UPE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO CAMPUS PETROLINA WILLAMS SILVA NASCIMENTO A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO DE JUNCO – JUAZEIRO-BA PETROLINA – PE 2009 WILLAMS SILVA NASCIMENTO A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO DE JUNCO – JUAZEIRO-BA Monografia apresentada como exigência parcial do grau de licenciatura em Geografia à comissão julgadora da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina, sob orientação da professora Msa Raimunda Áurea Dias. PETROLINA – PE 2009 WILLAMS SILVA NASCIMENTO A SECA COMO INSTRUMENTO UTILIZADO PELO ESTADO PARA JUSTIFICAR A MISÉRIA DA POPULAÇÃO SERTANEJA – O CASO DE JUNCO – JUAZEIRO-BA Monografia apresentada como exigência parcial do grau de licenciatura em Geografia à comissão julgadora da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina, sob orientação da professora Msa Raimunda Áurea Dias. Aprovada em ____/____/2009 Banca examinadora: ________________________________________ Orientador ________________________________________ Examinador ________________________________________ Examinador PETROLINA – PE 2009 AGRADECIMENTOS A Deus, fonte de todo o amor e fortaleza, pelas bênçãos derramadas em minha vida. À minha família, pela paciência e apoio contínuo, em especial aos meus pais José de Arimatéia e Rosa Pereira, pelo exemplo de vida e superação. A Jamile, companheira fiel e dedicada, com quem quero partilhar muitas outras vitórias, pelo apoio e motivação. À minha orientadora professora Raimunda Áurea Dias, pelo incentivo e sugestões. Enfim, a todos aqueles que, direto ou indiretamente, de alguma forma, colaboraram para a realização deste trabalho. RESUMO O presente trabalho discute a problemática da seca no Nordeste que é uma característica climática do semiárido, marcado pela escassez periódica de chuvas ou pela reduzida precipitação pluviométrica nos meses em que se espera o inverno. O caráter da seca é nitidamente regional, refletindo características meteorológicas, hidrológicas em muitas vezes sócio-econômicas. Assim a pesquisa realizada no Distrito do Junco – Juazeiro-BA tem o objetivo de analisar a seca na comunidade, como instrumento utilizado pelo Estado para justificar a miséria da população sertaneja. Diante da criação de tantas políticas públicas, os problemas da população semiárida não foram minimizados, pois são muitas as misérias espalhadas pelo Sertão. As secas vão continuar existindo, mas é possível conviver com o problema, pois o Nordeste é viável. Seus maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de que é vítima. Desta maneira o fenômeno natural das secas impulsionou o surgimento para um fenômeno político denominado “indústria da seca”. Através dela os latifundiários nordestinos valendo-se de seus aliados políticos interferem nas decisões tomadas em escala federal, estadual e municipal, e beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos bancários concedidos. Os financiamentos obtidos muitas vezes são aplicados em outros setores que não o agrícola e aproveitam-se da divulgação dramática das secas para não pagar as dívidas contraídas. Dessa forma grupos dominantes têm saído fortalecidos enquanto é deixada de lado a busca de soluções para os problemas sociais e de oferta de trabalho às populações pobres. Os princípios metodológicos utilizados foram, leituras de livros científicos e observação a campo, sendo a análise feita através de dados coletados por meio de entrevista com questionário realizada com os moradores da comunidade do Junco. É preciso buscar na Geografia, que é uma ciência que desvenda toda essa desigualdade social, meios para solucionar e erradicar o problema da seca no Sertão, de forma com que venha a região a ter prestígio no cenário nacional e internacional, pois o que não faltam são recursos para aflorar um grande desenvolvimento tanto econômico como cultural. Palavras-chaves: seca, semiárido, indústria da seca, política LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO DISTRITO DO JUNCO ........................21 FIGURA 2 – UNIDADE DE DESSALINIZAÇÃO DO JUNCO........................................23 FIGURA 3 – CISTERNA DA COMUNIDADE DO JUNCO............................................ 26 FIGURA 4 – RIACHO DO JUNCO .....................................................................................28 FIGURA 5 – PEQUENAS POLÍTICAS ASSISTENCIALISTAS ....................................31 FIGURA 6 – NECESSIDADE DA ÁGUA............................................................................33 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08 1 O SEMIÁRIDO E A CRIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PELO ESTADO.....10 1.1 SECA FATOR NATURAL OU FATOR POLÍTICO.......................................................15 1.2 CLIMA SEMI-ÁRIDO OU CLIMA ÚMIDO AS DIFERENÇAS ECONOMICAS........17 2 A COMUNIDADE DO JUNCO – ANALISANDO A CONTRADIÇAÕ ENTRE SECA E AS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO ........................................................................20 2.1 OBRAS E PROJETOS CONSTRUÍDOS NA COMUIDADE DO JUNCO......................23 2.2 O CANAL DO PROJETO SALITRE INCLUI OU EXCLUI A COMUNIDADE DO JUNCO......................................................................................................................................27 3 CONSTRUÇÃO DE UM CANAL INTERLIGADO AO DO PROJETO SALITRE: SOLUÇÃO OU PROBLEMA ...............................................................................................30 3.1 AGRICULTURA: FONTE DE RENDA PARA POPULAÇÃO DO JUNCO..................32 3.2 A GEOGRAFIA : CIENCIA QUE DESVENDA O QUE HÁ POR TRAZ DA SECA NO SEMI ÁRIDO...........................................................................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................38 ANEXO.....................................................................................................................................40 QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO....................................................................41 INTRODUÇÃO Desde o período colonial até hoje, os relatos e imagens sobre o semiárido brasileiro, em sua maioria, enfatizam paisagens naturais desoladoras e o flagelo social da população sertaneja nos períodos de seca. Contudo, as secas no sertão nordestino apareciam como um elemento de desordem no projeto de colonização. Havia um contraste significativo entre uma perspectiva sedentária de ocupação e a fixação de povoamentos para exploração de riquezas, com as possibilidades de ocorrências de flagelos de fome e de sede decorrentes das grandes secas. Esse estudo não é só importante para estudar a questão da seca, mas para mostrar a vida de um povo que vive de sofrimento, em meio a um plano político mesquinho e cruel. Utilizando-o como meio para analisar a seca no Distrito do Junco – Juazeiro-BA, como instrumento utilizado pelo Estado para justificar a miséria da população sertaneja. Como princípios metodológicos foram utilizados, leituras de livros científicos e observação a campo, sendo a análise feita através de dados coletados por meio de entrevista com questionário realizada com os moradores da comunidade do Junco. Quando as ocorrências de secas prolongadas colocaram em risco o povoamento e as atividades econômicas no Sertão nordestino, tiveram início os estudos científicos sobre a problemática . Predominou a tentativa de descobrir e explicar as causas naturais do fenômeno das secas no Nordeste. A visão parcial do semiárido, como a região das secas, conduziu a adoção de soluções fragmentadas, cujo objetivo era combater a seca e seus