DINÂMICA SÓCIO-ESPACIAL DE SÃO JOSÉ/SC (BRASIL):
Da convergência de elementos de diferentes formações sócioespaciais às novas lógicas de crescimento nos séculos XX e XXI
Daniel Simas1 - UFSC/Brasil - [email protected]
Nazareno José de Campos2 - UFSC/Brasil - [email protected]
Resumo
Objetivamos com este evidenciar como elementos de diferentes formações sócioespaciais catarinenses foram fundamentais nos processos de gênese e dinâmica do
município de São José. Inserido no contexto da formação sócio-espacial do litoral
catarinense, teve sua história intimamente ligada à Florianópolis, a capital do estado de
Santa Catarina. A presença do imigrante açoriano, após meados do século XVIII,
fomentou importante economia, gerando importantes momentos de crescimento
econômico, com seu ápice em meados do século XIX. Sobretudo em função da
condição sócio-espacial do município e das vantagens presentes no papel de
entreposto comercial entre a capital da então província de Santa Catharina e o
continente próximo. Aliado a isto, passa a se configurar a presença de elementos
característicos de outras formações sócio-espaciais, como em relação ao planalto
catarinense, através dos constantes fluxos decorrentes do tropeirismo e, mais tarde, já
no século XX, da economia madeireira, ou, em relação aos vales litorâneos (em
especial dos rios Maruim e Cubatão), cuja presença de imigrantes de origem germânica
incrementa importante economia, que se relacionará diretamente à orla marítima
josefense através da presença de trapiches e de um decorrente comércio de
cabotagem com o principal mercado a época, Desterro (hoje Florianópolis). Por outro
lado, apesar do processo de decadência da economia litorânea de base açoriana, São
José adquiriu destaque sócio-econômico na região, pois, consistia geograficamente
como lugar de parada obrigatória para quem tinha como destino a capital. Mas com o
tempo tais condições se transformariam, cuja decadência do tropeirismo, cabotagem e
mesmo economia madeireira, imprime um processo de estagnação econômica. Assim,
no contexto do crescimento urbano e industrial do século XX, fomentado pelo Estado e
sua política “modernizante”, São José chega a ocupar a função de cidade-dormitório em
relação a Florianópolis, contrastando um passado econômico mais expressivo. Mas o
município volta a ter dinâmica econômica mais significativa a partir do final do século
XX e início do XXI, com algumas centralidades caracterizadas na região da Grande
Florianópolis, em consonância à lógicas urbanas atuais e aos movimentos do capital.
Palavras-chave:
Formação sócio-espacial; São José; dinâmica econômica.
1. INTRODUÇÃO.
O estudo exprime a importância de considerarmos movimentos amplos no
entendimento da gênese e dinâmica dos lugares, que não se restringem às
características originais de uma única formação específica. Por conseguinte, processos
mais amplos, a nível nacional e internacional, influenciam diretamente sobre as
dinâmicas do passado e presente, de cada região ou lugar. Assim, não será diferente
ao se retratar a formação e dinâmica sócio-espacial do município de São José, no
estado de Santa Catarina, sul do Brasil, nossa área objeto de estudo. Para tanto,
tomaremos como referencial a categoria de formação sócio-espacial, delineada por
Milton Santos em sua obra, objetivando entender as transformações ocorridas ao longo
do tempo e espaço nesta determinada realidade.
Saliente-se que a combinação de algumas das lógicas específicas de cada
formação sócio-espacial contribui para o crescimento econômico, que, contudo, pode
ser temporário, visto que as combinações não se eternizam. Isto pode ser observado
em relação a
Santa Catarina, em que inúmeros municípios vivenciaram seu auge
econômico, decorrente de combinações específicas, mas que complexas dinâmicas de
novas lógicas do capital acabaram por levá-los à vias de estagnação3. Com São José
não foi diferente, pois as configurações que lhe atribuía destaque a nível estadual, de
meados do século XIX ao início do século XX, seriam profundamente modificadas,
trazendo novas configurações (CAMPOS, 2013; SIMAS, 2010).
Observar e analisar este movimento histórico e suas implicações sobre o que foi
e é hoje São José, passa a orientar este trabalho, desenvolvido com base em
bibliografias correlatas a este objeto de estudo, conhecimento de campo e resultados
preliminares de outras pesquisas em andamento.
2. SÃO JOSÉ NO CONTEXTO SÓCIO-ESPACIAL DO LITORAL CATARINENSE.
A gênese e dinâmica sócio-espacial do litoral catarinense está relacionada ao
processo de ocupação do sul brasileiro pelos interesses de Portugal, cujas pretensões
de colonização estavam intimamente relacionadas ao iminente risco do domínio
espanhol sobre a região, aliada à necessária reação diante da conjuntura econômica
depressiva que passava a economia da metrópole, caracterizando um maior
planejamento estatal estratégico da Coroa portuguesa (SILVA, 1992) 4. Isto indica um
amplo projeto que visava o acesso à bacia do Prata, o fortalecimento econômico por
meio da caça à baleia e a defesa e interiorização do território sul brasileiro (CAMPOS,
1991) 5.
