CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1809-9475 CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ANO IV - Nº 10 - agosto/2009 FOA EXPEDIENTE FOA Presidente Dauro Peixoto Aragão UniFOA Reitor Alexandre Fernandes Habibe Vice-Presidente Jairo Conde Jogaib Pró-reitora Acadêmica Cláudia Yamada Utagawa Diretor Administrativo - Finaceiro José Vinciprova Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Maria Auxiliadora Motta Barreto Diretor de Relações Institucionais Iram Natividade Pinto Superintendente Executivo Eduardo Guimarães Prado Superintendência Geral José Ivo de Souza Cadernos UniFOA Editora Executiva Flávia Lages de Castro Editora Científica Maria Auxiliadora Motta Barreto Comitê Editorial Conselho Editorial ad hoc Agamêmnom Rocha Souza Mauro César Tavares de Souza Ranieri Carli de Oliveira Rosana Aparecida Ravaglia Soares Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP Conselho Editorial Antônio Henriques de Araújo Junior Carlos Roberto Xavier Clifford Neves Pinto Edson Teixeira da Silva Junior Flávio Edmundo N. Hegenberg Ilda Cecília Moreira da Silva Renato Porrozi de Almeida Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues Revisão de textos Maricinéia Pereira Meireles da Silva Marcel Alvaro de Amorim Claudinei dos Santos Ribeiro Diamar Costa Pinto Doutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz Fabio Aguiar Alves Doutor em Biologia Celular e Molecular - Universidade Federal Fluminense Igor José de Renó Machado Doutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas - Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR Maria José Panichi Vieira Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Ruthberg dos Santos Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo Douglas Mansur da Silva Doutor em Antropologia Social – Univercidade Federal de Viçosa Capa Editoração Daniel Ventura Laert dos Santos Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325 Três Poços, Volta Redonda /RJ CEP 27240-560 Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404 www.unifoa.edu.br Versão On-line da Revista Cadernos UniFOA http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/index.html FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária Alice Tacão Wagner - CRB 7 - 4316 UniFOA. Cadernos UniFOA. Ano IV nº 10, agosto. Volta Redonda: FOA, 2009. Periodicidade Quadrimestral ISSN 1809-9475 1. Publicação Periódica. 2. Ciências Exatas - Periódicos. 3. Ciências Sociais aplicadas - Periódicos. 4,. Ciências da Saúde - Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda. III. Título CDD 050 SUMÁRIO EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09 CIÊNCIAS EXATAS Laboratório Virtual de um Sistema Elétrico de Alta Potência Jason Paulo Tavares Faria Junior ...............................................................................................................................................................11 Projeto e Construção do Aparato Jominy: Uma Contribuição para a Pesquisa no UniFOA Professor Doutor Carlos Roberto Xavier, Tarcisio dos Santos Gonçalves, João Antonio de Araújo Sousa, Luiz Carlos de Andrade Vieira e Célio de Jesus Marcelo......................................................................................................................................................................15 Tuning em Banco de Dados Ana Paula dos Santos Souza, Bruno Fidelis Campos, Carla Glênia Guedes Dias, Michel Batista Alves, Carlos Eduardo Costa Vieira, Flávio Campos Carelli e Luiz Fabiano Costa de Sá ................................................................................................................................................19 CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS A dificuldade no aprendizado da Língua Inglesa Bethania Márcia Montrezor e Alexandre Batista da Silva .........................................................................................................................27 Aplicações do Enfoque Sistêmico nas Estruturas de Ensino e Pesquisa em Administração Agamêmnom Rocha Souza, Cláudia Cristine Zamboti Francisco e Cinthia Cristine Zamboti Francisco ...................................................33 CSN e Responsabilidade Sócio-Ambiental: Conscientização, Estratégia ou Necessidade? Rita de Cássia Santos Carvalho, José Luiz Trinta e Fátima Cristina Trindade Bacellar ...........................................................................41 CIÊNCIAS DA SAÚDE Aneurisma Dissecante de Aorta: A importância do diagnóstico precoce. Revisão de Literatura e Relato de Caso Fernanda Lopes Marinho, Lucas Mendes, Renata F. Carvalho e Mauro Tavares .................................................................................................55 Perfil Nutricional de Idosas frequentadoras da Faculdade da Terceira Idade Érica Cristina Moreira Guimarães, Lorena Silva dos Santos, Bruna Moraes de Jesus, Natalia Almeida Pastana e Margareth Lopes Galvão Saron ..................................................................................................................................................................................................................67 Propriedades de cerâmicas dentárias consolidadas pela técnica gelcasting Arthur Kimura, Claudinei dos Santos, Fernando dos Santos Ortega, Rockfeller Maciel Peçanha, Alexandre Fernandes Habibe e Sizue Ota Rogero ....................................................................................................................................................................................................................73 LIST OF CONTRIBUTIONS EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09 ACCURATE SCIENCES Virtual laboratory of an Electrical system of High Power Jason Paulo Tavares Faria Junior ...............................................................................................................................................................11 Design and Construction of the Jominy Apparatus: A Contribution for the Research at the UniFOA Professor Doutor Carlos Roberto Xavier, Tarcisio dos Santos Gonçalves, João Antonio de Araújo Sousa, Luiz Carlos de Andrade Vieira e Célio de Jesus Marcelo......................................................................................................................................................................15 Data base Tuning Ana Paula dos Santos Souza, Bruno Fidelis Campos, Carla Glênia Guedes Dias, Michel Batista Alves, Carlos Eduardo Costa Vieira, Flávio Campos Carelli e Luiz Fabiano Costa de Sá ................................................................................................................................................19 SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS The difficulty in English Language Learning Bethania Márcia Montrezor e Alexandre Batista da Silva .........................................................................................................................27 Systemic Aspect Applications of the Education and Research Structures in Administration Agamêmnom Rocha Souza, Cláudia Cristine Zamboti Francisco e Cinthia Cristine Zamboti Francisco ...................................................33 CSN and Corporate Social Responsibility: Awareness, Strategy or Necessity? Rita de Cássia Santos Carvalho, José Luiz Trinta e Fátima Cristina Trindade Bacellar ...........................................................................41 SCIENCES OF THE HEALTH Dissecting aortic aneurysm: the importance of the early diagnostic. Literature review and reported case Fernanda Lopes Marinho, Lucas Mendes, Renata F. Carvalho e Mauro Tavares .................................................................................................55 Nutritional profile of elderly who frequent The Third Age Faculty Érica Cristina Moreira Guimarães, Lorena Silva dos Santos, Bruna Moraes de Jesus, Natalia Almeida Pastana e Margareth Lopes Galvão Saron ..................................................................................................................................................................................................................67 Properties of dental ceramics obtained by gelcasting method Arthur Kimura, Claudinei dos Santos, Fernando dos Santos Ortega, Rockfeller Maciel Peçanha, Alexandre Fernandes Habibe e Sizue Ota Rogero ....................................................................................................................................................................................................................73 9 Editorial Aqueles que já nos conhecem, sabem que a revista Cadernos UniFOA é a concretização de um desejo institucional de publicar idéias e pesquisas desenvolvidas por nossos professores e alunos. Ao longo dos dez números publicados, nossa preocupação foi sempre estabelecer a revista como um referencial para projetos científicos que denotem a importância e a necessidade da investigação e de sua expressão escrita, permitindo a troca de informações interna e externamente. Dessa forma, através do Cadernos Unifoa, marcamos nossa presença na comunidade científica e acadêmica num enfoque inter e transdisciplinar. Neste editorial, como Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, venho afirmar minha satisfação em fazer parte da consolidação do Cadernos UniFOA, representada nesta 10ª edição, como veículo de divulgação, reformulação, estabilização e sedimentação de práticas que nos ajudam na construção uma identidade científica. Reconhecendo que iniciar um projeto editorial é um trabalho difícil, ainda mais difícil é manter o projeto em constante aprimoramento. Assim, a revista número dez apresenta resultados ainda mais próximos dos que almejamos, em direção à maturidade acadêmico-científica. Atualmente temos uma oferta cada vez maior de artigos, internos e externos, o que demonstra a incorporação gradual da cultura de produzir pesquisa acompanhada de sua divulgação. Dando continuidade a reformas gráficas, editoriais e de linguagem, podemos