DIVERSIDADE BIOLÓGICA DE PLANTAS DE USO MEDICINAL NOS QUINTAIS DO BAIRRO JARDIM PARAÍSO EM CÁCERES – MT. 1 1 1 Waleska Arruda Oliveira ; Mônica Tiho Chisaki Isobe ; Adelina da Silva Pereira ; Herena Naoco 2 1 Chisaki Isobe ; Nilbe Carla Mapeli 1UNEMAT, Dept de Agronomia, Av São João s.n. 78200-000, Cáceres-MT.2UNEMAT, Dept. de Biologia, Av São João s.n. 78200-000, Cáceres-MT; [email protected] RESUMO Grande parte da população nos países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil, utiliza as plantas medicinais para tratamento de diversas doenças. Com a busca por uma vida mais saudável e equilibrada, tem crescido a procura por tais espécies também pelas pessoas de maior poder aquisitivo. Atualmente, tem aumentado o interesse pelo cultivo de plantas medicinais, podendo ser uma fonte de renda para famílias. O estudo visou o levantamento das espécies de plantas medicinais com provável potencial agrícola, o conhecimento popular quanto às partes utilizadas, uso e o modo de preparo de cada espécie nos quintais do bairro Jardim Paraíso em Cáceres-MT, pertencente à Bacia do Alto Paraguai, micro-bacia do Rio Jaurú, no Pantanal de Cáceres, Estado de Mato Grosso. Tal estudo tem como meta a partir deste levantamento montar um herbário com plantas medicinais coletadas na região, promover trocas de experiências entre a comunidade e alunos da UNEMAT, sobre o cultivo e uso de plantas medicinais, apresentar aos participantes, através de experiências práticas, técnicas de manejo ecológico e controle de pragas que atacam as plantas medicinais, montar um “horto de plantas medicinais” no Asilo da cidade, visando a aplicação de práticas de cultivo pelos acadêmicos do Curso de Agronomia, o qual permitirá a manutenção das espécies e visitação da comunidade, terapia ocupacional para os idosos do asilo, bem como servirá de material para aulas práticas, dos cursos de Agronomia e Enfermagem. Trata-se de um estudo descritivo, não-probabilístico e utilizou a técnica da bola-de-neve. Os informantes foram na maioria mulheres, casadas ou viúvas, católicas, idade em média de 60 anos e moradoras a mais de 20 anos no local e entre elas, a maioria é natural da cidade. Levantou-se 97 espécies presentes nos quintais, as quais encontram-se (64,5%) plantas cultivadas, (15,5%) de invasoras e (17,0%) nativas. Entre as plantas utilizadas para fins medicinais não encontradas nos quintais, foram informadas 50 espécies de plantas, das quais (41,1%) são cultivadas, (15,4%) invasoras e (38,5%) nativas. O estudo indica a necessidade de haver um resgate do conhecimento popular nas realizações das pesquisas para a produção agrícola de plantas cultivadas pela população com uso potencial medicinal e a racionalização no uso de plantas nativas do Pantanal de Cáceres-MT. PALAVRAS-CHAVES: Cerrados, plantas medicinais, quintais, etnobotânica. INTRODUÇÃO Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que aproximadamente 80% da população dos países em desenvolvimento utilizam, para atendimento primário da saúde, especialmente a medicina tradicional, da qual a maior parte envolve o uso de extratos vegetais ou seus princípios ativos (Farnsworth et al., 1985). Essa situação é semelhante no Brasil, constatada pelos trabalhos que vêm sendo realizados em diversas regiões, porém, ainda em número insuficiente. Atualmente, tem aumentado o interesse pelo cultivo de espécies medicinais e aromáticas devido ao seu aspecto econômico, principalmente na melhoria da renda familiar. Com a disseminação do uso e cultivo de plantas medicinais, espera-se que desde a população mais carente a mais abastada, reduza o uso de produtos alopáticos e passe a utilizar dos benefícios que esta rica farmácia natural pode promover na saúde e bem estar humano. Comunidades tradicionais sejam indígenas, rurais ou urbanas, trazem no seu estórico de vida grande diversidade cultural representando o etnoconhecimento sobre o manejo das espécies nativas como medicinais, alimentícias, tintoriais, madeireiras, têxteis, ornamentais, mágicas, entre outras (Almeida et al., 1998). E, em termos de espécies individualmente tratadas, o uso de plantas na medicina representa de longe o