O açoriano, por sua vez, se estabelece no litoral catarinense em conformidade
com as definições e interesses portugueses, que definia a ele um papel de “colonosoldado”, conforme observado no próprio Edito Real de sua vinda6, o que não impediu a
inicial produção de subsistência se transformasse gradativamente numa pequena
produção mercantil, cujo excedente alcançaria o mercado regional, nacional e mesmo
platino, a partir de produtos decorrentes da transformação manufatureira, como, por
exemplo, a farinha de mandioca (CAMPOS, 1991; SIMAS, 2010) 7 .
Neste contexto, é criada no ano de 1750 a freguesia São José da Terra Firme,
subordinada a Vila de Nossa Senhora do Desterro 8.
São José da Terra Firme não consistia em iniciativa isolada, pelo contrário,
estava conjugada à lógica já exposta, efetivada a partir da criação de vários núcleos de
povoamento, como demonstra a imagem a seguir:
FIGURA 1: Esboço de Ilustração dos núcleos primários de colonização açoriana em Santa
Catarina no século XVIII (1748 – 1756).
FONTE: FARIAS, 2001, p.87
A partir da efetiva colonização de boa parte do litoral catarinense, a pequena
produção mercantil passava a se configurar como um dos principais mecanismos de
crescimento econômico regional, orientando processos que consistiriam como embriões
das vindouras relações capitalistas.
2.1. São José da Terra Firme e a Pequena Produção Mercantil.
O fato de se estabelecer ao longo do litoral catarinense uma pequena produção
mercantil, conjugada a outros fatores externos aqui já delineados, favoreceu à emersão
da economia litorânea catarinense (BASTOS, 2000), e com ela, das localidades mais
inseridas à sua lógica, como foi o caso de São José da Terra Firme, que teve na
questão geográfica um elemento de seu sucesso. Constituía-se na freguesia de maior
proximidade com a capital, configurando-se assim como lugar de parada e passagem
obrigatória para quem a tinha como destino. Isto gerou uma importante classe de
comerciantes que se beneficiou da concentração/convergência dos fluxos de
produtores/comerciantes advindos de toda região, planalto serrano, e vales litorâneos
próximos, além do rentável transporte de cabotagem com a Ilha de Santa Catarina
(CAMPOS, 2013).
Rapidamente São José formaria, inserido no contexto da pequena
produção mercantil, um arranjo econômico composto por múltiplas atividades
produtivas e fabris, produzindo desde gêneros alimentícios básicos, a produtos
manufaturados de estimado valor no mercado nacional. Diversos eram os engenhos,
alambiques, teares, caieiras e olarias pelo território da então freguesia (SIMAS, 2010).
As condições para um processo de diferenciação social estavam postas, cuja dinâmica
não contemplou a todos os colonos, em função de diferentes motivos, alguns dos quais,
ajudaram à própria decadência regional. Entre estes, as famigeradas requisições (de
produtos e de homens para as milícias) que lesavam ao produtor. Assim, muitas vezes,
além de diminuir sua produção como estratégia de escape das requisições da Coroa,
“muita gente, com a intenção de subtrair do serviço obrigatório da milícia alguns
membros da família, nunca declaravam o número exacto de que esta se compunha”
(SAINT-HILAIRE, 1936, p. 59) 9. Além disto, o produtor sofreu forte domínio do capital
comercial externo importador, exercido sobre o comerciante local, que por sua vez, o
exercia sobre o produtor10. Tal configuração comercial atingia vorazmente o processo
de acumulação do pequeno produtor, já que os momentos de acumulação (alta
comercial) eram irregulares, pois dependiam de fatores externos. Esta irregularidade é
constatada na promoção de uma “concorrência oligopolista entre Santa Catarina e as
demais Províncias produtoras” (CAMPOS, 1991, p.34-35), promovida pelos centros
compradores.
Ademais, formas tradicionais do uso do solo, caso da coivara11, também tiveram
sua parcela de explicação na decadência regional, haja vista a incompatibilidade de
práticas policultoras seminômades indígenas serem diretamente acopladas a uma
pequena produção sedentária. Soma-se a este fator o sistema de herança baseado
numa estrutura fundiária na forma de “espinha de peixe”
12
. Aqueles que, de certo
modo, superavam estas dificuldades se diferenciavam socialmente, adquirindo
melhores condições econômicas e maiores acumulações.
O fato de haver certa complementação econômica em São José com elementos
específicos da formação sócio-espacial do Planalto, consiste num fator de equilíbrio,
preservando a economia em função de não haver exclusiva dependência da pequena
produção de base sócio-cultural açoriana.
