A Reforma Administrativa Gerencial: Análise da Estrutura do IBAMA e de sua Eficiência Através do Parâmetro de Desmatamento no Estado de Rondônia 1 2 Fábio Robson Casara Cavalcante ; Karine Damasceno Ribeiro ; Marilza Divina H. Parada 3 Resumo No Brasil, em 1995, inicia-se a política de Desburocratização do Serviço Público com o objetivo de implantar um modelo gerencial capaz de tornar a máquina pública eficiente, eficaz e efetiva. O IBAMA é uma das primeiras autarquias a se tornar Agência Executiva. Em seus 19 anos de existência várias administrações sucederam-se no IBAMA (Merico et.al, 2005), o que demonstra a complexidade gerencial do órgão ambiental. Assim, o tema de gerência tem se convertido claramente em uma das grandes questões de nosso tempo, a nível mundial (KLIKSBERG, 1994). Este trabalho foi estruturado a partir da seguinte hipótese central: apesar da criação do modelo gerencial na estrutura organizacional do IBAMA com o objetivo de aumentar a eficiência do órgão no controle das agressões ao meio ambiente, em Rondônia parece que esse modelo não foi suficiente para impedir o aumento dos índices de desmatamento do Estado. Pelo trabalho pôde-se verificar que o desmatamento do Estado de Rondônia no período de 1978 a 2004 atingiu, aproximadamente, 30% do territorial estadual. Um dos eixos conclusivos do trabalho permitiu afirmar que houve no período inicial à Reforma uma redução e estabilização do incremento de áreas desmatadas em Rondônia, mas que seu aumento nos anos de 2002 a 2004 pode ter sido impulsionada pela desestruturação do órgão ambiental em decorrência da política de contingenciamento de recursos do Governo Federal. Em termos organizacionais, a cultura burocrática tende a ser um empecilho para a eficiência, eficácia e efetividade institucional do IBAMA/RO. Palavras Chave: Ibama; Modelo Gerencial; Reforma do Aparelho do Estado; Desmatamento; Rondônia. 1. Introdução Conforme Di Pietro (2001), a expressão Administração Pública pode ser compreendida num sentido formal e também num sentido material, assim expresso: a) em sentido subjetivo, formal ou orgânico, ela designa os entes que exercem a atividade administrativa; compreende pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos incumbidos de exercer uma 1 Professor da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, lotado no departamento de administração do Campus Universitário de Guajará-Mirim e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA, da Universidade Federal do Pará - UFPA. Contato: [email protected], [email protected] 2 Bacharel em Administração pela Fundação Universidade Federal de Rondônia; 3 Bacharel em Administração pela Fundação Universidade Federal de Rondônia; das funções em que se triparte a atividade estatal: a função administrativa. b) em sentido objetivo, material ou funcional, ela designa a natureza da atividade exercida pelos referidos entes; nesse sentido, a Administração Pública é a própria função administrativa que incumbe, predominantemente, ao poder executivo. (DI PIETRO, 2001) As experiências internacionais de administração pública gerencial têm todas um denominador comum de fato: a crise do Estado (Moreira Neto, 1998). Esta crise inicia-se na década de 1970 e principalmente na década de 1980 e está ligada ao colapso fiscal, ao modo de intervenção no mercado e à própria crise do aparelho do Estado (MARE, 1995; Bresser Pereira, 1996; 1997a; Santana, 2002; Arruda, 2005; Marini, 2005), atingindo não só os países desenvolvidos, mas, também, com maior força, os países considerados em desenvolvimento como o Brasil. De acordo com Guimarães e Silva (2000) os governos de diferentes países têm sido criticados por sua incapacidade de responder com agilidade e efetividade às novas demandas e expectativas dos cidadãos e às pressões da sociedade por serviços públicos de qualidade. Diante dessas pressões e das transformações decorrentes de um processo mais amplo de reestruturação produtiva, em curso nas sociedades contemporâneas, a administração pública dos mais diferentes países vem passando por movimentos de mudança. O debate sobre a crise do Estado e a necessidade de sua reconstrução teve início nos anos 80 nos países industrializados. De acordo com Marini (2005) a estratégia de enfrentamento da crise inicialmente adotada pela Grã-Bretanha e depois em maior ou menor grau em diferentes países passou a ser conhecida como a Nova Gestão Pública (New Public Management) ou reforma gerencial. Ainda segundo Marini (2005) somente na segunda metade dos anos 90 este movimento chega à América Latina e ao Brasil, em particular, ainda no início do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em um contexto semelhante ao de outros países da região, caracterizado pelo aprofundamento da crise financeira do Estado e pela emergência de reformas estruturais prometidas durante a campanha presidencial e iniciadas alguns meses antes da posse com o plano de estabilização econômica (Plano Real). No bojo da reforma, dois aspectos merecem destaque: a necessidade de tornar o Estado mais eficiente, eficaz e efetivo nos aspectos administrativo e político e a necessidade de revisão das suas funções. Enfim, do seu papel nas relações com a sociedade e o mercado (SANTANA, 2002). Assim, em 1995 inicia-se no Brasil a desburocratização do Serviço Público com o objetivo de reduzir a interferência do Governo na vida do cidadão e nas atividades das empresas e outras entidades organizadas como, também, de reduzir custos, de contribuir para a melhoria do atendimento ao público nos órgãos e nas entidades de Administração Pública Federal. Nesse sentido, o governo tinha como objetivo modernizar e moralizar o setor público que estava sendo extremamente desacreditado perante a sociedade brasileira de modo a torná-la ágil, eficiente e eficaz. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, aprovado em setembro de 1995 pela Câmara da Reforma do Conselho de Governo da Presidência da República e divulgado em novembro do mesmo ano, além de apresentar diagnóstico da crise do Estado, delineia as suas funções necessárias num contexto de globalização econômica, para viabilizar o atendimento das demandas sociais e a inserção competitiva do País nos mercados internacionais (SANTANA, 2002). Nesse sentido, preconiza: a) a revisão de sua estrutura, ajustando-a ao papel de promotor e regulador do desenvolvimento social e econômico e fortalecendo sua capacidade de formulação e avaliação de políticas públicas; b) o aumento de sua governança, ou seja, sua capacidade de implementação de políticas públicas, sob a ótica de eficiência, eficácia e efetividade, mediante a introdução de novos modelos organizacionais, o estabelecimento de contratos de gestão/termos de compromisso de gestão/termos de parceria e a modernização da gestão (BRASIL, 1995; BRESSER-PEREIRA, 1997a). Um dos pontos centrais da Reforma do Aparelho do Estado foi a proposição de uma nova estrutura organizacional centrada nos objetivos institucionais envolvendo a eficiência, a eficácia e a efetividade. Desse modo, este trabalho se centrou no projeto das Agências Executivas que está inserido na Reforma Administrativa do Aparelho do Estado, apresentado no Plano Diretor. O Projeto Agência Executiva foi definido pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado em novembro de 1995, o qual distingue quatro Setores de acordo com a forma de atuação do Estado: a) Núcleo Estratégico; b) Atividades Exclusivas; c) Serviços Não-Exclusivos; e d) Produção de Bens e Serviços para o Mercado. As Agências Executivas são o modelo de gestão da administração pública gerencial, especificamente para atender as atividades exclusivas do Estado, como os setores de regulamentação, fiscalização, fomento, segurança pública e seguridade social básica. A implementação do projeto é experimental, e existe na forma de projeto piloto, mediante adesão das instituições interessadas (BRASIL, 1995). O Projeto Agências Executivas tem a concessão de maior flexibilidade às Autarquias e Fundações Públicas na gestão dos seus recursos, de modo liberá-las das “amarras” a que estão submetidas. Em contrapartida, sua gestão é avaliada com base em resultados. Martins (1999) cita seis fatores críticos ao sucesso do Projeto Agências Executivas, quer porque demandam mudanças na forma como foi originalmente proposto, quer porque se tratam de questões sensíveis cujo não enfrentamento ou equacionamento equivocado poderá colocar em cheque