UMA ANÁLISE ACERCA DAS MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO EM SÃO LUÍS, MARANHÃO Joseana Priscila Carvalho Azevedo ([email protected], Universidade Estadual do Maranhão – UEMA) Tatiana Raquel Reis Silva ([email protected], Universidade Estadual do Maranhão- UEMA) Darly Vieira Linhares ([email protected], Universidade Estadual do Maranhão – UEMA) Resumo: este trabalho visa discutir algumas das manifestações de violência sofridas por mulheres inseridas no âmbito da prostituição feminina em São Luís, Maranhão. Temos como foco de pesquisa a região do Oscar Frota, área comercial e de grande concentração de bares no centro da cidade. A partir de estudo realizado no local de atuação dessas mulheres e tendo como base os debates de gênero, classe e raça/etnia, buscamos perceber como essas situações de violência interferem o seu cotidiano e se entrelaçam a algumas dessas categorias analíticas. Falamos de mulheres em sua maioria negras, advindas do interior do estado, com baixa escolaridade e que vivem nos bairros periféricos de São Luis. Durante pesquisa de campo, e também através da realização de oficinas, foi possível focar e problematizar acerca das condições de trabalho, questões ligadas à saúde e, sobretudo identificar alguns dos tipos de violência a que estão submetidas e que marcam a sua vivência diária. Palavras Chave: Violência; Mulheres; Prostituição; Raça/Etnia. Introdução Apartheid disfarçado todo dia, quando me olho não me vejo na TV , quando me vejo estou sempre na cozinha ou na favela submissa ao poder, já fui mucama mais agora sou neguinha ,minha pretinha nós gostamos de você, levanta a saia e saia correndo pro quarto na madrugada patrãozinho quer te ver (Adão Negro) O estudo que aqui se apresenta é sobre nossa pesquisa de extensão que ainda está em andamento1. O objeto de estudo são manifestações de violência contra mulheres profissionais do sexo em São Luís - MA. Os sujeitos centrais desta pesquisa são, em sua maioria, mulheres negras expostas à violência de gênero e/ou violência contra a mulher de seus parceiros (cliente-amante, amantes, namorados e/ou de suas companheiras de trabalho). 1 Projeto de extensão PIBIX “Promoção da cidadania entre mulheres inseridas na prostituição feminina em São Luís/MA. Universidade Estadual do Maranhão /UEMA. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.196 Buscamos investigar se existe alguma relação de violência de gênero e/ou contra a mulher e mulher negra com preconceito racial em São Luís. Nesse sentido, a questão racial será colocada como marcador social em que a mulher negra é colocada duplamente em situação diferenciada nas ordens de subordinação de gênero. Tanto gênero como raça e classe social, bem como prostituição são marcadores sociais que dificultam e desfavorecerem a inserção da mulher negra em direitos civis. Tendo como base estas categorias analíticas, levantamos as seguintes questões: de que maneira se colocaria violência de gênero, violência contra a mulher, atrelado ao preconceito racial? As relações de violência contra a mulher estariam ligadas ao gênero, à questão racial ou a prostituição? Como se discute essas questões no movimento de mulheres? Partimos de vários questionamentos, se esta problemática viria do machismo, racismo ou dos estereótipos ligados à mulher negra e prostituta. O fato é que a mulher negra desde a escravidão do negro no período colonial sofrera diversas formas de dominação, e posteriormente permanecera sem assumir o papel que teve na construção da cultura nacional de nosso país, a violência fora à base de legitimação das hierarquias de gênero e raça. O que poderia permanecer como noções da escravidão colonialista tomam novas formas e função em uma ordem que supostamente se diz democrática mantendo assim ilesas as formas de dominação de gênero e cor/raça estabelecidas no período de escravidão colonial. Nossa perspectiva de analise é histórico-antropológica. Estudos teóricos são feitos. O que significa que serão debatidos, visando dar maior suporte a nossa investigação, sendo um processo fundamental para dar auxílio às análises de história de vida das mulheres negras e prostitutas2. Entrevistas, depoimentos e histórias de vida, são técnicas que vêm sendo utilizadas há bastante tempo para se conhecer, ainda que parcialmente, determinados processos sociais no qual podemos destacar a importância do uso da História oral, que segundo Antonio Santos, (VER ANO) a metodologia da história oral como instrumento