2.2. São José e a Complementação das Economias Litoral-Planalto.
Um fator marcante no progresso econômico de São José em seu contexto
regional, entre final do século XVIII e durante o XIX, se dá em função da
complementação entre as economias do litoral e planalto. Concomitante à formação da
economia litorânea, Santa Catarina passava, durante o século XVIII, por outro
importante processo de colonização no planalto serrano (SIMAS, 2010).
Esta
formação específica estava intimamente relacionada aos interesses da Coroa no efetivo
domínio dos caminhos de tropas, que interligavam, via interior da porção continental, a
economia do gado desenvolvida no planalto sul brasileiro, constituído por campos de
altitude que se assemelhavam, de certo modo, aos pampas gaúchos13, com outra
economia de grande importância para a Colônia e Metrópole: a mineração de ouro no
sudeste. Neste contexto é criada, em 1771, a vila Nossa Senhora dos Prazeres de
Lages, consolidando os interesses da Coroa, e posteriormente do Império Brasileiro, no
domínio das terras ameaçadas pelo litígio com a Espanha.
Estavam postas as possibilidades de uma interação mercantil entre Lages e
Desterro que favorecia fundamentalmente a São José, sobretudo em função do
tropeirismo e da classe comercial incrementada em razão da ocorrência do mesmo14.
Desta forma, a produção e comércio josefense não apenas abastecia o mercado de
Desterro, mas também o do planalto. Isto consistia em grande oportunidade para os
produtores locais já socialmente diferenciados, a despontarem ainda mais no processo
de acumulação, especialmente pelas possibilidades comerciais adquiridas pela
complementação entre as economias do litoral e planalto (SIMAS, 2010). Este arranjo
sócio-econômico adquire novas configurações a partir da inserção de um terceiro
elemento sócio-cultural, no século XIX: a população de origem germânica, que ocuparia
os vales litorâneos. Desta forma, ampliam-se as possibilidades de crescimento e
importância econômica do município de São José15.
2.3. Contribuição Germânica na Dinâmica Sócio-Espacial Josefense do Século
XIX.
A formação que se deu nos vales litorâneos de Santa Catarina segue
características similares as do litoral e planalto no que se refere à consolidação de
interesses do poder público. Desta vez, em decorrência da independência do Brasil em
1822, seria o Império Brasileiro o grande mentor de mais uma proposta colonizadora
para Santa Catarina. Novamente o objetivo era o de fortalecer as rentáveis relações
comerciais, sobretudo para os governos, bem como consolidar a ocupação dos
espaços “vazios” percorridos pelos tropeiros entre planalto e litoral. Visava o poder
público provincial o combate aos xoklengs, que constantemente ameaçavam a
economia tropeira. Assim, seguindo propósitos semelhantes ao ocorrido com o
açoriano, os germânicos chegam a Santa Catarina em 1829, dando origem à colônia
São Pedro de Alcântara, primeira da província16, numa perspectiva de “colono-soldado”,
como forma de garantir o comércio litoral-planalto contra as investidas dos indígenas,
além deles mesmos se inserirem em tal comércio17. O povoamento dos vales assim a
dois propósitos, contribuindo para o crescimento econômico de São José, que em 1833
é alçada à categoria de vila, demonstrando sua força política e econômica.
Apesar do crescimento econômico de São José, a vinda dos alemães marcou
também a queda da pequena produção de base sócio-cultural açoriana. Vindos um
século depois dos açorianos, provinham de um contexto que passara por importante
processo de urbanização, decorrente da industrialização e aprofundamento do
capitalismo. Traziam consigo certa experiência empreendedora, além de domínio sobre
técnicas de produção, cultivo e criação. Rapidamente São Pedro de Alcântara, cuja
morfologia era um empecilho ao desenvolvimento, será deixada por muitos alemães
que buscaram no vale do Biguaçú, do Cubatão, do Maruim, melhores condições para o
plantio. A partir deste último chegam à localidade de Praia Comprida, no litoral
josefense, a procura de melhores condições comerciais18.
Machado e Gerlach (2007, p.27) apresentam outras atividades econômicas, além
das essencialmente rurais, contribuindo para um importante comércio de cabotagem
que se configura em São José, ainda entendido como lugar de parada:
“Os colonos conduzem os seus gêneros em cargueiros até os arrebaldes da Vila
de São José, denominado Praia Comprida. Aqui existe um não pequeno
número de alemães que, mais inclinados ao comércio, deixaram a Colônia e
vieram estabelecer-se com negócio. Este é sem dúvida um dos lugares da
Vila que encerra maior comércio e muito tem concorrido para o incremento da
mesma. Conta já um grande número de armazéns, oficinas, e a maior parte
de seus moradores possuem lanchas, botes ou canoas que diariamente
navegam para o porto da Capital, levando os gêneros dos colonos que
descem de São Pedro de Alcântara” (GERLACH; MACHADO, 2007, p.27, grifo
nosso)
Isto demonstra que a condição comercial josefense a levara a um importante
crescimento econômico, inicialmente decorrente da pequena produção açoriana, mas
sendo fundamental a complementação entre as economias do litoral e planalto (via
tropeirismo e cabotagem), bem como a incrementação da presença germânica na
garantia e fortalecimento desta.