sua efetividade. Assim, para este autor é necessário: O fortalecimento das estruturas ministeriais supervisoras; A capacitação dos agentes de mudança; Os recursos para o investimento gerencial; A ampliação das flexibilidades previstas no projeto; A implementação assistida; e A adesão seletiva. O modelo de Agência Executiva foi instituído na Lei no 9.649, de 27 de maio de 1998, nos seus artigos 51 e 52, para ser implementado no segmento de atividades exclusivas do Estado, alcançando, sobretudo, autarquias que precisam do poder do Estado para cumprimento de suas competências. A implementação desse modelo pressupõe, conforme SANTANA (2002): Núcleo estratégico forte, com políticas públicas definidas e com capacidade de estabelecer e avaliar contratos de gestão com suas instituições descentralizadas – contratos esses que traduzam a efetiva implementação de suas políticas, com resultados de eficiência, eficácia e efetividade; A mudança cultural na Agência Executiva, com introdução de valores da reforma gerencial e empreendedora, ou seja, orientação de suas ações e decisões para obtenção de resultados, observada a ética na gestão da coisa pública, avaliação de desempenho e foco nas demandas dos clientes/usuários; Flexibilidade de gestão com controle de resultados a posteriori, com transparência e controle social, mediante a pactuação de resultados e de condições e meios para atingi-los, viabilizada com o contrato de gestão e com instituição de mecanismos que favoreçam a participação e o controle pelo usuário/cidadão, como audiências públicas, conselhos de usuários, ombudsman, mecanismos de consulta etc.; Introdução de novas técnicas de gestão privilegiando os sete critérios de excelência, preconizados pela Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ) adaptados para o setor público. Nesse contexto, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA foi uma das primeiras autarquias federais a submeter-se ao projeto piloto da reforma do aparelho do Estado com vistas à implantação do novo modelo gerencial. Assim, procurando analisar a estrutura do IBAMA após a implementação do novo modelo gerencial frente a um de seus principais objetivos institucionais que é a de coibir a prática do desmatamento, foi idealizado o presente trabalho. Com isso, esta pesquisa teve por objetivo estudar a estrutura organizacional do IBAMA após a implementação do novo modelo gerencial visando analisar a eficiência do referido órgão ambiental através do índice de desmatamento do Estado de Rondônia. Os dados aqui apresentados foram baseados em levantamentos realizados no ano de 2006. Partiu-se, portanto, das seguintes hipóteses: a) Apesar da criação do modelo gerencial na estrutura organizacional do IBAMA com o objetivo de aumentar a eficiência, eficácia e a efetividade do órgão no controle das agressões ao meio ambiente, em Rondônia esse modelo parece não ter sido suficiente para reduzir o avanço do desmatamento, colocando-o como um dos três maiores Estados líderes em desmatamento no Brasil; b) mesmo à luz do novo modelo gerencial a cultura burocrática ainda persiste e se mostra limitante para o desempenho institucional. Para o desenvolvimento desse trabalho de pesquisa foi adotado o método hipotéticodedutivo. Este método também chamado de método de tentativas de eliminação de erros foi proposto por Karl Popper e engloba as seguintes etapas: a) formulação do problema; b) solução proposta consistindo em conjecturas (hipóteses); c) dedução das conseqüências na forma de proposições passíveis de teste; d) testes de falseamento. Este estudo foi realizado na jurisdição do IBAMA, Rondônia, e abrangeu as Gerências Executivas I e II, além do escritório regional de Guajará-Mirim. Os dados da pesquisa podem ser classificados em dois grupos: primários e secundários. Os primários são aqueles que não foram antes coletados e secundários aqueles que já foram coletados, tabulados, ordenados, analisados e que estão a disposição dos interessados. São fontes de dados primários o pesquisado, as pessoas que tenham informações sobre o pesquisado e situações similares. As fontes de dados secundários podem ser a própria empresa, publicações, governo, instituições não governamentais e serviços padronizados