XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 EDUCAR PARA EMANCIPAÇÃO: POSSIBILIDADES A PARTIR DE ASPECTOS HISTÓRICOS LOCAIS André Luiz da Silva Cazula (PG – CCHE – UENP/CJ) RESUMO O presente artigo é fruto do Projeto Teatro: Instrumento de Reflexão Histórico Crítica, Interação Social e Prática Pedagógica, do Programa Universidade Sem Fronteiras, do Governo do Paraná, ligado a Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP e desenvolvido no Município de Andirá. Com a utilização do processo teatral como linguagem de ensino buscou-se uma reflexão da História Local e do presente útil à vida e cotidiano dos alunos. Para tanto, foi de fundamental importância utilizar a História de Andirá, vivida diariamente pelos integrantes do Projeto, para discutir a sociedade e suas possibilidades. Os materiais que foram revertidos em fontes para este artigo foram utilizados para criação e discussão de temáticas diversas durantes as Oficinas teatrais ao longo de dois anos de projeto, 2009 e 2010, em contra-turno, com o Ensino Médio do Colégio Estadual Stella Maris, o que propiciou reflexões acerca da História Tradicional, documental, da história Cultural, das fontes históricas e o Ensino de História. Objetiva-se com este relato de experiência dialogar sobre o desenvolvimento da consciência histórica em sala de aula. 1. Introdução: A Problemática da História Local Como não poderia deixar de ser com um trabalho de História Local, de uma cidade, é necessário fazer algumas considerações sobre essa linha de pesquisa. Primeiro, a localidade faz parte de uma História maior, de uma região, de um Estado, de um país, de um continente, de alguma associação, de algum mundo, etc., mas possui suas peculiaridades e relações próprias. BITTENCOURT (2004) alerta que a associação entre cotidiano e história de vida dos alunos possibilita contextualizar a vida em sociedade e articular a história individual a uma história coletiva. A história local pode simplesmente reproduzir a história do poder local e das classes dominantes, caso se limite a fazer os alunos conhecerem nomes de personagens políticos de outras épocas, destacando a vida e obra de antigos prefeitos e autoridades. Para evitar tais riscos, é preciso identificar o enfoque e a abordagem de uma história local que crie vínculos com a memória familiar, do trabalho, da migração, das festas... (BITTENCOURT, 2004: 169) O cotidiano deve ser utilizado como objeto de estudo escolar pelas possibilidades que oferece de mostrar as transformações possíveis realizadas por homens comuns, ultrapassando a idéia de que a vida cotidiana é repleta de alienação. TOMAZI (2000) 286 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 discorre que a história regional nada mais é que a história da comunidade regional, necessitando que se tenha uma compreensão do regionalismo global: A questão da história nacional/regional só pode ser equacionada se se entende que a história da sociedade brasileira, p. ex., é entremeada de elementos externos e internos, que numa interrelação constante entre si e, dependendo das condições anteriores de sua ocupação e dos processos e relações sociais que se desenvolveram, geraram determinadas configurações similares ou não, que podem ser olhadas no seu conjunto maior ou enfocadas em detalhes. (TOMAZI, 2000: 123) A intenção não é valorizar o aspecto cultural, nem o econômico, o social, ou qualquer outro, mas sim apontar caminhos diversos que podem ser seguidos para se pensar a História no Município de Andirá. Indicações que mostram alguns itinerários políticos influentes, bem como características do plural dia-a-dia. Também não aprofunda teoricamente nos problemas de cada linha histórica apresentada: local, tradicional, documental, cultural, sobre o ensino da História e sobre fontes históricas. Enfim, é um trabalho sobre Andirá, que mostra que a História desta cidade é viva, rica, com objetos diversos, paisagens e pessoas simples. Não visa manutenção de qualquer discurso, nem unificar o que é diverso. Cada localidade tem a sua especificidade que deve ser levada em conta no desenvolvimento de projetos para a Educação. Não há história perfeita. Nosso caso é vinculado ao Universidade Sem Fronteiras, que visa a diminuição das desigualdades e atuação de todos como sujeito histórico nas estruturas contraditórias e abertas da sociedade. 