1 TURISMO COMO SUBSÍDIO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ESTUDO DE CASO NA COLÔNIA MATO RICO, ESTADO DO PARANÁ CLOTILDE ZAI1 CLAUDINEI TABORDA DA SILVEIRA2 RESUMO Sustentabilidade ambiental refere-se à possibilidade e resultados obtidos no processo de desenvolvimento de caráter permanente, preservando a capacidade produtiva dos recursos naturais, potencializando seus efeitos sobre a criação e distribuição de renda, assegurando apoio político suficiente que permita a garantia de continuidade das ações e seus resultados sobre o bem-estar social, econômico e ambiental da população. Então, pode-se pensar em sustentabilidade como uma estratégia para um tipo de desenvolvimento que possibilite verdadeiras melhorias na qualidade rural, em um estudo sobre os meios de vida sustentáveis com desenvolvimento, sendo que para a promoção da ética deste, a comunidade precisa adotar valores e comportamentos adequados a esse estilo. Dessa forma, o trabalho visa estimular o desenvolvimento da atividade turística na comunidade de Colônia Mato Rico, município de Mato Rico, Paraná, apresentando alternativas econômicas a partir de um inventário do patrimônio cultural e natural. Ao apresentar tais alternativas, objetiva inibir o desmatamento para criação de novas áreas com uso agropecuário, também estimular a valorização do patrimônio cultural e ecológico natural, enquanto potencial turístico. Com isso, propiciar uma melhoria significativa das condições de vida da população através de sua melhor inserção na esfera econômica a partir das potencialidades locais. Palavras-chave: desenvolvimento sustentável; Colônia Mato Rico; turismo rural; turismo cultural. 1 Bacharel em Turismo, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná, e-mail: [email protected] 2 Bacharel em Geografia, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná, e-mail: [email protected] 2 TURISMO COMO SUBVENCIÓN PARA EL DESARROLLO SOSTENIBLE: ESTUDIO DE CASO EN COLÔNIA MATO RICO, ESTADO DE PARANÁ RESUMEN La sostenibilidad del medio ambiente se refiere a la capacidad y los logros en el proceso de desarrollo de forma permanente, manteniendo la capacidad productiva de los recursos naturales, la alimentación de sus efectos sobre la creación y distribución de los ingresos, disponer de suficiente apoyo político para que la garantía de continuidad de las acciones y sus resultados sobre el bienestar social, económico y ambiental población. Así, se puede pensar en la sostenibilidad como una estrategia para un tipo de desarrollo que permita mejoras reales en la calidad de las zonas rurales, en un estudio sobre las formas de vida con el desarrollo sostenible, y para la promoción de la ética de esto, la comunidad debe adoptar valores y el comportamiento hacia el mismo estilo. De este modo, el trabajo tiene como objetivo estimular el desarrollo del turismo en la comunidad de Colonia Mato Rico, municipio de Mato Rico, Paraná, ofreciendo alternativas económicas a partir de un inventario del patrimonio cultural y natural. Al presentar esas alternativas, tiene como objetivo inhibir la deforestación para la creación de nuevas áreas para uso agrícola, también estimular la recuperación del patrimonio cultural y el medio ambiente natural, mientras que el potencial turístico. Con ello, proporcionar una mejora significativa de las condiciones de vida de la población a través de su mejor integración en la esfera económica de la potencial local. Palabras clave: desarrollo sostenible; Colônia Mato Rico; turismo rural, turismo cultural. 3 1. INTRODUÇÃO Os debates que abordam o desenvolvimento sustentável iniciam-se na década de1950, porém é na década seguinte que começa a ganhar destaque nos meios de comunicação. A Organização das Nações Unidas (ONU) denomina esse momento como a “Primeira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável”. Nessa época muitos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, consideravam inviável tratar das grandes questões ambientais em seus programas nacionais, uma vez que entendiam que a poluição e deterioração ambiental eram resultados inevitáveis do desenvolvimento industrial e econômico. Essa postura favoreceu os países ricos, pois suas atividades mais poluidoras foram transferidas aos países pobres, garantindo