de informações e marketing (MATTAR, 2000). A pesquisa bibliográfica foi essencial para o desenvolvimento deste estudo, a qual teve as seguintes etapas: levantamento, seleção e leitura analítica de textos pertinentes ao tema; fichamento dos textos; análise e crítica das fontes consultadas. Fez-se necessária pesquisa de campo para que se pudesse compreender a realidade situacional do IBAMA/RO. 2. Modelos de Administração Pública no Brasil De fato o ano de 1995 marca o processo de mudança da administração pública brasileira. Nesse ano é elaborado o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado que se caracteriza por ser o principal documento orientador da reforma. É importante, porém, salientar que foi através da reflexão conceitual sobre as três formas de administração - a) patrimonialista, b) burocrática e c) gerencial - que o referido documento passou a ser estruturado (BRASIL, 1995; BRESSER-PEREIRA, 1997a; MARINI, 2005). A seguir procurou-se fazer uma síntese de cada um deles. 2.1 O Modelo de Administração Patrimonialista No modelo da administração pública patrimonialista (ou do patrimonialismo), o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano e os seus auxiliares e servidores possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas. A res publica não é diferenciada da res principis. Em conseqüência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. Quando o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência inaceitável (BRASIL, 1995). De acordo com Paiva (2004) tais características patrimonialistas eram o foco da Administração Pública no Brasil durante o império e mesmo durante o período republicano representado pela República Velha (1889-1930). Nesse período os cargos da Administração Pública eram passados de pai para filho dando características personalistas a essa administração. Assim, por administração patrimonial entende-se a modalidade administrativa na qual não existe distinção entre bens públicos e privados, isto é os bens públicos são utilizados como se fosse patrimônio dos grupos privados (BRASIL, 1995; BRESSER-PEREIRA, 1996; 1997a; 1997b). 2.2 O Modelo de Administração pública Burocrática A administração burocrática clássica, baseada nos princípios de administração do exército prussiano, foi implantada nos principais países europeus no final do século XIX; nos Estados Unidos, no começo do século XX e no Brasil, em 1936, com a reforma administrativa promovida por Maurício Nabuco e Luís Simões Lopes. (BRESSER-PEREIRA, 1997b). A administração burocrática clássica foi adotada porque era uma alternativa muito superior à administração patrimonialista do Estado. Esta superioridade decorria do fato desta ser a melhor forma de reduzir senão eliminar o empreguismo, o nepotismo e a corrupção. Entretanto, logo se percebeu que, se era uma maneira segura de administrar, não era uma forma eficiente, já que não garantia nem um custo baixo para a administração pública nem uma qualidade adequada dos serviços prestados ao público. Verificou-se que a administração burocrática é lenta, cara, e pouco ou nada orientada para a cidadania. (BRESSER-PEREIRA, 1995). Para Max Weber, sociólogo alemão que permitiu com base em seus estudos sobre estrutura e autoridade delinear as bases da Teoria burocrática, já afirmava que o racionalismo ocidental que se encarna em instituições como a economia capitalista e a burocracia do Estado é uma força que, por um lado, aumenta a eficiência e produtividade, mas ao mesmo tempo, “desencanta” o mundo, ocasionando a perda da liberdade e do sentido da vida (SELL, 2002). Assim, a burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade (Chiavenato, 2002), isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance dos objetivos. Weber (1982), por sua vez, já afirmava que o funcionamento da burocracia moderna ocorre da seguinte forma: “a) rege o princípio de áreas de jurisdição fixas e oficiais, ordenadas de acordo com regulamentos, ou seja, por leis ou por normas administrativas; b) os princípios da hierarquia dos postos e níveis de autoridades significam um sistema firmemente ordenado de mando e subordinação, no qual há uma supervisão dos postos inferiores pelos superiores; c) a administração de um