AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA VAZÃO E DA ÁREA DE TROCA TÉRMICA NO AQUECIMENTO DO AR EM UM COLETOR SOLAR TUBULAR A VÁCUO Felipe Galon de Andrade1, Antonio Carlos Munarini2, Rafael Celuppi3, João Paulo Bender4, Jaime Humberto Palacio Revello4 Resumo: Neste trabalho é avaliada a influência que a área de troca térmica e a vazão de ar utilizada têm sobre o processo de aquecimento do ar em um coletor solar tubular a vácuo. Foram feitas adaptações no equipamento que possibilitaram sua utilização para o aquecimento do ar. São obtidas temperaturas num mesmo período a partir de um planejamento experimental, as quais foram tratadas para verificação da significância das variáveis avaliadas no processo. Foi obtida como variável significante apenas a área de troca térmica, enquanto que as diferentes vazões utilizadas não interferiram diretamente no processo. Palavras-chave: Coletor Solar. Energia. Área de Troca Térmica. 1. Introdução Processos de transmissão de calor são frequentemente empregados na indústria química e de alimentos. De acordo com Incropera (2008), o equipamento utilizado para realizar esta troca é chamado de trocador de calor. Neste equipamento ambos os fluidos estão separados através de uma parede metálica de alta condutividade térmica, a fim de não se misturar. São diversas as aplicações na indústria que podem ser feitas com este equipamento, sendo as mais comuns: o aquecimento ou resfriamento de um fluido ou de um ambiente, o condicionamento do ar para um dado processo produtivo e, na recuperação de calor em processos de otimização entre outros. Dentre os principais tipos de trocadores de calor existentes no mercado podem ser citados: o trocador de calor tubos concêntricos, o trocador de calor de carcaça e tubos e, o trocador de calor a placas, sendo este último um dos mais empregados na indústria de alimentos devido a sua flexibilidade, facilidade de manutenção e limpeza. A busca de energias limpas e fontes menos poluentes, levam a atual sociedade a um avanço constante no estudo do uso e aplicação da energia solar, graças ao seu poder energético elevado. Segundo Lafay (2005), o sol é a estrela mais próxima da terra e suas características determinam a natureza da irradiação de energia no espaço. É 1 2 Aluno do curso Engenharia Química/ACEA Unochapecó; Aluno do curso Engenharia de Alimentos/ACEA 3 4 Unochapecó; Mestrando em Ciências Ambientais/Unochapecó; Professor ACEA/Unochapecó. constituído quase que exclusivamente por hidrogênio, possuindo uma temperatura efetiva de corpo negro de aproximadamente 5777 K. Schoffel (2010) definiu a energia recebida por unidade de tempo, em uma área unitária perpendicular à direção de propagação da radiação, medida na distância média entre o sol e a terra fora da atmosfera - 38 km de altura - como constante solar e assume o valor de 1373 W/m². A radiação que incide num determinado ponto qualquer na superfície da terra é inferior a constante solar, pois ao atravessar a atmosfera parte desta radiação é absorvida e ou refletida pelos constituintes da atmosfera, tais como poeira, vapor d’água, ar e aerossóis. (LAFAY, 2005) O uso da radiação solar, mais especificamente como fonte de calor, esta direcionado para aquecimento de ambientes, produção de energia elétrica e processos de secagem ou desidratação. Segundo Weiss e Mauthner (2010), a capacidade dos coletores solares para aquecimento de água em operação em todo o mundo equivale a 151,7 GW, correspondendo a 217,0 milhões de metros quadrados até final de 2008. Deste montante, 131,8 GW são contabilizados pelas placas planas e tubos a vácuo. Os principais mercados são China (87,5 GW), Europa (28,5 GW) e Estados Unidos e Canadá (15,1 GW), que juntos correspondem a 86,3% do total de instalações. O tipo de coletor solar mais utilizado no mundo é o coletor de tubos a vácuo com 54,2%, em segundo lugar vem as placas planas com 32,6% (WEISS E MAUTHNER, 2010). O sistema dos coletores solares á vácuo consiste em dois tubos de vidro de boro silicato extremamente resistentes. O tubo exterior é transparente, permitindo que os raios solares passem completamente com reflexão mínima. O tubo interno possui um revestimento negro seletivo especial (nitrato de alumínio), com excelente absorção dos raios solares e mínima reflexão. Entre as duas paredes tem-se vácuo que atua como isolante térmico perfeito (APRICUS, 2009). Neste trabalho pretende-se estudar a variação da temperatura em um coletor solar tubular a vácuo, no aquecimento de ar, verificando a influência que a quantidade de tubos utilizados (área de troca térmica) e a vazão aplicada têm sobre o sistema. 