Mudanças nos atributos químicos do solo, após sua
incubação com biossólido
Geraldo Bruno Marques dos Santos Silva1, Dário Costa Primo2, André Gustavo da Silva3, Tereza Raquel R. Marques4,
Mayelbe Brandão5, Tácio Oliveira da Silva6 e Leonildo Santos7

Introdução
Atualmente, a preocupação por parte da maioria
dos segmentos da sociedade em minimizar as
desordens ecológicas, provocadas pelo descarte de
resíduos urbanos e agroindustriais, tem motivado o
desenvolvimento de pesquisas no sentido de buscar
soluções para a utilização agrícola desses resíduos,
como condicionadores de solo e fertilizantes.
O biossólido é um resíduo orgânico do sistema
de tratamento de esgotos, rico em matéria orgânica e
nutrientes, como o nitrogênio (N) e o fósforo (P), com
potencial para o aproveitamento agrícola, isolado ou
em combinação com os adubos minerais ([6]).
E a reciclagem agrícola desse material orgânico
constitui em uma alternativa altamente promissora, pois
transforma um resíduo em insumo agrícola,
contribuindo para a melhoria dos atributos químicos do
solo. Então, visou-se no presente estudo, avaliar alguns
atributos químicos no solo, depois de incubado com
biossólido por um período de 60 dias.
Material e métodos
O estudo de incubação aeróbica foi conduzido
em condições controladas no Laboratório de
Fertilidade do Solo e Radioagronomia da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) localizada no
município de Recife-PE. Os recipientes plásticos
utilizados apresentavam volume de 400 cm3 e as
tampas destes recipientes foram perfuradas para
permitir as trocas gasosas com o ambiente externo.
Para esse ensaio foi utilizada amostra de um
solo de textura média coletada no município de
Camaragibe-PE na profundidade de 0-0,20 m, em área
sob pastagem. Essa amostra de solo foi seca ao ar,
tamisada em peneira de 2mm e coletou-se subamostras, para a caracterização química ([4]). Essa
caracterização consistiu em: pH (H2O) = 5,6; P e K
correspondente a 2,20 e 70 mg kg-1; Ca, Mg, Al, Al+H
e S correspondente a 2,40, 0,61, 0,46, 3,32 e 3,14
cmolc kg-1 e Cu, Fe, Mn, Zn correspondente a 1,8, 260,
10 e 1,4 mg kg-1, M.O. = 1,60 dag kg-1. O lodo de
esgoto foi proveniente da estação de tratamento da
Empresa Lógica Engenharia LTDA, cuja caracterização
química consiste nos teores de N, P, K, Na, Ca, Mg igual a
4,66, 3,36, 9,0, 1,75, 52,8, 2,0 g kg-1 e de Cu, Fe, Mn e Zn
correspondente a 28, 180, 24 e 16 mg kg-1; M.O. = 13,8
dag kg-1.
O delineamento experimental utilizado no ensaio foi
o inteiramente casualizado. Os tratamentos consistiram-se
em cinco doses (0, 10, 20, 40 e 80 t ha-1) de lodo de esgoto,
com quatro repetições. Essas doses foram definidas em
cumprimento às determinações da Resolução [2]. Os
recipientes plásticos foram preenchidos com uma porção de
300 g de solo em base seca. Após o enchimento dos
recipientes e a aplicação das doses de lodo de esgoto, o
solo foi umedecido com água destilada para a obtenção da
umidade de aproximadamente 60% do volume total de
poros ([3]).
O ensaio de incubação teve duração de 60 dias
sendo, realizadas duas amostragens, uma logo após a
aplicação dos tratamentos e 60 dias após a aplicação dos
tratamentos, para avaliar a disponibilidade do N mineral
(NO3- + NH4+), P e K extraíveis do solo ao longo desse
período. Em cada amostragem, o N mineral do solo foi
extraído com KCl 1 mol L-1, para posterior determinação
por colorimetria ([7]), o P e o K foram extraídos pelo
extrator Mehlich-1 e determinados por colorimetria e
fotometria de chama, respectivamente [4]. O valor de pH
foi determinado em água aos 60 dias de acordo com a
metodologia descrita pela [4].
Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância, envolvendo as doses de lodo de esgoto. Em
seguida foi realizada análise de regressão para se estimar
a dinâmica dos elementos e o valor do pH à aplicação do
lodo em cada período de coleta, respectivamente, por
meio do uso do programa estatístico Sisvar ([5])
observando-se, concomitantemente, a significância do
modelo e o valor do coeficiente de determinação (R2).