Desta forma, São José passaria a contar com uma série de equipamentos
urbanos que evidenciavam seu destaque, durante o século XIX, não apenas
econômico, mas também cultural. Dentre estas melhorias estão: a existência de vários
trapiches pela costa josefense, desde a Ponta de Baixo, passando pela Sede, Praia
Comprida, Coqueiros, Estreito, até a Serraria, já na baía norte; a criação da Banca do
Pescado em 1839; a construção da Carioca, em 1840, destinada para o consumo de
água potável e para as lavadeiras; a inauguração de um Matadouro, em 1842, existente
no Estreito (antigo distrito de João Pessoa que pertenceu a São José até 1944)
destinado ao abate do gado que vinha por meio das tropas; além da construção de um
Teatro, em 1854 (MACHADO e GERLACH, 2007, p.27)
Todavia, apesar de seu forte destaque comercial, não revertia sua riqueza num
movimento de industrialização conseqüente19, levando, já em fins do século XIX, a um
gradual processo de estagnação econômica.
3. NOVAS LÓGICAS NO SÉCULO XX E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE SÃO
JOSÉ.
O século XX foi marcado por profundas transformações, que repercutiram nos
mais diferentes lugares. No caso de São José, favoreceram alguns grupos, que
souberam se beneficiar dos privilégios econômicos e/ou políticos que tinham, para os
avanços necessários no sucesso de seus negócios. Mas para o município de forma
geral, as novas lógicas não geraram processos capazes de manter ou aprofundar o
sucesso obtido durante o século XIX.
Mas as transformações não se deram instantaneamente. Das principais
atividades promovidas nas pequenas centralidades do litoral josefense – Praia
Comprida, Centro e Ponta de Baixo - apenas a atividade oleira, típica da localidade
Ponta de Baixo, demonstrara sinais de decadência econômica já nas primeiras décadas
do século XX, enquanto que o comércio do bairro Praia Comprida combinava de forma
mais precisa suas configurações com as novas lógicas de transformação espacial.
Como citamos em nossa obra:
“A Praia Comprida, sem dúvida, suplantaria a Sede no que se refere ao
comércio. Um dos fatores que explicam este fato está na própria formação
destas localidades. Enquanto a Sede, com certo destaque cultural, possuía
poucas iniciativas “industriais”, na Praia Comprida algumas famílias não apenas
viviam da baldeação, mas tinham uma diversificada atividade econômica
pautada, por exemplo, na exploração cerâmica (fabrica de tijolos),
beneficiamento de alguns produtos como a torrefação de café, indústria
madeireira, e até mesmo na construção de embarcações. Esta condição
apenas ressalta um dos motivos da melhor aptidão às práticas comerciais de
uma localidade (Praia Comprida) em relação à outra (Centro Histórico)” (SIMAS,
2010, p.71).
Todavia, a crescente concorrência do Vale do Itajaí com a capital refletiria sobre
a região conseqüências negativas. Além disto, no ano de 1944, São José perde para a
capital o distrito de João Pessoa (atual Estreito), importante fonte de arrecadações, em
função do abate do gado. A baldeação e o tropeirismo, importantes fontes de
arrecadação para o município, estariam ameaçadas no século XX pela “modernidade”
expressa pelo rodoviarismo.
3.1. A Lógica Rodoviarista em Consonância à Estrutura Urbano-Industrial.
Apesar da lógica rodoviarista e urbano/industrial ter se efetivado com maior
ênfase apenas na segunda metade do século XX em Florianópolis e região, ela possui
importantes traços de sua origem já nas primeiras décadas. Uma das inovações de
grande importância neste contexto foi a construção da Ponte Hercílio Luz, no ano de
1926.
FIGURA 2: A construção da ponte Hercílio Luz em dois momentos: em 1922, e em 1924 com a
construção do piso de madeira, dois anos antes da inauguração.
