A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E AÇÃO DOCENTE Andréa Bengozi 1 RESUMO As reflexões sobre a possibilidade e a necessidade de formar professores pesquisadores acontecem há muito tempo. Para compreender essa discussão é indispensável saber quais são as principais características de um professor pesquisador. O presente trabalho apresenta um breve relato sobre o conceito de professor pesquisador; quais os objetivos, as finalidades da sua pesquisa, qual a relação entre professor pesquisador e professor reflexivo, o porquê formar um educador pesquisador, quais as necessidades para esta formação, e se este professor pesquisador aplica na sua prática a pesquisa como recursos para formação de seus alunos. Efetuamos uma pesquisa de campo com dez professores de duas escolas municipais de Ensino Fundamental da cidade de Cambé. Também foram realizadas observações em duas diferentes salas de aulas com o propósito de identificar se a pesquisa acontece realmente na prática docente. Certamente esta pesquisa proporcionou uma reflexão sobre a prática da pesquisa como recurso didático. Palavras–chave: Professor pesquisador. Pesquisa. Ação docente. Aluno. ABSTRAT The reflections on the possibility and the need to train teachers researchers happen long ago. To understand this discussion is indispensable to know what are the main features of a research professor. This paper presents a brief account of the concept of research professor; what are the goals, the objectives of your research, what is the relationship between teacher and researcher reflective teacher, why form an educator researcher, which needs for this training, and this research professor apply in their practice research as resources for training their students. We have conducted a field survey of ten teachers from two public elementary schools in the city of Cambé. Were also made observations in two different classrooms in order to identify whether the research actually happens in the teaching practice. Surely this research provided a reflection on the practice of research as a teaching resource. Keywords: Teacher researcher. Search. Teaching action. Student. 1 INTRODUÇÃO A pesquisa em educação é recente em nosso país e ganha força com os trabalhos de Demo (apud LUDKE, 2004), que advoga a pesquisa como princípio científico e educativo, e Ludke (2004), que defende o acordo entre a pesquisa a prática docente e a formação docente. Para Nóvoa (apud LUDKE,1997) a semente da pesquisa encontra-se plantada em cada professor, e já faz parte do cotidiano, mas para que essa pesquisa faça parte do contexto escolar não basta formar um professor que faz pesquisa, é necessário também alterar a situação escolar a qual ele está inserido, que muitas vezes, não reconhece ou privilegia esta prática. 1 Graduada em Pedagogia na Faculdade Catuai. A pesquisa é parte integrante do processo de formação da consciência crítica que sempre começa pela capacidade de questionar, da mesma forma que educar não é um processo que se faz aos pedaços ou em momentos e em condições cômodas. A pesquisa precisa também tornar-se atividade cotidiana, na qual se ve com olhos abertos, vendo o mundo criticamente, não apenas quando é interessante, mas sempre, e em todo lugar (DEMO, 2005). Diferentes autores compararam sala de aula com um laboratório de pesquisa, mas em nossa realidade ela é utilizada para essa finalidade? O resultado da pesquisa é explorado e colocado em prática pelo pesquisador? O objetivo geral deste trabalho é ressaltar a importância da pesquisa na ação docente, e identificar se existe pesquisa na ação docente. Diante desse problema este trabalho aprofunda reflexões sobre a relação e as possibilidades da pesquisa como instrumento pedagógico e científico, buscando indicativos de respostas às questões: A pesquisa na formação do docente influencia na ação do educador como pesquisador? A Pesquisa ocorre na ação docente? Quais as dificuldades para ser um professor pesquisador? Para Demo (1995), a pesquisa, pode ser compreendida não só como crescimento do conhecimento científico, mas também como desenvolvimento cognitivo. Alega que, ao vivenciar a pesquisa na vida acadêmica, ela possibilita que o professor tenha uma visão abrangente. Mas, caso ele não a tenha vivenciado, essa deficiência pode ser superada, basta que este educador esteja aberto ao conhecimento; por isso que o valor da pesquisa se faz presente em qualquer instância do processo, sendo um aluno ou um professor. No Brasil, falar de produção de conhecimento pelo professor ainda é tabu a ser superado, pois as condições gerais de trabalho dos docentes não favorecem essa prática, sobretudo no âmbito do ensino básico ou médio. 