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SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR: relato de experiência
Sonia Maria da Silva GARCIA 1
Evanísia A. Góes de Araújo 2
Claudia Monteiro Ramos 3
INTRODUÇÃO: A Saúde na posição de patrimônio do trabalhador é condição efetiva
e fundamental para o convívio social, indissociável do trabalho, ferramenta
primordial no desenvolvimento das relações de produção. Embora a Constituição
garanta o direito à saúde, apenas de modo recente começaram a vislumbrar
medidas de adesão à saúde do trabalhador. A Secretaria de Políticas de Saúde do
Ministério da Saúde tem demonstrado preocupação com a saúde dos trabalhadores,
por meio da implementação de importantes medidas, dotando de esperança uma
grande massa de pessoas que lutam por saúde de qualidade. Entre as ações, o
ministério elaborou a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (Nost) para
direcionar a atuação de Estados e municípios. A publicação trouxe relevantes
orientações de como os governos locais devem proceder na implantação de ações e
serviços de atenção à saúde do trabalhador, no âmbito do SUS. A Nost estabelece
que os municípios são responsáveis pela garantia de atendimento às vítimas de
acidentes em serviço e aos portadores de doença ocupacional. É também o
município quem deve fiscalizar ambientes de trabalho para a identificação de
situações de risco, sendo seu dever notificar casos e oferecer suporte técnico
especializado para o estabelecimento da relação do trabalho com a doença, o
diagnóstico, o tratamento, a recuperação e reabilitação da saúde, mantendo, ainda,
unidade especializada de referência em saúde do trabalhador. Na Faculdade de
enfermagem do Belo Jardim foi utilizada, no 1º semestre de 2006, a estratégia de
visita técnica como uma forma de inserir o corpo discente que está vivenciando a
Unidade Educacional Saúde e Sociedade na realidade dos serviços, para que
compreendessem a contradição entre o discurso da ocupação de espaço
profissional e a materialização das ações cotidianas do mundo do trabalho. Desta
forma, o objetivo do trabalho é: refletir sobre as relações de trabalho e reconhecer os
riscos ocupacionais e sua influência na saúde do trabalhador (a). METODOLOGIA:
Estudo descritivo exploratório, baseado no relato da experiência de uma visita
técnica realizada no dia 06 de março de 2006 pelas autoras, à Eleonyl Indústria e
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Comércio Limitado, indústria têxtil de origem Italiana especializada em lingerie sem
costura.
Situada na BR 232, KM 182 em Belo Jardim - PE. RESULTADOS: A
Eleonyl possui 54 funcionários sendo 48 do sexo feminino e 06 do sexo masculino.
As mulheres são lotadas em atividades de gerência e produção, os homens nos
serviços “braçais”. As atividades, da maioria, dos trabalhadores da instituição em
estudo são fragmentadas, limitadas haja vista que a matéria prima quando chega ao
trabalhador está toda delimitada no formato a ser costurada não tendo como as
costureiras inserirem sua subjetividade. As trabalhadoras são lotadas em setores
como: elastificação. overlok, etiqueta, revisão e embalagens. Desta forma pode-se
contatar a afirmação de Codo (1993) no cotidiano destes profissionais quando ele
diz: a transformação do trabalho em força de trabalho impede a subjetivação do
indivíduo, ou seja, impede que ele imponha suas características no produto que está
criando, desta forma empurrando o ser subjetivo do homem para fora da fábrica
tornando restrito ao lar. Desta forma, torna o trabalhador um ser alienado, uma vez
que não possui vontade própria sobre o quê e como produz. Esse poder de decisão
não lhe compete. O produto que está sendo criado possui mais importância do que
ele enquanto trabalhador. A alienação é o processo de coisificação do homem por
meio do trabalho: o que era coisa sem vida (a matéria, o produto) ganha vida, pois
passa a determinar o próprio trabalhador (LAPORTE et al., 2003). Durante a visita
foi observado aberturas nas paredes do escritório da gerente de produção, com
vidros amplos e transparentes. Segundo esta quando tudo era fechado não tinha
como observar o andamento dos serviços e a conversa dominava atrapalhando a
produção. Conforme o Taylorismo esta situação de vigilância dos trabalhadores da
empresa em estudo é denominado por olhar panóptico: aquele que é
constantemente vigiado seja por chefes ou por câmeras. Isto tem como propósito
garantir o aumento de produção e expandir o mercado de lucros. Controlando o
tempo e a disciplina dos trabalhadores num sistema racional e centralizador. As
atitudes das gerentes de produção da Eleonyl condizem com os princípios também
do fordismo ao evitar a locomoção do trabalhador na busca do produto, confundindoo com a própria máquina num ritmo-padrão de tempo e produção, impedindo
qualquer possibilidade de iniciativa própria, despersonalizando totalmente o
trabalhador e tornando a forma de produção em ações ritmadas e repetitivas.