cargo moderno se baseia em documentos escritos (os arquivos), preservados em sua forma original ou em esboço; d) a administração burocrática (...) supõe um treinamento especializado e completo; e) a atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do funcionário, sendo o tempo e a permanência na repartição delimitados; f) o desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis ou exaustivas, e que podem ser aprendidas (WEBER, 1982). Dessa forma, a burocracia pode ser caracterizada pela sua natureza hierarquizada, fundamentada em regulamentos rígidos e por uma rotina inflexível (Holanda, 1986; Chiavenato, 2002). No Brasil, a administração burocrática surgiu na década de 30, com a criação do DASP4, órgão identificado com as virtudes do modelo e com patologias, dado o seu papel central na implantação do mesmo. 2. 3 A reforma Administrativa A reforma da gestão pública, ou gerencial, é a segunda reforma administrativa que acontece no capitalismo. A primeira foi a reforma burocrática, que aconteceu nos países desenvolvidos na segunda metade do século XIX, e nos anos 30 no Brasil. E a segunda é a reforma da gestão pública que está acontecendo desde os anos 80 nos países desenvolvidos e desde 90 no Brasil. (BRESSER-PEREIRA, 2002) 4 Departamento Administrativo do Serviço Público, criado em 1936. Antes da Reforma Administrativa Gerencial implantada em 1995, teve no Brasil, em 1967, uma tentativa anterior que foi a responsável pela transição do modelo denominado Burocrático para o Gerencial. O Decreto Lei nº 200/67 foi o instrumento de amparo legal aos procedimentos administrativos da citada reforma que possuía como elementos centrais: o Planejamento, a Coordenação e a Descentralização Administrativa, a Delegação de competências e o Controle (Figura 1). Figura 1: Evolução Histórica das Reformas Administrativas do Brasil. Fonte: BRESSER-PEREIRA (1998). A reforma do aparelho do Estado implantada a partir de meados da década de 1990 no Brasil veio, portanto, servir de ação para combater os malefícios dos modelos burocrático e patrimonialista, de forma a substituí-los pela administração pública gerencial. Tal modelo, porém, não visa somente superar os referidos problemas, mas, também, assegurar ao Aparelho do Estado a desejada eficiência, eficácia e efetividades de suas ações. 3. O IBAMA em Rondônia O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, entidade autárquica de regime especial, com autonomia administrativa e financeira, dotada de personalidade jurídica de direito público, foi criado pela Lei n.º 7.735, de 22 de fevereiro de 1989 pelo então Presidente da República José Sarney, época em que a questão ambiental foi assumida como aspecto relevante. A constituição do órgão ambiental se deu a partir da fusão de quatro outros órgãos que passaram a ser extintos pela administração Federal, a saber: 1) Secretaria do Meio Ambiente (SEMA); 2) Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF); 3) Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE); e 4) Superintendência do Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVEA). O IBAMA tem por objetivo executar as políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições Federais permanentes, relativas à preservação, conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais e sua fiscalização e controle; além de executar ações supletivas da União, em conformidade com a legislação em vigor e as diretrizes do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2002). De acordo com Merico et. al. (2005), o IBAMA dentro do novo formato de gerência apresenta como visão o desejo de ser uma referência nacional pela excelência na gestão ambiental pública, com práticas democráticas e participativas, contribuindo para a construção de uma sociedade justa e ecologicamente sustentável. Dos 14 objetivos finalísticos do IBAMA, merecem destaque para esse trabalho: 1) Executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional; 2) Monitorar as transformações do maio ambiente e dos recursos naturais; 3) Ordenar o uso dos recursos florestais nacionais; 4) executar ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora brasileiras; Segundo Cavalcante (2000), a estrutura Organizacional que anteriormente