Sessão Extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Execução das Conclusões da Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Social e Outras Iniciativas A Sessão Extraordinária da Cimeira Social procura soluções para os infortúnios da globalização Enquanto as forças extremamente rápidas da globalização continuam a movimentar mercadorias, informação e dinheiro através das fronteiras, a uma velocidade cada vez maior, e a proporcionar lucros cada vez mais avultados àqueles que estão inseridos no circuito, existe uma consciência crescente de que este combóio de prosperidade está a passar ao lado da maior parte da população mundial. Os 10 compromissos da Cimeira Social ♦ Erradicar a pobreza absoluta até uma data que será determinada por cada país; ♦ Apoiar o pleno emprego como um objectivo político básico; ♦ Promover a integração social baseada no reforço e na protecção de todos os direitos humanos; ♦ Alcançar a igualdade e a equidade entre mulheres e homens; ♦ Acelerar o desenvolvimento de África e dos países menos desenvolvidos; ♦ Garantir que os programas de ajustamento estrutural incluam metas de desenvolvimento social; ♦ Aumentar os recursos atribuídos ao desenvolvimento social; ♦ Criar “um conjunto de condições económicas, sociais, culturais e jurídicas que permita que as pessoas atinjam o desenvolvimento social”; ♦ Alcançar o acesso universal e equitativo à educação e aos cuidados de saúde primários; ♦ Reforçar a cooperação para o desenvolvimento social através das Nações Unidas. Na verdade, os benefícios da globalização passaram grandemente ao lado de metade da população mundial, 3 mil milhões de pessoas que sobrevivem com menos de 2 dólares por dia. O fosso entre os mais ricos e os mais pobres do mundo alargou-se, enquanto as crises financeiras da Ásia e da América Latina ameaçaram anular anos de crescimento e progresso. melhorar a saúde e a educação e procurar conseguir o pleno emprego. Acordaram também num Programa de Acção, de 100 parágrafos, que estabelecia metas e objectivos para o desenvolvimento social e um plano para atingir esses objectivos. Análise da cimeira social Para analisar os progressos desde a Cimeira e para fazer avançar as prioridades de desenvolvimento social, a Assembleia Geral irá realizar uma sessão extraordinária em Genebra, entre 26 e 30 de Junho de 2000. 1 Genebra Suíça 26-30 Junho 2000 Nações Unidas “Apesar de tudo quanto se diz sobre a globalização, a maior parte do mundo continua, em grande medida, sem sentir os seus efeitos. Calcula-se que metade da população mundial nunca tenha feito, ou recebido, uma chamada telefónica”, afirmou o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. No meio de um sentimento crescente de insegurança humana, na era de uma nova economia mundial, as Nações Unidas convocaram a Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Social, em Copenhaga, Dinamarca, há cinco anos, para atrair a atenção mundial para soluções para os maiores problemas sociais mundiais. A Cimeira, onde estiveram presentes representantes de 186 países – incluindo 117 chefes de Estado e de Governo –, resultou num acordo significativo que comprometia os países a trabalharem para metas específicas de desenvolvimento social. Em especial, acordaram na Declaração de Copenhaga sobre o Desenvolvimento Social, que continha 10 compromissos definitivos para um trabalho mais perseverante para erradicar a pobreza, Embora exista um sentimento generalizado entre as delegações dos países de que os objectivos e metas estabelecidos em Copenhaga serão difíceis de atingir, a maior parte dos países continua a afirmar o seu empenhamento na consecução dos objectivos da Cimeira Social e acredita em que a reunião de Genebra irá ajudar a eliminar as barreiras que impediram um progresso mais rápido. O tema principal da sessão de análise é “pôr o desenvolvimento social no cerne das prioridades da política mundial”, segundo John Langmore, Director do Departamento da Divisão de Política Social do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas. “Temos de manter o ímpeto político mediante a obtenção de acordos quanto a acções e estratégias concretas”. Em especial, muitos vêem a reunião de Genebra