FEMINA É comum mulheres que utilizam COCs terem sintomas associados ao intervalo livre de hormônios1 CO N COM 2012 1º VOL. 41 - JANEIRO/FEVEREIRO DE ESTRADIOL Janeiro/Fevereiro 2013 | Vol 41 | nº 1 Qlaira® é uma boa opção para mulheres com sintomas associados ao intervalo livre de hormônios no regime 21/72 Escreva uma revisão sistematizada ou uma metanálise para a Femina sobre tema de seu interesse. QLAIRA®. DIENOGESTE E VALERATO DE ESTRADIOL. REG. MS – 1.7056.0049. INDICAÇÕES: CONTRACEPTIVO ORAL. CONTRAINDICAÇÕES: CONTRACEPTIVOS COMBINADOS ORAIS (CCOS) NÃO DEVEM SER UTILIZADOS NA PRESENÇA DAS CONDIÇÕES LISTADAS (DEVENDO-SE AVALIAR AS PARTICULARIDADES DE CADA SITUAÇÃO): TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO, ENXAQUECA, DIABETES MELLITUS, PANCREATITE, HIPERTRIGLICERIDEMIA, DOENÇA HEPÁTICA GRAVE, TUMORES HEPÁTICOS, NEOPLASIAS DEPENDENTES DE ESTEROIDES SEXUAIS, SANGRAMENTO VAGINAL NÃO DIAGNOSTICADO, SUSPEITA OU DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ, HIPERSENSIBILIDADE A QUALQUER UM DOS COMPONENTES DO PRODUTO. ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES: NÃO EXISTEM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE OS EFEITOS DE CCOS CONTENDO ESTRADIOL/VALERATO DE ESTRADIOL. TODAS AS PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS A SEGUIR SÃO PROVENIENTES DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DE CCOS CONTENDO ETINILESTRADIOL. NÃO SE SABE SE ESTAS PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS SE APLICAM A QLAIRA®. AVALIAR OS BENEFÍCIOS E RISCOS. CONSULTAS/EXAMES MÉDICOS REGULARES SÃO RECOMENDADOS. DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS, TUMORES, HIPERTRIGLICERIDEMIA, HIPERTENSÃO, COLECISTOPATIA, PORFIRIA, LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO, SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA, COREIA DE SYDENHAM, HERPES GESTACIONAL, PERDA DA AUDIÇÃO RELACIONADA COM OTOSCLEROSE, PATOLOGIA INTESTINAL INFLAMATÓRIA CRÔNICA, ANEMIA FALCIFORME, ENXAQUECAS, ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO, DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO HEPÁTICA, PODE OCORRER CLOASMA. QUANDO CCOS SÃO UTILIZADOS CORRETAMENTE O ÍNDICE DE FALHA É DE APROXIMADAMENTE DE 1% AO ANO. A EFICÁCIA DOS CCOS PODE SER REDUZIDA NOS CASOS DE ESQUECIMENTO DE TOMADA DOS COMPRIMIDOS, DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS OU INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA. PODEM SURGIR SANGRAMENTOS IRREGULARES, ESPECIALMENTE DURANTE OS PRIMEIROS MESES DE USO. É POSSÍVEL QUE EM ALGUMAS PACIENTES NÃO OCORRA O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO DURANTE A INGESTÃO DOS COMPRIMIDOS BRANCOS (INATIVOS). CASO A PACIENTE ENGRAVIDE DURANTE O USO DE QLAIRA®, DEVE-SE DESCONTINUAR O SEU USO. ENTRETANTO, ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS ABRANGENTES COM CCOS CONTENDO ETINILESTRADIOL NÃO REVELARAM RISCO AUMENTADO DE MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS EM CRIANÇAS NASCIDAS DE MULHERES QUE TENHAM UTILIZADO CCOS ANTES DA GESTAÇÃO. TAMBÉM NÃO FORAM VERIFICADOS EFEITOS TERATOGÊNICOS DECORRENTES DA INGESTÃO ACIDENTAL DE CCOS NO INÍCIO DA GESTAÇÃO. O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER UTILIZADO DURANTE A GRAVIDEZ. OS CCOS PODEM AFETAR A AMAMENTAÇÃO. REAÇÕES ADVERSAS: CEFALEIA, DOR ABDOMINAL, ACNE, AMENORREIA, DESCONFORTO MAMÁRIO, DISMENORREIA, SANGRAMENTO INTERMENSTRUAL, SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DO PESO CORPÓREO, INFECÇÃO VAGINAL ESPECIALMENTE POR FUNGO, AUMENTO DO APETITE, DEPRESSÃO, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DA LIBIDO, DISTÚRBIO MENTAL, ALTERAÇÃO DE HUMOR, TONTURA, HIPERTENSÃO, ENXAQUECA, DIARREIA, NÁUSEAS, VÔMITOS, ALOPECIA, PRURIDO, ERUPÇÃO CUTÂNEA, AUMENTO DO TAMANHO DAS MAMAS, NÓDULO MAMÁRIO, DISPLASIA CERVICAL, DISPAREUNIA, DOENÇA FIBROCÍSTICA DAS MAMAS, CISTO OVARIANO, DOR PÉLVICA, SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL, MIOMA UTERINO, ALTERAÇÃO DA SECREÇÃO VAGINAL, IRRITABILIDADE, EDEMA, HERPES SIMPLES, SÍNDROME DE HISTOPLASMOSE OCULAR PRESUMIDA, TINEA VERSICOLOR, INFECÇÃO URINÁRIA, HIPERTRIGLICERIDEMIA, ANSIEDADE, DISFORIA, NERVOSISMO, AGITAÇÃO, DISTÚRBIO DO SONO, ESTRESSE, DISTÚRBIOS DA ATENÇÃO, PARESTESIA, VERTIGEM, INTOLERÂNCIA A LENTES DE CONTATO, SANGRAMENTO DE VEIAS VARICOSAS, HIPOTENSÃO, DOR NOS VASOS, OBSTIPAÇÃO, DISPEPSIA, REFLUXO GATROESOFÁGICO, AUMENTO DA ALANINA AMINOTRANSFERASE, HIPERPLASIA NODULAR FOCAL DO FÍGADO, DERMATITE, CLOASMA, HIRSUTISMO, HIPERTRICOSE, NEURODERMATITE, SEBORREIA, DOR NAS COSTAS, ESPASMOS MUSCULARES, SINUSORRAGIA, HIPOMENORREIA, ATRASO MENSTRUAL, RUPTURA DE CISTO OVARIANO, LINFADENOPATIA, DOR NO PEITO, FADIGA, MAL-ESTAR. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: FENITOÍNAS, BARBITÚRICOS, PRIMIDONA, CARBAMAZEPINA, RIFAMPICINA, OXCARBAZEPINA, TOPIRAMATO, FELBAMATO, GRISEOFULVINA, ERVA-DE-SÃO-JOÃO, RITONAVIR, NEVIRAPINA, PENICILINAS, TETRACICLINAS, CIMETIDINA, VERAPAMIL, MACROLÍDEOS, DILTIAZEM, ANTIDEPRESSIVOS, SUCO DE GRAPEFRUIT, CETOCONAZOL, ERITROMICINA. POSOLOGIA: OS COMPRIMIDOS DEVEM SER INGERIDOS NA ORDEM INDICADA NA CARTELA, TODOS OS DIAS. A INGESTÃO DOS COMPRIMIDOS É CONTÍNUA. DEVE-SE INGERIR UM COMPRIMIDO POR DIA DURANTE 28 DIAS CONSECUTIVOS. CADA CARTELA SUBSEQUENTE É INICIADA NO DIA SEGUINTE À INGESTÃO DO ÚLTIMO COMPRIMIDO DA CARTELA ANTERIOR, SEM PAUSA ENTRE ELAS. EM GERAL, O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO INICIA-SE DURANTE A INGESTÃO DOS ÚLTIMOS COMPRIMIDOS DA CARTELA-CALENDÁRIO. PARA PROCEDIMENTOS SOBRE MUDANÇA DE CONTRACEPTIVO, CASO DE ESQUECIMENTO DE COMPRIMIDOS OU OCORRÊNCIA DE VÔMITOS E/OU DIARREIA, CONSULTAR A BULA DO PRODUTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. L.BR.WH.2013-02-08.1032 www.bayerpharma.com.br Consulte as normas editoriais. Em caso de dúvida, envie e-mail para: [email protected] ou [email protected] FEBRASGO CONTRAINDICAÇÃO: TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: ANTIBIÓTICOS E ANTICONVULSIVANTES. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. SULAK ET AL. HORMONE WITHDRAWAL SYMPTONS IN ORAL CONTRACEPTIVES USERS. OBSTET GYNECOL. 2000;95(2):261-6. 2. MABEY RG, PARKE S, MELLINGER U, SERRANI M, JENSEN J. HORMONE WITHDRAWAL-ASSOCIATED SYMPTOMS: COMPARISON OF E2V/DNG VERSUS EE/NGM. (POSTER PRESENTED AT THE ACOG 60TH ANNUAL CLINICAL MEETING 2012, SAN DIEGO). BOOK OF ABSTRACTS; MONDAY POSTERS SESSION, CONTRACEPTION/FAMILY PLANNING; P. 13. 3. PALACIOS S, ET AL. EFFICACY AND SAFETY OF A NOVEL ORAL CONTRACEPTIVE BASED ON OESTRADIOL (OESTRADIOL VALERATE/DIENOGEST): A PHASE III TRIAL. EUROPEAN JOURNAL OF OBSTETRICS & GYNECOLOGY AND REPRODUCTIVE BIOLOGY 2010; 149: 57-62. Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde. Revista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia PAG. 1-54 Reduz a severidade e frequência dos sintomas relacionados ao intervalo livre de hormônios tais como: cefaleia, dor pélvica, náusea, mastalgia e inchaço2 28 dias Maior aderência ao tratamento3 Tomada contínua sem pausa EPTIV AC O TR AL R O Qlaira® associa estradiol e dienogeste em regime 26/22 ISSN 0100-7254 FEBRASGO - DIRETORIA Presidente Etelvino de Souza Trindade (DF) Diretora Administrativa Vera Lúcia Mota da Fonseca (RJ) Revista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Diretor Financeiro Francisco Eduardo Prota (SP) Diretor Científico Nilson Roberto de Melo (SP) Diretor de Defesa Profissional Hélcio Bertolozzi Soares (PR) Vice-presidente da região Norte Júlio Eduardo Gomes Pereira (AC) Corpo editorial Editor Científico Aroldo Fernando Camargos Editores Associados (Ginecologia) Editores Associados (Obstetrícia) Cláudia Navarro Carvalho D. Lemos Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar Editor Científico de Honra Jean Claude Nahoum Ricardo Mello Marinho Mário Dias Corrêa Júnior Agnaldo Lopes da Silva Filho Frederico José Amedeé Péret Aderson Tadeu Berezowski (SP) Ione Rodrigues Brum (AM) Mauricio Simões Abrão (SP) Vice-presidente da região Sudeste Hugo Miyahira (RJ) Alberto Carlos Moreno Zaconeta (DF) Ione Cristina Barbosa (BA) Melania Maria Ramos de Amorim (PB) Alex Sandro Rolland de Souza (PE) José Eleutério Júnior (CE) Nilson Roberto de Melo (SP) Vice-presidente da região Sul Jorge Abi Saab Neto (SC) Almir Antonio Urbanetz (PR) José Mendes Aldrighi (SP) Olímpio Barbosa de Moraes Filho (PE) Ana Carolina Japur de Sá Rosa e Silva (SP) Julio Cesar Rosa e Silva (SP) Patrícia El Beitune (RS) Angélica Lemos Debs Diniz (MG) Laudelino de Oliveira Ramos (SP) Paula Navarro (SP) Anaglória Pontes (SP) Laudelino Marques Lopes (RJ) Paulo Roberto Dutra Leão (MT) Angela Maggio da Fonseca (SP) Lourivaldo Rodrigues de Souza (AM) Petrus Augusto Dornelas Câmara (PE) Anna Maria Bertini (SP) Lucas Vianna Machado (MG) Raphael Câmara Medeiros Parente (RJ) Antonio Alberto Nogueira (SP) Luciane Maria Oliviera Brito (MA) Ricardo de Carvalho Cavalli (SP) Antonio Carlos Vieira Lopes (BA) Luciano de Melo Pompei (SP) Ricardo Cristiano Leal da Rocha (ES) Antonio Chambô Filho (ES) Luciano Marcondes Machado Nardozza (SP) Ricardo Muniz Ribeiro (SP) Aristóteles Mauricio Garcia Ramos (ES) Luiz Camano (SP) Ricardo Nascimento (SC) Aurélio Antônio Ribeiro da Costa (PE) Luiz Gustavo Oliveira Brito (MA) Roberto Eduardo Bittar (SP) Bruno Ramalho de Carvalho (DF) Luiz Henrique Gebrim (SP) Rosa Maria Neme (SP) Carlos Alberto Petta (SP) Manoel João Batista Castello Girão (SP) Rosana Reis (SP) César Eduardo Fernandes (SP) Marcelino Espírito Hofmeister Poli (RS) Roseli Mieko Yamamoto Nomura (SP) David Barreira Gomes Sobrinho (DF) Marcelo Zugaib (SP) Rosiane Mattar (SP) Dirceu Henrique Mendes Pereira (SP) Marco Aurélio Albernaz (GO) Rosires Pereira Andrade (PR) Eddie Fernando Candido Murta (MG) Marco AurelIo Pinho de Oliveira (RJ) Rubens Lene Carvalho Tavares (MG) Edmund Chada Baracat (SP) Marcos Felipe Silva de Sá (SP) Rui Gilberto Ferreira (ES) Eduardo de Souza (SP) Marcos Desidério Ricci (SP) Sabas Carlos Vieira (PI) Eduardo Leme Alves da Motta (SP) Marcos Dias de Moura (SP) Sergio Flávio Munhoz de Camargo (RS) Ernesto Antonio Figueiró Filho (MS) Maria Bethânia C. Chein (MA) Silvana Maria Quintana (SP) Fernanda Polisseni (MG) Maria do Carmo Borges de Souza (RJ) Soubhi Kahhale (SP) Fernando Marcos dos Reis (MG) Maria Luiza Bezerra Menezes (PE) Suzana Maria Pires do Rio(MG) Frederico José Silva Corrêa (DF) Marilza Vieira Cunha Rudge (SP) Tadeu Coutinho (MG) Garibalde Mortoza Junior (MG) Marina de Carvalho Paschoini (MG) Tereza Maria Pereira Fontes (RJ) Geraldo Duarte (SP) Mário Dias Corrêa (MG) Vicente Renato Bagnoli (SP) Gustavo Py Gomes da Silveira (RS) Mario Silva Approbato (ES) Wellington de Paula Martins (SP) Hélio de Lima Ferreira F. Costa (PE) Mario Vicente Giordano (RJ) Zuleide Aparecida Félix Cabral (MT) Henrique Moraes Salvador Silva (MG) Mary Ângela Parpinelli (SP) Walquiria Quida Salles Pereira Primo (DF) Hubert Caldeira (MG) Mauri José Piazza (PR) Vice-presidente da região Nordeste Olímpio Barbosa Moraes Filho (PE) Vice-presidente da região Centro-Oeste Paulo Roberto Dutra Leão (MT) Assessora Especial de Diretoria Hitomi Miura Nakagava (DF) Presidência e Secretaria Executiva Avenida das Américas, 8.445, sala 711 – Barra da Tijuca CEP 22793-081 – Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2487-6336 Fax: (21) 2429-5133 www.febrasgo.org.br [email protected] [email protected] FEMINA é uma revista mensal com entrega automática para os sócios da FEBRASGO. Remessa com devolução garantida em caso de erro postal. Assinatura para pessoas jurídicas pelo endereço eletrônico: [email protected] Tiragem: 18.000 exemplares Conselho editorial PRODUÇÃO EDITORIAL Uma empresa do Grupo ZP Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César São Paulo/SP - CEP 01415-000 Tel.: 55 11 2978-6686 www.zeppelini.com.br [email protected] [email protected] [email protected] FEMINA não é responsável por afirmações contidas em artigos assinados, cabendo aos autores total responsabilidade pelas mesmas. Do mesmo modo, a aceitação de anúncios em suas páginas não implica qualquer tipo de endosso aos produtos ou matérias veiculadas, apesar de que FEMINA espera que os mesmos estejam de acordo com os padrões médicos e éticos Aos Autores Informações gerais • na página de rosto, seja inserido um título em português e sua versão Femina é uma publicação mensal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) que tem como principal objetivo divulgar artigos de revisão sistemática, além de artigos relacionados a tópicos específicos de Ginecologia ou Obstetrícia. Os autores podem colaborar com a Femina com os seguintes tipos de manuscritos: • ainda na página de rosto, constem nome completo e titulação do(s) em inglês; autor(es), nome da instituição onde os autores atuam, endereço completo, telefone, fax e e-mail do autor correspondente – com exceção dos Artigos de Revisão que dispensam este item; • na segunda página, seja apresentado o resumo do trabalho, com o mí- dos editoriais das edições de maio, junho e agosto de 2008 da Femina; nimo de 100 e máximo de 200 palavras. O texto deve ser corrido (sem parágrafo) e sem títulos ou subtítulos das partes. O resumo deve ainda apresentar de três a cinco palavras-chave selecionadas entre os termos que constam no Descritores em Ciência da Saúde (DeCS), disponíveis no endereço eletrônico http://decs.bvs.br. Para as seções Carta ao Editor e Normas das Comissões Especializadas, não é necessário resumo e palavras-chave. • Recomendações das Comissões Nacionais Especializadas da FEBRASGO; • na página seguinte, apresentar o Abstract, uma versão fiel do Resumo, e • Normas das Comissões Nacionais Especializadas, para divulgação de as keywords, correspondentes aos termos em português encontrados no DeCS; • Cartas ao Editor, que devem ser sucintas e apresentar um ponto de vista a respeito de artigo publicado na revista – não se deve ter como propósito primeiro polemizar com o colega; • Artigos de Revisões Sistemáticas ou Meta-análise; sugere-se a leitura normas e condutas aprovadas pelas Comissões Nacionais Especializadas da FEBRASGO. Submissão do manuscrito A submissão dos artigos ocorre pelo sistema cego (sem identificação de autores e instituições). O manuscrito é, então, analisado por conselheiros da revista, que geram pareceres, os quais são examinados, também de maneira cega, pelo editor científico e pelos editores associados, que decidem sobre a conveniência da publicação. O Corpo Editorial seleciona, a cada edição, os artigos que serão publicados imediatamente. O recebimento do artigo pela editoria da revista Femina não assegura sua publicação; os autores são devidamente comunicados acerca dos pareceres. Preparação do original O número máximo de autores para cada manuscrito é 7 e o número máximo de referências é 25 – exceto para artigos de revisão, que podem contar com até 50 referências. O tamanho dos artigos deverá respeitar os limites da seção a que se destina: • Artigo de Revisão Sistemática ou Meta-análise: 10 a 20 páginas – por volta de 10.000 a 35.000 caracteres; • Cartas ao Editor: até 2 páginas – até 3.500 carcateres; • na quarta página e subsequentes, deve ter início o corpo do trabalho. Em geral, trabalhos de revisão sistemática ou meta-análise devem dispor de: • introdução, que deve ser breve e comunicar a relevância do tema. Deve conter ainda o objetivo do trabalho; • metodologia, item que deve mencionar as palavras-chave empregadas nos sites de busca; o período em que a busca foi realizada; os sites de busca utilizados; o número de trabalhos encontrados; os critérios de seleção para inclusão/exclusão dos trabalhos encontrados; • discussão ou comentário, que se destine a uma análise crítica dos trabalhos selecionados. Mencionar no texto o grau de evidência científica (A, B, C e D), seguida da referência. Por exemplo: “Evidências atuais demonstram que a prescrição profilática de progesterona é uma importante estratégia na prevenção do nascimento prematuro em grupos específicos de gestantes- (A). No entanto, alguns estudos não apresentaram resultados satisfatórios, (A).”; • conclusão ou recomendações finais, para trazer ao leitor a resposta ao objetivo do trabalho. Ressalta-se a necessidade do uso da medicina baseada em evidência para categorização dos trabalhos citados na revisão, utilizando-se a classificação proposta pela Associação Médica Brasileira (AMB, http://www.amb.org.br): • Normas das Comissões Nacionais Especializadas: número de páginas/ caracteres a critério da diretoria da FEBRASGO; • Resumo dos dois melhores trabalhos apresentados em congressos ou encontros anuais regionais de cada federada: as normas para composição do texto são enviadas para os presidentes das federadas. O original deve ser digitado em papel A4 e com espaçamento de 2 cm entre linhas (inclusive nas tabelas) e margens de 3 cm. O processador de texto aceito é o Word for Windows, de qualquer versão. As afirmações feitas nos artigos são de responsabilidade integral dos autores. Pede-se atenção à correção do português e do inglês. Caixas-altas (letras maiúsculas) e sublinhados devem ser evitados; se julgar conveniente, expressá-los em itálico. O itálico deve ser reservado também para termos estrangeiros. Não usar pontos em sigla (INSS e não I.N.S.S.). Evitar siglas ou abreviaturas que não sejam oficiais ou clássicas e sempre explicá-las ao serem usadas pela vez primeira. Para a apresentação do manuscrito, pede-se que: • notas de rodapé não sejam utilizadas; Grau de recomendação e força de evidência A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência (meta-análises ou ensaios clínicos randomizados) B: Estudos experimentais ou observacionais de menos consistência (outros ensaios clínicos não-randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle) C: Relatos ou séries de casos (estudos não-controlados) D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais Citações e referências As citações e as referências deverão ser apresentadas de acordo com os requisitos do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – consultar links: http://www.icmje.org; http://www.nlm.nih.gov/bsd/ uniform_requirements.html e http://www.bu.ufsc.br/bsccsm/vancouver. html (em português). São aceitas até 25 referências – exceto para artigos de revisão, que podem apresentar até 50 referências, com ênfase para as mais recentes ou de maior relevância. Em trabalhos de revisão sistemática ou meta-análise, é indispensável, nas referências, a menção do seu nível de evidência científica. A Editoria Científica se reserva o direito, em casos especiais e selecionados, de permitir a inserção de mais de 25 referências. Como o tema é de revisão sistemática ou meta-análise, não se justifica – e não é aceita – a inexistência de referências recentes – publicada nos três últimos anos. Exemplos de referências Artigos de revistas • Até seis autores: Halpern SD, Ubel PA, Caplan AL. Solid-organ transplantation in HIV-infected patients. N Engl J Med. 2002;347(4):284-7. • Mais de 6 autores: Rose ME, Huerbin MB, Melick J, Marion DW, Palmer AM, Schiding JK, et al. Regulation of interstitial excitatory amino acid concentrations after cortical contusion injury. Brain Res. 2002;935(1-2):40-6. Livros FEBRASGO. Tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2000. Eisen HN. Immunology: an introduction to molecular and cellular principles of the immune response. New York: Harper and Row; 1976. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. Gilstrap LC 3rd, Cunningham FG, VanDorsten JP, editors. Operative obstetrics. 2nd ed. New York: McGraw-Hill; 2002. Capítulos de livros Meltzer PS, Kallioniemi A, Trent JM. Chromosome alterations in human solid tumors. In: Vogelstein B, Kinzler KW, editors. The genetic basis of human cancer. New York: McGraw-Hill; 2002. p. 93-113. Teses e dissertações Borkowski MM. Infant sleep and feeding: a telephone survey of Hispanic Americans [dissertation]. Mount Pleasant (MI): Central Michigan University; 2002. Trabalhos em eventos Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational effort statistic for genetic programming. In: Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG, editors. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of the 5th European Conference on Genetic Programming; 2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002. p. 182-91. Artigos de revistas na Internet Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3 p.]. Available from: <http://www.nursingworld. org/AJN/2002/june/Wawatch.htm> Monografias na Internet Foley KM, Gelband H, editors [Internet]. Improving palliative care for cancer . Washington: National Academy Press; 2001 [cited 2002 Jul 9]. Available from: <http://www.nap.edu/books/0309074029/html/> Homepage/Website Cancer-Pain.org [Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002 Jul. 9]. Available from: <http://www.cancer-pain.org> American Medical Association [Internet]. Chicago: The Association; c1995-2002 [updated 2001 Aug 23; cited 2002 Aug 12]. AMA Office of Group Practice Liaison; [about 2 screens]. Available from: <http://www. ama-assn.org/ama/pub/category/1736.html> Elementos não-textuais Gráficos, gravuras, fotografias, esquemas, desenhos, tabelas, quadros, fórmulas etc. constituem os elementos não-textuais. Eles servem à elucidação, explicação e simplificação do entendimento do texto, devendo ser autoexplicativos. Os elementos devem ser mencionados no texto como Figura, Tabela, Gráfico ou Quadro, e numerados sequencialmente com algarismos arábicos, devendo possuir, além de identificação e número, título e fonte no rodapé. As tabelas deverão ser elaboradas em conformidade com a Norma de Apresentação Tabular do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1993. Desenhos, gráficos, figuras ou outras ilustrações não-originais já publicados por outros autores devem ser submetidos à autorização para publicação na Femina. Envio do original Os manuscritos devem ser enviados exclusivamente por meio eletrônico, para o e-mail [email protected] ou pelo endereço http://www. febrasgo.org.br, juntamente de carta de submissão (escaneada) assinada por todos os autores e com a declaração de que: 1. o manuscrito não foi submetido e/ou publicado por outra revista anteriormente; 2. a versão final foi lida e aprovada por todos os autores; 3. os direitos autorais serão repassado à FEBRASGO caso o artigo seja publicado. O cadastro (login e senha) no endereço http://www.febrasgo.org.br permite o acompanhamento de todo o processo de avaliação e publicação do artigo. Índice FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Editorial 1 A cultura da Carta ao Editor Melania Maria Ramos de Amorim, Alex Sandro Rolland Souza, Alexandre de Almeida Barra, Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, Cristovão Pinheiro de Barros, Daniel Sad Silveira, Débora Balabram, Karina Ferreira Soares, Silmara Teixeira Alves Trota Revisão 5 Avaliação endometrial em pacientes usuárias de tamoxifeno 9 Eventos tromboembólicos na gestação e puerpério: revisão sistemática e recomendação atual Alexandre de Almeida Barra, Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, Cristovão Pinheiro de Barros, Daniel Sad Silveira, Débora Balabram, Karina Ferreira Soares, Silmara Teixeira Alves Trota Denise Medeiros Pontes, Leopoldo Gurgel Barroso Pimentel, Francisco Herlânio Costa Carvalho 17 Resistência a antirretrovirais nas gestantes infectadas pelo HIV: revisão sistemática 23 Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério 33 Pólipos endometriais e seu risco de malignização: aspectos epidemiológicos, clínicos e imunoistoquímicos Bruno Vitiritti, Júlio Milanezi Neto, Agueda Isabel Acela Lopez Perez, Daniel Ricardo Monteiro, Ernesto Antonio Figueiró Filho Ana Paula Machado Botelho, Regina da Cunha Rocha, Victor Hugo Melo Daniel Spadoto Dias, Flávia Neves Bueloni-Dias, Rogério Dias, Jorge Nahás-Neto, Eliana Aguiar Petri Nahás, Tatiana Silva de Assunção, Roberto Eduardo Bittar, Mário Henrique Burlacchini de Carvalho, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Marcelo Zugaib 39 A ausência do eco glandular endocervical e a presença de sludge no líquido amniótico podem ser consideradas imagens ultrassonográficas preditivas de parto prematuro? Tatiana Silva de Assunção, Roberto Eduardo Bittar, Mário Henrique Burlacchini de Carvalho, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Marcelo Zugaib 47 I Métodos de indução do trabalho de parto Guilherme Negrão de Souza, Márcio Sakita, Viviane Lopes, Denise Queiroz Ferreira, Samirah Hosney Mahmoud Mohamed, Eduardo de Souza Agenda editorial A cultura da Carta ao Editor Melania Maria Ramos de Amorim1 Alex Sandro Rolland Souza2 Praticamente todas as grandes revistas científicas têm, na atualidade, uma seção de Cartas ao Editor, ou um sistema online permitindo que os leitores possam postar resultados preliminares de suas próprias pesquisas ou, mais frequentemente, apresentar suas críticas ou solicitar esclarecimento de eventuais dúvidas suscitadas por um artigo publicado nos últimos números da revista1,2. A depender do periódico, há um prazo, que varia entre 15 dias e 3 meses, para comentar um artigo depois de sua publicação. Mesmo na era da Medicina Baseada em Evidências, com a nítida melhora da produção científica e do rigor metodológico dos artigos publicados que vêm sendo a tônica nos últimos anos, não há trabalho científico perfeito, vieses pós-publicação podem ser identificados e motivar até mesmo a retratação dos autores ou, em caso de se constatar fraude ou manipulação dos resultados, a retirada do artigo da revista. Em outros casos, erros estatísticos podem ser evidenciados, ou, ainda, mínimas correções requeridas, não comprometendo as conclusões do artigo. Mas, a grande maioria das controvérsias reside, certamente, na interpretação dos achados, porque, com base na mesma evidência, autores e pesquisadores diferentes podem chegar a conclusões diferentes, e há casos em que todos têm sua parcela de razão. Cartas ao Editor representam a correspondência entre diversos autores e os leitores, através dos editores das revistas. Elas oferecem não apenas a oportunidade de debater em um fórum aberto, mas também contribuem para a validação da pesquisa3,4. Os autores do artigo original podem responder praticamente em tempo real, defender os seus achados ou explanar melhor os seus argumentos, contribuindo assim para a compreensão e divulgação das pesquisas3. A verdade é que um artigo científico raramente está ‘pronto’ e acabado, apenas se chega a um ponto em que o autor se dá por vencido e resolve submeter a sua pesquisa ou sua revisão à comunidade científica, aguardando críticas e sugestões. No sistema de peer review, as grandes revistas submetem o artigo enviado aos pares, outros autores com expertise na área, que muitas vezes dão grandes contribuições para a versão final do periódico. Nós, particularmente, temos aprendido muito com os revisores que comentam os nossos artigos, e isso acontece especialmente quando uma primeira versão é rejeitada. Como muitas revistas anexam um parecer especializado do estatístico, temos também a oportunidade de revisar a nossa análise e melhorá-la ou aprender novas técnicas e testes. Professora da Pós-graduação em Saúde Materno-Infantil do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) – Recife (PE), Brasil; Professora de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – Campina Grande (PB), Brasil; Pesquisadora Associada da Biblioteca Cochrane. 2 Professor da Pós-graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP; Coordenador do Serviço de Medicina Fetal do IMIP – Recife (PE), Brasil; Professor de Obstetrícia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil. Endereço para correspondência: Melania Maria Ramos de Amorim – Rua Neuza Borborema de Souza, 300 – CEP: 58406-120 – Campina Grande (PB), Brasil – E-mail: [email protected] 1 Esse sistema de peer review, todavia, não se encerra com a publicação e, é aqui, que entramos no mérito das cartas ao Editor, que permitem uma terceira, quarta, quinta, infinitas revisões que podem contribuir ainda mais para a melhora do artigo publicado e para a compreensão dos leitores. Nenhum artigo está isento de erros e vieses e a comunidade científica só tende a ganhar com os comentários publicados, muitas vezes gerando-se um fluxo dinâmico de respostas trocadas entre autores e leitores. Isso aconteceu recentemente com a tão citada e controvertida metanálise sobre parto domiciliar publicada por Wax et al.5, em 2010, no conceituado periódico American Journal of Obstetrics and Gynecology, que motivou a publicação de numerosas cartas ao editor e respostas dos autores e dos próprios editores5-7. Aqui, no Brasil, não temos essa cultura, pelo menos não nas revistas de Ginecologia e Obstetrícia. A própria Revista Femina tem essa seção, mas dificilmente encontramos publicação de comentários aos artigos aqui publicados, o que é uma pena, em se tratando da revista mais lida pelos ginecologistas e obstetras do país, sobretudo agora que o texto completo dos artigos está disponibilizado online, aumentando a quantidade de acessos. Essa nossa reflexão foi motivada por uma série de artigos que publicamos em Femina em 2010, sobre indicações de cesariana baseadas em evidências8-10. Temos, bem claro, que não somos os donos da verdade, e que nossa interpretação das evidências pode não coincidir com a de alguns colegas, e gostaríamos muito de ter recebido cartas e comentários para discutir as nossas conclusões. No entanto, em vez disso, até hoje recebemos e-mails, alguns desaforados, de leitores discordando dos referidos artigos, embora também tenhamos recebido muitos elogios pelo esforço de tentar sumariar as correntes indicações de cesariana respaldadas (ou não) por evidências científicas. O problema é que alguns desses leitores, colegas obstetras, se enfureceram ao ponto de apelar para ofensas pessoais e não fizeram o menor esforço de tentar rebater os artigos do ponto de vista metodológico, do processo de revisão, ou da crítica aos estudos citados para estabelecer níveis de evidências e graus de recomendação. Houve quem nos agredisse dizendo que estávamos insultando os grandes mestres da Obstetrícia Nacional, como Bussâmara Neme, Domingos Delascio e Jorge de Rezende, o que obviamente não é verdade, uma vez que não citamos nem criticamos qualquer desses tratados de Obstetrícia em nossa revisão. As críticas mais acerbadas e agressivas vieram ao nosso terceiro artigo, “Condições frequentemente associadas à cesariana sem respaldo científico”10, que ainda nos chegam por e-mail ou em redes sociais, quase dois anos depois de sua publicação. Gostaríamos, portanto, de conclamar os leitores de Femina a ler com espírito crítico os artigos aqui publicados e envidar todos os esforços para, em vez de escrever e-mails ou cartas com ofensas pessoais para os autores, encontrar problemas metodológicos ou erros conceituais, ou, ainda, partilhar novos artigos e conclusões oriundas de uma nova revisão da literatura. É claro que entre o processo de escrever, enviar para a revista, aguardar a revisão pelos pares, efetuar as correções necessárias e, enfim, ter o artigo publicado há um certo atraso, o que pode tornar ultrapassado o artigo publicado hoje. Todas as contribuições são bem-vindas para que possamos transmitir aos leitores o que há de mais moderno no estado da arte em relação aos diversos aspectos de teoria e prática da Obstetrícia. Todavia, não é concebível, no panorama atual, que se venha rebater com argumentos pouco consistentes como “minha experiência pessoal” — se a experiência pessoal 2 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 não foi submetida a tratamento estatístico e publicada — ou a citações a parágrafos inteiros de antigos tratados em que apenas se expressava a opinião dos antigos Mestres, desprovidas de senso crítico ou de referências para corroborar conceitos e práticas hoje ultrapassadas. Se nós escrevemos, por exemplo, sobre evidências para realização de episiotomia, apontando para a necessidade de restringir o seu uso11, não há sentido em rebater com a referência da 11ª edição da Obstetrícia de Rezende, em que se afirma: É a episiotomia, quase sempre, indispensável nas primiparturientes, e nas multíparas em as quais tenha sido anteriormente praticada. Feita com tesoura ou bisturi, poderá ser mediana (perineotomia) e médio-lateral, que tem nossa preferência; a ferida incisa, de mais fácil e segura recomposição, substitui-se à lesão contusa da rotura12. Só para constar, o referido parágrafo não inclui nenhuma referência para corroborar essa conclusão, e é idêntico ao texto escrito para a 1ª edição, em 1962. Os nomes tutelares da Obstetrícia Nacional tiveram grande importância no passado e nos trouxeram ensinamentos valiosos. Os capítulos de História da Obstetrícia do livro de Jorge de Rezende são preciosos, da mesma forma que os primorosos capítulos sobre mecanismo e fisiologia do parto12. No entanto, a parte reservada ao estudo clínico do parto e assistência merece certamente uma revisão cuidadosa12, uma vez que os últimos 20 anos trouxeram modificações importantes da prática obstétrica, respaldadas pelas evidências científicas disponíveis em revisões sistemáticas da Biblioteca Cochrane, e que nós pudemos revisar em dois artigos, também publicados em Femina, sobre assistência ao parto baseada em evidências13,14. Reconhecendo que críticas epistemológicas válidas podem ser contrapostas à própria Medicina Baseada em Evidências, esperamos que a publicação deste Editorial possa gerar muitas cartas com comentários valiosos dos nossos leitores e dos principais pesquisadores em Obstetrícia do Brasil. É necessário entender que uma Carta irá ser avaliada pelo Editor, que avaliará a pertinência de sua publicação, e enviada aos autores para respostas. Só não vale apelar para grosserias ou ofensas pessoais, de ambas as partes. A Carta precisa vir respaldada por referências corroborando os comentários aos artigos em tela. Ironia e humor podem acompanhar as cartas para o Editor, mas de forma polida e politicamente correta2,15. Com tudo isso, estaremos contribuindo para melhorar o nível geral de nossas publicações, da Revista Femina em particular, não apenas aumentando as citações, mas facilitando a sua indexação em outros bancos de dados, como Medical Literature Analysis and Retrieval System on Line (MEDLINE) e Embase, e permitindo que os leitores confrontem os diversos argumentos e cheguem às suas próprias conclusões no sentido de melhorar a sua prática clínica. Um abraço para todos e ficamos aguardando os comentários! Leituras suplementares 1. 2. 3. Papanas N, Georgiadis GS, Maltezos E, Lazarides MK. Letters to the editor: definitely not children of a lesser god. Int Angiol. 2009;28(5):418-20. Peh WC, Ng KH. Writing a letter to the Editor. Singapore Med J. 2010;51(7):532-5. Magnet A, Carnet D. Letter to the editors: still vigorous after all these years? A presentation of the discursive and linguistic features of the genre. English for Specific Purposes. 2006;26(2):173-99. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 3 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 4 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Winck JC, Morais A. Cartas ao editor: Like a rolling stone? Rev Port Pneumol. 2012;18(1):1-2. Wax JR, Lucas FL, Lamont M, Pinette MG, Cartin A, Blackstone J. Maternal and newborn outcomes in planned home birth vs planned hospital births: a metaanalysis. Am J Obstet Gynecol. 2010;203(3):243.e1-8. Sandall J, Bewley S, Newburn M. Home birth triples the neonatal death rate: public communication of bad science? Am J Obstet Gynecol. 2011;204(4):e17-8; author reply e18-20, discussion e20. Editors’ comment. Am J Obstet Gynecol. 2011;204(4):e20. Amorim MMR, Souza ASR, Porto AMF. Indicações de cesariana baseadas em evidências - Parte I. Femina. 2010; 38(8): 415-22. Souza ASR, Amorim MMR, Porto AMF. Indicações de cesariana baseadas em evidências - Parte II. Femina. 2010;38(9):460-468. Souza ASR, Amorim MMR, Porto AMF. Condições frequentemente associadas com cesariana, sem respaldo científico. Femina. 2010;38 (10):506-16. Amorim MMR, Katz L. Episiotomia na obstetrícia moderna. Femina. 2008;36(1):47-54. Rezende J. Obstetrícia. 11a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2010. Porto AMF, Amorim MMR, Souza ASR. Assistência ao primeiro período do parto baseada em evidências. Femina. 2010;38(10):527-37. Amorim MMR, Porto AMF, Souza ASR. Assistência ao segundo e terceiro períodos do parto baseada em evidências. Femina. 2010;38(11):584-91. Goodmand NW. How to write a critical letter and respond to one. Hosp Med. 2001;62(7):426-7. REVISÃO Avaliação endometrial em pacientes usuárias de tamoxifeno Endometrial assessment in patients taking tamoxifen Alexandre de Almeida Barra1 Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos2 Cristovão Pinheiro de Barros3 Daniel Sad Silveira4 Débora Balabram4 Karina Ferreira Soares4 Silmara Teixeira Alves Trota4 Palavras-chave Neoplasias da mama Tamoxifeno Endométrio Keywords Breast neoplasms Tamoxifen Endometrium Resumo O câncer de mama é a neoplasia maligna mais frequente em mulheres tanto no Brasil quanto no mundo. A doença é mais comum acima dos 50 anos, coincidindo com a faixa etária de risco para o câncer de endométrio. O tamoxifeno é um modulador seletivo de receptor de estrogênio (SERMs), usado na terapêutica das mulheres portadoras de câncer de mama. Assim como os outros SERMs (raloxifeno,toremifeno, arzoxifeno e lasoxifeno), o tamoxifeno pode atuar como antagonista ou agonista, dependendo do tecido-alvo. Nestas pacientes, o uso destes agonistas seletivos embora apresente maior benefício do que risco para o tratamento do câncer de mama, pode causar efeitos secundários no endométrio, com aumento do risco para doenças malignas. Consensos atuais, porém, não demonstram benefício de nenhum método de rastreio para câncer endometrial de rotina. O que se recomenda, nas pacientes na pré e pós-menopausa com câncer de mama, é o exame ginecológico com intervalo anual e o prosseguimento com propedêutica, através de biópsia do endométrio nas pacientes pós-menopausa que apresentam sangramento vaginal. Abstract Breast cancer is the most common malignancy in women both in Brazil and in the world. The disease is more common over 50 years, coinciding with the age of risk for endometrial cancer. Tamoxifen is a selective modulator of estrogen receptor (SERMs) used in the treatment of women with breast cancer. Like other SERMs (raloxifene, toremifene, arzoxifeno and lasoxifeno), tamoxifen may act as antagonist or agonist depending on the target tissue. In these patients, although showing greater benefit of what risk for the treatment of the breast cancer, can cause side effects on the endometrium, with increased risk for malignant diseases. Current consensus, however, do not demonstrate any benefit from routine screening method for endometrial cancer. Women with breast cancer should undergo annual gynecologic examinations for premenopausal and postmenopausal patients and further workup by means of biopsy in patients with postmenopausal vaginal bleeding. Mestre e Doutor em Ginecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil; Professor Adjunto de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) – Ouro Preto (MG), Brasil; Mastologista do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) – Juiz de Fora (MG), Brasil. 2 Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação do IPSEMG; Mastologista do IPSEMG – Juiz de Fora (MG), Brasil. 3 Mastologista do IPSEMG – Juiz de Fora (MG), Brasil. 