2 A PESQUISA Podemos encontrar vários conceitos do que é pesquisa; segundo Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, “pesquisa já é o ato ou efeito de pesquisar, indagação, inquisição”. Para Ander Egg (apud MARCONI; LAKATOS, 1999), a pesquisa é um procedimento reflexivo e sistemático controlado e crítico que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com métodos de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui como caminho para conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais. Gil (2002), definiu pesquisa como o procedimento racional e sistemático, que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é desenvolvida mediante os conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. A pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que passa por inúmeras fases que vão desde problema até a satisfação dos dados. De acordo com Demo (1995, p.54), pesquisar significa “querer saber, buscar avançar no conhecimento resultados sem cair na armadilha de oferecer resultados que já não permitam mais ser duvidados, questionados ou precisamente pesquisados. Ensinar e pesquisar são verbos que indicam ações que se diferem distintamente, mas que podem e devem estar interligadas, pois proporcionará ao aluno uma visão de mundo mais amplo e crítico”. Há vários tipos de pesquisa. Aqui relataremos apenas as mais utilizadas como: Pesquisa teórica que abordará as Pesquisas Bibliográficas, e Pesquisa Documental; e Pesquisas práticas, como Pesquisa Ação, Pesquisa de Campo. 2.1. Pesquisas Teóricas Segundo Marconi e Lakatos (1999), pesquisas teóricas são realizadas levando em conta o material já tornado público em relação ao estudo, desde publicações avulsas, boletins jornais, revistas livros, teses, monografias, material cartográfico. Além disso, existem as Bibliotecas virtuais. Este tipo de pesquisa tem por finalidade colocar em contato direto o pesquisador com tudo que foi escrito sobre o tema, onde poderá selecionar o material mais adequado a ser utilizado. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. [...] A pesquisa bibliografia também é indispensável nos estudos históricos. E em muitas situações, não há outra maneira de conhecer fatos passados se não com base em dados bibliográficos (GIL, 2002, p.45). Segundo Mezzaroba (2003), a Pesquisa Bibliográfica não consiste em mera repetição do que já está escrito ou dito sobre o tema, mas oportunizar um estudo sobre o assunto partindo de outro olhar, chegando a conclusões inovadoras. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Já a Pesquisa Documental é semelhante à pesquisa bibliográfica, mas diferem-se na natureza das fontes. A pesquisa documental utiliza-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa; os materiais utilizados são aqueles que são conservados em arquivos públicos, instituições, privadas, igrejas, cartas pessoais, fotos, gravações, memorandos, ofícios e boletins. 2.2 Pesquisas Práticas A Pesquisa de Campo é aquela utilizada para conseguir informações e conhecimentos sobre um problema, a qual se procura uma proposta ou hipótese que se queira comprovar. A pesquisa prática tem como característica essencial sua experimentalidade, ainda que não dispense um mínimo de referenciais teóricos para organizar sua execução e interpretação dos dados. Portanto, experimental não significa só pesquisa de laboratório, pode também ser pesquisa de campo. (MEZZAROBA, 2003, p. 113). Ainda falando sobre a importância da pesquisa de campo, lembramos das palavras de Gil (2002, p.53) [...] o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. [...] a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. [...] exige do pesquisador que permaneça o maior tempo possível na comunidade, pois somente com essa imersão na realidade é que se podem entender as regras, os costumes e as conversões que regem o grupo estudado. Para Gil (2002), no estudo de campo investiga-se um grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social. No estudo de campo o pesquisador realiza pessoalmente o trabalho em campo, pois é ressaltada a importância do contato com a situação em estudo. Já a Pesquisa-ação significa planejar, observar, agir e refletir de maneira mais consciente, mais sistemática e mais rigorosa em relação ao que fazemos na nossa experiência diária Santos (2004). Franco (2005), entende pesquisa-ação como conceito que se inicia com trabalhos de Kurt Luwin em 1946, (tendo como plano de fundo o pós guerra) os quais, realizam atividades que foram desenvolvidas com a finalidade de proporcionar mudanças de hábito alimentares e atitudes racistas frente a grupos étnicos minoritários. Suas pesquisas caminham paralelamente a seus estudos sobre as atividades realizadas com os grupos. Portanto se alguém opta por trabalhar com este tipo de pesquisa deve compreender que a pesquisa e a ação devem caminhar paralelamente para que consiga transformação na prática, esta investigação é definida como: [...