O CURSO DE GEOGRAFIA DA UECE
A Geografia, no âmbito acadêmico, surge no Ceará na segunda metade da década de
1940, por iniciativa de intelectuais de diferentes formações profissionais. Desse
movimento inicial decorre a formação de capacitados geógrafos cearenses –
professores, técnicos e pesquisadores – que têm contribuído para a instalação de
vários centros de pesquisa, de laboratórios de apoio a órgão públicos e empresas
privadas e, fundamentalmente, dos atuais cinco cursos superiores de geografia que,
pouco a pouco foram se implantando: primeiro, o que veio participar da UECE; em
seguida, cria-se o da Universidade Federal do Ceará; depois o curso de geografia da
Universidade Regional do Cariri (URCA), em Crato; da Faculdade de Filosofia Dom
Aureliano Matos, em Limoeiro do Norte (atualmente, integrada à UECE) e, por último,
a Casa da Geografia da Universidade do Vale do Acaraú em Sobral, onde funciona o
curso de graduação, recentemente reconhecido. Desse modo, da Capital para vários
pontos do norte e sul do Estado, se dissiminaram cursos, formando, semestralmente,
dezenas de jovens profissionais que vêm se engajando no mercado de trabalho do
país.
Podemos dizer que o ensino universitário da geografia nasce no Ceará, com a nova
atmosfera que envolvia o país no início do II pós-guerra, quando o Brasil saía de um
período ditatorial. Além do grande fato internacional, temos a recordar que na década
anterior, na fase inicial da ditadura de Vargas, são criados o IBGE, a Associação dos
Geógrafos Brasileiros, a Universidade de São Paulo e a UFRJ, Essas Instituições já
abriam amplas possibilidades para a discussão do território nacional e, em
decorrência, um convite para a dinâmica da geografia no país.
O fim do grande conflito mundial coincide com a abertura política no Brasil. Dado o
fato de Fortaleza ter sediado uma base dos aliados, o início da segunda metade dos
anos 40 foi palco de discussão sobre o país e o mundo, tanto na órbita do debate
intelectual como no cenário político. Este era estimulado pela campanha eleitoral para
governador, em que envolviam adeptos do integralismo e do movimento comunista,
apoiados, respectivamente, por dois partidos das elites tradicionais, PSD e UDN.
Lideravam o primeiro, homens ligados a entidades organicamente ligadas à Igreja
Católica, entre os quais alguns coordenaram a criação da primeira Faculdade de
Filosofia. Daí compreendermos que a Geografia acadêmica a ser difundida no Ceará
não se diferenciaria muito da que dominou na Europa imperialista do século XIX e
parte do séc. XX.
Por certo, esse cenário estimulou um grupo de intelectuais para encetar um
movimento, a partir de Centro de Ciências e Filosofia do Ceará, criado em agosto de
1945, a favor da formação de uma Faculdade de Filosofia. Destacavam-se os
professores Ari de Sá Cavalcante, Edmilson Souza Lima, Luiz Alberto dos Santos
Brasil, Manuel Mateus Ventura, Newton Teófilo Gonçalves e Aluísio Pinheiro. Este
último desempenhava grande entusiasmo, tido por todos seus contemporâneos como
principal batalhador.
O projeto sensibilizou o interesse de intelectuais, políticos, instituições culturais e
autoridades da época. A maior força veio dos Irmãos Maristas, dirigentes do Colégio
Cearense, em Fortaleza, que já mantinham duas Faculdades de Filosofia, uma no
Paraná e outra no Rio Grande do Sul. Desse modo, a União Brasileiro de Educação e
Cultura (UNBEC) dos Irmãos Maristas fora aceita como mantenedora e o Colégio
Cearense seria a sede provisória, com suas instalações e biblioteca. O corpo docente
foi composto por ilustres mestres da Escola de Agronomia, Faculdade de Direito,
Escola Preparatória de Fortaleza (atual Colégio Militar), Seminário da Prainha e Liceu
do Ceará. O modelo pedagógico e administrativo seria o da Faculdade de Filosofia do
Rio Grande do Sul. Esse o arcabouço definido pelos abnegados idealistas da época,
em l946.
Requerida, somente em 22 de março de 1947, o então Ministro da Educação deu o
Parecer favorável, aprovado pela Comissão de Ensino Superior. Um mês depois, o
Presidente da República autoriza o concurso da habilitação, com o Decreto 22.977,
para os seguintes cursos: Filosofia, Letras Clássicas, Letras Neolatinas, Letras Anglogermânicas, Matemática e História/Geografia. Ressalte-se que a Licenciatura era de
História e Geografia. Somente, depois essas formações se individualizaram.
Em 8 de junho de 1947, foi oficialmente instalada a Faculdade Católica de Filosofia do
Ceará, na sua sede provisória, o Colégio Cearense. Sua primeira diretoria se
compunha de: Irmão Paulo Anízio (Diretor), Dr. José Colombo de Souza (Secretário),
José Fenelon de Araújo Aguiar (Tesoureiro), além do Conselho técnico-administrativo
formado pelos professores Manuel Antonio de Andrade Furtado, Ari de Sá Cavalcante,
Luiz Sucupira, Padre Mauro Fernandes, Otávio Terceiro de Farias e Ocelo Pinheiro.
Ainda em 1947, houve o primeiro vestibular, somente para o curso da noite, em que
iniciaram 62 alunos, para os cursos implantados, com exceção do curso de Letras
Anglo-germânicas.