eficaz para o estudo de processos históricos mergulhados no Tempo Presente, privilegia o tempo vivido o que nos dá a possibilidade de trabalhar com depoimentos de prostitutas da região citada. Contudo, não deixa de problematizar os caminhos traçados pela mesma, pois o ser humano é menos ingênuo, o que nos deixa a duvida da veracidade dos depoimentos colhidos, a história oral deve ser entendida como um método de pesquisa que possibilita a introdução de novas perspectivas, na história contemporânea. A antropologia nos permite evocar lugares distantes para fazerse estudos de observação e análise do objeto de estudo em tempos diferentes, bem como em nosso ambiente de pesquisa na região central de São Luis. É importante enfatizar que, de acordo com novas análises e novos depoimentos o procedimento poderá modificar-se e tomar novas direções no decorrer desta pesquisa. O anseio não é tomar os dados obtidos de forma generalizada, uma vez que estes não atenderiam a dimensão da realidade do que seria a violência contra a mulher negra e profissional do sexo. A região onde realizamos nossa investigação é a área do Oscar Frota, área de concentração de bares, feira mercados no centro comercial e histórico da capital sendo popularmente conhecido pela cidade como, xirizal3. Vale ressaltar que esta região está diretamente ligada com o tráfico de drogas, sendo a região pesquisada comumente conhecida como 2 Nesse caso, utiliza-se o termo, prostituta, por ainda não ser uma profissão legalizada e não existir conceito ainda sobre esse exercício. 3 Derivado do termo “xiri” como e designado popularmente o órgão sexual feminino. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.197 umas das áreas mais perigosas da cidade, nesse sentido estão ligadas as questões de violência e sexualidade. Pesquisar prostituição e manifestações de violência nesta esfera não é uma das mais fáceis atividades haja vista de que é uma área estereotipada e condenada por discursos que deturpam o exercício da arte. Nesse sentido, este trabalho visa perceber estes sujeitos avaliando questões que decorrem em suas condições de existência. Tentando ir além das visões negativas que foram construídas de maneira histórica e cultural. Conceituando gênero, raça, sexualidade Mesmo que aparentemente mais assimilados na cultura brasileira, o negro, em particular a mulher negra, se vê aprisionada em alguns lugares: a sambista, a mulata, a doméstica, herança desse passado histórico, Isildinha Nogueira (1999, pág. 44). Com essa definição gênero, raça e sexualidade têm sido utilizadas para explanar e qualificar de maneira hierárquica indivíduos de grupos desqualificados pela sociedade. Com essa construção sobre a sexualidade da mulher negra, esta fora associada à prostituta chamando atenção para o mercado erótico-sexual (SILVA, 2008). A partir da junção dessas noções podemos perceber como se constituiu o processo de legitimação de estereótipos sobre a sexualidade da mulher negra ser acentuada, bem como a violência fora legitimada e naturalizada, Louis County4, conclui em seus estudos: Os negros eram sujeitos afeitos5 à vagabundagem, recusavam-se a trabalhar, tinham tendências ao alcoolismo e à marginalidade (resultado de sua inferioridade racial). Os negros revelam-se indiferentes em suas relações sociais: não se importavam com os laços filiais e suas mulheres eram objetos servis; não formavam famílias, eram por natureza desagregados; conviviam com a violência de modo indiferente e apático, isto é, como não eram sensíveis aos castigos violentos a que eram submetidos, não construíam uma consciência moral e ética.”[1878 apud Nogueira , 1999,p.4]. Segundo FOUCAULT durante séculos, nas sociedades ocidentais, se ligou o sexo à busca da verdade, sobretudo a partir do cristianismo. A confissão, o exame da consciência, foi o modo de colocar a sexualidade no centro da existência. O sexo, nas sociedades cristãs, tornou-se algo que era preciso examinar, vigiar, confessar e transformar em discurso. Podia-se falar de sexualidade, mas somente para proibi-la. O esclarecimento, a "iluminação" da sexualidade se deu nos discursos e na realidade das instituições e das práticas. As proibições faziam parte de uma economia complexa. O que nos leva a ver como a prostituta é colocada dentro desse contexto, e como modelos de comportamento são construídos sobre a sexualidade da mulher, é assim estabelecido Maria a virgem e, não pecadora, modelo ideal a que se deve seguir e, Eva um modelo de mulher pecadora, promiscua sem respeito à sociedade (prostituta). 