10 de novembro
Nossa presença
no cosmos
TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS
2009
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas
opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização.
As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de
qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade,
região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
10 de novembro
Nossa presença
no cosmos
TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS
2009
© 2009 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Revisão: Reinaldo de Lima Reis e Margaret de Palermo Silva
Diagramação: Fernando Brandão
Capa e Projeto Gráfico: Edson Fogaça
Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, 10 de novembro: nossa presença
no cosmos; trabalhos e desenhos premiados 2009. – Brasília: UNESCO, 2009.
254 p.
BR/2009/PI/H/11
1. Astronomia 2. Cosmos 3. Educação Secundária 4. Ensino de Ciências 5. Ciência
e Sociedade 6. Desenvolvimento Sustentável 7. Ciência e Desenvolvimento 8. Promoção
da paz 9. Brasil.
SUMÁRIO
Agradecimentos...............................................................................................................7
Apresentação..................................................................................................................11
Abstract............................................................................................................................13
CATEGORIA DESENHO............................................................................................15
1º Lugar: Gildasio Souza Santos (autor) e
Solon Almeida Barretto (professor-orientador).............................................17
2º Lugar: Valéria Souza Porto (autora)........................................................................18
3º Lugar: Rogério Henrique da Silva (autor) e
Maria Aparecida de Souza Barbosa (professora-orientadora)......................19
Menção Honrosa
Claudino Donizete Diniz Claudio (autor) e
Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)..................................................20
Jéssica Cabrera Reis (autora) e
Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)...................................21
João Júnior Dias Araujo (autor) e
Fábio Aparecido de Sousa (professor-orientador)....................................................22
Juliana Oliveira Magalhães (autora).......................................................................23
Thaís de Melo Benedito (autora) e
Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)..................................................24
Valéria da Silva (autora) e
Glauco Rodrigo Ribeiro Trepador (professor-orientador)......................................25
Victor Henrique da Silva Menezes (autor) e
Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)...................................26
CATEGORIA TRABALHO ESCRITO.......................................................................27
1º Lugar: Um conto do cosmos
Daniel Rocha Ruiz (autor) e
Sandra Maria Rudella Tonidandel (professora-orientadora)............................................29
2º Lugar: Uma viagem sobre a cauda de um cometa
Marcos Felipe Pinheiro (autor) e
Márcia Regina Cazonato Lozano (professora-orientadora).............................................49
3º Lugar: Astronomia: origem e importância para a humanidade
Diego Teruo Mendes de Souza (autor) e
Valério José Amaro (professor-orientador)........................................................................63
Menção Honrosa
Os desbravadores do universo
Ana Lucia Farias das Neves (autora) e
Luis Alberto Pinheiro da Silva (professor-orientador).............................................97
De Stonehenge a Spitzer: a evolução das observações astronômicas
Edson Luis Kuzma (autor) e
Elenita Chuproski Scharlau (professora-orientadora)............................................119
As descobertas astronômicas e sua importância para a humanidade
Ingrid Beatriz Barbosa (autora) e
Mariza Christina de Morais Campos (professora-orientadora).............................145
Astronomia e bioastronomia na síntese poética
Jackeline Santos Alves (autora) e
Geysa Grazielli Freire de Oliveira (professora-orientadora)..................................159
A Astronomia em nossa vida
Karina Rodrigues dos Santos (autora) e
Daniela Resende de Faria (professora-orientadora)................................................187
As crônicas do cosmos
Victor Henrique da Silva Menezes (autor) e
Sandra Regina Constantino (professora-orientadora)............................................207
O homem e a astronomia: uma história de conquistas
Vinícius Ramos da Silva (autor) e
Elaine Soares Chicarelli de Andrade (professora-orientadora).............................231
AGRADECIMENTOS
A UNESCO agradece o envolvimento e o empenho das instituições
participantes e coorganizadoras do Concurso de Trabalhos Escritos e
Desenhos e do evento em comemoração ao Dia Mundial da Ciência pela
Paz e pelo Desenvolvimento (10 de novembro). São elas:
• Academia Brasileira de Ciências (ABC)
• Agência Espacial Brasileira (AEB)
• Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica
(ABIPTI)
• British Council
• Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação,
Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal
• Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de
C,T&I (CONSECTI)
• Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
• Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF)
• Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
• Instituto Sangari
• Instituto Transposição do Conhecimento para o Desenvolvimento
Regional (InTC)
• Interlegis
• Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional
• Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
• Ministério da Educação (MEC)
• Ministério da Saúde (MS)
• Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm)
• Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal
(SECT/GDF)
• Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF)
• Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
• Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
• União Europea
• Universidade de Brasília (UnB)
A UNESCO agradece, ainda, às duas comissões de especialistas que
avaliaram os trabalhos apresentados para as categorias de trabalho escrito e
desenho. Os membros das comissões estão listados a seguir.
Comissão de Avaliação dos Trabalhos Escritos
Airton Lugarinho
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF)
Aline Santos de Marco
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Ana Cristina Requeijo
Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm)
Ary Mergulhão Filho
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Carlos Henrique Tomé
Senado Federal
Eleni Roberta da Silva
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Helenice Oliveira
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
Ivone Peixoto G. Oliveira
Ministério da Saúde
José Leonardo Ferreira
Agência Espacial Brasileira (AEB) e Universidade de Brasília (UnB)
Josué de Lima Rodrigues
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF)
Lilian Barboza de Sena
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
Margaret de Palermo Silva
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Maria Elisabete Ferreira
Instituto Transposição do Conhecimento para o Desenvolvimento Regional (InTC)
Michele Knop
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Osório Coelho
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Paulo Roberto Socha Primo
Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF)
Rafaela Marques
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Comissão de Avaliação dos Desenhos
Adriana Anunciatto Depieri
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Airton Lugarinho
Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF)
Aline Santos de Marco
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Ana Cristina Requeijo
Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm)
Ary Mergulhão Filho
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Carlos Henrique Tomé
Senado Federal
Consuelo B. de Deus
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF)
Delano Moody Simões
Instituto Sangari
Eleni Roberta da Silva
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Heluiza dos S. B. Bragança
Agência Espacial Brasileira (AEB) – Programa AEB Escola
Leonardo N. Afonso
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
Michele Knop
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Muryel F. Santana
Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI)
Orestes Lôbo
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
Paulo Roberto Socha Primo
Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF)
Rafaela Marques
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
Ramón Martins Sodoma da Fonseca
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Tatiana Vieira Terra
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste
Concurso.
APRESENTAÇÃO
As pessoas têm sua forma de viver bastante alterada no decorrer de sua
vida. As práticas, usos e costumes sofrem mudanças constantes devido às
novas condições da vida em sociedade e à disponibilização de tecnologias
que influenciam diretamente na vida de cada cidadão. Essas mudanças
devem ser acompanhadas de extensa reflexão sobre o papel da ciência e
da tecnologia na vida da população, principalmente no que tange a sua
aplicação ética.
Nesse contexto, as Nações Unidas estabeleceram o dia 10 de novembro
como o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento com o
objetivo de promover a reflexão de todos os componentes da sociedade
sobre o papel do desenvolvimento científico e tecnológico para a melhoria
da vida da população. É necessário que as pessoas tenham condições de
debater e escolher o tipo de desenvolvimento que melhor promoverá o
estilo de vida que a sociedade deseja ter.
Esse debate é promovido no Brasil em várias esferas. A intenção é criar
espaços para que governo e sociedade civil, em geral, possam expor ideias
e definir quais rumos tomar em relação ao desenvolvimento científico e
tecnológico, sua aplicação ética e em relação à construção de um modelo
socialmente inclusivo.
Para que isso seja possível, é importante que a sociedade tenha
condições de preparar cidadãos capazes de participar das discussões
relativas aos temas propostos de forma a influenciar nas decisões tomadas
pela sociedade sobre o seu destino.
Essa preparação deve acontecer na formação da criança e do jovem de
forma a despertar habilidades, como capacidade de observação, registro,
análise, proposição de ações e avaliação. Como consequência disso, o
jovem deve ser estimulado a participar do mundo em que vive como
agente ativo, atuante como construtor de princípios e parâmetros para
essa sociedade em frequente mutação.
11
Assim, dentro do espírito proposto para o Dia Mundial da Ciência, a
UNESCO e seus parceiros promovem um concurso de trabalhos escritos
e desenhos. O tema é sempre sobre a atualidade para estimular os jovens
a se expressarem e participarem desse debate. Em 2009, considerando o
Ano Internacional da Astronomia e os 40 anos da chegada do homem à
lua, o tema fixado foi Nossa Presença no Cosmos. Estão compreendidos
no tema de 2009, astronomia e bioastronomia: ciências voltadas ao estudo
dos corpos celestes e ao estudo da vida fora da Terra; o homem e o
espaço – de Galileu aos dias atuais: quatro séculos desde as primeiras
observações telescópicas do céu feitas por Galileu Galilei; o papel da
astronomia na cultura e na sociedade atuais e primitivas: como a astronomia
tem influenciado a humanidade através dos tempos, incluindo suas
implicações na arquitetura, na agricultura e em representações culturais
em que a astronomia exerce papel fundamental; e ciência e tecnologia
espaciais para a melhoria de vida da sociedade: a importância da ciência e
da tecnologia espaciais adaptadas para o nosso uso e contribuindo para o
desenvolvimento, incluindo a identificação e o aproveitamento de fontes
energéticas sustentáveis.
Neste livro, encontraremos os dez melhores trabalhos escritos e os
dez melhores desenhos apresentados, mostrando a dedicação e o grau
de discernimento de seus autores sobre o tema proposto. São jovens
mostrando a sua vontade de participação em nossa sociedade.
Vincent Defourny
Representante da UNESCO no Brasil
12
ABSTRACT
UNESCO Brasilia Office Natural Sciences Sector launched on 14
April 2009 an “Essay and Drawing Contest for Students” to celebrate the
United Nations “World Science Day for Peace and Development” on 10
November. Secondary School students from all over Brazil were asked to
write essays, oriented by teachers, and draw pictures on the theme “Our
presence in the cosmos”. This book contains the best ten pictures, as
well as the best ten essays. The Contest award ceremony was held on 10
November 2009 in Brasilia. The Contest and the activities of the “World
Science Day for Peace and Development” were promoted by UNESCO
in partnership with the:
Brazilian Sciences Academy (ABC); Brazilian Space Agency (AEB);
Brazilian Association of Technological Research Institutes (ABIPTI);
British Council; Permanent Commission of Science, Technology,
Innovation, Communication and Information Technology (CCT) of the
Federal Senate; National Council of State Secretaries for S,T&I Issues
(CONSECTI); National Council of State Secretaries of Education
(Consed); Research Support Foundation of the Federal District (FAP/
DF); Brazilian Institute of Information on Science and Technology
(IBICT); Sangari Institute; Interlegis; Knowledge Transfer Institute for
Regional Development (InTC); Itaipu Binacional; Ministries of Science
and Technology (MCT), Education (MEC) and Health (MS); Secretariat
of the Interministerial Commission for Sea Resources (Secirm); Science
and Technology Secretariat of the Federal District (SECT/GDF);
Education Secretariat of the Federal District (SE/GDF); Commercial
Learning National Service (Senac); Brazilian Society for Progress in
Science (SBPC); European Union and University of Brasilia (UnB).
13
Categoria
DESENHO
15
1º Lugar
Gildasio Souza Santos, 17 anos
2º ano do ensino médio
Solon Almeida Barretto (professor-orientador)
Escola de Educação Básica e Profissional Desembargador Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt
Irecê, BA
17
2º Lugar
Valéria Souza Porto, 19 anos
3º ano do ensino médio
Escola Estadual Major Otávio Pitaluga
Rondonópolis, MT
18
3º Lugar
Rogério Henrique da Silva, 17 anos
2º ano do ensino médio
Maria Aparecida de Souza Barbosa (professora-orientadora)
Centro Educacional 02 de Taguatinga
Taguatinga, DF
19
Menção Honrosa
Claudino Donizete Diniz Claudio, 19 anos
3º ano do ensino médio
Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)
Escola Externato Santa Terezinha
Araraquara, SP
20
Menção Honrosa
Jéssica Cabrera Reis, 15 anos
1º ano do ensino médio
Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)
Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça
Dracena, SP
21
Menção Honrosa
João Júnior Dias Araujo, 18 anos
2º ano do ensino médio
Fábio Aparecido de Sousa (professor-orientador)
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco
Marília, SP
22
Menção Honrosa
Juliana Oliveira Magalhães, 18 anos
3º ano do ensino médio
Colégio Estadual Almirante Tamandaré
Japeri, RJ
23
Menção Honrosa
Thaís de Melo Benedito, 18 anos
3º ano do ensino médio
Roberto Fortunato Donato (professor-orientador)
Escola Externato Santa Terezinha
Araraquara, SP
24
Menção Honrosa
Valéria da Silva, 17 anos
3º ano do ensino médio
Glauco Rodrigo Ribeiro Trepador (professor-orientador)
Escola Estadual Dr. Guimarães Júnior
Ribeirão Preto, SP
25
Menção Honrosa
Victor Henrique da Silva Menezes, 17 anos
3º ano do ensino médio
Dilene Cristina Danelute Resende (professora-orientadora)
Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça
Dracena, SP
26
Categoria
TRABALHO
ESCRITO
27
1º Lugar
Um conto do cosmos
Estudante: Daniel Rocha Ruiz, 15 anos, 1º ano do Ensino Médio
Professora-orientadora: Sandra Maria Rudella Tonidandel
Colégio Dante Alighieri – São Paulo, SP
Resumo
O texto a seguir discute, de forma leve e lúdica, a relação entre o
homem e o espaço. Ele posiciona um jovem chamado Davi em uma sala
de aula, criando um contexto em que o adolescente pode facilmente se
identificar. Enquanto o personagem principal assiste a uma aula, ele reflete
sobre questões de grande importância, tanto de caráter ambiental quanto
antropológico, à sua própria maneira.
A importância da figura do professor é reafirmada nesta estória, na qual
ele atua como principal indutor e fomentador do pensamento do jovem.
Afinal, ele é um trabalhador cujo valor continua não sendo respeitado,
quando seu papel deveria adquirir cada vez mais valor nesse mundo novo
que valoriza cada vez mais a informação e o conhecimento.
A própria locação em que os eventos ocorrem constrói uma metáfora,
ao usar o espaço sideral e a Terra para representar a imaginação e a razão,
respectivamente. A máxima do texto é propor a interação saudável entre
ambos, e como isso pode favorecer a humanidade.
A narrativa é ao mesmo tempo uma homenagem e um apelo em favor
do céu, que é verdadeiramente uma maravilha. Infelizmente, o mundo
passa a ignorá-lo e lentamente a destruí-lo. O grande objetivo deste texto
é conscientizar o jovem do que está acontecendo, e que ele tem um papel
para preservá-lo, para que ele e as gerações futuras também possam sonhar
com ele, como fizeram tantas gerações anteriores.
29
Introdução
Atualmente, são poucos aqueles que dão ao céu e ao espaço seu
verdadeiro valor. Já dizia Ralph Waldo Emerson (1803-1882), reconhecido
filósofo e poeta americano: “se as estrelas do céu só aparecessem uma noite
a cada mil anos, todos os homens iriam parar para admirá-las”. O contexto
em que Emerson escreve continua até hoje, o que é uma pena. É necessário
conscientizar as pessoas dessa situação, a começar pelos jovens.
O espaço tem seu valor para a humanidade igual a sua imensidão: infinito,
incalculável. Os primeiros filósofos baseavam suas teorias em cima de suas
observações, as primeiras religiões se baseavam em seus astros, os primeiros
navegantes além-mares se orientavam por suas estrelas, os primeiros homens
tinham apenas ele para iluminar a noite. A sua compreensão determina o
modo de pensar da humanidade ao longo dos vários períodos que permaneceu
sobre ele. Exemplificando, quando o heliocentrismo copernicano, defendido
por Galileu e Kepler, substituiu o geocentrismo que ilustrava o pensamento
medieval, a raça humana entrou na era de avanços científicos que perdura e
cresce exponencialmente até hoje.
Infelizmente, apenas alguns reconhecem seu valor. Mas desses que
reconhecem, grande parte acaba dedicando a vida a sua compreensão.
Nas cidades grandes já é quase impossível enxergar as estrelas no céu, uma
vez que as pessoas não diminuem seu ritmo implacável de poluição. Elas
pararam de olhar. Quem dera a frase de Emerson se tornasse realidade,
então toda a raça humana, independentemente da cultura, raça, ou credo,
pararia em admiração à mesma causa: o brilho das estrelas!
A primeira maravilha além-mundo é o inteiriço espaço. O mais
profundo negrume, os mais reluzentes brilhos, os mais coloridos corpos.
Como pode o homem, o ser mais racional, segundo ele próprio, denegrir
a mais suntuosa das obras? Quantos foram os poetas e filósofos que sob
ele escreveram suas Opus Magnun? Quantos foram aqueles que usaram de
sua grandeza para expressar o que sentiam? O céu é tão divino quanto os
deuses que já foram ditos nele viver.
É necessário preservá-lo para sempre. Este que é o maior fomentador
de sonhos, só pode ser salvo por aquele que ousa deliberadamente sonhar:
o jovem. A imaginação não pode ser morta pela maior consequência da
tecnologia: a poluição. O jovem é quem melhor entende a importância do
30
céu, e ele será o novo adulto. É importante que ele tome consciência do seu
papel nesta batalha contra a ignorância que permeia o aquecimento global.
O céu não recebe seu justo valor. Poucos são aqueles que lhe dão
a devida importância. O céu é magnífico como nenhuma outra obra.
O jovem é aquele que pode salvá-lo, uma vez que é o único que pode
se identificar com ele, e que esse mesmo jovem um dia será o próximo
adulto. É preciso relembrar o valor da imaginação nessa era de ciência.
O conto
Sob o sol da alvorada que mal tinha-se anunciado, alguns jovens há
muito tempo já estavam acordados. Na cálida manhã de sábado não havia
nenhuma condição irreparável para que eles estivessem na escola. Não
haveria uma prova substitutiva, não haveria aulas de reforço ou tampouco
um evento que fosse divertido tal qual uma competição ou uma festa.
Naquele dia haveria apenas uma palestra, nada mais. Seu tema era vago:
“A presença do indivíduo no cosmos”. Por essa razão, não foram muitos
os que atenderam ao convite. Mesmo assim, a sala escolhida para sediar
o evento era tão pequena que se fazia aconchegante para aqueles que a
lotavam.
Os cerca de 20 jovens se sentaram da forma que melhor lhes servia.
Alguns se sentavam junto aos amigos para poder dividir opiniões; outros
se sentavam na primeira fila prontos para poder melhor ouvir o professor,
fazer anotações e elaborar perguntas; alguns se sentavam próximos à
porta, já que sabiam que iriam receber uma ligação importante, daí seria
necessário sair rapidamente para não atrapalhar a apresentação; e havia
aqueles que simplesmente ocupavam os primeiros lugares vazios que
encontravam em seu caminho. Contudo um deles não se encaixava em
nenhuma dessas categorias.
Seu nome era Davi e ele quis se sentar ao lado da janela. Era mais um
na multidão, e como tal tinha muitas histórias interessantes, mas todas
desconhecidas. Ele estava lá não porque não tivesse nada melhor para
fazer, mas porque o espaço sideral o intrigava. Nunca se imaginou sendo
astrônomo, já que via o céu como algo que não devesse ser comercializado,
via-o como um fascínio, uma maravilha. Por isso não se incomodava em
sonhar em ser advogado. Quanto a isso, sabia o que queria para sua vida.
31
Porém essa certeza era constantemente desafiada pelos que o cercavam,
afinal ele ainda era muito jovem para tanta decisão. Desafio este similar
a sentir os primeiros raios de sol. Os olhos tinham de permanecer
semicerrados, mas a leve sensação de calor por todo o corpo fazia valer
a pena. E na ausência de algo mais benéfico para se fazer, esperava nestas
condições.
Então, enquanto se deliciava com este simples prazer que a natureza lhe
oferecia, subitamente o professor responsável pela palestra entrou na sala.
Era um homem maduro, que parecia ser bem humorado. Ao olhar para ele
tinha-se a sensação de que ele era um homem erudito, que era formado
em várias faculdades, que já tinha lido toda uma biblioteca e que já tinha
visitado muitos lugares. Sensação esta que estava corretíssima. Logo ele se
anunciou:
– Meu nome é Sérgio, hoje serei seu suserano, que sem receio suscitará
a sofrida sabedoria sobre seus sentidos sóbrios, sobre suas solidões;
sob o solene e suntuoso céu que se anuncia, vos farei soltar suspiros de
felicitação.
Falava bonito o homem cuja beleza há muito o havia abandonado. Para
quem há décadas não é mais o que já foi, não lhe parecia que o passar
dos anos tinha-o envelhecido por dentro, de forma qualquer que fosse.
Todavia sua voz soava com a estridência de uma navalha e firme como um
monumento. Sua objetividade estava implícita nos detalhes capciosos que
tinha de mencionar para que fosse possível entender o todo de forma plena,
absoluta.
– O tema dado para a palestra foi vago. Eu sei disso porque foi intencional.
Tenho um ponto de partida, mas não um de chegada. Isso porque eu não
sei em que ponto vou terminar, só que tenho apenas algumas horas para
chegar lá. Sobre o céu trataremos e dos pontos que ele tangencia. Não
sabendo por onde começar, iniciarei por um ponto que é imprescindível
tratar: a relação entre o homem e o espaço.
O breve discurso foi o bastante para despertar Davi e fazê-lo prestar
atenção. Esse professor o agradou, parecia-lhe interessante. Quem sabe
poderia retirar algo de proveitoso daquela experiência? O homem continuou
a falar:
32
– Existem muitas maneiras de tratar esse pequeno tópico. Pretendo
tratar não de todas, já que isso não seria possível nem com uma vida inteira
dedicada a isso mas sim das mais importantes. Vou começar pela mais fácil,
a que a interpretação se restringe à de gráficos e tabelas, cuja linearidade é
bem mais definida se comparada com as outras.
Ele apontou para Davi e pediu que fechasse as cortinas azul-escuras
da única janela da sala, aquela pela qual os raios incidiam. Também pediu
que as luzes fossem apagadas e a porta fechada. Nesse meio tempo ligou
seu computador ao projetor de imagens, para que todos pudessem ver
nitidamente os arquivos que queria mostrar.
– Tudo tem um objetivo, o meu, com essa tecnologia – referindo-se
ao notebook e ao projetor –, é permitir que vocês visualizem o que eu
falo. Embora pareça uma tentativa de homicídio a imaginação, ela aproxima
vocês da realidade. Deem uma boa olhada nesta imagem.
Pontos gerados por computador
representam cerca de 13 mil
objetos feitos pelo homem (com
5 cm ou mais) na órbita da Terra.
– O céu se tornou uma das várias áreas habitadas pelo bicho homem,
e isso é um fato incontestável. Uma consequência direta dessa ocupação
é a globalização. No espaço estão os satélites responsáveis pelas mais
diversas banalidades em nossa vida cotidiana: GPS, telefone, TV, internet
etc. Apesar das diferentes finalidades, todos trabalham basicamente da
33
mesma maneira: eles captam e transmitem dados. Mas o que eles fazem
não é importante para mim nesse exato momento. O importante agora é
o que esta imagem representa. Ela é uma prova da presença da agressão
despreocupada do homem nesse habitat. Calcula-se que existem mais de
300 milhões de objetos maiores que 1 milímetro na órbita terrestre. Eles
variam de satélites artificiais que ficaram obsoletos e foram simplesmente
abandonados à deriva no espaço, a lascas de pintura de espaçonaves e
peças que foram descartadas nos procedimentos de decolagem. Todas
elas podem causar danos estruturais nos veículos que desbravam o céu,
mas afora isso elas conspurcam nossa vista desta magnífica maravilha
natural. A difícil observação das estrelas, já prejudicada pela grande
quantidade de luzes artificiais na Terra, torna-se menos nítida por
causa desse lixo. Vale a pena mencionar: o nome adequado para esses
fragmentos é detrito espacial.
Naquele escuro Davi se deixou flutuar nas palavras que até então foram
entoadas. Para o estudante atual, já era mecânico dizer que o homem era
um predador. Isso fundamentava inúmeras teses, que variavam desde
o aquecimento global até as razões filosóficas da violência. Mas eram
impressionantes os dados que ele dava, ele podia exemplificar o que dizia
sem a necessidade de grandes e densas dissertações, parecidas com as que
ele constantemente tinha que ler.
De súbito lhe ocorreu um raciocínio: a imaginação, como disse o professor,
não morria, pois os alunos poderiam imaginar como isso se encaixava
com o que sabiam. E se eles, por exemplo, imaginassem um gráfico que
mostrasse a quantidade de detrito espacial no começo da década de 1950
até os dias atuais, e um gráfico com o aumento da concentração de gasesestufa na atmosfera, no mesmo período. A ciência precisa de mecanismos
para avançar. O pensar, o comparar e o imaginar fazer são clichês para a
tarefa, mesmo assim continuam insubstituíveis, apesar de ser impossível
saber se você está no caminho certo até atingir o produto final.
Então, no escuro da sala Davi decidiu imaginar. Imaginou um astronauta
flutuando alheio na noite do espaço, desolado de qualquer ser humano, nos
destroços de sua bela nave, que tinha acabado de se espatifar contra um
detrito espacial, no caminho para a Lua. Fora atingido por um fragmento
de satélite desativado. O astronauta então pegou seu computador portátil
e esboçou o gráfico que Davi tinha criado. Fez uma cara de desgosto.
34
Uma aventura estava prestes a ser criada para o desbravador quando do
silêncio surgiu uma palavra e lhe rompeu o pensamento:
– Perguntas? Se não houver, eu vou continuar – o professor disse, e
mal terminou a frase, os alunos da primeira fileira levantaram as mãos. Ele
apontou para um e fez sinal para que fosse o primeiro a perguntar.
– Comercialmente o espaço é importante?
– Não só comercialmente, mas em todos os aspectos da economia.
Pense que os governos usam satélites como ferramenta de mapeamento
de terrenos para fins tanto pacíficos, como agricultura e pecuária, quanto
para fins militares, como escolha de locais para batalha. Além disso, lembrese que a globalização em si é a ocupação do espaço. Uma definição para
globalização é o aumento da eficiência e da acessibilidade aos meios de
comunicação de forma que duas pessoas, estejam elas em qualquer parte do
mundo, possam interagir em tempo real. E como isso ocorre? Por meio de
satélites que estão no espaço: celular, internet, basicamente qualquer coisa
atual. Vamos supor que um fenômeno espacial desconhecido pelo homem
destrua tudo que está acima das nuvens permanentemente. A economia
volta para a anterior à da Segunda Guerra, tem-se uma crise financeira
35
incalculável, e sem qualquer precedente histórico, e o pânico e medo
cresceriam rapidamente entre as pessoas, já que elas não conseguiriam falar
umas com as outras para perguntar se estão bem. Sem falar na grande crise
de fome, já que não seria possível o comércio internacional. E por aí vai, eu
só citei alguns dos exemplos principais... Mas de uma forma sintética: sim,
é muito importante para a economia.
– Você disse que tudo tem um objetivo, qual foi o seu ao mostrar aquela
imagem de “lixo voador” e dizer que queria falar de economia? – outra
aluna emendou a pergunta dela.
– Boa pergunta e boa sincronia, já que veio no momento certo, logo
depois da pergunta da sua amiga. Junte a importância do espaço na vida do
homem com a maneira como ele o trata e me faça uma constatação.
– O homem apesar de dominar a ciência age irracionalmente e por causa
disso ele se encaminha à própria destruição, está enfiando a faca no próprio
peito – falou séria, mas com pouca confiança em suas palavras.
– Para fins didáticos essa resposta está corretíssima, só com um detalhe:
a ciência é infinita, ilimitada, eterna. O homem nunca chegará perto de
dominá-la. É pura matemática teórica. Imagine as coisas que se tem para
descobrir como um infinito de livros. Mesmo que você passe toda sua vida,
e que viva 200 anos, lendo dez livros por dia, e que depois de você seus
filhos e netos a substituam do ponto em que parou, e assim sucessivamente
até o fim dos tempos, o último livro jamais será lido. Isso porque sempre
é possível saber mais, sempre é possível dividir uma partícula em partes
menores, sempre é possível ir além no Universo, sempre é possível fazer mais
uma análise, mais uma comparação, mais uma constatação! Nos primeiros
anos do século passado, um físico importantíssimo chamado Lorde Kelvin
disse: “Não há nada de novo a ser descoberto na física agora. Tudo o que
resta são medidas mais e mais precisas”. Depois disso o átomo foi dividido
em próton, nêutron e elétron, foi elaborada a teoria da relatividade de
Einstein, dentre outros cientistas. Mas a sua observação foi muito boa.
Isso tudo não era difícil, nenhum daqueles que escutavam com atenção
sentia dificuldade. Talvez a matéria fosse interessante, ou o professor que
fizesse tudo parecer fácil. Davi aceitava as duas opções. E à sua própria
maneira, ia digerindo a informação que lhe era dada, e assim continuou a
contextualizar a sua história.
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Se ele próprio fosse a personagem, estaria limitado pelo pouco que cada
pessoa sabe de si própria. Já havia estudado alguns clássicos de pensadores
atuais, dentre eles um de seus favoritos era o português José Saramago. E
nele, sua predileção recai sobre o clássico O conto da ilha desconhecida. O livro,
quando abordado pelo sentido literal, denotativo, é uma singela narrativa de
amor; quando interpretado, isto é, abordado pelo sentido conotativo, passa
um complexo conceito da vida. É impossível saber quem realmente somos,
qual é a dimensão e o efeito dos nossos atos tendo apenas o próprio ponto
de vista como referência. Por essa razão, se fosse a personagem e criasse
uma situação em que dissesse que ele faria algo e na vida real fosse fazer
algo diferente, estaria criando uma mentira, mesmo que inconscientemente.
Mas se a personagem tivesse outro nome, além de estar livre de limitações
como o medo e a covardia, poderia fazer o que quisesse sem que fosse uma
mentira. Teria a liberdade da inovação.
Então por que não o fazer? Se não achava resposta, então só lhe restava
escolher o nome. Teria de ser um desbravador, alguém de coragem, então
precisaria de um nome firme, de significado. Um lhe veio à cabeça: chamálo-ia de Vespúcio, em homenagem a Américo. E Vespúcio seria o quê?
Precisava de um sobrenome de peso, intrépido e determinado, que o fizesse
fiel ao que queria, mesmo se não tivesse certeza do que seria. Um interesse
profundo teria ele até o fim. Ironicamente decidiu chamá-lo de Cambará,
por de muitas maneiras se aproximar de Um certo Capitão Rodrigo, da imortal
obra de Érico Veríssimo.
E como seria o traje espacial dele? Branco, como todos os outros? Não!
Absolutamente não! Ele seria diferente, especial, único! Seria azul-marinho
forte, da cor das cortinas que lhe tapavam o sol. Uma proteção inabalável e
constante para aquele astronauta tão só!
No preto céu espacial, aquele ponto azul cintilava. Era da cor das estrelas
mais quentes, daquelas cujo brilho faz o do Sol parecer inexistente! E sua
nave, qual seria? Só poderia ser o veículo que transportou tantos e tantos
sonhadores para fora da atmosfera! A nave que levou homens ao céu tantas
e tantas vezes! Ele dirigiria um ônibus espacial! Mas, infelizmente, ele estava
quebrado, já que a cobiça dos homens, na forma de detrito espacial, entrou
em seu caminho. Um só fragmento o impediu de completar sua missão.
Um fragmento do tamanho de uma bola de tênis, que em alta velocidade
se chocou contra o tanque de combustível, e desta maneira destruiu os
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motores por dentro e explodiu a ponte de comando. Ele, que fora enviado
sozinho, agora realmente estava sozinho. Mas que destino lhe restava? Davi
ainda não sabia, mas logo descobriria, pois o professor que o inspirou
começou a falar:
– Evidentemente, a coisa que mais se percebe no céu noturno são as
estrelas. Elas, que parecem tão pequenas de longe, podem ser verdadeiras
gigantes. A estrela de Alpha Scorpii é a estrela mais brilhante da Constelação
de Escorpião. Ela é cerca de 700 vezes maior que o nosso Sol. Mas à noite
ela se parece com um mero ponto no céu, por que isso acontece? – Ao
fazer a pergunta, um garoto que estava ao lado da porta levantou a mão
para responder:
– Eu acredito que o motivo seja a distância até a Terra.
– Você está correto. A distância entre a Terra e outras estrelas é tão grande
que não é medida em quilômetros, milhas ou dias; a distância é medida em
anos, anos-luz. Isso quer dizer a distância que a luz percorre em um ano
inteiro. São 300 mil quilômetros por segundo, aproximadamente, vezes 60
segundos, vezes 60 minutos, vezes 24 horas, vezes 365 dias e quatro horas!
Isso equivale a aproximadamente 9,46 trilhões de quilômetros. E vocês
sabem quantos anos-luz separam a Terra de Antares? Se não souberem, eu
digo: 600 anos-luz! São distâncias gigantescas, inconcebíveis ao ser humano,
de tão grandes! Dúvidas?
– É possível atingir a velocidade da luz, como se faz nos filmes?
– Velocidade da luz, velocidade de dobra, velocidade burlesca, todas
essas supervelocidades não podem ser atingidas, pelo menos não por nós
seres humanos. A velocidade da luz no vácuo é tão estável, inalterável, que
ela é a constante adotada por Albert Einstein para fazer suas equações. Mas
por que motivo se pensa isso? Luz é energia pura, desprovida de massa.
No espaço ela se movimenta como uma onda eletromagnética, e por não
sofrer nenhum tipo de atrito – vácuo –, ela atinge essa velocidade máxima
universal. É interessante a equação da massa de um corpo em movimento.
Ela mostra bem como não é possível ultrapassar a velocidade da luz. Ela é
assim:
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Para que m seja massa, m0 seja a massa do corpo em repouso, v seja a
velocidade do corpo, e c seja a velocidade da luz. Essa equação é complexa
e vocês não devem compreender seu significado, mas vejam o denominador
do segundo componente. Do ponto de vista matemático, o que vocês sabem
sobre um denominador e sobre raiz quadrada? – Dois alunos do meio da
classe levantaram a mão:
– Por estar na parte de baixo e ser denominador pode ser qualquer coisa,
menos o número 0.
– Por ser uma raiz quadrada, não pode ser um número negativo.
– Isso mesmo. Como vocês podem ver, se v fosse igual a c, então a fração
seria igual a 1, e o denominador seria 0. Impossível. Se v fosse maior que
c, então a conta resultaria em um número negativo, e como não existe raiz
quadrada para um número negativo, também é impossível. Compreendem
por que eu digo que não é possível atingir a velocidade da luz? Não. A
menos que você seja luz.
A menos que você seja luz. Essas palavras surtiram um efeito alucinógeno
sobre Davi. Imaginou uma pessoa feita de luz, composta de estrelas, tão
majestosa em seu brilho. A menos que você seja luz. Seu arder seria sempre
uma forma de ternura, o calor de uma amiga, o fogo de uma amante! A
menos que você seja luz. Mais que um ser humano pode suportar, mas que
um ser humano pode sonhar! A menos que você seja luz. Só concebível na
imaginação, tendo como tempero a proibição, a limitação, que deixam tudo
mais saboroso! A menos que você seja luz.
Então assim segue a aventura de Vespúcio. Como se salvaria o astronauta
que se perdeu no espaço? Perdido talvez fosse exagero, já que ele sabia
onde estava. Entre a Terra e a Lua. Com a nave despedaçada, exceto por
um contêiner que se salvou, e que ele não tinha certeza do que tinha
dentro. E por que não descobrir naquele exato momento? Davi decidiu
que o astronauta seria aventureiro, intrépido, então ele o seria. Abriu o
compartimento de carga, manualmente, no qual todo o espaço era ocupado
por um contêiner. Abriu. Para sua surpresa, dentro dele havia um telescópio.
Um grande telescópio, do tamanho de um carro pequeno. Com ele, seria
possível enxergar qualquer ponto do Universo. Não as estrelas, que estavam
tão próximas que não se fazia necessário um telescópio para enxergá-las,
mas a Terra! Com um telescópio como aqueles, seria possível enxergar
39
qualquer ponto daquele planeta. Com a facilidade de quem levanta uma
colher, levantou aquele mecanismo robusto. Lá onde não havia gravidade,
ele era tão forte quanto um gigante.
Ocorreu a Davi um raciocínio: o quão contraditório é observar a Terra do
céu? A maioria das pessoas que olham para o espaço procurando algo nele,
ou simplesmente admirando-o, sequer pensam que pode haver alguém lá em
cima admirando quem está embaixo. Esse foi o caso. Vespúcio observava
minuciosamente por seu telescópio. Não conseguia focar em nada que lhe
agradasse. Viu alguns golfinhos aproveitando a noite para brincar nas águas
cálidas, viu uma tempestade de areia no deserto, viu muitas luzes, de várias
cidades, que lhe faziam doer os olhos, viu o topo cheio de neve de uma
montanha... Então, viu uma vaca que parecia mugir, uma plantação, decidiu
ele que fosse de milho, e uma menina que na verdade era mulher. Em algum
lugar do mundo, de quase 7 bilhões de habitantes, ele se interessou por um,
apenas. E esse um era ela.
Brincando com as lentes, viu todos os detalhes de sua bela face. Viu
como seus olhos se fechavam ao piscar, como respirava suavemente, como
admirava as estrelas sentada naquela grande planície verde, como a brisa
lhe acariava todo o corpo. Imaginou-a rindo, enquanto corria livre por
aqueles campos, fazendo os cabelos tão pretos que pareciam um pedaço do
espaço roubado para enfeitar um ser humano que brincava com o vento. E
aqueles olhos castanhos! Lembravam-no a cor da mais pura terra, faziamno recordar de minerais, rochas... Eram da cor de um canyon. E sua pele era
branca, rosada e delicada como o mais puro alabastro! Tão rara beleza faziao recordar aquele planeta, por que não chamá-la de Gaia? Sim, Vespúcio a
chamaria de Gaia. Voltaria à Terra para poder dizer a ela o que sentia, como
a viu observando as estrelas e se perguntou: será que ela sabe que estou
aqui? Será que ao admirar e sonhar com estes corpos celestes que tanto
brilham, ela sonha e pensa em mim? Quantas dúvidas o invadiam, mas lhe
davam uma certeza: voltaria são àquele planeta.
– E é por isso que não se pode escapar do interior de um buraco negro,
compreenderam por que ele não respeita as leis da física que usamos
tradicionalmente? – Falou alto para que todos respondessem. Davi tinha se
deixado levar e perdeu uma explicação que poderia ter sido interessantíssima,
mas valeu a pena, sim, valeu! Mas não emudeceu ante a pergunta, apesar do
susto, respondeu mecanicamente junto com os outros:
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– Sim!
– Muito bem – fez uma pausa longa para recuperar o fôlego e continuou.
– Essa foi a primeira parte da palestra. A segunda está relacionada a um
ponto que eu acho muito mais interessante: o espaço, o homem e o sonho.
Entender os seres humanos pode ser mais difícil do que parece. – Fez mais
uma pausa, desta vez não tão longa. Desde antes da Antiguidade Clássica,
desde antes de o ser humano ser Homo sapiens, latim para homem sábio,
embora muitas vezes isso soe irônico, os nossos primeiros ancestrais já
olhavam para as estrelas. O Australopithecus já devia se perguntar: o que são
esses pontinhos brancos que iluminam o céu à noite? E depois o Homo
erectus, o Homo habilis, e sucessivamente até o homem moderno. Sempre foi
um sonho chegar ao céu. Os filósofos tentavam explicar o mundo usando o
céu como alegoria. A matemática surgiu ligada ao movimento dos astros e
seus estudos. Vocês sabem que por muito tempo se acreditou que o planeta
e tudo nele era composto por quatro elementos: água, fogo, terra e ar?
Mesmo assim, existia mais um elemento, o quinto elemento: o éter. Dele
seria feito tudo além da Terra. Seria um elemento perfeito, de que seria
feita toda a perfeição do espaço. O espaço sempre foi visto com um ar de
inalcançável. Talvez porque o próprio paraíso estivesse no céu, sempre foi
uma tentação se aproximar dele. Significaria se aproximar do próprio Deus,
não importa a cultura. Na China antiga, um homem falou que conseguiria
chegar ao espaço se prendessem fogos de artifício em uma cadeira, então ele
subiria até o espaço. Podemos ver esse desejo na proximidade de algumas
datas... – parou quando uma aluna da primeira fileira levantou a mão:
– Proximidade? Você falou da Antiguidade Clássica, da China Antiga,
de antes de o ser humano existir. Como você fala de proximidade? Sua
pergunta refletia a dúvida de muitos, que demonstraram alívio em não ter
que fazer a pergunta e correr o risco de fazer papel de bobo.
– A humanidade, na minha opinião, passou muitos séculos sem grandes
avanços científicos no Ocidente. Mas eu não vou entrar em detalhes. De
qualquer forma, prestem atenção. Em 17 de dezembro de 1903, os irmãos
Wright, dois americanos, voaram pela primeira vez com um objeto mais
pesado que o ar. Ainda não era um avião, já que não decolava sozinho,
precisava de uma catapulta para impulsioná-lo. Mesmo assim, eles são
conhecidos na maioria dos países, erroneamente, como os pais da aviação.
Em 23 de outubro de 1906, um brasileiro chamado Santos Dumont
41
apresentou uma máquina voadora mais pesada que o ar e que voava
sozinha. Infelizmente, os únicos países que o reconhecem como pai da
aviação, inventor do primeiro avião, são o Brasil e a França, e alguns poucos
outros.
– Então quem você acha que é o verdadeiro pai da aviação? – Uma aluna
perguntou.
– Na minha opinião, o inventor do primeiro avião é Santos Dumont,
embora os irmãos Wright tenham inventado uma máquina de voar mais
pesada que o ar. Mas um avião decola sozinho, e só a máquina de Dumont
satisfazia esse aspecto.
– Continuando, na Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914
já tinha uma esquadrilha aérea de ambos os lados. Em 1947, apenas dois
anos do fim da Segunda Guerra, o homem quebrou a barreira do som. E
em 1969, 22 anos depois da quebra tripulada da barreira do som, e apenas
a 61 anos do primeiro voo de avião, o homem chegou à Lua. Estou falando
de uma viagem de 384 mil quilômetros. A luz leva 1,28 s para percorrer
essa distância. Aqui está uma foto da insígnia da Apolo 11 – e colocou uma
imagem no projetor.
– Percebam que a águia representa os EUA, isso ajuda a ilustrar o que
acontecia no mundo naquela época. Alguém sabe qual era o contexto da
viagem espacial?
– Guerra Fria, e os EUA estavam perdendo. O primeiro homem a chegar
ao espaço foi um russo, Yuri Gagarian – respondeu a aluna da primeira
fileira.
42
– Não só isso. O primeiro ser vivo a pisar a Lua foi a cadela Laika, e o
primeiro satélite a orbitar a Terra foi o Sputnik. Esse último está na sede da
ONU em Nova Iorque. A corrida espacial era uma competição não entre
esses dois países, mas uma verdadeira competição entre a democracia e
o comunismo. Por isso esses avanços numa velocidade tão inacreditável.
Sobre-humana, absurda. Sessenta anos! Imaginem uma criança que nasceu
em 1900. Ela ouviu até os seis anos que era impossível voar contra o vento,
e que só era possível voar com algo mais pesado que o ar. Ela viveu sua vida
vendo todos os avanços da indústria e da tecnologia, e aos 70 anos viu algo
inconcebível: o homem chegar à Lua.
Sua história era quase fictícia, mas tinha acontecido. O céu fazia os
homens superarem as barreiras do tempo, os limites. Então esses limites
para sempre foram quebrados, quando Vespúcio olhou para além-Lua
e viu algo inconcebível. Olhou para a Constelação de Virgem, tão bela.
Filha do céu e rainha das estrelas. Sua beleza estática era inalcançável pelos
humanos. De estrelas era ela. Inalcançável. Mas inacreditável foi o que
aconteceu. À sua frente se consolidou a Constelação de Virgem na forma
de mulher. Com olhos azuis, puros como a água que antecedia a vida na
Terra. Olhos tão profundos, que se poderia afundar e se perder neles para
todo o sempre, sem se dar conta disso. Olhos quentes que queimam como
sua pele faziam-no vislumbrar as ondas espaciais que percorrem o espaço
de forma uniforme, perfeita. Era quase pálida, com aquele branco em que
resultava o espectro das cores. Mas seus lábios eram vermelhos como a
explosão de mil sóis. Sua beleza estava contida no formato de sua face.
A perfeição do espaço a fazia feita de diversos círculos. Suas bochechas
eram redondas, sua face, seus olhos, todos os detalhes, até os lóbulos das
orelhas eram desconcertantemente redondos. Não era elíptica, era circular,
a forma mais perfeita de todas. Da perfeição surgiu a mulher perfeita, e
isso era evidente. Seus cabelos eram tecidos da órbita de quase infinitas
estrelas, das mais diversas cores. Cada fio era de uma magnitude maior que
ele jamais conseguiria conceber. Com ela veio uma cálida sensação, como se
o vácuo se aquecesse. E foi o que aconteceu, envolta no gás ardente de sua
combustão. Por isso, pôde ouvi-la quando ela sussurrou:
– Faz muito tempo que eu o observava, enquanto flutuava a esmo no
começo do infinito. A Terra é, e já foi, o porto de muitos navegantes. Na
eternidade em que vivi, nunca vi nenhum que mais me interessou do que
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você. Perante o infinito não se assustou, não entrou em pânico, começou
a amar alguém que desconhecia... Sua força é imensa para um ser de carne,
mas é a consciência de que jamais se livrará completamente de seus erros
que me atrai.
– Erros são parte dos seres humanos. Como nós os encaramos diz
muito sobre nós mesmos. Eu vejo o erro como a prova de que não sou
perfeito, e que não sou como você. Sou apenas um ser, um ser humano.
– Por não ser imperfeito, você tem uma habilidade que eu jamais terei.
Você pode evoluir, melhorar. Se eu te estender a mão, e você agarrá-la,
será saciado de conhecimento, com tudo que jamais pensou em saber. Eu
posso satisfazer sua sede, basta que me dê um beijo. A morte não se aplica
a mim, e também não se aplicará a você. É fácil.
Aquelas palavras fizeram com que pensasse. Com um beijo, seria
dotado da sabedoria necessária para fazer o que quisesse, inclusive voltar
à Terra. Um beijo naquele fruto perfeito que ela era, para poder ter tudo.
Como queria! Mas será que devia? Será que era certo receber tudo tão
facilmente? Sem trabalho duro, não seria correto receber tanta sabedoria.
E o mais importante: se a beijasse, não estaria traindo sua amada Gaia,
embora desconhecida? Que dilema!
– O homem é o animal que mais avançou tecnologicamente. Por
quê? Tecnologia é uma extensão do erro. Tecnologia facilita, torna mais
fácil de fazer, e torna os resultados melhores. O erro faz de nós seres
humanos, e não deuses. Apesar disso, procuramos a sabedoria necessária
para melhorar até o limite. Mas vocês precisam saber de uma coisa: sem
trabalho, conhecimento não vale a pena. Informação é como se fosse uma
máquina, um carro. Você pode usá-lo para levar um ferido para um hospital,
ou para atropelar alguém. Você decide. O trabalho nos faz pensar, nos faz
medir o peso, o valor do nosso conhecimento. Sem trabalhar para chegar
em algum lugar, nós inevitavelmente usaremos mal o conhecimento. Não
porque somos maus, mas porque perdemos a noção desses valores – falou
o professor.
Isso dizia a Davi como Vespúcio deveria agir. Sabia o que ele deveria
fazer. O que é certo deveria passar o que é fácil. Não que não cobiçasse o
que lhe era oferecido. Cobiçava, e muito. Mas sabia que não deveria tomálo daquela maneira.
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– Queria poder te amar, mas não posso. Sua perfeição é tamanha que só
me atrevo a roubar um pedaço mínimo dela depois de muito esforço, já que
é esse esforço que me fará saber usá-la. Só quero voltar à Terra, para, mais
uma vez, poder correr livre sob o céu estrelado.
– Eu sou o céu estrelado. Você pode ter minha sabedoria, ver o que já
vi, mas não quer.
– Quero, mas não devo, já lhe disse o porquê. Mas lhe pergunto: se o
fizesse, se tudo descobrisse, qual seria a graça em viver? Se tudo soubesse,
o que me restaria? Não teria nunca mais a alegria de descobrir, o prazer de
tentar desvendar uma charada ou de tentar solucionar uma pergunta. Já
me disseram que os deuses gregos invejavam os humanos, já que, para os
mortais, todo o prazer era mais bem aproveitado, uma vez que poderia ser
o último. Não acredito que você me inveje, de forma alguma. Mas eu não
posso perder esse não-saber, essa dúvida de não saber quando a morte chega.
Ao contrário de você, não consigo sequer vislumbrar a eternidade, que dirá
sonhar em vivê-la, presenciá-la. É demais para mim – disse convicto, mas
com um ar de infelicidade.
– Então que o seja! Se posso convencê-lo a me acompanhar, não o
deixarei sofrer. Posso te ajudar a voltar à Terra. Gostaria?
– Mais que tudo! Mas como fará? Como consertará minha nave espacial,
sem peças?
– Quem te disse que preciso consertar sua nave para fazer você voltar
à Terra? Apenas relaxe, não fique tenso e confie em mim. Com as duas
mãos ela alisou seus cabelos e retirou deles um grão, do tamanho de uma
semente, e foi na direção de Vespúcio. Com aquela pequena pedra na ponta
do indicador, ela pousou a mão em seu capacete.
– Eu não sei o que você está fazendo, mas confio em você. Obrigado
– disse, sentindo um grande prazer, um grande alívio. O mero aproximar-se
daquele ser tão absoluto o fazia se sentir um ser humano melhor. Estranho
como um ser que disse não poder evoluir, ser capaz de transformar os
outros para melhor, apenas se aproximando deles.
– Adeus!
E aquela pedra começou a crescer, a envolvê-lo, cobri-lo completamente.
Quando estava preso em seu interior, sentiu-se seguro, a salvo. Sentiu que
ela começou a se mover. E se alguém visse de longe, veria aquela pedra
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gigante descer veloz a atmosfera. Veria Vespúcio se transformar em uma
estrela cadente, que desceu até a Terra suavemente. Veria que, ao aterrissar,
a pedra se desfez e dela saiu um homem, que largou seu traje e correu
livre, para ver a alvorada que se anunciava. E assim, Vespúcio Cambará se
salvou e terminou sua aventura. Vespúcio fechou os olhos e sentiu o vento
acariciá-lo. Sabia que tinha feito a coisa certa. Por isso foi tomado por uma
sensação de bem-estar, leveza. Só lhe restava achar a amada e assim o faria.
Não importando onde estivesse, ele acharia Gaia e lhe narraria sua história.
Ela o amaria, do jeito como ele a amava.
– Espero que hoje vocês tenham aprendido alguma coisa, sinceramente.
Eu fiz meu máximo, espero que vocês tenham feito sua parte. Gostei da
aula – falou o professor. – Até algum dia. – Ele abriu as janelas, iluminando
a sala, e foi embora, sorrateiro como entrou. O sol brilhava. E brilhava
como nunca brilhou antes. Isso porque estava a pino, no clímax. E nesse
momento, Davi se deixou sentir Vespúcio. Sentado em sua cadeira, sorriu.
Aquele sol quente nunca foi tão agradável.
Post-scriptum
Depois de escrever tantas páginas, o leitor já sabe o que pensa aquele
que escreve. É puramente efêmero salientar novamente o que já foi dito. Só
resta, então, fazer uma abordagem diferente.
O homem por muito tempo sonhou em poder criar, inventar, propor,
e não ser punido por isso. Durante esse período, a ignorância instalou-se
sobre a humanidade. O homem tinha que sonhar escondido. Séculos depois
de conseguir a tão sonhada liberdade de expor, consequências de seu mau
uso passam a destruir a maior fonte de inspiração de todos os tempos: o
próprio céu.
A imaginação deve caminhar junto à razão, pois o que hoje é realidade
um dia já foi menos que sonho, já foi loucura, delírio. Hoje nos regozijamos
do que já foi impensável, e querem literalmente destruir o pensamento. Ser
passivo nesse massacre é um ato contra o racionalismo, contra o fabuloso,
contra o céu.
É importante agir, para que a interação entre o sonho e o real seja
saudável. Só assim os resultados serão produtivos. Defender o espaço
sideral é lutar por essa causa. O espaço é a mais bela face que já se voltou
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para a Terra, temos que garantir que ela para sempre continue sussurrando
as mais belas façanhas a nós, meros humanos. Temos que agir. Temos que
proteger o céu. Isso não pode ser um sonho.
Referências Bibliográficas
MING DYNASTY ASTRONAUT. Mythbusters: os caçadores de
mito. Discovery Channel, 5 de dezembro de 2004.
WIKIPÉDIA, Vários colaboradores. Ano-luz. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ano-luz>.
Fontes Consultadas
Imagem do ônibus espacial. Disponível em:
<https://meyhya.bay.livefilestore.com/
y1mr9Oz3TWANHo17XY3EtfCBoX0wJm0tW7Qd2bdx0mf_
j72Bi01mtCIh65R0bc5IMEHKDFtEZRCCXFyY4ut_NHYuwmCc
MOlO47faG7erSO99tpt4ycL1ApGRTke-a4b8HM12DDhOATQp0/
Discovery2%5B6%5D.jpg>
Logo Apollo 11. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/d/d4/Apollo11_LOGO.JPG>
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2º Lugar
Uma viagem sobre a cauda
de um cometa
Estudante: Marcos Felipe Pinheiro, 18 anos, 3º ano do ensino médio
Professora-orientadora : Márcia Regina Cazonato Lozano
Escola Estadual Padre Orestes Ladeira - Conchal, SP
Meu nome é Felipe e vou contar uma incrível aventura que tive quando
era pequeno. Desde criança eu sempre me interessei pelos segredos do
Universo, pelas estrelas, pelos cometas, pelo Sol e pelas infinitas entranhas
desse enigma de tamanho indeterminado, supremo.