FONTE: http://www.velhobruxo.tns.ufsc.br/Albuns.html
A construção da ponte dava início à gradativa mudança do uso de transportes de
tração animal (carroças e tropas) para um transporte mais rápido e eficiente, movido a
motor à combustão, implicando na concepção de “modernidade” e “progresso”. As
conseqüências para São José foram marcantes, pois, de lugar de parada obrigatória se
o destino era a capital, transforma-se gradativamente em lugar de passagem, sem a
necessidade de paradas. O que também contribui para a redução nas arrecadações,
corroborando para estagnação econômica do município, questão esta assim colocada
por Silva (2006, p.48):
Em meados de 1940, principalmente após a pavimentação da via principal que
ligava o centro de São José até a Ponte, o transporte terrestre não demorou a
consolidar-se, fazendo com que a cidade perdesse sua importância na função de
entreposto comercial. Isto porque os produtores que antes faziam baldeação
nos trapiches ali localizados, podiam agora dirigir-se diretamente à
Florianópolis. (grifo nosso)
Rapidamente, os mais diferenciados economicamente aderiram às novas
conexões de São José e região ao “mundo moderno”, investindo na compra de
caminhões e automóveis20.
Obviamente, a lógica que se instaurava conectava-se a interesses mais amplos,
explicados, sobretudo, no entendimento das políticas nacionais desenvolvimentistas,
tomadas especialmente a partir da década de 1950, pelo presidente Juscelino
Kubitschek (PELUSO JR, 1991). Não se tratava de algo específico a São José, mas a
toda região devido a uma conjuntura política nacional (CAMPOS, 2009), e mesmo
internacional.
Com as transformações, as medidas se deram em consonância à estrutura
criada. Novos empreendimentos urbanos passam a transformar consideravelmente o
município, principalmente a partir da implantação da BR-101 (sentido norte-sul) e BR282 (ligando Capital ao Planalto) nas décadas de 1960/70 (SILVA, 2006, p.75-76). A
partir destas rodovias, diversos empreendimentos passam a se estabelecer em suas
proximidades, valorizando as terras em seu entorno e atraindo uma série de atividades
e interesses (CAMPOS, 2013).
Os diversos loteamentos planejados para São José, expressos em 12 projetos
até a década de 1980 (SILVA, 2006, p.57), transformaram boa parte das antigas
pastagens e roças em quadras para a ocupação urbana, principalmente nos bairros
Bela Vista e Forquilhinhas, a oeste da BR-101. Além disto, estabelecia-se em São José
uma Área Industrial, no bairro Fazenda Santo Antonio, às margens da rodovia. Esta,
como outras medidas, evidenciavam a proposta urbano/industrial para a região,
fomentada pelo Estado a partir de um “aparato político-institucional público e privado”
(CAMPOS, 2013; SILVA, 2006).
Inicialmente, a centralidade de Florianópolis, como foco das transformações em
questão, determinava a São José a condição de cidade-dormitório. Isto porque, de certo
modo, a pretensão que se tinha com as políticas públicas era a de desenvolver a capital
(PELUSO JR, 1991). Logo, São José passaria a crescer como reflexo do
desenvolvimento urbano desejado para Florianópolis, politicamente delineado21. No
entanto, estas configurações seriam base para transformar o município, especialmente
em função do aparato urbano/industrial que ali se efetivara, cresceram a ponto de
estabelecer algumas centralidades comerciais, empresariais e industriais, revertendo-se
a condição de cidade-dormitório já no final do século XX.
3.2. São José: panoramas para o século XXI
A condição de São José como cidade dormitório de Florianópolis, caracterizada
especialmente entre as décadas de 1960 a 1980, toma novas configurações já no final
do século XX, em função da conjugação de dois fatores que se resumem à combinação
da estrutura urbana existente em São José, delineada pelas políticas públicas, com o
processo de expansão urbana de Florianópolis, expressa pela conurbação da capital.
O processo de conurbação da capital atingiu, em função da própria geografia da
região, rapidamente o município de São José. Assim, a presença de algumas indústrias
ao longo das principais artérias rodoviárias, como a BR-101, consistiu em importante
fonte de emprego, que, aliado ao programa habitacional urbano, caso da COHAB22,
configuravam condições ideais para o crescimento demográfico23.
Estas configurações de crescimento demográfico favoreceram ao processo de
valorização da terra, expressas, sobretudo, nos empreendimentos de capital imobiliário
que passa a surgir já na década de 1970, sendo o caso mais marcante o bairro
Kobrasol24. Interessante é que se trata de um empreendimento que notavelmente
acompanha a lógica e movimento do capital no município, neste caso, claramente
evidenciado pela valorização imobiliária. Isto porque inicialmente os grupos Koerich,
Brasilpinho e Cassol não possuíam atividades econômicas exclusivas ao capital
imobiliário, demonstrando claramente sua adaptação. Vidal (2009, p.83) bem cita que:
As principais atividades da empresa foram de valorização dos terrenos, através
de obras de aterro e drenagem, além da instalação de infra-estruturas. O
grande negócio consistiu, portanto em criar condições para valorização da área,
e então vender os lotes, os quais começaram a ser comercializados em 1977 e
foram vendidos com grande rapidez: 113 somente no primeiro mês, 463 nos
dois anos seguintes. Como a própria Kobrasol não se envolvia na construção
dos imóveis, o empreendimento permitiu a capitalização de muitas indústrias de
construção civil: basta observar [...] a presença de várias empresas deste setor
na região de Kobrasol/Campinas, todas elas surgidas nos anos de 1970 e 1980,
algumas de propriedade dos sócios do empreendimento, como a Zita
Empreendimentos Imobiliários, pertencente ao grupo Koerich.
