Linguagem Corporal: Ajudando Seu Velame A Abrir Melhor
Fotos: Marat Leiras
Fotografado: Jeff Gladish
Por Scott Miller
Muitos fatores determinam a forma que seu velame abre. O desenho do velame e a
forma que é dobrado são dois importantes fatores; mas a posição do corpo, também,
desenvolve um papel importante.
Nós aprendemos a comandar nossos velames em uma básica e estável posição como
alunos, e muitos de nós não têm esta habilidade mais pensada depois disso. Infelizmente nós,
às vezes, desenvolvemos maus hábitos que têm um efeito negativo em nossa abertura.
Mesmo depois de fazer milhares de saltos, as pessoas vêm sendo surpreendidas em
descobrir que apenas poucos pequenos ajustes em sua posição corporal, durante o comando,
pode melhorar significativamente sua abertura.
Este artigo é sobre o comando do pára-quedas, uma das mais importantes coisas que
faz em todo salto. Poderá ser uma boa idéia praticar estas técnicas no chão antes de tentá-las
no ar. Você poderá tentar fazer um salto sozinho e tentar alguns comandos práticos usando
estas técnicas, antes de realmente chegar o tempo de comandar.
Se você não é um pára-quedista categoria A ainda, ou recentemente pegou sua
categoria A, deverá discutir este artigo com seu instrutor antes de tentar qualquer coisa que
ler aqui. Ele, ou ela poderá desejar sua concentração em habilidades mais importantes, como
controle de altitude e estabilidade básica; ao invés de adicionar algo novo na sua seqüência de
comando.
Sem Necessidade De Velocidade
A velocidade que você está caindo, quando comanda seu velame, pode ter um grande
efeito nas forças geradas durante a abertura. Enquanto sua velocidade aumenta, estas forças
igualmente aumentam.
Muitos velames atuais são desenhados para abrir relativamente lentos e alguns não
irão ser afetados substancialmente pela pequena velocidade extra no tempo de comando.
Alguns pára-quedistas acham mesmo que seus velames abrem melhor quando caem um pouco
mais rápido. Embora isto não seja algo garantido.
Maiores velocidades podem não causar que seu velame abra mais duro, enquanto
estiver todo o resto direito; mas pequenas variáveis tendem a criar grandes efeitos em altas
velocidades. Se você apressar sua dobragem uma vez e deixar as coisas meio desleixadas, ou
se seu velame está começando a sair do “trim”, velocidade extra poderá fazer a diferença
entre uma abertura um pouco bruta e uma que realmente machuque.
Diminuir a velocidade antes de comandar poderá prover uma maior “margem de erro”
e reduzir os efeitos que as outras variáveis têm nas suas aberturas. Diminuir a velocidade
poderá ser de especial ajuda se suas aberturas são freqüentemente, ou mesmo
ocasionalmente mais rápidas que o desejado.
Posições corporais verticais ou de “freefly”, como “head-down”, ou “sit-fly”; permitem
alcançar velocidades muito mais rápidas que posições planas. Esta velocidade extra faz com
que ficar em uma posição plana e diminuir a velocidade antes de puxar, particularmente
importante. Ambos os iniciantes e experientes “freeflyers” deverão manter isso em mente
quando planejam seus saltos. Mesmo se você não fizer “freefly”, simplesmente um “track”
após um salto de barriga poderá aumentar significativamente sua velocidade, e você poderá
continuar a achar útil sair do “track” e diminuir sua velocidade antes do comando.
Para sair do “track”, abra seus braços e pernas e
dessele um pouco por um segundo, como mostrado na
Foto 1. Isto irá ajudar a estancar o excesso de velocidade.
Mantenha seus braços e pernas esticados e mantenha o
corpo um pouco desselado enquanto faz seu “wave-off”,
lembrando de olhar se há outros pára-quedistas em
volta. Quando terminar seu “wave-off” e iniciar o
comando, relaxe de volta a uma seladura natural. Se feito
corretamente não irá ocupar um espaço significativo de
tempo e se tornará uma parte natural de seu “wave-off”.
Foto 1
Aonde Você Está Olhando?
Pegue um momento para verificar aonde você está olhando enquanto encontra seu
pilotinho. Se você saltar com uma câmera de vídeo, assista a algumas aberturas suas nas fitas.
