10 de novembro Nossa presença no cosmos TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS 2009 Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites. 10 de novembro Nossa presença no cosmos TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS 2009 © 2009 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Revisão: Reinaldo de Lima Reis e Margaret de Palermo Silva Diagramação: Fernando Brandão Capa e Projeto Gráfico: Edson Fogaça Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, 10 de novembro: nossa presença no cosmos; trabalhos e desenhos premiados 2009. – Brasília: UNESCO, 2009. 254 p. BR/2009/PI/H/11 1. Astronomia 2. Cosmos 3. Educação Secundária 4. Ensino de Ciências 5. Ciência e Sociedade 6. Desenvolvimento Sustentável 7. Ciência e Desenvolvimento 8. Promoção da paz 9. Brasil. SUMÁRIO Agradecimentos...............................................................................................................7 Apresentação..................................................................................................................11 Abstract............................................................................................................................13 CATEGORIA DESENHO............................................................................................15 1º Lugar: Gildasio Souza Santos (autor) e Solon Almeida Barretto (professor-orientador).............................................17 2º Lugar: Valéria Souza Porto (autora)........................................................................18 3º Lugar: Rogério Henrique da Silva (autor) e Maria Aparecida de Souza Barbosa (professora-orientadora)......................19 Menção Honrosa Claudino Donizete Diniz Claudio (autor) e Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)..................................................20 Jéssica Cabrera Reis (autora) e Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)...................................21 João Júnior Dias Araujo (autor) e Fábio Aparecido de Sousa (professor-orientador)....................................................22 Juliana Oliveira Magalhães (autora).......................................................................23 Thaís de Melo Benedito (autora) e Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)..................................................24 Valéria da Silva (autora) e Glauco Rodrigo Ribeiro Trepador (professor-orientador)......................................25 Victor Henrique da Silva Menezes (autor) e Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)...................................26 CATEGORIA TRABALHO ESCRITO.......................................................................27 1º Lugar: Um conto do cosmos Daniel Rocha Ruiz (autor) e Sandra Maria Rudella Tonidandel (professora-orientadora)............................................29 2º Lugar: Uma viagem sobre a cauda de um cometa Marcos Felipe Pinheiro (autor) e Márcia Regina Cazonato Lozano (professora-orientadora).............................................49 3º Lugar: Astronomia: origem e importância para a humanidade Diego Teruo Mendes de Souza (autor) e Valério José Amaro (professor-orientador)........................................................................63 Menção Honrosa Os desbravadores do universo Ana Lucia Farias das Neves (autora) e Luis Alberto Pinheiro da Silva (professor-orientador).............................................97 De Stonehenge a Spitzer: a evolução das observações astronômicas Edson Luis Kuzma (autor) e Elenita Chuproski Scharlau (professora-orientadora)............................................119 As descobertas astronômicas e sua importância para a humanidade Ingrid Beatriz Barbosa (autora) e Mariza Christina de Morais Campos (professora-orientadora).............................145 Astronomia e bioastronomia na síntese poética Jackeline Santos Alves (autora) e Geysa Grazielli Freire de Oliveira (professora-orientadora)..................................159 A Astronomia em nossa vida Karina Rodrigues dos Santos (autora) e Daniela Resende de Faria (professora-orientadora)................................................187 As crônicas do cosmos Victor Henrique da Silva Menezes (autor) e Sandra Regina Constantino (professora-orientadora)............................................207 O homem e a astronomia: uma história de conquistas Vinícius Ramos da Silva (autor) e Elaine Soares Chicarelli de Andrade (professora-orientadora).............................231 AGRADECIMENTOS A UNESCO agradece o envolvimento e o empenho das instituições participantes e coorganizadoras do Concurso de Trabalhos Escritos e Desenhos e do evento em comemoração ao Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento (10 de novembro). São elas: • Academia Brasileira de Ciências (ABC) • Agência Espacial Brasileira (AEB) • Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI) • British Council • Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal • Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de C,T&I (CONSECTI) • Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) • Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF) • Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) • Instituto Sangari • Instituto Transposição do Conhecimento para o Desenvolvimento Regional (InTC) • Interlegis • Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional • Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) • Ministério da Educação (MEC) • Ministério da Saúde (MS) • Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) • Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) • Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF) • Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) • Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) • União Europea • Universidade de Brasília (UnB) A UNESCO agradece, ainda, às duas comissões de especialistas que avaliaram os trabalhos apresentados para as categorias de trabalho escrito e desenho. Os membros das comissões estão listados a seguir. Comissão de Avaliação dos Trabalhos Escritos Airton Lugarinho Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) Aline Santos de Marco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Ana Cristina Requeijo Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) Ary Mergulhão Filho Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Carlos Henrique Tomé Senado Federal Eleni Roberta da Silva Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Helenice Oliveira Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) Ivone Peixoto G. Oliveira Ministério da Saúde José Leonardo Ferreira Agência Espacial Brasileira (AEB) e Universidade de Brasília (UnB) Josué de Lima Rodrigues Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF) Lilian Barboza de Sena Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) Margaret de Palermo Silva Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Maria Elisabete Ferreira Instituto Transposição do Conhecimento para o Desenvolvimento Regional (InTC) Michele Knop Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Osório Coelho Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Paulo Roberto Socha Primo Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF) Rafaela Marques Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Comissão de Avaliação dos Desenhos Adriana Anunciatto Depieri Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Airton Lugarinho Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) Aline Santos de Marco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Ana Cristina Requeijo Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) Ary Mergulhão Filho Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Carlos Henrique Tomé Senado Federal Consuelo B. de Deus Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF) Delano Moody Simões Instituto Sangari Eleni Roberta da Silva Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Heluiza dos S. B. Bragança Agência Espacial Brasileira (AEB) – Programa AEB Escola Leonardo N. Afonso Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Michele Knop Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Muryel F. Santana Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI) Orestes Lôbo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) Paulo Roberto Socha Primo Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF) Rafaela Marques Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Ramón Martins Sodoma da Fonseca Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Tatiana Vieira Terra Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste Concurso. APRESENTAÇÃO As pessoas têm sua forma de viver bastante alterada no decorrer de sua vida. As práticas, usos e costumes sofrem mudanças constantes devido às novas condições da vida em sociedade e à disponibilização de tecnologias que influenciam diretamente na vida de cada cidadão. Essas mudanças devem ser acompanhadas de extensa reflexão sobre o papel da ciência e da tecnologia na vida da população, principalmente no que tange a sua aplicação ética. Nesse contexto, as Nações Unidas estabeleceram o dia 10 de novembro como o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento com o objetivo de promover a reflexão de todos os componentes da sociedade sobre o papel do desenvolvimento científico e tecnológico para a melhoria da vida da população. É necessário que as pessoas tenham condições de debater e escolher o tipo de desenvolvimento que melhor promoverá o estilo de vida que a sociedade deseja ter. Esse debate é promovido no Brasil em várias esferas. A intenção é criar espaços para que governo e sociedade civil, em geral, possam expor ideias e definir quais rumos tomar em relação ao desenvolvimento científico e tecnológico, sua aplicação ética e em relação à construção de um modelo socialmente inclusivo. Para que isso seja possível, é importante que a sociedade tenha condições de preparar cidadãos capazes de participar das discussões relativas aos temas propostos de forma a influenciar nas decisões tomadas pela sociedade sobre o seu destino. Essa preparação deve acontecer na formação da criança e do jovem de forma a despertar habilidades, como capacidade de observação, registro, análise, proposição de ações e avaliação. Como consequência disso, o jovem deve ser estimulado a participar do mundo em que vive como agente ativo, atuante como construtor de princípios e parâmetros para essa sociedade em frequente mutação. 11 Assim, dentro do espírito proposto para o Dia Mundial da Ciência, a UNESCO e seus parceiros promovem um concurso de trabalhos escritos e desenhos. O tema é sempre sobre a atualidade para estimular os jovens a se expressarem e participarem desse debate. Em 2009, considerando o Ano Internacional da Astronomia e os 40 anos da chegada do homem à lua, o tema fixado foi Nossa Presença no Cosmos. Estão compreendidos no tema de 2009, astronomia e bioastronomia: ciências voltadas ao estudo dos corpos celestes e ao estudo da vida fora da Terra; o homem e o espaço – de Galileu aos dias atuais: quatro séculos desde as primeiras observações telescópicas do céu feitas por Galileu Galilei; o papel da astronomia na cultura e na sociedade atuais e primitivas: como a astronomia tem influenciado a humanidade através dos tempos, incluindo suas implicações na arquitetura, na agricultura e em representações culturais em que a astronomia exerce papel fundamental; e ciência e tecnologia espaciais para a melhoria de vida da sociedade: a importância da ciência e da tecnologia espaciais adaptadas para o nosso uso e contribuindo para o desenvolvimento, incluindo a identificação e o aproveitamento de fontes energéticas sustentáveis. Neste livro, encontraremos os dez melhores trabalhos escritos e os dez melhores desenhos apresentados, mostrando a dedicação e o grau de discernimento de seus autores sobre o tema proposto. São jovens mostrando a sua vontade de participação em nossa sociedade. Vincent Defourny Representante da UNESCO no Brasil 12 ABSTRACT UNESCO Brasilia Office Natural Sciences Sector launched on 14 April 2009 an “Essay and Drawing Contest for Students” to celebrate the United Nations “World Science Day for Peace and Development” on 10 November. Secondary School students from all over Brazil were asked to write essays, oriented by teachers, and draw pictures on the theme “Our presence in the cosmos”. This book contains the best ten pictures, as well as the best ten essays. The Contest award ceremony was held on 10 November 2009 in Brasilia. The Contest and the activities of the “World Science Day for Peace and Development” were promoted by UNESCO in partnership with the: Brazilian Sciences Academy (ABC); Brazilian Space Agency (AEB); Brazilian Association of Technological Research Institutes (ABIPTI); British Council; Permanent Commission of Science, Technology, Innovation, Communication and Information Technology (CCT) of the Federal Senate; National Council of State Secretaries for S,T&I Issues (CONSECTI); National Council of State Secretaries of Education (Consed); Research Support Foundation of the Federal District (FAP/ DF); Brazilian Institute of Information on Science and Technology (IBICT); Sangari Institute; Interlegis; Knowledge Transfer Institute for Regional Development (InTC); Itaipu Binacional; Ministries of Science and Technology (MCT), Education (MEC) and Health (MS); Secretariat of the Interministerial Commission for Sea Resources (Secirm); Science and Technology Secretariat of the Federal District (SECT/GDF); Education Secretariat of the Federal District (SE/GDF); Commercial Learning National Service (Senac); Brazilian Society for Progress in Science (SBPC); European Union and University of Brasilia (UnB). 13 Categoria DESENHO 15 1º Lugar Gildasio Souza Santos, 17 anos 2º ano do ensino médio Solon Almeida Barretto (professor-orientador) Escola de Educação Básica e Profissional Desembargador Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt Irecê, BA 17 2º Lugar Valéria Souza Porto, 19 anos 3º ano do ensino médio Escola Estadual Major Otávio Pitaluga Rondonópolis, MT 18 3º Lugar Rogério Henrique da Silva, 17 anos 2º ano do ensino médio Maria Aparecida de Souza Barbosa (professora-orientadora) Centro Educacional 02 de Taguatinga Taguatinga, DF 19 Menção Honrosa Claudino Donizete Diniz Claudio, 19 anos 3º ano do ensino médio Roberto Fortunato Donato (professor-orientador) Escola Externato Santa Terezinha Araraquara, SP 20 Menção Honrosa Jéssica Cabrera Reis, 15 anos 1º ano do ensino médio Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora) Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça Dracena, SP 21 Menção Honrosa João Júnior Dias Araujo, 18 anos 2º ano do ensino médio Fábio Aparecido de Sousa (professor-orientador) Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco Marília, SP 22 Menção Honrosa Juliana Oliveira Magalhães, 18 anos 3º ano do ensino médio Colégio Estadual Almirante Tamandaré Japeri, RJ 23 Menção Honrosa Thaís de Melo Benedito, 18 anos 3º ano do ensino médio Roberto Fortunato Donato (professor-orientador) Escola Externato Santa Terezinha Araraquara, SP 24 Menção Honrosa Valéria da Silva, 17 anos 3º ano do ensino médio Glauco Rodrigo Ribeiro Trepador (professor-orientador) Escola Estadual Dr. Guimarães Júnior Ribeirão Preto, SP 25 Menção Honrosa Victor Henrique da Silva Menezes, 17 anos 3º ano do ensino médio Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora) Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça Dracena, SP 26 Categoria TRABALHO ESCRITO 27 1º Lugar Um conto do cosmos Estudante: Daniel Rocha Ruiz, 15 anos, 1º ano do Ensino Médio Professora-orientadora: Sandra Maria Rudella Tonidandel Colégio Dante Alighieri – São Paulo, SP Resumo O texto a seguir discute, de forma leve e lúdica, a relação entre o homem e o espaço. Ele posiciona um jovem chamado Davi em uma sala de aula, criando um contexto em que o adolescente pode facilmente se identificar. Enquanto o personagem principal assiste a uma aula, ele reflete sobre questões de grande importância, tanto de caráter ambiental quanto antropológico, à sua própria maneira. A importância da figura do professor é reafirmada nesta estória, na qual ele atua como principal indutor e fomentador do pensamento do jovem. Afinal, ele é um trabalhador cujo valor continua não sendo respeitado, quando seu papel deveria adquirir cada vez mais valor nesse mundo novo que valoriza cada vez mais a informação e o conhecimento. A própria locação em que os eventos ocorrem constrói uma metáfora, ao usar o espaço sideral e a Terra para representar a imaginação e a razão, respectivamente. A máxima do texto é propor a interação saudável entre ambos, e como isso pode favorecer a humanidade. A narrativa é ao mesmo tempo uma homenagem e um apelo em favor do céu, que é verdadeiramente uma maravilha. Infelizmente, o mundo passa a ignorá-lo e lentamente a destruí-lo. O grande objetivo deste texto é conscientizar o jovem do que está acontecendo, e que ele tem um papel para preservá-lo, para que ele e as gerações futuras também possam sonhar com ele, como fizeram tantas gerações anteriores. 29 Introdução Atualmente, são poucos aqueles que dão ao céu e ao espaço seu verdadeiro valor. Já dizia Ralph Waldo Emerson (1803-1882), reconhecido filósofo e poeta americano: “se as estrelas do céu só aparecessem uma noite a cada mil anos, todos os homens iriam parar para admirá-las”. O contexto em que Emerson escreve continua até hoje, o que é uma pena. É necessário conscientizar as pessoas dessa situação, a começar pelos jovens. O espaço tem seu valor para a humanidade igual a sua imensidão: infinito, incalculável. Os primeiros filósofos baseavam suas teorias em cima de suas observações, as primeiras religiões se baseavam em seus astros, os primeiros navegantes além-mares se orientavam por suas estrelas, os primeiros homens tinham apenas ele para iluminar a noite. A sua compreensão determina o modo de pensar da humanidade ao longo dos vários períodos que permaneceu sobre ele. Exemplificando, quando o heliocentrismo copernicano, defendido por Galileu e Kepler, substituiu o geocentrismo que ilustrava o pensamento medieval, a raça humana entrou na era de avanços científicos que perdura e cresce exponencialmente até hoje. Infelizmente, apenas alguns reconhecem seu valor. Mas desses que reconhecem, grande parte acaba dedicando a vida a sua compreensão. Nas cidades grandes já é quase impossível enxergar as estrelas no céu, uma vez que as pessoas não diminuem seu ritmo implacável de poluição. Elas pararam de olhar. Quem dera a frase de Emerson se tornasse realidade, então toda a raça humana, independentemente da cultura, raça, ou credo, pararia em admiração à mesma causa: o brilho das estrelas! A primeira maravilha além-mundo é o inteiriço espaço. O mais profundo negrume, os mais reluzentes brilhos, os mais coloridos corpos. Como pode o homem, o ser mais racional, segundo ele próprio, denegrir a mais suntuosa das obras? Quantos foram os poetas e filósofos que sob ele escreveram suas Opus Magnun? Quantos foram aqueles que usaram de sua grandeza para expressar o que sentiam? O céu é tão divino quanto os deuses que já foram ditos nele viver. É necessário preservá-lo para sempre. Este que é o maior fomentador de sonhos, só pode ser salvo por aquele que ousa deliberadamente sonhar: o jovem. A imaginação não pode ser morta pela maior consequência da tecnologia: a poluição. O jovem é quem melhor entende a importância do 30 céu, e ele será o novo adulto. É importante que ele tome consciência do seu papel nesta batalha contra a ignorância que permeia o aquecimento global. O céu não recebe seu justo valor. Poucos são aqueles que lhe dão a devida importância. O céu é magnífico como nenhuma outra obra. O jovem é aquele que pode salvá-lo, uma vez que é o único que pode se identificar com ele, e que esse mesmo jovem um dia será o próximo adulto. É preciso relembrar o valor da imaginação nessa era de ciência. O conto Sob o sol da alvorada que mal tinha-se anunciado, alguns jovens há muito tempo já estavam acordados. Na cálida manhã de sábado não havia nenhuma condição irreparável para que eles estivessem na escola. Não haveria uma prova substitutiva, não haveria aulas de reforço ou tampouco um evento que fosse divertido tal qual uma competição ou uma festa. Naquele dia haveria apenas uma palestra, nada mais. Seu tema era vago: “A presença do indivíduo no cosmos”. Por essa razão, não foram muitos os que atenderam ao convite. Mesmo assim, a sala escolhida para sediar o evento era tão pequena que se fazia aconchegante para aqueles que a lotavam. Os cerca de 20 jovens se sentaram da forma que melhor lhes servia. Alguns se sentavam junto aos amigos para poder dividir opiniões; outros se sentavam na primeira fila prontos para poder melhor ouvir o professor, fazer anotações e elaborar perguntas; alguns se sentavam próximos à porta, já que sabiam que iriam receber uma ligação importante, daí seria necessário sair rapidamente para não atrapalhar a apresentação; e havia aqueles que simplesmente ocupavam os primeiros lugares vazios que encontravam em seu caminho. Contudo um deles não se encaixava em nenhuma dessas categorias. Seu nome era Davi e ele quis se sentar ao lado da janela. Era mais um na multidão, e como tal tinha muitas histórias interessantes, mas todas desconhecidas. Ele estava lá não porque não tivesse nada melhor para fazer, mas porque o espaço sideral o intrigava. Nunca se imaginou sendo astrônomo, já que via o céu como algo que não devesse ser comercializado, via-o como um fascínio, uma maravilha. Por isso não se incomodava em sonhar em ser advogado. Quanto a isso, sabia o que queria para sua vida. 31 Porém essa certeza era constantemente desafiada pelos que o cercavam, afinal ele ainda era muito jovem para tanta decisão. Desafio este similar a sentir os primeiros raios de sol. Os olhos tinham de permanecer semicerrados, mas a leve sensação de calor por todo o corpo fazia valer a pena. E na ausência de algo mais benéfico para se fazer, esperava nestas condições. Então, enquanto se deliciava com este simples prazer que a natureza lhe oferecia, subitamente o professor responsável pela palestra entrou na sala. Era um homem maduro, que parecia ser bem humorado. Ao olhar para ele tinha-se a sensação de que ele era um homem erudito, que era formado em várias faculdades, que já tinha lido toda uma biblioteca e que já tinha visitado muitos lugares. Sensação esta que estava corretíssima. Logo ele se anunciou: – Meu nome é Sérgio, hoje serei seu suserano, que sem receio suscitará a sofrida sabedoria sobre seus sentidos sóbrios, sobre suas solidões; sob o solene e suntuoso céu que se anuncia, vos farei soltar suspiros de felicitação. Falava bonito o homem cuja beleza há muito o havia abandonado. Para quem há décadas não é mais o que já foi, não lhe parecia que o passar dos anos tinha-o envelhecido por dentro, de forma qualquer que fosse. Todavia sua voz soava com a estridência de uma navalha e firme como um monumento. Sua objetividade estava implícita nos detalhes capciosos que tinha de mencionar para que fosse possível entender o todo de forma plena, absoluta. – O tema dado para a palestra foi vago. Eu sei disso porque foi intencional. Tenho um ponto de partida, mas não um de chegada. Isso porque eu não sei em que ponto vou terminar, só que tenho apenas algumas horas para chegar lá. Sobre o céu trataremos e dos pontos que ele tangencia. Não sabendo por onde começar, iniciarei por um ponto que é imprescindível tratar: a relação entre o homem e o espaço. O breve discurso foi o bastante para despertar Davi e fazê-lo prestar atenção. Esse professor o agradou, parecia-lhe interessante. Quem sabe poderia retirar algo de proveitoso daquela experiência? O homem continuou a falar: 32 – Existem muitas maneiras de tratar esse pequeno tópico. Pretendo tratar não de todas, já que isso não seria possível nem com uma vida inteira dedicada a isso mas sim das mais importantes. Vou começar pela mais fácil, a que a interpretação se restringe à de gráficos e tabelas, cuja linearidade é bem mais definida se comparada com as outras. Ele apontou para Davi e pediu que fechasse as cortinas azul-escuras da única janela da sala, aquela pela qual os raios incidiam. Também pediu que as luzes fossem apagadas e a porta fechada. Nesse meio tempo ligou seu computador ao projetor de imagens, para que todos pudessem ver nitidamente os arquivos que queria mostrar. – Tudo tem um objetivo, o meu, com essa tecnologia – referindo-se ao notebook e ao projetor –, é permitir que vocês visualizem o que eu falo. Embora pareça uma tentativa de homicídio a imaginação, ela aproxima vocês da realidade. Deem uma boa olhada nesta imagem. Pontos gerados por computador representam cerca de 13 mil objetos feitos pelo homem (com 5 cm ou mais) na órbita da Terra. – O céu se tornou uma das várias áreas habitadas pelo bicho homem, e isso é um fato incontestável. Uma consequência direta dessa ocupação é a globalização. No espaço estão os satélites responsáveis pelas mais diversas banalidades em nossa vida cotidiana: GPS, telefone, TV, internet etc. Apesar das diferentes finalidades, todos trabalham basicamente da 33 mesma maneira: eles captam e transmitem dados. Mas o que eles fazem não é importante para mim nesse exato momento. O importante agora é o que esta imagem representa. Ela é uma prova da presença da agressão despreocupada do homem nesse habitat. Calcula-se que existem mais de 300 milhões de objetos maiores que 1 milímetro na órbita terrestre. Eles variam de satélites artificiais que ficaram obsoletos e foram simplesmente abandonados à deriva no espaço, a lascas de pintura de espaçonaves e peças que foram descartadas nos procedimentos de decolagem. Todas elas podem causar danos estruturais nos veículos que desbravam o céu, mas afora isso elas conspurcam nossa vista desta magnífica maravilha natural. A difícil observação das estrelas, já prejudicada pela grande quantidade de luzes artificiais na Terra, torna-se menos nítida por causa desse lixo. Vale a pena mencionar: o nome adequado para esses fragmentos é detrito espacial. Naquele escuro Davi se deixou flutuar nas palavras que até então foram entoadas. Para o estudante atual, já era mecânico dizer que o homem era um predador. Isso fundamentava inúmeras teses, que variavam desde o aquecimento global até as razões filosóficas da violência. Mas eram impressionantes os dados que ele dava, ele podia exemplificar o que dizia sem a necessidade de grandes e densas dissertações, parecidas com as que ele constantemente tinha que ler. De súbito lhe ocorreu um raciocínio: a imaginação, como disse o professor, não morria, pois os alunos poderiam imaginar como isso se encaixava com o que sabiam. E se eles, por exemplo, imaginassem um gráfico que mostrasse a quantidade de detrito espacial no começo da década de 1950 até os dias atuais, e um gráfico com o aumento da concentração de gasesestufa na atmosfera, no mesmo período. A ciência precisa de mecanismos para avançar. O pensar, o comparar e o imaginar fazer são clichês para a tarefa, mesmo assim continuam insubstituíveis, apesar de ser impossível saber se você está no caminho certo até atingir o produto final. Então, no escuro da sala Davi decidiu imaginar. Imaginou um astronauta flutuando alheio na noite do espaço, desolado de qualquer ser humano, nos destroços de sua bela nave, que tinha acabado de se espatifar contra um detrito espacial, no caminho para a Lua. Fora atingido por um fragmento de satélite desativado. O astronauta então pegou seu computador portátil e esboçou o gráfico que Davi tinha criado. Fez uma cara de desgosto. 34 Uma aventura estava prestes a ser criada para o desbravador quando do silêncio surgiu uma palavra e lhe rompeu o pensamento: – Perguntas? Se não houver, eu vou continuar – o professor disse, e mal terminou a frase, os alunos da primeira fileira levantaram as mãos. Ele apontou para um e fez sinal para que fosse o primeiro a perguntar. – Comercialmente o espaço é importante? – Não só comercialmente, mas em todos os aspectos da economia. Pense que os governos usam satélites como ferramenta de mapeamento de terrenos para fins tanto pacíficos, como agricultura e pecuária, quanto para fins militares, como escolha de locais para batalha. Além disso, lembrese que a globalização em si é a ocupação do espaço. Uma definição para globalização é o aumento da eficiência e da acessibilidade aos meios de comunicação de forma que duas pessoas, estejam elas em qualquer parte do mundo, possam interagir em tempo real. E como isso ocorre? Por meio de satélites que estão no espaço: celular, internet, basicamente qualquer coisa atual. Vamos supor que um fenômeno espacial desconhecido pelo homem destrua tudo que está acima das nuvens permanentemente. A economia volta para a anterior à da Segunda Guerra, tem-se uma crise financeira 35 incalculável, e sem qualquer precedente histórico, e o pânico e medo cresceriam rapidamente entre as pessoas, já que elas não conseguiriam falar umas com as outras para perguntar se estão bem. Sem falar na grande crise de fome, já que não seria possível o comércio internacional. E por aí vai, eu só citei alguns dos exemplos principais... Mas de uma forma sintética: sim, é muito importante para a economia. – Você disse que tudo tem um objetivo, qual foi o seu ao mostrar aquela imagem de “lixo voador” e dizer que queria falar de economia? – outra aluna emendou a pergunta dela. – Boa pergunta e boa sincronia, já que veio no momento certo, logo depois da pergunta da sua amiga. Junte a importância do espaço na vida do homem com a maneira como ele o trata e me faça uma constatação. – O homem apesar de dominar a ciência age irracionalmente e por causa disso ele se encaminha à própria destruição, está enfiando a faca no próprio peito – falou séria, mas com pouca confiança em suas palavras. – Para fins didáticos essa resposta está corretíssima, só com um detalhe: a ciência é infinita, ilimitada, eterna. O homem nunca chegará perto de dominá-la. É pura matemática teórica. Imagine as coisas que se tem para descobrir como um infinito de livros. Mesmo que você passe toda sua vida, e que viva 200 anos, lendo dez livros por dia, e que depois de você seus filhos e netos a substituam do ponto em que parou, e assim sucessivamente até o fim dos tempos, o último livro jamais será lido. Isso porque sempre é possível saber mais, sempre é possível dividir uma partícula em partes menores, sempre é possível ir além no Universo, sempre é possível fazer mais uma análise, mais uma comparação, mais uma constatação! Nos primeiros anos do século passado, um físico importantíssimo chamado Lorde Kelvin disse: “Não há nada de novo a ser descoberto na física agora. Tudo o que resta são medidas mais e mais precisas”. Depois disso o átomo foi dividido em próton, nêutron e elétron, foi elaborada a teoria da relatividade de Einstein, dentre outros cientistas. Mas a sua observação foi muito boa. Isso tudo não era difícil, nenhum daqueles que escutavam com atenção sentia dificuldade. Talvez a matéria fosse interessante, ou o professor que fizesse tudo parecer fácil. Davi aceitava as duas opções. E à sua própria maneira, ia digerindo a informação que lhe era dada, e assim continuou a contextualizar a sua história. 36 Se ele próprio fosse a personagem, estaria limitado pelo pouco que cada pessoa sabe de si própria. Já havia estudado alguns clássicos de pensadores atuais, dentre eles um de seus favoritos era o português José Saramago. E nele, sua predileção recai sobre o clássico O conto da ilha desconhecida. O livro, quando abordado pelo sentido literal, denotativo, é uma singela narrativa de amor; quando interpretado, isto é, abordado pelo sentido conotativo, passa um complexo conceito da vida. É impossível saber quem realmente somos, qual é a dimensão e o efeito dos nossos atos tendo apenas o próprio ponto de vista como referência. Por essa razão, se fosse a personagem e criasse uma situação em que dissesse que ele faria algo e na vida real fosse fazer algo diferente, estaria criando uma mentira, mesmo que inconscientemente. Mas se a personagem tivesse outro nome, além de estar livre de limitações como o medo e a covardia, poderia fazer o que quisesse sem que fosse uma mentira. Teria a liberdade da inovação. Então por que não o fazer? Se não achava resposta, então só lhe restava escolher o nome. Teria de ser um desbravador, alguém de coragem, então precisaria de um nome firme, de significado. Um lhe veio à cabeça: chamálo-ia de Vespúcio, em homenagem a Américo. E Vespúcio seria o quê? Precisava de um sobrenome de peso, intrépido e determinado, que o fizesse fiel ao que queria, mesmo se não tivesse certeza do que seria. Um interesse profundo teria ele até o fim. Ironicamente decidiu chamá-lo de Cambará, por de muitas maneiras se aproximar de Um certo Capitão Rodrigo, da imortal obra de Érico Veríssimo. E como seria o traje espacial dele? Branco, como todos os outros? Não! Absolutamente não! Ele seria diferente, especial, único! Seria azul-marinho forte, da cor das cortinas que lhe tapavam o sol. Uma proteção inabalável e constante para aquele astronauta tão só! No preto céu espacial, aquele ponto azul cintilava. Era da cor das estrelas mais quentes, daquelas cujo brilho faz o do Sol parecer inexistente! E sua nave, qual seria? Só poderia ser o veículo que transportou tantos e tantos sonhadores para fora da atmosfera! A nave que levou homens ao céu tantas e tantas vezes! Ele dirigiria um ônibus espacial! Mas, infelizmente, ele estava quebrado, já que a cobiça dos homens, na forma de detrito espacial, entrou em seu caminho. Um só fragmento o impediu de completar sua missão. Um fragmento do tamanho de uma bola de tênis, que em alta velocidade se chocou contra o tanque de combustível, e desta maneira destruiu os 37 motores por dentro e explodiu a ponte de comando. Ele, que fora enviado sozinho, agora realmente estava sozinho. Mas que destino lhe restava? Davi ainda não sabia, mas logo descobriria, pois o professor que o inspirou começou a falar: – Evidentemente, a coisa que mais se percebe no céu noturno são as estrelas. Elas, que parecem tão pequenas de longe, podem ser verdadeiras gigantes. A estrela de Alpha Scorpii é a estrela mais brilhante da Constelação de Escorpião. Ela é cerca de 700 vezes maior que o nosso Sol. Mas à noite ela se parece com um mero ponto no céu, por que isso acontece? – Ao fazer a pergunta, um garoto que estava ao lado da porta levantou a mão para responder: – Eu acredito que o motivo seja a distância até a Terra. – Você está correto. A distância entre a Terra e outras estrelas é tão grande que não é medida em quilômetros, milhas ou dias; a distância é medida em anos, anos-luz. Isso quer dizer a distância que a luz percorre em um ano inteiro. São 300 mil quilômetros por segundo, aproximadamente, vezes 60 segundos, vezes 60 minutos, vezes 24 horas, vezes 365 dias e quatro horas! Isso equivale a aproximadamente 9,46 trilhões de quilômetros. E vocês sabem quantos anos-luz separam a Terra de Antares? Se não souberem, eu digo: 600 anos-luz! São distâncias gigantescas, inconcebíveis ao ser humano, de tão grandes! Dúvidas? – É possível atingir a velocidade da luz, como se faz nos filmes? – Velocidade da luz, velocidade de dobra, velocidade burlesca, todas essas supervelocidades não podem ser atingidas, pelo menos não por nós seres humanos. A velocidade da luz no vácuo é tão estável, inalterável, que ela é a constante adotada por Albert Einstein para fazer suas equações. Mas por que motivo se pensa isso? Luz é energia pura, desprovida de massa. No espaço ela se movimenta como uma onda eletromagnética, e por não sofrer nenhum tipo de atrito – vácuo –, ela atinge essa velocidade máxima universal. É interessante a equação da massa de um corpo em movimento. Ela mostra bem como não é possível ultrapassar a velocidade da luz. Ela é assim: 38 Para que m seja massa, m0 seja a massa do corpo em repouso, v seja a velocidade do corpo, e c seja a velocidade da luz. Essa equação é complexa e vocês não devem compreender seu significado, mas vejam o denominador do segundo componente. Do ponto de vista matemático, o que vocês sabem sobre um denominador e sobre raiz quadrada? – Dois alunos do meio da classe levantaram a mão: – Por estar na parte de baixo e ser denominador pode ser qualquer coisa, menos o número 0. – Por ser uma raiz quadrada, não pode ser um número negativo. – Isso mesmo. Como vocês podem ver, se v fosse igual a c, então a fração seria igual a 1, e o denominador seria 0. Impossível. Se v fosse maior que c, então a conta resultaria em um número negativo, e como não existe raiz quadrada para um número negativo, também é impossível. Compreendem por que eu digo que não é possível atingir a velocidade da luz? Não. A menos que você seja luz. A menos que você seja luz. Essas palavras surtiram um efeito alucinógeno sobre Davi. Imaginou uma pessoa feita de luz, composta de estrelas, tão majestosa em seu brilho. A menos que você seja luz. Seu arder seria sempre uma forma de ternura, o calor de uma amiga, o fogo de uma amante! A menos que você seja luz. Mais que um ser humano pode suportar, mas que um ser humano pode sonhar! A menos que você seja luz. Só concebível na imaginação, tendo como tempero a proibição, a limitação, que deixam tudo mais saboroso! A menos que você seja luz. Então assim segue a aventura de Vespúcio. Como se salvaria o astronauta que se perdeu no espaço? Perdido talvez fosse exagero, já que ele sabia onde estava. Entre a Terra e a Lua. Com a nave despedaçada, exceto por um contêiner que se salvou, e que ele não tinha certeza do que tinha dentro. E por que não descobrir naquele exato momento? Davi decidiu que o astronauta seria aventureiro, intrépido, então ele o seria. Abriu o compartimento de carga, manualmente, no qual todo o espaço era ocupado por um contêiner. Abriu. Para sua surpresa, dentro dele havia um telescópio. Um grande telescópio, do tamanho de um carro pequeno. Com ele, seria possível enxergar qualquer ponto do Universo. Não as estrelas, que estavam tão próximas que não se fazia necessário um telescópio para enxergá-las, mas a Terra! Com um telescópio como aqueles, seria possível enxergar 39 qualquer ponto daquele planeta. Com a facilidade de quem levanta uma colher, levantou aquele mecanismo robusto. Lá onde não havia gravidade, ele era tão forte quanto um gigante. Ocorreu a Davi um raciocínio: o quão contraditório é observar a Terra do céu? A maioria das pessoas que olham para o espaço procurando algo nele, ou simplesmente admirando-o, sequer pensam que pode haver alguém lá em cima admirando quem está embaixo. Esse foi o caso. Vespúcio observava minuciosamente por seu telescópio. Não conseguia focar em nada que lhe agradasse. Viu alguns golfinhos aproveitando a noite para brincar nas águas cálidas, viu uma tempestade de areia no deserto, viu muitas luzes, de várias cidades, que lhe faziam doer os olhos, viu o topo cheio de neve de uma montanha... Então, viu uma vaca que parecia mugir, uma plantação, decidiu ele que fosse de milho, e uma menina que na verdade era mulher. Em algum lugar do mundo, de quase 7 bilhões de habitantes, ele se interessou por um, apenas. E esse um era ela. Brincando com as lentes, viu todos os detalhes de sua bela face. Viu como seus olhos se fechavam ao piscar, como respirava suavemente, como admirava as estrelas sentada naquela grande planície verde, como a brisa lhe acariava todo o corpo. Imaginou-a rindo, enquanto corria livre por aqueles campos, fazendo os cabelos tão pretos que pareciam um pedaço do espaço roubado para enfeitar um ser humano que brincava com o vento. E aqueles olhos castanhos! Lembravam-no a cor da mais pura terra, faziamno recordar de minerais, rochas... Eram da cor de um canyon. E sua pele era branca, rosada e delicada como o mais puro alabastro! Tão rara beleza faziao recordar aquele planeta, por que não chamá-la de Gaia? Sim, Vespúcio a chamaria de Gaia. Voltaria à Terra para poder dizer a ela o que sentia, como a viu observando as estrelas e se perguntou: será que ela sabe que estou aqui? Será que ao admirar e sonhar com estes corpos celestes que tanto brilham, ela sonha e pensa em mim? Quantas dúvidas o invadiam, mas lhe davam uma certeza: voltaria são àquele planeta. – E é por isso que não se pode escapar do interior de um buraco negro, compreenderam por que ele não respeita as leis da física que usamos tradicionalmente? – Falou alto para que todos respondessem. Davi tinha se deixado levar e perdeu uma explicação que poderia ter sido interessantíssima, mas valeu a pena, sim, valeu! Mas não emudeceu ante a pergunta, apesar do susto, respondeu mecanicamente junto com os outros: 40 – Sim! – Muito bem – fez uma pausa longa para recuperar o fôlego e continuou. – Essa foi a primeira parte da palestra. A segunda está relacionada a um ponto que eu acho muito mais interessante: o espaço, o homem e o sonho. Entender os seres humanos pode ser mais difícil do que parece. – Fez mais uma pausa, desta vez não tão longa. Desde antes da Antiguidade Clássica, desde antes de o ser humano ser Homo sapiens, latim para homem sábio, embora muitas vezes isso soe irônico, os nossos primeiros ancestrais já olhavam para as estrelas. O Australopithecus já devia se perguntar: o que são esses pontinhos brancos que iluminam o céu à noite? E depois o Homo erectus, o Homo habilis, e sucessivamente até o homem moderno. Sempre foi um sonho chegar ao céu. Os filósofos tentavam explicar o mundo usando o céu como alegoria. A matemática surgiu ligada ao movimento dos astros e seus estudos. Vocês sabem que por muito tempo se acreditou que o planeta e tudo nele era composto por quatro elementos: água, fogo, terra e ar? Mesmo assim, existia mais um elemento, o quinto elemento: o éter. Dele seria feito tudo além da Terra. Seria um elemento perfeito, de que seria feita toda a perfeição do espaço. O espaço sempre foi visto com um ar de inalcançável. Talvez porque o próprio paraíso estivesse no céu, sempre foi uma tentação se aproximar dele. Significaria se aproximar do próprio Deus, não importa a cultura. Na China antiga, um homem falou que conseguiria chegar ao espaço se prendessem fogos de artifício em uma cadeira, então ele subiria até o espaço. Podemos ver esse desejo na proximidade de algumas datas... – parou quando uma aluna da primeira fileira levantou a mão: – Proximidade? Você falou da Antiguidade Clássica, da China Antiga, de antes de o ser humano existir. Como você fala de proximidade? Sua pergunta refletia a dúvida de muitos, que demonstraram alívio em não ter que fazer a pergunta e correr o risco de fazer papel de bobo. – A humanidade, na minha opinião, passou muitos séculos sem grandes avanços científicos no Ocidente. Mas eu não vou entrar em detalhes. De qualquer forma, prestem atenção. Em 17 de dezembro de 1903, os irmãos Wright, dois americanos, voaram pela primeira vez com um objeto mais pesado que o ar. Ainda não era um avião, já que não decolava sozinho, precisava de uma catapulta para impulsioná-lo. Mesmo assim, eles são conhecidos na maioria dos países, erroneamente, como os pais da aviação. Em 23 de outubro de 1906, um brasileiro chamado Santos Dumont 41 apresentou uma máquina voadora mais pesada que o ar e que voava sozinha. Infelizmente, os únicos países que o reconhecem como pai da aviação, inventor do primeiro avião, são o Brasil e a França, e alguns poucos outros. – Então quem você acha que é o verdadeiro pai da aviação? – Uma aluna perguntou. – Na minha opinião, o inventor do primeiro avião é Santos Dumont, embora os irmãos Wright tenham inventado uma máquina de voar mais pesada que o ar. Mas um avião decola sozinho, e só a máquina de Dumont satisfazia esse aspecto. – Continuando, na Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914 já tinha uma esquadrilha aérea de ambos os lados. Em 1947, apenas dois anos do fim da Segunda Guerra, o homem quebrou a barreira do som. E em 1969, 22 anos depois da quebra tripulada da barreira do som, e apenas a 61 anos do primeiro voo de avião, o homem chegou à Lua. Estou falando de uma viagem de 384 mil quilômetros. A luz leva 1,28 s para percorrer essa distância. Aqui está uma foto da insígnia da Apolo 11 – e colocou uma imagem no projetor. – Percebam que a águia representa os EUA, isso ajuda a ilustrar o que acontecia no mundo naquela época. Alguém sabe qual era o contexto da viagem espacial? – Guerra Fria, e os EUA estavam perdendo. O primeiro homem a chegar ao espaço foi um russo, Yuri Gagarian – respondeu a aluna da primeira fileira. 42 – Não só isso. O primeiro ser vivo a pisar a Lua foi a cadela Laika, e o primeiro satélite a orbitar a Terra foi o Sputnik. Esse último está na sede da ONU em Nova Iorque. A corrida espacial era uma competição não entre esses dois países, mas uma verdadeira competição entre a democracia e o comunismo. Por isso esses avanços numa velocidade tão inacreditável. Sobre-humana, absurda. Sessenta anos! Imaginem uma criança que nasceu em 1900. Ela ouviu até os seis anos que era impossível voar contra o vento, e que só era possível voar com algo mais pesado que o ar. Ela viveu sua vida vendo todos os avanços da indústria e da tecnologia, e aos 70 anos viu algo inconcebível: o homem chegar à Lua. Sua história era quase fictícia, mas tinha acontecido. O céu fazia os homens superarem as barreiras do tempo, os limites. Então esses limites para sempre foram quebrados, quando Vespúcio olhou para além-Lua e viu algo inconcebível. Olhou para a Constelação de Virgem, tão bela. Filha do céu e rainha das estrelas. Sua beleza estática era inalcançável pelos humanos. De estrelas era ela. Inalcançável. Mas inacreditável foi o que aconteceu. À sua frente se consolidou a Constelação de Virgem na forma de mulher. Com olhos azuis, puros como a água que antecedia a vida na Terra. Olhos tão profundos, que se poderia afundar e se perder neles para todo o sempre, sem se dar conta disso. Olhos quentes que queimam como sua pele faziam-no vislumbrar as ondas espaciais que percorrem o espaço de forma uniforme, perfeita. Era quase pálida, com aquele branco em que resultava o espectro das cores. Mas seus lábios eram vermelhos como a explosão de mil sóis. Sua beleza estava contida no formato de sua face. A perfeição do espaço a fazia feita de diversos círculos. Suas bochechas eram redondas, sua face, seus olhos, todos os detalhes, até os lóbulos das orelhas eram desconcertantemente redondos. Não era elíptica, era circular, a forma mais perfeita de todas. Da perfeição surgiu a mulher perfeita, e isso era evidente. Seus cabelos eram tecidos da órbita de quase infinitas estrelas, das mais diversas cores. Cada fio era de uma magnitude maior que ele jamais conseguiria conceber. Com ela veio uma cálida sensação, como se o vácuo se aquecesse. E foi o que aconteceu, envolta no gás ardente de sua combustão. Por isso, pôde ouvi-la quando ela sussurrou: – Faz muito tempo que eu o observava, enquanto flutuava a esmo no começo do infinito. A Terra é, e já foi, o porto de muitos navegantes. Na eternidade em que vivi, nunca vi nenhum que mais me interessou do que 43 você. Perante o infinito não se assustou, não entrou em pânico, começou a amar alguém que desconhecia... Sua força é imensa para um ser de carne, mas é a consciência de que jamais se livrará completamente de seus erros que me atrai. – Erros são parte dos seres humanos. Como nós os encaramos diz muito sobre nós mesmos. Eu vejo o erro como a prova de que não sou perfeito, e que não sou como você. Sou apenas um ser, um ser humano. – Por não ser imperfeito, você tem uma habilidade que eu jamais terei. Você pode evoluir, melhorar. Se eu te estender a mão, e você agarrá-la, será saciado de conhecimento, com tudo que jamais pensou em saber. Eu posso satisfazer sua sede, basta que me dê um beijo. A morte não se aplica a mim, e também não se aplicará a você. É fácil. Aquelas palavras fizeram com que pensasse. Com um beijo, seria dotado da sabedoria necessária para fazer o que quisesse, inclusive voltar à Terra. Um beijo naquele fruto perfeito que ela era, para poder ter tudo. Como queria! Mas será que devia? Será que era certo receber tudo tão facilmente? Sem trabalho duro, não seria correto receber tanta sabedoria. E o mais importante: se a beijasse, não estaria traindo sua amada Gaia, embora desconhecida? Que dilema! – O homem é o animal que mais avançou tecnologicamente. Por quê? Tecnologia é uma extensão do erro. Tecnologia facilita, torna mais fácil de fazer, e torna os resultados melhores. O erro faz de nós seres humanos, e não deuses. Apesar disso, procuramos a sabedoria necessária para melhorar até o limite. Mas vocês precisam saber de uma coisa: sem trabalho, conhecimento não vale a pena. Informação é como se fosse uma máquina, um carro. Você pode usá-lo para levar um ferido para um hospital, ou para atropelar alguém. Você decide. O trabalho nos faz pensar, nos faz medir o peso, o valor do nosso conhecimento. Sem trabalhar para chegar em algum lugar, nós inevitavelmente usaremos mal o conhecimento. Não porque somos maus, mas porque perdemos a noção desses valores – falou o professor. Isso dizia a Davi como Vespúcio deveria agir. Sabia o que ele deveria fazer. O que é certo deveria passar o que é fácil. Não que não cobiçasse o que lhe era oferecido. Cobiçava, e muito. Mas sabia que não deveria tomálo daquela maneira. 44 – Queria poder te amar, mas não posso. Sua perfeição é tamanha que só me atrevo a roubar um pedaço mínimo dela depois de muito esforço, já que é esse esforço que me fará saber usá-la. Só quero voltar à Terra, para, mais uma vez, poder correr livre sob o céu estrelado. – Eu sou o céu estrelado. Você pode ter minha sabedoria, ver o que já vi, mas não quer. – Quero, mas não devo, já lhe disse o porquê. Mas lhe pergunto: se o fizesse, se tudo descobrisse, qual seria a graça em viver? Se tudo soubesse, o que me restaria? Não teria nunca mais a alegria de descobrir, o prazer de tentar desvendar uma charada ou de tentar solucionar uma pergunta. Já me disseram que os deuses gregos invejavam os humanos, já que, para os mortais, todo o prazer era mais bem aproveitado, uma vez que poderia ser o último. Não acredito que você me inveje, de forma alguma. Mas eu não posso perder esse não-saber, essa dúvida de não saber quando a morte chega. Ao contrário de você, não consigo sequer vislumbrar a eternidade, que dirá sonhar em vivê-la, presenciá-la. É demais para mim – disse convicto, mas com um ar de infelicidade. – Então que o seja! Se posso convencê-lo a me acompanhar, não o deixarei sofrer. Posso te ajudar a voltar à Terra. Gostaria? – Mais que tudo! Mas como fará? Como consertará minha nave espacial, sem peças? – Quem te disse que preciso consertar sua nave para fazer você voltar à Terra? Apenas relaxe, não fique tenso e confie em mim. Com as duas mãos ela alisou seus cabelos e retirou deles um grão, do tamanho de uma semente, e foi na direção de Vespúcio. Com aquela pequena pedra na ponta do indicador, ela pousou a mão em seu capacete. – Eu não sei o que você está fazendo, mas confio em você. Obrigado – disse, sentindo um grande prazer, um grande alívio. O mero aproximar-se daquele ser tão absoluto o fazia se sentir um ser humano melhor. Estranho como um ser que disse não poder evoluir, ser capaz de transformar os outros para melhor, apenas se aproximando deles. – Adeus! E aquela pedra começou a crescer, a envolvê-lo, cobri-lo completamente. Quando estava preso em seu interior, sentiu-se seguro, a salvo. Sentiu que ela começou a se mover. E se alguém visse de longe, veria aquela pedra 45 gigante descer veloz a atmosfera. Veria Vespúcio se transformar em uma estrela cadente, que desceu até a Terra suavemente. Veria que, ao aterrissar, a pedra se desfez e dela saiu um homem, que largou seu traje e correu livre, para ver a alvorada que se anunciava. E assim, Vespúcio Cambará se salvou e terminou sua aventura. Vespúcio fechou os olhos e sentiu o vento acariciá-lo. Sabia que tinha feito a coisa certa. Por isso foi tomado por uma sensação de bem-estar, leveza. Só lhe restava achar a amada e assim o faria. Não importando onde estivesse, ele acharia Gaia e lhe narraria sua história. Ela o amaria, do jeito como ele a amava. – Espero que hoje vocês tenham aprendido alguma coisa, sinceramente. Eu fiz meu máximo, espero que vocês tenham feito sua parte. Gostei da aula – falou o professor. – Até algum dia. – Ele abriu as janelas, iluminando a sala, e foi embora, sorrateiro como entrou. O sol brilhava. E brilhava como nunca brilhou antes. Isso porque estava a pino, no clímax. E nesse momento, Davi se deixou sentir Vespúcio. Sentado em sua cadeira, sorriu. Aquele sol quente nunca foi tão agradável. Post-scriptum Depois de escrever tantas páginas, o leitor já sabe o que pensa aquele que escreve. É puramente efêmero salientar novamente o que já foi dito. Só resta, então, fazer uma abordagem diferente. O homem por muito tempo sonhou em poder criar, inventar, propor, e não ser punido por isso. Durante esse período, a ignorância instalou-se sobre a humanidade. O homem tinha que sonhar escondido. Séculos depois de conseguir a tão sonhada liberdade de expor, consequências de seu mau uso passam a destruir a maior fonte de inspiração de todos os tempos: o próprio céu. A imaginação deve caminhar junto à razão, pois o que hoje é realidade um dia já foi menos que sonho, já foi loucura, delírio. Hoje nos regozijamos do que já foi impensável, e querem literalmente destruir o pensamento. Ser passivo nesse massacre é um ato contra o racionalismo, contra o fabuloso, contra o céu. É importante agir, para que a interação entre o sonho e o real seja saudável. Só assim os resultados serão produtivos. Defender o espaço sideral é lutar por essa causa. O espaço é a mais bela face que já se voltou 46 para a Terra, temos que garantir que ela para sempre continue sussurrando as mais belas façanhas a nós, meros humanos. Temos que agir. Temos que proteger o céu. Isso não pode ser um sonho. Referências Bibliográficas MING DYNASTY ASTRONAUT. Mythbusters: os caçadores de mito. Discovery Channel, 5 de dezembro de 2004. WIKIPÉDIA, Vários colaboradores. Ano-luz. Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Ano-luz>. Fontes Consultadas Imagem do ônibus espacial. Disponível em: <https://meyhya.bay.livefilestore.com/ y1mr9Oz3TWANHo17XY3EtfCBoX0wJm0tW7Qd2bdx0mf_ j72Bi01mtCIh65R0bc5IMEHKDFtEZRCCXFyY4ut_NHYuwmCc MOlO47faG7erSO99tpt4ycL1ApGRTke-a4b8HM12DDhOATQp0/ Discovery2%5B6%5D.jpg> Logo Apollo 11. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/d/d4/Apollo11_LOGO.JPG> 47 2º Lugar Uma viagem sobre a cauda de um cometa Estudante: Marcos Felipe Pinheiro, 18 anos, 3º ano do ensino médio Professora-orientadora : Márcia Regina Cazonato Lozano Escola Estadual Padre Orestes Ladeira - Conchal, SP Meu nome é Felipe e vou contar uma incrível aventura que tive quando era pequeno. Desde criança eu sempre me interessei pelos segredos do Universo, pelas estrelas, pelos cometas, pelo Sol e pelas infinitas entranhas desse enigma de tamanho indeterminado, supremo. Muitas vezes eu perguntava à minha mãe o que havia fora da Terra, por que existiam todos aqueles pontinhos brilhantes naquele fundo negro, o que eram aqueles riscos repentinos que se esvaeciam tão rapidamente. Para não me deixar sem resposta, ela sempre tinha uma história na ponta da língua. Segundo ela, o que havia fora do nosso planeta eram vários guardiões que protegiam a Terra de invasões, os pontinhos brilhantes eram os olhos de cada um desses guardiões que não deixavam nenhum momento de nos vigiar e, por fim, os riscos repentinos no céu eram estrelas-cadentes. “Essa – dizia minha mãe – é capaz de realizar qualquer desejo de quem a vir cruzar o céu em uma noite de verão”. Naquela época eu tinha apenas oito anos e fiquei encantado com a estrela-cadente. Toda noite de verão em que perdia o sono, olhava da janela do meu quarto procurando encontrar essa ligeira realizadora de desejos. Como tudo na vida tem a sua primeira vez, a noite mágica aconteceu. Foi bem no dia do meu 12° aniversário, quando, à noite, eu e mais três amigos (Marcelo, Thainá e Priscila) resolvemos brincar de acampar. Tivemos essa ideia porque estávamos no sítio de meu avô, e lá espaço era o que não faltava. 49 Naquela noite, um desses amigos, o Marcelo, resolveu brincar de contar as estrelas. Apesar de a brincadeira ser maluca, formamos uma roda e começamos. Eram tantos pontos que meus olhos ardiam de tanto ficar olhando somente para o céu. Em determinado momento, minha atenção foi desviada para outro canto do céu. Algo brilhou mais forte naquele canto. Na hora não tive nenhuma dúvida, era a estrela que tanto procurava. Logo fiz um pedido e em seguida ela sumiu. Fechei os olhos para lubrificálos, e quando os abri novamente percebi que meus amigos continuavam na incessante contagem. Quando terminamos a brincadeira, Marcelo já somava mais de 500 estrelas, Thainá já havia passado das 300, e a Priscila dizia estar na casa das 800. Resolvi nem contar o que havia visto e inventei que tinha contado 957 estrelas. Já estávamos com sono e resolvemos nos deitar. No meio da noite, fomos acordados com um barulho estrondoso perto de nossa barraca. Saímos para ver o que era e nos deparamos com um grande rastro no chão e uma grande cortina de poeira. Seguimos o rastro e chegamos até uma enorme pedra. Parecia que aquela coisa tinha caído do céu. Sem palavras para conversar sobre aquilo, ficamos observando-a durante um longo tempo. De repente a pedra se mexeu e, como se fosse uma chama, acendeu-se em uma parte formando uma espécie de cauda. Corremos para a barraca e ficamos um olhando para o outro sem dizer uma palavra. Novamente fez-se um barulho, dessa vez, bem menos intenso. Colocamos a cabeça pra fora e vimos que a pedra vinha em nossa direção. Voltamos pra dentro rapidamente e pudemos ver a pedra planando no ar e, de certa forma, olhando em nossa direção. Pensando que já tinham acontecido coisas estranhas demais só pra uma noite, nossa surpresa foi novamente provocada quando a pedra falou. Falou, e em voz clara: – Olá, crianças. Vejo que minha aterrissagem não foi tão boa. Não tínhamos nem o que falar. Continuamos a olhar para aquela pedra falante e assustadora, sem piscarmos nem um os nossos olhos. 50 Fez-se uma pausa um pouco longa e depois novamente a pedra resmungou: – Oras, mas por que estão com essas caras de espanto? Não foram vocês que desejaram a uma estrela-cadente poder visitar o espaço? Naquele momento todos nós olhamos um para o outro, e de cara percebemos que na hora da brincadeira todos haviam visto a estrela cruzando o céu e, pelo jeito, todos fizeram o mesmo pedido. Para quebrar aquele gelo, respondi à pergunta daquela pedra: – Olá, senhor Pedra. Estamos assustados porque nunca tínhamos visto uma coisa tão estranha como o senhor... E sim, fomos nós quem fizemos o desejo de visitar o espaço. A pedra continuou a olhar porém, agora tinha os olhos fixos em mim. Não demorou muito e logo respondeu: – Meu nome não é senhor Pedra. E também não sou uma pedra. Chamome Halley e sou um cometa. Um dos mais famosos cometas de todo o Universo. Vim até aqui para levá-los a descobrirem uma estrada mágica e deslumbrante. Vou mostrar a vocês um mundo novo. Irão conhecer estrelas, planetas, meteoros e outras infinitas coisas que existem pelo espaço. Novamente nossa voz se foi. Permanecemos a olhar para aquele que agora era Halley, o cometa. Não sabíamos o que dizer. O convite que recebemos era muito atraente, mas não tínhamos nem palavras para responder. Os segundos que se passaram pareciam intermináveis. O silêncio havia tomado conta daquele momento. Eu já não iria mais falar nada. O cometa estava imóvel esperando alguém dizer algo. Até que, finalmente, uma voz se fez ouvir. Era a voz de Thainá: – Se o senhor veio até aqui para nos buscar... Então vamos logo embora. Não vejo a hora de conhecer todos os... Dessa vez outra voz se fez maior, interrompendo o que Thainá estava dizendo. Era Priscila que dizia: – Como é que iremos sem termos uma nave para ficarmos dentro dela e poder respirar? 51 – Vocês não precisarão de ar. Ao chegarmos perto das nuvens todo o Universo conspirará sobre vocês, dando o poder de não precisarem de ar para respirar. – Nossa! Que máximo! – disse Marcelo, todo ofegante. – Então é bom vocês pegarem uma mochila e colocarem muita água e alimentos, pois a viagem vai ser bem longa. Sem mais delongas fomos correndo fazer nossa bagagem. Colocamos de tudo nas mochilas. Coloquei, também, uma luneta para poder observar melhor a paisagem lá de cima. Halley nos deu as instruções para montarmos em sua cauda e, após todos estarem prontos, decolamos em alta velocidade em direção às estrelas. O vento frio batia em nossa face. O chão que víamos agora lá de cima era ínfimo, comparado a nós. Parecia que naquele momento não existiam mais fronteiras para cruzarmos. Éramos gigantes agora. Tínhamos todo o poder em nossas mãos. Já havíamos passado pelas nuvens e agora nos aproximávamos da camada atmosférica. Halley começou uma contagem regressiva, a partir do dez. Todos juntos gritavam: – Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois... nesse momento chegamos ao lugar que todos conhecem por Espaço. Percebi logo que lá não havia ar. O único vento era por causa da grande velocidade em que Halley viajava. Dava pra ver os cabelos da Thainá e da Priscila se mexerem. – Aqui estamos nós! – resmungou Halley – Digam-me agora... onde querem ir primeiro? Trocamos olhares e caretas. Se havia um lugar que todos nós gostaríamos de conhecer, com certeza era a Lua. – Queremos pisar na Lua – foi Marcelo que respondeu por todos. – OK! Ótimo pedido! – disse Halley – Então, marujos, segurem firme! Halley foi a uma velocidade incrível. Não demorou muito e logo pousamos no solo lunar. Era impressionante caminhar sobre a Lua. Parecia que estávamos flutuando. 52 De repente Thainá deu um grito que assustou a todos. O motivo de tanta euforia era uma bandeira que estava cravada num canto ali perto. Era a bandeira norte-americana. – Vejam! – dizia Thainá – Essa bandeira foi colocada aqui em 1969 pela equipe de astronautas formada por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins, que pilotavam a Apollo XI. Quando eles estiveram aqui em 20 de julho de 1969, cerca de 1 bilhão de pessoas assistiam ao vivo pela televisão o momento em que Neil Armstrong pisava na Lua e dizia a frase mais conhecida das viagens espaciais: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”. – Nossa! – murmurou Priscila – Então já faz 40 anos desde que o primeiro homem pisou na Lua? – Isso mesmo! – concordou Thainá – E a viagem de ida e volta da Apollo XI levou oito dias e três horas. – Exatamente, Thainá – dizia Halley. – Os humanos foram muito audaciosos naquela perigosa missão. Tentem imaginar: daqui da Lua até a Terra são aproximadamente 384.400 km de distância. – Meu professor de física explicou para a minha sala, uma vez, que quando a nave Apollo XI estava fora da órbita terrestre, ela passou a se mover por inércia, ou seja, o motor só era acionado para grandes correções de trajetória – era Marcelo que estava falando. – É verdade! – confirmei – E foi através dos estudos de cientistas como Galileu Galilei que o homem seguiu sua viagem direcionado por uma das leis mais famosas que Galileu propôs: a “Lei da Inércia”. Segundo essa lei, “um objeto em movimento segue sua trajetória eternamente, desde que nenhuma outra força atue sobre ele”. – Muito bem, crianças. – disse Halley. – Vejo que quando o assunto é sobre a Lua, vocês são nota 10. Então, que tal se formos para outro lugar agora? Respondemos juntos: – Sim! – Para onde querem ir? 53 Priscila se colocou à frente para responder: – Para Vênus! – OK! – respondeu Halley – Mas lembrem-se que vocês terão que estar protegidos, pois lá a temperatura é muito alta, por volta de 470° dia e noite. E se não fosse comigo, essa viagem iria demorar cerca de cinco meses. – E como iremos nos proteger? – perguntou Priscila. – Pode deixar comigo! – interveio Halley – Vocês estarão sob a minha camuflagem – fez uma pausa – Estão prontos? – Não, não! – gritava Marcelo. – O que foi? – perguntei. – Tenho uma coisa para deixar aqui na Lua antes de partimos. – Mas o que é? – perguntou Thainá. – É isto! Marcelo agora tirava algo de sua mochila. – Quero colocar essa pequena bandeira do Brasil aqui para deixar a nossa marca em solo lunar. – Nossa! – dizia surpresa Thainá – Mas eu nem sabia que você tinha pegado ela. – Eu peguei sem vocês terem visto. Depois que ele terminou de colocar a bandeira do jeito que queria, Halley perguntou: – Prontos, agora? – Sim! – respondemos. Partimos em direção a Vênus. Chegamos lá em menos de dez minutos. Halley nos contou que a atmosfera de Vênus é composta de 96% de dióxido de carbono, 3% de nitrogênio e traços de oxigênio, e que o efeito estufa torna a temperatura média mais alta que a de Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. – Nossa! – murmurou Marcelo – Aqui é um lugar muito ruim para viver. 54 – Você quer dizer inóspito – disse Halley. Estávamos todos impressionados com aquele ambiente de Vênus. – Vocês sabiam que Vênus pode ser visto tanto de dia como à noite em solo terrestre? – murmurou Priscila – Sendo assim, ele é um dos dois únicos corpos celestes que podem ser vistos tanto de dia quanto de noite. Sabem qual é o outro? – A Lua! – respondemos quase que simultaneamente. – Exatamente! – concordou Priscila, toda entusiasmada. Todos ali estavam cheios de perguntas e de comentários para fazer sobre Vênus. E houve um momento em que Marcelo, agachado, começou a falar: – Lembro-me agora que um dia minha professora de geografia me contou que a superfície de Vênus é praticamente constituída de basalto recentemente solidificado. É claro que ela disse “recentemente” em termos geológicos. Disse, também, que o interior desse planeta é provavelmente similar ao da Terra: um núcleo de ferro de 3 mil km de raio, com um manto rochoso que forma a maior parte dele. Além disso, Vênus não tem placas tectônicas móveis como o nosso planeta; porém, em seu lugar, se produzem massivas erupções vulcânicas que inundam a sua superfície com lava fresca, ou seja, Vênus está vulcanicamente ativo. As afirmações de Marcelo deixaram todos com um ar de espanto. Parecia que naquele momento estávamos todos com medo de ficar em Vênus por mais tempo. – Pessoal! – disse Priscila – Que tal se agora formos visitar outro lugar? Acho que já ficamos aqui tempo demais. Quando ela terminou de falar, o chão começou a tremer, tremia de uma maneira tão estranha que nos dava muito medo. Halley falou para subirmos novamente em sua cauda. Fizemos isso e Halley decolou a toda velocidade. Olhando para baixo podíamos ver uma nuvem de poeira se levantar e, possivelmente, junto com ela muita lava era expelida pelo solo do planeta. Já no espaço novamente, Halley nos perguntou onde gostaríamos de ir agora. 55 – Vamos para Marte – implorou Thainá. Concordamos com ela e partimos em direção a Marte. No meio do trajeto Halley nos contou que a atmosfera de Marte é bem parecida com a de Vênus. Sendo 95% de dióxido de carbono, 3% de nitrogênio e 0,13% de oxigênio. Contou também que em Marte há violentas tempestades de areia, que podem cobrir o planeta durante meses. Aproximando-nos do planeta vermelho, como é conhecido, Halley notou que a aterrissagem seria muito arriscada, pois naquele momento uma grande tempestade de areia estava acontecendo. Tristes com a notícia, tivemos que dar meia volta. – Para onde iremos agora? – perguntei. – Bom – interveio Marcelo – não podemos ir para outros planetas. Afinal, os demais são todos gasosos, sem possibilidade de pouso. – Que pena! – resmungou Priscila – O que iremos fazer agora? – Não precisam desanimar – acudiu Halley. – Se não podemos pousar em outros planetas, iremos, pelo menos, passar perto deles. – Oba! – disse eufórica Thainá. – Bom... – Halley começou a falar – já que estamos aqui próximos de Marte, vamos deixar de ir a Mercúrio e vamos fazer o trajeto passando por Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e, por fim, Plutão. Partimos rumo a Júpiter. No caminho fomos discutindo sobre as magnitudes existentes no Universo. Eu contei sobre as galáxias, que assim como à qual pertence o nosso Sistema Solar, existiam outras, como a de Nuvens de Magalhães, que recebeu esse nome devido ao português Fernão de Magalhães, que navegava orientado por borrões no céu que, até 1920, eram catalogados como nebulosas. Foi quando se descobriu que esses objetos difusos eram galáxias, com bilhões de estrelas girando ao redor de um centro comum. Lembrei a eles que o nome da nossa galáxia é Via Láctea, ou seja, Caminho do Leite, que recebeu esse nome pela listra branca que se forma no céu. Priscila falou sobre os satélites naturais de Júpiter, dos quais quatro, entre os 63 que o planeta possui, foram descobertos por Galileu Galilei em 1610: os satélites Io, Europa, Ganimedes, Calisto. 56 Marcelo, por sua vez, contou que em 1977 as sondas Voyager I e II revelaram os anéis em Júpiter e luas em Saturno. Em Netuno, mediram ventos de 1.400 km/h, cuja força é três vezes superior à do mais devastador furacão terrestre. Já havíamos percorrido quase todo o diâmetro de Júpiter e estávamos nos preparando para chegar a Saturno. Na opinião da Priscila, Saturno é o planeta mais belo depois da Terra, pois ele possui enormes anéis ao seu redor. – Sabem de uma coisa...? – dizia ela – Saturno é o planeta de menor densidade do Sistema Solar, tanto que se existisse um oceano grande o bastante, ele flutuaria nele. Seu sistema de anéis é o único visível da Terra. O primeiro a observar esse agrupamento de milhões de partículas foi Galileu Galilei. – Muito bem, Priscila! – acrescentou Halley – E vocês sabiam que em 1997 a Agência Espacial Europeia e a Nasa lançaram a sonda CassiniHuygen? Essa sonda orbita Saturno e suas luas há cinco anos, e descobriu que seus anéis são formados essencialmente por uma mistura de poeiras, material rochoso e fragmentos de gelo, alguns do tamanho de uma casa. – Nossa! – murmurei – Isso é incrível! – É mesmo! – acrescentou Marcelo. Continuamos a viagem passando agora por Urano. Thainá era a que mais conhecia sobre esse planeta. Ela disse que sua atmosfera é composta basicamente de 83% de hidrogênio, 15% de hélio e 2% de metano; e possui 27 satélites naturais. Halley acrescentou que Urano também possui anéis. – Ele tem nove anéis que foram descobertos em 1977 – disse Halley. Seguindo o trajeto, agora em direção a Netuno. Netuno parecia muito com Urano. – Vocês sabiam – começou a contar Marcelo – que Netuno foi descoberto por uma previsão matemática, em vez de uma observação empírica? Inesperadas mudanças na órbita de Urano levaram os astrônomos a deduzir que sua órbita estava sujeita à perturbação gravitacional por um planeta 57 desconhecido. Subsequentemente, Netuno foi encontrado a um grau da posição prevista. A sua maior lua, Tritão, foi descoberta pouco tempo depois, mas nenhuma das outras 12 luas do planeta foram descobertas antes do século XX. Netuno foi visitado por uma única nave espacial, a Voyager II, que voou pelo planeta em 25 de agosto de 1989. Netuno é o oitavo planeta do Sistema Solar e último em ordem de afastamento a partir do Sol, desde a reclassificação de Plutão para a categoria de planeta-anão. Faltava para nós somente passar por Plutão. Suas temperaturas chegam a – 240 °C. – Até 2015 – começei a falar – a sonda New Horizons, que já passou por Júpiter – de onde transmitiu informações inéditas, como detalhes sobre suas nuvens de amônia – irá chegar a Plutão. Ela vai analisar a atmosfera plutoniana, que deve conter nitrogênio, monóxido de carbono e metano, mas nada de oxigênio. Pesquisará, também, as três luas que ele possui. – Bom, galera! – disse Halley – nossa viagem parece que está terminando. Já visitamos a Lua, Vênus, Marte, passamos por Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Só não passamos por Mercúrio, que também faz parte do nosso Sistema Solar e é o planeta mais próximo do Sol. – Ah! – interveio Priscila – Mas já vamos voltar pra casa? – Eu também queria ficar um pouco mais – acrescentou Thainá. – Sabe, Halley – começou Marcelo – você não nos contou a sua história. O que você faz pelo espaço, quem deu esse nome a você. Queremos saber sobre você também. Ficamos todos a olhar para aquele cometa que parecia agora todo encabulado. – Tudo bem! Vou contar a vocês minha história. Como sabem, sou um cometa. Nós, os cometas, nos locomovemos a mais de 1 milhão de km/h e, portanto, não dá para vocês humanos nos diferenciar de uma estrela a olho nu. Passamos muito longe da Terra e, para marcarem nossas mudanças de posições, só nos observando diariamente. Assim como os planetas, os cometas também giram ao redor do Sol, isso foi descoberto pelo cientista Edmund Halley, que propôs um período de 76 anos para a órbita completa de um desses cometas. 58 Perguntamos juntos: – Você? – Exatamente. – Espere um pouco – interveio Priscila – se o seu nome é Halley, e o cientista que propôs o seu período de órbita foi Edmund Halley... Então foi ele quem deu esse nome a você? – Isso mesmo! – concordou Halley. – Nossa! – resmunguei – Eu também quero dar o meu nome a um cometa. Rimos todos do meu comentário. – Quem sabe um dia você não consiga esse feito? – Observou Halley. – E eu quero dar o meu nome a um planeta – arquejou Marcelo. – Eu vou dar o meu nome a uma estrela – disse Priscila. – E eu quero que seja uma tão brilhante como a Alfa Centauro, que é a terceira mais brilhante no céu do hemisfério sul, cuja luz demora quase cinco anos para chegar até a Terra. – Legal! – comentou Halley. – Já que todos irão dar o seu nome a um corpo celeste do Universo, eu também quero nomear um – começou Thainá. – Vou dar o meu nome a uma galáxia. Afinal, em 1920 Edwin Hubble descobriu que as galáxias mais distantes da nossa se afastam mais rápido e propôs que o Universo está se expandindo. – Muito bem, crianças – disse Halley. – Já que estão tão dispostos a darem seus nomes a algo no Universo, que por sinal é infinito, precisamos partir de volta à Terra. Lá vocês poderão estudar bastante para que, quando crescerem, vocês poderão se tornar grandes cientistas, astronômos, astronautas, engenheiros e tantas outras profissões importantes para o desenvolvimento da humanidade. Sobre a cauda de Halley, começamos o trajeto de volta, cantando uma música que definia a nossa alegria pela grande viagem que havíamos feito: 59 Eu vivo sempre no mundo da lua Porque sou um cientista o meu papo é futurista e lunático. Eu vivo sempre no mundo da lua Tenho alma de artista Sou um gênio sonhador e romântico Eu vivo sempre no mundo da lua Porque sou aventureiro Desde o meu primeiro passo pro infinito. Eu vivo sempre no mundo da lua Porque sou inteligente Se você quer vir com a gente Venha que será um barato Pegar carona nessa cauda de cometa Ver a Via Láctea estrada tão bonita Brincar de esconde-esconde numa nebulosa Voltar pra casa nosso lindo balão azul Pegar carona nessa cauda de cometa Ver a Via Láctea estrada tão bonita Brincar de esconde-esconde numa nebulosa Voltar pra casa nosso lindo balão azul Pegar carona nessa cauda de cometa Ver a Via Láctea estrada tão bonita Brincar de esconde-esconde numa nebulosa Voltar pra casa nosso lindo balão azul Pegar carona nessa cauda de cometa Ver a Via Láctea estrada tão bonita Brincar de esconde-esconde numa nebulosa Voltar pra casa nosso lindo balão azul Nosso lindo balão azul Nosso lindo balão azul Nosso lindo balão azul Aproximando da Terra e deixando atrás de nós todo o Universo, percebi o quanto nosso planeta é lindo. O incrível azul dos lagos, rios, mares e oceanos me fascinava. O verde das florestas me acalmava os olhos. 60 O branco das nuvens. Tudo mostrando que naquele lugar, naquele ambiente, naquele mundo há vida. E há muitas vidas. Há nesse planeta o melhor lugar para vivermos. Halley aterrissou no sítio de meu avô. Dessa vez ele não fez muito barulho. Agradecemos muito pela viagem e pedimos para ele ficar, porém disse que tinha que continuar o seu caminho. Disse para nós: – Quando uma nova estrela-cadente aparecer cruzando o céu em uma noite de verão e vocês a virem, é só pedirem para me chamar que eu voltarei para descobrirmos juntos novas fronteiras do Universo. E assim ele decolou novamente com sua incrível velocidade e voltou ao seu trajeto. A noite parecia que não tinha passado desde o momento em que partimos. Combinamos que iríamos guardar segredo sobre aquela aventura e, assim, entramos na barraca e dormimos. Provavelmente naquela noite outras estrelas-cadentes cruzaram o céu, e outras crianças fizeram seus desejos. E, com certeza, novas aventuras começaram naquela bela noite de verão. Referências Bibliográficas EDITORA ABRIL. Revista Mundo Estranho, São Paulo, edição 90, p. 36 – 37, agosto. 2009. EDITORA ABRIL. Revista Veja, São Paulo, edição 2.122, ano 42, n° 2.922, p. 106 – 117, julho. 2009. Fontes Consultadas Letra da música A turma do balão mágico. Disponível em: <http://www. muitamusica.com.br/9-a-turma-do-balao-magico/593-lindo-balaoazul/letra/> 61 3º Lugar Astronomia: origem e importância para a humanidade Estudante: Diego Teruo Mendes de Souza, 17 anos, 3º ano do ensino médio Professor-orientador: Valério José Amaro Escola Estadual Francisco do Carmo - Carandaí, MG Introdução Os conhecimentos astronômicos sempre foram de grande importância para o ser humano. No entanto, como toda ciência, passou por um longo processo de evolução para chegar a seu status atual. Este trabalho contém um breve registro do desenvolvimento da Astronomia desde seus primórdios aos dias atuais. Trata também do desenvolvimento da Astronomia brasileira citando seus principais colaboradores e suas realizações. Por fim, traz a descrição de alguns fenômenos astronômicos que foram importantes no passado ou estão na mira dos astrônomos da atualidade. Resumo O conhecimento científico sempre foi de vital importância para a humanidade na superação de seus desafios. Nesse âmbito, as ciências astronômicas desde os primórdios da civilização vêm acompanhando a passos largos o desenvolvimento do conhecimento humano. A Astronomia surgiu quando o primeiro homem olhou para o céu e tentou compreender os movimentos dos corpos celestes. Os astros passaram a ser utilizados para a demarcação do tempo e, no decorrer da civilização, chegaram mesmo a representar divindades e, segundo algumas crenças, determinar o destino humano. 63 A Astronomia passou por notável desenvolvimento na Grécia Antiga, depois permaneceu estagnada por praticamente toda a Idade Média e voltou a todo vapor com o Renascimento. A partir daí as observações, pesquisas e descobertas foram constantes. A Astronomia brasileira contribuiu significativamente para a nação durante a colonização holandesa, em razão da instalação de um Observatório. Tempos depois foi criado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, e várias observações notáveis foram registradas. Após a Independência, os observatórios ficaram subordinados às universidades. No século XX a Teoria da Relatividade de Einstein revolucionou quase todos os campos da ciência, e a revolução na Astronomia também foi profunda, pois vários conceitos, como os de tempo e espaço, tiveram que ser reformulados. Atualmente a Astronomia brasileira conta com amplos recursos, possui cerca de 300 astrônomos profissionais, um laboratório de Astrofísica, vários observatórios, alguns em território estrangeiro, dos quais o Brasil só participa com parte dos investimentos. A Astronomia atual está muito voltada para conhecimentos mais bem estruturados e exatos possíveis do universo e de todos os corpos que o compõem. Diversos fenômenos já puderam ser descritos, e muito já se tem especulado sobre a origem e evolução do universo. Por outro lado ainda há muito que fazer e, portanto, os astrônomos terão muito trabalho pela frente. A Origem da Astronomia A Astronomia é considerada a ciência mais antiga de toda a humanidade e surgiu a partir das observações dos movimentos do Sol, da Lua, das estrelas e planetas pelos homens primitivos. Ela nasceu intimamente ligada à Astrologia. Todavia sua rígida sistemática levou a uma análise mais realista, concreta e menos mística e, portanto, sua separação da Astrologia. A palavra Astronomia tem origem grega e etimologicamente significa Leis dos Astros, fazendo alusão à crença de que os povos antigos tinham de que os astros influenciavam a vida e, supostamente, o destino dos homens. 64 Essa concepção provavelmente surgiu devido à utilização dos astros na determinação de períodos, marcando tempo, mostrando as melhores épocas para a agricultura e como orientador em viagens etc. Na época atual, devido à grande evolução científica dos séculos XIX e XX, convencionou-se dividir a Astronomia em Astronomia Clássica e Astrofísica. A Astronomia Clássica foi desdobrada em: Astrometria, estudo da localização dos astros mediante sistemas de coordenadas de espaço e tempo, e Mecânica Celeste, estudo dos movimentos dos corpos celestes com base na Lei da Gravitação Universal. A Astrofísica, por sua vez, foi dividida em: Física das Estrelas, que estuda a estrutura e composição das estrelas; Cosmogonia, que estuda a origem e evolução dos corpos celestes; e Cosmologia, que estuda as grandes estruturas do universo e sua evolução. Atualmente os astrônomos contam com sofisticadas tecnologias. Porém nem sempre foi assim. O único recurso de que dispunha o homem primitivo era a sua capacidade de observação, abstração e um pouco de raciocínio. Desde muito cedo (provavelmente desde sua origem) o homem tem tentado compreender os corpos celestes. Os primeiros registros de observações astronômicas sistemáticas foram encontrados na região da Mesopotâmia, nas civilizações suméria, acadiana e babilônica. De fato, consta que por volta de 3000 a.C. os povos da Suméria já conheciam algumas constelações e, alguns séculos mais tarde, os sacerdotes astrônomos da Babilônia identificaram os planetas mais próximos da Terra. Além disso, desenvolveram um preciso sistema de projeções que possibilitava predizer os movimentos da Lua e um calendário baseado nos movimentos da Lua. Outra civilização que desde muito cedo sistematizou a Astronomia foi a chinesa. Embora inicialmente as observações astronômicas fossem realizadas com fins religiosos, isto é, astrológicos, logo o interesse tornouse científico. Mesmo assim a Astrologia chinesa influencia muito sua população até os dias atuais. Um interessante exemplo disso são os doze animais do zodíaco chinês. Registros mostram que por volta de 2000 a.C. os oráculos de ossos da dinastia yin registraram eclipses e supernovas. Estas são explosões de estrelas 65 de massa dez vezes maiores que a do Sol, que produzem luz extremamente brilhante, que declinam até se tornarem invisíveis após algumas semanas ou meses. Por volta do século IX a.C. os chineses utilizaram um calendário de 365 dias e 1/4, distribuídos em 12 ou 13 Luas. Aproximadamente em VI a.C. os astrônomos chineses já eram capazes de predizer precisamente eclipses e cometas. Consta que a China Antiga deixou um catálogo com 284 constelações, totalizando 1.464 estrelas. Outras civilizações também desenvolveram calendários e observações astronômicas. No entanto nenhuma delas desenvolveu um trabalho muito significativo devido a sua situação sociocultural. O grande número de dados coletados sobre os corpos celestes fez vir à tona o desejo de saber onde esses corpos estavam localizados e como se moviam no cosmo. Mais precisamente, nascia o desejo de uma explicação descritiva da organização do Sistema Solar (sistema de astros próximos ao Sol). Os primeiros a elaborarem essa explicação descritiva foram os gregos, que tentaram desvendar as Leis dos Astros. A Astronomia na Grécia Antiga A Grécia Antiga não era um país unificado como o de hoje, mas sim um aglomerado de várias cidades-estados independentes e, não muito raramente, rivais entre si. Dessas cidades-estados, a mais desenvolvida culturalmente era Atenas e, portanto, a maioria das especulações científicas da época desenvolvia-se em Atenas. Na descrição do sistema Solar, duas escolas filosóficas gregas destacaram-se: a platônica e a pitagórica. Platão, discípulo do ilustre filósofo grego Sócrates, dizia a seus discípulos que comparassem o movimento dos corpos celestes ao de objetos em movimentos circulares. Para Platão o círculo era a mais bela e perfeita de todas as formas e, portanto, a única digna do movimento dos astros. Pitágoras acreditava que o Sol, a Lua, os planetas, as estrelas, enfim, todos os astros estavam incrustados em esferas celestes que giravam em torno de um centro comum e que, neste centro, encontrava-se a Terra imóvel. Em outras palavras, o modelo de Pitágoras é um Sistema Geocêntrico, isto é, com a Terra no centro do universo. 66 O modelo de Pitágoras das esferas celestes passou a ser incontestavelmente adotado a partir do momento que o grande filósofo Aristóteles passou a defendê-lo. Aristóteles é considerado o primeiro pesquisador científico no máximo sentido da expressão, porque desenvolveu trabalhos em praticamente todos os campos do conhecimento humano. Suas ideias foram, durante muito tempo, adotadas como dogmas da ciência e quase como verdades absolutas. Com o passar do tempo novas observações astronômicas foram sendo realizadas e começaram a ser detectadas irregularidades no modelo dos gregos. Por exemplo, ele não explicava a diferença entre o brilho das estrelas, já que todas estavam incrustadas na mesma esfera, nem as distâncias fixas de Mercúrio e Vênus ao Sol. Na tentativa de salvar seu modelo, os gregos lançaram mão de um monte de novas esferas, tornando o universo grego um aglomerado de esferas tremendamente complicado. Consta que para explicar o movimento de um único planeta eram utilizadas cerca de treze esferas. A complicação do universo grego levou vários astrônomos a tentar substituí-lo por um modelo mais simples. Porém a maioria dessas tentativas fracassou, em parte devido ao grande prestígio de Aristóteles e em parte porque poucos modelos explicavam, satisfatoriamente, o Sistema Solar de acordo com as convicções filosóficas da época. Uma das ideias que surgiu naquele período era o de que a Terra não era o centro do universo, mas um astro que também se movia. Essa ideia deu origem à concepção de um sistema heliocêntrico (com o Sol no centro). O sistema heliocêntrico foi inicialmente proposto pelos astrônomos gregos Aristarco de Samos e Heráclides Pôntico. Eles explicaram as variações sazonais por meio da inclinação do eixo de rotação da Terra. O sistema teve pouca repercussão, principalmente por tirar a Terra de sua cômoda posição. Outros sistemas também foram propostos para substituir o dos gregos, destacando-se entre eles o do astrônomo Hiparco, que é considerado o fundador da Astronomia científica. Hiparco elaborou, no século II a.C., um catálogo com 850 astros, no qual a Terra não era o centro do universo, mas sim um astro móvel. Apesar destas ideias Hiparco desprezava o modelo heliocêntrico. 67 Outras Contribuições à Astronomia A elaboração de um novo modelo explicativo do Sistema Solar condizente com as observações e filosofia da Antiguidade foi desenvolvida pelo astrônomo hérmio Cláudio Ptolomeu. Ptolomeu realizou diversos trabalhos no campo da Astronomia, chegando a descobrir 172 astros, catalogando um total de 1022 (172+850 de Hiparco). A principal obra de Ptolomeu foi publicada sob o título The mathematike syntaxis (A coleção matemática), que se tornou conhecida como Los megas astrônomos (O grande astrônomo) ou Almagesto, que é um título em árabe. Em Almagesto, Ptolomeu apresentou uma síntese dos trabalhos dos astrônomos gregos da Antiguidade, explicou a construção do Astrolábio, instrumento inventado por ele e que seria utilizado para calcular a altura de um corpo celeste situado acima da linha do horizonte. Nesta obra Ptolomeu também propôs seu modelo de sistema Solar. O modelo de Ptolomeu era geocêntrico. Segundo ele a Terra encontravase imóvel no centro do universo, e os demais astros descreviam órbitas circulares com centro comum na Terra. Esse modelo tinha a vantagem de ser bem mais simples que o dos gregos e explicar satisfatoriamente os fenômenos conhecidos até a época. A civilização romana, ao contrário da grega, não deu nenhuma contribuição significativa para a Astronomia, limitando-se a traduzir as grandes obras dos astrônomos antigos e guardá-las em suas bibliotecas e, posteriormente, nas de Constantinopla, de onde passaram às mãos árabes. Astronomia Medieval e Contribuição Árabe Depois da queda do Império Romano do Ocidente, a civilização ocidental entrou em um período que seria marcado pela explícita desigualdade entre classes e profundo fanatismo religioso. Era o período da Idade Média. Naquele período a necessidade de proteção das constantes guerras levou à construção de enormes castelos protegidos por gigantescas muralhas. O desenvolvimento astronômico da Idade Média limitou-se a correções no sistema de Ptolomeu para torná-lo adaptável às novas observações. 68 O modelo de Ptolomeu fazia alusão ao poder exercido pela Igreja Católica Romana na vida das pessoas. A ideia de uma Terra no centro do universo mostrava a posição de destaque que ela merecia, assim como a posição de destaque que a Igreja deveria ter na vida das pessoas. Durante o período a civilização muçulmana teve acesso aos trabalhos de astrônomos da antiguidade e começou a desenvolver estudos astronômicos. Inicialmente esses estudos eram feitos para fins religiosos, ou seja, integravam a Astrologia. Os mulçumanos achavam importante conhecer os astros, pois assim poderiam encontrar em qualquer ponto da abóbada celeste o caminho para a Meca, cidade religiosa de extrema importância para os árabes. A grande intuitividade e capacidade árabe os levaram a abandonar o âmbito meramente religioso e a sistematizar os estudos astronômicos. Traduziram obras antigas, compilaram tábuas que regulavam os movimentos celestes, apuraram a medição e precisão dos instrumentos astronômicos já existentes, como o astrolábio, realizaram novas observações etc. Com novas técnicas, os árabes realizaram amplas descobertas astronômicas. Utilizando métodos matemáticos, por eles mesmos elaborados, detectaram uma série de falhas no modelo de Ptolomeu. Todavia os árabes acreditavam na teoria geocêntrica de Aristóteles, argumentando que se a Terra não fosse o centro do universo os objetos não tenderiam a cair nela. O trabalho dos árabes influenciou astrônomos medievais, como Copérnico e Tycho Brahe. Com o passar dos séculos a Igreja Católica, devido ao seu incontestável domínio, tornou-se uma instituição mais política do que religiosa, e seus dogmas começaram a ser contestados. Foi o momento apropriado para a eclosão de movimentos contrários à doutrina do catolicismo, a Reforma Religiosa, que eclodiu por volta do século XVI. O estopim da Reforma foi a venda de indulgências e relíquias sagradas pela Igreja. Surgiram várias religiões cristãs contrárias à católica, destacandose a luterana e a calvinista. Para deter o avanço do protestantismo, a Igreja organizou o movimento conhecido como Contrarreforma, em que reestruturou sua organização administrativa e passou a perseguir duramente os hereges. 69 A Astronomia Renascentista Paralelamente à Reforma Religiosa surgiu na Europa, também por volta do século XVI, um movimento artístico, científico e cultural que ficou conhecido como Renascimento. O Renascimento propiciou o reinteresse do homem pelas ciências, pela cultura, enfim, pelo conhecimento. O renascimento propiciou o surgimento do Humanismo. Os humanistas pregavam uma visão de mundo antropocêntrica (homem no centro de tudo) em oposição à teocêntrica (Deus no centro de tudo) pregado pela Igreja. Os humanistas, porém, não eram ateus, mas acreditaram que o homem era a mais perfeita criação de Deus e que, portanto, poderia adquirir conhecimentos sobre todo o universo à sua volta. Os humanistas pregavam a retomada dos valores greco-romanos, pois consideravam que a Idade Média foi um período de trevas em que não houve nenhum desenvolvimento do saber humano. O clima renascentista trouxe novamente à tona o interesse pela Astronomia e, com isso, o ressurgimento da teoria heliocêntrica para explicar o Sistema Solar. Desta vez ela foi defendida por um homem da Igreja, o ilustre sacerdote astrônomo Nicolau Copérnico. Copérnico, sendo homem de profunda fé religiosa, não acreditava que o universo feito por Deus fosse tão complicado como o de Ptolomeu. Acreditava que o Sol estava no centro do universo, e os demais planetas descreviam órbitas circulares em torno (inclusive a Terra). Copérnico organizou suas ideias sobre o sistema Heliocêntrico na obra De revolutionibus orbium celestium (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes) na qual também descreveu o movimento da Terra em torno de seu eixo, atribuindo-lhe a duração de um dia. Apesar de sua genialidade, Copérnico hesitou muito em publicar sua obra por contrariar as ideias filosóficas e religiosas da época, inclusive porque ele mesmo se baseava em um argumento religioso: “Que lugar melhor para o criador colocar a grande lâmpada que ilumina o universo do que em seu centro?”. A hesitação de Copérnico fez com que seu trabalho somente fosse publicado no ano de sua morte, em 1543, e da forma mais respeitosa possível, para não colocar a opinião clériga contra a sua obra. 70 A obra de Copérnico despertou interesse em outros cientistas, destacandose entre eles o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Sob a proteção de Frederico II, rei dinamarquês, Brahe montou um grande observatório na Ilha de Ven, que logo se transformou em um observatório internacional, atraindo grandes cientistas da época. Durante cerca de 20 anos, Brahe realizou uma série de observações sistemáticas e, com elas, uma série de descobertas: em 1572 encontrou uma estrela em um local do espaço onde antes não havia nada, pondo fim à crença da imutabilidade dos astros; conseguiu, ainda, mesmo sem o telescópio que só seria inventado alguns anos depois, identificar o fenômeno de refração na atmosfera terrestre e, com isso, determinar a posição precisa de diversos astros. Brahe chegou a identificar falhas no modelo de Copérnico e, com isso, elaborou um novo modelo para o Sistema Solar, que era uma espécie de síntese entre o ptolomaico e o copernicano. Nesse modelo os planetas giravam em torno do Sol, e este e a Lua giravam ao redor da Terra. Brahe conseguiu corrigir as medidas da distância de estrelas ao Sol, que eram maiores do que determinara Copérnico. Brahe não chegou a propor nenhuma nova teoria com seu modelo. Depois de deixar a Dinamarca, trabalhou algum tempo na Suécia e, posteriormente, em Praga, onde foi assistido pelo astrônomo alemão Yohannes Kepler. Brahe nunca deixou de relembrar a importância da precisão das medidas nos estudos astronômicos e coletou um grande número de dados que seriam a base do trabalho de Kepler. Baseado nos dados de Tycho Brahe, Yohannes Kepler realizou durante 17 anos sistemáticas observações e com elas realizou várias descobertas. Entusiasmado com o modelo de Copérnico e sua simplicidade, Kepler acreditava que poderia realizar alguma modificação nele, de modo a tornálo mais preciso com suas observações. Assim, Kepler elaborou três leis que descrevem os movimentos planetários. São elas: 1. A órbita de um planeta é elíptica, com o Sol localizado em um dos focos. 2. A reta que une um planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais. 3. O quadrado dos períodos de resolução é diretamente proporcional ao cubo do raio das órbitas. 71 As leis de Kepler foram publicadas em duas obras: a primeira, Astronomia nova de 1609, continha as duas primeiras leis, e a segunda, De Harmonice mundi de 1619, continha a terceira lei. Tais leis são a base da Mecânica Celeste e auxiliaram Newton na elaboração da Lei da Gravitação Universal. As Descobertas de Galileu Os trabalhos de Copérnico e Kepler foram comprovados pelo grande físico Galileu Galilei, que afirmara “o universo é um texto escrito em caracteres matemáticos”. Galileu é considerado o pai da física e da mecânica, pois desmentiu muitas das concepções aristotélicas e introduziu na física os conceitos de inércia e gravidade. Logo que surgiram as lentes ópticas, criadas por pesquisadores holandeses, elas espalharam-se rapidamente por toda a Europa e passaram a ser utilizadas para a ampliação de imagens de objetos observados. Assim que ouviu falar no invento, Galileu logo tratou de adquiri-las e, com elas, construiu o primeiro telescópio astronômico da época, com aumento de 32 vezes. Com seu telescópio Galileu conseguiu observar a Via Láctea em suas próprias dimensões – “uma massa de inumeráveis estrelas”–, nas palavras do próprio Galileu, e realizou uma série de descobertas: a superfície da Lua é rugosa e irregular e não lisa e perfeitamente esférica como se pensava; a existência de quatro satélites ao redor de Júpiter, contrariando a ideia de que os astros giravam somente em torno da Terra. Sua descoberta mais perturbadora foi a de que Vênus apresentava fases, como a Lua, e isso o levou a concluir que Vênus girava ao redor do Sol, como acreditava Copérnico. Galileu publicou suas descobertas no livro Sidereus muncius (O mensageiro celeste) em 1610 e, posteriormente, em Istoria i dimostrazioni intorno alle macchie solari (História e demonstração em torno das manchas solares), obra em que defendeu as ideias de Copérnico. Galileu foi proibido pela Igreja de estudar o sistema heliocêntrico, e o livro de Copérnico foi proibido. Além disso, quando os clérigos afirmaram que o sistema heliocêntrico contradizia passagens bíblicas, Galileu disselhes que as escrituras eram alegóricas e não podiam servir de base para 72 conclusões científicas. Outra repressão a Galileu foi devido ao fato de ele escrever na língua do povo e não em latim, como os grandes sábios da época. Apesar de toda essa conturbação, em 1632, com a permissão do papa Urbano VIII, Galileu publicou sua obra mais polêmica: Diálogo sopra i due massimi sistema del mondo, ptolemaico e copernicano (Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo: o ptolomaico e o copernicano) em que apresentava sólida argumentação refutando as teses que negavam o movimento da Terra. A reação da Igreja foi imediata: o livro de Galileu foi proibido, e o perigo da divulgação de suas ideias foi comparado às de Lutero e Calvino. Galileu foi taxado de herege e para não ser queimado vivo foi obrigado a renegar em público suas ideias, sendo condenado ao degredo residencial, onde permaneceu o resto de sua vida, morrendo completamente cego. A Lei da Gravitação Universal Os estudos astronômicos foram retomados pelo grande físico inglês Isaac Newton, que realizou um amplo trabalho baseado nas ideias de Galileu, Brahe e Kepler. Enquanto estudava na Universidade de Cambridge, em 1665, houve uma epidemia de peste bubônica na Europa, e Newton teve que retornar à fazenda onde nascera, lá permanecendo 18 meses. Durante esse período Newton desenvolveu a maior parte de sua vasta obra. Em 1667 Newton volta à Cambridge, começa a trabalhar na divulgação de suas ideias e envolve-se numa polêmica com vários cientistas, principalmente os físicos R. Hooke e C. Huyghons, devido à publicação de um livro sobre óptica. A contestação deixou Newton tão magoado que ele decidiu que nunca mais publicaria nenhum de seus trabalhos. Em 1684 Newton foi procurado por seu amigo Edmund Halley que lhe solicitou ajuda em problemas de Mecânica. Matemático e astrônomo, Halley foi o primeiro a prever a periodicidade dos cometas, demonstrando que os cometas vistos em 1531, 1067 e 1682 eram o mesmo, porém em passagens distintas. 73 Eis a origem da denominação Cometa Halley, em homenagem a Halley. Sua última passagem foi no ano 1986 e será visto novamente em 2062. Em sua obra Synopsis of the astronomy of comets (Sinopse da Astronomia dos Cometas) de 1705, Halley descreveu a órbita parabólica de 24 cometas. Halley verificou, surpreso, que Newton conseguiu esclarecer todas as suas dúvidas e já tinha em mãos um tratado completamente estruturado sobre Mecânica e Gravitação Universal. A partir daí Halley passou a encorajar Newton na publicação da obra, comprometendo-se, inclusive, a custear a produção, tornando-se seu grande colaborador. Apesar da resistência de Newton, em 1686 foi publicada a primeira edição de Philosophiae naturalis principia mathematica (Princípios Matemáticos da Filosofia Natural), que continha as ideias relativas às três leis do movimento e à Gravitação Universal. Os trabalhos astronômicos de Newton começaram a ser elaborados enquanto ele se encontrava em sua fazenda na época da peste bubônica. Há um relato de um amigo de Newton, dizendo que enquanto tomava chá no jardim da casa de Newton, ao observarem a queda de uma maçã, o cientista teve uma série de ideias sobre forças, movimentos, gravitação etc. Primeiramente, Newton se preocupou com a causa dos movimentos planetários, isto é, com a dinâmica dos planetas. Ele imaginou que o movimento dos planetas era devido a uma força e que, como suas órbitas eram curvas, devia ser uma força centrípeta. Faltava determinar o agente que exercia essa força, que Newton rapidamente deduziu ser o Sol. Com essa análise, Newton estava admitindo que as leis mecânicas terrestres e astrais eram as mesmas, o que contrariava as ideias aristotélicas de que os movimentos dos astros eram regidos por leis diferentes das dos terrestres. Ao observar a queda, Newton teve a ideia de atribuí-la à força que a Terra exercia sobre a maçã. Assim imaginou também que a Terra exercia uma força sobre a Lua para mantê-la em órbita e sobre as pessoas para mantê-las na Terra e, portanto, o fenômeno era geral, isto é, universal. Se todos os fenômenos analisados eram devido a forças, então por que motivos a Lua não era atraída pela Terra ou os planetas não 74 eram atraídos para o Sol assim como a maçã era para a Terra? Newton deduziu que era por causa das diferentes massas, assim como também da distância entre os corpos, pois quanto mais perto estiverem mais forte é a atração entre eles. Assim surgiu a Lei da Gravitação Universal, que é geralmente expressa pelo seguinte enunciado: “A matéria atrai a matéria na razão direta de suas massas e na razão inversa ao quadrado da distância entre elas”. Com a Lei da Gravitação Universal e as do Movimento foi possível a explicação de um grande número de fenômenos. • Pela 3ª Lei de Newton os corpos exercem forças iguais e contrárias uns sobre os outros. Com as forças gravitacionais não é diferente, por exemplo, tanto a maçã quanto a Terra exercem força uma sobre a outra. A maçã se desloca porque possui massa menor e, como as forças exercidas são iguais, a maçã adquire maior aceleração. • As marés se devem às forças exercidas pelo Sol e a Lua sobre as águas do mar. Foi explicado também o fenômeno de precessão, que é a variação da inclinação do eixo terrestre. • As órbitas elípticas dos planetas sofrem ligeiras perturbações, o que foi explicado pelo matemático suíço Euler como devidas à atração dos demais corpos celestes sobre os planetas. Lagrange e Laplace fixaram os limites das órbitas elípticas. • Gaus determinou a localização do primeiro asteroide por cálculos astronômicos gravitacionais, e L’Alembert determinou a precessão dos equinócios, que é o movimento retrógrado do eixo de rotação da Terra ao redor do polo da eclíptica. • Em 1781 o astrônomo inglês William Herschell descobriu o planeta Urano por acaso em suas observações astronômicas. Perturbações na órbita de Urano levaram à descoberta do planeta Netuno em 1846, por Urbain Le Verrier. • Perturbações na órbita de Netuno e Urano levaram o americano Percival Lowell a suspeitar da existência de outro planeta em 1915. A hipótese foi confirmada em 1930, e em 1950 Plutão foi observado. 75 Contribuições astronômicas na Óptica Observações astronômicas contribuíram também para descobertas em outros campos da ciência, como na Óptica, por exemplo. Durante muito tempo uma das maiores preocupações da Óptica foi a medida da velocidade da luz. Enquanto muitos afirmavam que esse valor era infinito, outros diziam que era extremamente grande, outros ainda que a propagação da luz era instantânea. O primeiro a tentar determinar o valor da velocidade da luz foi Galileu, mas fracassou devido à falta de recursos da época. O primeiro a determinar um valor para a velocidade da luz foi o astrônomo dinamarquês Ole Roemer que, em meados do século XVIII, trabalhava no Observatório Real de Paris. O trabalho de Roemer baseou-se na observação dos eclipses de um satélite de Júpiter. Roemer verificou que periodicamente ocorria o ocultamento do satélite pelo planeta e verificou que esse período era de 42,5 h. Com isso, Roemer organizou uma tabela com os horários dos eclipses que deveriam ocorrer o ano inteiro. Seis meses mais tarde, ao tentar observar os eclipses, Roemer verificou que não estavam ocorrendo nos horários previstos, mas vários minutos depois. Roemer identificou a causa do ocorrido pelo seguinte raciocínio: Durante seis meses Júpiter se descola muito pouco, permanecendo praticamente na mesma posição, entretanto a Terra se desloca o equivalente à metade de sua órbita. Com isso, a luz que sai de Júpiter terá que percorrer uma distância adicional para chegar à Terra, que corresponde ao diâmetro da sua órbita. Assim, dispondo de uma estimativa do diâmetro da órbita da Terra, Roemer calculou o valor da velocidade da luz, encontrando 200.000 km/s. Apesar de esse valor ser incorreto, ele despertou nos físicos o interesse pelo assunto e, posteriormente, a velocidade da luz foi medida com grande precisão. A Queda da Gravitação Universal A grande utilidade da Lei da Gravitação Universal fez com que ela se tornasse um “dogma astronômico”. Não obstante deve-se sempre lembrar 76 que em ciência não há verdades absolutas e, frequentemente, teorias que eram consideradas imutáveis vão sendo descartadas por desacordo com as observações experimentais. As teorias de Newton pareciam perfeitas, sem falhas. No entanto começaram a surgir imprecisões quando as velocidades atingiam 10% da velocidade da luz. Para explicar essas novas situações o físico alemão Albert Einstein propôs a Teoria da Relatividade. A Astronomia Relativista A teoria da relatividade revolucionou os conceitos de tempo e espaço que eram considerados separados um do outro e passaram a ser relacionados. A teoria foi proposta em duas partes: A teoria da “relatividade restrita”, em 1905, analisando o movimento na superfície terrestre, e a teoria da “relatividade geral”, em 1915, na qual a análise foi estendida aos fenômenos gravitacionais. A relação entre espaço e tempo proposta por Einstein se dá em quatro dimensões e é impossível em apenas um deles e, portanto, eles estão intimamente relacionados. Por exemplo, uma pessoa parada em relação à Terra está se deslocando em relação ao futuro (no Tempo). Einstein mostrou também que o espaço é curvo. Para entender isso, imagine-se uma superfície elástica que é deformada ao ter um corpo de grande massa colocado sobre ela. Agora imagine-se que outro corpo, de massa um pouco menor que o primeiro, é colocado em suas proximidades. Esse segundo corpo também deformará a superfície, mas cairá no espaço deformado pelo maior. Assim é o universo de Einstein, onde os astros deformam o espaço, e a atração entre eles é porque os mais leves caem nos espaços dos mais pesados. Do mesmo modo, as pessoas e os objetos são atraídos para a Terra devido à deformação que ela faz no espaço, o que levanta dúvidas sobre o conceito de gravidade. É claro que a teoria da relatividade e o espaço tempo curvo de quatro dimensões são bem mais complexos que o descrito aqui, contudo essa explanação é suficiente para se entender o conceito atual do universo. 