FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA
OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL
Raony Palicer
Graduando de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar considerações iniciais a partir de uma
investigação em andamento sobre a posição dos Estados do continente da Oceania no sistema
internacional. Pensando o sistema internacional como palco de constante disputa hegemônica,
onde prevalecem as relações de política e poder, tentaremos identificar a distribuição de poder
dos referidos países neste cenário. Para tanto lançaremos mão do aporte teórico metodológico
no campo das relações internacionais.
Palavras-chave: Oceania; Sistema Internacional; Hegemonia; Relações Internacionais.
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Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo
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FRAGILIDADE E POSIÇÃO PERIFÉRICA DAS ILHAS DA OCEANIA NO SISTEMA INTERNACIONAL
INTRODUÇÃO
Quando pensamos na Oceania, imediatamente nos vem à mente suas ilhas paradisíacas, os
mares de um azul límpido transmutando-se em um belo verde-água. Os corais multicoloridos
pulsando vida, as praias de areia branca, os povos com culturas tão ricas e variadas, entre
outras maravilhas de pacotes turísticos. Por trás desse panorama idílico estão Estados nacionais
frágeis, dominados no sistema internacional, com economias incipientes e sérios problemas de
estruturas básicas para a sua população.
O colonialismo deixou sua marca inclusive na ciência. Há vários estudos versando sobre
a colonialidade do saber, seja questionando o caráter eurocêntrico da epistemologia das ciências
sociais, seja observando a falta de olhares múltiplos através da ciência1. Por isso julgamos
necessário o olhar de regiões periféricas para o centro, ou para outras regiões periféricas. Se
os “brasilianistas” americanos muito contribuíram para a compreensão de nossa realidade,
contribuições de igual ou maior relevância poderiam advir de olhares asiáticos, africanos ou de
outros países da América Latina sobre o Brasil e vice-versa. Por isso propomos um olhar latinoamericano sobre a Oceania. Cientes de nossas proximidades e diferenças esperamos compor
uma alternativa, ao menos na tentativa de conhecimento da realidade, pois nações europeias
e os Estados Unidos já têm participações incisivas nos estudos da região. As similaridades
históricas – de passado colonial, por exemplo – e atuais – como a manutenção da posição
periférica – nos permite traçar paralelos e compreendermos mutuamente os papéis das duas
regiões no cenário internacional.
Ademais, a aproximação é imprescindível quando verificamos um cenário internacional
de embates hegemônicos, no qual ambas as regiões se encontram distantes dos focos de poder.
As alianças entre os Estados não-hegemônicos são primordiais para a superação da atual
organização dos Estados no sistema internacional, que relega a esses países papeis subalternos
e problemas endêmicos de condições básicas de sobrevivência de sua população.2
Este trabalho representa um esforço inicial nesta direção. Procuraremos analisar as
distribuições de poder dentro do continente da Oceania e entre este continente e outras regiões
do mundo, pensando nos âmbitos teóricos de autores das relações internacionais como Edward
Carr e Tullo Vigevani.
1 LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.
2 Conforme Luciano Gruppi, pensando a hegemonia em seu papel mais clássico e classista: “Hegemonia é
isto: determinar os traços específicos de uma condição histórica, de um processo, tornar-se protagonista de
reivindicações que são de outros estratos sociais, da solução das mesmas, de modo a reunir em torno de si
esses estratos, realizando com eles uma aliança na luta contra o capitalismo e, desse modo, isolando o próprio
capitalismo”. (GRUPPI, 1978, p. 59). Esse conceito é expandido para as relações internacionais por autores
como Giovanni Arrighi, para quem a hegemonia mundial “[...] refere-se especificamente à capacidade de
um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas. Em princípio
esse poder pode implicar apenas a gestão corriqueira desse sistema, tal como instituído num dado momento.
Historicamente, entretanto, o governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo
de ação transformadora, que alterou fundamentalmente o modo de funcionamento do sistema” (ARRIGHI,
1996, p. 27).
