UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Instituto de Psicologia e Ciências da Educação Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Realizado por: Sónia Maria Amado Barreira Supervisionado por: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Dr. José Manuel Mata Justo Orientado por: Prof. Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires Dr. Rogério Mourtada Anselmo Constituição do Júri: Presidente: Arguente: Vogal: Prof. Doutor Carlos César Lima da Silva Motta Prof. Doutor José António Baião Carochinho Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires Dissertação aprovada em: 18 de Julho de 2014 Lisboa 2013 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Instituto de Psicologia e Ciências da Educação Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira Lisboa Dezembro 2013 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Instituto de Psicologia e Ciências da Educação Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira Lisboa Dezembro 2013 Sónia Maria Amado Barreira Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Relatório de estágio apresentado ao Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Coordenador de mestrado: Prof. Doutor Carlos César Lima da Silva Motta Supervisores de estágio: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha, Dr. José Manuel Mata Justo Orientadora científica do relatório: Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires Orientador de estágio: Dr. Rogério Mourtada Anselmo Lisboa Dezembro 2013 Ficha Técnica Autora Coordenador de mestrado Supervisores de estágio Orientadora científica do relatório Orientador de estágio Sónia Maria Amado Barreira Prof. Doutor Carlos César Lima da Silva Motta Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Dr. José Manuel Mata Justo Prof.ª Doutora Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires Dr. Rogério Mourtada Anselmo Título Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Local Lisboa Ano 2013 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação BARREIRA, Sónia Maria Amado, 1982Fluir : o pré-requisito para a excelência na aprendizagem / Sónia Maria Amado Barreira ; coordenado por Carlos César Lima da Silva Motta ; supervisionado por Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha, José Manuel Mata Justo ; orientado por Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires, Rogério Mourtada Anselmo. - Lisboa : [s.n.], 2013. - Relatório de estágio do Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário, Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Lusíada de Lisboa. I - ANSELMO, Rogério Mourtada, 1977II - PIRES, Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca, 1939III - BRAIZINHA, Joaquim José Ferrão de Oliveira, 1944IV - JUSTO, José Manuel Mata, 1955V - MOTA, Carlos César Lima da Silva, 1948LCSH 1. Desenho - Ensino e estudo 2. Desenho - Psicologia 3. Criatividade 4. Escola Secundária Marquês de Pombal (Lisboa, Portugal) - Ensino e estudo (Estágio) 5. Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Teses 6. Teses - Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. 6. Drawing - Study and teaching Drawing - Psychology Creative ability Escola Secundária Marquês de Pombal (Lisbon, Portugal) - Study and teaching (Internship) Universidade Lusíada de Lisboa. Instituto de Psicologia e Ciências da Educação - Dissertations Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon LCC 1. NC615.B37 2013 Para os meus pais, que sempre acreditaram no poder do conhecimento. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais pelo seu constante incentivo na progressão da minha formação académica, aos meus professores Dr. José Mata Justo, Dr. Rogério Mourtada Anselmo e Dr. Arqt. Joaquim Ferrão de Oliveira Braizinha pelos valiosos conselhos que concederam em meu auxílio no processo de elaboração do relatório e na orientação e supervisão do meu estágio, ao professor Dr. Miguel Sousa pela sua bondade genuína e sabedoria e à minha professora Dr.ª Maria Adelaide Gregório dos Santos da Fonseca Pires pelo seu auxílio no processo de elaboração deste relatório e pela sua aptidão natural em promover a motivação e a esperança na mente dos seus alunos. Por fim, agradeço aos alunos das duas turmas incidentes no trabalho de projecto integrado na minha experiência de estágio profissional. “A frase mais entusiasmante de ouvir em ciência, a que anuncia novas descobertas, não é „Eureka‟ (Descobri!), mas „É curioso…‟.” KAKU, Michio (2008) - A física do impossível: uma exploração científica do mundo dos fasers, campos de forças, teletransporte e viagens no tempo. Lisboa: Editorial Bizâncio. APRESENTAÇÃO Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira - “Professora, não queremos desenhar!” - assim proferiu um dos alunos em seu nome e supostamente da turma. A frase sustinha em si o indício de que um problema se implantara no decurso da experiência de ensino. O fenómeno, indubitavelmente reflexo da ausência de um factor ou factores constituintes da motivação, teria de ser resolvido de maneira a tornar possível reorientar o processo de ensino e aprendizagem no caminho certo. A experiência fundamentada no propósito do desenvolvimento de competências inerentes à expressão criativa, no instante da revelação perdera sustentação na razão presente da desmotivação incidente nos alunos. Sendo a motivação um factor que desperta o envolvimento de qualidade do aluno no processo de aprendizagem, tornouse essencial saber como reestabelecer o grau de intensidade e qualidade motivacional ideais e compreender outros aspectos influentes sobre o estado emocional do aluno de modo a alcançar o propósito da intervenção educativa pretendida enquanto objectivo geral da experiência de estágio profissional. Considerando o raciocínio elucidativo, descrito por Bruce Lee (erudito e praticante do estilo wing chun de gung-fu) no seu livro Tao of Jeet Kune Do, “We shall find the truth when we examine the problem. […] understanding the problem dissolves the problem” (Lee, 2007, p. 20)1, acerca da importância de identificar o problema e compreender a sua natureza de modo a poder superá-lo, permitiu considerar a evidência da desmotivação dos alunos perante os exercícios de desenho propostos enquanto matéria a ser analisada para além dos objectivos precedentemente estabelecidos. Compreender o conceito da motivação, os seus indicadores, os problemas quando em situação de ausência, os seus aspectos fundamentais, os seus motivos e consequentemente tipos de motivação e respectivos resultados, conduziria à 1 Encontraremos a verdade assim que examinarmos o problema. […] compreender o problema dissolve o problema.” (Tradução nossa). resolução do problema da desmotivação dos alunos insurgente na experiência de aprendizagem. Tornou-se claro que para obter dos alunos resultados significativos de excelência integrados no panorama de progressão do seu potencial criativo seria necessário despertar o seu interesse pelos conteúdos escolares por meio do estímulo e reforço da motivação através da implementação de estratégias como as recomendadas no modelo de aprendizagem denominado Target (descrito por Printrich e Schunk) - plano educacional que objectiva a meta aprender e o incremento da motivação intrínseca. Durante a prática pedagógica supervisionada de estágio profissional foram implementados um projecto e um conjunto de actividades que tinham por objectivos: o desenvolvimento do potencial criativo dos alunos e a reaproximação dos mesmos em relação ao espaço escola. No decurso deste processo de ensino e aprendizagem foi implementada uma revisão aprofundada da literatura respeitante à criatividade (conceito de arte, experiência e atitude estética, elementos participantes do processo criativo, tipos de capacidades que envolve a experiência estética, tipos de manifestação criativa, processos psicológicos interventivos no processo criativo, tipos de raciocínios que participam na acção criativa, fases do processo criativo, atributos essenciais para a ocorrência de desempenho criativo, formas de intensificar a criatividade, factores influentes no pensamento criativo, complementaridade entre esta e a resolução de problemas, técnicas e ferramentas para o seu desenvolvimento, género de bloqueios que interferem no funcionamento do pensamento criativo, testes de avaliação da criatividade), à motivação (características específicas e componentes integrados em contexto de aprendizagem de sala de aula promotores do seu incremento, indicadores da sua presença, procedimentos na identificação de problemas originados pela sua ausência, aspectos quantitativo e qualitativo a considerar, razões intrínsecas e extrínsecas de estímulo na activação do envolvimento participativo na aprendizagem, elementos da sua origem intrínseca, tipos de necessidades do aluno no processo de aprendizagem, crenças de auto-eficácia, etc.), e ao modelo de Taxonomia de Bloom (níveis de objectivos, exigências e correspondentes estratégias de avaliação). A avaliação dos trabalhos obtidos dos alunos, na forma de composição gráfica e escrita, susteve-se numa análise qualitativa dos mesmos. Posteriormente à prática pedagógica supervisionada de estágio profissional foi estabelecido o recurso a teorias complementares: inteligências múltiplas (elaborada por Howard Gardner), emocional (descrita por Daniel Goleman), programação neurolinguística (elaborada por Richard Bandler e John Gringer), fluxo (elaborada por M. Csikszentmihalyi), e de instrução (elaborada por Jerome Bruner), elucidativas acerca dos paradigmas comportamentais na expressão da atitude dos alunos, suas causas e efeitos e possíveis soluções promotoras de maior motivação, melhor gestão emocional, interacção comunicativa, desempenho óptimo e excelência na aprendizagem. A razão de destaque na teoria de fluxo incide na sua relevância primordial justificada na essência de um estado mental que possibilita realizações significativas de mérito. Palavras-chave: criatividade, motivação, inteligência, emoção e fluxo. PRESENTATION Flow: the prerequisite for excellent learning Sónia Maria Amado Barreira - “Teacher, we do not want to draw!” - said one of the students in his name and supposedly of the class. The sentence pointed out a problem that emerged during the course of the teaching experience. The phenomenon, undoubtedly a reflexion on the absence of a factor or factors constituent of motivation, had to be resolved in a way that could guide correctly the process of education and learning. The experience founded on the purpose to develop student´s intrinsic capabilities related to creative expression, lost support on the present reason – student´s lack of motivation. Motivation factor leads all students to a high degree of involvement. It became essential to know how to achieve the ideal degree of motivation and some other influential aspects related to student´s emotional state of mind. Considering what Bruce Lee (erudite and martial artist of wing chun style of gung-fu) wrote in his book Tao of Jeet Kune Do, “We shall find the truth when we examine the problem. [...] understanding the problem dissolves the problem” (Lee, 2007, p. 20), pointed out the importance on identifying the problem and understanding it´s nature in order to overcome it. A possible problem solution could be achieved by understanding the meaning of motivation, its indicators and problems derived by its absence, fundamental aspects, its motives, types and corresponding results. It became clear in order to obtain from students significant results of excellency, integrated on a panorama of creative potential progression, it would be necessary to activate their interest about school subjects by the incentive and reinforcement of motivation. The strategies described by Printrich e Schunk compiled in the Target Model, reveal an educational plan that intends learning achievements and intrinsic motivation expansion. During the supervised pedagogical practice, one project and some activities were implemented to develop student´s creative potential and their competent involvement on a project related to school environment and space improvement. During this process, a profound literature revision took place. The subjects were based, on creativity (art concept, aesthetic experience and attitude, participant elements in the creative process, types of capabilities involved in the aesthetic experience, types of creative expression, psychological intervening processes on creative process, types of reasoning participant on creative action, creative process phases, essential attributes for creative performance, ways to enhance creativity, influent factors on creative thought, complementarity between it and the resolution of problems, techniques and tolls for its development, types of mental blocks that interfere on the creative thought operation, evaluation test of creativity), on motivation (specific characteristics and integrated components in context with learning class promoters of development, motivation indicators, procedures in case of problems, quantitative and qualitative aspects to consider, intrinsic and extrinsic incentive reasons in active learning involvement, intrinsic original elements, students learning needs, efficiency beliefs, etc.), and Bloom´s Taxonomy Model (levels, requirements, and strategies of evaluation). The evaluation made from student´s graphic and written compositions was based on a qualitative analysis. Subsequently to the supervised pedagogical practice, studied additional theories represented a valuable recourse to the conclusion of this report: multiple intelligence (elaborated by Howard Gardner), emotional intelligence (described by Daniel Goleman), neurolinguistic programme (elaborated by Richard Bandler and John Grinder), flow (elaborated by M. Csikszentmihalyi), and instruction theory (elaborated by Jerome Bruner). All these theories presented explanatory reasons about students behaviour paradigm, causes, effects and promising solutions on motivation, better emotional management, efficient communicative interaction, optimal performance and learning excellence. Flow theory highlighted relevance summarizes the essence of the mental state that leads to significant merit fulfilment. Key-words: creativity, motivation, intelligence, emotion and flow. SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................. 23 2. Problemática .......................................................................................................... 29 2.1. Descrição do contexto ..................................................................................... 29 2.2. Definição do problema..................................................................................... 31 3. Objectivo do projecto.............................................................................................. 35 3.1. Formulação dos objectivos .............................................................................. 35 3.1.1. Objectivos da experiência de estágio ....................................................... 35 3.1.2. Objectivos de investigação ....................................................................... 36 3.2. Fundamentação teórica ................................................................................... 37 3.2.1. Criatividade ............................................................................................. 37 3.2.1.1. Vivências criadoras ............................................................................ 37 3.2.1.2. Arte .................................................................................................... 39 3.2.1.3. Processos psicológicos...................................................................... 43 3.2.1.4. Raciocínio criativo .............................................................................. 48 3.2.1.5. Fases do processo criativo ................................................................ 50 3.2.1.6. Bloqueios ........................................................................................... 55 3.2.1.7. Técnicas e ferramentas ..................................................................... 58 3.2.2. Inteligência .............................................................................................. 64 3.2.2.1. Teoria das Inteligências múltiplas ...................................................... 65 3.2.2.2. Teoria da Inteligência emocional ....................................................... 80 3.2.2.2.1. Gestão emocional .................................................................... 81 3.2.2.2.2. O poder das emoções.............................................................. 83 3.2.2.2.3. Aptidão mestra......................................................................... 85 3.2.2.2.4. Preocupação e ansiedade ....................................................... 87 3.2.2.2.5. Esperança e optimismo ........................................................... 90 3.2.3. Motivação ................................................................................................ 94 3.2.3.1. Motivação intrínseca .......................................................................... 98 3.2.3.2. Motivação intrínseca e meta aprender ............................................... 99 3.2.3.3. Crenças de auto-eficácia ................................................................. 104 3.2.4. Instrução ............................................................................................... 109 3.2.4.1. Taxonomia de Bloom ....................................................................... 109 3.2.4.2. A teoria da instrução de Bruner ....................................................... 112 3.2.5. Programação neurolinguística ............................................................ 122 3.2.6. Teoria do Fluxo ..................................................................................... 130 3.2.6.1. Propósito ......................................................................................... 133 3.2.6.2. Actividades ...................................................................................... 139 3.2.6.3. Ostáculos......................................................................................... 141 3.2.6.4. Personalidade Autotélica ................................................................. 144 3.2.6.5. Estruturas dissipadoras ................................................................... 146 4. Metodologia.......................................................................................................... 149 4.1. Participantes do projecto ............................................................................... 149 4.2. Plano de acção ou fases do projecto ............................................................. 149 4.2.1. Propostas de actividades de longo-prazo ............................................... 151 4.2.2. Trabalho de projecto e experiência pessoal de estágio .......................... 151 4.2.3. Obstáculos à concretização dos objectivos ............................................ 152 4.2.4. Actividades de curto-prazo ..................................................................... 153 4.2.5. Actividades desenvolvidas ...................................................................... 153 4.2.5.1. PLanificações das aulas .................................................................. 154 4.2.6. Meios de avaliação ................................................................................. 154 4.2.7. Calendário das actividades ..................................................................... 154 5. Avaliação dos resultados...................................................................................... 157 5.1. Apresentação, análise e interpretação dos resultados................................... 157 5.1.1. Tabela 1 de relação entre os alunos e as diversas actividades em que participaram ...................................................................................................... 160 5.1.2. Tabelas com os dados, conjuntamente apresentados, dos alunos participantes no Projecto de uma Pintura Mural ................................................ 161 5.1.2.1. Tabela 2: Avaliação sumativa e análise do nível de conhecimentos relativos à expressão plástica ....................................................................... 161 5.1.2.2. Tabela 3: Dados sobre o nível de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente ................................................. 165 5.1.2.3. Tabela 4: Dados observados de enquadramento da atitude e comportamento dos alunos ........................................................................... 168 5.1.2.4. Tabela 5: Dados sobre infracções de raciocínio, bloqueios do pensamento criativo e crenças de auto-eficácia ............................................ 171 5.1.2.5. Tabela 6: Indicadores de motivação e de incidência de problemas.. 173 5.1.2.6. Tabela 7: Classificação do tipo de temperamento dos alunos segundo o modelo bidimensional de Eysenck ............................................................. 175 5.1.3. Tabela 3 com os dados, conjuntamente apresentados, dos alunos participantes no exercício de criatividade “linhas paralelas e o imaginário” ....... 176 5.1.4. Projecto de uma pintura mural para a fachada principal da escola ..... 178 5.1.4.1. Trabalho elaborado pelo aluno Ali.................................................... 179 5.1.4.1.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 179 5.1.4.1.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 179 5.1.4.1.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 180 5.1.4.1.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 181 5.1.4.1.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 182 5.1.4.1.6. Temperamento ...................................................................... 183 5.1.4.2. Trabalho elaborado pela aluna Ind................................................... 183 5.1.4.2.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 183 5.1.4.2.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 184 5.1.4.2.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 184 5.1.4.2.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 185 5.1.4.2.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 186 5.1.4.2.6. Temperamento ...................................................................... 186 5.1.4.3. Trabalho elaborado pela aluna Len.................................................. 187 5.1.4.3.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 187 5.1.4.3.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 188 5.1.4.3.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 188 5.1.4.3.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 189 5.1.4.3.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 190 5.1.4.3.6. Temperamento ...................................................................... 190 5.1.4.4. Trabalho elaborado pela aluna Lil. ................................................... 191 5.1.4.4.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 191 5.1.4.4.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 192 5.1.4.4.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 192 5.1.4.4.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 193 5.1.4.4.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 193 5.1.4.4.6. Temperamento ...................................................................... 194 5.1.4.5. Trabalho elaborado pela aluna Rit. .................................................. 194 5.1.4.5.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 195 5.1.4.5.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 195 5.1.4.5.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 196 5.1.4.5.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 196 5.1.4.5.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 197 5.1.4.5.6. Temperamento ...................................................................... 197 5.1.4.6. Trabalho elaborado pela aluna Sar. ................................................. 198 5.1.4.6.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 198 5.1.4.6.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 199 5.1.4.6.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 199 5.1.4.6.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 200 5.1.4.6.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 201 5.1.4.6.6. Temperamento ...................................................................... 201 5.1.4.7. Trabalho elaborado pela aluna Jes. ................................................. 202 5.1.4.7.1. Conhecimentos relativos à expressão plástica....................... 202 5.1.4.7.2. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 203 5.1.4.7.3. Atitude e particularidades comportamentais .......................... 203 5.1.4.7.4. Infracções de raciocínio, bloqueios e crenças de auto-eficácia ... .............................................................................................. 204 5.1.4.7.5. Indicadores de motivação e incidência de problemas ............ 204 5.1.4.7.6. Temperamento ...................................................................... 205 5.1.5. Exercício de criatividade “Linhas paralelas e o imaginário” ................. 205 5.1.5.1. Representações gráficas do aluno Ali. ............................................. 206 5.1.5.1.1. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 206 5.1.5.2. Representações gráficas da aluna Ind. ............................................ 207 5.1.5.2.1. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 207 5.1.5.3. Representações gráficas da aluna Len. ........................................... 208 5.1.5.3.1. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 208 5.1.5.4. Representações gráficas da aluna Lil. ............................................. 209 5.1.5.4.1. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 209 5.1.5.5. Representações gráficas da aluna Sar. ........................................... 210 5.1.5.5.1. Pensamento divergente, recurso cognitivo e tipo de raciocínio ... .............................................................................................. 210 5.1.6. Actividade “O pensamento lateral e as representações figurativas, simbólicas e geométricas” ............................................................................. 211 5.1.6.1. Trabalho elaborado pelo aluno Ali.................................................... 212 5.1.6.1.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 212 5.1.6.2. Trabalho elaborado pela aluna Ind................................................... 214 5.1.6.2.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 214 5.1.6.3. Trabalho elaborado pela aluna Len.................................................. 215 5.1.6.3.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 216 5.1.6.4. Trabalho elaborado pela aluna Lil. ................................................... 216 5.1.6.4.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 217 5.1.6.5. Trabalho elaborado pela aluna Rit. .................................................. 218 5.1.6.5.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 219 5.1.6.6. Trabalho elaborado pelo aluno arm. ................................................ 220 5.1.6.6.1. Apreciação do seu desempenho ............................................ 220 5.1.7. Exercício de criatividade “Mind maps” ................................................... 221 5.1.7.1. Desenhos diagramáticos de cinco alunos da turma 9º DAC ............ 221 6. Conclusão ............................................................................................................ 227 Referências .............................................................................................................. 229 Bibliografia ................................................................................................................ 235 Apêndices ................................................................................................................ 237 Lista de apêndices .................................................................................................. 239 Apêndice A ........................................................................................................... 241 Apêndice B ........................................................................................................... 303 Apêndice C .......................................................................................................... 323 Anexos ..................................................................................................................... 327 Lista de anexos ....................................................................................................... 329 Anexo A................................................................................................................ 331 Anexo B................................................................................................................ 335 Anexo C ............................................................................................................... 339 Anexo D ............................................................................................................... 343 Anexo E................................................................................................................ 347 Anexo F ................................................................................................................ 351 Anexo G ............................................................................................................... 355 Anexo H ............................................................................................................... 359 Anexo I ................................................................................................................. 363 Anexo J ................................................................................................................ 367 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 1. INTRODUÇÃO - “Professora, não tenho jeito para desenhar!”. Enquanto verdade absoluta, a premissa parece repercutir-se no pensamento enquanto afirmação categórica generalizada. A indução de que os resultados se devem à ausência de potencial, permite a crença submergi-los numa justificada inaptidão. A possibilidade de sucesso parece-lhes utópica, mero devaneio impraticável sem qualquer solução admirável, e na face desmotivada da descrença no seu próprio potencial, a máscara da inadequação sobrepõem-se, transmitindo uma percepção errada do paradigma. A dificuldade na resolução do problema, figurado no desenho, reside na crença desmotivadora da impossibilidade sustentada por um “jeito inato” que crêem não possuir, esquecendo que a capacidade expressiva é algo que todo o ser humano tem em potencial e que o jeito é algo que se adquire. A ignorância na causalidade da experiência do fracasso promove a desmotivação e a admissão de pensamentos categóricos no aluno. Segundo Dalai Lama: […] a frequente discrepância entre a maneira como apercebemos os fenómenos e a realidade de uma dada situação – é a causa de muita infelicidade. […] Os erros de interpretação que, como é óbvio, são variáveis, são causados geralmente pela nossa tendência a isolarmos aspectos particulares de um acontecimento ou experiência e a considerá-los como a totalidade. (2000, p. 28) A crença de falta de habilidade, pela mera aparência subordinada à singular tentativa frustrada de resolução do problema, fomenta facilmente a desmotivação e o desinteresse por parte do aluno que seja mais impaciente. Por isso é essencial, elucidar acerca das falsas convicções2, preconceitos3, condicionalismos de aprendizagem4, e incutir ajustamentos emocionais5 bem como permitir que descubram capacidades e interesses que desconheciam. A razão na atitude manifestada de descrença no seu próprio potencial é possível carência, daquela emoção intensa, que caracteriza um inspirador deslumbramento; semelhante àquele fascinante encantamento magnético, de uma bússola para Albert 2 Por exemplo o pensamento de que o insucesso num resultado se deve à ausência de talento. 3 Por exemplo admitir o conceito “jeito” como um talento inato e não adquirido. 4 Por exemplo não desistir logo à primeira tentativa frustrada. 5 Por exemplo consciencializar sobre a importância de uma adequada gestão de emoções que permita superar as dificuldades que possam surgir durante o processo de aprendizagem. Sónia Maria Amado Barreira 23 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Einstein, reagindo a um campo oculto de força contrária ao método mecânico conhecido. “Tinha de haver algo de muito escondido por detrás das coisas” (Issacson, 2008, p.31), assim escreveu sobre a sua primeira experiência nesse conhecimento. A necessidade existencial pela imprescindibilidade lógica concebe a noção de domínio perante o mistério que envolve o fenómeno, admitindo a ilusão de poder sobre a circunstância. Por mais que uma bússola seja reorientada em qualquer outra direcção, a agulha magnética tenderá inevitavelmente para Norte. Para além de conhecermos o facto e este constatar-se regularmente intransmutável foi-lhe atribuída uma razão e utilidade orientadora que lhe concedem lógica apesar das suas características reveladoras da realidade física do mundo um tanto ou quanto intrigantes. O que parecia impossível orientar-se sem qualquer método motriz que o justificasse, foi compreendido pela força corroborante da explicação teórica, que lhe deu sentido para além do ponto cardeal. A verdade na razão de um campo magnético invisível encontra a sua aparência no sentido do eixo magnético – referência de um todo sistema descodificador do invisível. Intelectualizar o fenómeno é domesticar o facto sem causa aparente. A ironia subjacente à ordem invisível propicia o entusiasmo, na procura da causa, que atribuirá valor ao fenómeno. A curiosidade e a causa podem iniciar a metamorfose do impossível sobre a mente, transmutando o estado de absolutismo para a relatividade do espírito motivado, permitindo o acontecimento da dúvida, “e se…?”, obter maior consistência sob a luz corroborada nos resultados alcançados pela tentativa e ensaio de hipóteses na prática. Prevenir a apatia em experiência de aula, é permitir vislumbrar extenso caleidoscópio de horizontes, e suas diversificadas perspectivas no campo do conhecimento, promovendo a vontade de descobrir a razão das qualidades enigmáticas que constituem muito do que existe, e que adquire a nível pessoal maior interesse focalizado, das ordenações interiores que procuram interpretar e dar significado à experiência. O brilhante físico teórico Einstein persistiu ao longo da sua vida na descoberta de razões de ordem dos fenómenos, no campo do conhecimento que mais o inspirou de acordo com as suas ordenações interiores6: 6 Expressão mencionada no livro de Fayga Ostrower, Criatividade e processos de criação. Sónia Maria Amado Barreira 24 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Depois de ter sido hipnotizado pela agulha da bússola, que obedecia a um campo invisível, Einstein desenvolveria ao longo da sua vida uma devoção pelas teorias de campo como forma de descrever a natureza. […] O primeiro parágrafo do seu artigo de 1905 sobre a relatividade especial começa com uma consideração acerca dos efeitos dos campos eléctricos e magnéticos; […] e, no fim da vida, rabiscava obstinadamente outras equações de campo, na esperança de que formassem a base para uma teoria sobre tudo. (Issacson, 2008, p. 31) Conhecido como um dos mais excepcionais cientistas da história, afirmou em tempos “ Não tenho nenhum talento em particular, sou apenas extremamente curioso. Por isso, penso que […] foi curiosidade, obsessão e pura perseverança que conduziram aos meus raciocínios” (Smith, 2011, p. 20). Do ponto de vista da psicologia, a curiosidade estimula e motiva o desenvolvimento de competências. O ensino, tomando sempre em consideração os estágios de desenvolvimento dos alunos, deverá proporcionar oportunidades de admiração e descoberta de interesses e capacidades peculiares, apropriar formas de ensino que beneficiem a aprendizagem do aluno de acordo com o seu perfil, e “orquestrar a conexão entre o conhecimento prático e o conhecimento corporificado em sistemas simbólicos e notacionais” (Gardner, 2000, p. 32). É o deslumbramento que desperta a curiosidade propiciadora de interrogações e averiguações por parte do aluno. A ignição da atenção inicia-se, partindo do desafio ou problema, e do interesse pessoal inato, enigma ou ironia apresentados, despoletando a necessidade do aluno, de encontrar respostas que satisfaçam um sentido de ordem e conhecimento geral vigente, assim como, conceber uma apreciação pessoal significante, retida na memória pelo valor que adquire na sua mente emocional e pensante ou racional. A informação que assimila resulta de uma interpretação ao nível do significado e utilidade que possa representar na sua vida e para o seu espírito. No processo de aprendizagem o aumento progressivo do desafio testa os limites das capacidades do aluno e promove o desenvolvimento de competências. Cabe ao professor desempenhar o papel de reconhecimento dos perfis individuais dos alunos capacidades, inclinações, valores, objectivos, poderes cognitivos, traços de personalidade e disposição temperamental -, e adequar a apresentação, exposição de cada temática, submetendo as lições a níveis progressivos de desenvolvimento e dificuldade que proporcionem desafios óptimos, que estimulem a expansão dos limites das capacidades pessoais, que cativem através de assuntos de interesse pessoal e Sónia Maria Amado Barreira 25 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem permitam a aceitação de paralelismos, com outras matérias do conhecimento, através de uma abordagem multidisciplinar. É igualmente essencial para além do conhecimento do perfil individual de cada aluno, captar o modo como este processa melhor a informação que lhe é transmitida: A maior tragédia na educação é que a maioria dos professores conhecem os assuntos, mas não conhecem os alunos. Não sabem como é que os alunos processam a informação, não conhecem os sistemas de representação dos alunos, não sabem como é que funcionam as mentes dos alunos. […] Ao aprender a regular os seus alunos, ao aprender a apresentar a informação sob formas que os estudantes consigam processar eficazmente, podem revolucionar o mundo da educação. […] a resposta, e não o conteúdo, é o significado da comunicação. […] A correspondência é simplesmente comunicar e interagir nas formas mais eficazes possíveis. […] é aprender a entrar nos mundos das outras pessoas. (Robbins, 2003, p. 258-260) Perscrutar associações e paralelismos do conteúdo programático da disciplina com áreas de interesse natural e espontâneo pode cativar o interesse inicial do aluno e impulsionar maior atenção e dedicação pelo estudo caso este esteja associado à experiência de fluxo - imersão dedicada na realização de uma acção que viabiliza o prazer na superação de limitações e o alcance de níveis superiores de complexidade das capacidades - motivadora da perseverança necessária à obtenção do domínio de uma competência ou corpo de conhecimentos: [A] paixão inicial pode ser a semente para níveis mais elevados de realização, […] é uma fonte de alegria do fluxo. […] manter o fluxo exige expandir os limites das capacidades pessoais, isso passa a ser o principal motivador para se tornar cada vez melhor; […] feliz. Este é, evidentemente, um modelo mais positivo de aprendizagem e ensino […]. Perseguir o fluxo através da aprendizagem é uma maneira muito mais humana, natural, e provavelmente eficaz, de mobilizar as emoções ao serviço da educação. (Goleman, 1996, p. 116) É indispensável desenvolver as disposições inatas dos alunos e guiar as suas emoções para objectivos produtivos, através de esforços eficazes, de controlo de impulsos, regulação de estados de espírito limitadores a capacitativos, protelação de recompensas, motivação, perseverança, reconhecimento e aplicação de estratégias pessoais condutoras de fluxo, para o desempenho óptimo e o alcance da excelência. A motivação centrada no aperfeiçoamento sucede da satisfação de desempenho proporcionada pelo fluxo, que consequentemente alimenta o domínio de uma arte ou competência. Esse domínio advém da imersão dedicada a realizações que implicam estado de fluxo que não só sendo pré-requisito “para a excelência num ofício, Sónia Maria Amado Barreira 26 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem profissão ou arte, também o é na aprendizagem” (Goleman, 1996, p.115). Experienciar estado de fluxo durante o momento de aprendizagem e estudo, motiva ambiciosos objectivos e realizações. Csikszentmihalyi, professor de psicologia conhecido pela teoria de fluxo descrita no seu livro intitulado Fluir, “resume décadas de investigação sobre os aspectos positivos da experiência humana – a alegria, a criatividade, e o processo de envolvimento total com a vida” (2002, p.13), e afirma: O fluxo conduz os indivíduos à criatividade e à realização superior. A necessidade de desenvolver aptidões cada vez mais sofisticadas para manter o desfrute é o que está subjacente à evolução cultural. Motiva indivíduos e culturas a transformarem-se em entidades mais complexas. Criar ordem na experiência proporciona a energia que impulsiona a evolução […]. (2002, p. 284) O testemunho da descrença dos alunos na possibilidade de desenvolvimento de certas capacidades associadas à expressão artística e da desmotivação consequente manifestada na atitude preocupada, resignada e desinteressada dos mesmos, brotou da experiência de estágio decorrente da formação de final de curso de Mestrado em Ensino das Artes Visuais e originou não só a implementação de métodos e estratégias de ensino que fomentassem ao longo das aulas estímulo para o desenvolvimento de certas competências e potencial criativo nos alunos, como também o estudo de investigação que visa-se a compreensão das causas e efeitos sobre o comportamento, e pudesse responder ao problema de desmotivação em experiência de aprendizagem. Tornou-se essencial encontrar respostas sobre como orientar os alunos a atingir níveis de realização e excelência na experiência de aprendizagem em aula que pudessem repercutir-se para além dela. Foi no estado psíquico descrito pelo professor de psicologia Csikszentmihalyi que foi encontrada a razão pela qual se processa a persistência essencial no dedicado empenho necessário ao desenvolvimento das capacidades, a excelência e aprofundamento da complexidade no aluno ou pessoa que realize uma actividade com total dedicação. Partindo desse foco central surgiram outras teorias que corroboraram as hipóteses colocadas completando assim a resolução do problema incidente na desmotivação e da promoção da criatividade. Sónia Maria Amado Barreira 27 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 28 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 2. PROBLEMÁTICA 2.1. DESCRIÇÃO DO CONTEXTO A Escola Secundária Marquês de Pombal foi palco da experiência de estágio decorrida durante o período de quatro meses tendo-se iniciado no mês de Dezembro de 2011 e terminado no mês de Março de 2012. A história da escola é antiga e remonta ao ano de 1888. Incorporada na freguesia de Santa Maria de Belém - repleta de memórias do passado onde a história expressa nas ruas, avenidas, grandes jardins, monumentos, museus e casas relembram outros tempos passados, novas vontades e desafios integrou-se no passado em um outro lugar distinto do presente. As instalações localizavam-se na rua de Alcântara, num prédio de aluguer, que com a passagem do tempo mostrou-se incapaz de acolher o crescente número de alunos, por falta de espaço. Foi assim que em 1962 encontraram-se razões para inaugurar na Rua Alexandre Sá Pinto, a 300 metros da Rua da Junqueira, as instalações actuais da escola. Localizada no espaço que outrora foi o primeiro campo relvado de Portugal, pertencente ao Estádio das Salésias do Clube de Futebol “Os Belenenses”, o edifício revela uma gramática arquitectónica “das escolas construídas de acordo com as normas do Ministério das Obras Públicas de então”7, com a assinatura do arquitecto António Pedroso. Lugar de uma memória colectiva de consecutivas gerações exemplares de professores, alunos e funcionários, a escola, emblema de uma comunidade escolar multicultural, espaço pedagógico inovador, democrático e participativo, viabiliza um percurso educacional norteado por um projecto educativo enriquecido por “valores estruturados e integrados em princípios orientadores da política e práticas educativas”8. Vocacionada para o ensino técnico e profissional, disponibiliza formação: no 3º ciclo do ensino básico regular (7º, 8º e 9º anos) e cursos de educação formação de jovens e adultos; no ensino secundário, cursos profissionais e de educação e formação de adultos; e dispõem de um centro de novas oportunidades. 7 Projecto Educativo de Escola 2012/2015. 8 Projecto Educativo de Escola 2012/2015. Sónia Maria Amado Barreira 29 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Caracteriza-se por uma população escolar jovem e adulta com diversificadas proveniências, englobando ao todo as nacionalidades, portuguesa, cabo-verdiana, angolana, guineense, moçambicana, de S. Tomé e Príncipe, Brasil, bem como de língua espanhola e outras. De acordo com o levantamento de dados apresentados no documento do Projecto Educativo de Escola 2012/2015, os valores percentuais de alunos de nacionalidades portuguesa e cabo-verdiana são dos mais elevados. O facto de a maioria dos alunos não residir na freguesia da escola permite um enclave pouco benéfico na ligação entre a área envolvente da escola e esta. Tanto alunos jovens como adultos, na sua maioria residem em Lisboa. Outras três áreas/concelho de referência e com valores evidentemente elevados são os concelhos da Amadora, Sintra e Oeiras. Do ponto de vista socioeconómico da população escolar, conjectura-se se esta, na sua maioria, pertencerá a um quadro social e familiar carenciado ao nível da segurança e estabilidade económica. Quanto aos indicadores do contexto escolar - taxas de sucesso9 e taxas de abandono10 - estes revelam no que respeita à taxa de sucesso valores incidentes na margem dos 53,57% na sua globalidade, relativamente à taxa de abandono os valores são de 15,71% no curso geral e 11,24% nos cursos tecnológicos, contrastantes com o valor percentual mais baixo de 3,03% pertencente aos cursos profissionais. Políticas de integração dos alunos na escola, de formação contínua de professores, funcionários e assistentes operacionais e de coordenação entre a escola e o meio são prioridades no contexto dos objectivos do plano educativo que possibilitam o sucesso da escola em conjunto com os já presentes aspectos positivos pelos quais beneficia11, 9 Representa a percentagem de alunos dos cursos diurnos do 3º ciclo e secundário que transitaram de ano ou foram aprovados nos anos terminais. Não foram considerados os 10º anos dos cursos profissionais dadas as características de transição destes cursos. 10 Representa a percentagem global de alunos dos cursos diurnos da E.S.M.P. que não chegou ao final do ano lectivo pelos seguintes motivos: Anulação de Matrícula; Excesso de faltas, Exclusão Disciplinar e Abandono sem idade para exclusão por faltas. (Não foram consideradas as Transferências). 11 Estabelecimento de relações com entidades externas, para a obtenção de estágios; Espaço físico (dimensão, espaço interior e exterior); Estabilidade do corpo docente; Qualificações do corpo docente; Existência de uma Associação de Antigos Alunos; Existência de sistema de videovigilância, com perspectiva de alargamento a toda a Escola; Existência de um Centro de Novas Oportunidades; Existência de protocolos com entidades públicas e privadas; Existência de um clima multicultural; Existência de um SPO. Sónia Maria Amado Barreira 30 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem sem nunca esquecer de reforçar medidas preventivas de aspectos menos bons e com a necessidade de serem melhorados12. No Plano Educativo implementado no ano lectivo 2011/2012 objectivou-se a mobilização dos alunos num processo de aprendizagem e interacção com o espaço escolar, viabilizando o empenhamento participativo de reaproximação com o lugar – escola – e o reconhecimento do potencial criativo individual dos alunos. As actividades constituintes do trabalho de projecto promoviam uma aprendizagem empreendedora com persecuções concretas de intenções, esboços e soluções activamente implementadas, materializadas em real contexto. Destinadas às turmas dos Cursos de Formação Profissional tinham por desígnio a promoção do desenvolvimento de competências através da expressão criativa. Homologados a esse propósito primordial incluíram-se outros intentos residentes do campo social e afectivo. O envolvimento sinérgico entre estes três factores – cognitivo, social e afectivo – era a premissa essencial do projecto educativo. No campo cognitivo seriam portanto desenvolvidas determinadas competências ligadas à expressão criativa, no campo social e afectivo seria estabelecida a reaproximação dos alunos com o ambiente escolar e seus participantes, através da participação colectiva de todos os seus elementos em projectos conjuntos que se materializassem no espaço escolar de uma forma concreta. 2.2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Durante o decurso da experiência pessoal de ensino supervisionado revelaram-se alguns paradigmas comportamentais nas atitudes dos alunos, reflexos de estados psicológicos (sustentados mediante temperamento e identidade particular) subjugados pelas emoções perante dificuldades resultantes da sua participação em desafios propostos nas actividades apresentadas. 12 “A cultura de participação e de responsabilização na vida escolar; A mobilização das famílias e dos alunos e a sua convergência em associações; A forma de funcionamento de alguns espaços da escola onde se prestam serviços à comunidade escolar; A intervenção com o meio, nomeadamente no estabelecimento de parcerias com outras instituições públicas e/ou privadas; A observação permanente do desempenho da Escola; A dotação pessoal assistente operacional; A actualização dos meios informáticos em termos de hardware e software; A criação de espaços de convívio para os alunos; O reapetrechamento de mobiliário de sala de aula ergonomicamente adequado aos alunos; A redução de espaços qualificados para a oferta de formação provocada por entidades exteriores à Escola; A flutuação do corpo docente nas áreas técnicas; Dificuldades no sistema de controlo de entradas e saídas da escola” (Plano Educativo 2011/2012). Sónia Maria Amado Barreira 31 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O problema surgiu no momento em que os alunos, de modo geral, consideraram o exercício do desenho como um desafio difícil de solucionar. No confronto com alguns obstáculos (sejam mentais ou de destreza manual na execução dos seus registos gráficos) determinadas atitudes reflectiram-se no diversificado quadro de alunos das duas turmas que foram orientadas. Dentro de uma moldura de atitudes negativas surgiram incidências como o bloqueio e a abstenção participativa. No que respeita à atitude positiva revelada pelos alunos foi constatada a persistência desdobrada no inconformismo perseverante e perfeccionista ou na resignação conformada em resultados satisfatórios. O bloqueio evidenciou-se no impedimento psicológico, onde o aluno não conseguiu elaborar ou desenvolver um exercício devido a qualquer uma das dificuldades mencionadas. Este desenvolveu insegurança e adquiriu uma consciência de impossibilidade que conduziu à noção de falta de capacidade culminando num estado de espírito desmotivado. Neste caso se o aluno não for bem orientado, este toma a atitude de desistência e não prossegue esforços para ultrapassar os obstáculos, muitas vezes porque não sabe como, ou porque acredita na sua falta de jeito. Muitas vezes confrontando-se com as dificuldades reage com atitudes dispersivas na ansiedade em que se encontra ao não encontrar respostas rapidamente – distracções por conversas entre colegas, por exemplo. Este género de reacção tem raízes incidentes na memória de maus resultados no passado, lembranças de insucesso que encontram factualidade nas escassas tentativas da acção presente na atitude de resolução. Torna-se essencial encontrar causas de problemas, retirar dúvidas e incentivar a empreender esforços. A abstenção participativa mostrou-se na recusa directa ou indirecta em empreender esforços de envolvimento activo nas tarefas. Na renúncia directa o aluno expressou verbalmente não querer participar. Duas razões para tal acontecer são possíveis de discernir, o aluno pensa que tem jeito mas não tem vontade de trabalhar, seja por que motivo for, ou por outro lado, pensa que não tem jeito e então conclui que não vale a pena o esforço. Este ao não tentar consolida incapacidades do ponto de vista do raciocínio mental e destreza de gesto gráfico relativo ao desenho. A atitude peremptória tornou-se o espelho do aluno intransigente ou indisciplinado. Na vertente da recusa indirecta o aluno diz que fará esforços por solucionar o exercício ou tarefa apresentados, mas no entanto não o faz. Assume o exercício na maioria das vezes Sónia Maria Amado Barreira 32 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem como uma obrigação fastidiosa que pode resultar numa aversão se não for devidamente incentivado ou motivado. A crença de falta de jeito é constante e desmotivante. A linha entre o fazer e a desistência apresenta-se neste caso muito frágil. A persistência manifestou-se na atitude tenaz pela procura de soluções para o exercício proposto. No confronto com as dificuldades o aluno não desistiu na procura de respostas para o problema. Não se desmotivou facilmente em relação ao desafio e se os resultados não fossem concordantes com a qualidade pretendida e outras espectativas inerentes, a atitude de conquista persistia na acção, mas de duas maneiras distintas: Através do seu inconformismo, o aluno continuaria o desenvolvimento do seu trabalho até encontrar uma solução que proporcionasse sentimento de orgulho e concretização. A realização alcançada leva a um reconhecimento do seu potencial enquanto agente criativo, confirmando engenho pessoal – talento em si. Este aluno mais propenso a interessar-se por projectos de trabalhos futuros manifesta um perfil que o caracteriza enquanto perfeccionista. Através da sua resignação, o aluno não tomaria uma atitude tenaz de aperfeiçoamento dos seus resultados, demonstrando conformismo na aceitável realização e a submissão a um espírito pouco exigente. Estes tipos de atitudes negativas e positivas, manifestadas com maior ou menor intensidade dependendo das características de personalidade, carácter, educação (estruturada com determinados princípios e valores), aspirações de cada aluno, foram enquadramentos gerais (constados ao longo das aulas) de particularidades comportamentais. Sónia Maria Amado Barreira 33 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 34 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3. OBJECTIVO DO PROJECTO 3.1. FORMULAÇÃO DOS OBJECTIVOS São de dois tipos os objectivos da experiência: de estágio (de acordo com os objectivos de ensino segundo o programa da disciplina ou unidade) e de investigação (de acordo com objectivos de estudo relativos à problemática). 3.1.1. OBJECTIVOS DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Implementar dois projectos entre os seguintes seis: paisagístico (jardim), pintura mural (fachada da escola), renovação de espaços interiores (da sala 4.14 ou da sala teórica da disciplina de Educação Física), de exposição de obras do acervo de Isolino Vaz e por fim de organização de um festival de papagaios. Promover a reaproximação dos alunos com o lugar escola, permitindo a sua participação activa na transformação melhorada dos espaços de interacção e aprendizagem, por meio do seu empenhamento criativo e a organização de eventos significativos. Leccionar certo número de aulas, durante um período de tempo estipulado pelo orientador de estágio Dr. Rogério Mourtada, que tenham por intento o desenvolvimento de competências dos alunos, pretendidas no plano dos objectivos dos projectos. Planificar esse conjunto de aulas e concretizar os objectivos, de ensino (fomentar a criatividade) e dos projectos (reaproximação dos alunos e melhoria de qualidade dos espaços de interacção e aprendizagem). Aplicar tarefas ou actividades que desenvolvam em contexto de aula, dentro do âmbito cognitivo, determinadas competências nos alunos como: Discernir sobre o significado da expressão artística e da criatividade; Discernir sobre a razão de utilidade da expressão artística, sobre o papel interventivo pessoal do aluno e o papel social do autor da obra artística; Pesquisar conteúdos, analisar, reflectir, organizar, planificar, aplicar, transmitir conhecimentos e opiniões; Sónia Maria Amado Barreira 35 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Reconhecer as etapas e processos envolvidos num projecto promotor da criatividade; Gerir intenções projectuais e usufruir de técnicas de organização, associação e síntese de ideias; Resolver problemas através da imaginação e da expressão gráfica; Usufruir de métodos e técnicas promotores da criatividade e da organização do pensamento - Brainstorming, Mind Maps, Lateral Thinking; Usufruir de habilidades primárias do pensamento divergente, de recursos cognitivos e tipos de raciocínio do pensamento criativo; Analisar e avaliar os seus resultados expressivos, segundo critérios de selecção e enquadramento; Transmitir a sua análise crítica de forma construtiva. Orientar e auxiliar os alunos a tomarem decisões, durante todas as fases de elaboração das suas composições expressivas de desenho e durante a organização do evento de exposição de trabalhos. Motivar o aluno a expressar a sua criatividade. Incutir responsabilidade, transmitir valores e dar a conhecer novos horizontes. 3.1.2. OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃO Compreender os factores que inspiram a atenção do aluno para que este se empenhe nas tarefas apresentadas em aula com espírito participativo, motivado a desenvolver as suas capacidades e assim adquirir competências pelo esforço dedicado e melhor gestão do estado emocional e psíquico. Compreender que actividades podem ser planeadas em contexto de aula para o alcance: da meta aprender, do incremento da motivação, da criatividade e do desempenho óptimo na progressão da aprendizagem do aluno. Identificar as faculdades ou processos psicológicos da consciência na génese do processo e expressão criativos. Sónia Maria Amado Barreira 36 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tomar conhecimento dos modelos psicológicos promotores da criatividade, da motivação, de uma melhor comunicação e instrução no processo de ensino. Saber como implementar estratégias de influência motivacional no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criatividade no aluno. Conhecer métodos ou técnicas que identificam as ordenações interiores do aluno – estado psíquico, emocional, sintaxe pessoal, etc. Saber desbloquear o estado de bloqueio limitador da acção no processo criativo. Saber como reverter o estado psíquico negativo brotado da crença improdutiva de falta de capacidade e talento individual. Tomar conhecimento que elementos essenciais conduzem ao estado de fluxo no aluno. 3.2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.2.1. CRIATIVIDADE 3.2.1.1. VIVÊNCIAS CRIADORAS O período etário da vida do ser humano mais propenso a manifestações criativas parece incidir no período da adolescência. Neste intervalo de desenvolvimento o jovem experiencia fenómenos convergentes: [...] a descoberta do seu mundo interior, o exercício da criatividade e o sentimento da individualidade. [...] novas perspectivas que lhe permitem estabelecer iniciativas e empreendimentos, com os quais tece novos laços afectivos e sociais, susceptíveis de lhe ampliarem a capacidade de dialogar, de abstrair e de compreender o papel do ser humano na família e na sociedade. (Fonseca, 2007, p. 17-18) O exercício da criatividade desenvolve-se a partir dessas aspirações em confluência com a descoberta do seu mundo interior e sua identidade enquanto empreende o seu lugar no mundo social e afectivo. De acordo com a interpretação genérica e antropológico-humanista do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1986), quanto à criatividade, este sustenta opinião de que o indivíduo só poderá gerar dentro de si vivências criadoras se na sua condição associada à tendência natural de assimilação cultural relacionar-se de forma Sónia Maria Amado Barreira 37 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem autêntica (assegurada pelo equilíbrio harmonioso na relação com os outros) e empática (relação com o outro pela via da compreensão) com o meio e os valores de significado pessoal ou social que queira atingir (Fonseca, 2007, p.18). No entanto esta opinião pode ser contraposta noutra perspectiva que refuta a premissa de o indivíduo ser somente “capaz de criar e de atingir valores de grande significado pessoal ou social” (Fonseca, 2007, p.19) em ambientes “harmónicos”, visto que existem casos de indivíduos talentosos que viveram em ambientes nem autênticos nem harmónicos e mesmo assim realizaram obras de mérito (Fonseca, 2007, p. 19). Os meios, social e cultural, têm influência no indivíduo, e este expressa “formas de interpretação de conteúdo e significado” (Fonseca, 2007, p.19) da realidade em contexto através dos seus impulsos criativos. Todo o indivíduo dispõe da capacidade de criar; sua expressão reflexiva e potencial criativo é universal, e o seu poder de variados níveis de força transcendente, assim considerou o filósofo de língua espanhola Ortega Y Gasset: “Todo o homem leva dentro de si, em maior ou menor grau, a possibilidade de aumentar o peso metafísico da Terra” (Fonseca, 2007, p.19). Esse poder criativo é um potencial de todos que se diferencia na qualidade da sua expressão. A libertação de si mesmo é o resultado da aventura imaginativa no processo reflexivo da invenção que pretende ir ao encontro de soluções (Fonseca, 2007, p.20). Dentro das actividades humanas identificaram-se quatro tipos de manifestações criativas: o jogo (estimula a satisfação lúdica e competitiva, promovendo o alcance da glória e o combate ao aborrecimento, estimula as actividades fisiológicas e promove a saúde individual e colectiva), a religião (com acentuada duplicidade de aspectos afectivos-culturais - no tipo de relação estabelecida com o mundo, os outros e um ser superior – e sugestivo-criativos – nos procedimentos ritualísticos e práticas espirituais), a arte, resultado da expressão de “uma vocação, um dom ou um talento natural que se cultiva e se aperfeiçoa” (Fonseca, 2007, p.26), que gera algo novo, a ciência, resultado de “uma grande capacidade de trabalho e de persistência na observação ou na experimentação […] e que faz avançar o nosso conhecimento sobre aquela mesma natureza” (Fonseca, 2007, p. 26). A filosofia comum da arte e da ciência fundamenta-se na mútua pretensão de “análise e síntese acerca do mundo e da natureza ou, então, procuram compreender os Sónia Maria Amado Barreira 38 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem mistérios do Homem e do seu pensamento” (Fonseca, 2007, p. 26). Ambas categorias determinam a necessidade da “existência de determinadas qualidades inatas, que se apuram pelo estudo dedicado e pela força de vontade” (Fonseca, 2007, p.27). Leonardo Da Vinci, um dos raros génios polivalentes da História, associou com grande mestria a arte e a ciência em reflexos de expressão criativa. Desenvolveu projectos de investigação que abarcaram áreas do conhecimento como a arquitectura, engenharia, matemática e física, geologia, botânica, anatomia, escultura, pintura, entre outras. Nos registos da colecção Codex Trivulzianos, revelaria a importância das emoções na expressão humana: “Todo o nosso conhecimento deriva daquilo que sentimos” (White, 2003, p. 57). As imagens ou representações mentais são acompanhadas por emoções, pois “não há qualquer conjunto de imagens conscientes, seja qual for o tipo ou seu tema, que não seja acompanhado por um obediente coro de emoções e consequentes sentimentos (Damásio, 2010, p. 314). Os resultados da expressão humana, seja de carácter científico, artístico, entre outras áreas do conhecimento, são manifestações de conteúdo que transmitem saberes, revelam significados e envolvem emoções, são mistérios revelados numa expressão compreensível. 3.2.1.2. ARTE Ao longo da história poderemos encontrar o conceito de arte valorizado de diversas formas. Tal como as condições sociais e culturais também os sentimentos e ideias se transformaram, na condição natural e evolutiva da história que se gera partindo da vontade individual e colectiva do Homem. O conceito de arte não foi o mesmo ao longo da história (Alves et al., 1997, p. 138), devido precisamente ao factor de mutabilidade inerente à condição da existência humana. Nas diversas actividades humanas o Homem tem manifestado uma constante vontade em reconfigurar a realidade. Paralelamente à evolução científica, ideológica e cultural, as concepções da arte e correntes estéticas foram resultado da evolução da mente do artista que procurou sempre reinterpretar a sua realidade. A arte tem sido “a expressão do diálogo do eu com o universo, do eu com os outros, do eu consigo mesmo” (Alves et al., 1997, p. 137) na forma e significado de uma Sónia Maria Amado Barreira 39 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem materialização, ou obra de arte, recriação transfiguradora resultante da experiência estética. A dimensão estética engloba três elementos: a obra de arte, o artista e o público. A obra de arte, produto de uma interpretação configuradora e transfiguradora do artista, “reflecte, inconscientemente ou conscientemente factores de ordem sociocultural, condicionantes da personalidade do artista e do seu modo de encarar a sociedade, a cultura e o seu papel face a ela” (Alves et al., 1997, p. 139). Reveladora do carácter do seu autor, transporta uma visão interpretativa materializada e dialogante, por transmitir uma tradução da experiência de vida, sentimentos, emoções, ideais … através de uma linguagem constituída por um conjunto de sinais ou signos, sejam eles na forma de linhas, volumes, cores, gestos, movimentos, sons, palavras, estruturados em conjunto segundo um desígnio (Alves et al., 1997, p. 140). A obra de arte para além de ser fonte de prazer sensorial torna-se alvo de infinitas interpretações devido efectivamente à sua qualidade polissémica na condição de pluralidade de significações (consequentes não só da natureza significativa versátil dos seus signos artísticos em oposição à natureza precisa e unívoca dos signos linguísticos, mas também dependentes da experiência de vida do observador implicada na sua acção interpretativa da obra), passíveis de serem admiradas na acção contemplativa (Alves et al., 1997, p. 140). Na acção contemplativa do espectador a obra transcende o seu significado sempre que este recria as potenciais significações da composição e se inspira com a interpretação que faz. Para além do artista também o espectador intervém no processo criador da arte, através da sua reflexão inerente ao acto de fruição contemplativa da arte, que segundo R. Cumming, se mantém viva “devido à sua capacidade de falar para além da sua época, oferecendo inspiração e significado através dos tempos” (Alves et al., 1997, p. 138). Quanto a esta condição polissémica da obra, Umberto Eco, pensador contemporâneo, considera que ao “dar vida a uma forma, o artista torna-se acessível às infinitas interpretações possíveis. […] porque a obra vive apenas nas interpretações que dela se fazem. […] cada abordagem é um modo de possuir a obra, […] sempre passível de ser percorrida por novos pontos de vista” (Alves et al., 1997, p. 136). Perante o mundo o Homem pode adoptar quatro tipos de atitude: técnica, teórica, filosófica e valorativa (Alves et al., 1997, p. 131). Sónia Maria Amado Barreira 40 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A atitude técnica admite a utilidade de algo que pode aproveitar e transformar de acordo com as suas necessidades. A atitude teórica manifesta vontade de compreender os segredos ou mecanismos de funcionamento de algo. A atitude filosófica, segundo Ortega Y Gasset é “compreender ou ver que se é, um inteirar-se […] o descobrimento incessante que fazemos de nós mesmos e do mundo em redor” (Rodríguez et al., 2008, p.278). A atitude valorativa, tal como a atitude moral, reconhece a importância e relevância de um valor sem quaisquer pretensões externas, e estabelece preferências ou apreciações assim que se transfigura numa postura de atitude estética: […] ao contrário da atitude daquele que olha a paisagem com o objectivo de calcular qual o seu valor económico uma vez urbanizada e retalhada em lotes, a atitude estética olha-a sem qualquer outra intenção que não seja a de percepcionar em si mesma apenas pelo prazer que a sua contemplação pode proporcionar. (Alves et al., 1997, p. 131) O Homem se apropria “do sentido do mundo que não imita mas recria a realidade” (Alves et al., 1997, p. 139) por meio da arte. No seu papel enquanto artista comunica expressando a sua visão do mundo e as suas emoções, através de uma linguagem constituída por formas estéticas contidas nos signos artísticos e uma atitude estética consequente da sua sensibilidade estética13 e factores cognitivos14. A atitude estética é constituída pela atitude valorativa, afectiva15, pessoal e construtiva de significações. Enquanto atitude valorativa, a atitude estética converte os objectos em formas estéticas ao percepcioná-los numa perspectiva ou dimensão diferente da simples utilidade, apreciando as características formais e valorizando o objecto em si mesmo. A preferência que surge por determinada forma ou objecto é resultado de uma valorização ou atribuição de qualidade desejável baseada em juízos de preferência e sentimentos de agrado ou emoção estética sustentados num padrão antecedente de referência. Ao julgar um objecto esteticamente valioso incidimos na valoração de qualidades que o constituem. 13 Integra a “capacidade de percepção e valorização das formas [e] sentimento de agrado e desagrado” (Alves et al., 1997, p.134). 14 Integram factores afectivos e socioculturais (Alves et al., 1997, p.134). 15 Atitude “geradora de sentimentos de agrado ou desagrado” (Alves et al., 1997, p.134). Sónia Maria Amado Barreira 41 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O conceito de beleza associado a um critério tradicional de caracterização de uma obra, que remonta desde a época da cultura helenística da antiguidade, foi posto em causa por correntes estéticas de vanguarda do século XX, contestatárias do estatuto tradicional da arte16 (Alves et al., 1997, p. 132). Portanto, a beleza no sentido tradicional já não é um critério definidor suficientemente completo da obra, adquire agora novo significado na relação com a arte e está dependente da sensibilidade dos agentes intervenientes do processo criativo – artista e espectador. Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, mencionou na obra O guardador de rebanhos o valor que significa para si beleza: “o nome de qualquer coisa que existe […] Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão” (Alves et al., 1997, p. 132). A beleza é em perspectiva “um valor, uma qualidade, expressão de um ideal ou um padrão, que tomamos como referência por razões simultaneamente objectivas e subjectivas” (Alves et al., 1997, p. 132). Na experiência estética são necessários dois tipos de capacidades: sensibilidade e inteligência. A sensibilidade designa “a capacidade de percepção e valoração das formas” (Alves et al., 1997, p. 133), dependente de variáveis educacionais, sociais e individuais (Alves et al., 1997, p. 132), possível de ser desenvolvida através de um conjunto de actividades que envolvam o contacto com obras de arte, a frequência de exposições e museus, debates de opinião (Alves et al., 1997, p. 133). A sensibilidade estética é uma necessidade e uma capacidade de criação e contemplação que na sua singularidade, segundo L. Venturi, é insuficiente na formulação de juízos estéticos (Alves et al., 1997, p. 133). A inteligência é a capacidade que completa a experiência estética ao conceptualizar as formas pela compreensão e interpretação, gerindo em simultâneo “factores cognitivos, socioculturais (os valores ou padrões estéticos dominantes), e psicológicos (as experiências anteriores, estados de espírito e personalidade)” (Alves et al., 1997, p. 133). 16 Movimentos como o Dadaísta, Ready-made, Pop-art, etc. Sónia Maria Amado Barreira 42 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.1.3. PROCESSOS PSICOLÓGICOS Na génese do processo criativo denota-se a preponderância de determinadas faculdades psicológicas, imbuídas na personalidade criadora de uma produção estética ou científica, como elevada capacidade de percepção intuitiva, de memorização extrema, fluidez associativa, sensibilidade e resiliência (Fonseca, 2007, p. 58). Os principais processos psicológicos e motivações integrados na génese criativa são (Fonseca, 2007, p.58): a estética, intuição, memória, imaginação, inteligência e pensamento. A estética, conceito derivado do grego aisthetiké17, designa a disciplina abordada desde a antiguidade por filósofos como Platão18 e Aristóteles19, e integra um ramo da filosofia que discerne sobre a essência do belo na arte e na natureza (Rodríguez et al., 2008, p. 342). No sentido artístico, este conceito designa a capacidade ou sensibilidade inerente à expressão de uma perspectiva existencial do autor e à valorização dessa expressão inserida no objecto artístico através da acção contemplativa apreciativa da riqueza expressiva de significados e valores nele contidos, como a beleza, “uma força caracterizada pela harmonia e pela proporção, e graduada pela sensibilidade e pela emoção” (Fonseca, 2007, p. 58) tal como considerou o poeta Fernando Pessoa. A intuição é “toda a forma de conhecimento que se processa de modo imediato, directo, sem recurso a qualquer processo regulador do entendimento (razão)” (Fonseca, 2007, p. 60). Na forma de raciocínio contribui na resolução criativa de problemas, porque segundo Fernandes da Fonseca, autor do livro A psicologia da criatividade, quanto mais desenvolvida estiver a faculdade intuitiva mais enriquecida será a capacidade criativa (Fonseca, 2007, p. 61), no entanto pode conduzir a erros de raciocínio devido à sua natureza rápida e impulsiva (Coon, 2006, p. 337). Não sustentada na lógica formal ou raciocínio claro, esta estrutura de conteúdo abstracto é a via mais directa de acesso ao inconsciente (Fonseca, 2007, p. 61). 17 “Sensitivo”. (Tradução nossa). 18 Antigo filósofo grego (c. 428 – c. 348 a.C.) “discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles” (Allen et al., 1996, p.117) foi o fundador do primeiro centro helenístico de formação política e intelectual posteriormente denominado Academia (Rodríguez et al., 2008, p. 30). 19 Antigo filósofo grego (384-322 a.C.) “concebeu um sistema de pensamento abrangendo lógica, ética, estética, metafísica, política e ciência [e] foi perceptor de Alexandre, o Grande” (Allen et al., 1996, p.100). Sónia Maria Amado Barreira 43 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A memória é a capacidade de registo, conservação e identificação de acontecimentos e impressões (Fonseca, 2007, p. 62), “refere-se aos mecanismos dinâmicos associados à retenção e à recuperação da informação sobre a experiência passada” (Sternberg, 2000, p. 204). A memória estabelece três operações ou estágios: codificação (processo de transformação de dados sensoriais em representações mentais), armazenamento (processo de preservação da informação codificada) e recuperação (processo de extracção e usufruição da informação armazenada) (Sternberg, 2000, p. 204). A função psicológica da memória integra-se no funcionamento de outras faculdades exercendo uma acção subsidiária “imprescindível para a organização e o exercício” (Fonseca, 2007, p. 62) das mesmas – sensação, imaginação, pensamento. Na produção artística a função da memória é sobremaneira relevante devido a esse papel influente, no desempenho de actividades psicológicas abstractas como a imaginação e o pensamento, e “na estruturação e execução de actividades do tipo pragmático, como o hábito” (Fonseca, 2007, p. 63). A imaginação é a capacidade de elaborar imagens ou representações mentais das coisas (objectos, ambientes, eventos, etc.) na ausência da percepção das mesmas através dos órgãos sensoriais, ou quando nunca observadas pelos sentidos (Fonseca, 2007, p. 62; Sternberg, 2000, p. 153). Podendo abranger “representações mentais em quaisquer modalidades sensoriais (audição, olfacto, paladar, etc.)” (Sternberg, 2000, p. 153), a imaginação visual ocorre em maior frequência e compreende dois sistemas de representação mental “um sistema envolvendo atributos visuais não-espaciais (p. ex., cor e forma) e outro envolvendo atributos espaciais (p. ex., localização, orientação e gradação de tamanho ou de distância)” (Sternberg, 2000, p. 180). Existem três tipos de imaginação: criadora (em que a imaginação percorre a via da fantasia), lógico-construtiva (em que segue a via do pensamento) e ideológica (revisita a via da memória) (Fonseca, 2007, p. 65). Na imaginação criadora intervêm e interagem três tipos de factores: de natureza intelectual, emocional e inconsciente que permitem configurar, organizar e reproduzir os fenómenos ao nível da consciência (Fonseca, 2007, p. 63). Quanto à significação da inspiração pode considerar-se “uma espécie de “intuição estética” que antecede a criação” (Fonseca, 2007, p. 66), “estado ou momento Sónia Maria Amado Barreira 44 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem psicológico em que o criador “improvisa” […] se sente intelectualmente ou emocionalmente “iluminado” pelo tema que a sua inteligência ou a sua imaginação conceberam e que sente que tem a possibilidade de desenvolver” (Fonseca, 2007, p. 66). Scott Barry Kaufman, professor de psicologia na Universidade de New York20, relata num seu artigo fixado no blog de “Harvard Business Review – HBR Blog Network” (Kaufman, 2011) que a inspiração tem três qualidades principais: é evocada espontaneamente sem intenção, transcendente ao elevar a um momento de clareza vívido, na forma de uma grandiosa visão conducente a novas possibilidades, e envolve a motivação e o esforço por transmitir, expressar, efectivar essa visão que supera as limitações. Afirma que a incidência de maior frequência de inspiração em determinadas pessoas ocorre devido à razão de possuírem certas características como elevados recursos psicológicos relevantes (auto-estima, auto-eficácia, optimismo, etc.), empenhamento dedicado ao seu trabalho, forte concentração na realização precisa das tarefas, mente aberta a novas experiências, intrinsecamente motivadas, criativas e menos competitivas. Sublinha que a criatividade, a auto-estima, a auto-eficácia e competência, a dedicação, mestria no desempenho e optimismo, são consequências da inspiração, e portanto facultativa de importantes recursos psicológicos. Salienta que entrar em estado inspirado pode envolver noções de espiritualidade e significado, de maior propósito de vida, gratidão e bem-estar. E por fim conclui que alguns factores que podem aumentar a probabilidade da ocorrência da inspiração são: a preparação ou domínio do conhecimento, o esforço dedicado, uma mente aberta, o contacto com pessoas de referência, e o estabelecimento de um quadro de metas onde as pequenas realizações possam motivar progressivamente à concretização do sucesso. A inteligência é não só a capacidade para aprender partindo da experiência, usufruindo de processos metacognitivos de compreensão e autocontrolo dos processos de pensamento pessoais, para benefício da progressão na aprendizagem, como também é a capacidade adaptativa ao ambiente circundante nos seus múltiplos contextos, sociais e culturais (Sternberg, 2000, p. 400). Entendida como um conjunto de capacidades conexas “tais como a adaptabilidade, a rapidez, a originalidade, a fácil captação de estabelecer relações, de adquirir significados e ainda de previsibilidade” 20 Lecciona cursos sobre psicologia cognitiva e inteligência humana. Sónia Maria Amado Barreira 45 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem (Fonseca, 2007, p. 67), integra a criatividade enquanto sua componente (Fonseca, 2007, p. 67). A inteligência é um sistema complexo estudado e analisado através de diversas abordagens. As diversas teorias que foram sendo elaboradas e que centraram sua atenção no entendimento profundo sobre a inteligência discerniram acerca não só das capacidades do indivíduo em geral como também acerca das suas diferenças individuais de habilidade cognitiva de modo a compreender adequadas intervenções psicológicas e educacionais dependendo da natureza diversa de cada indivíduo (Kaufman et al., 2013, p. 3). Sustentam-se em tentativas para avaliar a habilidade humana e potencial intelectual, e objectivam repercussões positivas na sua aplicação em contextos como o de ensino e aprendizagem. Em termos gerais as teorias contemporâneas sobre a inteligência (Kaufman, Kaufman, Plucker, 2012) podem ser divididas em três categorias (Kaufman et al., 2013, p. 10). Na primeira categoria estão agrupadas teorias proximamente ligadas à medição da inteligência e pesquisa psicométrica, experimental e neurocientífica21 (Kaufman et al., 2013, p. 10). Na segunda categoria as teorias consistem na identificação de lacunas na avaliação tradicional da inteligência22, propõem considerar habilidades adicionais (criatividade, habilidades corporais cinestésicas, etc.) igualmente importantes como as habilidades padrão medidas pela maioria dos testes – como no caso da teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner – e inclusivamente propõem uma noção nova de inteligência – no caso da teoria da inteligência emocional descrita por Goleman (Kaufman et al., 2013, p. 10). A terceira classe de teorias sustenta-se em pesquisas sobre cognição e neurociência e sublinham as diferenças intelectuais humanas23. O pensamento é uma “função cognitiva ou o entendimento que se origina a partir do exercício associativo-integrativo de ideias e conceitos” (Fonseca, 2007, p. 67), um processo continuamente accionado por “motivações afectivas e por impulsos e necessidades instintivas” (Fonseca, 2007, p. 68). Tem como objectivos, compreender e enriquecer a consciência através do entendimento da significação das coisas e da construção de novos conteúdos (Fonseca, 2007, p. 68). 21 A CHC Theory (Cattell-Horn-Carrol) e o PASS Model (Planning Attention, Simultaneous and Successive). 22 Dentro desta segunda categoria integra-se igualmente a teoria Successful Intelligence. 23 Integram-se na terceira categoria as teorias Multiple Cognitive Mechanisms Approach, Parieto-frontal Integration Theory, Minimal Cognitive Architecture e Dual-process Theory. Sónia Maria Amado Barreira 46 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O pensamento pode adoptar duas direcções: o sentido concreto em que o pensamento apoia-se nas vias da sensorialidade, dos ensinamentos da experiência e das deduções da lógica (razões a que o pensamento científico se subordina), e o sentido abstracto, simbólico, em que o pensamento procura uma perspectiva do real apoiada pela imaginação e memória (Fonseca, 2007, p. 68-69). Os produtos artísticos de mérito resultam de um processo criativo frequentemente alicerçado na sua origem pelo pensamento simbólico expresso de forma inovadora através de imagens complexas, juízos e raciocínios (Fonseca, 2007, p. 69). Seja de sentido concreto ou abstracto, o pensamento é constituído por conceitos (representações mentais simbólicas, abstractas com significado geral), juízos (actos mentais que estabelecem a existência e avaliam relações entre conceitos), e raciocínios24 (encadeamentos lógicos de juízos), constituintes que permitem a actividade pensante exprimir-se, de forma introspectiva através de uma observação da consciência por si própria, de forma extrospectiva através do estudo psicológico que tem por domínio o comportamento, de forma vígil ou realista, e por fim de forma simbólica ou onírica (Fonseca, 2007, p. 68). A consciência é um estado mental, consciente, particular, conhecedor da sua própria existência privada, pessoal, e da existência daquilo que o rodeia (Damásio, 2010, p. 199-200). Segundo António Damásio, é um estado mental “enriquecido por uma sensação do organismo específico onde a mente está a funcionar” (Damásio, 2010, p. 199), consciente do aspecto de sentimento ou sentir, e que lida “com o conhecimento com base em material sensorial diferente – corporal, visual, auditivo, etc.” (Damásio, 2010, p. 200-201). O fluir da consciência, organiza todo o conhecimento através da sua actividade subordinada ao curso do pensamento e por meio do controlo e supervisão daquilo a que este dá origem – comportamentos inteligentes ou simbólicos (Fonseca, 2007, p. 69) –, constitui a estrutura psicológica, o núcleo estruturante do campo fenoménico da experiência pessoal, “a apreensão do sujeito por si mesmo” (Fonseca, 2007, p. 69) segundo Santo Agostinho, ou o próprio sentimento de si, segundo Damásio: “a 24 O raciocínio é um processo cognitivo pelo qual uma pessoa pode inferir uma conclusão, a partir de um grupo de evidências ou de declarações de princípios” (Sternberg, 2000, p. 368), como também uma expressão mental ou representação interna de estímulos, de um problema ou de uma circunstância, que utiliza unidades básicas como imagens, conceitos e linguagem (Coon, 2006, p. 306). Sónia Maria Amado Barreira 47 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem característica distinta da nossa consciência é em termos líricos, o próprio pensamento de si. Contudo, para que a poesia fosse exacta teríamos de evocar o sentimento e falar do próprio sentimento de si” (Damásio, 2010, p. 204). 3.2.1.4. RACIOCÍNIO CRIATIVO O sucesso da evolução humana deveu-se à capacidade de raciocínio e inteligência suplantarem o comportamento inato (Coon, 2006, p. 306). Os desafios instigam no raciocínio a capacidade de resolução de problemas que gera o desenvolvimento da inteligência e fomenta a criatividade. Quando formulamos ideias (na forma de devaneios, resolução de problemas, argumentação, etc.) estabelecemos raciocínios, representações internas de um problema ou situação (Coon, 2006, p. 306) que usufruem de unidades básicas como imagens, evocações, reminiscências de uma percepção na ausência do estímulo provocador, representações mentais com características semelhantes às dos quadros mas passíveis de admitir aspectos de tridimensionalidade25 (Coon, 2006, p. 306); conceitos, “representação mental, abstracta e geral, de um objecto” (Teixeira, 2004) ou generalizações de ideias “que representam uma categoria de objectos ou acontecimentos” (Coon, 2006, p. 306), e linguagem, sistema de expressão do pensamento constituído por combinações de palavras, símbolos e regras. O raciocínio implica a “atenção, reconhecimento de padrões, memória, tomada de decisões, intuição, conhecimento, etc.” (Coon, 2006, p. 307). Nem todas as resoluções de problemas resultam numa solução criativa por essa razão é necessário compreender a distinção entre o raciocínio criativo e a simples resolução de um problema. Existem vários tipos de raciocínio: indutivo ou dedutivo, lógico ou ilógico. O raciocínio indutivo é uma operação do pensamento que partindo de factos observados específicos estabelece leis ou princípios gerais, isto é, objectiva “alcançar uma provável conclusão geral, com base em um conjunto de factos ou em observações específicas (Sternberg, 2000, p. 436); Issac Newton terá experienciado este género de raciocínio ao reflectir sobre a lei da gravidade pela observação da 25 As pessoas formam imagens tridimensionais quando mentalmente giram um objecto, porque as “imagens mentais não são planas como as fotografias. […] A rotação mental baseia-se parcialmente em movimentos imaginados. Isto é, nós “pegamos” mentalmente um objecto e o viramos” (Coon, 2006, p. 307). Imaginar um pedaço de papel com a planta de construção de um cubo e mentalmente construí-lo requer uma natureza de imagem muito para além da bidimensional. Sónia Maria Amado Barreira 48 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem queda de diversos objectos entre os quais a lendária maçã. O raciocínio dedutivo processa-se de forma inversa, parte de leis ou princípios gerais e deduz particularidades específicas, ou seja, objectiva “extrair uma conclusão específica e logicamente certa, a partir de um conjunto de proposições gerais” (Sternberg, 2000, p. 436); Neil Armstrong26, Comandante da missão espacial Apollo 11, partindo do conhecimento que a gravidade é menor dependendo da menor massa do objecto, deduziu que o pequeno passo que desse seria um grande pulo sobre a superfície lunar. O raciocínio lógico formula conclusões validadas em princípios ou regras explícitas de argumentação (Coon, 2006, p. 333), em contrapartida o raciocínio ilógico opera segundo contemplações intuitivas, associativas ou irracionais (Coon, 2006, p. 333). Todos os quatro estilos de raciocínio descritos estão envolvidos no raciocínio criativo e este poderá ser classificado igualmente segundo categorias, como a fluência (quantidade total de sugestões ou soluções produzidas), flexibilidade (quantidade de diferentes variações ou tipos de soluções) e originalidade (valor de inovação ou qualidade inusitada), enquanto elementos conjuntamente determinantes (Coon, 2006, p. 333). A possibilidade dicotómica da solução na resolução de problemas pode incidir num destes dois restantes raciocínios opostos que carecem ser mencionados pela sua distinção e diferenciado impacto sobre o processo criativo: o raciocínio convergente (considera diversas possibilidades orientadas para a descoberta de uma única resposta, comummente influenciada por convenções preestabelecidas) e o raciocínio divergente (elabora diversas ideias ou alternativas partindo de uma mesma origem). Este último é uma operação do pensamento criativo que produz soluções inovadoras em lugar de iterar respostas aprendidas (Coon, 2006, p. 333). A aptidão complexa que elabora expressões poéticas com base no conhecimento, corresponde precisamente à capacidade de estabelecer associações de conteúdo inovadoras. Em suma, uma solução criativa é resultado da combinação do raciocínio criativo homologado a uma abordagem divergente e de duas condições, a intervenção da capacidade crítica actuante (Schwanitz, 2004, p. 499) e a utilidade prática (tratando-se 26 Foi o primeiro homem a pisar a superfície lunar durante a missão espacial Apollo 11 do ano de 1969. A sua mensagem enviada à Terra por rádio imortalizou o momento em que deu o primeiro passo: “É um pequeno passo para um homem, mas um passo gigantesco para a Humanidade” (Allen et al., 1996, p. 215). Sónia Maria Amado Barreira 49 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem de uma invenção) ou sensível (no caso de uma ideia) que pode representar (Coon, 2006, p. 335). 3.2.1.5. FASES DO PROCESSO CRIATIVO Graham Wallas, no seu livro A arte do pensamento, publicado em 1926, apresentou um dos primeiros modelos acerca das quatro etapas pelas quais atravessa o processo criativo: preparação, incubação, iluminação e verificação, que constituem um quadro conceptual de análise do processo (Creativity, 2013). A fase de preparação consiste num período de tempo (que não se restringe somente ao espaço tempo processual inicial mas que integra implicitamente toda a experiência precedente da instrução e experiência de vida bem como a base genética tomada em consideração) em que se determina o problema, se identificam suas dimensões relevantes de forma a reconhecer coordenadas de investigação, e se realizam as primeiras tentativas de resolução; resume-se a uma etapa de estudo intenso, que exige capacidades, conhecimentos, experiências antecedentes e qualidades individuais que se distinguem entre as características de um indivíduo criativo. A fase de incubação consiste na suspensão do problema enquanto se consideram outras coisas (Solso, 2001, p. 462) mas partindo de uma definição mais pragmática e precisa, elaborada por M. I. Posner, autor do livro Cognition: an introduction, refere que consiste num período de tempo que permite: resgatar os níveis de energia absorvidos pela fadiga associada à acção de resolução de problemas, esquecer abordagens inapropriadas27 ou distanciamento da fixação funcional28, admitir uma reorganização do material na interrupção do processo de resolução e submergir o problema, processando-o a um nível subconsciente (Solso, 2001, p. 463). É neste período de suspensão temporária do processo que aumenta a probabilidade de surgimento de actos criativos, em momentos de maior tranquilidade e recreação (Solso, 2001, p. 463). Um simples passeio pode conduzir à inspiração nesta fase de incubação, por exemplo, João Magueijo, professor de Física Teórica no Imperial 27 Segundo estudos efectuados as pessoas têm a tendência de esquecer abordagens antecedentes que surtiram em resoluções fracassadas (Eysenck et al., 1994). 28 Designação concebida por Karl Duncker que define a tendência de discernir sobre algo em questão nos termos de uso tradicional reconhecido em oposição de novas formas de aplicação de utilidade, tornandose um impedimento na resolução de problemas e na construção de hipóteses originais, ao assumir uma abordagem muito fixa. Sónia Maria Amado Barreira 50 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem College de Londres que contestou a ideia consagrada por Einstein na sua teoria da relatividade de que a luz propaga-se a uma e uma só velocidade, e que originou uma controvérsia científica extraordinária e um livro muito interessante de sua autoria, Mais rápido que a luz, em que descreveu os fundamentos da sua ideia ou especulação científica, costuma encontrar inspiração para as suas ideias incomuns “walking in the rain in Cambridge or talking the night away in a late night dive in Notting Hill” (Brooks, 2003); Ludwig Van Beethoven, compositor e pianista alemão descreve um método semelhante, mas de composição, pela procura da imprevisível iluminação: Trago as ideias comigo durante muito tempo, […] antes de as escrever. Se me perguntarem onde vou buscar as ideias, isso não posso dizer com segurança. Vêm-me geralmente de modo espontâneo, indirectamente, directamente. Quase podia agarrálas com as mãos; em plena natureza, nos bosques, em passeio, no silêncio da noite, de manhã cedo, inspirado por estados de espírito que para o poeta se traduzem em palavras e para mim em sons, que ecoam, crescem, troam, até que finalmente surgem diante de mim sob a forma de notas. (Siepmann, 2006, p. 102-103) A fase de iluminação define-se como a descoberta de entrosamento dos elementos constituintes de ideias encadeadas numa estrutura coerente e complementar que refuta pensamentos irrelevantes à resolução, acompanhada por uma sensação inequívoca de fruição súbita de entusiasmo. Esta etapa nem sempre se procede, podendo permanecer-se por tempo indefinido em incubação, mas assim que uma “luz” se acende no pensamento torna-se clara a superação do problema - “Heúreka!”29. Esta expressão emblemática de Arquimedes30 proferida no momento de encontro com a ideia súbita de resolução de um problema, representa bem esta fase do processo criativo de fulguração pela descoberta de uma solução. Na última fase, denominada de fase de verificação, estabelece-se um exame de verificação de legitimidade (Solso, 2001, p. 463), um procedimento processual que testa e verifica a exequibilidade e fidedignidade da descoberta. 29 “Descobri!” (Tradução nossa). 30 Cientista, matemático e inventor grego nascido a 287 a. C., confrontou-se com um problema de aferição da composição de uma coroa (supostamente de ouro maciço) oferecida ao tirano de Siracusa, e descobriu a solução enquanto tomava banho. Conta-se que ao entrar na banheira percepcionou “que o nível da água se elevava na medida em que imergia nela o seu corpo” (Schwanitz, 2004, p. 500), e que bradou “Eureca” ao compreender que “o volume de um objecto pode ser medido pelo volume da água que desloca” (Allen et al., 1996, p. 521), conhecimento que permitiria assim medir a densidade da coroa sem a danificar e chegar à conclusão de que esta não era de ouro puro. Sónia Maria Amado Barreira 51 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A criatividade é “a cognitive activity that results in a new or novel way of viewing a problem or situation” (Solso, 2001, p. 462)31, um conceito complexo que tem sido foco de interesse e estudo por parte de alguns psicólogos como Sternberg e Lubart, que desenvolveriam uma teoria fundamentada em seis atributos essenciais ao desempenho criativo, combinados na potência interactiva entre si e não no grau de intensidade individual de cada atributo: Assessing human creativity is not a simple matter of identifying the amount of each attribute and adding them together to find a kind of creativity índex. Rather, it is a matter of identifying and assessing the strengths of the interactions among attributes. (Solso, 32 2001, p. 465) Os seis atributos determinantes consistem nos processos de inteligência, no estilo intelectual, no conhecimento, na personalidade, na motivação e no meio ou contexto circundante33, que combinados entre si elevam a probabilidade do acontecimento do desempenho criativo, seja em qualquer estágio de vida. Segundo esta teoria, a criatividade é a combinação dos diversos factores e não uma simples característica, perícia ou habilidade (Solso, 2001, p. 465). A raridade do desempenho criativo reside no facto do grande desafio que representa o alcance da interacção ideal entre todos os atributos, e não na suposição de inexistência de algum. Ensinar alguém a ser criativo depende da forma como a criatividade é definida: It is possible to train people to be more flexible in their thinking, to score higher on tests of creativity, to solve puzzles more creatively, and to probe scientific and philosophic issues deeper than before. However, it is difficult to probe empirically that through training alone the likes of Rossini, [...] Van Gogh, Einstein, [...] Freud, could be 34 fashioned from a randomly selected person. (Solso, 2001, p. 468) 31 “uma actividade cognitiva que resulta numa nova forma de ver o problema ou situação.” (Tradução nossa). 32 Avaliar a criatividade humana não é a simples tarefa de identificar a quantidade de cada atributo e acrescentá-los conjuntamente para encontrar uma espécie de índex de criatividade. É mais propriamente uma questão de identificar e avaliar o poder de interacção entre atributos. (Tradução nossa). 33 O ambiente intelectual como a escola ou a vivência familiar são igualmente factores influentes no que respeita à criatividade (Solso, 2001, p. 465). 34 É possível treinar as pessoas a serem mais flexíveis na forma de pensar, a pontuar níveis mais elevados nos testes de criatividade, a resolver puzzles de forma mais criativa e a analisar assuntos científicos e filosóficos mais profundamente que antes. No entanto, é difícil investigar empiricamente que através do treino por si só poderão ser modeladas pessoas como Rossini, […] Van Gogh, Einstein, […] Freud, por uma pessoa seleccionada aleatoriamente. (Tradução nossa). O conceito modelar entende-se neste contexto como forma de adaptar representações internas e comportamentos de outra pessoa para poder alcançar os mesmos resultados que a mesma, ou seja, imitar outra pessoa de modo a obter idênticos resultados. Sónia Maria Amado Barreira 52 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Segundo J. R. Hayes, autor do livro Cognitive processes in creativity, a criatividade pode ser intensificada através de três meios: desenvolvendo um conhecimento base, proporcionando uma atmosfera ideal para a criatividade e procurando analogias. O conhecimento base é a informação armazenada adquirida pela experiência e estudo de assuntos relativos ao espectro do campo de conhecimento da ciência, literatura, matemática e arte, que irá enriquecer qualquer dos projectos a que o indivíduo se dedique, porque contém em si fundações de conhecimento que irão apoiar o seu talento criativo: “The apple that fell on Newton‟s head and inspired him to develop a general theory of gravity struck an object filled with information” (Solso, 2001, p. 468)35. No entanto, para produzir obras criativas não só é necessária uma base de conhecimentos mas igualmente a motivação necessária à persecução dos projectos a que se compromete com afinco. Anne Roe, autora dos livros The personality of artists e The making of a scientist, descobriu no estudo que fez sobre as características que distinguiam os artistas e cientistas considerados criativos pelas obras que produziram, que a vontade invulgar de extrema dedicação nos seus projectos seria o único denominador comum entre o grupo de indivíduos seleccionados para o estudo (Solso, 2001, p. 468). A atmosfera certa para a criatividade será aquela que facultar a troca de ideias sem a presença de qualquer crítica não construtiva ou julgamentos improdutivos inibidores do potencial imaginário. A técnica Brainstorming permite esse intercâmbio de ideias entre indivíduos de um grupo. Objectiva a produção de extenso e variado número de soluções para problemas tomados em causa para análise, sem a supressão de qualquer hipótese, sugestão, ou sem a contribuição inibidora da crítica, permitindo miríade de possibilidades. A herança cultural e a educação influenciam o pensamento criativo, e o seu impacto pode ser positivo quando promovem a exploração abrangente de alternativas ou negativo se provocarem bloqueios, fixação ou rigidez de soluções. A fixação funcional pode dificultar o processo de resolução de problemas bem como a criatividade. Por fim, o terceiro meio facultativo à potenciação da criatividade sustenta-se na procura de analogias auxiliares à resolução criativa de um problema. Considerar 35 “A maçã que caiu sobre a cabeça de Newton e que o inspirou a desenvolver uma teoria geral da gravidade atingiu um objecto preenchido com informação.” (Tradução nossa). Sónia Maria Amado Barreira 53 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem problemas similares ao que estiver em causa resolver é uma importante operação orientadora à formação de uma possibilidade ou solução, porque a esta poderá estar contida na génese de resolução de um problema similar (Solso, 2001, p. 468). J. P. Guilford36 desenvolveu teorias e testes sobre a criatividade e distinguiu dois tipos de pensamento: convergente (que estabelece soluções por meio de respostas produtivas e práticas) e divergente (mais flexível na forma como usufrui dos objectos e ideias em termos mais abstractos). A criatividade e a resolução de problemas correlacionam-se por consequência pois no encadeamento de uma resolução poderá manifestar-se a criatividade resultante da correlação de ideias de forma inovadora ou da elaboração de conexões invulgares entre ideias aparentemente díspares. Frequentemente as pessoas criativas constroem este tipo de soluções com esta abrangência imaginativa socialmente valorizada, dissociada de padrões habituais de solução (Solso, 2001, p. 464). A acção criativa pode ser julgada de forma subjectiva ou através de critérios estabelecidos por entidades credíveis do domínio, com autoridade e competência para identificarem os valores inerentes na obra que justificam a classificação de produto criativo. Para avaliar esta habilidade cognitiva foram desenvolvidos alguns testes como o “Remote Associations Test”37 (RAT) elaborado por Mednick38. Este teste39 avalia uma componente da criatividade de associação de ideias no âmbito linguístico e não só (Solso, 2001, p. 464). Esta ideia de reconhecimento de associação remota foi alargada por K. S. Bowers40 que terá colocado em consideração o conceito de intuição como uma parte importante da fase de descoberta da acção criativa (Solso, 2001, p. 464). 36 Psicólogo americano conhecido pelo seu estudo psicométrico da inteligência humana. 37 “Teste de associação remota.” (Tradução nossa). 38 Mednick, S. A. (1967). The Remote Associates Test. Boston: Houghton Mifflin. 39 Costuma apresentar exercícios de associação de uma palavra a um grupo de outras três, por exemplo: Bridge, Angry e Head, em que a palavra de resolução poderia ser Red (Solso, 2001, p. 464). 40 Bowers, K. S., Regehr, G., Balthazard, C., & Parker, K. (1990). Intuition in the context of discovery. Cognitive Psychology 22, 72-110. Sónia Maria Amado Barreira 54 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.1.6. BLOQUEIOS O pensamento criativo pode ser condicionado por diversos factores. Durante a infância os factores que mais contribuem enquanto obstáculo à criatividade são a vigilância extrema (sob observação e escrutínio permanente a criança tende ao retraimento, e a temer desagradar aos adultos ou a correr riscos), a imposição restritiva de conduta, constrange o pensamento crítico e expressão pessoal, conduzindo a atitudes conformistas e reprimidas, a recompensa extrínseca (compensação material – prémios, brinquedos, etc. – por algo que deveria ser, por si só, intrinsecamente motivador pelo gozo por realizar uma actividade), a competição (desrespeitadora dos ritmos e talentos próprios pode gerar sentimentos de incapacidade, frustração ou derrota em situação de concorrência com os outros), restrições ao direito de escolha (na imposição de actividades específicas exclusivas, limitadoras da possibilidade de escolha de outras de interesse pessoal segundo inclinações, pode levar ao declínio da curiosidade e da imaginação), e a pressão do tempo (exercida sobre o ritmo individual no decurso do processo criativo) (Santos, 2006, p. 35-36). Na idade adulta os bloqueios podem pertencer a uma das quatro categorias: perceptiva, por “Ver apenas o que se quer ver; incapacidade de se interrogar para além do evidente; ver o problema de forma isolada; não acreditar na própria criatividade; […] dificuldade em utilizar todos os sentidos; apresentação prematura de pseudo-soluções” (Santos, 2006, p.37); emocional, por “Medo do risco e do ridículo; medo de ser julgado; risco de ser pioneiro, minoritário; necessidade de segurança; tendência para a crítica negativa; ser incapaz de se descontrair; pressa de ter êxito; falta de capacidade de maturação da ideia” (Santos, 2006, p.37); cultural, por “Conformismo por desejo de pertença a um grupo; crítica imediata a novas ideias; desvalorização da importância da imaginação e do humor; tendência para o “tudo ou nada”; grande confiança nas estatísticas e na experiência passada; excesso de racionalidade e pensamento lógico” (Santos, 2006, p.37); ambiental e institucional, por “Actividades que evitem pensar; falta de coesão e comunicação lateral nas equipas; dirigentes que só valorizam as próprias ideias; desvalorização de actividades não ligadas à produção; desvalorização das capacidades criativas dos operacionais; burocracia; estruturas centralizadas” (Santos, 2006, p.38). Sónia Maria Amado Barreira 55 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem É importante tomar consciência dos diversos obstáculos e consequências interferentes com o processo criativo de maneira a que se possa tomar medidas preventivas ou conversoras de estados emocionais negativos a positivos. Existem cinco distintas condições para o alcance de um estado de espírito positivo condutor de realizações criativas (Santos, 2006, p. 39-48): 1) a determinação empenhada por desenvolver o potencial inato criativo que muito envolve o autoconhecimento (mais consciente e capaz de ultrapassar inibições e bloqueios), a disciplina (capacidade de domínio do comportamento seguindo regras segundo resultados pretendidos), a vontade (intenção firme e constância na realização), e um estado psíquico construtivo benéfico (caracterizado pela vontade de mudança, consciente do que quer obter e que técnicas aplicar; pela experiência de novos caminhos adaptando, modelando, comunicando novas soluções e implementando sua execução num contexto pretendido; pela sua linguagem construtiva e pela evitação de críticas improdutivas); 2) a suspensão de julgamento (retardamento da avaliação de uma ideia procurando dar margem de tempo para compreender o seu potencial inovador e outras possibilidades que possa representar até que seja validada); 3) a influência encorajadora do meio familiar e escolar (que promova a experiência de actividades imaginativas e estimule a produção de novas ideias); 4) a interacção comunicativa (que permita a troca de opiniões e saberes com os outros e portanto uma abrangência de horizontes proporcionada pelo conhecimento de novas ou diferentes perspectivas) e por fim 5) a presença de fontes de criatividade (como a espontaneidade intuitiva destituída de censura, a experiência enriquecida pelo conhecimento adquirido com base nela, o acaso – sorte, acidente, erro, loucura – convertido numa possibilidade livre41, isto é, o prolongamento de uma realidade concedendo-lhe um carácter transfinito42, a motivação (enquanto reflexo da curiosidade e da necessidade de encontrar novas soluções), a ponderação avaliativa (circunspecção que procura viabilizar uma ideia pela análise de todos os seus ângulos ou possibilidades e modelação mediante seus benefícios em relação a factores da 41 Conceito abordado no livro Teoria da inteligência criadora de José António Marina. 42 Partindo de uma coisa (bloco de mármore) e suas propriedades reais “rocha metamórfica constituída por grânulos cristalinos de calcite” (Teixeira, 2004), com interessante e diversa beleza cromática, resistente mas possível de cinzelar, pode transformar-se o seu significado ao gerar sobre a coisa uma possibilidade livre como aquela pretendida pelo pintor, escultor, arquitecto e poeta italiano Michelangelo Buonarroti, quando concretizou a escultura denominada David. Outro exemplo elucidativo, a experiência de Alexander Fleming, assim que se depara com o fenómeno imprevisto da inibição do desenvolvimento de uma bactéria Staphylococcus aureus pela acção da presença de um bolor verde-azulado. Pôde dar início à invenção do antibiótico penicilina, mais tarde aplicada por Howard Florey (Glanville et al., 2009, p. 325). Sónia Maria Amado Barreira 56 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem realidade ou rejeitando-a pela sua perigosidade que possa representar posteriormente; processo que implica aprimoramento das qualidades das propriedades da ideia), o ânimo encorajador (descontracção que liberte o pensamento da tensão e do medo, repressores do fluxo de ideias essencial no processo criativo, e que desempenhe um papel catalisador da actividade criativa através da descontracção física e mental que proporciona) e as técnicas e ferramentas43 (instrumentos que potenciam o processo cognitivo conducente à produção de algo original e de valor). De modo a compreender melhor a criatividade foram desenvolvidas diversas abordagens: psicométricas, cognitivas, de personalidade e motivacionais, sociais, societárias e históricas, e integrativas. A abordagem psicométrica (que adopta um conjunto de métodos de mensuração e análise de resultados da acção do processo cognitivo criativo) aplicada por J. P. Guilford na avaliação do desempenho de tarefas que integram a produção divergente como um dos aspectos inerentes da criatividade, é adoptada por Paul Torrance na avaliação de respostas figurativas criativas (Sternberg, 2000, p. 333). Alguns testes de mensuração da criatividade baseiam-se em problemas de resoluções de determinada natureza como: consequências remotas (em que se exige escrever uma lista de consequências de eventos inesperados, por exemplo numa situação de perda de gravidade), associações remotas (em que se pede para encontrar uma palavra que se integre entre outras duas apresentadas de modo a que as três construam um conceito lógico), funções invulgares (exige a atribuição de usos invulgares a objectos comuns), respostas imediatas (associação de palavras num teste que avalia segundo o carácter inusitado das respostas), títulos de enredo (avaliase a originalidade do título atribuído a um enredo apresentado). Torrance desenvolveu testes de avaliação do pensamento criativo que implicam a habilidade de resolução de problemas e o pensamento divergente avaliado segundo três critérios específicos: fluência (número total de ideias significativas e interpretáveis elaboradas enquanto resposta ao problema apresentado), elaboração (quantidade de detalhes realizados enquanto resposta) e originalidade. Nos seus testes podem surgir exercícios como: 43 São exemplo, a Brainstorming elaborada por Alex F. Osborn, a Mind Mapping desenvolvida por Tony Buzan, o Lateral Thinking – conceito definido por Edward Bono. Sónia Maria Amado Barreira 57 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem […] pensar em todos meios possíveis de usar um clipe ou uma caneta esferográfica. [ou] uma pessoa pode receber uma folha de papel que mostra alguns círculos, linhas sinuosas ou traços; o teste então avaliaria em quantas maneiras diferentes a pessoa usara as formas dadas para completar um desenho. A avaliação desse teste consideraria, em particular, o quanto a pessoa tinha usado detalhes incomuns ou ricamente elaborados para completar uma figura. (Sternberg, 2000, p. 333) 3.2.1.7. TÉCNICAS E FERRAMENTAS Uma componente relevante da criatividade mencionada por Arthur Koestler44 é o “acto bissociativo” que corresponde ao entrosamento directo entre dois contextos precedentemente separados mas que devido a um elemento comum estabeleceram uma ligação e consequente solução para um problema (Schwanitz, 2004, p.500). Remontando aproximadamente entre 625-547 a.C. a Tales de Mileto45, e à solução do problema sobre a altura da grande pirâmide do faraó Khufu46, encontramos uma solução matemática ilustrativa da acção bissociativa a que Koestler se refere, e que permitiu a Tales encontrar uma forma resolutiva, baseando-se num elemento comum entre a pirâmide e um qualquer objecto vertical – a condição de igualdade de comprimento da sombra de um objecto vertical e a sua altura, acontecer em dois específicos dias do ano. Partindo do conhecimento matemático da semelhança de triângulos “Tales esperou por [um] dia e, então, mediu o comprimento da sombra da pirâmide. Uma vez obtido, adicionou-lhe a metade do lado da base e conseguiu obter o valor da altura”47 (Almodóvar et al., 2008, p. 115). Na resolução de problemas podem ser adoptados tanto o pensamento divergente como o convergente, tanto a análise, “processo de decomposição de um todo complexo em elementos menores” (Sternberg, 2000, p. 429), como a síntese, “o processo de integrar vários elementos em um todo mais complexo” (Sternberg, 2000, p. 437), dependendo substancialmente do problema como das preferências pessoais dos solucionistas relativamente aos métodos de resolução de problemas (Sternberg, 2000, p. 308), e por isso, a estratégia óptima de resolução está dependente do problema e dos métodos escolhidos mais adequados aos objectivos, no entanto se estes se focam na concretização criativa, então o pensamento divergente é mais potenciador do alcance dessa meta. 44 Autor dos livros Insight and Outlook e The act of creation. 45 Filósofo e matemático grego da escola jónica. 46 Faraó da IV Dinastia do Império Antigo Egípcio. 47 Equação de resolução: H(altura da pirâmide)= X/2 + S(sombra) Sónia Maria Amado Barreira 58 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Existem oito formas de desenvolver a criatividade: 1) quebrar bloqueios mentais, pois estes representam um grande obstáculo para o raciocínio criativo 48, por exemplo, a resolução de um problema pode ser afectada por diversas causas como a fixação funcional, emoções, valores culturais, convenções aprendidas e hábitos perceptuais (Coon, 2006, p. 345); 2) definir os problemas de maneira ampla, encarando a definição do problema através de novos horizontes, por exemplo, se o problema for a invenção de um novo abre-latas pode-se colocar noutra perspectiva a definição do problema através da resolução na forma de uma tampa de lata que estala (Coon, 2006, p. 341); 3) reformular o problema de maneiras diferentes, desmontando as particularidades que o constituem de forma a considerá-lo de diversos pontos de vista, por exemplo, o que perguntariam outras pessoas (artistas, professores, psicólogos, arquitectos, músicos, etc.) acerca do mesmo problema (Coon, 2006, p. 341); 4) dar tempo para a incubação, a fase do processo criativo que coloca o problema à parte durante algum tempo (Sternberg, 2000, p. 327), o necessário para que se efectue o processamento subconsciente que possa originar um insight ou “compreensão aparentemente súbita da natureza de alguma coisa, resultando, muitas vezes, da adopção de uma abordagem inédita ao objecto do insight” (Sternberg, 2000, p. 337); 5) procurar informações variadas, de forma a incentivar o pensamento divergente a agrupar possíveis soluções alternativas para o problema, mudando a prospecção ou pesquisa mental para novas áreas e assim desencadear novas perspectivas ou associação de ideias49, através de estratégias como aquela que Edward de Bono sugeriu, na procura aleatória de palavras no dicionário e posteriormente relacioná-las com o problema (Coon, 2006, p. 342), ou através da exposição a uma grande variedade de recursos, como por exemplo, jornais, fotos, etc., incentivando o raciocínio do pensamento (Coon, 2006, p. 342); 6) procurar analogias que permitam representar o problema noutras perspectivas que possam ser elucidativas de uma possibilidade de resolução50; 7) correr riscos sensatos acreditando nas potencialidades das ideias que possam à primeira vista parecer inúteis mas com grande potencial enquanto objectos inovadores pela forma criativa em como se transfiguram em produtos úteis51; 8) adiar a 48 Raciocínio que se distingue pela sua abordagem divergente. 49 Designa o “acto psicológico pelo qual uma ideia evoca outra” (Teixeira, 2004). 50 Relembrar a história de Arquimedes. 51 Os post-it são exemplo disso “foram inventados por um engenheiro que acidentalmente criou uma cola fraca. Em vez de jogar a mistura fora, ele a usou de uma nova maneira extremamente criativa. No entanto, ele levou algum tempo para convencer os outros de que um adesivo “ruim” poderia ser um produto útil. Hoje, blocos de anotações adesivos são um dos produtos mais bem sucedidos da 3-M” (Coon, 2006, p. 342). Sónia Maria Amado Barreira 59 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem avaliação52, evitando a crítica e a correcção das soluções que vão surgindo nas primeiras fases do raciocínio criativo para que a pressão psicológica avaliativa não limite a oportunidade de se instaurar o sentimento de liberdade de conjugação de ideias e possíveis soluções, pois a preocupação “com a correcção das soluções tende a inibir a criatividade” (Coon, 2006, p. 342). Brainstorming A técnica de grupo denominada Brainstorming (igualmente ajustada à resolução individual de problemas) consiste numa abordagem alternativa para promover a criatividade, visa produzir e avaliar ideias de forma separada, permitindo assim maior incentivo na produção de elevado número de ideias possíveis e imagináveis, sem a pressão inibidora de comentários depreciativos ou quaisquer críticas. No decurso de uma sessão Brainstorming o processo de interacção e exposição de ideias despoleta um positivo efeito de estimulação cruzada “no qual as ideias de um participante desencadeiam ideias nos outros” (Coon, 2006, p. 342). Este exercício colectivo de partilha de ideias, geradas por processos associativos, bissociativos, entre outros, obedece a seis regras básicas (Coon, 2006, p. 343): 1) avaliar as ideias só no final da sessão, não podendo ser criticadas durante o seu decurso, devido ao facto de os julgamentos – críticas, avaliações – bloquearem o fluxo de ideias; 2) incentivar a combinação, mistura ou modificação de ideias; 3) produzir a maior quantidade possível de ideias na fase inicial da sessão; 4) imaginar livremente sem quaisquer limites, pois quanto mais inusitadas parecerem as ideias, melhor; 5) registar as ideias à medida que vão surgindo; e 6) seleccionar e aperfeiçoar as ideias mais promissoras. O método associativo que relaciona livremente ideias, subjacente a esta técnica de criatividade, pode apesar de tudo tornar-se um inconveniente no sentido do aumento exponencial de ideias poder resultar no afastamento das ideias em relação ao problema, isto é, a quantidade não conduzir à qualidade do que se pretendia (Santos, 2006, p. 71). Quando esta técnica é aplicada à resolução individual de problemas procede-se à suspensão de julgamentos, deixando os processos associativos e bissociativos fluir, sem ponderar a lógica, organização, precisão, ordem de ideias, registando-as à 52 A técnica Brainstorming segue este conceito. Sónia Maria Amado Barreira 60 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem medida que vão ocorrendo. Só posteriormente se organiza, reescreve e critica os esforços empregues (Coon, 2006, p. 343). Para incentivar um raciocínio original é em seguida apresentada uma lista de conceitos auxiliar às regras básicas números 2, 3 e 4, precedentes (Coon, 2006, p. 343): a) redefinir os usos dos elementos do problema; b) adaptar outros objectos, ideias ou procedimentos ao problema em vigor; c) modificar tudo o que seja possível ser mudado; d) ampliar em grande escala o que for possível; e) minimizar reduzindo diferenças, escala ou o próprio problema; f) substituir objectos, uma ideia ou procedimentos por outros; g) reordenar numa nova disposição partes do problema; h) inverter ordens, opostos e sentidos; i) combinar elementos entre si. Mind Map53 Existe uma outra técnica que “permite melhorar a criatividade e a eficiência do cérebro” (Santos, 2006, p. 75). Utilizada desde o passado tempo da História por mentes excepcionais como Einstein, Leonardo Da Vinci, Newton, Darwin, entre outros, manifestou-se no testemunho das suas anotações. Mind Map54 foi desenvolvida enquanto técnica por Tony Buzan e contribui para a expansão, optimização das capacidades individuais (cerebrais e perceptivas), de modo que possibilita “uma visão analítica (hemisfério esquerdo) e sintética (hemisfério direito) do tema-chave” (Santos, 2006, p. 75) de estudo, recorrendo à imaginação. Equilibrando a interacção dos dois hemisférios esta técnica melhora a compreensão e memorização dos assuntos através da libertação da mente de prisões lineares do pensamento sequencial e lógico por meio de uma estrutura radial (constituída por ramificações, anotações e símbolos) de reorganização de valores integrados (Santos, 2006, p. 75-76). Definindo-se “na organização das ideias em torno de um eixo central” (Santos, 2006, p. 22) é muito mais eficaz que a tomada de notas tradicional, por permitir compreender e adquirir uma visão de conjunto do tema central de estudo. Caracteriza-se enquanto um processo de sintetização e associação de ideias que permite aumentar a probabilidade do encontro com múltiplas hipóteses de solução. Esta técnica pode admitir interagir com uma outra técnica de criatividade como a do pensamento lateral. 53 Mapa Mental. (Tradução nossa). 54 Visualizar um exemplo elucidativo de um mapa mental, em Anexo. Sónia Maria Amado Barreira 61 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sua estrutura radial clarifica melhor o pensamento através de uma matriz de associação de ideias semelhante a uma secção circular de um tronco de árvore, em que cada ramo principal correspondente a um subtema (ideia) e se ramifica num conjunto de ramos secundários correspondentes a palavras-chave de especificidades correlativas ao subtema antecedente, ou seja, “as ramificações correspondem às ideias que vão surgindo e as sub-ramificações às especificações da ideia ou às subdivisões que a mesma pode conter” (Santos, 2006, p. 78). A ideia se desenvolve em especificações coerentes na expressão visual de um diagrama constituído por palavras, códigos, desenhos, cor, movimento, integrando informação pertinente acerca do tema central de estudo. As 9 regras que orientam a construção de um mapa mental são as seguintes (Santos, 2006, p. 76): 1) destacar o tema central ou assunto principal de estudo (simbolicamente representado) colocando-o no centro da estrutura; 2) traçar os ramos principais (partindo do tronco ou centro da estrutura) e identificar respectivos subtemas constituintes de cada; 3) delinear e identificar as linhas de base das diferentes palavras-chave consequentes dos ramos principais (o comprimento da linha deve ser igual ao comprimento da respectiva palavra-chave); 4) escrever as palavras preferencialmente com letra de imprensa para que sejam mais legíveis; 5) elaborar um ramo principal e suas ramificações de cada vez; 6) utilizar cores para identificar detalhes e auxiliar a memorização; 7) introduzir imagens ou códigos usufruindo da sua economia de palavras e rápida leitura 8) contornar as ramificações secundárias do mesmo ramo principal de origem, integrando-o, destacando assim áreas em contexto entre si; 9) desenvolver um estilo pessoal. Pensamento lateral Existem outras técnicas que estão directamente ligadas à criatividade, percepção e humor e se enquadram no processo do pensamento lateral, um método de utilização da informação (Bono, 2005, p. 50) que estrutura padrões conceptuais - percepção55 - e instiga padrões56 novos (criatividade) (Bono, 2005, p. 14); simultaneamente uma 55 A percepção designa-se como “o conjunto de processos psicológicos pelos quais as pessoas reconhecem, organizam, sintetizam e fornecem significação (no cérebro) às sensações recebidas dos estímulos ambientais (nos órgãos dos sentidos)” (Sternberg, 2000, p. 435). 56 O padrão pode ser “qualquer conceito, ideia, pensamento ou imagem repetíveis” (Bono, 2005, p. 49), uma ordenação da informação na memória, “uma sequência repetível de actividade neural” (Bono, 2005, p. 49). Sónia Maria Amado Barreira 62 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem atitude mental que “serve para fugir a ideias e percepções estabelecidas e descobrir outras novas, independentemente da sua eventual aplicação” (Bono, 2005, p. 21). Edward de Bono, psicólogo britânico, inventou o termo – raciocínio lateral – processo que funciona actuando “de modo transversal aos normais caminhos da lógica, em vez de seguir ao longo deles” (Kindersley, 1993, p. 50) desalojando padrões fixos lógicos e sensatos organizados pela capacidade do cérebro de processamento da informação: […] o cérebro usa padrões de raciocínio lógico para extrair sentido de um mundo muito complexo e agarra-se com tenacidade aos percorridos caminhos mentais. […] No raciocínio lógico, preocupamo-nos com «o que é». […] a criatividade genuinamente eficaz exige a adopção de uma forma de raciocínio que nos ajude a ultrapassar as habituais fronteiras, de modo a vermos «o que poderia ser». (Kindersley, 1993, p. 50) O pensamento vertical caracteriza-se como selectivo (selecciona a abordagem mais promissora para a resolução de um problema) dirigido (segue uma direcção no sentido da resolução para obter determinado efeito; sabe o que procura, move-se para seguir uma direcção), analítico (procede a uma apreciação crítica detalhada), sequencial (prossegue por uma sucessão de passos firmemente ligados), imperativo absoluto (todos os passos têm de estar correctos para que a conclusão seja correcta, por exemplo a imposição do correcto funcionamento da matemática e do pensamento lógico), exclusivo (não inclui irrelevâncias), categorizador fixo (depende da rigidez das definições, categorias, classificações, rótulos, tal como a matemática está sujeita ao significado inalterável do símbolo), óbvio (segue o caminho mais provável), etc. Já o pensamento lateral distingue-se como criativo (por gerar o máximo de abordagens alternativas e considerar todas elas promissoras), directivo (move-se para gerar uma direcção que não tem necessariamente um objectivo), provocador (origina discussão), descontínuo (poderão existir lacunas preenchidas posteriormente), incerto (impreciso em alguns passos de acção), inclusivo (acolhe intromissões aleatórias pela sua acção provocadora influente na alteração do padrão estabelecido), não categorizador (categorias, classificações e rótulos não são fixos, a repentina alteração do significado constitui a base do humor), exploratório (explora os caminhos menos prováveis), etc. (Bono, 2005, p. 37-43). Ambos os processos de pensamento vertical e lateral são essenciais, completam-se e não são antagónicos: Sónia Maria Amado Barreira 63 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem […] com o pensamento vertical, utilizamos a informação pela informação, para podermos avançar para uma solução. Com o pensamento lateral, utilizamos a informação, não pela informação em si, mas de uma maneira provocadora, para instigar a reestruturação dos padrões. (Bono, 2005, p. 44) […] o pensamento lateral é útil para gerar ideias e abordagens, e o pensamento vertical é útil para desenvolvê-las. O pensamento lateral sublima a eficácia do pensamento vertical, dando-lhe mais hipóteses de escolha. O pensamento vertical multiplica a eficácia do pensamento lateral, pondo a bom uso as ideias geradas. (Bono, 2005, p. 48) Os quebra-cabeças são exemplos de estímulo para a prática e utilização do raciocínio lateral. No livro O pensamento lateral: um manual de criatividade, Edward de Bono apresenta diversas técnicas que constituem oportunidades para a prática do pensamento lateral. Os objectivos das técnicas do pensamento lateral focam-se no “processo de fuga às ideias pré-estabelecidas e de descoberta de novos pontos de partida” (Bono, 2005, p. 79). O pensamento lateral usufrui de certos instrumentos provocadores como a analogia57 que comummente visualiza uma situação numa nova perspectiva: […] o uso das analogias não se destina a provar seja o que for, elas servem apenas de estímulo. A principal utilidade das analogias é serem veículos de funções, processos e relações, que podem depois ser transferidos para o problema em causa, para ajudar a reestruturá-lo. (Bono, 2005, p. 154) Os resultados de iluminações bissociativas podem figurar-se em analogias ou metáforas58 (Schwanitz, 2004, p. 501). Outra forma de incentivo à prática do pensamento lateral é enquadrá-lo numa sessão de Brainstroming, a técnica de grupo que estimula a elaboração de ideias originais. 3.2.2. INTELIGÊNCIA A inteligência é um potencial biopsicológico. O facto de um indivíduo ser ou não considerado inteligente e em que aspectos é um produto em primeiro lugar de sua herança genética e de suas propriedades psicológicas, variando de seus poderes cognitivos às suas disposições de personalidade. (Gardner, 2000, p. 50) 57 58 Relação de semelhança entre coisas distintas. Transfiguração simbólica em virtude de uma relação de semelhança. Sónia Maria Amado Barreira 64 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.2.1. TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS QI, sigla da capacidade intelectual resumida a um quociente de inteligência59, é a medida de um teste, utilizada pelo psicólogo Alfred Binet, durante La Belle Epoque da cidade de Paris de 1900. Considerado durante longos anos, útil instrumento científico de grande sucesso na área de psicologia, este teste de medida quantificável, teve por intento “avaliar a inteligência real ou potencial da pessoa” (Gardner, 2000, p. 12). Com o tempo foram elaboradas outras versões mais sofisticadas deste teste, como por exemplo, o Scholastic Aptitude Test (SAT)60, prova de verificação quantitativa com acrescento de resultados verbais e matemáticos classificados enquanto única dimensão intelectual. Também na América, durante a Primeira Guerra Mundial se usaram abundantemente durante décadas, os testes QI, desta vez desenvolvidos pelo psicólogo de Stanford, Lewis Terman (Gardner, 2000, p. 58). Howard Gardner, psicólogo da Harvard School of Education, sugere que esta visão unidimensional avaliativa do intelecto integra-se numa visão de escola uniforme onde: […] existe um currículo essencial, uma série de factos que todos devem conhecer, e muito poucas disciplinas electivas. […] avaliações regulares, com o uso de instrumentos tipo papel e lápis, da variedade QI ou SAT. […] os melhores e mais brilhantes vão para as melhores universidades, e talvez - mas apenas talvez- obtenham melhores classificações na vida. Não há dúvida de que esta abordagem funciona bem para certas pessoas […]. (Gardner, 2000, p. 13) A visão da mente do ponto de vista de Gardner é pluralista, transcende o modelo unitário avaliado pela escola uniforme. A alternativa proposta por Gardner é uma escola centrada no indivíduo, que baseia-se nos conhecimentos científicos da ciência cognitiva (estudo da mente) e a neurociência (o estudo do cérebro), e na definição de inteligência enquanto “capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários” (Gardner, 2000, p. 14), com o propósito de orientar para o alcance de “objectivos de ocupação e passatempo adequados ao […] espectro particular de inteligências” (Gardner, 2000, p. 16) de cada aluno. 59 O quociente de inteligência designa-se por “medida média da inteligência traduzida num valor numérico que é o resultado da divisão da idade mental, determinada por meio de testes, pela idade real ou cronológica” (Teixeira, 2004). 60 Teste de Aptidão Escolar. (Tradução nossa). Sónia Maria Amado Barreira 65 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Gardner considera que a escola deve ser o veículo na contribuição do desenvolvimento e orientação do aluno na direcção dos seus talentos individuais que propiciam satisfação pessoal e sentido de utilidade (Goleman, 1996, p. 57). Para este a aprendizagem é mais efectiva quando suportada pelo prazer e interesse na prática de determinada matéria (Goleman, 1996, p. 116). O estudo que desenvolveu acerca das inteligências múltiplas assume um modelo que pressupõe “identificar o perfil de competências natural de cada criança e dar destaque aos pontos fortes sem deixar de tentar reforçar os mais fracos” (Goleman 1996, p. 116). Este modelo pressupõe que a aceitação de desafios em novas áreas poderá conquistar-se através de um resgate motivacional implementado pelo envolvimento sinérgico entre o fluxo e a aprendizagem. De acordo com a pesquisa elaborada relativamente ao que seria exactamente inteligência no domínio do potencial do intelecto, Gardner concretiza uma análise factorial subjectiva (Gardner, 2000, p. 14) devido à complexidade da natureza da temática de estudo, e chega à conclusão de que a capacidade do intelecto é plural e difere de indivíduo para indivíduo dependendo dos “perfis particulares de inteligência com os quais nascem, [e dos] perfis com os quais acabam” (Gardner, 2000, p. 15), resultantes de interesses, capacidades e habilidades pessoais. Gardner definiu sete tipos de inteligência (2000, p. 15): linguística61 (capacidade de expressão do pensamento através da fala ou escrita); lógico-matemática (engloba a capacidade lógica, matemática e científica)62; espacial63 (capacidade de formar, manobrar e operar um modelo mental de um mundo espacial); musical64 (capacidade sensível para ritmos, combinações de sons); corporal-cinestésica65, capacidade de “resolver problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo” (Gardner, 2000, p. 15); interpessoal66 (capacidade de compreensão do ponto de vista da motivação, atitude, e trabalho cooperante das outras pessoas); e 61 Tendencialmente desenvolvida por escritores, poetas, etc. 62 Gardner enfatiza que cada uma das sete inteligências tem “igual direito à prioridade” (Gardner, 2000, p.15) no entanto constata que hoje em dia a sociedade continua a valorizar mais os tipos de inteligência linguística e lógico-matemática); 63 Manifestada por escultores, engenheiros, marinheiros, pintores, etc. 64 Manifestada por compositores, etc. 65 Manifestada por dançarinos, atletas, cirurgiões, artistas, etc. 66 Manifestada por professores, líderes religiosos, políticos, vendedores, etc. Sónia Maria Amado Barreira 66 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem intrapessoal (capacidade de formar um modelo preciso e mais consciente de si mesmo e utilizá-lo com eficiência na sua vida). Cada tipo de inteligência pode ser subdividido e funcionar em conjunto por forma a resolver problemas e admitir estados finais culturais (ocupações, passatempos, etc.) adequados ao espectro particular de inteligência de cada pessoa (Gardner, 2000, p.16). Assumindo a premissa de que “nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades [nem] aprendem da mesma maneira” (Gardner, 2000, p. 16) é muito importante admitir que a “escola centrada no indivíduo seria rica, na avaliação das capacidades e tendências individuais” (Gardner, 2000, p. 16), na adequação das áreas curriculares e nas maneiras particulares de ensino dependentes do perfil do aluno. Assim a escola procuraria não só observar capacidades a todos os níveis de inteligências e avaliá-los de acordo com os mesmos (Gardner, 2000, p. 16), como também: […] adequar os indivíduos aos vários tipos de vida e de opções de trabalho existentes em sua cultura; […] compreender, tão sensível e completamente quanto possível, as capacidades e interesses dos alunos; […] ajudaria a combinar os perfis, objectivos e interesses dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de aprendizagem. (Gardner, 2000, p. 16) Numa instrução em que a avalização do desempenho escolar se centra em testes padronizados QI e SAT, baseados num sistema de medida e selecção meritocrático que valoriza em primazia as capacidade verbal e lógico-matemática, a previsão do grau de sucesso escolar mediante os resultados é consideravelmente mais exacta no entanto no que diz respeito ao nível de desempenho numa profissão depois da instrução formal existem algumas incertezas (Gardner, 2000, p. 20). Neste sistema a inteligência é considerada “uma faculdade singular, utilizada em qualquer situação de resolução de problemas” (Gardner, 2000, p. 19), na descoberta de respostas para soluções específicas de modo rápido, eficiente e também uma “capacidade geral, encontrada em graus variáveis em todos os indivíduos” (Gardner, 2000, p. 20)67. Numa sociedade onde o senso comum restringe “a noção de inteligência às capacidades utilizadas na solução de problemas lógicos e linguísticos” (Gardner, 2000, p. 20) a margem de valorização a diferentes abordagens é reduzida. 