AS FEIRAS E MERCADOS DO NORTE DE MINAS: O USO DAS PLANTAS MEDICINAIS BARBOSA, CARLA CRISTINA* *Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes ClarosUnimontes. Brasil. [email protected] Introdução Este trabalho é um recorte da tese de doutorado que se propõe mostrar o uso das plantas medicinais nas principais feiras e mercados do Norte de Minas Gerais no século XXI. Neste estudo trataremos também, dos registros feitos em Minas Gerais sobre as o uso das plantas com propriedades medicinais. O debate acerca do conhecimento e uso das plantas medicinais para tratamento mostra a tradição de uma cultura que tem forte crença no saber dos curandeiros, que no espaço das feiras e mercados atuam através de orientações, indicações das ervas e raízes de acordo com a enfermidade. No Norte de Minas Gerais, a população sempre utilizou o conhecimento das plantas medicinais. Deste modo, formou-se uma tradição de uso das plantas medicinais prescritas pelos curandeiros, que se mantém até hoje. Essas pessoas têm conhecimento das plantas medicinais, dos usos e da enfermidade. Esses curandeiros preparam, a partir das plantas, compostos, garrafadas, xaropes, pomadas entre outros e diagnosticam, prescrevem as plantas de acordo com as enfermidades. Optamos por usar a nomenclatura, curandeiro, por considerá-la mais abrangente e possibilitar o reconhecimento e às vezes, comparação entre os diversos saberes. Resultados e Discussão A partir do relato dos curandeiros, fizemos levantamento das principais plantas utilizadas pela população. As feiras e mercados constituem, na região, local de encontro, trocas de mercadorias, conhecimento e lazer. É um espaço que possui, no conjunto das funções socioeconômicas e, sobretudo culturais das cidades, um papel preponderante como pontos de sociabilidade, comércio e manutenção das tradições. A partir das feiras e mercados é possível compreender a cultura, os hábitos e tradições, incluindo o saber sobre as plantas medicinais. Entendemos que a diferença entre esses espaços consistem na periodicidade, no funcionamento e principalmente no “tempo que decorre entre a realização de cada um”. Os mercados constituem basicamente, de lugar coberto, possuem barracas e todos os comerciantes são cadastrados. Em contrapartida, as feiras livres acontecem ao ar livre, ao redor ou ao fundo dos mercados. Em algumas cidades, as feiras acontecem na praça principal, onde são expostos os produtos provenientes do meio rural. No dia de feira o homem do campo desloca-se, em cavalos ou em ônibus lotações que percorrem as comunidades rurais, para levar à feira o resultado do trabalho familiar da semana. No Norte de Minas, as feiras são acontecimentos sociais, culturais e econômicos que ocorrem, normalmente, nos finais de semana, nos municípios que não possuem mercado, e todos os dias, onde há mercado; contudo, sábado é o dia de maior movimento. Entre os produtos presentes nos mercados, encontram-se plantas medicinais, a carne-de-sol, farinha, rapadura, queijo, requeijão aguardente, entre outros. Assim, percebemos que a vivência nas feiras possibilita o contato com o homem do campo e a preservação dos costumes e hábitos da região, através da sua produção rural. O espaço da feira e do mercado fortalece as raízes culturais locais e regionais, além de possibilitar o contato, a troca e a manutenção de ‘velhos usos’ da tradição entre diferentes grupos sociais. Outro aspecto a ser considerado é o fato de alguns produtos serem encontrados apenas em mercados e feiras, o que torna possível as pessoas os identificarem por suas mercadorias, seus cheiros, gostos e sons, com base na troca de conhecimentos. Assim, o rural está presente no cotidiano do homem urbano, por meio das feiras e mercados. Isto significa que a feira é uma representação do espaço rural, de onde proveem os recursos naturais e adveem os saberes e usos das plantas medicinais. Conclusões Deste modo, percebemos que o tradicional, representado nas feiras, pelo cotidiano das pessoas, usos do homem do campo e do sertanejo promove a cura das enfermidades das pessoas e, principalmente, preserva a cultura local. Isso torna esses espaços possuidores de riqueza cultural e, portanto, representantes de uma tradição regional. Por serem uma tradição da região, esses locais congregam, também, produtos tradicionais. Assim, os curandeiros estabelecem-se nas feiras e mercados porque esses espaços reúnem o maior número de pessoas e são referência para as pessoas que procuram plantas medicinais. Bibliografia 2 Barbosa, Carla Cristina. A feira, a cidade e o turismo: conceitos, definições e relações com o lazer e a cultura em Montes Claros (MG). Dissertação ( Mestrado) – Universidade Federal de Uberlância, Uberlândia.2003. ______. Saberes Tradicionais dos Curandeiros: as plantas medicinais nas feiras e mercados do Norte de Minas Gerais. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, São Paulo. 2010. Ferraz, Márcia Helena. Mendes. . Relatos de viagem: a trajetória dos textos sobre o Brasil. In: XIV Reunião da RIHECQB: Ambiente, Natureza e Cultura na perspectiva da história e epistemologia da Ciência. São Paulo: Livraria da Física. 2004. ______. Matière Médicale luso-brésilienne au début du XIXe. siècle. In: Gérard Emptoz e P. Aceves Pastrana (Orgs.) 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