O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR E SUA AÇÃO PEDAGÓGICA NAS SÉRIES INICIAIS INTRODUÇÃO O presente artigo que tem por título O papel do supervisor escolar e sua ação pedagógica nas séries iniciais; traz respostas a um conjunto de questionamentos acerca da atual situação do supervisor, que ao longo do curso de graduação foram indagadas e ampliadas. Contudo, a questão é bastante polêmica nos dias atuais e não deixa de ser interessante discuti-la, haja vista, que o profissional que exerce a função de supervisor em uma instituição de ensino deve estar apto para tal responsabilidade. Em linhas gerais, com o desenvolvimento da sociedade a partir do século XX, especificamente em 1924, com a criação da A. B. E. – Associação Brasileira de Educação – os "técnicos em educação" receberam grandes estímulos na área educacional. Partindo desse pressuposto, já nos encontramos no século XXI e várias reformas educacionais ocorreram e assim as dúvidas sobre o papel do supervisor escolar pairam em muitas mentes como um vulcão à beira da erupção. Sabe-se que algumas reformas na educação foram importantes, principalmente com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação; Lei – 9.394/96 – onde a partir do Art.61 desta lei relatam acerca da importância da formação desse profissional da educação. Assim, a busca de aperfeiçoamento no campo profissional foi constante até mesmo para desenvolver e entender melhor sua prática, pois com a formação e qualificação este profissional atenderá melhor ao mercado de trabalho. Dessa forma, o objetivo é identificar o papel do supervisor e a sua ação pedagógica nas séries iniciais; entretanto, a pesquisa metodológica utilizada para alcançar os objetivos almejados neste trabalho tem base bibliográfica. Portanto, discutir-se-á neste artigo um breve histórico sobre supervisão escolar fazendo uma contextualização desde a colonização até os dias atuais, enfatizando as transformações sociais e políticas que envolvem o supervisor escolar destacando também o papel deste diante de sua prática pedagógica, bem como sua ação no ensino fundamental e a relação entre supervisores e professores das séries iniciais. 1. BREVE HISTÓRICO SOBRE SUPERVISÃO ESCOLAR Retomando ao contexto histórico antes do período colonial, é interessando perceber que as comunidades daquela época já utilizavam pessoal para organizar, fiscalizar e assim, asseguravam a regularidade e funcionalidade da "Sociedade", nota-se então, que haviam pessoas que exerciam a função de supervisor, sendo que essa nomenclatura não era utilizada neste contexto histórico. Segundo Saviani (2007, p. 14): Esse tipo de sociedade se caracterizou pelo modo coletivo de produção da existência, isto é, os homens se apropriavam coletivamente dos meios de vida fornecidos diretamente pela natureza para satisfazer suas necessidades existenciais... Portanto, os homens não estavam, ainda, divididos em classes e produziam sua existência em comum, e, assim fazendo se educavam. Mesmo nas comunidades primitivas onde a educação se dava de forma difusa e indiferente estava presente a função supervisora, ora supervisionado e organizando o trabalho dos membros da comunidade. Entretanto, com o passar dos anos o mesmo fenômeno que caracterizou a sociedade antiga, persiste na Idade Média, no modo de produção feudal, pois, na antiguidade tinha a classe dos proprietários e a dos não-proprietários de terras, conseqüentemente a educação escolar se destinava aos membros da classe dominante. Assim, a ação supervisora ainda não se põe em destaque, visto que na época antiga e medieval, a estrutura escolar era simples e constituída de um único mestre com seus discípulos, "semelhante ao artesanato em que o artesão, sozinho, realizava o trabalho completo, desde a concepção até o produto final, na escola o determinado mestre também realizava por inteiro o trabalho de formação de seus discípulos". (Saviani, 2007, p. 16). Então, os anos se passaram e muitas mudanças ocorreram no âmbito educacional. Deportamo-nos finalmente para o século XX, onde com a criação de leis e decretos na área educacional o supervisor escolar passou a assumir função específica nas instituições de ensino. Visto que, o desenvolvimento da sociedade brasileira de cunho capitalista e a aceleração do processo de industrialização e urbanização intensificaram as pressões sociais em torno da questão educacional fazendo com que as reformas e políticas educacionais tomassem forma para o melhor desenvolvimento da mesma. No entanto, no final dos anos 60, com a ruptura política do período militar, buscou-se organizar a educação à nova situação; todavia, realizaram-se novas reformas no ensino. Nesse contexto sócio-político educacional é aprovado pelo então Conselho Federal de Educação o