efeitos. Surgiram olhares críticos sobre as causas estruturais e as conseqüências da miséria na região semiárida. Essa visão crítica da realidade desmistificou as ações de combate à seca que, além de ineficazes, reproduziam as estruturas locais de dominação. Com o abandono das propostas de reformas substanciais na região, ganhou destaque uma concepção da “modernização econômica e tecnológica” como base do desenvolvimento regional. Na década de 1970, as políticas governamentais passaram a dar ênfase à implantação de pólos de modernização agrícola e pecuária. A agricultura irrigada, com especialização na fruticultura para exportação, tornou-se a “solução” para os problemas da seca no Sertão. É importante estudar esse tema, porque o Nordeste se tornou conhecido no Brasil e no mundo, não pelo que ele tem de bom, mas pela seca e pelos males atribuídos a ela. Onde se fala de Nordeste, se pensa logo em um povo pobre e faminto, à beira das estradas. Para os governos, a região aparece com um problema e por causa da seca. A mesma se tornou o melhor assunto para discursos nas campanhas políticas e um bom negócio para os que querem enriquecer, mesmo que seja explorando o sofrimento do sertanejo. No primeiro capitulo discorro sobre o contexto histórico da seca no semiárido, ou seja, as conseqüências da seca como fenômeno natural e como meio de alienação política, depois faço uma abordagem sobre o clima, caracterizando e mostrando sua atuação. No segundo capitulo faço uma observação/pesquisa na comunidade do Junco, que se localiza as margens do Rio São Francisco e mesmo assim sofre com as conseqüências da seca. Nota-se que é uma área aonde as decisões política tem peso na sobrevivência da população que chega a comprar água potável para não morrer de sede, e que apenas poucos tiveram a sorte de participar do projeto da construção de cisternas em suas casas. A comunidade sofre com a falta de atuação de uma boa política, pois logo ali perto se encontra um canal, o do projeto salitre, e que suas águas apenas beneficiam o agronegócio do Vale do Salitre, uma região que se encontram vários projetos de irrigação, em que é subsidiada pelo Governo Federal, pois a obra foi construída pela (CODEVASF) Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba. No terceiro capitulo discute-se como a Geografia pode contribuir para desvendar a realidade, sugerindo ao mesmo tempo alternativas para o Estado refletir a respeito da seca. Por que, o que não pode, é a realização de tantos projetos para beneficiar a classe detentora do capital. CAPÍTULO I 1 O SEMIÁRIDO E A CRIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PELO ESTADO O semiárido, pouco povoado no período colonial era visto apenas como um lugar marcado pelo determinismo geográfico 1, assim não havia nada a fazer. Na época do império (1822-1889) a população sertaneja mais numerosa, os problemas iam ficando mais visíveis. Nesse momento foi adotada uma política de assistência às populações flageladas na ocasião de ocorrência das secas, procurando desenvolver uma política de regularização da navegação no rio São Francisco e de construção de açudes. Em 1877 D. Pedro II fez uso de uma frase que aparentemente parecia verdadeira que, "empenharia as jóias da coroa, mas não permitiria que os nordestinos passassem fome” (ANDRADE, 1973). Anos passaram e a população sertaneja passa a sentir muitas dificuldades e o argumento do Estado volta-se para a “seca” com responsável pela pobreza no Sertão. Julgamentos superficiais sobre o fenômeno e interesses políticos locais conduziram à construção de explicações reducionistas dos problemas regionais como produtos de condições naturais adversas, do clima, da terra e de sua gente. A seca tornou-se vilã do drama nordestino, a principal imagem de “uma terra estorricada, amaldiçoada, esquecida de Deus” (CASTRO, 1967, pag. 168). É importante explicar que, com a Proclamação da República (1889) e a transformação das províncias em estados federais, o poder local passou a ter uma influência aparentemente maior na Esfera Federal e os estados do Nordeste passaram a pressionar o poder central no sentido de desenvolver uma política permanente de combate aos efeitos da seca. Nesse sentido há em 1907 a criação, de uma Inspetoria Federal de Obras contra as Secas que realizou uma série de estudos geológicos, hidrológicos, botânicos, geográficos, mineralógicos sobre a região e desenvolveu uma política dominantemente hídrica. Por esta política, foram ______________ 1 influências que as condições naturais exercem sobre a humanidade, sustentando a tese de que o meio natural seria uma entidade definidora da fisiologia e da psicologia humanas, ou seja, o homem seria muito marcado pela natureza que o cerca. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo_geográfico) detectados nas grandes bacias dos rios temporários, locais que fossem favoráveis à construção de barragens e foram ainda construídos açudes de grande capacidade de retenção de água. A medida que eram ampliados os problemas sociais no Sertão, o Estado acreditava que as políticas públicas criadas resolveriam os problemas. Assim de acordo (FILHO e SOUZA , 1988) cria: a) DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que surgiu em 1909 com o nome de IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas, logo após foi transformada no IFOCS – Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas e só em 1945 sofreria uma reorganização aonde passaria a se chamar DNOCS. A principal finalidade do órgão é executar políticas do Governo Federal, que beneficiem áreas contra as secas. No entanto o DONCS tinha uma política que se restringia aos grandes projetos públicos dentro das fazendas dos grandes coronéis, quando a água acumulada quase não chegava nas casa dos mais necessitados. Não se desenvolvia, uma política de caráter social, visando fazer com que a população da área se beneficiasse da obra pública em que eram investidos milhões, sem que a população recebesse em troca áreas onde cultivasse, com irrigação, produtos alimentícios. É o que constata Furtado (1997, p. 86): As máquinas e equipamentos do DNOCS eram utilizados por fazendeiros ao seu bel-prazer. Nas terras irrigadas com água dos açudes construídos e mantidos pelo governo federal, produzia-se para o mercado do litoral úmido, e em benefício de alguns fazendeiros que pagavam salários de fome [...] Em síntese, a seca era um grande negócio para muita gente. Ressalta-se que a política do DNOCS, a princípio recebida com grande entusiasmo, logo foi desacreditada, pois não procurava solucionar os problemas, mas apenas mitigá-los nas ocasiões de crise, ao mesmo tempo em que provocava a acumulação das verbas de socorro às vítimas da seca em mãos de políticos influentes e de grandes comerciantes. Segundo (FILHO e SOUZA, 1988), o resultado desta postura foi a criação da SUDENE em 1959, que a partir daí iria coordenar e planejar a nova política do Governo federal para a região. Sem eliminar o DNOCS e outros órgãos do Ministério do Interior, ela veio para fiscalizá-los. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas não viria a fechar mas teria suas atuações diminuídas. b) CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba, é uma empresa pública criada em 1974 e vinculada ao Ministério Nacional, derivada da antiga CVSF – Comissão do Vale do São Francisco transformada em SUVALE – Superintendência do Vale do São Francisco. Tem por finalidade promover o desenvolvimento e a revitalização das Bacias dos rios São Francisco e Parnaíba, através de investimentos públicos para a construção de obras de infra-estrutura, para a implementação de projetos de irrigação e de aproveitamento racional dos recursos hídricos. Realizando também pesquisas, estudos socioeconômicos e ambientais. Porém, de 1980 até os dias atuais, a empresa vem investindo na produção agrícola irrigada, mas sem incluir o necessário beneficio sócio, ou seja, modernizando os grandes latifundiários deixando o pequeno produtor sem meios para produzir. c) CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, foi criada em 1948 e tem por finalidade o aproveitamento das águas do São Francisco para a geração de energia elétrica, pois o governo pensava que resolveria o abastecimento de todo o Nordeste, e promoveria a industrialização da região. A Companhia, busca o fortalecimento da cidadania, através de ações nas áreas de pesquisa científica e tecnológica, educação, saúde e meio ambiente. O que não preocupa o Estado são os impactos causados com as construções de grandes obras como a da barragem de Sobradinho, pois a mesma desalojou centenas de trabalhadores em prol do desenvolvimento e da geração de energia. d) Embrapa – Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária, principal instituição de pesquisa fundada em 1973, visava apoiar o processo de modernização da agricultura brasileira e centralizar a coordenação, financiamento e execução da pesquisa agrícola no âmbito federal. Além de atuar nas mais diversas linhas de pesquisa, a instituição coordena o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). Tal sistema integra as organizações estaduais de pesquisa agropecuária (OEPAS), Universidades e institutos de pesquisa no âmbito federal e estadual, bem como as demais instituições públicas e privadas, direta ou indiretamente vinculadas à atividade de pesquisa agropecuária. e) BNB – Banco do Nordeste do Brasil, criado em 1952, com o objetivo de disponibilizar créditos para as indústrias e empresas agropecuárias que fossem instaladas no Nordeste, realizar estudos e pesquisas sobre os grandes problemas da região, treinar o pessoal para a região e para o próprio Banco. A criação de tal Banco consolidaria a apropriação do capital na região. f) SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, criada em 1959 com o objetivo de promover e coordenar o desenvolvimento da região. Sua instituição envolveu, antes de tudo, a definição do espaço que seria compreendido como Nordeste e passaria a ser objeto da ação governamental: os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Pois mesmo com o processo de industrialização, crescia a diferença entre o Nordeste e o Centro-Sul do Brasil. Desde os seus primeiros planos que a SUDENE deu prioridade à industrialização da região, não se preocupando com o desenvolvimento da agricultura de subsistência, cujas atividades absorvem milhares de pequenos e médios agricultores. (FILHO e SOUZA, 1988, p.81) Sendo considerada uma entidade que, além de não esta realizar os fins a que se propunha, era um foco de corrupção. Por conta disso e após uma sucessão de escândalos, em 1999 a imprensa iniciou um debate sobre a existência do órgão, extinto finalmente em 2001, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. No lugar da SUDENE, foi criada a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE), aonde só seria novamente restituída no Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de estudado, foi criada uma nova estrutura da SUDENE, e em janeiro de 2007 através de uma lei complementar foi recriado. g) Política de irrigação – foi implementada no Nordeste como primordial para o desenvolvimento da região. Para isso foram vários os investimentos estatais com o objetivo de tornar, principalmente, o Sertão em um “pomar”. As águas do Rio São Francisco, assim como a criação da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), e da SUDENE, foram fundamentais para o desenvolvimento da irrigação no Nordeste. Até então, as ações na área da irrigação eram desenvolvidas pelo DNOCS, cujo sua estratégia era constituída na construção de barragens e açudes. A irrigação tornava-se uma ação complementar para aproveitar parte dos recursos hídricos de alguns açudes. As ações de irrigação no Nordeste são centenárias, sendo elas meios de estratégias políticas e empresariais, pois a maior parte dos benefícios proporcionados pela produção irrigada é internalizada pelo setor privado. Portanto, é do seu interesse assegurar a estabilidade e continuidade da produção, da operação do sistema, da manutenção e da reposição dos equipamentos utilizados nos projetos de irrigação. h) Transposição do Rio São Francisco - Imaginada pelo imperador D. Pedro II no final do século XIX e estruturado na virada do século XX para o XXI. O rio é um dos maiores e mais importantes do mundo, nasce na região Sudeste, e vai até o Nordeste. Seu fluxo é interrompido por algumas barragens para geração de eletricidade, como por exemplo, a de Sobradinho, que garante a fluência do rio mesmo no período da seca, e a represa de Itaparica, ambas na divisa entre a Bahia e Pernambuco. O projeto prevê retirar água justamente nas duas represas e levar essa água para duas outras bacias de rios menores, mas também importantes: a do rio Paraíba (a leste) e a dos rios Jaguaribe, Apodi e Piranhas-Açu (ao norte). De acordo com o governo federal, o projeto seria a solução para o grave problema da seca no Nordeste, pois distribuiria água a 390 municípios dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mesmo com o fracasso das grandes obras contra a seca, retoma-se a proposta de solucionar o problema com uma mega-obra. Ao ser concebida para a segurança hídrica dos reservatórios, a transposição servirá ao maior usuário dos reservatórios e adutoras, a agricultura irrigada. Ela garantirá os crescentes volumes de água exigidos pelo agronegócio exportador. Segundo COELHO (1985), “não serão, portanto os projetos faraônicos, como os da transposição das águas do São Francisco, o das chuvas artificiais, falhos sociais, técnica e economicamente, que resolverão o flagelo das secas”. É importante explicar que, diante da criação de tantas políticas públicas, os problemas da população semiárida não foram minimizados, pois são muitas as misérias espalhadas pelo sertão. As secas vão continuar existindo, mas é possível conviver com o problema, pois o Nordeste é viável. Seus maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da concepção da sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de que é vítima. 1.1 SECA FATOR NATURAL OU FATOR POLÍTICO A seca é uma característica climática do semi-árido, marcado pela escassez periódica de chuvas ou pela reduzida precipitação pluviométrica nos meses em que se espera o inverno. O caráter da seca é nitidamente regional, refletindo características meteorológicas, hidrológicas em muitas vezes sócio-econômicas. As causas da precariedade da situação do Nordeste devem ser procuradas, antes de mais nada, na história sócio-econômico-política do Brasil, no contexto da economia mundial. Portanto, não são os resultado da fatalidade, do destino, da natureza, mas o resultado da ação ou omissão política dos homens e da forma através da qual se apropriam e usam dos recursos naturais e estabelecem relações entre si. Neste sentido, uma produção política. Nota-se, portanto, que a seca é realmente uma condição natural do conhecido “polígono das secas2”, porém os efeitos dela sobre a população que vive no Sertão não pode ser naturalizados. Segundo, ( COELHO, 1985, p.88 ); Crises climáticas periódicas, como enchentes, geadas e secas, acontecem em qualquer parte do mundo, prejudicando a agricultura. Em alguns casos tornam-se calamidades sociais. Porém, só se transformam em flagelo social quando precárias condições sociais, políticas e econômicas assim o permitem De acordo com a análise do autor, a seca não é simplesmente a falta de água, passou a ser utilizada pelo Estado como resposta para todas as misérias sociais que vive o povo sertanejo. Desta maneira o fenômeno natural das secas impulsionou o surgimento para um fenômeno político denominado “indústria da seca3 ”. Através dela os latifundiários nordestinos valendo-se de seus aliados políticos interferem nas decisões tomadas em escala federal, ______________ 2 uma grande área da região Nordeste onde predomina o ecossistema Caatinga e o clima semi-árido (secas periódicas, vegetações sem folha e c urto período de chuvas). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3% ADgono _das _secas) 3 fenômeno político segundo o qual latifundiários nordestinos e seus aliados políticos nas diversas esferas de governo utilizam a seca para angariar recursos públicos a pretexto de combatê-la. Tais recursos são aplicados em benfeitorias em suas propriedades particulares. (COELHO, 1985) estadual e municipal, e beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos bancários concedidos. Os financiamentos obtidos muitas vezes são aplicados em outros setores que não o agrícola e aproveitam-se da divulgação dramática das secas para não pagar as dívidas contraídas. Dessa forma grupos dominantes têm saído fortalecidos enquanto é deixado de lado a busca de soluções para os problemas sociais e de oferta de trabalho as populações pobres. A seca como um fenômeno natural, em diferentes graus de intensidade é conseqüência da falta de chuvas num determinado período do ano. Mas os problemas desta, resultante não são maiores do que a negligência dos governantes em se aproveitar dos recursos destinados às famílias que realmente sofrem com o problema da seca. (FILHO e SOUZA, 1983, p.45) Destaca-se que em pais capitalista o lucro precisa vir de todos os lugares. Assim, a seca passou a ser símbolo de acumulo de capital não só dos grupos empresariais, como também de políticos locais que ao longo dos anos tem transformado o fenômeno natural em problema social. Dessa maneira utiliza a escassez de chuvas para justificar as misérias sertanejas. Observa-se que a construção de cisternas que acumulem a água da chuva captada nos telhados, estocando-a para os períodos de estiagem, tem-se mostrado como uma solução eficiente no combate à miséria no sertão. A iniciativa feita por entidades não governamentais prova que o estado não estava cumprindo o seu papel. Mas quando o Governo decide realizar o projeto, ele o utiliza como meio para conquistar votos, pois o que se vê são construções de cisternas em municípios com bastantes eleitores, e muitas promessas nas campanhas eleitorais, o que reforça a idéia de que a seca deixou de ser um fenômeno natural para se transformar em política. 1.2 CLIMA SEMIÁRIDO OU CLIMA ÚMIDO AS DIFERENÇAS ECONOMICAS A zona semiárida do Nordeste brasileiro abrange uma área de 940 mil km2 , representando cerca de 75% da superfície total da Região. Segundo AB’SABER (1973) o clima é quente e seco, com temperatura média acima de 26ºC, com cerca de 3 mil horas anualmente de insolação. As noites sertanejas são frias durante quase todo o ano, caindo assim a temperatura para os 18ºC, particularmente nas áreas serranas. Em relação ao índice pluviométrico4 é importante frisar que varia entre 400 e 800 mm de chuvas anuaís havendo, entretanto uma intensa evaporação ou evapotranspiração, que atinge mais de 2.500 milímetros, por ano. Verifica-se que as chuvas são insuficientes e irregulares, a temperatura é elevada e uma forte taxa de evaporação na extensa mancha semi-árida do Sertão nordestino, faz com que ocorre larga variação da estação seca, que dura entre seis e onze meses. As chuvas, que podem ser torrenciais e provocar inundações, concentram-se no verão e no início do outono. Destaca-se que a característica mais marcante desse tipo climático, porém, não é a escassez das precipitações, mas a sua irregularidade, pois em janeiro ou fevereiro quando não caem ou são pouco intensas, instala-se um ano de seca. Periodicamente, registram-se períodos de seca de alguns anos, nos quais as precipitações ficam bastante abaixo do normal. Assim A insuficiência e irregularidade na distribuição de chuvas, a temperatura elevada e a forte taxa de evaporação são características climáticas que “projeta derivadas radicais para o mundo das águas, o mundo orgânico das caatingas e o mundo socioeconômico dos viventes dos sertões” (AB’SÁBER, 2003, p. 85). Nunca se sabe em que mês terá início a chuva e quando ela voltará a cair outra vez. Assim, pode chover muito num lugar e poucos quilômetros adiante a terra continua seca. Porém, de fato, não existe ano sem chuva. Nos anos mais secos, dificilmente chove menos ___________ 4 é uma medida em milímetros, resultado da somatória da quantidade da precipitação de água (chuva, neve, granizo) num determinado local durante um dado período de tempo. (AB’SABER, 2003) que 200 mm /ano. Cerca de 80% dos solos do semiárido são de origem cristalina, rocha dura que não favorece a acumulação de água, sendo os outros 20% representados por solos sedimentares, com boa capacidade de armazenamento de águas subterrâneas. A economia da zona do semiárido apresenta-se como um complexo de pecuária e agricultura extensiva de baixo custo, apoiadas nos consórcios de proprietários formados por algodão, milho, feijão e mandioca. Esse tipo de agricultura de subsistência é altamente vulnerável ao fenômeno das secas. Visto que, a precipitação na Região Nordeste apresenta uma grande variabilidade no tempo e espaço, a ocorrência de chuvas, por si só, não garante que as culturas de subsistência serão bem sucedidas. Uma seca intensa durante a quadra chuvosa, ou uma precipitação intensa ou excessiva na mesma época, podem ter impactos bastante negativos na economia regional e nacional. Dentro do Sertão existem áreas, que são caracterizadas por um clima úmido, como é o caso das áreas montanhosas, que devido a sua altitude, se diferenciam das demais fazendo com que estas pratiquem uma forma de economia diferente das regiões semiáridas. As áreas são consideradas como enclaves úmidos e sub-úmidos se distribuem de modo disperso pelos sertões semi-áridos e configuram verdadeiros sub-espaços. Articulando-se com os sertões semiáridos que normalmente os circundam, os enclaves constituem importantes setores de produção agrícola. São, tradicionalmente, considerados como celeiros dos espaços sertanejos. A atividade agrícola tende a se concentrar, preferencialmente, nos topos e nas encostas úmidas, onde o potencial natural permite uma exploração diversificada e contínua do solo. Na cultura popular dos sertões é costume reconhecer-se por brejo qualquer subsetor mais úmido existente no interior do domínio semiárido;isto é, qualquer porção de terreno dotada de maior umidade, solos de matas e filetes d’água perenes ou subperenes, onde é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos úmidos. Um brejo, por essa mesma razão, é sempre um enclave de tropicalidade no meio semi-árido: uma ilha de paisagens úmidas, quentes ou subquentes, com solos de matas e sinais de antigas coberturas florestais, quebrando a continuidade dos sertões revestidos de caatingas. (AB’SABER, 2003, p.17) Portanto, nessas áreas há recursos naturais mais abundantes para o homem poder criar e plantar, a dificuldade em se viver da terra é menos intensa do que nos grandes sertões, contudo, são áreas de relevos marcados, raras são planícies e geralmente médios agricultores utilizam o terreno para monoculturas. A maior disponibilidade de recursos