era aceita compunha-se pela Presidência do Instituto e por cinco órgãos de assessoramento superior (Diretoria de Controle e Fiscalização, Diretoria de Recursos Naturais Renováveis, Diretoria de Ecossistemas, Diretoria de Incentivo à Pesquisa e Divulgação, Diretoria de Administração e Finanças) e ainda por oito unidades de assessoramento direto (Gabinete, Coordenação Geral de Planejamento, Procuradoria Geral, Ouvidoria, Auditoria, Assessoria de Comunicação Social, Assessoria Internacional e Assessoria Parlamentar). Bem como faziam parte dessa estrutura as antigas Superintendências Estaduais (SUPE’s) e o Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Populações Tradicionais (CNPT) De acordo com o Decreto nº 3.833 de 05 de junho de 2001, a atual estrutura organizacional do IBAMA apresenta a seguinte estrutura ilustrada na Figura 2. Figura 2: Estrutura Organizacional do IBAMA a Partir do Modelo de Gerência Fonte: BRASIL (2002). Em Rondônia verifica-se, com base na Figura 3, que existem duas gerências executivas, chamadas de Gerex. I e Gerex. II. A Sede da Gerex. I está localizada no município de Porto Velho, Capital do Estado, e da Gerex. II no município de Ji-Paraná. Verifica-se, ainda, a existência de escritórios regionais localizados nos municípios de Porto Velho, Guajará-Mirim e Ariquemes, os quais estão subordinados à Gerex. I, bem como nos municípios de Ji-Paraná, Costas Marques, Rolim de Moura, Pimenta Bueno e Vilhena, os quais estão subordinados à Gerex. II. Figura 3: Ilustração das Gerências e dos Escritórios Regionais do IBAMA/RO Fonte: Elaboração própria. 3.1 Distribuição de Fiscais por Gerex no Estado de Rondônia Em Rondônia, o IBAMA é responsável pela fiscalização e controle de uma área geográfica de aproximadamente 237.576,167 km2 (IBGE, 2007). Na tabela 1, observa-se o número de fiscais nas Gerências I e II e na Tabela 2 a distribuição das áreas sob jurisdição das Gerências Executivas em Rondônia. Em linhas gerais, considerando o tamanho territorial do Estado de Rondônia, pode-se verificar que em média cada fiscal do IBAMA tem a responsabilidade de cobrir uma área de aproximadamente 6.091,70 Km2. Área muito grande para um só fiscal controlar. A jurisdição de Guajará-Mirim, por exemplo, possui uma área jurisdicionada de 35.327,40 km2 e o escritório local possui apenas 05 (cinco) fiscais. Portanto, cada fiscal teria que cobrir uma extensão de aproximadamente 7.065,48 km2. Gerência I Nº de Fiscais Gerência II Nº de Fiscais Porto Velho 11 Jí Paraná 06 Guajará-Mirim 05 Pimenta Bueno 04 Ariquemes 02 Rolim de Moura 02 Costa Marques 04 Vilhena 05 TOTAL 18 TOTAL 21 Tabela 1: Distribuição de Fiscais por Gerências Executivas e Escritórios Regionais, 2006 Fonte: Elaboração própria. Jurisdição Área/km² Ariquemes 45477,70 Costa Marques 16101,60 Guajará-Mirim 35327,40 Ji-Paraná 17906,80 Pimenta Bueno 16627,40 Porto Velho 45015,10 Rolim de Moura 30668,20 Vilhena 31388,60 Tabela 2: Distribuição das Áreas Geográficas Jurisdicionadas pelas Gerências Executivas e Escritórios Regionais, 2006 Fonte: Elaboração própria. 3.2 Algumas Considerações sobre o Modelo Gerencial do IBAMA em Rondônia Ao analisar o resultado da entrevista concedida pelo então gerente executivo da jurisdição de Porto Velho e os questionários fornecidos à subchefia do setor de fiscalização do IBAMA, também, em Porto Velho, além da chefia do Escritório Regional de Guajará-Mirim e da Diretoria de Controle e Fiscalização da Gerência Executiva de Ji-Paraná, percebe-se que os aspectos que constituem os elementos positivos da instituição são projetos já implantados e outros em fase de implantação nas respectivas Gerências. Alguns exemplos estão relacionados à admissão de servidores com especialização de modo a suprir parte da carência do quadro de pessoal, principalmente na área de fiscalização; ao sistema de informatização em todos os setores da organização, cujos trabalhos se baseiam no Projeto de Reorganização Institucional desenvolvido pelos servidores do IBAMA com o suporte de consultores da Fundação Getúlio Vargas para a nova estrutura organizacional. Por outro lado, alguns elementos considerados crítico da reforma e que tendem a comprometer o bom desempenho institucional podem ser vistos