Caracterização quali-quantitativa da bacia hidrográfica do rio dos Bugres - MT Rosa A. Crestani Fava1 Alexandre Silveira2 Eduardo Beraldo de Morais3 Édila Cristina de Souza4 1 Introdução A água doce é um recurso limitado, pois representa apenas 3% da disponibilidade hídrica mundial, da qual o Brasil detém 13% das reservas, cuja importância, peculiaridades e multiplicidade da sua utilização, exigem um complexo processo de planejamento e gerenciamento da oferta e da demanda. A Lei nº 9433/97 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos (SNGRH) o planejamento descentralizado e participativo deste recurso, através da definição de fundamento, diretrizes e instrumentos. No Estado de Mato Grosso, o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH - MT) aprovado em junho/2009 de forma semelhante à Lei Federal, busca o equilíbrio entre a oferta e a demanda de água, de forma assegurar as disponibilidades hídricas em quantidade e qualidade, através de programas e projetos para sua proteção, recuperação e gerenciamento de recurso, buscando garantir o seu uso sustentável. Esta pesquisa reside no fato da carência de estudos na região, inviabilizando o planejamento e gestão dos recursos hídricos. Deste modo, foi selecionada a bacia hidrográfica do rio dos Bugres como área de estudo, cuja área urbana da cidade de Barra do Bugres, localiza-se na foz desta bacia e utiliza o rio para abastecimento. Portanto, a preservação da bacia e o controle da quantidade e qualidade das águas do rio dos Bugres são de interesse do município que será o maior prejudicado, caso ocorram a degradação, poluição e contaminação dos recursos naturais desta unidade. Na região da bacia tem hoje como atividades econômicas a agricultura, pecuária e agroindústrias, especificamente as indústrias sucro-alcooleiras . Essas atividades econômicas têm acarretado inúmeras agressões ao meio ambiente. Nos anos de 2007 e 2010, ocorreram dois acidentes ambientais, devido ao vazamento de vinhaça em um dos seus afluentes, o rio Bracinho, provocando a contaminação das águas e a morte de inúmeras espécies aquáticas. 1 4 UFMT.Depto Química, e-mail: [email protected] UFMT, Depto Estatística, e-mail : [email protected] 1 A caracterização quali-quantitativa da bacia hidrográfica do rio dos Bugres (BHRB), tem como objetivo de conhecer a área e gerar informações para um futuro planejamento e gestão dos recursos hídricos. 2 Material e Métodos 2.1 Material Inicialmente, foi realizado o estudo fisiográfico para o reconhecimento da área por meio de cartas topográficas do IBGE de Barra do Bugres, Nova Olímpia e Nortelândia (MT) e realizados trabalhos de campo, de caráter exploratório e retirada das coordenadas geográficas. As coletas foram realizadas mensalmente, iniciadas em outubro/2010 e finalizadas em setembro/2011, respeitando o ano hidrológico (Período – chuvoso/quente de outubro/2010 a março/2011 e seco/frio de setembro/2010 e abril/2011 a setembro/2011), utilizando frascos de vidro, com capacidade de 250 ml, à cerca de 20 cm de profundidade. Foram escolhidos quatro pontos de coleta (P1, P2, P3 e P4) ao longo do rio, com o objetivo de obter coletas representativas, além de priorizar a logística, optando por locais de fácil acesso, visto que a distância do percurso para as coletas era em torno de 600 km . Todas as análises foram realizadas mensalmente, segundo metodologias preconizadas do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005), medindo as seguintes variáveis: OD (Oxigênio Dissolvido), DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), Nitrato, Fósforo, pH, Turbidez, Sólidos Totais, Coliformes Totais e E.coli, Tempreratura e IQA (Índice da qualidade da água). 2.2 Métodos Foram analisadas estatisticamente por meio da Análise de Variância (ANOVA) com esquema Fatorial seguida pela comparação múltiplas das médias do Teste de Tukey, com o objetivo de explicar o comportamento de cada variável estudada em relação ao período chuvoso e seco, os pontos de coletas (P1, P2, P3 e P4) e as respectivas interações. Após essa análise, foi realizada a análise multivariada, que envolve um conjunto de métodos estatísticos e matemáticos, destinada a descrever e interpretar os dados que provem da observação de várias variáveis estudadas conjuntamente e algumas estruturas de correlação. A Análise de Componentes Principais (ACP) permite a estruturação de um conjunto de dados multivariados obtidos de uma população, cuja distribuição de probabilidade não necessita ser conhecida. É um método da análise multivariada, que possibilita a identificação das variáveis responsáveis pelas maiores variações (variabilidade) entre os resultados, com a menor perda possível de informação. Além disso, transforma um conjunto de p variáveis 2 originais, em outro conjunto, denominado de Componentes Principais (CP) de dimensão menor. Essa transformação, em outro conjunto de variáveis, busca eliminar algumas variáveis originais que possuam pouca informação. Essa redução do número de variáveis só será possível se as p variáveis iniciais possuírem coeficientes de correlação não-nulos (SOUZA, 2010). Esta técnica permite o agrupamento de indivíduos similares mediante exames visuais, em que as linhas e colunas da matriz de dados originais, são representadas conjuntamente por pontos em dispersões gráficas no espaço bi ou tridimensional, de fácil interpretação geométrica. Através da aplicação dessas propriedades, Gabriel (1971) desenvolveu o gráfico denominado de Biplot, em que as coordenadas dos pontos são determinadas por marcadores de linha e coluna, fazendo uma análise simultânea das relações entre indivíduos e/ou variáveis. 