Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos ANÁLISE DE FALHA EM “HEAVY-WEIGHT DRILLPIPES” DURANTE OPERAÇÃO DE PERFURAÇÃO “OFF-SHORE” DE POÇO DE PETRÓLEO Abud, I.deC. (1) , Souza, S.M.C.(2), Cavalcanti, E.H. de S. (2) , Centeno, R.0. (1) , Alves,M.R.(3), Zamoura,C.A (3) (1) Instituto Nacional de Tecnologia, Laboratório de Metalografia e de Dureza (2) Instituto Nacional de Tecnologia, Laboratório de H2S, CO 2 e Corrosividade (3) Schain Engenharia Ltda. U.N. Petróleo. 6°° COTEQ Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 22°° CONBRASCORR – Congresso Brasileiro de Corrosão Salvador – Bahia 19 a 21 de agosto de 2002 As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor. Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos SINOPSE Este trabalho objetiva realizar análise de falha detectada durante a operação de perfuração “offshore” de um poço de petróleo devido a sucessivos “wash-outs” de diversos componentes da coluna de perfuração em várias profundidades, em amostra identificada como “Heavy Weight Drilll Pipes”5 ” , apresentando perfuração e trinc a radial. Foram enviados composição química da lama de perfuração e certificados de propriedades químicas e mecânicas do Heavy Weight 5”. Para a análise do problema foram realizados na amostra análises em microscópio estereoscópico, exames metalográficos para caracterização da microestrutura e determinação do teor de inclusões, bem como, análise pontual por espectroscopia de energia dispersiva (EDS) no material de base e nas inclusões encontradas . Realizou-se ainda ensaio de dureza e análise química da amostra e da lama de perfuração com vistas a determinação da presença de H2S. Os resultados das análises realizadas mostraram que na inspeção visual realizada a rosca macho não alcançava os dois últimos filetes da rosca fêmea, submetendo este ponto cujo loc al já é um concentrador de tensão devido à rosca dos filetes, a um esforço de cisalhamento devido à mudança de seção ocasionada pelo término do macho. Evidenciou-se ainda que as trincas se originaram a partir da base de um pite localizado na raiz dos fil etes. Além deste fato a presença de segregações de inclusões de sulfeto de manganês na microestrutura na forma de bastonetes, tem efeito prejudicial no comportamento destes aços frente à SSC (“sulfide stress cracking”). Constatou-se ainda alteração na forma das inclusões de MnS caracterizada pelo inchamento das mesmas, indicativo da presença de H2 S e, H2 S na análise química qualitativa da lama de perfuração. Observou-se também que a dureza do material excedia ao valor recomendado para aços em ambientes contendo H2 S. Os resultados obtidos e informações disponíveis concluiu-se que a peça falhou por corrosão sob tensão fraturante por sulfeto (SSC), devido a ação do H2S presente na lama de perfuração associada a existência de regiões de alta concentração de tensões. Palavras chaves: Perfuração, petróleo, lama, corrosão sob tensão, sulfeto de hidrogênio e tubo de perfuração. Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 1. OBJETIVO Análise de falha em amostra identificada pelo cliente como Heavy Weight 5” (No de identificação HW007B), apresentando perfuração e trinca circunferencial, conforme mostra a figura 1. A função do Heavy Weight 5”, doravante denominada HW5, é a de transmitir o movimento de rotação (80 a 180 rpm) à coluna de perfuração. LOCAL DA PERFURAÇÃO E DA TRINCA CIRCUNFERENCIAL Figura 1 – Aspecto da amostra HW5 como recebida 2. NORMAS / PROCEDIMENTOS: • INSPEÇÃO VISUAL – realizada ao longo das superfícies da peça, a olho nú e com lupa de baixo aumento. • ANÁLISE METALOGRÁFICA: a) Caracterização microestrutural: as amostras foram preparadas de acordo com a norma ASTM E 395 – “Standard practice for preparation of metallographic specimens” , e posteriormente observadas em microscópio ótico e microscópio eletrônico de varredura. b) Determinação do teor de inclusões : realizada de acordo com a norma ASTM E 45 - " Standard test methods for determining the inclusion content of steel ”. • ENSAIO DE DUREZA – foram realizadas medições de dureza Brinell em cinco pontos da amostra, cuja média foi transformada em dureza Rockwell C conforme a norma ASTM E 140 - " Standard hardness conversion tables for metals " . • ANÁLISE QUÍMICA QUANTITATIVA DA AMOSTRA A analise da composição química da amostra foi executada sob a responsabilidade do Laboratório de Análises Inorgânicas – LABAI/INT. • ANÁLISE QUÍMICA QUALITATIVA DA LAMA - a metodologia utilizada consistiu na identificação da presença de gás sulfídrico (H2 S) através do emprego na lama de perfuração de uma solução contendo H2 SO4 + KMnO4 . Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 3. RESULTADOS 3.1 INSPEÇÃO VISUAL A figura 2 apresenta aspectos da superfície interna local de falha. Observou-se na superfície interna trincas e intensa corrosão nos dois filetes de rosca inferiores, enquanto que nos demais filetes não se encontrou este tipo de ocorrência. Estas constatações indicam que o macho, que se encaixa nesta parte, não estava em contato com toda a rosca fêmea, ou seja, com os dois filetes inferiores desta, que como consequência, ficaram expostos à lama. a) AUSÊNCIA DE TRINCAS TRINCAS b) AUSÊNCIA DE TRINCAS TRINCAS R E G I Ã O AUSÊNCIA DE TRINCAS R E G I Ã O TRINCA CIRCUNFERENCIAL E PERFURAÇÃO OCORRIDA NOS DOIS FILETES INFERIORES DA ROSCA COM INTENSO ATAQUE CORROSIVO Figura 2 – Parte interna da amostra HW5 : a) Aspecto geral; b) Detalhe da região contendo as trincas Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos A análise realizada na região 1 em diferentes corpos de prova constatou a presença de trincas similares a apresentada na figura 3, partindo da base do pite localizado na raíz do filete circundado pela elipse. Verificou-se que os filetes de rosca superiores (região 2) permaneceram inalterados. R E G I Ã O 2 R E G I Ã O 1 INTEGRIDADE DOS FILETES DE ROSCA E AUSÊNCIA DE TRINCAS TRINCA TÍPICA INICIADA NA BASE DE UM PITE E INTENSO ATAQUE CORROSIVO NOS DOIS ÚLTIMOS FILETES Figura 3 – Fotografia em estéreo-microscópio da seção longitudinal da amostra Aumento: 8X 3.2. ANÁLISE METALOGRÁFICA A figura 4 apre senta a microestrutura do material que é composta por martensita revenida, e a figura 5 mostra a micrografia sem ataque, onde pode-se observar que o material possui uma rede de inclusões de sulfeto de manganês sob a forma de bastonetes (cinza escuro). A tabela I apresenta os valores obtidos na quantificação das inclusões não metálicas. Figura 4 – Microestrutura martensítica revenida. Ataque: Nital 2% ; Aumento: 240 X Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Figura 5 - Micrografia sem ataque indicando as inclusões de sulfeto de manganês Aumento: 100 X Tabela I - Resultado da determinação do teor de inclusões INCLUSÃO TIPO A (Sulfetos) SÉRIE FINA 1,5 SÉRIE GROSSA 1.5 A figura 6 apresenta uma das trincas observadas nos dois filetes inferiores de rosca da amostra, com diferentes aumentos. Foi constatado, através de análise pontual por espectroscopia de energia dispersiva (EDS) que a trinca contêm enxofre, cujo espectro é mostrado na figura 7. As figuras 8 e 9 apresentam respectivamente os espectros do material base e de uma inclusão de sulfeto de manganês (MnS). A figura 10 apresenta micrografias de inclusões próximas ao local de uma das trincas observadas nos dois últimos filetes de rosca, cujo aspecto " inchado" e descolado da matriz é tipico de ataque por H2S . 20 X 200 X 100 X 500 X Figura 6 - Micrografias obtidas em microscópio eletrônico de varredura -MEV, com diferentes aumentos, da trinca observada nos dois filetes inferiores da rosca. Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 20 Figura 7 - Análise pontual da trinca por microsonda (EDS), onde foi detectada a presença de enxofre Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Counts 20 Figura 8 - Espectro de EDS do material de base, onde não foi detectada a presença de enxofre Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Figura 9 - Espectro de EDS da inclusão de sulfeto de manganês (MnS) Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos Figura 10 - Inclusões com aparência típica de ataque por H2S Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos 4. ENSAIO DE DUREZA A tabela II apresenta os resultados de dureza Brinell obtidos. Tabela II - Valores de Dureza Brinell 2,5 / 187,5 PONTOS 1 2 3 4 5 HB 310 310 313 316 321 MÉDIA ROCKWELL C 314 33,4 5. ANÁLISE QUÍMICA 5.1 Amostra metálica : de acordo com os resultados obtidos na análise química realizada), o material se enquadra na especificação AISI / SAE 4145 H. 5.2 Lama de Perfuração: foi detectada a presença de H2 S através de análise qualitativa. 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O aspecto das superfícies externa e interna da amostra, observada na inspeção visual, é indicativo de que a rosca macho não alcança os dois últimos filetes da rosca fêmea. A figura 11 apresenta o desenho esquemático provável de encaixe dos eixos. Nesta condição, as regiões indicadas pelo ponto "P", que já são locais de concentração de tensões devido à rosca, estão submetidos adicionalmente a um esforço de cisalhamento devido à mudança de seção ocasionada pelo término do macho. Além disso, essa mudança de seção torna os locais referidos em zonas de turbilhonamento, aumentando assim a sua susceptibilidade à corrosão. Evidenciou-se também que as trincas se originaram a partir da base do pite localizado na raiz do filete. Figura 11 - Desenho esquemático da região interna de encaixe. Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos É reconhecida a tendência dos aços de alta resistência (limite de escoamento > 700 MPa) a sofrer corrosão sob tensão-SSC induzida por sulfetos, onde se inclui o aço objeto deste estudo(1) , uma vez que o mesmo é submetido a ambientes contendo H2S. Conforme salientado pela API (American Petroleum Institute), em ambientes contendo H2 S deve-se evitar na microestrutura a presença de segregações de inclusões de sulfeto de manganês (MnS) na forma de bastonetes, , uma vez que as mesmas tem efeito prejudicial no comportamento deste aços frente à SSC (2). Como podemos observar na figura 8, foi evidenciada a presença destas inclusões na amostra analisada. Além disso , a alteração na forma das inclusões de MnS caracterizada pe lo inchamento das mesmas (figura 11), é indicativo da presença de H2S no material. Outro fator importante diz respeito a dureza do material. Dados da literatura indicam que em aços para aplicações em ambientes contendo H2 S, a dureza deste não deverá ser superior à 26 Rockwell C. De acordo com o resultado obtido (Tabela II), o valor de dureza encontrado na amostra objeto deste estudo foi de 33,4 Rockwell C , que excede o valor recomendado (3). Na análise dos resultados da composição da lama de perfuração constantes dos relatórios enviados pelo cliente, cinco parâmetros contribuem para a ocorrência do ataque corrosivo: − − − − − Relação óleo / água (% v/v) = 0,0/94,0 Teor de Cloretos (mg/l) = 15.000 a 21.000 pH = 9,0 a 9,5 Oxigênio e H2 S A presença de H2S na lama de perfuração é extremamente prejudicial pois, a existência de compostos de enxôfre (H 2S, que pode ser dissolvido em HS- e S2-) (4), reduz a cinética de recombinação gasosa e, consequentemente, favorece a entrada de hidrogênio para o metal. Para materiais que trabalham em ambiente contendo H2 S, é também fundamental que o pH seja elevado para valores ≥ 10,5 (5) , pois neste valor o H2 S é neutralizado a sulfeto de sódio (Na 2 S), diminuindo assim o problema da ruptura por tensão. A presença unicamente de água na lama de perfuração aumenta a condutividade do meio, favorecendo a atuação dos íons corrosivos. Assim é recomendável a utilização sempre de lama com óleo, de maneira a minimizar a condutividade do meio (5) Também a presença de cloretos (6) em alta concentração diminui a resistência ao ataque corrosivo do tipo localizado por pites em aços. Os quatro fatores acima discutidos, presentes na lama de perfuração, aliados à presença de inclusões de sulfetos, contribuíram para a formação de pites que acele ram o ataque corrosivo observado na amostra . A figura 12 sumariza os processos intervenientes que contribuiram para a falha por SSC observado: Sair 6ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos DUREZA INCLUSÕES MATERIAL S S C H 2S ;H 2 O; pH; Cl- ; O2 MEIO TENSÕES CISALHAMENTO TORÇÃO FLEXÃO Figura 12 - Desenho esquemático dos fatores atuantes que propiciaram a ocorrência de amostra HW5. SSC na 7. CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos e as informações disponíveis conclui-se que a peça falhou por corrosão sob tensão fraturante por sulfeto (SSC) , devido a ação do H2S presente na lama associa da a existência de regiões de alta concentração de tensões. 8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA (1) Kane, R.D.; Cayard, M.S. - " Roles of H2S in the Behavior for Engineering Alloys . A Review of Literature and Expirience " - Corrosion NACE 98; paper 274;1 à 274;28; 1999 (2) Bruce, U.; Morey, S. - " High strength Sour Service of C110 Casing" - SPE / IADC Drilling Conference, amsterdan - Holanda ; pp : 173-187; 1999 (3) Nace Standards for Material Requirements Sulfides Stress Cracking Resistant Metallic Materials for Oilfield Equipment - NACE MR 0175-94 (4) JelinK, J. ; Dagata, S. ; Bonis, M . et all - " Selection of C110 for Grade for Mildly Sour service " UK Corrosion and Eurocor 94; 1994 (5) Drilling Manual - Section B5 (6) Io Elboeijclaini, M. ; Wang,Y. z. ; Revie, R.W. " Initiation of Stress Corrosion Cracking on X-65 Linepipe Steels in Near-neutral pH Enviroment " 2000 International Pipeline Conference - Volume 2 (7) Gentil, V. - "Corrosão" - pp: 44 ; 1994