Muitas vezes eu perguntava à minha mãe o que havia fora da Terra, por
que existiam todos aqueles pontinhos brilhantes naquele fundo negro, o
que eram aqueles riscos repentinos que se esvaeciam tão rapidamente. Para
não me deixar sem resposta, ela sempre tinha uma história na ponta da
língua.
Segundo ela, o que havia fora do nosso planeta eram vários guardiões
que protegiam a Terra de invasões, os pontinhos brilhantes eram os olhos
de cada um desses guardiões que não deixavam nenhum momento de nos
vigiar e, por fim, os riscos repentinos no céu eram estrelas-cadentes. “Essa
– dizia minha mãe – é capaz de realizar qualquer desejo de quem a vir
cruzar o céu em uma noite de verão”.
Naquela época eu tinha apenas oito anos e fiquei encantado com a
estrela-cadente. Toda noite de verão em que perdia o sono, olhava da janela
do meu quarto procurando encontrar essa ligeira realizadora de desejos.
Como tudo na vida tem a sua primeira vez, a noite mágica aconteceu. Foi
bem no dia do meu 12° aniversário, quando, à noite, eu e mais três amigos
(Marcelo, Thainá e Priscila) resolvemos brincar de acampar. Tivemos essa
ideia porque estávamos no sítio de meu avô, e lá espaço era o que não
faltava.
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Naquela noite, um desses amigos, o Marcelo, resolveu brincar de contar
as estrelas. Apesar de a brincadeira ser maluca, formamos uma roda e
começamos. Eram tantos pontos que meus olhos ardiam de tanto ficar
olhando somente para o céu. Em determinado momento, minha atenção
foi desviada para outro canto do céu. Algo brilhou mais forte naquele canto.
Na hora não tive nenhuma dúvida, era a estrela que tanto procurava.
Logo fiz um pedido e em seguida ela sumiu. Fechei os olhos para lubrificálos, e quando os abri novamente percebi que meus amigos continuavam na
incessante contagem.
Quando terminamos a brincadeira, Marcelo já somava mais de 500
estrelas, Thainá já havia passado das 300, e a Priscila dizia estar na casa das
800. Resolvi nem contar o que havia visto e inventei que tinha contado 957
estrelas.
Já estávamos com sono e resolvemos nos deitar. No meio da noite,
fomos acordados com um barulho estrondoso perto de nossa barraca.
Saímos para ver o que era e nos deparamos com um grande rastro no chão
e uma grande cortina de poeira.
Seguimos o rastro e chegamos até uma enorme pedra. Parecia que aquela
coisa tinha caído do céu.
Sem palavras para conversar sobre aquilo, ficamos observando-a durante
um longo tempo. De repente a pedra se mexeu e, como se fosse uma chama,
acendeu-se em uma parte formando uma espécie de cauda. Corremos para
a barraca e ficamos um olhando para o outro sem dizer uma palavra.
Novamente fez-se um barulho, dessa vez, bem menos intenso. Colocamos
a cabeça pra fora e vimos que a pedra vinha em nossa direção. Voltamos
pra dentro rapidamente e pudemos ver a pedra planando no ar e, de certa
forma, olhando em nossa direção.
Pensando que já tinham acontecido coisas estranhas demais só pra uma
noite, nossa surpresa foi novamente provocada quando a pedra falou. Falou,
e em voz clara:
– Olá, crianças. Vejo que minha aterrissagem não foi tão boa.
Não tínhamos nem o que falar. Continuamos a olhar para aquela pedra
falante e assustadora, sem piscarmos nem um os nossos olhos.
50
Fez-se uma pausa um pouco longa e depois novamente a pedra
resmungou:
– Oras, mas por que estão com essas caras de espanto? Não foram vocês
que desejaram a uma estrela-cadente poder visitar o espaço?
Naquele momento todos nós olhamos um para o outro, e de cara
percebemos que na hora da brincadeira todos haviam visto a estrela
cruzando o céu e, pelo jeito, todos fizeram o mesmo pedido.
Para quebrar aquele gelo, respondi à pergunta daquela pedra:
– Olá, senhor Pedra. Estamos assustados porque nunca tínhamos visto
uma coisa tão estranha como o senhor... E sim, fomos nós quem fizemos o
desejo de visitar o espaço.
A pedra continuou a olhar porém, agora tinha os olhos fixos em mim.
Não demorou muito e logo respondeu:
– Meu nome não é senhor Pedra. E também não sou uma pedra. Chamome Halley e sou um cometa. Um dos mais famosos cometas de todo o
Universo. Vim até aqui para levá-los a descobrirem uma estrada mágica e
deslumbrante. Vou mostrar a vocês um mundo novo. Irão conhecer estrelas,
planetas, meteoros e outras infinitas coisas que existem pelo espaço.
Novamente nossa voz se foi. Permanecemos a olhar para aquele que agora
era Halley, o cometa. Não sabíamos o que dizer. O convite que recebemos
era muito atraente, mas não tínhamos nem palavras para responder.
Os segundos que se passaram pareciam intermináveis. O silêncio havia
tomado conta daquele momento. Eu já não iria mais falar nada. O cometa
estava imóvel esperando alguém dizer algo. Até que, finalmente, uma voz se
fez ouvir. Era a voz de Thainá:
– Se o senhor veio até aqui para nos buscar... Então vamos logo embora.
Não vejo a hora de conhecer todos os...
Dessa vez outra voz se fez maior, interrompendo o que Thainá estava
dizendo. Era Priscila que dizia:
– Como é que iremos sem termos uma nave para ficarmos dentro dela
e poder respirar?
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– Vocês não precisarão de ar. Ao chegarmos perto das nuvens todo o
Universo conspirará sobre vocês, dando o poder de não precisarem de ar
para respirar.
– Nossa! Que máximo! – disse Marcelo, todo ofegante.
– Então é bom vocês pegarem uma mochila e colocarem muita água e
alimentos, pois a viagem vai ser bem longa.
Sem mais delongas fomos correndo fazer nossa bagagem. Colocamos
de tudo nas mochilas. Coloquei, também, uma luneta para poder observar
melhor a paisagem lá de cima.
Halley nos deu as instruções para montarmos em sua cauda e, após todos
estarem prontos, decolamos em alta velocidade em direção às estrelas.
O vento frio batia em nossa face. O chão que víamos agora lá de cima
era ínfimo, comparado a nós. Parecia que naquele momento não existiam
mais fronteiras para cruzarmos. Éramos gigantes agora. Tínhamos todo o
poder em nossas mãos.
Já havíamos passado pelas nuvens e agora nos aproximávamos da camada
atmosférica. Halley começou uma contagem regressiva, a partir do dez.
Todos juntos gritavam:
– Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois... nesse momento
chegamos ao lugar que todos conhecem por Espaço.
Percebi logo que lá não havia ar. O único vento era por causa da grande
velocidade em que Halley viajava. Dava pra ver os cabelos da Thainá e da
Priscila se mexerem.
– Aqui estamos nós! – resmungou Halley – Digam-me agora... onde
querem ir primeiro?
Trocamos olhares e caretas. Se havia um lugar que todos nós gostaríamos
de conhecer, com certeza era a Lua.
– Queremos pisar na Lua – foi Marcelo que respondeu por todos.
– OK! Ótimo pedido! – disse Halley – Então, marujos, segurem firme!
Halley foi a uma velocidade incrível. Não demorou muito e logo
pousamos no solo lunar. Era impressionante caminhar sobre a Lua. Parecia
que estávamos flutuando.
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De repente Thainá deu um grito que assustou a todos. O motivo de
tanta euforia era uma bandeira que estava cravada num canto ali perto.
Era a bandeira norte-americana.
– Vejam! – dizia Thainá – Essa bandeira foi colocada aqui em 1969
pela equipe de astronautas formada por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e
Michael Collins, que pilotavam a Apollo XI. Quando eles estiveram aqui
em 20 de julho de 1969, cerca de 1 bilhão de pessoas assistiam ao vivo
pela televisão o momento em que Neil Armstrong pisava na Lua e dizia
a frase mais conhecida das viagens espaciais: “Um pequeno passo para o
homem, um grande salto para a humanidade”.
– Nossa! – murmurou Priscila – Então já faz 40 anos desde que o
primeiro homem pisou na Lua?
– Isso mesmo! – concordou Thainá – E a viagem de ida e volta da
Apollo XI levou oito dias e três horas.
– Exatamente, Thainá – dizia Halley. – Os humanos foram muito
audaciosos naquela perigosa missão. Tentem imaginar: daqui da Lua até a
Terra são aproximadamente 384.400 km de distância.
– Meu professor de física explicou para a minha sala, uma vez, que
quando a nave Apollo XI estava fora da órbita terrestre, ela passou a se
mover por inércia, ou seja, o motor só era acionado para grandes correções
de trajetória – era Marcelo que estava falando.
– É verdade! – confirmei – E foi através dos estudos de cientistas como
Galileu Galilei que o homem seguiu sua viagem direcionado por uma das
leis mais famosas que Galileu propôs: a “Lei da Inércia”. Segundo essa lei,
“um objeto em movimento segue sua trajetória eternamente, desde que
nenhuma outra força atue sobre ele”.
– Muito bem, crianças. – disse Halley. – Vejo que quando o assunto é
sobre a Lua, vocês são nota 10. Então, que tal se formos para outro lugar
agora?
Respondemos juntos:
– Sim!
– Para onde querem ir?
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Priscila se colocou à frente para responder:
– Para Vênus!
– OK! – respondeu Halley – Mas lembrem-se que vocês terão que estar
protegidos, pois lá a temperatura é muito alta, por volta de 470° dia e noite.
E se não fosse comigo, essa viagem iria demorar cerca de cinco meses.
– E como iremos nos proteger? – perguntou Priscila.
– Pode deixar comigo! – interveio Halley – Vocês estarão sob a minha
camuflagem – fez uma pausa – Estão prontos?
– Não, não! – gritava Marcelo.
– O que foi? – perguntei.
– Tenho uma coisa para deixar aqui na Lua antes de partimos.
– Mas o que é? – perguntou Thainá.
– É isto!
Marcelo agora tirava algo de sua mochila.
– Quero colocar essa pequena bandeira do Brasil aqui para deixar a nossa
marca em solo lunar.
– Nossa! – dizia surpresa Thainá – Mas eu nem sabia que você tinha
pegado ela.
– Eu peguei sem vocês terem visto.
Depois que ele terminou de colocar a bandeira do jeito que queria,
Halley perguntou:
– Prontos, agora?
– Sim! – respondemos.
Partimos em direção a Vênus. Chegamos lá em menos de dez minutos.
Halley nos contou que a atmosfera de Vênus é composta de 96% de
dióxido de carbono, 3% de nitrogênio e traços de oxigênio, e que o efeito
estufa torna a temperatura média mais alta que a de Mercúrio, o planeta
mais próximo do Sol.
– Nossa! – murmurou Marcelo – Aqui é um lugar muito ruim para
viver.
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– Você quer dizer inóspito – disse Halley.
Estávamos todos impressionados com aquele ambiente de Vênus.
– Vocês sabiam que Vênus pode ser visto tanto de dia como à noite em
solo terrestre? – murmurou Priscila – Sendo assim, ele é um dos dois únicos
corpos celestes que podem ser vistos tanto de dia quanto de noite. Sabem
qual é o outro?
– A Lua! – respondemos quase que simultaneamente.
– Exatamente! – concordou Priscila, toda entusiasmada.
Todos ali estavam cheios de perguntas e de comentários para fazer
sobre Vênus. E houve um momento em que Marcelo, agachado, começou
a falar:
– Lembro-me agora que um dia minha professora de geografia me
contou que a superfície de Vênus é praticamente constituída de basalto
recentemente solidificado. É claro que ela disse “recentemente” em termos
geológicos. Disse, também, que o interior desse planeta é provavelmente
similar ao da Terra: um núcleo de ferro de 3 mil km de raio, com um manto
rochoso que forma a maior parte dele. Além disso, Vênus não tem placas
tectônicas móveis como o nosso planeta; porém, em seu lugar, se produzem
massivas erupções vulcânicas que inundam a sua superfície com lava fresca,
ou seja, Vênus está vulcanicamente ativo.
As afirmações de Marcelo deixaram todos com um ar de espanto. Parecia
que naquele momento estávamos todos com medo de ficar em Vênus por
mais tempo.
– Pessoal! – disse Priscila – Que tal se agora formos visitar outro lugar?
Acho que já ficamos aqui tempo demais.
Quando ela terminou de falar, o chão começou a tremer, tremia de
uma maneira tão estranha que nos dava muito medo. Halley falou para
subirmos novamente em sua cauda. Fizemos isso e Halley decolou a toda
velocidade.
Olhando para baixo podíamos ver uma nuvem de poeira se levantar e,
possivelmente, junto com ela muita lava era expelida pelo solo do planeta.
Já no espaço novamente, Halley nos perguntou onde gostaríamos de ir
agora.
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– Vamos para Marte – implorou Thainá.
Concordamos com ela e partimos em direção a Marte.
No meio do trajeto Halley nos contou que a atmosfera de Marte é
bem parecida com a de Vênus. Sendo 95% de dióxido de carbono, 3% de
nitrogênio e 0,13% de oxigênio. Contou também que em Marte há violentas
tempestades de areia, que podem cobrir o planeta durante meses.
Aproximando-nos do planeta vermelho, como é conhecido, Halley
notou que a aterrissagem seria muito arriscada, pois naquele momento uma
grande tempestade de areia estava acontecendo.
Tristes com a notícia, tivemos que dar meia volta.
– Para onde iremos agora? – perguntei.
– Bom – interveio Marcelo – não podemos ir para outros planetas.
Afinal, os demais são todos gasosos, sem possibilidade de pouso.
– Que pena! – resmungou Priscila – O que iremos fazer agora?
– Não precisam desanimar – acudiu Halley. – Se não podemos pousar
em outros planetas, iremos, pelo menos, passar perto deles.
– Oba! – disse eufórica Thainá.
– Bom... – Halley começou a falar – já que estamos aqui próximos de
Marte, vamos deixar de ir a Mercúrio e vamos fazer o trajeto passando por
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e, por fim, Plutão.
Partimos rumo a Júpiter. No caminho fomos discutindo sobre as
magnitudes existentes no Universo. Eu contei sobre as galáxias, que assim
como à qual pertence o nosso Sistema Solar, existiam outras, como a de
Nuvens de Magalhães, que recebeu esse nome devido ao português Fernão
de Magalhães, que navegava orientado por borrões no céu que, até 1920,
eram catalogados como nebulosas. Foi quando se descobriu que esses
objetos difusos eram galáxias, com bilhões de estrelas girando ao redor
de um centro comum. Lembrei a eles que o nome da nossa galáxia é Via
Láctea, ou seja, Caminho do Leite, que recebeu esse nome pela listra branca
que se forma no céu.
Priscila falou sobre os satélites naturais de Júpiter, dos quais quatro, entre
os 63 que o planeta possui, foram descobertos por Galileu Galilei em 1610:
os satélites Io, Europa, Ganimedes, Calisto.
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Marcelo, por sua vez, contou que em 1977 as sondas Voyager I e II
revelaram os anéis em Júpiter e luas em Saturno. Em Netuno, mediram
ventos de 1.400 km/h, cuja força é três vezes superior à do mais devastador
furacão terrestre.
Já havíamos percorrido quase todo o diâmetro de Júpiter e estávamos
nos preparando para chegar a Saturno.
Na opinião da Priscila, Saturno é o planeta mais belo depois da Terra,
pois ele possui enormes anéis ao seu redor.
– Sabem de uma coisa...? – dizia ela – Saturno é o planeta de menor
densidade do Sistema Solar, tanto que se existisse um oceano grande o
bastante, ele flutuaria nele. Seu sistema de anéis é o único visível da Terra. O
primeiro a observar esse agrupamento de milhões de partículas foi Galileu
Galilei.
– Muito bem, Priscila! – acrescentou Halley – E vocês sabiam que em
1997 a Agência Espacial Europeia e a Nasa lançaram a sonda CassiniHuygen? Essa sonda orbita Saturno e suas luas há cinco anos, e descobriu
que seus anéis são formados essencialmente por uma mistura de poeiras,
material rochoso e fragmentos de gelo, alguns do tamanho de uma casa.
– Nossa! – murmurei – Isso é incrível!
– É mesmo! – acrescentou Marcelo.
Continuamos a viagem passando agora por Urano.
Thainá era a que mais conhecia sobre esse planeta. Ela disse que sua
atmosfera é composta basicamente de 83% de hidrogênio, 15% de hélio e
2% de metano; e possui 27 satélites naturais.
Halley acrescentou que Urano também possui anéis.
– Ele tem nove anéis que foram descobertos em 1977 – disse Halley.
Seguindo o trajeto, agora em direção a Netuno.
Netuno parecia muito com Urano.
– Vocês sabiam – começou a contar Marcelo – que Netuno foi descoberto
por uma previsão matemática, em vez de uma observação empírica?
Inesperadas mudanças na órbita de Urano levaram os astrônomos a deduzir
que sua órbita estava sujeita à perturbação gravitacional por um planeta
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desconhecido. Subsequentemente, Netuno foi encontrado a um grau da
posição prevista. A sua maior lua, Tritão, foi descoberta pouco tempo
depois, mas nenhuma das outras 12 luas do planeta foram descobertas antes
do século XX. Netuno foi visitado por uma única nave espacial, a Voyager
II, que voou pelo planeta em 25 de agosto de 1989.
Netuno é o oitavo planeta do Sistema Solar e último em ordem de
afastamento a partir do Sol, desde a reclassificação de Plutão para a categoria
de planeta-anão.
Faltava para nós somente passar por Plutão. Suas temperaturas chegam
a – 240 °C.
– Até 2015 – começei a falar – a sonda New Horizons, que já passou
por Júpiter – de onde transmitiu informações inéditas, como detalhes sobre
suas nuvens de amônia – irá chegar a Plutão. Ela vai analisar a atmosfera
plutoniana, que deve conter nitrogênio, monóxido de carbono e metano,
mas nada de oxigênio. Pesquisará, também, as três luas que ele possui.
– Bom, galera! – disse Halley – nossa viagem parece que está terminando.
Já visitamos a Lua, Vênus, Marte, passamos por Júpiter, Saturno, Urano,
Netuno e Plutão. Só não passamos por Mercúrio, que também faz parte do
nosso Sistema Solar e é o planeta mais próximo do Sol.
– Ah! – interveio Priscila – Mas já vamos voltar pra casa?
– Eu também queria ficar um pouco mais – acrescentou Thainá.
– Sabe, Halley – começou Marcelo – você não nos contou a sua história.
O que você faz pelo espaço, quem deu esse nome a você. Queremos saber
sobre você também.
Ficamos todos a olhar para aquele cometa que parecia agora todo
encabulado.
– Tudo bem! Vou contar a vocês minha história. Como sabem, sou um
cometa. Nós, os cometas, nos locomovemos a mais de 1 milhão de km/h
e, portanto, não dá para vocês humanos nos diferenciar de uma estrela a
olho nu. Passamos muito longe da Terra e, para marcarem nossas mudanças
de posições, só nos observando diariamente. Assim como os planetas, os
cometas também giram ao redor do Sol, isso foi descoberto pelo cientista
Edmund Halley, que propôs um período de 76 anos para a órbita completa
de um desses cometas.
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Perguntamos juntos:
– Você?
– Exatamente.
– Espere um pouco – interveio Priscila – se o seu nome é Halley, e o
cientista que propôs o seu período de órbita foi Edmund Halley... Então foi
ele quem deu esse nome a você?
– Isso mesmo! – concordou Halley.
– Nossa! – resmunguei – Eu também quero dar o meu nome a um
cometa.
Rimos todos do meu comentário.
– Quem sabe um dia você não consiga esse feito? – Observou Halley.
– E eu quero dar o meu nome a um planeta – arquejou Marcelo.
– Eu vou dar o meu nome a uma estrela – disse Priscila. – E eu quero
que seja uma tão brilhante como a Alfa Centauro, que é a terceira mais
brilhante no céu do hemisfério sul, cuja luz demora quase cinco anos para
chegar até a Terra.
– Legal! – comentou Halley.
– Já que todos irão dar o seu nome a um corpo celeste do Universo, eu
também quero nomear um – começou Thainá. – Vou dar o meu nome a
uma galáxia. Afinal, em 1920 Edwin Hubble descobriu que as galáxias mais
distantes da nossa se afastam mais rápido e propôs que o Universo está se
expandindo.
– Muito bem, crianças – disse Halley. – Já que estão tão dispostos a
darem seus nomes a algo no Universo, que por sinal é infinito, precisamos
partir de volta à Terra. Lá vocês poderão estudar bastante para que,
quando crescerem, vocês poderão se tornar grandes cientistas, astronômos,
astronautas, engenheiros e tantas outras profissões importantes para o
desenvolvimento da humanidade.
Sobre a cauda de Halley, começamos o trajeto de volta, cantando uma
música que definia a nossa alegria pela grande viagem que havíamos feito:
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Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou um cientista
o meu papo é futurista e lunático.
Eu vivo sempre no mundo da lua
Tenho alma de artista
Sou um gênio sonhador e romântico
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou aventureiro
Desde o meu primeiro passo pro infinito.
Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou inteligente
Se você quer vir com a gente
Venha que será um barato
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa nosso lindo balão azul
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa nosso lindo balão azul
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa nosso lindo balão azul
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa nosso lindo balão azul
Nosso lindo balão azul
Nosso lindo balão azul
Nosso lindo balão azul
Aproximando da Terra e deixando atrás de nós todo o Universo,
percebi o quanto nosso planeta é lindo. O incrível azul dos lagos, rios,
mares e oceanos me fascinava. O verde das florestas me acalmava os olhos.
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O branco das nuvens. Tudo mostrando que naquele lugar, naquele ambiente,
naquele mundo há vida. E há muitas vidas. Há nesse planeta o melhor lugar
para vivermos.
Halley aterrissou no sítio de meu avô. Dessa vez ele não fez muito
barulho.
Agradecemos muito pela viagem e pedimos para ele ficar, porém disse
que tinha que continuar o seu caminho. Disse para nós:
– Quando uma nova estrela-cadente aparecer cruzando o céu em uma
noite de verão e vocês a virem, é só pedirem para me chamar que eu voltarei
para descobrirmos juntos novas fronteiras do Universo.
E assim ele decolou novamente com sua incrível velocidade e voltou ao
seu trajeto.
A noite parecia que não tinha passado desde o momento em que
partimos. Combinamos que iríamos guardar segredo sobre aquela aventura
e, assim, entramos na barraca e dormimos.
Provavelmente naquela noite outras estrelas-cadentes cruzaram o céu,
e outras crianças fizeram seus desejos. E, com certeza, novas aventuras
começaram naquela bela noite de verão.
Referências Bibliográficas
EDITORA ABRIL. Revista Mundo Estranho, São Paulo, edição 90,
p. 36 – 37, agosto. 2009.
EDITORA ABRIL. Revista Veja, São Paulo, edição 2.122, ano 42, n°
2.922, p. 106 – 117, julho. 2009.
Fontes Consultadas
Letra da música A turma do balão mágico. Disponível em: <http://www.
muitamusica.com.br/9-a-turma-do-balao-magico/593-lindo-balaoazul/letra/>
61
3º Lugar
Astronomia: origem e
importância para a humanidade
Estudante: Diego Teruo Mendes de Souza, 17 anos, 3º ano do ensino médio
Professor-orientador: Valério José Amaro
Escola Estadual Francisco do Carmo - Carandaí, MG
Introdução
Os conhecimentos astronômicos sempre foram de grande importância
para o ser humano. No entanto, como toda ciência, passou por um longo
processo de evolução para chegar a seu status atual.
Este trabalho contém um breve registro do desenvolvimento da
Astronomia desde seus primórdios aos dias atuais. Trata também do
desenvolvimento da Astronomia brasileira citando seus principais
colaboradores e suas realizações.
Por fim, traz a descrição de alguns fenômenos astronômicos que foram
importantes no passado ou estão na mira dos astrônomos da atualidade.
Resumo
O conhecimento científico sempre foi de vital importância para a
humanidade na superação de seus desafios. Nesse âmbito, as ciências
astronômicas desde os primórdios da civilização vêm acompanhando a
passos largos o desenvolvimento do conhecimento humano.
A Astronomia surgiu quando o primeiro homem olhou para o céu
e tentou compreender os movimentos dos corpos celestes. Os astros
passaram a ser utilizados para a demarcação do tempo e, no decorrer da
civilização, chegaram mesmo a representar divindades e, segundo algumas
crenças, determinar o destino humano.
63
A Astronomia passou por notável desenvolvimento na Grécia Antiga,
depois permaneceu estagnada por praticamente toda a Idade Média e voltou
a todo vapor com o Renascimento. A partir daí as observações, pesquisas e
descobertas foram constantes.
A Astronomia brasileira contribuiu significativamente para a nação
durante a colonização holandesa, em razão da instalação de um Observatório.
Tempos depois foi criado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, e
várias observações notáveis foram registradas. Após a Independência, os
observatórios ficaram subordinados às universidades.
No século XX a Teoria da Relatividade de Einstein revolucionou quase
todos os campos da ciência, e a revolução na Astronomia também foi
profunda, pois vários conceitos, como os de tempo e espaço, tiveram que
ser reformulados.
Atualmente a Astronomia brasileira conta com amplos recursos, possui
cerca de 300 astrônomos profissionais, um laboratório de Astrofísica,
vários observatórios, alguns em território estrangeiro, dos quais o Brasil só
participa com parte dos investimentos.
A Astronomia atual está muito voltada para conhecimentos mais bem
estruturados e exatos possíveis do universo e de todos os corpos que o
compõem. Diversos fenômenos já puderam ser descritos, e muito já se
tem especulado sobre a origem e evolução do universo. Por outro lado
ainda há muito que fazer e, portanto, os astrônomos terão muito trabalho
pela frente.
A Origem da Astronomia
A Astronomia é considerada a ciência mais antiga de toda a humanidade
e surgiu a partir das observações dos movimentos do Sol, da Lua, das
estrelas e planetas pelos homens primitivos. Ela nasceu intimamente ligada
à Astrologia. Todavia sua rígida sistemática levou a uma análise mais realista,
concreta e menos mística e, portanto, sua separação da Astrologia.
A palavra Astronomia tem origem grega e etimologicamente significa
Leis dos Astros, fazendo alusão à crença de que os povos antigos tinham de
que os astros influenciavam a vida e, supostamente, o destino dos homens.
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Essa concepção provavelmente surgiu devido à utilização dos astros na
determinação de períodos, marcando tempo, mostrando as melhores épocas
para a agricultura e como orientador em viagens etc.
Na época atual, devido à grande evolução científica dos séculos XIX
e XX, convencionou-se dividir a Astronomia em Astronomia Clássica e
Astrofísica. A Astronomia Clássica foi desdobrada em: Astrometria, estudo
da localização dos astros mediante sistemas de coordenadas de espaço e
tempo, e Mecânica Celeste, estudo dos movimentos dos corpos celestes
com base na Lei da Gravitação Universal.
A Astrofísica, por sua vez, foi dividida em: Física das Estrelas, que
estuda a estrutura e composição das estrelas; Cosmogonia, que estuda a
origem e evolução dos corpos celestes; e Cosmologia, que estuda as grandes
estruturas do universo e sua evolução.
Atualmente os astrônomos contam com sofisticadas tecnologias. Porém
nem sempre foi assim. O único recurso de que dispunha o homem primitivo
era a sua capacidade de observação, abstração e um pouco de raciocínio.
Desde muito cedo (provavelmente desde sua origem) o homem
tem tentado compreender os corpos celestes. Os primeiros registros de
observações astronômicas sistemáticas foram encontrados na região da
Mesopotâmia, nas civilizações suméria, acadiana e babilônica.
De fato, consta que por volta de 3000 a.C. os povos da Suméria já
conheciam algumas constelações e, alguns séculos mais tarde, os sacerdotes
astrônomos da Babilônia identificaram os planetas mais próximos da
Terra. Além disso, desenvolveram um preciso sistema de projeções que
possibilitava predizer os movimentos da Lua e um calendário baseado nos
movimentos da Lua.
Outra civilização que desde muito cedo sistematizou a Astronomia
foi a chinesa. Embora inicialmente as observações astronômicas fossem
realizadas com fins religiosos, isto é, astrológicos, logo o interesse tornouse científico. Mesmo assim a Astrologia chinesa influencia muito sua
população até os dias atuais. Um interessante exemplo disso são os doze
animais do zodíaco chinês.
Registros mostram que por volta de 2000 a.C. os oráculos de ossos da
dinastia yin registraram eclipses e supernovas. Estas são explosões de estrelas
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de massa dez vezes maiores que a do Sol, que produzem luz extremamente
brilhante, que declinam até se tornarem invisíveis após algumas semanas ou
meses.
Por volta do século IX a.C. os chineses utilizaram um calendário de 365
dias e 1/4, distribuídos em 12 ou 13 Luas. Aproximadamente em VI a.C.
os astrônomos chineses já eram capazes de predizer precisamente eclipses
e cometas.
Consta que a China Antiga deixou um catálogo com 284 constelações,
totalizando 1.464 estrelas. Outras civilizações também desenvolveram
calendários e observações astronômicas. No entanto nenhuma delas
desenvolveu um trabalho muito significativo devido a sua situação
sociocultural.
O grande número de dados coletados sobre os corpos celestes fez vir
à tona o desejo de saber onde esses corpos estavam localizados e como se
moviam no cosmo. Mais precisamente, nascia o desejo de uma explicação
descritiva da organização do Sistema Solar (sistema de astros próximos ao
Sol). Os primeiros a elaborarem essa explicação descritiva foram os gregos,
que tentaram desvendar as Leis dos Astros.
A Astronomia na Grécia Antiga
A Grécia Antiga não era um país unificado como o de hoje, mas sim
um aglomerado de várias cidades-estados independentes e, não muito
raramente, rivais entre si. Dessas cidades-estados, a mais desenvolvida
culturalmente era Atenas e, portanto, a maioria das especulações científicas
da época desenvolvia-se em Atenas. Na descrição do sistema Solar, duas
escolas filosóficas gregas destacaram-se: a platônica e a pitagórica.
Platão, discípulo do ilustre filósofo grego Sócrates, dizia a seus discípulos
que comparassem o movimento dos corpos celestes ao de objetos em
movimentos circulares. Para Platão o círculo era a mais bela e perfeita de
todas as formas e, portanto, a única digna do movimento dos astros.
Pitágoras acreditava que o Sol, a Lua, os planetas, as estrelas, enfim, todos
os astros estavam incrustados em esferas celestes que giravam em torno de
um centro comum e que, neste centro, encontrava-se a Terra imóvel. Em
outras palavras, o modelo de Pitágoras é um Sistema Geocêntrico, isto é,
com a Terra no centro do universo.
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O modelo de Pitágoras das esferas celestes passou a ser incontestavelmente
adotado a partir do momento que o grande filósofo Aristóteles passou a
defendê-lo. Aristóteles é considerado o primeiro pesquisador científico
no máximo sentido da expressão, porque desenvolveu trabalhos em
praticamente todos os campos do conhecimento humano. Suas ideias
foram, durante muito tempo, adotadas como dogmas da ciência e quase
como verdades absolutas.
Com o passar do tempo novas observações astronômicas foram sendo
realizadas e começaram a ser detectadas irregularidades no modelo dos
gregos. Por exemplo, ele não explicava a diferença entre o brilho das estrelas,
já que todas estavam incrustadas na mesma esfera, nem as distâncias fixas
de Mercúrio e Vênus ao Sol.
Na tentativa de salvar seu modelo, os gregos lançaram mão de um monte
de novas esferas, tornando o universo grego um aglomerado de esferas
tremendamente complicado. Consta que para explicar o movimento de um
único planeta eram utilizadas cerca de treze esferas.
A complicação do universo grego levou vários astrônomos a tentar
substituí-lo por um modelo mais simples. Porém a maioria dessas tentativas
fracassou, em parte devido ao grande prestígio de Aristóteles e em parte
porque poucos modelos explicavam, satisfatoriamente, o Sistema Solar de
acordo com as convicções filosóficas da época.
Uma das ideias que surgiu naquele período era o de que a Terra não era
o centro do universo, mas um astro que também se movia. Essa ideia deu
origem à concepção de um sistema heliocêntrico (com o Sol no centro).
O sistema heliocêntrico foi inicialmente proposto pelos astrônomos
gregos Aristarco de Samos e Heráclides Pôntico. Eles explicaram as
variações sazonais por meio da inclinação do eixo de rotação da Terra.
O sistema teve pouca repercussão, principalmente por tirar a Terra
de sua cômoda posição. Outros sistemas também foram propostos para
substituir o dos gregos, destacando-se entre eles o do astrônomo Hiparco,
que é considerado o fundador da Astronomia científica.
Hiparco elaborou, no século II a.C., um catálogo com 850 astros, no
qual a Terra não era o centro do universo, mas sim um astro móvel. Apesar
destas ideias Hiparco desprezava o modelo heliocêntrico.
67
Outras Contribuições à Astronomia
A elaboração de um novo modelo explicativo do Sistema Solar
condizente com as observações e filosofia da Antiguidade foi desenvolvida
pelo astrônomo hérmio Cláudio Ptolomeu. Ptolomeu realizou diversos
trabalhos no campo da Astronomia, chegando a descobrir 172 astros,
catalogando um total de 1022 (172+850 de Hiparco).
A principal obra de Ptolomeu foi publicada sob o título The mathematike
syntaxis (A coleção matemática), que se tornou conhecida como Los megas
astrônomos (O grande astrônomo) ou Almagesto, que é um título em árabe.
Em Almagesto, Ptolomeu apresentou uma síntese dos trabalhos dos
astrônomos gregos da Antiguidade, explicou a construção do Astrolábio,
instrumento inventado por ele e que seria utilizado para calcular a altura de
um corpo celeste situado acima da linha do horizonte. Nesta obra Ptolomeu
também propôs seu modelo de sistema Solar.
O modelo de Ptolomeu era geocêntrico. Segundo ele a Terra encontravase imóvel no centro do universo, e os demais astros descreviam órbitas
circulares com centro comum na Terra. Esse modelo tinha a vantagem
de ser bem mais simples que o dos gregos e explicar satisfatoriamente os
fenômenos conhecidos até a época.
A civilização romana, ao contrário da grega, não deu nenhuma
contribuição significativa para a Astronomia, limitando-se a traduzir as
grandes obras dos astrônomos antigos e guardá-las em suas bibliotecas e,
posteriormente, nas de Constantinopla, de onde passaram às mãos árabes.
Astronomia Medieval e Contribuição Árabe
Depois da queda do Império Romano do Ocidente, a civilização ocidental
entrou em um período que seria marcado pela explícita desigualdade entre
classes e profundo fanatismo religioso. Era o período da Idade Média.
Naquele período a necessidade de proteção das constantes guerras levou
à construção de enormes castelos protegidos por gigantescas muralhas. O
desenvolvimento astronômico da Idade Média limitou-se a correções no
sistema de Ptolomeu para torná-lo adaptável às novas observações.
68
O modelo de Ptolomeu fazia alusão ao poder exercido pela Igreja
Católica Romana na vida das pessoas. A ideia de uma Terra no centro do
universo mostrava a posição de destaque que ela merecia, assim como a
posição de destaque que a Igreja deveria ter na vida das pessoas.
Durante o período a civilização muçulmana teve acesso aos trabalhos de
astrônomos da antiguidade e começou a desenvolver estudos astronômicos.
Inicialmente esses estudos eram feitos para fins religiosos, ou seja, integravam
a Astrologia.
Os mulçumanos achavam importante conhecer os astros, pois assim
poderiam encontrar em qualquer ponto da abóbada celeste o caminho para
a Meca, cidade religiosa de extrema importância para os árabes.
A grande intuitividade e capacidade árabe os levaram a abandonar o
âmbito meramente religioso e a sistematizar os estudos astronômicos.
Traduziram obras antigas, compilaram tábuas que regulavam os movimentos
celestes, apuraram a medição e precisão dos instrumentos astronômicos já
existentes, como o astrolábio, realizaram novas observações etc.
Com novas técnicas, os árabes realizaram amplas descobertas astronômicas.
Utilizando métodos matemáticos, por eles mesmos elaborados, detectaram
uma série de falhas no modelo de Ptolomeu.
Todavia os árabes acreditavam na teoria geocêntrica de Aristóteles,
argumentando que se a Terra não fosse o centro do universo os objetos
não tenderiam a cair nela. O trabalho dos árabes influenciou astrônomos
medievais, como Copérnico e Tycho Brahe.
Com o passar dos séculos a Igreja Católica, devido ao seu incontestável
domínio, tornou-se uma instituição mais política do que religiosa, e seus
dogmas começaram a ser contestados. Foi o momento apropriado para a
eclosão de movimentos contrários à doutrina do catolicismo, a Reforma
Religiosa, que eclodiu por volta do século XVI.
O estopim da Reforma foi a venda de indulgências e relíquias sagradas
pela Igreja. Surgiram várias religiões cristãs contrárias à católica, destacandose a luterana e a calvinista.
Para deter o avanço do protestantismo, a Igreja organizou o movimento
conhecido como Contrarreforma, em que reestruturou sua organização
administrativa e passou a perseguir duramente os hereges.
69
A Astronomia Renascentista
Paralelamente à Reforma Religiosa surgiu na Europa, também por volta
do século XVI, um movimento artístico, científico e cultural que ficou
conhecido como Renascimento. O Renascimento propiciou o reinteresse
do homem pelas ciências, pela cultura, enfim, pelo conhecimento.
O renascimento propiciou o surgimento do Humanismo. Os humanistas
pregavam uma visão de mundo antropocêntrica (homem no centro de tudo)
em oposição à teocêntrica (Deus no centro de tudo) pregado pela Igreja.
Os humanistas, porém, não eram ateus, mas acreditaram que o homem
era a mais perfeita criação de Deus e que, portanto, poderia adquirir
conhecimentos sobre todo o universo à sua volta.
Os humanistas pregavam a retomada dos valores greco-romanos, pois
consideravam que a Idade Média foi um período de trevas em que não
houve nenhum desenvolvimento do saber humano.
O clima renascentista trouxe novamente à tona o interesse pela
Astronomia e, com isso, o ressurgimento da teoria heliocêntrica para
explicar o Sistema Solar. Desta vez ela foi defendida por um homem da
Igreja, o ilustre sacerdote astrônomo Nicolau Copérnico.
Copérnico, sendo homem de profunda fé religiosa, não acreditava que
o universo feito por Deus fosse tão complicado como o de Ptolomeu.
Acreditava que o Sol estava no centro do universo, e os demais planetas
descreviam órbitas circulares em torno (inclusive a Terra).
Copérnico organizou suas ideias sobre o sistema Heliocêntrico na obra
De revolutionibus orbium celestium (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes)
na qual também descreveu o movimento da Terra em torno de seu eixo,
atribuindo-lhe a duração de um dia.
Apesar de sua genialidade, Copérnico hesitou muito em publicar sua obra
por contrariar as ideias filosóficas e religiosas da época, inclusive porque ele
mesmo se baseava em um argumento religioso: “Que lugar melhor para o
criador colocar a grande lâmpada que ilumina o universo do que em seu
centro?”.
A hesitação de Copérnico fez com que seu trabalho somente fosse
publicado no ano de sua morte, em 1543, e da forma mais respeitosa
possível, para não colocar a opinião clériga contra a sua obra.
70
A obra de Copérnico despertou interesse em outros cientistas, destacandose entre eles o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Sob a proteção de
Frederico II, rei dinamarquês, Brahe montou um grande observatório na
Ilha de Ven, que logo se transformou em um observatório internacional,
atraindo grandes cientistas da época.
Durante cerca de 20 anos, Brahe realizou uma série de observações
sistemáticas e, com elas, uma série de descobertas: em 1572 encontrou uma
estrela em um local do espaço onde antes não havia nada, pondo fim à crença
da imutabilidade dos astros; conseguiu, ainda, mesmo sem o telescópio que
só seria inventado alguns anos depois, identificar o fenômeno de refração
na atmosfera terrestre e, com isso, determinar a posição precisa de diversos
astros.
Brahe chegou a identificar falhas no modelo de Copérnico e, com isso,
elaborou um novo modelo para o Sistema Solar, que era uma espécie de
síntese entre o ptolomaico e o copernicano. Nesse modelo os planetas
giravam em torno do Sol, e este e a Lua giravam ao redor da Terra. Brahe
conseguiu corrigir as medidas da distância de estrelas ao Sol, que eram
maiores do que determinara Copérnico.
Brahe não chegou a propor nenhuma nova teoria com seu modelo. Depois
de deixar a Dinamarca, trabalhou algum tempo na Suécia e, posteriormente,
em Praga, onde foi assistido pelo astrônomo alemão Yohannes Kepler.
Brahe nunca deixou de relembrar a importância da precisão das medidas
nos estudos astronômicos e coletou um grande número de dados que
seriam a base do trabalho de Kepler.
Baseado nos dados de Tycho Brahe, Yohannes Kepler realizou durante
17 anos sistemáticas observações e com elas realizou várias descobertas.
Entusiasmado com o modelo de Copérnico e sua simplicidade, Kepler
acreditava que poderia realizar alguma modificação nele, de modo a tornálo mais preciso com suas observações. Assim, Kepler elaborou três leis que
descrevem os movimentos planetários. São elas:
1. A órbita de um planeta é elíptica, com o Sol localizado em um dos
focos.
2. A reta que une um planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais.
3. O quadrado dos períodos de resolução é diretamente proporcional
ao cubo do raio das órbitas.
71
As leis de Kepler foram publicadas em duas obras: a primeira, Astronomia
nova de 1609, continha as duas primeiras leis, e a segunda, De Harmonice mundi
de 1619, continha a terceira lei. Tais leis são a base da Mecânica Celeste e
auxiliaram Newton na elaboração da Lei da Gravitação Universal.
As Descobertas de Galileu
Os trabalhos de Copérnico e Kepler foram comprovados pelo grande
físico Galileu Galilei, que afirmara “o universo é um texto escrito em
caracteres matemáticos”. Galileu é considerado o pai da física e da mecânica,
pois desmentiu muitas das concepções aristotélicas e introduziu na física os
conceitos de inércia e gravidade.
Logo que surgiram as lentes ópticas, criadas por pesquisadores
holandeses, elas espalharam-se rapidamente por toda a Europa e passaram
a ser utilizadas para a ampliação de imagens de objetos observados. Assim
que ouviu falar no invento, Galileu logo tratou de adquiri-las e, com elas,
construiu o primeiro telescópio astronômico da época, com aumento de 32
vezes.
Com seu telescópio Galileu conseguiu observar a Via Láctea em suas
próprias dimensões – “uma massa de inumeráveis estrelas”–, nas palavras
do próprio Galileu, e realizou uma série de descobertas: a superfície da Lua
é rugosa e irregular e não lisa e perfeitamente esférica como se pensava; a
existência de quatro satélites ao redor de Júpiter, contrariando a ideia de
que os astros giravam somente em torno da Terra. Sua descoberta mais
perturbadora foi a de que Vênus apresentava fases, como a Lua, e isso
o levou a concluir que Vênus girava ao redor do Sol, como acreditava
Copérnico.
Galileu publicou suas descobertas no livro Sidereus muncius (O mensageiro
celeste) em 1610 e, posteriormente, em Istoria i dimostrazioni intorno alle macchie
solari (História e demonstração em torno das manchas solares), obra em que
defendeu as ideias de Copérnico.
Galileu foi proibido pela Igreja de estudar o sistema heliocêntrico, e o
livro de Copérnico foi proibido. Além disso, quando os clérigos afirmaram
que o sistema heliocêntrico contradizia passagens bíblicas, Galileu disselhes que as escrituras eram alegóricas e não podiam servir de base para
72
conclusões científicas. Outra repressão a Galileu foi devido ao fato de ele
escrever na língua do povo e não em latim, como os grandes sábios da
época.
Apesar de toda essa conturbação, em 1632, com a permissão do papa
Urbano VIII, Galileu publicou sua obra mais polêmica: Diálogo sopra
i due massimi sistema del mondo, ptolemaico e copernicano (Diálogo sobre os
dois grandes sistemas do mundo: o ptolomaico e o copernicano) em
que apresentava sólida argumentação refutando as teses que negavam o
movimento da Terra.
A reação da Igreja foi imediata: o livro de Galileu foi proibido, e o perigo
da divulgação de suas ideias foi comparado às de Lutero e Calvino. Galileu
foi taxado de herege e para não ser queimado vivo foi obrigado a renegar
em público suas ideias, sendo condenado ao degredo residencial, onde
permaneceu o resto de sua vida, morrendo completamente cego.
A Lei da Gravitação Universal
Os estudos astronômicos foram retomados pelo grande físico inglês
Isaac Newton, que realizou um amplo trabalho baseado nas ideias de
Galileu, Brahe e Kepler.
Enquanto estudava na Universidade de Cambridge, em 1665, houve
uma epidemia de peste bubônica na Europa, e Newton teve que retornar
à fazenda onde nascera, lá permanecendo 18 meses. Durante esse período
Newton desenvolveu a maior parte de sua vasta obra.
Em 1667 Newton volta à Cambridge, começa a trabalhar na divulgação de
suas ideias e envolve-se numa polêmica com vários cientistas, principalmente
os físicos R. Hooke e C. Huyghons, devido à publicação de um livro sobre
óptica. A contestação deixou Newton tão magoado que ele decidiu que
nunca mais publicaria nenhum de seus trabalhos.
Em 1684 Newton foi procurado por seu amigo Edmund Halley que
lhe solicitou ajuda em problemas de Mecânica. Matemático e astrônomo,
Halley foi o primeiro a prever a periodicidade dos cometas, demonstrando
que os cometas vistos em 1531, 1067 e 1682 eram o mesmo, porém em
passagens distintas.
73
Eis a origem da denominação Cometa Halley, em homenagem a Halley.
Sua última passagem foi no ano 1986 e será visto novamente em 2062.
Em sua obra Synopsis of the astronomy of comets (Sinopse da Astronomia dos
Cometas) de 1705, Halley descreveu a órbita parabólica de 24 cometas.
Halley verificou, surpreso, que Newton conseguiu esclarecer todas as
suas dúvidas e já tinha em mãos um tratado completamente estruturado
sobre Mecânica e Gravitação Universal.
A partir daí Halley passou a encorajar Newton na publicação da obra,
comprometendo-se, inclusive, a custear a produção, tornando-se seu grande
colaborador. Apesar da resistência de Newton, em 1686 foi publicada a
primeira edição de Philosophiae naturalis principia mathematica (Princípios
Matemáticos da Filosofia Natural), que continha as ideias relativas às três
leis do movimento e à Gravitação Universal.
Os trabalhos astronômicos de Newton começaram a ser elaborados
enquanto ele se encontrava em sua fazenda na época da peste bubônica. Há
um relato de um amigo de Newton, dizendo que enquanto tomava chá no
jardim da casa de Newton, ao observarem a queda de uma maçã, o cientista
teve uma série de ideias sobre forças, movimentos, gravitação etc.
Primeiramente, Newton se preocupou com a causa dos movimentos
planetários, isto é, com a dinâmica dos planetas. Ele imaginou que o
movimento dos planetas era devido a uma força e que, como suas órbitas
eram curvas, devia ser uma força centrípeta. Faltava determinar o agente
que exercia essa força, que Newton rapidamente deduziu ser o Sol.
Com essa análise, Newton estava admitindo que as leis mecânicas
terrestres e astrais eram as mesmas, o que contrariava as ideias aristotélicas
de que os movimentos dos astros eram regidos por leis diferentes das dos
terrestres.
Ao observar a queda, Newton teve a ideia de atribuí-la à força que a
Terra exercia sobre a maçã. Assim imaginou também que a Terra exercia
uma força sobre a Lua para mantê-la em órbita e sobre as pessoas para
mantê-las na Terra e, portanto, o fenômeno era geral, isto é, universal.
Se todos os fenômenos analisados eram devido a forças, então
por que motivos a Lua não era atraída pela Terra ou os planetas não
74
eram atraídos para o Sol assim como a maçã era para a Terra? Newton
deduziu que era por causa das diferentes massas, assim como também
da distância entre os corpos, pois quanto mais perto estiverem mais
forte é a atração entre eles.
Assim surgiu a Lei da Gravitação Universal, que é geralmente expressa
pelo seguinte enunciado: “A matéria atrai a matéria na razão direta de
suas massas e na razão inversa ao quadrado da distância entre elas”.
Com a Lei da Gravitação Universal e as do Movimento foi possível a
explicação de um grande número de fenômenos.
• Pela 3ª Lei de Newton os corpos exercem forças iguais e contrárias
uns sobre os outros. Com as forças gravitacionais não é diferente,
por exemplo, tanto a maçã quanto a Terra exercem força uma sobre
a outra. A maçã se desloca porque possui massa menor e, como as
forças exercidas são iguais, a maçã adquire maior aceleração.
• As marés se devem às forças exercidas pelo Sol e a Lua sobre as
águas do mar. Foi explicado também o fenômeno de precessão,
que é a variação da inclinação do eixo terrestre.
• As órbitas elípticas dos planetas sofrem ligeiras perturbações, o
que foi explicado pelo matemático suíço Euler como devidas à
atração dos demais corpos celestes sobre os planetas. Lagrange e
Laplace fixaram os limites das órbitas elípticas.
• Gaus determinou a localização do primeiro asteroide por cálculos
astronômicos gravitacionais, e L’Alembert determinou a precessão
dos equinócios, que é o movimento retrógrado do eixo de rotação
da Terra ao redor do polo da eclíptica.
• Em 1781 o astrônomo inglês William Herschell descobriu o planeta
Urano por acaso em suas observações astronômicas. Perturbações
na órbita de Urano levaram à descoberta do planeta Netuno em
1846, por Urbain Le Verrier.
• Perturbações na órbita de Netuno e Urano levaram o americano
Percival Lowell a suspeitar da existência de outro planeta em
1915. A hipótese foi confirmada em 1930, e em 1950 Plutão foi
observado.
75
Contribuições astronômicas na Óptica
Observações astronômicas contribuíram também para descobertas em
outros campos da ciência, como na Óptica, por exemplo. Durante muito
tempo uma das maiores preocupações da Óptica foi a medida da velocidade
da luz. Enquanto muitos afirmavam que esse valor era infinito, outros
diziam que era extremamente grande, outros ainda que a propagação da luz
era instantânea.
O primeiro a tentar determinar o valor da velocidade da luz foi Galileu,
mas fracassou devido à falta de recursos da época. O primeiro a determinar
um valor para a velocidade da luz foi o astrônomo dinamarquês Ole
Roemer que, em meados do século XVIII, trabalhava no Observatório Real
de Paris.
O trabalho de Roemer baseou-se na observação dos eclipses de um satélite
de Júpiter. Roemer verificou que periodicamente ocorria o ocultamento do
satélite pelo planeta e verificou que esse período era de 42,5 h.
Com isso, Roemer organizou uma tabela com os horários dos eclipses
que deveriam ocorrer o ano inteiro.
Seis meses mais tarde, ao tentar observar os eclipses, Roemer verificou
que não estavam ocorrendo nos horários previstos, mas vários minutos
depois. Roemer identificou a causa do ocorrido pelo seguinte raciocínio:
Durante seis meses Júpiter se descola muito pouco, permanecendo praticamente na mesma
posição, entretanto a Terra se desloca o equivalente à metade de sua órbita. Com isso, a
luz que sai de Júpiter terá que percorrer uma distância adicional para chegar à Terra, que
corresponde ao diâmetro da sua órbita.
Assim, dispondo de uma estimativa do diâmetro da órbita da Terra,
Roemer calculou o valor da velocidade da luz, encontrando 200.000 km/s.
Apesar de esse valor ser incorreto, ele despertou nos físicos o interesse
pelo assunto e, posteriormente, a velocidade da luz foi medida com grande
precisão.
A Queda da Gravitação Universal
A grande utilidade da Lei da Gravitação Universal fez com que ela se
tornasse um “dogma astronômico”. Não obstante deve-se sempre lembrar
76
que em ciência não há verdades absolutas e, frequentemente, teorias que
eram consideradas imutáveis vão sendo descartadas por desacordo com as
observações experimentais.
As teorias de Newton pareciam perfeitas, sem falhas. No entanto
começaram a surgir imprecisões quando as velocidades atingiam 10% da
velocidade da luz. Para explicar essas novas situações o físico alemão Albert
Einstein propôs a Teoria da Relatividade.
A Astronomia Relativista
A teoria da relatividade revolucionou os conceitos de tempo e espaço que
eram considerados separados um do outro e passaram a ser relacionados.
A teoria foi proposta em duas partes: A teoria da “relatividade restrita”,
em 1905, analisando o movimento na superfície terrestre, e a teoria da
“relatividade geral”, em 1915, na qual a análise foi estendida aos fenômenos
gravitacionais.
A relação entre espaço e tempo proposta por Einstein se dá em quatro
dimensões e é impossível em apenas um deles e, portanto, eles estão
intimamente relacionados. Por exemplo, uma pessoa parada em relação à
Terra está se deslocando em relação ao futuro (no Tempo).