2. História Tradicional: Cronologia da História Política. Não aprofundaremos nos personagens políticos porque não cabe aqui. Mas não podemos deixar de falar de Bráulio Barbosa Ferraz, fazendeiro, de família que participou da fundação de outras cidades, foram donos da Estrada de Ferro São Paulo – Paraná até 1925. Por decreto do Interventor Manoel Ribas, Bráulio foi o primeiro prefeito, em 1944. Os fatos aqui enunciados são para nossa localização temporal. Mas antes de 1944, foi nas terras desse fazendeiro que em 1927 começou a construção de uma Estação de trem, com o nome de Ingá, esse foi o marco para a atual Andirá e para a formação de seu núcleo urbano. Em abril de 1935 é inaugurada a Estação Ferroviária Ingá, um mês antes um Decreto-Lei Estadual elevava o povoado de Ingá à categoria de Vila, com a criação de Distrito Jurídico, instalação de cartório, e pertencente ao Município de Cambará. 287 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 A emancipação política com o desmembramento da comarca de Cambará ocorreu pelo Decreto-lei de 31 de dezembro de 1943. Ingá foi elevada a categoria de Município com o nome de Andirá. Houve o primeiro comício político no dia primeiro de janeiro de 1944, sendo Bráulio nomeado no dia 07. Em 1949 foi instalada a Comarca de Andirá com seu primeiro Juiz. A Ditadura do Estado Novo de Getulio Vargas acaba em 1945, e em 1947 é tida a primeira eleição por voto direto, é eleito para ser Chefe do Poder Executivo Municipal, Moacyr Corrêa. O padroeiro religioso de ingá é São Sebastião. A revista de “edição histórica” de 1987, da administração de Roberto Simoni, traz fotos da festa do padroeiro em 1940, bem como apresenta imagens dos acampamentos dos primeiros colonizadores, dentre várias ilustrações. Apresenta a evolução histórica e educacional do município. A pesquisa histórica desta revista ficou por conta das Professsoras: Creuza Perugini Galdino, Magaly Meire Piceli Zanoni e Darci Perugini Gilioli, revisão histórica da Professora Dalcy Possagnolo Kairalla. O conteúdo desta demonstra ainda diversas entrevistas com pessoas ilustres de Andirá. Grupo Escolar Ingá, assim chamava a primeira escola de Andirá, inaugurada 1943, atual Escola Estadual Ana Nery, era apenas primeiras letras, hoje seria até o quinto ano do Ensino Fundamental da Educação Básica. A segunda foi inaugurada em 1949, o Ginásio Municipal, depois Estadual, de Andirá, a partir de 1955, denominado Ginásio Estadual Barbosa Ferraz, hoje Escola Estadual Barbosa Ferraz. A terceira foi fundada em 1954, na gestão do prefeito Orlando Urizzi, com o nome de Escola Técnica de Comércio Euclides da Cunha, atual Colégio Estadual Durval Ramos Filho. As instituições educacionais trouxeram inúmeros benefícios para os moradores de sua região, trazendo não apenas o ler e escrever, mas também o interpretar e a técnica. O artigo de Odila Guide Rosário Marchini de 1981, disponível no site do município discorre sobre a independência de Andirá: O pequeno distrito de Ingá, desde sua fundação pelos idos de 1.927, estava ligado politicamente ao Município e Comarca de Cambará, contribuía com os impostos e tudo o que a metrópole precisava. Tudo era empregado para a melhoria e progresso de Cambará, para o pequeno distrito nada sobrava: nem escolas, nem calçadas, nem água, a iluminação era deficiente, e o pior, não tinham seus habitantes o direito a qualquer participação na vida política e social de Cambará. (MARCHINI: 1981) Em face das injustiças que se acumulavam, começaram a surgir os "inconfidentes". “Todos, sacerdotes ou maçons, pobres ou ricos, cultos ou ignorantes, acreditavam num mesmo Deus e queriam lutar pela emancipação do Distrito de Ingá”. (MARCHINI: 1981). O 288 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 Padre Constantino Carneiro foi a pessoa indicada para incentivar o pequeno grupo de idealistas a iniciar a luta pela liberdade. Empreenderam viagens a Capital, enfrentando estradas de terra em carros próprios ou estradas de ferro. Depois de muitas viagens à Curitiba, muita luta e sacrifício, houve a promessa de que haveria a emancipação, mas com duas condições: o primeiro prefeito do novo município seria Bráulio Barbosa Ferraz e o Estado não arcaria com o ônus da construção do edifício onde deveria ser instalada a prefeitura municipal. (MARCHINI: 1981) A construção da Prefeitura naquele período foi um desenvolvimento que marcou a memória daqueles moradores. Aspectos e dados que caracterizam Andirá se encontram no site municipal, referências de dados gerais, sobre a forte piscicultura, as indústrias, o potencial agrícola: soja, milho, trigo, café, algodão, cana-de-açucar, banana e outras. No site encontram-se ainda os aspectos sócio-econômicos, o Brasão de Armas, o Hino Municipal, fotos, Decretos, Leis, e muitas outras informações. 