o suprimento industrial. Em 1972, na Conferência de Estocolmo, sobre o ambiente humano, surgiu a idéia de “poluição, pobreza e ecodesenvolvimento”. Na década de 1980 houve uma reavaliação do conceito de desenvolvimento, quando, a partir de uma comissão da ONU que realizou um estudo dos problemas globais do meio ambiente e desenvolvimento, introduziu no Relatório Brundtlandem, em 1987, o conceito de desenvolvimento sustentável, que consiste num sistema de desenvolvimento sócio-econômico com justiça social e em harmonia com os sistemas de suporte da Terra, preconizando dispor recursos que atendam às necessidades básicas das populações pobres e ao equilíbrio ambiental. Em 1992 foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde os problemas ambientais mundiais focam as discussões, obtendo como resultado da Conferência a Agenda 21, que representa um compromisso político das nações de agir em cooperação e harmonia na busca do desenvolvimento sustentável. Esse documento aponta que para solucionar os problemas da pobreza e degradação ambiental em escala mundial, devem ser desenvolvidos programas específicos em escala regional e local (CORDANI e TAIOLI, 2000). A compreensão de desenvolvimento sustentável, no presente trabalho, é a possibilidade de alcançar bons resultados sócio-econômicos, mantendo um caráter permanente por meio da preservação da capacidade produtiva dos recursos naturais, potencializando seus efeitos sobre a criação e distribuição de renda, assegurando apoio político suficiente que possibilite a garantia de continuidade das ações e seus resultados sobre o bem-estar social, econômico e ambiental da população. Portanto, os projetos que buscam o desenvolvimento sustentável em escala local, devem estar referenciados na cultura, natureza e nos valores ético-ideológicos das comunidades envolvidas, visando criar bases concretas e duradouras, solidificando-se a partir de pequenas iniciativas locais, que 4 gradualmente se ampliam ao global de maneira coesa. Assim, habilidades desenvolvidas por região, a longo prazo se transformam na principal fonte de vantagem que viabilizam a abertura de caminhos para o sucesso dessas iniciativas. No contexto regional do estado do Paraná, o município de Mato Rico, que compreende a área de estudo, está entre os três municípios que apresentam os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH3) paranaense, igual a 0,640, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD (2007). Portanto, sob o foco dessa problemática, partindo da necessidade de estudos sobre os meios de vida sustentáveis para populações que vivem em meio rural, houve o estímulo para a elaboração desta pesquisa, a qual visa apresentar alternativas para o desenvolvimento socio-econômico de uma das comunidades rurais localizada neste município, denominada Colônia Mato Rico. Demonstrando a partir deste trabalho alternativas para conservação ambiental na colônia e servindo de exemplo para todo o município. Na literatura, diversos textos que discorrem sobre a sustentabilidade aplicada ao turismo, fomentando a discussão sobre a integração entre o uso turístico e preservação do meio ambiente e, destacando os cuidados sobre a responsabilidade social na instalação de empreendimentos, voltados não somente para o lucro, mas também para proporcionar a melhoria da qualidade de vida das populações fixas de núcleos receptores, (RUSCHMANN, 1997). As atividades econômicas identificadas, predominantes em Mato Rico, são a agricultura familiar e a pecuária extensiva. Partindo dessa configuração, a solução principal apresentada como alternativa ao desenvolvimento sustentável na Colônia Mato Rico é a promoção de seu território como destino turístico, buscando com isso a incrementação da renda para seus habitantes, fazendo uso sustentável de seus recursos pela prática de atividades do turismo rural e cultural, as quais o município tem aptidão. O estimulo e valorização dessa atividade econômica, que visa a complementação de renda, impede que áreas com remanescentes florestais sejam desmatadas e destinadas 3 O IDH foi criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Seus valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo; com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio; e com índices maiores que 0,800 são considerados de desenvolvimento humano alto. O Índice de Desenvolvimento Humano também é utilizado para aferir o nível de desenvolvimento humano em municípios, denominando-se IDH-Municipal ou IDH-M e, embora meça os mesmos fenômenos - educação, longevidade e renda, os indicadores levados em conta no são mais adequados para avaliar as condições de núcleos sociais menores (IBGE, 2007). 