perceber a preocupação constante em transformar o Cadernos UniFOA em uma publicação científica de referência. Parabenizo o trabalho da equipe editorial e a todos os docentes e discentes que fazem parte deste número, que, seguindo os mesmos princípios de multidisciplinaridade que nortearam a publicação desde seu início, apresenta artigos nas áreas de exatas, humanas e biológicas. Termino com a frase de meu último editorial, publicado na revista número cinco, prenunciando os próximos números, e que retrata a disposição de todos envolvidos neste projeto: se não há mudança, não há crescimento e o momento é de crescer. Uma ótima leitura! edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Profa. Dra. Maria Auxiliadora Motta Barreto Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do UniFOA 11 Laboratório Virtual de um Sistema Elétrico de Alta Potência Virtual laboratory of an Electrical system of High Power Jason Paulo Tavares Faria Junior Artigo Original 1 Original Paper Palavras-chaves: Resumo Realidade Virtual Neste Trabalho foi utilizado a Realidade Virtual (Oh, Ji-Young e Stverzlinger, Wolfgang) e suas aplicações no processo de ensino/aprendizado (Pinheiro, C.D.B., Ribeiro Filho, M.), onde se pretende utilizar as potencialidades provenientes da Realidade Virtual (RV) para auxiliar o ensino e o treinamento de profissionais da área de sistemas elétricos de alta potência. O usuário poderá observar o comportamento do sistema em tempo real, alterando a potência elétrica e a posição da visualização dos fenômenos com total segurança. Abstract Key words: In this Work the Virtual Reality was used (Oh, Ji-Young and Stverzlinger, Wolfgang ) and its applications in the education process/ learning (Pine, C.D.B., Ribeiro Son, M), where if it intends to use the potentialities proceeding from Realidade Virtual (RV) to assist the education and the training of professionals of the area of electrical systems of high power. The user will be able to observe the behavior of the system in real time, and to interact with the virtual environment in diverse ways, being modified the electric power and position of the visualization them phenomena with total security. Virtual reality 1. Introdução As características básicas da Realidade Virtual como interação, imersão e navegação têm potencial para propiciar um ensino que oferece ao aprendiz a oportunidade de uma melhor compreensão do assunto que está sendo estudado, na medida em que este explora, descobre, observa e interage com o mundo virtual, que representa o objeto de estudo. Kirner discute essa questão com profundidade e mostra, com base em diversos autores recentes com publicações relevantes, que existe o consenso definitivo de que a Realidade Virtual 1 Doutor em Engenharia Elétrica- UniFOA Electrical systems Visualization pode ajudar efetivamente no processo de iteração ensino-aprendizagem. 2. Objetivos Neste trabalho foi desenvolvido um procedimento automatizado que permite a visualização tridimensional de um laboratório virtual de um sistema elétrico de alta potência, envolvendo várias disciplinas como computação gráfica, engenharia elétrica, matemática, linguagem de programação e física. Este projeto foi orientado aos alunos de iniciação científica. A Realidade edição nº 10, agosto/2009 Visualização Cadernos UniFOA Sistemas Elétricos 12 Virtual pode ajudar efetivamente no processo de iteração ensino-aprendizagem, permitindo obter uma visão mais realista de um laboratório virtual. Utilizando técnicas de computação gráfica tridimensionais, haverá um melhor entendimento das experiências. Esse processo é mais acessível financeiramente e muitas escolas não possuem condições de manter estes laboratórios na realidade. Adquirir essa tecnologia e a elaboração de um software nesta área permite o desenvolvimento de experiências e simulações precisas por parte dos usuários. Figura 1- Visualização do cenário real 3. Metodologia Inicialmente foi realizada a etapa de análise em que se verificou a melhor maneira de executar a tarefa e os recursos necessários (números de programadores, linguagem de programação, hardware, etc.). Na próxima fase, chamada de Projeto, determinou-se os “Layouts” das telas e características do software. Posteriormente, insere-se o código do software na linguagem de programação determinada na fase de análise. Em seguida realiza-se os testes no produto para verificar se os requisitos concordados na especificação (Fase de projeto) estão sendo atendidos. Ao final do desenvolvimento do procedimento automatizado, iniciou-se a fase de manutenção. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 4. Implementação do Programa de Computador O programa desenvolvido nesse trabalho implementa técnicas de computação gráficas como a Renderização em cenários tridimensionais, onde defini-se um tipo de textura para os objetos existentes, sua cor, transparência e efeito de reflexão em relação a luz. O laboratório virtual é visualizado como um cenário real (Figura 1), onde se realiza ensaios dielétricos, pesquisa e desenvolvimento relacionados aos efeitos de campos elétricos em equipamentos de tensão até 350 kVef. Para o laboratório virtual, são aplicados os algoritmos de Ray Tracing para simular os efeitos das descargas elétricas e iluminação, sendo que o posicionamento da câmera de visualização é escolhido pelo usuário com o auxílio do mouse. Figura 2- Exemplo da interface gráfica do Software A interface gráfica para o usuário (Figura 2) foi projetada para operar com tela de apresentação, caixas de diálogo e formulários de ajuda ao usuário. O ambiente é formado por uma matriz tridimensional. As rotações nos cenários são realizadas através da multiplicação dessa matriz, que representa todos os pontos do cenário, pela matriz apresentada na Equação 1, obtida pela Álgebra Linear. Onde : T – Matriz de rotação q - Ângulo de rotação, conforme figura 5 Figura 5 – Representação da rotação de um ponto no eixo xyz. O dimensionamento, a rotação e a translação de um objeto tridimensional são necessárias para melhor visualização dos ambientes tridimensionais no computador. Pinheiro, C. D. B., Ribeiro Filho, M.. (2005) “L V R- Laboratório Virtual de Redes - Protótipo para Auxilio ao Aprendizado em Disciplinas de Redes de Computadores”. Anais do XVI SBIE, pag 82-92. 5. Considerações Finais SEBESTA, Robert W. Conceitos de Linguagens de Programação. 5ª. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. Neste trabalho foi desenvolvido um Software que permite a visualização tridimensional de um laboratório virtual de um sistema elétrico de alta potência para auxiliar o ensino e o treinamento de profissionais desta área. O usuário poderá observar o comportamento do sistema em tempo real e interagir com o ambiente virtual, alterando a potência elétrica e posição da visualização dos fenômenos com total segurança e envolvendo várias disciplinas como computação gráfica, engenharia elétrica, matemática, linguagem de programação e física. Este projeto foi orientado aos alunos de iniciação científica. 13 Squires, D., McDougall, A. Computer based microworlds – A definition to aid design. Computers and Education.Vol.10, No.3, pp.375-378, 1986. SOUZA, Alexandre; CÓRDOVA, Antônio; LAGE; Guilherme; RIBEIRO, Roberto. Desenvolvimento de Jogos Eletrônicos Teoria e Prática. São Paulo: Editora Novatec, 2005. 6. Referências HAWKINS, K.; ASTLE, D. OpenGL game programming. Roseville: Prima Tech, 2001. Kirner, C., Tori, R., “Realidade Virtual: Conceitos e Tendências”, Pré-Simpósio do SVR, 2004. Kundur, P. “Power System Stability and Control”, Electric Power Research Institue, McGraw-Hill, 1994. Oh, Ji-Young e Stverzlinger, Wolfgang. (2004) “A system for desktop conceptual 3D design”. Virtual Reality. Springer-Verlag London Limited, pag 198-211. Endereço para Correspondência: Jason Paulo Tavares Faria Junior Curso de Sistema de Informação - UniFOA [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Faria Junior, Jason Paulo Tavares. Laboratório Virtual de um Sistema Elétrico de Alta Potência. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/11.pdf> edição nº 10, agosto/2009 FERREIRA JÚNIOR, W.T.; OLIVEIRA, A. B.; DIAS JUNIOR, J. B.; DAMASCENO, E. F. Implementação de um protótipo de jogo 3d de computador com a biblioteca glscene para plataforma linux. Workshop de Realidade Virtual Aumentada. Itumbiara – GO, 2007. Cadernos UniFOA AZEVEDO, Eduardo. Desenvolvimento de Jogos 3D e Aplicações em Realidade Virtual. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2005. 15 Projeto e Construção do Aparato Jominy: Uma Contribuição para a Pesquisa no UniFOA Design and Construction of the Jominy Apparatus: A Contribution for the Research at the UniFOA Carlos Roberto Xavier Tarcisio dos Santos Gonçalves 2 João Antonio de Araújo Sousa 3 Luiz Carlos de Andrade Vieira 4 Célio de Jesus Marcelo 4 1 Original Paper Palavras-chaves: Resumo Aços Este trabalho diz respeito ao projeto e construção do aparato experimental Jominy para a realização do ensaio de temperabilidade em aços no UniFOA. Essa iniciativa partiu do curso de Engenharia Mecânica, tendo como objetivo a construção de um instrumento prático e confiável para o estudo das transformações que ocorrem nos metais, em especial nos aços, quando submetidos a um determinado ciclo térmico. Dessa forma, com o empenho dos alunos e dos técnicos de laboratório da instituição, foi possível, baseado na norma NBR 6339/89, projetar e construir o aparato Jominy para a determinação da temperabilidade dos aços. Isso possibilitou aos alunos uma melhor compreensão do comportamento e das transformações sofridas pelos metais quando tratados termicamente e as influências destes tratamentos sobre as suas propriedades. Abstract Key words: This report refers to the design and construction of the Jominy experimental apparatus for the accomplishment of the steels hardenability test at the UniFOA. This initiative had origin at the Mechanical Engineering course, with the purpose of obtaining an effective and reliable instrument for the study of