4 5 Médico francês radicado no Brasil como professor da Escola Politécnica. Acostumados. Habituados. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.198 De acordo com Giralda Seyferth (2002 ) a noção de raça surgiu de modo mais ou menos elaborado no século XVIII, antecedida por formulações vagas das metáforas de sangue e das vinculações bíblicas. Os conteúdos, a ela associados, datam de muito longe na história humana, encapsulados por rótulos não menos indicativos de suposições de inferioridade. O impacto de encontro das Américas também trouxe novas criações do conceito, dando novas classificações sendo o índio colocado como um ser selvagem necessitando ouvir o evangelho. Vemos dentro deste processo que o conceito de raça é utilizado para tentar legitimar a inferioridade e dar suporte ao processo de dominação do outro (Silva, p.24 e 25). Mas, é somente a partir do século XIX que podemos ver que o termo raça é aplicado , quando é utilizado para denominar um determinado grupo de ancestrais comuns , sem instituir a que grupo pertence. Nesse período entendia-se que a desigualdade social era uma ordem natural das coisas e o conceito de raça seria aplicado como explicação biológica para diversidade. Assim o princípio de desigualdade entrou na modernidade, e posteriormente viria a ser modificado. O conceito de etnia surgiu a partir do século XIX contrapondo o conceito de raça, este conceito teria uma definição voltada a cultura rejeitando o termo raça e suas alusões fenotípicas, porém , começa a ser utilizado como categoria indutiva somente a partir do século XX , sendo confundido e ligado a questão de raça. O conceito de etnia está ligado a noção de povo, nação uma vez que grupo étnico teria como característica diferença cultural de um grupo em relação a outros, e a crença em um parentesco real ou fictício. Porém, Renan (1998) no ensaio “Qu’est-ce qu’une nation?” etnia se opõe a nação, posto que a primeira esta relacionada ao lado objetivo, e a segunda ao subjetivo e voluntario. Assim, o autor diferencia a noção de raça, etnia e nação, na medida em que, nação para existir como entidade política precisa da afirmação de um passado comum, que nao se refere ao pertencimento a um grupo racial ou étnico especifico. (SILVA,2008 p.26) Sabemos que as desigualdades de classe, a discriminação racial e as diferenças de idade formam, juntamente com as relações de gênero, um grande conjunto que determina a distribuição desigual e injusta de poder e oportunidade entre as pessoas, Silvia Camurça e Taciana Gouveia (2004). Sendo assim gênero é um conceito útil para explicar muitos dos comportamentos de mulheres e homens em nossa sociedade, nos ajudando a compreender grande parte dos problemas e dificuldades que estas enfrentam no trabalho, na vida pública, na sexualidade, na reprodução, na família. Segundo Scott (1996) o conceito de gênero pode ser resumido em três posições teóricas: a primeira como um esforço inteiramente feminista, ou seja, político que tenta explicar as origens do patriarcado; a segunda se situa no seio de uma tradição marxista e onde a maioria das pesquisadoras do tema usa o termo com o propósito defender que a pesquisa sobre mulheres, transformaria fundamentalmente os paradigmas no seio de cada especialidade. Haraway (1991) ao descrever o conceito de gênero, considera importante entendê-lo como uma categoria capaz de organizar as relações sociais e também como uma estrutura de identidade pessoal e também coletiva. O conceito de gênero vem para desmistificar as diferenças sociais baseadas no sexo biológico. Tais diferenças resultaram no estabelecimento de uma postura cultural que sobrepõem um determinado Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.199 poder social, cultural, político e econômico dos homens em relação às mulheres. Para finalizar, é importante lembrar que outros estudos apontam que a relação de gênero pode ser empregada, também, para definir outras formas de relações sociais. Sendo assim, fatores culturais, sociais, econômicos e políticos irão influenciar significativamente na forma de subordinação e hierarquia do poder dos homens sobre as mulheres. A classe e a raça são fatores significativos que explicam os tipos e as formas de relações sociais na família, no trabalho, na religião e etc. Para Barbieri (1993), em sociedades plurais como na América Latina, em especial, em países com povos tão diversificados como no Brasil, é necessário entender o contexto étnico-racial na relação de gênero. Pois, as pessoas de raças distintas redefinem as relações de gênero a partir das diferenças de raça. (SANTOS, 2011. P.06) Violência em meio a prostituição feminina Eu fui lá xirizal do Oscar Frota....Ah! Meu deus mais como tem muita cocota. Tem cocota6 peladinha, tem cocota cabeluda, tem cocota popozuda parece um capô de fusca....Tem cabra que come e não paga a cocota das meninas. Tem um cara que é checheiro7 tem outro que é gigolô e ainda tem Maria Rita que é feirante do amor.... Na entrada ta escrito mostre mais educação não pode falar palavrão beber e cuspir no chão.”