O que você vê no vídeo quando comanda? Você está olhando para cima no horizonte, ou para
baixo no chão embaixo de você? Você olha para trás na direção de seu pilotinho enquanto o
alcança? Você olha por cima do ombro depois de puxar?
Antigos equipamentos de pára-quedismo usavam pilotinhos de mola ativados por um
“ripcord”. Mesmo no final dos anos 90 este tipo de equipamento continuou sendo usado na
maioria dos equipamentos de aluno. Aqueles de nós que foram treinados usando este tipo de
sistema foram ensinados a olhar para o punho antes de pegá-lo. Nós igualmente fomos
ensinados a olhar e checar, depois de puxar o “ripcord”. Olhar por cima dos ombros modifica o
fluxo de ar nas suas costas e ajuda a tirar a hesitação do pilotinho, que era comum quando
usava pilotinho de mola.
A maioria dos pára-quedistas graduados usa
pilotinhos principais “hand-deploy” e estes estão se
tornando padrão para treinamento de alunos também.
Mesmo se anos tivessem passado desde a transição deles
para o pilotinho “hand-deploy”, muitos pára-quedistas
graduados continuam a ter o hábito de olhar para o punho
enquanto o alcança e checar por cima de um ombro
depois que o lançam o pilotinho. Infelizmente, é quase
impossível olhar por cima do seu ombro e manter os
ombros nivelados ao mesmo tempo. Olhando por cima do
ombro, também vira seu “container” para um lado (Foto
2).
Enquanto grandes e dóceis velames de aluno,
Foto 2
podem não se ofender com seus ombros e “container”
desiguais, velames esportivos com maior resposta de comando ficarão muito mais felizes se
você manter seus ombros nivelados. Tendo seus ombros e “container” virados, quando o
velame é comandado poderá causar uma abertura fora do eixo, “twists” de linha e poderá
inclusive causar uma abertura forte.
A maioria de nós tem seus pilotinhos montados na parte inferior do “container”, então
tentar olhar para ele é realmente inútil. Mesmo se você continua usando um pilotinho
montado no tirante de perna, você provavelmente não irá ver o comando muito facilmente em
queda-livre. Desde que os pilotinhos “hand-deploy” são jogados em um espaço aéreo livre,
próximo ao seu corpo, hesitação de pilotinhos raramente ocorrem e checar por cima dos
ombros toda vez não é necessário.
Algumas pessoas têm o hábito de olhar pra diretamente para baixo quando
comandam. Isso tende a colocar você em uma posição de cabeça um pouco baixa, que poderá
aumentar um pouco sua velocidade. Isso poderá igualmente ampliar a força de abertura que
seu corpo sente, desde que esta força irá principalmente ser transmitida para seus ombros
quando o velame alcançar o final das linhas. Igualmente, suas pernas poderão chicotear por
um arco maior quando o velame sentá-lo em seu equipamento, fazendo sentir a abertura mais
bruta.
Ao invés de olhar para seu punho ou olhar para
baixo no chão, tente levantar sua cabeça para cima e
olhar para o horizonte enquanto você alcança seu
comando principal (Foto 3). Isso colocará você em uma
posição com a cabeça mais para cima. As forças de
abertura serão transmitidas mais pra baixo de seu
“harness”, ao invés de se concentrarem em seus
ombros. Olhando para o horizonte, igualmente,
ajudará a manter seus ombros e “container” nivelados
enquanto comanda.
Foto 3
Depois de jogar seu pilotinho, traga seus
braços em uma posição de queda-livre neutra e pense
em manter seus ombros nivelados enquanto a bolsa é
extraída do “container” (Foto 4). Você poderá
igualmente empurrar seus quadris um pouco para
baixo e dobrar seus joelhos somente um pouco, se
estiver em um lento movimento para trás. Isso
mantém sua cabeça e parte superior do corpo alta. No
passado, alguns pára-quedistas recomendavam se
”sentar” durante o comando. Isso poderá funcionar
bem se feito corretamente, mas se sentar muito, ou
muito cedo, há um risco de aumentar sua velocidade,
ou mesmo se tornar instável. Simplesmente
Foto 4
levantando seu queixo, olhando para o horizonte,
selando um pouco mais, e relaxando suas pernas um pouco; tem um efeito similar a sentar
conscientemente, e você estará menos propenso a se exceder.