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A OCEANIA
Composto por pouco mais de uma dezena de Estados, o continente da Oceania é o menor
do mundo em massa territorial e também o menos povoado - se excetuarmos a Antártica.3
Também nos chama atenção a sua composição diferenciada, onde os outros continentes
apresentam imensas porções de terras, a Oceania traz minúsculas ilhas, com exceção apenas da
gigantesca Austrália que representa quase 90% da massa de terra do continente. 4
Não é apenas no tamanho do território que a Austrália difere do restante dos Estados
na região. Junto com a Nova Zelândia, são os únicos países que conseguiram se adaptar ao
capitalismo mundial, sendo consideradas nações desenvolvidas, com economia diversificada,
indústria avançada e bons índices de desenvolvimento humano. 5
Os demais Estados da região, em maior ou menor grau, lutam pela sobrevivência.
Afastadas dos polos de poder, sem indústria estabelecida e nem mesmo condições de estabelecêla, com falta de mão de obra e de mercado consumidor, sendo constantemente atingidas por
desastres naturais como furacões, tornados e tsunamis, as pequenas ilhas do oceano pacífico se
encontram na periferia do capitalismo e consequentemente do sistema internacional.
Pensamos o sistema internacional de acordo com definição apresentada, entre outros, por
Tullo Vigevani que une a noção de sistema interestatal de Raymond Aron com os fenômenos
transnacionais e a economia mundial, no qual o capital passa a cumprir o papel do grande ator
transnacional. Assim, o sistema interestatal é exposto por Aron como as relações entre Estados
no cenário mundial, já o sistema internacional é definido por Vigevani como “um conjunto
que inclui o sistema interestatal, a economia mundial, ou o mercado mundial ou o sistema
econômico mundial, e os fenômenos transnacionais ou supranacionais.” 6
Esta relação entre os Estados não é harmônica. Com cada Estado sendo soberano e
buscando a conquista de seus objetivos, o que vigora é a anarquia, conforme Vigevani:
3 Há dissenso entre os teóricos quanto aos países que fazem parte do continente. O debate gira em torno
da ilha de Nova Guiné, que sofreu um processo de colonização por alemães e ingleses. A ilha é dividida
exatamente ao meio sendo que o norte foi ocupado pela Alemanha e hoje é parte da Indonésia e o sul pela
Inglaterra, hoje o Estado independente de Papua Nova Guiné, sendo que alguns teóricos consideram toda a
Ilha como parte do Sudeste Asiático. Neste trabalho compartilhamos da visão contrária, que por motivos de
afinidades culturais e posicionamentos políticos, considera apenas a parte indonésia da ilha como Sudeste
Asiático e Papua Nova Guiné como parte do continente da Oceania. Isto posto, esclarecemos que nossa
concepção de Oceania abarca os Estados independentes: Austrália, Fiji, Ilhas Salomão, Kiribati, Estados
Federados da Micronésia, Nauru, Nova Zelândia, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Tuvalu e Vanuatu;
os Estados em livre-associação como Ilhas Cook e Niue - que têm livre-associação com a Nova Zelândia - e
as Ilhas Marshall - em livre-associação com os Estados Unidos. Além disso, abarcaremos em nossa análise
algumas possessões e colônias, como as ilhas de Guam e Samoa Americana - posses dos Estados Unidos -, o
conjunto de ilhas da Polinésia Francesa, a Nova Caledônia e o arquipélago de Wallis e Futuna - em posse da
França -, além das Ilhas Pitcairn, último resquício do império britânico na Oceania.
4 Dados geográficos retirados da base de dados do Pacific Island Forum, disponível em <http://www.
forumsec.org/pages.cfm/about-us/member-countries/> acesso em 03/10/2013, em conjunto com informações
do CIA World Factbook.
5 Ao levarmos em conta dados do CIA World Factbook, World Bank DataBank e informações da ONU
sobre IDH.