..... Entende-se por prostituição a atividade sexual realizada por um indivíduo, regularmente, com número indistinto de parceiros, mediante o pagamento em valores monetários ou outros valores.O Oscar Frota se destaca por ser uma área com grande concentração de bares onde circulam mulheres envolvidas na prostituição. São aproximadamente três bares, tendo um comandado por uma mulher que já trabalhou na prostituição. Os bares têm quartos que são alugados, temporariamente, para as prostitutas e seus clientes. Geralmente, é o cliente quem paga o quarto. O movimento começa a partir das oito horas da manhã tendo os horários de meio dia e de dezesseis horas e fim da tarde como os mais movimentados. A concentração da prostituição nesse local pode ser atribuída ao fato de ali ter se tornado um local rentável para o desempenho da atividade. E uma área próxima ao centro comercial da cidade, onde se concentra um grande numero de trabalhadores informais, como vendedores ambulantes, sapateiros, engraxates e pescadores. O local e conhecido pelo nome de um antigo proprietário de uma grande loja de materiais de construção, e parte da área onde funcionavam os depósitos desse estabelecimento hoje abriga pequenos bares. No Oscar Frota se concentraria a chamada “prostituição de baixo nível”, ou prostituição em “zona confinada”, no que se refere ao nível socioeconômico da clientela e da localidade, bem como as condições físicas do ambiente. O preço do programa varia entre vinte e cinquenta reais, embora o valor dependa das praticas sexuais exigidas e/ou negociadas em cada programa ou da alta e baixa temporada de clientes. A região é popularmente conhecida como xirizal, segundo a dona de bar que fora entrevistada a região ficou conhecida pela grande concentração de homens que 6 7 Como é popularmente conhecido órgão sexual feminina. Termo não identificado Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.200 saiam de um Banco de Crédito da região iam a um bar próximo e por conta destes homens muitas mulheres se concentravam na região. A violência contra a mulher é um caso antigo que foi silenciado ao longo dos tempos, perpetuando-se da antiguidade a tempos atuais, hoje, tenta-se mudar o que foi construído socialmente, culturalmente e historicamente. Atualmente, esse tema é tratado como transversal ou muito distante como se não fizesse parte do ser social: fruto das desigualdades econômicas algo que acontece com pessoas pobres, que moram longe alcoolizadas e drogadas, de fato, é muito mais fácil acreditar que a violência acontece nesses ambientes levando em conta as situações precárias em que se encontram as pessoas (MELO; TELES.2003). As violências muitas vezes passam despercebidas como a violência psicológica, hoje tenta-se mudar esses pensamentos em discussões e encontros de mulheres que buscam reverter esse quadro de desrespeito, desigualdade , extermínio de mulheres (femicidio8). Violência (BOBIO, 1992) tem vários aspectos e compreende desde a violência física até a violência psicológica. Para se caracterizar como violência, segundo esse autor, a ação deve ser voluntária e direta e tem por finalidade destruir, mutilar, ofender, coagir. Mas, temos outras formas de violência, não deliberadamente voluntária, causadoras de danos físicos e psicológicos a pessoas ou a grupos a ela submetidos, como é o caso da violência indireta. Sobre violência podemos destacar vários tipos de violência, e no âmbito da prostituição feminina pudemos identificar diversas formas. Violência psicológica, violência física violência de gênero, violência sexual, violência patrimonial dentre outras. Dentro deste trabalho irei focalizar as violência de gênero física e psicológica. A violência psicológica refere-se a ações e omissões que visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus atos comportamentos, crenças,decisões“(TELES;MELO.2003). No