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação de uma ação ou solução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT apud GIL, 2002, p.14). Como o próprio nome diz, a pesquisa-ação visa produzir mudanças (ação) e compreensão (pesquisa). Os seus principais objetivos são: melhorar a prática dos participantes; assegurar a organização democrática da ação; propiciar compromisso dos participantes com a mudança. Santos (2004) relata, que o trabalho docente exige questionamento e busca de soluções criativas para os problemas levantados. A pesquisa como prática social que busca produzir informação, apresenta algumas características próprias, ela acontece em um tempo e espaço tem uma dimensão histórica, relaciona-se com outras práticas sociais, não é neutra, pois sempre é influenciada pelo pressuposto teórico-metodológico. 3 A PESQUISA NA FORMAÇÃO E AÇÃO DOCENTE 3.1 A pesquisa na Formação Docente Segundo Perrenoud (apud SANTOS, 2004), a pesquisa é importante como meio de preparação para a formação de futuros professores pesquisadores, pois apontam à possibilidade da renovação deste grupo dando assim um novo olhar para os problemas já existentes, mas é importante que os alunos ainda na academia comecem a fazer pesquisa e não fiquem limitados a tarefas rotineiras e decodificação de dados. Ludke (2009), comenta que na década de 1970, Stenhouse lançou imagem de professor pesquisador onde a ideia que a sala de aula é um laboratório e cada professor é um membro da comunidade científica, em que cada mestre procura encontrar os melhores meios e as formas mais adequadas para utilizar as estratégias de ensino . É também pela pesquisa que se torna um profissional reflexivo, mas é preciso deixar bem claro as diferenças das denominações entre professor pesquisador e professor reflexivo. O primeiro problematiza situações, pesquisa e investiga soluções para os problemas da educação; o outro reflete a sua prática pedagógica, e procura novas soluções. Suas nomenclaturas diferem um pouco, porém um não precisa caminhar separado, ambos são importantes pela observação e por refletir o que é possível e necessário fazer. (LUDKE, 2004). Para Nóvoa (2001), os nomes se diferem, mas ambos realizam o mesmo processo analítico reflexivo da realidade educacional. O professor pesquisador e o professor reflexivo, no fundo, correspondem a correntes (conceitos) diferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica abordarem uma mesma realidade. No Brasil, segundo Ludke (2001), Demo é o maior defensor do caráter formador da pesquisa, acreditando que é com a análise de dados que se procura saber os porquês, que se estimula o desenvolvimento do conhecimento dos alunos, para conhecer o novo ou recriar o velho. O contato pedagógico entre professor e aluno que propõe e orienta uma pesquisa, vai além da relação daquele que ensina e alguém que apenas recebe o conhecimento pronto; sobressai então um processo de aprendizagem mútua onde ambos trabalham juntos, onde questionam, reconstroem um conhecimento formal e político. O sujeito alarga seus horizontes políticos questionadores, e passa a ser capaz de elaborar alternativas históricas. [...] “Questionar é tudo sobre postura política que se torna mais sólida, quanto mais se funda no instrumento mais potente de inovação, que é o conhecimento”. (DEMO, 1995, p.58). Para Demo (2005), os educadores precisam sair da posição de professor que reproduz à cópia. A característica emancipatória da educação exige pesquisa como método formativo, pela razão principal que apenas um lugar de sujeitos gera sujeitos, onde pesquisa e educação são processos coincidentes, pois para o autor, o aluno não vai à escola para assistir aula, mas sim para pesquisar, daí a tarefa crucial de ser parceiro no trabalho e não apenas ouvinte. André (2004),comenta que a formação de um educador em professor pesquisador, acaba tendo um conceito tão aberto que leva a muitas interpretações. Alguns acreditam que é levar os graduandos a realizar trabalhos práticos como coletas e análise de dados; já outros para atividades de estágios que envolvam projetos na escola. Mas por existirem diferentes conceitos é preciso estar atentos para não banalizarmos o papel da pesquisa na formação docente, pois “[...] o que serve para tudo acaba não servindo para nada [...]” (ANDRÉ, 2004, p.58). Esta reflexão de André (2004), relembra a posição de Demo (2003), frente à importância de estarmos atentos a diversidade de pesquisas e seus reais propósitos uma vez que a pesquisa pode ser utilizada sobre diversos