ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIDADE DIDÁTICA Título: A representação do negro no livro didático Professor PDE: Sonia de Freitas Quinelato Área PDE: Língua Portuguesa NRE: Umuarama Professor Orientador da IES: Prof. Me. Carlos da Silva IES vinculada: UEM – FAFIPA Escola de Implementação: Colégio Estadual Duque de Caxias – Ensino Fundamental e Médio. Público objeto da intervenção: alunos da 8ª série do Ensino Fundamental Umuarama 2009/2010 2 Unidade Didática A representação do Negro nos livros didáticos da Educação Básica INTRODUÇÃO Esta Unidade didática mostrará uma visão do negro e do sentido de inferioridade existentes no contexto escolar. O livro didático traz textos com imagens não-conceptíveis com a realidade brasileira, e toda vez que se trabalha com ela, nos contempla com avidez a necessidade de acabar com o preconceito e deixar claro a valorização de todas as etnias existentes na escola. É preciso estudar os textos que retratam a imagem e o seu contexto, bem como as atividades ali colocadas, considerando que é relevante e de vital importância. Acredita-se que seja possível construir uma sociedade que atenue os atos preconceituosos, uma vez que valorizando a diferença com um aspecto positivo a formação social do aluno, lembrando-se de que as diferenças são aspectos que somam para a difusão do conhecimento, essa postura pode ser muito bem desenvolvida na escola, através do manuseio de livros didáticos que tratem o tema aqui discutido com mais propriedade e criticidade. Dessa forma, aprender a fazer uso de uma prática educacional que valorize a diversidade cultural e esteja atenta a qualquer forma de discriminação, progredindo nas discussões a respeito das diferenças raciais, é o começo da formação de uma sociedade mais justa e menos preconceituosa que até então só existe no papel e se manifesta altamente discriminatória em livros didáticos brasileiros contemporâneos. Desde pequeno quando se começa a comunicar-se, faz-se isso através da linguagem verbal, oral ou escrita e as utiliza para expressar o que sente. Entende-se então, que a linguagem é um sistema de signos, que cada uma tem os seus signos e que signo é tudo que representa alguma coisa. Segundo Bakhtin (2000, pág. 42), a língua reflete as relações sociais “relativamente estáveis” dos falantes. Logo, ela carrega marcas de sua história, de quem a produz, do lugar onde é produzida e em função de que(m) é empregada. Dessa maneira, a língua é 3 conhecida pelos enunciados concretos que são ouvidos e reproduzidos na interação com as pessoas. Com relação ao aspecto da linguagem presente nas representações não verbais, como a pintura, as figuras, ou mesmo uma cena, é possível abstrair a partir delas uma concepção de leitura e a busca de novos sentidos propiciados por essas manifestações. Assim, os educandos terão a oportunidade de conhecer outras possibilidades de leitura e diferentes linguagens, ainda que a palavra, como expressão verbalizada, esteja ausente. O material didático desenvolvido tem como objetivo oportunizar aos educandos o conhecimento da realidade e representação do negro nos livros didáticos usados nas escolas de Educação Básica de 4ª à 8ª séries, desenvolvendo o senso crítico a partir das leituras de textos e imagens presentes nos mesmos. Segundo Ana Célia da Silva (pág. 47, 1995): “O livro didático, considerado o depositório da verdade, é a memória conservada das civilizações. Contudo, muitos processos civilizatórios e muitas visões de mundo são omitidos ou destorcidos pelo livro, que veicula na maioria das vezes a visão de mundo e o processo civilizatório das classes dominantes. De modo geral, omite o processo histórico e cultural, o cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro, a mulher, entre outros. Em relação ao segmento negro, sua quase total ausência nos livros e sua rara presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da sua identidade e auto-estima”. Para a implementação do projeto, foi escolhida a 8ª série no Colégio Estadual Duque de Caxias – Nova Olímpia, na qual será feita uma explanação sobre os vários tipos de preconceitos: racial, social... E tantos outros. Discorrendo sobre o tema, e através de perguntas e respostas orais, será feito um pré-diagnóstico da turma. Em seguida, já com um diagnóstico estabelecido, serão trabalhados alguns textos, leitura e compreensão, usando o dicionário para pesquisa de palavras: do tipo “estereótipo”, leitura de imagens veiculadas em jornais, mídia, livros e revistas, observando como o negro é representado. 