quando se analisa a cultura organizacional relacionada à importância individual no contexto de sinergia coletiva, a partir de um enfoque ético e profissional. Tal fato parece estar estreitamente relacionado com a política de contingenciamento dos recursos destinados ao órgão que acaba influenciando no grau de satisfação e de desempenho do ambiente de trabalho. Nesse sentido, é importante salientar que a política de contingenciamento adotada pelo Governo Federal no início da década de 2000 com vistas ao controle público, atingiu de maneira drástica o IBAMA. Tal medida levou a um rápido processo de desestruturação do órgão federal de meio ambiente que passou a sofrer constantemente com os cortes orçamentários, comprometendo, sobremaneira, o desempenho do órgão no alcance de suas funções institucionais. Com isso, verifica-se que a satisfação dos funcionários do IBAMA caminha no sentido inverso da trajetória dada pelo Governo Federal com base na política de controle dos gastos públicos. No fim desse processo, o que resta é, sem dúvida, o comprometimento da eficiência, da eficácia e da efetividade de suas ações. Analisando um elo da estrutura organizacional do IBAMA verifica-se que o reflexo de tal política é sensivelmente refletido na capacidade de fiscalização “na ponta”, isto é, onde se materializa o crime ambiental. Nesse caso, a falta de pessoal qualificado, a carência de equipamentos básicos e de verba para as atividades de campo tem limitado a capacidade da instituição de desenvolver um trabalho minimamente adequado. Assim, sem uma decisão política em prol da recuperação do órgão e, conseqüentemente, da sua capacidade de manter uma presença efetiva na fronteira, não há como dar ao órgão ambiental a tão esperada agilidade no cumprimento de suas atribuições, enfraquecendo o que se estabelece na Missão e Visão da instituição. Atualmente o órgão batalha contra o elevado nível de desmatamento na Amazônia Legal, que são alarmantes. No caso de Rondônia, segundo o Gerente Executivo do IBAMA em Porto Velho, a causa da devastação desenfreada é o modelo de desenvolvimento errado e a falta de uma política florestal para o Estado. No entanto, a grande barreira para ações eficazes contra o desmatamento tem sido exatamente a fragilidade das instituições responsáveis pelo ordenamento da fronteira, vítimas de mais de dez anos de políticas de contenção de gastos pelo Governo Federal, a exemplo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Assim, serão necessários investimentos maciços e de longo prazo em pessoal, equipamentos e verba para atividades de campo a fim de garantir uma presença efetiva do governo nas frentes pioneiras de expansão. Sem o fortalecimento dessas instituições, não há possibilidade de ordenar a expansão da fronteira e reduzir o desmatamento. 4. Desmatamento no Estado de Rondônia O Gráfico 1 mostra a área desmatada em hectares no Estado de Rondônia no período de 1978 a 2004. Com base nele, verifica-se que o total de área desmatada em Rondônia chega a aproximadamente 7, 05 milhões de hectares. 8000000,00 7048218,17 7000000,00 5512948,00 6000000,00 5000000,00 4000000,00 3000000,00 3000000,00 2000000,00 1000000,00 420000,00 0,00 1 1978 2 1988 3 1998 4 2004 Gráfico 1: Área desmatada em hectares no Estado de Rondônia: 1978 – 2004. Fonte: SEDAM5 Pode-se observar pelo Gráfico 2 que a percentagem de desmatamento em relação ao tamanho do Estado de Rondônia que em 1978 representava aproximadamente 1,8%, em 2004 já atinge, aproximadamente, 30% do território rondoniense. 5 Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia. A área do Estado considerada foi de 23.851.280,00 ha. O ano de 2001 foi fruto da estimativa com base na média entre 1993 e1995. Para o ano de 2002 o valor do desmatamento encontrado foi decorrente da mensuração de base cartográfica contínua na escala de 1:1000.000 através do convênio do MMA/Gov. RO. Para o ano de 2003 e 2004 foram utilizadas as mesmas escalas com base nos dados do Gov. RO /SEDAM/NUSERC. Tais dados encontramse disponíveis pelo sítio www.seplan.ro.gov.br, acessado em abril de 2006. 