5 a novas frentes para fins de produção agropecuária. Desse modo, tal alternariva poderá reverter o atual quadro de baixo IDH de Mato Rico, promovendo o desenvolvimento sócioeconômico e a conservação da biodiversidade nesse meio rural. 1.1. Área de Estudo A Colônia Mato Rico é uma localidade pertencente ao município de Mato Rico, localizada a 3 quilômetros ao norte da sede administrativa municipal. Essa localidade foi eleita como área de estudo por contém um potencial turístico natural e cultural significativo, também porque suas características sócio-econômicas e ambientais representam a realidade do município de Mato Rico. O município foi habitado pelas primeiras famílias em 1938, indo residir na Colônia Mato Rico. A emancipação política, enquanto unidade administrativa municipal, ocorreu em 31 de janeiro de 1991, quando foi desmembrado de Pitanga. Hoje, integra a micro-região de Pitanga na porção central do Estado do Paraná (figura 1). Têm como limites territoriais as divisas com os municípios de Pitanga, Roncador e Palmital, cujas distâncias entre as sedes administrativas são de 58 km com Pitanga, 24 km com Roncador e aproximadamente 450 km com a capital do estado. Seus acessos são rodoviários por estradas sem pavimentação. Além de ucranianos, fixaram-se também na região, descendentes de poloneses, italianos e portugueses, bem como a importante influência indígena e de afro-descendentes originários do sudeste e nordeste do Brasil que fizeram o papel de miscigenar a formação étnica e cultural, não só de Mato Rico, enquanto localidade e município, mas de todo Paraná. As atividades econômicas predominantes no município e na Colônia são: agricultura familiar tendo como principais cultivos milho, soja e trigo, secundariamente feijão, arroz, algodão e mandioca; na pecuária, com técnica extensiva, gado de corte e leite; outras atividades alternativas e emergentes são apicultura e sericicultura, ambas com grande potencial para contribuir no turismo rural, porém ainda pouco exploradas. A organização fundiária da Colônia Mato Rico, e do município, é composta por pequenas propriedades, com áreas médias de 22,4 ha. A população matorriquense é formada por 82% de pequenos agricultores familiares (proprietários, meeiros, arrendatários e posseiros) e caracteriza-se pela baixa ou até média tecnologia com mão-de-obra familiar (IBGE, 2007). 6 FIGURA 1 – MAPA ILUSTRATIVO DA LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MATO RICO BRASIL PARANÁ Equador Trópico de Capricórnio MUNICÍPIO DE MATO RICO LEGENDA: Sede do muncípio de Mato Rico Limites municipais Estradas não pavimentadas 0 3 6 om Limite c om oncador unicípio de R 9 km de Pitanga Latitude 24º 35' 34" sul Longitude 52º 23' 36" oeste Lim ite c om o mun icíp io Sede municipal de Mato Rico N W E S Limite com o município de Pa lm Organizador: Claudinei Taborda da Silveira Fonte: Dados cartográficos digitais, IBGE (2001) ital Latitude 24º 47' 53" sul Longitude 52º 04' 33" oeste 2. MÉTODO O método utilizado para pesquisa segue a proposta de Dencker (2000), levantamento de informações, por meio de dados históricos pesquisados, consultas bibliográficas, documentos cartográficos, fotográficos, depoimentos verbais de moradores realizados em visitas as famílias e participação em eventos realizados pela comunidade. Por meio deste, realizar o levantamento do patrimônio cultural, apresentando como destino turístico e demonstrando as potencialidades do turismo que ajudará no desenvolvimento sócio-econômico da comunidade. 