Conciliada aos interesses políticos e econômicos do município, o distrito
Campinas,
as, composto pelos bairros Campinas e Kobrasol, rapidamente vai tomar forma
de centralidade municipal e regional, atraindo mão de obra e investimentos de diversos
setores como o comercial, de serviços, empresariais e da construção civil (JAHN,
2001). Um marcante
rcante processo de verticalização passa também a se expandir para
outros distritos como o de Barreiros ao norte e o Sede ao sul. A constante valorização
da terra promove novas configurações aos espaços rurais, que se mantém de acordo
com a lógica vigente, objetivando manter uma atividade de interesse especulativo sobre
o capital imobiliário (SIMAS, 2010). Isto passa a se evidenciar na manifesta presença
de diversos loteamentos por todo o município, tendo como entrave à sua expansão os
espaços preservados, protegidos
rotegidos por leis ambientais, sobretudo em áreas de encosta.
Atualmente, São José possui o maior índice de densidade demográfica da
Grande Florianópolis, evidenciando sua importante ascensão urbana no contexto
regional, já iniciada no século XX, mesmo cconsiderando
onsiderando seu reduzido território atual,
após a emancipação de São Pedro de Alcântara em 1994 (mapa a seguir). Em virtude
da atração de inúmeros investimentos por todo o município, continua atraindo mão de
obra de todas as regiões, especialmente do nordeste
norde
brasileiro25.
FIGURA 3: Município de São José na atualidade.
FONTE: IBGE, 2000.
Reflexos deste crescimento sofrido por São José já se apresentam de forma
efetiva sobre os municípios de Palhoça (ao sul) e Biguaçú (ao norte), demonstrando um
gradual processo de metropolização da região. Todavia, apesar do crescimento
econômico do município, não há garantias de desenvolvimento social, haja vista
também os crescentes problemas urbanos instaurados nas periferias e na falta de infraestrutura. Estes são de ordem social, econômica e ambiental, caracterizando também
embriões dos grandes dilemas vivenciados nas grandes cidades brasileiras e mundiais.
Enfim, não há dúvidas quanto ao crescimento que o município vem sofrendo, no
entanto, as imprecisões das conseqüências das mudanças vigentes, evidenciam que
não há garantias de que as transformações sejam positivas para a sociedade josefense
como um todo, isto, considerando que a lógica capitalista tem sucessivamente
beneficiado alguns, em detrimento da maioria.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
São José possui uma história rica em peculiaridades no contexto regional,
mesmo que não se possa dissociar sua formação e dinâmica em relação à capital
catarinense.
Com a efetiva configuração dos interesses da Coroa Portuguesa, o município
passa a se beneficiar de sua condição geográfica na complementação entre as
economias do planalto e litoral. A inserção do elemento germânico a esta lógica
contribuiu significativamente, já que tinham relativa experiência produtiva trazidas de
uma
Alemanha
que
já
passara
por
importante
processo
de
urbanização,
industrialização e aprofundamento do capitalismo. Assim, São José contava com uma
importante atividade mercantil entre litoral e planalto, configuração que levaria o
município a obter importante destaque já no século XIX.
Com as novas lógicas do século XX, uma nova configuração instaurou-se,
colocando em “xeque” rentáveis atividades econômicas para São José – o tropeirismo e
a cabotagem. Já no começo do século XX, a construção da ponte Hercílio Luz traduzia
mudanças significativas. Gradativamente, São José deixara sua condição de lugar de
parada, para se transformar em lugar de passagem. Em meio a estas novas lógicas, as
políticas em favor da estrutura urbano/industrial eram expressas especialmente por
uma forte lógica rodoviarista, trazendo inúmeras transformações sócio-espaciais à
região.
A construção de importantes vias como as BRs 101 e 282 trariam novas
dinâmicas, conciliado a isto, a instalação de um parque industrial, bem como a
efetivação de diversos projetos habitacionais para o município, especialmente nos
bairros Bela Vista e Forquilhinhas, demonstravam o que se pensara para São José:
parte de um projeto que visava o desenvolvimento da capital. Assim, São José adquire
a condição de cidade-dormitório de Florianópolis.