Einstein mostrou também que o espaço é curvo. Para entender isso,
imagine-se uma superfície elástica que é deformada ao ter um corpo de
grande massa colocado sobre ela. Agora imagine-se que outro corpo, de
massa um pouco menor que o primeiro, é colocado em suas proximidades.
Esse segundo corpo também deformará a superfície, mas cairá no espaço
deformado pelo maior.
Assim é o universo de Einstein, onde os astros deformam o espaço,
e a atração entre eles é porque os mais leves caem nos espaços dos mais
pesados. Do mesmo modo, as pessoas e os objetos são atraídos para a Terra
devido à deformação que ela faz no espaço, o que levanta dúvidas sobre o
conceito de gravidade.
É claro que a teoria da relatividade e o espaço tempo curvo de quatro
dimensões são bem mais complexos que o descrito aqui, contudo essa
explanação é suficiente para se entender o conceito atual do universo.
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A teoria da relatividade proporcionou especulações sobre a constituição,
origem e procedência do universo, bem como a descoberta de buracos
negros e a constatação de que o universo está em expansão. Muitos ainda
são os mistérios do cosmo. A Bioastronomia e a Astrofísica têm um desafio
pela frente, em busca de mais respostas.
A Astronomia Brasileira
O desenvolvimento astronômico brasileiro está intimamente ligado a sua
colonização. Os primeiros registros astronômicos foram feitos pelo físico e
cirurgião Mestre João, que determinou uma latitude em terras brasileiras em
27 de abril de 1500. Mestre João veio ao Brasil com a frota de Cabral.
Mestre João enviou uma carta a D. Manuel, rei de Portugal, em que
relatava suas observações astronômicas. Ele observou a “Cruz” (Cruzeiro
do Sul), que Hiparco e Ptolomeu consideravam parte da constelação de
Centauro, e suas estrelas-guardas alfa e gama que apontam na direção do
sul celeste, assim como os ponteiros da Ursa Maior que apontavam para o
norte celeste.
Mestre João observou também as principais estrelas da constelação
de Centauro, do Triângulo (alfa, beta e delta) e do Pavão (beta, gama e
delta). Chegou mesmo a afirmar que viu uma estrela pequena e muito
clara, semelhante à Polaris boreal, que na verdade nunca existiu. Mestre
João deixou de citar importantes objetos dos céus austrais que já eram
conhecidos, como as nuvens de Magalhães e a nebulosa Saco de Carvão,
muito nítida no Cruzeiro do Sul.
As observações seguintes, que foram realizadas durante a implantação
do sistema colonial, tiveram o mero objetivo de determinar coordenadas
geográficas, e assim foi até a União das Coroas Ibéricas (1580). Na época
Espanha e Holanda estavam em guerra por motivos religiosos e não
demorou muito para os holandeses começarem a cobiçar um pedaço do
território brasileiro.
Depois de uma tentativa fracassada, em 1630 os holandeses fundaram
uma colônia em Pernambuco. Sete anos depois a colônia passou a ser
78
administrada pelo Conde João Maurício de Nassau, que era um bravo
militar e homem de muita cultura. Por isso logo trouxe intelectuais para a
colônia, dentre os quais se destaca George Marcgrave, que era astrônomo
e botânico.
Em 1639 Marcgrave instalou numa das torres do palácio de Friburgo, que
Nassau construiu na Ilha de Antônio Vaz, um observatório astronômico,
que foi não somente o primeiro do Novo Mundo, mas também o primeiro
do hemisfério austral. Nesse observatório foram feitas as primeiras
observações astronômicas e meteorológicas sistemáticas do continente.
Marcgrave se interessou pela execução de um mapa estelar que
abrangesse toda a zona compreendida entre o Trópico de Câncer e o Polo
Antártico. Também fez inúmeras determinações de longitudes, estudou e
registrou dados sobre os planetas superiores e inferiores sobre conjunções
e ocultações e observou cinco eclipses, um do Sol e quatro da Lua, e um
deles, o de 13 de novembro de 1640, foi o primeiro a ser acompanhado do
Novo Mundo.
Macgrave reuniu uma grande quantidade de manuscritos sob o título
Progymnastica mathematica americana em que a primeira seção tratava de
Astronomia e Óptica. Todavia grande parte desses manuscritos foi perdida.
Outras personalidades que contribuíram muito para o conhecimento
astronômico do Brasil-Colônia foram os jesuítas.
A Companhia de Jesus se preocupava muito com a educação moral e
religiosa do país, por isso mandou ao Brasil numerosos missionários cultos
que se empenharam no ensino da população. Foram eles que criaram os
colégios, que rapidamente se multiplicaram. Dentre os diversos clérigos
que lecionaram no Brasil podem-se destacar Valentim Estancel e Aloisio
Conrado Pfiel.
Estancel observou vários planetas e cometas, chegando a escrever o livro
Uranophilus coelestis peregrinus sive mentis uranicae per mundum sidereo peregrinantis
extases em 1685, no qual se considera peregrino dos espaços celestes que,
segundo ele, é constituído de uma parte líquida e uma parte sólida.
Estancel acreditava que os cometas eram gerados pela conjunção de dois
planetas. Convenceu-se disso quanto assistiu a uma conjunção de Saturno
com o Sol em 1 de novembro de 1689 e descobriu, no mês seguinte, um
cometa que, segundo ele, era carregado por um anjo.
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Pfeil realizou numerosos trabalhos de cartografia, chegando a observar
um cometa no Pará em 1695. Foi também no Brasil que Edmund Halley
descobriu o cometa que leva seu nome em 1682. Enquanto no Brasil, Halley
realizou várias medidas de latitudes, inclusive a do Rio de Janeiro.
Em 1736 chegava ao Pará uma comitiva de sábios franceses, entre os
quais se encontrava Charles Marie de La Condamine. Eles haviam sido
nomeados pela Academia de Ciências de Paris para determinar, no equador
terrestre, um meridiano. Uma tarefa similar foi dada à outra comitiva chefiada
por Maupertuis, que trabalhava a 70º de latitude norte. A comparação dos
trabalhos provou o achatamento polar da Terra.
Terminado seu trabalho, La Condamine conseguiu autorização do
governo português para continuar no Brasil pesquisas de seu interesse:
percorreu o rio Amazonas até o Belém do Pará, fazendo o levantamento
de seu curso; comprovou também que o número de oscilações pendulares
varia conforme a altitude e que, no Equador, um corpo perde 1/1000 de
seu peso quando a altitude aumenta 4.000 m.
A união das Coroas Ibéricas pôs fim ao Tratado de Tordesilhas. Por
outro lado a Restauração Portuguesa (1640) fez com que o assunto votasse
à tona. Inicialmente propôs-se o Tratado de Madrid, em que comitivas lusoespanholas fariam marcações mais precisas dos limites.
Em 1777 o Tratado de Madrid foi substituído pelo de Santo Idelfonso,
em que novas expedições demarcariam os limites. Nelas trabalharam os
primeiros astrônomos brasileiros: Antônio Pires da Silva Pontes (baiano)
e Francisco José de Lacerda e Almeida (paulista), ambos formados pela
Universidade de Coimbra.
Em 1808 toda a família real portuguesa e um grupo de nobres vieram
fugidos para o Brasil por causa das guerras napoleônicas e, com isso,
houve várias modificações no cotidiano brasileiro. Em 1809 foi criado
um observatório para uso da companhia dos guardas-marinhas e, como
consequência, em 1810 houve a primeira publicação de efemérides náuticas
do Brasil, calculadas por Joaquim Inácio Moreira Dias.
Ainda em 1810, foi fundada a Academia Real Militar que, posteriormente,
tornou-se a Escola Politécnica. Um dos professores da Academia foi Manuel
Ferreira de Araújo Guimarães, que publicou o primeiro livro de Astronomia
feito no Brasil: Elementos da Astronomia (1816) que, entretanto, tinha
apenas os conhecimentos astronômicos necessários a um militar.
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Em 1821 D. João retornou a Portugal e em 1822 o Brasil proclamou
sua independência. Em 1827 D. Pedro I decretou a construção de um
observatório astronômico no Rio de Janeiro. Todavia isso só foi concretizado
em 1845 no Morro do Castelo, graças à importância que D. Pedro II deu ao
assunto. Estava inaugurado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro.
O primeiro diretor do observatório, Soulier de Sauve, desaprovou o
local e realizou suas observações no Forte da Conceição, localizado no
morro do mesmo nome. Falecendo em 1850, Sauve foi substituído por
Antônio Manuel de Melo, e o observatório já possuía aparelhagem para
observações regulares. Em 1852 já eram publicadas as Efemérides do
Imperial Observatório Astronômico para 1853.
Em 1858 Melo viajou com uma comissão para Parananguá, que deveria
observar o eclipse solar de 7 de setembro daquele ano. Pela primeira vez
a fotografia era usada para fins astronômicos. Outro eclipse solar total
ocorreu em 1865 em Camboriú (Santa Catarina). Desta vez o mau tempo
prejudicou as observações que seriam acompanhadas pelo diretor e pelo
Imperador, em seu palácio de São Cristóvão.
Em 1865 Melo abandonou seu cargo para lutar na Guerra do Paraguai,
quando faleceu como Brigadeiro Comandante Geral de Artilharia em 1866.
Foi substituído por Curvelo d´Avila que quase teve sua gestão prejudicada
pela falta de auxiliares, pois muitos estavam na Guerra contra Solano Lopez.
Não obstante conseguiu publicar suas Efemérides em 1869.
Emmanuel Liais, ex-auxiliar de Leverrier no Observatório de Paris
e membro da comissão de Melo de 1858, tornou-se diretor do Imperial
Observatório graças à admiração que lhe tinha D. Pedro II. Antes de
ocupar o cargo, Liais fez várias observações importantes, principalmente
de cometas, um dos quais descobriu em 1860, em Olinda.
Considerando indispensável a reaparelhagem do Imperial Observatório,
Liais viajou à Europa para adquirir equipamentos que não eram fabricados
no Brasil. Durante seus três anos de ausência foi substituído pelo Visconde
de Prados, que era muito dedicado à Astronomia.
Ao retornar do continente europeu, Liais trouxe aparelhagem de excelente
qualidade, com a qual conseguiu realizar várias observações, como as de
Marte (paralaxe) e Mercúrio. Mas, por ser uma pessoa muito autoritária,
teve frequentes e sérios atritos com seu pessoal, por isso pediu demissão do
observatório em 1881.
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O diretor seguinte foi o belga Louis Cruls que, durante sua direção
empreendeu várias observações interessantes a respeito de Marte, Mercúrio
e planetoides, além de realizar a classificação de estrelas duplas e múltiplas
do hemisfério sul, catalogar 623 estrelas próximas do zênite, observar
cometas (um dos quais recebeu seu nome em 1882), reiniciar a publicação
do Anuário do Observatório (1883) e fazer cuidadosas observações da
passagem de Vênus sobre o disco solar em 6 de dezembro de 1882.
Em 1884, Cruls representou o Brasil na Conferência de Washington,
na qual se adotou o meridiano de Greenwich como inicial para referência
na contagem das longitudes e da hora internacional. Em 1886 iniciou a
publicação do periódico mensal Revista do Observatório. Em 1887
representou o Brasil num congresso internacional para a Carta Topográfis
do Céu, época em que, juntamente com D. Pedro II, visitou o observatório
em que se havia recentemente instalado Flammarion, em Yuvisy.
Em 1892, Cruls foi designado para estudar a região do Planalto Goiano,
onde se pretendia instalar uma nova capital nacional. Em 1901 chefiou a
comissão que deveria demarcar as fronteiras entre Brasil e Bolívia. Cruls foi
obrigado, algumas vezes, a abandonar o observatório por motivos de saúde
e até tentou tratar-se na França. Cruls faleceu em 1908.
A direção do observatório foi assumida pelo francês nacionalizado
brasileiro Henrique Morize, que fez várias observações sobre os cometas,
como o Halley, que reapareceu em 1910. Desenvolveu com grande
entusiasmo a Seção de Meteorologia e, em 1911, iniciou a previsão das
marés. Em 1914 fez com que fossem adotados os sistemas de horas leais e
fusos horários.
Por considerar imprópria a localização do observatório, Morize lutou
para que ele fosse transferido para outro local, o que foi feito em 1921,
quando o observatório passou para o morro de São Januário, e promoveu,
também, a atualização dos equipamentos astronômicos do Rio de Janeiro.
Falecendo em 1930, Morize foi substituído por Sodré da Gama, que deu
continuidade ao trabalho.
Em 1952 a direção do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro
foi assumida pelo matemático e astrônomo Lélio Gama, que realizou
entusiasticamente estudos sobre a variação dos polos terrestres,
determinações das latitudes, observações de planetas e estrelas duplas,
determinação da hora exata etc.
82
Em 1892 foi criado, em São Paulo, o Serviço Meteorológico e sua
direção ficou nas mãos de F. Schneider, que em 1902 foi substituído por
Belfort de Matos. Este instalou em sua residência, uma velha mansão
aristocrática da Avenida Paulista, aparelhagem propícia a observações
astronômicas.
A mansão tornou-se o Observatório do Estado em 1927 e, em 1932,
iniciou-se a construção do Instituto Astronômico e Geográfico de São
Paulo, que foi concluído em 1941. Em 1949 surgiu, com menos de dez
membros, a Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo (AAA)
presidida por Décio Fernandes de Vasconcellos, pondo fim ao monopólio
“oficial” sobre os assuntos astronômicos.
Em 1957 foi inaugurado o Planetário do Ibirapuera de realização
da Prefeitura Municipal de São Paulo e inspiração da AAA. Nesse fato
destaca-se a figura de Aristóteles Orsini que, dentre outras coisas, realizou
a apresentação da sessão inaugural do planetário. A partir daí a AAA
acelerou seu desenvolvimento.
A Associação foi encarregada do funcionamento do planetário do
Ibirapuera e construiu o primeiro radiotelescópio da América Latina. A
experiência da AAA incentivou outras associações não somente no Brasil,
mas também no exterior e seu diretor científico, Abrahão de Moraes, em
1954, assumiu a direção do Instituto Astronômico e Geofísico de São Paulo.
Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA)
O Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) foi criado em 1985 e foi
o primeiro laboratório nacional brasileiro da história. Ele é subordinado
ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e está localizado em Itajubá,
MG.
O LNA possibilita pesquisas de diversas naturezas relacionadas com
os objetos astronômicos, opera o Observatório do Pico dos Dias em
Brazópolis (MG), os Gemini, que são dois telescópios com mais de 8
m localizados um em Mauna Kea (Hawaii) e outro em Cerro Pachón
(Chile), dos quais o Brasil participa com 2,5%, e o Southern Observatory for
Astrophysical Research (Soar) no Chile, do qual o Brasil participa com 30%.
83
Sociedade Astronômica Brasileira (SAB)
A Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) é a entidade que congrega os
astrônomos profissionais brasileiros. Atualmente conta com cerca de 300
membros e possui parcerias com diversas instituições: Instituto Astronômico
e Geofísico (IAG-USP), Observatório Nacional (ON), Observatório do
Valongo (UFRJ), Departamento de Astronomia da UFRGS, Instituto de
Pesquisas Espaciais (Inpe), UFMG, UFRN, UFSC, UESC, UEL, UnespGuará etc.
O Observatório do Valongo é a única instituição brasileira que tem curso
específico para Astronomia. Em geral o mais recomendado é a graduação
em Física com posterior pós-graduação em Astronomia/Astrofísica.
A USP oferece Física com habilitação em Astronomia. O tempo médio
para a formação é de aproximadamente dez anos, sendo quatro anos de
bacharelado, mais dois anos de mestrado e quatro de doutorado.
Cosmologia
A curiosidade sobre a origem do universo aguça as ciências astronômicas
desde muito cedo. De fato, diversas civilizações antigas propuseram
explicações, que muitas vezes estavam relacionadas à religião, para a origem
e constituição do universo.
A Cosmologia (estudo do cosmo) procura desvendar os grandes mistérios
sobre o universo. Uma de suas teorias fundamentais que tenta explicar a
origem do universo é a do Big Bang.
Teoria do Big Bang
A teoria do Big Bang (grande explosão) surgiu inicialmente proposta
pelos cientistas Alexandre Friedmann e Abbé Georges Lemaître em 1920,
mas a sua versão mais atual é de 1940, pois a anterior sofreu uma grande
evolução graças, principalmente, aos estudos de George Gamow.
Segundo essa teoria o universo surgiu de uma grande explosão que
houve há bilhões de anos a partir de um estado inicial de alta compressão,
com temperatura e densidade extremamente elevadas. Após a explosão, a
expansão do universo foi rápida e isso proporcionou a diminuição de sua
temperatura e densidade.
84
Logo após o resfriamento, a matéria passou a dominar sobre as
antimatéria e, após alguns segundos, o ambiente era propício ao surgimento
de partículas elementares. Surgem os núcleos dos átomos de hélio (He),
hidrogênio (H) e lítio (Li). Durante todo esse processo sempre houve uma
radiação cósmica que preenchia o universo e expandiu-se pelo espaço.
Os primeiros átomos formaram-se cerca de 1 bilhão de anos após a
explosão. Em 1965 os cientistas Arno A. Penzias e Robert W. Wilson
detectaram radiações de fundo no universo que consistiam em microondas. Essas radiações eram um resquício de um universo primitivo. Em
1992 o satélite COBE descobriu flutuações nas radiações de fundo e isso,
muito provavelmente, foi a causa da formação das galáxias.
Expansão do Universo
Uma das questões trazidas pelo Big Bang foi: por acaso o universo
estaria ainda se expandindo ou seria estático?
Essa ideia surgiu por volta de 1920 e foi respondida pelo astrônomo
norte-americano Edwin Powell Hubble. No Observatório do Monte
Wilson, Hubble constatou que o universo está em expansão.
Os conhecimentos de Óptica, Ondas e Eletromagnetismo deram forte
contribuição nessa difícil tarefa. Foram analisadas as diferenças entre
frequências de ondas eletromagnéticas (especialmente a luz) emitidas por
diversos astros e pela Terra através do Efeito Doppler. Constatou-se que
a frequência dos astros era menor que a da mesma onda na Terra, o que
significa que a Terra e o astro estavam afastando-se um do outro.
Os estudos de Hubble mostraram que os astros afastam-se uns dos
outros com uma velocidade diretamente proporcional à distância entre
eles, o que enuncia a Lei de Hubble: V = Hd, onde H é a constante de
Hubble.
Os debates sobre a questão levaram ao surgimento de dois modelos
para o Universo: o Universo tem um tamanho finito, portanto se
expandirá até atingi-lo e contrair-se-á novamente; e o Universo se
expandirá infinitamente.
85
Astrofísica
A Astrofísica é, sem a menor dúvida, o ramo mais fascinante da
Astronomia atual. Como a Física é a ciência que estuda as leis da natureza,
a Física dos Astros é a ciência que estuda as leis naturais dos astros. Não
é muito fácil descrever e generalizar tais leis, devido à complexidade do
universo e à enorme exigência de recursos e tecnologias.
Não obstante, apesar dessas grandes barreiras, a Astrofísica tem evoluído
muito nos últimos tempos, e uma quantidade considerável de informações
já se encontram nas mãos dos astrofísicos. A seguir serão analisados alguns
fenômenos astrofísicos determinantes na atualidade ou que já se destacaram
nas ciências astronômicas.
Erupções de Raios Gama
As erupções de raios gama ou GRB (Gamma-Ray Burst) consistem em
flashes de potentes raios-gama que duram de alguns poucos segundos até
várias horas e ocorrem, aparentemente, de forma aleatória no universo,
sem seguir distribuição concreta. Foram descobertos por satélites que
investigaram explosões nucleares atmosféricas e espaciais.
Constatou-se que os flashes proviam de fora do Sistema Solar e graças
às experiências com o satélite Compton gamma-ray observatory, de 1991,
que possuía um instrumento chamado BATSE (Burst and Transient Source
Experiment) calculou-se que os flashes eram extragalácticos, isto é de fora
da Via Láctea.
Através de experiências, os cientistas constataram que os flashes
carregavam uma enorme quantidade de energia, o que os levou a acreditar
que poderiam originar-se de fenômenos estelares.
Atualmente duas hipóteses são bem difundidas: os raios-gama originamse de hipernovas, colapso de estrelas supermassivas em buracos negros ou
de colisão de objetos compactos preexistentes, como no caso entre duas
estrelas de nêutrons que, ao se precipitarem uma sobre a outra formam
um buraco negro que, antes de passar a não permitir o escape de nenhuma
emissão, emite uma erupção de curta duração.
86
Galáxias
Até meados do século XVIII apenas a Via Láctea era conhecida e pouco
se especulava cientificamente sobre a sua origem, chegando a predominar
mitos e lendas.
A evolução dos estudos astronômicos levou a descobertas de diversas
galáxias que atualmente são definidas como um sistema astral composto de
numerosos e variados corpos celestes, principalmente estrelas e planetas,
com matéria gasosa dispersa e animada por um movimento harmonioso.
Atualmente as galáxias são nomeadas por letras e números que se
referem a sua forma e ao seu grau de desenvolvimento, assim elas podem
ser:
• Elípticas ou circulares: representadas pela letra E e um número que
varia de 0 a 7, representando a excentricidade da elipse.
• Espirais: geralmente possuem um núcleo central, e deste partem as
lâminas da hélice da espiral. Quando são normais são representadas
pela letra S, e quando o núcleo possui forma de barra por SB,
indicando que são menos desenvolvidas. Essas representações
são seguidas pelas letras a, b ou c, que representam a abertura das
espirais.
• Irregulares: são representadas por Irr.
Os estudos astrofísicos mostraram que a Via Láctea é uma galáxia em
espiral do tipo SB, que é constituída de duas partes principais: o disco ou
núcleo (em forma de lente), que possui elevado número de estrelas, e o
halo, que é a região mais externa e difusa.
A Via Láctea tem aproximadamente 200 mil anos-luz e possui
aproximadamente 120 bilhões de estrelas. O sol tem cerca de 5 bilhões de
anos, e os corpos mais antigos da Via Láctea aproximadamente 20 bilhões
de anos.
As galáxias localizam-se em Aglomerados de Galáxias, a Via Láctea e a
Galáxia de Andrômeda (localizada a 2 milhões de anos-luz da Via Láctea)
pertencem a um aglomerado de 18 galáxias. Foi descoberto também,
pela Lei de Hubble, que as galáxias movem-se e que podem, inclusive, se
chocarem.
87
Nebulosas
Define-se nebulosa como um corpo celeste gasoso e nevoento formado
por uma concentração de gases ou poeira estelares, ou de ambos, que ocorre
no espaço interestelar. Durante muito tempo foi considerado nebulosa todo
objeto de aparência difusa localizado fora do Sistema Solar e que parecesse
uma área luminosa ou escura ao telescópio, o que fez com que fossem
confundidas com galáxias muitas vezes.
Desde muito cedo as nebulosas foram observadas. Os astrônomos
Hiparco e Ptolomeu já afirmaram ter visto nuvens de estrelas no espaço. Em
1054 nasceu a Nebulosa de Caranguejo, pela explosão de uma supernova na
constelação de Touro. Em 1610 o francês Nicolas-Claude Fabri de Peiresc
observou a Nebulosa de Órion que, a olho nu, parece uma estrela.
Em 1656 o astrônomo holandês Christian Huyghens conseguiu pela
primeira vez observar a área do interior de uma nebulosa. Descobriu que
sua estrela anterior não é única, mas sim um compacto sistema quádruplo
que ficou conhecido como trapézio.
Durante do século XVIII muitas nebulosas brilhantes foram confundidas
com cometas. Em 1880 a Nebulosa de Órion foi fotografada. A
espectroscopia tornou clara e definitiva a distinção entre galáxia e nebulosa,
e os satélites espaciais possibilitaram o estudo dos raios X e ultravioleta que
antes eram absorvidos pela atmosfera terrestre.
Estrelas
As estrelas são corpos celestes semelhantes ao Sol e que constituem
grande parte dos astros de uma galáxia. A estrela mais próxima da Terra
é o Sol, que somente por isso é visível. No entanto, a maioria das estrelas
localiza-se a distâncias fantásticas da Terra, enquanto o Sol tornar-se-ia
invisível a apenas 70 anos-luz da Terra.
As estrelas encontram-se organizadas em sistemas binários ou múltiplos.
Para efeito de estudo consideram-se os aglomerados, grupos de estrelas
nascidas em uma mesma época e em um mesmo local, que podem ser
de dois tipos: abertos ou galácticos, que não possuem mais que poucos
milhares de estrelas num volume de 1 a 10 pc de raio (1 pc @ 3,1.1013) e têm
menos de 10a anos, e globulares, que possuem cerca de 100 mil estrelas num
88
volume de 25 pc de raio, têm cerca de 1010 anos e suas estrelas possuem
composição diferente da do Sol, com metais, C, N e O.
Na Via Láctea existem cerca de 1.100 aglomerados galácticos e 150
globulares. Entre as estrelas há a matéria interestelar, que é uma mistura de
gás e grãos de poeira com densidade extremamente baixa (1 átomo/cm3),
com temperaturas de 10 a 100 K na regiões mais densas e de até 106 K em
regiões extremamente rarefeitas, seu tamanho pode ser de até dezenas de
PC, e sua até 106M (o símbolo significa solar).
A poeira interestelar bloqueia a luz de estrelas mais distantes, o que causa
um efeito de avermelhamento e/ou obscurecimento geral da sua luz. Esse
processo é conhecido como extinção interestelar.
As estrelas se formam pelo colapso de uma nuvem interestelar. Esse
processo ocorre devido à própria gravidade das nuvens e as separa em
pedaços menores, que se tornam cada vez mais densos e quentes formando
os chamado protoestrelas. Os protoestrelas de até 2M são chamados de
Estrelas T. Tauri, e os de massa maior de Estrelas Ae/Be de Herbig.
Após essa fase, as estrelas entram em equilíbrio hidrostático, no qual as
forças gravitacionais, que tendem a contrair a estrela, e as reações nucleares
do núcleo estelar, que tendem a explodir a estrela, se igualam. A partir
daí o núcleo mais interno que constitui 20% da massa da estrela passa a
transformar H em HE com liberação de energia e intensa luminosidade Ela
está na chamada sequência principal (SP). A maioria das estrelas observadas
à noite está em sequência principal.
Extinção Estelar
Terminada a fase da SP, a estrela entra em processo de extinção, que
ocorrerá quando o H do núcleo se esgotar e dependerá da massa e da
constituição da estrela.
Para estrelas de massas aproximadamente iguais à do Sol, quando o H
do núcleo se esgota, começam a ocorrer reações no núcleo, o que leva à
sua expansão e, com isso, as forças nucleares superam as gravitacionais, o
que leva a estrela a um grande aumento de tamanho tornando-se um astro
extremamente grande e brilhoso, que os astrônomos denominam gigante
vermelha.
89
Quando o combustível atômico acaba, a gigante vermelha tem suas
dimensões drasticamente reduzidas pelas forças gravitacionais, torna-se um
astro pequeno que brilha somente pelo calor armazenado e é chamado de
anã branca. Quando o calor cessa, a anã branca torna-se uma estrela morta:
chamam-na anã negra. Astrônomos estimam que o Sol tornar-se-á uma anã
negra em aproximadamente 5 bilhões de anos.
Em estrelas que possuem massa superior a quatro massas solares, as
forças gravitacionais são muito mais fortes que as nucleares (lembrando-se
de que a força gravitacional é diretamente proporcional à massa) e, portanto,
a estrela tende a contrair-se.
A contração leva os átomos a ficarem fortemente unidos entre si, com
densidade extremamente elevada. Neutrinos vão sendo liberados, e os
núcleos de nêutrons, cada vez mais contraídos, terminam por gerar uma
supernova. Neste ponto, a matéria encontra-se tão condensada que nem a
luz escapa. Da explosão surge, por fim, um buraco negro ou uma estrela de
nêutrons.
Os Quasares
Os quasares (abreviatura de Quase stelars objectus – objetos quase estelares)
são objetos extremamente luminosos encontrados nos confins do universo
conhecido a partir de 2 bilhões de anos-luz da Terra. Contudo a maioria dos
quasares se encontra a mais de 10 bilhões de anos-luz da Terra.
Por estarem tão distantes não se sabe ao certo o que é um quasar. No
entanto especula-se que sejam núcleos galácticos ativados por buracos
negros supermaciços, que absorvem gás e poeira da galáxia, liberando
grande quantidade de energia. Já foram encontrados quasares em regiões
sem galáxias nas proximidades, o que sugere que galáxias e quasares não
guardam nenhuma relação entre si.
Como o próprio nome sugere, os quasares são, aparentemente, semelhantes
às estrelas. Porém sua estrutura real é parecida com a de uma galáxia ativa, e
sua massa é maior que a de qualquer outro corpo celeste conhecido.
Os quasares são forte emissores de ondas de rádio e luz, o que indica que
possuem grande quantidade de partículas energizadas. Os quasares também
liberam grande quantidade de partículas radioativas.
90
O quasar mais brilhante já observado é o 3C273, que está a cerca de 2
bilhões de anos-luz da Terra. Quase todos os quasares possuem um forte
desvio para o vermelho, o que indica que se movem muito rapidamente
(50 mil km/s). As experiências têm levado à crença de que os quasares se
formaram recentemente no universo.
Uma das questões que tem intrigado os astrônomos é: por que não se
formam quasares mais próximos da Terra? Uma das explicações aceitas
é que só haveria galáxias ativas no início do universo, e estas forneciam
matéria para os buracos negros, só que ela acabou com o tempo. Essa
hipótese ainda é muito questionável, pois a constante formação de novas
galáxias deveria reativar o sistema fornecedor de energia dos quasares.
Buracos Negros
A ideia de buraco negro como um fenômeno estelar que sugaria tudo à
sua volta surgiu da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. Apesar
disso, vários cientistas, inclusive o próprio Einstein, não acreditavam ser
possível a existência real de um buraco negro no espaço.
Em 1916 o cientista Karl Schwarzschild determinou, com base nas
equações de Einstein, que o buraco negro deveria ser esférico. Como
se sabe, o buraco negro possui um campo gravitacional extremamente
intenso. Isso, além de causar a absorção de tudo em suas proximidades,
causa uma tremenda distorção espaço-temporal ao seu redor, retardando
o tempo.
O buraco negro aumenta de tamanho com a energia dos objetos que
“devora”. Isso ocorre por causa da grande pressão com que comprime
os átomos dos objetos, o que faz com que os anéis dos átomos tenham
menos espaço para girar e, portanto, passam a girar mais rápido, gerando
mais energia que aumenta o tamanho e a força do buraco negro.
Com a ajuda de simulações computadorizadas, os astrônomos têm
levantado hipóteses fantásticas sobre os buracos negros e a trajetória
completa dos objetos que entram por eles. Todavia são apenas hipóteses
teóricas, já que é extremamente perigoso aproximar-se de um buraco
negro.
91
BioAstronomia
A bioastronomia analisa a possibilidade de haver vida em outros planetas,
assim como a de haver planetas habitáveis fora do Sistema Solar. Análise,
como o próprio nome diz, a relação da Astronomia com a vida.
Uma grande preocupação dos cientistas sempre foi a possibilidade da
existência de vida, inteligente ou não, em outro planeta que não seja a Terra.
Ultimamente a expressão passou a designar vida alienígena. A ciência que
estuda a vida fora da Terra é a Exobiologia ou Ufologia.
A literatura, o cinema e a televisão já cultivaram bastante a ideia do
contato entre seres humanos e civilizações alienígenas. Entretanto esse
contato sempre é visto de maneira negativa, geralmente com confronto
entre as partes e/ou um tentando usar o outro como cobaia em experiências
dolorosas. Essa imagem tem sido muito criticada por determinados ufólogos,
que defendem um contato pacífico com os aliens...
Em português utiliza-se a sigla OVNI para Objeto Voador Não
Identificado que é equivalente à sigla UFO (Unindentified Flying Object).
Acredita-se que a aparição desses objetos sejam uma prova da existência de
extraterrestres e de que eles visitem o planeta Terra. Os pesquisadores dessa
área são denominados oviniologistas ou ufólogos.
Dois casos históricos despertaram muito a atenção dos especialistas nessa
área. Um deles ocorreu em 1947 na cidade norte-americana de Roswell onde,
supostamente, houve a queda de um disco voador, e seus tripulantes foram
capturados ainda vivos. O episódio ficou conhecido como Caso Roswell. O
governo norte-americano admitiu a queda do equipamento, porém afirmou
que não passavam de balões meteorológicos.
Outro caso de destaque ocorreu recentemente, em 1996, e é considerado
por muitos ufólogos o mais importante de todos. O caso Varginha ocorreu
em uma cidade mineira e afirma-se que três seres extraterretres foram
capturados e levados para a Universidade de Campinas. O fato é muito
intrigante, pois houve grande número de testemunhas.
Hipótese Sobre a Origem da Vida Terrestre
Durante muito tempo pensou-se que vida na Terra surgiu a partir de
matéria não-viva como, por exemplo, um pedaço de carne que, exposto
92
ao ar, atrai a presença de moscas e vermes ou lixo abandonado que, logo
faz surgirem ratos e outros animais. Essa hipótese é conhecida como
abiogênese. Em 1950 os químicos Stanley Miller e Harold Urey conseguiram
criar aminoácidos a partir de substâncias simples da Terra primitiva.
Entre os cientistas, por outro lado, já começava a aparecer a crença de
que a vida poderia ter vindo de outros planetas. Entre os que defendiam
essa ideia, estavam Lord Kelvin, Svantes Arrhenius e Francis Crick.
Contudo uma grande dificuldade fazia-lhes frente: como a vida sobreviveria
à desgastante viagem pelo espaço até a Terra com todas as dificuldades que
o espaço oferece, como os raios ultravioleta, raios-gama, vácuo espacial,
tempo de exposição etc?
Não obstante as grandes dificuldades, evidências favoráveis também
não demoraram a aparecer. Meteoritos encontrados na superfície terrestre
mostraram conter compostos orgânicos, o que poderia indicar que a matéria
orgânica tem origem extraterrestre.
A análise de meteoritos tem trazido grandes perspectivas, por exemplo,
no meteorito Murchison (J. C. Ronin-Univer. Arizona) foram detectados
74 aminoácidos diferentes, mais do que o existente na Terra. Vem sendo
detectadas ultimamente em nuvens interestelares moléculas orgânicas
complexas como HCOOH (ácido fórmico), H2CHN (metanimina) e
C2H5OH (álcool etílico). Além disso, também foi detectado HCN (ácido
cianídrico) e H2O (água) na nebulosa de Órion, que é berçário de estrelas.
Chegou-se a pensar que a vida poderia ter vindo do planeta Marte.
Pesquisadores encontraram meteoritos de origem marciana na Terra. Esses
meteoritos são emitidos anualmente por Marte e podem levar até milhões
de anos para chegar à Terra, dependendo de seu tamanho.
Experiências demonstraram que certos micro-organismos poderiam
resistir às condições geográficas de Marte e que outros, ainda, poderiam ser
capazes de resistir à viagem de Marte à Terra.
Colonização Marciana
Os desastres naturais, devido à poluição desenfreada e ao constante
crescimento da população, têm levado a humanidade a pensar numa solução
para o problema. Uma das possíveis soluções, ainda que das mais difíceis,
93
é a colonização espacial e dentre as atuais opções possíveis, a de Marte é
a mais estudada.
Marte sempre foi destaque para os astrônomos pelas suas semelhanças
com a Terra: o dia marciano tem 24 horas, 39 minutos e 3 til. 244 segundos.
A área superficial de Marte e da Terra são muito similares, uma inclinação
axial próxima e uma atmosfera correspondente a 0,7% da terrestre. Além
disso, observações feitas pelo Mars Exploration Rover (Carro Robô de
exploração de Marte) da Nasa e do Mars Express da ESA confirmaram a
presença de água em Marte.
Se há semelhanças, por outro lado também há diferenças entre Marte
e a Terra: a gravidade marciana é um terço da terrestre; na superfície, a
pressão atmosférica de Marte é muito baixa, e o teor de CO2 52 vezes
maior que o da Terra; Marte não possui esfera magnética que reflete o
vento solar etc.
Há projetos para se tornar Marte um planeta onde a vida possa ocorrer,
inclusive a humana. Todavia esses projetos são objeto de muita polêmica,
especialmente quando se fala em prazo. De fato, em um desses projetos
Marte levaria cerca de mil anos para se tornar um planeta com condições
similares às da Terra.
A possibilidade de colonizar Marte ainda não foi descartada
pelos cientistas e, inclusive, locais são estudados em Marte para o
desenvolvimento de civilizações humanas. As dificuldades e os gastos em
pesquisas tornaram, ao menos por enquanto, inviáveis a iniciativa prática
dos projetos de colonização.
Considerações Finais
Como toda ciência, a Astronomia também mostrou ser de grande
benefício para a humanidade quando utilizada devidamente. Desde seus
primórdios, quando era utilizada para a determinação das melhores épocas
de práticas agrícolas até o lançamento de modernos satélites artificiais, a
Astronomia praticamente “desvendou” um universo vasto.
Muitos foram os que colaboraram com essa ciência e merecem o nosso
respeito por seus méritos. Contudo ainda há muita coisa que a Astronomia
pode fazer pelo homem e muitos ainda são os temas a pesquisar.
94
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou 2009 como o Ano
Internacional da Astronomia, enfocando que o conhecimento científico
deve ser acessível aos quatro cantos do mundo.
A Astronomia sempre terá destaque, pois é praticamente impossível
conhecer-se tudo sobre tudo o que existe no universo, até porque ele
continua em expansão.
O fato é que todo conhecimento trazido à baila pela Astronomia deve
estar voltado sempre para o benefício mútuo entre os povos, em prol do
progresso da humanidade.
Referências Bibliográficas
BARBOSA, W. J. C.; SANTOS JR., J. F. C. dos; VIEIRA, S. L. A. A
Via Láctea: estrutura e componentes X. In: UFMG. Departamento de
Física. Escola de Inverno. Belo Horizonte, 1999.
ESPAÇO BRASILEIRO. Vários colaboradores. Brasília: JR Gráfica e
Editora Ltda. 2007.
GRANDE ENCICLOPÉDIA BARSA. Vários colaboradores. São
Paulo: Barsa Planeta International Ltda, – 3ª Ed., 18 volumes. 2004.
GUEDES, A. R. Geografia astronômica. Departamento de Geociência
– ICHL – Campos Universitário UFJF. s/d.
LAS CASA, R. Homem na Lua: a primeira conquista. Observatório
Astronômico da UFMG. Belo Horizonte. 1999. Disponível em: <www.
observatorio.ufmg.br>.
MÁXIMO, A.; ALVARENGA, B. Física Ensino Médio – 3 volumes. SP:
Scipione. 2006.
VARELLA, I. G.; OLIVEIRA, P.; D.C.F. de História da astronomia
brasileira. Disponível em: <www.uranometrianova.pro.br/historia/
almagesto.htm.HA21eHA23.2005>.
WIKIPEDIA Vários colaboradores. Astrofísica/Bioastronomia.
Disponível em: <www.pt.Wikipédia.org>. Data não especificada.
95
Menção Honrosa
Os desbravadores do universo
Estudante: Ana Lucia Farias das Neves, 17 anos, 3º ano do ensino médio
Professor-orientador: Luis Alberto Pinheiro da Silva
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - São Luis, MA
RESUMO
A astronomia é considerada por muitos estudiosos como a ciência mais
antiga da história da humanidade. Em 2009, estamos comemorando os 400
anos do primeiro uso astronômico de uma luneta. A luneta foi aperfeiçoada
e apontada para o céu por Galileu Galilei, possibilitando que o mundo
tivesse um novo olhar e posteriormente ampliasse seus conhecimentos
sobre os mistérios do universo.
No entanto, nesses 400 anos, outros cientistas, como Tycho Brahe,
Johannes Kepler, Isaac Newton, Albert Einstein, Edwin Hubble, George
Gamow, entre outros, também deixaram contribuições significativas para a
astronomia, revolucionando a sua época com suas ideias e descobertas.
Neste trabalho, o Mensageiro das Estrelas, um repórter curioso e
estudioso, entrevista cientistas que contribuíram significativamente para
o estudo do cosmo. Além de narrar os principais acontecimentos nesses
quatro séculos de observações dos céus à conquista do espaço, destacando
os trabalhos que possibilitaram o desenvolvimento da teoria do big bang,
o lançamento do primeiro satélite aos satélites de telecomunicações, o
primeiro voo em órbita da Terra à chegada do homem à Lua, a participação
do Brasil em missões espaciais, o desenvolvimento de novas tecnologias de
observação e a expectativa de encontrar vida fora da Terra.
97
INTRODUÇÃO
O homem, desde as civilizações antigas até a sociedade atual, sempre
foi movido pelo desejo de compreender a Terra, os fenômenos celestes e
a sua própria origem. Por isso ele começou a observar o universo e propor
teorias sobre o surgimento dos acontecimentos naturais.
As sociedades antigas, os babilônicos, sumerianos, egípcios, gregos
e romanos procuraram desenvolver a astronomia baseados nas suas
necessidades de sobrevivência, seja no desenvolvimento da agricultura
e da pecuária, na previsão de possíveis cheias de rios, ou na observação
de acontecimentos astronômicos como eclipses lunares e solares, sempre
vistos como possíveis catástrofes enviadas pelos deuses.
Os europeus começaram a mudar sua visão e concepções do universo
com o advento das grandes navegações. Começaram a sugerir que a Terra
não seria o centro do universo, descobriram astros até então desconhecidos,
construíram fórmulas matemáticas que permitiram calcular os movimentos
dos planetas e inventaram instrumentos que possibilitaram uma observação
mais precisa dos corpos celestes.
A partir do século XX, com o desenvolvimento tecnológico, a astronomia
adotou novas técnicas, melhorou os mecanismos de observação, deixando
de ser uma ciência de observação para tornar-se uma ciência experimental.
A tecnologia facilitou as descobertas e possibilitou ao homem pesquisar e
viajar por outros astros. No entanto todos esses avanços só foram possíveis
porque o céu sempre foi motivo de fascinação e interesse para o homem.
OS DESBRAVADORES DO UNIVERSO
Galileu Galilei
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Não! Não é uma mancha esbranquiçada no firmamento. Via Láctea! Uma incontável
multidão de estrelas amontoadas. Vejam só! Elas, as estrelas superam mais de dez vezes as
que já conhecíamos.
Esta foi minha reação ao ver, pela primeira vez, o nosso espaço. Vocês não podem imaginar
como me senti, foi uma mistura de emoção e espanto, nem sei explicar. Há tanto tempo se
tem uma ideia completamente errada. Se bem que eu já contestei essas coisas aristotélicas que
insistem em afirmar verdades que nunca experimentaram!
Francamente, nunca imaginei que um presente melhorado, por mim claro, poderia ter
tanta grandeza. Quem precisa de um animal de estimação quando se tem nas mãos um
telescópio? E mais que isso! Quando se tem a brilhante ideia de apontá-lo para o... céu! Tão
simples e genial.
Este testemunho empolgante é do mais famoso astrônomo de todos os
tempos, Galileu Galilei, após usar um telescópio da forma mais simples que
alguém poderia imaginar. Apontando para o céu! Mas afinal, quem é Galileu
por Galileu?
Eu sou natural de Pisa, na Itália, e nasci em 18 de fevereiro de 1564. Meu pai, “signor”
Vincenzo Galileu, era músico, comerciante e matemático também. Ainda muito cedo nos
mudamos para Florência, e foi lá que iniciei meus estudos. Desde o início tive interesse e
facilidade em matemática e mecânica, mas meu pai queria mesmo que eu estudasse medicina e
por isso me mandou de volta para Pisa em 1581. Mas eu sou insistente e aí, depois de cinco
anos na minha terra natal, certo de que não queria estudar medicina, convenci meu pai disso
e retornei para Florência para estudar e ensinar matemática.
Matemático OK. Mas como chegou à astronomia?
Nessa época todo conhecimento relacionado à ciência e filosofia estava ligado aos estudos
de Aristóteles, um filósofo grego que viveu antes de Cristo, aproximadamente entre 384 e
322. A Europa conheceu seus livros através dos árabes e desde então suas teorias foram
aceitas como verdades incondicionais, sem qualquer experimento antes. Aliás, essa questão de
experimentar primeiro para divulgar depois não era bem vista pela Igreja, o poder supremo;
tudo que era contrário às supostas verdades aristotélicas era tachado de heresia. Mas o curioso
é que foi exatamente dentro da igreja, assistindo a uma missa, que tive o primeiro estalo para
isso – a oscilação do candelabro movido por um coroinha. Pronto! Ao chegar em casa fiz
outras e outras e mais outras experiências para definir que apesar da velocidade decrescente, o
tempo de oscilação de um ponto a outro de um determinado objeto é o mesmo.
A partir daí percebi que experimentar é a melhor forma de saber se algo é verdade e
mais que isso, provar que realmente é verdade. Como já não concordava mesmo com as ideias
aristotélicas, resolvi experimentar uma das teorias, aquela sobre o volume da massa e o tempo
que leva para cair; de acordo com eles, quanto maior a massa, mais rápido chega ao chão.
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Lá na torre de Pisa, aquela famosa por ser inclinada, usei dois objetos de massas diferentes
e mostrei para quem quisesse ver que tamanho não é documento, porque se é pra cair juntos,
seja elefante e formiga, seja hipopótamo e gatinho, tudo desce ao mesmo tempo e nesse mesmo
tempo cai no chão.
Você fala o tempo todo sobre experiências. Mas o que Aristóteles
alegava em seus estudos?
Aristóteles defendia que tudo deveria ser estudado somente através da observação racional
e lógica. Segundo ele o universo era esférico e finito e a Terra estava no centro, formada por
quatro elementos: terra, água, fogo e ar, definidos através da alquimia, e com um lugar
específico que, determinado pela “gravidade específica”, movia-se em linha reta em direção
ao centro do universo. O mais drástico é que essas ideias reinaram absolutas cerca de mil
anos, e só começaram a ser questionadas em 1543 por Nicolau Copérnico, que sugeriu um
modelo heliocêntrico, ou seja, o Sol no centro do universo, e a Terra, a lua e outros planetas
se movimentando, de forma periférica, em torno do Sol; além disso, demonstrou também que
a Terra gira em torno de si mesma em ciclos que ocorrem em um dia.
Mas essas concepções copérnicas confrontavam as de Aristóteles. E a
Igreja?
De fato. Bom, no início Copérnico apresentou suas ideias como simples modelo para
avaliar as posições dos planetas, para não ter problemas com a Igreja. Mas ele não parou
e após longos estudos do movimento dos planetas, Nicolau se convenceu de que a Terra
era sim apenas um simples planeta em um imenso universo, e que na verdade o Sol é que
estava no centro.
Então depois de questionar Aristóteles com suas experiências, as teorias
de Nicolau Copérnico foram uma “mão na roda” para você. Foi seu
passaporte para a astronomia?
Vamos considerar que os trabalhos de Nicolau Copérnico serviram de base e inspiração
para meus estudos posteriores. Mas não me lancei nesse mundo novo de qualquer forma,
sem qualquer bagagem; antes de me dedicar à astronomia, passei pela geometria, óptica,
aritmética, mecânica e engenharia militar. Mas foi em 1598, quando me tornei professor em
Pisa, que comecei a me interessar pela astronomia e me aprofundar no assunto.
Em 1604 um fenômeno celeste me deixou fascinado, uma estrela supernova e com brilho
radiante; voltei a me questionar sobre as teorias de Aristóteles e participar intensamente de
debates sobre o assunto, porém ciente da posição da Igreja, fiquei com receio de publicar minhas
ideias. Respondendo à sua pergunta sobre o “passaporte”, quatro anos após me fascinar com
o fenômeno, um holandês chamado Hanz Lipperhey patenteou um instrumento que permitia
enxergar coisas distantes como se estivessem próximas, era um telescópio. Minha astúcia fez
uma luz acender na minha cabeça e aí me dediquei ao aperfeiçoamento desse telescópio, que
100
ficou com a capacidade de aumentar nove vezes o tamanho dos elementos observados. E numa
noite do ano de 1609, tive a ideia e apontei meu “passaporte” para o céu, e aí verifiquei que
não estava errado em contestar Aristóteles e, portanto, concordar com Copérnico.
Enxergando o céu tão perto, o que só você pôde ver?
Coisas fantásticas! O que primeiro me impressionou foi a Lua, tão fascinante e em nada
parecido com as afirmações aristotélicas. Talvez não acreditem em mim, mas a Lua não é
uma bola lisa e perfeita, não! Como o nosso planeta, ela tem vales e montanhas; lá também
existem zonas que são iluminadas na parte escura no satélite da Terra, e aí relacionei esse
fenômeno à presença de montanhas na Lua, que ao contrário das partes mais profundas onde
os raios solares não alcançam, as elevadas continuavam sendo iluminadas pelo Sol.
No início você citou a Via Láctea. O que você viu?
Quando direcionei minha luneta para a Via Láctea, fiquei admirado com a infinidade
de estrelas que pude contemplar. Estudei vários planetas, como Saturno, Marte, Júpiter e
Vênus, que assim como a Lua, têm fases. Em 1610 percebi algo diferente perto de Júpiter:
quatro objetos intrigantes que pareciam estrelas, mais tarde observei que essas estrelas tinham
o mesmo brilho e não permaneciam sempre na mesma posição, aí subentendi que as estrelas
estavam girando ao redor do planeta.
Com tanta informação e descoberta, o que você fez?
Com tudo isso em mãos fiz duas coisas: uma é que eu, talvez por desejar arduamente
que todos soubessem a verdade e não permanecessem na escuridão da ignorância, me tornei
meio arrogante e desafiava constantemente os jesuítas e seus ensinamentos aristotélicos. A
outra coisa realmente relevante é que em março do mesmo ano publiquei, em Veneza, meu
livro Siderius Nuncius, conhecido com o Mensageiro das Estrelas. Neste
livro mostrei à Europa minhas descobertas astronômicas, feitas através das observações
do céu com meu telescópio. Foi um boom! O livro foi um sucesso que me colocou como
líder da vanguarda astronômica da época, mas como era de se esperar, a Igreja discordou
de minhas interpretações.
Mas não pense que recuei, de jeito nenhum! Em 1613, após diversos estudos, publiquei
a Carta sobre Manchas Solares. É que, observando a superfície do Sol pelo
telescópio, vi que ele tem manchas. Acontece que para manter as teorias de Aristóteles dos
céus imutáveis, observadores da época alegavam que as manchas eram planeitoides que
orbitavam o sol e estariam atravessando o disco solar. No entanto, em meus trabalhos
observei que as manchas estavam na superfície do Sol e seu movimento estava ligado às
rotações do astro; então descobri que essas manchas não eram periódicas, aparecendo e se
dissolvendo incessantemente.
– Permita interrompê-lo. Bom, não sou cientista ainda, meu papel aqui
é de jornalista no meio de uma das entrevistas mais incríveis da minha vida,
101
mas como estou séculos à sua frente e, graças à sua insistência, ninguém
mais acredita que a Terra seja o centro das atenções, seus seguidores, os
cientistas contemporâneos, tem feito incansáveis estudos sobre o universo
e, por isso, é possível saber hoje que essas manchas são causadas pelo
intenso e heterogêneo campo magnético do Sol que, ao atravessar tais
regiões, espalha o plasma da superfície do Sol gerando regiões que recebem
menos energia, parecendo mais escuras. Só isso.
Se você declarasse isso na minha época estaria condenada à fogueira, acredite! É apenas
para descontrair. Mas obrigado por me deixar “atualizado” quanto às últimas descobertas
científicas! Voltando então, foi após este estudo que pela primeira vez me posicionei a favor
da teoria de Copérnico. Comecei a afirmar que minhas observações são mais bem interpretadas quando se leva em consideração o modelo heliocêntrico de Copérnico, que é melhor para
descrever o movimento dos corpos celestes.
Nesse ponto a briga estava comprada! Em 1623 a Igreja se pronunciou sobre a teoria
heliocêntrica, afirmando que a explicação de que o Sol é o centro do universo e a Terra gira
em torno dele é teologicamente errada, portanto contraria as doutrinas da Igreja, que então
colocou o livro de Copérnico no índice dos livros proibidos pela igreja, o temido Index.
Os seus livros ocuparam qual posição no Index?
Pode parecer inacreditável, mas meus livros não foram para o Index, mas eu não fui
poupado tanto e fui convocado a expor meus argumentos em Roma. Tive a chance de defender minha opinião diante do Tribunal do Santo Ofício; no entanto, o conselho decidiu
que não existiam provas para comprovar que a Terra gira em torno do Sol, e fui aconselhado a desistir de defender a teoria heliocêntrica. Recusei-me, claro! E ficou explícito que
continuaria estudando e defendendo as ideias de Copérnico, e aí acabei sendo proibido de
ensinar e divulgar minhas teorias.
Mas eu não poderia estar errado diante de tudo que vi. Quer uma prova disso? Em
1632, Mafeo Berberini, meu amigo e que acabara de ser proclamado Papa Urbano VII,
me encorajou a publicar o livro Diálogo, embora tenha imposto uma condição: afirmar
que a Igreja estava certa. No livro eu crio três personagens para retratar nossa realidade.
Um personagem chama-se Salviati, que defendia o Heliocentrismo, ou seja, a verdade. O
segundo personagem era inteligente, Simplício, mas não tinha conhecimentos astronômicos,
puro leigo, representa o povo. O terceiro personagem, Sagredo, representa os defensores dos
pensamentos de Aristóteles; como não poderia deixar de ser, Salviati constantemente coloca
Sagredo em situações constrangedoras, desconcertantes. Usei alguns argumentos favoráveis à
Igreja, atendendo à condição do meu amigo, mas deixei bem claro que Copérnico, ou seja,
Salviati, estava correto.