maior percentual de uso do mundo natural (Schippmann et al., 2002). Assim, 70-80% das pessoas usam plantas medicinais para resolver problemas de saúde (Pei, 2001). A propagação de espécies cultivadas e invasoras através de práticas agrícolas, nas agriculturas urbanas, deve merecer estudos mais aprofundados, pois a utilização dessas plantas para fins medicinais é fato presente na população brasileira menos favorecida e seu uso é verificado através de inúmeros estudos de comunidades e populações tanto tradicionais como não tradicionais. O estudo referente às plantas de uso medicinal nos quintais e de outros utilizados, porém não encontrados nos quintais, procurou responder quais plantas encontramse disponíveis no ambiente e são reconhecidas como recursos vegetais potencialmente agrícolas para fins medicinais, tendo ainda como meta, montar um herbário com plantas medicinais coletadas na região, promover trocas de experiências entre a comunidade e alunos da UNEMAT sobre o cultivo e uso de plantas medicinais, apresentar aos participantes, através de experiências práticas, técnicas de manejo ecológico e controle de pragas que atacam as plantas medicinais, montar um “horto de plantas medicinais” no Asilo da cidade, visando à aplicação de práticas de cultivo pelos acadêmicos do Curso de Agronomia, o qual permitirá a manutenção das espécies e visitação da comunidade, terapia ocupacional para os idosos do asilo, bem como servirá de material para aulas práticas, dos cursos de Agronomia e Enfermagem, além disso, constatou-se a riqueza de conhecimento que os moradores possuem através das formas de uso e eficiência das plantas na saúde no bairro Jardim Paraíso na cidade de Cáceres-MT. MATERIAL E MÉTODOS O levantamento de plantas foi realizado no Bairro Jardim Paraíso, na cidade de Cáceres-MT (16º06’39” S e 58º00’08” W), pertencente à Bacia do Alto Paraguai, micro-bacia do Rio Jauru, no Pantanal de Cáceres, Estado de Mato Grosso. Trata-se de um estudo descritivo, cuja amostra não-probabilística foi intencional, utilizando a técnica de "bola de neve" (Patton, 1990), que consiste em identificar alguns moradores elegíveis: possuam plantas medicinais, moram a longo tempo no bairro e são conhecidos pelo uso e conhecimento sobre plantas medicinais. Foram entrevistadas 25 pessoas, quantidade obtida a partir do momento que a técnica bola de neve resultou em nenhuma forte contribuição às informações. A coleta de dados ocorreu em outubro de 2007 a março de 2008, no ambiente natural por considerá-lo a melhor situação para o estudo, a partir de um questionário semi-estruturado, cujas perguntas eram de caráter sócio-demográfico e sobre o conhecimento das partes utilizadas para fins medicinais das plantas presentes nos quintais e de outras plantas não presentes nos mesmos, e as formas de obtenção e uso dessas. As plantas foram classificadas em cultivadas, nativas e invasoras. RESULTADOS E DISCUSSÕES A maioria dos entrevistados foi do sexo feminino (88%), católicas (72%), casadas (72%) ou viúvas (16%), aposentadas ou donas de casa, com média de idade de 60 anos, de baixa escolaridade (analfabetas ou com ensino fundamental incompleto), residentes no bairro a mais de 20 anos e aproximadamente 60% nasceram em Cáceres. A categoria cultivada utilizada nesse estudo tem a conceituação utilizada por Jorge (2004) que a caracteriza pelos cuidados que são dispensados na propagação de determinada espécie e não envolve seleção intencional de características desejáveis para a adaptação às condições de condução, visando sobrevivência e reprodução diferentemente da domesticação. Os moradores entrevistados apontaram 54 famílias de plantas distribuídas em 147 espécies de uso medicinal, presentes ou não em seus quintais. Foram citadas cerca de 97 plantas presentes nos quintais as quais foram divididas em cultivadas (64,5%), invasoras (15,5%) e nativas (17,0%). O hábito de cultivar as plantas em seus quintais e jardins para fins alimentícios ou medicinais é freqüente nas populações. As trocas de mudas de plantas entre vizinhos e amigos é a forma mais freqüente de propagação das plantas medicinais, pois os resultados mostram que espécies não