Logo, a Faculdade Católica de Filosofia tornou-se um centro de estudos humanísticos
com espírito acadêmico, atraindo estudantes de outras cidades. Com a elevação da
demanda, a UNBEC, a entidade mantenedora, iniciara a construção do prédio próprio
da Faculdade, com verba federal. Na primeira metade dos anos 60, a UNBEC entrou
em crise para manter em funcionamento e resolveu fechá-la. A partir de 65, não houve
mais vestibular e só alunos veteranos se mantiveram matriculados.
Novo movimento foi encetado para salvar a Faculdade Católica de Filosofia do Ceará.
Tiveram papel destacado os Professores Evaristo Linhares, Tarcísio Mota e Paulo
Frota, com o apoio dos Professores Moacir Aguiar e Parsifal Barroso. Resulta desse
esforço a Lei 8.423 de 3 de fevereiro de 1966, que encampava a Faculdade Católica
de Filosofia, passando a denominar-se Faculdade de Filosofia do Ceará (FAFICE), no
primeiro governo de Virgílio Távora. No ano seguinte, torna-se autarquia, pela Lei
8.737 de 25/01/67. Ao transferir-se para o Estado, a FAFICE ocupa o prédio onde hoje
funciona o Centro de Humanidade da UECE, na Avenida Luciano Carneiro, tendo
como seu primeiro diretor o Pe. Luiz Moreira.
Enquanto Faculdade Católica de Filosofia, foram seus diretores o Prof. Elísio Mosca
de Carvalho ou Irmão Paulo Anízio, de 1947 a 1952; Manoel Antonio de Andrade
Furtado, de 1952 a 56; Otávio Terceiro de Farias, de 1956 a 1961; Artur Eduardo
Benevides, de 1961 a 1966.
No âmbito da Faculdade Católica, o Curso de Geografia foi autorizado pelo Decreto
22.970 de 22 de abril de 1947 e reconhecido pelo Decreto 28370 de 12 de julho de
1950.
Com a criação da Universidade Estadual do Ceará, conforme Resolução nº 2 de
5/5/75 do Conselho Diretor da Fundação Educacional do Estado do Ceará
(FUNEDUCE), mantenedora da UECE, nos termos do Art. 2º da Lei Estadual nº 9755
de 18/10/73 e do Art. 3º do Decreto nº 10.641 de 28/10/73, os cursos da FAFICE
vieram compor áreas de dois centros: Centro de Humanidades, CH, (História, Línguas
Estrangeiras e Filosofia) e Centro de Ciência e Tecnologia, CCT, (Matemática e
Geografia). Teve papel destacado para a criação do CCT o geógrafo Prof. Caio
Lóssio Botelho.
Pode-se compreender, nesse processo, que é através da Faculdade Católica de
Filosofia, posteriormente denominada de Faculdade de Filosofia do Ceará, que
emerge no Ceará o movimento geográfico, de caráter acadêmico, liderado por quatro
Universidades cearenses: UECE (em Fortaleza e em Limoeiro do Norte), UFC (em
Fortaleza), URCA (em Crato) e UVA (em Sobral).
Semestralmente, o Estado do Ceará recebe dezenas de novos profissionais da
geografia, alimentando as escolas médias e as variadas funções técnicas dos órgãos
públicos e das empresas privadas. Ressalte-se que essas atividades operativas foram
definidas, no país, pela Lei 6.664 e pelo Decreto 85.138 de 15/9/80 que regulamenta a
profissão de geógrafo. Nesse novo quadro, as Universidades cearenses são
convocadas pela sociedade a aprimorar seus cursos superiores de geografia, visto
que todos se resumem em licenciatura e/ou bacharelado.
Diante dessa realidade, a UECE novamente passa a ser pioneira no Estado, ao
organizar cursos de pós-graduação "lato-sensu", em 1988, tendo, logo em seguida, o
apoio da CAPES, para o funcionamento do Núcleo Regional de Especialização
(NURECE) que já realizou, de 1988 a 1995, um total de 38 cursos. O NURECE com
seu programa regional, sediado em Fortaleza, contribuiu enormemente para o
desenvolvimento da pós-graduação lato sensu na região Nordeste, gerando inclusive
uma demanda por parte dos ex-alunos, em geral, professores universitários que
desejam continuar seus estudos na pós-graduação. Somente na área da geografia, o
NURECE ofertou cursos de especialização em cinco temas: Ensino da geografia,
(1988,89,91 e 93), Análise Ambiental Urbana
(1989,91
e
93),
Educação
Ambiental (1991), Espaço Urbano (1991) e Urbanização Brasileira (1988), totalizando
a defesa de 75 monografias. Não olvidamos a dedicação e o esforço que teve a
Professora Cilda Damasceno, do Departamento de Geociências, para a realização
desses cursos, convocando destacados nomes da geografia nacional, como Milton
Santos, Maria Adélia de Souza, Antonio Christofoletti, Jean Bitoun, Manoel Correia de
Andrade, entre outros.
Na segunda metade da última década do século, desencadeia-se uma nova vontade
dos geógrafos da Universidade Estadual do Ceará, com a colaboração de professores
visitantes e da Universidade Federal do Ceará. Da graduação e da pós-graduação
lato-sensu levanta-se a luta pela pós-graduação stricto-sensu, o Curso de Mestrado
em Geografia, criado em 1996. Até o final de 2005, esse Mestrado titulou cerca de
setenta (70) mestres.
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