ARTIGO
Panorama da produção científica de pesquisadores surdos no
Brasil
por
Alcebíades Nascimento Júnior
Mestrando em Linguística pelo IEL da UNICAMP, atualmente é
professor das disciplinas de Libras e Educação de Surdos I e II dos
cursos de licenciatura do Centro Universitário Padre Anchieta,
atuando, também, como coordenador da pós-graduação em Libras e
Educação Bilíngue para Surdos. Possui certificação no Exame
Nacional de Proficiência em Libras (PROLIBRAS 2006/2010) para
docentes do nível superior e graduação em Letras - Licenciatura em
Língua Materna - pela Universidade São Francisco (USF); Tem
experiência na área de Linguística Aplicada - Linguagem, e Discurso -,
atuando principalmente no ensino-aprendizagem de línguas para
surdos, formação de intérpretes de Libras/Português, ensinoaprendizagem de Libras, formação de professores surdos e ouvintes
e, como pesquisador, nas seguintes linhas: ensino-aprendizagem de
línguas orais e línguas espaço-visuais, produção de identidades e
subjetividades, letramento para surdos e leitura/escrita. Participa
ativamente de eventos acadêmicos nas áreas acima, com
apresentações e publicações.
Anelise Amador Silva
Estudante do último ano de Licenciatura plena em Letras no Centro
Universitário Padre Anchieta, estagia na parceria Aluno Nota 10 em
Jundiaí, pela escola EMEB “Geraldo Pinto Duarte Paes”.
Bruna de Mello
Estudante do último ano de Licenciatura plena em Letras no Centro
Universitário Padre Anchieta, trabalha como monitora de
alfabetização na EMEB “Prof.ª Judith Almeida”, em Jundiaí.
Fábio Petroli Ciolfi
Estudante do terceiro semestre de Licenciatura plena em Letras no
Centro Universitário Padre Anchieta, trabalha como instrutor de
Língua Inglesa em Campo Limpo Paulista – SP.
Panorama da produção científica de pesquisadores surdos no Brasil
O presente trabalho de pesquisa iniciou-se a partir da discente Anelise Amador Silva,
que ao procurar um tema para orientação de pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), encontrou com o auxílio do Prof. Ms. Alcebiades Nascimento Júnior um campo
extremamente fértil e pouco explorado. A proposta, a princípio sugerida por Anelise e pelo
Prof. Alcebíades (a partir de agora tratado por Júnior) tinha como proposta inicial uma
pesquisa quantitativa que investigasse a produção acadêmica de pessoas surdas em
programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil. A proposta do levantamento de dados, a
princípio contando com apenas dois integrantes, começou a ganhar força nos corredores da
universidade, e logo, a proposta de trabalho aderiu a mais dois integrantes, a tratar-se dos
discentes Bruna de Mello e Fábio Petroli Ciolfi, que em conversas com Anelise e com o próprio
Prof. Júnior aderiram imediatamente a ideia.
O levantamento do panorama dos surdos mestres e doutores no Brasil começou
imediatamente, com reuniões dentro da própria universidade em que, inicialmente, o foco e
interesse das reuniões era o estabelecimento dos métodos e objetivos da presente pesquisa,
que além de investigar a quantidade de pessoas surdas em programas de pós-graduação
Stricto Sensu, teria ainda planos de voos maiores. O terreno cada vez mais explorado era
riquíssimo, e os dados pouco a pouco obtidos não poderiam morrer apenas em um trabalho;
eles precisavam ser divulgados em locais que permitissem a sua exploração e conhecimento
por parte de toda comunidade acadêmica. Sendo assim, durante as discussões realizadas,
teve-se a ideia de desenvolver uma página de Internet juntamente com um banco de dados
que viabilizasse a catalogação, e posteriormente, download de todos os trabalhos encontrados
na pesquisa. A proposta agora, não era apenas uma pesquisa quantitativa, mas sim uma
pesquisa ampla, que proporcionasse além de números, informações pertinentes ao gênero,
universidades em que as pesquisas foram realizadas, temas de pesquisa, cronologia das
pesquisas e catalogação de toda informação encontrada posteriormente em site, juntamente
com banco de dados para acesso dos trabalhos.
O levantamento fora apresentado no dia 19 de junho de 2013 aos alunos de graduação
do curso de Letras do Centro Universitário Padre Anchieta, em que até esta data foram
encontrados surpreendentes dez trabalhos de doutorado e quarenta e quatro trabalhos de
mestrado. Até a presente data, passaram-se pouco mais de dois meses de trabalho árduo, em
reuniões na própria instituição ou em meio virtual, em que o levantamento feito contou com
pesquisas realizadas em meios tecnológicos como a internet em suas mais diversas
representações, tais como Facebook, CNPQ, E-mails, Orkut, Blogs, etc. Até mesmo, alguns
mestres e doutores surdos, listados na pesquisa nos auxiliaram prontamente, seja indicando
colegas ou enviando seus respectivos trabalhos. A adesão à pesquisa ganhava proporções
muito maiores das incialmente imaginadas por nós, assim como os resultados obtidos que nos
surpreenderam imensuravelmente.