77 A teoria da relatividade proporcionou especulações sobre a constituição, origem e procedência do universo, bem como a descoberta de buracos negros e a constatação de que o universo está em expansão. Muitos ainda são os mistérios do cosmo. A Bioastronomia e a Astrofísica têm um desafio pela frente, em busca de mais respostas. A Astronomia Brasileira O desenvolvimento astronômico brasileiro está intimamente ligado a sua colonização. Os primeiros registros astronômicos foram feitos pelo físico e cirurgião Mestre João, que determinou uma latitude em terras brasileiras em 27 de abril de 1500. Mestre João veio ao Brasil com a frota de Cabral. Mestre João enviou uma carta a D. Manuel, rei de Portugal, em que relatava suas observações astronômicas. Ele observou a “Cruz” (Cruzeiro do Sul), que Hiparco e Ptolomeu consideravam parte da constelação de Centauro, e suas estrelas-guardas alfa e gama que apontam na direção do sul celeste, assim como os ponteiros da Ursa Maior que apontavam para o norte celeste. Mestre João observou também as principais estrelas da constelação de Centauro, do Triângulo (alfa, beta e delta) e do Pavão (beta, gama e delta). Chegou mesmo a afirmar que viu uma estrela pequena e muito clara, semelhante à Polaris boreal, que na verdade nunca existiu. Mestre João deixou de citar importantes objetos dos céus austrais que já eram conhecidos, como as nuvens de Magalhães e a nebulosa Saco de Carvão, muito nítida no Cruzeiro do Sul. As observações seguintes, que foram realizadas durante a implantação do sistema colonial, tiveram o mero objetivo de determinar coordenadas geográficas, e assim foi até a União das Coroas Ibéricas (1580). Na época Espanha e Holanda estavam em guerra por motivos religiosos e não demorou muito para os holandeses começarem a cobiçar um pedaço do território brasileiro. Depois de uma tentativa fracassada, em 1630 os holandeses fundaram uma colônia em Pernambuco. Sete anos depois a colônia passou a ser 78 administrada pelo Conde João Maurício de Nassau, que era um bravo militar e homem de muita cultura. Por isso logo trouxe intelectuais para a colônia, dentre os quais se destaca George Marcgrave, que era astrônomo e botânico. Em 1639 Marcgrave instalou numa das torres do palácio de Friburgo, que Nassau construiu na Ilha de Antônio Vaz, um observatório astronômico, que foi não somente o primeiro do Novo Mundo, mas também o primeiro do hemisfério austral. Nesse observatório foram feitas as primeiras observações astronômicas e meteorológicas sistemáticas do continente. Marcgrave se interessou pela execução de um mapa estelar que abrangesse toda a zona compreendida entre o Trópico de Câncer e o Polo Antártico. Também fez inúmeras determinações de longitudes, estudou e registrou dados sobre os planetas superiores e inferiores sobre conjunções e ocultações e observou cinco eclipses, um do Sol e quatro da Lua, e um deles, o de 13 de novembro de 1640, foi o primeiro a ser acompanhado do Novo Mundo. Macgrave reuniu uma grande quantidade de manuscritos sob o título Progymnastica mathematica americana em que a primeira seção tratava de Astronomia e Óptica. Todavia grande parte desses manuscritos foi perdida. Outras personalidades que contribuíram muito para o conhecimento astronômico do Brasil-Colônia foram os jesuítas. A Companhia de Jesus se preocupava muito com a educação moral e religiosa do país, por isso mandou ao Brasil numerosos missionários cultos que se empenharam no ensino da população. Foram eles que criaram os colégios, que rapidamente se multiplicaram. Dentre os diversos clérigos que lecionaram no Brasil podem-se destacar Valentim Estancel e Aloisio Conrado Pfiel. Estancel observou vários planetas e cometas, chegando a escrever o livro Uranophilus coelestis peregrinus sive mentis uranicae per mundum sidereo peregrinantis extases em 1685, no qual se considera peregrino dos espaços celestes que, segundo ele, é constituído de uma parte líquida e uma parte sólida. Estancel acreditava que os cometas eram gerados pela conjunção de dois planetas. Convenceu-se disso quanto assistiu a uma conjunção de Saturno com o Sol em 1 de novembro de 1689 e descobriu, no mês seguinte, um cometa que, segundo ele, era carregado por um anjo. 79 Pfeil realizou numerosos trabalhos de cartografia, chegando a observar um cometa no Pará em 1695. Foi também no Brasil que Edmund Halley descobriu o cometa que leva seu nome em 1682. Enquanto no Brasil, Halley realizou várias medidas de latitudes, inclusive a do Rio de Janeiro. Em 1736 chegava ao Pará uma comitiva de sábios franceses, entre os quais se encontrava Charles Marie de La Condamine. Eles haviam sido nomeados pela Academia de Ciências de Paris para determinar, no equador terrestre, um meridiano. Uma tarefa similar foi dada à outra comitiva chefiada por Maupertuis, que trabalhava a 70º de latitude norte. A comparação dos trabalhos provou o achatamento polar da Terra. Terminado seu trabalho, La Condamine conseguiu autorização do governo português para continuar no Brasil pesquisas de seu interesse: percorreu o rio Amazonas até o Belém do Pará, fazendo o levantamento de seu curso; comprovou também que o número de oscilações pendulares varia conforme a altitude e que, no Equador, um corpo perde 1/1000 de seu peso quando a altitude aumenta 4.000 m. A união das Coroas Ibéricas pôs fim ao Tratado de Tordesilhas. Por outro lado a Restauração Portuguesa (1640) fez com que o assunto votasse à tona. Inicialmente propôs-se o Tratado de Madrid, em que comitivas lusoespanholas fariam marcações mais precisas dos limites. Em 1777 o Tratado de Madrid foi substituído pelo de Santo Idelfonso, em que novas expedições demarcariam os limites. Nelas trabalharam os primeiros astrônomos brasileiros: Antônio Pires da Silva Pontes (baiano) e Francisco José de Lacerda e Almeida (paulista), ambos formados pela Universidade de Coimbra. Em 1808 toda a família real portuguesa e um grupo de nobres vieram fugidos para o Brasil por causa das guerras napoleônicas e, com isso, houve várias modificações no cotidiano brasileiro. Em 1809 foi criado um observatório para uso da companhia dos guardas-marinhas e, como consequência, em 1810 houve a primeira publicação de efemérides náuticas do Brasil, calculadas por Joaquim Inácio Moreira Dias. Ainda em 1810, foi fundada a Academia Real Militar que, posteriormente, tornou-se a Escola Politécnica. Um dos professores da Academia foi Manuel Ferreira de Araújo Guimarães, que publicou o primeiro livro de Astronomia feito no Brasil: Elementos da Astronomia (1816) que, entretanto, tinha apenas os conhecimentos astronômicos necessários a um militar. 80 Em 1821 D. João retornou a Portugal e em 1822 o Brasil proclamou sua independência. Em 1827 D. Pedro I decretou a construção de um observatório astronômico no Rio de Janeiro. Todavia isso só foi concretizado em 1845 no Morro do Castelo, graças à importância que D. Pedro II deu ao assunto. Estava inaugurado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro. O primeiro diretor do observatório, Soulier de Sauve, desaprovou o local e realizou suas observações no Forte da Conceição, localizado no morro do mesmo nome. Falecendo em 1850, Sauve foi substituído por Antônio Manuel de Melo, e o observatório já possuía aparelhagem para observações regulares. Em 1852 já eram publicadas as Efemérides do Imperial Observatório Astronômico para 1853. Em 1858 Melo viajou com uma comissão para Parananguá, que deveria observar o eclipse solar de 7 de setembro daquele ano. Pela primeira vez a fotografia era usada para fins astronômicos. Outro eclipse solar total ocorreu em 1865 em Camboriú (Santa Catarina). Desta vez o mau tempo prejudicou as observações que seriam acompanhadas pelo diretor e pelo Imperador, em seu palácio de São Cristóvão. Em 1865 Melo abandonou seu cargo para lutar na Guerra do Paraguai, quando faleceu como Brigadeiro Comandante Geral de Artilharia em 1866. Foi substituído por Curvelo d´Avila que quase teve sua gestão prejudicada pela falta de auxiliares, pois muitos estavam na Guerra contra Solano Lopez. Não obstante conseguiu publicar suas Efemérides em 1869. Emmanuel Liais, ex-auxiliar de Leverrier no Observatório de Paris e membro da comissão de Melo de 1858, tornou-se diretor do Imperial Observatório graças à admiração que lhe tinha D. Pedro II. Antes de ocupar o cargo, Liais fez várias observações importantes, principalmente de cometas, um dos quais descobriu em 1860, em Olinda. Considerando indispensável a reaparelhagem do Imperial Observatório, Liais viajou à Europa para adquirir equipamentos que não eram fabricados no Brasil. Durante seus três anos de ausência foi substituído pelo Visconde de Prados, que era muito dedicado à Astronomia. Ao retornar do continente europeu, Liais trouxe aparelhagem de excelente qualidade, com a qual conseguiu realizar várias observações, como as de Marte (paralaxe) e Mercúrio. Mas, por ser uma pessoa muito autoritária, teve frequentes e sérios atritos com seu pessoal, por isso pediu demissão do observatório em 1881. 81 O diretor seguinte foi o belga Louis Cruls que, durante sua direção empreendeu várias observações interessantes a respeito de Marte, Mercúrio e planetoides, além de realizar a classificação de estrelas duplas e múltiplas do hemisfério sul, catalogar 623 estrelas próximas do zênite, observar cometas (um dos quais recebeu seu nome em 1882), reiniciar a publicação do Anuário do Observatório (1883) e fazer cuidadosas observações da passagem de Vênus sobre o disco solar em 6 de dezembro de 1882. Em 1884, Cruls representou o Brasil na Conferência de Washington, na qual se adotou o meridiano de Greenwich como inicial para referência na contagem das longitudes e da hora internacional. Em 1886 iniciou a publicação do periódico mensal Revista do Observatório. Em 1887 representou o Brasil num congresso internacional para a Carta Topográfis do Céu, época em que, juntamente com D. Pedro II, visitou o observatório em que se havia recentemente instalado Flammarion, em Yuvisy. Em 1892, Cruls foi designado para estudar a região do Planalto Goiano, onde se pretendia instalar uma nova capital nacional. Em 1901 chefiou a comissão que deveria demarcar as fronteiras entre Brasil e Bolívia. Cruls foi obrigado, algumas vezes, a abandonar o observatório por motivos de saúde e até tentou tratar-se na França. Cruls faleceu em 1908. A direção do observatório foi assumida pelo francês nacionalizado brasileiro Henrique Morize, que fez várias observações sobre os cometas, como o Halley, que reapareceu em 1910. Desenvolveu com grande entusiasmo a Seção de Meteorologia e, em 1911, iniciou a previsão das marés. Em 1914 fez com que fossem adotados os sistemas de horas leais e fusos horários. Por considerar imprópria a localização do observatório, Morize lutou para que ele fosse transferido para outro local, o que foi feito em 1921, quando o observatório passou para o morro de São Januário, e promoveu, também, a atualização dos equipamentos astronômicos do Rio de Janeiro. Falecendo em 1930, Morize foi substituído por Sodré da Gama, que deu continuidade ao trabalho. Em 1952 a direção do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro foi assumida pelo matemático e astrônomo Lélio Gama, que realizou entusiasticamente estudos sobre a variação dos polos terrestres, determinações das latitudes, observações de planetas e estrelas duplas, determinação da hora exata etc. 82 Em 1892 foi criado, em São Paulo, o Serviço Meteorológico e sua direção ficou nas mãos de F. Schneider, que em 1902 foi substituído por Belfort de Matos. Este instalou em sua residência, uma velha mansão aristocrática da Avenida Paulista, aparelhagem propícia a observações astronômicas. A mansão tornou-se o Observatório do Estado em 1927 e, em 1932, iniciou-se a construção do Instituto Astronômico e Geográfico de São Paulo, que foi concluído em 1941. Em 1949 surgiu, com menos de dez membros, a Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo (AAA) presidida por Décio Fernandes de Vasconcellos, pondo fim ao monopólio “oficial” sobre os assuntos astronômicos. Em 1957 foi inaugurado o Planetário do Ibirapuera de realização da Prefeitura Municipal de São Paulo e inspiração da AAA. Nesse fato destaca-se a figura de Aristóteles Orsini que, dentre outras coisas, realizou a apresentação da sessão inaugural do planetário. A partir daí a AAA acelerou seu desenvolvimento. A Associação foi encarregada do funcionamento do planetário do Ibirapuera e construiu o primeiro radiotelescópio da América Latina. A experiência da AAA incentivou outras associações não somente no Brasil, mas também no exterior e seu diretor científico, Abrahão de Moraes, em 1954, assumiu a direção do Instituto Astronômico e Geofísico de São Paulo. Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) O Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) foi criado em 1985 e foi o primeiro laboratório nacional brasileiro da história. Ele é subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e está localizado em Itajubá, MG. O LNA possibilita pesquisas de diversas naturezas relacionadas com os objetos astronômicos, opera o Observatório do Pico dos Dias em Brazópolis (MG), os Gemini, que são dois telescópios com mais de 8 m localizados um em Mauna Kea (Hawaii) e outro em Cerro Pachón (Chile), dos quais o Brasil participa com 2,5%, e o Southern Observatory for Astrophysical Research (Soar) no Chile, do qual o Brasil participa com 30%. 83 Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) A Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) é a entidade que congrega os astrônomos profissionais brasileiros. Atualmente conta com cerca de 300 membros e possui parcerias com diversas instituições: Instituto Astronômico e Geofísico (IAG-USP), Observatório Nacional (ON), Observatório do Valongo (UFRJ), Departamento de Astronomia da UFRGS, Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), UFMG, UFRN, UFSC, UESC, UEL, UnespGuará etc. O Observatório do Valongo é a única instituição brasileira que tem curso específico para Astronomia. Em geral o mais recomendado é a graduação em Física com posterior pós-graduação em Astronomia/Astrofísica. A USP oferece Física com habilitação em Astronomia. O tempo médio para a formação é de aproximadamente dez anos, sendo quatro anos de bacharelado, mais dois anos de mestrado e quatro de doutorado. Cosmologia A curiosidade sobre a origem do universo aguça as ciências astronômicas desde muito cedo. De fato, diversas civilizações antigas propuseram explicações, que muitas vezes estavam relacionadas à religião, para a origem e constituição do universo. A Cosmologia (estudo do cosmo) procura desvendar os grandes mistérios sobre o universo. Uma de suas teorias fundamentais que tenta explicar a origem do universo é a do Big Bang. Teoria do Big Bang A teoria do Big Bang (grande explosão) surgiu inicialmente proposta pelos cientistas Alexandre Friedmann e Abbé Georges Lemaître em 1920, mas a sua versão mais atual é de 1940, pois a anterior sofreu uma grande evolução graças, principalmente, aos estudos de George Gamow. Segundo essa teoria o universo surgiu de uma grande explosão que houve há bilhões de anos a partir de um estado inicial de alta compressão, com temperatura e densidade extremamente elevadas. Após a explosão, a expansão do universo foi rápida e isso proporcionou a diminuição de sua temperatura e densidade. 84 Logo após o resfriamento, a matéria passou a dominar sobre as antimatéria e, após alguns segundos, o ambiente era propício ao surgimento de partículas elementares. Surgem os núcleos dos átomos de hélio (He), hidrogênio (H) e lítio (Li). Durante todo esse processo sempre houve uma radiação cósmica que preenchia o universo e expandiu-se pelo espaço. Os primeiros átomos formaram-se cerca de 1 bilhão de anos após a explosão. Em 1965 os cientistas Arno A. Penzias e Robert W. Wilson detectaram radiações de fundo no universo que consistiam em microondas. Essas radiações eram um resquício de um universo primitivo. Em 1992 o satélite COBE descobriu flutuações nas radiações de fundo e isso, muito provavelmente, foi a causa da formação das galáxias. Expansão do Universo Uma das questões trazidas pelo Big Bang foi: por acaso o universo estaria ainda se expandindo ou seria estático? Essa ideia surgiu por volta de 1920 e foi respondida pelo astrônomo norte-americano Edwin Powell Hubble. No Observatório do Monte Wilson, Hubble constatou que o universo está em expansão. Os conhecimentos de Óptica, Ondas e Eletromagnetismo deram forte contribuição nessa difícil tarefa. Foram analisadas as diferenças entre frequências de ondas eletromagnéticas (especialmente a luz) emitidas por diversos astros e pela Terra através do Efeito Doppler. Constatou-se que a frequência dos astros era menor que a da mesma onda na Terra, o que significa que a Terra e o astro estavam afastando-se um do outro. Os estudos de Hubble mostraram que os astros afastam-se uns dos outros com uma velocidade diretamente proporcional à distância entre eles, o que enuncia a Lei de Hubble: V = Hd, onde H é a constante de Hubble. Os debates sobre a questão levaram ao surgimento de dois modelos para o Universo: o Universo tem um tamanho finito, portanto se expandirá até atingi-lo e contrair-se-á novamente; e o Universo se expandirá infinitamente. 85 Astrofísica A Astrofísica é, sem a menor dúvida, o ramo mais fascinante da Astronomia atual. Como a Física é a ciência que estuda as leis da natureza, a Física dos Astros é a ciência que estuda as leis naturais dos astros. Não é muito fácil descrever e generalizar tais leis, devido à complexidade do universo e à enorme exigência de recursos e tecnologias. Não obstante, apesar dessas grandes barreiras, a Astrofísica tem evoluído muito nos últimos tempos, e uma quantidade considerável de informações já se encontram nas mãos dos astrofísicos. A seguir serão analisados alguns fenômenos astrofísicos determinantes na atualidade ou que já se destacaram nas ciências astronômicas. Erupções de Raios Gama As erupções de raios gama ou GRB (Gamma-Ray Burst) consistem em flashes de potentes raios-gama que duram de alguns poucos segundos até várias horas e ocorrem, aparentemente, de forma aleatória no universo, sem seguir distribuição concreta. Foram descobertos por satélites que investigaram explosões nucleares atmosféricas e espaciais. Constatou-se que os flashes proviam de fora do Sistema Solar e graças às experiências com o satélite Compton gamma-ray observatory, de 1991, que possuía um instrumento chamado BATSE (Burst and Transient Source Experiment) calculou-se que os flashes eram extragalácticos, isto é de fora da Via Láctea. Através de experiências, os cientistas constataram que os flashes carregavam uma enorme quantidade de energia, o que os levou a acreditar que poderiam originar-se de fenômenos estelares. Atualmente duas hipóteses são bem difundidas: os raios-gama originamse de hipernovas, colapso de estrelas supermassivas em buracos negros ou de colisão de objetos compactos preexistentes, como no caso entre duas estrelas de nêutrons que, ao se precipitarem uma sobre a outra formam um buraco negro que, antes de passar a não permitir o escape de nenhuma emissão, emite uma erupção de curta duração. 86 Galáxias Até meados do século XVIII apenas a Via Láctea era conhecida e pouco se especulava cientificamente sobre a sua origem, chegando a predominar mitos e lendas. A evolução dos estudos astronômicos levou a descobertas de diversas galáxias que atualmente são definidas como um sistema astral composto de numerosos e variados corpos celestes, principalmente estrelas e planetas, com matéria gasosa dispersa e animada por um movimento harmonioso. Atualmente as galáxias são nomeadas por letras e números que se referem a sua forma e ao seu grau de desenvolvimento, assim elas podem ser: • Elípticas ou circulares: representadas pela letra E e um número que varia de 0 a 7, representando a excentricidade da elipse. • Espirais: geralmente possuem um núcleo central, e deste partem as lâminas da hélice da espiral. Quando são normais são representadas pela letra S, e quando o núcleo possui forma de barra por SB, indicando que são menos desenvolvidas. Essas representações são seguidas pelas letras a, b ou c, que representam a abertura das espirais. • Irregulares: são representadas por Irr. Os estudos astrofísicos mostraram que a Via Láctea é uma galáxia em espiral do tipo SB, que é constituída de duas partes principais: o disco ou núcleo (em forma de lente), que possui elevado número de estrelas, e o halo, que é a região mais externa e difusa. A Via Láctea tem aproximadamente 200 mil anos-luz e possui aproximadamente 120 bilhões de estrelas. O sol tem cerca de 5 bilhões de anos, e os corpos mais antigos da Via Láctea aproximadamente 20 bilhões de anos. As galáxias localizam-se em Aglomerados de Galáxias, a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda (localizada a 2 milhões de anos-luz da Via Láctea) pertencem a um aglomerado de 18 galáxias. Foi descoberto também, pela Lei de Hubble, que as galáxias movem-se e que podem, inclusive, se chocarem. 87 Nebulosas Define-se nebulosa como um corpo celeste gasoso e nevoento formado por uma concentração de gases ou poeira estelares, ou de ambos, que ocorre no espaço interestelar. Durante muito tempo foi considerado nebulosa todo objeto de aparência difusa localizado fora do Sistema Solar e que parecesse uma área luminosa ou escura ao telescópio, o que fez com que fossem confundidas com galáxias muitas vezes. Desde muito cedo as nebulosas foram observadas. Os astrônomos Hiparco e Ptolomeu já afirmaram ter visto nuvens de estrelas no espaço. Em 1054 nasceu a Nebulosa de Caranguejo, pela explosão de uma supernova na constelação de Touro. Em 1610 o francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc observou a Nebulosa de Órion que, a olho nu, parece uma estrela. Em 1656 o astrônomo holandês Christian Huyghens conseguiu pela primeira vez observar a área do interior de uma nebulosa. Descobriu que sua estrela anterior não é única, mas sim um compacto sistema quádruplo que ficou conhecido como trapézio. Durante do século XVIII muitas nebulosas brilhantes foram confundidas com cometas. Em 1880 a Nebulosa de Órion foi fotografada. A espectroscopia tornou clara e definitiva a distinção entre galáxia e nebulosa, e os satélites espaciais possibilitaram o estudo dos raios X e ultravioleta que antes eram absorvidos pela atmosfera terrestre. Estrelas As estrelas são corpos celestes semelhantes ao Sol e que constituem grande parte dos astros de uma galáxia. A estrela mais próxima da Terra é o Sol, que somente por isso é visível. No entanto, a maioria das estrelas localiza-se a distâncias fantásticas da Terra, enquanto o Sol tornar-se-ia invisível a apenas 70 anos-luz da Terra. As estrelas encontram-se organizadas em sistemas binários ou múltiplos. Para efeito de estudo consideram-se os aglomerados, grupos de estrelas nascidas em uma mesma época e em um mesmo local, que podem ser de dois tipos: abertos ou galácticos, que não possuem mais que poucos milhares de estrelas num volume de 1 a 10 pc de raio (1 pc @ 3,1.1013) e têm menos de 10a anos, e globulares, que possuem cerca de 100 mil estrelas num 88 volume de 25 pc de raio, têm cerca de 1010 anos e suas estrelas possuem composição diferente da do Sol, com metais, C, N e O. Na Via Láctea existem cerca de 1.100 aglomerados galácticos e 150 globulares. Entre as estrelas há a matéria interestelar, que é uma mistura de gás e grãos de poeira com densidade extremamente baixa (1 átomo/cm3), com temperaturas de 10 a 100 K na regiões mais densas e de até 106 K em regiões extremamente rarefeitas, seu tamanho pode ser de até dezenas de PC, e sua até 106M (o símbolo significa solar). A poeira interestelar bloqueia a luz de estrelas mais distantes, o que causa um efeito de avermelhamento e/ou obscurecimento geral da sua luz. Esse processo é conhecido como extinção interestelar. As estrelas se formam pelo colapso de uma nuvem interestelar. Esse processo ocorre devido à própria gravidade das nuvens e as separa em pedaços menores, que se tornam cada vez mais densos e quentes formando os chamado protoestrelas. Os protoestrelas de até 2M são chamados de Estrelas T. Tauri, e os de massa maior de Estrelas Ae/Be de Herbig. Após essa fase, as estrelas entram em equilíbrio hidrostático, no qual as forças gravitacionais, que tendem a contrair a estrela, e as reações nucleares do núcleo estelar, que tendem a explodir a estrela, se igualam. A partir daí o núcleo mais interno que constitui 20% da massa da estrela passa a transformar H em HE com liberação de energia e intensa luminosidade Ela está na chamada sequência principal (SP). A maioria das estrelas observadas à noite está em sequência principal. Extinção Estelar Terminada a fase da SP, a estrela entra em processo de extinção, que ocorrerá quando o H do núcleo se esgotar e dependerá da massa e da constituição da estrela. Para estrelas de massas aproximadamente iguais à do Sol, quando o H do núcleo se esgota, começam a ocorrer reações no núcleo, o que leva à sua expansão e, com isso, as forças nucleares superam as gravitacionais, o que leva a estrela a um grande aumento de tamanho tornando-se um astro extremamente grande e brilhoso, que os astrônomos denominam gigante vermelha. 89 Quando o combustível atômico acaba, a gigante vermelha tem suas dimensões drasticamente reduzidas pelas forças gravitacionais, torna-se um astro pequeno que brilha somente pelo calor armazenado e é chamado de anã branca. Quando o calor cessa, a anã branca torna-se uma estrela morta: chamam-na anã negra. Astrônomos estimam que o Sol tornar-se-á uma anã negra em aproximadamente 5 bilhões de anos. Em estrelas que possuem massa superior a quatro massas solares, as forças gravitacionais são muito mais fortes que as nucleares (lembrando-se de que a força gravitacional é diretamente proporcional à massa) e, portanto, a estrela tende a contrair-se. A contração leva os átomos a ficarem fortemente unidos entre si, com densidade extremamente elevada. Neutrinos vão sendo liberados, e os núcleos de nêutrons, cada vez mais contraídos, terminam por gerar uma supernova. Neste ponto, a matéria encontra-se tão condensada que nem a luz escapa. Da explosão surge, por fim, um buraco negro ou uma estrela de nêutrons. Os Quasares Os quasares (abreviatura de Quase stelars objectus – objetos quase estelares) são objetos extremamente luminosos encontrados nos confins do universo conhecido a partir de 2 bilhões de anos-luz da Terra. Contudo a maioria dos quasares se encontra a mais de 10 bilhões de anos-luz da Terra. Por estarem tão distantes não se sabe ao certo o que é um quasar. No entanto especula-se que sejam núcleos galácticos ativados por buracos negros supermaciços, que absorvem gás e poeira da galáxia, liberando grande quantidade de energia. Já foram encontrados quasares em regiões sem galáxias nas proximidades, o que sugere que galáxias e quasares não guardam nenhuma relação entre si. Como o próprio nome sugere, os quasares são, aparentemente, semelhantes às estrelas. Porém sua estrutura real é parecida com a de uma galáxia ativa, e sua massa é maior que a de qualquer outro corpo celeste conhecido. Os quasares são forte emissores de ondas de rádio e luz, o que indica que possuem grande quantidade de partículas energizadas. Os quasares também liberam grande quantidade de partículas radioativas. 90 O quasar mais brilhante já observado é o 3C273, que está a cerca de 2 bilhões de anos-luz da Terra. Quase todos os quasares possuem um forte desvio para o vermelho, o que indica que se movem muito rapidamente (50 mil km/s). As experiências têm levado à crença de que os quasares se formaram recentemente no universo. Uma das questões que tem intrigado os astrônomos é: por que não se formam quasares mais próximos da Terra? Uma das explicações aceitas é que só haveria galáxias ativas no início do universo, e estas forneciam matéria para os buracos negros, só que ela acabou com o tempo. Essa hipótese ainda é muito questionável, pois a constante formação de novas galáxias deveria reativar o sistema fornecedor de energia dos quasares. Buracos Negros A ideia de buraco negro como um fenômeno estelar que sugaria tudo à sua volta surgiu da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. Apesar disso, vários cientistas, inclusive o próprio Einstein, não acreditavam ser possível a existência real de um buraco negro no espaço. Em 1916 o cientista Karl Schwarzschild determinou, com base nas equações de Einstein, que o buraco negro deveria ser esférico. Como se sabe, o buraco negro possui um campo gravitacional extremamente intenso. Isso, além de causar a absorção de tudo em suas proximidades, causa uma tremenda distorção espaço-temporal ao seu redor, retardando o tempo. O buraco negro aumenta de tamanho com a energia dos objetos que “devora”. Isso ocorre por causa da grande pressão com que comprime os átomos dos objetos, o que faz com que os anéis dos átomos tenham menos espaço para girar e, portanto, passam a girar mais rápido, gerando mais energia que aumenta o tamanho e a força do buraco negro. Com a ajuda de simulações computadorizadas, os astrônomos têm levantado hipóteses fantásticas sobre os buracos negros e a trajetória completa dos objetos que entram por eles. Todavia são apenas hipóteses teóricas, já que é extremamente perigoso aproximar-se de um buraco negro. 91 BioAstronomia A bioastronomia analisa a possibilidade de haver vida em outros planetas, assim como a de haver planetas habitáveis fora do Sistema Solar. Análise, como o próprio nome diz, a relação da Astronomia com a vida. Uma grande preocupação dos cientistas sempre foi a possibilidade da existência de vida, inteligente ou não, em outro planeta que não seja a Terra. Ultimamente a expressão passou a designar vida alienígena. A ciência que estuda a vida fora da Terra é a Exobiologia ou Ufologia. A literatura, o cinema e a televisão já cultivaram bastante a ideia do contato entre seres humanos e civilizações alienígenas. Entretanto esse contato sempre é visto de maneira negativa, geralmente com confronto entre as partes e/ou um tentando usar o outro como cobaia em experiências dolorosas. Essa imagem tem sido muito criticada por determinados ufólogos, que defendem um contato pacífico com os aliens... Em português utiliza-se a sigla OVNI para Objeto Voador Não Identificado que é equivalente à sigla UFO (Unindentified Flying Object). Acredita-se que a aparição desses objetos sejam uma prova da existência de extraterrestres e de que eles visitem o planeta Terra. Os pesquisadores dessa área são denominados oviniologistas ou ufólogos. Dois casos históricos despertaram muito a atenção dos especialistas nessa área. Um deles ocorreu em 1947 na cidade norte-americana de Roswell onde, supostamente, houve a queda de um disco voador, e seus tripulantes foram capturados ainda vivos. O episódio ficou conhecido como Caso Roswell. O governo norte-americano admitiu a queda do equipamento, porém afirmou que não passavam de balões meteorológicos. Outro caso de destaque ocorreu recentemente, em 1996, e é considerado por muitos ufólogos o mais importante de todos. O caso Varginha ocorreu em uma cidade mineira e afirma-se que três seres extraterretres foram capturados e levados para a Universidade de Campinas. O fato é muito intrigante, pois houve grande número de testemunhas. Hipótese Sobre a Origem da Vida Terrestre Durante muito tempo pensou-se que vida na Terra surgiu a partir de matéria não-viva como, por exemplo, um pedaço de carne que, exposto 92 ao ar, atrai a presença de moscas e vermes ou lixo abandonado que, logo faz surgirem ratos e outros animais. Essa hipótese é conhecida como abiogênese. Em 1950 os químicos Stanley Miller e Harold Urey conseguiram criar aminoácidos a partir de substâncias simples da Terra primitiva. Entre os cientistas, por outro lado, já começava a aparecer a crença de que a vida poderia ter vindo de outros planetas. Entre os que defendiam essa ideia, estavam Lord Kelvin, Svantes Arrhenius e Francis Crick. Contudo uma grande dificuldade fazia-lhes frente: como a vida sobreviveria à desgastante viagem pelo espaço até a Terra com todas as dificuldades que o espaço oferece, como os raios ultravioleta, raios-gama, vácuo espacial, tempo de exposição etc? Não obstante as grandes dificuldades, evidências favoráveis também não demoraram a aparecer. Meteoritos encontrados na superfície terrestre mostraram conter compostos orgânicos, o que poderia indicar que a matéria orgânica tem origem extraterrestre. A análise de meteoritos tem trazido grandes perspectivas, por exemplo, no meteorito Murchison (J. C. Ronin-Univer. Arizona) foram detectados 74 aminoácidos diferentes, mais do que o existente na Terra. Vem sendo detectadas ultimamente em nuvens interestelares moléculas orgânicas complexas como HCOOH (ácido fórmico), H2CHN (metanimina) e C2H5OH (álcool etílico). Além disso, também foi detectado HCN (ácido cianídrico) e H2O (água) na nebulosa de Órion, que é berçário de estrelas. Chegou-se a pensar que a vida poderia ter vindo do planeta Marte. Pesquisadores encontraram meteoritos de origem marciana na Terra. Esses meteoritos são emitidos anualmente por Marte e podem levar até milhões de anos para chegar à Terra, dependendo de seu tamanho. Experiências demonstraram que certos micro-organismos poderiam resistir às condições geográficas de Marte e que outros, ainda, poderiam ser capazes de resistir à viagem de Marte à Terra. Colonização Marciana Os desastres naturais, devido à poluição desenfreada e ao constante crescimento da população, têm levado a humanidade a pensar numa solução para o problema. Uma das possíveis soluções, ainda que das mais difíceis, 93 é a colonização espacial e dentre as atuais opções possíveis, a de Marte é a mais estudada. Marte sempre foi destaque para os astrônomos pelas suas semelhanças com a Terra: o dia marciano tem 24 horas, 39 minutos e 3 til. 244 segundos. A área superficial de Marte e da Terra são muito similares, uma inclinação axial próxima e uma atmosfera correspondente a 0,7% da terrestre. Além disso, observações feitas pelo Mars Exploration Rover (Carro Robô de exploração de Marte) da Nasa e do Mars Express da ESA confirmaram a presença de água em Marte. Se há semelhanças, por outro lado também há diferenças entre Marte e a Terra: a gravidade marciana é um terço da terrestre; na superfície, a pressão atmosférica de Marte é muito baixa, e o teor de CO2 52 vezes maior que o da Terra; Marte não possui esfera magnética que reflete o vento solar etc. Há projetos para se tornar Marte um planeta onde a vida possa ocorrer, inclusive a humana. Todavia esses projetos são objeto de muita polêmica, especialmente quando se fala em prazo. De fato, em um desses projetos Marte levaria cerca de mil anos para se tornar um planeta com condições similares às da Terra. A possibilidade de colonizar Marte ainda não foi descartada pelos cientistas e, inclusive, locais são estudados em Marte para o desenvolvimento de civilizações humanas. As dificuldades e os gastos em pesquisas tornaram, ao menos por enquanto, inviáveis a iniciativa prática dos projetos de colonização. Considerações Finais Como toda ciência, a Astronomia também mostrou ser de grande benefício para a humanidade quando utilizada devidamente. Desde seus primórdios, quando era utilizada para a determinação das melhores épocas de práticas agrícolas até o lançamento de modernos satélites artificiais, a Astronomia praticamente “desvendou” um universo vasto. Muitos foram os que colaboraram com essa ciência e merecem o nosso respeito por seus méritos. Contudo ainda há muita coisa que a Astronomia pode fazer pelo homem e muitos ainda são os temas a pesquisar. 94 A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou 2009 como o Ano Internacional da Astronomia, enfocando que o conhecimento científico deve ser acessível aos quatro cantos do mundo. A Astronomia sempre terá destaque, pois é praticamente impossível conhecer-se tudo sobre tudo o que existe no universo, até porque ele continua em expansão. O fato é que todo conhecimento trazido à baila pela Astronomia deve estar voltado sempre para o benefício mútuo entre os povos, em prol do progresso da humanidade. Referências Bibliográficas BARBOSA, W. J. C.; SANTOS JR., J. F. C. dos; VIEIRA, S. L. A. A Via Láctea: estrutura e componentes X. In: UFMG. Departamento de Física. Escola de Inverno. Belo Horizonte, 1999. ESPAÇO BRASILEIRO. Vários colaboradores. Brasília: JR Gráfica e Editora Ltda. 2007. GRANDE ENCICLOPÉDIA BARSA. Vários colaboradores. São Paulo: Barsa Planeta International Ltda, – 3ª Ed., 18 volumes. 2004. GUEDES, A. R. Geografia astronômica. Departamento de Geociência – ICHL – Campos Universitário UFJF. s/d. LAS CASA, R. Homem na Lua: a primeira conquista. Observatório Astronômico da UFMG. Belo Horizonte. 1999. Disponível em: <www. observatorio.ufmg.br>. MÁXIMO, A.; ALVARENGA, B. Física Ensino Médio – 3 volumes. SP: Scipione. 2006. VARELLA, I. G.; OLIVEIRA, P.; D.C.F. de História da astronomia brasileira. Disponível em: <www.uranometrianova.pro.br/historia/ almagesto.htm.HA21eHA23.2005>. WIKIPEDIA Vários colaboradores. Astrofísica/Bioastronomia. Disponível em: <www.pt.Wikipédia.org>. Data não especificada. 95 Menção Honrosa Os desbravadores do universo Estudante: Ana Lucia Farias das Neves, 17 anos, 3º ano do ensino médio Professor-orientador: Luis Alberto Pinheiro da Silva Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - São Luis, MA RESUMO A astronomia é considerada por muitos estudiosos como a ciência mais antiga da história da humanidade. Em 2009, estamos comemorando os 400 anos do primeiro uso astronômico de uma luneta. A luneta foi aperfeiçoada e apontada para o céu por Galileu Galilei, possibilitando que o mundo tivesse um novo olhar e posteriormente ampliasse seus conhecimentos sobre os mistérios do universo. No entanto, nesses 400 anos, outros cientistas, como Tycho Brahe, Johannes Kepler, Isaac Newton, Albert Einstein, Edwin Hubble, George Gamow, entre outros, também deixaram contribuições significativas para a astronomia, revolucionando a sua época com suas ideias e descobertas. Neste trabalho, o Mensageiro das Estrelas, um repórter curioso e estudioso, entrevista cientistas que contribuíram significativamente para o estudo do cosmo. Além de narrar os principais acontecimentos nesses quatro séculos de observações dos céus à conquista do espaço, destacando os trabalhos que possibilitaram o desenvolvimento da teoria do big bang, o lançamento do primeiro satélite aos satélites de telecomunicações, o primeiro voo em órbita da Terra à chegada do homem à Lua, a participação do Brasil em missões espaciais, o desenvolvimento de novas tecnologias de observação e a expectativa de encontrar vida fora da Terra. 97 INTRODUÇÃO O homem, desde as civilizações antigas até a sociedade atual, sempre foi movido pelo desejo de compreender a Terra, os fenômenos celestes e a sua própria origem. Por isso ele começou a observar o universo e propor teorias sobre o surgimento dos acontecimentos naturais. As sociedades antigas, os babilônicos, sumerianos, egípcios, gregos e romanos procuraram desenvolver a astronomia baseados nas suas necessidades de sobrevivência, seja no desenvolvimento da agricultura e da pecuária, na previsão de possíveis cheias de rios, ou na observação de acontecimentos astronômicos como eclipses lunares e solares, sempre vistos como possíveis catástrofes enviadas pelos deuses. Os europeus começaram a mudar sua visão e concepções do universo com o advento das grandes navegações. Começaram a sugerir que a Terra não seria o centro do universo, descobriram astros até então desconhecidos, construíram fórmulas matemáticas que permitiram calcular os movimentos dos planetas e inventaram instrumentos que possibilitaram uma observação mais precisa dos corpos celestes. A partir do século XX, com o desenvolvimento tecnológico, a astronomia adotou novas técnicas, melhorou os mecanismos de observação, deixando de ser uma ciência de observação para tornar-se uma ciência experimental. A tecnologia facilitou as descobertas e possibilitou ao homem pesquisar e viajar por outros astros. No entanto todos esses avanços só foram possíveis porque o céu sempre foi motivo de fascinação e interesse para o homem. OS DESBRAVADORES DO UNIVERSO Galileu Galilei 98 Não! Não é uma mancha esbranquiçada no firmamento. Via Láctea! Uma incontável multidão de estrelas amontoadas. Vejam só! Elas, as estrelas superam mais de dez vezes as que já conhecíamos. Esta foi minha reação ao ver, pela primeira vez, o nosso espaço. Vocês não podem imaginar como me senti, foi uma mistura de emoção e espanto, nem sei explicar. Há tanto tempo se tem uma ideia completamente errada. Se bem que eu já contestei essas coisas aristotélicas que insistem em afirmar verdades que nunca experimentaram! Francamente, nunca imaginei que um presente melhorado, por mim claro, poderia ter tanta grandeza. Quem precisa de um animal de estimação quando se tem nas mãos um telescópio? E mais que isso! Quando se tem a brilhante ideia de apontá-lo para o... céu! Tão simples e genial. Este testemunho empolgante é do mais famoso astrônomo de todos os tempos, Galileu Galilei, após usar um telescópio da forma mais simples que alguém poderia imaginar. Apontando para o céu! Mas afinal, quem é Galileu por Galileu? Eu sou natural de Pisa, na Itália, e nasci em 18 de fevereiro de 1564. Meu pai, “signor” Vincenzo Galileu, era músico, comerciante e matemático também. Ainda muito cedo nos mudamos para Florência, e foi lá que iniciei meus estudos. Desde o início tive interesse e facilidade em matemática e mecânica, mas meu pai queria mesmo que eu estudasse medicina e por isso me mandou de volta para Pisa em 1581. Mas eu sou insistente e aí, depois de cinco anos na minha terra natal, certo de que não queria estudar medicina, convenci meu pai disso e retornei para Florência para estudar e ensinar matemática. Matemático OK. Mas como chegou à astronomia? Nessa época todo conhecimento relacionado à ciência e filosofia estava ligado aos estudos de Aristóteles, um filósofo grego que viveu antes de Cristo, aproximadamente entre 384 e 322. A Europa conheceu seus livros através dos árabes e desde então suas teorias foram aceitas como verdades incondicionais, sem qualquer experimento antes. Aliás, essa questão de experimentar primeiro para divulgar depois não era bem vista pela Igreja, o poder supremo; tudo que era contrário às supostas verdades aristotélicas era tachado de heresia. Mas o curioso é que foi exatamente dentro da igreja, assistindo a uma missa, que tive o primeiro estalo para isso – a oscilação do candelabro movido por um coroinha. Pronto! Ao chegar em casa fiz outras e outras e mais outras experiências para definir que apesar da velocidade decrescente, o tempo de oscilação de um ponto a outro de um determinado objeto é o mesmo. A partir daí percebi que experimentar é a melhor forma de saber se algo é verdade e mais que isso, provar que realmente é verdade. Como já não concordava mesmo com as ideias aristotélicas, resolvi experimentar uma das teorias, aquela sobre o volume da massa e o tempo que leva para cair; de acordo com eles, quanto maior a massa, mais rápido chega ao chão. 99 Lá na torre de Pisa, aquela famosa por ser inclinada, usei dois objetos de massas diferentes e mostrei para quem quisesse ver que tamanho não é documento, porque se é pra cair juntos, seja elefante e formiga, seja hipopótamo e gatinho, tudo desce ao mesmo tempo e nesse mesmo tempo cai no chão. Você fala o tempo todo sobre experiências. Mas o que Aristóteles alegava em seus estudos? Aristóteles defendia que tudo deveria ser estudado somente através da observação racional e lógica. Segundo ele o universo era esférico e finito e a Terra estava no centro, formada por quatro elementos: terra, água, fogo e ar, definidos através da alquimia, e com um lugar específico que, determinado pela “gravidade específica”, movia-se em linha reta em direção ao centro do universo. O mais drástico é que essas ideias reinaram absolutas cerca de mil anos, e só começaram a ser questionadas em 1543 por Nicolau Copérnico, que sugeriu um modelo heliocêntrico, ou seja, o Sol no centro do universo, e a Terra, a lua e outros planetas se movimentando, de forma periférica, em torno do Sol; além disso, demonstrou também que a Terra gira em torno de si mesma em ciclos que ocorrem em um dia. Mas essas concepções copérnicas confrontavam as de Aristóteles. E a Igreja? De fato. Bom, no início Copérnico apresentou suas ideias como simples modelo para avaliar as posições dos planetas, para não ter problemas com a Igreja. Mas ele não parou e após longos estudos do movimento dos planetas, Nicolau se convenceu de que a Terra era sim apenas um simples planeta em um imenso universo, e que na verdade o Sol é que estava no centro. Então depois de questionar Aristóteles com suas experiências, as teorias de Nicolau Copérnico foram uma “mão na roda” para você. Foi seu passaporte para a astronomia? Vamos considerar que os trabalhos de Nicolau Copérnico serviram de base e inspiração para meus estudos posteriores. Mas não me lancei nesse mundo novo de qualquer forma, sem qualquer bagagem; antes de me dedicar à astronomia, passei pela geometria, óptica, aritmética, mecânica e engenharia militar. Mas foi em 1598, quando me tornei professor em Pisa, que comecei a me interessar pela astronomia e me aprofundar no assunto. Em 1604 um fenômeno celeste me deixou fascinado, uma estrela supernova e com brilho radiante; voltei a me questionar sobre as teorias de Aristóteles e participar intensamente de debates sobre o assunto, porém ciente da posição da Igreja, fiquei com receio de publicar minhas ideias. Respondendo à sua pergunta sobre o “passaporte”, quatro anos após me fascinar com o fenômeno, um holandês chamado Hanz Lipperhey patenteou um instrumento que permitia enxergar coisas distantes como se estivessem próximas, era um telescópio. Minha astúcia fez uma luz acender na minha cabeça e aí me dediquei ao aperfeiçoamento desse telescópio, que 100 ficou com a capacidade de aumentar nove vezes o tamanho dos elementos observados. E numa noite do ano de 1609, tive a ideia e apontei meu “passaporte” para o céu, e aí verifiquei que não estava errado em contestar Aristóteles e, portanto, concordar com Copérnico. Enxergando o céu tão perto, o que só você pôde ver? Coisas fantásticas! O que primeiro me impressionou foi a Lua, tão fascinante e em nada parecido com as afirmações aristotélicas. Talvez não acreditem em mim, mas a Lua não é uma bola lisa e perfeita, não! Como o nosso planeta, ela tem vales e montanhas; lá também existem zonas que são iluminadas na parte escura no satélite da Terra, e aí relacionei esse fenômeno à presença de montanhas na Lua, que ao contrário das partes mais profundas onde os raios solares não alcançam, as elevadas continuavam sendo iluminadas pelo Sol. No início você citou a Via Láctea. O que você viu? Quando direcionei minha luneta para a Via Láctea, fiquei admirado com a infinidade de estrelas que pude contemplar. Estudei vários planetas, como Saturno, Marte, Júpiter e Vênus, que assim como a Lua, têm fases. Em 1610 percebi algo diferente perto de Júpiter: quatro objetos intrigantes que pareciam estrelas, mais tarde observei que essas estrelas tinham o mesmo brilho e não permaneciam sempre na mesma posição, aí subentendi que as estrelas estavam girando ao redor do planeta. Com tanta informação e descoberta, o que você fez? Com tudo isso em mãos fiz duas coisas: uma é que eu, talvez por desejar arduamente que todos soubessem a verdade e não permanecessem na escuridão da ignorância, me tornei meio arrogante e desafiava constantemente os jesuítas e seus ensinamentos aristotélicos. A outra coisa realmente relevante é que em março do mesmo ano publiquei, em Veneza, meu livro Siderius Nuncius, conhecido com o Mensageiro das Estrelas. Neste livro mostrei à Europa minhas descobertas astronômicas, feitas através das observações do céu com meu telescópio. Foi um boom! O livro foi um sucesso que me colocou como líder da vanguarda astronômica da época, mas como era de se esperar, a Igreja discordou de minhas interpretações. Mas não pense que recuei, de jeito nenhum! Em 1613, após diversos estudos, publiquei a Carta sobre Manchas Solares. É que, observando a superfície do Sol pelo telescópio, vi que ele tem manchas. Acontece que para manter as teorias de Aristóteles dos céus imutáveis, observadores da época alegavam que as manchas eram planeitoides que orbitavam o sol e estariam atravessando o disco solar. No entanto, em meus trabalhos observei que as manchas estavam na superfície do Sol e seu movimento estava ligado às rotações do astro; então descobri que essas manchas não eram periódicas, aparecendo e se dissolvendo incessantemente. – Permita interrompê-lo. Bom, não sou cientista ainda, meu papel aqui é de jornalista no meio de uma das entrevistas mais incríveis da minha vida, 101 mas como estou séculos à sua frente e, graças à sua insistência, ninguém mais acredita que a Terra seja o centro das atenções, seus seguidores, os cientistas contemporâneos, tem feito incansáveis estudos sobre o universo e, por isso, é possível saber hoje que essas manchas são causadas pelo intenso e heterogêneo campo magnético do Sol que, ao atravessar tais regiões, espalha o plasma da superfície do Sol gerando regiões que recebem menos energia, parecendo mais escuras. Só isso. Se você declarasse isso na minha época estaria condenada à fogueira, acredite! É apenas para descontrair. Mas obrigado por me deixar “atualizado” quanto às últimas descobertas científicas! Voltando então, foi após este estudo que pela primeira vez me posicionei a favor da teoria de Copérnico. Comecei a afirmar que minhas observações são mais bem interpretadas quando se leva em consideração o modelo heliocêntrico de Copérnico, que é melhor para descrever o movimento dos corpos celestes. Nesse ponto a briga estava comprada! Em 1623 a Igreja se pronunciou sobre a teoria heliocêntrica, afirmando que a explicação de que o Sol é o centro do universo e a Terra gira em torno dele é teologicamente errada, portanto contraria as doutrinas da Igreja, que então colocou o livro de Copérnico no índice dos livros proibidos pela igreja, o temido Index. Os seus livros ocuparam qual posição no Index? Pode parecer inacreditável, mas meus livros não foram para o Index, mas eu não fui poupado tanto e fui convocado a expor meus argumentos em Roma. Tive a chance de defender minha opinião diante do Tribunal do Santo Ofício; no entanto, o conselho decidiu que não existiam provas para comprovar que a Terra gira em torno do Sol, e fui aconselhado a desistir de defender a teoria heliocêntrica. Recusei-me, claro! E ficou explícito que continuaria estudando e defendendo as ideias de Copérnico, e aí acabei sendo proibido de ensinar e divulgar minhas teorias. Mas eu não poderia estar errado diante de tudo que vi. Quer uma prova disso? Em 1632, Mafeo Berberini, meu amigo e que acabara de ser proclamado Papa Urbano VII, me encorajou a publicar o livro Diálogo, embora tenha imposto uma condição: afirmar que a Igreja estava certa. No livro eu crio três personagens para retratar nossa realidade. Um personagem chama-se Salviati, que defendia o Heliocentrismo, ou seja, a verdade. O segundo personagem era inteligente, Simplício, mas não tinha conhecimentos astronômicos, puro leigo, representa o povo. O terceiro personagem, Sagredo, representa os defensores dos pensamentos de Aristóteles; como não poderia deixar de ser, Salviati constantemente coloca Sagredo em situações constrangedoras, desconcertantes. Usei alguns argumentos favoráveis à Igreja, atendendo à condição do meu amigo, mas deixei bem claro que Copérnico, ou seja, Salviati, estava correto. 102 Então você resolveu incrementar a briga. E seu amigo, o papa? Ficou irritadíssimo, afinal, eu estava defendendo a teoria Heliocêntrica, e não a Geocêntrica adotada pela Igreja. Além disso, foi convencido por seus auxiliares de que ele – o próprio papa – era um dos personagens do livro, Simplício, o mais atrapalhado. Meu livro teve boa aceitação popular, e a autoridade da Igreja foi enfraquecida. Foi aí que o papa resolveu tomar providências: o livro foi condenado e as cópias recolhidas. E quanto a mim? Bom, o papa ordenou que a Inquisição me investigasse. Fui interrogado em Roma durante 18 dias, e no dia 30 de abril de 1633 fui obrigado a confessar sob pena de tortura que as ideias de Copérnico eram erradas e heréticas. E aí você parou? Quem se torna os olhos da humanidade para a descoberta do novo não pode parar. A inquisição me condenou por apoiar a heresia de Copérnico, e minha pena compreendia prisão domiciliar vitalícia e ler salmos; a prisão eu podia cumprir sem problemas, quanto aos salmos aleguei que não conseguia mais ler, então uma de minhas filhas freiras (tenho duas no santo sacerdócio), passou a lê-los para mim. Permaneci o resto de minha vida ativo, realizando experiências e observando a grandeza do universo. Acredite, ainda escrevi mais um livro Duas novas ciências, em que descrevo diversas pesquisas sobre o movimento dos corpos celestes, sempre ressaltando a importância da matemática e da experimentação na comprovação das teorias. Porque, na verdade, penso que sou o pioneiro nessa necessidade de experimentar para comprovar. Embora alguns me tenham por cético ou herege, não é nada disso. Sou cristão! Mas não posso me tornar cego às inverdades que têm condenado a humanidade por tanto tempo à escuridão, como os infindos buracos negros do nosso universo. O que me deixa mais tranquilo é que, apesar da minha condenação, as ideias de Copérnico não foram condenadas também. Existe um jovem que seria interessante entrevistar, chama-se Johannes Kepler. Certamente ele tem coisas interessantíssimas para falar. A ciência é fantástica e nos convida a experimentarmos, sempre! Experimentemos! Galileu tem razão quando defende tanto a experiência, porque afinal, ciência teórica sem prática, mostrando que só existe porque é possível fazer, não é ciência. Embora este gigante da astronomia não tivesse noção da grandiosidade de suas descobertas, quando direcionou seu telescópio para o céu, revolucionou a astronomia e foi imortalizado no campo cientifico como popularizador da ciência e de novas ideias que mudaram a forma de o homem observar o universo. Esta entrevista é, sem dúvida, um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida. Agora estou indo encontrar-me com um ousado astrônomo que, como Galileu, acredita que pode desvendar os mistérios do cosmo. 