Algumas pessoas que saltam com câmeras montadas ao lado do capacete acreditam
que é necessário manter suas cabeças baixas enquanto comandam, para evitar um tirante de
bater na câmera. Isso poderá ser uma questão se tiver ombros estreitos ou usar seu tirante de
peito muito apertado, deixando menos espaço entre seus tirantes. Isso igualmente poderá ser
um problema se sua câmera se estender para um pouco mais distante da lateral do capacete. É
melhor minimizar este problema mantendo as câmeras laterais pequenas o suficiente que as
linhas possam correr por ela e livres de protuberâncias quanto possível. Se estiver convencido
que é necessário manter seu queixo baixo, ao menos mantenha uma boa seladura e relaxe a
parte inferior das pernas, para manter os ombros mais altos que seus quadris, e igualmente
concentre-se em manter seus braços e ombros nivelados no vento relativo.
De Volta Na Sela
Tão logo quanto seu velame traga você pra vertical
no “harness”, tente colocar os seus pés e joelhos juntos para
o resto da abertura (Foto 5). Colocando suas pernas juntas
ajuda a manter seu peso simétrico no “harness” e reduzir as
chances de uma abertura fora do eixo. Isso é especialmente
efetivo se estiver saltando em um velame do tipo elíptico.
Somente o peso de suas pernas balançando ao redor ou um
pequeno deslocamento de peso no “harness” poderá causar
que alguns destes velames comecem a girar.
Se você pega seus tirantes enquanto o velame está
abrindo é melhor segurar a parte inferior dos tirantes, logo
acima do sistema três-argolas. Se você segurar os tirantes
Foto 5
altos, próximos aos batoques, você poderá fazer o velame girar não intencionalmente,
puxando um tirante ou liberando um freio. Se você segurar na parte inferior dos tirantes, você
ainda poderá deslizar suas mãos rapidamente para direcionar com os tirantes ou liberando os
freios se necessário.
Alguns pára-quedistas tentam manter suas aberturas no eixo utilizando o
direcionamento com seus tirantes traseiros enquanto o “slider” está ainda em cima de
encontro ao velame. Isso funciona com alguns velames, mas outros velames não gostam disso
mesmo. Você poderá conseguir melhores resultados se simplesmente relaxar, manter-se
sentado, concentrar em manter seu peso simétrico, e esperar até que o “slider” comece a
descer, antes de fazer qualquer correção com os tirantes.
Veja Para Onde Está Indo
Em um curso de primeiro salto nós somos ensinados a checar nossos velames para ter
certeza que eles abrem corretamente. Embora seja importante, isso cria também cria um mau
hábito. Muitos pára-quedistas olham para cima em seus velames tão cedo quanto começam a
abrir, e continuam olhando o velame durante toda a seqüência de abertura. Algumas pessoas
continuam olhando para cima por mais vários segundos enquanto colapsam seus “sliders” e
liberam seus freios.
Se alguma outra pessoa abrir perto de você, você poderá apenas ter um segundo ou
dois para reagir, para evitar a colisão. Olhando fixamente para seu velame por cinco, ou 10
segundos depois do seu comando, é como dirigir na estrada olhando para cima no teto de seu
carro.
Felizmente, algumas poucas técnicas ajudarão a evitar este problema.
Alguns alunos são ensinados a contar em voz alta enquanto seus velames abrem,
dizendo “sela, alcança, puxa, um mil, dois mil, três mil...” Se você ainda não faz isso, é um bom
hábito a ser criado e poderá ajudar a manter o percurso de tempo durante a seqüência de
abertura.
Você irá ouvir e sentir diferentes coisas durante cada estágio do comando. Um
segundo ou menos depois de você jogar seu pilotinho, você sentirá a força “snatch” puxando
você no “harness”. Isso é a força do seu do tecido de seu velame batendo no vento relativo
enquanto ele sai da bolsa de extração.