67 A visão tradicional de inteligência insere-se “na noção de que a faculdade geral de inteligência, g, não muda muito com a idade ou com o treinamento ou experiência. […] é um atributo ou faculdade inata no indivíduo” (Gardner, 2000, p. 21). Sónia Maria Amado Barreira 67 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem De acordo com a teoria de Gardner a competência cognitiva humana descrita enquanto “um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais” (Gardner, 2000, p. 20) ou inteligências que todo o indivíduo normal possui mas em certa medida, grau de capacidade e natureza de combinação, é uma visão alternativa do conceito de inteligência que reflecte melhor o comportamento humano “inteligente” – a combinação de capacidades que envolve a capacidade de resolução de problemas, sejam do campo científico ou artístico, a criação de um produto cultural que “capture e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa” (Gardner, 2000, p. 21). Cada inteligência deve satisfazer critérios como: a capacidade de abordar situações e planificar estratégias de alcance de objectivos; a capacidade de resolver problemas ou construir resultados de um processo, relevantes num particular ambiente ou comunidade cultural; e a capacidade de gerar um produto cultural que compartilha conhecimento e expressa opiniões e sentimentos (Gardner, 2000, p. 21). Além disso, cada uma implica um conjunto de operações nucleares reconhecíveis, activado por tipos de informação internos ou externos, como por exemplo, “um dos núcleos da inteligência musical é a sensibilidade de determinar relações, ao passo que um dos núcleos da inteligência linguística é a sensibilidade aos aspectos fonológicos” (Gardner, 2000, p. 22). Por fim cada inteligência deve estar apta a reunir um sistema de símbolos ou “significados culturalmente criado, que captura e transmite formas importantes de informação” (Gardner, 2000, p. 22) – linguagem, pintura, matemática, etc. Normalmente as inteligências funcionam combinadas (Gardner, 2000, p. 22) e dependendo dos perfis pessoais dos indivíduos, no entanto pode acontecer manifestarem-se enquanto “potenciais puros, biológicos, […] ser vistos numa forma pura somente nos indivíduos que são, no sentido técnico, excêntricos” (Gardner, 2000, p. 15). Em seguida breve exposição das características particulares de cada inteligência e respectivos exemplos. A inteligência linguística evidencia-se através de um discurso eloquente em vocabulário, persuasão e discussão. Esta capacidade envolve um sistema gramatical Sónia Maria Amado Barreira 68 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem que integra a compreensão de palavras e frases e a construção de discursos. A linguagem é um dom universal que persiste em todas as culturas (Gardner, 2000, p. 25) evidenciando a necessidade inata do ser humano por comunicar e adaptar-se ao meio, socializar-se. Esta capacidade linguística de expressar os pensamentos por meio da linguagem seja pela fala ou escrita, pode ser desenvolvida através de actividades como: “repetir as ideias, utilizando palavras familiares; falar consigo próprio quando vê, ouve ou escreve; criar slogans, poemas ou mnemónicas auditivas; registar e ouvir o resumo das próprias anotações” (Guerra, 2000, p. 113). Aristóteles (384-322 a.C.) filósofo grego e discípulo de Platão, na sua obra manifestou conter esta capacidade de expressão de ideias que abarcam domínios diversos como a lógica, a natureza (biologia, física), o comportamento humano (ética, virtude, política, psicologia), a arte (retórica, estética, poética) e a metafísica (Rodríguez, 2008, p. 38; Copleston, 2004, p. 42). O seu espírito “analítico e sistemático, questionando tudo e procurando sempre os princípios essenciais de cada área do conhecimento” (Allen, 1996, p. 100) permaneceu na memória dos outros por aquilo que transmitia em diálogo, ou caminhando enquanto ensinava os seus discípulos na escola que fundou “perto do rio Ilisso, a leste de Atenas, junto de um bosque consagrado a Apolo Lício” (Copleston, 2004, p. 24). O “centro de broca” é uma área específica do cérebro importante para o desempenho desta capacidade (Gardner, 2000, p. 25). A inteligência lógico-matemática manifesta-se na tendência de “procurar explicações lógicas para as coisas” (Guerra, 2000, p. 113) e privilegia “actividades estruturadas e planeadas, com uma definição clara do objectivo de cada fase” (Guerra, 2000, p. 113) que integram exercícios de dedução, lógica, cálculos matemáticos, jogos e puzzles. Esta capacidade pode ser desenvolvida através de alguns exercícios como: “análise detalhada, passo a passo; exploração da sequência lógica do que é apresentado ou vai apresentar; listar os pontos-chave sequencialmente; organizar e classificar a informação: efectuar comparações por contraste ou semelhança; criar gráficos sequenciais” (Guerra, 2000, p. 113). Sónia Maria Amado Barreira 69 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A inteligência usufrui de um mecanismo de resolução de problemas que evidencia uma natureza não-verbal, “a solução de um problema […] construída antes de ser articulada” (Gardner, 2000, p. 25) por meios que a consigam descrever. Descobertas do tipo “heúreka” surgem como resultado de pesquisas com numerosas variáveis, hipóteses e avaliações (Gardner, 2000, p. 25). O facto de a solução surgir num instante iluminado nada tem de misterioso (devido ao background de investigação), apesar de parecer, tal como sucedeu com Arquimedes (287-212 a.C.) durante o seu banho que daria origem ao princípio hidrostático. Galileu Galilei (1564-1642), astrónomo e matemático italiano, foi um excepcional pensador lógico-matemático que “construiu o primeiro telescópio eficaz, que usou para provar que a Terra se movia à volta do Sol” (Allen et al., 1996, p. 531), teoria conjecturada precedentemente por Nicolau Copérnico. Esse óculo foi a ferramenta auxiliar que permitiu a Galilei realizar descobertas astronómicas como “a dos satélites de Júpiter (planetas dos Médicis), as fases de Vénus, os mares da Lua, as manchas do Sol” (Masini, 1979, p. 140). Um exemplo desta inteligência no seu estado “puro”, não combinado, manifesta-se nos “savants” que conseguem realizar cálculos matemáticos impressionantes apesar da sua deficiência na maioria das outras áreas (Gardner, 2000, p. 25). A inteligência espacial é manifesta na apreciação por actividades que exploram meios de aprendizagem que envolvam desenhos, esquemas gráficos, cartazes, imagens fotográficas, slides, vídeos e filmes, que implicam exercícios de observação, registo gráfico, composições de expressão artística – pintura, escultura, audiovisual - histórias visuais (banda desenhada), exposições, etc. Esta inteligência pode ser desenvolvida através de actividades como: “fazer desenhos; desenhar o mapa do pensamento; ilustrar as próprias anotações; fazer esquemas, gráficos ou diagramas; utilizar a cor, os sombreados, os sublinhados, os negritos; criar imagens mentais dos conteúdos apresentados ou a apresentar” (Guerra, 2000, p. 113). Daniel Libeskind, arquitecto polaco, naturalizado norte-americano, na expressão formal das suas composições arquitectónicas e complexidade poética inerente, evidencia esta inteligência espacial na qualidade formal e fenomenológica dos espaços que integram a expressão arquitectónica acutilante tão característica na Sónia Maria Amado Barreira 70 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem estrutura e significação constituintes das suas obras. No seu extenso repertório de composições arquitectónicas o Museu Judaico de Berlim terá sido o primeiro e mais notável projecto do início da sua longa carreira. Segundo o curso da evolução do cérebro a área de processamento linguístico estabeleceu-se no hemisfério esquerdo (nas pessoas destras), enquanto que o hemisfério direito tornou-se crucial para o processamento espacial (Gardner, 2000, p. 26). Quando a percepção visual (que desempenha um papel importante no que diz respeito à inteligência espacial) é afectada por uma deficiência, como no caso dos cegos, o raciocínio espacial reconhece as formas dos objectos por meio de um método indirecto, através do sentido do tacto, que traduz a duração do movimento, fazendo equivaler “o sistema perceptivo da modalidade táctil […] à modalidade visual” na pessoa que vê (Gardner, 2000, p. 26). Existem também casos de pessoas que apesar de demonstrarem habilidade no campo visual carecem de desenvolvimento na maioria das outras áreas, como por exemplo na pessoa com severo autismo que desenhe com grande precisão e destreza (Gardner, 2000, p. 26). A inteligência musical expressa-se através da sensibilidade auditiva para ritmos, sons e música (Guerra, 2000, p. 114). Através destes três elementos o indivíduo adquire conhecimentos e expressa os seus sentimentos. A aprendizagem pode ser optimizada neste caso por meio de informação cantada ou quando envolvida com música ambiente, memorizada recorrendo-se dos sons e do ritmo das palavras, jogos com os sons das palavras, ritmos e melodias. Esta inteligência pode desenvolver-se através da “utilização de música de fundo; ao ouvir o conteúdo apresentado ou a apresentar como uma música melodiosa; cantar o conteúdo de forma ritmada (pode-se utilizar uma música que já se conhece ou mesmo inventar uma)” (Guerra, 2000, p. 114). Uma pessoa que contenha em si uma tendência biológica em determinado sistema evidencia rápidos progressos nessa área. Yehudi Menuhin, violinista e músico internacional desde os 10 anos, é exemplo na “evidência das crianças-prodígio [apoiada no] vínculo biológico a uma determinada inteligência” (Gardner, 2000, p. 22). Sónia Maria Amado Barreira 71 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) prodigioso compositor austríaco, integrado desde tenra idade, num ambiente familiar muito ligado ao mundo da música (seu pai quarto violino da orquestra do príncipe-arcebispo von Firmian, compositor da corte e vice-mestre de capela, e seu avô materno cantor e director de coro) começa a dedilhar um cravo em busca de notas harmoniosas aos três anos e aos seis compõe suas primeiras obras antes mesmo de saber escrever (Parouty, 1991, p. 14 - 17). Ao longo da sua vida elaborou mais de 600 composições, “incluindo mais de 60 sinfonias, 27 concertos para piano, 23 quartetos de cordas e várias óperas [As bodas de Fígaro, Don Giovanni, A flauta mágica]” (Allen et al., 1996, p. 355). Áreas importantes para o funcionamento desta capacidade musical circunscrevem-se no hemisfério direito do cérebro por este integrar áreas importantes da percepção e produção de música (Gardner, 2000, p. 23). A capacidade musical pode considerar-se uma inteligência independente pelo facto de, por exemplo, em casos excepcionais, comprovar-se a habilidade de alguns autistas (que não conseguem falar) conseguirem tocar admiravelmente um instrumento musical (Gardner, 2000, p. 22-23). A inteligência corporal-cinestésica revela-se numa resolução incorporada no movimento, no toque, na expressão de uma emoção (por exemplo, na dança), durante a participação num jogo de qualquer modalidade desportiva, no desempenho de uma tarefa (como enfiar uma linha numa agulha) ou quando se mimetiza alguém (Guerra, 2000, p. 113): […] a capacidade de usar o próprio corpo para expressar uma emoção (como a dança), jogar um jogo (como num desporto) ou criar um novo produto (como no planeamento de uma invenção) é uma evidência dos aspectos cognitivos do uso do corpo. (Gardner, 2000, p. 24) Um aspecto particular de comportamento de uma pessoa com esta capacidade reside na necessidade de intervalos frequentes no desempenho de actividades que não envolvam a componente física (Guerra, 2000, p. 113). Existem exercícios que podem ajudar a desenvolver este género de inteligência, como por exemplo: […] dramatizar, interpretando diversos personagens e fazendo acompanhar a dramatização de diversos movimentos; imaginar na prática, fazer, utilizar em acção os conteúdos apresentados ou a apresentar; movimentar-se, andar, reflectir sobre Sónia Maria Amado Barreira 72 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem conteúdos; tomar notas, reforçando o lado prático dos conteúdos; ter na mão um objecto que se manuseia enquanto se ouvem os conteúdos; acompanhar aquilo que se pretende memorizar com movimentos corporais. (Guerra, 2000, p. 114) A região cerebral do córtex motor é a área do cérebro que controla os movimentos necessários ao uso e expressão do corpo (Gardner, 2000, p. 23). Bruce Lee (1940-1973) praticante da arte marcial chinesa gung fu (Kung fu), instrutor, actor e realizador, foi uma das mais influentes e emblemáticas personalidades do mundo das artes marciais e dos filmes de acção. Iniciou a prática do gung fu aos 13 anos, instruído pelo seu mestre Yip Man conhecedor do estilo Wing Chun de gung fu (Bruce Lee Action Museum, 2013). Ao longo dos seguintes dezanove anos, partindo do conhecimento adquirido durante o ensino supervisionado por Yip Man, transformou o domínio dos seus conhecimentos numa ciência, arte e filosofia de vida (Lee, 2007, p. 4). “He trained his body through exercise and practice; he trained his mind through reading and reflecting and he recorded his thoughts and ideas constantly” (Lee, 2007, p. 4)68, reflexões das quais se encontram descritas no seu livro Tao of Jeet Kune Do. O seu desenvolvimento extraordinário no domínio da sua inteligência corporalcinestésica foi notável e ainda hoje é recordado pelo seu exceptional talento manifesto. A inteligência interpessoal revela-se na “capacidade nuclear de perceber distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções” (Gardner, 2000, p. 27). No caso de alguém ser muito empático, comunicativo, apreciar processos de aprendizagem por interacção/cooperação e compreender as intenções e desejos até irreveláveis dos outros, demonstra uma apurada orientação interpessoal. Para estas pessoas a aprendizagem torna-se essencial assim que incorpora níveis de relevância social e pertinência filantrópica. É possível desenvolver esta capacidade a partir de actividades como: “trabalho em equipa; discutir ideias com outra pessoa; ensinar outras pessoas; verificar o que as ideias trazem de bom ou de mau” (Guerra, 2000, p. 114). 68 “Ele treinou o seu corpo através do exercício e da prática; ele treinou a sua mente através da leitura e reflexão e ele gravou os seus pensamentos e ideias constantemente”. (Tradução nossa). Sónia Maria Amado Barreira 73 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Anne Sullivan foi uma professora com forte capacidade interpessoal que conseguiu instruir Helen Keller, uma criança de 7 anos, cega e surda com profundos problemas emocionais por não compreender o mundo que a circundava. Só partindo do entendimento do estado de cegueira e surdez, motivações e comportamentos de Keller, é que Sullivan pôde alcançar estratégias educativas que permitiram a Keller atingir a linguagem: a “chave para [este] milagre […] foi o entendimento de Anne Sullivan da pessoa Helen Keller” (Gardner, 2000, p. 27). Disciplinar e controlar Helen sem reprimir o seu espírito, foi o princípio primordial na atitude interpessoal de Sullivan. A área cerebral de relevo no que diz respeito ao desempenho desta capacidade interpessoal incide nos lobos frontais (Gardner, 2000, p. 27). A inteligência intrapessoal consiste na capacidade em compreender aspectos internos como “o acesso ao sentimento da própria vida, à gama das próprias emoções, à capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento” (Gardner, 2000, p. 28). A capacidade intrapessoal tal como a capacidade interpessoal são fundamentais na resolução de problemas significativos respectivos ao senso do eu e deste na relação com os outros. É na manifestação e interacção entre as outras inteligências (que envolvem a linguagem, a música ou outros sistemas) que esta capacidade mais privada adquire forma ou evidência (Gardner, 2000, p. 28). Os lobos frontais são áreas do cérebro implicadas na mudança de personalidade (Gardner, 2000, p. 28). Fernando Pessoa (1888-1935) é exemplo de alguém que demonstra bem esta capacidade de reflexão interior sobre si e o seu mundo. Através da sua escrita transmitiu o seu próprio conhecimento intrapessoal. Em Páginas Íntimas e de AutoInterpretação, Pessoa cumpre uma complexa reflexão de si (Pessoa, 2008), de que espécie de homem é, seu carácter e espírito hesitante, em dúvida e incerteza na incoerência do mistério de tudo em torno de si, ou perdido no seu interior onde os pensamentos atravessam-no num infinito de associações de ideias e contradições da alma: “Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas” (Pessoa, 2008). Sónia Maria Amado Barreira 74 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A capacidade intrapessoal apresenta-se prejudicada quando se trata de uma pessoa autista incapaz de referir-se a si mesma, apesar de poder demonstrar capacidades notáveis “nos domínios musical, computacional, espacial ou mecânico” (Gardner, 2000, p. 29). A teoria das inteligências múltiplas considera plural a habilidade que o ser humano possui para solucionar problemas. Cada problema insere-se num determinado contexto. A resolução reside no malabarismo entre as capacidades (que compõem o repertório particular de cada indivíduo) com o intuito de gerar produtos culturalmente significativos (Gardner, 2000, p. 29). Esta teoria “desenvolvida como uma explicação da cognição humana que pode ser submetida a testes empíricos” (Gardner, 2000, p. 30), considera a extrema relevância na avaliação da combinação particular de capacidades de um indivíduo de modo a identificar a sua possível vocação e adequação a determinado papel na sociedade, salientando precisamente que “cada papel cultural, seja qual for seu grau de sofisticação, requer uma combinação de inteligências” (Gardner, 2000, p. 30). Por exemplo o perfil de um violinista admite não somente uma inteligência musical, mas requer paralelamente destreza corporal-cinestésica, capacidades interpessoais (para relacionar-se com os seus mentores, audiência, empresários) e intrapessoais (Gardner, 2000, p. 30) para transmitir as suas emoções através do desempenho interpretativo. No caso de uma bailarina, o seu perfil requer capacidades em graus variados nas inteligências corporal-cinestésica, musical, interpessoal e espacial (Gardner, 2000, p. 30). No caso de um arquitecto, o seu perfil “requer capacidades na inteligência espacial, lógico-matemática, corporal-cinestésica e interpessoal, em graus variados” (Gardner, 2000, p. 79). Cada inteligência atravessa quatro estágios de desenvolvimento (Gardner, 2000, p. 31). O primeiro estágio69 caracteriza-se pela capacidade pura de padronizar70, no segundo estágio a inteligência manifesta-se através da aplicação de um sistema 69 “A inteligência „pura‟ predomina no primeiro ano de vida” (Gardner, 2000, p. 31), isto é, qualquer inteligência no seu estado mais singular, que funciona independente sem interacção com outra, tem elevado domínio no decurso do primeiro ano de vida. 70 Por exemplo, “capacidade de diferenciar tons na inteligência musical ou de apreciar arranjos tridimensionais na inteligência espacial” (Gardner, 2000, p. 31). Sónia Maria Amado Barreira 75 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem simbólico71, no terceiro estágio (incidente no meio formal educativo), cada inteligência (acompanhada pelo seu distinto sistema simbólico) é representada num sistema notacional72, no quarto estágio, a inteligência expressa-se no âmbito das actividades profissionais e de passatempos73. Portanto cada inteligência corresponde inicialmente a um potencial biológico que “se expressa como o resultado da interacção dos factores genéticos e ambientais” (Gardner, 2000, p. 78) e evolui para um segundo estágio evolutivo onde deixa de expressar-se na sua forma pura para funcionar interagindo, progressivamente ao longo do seu desenvolvimento, com outras inteligências nos diversos sistemas simbólicos, notacionais e papéis culturais de qualquer domínio ou campo. As inteligências são um constructo biopsicológico, organizam os “recursos cognitivos em virtude dos quais um indivíduo pode efectuar alguma conexão significativa em uma área de conteúdo” (Gardner, 2000, p. 78) de um domínio do conhecimento. O ser humano possui todas as inteligências só que em variados graus (Gardner, 2000, p. 31). Para as crianças que manifestem grau médio ou baixo em determinada inteligência deverão ser bem orientadas para que seu potencial possa expandir: a “intervenção intensiva numa idade inicial talvez possa levar um grande número de crianças a um nível “promissor” (Gardner, 2000, p. 32). Um aluno é considerado promissor74 numa inteligência quando este manifesta capacidades e habilidades essenciais concomitantes, a um grau elevado (Gardner, 2000, p. 31). Nestes casos o desenvolvimento de uma inteligência pode iniciar-se precocemente ou de forma gradual dependendo do tipo de inteligência, por exemplo, a matemática e a música 71 Por exemplo as capacidades são reveladas através de um produto (por exemplo uma frase) que expressa o nível de compreensão de um sistema simbólico (linguagem): “a música através das canções, o entendimento espacial através dos desenhos, a corporal-cinestésica através dos gestos ou dança” (Gardner, 2000, p.31). 72 Por exemplo considerando a inteligência musical numa aula de música o sistema simbólico base é a música de uma canção ou sons que ela transmite, no entanto a exigência para a progressão na aprendizagem neste estágio reside na compreensão de um sistema simbólico de segunda ordem, a notação musical – representação gráfica e simbólica da figura e do valor de cada nota musical que compõe a canção. 73 A progressão das inteligências até este estágio, incidente na adolescência e idade adulta, culmina no desempenho de uma função profissional ou de lazer onde se aplicam as capacidades desenvolvidas: “a inteligência espacial passa dos mapas mentais do bebé para as operações simbólicas necessárias nos desenhos e nos sistemas notacionais dos mapas e para os papéis adultos de navegador, jogador de xadrez e topógrafo” (Gardner, 2000, p. 31). 74 Um indivíduo sendo promissor em um domínio em que as inteligências figurem, é considerado talentoso - que evidencia um sinal de potencial biopsicológico precoce, num dos domínios existentes numa cultura (Gardner, 2000, p. 50). Se o talento alcança um grau extremamente elevado num domínio transita-se para o nível de prodígio (Gardner, 2000, p. 51). Sónia Maria Amado Barreira 76 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem geralmente surgem precocemente no desempenho de crianças talentosas, no entanto as inteligências pessoais, comparativamente, aparecem mais gradualmente (Gardner, 2000, p. 32). O desempenho notável de habilidades em uma área não implica realização excepcional noutra (Gardner, 2000, p. 32). A instrução, tomando sempre em consideração os estágios de desenvolvimento dos alunos, deverá proporcionar oportunidades de descoberta de interesses e capacidades peculiares, apropriar formas de ensino adequadas que beneficiem a aprendizagem do aluno e se adaptem ao seu perfil, “orquestrar a conexão entre o conhecimento prático e o conhecimento corporificado em sistemas simbólicos e notacionais” (Gardner, 2000, p. 32), ajudar na escolha de uma carreira tendo em conta quais inteligências interagem nos papéis culturais que o aluno põe em hipótese, examinar a compatibilidade do seu perfil e proporcionar estágios supervisionados envolvendo-o mais concretamente no papel da sua escolha, e por fim oferecer uma instrução que não se focalize somente nas capacidades linguísticas e lógicas. Para este sistema pedagógico, “que pressupõe o exacto entendimento do perfil das inteligências de cada aluno” (Gardner, 2000, p. 33), torna-se fundamental: um meticuloso procedimento de avaliação que permita determinar a inteligência tendencial do aluno e seu perfil de inteligências, testando uma extensa proporção das suas capacidades intelectuais através de resoluções de problemas ou da elaboração de produtos (por meio de uma variedade de materiais75 associados às inteligências em causa), para poder identificar forças e dificuldades, mediante as quais aplicar o ajustamento da instrução e da informação ao estágio específico de desenvolvimento do aluno e propor rotas alternativas de instrução que permitam a aprendizagem e progressão partindo da força auxiliadora já presente, usufruindo dela como meio auxiliar para superar as dificuldades manifestadas76; em conclusão obter dados que elucidem o aluno em consciência de si próprio e das suas capacidades, a tomar escolhas de carreira e passatempos adequados ao seu perfil. Os testes deste género de avaliação “dependem de materiais, equipamentos, entrevistas […] para criar os problemas a serem resolvidos; […] os resultados são 75 Por exemplo, se o problema pressupõe uma composição musical para piano, o material em questão seria a notação musical e o instrumento musical – o piano. 76 Por exemplo se as dificuldades centram-se na aprendizagem da matemática, a rota alternativa para instruir nesse domínio talvez por hipótese seja instruir através de relações espaciais. Um outro exemplo pode suster-se nas técnicas linguísticas para o caso de existirem dificuldades de aprendizagem no domínio da música (Gardner, 2000, p. 33). Sónia Maria Amado Barreira 77 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem relatados como parte do perfil de inclinações intelectuais de um indivíduo” (Gardner, 2000, p. 34) e como indicadores de alternativas auxiliares de aprendizagem na comparação de potencialidades e dificuldades manifestadas, tomando consciência de modos de compensação de fraquezas intelectuais ou combinação de forças intelectuais. Esta abordagem de avaliação contrasta com os tradicionais testes de medida de “inteligência” que dependem de folhas de enunciado e avaliam através do cálculo de um “índice de inteligência ou classificação dentro da população” (Gardner, 2000, p. 34). Gardner diferencia “inteligência como um potencial biopsicológico; o domínio como a disciplina ou ofício praticados numa sociedade; e o campo, o conjunto de instituições e juízes que determinam quais são os produtos dentro de um domínio que merecem mérito” (Gardner, 2000, p. 39). Por exemplo, um domínio (astrofísica) requer inteligências (espacial, lógico-matemática, etc.) e estas tanto possuem processos psicológicos concomitantes (processamento lógico-matemática, espacial, etc.) como desdobram-se em outros domínios (astronomia). O domínio lida com conteúdos específicos (problemas físico/matemáticos) e exige soluções ou produtos (viagens e lançamentos espaciais de dispositivos de navegação e exploração – telescópios, robôs interactivos, satélites) que são admitidos no seu campo (NASA77, astrofísicos, engenheiros, matemáticos, físicos teóricos, etc.). Portanto a inteligência é considerada por Gardner enquanto potencial biopsicológico inerentemente universal no exercício de um conjunto de faculdades intelectuais que evoluem e desenvolvem-se em determinados domínios particulares interactuantes com conteúdos específicos e processos psicológicos concomitantes. As faculdades (por exemplo a memória ou a percepção), utilizadas em cada inteligência (espacial e musical para dar um exemplo comparativo) podem evidenciar forças ou modos de operar diferentes concordantes com a constituição ou perfil do aluno. Um exemplo disso é uma criança que apresente “um estilo num tipo de informação (assim como ser impulsiva no domínio da música) ao mesmo tempo em que apresenta um estilo contrastante com uma outra informação (assim como ser reflexiva quando está montando um quebra-cabeças)” (Gardner, 2000, p. 45). Por isso 77 Sigla de National Aeromautics and Space Administration, agência do Governo dos Estados Unidos da América, encarregue da pesquisa e do desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial. Sónia Maria Amado Barreira 78 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem é importante determinar que estilos de aprendizagem estão ligados a determinados tipos de conteúdos (linguagem, números, etc.) e mais de acordo com a singularidade do aluno (Gardner, 2000, p. 45). Gardner para além de rejeitar a imprecisa afirmação de Benjamin Bloom de que “o que determina totalmente a capacidade é o treinamento” (Gardner, 2000, p. 47) acrescenta que deve-se considerar que “os factores genéticos estabelecem algum tipo de limite para o grau em que uma inteligência pode ser realizada ou modificada” (Gardner, 2000, p. 47) bem como as oportunidades de exploração de materiais correspondentes ao domínio intelectual que integra essa capacidade e a influência da cultura circundante sobre o seu desenvolvimento ou “grau em que o potencial intelectual de um indivíduo é realizado” (Gardner, 2000, p. 47). Também questiona “a noção de que todos os indivíduos chegam equipados com predisposições exactamente equivalentes em cada área” (Gardner, 2000, p. 47) até porque a evidência nas forças ou capacidades que se desenvolvem mais em determinada área em oposição a outra é visível nos produtos que resultam mais frequentes e correspondentes à área onde reflecte a predisposição78 e acrescenta que não pode ser colocado de parte o facto de poderem existir génios com inteligências de graus elevados equivalentes entre si, mas que constituem exemplos de casos representativos de uma minúscula minoria (Gardner, 2000, p. 47-48). No que respeita ao valor artístico que pode associar-se a uma inteligência deve-se considerar que “nenhuma inteligência é inerentemente artística ou não artística" (Gardner, 2000, p. 46), isto é: 1) a inteligência funciona artisticamente (ou não) dependendo da forma como são exploradas determinadas propriedades do sistema simbólico que a constituem, por exemplo, se a linguagem for aplicada de uma maneira básica funcional e expositiva como no texto descritivo de um folheto informativo de um qualquer medicamento, a linguagem não está a ser aplicada de uma forma estética mais complexa, isto é, artística, imbuída de expressividade metafórica ou sonoridade nas palavras empregues nas estrofes de um poema ou canção; 2) a consideração do valor artístico sustém da decisão ou julgamento de valor tomados pelo indivíduo e/ou entidades do campo cultural, por exemplo, o facto de um indivíduo decidir aplicar uma abordagem poética num qualquer domínio de sua escolha (seja na arquitectura 78 Por exemplo, seria insensato por parte de Leopoldo, pai de Wolfgang Mozart, não instruir o seu filho no domínio da música visto que este logo desde cedo mostrou predisposição ou potencial ao nível da inteligência musical. Essa predisposição foi confirmada pela quantidade de obras que elaborou (mais de 600 composições), produto correspondente a um mesmo domínio – a música. Sónia Maria Amado Barreira 79 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem através da expressão de um conceito ordenador conceptual de um projecto, ou na linguagem através da expressão de um poema, etc.) ou de um indivíduo identificar o talento na expressão de outrem num determinado domínio, como o reconhecimento do génio na expressão poética da escrita de outrem, tal como fez João Gaspar Simões79 “tendo reconhecido o génio de Pessoa quando este ainda era um ilustre desconhecido para as massas, em Portugal e no mundo” (Simões, 2011). 3.2.2.2. TEORIA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL No seu livro Frames of Mind, Gardner contesta a “maneira de pensar QI”80, expressa a sua visão caleidoscópica sobre a inteligência e descreve a amplitude do intelecto. No entanto, no seu estudo das inteligências múltiplas “enformado pelo modelo de mente da ciência cognitiva” (Goleman, 1996, p. 60) não perscruta com maior pormenor a magnitude do papel das sensações, inerente às inteligências pessoais, focando-se mais na cognição dos sentimentos (Goleman, 1996, p. 60). Outros teóricos complementaram essa lacuna discernindo sobre o papel do sentimento sobre o pensamento, conjecturando sobre a presença de inteligência nas emoções ou nelas poder incluir a inteligência (Goleman, 1996, p. 60), um dos quais, Peter Salovey, psicólogo de Yale, interrogou-se precisamene sobre a possibilidade de existência e transferência de inteligência sobre as emoções. Adopta em conjunto com Robert Sternberg, também psicólogo de Yale, a visão de inteligência preceituada à persecução do êxito (Goleman, 1996, p. 50). Concordando com Gardner sobre a “maneira de pensar QI” limitar-se a aptidões linguísticas e matemáticas, enquadrando seu conceito a um “bom indicador de êxito na escola” não tanto fora dela, Salovey, redefiniu as inteligências pessoais, e propôs pela primeira vez o modelo de inteligência emocional81. Delineou cinco domínios principais (Goleman, 1996, p. 63): a autoconsciência emocional (reconhecimento da emoção sentida), gestão emocional (autocontrolo e orientação das emoções), motivação pessoal (mobilização das emoções segundo objectivos), reconhecimento da emoção nos outros (abrangendo a percepção empática) e gestão de relacionamentos 79 Primeiro biógrafo de Fernando Pessoa. 80 Considera que “as pessoas são ou não são inteligentes, que nasceram assim, que não se pode fazer grande coisa a esse respeito e que os testes apropriados nos dizem se pertencemos ao grupo dos inteligentes ou dos estúpidos. O SAT, para a admissão à universidade, baseia-se na mesma noção de um tipo único de aptidão que determina o nosso futuro” (Goleman, 1996, p. 58). 81 Peter Salovey e John D.Mayer, Emotional Intelligence, Imagination, Cognition, and Personality , 1990, pp.185-211. Sónia Maria Amado Barreira 80 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem (implicada na interacção com terceiros e na adequação de competências sociais e aptidões específicas). A visão científica acerca do intelecto começa assim a reconhecer que o domínio das emoções transcende a linguagem e cognição, subjuga e guia a racionalidade através do sentimento: Aos modelos predominantes entre os cientistas cognitivistas de como a mente processa a informação tem faltado o reconhecimento de que a racionalidade é guiada – e muito frequentemente subjugada – pelo sentimento. […] Esta visão científica distorcida de uma vida mental emocionalmente plana – que tem guiado a pesquisa sobre a inteligência durante os últimos oitenta anos – está gradualmente a alterar-se à medida que a psicologia começa a reconhecer o papel essencial do sentimento no pensamento. (Goleman, 1996, p. 61) Portanto QI e inteligência emocional são competências separadas no entanto um psicólogo da Universidade da Califórnia chamado Jack Block, terá partido de um pressuposto que “toda a gente possui simultaneamente inteligência cognitiva e inteligência emocional” (Goleman, 1996, p. 65), porque este fez uma análise comparativa de dois tipos puros teóricos: QI elevado puro versus alta aptidão emocional, com o intuito de compreender o retrato dos extremos das duas dimensões cognitiva e emocional e seu distinto contributo nas capacidades entre os géneros82. 3.2.2.2.1. GESTÃO EMOCIONAL A metacognição, segundo Goleman (1996, p. 66) é a palavra usada pelos psicólogos para significar a consciência das emoções pessoais. Este no entanto prefere o uso da palavra autoconsciência emocional (Goleman, 1996, p. 66), um dos cinco domínios principais da inteligência emocional, é a consciência do sentimento que se possui no momento que conduz a um estado psíquico. É uma consciência auto-reflexiva que analisa e discerne sobre a experiência, que observa enquanto uma “linha de 82 Homem, tipo QI elevado puro, caracteriza-se por um largo espectro de interesses e capacidades intelectuais. Revela-se “ambicioso e produtivo, previsível e obstinado, [despreocupado]. […] crítico e condescendente, fastidioso e inibido, […] inexpressivo e desligado, emocionalmente amorfo e frio” (Coleman, 1996, p. 65). Homem de elevada inteligência emocional caracteriza-se enquanto extrovertido, alegre, socialmente ajustado, despreocupado, dedicado às pessoas e a causas, compreensivo, carinhoso, valoriza sua pessoa, os outros e o seu meio social. Mulher, tipo QI elevado puro, caracteriza-se por ser intelectualmente confiante e interessada, fluente no seu discurso, introspectiva, ansiosa, cogitativa, autocrítica, hesitante em exprimir a ira. Mulher de elevada inteligência emocional caracteriza-se por ser extrovertida, sincera, expansiva, gregária, sociável, confiante, espontânea, não ansiosa, etc. Sónia Maria Amado Barreira 81 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem consciência paralela […] pairando por cima ou perto do fluxo principal, consciente do que se está a passar mas não imersa e perdida nos acontecimentos” (Goleman, 1996, p. 67). John Mayer, psicólogo da Universidade de New Hampshire, considera que a autoconsciência ou “consciência tanto do nosso estado de espírito como dos nossos pensamentos a respeito desse estado de espírito” (Goleman, 1996, p. 67) contém uma sensibilidade vigilante que poderá ser menos imparcial, que paira sobre os acontecimentos, talvez seja uma linha de consciência paralela que quando reconhece o estado de espírito tenderá a influenciar para a mudança: Embora haja uma diferença lógica entre ter consciência dos sentimentos e agir no sentido de alterá-los, Mayer pensa que, […] andam geralmente a par: reconhecer um estado de espírito negativo é querer ver-se livre dele. Este reconhecimento é, todavia, diferente dos esforços que fazemos para nos impedirmos de agir sob a influência de impulsos emocionais. […] A autoconsciência tem um efeito mais poderoso sobre sensações fortes, […] a admissão “é raiva o que estou a sentir” proporciona um grau muito maior de liberdade – não apenas a opção de não agir levado por esse sentimento, mas a opção adicional de tentar livrar-se dele. (Goleman, 1996, p. 67-68) Mayer distinguiu três grupos principais de reacções de confronto e gestão emocional perante emoções pessoais (Goleman, 1996, p. 68): autoconsciente (consciência sobre a emoção que possui no momento preciso, clareza analítica perante as emoções sentidas, autodeterminação, optimismo, confiança perante limites pessoais e atenção sobre as emoções); imersão (consciência imprecisa sobre a emoção sentida, absorto estado subjugado da mente dominada pela emoção incapacitante, descontrolo emocional, instabilidade e desorientação num estado negativo, inabilidade de insurgir contra o mesmo), aceitante (consciência sobre a emoção sentida e aceitação subserviente ao estado de espírito insurgente, caracterizada em dois tipos: subsiste num estado positivo que desvaloriza a necessidade de mudança ou submissão passiva a um estado negativo incontestado). A autoconsciência emocional sustém-se em capacidades neurológicas de detecção precisa dos impulsos da emoção (Goleman, 1996, p. 74). A tendência introspectiva poderá depender dos circuitos pré-frontais responsáveis pela sintonização aos modos simbólicos da mente emocional – lógica poética do mito, do sonho, da fábula, da canção, do verso e prosa, da metáfora e do sorriso (Goleman, 1996, p. 74). Essa lógica inerente à narrativa baseia-se num método de associações livres orquestrado pela consciência emocional correspondente com a “sabedoria do inconsciente” e seus significados e símbolos mais que profundos correlativos às aspirações pessoais (Goleman, 1996, p. 74). Sónia Maria Amado Barreira 82 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A transposição da emoção sobre o limiar da consciência nem sempre se processa ou se manifesta de imediato, podendo permanecer por entre o substrato do inconsciente até adquirir consistência suficiente para emergir ao nível da consciência: Uma emoção pode ser – e frequentemente é – inconsciente. […] O início fisiológico de uma emoção ocorre tipicamente antes de a pessoa se aperceber conscientemente do 83 próprio sentimento . […] À medida que [as] agitações emocionais pré-conscientes se vão acumulando, acabam por tornar-se suficientemente fortes para subirem ao nível da 84 consciência . (Goleman, 1996, p. 75) Portanto a emoção atravessa dois níveis, o plano inconsciente e consciente. Entre o substrato do inconsciente a emoção sustem-se influente sobre a consciência sem que esta tenha total conhecimento desse facto85 (Goleman, 1996, p. 75). O domínio da emoção é soberano até ao momento de transferência para o nível consciente, adquirindo assim registo de presença e matéria concreta para análise consciente da sua natureza. A autoconsciência emocional insurge sobre a emoção e avalia o impacto desta sobre o estado de espírito; caso este seja negativo, a eliminação dessa influência destrutiva torna-se possível através da sua transformação para um estado positivo. 3.2.2.2.2. O PODER DAS EMOÇÕES Os pensamentos intrusivos, sitiantes e negativos, inclusivamente aqueles reflexivos sobre o momento, como “pensar demasiado no que está a acontecer […] „Isto está a correr maravilhosamente‟ ” (Goleman, 1996, p. 112), podem interromper o desempenho e estado de fluxo86 porque destabilizam a ordem da atenção, que deve manter-se focalizada, desprendida de ego. 83 Num estudo desenvolvido sobre o medo inconsciente sobre cobras descrito em Kagan, Galen´s Prophecy, demonstrou que pessoas com medo de cobras que visualizem a imagem de uma cobra de forma subliminar produzem sinais de ansiedade pré-consciente como o suor, detectados pelos sensores colocados na pele mas despercebidos de forma consciente (Goleman, 1996, p. 75). 84 Essa ascensão ocorre quando se processa o registo da emoção no plano da consciência sobre o córtex frontal (Goleman, 1996, p. 75). 85 Um acontecimento que cause agitação emocional pode influenciar a um estado psicológico negativo em outras situações subsequentes da rotina sem que a pessoa tenha conhecimento da correlação de influência, por exemplo, uma discussão parental pode influenciar o estado de irritação do aluno durante uma aula. 86 Designa um “estado de graça […], onde a excelência se consegue sem esforço, em que [tudo em volta desaparece e se estabelece uma] maravilhosa e continuada absorção no momento” (Goleman, 1996, p. 112). Sónia Maria Amado Barreira 83 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem As emoções aflitivas geradoras de elevada activação cortical prejudicam o alcance do estado de fluxo devido à diminuição da atenção provocada pelo excesso de informação e gasto de energia mental para além da necessária a despender para a tarefa em curso. Outros factores tais como os psicofisiológicos (por exemplo cansaço) podem gerar igualmente distracções e reacções improdutivas dispendiosas de energia, demonstradoras do “esbatimento da precisão do esforço cortical, com a activação supérflua de demasiadas áreas” (Goleman, 1996, p. 114). A interferência gerada pelas emoções negativas sobre o cérebro pensante subjuga e paralisa faculdades mentais necessárias ao correcto desempenho e execução de determinada actividade. O poder avassalador do cérebro emocional indominado pode gerar perturbações na mente, transpondo inclusivamente para o lado patológico no caso de sabotagem consecutiva por parte de sentimentos intrusivos incessantes87. Mesmo sem a transposição para o lado patológico, o cérebro emocional gera improdutividade se abalado por emoções negativas inibidoras da acção da “faculdade mental a que os cientistas cognitivos chamam „memória de trabalho‟, a capacidade de conservar na memória todas as informações pertinentes à tarefa entre mãos” (Goleman, 1996, p. 100). A capacidade de pensar correctamente sustém-se na eficiência da memória de trabalho - função executiva por excelência, realizada no córtex pré-frontal88, que possibilita restantes esforços intelectuais (Goleman, 1996, p. 100). A memória de trabalho apresenta um défice de eficácia sempre que os “circuitos límbicos que convergem no córtex pré-frontal estão sob o domínio de uma aflição emocional” (Goleman, 1996, p. 100). A motivação pode ser uma ferramenta auxiliar importante na reconversão desses sentimentos desajustados aos objectivos da realização pretendida. As realizações significativas exigem treino rigoroso e empenhado, esforços adequados, traços emocionais positivos coniventes com uma forte ética de trabalho que “traduz-se em mais motivação, mais zelo e mais persistência – numa vantagem emocional” (Goleman, 1996, p. 101). 87 Como “no caso dos clinicamente deprimidos, os pensamentos de autocomiseração e desespero, de desesperança e impotência abafam todos os outros” (Goleman 1996, p. 100). 88 Local do cérebro onde se processam transmissões sinápticas relativas a sentimentos e emoções (Goleman 1996, p. 100). Sónia Maria Amado Barreira 84 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem As emoções de certo modo são omnipotentes, influentes sobre a maioria das capacidades mentais89, sobre a natureza mental congénita, por definirem limites da capacidade de uso das aptidões mentais inatas, e sobre a motivação, por determinarem o estímulo de estados específicos, coadjuvantes ou não de realizações. 3.2.2.2.3. APTIDÃO MESTRA No confronto entre a experiência de vida e a consciência interior “a inteligência emocional é uma aptidão-mestra, uma capacidade que afecta profundamente todas as outras faculdades, quer facilitando-as, quer interferindo com elas” (Goleman, 1996, p. 101), modelar a sua natureza de acordo com ideais é objectivar maior sucesso de integração e vivência. A modelação implica um certo autocontrolo emocional, domínio sobre o impulso de agir tendencial na própria natureza das emoções. A emoção é uma reacção psíquica e consequentemente física, que toma forma na atitude, face a uma circunstância ou objecto (Teixeira, 2004); segundo Goleman (1996, p. 310) é o sentimento e os raciocínios, estados psicológicos e biológicos, derivados dele. Ao nível das funções cerebrais, especula-se que resistir ao impulso de agir “traduz-se […] por uma inibição dos sinais límbicos dirigidos ao córtex motor” (Goleman, 1996, p. 102). Essa inibição pode advir de uma predisposição inata de maior controlo sobre os impulsos. Um estudo muito elucidativo acerca da capacidade de dominar as emoções e o adiamento de recompensas, iniciado pelo psicólogo Walter Mischel, concluiu que o grau de controlo demonstrado em tenra idade revela tendências comportamentais que se repercutem no futuro com consequências na capacidade de gestão e construção da qualidade da experiência de vida90. O estudo susteve que as manifestações comportamentais pueris no que respeita ao maior controlo da impulsividade reflectemse progressivamente “numa vasta gama de competências sociais e emocionais à medida que o tempo passa” (Goleman, 1996, p. 103): […] socialmente mais competentes: pessoalmente eficientes, afirmativos, mais capazes de fazer face às frustrações da vida. […] menos propensos a ceder ao desânimo, ficar 89 Como por exemplo a capacidade de pensar, planear, cumprir, resolver problemas, etc. 90 O estudo foi desenvolvido nos anos 60 na escola pré-primária integrada na Stanford University e acompanhou crianças desde os seus quatro anos de idade até ao fim do seu ensino secundário. Este estudo encontra-se relatado em Yuichi Shoda, Walter Mischel e Philip K. Peake, «Predicting Adolescent Cognitive and Self-regulatory Competencies From Preschool Delay of Gratification», Development Psychology 26, 6, 1990, p.978-86. Sónia Maria Amado Barreira 85 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem paralisados, encolher-se em situações de stress ou perder a cabeça sob pressão; [aceitam] desafios […] firmes sem desistir mesmo face a dificuldades; […] seguros, confiantes e dignos de confiança; [tomam] iniciativas e [envolvem-se] em projectos. (Goleman, 1996, p. 102-103) Por isso ser necessário desde muito cedo identificar predisposições e ajudar a moldar a capacidade de gestão psíquica para defrontar melhor e com maior qualidade a experiência de vida e as representações mentais inerentes. As capacidades emocionais como o controlo dos impulsos e o entendimento das situações sociais carecem de aprendizagem para um crescimento evolutivo mais preparado. A auto-regulação emocional ou “capacidade de impor adiamento a um impulso está na raiz de toda a pletora de esforços” (Goleman, 1996, p. 103), que tenham em vista o cumprimento de realizações pessoais significativas. Os resultados do estudo comprovaram que o sucesso escolar depende muito dessa predisposição auto-reguladora da capacidade de adiamento da recompensa pelo alcance de um objectivo: “quando as crianças testadas eram novamente avaliadas perto do fim do curso liceal, as que tinham esperado pacientemente aos quatro anos revelavam-se muito superiores, como estudantes, às que tinham agido por impulso” (Goleman, 1996, p. 103). O grau de eficiência no aproveitamento das aptidões mentais depende sobremaneira do correcto desenvolvimento da inteligência emocional (Goleman, 1996, p. 104). Sónia Maria Amado Barreira 86 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.2.2.4. PREOCUPAÇÃO E ANSIEDADE A preocupação é um acto ou efeito focalizado, mas improdutivo quando em excesso. Caracteriza-se pela apreensão receosa adiantada no tempo, uma ocupação prévia ou “preparação mental excessiva para uma ameaça antecipada” (Goleman 1996, p.104). A estática cognitiva, a que sujeita o intelecto quando o circunscreve a uma iteração viciosa limitadora de uma concentração intencional, desafia a capacidade de resolução de problemas. No confronto com uma actividade intelectualmente exigente, integrada num contexto académico ou profissional, a ansiedade91 sabotará tendencialmente, os esforços de maior concentração sobre a mesma. No decurso de um desempenho a tarefa cognitiva na forma de reflexão aflitiva, consome recursos mentais e um gasto de energia tal que restringe maior disponibilidade de restantes recursos para o processamento de outras informações, e provoca imprecisão na atenção prestada (Goleman, 1996, p. 105). Deduz-se portanto em primeira instância que estas duas variantes emocionais – preocupação e ansiedade – procedem como agentes proféticos porque insurgem enquanto estados incapacitantes prossecutores do insucesso. Assim que são combinados a um certo grau de insegurança existe maior predisposição para falhar, “são os pensamentos negativos – „Não sou capaz de fazer isto‟, „Não sou bom neste género de testes‟ – que mais directamente prejudicam a […] capacidade de decisão”, (Goleman, 1996, p. 105). No desempenho académico, a interferência monopolista da preocupação sobre os recursos mentais “interfere com a clareza do pensamento e com a memória necessárias a um estudo eficaz, enquanto durante o exame propriamente dito perturba a acuidade mental essencial para o bom resultado” (Goleman, 1996, p. 105). Portanto, geralmente maior propensão tendencial para estados de previsão aflitivos não favorece o máximo rendimento nos estágios preparativos ou de desempenho de uma actividade. Em panoramas de contexto profissional uma avaliação de inteligência por si só não valida o sucesso de um desempenho quando a ansiedade insurge impetuosamente: “ansiosos são mais propensos a falhar mesmo quando obtêm pontuações mais 91 Tal como a preocupação, a ansiedade é uma variante do medo – uma das quatro emoções nucleares, identificadas por Paul Ekman, da Universidade de Califórnia em São Francisco (Goleman, 1996, p.311). Sónia Maria Amado Barreira 87 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem elevadas nos testes de inteligência, como se concluiu de um estudo feito a 1700 candidatos que treinavam para controladores aéreos” (Goleman, 1996, p. 104) 92 . A preocupação é uma emoção geradora de défice no funcionamento pleno das capacidades mentais necessárias ao desempenho eficiente. Verificou-se num estudo sobre a preocupação e a mudança da capacidade de decisão, que o efeito da preocupação afecta sem restrições o sistema mental, no entanto a diferença que se estabelece nos desempenhos reside no modo como é mitigada: Quando se pediu a um grupo de comparação de não-preocupados que se preocupassem propositadamente durante quinze minutos, a sua capacidade para desempenhar a mesma tarefa deteriorou-se acentuadamente. E quando os preocupados passaram por uma sessão de relaxação de quinze minutos – que lhes reduziu o nível de preocupação – antes de iniciarem a tarefa, não tiveram o mínimo 93 problema em levá-la a cabo. (Goleman, 1996, p. 105) Saber lidar com o stress que a preocupação provoca é saber utilizar a inteligência emocional no controlo da intensidade e abrandamento da ansiedade, e servir-se da mesma a favor dos objectivos pessoais. A relação entre o grau de predisposição para a ansiedade e o nível de motivação perante a preocupação corresponde à combinação que determinará o proveito circunstancial. No âmbito académico, existem dois tipos de estudantes ansiosos com graus de adaptabilidade divergente: […] aqueles a quem a ansiedade prejudica o desempenho académico, e aqueles que 94 conseguem bons resultados apesar do stress – ou talvez por causa dele . A ironia da ansiedade ligada aos exames está em que a mesma apreensão a respeito dos resultados que, idealmente, pode motivar estudantes […] a prepararem-se melhor e deste modo obterem boas notas, pode igualmente sabotar as possibilidades de êxito noutros. (Goleman, 1996, p. 104-105) Portanto para uma realização mais eficiente é essencial uma relação óptima entre o desempenho e o grau de ansiedade envolvida na realização de uma actividade (Goleman, 1996, p. 106), não esquecendo a importância do papel inerente da 92 Mais informação disponível em W. E. Collins et al., Relationships of Anxiety Scores to Academy and Field Training of Air Traffic Specialists, FAA Office of Aviation Medicine Reports, Maio de 1989. 93 Mais informação disponível em Richard Metzger et al., Worry Changes Decision-making: The Effects of Negative Thoughts on Cognitive Processing, Journal of Clinical Psychology, Janeiro de 1990. 94 Mais informação disponível em Theodore Chapin, The Relationship of Trait Anxiety and Academic Performance to Achievement Anxiety, Journal of College Student Development, Maio de 1989. Sónia Maria Amado Barreira 88 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem motivação. Níveis baixos de ansiedade podem indicar apatia ou pouca motivação, por outro lado níveis elevados de ansiedade sabotam a eficiência das capacidades mentais (Goleman, 1996, p. 106). A motivação é importante porque define o grau de dedicação aplicado que promove a progressão do nível de desempenho. Outro elemento a tomar em consideração nos cálculos de análise sustem-se enquanto emoção nuclear – prazer. Esta emoção, tal como o medo, encontra-se envolvida neste quadro de análise dos elementos que geram as variações de influência na qualidade de concretização de uma actividade. O nível de fruição durante o desempenho também gera alterações de motivação. A variação cromática da emoção de prazer enquadra um espectro de variações desde a satisfação, alegria, entusiasmo, euforia, etc. (Goleman, 1996, p. 310). O grau emocional expectante a um desempenho criativo reside na euforia ligeira95: “[o estado] de euforia ligeira […] parece ser óptimo para escritores e outras pessoas que se entregam a actividades criativas que exigem fluidez e diversidade de pensamento” (Goleman, 1996, p. 106). No que respeita às emoções de prazer e medo implicadas, carece sublinhar que as variações dos extremos da sua escala - mania e pânico - não devem constar enquanto efeitos sobre o desempenho por tendencialmente agirem em prejuízo da ordem e sanidade mental. Os estados de espírito derivados de variações emocionais do prazer, se considerarmos esta entre as quatro emoções nucleares delineadas por Ekman, e as variações de outras famílias básicas de emoção, indicadas por outros teóricos, como o amor e a surpresa (Goleman, 1996, p. 310-311), desconsiderando suas variantes extremas, ampliam a flexibilidade e complexidade sobre a capacidade de pensar e solucionar problemas tanto no âmbito intelectual como interpessoal (Goleman, 1996, p. 106). A memória e o estado de espírito têm uma ligação influente recíproca (Goleman, 1996, p. 107). No sentido que o estado, nas suas vertentes bipolares – positiva e negativa – 95 Se este estado descrito intensifica, extravasa a margem de controlo sobre as capacidades mentais, provocando um descontrolo e progressão de síndrome mental – mania – caracterizado por uma exaltação eufórica do humor, nada benéfica (Goleman, 1996, p.106). Sónia Maria Amado Barreira 89 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem influencia a memória na direcção do pólo com o qual insurge sobre ela e sobre a capacidade de decisão, por exemplo: […] quando estamos de bom humor recordamos mais acontecimentos positivos; […] estar de mau humor influencia a memória numa direcção negativa, tornando-nos mais susceptíveis de nos retrairmos numa decisão tímida ou extremamente cautelosa. (Goleman, 1996, p. 107) Portanto, a memória avalia os indícios por influência das vertentes bipolares do estado: […] quando consideramos os prós e os contras de uma determinada linha de acção sentindo-nos bem, a memória influencia a maneira como avaliamos as provas numa direcção positiva, tornando-nos mais propensos a fazer qualquer coisa ligeiramente aventurosa ou arriscada. (Goleman, 1996, p. 107) Isto explica porque é que as influências externas promotoras de emoções positivas inspiram o estado de espírito a amplificar as capacidades mentais: “uma maneira de ajudar alguém a resolver um problema é contar-lhe uma boa piada. O riso, tal como a euforia, parece ajudar as pessoas a pensarem” (Goleman, 1996, p. 106-107). A abrangência das capacidades mentais provocada pelo estado positivo permite a resolução de problemas até de forma alternativa como resposta de solução criativa 96: “benefícios intelectuais de uma boa gargalhada tornam-se sobretudo evidentes quando se trata de resolver um problema que exige uma solução criativa” (Goleman 1996, p. 106). 3.2.2.2.5. ESPERANÇA E OPTIMISMO A esperança é uma combinação de confiança, na concretização de um desejo (Teixeira, 2004). A sua categorização parece assentar sobre a reunião de duas variantes - confiança e preocupação – das emoções básicas do amor e do medo. É uma emoção derivada que não se deixa subjugar pela ansiedade, negativismo ou depressão face às vicissitudes, para além de oferecer consolo na aflição, almeja sempre por melhores resoluções no futuro (Goleman 1996, p. 108-109). De acordo com C. R. Snyder, psicólogo da Universidade do Kansas, a esperança é a crença de que se é detentor de vontade e meios para o alcance dos objectivos 96 Estudo sobre o bom humor e o pensamento criativo em The Influence of Positive Affect on Clinic Problem Solving, Medical Decision Making, Julho-Setembro de 1991. Sónia Maria Amado Barreira 90 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem pessoais (Goleman 1996, p. 108). As pessoas com elevado nível de esperança são detentoras de motivação, perseverança face às dificuldades, flexibilidade na procura de caminhos alternativos para o alcance dos seus objectivos ou mudança dos mesmos, e bom senso na compartimentação das tarefas abrangentes em actividades exequíveis, são menos propensas a depressões, persistentes, confiantes na realização dos seus objectivos ao alcance das suas capacidades e de modo geral menos ansiosas ou predispostas a perturbações emocionais (Goleman, 1996, p. 108). Estas características reflectem um maior domínio de inteligência emocional em acção que evita submersão em perturbações improdutivas ao alcance de propósitos objectivos produtivos e portanto maiores probabilidades de sucesso. A esperança proporciona vantagens no desempenho escolar e na actividade profissional. Snyder considera que os “estudantes dotados de um nível mais elevado de esperança visam objectivos mais altos, e sabem como trabalhar para alcançá-los” (Goleman 1996, p. 108). Do ponto de vista académico, o que diferencia os estudantes com aptidões equivalentes é o nível de esperança que estes experienciam97 (Goleman 1996, p. 108). Perante obstáculos a sua resposta é diferente dependendo da fé que têm em si e nas suas capacidades. Essa esperança quanto maior for, maior será a acção empreendedora aplicada na resolução de um problema. Perante um nível médio de esperança existe a preocupação de resolver o problema mas com menor grau de determinação na sua prossecução (Goleman 1996, p. 107). No caso de um nível baixo dessa fé a desmoralização e a desistência são as reacções mais previsíveis. O optimismo é um estado de confiança expectante num futuro melhor (Teixeira, 2004), uma tendência ou disposição circunscrita a um olhar mais positivo sobre o meio, vivências e contratempos. A atitude optimista previne a apatia, depressão, desesperança ou desespero, estados que assolam a mente por incapacidade de confrontação com as adversidades (Goleman 1996, p. 109). As diferenças que existem entre o optimista e o pessimista encontram-se na maneira como ambos encaram o fracasso. Enquanto que o optimista assume o insucesso como um resultado que pertencerá a um passado evolutivo de persistentes novas tentativas promissoras de sucesso e enfrenta as dificuldades formulando planos de acção e solicitando auxílio, o pessimista admite o fracasso como sendo resultado de 97 Mais informações em C.R. Snyder et al., The Will and the Ways: Development and Validation of an Individual-Diferences Measure of Hope, Journal of Personality and Social Psychology 60, 4, 1991, p.579. Sónia Maria Amado Barreira 91 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem incapacidade inata impossível de modificar, vê assim o erro “como consequência de um defeito pessoal que há-de persegui-lo sempre” (Goleman 1996, p. 110), e portanto nada faz por melhorar, condenando progressos futuros. Aqueles que enfrentam os desafios de forma optimista caracterizam-se pela sua capacidade de gestão emocional optimizada, condutora eficiente de estados positivos influentes sobre as capacidades mentais necessárias na elaboração de soluções mais produtivas e ao alcance dos objectivos almejados. Neste sentido, o optimismo, bem como a esperança, são previdentes do sucesso. A partir de um estudo sobre a relação entre o optimismo e o êxito académico, que abrangeu quinhentos membros da classe de caloiros de 1984 da Universidade da Pensilvânia, Martin Seligman, psicólogo da Universidade, concluiu: “as pontuações dos estudantes nos testes de optimismo revelaram-se melhores previsores das notas que viriam a obter no final do ano que as pontuações dos SAT ou as notas do liceu” (Goleman 1996, p. 110). Seligman supõe que “para um dado nível de inteligência, o desempenho real é função não apenas do talento, mas também da capacidade de enfrentar a derrota” (Goleman 1996, p. 110), ou seja, o êxito académico não depende só meramente da aptidão, a atitude mental conducente a estados não derrotistas diante contrariedades é que pode fazer toda a diferença. O segredo encontra-se portanto na qualidade da atitude emocional mobilizadora de maior motivação e esperança perante as dificuldades caracterizadoras de obstáculos que surgem na experiência, quer seja pessoal ou académica. A vida implicará sempre obstáculos, é a sua natureza, mas o facto de enfrentá-los arranjando maneira de os ultrapassar, torna a experiência de vida num propósito de mérito. Agir deste modo permite encontrar soluções entre o caos que define o mundo e propriamente a natureza inata da mente humana. Acreditar numa perspectiva mais optimista pelos benefícios que proporciona sobre o estado e consequente melhor desempenho, é gerar soluções mais prósperas do que aquelas que resultam comparativamente à desordem que se instala sobre a mente pessimista, porque enquanto “a atitude mental pessimista conduz ao desespero, a do optimista gera esperança” (Goleman 1996, p. 110). Sónia Maria Amado Barreira 92 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A atitude optimista advém de uma tendência natural do temperamento de percepcionar de forma mais positiva a experiência (Goleman 1996, p. 111). Aqueles que não vêm o mundo nessa perspectiva no entanto têm ao seu alcance a oportunidade de conciliar o seu temperamento ao seu ideal pois o “optimismo e a esperança – tal como a impotência e o desespero – podem ser aprendidos” (Goleman 1996, p. 111). A certeza no domínio individual sobre os acontecimentos (na medida em que seja permitido o controlo através das acções pessoais) e a convicção na própria capacidade pessoal de confrontação perante desafios correspondem a crenças de auto-eficácia (Goleman 1996, p. 111). Toda a crença formada pela análise subjectiva de si próprio pode gerar resultados concordantes com o que se pensa: “Há uma frase antiga que diz: „Quer acredite que consegue fazer algo quer acredite que não, estará certo‟” (Robbins, 2003, p. 47). Isto ocorre na medida em que, se transmitir certo tipo de mensagens para o sistema nervoso, estas comunicarão ao cérebro e este produzirá um conjunto de acções condutoras a uma solução congruente com a crença – geradora de mensagens limitadoras ou eliminadoras da capacidade de produzir um resultado. A crença, seja ela positiva ou negativa, aumenta a probabilidade do acontecimento de acordo com a perspectiva. Albert Bandura, psicólogo de Stanford, considera: “Aquilo que as pessoas pensam das suas capacidades tem um efeito profundo nessas mesmas capacidades” (Goleman 1996, p. 111). Quando não se desenvolvem capacidades por não se acreditar que se possui talento, não se envidam esforços por desenvolver um potencial latente, e tal como um músculo atrofia por falta de uso, e como já foi dito, os erros não definem a qualidade das capacidades, o que as define é a resposta dada perante esses erros. Como afirmou Bandura: “A capacidade não é um bem fixo: há uma variabilidade enorme na maneira de utilizá-lo” (Goleman 1996, p. 111). Por isso é importante reforçar o sentimento de auto-eficácia que advém do desenvolvimento de uma aptidão, da procura de desafios, da aceitação dos riscos implicados e da vontade de superação constante. Este sentimento encontra-se inerente ao temperamento característico de um optimista, porque segundo Bandura, “pessoas que possuem o sentimento de autoeficácia recompõem-se facilmente dos desaires; abordam as coisas em termos de como lidar com elas” (Goleman 1996, p. 111). Sónia Maria Amado Barreira 93 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O nível de aptidão emocional pode ser moldado porque “o cérebro é notavelmente plástico, capaz de uma aprendizagem constante” (Goleman, 1996, p. 64). 3.2.3. MOTIVAÇÃO O seu conceito tanto pode ser compreendido enquanto um factor ou conjunto de factores psicológicos, como também, enquanto processo encorajador de especificidades de acção (Boruchovitch et al., 2001, p. 9). Os factores psicológicos inerentes à actividade humana conduzem a escolhas, incentivam a formulação de objectivos, garantem a persistência quando possíveis obstáculos interferem no decurso das persecuções formuladas (Boruchovitch et al., 2001, p. 9). Esses factores orientam o comportamento movido por razões, motivos de investimento pessoal em determinada actividade. As características específicas de motivação em ambiente de aprendizagem de sala de aula devem estar de acordo com as exigências inerentes aos componentes próprios em contexto como a realização de tarefas que “são maximamente de natureza cognitiva, que incluem atenção e concentração, processamento, elaboração e integração da informação, raciocínio e resolução de problemas” (Boruchovitch et al., 2001, p. 10-11), e a assimilação de conhecimentos de conteúdos diversos, pertinentes e significativos. O envolvimento activo nas tarefas implementado pelo aluno que manifesta esforço, persistência, e determinação em querer aprender, torna-se claro indicativo do efeito imediato da motivação em acção. Quando o contrário se processa o aluno dá indícios de falta de investimento, nos seus recursos pessoais como “o tempo, energia, talentos, conhecimentos e habilidades” (Boruchovitch et al., 2001, p. 10), não se esforçando e desistindo facilmente. A motivação torna-se essencial em ambiente de aprendizagem escolar por despertar o investimento do aluno. O processo de aprendizagem é exigente e desafiador, põe à prova as capacidades e provoca o seu desenvolvimento ou progressão. A motivação é o elemento fundamental para o alcance de resultados extraordinários, por despertar o envolvimento de qualidade que faz a diferença na progressão de aprendizagem. Sem este factor até o mais talentoso dos alunos manifestará Sónia Maria Amado Barreira 94 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem subdesenvolvimento e resultados medíocres no decurso da sua aprendizagem (Boruchovitch et al., 2001, p. 12). A competência e o desenvolvimento do potencial do aluno só podem ser alcançados se existir investimento pessoal de qualidade. Por isso torna-se essencial analisar com precisão os comportamentos manifestados em ambiente de aula por forma a identificar possíveis casos de desmotivação, que nem sempre são fáceis de reconhecer quando não expressos através de comportamentos de indisciplina. É difícil identificar problemas motivacionais em casos de comportamentos adequados e desempenhos satisfatórios, que na atitude disciplinada dissimulam a realidade98 (Boruchovitch et al., 2001, p. 14). É importante sublinhar que a prestação de mau rendimento em aula pode não significar falta de esforço ou desmotivação mas a acção influente de outros factores99 (Boruchovitch et al., 2001, p. 14). Por tal e para que seja possível identificar com precisão reais problemas de motivação é necessário proceder a uma avaliação de desempenho, análise minuciosa de comportamento e conhecer o aluno pelo “seu nível de capacidade, seus conhecimentos prévios, os métodos de estudo e até a disponibilidade de recursos” (Boruchovitch et al., 2001, p. 14). Os problemas de motivação escolar que assentam na desmotivação ocasional não são tão preocupantes quanto a frequente e persistente atitude que se manifesta enquanto condição habitual, cada vez mais generalizada, expressa tanto através do incumprimento de tarefas em aula ou de estudo fora dela, ou relutância de empreendimento pessoal manifesta em distracções, indisciplina, apatia, evitação participativa, de opinião, exposição de conhecimentos, interacção verbal comunicativa (Boruchovitch et al., 2001, p. 17). A eficácia da motivação sobre o bom desempenho não se define exclusivamente pelo nível de intensidade mas igualmente pela qualidade motivacional. 98 Como no caso do aluno que parece atento e no entanto encontrar-se em divagação, distraído com outros assuntos. 99 Como por exemplo alterações do estado emocional ou fisiológico. Sónia Maria Amado Barreira 95 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem No contexto do desempenho escolar a motivação deve ser considerada sob dois aspectos, o quantitativo e o qualitativo (Boruchovitch et al., 2001, p.15). Em termos quantitativos os extremos opostos de intensidade motivacional não são ideais em contexto de aprendizagem e de desempenho académico por originarem estados psicológicos negativos: a disposição emocional como a ansiedade100, e a fadiga mental, resultam de níveis excessivamente elevados de motivação, em contrapartida níveis extremamente baixos de motivação resultam na expressão apática do tédio (Boruchovitch et al., 2001, p. 17-18). Portanto, a motivação ideal em contexto de aprendizagem em sala de aula enquadra-se num nível de intensidade intermédio: Desde a época em que a motivação era sobremaneira tratada como uma forma de despertar ou de impulso que energiza a acção, o que continua sendo um dos enfoques tradicionais de motivação humana, a sua eficácia sobre o desempenho assume a forma de um U invertido: a performance será melhor quando a motivação estiver num nível médio e decrescerá quando ela for ou mais baixa ou mais alta. Essa lei varia em função do tipo de tarefa. Quando se trata de tarefas simples, que podem envolver determinados comportamentos motores, a performance será melhor com mais altos níveis de impulso ou de despertar [como por exemplo, a motivação implicada na execução de um salto de ginástica acrobática]. Mas esses níveis mais altos seriam contraproducentes quando se tratar de tarefas complexas [implicadas] nas aprendizagens escolares. (Boruchovitch et al., 2001, p. 17) A motivação presente num desempenho que se caracterize “mais pela qualidade do que pela intensidade” (Boruchovitch et al., 2001, p. 18) e que “apresente menos componentes psicofisiológicos do que supõem as concepções tradicionais de despertar e de impulso” (Boruchovitch et al., 2001, p. 18) será a ideal no contexto escolar. No que respeita aos aspectos qualitativos “existem tipos de motivação menos adaptadores” (Boruchovitch et al., 2001, p. 18), espelhados em distorções de qualidade do tipo de motivação estabelecido por intenções movidas por motivos extrínsecos e não pela directiva construtiva de aprender enquanto fim em si mesmo, que são exemplo de adaptações ineficazes às circunstâncias de aprendizagem: […] alunos que fazem rápido as tarefas com o objectivo de entregar logo, mesmo com baixa qualidade […] preocupados com notas, com diploma ou certificado ou com a ameaça de reprovação na série escolar ou na disciplina […] a não aparecerem como incompetentes; ou a aparecerem como os melhores ou os primeiros da classe, o que 100 Muito prejudicial ao raciocínio e ao acesso de informação armazenada na memória. Sónia Maria Amado Barreira 96 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem explica o fato de muitos alunos concluírem rápido demais a actividade exigida. (Boruchovitch et al., 2001, p.18) Objectivos cingidos à obtenção de certificações quantificáveis são intenções do aluno movidas por razões incompletas, extrínsecas, insuficientes para o alcance de resultados relevantes, extraordinários que exigem aspectos intrínsecos que assegurem concretizações que singram dificuldades que normalmente atravessam o processo de aprendizagem. Este tipo de motivação fundamenta-se nas consequências da interacção participativa no cumprimento de um currículo obrigatório. As preocupações como resultados numéricos, títulos académicos, medo de reprovação ou aparentar incompetência, em suma a obrigatoriedade de produzir resultados como meio para um fim, pretensões competitivas de superioridade por comparação de desempenho ou resultados entre os seus pares, são motivos que impulsionam o aluno a agir por razões estratégicas e não por valor da actividade em si. A qualidade da tarefa escolar diminui sempre que a participação do aluno apoia-se neste tipo de motivos distorcidos, legitimados pela consequência e acompanhados por emoções improdutivas como o medo, a ansiedade, a frustração, a irritação, etc. (Boruchovitch et al., 2001, p. 18-19). Não é correcto afirmar-se que a desmotivação deriva só em absoluto duma afectação abrangente, isto é, poderão só estar a perturbar a sua motivação determinados factores específicos: Ele pode estar desmotivado ou apresentar motivação distorcida apenas […] em algumas áreas ou em alguns tópicos. […] Essa variação ocorre em função de inúmeros factores, […]. Em outras palavras, o problema pode ser circunscrito e associado a certas condições da disciplina, ou do professor, ou da fase evolutiva do aluno, entre outras. (Boruchovitch et al., 2001, p.19) Por tudo isto cabe ao professor prevenir e corrigir os problemas de motivação nos alunos e fundamentalmente despertar, preservar e optimizar a sua motivação para a acção de aprender. Apesar dos esforços nesse empreendimento valoroso continuarão a existir casos de desmotivação extremos como os alunos que se recusarão contundentemente a participar no processo de aprendizagem ou a cingirem-se às suas regras, rejeitando auxílio ou soluções alternativas (Boruchovitch et al., 2001, p. 19). Sónia Maria Amado Barreira 97 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Os estudos que têm sido desenvolvidos nestas últimas duas décadas acerca da motivação e necessidades educacionais a esse respeito são variados e assentam em teorias e pesquisas alicerçadas em princípios de orientação e complementaridade à prática educativa. As teorias sobre motivação do aluno têm-se debruçado em particular sobre: […] componentes cognitivos ou pensamentos, como metas, crenças, atribuições, percepções, ressaltando-se entre elas as percepções de competência e as crenças de auto-eficácia, portanto, variáveis ligadas ao self. Os componentes afectivos, formam parte integrante da motivação do aluno […]. Contudo outros enfoques também contemplam de algum modo as diferentes emoções, como realização, satisfação, orgulho, medo, ansiedade, entre outras […]. (Boruchovitch et al., 2001, p. 23) 3.2.3.1. MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA A motivação intrínseca é uma propensão inata e natural que integra o interesse e o exercício das capacidades individuais na acção participativa em desafios óptimos (Boruchovitch et al., 2001, p. 37-38) que envolvam a satisfação no processo de obtenção de domínio nas tarefas constituintes dos mesmos. A atractividade de uma actividade centra-se no interesse que desperta e satisfação que proporciona na experiência da sua realização (Boruchovitch et al., 2001, p. 37), valores que recompensam o seu exercício e tornam a actividade um fim em si mesma. Despertar o interesse dos alunos em relação aos conteúdos escolares na relação possível entre motivação intrínseca e a aprendizagem poderá ser uma mais-valia no alcance desse propósito, através do conhecimento de determinantes da motivação intrínseca e formas de a promover em contexto de sala de aula. O empenhamento dos alunos deriva tanto de razões intrínsecas como extrínsecas101, pois estes tanto “aprendem por gostarem ou estarem interessados por determinado assunto, mas também podem aprender por almejarem altas notas, aprovação escolar ou agradar pais e professores” (Boruchovitch et al., 2001, p. 38), no entanto quando se dedicam a uma actividade por razões intrínsecas o nível de satisfação é maior, facilitando assim a aprendizagem e o desempenho. 