7 3. POTENCIAIS TURÍSTICOS DA COLÔNIA MATO RICO A Colônia Mato Rico enquanto destino turístico conta com diversos atrativos que podem ser explorados por meio de empreendimentos nessa área e incubadoras de projetos, valorizando seus aspectos culturais e ambientais. Segundo Ejarque (2005), destinos turísticos podem ser classificados em país, região, estado, cidade ou lugar com um espaço geográfico determinado, características próprias de clima, raízes, infra-estrutura e serviços, e com certa capacidade administrativa para desenvolver instrumentos comuns de planejamento, que adquirem centralidade, atraindo turistas mediante produtos perfeitamente estruturados e adaptados as satisfações buscadas, graças a ordenação dos atrativos disponíveis, dotado de uma marca, e que se comercializa tendo em conta seu caráter integral. A função dos destinos turísticos se estrutura a fim de alcançar melhor qualidade de vida dos cidadãos do território, atrair turistas capazes de desfrutar da oferta estruturada a fim de obter um nível de desenvolvimento econômico superior, garantindo satisfação dos turistas e da população que reside no local. Segundo Valls (2000), o êxito na gestão de um destino depende da capacidade dos distintos agentes, ou seja, atores desempenharem seus papéis e estabelecer consenso sobre o modelo de desenvolvimento turístico e sua aplicação ao longo do tempo. Os componentes do destino se estabelecem por: recursos e produtos, quando o destino se compõe de produtos turísticos, os quais, por sua vez, se estruturam a partir dos recursos ou atrativos existentes em um lugar. Atrativo, elemento que desencadeia o processo turístico, como monumentos, paisagens, praia, clima, festas tradicionais, entre outros, são atrativos sujeitos a valoração e, convenientemente agrupados a uma série de elementos é capaz de colocar-se a serviço da satisfação turística. O produto por si, seleciona alguns atrativos existentes em seu território, agrega valor e incorpora componentes necessários para convertê-los em uma gama de componentes tangíveis e intangíveis, que gera utilidade e satisfação aos consumidores em forma de experiências concretas. Em qualquer planejamento para destino turístico, é indispensável estudo da sustentabilidade para seu desenvolvimento. Ela está relacionada a evolução do ciclo de vida do destino, portanto, a seu planejamento. De acordo com os estudos de Valls (1996), os destinos estão submetidos a tensões cíclicas, dependentes de fatores exógenos e endógenos que aparecem em cada cenário de desenvolvimento. 8 A sustentabilidade, segundo Valls (op cit.), é à base da competitividade e se projeta em todos os ciclos de vida dos destinos, por meio de ângulos do equilíbrio populacional e da identidade cultural; do desenvolvimento econômico e social, são eles: equilíbrio; permanência do valor territorial, do patrimônio e dos atrativos de acordo com a capacidade de carga de cada território e capacidade de carga ambiental, sócio-cultural e econômica. A satisfação dos clientes é o objetivo principal do Marketing na hospitalidade. Deve-se tangibilizar o intangível. Segundo Kotler (1997), o cliente pode sair de mão vazias, mas nunca de cabeça vazia, de tal forma que além de lembrar com satisfação dos serviços recebidos, retorne ao local e também os indique a outras pessoas. Analisando os conceitos de Valls (2000), podemos notar que hospitalidade é a ferramenta básica para o contato e a relação com os clientes. Com isso atingir a fidelização utilizando a estratégia de Hiedra que toma posições, se achega, mima, envolve e cresce, protege cada vez mais seu leito e estabelece uma relação de intimidade. É o símbolo de uma nova estratégia. A Colônia Mato Rico, enquanto destino turístico apresenta diversos atrativos como potencial, sendo eles: atrativos turísticos naturais, festividades locais, patrimônio artesanal da cultura ucraniana, gastronomia típica e arquitetura. 3.1. Atrativos turísticos naturais Possui uma paisagem privilegiada por sua beleza cênica, composta por relevo ondulado, belas cachoeiras, paredões rochosos, rica rede de drenagem, vegetação exuberante predominando a araucária que é conhecida também regionalmente como pinheiro-do-paraná. Essa configuração propicia atividades voltadas ao ecoturismo e turismo de aventura, tais como: treckking4, rapel, escaladas, canoying5, arvorismo, banho de cachoeira e outros esportes de aventura. Um dos principais atrativos naturais da Colônia Mato Rico é a Cachoeira do Vogivoda, propícia para banho em sua volumosa queda d´água, canoying e rapel em seu paredão rochoso, mergulho na piscina natural formada por suas límpidas águas, contendo ainda vegetação rica em espécies e com bela paisagem para apreciação. 