O velame irá então “snivel”. O snivel é a parte da abertura onde seu “slider”
permanece alto na parte inferior do velame, reduzindo sua velocidade aerodinâmica antes do
velame começar a inflar. Vai continuar a ter um bocado de barulho de vento durante o “snivel”
e você irá continuar tendo a sensação de queda. Isso poderá durar por um segundo ou dois, ou
ainda por vários segundos.
A inflação ocorrerá quando o “slider” se movimentar para baixo das linhas e as células
encherem-se de ar. As coisas começam a ficar silenciosas quando o velame infla. Mesmo
embaixo de um velame que infla devagar e suavemente, você continuará a sentir a transição
de cair para deslizar. Você poderá igualmente escutar o “slider” batendo sobre sua cabeça
quando ele descer.
Quando se tornar mais consciente destas sensações, você irá achar que seus outros
sentidos podem dizer tão sobre sua abertura, se não mais, quanto os seus olhos fazem. Logo
você irá se sentir confortável olhando para sua frente durante todo processo de abertura, ao
invés de olhar o velame mesmo. Isso permite você olhar para outros pára-quedistas e muitas
pessoas acham que isso reduz as aberturas fora do eixo também.
“Mas”, você pode perguntar: “se eu não olhar meu velame abrir, como eu saberei se
estou tendo uma pane?” Pegue um conselho com alguém que já desconectou uma boa
quantidade de velames mal comportados, você provavelmente vai saber prontamente se está
tendo uma pane. Eles tendem a serem sentidos bem diferentes de uma abertura normal e
você provavelmente saberá que algo está errado antes de olhar para cima.
Se você começar a contar depois de jogar seu pilotinho e alcançar a “dois mil” ou “três
mil” sem sentir a força “snatch”, tem um obvio problema. Isso poderá ser um tempo aceito
para olhar pra trás sobre seu ombro e checar por uma hesitação no pilotinho, ou pilotinho
preso.
Quando souber quantos segundos dura o “snivel” usualmente em seu velame, você irá
saber igualmente se aquela parte da abertura está demorando mais que o normal. Você
poderá usualmente sentir “twists” de linha prontamente, e se você começa a girar
selvagemmente, certamente irá desejar olhar para cima em seu velame e ver o que está
incomodando ele.
E se a abertura for sentida perfeitamente normal? A menos que você precise evitar
outro pára-quedista prontamente, você deverá continuar a olhar pra cima e checar seu velame
logo depois que ele infla. Você não poderá ver um rasgo, uma linha partida, ou um problema
similar até olhar pra cima. Mesmo nestas situações, se a abertura for sentida normalmente,
então o velame é provável que esteja voando bem o suficiente para te dar uma taxa de
descida lenta. Considerando que comandou a uma altura razoável, você poderá ter tempo
suficiente para fazer o “check” funcional e executar o procedimento de emergência, se
necessário.
Se você vem olhando seu velame abrir todo tempo, então você poderá não se sentir
pronto a parar o que vem fazendo durante seu próximo salto, mas você deverá desenvolver
melhores hábitos o mais breve possível. Comece contando quando joga seu pilotinho e
verificando quanto tempo cada seqüência de abertura demora. Preste atenção para o que está
ouvindo e sentindo durante a abertura. Logo você não precisará olhar todo o comando, e você
estará hábil para prestar mais atenção em seu corpo e em seu entorno.
Melhorando sua posição corporal e aumentando sua percepção quando comanda seu
velame poderá produzir bons resultados. Você poderá não se lembrar de tudo deste artigo
durante seu próximo salto, mas ao menos pense sobre tentar estas sugestões uma a cada vez,
em seu próprio passo. Você poderá ficar impressionado pela diferença que pequenas
mudanças podem fazer.
Sobre o Autor: Scott Miller trabalha na Freedom of Flight Canopy School, em Skydive DeLand,
na Florida (www.freedomofflight.tv) e faz canopy skills camps em outras zonas de lançamento
durante o ano. Ele já trabalhou em várias zonas de lançamento como um instrutor AFF,
instrutor de tandem, fotográfo de queda-livre e igualmente trabalhou como piloto de testes
para Performance Designs.
Este Artigo, primeiramente apareceu na Skydiving Magazine, Volume 25, Número 7,
Edição #295, Fevereiro 2006. Colocada aqui com permissão do autor.
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