101 “[…]definida como a motivação para trabalhar em resposta a algo externo à tarefa ou actividade, como para a obtenção de recompensas materiais ou sociais, de reconhecimento, objectivando atender aos comandos ou pressões de outras pessoas ou para demonstrar competências ou habilidades” (Boruchovitch et al., 2001, p. 46). No contexto escolar os elogios, notas, prémios, são exemplos de motivos extrínsecos de envolvimento numa actividade. Sónia Maria Amado Barreira 98 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Quando intrinsecamente motivado, o aluno comporta-se da seguinte forma: […] opta por aquelas actividades que assinalam oportunidade para o aprimoramento de suas capacidades, focaliza a atenção nas instruções apresentadas, busca novas informações, empenha-se em organizar o novo conhecimento de acordo com os seus conhecimentos prévios, além de tentar aplicá-lo a outros contextos[…] apresenta alta concentração, de tal modo que perde a noção do tempo; os problemas quotidianos ou outros eventos não competem com o interesse naquilo que está desenvolvendo; não existe ansiedade decorrente de pressões ou emoções negativas que possam interferir no desempenho; a repercussão do resultado do trabalho perante as outras pessoas não é o centro de preocupações, ainda que o orgulho e a satisfação provenientes do reconhecimento de seu empenho e dos resultados do trabalho estejam presentes; busca novos desafios após atingir determinados níveis de habilidade e as falhas ocorridas na execução das actividades instigam a continuar tentando. (Boruchovitch et al., 2001, p. 38) 3.2.3.2. MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA E META APRENDER A escola tem como fundamento proporcionar um lugar de socialização cultural e enriquecimento cognitivo, e um dos desígnios do ensino é o de adequar e aplicar estratégias que permitam ao aluno socializar e desenvolver “propósitos, metas, expectativas, crenças e emoções que resultem numa motivação positiva para a aprendizagem” (Boruchovitch et al., 2001, p. 79). No que respeita à aula, esta deverá ser um espaço de desenvolvimento tanto cognitivo com afectivo que permita descobrir significados e assimilar valores. Teóricos como Printrich e Schunk102 com o objectivo de descobrir algumas estratégias conducentes à meta aprender e a um maior nível de motivação, apontam seis aspectos a serem considerados pelo professor em situação de aula que poderão influenciar a motivação do aluno. Baseando-se num anagrama elaborado por Epstein, descreveram variáveis motivacionais importantes para a aprendizagem em contexto de aula, inseridas num modelo de aprendizagem denominado Target, constituído por princípios a serem aplicados promotores da motivação intrínseca. Esses princípios estratégicos inserem-se nos seis aspectos considerados: 1) tarefas, 2) autoridade/autonomia, 3) reconhecimento (valorização), 4) agrupamento, 5) avaliação e 6) tempo. Estes componentes descritos no modelo Target nem sempre se encontram em ambiente escolar mas são uma boa linha de orientação na elaboração do plano educacional que objectiva a meta aprender. 102 Pintrich, P. R., Schunk, D. H. Motivation in education: theory, research, and applications. Englewood Cliffs, N.J.:Prentice Hall, Inc., 1996. Sónia Maria Amado Barreira 99 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A tarefa é uma actividade de aprendizagem que envolve o desenvolvimento de habilidades, capacidades e alargamento de conhecimentos. Fomenta a tomada de decisões na selecção e aplicação de estratégias de aprendizagem e o confronto com os limites das capacidades, instigando a ultrapassá-los pela participação e empenho individual que esta exige. Os objectivos incidentes na tarefa perspectivam incrementar a motivação intrínseca na sua realização, propiciar desafio, transmitir significados, despertar curiosidade, fantasia e proporcionar a percepção de controlo no processo de aprendizagem (Boruchovitch et al., 2001, p. 82). Na tarefa deverão estar contidas as seguintes características promotoras do envolvimento activo do aluno, pois caso contrário não conseguirá chamar a atenção do aluno e motivá-lo a esforçar-se e a participar: 1) deve ser acompanhada de uma razão significativa que justifique a sua relevância para o desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades, 2) deve conter em si correlação do conteúdo com os interesses pessoais do aluno, 3) deve propor metas específicas de curto prazo que favoreçam a percepção de graus de esforço necessário à progressão (Boruchovitch et al., 2001, p. 81). A atitude do professor deverá propagar-se empaticamente através de uma atitude positiva que saliente os aspectos positivos na realização da tarefa. Quanto ao planeamento da actividade escolar, Pintrich e Schunk constataram a relevância da presença de quatro origens da motivação intrínseca – desafio, curiosidade, controlo e fantasia – a ter em conta no processo de elaboração da actividade, de forma a torná-la potencialmente motivadora (Boruchovitch et al., 2001, p. 84). O desafio imbuído na actividade deve conter metas concretas, significativas e proporcionar o ajustamento adequado entre as capacidades do aluno a serem confrontadas e as exigências da actividade, devendo encontrar-se em equilíbrio de grau intermédio, isto é, na “condição de que esses desafios estejam em um nível intermediário de dificuldade, sendo passíveis de ser vencidos com o emprego razoável de esforço” (Boruchovitch et al., 2001, p. 84), pois caso contrário, desafios de níveis de dificuldade extremos poderão originar estados emocionais contraproducentes no confronto com a incompatibilidade: a ansiedade faz-se notar assim que níveis Sónia Maria Amado Barreira 100 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem elevados de exigências tornam-se excessivos comparativamente às capacidades com as quais o aluno dispõe, e no caso inverso, manifesta-se o tédio ou desinteresse quando o nível de dificuldade exigido não desafia as suas capacidades (Boruchovitch et al., 2001, p. 84). Quanto a isto se relaciona a percepção de competência – determinante primária da motivação intrínseca – associada à crença de auto-eficácia (Boruchovitch, Bzuneck, 2001, p. 84). A curiosidade é um elemento apelativo por relacionar-se com a incongruência e a surpresa, aspectos em desacordo com crenças e conhecimentos antecedentes que despertam no aluno a atenção e a vontade por descobrir uma lógica explicativa compreensível da informação que é apresentada (Boruchovitch et al., 2001, p. 84). Esse desacordo não poderá conter em si uma discrepância extrema ou similaridade óbvia pois: […] uma informação excessivamente desarticulada dos conhecimentos anteriores é facilmente desconsiderada por não haver possibilidade de ser compreendida naquela situação. Ao contrário, uma informação muito parecida com o que se sabe pode ser rapidamente assimilada ou rejeitada, não influenciando a motivação. (Boruchovitch et al., 2001, p. 84) A sensação de controlo que o aluno obtém pela oportunidade que lhe é concedida pelo professor, de poder tomar decisões e estabelecer escolhas entre várias opções de actividades propostas com diferentes formatos, exigências ou prazos (Boruchovitch et al., 2001, p. 84-85), permite admitir nele a liberdade de ser agente actuante através de suas escolhas, seus esforços, suas opiniões e resultados pretendidos, beneficiando a percepção enquanto sujeito modelador do seu processo de aprendizagem pelo esforço e empenhamento pessoal. O elemento que colmata esta quadratura é a fantasia, proporcionada através de jogos ou simulações que possibilitam a aplicação de conhecimentos em formas de abordagens vicárias ou lúdicas, motivadoras de participação, demonstrativas de aplicação e utilidade do conhecimento, e valorativas da aprendizagem (Boruchovitch et al., 2001, p. 85). No que respeita à componente de autoridade/autonomia os objectivos incidem na promoção de uma adequada liberdade de escolha e assunção de responsabilidade (Boruchovitch et al., 2001, p. 82). Em contexto de aula os alunos têm três tipos de necessidades que devem ser consideradas pelo professor. A primeira necessidade relaciona-se com o sentimento individual de pertença, de identificação pessoal com o Sónia Maria Amado Barreira 101 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem processo de aprendizagem no contexto de aula e na relação de respeito e confiança com o seu professor. A segunda necessidade centra-se no sentimento de competência do aluno, propiciado “pela estruturação dos trabalhos em classe, com situações adequadamente desafiadoras” (Boruchovitch et al., 2001, p. 86) e pelo feedback analítico e avaliativo do professor relativamente ao desempenho, permitindo ao aluno formular uma percepção de valor da sua prestação e competência. A terceira necessidade diz respeito à percepção de autodeterminação do aluno, originada pelas oportunidades concedidas pelo professor na tomada de decisão e escolha quanto a certos aspectos de planeamento de actividades, promotoras de sentido de autonomia no meio contextual de aula, ou de escola: Permitir que os alunos participem das decisões e do planejamento das actividades em classe não somente facilita a percepção de autodeterminação como também pode incentivá-los a fixar metas pessoais de desempenho, o que contribui para a sua autoregulação. (Boruchovitch et al., 2001, p. 86) Essa liberdade de responsabilização tem de ser equilibrada para que não sucedam extremos. Relativamente à componente de reconhecimento (valorização) seus objectivos visam promover oportunidades de valorização, reconhecer esforços, enfatizar progressos na obtenção de metas, e estímulo por participar em novos desafios (Boruchovitch et al., 2001, p. 82). Os valores reconhecidos pelos professores podem variar. Alguns poderão valorizar mais a participação em aula do que um resultado de um teste. As regras de convivência são logo desde o princípio, clarificadas e progressivamente relembradas, quais características de comportamento individual e aspectos de conduta serão recompensados por parte do professor, e estas serão por consequência igualmente valorizadas pelo aluno se este pretender adaptar-se ao sistema de aprendizagem estabelecido em contexto de aula. Na adaptação da estratégia de recompensa tem de existir o cuidado de evitar situações explicitamente competitivas como nos casos de enaltecimento dos resultados obtidos dos alunos com melhores notas, porque pode afectar a autopercepção dos outros alunos (Boruchovitch et al., 2001, p. 87). Este tipo de comparações não favorecem a adopção da meta aprender. A estratégia mais valiosa de recompensa reside na valorização do esforço e de empenho por progredir. Sónia Maria Amado Barreira 102 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Quanto ao componente de agrupamento seus objectivos pretendem implementar um ambiente de aceitação e apreciação, e organizar experiências escolares que promovam a interacção social e o desenvolvimento de habilidades sociais (em particular nos alunos com maior probabilidade de fracasso) (Boruchovitch et al., 2001, p. 82). O agrupamento é um fenómeno comum que acontece naturalmente quando em sala de aula os alunos estabelecem específicos grupos entre si derivados de simpatias, afinidades, interesses comuns (Boruchovitch et al., 2001, p. 88). Quando estes trabalham em grupo desenvolvem ritmos particulares de trabalho com base na percepção que têm das suas capacidades e interesses uns dos outros. Quebrar um grupo pré-estabelecido pode resultar numa resistência inicial, que pode ser ultrapassada com situações lúdicas, mas formará em compensação novas dinâmicas de grupo, “diferentes formas de abordar as tarefas, diferentes ritmos e interesses serão aproximados, possibilitando novas interacções, expectativas e novas modalidades de desempenho” (Boruchovitch et al., 2001, p. 88). Quando o professor dirige grupos de aula não deve ressaltar diferenças de desempenho entre si para não fomentara comparações que desfavoreçam a motivação intrínseca e meta aprender. A componente de avaliação deve significar uma construção do conhecimento, uma possibilidade de aprendizagem em que é analisado e interpretado o conhecimento elaborado, (Boruchovitch et al., 2001, p. 89) e “uma fonte de informações sobre o desempenho, com seus acertos e erros, pontos fortes e problemas” (Boruchovitch et al., 2001, p. 90), de modo a que se formulem estratégias de superação das dificuldades. A margem de espaço de tempo entre a realização da avaliação e a sua correcção deve ser próxima para que a memória do acontecimento avaliativo esteja ainda fresca, e “o resultado do desempenho deve interessar apenas ao próprio estudante, evitando a comparação entre colegas” (Boruchovitch et al., 2001, p. 90). Os objectivos desta componente consistem em considerar “a avaliação como parte do processo de ensino-aprendizagem, fornecer amplas informações sobre o desempenho e estratégias de aprendizagem, [e] utilizar padrões auto-referenciados” (Boruchovitch et al., 2001, p. 83). No processo avaliativo poderão ser aplicadas estruturas de recompensa e reconhecimento como meio de influência motivacional sobre o envolvimento do aluno na aprendizagem. Segundo um Programa Incentives for Improvement, elaborado por Sónia Maria Amado Barreira 103 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem MacIver103, fundamentado na compreensão da influência do processo avaliativo na motivação, (Boruchovitch et al., 2001, p. 90) poderão ser aplicados incentivos ao progresso do aluno no decurso de três etapas do procedimento avaliativo influentes no envolvimento amplificado do aluno. A primeira etapa apresenta uma meta específica de superação de desempenho e obtenção de pontos (Boruchovitch et al., 2001, p. 91). A segunda etapa consiste na progressiva monitorização, regulação, transmissão de feedbacks sobre o sucesso do aluno, avaliação e atribuição de pontos. A terceira etapa constitui o reconhecimento público do progresso individual (Boruchovitch et al., 2001, p. 91). Este procedimento avaliativo procura, estabelecer metas próximas atingíveis e concretas que motivem o aluno a superar desempenhos antecedentes; dar reais oportunidades de superação através do esforço próprio (Boruchovitch et al., 2001, p. 91), recompensar o progresso individual em lugar de compará-lo com a norma, etc. Por fim, a componente do tempo, que objectiva “utilizar as tarefas de aprendizagem e as necessidades dos estudantes para organizar a agenda” (Boruchovitch et al., 2001, p. 83). Quando é apresentado um exercício é essencial reconhecer a exigência temporal necessária para a sua realização de modo que esta não seja desadequada aos diferentes ritmos e necessidades dos alunos. Quando o tempo planeado é mais reduzido que aquele necessário e utilizado pelo aluno, gera um clima desfavorável à meta aprender. No caso inverso o tempo manifesta-se enquanto má gerência de tempo de aula. 3.2.3.3. CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA As crenças de auto-eficácia são inferências pessoais ou pensamentos transfigurados na forma de frase ou proposição mental resultantes do processamento de informação de determinados factores pessoais e ambientais (Boruchovitch et al., 2001, p. 125), e exercem um papel determinante na motivação do aluno. Sendo um dos factores que constituem os mecanismos psicológicos da motivação, a crença de auto-eficácia distingue-se enquanto julgamento das capacidades individuais (inteligência, habilidades, conhecimentos, potencialidades, etc.) em relação com as exigências de execução de uma tarefa num grau de qualidade definida (Boruchovitch et al., 2001, p. 103 MacIver, D. J. Effects of improvement-focused student recognition on young adolescents‟ performance and motivation in the classroom. In: MAEHR, Martin L. & Pintrich, Paul R. (eds.), Advances in Motivation and Achievement. Connecticut: Jai Press Inc., v. 8, p. 191-216, 1993. Sónia Maria Amado Barreira 104 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 116). Perante um desafio todo o ser humano necessita de reconhecer sua autoeficácia para que compreenda em si o controle sobre os efeitos das suas próprias acções (Boruchovitch et al., 2001, p. 118). O envolvimento esforçado e persistente do aluno nas actividades de aprendizagem em contexto académico deve-se à motivação exercida por fortes crenças de auto-eficácia, isto é, firmes convicções pessoais de posse de capacidades que admite poder dirigir para organizar e executar cursos de acção que objectivam atender a exigências de determinadas tarefas propostas (Boruchovitch et al., 2001, p. 118). A aplicação de esforço depende igualmente do autoconceito104 em que se integra a auto-eficácia (Boruchovitch et al., 2001, p. 117). O nível de motivação depende dos julgamentos de auto-eficácia porque em função dos mesmos surge o incentivo antecipado sobre o que pode ser realizado para o alcance dos resultados pretendidos, e como tal, sobre a influência desses julgamentos são estabelecidas escolhas de cursos de acção, metas, quantidades de esforço e perseverança para atingir os objectivos: […] um aluno motiva-se a envolver-se nas actividades de aprendizagem caso acredite que, com os seus conhecimentos, talentos e habilidades, poderá adquirir novos conhecimentos, dominar um conteúdo, melhorar suas habilidades etc. Assim esse aluno seleccionará actividades e estratégias de acção que, segundo prevê, poderão ser executados por ele e abandonará outros objectivos ou cursos de acção que não lhe representem incentivo, porque sabe que não os poderá implementar. (Boruchovitch et al., 2001, p. 118) As crenças de auto-eficácia influenciam a qualidade de gestão individual ou autoregulação que sendo bem aplicada estabelece a determinação de metas, estratégias de acção e métodos de estudo mais eficazes, que farão a diferença para o alcance de um desempenho superior, sempre sustentado pelo esforço aplicado, indicador de que a motivação esteve presente no decurso do processo. O melhor desempenho escolar relaciona-se com fortes crenças de auto-eficácia, motivação, auto-regulação eficiente, esforço sustentado e perseverança (Boruchovitch et al., 2001, p. 120-121), mas se essas crenças forem reduzidas devido a qualquer 104 “Parte da identidade de um indivíduo que consiste no conjunto de ideias e de representações que ele tem de si próprio e que depende da auto-estima, da apreciação que os outros fazem dele, das expectativas e dos ideais pessoais” (Teixeira, 2004). Sónia Maria Amado Barreira 105 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem determinado aspecto negativo105 então a presença negativa influente da ansiedade terá maior preponderância frente a novas tarefas escolares. São quatro os factores que originam as crenças de auto-eficácia (estes actuam tanto de forma independente como combinada e o que transmitem não influência de modo automático a auto-eficácia devido ao facto da informação que deles se obtém ser submetida a um processamento cognitivo que pondera próprias aptidões percepcionadas, potencialidades percebidas, experiências passadas e diversos componentes e condições pertinentes de uma tarefa106, emparelhados num escrutínio que culminará no julgamento positivo ou negativo das próprias capacidades de controlar a circunstância (Boruchovitch et al., 2001, p. 125)): Experiências de êxito (são provas convincentes de progresso na aquisição de habilidades, que permitem o incremento da auto-eficácia segundo, 1) a constatação do sucesso pela visualização concreta dos eventos sucedidos107, 2) a percepção do progresso através do feedback positivo contingente do professor a um ritmo moderado, 3) a atribuição de causalidade108 do sucesso no valor da capacidade109, do esforço110, do nível de dificuldade da tarefa111 ou da sorte); Experiências vicárias (são a experiência de outrem transformada em modelo a seguir (ou a não seguir), isto é, a atitude e resultados de sucesso ou insucesso de um colega pode influenciar as crenças de auto-eficácia do aluno, motivando-o a 105 Por exemplo os fracassos anteriores podem diminuir o senso de eficácia do aluno e por consequência este sentir-se-á mais ansioso perante desafios nas mesmas circunstâncias precedentes (Boruchovitch et al., 2001, p. 122). 106 Por exemplo, grau de dificuldade de uma tarefa, de exigência do professor e auxílio perante dificuldades. 107 Por exemplo, através de uma gravação em vídeo. 108 As crenças de auto-eficácia não dependem somente das experiências de sucesso ou fracasso do passado mas também dos “modos pelos quais forem julgadas as causas desses eventos” (Boruchovitch et al., 2001, p. 123). 109 As crenças de auto-eficácia do presente incrementam se na experiência do passado o sucesso for conferido à capacidade, no entanto se ao fracasso do passado for atribuída a falta de capacidade, as crenças serão reduzidas na experiência do presente (Boruchovitch et al., 2001, p. 123). 110 O sucesso atribuído a grande esforço não contribui de forma relevante para o incremento da autoeficácia pela dedução de falta de capacidades devido ao extremo esforço que foi necessário aplicar para conseguir o pretendido (Boruchovitch et al., 2001, p. 123). 111 O sucesso em tarefas difíceis promove crenças de auto-eficácia mesmo que tenha sido exigido grande esforço (Boruchovitch et al., 2001, p. 123). Sónia Maria Amado Barreira 106 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem adoptar (ou não) idêntica atitude perante uma mesma tarefa112, no entanto, o efeito motivacional que advém da observação de modelos de sucesso é efémero, pois as crenças de auto-eficácia só se estabelecem se for comprovado na atitude reflexa um resultado idêntico de sucesso pela aplicação do esforço pessoal na tarefa); Persuasão verbal (pode desenvolver crenças de auto-eficácia na condição de que a informação comunicada acerca da posse e adequação de capacidades pessoais à realização de uma tarefa, seja transmitida por uma pessoa credível e na subsequente comprovação dos factos, isto é, as tentativas pessoais resultarem no êxito); Estados fisiológicos (manifestos através de sintomas, são interpretados e portanto julgados segundo critérios adoptados pelo indivíduo, o que determinará o nível de auto-eficácia em relação a determinada tarefa)113. Um contributo que pode ser feito na escola para o desenvolvimento das crenças de auto-eficácia e consequente motivação do aluno pode suster-se na aplicação de estratégias educacionais ligadas ao modo de apresentação de tarefas: propondo tarefas ou actividades com efeito motivacional ao serem caracterizadas pela sua exequibilidade de curto prazo114, especificidades definidas ao detalhe115 e adequação do nível de dificuldade116, que conduzam ao exercício de trabalho individual do aluno ou em grupo e representem o cumprimento de objectivos ou metas; evitando práticas de comparação social como distribuir “as mesmas tarefas a todos os alunos e cobrar 112 A observação de bons resultados de colegas pode motivar o aluno a empreender desafios semelhantes, e caso contrário se as tentativas dos colegas fracassarem o aluno “facilmente concluirá que ele também não terá êxito, caso se julgue de nível semelhante ao deles” (Boruchovitch et al., 2001, p. 123), no entanto carece salientar que por outro lado é possível que o aluno deduza que a razão de sucesso de outrem se deva a uma maior capacidade que a sua o que poderá resultar não no mimetismo mas na desistência da aplicação de esforços, tanto por considerar improfícuos, como bastante arriscado o emprego de esforços no caso de posteriormente fracassar “pois esforço sem bons resultados seria interpretado como indicador de falta de capacidade” (Boruchovitch et al., 2001, p. 124). 113 Por exemplo, “sintomas de alta ansiedade, quando percebidos pelo indivíduo, sinalizam vulnerabilidade e assim levam a julgamento de baixas capacidades numa dada situação” (Boruchovitch et al., 2001, p. 124). 114 Metas de conclusão próxima ou tarefas de curto espaço de tempo permitem uma melhor percepção do progresso e mais probabilidades de experiência de êxito (Boruchovitch et al., 2001, p. 126). 115 As tarefas devem ser específicas nos detalhes de cumprimento e padrões de desempenho essenciais para que o aluno saiba com exactidão o que é para fazer, pois “tarefas apresentadas de modo muito genérico prestam-se a muitos mal-entendidos, tanto no cumprimento, como na avaliação” (Boruchovitch et al., 2001, p. 127). 116 Quando se aplica um conjunto de tarefas deve-se apresentar cada uma por uma ordem crescente segundo o seu grau de dificuldade, introduzindo tarefas que representem “desafios mais fáceis nas fases iniciais da aquisição de novas habilidades” (Boruchovitch et al., 2001, p. 127), que beneficiem a percepção de auto-eficácia e posteriormente apresentar tarefas desafiantes mais difíceis “desde que acessíveis mediante o esforço, [e] que podem trazer informação sobre as verdadeiras capacidades” (Boruchovitch et al., 2001, p. 127). Sónia Maria Amado Barreira 107 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem deles o mesmo ritmo de produção; agrupar os alunos em função de sua capacidade; [e estabelecer um] clima competitivo em classe” (Boruchovitch et al., 2001, p. 128), ou seja, práticas que influenciem os alunos a encontrar diferenças entre si e seus colegas de modo a construírem juízos de valor com consequências negativas117, e por fim promover a motivação intrínseca através da implementação de tarefas segundo determinados critérios: […] a) dar tarefas que contenham partes relativamente fáceis para todos e partes mais difíceis, que possam ser atendidas somente pelos melhores; com isso, todos têm desafios e todos têm reais chances de acertos; b) para aqueles que tiveram concluído por primeiro, dar actividades suplementares, de enriquecimento e interessantes; c) permitir que, por vezes, os alunos possam escolher o tipo de tarefa; d) permitir que cada um siga seu ritmo próprio, sem qualquer pressão para que todos concluam juntos; e e) alternar trabalhos individuais com trabalhos em pequenos grupos, desde que estes não se cristalizem e todos recebam a devida assistência. (Boruchovitch et al., 2001, p. 129) Carece salientar que as crenças de auto-eficácia não são o único factor motivacional a considerar; são necessárias mas insuficientes de modo isolado para a motivação. O domínio das crenças de auto-eficácia incide no “poder de motivar os alunos porque é em função delas que ocorrerão a escolha, a direcção e a persistência nos comportamentos da aprendizagem” (Boruchovitch et al., 2001, p. 130), mas tudo isto só na condição de estarem assegurados no aluno a) os conhecimentos, habilidades e capacidades que lhe concedam adequado suporte ao bom desempenho exigido pela tarefa; b) as expectativas positivas de resultados que representem boas previsões dos efeitos prováveis das acções e assim despertem atitudes mais pró-activas, assim como c) a valorização dos resultados pelo próprio, atribuindo e reconhecendo o valor na qualidade dos seus trabalhos e desempenhos, ambicionando continuamente a progressão da sua aprendizagem. 117 Uma classe é composta por alunos que apresentam inteligências, experiências e habilidades diversas e na razão dessa pluralidade se deve considerar tarefas e agrupamentos entre alunos que se adeqúem a essa realidade e que promovam condições socioambientais benéficas em sala aula de modo a evitar situações que permitam comparações negativas que estabeleçam hierarquias entre os mais e menos capazes e discriminam aqueles que sentem mais dificuldade: “[…] os alunos que se perceberem entre os mais fracos da classe, o que é agravado pela consciência de que os outros também o percebem da mesma forma, terão reduzidas crenças de auto-eficácia e assim permanecerão enquanto persistirem [deficientes] condições socioambientais” (Boruchovitch et al., 2001, p. 128). Sónia Maria Amado Barreira 108 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.4. INSTRUÇÃO 3.2.4.1. TAXONOMIA DE BLOOM Benjamin Bloom, notável psicólogo e professor catedrático da Universidade de Chicago, exerceu desde 1940 o cargo de docente de psicologia educacional ao longo de 30 anos. Chefiou uma equipa que procurou solucionar o problema incidente na formação de objectivos e desenvolveu a Taxonomia, um sistema de classificação de objectivos educacionais que “relaciona cada objectivo com procedimentos específicos na sala de aula” (Sprinthall et al., 1993, p. 337) que auxilia os professores “a especificarem as suas metas e os meios de as atingirem; coordena os procedimentos e os materiais de aprendizagem com as estratégias de ensino” (Sprinthall et al., 1993, p. 337) e sugere “uma sequência de seis estádios ou níveis de objectivos que correspondem a uma sequência de estratégias de avaliação” (Sprinthall et al., 1993, p. 337). O primeiro nível intitula-se conhecimento básico, por exigir o conhecimento de factos, termos e métodos específicos ao aluno. Neste estágio objectiva-se que o aluno recupere, reconheça, identifique, designe, descreva, liste, localize e encontre informação, ideias, materiais ou fenómenos118. Avalia-se a capacidade do aluno de “evocar factos, identificar e repetir a informação fornecida” (Sprinthall et al., 1993, p. 337) por meio de perguntas directas que requerem a recordação do conhecimento factual - “quanto, quem, o que é …?”, “quando, como é que foi…?” - e testes de escolha múltipla. O segundo nível corresponde à demonstração do nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Neste estádio pretende-se que o aluno parafraseie, interprete, classifique, explique, exemplifique, compare, infira, resuma o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Avalia-se a “capacidade de agir sobre, ou processar, a informação” (Sprinthall et al., 1993, p. 338) de exposição da matéria, reordenação ou extrapolação de ideias, prognosticação ou suposições (Sprinthall et al., 1993, p. 337) do aluno, através de 118 Conceitos retirados de slides da Prof.ª Doutora Maria Adelaide Pires. Sónia Maria Amado Barreira 109 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem perguntas directas – “explique, demonstre o significado de …”, “dê um exemplo …, compare …” - que exijam raciocínios abrangentes mas mais profundos, expressos por suas palavras ou de escolha múltipla, com ordem diferente e mais complexa das aplicadas no primeiro nível. O terceiro nível incide na aplicação do conhecimento a situações reais através da demonstração efectiva ou implementação prática do mesmo. É exigido ao aluno a aplicação do que aprendeu a uma nova situação ou a elaboração de um produto comprovativo do conhecimento em acção. Neste estádio solicita-se ao aluno que execute, implemente, considere e use a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida119. Perguntas como: ”Que aconteceria se …?”, “Aplique a fórmula …”, (Sprinthall et al., 1993, p. 341), são exemplo de formas de avaliar a aplicação do conhecimento. O quarto nível refere-se à análise, e consiste na decomposição e exame das partes componentes da matéria. A este nível mais complexo exige-se ao aluno que classifique ou divida os elementos constituintes, compreenda conexões que possam existir e constate princípios organizadores (Sprinthall et al., 1993, p. 340). O aluno ao atribuir, delinear, organizar, estruturar, desfragmentar, comparar, encontrar, integrar a informação, coloca-se na direcção de um melhor entendimento, mais complexo e abstracto sobre o assunto tratado, que ultrapassa a mera compreensão simples e concreta exigida no nível dois (Sprinthall et al., 1993, p. 340). Neste estádio avalia-se a capacidade de análise crítica do aluno, se este consegue “identificar os pressupostos subjacentes a um argumento ou debate” (Sprinthall et al., 1993, p. 340) “separar os factos das opiniões e comparar teorias” (Sprinthall et al., 1993, p. 340) assumindo uma perspectiva centrada na lógica, demonstrando assim qualidades de pensamento crítico e lógico. Alguns exemplos de perguntas que podem ser colocadas são: “Em que se assemelham …?” (Sprinthall et al., 1993, p. 341). 119 Conceitos retirados de slides da Prof.ª Doutora Maria Adelaide Pires. Sónia Maria Amado Barreira 110 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O quinto nível corresponde ao objectivo educacional de aprender a sintetizar objectivamente um dado material. Pretende que o aluno demonstre “novas formas de compreender” (Sprinthall et al., 1993, p. 340) ao criar, reunir, construir e contribuir com novas ideias e teorias. Para que a avaliação permita ao aluno abrir novos horizontes no campo do conhecimento, deverá “ser planeada de forma a produzir novas ideias, métodos ou procedimentos” (Sprinthall et al., 1993, p. 340) para que os produtos resultantes das actividades constituam uma “síntese genuína” representativa de uma abordagem inovadora ou criativa (Sprinthall et al., 1993, p. 340) que transcenda o conhecimento presente. A este nível partindo do conhecimento preliminar aprendido o aluno gera novas ideias ao delinear, planear, imaginar, fazer, construir, produzir e inventar. Perguntas possíveis a serem aplicadas: “Descreva …” (Sprinthall et al., 1993, p. 341). Exemplos de actividades: “Escreva um conto …” (Sprinthall et al., 1993, p. 340). No nível seis o objectivo educacional centra-se na avaliação objectiva e na “aprendizagem de julgamentos de valores” (Sprinthall et al., 1993, p. 340). Neste estádio pretende-se o desenvolvimento de competências de avaliação crítica ou da capacidade do aluno de examinar, ponderar e elaborar padrões de julgamento norteados por “um quadro de referência lógico e abrangente” (Sprinthall et al., 1993, p. 340) ou sequência de razões de análise crítica conclusiva, isto é, o aluno conceber uma avaliação de ideias por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente (Sprinthall et al., 1993, p. 340). As perguntas de desenvolvimento possibilitam avaliar a avaliação elaborada pelo aluno, e podem ser formuladas da seguinte maneira: “Escreva …” (Sprinthall et al., 1993, p. 341). As actividades apropriadas para este nível baseiam-se na crítica fundamentada em padrões que justificam o seu julgamento, que “não poderá ser intuitivo” (Sprinthall et al., 1993, p. 342) para que se constitua numa base adequada a uma conclusão (Sprinthall et al., 1993, p. 342). Sónia Maria Amado Barreira 111 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Neste nível o aluno é orientado a experimentar, supervisionar, testar, detectar, ajuizar, sugerir hipóteses, conferir e criticar, centrando as suas decisões na acção reflexiva 120. 3.2.4.2. A TEORIA DA INSTRUÇÃO DE BRUNER A psicologia cognitiva, ou cognitivismo, é uma “corrente da psicologia que baseia-se no princípio que os indivíduos reagem não directamente a estímulos mas à representação (cognição) que elaboram da situação” (Pestana et al., 1998, p. 39), isto é, quando confrontados com particularidades do meio reagem accionando um processo do pensamento construtor de conteúdo e resultados, sejam imagens mentais, conceitos ou ideias, representações que substituem objectos, acções e situações em conteúdos de pensamento. Este processo cognitivo de tratamento da informação que caracteriza o pensamento engloba a percepção121, a memória122 e a inteligência abstracta123. A cognição sendo a génese central de estudo da psicologia cognitiva, interliga, condiciona e influencia a estrutura do comportamento: […] é todo e qualquer processo pelo qual o indivíduo recolhe informação do meio (externo ou interno), a elabora, armazena e comunica. Engloba, em especial, os processos sensoriais, a percepção, o pensamento, a memória, a comunicação e a linguagem. (Pestana et al., 1998, p. 39) Analisemos com maior distinção os “princípios científicos da aprendizagem que podem ser traduzidos em práticas que tornem a aprendizagem na sala de aula mais eficaz e produtiva” (Sprinthall et al., 1993, p. 223), envolvidos nas reflexões tomadas na perspectiva cognitiva, particularmente assumidas por John Dewey124 e Jerome Bruner125. 120 Conceitos retirados de slides da Prof.ª Doutora Maria Adelaide Pires. 121 Operação cognitiva diferente da sensação por organizar e interpretar os estímulos sensoriais atribuindo um sentido e significação à informação sensorial (Pestana et al., 1998, p. 156). 122 Operação cognitiva que obtém, retém e recupera informação, essencial na aprendizagem, este processo atravessa três níveis – a aquisição, a retenção ou conservação e por fim a recordação que opera através da recuperação e usufruição da informação em situação circunstancial do presente por meio de actualização da informação armazenada (Pestana et al., 1998, p. 132). 123 Capacidade simbólica e conceptual na acepção clássica do termo, de distinguir claramente relações entre os elementos que constituem um problema ou situação e de elaborar soluções adequadas e resoluções adaptativas (Pestana et al., 1998, p. 133). 124 Filósofo, psicólogo e teórico educacional. 125 Influente cognitivista-gestaltista. Sónia Maria Amado Barreira 112 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A aprendizagem em termos gerais “é uma mudança relativamente permanente no comportamento produzida pela experiência [distinguindo] entre mudanças de desempenho resultantes da maturação126 [das] resultantes da experiência” (Feldman, 2001, p. 184), isto é, no âmbito fisiológico de desenvolvimento127, a maturação referese ao “grau de prontidão funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do sistema nervoso” (Pestana et al., 1998, p. 130) decorrentes da evolução da estrutura orgânica distinta “das melhorias resultantes da aprendizagem, que são consequência da prática” (Feldman, 2001, p. 184). Por exemplo, a qualidade do traçado na experiência do desenho melhora com o desenvolvimento da destreza manual através da progressão evolutiva da força muscular dos dedos da mão e do braço e na melhoria do desempenho resultante igualmente da consequência da prática, na repetida experiência do exercício. As mudanças que se manifestam no comportamento podem apresentar temporalidade relativa; as que se processam em curto prazo poderão conter em si razões derivadas de factores momentâneos, influentes na qualidade de desempenho, como por exemplo, alterações do equilíbrio fisiológico, provocadas pela fadiga, subnutrição, etc., ou desordem emocional, resultantes da presença de emoções negativas prejudiciais à progressão da aprendizagem. A aprendizagem está dependente de diversos factores assim como existem variadas explicações com abordagens distintas: behaviorista, gestaltista, cognitiva, humanista. Uma das diferentes abordagens do cognitivismo - teve origem na sequência de uma reacção ao behaviorismo ou comportamentalismo, corrente da psicologia elaborada por J. Watson – e designou-se enquanto neobehaviorismo e os nomes mais sonantes destacaram-se: E. Tolman, J. Dewey, J. Bruner, D. Ausubel, J. Rotter, H. Gardiner, A. Bandura. John Dewey, filósofo, psicólogo e teórico educacional influente na prática real da educação nas escolas e salas de aula. Este considerava, que viver e aprender sucediam em simultâneo e que a educação seria um processo interactivo aplicado em contexto de sala de aula onde o ensino e aprendizagem pudessem interagir e facultar 126 Designa “o desenvolvimento de padrões de comportamento biologicamente predeterminados decorrentes apenas do avançar da idade” (Feldman, 2001, p. 184). 127 Conjunto de transformações pelas quais o aluno atravessa ao longo do seu ciclo pessoal de vida. Sónia Maria Amado Barreira 113 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem “o equilíbrio entre a aprendizagem experimental128 e o exame cuidadoso e racional” (Sprinthall et al., 1993, p. 20). Esta aprendizagem estabelecida através da experiência era um processo por ele admitido promotor das estruturas cognitivas do pensamento. Foi apologista de uma educação significativa em que os ambientes de aprendizagem promovessem o envolvimento e empenhamento activo de “aprender fazendo” através da inclusão da experiência em laboratórios, “centros de aprendizagem, seminários, unidades didácticas e programas dedicados a todos os aspectos de desenvolvimento humano” (Sprinthall et al., 1993, p. 19), e onde a experiência fosse orientada de forma metódica inclusiva dos interesses e capacidades dos alunos (Sprinthall et al., 1993, p. 18-19). Fundamentando-se na asserção “a mente é algo que cresce e, como tal, se encontra num permanente estado de mudança, apresentando fases distintas de capacidade e interesse em diferentes períodos” (Dewey apud Sprinthall et al., 1993, p. 19). Atribuiu relevo à ideia de estádios de crescimento e desenvolvimento do aluno a ser considerados. No âmbito de estudo da aprendizagem a posição de Jerome Bruner sustentada no cognitivismo-gestaltista, realçaria “a importância que tem na aprendizagem a formação de conceitos globais, a construção de generalizações coerentes, a criação de gestalts cognitivas” (Sprinthall et al., 1993, p. 237), a eficácia duradoura de uma aprendizagem baseada numa estrutura em que se integra e apresenta determinado assunto ou matéria, a influência dos valores e necessidades sobre a percepção humana, a significação do sentido da percepção correlata à experiência passada, a relevância da intuição enquanto técnica de resolução de problemas aplicada através do discernimento ou compreensão imediata em lugar da análise planeada, e na sua forte convicção de que “qualquer assunto pode ser ensinado eficazmente, de uma forma intelectualmente honesta, a qualquer criança, em qualquer fase do desenvolvimento” (Sprinthall et al., 1993, p. 239). Jerome Bruner, convicto empirista, exerceu um papel influente na integração do estudo de assuntos de cariz subjectivo, admitidos pela tradição comportamental da psicologia cognitiva enquanto “não científicos” – o estudo do pensamento – e 128 Experiência imediata da realidade externa e interna do aluno. Sónia Maria Amado Barreira 114 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem possibilitou posteriormente a sistematização e compatibilização científica da psicologia cognitiva. Desenvolveu uma teoria da instrução que prescreve previamente uma abordagem de ensino mais eficaz dependente do estado evolutivo do aluno, que tem como objectivo levar à compreensão de conceitos, conduzindo à aquisição. Esta engloba quatro princípios essenciais como a motivação, a estrutura, a sequência e o reforço. Esta teoria subentende a inerência da vontade de aprender na criança no entanto é admitido o reforço ou recompensa externa na activação de acções e manutenção desejadas. A motivação intrínseca é a força motriz activadora da vontade de aprender, por ser recompensadora e portanto auto-suficiente. A curiosidade, a obtenção de competência e a reciprocidade são os exemplos mais emblemáticos da motivação intrínseca. O impulso da curiosidade tem uma base biológica fundamentada na necessidade humana de sobrevivência e deve ser conduzida de forma disciplinada de maneira a evitar distracções provocadas pela dispersão de atenção devida a vários estímulos externos. O impulso inato de aquisição de competência manifesta-se pela focalização da atenção e interesse em intervir de forma participativa em situações às quais existem compatibilidade entre capacidades pessoais e as exigências inerentes à situação. Enfim a reciprocidade relaciona-se com a disposição tendencial de trabalhar cooperativamente com os outros, motivação inerente influente na progressão e desenvolvimento. Numa situação de aprendizagem os alunos geralmente são confrontados com propostas de problemas que testam o seu grau de compreensão relativo à matéria leccionada. O procedimento de exploração de alternativas, implicado no processo de aprendizagem e na resolução de um qualquer problema, deve ser facultado e regulado pelo professor de modo a que os alunos incorporem uma predisposição para a aprendizagem a longo prazo (Sprinthall et al., 1993, p. 240), valendo-se da motivação Sónia Maria Amado Barreira 115 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem intrínseca. Este procedimento de exploração de alternativas atravessa três fases, iniciando-se na fase de activação, a experiência de certo grau de incerteza para o despertar da exploração, prosseguindo para a fase de manutenção que assegure a exploração e certifique a experiência enquanto vantajosa e não arriscada de investigação, orientada pelo professor. O impacto do nível de dificuldade de uma tarefa tem importância na influência da emoção sobre a motivação, devido ao facto de se “uma tarefa for demasiado fácil, ficarão desinteressadas demais para explorarem as alternativas e se, ao contrário, for muito difícil, ficarão excessivamente confusas para explorarem as alternativas” (Sprinthall et al., 1993, p. 240). Por fim, a fase da direcção inclui condições, como o reconhecimento do objectivo, relevância desse almejo e a medida de execução temporal do objectivo, de modo que esclareça e oriente o sentido da exploração e esta se torne mais significativa. Bruner sustenta que a vontade intrínseca de aprender nas crianças deve ser gerida e reforçada em contexto de escolarização formal onde a exploração possa ser significativa e satisfatória no processo de aprendizagem guiado pelo professor. Seguindo agora para o segundo princípio da teoria da instrução – a estrutura – estabelece que organizando apropriadamente numa estrutura adaptada ao nível de conhecimentos do aluno e transmitindo de forma adequada e inteligível um qualquer corpo de conhecimentos, qualquer aluno poderá compreender qualquer corpo de conhecimentos, querendo dizer que o aluno poderá compreender bem conhecimentos de níveis avançados se estes forem transmitidos de forma estruturada e como tal, por exemplo, até uma criança de seis anos nessa condição poderá descrever de forma inteligível e reconhecível a teoria da relatividade de Einstein sem a necessidade de um domínio integral de todas as cambiantes da teoria envolvidas (Sprinthall et al., 1993, p. 240), porque segundo Bruner, “qualquer ideia, ou problema, ou corpo de conhecimentos pode ser apresentado de uma forma suficientemente simples para que qualquer aluno em particular o possa compreender de uma forma reconhecível” (Sprinthall et al., 1993, p. 240) 129. 129 Bruner, J.S. (1966). Toward a theory of instruction (p. 44). Cambridge, Mass.: Harvard University Press. Sónia Maria Amado Barreira 116 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A estrutura de um qualquer corpo de conhecimentos pode distinguir-se de três modos: de apresentação, de economia de apresentação e de poder de apresentação. O modo de apresentação é respeitante “à técnica, ao método, pelo qual a informação é comunicada” (Sprinthall et al., 1993, p. 240) que permita o ajustamento do modo de apresentação ao nível de experiência do aluno e resulte na compreensão alcançável através de três meios: a representação motora (produto da operação do pensamento que elabora conteúdos e conceptualizações, que advém de uma aprendizagem sustentada na acção ou experiência do movimento ou imitação)130, a representação icónica (produto da operação do pensamento que elabora conteúdos e conceptualizações, resultante em imagens mentais de objectos gerados na ausência da acção)131, e a representação simbólica (produto da operação do pensamento consequente da tradução da experiência em termos de linguagem, de derivações lógicas, associação de um símbolo sem relação directa com o representado (Pestana et al., 1998, p. 189), que permite construir representações do mundo das experiências possíveis enquanto modelos de referência úteis na resolução de problemas (Sprinthall et al., 1993, p. 241). O emprego de qualquer destes meios de representação no processo de aprendizagem em contexto de aula está dependente da idade e experiências antecedentes do aluno, bem como da natureza da matéria: “Por exemplo, para Bruner, um problema de direito requer uma representação simbólica, ao passo que um problema de geografia se ajusta bem ao icónico. Comunicam-se melhor acções através da representação motora. A matemática pode e deve ser representada pelos três modos” (Sprinthall et al., 1993, p. 241). O modo de economia de apresentação ou moderação na quantidade de informação ou conhecimentos transmitidos, de maneira a que a abordagem concisa relativa a 130 Por exemplo, uma melhor compreensão pode advir em termos de acções e ao que lhe esteja associado e à inter-relação entre a demonstração e imitação: “as crianças podem demonstrar a sua compreensão dos princípios de uma tábua em equilíbrio referindo-se às suas experiências no balancé. […] definem as palavras em termos das acções que lhes estão associadas: […] uma cadeira serve para sentar-se [por isso] é importante que as mensagens do professor entrem de algum modo em contacto com os seus músculos. Mesmo os adultos podem retroceder a uma representação baseada em acções, quando estão a aprender algo novo, especialmente uma competência motora. […] Em suma, quando as crianças estão no estádio de pensamento motor, as mensagens melhores, mais compreensivas, são sem palavras” (Sprinthall et al., 1993, p. 241). 131 Por exemplo, as “crianças podem desenhar a imagem de uma colher, sem encenar em termos motores o acto de comer. […] o uso de imagens ou diagramas permite que neste estádio as crianças sejam ensinadas de forma mais simples” (Sprinthall et al., 1993, p. 241). Sónia Maria Amado Barreira 117 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem determinado assunto seja mais eficazmente retida e relembrada a longo prazo, estando portanto dependente o proveito dessa moderação na “quantidade de informação que o aluno tem de reter para poder continuar a aprender” (Sprinthall et al., 1993, p. 241). O modo de poder de apresentação ou seu domínio influente prevalece na sua simplicidade e inteligibilidade, ao facultar “ao aluno ver novas relações, encontrar relações entre factos que à partida parecem bastante separados” (Sprinthall et al., 1993, p. 241), sendo que quanto mais complexa uma matéria maior será a necessidade de uma apresentação clara e eficiente como no caso da matemática. O terceiro princípio da teoria da instrução de Bruner corresponde à sequência. Bruner crê que ensinar em contexto de aula envolve uma sucessão estruturada de vários aspectos da matéria conducentes ao desenvolvimento intelectual do aluno e que inclusivamente o grau de dificuldade que o aluno poderá sentir está dependente da coerência dessa sequência na apresentação da matéria (Sprinthall et al., 1993, p. 241). A evolução do intelecto estabelece-se através do seguimento de uma sequência inata identificada por Bruner como a sequência das três modalidades básicas de representação, precedentemente explicadas e por esta seguinte ordem: representação motora ou activa, icónica e por fim simbólica, ou seja, “o professor deverá começar por ensinar qualquer matéria utilizando mensagens sem palavras, falando em especial para as respostas musculares do aluno. Em seguida, deverá levar o aluno a explorar diagramas e diversas representações pictóricas. Finalmente, a mensagem deve ser comunicada simbolicamente, pelo uso de palavras” (Sprinthall et al., 1993, p. 242). O não cumprimento desta sequência no caso da criança, poderá conduzir à confusão, se esta não tiver uma base imagética auxiliar a um novo material que lhe seja representado logo ao nível simbólico (Sprinthall et al., 1993, p. 242). O quarto e último princípio da teoria de instrução é o reforço, ou estímulo132 que sucede depois de uma resposta133. Imprescindível no processo de aprendizagem, o reforço pode ser aplicado de duas maneiras: de forma intermitente, algumas vezes depois da resposta, dando origem a uma maior resistência à extinção134 e a uma 132 Acontecimento interveniente externo ou interno detectado pelo organismo. 133 Conjunto de alterações manifestadas através do comportamento em reacção a um estímulo (Pestana et al., 1998, p. 187). 134 Processo de desvanecimento de uma resposta pela ausência de reforço. Sónia Maria Amado Barreira 118 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem aprendizagem mais vagarosa; e de forma contínua, ao qual se aplica todas as vezes que se capta a resposta pretendida. A qualidade do reforço pode ser bipolar, sendo positivo se “o estímulo for algo que o organismo deseje ou aprecie” (Pestana et al., 1998, p. 187), é portanto um estímulo que “ao ser acrescentado à situação, aumenta a probabilidade da ocorrência da resposta” (Sprinthall et al., 1993, p. 621), como tal, promotor de manutenção de determinado comportamento; inversamente denominado enquanto reforço negativo, o estímulo será aquele que subtraído numa situação, aumenta a taxa de resposta com maior celeridade do que aquela ocorrente no reforço positivo (Sprinthall et al., 1993, p. 621), e difere da punição135. Para uma boa aprendizagem são essenciais determinadas condições, para o alcance de níveis superiores de mestria de um problema, bem como o reconhecimento do momento de aplicação do reforço e a maneira como este se torna inteligível ao aluno. No processo de execução de um problema é essencial a obtenção de informação retroactiva ou feedback sobre o desempenho no espaço de tempo apropriado porque sempre que o aluno realiza uma auto-avaliação de desempenho pessoal o professor deverá revelar resultados de modo a que o aluno obtenha maior consciência da correcção do seu desempenho. Quando esse feedback não ocorre no devido momento poderá suceder-se ou o descrédito nas suas explorações alternativas ou a confusão na ordem do pensamento quando os resultados são revelados precocemente. Se pelo contrário, os resultados forem anunciados tardiamente “o aluno poderá ter ultrapassado o ponto em que o conhecimento teria sido útil e já poderá ter incorporado informação falsa” (Sprinthall et al., 1993, p. 242), sendo necessário desaprender a informação incorrecta incorporada para reiniciar a aprendizagem devida. Quanto à inteligibilidade do reforço, a informação retroactiva deve ser aplicada a um nível de entendimento do aluno, porque, se “o aluno opera ao nível motor, será útil um reforço ao nível icónico ou simbólico” (Sprinthall et al., 1993, p. 242). Estes quatro princípios enumerados são cruciais no contexto ensino/aprendizagem e sendo adequadamente aplicados proporcionam uma instrução mais eficiente. Segundo 135 Procedimento de controlo do comportamento pela aplicação do estímulo aversivo ou supressão da recompensa (Pestana et al., 1998, p. 187). Sónia Maria Amado Barreira 119 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem crê Bruner, para que a aprendizagem seja por acréscimo mais significativa a descoberta efectiva pela exploração pessoal de alternativas torna-se essencial para a retenção duradoura de conhecimentos. Por basear-se num modelo conceptual de aprendizagem gera um efeito de consequências mais perduráveis, sendo promotor do fortalecimento de sentimentos como a auto-estima. Não sendo a única forma de aprendizagem, nem representando uma maneira exclusiva de encontro de soluções, a aprendizagem por descoberta é uma técnica de exploração recompensadora por construir um hábito de descoberta para a vida inteira. A incitação através de perguntas que conduzam ao discernimento ou insight136, a colocação de hipóteses adivinhando respostas ou chegando à solução de forma intuitiva por parte dos alunos guiados pelo professor, são algumas condições de desenvolvimento da aprendizagem pela descoberta. A aprendizagem pela descoberta inclui estratégias de exploração muito relevantes para o desenvolvimento do pensamento criativo – processo cognitivo que, segundo J. P. Guilford137 caracteriza-se enquanto pensamento divergente por observar uma análise diversificada sobre determinada situação e encontrar soluções múltiplas (Pestana et al., 1998, p. 155). O pensamento não somente um exercício de lógica mental, é um processo cognitivo existente na consciência “que inclui crenças, desejos, expectativas, emoções e intenções” (Sprinthall et al., 1993, p. 242). O professor no âmbito do ensino pela descoberta deverá desempenhar a sua função de forma entusiástica, flexível, paciente, “pois o ensino pela descoberta não pode ser apressado” (Sprinthall et al., 1993, p. 243), para que o aluno atinja a verdadeira compreensão, assim como, o professor deverá ter absoluto domínio sobre o conhecimento da matéria para a poder comunicar. Bruner procurou estudar o complexo fenómeno da aprendizagem através da observação de crianças em situação de aprendizagem, especulando acerca dos eventos coincidentes na mente da criança, remetendo sugestões de exercícios aos professores e construindo uma teoria da instrução orientadora, imbuída de princípios 136 Processo dinâmico que objectiva a resolução de problemas com soluções de evidência não imediata. 137 Psicólogo americano. Sónia Maria Amado Barreira 120 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem com bases empíricas, condutores à aprendizagem significativa que superasse o mero condicionamento ou aprendizagem F descrita por Jean Piaget138. Conforme estabelecido por Jean Piaget, existem dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem F ou física, consequente da acção do meio físico incidente no indivíduo, análoga ao condicionamento operante de B. F. Skinner139, e a aprendizagem LM ou lógico-matemática, motivada internamente é resultante das acções do indivíduo sobre o meio, “da experiência contínua de organização e reorganização de acções de um indivíduo – processo que conduz ao objectivo da compreensão” (Sprinthall et al., 1993, p. 596). Bruner focou o seu interesse “na organização cognitiva, na compreensão, na aprendizagem LM” (Sprinthall et al., 1993, p. 243) e sendo apologista da perspectiva cognitivista-gestaltista no âmbito da aprendizagem, preconizou que “aprendizagem não se deve basear em avanços cegos por tentativa e erro, mas, sim, numa compreensão global a nível conceptual” (Sprinthall et al., 1993, p. 245) admitindo por acréscimo a importância da memorização de factos e ademais sua transposição para que se estabeleça a descoberta, o significado, a reestruturação cognitiva (Sprinthall et al., 1993, p. 245). A teoria da instrução que elaborou norteia o ensino de qualquer determinado assunto, fundamentando-se nos quatro princípios – motivação, estrutura, sequência e reforço – sustentando-se “na compreensão e no significado, mais do que no condicionamento dos factos e detalhes” (Sprinthall et al., 1993, p. 245), na eficiência da apresentação, nos meios de compreensão e na aprendizagem pela descoberta que explora alternativas e procura novas relações, e portanto mais significativa pela procura activa de soluções e “mais duradoura e útil do que a baseada na memorização e no condicionamento” (Sprinthall et al., 1993, p. 245). 138 Psicólogo suíço, epistemólogo genético (aquele que estuda a natureza e a génese do conhecimento). 139 Psicólogo norte-americano, representante da escola comportamentalista ou do behaviorismo (corrente elaborada por J.Watson). Sónia Maria Amado Barreira 121 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.5. PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA A programação neurolinguística (PNL) revolucionou o mundo do conhecimento e desenvolvimento pessoal (Vallés, 1997, p. 12). Um dos modelos de maior êxito da área de psicologia humanística, o seu campo de estudo é a estrutura da experiência subjectiva. Tem como propósito melhorar a qualidade de vida ao gerar novos comportamentos e modificar condutas, solucionar problemas de comunicação e facilitar o êxito nos objectivos do âmbito pessoal, profissional, social e escolar (Vallés, 1997, p. 12). Sendo a arte e a ciência da “excelência pessoal”, existe nela uma análise sobre formas de obtenção de resultados distintos, averiguando processos e capacidades do pensamento e da actuação eficientes, nos variados âmbitos da capacidade humana e da expressão própria pessoal. Com o intuito de organizar e reorganizar a experiência definindo e assegurando particulares manifestações comportamentais através da aplicação de ferramentas e técnicas específicas do modelo mais adequadas à concretização dos objectivos, a PNL viabiliza a consciência na organização e estruturação interna da experiência no pensamento e sua influência e repercussões na comunicação com os outros, na formação de conduta e hábitos (pensar, sentir, actuar) e na concretização dos objectivos ambicionados. Richard Bandler e John Gringer deram origem a esta inovadora abordagem especulativa sobre a eficiência na arte da comunicação e no desenvolvimento da excelência pessoal. O estudo de vários anos que deu origem à PNL baseou-se na detecção e escrutínio de evidências comportamentais de excelência de indivíduos de vários ramos das ciências, das artes e dos negócios. No âmbito da aprendizagem a PNL insere-se como um processo educativo que desenvolve “ formas de ensinar as pessoas a usar a sua própria cabeça” (Vallés, 1997, p. 18), consciencializando-as para a importância de como e não tanto o que aprender. A aprendizagem é produto da capacidade intelectual e da disposição emocional. O estado ou “soma total da experiência humana [que engloba] os processos intelectuais, emocionais e físicos que se produzem” (Vallés, 1997, p. 19) numa determinada Sónia Maria Amado Barreira 122 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem situação, deve ser o mais adequado possível para se estabelecer a aprendizagem. A experiência de aquisição de conhecimentos é muitas vezes subjugada a variáveis como as disposições emocionais, que podem tanto facultar como dificultar todo o processo de assimilação de informação. A inconsciência na maneira como se aprende produz dois tipos de problemas: a resistência à aprendizagem uma reacção resultante da incompreensão do grau de eficácia dos modelos e acções empreendidos no confronto contínuo com as mesmas dificuldades (a repetição dos erros manifesta falta de consciência da própria forma pessoal de aprender); e a falta de reconhecimento do pressuposto de que apesar do resultado se “poderia ter feito melhor”. O desperdício de oportunidades de aprendizagem no confronto com a novidade pode derivar de algumas razões: na atitude da certeza, da arrogância, de falta de autoconfiança, de confusão e de resistência. A novidade pode ser encarada de duas maneiras: não ser considerada enquanto algo novo e portanto manifestar-se a certeza de já ter conhecimento disso ou a arrogância de pensar que já se sabe tudo acerca do assunto; ou ser considerada como algo de novo e despertar falta de autoconfiança por calcular complexidade e incompetência pessoal para aprender, ou confusão por falta de entendimento estruturado e organizado originando desconcerto emocional ou ainda resistência pelo desagrado sustentado por outras e diversas razões (Vallés, 1997, p.19). Apesar de tudo isto existem diversas atitudes emocionais que facultam a aprendizagem tais como: a curiosidade (resultante do interesse num assunto que se desconhece, ou que já se conhecia com a pretensão de saber mais acerca do mesmo), a abertura (ao reconhecer a oportunidade de progredir), e o assombro, fascínio germinado (Vallés, 1997, p. 20). O segredo para uma boa aprendizagem é aprender a aprender tomando consciência que para “adquirir qualquer capacidade, em qualquer área da nossa vida, há quatro requisitos” (Vallés, 1997, p. 21) que devem ser cumpridos: 1) reconhecer e assumir que quanto mais sabemos menos sabemos pois existe sempre muito mais para aprender; 2) encontrar uma pessoa que guie a aprendizagem e ensine, ou uma obra literária ou científica fidedigna que possa apoiar o estudo; 3) manter uma disposição ou estado emocional que facilite a aprendizagem; 4) a prática assídua das Sónia Maria Amado Barreira 123 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem capacidades pretendidas é a acção que permite a mudança de conduta e a progressão na aprendizagem (Vallés, 1997, p. 22). São igualmente quatro as etapas de evolução no processo de aprendizagem: a fase da incompetência inconsciente (quando não se sabe que não se sabe, age-se conforme os costumes anteriores sem consciência dos novos códigos de conduta originando assim equívocos e acções incompetentes); a fase da incompetência consciente (quando se reconhece e se ajuíza pessoalmente que não se sabe) permite descobrir “limitações produzidas pelos nossos antigos hábitos (físicos, intelectuais e emocionais)” (Vallés, 1997, p. 23) e colocar em prática a prática, a atenção e a perseverança, requisitos que farão a diferença na prossecução da aprendizagem; a fase da competência consciente (alcance da competência mínima na área e compreensão das regras apesar de não estarem inteiramente dominadas; e por fim, a fase da competência inconsciente, é o estádio de aprendizagem mais ambicionado que representa o alcance da aptidão “numa tranquila unidade de conduta […] com um baixo grau de reflexão, num fluxo de acções” (Vallés, 1997, p. 24) em que a “parte consciente determina o objectivo e deixa que o inconsciente o execute, libertando a sua atenção para outras coisas” (Vallés, 1997, p.24). Quando se desenvolve um hábito ineficaz ou errado deve-se desaprendê-lo, retroceder nas etapas e reaprender reestruturando-o na forma correcta. Querer evoluir é estar disposto a um “permanente processo de aprendizagem, que passa pelo constante movimento de desaprender e aprender” (Vallés, 1997, p. 25) e a um constante almejo em atingir a quarta fase. Desaprender antes de reaprender passa por construir novas opções, modelos mais eficazes (Vallés, 1997, p. 25). Delineamos o nosso ser através da aprendizagem (Vallés, 1997, p. 26). Muito do que é percepcionado através dos sentidos são impressões sensíveis de uma porção de realidade percebida através do processamento e filtragem da informação recebida. A realidade é um modelo particular adquirido por meio da filtragem da experiência individual, “resultante da cultura, da linguagem, das convicções, dos valores, dos interesses e das suposições” (Vallés, 1997, p. 28-29). O modelo pessoal do mundo é “uma realidade única, construída pelas […] próprias impressões sensíveis […] e pelas experiências individuais” (Vallés, 1997, p. 29), pela focalização em certos aspectos que mais interessam e exclusão de outros, pelo tipo de filtragem (estabelecida pelos filtros das convicções, critérios, valores, etc.) a que são Sónia Maria Amado Barreira 124 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem submetidas as percepções, e pela interpretação elaborada segundo tudo isto (Vallés, 1997, p. 29). O mapa pessoal da realidade fica traçado assim que esta é interpretada e por consequência distorcida: […] a captação da realidade é sempre subjectiva (ainda que se centre em elementos objectivos, há uma interpretação pessoal de acordo com a nossa experiência) possuímos uma visão determinada do mundo […] inclui a totalidade das aprendizagens. (Santos, 2006, p. 20) A linguagem é um meio de expressão do pensamento que descreve a realidade individual. As palavras são escolhidas a partir de determinados critérios e reflectem a experiência pessoal descrita algumas vezes em sentido “figurado”. O mapa pelo qual a PNL se rege “interpreta a comunicação e o comportamento humanos” (Vallés, 1997, p. 29) através de determinados filtros ou princípios: 1) o mapa não é o território mas uma interpretação desse território; 2) estabelece-se o processamento da informação a partir dos cinco sentidos (visual, auditivo, olfactivo, gosto e tacto); 3) a adaptabilidade é o resultado pretendido por qualquer comportamento adoptado; 4) a familiaridade faculta a aceitação; 5) a comunicação implica dois níveis: consciente e inconsciente; 6) os fracassos não existem, mas apenas simplesmente resultados; 7) no reconhecimento de respostas deve estabelecer-se a abertura dos canais sensoriais e a evitação de interpretações precipitadas140; 8) na pessoa em si residem os recursos141 necessários para o alcance das mudanças que esta deseja; 9) qualquer comportamento contém uma intenção positiva; 10) Rapport ou concordância, é uma estado de relação ou empatia “o encontro de pessoas no mesmo modelo do mundo” (Vallés, 1997, p. 29). A informação é processada através dos cinco sentidos no entanto tendencialmente o sentido preferido é transformado num filtro preferencial (Vallés, 1997, p. 30). Habitualmente acontece esse desenvolvimento de um sentido, uma sensibilidade mais forte em detrimento das restantes, que organiza o mundo, as ideias e manifestações 140 De modo a compreender melhor os outros e os acontecimentos é essencial abrir os canais de percepção e emissão através de uma maior sensibilização para os sistemas de representação pessoalmente menos desenvolvidos e a adopção de predicados que os constituem: quando “utilizamos um sistema com mais ênfase do que os outros, há dois terços da realidade que são tomados em menor conta, assim como dois terços da humanidade com a qual comunicamos com limitações” (Vallés, 1997, p. 37). 