4 Residente do Serviço de Mastologia do IPSEMG – Juiz de Fora (MG), Brasil. Endereço para correspondência: Alexandre de Almeida Barra – Rua Padre Marinho, 49, sala 405 – CEP: 30140-040 – Belo Horizonte (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Conflito de interesse: não há. 1 Barra AA, Santos AMR, Barros CP, Silveira DS, Balabram D, Soares KF, Trota STA Introdução Discussão O câncer da mama é a neoplasia maligna mais frequente em mulheres não só no Brasil, mas também em todo mundo. Em 2012, esperou-se, para o Brasil, 52.680 casos novos da doença, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres por ano1 (D). A sobrevida média após cinco anos do diagnóstico na população, em países desenvolvidos, está em torno de 85%. Apesar de ser de relativamente bom prognóstico se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade continuam elevadas, principalmente nos países subdesenvolvidos, devido ao diagnóstico tardio. A idade, história familiar positiva, menarca precoce, menopausa tardia e idade da primeira gravidez após os 30 anos são considerados fatores de risco estabelecidos para o câncer de mama. A idade, após o gênero, é o principal fator de risco. A doença é mais comum acima dos 50 anos, coincidindo com a faixa etária de risco para o câncer de endométrio. Nesta faixa etária, frequentemente, faz parte da terapia sistêmica a hormonioterapia, que inclui drogas que, de modo geral, agem inibindo algum receptor ou enzima responsável pelo metabolismo hormonal. O tamoxifeno é um hormônio agonista seletivo dos receptores de estrogênio, usado na terapêutica coadjuvante das mulheres portadoras de câncer de mama, com ação antagonista na mama e agonista no endométrio. Nestas pacientes, embora o seu uso apresente maior benefício do que risco, pode causar efeitos secundários no endométrio, com aumento da ocorrência de doenças malignas2 (B). O objetivo deste trabalho de revisão foi avaliar evidências científicas e protocolos que normatizam a avaliação endometrial de pacientes usuárias de tamoxifeno. Atualmente, o tamoxifeno, um modulador seletivo do receptor de estrogênio (Selective Estrogen Receptor Modulator – SERM), é liberado pela agência norte americana de controle de drogas e alimentos (Food and Drug Administration – FDA) para tratamento hormonal adjuvante de pacientes com carcinoma invasivo ou “in situ” de mama com receptor de estrógeno (RE) e/ou receptor de progesterona (RP) positivo, como tratamento paliativo em carcinomas metastáticos e como quimioprofilaxia em pacientes de risco elevado3-5 (A). Pode ser utilizado tanto na pré quanto na pós menopausa, em dose padrão de 20 mg/dia. O seu uso por cinco anos levou a reduções das taxas de recidiva (41%) e de morte por câncer de mama (34%), além da redução na incidência de câncer de mama contralateral (39%)6 (A). Trata-se de uma pró-droga que necessita ser metabolizada através do citocromo P450 CYP2D6 à sua forma metabolicamente ativa, o endoxifeno. Assim como os outros SERMs (raloxifeno, toremifeno, arzoxifeno e elasoxifeno). (O tamoxifeno pode atuar como antagonista ou agonista, dependendo do tecido-alvo)6 (A). Na mama, o endoxifeno atua inibindo a proliferação celular através dos seguintes mecanismos: inibindo a transformação do fator de crescimento alfa, reduzindo o fator de crescimento insulina like, estimulando a transformação do fator de crescimento beta, ligando-se à calmodulina e inibindo a atividade da proteína quinase. Os mecanismos de resistência à droga ainda não estão totalmente elucidados7 (A). Em outros tecidos, como o ósseo e o uterino, o tamoxifeno atua como agonista estrogênico e pode aumentar a incidência de lesões endometriais, embora a grande maioria delas não evolua para câncer8 (B). Outros conhecidos efeitos colaterais dos SERMs são: eventos tromboembólicos, artralgias, acidentes vasculares cerebrais isquêmicos, fogachos, cefaléia e aumento do risco de sarcomas uterinos7 (A). Metodologia Trata-se de uma revisão da literatura, na qual foram consultadas as bases de dados do MEDLINE/PubMed, LILACS, SciELO, o site Up to Date e protocolos do National Comprehensive Cancer Network (NCCN), American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC). Realizou-se a busca por artigos nos idiomas inglês, português e espanhol, classificados de acordo com seu nível e grau de recomendação. Utilizando-se as palavras chave descritas anteriormente, foram encontrados 582 artigos; desses, 490 foram excluídos por não estarem relacionados ao foco de interesse. Foram lidos 41 artigos. Ao final, 19 foram selecionados por tratarem de estudos clássicos ou mais recentes, com maior nível de evidência ou por serem consensos de sociedades médicas e possuírem valor teórico relevante para a elaboração do texto. 6 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Tamoxifeno no endométrio No útero, foram observados aumento da incidência de proliferação endometrial, hiperplasia e pólipo endometrial, carcinoma de endométrio e sarcoma9 (D). Pacientes usuárias de tamoxifeno tiveram incidência de carcinoma endometrial aumentada em três vezes em relação às não usuárias (1,9x0,6 por 1000/ano). No entanto, o risco absoluto da doença é baixo, mesmo nas usuárias do tamoxifeno10 (A). No estudo NSABP Prevention Trial p-111 (A), o risco relativo (RR) de desenvolver carcinoma de endométrio foi de 2,53 (IC95% 1,35–4,97) em mulheres usando tamoxifeno em relação às usuárias de placebo. Quando analisado por subgrupos de idade Avaliação endometrial em pacientes usuárias de tamoxifeno (49 anos ou menos versus acima de 50 anos), o RR foi respectivamente de 1,21 (IC95% 0,41–3,60) e de 4,01 (IC95% 1,70–10,90). Em outro estudo, não foram encontradas diferenças quanto ao espessamento endometrial e volume uterino nas pacientes em pré-menopausa usuárias de tamoxifeno ou placebo, mas nas pacientes em pós-menopausa usando tamoxifeno ocorreu um aumento significativo de alterações12 (A). Em um estudo caso controle, Swerdlon e Jones encontraram aumento de risco de carcinoma de endométrio em mulheres em pré-menopausa e pós-menopausa (OR=2,4; IC95% 1,8–3,0; p<0,001). O risco ocorreu durante o tratamento e permaneceu até cinco anos após o término do mesmo13 (B). Estudos têm demonstrado que a maioria dos casos de câncer de endométrio ocorridos em mulheres que usaram tamoxifeno foi diagnosticada nos estádios iniciais e o tratamento foi instituído com sucesso11,14 (A). Entretanto, nas pacientes que desenvolveram câncer de endométrio e cujo diagnóstico foi feito em estágios mais avançados, o prognóstico foi pior. Tendo em vista esses achados, foi recomendada a monitoração do endométrio de pacientes tratadas com tamoxifeno, com intuito de diagnosticar precocemente essas lesões14 (A). Utilizando a ultrassonografia transvaginal (USTV) em pacientes usuárias de tamoxifeno, não existe na literatura um ponto de corte padronizado da espessura endometrial para indicação de procedimentos invasivos. No rastreamento de pacientes não usuárias de tamoxifeno, podemos verificar, conforme verificado na Tabela 1, que quanto maior o valor de corte da espessura endometrial, menor será sua sensibilidade (maior número de falso-negativos) e maior a sua especificidade (menor número de casos falso-positivos) 15 (B). O achado ultrassonográfico mais comum em usuárias de tamoxifeno é um espessamento endometrial com espaços císticos. Este espessamento tem baixa especificidade e valor preditivo positivo para anormalidades histológicas. O tamoxifeno induz a proliferação estromal subepitelial, obstruindo o lume glandular e levando a alterações císticas. Esta condição anatômica mimetiza a hiperplasia endometrial ao USTV, enquanto o epitélio está normal ou atrófico na maioria dos casos. O resultado falso positivo é identificado como um fator de risco para o carcinoma de endométrio, causando ansiedade e medo entre pacientes e médicos, levando a procedimentos invasivos desnecessários10,16 (A,B). Embora a recomendação atual seja pelo controle ginecológico de rotina para mulheres usuárias de tamoxifeno, Polin e Ascher comentam que metade destas mulheres fazem ultrassom transvaginal periodicamente17 (B). O Guideline do NCCN recomenda que mulheres com útero que estiverem usando tamoxifeno, se tiverem sangramento va- ginal, devem ter uma rápida avaliação ginecológica, pois a vasta maioria das mulheres com carcinoma endometrial associado ao uso de tamoxifeno, apresentam sangramento. A avaliação com USTV ou biópsia endometrial em mulheres assintomáticas não é recomendada, pois nenhum dos dois testes tem demonstrado utilidade como rastreamento18 (D). O ACOG recomenda que nas mulheres em pré-menopausa, em uso de tamoxifeno, apenas os cuidados ginecológicos de rotina devem ser tomados, pois este grupo não apresenta risco aumentado para câncer uterino. Já as mulheres na pós-menopausa, em uso de tamoxifeno, devem ser monitorizadas rigorosamente para sintomas ou sinais de hiperplasia ou câncer endometrial9 (D). Sugere-se uma avaliação endometrial ao USTV, anterior ao início do tratamento para afastar anormalidades prévias. Em uma mais recente reunião de consenso da SOGC não se recomenda em mulheres assintomáticas, usando tamoxifeno, USTV de rotina para avaliação endometrial19 (D). Até a data desta publicação, não se encontrava na literatura médica estudos avaliando o efeito das várias modalidades de rastreamento de câncer endometrial na mortalidade das mulheres usando tamoxifeno para tratamento ou prevenção do câncer de mama. Conclusões O tamoxifeno é uma droga usada há muito tempo no tratamento de câncer de mama e mais recentemente, também na quimioprevenção. Apresenta um perfil de tolerabilidade aceitável. Na abordagem terapêutica, é relevante a identificação do perfil das pacientes em uso da hormonioterapia, favorecendo a elaboração de estratégias de intervenção próprias e adequadas a cada mulher, a fim de minimizar os possíveis efeitos colaterais do seu uso. Quanto ao risco de carcinoma endometrial, este mostra-se aumentado nas pacientes pós-menopausadas, mas mesmo neste subgrupo não existe consenso na literatura a respeito do benefício de rastreamento, por qualquer método, Tabela 1 - Sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de câncer endometrial usando diferentes medidas da espessura do endométrio Endométrio(mm) 3 4 5 6 7 8 10 Nº de Mulheres 31 284 457 454 131 151 51 Sensibilidade % (IC95%) 100 (89–100) 96 (93–98) 96 (94–98) 95 (92–97) 95 (89–98) 97 (92–99) 90 (79–97) Nº de Mulheres 204 2422 2986 2661 442 530 532 Especificidade % (IC95%) 38 (32–45) 53 (51–55) 61 (59–63) 55 (53–57) 64 (59–69) 60 (56–64) 79 (75–82) IC: Intervalo de confiança Fonte: Bindman et al.15 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 7 Barra AA, Santos AMR, Barros CP, Silveira DS, Balabram D, Soares KF, Trota STA nas pacientes assintomáticas. Os guidelines do NCCN, AGOG e SOBC recomendam investigação apenas nas mulheres que apresentam sangramento vaginal. Entretanto, cabe ressaltar que um grande número de mulheres apresentam receio em relação ao câncer de endométrio durante o uso do tamoxifeno, o que poderia suscitá-las o desejo de abandonar o tratamento. Dessa forma, conhecer esse dado reforça a importância de inseri-las em um programa que viabilize orientações e esclarecimentos quanto aos benefícios, riscos e efeitos colaterais da medicação da qual farão uso, podendo favorecer a adesão ao tratamento. Leituras suplementares 1. Instituto Nacional do Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Incidência de câncer no Brasil. Available from: www.inca.gov.br/estimativa/2012 2. Machado F, Rodrígues JR, León JP, Parrilla JJ, Abad L. Tamoxifen and endometrial cancer. Is screening necessary? A review of the literature. Eur J Gynaecol Oncol. 2005;26:257-65. 3. Vogel VG, Costantino JP, Wickerham DL, CronimWm, Cechini RS, Atkins JN, et al. Effects of tamoxifen vs raloxifene on the risk of developing invasive breast cancer and other disease outcomes. JAMA. 2006;295(23):2727-42. 4. Fisher B, Costantino JP, Redmond CK, Fisher ER, Wickerham DL, Cronim WM, et al. Endometrial cancer in tamoxifen treated breast cancer patients: findings from NSABP B-14. J Natl Cancer Inst. 1994;86:527-37. 5. Allred DC, Anderson SJ, Paik S, Wickerham DL, Nagtegaal ID, Swain SM, et al. Adjuvant tamoxifen reduces subsequent breast cancer in women with estrogen receptor-positive ductal carcinoma in situ: a study based on NSABP protocol B-24. J Clin Oncol. 2012;30(12):1268-73. 6. EBCTCG. Tamoxifen for early breast cancer: an overview of the randomized trials. Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group. Lancet.1998;351:1451-67. 7. Visvanathan K, Chlebowski RT, Hurley P, Col NF, Ropka M, Collyar D, et al. American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update on the Use of Pharmacologic Interventions Including Tamoxifen, Raloxifene, and Aromatase Inhibition for Breast Cancer Risk Reduction. J Clin Oncol. 2009;27(19):3235-58. 8. Deligdisch L, Kalir T, Cohen CJ, Latour M, Le Bouedec G, Penault-Llorca F. Endometrial histopathology in 700 patients treated with tamoxifen for breast cancer. Gynecol Oncol. 2000;78(2):181-6. 9. ACOG Committee Opinion No 336. Tamoxifen and uterine cancer. Obstet Gynecol. 2006;107(6):1475-8. 10. Bertelli G, Hall E, Ireland CF, Snowdon CF, Jassen J, Drosik K, et al. Long-term endometrial effects in postmenopausal women with early breast cancer 8 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. participating in the Intergroup Exemestane Study (IES) – a randomized controlled trial of exemestane versus continued tamoxifen after 2-3 years tamoxifen. Ann Oncol. 2010;21(3):498-505. Fisher B, Costantino JP, Wickerhan DL, Redmond CK, Kavanah M, Cronin Wm, et al. Tamoxifen for prevention of breast cancer: report of the National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project P-1 Study. J Natl Cancer Inst. 1998;90: 1371-88. Cheng WF, Lin HH, Torng PL, Huang SC. Comparison of endometrial changes among symptomatic tamoxifen-treated and nontreated premenopausal and postmenopausal breast cancer patients. Gynecol Oncol. 1997;66:233-7. Swerdlow AS, Jones ME. Tamoxifen treatment for breast cancer and risk of endometrial cancer: a case-control study. J Natl Cancer Inst. 2005;97(5):375-84. Bergman L, Beelen ML, Gallee MP, Hollema H, Benraadt J, Van Leeuwen FE. Risk and prognosis of endometrial cancer after tamoxifen for breast cancer. Comprehensive Cancer Centres ALERT Group. Assessment of liver and endometrial cancer risk following tamoxifen. Lancet. 2000;356:881-7. Bindman RS, Kerlikowske K, Feldstein VA, Subak L, Scheidler J, Segal M, et al. Endovaginal ultrasound to exclude endometrial cancer and other endometrial abnormalities. JAMA. 1998;280:1510-7. Karen FKF. Prospective longitudinal study of ultrasound screening for endometrial abnormalities in women with breast cancer receiving tamoxifen. Gynaecology Oncol. 2003;91(1):154-9. Polin SA, Ascher SM. The effect of tamoxifen on the genital tract. Cancer Imaging. 2008;8:135-45. NCCN. Treatment guidelines for breast cancer. [cited 2013 Feb. 23]. Available from: www.nccn.org SOC. Clinical Practice Guideline No 249. Asymptomatic endometrial thickening. JOGC. 2010;249:990-9. REVISão Eventos tromboembólicos na gestação e puerpério: revisão sistemática e recomendação atual Thromboembolic events in pregnancy and puerperium: systematic review and current recommendation Denise Medeiros Pontes1 Leopoldo Gurgel Barroso Pimentel2 Francisco Herlânio Costa Carvalho3 Palavras-chave Tromboembolia venosa Prevenção de doenças Gravidez Período pós-parto Keywords Venous thromboembolism Disease prevention Pregnancy Postpartum period Resumo Os eventos tromboembólicos são a principal causa de morte materna em países desenvolvidos. A incidência desses eventos varia entre 0,76 a 1,72 a cada 1.000 gestações, sendo quatro a cinco vezes mais frequente que em mulheres não grávidas. Dois terços dos casos de trombose venosa profunda ocorrem durante a gestação e são igualmente distribuídos nos três trimestres, enquanto 43 a 60% dos episódios de embolia pulmonar ocorrem no período puerperal. Os principais fatores de risco são: história familiar ou pessoal, trombofilia, idade maior que 35 anos, obesidade, multiparidade e cesariana. Este artigo propôs-se a revisar o mecanismo fisiopatológico dos eventos tromboembólicos na gestação, sua terapia e profilaxia; comparando as diversas opções terapêuticas quanto aos benefícios e aos riscos maternos e fetais. Sempre que disponíveis são oferecidos os graus de recomendação de cada conduta adotada. Abstract Thromboembolic events are the leading cause of maternal death in developed countries, with an incidence that varies from 0.76 to 1.72 per 1,000 pregnancies, four to five times more frequent than in non-pregnant women. Two-thirds of deep venous thrombosis cases occur during pregnancy, equally distributed within the three trimesters, while 43–60% of pulmonary embolism events occur during postpartum. Important risk factors include: personal or family history, thrombophilia, age over 35, obesity, multi-parity and prior cesarean. This article aimed to review the pathophysiological mechanism of thromboembolic events during pregnancy, its treatment and prophylaxis; analyzing various treatment options, their benefits and comparing their maternal and fetal risks. Each degree of recommendation is shown when available. Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza (CE), Brasil. Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor) – Fortaleza (CE), Brasil. Mestrado e Doutorado em Obstetrícia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – São Paulo (SP); Professor Adjunto do Departamento de Saúde Materno Infantil da UFC – Fortaleza (CE); Professor do Mestrado em Saúde Pública da UFC – Fortaleza (CE), Brasil. Endereço para correspondência: Denise Medeiros Pontes – Avenida Washington Soares, 5353, bloco 4, apto. 402 – CEP: 60830-005 – Fortaleza (CE), Brasil – E-mail: [email protected] 1 2 3 Pontes DM, Pimentel LGB, Carvalho FHC Introdução Embolia pulmonar (EP) e trombose venosa profunda (TVP) constituem dois componentes de um só processo fisiopatológico chamado tromboembolismo venoso (TEV)1 (D). A EP ocorre, geralmente, em consequência de uma TVP, mas muitas vezes a trombose não é diagnosticada antes da ocorrência da embolia2 (D). Os eventos tromboembólicos estão entre as principais causas de morbidade materna e mortalidade no período gestacional e puerperal2,3 (D). Enquanto a principal causa de morte materna em países em desenvolvimento é a hemorragia, os eventos tromboembólicos são a principal causa de morte materna em países desenvolvidos, onde o óbito por hemorragia é prevenido4 (B). A incidência desses eventos varia entre 0,76 a 1,72 a cada 1.000 gestações, sendo quatro a cinco vezes mais frequente que em mulheres não grávidas5 (B). Uma metanálise mostrou que dois terços dos casos de TVP ocorriam durante a gestação e eram igualmente distribuídos nos três trimestres, enquanto 43 a 60% dos episódios de EP ocorriam no período puerperal4,6,7 (B). A TVP em membro inferior é o tipo mais comum de tromboembolismo venoso durante a gravidez8 (B). Aproximadamente 30% de episódios isolados de embolia pulmonar estão associados com TVP silenciosa, e em pacientes que apresentam sintomas de TVP a frequência de embolia pulmonar é em torno de 40–50%1 (D). O risco de tromboembolismo venoso, somado ao estado gravídico, é ainda maior se estiver associado a outros fatores, como história familiar ou pessoal de TEV, trombofilia, idade maior que 35 anos, obesidade e grande paridade9,10 (D). O parto cesáreo também aumenta significativamente o risco de fenômenos tromboembólicos se comparado ao parto vaginal11 (B). Em adição à morbidade imediata, o TEV também está associado à morbidade em longo prazo. A EP traz um risco de subsequente desenvolvimento de hipertensão pulmonar, enquanto a TVP está associada a um significante risco de tromboses recorrentes e de insuficiência venosa, provocando sequelas que vão desde edema e alterações na pele até ulcerações e necrose tissular, caracterizando a síndrome pós-trombótica. Além das consequências para sua própria saúde, as mulheres que sofrem de TEV estão mais sujeitas a ter um desfecho gestacional desfavorável, incluindo descolamento prematuro de placenta, pré-eclampsia, restrição do crescimento intrauterino, óbito fetal e abortos recorrentes6,12 (B). Este artigo teve como objetivo revisar os principais tópicos sobre tromboembolismo venoso na gravidez e puerpério e 10 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 as recomendações atuais para sua prevenção e tratamento, uma vez que a identificação precoce dos fatores de risco e instituição de uma profilaxia adequada podem diminuir a incidência de TEV durante o período gestacional e puerperal e se tornam de fundamental importância na prática obstétrica contemporânea13 (D). Metodologia Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados PubMed e SciELO, com os seguintes descritores (em português e inglês) para a revisão bibliográfica: tromboembolismo venoso/venous thromboembolism; gravidez/pregnancy; puerpério/ puerperium; tromboprofilaxia/thromboprophylaxis; tratamento/ treatment; trombofilia/thrombophilia; heparina não fracionada/ unfractionated heparin; heparina de baixo peso molecular/ low molecular weight heparin. A pesquisa foi realizada para o período de 2000 a 2012. Também foram buscadas referências clássicas citadas pelos trabalhos das bases de dados. Foram selecionados 63 artigos; porém, após trabalhos em outros idiomas que não o inglês e o português, e trabalhos publicados em revistas com fator de impacto menor que 1,0 serem excluídos, permaneceram 35 artigos. Os critérios de inclusão foram trabalhos que avaliassem os fatores de risco de desenvolvimento de tromboembolismo na gravidez e no puerpério, métodos profiláticos e terapêuticos, assim como suas indicações, eficácia, potenciais complicações e contraindicações. Fatores de risco A instituição de tromboprofilaxia específica depende da identificação do nível de risco em que uma grávida se encontra. Idealmente, tais avaliações de risco devem ser feitas antes ou no começo do período gestacional14 (D). A gravidez em si gera um estado de hipercoagulabilidade que, somado à estase sanguínea e a fatores endoteliais, predispõe a gestante ao TEV9,13 (D). A trombofilia, uma entidade que inclui desordens hereditárias e adquiridas associadas a um aumento na tendência ao desenvolvimento de TEV, é um dos principais determinantes dessa complicação durante a gestação. As principais condições hereditárias de trombofilia incluem deficiência de antitrombina, proteína C e proteína S, mutações do gene da protrombina e fator V de Leiden, homozigose para metilenotetrahidrofolato redutase e hiperhomocisteinemia15 (D). Como estados trombofílicos adquiridos, podemos citar a síndrome Eventos tromboembólicos na gestação e puerpério – revisão sistemática e recomendação atual do anticorpo antifosfolipídio (SAF) e a síndrome nefrótica com consequente diminuição dos níveis de antitrombina. É interessante notar que mulheres com SAF e hiperhomocisteinemia têm um risco elevado tanto para trombose venosa quanto para arterial. A abordagem terapêutica para essas gestantes deve incluir, portanto, doses baixas diárias de aspirina 13 (D). Estudos sugerem que pelo menos 50% dos casos de TEV durante a gravidez estão associados com alguma trombofilia hereditária ou adquirida; no entanto, eventos tromboembólicos acontecem em apenas 0,1% das gestantes com trombofilia1 (D). Portanto, o rastreamento de trombofilia não se faz necessário a todas as gestantes. Fatores obstétricos, tais como parto cesáreo — especialmente se feito de emergência —, parto vaginal operatório, hemorragias obstétricas, hiperêmese gravídica e pré-eclâmpsia e fatores relacionados à paciente, como história pessoal ou familiar de TEV, idade maior que 35 anos, obesidade, presença de varizes, problemas clínicos significativos (síndrome nefrótica, cardiopatias), infecções ativas, paraplegia, desidratação, imobilidade, viagem longa recente, abuso de drogas intravenosas e hiperestimulação ovariana já estão bem estabelecidos como fatores que aumentam o risco de TEV na gravidez. É curioso observar que TEV em decorrência de hiperestimulação ovariana acontece usualmente na veia jugular interna, apresentando-se com dor no pescoço e edema14 (D). Fisiopatologia do tromboembolismo venoso na gravidez Hipercoagulabilidade, estase sanguínea e lesão endotelial caracterizam a tríade clássica de Virchow de fatores subjacentes ao TEV e ocorre fisiologicamente no curso da gravidez e pós-parto, mesmo não complicado2,12 (D). Mudanças associadas à gestação resultam em aumento fisiológico da capacidade e distensibilidade do sistema venoso3 (D). Níveis plasmáticos de fatores da coagulação como os II, VII, VIII, X e de von Willebrand estão elevados durante a gravidez e contribuem para o estado pró-trombótico, assim como a produção elevada de fibrinogênio. Há também uma resistência adquirida ao anticoagulante endógeno, a proteína C ativada, e uma redução dos níveis de proteína S, um cofator da proteína C 16 (D). Embora haja resistência à proteína C, seus níveis plasmáticos permanecem normais3 (D). Além disso, a fibrinólise é inibida pelo aumento dos níveis de inibidores 1 e 2 do fator ativador de plasminogênio, sendo este último derivado da placenta, principalmente durante o terceiro trimestre de gestação2,12 (D). Relativa estase venosa em membros inferiores, medida por ultrassom, é observada durante a gravidez com uma redução de até 50% no fluxo sanguíneo venoso por volta de 25–29 semanas de gestação, atingindo um pico em torno da 36ª semana e voltando ao fluxo não gravídico cerca de 6 semanas pós-parto 12 (D). Curiosamente, cerca de 70 a 90% das TVP ocorrem nas veias do membro inferior esquerdo, possivelmente em decorrência do efeito compressivo da artéria ilíaca sobre elas8 (B). Mais de 70% das TVP na gravidez são iliofemorais, enquanto em mulheres não grávidas esse território é acometido em aproximadamente 9% dos casos, a maioria comprometendo veias da panturrilha 1,2 (D). Finalmente, algum grau de lesão endotelial nos vasos pélvicos ocorre durante o parto vaginal ou a cesariana e pode contribuir na fisiopatogenia do tromboembolismo puerperal2,12 (D). Terapia anticoagulante Heparínicos X Cumarínicos Extensa experiência clínica e estudos retrospectivos têm estabelecido a heparina como sendo o anticoagulante mais seguro para ser usado durante a gravidez, por não cruzar a placenta e, consequentemente, não causar efeito teratogênico ou hemorragia no feto1,3,12,17,18 (D). Agentes cumarínicos, como a warfarina, cruzam a barreira placentária e podem causar embriopatia (hipoplasia nasal, epífises com calcificação em pontilhado, membros e falanges encurtados), anormalidades no Sistema Nervoso Central, hemorragia fetal e aumento no risco de aborto e por isso seu uso não é indicado ou deve ser limitado a período de menor risco1,9,19,20 (D). O risco de desenvolver embriopatia por warfarina é maior entre a 6ª e 12ª semanas de gestação, enquanto as anormalidades do Sistema Nervoso Central podem ocorrer com exposição em qualquer trimestre. O uso de warfarina no segundo e começo do terceiro trimestre está associado com hemorragia intracraniana fetal e esquizocefalia18 (D). Alguns autores recomendam o uso de warfarina durante a gravidez em algumas circunstâncias especiais, como em mulheres portadoras de válvulas cardíacas mecânicas21 (D), aquelas que tiveram recorrência enquanto recebiam heparina e aquelas com contraindicações ao uso de heparina3 (D). A warfarina não induz efeitos anticoagulantes em crianças que se alimentam de leite materno e, portanto, pode ser usada com segurança no período de pós-parto17,21,22 (D). Heparina não fracionada X Heparina de Baixo Peso Molecular Heparina não fracionada (HNF) é uma mistura heterogênea de cadeias com pesos moleculares entre 3.000 e 30.000 daltons, com apenas um terço dessas moléculas FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 11 Pontes DM, Pimentel LGB, Carvalho FHC exibindo atividade anticoagulante. Possui uma meia-vida curta; portanto, deve ser administrada por via endovenosa para o tratamento de tromboembolismo venoso. A heparina de baixo peso molecular (HBPM) é derivada de uma despolimerização da heparina não fracionada, resultando em cadeias menores de 3.800 a 5.000 daltons e possui melhores propriedades farmacodinâmica e farmacocinética que a HNF e, portanto, resposta anticoagulante mais previsível. Além disso, a HBPM possui uma meia-vida plasmática mais longa, permitindo ser administrada uma ou duas vezes por dia23,24 (D). As vantagens da HBPM sobre a HNF incluem menor risco de reações alérgicas 9 (D), de sangramento 25 (D), de trombocitopenia induzida por heparina e de fraturas osteoporóticas24,26,27 (A). A literatura atual recomenda o uso da HBPM devido a menores efeitos colaterais e boa eficácia e segurança 1,28,29,30 (A). Uma metanálise mostrou que a HBPM é pelo menos tão efetiva quanto a HNF em prevenir a recorrência de eventos tromboembólicos31 (A). A HNF pode ser usada no lugar da HBPM para o tratamento ou profilaxia de eventos tromboembólicos durante a gravidez em consequência do seu menor custo ou maior disponibilidade. Recomenda-se o monitoramento do tempo de tromboplastia parcial ativada (TTPA) durante seu uso32 (A). Complicações maternas e efeitos colaterais da terapia anticoagulante Complicações maternas da terapia anticoagulante são similares àquelas vistas em mulheres não grávidas e incluem dor no local da injeção, sangramento, trombocitopenia e osteoporose induzidas por heparina 28 (A). Em um estudo de coorte, o índice de sangramento em pacientes gestantes tratadas com HNF foi de 2%, compatível com os índices para sangramento associado com a terapia com heparina em mulheres não grávidas. Doses ajustadas de heparina subcutânea podem causar um estado anticoagulante persistente, o que pode complicar seu uso próximo ao parto. O mecanismo desse efeito prolongado é incerto; no entanto, uma maneira de evitar um efeito anticoagulante indesejado durante o parto em mulheres recebendo doses ajustadas de HNF subcutânea é interromper o uso da heparina 24 horas antes de uma indução eletiva de trabalho de parto. Complicações hemorrágicas parecem ser bastante incomuns com a heparina de baixo peso molecular 29,30 (B). No, entanto, é sugerida a mesma abordagem antes do parto para pacientes que estiverem recebendo doses terapêuticas de HBPM17 (D). 12 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Aproximadamente 3% de pacientes não grávidas recebendo HNF apresentam trombocitopenia imune mediada por IgG. Este evento deve ser diferenciado de uma trombocitopenia inicial, benigna e transitória que pode ocorrer no início do uso da HNF e de desordens específicas da gravidez, como trombocitopenia incidental da gravidez e síndrome HELLP (hemólise, elevação das enzimas hepáticas e diminuição de plaquetas). A trombocitopenia induzida por heparina (TIH) deve ser suspeitada quando a contagem de plaquetas cair para menos de 100.000/mm 3 ou 50% dos valores de base 5 a15 dias depois de iniciada a heparina. Para gestantes que desenvolvem trombocitopenia, o uso de heparinoides, como o danaparoide sódico, é recomentado pois é um agente antitrombótico efetivo, não cruza a placenta e tem pouca reação cruzada com a HNF e, portanto, raramente produz trombocitopenia. Embora a TIH possa acontecer também com a HBPM, o risco parece ser bem menor do que com o uso de HNF28 (A). Osteopenia induzida por heparina é relatada na gravidez, no entanto está normalmente associada com a administração de pelo menos 20.000 UI por dia por pelo menos seis meses. A osteopenia parece ser reversível na maioria dos casos 3 (D). Osteoporose associada a tratamento em longo prazo com HNF é bem descrita tanto em animais quanto em humanos 33 (A). Foi relatado que fraturas vertebrais sintomáticas ocorrem em aproximadamente 2 a 3% dos pacientes e redução significante da densidade mineral óssea parece ocorrer em mais de 30%. Diversas linhas de evidências sugerem que a HBPM tem menor risco de osteoporose que a HNF28 (A). Existe, ainda, risco de reações alérgicas ao uso da heparina, que se manifesta como lesões pruriginosas, eritematosas, no local da injeção. Mudar a preparação da heparina pode ajudar, mas é possível que ocorra reação cruzada. Esse tipo de reação deve ser distinguido de acidentes durante a injeção, que também pode manifestar-se com eritema12 (D). Riscos fetais com terapia anticoagulante Alguns estudos retrospectivos sugeriam que a heparina estava associada com um aumento na incidência de aborto e prematuridade. No entanto, análises mais recentes apoiam a segurança e eficácia dessa droga3 (D). Há duas complicações temidas com o uso materno de terapia anticoagulante: teratogênese e hemorragia. Nem a HNF nem a de HBPM cruzam a barreira placentária e, portanto, não têm potencial para causar hemorragia fetal ou teratogênese, embora sangramento na junção uteroplacentária seja possível17,22 (D). Eventos tromboembólicos na gestação e puerpério – revisão sistemática e recomendação atual Em contraste, antagonistas da vitamina K (AVK) cruzam a barreira placentária. A anormalidade fetal mais comum é a embriopatia por cumarínicos, que consiste em hipoplasia nasal e/ou epífises em pontilhado. Hipoplasia de membros também tem sido relatada em mais de um terço dos casos de embriopatia durante o primeiro trimestre de gravidez. O uso de cumarínicos até a 6ª semana de gestação parece ser seguro; no entanto, existe um risco definitivo de embriopatia se derivados cumarínicos forem usados entre a 6ª e a 12ª semanas de gestação. AVKs também têm sido associados com anormalidades do SNC depois de exposição durante qualquer trimestre. Dois padrões de lesão do SNC foram descritos: displasia da linha média dorsal (agenesia do corpo caloso, malformação de Dandy-Walker e atrofia da linha média cerebelar) e displasia ventro-mediana levando a atrofia óptica. Essas complicações são raras. Além disso, AVKs estão associados com perda fetal e podem causar complicações hemorrágicas, provavelmente porque o fígado do feto é imaturo e os níveis de fatores de coagulação fetais dependentes de vitamina K são normalmente baixos. Coagulopatia fetal é uma preocupação adicional no momento do parto28 (A). Embora estudos com animais tenham mostrado que aspirina pode aumentar o risco de anormalidades congênitas, dados de estudos com humanos são conflitantes. Novas evidências agora sugerem que baixa dose de aspirina durante o segundo e terceiro trimestres é segura para o feto e deve ser usada conforme indicações maternas. Embora a segurança do uso de aspirina durante o primeiro semestre permaneça incerta; não há evidências claras de danos ao feto28 (A). Profilaxia A profilaxia para mulheres com evento prévio único de TVP tem sido bastante controversa até recentemente devido à grande variação de risco (1–13%) e às complicações da profilaxia12 (D). O uso de HBPM em mulheres em alto risco de desenvolverem TEV na gravidez, embora alguns estudos mostrem considerável falha terapêutica em baixas doses, continua sendo o recurso farmacológico recomendado pelos guidelines atuais para a tromboprofilaxia na gravidez e puerpério28,34,35 (A). Mulheres com TEV prévio sem trombofilia Em mulheres com TEV único associada a fator de risco passado, sem fatores de risco atuais, e sem trombofilia, HBPM não deve ser prescrita rotineiramente no pré-natal 1 (D). Meias elásticas compressivas podem ser empregadas durante a gestação. No pós-parto, essas pacientes devem receber terapia anticoagulante por, pelo menos, seis semanas (por exemplo: Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI/ dia; ou cumarínico associado a HBPM até que o INR seja ≥2.0) associada ou não a meias elásticas compressivas12,28 (B). Para mulheres com múltiplos episódios de TEV que não estejam em terapia anticoagulante de longa duração, existe um consenso de que estas deveriam receber profilaxia com HBPM ou HNF no pré-natal associada ao uso de meias elásticas compressivas. No puerpério, a paciente deve receber, no mínimo, seis semanas de profilaxia farmacológica com HBPM associada a Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI/dia ou Warfarina ou anticoagulantes orais12,28 (B). Mulheres com TEV prévio e trombofilia Em mulheres com algum fator de risco (como obesidade) e/ou trombofilia ou TEV idiopática, há fortes argumentos que indicam profilaxia farmacológica no pré-natal. No pré-natal, deve-se considerar o uso profilático de HBPM 28 (A) em baixas doses (Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI/dia) associado ou não ao uso de meias elásticas compressivas. Uma profilaxia mais intensa com HBPM é usualmente prescrita quando há deficiência de antitrombina (Enoxaparina 0,5–1 mg/kg a cada 12 horas ou Dalteparina 50–100 UI/kg a cada 12 horas); entretanto, muitas mulheres são mantidas em terapia anticoagulante de longa duração. No pós-parto, recomenda-se profilaxia anticoagulante (Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI/dia; ou cumarínico associado a HBPM até que o INR seja ≥2.0) por seis semanas com ou sem uso de meias elásticas compressivas12,28 (A). Às mulheres com episódio prévio único de TEV associado a algum fator de risco ou trombofilia que não estejam sob tratamento anticoagulante de longa duração, recomenda-se doses profiláticas ou intermediárias de HNF/HBPM no pré-parto ou acompanhamento clínico durante toda a gestação sucedido de anticoagulantes no pós-parto28 (A). Quando em uso de profilaxia de longa duração deve-se substituir o anticoagulante oral por HBPM 28 (A) até seis semanas gestacionais e iniciar o uso de meias elásticas compressivas12 (D). Essas mulheres devem ser conduzidas como pacientes de risco muito alto para TEV durante o pré-natal e devem receber profilaxia anticoagulante durante toda a gestação. A dose de HBPM deve ser a mais próxima da dose usada no tratamento de TEV do que da dose usada na profilaxia de TEV (Enoxaparina 0,5–1 mg/kg a cada 12 horas ou Dalteparina 50–100 UI/kg a cada 12 horas. É im- FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 13 Pontes DM, Pimentel LGB, Carvalho FHC portante salientar que é mais vantajoso fazer injeções a cada 12 horas do que apenas uma vez ao dia devido ao aumento do clearance de heparínicos durante a gestação, baseando-se no peso durante o início da gestação. No puerpério, a paciente deve voltar a usar profilaxia anticoagulante oral de longa duração, além de usar meias elásticas compressivas 12,28 (A). Mulheres com trombofilia sem passado de TEV A conduta para essas pacientes é bastante controversa (D). Segundo American College of Chest Physicians (ACCP) em Guidelines on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy (8ª e 9ª edições) 27,28,34 para trombofilia diagnosticada laboratorialmente, assim como mulheres com histórico familiar positivo para TEV, mas que nunca sofreram TEV, vigilância ou profilaxia com HBPM ou HNF15 (D), associada ou não ao uso de meias elásticas compressivas, pode ser feita durante o pré-natal12 (D), assim como o uso de anticoagulantes orais no puerpério 15 (B). Deve-se realizar uma avaliação de risco individualizada para cada paciente15 (A). Para mulheres com deficiência de antitrombina, o guideline atual da ACCP recomenda que seja feita profilaxia tanto no pré-natal quanto no puerpério15 (B). Existe um forte argumento defendendo o uso de HBPM (Enoxaparina 0,5–1 mg/kg a cada 12 horas ou Dalteparina 50–100 UI/kg a cada 12 horas) durante o acompanhamento pré-natal. No pós-parto, essas mulheres devem receber terapia anticoagulante por, pelo menos, seis semanas (Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI, ou cumarínico associado a HBPM até que o INR seja ≥2) associada ou não ao uso de meias compressivas12 (D). 