Assim, na noite de 19 de junho de 2013, expomos a todos os presentes os resultados
parciais de nossa pesquisa, visto que este trabalho está só começando. Fomos brindados pela
presença da Prof. Regiane Agrella, uma das surdas elencadas em nosso levantamento e que
tanto nos ajudou durante a pesquisa, via intermédio do Prof. Júnior.
Nosso levantamento constatou que, numa perspectiva cronológica, houve um
crescimento acentuado das defesas de mestrado e doutorado após 2005, e que antes desse
ano, houve apenas cinco defesas, sendo de mestrado nos anos de 1998, 2001, 2002 e 2004 e
uma defesa de doutorado em 2003. A partir de 2005, houve uma crescente de quarenta
defesas de mestrado e nove defesas de doutorados, certamente ocasionado pelo decreto Nº
5.626, de 22 de dezembro de 2005, em que se estabeleceu o reconhecimento da Língua
Brasileira de Sinais (Libras), como a língua das comunidades surdas brasileiras. Baseado na Lei
Nº 10.436 de abril de 2002, a mesma garante no seu artigo 4º que, o sistema educacional
federal e sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a
inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, e/ Libras, como parte integrante dos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
As universidades de formação desses alunos são: UFBA, UFPE, UFPR, UFRGS, UFSC,
UFSM, UNB, UNICAMP, UNIFOR, UNIMEP e UNISO, dentre as quais, a maioria dos mestrados
ocorreu na região Sul perfazendo um total de 64%, ao passo que os demais trabalhos
encontram-se nas regiões Sudeste, com um percentual de 14%, Centro-Oeste, com 11 % e
Nordeste, também com 11%. Quando falamos em doutorados, temos um total de 91% de
defesas na região Sul e 9% na região Sudeste.
Cabe aqui salientar, que esta enorme diferença envolvendo a supremacia absoluta da
região Sul, é fruto dos trabalhos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que contam com fortíssimos programas
de pós-graduação com ênfase em surdez e identidade surda.
Quanto ao sexo, os números não são tão divergentes. Até junho de 2013, tínhamos um
total de 68% de mulheres mestradas e 32% de homens de um total de 44 (quarenta e quatro)
mestres. Quanto aos doutorados há 55% desse público feminino e 45% de um público
masculino de um total de 10 (dez) doutores.
Quanto às áreas de formação, vê-se que abrange diversas áreas de formação dentre
elas: Informação da Educação, Linguística, Ciência (Física), Educação, Literatura, Medicina,
Tradução, Administração de Empresas, Ciências da Computação e Ciências da Saúde. Sendo as
áreas humanas, principal foco desses pesquisadores, contando com a área da educação,
perfazem um total de 62 % quando se trata de mestres e 64% de doutores; seguida da
Linguística que perfaz um total de 21 % de mestrados e 9% de doutorados; de Tradução 7% de
mestres e Literatura 2% de mestres.
Este levantamento é apenas a parte inicial deste projeto, pois posteriormente a junho
de 2013, pelo menos mais uns quarenta trabalhos foram defendidos ou estão em
desenvolvimento em diversas localidades brasileiras. Nosso trabalho não para por aqui, é
apenas um começo, pois pretendemos viabilizar em breve o site com acesso a download das
dissertações e teses, bem como a manutenção deste projeto, que é inesgotável, visto que cada
vez mais a inserção do sujeito surdo acontece em nossa sociedade. De certo, podemos dizer
que o decreto de 2005 bem como a abertura das universidades está garantindo cada vez mais
a contribuição para o sucesso do pesquisador surdo; pleno e capaz de todas as suas
aspirações, embora muito ainda possa ser feito.
Como bem disse a professora surda Karin Strobel:
Todos nós, o povo surdo brasileiro, queremos as mesmas coisas: as
políticas públicas para a educação de surdos voltadas para a garantia
de acesso do aluno surdo dentro das escolas que faça com que eles
‘aprendam’ de verdade e não sendo ‘robôs’, as lutas pelas escolas de
surdos, também pela boa formação dos professores surdos, dos
intérpretes e dos professores ouvintes bilíngues, pelas acessibilidades
na sociedade, respeito e valorização pela cultura surda e de suas
diferentes identidades. (STROBEL, 2008)
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Alcebíades Nascimento Júnior, Anelise Amador Silva, Bruna de