30 30 23,11 25 20 12,58 15 10 5 1,76 0 1 Gráfico 2: 1978 1988 2 1998 3 2004 4 Percentagem de desmatamento do Estado de Rondônia: 1978 – 2004. Fonte: SEDAM 373842,96 400000 350000 300000 234545 250000 180000 165660 200000 150000 100000 50000 0 1 1978 Gráfico 3: 2 1988 3 1998 4 2004 Incremento, em hectares, de área desmatada no Estado de Rondônia: 1978 – 2004. Fonte: SEDAM Pelo Gráfico 3, verifica-se que o maior incremento de área desmatada, em hectares, no Estado de Rondônia ocorreu no período correspondente aos anos da década de 2000, o que representou um incremento de aproximadamente 374 mil hectares. O segundo período de maior expressividade foi observado no início do processo de colonização do Estado que registrou, em 1978, um incremento de aproximadamente 235 mil hectares desmatados. 5. Considerações Finais O desenvolvimento deste trabalho permitiu algumas conclusões consideradas pertinentes para a compreensão do processo de mudança da estrutura organizacional do IBAMA em Agência Executiva no Estado de Rondônia. O primeiro deles refere-se exatamente ao índice de desmatamento. Verificou-se com este estudo que de 1995, início da Reforma do Aparelho do Estado, até o ano de 2001, a quantidade de áreas que foram incrementadas para as estatísticas de desmatamento no Estado praticamente acompanharam uma tendência de queda, com exceção do ano de 20006. De 2002 a 2004, verificaram os maiores incrementos de áreas desmatadas, onde houve registros de 344,8 ha para 2002, 381,1 ha para 2003 e 373,8 ha para 2004. Analisando tais dados dentro do enfoque da política de contingenciamento da máquina pública visando à redução dos gastos públicos, verifica-se que esta política pode e muito ter contribuído para a tendência de crescimento das taxas de incremento do desmatamento em Rondônia, o que a princípio significou uma considerável desestruturação do órgão ambiental Federal e, com isso, o comprometimento dos indicadores de eficiência, eficácia e efetividade desejada pela Reforma Gerencial. O segundo aspecto que merece ser destacado está relacionado à cultura burocrática. A inflexibilidade burocrática faz com que as pessoas se acomodem a um determinado padrão de ação que, sendo alterado, provoca insegurança. A mudança passa a ser vista como ameaça e, nesse ponto, é comum o surgimento de movimentos corporativos com a finalidade de se manter o status quo institucional. Sobre esse aspecto ficou evidente na pesquisa que é desejo de algumas lideranças do órgão o retorno da antiga estrutura organizacional centrada na concepção de superintendências estaduais pelo fato da estrutura atual de gerências executivas ser considerada responsável pelo fracionamento da tomada de decisão. O terceiro e último aspecto diz respeito à necessidade de reestruturação do órgão ambiental através de investimentos maciços e de longo prazo em pessoal e equipamentos para que as atividades de campo possam, enfim, garantir uma presença efetiva do governo nas frentes pioneiras de expansão. Sem o fortalecimento institucional, não há possibilidade de ordenar a expansão da fronteira e reduzir o desmatamento. Ademais, a administração tem que criar mecanismos para mudar a cultura burocrática que, no caso específico desse trabalho, é um dos grandes empecilhos à eficiência, à eficácia e à efetividade institucional. No entanto, é necessário não só apoiar as atividades fins de fiscalização como também de criar mecanismos de orientação que possam servir de estímulos para a mudança de cultura por parte dos produtores rurais, a exemplo do fortalecimento do setor de educação ambiental. 6 De acordo com os dados utilizados pela pesquisa verificou-se que em 1995 o incremento de área desmatada em Rondônia registrava 445,9 ha, em 1996 o valor incrementado foi de 276,2 ha, 197,9 ha em 1997, 165,7 ha em 1998, 92,01 ha em 1999, 235,6 ha em 2000 e 107,9 ha em 2001. 6. Referências Bibliográficas ARRUDA, A.L.B. Adoção do modelo gerencial de gestão no âmbito da educação municipal e desafios a construção de uma sociedade multicultural. V Colóquio Internacional Paulo Freire – Recife, 19 a 22 de setembro, 2005. BRASIL. Presidência da República. Câmara da Reforma do Estado. Ministério da Administração e Reforma do Estado. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília: MARE, 1995. BRASIL. IBAMA. MMA. 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