15 Após cesárea ou parto vaginal Mulheres submetidas a parto vaginal ou cesariano devem ser avaliadas quanto ao risco para TEV28 (B). Na paciente submetida a parto abdominal, tromboprofilaxia (Enoxaparina 40 mg ou Dalteparina 5000 UI) deve ser prescrita se houver um ou mais fatores de risco como: indicação de cesariana de emer- gência durante o trabalho de parto, idade maior que 35 anos ou IMC elevado12 (D). Alguns autores recomendam a suspensão da terapia anticoagulante 24 horas antes de parto cesariano eletivo ou de indução de parto normal, ou imediatamente caso a paciente inicie trabalho de parto espontaneamente para diminuir o risco de complicações hemorrágicas. A meia-vida mais curta da HNF permite que as drogas dessa classe possam ser descontinuadas entre 4 a 6 horas antes do início da indução do trabalho de parto. Para diminuir o risco de hematoma espinal e peridural, os guidelines do Congresso Americano de Ginecologia e Obstetrícia e da Sociedade Americana de Anestesia Regional orientam para que se evite a realização de anestesia regional por, pelo menos, 24 horas após a última dose de HBPM em mulheres sob terapia anticoagulante e um intervalo de 12 horas quando a dose for profilática9 (D). Em parto vaginal, deve-se usar estratégia similar, com HBPM prescrita se houver dois ou mais fatores de risco ou um fator de risco maior, como obesidade mórbida12 (D) (Quadro 1). Outros métodos profiláticos Hirudina É um inibidor direto da trombina usado em pacientes não grávidas para o tratamento de trombocitopenia induzida pelo uso de heparina e em pacientes que necessitem de tromboprofilaxia como uma alternativa à heparina. Devido ao fato de ser permeável à barreira placentária, este agente não deve ser usado em mulheres grávidas. A hirudina tem sido usada em mulheres no período puerperal que apresentaram TIH, e esta não é detectável no leite materno. Em um relato de caso, a hirudina foi usada com sucesso em uma paciente grávida, portadora de lúpus eritematoso sistêmico e história de TVP recorrente com quadro de trombocitopenia induzida por heparina que era tratada com Dalteparina e também apresentava reação cruzada com danaparoide. Foi realizada anticoagulação com 15 mg de r-hirudina subcutânea duas vezes por dia a partir da 25ª semana Quadro 1 - Profilaxia para TEV em gestantes Pacientes Pré-parto Pós-parto Sem trombofilia com TEV prévio Meias elásticas compressivas associadas ou não a HBPM em baixas doses Terapia anticoagulante por 6 semanas ou cumarínico + HPBM Até INR ≥ ou =2 associadas ou não a meias elásticas compressivas Com trombofilia e e com TEV prévio HBPM em baixas doses* associada ou não a meias elásticas compressivas Terapia anticoagulante por 6 semanas ou cumarínico + HPBM Até INR ≥ ou = 2 associadas ou não a meias elásticas compressivas Com trombofilia sem TEV prévio Vigilância ou profilaxia com HBPM ou HNF associada ou não a meias elásticas compressivas Terapia anticoagulante oral por 6 semanas associada ou não a meias elásticas compressivas *Deve-se avaliar se há deficiência de antitrombina. Caso haja, deve ser prescrita HPBM em altas doses ou terapia anticoagulante de longa duração. 14 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Eventos tromboembólicos na gestação e puerpério – revisão sistemática e recomendação atual de gestação até o parto. Não houve tromboembolismo, hemorragia ou toxicidade fetal12 (D). A hirudina é uma proteína de origem exógena. Anticorpos anti-hirudina foram reportados em mais de 40% das pacientes. O desenvolvimento desses anticorpos relaciona-se com a duração do tratamento. Além disso, esses anticorpos vão potencializar o efeito da r-hirudina e, portanto, a atividade anticoagulante deve ser monitorada12 (D). Dextrana A dextrana tem sido usada para realização de tromboprofilaxia periparto, particularmente em partos cesarianos. Esta droga deve ser evitada durante a gestação devido ao risco de ocorrência de reações anafiláticas maternas, hipertonicidade uterina, sofrimento e óbito fetais e sequelas neurológicas2,12 (D). Aspirina Em estudo de metanálise, concluiu-se que a aspirina tem efeitos benéficos na prevenção de TVP. No entanto, a efetividade desta em mulheres grávidas ainda não foi comparada à da heparina. No caso de contraindicação ao uso da heparina ou caso os riscos superem os benefícios de seu uso, a aspirina em baixas doses (60–75 mg por dia) pode ser útil em combinação com meias elásticas compressivas2,12 (D). Métodos compressivos Tendo em vista as alterações no sistema venoso na gravidez, meias elásticas compressivas podem ser de valor considerável durante a gestação e puerpério, podendo agir prevenindo a distensão venosa excessiva dos membros inferiores, evitando a lesão endotelial e a exposição do colágeno subendotelial com consequente ativação do sistema de coagulação. O método também pode ser utilizado na abordagem de TVP aguda. Outros métodos mecânicos, como compressão pneumática intermitente, são válidos para profilaxia durante o parto cesariano e no pós-parto imediato2,12 (D). Considerações finais A embolia pulmonar é uma das principais causas de morte materna e a TVP traz morbidade significativa na gravidez e posterior a ela devido à síndrome pós-trombótica. Por se tratar de uma entidade de considerável relevância na prática clínica, deve-se sempre estar atento a identificar gestantes com fatores de risco de desenvolver eventos tromboembólicos, a fim de adotar medidas profiláticas precocemente. A heparina de baixo peso molecular parece ser uma opção promissora na gestação para aquelas mulheres com necessidade de terapia farmacológica pois, comparada à heparina não fracionada, têm uma meia-vida maior e potencialmente menos efeitos colaterais. Leituras suplementares 1. Paul E, Marik, Lauren A. Plante. Venous Thromboembolic Disease and Pregnancy. N Engl J Med. 2008;359(19):2025-33. 2. Greer IA. Prevention and management of venous thromboembolism in pregnancy. Clin Chest Med. 2003;24:123-37. 3. Toglia ML, Weg JG. Venous Thromboembolism During Pregnancy. N Engl J Med. 2006;335(2);108-14. 4. James AH, Tapson VF, Goldhaber SZ. Thrombosis during pregnancy and the postpartum period. Am J Obstet Gynecol 2005;193:216-9. 5. John A. Heit, Catie E. Kobbervig, Andra H. James, Tanya M. Petterson, Kent R. Bailey, L. Joseph Melton III. Trends in the Incidence of Venous Thromboembolism during Pregnancy or Postpartum: A 30-Year Population-Based Study. Ann Intern Med. 2005;143:697-706. 6. James AH, Jamison MG, Brancazio LR, Myers MR. Venous thromboembolismduring pregnancy and the postpartum period: incidence, risk factors, and mortality. Am J ObstetGynecol. 2006;194:1311-5. 7. Simpson EL, Lawrenson RA, Nightingale AL, Farmer RD. Venous thromboembolism in pregnancy and the puerperium: incidence and additional risk factors from a London perinatal database. Brit J Obstet Gynaec. 2001;108:56-60. 8. 9. Jacobsen AF, Skjeldestad FE, Sandset PM. Incidence and risk patterns of venous thromboembolism in pregnancy and puerperium – a register-based case-control study. Am J Obstet Gynecol. 2008;198:233.e1-233.e7. Lee t. Dresang, Pat Fontaine, Larry Leeman, Valerie J. King. Venous Thromboembolism During Pregnancy. Am Fam Physician. 2008;77(12):1709-16. 10. Zotz RB, Gerhardt A, Scharf RE. Prediction, prevention and treatment of venous thromboembolic disease in pregnancy. Semin Thromb Hemost. 2003;29(2):143-54. 11. Deneux-Tharaux C, Carmona E, Bouvier-Colle MH, Breart G. Postpartum maternal mortality and cesarean delivery. Obstet Gynecol. 2006;108(3 pt 1):541-48. 12. Greer IA. Prevention of Venous Thromboembolism In Pregnancy. Eur J Med Res. 2004;9:135-45. 13. Kent NJ, Leduc L, Crane J, Farine D, Hodges S, Reid G, et al. Prevention And Treatment Of Venous Thromboembolism (Vte) In Obstetrics. J Obstet Gynaecol Can. 2000;22(9):736-49. 14. Greer IA. The challenge of thrombophilia in maternal-fetal medicine. N Engl J Med. 2000;342(6):424-5. 15. Simioni P. Thrombophilia and gestational VTE. Thromb Res. 2009;123 Suppl 2:S41-4. 16. Brenner B. Haemostatic changes in pregnancy. Thromb Res. 2004;114(5-6):409-14. 17. Ginsberg JS, Greer I, Hirsh J.Use of antithrombotic agents during pregnancy. Chest. 2001;119(1 Suppl):122S-31S. 18. Bates SM. Management of pregnant women with thrombophilia or a history of venous thromboembolism. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2007:143-50. 19. Duhl AJ, Paidas MJ, Ural SH, Branch W, Casele H, Cox-Gill J, et al. Antithrombotic therapy and pregnancy: consensus report and recommendations for prevention and treatment of venous thromboembolism and adverse pregnancy outcomes. Am J Obstet Gynecol. 2007;197(5):457.e1-.e21. 20. Bates SM, Greer IA, Hirsh J, Ginsberg JS. Use of antithrombotic agents during pregnancy: the Seventh ACCP Conference on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy. Chest. 2004;126(3 Suppl):627S-44S. 21. Jilma B, Kamath S, Lip GY. Antithrombotic therapy in special circumstances. I — pregnancy and cancer. BMJ. 2003;326(7379):37-40. 22. Bates SM, Ginsberg JS. How we manage venous thromboembolism during pregnancy. Blood. 2002;100(10):3470-8. 23. Nutescu EA, Helgason CM. Evolving concepts in the treatment of venous thromboembolism: the role of factor Xa inhibitors. Pharmacotherapy. 2004;24(7 Pt 2):82S-7S. 24. Hirsh J, Warkentin TE, Shaughnessy SG, Anand SS, Halperin JL, Raschke R, et al. Heparin and low-molecular-weight heparin: mechanisms of action, pharmacokinetics, dosing, monitoring, efficacy, and safety. Chest. 2001;119(1 Suppl):S64-94. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 15 Pontes DM, Pimentel LGB, Carvalho FHC 25. Greer IA, Nelson-Piercy C. Low-molecular-weight heparins for thromboprophylaxis and treatment of venous thromboembolism in pregnancy: a systematic review of safety and efficacy. Blood. 2005;106(2):401-7. 26. Pettila V, Leinonen P, Markkola A, Hiilesmaa V, Kaaja R. Postpartum bone mineral density in women treated for thromboprophylaxis with unfractionated heparin or LMW heparin. Thromb Haemost. 2002;87(2):182-6. 27. Warkentin TE, Greinacher A, Koster A, Lincoff AM. Treatment and prevention ofheparin-induced thrombocytopenia: AmericanCollege of Chest Physicians evidence based clinical practice guidelines (8th edition). Chest. 2008;133 (Suppl):340S-380S. 28. Bates SM, Greer IA, Pabinger I, Sofaer S, Hirsh J. Venous thromboembolism, thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines (8th edition). Chest. 2008;133 (Suppl):844S-886S. 29. Ellison J, Walker ID, Greer IA. Antenatal use of enoxaparin for prevention and treatment of thromboembolism in pregnancy. BJOG. 2000;107(9):1116-21. 30. Lepercq J, Conardb J, Borel-Derlon A, Darmond JY, Boudignate O, Francouala, et al. Venous thromboembolism during pregnancy: a retrospective study of enoxaparin safety in 624 pregnancies. BJOG. 2001;108(11):1134-40. 16 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 31. Dolovich LR, Ginsberg JS, Douketis JD, Holbrook AM, Cheah G. A meta-analysis comparing low-molecular-weight heparins with unfractionated heparin in the treatment of venous thromboembolism: examining some unanswered questions regarding location of treatment, product type, and dosing frequency. Arch Intern Med. 2000;160(2):181-8. 32. Bates SM, Greer IA, Hirsh J, Ginsberg JS. Use of antithrombotic agents during pregnancy: the Seventh ACCP Conference on Antithrombotic and Thrombolytic Therapy. Chest. 2004;126(3 Suppl):627S-44S. 33. Pettilä V, Leinonen P, Markkola A, Hiilesmaa V, Kaaja R. Postpartum bone mineral density in women treated for thromboprophylaxis with unfractionated heparin or LMW heparin. Thromb Haemost. 2002;87(2):182-6. 34. Bates SM, Greer IA, Middeldorp S, Veenstra DL, Prabulos AM, Vandvik PO, et al. VTE, thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: Antithrombotic Therapy And Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141(2 Suppl):e691S-e736s. 35. Roeters Van Lennep JE, Meijer E, Klumper FJ, Middeldorp JM, Bloemenkamp KW, Middeldorp S. Prophylaxis with low-dose low-molecular-weight heparina during pregnancy and postpartum: is it effective? J Thromb Haemost. 2011;9(3):473-80. REVISÃO Resistência a antirretrovirais nas gestantes infectadas pelo HIV: revisão sistemática Antiretroviral resistance in HIV-infected pregnant women: systematic review Bruno Vitiritti1 Júlio Milanezi Neto1 Agueda Isabel Acela Lopez Perez1 Daniel Ricardo Monteiro1 Ernesto Antonio Figueiró Filho2 Palavras-chave HIV Fármacos anti-HIV Resistência a medicamentos Gestantes Keywords HIV Anti-HIV agents Drug resistance Pregnant women Resumo A Aids é uma das doenças mais importantes do mundo, sendo a transmissão vertical um dos problemas mais temidos e combatidos. Com a introdução da terapia antirretroviral, a taxa de transmissão é reduzida para menos de 1%. Alguns estudos dizem que a resistência materna é algo grave, pois o feto nasceria com uma cepa resistente, mas evidências científicas não comprovam isso. Observa-se que cada país tem uma forma padrão utilizada no manejo das gestantes infectadas pelo HIV, levando-se em consideração, por exemplo, a carga viral, período gestacional, ou uso prévio de terapia medicamentosa. Mesmo com recomendações padronizadas a resistência pode aparecer, sendo a resistência à nevirapina a mais comum, por esse motivo inúmeros estudos vêm mostrando medidas alternativas para evitar esse evento que tanto amedronta os clínicos. Abstract AIDS is one of the most important diseases in the world, and the vertical transmission is the problem more feared and fought. By the introduction of antiretroviral therapy, the vertical transmission rate is reduced to less than 1%. Some studies say the maternal resistance is something serious, because the fetus would be born with a resistant strain, but scientific evidence does not prove it. It is observed that each country has a standard form used in the management of HIV infected pregnant women, taking into consideration, for example, the viral load, pregnancy period or previous use of drug therapy. Even with standardized recommendations, the resistance may appear, and resistance to nevirapine the most common, for this reason many studies have shown alternative measures to prevent this event that both frightens the clinicians. Acadêmicos de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil. Professor Doutor da UFMS – Campo Grande (MS), Brasil. Endereço para correspondência: Bruno Vitiritti – Rua Plutônio, 56 – CEP: 79021-140 – Campo Grande (MS), Brasil – E-mail: [email protected] 1 2 Vitiritti B, Milanezi Neto J, Perez AIAL, Monteiro DR, Figueiró Filho EA Introdução A Aids é uma das mais importantes epidemias de toda a história. De 1980 a 2011, o Brasil notificou cerca de 608.230 casos da doença, sendo considerado o único país de Terceiro Mundo a ter um sólido programa de políticas públicas voltado para o controle e tratamento da epidemia1 (A). A região Centro-Oeste é a quarta região em número total de notificações de casos, porém nos últimos cinco anos houve uma estabilização na taxa de incidência da doença na região1 (A). As taxas de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção, situam-se entre 25% e 30%. Quando analisamos a transmissão vertical, 25% ocorrem intraútero e 75% intraparto2 (B). A taxa média de transmissão vertical do HIV que era de 16% no Brasil em 1997, diminuiu gradativamente para 8,6% em 2000 e para 6,8% em 20043 (A). É importante destacar que o Ministério da Saúde brasileiro utiliza como identificador da transmissão vertical, o indicador de taxa de incidência de Aids em menores de cinco anos de idade. No Brasil, a terapia antirretroviral está indicada para qualquer gestante infectada pelo HIV, seja apenas portadora do vírus ou já diagnosticada com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. O critério para a manutenção do esquema terapêutico após o parto deve ser avaliado por especialistas4 (A). Tendo em vista a importância do tema para a saúde pública, este trabalho de revisão tem por objetivo discorrer sobre o manejo da terapia antirretroviral nas gestantes portadoras do HIV e destacar as alternativas em caso de resistência aos antirretrovirais. Metodologia Trata-se de um estudo de revisão sistemática no qual se realizou busca nos sites da Cochrane, Bireme, PubMed, utilizando as palavras-chave: “HIV”, “Fármacos Anti-HIV”, “Resistência a Medicamentos” e “Gestantes”. Durante o período de busca, mês de maio de 2012, foram encontrados 76 artigos. O critério de inclusão para a revisão foi o artigo ter um grau de evidência A ou B. Esta classificação foi baseada na classificação proposta pela Associação Médica Brasileira como citado a seguir: A Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência (meta-análises ou ensaios clínicos randomizados). B Estudos experimentais ou observacionais de menos consistência (outros ensaios clínicos não randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle). C Relatos ou séries de casos (estudos não controlados). D Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. 18 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Os critérios de exclusão foram os artigos não estarem nos idiomas inglês, espanhol ou português. Sendo assim, foram separados para leitura 23 artigos, sendo 3 revisões de literatura, 5 consensos, 15 ensaios-clínicos. Discussão A visão geral da resistência aos antirretrovirais O primeiro caso notificado de Aids em mulheres ocorreu em 1982. Cerca de 30 anos depois, observa-se a chamada feminilização da Aids, sendo que a faixa etária mais comprometida é dos 20 aos 39 anos, compatível com idade fértil da mulher. Em 1985, reportou-se o primeiro caso de transmissão vertical do vírus no Brasil5 (B); a partir daí, a saúde materno-fetal em mulheres portadoras do HIV vem sendo um desafio para a área médica. Dentre as intervenções para a preservação da saúde materna e fetal em relação à Aids tem-se a terapia antirretroviral, a qual reduziu significativamente a transmissão vertical do vírus, sendo que a lógica do ataque baseia-se no controle da carga viral plasmática materna6 (B). A introdução da terapia antirretroviral no Brasil, em 1994, com o intuito de prevenir a transmissão materno-fetal do HIV, preconizava o uso da zidovudina (AZT). Porém, estudos demonstraram que a monoterapia com AZT tem pouco efeito sobre a carga viral materna e pode acarretar cepas resistentes ao medicamento7 (B), interferindo negativamente na eficácia clínica da profilaxia antirretroviral durante as gestações futuras, bem como na terapia convencional da paciente8 (A). Desde 2006, as recomendações brasileiras estabelecem a prescrição em gestantes portadoras do HIV o uso de AZT isolado no pré-natal, ou o esquema tríplice, incluindo nevirapina (NVP) ou nelfinavir (NFV), dependendo da carga viral e da contagem de CD4+. Em junho de 2007, a associação lopinavir/ritonavir (KALETRA®) passou a substituir o NFV durante a gestação. Já a NVP tem sido amplamente utilizada e difundida no país, devido ao seu baixo custo econômico e vantagens como boa absorção oral, além de possuir boa distribuição transplacentária7 (B). No entanto, estudos vêm demonstrando o aparecimento de formas mutantes do HIV, acredita-se que isso esteja relacionado com a concentração viral plasmática9 (B). Alguns estudos3,4,8 (A) levantam a questão de que a resistência é mais frequente no curto período de tratamento durante a gravidez. Talvez havendo relação com a imunologia da gestante ou com a seleção de cepas virais resistentes aos próprios medicamentos utilizados10 (A). Um grave problema que se observa em gestantes que apresentam resistência a terapia antirretroviral Resistência a antirretrovirais nas gestantes infectadas pelo HIV: revisão sistemática é a transmissão da cepa resistente para o feto, isso diminui as possibilidades de tratamento futuro tanto em mãe como em filho. Deve-se ter em conta que vários fatores influenciam no surgimento de resistência, além da fisiopatologia da doença. Por exemplo, a baixa adesão à terapia antirretroviral em adolescentes e grupos minoritários ou então pacientes que descobrem a infecção durante a gestação. Tudo isso influencia no aparecimento de resistência viral8,11 (A). Distintas alternativas medicamentosas têm sido analisadas e comparadas de tal forma que possam beneficiar tanto ao recém-nascido como a gestante, durante a gravidez e após ela. Dessa maneira, prevê-se a supressão da carga viral materna, redução da transmissão vertical e diminuição da mortalidade infantil. O preconizado nos serviços de saúde do mundo Neste tópico, optou-se por apresentar as medidas adotadas por três países distintos (Alemanha, Estados Unidos e Espanha), cujos idiomas dos consensos estavam em inglês e espanhol, quanto ao manejo das gestantes portadoras do HIV. Segundo a recomendação alemã12 (A), o regime terapêutico padrão é geralmente uma tripla combinação incluindo dois análogos de nucleosídeos inibidores da transcriptase reversa (ITRN) mais inibidor de protease (IP) ou NVP. O efavirenz (EFV) foi excluído, devido aos relatos de malformações cerebrais em recém-nascidos de macacas grávidas previamente tratadas com a medicação. Os ITRN mais difundidos são o AZT+lamivudina (3TC). Porém existem alternativas, como a associação de estavudina (d4T)+3TC ou AZT+didanosina (ddI). Os IP mais sugeridos são o KALETRA® ou saquinavir/ ritonavir (SQV/r). Segundo o consenso alemão, a profilaxia da transmissão vertical, bem como a profilaxia da transmissão no pós-parto, pode ser feita conforme o Quadro 1. A recomendação espanhola13 (A) encontra-se resumida no Quadro 2. Já a recomendação norte-americana14 (A) prevê que os regimes antirretrovirais utilizados durante a gestação, tanto para tratamento quanto para profilaxia, devem ser escolhidos com base em testes de resistência. Mesmo nas mulheres que apresentam resistência ao AZT, sua administração é preconizada via intravenosa durante o parto, pois a transmissão vertical do vírus realmente é evitada com seu uso. É importante ressaltar que a d4T pode ter ação antagônica ao AZT, sendo assim, deve ser suspensa durante o período intraparto e reiniciada após o evento. Quadro 1 - Recomendações alemãs para profilaxia da transmissão vertical do HIV Profilaxia da transmissão vertical anteparto Gestante com carga viral abaixo de 10.000 cópias/mL • Uso de AZT 2x250mg/dia via oral a partir da 30º semana de gestação; • Terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), se possível sem EFV, a partir da 30º semana até o nascimento. Gestante com carga viral acima de 10.000 cópias/mL • HAART, se possível sem EFV, a partir da 30º semana até o nascimento. • No pré-operatório/intraoperatório, deve-se iniciar AZT intravenoso na mãe na dose de ataque de 1 mg/kg/h e depois manter na dose de 2 mg/kg/h por uma hora até o nascimento. Profilaxia da transmissão vertical no pós-parto • Uso de AZT durante duas a quatro semanas para a criança com dose de 2 mg/kg de seis em seis horas, quando a gestação e o nascimento foram sem complicações. Quadro 2 - Recomendações espanholas para profilaxia da transmissão vertical do HIV Profilaxia da transmissão vertical em gestantes com infecção por HIV conhecida e sem tratamento prévio Durante a Gestação, de acordo com a carga viral: • Indetectável: utilizar AZT profilático desde a 14º semana de gestação • Detectável: Utilizar AZT+3TC ou tripla terapia (AZT+ITRN+NVP ou AZT+ITRN+IP), tendo início a partir do segundo trimestre de gestação. Durante o Parto: • Utilizar AZT 2 mg/kg em bolus, via intravenosa, no início do parto e, em seguida, 1 mg/kg/h até pinçar o cordão umbilical. Profilaxia da transmissão vertical em gestantes com tratamento prévio Durante a Gestação, de acordo com a carga viral: • Indetectável: Depende do esquema prévio • Esquema que já inclui AZT: Manter. • Esquema que não inclui AZT (nunca usado): incluí-la no novo esquema, suspendendo d4T, ou manter o esquema inicial. • Esquema que não inclui AZT (usado previamente): Não suspender a d4T e incluir um quarto fármaco. • Detectável: • Com ou sem AZT, deve-se utilizar um novo regime com três ou quatro fármacos, ao menos no último trimestre. Profilaxia da transmissão vertical no pós-parto Uso de AZT durante duas a quatro semanas para a criança com dose de 2 mg/kg de seis em seis horas, quando a gestação e o nascimento foram sem complicações. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 19 Vitiritti B, Milanezi Neto J, Perez AIAL, Monteiro DR, Figueiró Filho EA A profilaxia antirretroviral em crianças nascidas de mães com resistência a antirretrovirais deve ser determinada em consulta com um especialista em HIV na área de pediatria. Porém, a profilaxia durante seis semanas com AZT (juntamente com administração de AZT intravenoso intraparto na mãe) continua sendo recomendada. A administração de AZT intravenoso, segundo o consenso norte-americano, depende de quantas semanas de gestação a mãe estava no momento do parto (Quadro 3). No Brasil, toda gestante deve receber a terapia antirretroviral com três antirretrovirais, independente da situação sorológica, clínica ou imunológica. Esta deve ser iniciada a partir da 14ª semana de gestação e mantida até o clampeamento do cordão umbilical. É preconizado que a zidovudina esteja presente nos esquemas administrados. Além disso, para se evitar a resistência viral, a carga viral da gestante deve ser levada em consideração, ou seja, em gestantes com carga viral alta (>10.000 cópias/mL) deve ser usado o esquema tríplice (AZT+3TC/nelfinavir ou nevirapina). A quimioprofilaxia no momento do parto é feita com zidovudina injetável e segue o esquema abaixo: • Infusão em acesso venoso de 2 mg/kg na primeira hora, seguida de infusão contínua com 1 mg/kg/h até o clampeamento do cordão umbilical. Na falta de zidovudina injetável, usa-se zidovudina oral, sendo 300 mg dados no início do trabalho de parto e depois a cada 3 horas dar novamente a dose até o clampeamento do cordão umbilical. A profilaxia da transmissão vertical no pós-parto é realizada dando-se ao recém-nascido a zidovudina em solução oral, 10 mg/mL, até 24 horas após o parto (preferencialmente até a 8ª hora), na dose de 2 mg/kg de 6 em 6 horas durante 6 semanas. Como pôde se perceber cada esquema adaptou-se a sua realidade de saúde. O Brasil adaptou o modelo americano, ficando muito parecido com o modelo espanhol. As possíveis alternativas para evitar a resistência Em estudo realizado em Malawi15 (B), avaliou-se o impacto que um curso de sete dias pós-parto de AZT+3TC, associado à dose única de NVP durante o trabalho de parto, teria sobre taxas de resistência a NVP em mulheres infectadas pelo HIV. Como resultado, verificou-se que a resistência a NVP foi significativamente menos comum nos pacientes que receberam a dose única de NVP/AZT+3TC em comparação com a dose única de NVP, respectivamente, às 2 semanas (10 versus 74%) e 6 semanas após o parto (10 versus 64%). Portanto, a adição pós-parto de 7 dias de AZT+3TC à dose única de NVP reduz em 80% o risco de aparecimento de mutações que geram resistência a NVP em mulheres, 2 e 6 semanas após o parto. Já em outro estudo realizado na Tailândia16 (B), buscou-se avaliar a eficácia que um curso de um mês de AZT+ddI iniciado ao mesmo tempo que a dose única de NVP tem na prevenção da seleção de mutações que geram resistência a NVP. Verificou-se no resultado final, uma redução de 91% na seleção de mutações que geram resistência aos ITRNN (inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídeos). Ou seja, o regime de um mês de AZT+ddI pós-parto pareceu seguro, bem tolerado e fácil de aderir, e impediu a seleção da vasta maioria das mutações que geram resistência aos ITRNN. Na África do Sul17 (A), um estudo buscou avaliar a eficácia de um curto período de tratamento com AZT+3TC associado à dose única de NVP intraparto em reduzir a resistência aos ITRNN nas mães. Constatou-se que a eficácia estimada, comparando as terapêuticas combinadas (NVP/CBV4 e NVP/CBV7) com a dose única isolada de NVP, foi de 85,6%. Realizou-se um estudo na Zâmbia18 (A), avaliando a eficácia do uso de uma dose única de tenofovir/emtricitabina (TDF/FTC) intraparto na redução da resistência viral associada ao uso de NVP periparto. Demonstrou-se que a intervenção com TDF/FTC reduziu a frequência de mutações em 60% em 2 semanas e em 55% em 6 semanas pós-parto. Quadro 3 - Recomendações americanas para profilaxia da transmissão vertical do HIV Na profilaxia leva-se em conta a idade gestacional Acima de 35 semanas de gestação: • 4 mg/kg, via oral, duas vezes por dia, iniciando logo após o nascimento, se possível, dentro de 6 a 12 horas. Entre 30 e 35 semanas: • 2 mg/kg, via oral, (1,5 mg/kg via intravenosa) iniciando logo após o nascimento, se possível, dentro de 6 a 12 horas, em seguida a cada 12 horas e, depois de 2 semanas de idade, a cada 8 horas. Abaixo de 30 semanas: • 2 mg/kg, via oral, (ou 1,5 mg/kg, via intravenosa) começando de preferência dentro de 6 a 12 horas após o nascimento, em seguida a cada 12 horas. Depois de 4 semanas de idade a administração deve ser a cada 8 horas. 20 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Resistência a antirretrovirais nas gestantes infectadas pelo HIV: revisão sistemática Também na Zâmbia, outro estudo19 (A) objetivou determinar a associação entre a contagem pré-natal de células CD4+ e o desenvolvimento de resistência viral a drogas após a utilização periparto de NVP para prevenção perinatal do HIV. O estudo concluiu que as mulheres com contagens de CD4+ de 200–350 células/µL podem estar em risco aumentado de resistência viral aos ITRNN após o uso periparto de NVP. Dada a alta prevalência de resistência a NVP, a terapia antirretroviral deve ser iniciada entre todas as mulheres grávidas com contagens de células CD4+≤350células/µL No Quênia20 (A), buscou-se fazer uma comparação entre a prevalência de resistência depois do uso de regimes curtos de HAART e depois do uso de AZT mais dose única de NVP usada para prevenção da transmissão vertical do HIV-1. Este trabalho fornece evidências de que, em comparação com NVP, a HAART reduz, mas não elimina a resistência. Por fim, um estudo da Irlanda21 (B) buscou avaliar o impacto da terapia antirretroviral tripla temporária na gravidez no aparecimento de resistência a antirretrovirais. Viu-se o aparecimento de resistência genotípica importante na coorte de gestantes. Todas as mutações detectadas foram em mulheres que tomaram regimes contendo NVP. Este estudo sugere que a estratégia de usar a terapia antirretroviral tripla na gravidez pode não proteger as gestantes da resistência, pois há baixas barreiras genéticas. O resumo dos estudos e suas conclusões encontram-se no Quadro 4. Conclusão Por se tratar de condição clínica de extrema relevância e importância, o aparecimento da resistência aos antirretrovirais deve ser pesquisado e evitado, para que assim, as taxas de transmissão vertical do HIV mantenham-se baixas. É importante ter em mente que vários fatores influenciam no surgimento de resistência além da fisiopatologia da doença, como a má adesão ao esquema medicamentoso. Porém, esse trabalho se fixou somente nos fatores medicamentosos. Percebe-se que dependendo do país, há um esquema diferente para minimizar o aparecimento da resistência, bem como a taxa de transmissão vertical. Além disso, os ensaios clínicos importantes são realizados principalmente na África, devido esta preconizar principalmente o esquema monoterapêutico com a nevirapina. Dessa maneira, os trabalhos apresentados tiveram o intuito de aprimorar e dar maiores opções de manejo para evitar a resistência na gestante, conforme foi demonstrado no artigo. Dessa maneira, a gestante portadora do HIV que apresenta resistência aos antirretrovirais deve ser olhada de modo especial, levando-se sempre em consideração o uso de tratamento prévio e possíveis falhas terapêuticas comprovadas. Assim, um bom andamento da gestação é garantido, evitando-se que o feto seja contaminado pelo HIV. Quadro 4 - Análise dos artigos quanto ao esquema antirretroviral proposto e sua conclusão Autores Ano Evidência Esquema proposto Conclusão Farr et al.15 2010 B Curso pós-parto de sete dias de AZT+3TC associado à dose única de NVP intraparto. Redução de mais de 80% no risco de aparecimento de mutações que geram resistência a NVP em mulheres 2 e 6 semanas após o parto. Lallemant et al.16 2010 B Curso pós-parto de um mês de AZT+ddI associado a dose única de NVP intraparto. Redução de 91% na seleção de mutações que geram resistência aos ITRNN. McIntyre et al.17 2009 A Dose única de NVP associada ao AZT+3TC, dados como combivir (CBV) por quatro (NVP/CBV4) ou sete (NVP/CBV7) dias, iniciados simultaneamente com a dose única de NVP intraparto. A eficácia estimada comparando as terapêuticas combinadas (NVP/CBV4 e NVP/CBV7) com a dose única isolada de NVP foi de 85,6%. Chi et al.18 2009 A Dose única de TDF/FTC intraparto associada ao uso de dose única de NVP periparto. Redução da frequência de mutações que geram resistência a NVP em 60% em 2 semanas e em 55% em 6 semanas pósparto. Dorton et al.19 2010 A Dose única de TDF/FTC deve ser iniciada entre todas as mulheres grávidas com contagens de células CD4+ ≤350 células/µL. Os participantes com contagens de células CD4+ de 200-350 células/µl que receberam a dose única de TDF/FTC tinham o menor risco de resistência, sugerindo uma maior eficácia da intervenção dentro deste estrato. Lehman et al.20 2009 A Regime curto de HAART ao longo de seis meses de amamentação. 75% das mulheres no grupo ZDV/NVP tinham variantes virais com mutações enquanto que apenas 18% das mulheres no grupo HAART tinham níveis detectáveis de vírus resistentes. Lyons et al.21 2005 B Terapia antirretroviral tripla no terceiro trimestre de gestação, sendo descontinuada no pós-parto. Este estudo sugere que a estratégia de usar a terapia antirretroviral tripla na gravidez não pode proteger fármacos conhecidos por terem baixas barreiras genéticas como a NVP. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 21 Vitiritti B, Milanezi Neto J, Perez AIAL, Monteiro DR, Figueiró Filho EA Leituras suplementares 1. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico – Aids e DST 2011. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. 2. Matida LH (Coord.). Relatório do projeto de pesquisa: avaliação da transmissão vertical do HIV no estado de São Paulo. Brasil; 2010. 3. Pereira GFM, Cunha ARC, Moreira MBR, Oliveira SB, Freitas MA, Greco DB. Perspectivas para o controle da transmissão vertical do HIV no Brasil. In: Brasil. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2010: Uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Recomendações para Profilaxia da Transmissão Vertical do HIV e Terapia Antirretroviral em Gestantes: manual de bolso. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. 5. Parker R, Galvão J. Quebrando o silêncio: mulheres e Aids no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará; 1996. 6. Péret FJA, Melo VH, Paula LB, Andrade BAM, Pinto JA. Morbidade puerperal em portadoras e não portadoras do vírus da imunodeficiência humana. Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;29(5):260-6. 7. Kondo W, Astori AAF, Gomes SK, Fernandes RB, Sasaki MG, Sbalqueiro RL. Avaliação dos efeitos colaterais da nevirapina em gestantes HIV positivo em Hospital Universitário do sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008;30(1):19-24. 8. Duran AS, Losso MH, Salomón H, Harris DR, Pampuro S, Soto-Ramirez LE, et al. Drug resistance among HIV-infected pregnant women receiving antiretrovirals for prophylaxis. AIDS. 2007;21(2):199-205. 9. Chaix ML, Ekouevi DK, Peytavin G, Rouet F, Tonwe-Gold B, Viho I, et al. Impact of nevirapine (NVP) plasma concentration on selection of resistant virus in mothers who received single-dose NVP to prevent perinatal human immunodeficiency virus type 1 transmission and persistence of resistant virus in their infected children. Antimicrob Agents Chemother. 2007;51(3):896-901. 10. Clarke JR, Braganza R, Mirza A, Stainsby C, Ait-Khaled M, Wright A, et al. Rapid development of genotypic resistance to lamivudine when combined with zidovudine in pregnancy. J Med Virol. 1999;59(3):364-8. 11. Lyons FE, Coughlan S, Byrne CM, Hopkins SM, Hall WW, Mulcahy FM. Emergence of antiretroviral resistance in HIV-positive women receiving combination antiretroviral therapy in pregnancy. AIDS. 2005;19(1):63-7. 12. Buchholz B, Beichert M, Marcus U, Grubert T, Gingelmaier A, Haberl A, et al. German-Austrian recommendations for HIV1-therapy in pregnancy and in HIV1exposed newborn, update 2008. Eur J Med Res. 2009;14(11):461-79. 22 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 13. Iribarren JÁ, Ramos JT, Guerra L, Coll O, De José MI, Domingo P, et al. Prevención de la transmisión vertical y tratamiento de la infección por el virus de la inmunodeficiencia humana en la mujer embarazada. Enferm Infecc Microbiol Clin. 2001;19(7):314-35. 14. AIDS-Info. Recommendations for Use of Antiretroviral drugs in Pregnant HIV1-Infected Women for Maternal Health and Interventions to Reduce Perinatal HIV Transmission in the United States. [update 2012 May 29; 2011 September 14]. Available from: http://aidsinfo.nih.gov/guidelines 15. Farr SL, Nelson JA, Ng’ombe TJ, Kourtis AP, Chasela C, Johnson JA, et al. Addition of 7 days of zidovudine plus lamivudine to peripartum singledose nevirapine effectively reduces nevirapine resistance postpartum in HIV-infected mothers in Malawi. J Acquir Immune Defic Syndr. 2010;54(5): 515-23. 16. Lallemant M, Ngo-Giang-Huong N, Jourdain G, Traisaithit P, Cressey TR, Collins IJ, et al. Efficacy and safety of 1-month postpartum zidovudine-didanosine to prevent HIV-resistance mutations after intrapartum single-dose nevirapine. Clin Infect Dis. 2010;50(6):898-908. 17. McIntyre JA, Hopley M, Moodley D, Eklund M, Gray GE, Hall DB, et al. Efficacy of Short-Course AZT Plus 3TC to Reduce Nevirapine Resistance in the Prevention of Mother-to-Child HIV Transmission: A Randomized Clinical Trial. PLoS Med. 2009;6(10):e1000172. 18. Chi BH, Ellis GM, Chintu N, Cantrell RA, Sinkala M, Aldrovandi GM, et al. Intrapartum tenofovir and emtricitabine reduces low-concentration drug resistance selected by single-dose nevirapine for perinatal HIV prevention. AIDS Res Hum Retroviruses. 2009;25(11):1099-106. 19. Dorton BJ, Mulindwa J, Li MS, Chintu NT, Chibwesha CJ, Mbewe F, et al. CD4+ cell count and risk for antiretroviral drug resistance among women using peripartum nevirapine for perinatal HIV prevention. BJOG: An Intern Journ of Obstet & Gynaecology. 2011;118(4):495-9. 20. Lehman DA, Chung MH, Mabuka JM, John-Stewart GC, Kiarie J, Kinuthia J, et al. Lower Risk of Resistance After Short-Course HAART Compared With Zidovudine/Single-Dose Nevirapine Used for Prevention of HIV-1 Mother-to-Child Transmission. J Acquir Immune Defic Syndr. 2009;51(5): 522-9. 