6 VIGEVANI, 1999, p. 7
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“Falar em sistema interestatal nesse sentido nos leva de volta à ideia de anarquia,
ideia chave em todo e qualquer estudo de relações internacionais. (...) Como
sugere a quase unanimidade da literatura, a anarquia existe, é um fato.” 7
Ainda nesta direção recuperamos as contribuições de E. Carr. Segundo o autor, entre
Estados e sob a lógica da anarquia, o que vigora são as relações de poder. A força, para Carr,
está presente em qualquer relação política e segundo ele:
“O fracasso em reconhecer que a força é um elemento essencial da política viciou,
até agora, todas as alternativas de se estabelecerem formas internacionais de
governos, e confundiu quase todas as tentativas de discutir o assunto.” 8
Carr vai se utilizar de uma divisão realizada por Russel, para classificar em três tipos o
poder político, ambos os autores são cuidadosos em afirmar a indissociabilidade do poder, sendo
esta tipologia meramente teórica. Os três tipos de poder dispostos por eles são o poder militar,
o poder econômico e o poder sobre a opinião. Vale ressaltar o caráter teórico desta divisão, Carr
coloca que “é difícil, na prática, imaginar um país que, por algum período de tempo, possua
algum tipo de poder isolado dos outros”.9 Além disso, temos mudanças no cenário internacional
que nos força a atualizar os conceitos, Meire Mathias, por exemplo, ao trabalhar a tipologia
de Carr, coloca em evidência a sobreposição do direito privado internacional sobre o direito
público internacional, ressaltando que:
“Do ponto de vista do poder na política internacional, altera-se não somente a
noção de soberania, mas também o domínio dos recursos de poder do Estado
resultando, inclusive, no aumento da vulnerabilidade externa do país”.10
Com isso em mente, utilizaremos da tipologia de Carr para analisarmos a distribuição de
poder entre os países da região.
O PODER MILITAR
Vejamos primeiramente o poder militar, o qual possui “suprema importância” na conceituação
de Carr. Segundo o autor, a guerra ocupa posição central na política internacional. Ainda que
a guerra seja indesejável, é uma necessidade em última instância para resolução de impasses
extremos como um último recurso, estando sempre presente como um espectro rondando as
relações interestatais. Por esse motivo, o autor afirma que:
“[as potências] são classificadas de acordo com a qualidade e a suposta eficiência
do equipamento militar, incluindo a força humana, à sua disposição” 11
7 VIGEVANI, 1999, p. 9
8 CARR, 1981, p. 109
9 CARR, 1981, p.110
10 MATHIAS, 2012, p.162
11 CARR, 1981, p.112
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Observando as ilhas por esse viés fica evidente sua debilidade. Nem todas as ilhas possuem Forças
Armadas próprias, Kiribati, Palau e Nauru, por exemplo, deixam sua defesa como responsabilidade da
Austrália ou da Nova Zelândia, baseados em acordos formais. As Ilhas Marshall têm acordo semelhante
com os EUA. Já Samoa se apresenta em uma situação ainda mais frágil, pois o acordo de defesa com
a Nova Zelândia é informal, o que o torna mais fácil de ser rompido. Mesmo as forças militares da
região, Austrália e Nova Zelândia, não possuem poderio militar para ameaçar as potências hegemônicas,
sendo que a Austrália tem atuado como um fiel aliado destas potências, apoiando e enviando tropas,
por exemplo, para a Guerra do Iraque, demonstrando um posicionamento mais voltado à submissão aos
estados hegemônicos do que à preocupação regional. 12
Quadro Militar13
País
Forças Militares
Austrália
Australian
Defense
Australian
Army
Force
(ADF):
(inclui
Special
Gastos
Homens em idade
Mulheres em idade
Militar(16-49 anos)
Militar(16-49 anos)
5,116,722
5,316,464
3%
233,240
222,587
1.6%
142,913
118,164
3.7%
25,190
20,302
-
22,008
23,501
-
Militares
(PIB)
Operations Command), Royal Australian
Navy (inclui Naval Aviation Force),
Royal Australian Air
Force,
Joint
Operations Command (JOC)
Republic of Fiji Military Forces (RFMF):
Fiji
Land Forces, Naval Forces (2011)
Ilhas Salomão
Não há forças armadas, nem acordos de
defesa
Kiribati
Não há forças armadas, a defesa é
fornecida pela Nova Zelândia
Micronésia,
Não há forças armadas, a defesa é
E s t a d o s
fornecida pelos Estados Unidos da
Federados da
América
12 Dados retirados do CIA World Factbook, disponível em <https://www.cia.gov/library/publications/the-worldfactbook/> acesso em 03/10/13.