103 O cosmo sempre inquietou a humanidade; as civilizações durante milhares de anos procuravam entender o espaço e a Terra. A astronomia antiga era utilizada para fins místicos e para medir o tempo através das posições da Lua, do Sol e das estrelas. Mas depois de Copérnico e seus mais expressivos seguidores – Galileu –, e agora você, nossa visão de mundo mudou. Mas quem é o homem cujo trabalho marcou o início da astronomia moderna? Quem é Johannes Kepler? Johannes Kepler Eu venho de uma família muito humilde. Nasci na Alemanha em 1571 e sou filho de Heinrich Kepler e Katharina. Como meus pais não tinham recursos financeiros, fui estudar em um seminário protestante. Em 1588, passei na avaliação da Universidade de Tübingen, e iniciei meus estudos em 17 de setembro de 1589. Já em 1591 fui aprovado para cursar mestrado, com duração de dois anos, quando estudei arte, grego, hebreu, astronomia e física. Eu ainda estudava quando fui convidado a ensinar matemática em um seminário protestante na Áustria, e foi aí que eu comecei a ver o cosmo com outros olhos. Mas você foi convidado para lecionar matemática! Sim, mas além de professor, meu trabalho também incluía a posição de calendarista do distrito, o que me aproximava da astronomia. Bom, a relação com calendário parece óbvia, mas o que faz um calendarista? Um calendarista tinha a função de prever o clima, a melhor época para plantar e colher, prever guerras e epidemias. O que hoje vocês chamam de meteorologia. 104 O fato é que eu não perdi muito tempo, no início de 1597 publiquei meu primeiro livro Primeiras dissertações matemáticas sobre os mistérios do Cosmo. Neste livro defendo a teoria de Copérnico, e propus que cada órbita planetária é estabelecida por um sólido geométrico. Este modelo matemático podia prever os tamanhos relativos das órbitas dos planetas. Seguir as ideias de Copérnico não parecia um bom negócio naquela época. Pelo menos Galileu teve muitos problemas. Galileu, claro, o italiano! É, sem dúvida, confrontar teorias defendidas pela Igreja é um negócio arriscado, você corre o risco de morrer queimado. Mas eu enviei um exemplar do meu livro para Tycho Brahe, que respondeu que havia diferenças entre as previsões do modelo e suas medidas. Enviei também um exemplar para Galileu, este mesmo que você citou em seu comentário, que me retornou com uma carta de agradecimento, dizendo que ainda não havia lido, mas acreditava sim nas teorias de Nicolau Copérnico. Qual sua relação com Tycho Braher? O Imperador da Boêmia, Rudolph II, resolveu contratar Tycho Braher como matemático da corte de Praga, em junho de 1599. E em 1600 tive a oportunidade de visitá-lo no castelo de Benatky, onde o Imperador acomodou Tycho. Eu tinha convicção de que, com os dados que Braher possuía, eu poderia determinar as diferenças entre os modelos e as observações que o próprio Braher havia detectado, quando lhe enviei meu primeiro livro. Por causa das minhas convicções em relação à teoria heliocêntrica, o que era explícito, fui abandonado por meus antigos mestres. Foi então que comecei a trabalhar com Tycho Braher em Praga. Tínhamos opiniões diferentes, já que ele não acreditava na teoria de Nicolau Copérnico. E como foi trabalhar com alguém que tem pensamento contrário ao seu? Complicado, mas eu precisava dos dados que ele havia levantado. Na verdade, Braher propôs um modelo híbrido, transicional, que descrevia a Terra como o centro do Universo, o Sol estaria girando à sua volta, e os outros planetas em torno do Sol. Tycho queria que eu usasse as informações que ele possuía para demonstrar que seu modelo era o correto. Como não encobri minhas convicções em relação à teoria heliocêntrica, Tycho se recusou a me ceder alguns de seus dados e informações. E como fez para chegar aos dados que precisava para fundamentar sua teoria heliocêntrica? A história é dramática, mas é o fato. Tycho abusava da bebida, foram muitos anos em festas e bebedeiras, e logo passou a sentir as consequências em seu corpo. No leito de morte ele implorou para que eu demonstrasse ao mundo que ele não havia vivido em vão, queria que eu divulgasse sua teoria de mundo. Dois dias depois da sua morte, fui nomeado Astrônomo Imperial. 105 Após intensas pesquisas e estudos, honrei o pedido de Tycho Braher, não da forma como ele queria, mas da forma real das coisas, provadas e comprovadas através dos cálculos matemáticos. Bom, com os dados e informações que ele tanto se recusou a dar, eu descobri que as órbitas dos planetas não eram círculos, mas elipses. O que significa? Eu demonstrei que minha hipótese sob a interação entre o Sol e os planetas estava correta. Sugeri que forças magnéticas ocasionavam as órbitas planetárias, uma influência das ideias do inglês William Gilbert, que afirmava que a Terra era um gigantesco ímã. Baseado nisto propus que o Sol e todos planetas também fossem ímãs. E como são ímãs, esses astros podem exercer atração mútua, que é invisível aos olhos. E quanto mais próximo do Sol estivesse o planeta, mais ele seria atraído, e seu movimento seria acelerado. Escrevi um livro Astronomia nova, no qual apresentei explicações físicas para as órbitas dos planetas celestes. Demonstrei que os movimentos dos planetas seguem leis matemáticas precisas e ordenadas. Mais tarde englobei todos os planetas do sistema solar. As três leis que escrevi apresentam as órbitas não só neste, mas em todo o sistema solar, não importando quais os planetas ou estrelas que girem em sua volta. Eu nunca imaginei que conversar com astrônomos e cientistas fosse algo tão fascinante, mas esses dois homens me ajudaram a entender que a ciência não é bicho de sete cabeças, pelo contrário, não é bicho e pode ser compreendida por qualquer cabeça, inclusive uma só; porque ciência é o nosso dia-a-dia: o Sol que aquece, a Terra que gira, a Lua que influencia os mares. Mas nossa série de entrevista não para aqui, ainda vamos conversar com o inglês Isaac Newton, que tem uma história familiar complicada, mas contribuições impagáveis para a humanidade. No ano da morte de Galileu na Inglaterra, nasceu o homem que mudou o rumo da ciência, que nessa época passava por momentos de turbulências, devido a diferentes correntes de pensamento e cientistas que não se entendiam. Então quem foi Isaac Newton? Isaac Newton 106 Nasci em Wolsthorpe na Inglaterra, em 1642, no mesmo ano em que morreu o grande cientista Galileu Galilei. Tive uma difícil infância, nasci órfão de pai, fui abandonado pela minha mãe e criado pela minha avó. Voltei a conviver com minha mãe apenas após a morte do meu padrasto, que não queria absolutamente nada comigo. Isso não me abalou, acreditava que havia nascido para fazer a diferença no mundo. Você sempre se interessou pela ciência? Quando surgiu essa paixão? Desde criança sempre gostei de inventar e construir objetos. Estudei em Cambridge, graças a um tio, foi onde desenvolvi o binômio de Newton. Entre 1665 e 1667, fiquei refugiado na fazenda de minha mãe devido a uma peste que estava afligindo a Inglaterra, e isso acabou comprometendo a minha formatura. No entanto, aproveitei a época para refletir e formular algumas teorias. Nesse período a ciência estava em conflito, existiam várias linhas de pensamentos que tentavam explicar a física terrestre e celeste, esse era o momento de associá-las. Estava pronto para unir a ciência. Tive como base para minhas descobertas brilhantes cientistas que me antecederam, entre eles Galileu Galilei e Johannes Kepler, além de algumas ideias que já tinha desenvolvido. Não deve ter sido fácil aliar duas físicas, conte-nos um pouco sobre essa experiência. Meu primeiro desafio foi descobrir os enigmas do movimento e apresentar quantitativamente as mudanças no movimento de um corpo. Após diversas análises de situações do cotidiano, percebi que, quanto maior a força, maior a mudança no movimento. Um corpo inercial opõe-se a qualquer mudança em seu movimento, e essa resistência é uma medida da massa do corpo: quanto maior a massa, maior a resistência que o corpo oferece a mudanças em seu movimento. Como foi, para você, ajudar a comprovar os trabalhos de dois dos maiores cientistas do mundo? Foi um privilégio indescritível. Em relação a Galileu, que afirmava que todo objeto em queda livre é acelerado pela Terra, independentemente da massa, descobri que os objetos são acelerados pela Terra porque ela exerce uma força sobre eles. Então o que acontece com os astros celestes? Para Kepler existia uma força entre o Sol e os planetas, mas que força seria essa? Comecei a me questionar, mas faltava uma matemática para descrever esse fenômeno, e nenhum dos meus antecessores apresentava esse recurso. Para continuar estudando, tive que criá-la, atualmente ela é conhecida como matemática do cálculo diferencial e integral. Outro fato que me intrigava era a Lua permanecer em órbita, sem cair na Terra. Foi quando em determinado dia, sentado embaixo de uma árvore, observei uma maçã caindo, e comecei a me questionar. Que força teria feito essa maçã cair? Será que é a mesma força 107 que impede a Lua de fugir da sua rota? Foi através desse acontecimento que descobri a lei da gravitação universal, concluindo que a Terra não atrai só a maçã, mas todos os corpos do universo que possuem massa, ou seja, duas partículas se atraem com forças cuja intensidade é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que as separa. Essa foi a primeira lei da física a se aplicar tanto nos corpos terrestres quanto nos astros celestes. Além das teorias já mencionadas, que outras grandes descobertas você fez? Em 1669 formulei a teoria que diz que as cores sofrem a refração da luz. Quando um raio de sol atravessa um prisma de vidro, sai do outro lado como um feixe de luzes de diferentes cores, como um arco-íris. Fiz o feixe colorido passar por um segundo prisma, onde as cores voltaram a se juntar em outro feixe, de luz branca, igual ao inicial. Graças a essa descoberta, pude perceber que o fenômeno da refração luminosa diminuía a eficiência dos telescópios, então comecei a trabalhar em um telescópio refletor, em que a concentração da luz era feita por um espelho parabólico e não por uma lente. Muitos cientistas, apesar de grandes contribuições para a ciência, não receberam reconhecimento ou tiveram seus trabalhos ignorados. Diante de tantas descobertas, na sua época você foi reconhecido pelo grande trabalho realizado? Sim. Em 1671, fui convidado a assumir o cargo de professor catedrático de matemática da Universidade de Cambridge e, no ano seguinte, fui escolhido para a Royal Society. Em 1684 tive a honra de receber a ilustre visita do astrônomo Edmond Halley, que queria me questionar a respeito dos movimentos dos planetas, observados pelos astrônomos. Então decidi retornar algumas reflexões sobre a mecânica celeste. O resultado desses estudos foi a obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, que propõe três princípios básicos: o da inércia, o da dinâmica e o da ação e reação. O princípio da inércia afirma: na ausência de forças externas, um objeto em repouso permanece em repouso, e um objeto em movimento permanece em movimento. A segunda lei, ou Princípio Fundamental da Dinâmica, diz que a força aplicada a um objeto é igual à massa do objeto multiplicado por sua aceleração. E na terceira lei, o princípio da ação e reação, que diz que se um objeto exerce uma força sobre outro objeto, este exercerá uma força da mesma intensidade, mesma direção e em sentido oposto àquele. Houve grande repercussão internacional da minha obra. Fui eleito para o parlamento no ano de 1687, também nomeado para a Casa da Moeda em 1696, quando me mudei para Londres. Tornei-me presidente da Royal Society em 1703, e mais tarde consagrado Cavaleiro, quando passei a me chamar Sir Isaac Newton. 108 Newton revolucionou o mundo com suas teorias, que trouxeram uma nova visão de mundo, pelas quais todos os fenômenos da natureza são apresentados quantitativamente por leis matemáticas e possíveis de serem experimentadas, levando o mundo à era da razão. O próximo entrevistado, assim como os cientistas com quem já conversamos, modificou a sua época com suas teorias e entrou para a galeria dos grandes cientistas da história. Alemanha. É aqui nosso próximo destino desta viagem pela astronomia e seus cientistas. Foi aqui que nasceu um dos maiores gênios de todos os tempos: criativo e curioso, foi uma das personalidades mais marcantes da ciência, fez descobertas importantes para a humanidade que influenciaram inúmeros cientistas que o sucederam. Vamos conhecer um pouco mais sobre Albert Einstein! Albert Einstein Nasci na Alemanha em 1879, filho de Hermann Einstein e Pauline Koch. Meu pai era proprietário de um negócio de pena para colchões. Em 1985 comecei a frequentar a escola Católica de Munique, depois entrei no Luitpold Gymnasium, onde fiquei até os 15 anos. Em 1894 minha família teve dificuldades nos negócios e se mudou para a Itália. Eu permaneci em Munique para terminar meu ano letivo. Como foi a sua vida acadêmica? Um ano mais tarde fiz um exame para admissão em Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), em Zurique, mas infelizmente fui reprovado na parte de humanidades. 109 Então resolvi ir para Aarau, para concluir a escola secundária. Terminei a escola secundária em 1896. Resolvi renunciar à cidadania alemã e fiquei sem pátria por alguns anos. Somente em 1901 a cidadania suíça me foi concedida. O ensino superior cursei na ETH em Zurique, onde mais tarde fui professor. E a sua vida profissional? Lecionei em Berna, Zurique e Praga entre 1909 e 1913. Voltei para a Alemanha pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial. Resolvi aceitar um cargo de pesquisa na Academia Prussiana de Ciências, junto com uma cadeira na Universidade de Berlim. Também assumi a direção do Instituto Wilhelm de Física em Berlim. Vamos falar agora sobre as suas descobertas, quais as mais marcantes? Em 1905, quando conclui meu doutorado, publiquei quatro ensaios científicos com algumas descobertas que havia feito. Entre elas formulei uma nova teoria sobre a luz; sugeri que a luz também pode ser vista como composta com pequenos pacotes, que mais tarde foram chamados de fótons, e a energia dos fótons é determinada pela frequência da radiação que eles apresentam, ou seja, quanto maior a frequência do fóton, maior a sua energia. Anos mais tarde minha teoria foi confirmada na prática e, em 1921, ganhei o prêmio mais importante da ciência – o Nobel – por minhas explicações a respeito do efeito fotoelétrico. E a famosa teoria da Relatividade? Ela provocou uma revisão dos conceitos científicos de espaço e de tempo! Escrevi um ensaio dedicado à teoria da relatividade, que intitulei de Movimento eletrodinâmico dos corpos, no qual sugeri que o espaço e o tempo são valores relativos e não absolutos, ao contrário do que era acreditado por muitos cientistas, inclusive por Newton. Além de ser da luz a velocidade máxima do universo, para que o corpo se deslocasse a essa velocidade o tempo sofreria uma dilatação, no mesmo momento em que o espaço seria contraído. Assim, o corpo que permanecesse em repouso envelheceria em relação ao corpo em movimento. Passei nove anos tentando generalizar minha teoria, até que em 1916 conclui a Teoria da Relatividade Geral, na qual descobri que a gravidade pode ser explicada como produto da curvatura do espaço em torno de um corpo com massa. Na sua vida você passou por altos e baixos. Poderia descrever algumas de suas experiências? Em meados de 1933, Hitler chegou ao poder na Alemanha e fui aconselhado por meus amigos a deixar o país e renunciei à cidadania alemã mais uma vez. Então parti para os Estados Unidos, onde integrei o Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton. Ganhei cidadania americana em 1940, mantendo também a suíça. Em 1941 iniciou o Projeto Manhattan, que visava ao desenvolvimento da bomba atômica, mas não tive participação no projeto. Em 1945, renunciei à função de diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton, mas permaneci trabalhando naquela instituição. 110 Publiquei outros livros, entre eles Por que a guerra? (1933), em colaboração com Sigmund Freud; O mundo como eu o vejo (1949); e Meus últimos anos (1950). A característica marcante dos meus livros foi a síntese de informações sobre o mundo físico, que favoreceu a compreensão mais ampla do Universo. Ben-Gurion, primeiro ministro de Israel, em 1952 me convidou para assumir o cargo de presidente do Estado de Israel. Tive que recusar, pois me encontrava doente. Assinei uma carta dedicada a Bertrand Russell, na qual concordava que meu nome fosse incluído em um pedido aconselhando todas as nações a abandonarem os armamentos nucleares. E a sua tentativa de calcular o tamanho do universo? Foi frustrante, eu não gostava da ideia de que o universo era infinito e com uma quantidade de matéria finita. Acreditava em um universo espacialmente finito, estático e esférico, como uma bola. Propus que o universo poderia ser compreendido supondo que sua massa fosse em média distribuída igualmente por todo o volume. Para formalizar minha teoria, elaborei o “Princípio Cosmológico”, em que todos os pontos do universo são indistinguíveis e isotrópicos (o mesmo em todas as direções), não existe um ponto especial. Nesse universo a densidade da matéria é constante, e como consequência o raio de curvatura do universo também é constante. Infelizmente estava errado. É, mas para sorte da ciência, a partir de 1920, com a criação de um telescópio com espelho de 100 polegadas, que foi construído no topo do monte Wilson, ao leste de Los Angeles, o jovem Edwin Hubble, através de suas observações, encontrou duas respostas fundamentais para o mundo astronômico. Em 1924 acabou com o debate a respeito das nebulosas. Hubble mostrou que as nebulosas eram na verdade outras galáxias, repletas de estrelas e distantes milhões de anos-luz do Sol. Com auxílio do telescópio, Hubble fez outra incrível descoberta: a expansão do universo. Ele estudou a luz emitida pelas galáxias distantes observando que os comprimentos de ondas em alguns casos eram maiores do que o obtido em laboratório. Esse fenômeno era consequência do efeito Doppler, que ocorre quando a fonte e o observador se movem. Quando se afastam um do outro, o comprimento de onda visto pelo observador aumenta e, consequentemente, diminui quando se aproximam. Então Hubble deduziu que as galáxias se afastam umas das outras, e que a velocidade é maior quanto maior a distância entre elas. Ele usou métodos precisos para definir a relação entre o deslocamento do comprimento de onda e a distância de uma galáxia. Essa relação ficou conhecida com a “Lei de Hubble” e revolucionou a história da ciência. Foram descobertas extraordinárias. 111 Mas as descobertas no campo científico não paravam, as teorias de Hubble trouxeram grandes discussões. Se o universo está se expandindo, deve-se ao fato de que no passado ele pode ter sido menor. Por ironia do destino, o primeiro a propor um modelo para a origem do universo foi o padre belga Georges Lemaître. Em 1927 ele sugeriu um modelo científico que ficou conhecido como “átomo primordial”. Para ele, no princípio existia apenas um enorme núcleo atômico, muito instável. Lamaître calculou a origem do universo como uma desintegração radiativa desse átomo, e devido à desintegração foram emitidas partículas e radiação. Ele julgou que essa ejeção de partículas pelo núcleo foi seguida pela criação do espaço, que crescia à medida que as partículas se afastavam. Influenciado pelas ideias de Lamaître, em 1948 o físico russo naturalizado americano George Gamow apresentou um modelo cosmológico que adotava a expansão do universo. Sua intenção era explorar o fato de o universo em expansão ter tido uma origem muito quente e densa. Ele, com a importante colaboração de dois alunos de doutorado, Robert Hermann e Ralph Alpher, desenvolveu o modelo que ficou conhecido como “modelo do Big Bang”. Para eles o universo iniciou de uma grande explosão, o Big Bang, dando origem às partículas simples viajando livres pelo espaço, tornando-se mais complexas à medida que a expansão ocorria, e a temperatura diminuía. Big Bang 112 Gamow e seus assistentes fizeram previsões baseados na concepção de que no início o universo era quente e denso; raciocinaram e perceberam que cerca de 24% do universo é constituído por hélio. Calcularam qual seria a temperatura. Após ter resfriado durante bilhões de anos, a temperatura encontrada se situava entre 3 e 10 Kelvin (atualmente o valor encontrado pelos radiotelescópios é de aproximadamente 2,73 Kelvin). Em 1964, ocorreu um fato muito interessante. Arno Penzias e Robert Wilson tentavam solucionar os problemas de telecomunicações dos laboratórios Bell, um dos principais institutos de pesquisas dos Estados Unidos. Acontece que estranhos ruídos apareciam em telefonemas internacionais. Eles investigaram com atenção seus equipamentos, suspeitaram que pudesse ser interferência de um ninho de pombo instalado dentro de uma antena, que em seguida foi encontrado e retirado. Tudo em vão, o chiado permanecia. Foi então que Penzias e Wilson perceberam que o ruído não era só insistente, mas vinha de todos os lados do céu, independentemente de que direção era apontada a antena. Mais tarde descobriram que a enigmática interferência na verdade era radiação remanescente do Big Bang. Eles tinham redescoberto as ideias de Gamow e seus alunos. Penzias e Wilson acharam “raios fósseis” que se originaram após o desacoplamento de matéria e radiação, uma espécie de imagem do universo quando ele tinha apenas 300 mil anos. Por mais de bilhões de anos, esses fótons percorreram o espaço intergaláctico e são vestígios da origem muito quente do universo. Acontecia a grande vitória do modelo Big Bang. Porém, antes da descoberta da radiação cósmica de fundo, em 1957 o lançamento do primeiro satélite artificial surpreendeu o mundo. O Sputnik I foi lançado pela União Soviética no dia 4 de outubro. O Sputnik era uma esfera de aproximadamente 58,5 cm e pesava 83,6 kg. O satélite possuía equipamento de rádio operante em pelo menos dois comprimentos de onda com potência suficiente para ser captado por amadores e para obter dados sobre a propagação de ondas de rádio através da atmosfera. As fontes de potência deveriam ser baterias on board, garantindo trabalho para duas ou três semanas. O objetivo da missão era fornecer informações sobre a densidade da atmosfera, testar métodos de rastreamento orbital por meios optico e de rádio, determinar os efeitos da propagação de ondas de rádio através da atmosfera e verificar os princípios de pressurização usados nos satélites. 113 Esse satélite ficou em órbita por seis meses antes de cair. O Sputnik II foi lançado em 4 de novembro de 1957, pesando 508 kg e apresentou uma novidade em relação ao primeiro: enviou o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika, que foi recolhida nas ruas de Moscou. A cadela morreu. A versão da época teria sido a falta de oxigênio, conforme o comunicado pelos soviéticos. Anos mais tarde, os cientistas desvendaram a causa da morte: Laika teria morrido horas depois do lançamento devido ao superaquecimento da cabine. O Sputnik e a cadela Laika Após o lançamento dos primeiros satélites, os Sputniks, satélites de vários tipos iniciaram o povoamento do espaço. Os satélites atualmente são imprescindíveis para várias atividades do homem, como telecomunicações, previsões meteorológicas, levantamento de recursos minerais e testes de novas tecnologias. Em 12 de abril de 1961, aos 27 anos de idade, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a ir ao espaço, no qual deu uma volta completa em órbita ao redor do planeta e proferiu a famosa frase “A Terra é azul”. Esteve em órbita 108 minutos a bordo da nave Vostok 1, que tinha 4,4 metros de comprimento, diâmetro de 2,4 metros e a massa de 4.730 kg. O homem continuou produzindo grandes avanços. Em 1969 o americano Neil Armstrong tornou-se o primeiro astronauta a pisar a Lua através da missão Apolo 11. Os astronautas trouxeram 37 quilos de pedras para serem analisadas em laboratório; a ideia era descobrir por meio das rochas os mistérios do sistema solar. O Brasil também teve participação na conquista do espaço. Em 2005 a Agência Espacial Brasileira e a Agência Espacial da Federação Russa assinaram 114 um acordo que tornou realidade a primeira missão espacial com um tripulante brasileiro, Marcos Cesar Pontes. A “Missão Centenário” é uma homenagem ao brasileiro Albert Santos Drummont, pelos 100 anos do voo do 14 Bis pelos céus de Paris. Além de Marco Pontes, a missão tinha como tripulantes o russo Pavel Vinogradov e o americano Jeffrey Williams. Marcos Pontes A decolagem da espaçonave russa ISS Syuz 12 oconteceu no dia 29 de março de 2006 no centro de lançamento Baikonur, localizado no Cazaquistão. O objetivo da missão era realizar experimentos brasileiros que atualmente estão sendo analisados por pesquisadores brasileiros. Novas descobertas continuam acontecendo, mas isso é assunto para próximas conversas. Terminamos aqui a nossa série de entrevistas com os grandes cientistas que a humanidade já conheceu, eles que se propuseram a explorar o cosmo, para que a humanidade hoje pudesse conhecer um pouco de sua origem e os mistérios do universo. Eu sou o mensageiro das estrelas, um jovem repórter que, através de uma viagem no tempo, fiz as entrevistas mais incríveis da minha vida, buscando saber o que pensavam os grandes cientistas quando revolucionaram a astronomia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A astronomia é o estudo de todos os corpos celestes, que descreve as características de estrelas, planetas, cometas e os demais astros que compõem o universo. A astronomia antiga envolvia a observação dos céus, dos movimentos dos objetos celestes que eram visíveis a olho nu, 115 especialmente o Sol, a Lua, planetas e estrelas que eram utilizadas para calcular as estações do ano, para elaboração de calendários e para prever quando era a melhor época para o plantio e para a colheita. As formas de observação do universo foram se alterando, o homem modificou a sua concepção de mundo, criou instrumentos que permitiram as observações mais precisas dos astros e passou a melhorar seus equipamentos. Com o aperfeiçoamento dos aparelhos astronômicos, foi possível as descobertas de galáxias, planetas e estrelas, o lançamento de satélites artificiais. O homem pôde chegar ao espaço, visitou a lua e continua a busca para encontrar vestígios de seres vivos ou fósseis desses seres em outros planetas do sistema solar ou fora dele. Atualmente os cientistas não estudam o universo apenas para entender o cosmo, mas para desenvolver outros campos da ciência e tecnologia. Muitas das pesquisas e descobertas modernas estão baseadas em estudos realizados por pioneiros nas observações astronômicas, como por exemplo, os estudos de Galileu Galilei sobre as luas de Júpiter, que ajudaram a entender o contexto do sistema solar e as descobertas de Edwin Hubble sobre a recessão de galáxias distantes, que mostraram que o Universo está se expandindo. A curiosidade do homem a respeito do universo é antiga e colaborou para que atualmente a astronomia pudesse ser útil em diversas áreas: na agricultura, navegação náutica, arquitetura, na previsão do tempo e nas mudanças climáticas. Além de responder a perguntas intrigantes e estimular novas questões, o estudo astronômico e o desenvolvimento da ciência contribuem para o avanço da humanidade. Há quatro séculos que os cientistas observam os céus com olhos mais atentos e potentes. Isso permite a melhor compreensão das leis que regem a natureza, sendo fundamental para o avanço de novas tecnologias e melhoria de vida para os habitantes da Terra, além de chegar cada vez mais longe na observação do cosmo e de se aproximar cada vez mais das questões para compreender a origem da vida. 116 Referências Bibliográficas FERREIRA, O. R. Como vejo a Astronomia. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.astronomia2009.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2009. FILHO, K. S. O. Sir Isaac Newton. Disponível em: <http://astro. if.ufrgs.br/bib/newton.htm>. Acesso em: 5 ago. 2009. GLEISER, M. Poeira das Estrelas. São Paulo: Editora Globo, 2006. ______. A dança do universo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. LIMA, J. A. S. A fama de Einstein e a experiência de Sobral. Disponível em: <http://www.astronomia2009.org.br/>. Acesso em: 10 jun. de 2009. SAGAN, C. Cosmos. Rios de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A, 1992. SANTOS, I. R. Galileu e a função da ciência. Disponível em: <http:// www.astronomia2009.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2009. SOARES, D. S. L. S. Edwin Hubble e a descoberta das Galáxias. Disponível em: <http://www.observatorio.ufmg.br/Pas77.htm>. Acesso em: 3 ago. 2009. WINTER, O. C.; PRADO, A. F. B. A. (Orgs.). A Conquista do Espaço: do Sputnik à Missão Centenário. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2007. 117 Menção Honrosa De Stonehenge a Spitzer: a evolução das observações astronômicas Estudante: Edson Luis Kuzma, 17 anos, 3º ano do ensino médio Professora-orientadora: Elenita Chuproski Scharlau Colégio Estadual Antonio Xavier da Silveira - Irati, PR RESUMO A astronomia é uma das ciências que desperta mais curiosidade no consciente e no subconsciente do ser humano. A ansiedade em se obter mais conhecimento e entendimento sobre o Universo que nos rodeia é algo imprescindível à visão humana. Além da compreensão, o homem também busca o constante aproveitamento desses recursos a seu favor, desenvolvendo cada vez mais esta que é a mais primordial de todas as ciências: a astronomia. Os conhecimentos relacionados à astronomia são desenvolvidos desde os primórdios da existência de nossa raça. Embora pareça que o Universo e, consequentemente, o seu estudo e sua posterior compreensão estejam fora do raio de entendimento das grandes massas populares, esse pensamento é totalmente equivocado. Mesmo que atualmente os pesquisadores desse assunto sejam possuidores de avançadas tecnologias, esse não é um conhecimento restrito apenas a eles, pois a curiosidade em se saber o que há além do nosso planeta está presente em todas as pessoas. O monumento megalítico de Stonehenge foi a primeira construção realizada para fins de observação celeste. A partir daí, ocorreram sucessivas mudanças que levaram a um grande avanço tecnológico. De lá até hoje, os equipamentos vêm sendo aprimorados a ponto de atualmente podermos saber o que há e acontece nos confins do Universo. A última inovação foi o lançamento do Telescópio Espacial Spitzer, que nos ajudará a observar os mais remotos pontos do Cosmos. Essas inovações no campo científico foram acompanhadas por uma elevação na qualidade de vida das pessoas, com a adaptação dessa tecnologia ao nosso dia-a-dia. Enfim, todas essas 119 mudanças revolucionaram não somente a ciência, mas a sociedade como um todo. É por isso que muito do que nós temos devemos à astronomia e, por conseguinte, aos cientistas que nela trabalham. INTRODUÇÃO Esta pesquisa foi realizada a partir da análise dos estudos e conclusões obtidos pelos mais renomados astrônomos atuais e da Antiguidade. Tendo em mãos esses conhecimentos, foi possível a elaboração de um conceito próprio, que foi explicado e defendido no decorrer do desenvolvimento do trabalho. Vale salientar que o conteúdo explícito é fruto de profundas pesquisas realizadas não somente com o advento da divulgação do concurso, mas de estudos feitos em anos anteriores que foram constantemente aprimorados. O desenvolvimento do trabalho em si segue rigorosa ordem cronológica dos fatos. Inicia-se com a abordagem sobre os primórdios do desenvolvimento das civilizações, paralelamente com o surgimento da astronomia. Também é evidenciada a ligação entre a astronomia e as representações culturais dos povos antigos. Segue-se o desenvolvimento cronológico, desde a realização das primeiras observações até a construção de aparelhos e centros de observação. Ainda é abordada a caracterização e as descobertas de corpos celestes, bem como a sua dinâmica e composição. Além desses conceitos, discute-se sobre as teorias e sobre a vida de alguns astrônomos que contribuíram no âmbito mundial para o progresso da ciência. Não se deve deixar de lado, ainda, a participação do Brasil e seus profissionais no andamento dos progressos científicos. A base fundamental do trabalho é demonstrar a extrema importância da Astronomia, tanto no desenvolvimento da humanidade como na análise dos processos naturais que envolvem o Universo. De Stonehenge a Spitzer: a evolução das observações astronômicas Estudos antropológicos e históricos confirmam que a matemática e a astronomia foram as duas primeiras ciências que surgiram. O seu 120 aparecimento foi estimulado pelas crescentes necessidades do homem antigo na resolução de problemas do seu dia-a-dia. Ambas as ciências nasceram quase que simultaneamente, pois principalmente a astronomia antiga baseava-se nas invenções e descobertas que surgiam a partir da matemática. A teoria mais provável de veracidade em suas argumentações sobre a origem da astronomia primitiva, ou seja, das observações rudimentares realizadas por povos antigos, é a necessidade deles em ter que preservar e manter a sua capacidade de sobrevivência. Como esses povos primitivos, que eram nômades, passaram a se fixar em lugares onde era possível o desenvolvimento da agricultura, do pastoreio de animais e do posterior estocamento dos excedentes, esses lugares deveriam ser absolutamente seguros. Com a observação dos ciclos lunares e, principalmente, das estações do ano, seria possível prever os períodos de mudanças e transições climáticas, como os períodos secos e os chuvosos. Iam-se criando assim, laços fortes entre o aprimoramento dos conhecimentos científicos e o desenvolvimento das micropopulações primitivas, o que propiciou os consecutivos avanços na área da astronomia. A agricultura foi um fator determinante que fez com que o homem conseguisse ascender dentre as outras espécies. A partir dela, as populações cresceram geometricamente. Com seus básicos, mas fundamentais conhecimentos sobre a astronomia, o homem pôde aprimorar suas técnicas para o cultivo de suas plantas, escolhendo a época certa para as semeaduras evitando uma eventual intempérie capaz de prejudicar o desenvolvimento de suas culturas. A observação das fases da Lua teve crucial importância não somente para a agricultura, mas para todo o desenvolvimento das civilizações. Em alguns pontos da Terra, algumas civilizações desenvolveram não somente estudos, mas também levantaram verdadeiros monumentos em adoração e contemplação ao vislumbrante e desconhecido céu. O alinhamento de Stonehenge, um templo megalítico a céu aberto localizado na Grã-Bretanha, ao meio-dia dos solstícios, é, talvez a maior manifestação de conhecimento da astronomia de nossos antepassados. Não é provável, apesar da extrema precisão que se verifica em tais efemérides astronômicas, que Stonehenge tenha funcionado como um observatório astronômico, no sentido atual do termo, sendo mais provável que tenha sido um local 121 de cultos para realização de rituais de povos pagãos. O eixo central de alinhamento de Stonehenge encontra-se na direção do nascer-do-sol no solstício de inverno, e em direção ao pôr-do-sol no solstício de verão. Em Portugal também há uma construção semelhante, porém maior e não tão bem conservada quanto a inglesa. É o Cromeleque dos Almendres, um monumento megalítico que se situa próximo a Évora. Constitui a maior planta neolítica da Península Ibérica, com 92 grandes pedras parcialmente trabalhadas, formando círculos e alinhamentos relacionados a alguns pontos referenciais astronômicos conhecidos da época. Contudo o verdadeiro berço da astronomia foi na antiga e fabulosa Mesopotâmia, região que corresponde atualmente ao Iraque, localizada entre os rios Tigre e Eufrates. Foi nos vales dessa monumental porção de terra que muitos povos estabeleceram-se e prosperaram, cada um com a sua peculiaridade. Mas todos esses povos tiveram algo em comum: um grande desenvolvimento nas áreas de ciências gerais e específicas. Os mesopotâmicos foram, das civilizações da Antiguidade Oriental, os que mais contribuíram com seus estudos no campo da astronomia, pela qualidade e quantidade de observações. Paralelamente ao estudo da astronomia pelos mesopotâmicos, principalmente pelos sumérios, estava o estudo da matemática, que era muito bem desenvolvida. Aliados à invenção da escrita, esses fatores fizeram com que os mesopotâmicos iniciassem uma série de descobertas em vários campos científicos. Desenvolveram um sistema de numeração baseado no número 60, dividindo o círculo em 360 graus, cada grau em 60 minutos, e cada minuto em 60 segundos. Realizaram observações sistemáticas do movimento do Sol, da Lua e dos planetas, determinando as fases da Lua, as estações do ano e a inclinação da trajetória da Terra em relação ao Sol. A partir do conhecimento acumulado por tais povos, foi possível a elaboração de um calendário rudimentar, mas que foi sendo aprimorado com o passar dos tempos. Todos esses conhecimentos astronômicos foram obtidos pelos mesopotâmicos com persistentes e sistemáticas observações realizadas durante o decorrer dos séculos e até milênios, fazendo uso de aparelhos muito rudimentares. Os principais eram o Gnomon, a Clepsidra e o Polo. O Gnomon é o aparelho astronômico mais antigo de que se tem registro. 122 É composto de uma haste longa e afinada, colocada verticalmente ao solo, cuja sombra permite localizar a posição do Sol. A Clepsidra é uma espécie de marcador do tempo, formado por um recipiente cheio de água ou areia, com uma pequena abertura por onde lentamente esta escoa. Assim, o nível vai descendo e sendo marcado com uma escala feita na parede do recipiente. O Polo consiste em uma pequena esfera cavada numa rocha, com sua cavidade voltada para cima. No centro, por meio de uma haste fixa, projeta-se uma sombra na cavidade da rocha, o que permite a medida do tempo. No Egito Antigo também houve significativos progressos nos estudos astronômicos. A observação das estrelas fascinou, desde tempos remotos, essa grande e surpreendente civilização. O extremo perfeccionismo matemático utilizado nas construções das monumentais pirâmides nos faz admitir o elevadíssimo grau de conhecimento egípcio. Isso faz com que esse povo ganhe especial destaque nos campos matemático e astronômico que, juntamente com os grandes escritos da Biblioteca de Alexandria, revelaram conhecimentos que nós apenas conseguimos constatar no início do século XX. Segundo Hans Krofer, um estudioso especialista nesta área, (...) a base da Grande Pirâmide (referindo-se à Pirâmide de Quéops) é um quadrado de 232,805 m de lado, ou seja, uma superfície de 53.842 m²; mais de cinco hectares. Sua altura(de quando foi construída) é de 148 metros. E o quadrado dessa altura é exatamente igual à superfície de uma das faces triangulares. Essa altura de 148 metros multiplicada por dez elevado à nona potência é igual à distância média da Terra ao Sol. (...) O perímetro da base da Pirâmide é de 931,22 m. Se dividirmos esse número duas vezes pela altura da Pirâmide, temos o valor de Pi. A medida empregada para a construção era o côvado sagrado, ou seja, 0,635660 m. Se o multiplicarmos por dez milhões, obteremos 6.356.600 m, que é precisamente o valor que a ciência atual atribui ao comprimento do raio do centro da Terra ao polo. (...). (Hans Krofer, 1999). Talvez seja incompreensível que tal civilização antiga possua tanta precisão na elaboração desses cálculos. Krofer ainda conclui: (...) E isso não é tudo. A Grande Pirâmide está orientada exatamente ao norte, e o corredor que sobe do interior da mesma dirige-se exatamente à Estrela Polar norte atual, ou seja, esse corredor está situado paralelamente ao eixo da Terra. (...). (Hans Krofer, 1999). 123 Isso demonstra que, não só a matemática, mas também a astronomia era dominada pelos egípcios. Muitos desses dados matemáticos e astronômicos, além de tantos outros de literatura, medicina e filosofia, talvez estivessem registrados na monumental Biblioteca de Alexandria. Tragicamente, esse grande acervo de conhecimentos contendo escritos dos maiores cientistas antigos, onde eram guardados mais de um milhão de pergaminhos, foi totalmente destruído. Os povos da América também desenvolveram seus conhecimentos astronômicos, embora de forma isolada em relação ao resto do mundo. Dentre estes, os maias foram os que mais se interessaram em analisar o comportamento celeste. Mas ao contrário dos egípcios ou dos outros povos que observavam várias estrelas, os maias interessaram-se em especial por uma: o Sol. Considerado um deus, o Sol para os maias era digno de adoração. Templos eram erguidos em sua homenagem, e sacrifícios humanos eram constantemente utilizados como forma de reforçar os laços entre deus e homem. Os gregos, um povo possuidor de vastos conhecimentos nas mais variadas áreas, demonstraram que, através de observações naturais, era possível a dedução de certos dados sobre a natureza dos astros. Durante um eclipse, observou-se que a sombra que a Terra projetava sobre o seu satélite, a Lua, era cinco vezes maior que ela mesma. Com isso, podese deduzir, aproximadamente, o tamanho comparativo entre a Lua e a Terra. Os romanos, que se assemelhavam aos gregos em seus conhecimentos, contribuíram para a nomenclatura dos planetas que foram descobertos posteriormente. Os planetas receberam o nome dos deuses romanos, como Mercúrio, o Mensageiro dos Deuses, Vênus, a Deusa do Amor, Marte, o Deus da Guerra e Júpiter, o Deus Supremo. Dentre este panorama de grandes informações a respeito da mecânica celeste, levantou-se uma nova e preocupante questão: como seria a organização dos planetas, da Lua, do Sol e das demais estrelas em relação à Terra? Em resposta a essa indagação, um matemático e astrônomo, chamado Cláudio Ptolomeu, formulou a Teoria do Geocentrismo, ou seja, a Terra no centro do Universo. Segundo os estudos de Ptolomeu, o Sol, a Lua e os planetas orbitavam ao redor da Terra, na seguinte ordem: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. 124 Essa teoria foi aceita durante 16 séculos, até que o cônego polonês Nicolau Copérnico, um apaixonado pela astronomia, contestou a veracidade de tais afirmações. Baseado em seus estudos e em escritos deixados por outros estudiosos, Copérnico assim concebeu a sua visão sobre a ordem dos fatos: (...) Depois de longas investigações, convenci-me, enfim, de que o Sol é uma estrela fixa, rodeada de planetas que giram à sua volta e dos quais ele é o centro. (...). (Copérnico, 1543). Com forte embasamento e tendo várias evidências à seu favor, criou a Teoria Heliocêntrica, com a publicação de sua obra-prima, o Revolutionibus Orbium Coelestium, afirmando que o Sol é o centro o Sistema Solar. Copérnico também servia à Igreja Católica, fato que fez com que tivesse acesso ao saber entesourado da Igreja. Após minuciosos cálculos, ele deduziu que a Terra executava um movimento em torno do seu próprio eixo: isso explicava o aparente movimento do Sol e das outras estrelas, bem como a sucessão de dias e noites, comprovando que não era o Sol que se movia, e sim a Terra. Após 20 anos da divulgação desses trabalhos, Giordano Bruno acrescentou a essa nova e pulsante teoria que o Universo era infinito, levando a mais uma série de contestações e polêmicas. Giordano foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição. Durante a Idade Média, outros monges europeus também articularam suas debilitadas, mas significativas ideias sobre os fenômenos celestes. Enclausurados em seus mosteiros, registravam suas observações e explicações sobre a ocorrência das marés, dos equinócios e solstícios, dos eclipses e, a partir disso, aprimoravam cada vez mais os calendários. Existem até alguns registros de observações de uma possível explosão de estrela, realizadas em um mosteiro na Alemanha. Todos esses acontecimentos, segundo a extrema visão teocêntrica da época, eram sinais divinos, formas que Deus usava para se comunicar com os homens. A astronomia obteve grandes vitórias quando Galileu Galilei, um astrônomo italiano, desenvolveu seus estudos sistemáticos sobre os vários conceitos inacabados levantados por seus antecessores. Viveu numa época de grande turbulência no campo científico. Os entraves entre o antiquado geocentrismo e o revolucionário Heliocentrismo aumentaram ainda mais a sua voracidade de obter respostas plausíveis. É considerado o inventor do telescópio, apesar de seu invento basear-se nas lentes fabricadas por 125 Hans Lippershey. Primeiramente, Galileu fabricou uma luneta (nome que também se dá ao seu telescópio) que era capaz de aumentar em três vezes o tamanho aparente do objeto. Posteriormente fabricou uma luneta que aumentava em dez vezes, e outra que aumentava em 30 vezes o tamanho do objeto observado. Porém, Galileu foi o primeiro a fazer uso científico do telescópio, ao realizar observações astronômicas com ele. Fazendo uso desse instrumento óptico, desvendou diversos aspectos dos corpos celestes, como as manchas solares, as crateras e o relevo lunar, as fases do planeta Vênus, os principais satélites de Júpiter, e mesmo a pequena resolução de seu aparelho fez com que os satélites fossem confundidos com os anéis do planeta gigante. Além disso, desvendou a natureza da Via-Láctea como sendo uma concentração de incontáveis estrelas, iniciando, assim, uma nova e importantíssima fase de observações astronômicas, na qual o telescópio passou a ser o principal instrumento utilizado. Consequentemente as evidências que defendiam o sistema heliocêntrico de Copérnico foram cada vez mais aceitas. Galileu acabou condenado por proferir práticas heréticas, sendo preso, mesmo tendo idade avançada e problemas de saúde. Nesse cenário conturbado e ao mesmo tempo glorioso em que a ciência transitava, surge um grande astrônomo que esclareceu as tendências astronômicas quanto à movimentação dos corpos celestes. É Johannes Kepler, que formulou as três leis fundamentais da mecânica celeste, conhecidas como Leis de Kepler. Em seus estudos, ele condenou as explicações supersticiosas dadas às aparentes incompatibilidades de cálculos constatados por Ptolomeu e mantidas por Copérnico. Kepler, usando dados coletados por Tycho Brahe, mostrou que os planetas não se movem em órbitas circulares, mas sim elípticas. O foco de sua atenção foi o planeta Marte. Conseguiu determinar as diferentes posições da Terra após cada período sideral de Marte, determinando com excepcional exatidão as órbitas da Terra e de Marte. Outra questão ainda intrigava o campo científico e astronômico. Até então, poucos haviam ousado debater sobre o fato de os corpos celestes estarem presos às suas órbitas, sempre descrevendo o mesmo movimento. Mas, afinal, o que os mantinha presos a essas posições? Também havia o fato de que todos os corpos, aqui na Terra, caíam para baixo, evidenciando que existia algo que os puxava para a Terra. Aristóteles concebeu que todos 126 os corpos que possuem massas diferentes caem com velocidades diferentes. Mas suas conclusões não diziam nada a respeito dos corpos celestes. Isaac Newton quebrou esse tabu ao afirmar que a força que mantém a Lua pendurada no céu é a mesma que nos mantém presos a Terra. O próprio Newton esclareceu afirmando que Todos os objetos do Universo atraem todos os outros objetos com uma força direcionada ao longo da linha que passa pelos centros dos dois objetos, e que é proporcional ao quadrado da separação entre os dois objetos. (Newton, 1687) O enigma da gravidade foi rompido. Isso também explicava o fato da formação do Sol, da Terra e dos outros corpos celestiais: esses corpos não existiriam se a gravidade não tivesse agido sobre a matéria aglutinando-a a ponto de se formarem grandes acúmulos. A gravidade também é responsável pela formação das marés. As forças de atração da Lua somadas às forças de atração da Terra resultam em grandes deslocamentos das águas oceânicas. Esses deslocamentos ocorrem tanto no lado frontal de alinhamento com a Lua, como no lado oposto a essa formação. A partir desse momento, as descobertas realizadas pelos astrônomos passaram a ter maior profundidade no aspecto de precisão e inovação. Os olhos e telescópios começaram a enxergar a infinita vastidão do universo. As teorias ficaram surpreendentemente mais exatas. Até então, o máximo que o homem conseguia era discorrer sobre a própria vizinhança, dado o avanço do conhecimento que se possuía na época. Novos conceitos foram sendo incorporados aos estudos científicos, que passaram a abordar corpos celestes muito maiores e mais complexos que os planetas e satélites. Descobriu-se que o nosso gigante amarelo, o Sol, era insignificante se comparado a outras estrelas, como a supergigante vemelha Antares, que tem um volume 64 milhões de vezes maior que o do Sol. Até o início do século XX, acreditava-se que a Via Láctea fosse um sistema relativamente pequeno, com o Sol próximo do seu centro. Mediante a análise espacial dos aglomerados globulares na galáxia, Harlow Shapley realizou, em 1917, o primeiro cálculo seguro das reais dimensões da Via Láctea. Shapley descobriu que o Sol situava-se a 30 mil anos-luz do centro galáctico e que estava mais próximo da borda do que do meio. Calculou um diâmetro de 100 mil anos-luz para a galáxia. 