No entanto, em função da expansão urbana de Florianópolis e da estrutura
urbano/industrial presente em São José, o município passa a sofrer reflexos do
crescimento florianopolitano. Logo, o crescimento josefense passa a consistir num
decorrente crescimento demográfico que, por sua vez, estimula novas lógicas,
elucidadas pela valorização imobiliária. Esta lógica da valorização imobiliária passa a
redinamizar a economia josefense, criando centralidades importantes no município,
descaracterizando totalmente uma inicial condição de cidade dormitório.
Não há dúvidas de que o crescimento josefense permanece, não apenas em
função da construção civil, mas especialmente por investimentos de grandes capitais,
muitos deles estrangeiros. Atualmente, não é nada incomum encontrarmos diversas
multinacionais, bem como empreendimentos que contam, no formato de parceria, com
capitais externos.
A expansão espacial urbana só não é maior em função da legislação ambiental,
que de certa forma impede o avanço sobre áreas de encostas, ou de preservação
permanente. Todavia, o município ainda possui grandes áreas de pastagens, mas que
mantém, com vistas à aproximação do aparato urbano, demonstrando claramente um
viés especulativo.
As dimensões de crescimento não são apenas espaciais, mas principalmente
sociais. Enquanto se “abrem as portas” para os investimentos do capital industrial e
imobiliário, a cidade cresce de forma desproporcional à infra-estrutura presente.
Problemas sócio-ambientais como a favelização, ocupação de áreas de inundação ou
encosta, defasagem no saneamento básico e na aplicação de projetos de mobilidade,
demonstram exemplos de problemas que podem se aprofundar de forma alarmante já
nas primeiras décadas do século XXI.
A negligência no planejar a cidade para a própria cidade (e não exclusivamente
para o capital) pode levar a região a um colapso irreversível, a ponto de conduzi-la a
condições caóticas comumente encontradas nas grandes cidades. Os cuidados são
fundamentais para fazer de São José um município melhor para sua sociedade, que
preserva seu patrimônio e entende a sua história. É necessário construir a cidade e não
apenas construir na cidade.
1
Mestrando do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Federal de Santa
Catarina (bolsista de mestrado CNPq) – UFSC, Brasil.
2
Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC,
Brasil.
3
Podemos citar Laguna, no sul do estado, cuja tradicional economia portuária da qual dependia
estagnou, e Lages, no planalto serrano, que estava entre as principais cidades do estado no auge da
economia madeireira.
4
Esta econômica depressiva decorria de alguns aspectos: relações comerciais desfavoráveis com a
Inglaterra que restringia as iniciativas manufatureiras portuguesas; queda nos rendimentos coloniais;
crise no comércio ultramarino; concorrência externa (CAMPOS, 1991; SILVA, 1992; MAMIGONIAN,
1997).
5
Que consistia em iniciativas importantes como a criação da Colônia do Sacramento em 1680; a
criação da Capitania de Santa Catarina em 1738 o estabelecimento das fortificações no litoral
catarinense entre 1739 e 1786; a edificação das armações baleeiras entre 1741 e 1778 ao longo do
litoral catarinense; e a imigração açoriana que, conjugada à escravidão negra, se tornaria a base de
funcionamento de toda a estrutura econômica (CAMPOS, 1991; SILVA, 1992).
6
Quando afirma que entre os provimentos que cada família receberia estariam incluídas
espingardas “... e procurará que as conservem, sem as venderem, especialmente as espingardas”.
7
Não há como se invisibilizar neste processo o papel dos elementos indígenas e negros. A própria
mandioca não era cultivada no arquipélago dos Açores, e sim o trigo. Logo, o contato/troca com os
carijós que habitavam o litoral foi fundamental para o desenvolvimento de cultivos e práticas
agrícolas, incorporadas às tradições açorianas aqui praticadas (CAMPOS, 1991; SIMAS, 2010).
8
No período de 1748 a 1752 dez grandes levas de casais, oriundos das ilhas dos Açores e Madeira,
chegaram a Santa Catarina. Os 182 casais que fundaram o pequeno povoado de São José da Terra
Firme pertenciam à terceira leva, dentre as dez do mesmo período (GERLACH e MACHADO, 2007,
p.15).
9
“Era preferível a um colono deixar de produzir a ver os oficiais do governo confiscarem seus
estoques sem receber nada em troca” (SILVA, 2008, p.415).
10
Segundo Campos (1991, p.36), “formava-se, assim, uma cadeia de ação-reação: a cada pressão
externa do comerciante carioca sobre o comerciante local, havia uma resposta interna do
comerciante local sobre o pequeno produtor”.
11
Prática de origem indígena que consiste na queima da vegetação para posterior plantio.
12
Como o próprio nome sugere, há uma estrutura de ruas principais interceptadas por diversas
servidões de curta distância entre si, formando terrenos de frente estreita e grande comprimento.