3. História Documental: Crítica das Fontes Entre os documentos escritos, os produzidos pelo poder institucional são bastante usuais em pesquisas históricas, notadamente naquelas afinadas com a tradição da História política baseada nas transformações do Estado. Quanto às Leis Municipais, a Câmara de Vereadores de Andirá possui as legislações desde 1948 até 2002 digitalizadas, em CD-rom. Também disponível no site da Câmara, o qual é atualizado constantemente. Demais leis do município encontram-se no site do mesmo e nas dependências das instituições. A Lei número 1.487 de 27 de agosto de 2003 dispõe sobre o Plano de Cargos e Salários dos Servidores Públicos da Câmara Municipal de Andirá e dá outras providências. Aborda o estágio probatório, a progressão salarial, leis que indiretamente interferem na comunidade como um todo, trata-se do dinheiro público, vale dizer que as leis são alteradas ou extintas dependendo da Assembléia e votação, e que seguem a padrões estaduais e nacionais. Já a Lei 1.486 de 19 de agosto de 2003 legisla sobre o Plano de Carreira do Magistério Público Municipal, com o plano de carreira, adicionais, jornada de trabalho, etc. Estas duas leis dão exemplos de temas que se podem extrair de tais documentos. Indubitavelmente teoria nem sempre engendra prática. Outra fonte para a investigação, gentilmente cedida pelo Padre Marcelo de Sousa, foi um dos livros tombo da Igreja Católica, o iniciado em 20 de julho de 1944, é continuação de 289 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 um primeiro que não tivemos acesso. No estudado constam registros de vários momentos históricos importantes, como a construção do Colégio Stella Maris: 1968 entrou o Padre Arno, ao lado do Padre Paulo. Este faleceu a 07 de agosto de 1975. Ele construiu a Matriz e início do Colégio Stella Maris. Por falta de vocações a Congregação de São José, não pode manter a obra, entregue ao governo do Estado, que instalou o Colégio público. (Impresso em papel sulfite e colado na contra-capa do Livro-tombo datado de 1944) Há também a preocupação com as vítimas da II Guerra Mundial no primeiro ano de Andirá, pois a questão foi difundida pela Paróquia: Afim de atender ao apelo do Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, S. Excm. Revma. O Seu Bispo Diocesano determina que na semana que vai de 20 a 27 de agosto, em todas as matrizes, capelas e colégios se façam nas missas e à hora da reza coleta de donativos em benefício das vítimas da Guerra. (Livro Tombo, 08/08/1944, p. 1) Assina o Bispo Diocesano Ernesto de Paula, nascido em 1899, é nomeado bispo de Jacarezinho, PR, pelo Papa Pio XII em 1941. Os Livros Tombo da Igreja Católica apresentam relatos e narrativas de vários incidentes, inclusive políticos, e podem auxiliar de diferentes maneiras em investigações históricas. Nelson Dacio Tomazi, na obra “Norte do Paraná”: histórias e fantasmagorias, afirma: “Aqueles que viveram nos anos 30, 40 e 50 deste século, na região, tem plena consciência da violência praticada...” (TOMAZI, 2000: 109) A pergunta que se faz a partir da afirmação do sociólogo é como buscar a história social de Andirá? As vivências populares, costumes, práticas, reações e culturas? Para emancipar Andirá alguns recorreram às instituições do Estado, através de jogos de interesses. Quais as redes desses jogos? Quem ganhou? Quem sofreu? “Surgiram no Distrito de Ingá na época, os opositores ao movimento de emancipação, levados por interesses particulares e financeiros, e em Cambará levados também pelos mesmos interesses, e como dizer, não querendo perder a galinha de ovos de ouro” (MARCHINI: 1981) É impossível localizar a História por completo na região estudada ou em qualquer outra, existe um discurso “Norte do Paraná”: Desse modo, pretende-se fazer esquecer a história das sociedades indígenas, bem como a matança dos mesmos, os “coronéis” fazendeiros, os “grilos”, os caboclos, os pistoleiros, os posseiros, e o banditismo; enfim, todo um 290 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 conjunto de fatos que questionam a idéia de uma (re)ocupação racional, pacífica, moderna e progressista.