127 Com a evolução dos estudos sobre a espectroscopia, foi evidenciado que outras estrelas eram similares ao Sol, mas com temperaturas, massas e tamanhos diferentes. Foi comprovado que estamos dentro de uma galáxia, a Via Láctea, como um grupo separado de estrelas. Após rigorosos cálculos e se utilizando das teorias filosóficas de Immanuel Kant, que acreditava na existência de sistemas semelhantes ao sistema da Via Láctea, mas que pareciam pequenas no céu por estarem a enormes distâncias de nós, Edwin Hubble propôs uma ideia capaz de ser comprovada cientificamente, para que fosse aceita de forma definitiva. Em 1923, utilizando um telescópio de 2,5 metros, ele identificou estrelas individuais em uma das maiores nebulosas conhecidas, a chamada “Grande Nebulosa de Andrômeda”. Ela tem esse nome por ser vista de uma região do céu onde se localiza a constelação de Andrômeda. Através de um estudo detalhado das propriedades luminosas dessas estrelas, Hubble conseguiu medir a distância até elas e, por conseguinte, até a Grande Nebulosa. O resultado foi surpreendente, pois a distância reconhecida até a Grande Nebulosa era muito maior que o tamanho da própria Via Láctea. A surpreendente conclusão desse enigma foi de que aquela nebulosa era, na verdade, um sistema estelar tão grande quanto o que o Sol e a Terra estão situados. Esses sistemas passaram a ser chamados de galáxias, em analogia com a denominação da nossa Via Láctea. A partir disso, outras nebulosas foram estudadas por Hubble, mas o resultado foi repetitivamente confirmado em todos. A partir dessas observações e conclusões, Hubble determinou a aproximada extensão do Universo. Provou, através de suas teorias, que existem outras galáxias, com estruturas semelhantes à nossa. Passou a classificá-las, segundo suas estruturas e formatos, em espirais, espirais barradas e elípticas. Em 1929, demonstrou que as galáxias afastam-se com grande velocidade e que essas velocidades aumentam com a distância, ou seja, quanto mais distantes as galáxias estiverem de seus lugares de origem, maiores serão as suas velocidades de afastamento. A relação entre a velocidade e a distância dos corpos celestes é chamada de Lei de Hubble, e a razão entre os dois valores é conhecida como Constante de Hubble. Esse deslocamento de galáxias serviria como base para George Gamow estabelecer, em 1946, a Teoria do Big Bang. Analisando o desvio de cores para o vermelho em suas observações, desenvolveu a teoria da contínua 128 expansão do Universo e anunciou que a velocidade de uma galáxia em relação à outra é proporcional à distância entre elas. Ou seja, Hubble estudou a luz emitida por galáxias muito distantes, observando que o comprimento de onda, em alguns casos, era maior do que aquele que ele havia obtido em seu laboratório. Esse fenômeno ocorre quando a fonte de luz e o observador se movem. Quando se afastam um do outro, o comprimento de onda visto pelo observador aumenta, diminuindo quando a fonte e o observador aproximam-se. Então, se uma galáxia estiver aproximando-se, a luz desloca-se para a cor azul, e se aquele estiver afastando-se, a luz desloca-se para a cor vermelha, fenômeno conhecido como Efeito Doppler. Constatou, assim, que as galáxias estão em constante afastamento. Outro astrônomo, chamado Walter Baade, observou pela primeira vez na década de 1940, durante as suas pesquisas, o fenômeno da nucleossíntese, ou seja, a formação de elementos pesados no interior superaquecido das estrelas. Estabeleceu que a abundância de elementos pesados em gerações sucessivas de estrelas deve aumentar com o tempo. Descobriu que existe um paralelo também com a formação e evolução da Via Láctea, pela análise da correlação existente entre a localização de uma estrela no sistema galáctico e sua abundância de elementos pesados. Baade e outros astrônomos concluíram que as estrelas encontradas no disco da Via Láctea são jovens e pouco abundantes em elementos pesados, e que as do halo classificam-se como velhas e abundantes em elementos pesados, enquanto as do núcleo são uma mistura homogênea dos dois tipos. Toda a matéria que existe no Universo é a mesma que já existiu e a mesma que vai existir, ou seja, a matéria não pode ser criada e muito menos destruída. A quantidade de matéria sempre foi a mesma, embora ela tenha sofrido profundas transformações no decorrer do tempo. Tudo o que existe surgiu como consequência de uma grande e rápida expansão de matéria, a qual ainda continua. No entanto o Big Bang produziu apenas hidrogênio, hélio e uma minúscula quantidade de lítio. Com o rápido resfriamento do Universo em expansão, não houve tempo nem condições para a formação dos outros elementos. Mas é evidente que eles existem, tanto na Terra como fora dela. Núcleos de elementos pesados só podem ser produzidos em locais muito quentes e densos. No Universo depois do Big Bang, os únicos lugares com tais características são os centros das 129 estrelas. Resta saber como essa produção acontece e como os elementos produzidos conseguem escapar das estrelas. Quanto mais velha for a estrela, mais fria e densa ela estará, pois a quantidade de elementos pesados em sua composição aumentará. Em estrelas jovens (azuis e amarelas), a principal reação que se processa é a da fusão dos núcleos de hidrogênio, formando um núcleo de deutério, um pósitron e imensa quantidade de energia. O pósitron choca-se com um elétron, e ambos aniquilam-se mutuamente. O deutério interage com outras partículas formando um núcleo de hélio. Quando a quantidade de hélio começa a predominar sobre a de hidrogênio, a estrela começa a esfriar por falta de combustível, contraindo-se e aumentando a pressão do núcleo. Essa diferenciação na pressão e temperatura da estrela faz com que outras reações aconteçam. Essa nova fase de reações começa com a fusão dos núcleos de hélio produzindo núcleos de berílio. Este, por sua vez, reage com um núcleo de hélio produzindo um núcleo de carbono. O núcleo de carbono reage com um núcleo de hélio produzindo um núcleo de oxigênio e assim sucessivamente. Essas reações sempre ocorrem entre um núcleo de hélio e outro mais pesado, produzindo um terceiro elemento. Vale lembrar que a cada reação ocorre uma grande liberação de energia. Os processos de transmutações nucleares sucedem-se até que ocorra a formação do elemento ferro-56. Os prótons e nêutrons desse elemento são tão fortemente ligados que fazem com que o núcleo do ferro-56 seja o mais estável de todos. Mas então, como se explica a existência de elementos mais pesados que o ferro? Na verdade, existem outros processos de formação de núcleos pesados, além da captura de núcleos de hélio. Quando as estrelas alcançam uma pressão muito avançada, o ferro-56 pode capturar três nêutrons e se tornar ferro-59. Este, por sua vez, é muito instável, com meia-vida de apenas um mês. Ele emite uma partícula beta e vira cobalto-59. Esse processo, onde ocorre a captura de nêutrons, pode chegar até o bismuto-209. O processo todo leva anos para se completar, e por isso é chamado de “processo lento de captura de nêutrons”. O processo de formação dos elementos com massa superior à do bismuto-209 ocorre em condições superespeciais. Depois de esgotados todos os estoques de elementos leves, as estrelas que possuem massa muito superior à do Sol não conseguem segurar a extrema compressão da gravidade. A massa toda se contrai rapidamente e a densidade do centro da 130 estrela cresce tanto que os elétrons são engolidos pelos prótons, produzindo muitos neutrinos. Ela transforma-se em uma imensa bola de nêutrons, até que explode como uma supernova. É nessas ocasiões que se formam os elementos pesados. Com esse conhecimento sobre a composição do Universo e tendo em mãos os dados sobre a movimentação dos grandes aglomerados celestes, foi possível a elaboração de uma teoria explicando a origem de todo o Universo. O astrônomo belga Georges Lemaître concluiu que no tempo zero ou início dos tempos havia uma massa minúscula, chamada de ovo cósmico ou superátomo. Este se contraía e expandia-se sob efeito da gravidade. Esse movimento fez com que a temperatura interna aumentasse muito, a ponto de explodir originando tudo. Tal visão sobre a origem do Universo foi abandonada, pois se tinha uma ideia básica de que num passado muito distante o Universo fosse muito mais quente e denso. As evidências propiciadas pela mecânica quântica colaboraram ainda mais para a impossibilidade da ocorrência de tal fato. Para explicar aquele total de matéria e energia que se expandiam, o ucraniano George Gamow cunhou tal fenômeno com a expressão Big Bang, criada pelo cosmólogo Fred Hoyle. Estabeleceu-se que tudo surgiu dessa expansão, inclusive o tempo e o espaço. Logo após, o Universo foi preenchido por um mar de quarks, superaquecido a um trilhão °C. Mas ainda não há um consenso de quando isso aconteceu: provavelmente de 13 a 16 bilhões de anos atrás. Acredita-se que não há nenhum centro no Universo, isso porque não há meio nem borda que nos sirvam de referência. Em um Universo infinito, o espaço é curvado de modo que se poderia viajar bilhões de anos-luz em linha reta que, eventualmente, terminar-se-ia essa viagem de onde se começou. O espaço e o tempo foram criados a partir do Big Bang, mas a matéria já existia. No começo do Universo, o espaço era totalmente preenchido pela matéria. A matéria estava originalmente muito quente e densa, até que se expandiu e esfriou para que ocorresse a formação das estrelas e galáxias. Por isso, não há nenhum centro de expansão, o Universo está se expandindo simplesmente para todos os lados. Apesar disso, a Terra não está se expandindo nem o Sistema Solar. Esses corpos foram formados sob influência da gravidade, assim como as galáxias. São os grupos e os aglomerados de galáxias que estão se movendo no Universo. 131 Quando dizemos que o Universo tem 16 bilhões de anos de existência, estamos afirmando que o tamanho do Universo é de 16 bilhões de anosluz, dado que as galáxias viajam quase à velocidade da luz. Também se deve considerar que o verdadeiro tamanho do Universo é provavelmente muito maior do que o Universo visível. As galáxias que vemos nos possíveis limites do Universo emitiram suas luzes há muito tempo e, por isso, não é correto pensar que elas ainda estejam no mesmo lugar. Com o objetivo de aprofundar ainda mais as evidências científicas do Big Bang, um grupo de cientistas de mais de 50 países participou da construção do maior acelerador de partículas do mundo. Foram 14 anos de trabalhos e um gasto de oito bilhões de dólares para a construção da máquina, com 27 km de extensão, localizada entre a França e a Suíça. No dia 10-9-2008, o acelerador denominado LHC (Grande Colisor de Hádrons), foi carregado com um feixe de prótons. Esse é um equipamento que promove a colisão de partículas subatômicas, através de altas velocidades induzidas por grandes e poderosos ímãs. Os prótons são acelerados quase até a velocidade da luz, que faz com que eles girem em sentidos opostos e se choquem. Essa colisão originaria, teoricamente, micropartículas formadas por estilhaços de prótons. Assim os cientistas tentam recriar o que aconteceu no Big Bang. Apesar disso, alguns cientistas tentam, através da justiça, fazer com que o experimento seja interrompido, alegando que tal experimento acarretaria a formação de um buraco negro. Buraco negro, segundo a definição do professor Renato Las Casas, “(...) é uma ‘coisa’ que de negro tem tudo, mas de buraco não tem nada.” (Las Casas,1999). O buraco negro é uma região do espaço onde o campo gravitacional é muito forte, a ponto de não permitir nem que luz escape. A densidade de um buraco negro é elevadíssima, sendo que, se o nosso Sol se transformasse em um, teria que contrair a um diâmetro de menos de 6 km. Mas se nem a luz consegue escapar de um buraco negro, ele não pode ser visto. O único modo de perceber a sua existência é analisar o comportamento de sua vizinhança. A sua identificação ocorre quando vários corpos o rodeiam ou são engolidos pelo campo gravitacional. Esses corpos supermassivos são encontrados, geralmente, no centro das galáxias e são formados a partir de estrelas velhas. As galáxias vêm sendo estudadas mais a fundo desde as descobertas de Edwin Hubble. São bem diferentes entre si, podendo ser agrupadas, 132 quanto às suas formas, em espirais, espirais barradas, elípticas e irregulares. As espirais são formadas por um núcleo condensado onde estão as estrelas velhas, uma região intermediária, e pelos braços espirais. A nossa Via Lácta tem essa forma. As espirais barradas são semelhantes às espirais simples, embora o seu núcleo seja atravessado por uma estrutura em forma de barra. Acredita-se que essa barra seja formada em resposta a algum tipo de perturbação gravitacional. As elípticas apresentam uma forma esférica ou elipsoidal e são compostas principalmente de estrelas velhas. Quanto ao tamanho, podem ser desde anãs até supergigantes, com mais de 10 trilhões de massas solares. As galáxias irregulares não possuem nenhum tipo de simetria circular e rotacional. São formadas por estrelas jovens. A galáxia mais estudada, além da Via Láctea, é a Galáxia de Andrômeda. É a maior galáxia do grupo local de galáxias, onde se encaixa a Via Láctea. Os cientistas preveem uma possível colisão entre a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda, a mais próxima de nós. O impacto aconteceria em cerca de cinco bilhões de anos, embora os possíveis danos causados seriam mínimos devido ao grande espaço entre os planetas e estrelas. As galáxias, dependendo do tamanho, são formadas de centenas de milhões de estrelas. Essas estrelas são corpos luminosos formados de plasma, onde, por pressão interna, é produzida uma grande quantidade de energia proveniente de explosões nucleares. A estrela mais próxima da Terra, depois do Sol, é a Próxima Centauri, que fica a 4,2 anos-luz. Existem estrelas de diferentes massas, composições e brilho e, ao longo de sua vida, as suas massas e composições alteram-se gradativamente devido ao processo de fusão nuclear. A vida de uma estrela do porte do Sol é de 10 bilhões de anos. O futuro do Sol é transformar-se em uma gigante vermelha, quando todo o hidrogênio acabar. Para isso acontecer, o Sol tem que se expandir muito e, com essa expansão, ele inflaria a ponto de engolir as órbitas de Mercúrio, de Vênus e da Terra. Após um bilhão de anos, a gigante vermelha se condensaria formando uma anã branca. Se a estrela for maior que o Sol, a pressão gravitacional degenera-se, e a estrela entra em colapso, formando uma supernova. Na supernova, os elétrons são forçados a entrar nos núcleos atômicos, onde se combinam com prótons formando nêutrons. Forma-se, então, uma estrela de nêutrons, que é extremamente pequena, 133 não podendo ser maior que alguns quilômetros. Essas estrelas são supermassivas e possuem um período de revolução curtíssimo, chegando a 600 revoluções por minuto. O Sistema Solar, local onde a Terra se encontra, formou-se a partir de uma nebulosa solar original. Seguiu-se um colapso gravitacional na nebulosa que fez com que ela se tornasse um imenso disco rotativo, com a maior parte da massa concentrada no meio. A compactação gravitacional seguiuse até que começou a fusão nuclear do hidrogênio em hélio, iniciando a atividade solar. Os materiais rochosos e metálicos conseguiram se solidificar nas proximidades quentes do Sol, enquanto os materiais gasosos eram varridos pelos ventos solares para longe, onde as temperaturas mais baixas permitiram a sua solidificação. Vários protoplanetas foram formados, e estes colidiam violentamente uns com os outros. A energia gerada pelas colisões fez com que os protoplanetas derretessem. Dessa forma, o material mais denso, como ferro e níquel, afundou, e os menos densos se decompuseram e formaram os mantos. À medida que os planetas esfriavam, as superfícies eram solidificadas, dando origem às crostas planetárias. Um protoplaneta chocou-se com a Terra e fez com que grande parte do seu material fosse jogado em órbita. Esse material aglutinou-se ao redor da Terra formando a Lua. Na região mais externa do Sistema Solar, boa parte do material volátil agrupou-se originando os planetas gasosos gigantes: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Porém, outros protoplanetas foram capturados gravitacionalmente por esses gigantes, formando os seus satélites. Por fim, os restos sólidos não capturados por planetas agruparam-se e permaneceram juntos no Cinturão de Asteroides, entre Marte e Júpiter, no Cinturão de Kuiper, que fica além de Netuno, ou foram arremessados pela gravidade de Júpiter para a Nuvem de Oort, nos limites do Sistema Solar. Os planetas podem ser classificados em duas ordens: planetas telúricos ou sólidos e planetas gasosos ou jovianos. Os planetas telúricos são os situados próximos ao Sol, compostos de matéria sólida, como rochas, ferro e metais pesados. As densidades são maiores que a dos planetas gasosos. Mercúrio e Vênus não possuem satélites devido à proximidade com o Sol; a Terra tem a Lua; e Marte tem dois: Fobos e Deimos. Mercúrio é o menor de todos, sendo pouco maior que a Lua, tem período orbital de três meses e leva 58 dias terrestres para dar uma volta em torno do seu eixo. Vênus, 134 a Estrela do Pastor, é o planeta mais brilhante de todos. Nele ocorre um superefeito estufa, que faz com que sua temperatura chegue a 460 °C, sendo mais quente que Mercúrio. A Terra é o planeta que nós habitamos, o único com existência de vida comprovada. Tem temperatura média de 14 °C e uma imensa variedade de compostos orgânicos. Foi e ainda é habitada por uma imensa quantidade e variedade de seres vivos e por uma espécie que evoluiu a ponto de desenvolver inteligência, o Homo Sapiens. Possui uma camada envoltória de gases que a protege contra a radiação solar e contra os raios cósmicos. Marte, o planeta vermelho, é o que mais se assemelha com a Terra. Possui os maiores vulcões do Sistema Solar e profundos abismos e crateras. Apresenta uma atmosfera duas vezes maior que a da Terra, formada principalmente de dióxido de carbono. Os planetas gasosos ou jovianos são os maiores do Sistema Solar, sendo compostos de gases e provavelmente um pequeno núcleo sólido. Júpiter, o maior de todos, tem 2,5 vezes mais massa do que todos os outros planetas juntos. É 1.300 vezes maior que a Terra. É composto por hidrogênio metálico, hidrogênio líquido e gás hidrogênio, que envolvem um núcleo rochoso relativamente pequeno. Possui um sistema de anéis planetários compostos de poeira cósmica. Devido à sua imensa gravidade, Júpiter possui inúmeros satélites. Até agora foram descobertos 63, dentre os quais Ganimedes, Europa, Io e Calisto são os maiores. Saturno é o segundo maior planeta, composto principalmente por hidrogênio. É visivelmente achatado nos polos e possui baixa gravidade. Tem um volume 740 vezes maior que a Terra. É muito semelhante a Júpiter e possui um sistema de anéis muito protuberantes. Apresenta 56 satélites conhecidos, e Mimas, Encélado, Tétis e Dione são os maiores. Urano tem uma inclinação em seu eixo de 90°, que faz com que ele gire praticamente deitado em seu eixo. Possui composição gasosa e extensos oceanos líquidos. Sua temperatura é extremamente baixa e possui um sistema de anéis diferentes de Júpiter e Saturno. Apresenta 27 satélites conhecidos, dentre os quais Titânia e Oberon são os maiores. Netuno é o último planeta em afastamento, desde que Plutão foi reclassificado. Apresenta, em sua atmosfera, os ventos mais fortes de todos os planetas. É um planeta azul devido à concentração de metano, 135 considerado um planeta intermediário entre os rochosos e os gasosos. Possui sistema de anéis e apresenta 13 satélites conhecidos, dentre os quais Tritão é o maior. Além dos planetas, também existem outros corpos celestes em nosso Sistema Solar, como os planetas anões, os cometas e os asteroides. Os planetas anões são muito semelhantes aos planetas normais, sendo apenas menores. No Sistema Solar existem cinco planetas anões: Ceres, Plutão, Haumea, Makemake e Éris. Ceres está localizado no Cinturão de Asteroides e desde 2006 é considerado um planeta anão. Plutão, que era considerado planeta até 2006, foi reclassificado. Tem período orbital de 248 anos terrestres, situa-se na região conhecida como Cinturão de Kuiper e possui três satélites: Caronte, Nix e Hidra. Haumea, que também se situa no Cinturão de Kuiper, possui dois satélites naturais. Foi descoberto em 2008 e também é chamado de Atégina. Makemake é o terceiro maior planeta anão e um dos maiores corpos do Cinturão de Kuiper. Não possui satélites e sua temperatura média é de -243°C. Éris é o maior dos planetas anões e tem período orbital de 560 anos terrestres. É composto de gelo e rocha, assim como Plutão. Possui um satélite, denominado Disnomia. Os asteroides são corpos rochosos e compactos, encontrados principalmente no Cinturão de Asteroides e no Cinturão de Kuiper. Suas formas e tamanhos são muito variáveis. Os cometas são os menores corpos do Sistema Solar. Quando se aproximam do Sol, passam a exibir uma brilhante cabeleira, devido à ação dos ventos solares em suas partículas de gelo, poeira e gases. Possuem órbitas bastante elípticas ao redor do Sol, e seus períodos orbitais podem passar de milhares de anos. As estrelas cadentes vistas da Terra são os resíduos deixados pela passagem desses astros. O cometa Halley tem período orbital de 76 anos e passou pela última vez em 1986. A partir da grande evolução tecnológica propiciada pela Guerra Fria, foi possível a construção dos primeiros foguetes. Esses foguetes permitiram colocar em órbita satélites artificiais para estudo, tanto da Terra quanto do espaço exterior. A tecnologia era monopolizada pela URSS e pelos EUA, que travaram uma disputa ideológica e científica. Essa corrida tecnológica resultou no lançamento, em 1957, de uma nave espacial denominada Sputnik, que levava a bordo o primeiro ser vivo a atingir o espaço, a cadela Kudriavka, da raça Laika. 136 Em 1961, a URSS realizou o primeiro vôo tripulado ao redor da Terra. Yuri Gagarin participou desse voo e foi o primeiro homem a visitar o espaço. O voo durou 48 minutos e foi eternizado pela célebre frase de Yuri Gagarin que, ao observar a Terra do espaço, disse: ”A Terra é azul.” (Yuri Gagarin, 1961). O número de satélites artificiais lançados pelos norte-americanos e soviéticos multiplicou-se nos primeiros anos da corrida espacial. Além de satélites com a finalidade de exploração científica, também foram lançados satélites de comunicação, meteorológicos e espiões. Os avanços obtidos pelos soviéticos desafiaram os norte-americanos, que desenvolveram um audacioso projeto astronáutico. O presidente John Kennedy lançou o desafio de enviar homens à Lua e retorná-los vivos. Em um discurso na Universidade de Rice, ele afirmou: “Nós decidimos ir à Lua nesta década e fazer outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis (John Kennedy, 1961). Os planos foram finalmente concretizados com o Projeto Apollo, cuja espaçonave tinha capacidade de levar três pessoas e pousar em solo lunar. Em 20 de junho de 1969, a Apollo 11 conseguiu pousar homens na Lua. O primeiro astronauta a pousar na Lua foi Neil Armstrong, que proferiu a eterna frase: “Um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade” (Neil Armstrong, 1969). Mas há quem duvide da veracidade desses fatos. As fotos divulgadas apresentam alguns “pontos cegos” que podem ser motivo de discussão. As sombras formadas pelos objetos e astronautas, o sumiço das estrelas, o movimento da bandeira, e até mesmo o fato de que não se tenha retornado lá com tanta frequência despertam falsas suspeitas a esse respeito. As sombras formadas pelos objetos nas fotos possuem comprimentos e direções diferentes. Isso pode ser explicado pelo fato de a Lua possuir um terreno muito irregular, que faz com que as sombras formadas também sejam irregulares. O aparente desaparecimento das estrelas foi provocado pela extrema distância em que elas se encontram. As fotos são impressionadas muito rapidamente, impedindo o registro fotográfico das estrelas. O movimento da bandeira norte-americana só acontece quando os astronautas tocam nela. Não é o vento que a faz tremular, e sim as perturbações provocadas pelos astronautas. O homem só não retornou à Lua pessoalmente porque não há necessidade, pois os robôs podem fazer 137 sozinhos tudo o que se precisa. Além disso, com tal operação seriam feitos gastos desnecessários. Não há sombra de dúvidas que o homem realmente esteve em solo lunar. Depois disso, várias espaçonaves foram construídas e lançadas no espaço para que pudessem ser realizadas explorações mais minuciosas. Em 1989, a Voyager, lançada pela Nasa, ultrapassou a órbita de Plutão e em 2005 encontrava-se a mais de um bilhão de quilômetros de nós. Essa sonda leva consigo um aparelho acoplado que reproduz uma hora e meia de música e alguns sons da natureza do planeta Terra. O objetivo desse dispositivo é levar dados sobre a Terra para uma possível civilização exterior. Um dos grandes feitos da Nasa foi o lançamento, em 1990, do telescópio Hubble, que foi posto em órbita da Terra, com uma lente de 2,4 metros de diâmetro. Ele ganhou esse nome em homenagem ao grande astrônomo Edwin Powell Hubble, que constatou a expansão do Universo. É um satélite astronômico, artificial e não-tripulado, que transporta um telescópio para detectar a luz visível e a infravermelha. Logo após o seu lançamento no espaço, constatou-se uma deformidade no espelho principal, fazendo com que as imagens formadas fossem bastante disformes. Para reparo dessa disfunção, foi instalada uma lente que corrigiu a deformidade óptica. Desde 1946 almejava-se a construção de um observatório extraterrestre. Fora da Terra, as imagens podem ser mais nítidas, já que não ocorre nenhum efeito de turbulência atmosférica e também é possível detectar as luzes infravermelha e ultravioleta. A atmosfera dificulta uma observação mais precisa dos astros, pois ela absorve bastante dessa luz. O Hubble tem como objetivo principal estudar os corpos celestes, sua composição e características dinâmicas, assim como observar e estudar a história da evolução do Universo. Com ele é possível a observação dos demais recantos do Universo, fornecendo imagens espetaculares dos fenômenos celestes. O Hubble já registrou milhares de fotos, como o nascimento e morte de estrelas, a colisão entre galáxias jovens nos limites do Universo. Ele foi projetado para ficar em órbita até 2020, mas provavelmente será substituído por seu sucessor, o Jame Webb Space Telescope, com data prevista de lançamento em 2013. Em agosto de 2003, a Nasa lançou outro telescópio superpotente denominado Telescópio Spitzer. O nome foi dado em homenagem ao astrônomo Lyman Spitzer Jr, que fez enormes contribuições no campo da 138 dinâmica estelar, do plasma e da fusão termonuclear estelar. O Spitzer obtém imagens pela detecção de radiação infravermelha. É o maior telescópio infravermelho já lançado no espaço, sendo um instrumento muito sensível, que permite observar regiões do Universo antes não observadas por nenhum telescópio. Assim ele poderá detectar, principalmente, a luz infravermelha emitida por objetos mais frios do espaço, como planetas extrassolares e estrelas pequenas que produzem pouca luz visível. Outras sondas também foram mandadas para pousarem em Marte, em satélites dos planetas gigantes gasosos. As descobertas recentes de planetas fora do Sistema Solar estão despertando a possibilidade da vida extraterrestre. Já existem 300 planetas descobertos, mas ainda é cedo para se falar em alienígenas. Dentro do próprio Sistema Solar, existem locais com condições adequadas de abrigar a vida. O satélite de Júpiter, Europa, é o mais forte candidato a possuir organismos vivos. Isto porque se sabe que, abaixo de uma camada de gelo, provavelmente existe um mar extraterrestre que pode abrigar a vida. Nas altas camadas atmosféricas de Vênus, a temperatura é aproximadamente a mesma que a da Terra, o que faz com que se levante a hipótese de existir vida bacteriana em Vênus. Quanto a Marte, existe a possibilidade de ter havido vida em um passado muito distante, mas atualmente é improvável que exista. Mesmo que exista vida extraterrestre em outros lugares do Universo, é muito difícil que essa vida tenha evoluído a grau da inteligência, e que essa inteligência possa ser tão avançada ao ponto de construção de grandes naves para um possível contato físico com os humanos. Não se deve descartar a hipótese de que existe vida inteligente em algum lugar do Universo, mas a única forma de contato que nós podemos ter com essa “civilização” é com a emissão de ondas de rádio. Nos desertos da Califórnia existem antenas gigantes apontadas para o céu, captando sinais que possam ser emitidos por tal forma de vida, mas até agora, nada de significativo foi registrado. Com essas grandes descobertas feitas pelos astrônomos, o nosso modo de vida mudou bastante. Porém essas melhorias culminaram com a ida do homem à Lua. A partir disso, a tecnologia usada para realizar tal feito foi adaptada para a nossa vida cotidiana. Os polímeros sintéticos e os calçados com amortecedores foram as maiores inovações que contribuíram para a melhoria de nossa vida. Além disso, essas conquistas são fruto de uma antiga vontade do ser humano, o que reforça ainda mais o seu valor. 139 O Brasil não está atrasado tecnologicamente no campo da astronomia em relação a outros países. Existem 23 planetários espalhados por todo o país, e nossos astrônomos, assim como os do mundo inteiro, são apaixonados pelo que fazem e dedicam sua vida em favor do progresso das ciências. O fato de o Brasil ser um país predominantemente quente e úmido dificulta as observações celestes. Por isso a maioria dos observatórios situa-se em pontos altos do relevo. Nosso país destaca-se como sendo o maior produtor e exportador de fibras ópticas, usadas na fabricação de lentes de câmeras, por exemplo. Nossos astrônomos são cientistas com elevado grau de conhecimento e participam das principais realizações astronômicas no âmbito mundial. Isso mostra que o Brasil e seus cientistas realmente levam a sério o que fazem, trazendo muito orgulho e glória à nossa Pátria. CONSIDERAÇÕES FINAIS A história da astronomia está intimamente ligada à história do próprio Homo Sapiens, como espécie capaz de estruturar e construir conhecimento a partir da transmissão e do acúmulo de informações. A sabedoria do homem primitivo evoluiu gerando observações dos mais longínquos pontos do Universo. As conclusões esclarecem o que se conhece, as teorias explicam o que ainda não é provado, e as previsões para o futuro aumentam ainda mais a insaciável sede de conhecimento. O monumento megalítico de Stonehenge representa o marco inicial de todo o processo de desenvolvimento astronômico. Desde então, a preocupação em se descobrir o que há além dos nossos limites de visão fez com que o homem aprimorasse progressivamente seus conhecimentos e técnicas de observações astronômicas. No decorrer dos anos, os objetos rústicos utilizados na astronomia foram sendo substituídos por equipamentos cada vez mais potentes. A invenção da luneta por Galileu revolucionou o campo científico. Com ela, foi possível observar até mesmo as maiores luas do distante planeta Júpiter. Com o lançamento do telescópio espacial Hubble, a visão foi amplificada quase ao seu máximo, podendo ser reveladas imagens impressionantes da dinâmica do Universo. O telescópio espacial Spitzer, lançado recentemente, 140 evidenciou ainda mais a veracidade de certos conceitos, disponibilizando imagens formadas a partir da luz infravermelha de corpos celestes menos luminosos. Assim, a astronomia mostra-se indispensável ao desenvolvimento e à preservação da humanidade, desde tempos imemoriais até os presentes dias, sempre acompanhando as evoluções e progressos científicos. Referências Bibliográficas ALVES, A. AAVV. Enciclopédia 2003. Porto. 2003. ARENDT, H. A conquista do Espaço e a Estatura Humana. Trad. M. W. B. Almeida. São Paulo. Perspectiva. 1972. ASIMOV, I. O Universo. Trad. R. W. Aguiar. Rio de Janeiro. Bloch S.A. 1969. BRECHT, B. Vida de Galileu. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1986. CAYEUX, A. de; BRUNIER, S. Os planetas. Rio de Janeiro. Francisco Alves. 1985. COPÉRNICO, N. As Revoluções dos Orbes Celestes. Título Orig. De Revolutionibus Orbium Coelestium, Tra. A. D Gomes. Lisboa. Calouste Gulbenkian, 1984. ÉVORA, F. R. A Revolução Copernicana-Galileana. Campinas. Ática. 1988. FONTAINE, J.; SIMAAN, A. A Imagem do Mundo dos Babilônios a Newton. São Paulo. Companhia das Letras. 2003. FREUD, S. Mal-estar na Civilização. Trad. J. Abreu. São Paulo. 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Porém, como chegamos a esse ponto? Os homens primitivos pouco compreendiam seu espaço, eles viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos. A partir do momento em que se tornaram sedentários passaram a notar sua dependência com os astros. Eles deveriam saber quando seria a melhor época para plantar certo vegetal. O tempo passou, e novos povos surgiram, dentre eles os sumérios, que foram de grande importância para o desenvolvimento da Astronomia. Os chineses, os egípcios e muitas outras civilizações também deram sua contribuição. Mas foi na Grécia que a Astronomia teve seu auge. Com inúmeros estudiosos, como Tales, Aristóteles, Aristarcos, Hiparco e Ptolomeu, muito foi descoberto. Na época moderna, Tycho Brahe, Johannes Kepler, Nicolau Copérnico e Galileu Galilei foram imprescindíveis para o conhecimento astronômico. Galileu fez as primeiras observações telescópicas do céu, e isso trouxe muitas outras informações extremamente úteis para o desenvolvimento e ampliação do nosso conhecimento astronômico, valioso para todos nós. 145 Introdução Sempre admirei o brilho das estrelas e a imensidão do azul celeste, mas sinceramente nunca compreendi muito bem os interesses e os objetivos nas observações e explorações espaciais. É muito interessante tudo o que se relaciona com as descobertas espaciais: foguetes, satélites, ônibus espaciais que vão e voltam e, constantemente, ficava curiosa em desvendar e poder enxergar mais detalhes do céu estrelado. Uns dizem que o homem já chegou à Lua, outros duvidam disso, mas o mistério, a curiosidade e a necessidade de avançar movem o homem para novas conquistas e, no meio de tudo isso, aparecem novas descobertas desenvolvimento tecnológico que traz qualidade de vida a quem nunca pensou em sair daqui. E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Olavo Bilac Todos os dias nos deparamos com inovações e novas criações tecnológicas que buscam algo mais adequado e, consequentemente, possibilite melhor e mais ampla análise do espaço. Como exemplo, podemos citar o surgimento do Grande Telescópio Canárias. Desenvolvido com a tecnologia mais avançada do mundo, ele possui uma potência equivalente à visão de 4 milhões de pupilas e permitirá aos pesquisadores conhecer os mistérios da formação do universo por meio de seu espelho que possui 10,4 m de diâmetro. Poderíamos citar também a criação de um novo jipe lunar para a exploração espacial e a presença do jipe robô Spirit que está há mais de 1.200 dias explorando Marte. Muitos questionam se tais investimentos não são apenas desperdícios de dinheiro, entretanto, ao estudarmos o assunto com mais profundidade, percebemos que muita tecnologia desenvolvida para a utilização nas pesquisas espaciais foi, posteriormente, incorporada ao nosso cotidiano. Como exemplo desses avanços temos: o forno de micro-ondas, o Sistema de Posicionamento Global (GPS), o laser e as lentes de contato. Em 1969, baseado em um 146 equipamento que Armstrong usou para perfurar as pedras lunares, foi possível o desenvolvimento de aparelhos sem fio e monitores cardíacos usados para controlar a saúde dos astronautas, que são usados hoje em hospitais. As lentes de contato desenvolvidas para protegê-los contra a luz ultravioleta tem sido essencial para muitas pessoas. Criado para proteger os foguetes e os alimentos desidratados na falta de gravidade do espaço, o Teflon é hoje utilizado nas frigideiras para facilitar a lavagem e torná-las antiaderentes. As fraldas infantis descartáveis, os termômetros digitais, a tecnologia dos microprocessadores, as vestimentas térmicas que protegem os bombeiros e também o código de barras utilizado para identificar as milhares de peças das naves espaciais facilitaram e simplificaram muito o nosso comércio. Quando tomamos conhecimento de toda tecnologia desenvolvida através das pesquisas espaciais, percebemos que os investimentos são mais que justificados e válidos, portanto a pesquisa espacial não pode ser chamada de delírio das nações poderosas. Contudo, para chegarmos ao ponto onde estamos, é preciso refletir, imaginar como tudo começou. Houve um tempo, há milhares de anos, em que os homens pouco compreendiam seu espaço. Viviam da caça de animais, da pesca e da coleta de frutos. Não possuíam um lugar fixo para morar, vagavam em busca de alimentos e viviam no alto das árvores, em cavernas ou grutas. Partilhavam com o grupo as raízes e os frutos que conseguiam. Tudo o que conheciam sobre o mundo ao seu redor era o que podiam ver, ouvir, cheirar e experimentar. Imaginem esses homens colhendo frutos para diminuir a fome ou até mesmo caçando um animal, quando de repente a luz do Sol começa a diminuir e logo é substituída por uma escuridão absoluta, ou ainda um tom acinzentado turvar o céu, gotas de água começar a cair, trovões começarem a rugir como feras e relâmpagos, rasgarem o céu e deixarem momentâneas cicatrizes, tudo isso seria realmente estranho e amedrontador. Porém, através de suas observações, os homens perceberam que existiam relações entre o céu e a Terra, perceberam que o dia e a noite estavam relacionados à presença do Sol no céu, portanto mesmo sem ter desenvolvido a escrita e os números, eles já sabiam se demoraria muito ou pouco para escurecer. Era possível sair de sua caverna para caçar ou colher e ainda saber quando deveria retornar para casa antes do anoitecer apenas observando o Sol. 147 Entretanto, quando o homem percebeu que poderia se fixar em um local, plantar para suprir suas necessidades e até mesmo criar animais (isto é, levar uma vida sedentária sem precisar se deslocar com seu grupo), tudo mudou, ele passou a ver de forma diferente os astros celestes. O Sol, as chuvas, o vento vistos antes como interferências momentâneas passaram a ser essenciais para o crescimento das plantas, para a alimentação dos animais. Dessa forma, preocupavam-se mais com as estações do ano e com a melhor época para plantar determinadas sementes. Eles notaram que durante o plantio de certo vegetal havia um grupo de estrelas que sempre estava naquela posição, porém, quando este aparecia em outro local, o período de chuvas se aproximava, portanto, poderiam planejar melhor suas atividades. Todavia algumas questões ainda os intrigavam: o que seriam aqueles pontinhos brilhantes no céu? Por que alguns brilhavam mais que outros? E por que sempre surgia uma bola de fogo pela manhã, e logo à noite outra completamente diferente? Com a não compreensão desses aspectos, os homens passaram a acreditar que os astros eram deuses ou símbolos de divindades e que poderiam influenciar em seu destino e em seu comportamento. Surgem, então, algumas seitas religiosas e ainda a Astrologia. No entanto esses primeiros curiosos não se limitaram apenas a observar, também registravam alguns astros que eram avistados. Gravações em pedras datadas de 50 mil anos representavam grupos de estrelas como as Plêiades e as constelações de Ursa Maior e Ursa Menor. A necessidade que tinham de demarcar as estações do ano, o nascer do Sol e da Lua, a previsão de eclipses e os dias mais longos do ano surgiu em monumentos de grandes dimensões feitos com blocos de rochas (chamados de megalíticos do grego: mega – grande e lithos – pedras). Como exemplo, temos o círculo de Stonehenge, na Inglaterra, as pedras de Callanish, na Escócia, e as de Carnac, na França. Stonehenge existe há quase quatro mil anos e ocupa uma área de 40 mil metros quadrados. Suas pedras chegam a ter cinco metros de altura e a pesar quase cinquenta toneladas. Provavelmente, nesse local, os primitivos adoravam o Sol, a Lua e também as estrelas, que também indicavam as estações do ano e previam eclipses lunares e solares. 148 Fonte: <http://img.dailymail.co.uk/i/pix/2007/04_03/StonehengeDM3004_ 468x299.jpg> Na França, quase três mil pedras estão alinhadas formando corredores talvez muito usados para rituais. Os homens da época manobravam as pesadas pedras com troncos e cordas e as alinhavam em longos corredores que acabavam em círculos e semicírculos de pedras. Na Escócia, há o Callanish, um círculo com 13 pedras altas e quatro avenidas incompletas que marcavam o nascer do Sol e da Lua durante todo o ano.Tudo isso nos parece muito estranho, mas foi a forma que encontraram para se localizarem no tempo e realizar suas atividades. Com o passar dos tempos, os grupos foram aumentando, os homens se espalhando por todo o mundo e outros povos surgindo. Dentre as inúmeras civilizações destacaram-se os sumérios, primeiros habitantes da Mesopotâmia (terra entre rios) entre 3200 e 2800 a.C. Eles foram os responsáveis pela construção dos primeiros templos e palácios monumentais, pela fundação das primeiras cidades-estado e também pela elaboração de projetos de um desenvolvido sistema de controle de água do rio Tigre e Eufrates. Acredita-se que com a necessidade que os sacerdotes da época tinham em controlar as entradas e saídas de bens dos templos é que surgiu a invenção da escrita cuneiforme, assim chamada, pois escreviam em plaquetas de argila com um estilete em forma de cunha. 149 Foram os sumérios também que cultivaram a astronomia e ainda introduziram a matemática em suas observações. Eles analisaram mais profundamente as variações nos movimentos dos astros e perceberam que a velocidade da Lua em seu movimento ao redor da Terra variava. Inventaram relógios de 60 segundos, 60 minutos, além de um calendário de 12 meses. Com suas observações, identificaram várias constelações que representavam figuras de animais, daí surgiu o Zodíaco, que significa círculo de animais. Seus deuses correspondiam a estrelas e astros. Eles possuíam um deus supremo chamado Marduk (Marte), que teve construído em sua homenagem uma estátua de 24 toneladas de ouro puro. Outro povo que se dedicou à astronomia foram os chineses há 4.000 a.C. Eles previam eclipses, pois conheciam seus períodos e utilizavam um calendário de 365 dias, além de fazerem anotações detalhadas sobre cometas, meteoros e meteoritos. Há certa dificuldade em reconstruir o conhecimento chinês, pois em 231 a.C. todos os livros foram queimados por decreto imperial. Eles acreditavam que um dragão engolia o Sol, por isso é que ocorriam os eclipses. Para tentar afugentar a fera, as pessoas saíam de casa e batiam em panelas e jarros. Por volta de 4000 a.C, os egípcios já eram considerados uma sociedade organizada. Tinham como governante um faraó, reconhecido como um deus. Eles utilizavam, no dia-a-dia, um calendário dividido em três estações inspiradas nas atividades agrícolas: “a inundação”, “a germinação” e “a colheita”. Sabiam que quando a estrela Sirius ascendia junto ao Sol a inundação anual do Nilo não tardaria. Nos templos, certos sacerdotes eram especializados no cálculo da hora utilizando “relógios de água” ou ainda princípios do quadrante solar. Fonte: <http://www.ufrgs.br/ museudetopografia/museu/museu/ quadrante_marinho.htm> 150 Depois de anos observando o céu noturno, os egípcios notaram certa regularidade nos movimentos aparentes das estrelas e criaram tabelas, onde anotavam esses dados, dia após dia. A posição das pirâmides é algo muito interessante, pois elas apresentam a face voltada para os quatro pontos cardeais com grande precisão. Os hindus, cerca de seis a sete séculos antes da Era Cristã, já haviam calculado o diâmetro da Lua e estabelecido os ciclos cósmicos. Eles tinham uma representação rica em simbolismos, na qual o planeta aparecia apoiado em quatro elefantes que se equilibravam sobre uma tartaruga gigante. O auge do desenvolvimento do estudo dos astros se deu em meio a uma rica mitologia, em que deuses tinham características humanas, e palácios e templos rodeavam as cidades, as primeiras medidas democráticas surgiram, e filósofos e pensadores ampliavam e desenvolviam seu conhecimento em diversas áreas. Com os conhecimentos herdados dos povos mais antigos, no período de 600 a.C. a 400 a.C. na Grécia, surgiu o conceito de que a Terra era uma Esfera Celeste e que se encontrava no centro do Universo (geocentrismo). Eles pensavam que as estrelas formavam um amplo invólucro cristalino, pois pareciam não mudar de posição. Naquele período, muitas pessoas dedicaram-se às observações do céu e observaram novos aspectos. Tales de Mileto introduziu conhecimentos de geometria trazidos do Egito; ele sabia que a Lua era iluminada pelo Sol e previu o eclipse solar do ano de 584 a.C. Após certo tempo surge outro personagem de suma importância: Aristóteles de Estagira. Ele foi aluno de Platão e dedicou-se a diversas áreas, dentre elas o estudo dos astros. Acreditava que a Terra era uma esfera gigantesca, porém finita e que se encontrava no centro do Universo. Baseado em suas observações, explicou que as fases da Lua dependiam da parte que era iluminada pelo Sol. Outro grande personagem dessa história foi o grego Aristarcos de Samos (310-230 a.C.). Ele propôs que a Terra se movia em volta do Sol (teoria heliocêntrica, e helios é a palavra grega para Sol), porém sua teoria foi rejeitada já que não se ajustava às crenças matemáticas e filosóficas da época, pois acreditavam que a Terra tinha de coincidir com o centro do Universo, uma vez que é a morada dos seres humanos. Ele foi capaz de determinar 151 as distâncias do Sol e da Lua à Terra e os tamanhos relativos da Terra, do Sol e da Lua, apenas baseando-se na Geometria e nas sombras produzidas em um eclipse. Isso é realmente incrível! Com o passar do tempo, novos estudiosos surgiram e fizeram uso ou até mesmo correções das observações e anotações feitas até então. Um dos maiores astrônomos gregos foi Hiparco de Niceia. Ele catalogou mais de mil estrelas que foram divididas em seis categorias, sendo no grupo 1 as mais brilhantes, e no 6 as mais fracas. Ele deduziu que a Lua estava a 59 vezes o raio da Terra de distância, sendo que o valor correto é 60. Foi capaz de determinar a duração do ano com uma margem de erro de seis minutos. Dedicou sua vida ao estudo da Lua e conseguiu elaborar a previsão de eclipses para os 600 anos seguintes. Foi o responsável pela criação dos primeiros astrolábios usados para determinar a posição dos astros no céu e de grande importância para a ciência náutica portuguesa posteriormente. Fonte: <http://www.ufrgs.br/ museudetopografia/Teodolitos/astrolabio_ nautico_portugues_SecXVIeXVII.gif> Um dos maiores estudiosos e conhecedores dos astros foi Claudius Ptolomaeus, mais conhecido como Ptolomeu. Ele coletou e esclareceu os trabalhos dos grandes astrônomos que vieram antes de sua época. Deixou uma série de treze volumes sobre a astronomia conhecida como Almagesto, que incluía elementos de astronomia esférica, teorias solar, lunar e planetária, além de tratar de eclipses e das estrelas fixas. Ptolomeu acreditava que a Terra estava no centro, e a Lua, os planetas e o Sol giravam em torno dela. 152 Passaram-se os anos, e as grandes navegações chegaram, o homem desbravava novas terras e orientava-se pelo Sol, além de já fazer uso de bússolas e astrolábios. Apesar das inúmeras navegações, com certeza poucos esperavam encontrar civilizações tão desenvolvidas como os povos da América. Assim como os povos da antiguidade, os maias, incas e astecas tinham desenvolvido sua ciência astronômica. Os maias viviam nas matas de Iucatê no México e, nesse local, existem ruínas que representam possíveis observatórios do céu. Além disso, há três manuscritos que permitem estudar alguns conhecimentos, porém os demais foram queimados pelos espanhóis quando lá chegaram. Os astecas viveram no planalto mexicano, construíram a Pirâmide dos Nichos de El Tajin, com 365 nichos, um para cada dia do ano, e também a pedra do sol, um imenso calendário solar. Os incas viviam nos Andes e também possuíam conhecimentos astronômicos. Acredita-se que nas ruínas de Machu Picchu, no Peru, teria existido um observatório astronômico para o estudo dos movimentos do Sol, da Lua e das estrelas. Fonte: <http://www.kutztown.edu/activities/clubs/geology/photos/Machu_ Picchu.jpg> 153 Em 1543, o modelo geocêntrico sofreu um baque com a publicação do De Revolutionibus Orbium Coelestium (obra sobre as revoluções das esferas celestes), em que Nicolau Copérnico apresenta uma visão heliocêntrica. Para ele, o Sol estava no centro do Universo, e os planetas giravam em torno dele, em órbitas circulares. Essa teoria produziu uma mudança radical e completa não só na concepção do cosmos, como na própria maneira de ver o homem. Imagine você, durante anos pensando que está no centro do Universo, quando de repente tudo muda, e agora o Sol é que se encontra nessa posição? Segundo as ideias religiosas da época, se Deus havia criado a Terra e o Homem para povoá-la, sendo a criatura imagem do Criador, seríamos então superiores e deveríamos estar no centro do cosmos, no centro de todas as coisas. Naquela época, o trabalho de Copérnico interessou a grandes astrônomos como Kepler e Galileu. Nicolau, astrônomo polonês, nasceu em Torum, em 1473. Estudou desenho e matemática na Cracóvia. Mais tarde, em 1496, ficou por dez anos na Itália para estudar astronomia, medicina e direito canônico. Viveu na época do Renascimento europeu, quando diversas transformações em muitas áreas assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Ele dizia, “O que é na verdade mais belo que o céu que, certamente, contém todos os atributos da beleza? Isto é proclamado pelos seus verdadeiros nomes, caelum e mundus, este último significando clareza e ornamento, como a escultura antiga.” (COPÉRNICO, 1543) Um astrônomo que viveu quase na mesma época que Copérnico foi Tycho Brahe, um grande observador do céu num periodo em que ainda não existiam telescópios. Ele elaborou cartas estelares (mapas do céu) que se tornaram famosas entre os navegadores da época. Descobriu uma estrela, nunca antes notada, e isso contrariava a ideia de que o céu era imutável. Além do mais, recebeu do rei Frederico II a ilha de Hven, onde construiu seus obsevatórios: Uranienburg (castelo do céu) e Sternenburg (castelo das estrelas). Dessa forma, poderia melhor analisar o céu. Para registrar as observações o mais precisamente possível utilizava diferentes relógios, como as ampulhetas de areia, clepsidras (baseadas no escorrimento da água), velas graduadas e outros. Em 1600, Tycho Brahe recebeu como colaborador Johannes Kepler, matemático alemão que formulou as três leis que regem o movimento 154 planetário, usou a matemática para descrever as relações universais. Sua primeira lei dizia que os planetas giram em órbitas elípticas (e não circulares, como se acreditava). A segunda lei garantia que os planetas se deslocavam com uma velocidade variável. A terceira lei levava em conta não só a massa dos planetas, mas também a massa do Sol. Em 1609, Kepler publicou a Astronomia Nova, na qual foram descritas as verdadeiras leis do movimento dos planetas. Naquele mesmo ano, outro ilustre personagem, Galileu Galilei, soube da construção de um instrumento de origem holandesa que ampliava a imagem de objetos distantes e era composto por uma lente convergente e uma lente divergente devidamente dispostas entre si. De posse dessas informações, montou um telescópio que aumentava três vezes e, depois, outro que aumentava 20 vezes e, em janeiro de 1610, construiu um que aumentava 30 vezes. Com suas observações encontrou evidências de que Mercúrio e Vênus giram em torno do Sol, de que a Lua tem montanhas e acidentes geográficos como a Terra e que Júpiter tem seus próprios satélites a girar em seu redor. Naquele momento, grandes mudanças ocorreriam. Galileu teve de ser brilhante numa época em que novas ideias eram consideradas perigosas. Suas inúmeras descobertas, feitas agora com a ajuda do telescópio, forneciam um grande apoio para a teoria do Universo Heliocêntrico. Fonte: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/ navegando/glossario/verb_b_galileu_galilei_ arquivos/image005.jpg> 155 Entretanto, em 1616, a Inquisição pronunciou-se sobre a Teoria Heliocêntrica, declarando que a afirmação de que o Sol é o centro do Universo era herética. Dessa forma, proibiu-se falar do heliocentrismo como realidade, mas era permitido dizer que isso se referia a uma hipótese matemática. Entretanto Galileu foi convocado a Roma e, após um longo e atribulado julgamento, foi condenado a abjurar suas ideias e foi preso por tempo indefinido. Após essa época, outros estudiosos surgiram e, em diferentes épocas, puderam desenvolver suas ideias e até mesmo mandar o homem para a Lua, colocar satélites em órbita, desenvolver robôs para facilitar as análises, além de criar novos e eficientes telescópios. Muito ainda há para ser descoberto, inúmeros são os mistérios que permeiam a existência da vida em todas as suas formas, mas quando estudamos a história, o sentido da vida torna-se maior e aumenta a vontade de estudar mais a cada dia, descobrir mais se torna latente na vida de uma garota como eu, curiosa e que vê sentido na história, na ciência e na poesia. “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Soneto XIII da obra Via-Láctea De Olavo Bilac 156 Considerações finais À medida que se criam novas missões espaciais, novas tecnologias surgem e, consequentemente, simplificam as atividades humanas. Com certeza, muitas coisas ainda serão descobertas, muitos mistérios serão desvendados e muitos conhecimentos acrescentados. Porém, quando estudamos e nos aprofundamos na história, a vida ganha um novo sentido e nós, rodeados de tanta curiosidade, temos vontade de estudar cada dia mais para compreendermos o nosso mundo e as situações que nos envolvem. Contudo, através dos estudos realizados, pode-se visualizar o quanto a astronomia, desde os tempos mais remotos, contribui para o avanço da humanidade, que precisa conhecê-la e valorizar aqueles que investem em novas descobertas. Referências Bibliográficas ASTRONOMIA. O que astronomia? Disponível em <www. achetudoeregiao.com.br/astronomia.htm> ASTRONOMIA NA ESCOLA. Planetas. Observatório Nacional. AVENTURA NA CIÊNCIA. Astronomia. Rio de Janeiro: Globo, 1995. BRETONES, P. S. Os segredos do sistema solar. - 4. ed. - São Paulo: Atual,1993. COSTA, J. R. Pra que serve a Astronomia? Disponível em: <http:// www.zenite.nu/> COSTA, L. A. Ora (direis) ouvir estrelas! In: Revista Carta na Escola. Março 2009, ed. 34. DAMPIER, S. W. C. História da ciência. Tradução, notas e complemento bibliográfico de José Reis. – 2. ed. – São Paulo: Ibrasa, 1986. 157 ESPECIAL ASTRONOMIA. Revista Ciência Hoje das Crianças. Julho de 2009, ano 22, n. 203. Galileu Galilei. Disponível em <http://br.geocities.com/saladefisica9/ biografias/galile> Grandes Nomes da Cultura Alexandrina – Astronomia. Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/museu/ astronomia.htm MUSUTEC. Nicolau Copérnico. Disponível em: <http://www. museutec.org.br/previewmuseologico/nicolau_copernico.htm> NOGUEIRA, P. A passagem de 10 milhões de dólares. In: Revista Galileu. Março 2006, n. 176. TERRA NOTÍCIAS. Telescópio mais potente do mundo é inaugurado na Espanha. Disponível em: <http://noticias.terra. com.br/imprime/0,,o13890724-e1238,00.html> UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Biografias: Johannes Kepler. Rio Grande do Sul: UFRGS. Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/bib/bibkepler.htm> WIKIPÉDIA. Vários autores. Aristóteles. Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles> ______. Vários autores. Galileu Galilei. Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei> UNIVERSIDADE DE SÀO PAULO. O Nascimento do telescópio. São Paulo: USP. Disponível em: <http://cdcc.usp.br.br/cda/sessaoastronomia2009/o-nascimento-do-telescopio-01312009.doc> 158 Menção Honrosa Astronomia e bioastronomia na síntese poética Estudante: Jackeline Santos Alves, 18 anos, 3º ano do ensino médio Professora-orientadora: Geysa Grazielli Freire de Oliveira Colégio da Polícia Militar Eraldo Tinoco - Vitória da Conquista, BA Resumo Neste texto serão apresentados os diferentes rumos da astronomia. Será possível perceber as grandes conquistas realizadas pela ciência com o passar do tempo e suas perspectivas futuras? A partir de várias observações e experimentos as teorias foram sendo consolidadas com a contribuição de diversos cientistas e, independente de qualquer polêmica, divulgavam essas conjeturas à sociedade. Será divulgada a história de todo o universo com a teoria do Big Bang. Após a grande explosão ocorreram alterações no cosmo que proporcionou o surgimento de alguns elementos, como: hidrogênio, hélio, lítio, entre outros. Posteriormente, a integração da poeira cósmica fez com que as estrelas fossem formadas. Vale ressaltar que o intervalo entre esses acontecimentos marcantes é longo. Haverá um estudo sobre as seis partes da Via Láctea: núcleo, bulbo central, disco, braços espirais, componente esférico e halo; além de informar como surgem os buracos negros. Partindo da Via Láctea, a viagem será pelo sistema solar, enfocando a Terra e a Lua, suas estruturas e perspectivas para descobertas futuras. Além disso, serão mencionadas as principais características de cada planeta e existência de outros corpos no Sistema Solar, como meteoritos e cometas, os planetas que não orbitam o sol. E no decorrer da explicação de cada astro, serão explanadas as hipóteses da existência de vida nesses lugares. A reclassificação do Sistema Solar também será explicada, pois devido à descoberta de Eris, Plutão veio a fazer parte de uma nova classe de planetas anões. 