the transformations that occur in metals, specially the steel transformations when steel is submitted to a determinate thermal cycle. Thus, with the dedication of the graduation students and laboratory technicians, it was possible, based in the standard specification NBR 6339/89, to project and to build the Jominy apparatus, aiming the steels hardenability determination. This made possible to the students a better understanding about the behavior and transformations in metals when it is submitted to the heat treating and the effects of these treatments on its properties. Steels 1. Introdução 1.1. O Ensaio Jominy O ensaio Jominy é um dos métodos utilizados para se avaliar a temperabilidade dos aços. Este ensaio, padronizado pela norma NBR-6339 da ABNT, utiliza corpos-de-prova Doutor e Docente do Curso de Engenharia Mecânica – UniFOA Graduado em Engenharia Mecânica – UniFOA 3 Graduando em Engenharia Mecânica – UniFOA 4 Técnico de Laboratório – UniFOA 1 2 Hardenability Jominy Test classificados como corpo-de-prova convencional, corpo-de-prova reduzido e corpo-deprova fundido, em função das suas dimensões ou de seu material de origem. Neste ensaio, o corpo-de-prova é aquecido até a temperatura de austenitização do aço do qual o mesmo é fabricado e resfriado rapidamente em condições padronizadas, através de um jato d’água. Após edição nº 10, agosto/2009 Ensaio Jominy Cadernos UniFOA Temperabilidade Artigo Original 16 o resfriamento do corpo-de-prova, é feito um mapeamento da dureza no sentido longitudinal do mesmo, a partir da extremidade resfriada, sendo esses resultados exibidos graficamente como uma variação da dureza em função da distância. Pode ser visto, na Figura 1, um esquema da realização do ensaio e da obtenção da curva de temperabilidade Jominy. Figura 1. Ensaio Jominy esquemático: (a) ensaio; (b) curva de dureza x distância edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 1.2. Aplicação Prática do Ensaio Jominy Compete ao engenheiro a aplicação de conhecimentos adquiridos com a teoria associados à experiência, a fim de obter-se o melhor desempenho possível dos materiais selecionados para a fabricação de componentes mecânicos e estruturais, tudo isso aliado, preferencialmente, a um menor custo. O conhecimento das transformações metalúrgicas sofridas pelas ligas metálicas, como é o caso dos aços, pode possibilitar a adequação da sua estrutura metalúrgica e, consequentemente, das suas propriedades mecânicas para uma aplicação específica, sem a necessidade de maiores investimentos como a aquisição de ligas mais nobres ou especialmente processadas para aquele fim. O ensaio Jominy é uma ferramenta que nos permite entender melhor essas transformações, já que possibilita estudar e comparar a evolução microestrutural de diversos tipos de aços, quando submetidos, controladamente, a um rápido resfriamento a partir da região austenítica. Além disso, para exemplificar a praticidade da utilização do ensaio Jominy, pode-se citar o seu uso para determinar, com boa aproximação, a dureza de barras de aço temperadas, como cilindros de laminação ou eixos mecânicos. Neste caso, veremos que é possível prever o perfil de durezas destes componentes depois de temperados em um meio de resfriamento qualquer, sem que tenha que se recorrer ao corte dos mesmos. Isso pode ser feito ao associar os resultados do ensaio Jominy aos resultados obtidos ao se estudar o resfriamento contínuo, a partir de uma elevada temperatura, de barras com diversos diâmetros. Admite-se, nesse caso, que a dureza e as propriedades físicas adquiridas por um aço depois da têmpera, efetuada em condições normais, são sempre funções exclusivas do processo de resfriamento. A velocidade de resfriamento de uma peça depende do tamanho desta, do meio de resfriamento e da temperatura de têmpera. Isso quer dizer que, se é conhecida a dureza que adquire um aço depois da têmpera, quando o resfriamento foi feito de uma forma determinada, conheceremos também a dureza de qualquer ponto do mesmo aço que tenha se resfriado de forma análoga, independentemente de sua posição na peça, da forma e tamanho desta, bem como do meio de resfriamento empregado. Conhecendo as durezas obtidas ao se efetuar o ensaio Jominy de um aço e as condições de resfriamento dos diferentes pontos do corpo-de-prova, pode-se conhecer a dureza que se obtém no interior de peças resfriadas nas mesmas condições. Desse modo, as curvas Jominy podem ser utilizadas para se predizer a distribuição de dureza em barras de aço de diferentes dimensões, resfriadas em vários meios de resfriamento. As velocidades de resfriamento nos vários pontos do corpo-de-prova Jominy podem ser comparadas com as velocidades de resfriamento em barras de vários diâmetros resfriadas em vários meios de resfriamento. Esta comparação pode ser feita pelo uso dos gráficos de Lamont, os quais servem para poder encontrarem-se as velocidades de resfriamento em diversas posições de uma barra, partindo do seu centro até a sua superfície, quando resfriada em condições normais, ou seja, mergulhando-a totalmente em um meio de resfriamento. Uma vez encontrada a velocidade de resfriamento em uma determinada posição da barra, podemos utilizar um gráfico de ensaio Jominy de um aço específico para sabermos a dureza resultante na mesma. 