141 Recurso designa “ um estado gerado por experiências positivas do passado, que podemos recuperar e trazer para o presente, visando atingir determinado objectivo” (Vallés, 1997, p. 109). Sónia Maria Amado Barreira 125 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem interpretativas, que apreende o meio, constrói e explica o modelo da experiência: […] usamos todos os sentidos, ainda que tenhamos um sistema preferente no momento de processar a informação. Da mesma maneira que um sistema visual desenvolve maior sensibilidade às cores, um sistema auditivo prestará maior atenção aos ruídos, aos silêncios, às palavras, e um cinestésico, a tudo o que se relacione com a experiência do tacto, com o movimento, com a sensação visceral. (Vallés, 1997, p. 32). Estes sentidos são para a PNL sistemas de representação da experiência interna ou externa, categorizados como: visual (implicado na recordação de imagens percepcionadas no passado, na criação de outras novas e na transformação daquelas já observadas), auditivo (implicado na capacidade de recordação de palavras ou sons ouvidos no passado e na formulação de novos), cinestésico quando inclui “ sensações corporais tácteis, as viscerais, as proprioceptivas (sensações provenientes do movimento dos músculos, por exemplo), as emoções, os sabores e os cheiros” (Vallés, 1997, p. 31). Os sistemas de representação preferidos são perceptíveis na escolha de palavras ou expressões que constituem as frases que compõem os diálogos, monólogos, manuscritos próprios de uma pessoa. A percepção preferencial de cada ser humano traduz-se em palavras específicas conotadas como predicados142, elementos da linguagem reveladores do sistema pessoal mais apurado (Vallés, 1997, p. 32). É de salientar que a escolha dos predicados usados pode não só depender da preferência pessoal por determinado sistema de representação, mas também, poderá variar em conformidade com a natureza da experiência: […] se relatarmos uma situação traumática, é possível que - independentemente do nosso sistema preferido - façamos especial finca-pé no cinestésico; se fizermos referência a uma paisagem, talvez apelemos mais para o uso dos predicados visuais, embora digamos muitas vezes que «o dia era triste» quando nos referimos a um dia enevoado. (Vallés, 1997, p. 33) A atribuição de maior valor a determinados aspectos da realidade é manifesta através da escolha de palavras específicas, expressões ou associações de significado (como a tristeza enevoada do dia cinzento) empregues nas frases reveladoras dos sistemas que melhor descrevem a importância atribuída. Esta abordagem da PNL confere aos modelos de representação da realidade um 142 Em anexo G encontram-se duas listas de predicados e expressões correspondentes a cada sistema de representação fotocopiadas do livro Poder sem limites de Anthony Robbins (p. 249-251). Sónia Maria Amado Barreira 126 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem indicador do mapa mental da pessoa e uma ferramenta auxiliadora da comunicação. Quando se estabelece um diálogo, sempre que ocorra alguma dificuldade de compreensão da informação que se transmite, o uso de predicados consonantes com o sistema de representação preferido da outra pessoa pode tornar mais compreensível a mensagem. Segundo Bandler e Grinder, existe outra maneira de detectar indícios sobre o modo como uma pessoa recebe, processa e emite informação. Nas investigações que realizaram sobre a excelência da comunicação humana reconheceram coincidências entre os movimentos involuntários dos olhos e a organização do pensamento (Vallés, 1997, p. 38). Constataram que enquanto uma pessoa dialoga o movimento dos olhos indicia as diferentes combinações dos três sistemas em acção no momento e o grau de influência de cada um deles e portanto a ordem de raciocínio pela frequência do vestígio que manifestam. Cada sistema de representação revela-se assim que o movimento dos olhos se concentra num dos três planos da linha dos olhos, superior (quando procura informação visual), central (quando procura informação auditiva) e inferior (quando procura informação cinestésica), e na sua orientação para um dos lados, esquerdo (quando recorda algo ou estabelece um diálogo interno) ou direito (quando imagina algo ou inclui sensações cinestésicas – emoções, sensações tácteis, proprioceptivas143, sabores, cheiros, etc.)144. Bandler e Grinder concluíram que “os seres humanos movem inconscientemente os olhos quando pensam e falam, para encontrarem informação no seu cérebro” (Vallés, 1997, p. 40). O movimento ocular não está sempre constantemente fixo a um plano podendo variar de acordo com uma ordem de raciocínios construída, por exemplo, quando se faz uma pergunta de natureza auditiva a uma pessoa esta não fixará os olhos exclusivamente num só plano, podendo porventura mover os olhos para cima ou para baixo o que poderá significar que “teve de ver primeiro a imagem, ou de reviver uma sensação, para poder encontrar o som” (Vallés, 1997, p. 40) mental de um trecho musical, o qual lhe foi pedido recordar. A abordagem da PNL igualmente sugere que em função do sistema de representação preferido a experiência é estruturada de diferentes formas (Vallés, 1997, p. 43), por 143 Relativo ao funcionamento dos proprioceptores “categoria de receptores sensoriais estimulados pelo movimento e pela actividade muscular” (Teixeira, 2004). 144 Em anexo H encontra-se um esquema, exemplificativo das chaves de acesso oculares, fotocopiado do livro Programação neurolinguística: desenvolvimento pessoal de Gustavo Vallés (p. 39). Sónia Maria Amado Barreira 127 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem meio de específicos sistemas – circular, linear e de rede. O sistema circular (adoptado pela pessoa que prefere o sistema de representação visual) revela-se no pensamento quando usufrui de imagens para representar ideias, multiplicando, movendo, dispondo em sequência, agregando, fundindo e construindo outras tantas, compondo em simultâneo tantos outros raciocínios infindáveis, baseados nas imagens em constante renovação (Vallés, 1997, p. 44). O sistema linear (manifesto no pensamento da pessoa que se orienta mais pelo sistema de representação auditivo) tende a uma linha de pensamento de natureza mais abstracta, sequencial de ideias bem definidas e consequentes, procurando expressar pela escrita e oralmente um discurso exacto por meio de ponderados raciocínios mais completos (Vallés, 1997, p. 44). O sistema em rede (comummente utilizado pelas pessoas que se guiam pelo sistema de representação cinestésico) estabelece um processamento da informação do exterior mais através das sensações e emoções, utilizando imagens, pensamentos abstractos e a intuição para alcançar conclusões que não atravessam uma análise lógica, avaliando as ideias considerando as repercussões emocionais em si e nos outros (Vallés, 1997, p. 44). A consciência da importância acerca dos sistemas de representação preferencial como dos sistemas de estruturação da experiência permitirá construir um discurso mais compreensível quando a comunicação é interrompida por uma qualquer dificuldade de interpretação da mensagem transmitida. Existem duas formas de comunicação: interna “constituída pelas coisas que representamos, dizemos e sentimos no nosso foro íntimo” (Vallés, 1997, p. 49) e externa “ a que estabelecemos com os outros por meio da palavra, de expressões do rosto, de posições do corpo” (Vallés, 1997, p. 49). Detectar os processos internos mentais e os indicadores externos comportamentais e verbais de uma pessoa, permite compreender como esta se organiza mentalmente dando assim oportunidade de alcançar o entendimento recíproco. Na interacção comunicativa por vezes surgem dificuldades de entendimento devido a distorções provocadas pela imprecisão construtiva da mensagem ou pela incorrecta interpretação da mesma. De modo a evitar essas distorções deve-se transmitir a Sónia Maria Amado Barreira 128 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem informação numa forma muito precisa e próxima da experiência para que a comunicação seja efectiva (Vallés, 1997, p. 61). Para conjugar a linguagem com a experiência, a PNL elaborou um modelo de precisão denominado “metamodelo da linguagem”, “técnica que nos permite clarificar o que dizemos, que nos alerta para o auto-engano, que nos facilita abarcar o que queremos dizer com o que dizemos” (Vallés, 1997, p. 61). O modelo de precisão identifica uma série de infracções ao sentido da experiência, resultantes de generalizações (utilização de frases com expressões muito gerais e portanto imprecisas que ignoram excepções)145, omissões (quando na frase o sujeito em causa não é mencionado claramente por não especificar a quem se atribui uma possível responsabilização)146, distorções na forma de comparações (quando não se esclarece a que elemento se compara)147, imprecisões (não especificando como ou quando ou onde se sucedeu a situação concreta e portanto podendo por isso variar a significação)148, juízos e convicções (afirmações limitadoras, construídas e vividas enquanto imposições sem opções, não baseadas em critérios relativos e pessoais mas baseados em dualidades antagónicas que não devem ser generalizadas como o bom versus mau, o correcto versus o incorrecto, o verdadeiro versus falso)149, incapacidade ou obrigação (impossibilidade ou necessidade expressa que limita a tomada de decisão e que gera a ideia de falta de controlo ou alternativas)150, adivinhação (distorção da realidade que advém de juízos baseados em suposições não sustentadas em factos que as corroborem e por consequência levando a julgamentos errados)151, e sugere respectivas intervenções desafiantes de contraposição (Vallés, 145 A frase – “Nunca faço nada bem” (Vallés, 1997, p. 62), deve ser confrontada através de considerações alternativas partindo do uso da palavra generalizadora na seguinte pergunta: - “Nunca passaste pela experiência de fazer algo bem?” (Vallés,1997, p.63). 146 A frase – “Não me dão ouvidos” (Vallés,1997, p. 63), deve ser confrontada por uma pergunta esclarecedora que permita a possibilidade de identificação do sujeito não referido: - “Quem especificamente não te dá ouvidos?” (Vallés,1997, p. 63). 147 A frase – “O João é o pior jogador” (Vallés,1997, p. 63), deve ser confrontada pela pergunta esclarecedora: - “Pior, comparado com quem?” (Vallés,1997, p. 64). 148 A frase – “Vou melhorar a comunicação” (Vallés,1997, p. 64), não clarifica em função de um contexto mais específico, por isso sendo necessária a pergunta esclarecedora para clarificar a experiência: “Como poderás melhorar” ou - “O que significa para ti melhorar a comunicação?” (Vallés,1997, p. 64). 149 A frase – “Os Homens não choram” (Vallés,1997, p. 64), deve ser contraposta por uma pergunta esclarecedora: - “Quem diz que os Homens não choram?” (Vallés,1997, p. 65). 150 A frase – “Não posso discutir contigo” (Vallés,1997, p. 65), deve ser contraposta por uma pergunta esclarecedora que recupere causas perdidas e induza ao discernimento das consequências das acções e análise de resultados: - “O que te impede de discutir comigo?” (Vallés,1997, p. 65). 151 A frase – “Já sei em que estás a pensar” (Vallés,1997, p. 66), deve ser contraposta pela frase esclarecedora: -“O que pensas que estou eu a pensar?”. Sónia Maria Amado Barreira 129 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 1997, p. 62)152. 3.2.6. TEORIA DO FLUXO A felicidade é um resultado de ordem, o maior dos propósitos de vida desejados, que as pessoas almejam alcançar, mesmo perante a temporalidade de pensamentos inconscientes desse facto toldados por raciocínios incapacitantes e nefastos. Sua Santidade Dalai-Lama Tenzin Gyatso, no que respeita a este assunto, considera: Na verdade, quanto mais vejo o mundo, mais claro se torna que qualquer que seja a nossa situação, […] todos desejamos ser felizes e evitar o sofrimento. […] Tudo o que fazemos, tanto individualmente como socialmente, pode ser visto em termos dessa aspiração fundamental. (Dalai-Lama, 2000, p. 11-12) Pode ser motivo para agir mas nem sempre o que é manifestado consegue exprimir o que de melhor se encontra inerente ao potencial das ordenações interiores constituintes. Nas acções a entropia psicológica pode declara-se nas decisões de desvio, essas fugas improdutivas que reduzem a possibilidade de evolução. Para evitar esse sofrimento provocado pela desordem é necessário abdicar de falsas convicções, questionando aparências e discernindo sobre as causas e efeitos consequentes na amostra do acontecimento infeliz. A ignorância sobre a falsa aparência admitida permite classificar erradamente a ocorrência ou sucedido. As emoções desencadeadas de uma errada premissa tornam-se destrutivos sofismas influentes nas acções contraproducentes. O estado de contentamento resulta da concretização de uma ordem estabelecida. Este resultado emocional revelado nas acções que concretizam os objectivos mais desejados, surge enquanto efeito de uma dedicação pessoal que transcende limites: O psicólogo austríaco Viktor Frankl resumiu esta ideia superiormente no prefácio do seu livro Man´s Search for Meaning: «[…] Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; deve acontecer… como se fosse o efeito secundário involuntário da dedicação pessoal a cuja grandeza nos ultrapassa». (Csikszentmihalyi, 2002, p. 19) A lógica de uma verdade é o recurso de ordem de uma interpretação da realidade, necessária à plenitude do espírito, tão apreciada, fundamentada na razão essencial de se ser, muito mais para além da mera existência enquanto comuns mortais. Essa transcendência de singularidade, muito estimada pela identidade, adquire-se 152 Em anexo I um quadro sintetizado, sobre as distorções da linguagem que foram agora apresentadas, fotocopiado do livro Programação neurolinguística: desenvolvimento pessoal de Gustavo Vallés (p. 69). Sónia Maria Amado Barreira 130 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem atravessando um processo de metamorfose característico da evolução do ser, da complexidade atingida através de concretizações. Essas realizações que desafiam limites, proporcionam desfrute durante o desempenho e a sensação de controlo e domínio sobre o próprio destino elevam o espírito e atribuem significado mais profundo à identidade e suas capacidades. O estado de espírito que acompanha essas realizações ou actividades foi alvo de um estudo, elaborado por Mihaly Csikszentmihalyi, professor de Psicologia na Claremont Graduate University, Califórnia. Este professor investigador constatou correlações entre a frequência de estado de fluxo - termo que denominou à condição física e psicológica de intensa concentração e desfrute - nas experiências de concretização e níveis consequentes de felicidade durante esses desempenhos em contexto. O estado de fluxo é portanto um estado interior, “uma sensação de enorme alegria, uma sensação profunda de gozo” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 19), que emerge da combinação de factores, envolvidos no desempenho de realizações excepcionais como a experiência óptima. Esta experiência é propiciada por factores favoráveis ou condições e motivações intrínsecas, concordantes com significados valorizados pelas ordenações interiores pessoais. A consonância entre factores como a concentração, a disciplina, o equilíbrio entre capacidades e exigências, o esforço e energia, a emoção, o grau de desafio e motivação é preponderante para o quadro de progressão do estado de fluxo potenciador de evolução. A experiência óptima manifesta-se no momento de superação de limitações onde a consciência se funde com as acções, absorvendo com extrema nitidez a sensação de plenitude. A concentração durante a experiência é tão apurada que o raio de acção cinge-se somente na abrangência do que é essencial para o desempenho, a “atenção torna-se tão focalizada que a pessoa só tem consciência da estreita gama de percepção relacionada com a tarefa imediata, perdendo a noção do espaço e do tempo” (Goleman 1996, p. 112). No confronto com tarefas que desafiam as capacidades, a concentração é mais apurada quando o nível de exigência é maior que o habitual, e exista a possibilidade de superação (Goleman, 1996, p. 113). A motivadora sensação de ligeira euforia, resultante dessa circunstância, é um subproduto da concentração. Sónia Maria Amado Barreira 131 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Dependente do grau de adequação entre as capacidades e exigências, o nível de interesse pela tarefa demonstrará variações - exigências muito baixas tornam a tarefa tediosa, exigências muito altas transformam a tarefa algo preocupante, provocadora de ansiedade153. A proporcionalidade dos valores intermédios deste quadro dual demonstra onde reside o equilíbrio propiciador de estado de fluxo. A eficiência cortical moderadora da energia mental resultante do desempenho óptimo advém da relação precisa e essencial entre a activação de determinadas áreas cerebrais e as exigências de uma tarefa. Em estado de fluxo “as tarefas mais exigentes são desempenhadas com um dispêndio mínimo de energia mental” (Goleman 1996, p. 113), a experiência tranquilizadora da execução da actividade que absorve intensamente a atenção sem esforço, diminui a excitação cortical. Com o reconhecimento e a prática a rapidez de reacção é o reflexo de um gasto de energia mais económico porque os “ movimentos conhecidos e praticados exigem do cérebro menos esforço que aqueles que estão a ser aprendidos, ou aqueles que são ainda muito difíceis” (Goleman 1996, p. 114). Portanto, o fluxo derivado do consumo energético reduzido pelo reconhecimento e nível elevado de atenção “só ocorre dentro dos limites da capacidade máxima, onde as aptidões estão bem ensaiadas e os circuitos neuronais são mais eficientes” (Goleman 1996, p. 114). No desempenho óptimo o cérebro em tranquilidade assume o “estado de „controlo‟ perfeito em que a excitação e a inibição dos circuitos neuronais estão sintonizadas com as exigências do momento” (Goleman 1996, p. 113), consome pouca energia mental e dispêndio de esforço, permitindo a impressão do difícil parecer fácil devido à adequação das capacidades. A absorção máxima consciente e inconsciente na experiência do desempenho óptimo num dado momento e a sensação de superação de si mesmo que daí advém gera o estado capacitativo positivo e energético de fluxo que implica domínio emocional; ser “capaz de entrar em fluxo é inteligência emocional no seu melhor; […] o máximo em 153 Quando um professor apresenta um desafio o aluno se decide participar confronta-se durante a interacção com a tarefa proposta de três maneiras: considerará enfadonha, estimulante ou preocupante mediante o que pensa sobre o seu próprio esforço, prestação, resultados que está a obter no momento e nível de dificuldade. Se acha que a tarefa é demasiado fácil sente-se aborrecido, por outro lado se acha que a tarefa é demasiado difícil sente-se ansioso. Quando percebe que consegue resolver a tarefa, que esta está ao nível das suas capacidades, mas desafia-o um pouco mais para além delas, sente estímulo pela indeterminada possibilidade de progressão. Sónia Maria Amado Barreira 132 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem matéria de dominar as emoções ao serviço do desempenho e da aprendizagem.” (Goleman 1996, p. 112) O estado de autoconhecimento propiciado pela experiência de fluxo surge sempre que existe um ajustamento das reacções com as exigências de um exercício. Isto costuma acontecer com mais frequência quando se controla habilmente um determinado desempenho, “quando as pessoas encontram uma tarefa em que são exímias, e se envolvem nela a um nível que desafia ligeiramente as suas capacidades” (Goleman 1996, p. 113). A intensificação da concentração exige disciplina e domínio sobre as emoções. O processo de metamorfose característico da experiência óptima ou de fluxo não é fácil mas absolutamente compensador na contribuição que proporciona para o conteúdo do significado da vida. 3.2.6.1. PROPÓSITO A finalidade de uma acção encontra seu significado no valor atribuído, ao dedicado processo orientador da energia psíquica imbuído de regras e objectivos precisos e à complexidade obtida resultante do desafio exigente atravessado. O equilíbrio é alcançado no empenho focalizado, no desenvolvimento das capacidades implicadas num determinado objectivo e no género de sentimento que deriva desse processo. Tem de existir uma ligação causal dos acontecimentos que atribua determinado sentido ou propósito lato, intento que justifique todo o empenho na concretização dos objectivos parcelados na acção esforçada. Concentrar energia psíquica em actividades aliciantes implicadas nos objectivos de um propósito almejado, cultiva significados, valores representativos de conteúdo. A harmonia da consciência individual é resultado de ordem dos sentimentos, pensamentos e acções sustidos num propósito bem delineado, na persecução coerente dos objectivos pretendidos, no esforço perseverante aplicado nas oportunidades de acção coerente propiciadora de experiência de fluxo. A consciência é uma faculdade que reconhece a actividade psíquica dos pensamentos, sentimentos, e as sensações (Feldman, 2001, p. 146), e que resulta de processos biológicos. Nela a apercepção dos fenómenos estabelece-se em compreensões subjectivas. Sónia Maria Amado Barreira 133 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem As dúvidas, lamentos, culpas e medos fragilizam a capacidade de acção e desperdiçam oportunidades de crescimento e evolução. O alcance da serenidade interior advém de uma auto-estima que permite reagir com coerência interior. “O propósito, a resolução e a harmonia unificam a vida e dão-lhe significado ao transformá-la numa experiência de fluxo contínua” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 291). O processo de aprendizagem implica constante superação de limitações, contínuo progresso no desenvolvimento de capacidades instigado por desafios orientados pelo propósito de assimilação de conhecimentos e aquisição de competências no que respeita à acção cognitiva, psicomotor e afectiva, implicada na aprendizagem de determinado domínio do conhecimento. O aperfeiçoamento das características e potencialidades singulares desenvolve um conceito de identidade agregado à construção do propósito de vida. De acordo com Csikszentmihalyi, o prazer e o desfrute de uma experiência representam duas sensações diferentes (2002, p. 74). O prazer é uma sensação de contentamento que pode estabelecer ordem, mas não traz felicidade nem produz evolução psicológica tal como aquela sensação gerada por uma nova ordem na consciência, propiciada pela sensação de desfrute na satisfação de uma expectativa ou necessidade realizada, na superação de desafios e compensações inesperadas154. Controlar a qualidade da experiência pessoal é aprender a desfrutar de qualquer contexto ou desafio, interagindo de forma participativa, pondo à prova capacidades e descobrindo novas perspectivas ou horizontes desconhecidos. O desfrute parece ser descrito pelos indivíduos de forma muito semelhante, independentemente, da cultura, classe social, nível de modernização, idade, género e das diferentes actividades envolvidas na experiência individual de desempenho óptimo. Existem 8 elementos essenciais da fenomenologia do desfrute manifestados na experiência óptima. O primeiro é relativo à atractividade, desta estar condicionada a objectivos, regras, atenção dirigida, desempenho de habilidades ou perícia específicos da actividade que esteja em causa. A actividade tanto pode exigir faculdades mentais 154 Actividades como ver televisão e jogar um jogo de xadrez dão a sensação de prazer, mas só uma estimula a sensação de desfrute e gera maior complexidade sobre as faculdades intelectuais no decurso da execução - a segunda. Sónia Maria Amado Barreira 134 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem como capacidades físicas dependendo das exigências que a constituem, e só quem as aplica de modo específico à actividade é que consegue apreciar o propósito da mesma e tem maior probabilidade de a completar. As habilidades são desenvolvidas pela acção participativa que põe à prova limites através do confronto com o desafio que poderá afirmar-se enquanto jogo e actividade de competição “fonte de desfrute quando constitui um meio para aperfeiçoar as faculdades; [e não] um fim em si mesmo” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 80), actividades artísticas ou literárias. A finalidade das actividades incide na ordenação da consciência dirigida por um esquema de acção e na possibilidade de desfrute de execução, através da correspondência das capacidades individuais às oportunidades de acção admitidas, “quando os desafios se encontram em perfeito equilíbrio com a capacidade de agir” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 83), no limite entre o tédio e ansiedade. O segundo coincide na combinação envolvente de acção e percepção, na absorção de energia psíquica ou concentração focalizada somente no momento e nas exigências da actividade e estímulos relevantes a ela inerentes. O envolvimento extremo entre a acção e a actividade atingindo níveis elevados de execução e automatismo espontâneo, que transparecem na agilidade e na mestria de desempenho, somente através de árduo e disciplinado treino mental e físico. Neste nível de progressão a percepção do eu separa-se da acção, no sentido que a reflexão crítica característica da consciência torna-se desnecessária perante um cenário em que a acção exímia flui espontânea sem mero esforço aparente. O terceiro e quarto elementos consistem na presença de objectivos precisos e no reconhecimento da resposta imediata para a avaliação progressiva da eficiência da acção aplicada na experiência. A validação da eficácia da acção confirma o atingimento do objectivo, gerando ordem na consciência e o reforço da estrutura do eu (Csikszentmihalyi, 2002, p. 88). O quinto elemento sustem-se na concentração da atenção dirigida no decurso da actividade. A imposição de acções estruturadas exigidas segundo requisitos da actividade, melhora a qualidade da experiência pela ordem que estabelece no estado da consciência, tendente comummente a episódios de entropia prejudiciais à fluidez da energia psíquica. Durante a concentração a lucidez mental é bastante selectiva quanto à informação com a qual decide lidar, o espectro de atenção cinge-se a informações que dizem respeito à actividade e ao desempenho, “a percepção só Sónia Maria Amado Barreira 135 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem permite o acesso a informação muito seleccionada, pelo que todos os pensamentos perturbadores que em geral atravessam a mente ficam temporariamente inactivos” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 90) como procedimento de defesa contra o desequilíbrio e diminuição da quantidade de energia psíquica centrada na actividade no decurso da sua prossecução. Um facto interessante reside na questão de temporalidade do processo de concentração, transcrito por Csikszentmihalyi de acordo com o testemunho de um professor de física alpinista: […] descreve assim o seu estado de espírito quando escalava: «É como se tivesse desligado a entrada de dados na minha memória. Só me consigo lembrar dos últimos trinta segundos e tudo o que consigo antecipar são os cinco minutos seguintes». De facto, qualquer actividade que requeira concentração tem uma limitação temporal semelhante. (2002, p. 90) O sexto elemento relaciona-se com o paradoxo do controlo, isto é, o aparente domínio sobre a experiência em que podem surgir diversos factores, sejam estes externos ou internos, desestabilizadores de um desempenho. A imprevisibilidade inerente à natureza caótica do mundo e da mente torna o processo da existência dependente de variáveis. Resta portanto, na medida das possibilidades de acção do ser humano, adaptar-se de modo a subsistir às inconstâncias do momento. A condicionada emancipação do ser humano surge a partir do facto de este acreditar na possibilidade em si de conter domínio transformador; isto transmite-lhe certo sentido de domínio enquanto meio de resposta por uma ordem que necessita alcançar. No desempenho óptimo a sensação de controlo influencia o estado positivo, precursor de respostas biopsicológicas favoráveis a um melhor desempenho, e consequentemente melhores probabilidades de sucesso. A sensação de controlo durante o desempenho é mais a crença na “possibilidade do que a realidade deste controle” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 92), porque o êxito só se confirma nos resultados do término da experiência ou acção. Portanto, mesmo que interagindo com este paradoxo, enquanto princípio, “no mundo do fluxo é possível atingir a perfeição” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 92). Este propósito, mesmo que parecendo utópico, é bastante inspirador, porque se analisarmos os grandes feitos na história da humanidade, estes foram resultado de aspirações de superação; por isso é que crer na possibilidade livre é crer na perfeição: Viver para além de si próprio. É isso que nos diz a enigmática expressão reflexa superar-se. Não é que viva acima das suas possibilidades, o que seria impensável: vive acima das suas realidades. […] O possível, que ainda não existe, surge da acção da inteligência sobre a realidade. As coisas têm propriedades reais, sobre as quais Sónia Maria Amado Barreira 136 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem inventamos possibilidades livres. […] O bloco de mármore continha como possibilidade o David que Miguel Ângelo inventou. (Marina, 1995, p. 20) A sensação de controlo ocorre na experiência de desafios propiciadores de fluxo. Os desafios envolvem certos riscos e níveis de perigosidade diferentes. Tratando-se de um jogo de xadrez o risco é inócuo a não ser que se jogue durante a escalada de uma montanha, aí o cenário muda de perspectiva. Csikszentmihalyi constatou, que apesar de o gosto por actividades perigosas parecer justificar-se em motivos de necessidades patológicas, pode no entanto advir de outros motivos mais inesperados, como fundamentar-se no estímulo “não do perigo propriamente dito, mas da sua capacidade de o minimizar” (2002, p. 93). Reduzir margens de erro ao mínimo implica desenvolver capacidades e proficiência necessárias ao confronto com desafios arriscados que muitas vezes envolvem factores físicos imprevisíveis. Deter controlo é lidar com a imprevisibilidade do real e dirigir as acções a resultados pretendidos. Nas palavras de Csikszentmihalyi, somente “quando está em jogo um desfecho duvidoso, e se consegue influenciar esse desfecho, se pode saber se a pessoa detém realmente ou não o controle da situação” (2002, p. 93). Uma questão importante a abordar correlacionada inversamente ao controlo é o facto de as actividades que produzem fluxo, para além de proporcionarem oportunidades de estruturações de ordem sobre a mente, poderem por outro lado, gerar dependência155: Quando uma pessoa se torna tão dependente da capacidade de controlar uma actividade de que gosta que não consegue prestar atenção a mais nada, perde o controle supremo: a liberdade de determinar o conteúdo da consciência. […] o eu se torna escravo de uma determinada espécie de ordem ficando incapaz de lidar com as ambiguidades da vida. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 95) O resultado de dependência reside no lado potencial negativo da experiência de fluxo que parece ter duas potenciais facetas, por isso é essencial “distinguir as formas de fluxo úteis das perniciosas, tirando proveito das primeiras e impondo limites às segundas” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 106). 155 Csikszentmihalyi dá como exemplo a susceptibilidade de Bobby Fisher pelo lado potencial negativo da actividade de fluxo. No seu caso o mundo do jogo do xadrez tornou-se uma necessidade, um refúgio contra a desordem da realidade que não conseguia confrontar. Por norma a actividade de fluxo permite ordem na consciência e consequentemente melhora a qualidade da existência através dos seus efeitos, mas neste caso Fisher não admitiu a actividade de fluxo enquanto meio para conseguir controlar a qualidade da experiência de vida, mas sim enquanto ferramenta para alienar-se dela. Sónia Maria Amado Barreira 137 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Prosseguindo para o sétimo elemento, este diz respeito à suspensão temporária da autoconsciência durante o desempenho sob o estado de fluxo. A suspensão refere-se à atenuação provisória da capacidade de auto-análise da consciência e não da consciência, pelo contrário, esta apercebe-se com grande precisão e lucidez do que se passa com o corpo e a mente durante o desempenho: Um violinista tem de estar extremamente consciente de todos os movimentos dos seus dedos, bem como do som que penetra nos seus ouvidos, e da forma global da peça que está a tocar, quer analítica, nota a nota, quer sinteticamente, em termos de totalidade. […] Um jogador de xadrez não poderia desfrutar do jogo se não conseguisse trazer à memória posições e combinações anteriores quando quisesse. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 97) Aquando o desempenho óptimo a necessidade de reflectir sobre o próprio eu ou sobre a adequação das acções pessoais à tarefa em curso, não carece ser posta em causa, pois o estado de fluxo é desprovido de ego e as acções num desempenho óptimo são reflexos espontâneos correctos, resultantes de intenso treino. A absorção de energia psíquica é dirigida selectivamente sobre os aspectos relevantes ao desempenho e não dá margem para desperdícios energéticos a estímulos irrelevantes ou preocupações. As certezas inerentes aos objectivos, regras, equilíbrio de capacidades e exigências da actividade e estado de concentração não intimidam o ego e este não precisa de sentir-se vulnerável e portanto não exige energia na sua activação. Quando o ego não interfere com o desempenho a oportunidade de expandir, transcender para um plano superior do ser apresenta-se como metamorfose do eu, numa sensação de desfrute e unidade que expande a energia psíquica, a percepção e acção, integrando todos os elementos num sistema para além de si: O violinista, envolvido na corrente sonora que ajuda a criar, sente-se como se fosse parte da «harmonia das esferas». O alpinista, concentrando toda a sua atenção nas pequenas irregularidades da parede rochosa […] fala da sensação de afinidade que se desenvolve entre os dedos e a rocha […]. Num torneio de xadrez, os jogadores […] se sentem como se tivessem mergulhado num poderoso «campo de forças» embatendo noutras forças numa dimensão imaterial da existência. […] torna-se de facto parte de um sistema de acção maior que o eu individual tinha sido anteriormente. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 98-99) A simbiose entre o desprendimento do ego e os elementos abordados anteriormente permite uma interacção cativante sob um sistema de acção. É necessário cultivar esses elementos com constantes aperfeiçoamentos das faculdades para se alcançar o estado de fluxo com frequência. O resultado mais gratificante da experiência de fluxo proporcionada pelos elementos que a constituem é o fortalecimento da identidade, Sónia Maria Amado Barreira 138 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem aquisição de maior complexidade e plenitude, a oportunidade de transcendência de si mesmo. A suspensão temporária da autoconsciência permite um ressurgimento fortalecido do eu. Em fluxo, a pessoa é desafiada a fazer o seu melhor e tem de melhorar constantemente a sua perícia. Na altura não tem tempo para reflectir sobre o que isto significa em termos de ego – se tivesse tomado consciência de si a experiência não teria sido muito profunda. Mas, depois, quando a actividade acaba e a autoconsciência pode regressar, o eu sobre o qual a pessoa se debruça não é o mesmo que existia antes da experiência de fluxo: enriqueceu-se com novas faculdades e feitos. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 99-100) O oitavo e último elemento é a distorção do tempo. Já dizia Einstein que o tempo era relativo. Csikszentmihalyi refere que “durante a experiência de fluxo o sentido do tempo tem pouca relação com a passagem do tempo pela convenção absoluta do relógio” (2002, p. 100). A percepção da passagem do tempo varia, tanto pode parecer muito rápida como lenta, “as horas passam em minutos e os minutos podem alongarse até parecerem horas” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 78). Depende muito do nível de desfrute e concentração em questão. Algumas actividades de fluxo envolvem o tempo do relógio como a interpretação de uma peça musical, um jogo de basebol, etc., mas nem todas necessitam dessa regra, ioga, conversas com amigos, realizar um desenho e portanto a percepção do tempo é experienciada de forma relativa. Quando o tempo é essencial para a realização de uma actividade a percepção do tempo é muito precisa e de acordo com a do relógio. Esta faculdade de determinar o tempo exacto pode encontrar-se em cirurgiões, corredores e pilotos de corridas de automóveis, porque é essencial para o sucesso do seu desempenho e objectivos em relação ao êxito na actividade. Em resumo, a combinação destes 8 elementos na experiência de uma actividade resulta numa sensação de desfrute extremamente motivadora. O desempenho da actividade é gratificante e as compensações na sua realização são fortemente reconhecidas e valorizadas. 3.2.6.2. ACTIVIDADES Na experiência de vida, muitas das actividades são desempenhadas por razões de consequência na sua realização, puramente motivadas por razões externas, enquanto meios para um fim. Outras actividades, opostas a estas, caracterizam-se enquanto fins Sónia Maria Amado Barreira 139 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem em si mesmas, e por isso parecem ser intrinsecamente gratificantes por nelas residir a compensação na realização. A experiência de vida é constituída pela combinação destes dois géneros de actividades. É de salientar que a forma como a pessoa encara a actividade é fundamental para poder-se definir com precisão a que categoria a actividade pertence. Não se pode afirmar que determinada actividade é gratificante sem colocar em causa as ordenações interiores individuais. Duas pessoas podem considerar de maneira diferente uma mesma actividade. Ler um livro manual de filosofia pela razão de estudar para um teste e obter uma boa nota não é o mesmo do que ler esse livro pelo desfrute na absorção do conhecimento que este transmite. As razões inerentes à participação em determinada actividade distinguem-se pelo motivo. Também é certo que as actividades distinguem-se pela variação de seus propósitos. Algumas actividades mais do que outras parecem ter sido concebidas para facilitar o alcance do fluxo e da experiência óptima. Os jogos, as artes, os rituais, são actividades que tendencialmente proporcionam a experiência de fluxo muito mais facilmente que quaisquer outras. Foram desenvolvidas para melhorar a qualidade da experiência de vida, por parte de cada cultura, e se ainda subsistem deve-se ao facto de continuarem a propiciar desfrute. Quanto aos jogos, estes distribuem-se em quatro classes (categorizadas pelo antropólogo psicólogo francês Rogers Caillois): a classe agon, abrange actividades de competição que viabilizam a realização do potencial através da superação das capacidades pessoais por comparação aos outros (provas de atletismo, etc.); classe alea, diz respeito aos jogos de azar, actividades de entretenimento que envolvem a adivinhação, tendo por função estipular uma ordem pela previsão de um acontecimento ou futuro inescrutável (jogos de dados ou cartas, etc.); a classe ilinx, engloba actividades que relacionem-se com a vertigem, que implicam a perturbação da percepção normal e baralham a consciência (carrossel, queda livre, etc.); e por fim a classe mimese inclui actividades de realidades alternativas que envolvem a fantasia, fingimento e o disfarce (dança, teatro, as artes, etc.). De acordo com Csikszentmihalyi, as actividades de fluxo permitem a evolução do ser de forma muito apelativa e desafiante quer seja através da competição, do acaso, do redemoinho ou da imaginação, e têm em semelhança “o facto de proporcionarem uma sensação de descoberta, um sentimento criativo de transporte para uma nova realidade” (2002, p. 110) e estados de consciência conducentes a altos desempenhos Sónia Maria Amado Barreira 140 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem absolutamente inspiradores. Isto explica a vontade de repetição do desfrute, a maior razão do investimento participativo na actividade. Na experiência de fluxo existem duas dimensões essenciais que devem interagir equilibradamente, pois caso contrário o estado de fluxo sofre uma transfiguração. As variáveis de perícia do indivíduo e dos desafios constituintes da actividade devem manter-se uniformemente proporcionais, isto é, deve existir correspondência entre o nível de exigência do desafio e o nível de perícia aplicada adequada à concretização do desafio. Quando isso não acontece podem surgir dois tipos de situações. A primeira situação apresenta o desequilíbrio entre as duas dimensões onde o nível de perícia é mais elevado que o nível de dificuldade exigido pelo desafio. O resultado que se verifica, observando do ponto de vista da motivação, é a redução dos níveis de desfrute e por consequência a desmotivação manifestada pelo sentimento de tédio. Quanto à segunda situação que pode acontecer, o inverso da situação anterior costuma ocorrer, quando os níveis de perícia são inferiores ao nível de dificuldade apresentado pelo desafio, o resultado figura-se em ansiedade. O processo de aprendizagem de uma determinada actividade nem sempre se desenvolve de forma tão uniforme quanto à progressão proporcional ideal descrita. As duas situações anteriormente relatadas podem ocorrer durante a aprendizagem mas em momentos diferentes, deve-se portanto saber essencialmente como reestabelecer o equilíbrio entre as variáveis – perícia e desafio – de modo a que seja crescente o nível de dificuldade do desafio sem que isso signifique a redução dos níveis de desfrute. Conclui-se portanto que o elemento-chave motivador da progressão na aprendizagem será sempre a vontade de experienciar novamente a sensação de desfrute propiciada pelo equilíbrio das duas dimensões e o gradual aumento de dificuldade: É esta característica dinâmica que explica o facto das actividades de fluxo conduzirem ao crescimento e à descoberta. Não se pode gostar de fazer a mesma coisa no mesmo nível durante muito tempo. Ou nos aborrecemos ou ficamos frustrados; e então, o desejo de voltar a desfrutar leva-nos a melhorar a nossa perícia ou a descobrir novas oportunidades de a utilizar. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 112) 3.2.6.3. OSTÁCULOS Existem vários obstáculos que interferem com a oportunidade de experienciar o estado de fluxo, que tanto podem corresponder a causas genéticas inatas, de personalidade e Sónia Maria Amado Barreira 141 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem emoções negativas, que estão relacionados com o interior do indivíduo, como também as condicionantes de nível ambiental ou natural e de origem social. Correlacionada com causas genéticas, a perturbação da atenção corresponde ao obstáculo caracterizado pela predisposição de uma menor capacidade de concentração, interferente com o processo de aprendizagem que exige o controlo da energia psíquica necessária à assimilação de conhecimento em profundida. Quanto aos obstáculos inerentes à personalidade, o egocentrismo é um factor que não faculta a experiência de fluxo pela razão da energia psíquica manter-se focada no ego e interesses que não têm valor em si mas pelo fim que representam. Se o estado de fluxo envolve a suspensão da autoconsciência e implica a concentração da atenção no valor que a actividade representa e seus objectivos intrínsecos inerentes, então o egocêntrico terá bastantes dificuldades em experienciar esse estado se a sua consciência encontra-se estruturada para objectivos meramente extrínsecos (Csikszentmihalyi, 2002, p. 124). As emoções negativas por comparação são um obstáculo menos drástico mas igualmente incapacitante; por exemplo o medo excessivo do ridículo, da opinião dos outros ou o sentimento de insegurança condenam o equilíbrio de gestão da atenção essencial para qualquer actividade representando prejuízos ao nível da aprendizagem e do crescimento do eu. Quanto aos obstáculos de origem ambiental (relacionados com condições naturais agrestes do meio de interacção) e social (relacionados com opressões ao nível da liberdade ou direitos, como por exemplo qualquer forma de escravatura, exploração ou destruição de valores) impedem a ocorrência de oportunidades de fluxo de formas distintas. O meio caracterizado por condições adversas coloca em primeira instância precedências de necessidades de ordem inferior, como as necessidades fisiológicas e de segurança (analisando de acordo com a perspectiva teórica da pirâmide hierárquica de necessidades humanas concebida pelo psicólogo Abraham Maslow) e que no caso de não serem satisfeitas, a progressão dos consecutivos patamares – amor e pertença, estima, e por fim a realização pessoal –, não se concretiza, reduzindo oportunidades de experiências de fluxo mais complexas. Quanto à opressão de origem social, pode manifestar-se de duas maneiras, através da anomia e da alienação. A anomia é “a condição social em que as normas de Sónia Maria Amado Barreira 142 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem comportamento se tornam confusas” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 125), pela dependência de regras de um sistema social em decadência, provocada por exemplo, por colapsos económicos, culturais, ou ascensões mas sem valores ancestrais. A ansiedade é o resultado emocional derivado dessa condição experienciada, quando o indivíduo se deixa influenciar muito pelo ambiente exterior enquanto concebe representações da realidade na consciência. O nível de influência depende muito da necessidade que o indivíduo sente por usufruir da informação externa: Os indivíduos que precisam de muita informação externa para conceber representações da realidade na consciência podem estar mais dependentes do ambiente exterior para utilizar as suas mentes. Terão menos controle sobre os seus pensamentos, o que, por sua vez, lhes tornará mais difícil desfrutar da experiência. Ao invés, aqueles que necessitam de poucos sinais exteriores para representar os acontecimentos na sua consciência são mais autónomos relativamente ao ambiente. Têm uma atenção mais flexível que lhes permite restruturar mais facilmente a experiência e, por conseguinte, alcançar mais vezes experiências óptimas. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 127) A alienação “é uma situação em que as pessoas são constrangidas pelo sistema social a agir de um modo contrário aos seus objectivos” (Csikszentmihalyi, 2002, p.125). Os indivíduos são subjugados a actividades ou instituições de ordem, quer económica, social ou ideológica que não escolheram por sua própria vontade, resignados às circunstâncias que os envolvem agem devido a obrigações e não por objectivos próprios. A consequência emocional desta condição da experiência resulta no sentimento de tédio. Ambos os obstáculos de cariz social apresentam razões de carência de investimento focalizado de energia psíquica, no caso da anomia a indeterminação de escolha devese ao meio envolvente que não ajuda à formação de ordem na consciência e na determinação de um investimento que possa valer a pena, no caso da alienação a impossibilidade de poder agir por vontade própria e investir num projecto pessoal é devida à impotência gerada por um sistema social condicionante e autoritário. Em suma, a fragmentação dos processos da atenção expressos nas perturbações de atenção e anomia, e a excessiva rigidez manifestada pelo egocentrismo e a alienação são factores implicados ao fracasso no alcance do estado de fluxo (Csikszentlihalyi, 2002, p. 126). Sónia Maria Amado Barreira 143 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 3.2.6.4. PERSONALIDADE AUTOTÉLICA Quando a experiência numa actividade é intrinsecamente gratificante e o seu potencial torna a vida mais significativa é denominada enquanto experiência autotélica, sempre que a actividade seja um fim em si mesma. A palavra refere-se à autotelia, termo derivado do grego autothelés, «que age por sua própria vontade», e designa a “qualidade de determinar por si próprio o objectivo dos seus actos” (Teixeira, et al., 2004, p. 176). Sendo o fluxo um estado mental operante imerso no desfrute de uma actividade e a autotelia a acção operatória dirigida por objectivos pessoais, serão ambos os termos fundamentais no que respeita à experiência óptima. As pessoas que manifestam a capacidade de perseverar independentemente da qualidade da situação que se apresenta diante de si, que encontram soluções que permitem a sua subsistência, a superação de contrariedades, pela transformação da situação numa experiência controlável nem que seja subjectivamente caso não exista outra possibilidade, evidenciam traços característicos de uma personalidade autotélica, modeladores da realidade. Demonstram domínio sobre a sua consciência e a sua energia psíquica de forma coincidente com o controlo descrito no esquema fenomenológico do desfrute inerente às actividades de fluxo: Primeiro, prestaram muita atenção aos mais ínfimos detalhes do ambiente, descobrindo recônditas oportunidades de acção que se coadunavam com o pouco que, dadas as circunstâncias, lhes era possível fazer. Depois, definiram objectivos adequados à situação precária em que se encontravam, controlando minuciosamente o progresso mediante a resposta que obtinham. Sempre que alcançavam o seu objectivo, subiam a fasquia, colocando perante si desafios cada vez mais complexos. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 131) Expressam atitudes de desprendimento de si, segundo a descrição de Csikszentmihalyi dos relatos de Richard Logan sobre o controlo interno de pessoas que superam adversidades extremas: […] a característica mais importante dos sobreviventes é um «individualismo não consciente», ou um propósito firmemente orientado e desinteressado. As pessoas que têm esta qualidade são levadas a dar o seu melhor em todas as circunstâncias, embora a sua preocupação principal não resida nos seus próprios interesses. Dado que estão intrinsecamente motivadas nas suas acções, não se deixam perturbar com as ameaças externas. Dispondo de suficiente energia psíquica para observar e analisar objectivamente o que os rodeia, têm mais hipóteses de aí descobrir novas oportunidades de acção. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 134) Sónia Maria Amado Barreira 144 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Esta personalidade advém de uma herança biológica, uma predisposição neurológica no que respeita à facilidade de concentração e flexibilidade da energia psíquica, apesar disso poderá ser uma faculdade cultivada e aperfeiçoada ao longo da infância, preferencialmente, mas também possível em idade adulta, através de treino e disciplina (Csikszentmihalyi, 2002, p. 134). As regras, de origem directa no modelo de fluxo, essenciais para o desenvolvimento de uma personalidade autotélica poderão ser sumariadas em três itens: definição de objectivos, submersão na actividade, concentração no momento e desfrute da experiência imediata. Em relação à definição de objectivos, o poder de escolha na opção entre o lutar, o dever ou o desistir é importante porque expressa o nível de empenhamento pessoal sobre um desafio a confrontar. O poder de decisão pessoal indica maior dedicação sobre a conquista do desafio. Partindo desse ponto, através da decisão por escolha própria de lutar muito mais que o dever, estabelece-se um reconhecimento do desafio e objectivos gerais e específicos necessários à sua resolução. É definido um sistema de acção correlacionado com o desafio e objectivos que pressupõem capacidades que são identificadas como sendo necessárias à prossecução desse desafio. Analisam-se os resultados e respostas das suas acções, para um entendimento da eficácia e concordância com as expectativas, realizam-se portanto uma avaliação progressiva de eficácia mediante os resultados e desenvolvimento das suas capacidades. As pessoas com este tipo de personalidade acreditam na sua auto-eficácia e poder de decisão pessoal. Acreditam que os maus resultados não são derrotas mas obstáculos a serem ultrapassados por novos planos de acção. As suas acções são predeterminadas e consistentes segundo planos estabelecidos por metas. Sabem redireccionar objectivos quando existem razões para tal. A imersão na actividade pressupõe um envolvimento profundo, uma aprendizagem sobre o equilíbrio entre as oportunidades de acção e as suas capacidades. É estabelecido um compromisso entre o sistema de acção ou as solicitações do ambiente em que participa por escolha e as suas capacidades de acção mantidas por um estado de concentração condutor de maior envolvimento sobre a actividade. Quando se alcança a adequação das acções com o sistema de acção dá-se a integração, submersão. Sónia Maria Amado Barreira 145 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A concentração no momento é um investimento de atenção necessário ao envolvimento com a actividade. Esta desvia a insegurança da consciência e permite a possibilidade de submersão profunda. Suspendendo temporariamente a sua autoconsciência na acção pode desenvolver-se para além dos limites da sua individualidade integrando-se com o sistema de forma plena. Aprender a desfrutar da experiência imediata é tornar-se mais sensível e encontrar harmonia em tudo o que se realiza, seja sentir a “brisa num dia de calor, ver uma nuvem reflectida na fachada de vidro […] ver uma criança a brincar […] beber um copo de água” (Csikszentmihalyi, 2002, p. 284). Desenvolver aptidões melhora capacidades e transforma o ser num ser mais complexo e capaz: […] aprender a definir objectivos, a desenvolver capacidades, ser sensível ao outro, saber concentrar-se e envolver-se – é conseguir desfrutar da vida mesmo quando as circunstâncias objectivas são brutais e adversas. Deter o controlo da mente significa que tudo aquilo que acontece pode, literalmente, ser uma fonte de alegria. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 284) 3.2.6.5. ESTRUTURAS DISSIPADORAS O poder das estruturas dissipadoras reside no facto de identificarem o caos e estruturarem-no numa ordem mais complexa, concordante com objectivos úteis e vantajosos. Estas estruturas subentendem-se nos processos psicológicos reabilitadores. A capacidade de manipulação do caos é um procedimento que viabiliza a integridade da consciência envolvida em si num mundo interior predisposto à desordem e um mundo exterior imprevisível composto por acontecimentos potenciais de neutralidade ou destruição independentes da acção humana, dependentes dela, ou da percepção individual e sua resposta de confrontação com a realidade do momento. A falta de controlo sobre a consciência torna-a vulnerável perante imprevistos ou contrariedades. Estas podem assumir formas de destruição, morte, doença, derrota ou frustração, que ameaçam e prejudicam o funcionamento do eu, se este não conseguir imunizar-se através de estruturas dissipadoras que protejam a sua integridade. Os traumas, a depressão, a ansiedade, o medo, a insegurança são reacções de gestão emocional susceptíveis ao fracasso. O escudo protector das estruturas dissipadoras implica uma sinergia transformadora que envolve a interacção dos seus elementos constituintes: a coragem, a resistência, a perseverança, assertividade, etc., em suma capacidades transformacionais ou estratégias positivas promotoras da conquista pela estabilidade. Sónia Maria Amado Barreira 146 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Existem três etapas subentendidas na transformação de situações angustiantes em actividades de fluxo: autoconfiança natural, concentração da atenção no mundo e a descoberta de novas soluções. A autoconfiança sustenta-se na crença de que o destino inscreve-se no poder individual de decisão e acção integrados, e que a auto-eficácia é um determinante recurso para o alcance dos objectivos. Interagem com sentido de humildade e ausência de qualquer egocentrismo. Os objectivos e intenções fazem parte integrante do sistema de acção por funcionarem nele de forma harmoniosa e subordinada a este e ao bem comum: […] para se chegar a este nível de autoconfiança é necessário acreditarmos em nós próprios, no ambiente que nos rodeia e no lugar que nele ocupamos. Um piloto conhece as suas capacidades, tem confiança na máquina com que voa e sabe o que tem de fazer se houver ciclone ou se o gelo cobrir as asas. Por isso está confiante na sua capacidade para lidar com quaisquer condições meteorológicas que possam surgir – não porque force o avião a obedecer-lhe, mas porque actuará como um instrumento para adaptar as características do avião às condições atmosféricas. Enquanto tal, constituirá um elo – um catalisador, um componente do sistema avião-pessoa que obedece às regras desse sistema – que pode atingir o seu objectivo. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 273) A concentração da atenção no mundo permite suspender os pensamentos intrusivos negativos predispostos pela natureza caótica da mente a ofensivas intermitentes desgastantes sobre a consciência, redireccionando a energia psíquica para assuntos exteriores ao ego e assim permitir margens de oportunidades de desfrute. Alcançar unidade com o meio ou sistema em que participa suspendendo a atenção sobre o ego ou perturbações interiores aflitivas constitui um mecanismo de adaptação que permite superar adversidades e admitir novas possibilidades de resolução, por exemplo, um alpinista não deve concentrar a sua atenção sobre o medo de cair ou a vertigem, mas direccionar os seus pensamentos para o processo de escalada, análise de variáveis objectivas (características da superfície rochosa, densidade da neve, reentrâncias rochosas fiáveis para ganchos, etc.), procedimentos treinados, e percepções sensíveis que acrescentam sensações de desfrute no decurso da experiência. O testemunho de Yvon Chouinard transcrito no livro Fluir de Csikszentmihalyi descreve a experiência do alpinista: O alpinista Yvon Chouinard exprime bem este envolvimento total com o ambiente que nos rodeia quando descreve uma das suas escaladas do temível El Capital, em Yosemite: «Cada um dos cristais de granito distinguia-se num nítido relevo. As formas variadas das nuvens não cessavam de atrair a nossa atenção. Pela primeira vez Sónia Maria Amado Barreira 147 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem reparámos nos minúsculos insectos que cobriam as paredes, tão pequenos que quase passavam despercebidos. […] Esta unidade com a alegria circundante, esta percepção ultrapenetrante, dava-nos um sentimento que não tínhamos há anos». Alcançar esta unidade com o que nos cerca não só é uma parte importante das experiências de fluxo agradáveis, como também constitui um mecanismo vital para vencer a adversidade. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 274) A descoberta de novas soluções torna-se possível através do controlo da consciência e do reconhecimento do nível de influência sobre si gerado pelo condicionamento social gerador de ideias preconcebidas. Lidar com situações de entropia psíquica pressupõe duas abordagens: uma mais directa, envolve dirigir a atenção na análise de reconhecimento dos obstáculos que interferem com a realização dos objectivos pretendidos, utilizando capacidades transformadoras reabilitadoras que auxiliem o estado psíquico a reagir de forma mais positiva e restituindo a harmonia pela remoção dos impedimentos identificados; a outra é uma perspectiva indirecta, consistente na compreensão da ligação entre a totalidade da situação e acção interveniente individual, viabiliza a adequação de objectivos alternativos e opções realistas que concedam soluções possíveis quando as circunstâncias não permitem alterações ou a remoção do impedimento. As ideias preconcebidas abrangem as necessidades básicas estruturadas pelos genes e as representações abstractas ou conceitos inculcados pela cultura a que se pertence. Limitar os objectivos sustendo-os meramente em ideias preconcebidas é desvalorizar possibilidades livres: Nunca conheceremos outras oportunidades a não ser que, como o pintor que observa cuidadosamente o que se passa na tela, prestemos atenção ao que se passa à nossa volta e avaliemos os acontecimentos com base no seu impacto directo no que sentimos e não exclusivamente em termos de ideias preconcebidas. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 278) Agir com confiança natural, concentrando atenção na unidade participativa com o sistema envolvente permite descobrir estratégias alternativas. A fixação rígida a rotinas de programação genética e condicionamentos sociais, para além de toldar possibilidades originais, susceptibiliza a condição de realização à mercê de variáveis instáveis do meio natural e social: Viver exclusivamente segundo as instruções genéticas e sociais é bom quando tudo corre bem. Mas, no momento em que se frustram os objectivos biológicos e sociais – o que é inevitável a longo termo – a pessoa tem de formular novos objectivos e criar novas oportunidades de fluxo, se não, desperdiçará a sua energia no turbilhão interior. (Csikszentmihalyi, 2002, p. 277) Sónia Maria Amado Barreira 148 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 4. METODOLOGIA O estudo de investigação contido neste relatório baseou-se no método fenomenológico de construção do conhecimento sustentado a partir da experiência pessoal de estágio e em teorias fundamentadas em estudos científicos publicados. Trata-se de um estudo que apresenta a descrição do fenómeno em contexto de leccionação e que adopta uma abordagem qualitativa (por considerar, em simultâneo, indicadores objectivos e subjectivos, implicados na natureza do fenómeno e na experiência individual dos intervenientes do momento) no processo de análise, interpretação e significação do fenómeno. 4.1. PARTICIPANTES DO PROJECTO Alunos integrados na turma de 10º ano do Curso Profissional Técnico de Apoio à Infância (escolhidos devido às suas atitudes particulares manifestadas no decurso das actividades desenvolvidas) e na turma de 9º ano do Curso de Educação e Formação de Desenho Assistido por Computador. 4.2. PLANO DE ACÇÃO OU FASES DO PROJECTO Na fase conceptual, do processo metodológico do presente estudo de investigação, foram definidos no decurso da prática pedagógica, objectivos de intervenção pessoal e de ensino (de acordo com alguns dos objectivos e conteúdos programáticos definidos no programa da unidade curricular ministrada pelo professor orientador de estágio Dr. Rogério Mourtada). A revisão da literatura referente a domínios do conhecimento, como a arte (nomeadamente sobre o conceito de criatividade, processos e factores implicados) e a psicologia, em particular nos ramos da psicologia cognitiva e educacional (incidente nas temáticas de inteligência, motivação e instrução), humanística e positiva, adveio, não só devido às exigências da prática pedagógica, mas também, do problema evidenciado na ocorrência da desmotivação sentida pelos alunos em relação ao exercício do desenho. Na fase metodológica, o plano traçado para o exercício da prática pedagógica em regime de estágio profissional, admitia duas turmas (com alunos diferenciados em temperamento e no modo como enfrentavam o desafio do desenho), e consistia na Sónia Maria Amado Barreira 149 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem implementação de um projecto e um conjunto de exercícios que despertassem o potencial criativo dos alunos. No decurso das aulas pessoalmente dirigidas foram aplicados diversos tipos de métodos e técnicas de ensino156 e utilizados instrumentos de recolha de dados baseados no diálogo ou entrevista centrada (para obter informações sobre a experiência dos alunos no momento, relativas a dificuldades, discursos internos, convicções, emoções sentidas em relação ao exercício do desenho) e na observação directa participante (nos momentos intercalares, precedentes ou posteriores às intervenções aplicadas, sempre que fosse necessário constatar os estados emocionais dos alunos através do comportamento interactivo ou da linguagem corporal). Quando no decurso da prática pedagógica ocorre progressivamente a manifestação do paradigma expresso na aversão generalizada pelo exercício do desenho, evidenciou-se a natureza de um problema que resultou na definição de uma linha condutora para um estudo de investigação mais profundo que aquele inicialmente definido. A desmotivação nos alunos tinha de ser combatida de modo a que o seu potencial criativo pudesse alcançar níveis superiores de desempenho e aprendizagem. A partir daí foi implementada a pesquisa de recurso à literatura com a abordagem de temas como a teoria da instrução, a inteligência emocional e múltipla, assim como temas do domínio da psicologia humanística e positiva, como a programação neurolinguística e a teoria do fluxo. Na fase empírica, a recolha de dados efectivou-se, na reunião dos trabalhos relativos ao Projecto de Pintura Mural, de 13 alunos (oito da turma 10º PAI e cinco da turma 9º DAC), e das suas composições gráficas referentes às actividades e exercícios propostos das restantes aulas dirigidas, bem como através da apreciação do desempenho dos alunos por meio dos seguintes recursos: o diálogo, a observação directa participante e o registo descritivo dos eventos sucedidos em trabalho de campo, num diário reflexivo. 156 Identificados e enumerados no calendário de apresentação das actividades desenvolvidas. Estão denominados segundo as designações e definições descritas no livro de I. G. Nérici - Introdução à Didática Geral. Sónia Maria Amado Barreira 150 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 4.2.1. PROPOSTAS DE ACTIVIDADES DE LONGO-PRAZO O projecto constituído por actividades de longo e curto prazo de execução que viabilizavam o empenhamento criativo e a reaproximação identitária com o lugar – escola – fomentava a participação colectiva com persecuções concretas de intenções, esboços e soluções activamente implementadas por parte dos alunos. As actividades de longo prazo, caracterizadas pela morosidade presumível do processo de resolução, subentendiam-se exequíveis num conjunto de aulas sem definição absoluta específica de semanas, dependentes do progresso evolutivo dos trabalhos dos alunos e da aplicação prática. Distinguindo-se por 4 grupos diferentes, as actividades de longo prazo tinham enquanto objectivos práticos, a dinamização cooperante na transformação melhorada dos espaços de convívio, a reorganização de espaços interiores de sala de aula, a organização de eventos significativos de memória da instituição bem como a experimentação de desafios criativos em contexto de festa. Seguindo pela ordem descrita de intenções o primeiro grupo de actividades constituía os projectos, paisagístico de um espaço destinado a jardim e de uma pintura mural na fachada principal intermédia da escola. O segundo grupo correspondia às actividades de renovação do espaço interior da sala de aula 4.14 e da sala teórica de desporto. O terceiro grupo consistia na organização de uma exposição de acervo dos desenhos de Isolino Vaz (antigo professor da escola). O último grupo era respeitante à organização de um festival de papagaios. 4.2.2. TRABALHO DE PROJECTO E EXPERIÊNCIA PESSOAL DE ESTÁGIO Permitida a responsabilização por escolha individual de dois projectos de longo prazo, a decisão pessoal centrou-se na direcção e coordenação dos projectos do primeiro grupo relativo à pintura mural e do segundo grupo de renovação ou reorganização da sala 4.14. O intento destas actividades visava globalmente a partilha colectiva de ideias e saberes, a sensibilização integrada de intervenção criativa no espaço escolar, bem como o desenvolvimento de competências, capacidades e aptidões dos alunos. Sónia Maria Amado Barreira 151 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 4.2.3. OBSTÁCULOS À CONCRETIZAÇÃO DOS OBJECTIVOS Com o tempo, surgiram determinados obstáculos na prossecução dos projectos que dissolveram a implementação real das idealizações. Fundamentavam-se exclusivamente na falta de verbas da instituição. O projecto de pintura mural, único ensaio teorizado com resultados concretos, que sobreviveu a um estudo mais prolongado (3 semanas de aulas), foi implementado sob a supervisão do orientador de estágio Dr. Rogério Mourada157. Quanto ao projecto de renovação da sala de aula não chegou a ver a luz de qualquer anteprojecto pela razão já explicitada. O juízo que distinguiu o prolongamento e maior empenho no projecto da pintura mural deveu-se ao facto de parecerem mais credíveis as probabilidades de financiamento de recursos – tintas – por parte da instituição escolar. No entanto, as expectativas dos alunos bem como a dos professores não foram alcançadas na concretização final do plano de execução do projecto por falta, precisamente, das necessárias verbas. Devido a esse mesmo facto, as restantes actividades de longo prazo constituintes do plano global do trabalho de projecto do ano lectivo ficaram lesadas em alguns aspectos das pretensões dos objectivos gerais. A conclusão a que se chega depois de analisados os factos leva a crer que os paradigmas políticos e económicos da nossa sociedade portuguesa vigente influenciam os ângulos de enfoque dos projectos educativos, no sentido de que a experiência de aprendizagem fica limitada à perspectiva teórica aplicada a reduzidos recursos. Quando consideramos disciplinas que envolvem a aplicação da expressividade artística, devemos preparar-nos para grandes desafios: ou o professor e alunos sintonizam a imaginação no limite ao serviço de uma adaptabilidade engenhosa, ou então os projectos não passarão de uma utopia. O único projecto de longo prazo que concretizou-se de acordo com os planos iniciais, foi o projecto de exposição dos desenhos do professor Isolino Vaz158. 157 Em anexo encontram-se os resultados do projecto – pintura mural – documentados através das imagens dos trabalhos realizados pelos alunos. Em apêndice estão as planificações de aulas pessoalmente ministradas, respeitantes a este projecto. Sónia Maria Amado Barreira 152 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Em suma, das actividades de longo-prazo em que foi assumida responsabilidade participativa e orientadora, e que obtiveram alguma concretização na sua realização, foram as inerentes aos projectos de pintura mural e da exposição do acervo de Isolino Vaz. 4.2.4. ACTIVIDADES DE CURTO-PRAZO Relativamente às actividades de curto-prazo, caracterizadas pela sua breve exequibilidade temporal, foram nomeadas as seguintes: workshop sobre como construir brinquedos e instrumentos musicais com materiais recicláveis, workshop sobre reutilização de peças de vestuário e por último um workshop sobre como construir um papagaio. Tendo por último sido escolhido o projecto sobre como construir instrumentos musicais e brinquedos com materiais recicláveis159. Para além destas actividades foi realizada uma aula sobre o conceito de criatividade160 e outra de apoio auxiliar sobre uma estratégia diagramática de organização e estruturação do pensamento161. Tomada a responsabilidade de auxiliar as turmas consideradas nos projectos mencionados, foram adoptados determinados métodos e técnicas de acordo com as actividades e circunstâncias, do ponto de vista do perfil de turma e do ambiente psicológico colectivo. 4.2.5. ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS Em suma foram realizadas duas aulas, para o projecto de workshop: instrumentos musicais e brinquedos construídos com materiais reutilizáveis, cinco aulas para o projecto: pintura mural, e quatro aulas para estímulo da capacidade criativa. Anteprojecto da pintura mural da fachada principal da escola e actividades de aula com vista ao estímulo da capacidade criativa dos alunos, constituídas por exercícios exploratórios da criatividade Ao todo foram implementados três tipos de exercícios 158 Os recursos utilizados foram aqueles que a escola tinha enquanto bens materiais essenciais disponíveis – cartolinas, cola, agrafos, pioneses, fita-cola, fotocópias, equipamentos (vitrines expositivas, quadros amovíveis), etc., - e espaços de intervenção – biblioteca e hall de entrada principal. 159 Planificação de aula do dia 12.12.11 em apêndice. 160 Planificação de aula do dia 13.2.2012 em apêndice. 161 Planificação de aula do dia 15.2.2012 em apêndice. Sónia Maria Amado Barreira 153 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem denominados “linhas paralelas e o imaginário”, “pensamento lateral e representações figurativas, simbólicas e geométricas” e por fim “Mind maps”. 4.2.5.1. PLANIFICAÇÕES DAS AULAS Apresentadas e enumeradas em Apêndice A no volume II do presente relatório. 4.2.6. MEIOS DE AVALIAÇÃO Observação directa participante, avaliação formativa no decurso de aula, apreciação qualitativa e descritiva das soluções dos alunos na forma de composições gráficas e escritas, registo descritivo diário e recurso a referências bibliográficas. 4.2.7. CALENDÁRIO DAS ACTIVIDADES O seguinte quadro é respeitante à metodologia aplicada nas aulas pessoalmente planificadas e dirigidas. Os métodos e técnicas de ensino baseiam-se segundo os parâmetros de Nérici (1991). Sónia Maria Amado Barreira 154 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tabela 0 – Calendário de apresentação das actividades desenvolvidas e dos métodos de ensino e técnicas, aplicados em cada aula. Data Dez. Projecto/actividade 12 2011 Brinquedos e instrumentos musicais construídos com materiais reutilizáveis. 