3 Resultados A análise de variância com esquema Fatorial, para cada variável estudada, tendo como fatores analisados os períodos e os pontos de coleta, ao nível de 5% de significância. Verificou-se que para as variáveis Turbidez, Oxigênio Dissolvido, Sólidos Totais, Temperatura e IQA houve diferenças significativas entre as médias para os períodos (chuvoso/seco) ao nível de 5% . Na Tabela 1, temos a matriz de correlação entre as 10 variáveis analisadas. Pode-se verificar que existe uma alta e negativa correlação entre as variáveis, Temperatura e OD. Entre as variáveis IQA e PH; Fósforo e Turbidez houve uma moderada correlação positiva. Nas demais variáveis houve pouca correlação. Tabela 1 – Matriz de Correlação entre as variáveis analisadas. DBO PH Turbidez Ecoli OD Solido Fosforo Nitrato Temper IQA DBO 1.0000 0.0339 0.0516 -0.0314 -0.0792 0.3165 0.2742 0.0372 0.0610 -0.0515 PH 0.0339 1.0000 -0.2197 0.0711 0.1804 -0.2577 -0.1010 -0.4218 -0.1361 0.5108 Turbidez 0.0516 -0.2197 1.0000 0.4293 0.1467 0.3855 0.5379 0.0091 0.1793 -0.4788 Matriz de Correlação Ecoli OD Solido -0.0314 -0.0792 0.3165 0.0711 0.1804 -0.2577 0.4293 0.1467 0.3855 1.0000 0.2014 -0.0188 0.2014 1.0000 -0.1741 -0.0188 -0.1741 1.0000 0.3539 0.0475 0.1560 -0.2252 -0.4293 0.1900 0.0210 -0.7117 0.1223 -0.4973 0.4876 -0.2976 Fosforo 0.2742 -.1010 0.5379 0.3539 0.0475 0.1560 1.0000 -0.0463 0.1158 -0.3910 Nitrato 0.0372 -0.4218 0.0091 -0.2252 -0.4293 0.1900 -0.0463 1.0000 0.4278 -0.1776 Temper 0.0610 -0.1361 0.1793 0.0210 -0.7117 0.1223 0.1158 0.4278 1.0000 -0.4835 IQA -0.0515 0.5108 -0.4788 -0.4973 0.4876 -0.2976 -0.3910 -0.1776 -0.4835 1.0000 Fazendo a Análise de Componentes Principais, temos os autovalores e a proporção da variação explicada para cada um dos componentes. O primeiro componente principal (CP1) 3 explica 30,12% da variância total, o segundo componente principal (CP2) explica 21,39% e a terceira componente 12,71%. A soma dos autovalores equivale a 64,22 % da variância total. Na Figura 1, temos o gráfico Biplot com as 10 variáveis analisadas. Para a construção do gráfico, foram utilizados os valores do primeiro componente principal (CP1) no eixo horizontal com a segunda componente principal (CP2) no eixo vertical. As observações (pontos) foram adaptados aos fatores (vetores). O cosseno do ângulo formado entre dois vetores é igual ao coeficiente de correlação entre as variáveis correspondentes. Se dois vetores possuem a mesma orientação, o coeficiente de correlação será próximo de 1, por exemplo Turbidez e Fósforo. Se dois vetores são perpendiculares, a correlação será próxima de zero (Nitrato e Turbidez). Mas, se dois vetores forem orientados em direções opostas, o coeficiente de correlação será próximo de -1, por exemplo, Temperatura e OD, segundo JOHNSON e WICHERN (2002). Podemos notar que as observações 6 e 16 estão distantes da nuvem de pontos, esses pontos se destacaram, devido a alta concentração das características estudadas, principalmente em relação aos características Turbidez e DBO. As observações 9 e 10 também estão distantes das demais, devido a alta concentração das características PH e IQA. Figura 1 – Gráfico Biplot com as variáveis analisadas (DBO, PH, Turbidez, Ecoli, OD, Sólidos Totais, Fósforo, Nitrato, Temperatura e IQA ) 4 4 Conclusão Na caracterização qualitativa, os níveis críticos da concentração de oxigênio dissolvido foram encontrados juntamente com a redução drástica da velocidade das águas, devido ao represamento da água do rio dos Bugres pelo rio Paraguai, caracterizando como uma condição natural do rio, com pouca tendência a enchentes e a drenagem. As concentrações de fósforo encontradas, esta em desacordo com a Resolução CONAMA 357/2005. Os valores de pH medidos, indicam uma leve acidez das águas e o Índice de Qualidade da Água (IQA) classificou as águas do rio dos Bugres como de boa à média qualidade nos quatro pontos de coletas. 5 Referências [1] APHA. American Public Health Association. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 20 th Ed. Washington, DC, 2005, 1400 p. [2] BARBIN, D. Planejamento e análise estatística de experimentos agronômicos. Arapongas: Editora Midas Ltda. 2003. 194 p. [3] GABRIEL, K. R.; The biplot grapHic display of matrices with application to principal component analysis. Biometrika, Great Britain, vol.58, n.03, p.453-467, 1971. [3] JONHSON, P. A.; WICHERN D. W. Applied Multivariate Statistical Analysis. 4 ed. Pretntice Hall, 1998. [4] MORAES, E. B. Indicadores microbiológicos, metais e índice de qualidade da água (IQA) associados ao uso e ocupação da terra para a avaliação da qualidade ambientalda microbacia do rio Cabeça, na bacia do rio Corumbataí – SP. 2010.138 p. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas), UNESP, Rio Claro, 2010. [5] SOUZA, E. C.; Os Métodos Biplot e Escalonamento Multidimensional nos delineamentos experimentais. 2010. 133 p. Tese (Doutorado em Estatística e Experimentação Agronômica), Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2010. 5