(TOMAZI, 2000: 107) Existe uma memória coletiva influenciada pelos intelectuais diversos dos vários sistemas: partidos, igrejas, sindicatos, sistemas educacionais, atividades culturais, administradores, militares, etc. apropriados na mentalidade popular. 4. História Cultural: Tipos, Risos e Saudades Segundo a historiadora Circe Bittencourt, no decorrer dos anos 80 do século XX, muitos historiadores aproximarem-se dos sujeitos e objetos de investigação da Antropologia, introduzindo novas fontes de importância fundamental em suas pesquisas, como a memória oral, as lendas e mitos, os objetos materiais, entre outros. (BITTENCOURT: 2004) Dessa forma, por exemplo, é possível construir diversas histórias sobre a balsa de Andirá, que ligava Ingá ao Estado de São Paulo. José Leopoldino da Silva possuía grande extensão de terras dentro do município de Palmital, São Paulo, que chegava até o Rio Paranapanema. Leopoldino abriu uma picada até as margens do rio e dali fez a travessia para as terras paranaenses, atual Andirá. Em abril de 1932 é inaugurada essa Balsa. Muito dos primeiros moradores de Ingá – mineiros e paulistas – chegaram ao povoado por ela. (Revista de Andirá, 1987: 22) Com certeza inúmeras histórias aconteceram em torno desta travessia. Do aspecto econômico-cultural pode-se pesquisar o contexto que levou Leopoldino, pai de sete homens e sete mulheres, ir vendendo suas terras até acabar com tudo, apenas a balsa restou com seus filhos, mas também acabou sendo vendida para um empresário andiraense. Livro rico que serve como ponto de partida para produção de possíveis histórias culturais de Andirá intitula-se Andirá: Tipos, Risos e Saudades, escrito por andiraenses: Luiz Fernandes Galdino, o Fernandão; Mario Carlos Seletti, o Casão e Vilson Francisco Bonacim, o Virsão. Nascidos respectivamente em 1941, 1947 e 1949. O objetivo dessa obra é, antes de tudo, preservar acontecimentos pitorescos ocorridos numa época em que Andirá ainda era uma cidade pacata, com quase nenhuma violência e não existia a televisão para segurar as pessoas em casa. As amizades entre os mais velhos tinham continuidade com os mais jovens, que sempre estavam juntos na escola, na igreja, no cinema e na prática de esportes. As ruas, os campinhos de futebol, a praça Sant’Ana, o Cine São Carlos, o Andirá Tênis Club, a cancha “Ana Néri”. Eram os principais locais de encontro para lazer e diversão. Graças ao estreito relacionamento com as pessoas, era possível saber da vida de todos e, principalmente, dos fatos engraçados que ficavam na boca do povo por um bom tempo. (GALDINO et al.) 291 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 O livro discorre sobre diversos personagens, como Manelão, um poceiro, com uma vara verde envergada entre as mãos procurava ramos d’água. Certa vez, ao perfurar um poço, utilizou-se de uma grande quantidade de dinamite. Morreu surdo, com tremores nas mãos e nas pernas, mas permitiu a muitas famílias dispor de um bom poço, com água própria para consumo. (GALDINO et al., p. 02). Na década de 1960 a brincadeira mais contagiante era salva no jardim à noite. (GALDINO et al., p. 13). E também por esse período o Juvenil do Esporte Club Andiraense – JECA era composto por craques, como Betão, Lambreta, Goguinha, Gigantinho, Robertão, entre outros. (GALDINO et al. p. 03). Celso Seletti, conhecido como Sansão, era de uma família em que todos jogavam futebol. (GALDINO et al., p. 08). Sobre as vivências acerca do futebol, podemos citar ainda, que na década de 1940, tempos do Esporte Clube Ingá, existiu um grande artilheiro, seu nome era Isac, possuía uma característica incomum, só jogava bola descalço. (GALDINO et al., p. 66). Na década de 1950 o maestro Juvenal era quem comandava a Banda Municipal. Quando morria alguma figura de expressão, a Banda acompanhava o enterro escalando a subida do cemitério indo até o portão, ao som da margem fúnebre, se o Esporte Clube Andiraense jogava, a bandinha se fazia presente dando assim maior brilho àquelas tardes ensolaradas. (GALDINO et al., p. 73) Fatos comentados em Andirá dizem respeito à história dos delegados, Arthur Coelho resolveu acabar com os andarilhos, quando prendia algum, “soltava a borracha sem dó”. (GALDINO et al., p. 28). Outro delegado que deixou lembranças foi o famoso delegado Bradock, Mário Sérgio Bradock Zachesky, em 2000, a Câmara Municipal de Andirá homenageou-o com Moção de Apoio e Aplausos. Mas visa-se a História na perspectiva sociocultural, preocupada não apenas com o pensamento das elites, mas também com as idéias e os confrontos de idéias de todos os grupos sociais. Uma espécie de renovação da história política, investigando micropoderes e diversas estratégias de dominação. O novo sentido do cultural possibilita uma nova reflexão para a abordagem da História, possibilitada praticamente pelo Projeto de Teatro. 