como uma oportunidade para levarem os Governos a estabelecer regras e normas de desenvolvimento social que orientem as iniciativas das outras principais instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. sociais, sem pôr em perigo as reformas económicas. Embora não sejam legalmente vinculativas para qualquer país, as conclusões de Copenhaga têm um forte peso moral e político, sobretudo dado que se tratou de um consenso alcançado por tantos dirigentes mundiais. Os países consideram que um consenso global deste tipo é útil porque pode ajudar a estabelecer normas e objectivos, em termos de desenvolvimento social, que sejam reconhecidos universalmente. As preocupações com a globalização Os medos em relação à globalização proporcionaram um impulso importante para a convocação da Cimeira Social, em 1995. Desde a Cimeira, o ritmo cada vez mais rápido da globalização, que interferiu profundamente nas decisões políticas, económicas e sociais de praticamente todos os países, foi salientado pela maior parte dos países em desenvolvimento como o maior obstáculo à consecução do progresso social. Esta preocupação, que já era significativa, em relação à globalização atingiu um ponto alto quando milhares de manifestantes se juntaram para protestar contra a reunião ministerial da Organização Mundial de Comércio, em Seattle, entre 30 de Novembro e 4 de Dezembro de 1995. Estes críticos da globalização, que estão longe de ser um grupo monolítico, levantaram objecções ao facto de o novo regime do comércio mundial estar a prejudicar o ambiente, os direitos dos trabalhadores, os interesses locais e, acima de tudo, as necessidades das pessoas. oportunidades. Mas, segundo o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, “Muitos sentem a globalização não como um factor de progresso, mas sim como uma força de desagregação, quase semelhante a um ciclone, dada a sua capacidade de destruir vidas, empregos e tradições, num piscar de olhos. Para muitos, existe uma necessidade de opor resistência ao processo e procurar refúgio na segurança da dimensão local. A globalização pode estar a exacerbar a desigualdade. Pode estar também a perturbar tradições culturais e a aumentar o nosso sentimento de desorientação espiritual”. Muitos países expressaram a sua consternação perante a nova direcção da economia global e as suas consequências sociais, sobretudo durante as recentes discussões levadas a cabo na Assembleia Geral das Nações Unidas. Susanto Sutoya, o Vice-Representante Permanente da Indonésia junto das Nações Unidas em Genebra, afirmou perante a Assembleia Geral, “É claro, hoje em dia, que o início da globalização e da liberalização do comércio não foi benéfico para todos os países, e que muitos países em desenvolvimento não estão devidamente preparados para enfrentar os desafios e colher os frutos da economia global”. Os prognósticos para os pequenos actores na cena internacional não são bons, segundo o Primeiro-Ministro malaio, Mahathir bin Mohamad, que disse à Assembleia Geral que os pequenos países independentes enfrentavam um futuro sombrio. Um campo de jogo plano, afirmou, onde o capital, bens e serviços fluem livremente entre países, e onde não existem impostos discriminatórios, ajuda efectivamente a destruir os mercados. Perguntou, “Pode a concorrência entre gigantes e anões ser justa, mesmo quando o campo de jogo é plano?” Afirma que os bancos, empresas e indústrias gigantescos dos países ricos, usando os enormes lucros obtidos noutros lugares, poderiam dar-se o luxo de perder dinheiro nos pequenos países. À medida que as pequenas empresas fechavam ou eram obrigadas a vender-se às gigantescas empresas estrangeiras, os mercados acabariam por ser destruídos, tendo como consequência uma contracção do mercado mundial. “O mundo ficaria efectivamente mais pobre por causa da liberdade de comércio”. Referindo que o processo de globalização redefine necessariamente o conceito e a prática da soberania nacional, o Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, afirmou: “Torna-se necessário que seja realizado um movimento compensatório, para o reforço do impacte desses países no sistema de governo mundial, através da democratização do