olhares e oferecida como meio de manusear, a favor massa dominante, que manipula e apresenta ao povo somente o que deseja que eles saibam. De acordo com André (apud SANTOS, 2004), há um consenso literal que pesquisa é elemento essencial para a formação profissional do professor, mas questões tem se formado para a inserção da pesquisa na prática docente: Qual condição tem um educador para realizar as pesquisas? Quais pesquisas são realizadas? Santos (2004), chama atenção para o teor a ser pesquisado, pois não é qualquer pesquisa que contribui para a formação docente, os temas relevantes a serem pesquisados devem estar voltados à prática pedagógica, ou questões que remetem ao ensino/ aprendizagem. É inquestionável a importância da formação teórica para o pesquisador onde a teoria fornece elementos, para questionar e interpretar dados bem, como os dados que envolvem a pesquisa. Ludke (2009), também questiona se aos temas que o professores costumam pesquisar tem uma clara relação entre a formação, pós- graduação e a sua prática. Os professores demonstram nitidamente esta disposição em propostas de pesquisas. Os que cursam ou já cursaram uma graduação em torno de temas educacionais, demonstram a disponibilidade de estarem mais próximos do discurso de pensar a prática docente. As pesquisas realizadas pelos educadores relacionam-se em sua maioria a atividades direcionadas ao cotidiano escolar, mas por vezes, resulta em materiais escolares apostilas, eventos, como palestras entre outros. Para Ludke (2009), professores declaram que a escola básica e a academia deviam ter mais trocas de informação e diminuir o distanciamento, entre elas e ambas contribuiriam como suporte para professor, e as trocas interdisciplinares entre as áreas do conhecimento. 3.2 A Pesquisa na Ação Docente Veiga (2009), comenta que a idéia da pesquisa como recurso didático está baseado em atitudes analíticas, reflexivas, questionadoras e problematizadoras. Antes da apresentação da pesquisa como atividades escolares, existe a necessidade a apresentação prévia de como e quais são os passos que devem seguir. Veiga, (2009), chama a atenção para duas premissas: primeiro o aluno aprende, não o fazem como se nada soubessem, eles partem de um conhecimento já adquirido para construção de novos. Segundo, eles aprendem a lidar com situações problemas gerados pelo mediador que os coloca diante de novos conhecimentos, uma vez que ao aprender a aprender eles passam a ser protagonistas e melhoram o rendimento. A presença de um orientador é fundamental para ajudar no desenvolvimento de um pesquisador, pois ele norteia, questiona - elementos essenciais para o desenvolvimento da pesquisa. Segundo Veiga (2009) o educador norteia, direciona o processo de ensinar, uma vez que a aprendizagem e orientada pelo ensino. O princípio didático enfatiza o papel mediador do professor e auto-atividade do aluno. As situações vividas, propostas dentro de sala de aula proporcionam não só a aprendizagem, mas também o desenvolvimento da autonomia onde tanto professor como aluno assumirão seus papeis de protagonistas. Demo (1995), relembra que o professor pesquisador deve fazer uso da teoria, pois é este conhecimento acumulado que o tornará hábil a questionar os dados, a procurar entender e resolver problemas, uma vez que munido de conhecimento ele consegue manter um olhar crítico do seu objeto de estudo, e assim, poderá vê-lo por diferentes ângulos. O autor acima citado argumenta que educar pela pesquisa torna-se mais coerente, pois esse recurso auxilia o aluno a reconstruir o conhecimento disponível apropriando-se de vários conhecimentos que envolvem sua ação investigativa. Demo (2005), lembra que o educador preparado não perderá tempo e usará de atividades lúdicas para impulsionar ainda mais o questionamento reconstrutivo, sugere que o educador que não tenha vivenciado esta prática em sua vida escolar, pode começar a desenvolvê-la junto com seu aluno como em um esquema onde serão parceiros no trabalho. O educador não pode abrir mão da formação constante, buscar renovar a cada dia com o objetivo de melhorar ainda mais seu trabalho. Demo (1995), descreve que educar pela pesquisa parece estranho, mas se olharmos o processo poderemos observar seu dinamismo intrínseco, construtivo; sendo ele um processo permanente pela aposta na inovação do conhecimento, que busca a renovação, a qualidade metodológica da construção do conhecimento. Entre elas outras facetas são apresentadas: a) O seu lado emancipador; que permite o aluno a possibilidade de continuar desenvolvendo de uma forma mais autônoma com olhares vigilantes não aceitando tudo que lhe é imposto, b) Sua marca de atitude cotidiana; vai à busca de vitórias agindo no seu