4 CONTEÚDO A discriminação do negro nos livros didáticos da 4ª a 8ª séries. OBJETIVOS • Entender o processo pelo qual se dá a leitura e interpretação dos textos que trabalham com a imagem do negro. • Oportunizar a socialização das ideias dos alunos sobre os textos. • Desenvolver o senso crítico dos alunos a partir dos textos e imagens presentes nos livros didáticos. • Propiciar o conhecimento da realidade e representação do negro nos livros didáticos usados nas Escolas de Educação Básica, visando à compreensão que essa representação pode provocar nos alunos em face de formação da sua personalidade. 5 PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS 1ª etapa: Primeiramente, será feita uma breve fundamentação teórica, apresentando a proposta à turma e explicitando as ideias do projeto. 2ª etapa: Em seguida, serão apresentados os vários tipos de textos de diferentes tipologias sobre o assunto, para posteriormente fazer as atividades relacionadas aos mesmos. 3ª etapa: Apresentação de várias frases previamente selecionadas da revista Nova Escola, com o propósito de leitura e reflexão sobre o sentido explícito e implícito neles. 4ª etapa: Apresentação do filme “Ao mestre com carinho”, que retrata o preconceito, mesmo sendo o protagonista um professor. Após o filme, os alunos farão atividades de interpretação de texto. 5ª etapa: Pesquisar fotos, livros, jornais e revistas, imagens veiculadas na mídia para confecção de painéis (observando como o negro é representado). 6ª etapa: Para finalizar a apresentação do projeto, o Padre da Paróquia Senhor Bom Jesus de Nova Olímpia fará uma palestra referenciando os vários tipos de preconceitos, dando ênfase ao lado religioso, e cantando hinos e músicas, momento lúdico do projeto. 6 Músicas sugeridas: Respeitem meus cabelos brancos (Chico César) Negros (Adriana Calcanhoto) Seguem alguns textos referentes ao preconceito racial: O silêncio vai acabar Pouco se fala disso, mas também na escola os negros sofrem com o preconceito. Essa situação pode mudar. O primeiro passo para a discriminação Numa manhã de junho, há um ano. A pedagoga Eliane CavalIeiro instala Se na saída de uma escola de Educa ao Infantil, em São Paulo, observando como uma professora se despedia de seus 22 alunos. Entre os doze alunos brancos, dez ganharam um beijinho; dos dez negros, só três mereceram o mesmo afeto. Os brancos foram três vezes mais beijados do que os negros! Mas não poderia ser apenas o comportamento isolado de uma professora preconceituosa? E, afinal qual a importância de beijar ou não o aluno na saída da aula? [...] Por que o beijo na saída é relevante? "Porque as crianças que ficam sem o carinho percebem a diferença de tratamento e reagem a ela", diz Eliane. Os alunos negros se sentem inferiorizados; os brancos passam a crer que têm mais valor do que seus colegas. Tânia Regina Pinto e Leonardo Mourão: Revista Nova Escola São Paulo: Fundação Victor Civita, março de 1999. 7 O preconceito não é instintivo Os seres humanos não nascem preconceituosos, ou seja, o preconceito não é um fenômeno natural, instintivo ou inevitável. Ao contrário, atitudes, sentimentos e comportamentos preconceituosos são aprendidos, interiorizados pelas pessoas desde a mais tenra idade. Inconscientemente, as crianças absorvem noções preconcebidas, sem que tenham possibilidade de avaliá-las de maneira crítica, o que torna muito difícil revela na vida adulta. Além disso, geralmente os adultos (e a autoridade dos mais velhos não costuma ser contestada na infância) os responsáveis pela difusão do preconceito. Por outro lado, expressões preconceituosas têm forte apelo emocional, resultando em manifestações profundamente irracionais. Assim, as crianças, passam longos anos ouvindo dos adultos, frases como: “Homem não chora”; “Você deve aprender a cozinhar para que possa se casar”; “Os negros têm o samba no sangue”; “Eu odeio judeus”; “lugar de mulher é na cozinha”; “Os nordestinos são todos preguiçosos”. [...] Jogos e brincadeiras infantis, aparentemente ingênuos, constituem poderosos meios de socialização da criança. Eles também não escapam à atuação do preconceito. [...] Desse modo, idéias preconceituosas e estereotipadas vão sendo criadas, cristalizadas e transmitidas de geração a geração (no meio familiar, no convívio social mais amplo, na escola ou através da mídia), sem que as pessoas se dêem ao trabalho de verificar se são falsas ou não. Renato da Silva Queiroz. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1995. 8 Quem conhece suas raízes tem mais segurança Os moradores de Mesquita – lugarejo situado a 50 quilômetros de Brasília, cuja população é quase toda negra – hoje orgulham-se de serem negros e de pertencer a esse lugar. Há bem pouco tempo a realidade era bastante diferente. Quando os estudantes de mesquita iam às cidades vizinhas, ouviam insultos e gracejos ofensivos como “Lá vêm os mesquiteiros fedorentos!”, “Lá vêm os negros!”, que os faziam sentirem-se humilhados e tristes. Atentos e preocupados com essa situação, professores de uma escola municipal da cidade solicitaram aos alunos uma pesquisa sobre a origem do lugar. Os estudantes descobriram, então, que Mesquita surgiu de um quilombo e que a população negra da cidade se originara de homens que buscavam a liberdade e lutavam por ela. Conhecer suas origens fez surgir o respeito e o orgulho pela sua história e mudou a vida dos moradores de Mesquita, dando a eles mais segurança para enfrentar os preconceitos e a discriminação. Pelo silêncio da história Uma poderosa estratégia de negação do outro é justamente o silêncio. Deixar de registrar os efeitos de uma comunidade é relegá-la ao esquecimento. O que não é evocado deixa de existir. Assim a escritura da história é feita, como sabemos, pelos vencedores, que passam a deter o controle da enunciação, elidindo tudo o que poderia engrandecer o vencido. [...] Silenciar dados históricos de uma determinada comunidade constitui ato de flagrante racismo; usar de eufemismo em referência ao passado também o é. Zilá Bernd. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Moderna, 1994. 9 Cultura Afro Faz Escola na Bahia Entre todos os Estados brasileiros, é na Bahia que estão os mais conhecidos grupos de divulgação da cultura negra e de luta contra o racismo. E é ainda lá que ocorre um fenômeno único em nosso país: agremiações culturais e musicais com sólidas raízes africanas, como o IIê-Ayê, o Olodum e a Timbalada, vêm investindo parte do que ganham.em shows, gravações e no carnaval, em programas especialmente dirigidos à comunidade negra. O IIê-Ayê, primeiro grupo de música afro do país, fundado há 25 anos, é o que tem uma das iniciativas mais abrangentes. Em sua sede, no bairro da Liberdade, em Salvador, funciona uma escola de 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental; um curso profissionalizante que oferece formação em atividades que vão da informática à modelagem de cabelos no estilo afro e uma escola de percussão, que só aceita como integrantes jovens que estejam matriculados no ensino formal. Em todas as turmas do IIê-Ayê há uma disciplina obrigatória, a História da África. Tânia Regina Pinto e Leonardo Mourão: Revista Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita, março de 1999. O direito à diferença Compreender que a humanidade é cultural e biologicamente variada, sem por isso deixar de ser una, e que tais variações não expressam desigualdades inatas vigentes entre as diversas populações humanas, parece ser o primeiro passo para a prática da tolerância e a eliminação do preconceito. Renato da Silva Queiroz. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1995. 10 Dialogando com o texto 1. A partir do conteúdo dos vários trechos que você leu e do titulo O Silêncio Vai Acabar, responda. a) A que se refere a palavra silêncio? b) Segundo o texto, que ações da sociedade estimulam o silêncio e a continuidade de ideias preconceituosas? c) Por que, em sua opinião, o título do texto é O silêncio vai acabar em vez de O silêncio pode acabar? d) Observando o que mudou desde a geração dos seus avós até a sua geração, você acha que o “silêncio vai acabar”? 2. Sobre o conteúdo do texto O preconceito não é instintivo, responda. a) Segundo o texto, os seres humanos não nascem preconceituosos; o preconceito é aprendido e difundido pelas pessoas. Você concorda ou discorda dessa afirmação? Justifique sua opinião. b) O fato observado na porta da escola pode ser considerado como um exemplo de que o preconceito é aprendido? Justifique sua resposta. c) Que outros exemplos ‘“aparentemente ingênuos” você também percebe como capazes de disseminar o preconceito? 3. Agora releia o trecho O preconceito não é instintivo, para responder às questões a seguir. a) Observe que no primeiro parágrafo o autor expõe seu ponto de vista: os seres humanos não nascem preconceituosos. A quem ele dirige a responsabilidade pela continuidade do preconceito? b) O que o autor busca em apontar situações, evidências, exemplos no seu texto? c) Em sua opinião, como o autor pode ter formado o ponto de vista apresentado no texto? 