Família Hammes: 140 anos em São Lourenço do Sul
Edilberto Hammes*
[Artigo publicado no Boletim Brasil-Alemanha de 24.06.2012 online. Autorizada pelo autor a publicação
também na página do CBG]
No dia 18 de junho de 1872 chegava ao porto do Rio de Janeiro, capital do Império
do Brasil, o veleiro “Arnold”, ainda com bandeira da já extinta Confederação Alemã
do Norte. Ele trazia a bordo 163 imigrantes da recém-formada Alemanha que, como
se sabe, foi unificada em 1871, a partir de dezenas de unidades germânicas
independentes, por Otto von Bismarck. “Pela razão ou pela força” conquistava,
então, o status de mais forte nação da Europa. Estimulada pelo governo brasileiro,
a imigração tinha por finalidade povoar importantes zonas brasileiras inabitadas,
aumentando com isso sua densidade demográfica, e a de tornar, pelo trabalho que
se esperava desses estrangeiros, um país próspero economicamente, já que a
maioria dos que chegavam era de agricultores, de possíveis industriais ou de
comerciantes.
Dentre os viajantes do “Arnold” havia alguns com o sobrenome Hammes,
originários de uma região ao lado do rio Reno denominada Hunsrück,
pertencente, na época, à Prússia. Ao chegar à província de São Pedro, hoje Rio
Grande do Sul, a maioria desses Hammes dirigiu-se para a zona central de nosso
atual estado. Um, no entanto, de nome Johann Philipp, escolheu São Lourenço para
viver. Em sua pátria de origem, ele tinha participado de duas guerras que,
vencidas pelos prussianos, colaboraram para transformar os antigos pequenos e
muito deles inexpressivos estados, liderados pelo maior, a poderosa Prússia, na
grande Alemanha dirigida pelo Kaiser (imperador) Guilherme II. Seus feitos foram
reconhecidos com duas medalhas ao mérito.
Chegando à cidade do Rio Grande, poucos dias depois da escala no Rio de Janeiro,
nos dias intermediários da segunda quinzena de junho de 1872, encontrou a
também imigrante do Hunsrück, Christina Scheer, com quem casaria no altar da
velha igreja de São Pedro, viajando, ambos, para a colônia alemã fundada por
Jacob Rheingantz na região norte do então grande município de Pelotas (que se
estendia à época) até o rio Camaquã.
Em São Lourenço, aprazível balneário à margem da Lagoa dos Patos,
estabeleceram-se num dos lugares mais altos do município, por isso mesmo
denominado Boa Vista, onde construíram uma casa de comércio que logo
prosperou, tornando-se uma referência na região.
No transcorrer dos anos, dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, lhes
garantiriam a descendência. Depois, nesse mesmo lugar, foi construído um moinho
de vento (único do município), um hotel, uma fábrica de café, uma indústria de
laticínios, uma farmácia, ajudando sobremaneira ao desenvolvimento do local, hoje,
inclusive, candidatando-se a ser mais um município gaúcho. Dos seus
descendentes, contando os filhos, esposas, genros, noras, netos, bisnetos, trinetos
e até pentanetos que os sucederam, o número atualmente chega a mais de mil
pessoas. Todas, sem exceção, trabalhando para que o caminho da história do
município
continue
progredindo.
Algum tempo depois chegava, também a Boa Vista, outro imigrante Hammes. E,
para confundir um pouco, com o mesmo primeiro nome: Johann, sem parentesco
algum entre um e outro. Para o mesmo lugar e com os mesmos nome e
sobrenome! Esse foi agricultor e teve nove filhos: cinco homens e cinco mulheres.
E, para complicar um pouco mais ainda, ambos os imigrantes Johann tiveram filhos
com o mesmo primeiro nome, Pedro: Pedro Hammes e Pedro Hammes II...
A história dos imigrantes Johann Philipp e Johann – que ao chegarem a São
Lourenço adotaram os nomes, traduzidos, de João Hammes –, o primeiro com
todos os pormenores de sua atribulada e bem sucedida vida e o segundo com
algumas nuanças, e suas descendências, será contada em um livro, com inúmeras
ilustrações e fotos, que deverá ser lançado em novembro próximo na Feira do Livro
de São Lourenço do Sul pelo bisneto de Johann Philipp, o médico Edilberto Luiz
Hammes. Vidas dignas de serem conhecidas. E exemplos de trabalho e
honestidade.
Johann Philipp e Johann faleceram relativamente jovens, respectivamente com 61 e
63 anos de idade, e estão sepultados, quase lado a lado no cemitério católico de
Boa Vista, 6º distrito de São Lourenço do Sul, a cerca de 30 quilômetros da sede do
município.
Na foto a família dos comerciantes Johann Philipp – Christina Scheer Hammes, com seus dez
filhos.
Os homens, vistos da esquerda para a direita são Rodolpho, Pedro, Henrique (o caçula), Germano
e Otto; e as mulheres, na mesma ordem: Susanna, Clementina (a menor), Joanna, Ernestina e
Anna. Lamentavelmente, até agora, o autor não conseguiu qualquer foto do agricultor imigrante
Johann...
* Edilberto Hammes é médico e escritor
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