2. Materiais e métodos Os experimentos foram realizados em escala piloto junto ao Laboratório de Operações Unitárias I, da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. Situado a uma altitude de 687 metros do nível do mar, com uma latitude de 27º 5’ 47” e longitude de 52º 37’ 6” (INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ, 2010). Com esses dados foram determinadas a orientação e inclinação ideal do coletor solar conforme indicações do fabricante, para o Norte e inclinação de 40º, respectivamente. O sistema piloto foi montado para cada experimento em uma área sem riscos de sombreamento ao coletor, decorrente de qualquer obstáculo físico que poderia atrapalhar a passagem da radiação na direção dos mesmos, como edificações vizinhas, vegetação e etc. 2.1. Descrição do equipamento Foi utilizado um conjunto de cinco tubos coletores de energia solar a vácuo, marca Apricus, cedido pela empresa FIBRATEC de Chapecó - SC. Cada tubo com diâmetro externo 55mm, diâmetro interno 45mm e comprimento de 1,8m. Foram realizadas adaptações nos tubos do coletor solar, visando o aquecimento do ar. Os tubos coletores foram fixados num suporte móvel para facilitar o transporte. Na extremidade aberta de cada tubo foi feita vedação utilizando-se um cap de PVC de 60mm, fixado com silicone de cura acética. Em cada cap dois orifícios de diâmetro ¾ de polegada foram feitos, para transpassar um tubo de cobre que conduz o ar até a parte inferior do tubo interno, o qual retorna a parte superior por diferença de densidade entre o ar frio (entrada) e o ar quente (saída), como mostra a Figura 1. O ar foi conduzido de um tubo a outro por meio de uma mangueira de gás de alta resistência. Figura 1– Esquema de circulação do ar no coletor solar. 2.2. Procedimento experimental A metodologia desenvolvida consistiu na exposição à radiação do coletor solar, por um período de duas horas das 12h30min às 14h30min. Conforme o estudo de Munarini et al (2011) o maior nível de radiação esta no período das 12-14 horas. O equipamento foi posicionado sobre um cavalete, que garantia a angulação de 40º com relação ao sol. Na entrada, na saída do segundo tubo e na saída do quinto tubo do coletor solar foram instalados termopares (marca Novus) para monitorar a temperatura de bulbo seco. Os termopares estavam ligados a um programa computacional (myPCLab – que acompanha o equipamento) que possibilitava o acompanhamento da temperatura ao longo do tempo. Um esquema representativo do experimento é mostrado na Figura 2. Figura 2: Esquema de montagem do coletor solar e acessórios O ar fornecido ao coletor solar encontrava-se inicialmente à temperatura ambiente, sendo proveniente de um compressor de ar (marca Shulz modelo CSL 15 BR/180L). A medida de vazão volumétrica foi feita com um rotâmetro (marca Omel S/A), sendo o equipamento posicionado na entrada do sistema de aquecimento. 2.3. Planejamento experimental Para podermos determinar a influência das variáveis independentes (vazão de ar e área de troca térmica) sobre a variável dependente (temperatura), elaborou-se um planejamento experimental de dois níveis fatoriais (2²), totalizando quatro experimentos, realizados em duplicata, foram utilizados como parâmetros a área de troca térmica de dois tubos coletores (-1) e de cinco tubos coletores (+1), e as vazões de 50 L/min (-1) e 100 L/min (+1). Sendo que a análise da influência das variáveis sobre a temperatura foi realizada utilizando o software Statistica 8.0. 3. Resultados e discussão Considerando que os maiores valores da radiação solar incidente sobre a terra estão entre as 12-14 horas, Munarini et al (2011) e Santos (2004), obteve-se uma grande variação de temperatura entre a entrada e a saída do coletor solar, levando-se em consideração a área e a vazão utilizada. A vazão utilizada nos experimentos foi de 100 L/min e 50 L/min, com uma área de troca térmica para dois tubos de 0,5089m² e para cinco tubos de 1,2723m², todos realizados em duplicata. Através dos resultados obtidos, é apresentado nos gráficos 1 a 4, a variação da temperatura ao longo do tempo, sendo possível verificar a influência da área de troca térmica e da vazão do fluido (ar) na realização de cada experimento. Inicial 2 tubos 5 tubos 120 Temperatura (C) 100 80 60 40 20 0 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 Tempo (min) Gráfico 1: Temperaturas para vazão 100 L/min 1 Ensaio Inicial 120 2 tubos 5 tubos Temperatura (C) 100 80 60 40 20 0 0 3 6 9 12 15 Tempo (min) 18 21 24 27 Gráfico 2: Temperaturas para vazão 100 L/min Duplicata Inicial 120 2 tubos 5 tubos Temperatura (C) 100 80 60 40 20 0 0 3 6 9 12 15 18 Tempo (min) 21 24 27 Gráfico 3: Temperaturas para vazão 50 L/min 1 Ensaio Inicial 2 tubos 5 tubos 120 Temperatura (C) 100 80 60 40 20 0 0 3 6 9 12 15 18 Tempo (min) 21 24 27 Gráfico 4: Temperaturas para vazão 50 L/min Duplicata É possível visualizar que para os quatro gráficos a temperatura do fluido (ar) teve um aumento significativo em relação a sua temperatura de entrada, devido ao calor que entra por radiação no sistema. Conforme esperado, também observa-se que a temperatura do fluido aumenta, quando aumenta-se a área de troca térmica de dois para cinco tubos em todos os