Segundo Silva (2005) o trabalho repetitivo cria a insatisfação, cujos resultados não
se limitam a um desgosto particular. Ele é de certa forma uma porta de entrada para
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a doença, e uma encruzilhada que se abre para as descompensações mentais ou
doenças somáticas, em virtude de regras que foram, em grande parte, elucidadas.
Foi observado que existe boas relações inter-pessoais na empresa seja entre
funcionários e os superiores com também dentre os funcionários entre si, pois
conversam e brincam em determinados momentos inferindo-se que existem laços
afetivos. Diante das observações realizadas acredita-se que a Eleonyl expõe os
seus trabalhadores aos seguintes riscos ocupacionais: físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e de acidente. Físicos no que diz respeito a ruídos contínuos
provenientes do funcionamento das máquinas sem o uso, por parte das operárias,
dos equipamentos de proteção individual. Campos (2000) afirma que a permanente
exposição ao ruído no ambiente de trabalho pode desencadear dificuldade de
concentração como também danos irreversíveis para a saúde como, por exemplo,
redução ou perda da audição. A ergonomia visa proporcionar o máximo de conforto
e segurança. Observa-se as trabalhadoras com postura inadequada, imposição de
ritmos excessivos, repetividade podendo levar as operárias a uma lesão por esforço
repetitivo – LER ou doença osteomuscular relacionada ao trabalho – DORT. Os
riscos de acidente de dão pelo manuseio de: máquinas energizadas que poderão
desencadear descarga elétrica, máquinas que funcionam com vácuo e rolamentos
que poderão sugar ou prensar membros ou ainda pela manipulação de objetos
perfuro-cortantes encontrados nas máquinas de costura. O processo de trabalho e o
processo de produção, constituídos na conjuntura do trabalho no qual o homem
participa como agente, podem compor-se em fatores decisivos para o desgaste da
saúde
deste
trabalhador.
Portanto,
a
amostra
de
morbi-mortalidade
dos
trabalhadores se apresenta de acordo com a maneira como estes estão fixados nas
formas de produção capitalista. Neste contexto, os Acidentes de Trabalho ocupam
destaque, uma vez que se apresentam como a concretização dos agravos à sua
saúde em decorrência da atividade produtiva, recebendo interferências de variáveis
inerentes à própria pessoa, do ponto de vista físico ou psíquico, bem como do
contexto social, econômico, político e da própria existência (BARBOSA, 1989;
SILVA, 1996). Decorrem da ruptura na relação entre o trabalhador e os processos
de trabalho e produção, que interferem no seu processo saúde-doença, algumas
vezes de maneira abrupta e outras de forma insidiosa, no modo de viver ou morrer
dos trabalhadores, no “modo de andar a vida”. Segundo Sr. Jair Serino, Diretor Geral
da Eleonyl em Belo Jardim, ao longo do seu funcionamento esta empresa vivenciou
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um único acidente de trabalho. A empresa implantou o Programa de Controle
Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO coordenado por um clínico geral. Essa
norma foi criada pela Portaria nº 24 de 29 de dezembro de 1994, que visa a
promoção e prevenção da saúde do trabalhador. CONCLUSÃO: É preciso
intensificar a vigilância em saúde do trabalhador, buscando maior intervenção para
promover o cumprimento das normas, monitoramento dos casos, melhoria dos
ambientes de trabalho e a redução dos riscos de doenças e de acidentes de
trabalho. Há muito que construir na área de saúde do trabalhador, mas esse
caminho já não está tão árido. Há algumas realizações de alta relevância e que
devem ser estimuladas. A prevenção e educação permanente são desafios para
todos os envolvidos e demanda esforços intensos de formação e informação aos
profissionais visando a prevenção dos acidentes de trabalho que culminam, sempre,
em desgaste emocional do profissional, riscos à saúde, problemas de ordem
econômica e social, necessidade de investimentos financeiros, problemas éticos e
legais envolvendo os profissionais e a instituição, entre outros.
Descritores: Saúde do trabalhador, acidentes de trabalho, riscos ocupacionais.
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Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Coordenadora Técnica Pedagógica da Faculdade
de Enfermagem do Belo Jardim – FAEB. Rua Sebastião Rodrigues da Costa SN São Pedro
Belo Jardim - PE CEP: 55165-730 Fones: (81) 37262270 / 91829173;
E-mail: [email protected].
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Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Diretora da Faculdade do Belo Jardim – FAEB
3
Enfermeira da Faculdade do Belo Jardim – FAEB.
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