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Então você resolveu incrementar a briga. E seu amigo, o papa?
Ficou irritadíssimo, afinal, eu estava defendendo a teoria Heliocêntrica, e não a Geocêntrica adotada pela Igreja. Além disso, foi convencido por seus auxiliares de que ele – o próprio papa – era um dos personagens do livro, Simplício, o mais atrapalhado. Meu livro teve
boa aceitação popular, e a autoridade da Igreja foi enfraquecida. Foi aí que o papa resolveu
tomar providências: o livro foi condenado e as cópias recolhidas. E quanto a mim? Bom, o
papa ordenou que a Inquisição me investigasse. Fui interrogado em Roma durante 18 dias,
e no dia 30 de abril de 1633 fui obrigado a confessar sob pena de tortura que as ideias de
Copérnico eram erradas e heréticas.
E aí você parou?
Quem se torna os olhos da humanidade para a descoberta do novo não pode parar. A
inquisição me condenou por apoiar a heresia de Copérnico, e minha pena compreendia prisão
domiciliar vitalícia e ler salmos; a prisão eu podia cumprir sem problemas, quanto aos salmos
aleguei que não conseguia mais ler, então uma de minhas filhas freiras (tenho duas no santo
sacerdócio), passou a lê-los para mim. Permaneci o resto de minha vida ativo, realizando
experiências e observando a grandeza do universo. Acredite, ainda escrevi mais um livro
Duas novas ciências, em que descrevo diversas pesquisas sobre o movimento dos
corpos celestes, sempre ressaltando a importância da matemática e da experimentação na
comprovação das teorias. Porque, na verdade, penso que sou o pioneiro nessa necessidade de
experimentar para comprovar.
Embora alguns me tenham por cético ou herege, não é nada disso. Sou cristão! Mas
não posso me tornar cego às inverdades que têm condenado a humanidade por tanto tempo
à escuridão, como os infindos buracos negros do nosso universo. O que me deixa mais
tranquilo é que, apesar da minha condenação, as ideias de Copérnico não foram condenadas
também. Existe um jovem que seria interessante entrevistar, chama-se Johannes Kepler.
Certamente ele tem coisas interessantíssimas para falar. A ciência é fantástica e nos convida
a experimentarmos, sempre! Experimentemos!
Galileu tem razão quando defende tanto a experiência, porque afinal,
ciência teórica sem prática, mostrando que só existe porque é possível fazer, não é ciência. Embora este gigante da astronomia não tivesse noção da
grandiosidade de suas descobertas, quando direcionou seu telescópio para
o céu, revolucionou a astronomia e foi imortalizado no campo cientifico
como popularizador da ciência e de novas ideias que mudaram a forma de
o homem observar o universo.
Esta entrevista é, sem dúvida, um dos momentos mais inesquecíveis da
minha vida. Agora estou indo encontrar-me com um ousado astrônomo
que, como Galileu, acredita que pode desvendar os mistérios do cosmo.
103
O cosmo sempre inquietou a humanidade; as civilizações durante
milhares de anos procuravam entender o espaço e a Terra. A astronomia
antiga era utilizada para fins místicos e para medir o tempo através das
posições da Lua, do Sol e das estrelas. Mas depois de Copérnico e seus mais
expressivos seguidores – Galileu –, e agora você, nossa visão de mundo
mudou. Mas quem é o homem cujo trabalho marcou o início da astronomia
moderna? Quem é Johannes Kepler?
Johannes Kepler
Eu venho de uma família muito humilde. Nasci na Alemanha em 1571 e sou filho de
Heinrich Kepler e Katharina. Como meus pais não tinham recursos financeiros, fui estudar
em um seminário protestante. Em 1588, passei na avaliação da Universidade de Tübingen,
e iniciei meus estudos em 17 de setembro de 1589. Já em 1591 fui aprovado para cursar
mestrado, com duração de dois anos, quando estudei arte, grego, hebreu, astronomia e física.
Eu ainda estudava quando fui convidado a ensinar matemática em um seminário
protestante na Áustria, e foi aí que eu comecei a ver o cosmo com outros olhos.
Mas você foi convidado para lecionar matemática!
Sim, mas além de professor, meu trabalho também incluía a posição de calendarista do
distrito, o que me aproximava da astronomia.
Bom, a relação com calendário parece óbvia, mas o que faz um
calendarista?
Um calendarista tinha a função de prever o clima, a melhor época para plantar e colher,
prever guerras e epidemias. O que hoje vocês chamam de meteorologia.
104
O fato é que eu não perdi muito tempo, no início de 1597 publiquei meu primeiro livro
Primeiras dissertações matemáticas sobre os mistérios do Cosmo.
Neste livro defendo a teoria de Copérnico, e propus que cada órbita planetária é estabelecida
por um sólido geométrico. Este modelo matemático podia prever os tamanhos relativos das
órbitas dos planetas.
Seguir as ideias de Copérnico não parecia um bom negócio naquela
época. Pelo menos Galileu teve muitos problemas.
Galileu, claro, o italiano! É, sem dúvida, confrontar teorias defendidas pela Igreja é um
negócio arriscado, você corre o risco de morrer queimado. Mas eu enviei um exemplar do meu
livro para Tycho Brahe, que respondeu que havia diferenças entre as previsões do modelo e
suas medidas. Enviei também um exemplar para Galileu, este mesmo que você citou em seu
comentário, que me retornou com uma carta de agradecimento, dizendo que ainda não havia
lido, mas acreditava sim nas teorias de Nicolau Copérnico.
Qual sua relação com Tycho Braher?
O Imperador da Boêmia, Rudolph II, resolveu contratar Tycho Braher como matemático
da corte de Praga, em junho de 1599. E em 1600 tive a oportunidade de visitá-lo no castelo
de Benatky, onde o Imperador acomodou Tycho. Eu tinha convicção de que, com os dados que
Braher possuía, eu poderia determinar as diferenças entre os modelos e as observações que o
próprio Braher havia detectado, quando lhe enviei meu primeiro livro.
Por causa das minhas convicções em relação à teoria heliocêntrica, o que era explícito,
fui abandonado por meus antigos mestres. Foi então que comecei a trabalhar com Tycho
Braher em Praga. Tínhamos opiniões diferentes, já que ele não acreditava na teoria de
Nicolau Copérnico.
E como foi trabalhar com alguém que tem pensamento contrário ao seu?
Complicado, mas eu precisava dos dados que ele havia levantado. Na verdade, Braher
propôs um modelo híbrido, transicional, que descrevia a Terra como o centro do Universo, o
Sol estaria girando à sua volta, e os outros planetas em torno do Sol. Tycho queria que eu
usasse as informações que ele possuía para demonstrar que seu modelo era o correto.
Como não encobri minhas convicções em relação à teoria heliocêntrica, Tycho se recusou a
me ceder alguns de seus dados e informações.
E como fez para chegar aos dados que precisava para fundamentar sua
teoria heliocêntrica?
A história é dramática, mas é o fato. Tycho abusava da bebida, foram muitos anos em festas
e bebedeiras, e logo passou a sentir as consequências em seu corpo. No leito de morte ele implorou
para que eu demonstrasse ao mundo que ele não havia vivido em vão, queria que eu divulgasse
sua teoria de mundo. Dois dias depois da sua morte, fui nomeado Astrônomo Imperial.
105
Após intensas pesquisas e estudos, honrei o pedido de Tycho Braher, não da forma
como ele queria, mas da forma real das coisas, provadas e comprovadas através dos cálculos
matemáticos. Bom, com os dados e informações que ele tanto se recusou a dar, eu descobri que
as órbitas dos planetas não eram círculos, mas elipses.
O que significa?
Eu demonstrei que minha hipótese sob a interação entre o Sol e os planetas estava correta.
Sugeri que forças magnéticas ocasionavam as órbitas planetárias, uma influência das ideias
do inglês William Gilbert, que afirmava que a Terra era um gigantesco ímã. Baseado nisto
propus que o Sol e todos planetas também fossem ímãs. E como são ímãs, esses astros podem
exercer atração mútua, que é invisível aos olhos. E quanto mais próximo do Sol estivesse o
planeta, mais ele seria atraído, e seu movimento seria acelerado.
Escrevi um livro Astronomia nova, no qual apresentei explicações físicas para
as órbitas dos planetas celestes. Demonstrei que os movimentos dos planetas seguem leis
matemáticas precisas e ordenadas. Mais tarde englobei todos os planetas do sistema solar.
As três leis que escrevi apresentam as órbitas não só neste, mas em todo o sistema solar, não
importando quais os planetas ou estrelas que girem em sua volta.
Eu nunca imaginei que conversar com astrônomos e cientistas fosse
algo tão fascinante, mas esses dois homens me ajudaram a entender que a
ciência não é bicho de sete cabeças, pelo contrário, não é bicho e pode ser
compreendida por qualquer cabeça, inclusive uma só; porque ciência é o
nosso dia-a-dia: o Sol que aquece, a Terra que gira, a Lua que influencia os
mares. Mas nossa série de entrevista não para aqui, ainda vamos conversar
com o inglês Isaac Newton, que tem uma história familiar complicada, mas
contribuições impagáveis para a humanidade.
No ano da morte de Galileu na Inglaterra, nasceu o homem que mudou
o rumo da ciência, que nessa época passava por momentos de turbulências,
devido a diferentes correntes de pensamento e cientistas que não se
entendiam. Então quem foi Isaac Newton?
Isaac Newton
106
Nasci em Wolsthorpe na Inglaterra, em 1642, no mesmo ano em que morreu o grande
cientista Galileu Galilei. Tive uma difícil infância, nasci órfão de pai, fui abandonado pela
minha mãe e criado pela minha avó. Voltei a conviver com minha mãe apenas após a morte
do meu padrasto, que não queria absolutamente nada comigo. Isso não me abalou, acreditava
que havia nascido para fazer a diferença no mundo.
Você sempre se interessou pela ciência? Quando surgiu essa paixão?
Desde criança sempre gostei de inventar e construir objetos. Estudei em Cambridge,
graças a um tio, foi onde desenvolvi o binômio de Newton. Entre 1665 e 1667, fiquei
refugiado na fazenda de minha mãe devido a uma peste que estava afligindo a Inglaterra, e
isso acabou comprometendo a minha formatura. No entanto, aproveitei a época para refletir
e formular algumas teorias. Nesse período a ciência estava em conflito, existiam várias linhas
de pensamentos que tentavam explicar a física terrestre e celeste, esse era o momento de
associá-las.
Estava pronto para unir a ciência. Tive como base para minhas descobertas brilhantes
cientistas que me antecederam, entre eles Galileu Galilei e Johannes Kepler, além de algumas
ideias que já tinha desenvolvido.
Não deve ter sido fácil aliar duas físicas, conte-nos um pouco sobre essa
experiência.
Meu primeiro desafio foi descobrir os enigmas do movimento e apresentar quantitativamente
as mudanças no movimento de um corpo. Após diversas análises de situações do cotidiano,
percebi que, quanto maior a força, maior a mudança no movimento. Um corpo inercial
opõe-se a qualquer mudança em seu movimento, e essa resistência é uma medida da massa
do corpo: quanto maior a massa, maior a resistência que o corpo oferece a mudanças em seu
movimento.
Como foi, para você, ajudar a comprovar os trabalhos de dois dos maiores cientistas do mundo?
Foi um privilégio indescritível. Em relação a Galileu, que afirmava que todo objeto em
queda livre é acelerado pela Terra, independentemente da massa, descobri que os objetos são
acelerados pela Terra porque ela exerce uma força sobre eles. Então o que acontece com os
astros celestes? Para Kepler existia uma força entre o Sol e os planetas, mas que força seria
essa? Comecei a me questionar, mas faltava uma matemática para descrever esse fenômeno,
e nenhum dos meus antecessores apresentava esse recurso. Para continuar estudando, tive que
criá-la, atualmente ela é conhecida como matemática do cálculo diferencial e integral.
Outro fato que me intrigava era a Lua permanecer em órbita, sem cair na Terra. Foi
quando em determinado dia, sentado embaixo de uma árvore, observei uma maçã caindo,
e comecei a me questionar. Que força teria feito essa maçã cair? Será que é a mesma força
107
que impede a Lua de fugir da sua rota? Foi através desse acontecimento que descobri a
lei da gravitação universal, concluindo que a Terra não atrai só a maçã, mas todos os
corpos do universo que possuem massa, ou seja, duas partículas se atraem com forças
cuja intensidade é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que as separa. Essa foi a primeira lei da física a
se aplicar tanto nos corpos terrestres quanto nos astros celestes.
Além das teorias já mencionadas, que outras grandes descobertas você
fez?
Em 1669 formulei a teoria que diz que as cores sofrem a refração da luz. Quando
um raio de sol atravessa um prisma de vidro, sai do outro lado como um feixe de luzes de
diferentes cores, como um arco-íris. Fiz o feixe colorido passar por um segundo prisma,
onde as cores voltaram a se juntar em outro feixe, de luz branca, igual ao inicial.
Graças a essa descoberta, pude perceber que o fenômeno da refração luminosa diminuía
a eficiência dos telescópios, então comecei a trabalhar em um telescópio refletor, em que a
concentração da luz era feita por um espelho parabólico e não por uma lente.
Muitos cientistas, apesar de grandes contribuições para a ciência, não
receberam reconhecimento ou tiveram seus trabalhos ignorados. Diante
de tantas descobertas, na sua época você foi reconhecido pelo grande
trabalho realizado?
Sim. Em 1671, fui convidado a assumir o cargo de professor catedrático de matemática
da Universidade de Cambridge e, no ano seguinte, fui escolhido para a Royal Society. Em
1684 tive a honra de receber a ilustre visita do astrônomo Edmond Halley, que queria me
questionar a respeito dos movimentos dos planetas, observados pelos astrônomos. Então
decidi retornar algumas reflexões sobre a mecânica celeste. O resultado desses estudos foi
a obra Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, que propõe três
princípios básicos: o da inércia, o da dinâmica e o da ação e reação.
O princípio da inércia afirma: na ausência de forças externas, um objeto em repouso
permanece em repouso, e um objeto em movimento permanece em movimento. A segunda
lei, ou Princípio Fundamental da Dinâmica, diz que a força aplicada a um objeto é igual
à massa do objeto multiplicado por sua aceleração. E na terceira lei, o princípio da ação
e reação, que diz que se um objeto exerce uma força sobre outro objeto, este exercerá uma
força da mesma intensidade, mesma direção e em sentido oposto àquele. Houve grande
repercussão internacional da minha obra. Fui eleito para o parlamento no ano de 1687,
também nomeado para a Casa da Moeda em 1696, quando me mudei para Londres.
Tornei-me presidente da Royal Society em 1703, e mais tarde consagrado Cavaleiro,
quando passei a me chamar Sir Isaac Newton.
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Newton revolucionou o mundo com suas teorias, que trouxeram uma
nova visão de mundo, pelas quais todos os fenômenos da natureza são
apresentados quantitativamente por leis matemáticas e possíveis de serem
experimentadas, levando o mundo à era da razão. O próximo entrevistado,
assim como os cientistas com quem já conversamos, modificou a sua época
com suas teorias e entrou para a galeria dos grandes cientistas da história.
Alemanha. É aqui nosso próximo destino desta viagem pela astronomia
e seus cientistas. Foi aqui que nasceu um dos maiores gênios de todos os
tempos: criativo e curioso, foi uma das personalidades mais marcantes da
ciência, fez descobertas importantes para a humanidade que influenciaram
inúmeros cientistas que o sucederam. Vamos conhecer um pouco mais
sobre Albert Einstein!
Albert Einstein
Nasci na Alemanha em 1879, filho de Hermann Einstein e Pauline Koch. Meu pai
era proprietário de um negócio de pena para colchões. Em 1985 comecei a frequentar a
escola Católica de Munique, depois entrei no Luitpold Gymnasium, onde fiquei até os 15
anos. Em 1894 minha família teve dificuldades nos negócios e se mudou para a Itália. Eu
permaneci em Munique para terminar meu ano letivo.
Como foi a sua vida acadêmica?
Um ano mais tarde fiz um exame para admissão em Eidgenössische Technische
Hochschule (ETH), em Zurique, mas infelizmente fui reprovado na parte de humanidades.
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Então resolvi ir para Aarau, para concluir a escola secundária. Terminei a escola secundária
em 1896. Resolvi renunciar à cidadania alemã e fiquei sem pátria por alguns anos. Somente
em 1901 a cidadania suíça me foi concedida. O ensino superior cursei na ETH em Zurique,
onde mais tarde fui professor.
E a sua vida profissional?
Lecionei em Berna, Zurique e Praga entre 1909 e 1913. Voltei para a Alemanha
pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial. Resolvi aceitar um cargo de pesquisa
na Academia Prussiana de Ciências, junto com uma cadeira na Universidade de Berlim.
Também assumi a direção do Instituto Wilhelm de Física em Berlim.
Vamos falar agora sobre as suas descobertas, quais as mais marcantes?
Em 1905, quando conclui meu doutorado, publiquei quatro ensaios científicos com
algumas descobertas que havia feito. Entre elas formulei uma nova teoria sobre a luz; sugeri
que a luz também pode ser vista como composta com pequenos pacotes, que mais tarde foram
chamados de fótons, e a energia dos fótons é determinada pela frequência da radiação que eles
apresentam, ou seja, quanto maior a frequência do fóton, maior a sua energia. Anos mais
tarde minha teoria foi confirmada na prática e, em 1921, ganhei o prêmio mais importante
da ciência – o Nobel – por minhas explicações a respeito do efeito fotoelétrico.
E a famosa teoria da Relatividade? Ela provocou uma revisão dos conceitos científicos de espaço e de tempo!
Escrevi um ensaio dedicado à teoria da relatividade, que intitulei de Movimento
eletrodinâmico dos corpos, no qual sugeri que o espaço e o tempo são valores
relativos e não absolutos, ao contrário do que era acreditado por muitos cientistas, inclusive
por Newton. Além de ser da luz a velocidade máxima do universo, para que o corpo se
deslocasse a essa velocidade o tempo sofreria uma dilatação, no mesmo momento em que o
espaço seria contraído. Assim, o corpo que permanecesse em repouso envelheceria em relação
ao corpo em movimento. Passei nove anos tentando generalizar minha teoria, até que em
1916 conclui a Teoria da Relatividade Geral, na qual descobri que a gravidade pode ser
explicada como produto da curvatura do espaço em torno de um corpo com massa.
Na sua vida você passou por altos e baixos. Poderia descrever algumas
de suas experiências?
Em meados de 1933, Hitler chegou ao poder na Alemanha e fui aconselhado por meus
amigos a deixar o país e renunciei à cidadania alemã mais uma vez. Então parti para
os Estados Unidos, onde integrei o Instituto de Estudos Avançados na Universidade de
Princeton. Ganhei cidadania americana em 1940, mantendo também a suíça. Em 1941
iniciou o Projeto Manhattan, que visava ao desenvolvimento da bomba atômica, mas não
tive participação no projeto. Em 1945, renunciei à função de diretor do Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de Princeton, mas permaneci trabalhando naquela instituição.
110
Publiquei outros livros, entre eles Por que a guerra? (1933), em colaboração com
Sigmund Freud; O mundo como eu o vejo (1949); e Meus últimos anos
(1950). A característica marcante dos meus livros foi a síntese de informações sobre o mundo
físico, que favoreceu a compreensão mais ampla do Universo.
Ben-Gurion, primeiro ministro de Israel, em 1952 me convidou para assumir o cargo
de presidente do Estado de Israel. Tive que recusar, pois me encontrava doente. Assinei uma
carta dedicada a Bertrand Russell, na qual concordava que meu nome fosse incluído em um
pedido aconselhando todas as nações a abandonarem os armamentos nucleares.
E a sua tentativa de calcular o tamanho do universo?
Foi frustrante, eu não gostava da ideia de que o universo era infinito e com uma quantidade
de matéria finita. Acreditava em um universo espacialmente finito, estático e esférico, como
uma bola. Propus que o universo poderia ser compreendido supondo que sua massa fosse em
média distribuída igualmente por todo o volume. Para formalizar minha teoria, elaborei o
“Princípio Cosmológico”, em que todos os pontos do universo são indistinguíveis e isotrópicos
(o mesmo em todas as direções), não existe um ponto especial. Nesse universo a densidade da
matéria é constante, e como consequência o raio de curvatura do universo também é constante.
Infelizmente estava errado.
É, mas para sorte da ciência, a partir de 1920, com a criação de um
telescópio com espelho de 100 polegadas, que foi construído no topo do
monte Wilson, ao leste de Los Angeles, o jovem Edwin Hubble, através de
suas observações, encontrou duas respostas fundamentais para o mundo
astronômico. Em 1924 acabou com o debate a respeito das nebulosas. Hubble mostrou que as nebulosas eram na verdade outras galáxias, repletas de
estrelas e distantes milhões de anos-luz do Sol. Com auxílio do telescópio,
Hubble fez outra incrível descoberta: a expansão do universo. Ele estudou
a luz emitida pelas galáxias distantes observando que os comprimentos de
ondas em alguns casos eram maiores do que o obtido em laboratório. Esse
fenômeno era consequência do efeito Doppler, que ocorre quando a fonte
e o observador se movem. Quando se afastam um do outro, o comprimento de onda visto pelo observador aumenta e, consequentemente, diminui
quando se aproximam. Então Hubble deduziu que as galáxias se afastam
umas das outras, e que a velocidade é maior quanto maior a distância entre
elas. Ele usou métodos precisos para definir a relação entre o deslocamento
do comprimento de onda e a distância de uma galáxia. Essa relação ficou
conhecida com a “Lei de Hubble” e revolucionou a história da ciência. Foram descobertas extraordinárias.
111
Mas as descobertas no campo científico não paravam, as teorias de
Hubble trouxeram grandes discussões. Se o universo está se expandindo,
deve-se ao fato de que no passado ele pode ter sido menor. Por ironia do
destino, o primeiro a propor um modelo para a origem do universo foi o
padre belga Georges Lemaître. Em 1927 ele sugeriu um modelo científico
que ficou conhecido como “átomo primordial”. Para ele, no princípio
existia apenas um enorme núcleo atômico, muito instável. Lamaître
calculou a origem do universo como uma desintegração radiativa desse
átomo, e devido à desintegração foram emitidas partículas e radiação. Ele
julgou que essa ejeção de partículas pelo núcleo foi seguida pela criação
do espaço, que crescia à medida que as partículas se afastavam.
Influenciado pelas ideias de Lamaître, em 1948 o físico russo naturalizado
americano George Gamow apresentou um modelo cosmológico que
adotava a expansão do universo. Sua intenção era explorar o fato de o
universo em expansão ter tido uma origem muito quente e densa. Ele,
com a importante colaboração de dois alunos de doutorado, Robert
Hermann e Ralph Alpher, desenvolveu o modelo que ficou conhecido
como “modelo do Big Bang”. Para eles o universo iniciou de uma grande
explosão, o Big Bang, dando origem às partículas simples viajando livres
pelo espaço, tornando-se mais complexas à medida que a expansão
ocorria, e a temperatura diminuía.
Big Bang
112
Gamow e seus assistentes fizeram previsões baseados na concepção de
que no início o universo era quente e denso; raciocinaram e perceberam
que cerca de 24% do universo é constituído por hélio. Calcularam qual seria
a temperatura. Após ter resfriado durante bilhões de anos, a temperatura
encontrada se situava entre 3 e 10 Kelvin (atualmente o valor encontrado
pelos radiotelescópios é de aproximadamente 2,73 Kelvin).
Em 1964, ocorreu um fato muito interessante. Arno Penzias e Robert Wilson
tentavam solucionar os problemas de telecomunicações dos laboratórios Bell,
um dos principais institutos de pesquisas dos Estados Unidos. Acontece que
estranhos ruídos apareciam em telefonemas internacionais. Eles investigaram
com atenção seus equipamentos, suspeitaram que pudesse ser interferência
de um ninho de pombo instalado dentro de uma antena, que em seguida foi
encontrado e retirado. Tudo em vão, o chiado permanecia.
Foi então que Penzias e Wilson perceberam que o ruído não era só
insistente, mas vinha de todos os lados do céu, independentemente de que
direção era apontada a antena. Mais tarde descobriram que a enigmática
interferência na verdade era radiação remanescente do Big Bang. Eles
tinham redescoberto as ideias de Gamow e seus alunos. Penzias e Wilson
acharam “raios fósseis” que se originaram após o desacoplamento de
matéria e radiação, uma espécie de imagem do universo quando ele tinha
apenas 300 mil anos. Por mais de bilhões de anos, esses fótons percorreram
o espaço intergaláctico e são vestígios da origem muito quente do universo.
Acontecia a grande vitória do modelo Big Bang.
Porém, antes da descoberta da radiação cósmica de fundo, em 1957 o
lançamento do primeiro satélite artificial surpreendeu o mundo. O Sputnik
I foi lançado pela União Soviética no dia 4 de outubro. O Sputnik era uma
esfera de aproximadamente 58,5 cm e pesava 83,6 kg. O satélite possuía
equipamento de rádio operante em pelo menos dois comprimentos de
onda com potência suficiente para ser captado por amadores e para obter
dados sobre a propagação de ondas de rádio através da atmosfera. As
fontes de potência deveriam ser baterias on board, garantindo trabalho para
duas ou três semanas. O objetivo da missão era fornecer informações
sobre a densidade da atmosfera, testar métodos de rastreamento orbital
por meios optico e de rádio, determinar os efeitos da propagação de ondas
de rádio através da atmosfera e verificar os princípios de pressurização
usados nos satélites.
113
Esse satélite ficou em órbita por seis meses antes de cair. O Sputnik II
foi lançado em 4 de novembro de 1957, pesando 508 kg e apresentou uma
novidade em relação ao primeiro: enviou o primeiro ser vivo ao espaço,
a cadela Laika, que foi recolhida nas ruas de Moscou. A cadela morreu.
A versão da época teria sido a falta de oxigênio, conforme o comunicado
pelos soviéticos. Anos mais tarde, os cientistas desvendaram a causa
da morte: Laika teria morrido horas depois do lançamento devido ao
superaquecimento da cabine.
O Sputnik e a cadela Laika
Após o lançamento dos primeiros satélites, os Sputniks, satélites de
vários tipos iniciaram o povoamento do espaço. Os satélites atualmente são
imprescindíveis para várias atividades do homem, como telecomunicações,
previsões meteorológicas, levantamento de recursos minerais e testes de
novas tecnologias.
Em 12 de abril de 1961, aos 27 anos de idade, Yuri Gagarin tornou-se
o primeiro ser humano a ir ao espaço, no qual deu uma volta completa em
órbita ao redor do planeta e proferiu a famosa frase “A Terra é azul”. Esteve
em órbita 108 minutos a bordo da nave Vostok 1, que tinha 4,4 metros de
comprimento, diâmetro de 2,4 metros e a massa de 4.730 kg.
O homem continuou produzindo grandes avanços. Em 1969 o americano
Neil Armstrong tornou-se o primeiro astronauta a pisar a Lua através da
missão Apolo 11. Os astronautas trouxeram 37 quilos de pedras para serem
analisadas em laboratório; a ideia era descobrir por meio das rochas os
mistérios do sistema solar.
O Brasil também teve participação na conquista do espaço. Em 2005 a
Agência Espacial Brasileira e a Agência Espacial da Federação Russa assinaram
114
um acordo que tornou realidade a primeira missão espacial com um tripulante
brasileiro, Marcos Cesar Pontes. A “Missão Centenário” é uma homenagem
ao brasileiro Albert Santos Drummont, pelos 100 anos do voo do 14 Bis
pelos céus de Paris. Além de Marco Pontes, a missão tinha como tripulantes
o russo Pavel Vinogradov e o americano Jeffrey Williams.
Marcos Pontes
A decolagem da espaçonave russa ISS Syuz 12 oconteceu no dia
29 de março de 2006 no centro de lançamento Baikonur, localizado no
Cazaquistão. O objetivo da missão era realizar experimentos brasileiros que
atualmente estão sendo analisados por pesquisadores brasileiros.
Novas descobertas continuam acontecendo, mas isso é assunto para
próximas conversas. Terminamos aqui a nossa série de entrevistas com os
grandes cientistas que a humanidade já conheceu, eles que se propuseram a
explorar o cosmo, para que a humanidade hoje pudesse conhecer um pouco
de sua origem e os mistérios do universo.
Eu sou o mensageiro das estrelas, um jovem repórter que, através de uma
viagem no tempo, fiz as entrevistas mais incríveis da minha vida, buscando
saber o que pensavam os grandes cientistas quando revolucionaram a
astronomia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A astronomia é o estudo de todos os corpos celestes, que descreve
as características de estrelas, planetas, cometas e os demais astros que
compõem o universo. A astronomia antiga envolvia a observação dos
céus, dos movimentos dos objetos celestes que eram visíveis a olho nu,
115
especialmente o Sol, a Lua, planetas e estrelas que eram utilizadas para
calcular as estações do ano, para elaboração de calendários e para prever
quando era a melhor época para o plantio e para a colheita.
As formas de observação do universo foram se alterando, o homem
modificou a sua concepção de mundo, criou instrumentos que permitiram
as observações mais precisas dos astros e passou a melhorar seus
equipamentos. Com o aperfeiçoamento dos aparelhos astronômicos,
foi possível as descobertas de galáxias, planetas e estrelas, o lançamento
de satélites artificiais. O homem pôde chegar ao espaço, visitou a lua e
continua a busca para encontrar vestígios de seres vivos ou fósseis desses
seres em outros planetas do sistema solar ou fora dele. Atualmente os
cientistas não estudam o universo apenas para entender o cosmo, mas
para desenvolver outros campos da ciência e tecnologia.
Muitas das pesquisas e descobertas modernas estão baseadas em
estudos realizados por pioneiros nas observações astronômicas, como
por exemplo, os estudos de Galileu Galilei sobre as luas de Júpiter, que
ajudaram a entender o contexto do sistema solar e as descobertas de
Edwin Hubble sobre a recessão de galáxias distantes, que mostraram que
o Universo está se expandindo. A curiosidade do homem a respeito do
universo é antiga e colaborou para que atualmente a astronomia pudesse
ser útil em diversas áreas: na agricultura, navegação náutica, arquitetura,
na previsão do tempo e nas mudanças climáticas.
Além de responder a perguntas intrigantes e estimular novas questões,
o estudo astronômico e o desenvolvimento da ciência contribuem para o
avanço da humanidade.
Há quatro séculos que os cientistas observam os céus com olhos
mais atentos e potentes. Isso permite a melhor compreensão das leis que
regem a natureza, sendo fundamental para o avanço de novas tecnologias
e melhoria de vida para os habitantes da Terra, além de chegar cada vez
mais longe na observação do cosmo e de se aproximar cada vez mais das
questões para compreender a origem da vida.
116
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LIMA, J. A. S. A fama de Einstein e a experiência de Sobral.
Disponível em: <http://www.astronomia2009.org.br/>. Acesso em: 10
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Disponível em: <http://www.observatorio.ufmg.br/Pas77.htm>. Acesso em: 3 ago. 2009.
WINTER, O. C.; PRADO, A. F. B. A. (Orgs.). A Conquista do Espaço:
do Sputnik à Missão Centenário. São Paulo: Editora Livraria da Física,
2007.
117
Menção Honrosa
De Stonehenge a Spitzer:
a evolução das observações
astronômicas
Estudante: Edson Luis Kuzma, 17 anos, 3º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Elenita Chuproski Scharlau
Colégio Estadual Antonio Xavier da Silveira - Irati, PR
RESUMO
A astronomia é uma das ciências que desperta mais curiosidade no
consciente e no subconsciente do ser humano. A ansiedade em se obter
mais conhecimento e entendimento sobre o Universo que nos rodeia
é algo imprescindível à visão humana. Além da compreensão, o homem
também busca o constante aproveitamento desses recursos a seu favor,
desenvolvendo cada vez mais esta que é a mais primordial de todas as
ciências: a astronomia. Os conhecimentos relacionados à astronomia são
desenvolvidos desde os primórdios da existência de nossa raça. Embora
pareça que o Universo e, consequentemente, o seu estudo e sua posterior
compreensão estejam fora do raio de entendimento das grandes massas
populares, esse pensamento é totalmente equivocado. Mesmo que atualmente
os pesquisadores desse assunto sejam possuidores de avançadas tecnologias,
esse não é um conhecimento restrito apenas a eles, pois a curiosidade em
se saber o que há além do nosso planeta está presente em todas as pessoas.
O monumento megalítico de Stonehenge foi a primeira construção
realizada para fins de observação celeste. A partir daí, ocorreram sucessivas
mudanças que levaram a um grande avanço tecnológico. De lá até hoje, os
equipamentos vêm sendo aprimorados a ponto de atualmente podermos
saber o que há e acontece nos confins do Universo. A última inovação foi
o lançamento do Telescópio Espacial Spitzer, que nos ajudará a observar
os mais remotos pontos do Cosmos. Essas inovações no campo científico
foram acompanhadas por uma elevação na qualidade de vida das pessoas,
com a adaptação dessa tecnologia ao nosso dia-a-dia. Enfim, todas essas
119
mudanças revolucionaram não somente a ciência, mas a sociedade como
um todo. É por isso que muito do que nós temos devemos à astronomia e,
por conseguinte, aos cientistas que nela trabalham.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi realizada a partir da análise dos estudos e conclusões
obtidos pelos mais renomados astrônomos atuais e da Antiguidade. Tendo
em mãos esses conhecimentos, foi possível a elaboração de um conceito
próprio, que foi explicado e defendido no decorrer do desenvolvimento
do trabalho. Vale salientar que o conteúdo explícito é fruto de profundas
pesquisas realizadas não somente com o advento da divulgação do concurso,
mas de estudos feitos em anos anteriores que foram constantemente
aprimorados.
O desenvolvimento do trabalho em si segue rigorosa ordem
cronológica dos fatos. Inicia-se com a abordagem sobre os primórdios
do desenvolvimento das civilizações, paralelamente com o surgimento
da astronomia. Também é evidenciada a ligação entre a astronomia e as
representações culturais dos povos antigos. Segue-se o desenvolvimento
cronológico, desde a realização das primeiras observações até a construção
de aparelhos e centros de observação. Ainda é abordada a caracterização e
as descobertas de corpos celestes, bem como a sua dinâmica e composição.
Além desses conceitos, discute-se sobre as teorias e sobre a vida de alguns
astrônomos que contribuíram no âmbito mundial para o progresso da
ciência.
Não se deve deixar de lado, ainda, a participação do Brasil e seus
profissionais no andamento dos progressos científicos.
A base fundamental do trabalho é demonstrar a extrema importância
da Astronomia, tanto no desenvolvimento da humanidade como na análise
dos processos naturais que envolvem o Universo.
De Stonehenge a Spitzer: a evolução das observações
astronômicas
Estudos antropológicos e históricos confirmam que a matemática
e a astronomia foram as duas primeiras ciências que surgiram. O seu
120
aparecimento foi estimulado pelas crescentes necessidades do homem
antigo na resolução de problemas do seu dia-a-dia. Ambas as ciências
nasceram quase que simultaneamente, pois principalmente a astronomia
antiga baseava-se nas invenções e descobertas que surgiam a partir da
matemática.
A teoria mais provável de veracidade em suas argumentações sobre a
origem da astronomia primitiva, ou seja, das observações rudimentares
realizadas por povos antigos, é a necessidade deles em ter que preservar e
manter a sua capacidade de sobrevivência. Como esses povos primitivos,
que eram nômades, passaram a se fixar em lugares onde era possível o
desenvolvimento da agricultura, do pastoreio de animais e do posterior
estocamento dos excedentes, esses lugares deveriam ser absolutamente
seguros. Com a observação dos ciclos lunares e, principalmente, das estações
do ano, seria possível prever os períodos de mudanças e transições climáticas,
como os períodos secos e os chuvosos. Iam-se criando assim, laços fortes
entre o aprimoramento dos conhecimentos científicos e o desenvolvimento
das micropopulações primitivas, o que propiciou os consecutivos avanços
na área da astronomia.
A agricultura foi um fator determinante que fez com que o homem
conseguisse ascender dentre as outras espécies. A partir dela, as populações
cresceram geometricamente. Com seus básicos, mas fundamentais
conhecimentos sobre a astronomia, o homem pôde aprimorar suas técnicas
para o cultivo de suas plantas, escolhendo a época certa para as semeaduras
evitando uma eventual intempérie capaz de prejudicar o desenvolvimento
de suas culturas. A observação das fases da Lua teve crucial importância
não somente para a agricultura, mas para todo o desenvolvimento das
civilizações.
Em alguns pontos da Terra, algumas civilizações desenvolveram não
somente estudos, mas também levantaram verdadeiros monumentos
em adoração e contemplação ao vislumbrante e desconhecido céu. O
alinhamento de Stonehenge, um templo megalítico a céu aberto localizado
na Grã-Bretanha, ao meio-dia dos solstícios, é, talvez a maior manifestação
de conhecimento da astronomia de nossos antepassados. Não é provável,
apesar da extrema precisão que se verifica em tais efemérides astronômicas,
que Stonehenge tenha funcionado como um observatório astronômico,
no sentido atual do termo, sendo mais provável que tenha sido um local
121
de cultos para realização de rituais de povos pagãos. O eixo central de
alinhamento de Stonehenge encontra-se na direção do nascer-do-sol no
solstício de inverno, e em direção ao pôr-do-sol no solstício de verão.
Em Portugal também há uma construção semelhante, porém maior e
não tão bem conservada quanto a inglesa. É o Cromeleque dos Almendres,
um monumento megalítico que se situa próximo a Évora. Constitui a
maior planta neolítica da Península Ibérica, com 92 grandes pedras
parcialmente trabalhadas, formando círculos e alinhamentos relacionados
a alguns pontos referenciais astronômicos conhecidos da época.
Contudo o verdadeiro berço da astronomia foi na antiga e fabulosa
Mesopotâmia, região que corresponde atualmente ao Iraque, localizada
entre os rios Tigre e Eufrates. Foi nos vales dessa monumental porção
de terra que muitos povos estabeleceram-se e prosperaram, cada um
com a sua peculiaridade. Mas todos esses povos tiveram algo em comum:
um grande desenvolvimento nas áreas de ciências gerais e específicas.
Os mesopotâmicos foram, das civilizações da Antiguidade Oriental, os
que mais contribuíram com seus estudos no campo da astronomia, pela
qualidade e quantidade de observações.
Paralelamente ao estudo da astronomia pelos mesopotâmicos,
principalmente pelos sumérios, estava o estudo da matemática, que era
muito bem desenvolvida. Aliados à invenção da escrita, esses fatores
fizeram com que os mesopotâmicos iniciassem uma série de descobertas
em vários campos científicos. Desenvolveram um sistema de numeração
baseado no número 60, dividindo o círculo em 360 graus, cada grau em
60 minutos, e cada minuto em 60 segundos. Realizaram observações
sistemáticas do movimento do Sol, da Lua e dos planetas, determinando
as fases da Lua, as estações do ano e a inclinação da trajetória da Terra
em relação ao Sol. A partir do conhecimento acumulado por tais povos,
foi possível a elaboração de um calendário rudimentar, mas que foi sendo
aprimorado com o passar dos tempos.
Todos esses conhecimentos astronômicos foram obtidos pelos
mesopotâmicos com persistentes e sistemáticas observações realizadas
durante o decorrer dos séculos e até milênios, fazendo uso de aparelhos
muito rudimentares. Os principais eram o Gnomon, a Clepsidra e o Polo.
O Gnomon é o aparelho astronômico mais antigo de que se tem registro.
122
É composto de uma haste longa e afinada, colocada verticalmente ao
solo, cuja sombra permite localizar a posição do Sol. A Clepsidra é uma
espécie de marcador do tempo, formado por um recipiente cheio de água
ou areia, com uma pequena abertura por onde lentamente esta escoa.
Assim, o nível vai descendo e sendo marcado com uma escala feita na
parede do recipiente. O Polo consiste em uma pequena esfera cavada
numa rocha, com sua cavidade voltada para cima. No centro, por meio
de uma haste fixa, projeta-se uma sombra na cavidade da rocha, o que
permite a medida do tempo.
No Egito Antigo também houve significativos progressos nos estudos
astronômicos. A observação das estrelas fascinou, desde tempos remotos,
essa grande e surpreendente civilização. O extremo perfeccionismo
matemático utilizado nas construções das monumentais pirâmides nos faz
admitir o elevadíssimo grau de conhecimento egípcio. Isso faz com que
esse povo ganhe especial destaque nos campos matemático e astronômico
que, juntamente com os grandes escritos da Biblioteca de Alexandria,
revelaram conhecimentos que nós apenas conseguimos constatar no
início do século XX.
Segundo Hans Krofer, um estudioso especialista nesta área,
(...) a base da Grande Pirâmide (referindo-se à Pirâmide de Quéops) é um quadrado
de 232,805 m de lado, ou seja, uma superfície de 53.842 m²; mais de cinco hectares. Sua
altura(de quando foi construída) é de 148 metros. E o quadrado dessa altura é exatamente
igual à superfície de uma das faces triangulares. Essa altura de 148 metros multiplicada
por dez elevado à nona potência é igual à distância média da Terra ao Sol. (...) O
perímetro da base da Pirâmide é de 931,22 m. Se dividirmos esse número duas vezes pela
altura da Pirâmide, temos o valor de Pi. A medida empregada para a construção era o
côvado sagrado, ou seja, 0,635660 m. Se o multiplicarmos por dez milhões, obteremos
6.356.600 m, que é precisamente o valor que a ciência atual atribui ao comprimento do
raio do centro da Terra ao polo. (...). (Hans Krofer, 1999).
Talvez seja incompreensível que tal civilização antiga possua tanta
precisão na elaboração desses cálculos. Krofer ainda conclui:
(...) E isso não é tudo. A Grande Pirâmide está orientada exatamente ao norte, e
o corredor que sobe do interior da mesma dirige-se exatamente à Estrela Polar norte
atual, ou seja, esse corredor está situado paralelamente ao eixo da Terra. (...). (Hans
Krofer, 1999).
123
Isso demonstra que, não só a matemática, mas também a astronomia
era dominada pelos egípcios. Muitos desses dados matemáticos e
astronômicos, além de tantos outros de literatura, medicina e filosofia,
talvez estivessem registrados na monumental Biblioteca de Alexandria.
Tragicamente, esse grande acervo de conhecimentos contendo escritos
dos maiores cientistas antigos, onde eram guardados mais de um milhão
de pergaminhos, foi totalmente destruído.
Os povos da América também desenvolveram seus conhecimentos
astronômicos, embora de forma isolada em relação ao resto do mundo.
Dentre estes, os maias foram os que mais se interessaram em analisar
o comportamento celeste. Mas ao contrário dos egípcios ou dos outros
povos que observavam várias estrelas, os maias interessaram-se em especial
por uma: o Sol. Considerado um deus, o Sol para os maias era digno
de adoração. Templos eram erguidos em sua homenagem, e sacrifícios
humanos eram constantemente utilizados como forma de reforçar os
laços entre deus e homem.
Os gregos, um povo possuidor de vastos conhecimentos nas mais
variadas áreas, demonstraram que, através de observações naturais, era
possível a dedução de certos dados sobre a natureza dos astros. Durante
um eclipse, observou-se que a sombra que a Terra projetava sobre o seu
satélite, a Lua, era cinco vezes maior que ela mesma. Com isso, podese deduzir, aproximadamente, o tamanho comparativo entre a Lua e a
Terra.
Os romanos, que se assemelhavam aos gregos em seus conhecimentos,
contribuíram para a nomenclatura dos planetas que foram descobertos
posteriormente. Os planetas receberam o nome dos deuses romanos,
como Mercúrio, o Mensageiro dos Deuses, Vênus, a Deusa do Amor,
Marte, o Deus da Guerra e Júpiter, o Deus Supremo.
Dentre este panorama de grandes informações a respeito da mecânica
celeste, levantou-se uma nova e preocupante questão: como seria a
organização dos planetas, da Lua, do Sol e das demais estrelas em relação
à Terra? Em resposta a essa indagação, um matemático e astrônomo,
chamado Cláudio Ptolomeu, formulou a Teoria do Geocentrismo, ou
seja, a Terra no centro do Universo. Segundo os estudos de Ptolomeu, o
Sol, a Lua e os planetas orbitavam ao redor da Terra, na seguinte ordem:
Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.
124
Essa teoria foi aceita durante 16 séculos, até que o cônego polonês
Nicolau Copérnico, um apaixonado pela astronomia, contestou a
veracidade de tais afirmações. Baseado em seus estudos e em escritos
deixados por outros estudiosos, Copérnico assim concebeu a sua visão
sobre a ordem dos fatos:
(...) Depois de longas investigações, convenci-me, enfim, de que o Sol é uma estrela
fixa, rodeada de planetas que giram à sua volta e dos quais ele é o centro. (...).
(Copérnico, 1543).
Com forte embasamento e tendo várias evidências à seu favor, criou a
Teoria Heliocêntrica, com a publicação de sua obra-prima, o Revolutionibus
Orbium Coelestium, afirmando que o Sol é o centro o Sistema Solar. Copérnico
também servia à Igreja Católica, fato que fez com que tivesse acesso ao saber
entesourado da Igreja. Após minuciosos cálculos, ele deduziu que a Terra
executava um movimento em torno do seu próprio eixo: isso explicava o
aparente movimento do Sol e das outras estrelas, bem como a sucessão de
dias e noites, comprovando que não era o Sol que se movia, e sim a Terra.
Após 20 anos da divulgação desses trabalhos, Giordano Bruno
acrescentou a essa nova e pulsante teoria que o Universo era infinito,
levando a mais uma série de contestações e polêmicas. Giordano foi
condenado à morte na fogueira pela Inquisição.
Durante a Idade Média, outros monges europeus também articularam
suas debilitadas, mas significativas ideias sobre os fenômenos celestes.
Enclausurados em seus mosteiros, registravam suas observações e
explicações sobre a ocorrência das marés, dos equinócios e solstícios, dos
eclipses e, a partir disso, aprimoravam cada vez mais os calendários. Existem
até alguns registros de observações de uma possível explosão de estrela,
realizadas em um mosteiro na Alemanha. Todos esses acontecimentos,
segundo a extrema visão teocêntrica da época, eram sinais divinos, formas
que Deus usava para se comunicar com os homens.
A astronomia obteve grandes vitórias quando Galileu Galilei, um
astrônomo italiano, desenvolveu seus estudos sistemáticos sobre os vários
conceitos inacabados levantados por seus antecessores. Viveu numa época
de grande turbulência no campo científico. Os entraves entre o antiquado
geocentrismo e o revolucionário Heliocentrismo aumentaram ainda mais
a sua voracidade de obter respostas plausíveis. É considerado o inventor
do telescópio, apesar de seu invento basear-se nas lentes fabricadas por
125
Hans Lippershey. Primeiramente, Galileu fabricou uma luneta (nome que
também se dá ao seu telescópio) que era capaz de aumentar em três vezes
o tamanho aparente do objeto. Posteriormente fabricou uma luneta que
aumentava em dez vezes, e outra que aumentava em 30 vezes o tamanho
do objeto observado.
Porém, Galileu foi o primeiro a fazer uso científico do telescópio, ao
realizar observações astronômicas com ele. Fazendo uso desse instrumento
óptico, desvendou diversos aspectos dos corpos celestes, como as manchas
solares, as crateras e o relevo lunar, as fases do planeta Vênus, os principais
satélites de Júpiter, e mesmo a pequena resolução de seu aparelho fez com
que os satélites fossem confundidos com os anéis do planeta gigante. Além
disso, desvendou a natureza da Via-Láctea como sendo uma concentração
de incontáveis estrelas, iniciando, assim, uma nova e importantíssima fase
de observações astronômicas, na qual o telescópio passou a ser o principal
instrumento utilizado. Consequentemente as evidências que defendiam o
sistema heliocêntrico de Copérnico foram cada vez mais aceitas. Galileu
acabou condenado por proferir práticas heréticas, sendo preso, mesmo
tendo idade avançada e problemas de saúde.
Nesse cenário conturbado e ao mesmo tempo glorioso em que
a ciência transitava, surge um grande astrônomo que esclareceu as
tendências astronômicas quanto à movimentação dos corpos celestes. É
Johannes Kepler, que formulou as três leis fundamentais da mecânica
celeste, conhecidas como Leis de Kepler. Em seus estudos, ele condenou
as explicações supersticiosas dadas às aparentes incompatibilidades de
cálculos constatados por Ptolomeu e mantidas por Copérnico. Kepler,
usando dados coletados por Tycho Brahe, mostrou que os planetas não
se movem em órbitas circulares, mas sim elípticas. O foco de sua atenção
foi o planeta Marte. Conseguiu determinar as diferentes posições da
Terra após cada período sideral de Marte, determinando com excepcional
exatidão as órbitas da Terra e de Marte.
Outra questão ainda intrigava o campo científico e astronômico. Até
então, poucos haviam ousado debater sobre o fato de os corpos celestes
estarem presos às suas órbitas, sempre descrevendo o mesmo movimento.
Mas, afinal, o que os mantinha presos a essas posições? Também havia o
fato de que todos os corpos, aqui na Terra, caíam para baixo, evidenciando
que existia algo que os puxava para a Terra. Aristóteles concebeu que todos
126
os corpos que possuem massas diferentes caem com velocidades diferentes.
Mas suas conclusões não diziam nada a respeito dos corpos celestes.
Isaac Newton quebrou esse tabu ao afirmar que a força que mantém
a Lua pendurada no céu é a mesma que nos mantém presos a Terra. O
próprio Newton esclareceu afirmando que
Todos os objetos do Universo atraem todos os outros objetos com uma força direcionada
ao longo da linha que passa pelos centros dos dois objetos, e que é proporcional ao quadrado
da separação entre os dois objetos. (Newton, 1687)
O enigma da gravidade foi rompido. Isso também explicava o fato da
formação do Sol, da Terra e dos outros corpos celestiais: esses corpos não
existiriam se a gravidade não tivesse agido sobre a matéria aglutinando-a a
ponto de se formarem grandes acúmulos. A gravidade também é responsável
pela formação das marés. As forças de atração da Lua somadas às forças de
atração da Terra resultam em grandes deslocamentos das águas oceânicas.
Esses deslocamentos ocorrem tanto no lado frontal de alinhamento com a
Lua, como no lado oposto a essa formação.
A partir desse momento, as descobertas realizadas pelos astrônomos
passaram a ter maior profundidade no aspecto de precisão e inovação. Os
olhos e telescópios começaram a enxergar a infinita vastidão do universo.
As teorias ficaram surpreendentemente mais exatas. Até então, o máximo
que o homem conseguia era discorrer sobre a própria vizinhança, dado
o avanço do conhecimento que se possuía na época. Novos conceitos
foram sendo incorporados aos estudos científicos, que passaram a abordar
corpos celestes muito maiores e mais complexos que os planetas e satélites.
Descobriu-se que o nosso gigante amarelo, o Sol, era insignificante se
comparado a outras estrelas, como a supergigante vemelha Antares, que
tem um volume 64 milhões de vezes maior que o do Sol.
Até o início do século XX, acreditava-se que a Via Láctea fosse um
sistema relativamente pequeno, com o Sol próximo do seu centro. Mediante
a análise espacial dos aglomerados globulares na galáxia, Harlow Shapley
realizou, em 1917, o primeiro cálculo seguro das reais dimensões da Via
Láctea. Shapley descobriu que o Sol situava-se a 30 mil anos-luz do centro
galáctico e que estava mais próximo da borda do que do meio. Calculou um
diâmetro de 100 mil anos-luz para a galáxia.
127
Com a evolução dos estudos sobre a espectroscopia, foi evidenciado
que outras estrelas eram similares ao Sol, mas com temperaturas, massas e
tamanhos diferentes. Foi comprovado que estamos dentro de uma galáxia,
a Via Láctea, como um grupo separado de estrelas.
Após rigorosos cálculos e se utilizando das teorias filosóficas de
Immanuel Kant, que acreditava na existência de sistemas semelhantes ao
sistema da Via Láctea, mas que pareciam pequenas no céu por estarem a
enormes distâncias de nós, Edwin Hubble propôs uma ideia capaz de ser
comprovada cientificamente, para que fosse aceita de forma definitiva.
Em 1923, utilizando um telescópio de 2,5 metros, ele identificou estrelas
individuais em uma das maiores nebulosas conhecidas, a chamada “Grande
Nebulosa de Andrômeda”. Ela tem esse nome por ser vista de uma
região do céu onde se localiza a constelação de Andrômeda. Através de
um estudo detalhado das propriedades luminosas dessas estrelas, Hubble
conseguiu medir a distância até elas e, por conseguinte, até a Grande
Nebulosa. O resultado foi surpreendente, pois a distância reconhecida até
a Grande Nebulosa era muito maior que o tamanho da própria Via Láctea.
A surpreendente conclusão desse enigma foi de que aquela nebulosa era,
na verdade, um sistema estelar tão grande quanto o que o Sol e a Terra
estão situados. Esses sistemas passaram a ser chamados de galáxias, em
analogia com a denominação da nossa Via Láctea. A partir disso, outras
nebulosas foram estudadas por Hubble, mas o resultado foi repetitivamente
confirmado em todos.
A partir dessas observações e conclusões, Hubble determinou a
aproximada extensão do Universo. Provou, através de suas teorias, que
existem outras galáxias, com estruturas semelhantes à nossa. Passou a
classificá-las, segundo suas estruturas e formatos, em espirais, espirais
barradas e elípticas. Em 1929, demonstrou que as galáxias afastam-se com
grande velocidade e que essas velocidades aumentam com a distância,
ou seja, quanto mais distantes as galáxias estiverem de seus lugares de
origem, maiores serão as suas velocidades de afastamento. A relação entre a
velocidade e a distância dos corpos celestes é chamada de Lei de Hubble, e
a razão entre os dois valores é conhecida como Constante de Hubble.