Parecer n° 252 de 1969 que reformulou os cursos de Pedagogia. Por meio deste Parecer, pretende-se especializar o educador em uma função particular não se preocupando com sua inserção no vasto painel do processo educativo. As funções foram denominadas "habilitações". Conforme Saviani (2007, p. 29) o curso de pedagogia foi então: Organizado na forma de habilitações, que, após um núcleo comum centrado nas disciplinas de funcionamentos da educação, ministradas de forma bastante sumária, deveriam garantir uma formação diversificada numa função especifica da ação educativa. Foram quatro habilitações centradas nas áreas técnicas, individualizadas por função, a saber: administração, inspeção, supervisão e orientação; além disso, previu-se também, como habilitação possível de ser cursada concomitantemente com uma dentre aqueles da área técnica, o magistério de disciplinas profissionalizantes dos cursos normais. Em suma, é com o Parecer n° 252/69 que se dar a tentativa mais radical de se profissionalizar a função do supervisor educacional. Em meio aos conflitos da época, a supervisão foi oficializada com a LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação – de 1971 com a lei 5.692/71. 1.1. A Supervisão Escolar no Século XX No século XX a educação brasileira passou por vários processos de mudanças, em diversas áreas afins. Em meados do século passado a pedagogia tradicional começa a perder força no Brasil em virtude do movimento da educação nova, advinda de influencias dos movimentos sociais e políticos do século XIX e do desenvolvimento da biologia, psicologia e sociologia, tendo como base teórica a concepção cientifica da educação. Assim, o movimento da escola nova orienta-se pela tecnização do campo pedagógico voltado para os fatores internos da instituição escolar: organização e administração do sistema de ensino, qualidade do ensino e novas técnicas de ensino obtidas nos recentes desenvolvimentos experimentais, segundo Libânio (2007, p. 48). Contudo, nos anos 50 inicia-se a propaganda de novas teorias educacionais originadas dos E.U. A e rotulados com a expressão "tecnicismo educacional", que criou força nos anos 70. Na década de 70, surge a nomenclatura "supervisor escolar" com a lei 5.692/71 onde se acentua a idéia do gerenciamento dos sistemas escolares e escolas, com tentativas de dar um cunho empresarial à administração escolar e à sala de aula. Desse modo, percebe-se que o profissional ocupava o cargo de supervisor escolar, mas não conseguia desenvolver e identificar a função política e social que lhe cabia. Entretanto Nereide Saviani, ao defender sua dissertação de Mestrado sobre o tema: "Função técnica e função política do supervisor em educação", entrevistou supervisores da rede Municipal, Estadual e Particulares; tendo chegado a algumas conclusões: Nem sempre o supervisor se dá conta de que cumpre uma função política; se o supervisor não se dá conta de que cumpre uma função política, tampouco tem consciência de qual função é essa e, menos ainda, sabe explicitá-la; - Numa primeira análise, é possível dizer que a função política que os supervisores (em sua maioria) desempenham não é a que gostaria de estar desempenhando. (Saviani, 2007, p. 32 a 33) Conforme os questionamentos referidos à função política da supervisão, seja de modo geral ou particular, as habilitações pedagógicas careciam de especificidade tanto em termos teóricos como em termos práticos. Ainda de acordo com Saviani: Em termos teóricos porque não dispunham de um corpo próprio de conceitos, sendo, por exemplo, a chamada teoria da supervisão, um arranjo de conceitos que integravam às áreas básicas como Sociologia da Educação, Filosofia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação ou Didática. Em termos práticos essa falta de especificidade se traduzia na reversibilidade com que os diferentes "profissionais" ocupavam os postos da burocratização educacional, independentemente do tipo de habilitação constante de seus diplomas. (Saviani, 2007, p. 33). É fundamental entender que nessa época para trabalhar como supervisor o importante era ter formação em educação, mais precisamente no curso de pedagogia; quanto à habilitação não era tão relevante. É nesse contexto conflituoso do século passado, que no final dos anos 70, o curso de Pedagogia ganha corpo, sobre a base de uma fundamentação teórica centrada nos fundamentos da educação com competências para exercer as diferentes atribuições dirigidas pelos sistemas de ensino visando um melhor funcionamento. Apesar de que o papel do supervisor educacional perpetue ainda em discussão, é bom compreender que apesar dos contratempos o supervisor tem desenvolvido sua função de modo a estar contribuindo para o melhor encaminhamento do processo educativo em nível de perspectivas