159 Por fim o futuro do universo é que estará em foco, hipóteses serão levantadas sobre questões que ainda não podem ser comprovadas, como: universo em expansão ou universo em contração. Introdução A Terra é o planeta que reúne todas as condições necessárias à vida. Água, fontes de calor no interior, recebimento da luz solar, atmosfera e elementos que proporcionam um pequeno efeito estufa, sem o qual os oceanos estariam congelados, a força gravitacional terrestre que exerce uma atração sobre os corpos na superfície são alguns dos fatores que tornam possível o equilíbrio existente entre os diversos seres vivos deste planeta. Da Terra, partem estudos acerca dos demais corpos celestes na tentativa de responder questionamentos como: qual a origem da vida; qual o futuro do universo; existe vida em outros astros; entre outras. A conjuntura científica se divide de forma sistemática visando encontrar respostas às intrigantes perguntas. Para tanto, a Astronomia é a ciência que se ocupa do estudo dos corpos celestes, desde a formação e evolução a aspectos como composição química, posição relativa no espaço e os movimentos. Já a bioastronomia é um ramo da astronomia responsável pelo estudo da vida fora da Terra, ou seja, da vida existente nos corpos celestes no universo. Essas são as ciências que explicam a maior parte dos fenômenos abordados neste trabalho, que será apresentado em forma de poesia popular e tem como objetivo tornar mais agradável o estudo deste assunto, pois é de grande importância para a vida do ser humano na Terra, e abordará astronomia e bioastronomia: ciências voltadas ao estudo dos corpos celestes e ao estudo da vida fora da Terra. Astronomia e bioastronomia na síntese poética Conhecer todos os astros E também corpos celestes Aqui se pode encontrar Quem a tal favor se preste. A majestosa astronomia Que o cosmo desbravou 160 E nos mostra o universo Com seu extremo valor. A majestosa astronomia Que desbrava o universo Captando astro a astro Sem deixar nenhum disperso, Enriquecendo a ciência. E vou contá-la em verso E assim ao meu leitor, A atenção eu vos peço. Assim como os cientistas Por suas curiosidades Estudaram a galáxia Para a verdade encontrar Levando a astronomia para o meio popular. Alguns se tornaram famosos Cujos nomes vou citar E no traçado da linha, a ciência abrilhantar. A ciência enriquecida Com várias teorias Surge o heliocentrismo Que Galileu defendia. “A verdade é relativa” Albert Einstein dizia. Num passeio pelo céu Observando os planetas Seus movimentos Kepler definia. No universo interestelar Tudo está em movimento Newton tenta descrever Do cosmo o comportamento E a lei da gravidade Põe o mundo em seu lugar. Mais tarde, Albert Einstein Quer o mundo relativizar. 161 Os da nova geração Vou deles agora falar O interesse pela astronomia Em muitos Carl Sagan despertou E uma vida de superação Stephen Hawking nos mostrou Grande físico teórico também se revelou Desde os tempos do brilhante Einstein. Em vários experimentos E consultando o passado Expandiram seus conhecimentos Com a ajuda de instrumentos Respondendo o interrogado Explanando da Astronomia a importância E os deixaram como herança Para suprir nossas ânsias. Os cientistas estão sempre a se aprimorar E dos seus instrumentos Também estão a cuidar Com a confecção de atlas celestes Foi que começaram a estudar Seguindo com a luneta Sempre a se aprimorar Chegando ao telescópio simples Para mais e mais avançar. Após o estudo com lentes Muito pouco demorou Com alguns aperfeiçoamentos E o espelho chegou. Desde então esse melhoramento Nunca mais parou E tal diversidade É de extremo valor. 162 Foi assim que para nós O universo se mostrou Com essa interatividade Teorizou-se o que ocorreu Big Bang, grande explosão Eis o nome que se deu À hipótese levantada De como o mundo nasceu. Contendo toda matéria E total energia Uma singular partícula Promoveu cosmogonia Expandindo material Superquente e comprimido Isso explica como o cosmo Pôde assim ser concebido. O universo surgiu Parece até fantasia! Há quinze bilhões de anos Segundo essa teoria, E com o passar do tempo Reduziu-se a densidade A temperatura abaixou Trouxe muitas novidades. O quente universo resfriou O suficiente para surgir Hélio, Lítio e Hidrogênio E tudo que veio a existir. Um milhão de anos depois Formaram-se os primeiros átomos, Pôde então a radiação – já existente no universo Expandir-se pelo espaço. 163 Essa bela teoria, dois princípios tem por base O primeiro é de Einstein e a relatividade Explicando interação Matéria e força da gravidade. O segundo é chamado De princípio cosmológico Cuja visão do espaço Não depende do que é lógico. Sua implicação consiste Num universo sem limites Tal que essa grande explosão Ocorreu simultaneamente em todo o cosmo Liberando uma radiação Hoje remanescente no espaço Que pervaga a inteireza do universo Provando o Big Bang aos céticos. Na proporção em que o universo Começava a se expandir As quatro forças fundamentais Surgiam então aí Forças essenciais na natureza Eram as forças eletromagnéticas E a força da gravidade Por último, as nucleares forte e fraca. A cosmogonia em expansão Mostrara-se como Grandes e móveis nuvens, Nuvens de baixa densidade, Porém suficientes para sua contração. A densidade aumentaria Pela união de suas partes Dividiu-se em pedaços. 164 Pedaços que orbitam entre si. Os eventos já citados Resultam na hierarquia De galáxias a aglomerados E desde os superaglomerados Que estão em constante harmonia. Os pedaços unem-se junto à poeira interestelar Originando as nebulosas. Nesta uma esfera surge Forma-se de um pequeno volume Adquirindo uma grande densidade Na compensação da perda de calor. A esfera não para de se contrair Desenvolvendo altas temperaturas Para brilharem nas alturas Eis as estrelas aí, sem elas não poderíamos existir. A evolução de uma estrela É então representada Por um certo diagrama De forma elaborada. Por meio da luminosidade Que daqui é percebida A localização das estrelas Pode assim ser definida. Há nesse famoso diagrama A Sequência Principal Com a estrela unitária Ocupando a posição central, Relacionando a temperatura E a luminosidade – das demais estrelas Vão elas se posicionando Cada uma em seu devido local. 165 No centro de todas as estrelas A queima do Hidrogênio Produz Hélio Que se mantém onde é formado Visto que o calor produzido Para as camadas externas É transferido... Que emoção! Transferido por radiação. O acúmulo do Hélio Forma um núcleo crescente Com Hidrogênio em ignição Em uma camada externamente. Nela inicia-se uma expansão Provocando na superfície uma resfriação: E de gigante vermelha Passou a definir-se então. Pela atração da gravidade Novamente o núcleo é contraído E da temperatura central O aumento é induzido O Hélio deixa assim De ser a peça principal Dando lugar ao carbono De temperatura ideal. Este complexo elemento Posteriormente ocasionará No surgimento de novos elementos – Oxigênio, Neônio, Magnésio – E os nuclídeos de massa elevada Com a síntese do Ferro O término das reações nucleares É certo...mais que esperto! 166 A fusão do Ferro por sua vez Absorve energia ao invés de liberá-la Levando a estrela a uma contração insustentável, Resultando em um intenso colapso Com a temperatura elevada. O núcleo emite os neutrinos – partículas energéticas – Fragmentando assim a estrela Dando origem às supernovas. Dos buracos negros agora vou falar: São regiões do espaço com imensa gravitação De onde nenhum tipo de sinal pode escapar; Até mesmo a audaciosa luz. Estes buracos vieram a se originar Da explosão de algumas Supernovas De massa muito densa Para em um pulsar se transformar. A vocês quero lembrar Que vale ressaltar Ou até mesmo relembrar A definição de pulsar: É uma fonte de rádio estelar Emissora de impulsos, Impulsos que se repetem Em intervalos regulares. A origem das anãs brancas Também vou esclarecer Das estrelas de tamanho médio É que vieram a aparecer Resultando de um processo Que aumenta a densidade De forma a cessar As reações nucleares. 167 Ah os quasares...que beleza! Confundidos com as estrelas São núcleos na verdade De galáxias muito distantes – Conturbadas são em todos os instantes. Esses objetos abrigam Os maiores buracos negros Do universo existente. Da luz existente no quasar E do gás nele a orbitar Em movimentos espirais A massa de um buraco negro Pode-se detectar; Quanto maior a velocidade do movimento Maior massa O buraco negro terá. Neste instante singular A primordial ideia É o estudo particularizar, Porque é da Via Láctea Que começo a falar; Vou dizer que essa galáxia É onde se encontra O sistema solar. A Via Láctea mostrara-se Como espiral esbranquiçado E 1 bilhão de estrelas a abrigar. A toda poderosa Se apresenta em seis partes Que por conveniência Me proponho a explicar A atual divisão 168 Dessa Espetacular. A parte 1 é o núcleo Que está no centro do sistema Um grande buraco negro Este então pode ser Envolto por um gás De alta temperatura ocultado Por uma interestelar poeira, Que absorve luz visível e raios ultravioleta Por ser detectado Na faixa das ondas de rádio. Tem um nome especial Constelação Sargiltorius A Neste momento me refiro Àquilo que é a parte 2 Vem em torno do núcleo do espiral É o chamado bulbo central. Este é então formado Por população de estrelas velhas E é caracterizado Por ser rico em metais pesados. Sem demora e com afinco Vou descrever o disco Ele é a terceira parte E abrilhantará o nosso roteiro turístico. Essa estrutura especial Que sustenta braços espirais Que forma a quarta parte Que se apresenta no universo Com cinco braços de uma vez Que já são nossos conhecidos: Perseu, Órion, Sagitário Noma e braço 3 kpc. 169 Com isso já esclarecido Começamos a torcer Pois é a quinta parte que vai Aparecer. É o componente esférico Mesmo sendo por vezes esquecido Ali ele está introduzido. Para fechar o conteúdo Explica-se a sexta parte, Representada pelo halo Que é o menos estudado; Do pouco que se conhece Sabe-se apenas o básico: É ele quem causa efeitos Na curva rotacional Nesta, falta o saber De suas formas no espaço. Agora, como complemento Do seu campo magnético vou falar, Campo fraco para efeito estrutural Na galáxia provocar Mas potente para produzir A poeira interestelar E um alinhamento gerar – em que pela luz polarizada Das estrelas vai detectar. Adentrando a Via Láctea Uma surpresa vai-se encontrar Porque o nome agora é Sistema Solar, Do qual a teoria mais aceita Hei de sistematizar É que o Sol e planetas na mesma Época astronômica vieram a se formar. 170 Esta formação ocorreu De um colapso sofrido Por uma nuvem de poeira e gás Aproximadamente datada De 4,6 bilhões de anos. Houve uma concentração de massa Provocando reações nucleares Que veio a originar o Sol. Autossuficiente em energia Astro rei considerado ele Tem forma esférica É um pouco achatado; Por grande massa gasosa Composto ele é E de temperatura elevada Que lhe confere cor avermelhada. A sua composição É principalmente de Hidrogênio E ficam em segundo plano Hélio e outros elementos. Das suas reações Originam a energia luminosa Pelo astro produzido E para nós refletida. Assim a luz nos mostra Um espectro contínuo Marcado por linhas escuras Denominadas raias ou linhas de Fraunhafer. Esse fenômeno vai ocorrer Porque o tal espectro é afetado Na sua passagem Por camadas externas solares. 171 Os gases ali presentes Absorvem exatamente Os comprimentos de onda Por eles emitidas. O Sol apesar de quente Tem também uma atmosfera A qual hei de descrever toda ela. A atmosfera é composta De camadas superpostas De modo a não ser à toa Fotosfera, Cromosfera e Coroa. Orbitando essa estrela Encontram-se os planetas Os quais possuem pouca massa E desprovidos são de luz própria. Mas essa massa é suficiente Para pequenos corpos ao seu redor influenciar Sem deixar influenciar por eles. Estes mundos se formaram Por aglomerações graduais De corpos sólidos chamados planetesiamais. O primeiro a orbitar A estrela solar – vou aqui apresentar. É chamado de Mercúrio E dele agora vou falar É o de maior densidade E de maior velocidade Seu eixo de rotação É praticamente zero O que implica então Ausência de estações climáticas. 172 Mercúrio não tem satélite E possui duas fases notáveis Numa ele é invisível E na outra, quando observado, Mostra o seu disco totalmente iluminado. Para ser melhor Estudado O planeta foi espionado Por uma sonda espacial Chamada de Mariner 10. Com os dados por ela coletados Foi possível determinar Os componentes que Mercúrio tem no ar: Hélio, Sódio e Hidrogênio Potássio, Neônio e também Oxigênio. Mercúrio tem um campo magnético Que é bastante reduzido. Campo supostamente originado Dos materiais do seu núcleo Eletricamente carregado. O núcleo deste planeta É composto totalmente por Ferro E a superfície é cheia De falhas e crateras Dono de uma tênue atmosfera. Provavelmente ali não existe Nenhuma forma de água Seu clima durante o dia É extremamente quente Mas quando chega a noite O frio chega estridente, O que nos faz acreditar que no polo norte Pode haver uma camada de gelo 173 Por naquela parte O sol nunca bater. Isso é então explicado Por sua inclinação Que por ser quase perpendicular Ao plano orbital Naquela localidade O sol sempre baterá por cima do horizonte. Partamos para seu vizinho Que também é pequenininho Vênus ele foi nomeado. Para ser melhor observado Ele já foi visitado Por missões não-tripuladas De uma série soviética. Da superfície Venusiana Temos conclusões concretas A partir de dados obtidos pela Venera. Ali há um grande efeito estufa Pois o planeta é dominado Por uma densa atmosfera E uma grande quantidade De gás carbônico e ácido sulfúrico, Promovendo temperatura de 380º graus. Suas marcas principais Eu jamais vi iguais Um calor abrasador E de pressão esmagadora Com gases sulfurosos E paisagem vermelha deserta. 174 Com tantas impossibilidades Não se pode imaginar Que haja algum tipo de vida Nesse inferno de lugar, Mas há cientistas Que se atrevem a afirmar Que pode existir vida Neste planeta a habitar. Alguns cientistas relatam Que micróbios podem sobreviver E até reproduzir Na densa atmosfera Que ali veio a existir Pois esta é protegida Por um filtro de compostos de enxofre. Uma das bases para esses relatos É que Vênus outrora Pode não ter sido esse terrível lugar. Há teorias que sugerem Que no paraíso antes ali existente Algum tipo de vida ali surgiu E por adaptação estão ali São hipóteses levantadas, mas coerentes. Agora hei de falar Do planeta que para nós É provincial no sistema solar. Atenção dobrada outra vez vos peço Pois não vou deixar ninguém disperso. Estudar este paraíso é muito divertido Mas requer muita esperteza Para não ficar confundido. 175 A Terra – O terceiro planeta Apresenta atmosfera secundária Formada por emanações gasosas Ocorridas ao longo de sua história. É principalmente constituída Por Oxigênio, Hidrogênio e Argônio Os fluidos que a encobrem São a consequência De uma coloração azulada Azulada, quando do espaço é observada. No interior da Terra Há fontes de calor Que fornecem energia Para sua dinâmica E condicionam, a formação de magmas, Dentre outras manifestações Da tectônica global. Não posso deixar de falar Sobre algo a se lembrar Que ao mesmo tempo a Terra Do Sol recebe a energia Através da radiação que incide Nos movimentos atmosféricos E nos oceanos do planeta. A Lua é o satélite natural da Terra Sem rastro de atmosfera. Da Lua a missão Apolo coletou Amostras de seu material Permitindo descobrir Que esta foi submetida A violentos bombardeios De asteroides e planetésimos 176 Desde sua fase embrionária. O sistema Terra-Lua Tem o modelo mais aceito De que houve um impacto de um corpo Nos finais estágios de acreção Quando a Terra já estava diferente Com núcleo metálico e manto silicático. Água e ar falta à Lua, O que torna improvável O mínimo resquício de vida. Já a Terra – por possuir esses fatores Tem recursos para abrigar a vitalidade. Um aviso agourento Vênus é Pois da hospitalidade infinita De nosso querido planetinha Não temos garantias Pois este fora por mudanças esculpido E destas no cosmo não há como fugir. A licença agora eu vos peço Pois uma grande observação hei de fazer aos dispersos: Frivolamente a natureza por nós está destruída Pois os humanos não ligam Para as catástrofes que aqui podem ser produzidas. Pensam que esta geração pode Decidir o destino da vida. A Terra está sendo destruída Em ritmo acelerado E pode estar perto de entrar em colapso. Danos irreversíveis é o que queremos provocar? Ao que dá mais valor precisamos decidir: Lucros a curto prazo ou habitalidade longínqua Em nosso lar planetário? 177 Já foram descobertos mundos com Atmosferas sufocantes e superfícies letais Vamos recriar estes infernos aqui na Terra. Se arruinarmos a Terra para onde iremos? Agora vou apresentar O quarto planeta Do sistema solar Marte ele foi nomeado. Mas de planeta vermelho Ele também é chamado. Marte antes era considerado O melhor candidato! Candidato, a ter vida Mas depois das explorações Feitas pela Mariner 4 e a Viking 1 e 2 Marte revelara uma superfície Contendo muitas crateras E canais naturais, mas Nenhuma evidência clara Da existência de vida Este planeta tem Uma atmosfera rarefeita. É formado por elementos Semelhantes aos de outros planetas – Gás carbônico, Nitrogênio Argônio e Oxigênio – A 59 graus Celsius negativos A temperatura média ali chega. É o planeta mais estudado Nos últimos anos Por agências espaciais Provavelmente devido 178 À existência de planos Com o intuito de encontrar Algum tipo de vida naquele lugar E quem sabe até o colonizar. No ano de 2000, surgiu A primeira evidência de que Água ali havia Pois no solo marciano Foram encontrados Gelo e sinais de erosão Indicando a existência De canais em seu subsolo. Ah! Esses indícios aumentaram A esperança de que no futuro Naves espaciais tripuladas Poderiam ser enviadas. A água seria essencial, Mas apesar de todo estudo Com segurança, não se pode afirmar A existência de vida naquele lugar. A vez agora é de falar Dos planetas externos Do nosso Sistema Solar; Pra ficar mais bem explicado Os nomes deles vou citar. Abre alas com Júpiter e Saturno E fecha com Urano e Netuno. Eles diferem completamente Dos planetas internos existentes Por serem enormes esferas De um gás comprimido E com baixa densidade. 179 Para melhor compreensão Falarei de cada um Com mais especificidade. A viagem vai começar E então vou colocar Júpiter e Saturno em primeiro lugar. São planetas gigantes e gasosos Compostos principalmente de Hélio e Hidrogênio, Enquanto Urano e Netuno Têm apenas 20% desses dois elementos Sendo formados também por gelo e materiais rochosos. Uma missão espetacular Que de Galileu veio a se chamar Em 1995 foi conhecer Júpiter num ângulo que ninguém vê. Pelo tamanho exagerado Ele pode ser até considerado Uma estrela que falhou Quando sua história começou. Ele é repleto de anéis E satélites desiguais Todos formados por sólidos materiais. Os maiores a orbitá-lo São chamados galileanos E são nossos conhecidos desde tempos distantes São eles Europa, a seguir vem Gaminedes Seguido por Callisto, Io, desse grupo o ultimo satélite. Io é o mais conhecido E dele vou comentar. Com uma temperatura Interna de arrasar Ele começa a produzir 180 Imensas erupções Que serão eliminadas Através de seus vulcões. O interior do gigante Ainda é desconhecido Mais uma teoria vem dizer Que o núcleo é pequeno E formado por silicatos fundidos É como ele deve ser. Em relação aos demais planetas Não há muito que mencionar Do pouco que se conhece Não hesitamos em afirmar Que pelas suas médias densidades Materiais densos é que devem abrigar. Há modelos para suas estruturas Que preconizam um núcleo rochoso Coberto por água liquida E alguns compostos químicos. É pouco provável a vitalidade Nos planetas externos Porém naves norte-americanas Detectaram moléculas orgânicas Na atmosfera de Titã – A grande lua de saturno – Moléculas estas que podem Estar ligadas à origem da vida. Naquela superfície congelada Esperar agora nos resta Que novas missões nos deem instrumentos Para sabermos até aonde Titã chegou No caminho para a vida. 181 A sonda Huygens tem fornecido Retratos inesperados Daquela superfície tão gelada. Sim, Plutão era considerado O nono planeta a Orbitar a estrela solar Mas em agosto de 2006 Na cidade de Praga Na República Tcheca À “serie B” ele foi rebaixado. Explicarei melhor o fato Em janeiro de 2005 Um objeto foi descoberto No nosso sistema solar Xena, ele foi popularmente Chamado. A união astronômica internacional – Fonte oficial dos nomes celestes – Suspendeu a classificação De Xena como planeta Pelo menos ate que surgisse Definição cientifica para planeta. No entanto Xena era 5% maior Que o nono planeta Uma dúvida em questão Planetas ou não? 424 astrônomos se reuniram Para definir o que é planeta Depois de debates acirrados Foi inventada uma nova classe De planetas “anões” para objetos Suficientemente grandes cuja Gravidade fosse capaz de lhe dar A forma esférica, porém Suficientemente 182 Pequenos para remover Objetos em órbitas similares. Dessa nova classe de planetas Plutão é protótipo. Dela também faz parte Eris, a popular Xena “Nome mais que perfeito” Disse seu descobridor, Pois Eris é a deusa grega da Discórdia. E por último Ceres, o maior dos asteroides. Agora hei de comentar acerca De outros astros existentes No Sistema Solar Pelo Cinturão de Asteroides começo. Este é constituído de incontáveis Corpos planetários de tamanhos Diversos. É provável que os meteoritos Que aqui na terra caem dele provêm. Se vocês não sabem Vou lhes contar que meteoritos São fragmentos de matéria sólida Provenientes do espaço; E os meteoros são mais conhecidos Como estrelas cadentes, São estrias luminosas Que sulcam o céu. De um vasto domínio celestial De cometas em deslocamentos Também quero falar: Nuvem de Oort veio a se chamar Os cometas de períodos longos Menos assíduos vêm de lá. Desta tivemos recentes visitantes Hale Bopp, Hyakutake e Mc Naught. 183 De outro corpo vou falar também. O Cinturão de Kuiper é um lugar além Que como um disco ele reúne Milhões de corpos gelados E plutão não está imune Em ser um desses corpos Os cometas desse cinturão São de curto período. Daqueles, agora irei falar Os quais não orbitam a estrela solar São eles os planetas extrassolares Com auroras fascinantes e formas ovais Como júpiters quentes É que ficaram conhecidos Motivo, atmosfera desses Borbulha a 1.850 °C. Com o telescópio Hubble Descobriu-se que esses mundos Navegam perto de suas estrelas E suas órbitas tão menores são Quanto Mercúrio em relação ao Sol E o grande desafio agora é Observar o trânsito O trânsito desses exoplanetas. Suas órbitas planetárias Raramente estão horizontais Alinhadas com a terra Por isso observações de estrelas Têm sido feitas de uma só vez Em sua melhor forma procurando pelo céu Com maior densidade possível De estrelas, centro da galáxia 184 Terminando essa viagem Vamos partir para o futuro E mostrar as teorias Que vão nesse período reger o mundo Se o universo em expansão Revelar-se a nós temporário Substituindo-se por universo em contração Cria-se uma contundente Possibilidade Que o universo seja infimamente antigo Que já passara por um número infinito De expansões e contrações Mas se não há matéria suficiente Pra reverter a expansão Coerente seriam um universo Criado do nada As supracitadas questões É de profundas reflexões E de várias opiniões Mas desde os primórdios Que varias culturas almejam Explicar a cosmogonia Na maioria das vezes Por meio de conjeturas Que não podem ser testadas. Não quero finalizar, mas sim Os incentivar, a mais e mais Buscar para muito aprimorar E muito mais esplandecer Novos roteiros que vão aparecer Pois não vamos nunca Abater-nos, pois ainda existem muitos porquês. 185 Considerações Finais Por meio deste trabalho é possível compreender um pouco mais a respeito do Big Bang, dos quasares, da verdadeira história de Júpiter, do real significado de buracos negros, da constituição estelar, da semelhança estrutural entre Vênus e nosso planeta e muitas outras coisas. A realização deste projeto leva à reflexão de que o homem sempre se coloca numa posição central no universo, desprezando por muitas vezes a importância de outras formas de vida aqui ou até mesmo em outros planetas. A Astronomia não é apenas a ciência que estuda os astros. Ela também pode ajudar não só a entendermos os astros, mas também a questionar sobre o que e quem somos. Como forma de valorizar a cultura local, foi escolhido utilizar-se da poesia popular para tornar o conhecimento da Astronomia algo ainda mais prazeroso e dinâmico. Qual a origem da vida? Qual o futuro do universo? Existe vida em outros astros? Nem eu e nem a ciência pudemos ainda responder a essas questões. E é pouco provável que todas sejam respondidas, embora os avanços na área astronômica tenham demonstrado um grande interesse em respondêlas. Tais questões são o impulsionamento atual da astronomia. Referências Bibliográficas BRAGA, M. Breve história da ciência moderna. v. 2: das máquinas do mundo ao universo – máquina. – Rio de Janeiro: José Zahar Ed. 2004. CARVALHO, A. Astronomia. 3ª Ed. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1994. COUPER, H. Buracos negros. Trad. Laura Karin Gillon. São Paulo: Moderna, 1997. FARIA, R. P. Iniciação à astronomia. São Paulo: Ática, 2007. FEYNMAN, R. P. Física em seis lições. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. SAGAN, C. Bilhões e bilhões: Reflexões sobre a vida e a morte na virada do milênio. Trad. Lauro Karin Gillon. São Paulo: Moderna, 1997. VESENTINE, J. W. Geografia crítica. São Paulo: Ática, 2004. 186 Menção Honrosa A Astronomia em nossa vida Estudante: Karina Rodrigues dos Santos, 17 anos, 2º ano do ensino médio Professora-orientadora: Daniela Resende de Faria Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - Campinas, SP Resumo O ser humano sempre foi curioso. Sempre questionou as coisas a sua volta, e isso acontece desde a Pré-história. Buscando formas de facilitar a sua vida, desenvolveu técnicas que facilitavam as suas atividades diárias e ajudavam a saciar a fome. Mas o ser humano não tem nem nunca teve fome apenas de alimento, o saber sempre foi presente em sua existência. Sempre querendo saber mais, os povos antigos sempre justificaram ou buscaram justificar os fenômenos da natureza. E com o conhecimento adquirido, sempre desenvolviam ou aperfeiçoavam as tecnologias a sua disposição. A Astronomia sempre fascinou os seres humanos. E essa fascinação fez com que nunca deixassem de responder aos questionamentos que surgiam nessa área da ciência. Muitos estudos e teorias foram construídos e desenvolvidos para que o conhecimento em Astronomia fosse o maior possível. A ideia de que existia algo depois do céu motivou homens a tentar conhecer o que o universo reservava. Os seres humanos evoluíam, e com eles as tecnologias e os conhecimentos em Astronomia também. Durante uma guerra, a tecnologia desenvolvida superou todas as expectativas. Puderam conhecer pessoalmente o maravilhoso objeto de estudo da Astronomia: o Universo. E a partir daí, puderam aproveitar a tecnologia espacial para usar na Terra, melhorar a qualidade de vida. 187 Introdução No intuito de relatar as contribuições tecnológicas do ser humano para a Astronomia e para a vida cotidiana foi escrito este texto, que visa contribuir com a evolução da história da Astronomia e de suas descobertas. Ele mostra, de forma resumida, a presença dessa ciência na vida do homem e relata as descobertas feitas por ele desde a antiguidade. O interesse que motivou homens como Galileu Galilei e Isaac Newton a desenvolverem suas pesquisas e contribuírem enormemente para a história fez com que este texto pudesse ser escrito. A curiosidade por corpos celestes e pela observação do céu foi a motivação para procurar conhecer um pouco mais sobre a relação do homem e o espaço. A Astronomia tem algo que fascina milhões de pessoas no mundo inteiro, que procuram saber um pouco mais sobre a sua história. E a torcida para que o homem consiga chegar a outros planetas ou até a outras galáxias é enorme. A busca pela vida fora do planeta Terra faz com que a imaginação do ser humano floresça e alimente a sua capacidade de construir máquinas cada vez melhores para suprir sua curiosidade. Isso move muitas pessoas a trabalharem para conhecer com mais profundidade o universo em que vivemos e buscar saber como foi que nós chegamos até aqui, o que de verdade nos deu origem, podendo, assim, provar ou refutar as teorias que formamos sobre a nossa origem. Imbuído desses propósitos, a seguir se delineará uma pequena parte da história da Astronomia, que é também parte da história da nossa existência, contribuindo, de maneira simples, para propagar o seu conhecimento e mostrando que tecnologias comuns em nosso dia-a-dia têm alguma relação com a tecnologia desenvolvida para a exploração do Universo. A astronomia em nossa vida Desde o homem primitivo até hoje uma questão se apresenta: como sobreviver? A busca de alternativas, a criação de técnicas para adaptar-se ao meio ou para adaptá-lo às nossas necessidade tornaram-se fundamentais para a sobrevivência da espécie. Primeiramente foram criados utensílios a partir de ossos e de pedras lascadas ou polidas, para facilitar o corte de carne da caça. Foi dominado o fogo, útil para aquecer em dias de frio, 188 esquentar a carne, tornando-a mais saborosa, e afastar animais perigosos. Obstáculos impostos pela natureza foram superados, e o homem adaptou-a a suas necessidades. Exemplos não faltam ao longo da história. Os egípcios criaram rampas e alavancas para facilitar o manuseio de materiais em suas construções. Desenvolveram o suporte da sua escrita, o papiro e a sua linda cerâmica. Mais tarde, na Roma Antiga, foram desenvolvidas técnicas diferenciadas de arquitetura e engenharia para a época, além da tecelagem e da construção de estradas. Na China Antiga e Medieval, foram desenvolvidos os fósforos, o papel, a ponte suspensa, a bússola, a pólvora e o barco movido a pás. E todos rapidamente passaram a ser usados em vários outros lugares do mundo. Em 1608, os holandeses Hans Lipperhey (1570-1619) e Zacharias Janssen (1585 – 1632) criaram e montaram o primeiro telescópio. No ano seguinte, Galileu Galilei, baseado no modelo holandês, construiu seu próprio modelo e, assim, pôde fazer várias descobertas sobre o nosso sistema solar, tendo argumentos para afirmar que o sistema heliocêntrico de Copérnico era o correto. Depois das descobertas de Galileu, o mundo nunca mais foi o mesmo. Diversos cientistas começaram a estudar o sistema heliocêntrico e a procurar formas de prová-lo. Alguns começaram novos estudos em diferentes áreas da ciência como, por exemplo, a descoberta e a isolamento do hidrogênio; a descoberta do princípio da vacinação; o começo da química moderna por Lavoisier; a criação do telescópio refletor, por Newton; a fabricação da primeira bateria elétrica; e a invenção da fotografia. Outros desenvolveram máquinas para a utilização cotidiana e instrumentos para a fabricação de produtos em massa, como por exemplo, o motor a vapor. Foi quando aconteceu a Revolução Industrial, que mecanizou os sistemas de produção, com as máquinas a vapor que aceleraram a produção têxtil. Juntamente com elas, veio também uma revolução nos transportes, destacando os trens e as locomotivas a vapor. Mais tarde, a partir do século XIX, os estudos e pesquisas são aprofundados, e as novidades tecnológica tornam-se cada vez mais sofisticadas, a exemplo da anestesia geral, que é usada pela primeira vez em 1846 em um hospital de Boston; da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, 189 após muitos anos de estudo; do primeiro poço de petróleo perfurado nos EUA; do telefone e da geladeira; do microfone e do fonógrafo também; do primeiro carro movido a gasolina; dos raios X; do primeiro aparelho cinematográfico; do telégrafo sem fio; da radioatividade; do primeiro microscópio de elétron; do átomo de urânio separado; do Z3, primeiro computador, colocado em funcionamento; do primeiro satélite lançado, o Sputnik 1; da chegada do primeiro homem à lua... Todos esses avanços intelectuais e tecnológicos se sofisticaram cada vez mais e rapidamente. Com isso as sociedades também se modificavam tanto na forma de organização como na forma de se relacionar com as diferentes nações e até mesmo na forma de governar. As mudanças ocorreram também no meio ambiente e nas formas de pensar e agir a respeito das decisões tomadas sobre esse meio físico. E todas essas decisões fizeram com que as novas tecnologias e pesquisas desenvolvidas fossem voltadas para a busca de respostas para a origem do planeta Terra, para a preservação da vida e para a melhoria do ser humano e do meio ambiente. Foi por isso que se desenvolveram a ciência e a tecnologia espacial na busca de soluções para melhorar o nosso planeta, para continuar construindo hoje o mundo que nossos antepassados começaram a construir. A astronomia ajudando o ser humano a descobrir suas origens A ideia de que não estamos sozinhos no espaço desperta em muitas pessoas a curiosidade de saber o que existe e como é o meio físico fora do planeta Terra. O espaço sideral, as estrelas, os planetas, as luas, buracos negros... tudo isso desperta o interesse do ser humano em procurar saber não só como é mas também como surgiu e há quanto tempo existe. A partir da ciência espacial, podemos pesquisar e descobrir coisas fascinantes sobre o nosso planeta e sobre o universo. A Astronomia, uma das ciências mais antigas, foi construída para observar os astros e seus movimentos, para criar teorias e estudar a nossa existência e evolução, a existência do nosso planeta, dos outros planetas, das estrelas, do Sol, da Lua, enfim, de toda a nossa galáxia, entender como, quando e em que 190 situações fomos criados. Tentar estimar há quantos anos existimos e em quanto tempo iremos desaparecer, tentar conhecer as nossas origens, para melhor nos entendermos. A nossa curiosidade tem início na Pré-história, quando se começam a observar os fenômenos à volta e a tentar entendê-los. Entender por que uma parte do planeta era clara, e a outra era escura; por que havia pontinhos brilhantes no céu quando este estava na mais completa escuridão; por que havia uma bola brilhante no céu que, em alguns dias, não aparecia, ou aparecia apenas pela metade... Foi assim que evoluímos e começamos a utilizar as estrelas para nos orientar; utilizar a passagem dos dias para marcar o tempo e os acontecimentos celestes para prever as épocas propícias para o plantio e colheita dos alimentos. Mas foi no verão de 1609 que as descobertas avançaram sobre o Planeta e sobre o Universo, quando Galileu Galilei, a partir de comentários que ouviu sobre lentes desenvolvidas por um cientista holandês, as quais permitiam fazer com que objetos distantes parecessem ficar mais próximos, e de seus conhecimentos técnicos em matemática, projetou uma série de telescópios com um desenvolvimento óptico muito superior ao do instrumento desenvolvido na Holanda. Com seu novo instrumento em mãos, Galileu apontou-o para o céu e fez diversas descobertas astronômicas: observou que a Lua possuía montanhas e crateras e que sua forma não era perfeita; provou que a Via Láctea era composta por milhares de outras estrelas; descobriu que o planeta Vênus mostrava fases diferentes, como a Lua, e concluiu, assim, que os planetas deveriam estar em órbita do Sol e não da Terra, um forte argumento para provar que o sistema heliocêntrico estava correto. Utilizando a luneta que havia construído, Galileu fez com que suas descobertas revolucionassem o pensamento da época e mostrou um novo universo, desconhecido e inimaginável para a sociedade. Porém, algo estranho, diferente para nós, é sempre visto com cautela. E foi o que aconteceu na época. Galileu foi duramente criticado pelo clero católico e por parte da sociedade, com exceção apenas de um grupo de cientistas que achou fascinante suas descobertas. No começo, poucas pessoas acreditaram nele, seu pensamento lhe causou muitas inimizades. A Igreja condenava suas descobertas e dizia a seus fiéis que Galileu era 191 louco e que deveria ser punido com as leis de Deus, assim como também aquele que nele acreditasse e que propagasse as suas ideias, pois ele estava questionando a verdade de Deus. Esse pensamento e a dificuldade das pessoas de aceitar o diferente, o desconhecido e de questionar as novidades, procurar saber como foi feito e no que se baseia, procurar conhecer, quebrar a ideologia, procurar dar chance a cada um de expor suas ideias, suas ideologias, fez com que Galileu fosse perseguido pela Igreja e acusado de heresia, tendo que ler uma confissão perante o Santo Ofício da Inquisição negando tudo o que tinha defendido a sua vida toda e sendo condenado à prisão domiciliar pelo resto da vida. Os conhecimentos do físico, matemático e astrônomo Isaac Newton e seus estudos a partir de descobertas de outros físicos fizeram com que chegasse às formulações de suas leis e, assim, à demonstração das Leis de Kepler, que descreviam o movimento planetário. Sua outra contribuição decisiva para a astronomia: a criação do telescópio refletor para a observação do espaço, fez com que ela ganhasse força e caminhasse para o desenvolvimento da Astronomia atual. Com os novos aparatos tecnológicos, baseados nos dos séculos passados, podemos ver de perto as estrelas, a Lua e os planetas que estão a milhares de quilômetros de distância da Terra. Antes, víamos o espaço sideral apenas a olho nu, agora aparelhos cada vez mais sofisticados nos auxiliam em nossas observações e nos mostram coisas cada vez mais fascinantes. Contudo uma pergunta há que ser feita: como o homem desenvolveu tanta tecnologia? Guerra Fria: o desenvolvimento da tecnologia espacial e da astronomia Após a Segunda Guerra Mundial, as duas potências da época, Estados Unidos e União Soviética, tentaram influenciar os outros países a aderirem a seu sistema político e econômico. Os Estados Unidos com o capitalismo e a União Soviética com o socialismo. Isso fez com que o mundo se dividisse em dois: de um lado, os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e do outro, os países socialistas, liderados pela União Soviética. Apesar da rivalidade, do antagonismo e do clima de conflito entre os dois países, nem a União Soviética nem os Estados Unidos entraram em conflito direto um 192 com o outro, pois sabiam que ambos detinham uma quantidade muito grande de armamento nuclear, que, se usado em uma guerra, acabaria com todos os seres vivos do planeta. Esse período ficou conhecido como Guerra Fria. Como essas duas potências tinham medo de se enfrentar em uma guerra armada, deu-se início à corrida por tecnologias cada vez mais avançadas e ao aperfeiçoamento de armamentos nucleares, momento conhecido por corrida armamentista. Sempre que um país lançava algo novo, o outro também lançava, pois o medo de a qualquer momento ser bombardeado criava a necessidade de se preparar para uma possível guerra. Os países queriam sofisticar seus arsenais militares e, para isso, investiam cada vez mais em pesquisas e na criação de novas armas. Para desenvolver tecnologia suficiente para o lançamento de mísseis e de foguetes de longo alcance cada vez melhores, muito foi investido em tecnologia espacial e foi assim que a tecnologia espacial tem início: um país disputando com o outro para ver quem tinha mais recursos tecnológicos para suas armas de longo alcance. O lançamento do primeiro satélite artificial pela União Soviética, em 1957, foi o momento que marcou o início da corrida espacial. O Sputnik 1 foi o primeiro objeto criado pelas mãos do homem a ir para o espaço. Pesando 83,6 kg e com, aproximadamente, 58 centímetros de comprimento, era uma esfera de alumínio que tinha acoplado em seu corpo quatro antenas e dois transmissores de rádio. Sputnik 1: O primeiro satélite artificial enviado ao espaço pelo homem. Fonte: Site BBC Brasil 193 Sua única função era enviar um sinal de rádio, “bip”, para a Terra, o qual podia ser captado por qualquer rádio. Foi enviado ao espaço na ponta de um foguete de três estágios R-7, inicialmente projetado para lançar ogivas nucleares, e ficou em órbita da Terra por seis meses, até entrar na atmosfera e incendiar-se. Após o lançamento, a ambição de mandar um ser humano cresceu e, no mesmo ano em que o Sputnik 1 chegou ao espaço, a União Soviética lançou um novo Sputnik, agora tripulado, levando a cadela da raça Laika ao espaço. A cadela sobreviveu ao lançamento, mas morreu algumas horas depois, já que não havia nenhuma estratégia de volta. A tecnologia usada no foguete que a enviou para o espaço não permitia que ela voltasse sã e salva. A cadela Laika, no Sputnik 2, estava em uma cabine pressurizada na qual só podia ficar deitada ou em pé. Fonte: Site BBC Brasil Mais tarde, em abril de 1961, a nave tripulada Vostok 1 saiu do Cazaquistão e levou o primeiro homem ao espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin. Ele foi o primeiro ser humano a completar uma volta em torno da Terra. Gagarin ficou em órbita da Terra durante 108 minutos na nave que era totalmente automatizada. E voltou salvo para a Terra. Num curto período de tempo, vários satélites e naves espaciais foram enviados para o espaço, tanto pela Nasa, dos Estados Unidos, quanto pela União Soviética. Alguns para medir raios cósmicos e temperatura, e outros, com homens e mulheres, para conhecer o espaço. Porém a missão que talvez tenha sido mais surpreendente e esperada, depois da chegada do homem ao espaço foi, com certeza, a chegada à Lua. A bordo da nave Apollo 11, enviada pela Nasa, havia três homens: Neil Armstrong, Edwin Adrin e Michael Collins, que depois de várias horas de viagem iriam alunissar. 194 Pegada de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar a lua Fonte: site GRIN da Nasa <http://grin.hq.nasa.gov/BROWSE /apollo11_1.html> Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua. Por pouco mais de duas horas, ele e o astronauta Edwin Adrin recolheram amostras do solo lunar, tiraram algumas fotos e fizeram algumas experiências. Quatro dias depois, caindo no Oceano Pacífico, os três astronautas retornaram para a Terra. Desenvolvimento da astronomia A Guerra Fria, certamente, foi um período em que muitas pessoas passaram por uma grande tensão devido à chamada Paz Armada. O estresse causado pela difícil relação entre as duas potências da época estava sempre no limite, e o terror e o medo tomavam conta de todo o mundo. Mas ela também trouxe fatores positivos: a corrida espacial foi uma das contribuições mais decisivas para a história da Astronomia. A rivalidade entre os Estados Unidos e União Soviética rendeu bons investimentos na área espacial, gerando um grande desenvolvimento para a astronomia em um curto espaço de tempo. Com a corrida espacial, a astronomia pôde conhecer melhor o seu objeto de estudo: o espaço. A fascinação pelo espaço nos levou de simples observações curiosas feitas da Terra para vivências no espaço. Pudemos conhecer melhor a Lua, fotografá-la e até analisar o seu solo, contribuindo para afirmação ou a refutação de teorias sobre ela. A astronomia ganhou mais tecnologia para desenvolver telescópios e lunetas e criar novos instrumentos de estudo sobre o espaço. Antes havia lunetas com pouca tecnologia, agora são criados telescópios com um desenvolvimento óptico 195 muito melhor, além do computador, os radares, as sondas e os satélites artificiais que auxiliam em observações e pesquisas e ajudam a revelar e a descobrir coisas cada vez mais interessantes. Podemos dizer que a frase “Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade“, dita por Neil Armstrong ao pisar o solo lunar, pode significar um grande avanço em um curto período de tempo para a Astronomia. Ao se comprovar, depois de muitas pesquisas e testes, que se podia chegar a outro corpo celeste no universo, o ser humano começou a querer visitar os outros planetas, pois só a Lua não saciava mais a sua curiosidade. Com o avanço da tecnologia, no período da corrida espacial, os cientistas puderam desenvolver uma sonda muito poderosa para explorar outros planetas, a qual contribuiu para que novos estudos da Astronomia pudessem ser realizados, e o ser humano conseguisse conhecer melhor o universo onde vive. Foi com o envio das sondas Voyager 2, em agosto de 1977, e a Voyager 1, em setembro do mesmo ano, pela Nasa, que o ser humano começou a conhecer melhor os planetas vizinhos. Com essas sondas se conheceram características dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Sonda Voyager 1 e 2. Fonte: Nasa/JPL 196 O envio de milhares de fotos para a Terra possibilitou a observação de diversas características dos planetas e de seus satélites,sua composição, sua superfície e atmosfera. As descobertas puderam refutar algumas hipóteses dos astrônomos e comprovar outras. Isso graças à tecnologia desenvolvida durante a Guerra Fria. A tecnologia espacial gerada para a exploração do universo, facilitando a vida do ser humano na Terra Muita gente deve se perguntar se a Guerra Fria deixou alguma consequência boa, sem ser o legado histórico para a humanidade, ou para os países que participaram dela. A resposta é sim. Ela gerou muitos avanços tecnológicos que desfrutamos até hoje. O desenvolvimento de satélites de espionagem e a preocupação com a vida dos astronautas fora da Terra renderam benefícios em todos os campos da ciência, da saúde até o nosso lazer. Literalmente, podemos dizer que o Sputnik 1 mudou nossa vida para sempre. Um aparelho em forma de esfera, que apenas enviava sinais de rádio para a Terra, mudou completamente a nossa realidade. Quando pensamos em computadores, lembramos logo do monitor de LCD e do mouse óptico, ou então, lembramos daquele aparelho pequeno e portátil que podemos utilizar a qualquer momento em qualquer lugar, imprescindível em muitas tarefas da escola e do trabalho. Mas não costumamos nos perguntar como o computador chegou até esse estágio, já que ele não foi criado de um dia para o outro com tanta tecnologia e ferramentas embutidas. O computador que conhecemos, e que nos possibilita realizar pesquisas, trabalhar ou conversar com amigos que estão do outro lado do mundo, sem sair de casa, é uma consequência, um aperfeiçoamento dos computadores usados em missões espaciais. O avô do computador atual foi aperfeiçoado para que ajudasse nos lançamentos dos foguetes e guiasse as naves com mais precisão no espaço. Também o notebook foi usado para servir em missões espaciais. Como a Nasa precisava fazer com que as informações pudessem chegar aos astronautas sem que eles tivessem que levar consigo um computador muito grande, decidiu adotar o Compass GRiD 1101, já que, comparado aos computadores da época, ele era pequeno, e não pesava tanto. Ou seja, tudo o que a Nasa necessitava: leve, pequeno e resistente. 197 O astronauta John Creighton com o Compass GRID, na nave Discovery em 1985. Fonte: Site da JSC <http://images.jsc.nasa. gov/luceneweb/caption_direct. jsp?photoId=STS51G-22-029> Mas como os astronautas podiam receber informações da base de controle sem estar conectados aos fios da rede usada por eles, estando a milhares de quilômetros da Terra, no espaço? A resposta é simples. Antes de o notebook ser criado, a Nasa aperfeiçoou, na década de 1960, uma tecnologia que possibilitava a comunicação com os astronautas, enquanto eles estivessem no espaço, sem precisar dos tradicionais fios. Era a rede wireless, que, mais tarde, na década de 1980, seria disponibilizada comercialmente. Outra pergunta: você sabe se amanhã vai chover ou fazer sol? Pode até ser que você não saiba, mas, se assistir à previsão do tempo na televisão, vir na internet ou ler no jornal, com certeza, saberá. E o que isso tem a ver com as tecnologias espaciais que beneficiam a nossa vida? Tudo. A partir do primeiro satélite artificial criado pelo homem e posto em órbita, o Sputnik 1, o mundo começou a aproveitar essa tecnologia para as diversas áreas. A previsão do tempo só é possível graças aos satélites meteorológicos que estão em órbita da Terra. É por meio das imagens enviadas por eles que podemos ver na previsão do tempo o clima para os dias seguintes. Não são todos, porém, que mandam as previsões do tempo para a Terra. Existem muitos tipos de satélites em órbita da Terra. Alguns deles são responsáveis pelo acesso à internet fazendo a ligação entre os diversos países do mundo para que possamos nos comunicar. Aquela antena que fica em cima das casas e que capta os sinais do satélite para transmitir a programação da televisão é um dos outros benefícios que proporciona a todos nós. Só assim podemos assistir a programações ao vivo, de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora. Eles também servem para ajudá-lo a 198 encontrar alguma rua ou endereço na sua cidade ou em qualquer lugar do mundo, pois o GPS (Sistema de Posicionamento Global) funciona através dos satélites do Sistema Global de Navegação. Existem, ainda, satélites astronômicos, que são utilizados em observações astronômicas; satélites de comunicação, usados em telecomunicação; satélites de observação da Terra, que servem para monitoramento ambiental e mapeamento geográfico; os chamados biosatélites, projetados para levar organismos vivos para experiências no espaço; satélites de energia solar, que captam a energia do Sol, a partir de células solares, e convertem para grandes antenas na Terra, em um feixe de micro-ondas... enfim, com funções bem diferentes estão presentes em nossa vida. Diversos objetos que utilizamos no cotidiano, naturalmente, também são produzidos por tecnologia espacial. Por exemplo, você está na sua casa, lavando a louça suja, quando pega uma panela muito fácil de lavar por ser antiaderente, então você pensa: muito inteligente criar uma panela em que os alimentos não grudem. Mas esse material usado na panela antiaderente, antes de facilitar sua vida doméstica, foi usado em naves espaciais para que elas durassem por mais tempo e funcionassem como escudos de calor. A espuma espacial, feita de silício-poliuretânico de célula aberta, absorve o impacto de pousos de naves e garante que o choque da decolagem, ou da viagem não seja tão forte nem para a nave e muito menos para os astronautas a bordo. A espuma espacial absorve o impacto. Fonte: Site da Nasa Spinoff <http://www.sti. nasa.gov/tto/Spinoff2005/ch_6.html> 199 Essa tecnologia ganhou mercado e, hoje, é utilizada em milhares de outros objetos, como por exemplo, nos colchões, almofadas, travesseiros, assentos, e até mesmo em próteses de pernas e braços, pois diminui o contato entre a prótese e o membro aliviando a sensação de desconforto. As ferramentas domésticas sem fio também têm sua tecnologia baseada na espacial. Foi graças a uma furadeira movida a bateria, usada em missões, para restaurar equipamentos, que é possível termos a mobilidade, por exemplo, com o aspirador de pó dentro de nossa casa. O propileno, material utilizado como isolante térmico em casa, foi utilizado para proteger os astronautas da radiação espacial e do calor. A roupa antichamas, feita de PBI (Polybenzimidazole), utilizada para proteger bombeiros do fogo em incêndios, foi desenvolvida pela Nasa a partir de um incentivo para produção de tecidos resistentes ao fogo em artefatos espaciais, após um incêndio no lançamento de uma nave. Outra roupa, feita inicialmente para que os astronautas conseguissem suportar temperaturas extremas em lugares externos, foi adaptada para que pessoas que trabalham em espaços industriais consigam manter regulada a temperatura do corpo. Essa roupa também é usada por pessoas que têm uma doença rara que impede o corpo de conseguir diminuir a sua temperatura sozinho. Os maiôs LZR Racer usados na natação, feitos de poliuretano e sem costura, também servem como exemplo. A peça desenvolvida para que o atleta tenha mais velocidade dentro da piscina foi criada para que os astronautas tivessem o menor nível de atrito possível no espaço. Ela faz com que o atrito com a água diminua, dando alguns centésimos de segundos a mais de rapidez. Mas não são apenas os atletas da natação que se beneficiam. Os paraolímpicos também são favorecidos pelas próteses feitas com materiais espaciais, muito mais resistentes e leves. Adaptada da camada de revestimento externo de naves, essa tecnologia possibilita mais conforto ao competir. Equipes esportivas e centros de reabilitação também utilizam tecnologia espacial. Como os astronautas ficam muito tempo em ambiente sem gravidade, a capacidade cardiovascular deles se reduz, o que motivou cientistas a criarem um “trampolim horizontal”, hoje utilizado por esses atletas para promover a recuperação cardiovascular e para tonificar os músculos. 