encontradas nos quintais de um entrevistado são encontradas em quintais de outros entrevistados. As plantas nativas presentes nos quintais são, invariavelmente, propagadas devido à proximidade do bairro com a vegetação natural do Pantanal. As plantas invasoras, daninhas ou espontâneas são utilizadas como remédios e podem ser encontrados em qualquer local como nos quintais e terrenos baldios. Entre essas, 21 são citadas pelos moradores e as mais freqüentes são a erva-deSanta Maria, mentrasto, conta-de-lágrimas e macaé. Consideraram-se como plantas invasoras do Pantanal, algumas espécies, tais como o Paratudo, o Cambará e a Espinheira Santa, pois são espécies típicas de cerrado. Entretanto, deve-se considerar que a flora do pantanal é geralmente distribuída em mosaico e muito variada, principalmente em função da inundação e do solo. Entre as plantas utilizadas para fins medicinais, cerca de 50 espécies não são encontradas nos quintais, sugerindo serem de conhecimento adquiridos, onde (41,1%) são cultivadas, (38,5%) nativas e (15,4%) invasoras. Quanto às partes utilizadas das plantas medicinais no preparo dos remédios, foram mais citadas as folhas (74%), ramos (9,5%), raízes (8,16%), flores (6,12%), frutos (6,12%) e casca (6,12%). Além disso, os resultados obtidos pela forma de preparo, a maioria é por infusão, macerado e chá, juntamente a outros produtos como leite, açúcar queimado, álcool, e quanto ao uso das plantas medicinais, este apresentou muitas eficiências para gripe, tosse, estômago, cólicas, inflamações, entre outras enfermidades. Constatou-se que muitas espécies de plantas citadas possuem uso e preparo de modos diferentes. As origens do conhecimento das plantas pelos entrevistados, na sua maioria, apontaram que adquiriram através dos ensinamentos dos antepassados da família (53%), vizinhos (13,30%), livros (13,30%), professor (7%), pastoral das crianças (6,60%), pessoas mais velhas (6,60%). As plantas são obtidas no próprio quintal (100%), quintal dos vizinhos (35,29%), parentes (23,53%), no mato (11,76%), feiras (5,88%), outras regiões (5,88%), compra sementes (5,88%), pessoas conhecidas (5,88%), zona rural (5,88%). Através dos questionários podem-se obter opiniões sobre os motivos que levam de se fazer uso das plantas medicinais, resultando em porque não faz mal a saúde (43,75%), é mais barato (18,75%), melhor que de farmácia (18,75%), efeito mais rápido (12,5%), porque é bom (6,65%). CONCLUSÕES O hábito de cultivar as plantas em seus quintais e jardins para fins alimentícios ou medicinais é freqüente nas populações, mas apenas para uso próprio e não para produção em larga escala. Assim, a realização desse trabalho buscou dar enfoque nas diversas espécies de plantas medicinais que podem se tornar um potencial agrícola, além disso, faz-se necessário de uma alternativa, como produção de mudas e sementes, para racionalizar a exploração de espécies nativas que podem ser extintas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado, espécies vegetais úteis. Planaltina, DF: EMBRAPA/CPAC, 464p. 1998. FARNSWORTH, N. R. et al. Medicinal plants in therapy. Bull: World Health Organiz. v.63, p.965-981, 1985. JORGE, M.H.A. A domesticação de plantas nativas do Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal. 2004. MORAIS, R.G. et al. Pesquisas regionais com informações sobre plantas medicinais: a diversidade biológica e sócio-cultural de Mato Grosso em foco. In: COELHO, M.D.F. et al. Diversos olhares em etnobiologia, etnoecologia e plantas medicinais. Cuiabá: Unicen. 2003. PATTON, M.Q. Qualitative evaluation and research methods. London: Sage Publications. 1990 PEI, S. Ethnobotanical approaches of traditional medicine studies: some experiences from Asia. Pharmaceutical Botany, n.39, p.74-9, 2001. POTT, A.; POTT, V.J. Plantas do Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal. 1994. POTT, V.J.; POTT, A. Plantas aquáticas do Pantanal. v.1. Brasília: Embrapa. 2000 SCHIPPMANN, U. et el. Impact of cultivation and gathering of medicinal plants on biodiversity: global trends and issues. In: Inter-Department Working Group on Biology Diversity for Food and Agriculture. FAO. 155p. 2002.