4 Treckking é uma modalidade em turismo de aventura que se constitui em caminhadas por trilhas naturais em busca de lugares interresantes possibilitando maior contato com a natureza. Disponível em: http//www.solbrilhando.com.br 5 Canoying é uma atividade de aventura que se constitui na decida de cachoeiras por uma corda. 9 Outro atrativo identificado, que requer melhor detalhamento nos estudos, que pode ser explorado turísticamente, é uma das várias ramificações do Caminho do Peabiru6, que é um antigo acesso utilizado pelos povos indígenas que ia do oceano Atlântico ao Pacífico. No trecho do caminho que está localizado na Colônia foram encontrados inúmeros vestígios visíveis, tais como mapas líticos, artefatos produzidos pelos indígenas em pedra e argila, entre outros. Também, o Caminho dos Porcadeiros, é outro potencial turístico. Por tal caminho passavam em meados do século passado os criadores de suínos, levando suas manadas para comercializar em Ponta Grossa. No município de Mato Rico, o caminho começa na comunidade de Colônia, de Palmital, indo para Vila Nova e prosseguindo por Pitanga até Ponta Grossa. Nas porções mais elevadas do relevo podem identificados mirantes naturais, tal como o Morro das Bromélias, localizado na Fazenda Mato Rico, na localidade da Colônia. Da visão panorâmica que se tem do seu topo, podem ser visualizadas várias cidades do entorno como: Roncador, Laranjal, Palmital e também a sede administrativa de Mato Rico além da visão privilegiada da paisagem regional. Nele contêm três represas propícias para banho e pesca, sua paisagem é composta por rica vegetação, com bromélias, orquídeas, cactos e outras plantas naturais da região, contendo diversos animais silvestres tais como macacos, pacas, quatis e javalis. 3.2. Festividades locais Os descendentes ucranianos são povos alegres e se confraternizam com muita freqüência. Valorizam as datas comemorativas e festejam o dia de seus padroeiros com eventos importantes e marcantes para a comunidade. Na Colônia Ucraniana de Mato Rico, a comunidade construiu uma gruta em homenagem a de Nossa Senhora de Fátima, que recebe visitações diárias dos devotos e adoradores da Santa, além de apreciação do espaço arborizado ao lado da igreja em estilo ucraniano a qual ela está instalada. A gruta foi inaugurada em 13 de maio de 2003, data em que se comemora o dia da padroeira. Em todo domingo de maio próximo a data da padroeira, é realizada a festa da comunidade ucraniana de Mato Rico, com missa em rito 6 “O Caminho de Peabiru foi a mais importante via transcontinental da América do Sul précolombiana, segundo definiu Renhard Maack, da UFPR, em 1959. Era uma “estrada” indígena com tronco e ramais, formando uma rede. Tinha cerca de 3 mil km de extensão e ligava o Atlântico ao Pacífico.” (Cadernos da Ilha, 2004 p.08) 10 ucraniano, encenação da aparição da santa aos três pastorinhos7 e primeira eucaristia das crianças preparadas por uma catequista da comunidade. A igreja de Nossa Senhora do Rocio, é a capela onde acontecem as celebrações em português, com distância de três quilômetros uma da outra. As duas capelas da comunidade são católicas romanas e realizam estes festejos. A comunidade local prepara a festa com antecedência cuidadosamente para recepcionar os visitantes durante o dia todo. Tal evento acontece no entorno das igrejas, contando com salão de festas e grande espaço ao ar livre arborizado para circulação das pessoas. Eventos como este, possibilitam valorizar e expandir os hábitos culturais da comunidade. Na capela Nossa Senhora de Fátima, são realizados também, almoços e jantares com pratos típicos da culinária ucraniana como: o perohê, holubchi, macarronada caseira, frango recheado, bolachas caseiras e outros pratos da gastronomia típica regional como churrascos (origem gaúcha) e quireradas (comida típica cabocla) à base de milho e carne suína são servidos além da irresistível cerveja caseira. A comunidade conta ainda com um campo de futebol aos fundos da capela ucraniana onde são realizados torneios durante as festas. O espaço é também locado para eventos de comunidades vizinhas, atraindo assim, públicos diferentes para os festejos locais, estimulando o turismo regional