hídricos, por outro lado tem incentivado a prática da irrigação com reflexos positivos, aumentando a produtividade por superfície cultivada. Sob esse aspecto, os enclaves têm um balanço hídrico duplamente beneficiado. Primeiramente, o regime térmico é modificado pela altitude ou pela própria condensação do vapor d’água presente no ar. Isso provoca um considerável aumento da nebulosidade, reduzindo a insolação e a temperatura. Por conseqüência, há diminuição da evapotranspiração potencial, que traduz a demanda total de água pelas plantas. Um outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de que os enclaves são beneficiados por um aumento substancial das chuvas que são também mais regularmente distribuídas. Além das diferenças dentro do clima semiárido, verifica-se que na Região Nordeste há áreas totalmente de clima úmido que é marcado por verdadeiros bolsões de miséria, assim não é o clima ser úmido, semiárido, equatorial que determina a economia favorável ou desfavorável de uma região e sim a acumulação do capital centrada no lucro. CAPÍTULO II 2 A COMUNIDADE DO JUNCO – ANALISANDO A CONTRADIÇAÕ ENTRE SECA E AS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO É necessário desmistificar a seca como elemento desestabilizador da economia e da vida social nordestina e como fonte de elevadas despesas para o Estado. É preciso afirmar que a seca, é um fenômeno natural, porém não é responsável pela fome e pela miséria que dominam a população da região. Desde as primeiras iniciativas governamentais, os interesses políticos das oligarquias sertanejas no Nordeste prevaleciam, transformando o combate à seca em um grande negócio. Como cita (RIBEIRO, 1995, p. 348). Esses donos da vida, das terras e dos rebanhos agem sempre durante as secas, mais comovidos pela perda de seu gado do que pelo peso do flagelo que recai sobre os trabalhadores sertanejos, e sempre predispostos a se apropriarem das ajudas governamentais destinadas aos flagelados. O autor explica que, não falta água no Nordeste, faltam soluções para resolver a sua má distribuição e as dificuldades de seu aproveitamento. Nessas condições, não é de estranhar que o problema das secas não se resolva. Sua efetiva solução passaria pelos interesses mesquinhos de grupos poderosos, que conseguem vantagens com a pobreza e o sofrimento de milhares de sertanejos, como é o caso de pessoas que moram no distrito de Junco – JuazeiroBA que fica localizado no Vale do São Francisco a 20km de Juazeiro-BA e com uma população de aproximadamente 600 famílias (Ver figura 1, p. 21). A situação limite é quando integrantes das famílias precisam migrar, pois as plantações não vingaram em virtude da seca, contraditoriamente é um fato lamentável para uma comunidade banhada por um grande rio “São Francisco”. Como percebe-se em pesquisa de campo 2009 na localidade de Junco, muitos moradores mesmo inseridos a uma situação de vida muito difícil de viver não pensam em sair de lá. Muitas vezes acontecem de saírem para trabalhar, mas sempre estão voltando para visitarem os seus parentes. Figura 1 Mapa da localização do Distrito do Junco FONTE: Imagens digitais Brasil ao Milionésimo 2001, banco de dados IBGE SANTOS, David. 2009 Lutar para permanecer em sua terra deve ser o sentimento de todos, pois é na luta e na união da classe trabalhadora que a realidade atual pode ser transformada. Mesmo perfeitamente adaptados à convivência com a rusticidade permanente do clima, os trabalhadores das caatingas não podem conviver com a miséria, o desemprego aviltante, a ronda da fome e o drama familiar profundo criado pelas secas prolongadas (AB’SÁBER, 2003, p. 85). A justificativa social da convivência com o semiárido deve ser a possibilidade de lutar pelo trabalho e melhoria de renda na terra, principalmente para a população sertaneja que tem na terra a garantia de vida. O distrito de Junco é apenas um dos que margeiam o Rio São Francisco, mesmo ficando a poucos quilômetros das águas é impressionante a façanha de faltar água nessa localidade, não pela pouca distância, mas pelo desinteresse político em tentar pelos menos amenizar a situação difícil em que vivem as pessoas desse lugar. Verifica-se que, os bons projetos ligados à agricultura irrigada para o agronegócio estão direcionados aos empresários possuidores de renda. Ao longo da história, a pobreza e miséria no Sertão foram relacionadas com a ocorrência das secas. As interpretações desse fenômeno natural e de suas conseqüências para a produção e a população local, omitiram os aspectos estruturais do modo de ocupação do espaço, de exploração dos recursos naturais e de subordinação da população. Mas não se trata de, mais uma vez, atribuir à seca toda a culpa pelos baixos índices de desenvolvimento humano no semiárido. Identifica-se a persistência das desigualdades sociais que está na base da reprodução secular das condições de miséria que fragilizam as famílias sertanejas, impedindo-as de resistir aos efeitos das estiagens prolongadas. É comum em todo vale do São Francisco, não só no Junco, as pessoas não terem água para o mínimo, alimentação, higiene e etc. Mas, ao invés de resolver pequenos problemas, o Estado realiza grandes projetos em nome do “desenvolvimento” como construção de barragens e a transposição das águas do Rio São Francisco. Desse modo, a Geografia enquanto ciência que estuda o espaço, analisa que ele é dividido por aqueles que detém capital. 2.1 OBRAS E PROJETOS CONSTRUÍDOS NA COMUIDADE DO JUNCO Para que se tenha um estudo do espaço pesquisado, recorremos à Geografia que se caracteriza em uma disciplina voltada não só para o estudo do espaço mas também a relação que há em torno entre o homem e ele. A mesma não só observa, mas também faz análises para alcançar um resultado. Através dos estudos para esse trabalho, percebeu-se que o Distrito do Junco, área em estudo, passa por situações de calamidades, bem como é analisado que esta situação se dá por um motivo que é histórico, porém não natural. Na localidade foi adotado um projeto de construir uma unidade de dessalinização (ver figura 2, p. 23) , aonde a água seria puxada de um poço artesiano e bombeada para todo o Distrito. Mesmo após o processo de dessalinização, não se tem uma água boa para plantar e muito menos para beber, pois é relevante a quantidade de sal que ainda se encontra na água, ou seja, ela é lançada na casa sem tratamento algum. Figura 2 Unidade de dessalinização do Junco NASCIMENTO,willams. 2009 De acordo com os moradores a água potável da comunidade é comprada cada vasilhame com vinte litros de água custa dez centavos, uma situação que se lança em volta de um lugarejo que fica a poucos metros do Rio São Francisco. Mais do que situação emergencial, a medida é uma demonstração de que a população do semiárido necessita de políticas adequadas à convivência com a seca e emancipatórias em sua dimensão social. Em relação às políticas governamentais no semiárido, questiona-se o caráter fragmentado e descontínuo dos programas desenvolvidos em momentos de calamidade pública que alimentam a chamada “indústria da seca”. Os governos necessitam ter uma visão social para corrigirem as distorções que se aceleram e aumentam nos períodos de seca. Os recursos públicos necessitam ser empregados em benefício do grosso da população e não de acordo com os interesses dos grandes grupos econômicos. Para isto é necessário que se desenvolva uma política popular. (ANDRADE, 1987, pag.35) Depois de algumas observações, nota-se que a água dessa estação de tratamento tem duas saídas, uma que sai direto para a casa das pessoas sem tratamento algum e a outra que vai para um aparelho que controla quanto