the vacuum, the wavenumber of the C-S stretching vibration, kCS the force constant, and µCS the effective reduced mass of the system. Introducing the values kCS = 3.223 N.cm-1 and = 691 cm-1, given by Susi, Byler and Gerasimowicz (1983), into Equation (1) we obtain µCS = 11.5 amu (atomic mass unit = 1.66004x10-27 kg). The S-S stretching vibration of the cystine molecule can be modeled by a two-particle system with an effective reduced mass µSS defined by (2), where is the wavenumber of the S-S stretching vibration, kSS the force constant, and µSS the effective reduced mass of the system. As an estimate of the value of µSS we assume that (3), where we have subtracted 1 amu from µCS considering that each cysteine residue has one hydrogen atom less than the cysteine molecule, and we multiplied the difference by 2 since cysteine is formed by two cysteine residues linked by a disulfide bond. Thus, we get µSS = 21 amu. Introducing this value and = 499 cm-1 into Equation 132 The S-S stretching vibration can be observed in the infrared spectrum of the cysteine molecule as a weak band. For studies on molecular conformational states, infrared spectra must be complemented by Raman spectra. The estimated value of the S-S stretching force constant may be useful for further studies on the cystine molecule. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDT, N. N.; CHIKISHEV, A. YU.; KARGOVSKY, A. V.; NAZAROV,M.M.; PARASCHUK, O. D.; SAPOZHNIKOV, D.A.; SMIRNOVA, I.N.; SHKURINOV, A.P.; SUMBATYAN, N.V. 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Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS NA REVISTA UNIVAP A Revista UniVap é uma publicação de divulgação científica da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), que procura cumprir com a sua tríplice missão de ensino, pesquisa e extensão. Assim, a pesquisa na UNIVAP tem, dentre suas funções, a de formar elites intelectuais, sem as quais não há progresso. Esta publicação incentiva as pesquisas e procura o envolvimento de seus professores e alunos em pesquisas e cogitações de interesse social, educacional, científico ou tecnológico. Aceita artigos originais, não publicados anteriormente, de seus docentes, discentes, bem como de autores da comunidade científica nacional e internacional. Publica artigos, notas científicas, relatos de pesquisa, estudos teóricos, relatos de experiência profissional, revisões de literatura, resenhas, nas diversas áreas do conhecimento científico, sempre a critério de sua Comissão Editorial e de acordo com o formato dos artigos aqui publicados. Solicita-se o cumprimento das instruções a seguir para o preparo dos trabalhos. 1. Os originais devem ser apresentados em papel branco de boa qualidade, no formato A4 (21,0cm x 29,7cm) e encaminhados completos, definitivamente revistos, com no máximo 15 páginas, digitadas em espaço 1,5 entre as linhas (recomenda-se o uso de caracteres Times New Roman, tamanho 12), em 1 via, acompanhada de disquete ou CD. Somente em casos muito especiais serão aceitos trabalhos com mais de 15 páginas. Os títulos das seções devem ser em maiúsculas, numerados seqüencialmente, destacados com negrito. Não se recomenda subdivisões excessivas dos títulos das Seções. 2. Língua. Os artigos devem ser escritos, preferencialmente, em Português, aceitando-se também textos em Inglês e Espanhol. No caso do uso das línguas Portuguesa e Espanhola, devem ser anexado um resumo em Português (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract). 3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem: - Resumo. Com no máximo 250 palavras, o resumo deve apresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, como foi feito (metodologia), apresentando os resultados, conclusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o leitor possa avaliar o conteúdo do texto. NBR6028. - Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa. Caso o trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deve ser traduzido para o Português (Resumo). - Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a cinco palavras-chave sobre o tema. - Texto. Corpo do artigo estruturado em introdução, desenvolvimento e conclusão. No caso de divisão de seções, sua ordenação deve seguir o sistema de numeração progressiva (NBr6024), com subtítulos de caráter informativo. - Citações dentro do texto. As citações com mais de 3 linhas devem ser destacadas com recuo da margem esquerda 4 cm, com letra menor que a do texto utilizado e sem aspas. Ex.: Na criança, bons hábitos posturais são importantes para evitar sobrecargas anormais em ossos em crescimento e alterações adaptativas em músculos e tecido mole. (KISNER; COLBY, 1998). Nas citações são utilizadas sobrenome e data, apresentadas em maiúsculas dentro do parênteses e em minúsculas fora do parênteses. Ex.: 1. Segundo Spector (2003), “A