14 Jan. 16 2012 Pintura mural da fachada principal da escola. Conteúdo Apresentação do trabalho de grupo de quatro alunos. Método de Ensino Técnica Estudo em grupo Tarefa dirigida Activo Redescoberta Recíproco Workshop conduzido pelo grupo de alunos aos seus colegas de turma. Activo Apresentação do projecto. Expositivo Cronológica Lógico Estudo de caso Dogmático Diálogo Analítico Interrogatório Powerpoint: “Homem, evolução e arte”. Demonstração Recíproco Intuitivo Colectivo Activo Trabalho individual Intuitivo 18 Primeira fase: Expositivo Diálogo recolha e colagem de imagens de revistas numa folha A3. Heurístido Tarefa dirigida Analítico Interrogatório Colectivo 23 Powerpoint: Activo “Foge, o desenho vai apanhar-nos”. Trabalho individual Segunda fase: Expositivo Expositiva 1º esboço de um desenho numa metade horizontal A3. Dedutivo Demonstração Heurístico Diálogo Analítico Tarefa dirigida Powerpoint: Colectivo Interrogatório “Conquista do espaço”. Activo Intuitivo Trabalho individual Intuitivo 25 Terceira fase: Expositivo Diálogo 2º esboço do desenho em duas metades horizontais A3. Analítico Tarefa dirigida Colectivo Interrogatório Trabalho individual Intuitivo Sónia Maria Amado Barreira 155 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Fev. 01 2012 06 Pintura mural da fachada principal da escola Quarta fase: Trabalho individual Tarefa dirigida 3º esboço do desenho a uma escala inferior proporcional. Intuitivo Interrogatório Criatividade: Revisão das fases do projecto e a aplicação de um exercício de exploração criativa. Expositivo Diálogo Trabalho individual Tarefa dirigida Intuitivo Interrogatório Análise crítica, votação da melhor composição e exercícios de exploração criativa. Expositivo Diálogo Dedutivo Demonstração Analítico Tarefa dirigida Linhas paralelas e o imaginário. 08 Criatividade: Pensamento lateral, representação geométrica, figurativa e simbólica. Colectivo Activo Trabalho individual Intuitivo 13 Criatividade: Desenhos diagramáticos Mind Maps. Exercícios de exploração criativa: mind maps, linhas paralelas e figuras geométricas. Expositivo Tarefa dirigida Colectivo Activo Trabalho individual 15 Criatividade: Brainstorming e Mind Maps. Aplicação de duas técnicas auxiliares no processo de exploração criativa. Expositivo Diálogo Analítico Tarefa dirigida Individual Activo Trabalho individual Fonte: (Nérici, 1991). Sónia Maria Amado Barreira 156 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 5.1. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Este subcapítulo divide-se em sete sub-subcapítulos, três dos quais correspondentes à apresentação de tabelas com os dados dos resultados (avaliações sumativa e apreciativa), conjuntamente apresentados, dos alunos participantes nas diversas actividades implementadas. Os restantes quatro sub-subcapítulos integram pela ordem das actividades desenvolvidas, a exposição, análise e interpretação dos resultados de cada aluno individualmente. As tabelas de apresentação de dados tanto podem apresentar uma avaliação sumativa (tabelas 2 e 3) como uma avaliação apreciativa do aluno ou do seu desempenho no decurso da elaboração do seu trabalho (tabelas 4, 5, 6 e 7). Partindo de referências de conteúdo científico, da experiência (de momentos específicos de observação directa participante e interacção em diálogo com os alunos no decurso das aulas dirigidas) e de conjecturas pessoais (perante problemas de motivação e comportamento constatados em determinados alunos), foi possível construir e preencher com dados significativos as seguintes tabelas enumeradas. A Tabela 1 integra a indicação de relação entre os alunos e respectivas actividades em que participaram. A Tabela 2 apresenta uma minuciosa análise que sustem-se no escrutínio e registo da qualidade expressiva do registo gráfico do aluno e seu nível de conhecimento, quanto à representação livre ou rigorosa no campo do desenho ou da expressão plástica, demonstrado na composição. Integra a enumeração de elementos estruturais da linguagem plástica (linha, textura, cor, forma / figura), de parâmetros caracterizadores de alternância (tipos de linha, sombreado, superfície, escala cromática, variações por contraste, simplificação, movimento, ritmo, profundidade, figura/fundo e escala) e de enquadramento. A Tabela 3 integra dados sobre o nível de usufruição de habilidades primárias constituintes do pensamento divergente (fluência, flexibilidade, originalidade, elaboração, redefinição e sensibilidade), de recursos cognitivos (analogia e a Sónia Maria Amado Barreira 157 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem metáfora) e tipos de raciocínio (convergente, divergente, dedutivo, indutivo, lógico, ilógico) demonstrados pelo aluno na solução da sua composição. A Tabela 4 integra dados observados de enquadramento da atitude e comportamento do aluno durante o decurso do seu desempenho ou período de tempo de elaboração do seu trabalho. Os parâmetros de análise dividem-se num enquadramento geral da atitude e particularidades comportamentais. No que respeita ao enquadramento geral a atitude subdivide-se em positiva e negativa. Em termos gerais um aluno que atravesse um bloqueio do pensamento criativo pode adoptar uma atitude negativa ou positiva dependendo das suas ordenações interiores, condições e circunstâncias em que estiver envolvido. A atitude positiva corresponde a dois ramos de incidência: o bloqueio superável (que não sucumbe à inacção) e a persistência que ramifica-se em dois tipos de atitudes – inconformismo e resignação. A atitude negativa corresponde igualmente a dois ramos de incidência: o bloqueio subjugante (que subsiste através da omissão de dificuldades e da dispersão da atenção) e a abstenção participativa, que se ramifica em dois tipos – recusa directa (verbalização peremptória de desinteresse em participar) e recusa indirecta (promessa de esforços que não são cumpridos). As particularidades comportamentais que se desdobram a partir destas quatro incidências expressas na atitude, reflectem-se em estados psicológicos e emoções. A tabela apresenta hipóteses162 de identificação de estados psicológicos e subsequentes razões correspondentes à atitude manifestada pelo aluno. Apresenta igualmente a descrição de acções interventivas implementadas de orientação e reorientação do estado psicológico do aluno e a observância do seu resultado. A Tabela 5 integra dados relativos às infracções de raciocício (compostas por generalizações, omissões e distorções da linguagem), categorias de bloqueios do pensamento criativo (de ordem perceptiva, emocional, cultural e ambiental) e crenças de auto-eficácia expressas pelo aluno no decurso do seu desempenho. A Tabela 6 integra dados sobre indicadores de motivação e a incidência de problemas de motivação que possam existir no aluno. Os indicadores são analisados segundo dois aspectos: qualitativo (nível de intensidade de motivação expressa através do estado psicológico ou emoções) e quantitativo (procedimentos, motivos 162 Enquanto referência intuitiva sobre o estado psicológico do aluno, no caso de falta de confirmação da hipótese por parte do mesmo. Sónia Maria Amado Barreira 158 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem intrínsecos ou extrínsecos de participação e método de envolvimento activo do aluno no exercício da sua aprendizagem). A Tabela 7 integra a classificação do tipo de temperamento manifestado pelo aluno. O modelo utilizado enquanto referência auxiliar de classificação foi o Modelo Bidimensional de Eysenck (integrador dos modelos de Hipócrates, Galeno, Kant, Wundt e Jung) que estabelece a “relação entre os quatro temperamentos e o moderno sistema dimensional de neuroticismo-extroversão” (Hall et al., 2000, p.298). A recolha dos dados teve por base a observação directa participante. Sónia Maria Amado Barreira 159 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.1. TABELA 1 DE RELAÇÃO ENTRE OS ALUNOS E AS DIVERSAS ACTIVIDADES EM QUE PARTICIPARAM Os trabalhos seleccionados para análise pertencem a oito alunos da turma de 10º ano do Curso Profissional Técnico de Apoio à Infância (escolhidos devido às suas atitudes particulares manifestadas no decurso das actividades desenvolvidas) e a cinco alunos da turma de 9º ano do Curso de Educação e Formação de Desenho Assistido por Computador. Relativamente a estes últimos, serão analisados os seus resultados sem serem apresentados perfis psicológicos pela razão de somente pertencerem ao público-alvo integrado nos objectivos de estágio e não de investigação. Projecto Exercício Actividade Exercício Alunos 10º PAI Turma Tabela 1 – Relação entre os alunos e as diversas actividades em que participaram. Pintura Mural Linhas paralelas e o imaginário Pensamento lateral, representações figurativas, simbólicas e geométricas Mind maps Ali. x x x Ind. x x x Len. x x x Lil. x x x Rit. x Sar. x Jes. x 9º DAC Arm. x x x 5 x Legenda: = X Corresponde à indicação de que o aluno participou na actividade indicada na coluna em que se encontra a cruz. Sónia Maria Amado Barreira 160 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2. TABELAS COM OS DADOS, CONJUNTAMENTE APRESENTADOS, DOS ALUNOS PARTICIPANTES NO PROJECTO DE UMA PINTURA MURAL 5.1.2.1. TABELA 2: AVALIAÇÃO SUMATIVA E ANÁLISE DO NÍVEL DE CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA Tabela 2 - Avaliação sumativa e análise do nível de conhecimentos relativos à expressão plástica. Projecto de Pintura Mural Critérios Tipos de Linha Sónia Maria Amado Barreira Observações Estrutura estática Compositiva V Equilíbrio 10 Desequilíbrio 0 Equilíbrio 10 Desequilíbrio 0 - Localização - Tamanho - Cor - Interesse específico - Isolamento - Configuração - x x x x x x x x x x x x x x x x x … Linhas direccionais Linhas de força implícitas, vinculadas aos eixos estruturais das configurações Peso dos elementos mediante Estrutura dinâmica Compensação entre forças perceptuais e ordem de proporção (correspondência das partes com o todo) da composição depende … Equilíbrio (Nobre, 1997, p. 266-272) Elementos estruturais da linguagem plástica (Nobre, 1997, p. 273-284) Plano Enquadramento Assunto Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. P (pontuação) Direccional 1 Auxiliar construtiva 3 Representativa Definidora de contorno de forma e figura 3 Expressiva Anatomia mesclada 3 Definidora de superfície ou textura visual 3 Modeladora de volumetria 3 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 161 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Textura Sombreado Superfície Cor Cores aplicadas (classificação do grau na escala de construção cromática) Ponteado 1,5 Simples (linhas //s) 1,5 Cruzado (+2direcções) 1,5 Esfumado (dedo; borracha) 1,5 Mancha 1,5 Padrão 1,5 Materialidade 2 Primárias 1 x x x x x x x Secundárias (CP+CP) 1 x x x Intermédias (CP+CS) 1 Terciárias, etc. 1 x x x x x x x x x x x (3CP; 2CS; 1CP+1CSO) Variações por contraste Forma / figura Sónia Maria Amado Barreira Quantidade / proporção 1 Valor / luminosidade 1 Intensidade / pureza 1 Quente / frio 1 Complementaridade / nitidez 1 Simultaneidade / mutação 1 Nivelamento - Acentuação - x x x x x x x Movimento Translacção 1 x x (Meireles, 1998, p. 83 - 91) Rotação 1 Escalonamento graduado do tamanho 1 Deslocação em diferentes direcções 1 Gradação mutável de aparência 1 Sobreposição dinâmica 1 Alteração de padrão 1 Simplificação x x x x x x x x x 162 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Fusão em diferentes posições 1 Velocidade aplicada no gesto do registo 1 Assimetria 1 x Escalonamento 1 x Oposições de cor 1 Elem. cromáticos texturados 1 Escurecimento 1 Saturação 1 Cor Ritmo (Meireles, 1998, p.92-94) x x x x x x Repetição x (elementos com intervalos regulares) 1 Alternância x x (duas formas a intervalos regulares) 1 Progressão rítmica 1 Sobreposição 1,5 Transparência 1,5 x Claridade 1,5 x Configuração ou distorção 1,5 Perspectiva 2 Profundidade Perspectiva Espaço (aumento/diminuição progressiva de um elemento, forma, linha, cor, espaço) Invertida - Axonométrica isométrica - Axonométrica dimétrica - Cavaleira - Cónica Sónia Maria Amado Barreira 1 ponto de fuga - 2 pontos de fuga - x x x x x x 163 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Figura / fundo Simples (2 planos) 2 Complexa (+2planos) 3 Escala Em igual plano 2 (entre elementos) Em planos diferentes 3 x x x x x x (relação) x x x x x Representou personagens 2 x x x x x x Representou objectos 2 x x x x x x x Simbólico Representou signos: letras, números, etc. 2 Linguagem escrita Escreveu uma ou mais palavras 2 x x x x x Escreveu uma ou mais frases 2 x x x x A lógica da composição relaciona-se com a ideia de escola 2 Coerência na disposição ou relação de adjacência entre os elementos 2 x x x x Existe um enredo visual que interliga os elementos 3 x x x x x x Somatório total da pontuação obtida pelo aluno = 36,5 38,5 16 39,5 43,5 36,5 28 100 Letras identificadoras do intervalo de pontuação correspondente = C C D C C C C Somatório total dos valores de cada item considerado com valores = x Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Correlações Conteúdos Figurativo x Legenda: V = valor numérico (correspondente ao item considerado). V = - (corresponde a uma observação sem pontuação; não requer ser avaliada mas sim salientada). P = x (corresponde à indicação de que o aluno obteve o valor numérico adjacente à cruz [x] assinalada). Pontuação entre os [ 75 e 100 ] valores = A = Muito Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível elevado de conhecimentos sobre o desenho de representação livre, ou rigorosa (no caso de apresentar uma perspectiva), apresentados pelo aluno na composição gráfica. Pontuação entre os [ 50 e 74 ] valores = B = Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/superior de conhecimentos sobre o desenho de representação livre, ou rigorosa, apresentados pelo aluno na composição gráfica. Pontuação entre os [ 25 e 49 ] valores = C = Suficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/inferior de conhecimentos sobre o desenho de representação livre, ou rigorosa, apresentados pelo aluno na composição gráfica. Pontuação entre os [ 0 e 24 ] valores = D = Insuficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível reduzido de conhecimentos sobre o desenho de representação livre, ou rigorosa, apresentados pelo aluno na composição gráfica. Fonte: (Nobre, 1997; Meireles, 1998) Sónia Maria Amado Barreira 164 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2.2. TABELA 3: DADOS SOBRE O NÍVEL DE USUFRUIÇÃO DE HABILIDADES RELACIONADAS COM O PENSAMENTO DIVERGENTE Tabela 3 - Dados sobre o nível de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente, recursos cognitivos e tipos de raciocínio demonstrados na solução compositiva proposta. Projecto de Pintura Mural 10 Elaboração Acrescentou grande variedade de detalhes na sua solução. 10 Redefinição Transformações ou redefinições na informação (ex. interpretou uma metáfora, inventou um título que resume um texto). 10 Sensibilidade Identificou defeitos, deficiências no desenho ou na construção do problema apresentado pela tarefa. 10 x Sar. Jes. 12 15 10 4 Inovadoras (resposta talentosa que gerou a amostra rara de uma visão inovadora). 10 4 6 21 6 10 10 8 10 6 11 x Incomuns (causou surpresa pela abordagem remota que adoptou). 10 4 6 x 10 10 4 6 9 x Complexas (variedade de elementos figurativos interrelacionados por ideias, analogias, metáforas, etc. e que demonstram riqueza expressiva). Apresentou na solução respostas Originalidade 19 (*) Quantidade total de diferentes soluções = 10 10 Flexibilidade (*) 5 Quantidade total de ideias ou respostas produzidas = 4 Fluência V 8 Observações 6 Critérios (Pasquali, 2010, p. 327) Seis habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente Assunto Ali. Ind. Len. Lil. Rit. P (pontuação) Recursos cognitivos utilizados pelo aluno na elaboração da sua composição: Sónia Maria Amado Barreira 165 Presença de afinidade formal entre os elementos agrupados da organização formal (composição) através … Tamanho Forma Colocação Cor Direcção Agrupamento de formas por … Analogia Estabeleceu uma relação de semelhança entre objectos diferentes pela equivalência entre suas propriedades ou ligações (ex. o núcleo está para os electrões como o sol para os planetas). Metáfora (Morais, 2001, p. 157-161; Meireles, 1998, p. 101) Recursos cognitivos Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 10 x x x x x x x Identidade de dimensão - x x x Semelhança de configuração - x x Proximidade no plano - Proximidade cromática - Colocação no espaço - Estabeleceu uma tradução de semelhanças entre conceitos, isto é, transpôs um sentido ou significado gerando outro que vai mais além do que a simples comparação de semelhança entre os objectos diferentes (ex. os sermões são pílulas para dormir). x x x x x x x x x x x x x 10 Considerou diversas possibilidades orientadas para a descoberta de uma única resposta. - Divergente Elaborou diversas ideias ou alternativas partindo de uma mesma origem. - Dedutivo Objectivou uma conclusão específica e logicamente certa, a partir de um conjunto de proposições gerais (ex. o passo de Neil sobre a lua). - Indutivo Objectivou uma conclusão geral, com base em um conjunto de factos ou em observações específicas (ex. a maçã de Newton e a lei da gravidade). - Lógico Formulou conclusões validadas em princípios ou regras. - Ilógico Operou segundo contemplações intuitivas, associativas, etc. - Somatório total da pontuação obtida pelo aluno = 26 38 26 26 40 36 36 Letras identificadoras do intervalo de pontuação correspondente = C C C C C C C Somatório total dos valores de cada item considerado com valores = x x x x x x x Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Convergente 100 (Sternberg, 2000; Coon, 2006; Lakatos et al., 1991) Tipos de raciocínio do pensamento criativo Tipos de raciocínio expressos graficamente na composição ou transcritos na frase do aluno. Sónia Maria Amado Barreira 166 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Legenda: (*) = 10, de acordo com o seguinte: 1 solução (s) = 1 valor (v); 2 (s) = 2 (v); 3 (s) = 4 (v); 4 (s) = 6 (v); 5 (s) = 8 (v); 6 (s) ou mais = 10 (v). V = valor numérico (correspondente ao item considerado). V = - (corresponde a uma observação sem pontuação; não requer ser avaliada mas sim salientada). P = x (corresponde à indicação de que o aluno obteve o valor numérico indicado pelo item assinalado na mesma linha ou que deve ser salientado esse item no que respeita ao aluno). Pontuação entre os [ 75 e 100 ] valores = A = Muito Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível elevado de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 50 e 74 ] valores = B = Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/superior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 25 e 49 ] valores = C = Suficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 0 e 24 ] valores = D = Insuficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível reduzido de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Fonte: (Pasquali, 2010; Morais, 2001; Meireles, 1998; Sternberg, 2006). Sónia Maria Amado Barreira 167 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2.3. TABELA 4: DADOS OBSERVADOS DE ENQUADRAMENTO DA ATITUDE E COMPORTAMENTO DOS ALUNOS Tabela 4 - Dados observados de enquadramento da atitude e comportamento dos alunos. Projecto de Pintura Mural Particularidades comportamentais O (observado) Incidência Tipo Bloqueio Omissão de dificuldades Estado psicológico, emoção (variante) e hipóteses Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Atitude do aluno Enquadramento geral da atitude Preocupado ou introspectivo x Ansiedade Não percebeu o problema Não encontra Uma solução Uma solução que o inspire Negativa Dispersão da atenção Distraído Não pediu ajuda ao professor Através da conversação com colegas x x x x x x x Por outros motivos: … Desânimo Não percebeu o problema Não encontra Uma solução Uma solução que o inspire Recusa indirecta Sónia Maria Amado Barreira Desinteressado – recusa esforçar-se Desagrado participativa Recusa directa x x x x x Evitou / adiou o envolvimento activo na tarefa Abstenção x x x Relativo à tarefa x Por outros motivos: … Manipulativo – prometeu empreender esforços sem intenção de cumprir x x 168 Resignação Distraiuse Procurou superar dificuldades: fazendo perguntas, colocando hipóteses, etc. Optimismo Através de conversas Esperança Evitou expressar o seu desinteresse Aceitação Inconformismo Perseverante Persistência Conformado Pedido de auxílio Positiva Bloqueio Preocupado Embaraço Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem x Por outros meios: ... x x x x x x x Procurou aperfeiçoar as soluções x x Procurou soluções satisfatórias I (intervenção) Acção interventiva Bloqueio Pergunta particular ao aluno sobre dificuldades ou dúvidas que pudesse ter x x x x Diálogo com o aluno sobre infracções de linguagem que pudessem estar a bloquear o seu pensamento criativo x x Explicação sobre possíveis soluções visto que o aluno evita resolver por si o problema x Correcções e orientações Abstenção Positiva Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Incidência Negativa Atitude do aluno Acção interventiva implementada perante a atitude demonstrada pelo aluno na aula Bloqueio Sónia Maria Amado Barreira Pergunta particular ao aluno sobre em que consistia o problema da sua desmotivação x Foi estabelecido um diálogo com o aluno sobre as valências positivas na sua aprendizagem e formação no caso de participar na tarefa x Reorientação x Explicação que clarificasse o pensamento do aluno retirando suas dúvidas x x x x x x x Correcções e orientações x x x x x x 169 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Persistência Observação próxima sem intervir regularmente com diálogo no decurso do desempenho do aluno Observação próxima dialogando com o aluno regularmente no decurso do seu desempenho x x x Exposição de opinião ao aluno acerca das soluções que foi evidenciando no decurso do seu desempenho Salientada a disponibilidade para retirar dúvidas sempre que fosse preciso para o aluno x x x x x x x x x x x x x Correcções e orientações As acções implementadas resultaram no envolvimento mais empenhado por parte do aluno em relação ao exercício? x x - - O aluno concluiu o exercício? x x - x x x x x x x Legenda: O=X Corresponde à indicação de que foi observada em experiência de aula essa atitude, descrita pelo item, relativamente ao aluno em questão. I=X Corresponde à indicação de que foi implementada em relação ao aluno a acção descrita pelo item que se encontra na mesma linha. I = X Corresponde a um Sim. I = - Corresponde a um Não. Sónia Maria Amado Barreira 170 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2.4. TABELA 5: DADOS SOBRE INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS DO PENSAMENTO CRIATIVO E CRENÇAS DE AUTOEFICÁCIA Tabela 5 – Dados sobre infracções de raciocínio, bloqueios do pensamento criativo e crenças de auto-eficácia dos alunos. Critérios Generalizações Observações Nunca desenho nada de jeito. Distorções Omissões … Não me dão ouvidos. … Comparação Não desenho bem como… Imprecisões Vou melhorar o desenho. Juízos e convicções Não tenho jeito para desenhar. x x Incapacidade ou obrigação Não consigo desenhar … x x Adivinhação A Prof. está a pensar que eu … Não interroga para além do evidente. x x x x x x x Não acredita que em si contém potencial para ser criativo. x x ... Emocional Perceptiva Não expressou Medo do risco e do ridículo. x Medo de ser julgado. x Tendência para a autocrítica negativa. Cultural … Excesso de racionalidade e pensamento lógico. Ambiental Categorias de bloqueios do pensamento criativo (Santos, 2006) Exemplos de infracções de raciocínio expressas pelo aluno (Vallés, 1997) Assunto C (constatado) Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Projecto de Pintura Mural Desvalorização das suas capacidades expressivas por parte dos seus colegas. x x x … Sónia Maria Amado Barreira … 171 Confiante quanto … Positiva a conter na sua memória os conhecimentos exigidos para a realização da tarefa proposta. à compatibilidade das suas capacidades em relação às exigências da tarefa proposta. x a conter em si talento para resolver a tarefa. x Expectativas positivas quanto ao seu desempenho na tarefa. Inseguro quanto … Fez uma auto-avaliação positiva dos resultados que obteve. Negativa Condição de influência do seu autoconceito (Boruchovitch et al., 2001) Crenças de auto-eficácia Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem à compatibilidade das suas capacidades em relação às exigências da tarefa proposta. a conter em si talento para resolver a tarefa. x x x Expectativas negativas quanto ao seu desempenho na tarefa. x Fez uma auto-avaliação negativa dos resultados que obteve. x Suficiente Insuficiente Qualidade de gestão individual x x x a conter na sua memória os conhecimentos exigidos para a realização da tarefa proposta. de acordo com regras específicas. x x x x x x quanto ao tempo de execução estipulado. x x x x x Resolveu a tarefa estabelecendo escolhas de acção sem pedir uma solução ao professor. x x x x Aplicou esforços essenciais ao cumprimento da tarefa. x x x x x x Cumpriu a meta estabelecida … Auto-regulação x Não cumpriu a meta estabelecida … de acordo com regras específicas. x quanto ao tempo de execução estipulado. x Pediu soluções ao professor. Não aplicou esforços essenciais ao cumprimento da tarefa. x x x Legenda: C = X Corresponde à indicação da constatação do item assinalado relativamente ao aluno. Fonte: Vallés, 1997; Santos, 2006; Boruchovitch et al., 2001). Sónia Maria Amado Barreira 172 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2.5. TABELA 6: INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E DE INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS Tabela 6 - Indicadores de motivação e de incidência de problemas. Níveis de motivação Aspecto quantitativo Intensidade intermédia Intensidade reduzida Preocupação (enumeração de critérios segundo a atitude padrão de um aluno motivado intrinsecamente) Modo de proceder do aluno Sónia Maria Amado Barreira Rit. Sar. Jes. Lil. x Ansiedade Desfrute / satisfação x x x x Euforia ligeira Apatia Tédio Aspecto qualitativo Indicadores de motivação no aluno (Boruchovitch et al., 2001) Intensidade elevada Particularidades Estado emocional constatado durante desempenho Observações Ali. Ind. Len. C (constatado) Critérios Assunto Projecto de Pintura Mural x x x x Focou a atenção nas instruções. x x x x x x x Aplicou o conhecimento aprendido. x x x x x x x Demonstrou concentração durante o seu desempenho. x x x x Procurou mais informações. Aplicou o conhecimento noutros contextos. x Procurou melhorar os seus resultados. x Mostrou perseverança perante dificuldades. Mostrou interesse na matéria ou assunto discutido. Sentimento expresso quanto à solução que propôs: x x x x Expressou verbalmente. Expressou através da linguagem corporal. Insatisfação Satisfação Orgulhoso x x x x x x 173 Intrínsecos Desfrute no processo de aprendizagem. x x x Vontade de melhorar suas capacidades através do aprimoramento das suas soluções ou acções. Executa a tarefa por medo de má nota ou reprovação. x Executa a tarefa devido ao dever de cumprimento da tarefa ou para não aborrecer o professor. x Extrínsecos na participação do aluno Motivos constatados Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem x x Produziu resultados conforme as exigências. x x Negativa x x x x Expressou opiniões ou sugestões. Colocou perguntas ao professor. x x x x x x x Solicitou auxílio ao professor. Investiu nos seus recursos pessoais x x x x x Tempo despendido de pesquisa fora da aula. Introduziu de forma pertinente, os seus conhecimentos precedentes. Aplicou outras habilidades para além das exigidas. Omissão de dificuldades x x x Bloqueio subjugante Dispersão da atenção x Recusa directa x x x x x Abstenção participativa Recusa indirecta Bloqueio superável Pedido de auxílio Persistência Inconformismo x x x x x x x Resignação x x Alunos Incidência de problemas de motivação quanto à tarefa de desenhar x x Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Positiva Enquadramento resumido da atitude Modo de envolvimento activo do aluno no exercício da sua aprendizagem Executa a tarefa devido a pretensões competitiva/comparativa entre seus pares. x x x x x Legenda: C = X Corresponde à indicação de que foi constatada em experiência de aula a descrição do item assinalado relativamente ao aluno em questão. Fonte: (Boruchovitch et al., 2001) Sónia Maria Amado Barreira 174 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.2.6. TABELA 7: CLASSIFICAÇÃO DO TIPO DE TEMPERAMENTO DOS ALUNOS SEGUNDO O MODELO BIDIMENSIONAL DE EYSENCK Traços Jes. Traços Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Tabela 7 – Classificação do temperamento dos alunos segundo o Modelo Bidimensional de Eysenck (integrador dos modelos de Hipócrates, Galeno, Kant, Wundt e Jung). Dimensão neurótica / Instável / Emoções fortes Rígido Agressivo Sóbrio x x x x x x x Reservado Excitável Mutável Impulsivo Insociável Optimista Quieto Activo x Passivo Sociável x x x x x x x Cuidadoso Expansivo x x x x Reflexivo Conversador x x x Pacífico Responsivo x x x Controlado x x x Sanguíneo x Pessimista x Dimensão de Extroversão / Mutável (mudanças rápidas) Inquieto Colérico Ansioso Melancólico x Melindroso Fleumático Dimensão de Introversão / Imutável (mudanças lentas) x Rabujento Despreocupado x Confiável Animado x x x Tranquilo Descuidado x x Calmo Líder x x Alunos Ali. Ind. Len. Lil. Rit. Sar. Jes. Temperamento específico E I I E I E I Dimensão estável / Emoções fracas Legenda: = X Corresponde à indicação de que o aluno evidenciou semelhante traço ou “conjunto de comportamentos relacionados que co-variam ou ocorrem juntos repetidamente” (Hall et al., 2000, p. 292). Exemplo: Traço = (Conversador, Líder, etc.); Tipo de temperamento = Extrovertido. I = Introvertido; E = Extrovertido Melancólico,fleumático, colérico e sanguíneo são conceitos categorizadores de tipos temperamentais, descritos por Wundt em Elements of Physiological Psychology, por Kant na obra Anthropologie, e por outros como Hipócrates e Galeno (Hall et al., 2000, p. 297). Fonte: (Hall et al., 2000). Sónia Maria Amado Barreira 175 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.3. TABELA 3 COM OS DADOS, CONJUNTAMENTE APRESENTADOS, DOS ALUNOS PARTICIPANTES NO EXERCÍCIO DE CRIATIVIDADE “LINHAS PARALELAS E O IMAGINÁRIO” Tabela 3 - Dados sobre o nível de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente, recursos cognitivos e tipos de raciocínio demonstrados na solução compositiva proposta. Exercício de criatividade “Linhas paralelas e o imaginário” Sar. 4 4 6 6 Lil. 6 5 8 10 Len. 5 6 8 Ind. 5 8 Complexas (variedade de elementos figurativos interrelacionados por ideias, analogias, metáforas, etc. e que demonstram riqueza expressiva). 10 x Incomuns (causou surpresa pela abordagem remota que adoptou). 10 x Inovadoras (resposta talentosa que gerou a amostra rara de uma visão inovadora). 10 x Elaboração Acrescentou grande variedade de detalhes na sua solução. 10 Redefinição Transformações ou redefinições na informação (ex. interpretou uma metáfora, inventou um título que resume um texto). 10 Sensibilidade Identificou defeitos, deficiências no desenho ou na construção do problema apresentado pela tarefa. 10 Apresentou na solução respostas Originalidade 10 (*) 6 Quantidade total de diferentes soluções = 10 (*) Flexibilidade Ali. Quantidade total de ideias ou respostas produzidas = 6 Fluência V 10 Observações 6 Critérios 10 Assunto Seis habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente (Pasquali, 2010, p. 327) P (pontuação) x x x x x x Recursos cognitivos utilizados na composição do aluno. Sónia Maria Amado Barreira 176 Presença de afinidade formal entre os elementos agrupados da organização formal (composição) através … Tamanho Forma Colocação Cor Direcção Agrupamento de formas por … Analogia Estabeleceu uma relação de semelhança entre objectos diferentes pela equivalência entre suas propriedades ou ligações (ex. o núcleo está para os electrões como o sol para os planetas). Metáfora (Morais, 2001, p. 157-161; Meireles, 1998, p. 101) Recursos cognitivos Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 10 Identidade de dimensão - Semelhança de configuração - Proximidade no plano - Proximidade cromática - Colocação no espaço - Estabeleceu uma tradução de semelhanças entre conceitos, isto é, transpôs um sentido ou significado gerando outro que vai mais além do que a simples comparação de semelhança entre os objectos diferentes (ex. os sermões são pílulas para dormir). 10 x x x x x x x x x x x Ilógico Operou segundo contemplações intuitivas, associativas, etc. - x x x x x x x Somatório total da pontuação obtida pelo aluno = Letras identificadoras do intervalo de pontuação correspondente = Somatório total dos valores de cada item considerado com valores = Sónia Maria Amado Barreira Sar. - x 72 Formulou conclusões validadas em princípios ou regras. x B Lógico x Lil. - 38 Objectivou uma conclusão geral, com base em um conjunto de factos ou em observações específicas (ex. a maçã de Newton e a lei da gravidade). C Indutivo x Len. - 38 Objectivou uma conclusão específica e logicamente certa, a partir de um conjunto de proposições gerais (ex. o passo de Neil sobre a lua). C Dedutivo Ind. - 48 Elaborou diversas ideias ou alternativas partindo de uma mesma origem. C Divergente Ali. - 40 Considerou diversas possibilidades orientadas para a descoberta de uma única resposta. C Convergente 100 (Sternberg, 2000; Coon, 2006) Tipos de raciocínio do pensamento criativo Tipos de raciocínio expressos graficamente na composição ou transcritos na frase do aluno. 177 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Legenda: (*) = 10, de acordo com o seguinte: 1 solução (s) = 1 valor (v); 2 (s) = 2 (v); 3 (s) = 4 (v); 4 (s) = 6 (v); 5 (s) = 8 (v); 6 (s) ou mais = 10 (v). V = valor numérico (correspondente ao item considerado). V = - (corresponde a uma observação sem pontuação; não requer ser avaliada mas sim salientada). P = x (corresponde à indicação de que o aluno obteve o valor numérico indicado pelo item assinalado na mesma linha ou que deve ser salientado esse item no que respeita ao aluno). Pontuação entre os [ 75 e 100 ] valores = A = Muito Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível elevado de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 50 e 74 ] valores = B = Bom Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/superior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 25 e 49 ] valores = C = Suficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuação entre os [ 0 e 24 ] valores = D = Insuficiente Correspondente a um resultado que expressa um nível reduzido de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Fonte: (Pasquali, 2010; Morais, 2001; Meireles, 1998; Sternberg, 2006). 5.1.4. PROJECTO DE UMA PINTURA MURAL PARA A FACHADA PRINCIPAL DA ESCOLA As avaliações sumativas e apreciativas dos resultados incidiram sobre a composição gráfica correspondente à terceira fase do projecto (2º esboço do desenho em duas metades horizontais de uma folha A3) e no desempenho do aluno (procedimentos e atitudes) ao longo de todas as fases do projecto. Ilustração 1 – Fotografia do pátio de entrada principal da Escola Secundária Marquês de Pombal (com a indicação em rectângulo da área de fachada a que se destina a pintura mural). Sónia Maria Amado Barreira 178 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.1. TRABALHO ELABORADO PELO ALUNO ALI. Ilustração 2 – Trabalho elaborado pelo aluno Ali., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.1.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA No exercício de composição gráfica referente ao Projecto de Pintura Mural, o aluno obteve uma pontuação de 36,5 valores integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente à categoria de nível intermédio/inferior de conhecimentos. Os aspectos específicos valorizados sustentaram-se nos critérios de enquadramento equilibrado dos elementos constituintes, de aplicação de cor, de apresentação de conteúdo figurativo, na correlação lógica dos elementos entre si, sua disposição e enredo visual. Os aspectos a melhorar incidem na aplicação de tipos de linha com uma anatomia mais mesclada, na representação de textura (por sombreado ou por representação de superfície), na transmissão de movimento, e de profundidade (na relação mais complexa entre planos e no cuidado de representação de escala entre elementos dispostos). 5.1.4.1.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO O aluno obteve a pontuação de 26 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente ao nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Sónia Maria Amado Barreira 179 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Das seis habilidades primárias constituintes do pensamento divergente o aluno pontuou valores nos critérios de fluência (9 soluções produzidas) e flexibilidade (4 soluções diferentes). Adoptou o recurso cognitivo da analogia (na perspectiva de afinidades formais entre os elementos, agrupados por identidade de dimensão, semelhança de configuração e colocação no espaço) e os tipos de raciocínio convergente (pela razão de convergência de soluções numa resposta compositiva em desenho como proposta para a pintura mural). 5.1.4.1.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS O facto de o aluno demonstrar dispersão de atenção através da conversação com colegas próximos do seu lugar conduziu à implementação de acções interventivas que permitissem avaliar a razão de ser da falta de concentração e envolvimento activo na tarefa proposta de aula. Foram-lhe colocadas, particularmente, espaçadamente no tempo, perguntas que clarificassem sobre o tipo de dificuldades ou dúvidas pelas quais poderia estar a atravessar. Foram implementadas intervenções por diálogo e observação mais atenta e próxima que permitissem esclarecer dúvidas com uma frequência intermédia no decurso do seu desempenho pela razão do aluno apresentar um nível reduzido de motivação pela experiência de desenhar e pela sua facilidade em distrair-se através de conversas com alguns dos seus colegas de carteira. O frequente diálogo estabelecido com o aluno sobre suas dúvidas e raciocínios, bem como, a chamada de atenção sobre suas infracções de raciocínio, resultaram num maior empenhamento do aluno em relação ao exercício. O facto de o aluno demonstrar conter em si um tipo de inteligência pessoal (interpessoal) pela sua facilidade em comunicar com os outros e manifestar particular espírito de liderança levou-nos a crer na importância do diálogo e atenção dirigidos no sentido de orientar melhor a sua motivação quanto a um envolvimento mais activo em relação ao exercício do desenho. Após a acção interventiva incidente na dispersão de atenção o aluno adoptou uma atitude positiva em que procurou superar dificuldades fazendo perguntas perante bloqueios do pensamento criativo, no entanto a sua persistência quanto à conclusão do seu exercício só alcançou uma solução satisfatória, devido às suas crenças de auto-eficácia reflectirem-se na resignação. Sónia Maria Amado Barreira 180 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O padrão comportamental deste aluno caracteriza-se na atitude negativa de dispersão da atenção pela distracção quando não é bem orientado pelo professor a ultrapassar as dificuldades que geram os seus bloqueios criativos. Assim que as orientações do professor esclarecem o seu pensamento o aluno adopta uma atitude positiva persistente (fazendo perguntas e colocando hipóteses) que o leva a concluir o exercício, mas de forma resignada, conformada com soluções que consegue obter sem perscrutar possibilidades potenciais. O facto de o aluno recusar melhorar a sua proposta após concluir o seu projecto compositivo foi indicativo de saturação participativa quanto ao prolongamento do tempo estipulado de duração do projecto. Portanto, o tempo de execução de um projecto que integre composições gráficas não deve ser muito prolongado quando os alunos não apreciam desenhar, devendo-se subdividir o projecto em exercícios mesclados dentro do mesmo tempo de execução estipulado, para evitar o surgimento de estados emocionais como o tédio ou a apatia. 5.1.4.1.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA As infracções de raciocínio expressas pelo aluno incidiram em distorções na forma de juízos e convicções (quando afirmou não ter jeito para desenhar) e na forma de incapacidade ou obrigação (quando afirmou não conseguir ou saber como desenhar determinada figura). O bloqueio do pensamento criativo com o qual se confrontou terá sido de natureza perceptiva (por não interrogar para além do evidente ou por não expandir as suas ideias usufruindo mais de recursos cognitivos como a metáfora) e de natureza emocional (pela tendência de autocrítica negativa quanto ao seu potencial para desenhar). O facto de sentir-se inseguro quanto a conter em si talento para desenhar, reflecte um autoconceito negativo que terá influenciado o seu nível de motivação no confronto com o exercício do desenho. Depois da implementação das acções interventivas anteriormente mencionadas, foi possível conduzir o aluno a uma auto-regulação com suficiente qualidade para que o mesmo conseguisse cumprir a meta estabelecida pelo projecto, de acordo com as regras específicas pretendidas e o tempo de execução estipulado. O aluno encontrou uma resposta compositiva estabelecendo Sónia Maria Amado Barreira 181 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem escolhas de acção sem pedir ao professor soluções e aplicou esforços individuais necessários para a sua conclusão. 5.1.4.1.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS O nível de motivação demonstrado na atitude do aluno pareceu de intensidade intermédia (pelo facto de concentrar-se na elaboração do seu desenho após acção interventiva e de expressar satisfação pelo resultado da sua composição gráfica), a reduzida (pelo facto de recusar peremptoriamente o pedido de aperfeiçoamento do seu desenho no final do projecto). Portanto, apesar do aluno demonstrar a sensação de cumprimento e satisfação relativamente à tarefa, pressentimos que a experiência de aprendizagem não surtiu o efeito pretendido de desfrute pela experiência de desenhar (podendo por isso considerar-se a presença de motivos extrínsecos no seu envolvimento), porque caso contrário, o facto de ter oportunidade para melhorar os seus resultados não seria razão para considerar a tarefa complementar tediosa. Por essa razão foi colocada a hipótese da presença de motivos extrínsecos, como o dever de cumprimento da tarefa por medo de nota negativa ou para não aborrecer-nos (visto que o aluno compreendeu a nossa atenção dedicada à sua orientação). Os motivos intrínsecos, como o desfrute pelo exercício de desenhar ou a vontade de melhorar as suas soluções, não se evidenciaram, no entanto, os procedimentos que o aluno adoptou no decurso do seu desempenho foram, na sua maioria, positivos: focou a atenção nas instruções, aplicou o conhecimento aprendido, demonstrou concentração após acção interventiva e mostrou perseverança perante dificuldades, ao solicitar auxílio e fazendo perguntas. No caso deste aluno constatou-se a presença de problemas de motivação quanto à tarefa de desenhar e por essa razão tornou-se essencial implementar exercícios com abordagens mais concisas ao nível do tempo de execução e de formato recreativo influente no desenvolvimento da sua criatividade e motivação intrínseca na relação com o exercício do desenho. Sónia Maria Amado Barreira 182 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.1.6. TEMPERAMENTO De acordo com as observações efectuadas, foram identificados traços163, que segundo Eysenck, são caracterizadores de um tipo164 de temperamento integrado na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a extroversão e a estabilidade. O aluno manifestou um comportamento sociável, expansivo, comunicativo, responsivo e de liderança. Estes traços classificam-no como sendo uma pessoa de tipo temperamental sanguíneo que apresenta sentimentos fortes (segundo Kant), tendente a mudanças rápidas (segundo Wundt) e a emoções fracas estáveis (segundo Eysenck). 5.1.4.2. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA IND. Ilustração 3 – Trabalho elaborado pela aluna Ind., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.2.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA A aluna obteve no exercício de composição gráfica referente ao Projecto de Pintura Mural a pontuação de 38,5 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) 163 Conjunto de comportamentos relacionados que ocorrem com determinada frequência (Hall et al., 2000, p. 292). 164 Constructo ou conceito complexo sintetizador de um conjunto de traços correlacionados mais simples (Hall et al., 2000, p. 292). Sónia Maria Amado Barreira 183 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem correspondente ao nível intermédio/inferior de conhecimentos respeitantes à expressão plástica. Os critérios valorizados centraram-se no enquadramento equilibrado de uma estrutura dinâmica compositiva, na aplicação de cor e ritmo, no conteúdo figurativo, nas correlações entre posição de adjacência e enredo visual entre os elementos. Os critérios que deve aperfeiçoar incidem no tipo de linha (devendo introduzir mais variedade estrutural expressiva), na introdução de textura representativa de sombreado, na aplicação de maior variedade de técnicas de simulação de movimento visual e de profundidade, e na correlação entre os elementos no espaço partindo de uma relação mais complexa de escala e figura/fundo. 5.1.4.2.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Por ter obtido uma pontuação de 38 valores, o seu grau de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente incidiu no nível intermédio/inferior, correspondente à nota C (Suficiente). A aluna usufruiu de três habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente: fluência (19 soluções produzidas), flexibilidade (5 soluções diferentes) e elaboração (pela variedade de detalhes que aplicou nas soluções). O recurso cognitivo que aplicou foi a analogia, mas na perspectiva de afinidade formal de relação de semelhança entre os elementos, que foram agrupados por identidade de dimensão, semelhança de configuração e colocação no espaço. O tipo de raciocínio do pensamento criativo que adoptou foi o raciocínio convergente por elaborar uma composição de desenho resultante da junção de diversas ideias precedentes. 5.1.4.2.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Tomando em atenção o temperamento da aluna, foram aplicadas as seguintes acções interventivas: a inquirição particular sobre suas dificuldades (manifestadas na expressão apática e introspectiva da aluna, diante da sua folha de desenho em branco), a explicação elucidativa das regras do exercício, o esclarecimento perante dúvidas colocadas, o diálogo (estabelecido com regularidade de modo a manter o Sónia Maria Amado Barreira 184 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem envolvimento activo da aluna no exercício do desenho), a observação próxima diligente, e orientações correctivas ou de opinião consideradas necessárias. Apesar da evidente timidez da aluna (que de início não pedia voluntariamente auxílio), a nossa dedicada e frequente atenção sobre ela conduziu a aluna a adquirir confiança para, a partir de determinada altura, começar a chamar-nos por iniciativa própria. O padrão comportamental desta aluna caracteriza-se na atitude positiva de persistência perante dificuldades, só no caso de o professor retirar as suas dúvidas através do diálogo particular. O facto de estabelecer com regularidade momentos de diálogo com a aluna, terá grande influência na construção de confiança da mesma para tomar uma atitude mais participativa, ainda que timidamente. Perante bloqueios subjugantes construídos por falta de esclarecimento e orientação, a aluna não reagirá pedindo auxílio ao professor, a não ser que esta construa uma relação de confiança com o mesmo. Sem o medo de pedir auxílio, as suas dificuldades transformam-se em bloqueios superáveis, por encontrar no professor orientações elucidativas que a conduzem a um estado de confiança que lhe permite adquirir vontade em aperfeiçoar as suas soluções. 5.1.4.2.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA A aluna não expressou infracções de raciocínio talvez devido à natureza do seu temperamento, no entanto, o facto de perguntar o modo de desenhar determinada figura permite colocar em hipótese de no seu pensamento poder construir uma infracção de raciocínio por distorção segundo incapacidade: - “Não consigo desenhar isto por isso é melhor perguntar ao professor como se faz”. No caso desta aluna devese analisar com maior atenção os “filtros” que se interpõem entre aquilo que a aluna expressa e a profundidade do seu pensamento, de modo a compreender correctamente a sua visão da realidade do momento. Por essa razão se torna essencial estabelecer o diálogo individualmente. Relativamente a bloqueios do pensamento criativo, considerámos a presença do tipo de bloqueio de ordem perceptiva, porque a solução apresentada pela aluna não interroga muito para além do evidente, isto é, não transcende as hipóteses colocadas na folha A4 cedida por nós com a impressão de cinco imagens. Sónia Maria Amado Barreira 185 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A auto-avaliação que a aluna fez em relação à composição gráfica final foi positiva, no entanto não podemos acrescentar mais informação relativa ao seu autoconceito devido à natureza do seu temperamento reservado e pouco comunicativo. A sua auto-regulação foi suficiente no sentido de cumprimento de algumas das regras específicas pretendidas e do tempo de execução estipulado, na aplicação de esforços necessários ao cumprimento do seu projecto e na solicitação de opiniões. 5.1.4.2.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS Inicialmente o nível de motivação da aluna pareceu de intensidade reduzida devido ao estado de apatia manifestado. Foi a partir da implementação de acções interventivas precedentemente descritas que iniciou-se a inversão desse estado negativo a um estado de desfrute por parte da aluna. O seu modo de proceder, por influência de um novo estado emocional positivo, evidenciou-se na focagem de atenção nas instruções, na aplicação do conhecimento aprendido, na concentração da sua atenção no exercício do desenho, na aplicação de conhecimentos noutros contextos, na sua perseverança diante dificuldades. O cuidado da aluna em aperfeiçoar a sua proposta compositiva validou a presença muito provável do sentimento de desfrute característico do envolvimento activo de qualidade devido a motivos intrínsecos. O sorriso amável que esboçou em conjunto com o movimento afirmativo da cabeça confirmou o sentimento de orgulho que lhe foi questionado na altura da entrega da sua composição. No caso desta aluna só poderão incidir problemas de motivação se no confronto com dificuldades não for bem orientada pelo professor, porque nela parece existir o gosto pelo exercício do desenho, demonstrado através da sua paciência e concentração aplicados na sua elaboração, e na vontade por persistir até conseguir o resultado mais completo e não tanto satisfatório. 5.1.4.2.6. TEMPERAMENTO O perfil temperamental da aluna Ind. enquadra-se, segundo Eysenck, na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a introversão e a estabilidade, por a aluna ter manifestado um comportamento cuidadoso, reflexivo, pacífico, controlado, tranquilo e calmo. Estes traços enumerados classificam a aluna como Sónia Maria Amado Barreira 186 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem sendo uma pessoa caracterizada pelo tipo de temperamento fleumático que apresenta pouca energia (segundo Kant), tende a mudanças lentas (segundo Wundt) e emoções fracas e estáveis (segundo Eysenck). 5.1.4.3. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA LEN. Ilustração 4 – Trabalho elaborado pela aluna Len., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.3.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA A aluna demonstrou na sua composição gráfica um nível reduzido de conhecimentos relativos à expressão plástica. Obteve a pontuação de 16 valores, integrados no intervalo de valores de nota D (Insuficiente). O critério mais valorizado na sua avaliação sumativa foi o de conteúdo, pela representação de personagens, objectos (ainda que abstractos) e pelo registo escrito de uma palavra. Numa próxima experiência de desenho a aluna deverá aplicar maior variedade de tipos de linha (sejam de composição, representação e expressão), de tipos de representação de textura (através de técnicas de sombreado ou de representação de superfície), de variações por contraste na aplicação de cor e de diversidade de técnicas de simulação de movimento dos elementos. Deve igualmente tomar maior consciência da relação de figura/fundo, de escala entre os elementos, e na relação de coerência entre os elementos e o enredo visual. Sónia Maria Amado Barreira 187 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.3.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Neste exercício a aluna demonstrou um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente por ter obtido uma pontuação de 26 valores integrados no intervalo correspondente a uma nota C (Suficiente). Na elaboração da sua composição utilizou o recurso cognitivo da analogia mas no sentido de relação de semelhança ou afinidade formal no agrupamento entre os elementos, relacionados entre si segundo o tamanho (por identidade de dimensão) e direcção (por colocação no espaço). Usufruiu do raciocínio convergente do pensamento criativo pela razão de convergir as suas ideias numa única solução enquanto proposta. 5.1.4.3.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Por constatarmos inicialmente a ausência de envolvimento no exercício de aula por parte da aluna (visivelmente distraída com as conversas entre os seus colegas de turma), foram implementadas acções interventivas com o propósito de compreender a razão de ser do seu comportamento, sendo delineadas directrizes de reorientação da sua atenção em relação ao exercício proposto de desenho. O estado de desânimo provocado pela sua crença negativa de incapacidade por falta de jeito para desenhar conduziu à sua dispersão de atenção e subsequente adiamento precoce do exercício de aprendizagem. A intervenção baseou-se no diálogo individual (frequente e intercalado), na inquirição de dificuldades sentidas ou dúvidas em relação ao exercício, na percepção de indícios de infracções de raciocínio na construção do seu discurso e na elucidação relativa à natureza falaciosa dessas infracções. Apesar de as acções interventivas terem surtido um efeito positivo durante algum tempo, na medida em que, conduziram a tentativas de redefinição e melhoramento das representações gráficas, ainda assim, pela razão de não resultarem de acordo com as expectativas individuais da aluna, terão sido infrutíferas devido à sua desistência por concluir a sua proposta compositiva. Sónia Maria Amado Barreira 188 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Portanto, o seu padrão comportamental caracteriza-se na atitude negativa perante bloqueios que se tornam subjugantes por acreditar que não consegue concretizar soluções que a inspiram e por conseguinte desiste com bastante facilidade sempre que um desafio implique habilidades relacionadas com o exercício do desenho. De modo a desenvolver o seu potencial criativo é necessário em primeira instância elucidar acerca do poder incapacitante das infracções de raciocínio que bloqueiam o seu pensamento criativo e promover a confiança em relação às suas capacidades e potencial criativo, fortalecendo suas crenças de auto-eficácia, auto-regulação e de gestão emocional, para que a criatividade nela se evidencie, por fim. 5.1.4.3.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA As infracções de raciocínio que verbalizou relacionam-se com distorções de juízos e convicções (por afirmar não ter jeito para desenhar) e de incapacidade (ao dizer que não conseguia desenhar certas características de determinadas figuras). As categorias de bloqueio do pensamento criativo que se evidenciaram foram de ordem perceptiva (por não questionar para além do evidente ou acrescentar nova informação) emocional (devido ao seu autoconceito ser sensível aos julgamentos dos outros e da sua tendência autocrítica negativa). O facto de não confiar na compatibilidade das suas capacidades quanto ao desafio do desenho e acreditar não conter em si talento nesse sentido resulta em expectativas negativas quanto ao seu próprio desempenho e resultado, o que evidencia um autoconceito de influência negativa. Quando lhe foi pedido, na altura da entrega final, para concluir a sua proposta compositiva incompleta, a aluna recusou, manifestando através da linguagem corporal aversão em relação à sua composição gráfica. O seu nível de auto-regulação foi insuficiente por não aplicar esforços essenciais ao cumprimento da meta estabelecida pelo exercício. Sónia Maria Amado Barreira 189 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.3.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS Os seus níveis de motivação em relação ao exercício do desenho mostraram-se de intensidade reduzida ao longo do exercício. O estado emocional manifestado pareceu de tédio disfarçado na dispersão da sua atenção. O seu modo de proceder ao longo do tempo após a acção interventiva melhorou, na medida em que colocou perguntas, focou a sua atenção e aplicou soluções baseadas na nossa orientação, no entanto, o seu sentimento sempre presente de insatisfação conduziu-a à desistência. Supomos que o motivo extrínseco presente ao longo do tempo em que a aluna pareceu envolvida na tarefa susteve-se no dever de cumprimento das nossas orientações e não tanto no desfrute pelo desafio do desenho. No caso desta aluna a falta de motivação para desenhar deveu-se aos resultados que foi obtendo (das tentativas que levou a cabo expressas na sua composição) não serem de acordo com as suas expectativas e por não ter adquirido ao longo do processo aquele sentimento de desfrute necessário que mantém o envolvimento de qualidade no exercício de qualquer actividade. As suas crenças de auto-eficácia e autoconceito são frágeis e devem ser fortalecidas para que o seu envolvimento seja de qualidade e possa aprender a gostar da experiência do desenho. Propor exercícios de curta duração que ensinem técnicas diferentes de representação gráfica e meios operativos possíveis de concretizar através da experiência pessoal da aluna, podem ajudar a construir maior confiança nas suas capacidades e melhores crenças de auto-eficácia quanto à possibilidade potencial de realizações criativas no âmbito da expressão plástica. 5.1.4.3.6. TEMPERAMENTO De acordo com o modelo bidimensional de Eysenck, a aluna manifestou um tipo temperamental enquadrado na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a introversão, a neurose e a instabilidade, pelo facto de ter demonstrado um comportamento ansioso, pessimista e reservado; traços caracterizadores de uma pessoa com o tipo de temperamento melancólico que apresenta sentimentos fracos (segundo Kant), tendente a mudanças lentas (segundo Wundt) e a emoções fortes (segundo Eysenck). Sónia Maria Amado Barreira 190 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.4. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA LIL. Ilustração 5 – Trabalho elaborado pela aluna Lil., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.4.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA Na sua proposta compositiva respeitante ao Projecto de Pintura Mural pontuou 39,5 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) que corresponde a um nível intermédio/inferior de conhecimentos relacionados com a expressão plástica. Os critérios valorizados reflectiram-se no equilíbrio do enquadramento de estrutura dinâmica, no movimento por sobreposição dinâmica das formas, no escalonamento e escurecimento do tom azul constituinte das diversas formas irregulares assimétricas representativas de perfis de montanhas, na relação complexa de figura/fundo, na presença de conteúdo figurativo, de uma frase “Bem-vindo à nossa escola”, e na coerência de disposição dos elementos e do enredo visual. Os critérios a melhorar correspondem: ao tipo de linha (devendo aplicar linhas de natureza compositiva e expressiva), à representação de textura (por sombreado ou superfície), ao uso da cor (introduzindo maior variedade), ao ritmo (averiguando métricas de equilíbrio por simetria ou repetição de forma) e profundidade (experimentando outras técnicas de simulação de tridimensionalidade). Sónia Maria Amado Barreira 191 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.4.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Quanto ao nível de usufruição de habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente, a aluna alcançou o nível intermédio/inferior, por obter a pontuação de 26 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente). As habilidades primárias que utilizou foram: a fluência (11 soluções produzidas) e a flexibilidade (4 soluções diferentes). A relação de semelhança por afinidade formal entre os elementos agrupados por proximidade cromática evidência o recurso cognitivo da analogia. Pela razão de confluência de ideias numa só composição final enquanto proposta de pintura mural, identifica a usufruição do tipo de raciocínio convergente do pensamento criativo. 5.1.4.4.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Pela razão de a aluna manifestar a tendência de dispersão da atenção através da conversação com alguns dos seus colegas, foram implementadas acções interventivas de aproximação e colocação de perguntas sobre suas dúvidas e dificuldades, de frequente diálogo individual (no sentido de averiguar o seu nível de empenhamento e esforço posterior às explicações e orientações concedidas) e de explicação dos exemplos de soluções contidos na folha A3 com a composição de recortes e na pequena folha cedida com uma imagem complementar, a fim de convergir o seu foco de atenção no exercício de aprendizagem. A constante falta de acrescentos de registos gráficos na sua folha indiciou a tendência da aluna por adiar o seu envolvimento no exercício do desenho e por prometer empreender esforços sem intenção de cumprir. O facto de confessar posteriormente que a razão de ser da folha permanecer sem acrescentos de registos se devia à falta de ideias definidoras de uma solução, revelou o problema de bloqueio que terá conduzido à dispersão da sua atenção: por falta de adequada auto-regulação apesar das acções interventivas definirem algumas coordenadas. O meio que adoptou para ultrapassar a dificuldade que sentiu foi pedir uma solução que pudesse desenvolver, evitando assim encontrar por si uma solução para o problema do exercício. Sónia Maria Amado Barreira 192 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem As acções interventivas terão conduzido a aluna no esforço de apresentação de uma solução compositiva concluída no tempo estipulado e de acordo com as regras pretendidas, mas o seu envolvimento terá sido aplicado muito em cima da hora da entrega final e por isso suspeitar-se da presença de factores extrínsecos de motivação no seu envolvimento activo na tarefa (por exemplo, o medo de reprovação conduziu-a à cópia de soluções pré-existentes como a imagem exemplificativa da pequena folha cedida para inspirar a sua imaginação). O padrão comportamental desta aluna caracteriza-se pela atitude negativa de dispersão da atenção perante bloqueios do pensamento criativo e a abstenção participativa por recusa indirecta, por adiar o seu envolvimento no exercício do desenho através da dispersão da sua atenção, por prometer aplicar esforços sem intenção de os cumprir e por não exprimir o que pensa no momento em que se estabelece o diálogo, adoptando uma atitude submissa às orientações sem discernir e estabelecer ela própria possibilidades ou apreciações. Devido a esta última razão torna-se essencial desenvolver na aluna a capacidade crítica de modo a melhorar a sua capacidade de decisão e por conseguinte a sua auto-regulação. 5.1.4.4.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA O bloqueio do pensamento criativo que evidenciou foi de ordem perceptiva porque não interrogou para além do evidente, sendo que a sua solução não transcendeu a imagem cedida para sua inspiração. Pelo facto de a aluna não exprimir o que realmente pensava sobre o exercício e sobre suas crenças (talvez pela falta de confiança na relação aluno/professor) não foi possível estabelecer uma apreciação sobre infracções de raciocínio ou o nível de influência do seu autoconceito incidente no seu desempenho, mas o facto de ter realizado a tarefa foi positivo em termos do seu autoconceito, isto é, ao ter concretizado o exercício de alguma forma influenciou a construção mental de premissas de capacidade no seu pensamento. 5.1.4.4.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS Foram identificados alguns aspectos qualitativos indicativos de motivação intrínseca no modo de proceder da aluna, centrados na focagem de atenção nas nossas Sónia Maria Amado Barreira 193 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem instruções, na aplicação do conhecimento transmitido, na produção de resultados segundo algumas exigências, na colocação de perguntas. Segundo os aspectos quantitativos indicativos de motivação, consideramos que o grau de intensidade do nível de motivação da aluna foi reduzido. Partindo da observação e análise da sua atitude e particularidades comportamentais, tornou-se evidente a incidência de problemas de motivação quanto ao exercício do desenho. O seu envolvimento na experiência do exercício do desenho incidiu em motivos extrínsecos por concluir uma proposta pela razão de dever ou cumprimento de uma tarefa indicada por nós. 5.1.4.4.6. TEMPERAMENTO A aluna manifestou um temperamento tendente à convergência de predominância de energia psíquica orientada para a extroversão e a estabilidade, pelo seu comportamento animado, despreocupado e sociável. Estes traços indicam um tipo de temperamento sanguíneo que apresenta sentimentos fortes (segundo Kant), tendência para mudanças rápidas (segundo Wundt) e emoções fracas (segundo Eysenck). 5.1.4.5. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA RIT. Ilustração 6 – Trabalho elaborado pela aluna Rit., relativo ao projecto de uma pintura mural. Sónia Maria Amado Barreira 194 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.5.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA Na composição gráfica relativa ao Projecto de Pintura Mural a aluna obteve uma pontuação de 43,5 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente à categoria de nível intermédio/inferior de conhecimentos. Pontuou valores nos critérios de equilíbrio de enquadramento de estrutura dinâmica, de tipos de linha (por aplicar três: compositiva, representativa e expressiva), de aplicação de cor, de conteúdos (figurativos e de linguagem escrita) e de correlações (pela coerência de adjacência entre os elementos e de enredo visual). Os critérios que deve aplicar em exercícios de desenho posteriores incidem: na textura (em diversos tipos de sombreado e representação de superfície), no movimento das formas, no ritmo entre os elementos, nos diversos tipos de simulação de profundidade, na introdução de mais planos na relação de figura/fundo e na relação coerente de escala entre os elementos. 5.1.4.5.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Quanto aos valores pontuados referentes ao nível de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente a aluna obteve 40, o que corresponde a uma nota C (Suficiente) de nível intermédio/inferior de usufruição. Utilizou três habilidades relacionadas com o pensamento divergente: fluência (por apresentar 21 registos gráficos), flexibilidade (por apresentar 8 tipos de soluções diferentes) e a elaboração (pelo cuidado na aplicação de detalhes nas soluções que apresenta). O recurso cognitivo adoptado foi a analogia, no sentido de relação de afinidades formais entre os elementos presentes na organização formal ou composição. Os elementos estão agrupados segundo critérios como: a forma (por semelhança de configuração dos elementos) e direcção (por visualmente estabelecerem grupos por colocação no espaço de enquadramento). O tipo de raciocínio usado foi convergente, pela razão de a aluna orientar as suas ideias numa única resposta compositiva proposta enquanto pintura mural. Sónia Maria Amado Barreira 195 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.5.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Sabendo que até o aluno mais competente e predisposto ao gosto pessoal pela expressão plástica pode apresentar indícios de desmotivação pelas mais variadas razões, verificou-se felizmente que devido a particular conjuntura de circunstâncias (sejam internas165 ou externas166) não foi esse o caso desta aluna convicta no seu jeito para o desenho. O cuidado aplicado nas representações gráficas e a dedicação diligente demonstrada pela aluna durante a elaboração do seu trabalho evidenciou uma atitude inconformista que persevera até que a solução seja de acordo com aquele sentimento próprio de realização que permite aceitar uma conclusão. Portanto, o seu padrão comportamental caracteriza-se na atitude positiva perante bloqueios do pensamento criativo que se tornam superáveis devido à sua capacidade de auto-regulação e persistência inconformada com soluções meramente satisfatórias. As acções interventivas aplicadas basearam-se em explicações que pudessem clarificar e orientar o pensamento da aluna, na observação próxima sem interferir regularmente (salientando sempre a disponibilidade para ajudar), e em estabelecer o diálogo preferencialmente a pedido da aluna. Em suma, representaram um acréscimo positivo em relação ao estado de envolvimento activo conducente à conclusão aprimorada da aluna intrinsecamente motivada para o exercício do desenho. 5.1.4.5.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA A aluna não expressou infracções de raciocínio talvez devido ao facto de confiar nas suas capacidades (e respectiva compatibilidade em relação às exigências da tarefa), e por conseguinte, considera conter em si talento para o desenho. O seu autoconceito (no que diz respeito às suas crenças de auto-eficácia) teve uma influência positiva no confronto com dificuldades, portanto superáveis. 165 Por exemplo, a motivação intrínseca quanto ao exercício do desenho ou uma boa disposição psicológica, fisiológica, etc. 166 Por exemplo, um ambiente de aula não perturbador do nível de concentração da aluna em relação ao seu desempenho ou um exercício de aprendizagem bem construído. Sónia Maria Amado Barreira 196 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem A qualidade de gestão individual ou auto-regulação da aluna foi suficiente para permitir que resolvesse o exercício tomando escolhas de acção construindo uma resposta por si sem pedir uma solução, aplicando esforços essenciais na elaboração do exercício, cumprindo todas as regras específicas pretendidas (exceptuando a relação de conteúdo com o tema escola) e concluindo a sua proposta compositiva dentro do tempo estipulado. Por fim, expressou optimismo na auto-avaliação que fez em relação ao valor da sua proposta compositiva. 5.1.4.5.