e divulgando a cultura ucraniana que se torna um atrativo cultural e religioso. Analisando a conceituação de Morais (2000.p.22), a imagem que o imigrante constrói de seu lugar de origem, somente tem sentido no interior da sua própria comunidade. Podemos notar que no Brasil os valores, as tradições e as impressões que marcam a sua memória, referem-se a um lugar, ou a um país, que não existe mais, diferente das lembranças de um indivíduo que nunca deixou sua terra natal. Weber (1998) em seus estudos sobre as teorias da etnicidade, teve por objetivo mostrar que o contato do imigrante com a nação receptora, o contraste cultural, social e econômico o aproximam, ainda mais, do seu grupo de origem e dos valores compartilhados entre eles. Esses grupos além de representarem, em alguns casos, os aspectos étnicos, correspondem, principalmente, à representação dos valores culturais compartilhados entre 7 No dia 13 de maio de 1917, três crianças cuidavam de um pequeno rebanho na Cova da Iria, em Fátima, Portugal. Os pastorinhos chamavam-se Lúcia de Jesus, 10 anos, Francisco e Jacinta Marto, seus primos de 9 e 7 anos. Foi quando apareceu uma Senhora toda vestida de branco, segurando um terço também branco, espalhando uma luz muito intensa e cristalina. Esta foi a primeira de muitas outras aparições de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos. Lúcia ainda vive em Portugal aos 94 anos. Disponível em: http://www.pascomsantaluzia.com.br/Oracoes/Arquivos/NossaSenhoradeFatima.htm 11 eles, ou seja, alimentam uma crença subjetiva em uma comunidade de origem fundada nas semelhanças da aparência externa nos costumes e até mesmo, nas lembranças da migração, de modo que esta crença se torna importante para o processo de colonização e vivência na comunidade receptora. 3.3. Patrimônio artesanal Por se tratar o local de uma Colônia de imigrantes ucranianos, temos a marcante presença de seus costumes, tradições e hábitos alimentares. O imigrante ucraniano conseguiu preservar a arte através dos ensinamentos de mãe para filho. Além, disso, pesquisando, descobriu novos pigmentos retirados de plantas, incorporando as matizes e influência da nova terra e isso representa hoje um forte patrimônio cultural paranaense, uma vez que no decorrer dos anos, os povos da Ucrânia passaram por drásticas transformações e com isso a perca de alguns costumes e tradições, os imigrantes que ao Brasil chegaram a algumas décadas, mantiveram intactos os traços dessa cultura e hoje recebem os próprios visitantes europeus para ensinar tais costumes e artes perdidos por seus antepassados. Segundo Kotviski (2004), as pêssankas de Páscoa mostram que alguns costumes estão ligeiramente ligados à crença de que o ovo tem um sentido relacionado com a vida e a morte. Elas vêm confirmar estas crenças, pois, antes da Páscoa, mantinham o costume de colocar cachos de trigo sobre a mesa e em redor dos ovos pintados que se apresentavam no mesmo número de falecidos que tinha a família. Outro costume era levar pêssankas para o cemitério. A delicada obra de arte apresenta-se, em símbolos, a história da humanidade, suas crenças, esperanças e anseios. São inúmeros os símbolos usados nas pêssankas comuns em toda a Ucrânia e outros típicos a determinadas regiões. Cada traço, figura e cor utilizado na confecção das pêssankas apresenta um determinado significado. Outro dos mais estimados e expressivos componentes da cultura ucraniana é o bordado. Ele revela o gosto pelo estético, o amor ao belo, o respeito à natureza, sendo usado de diversas maneiras, entre ela destacam-se: na indumentária (blusas, camisas, vestidos); nas prendas domésticas e ornamentais (toalhas, guardanapos, panôs e colchas); nas igrejas (estola, toalhas de altar, casula); nos rituais religiosos, civis e vida familiar (toalhas utilizadas em recepções, nascimentos, batismos, noivados, casamentos, mortes). Sempre requintados e altamente festivos os bordados ucranianos nos parecem cintilantes mosaicos executados pela inimitável astúcia feminina transmitida de mãe para filha. Os bordados encontrados nos trajes folclóricos trazem lembranças alegres e tristes. O vermelho é o amor e o preto a tristeza. 