contexto c) Sua viabilidade em qualquer pessoa e em qualquer lugar, sem banalizar; torna-se autônomo com conhecimentos suficientes para opinar sobre assuntos sem ferir direitos e deveres. d) Sua relação intrínseca com o conhecimento inovador; ou seja, o conhecimento que está ligado dentro de cada novo conhecimento. Na visão de Demo (1995), é este lado da pesquisa, que mais se aproxima das áreas escolares e rompe com o distanciamento que o princípio científico produz; assim ao falar em educar pela pesquisa fica mais lógico, pois este recurso auxilia o aluno, e/ou professor a construir o conhecimento já disponível uma vez que você vai partir do que já existe. A pesquisa precisa ser vista como ponto de partida, pois o resultado da pesquisa nunca é o final, mais sim, um novo convite a novos questionamentos. 4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS A pesquisa de campo proporciona um trabalho mais amplo com possíveis investigações. Trabalhando prática e a teoria podemos levar a uma reflexão apoiada tanto no contexto histórico quanto na realidade em que o objeto de pesquisa está inserido, relembrando Gil (2002). Segundo Laville e Dionne (1999), o uso dos questionários permite alcançar rápida e simultaneamente um grande número de pessoas, uma vez que elas respondem sem que seja necessário enviar-lhes um entrevistador. A uniformização assegura de outro lado, que cada pessoa veja as questões formuladas da mesma maneira, na mesma ordem e acompanhadas da mesma opção de respostas, o que facilita a compilação e a comparação das respostas escolhidas e permite recorrer ao aparelho estatístico quando chega o momento da análise. O anonimato habitual garantido aos interrogados mostra-se outra vantagem desse gênero de coleta, pois pode facilitar a tarefa deles: um empregado poderá melhor dar parte de suas queixas, sentindo- se ao abrigo de eventuais represálias. Mas o ponto negativo é que esse anonimato não pode garantir a sinceridade das respostas obtidas. Desta forma escolhemos a pesquisa quali-quantitativa, uma vez que utilizamos dos dois métodos para aplicação e análise dos dados. De acordo com os autores Laville e Dionne (1999) pesquisa quantitativa é a pesquisa realizada e apoiada nos números obtendo assim, resultados exatos, possíveis de serem medidos utilizando instrumentos formais, com ênfase na objetividade para coletas de dados. Já pesquisa qualitativa, envolve coletas de dados para análise sistemática de materiais narrativos mais subjetivos, e tem como objetivo compreender a totalidade de determinado fenômeno, mais do que focalizar conceitos específicos. Salienta-se a importância na interpretação dos dados. Vale lembrar, ainda, que os procedimentos metodológicos utilizados em nossa pesquisa consistiram de minucioso levantamento e cuidadosa averiguação de todo o material teórico e documental disponível (revistas, jornais, livros, entrevistas, internet etc.) relacionados com os dados coletados em campo. O tema central deste trabalho é a Pesquisa e sua importância na formação e ação docente. Como apoio ao nosso trabalho utilizamos como instrumento de coleta de dados questionários. O questionário apresenta 13 perguntas variando entre perguntas (fechadas e abertas), relacionadas à formação do educador e seus saberes e práticas sobre pesquisa. O objetivo foi investigar se a pesquisa ocorre na escola como instrumento didático. Foram entregues para professores de duas escolas municipais de Ensino Fundamental, da cidade de Cambé. Ao serem questionados sobre como explicam o termo “Pesquisa”, todos os educadores afirmaram que o termo “pesquisa” significa investigar, buscar, procura de informações. Para Ander Egg (apud MARCONI ; LAKATOS, 1999), a pesquisa é um procedimento reflexivo e sistemático controlado e crítico que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com métodos de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui como caminho para conhecer a realidade ou descobrir verdades parciais. Em relação a pesquisa em sua formação inicial, dos dez educadores pesquisados, apenas cinco responderam ter participado de projetos de pesquisa. Para Demo (1995) vivenciar a pesquisa na vida acadêmica, possibilita que o professor tenha uma visão abrangente. Mas, caso ele não a tenha vivenciado, essa deficiência pode ser superada. Basta que este educador esteja aberto ao conhecimento, por isso que o valor da pesquisa se faz presente em qualquer etapa do processo e acadêmico sendo um aluno ou um professor. Na sequencia questionamos se eles utilizam pesquisa na sua ação docente, ou seja, para trabalhar os conteúdos com seus alunos. Todos os educadores disseram trabalhar com pesquisa na sala de aula, como recurso para apresentar conteúdos. A respeito das