de água pode ser retirada. Esta última tem uma qualidade melhor, pois é tratada antes de chegar ao destino final. - Como é que pode um negocio desse, a gente fica levando balde e contando as moedas para não morrer de sede. É como se fosse uma ficha telefônica, agente coloca a moeda e cai a água contadinha, gota a gota sem passar nada. Sr (J. C. P. S. 25 anos) Visualiza-se a insatisfação das pessoas, tendo que carregar água comprada, e muitas vezes não podem nem carregá-la como é o caso das pessoas idosas. Quando o dinheiro falta os moradores se verem obrigados a tomar água salgada Para alguns moradores, a água poderia até ser comprada, como acontece nos centros urbanos, mas que chegasse através de encanamentos em suas residências, para que não passassem por tanta dificuldade na hora de carregá-la. É notável que uma região aonde o principal fator para tantos absurdos seja o problema político, não só pelo motivo da falta de água, mas pelo descaso de grandes obras que as vezes começam e não terminam, e quando terminam não são utilizados por todos mas apenas os mais favorecidos, ou seja, os grandes latifundiários. São muitos os investimentos, porem não chega a quem mais necessita. Mudava, então, a leitura sobre o fenômeno das secas: ao invés de decorrer meramente de fatores climáticos ou geográficos, era produto de um conjunto de relações sociais estabelecidas ao longo dos séculos de povoamento da região. Entre essas relações, estava a maciça concentração de terras, com latifundiários detendo imensas propriedades que abrigavam boa parte das obras executadas e cujo uso atendia a interesses particulares. (Guimarães 1989, p. 213) Enquanto os grandes projetos se sucedem, os nordestinos continuam desamparados e cada vez mais descrentes das soluções que sempre de novo se anunciam. Mas não estão conformados com esta situação. Como cita o Sr. (J. C. M. S. 38 anos) - Entra prefeito e sai prefeito prometendo e prometendo mas acaba tudo na mesma coisa, sempre fazendo obras só para uns e outros ficando sem nada. Ele se refere à construção de uma cisterna comunitária (ver figura 3, p. 26) que foi construída mas que não supre a necessidade de toda população. Quando em um período prolongado de falta de chuvas a cisterna logo fica vazia, deixando os moradores sem água potável. O Estado junto com o ASA (Articulação no Semiárido), construiu algumas cisterna na comunidade, apenas em algumas casas, pois segundo os moradores, não se podia construí-las em residências que não atingissem os padrões estabelecidos pelo projeto. Com muita dificuldade algumas pessoas conseguiram o direito de possuir uma cisterna, mas tiveram que mexer na estrutura de sua casa. Ressalta-se que as cisternas funcionam na época em que chove, com uma capacidade para armazenar 16 mil litros de água, se chover suficiente, caso raro nessa região. Pois se não chover elas ficam vazias e sem nenhuma função. Os moradores falam que se atingirem o nível máximo dá para uma família com 4 pessoas passarem uns 5 meses com água, mas só cozinhado e bebendo, se for usar a vontade não passa 2 meses. Figura 3 Cisterna da comunidade do Junco NASCIMENTO, willams. 2009 O maior problema da área se dá quando não chove por muito tempo, ficando assim as cisternas sem água, e a situação se agrava quando o aparelho que controla a venda da água quebra, deixando a comunidade em uma situação de calamidade. Tendo sempre os moradores que fazer abaixo assinados para o conserto do aparelho, pedido esse que muitas vezes é atendido meses depois. A revolta e a indignação se estampam no rosto dos sertanejos do Junco, que enfrentam esse problema de falta de água, quando para eles é de total responsabilidade do governo, que deixa de agir com o seu dever e consequentemente, desrespeitando os direitos da população. 2.2 O CANAL DO PROJETO SALITRE INCLUI OU EXCLUI A COMUNIDADE DO JUNCO Um dos maiores planos de irrigação do semiárido, o Projeto Salitre, é uma obra da CODEVASF e faz parte do plano de combate a seca do Nordeste brasileiro. Trata-se de um canal de irrigação que leva a água do rio São Francisco para a região de Juazeiro – BA, atualmente é uma área de destaque da agricultura irrigável nacional. O Projeto estava em construção e ficou parado desde o final da década de 1990, sendo retomado em 2007, com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O objetivo da obra é irrigar uma área de um total de 35 mil hectares de terra no sertão baiano, o Projeto está com a primeira etapa pronta, o que corresponde a 2 mil hectares irrigados. Sabe-se que a referida obra não tem data para ser concluído, em razão da espera de uma definição da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) sobre a relocação territorial de algumas famílias que vivem ao lado do mesmo, acampadas em uma área de 130 hectares, no Vale do Salitre, a poucos quilômetros do distrito de Junco. Destaca-se que, duas mil famílias que ocupam o espaço estão obtendo sucesso com a plantação de melão, cebola, tomate, melancia, quiabo, amendoim, feijão e mandioca, ou seja, plantam para sobreviverem. Com largos canais condutores de água, que se dividem em subcanais, o Projeto Salitre se aproveita de uma solução técnica viável para irrigação no semiárido, mas concentra tal solução nas mãos dos grandes empresários, concentrando não só a terra como também a água. Nesse caso, exclui os camponeses do benefício do Estado O progresso e o desenvolvimento, neste País ainda não chegou para o povo. As grandes obras custaram milhares de vidas que ajudaram asua construção e ainda continua ceifando vidas de homens que apenas lutam pelo direito de trabalhar. (FILHO e SOUZA, 1988, pag. 35) Ressalta-se que as águas são bombeadas para as grandes plantações, ou seja, os latifundiários se beneficiam da maior quantidade de água ou dela toda, o que prova o descaso com os camponeses. A região que o canal envolve é permeada de conflitos, pois o Distrito do Junco não se beneficia dessa água. Segundo relata os moradores da comunidade em pesquisa de campo 2009, a água não chega, pois é retida para as grandes plantações do agronegócio que se localizam no Vale do Salitre. É uma área que foi beneficiada pelo projeto, em virtude de possuir um grande potencial para a plantação, e que logo foi territorializada pelos grandes latifundiários. O problema da falta de água se agravou no lugar, pois os moradores relatam que depois da chegada desses fazendeiros a água não chega mais em um pequeno riacho que eles aproveitavam, mesmo sendo completamente poluída para o consumo domestico. (Ver figura 4, p. 28). Como cita o Sr (P. C. R. 83 anos) - a água do riacho não era da boa mas servia pelo menos pra gente lavar roupa. Agora só vive seco porque, as maquinas não deixam mais a água passar. Figura 4 Riacho do Junco NASCIMENTO, Willams, 2009 O lugar em estudo tem sido cenário de incoerência e injustiças sociais que toma para si proporção de calamidade nas contínuas estiagens de longa duração quando a população tem dificuldade de acesso a água de boa qualidade. Nessa circunstancia, o que bem se vê são os assistencialismos de maneira paliativa, sobretudo dos que se beneficiam politicamente com isso, alimentando assim a “indústria da seca”. A realidade é que o que se vê de fato é a intervenção pública, em todas as esferas, se limitar aos anos mais caóticos, com dinheiro a fundo perdido sem criar uma infra-estrutura que permita ao homem a superação do problema. Essa forma de intervenção só beneficia a classe de água pelos órgãos públicos, só atendendo às residências indicadas pelo prefeito, ou quando esse é de oposição, do deputado ligado ao governo que mantém aquela área como curral