21. Lyons FE, Coughlan S, Byrne CM, Hopkins SM, Hall WW, Mulcahy FM. Emergence of antiretroviral resistance in HIV-positive women receiving combination antiretroviral therapy in pregnancy. AIDS. 2005;19(1):63-7. revisão Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério Cocaine/crack use and dependence in pregnancy, delivery and puerperium Ana Paula Machado Botelho1 Regina da Cunha Rocha2 Victor Hugo Melo3 Palavras-chave Drogas Ilícitas Cocaína Cocaína crack Gravidez Parto Período pós-parto Keywords Street drugs Cocaine Crack cocaine Pregnancy Parturition Postpartum period Resumo O uso de cocaína/crack entre gestantes está aumentando, o que traz riscos para a saúde da mulher e do recém-nascido. Uma estimativa exata da prevalência do uso destas drogas na gestação é difícil, dado o policonsumo e a superposição de fatores sociais. O crack é a forma de base livre da cocaína utilizado por via inalatória. Os principais efeitos da droga observados no corpo humano são: taquicardia, hipertensão, taquipneia, hipertermia, midríase, tensão muscular, contrações musculares, sudorese intensa, convulsões e até coma. Hemorragia intracraniana, acidentes vasculares encefálicos, isquemia mesentérica, insuficiência renal aguda e infartos renais são frequentes após uso abusivo da droga. A identificação do abuso de cocaína/crack por gestantes é um desafio, pois, além da negação, os sintomas podem ser confundidos com efeitos originados do abuso de outras substâncias ou a pré-eclâmpsia. As complicações maternas mais graves são descolamento prematuro da placenta, ruptura uterina, ruptura hepática, isquemia cerebral, infarto e morte. Em recém-nascidos expostos intraútero é observado baixo peso ao nascer, restrição no crescimento e risco de morte súbita. No atendimento ambulatorial às gestantes usuárias de drogas, o acompanhamento dos casos deve ser sistemático, periódico e multiprofissional, o que evidencia a necessidade de estruturação e fortalecimento da rede de atenção. Abstract The use of cocaine/crack between pregnant women is rising and increases risks for mother and newborn child’s health. An exact number of these drugs users during pregnancy is hard to establish, because of many drugs used at the same time and the influence of social effects related. Crack represents the cocaine free base used by inhalation. The most common drug effects observed in the human body are: tachycardia, hypertension, tachypnea, hyperthermia, mydriasis, muscle tension, muscle contractions, intense sweating, seizures and even coma. Intracranial hemorrhage, stroke, mesenteric ischemia, acute renal failure and renal infarctions are common after drug abusing. Identifying the abuse of cocaine/crack during pregnancy is a challenge, because, beyond the denial, the symptoms can be confused with effects generated by the use of other drugs at the same time or preeclampsia. The most serious maternal complications are placenta previa, uterine rupture, ruptured liver, brain ischemia, infarction and death. Newborns exposed in utero present low birth weight, growth restriction and risk of sudden death. In women drug users attendance, case monitoring should be systematic, regular and multiprofessional, which highlights the need for structuring and strengthening health network. Acadêmica de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. Mestranda do Mestrado Profissional de Promoção de Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil. Professor Associado da Faculdade de Medicina da UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil. Endereço para correspondência: Victor Hugo Melo – Rua Joanésia, 125, apto. 301 – CEP: 30240-030 – Belo Horizonte (MG), Brasil – E-mail: [email protected] 1 2 3 Botelho APM, Rocha RC, Melo VH Introdução O uso de drogas lícitas e ilícitas é um fenômeno prevalente em todo o mundo e está entre os 20 maiores fatores de risco para problemas de saúde identificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)1 (D). Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas e Crimes de 2012, produzido pelas Nações Unidas (United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC), cerca de 230 milhões de pessoas, ou 5% da população adulta, fez uso de drogas ilícitas pelo menos uma vez em 2010. Em todo o mundo, isso parece se manter estável, apesar de estar aumentando em vários países em desenvolvimento2 (D). As drogas ilícitas mais utilizadas globalmente são a maconha (Cannabis sativa), com prevalência anual de uso entre 2,6 e 5,0% e os estimulantes de tipo anfetamínico (ETS), excluindo o ecstasy, que responde por 0,3 a 1,2% do uso. A prevalência de consumo de cocaína e opiáceos (ópio e heroína) permanece estável, entre 0,3 a 0,4% e 0,3 a 0,5%, respectivamente. O abuso/dependência de estimulantes de tipo ETS é mais comum na Ásia, enquanto os opiáceos são prevalentes na Ásia, Europa e também na África, América do Norte e Oceania. Já o uso de cocaína é relatado principalmente nas Américas, enquanto a Cannabis é a principal droga de demanda por tratamento na África2 (D). No Brasil, com exceção de álcool e tabaco, as drogas mais consumidas em 2005 foram: maconha (8,8%), solventes (6,1%), benzodiazepínicos (5,6%), orexígenos (4,1%) e estimulantes (3,2%)3 (D). Segundo o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas, cerca de 23% da população entrevistada já fez uso de droga ilícita na vida4 (C). A diversidade dos dados sobre uso e dependência de drogas aponta para a necessidade de reconhecimento dos diferentes tipos de usuários, os quais, por apresentarem características diversas, requerem múltiplos equipamentos de saúde que devem se complementar na busca da atenção integral5 (D). A identificação dos aspectos culturais, econômicos e sociais relacionados aos diversos usuários revela a magnitude da questão e evidencia o desafio de encontrar maneiras adequadas para se intervir nesta realidade, principalmente na formulação de políticas públicas orientadas para a promoção da saúde, prevenção e tratamento. Apesar de diversos estudos epidemiológicos mostrarem maior prevalência de uso e abuso de drogas entre homens — exceto adolescentes, entre os quais é similar considerando ambos os sexos —, o consumo de drogas entre mulheres tem aumentado6 (D). Entre as consumidoras de drogas, 90% estão em idade fértil, entre 15 e 40 anos, e 30% o fazem desde antes de 20 anos7,8 (D). A exata prevalência de uso de cocaína/crack na gestação é difícil de ser estimada, dado que as gestantes geralmente omitem 24 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 essa informação. O consumo concomitante de várias drogas e a superposição de diversos fatores socioeconômicos são variáveis importantes. A ausência de estudos epidemiológicos nacionais e internacionais abordando o uso e dependência na gestação limita a análise de seus efeitos sobre a mãe e o recém-nascido. O objetivo deste estudo é apresentar e discutir o uso e/ou dependência de cocaína/crack durante a gestação, parto e puerpério imediato e suas consequências para a saúde da mulher e da criança. Métodos Este é um artigo de revisão sobre o uso de cocaína/crack no ciclo gravídico puerperal. Foi realizada busca nas bases de dados Bireme, PubMed, Scielo, UpToDate e Science Direct, com acesso por meio de mídia eletrônica. Para a busca dos artigos, guidelines ou outras publicações foram usados os seguintes descritores em português: drogas, cocaína, crack, gestação, parto, puerpério. Os descritores em inglês foram: drugs, cocaine, crack, pregnancy, delivery, puerperium. A pesquisa permitiu a análise dos efeitos e consequências do uso do crack; de seus efeitos e consequências durante a gestação, parto e puerpério imediato; dos métodos de identificação do uso do crack; e do cuidado na atenção primária às usuárias de crack no período da gestação, parto e puerpério. Buscou-se, em literatura atualizada, a definição da droga, seus mecanismos de ação, aspectos sociodemográficos das usuárias e efeitos nos diferentes sistemas orgânicos durante a gestação, parto e puerpério. A busca das melhores evidências científicas disponíveis foi realizada entre as publicações ocorridas no período entre 2005 e 2012, as quais foram classificadas de acordo com o seu nível e grau de recomendação. A seleção inicial das publicações levou em conta seus títulos e resumos; quando relacionados ao assunto, buscou-se o texto completo. Foi dada prioridade aos artigos mais recentes, aos com maior nível de evidência, às revisões narrativas e aos consensos de sociedades médicas baseados em evidências. Foram encontradas 63 publicações referentes ao tema e, entre elas, selecionaram-se 33 para a presente revisão. Cocaína/crack A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta encontrada exclusivamente na América do Sul, a Erythroxylon coca, conhecida como coca ou “epadu” — nome indígena9 (D). O crack, também conhecido como “pedra”, é a forma de base livre da cocaína, obtido do cloridrato de cocaína ou da pasta de cocaína, produtos de extração da coca. Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério A cocaína tem sido usada há anos pelos andinos, que mascam folhas da coca para liberar o princípio ativo (benzoilmetilecgonino), com propriedades estimulantes do sistema nervoso central (SNC). Nas folhas da coca boliviana, o conteúdo de cocaína é de 0,5% e cai rapidamente após serem mastigadas. Por isto, a toxicidade entre os andinos é rara10 (D). A cocaína foi o primeiro anestésico local utilizado, com potente ação vasoconstritora, e gera anestesia temporária e reversível. Porém, devido aos efeitos adversos sistêmicos e à descoberta de outros agentes anestésicos locais, como a lidocaína, seu uso foi abandonado. Pode ser comercializada sob a forma de sal, também denominado cloridrato de cocaína, conhecido como “pó”, “farinha”, ou “neve”, solúvel em água e podendo ser aspirado ou dissolvido em água para uso intravenoso, ou sob a de base, o crack, pouco solúvel, mas que se volatiliza quando aquecido (ou fumado). Sob esta forma, a merla (mela, mel ou melado), é um produto sem refino e muito contaminado com as substâncias utilizadas na extração, que também é fumada9 (D). Na produção de crack não há processo de purificação final. Ele é facilmente elaborado a partir do cloridrato de cocaína, sendo necessário dissolver o pó em água, adicionar um agente alcalino (hidróxido de sódio ou bicarbonato de sódio) e aquecê-lo, formando a “pedra”, colocada em cachimbos caseiros para ser fumada11 (D). Sua composição é bastante variada, com uma quantidade imprecisa de cocaína, suficiente para produzir efeitos fortes e intensos. Além disso, para obter a produção final do crack podem ser misturadas à cocaína diversas substâncias tóxicas, como gasolina, querosene e até água de bateria9 (D). O nome crack deriva do som produzido ao ser queimado o material no cachimbo, à temperatura aproximada de 95°C, quando sofre sublimação e os vapores produzidos são absorvidos pelos pulmões, alcançando rapidamente o cérebro. Em cerca de 10 a 15 segundos, ele alcança o SNC, produzindo seus efeitos mais rapidamente que pelas outras vias de utilização da cocaína (intravenosa e nasal). Esse tempo de início dos efeitos contrasta com outras vias, que, em média, levam 3 a 5 minutos (via endovenosa) ou de 10 a 15 minutos (via nasal)9 (D). O tempo curto entre a administração e o aparecimento dos efeitos faz do crack uma droga muito “atraente” para o usuário. O usuário passa por diversas fases durante o consumo. A primeira é a da euforia cocaínica, caracterizada por sensações de prazer, como excitação, hipersexualidade, hipervigilância e instabilidade emocional. A segunda é a disforia, quando as sensações são de angústia, inapetência, insônia, indiferença sexual, apatia, tristeza, melancolia e agressividade. Já a terceira, a alucinógena, caracteriza-se por alucinações visuais, auditivas, táteis, olfativas, agitação psicomotora e indiferença sexual. E a quarta e última fase é a psicose, na qual o usuário tem ilusões paranóides, mania de perseguição, insônia, depressão, tentativas de autoextermínio, alucinações e hipervigilância. A overdose é mais comum na fase inicial ou na fase posterior de depressão9 (D). Doses tóxicas mínimas e doses letais ainda não foram determinadas e são bastante incertas. A grande maioria das mortes relacionadas à cocaína ocorre com o uso prolongado de altas doses, e suicídio é a causa de morte de cerca de 10% dos usuários10 (D). Epidemiologia A difusão mundial do crack está associada, desde a década de 1960, a vários fatores: aumento da produção e suprimento de cocaína, em decorrência de melhores técnicas de refinamento que culminaram com o declínio dos custos de produção; falta de algumas drogas no mercado por conta de ações repressivas; aumento no consumo global; e expansão de mercados associado à crença de que a cocaína é uma droga benigna e que não gera dependência. Contudo, o alto preço inicial da cocaína levou os usuários de drogas à descoberta de outras formas de uso com efeitos mais intensos, apesar da menor duração12 (D). Desse cenário, no início de 1980, apareceram novas opções obtidas a partir da mistura de cloridrato de cocaína com ingredientes incertos e tóxicos. No Brasil, os dados indicam que o crack começou a se disseminar a partir de 1989, alastrando-se em duas décadas em diversos segmentos sociais12 (D). Estatísticas de 2010 demonstraram maior prevalência do uso de cocaína na América do Norte (1,6%), no Centro e Oeste da Europa (1,3%) e na Oceania (1,5 a 1,9%)2 (D). Pesquisas apontam para expansão do mercado de cocaína, especialmente do crack, em alguns países da América do Sul. A prevalência do consumo na América do Sul, América Central e Caribe permanece elevada (entre 0,5 e 0,7%). No Brasil, as apreensões federais da droga triplicaram desde 2004, chegando a 27 toneladas em 2010, o que pode refletir o papel do País como de passagem da cocaína contrabandeada via Oceano Atlântico2 (D). Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), 22,8% da população pesquisada já fez uso de drogas ilícitas durante toda a sua vida. Em pesquisa semelhante, realizada em 2004 nos Estados Unidos da América, a porcentagem atingiu 45,4% e, no Chile, 17,1%. A prevalência de uso de cocaína, crack e merla no Brasil foi, respectivamente, 2,9, 0,7 e 0,2%12 (D). O relatório global da OMS de 2011 mostra que o abuso e/ou dependência de drogas lícitas e tabaco são os fatores associados à maior incidência de mortes no mundo. Observa-se relação direta do abuso da substância com diversos problemas FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 25 Botelho APM, Rocha RC, Melo VH físicos, sociais e psicológicos, com efeitos diretos em grupos sociais, tais como absenteísmos, desemprego, violência familiar, negligência infantil e abuso, problemas com justiça criminal e danos causados por crimes e acidentes automobilísticos. Aproximadamente 1 em cada 100 mortes entre adultos é atribuída ao uso de drogas ilícitas2 (D). No Brasil, há predomínio de uso de crack entre jovens do sexo masculino, de baixa renda, e entre usuários de múltiplas drogas ou substâncias psicoativas12 (D). Estudos demonstraram que a diferença entre os gêneros apresenta tendência de declínio. Apesar da escassez de informações, observa-se aumento do consumo entre mulheres. A verdadeira prevalência de drogas ilícitas na gestação é difícil de determinar, pois as gestantes geralmente omitem essa informação e outros fatores de risco se sobrepõem, tais como: uso concomitante de várias drogas, baixo nível socioeconômico, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, atendimento pré-natal precário, baixa escolaridade materna e famílias grandes13 (D). Mecanismos de ação, metabolização e excreção A cocaína atua inibindo a recaptação pré-sináptica dos neurotransmissores excitatórios dopamina e norepinefrina, além de inibindo a ação da enzima monoamino-oxidase, que degrada tais substâncias na sinapse. Dessa forma, a concentração dos neurotransmissores na fenda sináptica permanece elevada, o que prolonga a ativação do sistema nervoso simpático, causando euforia, vasoconstricção, hipertensão, arritmias, hipertermia e midríase, entre outras manifestações orgânicas10 (D). O abuso de cocaína promove níveis elevados e contínuos dos neurotransmissores no cérebro do usuário, provocando euforia em curto prazo e dependência em longo termo. Na overdose, esta droga atua como antimuscarínica, inibindo a motilidade gástrica e aumentando o risco de úlceras e perfuração do estômago10 (D). Após administração, a cocaína rapidamente atinge altas concentrações na corrente sanguínea e em órgãos altamente vascularizados, como o cérebro. Cerca de 5% da droga é excretada inalterada na urina (detectável entre 3 e 6 horas após o uso), enquanto 85% é metabolizada por colinesterases plasmáticas e hepáticas. A atividade destas enzimas se encontra reduzida em crianças, idosos e gestantes10 (D). Efeitos do crack Uma vez fumado, o crack rapidamente atinge o cérebro. O resultado é a estimulação do SNC. Os efeitos iniciais compreendem intensa euforia (êxtase), ilusão de onipotência, ansiedade, estado de alerta e grande autoconfiança. Estas sensações de extremo prazer duram muito pouco, cerca de cinco minutos após o uso 26 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 da “pedra” do crack10 (D). O término dos efeitos é tipicamente acompanhado de disforia, compulsão, delírio, alucinações e “fissura” (craving) pela readministração da droga. A “fissura” é definida como vontade irresistível do uso repetidamente. No caso do crack, em função do seu rápido efeito, é muito intensa. Nessa fase, o usuário pode se tornar agressivo e utilizar qualquer estratégia para comprar a droga: roubar, vender ou fazer favores sexuais a fim de obter dinheiro9 (D). É um período em que o usuário não se alimenta, não dorme e não tem cuidados básicos de higiene, perdendo o interesse por sua aparência física4 (C). O ciclo só é interrompido quando o suprimento de droga termina ou quando o usuário está completamente exaurido. Com o passar do tempo, o uso constante determina o efeito de tolerância, sendo necessária maior dose para atingir o prazer desejado. Por outro lado, ansiedade, paranoia e depressão, além de disfunções sexuais, aumentam de intensidade e frequência com o uso crônico14 (D). A intensidade e o rápido início da euforia combinados com a forte compulsão de uso que se desenvolve fazem do crack uma droga com alto potencial de dependência. Efeitos da via de uso A aspiração nasal da cocaína, por meio da sua ação vasoconstritora, pode levar à necrose isquêmica das cartilagens nasais, perfuração do septo nasal e úlceras orofaríngeas. Os efeitos podem estar associados ao uso prolongado da droga. Já o consumo esporádico se associa à irritação química da mucosa, com rinite e rinorreia15 (D). Com os efeitos anestésicos da cocaína sobre a mucosa orofaríngea, a inalação do crack permite exposição prolongada, causando inflamação aguda, necrose, epiglotite, laringotraqueobronquite e espasmo laríngeo. Os produtos voláteis usados na extração do crack podem acarretar queimadura das vias aéreas superiores, e as impurezas presentes podem levar a reações pulmonares como granulomatose e pneumoconiose, além de ruptura alveolar, pneumotórax e pneumomediastino10 (D). A cocaína usada de forma endovenosa é menos comum e apresenta alta morbidade e mortalidade. Convulsões, infarto agudo do miocárdio, crise hipertensivas e hipertermia já foram descritos. Assim como outras drogas injetáveis, o consumo se associa a vasculites, endocardites, hepatite B e C, citomegalovirose, sífilis e infecção pelo HIV10 (D). Efeitos do uso do crack e cocaína nos diferentes sistemas orgânicos Os efeitos da cocaína no organismo humano podem ser divididos em: esperados, que são dose dependentes; e idiossincráticos10 (D). os principais observados no corpo humano são: Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério taquicardia, hipertensão, taquipneia, hipertermia, midríase, tensão muscular, contrações musculares, sudorese intensa, convulsões e até coma. Além disso, também pode ocorrer parada cardiorrespiratória por fibrilação ventricular. As complicações do ACV não parecem ser doses dependentes, pois até pequenas quantias podem aumentar a morbidade e mortalidade entre os usuários. Aparelho respiratório Sistema nervoso central A ação da cocaína/crack no SNC pode ser dividida em efeitos vasculares, neurológicos e psicológicos. A superestimulação produz rápido incremento da pressão arterial e da frequência cardíaca, aumentando o risco de convulsão, acidente vascular encefálico (AVE) e infarto cerebral. Hemorragia intracraniana e AVE são frequentes após uso abusivo da droga10 (D). A cocaína tem sido associada à hipertermia e agitação, e a temperatura corporal pode subir até 1°C após o uso. Temperaturas superiores a 40°C indicam pior prognóstico e podem sinalizar a ocorrência de delírio animado10 (D). Trata-se de uma síndrome incomum, caracterizada por progressão rápida, em duas a quatro horas, dos sintomas de hipertermia, delírio, parada cardiorrespiratória e morte. A estimulação central produz sensações de euforia, ansiedade, estado de alerta, agitação, psicose, inapetência, instabilidade emocional, dificuldade para dormir, insônia e fadiga diurna9 (D). A cocaína suprime os sentimentos de medo e pânico, o que acarreta maior autoconfiança. Já a sua abstinência se associa a comportamentos compulsivos, ansiedade, depressão, exaustão e sonolência. Violência e comportamentos de risco, furto, roubo, homicídio e prostituição também são descritos. Doenças ou sinais e sintomas psiquiátricos podem ser manifestações do abuso de cocaína como efeito colateral. São evidenciados: psicose aguda ou crônica, esquizofrenia, ideação suicida, desordens obsessivo compulsivas e distúrbios do sono10 (D). A disfunção sexual é comum entre os usuários da droga. Baixas doses retardam a ejaculação e o orgasmo e aumentam a excitação sexual, mas altas doses podem causar perda do interesse sexual, impotência, anorgasmia e ejaculação precoce10 (D). Aparelho cardiovascular As complicações cardiovasculares da cocaína são as mais frequentes e podem ocorrer após uso agudo ou crônico. Incluem dor torácica, arritmias, isquemia e/ou infarto do miocárdio e morte súbita e são a principal causa de morte relacionada ao uso da droga. A cocaína induz à vasoconstrição (aumento do tônus vascular), hipertensão arterial, taquicardia e vasoespasmo, com aumento da demanda periférica de oxigênio. O infarto é decorrente do efeito protrombótico da droga, com agregação e ativação plaquetária, e da fibrinólise diminuída10 (D). Após a inalação da droga, lesões térmicas das vias aéreas podem acontecer, ocasionando tosse persistente, expectoração carbonácea, dispneia, sibilos, rouquidão e estridor10 (D). O crack induz ao aumento da reatividade brônquica e hipersecreção, promovendo broncoconstrição, o que exacerba o quadro de asma em usuários crônicos. Outras complicações pulmonares incluem pneumonia, hemorragia, lesões vasculares e edema pulmonar. A exposição repetida pode ocasionar febre, broncoespasmo, dispneia e tosse, e é possível que haja hemoptise devido à vasculite, hemorragia alveolar, lesões térmicas e de brônquios. Episódios recorrentes de dano pulmonar levam à hipertensão pulmonar e podem resultar em insuficiência cardíaca direita10. Aparelho digestivo O crack produz efeitos anestésicos sobre a mucosa da orofaringe, o que permite exposição prolongada e pode acarretar inflamação aguda, necrose, epiglotite, laringotraqueobronquite e laringoespasmo10 (D). Disfagia, sialorreia e rouquidão também são comuns. Com o uso da droga se observa redução do fluxo sanguíneo mesentérico e hipomotilidade gástrica, o que atrasa o esvaziamento estomacal e prolonga a exposição da mucosa ao ácido gástrico, aumentando o risco de ocorrência de gastrite e úlceras. A vasocontrição provocada pela cocaína pode levar à isquemia mesentérica, isquemia tecidual focal e ao infarto mesentérico10 (D). Sistema renal É possível que a vasoconstrição provocada pela cocaína resulte em insuficiência renal aguda e infartos renais, que podem ocorrer também em consequência de espasmos da artéria renal, aterosclerose e trombose10 (D). A cocaína apresenta ainda efeito nefrotóxico, causando rabdomiólise, e ocorrem também hipercalemia e precipitação de mioglobina nos túbulos renais, com obstrução e inflamação, agravando a isquemia renal tubular10 (D). Pele e fâneros O uso da cocaína/crack induz a manifestações cutâneas como vasculites, púrpura, urticária, delírios de parasitose (formigamento e ilusão de que insetos estão rastejando na pele) e erupções na pele. Além disso, sobrancelhas e cílios podem ser queimados10 (D). FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 27 Botelho APM, Rocha RC, Melo VH O Quadro 1 resume os efeitos do uso da cocaína/crack nos diferentes sistemas do nosso organismo. Efeitos e consequências do crack na gestação, parto e puerpério O consumo de cocaína entre mulheres tem crescido em todo o mundo. Estima-se que cerca de 90% das usuárias de droga está em idade fértil8 (D), e nota-se que a prevalência do uso de drogas lícitas ou ilícitas em gestantes também aumentou, o que traz grandes riscos para a saúde da mulher e do neonato, uma vez que as alterações fisiológicas induzidas pela gravidez potencializam os efeitos do crack, principalmente a toxicidade cardiovascular16 (D). O seu uso tem sido associado ao aumento da prevalência de gravidez não planejada, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo a infecção pelo HIV17 (C). A interação entre os padrões de uso de crack e o comportamento sexual de risco (sexo desprotegido, múltiplos parceiros e envolvimento em sexo comercial, entre outros) não só é responsável pelo risco acrescido ao HIV/AIDS nessa população como também ao maior risco de complicações ao longo do tratamento. Essas pacientes, por exemplo, geralmente precisam ter acesso a exames laboratoriais mais sofisticados (como genotipagem do HIV) e regimes terapêuticos mais complexos (como as “terapias de resgate”, adequadas para pacientes com cepas virais multirresistentes ou falha terapêutica) em função da falência de alternativas de tratamentos mais simples e baratos. Com frequência, também precisam de serviços de apoio social (alojamentos e encaminhamentos para auxílios governamentais, por exemplo), além de suporte psicológico e tratamentos para diferentes comorbidades psiquiátricas18 (D). Os usuários de cocaína/crack têm altas taxas de desnutrição, habitação instável, desemprego, pobreza e envolvimento criminal, além de alta incidência de problemas de saúde mental, como baixa autoestima, automutilação e/ou tentativas de autoextermínio, transtornos alimentares, transtorno do estresse pós-traumático e violência doméstica e sexual. O uso crônico da cocaína/crack pode afetar os ciclos menstruais da mulher, efeito que pode ser revertido com a descontinuidade do uso ou após desenvolvimento de tolerância à droga19 (D). A identificação do abuso de cocaína/crack em parturientes é um desafio. Geralmente as mulheres negam o uso e os sintomas indicativos podem ser confundidos com os efeitos originados pelo abuso de outras substâncias, tais como álcool, tabaco e maconha ou com doenças associadas à gestação, como a pré-eclâmpsia19 (D). São sinais indicativos de intoxicação, overdose ou abstinência: alterações comportamentais evidentes, agitação, pupilas dilatadas ou constritas, pressão arterial aumentada ou reduzida, frequência cardíaca aumentada ou reduzida, frequência respiratória aumentada ou reduzida e diminuição de reflexos20 (D). A abordagem sobre o uso de drogas, lícitas ou não, deve fazer parte da rotina de pré-natal, com a obtenção da história pregressa e atual do consumo, incluindo quantidade e frequência. A partir do relato pessoal do uso podem ser realizados testes toxicológicos de urina e cabelo para avaliar o consumo, devendo se obter previamente o consentimento informado da paciente20 (D). As gestantes e puérperas usuárias de drogas são muito mais discriminadas, o que predispõe à negação do vício e não procura pela assistência pré-natal ou ao acesso tardio à assistência médica. Usuárias de crack têm déficit de cuidados pré-natais e essa falta ou número escasso de consultas se relaciona também ao isolamento social, imposto a essas mulheres com discriminação e preconceito. O uso de cocaína/crack durante a gestação está associado ao aumento de alterações do sistema cardiovascular21 (D). Com as mudanças fisiológicas, a gravidez se torna um estado hiperdinâmico e hipervolêmico. Dado o efeito vasoconstrictor da cocaína, o consumo da droga pode provocar hipertensão arterial, taquicardia e arritmias, precipitando crises. Outros sintomas incluem: convulsões, hiper-reflexia, febre, midríase, instabilidade emocional, proteinúria e edema. A combinação de hipertensão, proteinúria e convulsões, resultantes do abuso de cocaína, pode ser confundida Quadro 1 – Efeitos do uso de cocaína/crack nos diferentes sistemas orgânicos Cardiovasculares Aumento da pressão arterial e frequência cardíaca Dor torácica Isquemia/infarto do miocárdio Arritmias Trombose Psicológicos Euforia Psicose Depressão Fadiga 28 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Respiratórios Pneumotórax Pneumomediastino Infiltrado alveolar e intersticial Edema pulmonar Hemorragia pulmonar Renais Rabdomiólise/Mioglobinúria Infarto renal Falência renal aguda Gastrointestinais Gastrite/colite Ulceração Isquemia/infarto mesentérico Hepatoxicidade Cerebrovasculares Hemorragia intracraniana Vasculite Acidente vascular encefálico Neurológicos Hipertermia Convulsões Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério com eclâmpsia: o diagnóstico diferencial é essencial nesses casos para estabelecer a conduta correta22 (D). As complicações maternas decorrentes do uso desta droga na gestação são evidenciadas pela alta incidência de aborto, descolamento prematuro de placenta (DPP), trabalho de parto prematuro, ruptura uterina, disritmias cardíacas, ruptura hepática, isquemia cerebral, infarto e morte22 (D). A cocaína aumenta a concentração de ocitocina, induzindo à atividade uterina, o que explica as altas taxas de parto pré-termo. Os efeitos hipertensivos da cocaína e o reforço da contratilidade uterina, por aumento dos níveis de norepinefrina, predispõem a mulher ao DPP. O uso crônico está associado a altas taxas de DPP grave, podendo acarretar mortes maternas e/ou perinatais19 (D). Os eventos adversos dependem da dose, do tempo de consumo e da idade gestacional. O consumo de outras substâncias, como álcool, heroína, cigarro e maconha, pode agir sinergicamente. O uso de cocaína/crack no primeiro trimestre de gestação está associado a maiores taxas de aborto espontâneo19 (D), e os efeitos negativos independem da dose, o que sugere que qualquer nível de exposição aumenta o risco de abortamento10 (D). O efeito vasoconstritor da droga, por meio do aumento do tônus vascular, reduz o fluxo sanguíneo uteroplacentário, aumentando as chances de ocorrência de hipóxia fetal, sofrimento e restrição de crescimento fetal intrauterino (CIUR), acidose e isquemia, além de infartos e hemorragias placentárias em qualquer momento da gestação16,23 (D, C). O Quadro 2 apresenta os principais efeitos gestacionais do uso de cocaína/crack. A droga possui propriedades lipofílicas, pouco conteúdo hídrico, baixo peso molecular e pouca ionização, o que permite que seus metabólitos atravessem a placenta por difusão simples e atinjam o feto. As suas concentrações no feto se comparam com as maternas13 (D). Estudos sugerem riscos de teratogenicidade com o uso de cocaína. No entanto, há controvérsia e grande dificuldade na Quadro 2 – Principais efeitos gestacionais do uso de cocaína/crack Principais alterações gestacionais Abortamento Descolamento prematuro de placenta Ruptura prematura de membranas Contrações uterinas precoces Parto pré-termo Crises hipertensivas Movimentos fetais excessivos Ruptura uterina definição da associação da exposição intraútero a ela com os efeitos fetais. Isso decorre da sobreposição de fatores maternos, entre eles o uso de outras drogas lícitas ou ilícitas concomitantemente, como tabaco, álcool, maconha e heroína; baixo nível socioeconômico; baixo nível educacional; dificuldade de acesso ao sistema de saúde; e precariedade da assistência pré-natal. A ação direta da cocaína sobre o feto raramente provoca anomalias. Estas geralmente são decorrentes de outros fatores de risco. As malformações mais frequentemente encontradas são anomalias do trato genitourinário, deformidades distais, gastrosquise, defeitos cardiovasculares, microcefalia e defeitos do tubo neural. Não existe, no entanto, uma síndrome característica, como ocorre entre os neonatos expostos ao álcool (síndrome alcoólica fetal). A exposição fetal à cocaína está associada a deficiências auditivas, assimetrias sensoriais, tremores e reação exagerada a estímulos ambientais, hiperatividade, inquietação10 (D). Em recém-nascidos expostos à cocaína/crack intraútero, observa-se baixo peso ao nascer, diminuição do perímetro cefálico, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e risco de morte súbita20 (D). Após o nascimento pode haver dificuldade para o ganho de peso, aumento da incidência de apneia do sono e síndrome da morte súbita infantil. A droga suprime o apetite materno, o que contribui para a deficiente nutrição e deprime os depósitos de gordura fetais, diminuindo a massa corporal. Os prejuízos ocorrem com maior frequência nas funções cognitivas. Estudos com crianças na faixa etária de dois a sete anos demonstram problemas para a manutenção da atenção. Há relatos de deficiência mental leve e prejuízos da memória e do aprendizado, com maior deficiência ou retardo do desenvolvimento cognitivo em crianças de até dois anos. As alterações cognitivas foram mais evidentes entre as gestantes que fizeram uso combinado de álcool associado a outras drogas24 (D). A extensão da exposição pré-natal à cocaína pode determinar a ocorrência de síndrome da abstinência neonatal. Os sintomas aparecem dois a três dias após o nascimento e tendem a desaparecer nos primeiros meses de vida. Entre eles se encontram problemas de alimentação, como dificuldade de sucção; irritabilidade; hipertonia; bocejos e espirros, que se devem a maior estimulação do SNC10 (D). O Quadro 3 resume os principais efeitos do uso da cocaína/ crack no embrião, no feto e no recém-nascido. O abuso da cocaína/crack geralmente está associado ao consumo de outras drogas, como álcool, tabaco e maconha. O álcool possui efeitos teratogênicos, e seu consumo deixa sequelas fetais em qualquer fase do desenvolvimento fetal e em qualquer idade gestacional. Está associado à maior taxa de prematuridade e síndrome alcoólica fetal, que inclui CIUR, fácies FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 29 Botelho APM, Rocha RC, Melo VH atípica, deficiência mental e anormalidades osteomusculares, geniturinárias e cardiovasculares. Nenhum nível de álcool é seguro na gestação22 (D). A nicotina pode diminuir o fluxo sanguíneo placentário, devido à vasoconstrição, e contribuir para a hipóxia fetal. O uso de tabaco na gestação está associado ao aumento do número de recém-nascidos com baixo peso ao nascer22 (D). O efeito negativo é proporcional ao número de cigarros fumados e ocorre mesmo com a exposição passiva. O uso periparto de grandes quantidades de cocaína podem provocar taquicardia fetal, desaceleração e hipertensão arterial, que possivelmente resultam em infarto vascular cerebral intrauterino22 (D). As anestesias geral e local, juntamente com o uso da droga, estão associadas a complicações graves maternas, incluindo hipertensão, hipotensão, arritmias cardíacas, isquemia ou disfunção do miocárdio, hemorragia periparto e percepção alterada da dor25 (C), podendo ser necessário o aumento da dose de analgésicos. O parto vaginal e a anestesia local são as melhores opções para parturientes usuárias de crack. Além de algumas DSTs (infecção pelo HIV, dependendo da carga viral, por exemplo), urgências obstétricas são indicadoras de parto cesáreo21 (D). As mães usuárias da droga geralmente apresentam alto risco de competência parental. Nestes casos, observa-se pouca interação entre a mãe e a criança, suporte social inadequado, baixa autoestima da mãe, hostilidade à criança, agressividade, ansiedade e depressão. Os filhos de dependentes químicos têm risco aumentado de problemas comportamentais, psicológicos e acadêmicos, inclusive de se tornarem tóxico dependentes20 (D). O cuidado na Atenção Primária à Saúde das gestantes usuárias de crack A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada preferencial para o Sistema Único de Saúde (SUS), local em que se estabelece o primeiro contato com a rede de atendimento, a qual precisa estar preparada para receber a usuária com uma postura humanizada. Para alcançar a integralidade do cuidado das gestantes usuárias da droga, a APS deve se articular com os Centros de Atendimentos Psicossociais de Álcool e Drogas (CAPS ad) para o desenvolvimento de um Projeto Terapêutico Singular (PTS), bem como realizar encaminhamentos para maternidades de referência e internação dos casos mais graves — em Serviços Hospitalares de Referência para Álcool e Drogas (SRRad), também denominados Unidades de Desintoxicação (UD)26 (D). O PTS se configura em um dispositivo importante na integralidade do cuidado, como um conjunto de propostas de condutas articuladas, que surge da escuta e consideração aos valores, desejos, ideias e vínculos das usuárias. Sua construção envolve discussões em equipe, nas quais são valorizados aspectos importantes do acompanhamento de cada caso, o que vai além da definição do diagnóstico e prescrição de medicamentos. É onde a gestante participa da construção do cuidado e assume tarefas dentro das metas e propostas definidas27 (D). Ao se deparar com uma gestante usuária de drogas, a primeira questão a ser ponderada pelo profissional de saúde é verificar se a situação pode ser tratada ambulatorialmente ou se já é indicada a hospitalização da paciente. A decisão deve se nortear pelos seguintes critérios28 (D): a) Intensidade dos sintomas de abstinência; b) Nível de complicações orgânicas e psíquicas; c) Nível de aceitação da paciente à sua própria realidade; d) Nível da retaguarda familiar e assistência disponível. Nos casos de gestantes que fazem uso de crack, devem ser encaminhadas para uma UD, ficando a APS com a responsabilidade pelo acompanhamento do pré-natal, parto e puerpério, mas com a corresponsabilização do cuidado da mãe e do seu recém-nascido26 (D). No processo de atendimento ambulatorial às gestantes usuárias de drogas, o acompanhamento dos casos deve ser sistemático e periódico, levando em consideração principalmente os seguintes aspectos: cumprimento do calendário de consultas Quadro 3 – Efeitos da cocaína/crack no embrião, no feto e no recém-nascido Principais efeitos no embrião, feto e recém nascidos Embrião Feto Anomalias do trato genitourinário Sofrimento fetal Deformidades distais Restrição de crescimento uterino Gastrosquise 30 Diminuição do perímetro cefálico Recém-nascidos Deficiências auditivas Assimetrias sensoriais Reação exagerada a estímulos ambientais Hiperatividade Inquietação Ganho de peso adiado Defeitos cardiovasculares Microcefalia Tremores Aumento da incidência de apneia do sono Defeitos do tubo neural - Baixo peso ao nascer Retardo no desenvolvimento neuropsicomotor Síndrome da morte súbita infantil FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério e recomendações feitas durante o pré-natal; observação do ganho de peso e curva da altura uterina; adesão ao tratamento especializado; redução (ou suspensão) do uso de crack e de danos; condições do nascimento; responsabilização materna frente aos cuidados com o bebê e puerpério. Na rotina de atendimento e nas visitas domiciliares às grávidas precisam ser realizadas abordagens diretas às gestantes e suas famílias para a análise dos riscos e vulnerabilidades sociais, de forma a alertá-las quanto aos efeitos maléficos que o crack causa ao feto e ao recém-nascido, buscando promover a sensibilização à maternidade29 (D). No manejo destas usuárias é fundamental que a equipe de saúde seja flexível e esteja aberta a debater questões relacionadas às faltas nas consultas previamente agendadas, assim como a falta de aderência ao tratamento. Para minimizar a primeira questão há estratégias como: one-stop shopping (agendamento integrado), em que diversos profissionais são envolvidos no mesmo atendimento. Uma única ida ao serviço reduz o tempo de espera da paciente, facilita os agendamentos, evita que ela falte vários dias ao trabalho e faz com que gaste menos. A flexibilidade nos horários, disponibilização de consultas não agendadas previamente e lembrança ao paciente sobre sua consulta (por meio de telefonemas e telegramas, entre outros) também se constituem em estratégias importantes quando se trata de pacientes com histórico de baixa frequência nos agendamentos. Outros aspectos importantes para aumentar a aderência ao tratamento são privacidade, localização do serviço, utilização do tempo livre (transformando a sala de espera em momento criativo e informativo), a informalidade (atmosfera receptiva e amigável no serviço) e a avaliação (se o serviço está de acordo com a clientela)18 (D). Para gestantes usuárias de drogas em situação de rua, a redução de danos (RD) surge como importante estratégia de intervenção, não apenas na prevenção, com distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis ou de camisinhas para a prevenção do HIV/AIDS26 (D). As equipes multiprofissionais dos consultórios de rua, trabalhando na perspectiva da RD, vêm oferecendo cuidados no próprio espaço da rua (cenas de uso), buscando o fortalecimento de vínculo social e o estabelecimento de uma ponte de informações e acesso a serviços de saúde, realizando ações que possibilitam a oferta de alternativas ao uso abusivo de drogas, respeitando a singularidade do sujeito30 (D). Tratar a drogadição em sua dimensão singular convoca o Estado e a sociedade a adotarem estratégias e recursos que reduzam os danos à vida, criando dispositivos de suporte necessário a cada situação e oferecendo respostas possíveis para o tratamento dos usuários e dependentes. Nesse sentido, é importante que seja considerada a necessidade de mudança mais profunda no SUS — que supere o modelo de incrementalismo lento de ações que se sobrepõem e que se realizam com base em uma visão fragmentada do paciente —, com a abordagem em caráter multidisciplinar do drogadicto31,32 (D). Sugere-se a constituição de uma Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, com seus diversos componentes — atenção básica em saúde, atenção psicossocial especializada, atenção de urgência e emergência, atenção residencial de caráter transitório, atenção hospitalar, estratégias de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial —, mas com a proposta de se trabalhar na linha da complementaridade das ações, buscando a integralidade do cuidado28 (D). Considerações finais A alta prevalência e os diversos problemas associados ao abuso de crack e outras drogas inserem este tema como uma relevante questão de saúde pública e chama a atenção para a necessidade de intervenções diante desta realidade. A real extensão dos danos que o uso da cocaína/crack provoca na gestação ainda é desconhecida. A subnotificação do uso de drogas por gestantes é um problema grave e prejudica análises mais aprofundadas. A maioria dos estudos sobre o tema foi publicada há mais tempo, com pequeno número de pacientes e sem controlar adequadamente os fatores de risco concomitantes, o que impede conclusões mais objetivas. A gravidez estimula a mulher a buscar auxílio no sistema de saúde, e os profissionais da área devem utilizar esta demanda como uma “janela de oportunidade” na abordagem das gestantes usuárias de drogas. O não julgamento da paciente é essencial para o atendimento adequado e a realização de um diagnóstico diferencial do tipo de drogas em uso. A investigação deve ter início durante o pré-natal, com a obtenção da história pregressa e atual do consumo, incluindo quantidade e frequência. O tratamento destas gestantes não deve recair apenas sobre o tipo de droga utilizada e suas consequências para a gestante e feto, mas buscar as causas complexas que motivam o seu uso e sua eventual dependência. A reabilitação e reinserção das usuárias é uma necessidade imperativa para a estruturação e o fortalecimento da rede de atenção e cuidado dessas gestantes. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 31 Botelho APM, Rocha RC, Melo VH Leituras suplementares 1. Humeniuk R, Poznyak V. Intervenção Breve para o abuso de substâncias: guia para uso na atenção primária à saúde. São Paulo: OMS; 2004. 2. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). World Drug Report 2012. New York: United Nations; 2012. 3. Duarte P, Stempliuk V, Barroso L. Relatório brasileiro sobre drogas. Brasília: Secretaria Nacional Sobre Drogas; 2009. 4. Galduróz JCF, Carlini EA (org.). II Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do País. São Paulo: CEBRID; 2006. 5. Alves DS, Guljor AP. O cuidado em saúde mental. In: Pinheiro R, Mattos RA (org.). Cuidado: as fronteiras da integralidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2006. p. 221-40. 6. Wiechelt SA. Introduction to the special issue: international perspectives on women’s substance use. Subst Use Misuse. 2008;43(8-9);973-7. 7. Kuczkowski KM. Anesthetic mplications of drug abuse in pregnancy. J Clin Anesth. 2003;15(5):382-94. 8. The Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC). Clinical practice guideline. Substance use in pregnancy. J Obstet Gynaecol Can. 2011;33(4):367-84. 9. Carlini EA, Nappo SA, Galduróz JCF, Noto AR. Drogas psicotrópicas – o que são e como agem. Revista IMESC. 2001;3:9-35. 10. White SM, Lambe CJ. The pathophysiology of cocaine abuse. J Clin Forensic Med. 2003;10(1):27-39. 11. Kessler F, Pechansky F. Uma visão psiquiátrica sobre o fenômeno do crack na atualidade. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. 2008;30(2):96-8. 12. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas [Internet]. O crack: como lidar com este grave problema. Brasília: MS; 2009 [cited 2013 Jan 24]. Available from: http://portal.saude.gov.br/portal/ saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=33717&janela= 13. Gouin K, Murphy K, Shah PS. Effects of cocaine use during pregnancy on low birthweight and preterm birth: systematic review and metaanalyses. Am J Obstet Gynecol. 2011;204(4):340.e1-12. 14. Duailibi LB, Ribeiro M, Laranjeira R. Profile of cocaine and crack users in Brazil. Cad Saúde Pública. 2008;24(Suppl 4):S545-57. 15. Smith JC, Kacker A, Anand VK. Midline nasal and hard palate destruction in cocaine abusers and cocaine’s role in rhinologic practice. Ear NoseThroat J. 2002;81(3):172-7. 16. Yamaguchi ET, Cardoso MMSC, Torres MLA, Andrade AG. Drogas de abuso e gravidez. Rev Psiquiatr Clín. 2008;35(1):44-7. 17. Heil SH, Jones HE, Arria A, Kaltenbach K, Coyle M, Fischer G, et al. Unintended pregnancy in opioid-abusing women. J Subst Abuse Treat. 2011;40(2):199-202. 32 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 18. Malta M, Bastos FI, Monteiro M. Manejo do paciente usuário de drogas vivendo com HIV/AIDS. In: Alarcon S, Jorge MAS (org.). Álcool e outras drogas: diálogos sobre um mal-estar contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2012. 19. Rayburn WF. Maternal and fetal effects from substance use. Clin Perinatol. 2007;34(4):559-71. 20. Albright BB, Rayburn WF. Substance use among reproductive age women. Obstet Gynecol Clin North Am. 2009;36(4):891-906. 21. Wright A, Walker J. Management of women who use drugs during pregnancy. Semin Fetal Neonatal Med. 2007;12(2):114-8. 22. Prentice S. Substance misuse in pregnancy. Obstet Gynaecol Reprod Med. 2010;20(9):278-83. 23. Baurer CR, Shankaran S, Bada HS, Lester B, Wright LL, Krause-Steinrauf H, et al. The Maternal Lifestyle Study: drug exposure during pregnancy and short-term maternal outcomes. Am J Obstet Gynecol. 2002;186(3):487-95. 24. Coles CD, Black MM. Introduction to the special issue: impact of prenatal substance exposure on children’s health, development, school performance, and risk behavior. J Pediatr Psychol. 2006;31(1):1-4. 25. Livingston JC, Mabie BC, Ramanathan J. Crack cocaine, myocardial infarction, and troponin I levels at the time of cesarean delivery. Anesth Analg. 2000;91(4):913-5. 26. Brasil. Ministério da Saúde. A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: MS; 2003. 27. Oliveira GN. O projeto terapêutico como contribuição para a mudança das práticas de saúde [dissertação]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2007. 28. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília; 2011. 29. Sobral. Secretaria Municipal da Saúde e Ação Social [Internet]. Estratégia trevo de quatro folhas. Estratégia de redução da morbimortalidade materna e infantil com ênfase na mortalidade perinatal. Garantia do direito à maternidade, garantia do direito à vida.. Sobral: Prefeitura Municipal de Sobral; 2011 [cited 2013 Jan 24]. Available from: http://www.medicalservices.com.br/premiomedicalservices/ arquivos/projeto_na_integra_1281154f8b6286285c6.pdf 30. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Mental. Consultórios de Rua do SUS. Material de trabalho para a II Oficina Nacional de Consultórios de Rua do SUS. Brasília: MS/EPJN-FIOCRUZ; 2010. 31. Rameh-de-Albuquerque RC. Casas do meio do caminho: um relato da experiência de Recife na busca da atenção integral à saúde dos usuários de álcool, fumo e drogas [dissertação]. Recife: Fundação Oswaldo Cruz; 2008. 32. Silva, R. No meio de todo caminho, sempre haverá uma pedra. Almanaque On-line – Revista eletrônica do IPSM/MG [serial on the Internet]. 2009 Jul [cited 2013 Jan 24];9:1-11. Available from: http://www.institutopsicanalise-mg.com. br/psicanalise/almanaque/09/textos/No%20meio%20de%20todo%20caminhoRose-final.pdf revisão Pólipos endometriais e seu risco de malignização: aspectos epidemiológicos, clínicos e imunoistoquímicos Endometrial polyps and the risk of malignancy: epidemiological, clinical and immunohistochemical aspects Daniel Spadoto Dias1 Flávia Neves Bueloni-Dias1 Rogério Dias2 Jorge Nahás-Neto3 Eliana Aguiar Petri Nahás4 Palavras-chave Endométrio/patologia Histeroscopia Imunoistoquímica Neoplasias do endométrio Pólipos/epidemiologia/cirurgia Keywords Endometrium/pathology Hysteroscopy Immunohistochemistry Endometrial neoplasms Polyps/epidemiology/surgery Resumo Pólipos endometriais são neoformações resultantes de uma hiperplasia focal da camada basal do endométrio associada a um hiperestímulo hormonal. Sua etiologia ainda não está bem estabelecida, não havendo consenso sobre sua história natural, seu real significado como entidade patológica e sua relação com a neoplasia endometrial. Os pólipos endometriais são a principal indicação de histeroscopia cirúrgica, sem que haja, no entanto, um protocolo definido para seu melhor manejo. Uma visão abrangente sobre essa condição pode auxiliar na escolha da conduta mais adequada. Abstract Endometrial polyps are neoformations that result from focal hyperplasia of the endometrial basal layer associated with hormonal hyperstimulation. Their pathogenesis is still unclear, and there is no consensus on their natural history, actual relevance as pathologic entities, and relationship with endometrial neoplasia. Endometrial polyps are the most frequent indication of surgical hysteroscopy, but their optimal management remains controversial. Therefore, an overview of this condition may help choosing the most adequate treatment strategies. Trabalho realizado no programa de Pós-Graduação em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Botucatu (SP), Brasil. 1 Médicos Assistentes do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP – Botucatu (SP), Brasil. 2 Professor Adjunto, Chefe do Setor de Endoscopia Ginecológica e Planejamento Familiar do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP – Botucatu (SP), Brasil. 3 Professor Assistente Clínico do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia e Vice-Diretor Clínico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP – Botucatu (SP), Brasil. 4 Professora Adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP – Botucatu (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Daniel Spadoto Dias – Distrito de Rubião Júnior, s/n – CEP: 18.618-970 – Botucatu (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Dias DS, Dias FNB, Dias R, Nahás-Neto J, Nahás EAP Introdução Pólipos endometriais são definidos como neoformações resultantes de uma hiperplasia focal da camada basal do endométrio, constituída por células estromais, glandulares e vasos sanguíneos em proporções variadas. Tais projeções podem ser sésseis ou pediculadas, múltiplas ou solitárias1,2 (C, B). Sua etiologia ainda não está bem estabelecida, não havendo consenso sobre sua história natural e seu real significado como entidade patológica. Estima-se que sua prevalência seja bastante elevada, em torno de 25 a 30% da população2 (B). A manifestação clínica mais comum dos pólipos endometriais é o sangramento uterino, com especial atenção àqueles que ocorrem após a menopausa, mas podem também ser um achado incidental durante exames de rotina3 (B). Uma associação com o câncer de endométrio também já foi descrita na literatura, sem uma completa definição sobre seus mecanismos e seus fatores de risco4,5 (B). Devido ao seu diagnóstico frequente, associado muitas vezes à ausência de sintomas, o tratamento dos pólipos é muito discutível, variando desde conduta expectante e tratamento clínico até sua remoção cirúrgica, conservadora ou radical6-9 (B) 10-12 (A, B, C). Os pólipos endometriais são hoje a principal indicação de histeroscopia cirúrgica, sem que haja, no entanto, um protocolo estabelecido para seu melhor manejo. Uma visão abrangente sobre essa condição pode auxiliar na escolha da conduta mais adequada. Objetivo O objetivo desta revisão foi realizar um levantamento da literatura médica, com ênfase na última década, sobre os pólipos endometriais e seu risco de malignização, procurando informar sobre dados epidemiológicos, clínicos, do diagnóstico e do tratamento, assim como apresentar novas tendências de estudos imunoistoquímicos. Aspectos epidemiológicos e clínicos Devido ao seu caráter aparentemente benigno, associado à frequente ausência de sintomas, muitas lesões são sub-reportadas, trazendo dificuldades em determinar a real incidência dos pólipos endometriais. Estima-se que sua prevalência seja bastante elevada, em torno de 25 a 30% da população, sendo maior entre mulheres na faixa etária dos 40 aos 60 anos, e duas vezes maior na pós-menopausa (11,8%), comparativamente ao período de menacme (5,8%)3,13 (B). Acredita-se que um ambiente hiperestrogênico, levando a uma proliferação tanto focal quanto difusa do endométrio, 34 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 seja responsável pela formação dos pólipos, podendo ainda, a depender da suscetibilidade da mulher e do tempo de exposição, determinar até mesmo alterações atípicas e neoplásicas2 (B). No endométrio normal, os processos de proliferação e apoptose celular são influenciados pela concentração dos esteroides sexuais. Sendo assim, tanto o estrogênio quanto a progesterona atuariam no crescimento das glândulas endometriais, do tecido estromal e das artérias espiraladas, determinando condições próprias ao desenvolvimento dos pólipos14 (B). Contraditoriamente, a incidência dos pólipos endometriais tende a aumentar durante o climatério, época em que a mulher apresenta diminuição na produção dos esteroides sexuais, em decorrência da falência ovariana própria da idade. Uma das possíveis etiologias atualmente consideradas é a influência de fatores genéticos, particularmente relacionados aos cromossomos 6 e 12, que alterariam o ciclo celular, resultando na formação dos pólipos endometriais15-18 (C, B, C, C). Clinicamente podem ser assintomáticos em até 80% dos casos, sendo comum seu diagnóstico incidental em exames rotineiros de ultrassonografia pélvica-transvaginal, observados como espessamentos difusos ou focais da camada endometrial3 (B). Quando apresentam sintomatologia, mais comumente se manifestam como sangramento uterino anormal, em suas diferentes apresentações (menorragia, metrorragia, hipermenorragia, sangramento após a menopausa), associado ou não à dismenorreia. Segundo a maioria dos estudos, estima-se que 39% dos sangramentos uterinos anormais, que ocorram durante o menacme, estejam associados aos pólipos endometriais, enquanto 21 a 28% dos sangramentos após a menopausa são relacionados a eles5 (B). A depender de sua localização, tamanho e quantidade, as lesões polipoides podem frequentemente causar infertilidade. De fato, elas são diagnosticadas em aproximadamente 16,5 a 26,5% das mulheres com infertilidade sem causa aparente e menos significativamente, em torno de 0,6 a 5%, nas mulheres que apresentam abortamentos de repetição19 (B). A hipótese de uma obstrução mecânica, particularmente quando os pólipos encontram-se localizados próximo aos óstios tubários, seria o mecanismo principal, por impossibilitar a ascensão dos espermatozoides. Contudo, alguns estudos têm demonstrado que concentrações maiores de metaloproteínas e citocinas na matriz dos pólipos endometriais teriam um impacto na receptividade endometrial, gerando um ambiente desfavorável à implantação e ao desenvolvimento embrionário20,21 (B). Diagnóstico Os pólipos endometriais podem ser diagnosticados durante a realização de exame ginecológico de rotina, quando da visi- Pólipos endometriais e seu risco de malignização: aspectos epidemiológicos, clínicos e imunoistoquímicos bilização de lesões exteriorizando-se através do canal cervical. Estima-se que de 24 a 27% dos pólipos endocervicais estejam associados aos pólipos endometriais, reforçando a importância da avaliação da cavidade uterina quando da identificação de lesões cervicais22 (B). À ultrassonografia transvaginal, os pólipos podem ser identificados como espessamentos difusos ou focais da camada endometrial ou ainda estar associados a áreas císticas de permeio, que corresponderiam à dilatação glandular com acúmulo de líquido proteináceo, própria do pólipo5 (B). O auxílio do estudo Doppler tem sido bastante empregado na caracterização de pedículos vasculares, em alguns casos podendo indicar possíveis processos de neovascularização23 (B). A identificação de pedículo único no eixo vascular da lesão confere ao estudo Doppler especificidade de 95% na identificação dos pólipos endometriais24 (B). Além da ultrassonografia, o diagnóstico pode ser realizado através da histerossonografia, que traz subsídios importantes por permitir a individualização e melhor caracterização de espessamentos focais em contraste ao meio líquido, apresentando sensibilidade e especificidade superior à ultrassonografia convencional25 (B). Recentemente, exames ecográficos em três dimensões (3D) têm-se mostrado mais precisos na diferenciação entre o endométrio e o miométrio, principalmente na região uterina fúndica e nos ângulos cornuais, propiciando acurácia diagnóstica superior na detecção de pólipos endometriais, comparativamente à ecografia em duas dimensões (2D)26 (B). Porém, os custos do equipamento e a falta de uniformidade na técnica do exame ainda não permitem sua utilização em larga escala27 (B). A histerossalpingografia pode também ser útil como método diagnóstico, quando realizada durante a investigação dos casos de infertilidade. Apresenta, contudo, baixa especificidade, em torno de 34,9%, com taxa de acurácia de 73,2%, revelando-se com falhas de enchimento intracavitário, sugerindo a presença de lesões polipoides28 (B). Com o advento da histeroscopia, iniciada por Pantaleoni em 1869 na Inglaterra, criou-se a possibilidade de visibilização direta da cavidade uterina, tendo se firmado essa modalidade de exame como padrão ouro para o diagnóstico de lesões intrauterinas, por propiciar a identificação e caracterização mais precisa de afecções29 (D). Combinada à biópsia de endométrio, o exame histeroscópico pôde substituir métodos mais invasivos e menos eficazes para o diagnóstico, tal como a curetagem uterina. Diz-se de biópsia orientada quando após a visibilização de lesões intrauterinas retira-se o histeroscópio e posiciona-se a pinça de biópsia, normalmente a cureta de Novak ou Pipelle de Cornier®, em direção à parede uterina identificada como alterada. (1) Uma vez que o procedimento não é realizado sob visibilização direta, essa modalidade também é denominada de biópsia às cegas. Por sua vez, a biópsia dirigida, isto é, sob visibilização histeroscópica direta, só é possível graças ao sistema desenvolvido por Bettocchi(1), o qual permite o acoplamento de pequenas pinças e tesouras de 5 ou 7 French de diâmetro, propiciando a coleta do material durante o exame de histeroscopia. Dados da literatura mostram que a biópsia realizada às cegas nem sempre confirma o achado histeroscópico, devido às altas taxas de material insuficiente ou inadequado30 (B). Levantamento realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/UNESP) mostrou que a biópsia orientada foi capaz de diagnosticar com sucesso apenas 15% das lesões benignas e 20% das lesões atípicas, e foi incapaz de diagnosticar lesões malignas, quando estiveram restritas aos pólipos31 (D). Contudo, a biópsia orientada é um método altamente eficaz no diagnóstico de lesões difusas do endométrio, com sensibilidade de quase 100% nos casos de adenocarcinoma32,33 (B). A literatura mostra que a biópsia orientada tem uma baixa capacidade diagnóstica para os pólipos endometriais e que, nesses casos, essa modalidade de procedimento deveria ser abandonada5,33 (B). Risco de malignização Desde os primeiros estudos, como de Armênia em 1967, os pólipos endometriais são relacionados com o risco para o desenvolvimento de câncer endometrial34 (C). Na literatura, a incidência de câncer de endométrio associado aos pólipos está em torno de 3,5%, variando segundo a maioria dos estudos entre 0 e 4,8%5,13 (B). Como fatores de risco para o desenvolvimento dos pólipos endometriais, bem como para sua degeneração maligna, são considerados os mesmos fatores associados ao câncer de endométrio, tais como idade avançada, nuliparidade, menarca precoce, menopausa tardia, obesidade, hipertensão, diabetes e uso de tamoxifeno4,35 (B). Segundo a literatura, mulheres hipertensas apresentam 2,2 vezes maior risco para o desenvolvimento de pólipos endometriais (p<0,001; IC95% 1,3–3,7) e mulheres com antecedente de neoplasia mamária apresentam risco 14,4 vezes maior (p=0,01; IC95% 1,9–111,9) pelo uso do tamoxifeno2 (B). Contudo, tem-se demonstrado que, embora a hipertensão, diabetes e obesidade sejam variáveis associadas aos pólipos endometriais, sua influência perde significância quando são realizados estudos de regressão logística multivariada para ajuste da idade4,35 (B). Outro fator possivelmente associado ao risco de atipias nos pólipos endometriais está relacionado ao seu tamanho. Pólipos grandes, isto é, que ocupam mais que 1/3 da cavidade endometrial, Stefano Bettocchi – Professor da Clínica Obstétrica e Ginecológica da Universidade de Bari. Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, Hospital Santa Maria, Bari, Itália. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 35 Dias DS, Dias FNB, Dias R, Nahás-Neto J, Nahás EAP parecem ser mais suscetíveis a sangramentos e à degeneração maligna36,37 (B). Dados da literatura ainda demonstram que a taxa de hiperplasia e malignização dos pólipos pode ser similar em mulheres com sangramento (3,2%) e sem sangramento (3,9%), a depender da população analisada38 (B). Aspectos imunoistoquímicos Recentemente, estudos histoquímicos têm sido propostos para determinar a presença de proteínas relacionadas à proliferação (Ki–67, CD105) e à apoptose (Bcl-2, p53)39,40 (C, B). Um desequilíbrio entre elas poderia influenciar no desenvolvimento de diferentes afecções endometriais, tanto benignas quanto malignas41 (B). A proteína Ki-67 se manifesta nas fases ativas do ciclo celular (G1, S, G2 e mitose), mas não está expressa na fase de repouso celular (G0), sendo excelente marcador para quantificar o crescimento de determinada população de células42 (B). Marcadores endoteliais também têm sido propostos na caracterização de pólipos endometriais devido ao risco de malignização associado à neovascularização. O CD31 e o CD34 são glicoproteínas transmembrânicas encontradas, geralmente, na superfície de células endoteliais de grandes vasos sanguíneos nos tecidos normais, por isso mesmo são definidas como marcadores pan-endoteliais43 (B). Sua expressão, contudo, parece estar diminuída, não sendo seletiva na identificação de microvasos nos tecidos que estão sofrendo processo de neoangiogênese. Sendo assim, o uso de marcadores específicos para células endoteliais neoformadas, tal como o CD105, parece ser uma alternativa promissora na identificação do potencial de malignidade dos pólipos endometriais44 (B). A endoglina (CD105) se expressa em baixos níveis no tecido celular endotelial em repouso, mas a sua expressão está aumentada no tecido endotelial vascular ativo e na angiogênese tumoral. Nos vasos sanguíneos está envolvida no controle da formação de tubos capilares, apresentando um papel pró-angiogênico. O uso de anticorpos contra a endoglina tem se mostrado mais eficiente na mensuração da densidade microvascular quando comparado a outras proteínas marcadoras de endotélio, tal como o CD31 e CD3445 (B). O Bcl-2 é um proto-oncogene associado à inibição da apoptose, prolongando o tempo de vida celular. Sua expressão foi caracterizada no tecido endometrial normal, estando aumentada nos casos de hiperplasias endometriais simples e complexas46 (B). O p53, por sua vez, é um fator de transcrição relacionado a diversos processos celulares, incluindo a regulação do ciclo celular, apoptose, angiogênese e reparação de danos no DNA. Aproximadamente 50% dos cânceres humanos apresentam inativações mutantes do p53, sendo que na maioria das neoplasias recidivantes o p53 também se encontra desativado. Inibições do 36 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 p53 têm sido associadas a maior agressividade do tumor, com prognóstico mais reservado47 (B). Análise imunoistoquímica para receptores estrogênicos e progestagênicos já foi também realizada na tentativa de elucidar a natureza hormonal dos pólipos endometriais. Demonstrou-se uma concentração maior de receptores estrogênicos e de progesterona no epitélio glandular de pólipos endometriais quando comparados ao tecido endometrial normal, corroborando com a hipótese de um hiperestímulo hormonal no desenvolvimento dessas afecções48,49 (B). Tratamento Estudos têm demonstrado que pólipos menores que 10 mm podem sofrer regressão espontânea em até 27% dos casos, indicando que em mulheres assintomáticas a mera conduta expectante, por período de até 12 meses, pode ser alternativa razoável8,11,12 (B, C). O uso de contraceptivos hormonais orais parece diminuir o risco de desenvolvimento dos pólipos endometriais. A prevalência de pólipos durante o menacme na população geral foi estimada em 5,8%, enquanto em mulheres usuárias de pílulas contraceptivas foi de 2,1%3 (B). Ao contrário do que se pensava, a terapia substitutiva hormonal parece também reduzir o desenvolvimento dos pólipos. Em um estudo com mulheres na pós-menopausa o uso de estrogênios conjugados 0,625 mg associado a medroxiprogesterona 2,5 mg, estradiol 2 mg associado a noretisterona 1 mg e tibolona 2,5 mg demonstrou uma redução no aparecimento de lesões polipoides, através da realização de exames de histeroscopia 36 meses após a instituição do tratamento5 (B). A terapia hormonal causaria uma involução dos pólipos ao diminuir a atividade proliferativa e estimular a apoptose no interior da lesão50 (B). O dispositivo intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG), apesar de suas propriedades antiproliferativas no endométrio, ainda está limitado a protocolos de pesquisa, sem recomendações formais para seu uso nos casos diagnosticados de pólipos endometriais10 (A). Tratamento medicamentoso baseado no uso de agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) demonstrou efeito apenas temporário na sintomatologia e insatisfatório na regressão e eliminação da lesão6 (B). Devido ao seu alto custo e significativos efeitos colaterais, não há recomendações para o uso desse tipo de medicação no tratamento dos pólipos. A ressecção histeroscópica dos pólipos é um método seguro, eficiente, que permite rápida recuperação, amostragem do material para estudo histopatológico, além da possibilidade de ser realizada em ambiente ambulatorial, sendo assim considerada tratamento de eleição9 (B). A execução de polipectomia ambula- Pólipos endometriais e seu risco de malignização: aspectos epidemiológicos, clínicos e imunoistoquímicos torial, sem anestesia, quando o diâmetro do pólipo é menor que o diâmetro do canal cervical, já foi demonstrada ser exequível, com taxa de recorrência da lesão em torno de 15%51 (B). A polipectomia cirúrgica, pela necessidade de dilatação cervical e pelo maior risco de complicação do procedimento, estaria reservada aos casos de lesões grandes e na polipose difusa, apresentando taxa de recorrência da lesão de até 4,5%9,52 (B). A histerectomia seria o tratamento definitivo dos pólipos endometriais, evitando recorrências e o risco de malignização. Contudo, a morbidade associada a esse tipo de procedimento e seus custos não justificam sua indicação como tratamento dos pólipos endometriais53 (C). Não há, até o presente momento, nenhum consenso estabelecido para determinar a conduta perante o diagnóstico de pólipo endometrial, particularmente em mulheres assintomáticas após a menopausa. Preconiza-se o tratamento individualizado, levando-se em consideração a sintomatologia, a idade da paciente, o tempo de menopausa, antecedentes pessoais e de neoplasia ginecológica, uso de terapia hormonal e o desejo da própria paciente. Em virtude do diagnóstico frequente e da baixa taxa de malignização, muitos autores sugerem que os pólipos devam ser retirados somente nos casos sintomáticos, isto é, aqueles que causam sangramento vaginal ou infertilidade, enquanto outra parcela de pesquisadores sugere a remoção sistemática de todos os pólipos endometriais5,38 (B). Uma vez que os pólipos têm se tornado a principal indicação de histeroscopia cirúrgica, inexistem informações suficientes para estabelecer o melhor manejo dessa condição, assim como marcadores de malignidade e indicadores para sua remoção. Considerações finais Pólipos endometriais são estruturas que continuam a suscitar dúvidas sobre sua patogênese, ocasionando recorrentes discussões sobre a conduta a ser tomada quando diagnosticados. Associados ao hiperestrogenismo local, podem se manifestar no endométrio atrófico e inativo, e nesse ambiente desenvolver um carcinoma. Normalmente esses casos ocorrem em mulheres mais velhas e apresentam um comportamento biológico mais agressivo50 (B). Considerando os fatos apresentados, é preciso ter em mente que a correlação entre os resultados histopatológicos de biópsias orientadas e dirigidas, apesar de nem sempre fornecer informações significativas sobre a lesão, pode auxiliar na indicação do tratamento, sendo mandatória a coleta de amostra endometrial quando da presença de lesões intrauterinas, principalmente em mulheres sintomáticas ou após a menopausa. Análise conjunta de parâmetros clínicos, ultrassonográficos e histeroscópicos pode ser determinante na diferenciação dos pólipos endometriais e do câncer de endométrio. Estudo imunoistoquímico do material obtido de biópsias endometriais, ou de fragmentos do pólipo, pode vir a ser um instrumento em potencial para predizer a probabilidade de degeneração maligna e auxiliar o tratamento, principalmente nas mulheres portadoras de múltiplos fatores de risco ou com contraindicação ao procedimento cirúrgico definitivo. Apesar da ausência de um consenso no tratamento dos pólipos endometriais deve-se sempre ponderar pelo bom senso, evitando riscos, custos e procedimentos desnecessários. O uso da histeroscopia ambulatorial é um instrumento precioso não apenas de diagnóstico como também de tratamento em muitos casos. É de obrigação do profissional da área médica fornecer a suas pacientes todas as informações necessárias, esclarecendo sobre a existência ou ausência de sinais e sintomas, bem como o risco particular de malignização em cada caso específico, para que ela possa decidir de maneira consciente e em conjunto a melhor forma de abordagem terapêutica. Agradecimentos Este estudo contou com o suporte da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Leituras suplementares 1. 2. 3. 4. 5. Dias R, Pacheco JF, Pontes AG, Leite NJ, Fontana AL. Pólipos endometriais: uma revisão. Femina. 1998;26(7):579-81. Miranda SM, Gomes MT, Silva ID, Girao MJ. [Endometrial polyps: clinical and epidemiological aspects and analysis of polymorphisms]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010;32(7):327-33. Dreisler E, Stampe Sorensen S, Ibsen PH, Lose G. Prevalence of endometrial polyps and abnormal uterine bleeding in a Danish population aged 20-74 years. Ultrasound Obstet Gynecol. 2009;33(1):102-8. Nappi L, Indraccolo U, Di Spiezio Sardo A, Gentile G, Palombino K, Castaldi MA, et al. Are diabetes, hypertension, and obesity independent risk factors for endometrial polyps? J Minim Invasive Gynecol. 2009;16(2):157-62. Salim S, Won H, Nesbitt-Hawes E, Campbell N, Abbott J. Diagnosis and management of endometrial polyps: a critical review of the literature. J Minim Invasive Gynecol. 2011;18(5):569-81. 6. Vercellini P, Trespidi L, Bramante T, Panazza S, Mauro F, Crosignani PG. Gonadotropin releasing hormone agonist treatment before hysteroscopic endometrial resection. Int J Gynaecol Obstet. 1994;45(3):235-9. 7. Bettocchi S, Ceci O, Nappi L, Di Venere R, Masciopinto V, Pansini V, et al. Operative office hysteroscopy without anesthesia: analysis of 4863 cases performed with mechanical instruments. J Am Assoc Gynecol Laparosc. 2004;11(1):59-61. 8. DeWaay DJ, Syrup CH, Nygaard IE, Davis WA, Van Voorhis BJ. Natural history of uterine polyps and leiomyomata. Obstet Gynecol. 2002;100(1):3-7. 9. Preutthipan S, Herabutya Y. Hysteroscopic polypectomy in 240 premenopausal and postmenopausal women. Fertil Steril. 2005;83(3):705-9. 10. Gardner FJ, Konje JC, Bell SC, Abrams KR, Brown LJ, Taylor DJ, et al. Prevention of tamoxifen induced endometrial polyps using a levonorgestrel releasing intrauterine system long-term follow-up of a randomised control trial. Gynecol Oncol. 2009;114(3):452-6. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 37 Dias DS, Dias FNB, Dias R, Nahás-Neto J, Nahás EAP 11. Lieng M, Istre O, Sandvik L, Qvigstad E. Prevalence, 1-year regression rate, and clinical significance of asymptomatic endometrial polyps: cross-sectional study. J Minim Invasive Gynecol. 2009;16(4):465-71. 12. Haimov-Kochman R, Deri-Hasid R, Hamani Y, Voss E. The natural course of endometrial polyps: could they vanish when left untreated? Fertil Steril. 2009;92(2):828 e11-2. 13. Wethington SL, Herzog TJ, Burke WM, Sun X, Lerner JP, Lewin SN, et al. Risk and predictors of malignancy in women with endometrial polyps. Ann Surg Oncol. 2011;18(13):3819-23. 14. Jakab A, Ovary L, Juhasz B, Birinyi L, Bacsko G, Toth Z. Detection of feeding artery improves the ultrasound diagnosis of endometrial polyps in asymptomatic patients. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2005;119(1):103-7. 15. Vanni R, Dal Cin P, Marras S, Moerman P, Andria M, Valdes E, et al. Endometrial polyp: another benign tumor characterized by 12q13-q15 changes. Cancer Genet Cytogenet. 1993;68(1):32-3. 16. Vanni R, Marras S, Andria M, Faa G. Endometrial polyps with predominant stromal component are characterized by a t(6;14)(p21;q24) translocation. Cancer Res. 1995;55(1):31-3. 17. Guida M, Sanguedolce F, Bufo P, Di Spiezio Sardo A, Bifulco G, Nappi C, et al. Aberrant DNA hypermethylation of hMLH-1 and CDKN2A/p16 genes in benign, premalignant and malignant endometrial lesions. Eur J Gynaecol Oncol. 2009;30(3):267-70. 18. Di Domenico M, Santoro A, Ricciardi C, Iaccarino M, Iaccarino S, Freda M, et al. Epigenetic fingerprint in endometrial carcinogenesis: the hypothesis of a uterine field cancerization. Cancer Biol Ther. 2011;12(5):447-57. 19. Taylor E, Gomel V. The uterus and fertility. Fertil Steril. 2008;89(1):1-16. 20. Inagaki N, Ung L, Otani T, Wilkinson D, Lopata A. Uterine cavity matrix metalloproteinases and cytokines in patients with leiomyoma, adenomyosis or endometrial polyp. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2003;111(2):197-203. 21. Elbehery MM, Nouh AA, Mohamed ML, Alanwar AA, Abd-Allah SH, Shalaby SM. Insulin-like growth factor binding protein-1 and glycodelin levels in uterine flushing before and after hysteroscopic polypectomy. Clin Lab. 2011;57 (11-12):953-7. 22. Spiewankiewicz B, Stelmachow J, Sawicki W, Cendrowski K, Kuzlik R. Hysteroscopy in cases of cervical polyps. Eur J Gynaecol Oncol. 2003;24(1):67-9. 23. Lieng M, Qvigstad E, Dahl GF, Istre O. Flow differences between endometrial polyps and cancer: a prospective study using intravenous contrast-enhanced transvaginal color flow Doppler and three-dimensional power Doppler ultrasound. Ultrasound Obstet Gynecol. 2008;32(7):935-40. 24. Timmerman D, Verguts J, Konstantinovic ML, Moerman P, Van Schoubroeck D, Deprest J, et al. The pedicle artery sign based on sonography with color Doppler imaging can replace second-stage tests in women with abnormal vaginal bleeding. Ultrasound Obstet Gynecol. 2003;22(2):166-71. 25. La Sala GB, Blasi I, Gallinelli A, Debbi C, Lopopolo G, Vinci V, et al. Diagnostic accuracy of sonohysterography and transvaginal sonography as compared with hysteroscopy and endometrial biopsy: a prospective study. Minerva Ginecol. 2011;63(5):421-7. 26. Makris N, Skartados N, Kalmantis K, Mantzaris G, Papadimitriou A, Antsaklis A. Evaluation of abnormal uterine bleeding by transvaginal 3-D hysterosonography and diagnostic hysteroscopy. Eur J Gynaecol Oncol. 2007;28(1):39-42. 27. Van den Bosch T, Valentin L, Van Schoubroeck D, Luts J, Bignardi T, Condous G, et al. Detection of intracavitary uterine pathology using offline analysis of three-dimensional ultrasound volumes: interobserver agreement and diagnostic accuracy. Ultrasound Obstet Gynecol. 2012;40(4):459-63. 28. Preutthipan S, Linasmita V. A prospective comparative study between hysterosalpingography and hysteroscopy in the detection of intrauterine pathology in patients with infertility. J Obstet Gynaecol Res. 2003;29(1):33-7. 29. Lasmar R, Barrozo P. Histeroscopia: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: MEDSI; 2002. 30. Svirsky R, Smorgick N, Rozowski U, Sagiv R, Feingold M, Halperin R, et al. Can we rely on blind endometrial biopsy for detection of focal intrauterine pathology? Am J Obstet Gynecol. 2008;199(2):115 e1-3. 31. Dias R, Abrão F, Dias DS, Leite NJ, Modotte WP, Lasmar RB. Analytical study of endometrial polyps: the importance of polypectomy. In: 38th Global Congress of Minimally Invasive Gynecology – Annual Meeting of the AAGL Advancing 38 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. Minimally Invasive Gynecology Worldwide; 2009 nov; Orlando, Florida. J Minim Invasive Gynecol 2009;16(Suppl):S61. [Congress Oral Presentation]. Machado F, Moreno J, Carazo M, Leon J, Fiol G, Serna R. Accuracy of endometrial biopsy with the Cornier pipelle for diagnosis of endometrial cancer and atypical hyperplasia. Eur J Gynaecol Oncol. 2003;24(3-4):279-81. Epstein E. Management of postmenopausal bleeding in Sweden: a need for increased use of hydrosonography and hysteroscopy. Acta Obstet Gynecol Scand. 2004;83(1):89-95. Armenia CS. Sequential relationship between endometrial polyps and carcinoma of the endometrium. Obstet Gynecol. 1967;30(4):524-9. Costa-Paiva L, Godoy CE, Jr., Antunes A, Jr., Caseiro JD, Arthuso M, PintoNeto AM. Risk of malignancy in endometrial polyps in premenopausal and postmenopausal women according to clinicopathologic characteristics. Menopause. 2011;18(12):1278-82. Ben-Arie A, Goldchmit C, Lavid Y, Levy R, Caspi B, Huszar M, et al. The malignant potential of endometrial polyps. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2004;115(2):206-10. Ferrazzi E, Zupi E, Leone FP, Savelli L, Omodei U, Moscarini M, et al. How often are endometrial polyps malignant in asymptomatic postmenopausal women? A multicenter study. Am J Obstet Gynecol. 2009;200(3):235 e1-6. Lieng M, Qvigstad E, Sandvik L, Jorgensen H, Langebrekke A, Istre O. Hysteroscopic resection of symptomatic and asymptomatic endometrial polyps. J Minim Invasive Gynecol. 2007;14(2):189-94. Sington JD, Manek S. Cytological atypia in endometrial polyps and immunostaining for p16, p53 and Ki67. Histopathology. 2002;41(1):86-8. Maia H, Jr., Maltez A, Studart E, Athayde C, Coutinho EM. Ki-67, Bcl-2 and p53 expression in endometrial polyps and in the normal endometrium during the menstrual cycle. BJOG. 2004;111(11):1242-7. Risberg B, Karlsson K, Abeler V, Lagrelius A, Davidson B, Karlsson MG. Dissociated expression of Bcl-2 and Ki-67 in endometrial lesions: diagnostic and histogenetic implications. Int J Gynecol Pathol. 