5. Relato de Experiência: O Teatro como Linguagem do Ensino da História. O presente trabalho visa dialogar o processo teatral como linguagem de ensino para a construção da cidadania no sentido de participação civil, social e política. Nasce da prática obtida pela Extensão do Programa Universidade Sem Fronteiras, Projeto de Teatro da UENP. 292 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 É desenvolvido através de oficinas teatrais e pesquisas de campo com alunos da rede pública estadual. Mas como fazer teatro? Para Fernando Peixoto: É imenso o perigo de cair na simplificação excessiva. Não existe uma forma ideal de fazer teatro, o ponto de partida e o ponto de chegada é a realidade social na qual o espetáculo nasce, vive, existe e morre. Somente um estudo profundo e crítico do real pode fornecer os caminhos da ação. (PEIXOTO, 1986, p. 62) O teatro possui diferentes definições, sempre acompanhou o movimento histórico no sentido de ser uma manifestação que exterioriza a subjetividade. A peça teatral que identifica a vida cotidiana causa reflexões pertinentes à prática social e possibilita a extração de diversas temáticas. Exige metodologias alternativas para proporcionar valores conceituais importantes para formação do bom cidadão, ao primar pela liberdade de pensamento, criatividade, desenvoltura, reconhecimento social e, principalmente, criticidade. Pensando nesses elementos importantes para a prática pedagógica, chega-se ao teatro, um dos gêneros mais antigos da história da humanidade e, ao mesmo tempo, um dos mais modernos. Afinal, não envelhece, pois acompanha as transformações pelas quais passa a sociedade e o homem. Através do gênero teatral pode-se trabalhar a história e a memória, pontos de partida para compreender a relação entre política, administração e legislação de uma região ou localidade. Pois, a partir dos questionamentos em âmbitos locais sobre formas de organização da segurança, do comércio, da saúde, e da própria educação, teremos contato prático para pensar o coletivo, o Estado, bem como a globalização e seus desafios. A partir da construção de peças teatrais no âmbito escolar, os temas conflitantes presenciados pelos alunos e moradores da localidade da escola, através da estimulação do professor, foram expressos e comunicados para e pelo processo de criação teatral, que engloba pensar as mais diversas influências culturais. Além disso, através da composição das falas, baseadas na memória local, discute-se escrita e leitura, que no campo da Literatura é a expressão de uma história do cotidiano. A partir da comunicação e expressão cultural através do processo teatral observamos que é real o teatro como elemento ágil do saber, no primeiro ano, 2009, após seguirmos vários exercícios de Augusto Boal, Maria Novelly, entre outros, oscilando as Oficinas em exercícios com dinâmicas de grupo e bate papos acerca de toda pesquisa histórica desenvolvida, os membros bolsistas escreveram uma peça, Memórias da Praça de ingá, a qual desconstruiu a história tradicional e 293 a reinterpretou segundo seus possíveis XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 personagens populares e comuns. Foi apresentada no Cine Teatro Municipal da cidade, com som, luz, tudo que o teatro tem direito, o que serviu de estímulo e motivação para o praticar da arte teatral por aquele grupo de Andirá. Esse projeto retornou mais forte em 2010, seguindo explicitamente os quatro passos do Teatro do Oprimido, e utilizando um método de construção coletiva para elaboração do texto da peça. Foi produzido a partir das improvisações dos alunos geradas pelo método do Teatro Jornal de Augusto Boal, ao problematizar jornais diversos de tempos e espaços distintos. Essas improvisações foram filmadas por algumas oficinas, para cada oficina os oficineiros do Projeto se reuniam para transcrever e adaptar o texto. Chegando ao final num texto crítico com diversas temáticas. Essa contextualização demonstra como o teatro provoca e denuncia, pauta como ele pode ser instrumento para atrair curiosidade e participação, pois se precisa inovar para tornar interessante o processo de aprendizagem. O teatro como proposta pedagógica é um percurso de intervenções recíprocas entre professor e aluno, no qual se expressa à realidade, buscando compreendê-la na pluralidade. A utilização de diversas fontes sobre o problema proposto, juntamente ao conhecimento da Memória dos alunos e História Local da escola, do bairro e da cidade, são elementos importantes nesse processo. 