eleitoral. (ANDRADE NETO, 1994, pag. 37): Vale mencionar, que a construção do canal no Salitre beneficia apenas uma pequena parcela da população já detentora do capital, excluindo quem de fato precisa da terra e da água para sobrevivência. CAPITULO III 3 CONSTRUÇÃO DE UM CANAL INTERLIGADO AO DO PROJETO SALITRE: SOLUÇÃO OU PROBLEMA Quando se fala em construir um projeto, pensa-se que esta beneficiará a todos, principalmente por se tratar de água, pois o ser humano não consegue viver sem a mesma. É preciso tomar decisões coerentes para que fatores como por exemplo a seca deixe de proporcionar tantas misérias no Sertão. O descaso do Estado traz conseqüências que se não forem resolvidas, transformaram o Nordeste em uma área que não se conseguirá viver. Os grandes homens deste País deviam ser considerados. Mas, infelizmente os interesses pessoais e de grupos, particularmente daqueles que construirão as obras, prevalecem acima da verdade e do verdadeiro interesse do Nordeste e dos nordestinos. Isto significa que a miséria do povo, a educação, tudo, enfim, que necessita o Nordeste, não é prioridade a resolver. (COELHO, 1985, p. 81) Para a população do Junco pequenas políticas assistencialistas não estão ajudando a eles sobreviverem (ver figura 5, p. 31), como os caminhões pipas que custam muito caro e ainda demoram meses para chegar à comunidade, sem falar que essa água só dá mesmo para beber por alguns dias, concretizando assim um cenário de grandes dificuldades. A construção de um canal que interligasse a água do canal do projeto salitre diretamente à comunidade do Junco seria uma das alternativas que funcionariam com mais eficiência, principalmente porque á água seria transportada sem interrupções pelo meio do caminho. Nesse caso a água chegaria não só na comunidade, mas seria distribuída pelas casas através de tubulações. Pois, não basta só transportá-la, é preciso que ela seja bem utilizada, ou seja, aproveitada como acontece nas zonas urbanas, aonde são feitas encanações. Muitos planos foram e são criados no semi-árido até a data de hoje, mas o que se vê é que nenhum tem o objetivo alcançado, devido a uma serie de fatores, principalmente as questões políticas, pois em meio a tantas obras produzidas, elas acabam beneficiando uma grande minoria da população, ou seja, o latifundiário, pois enormes áreas de plantações são irrigadas, deixando o camponês sem condições para plantar. Figura 5 Pequenas políticas assistencialistas 30% moradores que gostam moradores que não gostam 70% Fonte: Pesquisa de campo, 2009 De fato, quando se avalia a política de irrigação implementada no Nordeste, de acordo com seus próprios e quase explícitos objetivos, percebe-se que, o êxito do projeto tem sido extremamente reduzido. As metas não atingidas de renda e de produção evidenciam claramente este fracasso. A construção de um canal seria uma forma de amenizar a seca, e até mesmo fazer com que a população do Junco praticasse outras formas de sustento de vida, como por exemplo, plantar seus cultivos associados com a fabricação de esteiras que no momento é a sua principal fonte de renda. É importante um grande estudo para que fato a construção de um canal para aquela área seja concretizada. A população precisa ser ouvida, pois é a vida das famílias que estar em jogo. 3.1 AGRICULTURA: FONTE DE RENDA PARA POPULAÇÃO DO JUNCO O território do Sertão do São Francisco baiano está localizado na porção norte do estado. Possui toda sua área inserida na zona semiárida e possui como principal recurso hidrográfico o rio São Francisco. Assim, devido às características geoambientais, o desenvolvimento da atividade agrícola nessa área só é possível pelo aproveitamento do potencial hídrico aliada ao uso da tecnologia de irrigação. A situação vivida pelos moradores do Distrito do Junco é idêntica à dos demais lugares do Sertão. Mesmo contando com recursos, como um solo favorável para o plantio, a população não consegue manter sua família com a produção agrícola. Assim, quanto à agricultura, não adianta construir uma rede enorme de canais de irrigação para desenvolver uma agricultura de produtos de exportação, através de grandes empresas. É preciso que se desenvolva uma agricultura voltada para subsistência, como é o caso da agricultura camponesa, pois se for investir na área para se ter uma agricultura voltada para o agronegócio, estaria apenas favorecendo aos latifundiários. Vale lembrar, que a produção camponesa não visa o lucro, mas é cultivada para a vida comercializando o excedente e isso, de certa forma, vai de encontro ao sistema capitalista. Por isso segundo FABRINI (2002, p. 88): o capitalismo insiste na expropriação e desaparecimento dos camponeses, pois essa forma de sustentabilidade não atende à forma de economia vigente.É como se o camponês não tivesse lugar no capitalismo, fosse de fora, mas insiste em continuar existindo, ou seja traindo as leis do capital pela luta. Os camponeses vivem da terra e para a terra, hoje buscando na resistência e na aquisição de recursos de sustentação sócio-ambiental. No semiárido isto se reflete através de uma agricultura não mais num combate à seca, mas na busca de inovações, criatividade e lutas dos movimentos sociais Para buscar a solução na agricultura é preciso muito planejamento e bom senso na hora de elaborar os projetos, para que não aconteça o acumulo de terras nas mãos de poucos, pois gerariam grandes revoltas, principalmente dos de baixo. Dessa forma as áreas para plantações teriam que ser igualmente divididas, com um mesmo potencial de água para os moradores que ocupam o espaço. No entanto se essas áreas não forem distribuídas para o povo da comunidade, e sim para alguém de fora geraria insatisfação, e conflitos. Os moradores ressaltam que não plantam porque não tem água, mas se realmente houvesse o compromisso político em abastecer a comunidade, eles utilizariam para plantar, (como aponta a figura 6, p. 33). É notável o amor que eles tem à terra, quando citam em ritos vezes em morrer pela terra. Figura 6 Necessidade da água 18% Para desenvolver plantio Para outros fins 82% Fonte: Pesquisa de campo, 2009 O semiárido é uma região propícia para a agricultura, precisa-se apenas de um tratamento nacional a essa atividade, especialmente no aspecto ecológico. Mas sabe-se que realmente está implícito no contexto da seca, não é, sem dúvida alguma, o interesse em resolver este grave problema que aflige diversas famílias do Sertão nordestino, e sim a intenção absoluta de abocanhar os recursos destinados para a implantação desses grandiosos projetos. Portanto, o investimento na produção agrícola na região não será importante só para as pessoas sobreviverem, mas também impulsionará uma economia sustentável para todos. 