2002;21(2):155-60. Cimpean AM, Saptefrati L, Ceausu R, Raica M. Characterization of endoglin and Ki-67 expression in endothelial cells from benign and malignant lesions of the uterine cervix. Pathol Int. 2009;59(10):695-700. Miranda SP, Traiman P, Candido EB, Lages EL, Freitas GF, Lamaita RM, et al. Expression of p53, Ki-67, and CD31 proteins in endometrial polyps of postmenopausal women treated with tamoxifen. Int J Gynecol Cancer. 2010;20(9):1525-30. Saad RS, Jasnosz KM, Tung MY, Silverman JF. Endoglin (CD105) expression in endometrial carcinoma. Int J Gynecol Pathol. 2003;22(3):248-53. Perez-Gomez E, Del Castillo G, Juan Francisco S, Lopez-Novoa JM, Bernabeu C, Quintanilla M. The role of the TGF-beta coreceptor endoglin in cancer. ScientificWorldJournal. 2010;10:2367-84. Taylor LJ, Jackson TL, Reid JG, Duffy SR. The differential expression of oestrogen receptors, progesterone receptors, Bcl-2 and Ki67 in endometrial polyps. BJOG. 2003;110(9):794-8. Chen G, Ghosh P, O’Farrell T, Munk R, Rezanka LJ, Sasaki CY, et al. Transforming growth factor beta1 (TGF-beta1) suppresses growth of B-cell lymphoma cells by p14(ARF)-dependent regulation of mutant p53. J Biol Chem. 2012;287(27): 23184-95. Lopes RG, Baracat EC, de Albuquerque Neto LC, Ramos JF, Yatabe S, Depesr DB, et al. Analysis of estrogen- and progesterone-receptor expression in endometrial polyps. J Minim Invasive Gynecol. 2007;14(3):300-3. Zitao L, Kuokkanen S, Pal L. Steroid hormone receptor profile of premenopausal endometrial polyps. Reprod Sci. 2010;17(4):377-83. Maia H, Jr., Maltez A, Studard E, Athayde C, Coutinho EM. Effect of previous hormone replacement therapy on endometrial polyps during menopause. Gynecol Endocrinol. 2004;18(6):299-304. Di Spiezio Sardo A, Bettocchi S, Spinelli M, Guida M, Nappi L, Angioni S, et al. Review of new office-based hysteroscopic procedures 2003-2009. J Minim Invasive Gynecol. 2010;17(4):436-48. Henriquez DD, van Dongen H, Wolterbeek R, Jansen FW. Polypectomy in premenopausal women with abnormal uterine bleeding: effectiveness of hysteroscopic removal. J Minim Invasive Gynecol. 2007;14(1):59-63. Apgar BS, Kaufman AH, George-Nwogu U, Kittendorf A. Treatment of menorrhagia. Am Fam Physician. 2007;75(12):1813-9. revisão A ausência do eco glandular endocervical e a presença de sludge no líquido amniótico podem ser consideradas imagens ultrassonográficas preditivas de parto prematuro? Absent cervical gland area and amniotic fluid sludge may be considered predictive ultrasound images of preterm birth? Tatiana Silva de Assunção1 Roberto Eduardo Bittar2 Mário Henrique Burlacchini de Carvalho2 Rossana Pulcineli Vieira Francisco2 Marcelo Zugaib3 Palavras-chave Trabalho de parto prematuro Ultrassonografia pré-natal Colo do útero Keywords Obstetric labor, premature Ultrasonography, prenatal Cervix uteri Resumo A prematuridade ainda é um grande desafio para a Obstetrícia, sendo considerada a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal, com repercussões importantes na infância. Apesar dos avanços da medicina, ainda falhamos muitas vezes em predizer e prevenir o parto prematuro. Novos marcadores surgem a cada dia na tentativa de melhorar o arsenal médico para a predição da prematuridade, entre eles a ausência do eco glandular endocervical e o sludge no líquido amniótico, vistos em avaliações ultrassonográficas transvaginais. Para avaliar os estudos disponíveis sobre esses novos métodos, este estudo de revisão da literatura pesquisou nas bases de dados MEDLINE, PubMed, SciELO, LILACS e Biblioteca Cochrane os descritores “cervical gland area”, “amniotic fluid sludge”, “sludge”, “preterm”, “preterm labor” e “preterm birth” e selecionou 12 artigos com base em sua relevância e metodologia. Apesar de vários estudos publicados sugerirem a aplicação desses marcadores, é difícil comparar os resultados apresentados, pois as populações avaliadas são muito diferentes, a casuística ainda é pequena e faltam avaliações com melhor nível de evidência. Até que se consiga realmente comprovar o benefício do uso isolado desses marcadores, podemos associar os métodos propostos com os já utilizados, como fibronectina fetal e comprimento cervical, para tentar diminuir o número de partos prematuros em nossa prática médica. Abstract Prematurity is still a challenge for Obstetrics, considered the leading cause of neonatal and childhood deaths worldwide, with serious repercussions in childhood. Despite advances in medicine, yet we often fail to predict and prevent preterm birth. New markers appear every day in an attempt to improve the medical arsenal for predicting prematurity, including two sonographic markers: the absence of cervical gland area and amniotic fluid sludge, seen in transvaginal sonographic evaluations. To evaluate the available studies on these new methods, this literature review study searched the databases MEDLINE, PubMed, SciELO, LILACS and the Cochrane Library the following descriptors: “cervical gland area”, “amniotic fluid sludge”, “sludge”, “preterm”, “preterm labor” e “preterm birth” and selected 12 articles based on their relevance and methodology. Despite all the published studies suggest the application of these markers, it is difficult to compare the results because the populations evaluated are very different, the sample is still small and we still lack reviews with best level of evidence. Until we can actually prove the benefit of using these markers separately, we can associate the proposed methods with the ones already used, such as fetal fibronectin and cervical length, in an attempt to reduce the number of premature births in our practice. Médica Assistente da Clínica Obstétrica do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil. Professores Associados da Clínica Obstétrica do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil 3 Professor Titular da Clínica Obstétrica do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Tatiana Silva de Assunção – Rua Caraíbas, 571, apto. 124 – CEP: 05020-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] 1 2 Assunção TS, Bittar RE, Carvalho MHB, Francisco RPV, Zugaib M Introdução A. estudos observacionais ou experimentais de melhor consis- A prematuridade, definida como o nascimento com menos de 37 semanas gestacionais completas, permanece como um dos grandes problemas de saúde pública no mundo. Segundo relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde em maio de 2012, o Brasil foi o décimo país com maior número de prematuros em 2010 entre 185 países listados: foram 279,3 mil nascimentos. A primeira colocada foi a Índia, com 3,519 milhões, e a China, a segunda, com cerca de 1,2 milhão1 (A). A prevalência da prematuridade estimada nesse período foi de 9,2% no Brasil, enquanto na China foi de 7,1% e na Índia, 13%2 (A). Apesar de ter prevalência variável de 5 a 18% no mundo3 (A), a prematuridade é responsável por alta taxa de morbimortalidade, sendo a principal causa de óbitos neonatais e a segunda maior causa de óbitos em crianças abaixo dos cinco anos4 (A). A cada ano, ocorrem cerca de 15 milhões de nascimentos prematuros e aproximadamente 1 milhão de crianças morrem em decorrência de complicações da prematuridade2 (A). A prevenção e predição da prematuridade têm sido alvo de pesquisas e vários métodos clínicos, bioquímicos e ultrassonográficos têm sido sugeridos para essas finalidades5-9 (B). Dentre os novos métodos propostos, alguns estudos sugerem que a ausência de um sinal ultrassonográfico — o eco glandular endocervical (EGE) — poderia predizer o parto prematuro. Outro sinal ultrassonográfico que pode estar associado à prematuridade espontânea é o sludge — um agregado denso de partículas no líquido amniótico próximo ao orifício interno do colo uterino. O objetivo deste estudo foi avaliar a literatura médica disponível e responder aos questionamentos sobre a aplicabilidade desses marcadores da prática médica. B. estudos observacionais ou experimentais de menor consis- tência (metanálises ou ensaios clínicos randomizados); tência (outros ensaios clínicos não randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle); C. relatos ou série de casos (estudos não controlados); D. opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. Resultados Eco glandular endocervical O eco glandular endocervical (Figura 1) é definido como uma área hiper ou hipoecogênica ao redor do canal cervical10 (B) e pode ser visibilizado pela ultrassonografia transvaginal, principalmente no primeiro trimestre. Aparentemente, essa área está ausente nas idades gestacionais avançadas e no trabalho de parto prematuro, o que poderia significar que sua ausência estaria relacionada ao processo de maturação do colo uterino. Essa alteração parece ser decorrente do aumento da proporção de água e mudanças bioquímicas do tecido conjuntivo do colo maduro, o que interferiria nos limites entre a área glandular e o tecido circundante, tornando os limites da imagem ultrassonográfica indistintos10 (B). O primeiro estudo publicado sobre o assunto visava à avaliação da área cervical glandular em gestações normais e tentava elucidar a relação entre as mudanças dessa área e o amadurecimento do colo uterino10 (B). Sekiya et al., em 1998, analisaram 260 gestantes com gravidez única, sem comorbidades ou complicações obstétricas, realizando ultrassonografia transvaginal e toque vaginal a cada quatro semanas entre 16 e 27 semanas, Metodologia Com o objetivo de avaliar os artigos científicos disponíveis sobre esses marcadores e responder às dúvidas sobre a aplicação desses métodos na clínica, realizamos uma revisão da literatura que abrangeu os últimos quinze anos nas bases de dados MEDLINE, PubMed, SciELO, LILACS e Biblioteca Cochrane. Os descritores foram “cervical gland area”, “amniotic fluid sludge”, “sludge”, “preterm”, “preterm labor” e “preterm birth”. Dos artigos que apresentavam um desses descritores em seu título ou resumo, foram selecionados 12 com base na relevância e metodologia para esta revisão. Os trabalhos foram classificados conforme os graus de recomendação e níveis de evidência propostos pela Associação Médica Brasileira: 40 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Figura 1 - Eco glandular endocervical (seta) e medida do colo uterino. A ausência do eco glandular endocervical (EGE) e a presença de sludge no líquido amniótico podem ser consideradas imagens ultrassonográficas preditivas de parto prematuro? a cada duas semanas entre 28 e 35 semanas e semanalmente a partir de 36 semanas. O toque era realizado para avaliação de dilatação, comprimento e consistência cervical. A ultrassonografia transvaginal era utilizada para medida do comprimento cervical e para verificação quanto à presença ou não do eco glandular. Todas as gestantes avaliadas chegaram ao termo; a taxa média de detecção do EGE foi de 83,1%, sendo praticamente 100% até 27 semanas e 93% de 28 a 31 semanas. A partir de então há queda estatisticamente significante, com 70,2% de detecção de EGE entre 32 e 35 semanas, 56,7% de 36 a 39 semanas e 16,7% com idade gestacional igual ou superior a 40 semanas. Não houve diferença entre nulíparas e multíparas na maioria das avaliações, exceto entre 32 e 35 semanas. O índice de maturação cervical apresentou aumento significativo a partir de 36 semanas de gestação e também mostrou aumento quando o EGE estava ausente. O comprimento cervical foi significativamente menor entre os casos com eco glandular ausente (p<0,0001). Com esses resultados, os autores concluíram que o EGE pode ser detectado facilmente em quase todas as gestantes até o segundo trimestre e que a partir de 32 semanas a taxa de detecção sofria decréscimo significativo. Acompanhando essa alteração, havia ainda diminuição na medida do colo e aumento no índice de maturidade, o que pode induzir à ideia de que a sua ausência está relacionada a risco de trabalho de parto pretermo10 (B). O mesmo grupo, em 2002, avaliou o colo uterino de pacientes com ameaça de trabalho de parto prematuro (TPP) e comparou os parâmetros (comprimento cervical, índice de maturação cervical pelo toque vaginal e presença ou não do eco glandular) entre essas gestantes e as gestantes do estudo de 199811 (B). No grupo controle (gestantes fora do TPP) as avaliações foram feitas conforme descrito anteriormente. No grupo de mulheres com ameaça de TPP entre 16 e 35 semanas, foram realizadas avaliações ultrassonográficas transvaginais e toques vaginais na admissão hospitalar, antes do início do tratamento. Nesse grupo, as pacientes eram tratadas antes mesmo do diagnóstico de TPP, em um quadro que os autores chamaram de “ameaça de parto prematuro”, quando a gestante apresentava duas contrações regulares em 30 minutos, e o tratamento foi feito com cloridrato de ritodrina intravenoso, o que difere dos critérios diagnósticos e dos tratamentos mais comumente usados em nosso meio. Gestantes com rotura das membranas ovulares, dilatação maior que 4 cm e circlagem foram excluídas. Nesse grupo, a taxa média de detecção do EGE foi de 44,5%, estatisticamente menor do que no grupo controle (que foi de 83,1%). O comprimento cervical médio foi menor (22,5 mm, intervalo de confiança [IC] 95% 20,3–24,6) e o índice de maturação cervical foi maior (4,65, IC95% 4,36–4,94) no grupo com ameaça de TPP, com diferença estatística nos dois parâmetros (p<0,01). Os resultados perinatais apresentaram diferença entre as mulheres com ameaça de TPP e EGE identificado e aquelas com ameaça de TPP mas sem EGE, sendo que essas últimas apresentaram menor duração da gestação (257 contra 271 dias, p<0,01 ), recém-nascidos de menor peso (2.597,2 contra 2.990,0 g, p<0,01) e menor intervalo entre a admissão hospitalar e o parto (38,8 contra 60,8 dias, p<0,01). Nas gestantes com EGE presente, o índice de maturação cervical foi estatisticamente menor e o comprimento cervical foi significativamente maior do que nas gestantes com EGE ausente, tanto no grupo controle quanto no grupo com TPP. Tais resultados demostraram a relação entre o EGE e a maturação cervical e que o desaparecimento precoce desse marcador pode predizer o trabalho de parto prematuro11 (B). Os autores ainda sugerem que a utilização combinada da ultrassonografia transvaginal e dos marcadores biológicos pode ser um método com maior acurácia na predição do TPP. Em 2005, Pires et al.12 (B) avaliaram gestantes de baixo risco que foram atendidas na rede pública da cidade de São Paulo e selecionaram 338 pacientes sem história prévia de prematuridade, malformações mullerianas, malformações fetais ou cirurgias cervicais prévias. Todas foram submetidas à ultrassonografia transvaginal entre 21 e 24 semanas; os parâmetros analisados foram: comprimento cervical, presença ou não de afunilamento e presença ou não de EGE. Dessas gestantes, 21 apresentaram TPP, o que corresponde a 6,2%. O comprimento cervical foi menor que 20 mm em 10 gestantes, sendo que 7 delas entre as 21 que evoluíram para o TPP. A presença de afunilamento no colo uterino foi observada em 14 gestantes, sendo que três delas evoluíram para o TPP. O EGE foi detectado em 329 gestantes e a sua ausência foi observada em nove gestantes, sendo que oito delas estavam entre aquelas que evoluíram para o TPP. Esse parâmetro se mostrou fortemente associado com risco de parto prematuro e, segundo os autores, o estudo mostra a tendência crescente da importância desse marcador12 (B). Enquanto esses estudos citados tratavam esse evento como “tudo ou nada”, Grgic, Matijevic e Vasilj propuseram em 2005 uma escala qualitativa na avaliação do eco glandular cervical13 (B): nesse estudo, 327 primigestas com gestações de baixo risco realizaram uma única ultrassonografia transvaginal entre 16 e 23 semanas, com avaliação do comprimento cervical e do score glandular cervical qualitativo (QGCS, em inglês); esse score foi calculado de acordo com os parâmetros “área de muco cervical” e “invasão glandular”. Para o primeiro parâmetro, a pontuação adotada foi: 0 para ausente, 1 para área até 20 mm2 e 2 para valores maiores. Para o segundo parâmetro, a pontuação adotada foi: 0 para ausente, 1 para invasão até 5 mm e 2 para valores maiores. Esses pontos FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 41 Assunção TS, Bittar RE, Carvalho MHB, Francisco RPV, Zugaib M de corte definidos pelos autores correspondem ao percentil 50 da população estudada. Os valores abaixo do percentil 5 para a população estudada foram considerados baixos (limite de 1 para o QGCS e de 24 mm para comprimento cervical). A taxa de detecção de EGE foi próxima de 100% (325 de 327 pacientes); sete gestantes tiveram parto com idade gestacional menor que 34 semanas completas e 10 pacientes tiveram parto com idade gestacional entre 34 e 37 semanas. Dessas gestantes, 11 apresentaram QGCS baixo (menor ou igual a 1). As gestantes que possuíam baixo QGCS e comprimento cervical menor que 24 mm tiveram a maior razão de verossimilhança (RV) positiva para parto prematuro abaixo de 34 semanas, ou seja, duas vezes maior que o QGCS e quatro vezes maior que o comprimento cervical quando avaliados separadamente. Entretanto, para a predição do parto entre 34 e 37 semanas, a razão de verossimilhança (RV) dos dois métodos combinados foi pior do que a RV do QGCS isolado. Esses dados sugerem que a avaliação qualitativa do EGE poderia melhorar a predição da prematuridade na população de baixo risco, já que para essas mulheres os testes atualmente disponíveis apresentam baixa sensibilidade e baixo valor preditivo positivo13 (B). Com o objetivo de avaliar a eficácia do EGE na predição da prematuridade, Asakura et al., em 2009, compararam esse método com o comprimento cervical e com a fibronectina fetal em estudo retrospectivo14 (B). Os dados de prontuários de 108 pacientes com idade gestacional entre 22 e 33 semanas internadas devido a trabalho de parto prematuro ou colo curto (menor que 20 mm) foram coletados e analisados. Essas gestantes foram submetidas, na admissão hospitalar, a coleta de fibronectina fetal (fFN) e a realização de ultrassonografia transvaginal para avaliação de colo (comprimento e presença de EGE). A análise de dados foi feita comparando 3 grupos de pacientes, de acordo com a idade gestacional (IG) no parto: abaixo de 34 semanas, entre 34 e 37 semanas e termo (37 semanas ou mais). De todas as mulheres incluídas no estudo, 16 nascimentos ocorreram abaixo de 34 semanas e 24 entre 34 e 37 semanas (37% de prematuridade somando esses dois grupos, caracterizando uma população de alto risco para parto prematuro); 68 gestantes chegaram a termo. A identificação de colo curto na admissão foi feita em 46 gestantes (42,6%), a fFN foi positiva em 21 gestantes (19,4%) e a ausência de EGE foi detectada em 48 gestantes (45%). A maioria das gestantes em que o parto ocorreu com menos de 34 semanas tinha um ou mais de um marcador presente, com diferença significativa entre elas e aquelas que tiveram parto com 34 semanas ou mais. 42 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Ao fazer a análise estatística desses resultados, os autores perceberam que a ausência de EGE isoladamente não tem significância na predição do parto abaixo de 34 semanas, mas que, associada ao colo curto, melhorava a predição: o odds ratio (OR) passava de 5,2 quando se avaliava unicamente o comprimento cervical para 7,4 quando a paciente apresentava colo curto e EGE ausente. De maneira semelhante, o OR da fFN positiva passava de 12,3 quando isolada para 17,1 quando as três variáveis estavam presentes (colo curto, EGE ausente e fFN positiva). Sugerem, então, que a avaliação combinada do colo uterino antes de possíveis sintomas, associada a fFN caso ocorram sintomas, poderia oferecer a melhor taxa de predição de parto prematuro em comparação com os métodos isoladamente14 (B). Mais recentemente, Afzali et al.15 (B), em 2012, também pesquisaram o EGE como marcador preditor de prematuridade. Prospectivamente avaliaram 615 mulheres entre 16 e 19 semanas de idade gestacional; dez foram excluídas por perda de seguimento e cinco, por prematuridade eletiva ou iatrogênica. Nenhuma paciente com colo curto (abaixo de 25 mm) foi incluída na amostra. Foram observados 40 casos de TPP (prevalência de 6,7%) e essas pacientes foram comparadas com o chamado “grupo controle”, formado pelas 560 mulheres que chegaram ao termo. De 146 pacientes com EGE ausente, 18 pertenciam ao grupo TPP e 128 ao grupo termo, com diferença estatística entre a taxa de detecção (45% contra 22,9%, respectivamente). A regressão logística avaliou idade materna, número de gestações, história de parto prematuro anterior, comprimento cervical e EGE e demonstrou que a ausência do eco glandular foi a única variável associada ao parto abaixo de 37 semanas15 (B). Os estudos citados sugerem a aplicabilidade da avaliação do EGE na prática obstétrica, mas ainda não há dados suficientes para se afirmar que pode ser utilizado isoladamente ou se deve estar associado à medida do comprimento do colo uterino (Tabela 1). Deve-se salientar que tal consenso é impraticável em função da heterogeneidade da literatura em relação aos critérios adotados para definir o colo curto, o diagnóstico de TPP, além das diferenças de fatores de riscos envolvidos nas populações avaliadas. Sludge do líquido amniótico O amniotic fluid sludge, ou “barro amniótico” (Figura 2), definido como um aglomerado de partículas hiperecogênicas que se localizam entre o orifício interno do colo e a apresentação fetal, pode ser visto em algumas pacientes em trabalho de parto prematuro e sem rotura de membranas ovulares, mas seu significado ainda é muito controverso16 (B). Estudos recentes A ausência do eco glandular endocervical (EGE) e a presença de sludge no líquido amniótico podem ser consideradas imagens ultrassonográficas preditivas de parto prematuro? sugerem que esse pode ser mais um marcador ultrassonográfico de risco para trabalho de parto prematuro (Tabela 2). Em estudo retrospectivo conduzido por Espinoza et al., em 2005, foram avaliados os dados de prontuário e imagens ultrassonográficas de gestantes avaliadas em um centro específico entre agosto de 1999 e dezembro de 200216 (B); os critérios de inclusão foram gestação única e idade gestacional entre 20 e 35 semanas. Das gestantes incluídas, 84 pacientes evoluíram para trabalho de parto prematuro e outras 298 pacientes tiveram recém-nascidos de termo e com peso adequado para idade gestacional. As variáveis analisadas nesse estudo incluíam invasão microbiana da cavidade amniótica (definida por cultura positiva de líquido amniótico obtido por amniocentese), morbidade neonatal, corioamnionite e intervalo entre o exame e o parto. Entre aquelas com diagnóstico de TPP, a prevalência de sludge foi de 22,6% (19 de 84 pacientes), enquanto entre as que evoluíram para gestações a termo a prevalência foi de 1% (3 de 298 pacientes). As pacientes com sludge tinham idade gestacional menor na data do exame ultrassonográfico e no momento do parto. Igualmente, a média de peso ao nascer também foi menor quando comparada ao grupo sem sludge. Aquelas com sludge apresentaram maior frequência de cultura de líquido amniótico (LA) positiva do que as pacientes sem sludge (33,3% contra 2,5%) e também maior frequência de corioamnionite histológica (77,8% contra 19%). A regressão logística indicou a presença de Figura 2 - Sludge (seta). Tabela 1 - Resultados de alguns estudos sobre as evidências das medidas da eco glandular endocervical (EGE) pela ultrassonografia transvaginal e a predição do parto prematuro espontâneo Autores (ano) Sekiya et al. (1998) 10 Yoshimatsu et al.11 (2002) Pires et al.12 (2005) População estudada 260 mulheres com gestações não complicadas com idade gestacional acima de 16 semanas 101 mulheres com ameaça de TPP entre 16 e 35 semanas 338 mulheres com gestações não complicadas entre 21 e 24 semanas 327 mulheres nulíparas com gestações não complicadas entre 16 e 23 semanas Grgic, Matijevic e Vasilj13 (2005) Asakura et al.14 (2009) 108 mulheres que foram internadas por ameaça de parto prematuro entre 22 e 33 semanas Afzali et al.15 (2011) 600 mulheres com gestações únicas entre 16 e 19 semanas Marcador Ausência de EGE está associada a maior maturação cervical Ausência de EGE está associada a maior maturação cervical. A prevalência de EGE nessa população é menor que na população em geral Ausência de EGE está associada a parto prematuro, mesmo quando avaliada isoladamente Avaliação qualitativa do EGE: QGCS menor ou igual a 1 está associado a parto prematuro, mesmo quando avaliado isoladamente Ausência de EGE está associada a parto prematuro, mesmo quando avaliada isoladamente Ausência de EGE está associada a parto prematuro Valor p Grau de evidência <0,0001 B <0,01 B <0,001 B – B 0,04 B 0 B QGCS: score glandular cervical qualitativo. Tabela 2 - Resultados de alguns estudos sobre as evidências da detecção de sludge e a predição do parto prematuro espontâneo Autores (ano) Espinoza et al.16 (2005) Bujold et al.17 (2006) Kusanovic et al.18 (2007) Himaya et al.19 (2011) Romero et al. (2007) Romero et al.21 (2008) 20 População estudada Comparação entre 84 gestantes com TPP e bolsa íntegra e 298 gestantes sem complicações (idade gestacional entre 20 e 35 semanas) 89 mulheres com gestações únicas e IG entre 18 e 32 semanas Comparação entre 66 gestantes com sludge e 215 gestantes sem sludge com IG entre 13 e 29 semanas 310 gestantes que fizeram amniocentese para cariotipagem entre 14 e 24 semanas Relato de caso Relato de caso - investigação complementar Marcador A presença de sludge está associada a corioamnionite histológica, culturas positivas de líquido amniótico e parto prematuro A presença de sludge está associada a parto prematuro e corioamnionite histológica Valor p Grau de evidência <0,05 B <0,01 B A presença de sludge está associada a parto prematuro <0,01 B A presença de sludge está associada a parto prematuro abaixo de 32 semanas <0,01 B C C IG: idade gestacional; TPP: trabalho de parto prematuro FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 43 Assunção TS, Bittar RE, Carvalho MHB, Francisco RPV, Zugaib M sludge como fator de risco independente para esses dois desfechos. Em sete gestantes submetidas a amniocentese e com cultura positiva, uma não apresentava sludge à ultrassonografia e seis o demonstraram. Os microrganismos identificados pela cultura no grupo do sludge foram Ureaplasma urealyticum, Fusobacterium nucleatum, Candida albicans, Peptostreptococcus spp, estreptococos do grupo B e Gardnerella vaginalis (cada paciente apresentava um tipo de microrganismo). Na única paciente sem sludge com cultura positiva foram identificados Acinetobacter spp e Ureaplasma urealyticum. Uma porcentagem maior de gestantes com sludge, em comparação àquelas sem sludge, evoluiu para parto prematuro espontâneo dentro de 48 horas e dentro de sete dias depois do exame. A proporção também foi maior comparando partos abaixo de 32 e de 35 semanas entre os grupos (todos com diferença estatística), mas a regressão logística mostrou o sludge como fator de risco independente apenas para parto em 48 horas e sete dias após o exame16 (B). É importante salientar que, das 19 gestantes do grupo com sludge, 18 apresentavam colo menor que 15 mm e uma apresentava colo com medida entre 15 e 25 mm, o que pode ser considerado um fator de confusão na análise. Os autores sugerem que a presença de sludge pode corresponder a agregados de filmes bacterianos e células inflamatórias e, portanto, as pacientes com esse marcador teriam maior risco de infecção intra-amniótica e consequentemente de trabalho de parto prematuro16 (B). Deve-se levar em consideração que o estudo foi retrospectivo e não permitiu que os avaliadores acompanhassem o exame em tempo real de todas as pacientes, podendo significar viéses na análise das imagens e confusão nos resultados apresentados. Em 2006, Bujold et al.17 (B) selecionaram retrospectivamente um grupo de gestantes entre 18 e 32 semanas com risco para parto prematuro, mas sem diagnóstico de trabalho de parto. Elas foram divididas em três grupos: sem sludge, com sludge discreto e com sludge denso, de acordo com a classificação de dois ultrassonografistas independentes (ou três, caso não houvesse concordância entre os dois primeiros). Os desfechos analisados foram: parto em até duas semanas após o exame, parto antes de 34 semanas, intervalo entre exame e parto, parto antes de 37 semanas e corioamnionite histológica. Das 89 pacientes selecionadas, 10,1% apresentavam sludge discreto e 5,6% apresentavam sludge denso. Houve diferença significante entre os grupos nos desfechos parto abaixo de 34 semanas, parto abaixo de 37 semanas, intervalo de até 14 dias até o parto e diagnóstico de corioamnionite histológica (p<0,01). A regressão logística demonstrou presença de sludge e comprimento cervical menor que 25 mm como preditores independentes para parto em até 14 dias e parto antes de 34 semanas. Outra regressão logística 44 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 considerando comprimento cervical menor que 15 mm como fator de confusão também mostrou a presença de sludge denso como preditor para parto antes de 34 semanas. A combinação dos dois fatores (sludge e colo curto) esteve associada a altas taxas de parto antes de 34 semanas (75%) e parto dentro de 14 dias após o exame (50%) (B). Como críticas a esse estudo pode-se citar a análise retrospectiva dos dados e o pequeno número de casos avaliados. Kusanovic et al.18 (B), em estudo caso-controle retrospectivo, publicado em 2007, avaliaram 281 mulheres assintomáticas com alto risco para parto prematuro. Os critérios de inclusão foram: gestação única, exame ultrassonográfico transvaginal entre 13 e 29 semanas, história de parto prematuro espontâneo, história de perda gestacional no segundo trimestre, comprimento cervical menor que 25 mm. Foram excluídas as paciente com malformações mullerianas e/ou história de conização. Os desfechos avaliados incluíam parto prematuro abaixo de 28, 32 e 35 semanas, rotura prematura de membranas ovulares, invasão microbiana da cavidade amniótica, inflamação intra-amniótica, corioamnionite clínica e histológica, admissão do RN em unidade de terapia neonatal intensiva, morbidade neonatal grave, óbito neonatal e intervalos, em dias, entre a data do exame e a do parto e entre a data do exame e a da rotura das membranas. A prevalência de sludge nessa população foi de 23,5% (66 entre 281) e a presença de colo curto (abaixo de 25 mm) foi detectada em 50,5% das pacientes (142 entre 281). A rotura prematura de membranas ovulares ocorreu em 55 casos (19,6%) e o parto prematuro espontâneo em 91 casos (42,1%) divididos da seguinte maneira: 29 gestações abaixo de 28 semanas, 17 gestações entre 28 e 32 semanas, 16 gestações entre 32 e 35 semanas, e 29 gestações entre 35 e 37 semanas. A corioamnionite clínica e histológica foi diagnosticada em 21 (7,5%) e 94 (36,4%) pacientes, respectivamente. Aquelas que apresentavam sludge ao exame ultrassonográfico manifestaram maior proporção de parto prematuro do que as outras sem sludge, com diferença estatisticamente significante. A frequência de partos abaixo de 32 semanas foi maior naquelas com sludge independentemente do comprimento cervical. Essas pacientes com sludge também tiveram menor intervalo entre o exame ultrassonográfico e o parto (127 contra 161 dias) e maior prevalência de corioamnionite clínica e histológica (15,2 contra 5,1% e 61,5 contra 28% respectivamente), maior prevalência de rotura prematura de membranas e idade gestacional menor quando presente. Todos os resultados neonatais avaliados foram piores quando a gestante apresentava sludge; este se mostrou, na regressão logística, um fator de risco independente para parto prematuro, rotura prematura de membranas ovulares, invasão microbiana da cavidade amniótica e corioamnionite histológi- A ausência do eco glandular endocervical (EGE) e a presença de sludge no líquido amniótico podem ser consideradas imagens ultrassonográficas preditivas de parto prematuro? ca, mas não para resultados neonatais adversos. Os autores sugerem que a presença de sludge indica maior risco de prematuridade e outras complicações, esteja ele associado à medida do comprimento cervical ou não, mas o estudo foi retrospectivo e a população estudada de alto risco para prematuridade18 (B). O único estudo prospectivo dessa série é o apresentado por Himaya et al.19 (B), do Canadá, em que as gestantes foram encaminhadas para cariotipagem entre 14 e 24 semanas. Os critérios de exclusão foram: gestação múltipla, anomalias fetais letais, contrações uterinas regulares, circlagem cervical e rotura de membranas ovulares. As gestantes que optaram por interrupção da gestação após resultado do cariótipo foram excluídas da casuística. A avaliação ultrassonográfica transvaginal ocorria em até sete dias após a amniocentese e foram analisados o comprimento cervical, a presença de partículas não agregadas (free-floating) e a presença de partículas densas e o sludge. Os desfechos primários foram rotura prematura de membranas ovulares e parto prematuro espontâneo precoce (até 32 semanas) e tardio (entre 32 e 37 semanas). As concentrações de três marcadores amnióticos também foram determinadas (lactato, glicose e metaloproteinase de matriz-8); a escolha desses marcadores foi explicada por sua associação prévia com invasão microbiana da cavidade amniótica. De 317 pacientes inicialmente selecionadas, cinco foram excluídas por anomalias cromossômicas e/ou anomalias fetais letais e duas foram excluídas por perda de seguimento. Das 310 que compuseram a casuística, 200 (65%) não apresentavam sludge, 94 (30%) tinham partículas não agregadas e 16 (5%) apresentavam sludge. Duas pacientes apresentaram colo curto e sludge e evoluíram para rotura prematura de membranas ovulares ou parto com 20 e 25 semanas, respectivamente, após quatro e dez semanas do achado de sludge. Outras cinco mulheres tinham colo curto, mas não apresentavam sludge e evoluíram com gestações a termo. Mesmo após ajuste para história prévia de prematuridade e colo curto, a presença de sludge teve importância para a rotura prematura de membranas ovulares ou parto prematuro antes de 32 semanas (odds ratio de 6,9, com IC95% 1,4–35,3) e antes de 37 semanas (odds ratio de 8,0, IC95% 1,6–40,6). Não houve associação entre sludge e os marcadores amnióticos avaliados19 (B). Apesar de ser prospectivo, este estudo perde força por apresentar alguns viéses como a população avaliada, que era de pacientes com indicação de amniocentese genética, o que não reflete a população geral; a idade gestacional média do exame foi de 17 semanas, portanto precoce, e a concordância entre os observadores do exame não foi avaliada. Ainda assim, não se pode negar que os resultados também sugerem a ligação entre a presença de sludge com a rotura prematura de membranas ovulares e parto prematuro. Sludge e corioamnionite O grupo de Romero et al. publicou, em 2007 e 2008, um relato de caso e sua posterior investigação complementar20,21 (C), sugerindo a hipótese de que o sludge seja um indicador de invasão bacteriana da cavidade amniótica. No relato de 2007, uma gestante de 31 anos, em sua quinta gestação e com dois partos anteriores (não há informação no artigo sobre a idade gestacional destes partos), com antecedente de colo curto (8 mm) em ultrassonografia transvaginal realizada com 25 semanas, foi internada com 27 semanas e dois dias devido a dilatação cervical e protrusão de membranas. A ultrassonografia mostrava comprimento cervical igual a zero e presença de sludge na porção protruída da bolsa amniótica. Foi realizada amniocentese transabdominal para se afastar infecção intra-amniótica: a concentração de glicose do líquido foi de 25 mg/dL, a contagem de leucócitos foi de 1/mm3 e a bacterioscopia e a cultura foram negativas. Após dez dias, a paciente queixou-se de cólicas e ao exame físico apresentava dilatação de 8 cm; foi feito ainda diagnóstico de corioamnionite clínica devido a febre e leucocitose maternas (contagem de leucócitos: 15.600/mm3) e taquicardia fetal. Optou-se por amniotomia e administração de ocitocina intravenosa. A amniotomia foi realizada após antissepsia local com uma agulha de 18G e guiada pela ultrassonografia. O líquido amniótico tinha aparência de pus e a análise bioquímica indicou concentração de glicose abaixo de 10 mg/dL, contagem leucocitária de 19.650/mm3; a bacteriocopia foi positiva para cocos Gram-positivos. A paciente foi tratada com ampicilina e gentamicina e evoluiu para parto vaginal com recém-nascido do sexo feminino pesando 1.135 g e com Apgar 8 e 8 no primeiro e quinto minutos, respectivamente. A cultura do líquido amniótico indicou crescimento de Mycoplasma hominis, Streptococcus mutans e Aspergillus flavus. Os autores sugerem que, como uma alternativa à hipótese de que a paciente tenha desenvolvido uma nova infecção intra-amniótica nesse intervalo de dez dias, a cavidade amniótica seja “compartimentalizada” e a amostra obtida próximo ao fundo uterino não seja representativa do líquido próximo ao orifício interno, onde se encontra o sludge. Eles propõem que a detecção de sludge represente invasão microbiana e processo inflamatório em curso dentro da cavidade amniótica e que a infecção intra-amniótica seja crônica e subclínica, sendo possível detectá-la antes que a paciente desenvolva os sintomas de corioamnionite. Esse processo infeccioso pode passar despercebido se não houver atenção na avaliação do líquido amniótico20 (C). O líquido amniótico dessa paciente foi processado e avaliado sob microscopia eletrônica, com resultado publicado em 2008 pelo grupo já citado21 (C). Nesse relato de caso, foram obtidas imagens de cocos FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 45 Assunção TS, Bittar RE, Carvalho MHB, Francisco RPV, Zugaib M agregados a matriz extracelular, o que é compatível com bactérias na forma de biofilmes ou agregados bacterianos: isso significa que as bactérias presentes na cavidade amniótica não estão necessariamente em sua forma isolada, mas podem se apresentar nessa forma particular, mais resistente ao tratamento com antibióticos. Segundo os autores, a implicação dessa descoberta impactará no tratamento e também no diagnóstico, já que a detecção de invasão bacteriana na forma de biofilmes é mais difícil, as técnicas atuais de cultura são inadequadas para esse fim e, portanto, a frequência de infecção intra-amniótica atualmente pode estar subestimada. Essa é a primeira evidência de que bactérias podem formar biofilmes dentro da cavidade amniótica e não permanecem apenas na forma isolada, e de que tal biofilme foi achado em paciente com sludge ao exame ultrassonográfico. Os biofilmes bacterianos estão fortemente associados a outros tipos de infecções crônicas como conjuntivite, otite, gengivite e colecistite. Nenhum dos artigos citados avaliou o uso de antibióticos de rotina para as pacientes com sludge ao exame ultrassonográfico e, portanto, não existem evidências que justifiquem sua prescrição, a menos que ocorram outros sinais de infecção. Conclusão Os métodos atualmente disponíveis ainda não são totalmente eficientes em predizer o parto prematuro espontâneo. Por enquanto, a associação da medida do comprimento do colo uterino pela ultrassonografia transvaginal e a pesquisa de fibronectina fetal constitui a melhor estratégia de predição. Até o momento, faltam evidências científicas mais consistentes que suportem a utilização de rotina da pesquisa do eco glandular endocervical e do sludge. Os estudos apresentados até o momento são de graus de evidência B ou C e, portanto, sem evidência consistente de que possam ser utilizados isoladamente. A associação de ambos também deixa dúvidas, já que as populações estudadas diferem muito entre os estudos, dificultando a comparação dos resultados. Leituras suplementares 1. Howson CP, Kinney MV, Lawn JE. March of Dimes, PMNCH, Save the Children, WHO. Born Too Soon: The Global Action Report on Preterm Birth. Geneva: World Health Organization; 2012. 2. Blencowe H, Cousens S, Oestergaard M, Chou D, Moller AB, Narwhal R, et al. National, regional and worldwide estimates of preterm birth. The Lancet. 