futuras, isto é, nos dias atuais. Visto que as reformas que aconteceram na educação não foram suficientes para dar suporte técnico/pedagógico em todo o campo socioeconômico e cultural da educação brasileira. Contudo, as lutas por uma educação de qualidade neste século foram importantíssimas, logo o compromisso de alguns educadores neste processo focalizava a inserção dos valores éticos e morais da época. Então no século XX, se passou a trabalhar com uma política democrática, sendo que no âmbito escolar esta democratização demorou a chegar; visto que, os supervisores estavam condicionados a uma política tradicional do sistema antigo, sabe-se que em algumas escolas eram os supervisores que administravam a instituição. Durante muitos anos os supervisores eram vistos como controladores das ações dos professores (esta ação controladora será discutida mais adiante). Entretanto, nos dias atuais alguns agem assim pelo poder que lhe cabe, porém, a democracia se expressa como condição fundamental para que a organização escolar se traduza em um ato coletivo atuante. Com a nova política do século XX, a participação democrática constitui uma forma significativa de promover maior aproximação entre os membros da escola reduzindo a desigualdade entre eles. Busca-se então, neste novo cenário um supervisor voltado para as políticas inerentes às novas propostas de ensino estabelecidas pelo Ministério de Educação. Assim sendo, Scapin (2008, p. 22) justifica que: No período da democratização, a volta ao estado de direito foi lenta e progressivamente mostrando um viés novo para a compreensão de antigos problemas. Ao momento de crítica e revisão do processo político brasileiro se somou uma visão crítica da educação, da escola e da atuação de professores no sistema escolar brasileiro. Ainda de acordo com a autora, os teóricos nos direcionam a pensar que as questões concretas que influenciaram a prática escolar não nasceram dentro delas (escola), mas, alimentam-se da sociedade como um todo. Entretanto, os processos educativos não são apenas implantados num determinado espaço – a escola está necessariamente envolvida com o contexto que a cerca, nesse contexto o supervisor pedagógico esta compreendido num conjunto de elementos que incluem o social, o político, o econômico, o histórico, o cultural. Enfim, o supervisor precisa compreender a estreita relação entre as práticas sociais e a sua prática escolar. 1.2. As Transformações Sociais e Políticas e o Desenvolvimento do Papel do Supervisor As transformações no campo educacional se intensificaram em meados do século XX, logo, a sociedade se organiza em prol de uma educação onde as classes menos favorecidas pudessem estar inseridas no processo educativo. Então, a partir da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – Lei 4.024/61, as Transformações no campo educacional, social e político, tiveram base filosófica para caminhar; após dez anos surgiu outra reforma na área educacional que foi com a segunda LDB – 5.692/71; que veio oficializar a função do Supervisor escolar na lei. E a terceira Lei é vigente, 9.394/96 que dá respaldo para a função do Supervisor no art. 64 – "A formação de profissional de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação à critério da instituição de ensino, garantida nesta formação, a base comum nacional." Os aspectos socioeconômicos e políticos influenciaram a ação supervisora por toda a história educacional. Apesar de ter sido reconhecida oficialmente pela LDB de 1971, a idéia de supervisão tem origem no período colonial, quando foi organizado o primeiro sistema educacional brasileiro. No entanto, as conquista no âmbito educacional vieram contribuir para a reflexão do papel social e político do supervisor, atribuindo-lhe mais responsabilidade para desenvolver suas habilidades e competências. Portanto, cabe ao mesmo supervisionar de forma prática o processo ensino-aprendizagem, visando competência técnica, política, teórica e humana. Visto que, a sociedade atual vive veiculada ao mundo globalizado onde a velocidade da informação é ingerida de forma imediata, com isso o supervisor tende a desenvolver seu papel no âmbito escolar valorizando o conjunto de idéias e valores, como também questionando acerca da reflexão teórica e prática. Entretanto, para refletir sobre a supervisão educacional, é necessário compreender os compromissos que deram sustentabilidade em sua trajetória no campo político e administrativo da educação. Sobre as transformações sociais e políticas, como ressalta Ferreira (2007, p. 327): Como prática educativa ou como função, a supervisão educacional, independentemente de formação especifica em habilitação no curso de Pedagogia, constituiu-se num trabalho escolar que tem o compromisso de garantir a qualidade do