sistema de relações internacionais”. São necessários novos esforços para dar um rosto humano aos mercados mundiais A globalização tem sido uma força positiva que melhora A filosofia fundamental da Cimeira foi fazer que o o nível de vida de muitos e proporciona mais desenvolvimento se centrasse mais nas pessoas”, segundo 2 tem muito a aprender com a economia. Defende que, em vez de meras alterações quantitativas, como um pouco mais de educação, mais uns quantos programas de saúde, os países têm de “corrigir os princípios fundamentais sociais”, tal como devem corrigir os princípios fundamentais económicos. Jagat Mehta, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia. “De acordo com essa filosofia, o princípio subjacente era o da igualdade de acesso a meios de subsistência, saúde, educação e outros serviços sociais numa ordem nacional e mundial propícia. No entanto, o que temos hoje, quando nos aproximamos do próximo século, é um padrão de desigualdades incapacitantes no contexto macroeconómico internacional, que conduz ao enfraquecimento do desenvolvimento social e económico no mundo em desenvolvimento”. Estes princípios fundamentais incluem, afirmou, a aceitação pelos países de que todas as pessoas têm direito a desenvolver-se, a contribuir para a sociedade e a gozar do direito a uma vida saudável, oportunidades de educação e emprego produtivo. Ademais, assevera, os Governos têm de submeter todas as principais decisões em termos de políticas a um teste de desenvolvimento social para determinar os seus impactes sociais. Embora o comércio seja agora uma componente essencial dos esforços internacionais para gerir e regulamentar o processo de globalização, existem outras componentes que também devem ser consideradas. Na sequência da crise financeira de 1997, que dizimou as economias da Ásia, houve um acordo amplo quanto à necessidade de se criar uma nova arquitectura financeira internacional para enfrentar os tumultos nos mercados financeiros mundiais. A Sr.ª Kaul afirmou que os países têm de aprender também a avaliar os custos de negligenciarem o desenvolvimento social. Por exemplo, as consequências de não investir na educação das raparigas são muito superiores aos custos de um investimento activo na sua educação. “O sector privado, apesar de vivo e dinâmico, não pode por si só dar um rosto humano aos mercados globais ou atingir os milhões que se encontram nas margens”, disse Kofi Annan. Baseando-se no êxito das Nações Unidas na ajuda aos países para estabelecerem acordos que abrangem uma ampla gama de problemas mundiais, o Secretário-Geral procurou obter apoio para consolidar o papel das Nações Unidas no estabelecimento de normas e directrizes para que se atinja o desenvolvimento social. Que vai acontecer na sessão extraordinária? Embora seja uma reunião de Governos, a assembleia extraordinária continuará a ser uma oportunidade para os Governos encetarem um diálogo com organizações não governamentais e representantes de empresas, parlamentos, grupos religiosos e outros actores importantes da sociedade civil. Paralelamente à sessão extraordinária, o Governo da Suíça acolhe o Fórum Genebra 2000, que servirá de plataforma para o lançamento de novas iniciativas de promoção do desenvolvimento social no seio da sociedade civil. Uma oportunidade de apresentar novas ideias A Cimeira Social já ajudou a aumentar a visibilidade das questões sociais nas prioridades mundiais. Agora, para além de avaliar os progressos feitos até agora, a sessão extraordinária proporciona uma oportunidade para formular novas estratégias destinadas a tornar exequíveis os objectivos da Cimeira. A Assembleia Geral exortou os países a enviarem representantes “ao mais alto nível possível” para garantir que os países possam assumir obrigações mais concretas. Irão ser discutidas outras iniciativas ao longo do processo de preparação que antecede a sessão extraordinária. A necessidade de novas estratégias sociais foi demonstrada pela resposta internacional à crise financeira asiática, em que as instituições financeiras internacionais foram obrigadas a tomar em consideração a dimensão social da situação. Os países já começaram a negociar os documentos que irão