experimentos. Em relação à vazão os resultados obtidos permaneceram aquém do esperado, pois conforme demonstrado nos gráficos 1 e 2, onde foram utilizadas vazões maiores (100L/min), obteve-se temperatura máxima em torno de aproximadamente 104,8°C. Enquanto que para os gráficos 3 e 4, onde utilizou-se vazões menores (50L/min) a temperatura máxima atingida foi de 93,6°C. Este comportamento da vazão está condicionado ao fato de que nos gráficos 3 e 4 as curvas de temperaturas apresentam oscilações maiores, pois no momento em que foi realizado os experimentos para vazões de operação mais baixas ocorreu o aparecimento de algumas nuvens que interferiram negativamente no processo de transferência de calor para o sistema. A matriz do planejamento experimental e as temperaturas médias obtidas a partir dos ensaios podem ser visualizados conforme Quadro 1. Quadro 1: Planejamento experimental e temperatura média do ar na saída do coletor solar, obtidas a partir dos ensaios. Temperatura Média Área -1 1 -1 1 Vazão -1 -1 1 1 Ensaio 75.5 93.6 74 97.2 Duplicata 76.2 93.9 78,8 104.8 O fator que influenciou diretamente na obtenção da temperatura foi à área de troca térmica fornecida pelo coletor solar. O outro parâmetro analisado, que poderia ter interferido significativamente na temperatura obtida, é a vazão de ar aplicado durante a realização do experimento, porém as aparições de algumas nuvens dificultaram a incidência da radiação sobre o coletor solar no período em que foi avaliada a menor vazão de ar (50 l/min), refletindo diretamente na absorção pelo equipamento e posterior troca de calor com o ar. Dessa forma a vazão de ar apresentou-se como variável insignificante no processo de transferência de calor. Conforme mostra o gráfico 5, na qual apenas a área é considerada variável significativa. E a combinação das variáveis também demonstrou-se insignificante para o processo de transferência de calor. Pareto Chart of Standardized Effects; Variable: T emperatura 2**(2-0) design; MS Residual=8,2725 DV: T emperatura (1)Área 10,69439 1,893029 1,893029 1by2 1,671766 1,671766 (2)Vazão p=,05 Standardized Effect Estimate (Absolute Value) Gráfico 5: Análise de Pareto com a significância de cada variável e da combinação das variáveis. Sendo assim, a melhor combinação de variáveis foi à utilização de cinco tubos (+1) e a vazão mais elevada (+1), que apresentaram maior temperatura na saída do trocador de calor e conseqüentemente maior troca térmica. Conforme resultados do Quadro 1 que estão evidenciados no Gráfico 6. Fitted Surface; Variable: T emperatura 2**(2-0) design; MS Residual=8,2725 DV: T emperatura 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 Vazão 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 > < < < < < < 100 100 95 90 85 80 75 Área Gráfico 6: Gráfico de superfícies para resultados do Quadro 1. Por fim encontramos o seguinte modelo a partir dos experimentos realizados: T= 86,50 + 10,875A + 1,700V + 1,925AV Onde A é o termo referente à área e V o termo referente à vazão de ar. 4. Considerações finais Através dos experimentos realizados com um coletor solar tubular a vácuo, foi possível verificar a influencia da vazão e da área de troca térmica no valor da temperatura do ar que passa pelo trocador. Conforme esperado a maior área de troca térmica refletiu numa maior temperatura final do fluido, enquanto que a vazão não apresentou significância sobre a variação de temperatura do sistema, devido à aparição de nuvens no momento que era realizado os ensaios com a vazão menor. Dessa maneira em ambas as vazões utilizadas à temperatura final do sistema permaneceram próximas. Por tratar-se de uma fonte de energia alternativa e renovável, novos estudos devem ser realizados para melhor desenvolvimento e aproveitamento da mesma nos mais diversos processos. 5. Referências APRICUS, (2009) Coletores solares com tubos a vácuo - Informações técnicas do equipamento. 10p INCROPERA, F. P., WITT, D. P. (2008) Fundamentos da transferência de calor e massa. Editora LTC. Rio de Janeiro-RJ. 455p INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ. (2010) Disponível em: www.chapeco.sc.gov.br. Acesso em: 01/10/2010. LAFAY, J. M. S. (2005) Análise energética de sistemas de aquecimento de água com energia solar e gás. Porto Alegre-RS (tese de doutorado) 152p MUNARINI, A. C., ANDRADE, F. G., CELUPPI, R., BENDER, J. P., REVELLO, J. H. P. (2011) Estudo do aquecimento do ar em um coletor solar tubular a vácuo. SANTOS, B. M., (2004) Metodologia de dimensionamento de sistemas de aquecimento solar para a secagem de produtos agrícolas. Campinas-SP (dissertação de mestrado) 78p. SCHOFFEL, Agrometeorologia. E. 4p. R., (2010) Acesso Radiação em: Solar - 02/12/2010. Constante Disponível Solar. em http://www.ufpel.edu.br/faem/agrometeorologia/RADSOL.pdf WEISS, W., MAUTHNER, F. (2010) Solar heat worldwide: markets and contribution to the energy supply 2008. Gleisdorf-Austria.