13 Tabela construída pelo autor com dados do CIA World Factbook, disponível em <https://www.cia.gov/library/
publications/the-world-factbook/> acesso em 03/10/13.
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Não há forças armadas, a defesa é
Nauru
fornecida pela Austrália
1,823
2,034
-
1,019,798
1,003,429
1.5%
5,272
3,969
-
1,568,210
1,478,965
0.5%
38,260
38,032
-
24,460
24,041
0.9%
2,021
2,026
-
43,331
44,927
-
New Zealand Defense Force (NZDF):
Nova Zelândia
New Zealand Army, Royal New Zealand
Navy, Royal New Zealand Air Force (Te
Hokowhitu o Kahurangi, RNZAF
Não há forças armadas, a defesa é
Palau
fornecida
pela
Estados
Unidos
da
América
Papua
Nova
Papua New Guinea Defense Force
(PNGDF; includes Maritime Operations
Guiné
Element, Air Operations Element)
Não há forças armadas, a defesa é
Samoa
fornecida pela Nova Zelândia
Tonga Defense Services (TDS): Land
Tonga
Force (Royal Guard), Maritime Force
(includes Royal Marines, Air Wing)
Não há forças armadas, nem acordos de
Tuvalu
defesa
Vanuatu
Não há forças armadas, nem acordos de
defesa
As ilhas também possuem baixo nível populacional (novamente com as exceções de Austrália
e Nova Zelândia, desta vez acompanhadas por Papua Nova Guiné), o que se desdobra em exércitos
defasados. O único país que nunca foi colonizado da região, Tonga, possui disponíveis em idade
militar (de 16 a 49 anos) cerca de 40 mil pessoas. Fiji, outro país com força armada própria, possui
aproximadamente 450 mil pessoas disponíveis para serviços militares. Números discretos perante aos
2 milhões de pessoas disponíveis para o exército da Nova Zelândia e ainda mais irrisórios frente aos 8
milhões da Austrália.14
14 Dados retirados do CIA World Factbook, disponível em <https://www.cia.gov/library/publications/the-worldfactbook/> acesso em 03/10/13.
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Mapa Geopolítico15
Essa fragilidade fica ainda mais exposta quando observamos a posição estratégica ocupada
por esses países. Várias ilhas da região foram utilizadas como base militares durante a segunda guerra
mundial, principalmente pelos Estados Unidos e pelo Japão, mas também por alemães e franceses que
à época ainda mantinham suas colônias no continente. Atualmente a grande maioria dessas bases foram
desativadas, porém os Estados Unidos ainda mantém um grande número de bases ativas, seja em países
aliados, seja em suas dependências.