representar as conclusões da sessão extraordinária. Uma primeira reunião preparatória realizou-se em Maio de 1999, e houve conversações informais em Setembro. O resultado é um texto provisório que enumera áreas de concordância e de discordância. As negociações recomeçaram durante a reunião da Comissão do Desenvolvimento Social, que se realizou em Nova Iorque entre 8 e 17 de Fevereiro de 2000, e novamente numa segunda reunião preparatória, em Abril. Muitos acreditam que os novos desafios internacionais, tais como o combate à pobreza, o fornecimento de emprego de qualidade, a protecção do ambiente e o combate ao vírus VIH/SIDA, exigem um sistema novo de cooperação internacional e novas instituições para gerirem essa cooperação. Alguns crêem que tem de haver uma mudança na mentalidade actual quanto às questões de desenvolvimento social. De acordo com Inge Kaul, Directora do Gabinete de Estudos de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o campo do desenvolvimento social Não existem divergências reais entre os países em relação aos objectivos de Copenhaga. Acordaram em que não irão tentar renegociar aspectos das conclusões da Cimeira. Na verdade, a divergência real entre os países relaciona-se com saber por que razão a execução das 3 conclusões da Cimeira não correu tão bem como estava plaenado. Os países em desenvolvimento tendem a salientar a importância da cooperação internacional e a necessidade de recursos para pôr em execução o Programa de Acção da Cimeira. Segundo Sonia Elliot, Primeiro Secretário, em 1999, da Missão da Guiana junto das Nações Unidas, que negociou em nome do Grupo dos 77, em matéria de desenvolvimento social, existe um sentimento, entre os países em desenvolvimento, de que deveria haver um esforço para pôr em execução o que não foi executado desde Copenhaga, antes de passar para novas questões. “Primeiro, temos de tentar pôr em execução Copenhaga”, afirmou. “Precisamos de recursos, de um compromisso político dos países doadores, de acesso a mercados, de fluxos de investimento e de que a situação especial da África seja tomada em consideração. Se não tivermos os recursos, como iremos conseguir o que quer que seja?” Os países industrializados, embora não neguem a necessidade de uma maior cooperação internacional, colocam a tónica em questões como governação, direitos humanos e igualdade entre os sexos para promover as prioridades de desenvolvimento social. A União Europeia, retomando uma proposta do Reino Unido, apresentou uma ideia de que a Cimeira Social pode ajudar a definir um conjunto de princípios sociais para o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. O Presidente da Assembleia Geral, Theo-Ben Gurirab, ao resumir as discussões da Assembleia Geral sobre a execução da Cimeira Social, disse que, entre as principais preocupações dos países, se contavam a globalização e a crise financeira internacional, a diminuição do auxílio oficial ao desenvolvimento e de iniciativas de redução da dívida, a boa governação, o desenvolvimento centrado nas pessoas, a erradicação da pobreza, a criação de oportunidades de emprego produtivo, os serviços sociais básicos e o papel da sociedade civil na tomada de decisões e na atribuição de recursos e o desenvolvimento e a segurança humana. Enquanto prosseguem as negociações sobre o papel das instituições financeiras mundiais e sobre as regras de comércio nesta era da globalização, o Presidente Gurirab disse que a sessão extraordinária, com a sua atenção à dimensão social, “deveria funcionar como o terceiro pilar das deliberações sobre a remodelação da arquitectura financeira mundial”. A sessão de análise da Cimeira Social poderia proporcionar também um fórum alternativo para a discussão de questões sociais, tais como os direitos dos trabalhadores, que provocaram graves discordâncias nas conversações da Organização Mundial de Comércio, em Seattle. Outras questões que podem ser consideradas são as responsabilidades sociais das empresas multinacionais, as novas possibilidades de angariação de recursos para o desenvolvimento social e uma meta mundial para a erradicação da pobreza. Publicado pelo Departamento de Informação das Nações Unidas DPI/2100, Maio de 2000 4