âmbito da prostituição feminina pudemos identificar diversas formas de violência dentro destas formas de violência pude identificar a sua ida a prostituição como violência as mulheres que ali desenvolvem essa atividade, são mulheres em sua maioria negras com baixa escolaridade, onde poderíamos ver que por conta destas circunstância acabam entrando no submundo da prostituição.Por que identificamos essa mulher como como violentada pelo sistema em que vivemos? Porque estas mulheres não recebem benefícios sociais do estado no qual poderiam obter melhorias para sua vida e evitar sua ida a este submundo. A figura da prostituta-vitima, ainda muito presente no senso-comum, faz parte de uma produção discursiva de âmbito mais geral, e muitos trabalhos acadêmicos acabam por reforçar os estereótipos que cercam essa categoria. Nesses discursos, a prostituta e percebida como aquela mulher que numa situação de “sujeição” e obrigada a se envolver com homens apenas por dinheiro, como “pobres vitimas” que, sem nenhuma opção de trabalho formal, são “obrigadas” a iniciarem na prostituição. Essa construção discursiva que vitimas a prostituta explica a inserção e permanência de mulheres nessa atividade, através de uma interpretação de cunho econômico. Não são 60 levados em conta os aspectos subjetivos dos sujeitos que estão inseridos nas dinâmicas da prostituição. Rago (1991) assinala que não se pode reduzir a prostituição a um determinismo econômico, já que o empobrecimento da população não leva, necessariamente, a um aumento das pessoas que se prostituem. Neste caso, 8 Termo que se utiliza para denominar o assassinato de mulheres. Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.201 desconsideram-se outros fatores que incidem na escolha pela prostituição, como a necessidade de uma maior liberdade, a possibilidade de maiores ganhos sem tanta pressão de patroes e o próprio prazer erótico-sexual que ocorre com alguns dos clientes. Embora o dinheiro apareça como essencial para a entrega do corpo, outros fatores são destacados, como, por exemplo, a satisfação do prazer. Muitas mulheres afirmam ter liberdade para escolher os seus clientes. Isso denota que não e somente a necessidade financeira que rege esse tipo de relação, a atração física também e acionada por algumas prostitutas no ato da conquista dos clientes. Maria (22 anos, negra) destaca que: “Vou com quem eu quero , não sou obrigada a sair com quem não quero, com qualquer um”. Para essa mulher a relação cliente-prostituta e perpassada por fatores que vão alem da questão economica, ou seja, nem sempre o dinheiro tem uma dimensão preponderante na escolha do cliente. O processo da conquista e um momento em que elas utilizam das “artimanhas” para conseguir os clientes, tanto o fator econômico quanto a atração física estão presentes. São nesses momentos que o prazer emerge como um aspecto satisfatório para atividade que desenvolvem. Considerações finais Nesse sentido, buscamos ver problemáticas que cercam o mundo da prostituição feminina em zonas de baixo meretrício, desmistificar e conscientizar as mulheres que dependem de programa para sua sobrevivência e de sua família. E como as condições financeiras as levam ao mundo da prostituição. Numa sociedade impregnada por códigos e valores que limitam comportamentos, principalmente no campo da sexualidade, a prostituição é uma prática marginalizada, identificada em oposição aos papéis de mãe e mulher trabalhadora. Esse conjunto de imagens formuladas em torno das mulheres que exercem a prostituição leva à discriminação e à exclusão social, bem como tem favorecido e possibilitado diversas manifestações de violência de gênero. E no caso de mulheres negras, à violência de gênero se soma a violência racial. Muitos trabalhos que se têm sobre prostituição acabam sendo veículos de fortalecimento da visão estereotipa que se tem acerca da categoria “prostituta”. Em alguns casos o dinheiro aparece como premente para a entrega do corpo. No entanto, foi possível perceber que para além de questões estritamente materiais, prostitutas de São Luís se constroem e se pensam, vivenciando experiências complexas, em que se defronta o binômio prazer-violência, em que sonhos e fantasias, amores e desamores também constituem a teia de suas experiências cotidianas. Referências BACELAR, Jeferson. A família da prostituta. São Paulo: Editora Atica, 1982. BAIRROS, Luiza. Nossos feminismos revisitados. 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