O PODER ECONÔMICO E O PODER SOBRE A OPINIÃO
Austrália e Nova Zelândia também são exceções quando se trata do segundo tipo de poder elencado por
Carr, o poder econômico. Se, como ressaltamos, as formas de poderes são inseparáveis na prática, mesmo
uma separação teórica entre o poder militar e o poder econômico é difícil de realizar, pois, conforme o
autor “O poder é indivisível; e as armas militares e econômicas são meramente, diferentes instrumentos
de poder” 16. O poder econômico está mais intrinsecamente ligado ao poder militar quando pensamos na
ameaça de guerra. Nesta condição, a autarquia, ou auto-suficiência é necessária para superar bloqueios
econômicos, garantindo a sobrevivência da nação. Além disso, temos o poder econômico sendo utilizado
em companhia do poder militar para garantir a influência dos países no exterior. Para isso realiza-se a
exportação do capital, isto é, investimentos externos e o controle de mercados estrangeiros. 17
15 SIMIELLI, 2009, p.37
16 CARR, 1981, p. 118
17 CARR, 1981, pp. 118-126
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Pois novamente os únicos países em condição de exercer tais poderes na região são a
Austrália e a Nova Zelândia e mesmo assim de forma limitada. Ambos possuem uma economia
diversificada entre indústria, turismo e a agropecuária. O restante dos países da região tem
um leque de possibilidades econômicas diminuto, baseando-se quase que exclusivamente em
exportações de bens primários e na indústria do turismo.18
Com suas belas praias de águas claras, com seus corais pulsando vida, com a riqueza e
variedade de suas culturas, as ilhas do pacífico devem muito de sua renda ao turismo. Contudo,
a região é turbulenta. Cercada de vulcões, com grande número de terremotos e sendo atingidas
por tsunamis e ciclones, as ilhas são frequentemente devastadas, o que gera períodos de oscilação
no número de turistas, outro fator que acarreta em baixas nesta indústria são as democracias
recentes, as quais ainda passam por turbulências, como golpes de estado e instabilidades
política. 19
Além dessa indústria inconstante, o extrativismo é outra fonte de renda das ilhas,
com todos os malefícios que isso acarreta, como degradação do meio ambiente, condições
precárias de trabalho e eventuais extinções da fonte de riqueza. Neste sentido, o caso de Nauru é
exemplar, esta ilha foi exaurida pela mineração de fosfato, ficando com um território destruído
pela erosão, uma população empobrecida pela concentração dos lucros e um Estado falido, por
não ter outra fonte de renda. Ainda hoje temos algumas ilhas que vivem apenas da exportação
de copra (polpa seca do coco) e óleo de coco, ou outros produtos tropicais, todos com baixa
taxa de lucro. Outras ilhas, por fim, tem em sua economia somente a agricultura de subsistência,
sendo que alguns casos mais extremos exigem a importação de alimentos e ajuda internacional.
Fica aparente desta forma a falta de poder econômico das ilhas do pacífico, que não conseguem
promover uma autarquia e muito menos expandir sua influência através da economia, sendo
que, são elas que tem em seu território, uma grande influência dos países hegemônicos.
Quadro Econômico20
País
População
PIB (US$)
Crescimento
Austrália
22,262,501
1.542 trilhões
3.6%
Fiji
896,758
3.996 bilhões
2.1%
Mão
de
Exportações Importações
O b r a
(US$)
(US$)
Disponível
1 2 . 1 5
258.8 bilhões 239.7 bilhões
milhões
991.6
335,000
1.762 bilhões
milhões
Ilhas
Salomão
597,248
1.01 bilhões
5.5%
202,500
226.5
milhões
$360.3
milhões
Kiribati
103,248
173 milhões
2.5%
7,870
7.066
milhões
80.09
milhões
18 HEZEL, 2012, pp. 10-14
19 HEZEL, 2012, pp. 16-17
20 Tabela construída pelo autor com dados do CIA World Factbook, disponível em <https://www.cia.gov/
library/publications/the-world-factbook/> acesso em 03/10/13.
