Homenagem a Grandes Vultos da Engenharia Portuguesa Justificação da Proposta – Alberto Abecasis Manzanares (Outubro de 2015) 1- Consideramos que Alberto Abecasis Manzanares pode ser considerado um dos Grandes Vultos da Engenharia Portuguesa pelas seguintes três razões: - pela sua muito relevante actividade no domínio do projecto de obras de Hidráulica e de Aproveitamentos Hidráulicos; - pela sua actividade académica como professor do Instituto Superior Técnico; - pela sua actividade como empreendedor, nomeadamente como fundador duma Empresa de Consultoria no domínio da Engenharia, a Hidrotécnica Portuguesa. 2- O prof. Manzanares alcançou um grande destaque profissional graças à sua excelente preparação científica e académica que aplicou à elaboração de projectos inovadores e de grande envergadura que cobriram a quase totalidade dos domínios de intervenção da engenharia hidráulica: abastecimento de água (região de Lisboa), pesquisa e execução das obras de novas origens, regularização fluvial, estudos hidrológicos, estudos de navigabilidade, aproveitamentos hidroeléctricos, planos gerais de bacias hidrográficas e de regiões de Portugal, Guiné- Bissau, Angola e Moçambique. 3- O prof. Manzanares teve uma actividade de investigação muito proveitosa durante a sua estada em instituições europeias prestigiadas nas quais teve a oportunidade de trabalhar com personalidades que vieram a ser muito importantes a nível internacional. O prof. Manzanares imprimiu uma nova orientação, actualizada, no ensino da hidráulica, teórica e experimental, e na hidrologia. A introdução do ensino da hidrologia e do planeamento hidráulico, não generalizado em escolas de engenharia de reconhecido prestígio, constituiu uma inovação importante. A cadeira de Hidráulica Aplicada proporcionou uma formação excelente aos alunos de Engenharia Civil e a alunos de Engenharia Electrotécnica. No IST, de 1948 a 1985, o Prof. Manzanares formou e marcou gerações de engenheiros e de investigadores que continuaram e continuam ainda hoje a não esquecer muitas das lições recebidas. Fez escola. 4- Foi sócio fundador, em 1957, da primeira empresa portuguesa de engenheiros consultores, a Hidrotécnica Portuguesa (HP) que dirigiu até 1996. A HP tornou-se num centro importante de engenharia e numa escola de projecto e de aplicação da teoria académica a realizações concretas. Desenvolvendo o trabalho em equipas multidisciplinares, a actividade da HP abrangeu todo o espectro de tipos de obras, em particular de engenharia hidráulica. Com trabalhos em Portugal e em diversos países, a HP ficou associada a grandes empreendimentos como as barragens de Cahora Bassa (Moçambique) e de Al Wahda (Marrocos). A HP introduziu técnicas inovadoras de análise nomeadamente modelos computacionais. 5- O prof. Manzanares deu uma contribuição muito significativa para a decisão de construir o aproveitamento de Cahora Bassa e para a sua realização, tendo dirigido a totalidade dos estudos de base e os projectos (1956-1975). Esta barragem é uma das grandes realizções de engenharia a nível internacional. Na década de 80, a execução do inventário da energia hídrica em Portugal permitiu ao Ptof. Manzanares elaborar uma mais rigorosa avaliação das possibilidades da produção hidroeléctrica em território nacional. 6- Possuidor de uma inteligência e de uma memória invulgares, o Prof. Manzanares tinha uma personalidade forte. Foi um conferencista brilhante, por vezes polémico. O prof. Manzanares deu um contributo relevante para o desenvolvimento da engenharia nacional no séc. XX. A. Betâmio de Almeida e A. Eira Leitão CURRICULUM VITAE DE ALBERTO ABECASIS MANZANARES NASCIMENTO Nascido a 27 de Maio de 1915, em Ayamonte, Huelva, Espanha. FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA Engenheiro Civil, pelo Instituto Superior Técnico. Aprovação no Curso de Hidráulica do Instituto de Hidráulica da Universidade de Pádua (dirigido pelo Professor Ettore Scimemi), com as classificações de 98,7 em 100, na média das cadeiras, e de 100 em 100, no exame final (Agosto de 1939). Assistente do Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica Federal, de Zurique, dirigido pelo Professor Eugène Meyer-Peter, no qual desenvolveu estreita colaboração com Charles Jaeger (Novembro de 1939 a fim de Maio de 1940). DISTINÇÕES Distinguido com o prémio Prémio Brito Camacho, pela melhor média final de curso, em qualquer das especialidades do IST. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1967. Prémio de Investigação Manuel Rocha em 1992 (Laboratório Nacional de Engenharia Civil). Presidente da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Hidrologia Científica, a partir de 1957. CARREIRA PROFISSIONAL DE ENGENHEIRO Na Companhia das Águas de Lisboa e posteriormente na EPAL: engenheiro de 1937 a 1968 e, depois, consultor até Setembro de 1988. Na Administração-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos (posteriormente Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos: chefe da Secção de Estudos de Hidráulica Fluvial em 1940 e, anos mais tarde, chefe da Repartição de Construção dos Serviços Fluviais. Engenheiro em regime de profissão liberal: como consultor independente para a construção de aproveitamentos hidroeléctricos, de 1949 a 1952, no Gabinete de Estudos e Projectos com o seu nomre, de 1953 a 1957, e, posteriormente, na Hidrotécnica Portuguesa – Consultores para Estudos e Projectos, Lda., empresa de que foi um dos sócios--fundadores, em 1957, e de que esteve à frente até 1996. PROFESSOR CATEDRÁTICO DE HIDRÁULICA NO IST (1948-1985) Professor Catedrático de Hidráulica com posse a 1 de Maio de 1948, após concurso de provas pública, até à aposentação, em 1985. Promoveu no IST um ensino avançado e inovador, ao nível das mais prestigiadas escolas de engenharia europeias, nas cadeiras de Hidráulica Geral e de Hidráulica Aplicada, tendo incluído nesta última matérias como a Hidrologia e os Recursos Hídricos, com incidência especial em aproveitamentos hidroeléctricos. Apoiou o ensino de Engenharia nos Estudos Gerais de Moçambique, mais tarde Universidade Eduardo Mondlane e, em particular, o ensino das cadeiras de Hidráulica. ACTIVIDADE NOS SERVIÇOS HIDRÁULICOS (1937-1948) Plano geral integrado de intervenção na bacia do rio Lis para promover a correcção torrencial, a regularização fluvial, a defesa contra cheias e a correcção da foz, bem como o enxugo e a rega dos campos defendidos. Estudos para o plano geral de regularização e aproveitamento do rio Lima e campos marginais. ACTIVIDADE DE ENGENHEIRO EM REGIME DE PROFISSÃO LIBERAL ANTERIORMENTE À HIDROTÉCNICA PORTUGUESA (1949-1957) Consultoria, a partir de 1949, à Societá Anonima de Sviluppo Initiative Idrauliche para a construção da barragem de Belver e, depois, à ETELI–Empresa Técnica Luso-Italiana, Lda., para a construção dos aproveitamentos hidroeléctricos de Picote e da Caniçada. Autoria do anteprojecto (1951), anteprojecto (1954) e projecto (1957) do aproveitamento hidroeléctrico reversível do Alvito, entre os rios Ocreza e o Tejo, para a Hidro-Eléctrica Alto Alentejo. ACTIVIDADE NA HIDROTÉCNICA PORTUGUESA (1957-1996) Actividade, na Hidrotécnica Portuguesa, no plano técnico, centrada na direcção da elaboração, quer de anteprojectos e projectos de obras hidráulicas quer de planos gerais de aproveitamento de bacias hidrográficas, de que se destacam os seguintes: projecto do escalão de Fratel do aproveitamento hidroeléctrico do rio Tejo; plano geral do Zambeze (que esteve na base da decisão de construir o empreendimento de Cahora Bassa) e planos gerais das bacias hidrográficas dos rios Revuè, Lúrio e Malema (em Moçambique); planos gerais de aproveitamento hidroeléctrico do rio Catumbela e do rio Cunene a montante da Matala, com participação neste último (em Angola); projecto do aproveitamento de Cahora Bassa (em Moçambique); planos gerais do Tejo, do nordeste transmontano, das bacias do Tâmega e da margem esquerda do Douro (em Portugal); estudos de planeamento das regiões de saneamento básico de Trás-os-Montes e da Estremadura (em Portugal); projectos das duas ampliações da central de Belver, no rio Tejo (em Portugal); inventário da energia hídrica (em Portugal). ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E TÉCNICAS Ordem dos Engenheiros. Sócio Correspondente Estrangeiro, desde 1967, da Academia Patavina di Scienze Lettere ed Arti (actual Accademia Galileiana di Scienze Lettere ed Arti in Padova). Associação Internacional de Investigações Hidráulicas. Associação Internacional Permanente dos Congressos de Navegação. PUBLICAÇÕES Tem numerosas publicações sob a forma de livros, artigos em revistas e actas de congressos e de outras reuniões científicas, de que se apresenta a respectiva lista no Anexo deste livro. Para informações completas da actividade do Prof. Alberto A. Manzanares: o livro Alberto Abecasis Manzanares e a Engenharia Hidráulica Portuguesa, edição de Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do IST (editores A. Carvalho Quintela e Maria Manuela Portela), 2004. Lisboa, 18 de Outubro de 2015 A. Betâmio de Almeida António Eira Leitão