dificuldades encontradas para trabalhar com pesquisa nas aulas, apontaram a falta de interesse e de materiais adequados, e o uso inadequado dos materiais, como as maiores dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar com pesquisa. O recurso a motivação lúdica pode ser muito eficaz nos alunos, como a organização de feiras (de ciências, de matemática, de estudos sociais, produções pessoais e de equipes, etc.), gincanas, jogos, brincadeiras, competições, tomados todos os expedientes instigadores da capacidade de iniciativa e de formulação própria, sem falar no trabalho de equipe; sem exacerbar o horizonte competitivo, porquanto o desfio é educativo, é possível arquitetar nos alunos um ambiente instigador; aproveitando a potencialidade criativa que o lúdico naturalmente contém. (DEMO, 2005, p.30). Ao observar as necessidades dos alunos o professor pode utilizar diferentes estratégias para buscar superar as dificuldades, o trabalho com lúdico é uma proposta que não requer muito custo e proporciona atividades diversificadas e pode alcançar diferentes idades, fases das crianças. Também questionamos sobre quais facilidades encontra para trabalhar os conteúdos através de pesquisa. Com as respostas obtidas foi possível perceber que as atividades trabalhadas com o recurso da pesquisa o conteúdo fica mais fácil de ser apresentado e aprendizagem palpável e significativa, pois os alunos passam a construir o conteúdo junto com o educador, sendo que o tipo de pesquisa mais desenvolvida pelos professores foi a pesquisa bibliográfica. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. [...] A pesquisa bibliografia também é indispensável nos estudos históricos. E em muitas situações, não há outra maneira de conhecer fatos passados se não com base em dados bibliográficos. (GIL, 2002, p.45). Também utilizam a pesquisa de campo o que proporciona um trabalho mais amplo com possíveis investigações, onde trabalhando juntas podemos levar a uma reflexão apoiada tanto no contexto histórico, e a realidade que o objeto de pesquisa está inserido. (GIL, 2002), [...] o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. [...] a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. [...] exige do pesquisador que permaneça o maior tempo possível na comunidade, pois somente com essa imersão na realidade é que se podem entender as regras, os costumes e as conversões que regem o grupo estudado. (GIL, 2002, p.53). Sobre o resultado da pesquisa os educadores dizem refletir sobre o resultado da pesquisa, proporcionando aos alunos um momento de interação e apresentação dos resultados obtidos, estes momentos de apresentação são parte dos momentos que caracterizam a pesquisa como momento de crescimento da autonomia reflexiva, ou desenvolvimento do pensamento crítico. Para Demo (2005) e Antunes (2001) o educador precisa estimular os alunos, levá-los a reflexões sobre os temas, questionando, problematizando, sugerindo outros caminhos levantando dúvidas, para então induzir o aluno também a perguntar, a formular suas próprias reflexões, proporcionado a autonomia frente à pesquisa. Realizamos também observações, com a finalidade de verificar se encontramos no espaço escolar disponibilidades e recursos para dar suporte tanto para o educador como para o aluno realizar uma pesquisa, uma vez que somente com os questionários não verificaríamos a realidade da pesquisa dentro do ambiente escolar. Observamos que a escola não tem um laboratório de informática disponível aos alunos, apenas um para a secretária, como também não há um laboratório de ciências, ela conta com uma sala de artes, mas apenas com materiais para esta aula, e outro ambiente onde são armazenados os objetos materiais das aulas de educação física. O único espaço disponível para pesquisa é a biblioteca, que é ampla com mesas e cadeiras suficientes para os alunos sentarem, mas seu acervo é pequeno e encontram-se disponibilizado em prateleiras, os livros são de literatura infantil, gibis jornais, algumas revistas, livros didáticos, dicionários, pouco podem ajudar em uma pesquisa mais científica. Demo (2003), alega que para trabalhar com pesquisa o aluno, precisa na escola de um ambiente positivo, com participação ativa tanto dos alunos, professores e todos os envolvidos com a escola, onde haja presença dinâmica, inteiração, comunicação, motivação a escola precisa incluir com naturalidade este espaço de trabalho. Observamos duas salas de aula para averiguar como as professoras trabalham com pesquisa em sua classe, a primeira professora trabalha com pesquisa de conceitos apenas para eles procurarem palavras que contenham determinada letra, o que não está incorreto, mas para que isso realmente seja considerado pesquisa é necessário que haja uma contextualização onde fará perguntas sobre as palavras encontradas, o que infelizmente na prática não aconteceu. A segunda professora observada, no dia não trabalhou com pesquisa em conversa posterior à observação, disse que não gosta de trabalhos de grupo ou pesquisa ela relata que a sala os alunos ficam muito agitados, falam o tempo todo, levantam da carteira, quando faz pesquisa prefere apenas que eles pesquisem conceitos, ou busquem em dicionários, o que torna a ação apenas consultas o que não contribui para o desenvolvimento reflexivo do aluno. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que a pesquisa ainda está muito restrita aos universitários, e aqueles que continuam os estudos após a faculdade, em nosso país ainda são a minoria. A infra-estrutura de uma universidade torna-se muito mais favorável à prática de pesquisas do que colégios estaduais ou escolas municipais. O que percebemos através da escola pesquisada é que não há investimentos materiais ou incentivos aos docentes para que essa prática ocorra nas escolas de educação básica, porém não podemos generalizar uma vez que não conhecemos todas as escolas municipais do estado, portanto nos apoiamos na realidade observada. Como já mencionamos o acesso a universidade é em alguns casos impossível para a maioria da população, uma vez que a concorrência é muito grande, portanto a pesquisa em seu teor mais reflexivo acaba ficando ainda mais restrito os estudantes de uma academia ou cursos de pós- graduação. No decorrer do presente trabalho relatamos que a pesquisa propicia a autonomia intelectual, reflexiva tanto dos que inserem está prática em sua rotina de estudos, quanto dos alunos que vivenciam estas atividades ofertadas pelo educador como recurso didático. Ao iniciar este trabalho, tínhamos a intenção de identificar se a pesquisa ocorre na ação docente, se os educadores utilizam da pesquisa na sala de aula. Vimos que ela ocorre, mas não a solicitam utilizando todas as contribuições que ela pode proporcionar, apenas para oferecerem o início de um novo conteúdo sem a finalidade da construção da consciência crítica, onde o conteúdo pesquisado contribua para reflexão, somente levam o aluno a copiar palavras, sem pensar, interagir com o tema, dessa maneira utiliza de forma equivocada um instrumento de trabalho tão valioso que poderia contribuir para uma sala de aula com alunos mais participativos, curiosos. Tratar deste assunto não é simples, pois aborda um instrumento influente que pode ser apresentado como forma manipuladora de fontes, conteúdos, dados, que permite diferentes interpretações, por isso formar um cidadão que pense, reflita, questione é também um grande desafio. Há sempre dúvidas conceituais ao falar em "professor refletindo sobre" ou em "professor pesquisador". Agregam-se a estas dúvidas as condições para a prática da pesquisa nas escolas, pelos professores, tais como a cultura da própria escola, os tempos didáticos, os apoios necessários (humanos, intelectuais, financeiros e materiais entre outros), as relações e administrações escolares, com associações científicas e de classe, os contratos de trabalho. Desta maneira, entendemos que a política social vigente não propicia a todos os estudantes a autonomia intelectual, uma vez que não incentiva essa prática nas escolas bem como a postura tradicional de alguns profissionais da educação que ainda prefere o silencio ao barulho produtivo. Então pergunto o que os fazem pensar, agir assim? O medo do novo ou não saber fazer, como vimos há diferentes formas de tornar-se um pesquisador entre elas é estar disposto a começar, recomeçar, estar aberto ao novo conhecimento. Assim, podemos concluir que os professores mostram-se cientes da importância de realizar pesquisas, porém, há diversos fatores, como a infra-estrutura, os de cunho pessoal, tanto de alunos como de educadores, o desinteresse, falta de leitura, a falta de tempo, interferem para a prática da pesquisa acontecer como recurso metodológico. Porém, acreditamos que é possível estimular gestores, pedagogas, professores e os alunos das escolas, a utilizar da pesquisa nas aulas com o objetivo de conseguir novos e positivos resultados no processo de formação, tanto docente quanto discente. Estamos cientes de que são resultados a serem conquistados em longo prazo, mas que, uma vez conquistados proporcionarão uma postura diferente dos alunos, bem como uma realidade educacional aperfeiçoada, com alunos mais interessados e participativos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, Marli (org.). O Papel da Pesquisa na Formação e na Prática dos Professores. 3.ed. Campinas : Papirus, 2004. DEMO, Pedro. 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