2012;379(9832):2162-72. 3. World Health Organization [Internet]. Preterm birth [cited 2013 May 17]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs363/en/ 4. Liu L, Johnson H, Cousens S, Perin J, Scott S, Lawn JE, et al. Global, regional, and national causes of child mortality: an updated systematic analysis for 2010 with time trends since 2000. The Lancet. 2012;379(9832):2151-61. 5. Bittar RE, Fonseca EB, Carvalho MHB, Martinelli S, Zugaib M. Predicting preterm delivery in asymptomatic patients with prior preterm delivery by measurement of cervical length and phosphorylated insulin-like growth factor-binding protein-I. Ultrasound Obstet Gynecol. 2007;29:562-67. 6. Bittar RE, Yamasaki AA, Sasaki S, Zugaib M. Cervical fetal fibronectin in patients at increased risk for preterm delivery. Am J Obstet Gynecol. 1996;175(1):178-81. 7. Bittar RE, Zugaib M. Indicadores de risco para o parto prematuro. Rev Bras Ginecol Obstet. 2009;31(4):203-9. 8. Carvalho MHB, Bittar RE, Brizot ML, Bicudo C, Zugaib M. Prediction of preterm delivery in the second trimester. Obstet Gynecol. 2005;105(3):532-6. 9. Carvalho MHB, Bittar RE, Brizot ML, Maganha PPS, Fonseca ESVB, Zugaib M. Cervical length at 11-14 weeks’ gestation evaluated by transvaginal sonography, and gestational age at delivery. Ultrasound Obstet Gynecol. 2003;21:135. 10. Sekiya T, Ishihara K, Yoshimatsu K, Fukami T, Kikuchi S, Araki T. Detection rate of the cervical gland area during pregnancy by transvaginal sonography in the assessment of cervical maturation. Ultrasound Obstet Gynecol. 1998;12:328-333. 11. Yoshimatsu K, Sekiya T, Ishihara K, Fukami T, Otabe T, Araki T. Detection of the cervical gland area in threatened preterm labor using transvaginal sonography in the assessment of cervical maturation and the outcome of pregnancy. Gynecol Obstet Invest. 2002;53:149-156. 46 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 12. Pires CR, Moron AF, Mattar R, Diniz ALD, Andrade SGA, Bussamra LCS. Cervical gland area as an ultrasonographic marker for preterm delivery. Int J Gynecol Obstet. 2006;93 (3):214-219. 13. Grgic O, Matijevic R, Vasilj O. Qualitative glandular score as a potential new sonomorphological parameter in screening for preterm delivery. Ultrasound in Med Biol. 2006;32(3):333-338. 14. Asakura H, Fukami T, Kurashina R, Tateyama N, Doi D, Takeshita T. Significance of cervical gland area in predicting preterm birth for patients with cervical length and fetal fibronectin. Gynecol Obstet Invest. 2009;68:1-8. 15. Afzali N, Mohajeri M, Malek A, Alamatian A. Cervical gland area: a new sonographic marker in predicting preterm delivery. Arch Gynecol Obstet. 2012;285: 255-258. 16. Espinoza J, Gonçalves LF, Romero R, Nien JK, Stites S, Kim YM, et al. The prevalence and clinical significance of amniotic fluid sludge in patients with preterm labor and intact membranes. Ultrasound Obstet Gynecol. 2005;25: 346-352. 17. Bujold E, Pasquier JC, Simoneau J, Arpin MH, Duperron L, Morency AM, et al. Intra-amniotic sludge, Short Cervix, and Risk of Preterm Delivery. J Obstet Gynaecol Can. 2006;28(3):198-202. 18. Kusanovic JP, Espinoza J, Romero R, Gonçalves LF, Nien JK, Soto E, et al. Clinical significance of the presence of amniotic fluid sludge in asymptomatic highrisk patients for spontaneous preterm delivery. Ultrasound Obstet Gynecol. 2007;30(5):706-714. 19. Himaya E, Rhalmi N, Girard M, Tétu A, Desgagné J, Abdous B, et al. Midtrimester Intra-Amniotic Sludge and the Risk of Spontaneous Preterm Birth. Am J Perinatol. 2011;28:815-820. 20. Romero R, Kusanovic JP, Espinoza J, Gotsch F, Nhan-Chang CL, Erez O, et al. What is amniotic fluid ‘sludge’? Ultrasound Obstet Gynecol. 2007;30:793-798. 21. Romero R, Schaudinn C, Kusanovic JP, Gorur A, Gotsch F, Webster P, et al. Detection of a microbial film in intraamniotic infection. Am J Obstet Gynecol. 2008;198:135.e1-135.e5. revisão Métodos de indução do trabalho de parto Methods of induction of labour Guilherme Negrão de Souza1,2 Márcio Sakita2 Viviane Lopes3 Denise Queiroz Ferreira3 Samirah Hosney Mahmoud Mohamed 4 Eduardo de Souza5 Palavras-chave Trabalho de parto Trabalho de parto induzido Contração uterina Ocitocina Keywords Labor, Obstetric Labor, Induced Uterine Contraction Oxytocin Resumo Os métodos de indução do parto podem ser divididos em estímulos naturais, estímulos exógenos diretos ou mecânicos e estímulos exógenos indiretos ou farmacológicos, cada qual apresenta suas particularidades nas indicações e contraindicações. O objetivo deste artigo foi realizar uma revisão da literatura consultando Medline/Pubmed e a Biblioteca Cochrane para avaliar a eficácia e segurança na utilização dos principais métodos de indução do trabalho de parto. Apurou-se não haver método ideal de indução do trabalho de parto. Os estímulos naturais e os métodos alternativos carecem de maiores estudos para incentivo de seu uso rotineiro. As prostaglandinas, em destaque o misoprostol, está indicada no Índice de Bishop desfavorável e a ocitocina em condições cervicais favoráveis. Os avanços no campo da biologia molecular tem corroborado que o método ideal deve atuar em sincronismo com a contratilidade uterina e a maturação cervical. Abstract Methods of labor induction can be classified as natural stimuli, direct exogenous stimuli or mechanical and indirect exogenous stimuli or pharmacological. Which one has its peculiarities in relation to indications and contraindications. The objective of this article was to assess the efficacy and safety of the main methods of induction of labor trough the analysis of the medical literature in Medline/Pubmed and the Cochrane Library to. No ideal method of inducing labor was found. Further studies are required to encourage natural stimuli and alternative methods more often. According to Bishop scores, prostaglandins, (especially misoprostol) are unfavorable and oxytocin in case of favorable cervical environment. Advances in the field of molecular biology have confirmed that the ideal method should work simultaneously with uterine contraction and cervical ripening. Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM) e Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros – São Paulo (SP), Brasil 1 Doutor em Ciências pela Unifesp/EPM – São Paulo (SP), Brasil. 2 Coordenador da Residência Médica do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros; Coordenador da Obstetrícia do Hospital da Luz e do Hospital Vitória – São Paulo (SP), Brasil. 3 Mestre em Ciências da Unifesp/EPM – São Paulo (SP), Brasil. 4 Residente em Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros – São Paulo (SP), Brasil. 5 Professor Associado da Unifesp/EPM – São Paulo (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Guilherme Negrão de Souza – Avenida Álvaro Ramos, 235, sala 14 – CEP: 03058-060 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Conflito de interesse: não há Souza GN, Sakita M, Lopes V, Ferreira DQ, Mohamed SHM, Souza E Introdução O trabalho de parto induzido consiste em desencadear contrações uterinas efetivas antes do deflagrar espontâneo, com o objetivo de promover a dilatação cervical e a descida da apresentação fetal em mulheres com mais de 22 semanas de idade gestacional. Ela deve ser diferenciada da chamada condução do parto, praticada durante o trabalho de parto, com o propósito de acelerá-lo, em que vários métodos podem ser usados simultaneamente. O método ideal depende das condições do processo de maturação cervical, para evitarmos procedimentos prolongados, exaustivos e com riscos de falha na indução e alterações na contratilidade uterina, elevando-se a incidência de cesárea e aumento na morbidade e mortalidade materna associada a fenômenos hemorrágicos, infecciosos e tromboembólicos1 (C). O desencadeamento do mecanismo de parto depende de processos independentes, porém é fundamental que estes sejam sincrônicos e coordenados, caracterizados por contratilidade uterina persistente, amadurecimento cervical e ativação da membrana-decidual gerada por processos inflamatórios, infecciosos, imunológicos ou vasculares2 (C). A biologia da cérvice uterina passa por grandes transformações moleculares, enzimáticas e biomecânicas que a diferem do miométrio. O esvaecimento e a dilatação cervical, no final da gestação, não é resultado exclusivo de contrações uterinas, mas também da dissociação, sem dissolução de fibras colágenas da matriz extracelular, para permitir a passagem do concepto e para que a cérvice uterina retorne ao estado pré-gravídico. Isso ocorre, provavelmente, por alterações do tecido conjuntivo, com decréscimo da coesão entre os colágenos I e III, nas modificações quantitativas da concentração de glicosaminoglicanos (condroitim sulfato e ácido hialurônico), que mantém a estabilidade da progesterona no decorrer da gestação para quiescência uterina3 (C). Quanto à atividade metabólica, a cérvice uterina é ativa, durante o preparo cervical, e passiva, durante o trabalho de parto, mediada pelo aumento dos níveis séricos de ácido hialurônico e na transformação do ácido hialurônico cervical em baixo peso molecular, que regulam a produção de interleucina-1-beta, fator de necrose tumoral-alfa e interleucina-8 pelos fibroblastos uterinos, responsáveis diretos no caráter hidrofílico e distensibilidade das fibras colágenas por liberação local de hialuronidase4 (C). Com isso, um método de indução do parto apresentará maior eficácia atuando previamente no estado de maturidade cervical antes do desencadeamento das contrações uterinas efetivas. 48 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 Na prática, temos privilegiado fatores preditivos ao sucesso da indução, como o Índice de Bishop (Tabela 1), que estabelece critérios clínicos cervicais e apura a altura da apresentação fetal em relação à bacia materna, para a prévia de que contrações uterinas efetivas possam desencadear o deflagrar espontâneo. Na presença de Índice de Bishop≤6, a escolha do método de indução é fundamental ao sucesso da parturição por via vaginal, devendo-se atingir o amadurecimento cervical e, posteriormente, contrações uterinas efetivas. A crítica deste índice clássico ocorre pela elevada variabilidade inter e intraobservadores, além do baixo valor preditivo ao resultado final do processo5 (C). Desde então, tentativas na modificação deste índice para benefícios objetivos na escolha do melhor método de indução do parto, acrescentando a paridade e a medida ecográfica da cérvice uterina, vêm sendo estimuladas na prática diária (Tabela 2). Com isso, os resultados favoráveis para parto vaginal, acrescentando-se novos scores (estudo prospectivo com 311 pacientes), apresentou sensibilidade e especificidade de 95,5%/84,6% contra 65,3%/80,8% do Índice de Bishop isolado, respectivamente6 (B). No entanto, o uso combinado de scores diferentes não tem evidência científica suficiente por discrepância nos resultados7 (B). Na atualidade, existem diversas alternativas de métodos e medicamentos para o preparo cervical e indução do parto, além de conhecimentos baseados em evidências científicas. Entretanto, não existe método ou dose de medicamentos ideal, via e intervalo de administração, assim como o máximo da dose preconizada, devendo ser indicados em situações clínicas e/ou obstétricas apropriadas, para evitar iatrogenias no binômio materno-fetal, destacando-se prematuridade, baixo peso ao nascer e aumento na incidência de cesárea. Além disso, para Tabela 1 - Índice de Bishop (1964) modificado (Cunningham et al.5) Pontuação 0 1 2 3 Altura da apresentação -3 -2 -1/0 +1/+2 0 1–2 3–4 >4 >2 2 1 <1 Firme Intermediária Amolecida – Posterior Intermediária Central – Dilatação do colo (cm) Comprimento do colo (cm) Consistência do colo Posição do colo Tabela 2 - Novo sistema de score Parâmetros 0 1 2 4 Paridade Nulípara Multípara – – Comprimento cervical >3,2 cm – – 2,1–3,2 cm 90–110º >110º Ângulo cervical posterior <90º – Total score = 13 (Keepanasseril et al.5) 8 – <2,1 cm – Métodos de indução do trabalho de parto que o método seja considerado ideal, é necessário que o mesmo seja de controle simples, ter boa aceitabilidade pela paciente e de profissionais da saúde e fácil aplicação, evidente em 49 artigos pesquisados8 (B). Este artigo de revisão teve como objetivo avaliar a eficácia e segurança na utilização dos principais métodos de indução do trabalho de parto. Metodologia Realizou-se ampla pesquisa nos bancos de dados do Medline/ Pubmed e da Biblioteca Cochrane durante a primeira quinzena do mês de outubro de 2012, empregando-se as seguintes expressões nas buscas: “labor” e “induction”. Na primeira fonte apurou-se 116 artigos sobre o tema, tendo a segunda fonte um total de 54 revisões publicadas em 2012. A seleção inicial dos artigos foi realizada com base em seus títulos e resumos e, quando efetivamente relacionados ao tema, buscou-se o texto completo. Para escrever a presente revisão, foram selecionados 27 artigos efetivamente relacionados ao nosso objetivo e 19 revisões sistemáticas pela maior relevância para confecção dos nossos resultados; o grau de recomendação e o nível de evidência foram expressos conforme as regras editoriais. Resultados Os métodos utilizados na indução do parto podem ser divididos em estímulos naturais (acupuntura, estímulo manual ou oral do mamilo, relação sexual por ação direta das prostaglandinas do sêmen e/ou liberação endógena de ocitocina pelo orgasmo e estimulação dos mamilos, enemas e soluções homeopáticas – Caulophyllum thalictroides), estímulos exógenos diretos ou mecânicos (descolamento digital das membranas ovulares, amniotomia, introdução de cateter extra-amniótico e laminária), estímulos exógenos indiretos ou farmacológicos (ocitocina, prostaglandinas, dinoprostona e hialuronidase), além de outros métodos de menor relevância, descritos nesta revisão. Estímulos naturais Não há relatos de efeitos teratogênicos conhecidos, apesar da efetividade destas técnicas serem limitadas e não apresentarem estudos randomizados que corroborem estes métodos de indução9-11 (A). No entanto, 6 trials (719 mulheres), o estímulo manual ou oral do mamilo, pode reduzir a incidência de hemorragias pós-parto e deve ser evitado em gestantes de alto risco12 (A). Estímulos exógenos diretos Descolamento digital das membranas ovulares (Método de Hamilton ou Cooperman) Também denominado descolamento do polo inferior do ovo, visa separar as membranas ovulares da decídua parietal no segmento inferior do útero para estimular a produção de prostaglandina endógena. Não existem revisões sistemáticas sobre este método de indução do parto no período avaliado, porém há relatos na literatura que demonstram como realização deste método de indução diminui o tempo do trabalho de parto sem elevar os riscos do binômio materno-fetal13 (A). Ruptura das membranas ovulares (amniotomia) As evidências científicas demonstram que o período de latência com este método é variável, elevando-se o risco de corioamnionite e prolapso ou compressão funicular; está contraindicado na cabeça alta e móvel, como também em cervicovaginites evidentes e na presença de doenças sexualmente transmissíveis que possam favorecer contaminações m aterno-fetais (como HIV e HPV). Este método auxilia na condução do trabalho de parto, concomitante ou não com a ocitocina intravenosa, na vigência de distocias funcionais, mas deve ser desencorajado como método isolado para indução do parto por resultados imprevisíveis e a disponibilidade de agentes farmacológicos com eficácia comprovada, comprovados em 17 trials com 2.566 mulheres14,15 (A). Introdução de cateter extra-amniótico O uso de métodos menos rígidos como sonda de Foley e de Atad (duplo balão), por via endocervical, associado ou não à infusão salina, utilizado por 12-24 horas, é uma alternativa para estimular o processo de maturação cervical, correlacionados aos riscos de qualquer método invasivo intracervical como deslocamento do balão, rotura acidental das membranas ovulares, desconforto materno com sinais de sangramento e infecção genital. Estudos randomizados (116 pacientes) demonstram não haver diferenças no processo de maturação cervical comparando-se o uso isolado da sonda de Foley e sua associação com ocitocina em baixa dose16 (A). No entanto, estudos randomizados (210 pacientes) concluem que o cateter extra-amniótico, em associação com o uso de ocitocina e analagesia de parto, são mais eficazes para o desfecho do parto nas 24 horas em comparação com o misoprostol por via vaginal, além de menor risco de alteração na contratilidade uterina na condução do parto17 (A). Laminária A alga arboriforme e porosa com características higroscópicas utilizado entre 8 e 12 horas acarreta expansão radial FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 49 Souza GN, Sakita M, Lopes V, Ferreira DQ, Mohamed SHM, Souza E suave com retenção hídrica e liberação de prostaglandina endógena. Não existem revisões sistemáticas sobre este método de indução do parto. Indiretos (farmacológicos) Ocitocina O uso da ocitocina é o método mais utilizado em todo o mundo para indução do parto por sua ação rápida, a menor freqüência de hiperestimulação uterina e a rápida eliminação após a sua suspensão, porém está indicado no Índice de Bishop >7. Seu uso abusivo deve ser desencorajado, pois contém estrutura similar à vasopressina, elevando-se o risco de hiponatremia, hipervolemia, edema agudo de pulmão, convulsão, coma e até óbito. Em 61 trials (12.819 gestantes), a indução do parto com ocitocina isolada, em combinação com amniotomia, comparado com o uso intravaginal ou intracervical de PGE2, demonstrou que as prostaglandinas aumentam a incidência de parto vaginal em 24 horas; o uso exclusivo de ocitocina pode aumentar a taxa de intervenções durante o parto18 (A). Estudos randomizados (144 pacientes) comparando-se ocitocina em baixa dose versus Dinoprostona sugerem eficácia semelhante no desfecho obstétrico em colo desfavorável, porém com menor tempo de trabalho de parto para o grupo com ocitocina19 (A). Prostaglandinas Misoprostol A dose de 25 mcg via vaginal ou intracervical, com intervalos de 6/6 horas, reduz a incidência de trabalho de parto prolongado e, consequentemente, a dose de ocitocina na condução do parto em gestações a termo com feto vivo. Esta posologia não aumenta a incidência de taquissistolia, mecônio e cesárea por síndrome de hiperestimulação uterina, como também alteração de vitalidade fetal e hipoxia neonatal. No entanto, o misoprostol na dose de 25 mcg a cada 4 horas (121 trials) é o mais efetivo dos métodos de indução do parto, mas com maior risco de hiperestimulação uterina; diante de hiperestimulação, o comprimido vaginal deve ser removido com soro fisiológico 0,9%20 (A). O misoprostol tanto por via oral quanto sublingual necessita de doses três a quatro vezes maiores do que a via vaginal e apresenta maior frequência de feitos gastrointestinais (principalmente vômitos), comparado ao uso endovenoso de ocitocina com ou sem amniotomia, apesar da qualidade das revisões 50 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 não ser alta (19 estudos), não existem vantagens de seu uso como primeira escolha, devido a sua farmacocinética21 (A). Baseado em três estudos (502 participantes) comparando diversas doses de misoprostol sublingual com o vaginal (200 versus 50 mcg) e com a administração oral (50 versus 50 mcg e 50 versus 100 mcg), demonstram que o uso sublingual é menos efetivo que a mesma dose por via oral, porém sem condições de analisar efeitos adversos e a melhor dosagem para a eficácia esperada por via sublingual22 (A). Entretanto, um ensaio clínico aberto com 30 gestantes com indicação de indução do parto, utilizando misoprostol 12,5 mcg sublingual a cada 6 horas, parece elevar o período de latência, porém com menor incidência de alterações na contratilidade uterina, efeitos colaterais gástricos, com taxa global de partos vaginais semelhante à encontrada na literatura23 (B). A biodisponibilidade do misoprostol por via retal e vaginal são maiores que por via oral, por evitarem a primeira passagem hepática24 (A). Há estudos deste método por via intravenosa (13 trials com 1165 pacientes), não sendo mais eficiente que a ocitocina para a indução do parto, porém apresenta efeitos colaterais maternos (náuseas e vômitos) e fetais (hiperestimulação uterina); o elevado custo é fator limitante ao uso desta via na prática diária25 (A). Dinoprostona A PGE2 aumenta o sucesso de parto vaginal em 24 horas e melhora as condições cervicais sem elevar a incidência de partos operatórios. Conforme os 63 trials analisados (10.441 gestantes selecionadas no terceiro trimestre), o pessário por via vaginal apresenta maior eficácia do que a forma de gel26 (A). Hialuronidase Em contraste à conclusão de revisões sistemáticas, estudos clínicos comprovam a eficácia da administração intracervical de hialuronidase, com boa aceitabilidade pela parturiente e pelos profissionais de saúde, permitindo sua utilização em pacientes com cesárea prévia e podendo ser repetido com intervalo de tempo prolongado (48 horas), como também em associação com as drogas indutoras do parto27 (A). Outros métodos Com relação aos métodos alternativos (estrogênios, corticosteroides, relaxina recombinante humana), não existem informações suficientes para incluí-los na rotina obstétrica para indução do parto. Porém, estes métodos parecem ser mais efetivos comparados ao grupo placebo na incidência de parto operatório por falha de indução28-31 (A). Apesar de Métodos de indução do trabalho de parto estudo randomizado com resultados estatisticamente significantes do uso de isosorbida vaginal no pós-datismo com 200 pacientes, tal método deve ser desencorajado (outro estudo interrompido após análise de 11 pacientes) pela frequência e intensidade de efeitos adversos severos32,33 (A, B). O uso de mifepristone – RU486 (10 trials com 1.108 gestantes) sugere que pode ser mais efetivo que o placebo na incidência de cesárea e falha de indução, porém faltam estudos que o comparem com métodos rotineiros de indução do parto34 (A). Discussão O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) (2009)35 (B), revisou as indicações do uso de métodos indutores do parto, onde guidelines incluem a indução eletiva (acordo mútuo na relação médico-paciente) e terapêutica de causas maternas (como insuficiência renal, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença hipertensiva específica de gravidez e diabetes mellitus mal controlado entre outras), fetais (restrição de crescimento fetal sem alteração aguda da vitalidade fetal, pós-datismo, doença hemolítica perinatal, feto grande para a idade gestacional) e anexiais (como na rotura prematura de membranas, inserção baixa de placenta, alterações do líquido amniótico e corioamnionite). A indução terapêutica tem alta qualidade de evidência e forte grau de recomendação no p ós-datismo e ruptura prematura das membranas ovulares36 (A). No entanto, a seletividade dos casos sempre deve fundamentar-se em indicação precisa, visto não se tratar de ato isento de riscos, principalmente para os resultados perinatais. A prática eletiva da indução do parto deve ser desencorajada com idade gestacional menor de 39 semanas, pois contribui com a prematuridade iatrogênica e suas consequências diretas, como imaturidade pulmonar não diagnosticada e sepse secundária à infecção materna, além da elevação do risco de hipoglicemia e icterícia neonatal. As exceções são restritas a algumas patologias clínico-obstétricas, como na pré-eclâmpsia grave, desde que não haja comprometimento agudo da vitalidade fetal. A revisão de 11.492 pacientes com gestação de baixo risco acima de 41 semanas, revela que a conduta expectante eleva os índices de macrossomia fetal, distocia funcional com indicação de cesárea, distocia de bisacromial, síndrome de desconforto respiratório do recém-nascido, síndrome de aspiração meconial, baixo pH de artéria umbilical e do índice de Apgar, além de corioamnionite e endometrite puerperal37 (B). Existem contraindicações absolutas e relativas à realização da indução do parto. Entre as primeiras, destacamos a presença de evidente macrossomia fetal, vício pélvico, tumores prévios (como leiomioma uterino no segmento inferior, tumor de colo ou vagina e grande cisto ovariano), anomalias fetais (hidrocefalia em feto viável, gemelidade imperfeita), apresentações anômalas (compostas, córmicas, defletidas de 2°grau), inserção baixa de placenta do tipo central, vasa prévia e alterações acentuadas de vitalidade fetal, entre outras. Como contraindicações relativas, destacam-se a existência de cicatriz uterina prévia, grande multiparidade, apresentação pélvica e defletida de 1° e 3° graus, estado materno precário e sobredistensão uterina (polidrâmnio e gemelidade)5 (C). As principais complicações maternas da indução do parto compreendem ansiedade materna, efeitos colaterais (como náuseas, vômitos e diarreia), intoxicação hídrica (uso prolongado de ocitocina), trabalho de parto prolongado, síndrome de hiperestimulação uterina, ruptura uterina, hemorragias pós-parto (decorrentes de atonia uterina e lacerações do canal de parto), processos infecciosos, embolia por líquido amniótico e óbito. Entre as complicações feto-anexiais ressaltamos sofrimento fetal, tocotraumatismos, prematuridade, infecção neonatal, óbito, descolamento prematuro de placenta, ruptura de vasa prévia, prolapso funicular e retenção placentária38 (C). Dentre os métodos de indução e condução do parto, tanto os estímulos naturais e os exógenos diretos, quanto os métodos alternativos necessitam de mais estudos para inclusão na rotina obstétrica. O uso rotineiro do descolamento digital das membranas ovulares, a partir de 38 semanas, não tem evidência de produzir benefícios clinicamente significativos e pode determinar desconforto doloroso durante sua execução, além de sangramento e/ou infecção genital, facilitando o aparecimento de corioamnionite pela manipulação exagerada ou ruptura das membranas ovulares39 (A). A laminária auxilia no processo de maturação cervical em diminuir o tempo de trabalho de parto, com resultados satisfatórios com misoprostol e mifepristone (RU-486), conforme estudo retrospectivo em 174 pacientes no segundo e terceiro trimestres de gestação40 (B). A ocitocina tem maior eficácia como método de indução do parto no Índice de Bishop >6, podendo ser utilizado como alternativa na condução do parto para correção de distocia funcional relacionada à alteração na contratilidade uterina. A vigilância materna e fetal tem de ser primorosa, pois as complicações são dose-dependentes, ou seja, em casos de infusão excessiva de volume podemos ter um efeito anti- FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 51 Souza GN, Sakita M, Lopes V, Ferreira DQ, Mohamed SHM, Souza E diurético (na dose de 20 mU/min) e até intoxicação hídrica (40 mU/min)38 (C). Porém, o misoprostol, um análogo sintético da prostaglandina E1, é amplamente utilizado na prática clínica quando o Índice de Bishop for ≤6, atuando tanto na maturação cervical quanto para o início do trabalho de parto40 (C). Seu uso está contraindicado em gestantes com cicatriz uterina prévia, por aumento da incidência de descolamento prematuro de placenta e ruptura uterina, apesar de não haver modificações nos resultados perinatais. Além disso, deve-se evitar o uso em casos de alergia ao medicamento, assim como de asma brônquica, colite ulcerosa, epilepsia, glaucoma, infecções locais (cervicite, colpite e corioamnionite), doenças hepáticas, cardíacas e renais graves, bem como na presença de tireotoxicose. Os efeitos colaterais e as complicações do uso incluem náuseas, vômitos, diarreia, elevação térmica, aumento da frequência cardíaca, cefaleia, hipotensão arterial, broncoespasmo, tremores, crises convulsivas, leucocitose e infarto agudo do miocárdio38 (C). Já a prostaglandina E2 (PGE2), na dose de 10 mg, promove a dissolução de fibras colágenas e aumento do edema submucoso, similares àquelas observadas no início do trabalho de parto; utilizada na forma de pessário vaginal lacrado em sachê aluminizado removível que libera aproximadamente 0,3 mg de dinoprostona por hora, de dose única, com liberação controlada por 24 horas, armazenado em freezer à -10 e -20 ºC. Posiciona-se transversalmente na porção alta do fórnice vaginal posterior; a fita deverá se estender 2–3 cm para fora da vagina para facilitar a remoção na presença de contrações uterinas efetivas, em caso de administração sequencial de ocitocina. No momento da remoção, observamos o dobro do seu tamanho original e estará flexível. A eficácia do produto é semelhante ao misoprostol com ou sem a associação com ocitocina, devendo-se esperar pelo menos 30 minutos após a remoção do produto42 (A). A hialuronidase não é um real indutor do trabalho de parto, atuando na maturação cervical (consistência e esvaecimento), sem ação no corpo uterino e segmento inferior, levando à dissolução do tecido conjuntivo em excesso. É um método simples, efetivo, sem riscos, barato e de uso ambulatorial. Está indicado em idade gestacional entre 38 e 42 semanas, com Índice de Bishop desfavorável37 (C). Estudos randomizados demonstram a eficácia deste método na maturação cervical e no menor tempo de trabalho de parto e dose ocitócica, na incidência de cesarianas por distocia funcional e na falha de indução, como também menor tempo de uso de ocitocina e melhora das condições cervicais para o parto vaginal, mesmo 52 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 na cesariana prévia. Além disso, não determina mudanças significativas nos resultados perinatais, efeitos indesejáveis e complicações43,44 (A). A necessidade de restringir para centros de referência o uso de métodos de indução do parto é baseada na necessidade de pessoal habilitado, instalações hospitalares adequadas, mãe preparada emocional e fisicamente, leitura e assinatura do termo de consentimento pós-informado, presença constante do médico, vitalidade fetal preservada, vigilância materno-fetal cuidadosa e preenchimento detalhado da ficha de indução do parto e do partograma, como demonstrado em análise retrospectiva de 208.695 pacientes em 19 hospitais dos Estados Unidos45 (B). Apesar de todo o conhecimento atual sobre a maturação cervical, os sinais responsáveis para dar início a estas mudanças ainda precisam ser elucidados. A biologia molecular representa uma linha de pesquisa que pode auxiliar na elucidação do mecanismo fisiológico do processo de parturição. Vale lembrar que a importância dos animais de experimentação, tanto no campo científico como acadêmico, trouxe avanços na área médica, através de investigação animal, com benefícios inegáveis por suas características bioquímicas, biomecânicas e na avaliação das alterações histológicas na cérvice uterina ao longo da gestação, fator limitante na espécie humana por questões éticas e legais46 (C). Conclusão Não se recomenda o uso de estímulos naturais e métodos alternativos como método de indução do parto na prática diária, limitando-os a estudos clínicos em centros de referência; não há evidência suficiente para avaliar a efetividade dos métodos mecânicos para indução do parto com resultados favoráveis em 24 horas, porém deve ser considerado como alternativa ao uso de ocitocina no colo desfavorável. Não existem diferenças nos resultados maternos e neonatais, comparando-se o uso intravaginal de dinoprostona, misoprostol e o uso intracervical do balão (sonda de Foley ou sonda de Atad)47 (A). Estudos de relevância estatística apontam diversos agentes para amadurecimento cervical e indução do parto, com destaque à ocitocina e às prostaglandinas. Como técnica, preconiza-se o uso da ocitocina em doses baixas, por via endovenosa contínua; as doses terapêuticas iniciais são de 0,5 a 5,0 mU/min. Na prática, adicionamos uma ampola (5U) em 500 mL de soro glicosado a 5%, iniciando com 8 gotas por minuto. Após cerca de 20 a 30 minutos, na ausência de Métodos de indução do trabalho de parto padrão de contratilidade uterina eficiente, dobramos o número de gotas, progressivamente. Não devemos ultrapassar 40 gotas por minuto, pois se o efeito desejado não foi obtido com essa dosagem é improvável que doses maiores tenham êxito. A nossa preferência é pelo uso de bomba de infusão, não ultrapassando 120 mL/hora e períodos maiores que 8 a 16 horas de indução. Com relação ao misoprostol, as doses recomendadas variam com a via de administração, onde advoga-se, no uso vaginal ou intracervical, a dose de 25 mcg 6/6 horas por 24 horas, sendo nas vias retal de 25 mcg 6/6 horas, oral de 50 mcg 4/4 horas e sublingual de 12,5 mcg 6/6 horas até 48 horas (8 doses)18,20,22-24 (A,). A conclusão da biblioteca Cochrane sobre o uso clínico de hialuronidase na maturação cervical é divergente dos estudos experimentais, demonstrando mudanças nas propriedades biomecânicas da cérvice uterina, caracterizadas por colagenólise difusa, diminuição na concentração de colágeno, aumento de eosinófilos, diminuição na expressão de glicosaminoglicanos e proteoglicanos na matriz extracelular, independente de contratilidade miometrial48,49 (B). Leituras suplementares 1. ACOG – American College of Obstetricians and Gynecologists. Response to Searle,s drug worning on misoprostol. ACOG committee opinion n° 248. Washington, D: American College of Obstetricians and Gynecologists; 2000. 2. Schlembach D, Mackay L, Shi L, Maner WL, Garfield RE, Maul H. Cervical ripening and insufficiency: from biochemical and molecular studies to in vivo clinical examination. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2009;144(1):S70-6. 3. Straach KJ, Shelton JM, Richardson JA, Hascall VC, Mahendroo MS. Regulation of hyaluronan expression during cervical ripening. Glycobiology. 2005;15(1):55-65. 4. Kobayashi H, Terao T. Hyaluronic acid-specific regulation of cytokines by human uterine fibroblasts. Am J Physiol. 1997;273(4 Pt 1):C1151-9. 5. Cunningham FG, Leveno KJ, Bloom SL, Hauth JC, Gistrstrap III LC, Wenstrom KD. Williams Obstetrics. Induction of Labor. Chapter 22, p: 500-510. In: Williams Obstetrics. 23rd edition. McGraw-Hill. New York; 2010. 6. Keepanasseril A, Suri V, Bagga, Aggarwal N. A new objective scoring system for the prediction of successful induction of labour. J Obstet Gynaecol. 2012;32(2):145-7. 7. Gómez-Laencina AM, García CP, Asensio LV, Ponce JA, Martínez MS; MartínezVizcaíno V. Sonographic cervical length as a predictor of type of delivery after induced labor. Arch Gynecol Obstet. Arch Gynecol Obstet. 2012;285(6):1523-8. 8. Moore J, Low LK. Factors that influence the practice of elective induction of labor: what does the evidence tell us? J Perinat Neonatal Nurs. 2012;26(3):242-50. 9. Kelly AJ, Kavanagh J, Thomas J. Castor oil, bath and/or enema for cervical priming and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012;(2):CD003099. 10. Smith CA, Crowther CA. Acupuncture for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012;(1):CD002962. 11. Kavanagh J, Kelly AJ, Thomas J. Sexual intercourse for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(2):CD003093. 12. Kavanagh J, Kelly AJ, Thomas J. Breast stimulation for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD003392. 13. Day L, Fleener D, Andrews J. Membrane sweeping with labor induction - a randomized control trial. Am J Obstet Gynecol. 2009;201(6):S47. 14. Howarth G, Botha DJ. Amniotomy plus intravenous oxytocin for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(3):CD003250. 15. Bricker L, Luckas M. Amniotomy alone for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012;(4):CD002862. 16. Fitzpatrick CB, Grotegut CA, Bishop TS, Canzoneri BJ, Heine RP, Swamy GK. Cervical ripening with foley balloon plus fixed versus incremental low-dose oxytocin: a randomized controlled trial. J Matern Fetal Neonatal Med. 2012;25(7):1006-10. 17. Cromi A, Ghezzi F, Uccella S, Agosti M, Serati M, Marchitelli G, Bolis P. A randomized trial of preinduction cervical ripening: dinoprostone vaginal insert versus double-balloon catheter. Am J Obstet Gynecol. 2012;207(2):125.e1-7. 18. Alfirevic Z, Kelly AJ, Dowswell T. Intravenous oxytocin alone for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library.2012;(3):CD003246. 19. Akay NÖ, Hizli D, Yilmaz SS, Yalvaç S, Kandemir O. Comparison of low-dose oxytocin and dinoprostone for labor induction in postterm pregnancies: a randomized controlled prospective study. Gynecol Obstet Invest. 2012;73(3):242-7. 20. Hofmeyr GJ, Gülmezoglu AM, Pileggi C. Vaginal misoprostol for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012; (1):CD000941. 21. French L. Oral prostaglandin E2 for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(2):CD003098. 22. Muzonzini G, Hofmeyr GJ. Buccal or sublingual misoprostol for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD004221. 23. Gattás DS; Souza AS; Souza CG; Florentino AV; Nóbrega BV; Fook VP; Amorim MM. Low dose of sublingual misoprostol (12.5 µg) for labor induction. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012;34(4):164-9. 24. Muzonzini G, Hofmeyr GJ. Buccal or sublingual misoprostol for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012;(4):CD004221. 25. Luckas M, Bricker L. Intravenous prostaglandin for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD002864. 26. Kelly AJ, Malik S, Smith L, Kavanagh J, Thomas J. Vaginal prostaglandin (PGE2 and PGF2a) for induction of labour at term. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2012;(2):CD003101. 27. Kavanagh J, Kelly AJ, Thomas J. Hyaluronidase for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(2):CD003097. 28. Kelly AJ, Kavanagh J, Thomas J. Relaxin for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(2):CD003103. 29. Hapangama D, Neilson JP. Mifepristone for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD002865. 30. Thomas J, Kelly AJ, Kavanagh J. Oestrogens alone or with amniotomy for cervical ripening or induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD003393. 31. Kavanagh J, Kelly AJ, Thomas J. Corticosteroids for cervical ripening and induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(2):CD003100. 32. Agarwal K, Batra A, Batra A, Dabral A, Aggarwal A. Evaluation of isosorbide mononitrate for cervical ripening prior to induction of labor for postdated pregnancy in an outpatient setting. Int J Gynaecol Obstet. 2012;118(3):205-9. 33. Hatanaka AR, Moron AF, Auxiliadora de Aquino MM, de Souza E; de Silva Bussamra LC, Araujo E, Mattar R. Interruption of a study of cervical ripening with isosorbide mononitrate due to adverse effects. Clin Exp Obstet Gynecol. 2012;39(2):175-80. 34. Hapangama D, Neilson JP. Mifepristone for induction of labour. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library. 2012;(4):CD002865. 35. ACOG Committee on Practice Bulletins-Obstetrics. Obstet Gynecol. 2009; 114(2):386-97. 36. Mozurkewich E, Chilimigras J, Koepke E, Keeton K, King VJ. Indications for induction of labour: a best-evidence review. BJOG. 2009;116(5):626-36. FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 53 Souza GN, Sakita M, Lopes V, Ferreira DQ, Mohamed SHM, Souza E 37. Oros D; Bejarano MP; Cardiel MR; Oros-Espinosa D; Gonzalez de Agüero R; Fabre E. Low-risk pregnancy at 41 weeks: when should we induce labor? J Matern Fetal Neonatal Med. 2012;25(6):728-31. 38. Souza E, Souza GN, Garcia MT, Camano L. Indução do parto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar. UNIFESP/EPM. 2003;235-40. 39. Bricker L, Peden H, Tomlinson AJ, Al-Hussaini TK, Idama T, Candelier C, Luckas M, Furniss H, Davies A, Kumar B, Roberts J, Alfirevic Z. Titrated low-dose vaginal and/or oral misoprostol to induce labour for prelabour membrane rupture: a randomised trial. BJOG. 2008;115(12):1503-11. 40. Mazouni C, Vejux N, Menard JP, Bruno A, Boubli L, d’Ercole C, Bretelle F. Cervical preparation with laminaria tents improves induction-to-delivery interval in second- and third- trimester medical termination of pregnancy. Contraception. 2009;80(1):101-4. 