3.2 A GEOGRAFIA : CIÊNCIA QUE DESVENDA O QUE HÁ POR TRAZ DA SECA NO SEMIÁRIDO A Geografia é uma das ciências responsáveis pela leitura do espaço e como ele se apresenta na atualidade dividido. Destacamos que a Geografia assume uma posição diferenciada quanto às demais disciplinas escolares, uma vez que a Biologia, a Química e a Física apontam sempre a natureza nas suas especificidades; a Geografia, trabalha nas relações do homem para com a natureza e a natureza para com o homem. Atualmente todos vivem inseridos numa lógica que determina os fatos perante o tempo e o espaço. O local e o global estão em constante ligação e a cada vez mais estreita. A Geografia na escola contribui para a formação de um homem mais consciente. Em outras palavras, a aula de Geografia pode contribuir para fazer as pessoas pensarem sobre suas imagens de mundo, o modo como foram construídas, as razões pelas quais se mantêm e as maneiras outras de imaginar esse mesmo mundo. (SOUZA NETO, 2008, p. 27) Compreende-se que estudar geografia deve significar algo mais prazeroso e contrário de se ater simplesmente à memorização de mapas e capitais. A referida ciência deve ser explorada em todos os seus campos, os quais superam o conhecimento empirista. Mais do que nunca, é hoje uma necessidade imperiosa conhecer de forma inteligente (não decorando informações e sim compreendendo processos, as dinâmicas, as potenciais mudanças, as possibilidades de intervenção) o mundo em que vivemos, desde a escala local até a nacional e a mundial. E isso, afinal de contas, é ensino de geografia (VESENTINI,1996, p. 28). Ao lado das desigualdades regionais em seus aspectos mais estritamente econômicos, surgiu uma aguda percepção de seu lado social e político, vinculada, especialmente, à miséria da população rural e, conseqüentemente, a uma cada vez mais intensa crítica aos efeitos da seca no semiárido. Para os geógrafos que entendem que a seca não passa de um fator político para conseguir votos, estão de acordo que não é só a natureza que determina a vida do homem. Este tem possibilidades de ir além, ou seja, o homem é capaz de modificar a natureza a ponto de destruí-la. O movimento de renovação da Geografia não surge apenas como o “momento” reformador da disciplina e da ciência em si, mas assume um importante papel transformador, da sociedade possibilitando mudanças no cenário nacional, inclusive no semi-árido aonde a falta de chuva é tida como fator crucial para impedir o desenvolvimento da região. Trazendo conseqüências gravíssimas como famílias que morrem de sede tendo água a poucos metros de sua residência. Espera-se que a Geografia cumpra mais que um papel meramente curricular obrigatório, pois não se pretende formar “micro-geógrafos acadêmicos” como diria Sahr (2006, p.30). Almeja-se que a Geografia seja uma ferramenta de auxílio para a percepção do estudante perante o mundo que o cerca, e que, a partir disto, ele desenvolva as habilidades para tornar-se um cidadão desalienado, crítico e consciente. Ter conhecimento do que é Geografia é ver além das aparências, é ser capaz de analisar a espacialização da miséria não como simples registro de paisagem. Mas ter consciência de que a ciência é de fundamental importância para entender o desenvolvimento contraditório proporcionado pelo capitalismo. Em uma diversidade que este espaço, pensá-lo tornou-se a tarefa complexa aos professores de Geografia; mas de certa forma, acabou com a idéia de que este espaço geográfico é uma coisa fixa, morta petrificada. Então agora é preciso, para compreender a realidade, saber, por exemplo, porque os trabalhadores rurais se transformaram em operários fabris. E pensar esse espaço é o principal objetivo que os professores de Geografia devem realizar juntos com seus alunos. Porque só compreendendo essa dinâmica espacial é possível exercer a cidadania, ao relacionar lugares e fenômenos, paisagens e pessoas, processos sócias e transformações naturais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos que os políticos, costumam fazer política com o sofrimento e a miséria do povo. As alternativas de produção existem não são implementadas porque, na verdade, tem faltado aos administradores públicos a indispensável vontade política para definir ações estruturadoras no semi-árido. E tem faltado porque concretizá-la significa contrariar interesses, muitas vezes situados na base de apoio parlamentar do governo. O povo considera que o Governo Federal, ao abdicar da adoção de medidas preventivas no combate à seca, colhe os benefícios da indústria de votos, uma tradição oligárquica nordestina, que sobrevive da miséria alheia. O Governo Federal, ao invés de aplicar as diversas tecnologias disponíveis para levar água para as populações pobres do Nordeste, opta por uma política assistencialista, que lhe garante votos em troca de precárias cestas básicas e frentes emergenciais de trabalho. É essencial, para que a seca torne-se apenas um fenômeno climático, uma redefinição do atual modelo agrário brasileiro, ancorado no latifúndio pecuarista e na agroindústria exportadora, que gera desemprego e não está organizado para abastecer com alimentos o mercado interno. Ao longo dos anos, tal modelo vem sendo consolidado, particularmente no Nordeste, por desvios de verbas públicas para construir açudes em grandes propriedades e incentivos oficiais aos fazendeiros para a compra de máquinas e insumos sofisticados. Mais do que nunca, é necessário inverter esta lógica que exclui a agricultura de subsistência, praticada por milhões de trabalhadores rurais, do acesso a linhas de crédito, à assistência técnica e a tecnologias adequadas à pequena propriedade. A comunidade do Junco passa por muitas necessidades, mas que são conseqüências de um Governo voltado para o grande latifundiário, pois a região se localiza às margens de um Rio e mesmo assim a população sofre com a falta de água potável. Entender que o semiárido, passa por dificuldades nos grandes períodos de estiagem e dever de todos, mais principalmente daqueles que detêm dos poderes nas mãos e que podem mudar essa situação que não só faz com que o povo sertanejo viva numa miséria total como também inclui uma região tão rica como o Nordeste em um palco de calamidades. Contrariando toda a evolução dos últimos anos, entretanto, a crença no “combate” à seca com obras e retenção artificial de água permanece viva, como atesta alguns projetos que são construídos que beneficiam apenas o agronegócio da agricultura irrigada, favorecendo assim os grandes latifundiários, e excluindo a grande maioria que são os pequenos camponeses. Por isso concluímos, o problema do Sertão do Nordeste não é físico, climático mas social e político e será solucionado no dia em que a população entender que o poder está nas mãos dela e não do Estado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SÁBER, Aziz . Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos do Brasil. Geomorfologia. São Paulo, IGEOG. USP. v. 20,1970, ______________. O domínio morfoclimático semiárido das caatingas brasileiras. Geomorfológia. São Paulo, JGEOG, USP,v. 43, 1974 AB’SÁBER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. AB’SABER, Aziz. Zoneamento do Nordeste Seco. In: Scientifc American Brasil, nº11, 2003. ALVES, Joaquim. História das secas. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1953. ANDRADE, C. Manoel. A terra e o homem no nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1973. ______________. Geografia econômica do nordeste- o espaço e a economia nordestina. Atlas, 1987. ANDRADE NETO, Joaquim Correia. 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ANEXO UPE - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO CAMPUS PETROLINA QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO 1 - Quanto tempo essa comunidade fica em média sem chuvas? 2 – Qual é a fonte de renda das pessoas que vivem no Junco? 3 – A falta de chuvas em algum momento faz com que vocês pensem em deixar de morar na comunidade. 4 – Você gosta de morar no Junco? Sim ( ) não ( ) 5 – Quando não chove de onde vem a água para vocês sobreviverem? 6 – O governo trabalha para amenizar a seca ? Sim ( ) não ( ) 7 – O Canal do Projeto Salitre beneficia os moradores da localidade do Junco? Sim ( ) não ( ) 8 - Vocês compram água no período da seca? Sim ( ) não ( ) 9 – Nos períodos das longas secas já aconteceu de alguma pessoa chegar a falecer? Sim ( ) não ( ) 10 - As plantações são prejudicas pela falta de chuvas ? 11- Existe alguma cisterna na comunidade para aproveitar a água das chuvas? Sim ( ) não ( )