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Micronésia,
Estados
Federados
da
106,104
327 milhões
1.4%
15,920
24.9 milhões
132.7
milhões
Nauru
9,434
60 milhões
-
-
64,000
20 milhões
4,365,113
169.7 bilhões
2.5%
2 . 3 9 4
milhões
37.9 bilhões
37.15 bilhões
Palau
21,108
221 milhões
5.8%
9,777
12.3 milhões
113.4
milhões
Papua Nova
Guiné
6,431,902
15.79 bilhões
9.1%
3 . 9 8 6
milhões
5.604 bilhões
4.412 bilhões
Samoa
195,476
683 milhões
1.2%
47,930
11.4 milhões
318.7
milhões
Tonga
106,322
476 milhões
1.4%
39,960
8.4 milhões
121.9
milhões
Tuvalu
10,698
37 milhões
1.2%
3,615
600,000
16.5 milhões
Vanuatu
261,565
783 milhões
2.7%
115,900
$55.9
milhões
316.4
milhões
N
o v a
Zelândia
A última forma de poder apregoada por Carr é a propaganda, ou seja, o poder sobre a opinião,
no qual a capacidade de influência sobre as massas é fundamental para o exercício pleno do poder. Este
é mais um tipo de poder notável por sua ausência nas pequenas ilhas do pacífico. Sua influência é muito
fraca, tanto interna como externamente. A ausência de controle da opinião é visível internamente através
dos sucessivos golpes militares e instabilidade política. Fiji, por exemplo, já sofreu quatro golpes de
estados desde 1987, sendo que o último, de 2006, perdura até os dias de hoje. A falta de influência no
plano externo é visível pela pouca participação e pequeno peso das ilhas em decisões internacionais,
sendo que algumas ilhas têm livre-associação com Estados Unidos ou Nova Zelândia, ficando estes
países responsáveis pelos assuntos de política externa dos Estados, ou seja, eles nem mesmo chegam a
se manifestar propriamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos aqui, baseados na teoria de Carr, um levantamento inicial de um quadro geral dos países
da Oceania no sistema internacional. Pudemos visualizar sua visível fragilidade e sua posição à margem
da hegemonia mundial. Esse quadro pode ser encarado como desanimador, ao pensarmos as dificuldades
que esses Estados encontram em se manterem autônomos e conquistarem melhores condições de vida
para sua população, entretanto, podemos vislumbrar na região uma potencial configuração, ou ao menos,
um potencial aliado de uma contra-hegemonia. Conforme Edmundo Fernandes Dias:
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“Constrói-se uma hegemonia na luta contra as formas institucionais da ordem
anterior, na crítica das suas formas de conceber o mundo; constrói-se, enfim, pela
atualização das suas possibilidades de transformação.” (DIAS, 2006, p. 46).
Sendo assim, uma área inicialmente tão frágil, pode vir a ser um poderoso contraponto
a essa dominação vigente. Por isso achamos importante o estudo da região em uma perspectiva
internacional. Procuraremos, com o avanço dos estudos, formar quadros mais amplos da
posição desse continente no sistema internacional. Neste caso nosso foco estará nas pequenas
ilhas, excetuando a Austrália e a Nova Zelândia que por se diferenciarem dessas ilhas tanto em
termos econômicos, quanto populacionais e militares, não caberia em nosso recorte. Visto, no
entanto, o importante papel que as duas nações cumprem na região, seria impensável não levalas em consideração ao pensamos sua relação com as ilhas.
Com um quadro mais completo da posição desses países no sistema internacional
poderemos investigar as possibilidades de organização regional, construção de contrahegemonia e aproximações com a América Latina.
Uma aproximação inicial entre as duas regiões é referente a forte influência americana,
atual pólo hegemônico, que se desdobra na ausência de soberania de alguns países e na perda
parcial da autonomia de outros mais poderosos. O segundo caso é visível em políticas voltadas
para interesses americanos de países maiores e mais desenvolvidos, como o Brasil na América
Latina e a Austrália, na Oceania. Já a ausência de soberania se visualiza claramente através dos
Estados livre-associados, como Porto Rico na América Latina e Ilhas Marshall na Oceania que
estão diretamente sujeitos à política norte-americana.
Esperamos com a continuidade deste trabalho encontrar novas aproximações e aprofundálas, para pensarmos a configuração de uma força nacional e internacional mais proeminente
entre essas nações no sistema internacional.
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Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo
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