2. Projeto e Construção do Aparato Jominy Figura 3. Teste do Aparato Jominy. Figura 4. Aparato Jominy instalado no laboratório de tratamentos térmicos. 3. Resultados edição nº 10, agosto/2009 A Figura 5 mostra parte do procedimento para a realização do ensaio Jominy. Nela pode ser vista a retirada do corpo-de-prova do forno e a realização, propriamente dita, do ensaio Jominy. Cadernos UniFOA O aparato Jomyny foi projetado e construído segundo a norma NBR 6339/89 da ABNT. Esta norma permite o ensaio de diferentes modalidades de corpos-de-prova, que é função de suas dimensões e origens, sendo classificados como corpos-de-prova convencional, reduzido e fundido. Neste caso, o aparato possibilita, a partir de um pequeno e fácil ajuste para fins de adaptação ao modelo de corpo-de-prova utilizado, o ensaio de uma ampla faixa de diferentes tipos de aços, independentemente do método de fabricação, processamento e dimensões disponíveis dos mesmos, o que nos fornece uma versatilidade muito grande em termos operacionais e de pesquisa. Foram utilizados diversos tipos de materiais na construção do aparato, podendo-se citar o uso de polímeros, metais não ferrosos e ferrosos. A escolha para cada item do dispositivo, ainda na etapa do projeto, foi feita de forma que tivéssemos um aparato eficiente, robusto e duradouro, que ficasse operacional por vários anos, sem a necessidade de manutenção frequente. Daí, pode-se mencionar, como exemplo, o amplo uso do aço inoxidável, como na construção da estrutura do aparato, a fim de evitar danos por corrosão ao mesmo, ao passo que se obteve, ainda, um bom acabamento estético. Pode ser visto nas Figuras 2 a 4 o aparato Jominy em algumas de suas fases do projeto. 17 Figura 2. Aparato Jominy em construção 18 Figura 5. Retirada do corpo-de-prova do forno e realização do ensaio Jominy. Esse procedimento foi utilizado para a obtenção das curvas de temperabilidade Jominy dos aços SAE 1045 e SAE 4340, os quais possuem uma grande aplicação industrial. Essas curvas são apresentadas na Figura 6, podendo se observar facilmente a superior capacidade de temperabilidade do aço SAE 4340 quando comparada a do aço SAE 1045. Apesar de esperado, este resultado vem a consolidar os conhecimentos teóricos adquiridos, servindo, ainda, como uma ferramenta para propiciar uma melhor compreensão das transformações e comportamento dos aços, o que muito irá contribuir quando da seleção dos mesmos para uma determinada aplicação. é fundamental uma complementação prática que contribua na consolidação desta teoria. Essa complementação foi, em parte, obtida com o aparato Jominy, o qual, além de possibilitar o ensaio de vários tipos de aços, permite fazer uma comparação entre o comportamento dos mesmos. O aparato serve, ainda, como uma ferramenta para poder inferir a dureza em peças e componentes mecânicos submetidos a um processo de têmpera, sem a necessidade de destruí-los. Muito ainda pode ser obtido do aparato, e o mesmo se encontra apto para ser utilizado em aulas, pesquisas e otimização de projetos, contribuindo para o avanço e a qualidade do ensino e da pesquisa no UniFOA. 5. Referências Bibliográficas CALLISTER Jr., W. D. - Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 5a edição, LTC, Rio de Janeiro, 2002. ASM HANDBOOK. Heat Treating. 10th edition, ASM International, vol. 4, USA, 1991. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Aço, Determinação da Temperabilidade (Jominy). NBR 6339, 1989. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Steel Heat Treatment Handbook: Metallurgy and Tachnologies, 2th Ed. Edited by George E. Totten, CRC Press, 2007. Figura 6. Curvas de temperabilidade: Aços SAE 1045 e 4340 4. Conclusão O objetivo do trabalho foi o de construir um aparato que permitisse à comunidade acadêmica, uma ferramenta para uma melhor compreensão do comportamento dos aços quando submetidos a um determinado ciclo térmico. Vários fenômenos ocorrem, e os mesmos afetam as propriedades dos aços. Fenômenos, tais como ocorrem na transformação de fases, são expostos e debatidos em aulas teóricas, mas Endereço para Correspondência: Carlos Roberto Xavier Curso de Engenharia Mecânica - UniFOA [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Xavier, Carlos Roberto; Gonçalves, Tarcisio dos Santos; Sousa, João Antonio de Araújo; Vieira, Luiz Carlos de Andrade; Marcelo, Célio de Jesus. Projeto e Construção do Aparato Jominy: Uma Contribuição para a Pesquisa no UniFOA. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/15.pdf> 19 Tuning em Banco de Dados Data base Tuning Artigo Original Ana Paula dos Santos Souza 1 Bruno Fidelis Campos 1 Carla Glênia Guedes Dias 1 Michel Batista Alves 1 Carlos Eduardo Costa Vieira 2 Flávio Campos Carelli 3 Luiz Fabiano Costa de Sá 3 Resumo Otimização Devido ao grande volume de dados que são gerados pelas Empresas que utilizam Sistemas de Informação, é fundamental o papel do Banco de Dados (BD). Geralmente os dados precisam ser acessados a todo instante, logo, a disponibilidade dos resultados nem sempre são satisfatórias. Nesse contexto, entra a questão do desempenho ao se obter informações de um BD e como otimizá-las. Muitos problemas de performance não estão relacionados a infraestrutura, sistemas operacionais ou mesmo ao hardware. Pode-se encontrar problemas de perda de performance dentro do próprio BD, sendo a consulta a principal causadora desses problemas. Ajustar e otimizar uma consulta e o próprio BD tornam-se fatores importantes, podendo-se ter um ganho de performance aceitável, visto que cada consulta é tratada de forma diferente, dependendo do Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD). Este artigo avalia como melhorar o desempenho de consultas Transact-Structured Query Language (TSQL) em um ambiente Microsoft SQL Server 2005, sugerindo possíveis alterações que possam levar a um ganho de performance considerável. Consultas T-SQL Microsoft SQL Server 2005 Abstract Key words: Due to large volume of data generated by companies that use information systems, the role of Database (DB) is fundamental. In general, data must be accessed at any time and the availability of results are not always satisfactory. In this context, begins the question of the performance in obtain information from a DB and optimize them. Many performance problems are not related to the infrastructure, operating systems or even the hardware. You can encounter problems of performance within DB, and queries are primary cause of these problems. Adjust and optimize queries and the DB becomes an important factor, it may have a acceptable gain of performance, since each query is treated differently depending on the Data Base Management System (DBMS). This paper evaluates how to improve performance of Transact-Structured Query Language (T-SQL) in a Microsoft SQL Server 2005, suggesting possible changes that could lead to a considerable gain in performance. Optimization Discente do Curso de Sistemas de Informação – UniFOA Doutor e Docente do Curso de Sistemas de Informação – UniFOA 3 Docente Especialista do Curso de Sistemas de Informação – UniFOA 1 2 Queries T-SQL Microsoft SQL Server 2005. edição nº 10, agosto/2009 Palavras-chaves: Cadernos UniFOA Original Paper edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 20 1. Introdução O mercado atual está competitivo. Com isso, as empresas estão apostando, cada vez mais, em sistemas informatizados que forneçam apoio à melhoria de seus processos. Dentro desse contexto, surgem os Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD`s) com o intuito de armazenar e gerenciar as informações, garantindo sua disponibilidade de forma rápida e eficaz. Mas, em geral, SGBD`s não são ferramentas auto suficientes no que diz respeito a otimização de consultas a Banco de Dados (BD). Por esse motivo, esforços são despendidos na forma de aperfeiçoar seu funcionamento interno, melhorando a organização das informações e como são obtidas. Segundo Ikematu (2003), tuning é a sintonia ou ajuste de algo para que funcione melhor. O tuning fornece suporte ao Administrador de BD (Database Administrator ou DBA) através de um mecanismo que simplifica a análise de desempenho, fazendo com que pequenos ajustes afetem significativamente a performance do BD, transformando uma tarefa de alto custo e complexidade em um processo simples e rápido. Neste artigo serão demonstrados procedimentos de como se pode realizar a identificação de onde está o problema de performance da aplicação, otimizações de consultas Transact-Structured Query Language (T-SQL) e boas práticas ao elaborá-las. Para uma análise sobre o desempenho das consultas SQL em SGDB’s, foi escolhido o Microsoft SQL Server 2005, “pois é muito utilizado pelas empresas além de possuir ferramentas que facilitam uma auditoria das consultas que estão sendo realizadas” (ANDRADE, 2005, p. 10). Este artigo está organizado da seguinte maneira: A Seção 2 apresentará conceitos e definições de tuning. A Seção 3 descreverá a definição dos problemas de desempenho de um BD. A Seção 4 mostrará como identificar problemas de performance no SQL Server. A Seção 5 apresentará algumas ferramentas de apoio na identificação de gargalos no SQL Server. A Seção 6 descreverá a otimização de consultas T-SQL. A Seção 7 apresentará boas práticas na elaboração de consultas. Por último, a Seção 8 mostrará as considerações finais e possíveis propostas de trabalhos futuros. 