ensino, da educação, da formação humana. (...). Não se esgota, portanto, no saber fazer bem e no saber o que ensinar, mas no trabalho articulador e orgânico entre a verdadeira qualidade do trabalho pedagógico que se tornará mais verdadeiro em seus compromissos humanizadores, quando expressar e servir de pólo-fonte de subsídios para novas políticas e novas formas de gestão na intensidade espaço-temporal de transformações que a "era da globalização" ocasionou. Então, percebe-se que as transformações sócio-políticas contribuíram para o fortalecimento do papel do supervisor e seu desenvolvimento que é fundamental no processo educacional; haja vista que etimologicamente, supervisor significa "visão sobre", e sua origem traz o viés da administração, que a designa como gerência para controlar o executado; já na educação, passou a ser exercida como função de controle no processo educacional. (Ferreira, 2007, p. 238). Para tanto, deve-se ressaltar que o supervisor educacional exercia sua função como controlador do processo de produção, fiscalizando os recursos que o professor supostamente trabalharia em sala de aula e também fiscal de cadernetas – diários de classe – era mais um supervisor burocrático. Já nos dias atuais, o supervisor é o articulador do Projeto Político-Pedagógico da instituição, sistematizando e integrando o trabalho conjunto por meio da interdisciplinaridade. 2. O PAPEL DO SUPERVISOR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA Libâneo, (2002, p. 29,30) ressalta a importância da prática pedagógica para educadores e implica vários conceitos empíricos para tal prática; sendo que formalmente considera-se o "pedagógico" como um dos processos educativos, metodológicos ao modo de ensinar. Desse modo, percebe-se que é um campo de conhecimento que trata sobre a problemática educacional visualizando sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. Portanto, o supervisor constitui-se em um agente de mudanças, facilitador e mediador, oportunizando uma relação de harmonia entre os interlocutores da instituição. Sua prática não deve está dissociada da teoria e nem a teoria da prática. Conforme aponta a seguir Houssaye, citado por Libânio (2002, p. 35): Por definição, o pedagogo não pode ser nem um puro e simples prático nem um puro e simples teórico. Ele está entre os dois. A ligação deve ser ao mesmo tempo permanente e irredutível, porque não pode existir um fosso entre a teoria e a prática. É esta abertura que permite a produção pedagógica. Em conseqüência, o prático em si mesmo não é um pedagogo, é mais um utilizador de elementos, de idéias ou de sistemas pedagógicos. Mas o teórico da educação; pensar o ato pedagógico não basta. Somente será considerado pedagogo aquele que fará surgir um "mais" na e pela articulação teoria e prática na educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS O tema amplo, complexo e inesgotável mobiliza-me a continuar estudando e acreditando, na Supervisão Educacional brasileira, pois observou-se que cada vez mais o profissional desta área deve se comprometer com as transformações que a educação vem atravessando. As hipóteses levantadas pelo projeto para construção deste artigo se confirmaram. Com base nas pesquisas foi percebido que: No inicio, a função do supervisor era de fiscalizar o trabalho do professor; e nesse processo os planos de aula e diários de classe deveriam estar conforme a posição estrutural do supervisor. O supervisor desenvolvia mais um trabalho burocrático do que articulador do processo educacional. Com as transformações sociais e políticas se fortalecendo o supervisor começou a repensar sua ação, percebendo-se como um ser capaz de compartilhar no processo pedagógico, por meio de um olhar diversificado. REFERÊNCIAS ALVES, Nilda. Educação e supervisão: o trabalho coletivo na escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. BURIOLLA, Marta Alice Feiten. Supervisão em serviço social: o supervisor, sua relação e seus papéis. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008. FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. GRINSPUN, Míriam Paura S. Zippin (Org.) Supervisão e orientação educacional: perspectivas de integração na escola. 4 ed. ampl. São Paulo: Cortez, 2008. LIBÂNIO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos para quê? 6 ed. São Paulo: Cortez, 2002. MELO, Alessandro de; URBANETZ, Sandra Terezinha. Fundamentos de Didática. Curitiba: Ibpex, 2008. PILETTI, Claudini. Didática Geral. 23 ed. São Paulo: Ática, 2003. SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação: Trajetória, Limites e Perspectivas. 3 ed. São Paulo: Autores Associados, 1999. Fonte: http://www.artigonal.com/ensino-superior-artigos/o-papel-do-supervisorescolar-e-sua-acao-pedagogica-nas-series-iniciais-3220554.html