6. Considerações Finais: Andirá e Fontes Históricas A experiência com o teatro mostra que tudo pode ser fonte, depende da forma que o sujeito aborda e interage com essa, no caso da peça de 2010, o objeto principal foi o jornal, guiado pelo método de Augusto Boal. Mas fotografias velhas ou novas, arquiteturas, objetos diversos, a conversa com amigos, tios, avós, e uma multiplicidade de espaços e tempos, dão estratégias históricas importantes para a construção do futuro. Nos apropriamos das fontes por meio de abordagens específicas e técnicas variadas. O procedimento metodológico leva em conta as idéias de processo, mudança, permanência, ruptura, simultaneidade, transformação, descontinuidade, deslocamento, recorrência. O tempo antes tradicional e exemplar é agora crítico e transformador, articula as abordagens macroestruturais de longa duração com o tempo dos costumes cotidianos de uma pequena localidade. Não se pretende fragmentar a História com o objetivo despolitizador do neoliberalismo que distancia o todo, bem como não neutralizar as diferenças. Entende-se que a História é social e possui sua cultura, que cada homem é indissociável da natureza, 294 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 bem como possui sua formação e visão de mundo. Atua a transformação constante e este artigo aponta muito pouco sobre a quantidade de Histórias que se pode produzir a partir de Andirá. Mas ressalta que tudo pode ser mutável, como também que podemos refletir e agir de diferentes formas sobre este Município. A História se vive a cada momento. 7. Referências ANDIRÁ, Prefeitura Municipal. Revista de Andirá. Andirá: 60 anos de pioneirismo. Sua história, o presente e o futuro. Edição Histórica. Andirá. Agosto de 1987. Bispo Diocesano Ernesto de Paula. Disponível em: <http://paroquiasantabarbara.org.br/v2/bispos/bispos>. Acesso em 15 de julho de 2010. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004 – (coleção docência em formação. Série ensino fundamental / coordenação Antonio Joaquim Severino, Selva Garrido Pimenta) BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro. 3° Edição. Editora Civilização Brasileira S. A. Rio de Janeiro, RJ, 1980. ____, Augusto. Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas. 6° Edição. Rio de Janeiro – RJ. Editora Civilização Brasileira S. A. 1991. GALDINO, Luiz Fernandes; SELETTI, Mário Carlos; BONACIN; Vilson Francisco. Andirá: tipos, risos e saudades. Apoio Cultural: Serze Graf. Lei Municipal de Andirá número 1486 de 19 de agosto de 2003. Disponível em: <http://www.andira.pr.gov.br/v2/dados/prefeitura/legislacao[2007-07-10][00005].pdf> Acesso em: 13 de julho de 2010. Lei Municipal de Andirá número 1487 de 26 de agosto de 2003. Disponível em: http://www.andira.pr.gov.br/v2/dados/prefeitura/legislacao[2007-07-10][00006].pdf> Acesso em: 13 de julho de 2010. Livro Tombo da Paróquia São Sebastião de Andirá. 1944. MARCHINI, Odila Guide. Como foi a independência de Andirá da Comarca de Cambará. Artigo escrito em 1981. Disponível em: <http://www.andira.pr.gov.br/v2/a_cidade/p_historia.asp>. Acesso em: 15 Abr. 2010 NOVELLY, Maria C. Jogos Teatrais: Exercícios para grupos e sala de aula. Tradução de Fabiano Antonio de Oliveira. Campinas, SP: Papirus, 1994. – (Coleção Ágere) PEIXOTO, Fernando. O que é Teatro. 8° ed. São Paulo: Editora Brasiliense S. A., 1986. 295 XI C ON GR ES SO D E ED U CAÇÃ O D O N OR T E PI O N EI R O Educar para a Emancipação: a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico U EN P- CCH E- CL CA–C AM P U S J AC AR EZI N H O AN AI S – 2 0 1 1 I SSN – 1 8 08 - 3 5 7 9 TOMAZI, Nelson Dacio. “Norte do Paraná”: História e fantasmagorias. Curitiba: Aos quatro ventos, 2000. Para citar este artigo: CAZULA, André Luiz da Silva. Educar para emancipação: possibilidades a partir de aspectos históricos locais. In: XI CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2011.Anais...UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN – 18083579. p. 286 – 296. 296