Esse deslocamento de galáxias serviria como base para George Gamow
estabelecer, em 1946, a Teoria do Big Bang. Analisando o desvio de cores
para o vermelho em suas observações, desenvolveu a teoria da contínua
128
expansão do Universo e anunciou que a velocidade de uma galáxia em
relação à outra é proporcional à distância entre elas. Ou seja, Hubble
estudou a luz emitida por galáxias muito distantes, observando que o
comprimento de onda, em alguns casos, era maior do que aquele que
ele havia obtido em seu laboratório. Esse fenômeno ocorre quando a
fonte de luz e o observador se movem. Quando se afastam um do outro,
o comprimento de onda visto pelo observador aumenta, diminuindo
quando a fonte e o observador aproximam-se. Então, se uma galáxia
estiver aproximando-se, a luz desloca-se para a cor azul, e se aquele
estiver afastando-se, a luz desloca-se para a cor vermelha, fenômeno
conhecido como Efeito Doppler. Constatou, assim, que as galáxias estão
em constante afastamento.
Outro astrônomo, chamado Walter Baade, observou pela primeira
vez na década de 1940, durante as suas pesquisas, o fenômeno da
nucleossíntese, ou seja, a formação de elementos pesados no interior
superaquecido das estrelas. Estabeleceu que a abundância de elementos
pesados em gerações sucessivas de estrelas deve aumentar com o tempo.
Descobriu que existe um paralelo também com a formação e evolução da
Via Láctea, pela análise da correlação existente entre a localização de uma
estrela no sistema galáctico e sua abundância de elementos pesados. Baade
e outros astrônomos concluíram que as estrelas encontradas no disco da
Via Láctea são jovens e pouco abundantes em elementos pesados, e que as
do halo classificam-se como velhas e abundantes em elementos pesados,
enquanto as do núcleo são uma mistura homogênea dos dois tipos.
Toda a matéria que existe no Universo é a mesma que já existiu e a
mesma que vai existir, ou seja, a matéria não pode ser criada e muito
menos destruída. A quantidade de matéria sempre foi a mesma, embora
ela tenha sofrido profundas transformações no decorrer do tempo. Tudo
o que existe surgiu como consequência de uma grande e rápida expansão
de matéria, a qual ainda continua. No entanto o Big Bang produziu apenas
hidrogênio, hélio e uma minúscula quantidade de lítio. Com o rápido
resfriamento do Universo em expansão, não houve tempo nem condições
para a formação dos outros elementos. Mas é evidente que eles existem,
tanto na Terra como fora dela. Núcleos de elementos pesados só podem
ser produzidos em locais muito quentes e densos. No Universo depois
do Big Bang, os únicos lugares com tais características são os centros das
129
estrelas. Resta saber como essa produção acontece e como os elementos
produzidos conseguem escapar das estrelas. Quanto mais velha for a
estrela, mais fria e densa ela estará, pois a quantidade de elementos pesados
em sua composição aumentará.
Em estrelas jovens (azuis e amarelas), a principal reação que se processa
é a da fusão dos núcleos de hidrogênio, formando um núcleo de deutério,
um pósitron e imensa quantidade de energia. O pósitron choca-se com
um elétron, e ambos aniquilam-se mutuamente. O deutério interage com
outras partículas formando um núcleo de hélio. Quando a quantidade de
hélio começa a predominar sobre a de hidrogênio, a estrela começa a esfriar
por falta de combustível, contraindo-se e aumentando a pressão do núcleo.
Essa diferenciação na pressão e temperatura da estrela faz com que outras
reações aconteçam. Essa nova fase de reações começa com a fusão dos
núcleos de hélio produzindo núcleos de berílio. Este, por sua vez, reage
com um núcleo de hélio produzindo um núcleo de carbono. O núcleo de
carbono reage com um núcleo de hélio produzindo um núcleo de oxigênio
e assim sucessivamente. Essas reações sempre ocorrem entre um núcleo de
hélio e outro mais pesado, produzindo um terceiro elemento. Vale lembrar
que a cada reação ocorre uma grande liberação de energia. Os processos de
transmutações nucleares sucedem-se até que ocorra a formação do elemento
ferro-56. Os prótons e nêutrons desse elemento são tão fortemente ligados
que fazem com que o núcleo do ferro-56 seja o mais estável de todos.
Mas então, como se explica a existência de elementos mais pesados que
o ferro? Na verdade, existem outros processos de formação de núcleos
pesados, além da captura de núcleos de hélio. Quando as estrelas alcançam
uma pressão muito avançada, o ferro-56 pode capturar três nêutrons e se
tornar ferro-59. Este, por sua vez, é muito instável, com meia-vida de apenas
um mês. Ele emite uma partícula beta e vira cobalto-59. Esse processo, onde
ocorre a captura de nêutrons, pode chegar até o bismuto-209. O processo
todo leva anos para se completar, e por isso é chamado de “processo lento
de captura de nêutrons”.
O processo de formação dos elementos com massa superior à do
bismuto-209 ocorre em condições superespeciais. Depois de esgotados
todos os estoques de elementos leves, as estrelas que possuem massa
muito superior à do Sol não conseguem segurar a extrema compressão da
gravidade. A massa toda se contrai rapidamente e a densidade do centro da
130
estrela cresce tanto que os elétrons são engolidos pelos prótons, produzindo
muitos neutrinos. Ela transforma-se em uma imensa bola de nêutrons, até
que explode como uma supernova. É nessas ocasiões que se formam os
elementos pesados.
Com esse conhecimento sobre a composição do Universo e tendo em
mãos os dados sobre a movimentação dos grandes aglomerados celestes, foi
possível a elaboração de uma teoria explicando a origem de todo o Universo.
O astrônomo belga Georges Lemaître concluiu que no tempo zero ou
início dos tempos havia uma massa minúscula, chamada de ovo cósmico ou
superátomo. Este se contraía e expandia-se sob efeito da gravidade. Esse
movimento fez com que a temperatura interna aumentasse muito, a ponto
de explodir originando tudo.
Tal visão sobre a origem do Universo foi abandonada, pois se tinha
uma ideia básica de que num passado muito distante o Universo fosse
muito mais quente e denso. As evidências propiciadas pela mecânica
quântica colaboraram ainda mais para a impossibilidade da ocorrência de
tal fato. Para explicar aquele total de matéria e energia que se expandiam,
o ucraniano George Gamow cunhou tal fenômeno com a expressão Big
Bang, criada pelo cosmólogo Fred Hoyle. Estabeleceu-se que tudo surgiu
dessa expansão, inclusive o tempo e o espaço. Logo após, o Universo foi
preenchido por um mar de quarks, superaquecido a um trilhão °C. Mas
ainda não há um consenso de quando isso aconteceu: provavelmente de 13
a 16 bilhões de anos atrás.
Acredita-se que não há nenhum centro no Universo, isso porque não há
meio nem borda que nos sirvam de referência. Em um Universo infinito,
o espaço é curvado de modo que se poderia viajar bilhões de anos-luz
em linha reta que, eventualmente, terminar-se-ia essa viagem de onde se
começou. O espaço e o tempo foram criados a partir do Big Bang, mas
a matéria já existia. No começo do Universo, o espaço era totalmente
preenchido pela matéria. A matéria estava originalmente muito quente e
densa, até que se expandiu e esfriou para que ocorresse a formação das
estrelas e galáxias. Por isso, não há nenhum centro de expansão, o Universo
está se expandindo simplesmente para todos os lados. Apesar disso, a Terra
não está se expandindo nem o Sistema Solar. Esses corpos foram formados
sob influência da gravidade, assim como as galáxias. São os grupos e os
aglomerados de galáxias que estão se movendo no Universo.
131
Quando dizemos que o Universo tem 16 bilhões de anos de existência,
estamos afirmando que o tamanho do Universo é de 16 bilhões de anosluz, dado que as galáxias viajam quase à velocidade da luz. Também se deve
considerar que o verdadeiro tamanho do Universo é provavelmente muito
maior do que o Universo visível. As galáxias que vemos nos possíveis
limites do Universo emitiram suas luzes há muito tempo e, por isso, não
é correto pensar que elas ainda estejam no mesmo lugar.
Com o objetivo de aprofundar ainda mais as evidências científicas
do Big Bang, um grupo de cientistas de mais de 50 países participou da
construção do maior acelerador de partículas do mundo. Foram 14 anos
de trabalhos e um gasto de oito bilhões de dólares para a construção da
máquina, com 27 km de extensão, localizada entre a França e a Suíça. No dia
10-9-2008, o acelerador denominado LHC (Grande Colisor de Hádrons),
foi carregado com um feixe de prótons. Esse é um equipamento que
promove a colisão de partículas subatômicas, através de altas velocidades
induzidas por grandes e poderosos ímãs. Os prótons são acelerados quase
até a velocidade da luz, que faz com que eles girem em sentidos opostos
e se choquem. Essa colisão originaria, teoricamente, micropartículas
formadas por estilhaços de prótons. Assim os cientistas tentam recriar o
que aconteceu no Big Bang. Apesar disso, alguns cientistas tentam, através
da justiça, fazer com que o experimento seja interrompido, alegando que
tal experimento acarretaria a formação de um buraco negro.
Buraco negro, segundo a definição do professor Renato Las Casas, “(...)
é uma ‘coisa’ que de negro tem tudo, mas de buraco não tem nada.” (Las
Casas,1999). O buraco negro é uma região do espaço onde o campo
gravitacional é muito forte, a ponto de não permitir nem que luz escape.
A densidade de um buraco negro é elevadíssima, sendo que, se o nosso
Sol se transformasse em um, teria que contrair a um diâmetro de menos
de 6 km. Mas se nem a luz consegue escapar de um buraco negro, ele
não pode ser visto. O único modo de perceber a sua existência é analisar
o comportamento de sua vizinhança. A sua identificação ocorre quando
vários corpos o rodeiam ou são engolidos pelo campo gravitacional.
Esses corpos supermassivos são encontrados, geralmente, no centro das
galáxias e são formados a partir de estrelas velhas.
As galáxias vêm sendo estudadas mais a fundo desde as descobertas
de Edwin Hubble. São bem diferentes entre si, podendo ser agrupadas,
132
quanto às suas formas, em espirais, espirais barradas, elípticas e irregulares.
As espirais são formadas por um núcleo condensado onde estão as estrelas
velhas, uma região intermediária, e pelos braços espirais. A nossa Via Lácta
tem essa forma. As espirais barradas são semelhantes às espirais simples,
embora o seu núcleo seja atravessado por uma estrutura em forma de
barra. Acredita-se que essa barra seja formada em resposta a algum tipo
de perturbação gravitacional. As elípticas apresentam uma forma esférica
ou elipsoidal e são compostas principalmente de estrelas velhas. Quanto
ao tamanho, podem ser desde anãs até supergigantes, com mais de 10
trilhões de massas solares. As galáxias irregulares não possuem nenhum
tipo de simetria circular e rotacional. São formadas por estrelas jovens.
A galáxia mais estudada, além da Via Láctea, é a Galáxia de Andrômeda.
É a maior galáxia do grupo local de galáxias, onde se encaixa a Via Láctea.
Os cientistas preveem uma possível colisão entre a Via Láctea e a Galáxia
de Andrômeda, a mais próxima de nós. O impacto aconteceria em cerca
de cinco bilhões de anos, embora os possíveis danos causados seriam
mínimos devido ao grande espaço entre os planetas e estrelas.
As galáxias, dependendo do tamanho, são formadas de centenas de
milhões de estrelas. Essas estrelas são corpos luminosos formados de
plasma, onde, por pressão interna, é produzida uma grande quantidade
de energia proveniente de explosões nucleares. A estrela mais próxima
da Terra, depois do Sol, é a Próxima Centauri, que fica a 4,2 anos-luz.
Existem estrelas de diferentes massas, composições e brilho e, ao longo
de sua vida, as suas massas e composições alteram-se gradativamente
devido ao processo de fusão nuclear.
A vida de uma estrela do porte do Sol é de 10 bilhões de anos. O
futuro do Sol é transformar-se em uma gigante vermelha, quando todo o
hidrogênio acabar. Para isso acontecer, o Sol tem que se expandir muito e,
com essa expansão, ele inflaria a ponto de engolir as órbitas de Mercúrio,
de Vênus e da Terra. Após um bilhão de anos, a gigante vermelha se
condensaria formando uma anã branca. Se a estrela for maior que o Sol, a
pressão gravitacional degenera-se, e a estrela entra em colapso, formando
uma supernova. Na supernova, os elétrons são forçados a entrar nos
núcleos atômicos, onde se combinam com prótons formando nêutrons.
Forma-se, então, uma estrela de nêutrons, que é extremamente pequena,
133
não podendo ser maior que alguns quilômetros. Essas estrelas são
supermassivas e possuem um período de revolução curtíssimo, chegando
a 600 revoluções por minuto.
O Sistema Solar, local onde a Terra se encontra, formou-se a partir de
uma nebulosa solar original. Seguiu-se um colapso gravitacional na nebulosa
que fez com que ela se tornasse um imenso disco rotativo, com a maior
parte da massa concentrada no meio. A compactação gravitacional seguiuse até que começou a fusão nuclear do hidrogênio em hélio, iniciando a
atividade solar. Os materiais rochosos e metálicos conseguiram se solidificar
nas proximidades quentes do Sol, enquanto os materiais gasosos eram
varridos pelos ventos solares para longe, onde as temperaturas mais baixas
permitiram a sua solidificação. Vários protoplanetas foram formados, e estes
colidiam violentamente uns com os outros. A energia gerada pelas colisões
fez com que os protoplanetas derretessem. Dessa forma, o material mais
denso, como ferro e níquel, afundou, e os menos densos se decompuseram
e formaram os mantos.
À medida que os planetas esfriavam, as superfícies eram solidificadas,
dando origem às crostas planetárias. Um protoplaneta chocou-se com a
Terra e fez com que grande parte do seu material fosse jogado em órbita.
Esse material aglutinou-se ao redor da Terra formando a Lua. Na região
mais externa do Sistema Solar, boa parte do material volátil agrupou-se
originando os planetas gasosos gigantes: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Porém, outros protoplanetas foram capturados gravitacionalmente por
esses gigantes, formando os seus satélites. Por fim, os restos sólidos não
capturados por planetas agruparam-se e permaneceram juntos no Cinturão
de Asteroides, entre Marte e Júpiter, no Cinturão de Kuiper, que fica além
de Netuno, ou foram arremessados pela gravidade de Júpiter para a Nuvem
de Oort, nos limites do Sistema Solar.
Os planetas podem ser classificados em duas ordens: planetas telúricos
ou sólidos e planetas gasosos ou jovianos. Os planetas telúricos são os
situados próximos ao Sol, compostos de matéria sólida, como rochas, ferro
e metais pesados. As densidades são maiores que a dos planetas gasosos.
Mercúrio e Vênus não possuem satélites devido à proximidade com o Sol;
a Terra tem a Lua; e Marte tem dois: Fobos e Deimos. Mercúrio é o menor
de todos, sendo pouco maior que a Lua, tem período orbital de três meses
e leva 58 dias terrestres para dar uma volta em torno do seu eixo. Vênus,
134
a Estrela do Pastor, é o planeta mais brilhante de todos. Nele ocorre um
superefeito estufa, que faz com que sua temperatura chegue a 460 °C, sendo
mais quente que Mercúrio.
A Terra é o planeta que nós habitamos, o único com existência de vida
comprovada. Tem temperatura média de 14 °C e uma imensa variedade de
compostos orgânicos. Foi e ainda é habitada por uma imensa quantidade
e variedade de seres vivos e por uma espécie que evoluiu a ponto de
desenvolver inteligência, o Homo Sapiens. Possui uma camada envoltória de
gases que a protege contra a radiação solar e contra os raios cósmicos.
Marte, o planeta vermelho, é o que mais se assemelha com a Terra. Possui os
maiores vulcões do Sistema Solar e profundos abismos e crateras. Apresenta
uma atmosfera duas vezes maior que a da Terra, formada principalmente de
dióxido de carbono.
Os planetas gasosos ou jovianos são os maiores do Sistema Solar, sendo
compostos de gases e provavelmente um pequeno núcleo sólido. Júpiter, o
maior de todos, tem 2,5 vezes mais massa do que todos os outros planetas
juntos. É 1.300 vezes maior que a Terra. É composto por hidrogênio
metálico, hidrogênio líquido e gás hidrogênio, que envolvem um núcleo
rochoso relativamente pequeno. Possui um sistema de anéis planetários
compostos de poeira cósmica. Devido à sua imensa gravidade, Júpiter
possui inúmeros satélites. Até agora foram descobertos 63, dentre os quais
Ganimedes, Europa, Io e Calisto são os maiores.
Saturno é o segundo maior planeta, composto principalmente por
hidrogênio. É visivelmente achatado nos polos e possui baixa gravidade.
Tem um volume 740 vezes maior que a Terra. É muito semelhante a Júpiter
e possui um sistema de anéis muito protuberantes. Apresenta 56 satélites
conhecidos, e Mimas, Encélado, Tétis e Dione são os maiores.
Urano tem uma inclinação em seu eixo de 90°, que faz com que ele gire
praticamente deitado em seu eixo. Possui composição gasosa e extensos
oceanos líquidos. Sua temperatura é extremamente baixa e possui um
sistema de anéis diferentes de Júpiter e Saturno. Apresenta 27 satélites
conhecidos, dentre os quais Titânia e Oberon são os maiores.
Netuno é o último planeta em afastamento, desde que Plutão foi
reclassificado. Apresenta, em sua atmosfera, os ventos mais fortes de
todos os planetas. É um planeta azul devido à concentração de metano,
135
considerado um planeta intermediário entre os rochosos e os gasosos.
Possui sistema de anéis e apresenta 13 satélites conhecidos, dentre os quais
Tritão é o maior.
Além dos planetas, também existem outros corpos celestes em nosso
Sistema Solar, como os planetas anões, os cometas e os asteroides. Os
planetas anões são muito semelhantes aos planetas normais, sendo
apenas menores. No Sistema Solar existem cinco planetas anões: Ceres,
Plutão, Haumea, Makemake e Éris. Ceres está localizado no Cinturão de
Asteroides e desde 2006 é considerado um planeta anão. Plutão, que era
considerado planeta até 2006, foi reclassificado. Tem período orbital de 248
anos terrestres, situa-se na região conhecida como Cinturão de Kuiper e
possui três satélites: Caronte, Nix e Hidra. Haumea, que também se situa no
Cinturão de Kuiper, possui dois satélites naturais. Foi descoberto em 2008 e
também é chamado de Atégina. Makemake é o terceiro maior planeta anão
e um dos maiores corpos do Cinturão de Kuiper. Não possui satélites e sua
temperatura média é de -243°C. Éris é o maior dos planetas anões e tem
período orbital de 560 anos terrestres. É composto de gelo e rocha, assim
como Plutão. Possui um satélite, denominado Disnomia.
Os asteroides são corpos rochosos e compactos, encontrados
principalmente no Cinturão de Asteroides e no Cinturão de Kuiper. Suas
formas e tamanhos são muito variáveis. Os cometas são os menores corpos
do Sistema Solar. Quando se aproximam do Sol, passam a exibir uma
brilhante cabeleira, devido à ação dos ventos solares em suas partículas
de gelo, poeira e gases. Possuem órbitas bastante elípticas ao redor do Sol,
e seus períodos orbitais podem passar de milhares de anos. As estrelas
cadentes vistas da Terra são os resíduos deixados pela passagem desses
astros. O cometa Halley tem período orbital de 76 anos e passou pela última
vez em 1986.
A partir da grande evolução tecnológica propiciada pela Guerra Fria, foi
possível a construção dos primeiros foguetes. Esses foguetes permitiram
colocar em órbita satélites artificiais para estudo, tanto da Terra quanto do
espaço exterior. A tecnologia era monopolizada pela URSS e pelos EUA,
que travaram uma disputa ideológica e científica. Essa corrida tecnológica
resultou no lançamento, em 1957, de uma nave espacial denominada
Sputnik, que levava a bordo o primeiro ser vivo a atingir o espaço, a cadela
Kudriavka, da raça Laika.
136
Em 1961, a URSS realizou o primeiro vôo tripulado ao redor da Terra.
Yuri Gagarin participou desse voo e foi o primeiro homem a visitar o
espaço. O voo durou 48 minutos e foi eternizado pela célebre frase de Yuri
Gagarin que, ao observar a Terra do espaço, disse: ”A Terra é azul.” (Yuri
Gagarin, 1961).
O número de satélites artificiais lançados pelos norte-americanos e
soviéticos multiplicou-se nos primeiros anos da corrida espacial. Além de
satélites com a finalidade de exploração científica, também foram lançados
satélites de comunicação, meteorológicos e espiões.
Os avanços obtidos pelos soviéticos desafiaram os norte-americanos,
que desenvolveram um audacioso projeto astronáutico. O presidente John
Kennedy lançou o desafio de enviar homens à Lua e retorná-los vivos. Em
um discurso na Universidade de Rice, ele afirmou: “Nós decidimos ir à Lua
nesta década e fazer outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque
elas são difíceis (John Kennedy, 1961). Os planos foram finalmente
concretizados com o Projeto Apollo, cuja espaçonave tinha capacidade de
levar três pessoas e pousar em solo lunar. Em 20 de junho de 1969, a Apollo
11 conseguiu pousar homens na Lua. O primeiro astronauta a pousar na
Lua foi Neil Armstrong, que proferiu a eterna frase: “Um pequeno passo
para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade” (Neil
Armstrong, 1969).
Mas há quem duvide da veracidade desses fatos. As fotos divulgadas
apresentam alguns “pontos cegos” que podem ser motivo de discussão.
As sombras formadas pelos objetos e astronautas, o sumiço das estrelas, o
movimento da bandeira, e até mesmo o fato de que não se tenha retornado
lá com tanta frequência despertam falsas suspeitas a esse respeito. As
sombras formadas pelos objetos nas fotos possuem comprimentos e
direções diferentes. Isso pode ser explicado pelo fato de a Lua possuir
um terreno muito irregular, que faz com que as sombras formadas
também sejam irregulares. O aparente desaparecimento das estrelas foi
provocado pela extrema distância em que elas se encontram. As fotos são
impressionadas muito rapidamente, impedindo o registro fotográfico das
estrelas. O movimento da bandeira norte-americana só acontece quando
os astronautas tocam nela. Não é o vento que a faz tremular, e sim as
perturbações provocadas pelos astronautas. O homem só não retornou à
Lua pessoalmente porque não há necessidade, pois os robôs podem fazer
137
sozinhos tudo o que se precisa. Além disso, com tal operação seriam feitos
gastos desnecessários. Não há sombra de dúvidas que o homem realmente
esteve em solo lunar.
Depois disso, várias espaçonaves foram construídas e lançadas no espaço
para que pudessem ser realizadas explorações mais minuciosas. Em 1989,
a Voyager, lançada pela Nasa, ultrapassou a órbita de Plutão e em 2005
encontrava-se a mais de um bilhão de quilômetros de nós. Essa sonda leva
consigo um aparelho acoplado que reproduz uma hora e meia de música
e alguns sons da natureza do planeta Terra. O objetivo desse dispositivo é
levar dados sobre a Terra para uma possível civilização exterior.
Um dos grandes feitos da Nasa foi o lançamento, em 1990, do telescópio
Hubble, que foi posto em órbita da Terra, com uma lente de 2,4 metros de
diâmetro. Ele ganhou esse nome em homenagem ao grande astrônomo
Edwin Powell Hubble, que constatou a expansão do Universo. É um satélite
astronômico, artificial e não-tripulado, que transporta um telescópio para
detectar a luz visível e a infravermelha. Logo após o seu lançamento no
espaço, constatou-se uma deformidade no espelho principal, fazendo com
que as imagens formadas fossem bastante disformes. Para reparo dessa
disfunção, foi instalada uma lente que corrigiu a deformidade óptica.
Desde 1946 almejava-se a construção de um observatório extraterrestre.
Fora da Terra, as imagens podem ser mais nítidas, já que não ocorre
nenhum efeito de turbulência atmosférica e também é possível detectar as
luzes infravermelha e ultravioleta. A atmosfera dificulta uma observação
mais precisa dos astros, pois ela absorve bastante dessa luz. O Hubble
tem como objetivo principal estudar os corpos celestes, sua composição
e características dinâmicas, assim como observar e estudar a história da
evolução do Universo. Com ele é possível a observação dos demais recantos
do Universo, fornecendo imagens espetaculares dos fenômenos celestes.
O Hubble já registrou milhares de fotos, como o nascimento e morte de
estrelas, a colisão entre galáxias jovens nos limites do Universo. Ele foi
projetado para ficar em órbita até 2020, mas provavelmente será substituído
por seu sucessor, o Jame Webb Space Telescope, com data prevista de
lançamento em 2013.
Em agosto de 2003, a Nasa lançou outro telescópio superpotente
denominado Telescópio Spitzer. O nome foi dado em homenagem ao
astrônomo Lyman Spitzer Jr, que fez enormes contribuições no campo da
138
dinâmica estelar, do plasma e da fusão termonuclear estelar. O Spitzer obtém
imagens pela detecção de radiação infravermelha. É o maior telescópio
infravermelho já lançado no espaço, sendo um instrumento muito
sensível, que permite observar regiões do Universo antes não observadas
por nenhum telescópio. Assim ele poderá detectar, principalmente, a luz
infravermelha emitida por objetos mais frios do espaço, como planetas
extrassolares e estrelas pequenas que produzem pouca luz visível.
Outras sondas também foram mandadas para pousarem em Marte,
em satélites dos planetas gigantes gasosos. As descobertas recentes de
planetas fora do Sistema Solar estão despertando a possibilidade da vida
extraterrestre. Já existem 300 planetas descobertos, mas ainda é cedo
para se falar em alienígenas. Dentro do próprio Sistema Solar, existem
locais com condições adequadas de abrigar a vida. O satélite de Júpiter,
Europa, é o mais forte candidato a possuir organismos vivos. Isto porque
se sabe que, abaixo de uma camada de gelo, provavelmente existe um mar
extraterrestre que pode abrigar a vida. Nas altas camadas atmosféricas de
Vênus, a temperatura é aproximadamente a mesma que a da Terra, o que
faz com que se levante a hipótese de existir vida bacteriana em Vênus.
Quanto a Marte, existe a possibilidade de ter havido vida em um passado
muito distante, mas atualmente é improvável que exista.
Mesmo que exista vida extraterrestre em outros lugares do Universo, é
muito difícil que essa vida tenha evoluído a grau da inteligência, e que essa
inteligência possa ser tão avançada ao ponto de construção de grandes naves
para um possível contato físico com os humanos. Não se deve descartar a
hipótese de que existe vida inteligente em algum lugar do Universo, mas a
única forma de contato que nós podemos ter com essa “civilização” é com
a emissão de ondas de rádio. Nos desertos da Califórnia existem antenas
gigantes apontadas para o céu, captando sinais que possam ser emitidos por
tal forma de vida, mas até agora, nada de significativo foi registrado.
Com essas grandes descobertas feitas pelos astrônomos, o nosso modo
de vida mudou bastante. Porém essas melhorias culminaram com a ida do
homem à Lua. A partir disso, a tecnologia usada para realizar tal feito foi
adaptada para a nossa vida cotidiana. Os polímeros sintéticos e os calçados
com amortecedores foram as maiores inovações que contribuíram para a
melhoria de nossa vida. Além disso, essas conquistas são fruto de uma
antiga vontade do ser humano, o que reforça ainda mais o seu valor.
139
O Brasil não está atrasado tecnologicamente no campo da astronomia
em relação a outros países. Existem 23 planetários espalhados por todo
o país, e nossos astrônomos, assim como os do mundo inteiro, são
apaixonados pelo que fazem e dedicam sua vida em favor do progresso
das ciências. O fato de o Brasil ser um país predominantemente quente
e úmido dificulta as observações celestes. Por isso a maioria dos
observatórios situa-se em pontos altos do relevo. Nosso país destaca-se
como sendo o maior produtor e exportador de fibras ópticas, usadas na
fabricação de lentes de câmeras, por exemplo. Nossos astrônomos são
cientistas com elevado grau de conhecimento e participam das principais
realizações astronômicas no âmbito mundial. Isso mostra que o Brasil
e seus cientistas realmente levam a sério o que fazem, trazendo muito
orgulho e glória à nossa Pátria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da astronomia está intimamente ligada à história do próprio
Homo Sapiens, como espécie capaz de estruturar e construir conhecimento
a partir da transmissão e do acúmulo de informações.
A sabedoria do homem primitivo evoluiu gerando observações dos
mais longínquos pontos do Universo. As conclusões esclarecem o que se
conhece, as teorias explicam o que ainda não é provado, e as previsões
para o futuro aumentam ainda mais a insaciável sede de conhecimento.
O monumento megalítico de Stonehenge representa o marco inicial
de todo o processo de desenvolvimento astronômico. Desde então, a
preocupação em se descobrir o que há além dos nossos limites de visão
fez com que o homem aprimorasse progressivamente seus conhecimentos
e técnicas de observações astronômicas.
No decorrer dos anos, os objetos rústicos utilizados na astronomia
foram sendo substituídos por equipamentos cada vez mais potentes. A
invenção da luneta por Galileu revolucionou o campo científico. Com ela,
foi possível observar até mesmo as maiores luas do distante planeta Júpiter.
Com o lançamento do telescópio espacial Hubble, a visão foi amplificada
quase ao seu máximo, podendo ser reveladas imagens impressionantes da
dinâmica do Universo. O telescópio espacial Spitzer, lançado recentemente,
140
evidenciou ainda mais a veracidade de certos conceitos, disponibilizando
imagens formadas a partir da luz infravermelha de corpos celestes menos
luminosos.
Assim, a astronomia mostra-se indispensável ao desenvolvimento e à
preservação da humanidade, desde tempos imemoriais até os presentes
dias, sempre acompanhando as evoluções e progressos científicos.
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143
Menção Honrosa
As descobertas astronômicas
e sua importância para
a humanidade
Estudante: Ingrid Beatriz Barbosa, 17 anos, 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Mariza Christina de Morais Campos
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - Marília, SP
Resumo
Muitas das tecnologias espaciais são encontradas, hoje, em nosso
cotidiano, como os sistemas de GPS, as panelas de Teflon, os aparelhos
sem fio e inúmeras outras. Porém, como chegamos a esse ponto?
Os homens primitivos pouco compreendiam seu espaço, eles viviam
da caça, da pesca e da coleta de frutos. A partir do momento em que se
tornaram sedentários passaram a notar sua dependência com os astros. Eles
deveriam saber quando seria a melhor época para plantar certo vegetal.
O tempo passou, e novos povos surgiram, dentre eles os sumérios, que
foram de grande importância para o desenvolvimento da Astronomia.
Os chineses, os egípcios e muitas outras civilizações também deram sua
contribuição.
Mas foi na Grécia que a Astronomia teve seu auge. Com inúmeros
estudiosos, como Tales, Aristóteles, Aristarcos, Hiparco e Ptolomeu, muito
foi descoberto.
Na época moderna, Tycho Brahe, Johannes Kepler, Nicolau Copérnico
e Galileu Galilei foram imprescindíveis para o conhecimento astronômico.
Galileu fez as primeiras observações telescópicas do céu, e isso trouxe
muitas outras informações extremamente úteis para o desenvolvimento e
ampliação do nosso conhecimento astronômico, valioso para todos nós.
145
Introdução
Sempre admirei o brilho das estrelas e a imensidão do azul celeste, mas
sinceramente nunca compreendi muito bem os interesses e os objetivos nas
observações e explorações espaciais. É muito interessante tudo o que se
relaciona com as descobertas espaciais: foguetes, satélites, ônibus espaciais
que vão e voltam e, constantemente, ficava curiosa em desvendar e poder
enxergar mais detalhes do céu estrelado. Uns dizem que o homem já chegou
à Lua, outros duvidam disso, mas o mistério, a curiosidade e a necessidade
de avançar movem o homem para novas conquistas e, no meio de tudo
isso, aparecem novas descobertas desenvolvimento tecnológico que traz
qualidade de vida a quem nunca pensou em sair daqui. E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Olavo Bilac
Todos os dias nos deparamos com inovações e novas criações tecnológicas
que buscam algo mais adequado e, consequentemente, possibilite melhor e
mais ampla análise do espaço. Como exemplo, podemos citar o surgimento
do Grande Telescópio Canárias. Desenvolvido com a tecnologia mais
avançada do mundo, ele possui uma potência equivalente à visão de 4
milhões de pupilas e permitirá aos pesquisadores conhecer os mistérios
da formação do universo por meio de seu espelho que possui 10,4 m de
diâmetro. Poderíamos citar também a criação de um novo jipe lunar para
a exploração espacial e a presença do jipe robô Spirit que está há mais de
1.200 dias explorando Marte.
Muitos questionam se tais investimentos não são apenas desperdícios
de dinheiro, entretanto, ao estudarmos o assunto com mais profundidade,
percebemos que muita tecnologia desenvolvida para a utilização nas pesquisas
espaciais foi, posteriormente, incorporada ao nosso cotidiano. Como exemplo
desses avanços temos: o forno de micro-ondas, o Sistema de Posicionamento
Global (GPS), o laser e as lentes de contato. Em 1969, baseado em um
146
equipamento que Armstrong usou para perfurar as pedras lunares, foi possível
o desenvolvimento de aparelhos sem fio e monitores cardíacos usados para
controlar a saúde dos astronautas, que são usados hoje em hospitais. As lentes
de contato desenvolvidas para protegê-los contra a luz ultravioleta tem sido
essencial para muitas pessoas. Criado para proteger os foguetes e os alimentos
desidratados na falta de gravidade do espaço, o Teflon é hoje utilizado nas
frigideiras para facilitar a lavagem e torná-las antiaderentes. As fraldas infantis
descartáveis, os termômetros digitais, a tecnologia dos microprocessadores,
as vestimentas térmicas que protegem os bombeiros e também o código
de barras utilizado para identificar as milhares de peças das naves espaciais
facilitaram e simplificaram muito o nosso comércio.
Quando tomamos conhecimento de toda tecnologia desenvolvida através
das pesquisas espaciais, percebemos que os investimentos são mais que
justificados e válidos, portanto a pesquisa espacial não pode ser chamada
de delírio das nações poderosas. Contudo, para chegarmos ao ponto onde
estamos, é preciso refletir, imaginar como tudo começou.
Houve um tempo, há milhares de anos, em que os homens pouco
compreendiam seu espaço. Viviam da caça de animais, da pesca e da
coleta de frutos. Não possuíam um lugar fixo para morar, vagavam em
busca de alimentos e viviam no alto das árvores, em cavernas ou grutas.
Partilhavam com o grupo as raízes e os frutos que conseguiam. Tudo o que
conheciam sobre o mundo ao seu redor era o que podiam ver, ouvir, cheirar
e experimentar.
Imaginem esses homens colhendo frutos para diminuir a fome ou até
mesmo caçando um animal, quando de repente a luz do Sol começa a
diminuir e logo é substituída por uma escuridão absoluta, ou ainda um tom
acinzentado turvar o céu, gotas de água começar a cair, trovões começarem
a rugir como feras e relâmpagos, rasgarem o céu e deixarem momentâneas
cicatrizes, tudo isso seria realmente estranho e amedrontador.
Porém, através de suas observações, os homens perceberam que
existiam relações entre o céu e a Terra, perceberam que o dia e a noite
estavam relacionados à presença do Sol no céu, portanto mesmo sem ter
desenvolvido a escrita e os números, eles já sabiam se demoraria muito ou
pouco para escurecer. Era possível sair de sua caverna para caçar ou colher
e ainda saber quando deveria retornar para casa antes do anoitecer apenas
observando o Sol.
147
Entretanto, quando o homem percebeu que poderia se fixar em um
local, plantar para suprir suas necessidades e até mesmo criar animais
(isto é, levar uma vida sedentária sem precisar se deslocar com seu grupo),
tudo mudou, ele passou a ver de forma diferente os astros celestes.
O Sol, as chuvas, o vento vistos antes como interferências momentâneas
passaram a ser essenciais para o crescimento das plantas, para a alimentação
dos animais. Dessa forma, preocupavam-se mais com as estações do ano
e com a melhor época para plantar determinadas sementes. Eles notaram
que durante o plantio de certo vegetal havia um grupo de estrelas que
sempre estava naquela posição, porém, quando este aparecia em outro
local, o período de chuvas se aproximava, portanto, poderiam planejar
melhor suas atividades.
Todavia algumas questões ainda os intrigavam: o que seriam aqueles
pontinhos brilhantes no céu? Por que alguns brilhavam mais que
outros? E por que sempre surgia uma bola de fogo pela manhã, e logo
à noite outra completamente diferente? Com a não compreensão desses
aspectos, os homens passaram a acreditar que os astros eram deuses ou
símbolos de divindades e que poderiam influenciar em seu destino e em
seu comportamento. Surgem, então, algumas seitas religiosas e ainda a
Astrologia.
No entanto esses primeiros curiosos não se limitaram apenas a observar,
também registravam alguns astros que eram avistados. Gravações em
pedras datadas de 50 mil anos representavam grupos de estrelas como as
Plêiades e as constelações de Ursa Maior e Ursa Menor.
A necessidade que tinham de demarcar as estações do ano, o nascer do
Sol e da Lua, a previsão de eclipses e os dias mais longos do ano surgiu
em monumentos de grandes dimensões feitos com blocos de rochas
(chamados de megalíticos do grego: mega – grande e lithos – pedras).
Como exemplo, temos o círculo de Stonehenge, na Inglaterra, as pedras
de Callanish, na Escócia, e as de Carnac, na França.
Stonehenge existe há quase quatro mil anos e ocupa uma área de 40
mil metros quadrados. Suas pedras chegam a ter cinco metros de altura e a
pesar quase cinquenta toneladas. Provavelmente, nesse local, os primitivos
adoravam o Sol, a Lua e também as estrelas, que também indicavam as
estações do ano e previam eclipses lunares e solares.
148
Fonte: <http://img.dailymail.co.uk/i/pix/2007/04_03/StonehengeDM3004_
468x299.jpg>
Na França, quase três mil pedras estão alinhadas formando corredores
talvez muito usados para rituais. Os homens da época manobravam as
pesadas pedras com troncos e cordas e as alinhavam em longos corredores
que acabavam em círculos e semicírculos de pedras. Na Escócia, há o
Callanish, um círculo com 13 pedras altas e quatro avenidas incompletas
que marcavam o nascer do Sol e da Lua durante todo o ano.Tudo isso nos
parece muito estranho, mas foi a forma que encontraram para se localizarem
no tempo e realizar suas atividades.
Com o passar dos tempos, os grupos foram aumentando, os homens se
espalhando por todo o mundo e outros povos surgindo. Dentre as inúmeras
civilizações destacaram-se os sumérios, primeiros habitantes da Mesopotâmia
(terra entre rios) entre 3200 e 2800 a.C. Eles foram os responsáveis pela
construção dos primeiros templos e palácios monumentais, pela fundação
das primeiras cidades-estado e também pela elaboração de projetos de um
desenvolvido sistema de controle de água do rio Tigre e Eufrates.
Acredita-se que com a necessidade que os sacerdotes da época tinham em
controlar as entradas e saídas de bens dos templos é que surgiu a invenção
da escrita cuneiforme, assim chamada, pois escreviam em plaquetas de
argila com um estilete em forma de cunha.
149
Foram os sumérios também que cultivaram a astronomia e ainda
introduziram a matemática em suas observações. Eles analisaram mais
profundamente as variações nos movimentos dos astros e perceberam
que a velocidade da Lua em seu movimento ao redor da Terra variava.
Inventaram relógios de 60 segundos, 60 minutos, além de um calendário de
12 meses.
Com suas observações, identificaram várias constelações que
representavam figuras de animais, daí surgiu o Zodíaco, que significa círculo
de animais. Seus deuses correspondiam a estrelas e astros. Eles possuíam
um deus supremo chamado Marduk (Marte), que teve construído em sua
homenagem uma estátua de 24 toneladas de ouro puro.
Outro povo que se dedicou à astronomia foram os chineses há 4.000
a.C. Eles previam eclipses, pois conheciam seus períodos e utilizavam
um calendário de 365 dias, além de fazerem anotações detalhadas sobre
cometas, meteoros e meteoritos. Há certa dificuldade em reconstruir o
conhecimento chinês, pois em 231 a.C. todos os livros foram queimados
por decreto imperial. Eles acreditavam que um dragão engolia o Sol, por
isso é que ocorriam os eclipses. Para tentar afugentar a fera, as pessoas
saíam de casa e batiam em panelas e jarros.
Por volta de 4000 a.C, os egípcios já eram considerados uma sociedade
organizada. Tinham como governante um faraó, reconhecido como um
deus. Eles utilizavam, no dia-a-dia, um calendário dividido em três estações
inspiradas nas atividades agrícolas: “a inundação”, “a germinação” e
“a colheita”. Sabiam que quando a estrela Sirius ascendia junto ao Sol a
inundação anual do Nilo não tardaria. Nos templos, certos sacerdotes eram
especializados no cálculo da hora utilizando “relógios de água” ou ainda
princípios do quadrante solar.
Fonte: <http://www.ufrgs.br/
museudetopografia/museu/museu/
quadrante_marinho.htm>
150
Depois de anos observando o céu noturno, os egípcios notaram certa
regularidade nos movimentos aparentes das estrelas e criaram tabelas, onde
anotavam esses dados, dia após dia. A posição das pirâmides é algo muito
interessante, pois elas apresentam a face voltada para os quatro pontos
cardeais com grande precisão.
Os hindus, cerca de seis a sete séculos antes da Era Cristã, já haviam
calculado o diâmetro da Lua e estabelecido os ciclos cósmicos. Eles tinham
uma representação rica em simbolismos, na qual o planeta aparecia apoiado
em quatro elefantes que se equilibravam sobre uma tartaruga gigante.
O auge do desenvolvimento do estudo dos astros se deu em meio a uma
rica mitologia, em que deuses tinham características humanas, e palácios e
templos rodeavam as cidades, as primeiras medidas democráticas surgiram,
e filósofos e pensadores ampliavam e desenvolviam seu conhecimento em
diversas áreas.
Com os conhecimentos herdados dos povos mais antigos, no período
de 600 a.C. a 400 a.C. na Grécia, surgiu o conceito de que a Terra era uma
Esfera Celeste e que se encontrava no centro do Universo (geocentrismo).
Eles pensavam que as estrelas formavam um amplo invólucro cristalino,
pois pareciam não mudar de posição.
Naquele período, muitas pessoas dedicaram-se às observações do céu e
observaram novos aspectos. Tales de Mileto introduziu conhecimentos de
geometria trazidos do Egito; ele sabia que a Lua era iluminada pelo Sol e
previu o eclipse solar do ano de 584 a.C.
Após certo tempo surge outro personagem de suma importância:
Aristóteles de Estagira. Ele foi aluno de Platão e dedicou-se a diversas
áreas, dentre elas o estudo dos astros. Acreditava que a Terra era uma
esfera gigantesca, porém finita e que se encontrava no centro do Universo.
Baseado em suas observações, explicou que as fases da Lua dependiam da
parte que era iluminada pelo Sol.
Outro grande personagem dessa história foi o grego Aristarcos de
Samos (310-230 a.C.). Ele propôs que a Terra se movia em volta do Sol
(teoria heliocêntrica, e helios é a palavra grega para Sol), porém sua teoria foi
rejeitada já que não se ajustava às crenças matemáticas e filosóficas da época,
pois acreditavam que a Terra tinha de coincidir com o centro do Universo,
uma vez que é a morada dos seres humanos. Ele foi capaz de determinar
151
as distâncias do Sol e da Lua à Terra e os tamanhos relativos da Terra, do
Sol e da Lua, apenas baseando-se na Geometria e nas sombras produzidas
em um eclipse. Isso é realmente incrível! Com o passar do tempo, novos
estudiosos surgiram e fizeram uso ou até mesmo correções das observações
e anotações feitas até então.
Um dos maiores astrônomos gregos foi Hiparco de Niceia. Ele catalogou
mais de mil estrelas que foram divididas em seis categorias, sendo no grupo
1 as mais brilhantes, e no 6 as mais fracas. Ele deduziu que a Lua estava a 59
vezes o raio da Terra de distância, sendo que o valor correto é 60. Foi capaz
de determinar a duração do ano com uma margem de erro de seis minutos.
Dedicou sua vida ao estudo da Lua e conseguiu elaborar a previsão de
eclipses para os 600 anos seguintes. Foi o responsável pela criação dos
primeiros astrolábios usados para determinar a posição dos astros no céu e
de grande importância para a ciência náutica portuguesa posteriormente.
Fonte: <http://www.ufrgs.br/
museudetopografia/Teodolitos/astrolabio_
nautico_portugues_SecXVIeXVII.gif>
Um dos maiores estudiosos e conhecedores dos astros foi Claudius
Ptolomaeus, mais conhecido como Ptolomeu. Ele coletou e esclareceu os
trabalhos dos grandes astrônomos que vieram antes de sua época. Deixou
uma série de treze volumes sobre a astronomia conhecida como Almagesto,
que incluía elementos de astronomia esférica, teorias solar, lunar e planetária,
além de tratar de eclipses e das estrelas fixas. Ptolomeu acreditava que a
Terra estava no centro, e a Lua, os planetas e o Sol giravam em torno dela.
152
Passaram-se os anos, e as grandes navegações chegaram, o homem
desbravava novas terras e orientava-se pelo Sol, além de já fazer uso de
bússolas e astrolábios.
Apesar das inúmeras navegações, com certeza poucos esperavam
encontrar civilizações tão desenvolvidas como os povos da América. Assim
como os povos da antiguidade, os maias, incas e astecas tinham desenvolvido
sua ciência astronômica.
Os maias viviam nas matas de Iucatê no México e, nesse local, existem
ruínas que representam possíveis observatórios do céu. Além disso, há três
manuscritos que permitem estudar alguns conhecimentos, porém os demais
foram queimados pelos espanhóis quando lá chegaram.
Os astecas viveram no planalto mexicano, construíram a Pirâmide dos
Nichos de El Tajin, com 365 nichos, um para cada dia do ano, e também a
pedra do sol, um imenso calendário solar.
Os incas viviam nos Andes e também possuíam conhecimentos
astronômicos. Acredita-se que nas ruínas de Machu Picchu, no Peru, teria
existido um observatório astronômico para o estudo dos movimentos do
Sol, da Lua e das estrelas.
Fonte: <http://www.kutztown.edu/activities/clubs/geology/photos/Machu_
Picchu.jpg>
153
Em 1543, o modelo geocêntrico sofreu um baque com a publicação do
De Revolutionibus Orbium Coelestium (obra sobre as revoluções das esferas
celestes), em que Nicolau Copérnico apresenta uma visão heliocêntrica.
Para ele, o Sol estava no centro do Universo, e os planetas giravam em
torno dele, em órbitas circulares. Essa teoria produziu uma mudança
radical e completa não só na concepção do cosmos, como na própria
maneira de ver o homem. Imagine você, durante anos pensando que está
no centro do Universo, quando de repente tudo muda, e agora o Sol é que
se encontra nessa posição? Segundo as ideias religiosas da época, se Deus
havia criado a Terra e o Homem para povoá-la, sendo a criatura imagem
do Criador, seríamos então superiores e deveríamos estar no centro
do cosmos, no centro de todas as coisas. Naquela época, o trabalho de
Copérnico interessou a grandes astrônomos como Kepler e Galileu.
Nicolau, astrônomo polonês, nasceu em Torum, em 1473. Estudou
desenho e matemática na Cracóvia. Mais tarde, em 1496, ficou por dez
anos na Itália para estudar astronomia, medicina e direito canônico. Viveu
na época do Renascimento europeu, quando diversas transformações em
muitas áreas assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Ele dizia, “O que é na verdade mais belo que o céu que, certamente, contém
todos os atributos da beleza? Isto é proclamado pelos seus verdadeiros
nomes, caelum e mundus, este último significando clareza e ornamento,
como a escultura antiga.” (COPÉRNICO, 1543)
Um astrônomo que viveu quase na mesma época que Copérnico foi
Tycho Brahe, um grande observador do céu num periodo em que ainda não
existiam telescópios. Ele elaborou cartas estelares (mapas do céu) que se
tornaram famosas entre os navegadores da época. Descobriu uma estrela,
nunca antes notada, e isso contrariava a ideia de que o céu era imutável.
Além do mais, recebeu do rei Frederico II a ilha de Hven, onde construiu
seus obsevatórios: Uranienburg (castelo do céu) e Sternenburg (castelo
das estrelas). Dessa forma, poderia melhor analisar o céu. Para registrar
as observações o mais precisamente possível utilizava diferentes relógios,
como as ampulhetas de areia, clepsidras (baseadas no escorrimento da
água), velas graduadas e outros.
Em 1600, Tycho Brahe recebeu como colaborador Johannes Kepler,
matemático alemão que formulou as três leis que regem o movimento
154
planetário, usou a matemática para descrever as relações universais. Sua
primeira lei dizia que os planetas giram em órbitas elípticas (e não circulares,
como se acreditava). A segunda lei garantia que os planetas se deslocavam
com uma velocidade variável. A terceira lei levava em conta não só a massa
dos planetas, mas também a massa do Sol.
Em 1609, Kepler publicou a Astronomia Nova, na qual foram descritas
as verdadeiras leis do movimento dos planetas. Naquele mesmo ano, outro
ilustre personagem, Galileu Galilei, soube da construção de um instrumento
de origem holandesa que ampliava a imagem de objetos distantes e era
composto por uma lente convergente e uma lente divergente devidamente
dispostas entre si. De posse dessas informações, montou um telescópio que
aumentava três vezes e, depois, outro que aumentava 20 vezes e, em janeiro
de 1610, construiu um que aumentava 30 vezes. Com suas observações
encontrou evidências de que Mercúrio e Vênus giram em torno do Sol,
de que a Lua tem montanhas e acidentes geográficos como a Terra e que
Júpiter tem seus próprios satélites a girar em seu redor. Naquele momento,
grandes mudanças ocorreriam. Galileu teve de ser brilhante numa época em
que novas ideias eram consideradas perigosas. Suas inúmeras descobertas,
feitas agora com a ajuda do telescópio, forneciam um grande apoio para a
teoria do Universo Heliocêntrico.
Fonte: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/
navegando/glossario/verb_b_galileu_galilei_
arquivos/image005.jpg>
155
Entretanto, em 1616, a Inquisição pronunciou-se sobre a Teoria
Heliocêntrica, declarando que a afirmação de que o Sol é o centro do
Universo era herética. Dessa forma, proibiu-se falar do heliocentrismo
como realidade, mas era permitido dizer que isso se referia a uma hipótese
matemática. Entretanto Galileu foi convocado a Roma e, após um longo e
atribulado julgamento, foi condenado a abjurar suas ideias e foi preso por
tempo indefinido.
Após essa época, outros estudiosos surgiram e, em diferentes épocas,
puderam desenvolver suas ideias e até mesmo mandar o homem para a Lua,
colocar satélites em órbita, desenvolver robôs para facilitar as análises, além
de criar novos e eficientes telescópios.
Muito ainda há para ser descoberto, inúmeros são os mistérios que
permeiam a existência da vida em todas as suas formas, mas quando estudamos
a história, o sentido da vida torna-se maior e aumenta a vontade de estudar
mais a cada dia, descobrir mais se torna latente na vida de uma garota como
eu, curiosa e que vê sentido na história, na ciência e na poesia.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Soneto XIII da obra Via-Láctea
De Olavo Bilac
156
Considerações finais
À medida que se criam novas missões espaciais, novas tecnologias
surgem e, consequentemente, simplificam as atividades humanas. Com
certeza, muitas coisas ainda serão descobertas, muitos mistérios serão
desvendados e muitos conhecimentos acrescentados. Porém, quando
estudamos e nos aprofundamos na história, a vida ganha um novo sentido e
nós, rodeados de tanta curiosidade, temos vontade de estudar cada dia mais
para compreendermos o nosso mundo e as situações que nos envolvem.
Contudo, através dos estudos realizados, pode-se visualizar o quanto
a astronomia, desde os tempos mais remotos, contribui para o avanço da
humanidade, que precisa conhecê-la e valorizar aqueles que investem em
novas descobertas.
Referências Bibliográficas
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achetudoeregiao.com.br/astronomia.htm>
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www.zenite.nu/>
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Março 2009, ed. 34.
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bibliográfico de José Reis. – 2. ed. – São Paulo: Ibrasa, 1986.
157
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TERRA NOTÍCIAS. Telescópio mais potente do mundo
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Biografias: Johannes Kepler. Rio Grande do Sul: UFRGS. Disponível
em: <http://astro.if.ufrgs.br/bib/bibkepler.htm>
WIKIPÉDIA. Vários autores. Aristóteles. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles>
­­
______.
Vários autores. Galileu Galilei. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei>
UNIVERSIDADE DE SÀO PAULO. O Nascimento do telescópio.
São Paulo: USP. Disponível em: <http://cdcc.usp.br.br/cda/sessaoastronomia2009/o-nascimento-do-telescopio-01312009.doc>
158
Menção Honrosa
Astronomia e bioastronomia
na síntese poética
Estudante: Jackeline Santos Alves, 18 anos, 3º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Geysa Grazielli Freire de Oliveira
Colégio da Polícia Militar Eraldo Tinoco - Vitória da Conquista, BA
Resumo
Neste texto serão apresentados os diferentes rumos da astronomia. Será
possível perceber as grandes conquistas realizadas pela ciência com o passar
do tempo e suas perspectivas futuras?