200 Podemos encontrar tecnologia espacial até no supermercado. Quando está com fome e quer comer uma coisa gostosa, rápida e nutritiva, sem precisar, entretanto, de muito tempo para prepará-la, você recorre à comida congelada. Mas você sabia que ela foi usada primeiramente por astronautas? Era muito difícil alimentá-los em longas viagens espaciais, por isso a solução encontrada foi congelar e desidratar os alimentos, sem retirar os nutrientes e o sabor, reduzindo o peso e aumentando a validade do alimento. Os óculos que muitas pessoas precisam usar para enxergar melhor contêm, também, tecnologia desenvolvida pela Nasa. Para manter os equipamentos, principalmente os visores dos capacetes dos astronautas, livres da poeira (constante no espaço), e de arranhões, foram criados materiais que não riscassem facilmente e que fossem resistentes. Essa tecnologia foi adaptada para armações e lentes que, mesmo após muitos tombos, ainda se mantêm intactas. Porém a área que todos nós queremos que cresça cada vez mais com as viagens espaciais é a da medicina. Muitas tecnologias espaciais foram adaptadas para a medicina melhorando o conforto de pessoas que estão doentes. Os “termômetros de ouvido” só foram criados por causa da tecnologia espacial. A partir do infravermelho usado na medição de temperatura das estrelas, foi possível adaptar a tecnologia para ser empregada nos termômetros, que captam a energia liberada pelo tímpano, para medir a temperatura do nosso corpo. Um potente botijão de oxigênio, utilizado por hospitais em pacientes com sérios problemas respiratórios, só foi possível por causa dos robôs enviados em missões a Marte, os quais precisavam funcionar mesmo a milhares de quilômetros de distância da Terra, sendo necessário, para isso, o desenvolvimento de um equipamento capaz de armazenar muito bem o oxigênio para que pudesse ser usado como combustível. A adaptação da tecnologia usada na construção de motores para naves espaciais possibilitou que uma válvula que mantém o coração bombeando sangue para o corpo, mesmo estando doente, fosse criada. Essa tecnologia não substitui o coração novo, mas possibilita aos pacientes de casos mais graves ficarem meses na fila de espera para a realização do transplante, enquanto um coração novo não é encontrado. 201 Todos nós sabemos que, quando estamos doentes, corremos mais risco de termos outras doenças ou infecções, porque nosso sistema imunológico está baixo tentando combater a primeira doença. Há casos sérios, em que, mesmo internados, corremos risco de algumas bactérias transportadas pelo ar atacar nosso corpo já debilitado. Pensando nisso, foi desenvolvido um aparelho, utilizado em salas de emergência de hospitais, que purifica o ar, capturando e eliminando micro-organismos como fungos, bactérias e vírus, que causam várias doenças, como por exemplo, pneumonia. Isso só foi possível porque um aparelho parecido é usado para garantir a qualidade do ar de naves espaciais em missões no espaço. O ar respirado pelos astronautas precisava ser purificado para que eles conseguissem respirar dentro da nave. O ‘ImmunairTM’ possibilita uma “tenda” de ar puro, sem germes ou bactérias, em volta da cama do paciente. Fonte: Site da Agência Espacial Brasileira As máquinas que fazem hemodiálise, ou seja limpam e filtram o sangue para pessoas que têm algum tipo de insuficiência renal, utilizam hoje uma tecnologia espacial criada pela Nasa, que servia para remover o lixo tóxico de fluidos usados nas espaçonaves. A tecnologia espacial sendo adaptada em novos instrumentos A tuberculose, doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, que afeta sobretudo os pulmões, tem agora novo método de detecção. Um instrumento do tamanho de uma caixa de sapato utilizado para detectar sinais de vida no planeta Marte, está sendo adaptado para ajudar a diagnosticar essa doença. A ferramenta será barata, rápida e precisa na detecção. O equipamento é um espectrômetro de massa, capaz de identificar a bactéria causadora do mal. Isso é possível porque a bactéria Mycobacterium tuberculosis tem um revestimento especial que possui 202 o padrão químico que o espectrômetro de massa está procurando. Esse instrumento será vital para a detecção da doença o mais rápido possível, para que a pessoa infectada não transmita a bactéria a outras pessoas. Além disso, com a detecção precoce da doença o tratamento também será precoce, e assim evitará muitas mortes. Outro instrumento que está sendo aperfeiçoado para ser usado em pouco tempo na Terra é a máquina que recicla a urina dos astronautas, transformando-a em água potável para que seja consumida em missões espaciais. A reciclagem começa com substâncias químicas que são adicionadas na urina para evitar que micro-organismos se proliferem; depois a mistura é centrifugada em um cilindro que esquenta a urina e a mantém em pressão baixa. Essa etapa faz com que a água evapore e se condense. O processo é repetido várias vezes. O líquido destilado segue para um tanque, onde passa por várias outras filtragens e reações químicas que retiram substâncias tóxicas e matam bactérias, vírus e fungos. O resultado é uma água limpa e potável para beber e cozinhar. A tecnologia espacial que adaptamos para nos ser útil na Terra facilitou e melhorou nossa qualidade de vida. Conhecer e explorar os planetas que fazem parte do sistema solar, junto com o nosso, é estratégico, porque, assim, podemos saber se houve ou há vida nesses planetas. Queremos explorar mais além, tentar chegar a outras galáxias, procurar vida fora do planeta Terra e quem sabe encontrar a resposta que queremos: estamos ou não sozinhos no universo? A Astronomia revelou para nós um mundo de coisas fascinantes, maravilhosas. Ajudou-nos a descobrir, ou, ao menos, tentar descobrir como foi que chegamos aqui. Entender o sentido da vida para saber respeitá-la. Desde que o homem olhou para o céu, na Pré-história, sabia que podia descobrir coisas sobre ele mesmo se conseguisse entender o universo. Homens, no passado, formaram hipóteses para que nós, no futuro, pudéssemos comprová-las. Homens deram a vida para que nós desfrutássemos da tecnologia e do conhecimento que temos hoje. Os estudos, a curiosidade, a paixão e a genialidade de homens do passado nos mostraram o caminho que devíamos seguir para que chegássemos um dia a sair do planeta Terra e conhecer o espaço. Eles iniciaram os estudos, comprovaram hipóteses e aperfeiçoaram tecnologias para que pudessem chegar a desenvolver tecnologia suficiente para realizar o grande sonho de todos eles. 203 fontes consultadas <http://www.astromador.xpg.com.br/historia.htm> <htp://br.geocities.com/astronomia_py5aal/angelo_leithold_ astronomo.html> <http://www.fis.unb.br/plasmas/aula2.pdf> <http://www.sab-astro.org.br/cesab/newhtml/AstHist.html> <http://www.observatorio.ufmg.br/pas65.htm> <http://www.vestibular1.com.br/revisao/historia_astronomia.doc> <http://www.discoverybrasil.com/guia_tecnologia/resumo_historia/ index.shtml> <http://www.comciencia.br/reportagens/espaco/espc09.htm> <http://www.blogpaedia.com.br/2009/02/o-primeiro-notebook-domundo-foi.html> <http://www.aeb.gov.br/indexxx.php?secao=spinoff> <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,EDG767526014,00-<VOCE+BEBERIA+URINA+RECICLADA.html> <http://idgnow.uol.com.br/telecom/2007/06/15/idgnoticia.2007-0615.4476663797/paginador/pagina_2 > <http://ciencia.hsw.uol.com.br/espaco-canal.htm> <http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/437/artigo1260501.htm > <http://www.cienciahoje.pt/30245> 204 <http://www.diarioon.com.br/arquivo/4937/lazer/lazer-22579.htm> <http://idgnow.uol.com.br/internet/2008/12/11/nasa-cria-primeirarede-de-comunicacao-espacial-que-se-baseia-na-web/> <http://www.comciencia.br/reportagens/guerra/guerra07.htm> <http://www.sti.nasa.gov/tto/http://portalexame.com.br/revista/ exame/edicoes/0924/mundo/m0165412.html > <http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/07/18/mundo1_ 0.asp> <http://leituradebolso.blogspot.com/2009/07/o-legado-da-corridaespacial.html> <http://www.comciencia.br/reportagens/espaco/espc09.htm> <http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020325/vid_ mat_250302_51.htm> <http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1691100-tecnologiaespacial-para-turberculose/> <http://www.esa.int/esaCP/SEMOWL4N0MF_Portugal_0.html> <http://crispassinato.wordpress.com/2008/04/16/tecnologiaespacial-16042008-1410/> <http://pordentrodaciencia.blogspot.com/2009/01/o-mensageirodas-estrelas.html> <http://www.observatorio.ufmg.br/pas22.htm> <http://www.inpe.br/cri2/cri_nacional.php > <http://www.letsfindout.com/subjects/browse?space> < h t t p : / / w w w. a d o r o f i s i c a . c o m . b r / t r a b a l h o s / f i s / e q u i p e s / corridaespacial/corridaespacial.htm> 205 <http://www.paranaonline.com.br/editoria/mundo/news/87488 /?noticia=TRINTA+E+CINCO+ANOS+DA+EXPLORACAO+DA +LUA> <http://portalexame.com.br/revista/exame/edicoes/0924/mundo/ m0165412.html> <http://leituradebolso.blogspot.com/2009/07/o-legado-da-corridaespacial.html> <http://www.comciencia.br/reportagens/espaco/espc09.htm> <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1532_base/page2.shtml> <http://ldiamante.blogspot.com/2009/04/tecnologia-espacial-aplicadaas.html> <http://grin.hq.nasa.gov/BROWSE/apollo11_1.html> <http://images.jsc.nasa.g ov/luceneweb/caption_direct.jsp? photoId=STS51G-22-029> 206 Menção Honrosa As crônicas do cosmos Estudante: Victor Henrique da Silva Menezes, 17 anos, 3º ano do ensino médio Professora-orientadora: Sandra Regina Constantino Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça - Dracena, SP Resumo O cosmos, termo que designa a totalidade de todas as coisas do universo, desde as estrelas até as partículas subatômicas, é a personagem central deste trabalho, que tem como tema a humanidade presente nele. Como se pode observar através do título, o trabalho está dividido em crônicas, quatro histórias diferentes, interligadas entre si, que retratam a descoberta de um novo planeta com condições para a manutenção da vida, ao passo que busca uma ampla reflexão sobre a irrevogável presença humana no universo. Em “O homem do espaço”, vemos a incansável luta do italiano Galileu Galilei em mostrar ao mundo suas novas teorias em relação ao campo da Astronomia, teorias as quais são rejeitadas pela Igreja Católica de sua época e acabam levando-o para os tribunais da Inquisição. “O resgate da pequenina” conta a história da cadelinha Laika, lançada ao espaço pelos soviéticos em 1957 que, ao estar prestes a morrer com o superaquecimento de sua nave, vê-se milagrosamente salva por humanos extraterrestres que a levam para um mundo com características parecidíssimas com as da Terra. Em “A descoberta do menino”, dois adolescentes se envolvem em uma emocionante aventura após uma visita escolar ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde, por acaso, vão parar no planeta Tefnut, o mesmo em que no passado Laika fora levada após ser resgatada. E, por fim, em “A fusão dos mundos”, após a volta dos adolescentes de Tefnut, todos os habitantes do planeta Terra descobrem que não estão sozinhos no universo, e uma nova corrida espacial começa em busca da chegada a esse novo e misterioso planeta, selando a presença humana no cosmos. 207 Introdução Muitos afirmam que a presença humana no cosmos iniciou a partir do ano de 1969, quando o homem pisou Lua; outros acreditam que toda essa história começou ainda no século XVIII com Galileu Galilei; já alguns mais radicais afirmam que tudo começou há mais tempo ainda, na Grécia, com o filósofo Aristóteles; e alguns anos depois com o egípcio Claudius Ptolomeu, que criaram o modelo de universo aceito pelo mundo por vários séculos até ser contestado posteriormente por Galileu. Eu já penso o contrário, acredito que a nossa presença no cosmos sempre existiu, pois se pesquisarmos a fundo o que é o cosmos, vemos que é o termo que designa o Universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em sua totalidade, desde o microcosmo ao macrocosmo, ou seja, desde que nascemos, já marcamos nossa presença, pois vivemos dentro de um planeta que faz parte do conjunto que forma o cosmos; o que acontece é que, nos últimos anos, intensificaram-se as pesquisas espaciais, e nós, os seres humanos, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco além dessa imensidão, podendo finalmente sair dos limites de nosso planeta, onde ficamos presos por séculos, e ter a oportunidade de conhecer novos horizontes. Mas tudo isso não se limitou apenas a teorias e sonhos de viagens espaciais. A curiosidade e a capacidade que o homem tem em descobrir novos meios para a melhoria de sua sobrevivência levaram ao grande avanço das tecnologias espaciais. Atualmente é impressionante a quantidade de satélites que facilitaram muito a nossa vida; uns levam informações a todo o momento por todo o globo, outros são projetados para observar a Terra a partir do espaço a fim de analisar o meio ambiente do planeta, e outros com as mais diversas e estratégicas funções. É o homem utilizandose do que há fora de nosso planeta para o seu bem-estar. E isso continua a crescer a cada dia. Estudos de Astronomia e Bioastronomia fazem-nos acreditar muitas vezes que não estamos sozinhos no Universo, um passo que o homem ainda não conseguiu dar, mas que após todas essas pesquisas, homem indo à Lua, robôs sendo enviados a Marte, entre outras coisas, já não fica difícil imaginar que o próximo passo que a humanidade dará nesta tarefa de intensificar sua presença no cosmos será a de provar que não somos os únicos nessa imensidão que forma o universo que habitamos. 208 O homem do espaço Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram. Alexandre Graham Bell Há seis meses que aquele martírio começara e parecia que finalmente chegaria ao fim. Galileu, que já estava em seus 70 anos, acompanhado por dois inquisidores, seguia pelas ruas do Vaticano em direção ao tribunal da Igreja Católica, onde compareceria diante do Santo Ofício da Inquisição naquela manhã de 22 de junho de 1633, para enfim, descobrir qual seria sua sentença. Seu crime? Heresia, ou seja, fazer ou dizer algo contrário às leis da Igreja. Tudo começara no ano de 1609, quando ainda lecionando matemática na Universidade de Pisa, em Pádua, o jovem Galileu Galilei conheceu um instrumento inventado pelo holandês Hanz Lipperhey, chamado luneta. Ao conhecê-la, decidiu aperfeiçoá-la e, em apenas um ano, conseguiu melhorar a capacidade de aumento e aproximação do instrumento em 20 vezes. Nascia ali o telescópio moderno. Naquela época, seguindo os conceitos de Aristóteles e Claudius Ptolomeu, acreditava-se que todos os corpos celestes eram esferas perfeitas e imutáveis e que a Terra é que era o centro do Universo. Mas com o seu instrumento de observação, Galileu conseguiu ver e descobrir tantas coisas que em poucos meses escreveu e publicou O mensageiro das estrelas, um livro de apenas 24 páginas, mas rico em revelações, como por exemplo, que ao contrário do que se acreditava, a Terra não era o centro do Universo, que a Lua não tinha superfície lisa, mas era cheia de irregularidades, como o nosso planeta. Viu também manchas escuras se movendo na face do Sol, e percebeu que o planeta Vênus tinha fases como a Lua. Segundo sua observação, pode perceber que a Via Láctea não era constituída, como dizia Aristóteles, por “exalações celestiais”, mas era um aglomerado de estrelas; viu uma quantidade muito maior de estrelas do que era possível a olho nu, e descobriu também quatro satélites girando em torno de Júpiter. Essas observações levaram-no a crer que Nicolau Copérnico estava certo quando disse que a Terra girava ao redor do Sol. 209 Ao ser repreendido pela Igreja por começar a dizer essas coisas, Galileu silenciou-se quanto a esse tema por alguns anos. Logo ele, que declamava suas ideias em alto e bom som em jantares e debates, teve que se calar. Mas não parou de produzir; começou a pesquisar coisas que afrontassem menos as ideias da Igreja, como colocar satélites de Júpiter a serviço da navegação para ajudar os marinheiros a calcular a longitude das embarcações no mar. Porém, após vários anos de silêncio, em 1632, Galileu voltou a debater sobre as duas teorias rivais da Cosmologia, o Sistema Heliocêntrico, o Sol como o centro do universo, e o Geocêntrico, a Terra como o centro. Sendo assim, no mesmo ano, publicou a obra Diálogos, que reproduzia uma conversa entre três personagens: Salvati, que defendia as teses de Copérnico; Sagredo, um observador neutro; e Simplicius, defensor de Aristóteles e Ptolomeu. Várias autoridades, inclusive o papa Urbano VIII, leram o Diálogo entre os dois principais sistemas do mundo: o ptolomaico e o copernicano, porém, quando o livro foi divulgado, houve uma verdadeira confusão. Os inimigos de Galileu, como os padres jesuítas de Roma, disseram que o livro glorificava Nicolau Copérnico e insultava a Igreja, inclusive que Simplicius era a personagem inspirada no próprio Urbano VIII. Tudo isso resultou na proibição da circulação do livro e Galileu foi intimado a comparecer desde então diante do Santo Ofício da Inquisição, onde nos últimos seis meses fora interrogado por diversas vezes e, mesmo sob ameaça de tortura, não confessara que acreditava mesmo no que dizia Copérnico. Agora, naquela manhã, toda essa história teria um fim, pois Galileu finalmente ouviria a sua sentença por ter sido considerado herege pela Santa Igreja. Com o coração pulsando fortemente, Galileu entrou no tribunal e viu que desta vez, ao contrário das anteriores, sua audiência seria assistida por muitos, pois ali estava uma verdadeira plateia, entre ela, o que muito o alegrou: os seus grandes e velhos amigos. Após diversos padres, bispos e arcebispos levantarem-se para dar suas opiniões, e Galileu pela centésima vez negar que acreditava nas teorias de Copérnico e afirmar que suas teses no livro Diálogo tinham sido fortes demais e se oferecer para refutá-las em seu próximo livro, o juiz Guinetti levantouse para lhe dar o veredicto. O medo do que poderia vir a lhe acontecer era imenso; em seu último interrogatório, foram-lhe mostradas algumas armas 210 de tortura e, desde então, Galileu tinha certeza de uma coisa: preferia negar todas as suas teorias, que ele acreditava piamente que estavam corretas, e mentir dizendo que tudo o que escrevera e falara fora apenas invenção de sua cabeça, do que ter que morrer agora em sua velhice em uma daquelas tenebrosas armas que a Inquisição usava constantemente nos chamados hereges. – Nós, a Santa Inquisição, constituída de homens escolhidos por Deus – começou Guinetti silenciando a conversa que começara na plateia – decretamos que o livro intitulado Diálogo, de Galileu Galilei, seja publicamente interditado; e quanto a vós, Galileu, vos sentenciamos ao encarceramento, ficando este a cargo do Santo Ofício, por um período a ser determinado. Como penitência, deveis repetir sete salmos por semana, durante três dias, e sois obrigado a recitar publicamente e a assinar a abjuração no Convento de Santa Maria Sofia Minerva. *** Três dias após a finalização de seu julgamento, Galileu, juntamente com os seus fiéis amigos e cercado por servos da Igreja, seguia em direção ao Convento de Santa Maria, onde uma grande multidão se juntara para ver essa nova humilhação a que fora subjugado. Com os olhos marejados de lágrimas e as mãos trêmulas, Galileu começou a ler seu discurso: – Eu, Galilei Galileu, filho do falecido Vicente Galileu, de Florença, com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente a este lugar e ajoelhando-me diante de vós, eminentíssimos e reverendíssimos Cardeais Inquisitores Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética, tendo em frente meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus, acreditarei de futuro, em cada artigo que a Sagrada Igreja Católica de Roma sustenta, ensina e preza. Mas porque este Sagrado Oficio ordenou-me que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina, afirmo que estava errado ao defendê-la no passado... E enquanto lia o seu extenso discurso, Galileu confortava-se com a esperança de que, algum dia, outro estudioso do Universo retomasse os seus trabalhos e conseguisse enfim provar ao mundo que a sua teoria era a 211 correta. Ansiando que algum dia a Igreja Católica fosse obrigada a confessar que esteve errada em ir contra os seus escritos, e que algum homem um dia ainda pudesse ir muito além de seus estudos, quiçá um dia até pisar solos fora de nosso mundo, concluiu o seu pedido de perdão: – Eu abjurei, jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que acima foi citado, e, em fé de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de minha abjuração, o qual recitei palavra por palavra a vós – e limpando uma lágrima que teimava em cair de seus olhos, virou-se para os seus amigos e com voz baixa para que apenas eles o ouvissem, confessou-lhes – No entanto, que a Terra se move, ela se move! O resgate da pequenina Toda essa ciência comparada a nossa realidade é primitiva e infantil, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos. Albert Einstein Há menos de um ano que fora lançado o primeiro satélite artificial, o Sputnik, quando, em 3 de novembro de 1957, os soviéticos se preparavam para um novo lançamento, o do Sputnik II, que dessa vez seria enviado ao espaço juntamente com um ser vivo, um fato marcante na história do homem, que havia mais de três séculos, desde que o italiano Galileu Galilei revolucionara o campo da Astronomia com suas descobertas, começara uma nova aventura que agora daria um grande passo: a descoberta e a conquista do cosmos pelo homem. Laika há muito estava preparada para esse dia, para essa viagem lendária. – Você é única, minha amiguinha! Não há um ser humano neste planeta que não venha a conhecê-la a partir deste momento. – Disse o cientista Oleg Gazenko, seu treinador, ao fechar o último compartimento de sua nave. A cadelinha deu uma breve olhada para todos os que a observavam. Incontáveis cientistas a saudavam, e ali, próximas a Oleg, encontravamse as suas duas melhores amigas, Albina e Mushka. Agora Laika sentia-se importante em relação a elas, que nunca teriam essa mesma oportunidade. 212 Albina fora lançada apenas duas vezes em um foguete para provar sua resistência em grandes alturas, e Mushka fora somente utilizada para teste de instrumentação e dos equipamentos de suporte vital. Nenhuma delas jamais sonhara em participar de uma missão orbital. Oleg tinha razão, Laika era única, aquela que estava ajudando o homem a dar um grande passo em suas conquistas, em sua história. A cadela sentia-se confortável naquela nave equipada com uma bolsa para armazenar seus dejetos e com uma cadeirinha que limitava seus movimentos ao sentar-se, pôr-se de pé ou encostar-se. Seu corpo estava coberto de aparelhos que mediriam sua frequência cardíaca, seu ritmo respiratório, pressão arterial e seus movimentos básicos. Tudo estava em seu devido controle, nada poderia dar errado. Com um grande baque, Laika sentiu que a nave estava subindo e parecia estar em alta velocidade. Viu-se lembrando em seus dias de meninice em que andava solta pelas ruas de Moscou, e nem imaginava que um dia deixaria de ser uma simples vira-lata, para tornar-se uma cadelinha astronauta, quando começou a sentir-se um pouco zonza e percebeu que o seu coração estava disparado. Mas não devia ser nada, apenas emoção. Com isso em sua mente, tentou dar uma olhada na pequena janela da nave, mas não conseguiu distinguir nada, estava em grande velocidade e pelo que ela começou a perceber, a temperatura ali dentro estava aumentando. Um novo baque foi sentido, por certo era a ponta cônica do Sputnik II que havia se desprendido, e a nave começou a passar por uma forte turbulência. Após alguns segundos que lhe pareceram uma eternidade, tudo se acalmou. Laika estava em órbita e só quando percebeu que flutuava sobre sua cadeira, quando olhou pela janela e viu algo extraordinariamente belo que a deixou maravilhada. Ali, em sua frente, encontrava-se um grande globo azul. Ela sempre ouvira falar que a visão exterior de nosso planeta deveria ser algo muito belo, mas agora, vendo-o pessoalmente, ela não conseguia achar palavras para decifrar tal esplendor. O Sputnik II estava se locomovendo, dando a primeira órbita em torno da Terra. Mas algo estava errado, pois a temperatura ali dentro não parava de aumentar. Laika tentou acalmar o medo que crescia em seu coração contemplando a bela imagem da Lua, mas de repente, sua nave começou 213 a passar por uma nova turbulência, e o calor tornou-se insuportável. A temperatura passara dos 50 ºC, um nível superior do que ela aguentara em seus treinos antes dessa missão. Agora em meio ao desespero em saber que talvez não voltasse mais à Terra para contar a Albina e Mushka sobre as maravilhas do universo, ela percebeu que estava morrendo. O calor estava demais, mas sua morte era insignificante em relação ao grande passo que a humanidade dera, e com esse pensamento Laika entregou-se à morte que lhe parecia inevitável, com o sentimento de dever cumprido. Seu fim chegara; pelo menos era o que ela pensava quando uma súbita falta de ar encheu seus pulmões, ao passo que mãos macias a pegavam e pareciam tentar tirar os aparelhos que a envolviam. O coração de Laika pareceu que ia explodir e, sem mais nenhuma força, desmaiou nos braços do ser que a conduzia para outra espaçonave maior e amplamente confortável. *** Sem saber onde se encontrava, ao abrir os olhos, Laika viu-se confortavelmente deitada em uma grande cama dourada que estava cercada por pessoas desconhecidas. Entre elas, destacava-se um homem de meia idade de longos cabelos loiros e olhos da cor do oceano, de aparência vulnerável e bondosa. Ao seu lado, uma bela jovem de longos cabelos dourados que acabavam em uma trança, mostrava-lhe um belo e ansioso sorriso, cujos nomes eram Osíris e Isadora. Ao serem questionados quem eram e onde estavam, por uma assustada Laika que descobrira que eles entendiam sua língua, Osíris lhe explicou que eles a entendiam devido a um microssensor que havia sido colocado em seu pescoço. – Você, pequenina – explicou-lhe Osíris – foi salva por minha filha Isadora quando estava prestes a morrer em sua nave. Minha filha estava em uma de nossas missões em seu planeta, quando a encontrou e a trouxe para cá. Osíris lhe falou que ela estava em sua casa, o Palácio de Idor, num planeta que se localizava a 20 anos-luz da Terra, no qual ele era o grande Imperador, o planeta Tefnut. – Não há nada o que temer, somos amigos – concluiu Isadora ao perceber que a cadelinha estava assustada. Laika estava perplexa. Então realmente existia vida fora do planeta Terra? Tudo ali era tão parecido com o nosso planeta. Toda vez que imaginara seres 214 extraterrestres, ela os imaginara como seres horripilantes, no entanto todos ali eram iguaizinhos aos seres humanos terráqueos. Não havia diferença alguma, exceto em seu modo de viver. O povo de Tefnut era muito mais avançado intelectualmente que os habitantes da Terra, e uma prova disso eram as suas naves espaciais que viajavam em altas velocidades, tanto que, da Terra a Tefnut, em que uma distância de 20 anos-luz os separava, as suas naves faziam todo o percurso em pouco menos de 26 horas terrestres. Os alimentos ali também eram diferentes. As únicas coisas que os alimentavam eram pílulas que, segundo Osíris, eram compostas de tudo o que um organismo humano necessitava para sua existência, o que Laika pôde ver que era verdade, pois os tefnuenses tinham uma vida mais longa e saudável que os terráqueos. Ao ser questionada, Isadora lhe explicou que a história dos habitantes de Tefnut era muito antiga, e que ninguém sabia ao certo se a vida humana começara ali ou no planeta Terra, pois desde os tempos mais antigos o povo de Tefnut tinha contatos em segredo com os terráqueos, tendo acontecido, em certos tempos, um grande número de emigrações para a Terra. Laika não conseguia acreditar. Sempre ouvira dos humanos que os antigos egípcios que habitavam o continente africano e os povos maias, incas e astecas da América eram considerados seres possuidores de grande inteligência e vistos por muitos como povos vindos de outros planetas, mas nunca imaginara que isso poderia realmente ser verdade. Isadora lhe explicou que esses povos que há muito desapareceram da Terra haviam nascido ali em seu planeta e emigraram para o planeta de Laika em busca de novas aventuras. – Sempre fomos os senhores do espaço; há séculos que conhecemos os segredos do Cosmos e viajamos de um planeta a outro. Descobrimos ao longo desses anos que a Terra, apesar de possuir características físicas diferentes de Tefnut, é o único planeta habitado por seres iguais a nós em todo o universo. Há outros sim com condições de serem habitados, mas até o que sabemos, são habitados apenas por vegetais inofensivos. A cada palavra de Isadora, mais perplexa a pequena cadelinha ficava. Laika estava assustada com tudo o que descobria neste planeta em que fora trazida por acaso. Eram surpreendentes a inteligência e a organização daquele povo, que passou a tratá-la como uma verdadeira celebridade. Era 215 comum, agora, o Palácio de Idos viver cheio de visitas, pois todos tinham o desejo de conhecer a pequenina vinda da Terra. Ali havia muitos animais, todos usando microssensores no pescoço para se comunicarem com os tefnuenses, porém para tristeza de Laika, não havia nenhum outro cão, o que aumentava a curiosidade do povo em conhecê-la. O imperador Osíris lhe explicara que os Condons, equipe militar responsável pelas viagens espaciais da qual atualmente sua filha era a líder, já haviam trazido muitos seres da Terra para ali habitar, às vezes até alguns humanos ainda bebês, mas que nunca tiveram vontade de trazer um cachorro, segundo ele, porque os outros imperadores, seus ancestrais, nunca confiaram nos cães, por terem a fama de ser os melhores amigos do homem terráqueo; achavam que eles não se adaptariam em Tefnut, do que Laika discordava plenamente. Agora a cadelinha não tinha a mínima vontade de retornar à Terra. Tefnut tornara-se a sua nova casa. Um planeta tão belo em relação ao seu, com um povo extremamente civilizado que logo passou a amá-la; um mundo que ela logo percebeu que não passava pelos mesmos problemas e dificuldades que a Terra, pois, aparentemente, já os havia superado. Foi com grande entusiasmo então, que ao ser questionada por Osíris se era de seu desejo continuar ali, Laika respondeu em alta voz SIM, o que muito alegrou Isadora, que se tornara sua melhor amiga. Mas o que Laika não sabia é que sua chegada a Tefnut deixara Osíris temeroso quanto ao futuro de seu planeta. Os tempos estavam mudando. Os terráqueos, apesar de tardiamente em comparação aos tefnuenses, haviam começado a sua conquista espacial; a presença deles no Cosmos já era inevitável, e Osíris não tinha certeza se isso seria bom para seu povo, pois ele sabia que mais dias, menos dias, eles chegariam a Tefnut e, quando esse dia chegasse, sabia que o seu mundo estaria entregue à própria sorte. Ele sabia que o caminho que os Condons viviam a percorrer em direção à Terra não era o único caminho que os ligava a Tefnut e, talvez um dia, os terráqueos viessem a descobrir essa passagem que ligava os dois mundos em um número reduzido de tempo. Mas enquanto esse dia não chegava, ele sabia que não restava outra coisa a fazer a não ser continuar sua vida como antes da chegada de Laika, e foi com esse pensamento que procurou a sua filha após alguns meses que a pequenina já ali estava. 216 – Minha filha – disse Osíris com o seu meigo sorriso – acho que está na hora de você e os Condons fazerem uma nova expedição à Terra. – E qual será o objetivo desta vez, meu pai? – perguntou-lhe uma sorridente Isadora, já adivinhando a resposta; desde a chegada de Laika que ela pensava em fazer essa expedição. – Ora, já está na hora de trazermos um namoradinho para a nossa pequenina. Receio que, da parte dela, não terá nenhuma objeção. E dando um último sorriso a sua filha que estava contentíssima com sua ordem, ia saindo pela grande porta do palácio, quando um pensamento surgiu em sua mente e, voltando-se para Isadora, deu-lhe mais uma ordem: – Envie também Condons às Crateras de Geb. A partir de hoje quero que eles façam guarda constantemente naquela região – e deixando Isadora surpresa com essa nova ordem que aparentemente não fazia sentido algum, partiu para seu costumeiro passeio pelas ruas da Grande Cidade. A descoberta do menino Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Raul Seixas Naquela quente manhã de setembro de 2008, foi com imenso desgosto que Sandro, um adolescente de 16 anos, viu-se entrando no ônibus escolar que o levaria juntamente com seus colegas de classe ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, em São José dos Campos. Recentemente, em História, a matéria que Sandro mais odiava da escola, estavam aprendendo sobre a conquista espacial, e Vitória, sua professora, havia marcado uma visita àquele instituto para, como ela dizia, “fechar o bimestre com chave de ouro”. Sandro odiava tudo aquilo, nunca vira uma matéria tão chata em toda a sua vida, e também nunca perdera tantos pontos em sua média bimestral por dar opiniões nada corretas sobre o assunto quando era questionado pela professora Vitória. Certa vez gritara à professora que ele não acreditava coisa alguma que o homem já pisara a Lua, que toda essa história era apenas 217 um marketing criado pelos EUA. – “Neil Armstrong e Edwin Aldrin são dois charlatões, isso sim” – concluíra, deixando a pobre professora sem resposta. Na aula da semana passada acontecera o pior. Sandro estava tão atento à aula, que roncava em sua carteira a plenos pulmões, e ao ser acordado por uma furiosa Vitória que o questionou sobre o que acontecera com a cadelinha Laika, o primeiro ser vivo enviado ao espaço, respondeu-lhe cinicamente, ignorando as gargalhadas de seus colegas de classe: – Ora professora, depois de ficar dando voltas e voltas em torno da Terra, por dias e dias, ela voltou sã e salva para as mãos dos americanos. Com essa resposta, Sandro foi obrigado a ver-se perdendo mais um ponto em sua média bimestral e, sem ter outra escapatória, obrigado a manter-se acordado no restante da aula e ouvir o que Vitória lhes explicava: que ao contrário do que o obtuso aluno respondera, Laika não voltara sã e salva à Terra, pois havia morrido entre cinco e sete horas depois da decolagem, devido ao estresse e superaquecimento da nave em que estava. O Sputnik II explodira junto com os seus restos mortais ao entrar em contato com a atmosfera em 14 de abril de 1958, após 163 dias e 70 órbitas em volta da Terra, concluindo que os soviéticos e não os americanos, nunca deveriam ter enviado a pobrezinha ao espaço pois, na época, não estavam preparados o suficiente para a missão. O Inpe, que tem a principal missão de promover e executar estudos, pesquisas científicas, desenvolvimento tecnológico e capacitação de recursos humanos nos campos da ciência espacial e da atmosfera, das aplicações espaciais, da meteorologia e da engenharia e tecnologia espacial, bem como em domínios correlatos conforme as políticas e diretrizes definidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, é um instituto gigantesco, muito interessante de se conhecer. Mas Sandro nem se dera ao luxo de prestar atenção ao que Juliana, a bela guia, explicava sobre o instituto, pois desde que chegara ali, pegara o seu Ipod na mochila e logo começara a ouvir suas músicas prediletas. Estava achando todo aquele lugar uma chatice, uma grande bobeira e perda de tempo, o que deixava sua amiga Eulália irritadíssima; acompanhando Sandro aonde ele ia, brigava para que ele tirasse aquele negócio de seu ouvido, pois, segundo ela, era muito importante que ele desse atenção ao que via no Inpe. “É porque existem lugares como este que enviam constantemente satélites ao espaço, que você pode ter seu tão 218 precioso Ipod funcionando, que pode divertir-se a vontade em sua internet, que o nosso mundo não tem enormes prejuízos nas lavouras e que todos sempre sabemos como estará o tempo no dia de amanha”, teimava em dizer a Sandro, que nem lhe dava ouvidos, e a toda hora fazia questão de aumentar o volume de seu Ipod. Após visitarem o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, dirigiram-se ao LIT, o Laboratório de Integração e Testes, onde são realizadas as montagens e testes funcionais dos satélites brasileiros, onde pela primeira vez Sandro encontrou algo que lhe chamou a atenção. Perto do bebedouro, no átrio do LIT, havia uma porta entreaberta onde se podiam escutar vozes de pessoas que aparentemente estavam discutindo. Sandro ficou curioso em descobrir o que estava acontecendo ali, e vendo que ninguém de sua turma o observava, puxou Eulália até junto do bebedouro, onde, pedindo para que ela ficasse calada e fingindo que estavam bebendo água, os amigos ouviram algo que jamais imaginavam. Ali, por detrás da porta, dois cientistas discutiam sobre uma nova descoberta que o LIT fizera recentemente. Segundo um dos homens, seus funcionários estavam fazendo escavações na ala leste para a implantação de uma nova torre, quando descobriram um gigantesco túnel onde encontraram fragmentos de meteoritos com fósseis que, após serem analisados, comprovou-se que pertenciam a um exoplaneta descoberto no ano anterior por cientistas da Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Austral. Segundo o que Sandro e Eulália puderam ouvir, as rochas e os fósseis pertenciam ao planeta Gliese 581c, um planeta localizado na constelação de Libra e que tinha sua órbita em torno da estrela Gliese 581, uma das 100 estrelas mais próximas da Terra. Mas o que mais os assustou foi quando ouviram Cristóvão, o homem que explicava ao outro sobre o achado, contar-lhe que esse planeta possuía as mesmas características da Terra, que provavelmente poderia ser habitável e que sua equipe acreditava que aquele túnel, que parecia não ter fim, era um ponto de ligação entre esse planeta e o nosso. Eulália mal digerira essas palavras quando a porta escancarou-se, e os dois homens saíram correndo em direção à ala leste do LIT. Aparentemente estavam seguindo para o local onde estava o tal túnel, e Sandro, que apesar 219 de não ter acreditado em nada do que ouvira, mas muito se interessara por aquela história, agarrou a mão de sua amiga e foi ao encalço dos dois homens, que desapareceram no final do corredor. Ao chegarem despercebidos no local onde os cientistas estavam, Sandro e Eulália viram-se dentro de uma grande sala que se assemelhava a uma clareira, onde havia vários equipamentos espalhados em seu interior. O teto era igual ao de uma grande catedral, e em seu centro estava uma enorme cratera que acabava em um túnel onde os dois homens estavam conversando. Mas dessa vez, no lugar em que estavam escondidos, atrás de uma máquina parecida com uma escavadeira, Sandro e Eulália não conseguiram escutar nada do que diziam, apenas viram que, depois de algum tempo, os cientistas trancaram a porta por onde haviam entrado e saíram por outra porta que estava defronte a essa, deixando-os sozinhos naquele lugar. A curiosidade do garoto era grande em descobrir que mistérios os aguardavam no final daquele túnel. Então, antes que sua amiga começasse a pedir para voltarem para junto de seus colegas, Sandro puxou-a novamente pelo braço e fez com que uma espantada Eulália o acompanhasse para dentro do túnel. Eulália em vão gritava para seu amigo a soltar, e voltaram para fora do túnel, que a cada vez se tornava mais escuro, quando de repente, após terem andado uns 100 metros, uma forte corrente de ar os pegou e os derrubou. Ao tentarem se levantar, foram puxados em alta velocidade pelo vento. Estavam indo cada vez mais para o fundo do túnel que, com o passar do tempo, ficava mais escuro, a ponto de eles chegarem a não enxergar um palmo à sua frente, sabendo apenas que continuavam juntos porque estavam unidos pelas mãos. A velocidade foi aumentando mais e mais; estavam a milhares de quilômetros por hora; as cabeças começaram a rodar, um forte zumbido perpassava os ouvidos; ora estavam sendo levados em pé, ora de ponta cabeça. Eulália já estava desacordada. Sandro achava que aquilo nunca iria parar; sua cabeça parecia que ia explodir quando, puxando sua amiga para mais perto de si com todas as forças que lhe restaram, abraçou-a e também perdeu os sentidos com a cabeça encostada em seus ombros. Abraçados e desacordados, ambos continuaram a voar em direção ao que parecia ser o infinito. *** 220 – Osíris tinha razão, Nut, ao enviar-nos como guardas das Crateras de Geb. Enfim, os terráqueos descobriram o caminho até nós. – Osíris sempre tem razão, Adam... sempre. Sandro e Eulália estavam no banco traseiro de um carro que mais se assemelhava a um foguete, pois flutuava sobre a estrada, num lugar desconhecido para ambos. Os homens que estavam a sua frente, que dirigiam o misterioso carro, lhes explicaram que através dos túneis de Geb haviam chegado ao planeta Tefnut, e que agora estavam sendo levados à presença do Imperador. Os amigos estavam aturdidos com tudo o que viam e ouviam daqueles homens que diziam serem os Condons de Tefnut. Seria mesmo verdade? Aquele túnel do Inpe realmente os levara ao planeta sobre o qual ouviram o cientista Cristóvão comentar? Seria possível isso? Aparentemente estavam agora entrando em uma grande cidade, mas uma cidade diferente de todas que eles já viram na vida. Eulália teve a sensação de que estava entrando em uma cidade medieval, exceto pelo fato de as ruas estarem cheias de carros como o que estavam, semelhantes a foguetes que pareciam flutuar sobre um asfalto que parecia ser feito de grama. As calçadas estavam repletas de pessoas que, em sua maioria possuíam cabelos loiros ou ruivos, trajavam vestes diferentes das que eles conheciam e que, segundo Sandro, assemelhavam-se às roupas das personagens de um filme do Egito Antigo, que fora obrigado a assistir em umas das aulas de História. Absortos em seus pensamentos, nem se deram conta que haviam chegado a um imponente palácio, percebendo somente que estavam ali quando um homem alto, já idoso, de longos cabelos dourados, ao lado de uma bela cadelinha, abriu a porta lateral do estranho carro e os cumprimentou, desejando-lhes boas-vindas. Chamava-se Osíris e, enquanto acompanhava os adolescentes para dentro de seu palácio, ia lhes explicando que era o grande Imperador daquele mundo que os seus habitantes chamavam de Tefnut, mas os terráqueos que recentemente o descobriram lhe deram o nome de Gliese 581c. Tefnut era um exoplaneta para os terráqueos, pois não tinha sua órbita em torno da mesma estrela que a Terra, localizava-se na constelação de Libra e tinha sua órbita em torno da estrela Sett, que era conhecida no mundo de Sandro e Eulália como Gliese 581. A temperatura de seu planeta, segundo Osíris, tinha uma oscilação de temperatura entre 0 ºC e 40 ºC, 221 possuindo 1,5 vez o raio da Terra e massa cinco vezes superior. Sua distância em relação à Sett era 14 vezes menor do que a que separava a Terra do Sol, no entanto Sett era uma estrela menor, mais fria e menos luminosa que o Sol, o que contribuía para Tefnut possuir as mesmas características que a Terra, possuindo inclusive vida humana. Osíris convidou-os para passar algum tempo ali em Tefnut, explicandolhes que poderiam voltar para a Terra na hora que quisessem pelo mesmo caminho que haviam vindo, os túneis de Geb, que segundo ele, eram uma das centenas de buracos brancos que ligavam a Terra a Tefnut. Na Terra suas entradas estavam espalhadas por lugares distantes uns dos outros, mas ali, todos se localizavam nas Crateras de Geb, que outrora já haviam sido o ponto de partida para muitos tefnuenses que emigraram para a Terra. O que havia dentro daqueles túneis eram grandes correntes de ar que se moviam constantemente em uma velocidade maior que a da luz. O que era colocado dentro de um dos túneis instantaneamente era levado e jogado na Terra pela corrente, e vice-versa. Eles tinham sido muito fortes em ter aguentado viajar em uma velocidade de mais de um ano-luz por hora. Sandro e Eulália, nos dias em que permaneceram na Grande Cidade, a principal capital do único continente existente em Tefnut, Hórus, em meio às inúmeras e engraçadas diferenças, entre elas. O fato de Sandro não se conformar em ali pesar 96 quilos, devido à força gravitacional que era de 1,6 vezes maior que a da Terra, onde ele pesava apenas 60 quilos, se divertiram muito e logo fizeram grande amigos, entre eles, Isadora, a filha do Imperador. Com ela, Eulália aprendeu muitas coisas sobre esse novo mundo e a vida de seu povo que muito se diferenciava da vida terráquea. Foi com grande assombro que eles conheceram o grande salão do Palácio de Idor, onde havia inúmeros quadros que Eulália logo percebeu: retratavam grandes personalidades da Terra, como Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Aristóteles, Claudius Ptolomeu, Albert Einstein e muitos outros. -Todos esses, jovens terráqueos, – explicou Isadora alisando a moldura do quadro que retratava Galileu Galilei –, são tefnuenses que foram levados e deixados em seu planeta quando recém-nascidos. Fazemos isso há milênios... eles são criados por famílias terráqueas comuns, pois os trocamos com os verdadeiros filhos destas, que por sua vez, são trazidos para cá. As crianças que lá deixamos, ao crescerem, com a inteligência 222 própria de quem é um verdadeiro tefnuense, tornam-se grandes gênios de seu mundo, fazendo importantes descobertas para vossa vida. Isadora concluiu dizendo que essas eram as tais chamadas missões que a equipe militar, à qual pertenciam os Condons, fazia constantemente na Terra. Em umas delas, ela mesma salvara um ser que estava servindo de experiência aos terráqueos há mais ou menos 40 anos, a cadelinha Laika. Sandro ficou interessadíssimo em conhecer a famosa cadela, mas não teve seu desejo realizado, pois a pobrezinha havia morrido há mais de três décadas, deixando muitos descendentes ali em Tefnut, entre eles, Lalá, a cadelinha que acompanhava o seu pai em todos os lugares e que, para espanto dos garotos, falava; o que se devia ao um microssensor que todos os animais ali usavam e traduzia simultaneamente para a língua humana a língua dos bichos. Quando os adolescentes resolveram que queriam voltar à Terra, Sandro já havia mudado muito seus conceitos, entre eles, após uma longa conversa com os Condons, em acreditar que os terráqueos realmente já haviam pisado a Lua, pois eles lhe disseram que tinham visto o acontecimento com seus próprios olhos e concluíram que se agora ele, um terráqueo, havia chegado em outro planeta, por que seus conterrâneos não poderiam ter pisado a Lua? Após meses de convivência em Tefnut, Adam e Nut os levaram até as Crateras de Geb, após uma longa e calorosa despedida feita pelo tefnuenses que fez Eulália derramar-se em lágrimas e Sandro jurar que sentiria falta de tudo que vira e conhecera ali, exceto as pílulas das quais já enjoara de se alimentar. E com sorriso e lágrimas nos olhos, os adolescentes retornaram ao seu mundo de origem, levando consigo muita saudade daquele mundo. *** – Espero que você cumpra o que prometeu a Osíris, Sandro – dizia Eulália enquanto voltavam de mãos dadas à Terra pelo grande túnel em grande velocidade; dessa vez, eles não desmaiaram, pois Isadora lhes dera uma pílula, que segundo Sandro tinha gosto de chocolate, que serviu para não deixá-los ficar com tontura e permanecer acordados durante o caminho de volta – Você prometeu a ele que não contaria a ninguém na Terra sobre Tefnut. 223 – Caso você não tenha percebido, eu estava com os dedos cruzados quando fiz a promessa. – O que você quer dizer com isso Sandro? – Eulália assustara-se ao ver a forma como os olhos do amigo brilhavam. – Bom… estou querendo dizer que… digamos que a professora Vitória terá que devolver meu ponto na média em que ela fez o favor de tirar. Afinal, eu estava certo, não estava? Laika não morreu em sua missão espacial – e ignorando os olhares de indignação e espanto da amiga, passou a observar o belo cometa que fazia uma órbita paralela ao caminho que ambos seguiam. A fusão dos Mundos Os homens devem ter corrompido um pouco a natureza, pois não nasceram lobos e acabaram se tornando lobos. Voltaire Havia dez anos que dois estudantes de São Paulo reapareceram em um misterioso túnel no Inpe e desde então uma nova corrida espacial começara; está em busca da chegada a um planeta recém-descoberto, onde os adolescentes passaram nada menos do que cinco meses e voltaram sãos e salvos contando as maravilhas que lá viram. Segundo informações que eles passaram ao mundo, o planeta, chamado de Tefnut por seus habitantes, era um clone do planeta Terra, possuindo boas condições para se viver e muitas riquezas, riquezas que em nosso planeta já estavam se esgotando. Logo, grandes empresas americanas como a Nasa e a NRO e algumas russas e chinesas vieram ao Brasil e trataram de fazer parcerias com o Inpe para, através desse túnel, fazerem contato com o tal planeta. O Inpe, um simples instituto se comparado com essas grandes e experientes empresas do campo espacial, criado nos anos 60 a partir da vontade de alguns brasileiros de fazer com que o país também participasse da conquista espacial, mas que se limitara a criar satélites, promover estudos meteorológicos, entre outras pesquisas, viu-se tornando uma grande e famosa empresa espacial, pois em seus domínios estavam as portas para o futuro. 224 Enfim, depois de anos de pesquisas e debates sobre o mito de existirem vidas extraterrestres, descobrira-se que o mito nunca fora apenas um mito, e tudo isso acontecera graças à curiosidade de dois adolescentes que haviam se tornado o símbolo de patriotismo e coragem do país que, movidos pela vontade do saber, da busca pelo novo, ali mesmo no Inpe, abriram as portas para a nova era da humanidade, a era em que os terráqueos se uniriam aos seres humanos habitantes de outros planetas, a era que carimbaria a sua presença no cosmos. Depois desses anos de pesquisas e investimentos em novas tecnologias, um novo modelo de ônibus espacial foi construído. Formando uma grande expedição, diversos desses ônibus foram introduzidos nesse túnel e viajaram em grandes velocidades ao novo planeta; naves equipadas apenas para aguentar o impacto da viagem e manter a segurança de seus tripulantes, mas que não necessitavam de nenhum combustível, pois a corrente de ar existente no túnel as levava sozinhas a mais de um ano-luz por hora em direção ao tão almejado Tefnut. Foi com grande assombro que os homens terráqueos se viram pisando solos tefnuenses. Um sonho antigo finalmente se realizara, todo o tempo, gastos em estudos de astronomia e bioastronomia não tinham sido em vão e enfim estavam tendo o retorno. Não haviam sido descobertos apenas seres artrópodes, como se achava que seriam os demais habitantes do cosmos, nem homenzinhos verdes e feios, mas sim seres humanos iguais aos terráqueos, animais iguais aos existentes na Terra, uma sociedade muito parecida com as sociedades de nosso planeta, um lugar que, apesar de possuir algumas paisagens diferentes da Terra, nutria com ela poucas diferenças. Muitas teorias deixariam de ser meras teorias e se tornariam realidades, entre elas a tal Panspermia, tão conhecida e divulgada pelos cientistas, a teoria que dizia que a vida fora semeada na Terra a partir de um outro planeta, em que se acreditava que um meteorito caíra dentro de mares primitivos e que ao sofrer uma mistura ideal de elementos produzira as primeiras sementes de vida microscópica na Terra, foram percolados e geraram vida. Isso explicava o porquê de os tefnuenses serem idênticos aos terráqueos, pois ambos vinham de um ancestral comum, o que tornava a Panspermia uma teoria corretíssima, pois os ancestrais da vida terrestres eram idênticos aos das formas de vida extraterrestres, isto é, a vida na Terra fora semeada a partir de outro lugar do universo. 225 Os terráqueos, que foram muito bem recebidos pelo velho Imperador Osíris e por todo o povo tefnuense que estavam dispostos a lhes mostrar tudo sobre seu mundo, tratando-os como convidados de honra, encantavam-se cada vez mais com a vida neste novo e desconhecido planeta. Os tefnuenses eram dotados de uma grande sabedoria e muitas tecnologias que os surpreendiam a todo o momento, um povo extremamente pacífico que nunca lidara com nenhuma grande guerra. “Meu povo não entende coisa alguma de guerras, pois as nossas maiores armas são nossas próprias cabeças”, lhes disse Osíris. Tefnut, que realizava uma órbita completa em torno de Sett em apenas 13 dias, o que correspondia a um mês do ano tefnuense, era um planeta, como logo perceberam, muito rico em pedras preciosas, e segundo a filha do Imperador, Isadora, localizavam-se todas na ilha de Nefts, mas que os tefnuenses não lhes davam grande valor, pois sempre as tinham em abundância. Mais surpresos ainda ficaram ao descobrir que o planeta era formado por apenas um continente banhado por uma imensidão de água doce; sim, os seus oceanos eram compostos por água doce e não salgada como os oceanos terráqueos. Ao questionarem sobre os prováveis impactos ambientais que as tecnologias ali podiam causar, Osíris lhes respondeu que isso nunca acontecera e nem aconteceria em Tefnut, pois tudo o que criavam era feito com muita sabedoria e harmonia com o ambiente, não deixando jamais que a natureza fosse prejudicada; aliás, eles davam grande valor às suas belíssimas florestas, que estavam repletas de plantas desconhecidas de nosso planeta e responsáveis pela produção de seus alimentos; as pílulas que muito os fortaleciam e aumentavam o seu tempo de vida, deixando que a velhice chegasse mais tarde. Os terráqueos, encantados com o novo mundo, sabiam que aquele lugar seria um ponto de apoio para a renovação da Terra, que há muito estava desfalecendo, pobre em riquezas, passando por diversos problemas ambientais e sujeita a se tornar, muito em breve, um planeta impossível de manter a vida humana. Juntos, agradeciam a Sandro e Eulália, que no passado descobriram o caminho até aquele paraíso perdido no cosmos e deram aos terráqueos a esperança de uma nova vida, de novas riquezas que o nosso mundo já não podia mais nos dar. Eles sabiam que era apenas 226 o começo de uma longa jornada que ainda teriam que percorrer, mas estavam felizes agora por saberem que a fusão entre os dois mundos já se tornara inevitável. *** – Então realmente aconteceu, meu pai. Os terráqueos descobriram um meio de chegar até nós – Osíris e Isadora estavam no alto de uma das torres de Idor, de onde observavam um pequeno grupo de terráqueos que passeavam pelos jardins do palácio. – Isso era só uma questão de tempo, minha filha – respondeu-lhe absorto em seus pensamentos. – Mas eles não me parecem tão ameaçadores, meu pai, têm sido tão gentis conosco – e abraçando a cintura do pai – Não sei por que o senhor tinha tanto medo de que viessem para cá… aliás, parece que o senhor ainda os teme; estou errada? – Isadora – respondeu-lhe depois de algum tempo – estes não serão os únicos a virem para Tefnut. Agora que o primeiro passo foi dado, acredito que em breve cheguem muitos outros. – E que tem, meu pai? Seria bom uma ligação mais concreta entre os dois mundos, não seria? Podemos ajudá-los ainda mais agora que já sabem de nossa existência, não podemos? – Às vezes você me parece tão inocente, Isadora… nosso mundo não é como o deles, possuímos inúmeras riquezas que os terráqueos priorizam grandemente... Temo que os próximos que aqui chegarem não venham a mostrar a mesma amizade que temos mostrado para com eles há milênios. – Mas não entendo, meu pai… – Eles sempre tiveram a fama de destruidores cruéis, Isadora; é fato conhecido de todos aqui que onde um terráqueo coloca as suas mãos, aquilo ele o destrói! – E vendo que sua filha ainda não o entendera, resolveu ser mais explícito – Lembra-se das histórias dos terráqueos que eu lhe contava quando ainda era criança? Lembra-se daquela em que eles descobriram um novo continente dentro de seu planeta e movidos pela ganância destruíram todos os povos que lá habitavam, inclusive alguns tefnuenses que lá estavam? Pois digamos que esse episódio, minha filha, tenha sido apenas uma pequena demonstração do que eles podem vir a fazer conosco. 