discussão dos resultados é a parte mais livre da tese, onde o autor tem maior latitude para demonstrar o seu domínio do tema e o valor do estudo.” Ex.: 2. A discussão dos resultados é a parte mais livre da tese, onde o autor tem maior latitude para demonstrar o seu domínio do tema e o valor do estudo (SPECTOR, 2003). - Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordo com o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aqui apresentados. - Referências Bibliográficas: devem ser apresentadas no final do trabalho, em ordem alfabética de sobrenome do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos: - Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s) do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas. Com asterisco, colocado logo após o nome completo do autor ou autores, remeter a uma nota de rodapé relativa às informações referentes às instituições a que pertence(m) e às qualificações, títulos, cargos ou outros atributos. a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local de publicação: Editora, data. Exemplo: PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do 133 livro. Local de publicação: Editora, data. Página inicial-final. Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a geografia... liquidar a idéia nacional? In: VESENTIN, José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus, 1989. p.31-82. c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Título do periódico, local de publicação, volume do periódico, número do fascículo, página inicial-página final, mês(es). Ano. Exemplo: ALMEIDA JÚNIOR, M. A economia brasileira. Revista Brasileira de Economia, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 26-28, jan./fev. 1995. d) Dissertações, Teses e Trabalhos Acadêmicos: SOBRENOME, Nome. Título da dissertação (ou tese). Local. Número de páginas (Categoria, grau e área de concentração). Instituição em que foi defendida. data. Exemplo: BRAZ, A. L. Efeito da luz na faixa espectral do visível em adultos sadios. 2002. 1 disco laser. Dissertação (Mestrado em Bioengenharia) - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2002. e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT para Referências Bibliográficas (NBR6023). Ou acessar o site: http://www.univap.br/cultura/abnt.htm 4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fotos) e tabelas devem apresentar boa qualidade e serem acompanhados de legendas breves e claras. Indicar no verso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figura, o nome do autor e o título abreviado do trabalho. As figuras devem ser numeradas seqüencialmente com números arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo ficar na parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico de controle de custo. (fonte 10). As tabelas também devem ser numeradas seqüencialmente, com números arábicos, e colocadas na parte superior da tabela. Exemplo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras e tabelas devem ser impressas juntamente com o original e quando geradas no computador deverão estar gravadas no mesmo arquivo do texto original. Fotografias, desenho artístico, mapas etc., devem ser de boa qualidade e em preto e branco. 134 5. O encaminhamento do original para publicação deve ser feito acompanhado do disquete ou CD-ROM e com a indicação do software e versão usada. 6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniência ou não da publicação do trabalho enviado, bem como poderá indicar correções ou sugerir modificações. A cada edição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os trabalhos considerados favoráveis para publicação, aqueles que serão publicados imediatamente. Os não selecionados serão novamente apreciados na ocasião das edições seguintes. 7. Os conteúdos e os pontos de vista expressos nos textos são de responsabilidade de seus autores e não apresentam necessariamente as posições do Corpo Editorial da Revista UniVap. 8. Originais. A Revista não devolverá os originais dos trabalhos e remeterá, gratuitamente, a seus autores, dois exemplares do número em que forem publicados. 9. O Corpo Editorial se reserva o direito de introduzir alterações nos originais, com o objetivo de manter a homogeneidade e a qualidade da publicação, respeitando, porém, o estilo e a opinião dos autores. 10. Endereços. Deverá ser enviado o endereço completo de um dos autores para correspondência. Os trabalhos deverão ser enviados para: UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA - UNIVAP PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE/ SOCIEDADE Conselho Editorial da Revista UniVap Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Bairro Urbanova São José dos Campos - SP 12244-000 Telefone/Fax: (12) 3947.1036 E-mail: [email protected] Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010 135 136 Revista UniVap, v.16, n.28, 2010