A partir de várias observações e experimentos as teorias foram sendo
consolidadas com a contribuição de diversos cientistas e, independente de
qualquer polêmica, divulgavam essas conjeturas à sociedade. Será divulgada a
história de todo o universo com a teoria do Big Bang. Após a grande explosão
ocorreram alterações no cosmo que proporcionou o surgimento de alguns
elementos, como: hidrogênio, hélio, lítio, entre outros. Posteriormente, a
integração da poeira cósmica fez com que as estrelas fossem formadas. Vale
ressaltar que o intervalo entre esses acontecimentos marcantes é longo.
Haverá um estudo sobre as seis partes da Via Láctea: núcleo, bulbo central, disco, braços espirais, componente esférico e halo; além de informar
como surgem os buracos negros. Partindo da Via Láctea, a viagem será pelo
sistema solar, enfocando a Terra e a Lua, suas estruturas e perspectivas para
descobertas futuras. Além disso, serão mencionadas as principais características de cada planeta e existência de outros corpos no Sistema Solar, como
meteoritos e cometas, os planetas que não orbitam o sol. E no decorrer da
explicação de cada astro, serão explanadas as hipóteses da existência de vida
nesses lugares. A reclassificação do Sistema Solar também será explicada,
pois devido à descoberta de Eris, Plutão veio a fazer parte de uma nova
classe de planetas anões.
159
Por fim o futuro do universo é que estará em foco, hipóteses serão
levantadas sobre questões que ainda não podem ser comprovadas, como:
universo em expansão ou universo em contração.
Introdução
A Terra é o planeta que reúne todas as condições necessárias à vida.
Água, fontes de calor no interior, recebimento da luz solar, atmosfera e
elementos que proporcionam um pequeno efeito estufa, sem o qual os
oceanos estariam congelados, a força gravitacional terrestre que exerce uma
atração sobre os corpos na superfície são alguns dos fatores que tornam
possível o equilíbrio existente entre os diversos seres vivos deste planeta.
Da Terra, partem estudos acerca dos demais corpos celestes na tentativa
de responder questionamentos como: qual a origem da vida; qual o futuro do
universo; existe vida em outros astros; entre outras. A conjuntura científica
se divide de forma sistemática visando encontrar respostas às intrigantes
perguntas. Para tanto, a Astronomia é a ciência que se ocupa do estudo dos
corpos celestes, desde a formação e evolução a aspectos como composição
química, posição relativa no espaço e os movimentos. Já a bioastronomia é
um ramo da astronomia responsável pelo estudo da vida fora da Terra, ou
seja, da vida existente nos corpos celestes no universo.
Essas são as ciências que explicam a maior parte dos fenômenos
abordados neste trabalho, que será apresentado em forma de poesia popular
e tem como objetivo tornar mais agradável o estudo deste assunto, pois é
de grande importância para a vida do ser humano na Terra, e abordará
astronomia e bioastronomia: ciências voltadas ao estudo dos corpos celestes
e ao estudo da vida fora da Terra.
Astronomia e bioastronomia na síntese poética
Conhecer todos os astros
E também corpos celestes
Aqui se pode encontrar
Quem a tal favor se preste.
A majestosa astronomia
Que o cosmo desbravou
160
E nos mostra o universo
Com seu extremo valor.
A majestosa astronomia
Que desbrava o universo
Captando astro a astro
Sem deixar nenhum disperso,
Enriquecendo a ciência.
E vou contá-la em verso
E assim ao meu leitor,
A atenção eu vos peço.
Assim como os cientistas
Por suas curiosidades
Estudaram a galáxia
Para a verdade encontrar
Levando a astronomia para o meio popular.
Alguns se tornaram famosos
Cujos nomes vou citar
E no traçado da linha, a ciência abrilhantar.
A ciência enriquecida
Com várias teorias
Surge o heliocentrismo
Que Galileu defendia.
“A verdade é relativa”
Albert Einstein dizia.
Num passeio pelo céu
Observando os planetas
Seus movimentos Kepler definia.
No universo interestelar
Tudo está em movimento
Newton tenta descrever
Do cosmo o comportamento
E a lei da gravidade
Põe o mundo em seu lugar.
Mais tarde, Albert Einstein
Quer o mundo relativizar.
161
Os da nova geração
Vou deles agora falar
O interesse pela astronomia
Em muitos Carl Sagan despertou
E uma vida de superação
Stephen Hawking nos mostrou
Grande físico teórico também se revelou
Desde os tempos do brilhante Einstein.
Em vários experimentos
E consultando o passado
Expandiram seus conhecimentos
Com a ajuda de instrumentos
Respondendo o interrogado
Explanando da Astronomia a importância
E os deixaram como herança
Para suprir nossas ânsias.
Os cientistas estão sempre a se aprimorar
E dos seus instrumentos
Também estão a cuidar
Com a confecção de atlas celestes
Foi que começaram a estudar
Seguindo com a luneta
Sempre a se aprimorar
Chegando ao telescópio simples
Para mais e mais avançar.
Após o estudo com lentes
Muito pouco demorou
Com alguns aperfeiçoamentos
E o espelho chegou.
Desde então esse melhoramento
Nunca mais parou
E tal diversidade
É de extremo valor.
162
Foi assim que para nós
O universo se mostrou
Com essa interatividade
Teorizou-se o que ocorreu
Big Bang, grande explosão
Eis o nome que se deu
À hipótese levantada
De como o mundo nasceu.
Contendo toda matéria
E total energia
Uma singular partícula
Promoveu cosmogonia
Expandindo material
Superquente e comprimido
Isso explica como o cosmo
Pôde assim ser concebido.
O universo surgiu
Parece até fantasia!
Há quinze bilhões de anos
Segundo essa teoria,
E com o passar do tempo
Reduziu-se a densidade
A temperatura abaixou
Trouxe muitas novidades.
O quente universo resfriou
O suficiente para surgir
Hélio, Lítio e Hidrogênio
E tudo que veio a existir.
Um milhão de anos depois
Formaram-se os primeiros átomos,
Pôde então a radiação – já existente no universo
Expandir-se pelo espaço.
163
Essa bela teoria, dois princípios tem por base
O primeiro é de Einstein e a relatividade
Explicando interação
Matéria e força da gravidade.
O segundo é chamado
De princípio cosmológico
Cuja visão do espaço
Não depende do que é lógico.
Sua implicação consiste
Num universo sem limites
Tal que essa grande explosão
Ocorreu simultaneamente em todo o cosmo
Liberando uma radiação
Hoje remanescente no espaço
Que pervaga a inteireza do universo
Provando o Big Bang aos céticos.
Na proporção em que o universo
Começava a se expandir
As quatro forças fundamentais
Surgiam então aí
Forças essenciais na natureza
Eram as forças eletromagnéticas
E a força da gravidade
Por último, as nucleares forte e fraca.
A cosmogonia em expansão
Mostrara-se como
Grandes e móveis nuvens,
Nuvens de baixa densidade,
Porém suficientes para sua contração.
A densidade aumentaria
Pela união de suas partes
Dividiu-se em pedaços.
164
Pedaços que orbitam entre si.
Os eventos já citados
Resultam na hierarquia
De galáxias a aglomerados
E desde os superaglomerados
Que estão em constante harmonia.
Os pedaços unem-se junto à poeira interestelar
Originando as nebulosas.
Nesta uma esfera surge
Forma-se de um pequeno volume
Adquirindo uma grande densidade
Na compensação da perda de calor.
A esfera não para de se contrair
Desenvolvendo altas temperaturas
Para brilharem nas alturas
Eis as estrelas aí, sem elas não poderíamos existir.
A evolução de uma estrela
É então representada
Por um certo diagrama
De forma elaborada.
Por meio da luminosidade
Que daqui é percebida
A localização das estrelas
Pode assim ser definida.
Há nesse famoso diagrama
A Sequência Principal
Com a estrela unitária
Ocupando a posição central,
Relacionando a temperatura
E a luminosidade – das demais estrelas
Vão elas se posicionando
Cada uma em seu devido local.
165
No centro de todas as estrelas
A queima do Hidrogênio
Produz Hélio
Que se mantém onde é formado
Visto que o calor produzido
Para as camadas externas
É transferido... Que emoção!
Transferido por radiação.
O acúmulo do Hélio
Forma um núcleo crescente
Com Hidrogênio em ignição
Em uma camada externamente.
Nela inicia-se uma expansão
Provocando na superfície uma resfriação:
E de gigante vermelha
Passou a definir-se então.
Pela atração da gravidade
Novamente o núcleo é contraído
E da temperatura central
O aumento é induzido
O Hélio deixa assim
De ser a peça principal
Dando lugar ao carbono
De temperatura ideal.
Este complexo elemento
Posteriormente ocasionará
No surgimento de novos elementos –
Oxigênio, Neônio, Magnésio –
E os nuclídeos de massa elevada
Com a síntese do Ferro
O término das reações nucleares
É certo...mais que esperto!
166
A fusão do Ferro por sua vez
Absorve energia ao invés de liberá-la
Levando a estrela a uma contração insustentável,
Resultando em um intenso colapso
Com a temperatura elevada.
O núcleo emite os neutrinos – partículas energéticas –
Fragmentando assim a estrela
Dando origem às supernovas.
Dos buracos negros agora vou falar:
São regiões do espaço com imensa gravitação
De onde nenhum tipo de sinal pode escapar;
Até mesmo a audaciosa luz.
Estes buracos vieram a se originar
Da explosão de algumas
Supernovas
De massa muito densa
Para em um pulsar se transformar.
A vocês quero lembrar
Que vale ressaltar
Ou até mesmo relembrar
A definição de pulsar:
É uma fonte de rádio estelar
Emissora de impulsos,
Impulsos que se repetem
Em intervalos regulares.
A origem das anãs brancas
Também vou esclarecer
Das estrelas de tamanho médio
É que vieram a aparecer
Resultando de um processo
Que aumenta a densidade
De forma a cessar
As reações nucleares.
167
Ah os quasares...que beleza!
Confundidos com as estrelas
São núcleos na verdade
De galáxias muito distantes –
Conturbadas são em todos os instantes.
Esses objetos abrigam
Os maiores buracos negros
Do universo existente.
Da luz existente no quasar
E do gás nele a orbitar
Em movimentos espirais
A massa de um buraco negro
Pode-se detectar;
Quanto maior a velocidade do movimento
Maior massa
O buraco negro terá.
Neste instante singular
A primordial ideia
É o estudo particularizar,
Porque é da Via Láctea
Que começo a falar;
Vou dizer que essa galáxia
É onde se encontra
O sistema solar.
A Via Láctea mostrara-se
Como espiral esbranquiçado
E 1 bilhão de estrelas a abrigar.
A toda poderosa
Se apresenta em seis partes
Que por conveniência
Me proponho a explicar
A atual divisão
168
Dessa Espetacular.
A parte 1 é o núcleo
Que está no centro do sistema
Um grande buraco negro
Este então pode ser
Envolto por um gás
De alta temperatura ocultado
Por uma interestelar poeira,
Que absorve luz visível e raios ultravioleta
Por ser detectado
Na faixa das ondas de rádio.
Tem um nome especial
Constelação Sargiltorius A
Neste momento me refiro
Àquilo que é a parte 2
Vem em torno do núcleo do espiral
É o chamado bulbo central.
Este é então formado
Por população de estrelas velhas
E é caracterizado
Por ser rico em metais pesados.
Sem demora e com afinco
Vou descrever o disco
Ele é a terceira parte
E abrilhantará o nosso roteiro turístico.
Essa estrutura especial
Que sustenta braços espirais
Que forma a quarta parte
Que se apresenta no universo
Com cinco braços de uma vez
Que já são nossos conhecidos:
Perseu, Órion, Sagitário
Noma e braço 3 kpc.
169
Com isso já esclarecido
Começamos a torcer
Pois é a quinta parte que vai
Aparecer.
É o componente esférico
Mesmo sendo por vezes esquecido
Ali ele está introduzido.
Para fechar o conteúdo
Explica-se a sexta parte,
Representada pelo halo
Que é o menos estudado;
Do pouco que se conhece
Sabe-se apenas o básico:
É ele quem causa efeitos
Na curva rotacional
Nesta, falta o saber
De suas formas no espaço.
Agora, como complemento
Do seu campo magnético vou falar,
Campo fraco para efeito estrutural
Na galáxia provocar
Mas potente para produzir
A poeira interestelar
E um alinhamento gerar – em que pela luz polarizada
Das estrelas vai detectar.
Adentrando a Via Láctea
Uma surpresa vai-se encontrar
Porque o nome agora é
Sistema Solar,
Do qual a teoria mais aceita
Hei de sistematizar
É que o Sol e planetas na mesma
Época astronômica vieram a se formar.
170
Esta formação ocorreu
De um colapso sofrido
Por uma nuvem de poeira e gás
Aproximadamente datada
De 4,6 bilhões de anos.
Houve uma concentração de massa
Provocando reações nucleares
Que veio a originar o Sol.
Autossuficiente em energia
Astro rei considerado ele
Tem forma esférica
É um pouco achatado;
Por grande massa gasosa
Composto ele é
E de temperatura elevada
Que lhe confere cor avermelhada.
A sua composição
É principalmente de Hidrogênio
E ficam em segundo plano
Hélio e outros elementos.
Das suas reações
Originam a energia luminosa
Pelo astro produzido
E para nós refletida.
Assim a luz nos mostra
Um espectro contínuo
Marcado por linhas escuras
Denominadas raias ou linhas de Fraunhafer.
Esse fenômeno vai ocorrer
Porque o tal espectro é afetado
Na sua passagem
Por camadas externas solares.
171
Os gases ali presentes
Absorvem exatamente
Os comprimentos de onda
Por eles emitidas.
O Sol apesar de quente
Tem também uma atmosfera
A qual hei de descrever toda ela.
A atmosfera é composta
De camadas superpostas
De modo a não ser à toa
Fotosfera, Cromosfera e Coroa.
Orbitando essa estrela
Encontram-se os planetas
Os quais possuem pouca massa
E desprovidos são de luz própria.
Mas essa massa é suficiente
Para pequenos corpos ao seu redor influenciar
Sem deixar influenciar por eles.
Estes mundos se formaram
Por aglomerações graduais
De corpos sólidos chamados planetesiamais.
O primeiro a orbitar
A estrela solar – vou aqui apresentar.
É chamado de Mercúrio
E dele agora vou falar
É o de maior densidade
E de maior velocidade
Seu eixo de rotação
É praticamente zero
O que implica então
Ausência de estações climáticas.
172
Mercúrio não tem satélite
E possui duas fases notáveis
Numa ele é invisível
E na outra, quando observado,
Mostra o seu disco totalmente iluminado.
Para ser melhor
Estudado
O planeta foi espionado
Por uma sonda espacial
Chamada de Mariner 10.
Com os dados por ela coletados
Foi possível determinar
Os componentes que Mercúrio tem no ar:
Hélio, Sódio e Hidrogênio
Potássio, Neônio e também
Oxigênio.
Mercúrio tem um campo magnético
Que é bastante reduzido.
Campo supostamente originado
Dos materiais do seu núcleo
Eletricamente carregado.
O núcleo deste planeta
É composto totalmente por Ferro
E a superfície é cheia
De falhas e crateras
Dono de uma tênue atmosfera.
Provavelmente ali não existe
Nenhuma forma de água
Seu clima durante o dia
É extremamente quente
Mas quando chega a noite
O frio chega estridente,
O que nos faz acreditar que no polo norte
Pode haver uma camada de gelo
173
Por naquela parte
O sol nunca bater.
Isso é então explicado
Por sua inclinação
Que por ser quase perpendicular
Ao plano orbital
Naquela localidade
O sol sempre baterá por cima do horizonte.
Partamos para seu vizinho
Que também é pequenininho
Vênus ele foi nomeado.
Para ser melhor observado
Ele já foi visitado
Por missões não-tripuladas
De uma série soviética.
Da superfície Venusiana
Temos conclusões concretas
A partir de dados obtidos pela Venera.
Ali há um grande efeito estufa
Pois o planeta é dominado
Por uma densa atmosfera
E uma grande quantidade
De gás carbônico e ácido sulfúrico,
Promovendo temperatura de 380º graus.
Suas marcas principais
Eu jamais vi iguais
Um calor abrasador
E de pressão esmagadora
Com gases sulfurosos
E paisagem vermelha deserta.
174
Com tantas impossibilidades
Não se pode imaginar
Que haja algum tipo de vida
Nesse inferno de lugar,
Mas há cientistas
Que se atrevem a afirmar
Que pode existir vida
Neste planeta a habitar.
Alguns cientistas relatam
Que micróbios podem sobreviver
E até reproduzir
Na densa atmosfera
Que ali veio a existir
Pois esta é protegida
Por um filtro de compostos de enxofre.
Uma das bases para esses relatos
É que Vênus outrora
Pode não ter sido esse terrível lugar.
Há teorias que sugerem
Que no paraíso antes ali existente
Algum tipo de vida ali surgiu
E por adaptação estão ali
São hipóteses levantadas, mas coerentes.
Agora hei de falar
Do planeta que para nós
É provincial no sistema solar.
Atenção dobrada outra vez vos peço
Pois não vou deixar ninguém disperso.
Estudar este paraíso é muito divertido
Mas requer muita esperteza
Para não ficar confundido.
175
A Terra – O terceiro planeta
Apresenta atmosfera secundária
Formada por emanações gasosas
Ocorridas ao longo de sua história.
É principalmente constituída
Por Oxigênio, Hidrogênio e Argônio
Os fluidos que a encobrem
São a consequência
De uma coloração azulada
Azulada, quando do espaço é observada.
No interior da Terra
Há fontes de calor
Que fornecem energia
Para sua dinâmica
E condicionam, a formação de magmas,
Dentre outras manifestações
Da tectônica global.
Não posso deixar de falar
Sobre algo a se lembrar
Que ao mesmo tempo a Terra
Do Sol recebe a energia
Através da radiação que incide
Nos movimentos atmosféricos
E nos oceanos do planeta.
A Lua é o satélite natural da Terra
Sem rastro de atmosfera.
Da Lua a missão Apolo coletou
Amostras de seu material
Permitindo descobrir
Que esta foi submetida
A violentos bombardeios
De asteroides e planetésimos
176
Desde sua fase embrionária.
O sistema Terra-Lua
Tem o modelo mais aceito
De que houve um impacto de um corpo
Nos finais estágios de acreção
Quando a Terra já estava diferente
Com núcleo metálico e manto silicático.
Água e ar falta à Lua,
O que torna improvável
O mínimo resquício de vida.
Já a Terra – por possuir esses fatores
Tem recursos para abrigar a vitalidade.
Um aviso agourento Vênus é
Pois da hospitalidade infinita
De nosso querido planetinha
Não temos garantias
Pois este fora por mudanças esculpido
E destas no cosmo não há como fugir.
A licença agora eu vos peço
Pois uma grande observação hei de fazer aos dispersos:
Frivolamente a natureza por nós está destruída
Pois os humanos não ligam
Para as catástrofes que aqui podem ser produzidas.
Pensam que esta geração pode
Decidir o destino da vida.
A Terra está sendo destruída
Em ritmo acelerado
E pode estar perto de entrar em colapso.
Danos irreversíveis é o que queremos provocar?
Ao que dá mais valor precisamos decidir:
Lucros a curto prazo ou habitalidade longínqua
Em nosso lar planetário?
177
Já foram descobertos mundos com
Atmosferas sufocantes e superfícies letais
Vamos recriar estes infernos aqui na Terra.
Se arruinarmos a Terra para onde iremos?
Agora vou apresentar
O quarto planeta
Do sistema solar
Marte ele foi nomeado.
Mas de planeta vermelho
Ele também é chamado.
Marte antes era considerado
O melhor candidato!
Candidato, a ter vida
Mas depois das explorações
Feitas pela Mariner 4 e a Viking 1 e 2
Marte revelara uma superfície
Contendo muitas crateras
E canais naturais, mas
Nenhuma evidência clara
Da existência de vida
Este planeta tem
Uma atmosfera rarefeita.
É formado por elementos
Semelhantes aos de outros planetas –
Gás carbônico, Nitrogênio
Argônio e Oxigênio –
A 59 graus Celsius negativos
A temperatura média ali chega.
É o planeta mais estudado
Nos últimos anos
Por agências espaciais
Provavelmente devido
178
À existência de planos
Com o intuito de encontrar
Algum tipo de vida naquele lugar
E quem sabe até o colonizar.
No ano de 2000, surgiu
A primeira evidência de que
Água ali havia
Pois no solo marciano
Foram encontrados
Gelo e sinais de erosão
Indicando a existência
De canais em seu subsolo.
Ah! Esses indícios aumentaram
A esperança de que no futuro
Naves espaciais tripuladas
Poderiam ser enviadas.
A água seria essencial,
Mas apesar de todo estudo
Com segurança, não se pode afirmar
A existência de vida naquele lugar.
A vez agora é de falar
Dos planetas externos
Do nosso Sistema Solar;
Pra ficar mais bem explicado
Os nomes deles vou citar.
Abre alas com Júpiter e Saturno
E fecha com Urano e Netuno.
Eles diferem completamente
Dos planetas internos existentes
Por serem enormes esferas
De um gás comprimido
E com baixa densidade.
179
Para melhor compreensão
Falarei de cada um
Com mais especificidade.
A viagem vai começar
E então vou colocar
Júpiter e Saturno em primeiro lugar.
São planetas gigantes e gasosos
Compostos principalmente de Hélio e Hidrogênio,
Enquanto Urano e Netuno
Têm apenas 20% desses dois elementos
Sendo formados também por gelo e materiais rochosos.
Uma missão espetacular
Que de Galileu veio a se chamar
Em 1995 foi conhecer
Júpiter num ângulo que ninguém vê.
Pelo tamanho exagerado
Ele pode ser até considerado
Uma estrela que falhou
Quando sua história começou.
Ele é repleto de anéis
E satélites desiguais
Todos formados por sólidos materiais.
Os maiores a orbitá-lo
São chamados galileanos
E são nossos conhecidos desde tempos distantes
São eles Europa, a seguir vem Gaminedes
Seguido por Callisto, Io, desse grupo o ultimo satélite.
Io é o mais conhecido
E dele vou comentar.
Com uma temperatura
Interna de arrasar
Ele começa a produzir
180
Imensas erupções
Que serão eliminadas
Através de seus vulcões.
O interior do gigante
Ainda é desconhecido
Mais uma teoria vem dizer
Que o núcleo é pequeno
E formado por silicatos fundidos
É como ele deve ser.
Em relação aos demais planetas
Não há muito que mencionar
Do pouco que se conhece
Não hesitamos em afirmar
Que pelas suas médias densidades
Materiais densos é que devem abrigar.
Há modelos para suas estruturas
Que preconizam um núcleo rochoso
Coberto por água liquida
E alguns compostos químicos.
É pouco provável a vitalidade
Nos planetas externos
Porém naves norte-americanas
Detectaram moléculas orgânicas
Na atmosfera de Titã –
A grande lua de saturno –
Moléculas estas que podem
Estar ligadas à origem da vida.
Naquela superfície congelada
Esperar agora nos resta
Que novas missões nos deem instrumentos
Para sabermos até aonde Titã chegou
No caminho para a vida.
181
A sonda Huygens tem fornecido
Retratos inesperados
Daquela superfície tão gelada.
Sim, Plutão era considerado
O nono planeta a
Orbitar a estrela solar
Mas em agosto de 2006
Na cidade de Praga
Na República Tcheca
À “serie B” ele foi rebaixado.
Explicarei melhor o fato
Em janeiro de 2005
Um objeto foi descoberto
No nosso sistema solar
Xena, ele foi popularmente
Chamado.
A união astronômica internacional –
Fonte oficial dos nomes celestes –
Suspendeu a classificação
De Xena como planeta
Pelo menos ate que surgisse
Definição cientifica para planeta.
No entanto Xena era 5% maior
Que o nono planeta
Uma dúvida em questão
Planetas ou não?
424 astrônomos se reuniram
Para definir o que é planeta
Depois de debates acirrados
Foi inventada uma nova classe
De planetas “anões” para objetos
Suficientemente grandes cuja
Gravidade fosse capaz de lhe dar
A forma esférica, porém
Suficientemente
182
Pequenos para remover
Objetos em órbitas similares.
Dessa nova classe de planetas
Plutão é protótipo.
Dela também faz parte
Eris, a popular Xena
“Nome mais que perfeito”
Disse seu descobridor,
Pois Eris é a deusa grega da
Discórdia.
E por último Ceres, o maior dos asteroides.
Agora hei de comentar acerca
De outros astros existentes
No Sistema Solar
Pelo Cinturão de Asteroides começo.
Este é constituído de incontáveis
Corpos planetários de tamanhos
Diversos.
É provável que os meteoritos
Que aqui na terra caem dele provêm.
Se vocês não sabem
Vou lhes contar que meteoritos
São fragmentos de matéria sólida
Provenientes do espaço;
E os meteoros são mais conhecidos
Como estrelas cadentes,
São estrias luminosas
Que sulcam o céu.
De um vasto domínio celestial
De cometas em deslocamentos
Também quero falar:
Nuvem de Oort veio a se chamar
Os cometas de períodos longos
Menos assíduos vêm de lá.
Desta tivemos recentes visitantes
Hale Bopp, Hyakutake e Mc Naught.
183
De outro corpo vou falar também.
O Cinturão de Kuiper é um lugar além
Que como um disco ele reúne
Milhões de corpos gelados
E plutão não está imune
Em ser um desses corpos
Os cometas desse cinturão
São de curto período.
Daqueles, agora irei falar
Os quais não orbitam a estrela solar
São eles os planetas extrassolares
Com auroras fascinantes e formas ovais
Como júpiters quentes
É que ficaram conhecidos
Motivo, atmosfera desses
Borbulha a 1.850 °C.
Com o telescópio Hubble
Descobriu-se que esses mundos
Navegam perto de suas estrelas
E suas órbitas tão menores são
Quanto Mercúrio em relação ao Sol
E o grande desafio agora é
Observar o trânsito
O trânsito desses exoplanetas.
Suas órbitas planetárias
Raramente estão horizontais
Alinhadas com a terra
Por isso observações de estrelas
Têm sido feitas de uma só vez
Em sua melhor forma procurando pelo céu
Com maior densidade possível
De estrelas, centro da galáxia
184
Terminando essa viagem
Vamos partir para o futuro
E mostrar as teorias
Que vão nesse período reger o mundo
Se o universo em expansão
Revelar-se a nós temporário
Substituindo-se por universo em contração
Cria-se uma contundente
Possibilidade
Que o universo seja infimamente antigo
Que já passara por um número infinito
De expansões e contrações
Mas se não há matéria suficiente
Pra reverter a expansão
Coerente seriam um universo
Criado do nada
As supracitadas questões
É de profundas reflexões
E de várias opiniões
Mas desde os primórdios
Que varias culturas almejam
Explicar a cosmogonia
Na maioria das vezes
Por meio de conjeturas
Que não podem ser testadas.
Não quero finalizar, mas sim
Os incentivar, a mais e mais
Buscar para muito aprimorar
E muito mais esplandecer
Novos roteiros que vão aparecer
Pois não vamos nunca
Abater-nos, pois ainda existem
muitos porquês.
185
Considerações Finais
Por meio deste trabalho é possível compreender um pouco mais a
respeito do Big Bang, dos quasares, da verdadeira história de Júpiter, do
real significado de buracos negros, da constituição estelar, da semelhança
estrutural entre Vênus e nosso planeta e muitas outras coisas.
A realização deste projeto leva à reflexão de que o homem sempre se
coloca numa posição central no universo, desprezando por muitas vezes a
importância de outras formas de vida aqui ou até mesmo em outros planetas.
A Astronomia não é apenas a ciência que estuda os astros. Ela também pode
ajudar não só a entendermos os astros, mas também a questionar sobre o
que e quem somos. Como forma de valorizar a cultura local, foi escolhido
utilizar-se da poesia popular para tornar o conhecimento da Astronomia
algo ainda mais prazeroso e dinâmico.
Qual a origem da vida? Qual o futuro do universo? Existe vida em outros
astros? Nem eu e nem a ciência pudemos ainda responder a essas questões.
E é pouco provável que todas sejam respondidas, embora os avanços na
área astronômica tenham demonstrado um grande interesse em respondêlas. Tais questões são o impulsionamento atual da astronomia.
Referências Bibliográficas
BRAGA, M. Breve história da ciência moderna. v. 2: das máquinas do
mundo ao universo – máquina. – Rio de Janeiro: José Zahar Ed. 2004.
CARVALHO, A. Astronomia. 3ª Ed. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1994.
COUPER, H. Buracos negros. Trad. Laura Karin Gillon. São Paulo:
Moderna, 1997.
FARIA, R. P. Iniciação à astronomia. São Paulo: Ática, 2007.
FEYNMAN, R. P. Física em seis lições. Trad. Ivo Korytowski. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2004.
SAGAN, C. Bilhões e bilhões: Reflexões sobre a vida e a morte na virada
do milênio. Trad. Lauro Karin Gillon. São Paulo: Moderna, 1997.
VESENTINE, J. W. Geografia crítica. São Paulo: Ática, 2004.
186
Menção Honrosa
A Astronomia em nossa vida
Estudante: Karina Rodrigues dos Santos, 17 anos, 2º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Daniela Resende de Faria
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - Campinas, SP
Resumo
O ser humano sempre foi curioso. Sempre questionou as coisas a sua
volta, e isso acontece desde a Pré-história. Buscando formas de facilitar
a sua vida, desenvolveu técnicas que facilitavam as suas atividades diárias
e ajudavam a saciar a fome. Mas o ser humano não tem nem nunca teve
fome apenas de alimento, o saber sempre foi presente em sua existência.
Sempre querendo saber mais, os povos antigos sempre justificaram ou
buscaram justificar os fenômenos da natureza. E com o conhecimento
adquirido, sempre desenvolviam ou aperfeiçoavam as tecnologias a sua
disposição.
A Astronomia sempre fascinou os seres humanos. E essa fascinação
fez com que nunca deixassem de responder aos questionamentos que
surgiam nessa área da ciência. Muitos estudos e teorias foram construídos
e desenvolvidos para que o conhecimento em Astronomia fosse o maior
possível. A ideia de que existia algo depois do céu motivou homens a
tentar conhecer o que o universo reservava.
Os seres humanos evoluíam, e com eles as tecnologias e os
conhecimentos em Astronomia também. Durante uma guerra, a
tecnologia desenvolvida superou todas as expectativas. Puderam conhecer
pessoalmente o maravilhoso objeto de estudo da Astronomia: o Universo.
E a partir daí, puderam aproveitar a tecnologia espacial para usar na Terra,
melhorar a qualidade de vida.
187
Introdução
No intuito de relatar as contribuições tecnológicas do ser humano
para a Astronomia e para a vida cotidiana foi escrito este texto, que visa
contribuir com a evolução da história da Astronomia e de suas descobertas.
Ele mostra, de forma resumida, a presença dessa ciência na vida do homem
e relata as descobertas feitas por ele desde a antiguidade. O interesse que
motivou homens como Galileu Galilei e Isaac Newton a desenvolverem
suas pesquisas e contribuírem enormemente para a história fez com que
este texto pudesse ser escrito. A curiosidade por corpos celestes e pela
observação do céu foi a motivação para procurar conhecer um pouco
mais sobre a relação do homem e o espaço.
A Astronomia tem algo que fascina milhões de pessoas no mundo
inteiro, que procuram saber um pouco mais sobre a sua história. E a
torcida para que o homem consiga chegar a outros planetas ou até a
outras galáxias é enorme. A busca pela vida fora do planeta Terra faz com
que a imaginação do ser humano floresça e alimente a sua capacidade de
construir máquinas cada vez melhores para suprir sua curiosidade. Isso
move muitas pessoas a trabalharem para conhecer com mais profundidade
o universo em que vivemos e buscar saber como foi que nós chegamos
até aqui, o que de verdade nos deu origem, podendo, assim, provar ou
refutar as teorias que formamos sobre a nossa origem.
Imbuído desses propósitos, a seguir se delineará uma pequena parte da
história da Astronomia, que é também parte da história da nossa existência,
contribuindo, de maneira simples, para propagar o seu conhecimento
e mostrando que tecnologias comuns em nosso dia-a-dia têm alguma
relação com a tecnologia desenvolvida para a exploração do Universo.
A astronomia em nossa vida
Desde o homem primitivo até hoje uma questão se apresenta: como
sobreviver? A busca de alternativas, a criação de técnicas para adaptar-se
ao meio ou para adaptá-lo às nossas necessidade tornaram-se fundamentais
para a sobrevivência da espécie. Primeiramente foram criados utensílios
a partir de ossos e de pedras lascadas ou polidas, para facilitar o corte de
carne da caça. Foi dominado o fogo, útil para aquecer em dias de frio,
188
esquentar a carne, tornando-a mais saborosa, e afastar animais perigosos.
Obstáculos impostos pela natureza foram superados, e o homem adaptou-a
a suas necessidades.
Exemplos não faltam ao longo da história. Os egípcios criaram rampas
e alavancas para facilitar o manuseio de materiais em suas construções.
Desenvolveram o suporte da sua escrita, o papiro e a sua linda cerâmica.
Mais tarde, na Roma Antiga, foram desenvolvidas técnicas diferenciadas de
arquitetura e engenharia para a época, além da tecelagem e da construção
de estradas. Na China Antiga e Medieval, foram desenvolvidos os fósforos,
o papel, a ponte suspensa, a bússola, a pólvora e o barco movido a pás.
E todos rapidamente passaram a ser usados em vários outros lugares do
mundo.
Em 1608, os holandeses Hans Lipperhey (1570-1619) e Zacharias Janssen
(1585 – 1632) criaram e montaram o primeiro telescópio. No ano seguinte,
Galileu Galilei, baseado no modelo holandês, construiu seu próprio modelo
e, assim, pôde fazer várias descobertas sobre o nosso sistema solar, tendo
argumentos para afirmar que o sistema heliocêntrico de Copérnico era o
correto.
Depois das descobertas de Galileu, o mundo nunca mais foi o mesmo.
Diversos cientistas começaram a estudar o sistema heliocêntrico e a procurar
formas de prová-lo. Alguns começaram novos estudos em diferentes áreas
da ciência como, por exemplo, a descoberta e a isolamento do hidrogênio;
a descoberta do princípio da vacinação; o começo da química moderna
por Lavoisier; a criação do telescópio refletor, por Newton; a fabricação da
primeira bateria elétrica; e a invenção da fotografia. Outros desenvolveram
máquinas para a utilização cotidiana e instrumentos para a fabricação de
produtos em massa, como por exemplo, o motor a vapor. Foi quando
aconteceu a Revolução Industrial, que mecanizou os sistemas de produção,
com as máquinas a vapor que aceleraram a produção têxtil. Juntamente com
elas, veio também uma revolução nos transportes, destacando os trens e as
locomotivas a vapor.
Mais tarde, a partir do século XIX, os estudos e pesquisas são aprofundados,
e as novidades tecnológica tornam-se cada vez mais sofisticadas, a exemplo
da anestesia geral, que é usada pela primeira vez em 1846 em um hospital
de Boston; da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin,
189
após muitos anos de estudo; do primeiro poço de petróleo perfurado nos
EUA; do telefone e da geladeira; do microfone e do fonógrafo também;
do primeiro carro movido a gasolina; dos raios X; do primeiro aparelho
cinematográfico; do telégrafo sem fio; da radioatividade; do primeiro
microscópio de elétron; do átomo de urânio separado; do Z3, primeiro
computador, colocado em funcionamento; do primeiro satélite lançado, o
Sputnik 1; da chegada do primeiro homem à lua...
Todos esses avanços intelectuais e tecnológicos se sofisticaram cada
vez mais e rapidamente. Com isso as sociedades também se modificavam
tanto na forma de organização como na forma de se relacionar com
as diferentes nações e até mesmo na forma de governar. As mudanças
ocorreram também no meio ambiente e nas formas de pensar e agir a
respeito das decisões tomadas sobre esse meio físico.
E todas essas decisões fizeram com que as novas tecnologias e
pesquisas desenvolvidas fossem voltadas para a busca de respostas para
a origem do planeta Terra, para a preservação da vida e para a melhoria
do ser humano e do meio ambiente. Foi por isso que se desenvolveram
a ciência e a tecnologia espacial na busca de soluções para melhorar o
nosso planeta, para continuar construindo hoje o mundo que nossos
antepassados começaram a construir.
A astronomia ajudando o ser humano a descobrir suas
origens
A ideia de que não estamos sozinhos no espaço desperta em muitas
pessoas a curiosidade de saber o que existe e como é o meio físico fora do
planeta Terra. O espaço sideral, as estrelas, os planetas, as luas, buracos
negros... tudo isso desperta o interesse do ser humano em procurar saber
não só como é mas também como surgiu e há quanto tempo existe.
A partir da ciência espacial, podemos pesquisar e descobrir coisas
fascinantes sobre o nosso planeta e sobre o universo. A Astronomia, uma
das ciências mais antigas, foi construída para observar os astros e seus
movimentos, para criar teorias e estudar a nossa existência e evolução,
a existência do nosso planeta, dos outros planetas, das estrelas, do Sol,
da Lua, enfim, de toda a nossa galáxia, entender como, quando e em que
190
situações fomos criados. Tentar estimar há quantos anos existimos e em
quanto tempo iremos desaparecer, tentar conhecer as nossas origens, para
melhor nos entendermos.
A nossa curiosidade tem início na Pré-história, quando se começam
a observar os fenômenos à volta e a tentar entendê-los. Entender por
que uma parte do planeta era clara, e a outra era escura; por que havia
pontinhos brilhantes no céu quando este estava na mais completa
escuridão; por que havia uma bola brilhante no céu que, em alguns dias,
não aparecia, ou aparecia apenas pela metade... Foi assim que evoluímos
e começamos a utilizar as estrelas para nos orientar; utilizar a passagem
dos dias para marcar o tempo e os acontecimentos celestes para prever as
épocas propícias para o plantio e colheita dos alimentos.
Mas foi no verão de 1609 que as descobertas avançaram sobre o
Planeta e sobre o Universo, quando Galileu Galilei, a partir de comentários
que ouviu sobre lentes desenvolvidas por um cientista holandês, as
quais permitiam fazer com que objetos distantes parecessem ficar mais
próximos, e de seus conhecimentos técnicos em matemática, projetou
uma série de telescópios com um desenvolvimento óptico muito superior
ao do instrumento desenvolvido na Holanda. Com seu novo instrumento
em mãos, Galileu apontou-o para o céu e fez diversas descobertas
astronômicas: observou que a Lua possuía montanhas e crateras e que
sua forma não era perfeita; provou que a Via Láctea era composta por
milhares de outras estrelas; descobriu que o planeta Vênus mostrava fases
diferentes, como a Lua, e concluiu, assim, que os planetas deveriam estar
em órbita do Sol e não da Terra, um forte argumento para provar que o
sistema heliocêntrico estava correto.
Utilizando a luneta que havia construído, Galileu fez com que suas
descobertas revolucionassem o pensamento da época e mostrou um
novo universo, desconhecido e inimaginável para a sociedade. Porém,
algo estranho, diferente para nós, é sempre visto com cautela. E foi o
que aconteceu na época. Galileu foi duramente criticado pelo clero
católico e por parte da sociedade, com exceção apenas de um grupo de
cientistas que achou fascinante suas descobertas. No começo, poucas
pessoas acreditaram nele, seu pensamento lhe causou muitas inimizades.
A Igreja condenava suas descobertas e dizia a seus fiéis que Galileu era
191
louco e que deveria ser punido com as leis de Deus, assim como também
aquele que nele acreditasse e que propagasse as suas ideias, pois ele estava
questionando a verdade de Deus.
Esse pensamento e a dificuldade das pessoas de aceitar o diferente, o
desconhecido e de questionar as novidades, procurar saber como foi feito e
no que se baseia, procurar conhecer, quebrar a ideologia, procurar dar chance
a cada um de expor suas ideias, suas ideologias, fez com que Galileu fosse
perseguido pela Igreja e acusado de heresia, tendo que ler uma confissão
perante o Santo Ofício da Inquisição negando tudo o que tinha defendido a
sua vida toda e sendo condenado à prisão domiciliar pelo resto da vida.
Os conhecimentos do físico, matemático e astrônomo Isaac Newton e seus
estudos a partir de descobertas de outros físicos fizeram com que chegasse
às formulações de suas leis e, assim, à demonstração das Leis de Kepler, que
descreviam o movimento planetário. Sua outra contribuição decisiva para
a astronomia: a criação do telescópio refletor para a observação do espaço,
fez com que ela ganhasse força e caminhasse para o desenvolvimento da
Astronomia atual.
Com os novos aparatos tecnológicos, baseados nos dos séculos passados,
podemos ver de perto as estrelas, a Lua e os planetas que estão a milhares de
quilômetros de distância da Terra. Antes, víamos o espaço sideral apenas a
olho nu, agora aparelhos cada vez mais sofisticados nos auxiliam em nossas
observações e nos mostram coisas cada vez mais fascinantes. Contudo uma
pergunta há que ser feita: como o homem desenvolveu tanta tecnologia?
Guerra Fria: o desenvolvimento da tecnologia espacial e
da astronomia
Após a Segunda Guerra Mundial, as duas potências da época, Estados
Unidos e União Soviética, tentaram influenciar os outros países a aderirem
a seu sistema político e econômico. Os Estados Unidos com o capitalismo e
a União Soviética com o socialismo. Isso fez com que o mundo se dividisse
em dois: de um lado, os países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos,
e do outro, os países socialistas, liderados pela União Soviética. Apesar da
rivalidade, do antagonismo e do clima de conflito entre os dois países, nem
a União Soviética nem os Estados Unidos entraram em conflito direto um
192
com o outro, pois sabiam que ambos detinham uma quantidade muito grande
de armamento nuclear, que, se usado em uma guerra, acabaria com todos os
seres vivos do planeta. Esse período ficou conhecido como Guerra Fria.
Como essas duas potências tinham medo de se enfrentar em uma guerra
armada, deu-se início à corrida por tecnologias cada vez mais avançadas e
ao aperfeiçoamento de armamentos nucleares, momento conhecido por
corrida armamentista. Sempre que um país lançava algo novo, o outro
também lançava, pois o medo de a qualquer momento ser bombardeado
criava a necessidade de se preparar para uma possível guerra.
Os países queriam sofisticar seus arsenais militares e, para isso, investiam
cada vez mais em pesquisas e na criação de novas armas. Para desenvolver
tecnologia suficiente para o lançamento de mísseis e de foguetes de longo
alcance cada vez melhores, muito foi investido em tecnologia espacial e
foi assim que a tecnologia espacial tem início: um país disputando com o
outro para ver quem tinha mais recursos tecnológicos para suas armas de
longo alcance.
O lançamento do primeiro satélite artificial pela União Soviética, em
1957, foi o momento que marcou o início da corrida espacial. O Sputnik 1
foi o primeiro objeto criado pelas mãos do homem a ir para o espaço.
Pesando 83,6 kg e com, aproximadamente, 58 centímetros de comprimento,
era uma esfera de alumínio que tinha acoplado em seu corpo quatro antenas
e dois transmissores de rádio.
Sputnik 1: O primeiro satélite
artificial enviado ao espaço pelo
homem. Fonte: Site BBC Brasil
193
Sua única função era enviar um sinal de rádio, “bip”, para a Terra, o qual
podia ser captado por qualquer rádio. Foi enviado ao espaço na ponta de
um foguete de três estágios R-7, inicialmente projetado para lançar ogivas
nucleares, e ficou em órbita da Terra por seis meses, até entrar na atmosfera
e incendiar-se.
Após o lançamento, a ambição de mandar um ser humano cresceu e, no
mesmo ano em que o Sputnik 1 chegou ao espaço, a União Soviética lançou
um novo Sputnik, agora tripulado, levando a cadela da raça Laika ao espaço.
A cadela sobreviveu ao lançamento, mas morreu algumas horas depois, já
que não havia nenhuma estratégia de volta. A tecnologia usada no foguete
que a enviou para o espaço não permitia que ela voltasse sã e salva.
A cadela Laika, no Sputnik 2, estava em uma
cabine pressurizada na qual só podia ficar
deitada ou em pé. Fonte: Site BBC Brasil
Mais tarde, em abril de 1961, a nave tripulada Vostok 1 saiu do Cazaquistão
e levou o primeiro homem ao espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin. Ele foi
o primeiro ser humano a completar uma volta em torno da Terra. Gagarin
ficou em órbita da Terra durante 108 minutos na nave que era totalmente
automatizada. E voltou salvo para a Terra.
Num curto período de tempo, vários satélites e naves espaciais foram
enviados para o espaço, tanto pela Nasa, dos Estados Unidos, quanto pela
União Soviética. Alguns para medir raios cósmicos e temperatura, e outros,
com homens e mulheres, para conhecer o espaço. Porém a missão que talvez
tenha sido mais surpreendente e esperada, depois da chegada do homem
ao espaço foi, com certeza, a chegada à Lua. A bordo da nave Apollo 11,
enviada pela Nasa, havia três homens: Neil Armstrong, Edwin Adrin e
Michael Collins, que depois de várias horas de viagem iriam alunissar.
194
Pegada de Neil Armstrong, o primeiro
homem a pisar a lua Fonte: site GRIN da
Nasa <http://grin.hq.nasa.gov/BROWSE
/apollo11_1.html>
Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong foi o primeiro homem
a pisar a Lua. Por pouco mais de duas horas, ele e o astronauta Edwin
Adrin recolheram amostras do solo lunar, tiraram algumas fotos e fizeram
algumas experiências. Quatro dias depois, caindo no Oceano Pacífico, os
três astronautas retornaram para a Terra.
Desenvolvimento da astronomia
A Guerra Fria, certamente, foi um período em que muitas pessoas
passaram por uma grande tensão devido à chamada Paz Armada. O
estresse causado pela difícil relação entre as duas potências da época estava
sempre no limite, e o terror e o medo tomavam conta de todo o mundo.
Mas ela também trouxe fatores positivos: a corrida espacial foi uma das
contribuições mais decisivas para a história da Astronomia. A rivalidade
entre os Estados Unidos e União Soviética rendeu bons investimentos na
área espacial, gerando um grande desenvolvimento para a astronomia em
um curto espaço de tempo.
Com a corrida espacial, a astronomia pôde conhecer melhor o seu
objeto de estudo: o espaço. A fascinação pelo espaço nos levou de simples
observações curiosas feitas da Terra para vivências no espaço. Pudemos
conhecer melhor a Lua, fotografá-la e até analisar o seu solo, contribuindo
para afirmação ou a refutação de teorias sobre ela. A astronomia ganhou
mais tecnologia para desenvolver telescópios e lunetas e criar novos
instrumentos de estudo sobre o espaço. Antes havia lunetas com pouca
tecnologia, agora são criados telescópios com um desenvolvimento óptico
195
muito melhor, além do computador, os radares, as sondas e os satélites
artificiais que auxiliam em observações e pesquisas e ajudam a revelar e
a descobrir coisas cada vez mais interessantes. Podemos dizer que a frase
“Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade“,
dita por Neil Armstrong ao pisar o solo lunar, pode significar um grande
avanço em um curto período de tempo para a Astronomia.
Ao se comprovar, depois de muitas pesquisas e testes, que se podia
chegar a outro corpo celeste no universo, o ser humano começou a querer
visitar os outros planetas, pois só a Lua não saciava mais a sua curiosidade.
Com o avanço da tecnologia, no período da corrida espacial, os cientistas
puderam desenvolver uma sonda muito poderosa para explorar outros
planetas, a qual contribuiu para que novos estudos da Astronomia
pudessem ser realizados, e o ser humano conseguisse conhecer melhor o
universo onde vive.
Foi com o envio das sondas Voyager 2, em agosto de 1977, e a Voyager 1,
em setembro do mesmo ano, pela Nasa, que o ser humano começou a
conhecer melhor os planetas vizinhos. Com essas sondas se conheceram
características dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Sonda Voyager 1 e 2. Fonte: Nasa/JPL
196
O envio de milhares de fotos para a Terra possibilitou a observação de
diversas características dos planetas e de seus satélites,sua composição, sua
superfície e atmosfera. As descobertas puderam refutar algumas hipóteses
dos astrônomos e comprovar outras. Isso graças à tecnologia desenvolvida
durante a Guerra Fria.
A tecnologia espacial gerada para a exploração do
universo, facilitando a vida do ser humano na Terra
Muita gente deve se perguntar se a Guerra Fria deixou alguma
consequência boa, sem ser o legado histórico para a humanidade, ou para
os países que participaram dela. A resposta é sim. Ela gerou muitos avanços
tecnológicos que desfrutamos até hoje. O desenvolvimento de satélites de
espionagem e a preocupação com a vida dos astronautas fora da Terra
renderam benefícios em todos os campos da ciência, da saúde até o nosso
lazer. Literalmente, podemos dizer que o Sputnik 1 mudou nossa vida para
sempre. Um aparelho em forma de esfera, que apenas enviava sinais de
rádio para a Terra, mudou completamente a nossa realidade.
Quando pensamos em computadores, lembramos logo do monitor
de LCD e do mouse óptico, ou então, lembramos daquele aparelho
pequeno e portátil que podemos utilizar a qualquer momento em qualquer
lugar, imprescindível em muitas tarefas da escola e do trabalho. Mas não
costumamos nos perguntar como o computador chegou até esse estágio,
já que ele não foi criado de um dia para o outro com tanta tecnologia e
ferramentas embutidas. O computador que conhecemos, e que nos possibilita
realizar pesquisas, trabalhar ou conversar com amigos que estão do outro
lado do mundo, sem sair de casa, é uma consequência, um aperfeiçoamento
dos computadores usados em missões espaciais.
O avô do computador atual foi aperfeiçoado para que ajudasse nos
lançamentos dos foguetes e guiasse as naves com mais precisão no espaço.
Também o notebook foi usado para servir em missões espaciais. Como
a Nasa precisava fazer com que as informações pudessem chegar aos
astronautas sem que eles tivessem que levar consigo um computador muito
grande, decidiu adotar o Compass GRiD 1101, já que, comparado aos
computadores da época, ele era pequeno, e não pesava tanto. Ou seja, tudo
o que a Nasa necessitava: leve, pequeno e resistente.
197
O astronauta John Creighton
com o Compass GRID, na nave
Discovery em 1985. Fonte: Site
da JSC <http://images.jsc.nasa.
gov/luceneweb/caption_direct.
jsp?photoId=STS51G-22-029>
Mas como os astronautas podiam receber informações da base de controle
sem estar conectados aos fios da rede usada por eles, estando a milhares de
quilômetros da Terra, no espaço? A resposta é simples. Antes de o notebook
ser criado, a Nasa aperfeiçoou, na década de 1960, uma tecnologia que
possibilitava a comunicação com os astronautas, enquanto eles estivessem
no espaço, sem precisar dos tradicionais fios. Era a rede wireless, que, mais
tarde, na década de 1980, seria disponibilizada comercialmente.
Outra pergunta: você sabe se amanhã vai chover ou fazer sol? Pode até
ser que você não saiba, mas, se assistir à previsão do tempo na televisão,
vir na internet ou ler no jornal, com certeza, saberá. E o que isso tem a
ver com as tecnologias espaciais que beneficiam a nossa vida? Tudo. A
partir do primeiro satélite artificial criado pelo homem e posto em órbita,
o Sputnik 1, o mundo começou a aproveitar essa tecnologia para as diversas
áreas. A previsão do tempo só é possível graças aos satélites meteorológicos
que estão em órbita da Terra. É por meio das imagens enviadas por eles que
podemos ver na previsão do tempo o clima para os dias seguintes.
Não são todos, porém, que mandam as previsões do tempo para a
Terra. Existem muitos tipos de satélites em órbita da Terra. Alguns deles
são responsáveis pelo acesso à internet fazendo a ligação entre os diversos
países do mundo para que possamos nos comunicar. Aquela antena que
fica em cima das casas e que capta os sinais do satélite para transmitir a
programação da televisão é um dos outros benefícios que proporciona a
todos nós. Só assim podemos assistir a programações ao vivo, de qualquer
lugar do mundo, a qualquer hora. Eles também servem para ajudá-lo a
198
encontrar alguma rua ou endereço na sua cidade ou em qualquer lugar do
mundo, pois o GPS (Sistema de Posicionamento Global) funciona através
dos satélites do Sistema Global de Navegação. Existem, ainda, satélites
astronômicos, que são utilizados em observações astronômicas; satélites
de comunicação, usados em telecomunicação; satélites de observação
da Terra, que servem para monitoramento ambiental e mapeamento
geográfico; os chamados biosatélites, projetados para levar organismos
vivos para experiências no espaço; satélites de energia solar, que captam
a energia do Sol, a partir de células solares, e convertem para grandes
antenas na Terra, em um feixe de micro-ondas... enfim, com funções bem
diferentes estão presentes em nossa vida.
Diversos objetos que utilizamos no cotidiano, naturalmente, também
são produzidos por tecnologia espacial. Por exemplo, você está na sua casa,
lavando a louça suja, quando pega uma panela muito fácil de lavar por ser
antiaderente, então você pensa: muito inteligente criar uma panela em que
os alimentos não grudem. Mas esse material usado na panela antiaderente,
antes de facilitar sua vida doméstica, foi usado em naves espaciais para que
elas durassem por mais tempo e funcionassem como escudos de calor.
A espuma espacial, feita de silício-poliuretânico de célula aberta, absorve
o impacto de pousos de naves e garante que o choque da decolagem, ou
da viagem não seja tão forte nem para a nave e muito menos para os
astronautas a bordo.