227 E deixando Isadora perplexa, Osíris partiu para o seu quarto de dormir; suas pernas já não mais aguentavam o seu peso; a morte já se aproximava de seu velho corpo. Pós-escrito Ao escrever este trabalho em forma de crônicas, eu não estava querendo criar historinhas infantis para serem contadas ao pé da cama, antes que chegue o sono de uma criança. Não. O meu intuito ao escrevê-lo dessa forma foi fazer com que eu pudesse atingir todo o tipo de leitor, desde uma criança cursando ainda a pré-escola, até um adulto já com o seu doutorado, e conseguisse transmitir a todos a mensagem em cada uma das entrelinhas de minhas histórias. A presença do homem atualmente no cosmos, que, aliás, aumenta a cada dia e que só aconteceu depois de muitos sofrimentos e derrotas, é incontestável e irrevogável. É claro que temos ganhado muito a partir de todas essas descobertas e avanços nas pesquisas espaciais, mas a questão que eu quis levantar com as minhas histórias foi: até que ponto isso será bom? Para nós, por enquanto, tudo está sendo ótimo, mas será que em um futuro não muito distante, isso não venha a nos acarretar algum problema? Ou causar problemas a terceiros? No passado, quando em sua busca infrene por novas riquezas, o homem começou a destruir o ambiente, ninguém imaginava as consequências que isso traria no futuro; no entanto hoje sabemos o quanto isso está custando. Talvez ao lerem isso, achem que sou um louco que está contra os avanços que a humanidade tem dado em direção a este grandioso universo; não, peço que não pensem isso. Sou a favor de todas estas coisas e me orgulho muito em pertencer à raça que está conseguindo marcar sua presença no cosmos, porém não deixo de pensar, e foi o que aqui quis transmitir, nas consequências boas que isso vem trazendo e ainda trará, mas também nas ruins, que mais cedo ou mais tarde poderão vir. 228 Referências Bibliográficas ATUALIDADES E VESTIBULAR. Guia do estudante. Uma terra distante, p.. 200-203. Editora Abril. 2008. BEDAQUE, C. S. Ciências, entendendo a natureza. 5ª série. São Paulo. Editora Saraiva. 1999. CLARET, M. Galileu: vida e pensamento. São Paulo. Editora Ática. 1998. COTRIM, G. História Global: Brasil e Geral. São Paulo. Editora Saraiva. 2005. DANNYBIA. Frase dos pensadores. Disponível em: <http://www. dannybia.com/danny/pens/frases_pens.htm>. ______. Galileu Galilei. Disponível em: <http://www.dannybia.com/ danny/pens/galileu_galilei.htm>. FIGUEIRA, D. G. História: Especial. São Paulo. Editora Ática. 2002. GLOBO CIÊNCIA. A história secreta de nosso foguete. Ano 7 – fevereiro de 1998. Nº. 79. INPE. Disponível em: <http://www.inpe.br/>. REVISTA PLANETA. Vida fora da Terra. Disponível em: <http:// www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/421/artigo62492-2.htm>. TERRA NOTÍCIAS. Achado 1º planeta habitável fora do sistema solar. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/ 0,,OI1571809-EI301,00.html>. WIKIPÉDIA. Vários autores. Corrida espacial. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Corrida_espacial>. ______. Vários autores. Laika. Disponível em: <http://pt.wikipedia. org/wiki/Laika>. 229 Menção Honrosa O homem e a astronomia: uma história de conquistas Estudante: Vinícius Ramos da Silva, 18 anos, 3º ano do ensino médio Professora-orientadora: Elaine Soares Chicarelli de Andrade Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - Marília, SP RESUMO A Astronomia é uma das ciências mais antigas do planeta, pois acompanha o homem desde a Pré-história, sendo dessa época os primeiros registros de observações celestes. Mais tarde na Idade Antiga, se destacaram vários povos, como por exemplo, os babilônicos, que estudaram os ciclos lunares e os egípcios que construíram os primeiros modelos científicos do Universo. Eram modelos muito primitivos, mas foram de grande importância para a elaboração de teorias que viriam tempos depois. Ptolomeu, Copérnico e Kepler foram exemplos de cientistas da Idade Média que aprimoraram essas concepções gregas e contribuíram grandemente para a atual concepção do Cosmos. Já Galileu Galilei, foi o astrônomo que inaugurou a Astronomia Observacional, pois foi o primeiro homem a apontar um telescópio para o céu e a fazer importantes descobertas de corpos celestes. No início do século XX Robert Hutchings Goddard criou o primeiro foguete, proporcionando um aparelho que revolucionaria a Astronomia. Então nos últimos dois séculos, a humanidade presenciou um grande aceleramento no desenvolvimento astronômico: várias tecnologias foram descobertas, inúmeras sondas foram lançadas, e em 1969 conquistamos o solo lunar. Também foi criada a Estação Espacial Internacional (ISS), que tem se mostrado útil para o desenvolvimento de muitos estudos em diversas áreas do conhecimento. Tivemos assim, ao longo de séculos, várias conquistas no campo da astronomia, de modo que hoje podemos dizer que o futuro do estudo dos astros é muito promissor. 231 INTRODUÇÃO O Cosmo que se estende pela imensidão dos espaços intergalácticos vem desafiando a humanidade há milhares de anos e ainda hoje, quando olhamos para o céu, somos tomados por grande fascínio. No entanto, graças aos estudos e às tecnologias conhecidas, construímos poderosos telescópios, radiotelescópios e naves que nos permitiram ter uma ideia muito ampla da natureza dos corpos celestes. Também dispomos de teorias que explicam seguramente a origem da vida e de como surgiu o próprio Universo. Porém todo esse conhecimento é resultado de um longo processo de desenvolvimento que começou há milhares de anos, quando o homem ainda habitava as cavernas. É nesse momento que surgem as primeiras bases da astronomia moderna. O Homem e a Astronomia: Uma história de conquistas A Astronomia é uma das ciências mais antigas da sociedade humana e serviu de grande estímulo para o desenvolvimento de outros estudos posteriores, como a Matemática e a Física. Sua origem está diretamente ligada à evolução do ser humano no planeta, e a base do seu progresso encontra-se nas primeiras observações do céu feitas quando o homo sapiens ainda habitava as cavernas. No começo era apenas por fascínio, mas com o início do período neolítico há 12 mil anos, o homem percebe que o movimento dos astros no céu exerce impacto na sua vida, influenciando a agricultura e determinando, por exemplo, as épocas ideais para o plantio e para a colheita. Assim começam os primeiros registros de observações nas paredes das cavernas, marcando o surgimento da Astronomia propriamente dita. Ainda na Pré-história, também notaram que o dia e a noite estavam relacionados à presença ou à ausência do Sol, e que a forma da Lua se alterava com períodos regulares, sendo que entre a Lua Nova e a Lua Cheia decorriam 14 ciclos solares ou 14 dias. Cada vez mais fascinado com a percepção de um Cosmo composto por astros que forneciam informações seguras sobre o futuro e que eram bons marcadores do tempo, o homem com sua inteligência aperfeiçoou os registros desenvolvendo os primeiros observatórios pré-históricos. 232 Esses observatórios nada mais eram do que enormes pedras posicionadas de maneira adequada para que se pudesse marcar a posição dos astros e principalmente a variação do Sol durante o ano. O observatório mais famoso é Stonehenge, construído na Inglaterra há aproximadamente cinco mil anos na planície de Salisbury. Ele é composto por enormes pedras dispostas em círculos concêntricos, algumas com mais de cinco metros e pesando quase 50 toneladas que, devido a sua disposição produzem um traçado de linhas que marcam o nascer e o pôr-do-sol em datas-chave como os solstícios. Acredita-se que Stonehenge também era usado para acompanhar os movimentos da Lua e das estrelas, além de prever os eclipses. No século XX, através da técnica de datação do Carbono 14, os arqueólogos estabeleceram que a construção de Stonehenge teve início em torno de 2950 a.C. e encerrou-se em aproximadamente 1600 a.C. As pedras vieram de muito longe e acredita-se que foram transportadas por embarcações através da costa gaulesa e posteriormente, em terra firme, levadas sobre cilindros até o local da construção. Na obra História dos hiperbóreos, de 350 a.C., o grego Hecateu de Abdera definiu que o monumento era dedicado a adoração a Apolo, o Deus do Sol. Em 1808 durante a escavação de um monte funerário próximo a Stonehenge, o arqueólogo inglês Sir Richard Colt Hoare explorou a tumba de um homem, junto do qual encontrou um machado, vários punhais e objetos cerimoniais, incluindo uma clava com a parte superior de pedra polida e engastes de osso trabalhado. Isso reforça a teoria de que Stonehenge também tenha tido finalidade religiosa, servindo de local para adoração aos corpos celestes que na época eram tidos como criaturas divinas. Elementos megalíticos semelhantes a Stonehenge são comuns na Grã-Bretanha, com círculos constituídos por 27 ou 28 pedras, que provavelmente representam a duração do ciclo lunar. Dentre esses monumentos também se destaca o Cromeleque dos Almendres, a maior planta megalítica da Península Ibérica localizada em Portugal, próximo de Évora. Ele é atualmente composto por 92 menires parcialmente trabalhados que formam círculos complexos também relacionados com movimentos astronômicos. Já na Antiguidade, ao olhar para o céu noturno, o homem notou que as estrelas podiam auxiliar na orientação das atividades agrícolas e na navegação, por isso começaram a organizá-las em figuras imaginárias 233 chamadas “constelações”. Originalmente elas refletiam a crença supersticiosa de que os céus continham entidades ou divindades que no passado, presente ou futuro poderiam afetar o destino humano. A evolução do estudo dessas constelações tem uma história muito longa, mas a carta celestial mais antiga é originária de Nínive na Mesopotâmia e data de aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, constituindo somente um planisfério de argila com uma ou duas constelações e com suas principais estrelas. Tida por muitos historiadores como o “Berço da Civilização e da Astronomia moderna”, a Mesopotâmia compreende a porção de terra localizada entre os rios Tigres e Eufrates que abrangeu os reinos dos antigos Sumérios, Assírios e Babilônicos. Os primeiros vestígios da presença humana nessa região datam de aproximadamente 10 mil anos antes de Cristo, com o surgimento de cidades de até 1.000 habitantes já por volta de 4000 a.C. Os Babilônicos eram grandes observadores da Natureza, e acreditavam que os astros exerciam influência direta no mundo e no comportamento das pessoas. Por isso olhavam atentamente para a configuração do céu e faziam interpretações tentando prever o futuro e evitar catástrofes. Os registros mais famosos dos astrônomos babilônicos eram gravados no Enuma Anu Enlil, um compêndio de 70 lâminas de pedra que incluem cerca de 7 mil interpretações de fenômenos estranhos (omens). O melhor exemplo conhecido é o tablete Vênus de Ammisaduqa, um registro da primeira e última visibilidade observada do planeta Vênus no século XVI a.C. O corpo celeste mais citado no Enuma Anu Enlil é a Lua, pois o calendário babilônico acompanhava o ciclo lunar, com meses de cerca de 28 dias, e as culturas determinadas pelo ano solar com 12 ou 13 meses. Durante muito tempo os babilônicos tiveram que fazer ajustes, mas por volta do século V a.C. descobriram que 235 meses lunares eram exatamente 19 anos solares. Assim, passaram a intercalar sete meses em cada 19 anos de forma regular. Eles dividiram seu calendário em quatro períodos de sete dias correspondentes às quatro fases da lua, e em cada um desses dias um corpo celeste era adorado. Esta divisão deu origem às semanas tal como as conhecemos hoje. Por exemplo: atualmente segunda-feira em Espanhol é 234 chamada Lunes, pois era o dia que os babilônicos adoravam a Lua; terça-feira é Martes, pois era o dia de Marte; quarta-feira é Miercoles, o dia de Mercúrio; quinta-feira é Jueves, o dia em que a Babilônia adorava Júpiter; sexta-feira é Viernes, o dia de Vênus, sábado era o Dia de Saturno, e domingo o dia do Sol. Durante o reinado de Nabonassar (747-733 a.C.), um aumento significativo na frequência e na qualidade das observações permitiu que fosse descoberto o ciclo repetitivo de eclipses lunares a cada 18 anos. Além disso, perceberam que durante metade do ano a velocidade do Sol aumenta de forma constante até atingir um máximo e na outra metade do ano diminui até atingir um mínimo. As influências mesopotâmicas na astronomia ocidental são extensas e sabe-se também que foi dos mesopotâmicos que os gregos ganharam seus conhecimentos sobre os planetas visíveis e as constelações do zodíaco. Os antigos gregos são os responsáveis pelos primeiros modelos científicos do Universo, pois iniciaram a busca de relações geométricas e matemáticas na explicação dos fenômenos celestes e, diferentemente dos outros povos daquela época, suas observações fundamentavam-se mais em elementos naturais do que em fenômenos divinos. Havia várias correntes de pensamentos, chamadas de escolas, compostas por pensadores que tinham diferentes pontos de vista sobre a formação e a origem do Universo. As principais são a jônica, a pitagórica, a atomista e a aristotélica. A escola jônica, considerada a mais antiga, localizava-se na ilha de Jônia, onde hoje é a parte Sul da Turquia, e seu principal líder era Tales de Mileto (625-547 a.C.). Anaxímenes (588-524 a.C.), integrante dessa escola, sugeria que o Sol nunca se punha, mas apenas era tapado pelas montanhas mais elevadas que havia ao Norte, porém isso não explicava porque existia a noite cerrada. Já Anaximandro (610-545 a.C.), também de Mileto, acreditava que o universo era eterno e infinito, sendo a Terra fixa e cilíndrica onde, numa das faces, vivia o homem. Para ele o Universo além da Terra era repleto de fogo, e o Sol, as estrelas e a Lua não passavam de “furos” na abóbada celeste que deixavam o fogo escapar. A esfera celeste rodava de forma constante a cada 24 horas. Com esse modelo, Anaximandro também conseguiu justificar os eclipses e as fases lunares, que segundo ele não passavam de um bloqueio total ou parcial desses orifícios. 235 Já para Empédocles (490-430 a.C.), os dias e as noites podiam ser explicados por um “modelo da dupla esfera”. Uma esfera interior era luminosa numa metade e transparente na outra metade e dava uma volta a cada 24 horas. Já a outra esfera continha o firmamento visível à noite e que rodava uma vez a cada 365 dias. A Escola Pitagórica por sua vez, era composta por pensadores que acreditavam que os números eram a base fundamental de todas as coisas. Eles criaram relações geométricas, aritméticas e harmônicas que explicavam os fenômenos naturais e a disposição dos corpos celestes, e criam tanto no equilíbrio perfeito do Cosmos que chegaram a sugerir que o Universo possuía uma ordem semelhante à música, pois esta era sinônima da perfeita harmonia. Na concepção deles, os planetas eram transportados através dos céus grudados em esferas celestes que obedeciam a razões satisfeitas pelas notas das escalas musicais, gerando música ao girar pelos céus, a música das esferas. Em síntese, com essa ideia, os pitagóricos iniciaram uma nova tradição no pensamento científico: a busca de relações matemáticas para descrever os fenômenos naturais. Outros filósofos da Escola Pitagórica, como Filolau de Crotona (450 a.C.), sugeriram pela primeira vez que a Terra não era o centro do Universo. Para Filolau, a Terra, o Sol, a Lua e os cinco planetas conhecidos (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) giravam em torno de um “fogo central” que iluminava e aquecia todo o Universo. Esse fogo era invisível, pois estava sempre oposto ao lado habitado do planeta. Baseado no princípio dos opostos, Filolau ainda propôs que ao redor do fogo central havia outro corpo celeste, o Antichton ou anti-Terra. Já a escola atomista, tinha como principal representante Demócrito, que sugeria que todas as coisas eram formadas por minúsculas partículas denominadas átomos. Ele acreditava que no começo do Universo esses átomos se moviam em todas as direções desordenadamente, e com o tempo foram colidindo e se juntando em grandes redemoinhos até formar os corpos celestes. Os atomistas sugeriam que havia infinitos mundos sendo criados e destruídos continuadamente. (A ideia de átomo construída por Demócrito foi de grande importância para a evolução da Química e da Física, e sua teoria para o início do universo de certa forma coincide com o caos sugerido no modelo moderno do Big Bang). 236 Outra escola grega de grande relevância é a Escola Aristotélica. De acordo com Aristóteles, corpos que eram frios e secos eram na sua maioria constituídos por terra, os que eram frios e úmidos eram constituídos por água, aqueles que eram quentes e úmidos formados por ar, e os que eram quentes e secos formados por fogo. Para ele, a Terra era formada por terra com uma camada mais exterior de água (os mares), sobre as quais havia uma fina camada de ar (a atmosfera). Sobre a atmosfera havia uma camada de fogo que acabava imediatamente antes da Lua. Dentro dessa região, que constituía o mundo terrestre, existia vida, morte e mutabilidade. Havia para Aristóteles uma diferença fundamental entre as regiões terrestres e celestes, pois na Terra havia a imprecisão e a variabilidade, enquanto no céu existia uma perfeição geométrica com os corpos celestes mantendo o seu movimento de translação num perfeito movimento circular uniforme. Assim, Aristóteles propunha que o Cosmo era formado por um tipo diferente de matéria, a qual chamou de éter. Sugeriu sistemas em que os corpos celestes girariam em 49 esferas concêntricas, com o centro delas dado pela Terra e explicava o brilho dos corpos celestes pelo atrito destes com essas esferas, como se gerassem faíscas. Porém esse sistema não explicava o caráter errante de alguns corpos celestes nem o movimento retrógrado dos cinco planetas até então conhecidos (movimento retrógrado é o movimento aparente de ida e volta dos planetas diante do fundo cósmico causado por sua translação ao redor do Sol). Alguns estudiosos tentaram esclarecer a retrogradação, como por exemplo, Eudoxo de Cnidius (400-347 a.C.), mas a explicação mais convincente só veio mais tarde por volta de 140 d.C. com Claudius Ptolomeus. Ptolomeu foi o último grande astrônomo da antiguidade clássica e provavelmente tenha nascido em 120 d.C. e morrido em 180 d.C. Era egípcio e foi não só astrônomo como também matemático e geógrafo, pois desenhou o primeiro mapa do Mediterrâneo com medidas científicas, apresentando também parte do Norte europeu. Sua maior obra foi o Almagest, um livro de valor inestimável tido por muitos como a maior compilação de conhecimentos da Antiguidade, em que descreveu um grande número de estrelas e constelações baseado no trabalho prévio do grego Hiparco (140 a.C.). Ele acrescentou muitas contribuições pessoais, fez medidas cuidadosas dos planetas e elevou o 237 sistema geocêntrico de Aristóteles a um nível de funcionamento quase perfeito. Também conseguiu pela primeira vez explicar o caráter errante planetário e as variações de brilho observadas nos diferentes pontos da órbita. Para explicar o movimento retrógrado foi introduzida a ideia de epiciclos, em que cada planeta se move num círculo pequeno, cujo centro se move ao redor da Terra. Apesar de esse modelo ser considerado de grande complexibilidade, foi largamente aceito porque fornecia explicações satisfatórias para as observações astronômicas feitas até então. Com o início da Idade Média, tida por muitos como o período das trevas, o desenvolvimento da Astronomia na Europa foi impedido pela Igreja Católica, e o modelo ptolomaico foi elevado à doutrina religiosa, e durante 1.500 anos não pôde ser contestado por ninguém. A razão da atitude religiosa deve-se ao fato de esse modelo colocar a Terra, local em que o homem (segundo os religiosos, “a maior criação de Deus”) habita como centro do Universo. Finalmente, em 1543, após aproximadamente 14 séculos de estagnação científica, uma nova teoria para o Universo é apresentada por Nikolaj Kpernik, mais conhecido pelo nome latinizado de Copérnico. Nascido em Torun, na Polônia em 1473, Copérnico entrou para o clero e estudou primeiro na Universidade de Cracóvia, e mais tarde, em Bologna, na Itália. Em 1501 regressou à Polônia e tornou-se padre de Frombork. Teve uma carreira variada, defendeu o seu país nas lutas contra os cavaleiros teutônicos, foi médico local e também administrador. No entanto o seu maior interesse estava na Astronomia. Considerando o modelo geocêntrico de Ptolomeu muito complicado e pouco satisfatório, Copérnico revisou os conhecimentos gregos e após estudá-los cuidadosamente, propôs um novo modelo que removia a Terra da sua posição central substituindo-a pelo Sol. Essa tese já estava completa em 1533, mas Copérnico não a publicou por saber que a Igreja o acusaria de heresia, pois tirar a Terra do centro do Universo ia contra a doutrina oficial. Finalmente uma semana antes de morrer, ele concordou com a sua impressão, sendo a teoria publicada abertamente em 1543 no livro De revolutionibus orbium coelesti e dedicada ao papa Paulo III. 238 O modelo heliocêntrico provocou uma revolução não somente na astronomia, mas também um impacto cultural com reflexos filosóficos e religiosos. O modelo ptolomaico havia sido incorporado de tal forma no pensamento que tirar o homem do centro do universo se revelou uma experiência traumática, pois a ideia mais natural é conceber a Terra como corpo fixo, sólido, imóvel enquanto os grandes astros orbitam ao seu redor. A obra de Copérnico causou aborrecimentos a muitas pessoas e a Igreja colocou-a na lista de livros proibidos. Martinho Lutero descreveu a obra de Copérnico nesses termos: “as pessoas dão ouvidos a um astrólogo presunçoso. Este idiota deseja atrasar toda a ciência da astronomia”. No entanto, apesar de algumas das suas ideias estarem erradas, Copérnico tinha dado um passo extraordinário para a astronomia, quebrando o tabu da igreja e colocando o Sol no centro do Sistema Solar como realmente o é. O trabalho de Copérnico foi aperfeiçoado mais tarde por Johannes Kepler. Kepler nasceu na Alemanha em 1571 em Wurttemberg e foi enviado ao seminário protestante de Maulbronn para ser educado na vida eclesiástica. Ele tinha uma fé muito grande em Deus, mas sua curiosidade em desvendar os mistérios do Universo, fez com que deixasse Maulbronn em 1589 para continuar os estudos na Universidade de Tübingen. Depois de formado, foi enviado a Graz na Áustria para lecionar matemática no ginásio, mas não conseguiu ser um bom professor. Kepler acreditava que os movimentos dos planetas tinham causas físicas e por isso tentou encontrar figuras geométricas que permitissem explicar suas posições. Ele construiu um sistema que relacionava a distância dos cinco planetas até então conhecidos (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) com os cinco poliedros regulares gregos: o tetraedro, o cubo, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. Usava o cubo para separar a esfera de Saturno da de Júpiter, o tetraedro para separar a esfera de Júpiter da de Marte, o dodecaedro entre a esfera de Marte e a da Terra, o icosaedro entre a esfera da Terra e a de Vênus e o octaedro entre a esfera de Vênus e a da Mercúrio. Esse modelo foi apresentado no livro Mysterium, em 1596. 239 Modelo de Kepler que relacionava as distâncias planetárias com os cinco poliedros gregos. Porém, infelizmente, ele estava errado. Pouco tempo depois da publicação de Mysterium, Kepler foi contratado em 1600 pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) para trabalhar como seu assistente. Brahe possuía o mais bem montado observatório de sua época e guardava registros de observações planetárias muito precisas. Porém, apenas um ano depois, em 1601, dá-se a morte de Tycho, e Kepler herda todos os documentos de observações. Após estudar profundamente as medidas de órbita do planeta Marte e da Terra, Kepler concluiu que a forma que mais se adaptava à órbita dos planetas era a elipse e não o círculo como propunha Copérnico. Fez o mesmo tipo de estudo para os planetas Vênus, Terra, Júpiter e Saturno, tendo concluído sempre que a forma que melhor se adaptava era a elipse. Também notou que, ao se aproximar do Sol, a velocidade do planeta aumenta e depois volta a diminuir gradativamente. Após um estudo aprofundado baseado nessa teoria, Kepler sintetizou suas conclusões sob a forma de leis matemáticas que são válidas até hoje: 1. A órbita de cada planeta é uma elipse com o Sol em um dos focos; 2. A reta (raio) que une o Sol ao planeta varre áreas iguais em tempos iguais; 3. O quadrado do período orbital dos planetas é inversamente proporcional ao cubo de sua distância média do Sol. 240 Kepler publica essas conclusões no livro a Harmonia dos mundos em 1619. Essas descobertas, porém, baseavam-se apenas nos dados de Tycho Brahe, que eram puramente experimentais. Foi o físico inglês Isaac Newton (1642-1727) quem elaborou a teoria capaz de explicar porque os planetas se movimentavam daquela forma. Isaac Newton, considerado um dos maiores gênios de todos os tempos nasceu na Mansão de Woolsthorpe, perto de Grantham em Lincoln Shire, e dentre seus grandiosos estudos, propôs que a mudança de velocidade dos planetas constatada por Kepler era determinada por uma força central exercida pelo Sol. A essa força deu a denominação de Gravidade, e através de cálculos provou que ela era a mesma responsável pelo caráter elíptico dos movimentos planetários. Newton ainda teve a audácia de propor que a teoria da Gravitação Universal era válida em todo o Universo, em quaisquer corpos, estando eles no espaço ou na superfície terrestre. Na época de Kepler, início do século XVII, a visão do Cosmo ainda era muito limitada e acreditava-se que todo o universo era formado apenas pela Terra, o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e os cometas, pois até aquele momento ninguém havia arquitetado um aparelho ou meio de ampliar a visão do céu. Assim todas as teorias eram elaboradas através de suposições e observações a olho nu. Foi somente em 1609 que um homem teve a ideia de apontar para o céu um aparelho que ampliasse a visão dos astros. Esse homem foi Galileu Galilei. Nascido em 15 de fevereiro de 1564 na cidade de Pisa, Itália, Galileu Galilei era o filho mais velho de Vicenzo Galilei e de Giulia Ammannati tendo herdado do pai um grande gosto pela música e uma enorme aptidão para a matemática. Com 17 anos ingressou na Universidade de Pisa, para estudar Medicina, mas após quatro anos abandonou o curso para se dedicar ao estudo da física, da astronomia e da matemática. Aos 25 anos com o apoio de Guidobaldo Del Monte, matemático e admirador da sua obra, foi nomeado professor de Matemática da Universidade de Pisa e em 1592 tornou-se professor na Universidade de Pádua, onde permaneceu até os 43 anos. 241 Ao longo de sua vida foi físico, matemático, astrônomo e filósofo e fez diversas descobertas. Algumas das mais importantes são as leis do pêndulo e a lei da queda dos graves. Entre as suas invenções contam-se o termoscópio, a balança hidrostática e o aperfeiçoamento do telescópio. Foi ele quem aperfeiçoou o primeiro telescópio, mas não foi dele a ideia original. Em 1608, o fabricante de óculos alemão Hans Lippershey (1570-1619) trabalhava em sua oficina na Holanda quando um aprendiz lhe mostrou o que descobrira: olhando através de duas lentes, a torre da igreja distante parecia muito mais próxima e de cabeça para baixo. Lippershey encaixou as lentes dentro de um cilindro, mantendo a distância apropriada entre elas e corrigiu a imagem. Ao receber o recado sobre a invenção, Galileu aprimorou o aparelho e logo construiu um capaz de aumentar três vezes o tamanho aparente de um objeto, depois outro de dez vezes e, por fim, um capaz de aumentar mais de 20 vezes. No dia 25 de agosto de 1609 no alto da torre da Praça de São Marcos, Galileu fez a primeira demonstração do telescópio. Naquela mesma noite, ele descobriu que a Lua não tinha a superfície lisa, mas era cheia de montanhas e crateras. Também viu a Via Láctea e a caracterizou como um aglomerado de estrelas, agrupadas em diversas nuvens. Descobriu ainda as quatro maiores luas de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e Calisto) e verificou que elas orbitavam ao seu redor. A observação das fases de Vênus demonstrou também que ele não girava em torno da Terra, pois se assim fosse, suas fases teriam de ser idênticas às da Lua. No entanto, Galileu verificou que, quando Vênus estava na fase semelhante à Lua Nova, atingia a sua dimensão máxima, o que significava que estava o mais próximo da Terra, enquanto que, quando avançava para a fase semelhante à Lua Cheia, ia diminuindo de dimensão, significando sem dúvida que Vênus girava em torno do Sol. Galileu também foi o primeiro cientista a efetuar observações das manchas solares e demonstrou que o Sol não era um corpo cristalino e sim uma estrutura fluida, que rodava em torno de seu eixo com um período de cerca 25 a 31 dias (nos polos). Essas observações foram inicialmente publicadas no livro Sidereus nuncius (Mensageiro das Estrelas) em 1610. 242 Posteriormente em 1632, Galileu publicou em Florença outra obra, intitulada Diálogo relativo aos dois grandes sistemas dos mundos − ptolomaico e copernicano, em que discute os resultados das suas observações e debate o modelo ptolomaico e copernicano numa série de discussões entre três homens: Salviati, Sagredo e Simplicio. Salviati representa Galileu, Sagredo representa um ouvinte inteligente e Simplicio, um estúpido aristotélico. Nessa obra, Galileu afirmava que a terra girava em torno do Sol, o que contrariava a teoria aceita e defendida pela Igreja Católica, por isso o livro é proibido e assim fica por quase duzentos anos. Em 1633 foi julgado pela Inquisição condenado por heresia, ameaçado de tortura e condenado por sete cardeais a cumprir prisão domiciliar em Arcetri pelo resto da vida. Galileu, no entanto, mesmo negando publicamente sua crença no modelo heliocêntrico, não desistiu dos estudos e nessa mesma cidade escreveu mais quatro obras Discorsi, dimonstrazioni matematiche intorno a due nuove scienze, Aattinenti alla meccanica e I movimenti locali, que foram secretamente publicadas na Holanda em 1638. Com o passar do tempo, Galileu ficou completamente cego e na noite de 8 de janeiro de 1642, morreu de uma febre acompanhada de dores nos rins. Em 1822, o Santo Ofício permitiu a publicação de livros que ensinassem o movimento da Terra, e em 1835, o Diálogo de Galileu foi excluído da lista de obras proibidas pela Igreja. Galileu viveu numa época atribulada e, apesar de não ter seu trabalho reconhecido pelas pessoas de seu tempo, hoje é tido como um dos maiores astrônomos de todos os tempos, um exemplo de homem talentoso e perseverante. Não é exagerado dizer que a revolução intelectual-científica e filosófica dos últimos 300 anos foi impulsionada pela invenção da astronomia observacional com instrumentos ópticos de Galileu e das descobertas por ele inauguradas. No entanto os telescópios refratores (que usavam lentes para desviar e concentrar a luz) concebidos por Galileu precisaram ser reformulados, pois os raios que passavam pela borda das lentes deformavam a imagem. Esse problema foi corrigido em 1668, pelo matemático e físico inglês Isaac Newton que, após estudos, mudou a construção dos instrumentos 243 substituindo suas lentes por espelhos, que concentram a luz sem distorcer a imagem. Assim nasciam os primeiros telescópios refletores. Graças a esses aperfeiçoamentos, o desenvolvimento da astronomia continuou cada vez num ritmo mais acelerado. No século XVIII William Herschel (1738-1822) observou e descreveu mais cinco objetos no sistema solar: Urano (1781), duas luas de Urano e outras duas luas de Saturno. Já no século XIX, em 1846, Galle descobre Netuno, uma de suas luas, uma lua de Júpiter, duas de Saturno, duas de Urano e duas de Marte. Grandes telescópios passaram então a ser construídos para enxergar cada vez mais longe. Dentre eles destacou-se o Leviatã e o Hooker, construído no Monte Wilson. O Leviatã projetado na Irlanda, pelo astrônomo William Parsons Rosse (1800-1867), foi o maior telescópio do século XIX. Tinha um espelho de 1,80 m de diâmetro e mais de dezesseis metros de altura, levou três anos para ser montado entre duas paredes de pedra, na atual cidade de Parsonstown, e entrou em operação em 1845. Uma das revelações mais importantes feitas com ele foi a descoberta da estrutura em espiral das galáxias. O Leviatã foi desmontado em 1908. Já o telescópio Hooker foi construído pelo astrônomo americano George Hale (1868-1938) e tinha um espelho de mais de 2,50 m de diâmetro. Ele entrou em operação em 1917, no Monte Wilson, Califórnia, Estados Unidos e manteve a posição de maior refletor do mundo até 1948, quando o próprio Hale construiu o telescópio de Monte Palomar, com um espelho de cinco metros. Outro fato importante para a escalada da Astronomia moderna foi a idealização dos primeiros foguetes espaciais no início do século XX. Essa ideia surgiu pelo fascínio do homem pelos novos astros descobertos, levando-o a uma curiosidade crescente, sonhando com a conquista do espaço e imaginando se um dia viajaria e colocaria os pés na Lua ou em Marte. Robert Hutchings Goddard nascido em Worcester, Massachusetts, em 5 de outubro de 1882 foi o engenheiro e físico considerado o pai dos modernos foguetes espaciais. 244 Em 1920, após vários anos estudando física e engenharia, Goddard começou as primeiras experiências com foguetes a combustível líquido. Era um trabalho difícil e para conseguir um aparelho que atingisse grandes altitudes, teve que criar os princípios de uma tecnologia que não havia até então. Foi ele quem inventou os componentes básicos que impulsionam, estabilizam e guiam os foguetes modernos. Em 1919, publicou um pequeno livro chamado A method of reaching extreme altitudes (Um Método para Alcançar Altitudes Extremas), em que propunha um aparelho capaz de atingir a Lua. Em 16 de março de 1926 lançou um foguete que utilizava uma mistura de petróleo e oxigênio líquido. O aparelho atingiu uma altura de 12,5 m, com um voo de apenas 2,5 s e percorreu 56 metros. Três anos mais tarde, Goddard lançou pela primeira vez um foguete equipado com instrumentos, um barômetro, um termômetro e uma pequena filmadora. Entre 1930 e 1942, trabalhou em Roswell, no Estado do Novo México, onde fez foguetes que chegaram a atingir 885 quilômetros por hora e uma altura de dois quilômetros. Infelizmente Goddard morreu em 1945, e o primeiro foguete a sair com sucesso da Terra só foi lançado em1957 para levar o Sputnik. O Sputnik foi o primeiro artefato lançado pelo homem no espaço. Tratavase de um satélite artificial russo, resultado de longos anos de trabalho do professor Konstantin Eduardovitch Tsiolkovsky e de engenheiros, liderados por Sergey Korolyev, que em 1934 haviam apresentado à Academia de Ciências Soviéticas, um estudo completo sobre o voo no espaço e seu retorno, incluindo combustíveis, proteção para a tripulação etc. No dia 4 de outubro de 1957, às 08h00min, um imenso foguete de 3 estágios saiu da Base Espacial Baikonur no Cazaquistão carregando no seu topo o Sputnik I, composto basicamente por uma esfera de alumínio de 58 cm de diâmetro e 83 kg, com dois pares de antenas flexíveis de 2,4 m e 2,9 m. O Sputnik foi deixado em uma órbita elíptica, inclinada em 64,3º em relação ao Equador terrestre, atingindo uma velocidade de 28.800 km/h no perigeu e dando uma volta ao redor da Terra em apenas 96,3 m. 245 Como a missão tinha sido um grande sucesso, os russos começaram a se preparar para lançar outra expedição, desta vez carregando o primeiro ser vivo ao espaço. Em 3 de novembro de 1957 foi enviado o Sputnik II que levava a cachorrinha Laika que sobreviveria por vários dias, até que o suprimento de oxigênio acabasse. Começava assim a corrida espacial. Os Estados Unidos responderam lançando, em 31 de janeiro de 1958, o seu próprio satélite − o Explorer I. A União Soviética lançou o Sputnik III, que levava um laboratório para análise do meio ambiente e apresentava também a novidade de usar a energia solar para carregar seus instrumentos. No entanto a União Soviética suspendeu temporariamente o programa Sputnik para se dedicar à série Luna − veículos destinados à exploração lunar. Entre 1959 e 1976 quinze naves foram bem-sucedidas e, de uma forma ou de outra, forneceram informações importantes acerca da superfície lunar. O programa Sputnik foi retomado em 1959 e se estendeu até março de 1961. Foram lançados os Sputniks de V a X, sendo que os de números V, VI, IX e X levaram cachorros que sobreviveram aos processos de re-entrada e os de números VII e VIII serviram como testes de aprimoramento para a futura nave Venera, que foi enviada à Vênus. No começo da década de 1960 os americanos começaram um grandioso projeto denominado Apollo, cujo objetivo era colocar um ser humano na superfície da Lua e trazê-lo com segurança de volta para a Terra. Para consegui-lo, lançaram três projetos, o Ranger, o Surveyor e Lunar Orbiter para fazer um reconhecimento prévio da Lua. O Ranger era basicamente composto por naves de queda livre, que filmariam com câmeras de TV a superfície lunar, o Surveyor, apresentava naves de pouso que testariam os equipamentos e técnicas e avaliariam o solo lunar para saber se realmente era possível o pouso de grandes naves tripuladas; e o Lunar Orbiter, faria mapas detalhados para escolher os melhores locais de pouso. Para o lançamento da missão, foi desenvolvido um potente foguete denominado Saturno 5, o maior já construído até hoje. Ele tinha três estágios, 110 m de altura, e 2,7 milhões de kg, com cinco poderosos motores F-1 do primeiro estágio, mais os motores J-2 dos estágios seguintes. 246 Em outubro de 1968 foi lançada a Apollo 7, a primeira missão da série que apenas orbitou a Terra, testando o equipamento. Em dezembro do mesmo ano foi lançada a Apollo 8 que na noite de Natal de 1968 enviou várias fotos do solo lunar. As Apollo 9 e 10 repetiram o caminho e testaram os módulos de comando e de pouso. Finalmente em 16 de julho de 1969, a Apollo 11 foi lançada com sucesso em Cabo Canaveral, na Flórida transportando seus três tripulantes: o comandante Neil Armstrong e os astronautas Michael Collins e Edwin Buzz Aldrin. O pouso foi confirmado às 17h17min (hora de Brasília) de 20 de julho de 1969 e às 23 h 56 min, Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar a Lua, seguido pouco depois por Aldrin. Eles ficaram 131 minutos no solo lunar, de onde trouxeram amostras, deixando lá alguns equipamentos e uma placa comemorativa. Voltaram ao módulo principal que ficou em órbita e retornaram à Terra em 24 de julho. Outras naves Apollo voltaram à Lua depois: as missões 12, 14, 15, 16 e 17, sempre com três astronautas de cada vez. Durante as seis missões cerca de 2 200 pedras foram trazidas da superfície da Lua (representando cerca de 400 kg de rochas) que permitiram descobrir 75 novas variedades de minerais (a maioria de silicatos). O sucesso do projeto Apollo foi fundamental não somente para os EUA, mas para toda a humanidade, pois deu ao homem a convicção de que somos capazes de sair da Terra e empreender missões de exploração a outros mundos. Neil A. Armstrong, imortalizou o momento, resumindo o que foi o projeto Apollo, na famosa frase: “um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Diversas outras grandes expedições não menos importantes foram enviadas também a planetas do Sistema Solar, como as sondas Mariner 2 e a Venera 4, que pesquisaram Vênus, e Marte que foi explorado pela série Viking. Já Júpiter e Saturno foram investigados pelas Pioneer 10 e 11, as primeiras naves que, depois de um reconhecimento desses gigantes gasosos, continuaram viajando pelo espaço até sair do Sistema Solar. Elas são também as primeiras naves interestelares lançadas pela Humanidade, pois levam placas de alumínio banhadas a ouro com o 247 desenho de um homem e de uma mulher, um código especial que se espera ser entendido por qualquer ser inteligente e um mapa da posição do Sol e da Terra na Galáxia com a época em que as naves foram lançadas. Mais duas sondas de grande relevância no cenário aeroespacial, foram as Voyager 1 e Voyager 2. Entre suas mais marcantes descobertas, estão os vulcões ativos de Io; as gigantescas tempestades da atmosfera de Júpiter; as irregularidades dos anéis de Saturno; a extensão da atmosfera de Titan (satélite de Saturno), os ventos de Netuno, os gêiseres ativos de Triton e uma das luas de Netuno. A Voyager 1, foi lançada em 5 de setembro de 1977, e após passar por Júpiter e Saturno, rumou para fora do Sistema Solar viajando a uma velocidade de 1,6 milhão de quilômetros por dia. Ela encontra-se hoje a aproximadamente de 15,7 bilhões de quilômetros de distância e ainda está enviando sinal aos cientistas. Já a Voyager 2 lançada em 20 de agosto de 1997 está a 12,7 bilhões de quilômetros da Terra, viajando a uma velocidade de 56 mil km/h. As duas espaçonaves estão investigando a bolha formada ao redor do Sol pelo vento solar, e seu objeto de estudo é a borda dessa bolha, uma área denominada heliopausa, onde a pressão do vento solar é equilibrada pela pressão do vento proveniente do meio interestelar. O combustível da Voyager 1 se esgotará em 2020, mas mesmo assim ela continuará vagando pelo espaço interestelar carregando a bordo informações sobre a Terra e nossa civilização. O sonho de conquista espacial, no entanto, continuou num ritmo cada vez mais acelerado, até que as tecnologias deram ao homem finalmente a possibilidade de projetar um aparelho capaz de manter cientistas no espaço por período prolongado. Nascia assim a idealização da primeira estação espacial. Um dos debates sobre a possibilidade de se construir uma Estação Espacial ocorreu em abril de 1960, em Los Angeles, e foi patrocinado pela Nasa, pela Rand Corporation e pelo Institute for Aeronautical Sciences. Naquela ocasião houve uma grande discussão de como seria a estação, de onde deveria ser lançada e de como construí-la. Todos concordaram que a construção de uma estação seria desejável, entretanto não houve, na época, um consenso sobre a justificativa para sua construção. 248 Em 1971 a antiga União Soviética se tornou a primeira nação do mundo a colocar uma estação espacial tripulada no espaço. A Salyut 1, como foi batizada, foi lançada em 19 de abril de 1971 e sua tripulação, enviada na Soyuz 11, permaneceu a bordo durante 23 dias. Tinha um comprimento de 15,8 m, diâmetro de 4,5 m e painéis solares com área de 28 m². No entanto, ao se preparar para o regresso, os cosmonautas se depararam com uma falha na válvula da Soyuz 11, que deixou escapar todo o ar do interior da cápsula, despressurizando-a. Ao pousar, em 29 de junho de 1971, a Soyuz 11 trouxe apenas os corpos de sua tripulação. Já a Salyut 1 reentrou na atmosfera terrestre em 11 de outubro de 1971. Os EUA responderam a esse lançamento, e finalmente após anos de discussão e planejamento, em 14 de maio de 1973 lançaram a Skylab, a segunda estação espacial orbitando a uma altitude de 435 km. O objetivo da estação era mostrar que seres humanos poderiam viver e trabalhar no espaço por longos períodos de tempo e também coletar mais informações sobre o Sol e fazer observações astronômicas. Ela era composta de cinco partes: um telescópio, um adaptador para acoplagem múltipla, um módulo selado, uma unidade de instrumentos, e um espaço de trabalho orbital. Esperava-se que permanecesse ativa por dez anos, mas um inesperado raspão com a atmosfera superior forçou sua queda apenas nove meses depois do lançamento. A Skylab caiu no Oceano Índico no dia 11 de julho de 1979 após a realização de quase 300 experimentos científicos. Após a Skylab, foi projetada a Mir, uma estação espacial construída entre 19 de fevereiro de 1986 e 1996 com a cooperação de diversos países. Originalmente foi concebida para se manter no espaço até 1991, mas teve tanto sucesso que continuou em funcionamento até 23 de março de 2001. Ela era formada por seis módulos, orbitando a quatrocentos quilômetros de altitude e completava uma volta em torno da Terra a cada noventa minutos. No total, foram realizadas mais de 82 mil voltas em torno do planeta. A Mir foi palco de 25 missões russas e 30 internacionais, recebendo um total de 103 visitantes e realizando 14 mil experimentos científicos. No entanto a mais avançada plataforma de pesquisa espacial já construída foi a Estação Espacial Internacional ISS, resultado de um esforço internacional de 16 países, que começou em 1988. Os colaboradores são a Alemanha, a Bélgica, o Brasil, o Canadá, a Dinamarca, a Espanha, os EUA, a França, a Holanda, a Itália, o Japão, a Noruega, o Reino Unido, a Rússia, a Suécia e a Suíça. 249 Os Estados Unidos desenvolveram vários sistemas de bordo, como o suporte à vida, o controle térmico, a navegabilidade e os sistemas de comunicação e dados, além de três módulos de conexão. Já os russos contribuíram com dois módulos de pesquisa e um módulo habitacional com todo equipamento necessário ao suporte à vida, além de plataformas para instalação de painéis solares e a nave Soyuz de transporte. O Canadá forneceu um braço remoto de 47 metros de comprimento, semelhante ao atualmente usado em ônibus espaciais, e os europeus fornecerão laboratórios pressurizados, entre outros equipamentos. Já o Brasil coopera desde 1997 fornecendo equipamentos e contribuindo com serviços de logística, manutenção e reparos. A ISS tem gerado benefícios enormes para a humanidade, pois como está em órbita, permite que inúmeros experimentos científicos sejam desenvolvidos livres da pressão exercida pela gravidade terrestre. Como exemplos temos os testes para tratamentos de câncer, o desenvolvimento de medicamentos, a obtenção de novos materiais, como ligas metálicas mais leves e fortes e chips de computador mais poderosos. Na íntegra as áreas de pesquisa são as seguintes: Pesquisa em microgravidade – engloba a biotecnologia, a combustão, o estudo dos fluidos, a física fundamental e a ciência dos materiais. Ciências da vida – campo da biomedicina, biologia gravitacional e ecologia e sistemas de suporte à vida. Ciências espaciais − estudo da estrutura e evolução do Universo, exploração do Sistema Solar e a busca astronômica pelas origens e por sistemas planetários. Ciências da Terra − monitoramento da qualidade da atmosfera, meteorologia, estudo das mudanças climáticas, da vegetação e uso do solo, dos recursos minerais e alimentares, e a qualidade da água doce e dos oceanos. Pesquisa em engenharia e tecnologia − desenvolvimento de sistemas avançados de comunicação Terra-espaço, sistemas de geração e armazenamento de energia, sistemas robóticos avançados, sistemas de propulsão entre outros. 250 O Brasil, graças ao seu esforço e investimento no Programa Aeroespacial, conseguiu, em 2006, enviar seu primeiro astronauta à Estação Espacial Internacional, numa missão que foi batizada “Missão Centenário”, em referência à comemoração dos cem anos do vôo de Santos Dumont no avião 14 Bis, realizado em 1906. Essa conquista começou em junho de 1998, quando o astronauta Marcos Pontes foi selecionado para o programa espacial da Nasa. Em18 de outubro de 2005, um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da Federação Russa (Roscosmos), confirmou a missão que decolou no dia 29 de março de 2006, às 23 h 30 (horário no Brasil), no Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão. Marcos Pontes levou a bordo da nave russa Soyuz TMA-8 quinze quilos de carga da Agência Espacial Brasileira, incluindo oito experimentos científicos criados por universidades e centros de pesquisas brasileiros. A expedição foi um sucesso e teve duração de dez dias, sendo dois dias a bordo da Soyuz e oito dias na ISS. A concretização dessa missão trouxe orgulho ao povo brasileiro e elevou a posição do Brasil no cenário da exploração aeroespacial demonstrando que nós também estamos preparados para enfrentar os novos desafios da exploração do Universo. Somos hoje uma nação satisfeita, pois finalmente após anos de esforços, vemos nosso trabalho se destacando mais uma vez no cenário internacional, e com certeza muitos outros progressos grandiosos chegarão nos próximos anos. Considerações finais Podemos dizer que o futuro da Astronomia na Terra é promissor, pois graças ao desenvolvimento científico e tecnológico das últimas décadas, ampliamos nossa compreensão do Universo e temos desenvolvido aparelhos cada vez mais sofisticados que nos permitem ver e viajar cada vez mais longe. São muitos os sonhos para o futuro e grandes também são os desafios. No entanto não podemos desistir, pois traçamos uma grande história até aqui, vencemos dificuldades e realizamos muitas conquistas. 251 Entender o Cosmos faz parte do ser humano, porque ao olhar para o céu buscamos nossas origens e compreendemos a razão da nossa existência. Esses sentimentos acompanham o homem desde seu princípio e foi com eles que os pilares da Astronomia moderna foram construídos há milhares de anos na Pré-história. Foi essa constante busca pela verdade que formou grandes nomes como Pitágoras, Aristóteles, Copérnico, Kepler e Galileu, homens que, apesar de apresentar alguns pensamentos tidos hoje como incorretos, foram fundamentais em seu tempo, porque contribuíram para a construção de pensamentos novos sobre o Universo. Já nos últimos dois séculos tivemos um avanço ímpar na conquista do Universo, pois desenvolvemos mecanismos capazes de sair da crosta terrestre, criamos poderosíssimos telescópios, enviamos sondas de pesquisa para vários planetas, conquistamos a Lua em 1969 e montamos nossas primeiras estações espaciais de pesquisa. Isso nos encoraja e nos dá uma visão extremamente otimista para o futuro. Faz parte de nossas metas para um futuro distante explorar os espaços interplanetários, conquistar novos mundos e ampliar nosso domínio pelo Cosmo. Para tanto temos um longo caminho pela frente. Cometeremos ainda muitos erros, mas no tempo certo, com certeza descobriremos as respostas corretas para as interrogações que sempre nos acompanharam: “De onde viemos? Para onde vamos? O que somos?” No entanto precisamos conduzir nosso desenvolvimento com cuidado e sustentabilidade, pois os problemas ambientais atuais têm nos alertado que, se não tomarmos medidas eficientes urgentemente, corremos o risco de sucumbir num colapso climático-ambiental violento, destruindo todo o conhecimento conquistado ao longo de milênios de evolução. Seremos então uma civilização derrotada, fadada a desaparecer lentamente, em meio a um Universo de sonhos e divagações. Teremos então fracassado. É preciso que ouçamos esse alerta e aproveitemos o milagre da vida, pois somos seres privilegiados, portadores de inteligência e capazes de traçar nosso próprio destino. Podemos usar toda a tecnologia e conhecimento acumulados até hoje para conquistar as estrelas ou para causar nossa própria destruição. Essa escolha entre o bem e o mal pode ser feita somente por nós. Pois nós respondemos pela Terra... Portanto, façamos a escolha certa. 252 fontes consultadas A astronomia na idade média. Disponível em: <http://www.ccvalg.pt/astronomia/historia/idade_media.htm>. Acesso em: 10 ago. 2009. Apollo 11. Disponível em: <http://www.geocities.com/ResearchTriangle/Lab/6116/apollo11.html>. Acesso em: 25 ago. 2009. Astronomia e História. Disponível em: <http://www.sab-astro.org.br/cesab/newhtml/AstHist.html#p1>. Acesso em: 20 ago. 2009. Astronomia pré-histórica. Disponível em: <http://www.ccvalg.pt/astronomia/historia/pre_historia.htm>. Acesso em: 10 ago. 2009. CASAS, R. Objetos transnetunianos. 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