Nesta simbologia é como se a rua principal fosse a coluna do peixe e as servidões espinhas,
justificando o termo “espinha de peixe”. Isto se dava em função do sistema de partilha da terra.
13
Ressalvando-se questões climáticas e de relevo. Nos pampas gaúchos, de altitudes mais
modestas, os campos naturais são quase exclusivos sobre as paisagens, possuindo características
climáticas específicas. Já na região do planalto catarinense os campos naturais são de altitude,
intercalados com capões de araucárias, pinheiros e outras espécies tradicionalmente encontradas
na floresta ombrófila mista.
14
Segundo Jacinto e Waltair (s/d, p.5), além das tradicionais tropeadas do Rio Grande do Sul para
São Paulo, haviam também “... as tropeadas utilizadas pelos fazendeiros da nossa região [planalto]
que transportavam para o litoral, no lombo de mulas, os produtos típicos da região serrana e que
traziam gêneros necessários para sua sobrevivência.”
15
Todavia, este crescimento econômico, com auge no século XIX não consistia em desenvolvimento
de São José como um todo. Muitas famílias sofriam os processos decorrentes da decadência da
economia açoriana, especialmente pequenos produtores desprovidos de estrutura manufatureira e
de relações comerciais consistentes. Apenas uma elite josefense se sobressaía na conjuntura,
acompanhando a evolução dos processos comerciais que já não mais caracterizavam uma pequena
produção mercantil essencialmente de base sócio-cultural açoriana.
16
A primeira colônia alemã da província será justamente São Pedro de Alcântara, então parte do
município de São José. Segundo Klug (1991) os primeiros imigrantes alemães a virem para Santa
Catarina, eram provenientes da região de Hunrsrück, situada no triângulo montanhoso formado
pelos rios Reno e Mosela, na porção oriental da Alemanha. A exemplo dos açorianos, estes vieram
com a promessa, por parte do governo imperial, de receber o “fornecimento de utensílios agrícolas,
provisões, subsídios e terras” (BUSS et al, 2002, p.159).
17
Enquanto o tropeiro via o gado como propriedade/riqueza, o indígena o via como parte integrante
da natureza, um bem comum, disponível a servi-lo como alimento. Neste sentido, o choque cultural
passa a promover conflitos em que o Estado assume claramente em favor dos interesses
econômicos.
18
Philippi (1995, p.22) ressalta que “em Praia Comprida estabeleceram-se com hospedaria,
transporte de lanchas, ferrarias, sapatarias, marcenarias, selarias, casas de comércio, inclusive a
agricultura, transformando-se no primeiro entreposto da colonização. Entre as famílias
estavam as de Adam Michels, Heinrich Bohnen, Sebastian Lentz, Anton Huber, Joah Mannebach,
Peter Joseph Schneider e Jacob Zimmermann.” (grifo nosso).
19
Em parte devido a classe de comerciantes e produtores apresentarem, “hábitos aristocratizantes e
consumistas de outras classes sociais (administração, setores militares)” Campos (1991, p.37).
20
Em entrevista ao trabalho de Silva (2006, p.49), o senhor Fernando Rocha aponta que: “[...] de 36
para 37, vieram os primeiros caminhões. Então eles trocaram o transporte de lanchão por
caminhão. Eles compraram o caminhão como também comprou [...] o Fredolino Schmidt, Norberto
Schmidt, os Koerich compraram um caminhão também [...] Então os lanchões, as embarcações,
foram substituídas pelos caminhões.” (grifo nosso)
21
Segundo (Silva, 2006, p. 73), o Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI) da Grande
Florianópolis, elaborado entre 1969 e 1971, “englobou 21 Municípios situados próximos à Capital,
[definindo] a cidade de São José para absorver as atividades industriais, e assim adequar o espaço
urbano de Florianópolis para as atividades turísticas”.
22
Companhia de Habitação do Estado de Santa Catarina.
23
Também configurado por um importante êxodo rural, refletindo os processos de modernização do
campo, que atingiram Santa Catarina, sobretudo, no planalto, após a década de 1970 (SIMAS,
2010).
24
Criado em 1975 pelos empresários Adroaldo Cassol, Walter Koerich e Antônio Scherer, contando
com a junção de capitais da empresas Koerich, Brasilpinho e Cassol (JAHN, 2001), daí o nome
KOBRASOL.
25
Não é raro se encontrar ruas nos bairros Bela Vista, Campinas, Forquilhinhas, repletas de casas
populares, ou de pequenos apartamentos, no formato kit-net, ocupadas majoritariamente por
migrantes de origem nordestina, quase sempre empregados na construção civil, redes de
supermercados e fast foods, ou na vigilância privada. Mais recentemente, percebe-se até mesmo a
presença de estrangeiros, como haitianos, ocupando, a exemplo dos nordestinos, funções sócioeconômicas mais modestas, quase sempre como mão de obra barata.
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