A espuma espacial absorve o impacto. Fonte: Site da Nasa Spinoff <http://www.sti.
nasa.gov/tto/Spinoff2005/ch_6.html>
199
Essa tecnologia ganhou mercado e, hoje, é utilizada em milhares de outros
objetos, como por exemplo, nos colchões, almofadas, travesseiros, assentos,
e até mesmo em próteses de pernas e braços, pois diminui o contato entre
a prótese e o membro aliviando a sensação de desconforto.
As ferramentas domésticas sem fio também têm sua tecnologia baseada
na espacial. Foi graças a uma furadeira movida a bateria, usada em missões,
para restaurar equipamentos, que é possível termos a mobilidade, por
exemplo, com o aspirador de pó dentro de nossa casa.
O propileno, material utilizado como isolante térmico em casa, foi
utilizado para proteger os astronautas da radiação espacial e do calor. A
roupa antichamas, feita de PBI (Polybenzimidazole), utilizada para proteger
bombeiros do fogo em incêndios, foi desenvolvida pela Nasa a partir de
um incentivo para produção de tecidos resistentes ao fogo em artefatos
espaciais, após um incêndio no lançamento de uma nave. Outra roupa, feita
inicialmente para que os astronautas conseguissem suportar temperaturas
extremas em lugares externos, foi adaptada para que pessoas que trabalham
em espaços industriais consigam manter regulada a temperatura do corpo.
Essa roupa também é usada por pessoas que têm uma doença rara que
impede o corpo de conseguir diminuir a sua temperatura sozinho.
Os maiôs LZR Racer usados na natação, feitos de poliuretano e sem
costura, também servem como exemplo. A peça desenvolvida para que
o atleta tenha mais velocidade dentro da piscina foi criada para que os
astronautas tivessem o menor nível de atrito possível no espaço. Ela faz com
que o atrito com a água diminua, dando alguns centésimos de segundos a
mais de rapidez.
Mas não são apenas os atletas da natação que se beneficiam. Os
paraolímpicos também são favorecidos pelas próteses feitas com materiais
espaciais, muito mais resistentes e leves. Adaptada da camada de revestimento
externo de naves, essa tecnologia possibilita mais conforto ao competir.
Equipes esportivas e centros de reabilitação também utilizam tecnologia
espacial. Como os astronautas ficam muito tempo em ambiente sem
gravidade, a capacidade cardiovascular deles se reduz, o que motivou
cientistas a criarem um “trampolim horizontal”, hoje utilizado por esses
atletas para promover a recuperação cardiovascular e para tonificar os
músculos.
200
Podemos encontrar tecnologia espacial até no supermercado. Quando
está com fome e quer comer uma coisa gostosa, rápida e nutritiva, sem
precisar, entretanto, de muito tempo para prepará-la, você recorre à
comida congelada. Mas você sabia que ela foi usada primeiramente por
astronautas? Era muito difícil alimentá-los em longas viagens espaciais,
por isso a solução encontrada foi congelar e desidratar os alimentos, sem
retirar os nutrientes e o sabor, reduzindo o peso e aumentando a validade
do alimento.
Os óculos que muitas pessoas precisam usar para enxergar melhor
contêm, também, tecnologia desenvolvida pela Nasa. Para manter os
equipamentos, principalmente os visores dos capacetes dos astronautas,
livres da poeira (constante no espaço), e de arranhões, foram criados
materiais que não riscassem facilmente e que fossem resistentes. Essa
tecnologia foi adaptada para armações e lentes que, mesmo após muitos
tombos, ainda se mantêm intactas.
Porém a área que todos nós queremos que cresça cada vez mais
com as viagens espaciais é a da medicina. Muitas tecnologias espaciais
foram adaptadas para a medicina melhorando o conforto de pessoas
que estão doentes. Os “termômetros de ouvido” só foram criados por
causa da tecnologia espacial. A partir do infravermelho usado na medição
de temperatura das estrelas, foi possível adaptar a tecnologia para ser
empregada nos termômetros, que captam a energia liberada pelo tímpano,
para medir a temperatura do nosso corpo.
Um potente botijão de oxigênio, utilizado por hospitais em pacientes
com sérios problemas respiratórios, só foi possível por causa dos robôs
enviados em missões a Marte, os quais precisavam funcionar mesmo a
milhares de quilômetros de distância da Terra, sendo necessário, para isso,
o desenvolvimento de um equipamento capaz de armazenar muito bem o
oxigênio para que pudesse ser usado como combustível.
A adaptação da tecnologia usada na construção de motores para naves
espaciais possibilitou que uma válvula que mantém o coração bombeando
sangue para o corpo, mesmo estando doente, fosse criada. Essa tecnologia
não substitui o coração novo, mas possibilita aos pacientes de casos mais
graves ficarem meses na fila de espera para a realização do transplante,
enquanto um coração novo não é encontrado.
201
Todos nós sabemos que, quando estamos doentes, corremos mais
risco de termos outras doenças ou infecções, porque nosso sistema
imunológico está baixo tentando combater a primeira doença. Há casos
sérios, em que, mesmo internados, corremos risco de algumas bactérias
transportadas pelo ar atacar nosso corpo já debilitado. Pensando nisso, foi
desenvolvido um aparelho, utilizado em salas de emergência de hospitais,
que purifica o ar, capturando e eliminando micro-organismos como
fungos, bactérias e vírus, que causam várias doenças, como por exemplo,
pneumonia. Isso só foi possível porque um aparelho parecido é usado
para garantir a qualidade do ar de naves espaciais em missões no espaço.
O ar respirado pelos astronautas precisava ser purificado para que eles
conseguissem respirar dentro da nave.
O ‘ImmunairTM’ possibilita uma “tenda” de ar
puro, sem germes ou bactérias, em volta da cama
do paciente.
Fonte: Site da Agência Espacial Brasileira
As máquinas que fazem hemodiálise, ou seja limpam e filtram o sangue
para pessoas que têm algum tipo de insuficiência renal, utilizam hoje uma
tecnologia espacial criada pela Nasa, que servia para remover o lixo tóxico
de fluidos usados nas espaçonaves.
A tecnologia espacial sendo adaptada em novos
instrumentos
A tuberculose, doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium
tuberculosis ou bacilo de Koch, que afeta sobretudo os pulmões, tem agora
novo método de detecção. Um instrumento do tamanho de uma caixa de
sapato utilizado para detectar sinais de vida no planeta Marte, está sendo
adaptado para ajudar a diagnosticar essa doença. A ferramenta será barata,
rápida e precisa na detecção. O equipamento é um espectrômetro de massa,
capaz de identificar a bactéria causadora do mal. Isso é possível porque a
bactéria Mycobacterium tuberculosis tem um revestimento especial que possui
202
o padrão químico que o espectrômetro de massa está procurando. Esse
instrumento será vital para a detecção da doença o mais rápido possível,
para que a pessoa infectada não transmita a bactéria a outras pessoas. Além
disso, com a detecção precoce da doença o tratamento também será precoce,
e assim evitará muitas mortes.
Outro instrumento que está sendo aperfeiçoado para ser usado em
pouco tempo na Terra é a máquina que recicla a urina dos astronautas,
transformando-a em água potável para que seja consumida em missões
espaciais. A reciclagem começa com substâncias químicas que são adicionadas
na urina para evitar que micro-organismos se proliferem; depois a mistura
é centrifugada em um cilindro que esquenta a urina e a mantém em pressão
baixa. Essa etapa faz com que a água evapore e se condense. O processo
é repetido várias vezes. O líquido destilado segue para um tanque, onde
passa por várias outras filtragens e reações químicas que retiram substâncias
tóxicas e matam bactérias, vírus e fungos. O resultado é uma água limpa e
potável para beber e cozinhar.
A tecnologia espacial que adaptamos para nos ser útil na Terra facilitou
e melhorou nossa qualidade de vida. Conhecer e explorar os planetas que
fazem parte do sistema solar, junto com o nosso, é estratégico, porque,
assim, podemos saber se houve ou há vida nesses planetas. Queremos
explorar mais além, tentar chegar a outras galáxias, procurar vida fora do
planeta Terra e quem sabe encontrar a resposta que queremos: estamos ou
não sozinhos no universo?
A Astronomia revelou para nós um mundo de coisas fascinantes,
maravilhosas. Ajudou-nos a descobrir, ou, ao menos, tentar descobrir
como foi que chegamos aqui. Entender o sentido da vida para saber
respeitá-la. Desde que o homem olhou para o céu, na Pré-história, sabia
que podia descobrir coisas sobre ele mesmo se conseguisse entender
o universo. Homens, no passado, formaram hipóteses para que nós, no
futuro, pudéssemos comprová-las. Homens deram a vida para que nós
desfrutássemos da tecnologia e do conhecimento que temos hoje.
Os estudos, a curiosidade, a paixão e a genialidade de homens do passado
nos mostraram o caminho que devíamos seguir para que chegássemos um dia
a sair do planeta Terra e conhecer o espaço. Eles iniciaram os estudos, comprovaram hipóteses e aperfeiçoaram tecnologias para que pudessem chegar a
desenvolver tecnologia suficiente para realizar o grande sonho de todos eles.
203
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205
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photoId=STS51G-22-029>
206
Menção Honrosa
As crônicas do cosmos
Estudante: Victor Henrique da Silva Menezes, 17 anos, 3º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Sandra Regina Constantino
Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça - Dracena, SP
Resumo
O cosmos, termo que designa a totalidade de todas as coisas do universo,
desde as estrelas até as partículas subatômicas, é a personagem central deste
trabalho, que tem como tema a humanidade presente nele. Como se pode
observar através do título, o trabalho está dividido em crônicas, quatro
histórias diferentes, interligadas entre si, que retratam a descoberta de um
novo planeta com condições para a manutenção da vida, ao passo que busca
uma ampla reflexão sobre a irrevogável presença humana no universo.
Em “O homem do espaço”, vemos a incansável luta do italiano Galileu
Galilei em mostrar ao mundo suas novas teorias em relação ao campo
da Astronomia, teorias as quais são rejeitadas pela Igreja Católica de sua
época e acabam levando-o para os tribunais da Inquisição. “O resgate da
pequenina” conta a história da cadelinha Laika, lançada ao espaço pelos
soviéticos em 1957 que, ao estar prestes a morrer com o superaquecimento
de sua nave, vê-se milagrosamente salva por humanos extraterrestres que a
levam para um mundo com características parecidíssimas com as da Terra.
Em “A descoberta do menino”, dois adolescentes se envolvem em uma
emocionante aventura após uma visita escolar ao Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), onde, por acaso, vão parar no planeta Tefnut,
o mesmo em que no passado Laika fora levada após ser resgatada. E, por
fim, em “A fusão dos mundos”, após a volta dos adolescentes de Tefnut,
todos os habitantes do planeta Terra descobrem que não estão sozinhos no
universo, e uma nova corrida espacial começa em busca da chegada a esse
novo e misterioso planeta, selando a presença humana no cosmos.
207
Introdução
Muitos afirmam que a presença humana no cosmos iniciou a partir do
ano de 1969, quando o homem pisou Lua; outros acreditam que toda essa
história começou ainda no século XVIII com Galileu Galilei; já alguns mais
radicais afirmam que tudo começou há mais tempo ainda, na Grécia, com o
filósofo Aristóteles; e alguns anos depois com o egípcio Claudius Ptolomeu,
que criaram o modelo de universo aceito pelo mundo por vários séculos até
ser contestado posteriormente por Galileu.
Eu já penso o contrário, acredito que a nossa presença no cosmos
sempre existiu, pois se pesquisarmos a fundo o que é o cosmos, vemos
que é o termo que designa o Universo em seu conjunto, toda a estrutura
universal em sua totalidade, desde o microcosmo ao macrocosmo, ou seja,
desde que nascemos, já marcamos nossa presença, pois vivemos dentro de
um planeta que faz parte do conjunto que forma o cosmos; o que acontece
é que, nos últimos anos, intensificaram-se as pesquisas espaciais, e nós,
os seres humanos, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco além
dessa imensidão, podendo finalmente sair dos limites de nosso planeta,
onde ficamos presos por séculos, e ter a oportunidade de conhecer novos
horizontes.
Mas tudo isso não se limitou apenas a teorias e sonhos de viagens
espaciais. A curiosidade e a capacidade que o homem tem em descobrir
novos meios para a melhoria de sua sobrevivência levaram ao grande
avanço das tecnologias espaciais. Atualmente é impressionante a quantidade
de satélites que facilitaram muito a nossa vida; uns levam informações a
todo o momento por todo o globo, outros são projetados para observar
a Terra a partir do espaço a fim de analisar o meio ambiente do planeta, e
outros com as mais diversas e estratégicas funções. É o homem utilizandose do que há fora de nosso planeta para o seu bem-estar. E isso continua
a crescer a cada dia. Estudos de Astronomia e Bioastronomia fazem-nos
acreditar muitas vezes que não estamos sozinhos no Universo, um passo
que o homem ainda não conseguiu dar, mas que após todas essas pesquisas,
homem indo à Lua, robôs sendo enviados a Marte, entre outras coisas, já
não fica difícil imaginar que o próximo passo que a humanidade dará nesta
tarefa de intensificar sua presença no cosmos será a de provar que não
somos os únicos nessa imensidão que forma o universo que habitamos.
208
O homem do espaço
Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz
somente até onde os outros foram.
Alexandre Graham Bell
Há seis meses que aquele martírio começara e parecia que finalmente
chegaria ao fim. Galileu, que já estava em seus 70 anos, acompanhado por
dois inquisidores, seguia pelas ruas do Vaticano em direção ao tribunal da
Igreja Católica, onde compareceria diante do Santo Ofício da Inquisição
naquela manhã de 22 de junho de 1633, para enfim, descobrir qual seria sua
sentença.
Seu crime? Heresia, ou seja, fazer ou dizer algo contrário às leis da
Igreja.
Tudo começara no ano de 1609, quando ainda lecionando matemática
na Universidade de Pisa, em Pádua, o jovem Galileu Galilei conheceu um
instrumento inventado pelo holandês Hanz Lipperhey, chamado luneta. Ao
conhecê-la, decidiu aperfeiçoá-la e, em apenas um ano, conseguiu melhorar
a capacidade de aumento e aproximação do instrumento em 20 vezes.
Nascia ali o telescópio moderno.
Naquela época, seguindo os conceitos de Aristóteles e Claudius
Ptolomeu, acreditava-se que todos os corpos celestes eram esferas perfeitas
e imutáveis e que a Terra é que era o centro do Universo. Mas com o seu
instrumento de observação, Galileu conseguiu ver e descobrir tantas coisas
que em poucos meses escreveu e publicou O mensageiro das estrelas, um livro
de apenas 24 páginas, mas rico em revelações, como por exemplo, que ao
contrário do que se acreditava, a Terra não era o centro do Universo, que
a Lua não tinha superfície lisa, mas era cheia de irregularidades, como o
nosso planeta. Viu também manchas escuras se movendo na face do Sol,
e percebeu que o planeta Vênus tinha fases como a Lua. Segundo sua
observação, pode perceber que a Via Láctea não era constituída, como dizia
Aristóteles, por “exalações celestiais”, mas era um aglomerado de estrelas;
viu uma quantidade muito maior de estrelas do que era possível a olho nu,
e descobriu também quatro satélites girando em torno de Júpiter. Essas
observações levaram-no a crer que Nicolau Copérnico estava certo quando
disse que a Terra girava ao redor do Sol.
209
Ao ser repreendido pela Igreja por começar a dizer essas coisas, Galileu
silenciou-se quanto a esse tema por alguns anos. Logo ele, que declamava
suas ideias em alto e bom som em jantares e debates, teve que se calar. Mas
não parou de produzir; começou a pesquisar coisas que afrontassem menos
as ideias da Igreja, como colocar satélites de Júpiter a serviço da navegação
para ajudar os marinheiros a calcular a longitude das embarcações no mar.
Porém, após vários anos de silêncio, em 1632, Galileu voltou a debater
sobre as duas teorias rivais da Cosmologia, o Sistema Heliocêntrico, o Sol
como o centro do universo, e o Geocêntrico, a Terra como o centro. Sendo
assim, no mesmo ano, publicou a obra Diálogos, que reproduzia uma conversa
entre três personagens: Salvati, que defendia as teses de Copérnico; Sagredo,
um observador neutro; e Simplicius, defensor de Aristóteles e Ptolomeu.
Várias autoridades, inclusive o papa Urbano VIII, leram o Diálogo entre
os dois principais sistemas do mundo: o ptolomaico e o copernicano, porém, quando o
livro foi divulgado, houve uma verdadeira confusão. Os inimigos de Galileu,
como os padres jesuítas de Roma, disseram que o livro glorificava Nicolau
Copérnico e insultava a Igreja, inclusive que Simplicius era a personagem
inspirada no próprio Urbano VIII.
Tudo isso resultou na proibição da circulação do livro e Galileu foi
intimado a comparecer desde então diante do Santo Ofício da Inquisição,
onde nos últimos seis meses fora interrogado por diversas vezes e, mesmo
sob ameaça de tortura, não confessara que acreditava mesmo no que dizia
Copérnico. Agora, naquela manhã, toda essa história teria um fim, pois
Galileu finalmente ouviria a sua sentença por ter sido considerado herege
pela Santa Igreja.
Com o coração pulsando fortemente, Galileu entrou no tribunal e viu
que desta vez, ao contrário das anteriores, sua audiência seria assistida por
muitos, pois ali estava uma verdadeira plateia, entre ela, o que muito o
alegrou: os seus grandes e velhos amigos.
Após diversos padres, bispos e arcebispos levantarem-se para dar suas
opiniões, e Galileu pela centésima vez negar que acreditava nas teorias de
Copérnico e afirmar que suas teses no livro Diálogo tinham sido fortes demais
e se oferecer para refutá-las em seu próximo livro, o juiz Guinetti levantouse para lhe dar o veredicto. O medo do que poderia vir a lhe acontecer era
imenso; em seu último interrogatório, foram-lhe mostradas algumas armas
210
de tortura e, desde então, Galileu tinha certeza de uma coisa: preferia negar
todas as suas teorias, que ele acreditava piamente que estavam corretas, e
mentir dizendo que tudo o que escrevera e falara fora apenas invenção de
sua cabeça, do que ter que morrer agora em sua velhice em uma daquelas
tenebrosas armas que a Inquisição usava constantemente nos chamados
hereges.
– Nós, a Santa Inquisição, constituída de homens escolhidos por
Deus – começou Guinetti silenciando a conversa que começara na
plateia – decretamos que o livro intitulado Diálogo, de Galileu Galilei, seja
publicamente interditado; e quanto a vós, Galileu, vos sentenciamos ao
encarceramento, ficando este a cargo do Santo Ofício, por um período a
ser determinado. Como penitência, deveis repetir sete salmos por semana,
durante três dias, e sois obrigado a recitar publicamente e a assinar a
abjuração no Convento de Santa Maria Sofia Minerva.
***
Três dias após a finalização de seu julgamento, Galileu, juntamente com
os seus fiéis amigos e cercado por servos da Igreja, seguia em direção ao
Convento de Santa Maria, onde uma grande multidão se juntara para ver
essa nova humilhação a que fora subjugado. Com os olhos marejados de
lágrimas e as mãos trêmulas, Galileu começou a ler seu discurso:
– Eu, Galilei Galileu, filho do falecido Vicente Galileu, de Florença,
com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente a este lugar e
ajoelhando-me diante de vós, eminentíssimos e reverendíssimos Cardeais
Inquisitores Gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação
herética, tendo em frente meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com
minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus,
acreditarei de futuro, em cada artigo que a Sagrada Igreja Católica de Roma
sustenta, ensina e preza. Mas porque este Sagrado Oficio ordenou-me que
abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é
o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de
qualquer modo a dita falsa doutrina, afirmo que estava errado ao defendê-la
no passado...
E enquanto lia o seu extenso discurso, Galileu confortava-se com a
esperança de que, algum dia, outro estudioso do Universo retomasse os
seus trabalhos e conseguisse enfim provar ao mundo que a sua teoria era a
211
correta. Ansiando que algum dia a Igreja Católica fosse obrigada a confessar
que esteve errada em ir contra os seus escritos, e que algum homem um dia
ainda pudesse ir muito além de seus estudos, quiçá um dia até pisar solos
fora de nosso mundo, concluiu o seu pedido de perdão:
– Eu abjurei, jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que acima foi
citado, e, em fé de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de
minha abjuração, o qual recitei palavra por palavra a vós – e limpando uma
lágrima que teimava em cair de seus olhos, virou-se para os seus amigos
e com voz baixa para que apenas eles o ouvissem, confessou-lhes – No
entanto, que a Terra se move, ela se move!
O resgate da pequenina
Toda essa ciência comparada a nossa realidade
é primitiva e infantil, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.
Albert Einstein
Há menos de um ano que fora lançado o primeiro satélite artificial, o
Sputnik, quando, em 3 de novembro de 1957, os soviéticos se preparavam
para um novo lançamento, o do Sputnik II, que dessa vez seria enviado
ao espaço juntamente com um ser vivo, um fato marcante na história do
homem, que havia mais de três séculos, desde que o italiano Galileu Galilei
revolucionara o campo da Astronomia com suas descobertas, começara uma
nova aventura que agora daria um grande passo: a descoberta e a conquista
do cosmos pelo homem.
Laika há muito estava preparada para esse dia, para essa viagem
lendária.
– Você é única, minha amiguinha! Não há um ser humano neste planeta
que não venha a conhecê-la a partir deste momento. – Disse o cientista Oleg
Gazenko, seu treinador, ao fechar o último compartimento de sua nave.
A cadelinha deu uma breve olhada para todos os que a observavam.
Incontáveis cientistas a saudavam, e ali, próximas a Oleg, encontravamse as suas duas melhores amigas, Albina e Mushka. Agora Laika sentia-se
importante em relação a elas, que nunca teriam essa mesma oportunidade.
212
Albina fora lançada apenas duas vezes em um foguete para provar sua
resistência em grandes alturas, e Mushka fora somente utilizada para teste
de instrumentação e dos equipamentos de suporte vital. Nenhuma delas
jamais sonhara em participar de uma missão orbital. Oleg tinha razão,
Laika era única, aquela que estava ajudando o homem a dar um grande
passo em suas conquistas, em sua história.
A cadela sentia-se confortável naquela nave equipada com uma bolsa
para armazenar seus dejetos e com uma cadeirinha que limitava seus
movimentos ao sentar-se, pôr-se de pé ou encostar-se. Seu corpo estava
coberto de aparelhos que mediriam sua frequência cardíaca, seu ritmo
respiratório, pressão arterial e seus movimentos básicos. Tudo estava em
seu devido controle, nada poderia dar errado.
Com um grande baque, Laika sentiu que a nave estava subindo e parecia
estar em alta velocidade. Viu-se lembrando em seus dias de meninice
em que andava solta pelas ruas de Moscou, e nem imaginava que um
dia deixaria de ser uma simples vira-lata, para tornar-se uma cadelinha
astronauta, quando começou a sentir-se um pouco zonza e percebeu que
o seu coração estava disparado. Mas não devia ser nada, apenas emoção.
Com isso em sua mente, tentou dar uma olhada na pequena janela da nave,
mas não conseguiu distinguir nada, estava em grande velocidade e pelo
que ela começou a perceber, a temperatura ali dentro estava aumentando.
Um novo baque foi sentido, por certo era a ponta cônica do Sputnik
II que havia se desprendido, e a nave começou a passar por uma forte
turbulência.
Após alguns segundos que lhe pareceram uma eternidade, tudo se
acalmou. Laika estava em órbita e só quando percebeu que flutuava sobre
sua cadeira, quando olhou pela janela e viu algo extraordinariamente belo
que a deixou maravilhada. Ali, em sua frente, encontrava-se um grande
globo azul. Ela sempre ouvira falar que a visão exterior de nosso planeta
deveria ser algo muito belo, mas agora, vendo-o pessoalmente, ela não
conseguia achar palavras para decifrar tal esplendor.
O Sputnik II estava se locomovendo, dando a primeira órbita em torno
da Terra. Mas algo estava errado, pois a temperatura ali dentro não parava
de aumentar. Laika tentou acalmar o medo que crescia em seu coração
contemplando a bela imagem da Lua, mas de repente, sua nave começou
213
a passar por uma nova turbulência, e o calor tornou-se insuportável. A
temperatura passara dos 50 ºC, um nível superior do que ela aguentara em
seus treinos antes dessa missão. Agora em meio ao desespero em saber que
talvez não voltasse mais à Terra para contar a Albina e Mushka sobre as
maravilhas do universo, ela percebeu que estava morrendo. O calor estava
demais, mas sua morte era insignificante em relação ao grande passo que a
humanidade dera, e com esse pensamento Laika entregou-se à morte que
lhe parecia inevitável, com o sentimento de dever cumprido.
Seu fim chegara; pelo menos era o que ela pensava quando uma súbita falta
de ar encheu seus pulmões, ao passo que mãos macias a pegavam e pareciam
tentar tirar os aparelhos que a envolviam. O coração de Laika pareceu que
ia explodir e, sem mais nenhuma força, desmaiou nos braços do ser que a
conduzia para outra espaçonave maior e amplamente confortável.
***
Sem saber onde se encontrava, ao abrir os olhos, Laika viu-se
confortavelmente deitada em uma grande cama dourada que estava cercada
por pessoas desconhecidas. Entre elas, destacava-se um homem de meia
idade de longos cabelos loiros e olhos da cor do oceano, de aparência
vulnerável e bondosa. Ao seu lado, uma bela jovem de longos cabelos
dourados que acabavam em uma trança, mostrava-lhe um belo e ansioso
sorriso, cujos nomes eram Osíris e Isadora. Ao serem questionados quem
eram e onde estavam, por uma assustada Laika que descobrira que eles
entendiam sua língua, Osíris lhe explicou que eles a entendiam devido a um
microssensor que havia sido colocado em seu pescoço.
– Você, pequenina – explicou-lhe Osíris – foi salva por minha filha Isadora
quando estava prestes a morrer em sua nave. Minha filha estava em uma de
nossas missões em seu planeta, quando a encontrou e a trouxe para cá.
Osíris lhe falou que ela estava em sua casa, o Palácio de Idor, num planeta
que se localizava a 20 anos-luz da Terra, no qual ele era o grande Imperador,
o planeta Tefnut.
– Não há nada o que temer, somos amigos – concluiu Isadora ao perceber
que a cadelinha estava assustada.
Laika estava perplexa. Então realmente existia vida fora do planeta Terra?
Tudo ali era tão parecido com o nosso planeta. Toda vez que imaginara seres
214
extraterrestres, ela os imaginara como seres horripilantes, no entanto todos
ali eram iguaizinhos aos seres humanos terráqueos. Não havia diferença
alguma, exceto em seu modo de viver. O povo de Tefnut era muito mais
avançado intelectualmente que os habitantes da Terra, e uma prova disso
eram as suas naves espaciais que viajavam em altas velocidades, tanto que,
da Terra a Tefnut, em que uma distância de 20 anos-luz os separava, as suas
naves faziam todo o percurso em pouco menos de 26 horas terrestres.
Os alimentos ali também eram diferentes. As únicas coisas que os
alimentavam eram pílulas que, segundo Osíris, eram compostas de tudo
o que um organismo humano necessitava para sua existência, o que Laika
pôde ver que era verdade, pois os tefnuenses tinham uma vida mais longa e
saudável que os terráqueos.
Ao ser questionada, Isadora lhe explicou que a história dos habitantes
de Tefnut era muito antiga, e que ninguém sabia ao certo se a vida humana
começara ali ou no planeta Terra, pois desde os tempos mais antigos o povo
de Tefnut tinha contatos em segredo com os terráqueos, tendo acontecido,
em certos tempos, um grande número de emigrações para a Terra.
Laika não conseguia acreditar. Sempre ouvira dos humanos que os
antigos egípcios que habitavam o continente africano e os povos maias,
incas e astecas da América eram considerados seres possuidores de grande
inteligência e vistos por muitos como povos vindos de outros planetas,
mas nunca imaginara que isso poderia realmente ser verdade. Isadora lhe
explicou que esses povos que há muito desapareceram da Terra haviam
nascido ali em seu planeta e emigraram para o planeta de Laika em busca
de novas aventuras.
– Sempre fomos os senhores do espaço; há séculos que conhecemos
os segredos do Cosmos e viajamos de um planeta a outro. Descobrimos
ao longo desses anos que a Terra, apesar de possuir características físicas
diferentes de Tefnut, é o único planeta habitado por seres iguais a nós em
todo o universo. Há outros sim com condições de serem habitados, mas até
o que sabemos, são habitados apenas por vegetais inofensivos.
A cada palavra de Isadora, mais perplexa a pequena cadelinha ficava.
Laika estava assustada com tudo o que descobria neste planeta em que
fora trazida por acaso. Eram surpreendentes a inteligência e a organização
daquele povo, que passou a tratá-la como uma verdadeira celebridade. Era
215
comum, agora, o Palácio de Idos viver cheio de visitas, pois todos tinham o
desejo de conhecer a pequenina vinda da Terra.
Ali havia muitos animais, todos usando microssensores no pescoço
para se comunicarem com os tefnuenses, porém para tristeza de Laika,
não havia nenhum outro cão, o que aumentava a curiosidade do povo
em conhecê-la. O imperador Osíris lhe explicara que os Condons, equipe
militar responsável pelas viagens espaciais da qual atualmente sua filha era
a líder, já haviam trazido muitos seres da Terra para ali habitar, às vezes
até alguns humanos ainda bebês, mas que nunca tiveram vontade de trazer
um cachorro, segundo ele, porque os outros imperadores, seus ancestrais,
nunca confiaram nos cães, por terem a fama de ser os melhores amigos do
homem terráqueo; achavam que eles não se adaptariam em Tefnut, do que
Laika discordava plenamente.
Agora a cadelinha não tinha a mínima vontade de retornar à Terra.
Tefnut tornara-se a sua nova casa. Um planeta tão belo em relação ao
seu, com um povo extremamente civilizado que logo passou a amá-la; um
mundo que ela logo percebeu que não passava pelos mesmos problemas e
dificuldades que a Terra, pois, aparentemente, já os havia superado. Foi com
grande entusiasmo então, que ao ser questionada por Osíris se era de seu
desejo continuar ali, Laika respondeu em alta voz SIM, o que muito alegrou
Isadora, que se tornara sua melhor amiga.
Mas o que Laika não sabia é que sua chegada a Tefnut deixara Osíris
temeroso quanto ao futuro de seu planeta. Os tempos estavam mudando.
Os terráqueos, apesar de tardiamente em comparação aos tefnuenses,
haviam começado a sua conquista espacial; a presença deles no Cosmos já
era inevitável, e Osíris não tinha certeza se isso seria bom para seu povo,
pois ele sabia que mais dias, menos dias, eles chegariam a Tefnut e, quando
esse dia chegasse, sabia que o seu mundo estaria entregue à própria sorte.
Ele sabia que o caminho que os Condons viviam a percorrer em direção à
Terra não era o único caminho que os ligava a Tefnut e, talvez um dia, os
terráqueos viessem a descobrir essa passagem que ligava os dois mundos
em um número reduzido de tempo. Mas enquanto esse dia não chegava, ele
sabia que não restava outra coisa a fazer a não ser continuar sua vida como
antes da chegada de Laika, e foi com esse pensamento que procurou a sua
filha após alguns meses que a pequenina já ali estava.
216
– Minha filha – disse Osíris com o seu meigo sorriso – acho que está na
hora de você e os Condons fazerem uma nova expedição à Terra.
– E qual será o objetivo desta vez, meu pai? – perguntou-lhe uma
sorridente Isadora, já adivinhando a resposta; desde a chegada de Laika que
ela pensava em fazer essa expedição.
– Ora, já está na hora de trazermos um namoradinho para a nossa
pequenina. Receio que, da parte dela, não terá nenhuma objeção.
E dando um último sorriso a sua filha que estava contentíssima com sua
ordem, ia saindo pela grande porta do palácio, quando um pensamento surgiu
em sua mente e, voltando-se para Isadora, deu-lhe mais uma ordem:
– Envie também Condons às Crateras de Geb. A partir de hoje quero
que eles façam guarda constantemente naquela região – e deixando Isadora
surpresa com essa nova ordem que aparentemente não fazia sentido algum,
partiu para seu costumeiro passeio pelas ruas da Grande Cidade.
A descoberta do menino
Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só,
mas sonho que se sonha junto é realidade.
Raul Seixas
Naquela quente manhã de setembro de 2008, foi com imenso desgosto
que Sandro, um adolescente de 16 anos, viu-se entrando no ônibus escolar
que o levaria juntamente com seus colegas de classe ao Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais, o Inpe, em São José dos Campos. Recentemente, em
História, a matéria que Sandro mais odiava da escola, estavam aprendendo
sobre a conquista espacial, e Vitória, sua professora, havia marcado uma
visita àquele instituto para, como ela dizia, “fechar o bimestre com chave
de ouro”.
Sandro odiava tudo aquilo, nunca vira uma matéria tão chata em toda
a sua vida, e também nunca perdera tantos pontos em sua média bimestral
por dar opiniões nada corretas sobre o assunto quando era questionado
pela professora Vitória. Certa vez gritara à professora que ele não acreditava
coisa alguma que o homem já pisara a Lua, que toda essa história era apenas
217
um marketing criado pelos EUA. – “Neil Armstrong e Edwin Aldrin são
dois charlatões, isso sim” – concluíra, deixando a pobre professora sem
resposta.
Na aula da semana passada acontecera o pior. Sandro estava tão atento
à aula, que roncava em sua carteira a plenos pulmões, e ao ser acordado
por uma furiosa Vitória que o questionou sobre o que acontecera com
a cadelinha Laika, o primeiro ser vivo enviado ao espaço, respondeu-lhe
cinicamente, ignorando as gargalhadas de seus colegas de classe:
– Ora professora, depois de ficar dando voltas e voltas em torno da
Terra, por dias e dias, ela voltou sã e salva para as mãos dos americanos.
Com essa resposta, Sandro foi obrigado a ver-se perdendo mais um ponto
em sua média bimestral e, sem ter outra escapatória, obrigado a manter-se
acordado no restante da aula e ouvir o que Vitória lhes explicava: que ao
contrário do que o obtuso aluno respondera, Laika não voltara sã e salva
à Terra, pois havia morrido entre cinco e sete horas depois da decolagem,
devido ao estresse e superaquecimento da nave em que estava. O Sputnik
II explodira junto com os seus restos mortais ao entrar em contato com a
atmosfera em 14 de abril de 1958, após 163 dias e 70 órbitas em volta da
Terra, concluindo que os soviéticos e não os americanos, nunca deveriam
ter enviado a pobrezinha ao espaço pois, na época, não estavam preparados
o suficiente para a missão.
O Inpe, que tem a principal missão de promover e executar estudos,
pesquisas científicas, desenvolvimento tecnológico e capacitação de recursos
humanos nos campos da ciência espacial e da atmosfera, das aplicações
espaciais, da meteorologia e da engenharia e tecnologia espacial, bem
como em domínios correlatos conforme as políticas e diretrizes definidas
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, é um instituto gigantesco, muito
interessante de se conhecer. Mas Sandro nem se dera ao luxo de prestar
atenção ao que Juliana, a bela guia, explicava sobre o instituto, pois desde
que chegara ali, pegara o seu Ipod na mochila e logo começara a ouvir
suas músicas prediletas. Estava achando todo aquele lugar uma chatice,
uma grande bobeira e perda de tempo, o que deixava sua amiga Eulália
irritadíssima; acompanhando Sandro aonde ele ia, brigava para que ele tirasse
aquele negócio de seu ouvido, pois, segundo ela, era muito importante que
ele desse atenção ao que via no Inpe. “É porque existem lugares como este
que enviam constantemente satélites ao espaço, que você pode ter seu tão
218
precioso Ipod funcionando, que pode divertir-se a vontade em sua internet,
que o nosso mundo não tem enormes prejuízos nas lavouras e que todos
sempre sabemos como estará o tempo no dia de amanha”, teimava em
dizer a Sandro, que nem lhe dava ouvidos, e a toda hora fazia questão de
aumentar o volume de seu Ipod.
Após visitarem o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos,
dirigiram-se ao LIT, o Laboratório de Integração e Testes, onde são
realizadas as montagens e testes funcionais dos satélites brasileiros, onde
pela primeira vez Sandro encontrou algo que lhe chamou a atenção.
Perto do bebedouro, no átrio do LIT, havia uma porta entreaberta onde
se podiam escutar vozes de pessoas que aparentemente estavam discutindo.
Sandro ficou curioso em descobrir o que estava acontecendo ali, e vendo que
ninguém de sua turma o observava, puxou Eulália até junto do bebedouro,
onde, pedindo para que ela ficasse calada e fingindo que estavam bebendo
água, os amigos ouviram algo que jamais imaginavam.
Ali, por detrás da porta, dois cientistas discutiam sobre uma nova
descoberta que o LIT fizera recentemente. Segundo um dos homens, seus
funcionários estavam fazendo escavações na ala leste para a implantação de
uma nova torre, quando descobriram um gigantesco túnel onde encontraram
fragmentos de meteoritos com fósseis que, após serem analisados,
comprovou-se que pertenciam a um exoplaneta descoberto no ano anterior
por cientistas da Organização Europeia para a Pesquisa Astronômica no
Hemisfério Austral.
Segundo o que Sandro e Eulália puderam ouvir, as rochas e os fósseis
pertenciam ao planeta Gliese 581c, um planeta localizado na constelação de
Libra e que tinha sua órbita em torno da estrela Gliese 581, uma das 100
estrelas mais próximas da Terra. Mas o que mais os assustou foi quando
ouviram Cristóvão, o homem que explicava ao outro sobre o achado,
contar-lhe que esse planeta possuía as mesmas características da Terra, que
provavelmente poderia ser habitável e que sua equipe acreditava que aquele
túnel, que parecia não ter fim, era um ponto de ligação entre esse planeta
e o nosso.
Eulália mal digerira essas palavras quando a porta escancarou-se, e os
dois homens saíram correndo em direção à ala leste do LIT. Aparentemente
estavam seguindo para o local onde estava o tal túnel, e Sandro, que apesar
219
de não ter acreditado em nada do que ouvira, mas muito se interessara
por aquela história, agarrou a mão de sua amiga e foi ao encalço dos dois
homens, que desapareceram no final do corredor.
Ao chegarem despercebidos no local onde os cientistas estavam, Sandro
e Eulália viram-se dentro de uma grande sala que se assemelhava a uma
clareira, onde havia vários equipamentos espalhados em seu interior. O teto
era igual ao de uma grande catedral, e em seu centro estava uma enorme
cratera que acabava em um túnel onde os dois homens estavam conversando.
Mas dessa vez, no lugar em que estavam escondidos, atrás de uma máquina
parecida com uma escavadeira, Sandro e Eulália não conseguiram escutar
nada do que diziam, apenas viram que, depois de algum tempo, os cientistas
trancaram a porta por onde haviam entrado e saíram por outra porta que
estava defronte a essa, deixando-os sozinhos naquele lugar.
A curiosidade do garoto era grande em descobrir que mistérios os
aguardavam no final daquele túnel. Então, antes que sua amiga começasse a
pedir para voltarem para junto de seus colegas, Sandro puxou-a novamente
pelo braço e fez com que uma espantada Eulália o acompanhasse para
dentro do túnel. Eulália em vão gritava para seu amigo a soltar, e voltaram
para fora do túnel, que a cada vez se tornava mais escuro, quando de repente,
após terem andado uns 100 metros, uma forte corrente de ar os pegou e os
derrubou. Ao tentarem se levantar, foram puxados em alta velocidade pelo
vento. Estavam indo cada vez mais para o fundo do túnel que, com o passar
do tempo, ficava mais escuro, a ponto de eles chegarem a não enxergar
um palmo à sua frente, sabendo apenas que continuavam juntos porque
estavam unidos pelas mãos.
A velocidade foi aumentando mais e mais; estavam a milhares de
quilômetros por hora; as cabeças começaram a rodar, um forte zumbido
perpassava os ouvidos; ora estavam sendo levados em pé, ora de ponta
cabeça. Eulália já estava desacordada. Sandro achava que aquilo nunca
iria parar; sua cabeça parecia que ia explodir quando, puxando sua amiga
para mais perto de si com todas as forças que lhe restaram, abraçou-a e
também perdeu os sentidos com a cabeça encostada em seus ombros.
Abraçados e desacordados, ambos continuaram a voar em direção ao que
parecia ser o infinito.
***
220
– Osíris tinha razão, Nut, ao enviar-nos como guardas das Crateras de
Geb. Enfim, os terráqueos descobriram o caminho até nós.
– Osíris sempre tem razão, Adam... sempre.
Sandro e Eulália estavam no banco traseiro de um carro que mais
se assemelhava a um foguete, pois flutuava sobre a estrada, num lugar
desconhecido para ambos. Os homens que estavam a sua frente, que
dirigiam o misterioso carro, lhes explicaram que através dos túneis de Geb
haviam chegado ao planeta Tefnut, e que agora estavam sendo levados à
presença do Imperador. Os amigos estavam aturdidos com tudo o que
viam e ouviam daqueles homens que diziam serem os Condons de Tefnut.
Seria mesmo verdade? Aquele túnel do Inpe realmente os levara ao planeta
sobre o qual ouviram o cientista Cristóvão comentar? Seria possível isso?
Aparentemente estavam agora entrando em uma grande cidade, mas uma
cidade diferente de todas que eles já viram na vida. Eulália teve a sensação
de que estava entrando em uma cidade medieval, exceto pelo fato de as ruas
estarem cheias de carros como o que estavam, semelhantes a foguetes que
pareciam flutuar sobre um asfalto que parecia ser feito de grama. As calçadas
estavam repletas de pessoas que, em sua maioria possuíam cabelos loiros ou
ruivos, trajavam vestes diferentes das que eles conheciam e que, segundo
Sandro, assemelhavam-se às roupas das personagens de um filme do Egito
Antigo, que fora obrigado a assistir em umas das aulas de História.
Absortos em seus pensamentos, nem se deram conta que haviam chegado
a um imponente palácio, percebendo somente que estavam ali quando
um homem alto, já idoso, de longos cabelos dourados, ao lado de uma
bela cadelinha, abriu a porta lateral do estranho carro e os cumprimentou,
desejando-lhes boas-vindas. Chamava-se Osíris e, enquanto acompanhava
os adolescentes para dentro de seu palácio, ia lhes explicando que era o
grande Imperador daquele mundo que os seus habitantes chamavam de
Tefnut, mas os terráqueos que recentemente o descobriram lhe deram o
nome de Gliese 581c.
Tefnut era um exoplaneta para os terráqueos, pois não tinha sua órbita
em torno da mesma estrela que a Terra, localizava-se na constelação de
Libra e tinha sua órbita em torno da estrela Sett, que era conhecida no
mundo de Sandro e Eulália como Gliese 581. A temperatura de seu planeta,
segundo Osíris, tinha uma oscilação de temperatura entre 0 ºC e 40 ºC,
221
possuindo 1,5 vez o raio da Terra e massa cinco vezes superior. Sua distância
em relação à Sett era 14 vezes menor do que a que separava a Terra do Sol,
no entanto Sett era uma estrela menor, mais fria e menos luminosa que o
Sol, o que contribuía para Tefnut possuir as mesmas características que a
Terra, possuindo inclusive vida humana.
Osíris convidou-os para passar algum tempo ali em Tefnut, explicandolhes que poderiam voltar para a Terra na hora que quisessem pelo mesmo
caminho que haviam vindo, os túneis de Geb, que segundo ele, eram uma
das centenas de buracos brancos que ligavam a Terra a Tefnut. Na Terra
suas entradas estavam espalhadas por lugares distantes uns dos outros,
mas ali, todos se localizavam nas Crateras de Geb, que outrora já haviam
sido o ponto de partida para muitos tefnuenses que emigraram para a
Terra. O que havia dentro daqueles túneis eram grandes correntes de ar
que se moviam constantemente em uma velocidade maior que a da luz. O
que era colocado dentro de um dos túneis instantaneamente era levado e
jogado na Terra pela corrente, e vice-versa. Eles tinham sido muito fortes
em ter aguentado viajar em uma velocidade de mais de um ano-luz por
hora.
Sandro e Eulália, nos dias em que permaneceram na Grande Cidade, a
principal capital do único continente existente em Tefnut, Hórus, em meio
às inúmeras e engraçadas diferenças, entre elas. O fato de Sandro não se
conformar em ali pesar 96 quilos, devido à força gravitacional que era de 1,6
vezes maior que a da Terra, onde ele pesava apenas 60 quilos, se divertiram
muito e logo fizeram grande amigos, entre eles, Isadora, a filha do Imperador.
Com ela, Eulália aprendeu muitas coisas sobre esse novo mundo e a vida
de seu povo que muito se diferenciava da vida terráquea. Foi com grande
assombro que eles conheceram o grande salão do Palácio de Idor, onde
havia inúmeros quadros que Eulália logo percebeu: retratavam grandes
personalidades da Terra, como Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico,
Aristóteles, Claudius Ptolomeu, Albert Einstein e muitos outros.
-Todos esses, jovens terráqueos, – explicou Isadora alisando a moldura
do quadro que retratava Galileu Galilei –, são tefnuenses que foram
levados e deixados em seu planeta quando recém-nascidos. Fazemos isso
há milênios... eles são criados por famílias terráqueas comuns, pois os
trocamos com os verdadeiros filhos destas, que por sua vez, são trazidos
para cá. As crianças que lá deixamos, ao crescerem, com a inteligência
222
própria de quem é um verdadeiro tefnuense, tornam-se grandes gênios de
seu mundo, fazendo importantes descobertas para vossa vida.
Isadora concluiu dizendo que essas eram as tais chamadas missões que
a equipe militar, à qual pertenciam os Condons, fazia constantemente na
Terra. Em umas delas, ela mesma salvara um ser que estava servindo de
experiência aos terráqueos há mais ou menos 40 anos, a cadelinha Laika.
Sandro ficou interessadíssimo em conhecer a famosa cadela, mas não teve
seu desejo realizado, pois a pobrezinha havia morrido há mais de três
décadas, deixando muitos descendentes ali em Tefnut, entre eles, Lalá,
a cadelinha que acompanhava o seu pai em todos os lugares e que, para
espanto dos garotos, falava; o que se devia ao um microssensor que todos
os animais ali usavam e traduzia simultaneamente para a língua humana a
língua dos bichos.
Quando os adolescentes resolveram que queriam voltar à Terra, Sandro
já havia mudado muito seus conceitos, entre eles, após uma longa conversa
com os Condons, em acreditar que os terráqueos realmente já haviam
pisado a Lua, pois eles lhe disseram que tinham visto o acontecimento
com seus próprios olhos e concluíram que se agora ele, um terráqueo,
havia chegado em outro planeta, por que seus conterrâneos não poderiam
ter pisado a Lua?
Após meses de convivência em Tefnut, Adam e Nut os levaram até as
Crateras de Geb, após uma longa e calorosa despedida feita pelo tefnuenses
que fez Eulália derramar-se em lágrimas e Sandro jurar que sentiria falta
de tudo que vira e conhecera ali, exceto as pílulas das quais já enjoara
de se alimentar. E com sorriso e lágrimas nos olhos, os adolescentes
retornaram ao seu mundo de origem, levando consigo muita saudade
daquele mundo.
***
– Espero que você cumpra o que prometeu a Osíris, Sandro – dizia
Eulália enquanto voltavam de mãos dadas à Terra pelo grande túnel em
grande velocidade; dessa vez, eles não desmaiaram, pois Isadora lhes dera
uma pílula, que segundo Sandro tinha gosto de chocolate, que serviu
para não deixá-los ficar com tontura e permanecer acordados durante o
caminho de volta – Você prometeu a ele que não contaria a ninguém na
Terra sobre Tefnut.
223
– Caso você não tenha percebido, eu estava com os dedos cruzados
quando fiz a promessa.
– O que você quer dizer com isso Sandro? – Eulália assustara-se ao ver
a forma como os olhos do amigo brilhavam.
– Bom… estou querendo dizer que… digamos que a professora Vitória
terá que devolver meu ponto na média em que ela fez o favor de tirar.
Afinal, eu estava certo, não estava? Laika não morreu em sua missão
espacial – e ignorando os olhares de indignação e espanto da amiga, passou
a observar o belo cometa que fazia uma órbita paralela ao caminho que
ambos seguiam.
A fusão dos Mundos
Os homens devem ter corrompido um pouco a natureza, pois
não nasceram lobos e acabaram se tornando lobos.
Voltaire
Havia dez anos que dois estudantes de São Paulo reapareceram em
um misterioso túnel no Inpe e desde então uma nova corrida espacial
começara; está em busca da chegada a um planeta recém-descoberto, onde
os adolescentes passaram nada menos do que cinco meses e voltaram sãos
e salvos contando as maravilhas que lá viram.
Segundo informações que eles passaram ao mundo, o planeta, chamado
de Tefnut por seus habitantes, era um clone do planeta Terra, possuindo
boas condições para se viver e muitas riquezas, riquezas que em nosso
planeta já estavam se esgotando. Logo, grandes empresas americanas como
a Nasa e a NRO e algumas russas e chinesas vieram ao Brasil e trataram de
fazer parcerias com o Inpe para, através desse túnel, fazerem contato com
o tal planeta.
O Inpe, um simples instituto se comparado com essas grandes e experientes
empresas do campo espacial, criado nos anos 60 a partir da vontade de alguns
brasileiros de fazer com que o país também participasse da conquista espacial,
mas que se limitara a criar satélites, promover estudos meteorológicos, entre
outras pesquisas, viu-se tornando uma grande e famosa empresa espacial,
pois em seus domínios estavam as portas para o futuro.
224
Enfim, depois de anos de pesquisas e debates sobre o mito de existirem
vidas extraterrestres, descobrira-se que o mito nunca fora apenas um mito,
e tudo isso acontecera graças à curiosidade de dois adolescentes que haviam
se tornado o símbolo de patriotismo e coragem do país que, movidos pela
vontade do saber, da busca pelo novo, ali mesmo no Inpe, abriram as portas
para a nova era da humanidade, a era em que os terráqueos se uniriam aos
seres humanos habitantes de outros planetas, a era que carimbaria a sua
presença no cosmos.
Depois desses anos de pesquisas e investimentos em novas tecnologias,
um novo modelo de ônibus espacial foi construído. Formando uma grande
expedição, diversos desses ônibus foram introduzidos nesse túnel e viajaram
em grandes velocidades ao novo planeta; naves equipadas apenas para
aguentar o impacto da viagem e manter a segurança de seus tripulantes,
mas que não necessitavam de nenhum combustível, pois a corrente de ar
existente no túnel as levava sozinhas a mais de um ano-luz por hora em
direção ao tão almejado Tefnut.
Foi com grande assombro que os homens terráqueos se viram pisando
solos tefnuenses. Um sonho antigo finalmente se realizara, todo o tempo,
gastos em estudos de astronomia e bioastronomia não tinham sido em vão e
enfim estavam tendo o retorno. Não haviam sido descobertos apenas seres
artrópodes, como se achava que seriam os demais habitantes do cosmos, nem
homenzinhos verdes e feios, mas sim seres humanos iguais aos terráqueos,
animais iguais aos existentes na Terra, uma sociedade muito parecida com
as sociedades de nosso planeta, um lugar que, apesar de possuir algumas
paisagens diferentes da Terra, nutria com ela poucas diferenças.
Muitas teorias deixariam de ser meras teorias e se tornariam realidades,
entre elas a tal Panspermia, tão conhecida e divulgada pelos cientistas, a
teoria que dizia que a vida fora semeada na Terra a partir de um outro
planeta, em que se acreditava que um meteorito caíra dentro de mares
primitivos e que ao sofrer uma mistura ideal de elementos produzira as
primeiras sementes de vida microscópica na Terra, foram percolados e
geraram vida. Isso explicava o porquê de os tefnuenses serem idênticos aos
terráqueos, pois ambos vinham de um ancestral comum, o que tornava a
Panspermia uma teoria corretíssima, pois os ancestrais da vida terrestres
eram idênticos aos das formas de vida extraterrestres, isto é, a vida na Terra
fora semeada a partir de outro lugar do universo.
225
Os terráqueos, que foram muito bem recebidos pelo velho Imperador
Osíris e por todo o povo tefnuense que estavam dispostos a lhes
mostrar tudo sobre seu mundo, tratando-os como convidados de honra,
encantavam-se cada vez mais com a vida neste novo e desconhecido
planeta. Os tefnuenses eram dotados de uma grande sabedoria e
muitas tecnologias que os surpreendiam a todo o momento, um povo
extremamente pacífico que nunca lidara com nenhuma grande guerra.
“Meu povo não entende coisa alguma de guerras, pois as nossas maiores
armas são nossas próprias cabeças”, lhes disse Osíris.
Tefnut, que realizava uma órbita completa em torno de Sett em apenas
13 dias, o que correspondia a um mês do ano tefnuense, era um planeta,
como logo perceberam, muito rico em pedras preciosas, e segundo a filha
do Imperador, Isadora, localizavam-se todas na ilha de Nefts, mas que
os tefnuenses não lhes davam grande valor, pois sempre as tinham em
abundância.
Mais surpresos ainda ficaram ao descobrir que o planeta era formado
por apenas um continente banhado por uma imensidão de água doce;
sim, os seus oceanos eram compostos por água doce e não salgada como
os oceanos terráqueos. Ao questionarem sobre os prováveis impactos
ambientais que as tecnologias ali podiam causar, Osíris lhes respondeu
que isso nunca acontecera e nem aconteceria em Tefnut, pois tudo o
que criavam era feito com muita sabedoria e harmonia com o ambiente,
não deixando jamais que a natureza fosse prejudicada; aliás, eles davam
grande valor às suas belíssimas florestas, que estavam repletas de plantas
desconhecidas de nosso planeta e responsáveis pela produção de seus
alimentos; as pílulas que muito os fortaleciam e aumentavam o seu tempo
de vida, deixando que a velhice chegasse mais tarde.