11 4. Leia a definição da palavra estereótipo e responda. “Estereótipos são clichês, chavões que são repetidos sem serem questionados. O estereótipo parte de uma generalização apressada: torna-se como verdade universal algo que foi observado em um só indivíduo. Conhece-se um gordo preguiçoso, um judeu desonesto, um italiano pão-duro, um negro inculto, por exemplo, e se generaliza, afirmando que todo gordo é preguiçoso, todo judeu é desonesto [...]” Zilá Bernd. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Moderna, 1994. a) Novelas, propagandas, programas humorísticos, a mídia em geral está repleta de personagens estereotipadas. Pense nas propagandas que você já viu e escolha uma personagem que seja exemplo de estereótipo. Escreva como ele é caracterizado. b) Que chavões / estereótipos você conhece ou já ouviu alguém empregar? c) De que forma a mídia em geral, novelas, propagandas, programas humorísticos, pode contribuir para valorizar a diversidade étnica do povo brasileiro? 5. Releia o trecho Quem conhece suas raízes tem mais segurança e responda. a) Qual era o objetivo dos professores da escola de Mesquita ao solicitarem aos alunos uma pesquisa sobre a origem do lugar? b) Copie o provérbio que expressa melhor a estratégia dos professores da escola de Mesquita. • A mão que nada oferece não pode receber • Boa fama é uma segunda herança • Antes ser e não parecer do que parecer e não ser. 12 c) O que poderia ser feito junto às comunidades vizinhas à de Mesquita para evitar atitudes preconceituosas em relação a seus moradores? Algumas frases para que os alunos possam discuti-las: Uma mulher negra, mãe de uma das alunas da escola, deu o seguinte depoimento a Eliane: “Eu achava que o branco era filho de Deus, porque todo mundo dizia: ’Jesus Cristo é branco’. Então eu raciocinava, o branco é filho de Deus e preto é filho do diabo”. E concluiu: “eu acreditava realmente nisso”. A irmã mais velha de uma das crianças da escola contou como era a convivência com os colegas da escola: “Nós éramos todas amigas, da mesma idade. Às vezes, quando as meninas brancas estavam conversando entre elas, eu me aproximava e logo alguém dizia: ‘ Eu não chamei você, preta, só tem branca na rodinha. Não tem preta!”. Eliane entrevistou uma menina negra e pediu que ela se descrevesse: “Eu tenho uma franjinha abaixada, sou gordinha, meu pezinho é gordo porque eu puxei meu pai”. Eliane fez outra pergunta: “como você é: preta, branca...?”. Depressa a garota disse: “Morena.” A pedagoga: “Você gostaria de ser diferente?”. A menina pensou um pouco antes de responder: ”Hum... eu gostaria de ser branquinha!” No dia 12 de setembro de 1997, as crianças estavam na sala de vídeo da escola assistindo a programas infantis, quando uma edição extraordinária na TV anunciou a morte em um acidente do cantor negro João Paulo, que fazia dupla com Daniel, de cor branca. Ao ouvir o noticiário, uma professora perguntou: “Qual deles morreu?” E em seguida: “Ah... não foi o bonito!”. Todos da sala ouviram seu comentário. 13 Uma das meninas contou à pedagoga uma conversa com sua professora: “Eu disse para ela que eu não queria ser preta, eu queria ser como a Angélica (apresentadora Loira da TV Globo). Ela é bonita!”. Desde esse dia, para desgosto da menina, a professora passou a chamá-la, jocosamente, de Angélica. No final de uma entrevista para sua tese, Eliane ouviu a seguinte observação de uma professora: “Você é muito bonita, você não seria discriminada. Você passa por branca. Ninguém te discrimina”. Uma menina negra contou como as crianças brancas a insultavam: “Elas me xingam de preta que não toma banho”. E narrou uma desavença com outra criança: “Ela me xingou de preta fedida. Eu contei para a professora, que não fez nada”. Depoimento de uma técnica da Secretaria Familiar e do Bem-estar Social de São Paulo: “Por conta da presença maciça de negros, a creche sofre uma profunda desvalorização em seu cotidiano, pois há uma desvalorização social do negro. Assim as pessoas na creche não valorizam mais determinados trabalhos”. Uma professora branca “explica” a origem do preconceito: ”Se você pensar bem, vai ver que o preconceito é uma questão de cheiro. Nos negros, a melanina faz com que o cheiro fique mais forte. Hoje, esse preconceito melhorou com os antitranspirantes que fazem com que não exista o cheiro. Não havendo o cheiro, não existe o porquê de um branco não conversar com um negro e vice-versa”. 