________________
1. Graduando em Agronomia pela UFRPE. Departamento de Energia Nuclear (DEN), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Av. Prof. Luiz
Freire, 1000, Recife, PE, CEP 50740-540. E-mail: [email protected]
2. Biólogo, Doutorando em Tecnologias Energéticas e Nucleares, DEN. UFPE. Av. Prof. Luiz Freire, 1000, Recife, PE, CEP 50740-540. E-mail:
[email protected]
3. Biólogo, MSc em Desenvolvimento e Meio Ambiente, IBAMA, Roraima.
4. Graduando em Química Industrial, DEN, UFPE. Av. Prof. Luiz Freire, 1000, Recife, PE, CEP 50740-540. E-mail:[email protected]
5. Química Industrial, Lógica Engenharia LTDA, Recife-PE. E-mail: [email protected]
6. Professor Adjunto, Departamento de Engenharia Agronômica (DEA), Universidade Federal de Sergipe (UFS). São Cristóvão-SE. E-mail:
[email protected]
7. Engenheiro Agrônomo, Lógica Engenharia LTDA, Recife-PE. E-mail: [email protected]
Apoio financeiro: Facepe, Lógica Engenharia LTDA.
Resultados
A aplicação e incubação de doses distintas de
biossólidos no solo, após o período de 60 dias
proporcionou um comportamento quadrático nos
valores de pH e os teores de N mineral e de P e K
extraíveis (Figura 1). Os valores de pH do solo
apresentaram um comportamento crescente até a dose
de 62 t ha-1 de biossólido, que proporcionou valor de
pH correspondente a 7,55 (Figura 1a).
Tendência corroborada por [9] após aplicação de
biossólido industrial no solo. O teor de K na dose 0 kg ha-1,
encontra-se com o nível adequado no solo, no entanto, a
aplicação de doses maiores que as avaliadas favorecerão
aumento dos teores de K no solo até a dose de 112,7 t ha-1
de biossólido, podendo afirmar que esse solo responderia
ao teor de K a doses maiores que 80 t ha-1 de biossólido.
A utilização das doses de biossólidos favoreceu a
maior disponibilidade de N mineral, P e K extraíveis e
aumento do pH do solo.
As doses de biossólidos apresentaram
incremento nos teores de N mineral (NO3- + NH4+) do
solo até a dose de 64,50 t ha-1 proporcionando nessa
dose, teor de 170, 3 mg kg-1 de N mineral no solo
(Figura 1b). Os teores de P extraíveis no solo após a
aplicação e incubação do biossólido pelo período de 60
dias aumentaram até a dose de 120,4 t ha-1 de
biossólidos, apresentando para essa dose teor de 85,75
mg kg-1 de P (Figura 1c). Para os teores de K, essa
progressão foi até a dose de 112,7 t ha-1 de biossólidos,
proporcionando um teor de 199,2 mg kg-1 de K no solo
(Figura 1d).
À Lógica Engenharia e a Fundação de Amparo à Ciência
e Tecnologia do Estado de Pernambuco pelo apoio e
auxílio financeiro para a realização dessa pesquisa.
Discussão
[2]
O aumento do valor de pH do solo está
associado ao teor de Ca presente no bióssolido, que
possivelmente favoreceu uma condição de alcalinidade
ao final do período de incubação. Associado a essa
questão tem-se a possibilidade da matéria orgânica ter
complexado o alumínio na solução do solo,
favorecendo o aumento do pH desse solo ([8]).
Os teores de N mineral no solo aumentaram
após a aplicação de biossólidos, comportamento
verificado em outros estudos ([1];[9]). O solo ainda
responderia a maiores doses de biossólidos que as
estudadas no presente estudo para os teores de P no
solo. As doses de biossólidos até 80 t ha-1
proporcionaram aumento nos teores de P no solo.
Agradecimentos
Referências
[1]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7]
[8]
[9]
BOEIRA, R.C.; LIGO, M.A.V.; DYNIA, J.F. Mineralização de
nitrogênio em solo tropical tratado com lodos de esgoto. Pesquisa
Agropecuária Brasileira,Brasília, v.37, p.1639-1647, 2002.
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Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.3, p.261-269,
2005.
180,0
8,0
a
6,0
y = -0,0007*x2 + 0,0865x + 4,8748
R2 = 0,9901
5,0
pH
b
160,0
N-mineral (mg/kg)
7,0
4,0
3,0
2,0
140,0
120,0
100,0
y = -0,0146*x2 + 1,8836x + 109,59
R2 = 0,915
80,0
60,0
40,0
1,0
20,0
0,0
0,0
0
20
40
60
80
0
10
20
30
40
50
Doses de biossólidos (t ha-1)
-1
Doses de biossólidos (t ha )
70
80
250,0
c
80,0
70,0
K extraível (mg/kg)
P extraível (mg/kg)
90,0
60
60,0
50,0
40,0
y = -0,0037*x 2 + 0,8911x + 32,105
R2 = 0,9559
30,0
20,0
10,0
d
200,0
150,0
y = -0,0061*x 2 + 1,3757x + 121,71
R2 = 0,9809
100,0
50,0
0,0
0
10
20
30
40
50
60
-1
Doses de biossólidos (t ha )
70
80
0,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Doses de biossólidos (t ha-1)
Figura 1. Valores de pH, concentração de N mineral, P e K extraível do solo, depois de incubado com biossólido por um período de
60dias.
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