42ECONOMIA A GAZETA DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2015 BRASIL NO VERMELHO SOLUÇÕES PARA A CRISE Especialistas apontam alternativas para o país voltar a crescer BEATRIZ SEIXAS [email protected] Descontrole dos gastos públicos, políticas macroeconômicas desconexas, controle artificial de preços e índices, quebras de contratos,elevadointervencionismo do Estado e uma infraestrutura engessada e ineficiente são alguns dos fatoresquepesaramparaos resultados ruins que a economia brasileira vem colhendonesteanoequeatéo final de2015prometem ser ainda mais pessimistas. Mas, mesmo com uma previsão de o Produto Interno Bruto (PIB) sofrer retração da ordem de 2% e indicadores ligados ao desemprego, inflação, juros e renda serem os piores dos últimos anos, especialistas ouvidos por A GAZETA acreditam em saídas para esta crise e, de forma unânime, defendem a necessidade da retomada da confiança do mercado para o país voltar a crescer. Para isso, o doutor em EconomiaeprofessordaFucape Bruno Funchal diz que o governo precisa urgentementecortargastosparaque seu orçamento seja sustentável. Pensamento semelhanteédefendidopelodiretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. “Não está certo o que o DIVULGAÇÃO Quebra de regra no setor elétrico gerou desconfiança Levy (ministro da Fazenda) está fazendo, de ficar só aumentando impostos. O governodeveriareduzirogasto público. Cair de quase 40 ministérios para 20 e acabar com essa história de cada político ter de 20 a 30 assessores parlamentares. Em qualquer país decente, funcionários são da Casa e não do político”, comparou Vertamatti. A economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Marzola Zara vê a aceleraçãodoprogramade concessões como um passo importante para a atração de investimentos, geração de emprego e renda, e reforça a necessidade do governo realizar políticas nas áreas trabalhista, previdenciária e tributária. Tambéménecessário,na visão do estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, a garantia de contratos. Ele lembra que a quebra de regras, como aconteceu no setor de energia em 2013, além de balançar a confiança do investidor, criou um rombo nas contas do governo e das empresas do segmento. O mestre em Economia Aplicada e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), LeandroLino,ponderaque,além desuperaracrisefinanceira, oBrasilprecisaacabarcoma crisedeexpectativasecoma instabilidade política. PALAVRA DOS ESPECIALISTAS “PRECISAMOS DE ATITUDES TRANSPARENTES E COERENTES” “É PRECISO RECUPERAR UM CLIMA POLÍTICO AMENO” “É FUNDAMENTAL A MANUTENÇÃO DE CONTRATOS E DE REGRAS” Roberto Vertamatti, diretor de Economia da Anefac Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados Celson Plácido, estrategista chefe da XP Investimentos Os agentes econômicos estão desconfiados com a gestão de hoje. Para mudar isso, é preciso, a partir de já, existir atitudes coerentes, sinceras e transparentes por parte do governo. Se a gente não começar a mudar já essa questão da confiança, vamos ver na economia brasileira uma década perdida. Outro ponto que precisa mexer, e isso tem muito a ver com a filosofia do partido, é o absurdo do gasto público. É preciso corrigir e reduzir as despesas da União. Vender algumas estatais pode ser um caminho. Além disso, é preciso mudar a postura em relação às agências reguladoras. Elas têm que deixar de ser politizadas. Porque da forma como está hoje, ninguém mais confia. Em 1º lugar, seria necessária a criação de um consenso em torno de uma agenda mínima para o curto prazo e que se começasse a criar as bases para uma discussão sobre as questões estruturais. Na agenda mínima, uma rápida simplificação de processos e melhora da arrecadação, com a reforma do PIS/Cofins, por exemplo. Uma aceleração do programa de concessões poderia ajudar. Para tudo isso, é preciso recuperar um clima político minimamente ameno. Começar a criar as condições para uma retomada da confiança - colocar a inflação na meta, por exemplo, já será um alívio, possibilitando uma política monetária menos apertada a partir de meados de 2016. Resgatar a confiança do mercado e da população é o ponto-chave para o país começar a reverter esse quadro de crise. Para isso, o governo federal precisa cortar os custos na carne, e não apenas nos investimentos. O governo não pode ficar só aumentando tributos, quando na verdade, deveria reduzir a máquina pública. Tirar do papel o plano de concessões em infraestrutura, licitando portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, também vai ajudar nessa retomada da economia. Mas é fundamental a garantia das regras e a manutenção dos contratos para que a credibilidade, especialmente junto aos investidores estrangeiros, volte a ser restabelecida. “UMA PAUTA DE LONGO PRAZO É NECESSÁRIA” Leandro Lino, mestre em Economia Aplicada e conselheiro do Corecon-ES Para superar a crise, é necessário elaborar e executar uma pauta otimista de longo prazo para o Brasil, tratando da política fiscal e da infraestrutura, de modo a resgatar a confiança da população em geral. Do ponto de vista das pessoas – empresários ou consumidores –, muitos dizem que as oportunidades surgem durante as crises. Mas para isso, é preciso que os empresários monitorem o desempenho de suas atividades, comparem-se com concorrentes e busquem a eficiência. Assim como as famílias, principalmente as que estão passando por dificuldades, eles precisam se conscientizar e se adaptar a essa realidade, com planejamento e organização de suas finanças. “TEMOS QUE FAZER UM CHOQUE DE CREDIBILIDADE” Bruno Funchal, doutor em Economia e professor da Fucape Temos que fazer um choque de credibilidade e trazer mais previsibilidade para a economia. Várias ações têm sido feitas corretamente, como o aumento dos juros para recuperar a credibilidade do Banco Central e baixar a inflação e a definição e a perseguição da meta de superávit fiscal, defendida pelo ministro da Fazenda. Porém, o seu não cumprimento deixa claro o porquê do insucesso. O governo precisa urgentemente cortar gastos para que seu orçamento seja sustentável. Além disso, é necessário conseguir maior apoio do congresso, pois muitas medidas fiscais importantes precisam passar por lá para que o governo atinja seus objetivos.