14 Também neste filme: AO MESTRE COM CARINHO Mark Thackeray é um engenheiro negro desempregado que, enquanto não consegue um novo emprego em sua área, decide aceitar uma proposta para dar aulas numa escola secundária de Londres, no bairro operário de East End. Ao chegar lá, lhe é dada uma classe de adolescentes que cursam o último ano e que não querem nada com a vida. Os alunos, sem exceção, são extremamente indisciplinados. Liderados por Denham, Pamela Dare e Barbara Pegg, estão determinados a destruírem Thackeray, como fizeram com seu antecessor. Em sua primeira aula, percebe que a missão que tem pela frente não vai ser fácil de ser realizada. Entretanto, acostumado a hostilidades, principalmente por ser negro, enfrenta o desafio, mesmo com seus colegas professores não acreditando na possibilidade de qualquer êxito. O tempo passa, sempre sofrendo a hostilidade crescente dos alunos, principalmente de Denham, não conseguindo passar a matéria prevista no currículo. Certo dia, o grupo o irrita a tal ponto que ele termina perdendo a calma, única coisa que havia jurado nunca perder. Em plena sala de aula, pega todos os livros e os joga numa lixeira, alegando serem os mesmos inúteis para aquele grupo. Em seguida, diz aos alunos que, daquele momento em diante, vai passar a tratá-los como adultos responsáveis que, em poucas semanas, estarão deixando a escola e enfrentando o mundo que os aguarda, batalhando por uma vaga no mercado de trabalho, com todas as responsabilidades exigidas pela vida adulta. O conteúdo das aulas passa a ser uma conversa franca entre professor e alunos sobre os mais diversos temas como, por exemplo, a vida, sobrevivência, amor, 15 morte, sexo, casamento. Antes de mais nada, entretanto, todos vão ter que se submeter a certas formalidades que fazem parte do mundo competitivo que os aguarda, desde a forma de se tratarem entre si, com respeito, à forma de se vestirem. A estratégia adotada por Thackeray dá certo e, em pouco tempo, ele se torna o grande líder da classe. Denham ainda tenta hostilizá-lo, mas termina se curvando diante da nova realidade. Ao final do ano letivo, pouco antes das festividades de encerramento, Thackeray recebe uma carta que o confirma no cargo de engenheiro-assistente de uma fábrica de rádios no interior. Entretanto, após receber uma calorosa e carinhosa homenagem de seus alunos, tem dificuldades em se decidir se aceita o novo emprego ou se continua a lecionar na referida escola. Baseado no livro homônimo de E. R. Braithwaite, "Ao Mestre, Com Carinho" é um ótimo drama vivido por um professor negro em uma escola de um bairro operário de Londres, quando decide enfrentar uma indisciplinada classe de alunos adolescentes, disposto a transformá-los em futuros homens e mulheres de bem. Escrito, dirigido e produzido pelo cineasta James Clavell, o filme levanta alguns problemas sociais, raciais e outros próprios das angústias e inseguranças da adolescência, bem como, apresenta várias mensagens positivas em relação a esse universo. 16 Atividades: 1. Em que ponto do filme pode-se detectar que há discriminação racial? 2. A personagem principal conseguiu alcançar seu objetivo? Justifique. 3. “A vida, a sobrevivência, amor, morte, sexo, casamento” são assuntos relevantes a serem discutidos em sala de aula? Por quê? 4. Quais as mensagens positivas do filme, o que podemos assimilar e colocar em prática no nosso dia a dia? O aluno assistirá e irá constatar a realidade do filme com a vivência do dia a dia. ( Serão apresentadas outras sugestões relevantes ao tema ). Lembrando sempre que após a realização de cada atividade, deve-se questionar se estão sendo alcançados os objetivos propostos, sendo que o mais importante deles é despertar o senso crítico no aluno. 17 REFERÊNCIAS BAKHTN, Minchail (VOLOCHINOW). Marxismo e Filosofia da Linguagem. Trad. De Michel Lahud e Yara Frateschi. 9ª ed. São Paulo: Hucitec, 1999. BELTRÃO, Eliana Santos & GORDILHO, Tereza. Coleção Novo Diálogo – Língua Portuguesa, 7ª série, 1ª edição. São Paulo: FTD, 2006. BERND, Zilá. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Moderna, 1994. QUEIROZ, Renato da Silva. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1995. Revista Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita, março de 1999. SILVIA, Ana Célia da. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA, 1995.