Os terráqueos, encantados com o novo mundo, sabiam que aquele
lugar seria um ponto de apoio para a renovação da Terra, que há muito
estava desfalecendo, pobre em riquezas, passando por diversos problemas
ambientais e sujeita a se tornar, muito em breve, um planeta impossível
de manter a vida humana. Juntos, agradeciam a Sandro e Eulália, que no
passado descobriram o caminho até aquele paraíso perdido no cosmos e
deram aos terráqueos a esperança de uma nova vida, de novas riquezas
que o nosso mundo já não podia mais nos dar. Eles sabiam que era apenas
226
o começo de uma longa jornada que ainda teriam que percorrer, mas
estavam felizes agora por saberem que a fusão entre os dois mundos já se
tornara inevitável.
***
– Então realmente aconteceu, meu pai. Os terráqueos descobriram um
meio de chegar até nós – Osíris e Isadora estavam no alto de uma das
torres de Idor, de onde observavam um pequeno grupo de terráqueos que
passeavam pelos jardins do palácio.
– Isso era só uma questão de tempo, minha filha – respondeu-lhe absorto
em seus pensamentos.
– Mas eles não me parecem tão ameaçadores, meu pai, têm sido tão
gentis conosco – e abraçando a cintura do pai – Não sei por que o senhor
tinha tanto medo de que viessem para cá… aliás, parece que o senhor ainda
os teme; estou errada?
– Isadora – respondeu-lhe depois de algum tempo – estes não serão os
únicos a virem para Tefnut. Agora que o primeiro passo foi dado, acredito
que em breve cheguem muitos outros.
– E que tem, meu pai? Seria bom uma ligação mais concreta entre os
dois mundos, não seria? Podemos ajudá-los ainda mais agora que já sabem
de nossa existência, não podemos?
– Às vezes você me parece tão inocente, Isadora… nosso mundo não
é como o deles, possuímos inúmeras riquezas que os terráqueos priorizam
grandemente... Temo que os próximos que aqui chegarem não venham a
mostrar a mesma amizade que temos mostrado para com eles há milênios.
– Mas não entendo, meu pai…
– Eles sempre tiveram a fama de destruidores cruéis, Isadora; é fato
conhecido de todos aqui que onde um terráqueo coloca as suas mãos, aquilo
ele o destrói! – E vendo que sua filha ainda não o entendera, resolveu ser
mais explícito – Lembra-se das histórias dos terráqueos que eu lhe contava
quando ainda era criança? Lembra-se daquela em que eles descobriram um
novo continente dentro de seu planeta e movidos pela ganância destruíram
todos os povos que lá habitavam, inclusive alguns tefnuenses que lá estavam?
Pois digamos que esse episódio, minha filha, tenha sido apenas uma pequena
demonstração do que eles podem vir a fazer conosco.
227
E deixando Isadora perplexa, Osíris partiu para o seu quarto de dormir;
suas pernas já não mais aguentavam o seu peso; a morte já se aproximava
de seu velho corpo.
Pós-escrito
Ao escrever este trabalho em forma de crônicas, eu não estava querendo
criar historinhas infantis para serem contadas ao pé da cama, antes que
chegue o sono de uma criança. Não. O meu intuito ao escrevê-lo dessa
forma foi fazer com que eu pudesse atingir todo o tipo de leitor, desde
uma criança cursando ainda a pré-escola, até um adulto já com o seu
doutorado, e conseguisse transmitir a todos a mensagem em cada uma das
entrelinhas de minhas histórias.
A presença do homem atualmente no cosmos, que, aliás, aumenta a
cada dia e que só aconteceu depois de muitos sofrimentos e derrotas, é
incontestável e irrevogável. É claro que temos ganhado muito a partir de
todas essas descobertas e avanços nas pesquisas espaciais, mas a questão
que eu quis levantar com as minhas histórias foi: até que ponto isso será
bom? Para nós, por enquanto, tudo está sendo ótimo, mas será que em
um futuro não muito distante, isso não venha a nos acarretar algum
problema? Ou causar problemas a terceiros? No passado, quando em
sua busca infrene por novas riquezas, o homem começou a destruir o
ambiente, ninguém imaginava as consequências que isso traria no futuro;
no entanto hoje sabemos o quanto isso está custando.
Talvez ao lerem isso, achem que sou um louco que está contra os avanços
que a humanidade tem dado em direção a este grandioso universo; não,
peço que não pensem isso. Sou a favor de todas estas coisas e me orgulho
muito em pertencer à raça que está conseguindo marcar sua presença no
cosmos, porém não deixo de pensar, e foi o que aqui quis transmitir, nas
consequências boas que isso vem trazendo e ainda trará, mas também nas
ruins, que mais cedo ou mais tarde poderão vir.
228
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229
Menção Honrosa
O homem e a astronomia:
uma história de conquistas
Estudante: Vinícius Ramos da Silva, 18 anos, 3º ano do ensino médio
Professora-orientadora: Elaine Soares Chicarelli de Andrade
Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco - Marília, SP
RESUMO
A Astronomia é uma das ciências mais antigas do planeta, pois acompanha
o homem desde a Pré-história, sendo dessa época os primeiros registros
de observações celestes. Mais tarde na Idade Antiga, se destacaram vários
povos, como por exemplo, os babilônicos, que estudaram os ciclos lunares e
os egípcios que construíram os primeiros modelos científicos do Universo.
Eram modelos muito primitivos, mas foram de grande importância para a
elaboração de teorias que viriam tempos depois. Ptolomeu, Copérnico e
Kepler foram exemplos de cientistas da Idade Média que aprimoraram essas
concepções gregas e contribuíram grandemente para a atual concepção do
Cosmos. Já Galileu Galilei, foi o astrônomo que inaugurou a Astronomia
Observacional, pois foi o primeiro homem a apontar um telescópio para
o céu e a fazer importantes descobertas de corpos celestes. No início
do século XX Robert Hutchings Goddard criou o primeiro foguete,
proporcionando um aparelho que revolucionaria a Astronomia. Então nos
últimos dois séculos, a humanidade presenciou um grande aceleramento
no desenvolvimento astronômico: várias tecnologias foram descobertas,
inúmeras sondas foram lançadas, e em 1969 conquistamos o solo lunar.
Também foi criada a Estação Espacial Internacional (ISS), que tem se
mostrado útil para o desenvolvimento de muitos estudos em diversas áreas
do conhecimento. Tivemos assim, ao longo de séculos, várias conquistas no
campo da astronomia, de modo que hoje podemos dizer que o futuro do
estudo dos astros é muito promissor.
231
INTRODUÇÃO
O Cosmo que se estende pela imensidão dos espaços intergalácticos vem
desafiando a humanidade há milhares de anos e ainda hoje, quando olhamos
para o céu, somos tomados por grande fascínio. No entanto, graças aos
estudos e às tecnologias conhecidas, construímos poderosos telescópios,
radiotelescópios e naves que nos permitiram ter uma ideia muito ampla da
natureza dos corpos celestes. Também dispomos de teorias que explicam
seguramente a origem da vida e de como surgiu o próprio Universo.
Porém todo esse conhecimento é resultado de um longo processo de
desenvolvimento que começou há milhares de anos, quando o homem ainda
habitava as cavernas. É nesse momento que surgem as primeiras bases da
astronomia moderna.
O Homem e a Astronomia: Uma história de conquistas
A Astronomia é uma das ciências mais antigas da sociedade humana
e serviu de grande estímulo para o desenvolvimento de outros estudos
posteriores, como a Matemática e a Física. Sua origem está diretamente
ligada à evolução do ser humano no planeta, e a base do seu progresso
encontra-se nas primeiras observações do céu feitas quando o homo sapiens
ainda habitava as cavernas. No começo era apenas por fascínio, mas com
o início do período neolítico há 12 mil anos, o homem percebe que o
movimento dos astros no céu exerce impacto na sua vida, influenciando a
agricultura e determinando, por exemplo, as épocas ideais para o plantio
e para a colheita. Assim começam os primeiros registros de observações
nas paredes das cavernas, marcando o surgimento da Astronomia
propriamente dita.
Ainda na Pré-história, também notaram que o dia e a noite estavam
relacionados à presença ou à ausência do Sol, e que a forma da Lua se
alterava com períodos regulares, sendo que entre a Lua Nova e a Lua Cheia
decorriam 14 ciclos solares ou 14 dias.
Cada vez mais fascinado com a percepção de um Cosmo composto
por astros que forneciam informações seguras sobre o futuro e que eram
bons marcadores do tempo, o homem com sua inteligência aperfeiçoou
os registros desenvolvendo os primeiros observatórios pré-históricos.
232
Esses observatórios nada mais eram do que enormes pedras posicionadas
de maneira adequada para que se pudesse marcar a posição dos astros e
principalmente a variação do Sol durante o ano. O observatório mais famoso
é Stonehenge, construído na Inglaterra há aproximadamente cinco mil anos
na planície de Salisbury. Ele é composto por enormes pedras dispostas
em círculos concêntricos, algumas com mais de cinco metros e pesando
quase 50 toneladas que, devido a sua disposição produzem um traçado
de linhas que marcam o nascer e o pôr-do-sol em datas-chave como os
solstícios. Acredita-se que Stonehenge também era usado para acompanhar
os movimentos da Lua e das estrelas, além de prever os eclipses.
No século XX, através da técnica de datação do Carbono 14, os
arqueólogos estabeleceram que a construção de Stonehenge teve início
em torno de 2950 a.C. e encerrou-se em aproximadamente 1600 a.C.
As pedras vieram de muito longe e acredita-se que foram transportadas
por embarcações através da costa gaulesa e posteriormente, em terra
firme, levadas sobre cilindros até o local da construção. Na obra História
dos hiperbóreos, de 350 a.C., o grego Hecateu de Abdera definiu que o
monumento era dedicado a adoração a Apolo, o Deus do Sol. Em 1808
durante a escavação de um monte funerário próximo a Stonehenge,
o arqueólogo inglês Sir Richard Colt Hoare explorou a tumba de um
homem, junto do qual encontrou um machado, vários punhais e objetos
cerimoniais, incluindo uma clava com a parte superior de pedra polida
e engastes de osso trabalhado. Isso reforça a teoria de que Stonehenge
também tenha tido finalidade religiosa, servindo de local para adoração
aos corpos celestes que na época eram tidos como criaturas divinas.
Elementos megalíticos semelhantes a Stonehenge são comuns
na Grã-Bretanha, com círculos constituídos por 27 ou 28 pedras, que
provavelmente representam a duração do ciclo lunar. Dentre esses
monumentos também se destaca o Cromeleque dos Almendres, a maior
planta megalítica da Península Ibérica localizada em Portugal, próximo
de Évora. Ele é atualmente composto por 92 menires parcialmente
trabalhados que formam círculos complexos também relacionados com
movimentos astronômicos.
Já na Antiguidade, ao olhar para o céu noturno, o homem notou
que as estrelas podiam auxiliar na orientação das atividades agrícolas e
na navegação, por isso começaram a organizá-las em figuras imaginárias
233
chamadas “constelações”. Originalmente elas refletiam a crença
supersticiosa de que os céus continham entidades ou divindades que
no passado, presente ou futuro poderiam afetar o destino humano. A
evolução do estudo dessas constelações tem uma história muito longa,
mas a carta celestial mais antiga é originária de Nínive na Mesopotâmia
e data de aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, constituindo
somente um planisfério de argila com uma ou duas constelações e com
suas principais estrelas.
Tida por muitos historiadores como o “Berço da Civilização e da
Astronomia moderna”, a Mesopotâmia compreende a porção de terra
localizada entre os rios Tigres e Eufrates que abrangeu os reinos dos
antigos Sumérios, Assírios e Babilônicos. Os primeiros vestígios da
presença humana nessa região datam de aproximadamente 10 mil anos
antes de Cristo, com o surgimento de cidades de até 1.000 habitantes já
por volta de 4000 a.C.
Os Babilônicos eram grandes observadores da Natureza, e acreditavam
que os astros exerciam influência direta no mundo e no comportamento
das pessoas. Por isso olhavam atentamente para a configuração do céu e
faziam interpretações tentando prever o futuro e evitar catástrofes.
Os registros mais famosos dos astrônomos babilônicos eram gravados
no Enuma Anu Enlil, um compêndio de 70 lâminas de pedra que incluem
cerca de 7 mil interpretações de fenômenos estranhos (omens). O melhor
exemplo conhecido é o tablete Vênus de Ammisaduqa, um registro da
primeira e última visibilidade observada do planeta Vênus no século XVI a.C.
O corpo celeste mais citado no Enuma Anu Enlil é a Lua, pois o
calendário babilônico acompanhava o ciclo lunar, com meses de cerca
de 28 dias, e as culturas determinadas pelo ano solar com 12 ou 13
meses. Durante muito tempo os babilônicos tiveram que fazer ajustes,
mas por volta do século V a.C. descobriram que 235 meses lunares eram
exatamente 19 anos solares. Assim, passaram a intercalar sete meses em
cada 19 anos de forma regular.
Eles dividiram seu calendário em quatro períodos de sete dias
correspondentes às quatro fases da lua, e em cada um desses dias um
corpo celeste era adorado. Esta divisão deu origem às semanas tal como as
conhecemos hoje. Por exemplo: atualmente segunda-feira em Espanhol é
234
chamada Lunes, pois era o dia que os babilônicos adoravam a Lua; terça-feira
é Martes, pois era o dia de Marte; quarta-feira é Miercoles, o dia de Mercúrio;
quinta-feira é Jueves, o dia em que a Babilônia adorava Júpiter; sexta-feira é
Viernes, o dia de Vênus, sábado era o Dia de Saturno, e domingo o dia do Sol.
Durante o reinado de Nabonassar (747-733 a.C.), um aumento
significativo na frequência e na qualidade das observações permitiu que
fosse descoberto o ciclo repetitivo de eclipses lunares a cada 18 anos. Além
disso, perceberam que durante metade do ano a velocidade do Sol aumenta
de forma constante até atingir um máximo e na outra metade do ano diminui
até atingir um mínimo.
As influências mesopotâmicas na astronomia ocidental são extensas e
sabe-se também que foi dos mesopotâmicos que os gregos ganharam seus
conhecimentos sobre os planetas visíveis e as constelações do zodíaco.
Os antigos gregos são os responsáveis pelos primeiros modelos
científicos do Universo, pois iniciaram a busca de relações geométricas e
matemáticas na explicação dos fenômenos celestes e, diferentemente dos
outros povos daquela época, suas observações fundamentavam-se mais em
elementos naturais do que em fenômenos divinos. Havia várias correntes de
pensamentos, chamadas de escolas, compostas por pensadores que tinham
diferentes pontos de vista sobre a formação e a origem do Universo. As
principais são a jônica, a pitagórica, a atomista e a aristotélica.
A escola jônica, considerada a mais antiga, localizava-se na ilha de Jônia,
onde hoje é a parte Sul da Turquia, e seu principal líder era Tales de Mileto
(625-547 a.C.).
Anaxímenes (588-524 a.C.), integrante dessa escola, sugeria que o Sol
nunca se punha, mas apenas era tapado pelas montanhas mais elevadas que
havia ao Norte, porém isso não explicava porque existia a noite cerrada. Já
Anaximandro (610-545 a.C.), também de Mileto, acreditava que o universo
era eterno e infinito, sendo a Terra fixa e cilíndrica onde, numa das faces,
vivia o homem. Para ele o Universo além da Terra era repleto de fogo, e
o Sol, as estrelas e a Lua não passavam de “furos” na abóbada celeste que
deixavam o fogo escapar. A esfera celeste rodava de forma constante a cada
24 horas. Com esse modelo, Anaximandro também conseguiu justificar os
eclipses e as fases lunares, que segundo ele não passavam de um bloqueio
total ou parcial desses orifícios.
235
Já para Empédocles (490-430 a.C.), os dias e as noites podiam ser
explicados por um “modelo da dupla esfera”. Uma esfera interior era
luminosa numa metade e transparente na outra metade e dava uma volta a
cada 24 horas. Já a outra esfera continha o firmamento visível à noite e que
rodava uma vez a cada 365 dias.
A Escola Pitagórica por sua vez, era composta por pensadores que
acreditavam que os números eram a base fundamental de todas as coisas.
Eles criaram relações geométricas, aritméticas e harmônicas que explicavam
os fenômenos naturais e a disposição dos corpos celestes, e criam tanto
no equilíbrio perfeito do Cosmos que chegaram a sugerir que o Universo
possuía uma ordem semelhante à música, pois esta era sinônima da perfeita
harmonia. Na concepção deles, os planetas eram transportados através dos
céus grudados em esferas celestes que obedeciam a razões satisfeitas pelas
notas das escalas musicais, gerando música ao girar pelos céus, a música
das esferas. Em síntese, com essa ideia, os pitagóricos iniciaram uma nova
tradição no pensamento científico: a busca de relações matemáticas para
descrever os fenômenos naturais.
Outros filósofos da Escola Pitagórica, como Filolau de Crotona (450
a.C.), sugeriram pela primeira vez que a Terra não era o centro do Universo.
Para Filolau, a Terra, o Sol, a Lua e os cinco planetas conhecidos (Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) giravam em torno de um “fogo central”
que iluminava e aquecia todo o Universo. Esse fogo era invisível, pois
estava sempre oposto ao lado habitado do planeta. Baseado no princípio
dos opostos, Filolau ainda propôs que ao redor do fogo central havia outro
corpo celeste, o Antichton ou anti-Terra.
Já a escola atomista, tinha como principal representante Demócrito,
que sugeria que todas as coisas eram formadas por minúsculas partículas
denominadas átomos. Ele acreditava que no começo do Universo esses
átomos se moviam em todas as direções desordenadamente, e com o tempo
foram colidindo e se juntando em grandes redemoinhos até formar os
corpos celestes. Os atomistas sugeriam que havia infinitos mundos sendo
criados e destruídos continuadamente. (A ideia de átomo construída por
Demócrito foi de grande importância para a evolução da Química e da
Física, e sua teoria para o início do universo de certa forma coincide com o
caos sugerido no modelo moderno do Big Bang).
236
Outra escola grega de grande relevância é a Escola Aristotélica. De
acordo com Aristóteles, corpos que eram frios e secos eram na sua maioria
constituídos por terra, os que eram frios e úmidos eram constituídos por
água, aqueles que eram quentes e úmidos formados por ar, e os que eram
quentes e secos formados por fogo. Para ele, a Terra era formada por terra
com uma camada mais exterior de água (os mares), sobre as quais havia
uma fina camada de ar (a atmosfera). Sobre a atmosfera havia uma camada
de fogo que acabava imediatamente antes da Lua. Dentro dessa região, que
constituía o mundo terrestre, existia vida, morte e mutabilidade.
Havia para Aristóteles uma diferença fundamental entre as regiões
terrestres e celestes, pois na Terra havia a imprecisão e a variabilidade,
enquanto no céu existia uma perfeição geométrica com os corpos celestes
mantendo o seu movimento de translação num perfeito movimento circular
uniforme. Assim, Aristóteles propunha que o Cosmo era formado por um
tipo diferente de matéria, a qual chamou de éter. Sugeriu sistemas em que os
corpos celestes girariam em 49 esferas concêntricas, com o centro delas dado
pela Terra e explicava o brilho dos corpos celestes pelo atrito destes com
essas esferas, como se gerassem faíscas. Porém esse sistema não explicava o
caráter errante de alguns corpos celestes nem o movimento retrógrado dos
cinco planetas até então conhecidos (movimento retrógrado é o movimento
aparente de ida e volta dos planetas diante do fundo cósmico causado por
sua translação ao redor do Sol).
Alguns estudiosos tentaram esclarecer a retrogradação, como por exemplo,
Eudoxo de Cnidius (400-347 a.C.), mas a explicação mais convincente só
veio mais tarde por volta de 140 d.C. com Claudius Ptolomeus.
Ptolomeu foi o último grande astrônomo da antiguidade clássica e
provavelmente tenha nascido em 120 d.C. e morrido em 180 d.C. Era
egípcio e foi não só astrônomo como também matemático e geógrafo,
pois desenhou o primeiro mapa do Mediterrâneo com medidas científicas,
apresentando também parte do Norte europeu.
Sua maior obra foi o Almagest, um livro de valor inestimável tido por
muitos como a maior compilação de conhecimentos da Antiguidade, em
que descreveu um grande número de estrelas e constelações baseado
no trabalho prévio do grego Hiparco (140 a.C.). Ele acrescentou muitas
contribuições pessoais, fez medidas cuidadosas dos planetas e elevou o
237
sistema geocêntrico de Aristóteles a um nível de funcionamento quase
perfeito. Também conseguiu pela primeira vez explicar o caráter errante
planetário e as variações de brilho observadas nos diferentes pontos da
órbita. Para explicar o movimento retrógrado foi introduzida a ideia de
epiciclos, em que cada planeta se move num círculo pequeno, cujo centro
se move ao redor da Terra. Apesar de esse modelo ser considerado de
grande complexibilidade, foi largamente aceito porque fornecia explicações
satisfatórias para as observações astronômicas feitas até então.
Com o início da Idade Média, tida por muitos como o período das
trevas, o desenvolvimento da Astronomia na Europa foi impedido pela
Igreja Católica, e o modelo ptolomaico foi elevado à doutrina religiosa,
e durante 1.500 anos não pôde ser contestado por ninguém. A razão da
atitude religiosa deve-se ao fato de esse modelo colocar a Terra, local em
que o homem (segundo os religiosos, “a maior criação de Deus”) habita
como centro do Universo.
Finalmente, em 1543, após aproximadamente 14 séculos de estagnação
científica, uma nova teoria para o Universo é apresentada por Nikolaj
Kpernik, mais conhecido pelo nome latinizado de Copérnico.
Nascido em Torun, na Polônia em 1473, Copérnico entrou para o clero
e estudou primeiro na Universidade de Cracóvia, e mais tarde, em Bologna,
na Itália. Em 1501 regressou à Polônia e tornou-se padre de Frombork.
Teve uma carreira variada, defendeu o seu país nas lutas contra os cavaleiros
teutônicos, foi médico local e também administrador. No entanto o seu
maior interesse estava na Astronomia.
Considerando o modelo geocêntrico de Ptolomeu muito complicado
e pouco satisfatório, Copérnico revisou os conhecimentos gregos e após
estudá-los cuidadosamente, propôs um novo modelo que removia a Terra
da sua posição central substituindo-a pelo Sol. Essa tese já estava completa
em 1533, mas Copérnico não a publicou por saber que a Igreja o acusaria
de heresia, pois tirar a Terra do centro do Universo ia contra a doutrina
oficial.
Finalmente uma semana antes de morrer, ele concordou com a sua
impressão, sendo a teoria publicada abertamente em 1543 no livro De
revolutionibus orbium coelesti e dedicada ao papa Paulo III.
238
O modelo heliocêntrico provocou uma revolução não somente na
astronomia, mas também um impacto cultural com reflexos filosóficos
e religiosos. O modelo ptolomaico havia sido incorporado de tal forma
no pensamento que tirar o homem do centro do universo se revelou uma
experiência traumática, pois a ideia mais natural é conceber a Terra como
corpo fixo, sólido, imóvel enquanto os grandes astros orbitam ao seu
redor.
A obra de Copérnico causou aborrecimentos a muitas pessoas e a Igreja
colocou-a na lista de livros proibidos. Martinho Lutero descreveu a obra
de Copérnico nesses termos: “as pessoas dão ouvidos a um astrólogo
presunçoso. Este idiota deseja atrasar toda a ciência da astronomia”. No
entanto, apesar de algumas das suas ideias estarem erradas, Copérnico tinha
dado um passo extraordinário para a astronomia, quebrando o tabu da igreja
e colocando o Sol no centro do Sistema Solar como realmente o é.
O trabalho de Copérnico foi aperfeiçoado mais tarde por Johannes
Kepler.
Kepler nasceu na Alemanha em 1571 em Wurttemberg e foi enviado ao
seminário protestante de Maulbronn para ser educado na vida eclesiástica.
Ele tinha uma fé muito grande em Deus, mas sua curiosidade em desvendar
os mistérios do Universo, fez com que deixasse Maulbronn em 1589 para
continuar os estudos na Universidade de Tübingen. Depois de formado,
foi enviado a Graz na Áustria para lecionar matemática no ginásio, mas
não conseguiu ser um bom professor.
Kepler acreditava que os movimentos dos planetas tinham causas físicas
e por isso tentou encontrar figuras geométricas que permitissem explicar
suas posições. Ele construiu um sistema que relacionava a distância dos
cinco planetas até então conhecidos (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e
Saturno) com os cinco poliedros regulares gregos: o tetraedro, o cubo, o
octaedro, o dodecaedro e o icosaedro.
Usava o cubo para separar a esfera de Saturno da de Júpiter, o tetraedro
para separar a esfera de Júpiter da de Marte, o dodecaedro entre a esfera
de Marte e a da Terra, o icosaedro entre a esfera da Terra e a de Vênus
e o octaedro entre a esfera de Vênus e a da Mercúrio. Esse modelo foi
apresentado no livro Mysterium, em 1596.
239
Modelo de Kepler que relacionava as
distâncias planetárias com os cinco
poliedros gregos.
Porém, infelizmente, ele estava errado.
Pouco tempo depois da publicação de Mysterium, Kepler foi contratado
em 1600 pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) para
trabalhar como seu assistente. Brahe possuía o mais bem montado
observatório de sua época e guardava registros de observações planetárias
muito precisas. Porém, apenas um ano depois, em 1601, dá-se a morte de
Tycho, e Kepler herda todos os documentos de observações.
Após estudar profundamente as medidas de órbita do planeta Marte
e da Terra, Kepler concluiu que a forma que mais se adaptava à órbita
dos planetas era a elipse e não o círculo como propunha Copérnico. Fez
o mesmo tipo de estudo para os planetas Vênus, Terra, Júpiter e Saturno,
tendo concluído sempre que a forma que melhor se adaptava era a elipse.
Também notou que, ao se aproximar do Sol, a velocidade do planeta
aumenta e depois volta a diminuir gradativamente. Após um estudo
aprofundado baseado nessa teoria, Kepler sintetizou suas conclusões sob
a forma de leis matemáticas que são válidas até hoje:
1. A órbita de cada planeta é uma elipse com o Sol em um dos focos;
2. A reta (raio) que une o Sol ao planeta varre áreas iguais em tempos
iguais;
3. O quadrado do período orbital dos planetas é inversamente
proporcional ao cubo de sua distância média do Sol.
240
Kepler publica essas conclusões no livro a Harmonia dos mundos em
1619.
Essas descobertas, porém, baseavam-se apenas nos dados de Tycho
Brahe, que eram puramente experimentais. Foi o físico inglês Isaac Newton
(1642-1727) quem elaborou a teoria capaz de explicar porque os planetas se
movimentavam daquela forma.
Isaac Newton, considerado um dos maiores gênios de todos os tempos
nasceu na Mansão de Woolsthorpe, perto de Grantham em Lincoln Shire,
e dentre seus grandiosos estudos, propôs que a mudança de velocidade
dos planetas constatada por Kepler era determinada por uma força central
exercida pelo Sol. A essa força deu a denominação de Gravidade, e através
de cálculos provou que ela era a mesma responsável pelo caráter elíptico
dos movimentos planetários. Newton ainda teve a audácia de propor que a
teoria da Gravitação Universal era válida em todo o Universo, em quaisquer
corpos, estando eles no espaço ou na superfície terrestre.
Na época de Kepler, início do século XVII, a visão do Cosmo ainda era
muito limitada e acreditava-se que todo o universo era formado apenas pela
Terra, o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e os cometas,
pois até aquele momento ninguém havia arquitetado um aparelho ou meio
de ampliar a visão do céu. Assim todas as teorias eram elaboradas através
de suposições e observações a olho nu.
Foi somente em 1609 que um homem teve a ideia de apontar para o
céu um aparelho que ampliasse a visão dos astros. Esse homem foi Galileu
Galilei.
Nascido em 15 de fevereiro de 1564 na cidade de Pisa, Itália, Galileu
Galilei era o filho mais velho de Vicenzo Galilei e de Giulia Ammannati
tendo herdado do pai um grande gosto pela música e uma enorme aptidão
para a matemática. Com 17 anos ingressou na Universidade de Pisa, para
estudar Medicina, mas após quatro anos abandonou o curso para se dedicar
ao estudo da física, da astronomia e da matemática.
Aos 25 anos com o apoio de Guidobaldo Del Monte, matemático
e admirador da sua obra, foi nomeado professor de Matemática da
Universidade de Pisa e em 1592 tornou-se professor na Universidade de
Pádua, onde permaneceu até os 43 anos.
241
Ao longo de sua vida foi físico, matemático, astrônomo e filósofo e fez
diversas descobertas. Algumas das mais importantes são as leis do pêndulo e
a lei da queda dos graves. Entre as suas invenções contam-se o termoscópio,
a balança hidrostática e o aperfeiçoamento do telescópio.
Foi ele quem aperfeiçoou o primeiro telescópio, mas não foi dele a
ideia original. Em 1608, o fabricante de óculos alemão Hans Lippershey
(1570-1619) trabalhava em sua oficina na Holanda quando um aprendiz lhe
mostrou o que descobrira: olhando através de duas lentes, a torre da igreja
distante parecia muito mais próxima e de cabeça para baixo. Lippershey
encaixou as lentes dentro de um cilindro, mantendo a distância apropriada
entre elas e corrigiu a imagem. Ao receber o recado sobre a invenção, Galileu
aprimorou o aparelho e logo construiu um capaz de aumentar três vezes o
tamanho aparente de um objeto, depois outro de dez vezes e, por fim, um
capaz de aumentar mais de 20 vezes.
No dia 25 de agosto de 1609 no alto da torre da Praça de São Marcos,
Galileu fez a primeira demonstração do telescópio. Naquela mesma
noite, ele descobriu que a Lua não tinha a superfície lisa, mas era cheia de
montanhas e crateras. Também viu a Via Láctea e a caracterizou como um
aglomerado de estrelas, agrupadas em diversas nuvens. Descobriu ainda as
quatro maiores luas de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e Calisto) e verificou
que elas orbitavam ao seu redor.
A observação das fases de Vênus demonstrou também que ele não girava
em torno da Terra, pois se assim fosse, suas fases teriam de ser idênticas
às da Lua. No entanto, Galileu verificou que, quando Vênus estava na fase
semelhante à Lua Nova, atingia a sua dimensão máxima, o que significava
que estava o mais próximo da Terra, enquanto que, quando avançava para a
fase semelhante à Lua Cheia, ia diminuindo de dimensão, significando sem
dúvida que Vênus girava em torno do Sol.
Galileu também foi o primeiro cientista a efetuar observações das
manchas solares e demonstrou que o Sol não era um corpo cristalino e sim
uma estrutura fluida, que rodava em torno de seu eixo com um período de
cerca 25 a 31 dias (nos polos).
Essas observações foram inicialmente publicadas no livro Sidereus nuncius
(Mensageiro das Estrelas) em 1610.
242
Posteriormente em 1632, Galileu publicou em Florença outra obra,
intitulada Diálogo relativo aos dois grandes sistemas dos mundos − ptolomaico e
copernicano, em que discute os resultados das suas observações e debate
o modelo ptolomaico e copernicano numa série de discussões entre três
homens: Salviati, Sagredo e Simplicio. Salviati representa Galileu, Sagredo
representa um ouvinte inteligente e Simplicio, um estúpido aristotélico.
Nessa obra, Galileu afirmava que a terra girava em torno do Sol, o que
contrariava a teoria aceita e defendida pela Igreja Católica, por isso o livro é
proibido e assim fica por quase duzentos anos.
Em 1633 foi julgado pela Inquisição condenado por heresia, ameaçado de
tortura e condenado por sete cardeais a cumprir prisão domiciliar em Arcetri
pelo resto da vida. Galileu, no entanto, mesmo negando publicamente sua
crença no modelo heliocêntrico, não desistiu dos estudos e nessa mesma
cidade escreveu mais quatro obras Discorsi, dimonstrazioni matematiche
intorno a due nuove scienze, Aattinenti alla meccanica e I movimenti locali, que
foram secretamente publicadas na Holanda em 1638.
Com o passar do tempo, Galileu ficou completamente cego e na noite
de 8 de janeiro de 1642, morreu de uma febre acompanhada de dores nos
rins.
Em 1822, o Santo Ofício permitiu a publicação de livros que ensinassem
o movimento da Terra, e em 1835, o Diálogo de Galileu foi excluído da lista
de obras proibidas pela Igreja.
Galileu viveu numa época atribulada e, apesar de não ter seu trabalho
reconhecido pelas pessoas de seu tempo, hoje é tido como um dos maiores
astrônomos de todos os tempos, um exemplo de homem talentoso e
perseverante. Não é exagerado dizer que a revolução intelectual-científica e
filosófica dos últimos 300 anos foi impulsionada pela invenção da astronomia
observacional com instrumentos ópticos de Galileu e das descobertas por
ele inauguradas.
No entanto os telescópios refratores (que usavam lentes para desviar
e concentrar a luz) concebidos por Galileu precisaram ser reformulados,
pois os raios que passavam pela borda das lentes deformavam a imagem.
Esse problema foi corrigido em 1668, pelo matemático e físico inglês
Isaac Newton que, após estudos, mudou a construção dos instrumentos
243
substituindo suas lentes por espelhos, que concentram a luz sem distorcer a
imagem. Assim nasciam os primeiros telescópios refletores.
Graças a esses aperfeiçoamentos, o desenvolvimento da astronomia
continuou cada vez num ritmo mais acelerado. No século XVIII William
Herschel (1738-1822) observou e descreveu mais cinco objetos no sistema
solar: Urano (1781), duas luas de Urano e outras duas luas de Saturno. Já no
século XIX, em 1846, Galle descobre Netuno, uma de suas luas, uma lua de
Júpiter, duas de Saturno, duas de Urano e duas de Marte.
Grandes telescópios passaram então a ser construídos para enxergar cada
vez mais longe. Dentre eles destacou-se o Leviatã e o Hooker, construído
no Monte Wilson.
O Leviatã projetado na Irlanda, pelo astrônomo William Parsons Rosse
(1800-1867), foi o maior telescópio do século XIX. Tinha um espelho de
1,80 m de diâmetro e mais de dezesseis metros de altura, levou três anos para
ser montado entre duas paredes de pedra, na atual cidade de Parsonstown, e
entrou em operação em 1845. Uma das revelações mais importantes feitas
com ele foi a descoberta da estrutura em espiral das galáxias. O Leviatã foi
desmontado em 1908.
Já o telescópio Hooker foi construído pelo astrônomo americano
George Hale (1868-1938) e tinha um espelho de mais de 2,50 m de diâmetro.
Ele entrou em operação em 1917, no Monte Wilson, Califórnia, Estados
Unidos e manteve a posição de maior refletor do mundo até 1948, quando
o próprio Hale construiu o telescópio de Monte Palomar, com um espelho
de cinco metros.
Outro fato importante para a escalada da Astronomia moderna foi a
idealização dos primeiros foguetes espaciais no início do século XX. Essa
ideia surgiu pelo fascínio do homem pelos novos astros descobertos,
levando-o a uma curiosidade crescente, sonhando com a conquista do
espaço e imaginando se um dia viajaria e colocaria os pés na Lua ou em
Marte.
Robert Hutchings Goddard nascido em Worcester, Massachusetts,
em 5 de outubro de 1882 foi o engenheiro e físico considerado o pai dos
modernos foguetes espaciais.
244
Em 1920, após vários anos estudando física e engenharia, Goddard
começou as primeiras experiências com foguetes a combustível líquido.
Era um trabalho difícil e para conseguir um aparelho que atingisse grandes
altitudes, teve que criar os princípios de uma tecnologia que não havia até
então. Foi ele quem inventou os componentes básicos que impulsionam,
estabilizam e guiam os foguetes modernos.
Em 1919, publicou um pequeno livro chamado A method of reaching
extreme altitudes (Um Método para Alcançar Altitudes Extremas), em que
propunha um aparelho capaz de atingir a Lua.
Em 16 de março de 1926 lançou um foguete que utilizava uma mistura
de petróleo e oxigênio líquido. O aparelho atingiu uma altura de 12,5 m,
com um voo de apenas 2,5 s e percorreu 56 metros.
Três anos mais tarde, Goddard lançou pela primeira vez um foguete
equipado com instrumentos, um barômetro, um termômetro e uma pequena
filmadora.
Entre 1930 e 1942, trabalhou em Roswell, no Estado do Novo México,
onde fez foguetes que chegaram a atingir 885 quilômetros por hora e uma
altura de dois quilômetros.
Infelizmente Goddard morreu em 1945, e o primeiro foguete a sair com
sucesso da Terra só foi lançado em1957 para levar o Sputnik.
O Sputnik foi o primeiro artefato lançado pelo homem no espaço. Tratavase de um satélite artificial russo, resultado de longos anos de trabalho do
professor Konstantin Eduardovitch Tsiolkovsky e de engenheiros, liderados
por Sergey Korolyev, que em 1934 haviam apresentado à Academia de
Ciências Soviéticas, um estudo completo sobre o voo no espaço e seu
retorno, incluindo combustíveis, proteção para a tripulação etc.
No dia 4 de outubro de 1957, às 08h00min, um imenso foguete de 3
estágios saiu da Base Espacial Baikonur no Cazaquistão carregando no
seu topo o Sputnik I, composto basicamente por uma esfera de alumínio
de 58 cm de diâmetro e 83 kg, com dois pares de antenas flexíveis de
2,4 m e 2,9 m. O Sputnik foi deixado em uma órbita elíptica, inclinada em 64,3º em
relação ao Equador terrestre, atingindo uma velocidade de 28.800 km/h no
perigeu e dando uma volta ao redor da Terra em apenas 96,3 m.
245
Como a missão tinha sido um grande sucesso, os russos começaram a se
preparar para lançar outra expedição, desta vez carregando o primeiro ser
vivo ao espaço.
Em 3 de novembro de 1957 foi enviado o Sputnik II que levava a
cachorrinha Laika que sobreviveria por vários dias, até que o suprimento de
oxigênio acabasse.
Começava assim a corrida espacial. Os Estados Unidos responderam
lançando, em 31 de janeiro de 1958, o seu próprio satélite − o Explorer I. A
União Soviética lançou o Sputnik III, que levava um laboratório para análise
do meio ambiente e apresentava também a novidade de usar a energia solar
para carregar seus instrumentos.
No entanto a União Soviética suspendeu temporariamente o programa
Sputnik para se dedicar à série Luna − veículos destinados à exploração lunar.
Entre 1959 e 1976 quinze naves foram bem-sucedidas e, de uma forma ou
de outra, forneceram informações importantes acerca da superfície lunar.
O programa Sputnik foi retomado em 1959 e se estendeu até março de
1961. Foram lançados os Sputniks de V a X, sendo que os de números V,
VI, IX e X levaram cachorros que sobreviveram aos processos de re-entrada
e os de números VII e VIII serviram como testes de aprimoramento para a
futura nave Venera, que foi enviada à Vênus.
No começo da década de 1960 os americanos começaram um grandioso
projeto denominado Apollo, cujo objetivo era colocar um ser humano
na superfície da Lua e trazê-lo com segurança de volta para a Terra. Para
consegui-lo, lançaram três projetos, o Ranger, o Surveyor e Lunar Orbiter
para fazer um reconhecimento prévio da Lua. O Ranger era basicamente
composto por naves de queda livre, que filmariam com câmeras de TV a
superfície lunar, o Surveyor, apresentava naves de pouso que testariam os
equipamentos e técnicas e avaliariam o solo lunar para saber se realmente
era possível o pouso de grandes naves tripuladas; e o Lunar Orbiter, faria
mapas detalhados para escolher os melhores locais de pouso.
Para o lançamento da missão, foi desenvolvido um potente foguete
denominado Saturno 5, o maior já construído até hoje. Ele tinha três estágios,
110 m de altura, e 2,7 milhões de kg, com cinco poderosos motores F-1 do
primeiro estágio, mais os motores J-2 dos estágios seguintes.
246
Em outubro de 1968 foi lançada a Apollo 7, a primeira missão da série
que apenas orbitou a Terra, testando o equipamento. Em dezembro do
mesmo ano foi lançada a Apollo 8 que na noite de Natal de 1968 enviou
várias fotos do solo lunar. As Apollo 9 e 10 repetiram o caminho e testaram
os módulos de comando e de pouso.
Finalmente em 16 de julho de 1969, a Apollo 11 foi lançada com
sucesso em Cabo Canaveral, na Flórida transportando seus três tripulantes:
o comandante Neil Armstrong e os astronautas Michael Collins e Edwin
Buzz Aldrin.
O pouso foi confirmado às 17h17min (hora de Brasília) de 20 de julho
de 1969 e às 23 h 56 min, Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a
pisar a Lua, seguido pouco depois por Aldrin. Eles ficaram 131 minutos no
solo lunar, de onde trouxeram amostras, deixando lá alguns equipamentos
e uma placa comemorativa. Voltaram ao módulo principal que ficou em
órbita e retornaram à Terra em 24 de julho.
Outras naves Apollo voltaram à Lua depois: as missões 12, 14, 15, 16 e
17, sempre com três astronautas de cada vez. Durante as seis missões cerca
de 2 200 pedras foram trazidas da superfície da Lua (representando cerca
de 400 kg de rochas) que permitiram descobrir 75 novas variedades de
minerais (a maioria de silicatos).
O sucesso do projeto Apollo foi fundamental não somente para os
EUA, mas para toda a humanidade, pois deu ao homem a convicção de
que somos capazes de sair da Terra e empreender missões de exploração a
outros mundos. Neil A. Armstrong, imortalizou o momento, resumindo
o que foi o projeto Apollo, na famosa frase: “um pequeno passo para um
homem, um salto gigantesco para a humanidade”.
Diversas outras grandes expedições não menos importantes foram
enviadas também a planetas do Sistema Solar, como as sondas Mariner 2
e a Venera 4, que pesquisaram Vênus, e Marte que foi explorado pela
série Viking. Já Júpiter e Saturno foram investigados pelas Pioneer 10
e 11, as primeiras naves que, depois de um reconhecimento desses
gigantes gasosos, continuaram viajando pelo espaço até sair do Sistema
Solar. Elas são também as primeiras naves interestelares lançadas pela
Humanidade, pois levam placas de alumínio banhadas a ouro com o
247
desenho de um homem e de uma mulher, um código especial que se espera
ser entendido por qualquer ser inteligente e um mapa da posição do Sol e
da Terra na Galáxia com a época em que as naves foram lançadas.
Mais duas sondas de grande relevância no cenário aeroespacial, foram
as Voyager 1 e Voyager 2. Entre suas mais marcantes descobertas, estão os
vulcões ativos de Io; as gigantescas tempestades da atmosfera de Júpiter;
as irregularidades dos anéis de Saturno; a extensão da atmosfera de Titan
(satélite de Saturno), os ventos de Netuno, os gêiseres ativos de Triton e
uma das luas de Netuno.
A Voyager 1, foi lançada em 5 de setembro de 1977, e após passar
por Júpiter e Saturno, rumou para fora do Sistema Solar viajando a uma
velocidade de 1,6 milhão de quilômetros por dia. Ela encontra-se hoje a
aproximadamente de 15,7 bilhões de quilômetros de distância e ainda está
enviando sinal aos cientistas. Já a Voyager 2 lançada em 20 de agosto de
1997 está a 12,7 bilhões de quilômetros da Terra, viajando a uma velocidade
de 56 mil km/h.
As duas espaçonaves estão investigando a bolha formada ao redor do
Sol pelo vento solar, e seu objeto de estudo é a borda dessa bolha, uma área
denominada heliopausa, onde a pressão do vento solar é equilibrada pela
pressão do vento proveniente do meio interestelar.
O combustível da Voyager 1 se esgotará em 2020, mas mesmo assim
ela continuará vagando pelo espaço interestelar carregando a bordo
informações sobre a Terra e nossa civilização.
O sonho de conquista espacial, no entanto, continuou num ritmo cada
vez mais acelerado, até que as tecnologias deram ao homem finalmente
a possibilidade de projetar um aparelho capaz de manter cientistas no
espaço por período prolongado. Nascia assim a idealização da primeira
estação espacial.
Um dos debates sobre a possibilidade de se construir uma Estação
Espacial ocorreu em abril de 1960, em Los Angeles, e foi patrocinado pela
Nasa, pela Rand Corporation e pelo Institute for Aeronautical Sciences. Naquela
ocasião houve uma grande discussão de como seria a estação, de onde deveria
ser lançada e de como construí-la. Todos concordaram que a construção de
uma estação seria desejável, entretanto não houve, na época, um consenso
sobre a justificativa para sua construção.
248
Em 1971 a antiga União Soviética se tornou a primeira nação do mundo
a colocar uma estação espacial tripulada no espaço. A Salyut 1, como foi
batizada, foi lançada em 19 de abril de 1971 e sua tripulação, enviada na
Soyuz 11, permaneceu a bordo durante 23 dias. Tinha um comprimento
de 15,8 m, diâmetro de 4,5 m e painéis solares com área de 28 m². No
entanto, ao se preparar para o regresso, os cosmonautas se depararam
com uma falha na válvula da Soyuz 11, que deixou escapar todo o ar do
interior da cápsula, despressurizando-a. Ao pousar, em 29 de junho de
1971, a Soyuz 11 trouxe apenas os corpos de sua tripulação. Já a Salyut 1
reentrou na atmosfera terrestre em 11 de outubro de 1971.
Os EUA responderam a esse lançamento, e finalmente após anos de
discussão e planejamento, em 14 de maio de 1973 lançaram a Skylab, a
segunda estação espacial orbitando a uma altitude de 435 km. O objetivo
da estação era mostrar que seres humanos poderiam viver e trabalhar no
espaço por longos períodos de tempo e também coletar mais informações
sobre o Sol e fazer observações astronômicas. Ela era composta de cinco
partes: um telescópio, um adaptador para acoplagem múltipla, um módulo
selado, uma unidade de instrumentos, e um espaço de trabalho orbital.
Esperava-se que permanecesse ativa por dez anos, mas um inesperado
raspão com a atmosfera superior forçou sua queda apenas nove meses
depois do lançamento. A Skylab caiu no Oceano Índico no dia 11 de julho
de 1979 após a realização de quase 300 experimentos científicos.
Após a Skylab, foi projetada a Mir, uma estação espacial construída
entre 19 de fevereiro de 1986 e 1996 com a cooperação de diversos países.
Originalmente foi concebida para se manter no espaço até 1991, mas teve
tanto sucesso que continuou em funcionamento até 23 de março de 2001.
Ela era formada por seis módulos, orbitando a quatrocentos quilômetros de
altitude e completava uma volta em torno da Terra a cada noventa minutos.
No total, foram realizadas mais de 82 mil voltas em torno do planeta. A Mir
foi palco de 25 missões russas e 30 internacionais, recebendo um total de
103 visitantes e realizando 14 mil experimentos científicos.
No entanto a mais avançada plataforma de pesquisa espacial já
construída foi a Estação Espacial Internacional ISS, resultado de um esforço
internacional de 16 países, que começou em 1988. Os colaboradores são a
Alemanha, a Bélgica, o Brasil, o Canadá, a Dinamarca, a Espanha, os EUA,
a França, a Holanda, a Itália, o Japão, a Noruega, o Reino Unido, a Rússia,
a Suécia e a Suíça.
249
Os Estados Unidos desenvolveram vários sistemas de bordo, como
o suporte à vida, o controle térmico, a navegabilidade e os sistemas de
comunicação e dados, além de três módulos de conexão. Já os russos
contribuíram com dois módulos de pesquisa e um módulo habitacional
com todo equipamento necessário ao suporte à vida, além de plataformas
para instalação de painéis solares e a nave Soyuz de transporte. O Canadá
forneceu um braço remoto de 47 metros de comprimento, semelhante
ao atualmente usado em ônibus espaciais, e os europeus fornecerão
laboratórios pressurizados, entre outros equipamentos.
Já o Brasil coopera desde 1997 fornecendo equipamentos e contribuindo
com serviços de logística, manutenção e reparos.
A ISS tem gerado benefícios enormes para a humanidade, pois como
está em órbita, permite que inúmeros experimentos científicos sejam
desenvolvidos livres da pressão exercida pela gravidade terrestre. Como
exemplos temos os testes para tratamentos de câncer, o desenvolvimento
de medicamentos, a obtenção de novos materiais, como ligas metálicas
mais leves e fortes e chips de computador mais poderosos. Na íntegra as
áreas de pesquisa são as seguintes:
Pesquisa em microgravidade – engloba a biotecnologia, a combustão,
o estudo dos fluidos, a física fundamental e a ciência dos materiais.
Ciências da vida – campo da biomedicina, biologia gravitacional e
ecologia e sistemas de suporte à vida.
Ciências espaciais − estudo da estrutura e evolução do Universo,
exploração do Sistema Solar e a busca astronômica pelas origens e por
sistemas planetários.
Ciências da Terra − monitoramento da qualidade da atmosfera,
meteorologia, estudo das mudanças climáticas, da vegetação e uso do
solo, dos recursos minerais e alimentares, e a qualidade da água doce e
dos oceanos.
Pesquisa em engenharia e tecnologia − desenvolvimento de
sistemas avançados de comunicação Terra-espaço, sistemas de geração
e armazenamento de energia, sistemas robóticos avançados, sistemas de
propulsão entre outros.
250
O Brasil, graças ao seu esforço e investimento no Programa Aeroespacial,
conseguiu, em 2006, enviar seu primeiro astronauta à Estação Espacial
Internacional, numa missão que foi batizada “Missão Centenário”, em
referência à comemoração dos cem anos do vôo de Santos Dumont no
avião 14 Bis, realizado em 1906.
Essa conquista começou em junho de 1998, quando o astronauta
Marcos Pontes foi selecionado para o programa espacial da Nasa. Em18
de outubro de 2005, um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB)
e a Agência Espacial da Federação Russa (Roscosmos), confirmou a
missão que decolou no dia 29 de março de 2006, às 23 h 30 (horário no
Brasil), no Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão.
Marcos Pontes levou a bordo da nave russa Soyuz TMA-8 quinze quilos
de carga da Agência Espacial Brasileira, incluindo oito experimentos
científicos criados por universidades e centros de pesquisas brasileiros.
A expedição foi um sucesso e teve duração de dez dias, sendo dois dias a
bordo da Soyuz e oito dias na ISS.
A concretização dessa missão trouxe orgulho ao povo brasileiro e elevou
a posição do Brasil no cenário da exploração aeroespacial demonstrando
que nós também estamos preparados para enfrentar os novos desafios da
exploração do Universo. Somos hoje uma nação satisfeita, pois finalmente
após anos de esforços, vemos nosso trabalho se destacando mais uma
vez no cenário internacional, e com certeza muitos outros progressos
grandiosos chegarão nos próximos anos.
Considerações finais
Podemos dizer que o futuro da Astronomia na Terra é promissor, pois
graças ao desenvolvimento científico e tecnológico das últimas décadas,
ampliamos nossa compreensão do Universo e temos desenvolvido
aparelhos cada vez mais sofisticados que nos permitem ver e viajar cada
vez mais longe. São muitos os sonhos para o futuro e grandes também são
os desafios. No entanto não podemos desistir, pois traçamos uma grande
história até aqui, vencemos dificuldades e realizamos muitas conquistas.
251
Entender o Cosmos faz parte do ser humano, porque ao olhar para
o céu buscamos nossas origens e compreendemos a razão da nossa
existência. Esses sentimentos acompanham o homem desde seu princípio
e foi com eles que os pilares da Astronomia moderna foram construídos há
milhares de anos na Pré-história. Foi essa constante busca pela verdade que
formou grandes nomes como Pitágoras, Aristóteles, Copérnico, Kepler e
Galileu, homens que, apesar de apresentar alguns pensamentos tidos hoje
como incorretos, foram fundamentais em seu tempo, porque contribuíram
para a construção de pensamentos novos sobre o Universo.
Já nos últimos dois séculos tivemos um avanço ímpar na conquista
do Universo, pois desenvolvemos mecanismos capazes de sair da crosta
terrestre, criamos poderosíssimos telescópios, enviamos sondas de pesquisa
para vários planetas, conquistamos a Lua em 1969 e montamos nossas
primeiras estações espaciais de pesquisa. Isso nos encoraja e nos dá uma
visão extremamente otimista para o futuro.
Faz parte de nossas metas para um futuro distante explorar os espaços
interplanetários, conquistar novos mundos e ampliar nosso domínio pelo
Cosmo. Para tanto temos um longo caminho pela frente. Cometeremos
ainda muitos erros, mas no tempo certo, com certeza descobriremos as
respostas corretas para as interrogações que sempre nos acompanharam:
“De onde viemos? Para onde vamos? O que somos?”
No entanto precisamos conduzir nosso desenvolvimento com cuidado
e sustentabilidade, pois os problemas ambientais atuais têm nos alertado
que, se não tomarmos medidas eficientes urgentemente, corremos o risco
de sucumbir num colapso climático-ambiental violento, destruindo todo
o conhecimento conquistado ao longo de milênios de evolução. Seremos
então uma civilização derrotada, fadada a desaparecer lentamente, em meio
a um Universo de sonhos e divagações. Teremos então fracassado.
É preciso que ouçamos esse alerta e aproveitemos o milagre da vida, pois
somos seres privilegiados, portadores de inteligência e capazes de traçar
nosso próprio destino. Podemos usar toda a tecnologia e conhecimento
acumulados até hoje para conquistar as estrelas ou para causar nossa própria
destruição. Essa escolha entre o bem e o mal pode ser feita somente por
nós. Pois nós respondemos pela Terra...
Portanto, façamos a escolha certa.
252
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254
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nossa presença no cosmos