12 Esta arte tem profundas raízes nos hábitos agrários e é representado, sobretudo pelos bordados de motivos geométricos que conservam ainda inúmeras características bizantinas. Como os bordados de plantas estilizadas. As cores básicas do bordado ucraniano são o preto e o vermelho. Cores adicionais são amarelo, azul e verde. No passado, foram tingidas fibras de plantas, linhas e lãs com tinturas naturais de cascas de árvores, raízes, folhas, frutas, flores e sucos de insetos. 3.4. Gastronomia típica Segundo Carneiro (2004) a culinária ucraniana se formou através dos séculos. É destacada pela variedade dos pratos, pelo sabor refinado e pelo valor nutricional. A presença da massa é sempre certa, seja ela fermentada ou não. Fazem parte da gastronomia típica ucraniana: Borchtch, Perohê, Holubchi, Kubassat, Salo, kasha, Krakóvia, kutiá, cerveja caseira, entre outros. A Borchtch é uma Sopa de sabor azedado, à base de beterraba, repolho ou couve, com costela ou lombinho de porco, de preferência temperada com nata e saboreada com acompanhamento de pão preto de centeio ou trigo. É servido como primeiro prato, logo após o aperitivo, tornando-se o prato nacional da família ucraniana. O Perohê é uma espécie de pastel de massa amanteigada e fermentada à base de trigo, cozidos em água, recheados com uma mistura de batatinha e requeijão. Pode ser acompanhado de molho de carne. Segundo Carneiro (2004) A massa não fermentada se denomina “Varéneke”, perohê cozido; e a fermentada “Halushkê”, perohê frito e cozido, ou Perichkê. Na Ucrânia, os perohês são feitos de massa de trigo fermentada, porém os cozidos, Varéneke, na região da Galícia (Rússia) também são chamados de perohê. Há muitas variedades de perohê e são preparados para ocasiões especiais e aos domingos. O recheio varia, dependendo da ocasião em que é servido: nos dias festivos e na ceia de natal: requeijão, batata, cerejas, maçãs, frutas secas e cozidas, semente de papoula (para temperar o requeijão) e purê de ervilha; na alimentação trivial: repolho frito com batata, feijão amassado e temperado e kasha de trigo mourisco (tatarka). O Holubchi é uma espécie de charuto feito com recheio de carne, trigo mourisco ou arroz, o qual é envolvido em folhas de repolho ou couve e cozido em panela fechada à vapor. O Khrin é molho à base de raiz forte moída com beterraba, acompanha carnes assadas, principalmente a de porco. 13 A Kubassat é uma lingüiça de carne de porco defumada frita ou assada, de sabor muito leve. A Kasha é um alimento de quirera de trigo mourisco, aveia, milho ou arroz. Servido no café, almoço e jantar nas mais variadas formas. O Salo é um toucinho, muito característico na alimentação, pode ser servido cru, cozido, frito ou defumado. Serve como acompanhamento para batatas, kasha e broa. Possui múltiplos usos. A Nata tem sabor levemente azedo, este molho à base de leite acompanha quase todos os pratos da culinária ucraniana principalmente a carne de porco. As carnes utilizadas na cozinha ucraniana geralmente são de porco, marreco e frango. Apresenta uma grande variação: assadas, defumadas, fritas, abafadas. A Krakóvia é um embutido de carne nobre e defumada de porco. Lembra muito uma lingüiça, porém mais forte do que a calabresa; De sobremesa, o kutiá, um creme de trigo em grão cozido com passas e mel. Na ceia de natal, o kutiá é servido como entrada. Os doces são a base de mel e cana-deaçúcar, como bolachas caseiras, rapadura, melado de cana e açúcar mascavo. As Bebidas também são marcos na mesa destes descendentes europeus. A cerveja caseira é uma bebida fermentada não alcóolica, a base de lúpulo, água e açúcar ou mel. É muito produzida no município de Mato Rico, a princípio, para consumo próprio das famílias, que costumam oferecer esta bebida às visitas e a utilizam em comemorações especiais como a Páscoa e o Natal. Atualmente é vendida em feiras ou direto do produtor. Deve ser servida gelada. Contam os pioneiros da comunidade que os imigrantes europeus trouxeram as abelhas com ferrão (apismelifera), então começou a se desenvolver a apicultura rústica. Todavia, a abelha era mansa, de origem alemã (também chamada preta) e de fácil manipulação. No município se encontra ainda a verdadeira abelha brasileira, também indígena ou sem ferrão, da família dos meliponídeos (mirim, mandaçaia, vorá, gurupim, mirim-guaçu, mirim-preguiça), hoje em processo de extinção. Na