Redução da umidade da cama de frangos de corte e das excretas de codornas japonesas com utilização de caulim O impacto negativo causado pela umidade, proveniente das excretas, no ambiente das criações de aves de corte e de postura pode ser reduzido com a incorporação de substâncias adsorventes nas rações, a exemplo de argilas como o caulim. Por Daniele Santos de Souza, Doutoranda em Zootecnia na Universidade Estadual de São Paulo; Marina Jorge de Lemos, Doutoranda em Zootecnia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Túlio Leite Reis, Mestre em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Osvanira dos Santos Alves, Mestre em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Lígia Fátima Lima Calixto, Profª. Drª. do Instituto de Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Prof. Dr. Édison José Fassani, Prof. Dr da Universidade Federal de Lavras O impacto negativo que o excesso de umidade pode provocar no ambiente das criações de aves de corte e de postura pode comprometer seriamente o desempenho, a viabilidade e a qualidade dos produtos finais. De acordo com FERREIRA et al. (2005) o excesso de umidade pode ser controlado por meio da aplicação de substâncias adsorventes de água na ração, tais como as argilas, que formam um complexo com a água, impedindo que esta permaneça livre nas fezes excretadas. Assim, em virtude de sua alta capacidade de reter água, as argilas podem exercer função antidiarreica, reduzindo dessa forma a umidade ambiental. A capacidade adsorvente dessas substâncias, segundo FERREIRA et al. (2005) ocorre porque sua molécula aberta, que possui o Na+ como cátion predominante, apresenta a propriedade de se expandir na presença de água, aumentando várias vezes o seu volume inicial, pois o Na+ permite que várias moléculas de água sejam adsorvidas a ele e levando à formação de um colóide. FASSANI & BRITO (2004) relataram que essa função específica das argilas de reter água é bem vista na avicultura de postura, pois a melhoria da consistência das excretas, com consequente redução de sua umidade, pode auxiliar no controle da proliferação de larvas de moscas que se desenvolvem nos dejetos, reduzindo inclusive a volatilização de amônia para o ambiente que pode acarretar uma série de problemas sanitários, acometendo negativamente o desempenho das poedeiras. FERREIRA et al. (2005) acentuaram que esse problema torna-se ainda mais grave principalmente no verão que é o período em que a ave ingere maior 1 quantidade de água, conseqüentemente, suas fezes se encontram muito liquefeitas, tornando o ambiente mais propício ao acúmulo de moscas e outros microorganismos, prejudicando a qualidade dos ovos. FASSANI & BRITO (2004) ressaltaram a importância dessas propriedades supracitadas das argilas também em relação à Coturnicultura, que se encontra em ampla expansão no Brasil, em virtude do fato dessas aves produzem excretas com maior teor de nitrogênio em relação a galinhas, estando dessa forma o ambiente mais propício à contaminação. Segundo CASTAING (1998) as argilas são classificadas em função da disposição dos átomos de silício (silicatos) em sua estrutura. FERREIRA et al. (2005) pesquisando sobre argilas observaram que entre as mais utilizadas, se encontram: as Zeolitas naturais e sintéticas (HOUSSAIN et al. 1994), a Bentonita e Esmectita (SPINOSA et al., 2002) e mais recentemente a Sepiolita (OUHIDA et al. 2000). Na mineralogia sistemática, o caulim é uma argila fina, geralmente de cor branca, formada pelo intemperismo de minerais aluminosos (OWEN et al., 2012), pertence ao grupo dos filossilicatos (esmectita, caulim, bentonitas, talco, sepiolita e atapulgita) (CASTAING, 1998). E segundo DA LUZ & DAMASCENO (1993) é composto de silicatos hidratados de alumínio, areia, quartzo, palhetas de mica, grãos de feldspato, óxidos de ferro e titânio, entre outros, sendo formado essencialmente pela caulinita (Figura 1). A argila caulinítica, geralmente difere das demais por apresentar duas camadas (uma octaédrica de alumínio e outra tetraédrica de silício) enquanto que as demais apresentam três camadas sendo duas tetraédricas de silício, uma de alumínio (esmectita), ou de magnésio (talco e sepiolita) ou de magnésio e alumínio juntos e, devido a essa constituição e arranjo as argilas geralmente são chamadas tecnicamente de alumíniosilicatos (FASSANI & BRITO, 2004). O caulim também possui características especiais tais como a plasticidade e resistência mecânica a seco que permitem sua utilização na fabricação de papel, cerâmica, tintas, etc. (DA LUZ & DAMASCENO, 1993). A literatura vem descrevendo sua utilização na fabricação de artigos de porcelana, indústria de papel e na indústria da borracha. Recentemente o caulim passou a ser utilizado também na industrialização de plásticos, pesticidas, produtos farmacêuticos, fertilizantes, produtos alimentícios e rações (HARBEM, 1995; DA LUZ et al., 2003). 