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS O seu modo de proceder caracterizou-se na atenção focalizada em relação às instruções, na colocação de dúvidas, na aplicação do conhecimento aprendido, no dedicado desempenho, na concentração despendida, na perseverança perante dificuldades e na produção de resultados de acordo com as exigências. Mediante todas estas evidências comportamentais colocou-se a hipótese de o seu nível de motivação ter alcançado o patamar de intensidade intermédia, ou seja, o sentimento de satisfação ou fruição no decurso do seu desempenho sobre o exercício do desenho. É possível um aluno participar activamente numa tarefa e fundamentar-se essa atitude em motivos extrínsecos, no entanto, parece mais provável, neste caso, a presença de motivos intrínsecos, pelo facto das representações gráficas da proposta compositiva apresentarem um registo gráfico aprimorado, indicativo de paciência despendida característica do empenhamento motivado pelo desfrute ou satisfação no processo de desempenho167. Em suma, a aluna não evidenciou problemas de motivação quanto ao exercício do desenho. 5.1.4.5.6. TEMPERAMENTO O comportamento manifestado pela aluna evidenciou um tipo temperamental integrado na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a introversão e a estabilidade. Por demonstrar um comportamento cuidadoso, reflexivo, pacífico, controlado, tranquilo e calmo, o seu tipo de temperamento revela-se fleumático, 167 Não querendo com isto dizer que uma composição gráfica abstracta seja produto de um empenhamento descurado só porque a definição dos elementos parece imprecisa. Sónia Maria Amado Barreira 197 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem apresentando pouca actividade (segundo Kant), tendente a mudanças lentas (segundo Wundt) e a emoções fracas (segundo Eysenck). 5.1.4.6. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA SAR. Ilustração 7 – Trabalho elaborado pela aluna Sar., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.6.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA A aluna obteve na composição gráfica do Projecto de Pintura Mural 36,5 valores, integrados no intervalo referente à nota C (Suficiente) indicador de um nível intermédio/inferior de conhecimentos sobre o desenho de representação livre ou rigorosa. Na sua composição foram valorizados os critérios: de enquadramento (de uma estrutura dinâmica equilibrada), de cor (pela usufruição de cores primárias, secundárias e intermédias), de simulação de movimento (por translação, sobreposição dinâmica, escalonamento e saturação de cor), e de conteúdo (figurativo e de linguagem escrita). Os critérios que deve aplicar em posteriores exercícios de desenho centram-se no tipo de linha (devendo aplicar linhas compositivas e expressivas), no efeito de profundidade (devendo explorar outras técnicas para além da sobreposição), numa construção mais complexa de planos na relação figura/fundo, na maior consciência de escala entre os diversos elementos e sua coerência na relação de adjacência. Sónia Maria Amado Barreira 198 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.6.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Quanto ao nível de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente a aluna alcançou o nível intermédio/inferior por ter obtido a pontuação de 36 valores, integrados no intervalo correspondente à nota C (Suficiente). A aluna usufruiu de três habilidades do pensamento divergente: a fluência (por elaborar 12 soluções), flexibilidade (por distinguirem-se 4 soluções diferentes) e elaboração (pelo método de recorte e colagem por sobreposição de figuras - os cavalos - intercalando-as segundo três cores quentes – laranja, amarelo e vermelho). O recurso cognitivo expresso incide na analogia segundo a perspectiva de afinidades formais entre os elementos que foram agrupados por identidade de dimensão, semelhança de configuração, proximidade cromática (na escolha de cores quentes próximas entre si na escala de construção cromática) e colocação no espaço. O tipo de raciocínio que utilizou foi o convergente por as suas ideias convergirem num mesmo sentido ou única solução enquanto proposta para a pintura mural da escola. 5.1.4.6.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Inicialmente a aluna confrontou-se com um bloqueio criativo por não saber como iniciar o processo de construção de uma ideia enquanto proposta para a pintura mural. Esse bloqueio deveu-se ao facto de a aluna ter faltado nas aulas anteriores que envolveram a primeira e segunda fases de elaboração do projecto, relevantes na delineação de um percurso evolutivo de estudo preparatório e de construção de ideias conducentes ao processo de desenvolvimento da composição gráfica enquanto proposta para a pintura mural da escola. A atitude da aluna perante o seu dilema foi positiva porque em lugar de omitir suas dificuldades pediu auxílio colocando perguntas e tirando dúvidas. As acções interventivas implementadas perante as dificuldades que a aluna descreveu centraram-se na explicação e enumeração de objectivos e regras específicas do projecto, e na sugestão da aplicação de métodos auxiliares de construção de ideias (pesquisa de imagens, associação de ideias, etc.). Sónia Maria Amado Barreira 199 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Ao longo do tempo de elaboração da sua composição, visto a aluna demonstrar dedicada concentração na elaboração do seu trabalho, foi adoptado um modo de observação próxima sem interrupção regular do seu desempenho com a implementação de diálogo individual, tendo sido preferível (pela razão de a aluna manifestar uma consistente auto-regulação) esperar pelo seu pedido de auxílio. 5.1.4.6.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA A única infracção de raciocínio que expressou relacionou-se com o juízo ou convicção de falta de jeito, não obstante o seu gosto pessoal por desenhar. O bloqueio com o qual se confrontou deveu-se ao facto de não ter participado (por falta de presença) nas primeiras fases do projecto, cruciais para uma evolução correcta na elaboração e desenvolvimento de ideias basilares para a proposta compositiva. Assim que o seu pensamento ficou clarificado através das explicações e orientações dadas o seu desempenho culminou na conclusão de uma proposta compositiva. A qualidade de gestão individual aplicada foi suficiente para a aluna conseguir cumprir o exercício de acordo com as regras específicas pretendidas pelo projecto e dentro do tempo estipulado de execução. Estabeleceu escolhas de acção mediante as orientações dadas sem pedir uma solução e empreendeu esforços essenciais para o cumprimento da tarefa proposta. O seu autoconceito em relação à falta de jeito para desenhar não teve influência na sua capacidade de auto-regulação - responsável pela sua progressão de aprendizagem e superação do bloqueio. O facto de a aluna ter apreciado a experiência do exercício de desenho apesar de pensar que não tem jeito é algo invulgar, no entanto a explicação para este fenómeno pode suster-se na sua capacidade de colocar hipóteses que a impulsionam para soluções concretizáveis perante dificuldades, isto é, manifesta uma personalidade autotélica que usufrui de estruturas dissipadoras que permitem, mediante a falta de capacidades segundo sua crença de falta de jeito, adoptar um sistema de autopreservação que usufruiu de outras Sónia Maria Amado Barreira 200 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem capacidades que substituem e colmatam essa falta, alcançando a maioria dos objectivos pretendidos mediante recursos alternativos168. 5.1.4.6.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS Os indicadores qualitativos de motivação evidenciaram-se no modo de envolvimento activo da aluna pela atenção focalizada, concentração nas instruções e durante o seu desempenho, na aplicação do conhecimento transmitido, na perseverança perante dificuldades sentidas, na solicitação de auxílio e orientação, e na produção de resultados segundo as exigências delineadas pelo projecto. Quanto aos motivos da sua participação, não se confirmaram, no entanto, de acordo com a seguinte referência teórica, os estudantes que experimentam o estado de fluxo enquanto estudam obtêm melhores resultados (Goleman, 1996, p.115), portanto, conjectura-se uma maior probabilidade na presença de motivos intrínsecos devido à qualidade da solução compositiva proposta e ao estado emocional de satisfação que a aluna manifestou no momento em que entregou a sua composição de desenho. Relativamente a indicadores quantitativos de motivação presentes supõe-se que o nível de motivação da aluna terá sido de intensidade intermédia pela dedicação e concentração aplicados durante o seu desempenho. 5.1.4.6.6. TEMPERAMENTO Segundo o modelo bidimensional de Eysenck, o tipo de temperamento da aluna enquadra-se na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a extroversão e estabilidade. Pelo facto de a aluna ter demonstrado um comportamento sociável, expansivo, comunicativo, responsivo e animado, revelou um tipo de temperamento sanguíneo que apresenta sentimentos fortes (segundo Kant), que tende a mudanças rápidas (segundo Wundt) e a emoções fracas (segundo Eysenck). 168 Por exemplo, o facto de decalcar o perfil de um cavalo (técnica capacitante) permitiu-lhe, apesar das dificuldades, desenvolver raciocínios criativos através da combinação expressiva de elementos apresentados segundo valores como o ritmo (por repetição em intervalos regulares numa ordem intercalada de cores diferentes entre perfis de figuras de cavalos) e movimento (por translação, sobreposição dinâmica dos perfis e escalonamento/saturação da sua cor). Sónia Maria Amado Barreira 201 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.7. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA JES. Ilustração 8 – Trabalho elaborado pela aluna Jes., relativo ao projecto de uma pintura mural. 5.1.4.7.1. CONHECIMENTOS RELATIVOS À EXPRESSÃO PLÁSTICA No exercício de composição relativo ao Projecto de Pintura Mural, a aluna pontuou 28 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente a um nível intermédio/inferior de conhecimentos sobre o desenho e expressão plástica. Foram mais valorizados os seguintes critérios: tipo de linha (definidora de contorno de forma/figura e definidora de textura visual), movimento (por translação, deslocação de figuras em diferentes direcções, gradação mutável de aparência, velocidade aplicada no gesto da pincelada e textura cromática dos elementos), e coerência de adjacência entre os elementos e o enredo visual. Os critérios a desenvolver centram-se: no equilíbrio de enquadramento da composição, na aplicação de textura (através de técnicas de sombreado e representação de superfície), na variação por contraste da cor, na aplicação de ritmo, na simulação de profundidade (usufruindo de outras técnicas para além da transparência e claridade), na combinação mais complexa entre planos na relação figura/fundo, na consciência de escala entre os elementos, e de conteúdo (introduzindo elementos de natureza simbólica e de linguagem escrita). Sónia Maria Amado Barreira 202 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.4.7.2. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO No que diz respeito ao nível de usufruição do pensamento divergente, a aluna alcançou o patamar de nível intermédio/inferior por ter pontuado 26 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente). As habilidades primárias que utilizou foram: a fluência (por produzir 15 soluções), a flexibilidade (por apresentar 4 soluções diferentes) e a elaboração (por acrescentar detalhes nas soluções). A analogia foi o recurso cognitivo adoptado, no sentido de relação de semelhança estabelecida por afinidade formal entre os elementos agrupados segundo: identidade de dimensão (independente da sua colocação no espaço), e semelhança de configuração. O tipo de raciocínio aplicado foi convergente por apresentar uma única resposta compositiva enquanto proposta. 5.1.4.7.3. ATITUDE E PARTICULARIDADES COMPORTAMENTAIS Na terceira fase do Projecto da Pintura Mural a aluna manifestou uma atitude negativa ao evitar participar no exercício de composição, dispersando a sua atenção por meio da leitura de uma pequena revista que não ocultou. Este evento terá dado início à implementação de um conjunto de acções interventivas sucessivas que permitiram compreender ao longo do tempo a razão da sua recusa directa em participar no processo de aprendizagem. O facto de a aluna afirmar não querer participar no exercício de aula por não gostar de desenhar, deu início à medida interventiva de implementação do diálogo individual para averiguar o problema incidente na sua motivação. Os assuntos discutidos em primeira instância (objectivos e regras do projecto) não surtiram o efeito desejado porque a aluna prometeu empreender esforços sem dar provas de os cumprir, dispersando novamente a sua atenção. Visto ter afirmado não gostar de desenhar e não precisar dessa capacidade para nada, foi necessário reflectir com a aluna sobre o valor da sua aprendizagem na área da expressão plástica e reorientar a sua motivação Sónia Maria Amado Barreira 203 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem em relação ao exercício de desenho através da procura de razões de utilidade 169 que justificassem o seu empenho e esforço. Após o diálogo estabelecido, o problema tornou-se outro, não tanto na razão de utilidade em aprender, mas na falta de uma solução para o exercício. O bloqueio do pensamento criativo tornou-se subjugante devido ao facto de perante esse problema a aluna não pedir auxílio, evitando assim o seu envolvimento. Foi importante por isso intervir regularmente através do diálogo individual no decurso do seu desempenho de modo a reorientar o processo de aprendizagem. As acções interventivas influenciaram a custo a participação da aluna, que apesar de tudo, culminou todo o processo de forma positiva, pelo facto de entregar uma proposta compositiva concluída. 5.1.4.7.4. INFRACÇÕES DE RACIOCÍNIO, BLOQUEIOS E CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA A aluna não exprimiu distorções de linguagem somente a sua indiferença pelo exercício do desenho. O bloqueio do pensamento criativo que terá experienciado foi de ordem emocional (no sentido de que o exercício do desenho não é uma actividade que aprecia devido às emoções negativas que o processo origina no seu confronto com dificuldades) e perceptiva (por não acrescentar mais informação para além daquela transmitida pelas imagens recortadas e cedidas). A sua capacidade de auto-regulação manifestou-se débil no confronto com dificuldades e por isso foi necessária atenção redobrada no caso desta aluna para que esta conseguisse cumprir algumas regras pretendidas e aplicasse esforços essenciais ao cumprimento da tarefa. 5.1.4.7.5. INDICADORES DE MOTIVAÇÃO E INCIDÊNCIA DE PROBLEMAS No caso desta aluna o nível de motivação é de intensidade reduzida pela razão de não gostar de desenhar. Apesar disso o seu modo de proceder foi gradualmente 169 Por exemplo, o possível papel da expressão plástica na sua vida enquanto meio de expressão pessoal, de comunicação, de aprendizagem, etc. Foram igualmente discutidos motivos de âmbito extrínseco como o papel de uma boa nota no exercício de uma disciplina integrada no curso que pretende completar. Sónia Maria Amado Barreira 204 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem progredindo na atenção focalizada nas instruções, na aplicação dos conhecimentos, na colocação de questões apesar de não solicitar auxílio, na produção de resultados conforme algumas exigências do projecto. Quanto à presença de motivos constatados na sua participação terão estes sido de teor extrínseco visto ter confirmado o seu desagrado pelo exercício do desenho. Resta conjecturar (pois não foram obtidas provas concretas) se a aluna terá alcançado algum nível de fruição no processo de elaboração da sua proposta assim que alcançou uma ideia possível de desenvolver. Muito provavelmente terá alcançado (por mais ténue que fosse) alguma fruição no processo de desenvolvimento da sua composição porque sem esse factor não teria sido possível apresentar uma proposta concluída com uma aparência tão atractiva do ponto de vista da expressividade. No caso desta aluna não existe qualquer dúvida quanto à sua predisposição para a falta de motivação em relação ao exercício do desenho. 5.1.4.7.6. TEMPERAMENTO Segundo as observações efectuadas e o modelo bidimensional de Eysenck, o tipo de temperamento da aluna integra-se na convergência de predominância de energia psíquica orientada para a introversão, a neurose e a instabilidade, por demonstrar um comportamento rígido, reservado e insociável. Estes traços evidenciam o tipo de temperamento melancólico que apresenta sentimentos fracos (segundo Kant), tendente a mudanças lentas (segundo Wundt) e a emoções fortes (segundo Eysenck). 5.1.5. EXERCÍCIO DE CRIATIVIDADE “LINHAS PARALELAS E O IMAGINÁRIO” Ilustração 9 – Exercício do livro de Psicologia prática de Kindersley. Sónia Maria Amado Barreira 205 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.5.1. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DO ALUNO ALI. Ilustração 10 – Trabalho elaborado pelo aluno Ali., relativo ao exercício Linhas paralelas e o imaginário. 5.1.5.1.1. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Neste exercício o aluno obteve 40 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente a um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Pontuou 10 valores em cada uma das três habilidades primárias: fluência (6 soluções produzidas), flexibilidade (6 soluções diferentes) e redefinição (por interpretar uma metáfora). O aluno usufruiu deste recurso cognitivo ao traduzir novas significações às linhas paralelas apresentadas, atribuindo-lhes um novo contexto, partindo da semelhança formal das mesmas e integrando-as nas representações figurativas que propôs. Os tipos de raciocínio que adoptou foram: o divergente (por elaborar diversas soluções partindo de duas linhas paralelas), indutivo (por introduzir nova extensão de informação, para além do conteúdo apresentado pelas duas linhas paralelas), ilógico (pela contemplação intuitiva e associativa de ideias). Sónia Maria Amado Barreira 206 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.5.2. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA ALUNA IND. Ilustração 11 – Trabalho elaborado pela aluna Ind., relativo ao exercício Linhas paralelas e o imaginário. 5.1.5.2.1. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO A aluna obteve neste exercício uma pontuação de 48 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) do nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relativas ao pensamento criativo. Quanto às seis habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente, a aluna usufruiu de quatro: fluência (5 soluções produzidas), flexibilidade (6 soluções diferentes), elaboração (por acrescentar detalhes nas soluções) e redefinição (por interpretar metáforas). O recurso cognitivo utilizado foi a metáfora por traduzir novos significados às linhas paralelas partindo da semelhança formal. Os tipos de raciocínio do pensamento criativo que usou foram: o divergente (por realizar seis soluções gráficas a partir do conceito de duas linhas paralelas com determinada forma), indutivo (por acrescentar mais informação ao idealizar novos contextos de existência das linhas paralelas), e ilógico (pela contemplação intuitiva e associativa de ideias). Sónia Maria Amado Barreira 207 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.5.3. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA ALUNA LEN. Ilustração 12 – Trabalho elaborado pela aluna Len, relativo ao exercício Linhas paralelas e o imaginário. 5.1.5.3.1. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Neste exercício a aluna pontuou 38 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) indicador de um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades primárias constituintes do pensamento divergente. Das seis habilidades a aluna utilizou três: fluência (5 soluções produzidas), flexibilidade (6 soluções diferentes) e redefinição (por interpretar metáforas). Pela razão de ter estabelecido uma tradução de semelhança entre as linhas paralelas e as representações gráficas nelas integradas consideramos a usufruição do recurso cognitivo da metáfora. A natureza do próprio exercício proposto influenciou a adopção por parte da aluna de tipos de raciocínio como: o divergente (por partir do conceito de linhas paralelas e desenvolver diversas representações), indutivo (pelo acrescento de informação que não existia nas linhas paralelas apresentadas no exercício) e ilógico (por associar ideias e usufruir da sua intuição). Sónia Maria Amado Barreira 208 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.5.4. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA ALUNA LIL. Ilustração 13 – Trabalho elaborado pela aluna Lil, relativo ao exercício Linhas paralelas e o imaginário. 5.1.5.4.1. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Neste exercício a aluna obteve 38 valores, integrados no intervalo de nota C (Suficiente) correspondente a um nível intermédio/inferior de usufruição de habilidades relativas ao pensamento criativo. Adoptou três habilidades relacionadas com o pensamento divergente como a fluência (por realizar 6 soluções), a flexibilidade (por realizar 5 soluções diferentes entre si) e a redefinição (por interpretar metáforas). O recurso cognitivo que utilizou foi a metáfora (por atribuir novos significados partindo de semelhanças). Os tipos de raciocínio adoptados foram: o divergente (por apresentar várias soluções a partir da ideia de duas linhas paralelas), indutivo (por adicionar mais informação para além daquela que foi dada), ilógico (por construir associação de ideias e usufruir da sua intuição). Sónia Maria Amado Barreira 209 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.5.5. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA ALUNA SAR. Ilustração 14 – Trabalho elaborado pela aluna Sar., relativo ao exercício Linhas paralelas e o imaginário. 5.1.5.5.1. PENSAMENTO DIVERGENTE, RECURSO COGNITIVO E TIPO DE RACIOCÍNIO Neste exercício a aluna pontuou 72 valores, resultado indicador de um nível intermédio/superior de usufruição de habilidades relacionadas com o pensamento divergente, identificado pela nota B (Bom) da escala de A (Muito Bom) a D (Insuficiente). A aluna usufruiu de quatro habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente: a fluência (por elaborar 4 soluções), flexibilidade (por elaborar 4 soluções diferentes), redefinição (pelo recurso da analogia e da metáfora), e originalidade por apresentar soluções complexas (pela abordagem que toma de reinterpretação dos elementos definindo contextos que se estendem para além da integração das linhas paralelas), incomuns (por introduzir enredos visuais semelhantes ao género de linguagem de banda desenhada), e inovadoras (por nenhum dos seus colegas apresentar soluções do mesmo tipo). Usufruiu de dois recursos cognitivos: a analogia (ao estabelecer relação de semelhança por afinidade formal entre as duas linhas paralelas e os limites verticais de uma tábua constituinte de uma vedação) e a metáfora (ao estabelecer uma tradução de semelhança entre as linhas paralelas e as novas representações gráficas que transcendem a mera integração das mesmas através da construção de enredos Sónia Maria Amado Barreira 210 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem originais, como por exemplo o facto de atribuir a duas linhas curvas paralelas a representação do deslocamento de ondas de som em direcção a um personagem, ou atribuir a duas linhas na forma da letra alfabética z a representação do sono que atravessa uma porta semiaberta). Os tipos de raciocínio adoptados foram: o divergente (por elaborar diversas soluções partindo da ideia de duas linhas paralelas), ilógico (por adoptar contemplações associativas e intuitivas), dedutivo (por graficamente transmitir as três premissas: 1) Se duas linhas paralelas forem verticais e equidistantes, poderão representar dois limites verticais de uma tábua de vedação; 2) As duas linhas são verticais e equidistantes; 3) As duas linhas representam dois limites de uma tábua de vedação); indutivo (por graficamente transmitir as três premissas: 1) Uma linha com a forma da letra Z pode representar graficamente um conceito invisível de forma inteligível mediante um contexto visual; 2) Uma linha com a forma da letra Z parece um conceito sonoro; 3) Logo (todos) os conceitos sonoros podem ser representados graficamente de forma inteligível mediante um contexto visual); por conseguinte a aluna representou o som de expirações de alguém a dormir e a propagação no espaço de ondas de som. 5.1.6. ACTIVIDADE “O PENSAMENTO LATERAL E AS REPRESENTAÇÕES FIGURATIVAS, SIMBÓLICAS E GEOMÉTRICAS” Ilustração 15 – Exercício A, B e C extraídos do livro Psicologia prática: desenvolva a sua criatividade, de Dorling Kindersley. Sónia Maria Amado Barreira 211 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.6.1. TRABALHO ELABORADO PELO ALUNO ALI. Em seguida, as respostas do aluno quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “burro porque é um animal de carga”. Companhia de aviação: “uma águia porque é um animal rápido e desloca-se através do voo”. Lavandaria: “máquinas”. Ginásio: “corda porque é algo que se pratica a saltar”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “Deixou a bebida cair sobre o homem, depois a empregada lhe limpou a roupa e ele agradeceu”. Quebra-cabeças 2: “Eles morreram devido à poça de água, porque havia um fio ligado à tomada e houve um curto-circuito. Acabaram por morrer os dois. Como estavam por perto da janela a cair a Elsa bateu e o vidro partiu”. Quebra-cabeças 3: (não escreveu). Ilustração 16 – Trabalho elaborado pelo aluno Ali., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.1.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, correspondente à invenção de imagens de marca para quatro firmas diferentes, o aluno estabelece associações bem justificadas (em relação às imagens atribuídas às companhias de camionagem, aviação, e ginásio), no entanto, Sónia Maria Amado Barreira 212 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem relativamente à imagem atribuída à firma de lavandaria não especifica o tipo de máquinas que poderão simbolizar a empresa. No exercício B, em que foram apresentados três quebra-cabeças, só num conseguiu elaborar uma solução com enredo imaginativo (quebra-cabeças nº 2). A resposta que dá em relação ao quebra-cabeças nº 1 não parece sugerir uma resolução justificada, mas apenas uma mera descrição que não resolve nada. A atenção e interesse do aluno concentraram-se mais neste exercício dos quebracabeças (comparativamente aos outros exercícios), validando assim a teoria (segundo o modelo de aprendizagem Target) de que o envolvimento de qualidade do aluno pode ser estimulado por princípios promotores da motivação intrínseca, integrados na aplicação de tarefas que representem desafios que despertem a curiosidade nos alunos através de enigmas, incongruências (a bússola de Einstein) ou surpresas. No exercício C, demonstrou ter compreendido as regras relativas à composição figurativa por meio das formas geométricas apresentadas, mas aplica de forma pouco precisa a aparência rigorosa formal. Apesar disso conseguiu elaborar três soluções, duas das quais estão visivelmente relacionadas com dois dos quebra-cabeças (nº 2 e 3) do exercício anterior - o aquário e o chapéu. A duração deste exercício estimava uma hora e vinte e cinco minutos, no entanto, foi aplicado em menos tempo devido ao prolongamento do tempo (não planeado) aplicado nos exercícios anteriores (devido ao ritmo de trabalho dos alunos). Por isso o aluno e a maioria dos seus colegas não concluíram a sua construção compositiva das figuras geométricas. Não é fácil prever o tempo que os alunos precisarão para concluir os exercícios que são propostos, por essa razão torna-se essencial (para além de prever), averiguar e coordenar intuitivamente durante a aula o tempo necessário adequado, tanto ao ritmo de desempenho demonstrado por cada aluno como ao tempo de duração da aula. Sónia Maria Amado Barreira 213 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.6.2. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA IND. Em seguida, as respostas da aluna quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “camiões a transportar”. Companhia de aviação: “avião com [não se compreende a palavra] a servir pessoas”. Lavandaria: “máquina de lavar roupas com ferro de passar por cima”. Ginásio: “pessoas a praticar exercícios”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “Ele foge antes que pessoas se aproximam, porque algo de mal estava a passar neste bar”. Quebra-cabeças 2: “Pode ser um suicídio em que os 2 brigam e partem a janela depois um um enforca o outro e depois bebe veneno / a participação da 3ª pessoa que assacina os 2”. Quebra-cabeças 3: “Pode ser uma armadilha para o coelho / chamada de atenção”. Ilustração 17 – Trabalho elaborado pela aluna Ind., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.2.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, a aluna estabelece boas associações de objectos enquanto imagens de marca para três das quatro firmas apresentadas. Devido a um registo escrito pouco perceptível não se compreende a ideia referente à companhia de aviação. Sónia Maria Amado Barreira 214 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem No exercício B, só em um dos três quebra-cabeças a aluna escreve um enredo mais elaborado (nº 2). No quebra-cabeças nº 1 não sugere um enredo justificado mas uma mera afirmação de que algo estava errado. A solução concisa para o quebra-cabeças nº 3 tem potencial criativo mas não estabelece um enredo que integre todos os elementos do enigma. No exercício C, não foi possível avaliar a solução devido ao aspecto extremamente incompleto da composição geométrica. Teve por intenção representar um anjo, personagem que parece não ter ligação directa com nenhum dos quebra-cabeças apresentados, mas visto que o quebra-cabeças nº 2 mencionava acerca da presença de cadáveres, talvez a aluna tenha extrapolado uma consequência do enigma. Os indícios construtivos da personagem e figuras geométricas coladas na folha demonstram a intenção de cumprir a regra referente à aparência rigorosa das formas geométricas (apesar de recortadas com pouco brio). A falta de tempo e o ritmo particular de trabalho da aluna terão sido os factores responsáveis pelo aspecto inacabado da sua composição. Quanto a este tipo de exercício que envolva a elaboração de figuras geométricas e o manuseamento de recortes, deve-se cumprir criteriosamente o tempo planificado, e estimar, inclusivamente, minutos extra para os alunos que demonstrem um ritmo de trabalho mais lento. 5.1.6.3. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA LEN. Em seguida, as respostas da aluna quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “roda”. Companhia de aviação: “viagens – avião”. Lavandaria: “maquina de lavar”. Ginásio: “maquina, passadeira”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “O que se passou é que o homem é maluco queria alguma coisa com a mulher ficou assustada e deu um grito”. Quebra-cabeças 2: “Diria que foram assassinados, que provavelmente ouve um assalto e eles foram assassinados”. Quebra-cabeças 3: “Foi uma armadilha, para caçar algum animal”. Sónia Maria Amado Barreira 215 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Ilustração 18 – Trabalho elaborado pela aluna Len., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.3.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, deu bons exemplos de objectos, relacionados de alguma forma com as firmas indicadas. No exercício B as suas respostas são concisas e pouco imaginativas. No exercício C, a construção geometrizada do objecto ou personagem (pois não se consegue perceber o que representa devido ao seu aspecto incompleto) cumpre os requisitos de aparência das formas geométricas que o constituem. A aluna demonstra sensibilidade estética ao aplicar formas compositivas que apresentam expressiva por variação de contraste de cor, através da combinação entre si e de suas cores quentes e frias. 5.1.6.4. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA LIL. Em seguida, as respostas da aluna quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “Autocarro porque tem haver com as viagens e as pessoas precisam muito desse objecto, esse transporte”. Companhia de aviação: “Avião é um meio de transporte muito perigoso mas faz bem para as pessoas. É um meio de transporte mais seguro”. Lavandaria: “Roupa - nesse mundo precisamos Sónia Maria Amado Barreira 216 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem muito de roupa por exemplo casaco, nesse momento o casaco é fundamental”. Ginásio: “Abdominal - serve para colocar os nossos corpos em forma, ajuda os músculos”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “Na minha opinião acho que o homem é um maluco porque não sabe qual é o motivo do grito da mulher ou também a mulher cansou da conversa do homem”. Quebra-cabeças 2: “Pode ser que os dois foram envenenados ou também um suicídio porque não há sangue nem a arma que foram atingidos”. Quebra-cabeças 3: “Foi o que resta de um boneco de neve”. Ilustração 19 – Trabalho elaborado pela aluna Lil., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.4.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, em três das quatro respostas que escreveu, atribuiu bons exemplos de objectos representativos das firmas apresentadas. Para além de indicar os objectos, justifica bem a razão ou sentido de relação entre os objectos e essas firmas. Quanto à firma de camionagem não indicou um bom exemplo talvez por distracção ou por não associar a palavra camionagem a transporte por camião. No exercício B, o quebra-cabeças nº 2 foi aquele em que a aluna discerniu com mais profundidade, indicou duas razões que justificam o cenário descrito e apresenta inclusivamente conjecturas sobre a falta de indícios do enredo possível. No quebra- Sónia Maria Amado Barreira 217 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem cabeças nº 3 indica uma solução segundo aquela descrita no livro onde foi extraído o quebra-cabeças (possivelmente terá escrito a resposta depois de ter sido revelada a solução descrita no livro). Neste caso a aluna esperou por saber a solução antes de pensar numa, confirmando a sua predisposição (já manifestada no anterior projecto de pintura mural) para evitar resolver problemas quanto estes exigem uma solução menos imediata. No exercício C, demonstrou compreender as regras do exercício relativas às formas geométricas enquanto blocos de construção da composição. As figuras geométricas não parecem estar relacionadas com nenhum enredo dos quebra-cabeças apresentados no exercício anterior. A fachada cor de laranja da casa que representou não apresenta recortes de cor contrastante representativos da porta, janelas e telhado, talvez devido à falta de material - folhas de lustre de outras cores. Não apresentou uma composição concluída devido à falta de tempo e ao seu ritmo de trabalho. 5.1.6.5. TRABALHO ELABORADO PELA ALUNA RIT. Em seguida, as respostas da aluna quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “Camião”. Companhia de aviação: “Uma águia porque voa rápido e alto”. Lavandaria: “Um elefante porque tem uma tromba que dá jeito para armazenar água”. Ginásio: “Leão porque é conhecido como o rei da selva”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “Houve ignorância da parte do homem, pois a mulher gritou (sabese lá do que) e o homem ignorou…”. Quebra-cabeças 2: “O Norberto e a Elsa estão a fingirem-se de mortos, é Carnaval ninguém leva a mal”. Quebra-cabeças 3: “O homem esta a fazer um piquenique”. Sónia Maria Amado Barreira 218 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Ilustração 20 – Trabalho elaborado pela aluna Rit., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.5.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, a aluna apresentou dois exemplos adequados e previsíveis enquanto símbolos para as firmas de camionagem (camião) e aviação (águia), no entanto as hipóteses que apresentou para as firmas de lavandaria (elefante) e ginásio (leão) são mais criativas por não serem tão evidentes as razões de relação de semelhança, mas que justifica com alguma lógica criativa. No exercício B, a aluna apresenta hipóteses concisas sem enredos extensos e profundos que pudessem revelar soluções criativas para os enigmas. No exercício C, revela o cumprimento rigoroso das regras relativas à fisionomia das formas constituintes da figura, no entanto parece não existir qualquer correlação entre a figura e as personagens dos quebra-cabeças apresentados nos exercícios anteriores. O registo gráfico no lado esquerdo inferior da figura geométrica central representa o esboço a lápis da composição geométrica que a aluna ambicionava construir. A ideia que manifesta tinha potencial para se tornar numa construção compositiva criativa. O aspecto incompleto da sua composição deveu-se à falta de tempo para a concluir. Sónia Maria Amado Barreira 219 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 5.1.6.6. TRABALHO ELABORADO PELO ALUNO ARM. Em seguida, as respostas do aluno quanto aos exercíos A, B e C. Exercício A Companhia de camionagem: “um camião”. Companhia de aviação: “um avião”. Lavandaria: “uma máquina de lavar”. Ginásio: “um peso”. Exercício B Quebra-cabeças 1: “Homem é maluco porque a sr. manda-lhe um grito, e agradece e portanto ele é maluco”. Quebra-cabeças 2: “Eu acho que eles andaram à pancada. Bateram a cabeça na janela e morreram afogados na água envenenada”. Quebracabeças 3: “Tava lá um sr. tava a comer uma cenoura e a beber água e foi-se embora”. Ilustração 21 – Trabalho elaborado pelo aluno Arm., relativo ao exercício C da actividade. 5.1.6.6.1. APRECIAÇÃO DO SEU DESEMPENHO No exercício A, o aluno apresenta soluções de imagem enquanto símbolo previsivelmente correspondentes com cada firma. No exercício B, não elabora soluções complexas e somente no quebra-cabeças nº 2 apresenta uma justificativa mais completa comparativamente com as outras soluções. Sónia Maria Amado Barreira 220 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem No exercício C, a solução compositiva que apresenta é a mais completa e criativa, comparativamente às composições dos seus colegas. Demonstra respeito pelo rigor das formas geométricas constituintes da figura, sensibilidade na forma como estruturou e combinou as formas geométricas e as suas cores (por contraste de variação de cores quentes e frias - vermelho e azul) e na forma cómica como a figura dialoga com o observador. Manifestou igualmente a capacidade de auto-regulação que terá permitido concretizar em pouco tempo uma composição criativa durante o reduzido tempo dado para elaborar este exercício. O caso deste aluno é bastante interessante porque apesar de ter pouco domínio no desenho de representação livre, conseguiu através de outras técnicas de representação (de recortes e colagens) exprimir a sua capacidade criativa de forma original. 5.1.7. EXERCÍCIO DE CRIATIVIDADE “MIND MAPS” 5.1.7.1. DESENHOS DIAGRAMÁTICOS DE CINCO ALUNOS DA TURMA 9º DAC Os seguintes trabalhos são as soluções dos alunos, referentes ao último exercício exploratório aplicado em experiência de estágio - Mind maps. Os critérios de análise integram alguns parâmetros categorizadores de habilidades relacionadas com o pensamento divergente (fluência, originalidade, elaboração) e a apreciação da qualidade de expressão gráfica implementada em cada composição diagramática. Ilustração 22 – Diagrama Mind Map I não identificado. Sónia Maria Amado Barreira 221 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O aluno desenhou o núcleo do diagrama e identificou-o com a palavra escola. Delineou cinco ramos principais com as seguintes inscrições: desenho, desporto, música, violência, estudo (que se ramifica para o ramo secundário identificado com a sigla TPC). Adicionou figuras representativas do assunto de cada ramo principal identificado. O seu desenho diagramático não indiciou originalidade e a elaboração que apresenta é pobre em detalhes. Em termos de fluência, o aluno elaborou a quantidade total de 20 registos gráficos (7 delineações de ramos, 6 representações gráficas de figuras e 7 registos de linguagem escrita). Os registos gráficos apresentam qualidade expressiva reduzida. Ilustração 23 – Diagrama Mind Map II não identificado. O aluno não destacou o núcleo da palavra escola de modo a distingui-lo dos cinco ramos principais não delineados, somente identificados de forma indirecta através das seguintes palavras: estudo, degradação, amigos, seca e dinheiro. O ramo de estudo divide-se em três ramos: escrever, testes e matéria. O ramo de dinheiro divide-se em dois: pobres alunos, ricos profs. O ramo de seca divide-se em três: acordar cedo, raparigas feias, não fazer nada. O ramo de amigos divide-se em dois: convívio e diversão. Por último, o ramo de degradação divide-se em três: estragar, podre, sem vida. Sónia Maria Amado Barreira 222 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem No que diz respeito à fluência, o aluno apresentou a quantidade total de 49 registos gráficos (18 “delineações” de ramos, 12 representações gráficas de figuras e 19 registos de linguagem escrita). Em termos de originalidade não apresenta uma solução que seja complexa, incomum ou inovadora. Quanto à elaboração, não apresenta grande variedade de detalhes nos registos gráficos, no entanto, as linhas que envolvem os ramos atribuem um dinamismo visual expressivo ao desenho diagramático. Ilustração 24 – Diagrama Mind Map III não identificado. O aluno identificou largamente o núcleo do tema de estudo e escreveu em três pequenos ramos principais (em formato de núvem) as palavras: amigos, estudo e desporto. O ramo de amigos divide-se em dois: pessoas e companheiros. O ramo de estudo divide-se em dois: futuro e sabedoria. E por fim o ramo do desporto divide-se em dois: vida e emoção. Na extremidade dos ramos secundários acrescenta pequenos símbolos exemplificativos. Ao todo o aluno elaborou 25 registos gráficos (9 “delineações” de ramos, 6 representações gráficas de figuras e 10 registos de linguagem escrita). No que respeita à originalidade e à elaboração, o aluno não apresenta registos gráficos que permitam evidenciar significativamente a usufruição dessas habilidades do pensamento divergente. Quanto à qualidade expressiva do registo, o desenho diagramático não inculca significativa impressão estética. Sónia Maria Amado Barreira 223 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Ilustração 25 – Diagrama Mind Map IV não identificado. O aluno desenha a palavra escola envolvida também por uma núvem que dispara setas (algumas nada indicam, outras contêm palavras) em todas as direcções. São quatro, as setas que representam os ramos principais do diagrama do aluno, e estão identificadas com as seguintes palavras: aulas, disciplinas, pontualidade e estudo. O ramo das aulas divide-se em três: acordar cedo, material escolar, matéria. O ramo das disciplinas divide-se igualmente em três: matemática, português, tecnologias específicas. Nas extremidades de cada um dos seis ramos secundários descritos encontram-se símbolos representativos de ideias. O desenho encontra-se incompleto devido às oito restantes setas nada indicarem. Em termos de fluência, o aluno elaborou a quantidade total de 26 registos gráficos (10 delineações de ramos, 6 representações gráficas de figuras e 10 registos de linguagem escrita). Quanto a evidências de usufruição de habilidades do pensamento divergente, como a originalidade e a elaboração, não se manifestaram. Ao nível da qualidade expressiva não gerou qualquer impacto estético. Sónia Maria Amado Barreira 224 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Ilustração 26 – Diagrama Mind Map V não identificado. O diagrama do aluno apresentado na ilustração demonstra maior complexidade expressiva. Parece evoluir para além das regras estabelecidas numa contrução tradicional de Mind Map. O núcleo do diagrama identificado com a palavra escola parece diluir-se para os ramos principais sem perder o seu destaque. Estudo, tortura, violência e expressão são as palavras que pertencem aos ramos principais. O ramo de estudo prolonga-se para outro ramo, o da sabedoria, que em seguida se desdobra na palavra cultura. O ramo de tortura segue o mesmo processo de evolução ramificada nas descrições, levantar cedo e vir para a escola. O ramo da violência culmina num ramo identificado com a palavra discriminação. E por fim, o ramo da expressão parece querer prolongar-se para um balão com a palavra arte contida. Interessante o facto de que dentro da figura que se segue, o aluno representa uma núvem e escreve a palavra música, que evolui para um distante pensamento aparentemente incompleto acerca da palavra estilo. A membrana que envolve o diagrama é muito dinâmica e aparece a indicar sentidos, pensamentos, erupções de convolutas inflamadas e sopros de ramos que se dividem em elipses irregulares contendo palavras sublinhadas. Pequenas figuras como estrelas, pequenos quadrados, aspas e uma personagem surpreendida (parecendo sair de um filme do realizador Tim Burton) adornam o diagrama de uma maneira que relembra uma linguagem de banda desenhada extremamente dialogante e de elevada qualidade expressiva. Sónia Maria Amado Barreira 225 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem As habilidades do pensamento divergente com as quais usufruiu foram: a fluência (por elaborar a quantidade total de 34 registos gráficos - 12 delineações de ramos, 9 representações gráficas de figuras e 13 registos de linguagem escrita), elaboração (por acrescentar alguma variedade de detalhes) e originalidade (por apresentar uma solução diagramática complexa, incomum e inovadora). Sónia Maria Amado Barreira 226 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 6. CONCLUSÃO “Todo o nosso conhecimento deriva daquilo que sentimos” (White, 2004, p. 57). Este pensamento revelado nas páginas de um antigo manuscrito secular denominado Codex Trivulzianus, pareceu conter em si a expressão de uma teoria unificada, sintetizada num registo de profunda sabedoria relativa à origem e natureza da percepção humana. Leonardus Vincius, um dos mais excepcionais polímatos do seu tempo e autor de um dos legados intelectuais e materiais mais relevantes da história da humanidade, realizou descobertas que precederam muitas descobertas científicas importantes posteriores ao seu tempo (White, 2004, p. 12). Na sua constante procura por respostas que revelassem os mistérios dos fenómenos, produziu mais de treze mil páginas de apontamentos170 sobre uma gama extensa de assuntos relativos a áreas do conhecimento como a ciência, a arte e a engenharia, mas do muito que investigou, experimentou e descobriu, não tanto partilhou acerca dos seus sentimentos (White, 2004, p. 271), no entanto elaborou uma proposição que parece alcançar uma verdade que integra “o sentir” como factor essencial na construção do conhecimento. A ciência é uma actividade intelectual e prática que procura descobrir fundamentações teóricas e comprovações práticas de verdades que contribuam para um sentido de ordem no caos aparente dos fenómenos. A ciência tem continuamente evoluído através do espírito curioso, especulativo e crítico do pensamento científico, que ao longo dos tempos estabeleceu processos de reformulação teórica proveniente de renovadas especulações sustentadas pela confirmação experimental. O mérito da objectividade tem sido o sustentáculo da visão do pensamento científico que na sua projecção luminosa tem ofuscado a subjectividade171 implicada na experiência pessoal efectiva dos fenómenos que envolve a natureza humana caracterizada por uma distinta dualidade interactiva - a mente racional e emocional. A compreensão de uma realidade da experiência não se limita apenas à repercussão reagente da percepção dos fenómenos sobre os sistemas de recepção sensoriais172, 170 Sendo só conhecidas sete mil páginas no total. 171 Carácter do que é subjectivo ou expresso na interpretação fundamentada na impressão, opinião ou sentimentos pessoais. 172 Que integram duas categorias de receptores: à distância (olhos, ouvidos, nariz e pele) e imediatos (pele, músculos) (Hall, 1986, p. 56). Sónia Maria Amado Barreira 227 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem mas também se fundamenta através, da influência das instruções genéticas173 singulares, dos preceitos assimilados da herança cultural, da experiência de vida e as exigências do eu174 (Csikszentmihalyi, 1998, p. 72) no processo de interpretação da realidade. A visão da realidade depende da mente racional que funciona de acordo com o que inferimos enquanto resultado do processo interpretativo, mas não só; depende igualmente daquilo que sentimos. A mente emocional também desempenha um papel relevante enquanto sistema de conhecimento, apesar de distinguir-se mais impulsivo e ilógico em contraste com a ponderação e reflexão características da mente racional. A interacção entre estas duas faculdades semi-independentes deve ser equilibrada pois caso contrário a desproporção de controlo entre os dois sistemas reflectirá desordem psíquica. A relação estreita entre a motivação intrínseca e a aprendizagem apreciada pelo desfrute, resultante da presença dos oito elementos que caracterizam a experiência óptima, revela a combinação ideal para o alcance de concretizações de mérito: Se o fluxo é um pré-requisito para a excelência num ofício, profissão ou arte, também o é na aprendizagem. Os estudantes que experimentam o estado de fluxo enquanto estudam saem-se melhor que os outros, independentemente do seu potencial tal como é medido pelos testes de realização. (Goleman, 1996, p.115) 173 Por exemplo, a herança temperamental baseia-se num padrão de actividade cerebral inato dos circuitos emocionais (Goleman, 1996, p. 237). Pessoas tímidas “nascem com uma neuroquímica que torna [os] circuitos facilmente excitáveis, o que as leva a evitar o desconhecido, fugir do incerto e sofrer de ansiedade” (Goleman, 1996, p. 239). 174 O eu refere-se à consciência auto-reflexiva (ego) que se identifica com uma identidade. O ego tende a usufruir de símbolos para representar-se a si mesmo. Os símbolos podem ser de natureza material (pelo controlo de poder monetário e posse de bens materiais) e de relações humanas, em que “são os laços estabelecidos com os outros que se tornam os componentes centrais e definidores do eu” (Csikszentmihalyi, 1998, 87). A visão do mundo é afectada pelo ego, na medida em que, se os seus símbolos sustentam a imagem do eu, a perspectiva que construirá da realidade será positiva, mas pelo contrário, se a imagem do eu for ameaçada, a perspectiva da realidade torna-se negativa. Sónia Maria Amado Barreira 228 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem REFERÊNCIAS ALLEN, Margaret [et al.] (1996) - Dicionário ilustrado do conhecimento essencial. Lisboa: Selecções do Reader's Digest. ALLEN, William L. (2003) - National Geographic: Tesouros do Egipto. Colecção: volume III. Lisboa: National Geographic. 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Apêndice B - Powerpoints de própria autoria exibidos nas aulas. Apêndice C - Tabela 8 com a descrição dos objectivos educacionais, segundo a Taxonomia de Bloom. Sónia Maria Amado Barreira 239 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 240 APÊNDICE A Planificações das aulas pessoalmente dirigidas e respectivas análises. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 12.12.2012 Conteúdo Apresentação de um trabalho, desenvolvido por um grupo de quatro alunos, sobre “Brinquedos e instrumentos musicais construídos com materiais reutilizáveis”. O estudo pretende elucidar acerca do papel da criatividade em favor da sustentabilidade ambiental para assim gerar um novo ciclo de existência dos materiais, transformandoos em objectos com novas e interessantes utilidades. Objectivos gerais Consciencializar os alunos da turma sobre a importância de reutilização dos materiais na minimização da utilização de recursos naturais - formas de energia ou matéria disponíveis no planeta. Responsabilizar os quatro alunos pela apresentação de um trabalho e pela transmissão de conhecimentos aos colegas da turma. Objectivos específicos Consciencializar os alunos acerca dos diferentes recursos naturais renováveis (radiação solar, vento, ondas do mar, marés e rios, biomassa e geotérmica) e não renováveis (combustíveis fósseis), da importância da reutilização de materiais e da minimização da utilização dos recursos naturais e da acumulação de resíduos poluentes, tendo em consideração a sustentabilidade ambiental – manutenção das funções e componentes do ecossistema. Desenvolver as capacidades dos quatro alunos no que respeita à organização, planeamento e exposição de um trabalho de grupo. Estratégias Realizar uma apresentação introdutória sobre a função fundamental de reaproveitamento de materiais, no contributo à sustentabilidade ambiental, através de um processo de reutilização e transformação funcional, permitindo os mesmos adquirirem novas características, funções e valores. Apoiar e orientar os alunos durante a exposição da matéria e auxiliar no caso de ocorrência de dificuldades na apresentação. Sónia Maria Amado Barreira 243 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tempo / Turma: 1 hora e 30 minutos; 10º PAI. Recursos: quadro, computador e projector de imagem. Avaliação: formativa (tirar dúvidas aos alunos). Apreciação do desempenho dos quatro alunos relativamente à prestação de cada um na apresentação do trabalho. Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico Designar Descrever x Listar x 1 Localizar Encontrar x Evocação Avaliação Repetição Nível x Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar Classificar Compreensão Explicar x Exemplificar 2 Comparar Inferir Resumir x Expor x Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar 3 Aplicação do conhecimento Implementar Considerar Usar Sónia Maria Amado Barreira 244 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Avaliação Nível Aplicar Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor Organizar Análise x Estruturar 4 Comparar Integrar Separar Avaliação Nível Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear Síntese 5 Planear x Imaginar Inventar Construir Produzir Avaliação Nível Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Sónia Maria Amado Barreira 245 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Análise em contexto 12.12.2012 A apresentação não foi ensaiada em conjunto. A ordem das várias fases só sofreu alteração no momento em que era preciso passar no quadro a lista dos vários materiais e nomes dos alunos que se voluntariaram para trazer material (de acordo com os objectos que escolheram construir para a próxima aula de construção dos brinquedos e instrumentos – workshop). Os alunos, no final da apresentação individual, demonstraram vontade por escrever no quadro os materiais referentes ao objecto da sua responsabilidade. Que alterações se manifestaram? Surge uma alteração quando Dja. concede o seu tempo de apresentação à Cla. devido ao facto de não encontrar o seu vídeo no computador da sala ligado ao projector. Como correu a apresentação dos alunos? Dja. demonstrou autoconfiança e sentido de liderança quando fez uma breve introdução à sua organização de trabalho e dos colegas. Justificou o facto de não ter conseguido concluir o objecto que queria apresentar em aula e compensou essa falta com a visualização de um vídeo explicativo da construção das flores. No entanto quando apresentou o vídeo não explicou as imagens. Cla. no início da sua apresentação demonstrou alguma timidez, mas assim que adquiriu alguma confiança conseguiu projectar melhor a voz. Não pareceu inicialmente ter um plano de discurso estruturado na sua apresentação porque foi muito resumida a sua explicação construtiva sobre o brinquedo. Len. conseguiu captar a atenção dos alunos devido ao seu modo de ser carismático. Fez a demonstração rítmica do instrumento que construiu e ainda apresentou os tambores de forma alegre e divertida. Interagiu e explicou com vivacidade. Ali. conseguiu explicar bem a construção dos instrumentos que fez e dominou a atenção dos colegas barulhentos desestabilizadores que estavam a assistir. Teve forte sentido de liderança e comunicou com segurança acerca do seu trabalho. Sónia Maria Amado Barreira 246 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Imprevistos Evento 1: quando percebi que Dja. iria demorar a sua apresentação individual na procura do vídeo, pensei se deveria dizer à Cla. para iniciar a sua apresentação em seu lugar. Decidi esperar que a aluna Dja. tomasse a decisão por si de ceder o seu tempo à colega Cla. em lugar de o sugerir. Evento 2: quando a Cla. elaborou um discurso escasso em explicações acerca do processo de construção do objecto, tomei iniciativa e transmiti informação sobre o trabalho dela, dando algum tempo para que a aluna adquirisse nova coragem para continuar a falar. Evento 3: em determinada altura o ambiente da sala entra em alvoroço devido aos alunos estabelecerem conversas animadas (mas barulhentas) entre si. Foi fundamental a intervenção do Professor Rogério Mourtada para acalmar e disciplinar os alunos, porque a minha extensão de voz não foi eficaz. Sónia Maria Amado Barreira 247 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 248 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 14.12.2012 Conteúdo Workshop sobre “Brinquedos e instrumentos musicais construídos com materiais recicláveis”, orientado pelo mesmo grupo de quatro alunos. Objectivo geral Responsabilizar os quatro alunos pela implementação do workshop e pelo ensino e orientação dos seus colegas de turma, quanto à construção (passo a passo) dos diferentes objectos: bonecos, flores, chocalhos e tambores. Objectivos específicos Desenvolver a capacidade dos alunos de organizar, supervisionar, descrever, explicar, aplicar, decompor, construir, testar, etc. no decurso da experiência de aprendizagem e construção dos brinquedos e instrumentos musicais recicláveis. Estratégias Distribuir três grupos de mesas de trabalho na sala de aula e em cada grupo ficam responsáveis: Cla. pela exposição da lição construtiva dos bonecos; Dja. pela exposição da lição construtiva das flores; Len. e Ali. pela exposição da lição de construção dos instrumentos musicais. Os colegas distribuem-se pelas mesas de acordo com o objecto que pretenderem aprender a construir durante a aula. Tempo / Turma: 2 hora e 20 minutos; 10º PAI. Recursos: quadro, computador e projector de imagem. Avaliação: formativa (tirar dúvidas aos alunos). Sónia Maria Amado Barreira 249 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico 1 Designar Descrever x Listar x Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível x Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar Classificar Compreensão 2 Explicar x Exemplificar x Comparar x Inferir Resumir Expor x Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível 3 Aplicação do conhecimento Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar x Implementar x Considerar Usar Avaliação Nível 4 Análise Sónia Maria Amado Barreira x Aplicar x Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor x Organizar x Estruturar x Comparar x Integrar x 250 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Separar Avaliação Nível x Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. x Delinear Síntese 5 Planear Imaginar Inventar Construir x Produzir Avaliação Nível Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Avaliação Objectiva 6 Experimentar x Supervisionar x Testar x Detectar x Ajuizar Conjecturar Criticar x Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. x Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Análise em contexto 14.12.2012 Os alunos da apresentação do workshop mostraram dedicação no desempenho da sua missão e solicitude nas respostas às dúvidas dos seus colegas. A maioria dos alunos da turma empenhou-se na construção dos objectos, escolhidos de acordo com a sua preferência pessoal. No final do workshop mostraram cuidado na arrumação dos materiais e reorganização das mesas. O ambiente de trabalho pareceu descontraído e disciplinado. Sónia Maria Amado Barreira 251 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 252 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 16.01.2012 Conteúdo Apresentação do projecto de Pintura Mural para a fachada principal da escola. Exposição de exemplos de pinturas murais geradas ao longo da história pelo Homem e exemplos de street art contemporâneos. Estudo prévio do exercício de desenho para a pintura mural. Objectivo geral Compreenderem os objectivos do projecto de turma que visa a sua participação enquanto intervenientes sobre um plano artístico e de identidade em relação ao espaço escola. Objectivos específicos Observarem pinturas murais elaboradas ao longo da história, começando por exemplos realizados por volta de 40 mil anos A.C., partindo das primeiras impressões artísticas do Homem pré-histórico e prosseguindo ao longo do decurso das primeiras civilizações até às obras de artistas de street art produzidas ao longo do século XXI. Perceberem os diversos objectivos das pinturas murais, nomeadamente acerca das impressões sobre a realidade do artista, ideias, sonhos, crítica social, etc. Dialogarem e definirem hipótese de concretização do plano de elaboração do desenho destinado à pintura mural: Mural completo em que a história conceptual e gráfica é elaborada em conjunto (turma) – um tema global ramificado por diversas perspectivas ou uma banda desenhada; Mural estratificado com os desenhos de cada aluno (com a mesma área de intervenção na área global da parede) caracterizados por um tema igual para todos ou cada aluno inspira-se num tema pessoal; Segundo sugestões dos alunos. Sónia Maria Amado Barreira 253 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Estratégia Depois da visualização das imagens das diversas pinturas murais e a apresentação do projecto de pintura mural, devo dialogar com os alunos sobre o tema, os objectivos e o processo de elaboração do desenho do projecto, assim como, examinar individualmente os esboços de cada um e verificar as qualidades e dificuldades manifestadas por eles e através dos seus desenhos. Tempo / Turmas: 1 hora e 30 minutos; 10º PAI. Recursos: comunicação verbal e apoio tecnológico expositivo. Powerpoint: “Homem, evolução e arte”. 175 Avaliação: formativa (tirar dúvidas). Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. Reconhecer O x Identificar Conhecimento Básico Designar Descrever 1 Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar Classificar 2 Compreensão Explicar Exemplificar x Comparar Inferir Resumir 175 x Em Apêndice B. Sónia Maria Amado Barreira 254 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Expor Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar 3 Aplicação do conhecimento x Implementar Considerar Usar Avaliação Nível Aplicar Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor Organizar Análise Estruturar 4 Comparar Integrar Separar Avaliação Nível Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear Síntese 5 Planear Imaginar Inventar Construir Produzir Avaliação Nível x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar 6 Avaliação Objectiva Testar Detectar Ajuizar Conjecturar x Criticar Avaliar Sónia Maria Amado Barreira 255 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Análise em contexto 16.01.2012 Observações gerais Os alunos observaram com interesse e atenção as imagens projectadas através do powerpoint e trocaram impressões entre si sobre algumas. Dialogaram sobre o tema e programa do exercício com alguma timidez, porque foram poucos aqueles que decidiram partilhar em conjunto opiniões e sugestões. No entanto, no momento em que foi necessário optar por uma das hipóteses de concretização do plano de elaboração, os alunos manifestaram-se na sua maioria. Decidiram que se deveria escolher um tema geral para todos os alunos e cada um fazer um desenho pintura mural pessoal, ou seja, num conjunto de propostas só um desenho individual poderá ser escolhido enquanto pintura mural para a fachada central da escola. Observações específicas A ideia de poderem intervir artisticamente sobre um espaço importante da escola agradou os alunos. As dificuldades verificadas no decurso da elaboração do primeiro ensaio incidiram: Na inconsciência do importante papel de pesquisa e experimentação que o registo gráfico representa na formulação de ideias. Na falta de aplicação de estratégias auxiliares de pesquisa e estudo preliminar na elaboração dos primeiros esboços. Na implementação de ideias na sua forma gráfica. Na descrença de bons resultados pela crença de falta de jeito para desenhar. Sónia Maria Amado Barreira 256 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Na sua fraca auto-regulação e gestão emocional no confronto com dificuldades no domínio do desenho. Durante a apresentação do powerpoint deveria ter estabelecido mais tempo de contacto visual com os alunos enquanto descrevia as imagens. Esse contacto visual aconteceu de forma mais eficiente no final da apresentação das imagens, assim que estabeleci o diálogo com os alunos sobre as suas primeiras impressões acerca de possíveis temas e opções do plano de elaboração do desenho. Senti alguma dificuldade na regulação e projecção da voz de modo a que os alunos dos lugares do fundo da sala ouvissem melhor. Os alunos só arrumaram os seus desenhos, materiais e equipamentos da sala, depois do toque de saída, devido ao facto de não ter dado essas instruções com a antecedência de 10 minutos. Sónia Maria Amado Barreira 257 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 258 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 18.01.2012 Conteúdo Continuação do projecto de Pintura Mural. Iniciação da primeira fase do projecto: pesquisa, recolha de imagens e exercício compositivo estruturado numa folha A3, segundo o recorte e colagem de imagens de revistas. Exposição de designações de conceitos como: desenho, ideia e composição. Objectivo geral Discernirem sobre questões inerentes ao processo compositivo e aplicarem a análise e síntese de ideias. Objectivos específicos Captarem pela análise de uma composição indícios parcelares de estruturação de uma ideia. Compreenderem que desenhar bem não se trata de uma habilidade natural mas sim de um domínio que se alcança pela aprendizagem através do estudo dedicado, da vontade inabalável e da experiência prática. Produzirem uma composição com recortes e registos gráficos. Os objectivos educacionais pretendidos encontram-se descritos de forma mais detalhada na tabela 8 desta planificação de aula. Estratégia Na primeira parte da aula apresento o powerpoint “Foge, o desenho vai apanhar-nos” enquanto estabeleço o diálogo com os alunos. Questiono os alunos sobre o significado do desenho, da ideia e da composição e apresento designações com acrescento de conceitos que os caracterizam. Estabeleço contacto visual intercalado com os alunos à medida que me oriento pelo powerpoint e verbalizo a matéria. Adopto uma postura de pé para usufruir de uma maior amplitude visual do espaço e assim conseguir visualizar Sónia Maria Amado Barreira 259 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem melhor todos os alunos. A deslocação pelo estrado deve ser aplicada no final da projecção de imagens. Durante a segunda parte da aula em que os alunos realizam a actividade proposta de pesquisa e colagem de imagens na folha A3, devo focar maior atenção ao ambiente geral da aula à medida que vou dando orientação particular a cada aluno. O tempo dedicado para orientação a cada aluno deve ser distribuído com equivalência e ponderação, segundo a evidência de suas dificuldades ou capacidades, e o tempo de aula disponível. Mesmo que os alunos não se manifestem, devo insistir por colocar a questão da presença de dúvidas quanto aos ensinamentos ou instruções determinadas, pois existem na turma alunos com alguma dificuldade em entender a língua portuguesa ou alguns conceitos mais complexos. Devo solicitar por um voluntário para escrever no quadro as respostas dos colegas enquanto lhes faço perguntas. Desta forma permito que esse aluno estabeleça, por iniciativa própria, ponte entre mim e os seus colegas. Nos 10 minutos antes do final da aula devo indicar aos alunos que iniciem a arrumação da sala de aula e dos seus pertences. 1ª Parte da aula Apresento uma imagem introdutória de Calvin&Hobbes fugindo de um dinossauro TRex verde e assustador. Na aula passada reparei que os alunos repetiam muitas vezes que não sabiam desenhar. Senti de alguma forma que tinham medo de experimentar desenhar pela crença de não terem jeito; por isso a primeira imagem projectada conter uma frase “Foge, o desenho vai apanhar-nos”, aplicando uma analogia de o desenho ser um dinossauro assustador. Nos slides seguintes exploro opiniões dos alunos em relação ao significado da palavra desenho e ao conceito de ideia. Apresento uma composição gráfica enquanto exemplo de um conjunto de indícios interactivos entre a ideia e a representação gráfica, assim como explico que o desenho é um problema que tem soluções múltiplas. Saliento a importância do estudo preliminar em qualquer projecto e do necessário trabalho de pesquisa relativo ao tema de estudo, para que possam manipular as ideias e elementos figurativos por meio de intenções específicas interventivas tomando Sónia Maria Amado Barreira 260 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem decisões conscientes e intencionais tendo em vista os objectivos e a transmissão da mensagem pretendida. Por último exponho um trabalho graffiti digital de um artista chamado Mitirow e inicio a análise da obra estabelecendo o diálogo com os alunos, partindo de uma série de perguntas específicas: 1. Qual o tema? 2. Qual é a ideia? 3. Quantos objectos tem? 4. Quais são os objectos? 5. Qual a localização e relação entre os objectos? 6. Onde está o maior peso visual? 7. Qual a ordem de sobreposição entre os objectos? Figura e fundo! 8. Qual a importância do tamanho dos objectos? 9. Que cores foram escolhidas? Porquê? 2ª Parte da aula Peço aos alunos para procurarem imagens nas cinco revistas, que vou colocar à disposição, relacionadas com o tema escola e com as quais o aluno se identifique. Devem em seguida recortar e colocar numa folha branca A3 as imagens e acrescentarem palavras ou frases que tenham significado pessoal e com o tema geral. Devo chamar à atenção que a disposição dos elementos recortados e os grafismos deve ser estruturada de forma intencional, partindo de uma justificativa lógica ou intuição estética. Aconselho a que recorram ao método de planeamento segundo a análise feita ao trabalho do artista Mitirow. Durante este processo vou permitir que ouçam música com a qual se identifiquem para motivá-los à concentração no trabalho. Indico aos alunos que no final da aula devem entregar-me a composição de estudo preliminar concluída porque representa o produto de uma fase do projecto que necessariamente deve ter um resultado material comprobatório de realização efectiva de estudo para conseguirem alcançar a fase seguinte. Sónia Maria Amado Barreira 261 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tempo / Turma: 2 horas e 20 minutos; 10º PAI. 30 minutos de apresentação do powerpoint e diálogo com os alunos. 30 minutos de pesquisa de imagens das revistas. 1 hora e 5 minutos para a realização de uma composição de estudo prévio. 15 minutos restantes para arrumações das carteiras, pertences e limpeza do chão. Recursos: comunicação verbal, quadro, cinco revistas e apoio tecnológico expositivo. Powerpoint: “Foge, o desenho vai apanhar-nos”. 176 Avaliação: formativa (tirar dúvidas). Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Conhecimento Básico 1 Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer x Identificar x Designar x Descrever x Listar Localizar x Encontrar x Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar x Classificar Compreensão 2 Explicar Exemplificar Comparar Inferir Resumir Expor Avaliação Reordenar 176 Em Apêndice B. Sónia Maria Amado Barreira 262 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Extrapolar Prognosticar Nível 3 Aplicação do conhecimento Avaliação Nível Análise Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar x Implementar x Considerar x Usar x Aplicar x Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor x Organizar x Estruturar x 4 Comparar Integrar x Separar Avaliação Nível Síntese 5 Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. x Delinear x Planear x Imaginar x Inventar Construir Produzir Avaliação Nível x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva 6 Testar Detectar x Ajuizar Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Sónia Maria Amado Barreira Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. 263 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Elaborar Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Análise em contexto 18.01.2012 Os alunos foram muito receptivos às perguntas da primeira parte da aula. Na sua maioria, mostraram-se mais dispostos em participar (enquanto turma) através do diálogo comigo, talvez devido ao facto de a aluna Dja. ao exercer voluntariamente a função de minha assistente com grande entusiasmo e espírito de liderança (escrevendo no quadro as respostas dos colegas ao mesmo tempo que ela mesma reflectia e partilhava a sua opinião sobre o assunto em análise), ter influenciado os colegas a sentirem-se mais à vontade para falar. Consegui dar atenção a todos os alunos, mas uns precisaram de mais tempo de orientação do que outros. Tive o cuidado de orientar os que se perdiam ao longo do percurso, os que não precisavam de auxílio premente, e os que se esforçaram por trabalhar. Tive sempre em mente a regra do Professor Rogério Mourtada – estar sempre atenta ao ambiente geral intercalando com as orientações particulares a cada aluno. Consegui assim prevenir a tentativa de saída de um aluno da sala de aula, a dança animada ao som da música por parte de dois alunos e pressionar alguns alunos a empenharem-se no exercício proposto, intervindo com maior regularidade questionando sobre suas dificuldades e humor. No final da aula obtive resultados materiais de cada aluno e tirei fotografias das composições realizadas. Consegui controlar o tempo de modo a que todas as etapas fossem implementadas em conformidade com o planeado, à excepção do inquérito imprevisto. Observações específicas Durante a primeira parte da apresentação do powerpoint dois alunos manifestaram um comportamento de desinteresse sobre os conceitos teóricos discutidos. Talvez tenha demorado tempo demais na construção do meu discurso sem mostrar em simultâneo Sónia Maria Amado Barreira 264 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem imagens que os cativassem. Bocejaram e pousaram a cabeça sobre os braços na carteira. Antes do final da apresentação do powerpoint (na fase de análise da composição gráfica do artista Mitirow), um psicólogo da escola interrompeu a aula com o pedido de permissão para levar naquele momento alguns alunos para realizarem um inquérito fora da sala de aula. O facto de eu ter permitido que os alunos saíssem antes do final da apresentação do powerpoint prejudicou os alunos que participaram no inquérito, porque não assistiram a uma parte essencial necessária para o entendimento processual e de desenvolvimento dos seus trabalhos na segunda parte da aula em que estiveram presentes. Respostas dos alunos sobre “O que é o desenho?”: Forma de expressão; Arte; É a nossa imaginação; Sentimento; É trabalho; É comunicar; Forma de interpretação. Respostas dos alunos sobre “O que é a ideia?”: É o que vem na nossa imaginação; Pensamento; Reflexão; É o propósito das coisas. Sónia Maria Amado Barreira 265 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 266 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 23.01.2012 Conteúdo Continuação do projecto de Pintura Mural. Iniciação da segunda fase do projecto: primeiro esboço de um desenho numa metade horizontal de uma folha A3. Objectivos gerais Tomarem conhecimento de que tudo o que existe, que seja feito pela mão do Homem, desde o mais simples utensílio ou de mais tecnologicamente avançado (como uma estação espacial), tem por base o pensamento e a imaginação expressos e concretizados no desenho. Produzirem uma composição gráfica numa metade horizontal de uma folha A3, segundo as regras gerais do projecto. Objectivos específicos Compreenderem a utilidade do desenho, no progresso da humanidade e para a vida pessoal e profissional no presente e futuro dos alunos. Reconhecerem que a aquisição do “jeito” para o desenho não é impossível e discriminadora. Desenvolverem a capacidade de análise e síntese de ideias. Adoptarem o exercício do desenho como uma ferramenta de concretização da imaginação com aplicações úteis na sua aprendizagem e expressão estética pessoal. Os objectivos educacionais pretendidos para esta aula encontram-se listados na tabela 8 desta planificação. Estratégia Na primeira parte da aula, apresento o powerpoint:“Conquista do espaço” enquanto demonstro o sentido de utilidade do desenho para a humanidade. Explico que os objectos construídos pelo Homem têm origem numa planificação mental materializada Sónia Maria Amado Barreira 267 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem através do desenho e que os projectos artísticos passam por planos pré-elaborados com intenções específicas, ideias e mensagens a transmitir. Portanto a usufruição do desenho enquanto ferramenta permitiu o desenvolvimento do Homem desde uma fase primitiva até a um estágio de evolução em que constrói estações espaciais que orbitam o nosso planeta. Ao longo da apresentação devo perguntar se os alunos estão familiarizados com o conhecimento apresentado e se compreendem o que estão a ver, porque se mostrar a imagem de uma estação espacial em órbita eles podem não saber do que se trata, para que serve ou como funciona. Em seguida, estabeleço o diálogo com os alunos acerca da utilidade do desenho na sociedade de hoje em dia e na perspectiva do aluno, e sugiro algumas possibilidades, por exemplo como: Meio de comunicação: ▫ Código gráfico (sinais de trânsito, etc.); ▫ Código linguístico (caracteres chineses, hieróglifos – do ponto de vista dos historiadores, etc.); ▫ Diagramas explicativos (mapas geográficos, plantas de edifícios, esquema da estrutura de ADN, etc.). Ferramenta auxiliar preponderante no desempenho de determinadas profissões (por exemplo, para os arquitectos, designers, engenheiros, etc.). Meio de expressão pessoal de ideias e emoções; Devo destacar que toda a pessoa tem o potencial para gerar soluções gráficas criativas e que o jeito pessoal para o desenho pode ser alcançado através: Do encontro com um possível desígnio do desenho para si e para os seus projectos futuros; Da avaliação de vantagens que a expressão plástica possa representar na sua aprendizagem; Da vontade intrínseca por explorar a forma de expressão do desenho; Da análise de obras e técnicas aplicadas por outros artistas; Sónia Maria Amado Barreira 268 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Da elaboração de estudos gráficos consequentes da exploração do valor e valências da marca gráfica na experiência de interacção entre o gesto e registo gráfico; Do desenvolvimento da capacidade de associação de matérias – pluridisciplinaridade – para o alcance de abordagens mais complexas de ideias teóricas e gráficas; Na aplicação de acções gráficas tendo por base intenções concretas, bem como, a intuição. Da resiliência no confronto com as dificuldades que atravessam qualquer processo de aprendizagem; Da persistência e aperfeiçoamento, … até que o sentimento de concretização conclua o processo. Por último, apresento a ideia do diário gráfico e explico como os alunos poderão aplicar o seu desenho (da pintura mural) noutros contextos, atribuindo-lhe nova utilidade prática para além da estabelecida no concurso. Como só um aluno vai adquirir o privilégio de autoria do desenho que será aplicado no muro da escola, os outros restantes desenhos deverão ganhar um outro tipo de contínua existência em lugar de perderem-se, arrumados numa gaveta. Como poderão esses desenhos acompanhar os alunos ao longo do percurso escolar? A ideia é propor a construção de um caderno de uso diário para ensaios gráficos e nele colar (sobre sua capa) o desenho da pintura mural. Assim que proponho esta ideia enuncio a sua função: Usar um suporte que contenha o desenho, os estudos gráficos e composições; Testemunho de memórias gráficas, da imaginação ou da interpretação daquilo que o aluno vê diariamente; Manifestar a expressão do pensamento e emoções; Promover a capacidade criativa; Na segunda parte da aula devem realizar uma composição gráfica. Tempo / Turmas: 1 hora e 30 minutos / 2º DAC; 1 hora e 30 minutos / 10º PAI. Recursos: comunicação verbal e apoio tecnológico expositivo. Sónia Maria Amado Barreira 269 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Powerpoint: “Conquista do espaço”.177 Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico Designar Descrever 1 Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar Classificar Compreensão Explicar Exemplificar 2 Comparar Inferir Resumir Expor Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar 3 Aplicação do conhecimento Implementar Considerar Usar Avaliação Nível 177 Aplicar Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Em Apêndice B. Sónia Maria Amado Barreira 270 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor Organizar Análise Estruturar 4 Comparar Integrar Separar Avaliação Nível Síntese 5 Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. x Delinear x Planear x Imaginar x Inventar Construir Produzir Avaliação Nível x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar x Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Sónia Maria Amado Barreira 271 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Análise em contexto 23.01.2012 Permaneceram atentos durante a exposição das imagens e pareceram interessados pelos temas abordados através dos comentários, atitudes e postura que manifestaram. Observações específicas A linha de pensamento do discurso acompanhada pelas imagens cativantes de estações espaciais, de diagramas esquemáticos (caracterizadores e explicativos de objectos espaciais como cápsulas e satélites), de naves espaciais, da visão noturna da terra a partir de uma foto tirada a partir de uma estação espacial, concentrou a atenção e interesse dos alunos. Apresentei uma frase emblemática do filósofo/matemático francês René Descartes e estabeleci uma relação, em termos de comparação, entre o pensamento e o desenho: “Penso, logo existo” versus “Desenhei, logo imaginei”, para estimular o diálogo com os alunos através de uma abordagem filosófica. Imprevisto Quando apresentei a imagem de Calvin afirmando para Hobbes (o seu peluche personificado num tigre) que este tinha jeito próprio para desenhar retratos e perguntei aos alunos sobre que possíveis mensagens esta imagem transmitia aos alunos recebi algumas respostas como: amizade, admiração, humor, etc. No entanto uma das observações feitas por um aluno elucidou-me acerca de uma possível perspectiva de interpretação que não me tinha ocorrido quando elaborei a apresentação e estruturação da imagem. Um aluno expressou timidamente divertido, uma perspectiva de análise bastante lógica, que me passou completamente ao lado enquanto preparei dias antes o powerpoint para esta aula. Caso tivesse percebido essa lógica durante o processo de elaboração do powerpoint, teria escolhido uma imagem diferente. Os alunos perceberam a pertinência da observação do colega o que fez com que se gerasse um momento de sorrisos divertidos devido ao paralelismo sarcástico. A frase do aluno foi: - “O desenho transmite a ideia de que até um animal consegue desenhar”. Não tive oportunidade de falar acerca do diário gráfico devido à falta de tempo. Sónia Maria Amado Barreira 272 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 25.01.2012 Conteúdo Continuação do projecto de Pintura Mural para a fachada principal da escola. Iniciação da terceira fase de elaboração do projecto: segundo esboço do desenho em duas metades horizontais de um A3. Objectivo geral Desenvolverem competências como a capacidade de gerirem intenções projectuais em conjunto com estratégias processuais de elaboração da composição gráfica. Objectivos específicos Reinterpretarem as suas ideias, expressas na composição realizada na aula anterior e as imagens cedidas na folha A4, relacionadas com os temas da pesquisa elaborada por cada aluno na aula de dia 18.01.2012. Tomarem consciência que é possível transmitir uma mensagem através de símbolos e não só através da representação rigorosa de uma realidade. Na tabela 8 encontram-se enumerados os objectivos educacionais pretendidos para esta aula. Estratégia Entregar aos alunos um conjunto de imagens auxiliares (pesquisadas por mim na internet) relacionadas especificamente com cada pesquisa individual de imagens (da primeira fase de composição de recorte/colagem) de cada aluno. Não pretendo que copiem literalmente as imagens apresentadas mas que as reinterpretem e adoptem uma atitude inventiva que transcenda as ideias do pensamento para o papel por meio da percepção, reflexão criativa e gesto gráfico. Transmito instruções acerca da adaptação da folha A3 para um novo formato de suporte de intervenção: recortar horizontalmente a folha A3 e unir as suas duas partes pela extremidade lateral. Sónia Maria Amado Barreira 273 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Mostro uma imagem e explico aos alunos a lógica estrutural da composição, da distribuição das figuras, de enquadramento, de sobreposições entre elementos, da disposição de layers como planos de proximidade e de distanciamento na relação de figura e fundo, dos efeitos visuais resultantes da interacção entre a forma e a cor (de aproximação ou distanciamento das figuras, em relação ao plano ou outros elementos constituintes, consequente de variações por contraste de cor – complementaridade, temperatura, etc.). Durante o período de trabalho individual dos alunos (de elaboração de uma composição gráfica) implemento a técnica do diálogo e analiso em conjunto com cada aluno a composição segundo os seguintes critérios: 1. Selecção de: Personagens; Objectos; Letras/Palavras; Padrões (em formas geométricas ou não, cores, etc). 2. Enquadramento dos elementos segundo: Equilíbrio na área da folha; Hierarquia mais adjacências entre si - ordem de importância; Coerência de disposição entre si; Preocupação na aplicação de layers - figura de fundo; Estudo de cor – figura e fundo. 3. Enquadramento da ideia: Elementos relacionarem-se com a ideia; Existir um enredo visual coerente. 4. Aplicação gráfica: Configuração/forma caracterizadora; Lógica proporcional entre os elementos; Definição cromática equilibrada (figuras); Sónia Maria Amado Barreira 274 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Definição de estilo de traçado. Devo salientar que deverão entregar os desenhos no final da aula. Tempo / Turma: 2 horas e 20 minutos / 10º PAI. Recursos: comunicação verbal e conjunto de imagens pesquisadas na internet distribuídas em folhas A4. Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico 1 Designar Descrever Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar x Classificar Compreensão Explicar Exemplificar 2 Comparar Inferir Resumir Expor Reordenar Avaliação Extrapolar x Prognosticar Nível 3 Aplicação do conhecimento Sónia Maria Amado Barreira Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. 275 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Executar Implementar Considerar Usar Avaliação Nível Aplicar x Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor Análise Organizar x Estruturar x 4 Comparar Integrar x Separar Avaliação Nível Síntese 5 Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear x Planear x Imaginar x Inventar Construir Produzir Avaliação Nível x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Sónia Maria Amado Barreira 276 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Análise em contexto 25.01.2012 Devido ao facto de no início da aula não ter resumido num discurso detalhado (para toda a turma) sobre a matéria e o exercício, desenvolvidos na aula anterior, muitos alunos (na sua maioria os que faltaram) pediram esclarecimentos adicionais sobre o que era para fazer na aula presente. Por esta razão o discurso introdutório de resumo da aula anterior torna-se essencial porque evita a perda de tempo na repetição do discurso para cada aluno. Observei em alguns alunos pouca motivação para desenhar, ou porque não sentiram inspiração ou devido a dificuldades em obter os resultados pretendidos e portanto encararam o desenho tal como se fosse uma obrigação enfadonha sem pretensões de superação de limites a cumprir a tarefa resignadamente ou simplesmente evitaram participar distraindo-se em conversa com os seus colegas de turma. Num caso em particular consegui a muito custo influenciar uma aluna a participar depois de evidenciar notoriamente desinteresse através de uma atitude negativa de recusa directa em participar no exercício de aula. Dois alunos entraram tarde na sala de aula e decidiram ir embora logo a seguir. Um deles consigo alcançar e perguntar-lhe porque não queria assistir à aula, respondeume que não podia e que já tinha ido à secretaria justificar a falta. Dificuldades manifestadas pelos alunos: Alguns alunos não compreenderam bem a noção de figura e fundo. O Professor Rogério Mourtada perguntou-me se seria importante estabelecer uma imposição de consciência tão académica no exercício criativo. Porquê fasear este processo por essa ordem fundo e depois figura? Não será uma questão que surge durante a execução? Será que antes de iniciar o desenho os alunos têm de ter essa consciência ou tomam a decisão enquanto executam o desenho? Não interpretaram as imagens cedidas na folha A4. Transferiram as ideias gráficas de forma “literal”, elaborando cópias dessas imagens, dispersando-as como cromos num desenho de colagens. Em termos de escala, a respeito da reprodução gráfica de uma figura grande partindo de uma pequena. Não usufruíram significativa/ de recursos cognitivos do pensamento divergente. Sónia Maria Amado Barreira 277 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 278 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 01.02.2012 Conteúdo Continuação do projecto de Pintura mural para a fachada principal da escola. Iniciação da quarta fase de elaboração do projecto: terceiro e último esboço do desenho em uma tira de papel reciclado a uma escala inferior proporcional do muro da fachada principal. Objectivo geral Produzirem o desenho final que será proposto para admissão a concurso de melhor composição para pintura mural da fachada central da escola. Desenvolverem competências como a capacidade de gestão de intenções projectuais em conjunto com estratégias processuais de elaboração da composição gráfica. Objectivos específicos Adaptarem a composição gráfica elaborada na aula anterior para uma escala inferior. Este exercício visa confrontar os alunos com o factor de escala e proporcionalidade no processo de redução dos elementos figurativos representados. Gerir adequadamente o seu tempo na conclusão da sua composição gráfica final. Estratégia Fazer uma breve descrição introdutória à turma sobre o que se desenvolveu na aula anterior e explicar em seguida sobre os objectivos gerais e específicos da aula presente. Auxiliar os alunos mediante pedido de esclarecimento de dúvidas e enfatizar que os trabalhos têm de ficar concluídos até o final da aula. Escrever no quadro o tempo que os alunos dispõem para executar os desenhos. Monitorizar o ambiente geral mesmo quando ajudo individualmente um aluno. Verificar se os alunos apresentam atitudes negativas ou perturbadoras do ambiente de trabalho, implementar a chamada de atenção quando necessária e aplicar o método de interrogatório de modo a compreender o aluno e o seu estado de espírito. Em Sónia Maria Amado Barreira 279 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem seguida devo promover a vontade do aluno pelo aperfeiçoamento e conclusão da sua proposta. Tempo / Turma: 2 hora e 20 minutos / 10º PAI. 11:30 – 12:30 Terminar o desenho na folha A3 subdividida na horizontal (indicado para os alunos que se atrasaram na conclusão do desenho da aula passada). 12:30 - 13:30 Terminar o desenho na folha da tira reciclada – desenho final. Recursos: comunicação verbal e utilização do quadro para escrever o tempo de execução dos desenhos. Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Análise em contexto 01.02.2012 Nem todos os alunos conseguiram completar a composição proposta para concurso na tira de folha reciclada: Alunos que cumpriram o objectivo a tempo = 9/16 Alunos que não cumpriram objectivo a tempo = 7/16 Os alunos compreenderam que seria a última aula para conclusão da proposta, no entanto, reagiram de modos diferentes: Controlaram o tempo de execução e entregaram o desenho concretizado com cor ou delineado a preto. Não controlaram o tempo de execução e entregaram o esboço sem cor. Não controlaram o tempo de execução e entregaram o desenho incompleto. Quanto à qualidade de execução do desenho final: 1. Dedicaram-se concentrando os seus esforços na elaboração aprimorada: No equilíbrio das figuras no espaço da folha; Da lógica entre elementos gráficos e a ideia; No aperfeiçoamento das linhas de configuração; Sónia Maria Amado Barreira 280 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Noção consciente na aplicação de cor. 2. Dedicaram os seus esforços na execução do esboço mas não se preocuparam com alguns itens da alínea 1. Observações específicas Alguns alunos que demonstraram atitudes dispersivas (como saírem do lugar para ir conversar com colegas de carteira, elevarem o tom de voz em conversas à distância, sentarem-se na carteira a olhar o ambiente de aula claramente desmotivados em relação ao processo criativo do trabalho individual) concentraram-se no exercício depois de eu intervir pelo método de interrogatório sobre ansiedades relativas ao desenho. O ambiente de aula em determinada altura exigiu a chamada de atenção e um esforço elevado na projecção da minha voz, de modo a conseguir a atenção imediata de completamente todos os alunos, quando as vozes se aglomeraram em conversas entusiasmadas entre os alunos. Assim que a situação estabilizou mantive uma visão global do ambiente de aula e identifiquei e orientei casos de alunos desmotivados, distraídos e com dúvidas. O facto de alguns alunos preferirem sair mais cedo da aula a concluírem o desenho nos últimos 15 minutos antes do término da mesma, foi indicativo de desmotivação em relação ao exercício. Sónia Maria Amado Barreira 281 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 282 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 06.02.2012 Conteúdo Revisão das fases do projecto e respectivos critérios a considerar. As propostas que não foram concluídas na aula passada podem ser terminadas durante esta aula. Apresentação de um novo exercício para os alunos que terminaram na aula passada os seus desenhos: “Linhas paralelas e o imaginário”. Objectivos gerais Visualizarem em síntese as fases e critérios do projecto em que estiveram envolvidos. Desenvolverem habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Objectivos específicos Imaginarem, interpretarem e representarem conceitos figurativos tendo por base duas linhas paralelas. Usufruírem de habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente: fluência, flexibilidade, originalidade, elaboração, redefinição e sensibilidade. Usufruírem de recursos cognitivos do pensamento divergente: a analogia e a metáfora. Aplicarem raciocínios do pensamento criativo: convergente, divergente, dedutivo, indutivo, lógico e ilógico. Estratégia Permitir que os alunos que não conseguiram concluir o desenho final na aula anterior o façam o mais rapidamente possível na primeira metade da aula. Para os alunos que já concluíram o exercício de composição de uma pintura mural apresento o seguinte exercício (que devem concluir até ao final da aula): 1. Esboce uma série de figuras, incorporando um conjunto de linhas paralelas. Sónia Maria Amado Barreira 283 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Projectar no quadro a seguinte sequência de fases e critérios do projecto de Pintura Mural: Fases de execução do projecto da pintura mural: Fase 1 - recolha e colagem de imagens de revistas numa folha A3. 1. Pesquisa, escolha e recorte de imagens: 1.1. Escrutínio e discriminação de imagens de acordo com: Significado pessoal relativo ao tema escola; Identificação pessoal com a imagem; A história que se quer contar. 2. Composição das imagens na folha A3: 2.1. Enquadramento dos recortes na folha de acordo com: Construção lógica/consciente do enredo; Ligações de adjacência com vista a uma cuidada estruturação visual/conteúdo da mensagem; Equilíbrio dos elementos entre si – importância e peso visual; Fase 2 - Primeiro esboço de um desenho numa metade horizontal de um A3. 3. Planificação da história/mensagem considerando: A pertinência da composição de recortes anterior; Desenvolvimento da lógica do enredo; Selecção relevante de cenários, personagens, objectos, letras, fórmulas matemáticas, etc. Sónia Maria Amado Barreira 284 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem 4. Composição das figuras segundo os critérios: Hierarquia/importância das figuras; Dimensão/proporção e escala entre si; Lógica de adjacência; Disposição/colocação no espaço; Definição cromática. 5. Escolha do tipo de traçado a aplicar. Fase 3 – Segundo esboço de um desenho em duas metades horizontais de um A3. 6. Construir um desenho mais desenvolvido considerando: A primeira composição na folha A3; O primeiro esboço na metade horizontal da folha A3 da fase anterior; Imagens pesquisadas por mim segundo as temáticas de pesquisa dos alunos evidenciadas na composição da folha A3 da fase 1; Adaptação do primeiro esboço tendo as novas imagens como referência auxiliar para um aprofundado desenvolvimento do desenho. Ter em atenção que não se deve fazer uma cópia do desenho anterior mas sim uma abordagem mais elaborada do que já foi desenhado. Fase 4 – Terceiro e último esboço de desenho numa tira de papel reciclado a uma escala inferior proporcional do muro da fachada principal. 7. Adaptação do segundo esboço à tira de papel reciclado. Sónia Maria Amado Barreira 285 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tempo: 1 hora e 30 minutos / 10º PAI. Recursos: comunicação verbal, o quadro e o projector. Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Análise em contexto 06.02.2012 Os alunos recusaram-se a prolongar o exercício da pintura mural. Sentiam-se aborrecidos com o processo ou dinâmica das aulas. Protestaram e desabafaram que muitos dos colegas têm faltado por desinteresse no projecto de Pintura Mural devido à sua demasiada extensão temporal de execução e especificamente da dinâmica de aula ser diferente das que estavam habituados com o seu Professor Rogério Mourtada. Depois de estabelecido o diálogo entre mim, o Professor Rogério Mourtada e os alunos da turma, foram ultrapassadas as divergências e os alunos transitaram directamente para o exercício das linhas paralelas178 com outro estado de espírito mais positivo. 178 A imagem do exercício e respectivos desenhos desenvolvidos pelos alunos em Anexo A. Sónia Maria Amado Barreira 286 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 08.02.2012 Conteúdo Projecção dos trabalhos dos alunos no quadro e breve diálogo sobre cada um. Votação pela turma da melhor composição enquanto proposta de pintura mural. Apresentação da actividade: “O pensamento lateral e as representações figurativas, simbólicas e geométricas”. Objectivos gerais Confrontarem e elaborarem opiniões acerca do seu trabalho e dos seus colegas. Ajuizarem críticas de forma construtiva. Discernirem sobre o significado da criatividade e da importância do pensamento paralelo na busca de respostas imaginativas e originais. Execução de três exercícios com vista à exploração imaginativa e criativa dos alunos. Objectivos específicos Imaginar ideias e associar objectos/figuras a símbolos. Raciocinar sobre possíveis soluções para enigmas e quebra-cabeças, pondo à prova o alcance do pensamento lateral. Interpretar e representar figuras através da técnica de recorte e colagem de figuras geométricas. Os objectivos educacionais pretendidos para esta aula encontram-se identificados na tabela 8 desta planificação. Estratégia 1ª Parte da aula 1. Colocar questões aos alunos sobre cada trabalho projectado no quadro: a) Qual o tema e mensagem? (perguntar ao aluno autor do desenho) Sónia Maria Amado Barreira 287 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem b) Opiniões construtivas dos colegas mediante questões como: Existe ligação simbólica das figuras com o tema? A imagem explicita bem a história contada? Porquê? O enquadramento das figuras na folha está equilibrado? Porquê? Estão bem representadas as figuras? Precisam de ser mais trabalhadas? O complemento de cor ou a falta dele enriqueceu ou baralhou a visão, percepção da história e da composição? Quando olhamos o desenho sentimos que é um trabalho que está concluído – pronto enquanto proposta para concurso – ou ainda precisaria de maior definição gráfica ou de enredo? 2. Votação de melhor trabalho enquanto proposta de desenho/pintura mural: Advertir que não podem votar no trabalho pessoal; só poderão votar no desenho de colegas; Salientar que o objectivo desta votação é saber a opinião da turma acerca de qual composição é a melhor proposta enquanto pintura mural; Informar os alunos que o desenho que será pintado na parede será escolhido pelos professores no concurso de várias turmas participantes, inclusivamente esta. Escrever no quadro os resultados. 2ª Parte da aula 3. Breve discussão sobre o significado da palavra criatividade: Escrever no quadro dois significados da palavra depois de perguntar aos alunos o que significa para eles o conceito: Faculdade de produzir e manifestar originalidade inventiva; Capacidade de encontrar soluções diferentes e originais. Sónia Maria Amado Barreira 288 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O objectivo desta segunda parte da aula é activar o espírito criativo que se encontra em potencial em todos os alunos. 4. Apresentação dos três exercícios que deverão ser apresentados em seguida até ao final da aula: Escrever no quadro um diagrama de organização da apresentação das respostas, aos diferentes enunciados, que os alunos devem respeitar. Exercício A Tem por objectivo interligar figuras a ideias metafóricas (representação simbólica de algo). Pôr à prova a capacidade de associar um objecto/figura a um símbolo. Exercício B Tem por objectivos revelar o pensamento lateral (que gera ideias criativas por caminhos paralelos à lógica convencional) e permitir raciocínios de conjectura de soluções para enigmas apresentados. Exercício C Tem por objectivo revelar diferentes soluções de representações de figuras ou paisagens. O tema poderá ser relativo a alguns personagens ou objectos das histórias contadas no exercício anterior. As cinco formas geométricas, sendo os blocos de construção, devem ser multiplicadas, aumentadas, reduzidas. Não se deve mudar a geometria da forma. Chamo à atenção sobre os materiais necessários para realizar este exercício: cola, tesoura, régua, compasso. Tempo: 2 hora e 20 minutos / 10º PAI. Recursos: comunicação verbal, apoio tecnológico do computador, projector de imagem e dois blocos de folhas coloridas. Projecção dos trabalhos dos alunos sobre o projecto de pintura mural179 e enunciados dos exercícios180, no quadro. 179 180 Imagens dos trabalhos dos alunos em Anexo B. Imagens dos enunciados dos exercícios em Anexo C. Sónia Maria Amado Barreira 289 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Conhecimento Básico Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer x Identificar x Designar x Descrever x 1 Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar x Classificar Compreensão Explicar x Exemplificar 2 Comparar x Inferir x Resumir Expor Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar 3 Aplicação do conhecimento Implementar Considerar x Usar Avaliação Nível 4 Análise Aplicar Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor Organizar Estruturar Sónia Maria Amado Barreira 290 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Comparar Integrar Separar Avaliação Nível Síntese 5 Avaliação Nível Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear x Planear x Imaginar x Inventar x Construir x Produzir x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. x [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar x Conjecturar x Criticar x Avaliar x Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. x Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Análise em contexto 08.02.2012 Na primeira parte da aula o primeiro trabalho a ser projectado para análise foi o do aluno Ali. O facto de ter sido o primeiro trabalho a ser exibido fez o aluno expressar com orgulho a seguinte frase: -“Hé! O meu trabalho é o primeiro a ser visto”. Expliquei aos alunos que o mérito do trabalho de Ali. susteve-se no facto de ter sido um dos alunos que completou todas as fases do exercício, um dos primeiros a concretizar na Sónia Maria Amado Barreira 291 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem totalidade o seu trabalho dentro do prazo estabelecido, e também por ter sido um aluno muito participativo e carismático. Os alunos protestaram quando disse que cada autor do desenho deveria falar do seu trabalho. Enfatizei então que só teriam de dizer duas palavras acerca do tema e da mensagem, e que os colegas poderiam dar a sua opinião - sublinhei que fosse construtiva. Coloquei as questões mencionadas na planificação e perguntei opiniões. Notei alguma cumplicidade entre os alunos relativamente a alguns trabalhos que não estavam bem concluídos, as opiniões foram muito complacentes e limitaram-se a dizer que estava bonito em lugar de analisarem com maior escrutínio e imparcialidade. Quando estabeleci o diálogo com os alunos para interrogá-los sobre cada composição (levando-os a reflectir, analisar, e criticar as soluções criativas dos seus colegas), adoptei três procedimentos mediante três tipos de comportamento manifestados pelos diferentes alunos. Se um aluno evidenciasse sinais de timidez quando confrontado com a primeira questão, mesmo depois de eu insistir que algumas palavras seriam suficientes para descrever a mensagem expressa na sua composição, eu colocava logo em seguida questões aos seus colegas sobre o seu trabalho projectado no quadro, e analisava o que estava bem e o que deveria ser melhorado. Quando percebia que o aluno não sentia qualquer inibição por partilhar a sua opinião, eu questionava directamente ao mesmo, pormenores de concretização da sua composição. Por fim, sempre que o aluno não dava oportunidade para o diálogo, fechando-se numa atitude alienada e reclusa, eu não insistia por uma resposta, se depois da repetição da pergunta direccionada continuasse a não obter qualquer reacção. Casos específicos Sar. T. não quis que os colegas dessem opinião antes de ela falar, porque queria expressar de antemão que admitia que o seu trabalho não estava bem concluído, mas que gostaria de melhorar. Len. cobriu o rosto na pasta e não respondeu quando lhe perguntei se queria participar falando acerca do seu trabalho. Os alunos dizem qualquer coisa relativamente ao trabalho de forma jocosa e eu não reagi mais para além de dizer: - “críticas construtivas!”. Esta situação foi negativa pelo impacto psicológico sobre a aluna, o que pode ser preocupante ao nível de redução da sua motivação em relação a futuros Sónia Maria Amado Barreira 292 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem projectos. Deveria ter verbalizado a minha opinião naquela altura para equilibrar a tensão psicológica da aluna resultante da atitude dos colegas. Constatei que seria difícil extrair da aluna Nel. qualquer palavra que fosse relativa ao tema ou mensagem expressa na sua composição devido à sua timidez temperamental. Este exercício (que tentei aplicar a todos os alunos) fundamentado na verbalização de uma opinião, explicação ou de algumas palavras sobre o seu trabalho, consistiu na intenção de avaliar quem se sentia à vontade para dialogar em conjunto com a professora e a turma. Pretendi construir uma oportunidade para os alunos mais tímidos expressarem uma frase (por pequena que fosse, mas que fizesse sentido), de modo a poder ajudá-los a ultrapassar um pouco o seu medo ou insegurança por partilharem a sua voz interior, ou do pensamento, com todos os seus colegas. Dja. expressou com convicção e sentido lógico a mensagem da sua composição. Eun. não entregou a sua composição por não a ter concluído a tempo e talvez por sentir alguma vergonha relativamente aos resultados que produziu. Apresentou uma atitude de “avestruz” com headphones. Não dialogou e evitou o contacto visual. Votação da melhor composição enquanto proposta de pintura mural Após a recolha dos votos, os alunos Ali. e Arm. voluntariaram-se para escrever no quadro os nomes dos colegas, respectivas votações, e ler os nomes escritos nas folhas de voto. Foi projectado no quadro a composição da aluna vencedora, por iniciativa do aluno Edm. Perguntei em seguida aos alunos o que significava para eles a palavra criatividade e obtive respostas dos alunos mais destemidos. Sobre o desenho da aluna Nel. projectado no quadro, escrevi duas definições do conceito de criatividade. Alguns alunos leram em voz alta as duas frases e a aluna Dja. alertou-me sobre a repetição de uma palavra no final da segunda frase (indicativo da atenção da aluna, focada no assunto discutido em aula). Apresentei os três exercícios que iriam ser realizados até ao final da aula e explicitei os objectivos educacionais; porque na aula passada compreendi que os alunos precisam de entender a razão de utilidade educacional específica dos exercícios que Sónia Maria Amado Barreira 293 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem são propostos, pois conhecendo os motivos de utilidade na concretização e reconhecendo o valor adquirido pela sua participação, dedicam-se muito mais para além da sua frequente falta de vontade por desenhar, isto se, o exercício estiver muito bem construído, segundo os princípios (descritos no modelo de aprendizagem Target) promotores da motivação intrínseca integrados na componente da tarefa. Em seguida, pedi aos alunos que fossem buscar uma folha A3. Protestaram, e mediante esta atitude alertei que iríamos fazer exercícios interessantes que não exigiriam o exercício do desenho. Como não se mobilizaram com brevidade coloquei uma pergunta retórica (com projecção de voz mais elevada, mas com uma atitude positiva): - “Será necessário pedir ajuda ao Professor Rogério Mourtada para convencer-vos a deslocarem-se à gaveta das pastas e pegarem nos vossos materiais? São necessários os seguintes materiais para a realização dos próximos três exercícios: uma folha A3, um lápis de grafite, uma régua, cola e tesoura”. Alguns alunos manifestaram falta de material e por essa razão solicitei pela solidariedade dos seus colegas. Após conquista na mobilização dos alunos (relativamente aos materiais) e já sentados nos seus lugares, desenhei no quadro um esboço da folha A3 com instruções sobre onde nela escrever o nome de aluno, data, indicação dos títulos dos exercícios, mais a identificação dos itens de numeração das respostas. Quanto exercício A, os alunos sentiram alguma dificuldade em compreender o exercício. Assim que perceberam o que era pretendido demoraram mais do que o previsto na concretização das suas respostas. Previa 5 minutos de execução e resultaram por volta de 15 minutos nas suas conclusões. Não foram muito receptivos ao exercício e pareceu-lhes fora do contexto do que normalmente estariam à espera num enunciado de aula de artes visuais. Apesar disso, concentraram-se o suficiente para apresentarem resultados. O Professor Rogério Mourtada aconselhou-me a esclarecer e orientar alguns alunos em particular, visto ter pressentido subtis indícios de dificuldades em alguns alunos que não manifestaram ter dúvidas. Quanto ao exercício B, expliquei à turma o significado de raciocínio paralelo e o seu potencial na acção criativa. Reagiram de forma muito receptiva à ideia de conjecturarem soluções para os quebra-cabeças apresentados. Assim que terminaram de escrever as suas hipóteses relativamente aos enigmas, expressaram agrado pelas soluções reveladas no livro. Sónia Maria Amado Barreira 294 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem O ambiente de aula manteve-se com evidências de entusiasmo e de curiosidade. Conjecturei hipóteses em diálogo com alguns alunos, mas devido à importância de se concentrarem nas suas respostas, mantive breve minutos de silêncio e tolerância de espera para pensarem individualmente e escreverem na folha A3 as suas respostas. O exercício C foi medianamente bem aceite pela maioria dos alunos, pois não implicava a aplicação directa da linha ou do traço gráfico. Expliquei que comprara, propositadamente para eles, folhas de lustro (material complementar) e que deveriam compartilhar entre si. Perguntei quem precisava de ajuda e esclarecimentos adicionais sobre o exercício e verifiquei o ambiente geral da turma, à procura de alunos perdidos (sem saberem como começar o plano organizador do pensamento criativo), ou alunos desmotivados. Casos específicos Len. começou a interessar-se pela aula depois da votação da melhor composição e participou nos exercícios seguintes. Penso que a sua atitude de “avestruz” manifestada na primeira parte da aula (no período de tempo da projecção do seu trabalho) se deveu ao facto de sentir-se intimidada pelas opiniões dos seus colegas sobre os seus registos gráficos. A Eun. com os auscultadores colocados na cabeça, manteve conversa com a colega de carteira e não demonstrou na fase do exercício C motivação para trabalhar. Decidi aproximar-me e estabelecer a técnica de interrogatório para diagnosticar as suas dificuldades e emoções. Ajudei-a no plano preliminar de organização do pensamento e na elaboração de uma ideia. Consegui portanto que a aluna se aplique no exercício. Penso que muito provavelmente a sua atitude de “avestruz” na primeira parte da aula se deveu ao facto de sentir-se envergonhada pela falta efectiva de concretização do seu trabalho e isto ser mencionado para todos ouvirem. O exercício C precisaria de mais tempo para ser executado, pois a maioria dos alunos entregou composições incompletas ou pouco elaboradas. Na globalidade, estes três exercícios resultaram numa experiência atractiva de aprendizagem que captou a curiosidade, a atenção e o potencial criativo dos alunos181. 181 Imagens dos trabalhos dos alunos em Anexo D. Sónia Maria Amado Barreira 295 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 296 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 13.02.2012 Conteúdo Apresentação de três exercícios promotores do desenvolvimento da capacidade criativa dos alunos: “Mind maps”, “Linhas paralelas e o imaginário” e “Figuras geométricas”. Objectivos gerais Aprenderem uma estratégia auxiliar (Mind map) de estudo preliminar de uma composição. Estimular a imaginação e a criatividade dos alunos partindo da predefinição de duas linhas paralelas. Desenvolver as suas habilidades relacionadas com o pensamento divergente. Objectivos específicos Elaborarem um desenho diagramático, segundo os procedimentos especificados de organização e estruturação do pensamento que abordam por diferentes perspectivas de entendimento o tema de estudo. Imaginarem, interpretarem, representarem figuras, tendo por base duas linhas paralelas e usufruírem da técnica de recorte e colagem de figuras geométricas na elaboração de uma composição. Usufruírem de habilidades primárias relacionadas com o pensamento divergente: fluência, flexibilidade, originalidade, elaboração, redefinição e sensibilidade. Usufruírem de recursos cognitivos do pensamento divergente: a analogia e a metáfora. Aplicarem raciocínios do pensamento criativo: convergente, divergente, dedutivo, indutivo, lógico e ilógico. Na tabela 8 apresentada nesta planificação encontram-se identificados na globalidade os objectivos educacionais pretendidos para esta aula. Sónia Maria Amado Barreira 297 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Estratégia Mostrar um diagrama “Mind map” exemplificativo da estratégia diagramática que combina palavras e figuras correlacionadas, tendo por objectivo categorizar por ordem de ideias um tema central. Exercício A – Elaborar, na metade esquerda de uma folha A3, um desenho diagramático sobre o significado de escola. Apresentar uma representação gráfica de significados por meio de símbolos, numa ordem hierárquica de três ramos: 1. Palavra versus símbolo associado; 2. Diferentes perspectivas dos significados; 3. Pormenores dessas perspectivas/noções. Estes ramos serão linhas condutoras do pensamento relativo ao tema de estudo – escola. Exercício B – Desenhar, na outra metade da folha A3, figuras ou contextos que incorporem as duas linhas paralelas. Aplicar os seguintes temas: a escola ou outros temas de escolha pessoal. Exercício C – Criar uma composição constituída só com figuras geométricas. Usar cinco formas geométricas que podem repetir, aumentar, diminuir, … mas nunca alterar a forma. Os temas podem ser desenvolvidos a partir: Das imagens pesquisas por mim e oferecidas aos alunos; De uma linha de pensamento do diagrama do exercício A. Tempo / Turma: 1 hora e 30 minutos / 2º DAC182. Exercício A – Tempo de execução de 20 minutos. Exercício B – Tempo de execução aconselhável, 30 minutos. Exercício C – Tempo de execução de 35 minutos. Recursos: comunicação verbal, apoio tecnológico do computador, projector de imagem e dois blocos de folhas coloridas. Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). 182 Imagens dos desenhos dos alunos em Anexo E. Sónia Maria Amado Barreira 298 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico 1 x Designar Descrever Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar x Classificar Compreensão Explicar Exemplificar 2 x Comparar Inferir Resumir Expor Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível 3 Aplicação do conhecimento Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar x Implementar x Considerar Usar Avaliação Nível 4 Análise x Aplicar x Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor x Organizar x Estruturar x Comparar Integrar Sónia Maria Amado Barreira x 299 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Separar Avaliação Nível Síntese 5 x Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear x Planear x Imaginar x Inventar x Construir x Produzir Avaliação Nível x Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. x [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar x Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Sónia Maria Amado Barreira 300 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Planificação da aula de 15.02.2012 Conteúdo Apresentar duas técnicas promotoras da criatividade e da eficiência do pensamento na procura de uma melhor compreensão de um tema de estudo: “Brainstorming” e “Mind map”. Objectivos gerais O aluno deve aprender duas técnicas auxiliares para aplicar no seu estudo preliminar de uma composição (destinada a um concurso de desenho do logotipo representativo de um evento desportivo da escola – maratona). Elaborar uma composição consequente da aplicação das duas técnicas. Objectivos específicos Aplicar a técnica Brainstorming de acordo com os procedimentos especificados através do diálogo e registo escrito das ideias que forem surgindo. Elaborar um desenho diagramático, segundo os procedimentos especificados pela técnica Mind map de organização e estruturação do pensamento, que aborde por diferentes perspectivas de entendimento o tema de estudo. Estratégia Ensinar os procedimentos constituintes das duas técnicas auxiliares e supervisionar a aplicação prática do conhecimento por parte do aluno. 1. Regras de implementação da técnica Brainstorming: a) Avaliar as ideias só no final da sessão; b) Redefinir, adaptar, modificar, ampliar, minimizar, substituir, reordenar, combinar os elementos constituintes ou as próprias ideias; c) Produzir a maior quantidade possível de ideias; d) Imaginar sem quaisquer limites; e) Registar as ideias enquanto vão surgindo; Sónia Maria Amado Barreira 301 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem f) Seleccionar e aperfeiçoar as ideias promissoras. 2. Apresentação do mapa mental: a) Explicação do objectivo e do processo construtivo. b) Mostrar um mapa exemplificativo e algumas imagens pesquisadas relacionadas com o tema. 3. Expor método de iniciação para a elaboração do desenho: a) Escolher as melhores ideias. b) Listar um conjunto de palavras relacionadas. c) Tomar em consideração as imagens (pesquisadas na internet), na escolha dos símbolos que serão integrados. d) Esboçar várias formas de representação de cada símbolo. e) Escolher as representações mais significativas e originais. f) Esboçar um desenho diagramático. Tempo: 2 hora e 30 minutos / Aula auxiliar de apoio a dois alunos. Recursos: comunicação verbal, folhas com imagens pesquisadas na internet por mim, associadas às temáticas a desenvolver relativamente à corrida. Um esquema diagramático exemplificativo de um Mind Map. Avaliação: formativa (para tirar dúvidas). Sónia Maria Amado Barreira 302 APÊNDICE B Powerpoints de própria autoria exibidos nas aulas. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 305 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 306 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 307 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 308 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 309 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 310 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 311 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 312 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 313 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 314 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 315 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 316 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 317 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 318 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 319 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 320 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 321 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 322 APÊNDICE C Tabela 8 com a descrição dos objectivos educacionais, segundo a Taxonomia de Bloom. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tabela 8 – Objectivos educacionais pretendidos para a aula segundo a Taxonomia de Bloom. Estágio Designação Nível Critérios Exigência: Conhecimento de factos, termos e métodos. Capacidade de: [Palavra-chave] informação, ideias, materiais, fenómenos, etc. O Reconhecer Identificar Conhecimento Básico Designar Descrever 1 Listar Localizar Encontrar Evocação Avaliação Repetição Nível Exigência: Demonstrar nível de compreensão relativo à matéria, ideias, factos e teorias. Capacidade de: [Palavra-chave] o conhecimento obtido pela significação ou atribuição de sentido à informação aprendida. Parafrasear Interpretar Classificar Compreensão Explicar Exemplificar 2 Comparar Inferir Resumir Expor Reordenar Avaliação Extrapolar Prognosticar Nível Exigência: Demonstração efectiva pela aplicação do conhecimento na elaboração de um produto comprovativo em novo contexto. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação num outro contexto que aquele em que foi aprendida. Executar 3 Aplicação do conhecimento Implementar Considerar Usar Avaliação Nível Aplicar Exigência: Decomposição e exame das partes componentes da matéria. Capacidade de: [Palavra-chave] a informação para um melhor e mais complexo entendimento sobre o assunto tratado. Decompor 4 Análise Organizar Estruturar Comparar Integrar Sónia Maria Amado Barreira 325 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Separar Avaliação Nível Analisar Estabelecendo juízos críticos fundamentados nos factos e na lógica. Exigência: Sintetizar objectivamente um dado material e abrir novos horizontes ou novas formas de compreender. Capacidade de: [Palavra-chave] soluções alternativas, novas ideias, métodos e procedimentos, para que o produto resultante seja representativo de uma abordagem inovadora e criativa. Delinear Síntese 5 Planear Imaginar Inventar Construir Produzir Avaliação Nível Transcender O conhecimento adquirido. Exigência: Desenvolvimento de competências de avaliação crítica. Capacidade de: [Palavra-chave] um produto ou ideia por meio de um conjunto explícito e detalhado de razões explicativas enunciadas numa linha de pensamento coerente. [Palavra-chave] centrando as suas decisões na acção reflexiva. Experimentar Supervisionar Avaliação Objectiva Testar Detectar 6 Ajuizar Conjecturar Criticar Avaliar Examinar Avaliação Ponderar Elaborar Padrões de julgamento norteados por um quadro de referência lógico e abrangente. Sequência de razões consequentes de uma análise crítica conclusiva. Legenda: O = X Corresponde ao objectivo educacional pretendido para a aula. Fonte: (Sprinthall et al., 1993). Sónia Maria Amado Barreira 326 ANEXOS Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem LISTA DE ANEXOS Anexo A - Imagem do exercício de aula do dia 6.02.2012 e respectivos desenhos dos alunos da turma 10º PAI. Anexo B - Trabalhos dos alunos sobre o projecto de pintura mural exibidos na aula do dia 08.02.2012. Anexo C - Imagens dos enunciados dos exercícios de aula do dia 08.02.2012. Anexo D - Trabalhos realizados pelos alunos da turma 10º PAI na aula do dia 08.02.2012. Anexo E - Desenhos realizados pelos alunos da turma 2º DAC na aula do dia 13.02.2012. Anexo F - Diagrama Mind Map apresentado na aula de apoio auxiliar do dia 15.02.2012. Anexo G - Listas de predicados e expressões correspondentes a cada sistema de representação. Anexo H - Esquema exemplificativo das chaves de acesso oculares, segundo Bandler e Grinder. Anexo I - Quadro sintetizado sobre algumas distorções da linguagem. Anexo J - Tabelas sintetizadas dos métodos e técnicas de ensino segundo I. G. Nérici. Sónia Maria Amado Barreira 329 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 330 ANEXO A Imagem do exercício de aula do dia 6.02.2012 e respectivos desenhos dos alunos da turma 10ºPAI. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 333 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 334 ANEXO B Trabalhos dos alunos sobre o projecto de pintura mural exibidos na aula do dia 08.02.2012. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 337 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 338 ANEXO C Imagens dos enunciados dos exercícios de aula do dia 08.02.2012, fotocopiadas do livro de Dorling Kindersley, Psicologia prática: desenvolva a sua criatividade (1993, p. 71, 51 e 120). Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 341 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 342 ANEXO D Trabalhos realizados pelos alunos da turma 10ºPAI na aula do dia 08.02.2012, referentes aos exercícios A, B e C da actividade: “O pensamento lateral […]”. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 345 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 346 ANEXO E Desenhos realizados pelos alunos da turma 2ºDAC na aula do dia 13.02.2012. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 349 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 350 ANEXO F Diagrama Mind Map apresentado na aula de apoio auxiliar do dia 15.02.2012. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 353 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 354 ANEXO G Listas de predicados e expressões correspondentes a cada sistema de representação, retiradas do livro de Anthony Robbins, O poder sem limites (2003, p. 249, 250 e 251). Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 357 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 358 ANEXO H Esquema exemplificativo das chaves de acesso oculares, segundo Bandler e Grinder, retirado do livro de Gustavo Vallés, Programação Neurolinguística (1997, p. 39). Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 361 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 362 ANEXO I Quadro sintetizado sobre algumas distorções da linguagem, retirado do livro de Gustavo Vallés, Programação Neurolinguística (1997, p. 69). Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 365 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Sónia Maria Amado Barreira 366 ANEXO J Tabelas sintetizadas dos métodos e técnicas de ensino, segundo I. G. Nérici. Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Método Descrição Expositivo (p. 228) Relativo à Tabela 9 - Métodos de ensino segundo a descrição de Nérici (1991). “Consiste na exposição oral, por parte do professor, do conteúdo programático referente a uma aula.” Dedutivo (p.195) “Quanto o assunto estudado procede do geral para o particular.” Técnicas Expositiva “O professor apresenta conceitos ou princípios, definições ou afirmações, dos quais vão sendo extraídas conclusões ou consequências.” O aluno deve chegar às conclusões, criticar aspectos particulares em vista de princípios gerais, tirar consequências, prever o que pode acontecer, ver a riqueza de um princípio ou de uma afirmação. Demonstração “Quando o assunto estudado é apresentado por meio de casos particulares, sugerindo-se que se descubra o princípio geral que rege os mesmos.” Indutivo (p.196) Forma de ensino “O ensino da Geometria […] pode servir de instrumento para aprender a deduzir.” Quando o professor apresenta os casos particulares deve permitir que os alunos realizem as generalizações ou induções. Redescoberta “[…] orientada experimentalmente […] convence o aluno da constância dos fenómenos, [e] vai possibilitar a generalização ou conceituação de lei científica.” Lógico (p.196) Psicológico (p.197) Simbólico/ verbalístico (p.197) “Quando os dados particulares apresentados permitirem comparações que levam a concluir, por semelhança.” “O pensamento procede do particular para o particular.” “Quando os dados ou factos são apresentados em ordem de antecedente e consequente, obedecendo a uma estruturação de factos que vai do menos ao mais complexo, ou dá origem à actualidade, mas a principal ordenação é de causa e efeito, em sequência indutiva ou dedutiva.” “Quando a apresentação dos elementos [segue] os interesses, necessidades e experiências do educando. Atende à idade evolutiva do educando.” “[segue] o caminho do concreto para o abstracto, do próximo para o remoto, […] pelas ligações afectivas e de interesses que possam ter com o aluno.” “A partir dos conhecimentos que o aluno possui, temos que o levar a uma experiência sistematizada e mais bem definida.” “Quando todos os trabalhos da aula são executados através da palavra.” O exclusivo procedimento verbalístico não é recomendado, porque acaba cansando logo e desinteressando os alunos dos trabalhos de classe, pelo esforço de figurar, imaginativamente, o que o professor vai dizendo.” “Quando a aula é efectuada com o auxílio constante de concretizações […] através de experiência directa.” Intuitivo (p.198) Concretização do ensino Coordenação do conteúdo Analógico (p.196) “[…] empregado no ensino das ciências.” “[põe] em evidência a impressão sensorial no acto da aprendizagem.” Elementos intuitivos: “contacto directo com a coisa estudada, experiências, trabalhos em oficinas, material didáctico, visitas e excursões, recursos audiovisuais – cartazes, modelos, esquemas, quadros, projecções.” Sónia Maria Amado Barreira 369 Sistematização (p.198) Ocasional (p.199) Passivo (p.199) Sistematização do conteúdo Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Rígida “[…] quando o esquema de aula não permite flexibilidade alguma, através dos itens logicamente entrosados [tintim por tintim segundo programas elaborados em forma de índice], não dando oportunidade de espontaneidade alguma ao assunto da aula.” Semi-rígida “[…] quando o esquema da aula permite certa flexibilidade para melhor adaptação às condições reais da classe e do meio social a que a escola serve.” “Quando é aproveitada a motivação do momento, bem como os acontecimentos relevantes do meio.” “São as sugestões dos alunos e as ocorrências do momento presente que orientam os assuntos de aula.” “Quando se dá ênfase à actividade do professor, ficando os alunos em atitude passiva, recebendo os ensinamentos […] este método inutiliza boa parte de estudantes para estudos futuros que requeiram reflexão e iniciativa”. Ditado Exposição dogmática Arguição Redescoberta Activo (p.199-200) Actividades dos alunos Interrogatório “Quando se tem em mira o desenvolvimento da aula com a participação do educando […] recurso de activação e incentivo do educando, para que passe à acção física ou mental […] o professor se torna um orientador, um incentivador e não um transmissor de saber.” Trabalhos em grupo Estudo dirigido Debates e discussões Técnica dos problemas Técnica de projectos Recíproco (p. 202) “Apesar de ser a aula para um conjunto de alunos, o professor tem a obrigação de não se descuidar do aluno como ser individual, dando-lhe, também, assistência pedagógica individualizada.” “Quando o professor encaminha alunos a ensinar colegas.” “Quando temos um professor para muitos alunos.” “Cumpre acentuar que o ensino colectivo se torna mais eficiente à medida que se vai individualizando.” Estudo em grupo (p. 203) Colectivo (p. 202) “Quando se destina à educação de um só aluno. […] recomendável em casos de recuperação para alunos que, por qualquer motivo, se tenham atrasado em seus estudos [ou] alunos excepcionais, que requerem tratamento individualizado.” “Quando o professor divide a classe em grupos e orienta o ensino de maneira que cada grupo enfrente as tarefas de estudo, com base na “dinâmica de grupo”.” Socializadoindividualizante (p. 203) Relação do professor com o aluno Individual (p. 201) Etc. “[…] dá ênfase ao estudo em grupo e no estudo individualizado […] o educando se prepara para tarefas de trabalho em cooperação e trabalhos que tenham de ser executados individualmente.” Sónia Maria Amado Barreira 370 Trabalho individual (p. 203-204) “Quando, procurando atender principalmente às diferenças individuais, o trabalho escolar é ajustado ao educando por meio de tarefas diferenciais, estudo dirigido […] ficando o professor mais à disposição para orientá-los em suas dificuldades.” Estudo em grupo (p. 204) “[…] orienta o educando a estudar com base nas suas reais possibilidades e dentro do seu próprio ritmo de trabalho, sendo concedidos tempos diferentes para execução de uma tarefa, para educandos diferentes em seus ritmos de estudo.” “[…] em que um plano de estudo é repartido entre os componentes do mesmo, arcando cada um com parcela de responsabilidade do todo.” Misto de trabalho (p. 204) Trabalho do educando Individualizado (p. 203) Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem “Quando planeja, em seu desenvolvimento, actividades socializadas e individuais.” “[…] deve haver a preocupação de passar tarefas ou providenciar trabalho a que o aluno tenha de se dedicar sozinho, a fim de aprender a concentrar-se e a resolver por si, na medida do possível, as próprias dificuldades.” “Da reunião de esforços dos alunos e da colaboração entre eles resulta o trabalho total.” “[…] O estudo dirigido pode ser realizado em sentido individual, enquanto outros trabalhos de pesquisa podem ser efectuados por meio de grupos de estudo.” Dogmático (p. 204-205) Heurístico (p. 205) Analítico (p. 205) “[…] não há preocupação de busca da verdade, de raciocínio, de reflexão, mas tão só a preocupação de transmitir o saber.” “[…] todas as disciplinas podem apresentar partes, que o melhor é a apresentação dogmática, pela quase impossibilidade de serem expostos ou alcançados pelos alunos os seus fundamentos teóricos.” “Consiste em o professor interessar o aluno em compreender antes de fixar, implicando justificativas lógicas e teóricas que podem ser apresentadas pelo professor ou pesquisadas pelo aluno, sendo-lhe permitido discordar ou exigir justificativas para que o assunto seja aceito como verdadeiro.” Segundo Fouché “Deve-se compreender antes de aprender; tudo toma o aspecto de uma descoberta.” “[…] implica a análise, do grego analysis, que significa decomposição.” Para compreender melhor os fenómenos é preciso conhecer as partes que o constituem. “Implica a síntese, do grego synthesis, que significa reunião, isto é, união de elementos para formar um todo.” Sintético (p. 206) Abordagem do tema em estudo Aceitação do que é ensinado “Quando o aluno tem de guardar o que o professor estiver ensinando na suposição de que aquilo é a verdade e compete ao aluno absorvê-la.” “Os fenómenos não são estudados a partir de como se apresentam, mas a partir dos seus elementos constitutivos, em marcha progressiva até chegar ao todo, ao fenómeno.” “Para melhor compreender um objecto ou um fenómeno, é preciso realizar um trabalho de associação das partes até chegar-se ao objecto ou fenómeno.” Fonte: (Nérici, 1991). Sónia Maria Amado Barreira 371 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Tabela 10 - Técnicas de ensino segundo a descrição de Nérici (1991). Técnica Descrição Ditado Consiste “em o professor ir falando pausadamente, enquanto os alunos vão registando o que ele diz” (p. 275). Bibliográfica Consiste “em expor os factos ou problemas através do relato das vidas que nos mesmos participaram ou que contribuíram para o seu estudo. […] são apresentadas as biografias das principais figuras relacionadas com os assuntos dos programas e, através delas, vão-se desenrolando os estudos” (p. 275). Exegética Consiste “na leitura comentada de textos relacionados com o assunto em estudo. […] A leitura pode ser feita pelo professor, acompanhada pelos alunos. De vez em quando, o professor suspende a leitura, para fazer comentários sobre o texto, revelar novidades, solicitar ou fornecer esclarecimentos” (p. 276). Cronológica Consiste “em apresentar o desenrolar de factos na ordem e sequência de seu aparecimento no tempo” (p. 277). Círculos concêntricos Consiste “em apresentar um tema, inicialmente, de maneira superficial, realizando, depois, uma volta ao assunto com aprofundamento, mais detalhes e referências” (p. 278). Efemérides Consiste “no estudo de personalidades, acontecimentos ou datas significativas, em correspondência ao calendário. [Pode proporcionar] a realização, na escola, de “semanas comemorativas”, com afixação de cartazes, frases célebres, retratos, exposição de obras” (p. 278). Interrogatório Consiste numa técnica que “assume o aspecto de diálogo, de conversa, que vai conduzindo o professor a conhecer melhor o aluno. [Presta-se] à função diagnosticadora das dificuldades e deficiências do aluno [e] compreender-lhe a filosofia de vida, o esquema de conduta, os interesses e valores dominantes que lhe orientam os passos” (p. 279). Arguição Consiste numa “forma de interrogatório em que se procura constatar o que o aluno deveria saber. Destina-se mais a diagnosticar conhecimentos, tipo de interrogatório de verificação da aprendizagem” (p. 281). Diálogo Consiste numa “forma de interrogatório que tem por fim não tanto cobrar conhecimentos, mas levar à reflexão. […] consiste em levar o aluno a emitir conceitos, criticar, duvidar, procurar, reformular […] é um processo de reflexão dirigida, em que as perguntas do professor vão orientando o raciocínio do aluno. O princípio fundamental é que o professor não deve dar soluções às questões propostas e sim orientar o aluno a encontrá-las” (p. 283). Catequética Consiste “em o professor organizar o assunto, que tem a leccionar, em forma de perguntas e respectivas respostas” (p. 283). Consiste no “recurso lógico de luta, para demonstrar a superioridade de uns pontos de vista sobre outros. […] Enquanto a discussão é cooperação, o debate é disputa. Debate [O debate] processa-se quando, em torno de um tema, se apresentem posições contrárias e firmadas. […] é um excelente exercício de liberdade e tolerância, desde que todos tenham o direito de opinar e de respeitar a posição dos opositores, podendo refutá-las, somente, com armas da lógica, da reflexão, dos argumentos” (p. 284-285). Seminário Consiste na “técnica de estudo mais ampla do que a discussão e o debate, podendo incluir ambos no seu desenrolar. […] pode ter lugar no horário comum de aulas ou em horários extraordinários e pode tratar do estudo de uma ou mais unidades do programa, como de temas correlatos e de muito interesse para a disciplina” (p.286). Estudo de caso Consiste “ na apresentação de um caso ou problema para a classe dar sugestões ou apresentar soluções” (p. 287). Ensino de línguas Técnica indirecta Baseia-se no ensino de línguas mortas (Latim, Grego, etc.) e centra-se “no ensino da gramática, da tradução e da versão” (p. 288). Técnica directa Consiste no ensino de línguas vivas estrangeiras e “procura afastar os hábitos impostos pela língua materna, a fim de que o estudante possa adquirir aqueles da língua que está estudando” (p. 288). Problemas Possui “duas modalidades, até bem diferentes em suas formas de apresentação; mas recebem o mesmo nome. Uma se refere ao estudo de uma questão, evolutivamente, do passado até ao presente; e outra, propõe situações problemáticas que o aluno tem de resolver” (p. 294). Demonstração Consiste no “procedimento mais dedutivo e pode associar-se a qualquer outra técnica de ensino, quando for necessário comprovar afirmações não muito evidentes ou ver como funciona, na prática, o que foi estudado teoricamente. [Apresenta] razões encadeadas logicamente ou factos concretos que comprovem determinadas afirmações” (p. 295). Sónia Maria Amado Barreira 372 Fluir: o pré-requisito para a excelência na aprendizagem Experiência “A experiência na escola pode ganhar outra significação com a experiência-vivência, como fonte de motivação autêntica e de concretização do ensino, em que o aluno é levado a sentir o que vai estudar, por meio de estágios, visitas, excursões, inquéritos, consultas, etc.” (p. 299). Pesquisa Consiste na direcção planificada de trabalhos que “ajuda na formação do espírito científico […] de maneira que os factos se sobreponham às paixões e a razão dê sentido de realidade aos sentimentos e à vontade. Procura demonstrar e não persuadir” (p. 299). Redescoberta Estimula “o espírito de iniciativa, de pesquisa e de trabalho, pois o aluno é levado a redescobrir, por esforço próprio, as informações que lhe seriam fornecidas pelo professor” (p. 304). Estudo dirigido Consiste “em levar o aluno a estudar, individualmente ou em grupo, toda uma unidade ou parte dela, na extensão e profundidade desejadas pelo professor” (p. 309), sendo este quem esboça o roteiro de estudo. Tarefa dirigida É “trabalho feito em classe ou não, com base em instruções precisas, por escrito, passadas pelo professor. […] Os objectivos, por sua vez, são habituar o aluno a interpretar indicações escritas e textos, a adquirir habilidades ou aprender técnicas de execução de experiências e aplicações práticas do que já tenha sido estudado teoricamente” (p. 312). Estudo supervisionado É uma “forma de levar o aluno a estudar sozinho, com assistência do professor” (p.312) é também “indicado para suprir deficiências ou atender às preferências do educando. […] é o roteiro elaborado pelo próprio aluno, que terá a profundidade e a extensão que as suas necessidades, possibilidades e interesses indicarem” (p. 313). Fonte: (Nérici, 1991). Sónia Maria Amado Barreira 373