41. Weeks AD, Fiala C, Safar P. Misoprostol and the debate over off-label drug use. BJOG. 2005;112:269. 42. Tanir HM, Sener T, Yildiz C, Kaya M, Kurt I. A prospective randomized trial of labor induction with vaginal controlled-release dinoprostone inserts with or without oxytocin and misoprostol+oxytocin. Clin Exp Obstet Gynecol. 2008;35(1):65-8. 54 FEMINA | Janeiro/Fevereiro 2013 | vol 41 | nº 1 43. Surita FG, Cecatti JG, Parpinelli MA, Krupa JL, Pinto e Silva JL. Hyaluronidase versus Foley catheter for cervical ripening in high-risk term and post term pregnancies. Int J Gynaecol Obstet. 2005;88(3):258-64. 44. Spallicci MDB, Chiea MA, Singer JM, Albuquerque PB, Bittar RE, Zugaib M. Use of hyaluronidase for cervical ripening: A randomized trial. Eur J Obst Gynecol. 2007;130:46-50. 45. Laughon SK, Zhang J, Grewal J, Sundaram R, Beaver J, Reddy UM. Induction of labor in a contemporary obstetric cohort. Am J Obstet Gynecol. 2012;206(6):486.e1-9. 46. Ludmir J, Sehdev HM. Anatomy and physiology of the uterine cerviz. Clin Obstet Gynecol. 2000;43:433-9. 47. Prager M, Eneroth-Grimfors E, Edlund M, Marions L. A randomised controlled trial of intravaginal dinoprostone, intravaginal misoprostol and transcervical balloon catheter for labour induction. BJOG. 2008;115(11):1443-50. 48. Byers BD, Bytautiene E, Costantine MM, Buhimschi CS, Buhimschi I, Saade GR, Goharkhay N. Hyaluronidase modifies the biomechanical properties of the rat cervix and shortens the duration of labor independent of myometrial contractility. Am J Obstet Gynecol. 2010;203:596.e1-5. 49. Souza, GN. Expressão dos glicosaminoglicanos e proteoglicanos na matriz extracelular da cérvice uterina da rata albina prenhe após injeção local de hialuronidase {Tese}. Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina; 2012. O contraceptivo oral com benefícios adicionais e garantia da qualidade Bayer. 1-6 noTa de esclarecImenTo Para ProfIssIonaIs da saÚde sobre dIane®35 (acetato de ciproterona e etinilestradiol, Bayer) A combinação de acetato de ciproterona 2 mg e etinilestradiol 35 mcg é comercializada no Brasil sob diversas marcas. Diane®35, é a marca mais conhecida e está no mercado mundial em mais de 116 países há 35 anos e, no Brasil, há 23 anos. Diane®35 por ser marca de referência tem sua eficácia e segurança comprovadas através de estudos clínicos e incluindo milhões de usuárias em todo o mundo. Esta categoria de medicamentos é indicada para o tratamento de Síndrome do Ovário Policístico, acne de graus moderado à grave, hirsutismo e alopécia androgênica. Por também possuir ação contraceptiva comprovada somente deverá ser utilizada por mulheres em idade reprodutiva e deverá ser utilizada por mulheres em idade reprodutiva que não tenham o desejo de engravidar no decorrer do tratamento.1 Recentemente, tem-se observado uma preocupação com relação à ocorrência de eventos tromboembólicos com o uso destes medicamentos contendo ciproterona e etinilestradiol. Essa preocupação levou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) no início de 2013 a reavaliar o perfil de segurança desta medicação, e a conclusão foi de que os benefícios de Diane®35 superam seus eventuais riscos2, uma vez que o risco de tromboembolismo venoso em usuárias de medicamentos hormonais orais é muito baixo. Informações geraIs sobre TromboembolIsmo Venoso e medIcamenTos hormonaIs Contracepção oral com benefícios adicionais 1-6 DRSP Baixa dose Regime 24/4 Rigoroso controle de fabricação* e liderança absoluta em controle de fertilidade (IMS Health) Destaca-se ainda que, por reduzir o índice de gestações não planejadas, os contraceptivos hormonais acabam por diminuir o risco global de tromboembolismo venoso na população, em comparação com populações que não têm acesso à contracepção efetiva7,8. • Esta ocorrência é mais frequente em mulheres durante a gravidez do que nas usuárias de contraceptivos.4,5 É importante mencionar que os eventos tromboembólicos são raros, porém, jamais devem ser menosprezados. Por isso a importância de uma avaliação médica criteriosa, antes da utilização destes medicamentos por pacientes. • Segundo estudos publicados na literatura médica4,6, temos os seguintes índices, calculados por 10.000 mulheres-ano: - 30 casos durante a gravidez - 9 casos em usuárias de pílulas - 5 casos em não usuárias de pílulas 24 + 4 *Fonte: entrevista cedida por Joyce Camargo, farmacêutica bioquímica responsável pela área de garantia da qualidade da Bayer. Interação medicamentosa: antibióticos e anticonvulsivantes. Contraindicação: Diabetes mellitus com alterações vasculares. YAZ® - DROSPIRENONA E ETINILESTRADIOL. REG. MS – 1.7056.0069. INDICAÇÕES: CONTRACEPTIVO ORAL, COM EFEITOS ANTIMINERALOCORTICOIDE E ANTIANDROGÊNICO QUE BENEFICIAM TAMBÉM AS MULHERES QUE APRESENTAM RETENÇÃO DE LÍQUIDO DE ORIGEM HORMONAL E SEUS SINTOMAS. CONTRAINDICAÇÕES: TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO, ENXAQUECA, DIABETES MEELLITUS, PANCREATITE, HIPERTRIGLICERIDEMIA, DOENÇA HEPÁTICA GRAVE, INSUFICIÊNCIA RENAL, TUMORES HEPÁTICOS, NEOPLASIAS DEPENDENTES DE ESTEROIDES SEXUAIS, SANGRAMENTO VAGINAL NÃO DIAGNOSTICADO, SUSPEITA OU DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ, HIPERSENSIBILIDADE A QUALQUER UM DOS COMPONENTES DO PRODUTO. CUIDADOS E ADVERTÊNCIAS: DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS, TUMORES, HIPERTRIGLICERIDEMIA, HIPERTENSÃO, COLECISTOPATIA, PORFIRIA, LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO, SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA, COREIA DE SYDENHAM, HERPES GESTACIONAL, PERDA DA AUDIÇÃO RELACIONADA COM OTOSCLEROSE, PATOLOGIA INTESTINAL INFLAMATÓRIA CRÔNICA, ANEMIA FALCIFORME, ENXAQUECAS, ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO, DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO HEPÁTICA, PODE OCORRER CLOASMA. POTENCIAL TEÓRICO PARA AUMENTO NO POTÁSSIO SÉRICO EM USUÁRIAS DE YAZ® QUE ESTEJAM TOMANDO OUTROS MEDICAMENTOS QUE PODEM AUMENTAR OS NÍVEIS SÉRICOS DE POTÁSSIO. A EFICÁCIA DOS COCS PODE SER REDUZIDA NOS CASOS DE ESQUECIMENTO DE TOMADA DOS COMPRIMIDOS, DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS OU INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA. PODEM SURGIR SANGRAMENTOS IRREGULARES, ESPECIALMENTE DURANTE OS PRIMEIROS MESES DE USO. É POSSÍVEL QUE EM ALGUMAS USUÁRIAS NÃO SE PRODUZA O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO DURANTE O INTERVALO DE PAUSA. CASO A PACIENTE ENGRAVIDE DURANTE O USO DE YAZ®, DEVE-SE DESCONTINUAR O SEU USO. NÃO FORAM VERIFICADOS EFEITOS TERATOGÊNICOS DECORRENTES DA INGESTÃO ACIDENTAL DE COCS NO INÍCIO DA GESTAÇÃO. O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER UTILIZADO DURANTE A GRAVIDEZ E A AMAMENTAÇÃO. REAÇÕES ADVERSAS: NÁUSEAS, DOR ABDOMINAL, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DO PESO CORPÓREO, CEFALEIA, ESTADOS DEPRESSIVOS, ALTERAÇÕES DE HUMOR, VÔMITO, DIARREIA, RETENÇÃO DE LÍQUIDO, ENXAQUECA, DIMINUIÇÃO OU AUMENTO DA LIBIDO, INTOLERÂNCIA A LENTES DE CONTATO, HIPERSENSIBILIDADE. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: FENITOÍNAS, BARBITÚRICOS, PRIMIDONA, CARBAMAZEPINA, RIFAMPICINA, OXCARBAZEPINA, TOPIRAMATO, FELBAMATO, GRISEOFULVINA, ERVA-DE-SÃO-JOÃO, RITONAVIR, NEVIRAPINA, PENICILINAS, TETRACICLINAS. CICLOSPORINA, LAMOTRIGINA. POSOLOGIA: OS COMPRIMIDOS DEVEM SER INGERIDOS NA ORDEM INDICADA NA CARTELA, POR 24 DIAS CONSECUTIVOS. CADA NOVA CARTELA É INICIADA APÓS UM INTERVALO DE PAUSA DE 4 DIAS, DURANTE O QUAL DEVE OCORRER SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO HORMONAL. INÍCIO DO USO DE YAZ®: NO CASO DA PACIENTE NÃO TER UTILIZADO CONTRACEPTIVO HORMONAL NO MÊS ANTERIOR, A INGESTÃO DEVE SER INICIADA NO 1º DIA DO CICLO (1º DIA DE SANGRAMENTO MENSTRUAL). PARA PROCEDIMENTOS SOBRE MUDANÇA DE CONTRACEPTIVO, CASO DE ESQUECIMENTO DE COMPRIMIDOS OU OCORRÊNCIA DE VÔMITOS E/OU DIARREIA, CONSULTAR A BULA DO PRODUTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. REFERÊNCIAS: 1. Bachmann G, Sulak PJ, Sampson-Landers C, et al. Effi cacy and safety of a low dose 24-day combined oral contraceptive containing 20 micrograms ethinylestradiol and 3 mg drospirenone. Contraception 2004;70:191-8. 2. Yonkers KA, Brown C, Pearlstein TB, et al. Effi cacy of a new low-dose oral contraceptive with drospirenone in premenstrual dysphoric disorder. Obstet Gynecol 2005; 106(3):492 -501. 3. Pearlstein TB, Bachmann GA, Zacur HA, et al. Treatment of premenstrual dysphoric disorder with a new drospirenone containing oral contraceptive formulation. Contraception 2005;72:414 -21. 4. Lucky A.W, Koltun W, Thiboutot D, et al. Combined Oral Contraceptive Containing 3 mg Drospirenone/20 mcg EE in the Treatment of Acne Vulgaris: A Randomized, Double-blind, Placebo-Controlled Study Evaluating Lesion Counts and Participant Self-assessment. Cutis 2008;82:143-50. 5. Cianci A, De Leo V. Individualization of low-dose oral contraceptives. Pharmacological principles and practical indications for oral contraceptives. Minerva Ginecol 2007;59(4):415-25. 6. Caruso S, Agnello C, Intelisano G, et al. Prospective study on sexual behavior of women using 30 mcg ethinylestradiol and 3 mg drospirenone oral contraceptive. Contraception 2005;72:19-23. Material destinado a profissionais de saúde. L.BR.WH.2012-09-25.0927 Todos os medicamentos, em especial os compostos de hormônios, requerem prescrição criteriosa, seguindo os Critérios de Elegibilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS)3. Para colocar em perspectiva os números sobre a incidência de tromboembolismo venoso temos: A trombose venosa profunda resulta de múltiplas causas, e frequentemente requer a combinação de diversos fatores de risco para se manifestar. Exemplos de tais fatores são: idade avançada, história familiar de eventos tromboembólicos, imobilizações prolongadas, tabagismo, obesidade, entre outros.9 a comercIalIzação de dIane®35 manTém-se normalmenTe no brasIl. A Bayer, como empresa de pesquisa e inovação, reafirma seu compromisso com a qualidade e a segurança de Diane®35, reavaliando continuamente o perfil de segurança deste medicamento. Reiteramos assim nosso compromisso quanto à transparência na investigação minuciosa de relatos de efeitos colaterais possivelmente relacionados a este medicamento. Colocamo-nos à disposição para quaisquer informações relacionadas a nossos produtos via telefone gratuito do Serviço de Atendimento ao Consumidor Bayer 0800 7021241 ou pelo e-mail [email protected]. Atenciosamente, Bayer Healthcare DIANE® 35. AcetAto de ciproteronA e etinilestrAdiol. reg. Ms – 1.0020.0111. INDIcAçõEs: pArA o trAtAMento de distúrbios Andrógeno-dependentes nA Mulher: Acne (pApulopustulosA, nodulocísticA) e seborreiA, AlopeciA AndrogênicA, cAsos leves de hirsutisMo, síndroMe de ovários policísticos (sop). coNtrAINDIcAçõEs: presençA ou históriA de processos troMboeMbólicos ArteriAis ou venosos; históriA de enxAquecA coM sintoMAs neurológicos focAis; diAbetes Mellitus coM AlterAções vAsculAres; A presençA de fAtor de risco grAve pArA A troMbose ArteriAl ou venosA; presençA ou históriA de pAncreAtite AssociAdA à hipertriglicerideMiA grAve; presençA ou históriA de doençA hepáticA grAve, enquAnto os vAlores dA função hepáticA não retornAreM Ao norMAl; presençA ou históriA de tuMores hepáticos (benignos ou MAlignos); diAgnóstico ou suspeitA de neoplAsiAs dependentes de esteroides sexuAis; sAngrAMento vAginAl não diAgnosticAdo; suspeitA ou diAgnóstico de grAvidez; lActAção; hipersensibilidAde às substânciAs AtivAs ou A quAlquer uM dos coMponentes do produto. PrEcAuçõEs E ADvErtêNcIAs: os benefícios dA utilizAção de diAne® 35 deveM ser AvAliAdos pArA cAdA pAciente individuAlMente e discutidos coM A MesMA Antes de optAr pelo início ou continuAção de suA utilizAção, nos cAsos de: dor e/ou inchAço unilAterAl eM MeMbro inferior; dor torácicA AgudA e intensA, coM ou seM irrAdiAção pArA o brAço esquerdo; dispneiA AgudA; tosse de início Abrupto; cefAleiA não hAbituAl, intensA e prolongAdA; perdA repentinA dA visão, pArciAl ou totAl; diplopiA; distorções nA fAlA ou AfAsiA; vertigeM; colApso, coM ou seM convulsão focAl; frAquezA; distúrbios Motores; AbdoMe Agudo; dislipoproteineMiA; hipertensão; enxAquecA; vAlvopAtiA; fibrilAção AtriAl; iMobilizAção prolongAdA, cirurgiA de grAnde porte, quAlquer intervenção cirúrgicA eM MeMbros inferiores ou trAuMA extenso; hipertriglicerideMiA; icteríciA e/ou prurido; forMAção de cálculos biliAres; porfiriA; lúpus eriteMAtoso sistêMico; síndroMe heMolítico-urêMicA; coreiA de sydenhAM; herpes gestAcionAl; perdA dA Audição por otosclerose; AngioedeMA hereditário; doençA de crohn e colite ulcerAtivA. podeM surgir sAngrAMentos irregulAres (gotejAMento ou sAngrAMento de escApe), especiAlMente durAnte os priMeiros Meses de uso. forAM observAdos, eM cAsos rAros, tuMores hepáticos benignos e, MAis rArAMente, MAlignos eM usuáriAs de cocs. diAne® 35 não protege contrA doençAs sexuAlMente trAnsMissíveis. rEAçõEs ADvErsAs: náuseAs, dor AbdoMinAl, AuMento de peso corporAl, cefAleiA, estAdos depressivos, AlterAções de huMor, dor e hipersensibilidAde dolorosA nAs MAMAs, vôMitos, diArreiA, retenção de líquido, enxAquecA, diMinuição dA libido, hipertrofiA MAMáriA, erupção cutâneA, urticáriA, intolerânciA A lentes de contAto, hipersensibilidAde, diMinuição de peso corporAl, AuMento dA libido, secreção vAginAl, secreção dAs MAMAs, eriteMA nodoso, eriteMA MultiforMe. INtErAçõEs mEDIcAmENtosAs: podeM ocorrer interAções coM fárMAcos: que induzeM As enziMAs MicrossoMAis hepáticAs (fenitoínA, bArbitúricos, priMidonA, cArbAMAzepinA, rifAMpicinA e tAMbéM possivelMente coM oxcArbAzepinA, topirAMAto, felbAMAto, griseofulvinA e produtos contendo ervA-de-são-joão); ritonAvir; nevirApinA; trAtAMento de infecção por hiv; certos Antibióticos (penicilinAs e tetrAciclinAs). diAne® 35 pode AfetAr o MetAbolisMo de Alguns outros fárMAcos coMo ciclosporinA e iAMotriginA. PosologIA: o regiMe posológico de diAne® 35 é siMilAr Ao dA MAioriA dos contrAceptivos orAis coMbinAdos. As drágeAs deveM ser ingeridAs nA ordeM indicAdA nA cArtelA, por 21 diAs consecutivos. cAdA novA cArtelA é iniciAdA Após uM intervAlo de pAusA de 7 diAs seM A ingestão de drágeAs, durAnte o quAl deve ocorrer sAngrAMento por privAção horMonAl. este sAngrAMento pode não hAver cessAdo Antes do início de uMA novA cArtelA. são necessários 7 diAs de ingestão contínuA dAs drágeAs pArA conseguir supressão AdequAdA do eixo hipotálAMo-hipófise-ovário. A durAção do trAtAMento depende dA grAvidAde dos sintoMAs de AndrogenizAção e dA respostA Ao trAtAMento. frequenteMente, o trAtAMento deve ser reAlizAdo por vários Meses. vENDA soB PrEscrIçÃo mÉDIcA. coNtrAINDIcAçÃo: sAngrAMento vAginAl não diAgnosticAdo. INtErAçõEs mEDIcAmENtosAs: fárMAcos que induzAM As enziMAs MicrossoMAis hepáticAs. rEfErêNcIAs BIBlIográfIcAs: 1. bulA diAne®35 (AcetAto de ciproteronA e etinilestrAdiol, bAyer). 2. europeAn Medicines Agency. press releAse: benefits of diAne®35 And its generics outweigh risks in certAin pAtient groups - prAc recoMMendAtion endorsed by cMdh. disponível eM: http://www.eMA.europA.eu/eMA/index.jsp?curl=pAges/ news_And_events/news/2013/05/news_detAil_001801.jsp&Mid=wc0b01Ac058004d5c1. AcessAdo eM 10.jun.2013. 3. world heAlth orgAnizAtion. MedicAl eligibility criteriA for contrAceptive use – 4th ed. disponível eM: http://whqlibdoc.who.int/publicAtions/2010/9789241563888_eng.pdf. AcessAdo eM 19.jun.2013. 4. dinger jc. the sAfety of A drospirenone contAining orAl contrAceptive: finAl results froM the europeAn Active surveillAnce study on orAl contrAceptives bAsed on 142,475 woMen-yeArs of observAtion. contrAception. 2007;75(5):344–54. 5. europeAn Medicines Agency. coMbined orAl contrAceptives And venous throMboeMbolisM. the europeAn Agency for the evAluAtion of MedicinAl products coMMittee for proprietAry MedicinAl products (cpMp); public AssessMent report. london, 28 septeMber 2001 [online]. disponível eM: http://www.eMA.europA.eu/docs/en_gb/docuMent_ librAry/report/2009/12/wc500017870.pdf. AcessAdo eM 19.jun.2013.6. heineMAnn lA, dinger jc. rAnge of published estiMAtes of venous throMboeMbolisM incidence in young woMen. contrAception. 2007 MAy;75(5):328-36. epub 2007 feb 20. 7. the society of obstetriciAns And gynAecologists of cAnAdA. position stAteMent: horMonAl contrAception And risk of venous throMboeMbolisM (vte). disponível eM: http://sogc.org/MediA_updAtes/position-stAteMent-horMonAl-contrAception-And-risk-of-venous-throMboeMbolisM-vte/. AcessAdo eM 20.06.2013. 8. ory hw. MortAlity AssociAted with fertility And fertility control: 1983. fAMily plAnning perspectives 1983; 15:57-63. 9. cAnnegieter sc et Al. pregnAncy And trAvel relAted throMboeMbolisM. throMbosis reseArch. 2013;1(131):s55-s58. L.BR.06.2013.0797 0800 7021241 MATERIAL DESTINADO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. 0800 7021241 FEMINA É comum mulheres que utilizam COCs terem sintomas associados ao intervalo livre de hormônios1 CO N COM 2012 1º VOL. 41 - JANEIRO/FEVEREIRO DE ESTRADIOL Janeiro/Fevereiro 2013 | Vol 41 | nº 1 Qlaira® é uma boa opção para mulheres com sintomas associados ao intervalo livre de hormônios no regime 21/72 Escreva uma revisão sistematizada ou uma metanálise para a Femina sobre tema de seu interesse. QLAIRA®. DIENOGESTE E VALERATO DE ESTRADIOL. REG. MS – 1.7056.0049. INDICAÇÕES: CONTRACEPTIVO ORAL. CONTRAINDICAÇÕES: CONTRACEPTIVOS COMBINADOS ORAIS (CCOS) NÃO DEVEM SER UTILIZADOS NA PRESENÇA DAS CONDIÇÕES LISTADAS (DEVENDO-SE AVALIAR AS PARTICULARIDADES DE CADA SITUAÇÃO): TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO, ENXAQUECA, DIABETES MELLITUS, PANCREATITE, HIPERTRIGLICERIDEMIA, DOENÇA HEPÁTICA GRAVE, TUMORES HEPÁTICOS, NEOPLASIAS DEPENDENTES DE ESTEROIDES SEXUAIS, SANGRAMENTO VAGINAL NÃO DIAGNOSTICADO, SUSPEITA OU DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ, HIPERSENSIBILIDADE A QUALQUER UM DOS COMPONENTES DO PRODUTO. ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES: NÃO EXISTEM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE OS EFEITOS DE CCOS CONTENDO ESTRADIOL/VALERATO DE ESTRADIOL. TODAS AS PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS A SEGUIR SÃO PROVENIENTES DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DE CCOS CONTENDO ETINILESTRADIOL. NÃO SE SABE SE ESTAS PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS SE APLICAM A QLAIRA®. AVALIAR OS BENEFÍCIOS E RISCOS. CONSULTAS/EXAMES MÉDICOS REGULARES SÃO RECOMENDADOS. DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS, TUMORES, HIPERTRIGLICERIDEMIA, HIPERTENSÃO, COLECISTOPATIA, PORFIRIA, LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO, SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA, COREIA DE SYDENHAM, HERPES GESTACIONAL, PERDA DA AUDIÇÃO RELACIONADA COM OTOSCLEROSE, PATOLOGIA INTESTINAL INFLAMATÓRIA CRÔNICA, ANEMIA FALCIFORME, ENXAQUECAS, ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO, DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO HEPÁTICA, PODE OCORRER CLOASMA. QUANDO CCOS SÃO UTILIZADOS CORRETAMENTE O ÍNDICE DE FALHA É DE APROXIMADAMENTE DE 1% AO ANO. A EFICÁCIA DOS CCOS PODE SER REDUZIDA NOS CASOS DE ESQUECIMENTO DE TOMADA DOS COMPRIMIDOS, DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS OU INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA. PODEM SURGIR SANGRAMENTOS IRREGULARES, ESPECIALMENTE DURANTE OS PRIMEIROS MESES DE USO. É POSSÍVEL QUE EM ALGUMAS PACIENTES NÃO OCORRA O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO DURANTE A INGESTÃO DOS COMPRIMIDOS BRANCOS (INATIVOS). CASO A PACIENTE ENGRAVIDE DURANTE O USO DE QLAIRA®, DEVE-SE DESCONTINUAR O SEU USO. ENTRETANTO, ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS ABRANGENTES COM CCOS CONTENDO ETINILESTRADIOL NÃO REVELARAM RISCO AUMENTADO DE MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS EM CRIANÇAS NASCIDAS DE MULHERES QUE TENHAM UTILIZADO CCOS ANTES DA GESTAÇÃO. TAMBÉM NÃO FORAM VERIFICADOS EFEITOS TERATOGÊNICOS DECORRENTES DA INGESTÃO ACIDENTAL DE CCOS NO INÍCIO DA GESTAÇÃO. O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER UTILIZADO DURANTE A GRAVIDEZ. OS CCOS PODEM AFETAR A AMAMENTAÇÃO. REAÇÕES ADVERSAS: CEFALEIA, DOR ABDOMINAL, ACNE, AMENORREIA, DESCONFORTO MAMÁRIO, DISMENORREIA, SANGRAMENTO INTERMENSTRUAL, SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DO PESO CORPÓREO, INFECÇÃO VAGINAL ESPECIALMENTE POR FUNGO, AUMENTO DO APETITE, DEPRESSÃO, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DA LIBIDO, DISTÚRBIO MENTAL, ALTERAÇÃO DE HUMOR, TONTURA, HIPERTENSÃO, ENXAQUECA, DIARREIA, NÁUSEAS, VÔMITOS, ALOPECIA, PRURIDO, ERUPÇÃO CUTÂNEA, AUMENTO DO TAMANHO DAS MAMAS, NÓDULO MAMÁRIO, DISPLASIA CERVICAL, DISPAREUNIA, DOENÇA FIBROCÍSTICA DAS MAMAS, CISTO OVARIANO, DOR PÉLVICA, SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL, MIOMA UTERINO, ALTERAÇÃO DA SECREÇÃO VAGINAL, IRRITABILIDADE, EDEMA, HERPES SIMPLES, SÍNDROME DE HISTOPLASMOSE OCULAR PRESUMIDA, TINEA VERSICOLOR, INFECÇÃO URINÁRIA, HIPERTRIGLICERIDEMIA, ANSIEDADE, DISFORIA, NERVOSISMO, AGITAÇÃO, DISTÚRBIO DO SONO, ESTRESSE, DISTÚRBIOS DA ATENÇÃO, PARESTESIA, VERTIGEM, INTOLERÂNCIA A LENTES DE CONTATO, SANGRAMENTO DE VEIAS VARICOSAS, HIPOTENSÃO, DOR NOS VASOS, OBSTIPAÇÃO, DISPEPSIA, REFLUXO GATROESOFÁGICO, AUMENTO DA ALANINA AMINOTRANSFERASE, HIPERPLASIA NODULAR FOCAL DO FÍGADO, DERMATITE, CLOASMA, HIRSUTISMO, HIPERTRICOSE, NEURODERMATITE, SEBORREIA, DOR NAS COSTAS, ESPASMOS MUSCULARES, SINUSORRAGIA, HIPOMENORREIA, ATRASO MENSTRUAL, RUPTURA DE CISTO OVARIANO, LINFADENOPATIA, DOR NO PEITO, FADIGA, MAL-ESTAR. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: FENITOÍNAS, BARBITÚRICOS, PRIMIDONA, CARBAMAZEPINA, RIFAMPICINA, OXCARBAZEPINA, TOPIRAMATO, FELBAMATO, GRISEOFULVINA, ERVA-DE-SÃO-JOÃO, RITONAVIR, NEVIRAPINA, PENICILINAS, TETRACICLINAS, CIMETIDINA, VERAPAMIL, MACROLÍDEOS, DILTIAZEM, ANTIDEPRESSIVOS, SUCO DE GRAPEFRUIT, CETOCONAZOL, ERITROMICINA. POSOLOGIA: OS COMPRIMIDOS DEVEM SER INGERIDOS NA ORDEM INDICADA NA CARTELA, TODOS OS DIAS. A INGESTÃO DOS COMPRIMIDOS É CONTÍNUA. DEVE-SE INGERIR UM COMPRIMIDO POR DIA DURANTE 28 DIAS CONSECUTIVOS. CADA CARTELA SUBSEQUENTE É INICIADA NO DIA SEGUINTE À INGESTÃO DO ÚLTIMO COMPRIMIDO DA CARTELA ANTERIOR, SEM PAUSA ENTRE ELAS. EM GERAL, O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO INICIA-SE DURANTE A INGESTÃO DOS ÚLTIMOS COMPRIMIDOS DA CARTELA-CALENDÁRIO. PARA PROCEDIMENTOS SOBRE MUDANÇA DE CONTRACEPTIVO, CASO DE ESQUECIMENTO DE COMPRIMIDOS OU OCORRÊNCIA DE VÔMITOS E/OU DIARREIA, CONSULTAR A BULA DO PRODUTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. L.BR.WH.2013-02-08.1032 www.bayerpharma.com.br Consulte as normas editoriais. Em caso de dúvida, envie e-mail para: [email protected] ou [email protected] FEBRASGO CONTRAINDICAÇÃO: TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: ANTIBIÓTICOS E ANTICONVULSIVANTES. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. SULAK ET AL. HORMONE WITHDRAWAL SYMPTONS IN ORAL CONTRACEPTIVES USERS. OBSTET GYNECOL. 2000;95(2):261-6. 2. MABEY RG, PARKE S, MELLINGER U, SERRANI M, JENSEN J. HORMONE WITHDRAWAL-ASSOCIATED SYMPTOMS: COMPARISON OF E2V/DNG VERSUS EE/NGM. (POSTER PRESENTED AT THE ACOG 60TH ANNUAL CLINICAL MEETING 2012, SAN DIEGO). BOOK OF ABSTRACTS; MONDAY POSTERS SESSION, CONTRACEPTION/FAMILY PLANNING; P. 13. 3. PALACIOS S, ET AL. EFFICACY AND SAFETY OF A NOVEL ORAL CONTRACEPTIVE BASED ON OESTRADIOL (OESTRADIOL VALERATE/DIENOGEST): A PHASE III TRIAL. EUROPEAN JOURNAL OF OBSTETRICS & GYNECOLOGY AND REPRODUCTIVE BIOLOGY 2010; 149: 57-62. Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde. Revista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia PAG. 1-54 Reduz a severidade e frequência dos sintomas relacionados ao intervalo livre de hormônios tais como: cefaleia, dor pélvica, náusea, mastalgia e inchaço2 28 dias Maior aderência ao tratamento3 Tomada contínua sem pausa EPTIV AC O TR AL R O Qlaira® associa estradiol e dienogeste em regime 26/22 O contraceptivo oral com benefícios adicionais e garantia da qualidade Bayer. 1-6 noTa de esclarecImenTo Para ProfIssIonaIs da saÚde sobre dIane®35 (acetato de ciproterona e etinilestradiol, Bayer) A combinação de acetato de ciproterona 2 mg e etinilestradiol 35 mcg é comercializada no Brasil sob diversas marcas. Diane®35, é a marca mais conhecida e está no mercado mundial em mais de 116 países há 35 anos e, no Brasil, há 23 anos. Diane®35 por ser marca de referência tem sua eficácia e segurança comprovadas através de estudos clínicos e incluindo milhões de usuárias em todo o mundo. Esta categoria de medicamentos é indicada para o tratamento de Síndrome do Ovário Policístico, acne de graus moderado à grave, hirsutismo e alopécia androgênica. Por também possuir ação contraceptiva comprovada somente deverá ser utilizada por mulheres em idade reprodutiva e deverá ser utilizada por mulheres em idade reprodutiva que não tenham o desejo de engravidar no decorrer do tratamento.1 Recentemente, tem-se observado uma preocupação com relação à ocorrência de eventos tromboembólicos com o uso destes medicamentos contendo ciproterona e etinilestradiol. Essa preocupação levou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) no início de 2013 a reavaliar o perfil de segurança desta medicação, e a conclusão foi de que os benefícios de Diane®35 superam seus eventuais riscos2, uma vez que o risco de tromboembolismo venoso em usuárias de medicamentos hormonais orais é muito baixo. Informações geraIs sobre TromboembolIsmo Venoso e medIcamenTos hormonaIs Contracepção oral com benefícios adicionais 1-6 DRSP Baixa dose Regime 24/4 Rigoroso controle de fabricação* e liderança absoluta em controle de fertilidade (IMS Health) Destaca-se ainda que, por reduzir o índice de gestações não planejadas, os contraceptivos hormonais acabam por diminuir o risco global de tromboembolismo venoso na população, em comparação com populações que não têm acesso à contracepção efetiva7,8. • Esta ocorrência é mais frequente em mulheres durante a gravidez do que nas usuárias de contraceptivos.4,5 É importante mencionar que os eventos tromboembólicos são raros, porém, jamais devem ser menosprezados. Por isso a importância de uma avaliação médica criteriosa, antes da utilização destes medicamentos por pacientes. • Segundo estudos publicados na literatura médica4,6, temos os seguintes índices, calculados por 10.000 mulheres-ano: - 30 casos durante a gravidez - 9 casos em usuárias de pílulas - 5 casos em não usuárias de pílulas 24 + 4 *Fonte: entrevista cedida por Joyce Camargo, farmacêutica bioquímica responsável pela área de garantia da qualidade da Bayer. Interação medicamentosa: antibióticos e anticonvulsivantes. Contraindicação: Diabetes mellitus com alterações vasculares. YAZ® - DROSPIRENONA E ETINILESTRADIOL. REG. MS – 1.7056.0069. INDICAÇÕES: CONTRACEPTIVO ORAL, COM EFEITOS ANTIMINERALOCORTICOIDE E ANTIANDROGÊNICO QUE BENEFICIAM TAMBÉM AS MULHERES QUE APRESENTAM RETENÇÃO DE LÍQUIDO DE ORIGEM HORMONAL E SEUS SINTOMAS. CONTRAINDICAÇÕES: TROMBOEMBOLISMO ARTERIAL OU VENOSO, ENXAQUECA, DIABETES MEELLITUS, PANCREATITE, HIPERTRIGLICERIDEMIA, DOENÇA HEPÁTICA GRAVE, INSUFICIÊNCIA RENAL, TUMORES HEPÁTICOS, NEOPLASIAS DEPENDENTES DE ESTEROIDES SEXUAIS, SANGRAMENTO VAGINAL NÃO DIAGNOSTICADO, SUSPEITA OU DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ, HIPERSENSIBILIDADE A QUALQUER UM DOS COMPONENTES DO PRODUTO. CUIDADOS E ADVERTÊNCIAS: DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS, TUMORES, HIPERTRIGLICERIDEMIA, HIPERTENSÃO, COLECISTOPATIA, PORFIRIA, LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO, SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA, COREIA DE SYDENHAM, HERPES GESTACIONAL, PERDA DA AUDIÇÃO RELACIONADA COM OTOSCLEROSE, PATOLOGIA INTESTINAL INFLAMATÓRIA CRÔNICA, ANEMIA FALCIFORME, ENXAQUECAS, ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO, DISTÚRBIOS DA FUNÇÃO HEPÁTICA, PODE OCORRER CLOASMA. POTENCIAL TEÓRICO PARA AUMENTO NO POTÁSSIO SÉRICO EM USUÁRIAS DE YAZ® QUE ESTEJAM TOMANDO OUTROS MEDICAMENTOS QUE PODEM AUMENTAR OS NÍVEIS SÉRICOS DE POTÁSSIO. A EFICÁCIA DOS COCS PODE SER REDUZIDA NOS CASOS DE ESQUECIMENTO DE TOMADA DOS COMPRIMIDOS, DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS OU INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA. PODEM SURGIR SANGRAMENTOS IRREGULARES, ESPECIALMENTE DURANTE OS PRIMEIROS MESES DE USO. É POSSÍVEL QUE EM ALGUMAS USUÁRIAS NÃO SE PRODUZA O SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO DURANTE O INTERVALO DE PAUSA. CASO A PACIENTE ENGRAVIDE DURANTE O USO DE YAZ®, DEVE-SE DESCONTINUAR O SEU USO. NÃO FORAM VERIFICADOS EFEITOS TERATOGÊNICOS DECORRENTES DA INGESTÃO ACIDENTAL DE COCS NO INÍCIO DA GESTAÇÃO. O MEDICAMENTO NÃO DEVE SER UTILIZADO DURANTE A GRAVIDEZ E A AMAMENTAÇÃO. REAÇÕES ADVERSAS: NÁUSEAS, DOR ABDOMINAL, AUMENTO OU DIMINUIÇÃO DO PESO CORPÓREO, CEFALEIA, ESTADOS DEPRESSIVOS, ALTERAÇÕES DE HUMOR, VÔMITO, DIARREIA, RETENÇÃO DE LÍQUIDO, ENXAQUECA, DIMINUIÇÃO OU AUMENTO DA LIBIDO, INTOLERÂNCIA A LENTES DE CONTATO, HIPERSENSIBILIDADE. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: FENITOÍNAS, BARBITÚRICOS, PRIMIDONA, CARBAMAZEPINA, RIFAMPICINA, OXCARBAZEPINA, TOPIRAMATO, FELBAMATO, GRISEOFULVINA, ERVA-DE-SÃO-JOÃO, RITONAVIR, NEVIRAPINA, PENICILINAS, TETRACICLINAS. CICLOSPORINA, LAMOTRIGINA. POSOLOGIA: OS COMPRIMIDOS DEVEM SER INGERIDOS NA ORDEM INDICADA NA CARTELA, POR 24 DIAS CONSECUTIVOS. CADA NOVA CARTELA É INICIADA APÓS UM INTERVALO DE PAUSA DE 4 DIAS, DURANTE O QUAL DEVE OCORRER SANGRAMENTO POR PRIVAÇÃO HORMONAL. INÍCIO DO USO DE YAZ®: NO CASO DA PACIENTE NÃO TER UTILIZADO CONTRACEPTIVO HORMONAL NO MÊS ANTERIOR, A INGESTÃO DEVE SER INICIADA NO 1º DIA DO CICLO (1º DIA DE SANGRAMENTO MENSTRUAL). PARA PROCEDIMENTOS SOBRE MUDANÇA DE CONTRACEPTIVO, CASO DE ESQUECIMENTO DE COMPRIMIDOS OU OCORRÊNCIA DE VÔMITOS E/OU DIARREIA, CONSULTAR A BULA DO PRODUTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. REFERÊNCIAS: 1. Bachmann G, Sulak PJ, Sampson-Landers C, et al. Effi cacy and safety of a low dose 24-day combined oral contraceptive containing 20 micrograms ethinylestradiol and 3 mg drospirenone. Contraception 2004;70:191-8. 2. Yonkers KA, Brown C, Pearlstein TB, et al. Effi cacy of a new low-dose oral contraceptive with drospirenone in premenstrual dysphoric disorder. Obstet Gynecol 2005; 106(3):492 -501. 3. Pearlstein TB, Bachmann GA, Zacur HA, et al. Treatment of premenstrual dysphoric disorder with a new drospirenone containing oral contraceptive formulation. Contraception 2005;72:414 -21. 4. Lucky A.W, Koltun W, Thiboutot D, et al. Combined Oral Contraceptive Containing 3 mg Drospirenone/20 mcg EE in the Treatment of Acne Vulgaris: A Randomized, Double-blind, Placebo-Controlled Study Evaluating Lesion Counts and Participant Self-assessment. Cutis 2008;82:143-50. 5. Cianci A, De Leo V. Individualization of low-dose oral contraceptives. Pharmacological principles and practical indications for oral contraceptives. Minerva Ginecol 2007;59(4):415-25. 6. Caruso S, Agnello C, Intelisano G, et al. Prospective study on sexual behavior of women using 30 mcg ethinylestradiol and 3 mg drospirenone oral contraceptive. Contraception 2005;72:19-23. Material destinado a profissionais de saúde. L.BR.WH.2012-09-25.0927 Todos os medicamentos, em especial os compostos de hormônios, requerem prescrição criteriosa, seguindo os Critérios de Elegibilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS)3. Para colocar em perspectiva os números sobre a incidência de tromboembolismo venoso temos: A trombose venosa profunda resulta de múltiplas causas, e frequentemente requer a combinação de diversos fatores de risco para se manifestar. Exemplos de tais fatores são: idade avançada, história familiar de eventos tromboembólicos, imobilizações prolongadas, tabagismo, obesidade, entre outros.9 a comercIalIzação de dIane®35 manTém-se normalmenTe no brasIl. A Bayer, como empresa de pesquisa e inovação, reafirma seu compromisso com a qualidade e a segurança de Diane®35, reavaliando continuamente o perfil de segurança deste medicamento. Reiteramos assim nosso compromisso quanto à transparência na investigação minuciosa de relatos de efeitos colaterais possivelmente relacionados a este medicamento. Colocamo-nos à disposição para quaisquer informações relacionadas a nossos produtos via telefone gratuito do Serviço de Atendimento ao Consumidor Bayer 0800 7021241 ou pelo e-mail [email protected]. Atenciosamente, Bayer Healthcare DIANE® 35. AcetAto de ciproteronA e etinilestrAdiol. reg. Ms – 1.0020.0111. INDIcAçõEs: pArA o trAtAMento de distúrbios Andrógeno-dependentes nA Mulher: Acne (pApulopustulosA, nodulocísticA) e seborreiA, AlopeciA AndrogênicA, cAsos leves de hirsutisMo, síndroMe de ovários policísticos (sop). coNtrAINDIcAçõEs: presençA ou históriA de processos troMboeMbólicos ArteriAis ou venosos; históriA de enxAquecA coM sintoMAs neurológicos focAis; diAbetes Mellitus coM AlterAções vAsculAres; A presençA de fAtor de risco grAve pArA A troMbose ArteriAl ou venosA; presençA ou históriA de pAncreAtite AssociAdA à hipertriglicerideMiA grAve; presençA ou históriA de doençA hepáticA grAve, enquAnto os vAlores dA função hepáticA não retornAreM Ao norMAl; presençA ou históriA de tuMores hepáticos (benignos ou MAlignos); diAgnóstico ou suspeitA de neoplAsiAs dependentes de esteroides sexuAis; sAngrAMento vAginAl não diAgnosticAdo; suspeitA ou diAgnóstico de grAvidez; lActAção; hipersensibilidAde às substânciAs AtivAs ou A quAlquer uM dos coMponentes do produto. PrEcAuçõEs E ADvErtêNcIAs: os benefícios dA utilizAção de diAne® 35 deveM ser AvAliAdos pArA cAdA pAciente individuAlMente e discutidos coM A MesMA Antes de optAr pelo início ou continuAção de suA utilizAção, nos cAsos de: dor e/ou inchAço unilAterAl eM MeMbro inferior; dor torácicA AgudA e intensA, coM ou seM irrAdiAção pArA o brAço esquerdo; dispneiA AgudA; tosse de início Abrupto; cefAleiA não hAbituAl, intensA e prolongAdA; perdA repentinA dA visão, pArciAl ou totAl; diplopiA; distorções nA fAlA ou AfAsiA; vertigeM; colApso, coM ou seM convulsão focAl; frAquezA; distúrbios Motores; AbdoMe Agudo; dislipoproteineMiA; hipertensão; enxAquecA; vAlvopAtiA; fibrilAção AtriAl; iMobilizAção prolongAdA, cirurgiA de grAnde porte, quAlquer intervenção cirúrgicA eM MeMbros inferiores ou trAuMA extenso; hipertriglicerideMiA; icteríciA e/ou prurido; forMAção de cálculos biliAres; porfiriA; lúpus eriteMAtoso sistêMico; síndroMe heMolítico-urêMicA; coreiA de sydenhAM; herpes gestAcionAl; perdA dA Audição por otosclerose; AngioedeMA hereditário; doençA de crohn e colite ulcerAtivA. podeM surgir sAngrAMentos irregulAres (gotejAMento ou sAngrAMento de escApe), especiAlMente durAnte os priMeiros Meses de uso. forAM observAdos, eM cAsos rAros, tuMores hepáticos benignos e, MAis rArAMente, MAlignos eM usuáriAs de cocs. diAne® 35 não protege contrA doençAs sexuAlMente trAnsMissíveis. rEAçõEs ADvErsAs: náuseAs, dor AbdoMinAl, AuMento de peso corporAl, cefAleiA, estAdos depressivos, AlterAções de huMor, dor e hipersensibilidAde dolorosA nAs MAMAs, vôMitos, diArreiA, retenção de líquido, enxAquecA, diMinuição dA libido, hipertrofiA MAMáriA, erupção cutâneA, urticáriA, intolerânciA A lentes de contAto, hipersensibilidAde, diMinuição de peso corporAl, AuMento dA libido, secreção vAginAl, secreção dAs MAMAs, eriteMA nodoso, eriteMA MultiforMe. INtErAçõEs mEDIcAmENtosAs: podeM ocorrer interAções coM fárMAcos: que induzeM As enziMAs MicrossoMAis hepáticAs (fenitoínA, bArbitúricos, priMidonA, cArbAMAzepinA, rifAMpicinA e tAMbéM possivelMente coM oxcArbAzepinA, topirAMAto, felbAMAto, griseofulvinA e produtos contendo ervA-de-são-joão); ritonAvir; nevirApinA; trAtAMento de infecção por hiv; certos Antibióticos (penicilinAs e tetrAciclinAs). diAne® 35 pode AfetAr o MetAbolisMo de Alguns outros fárMAcos coMo ciclosporinA e iAMotriginA. PosologIA: o regiMe posológico de diAne® 35 é siMilAr Ao dA MAioriA dos contrAceptivos orAis coMbinAdos. As drágeAs deveM ser ingeridAs nA ordeM indicAdA nA cArtelA, por 21 diAs consecutivos. cAdA novA cArtelA é iniciAdA Após uM intervAlo de pAusA de 7 diAs seM A ingestão de drágeAs, durAnte o quAl deve ocorrer sAngrAMento por privAção horMonAl. este sAngrAMento pode não hAver cessAdo Antes do início de uMA novA cArtelA. são necessários 7 diAs de ingestão contínuA dAs drágeAs pArA conseguir supressão AdequAdA do eixo hipotálAMo-hipófise-ovário. A durAção do trAtAMento depende dA grAvidAde dos sintoMAs de AndrogenizAção e dA respostA Ao trAtAMento. frequenteMente, o trAtAMento deve ser reAlizAdo por vários Meses. vENDA soB PrEscrIçÃo mÉDIcA. coNtrAINDIcAçÃo: sAngrAMento vAginAl não diAgnosticAdo. INtErAçõEs mEDIcAmENtosAs: fárMAcos que induzAM As enziMAs MicrossoMAis hepáticAs. rEfErêNcIAs BIBlIográfIcAs: 1. bulA diAne®35 (AcetAto de ciproteronA e etinilestrAdiol, bAyer). 2. europeAn Medicines Agency. press releAse: benefits of diAne®35 And its generics outweigh risks in certAin pAtient groups - prAc recoMMendAtion endorsed by cMdh. disponível eM: http://www.eMA.europA.eu/eMA/index.jsp?curl=pAges/ news_And_events/news/2013/05/news_detAil_001801.jsp&Mid=wc0b01Ac058004d5c1. AcessAdo eM 10.jun.2013. 3. world heAlth orgAnizAtion. MedicAl eligibility criteriA for contrAceptive use – 4th ed. disponível eM: http://whqlibdoc.who.int/publicAtions/2010/9789241563888_eng.pdf. AcessAdo eM 19.jun.2013. 4. dinger jc. the sAfety of A drospirenone contAining orAl contrAceptive: finAl results froM the europeAn Active surveillAnce study on orAl contrAceptives bAsed on 142,475 woMen-yeArs of observAtion. contrAception. 2007;75(5):344–54. 5. europeAn Medicines Agency. coMbined orAl contrAceptives And venous throMboeMbolisM. the europeAn Agency for the evAluAtion of MedicinAl products coMMittee for proprietAry MedicinAl products (cpMp); public AssessMent report. london, 28 septeMber 2001 [online]. disponível eM: http://www.eMA.europA.eu/docs/en_gb/docuMent_ librAry/report/2009/12/wc500017870.pdf. AcessAdo eM 19.jun.2013.6. heineMAnn lA, dinger jc. rAnge of published estiMAtes of venous throMboeMbolisM incidence in young woMen. contrAception. 2007 MAy;75(5):328-36. epub 2007 feb 20. 7. the society of obstetriciAns And gynAecologists of cAnAdA. position stAteMent: horMonAl contrAception And risk of venous throMboeMbolisM (vte). disponível eM: http://sogc.org/MediA_updAtes/position-stAteMent-horMonAl-contrAception-And-risk-of-venous-throMboeMbolisM-vte/. AcessAdo eM 20.06.2013. 8. ory hw. MortAlity AssociAted with fertility And fertility control: 1983. fAMily plAnning perspectives 1983; 15:57-63. 9. cAnnegieter sc et Al. pregnAncy And trAvel relAted throMboeMbolisM. throMbosis reseArch. 2013;1(131):s55-s58. L.BR.06.2013.0797 0800 7021241 MATERIAL DESTINADO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. 0800 7021241 Agenda 2013 AGOSTO de 1º a 3 de agosto de 2013 VI Congresso Catarinense de Ginecologia Local: Centro de Eventos da Associação Catarinense de Medicina – Florianópolis (SC) Realização: SOGISC Informações: (48) 3322-1021 – Oceano Eventos www.catarinensegineco2013.com.br www.sogisc.org.br de 8 a 10 de agosto de 2013 XXVIII Congresso de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul Local: Centro de Convenções e Exposições Albano Franco Av. Mato Grosso, 5017 - Carandá Bosque Campo Grande (MS) Realização: SOGOMAT-SUL Informações: (67) 3321-8209/ 3042-2131 de 29 a 30 de agosto de 2013 26ª Jornada de Ginecologia e Obstetrícia do RN e 23ª Jornada da Maternidade Escola Januário Cicco Local: Hotel Pestana – Natal (RN) Realização: SOGORN Informações: (84) 3222-7415 [email protected] SETEMBRO de 5 a 7 de setembro de 2013 XVIII Congresso de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo Local: Transamérica Expo Center – São Paulo (SP) Realização: SOGESP [email protected] www.sogesp.org.br OUTUBRO de 3 a 5 de outubro de 2013 XXXII Congresso Paraibano de Ginecologia e Obstetrícia I Simpósio da Federação Brasileira das Ligas de Ginecologia e Obstetrícia Local: Centro de Convenções de João Pessoa (PB) Informações: [email protected]