2 . Figura 1 - Corte de Caulinita Pelo fato de ser uma argila caracterizada por ser quimicamente inerte, o caulim não contribui nutricionalmente na dieta podendo dessa forma ser utilizado para preencher espaços em formulações de rações para aves de corte e postura (SAFAEIKATOULI et al., 2011). Nos últimos anos, o caulim vem ganhando destaque nas pesquisas científicas da área avícola em virtude da capacidade dessa argila em promover melhoraria no desempenho das aves quando utilizada na formulação das rações em concentrações mais altas que sua utilização na forma inerte (FERREIRA et al., 2005). A capacidade adsorvente do caulim possibilita redução das toxinas que causam injúrias ao epitélio intestinal, adsorvendo e promovendo excreção de agentes patogênicos protegendo dessa forma a mucosa intestinal, melhorando a digestão e absorção dos nutrientes e consequentemente melhorando o desempenho das aves (OWEN et al., 2012). Outras funções têm sido relatadas, tais como melhorias na digestibilidade dos nutrientes pela redução na taxa de trânsito da digesta em galinhas poedeiras e frangos de corte e também a prevenção de ocorrência de diarréias em virtude da capacidade das argilas em absorver e reter a umidade (CASTAING, 1989; EVANS & FERRELL, 1993; OLVER, 1997), função essa que se configura de extrema importância quando se trata de redução da umidade no ambiente de criação de aves de corte e de postura. Neste contexto, dois experimentos foram desenvolvidos na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com caulim, fornecido pela empresa Cao do Brasil, objetivando avaliar a influência dessa argila nos teores de umidade da cama de frangos de corte criados no piso sobre cama de maravalha e das excretas de codornas japonesas na fase de postura criadas em baterias de gaiolas piramidais. As tabelas a seguir (Tabela 1 e 2) apresentam os resultados encontrados nestes experimentos. 3 Tabela 1 – Influência da incorporação de diferentes níveis de caulim na ração sobre os teores de umidade da cama de frangos de corte Tratamento Umidade da Cama (%) Controle - 0,0 % caulim 33,9836a 0,75% caulim 28,2948b 1,5% caulim 24,7895c CV % 5,68 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey (P>0,05). Fonte: VALLADARES et al. (2014) A inclusão de caulim na ração reduziu (P<0,05) a umidade da cama de frangos de corte. Os dois níveis de caulim testados neste trabalho (0,75% e 1,5%) reduziram o percentual de umidade da cama, em comparação com o controle (tratamento com 0,0% de caulim) e os menores percentuais de umidade foram observados nas amostras de cama dos frangos que foram arraçoados com o maior teor de caulim (1,5%) em comparação com o tratamento controle (sem caulim). Tabela 2 - Influência da incorporação de diferentes níveis de caulim na ração sobre os teores de umidade nas excretas das codornas japonesas na fase de produção Tratamento Umidade nas fezes (%) Controle - 0,0% caulim 79,39a 1,5% caulim 78,72b 3,0% caulim 78,42b 4,5% caulim 77,31c CV % 8,98 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey (P>0,05). Fonte: SOUZA et al. (2015) - dados não publicados 4 A inclusão de caulim na ração de codornas japonesas reduziu (P<0,05) a umidade das excretas (Tabela 2) em comparação com o controle (tratamento com 0% de caulim). A inclusão do maior nível de caulim (4,5%) na ração das codornas japonesas resultou no menor percentual de umidade observado nas amostras de excretas das codornas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de caulim em níveis maiores que os preconizados para que atue como inerte reduziu a umidade da cama de frangos (1,5% caulim) e das excretas de codornas japonesas (4,5% caulim), podendo ser utilizado dentro destes níveis para controlar o impacto negativo que o excesso de umidade provoca no ambiente avícola. Ressaltando-se que investigações devem continuar a ser conduzidas no sentido de esclarecer qual o melhor nível de utilização do caulim, visando redução da umidade das excretas sem prejuízo para o desempenho das aves, considerando também o impacto econômico da sua suplementação em maiores níveis na formulação das rações avícolas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTAING, J. Effet de l„inclusion de 2% de Sepiolite “EXAL” clans les aliments á deux niveaux enérgetiques présentés en granulés pour porcelets et porcs charcuters. Journés de la Recherche Porcine em France, v.21, p.51-58, 1989. CASTAING, J. Uso de arcillas en alimentación animal. 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