época da colonização matoriquense, quase todos os colonos possuíam algumas colméias pelos terreiros de suas casas. Os caixotes eram feitos de madeira lascada, e o processo de manipulação era artesanal. Conta-se que naquela época não se usava açúcar branco, só açúcar mascavo e mel. Atualmente, existem muitos apicultores e a tendência é que o pequeno agricultor volte a ter sua caixa de abelha. Um dos apicultores de Mato Rico tem expandido seus produtos derivados do mel e comercializado em maior escala. Os subprodutos e derivados do mel são: mel de abelhas em favos ou sem favos; geléia real (adicionado ou não ao mel de abelhas); pólen (adicionado ou não ao mel de abelhas); própolis, considerado um dos melhores do mundo 14 segundo especialistas japoneses que absorvem quase toda a produção e exportam para o Japão; Hidromel (obtido de fermentação alcoólica do mel de abelhas); vinagre e mel de abelhas (resultante da fermentação acética do hidromel ou das fermentações alcoólicas e acética da mistura do mel com água potável); composto ou xarope de açúcares (mistura de “mel de mesa” com glicose e sacarose ou outros açúcares”; Cera de abelha. As bolachas de mel são comercializadas nos eventos da colônia e também servidas na mesa das famílias pioneiras. 3.5. Arquitetura Os colonos que se instalaram em Mato Rico, encontraram muita madeira disponível, assim não foi difícil adequar suas técnicas de construções européias em casas de madeira. Eram casas simples, com grandes varandas, mas destacavam-se pelas cores marcantes, simbolizando sua cultura, pelos ornamentos dos beirais no telhado, onde marceneiros com talento de artesãos moldavam a madeira em formas que lembravam rendilhados, eram os lambrequins. A pintura era uma verdadeira obra de arte com barrados florais pintados a mão livre. “A princípio, em sua origem européia, o lambrequim tinha a função de pingadeira, protegendo as empenas laterais da construção em madeira dos estragos da chuva. No Brasil passou a funcionar como elemento de decoração das residências, destacando-as com singularidade e beleza. (O Lambrequim)” O modelo padrão continha aproximadamente 40 cm de comprimento, corte em ângulos de 45° que resultava num ângulo reto, voltado para o solo, apesar da semelhança, em cada casa era possível descobrir um formato diferente. E dessa forma a arquitetura ucraniana é facilmente identificada, podendo encontrar ainda várias construções neste estilo, inclusive a igreja da comunidade, em bom estado de conservação, servindo como atrativo turístico para descendentes e apreciadores desta cultura. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O turismo é conhecido e considerado hoje como uma importante atividade geradora de muitos empregos diretos e outros associados, considerado como um fenômeno importante de caráter econômico, social, político, cultural e natural. 15 Considerando a idéia acima, a intenção deste trabalho foi apresentar os potenciais turísticos da Colônia Ucraniana do município de Mato Rico - PR, fazendo uma espécie de inventário patrimonial dessa comunidade, buscando seus atrativos naturais, costumes, culinária, tradições, folclore, e tendências artísticas em geral envolvendo eventos realizados no intuito de divulgar a cultura local e difundir o turismo com seus atrativos. Concluímos afirmando que a Colônia Mato Rico é um local com forte potencial natural e cultural, não lhe faltando motivos para utilizar-se do turismo como gerador de renda e emprego, apresentando-se como uma alternativa para o desenvolvimento sustentável local. 5. REFERÊNCIAS Aquela que fez o Sol dançar para revelar o seu segredo. Disponível em: http://www.pascomsantaluzia.com.br/Oracoes/Arquivos/Nossa%20Senhora%20de%20F%E 1tima.htm. Acessado 25/05/2007. CARNEIRO JR, R. A. coor. Pratos típicos paranaenses. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2004. CORDANI, U. G.; TAIOLI, F. A Terra, a humanidade e o desenvolvimento Sustentável. In: TEIXEIRA, W.; et.al. Decifrando a Terra. São Paulo : Oficina de Texto, p. 517-528, 2000. DENCKER. A. F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em Turismo. 4ª ed. São Paulo. Futura, 2000. EJARQUE, J. Destinos turísticos de êxito: diseño, creación, gestión y marketing. 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