2. Conceitos e Definições de Tuning Segundo Baptista (2008, p. 15), “tuning diz respeito ao ajuste do SGBD para melhor utilização dos recursos, provendo um uso eficaz e eficiente do SGBD”. A fase de tuning de um BD é um processo de refinamento que envolve modificações em vários aspectos, abordando desde mudanças nos conceitos aprendidos nos Diagramas Entidade-Relacionamento (DER) até a troca de hardware, passando pela configuração dos softwares que executam nesse sistema. Em termos didáticos, pode-se dividir as ações de tuning em três grandes tipos: (1) refinamento do esquema das relações e as consultas/atualizações feitas no BD, (2) configuração do sistema operacional em uso e (3) configuração dos parâmetros dos SGBD’s (TRAMONTINA, 2008, p. 2). O foco do artigo será no primeiro tipo. Em debate com profissionais com mais de 10 anos de expêriencia em gerenciamento de banco de dados, os Srs. Lúcio Gomes Peixoto Júnior (Microsoft Certified Trainers, Microsoft Certified Systems Engineer, Microsoft Certified Technical Specialist, Microsoft Certified IT Professional e Oracle Certified Professional) e Erick de Souza Carvalho (Mestre em Engenharia da Computação pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica e Oracle Certified Professional), constata-se que 45% das ações de tuning são destinadas a configuração do Sistema Operacional, 35% destinadas a configuração do SGBD e 20% destinadas ao refinamento das consultas, como mostra a Figura 1. Fonte: Peixoto Júnior e Carvalho (2008) Figura 1 – Fases do Tuning 3.1 Problemas de Desempenho Segundo Andrade (2005), o principal problema relacionado aos BD’s é que eles são ambientes dinâmicos. Também, a população de dados cresce constantemente e suas configurações podem mudar. Dessa forma, complica-se a análise ou previsão do desempenho. Geralmente os problemas de desempenho de um BD estão relacionados a índices e consultas SQL, como mostra a Tabela 1. Problemas de Desempenho 70% a 80% de todos os problemas de desempenho em aplicações que utilizam BD são causados por consultas SQL mal feitas (MULLINS, 1998, apud ANDRADE, 2005, p. 13) Instruções SQL e índices são responsáveis por 60% a 90% dos problemas de desempenho de aplicações (LECCO, 2003, apud ANDRADE, 2005, p. 13); Atividades relacionadas às consultas SQL consomem entre 70% e 90% dos recursos dos BDs (LECCO, 2003, apud ANDRADE, 2005, p. 14); Tabela 1 – Problemas de Desempenho Apesar dos cuidados com o desempenho do BD iniciarem desde a sua concepção, passando pelo design e normalização das tabelas 21 4. Identificando Gargalos no Microsoft SQL Server Segundo Biggs e Venezia (2006, p. 1), “gargalos significam restrições em determinadas formas de comunicação, interação ou transferência de informações.” O principal problema dos gargalos de desempenho nas empresas (em particular na área de Tecnologia da Informação) é que eles podem ser difíceis de identificar. Alguns são mais óbvios do que outros. Segundo Fernandes (2006), para encontrar possíveis gargalos e processos com problemas no SQL Server, é recomendado que se utilize a tabela de sistema sysprocesses, como mostra a Tabela 2. Passos select * from master..sysprocesses where status = ‘runnable’ ou select * from master..sysprocesses where dbid = xx (Este passo serve quando há suspeita de um gargalo em um BD) Para saber o DataBase ID (DBID) de um BD, deverá ser executado o seguinte comando: select DB_ID(‘nome do BD) ou então deve-se executar diretamente a query passando o nome do BD como parâmetro: select * from master..sysprocesses where dbid = db_id(‘Pubs’) Esta query retornará o status de cada processo no SQL Server: spid | kpid | blocked | waittype | waittime | lastwaittype | waitresource | dbid | uid | ... Convém observar se existe algum tempo em que um processo está em espera, verificando o status waittime, waittype ou lastwaittype. Identificando o tipo de espera, é possível saber o que está acontecendo, se o problema é de Entrada/Saída (E/S), lock de um objeto (LATCH), ou memória (MEMORY), etc. edição nº 10, agosto/2009 Antes de pesquisar os problemas de desempenho nas consultas SQL, é vital saber se realmente há problemas. Se existem, é preciso identificar corretamente a causa. Uma vez verificado que existem problemas nas consultas à base de dados, é preciso saná-los, e, realmente, as consultas SQL são responsáveis por boa parte dos problemas de desempenho das aplicações que utilizam BD (ANDRADE, 2005). Atualmente o desempenho de um BD é um fator que determina efetivamente sua disponibilidade. O objetivo do tuning é fornecer suporte ao DBA através de um mecanismo que simplifique a análise de desempenho em BD, transformando uma tarefa de alto custo e complexidade em um processo simples e rápido (DIAS, 2005, p. 1). até a sua configuração, são as consultas que determinam quão bom é o desempenho do BD. “Dentre os problemas de desempenho que um SGBD abrange, estão incluídos o consumo de processamento, utilização ineficaz de comandos SQL, bloqueios, esperas e atividade de disco” (DIAS, 2005, p. 1). Cadernos UniFOA 3. Problema 22 Passos É recomendado utilizar o comando Database Consistence Check (DBCC) e SQLPERF (threads) por último. Este comando fornece o status de cada thread aberta pelo SQL Server, bem como cada processo associado a esta thread, retornando as seguintes informações de status: E/S, CPU (processador) e MEMORY. Fonte: Fernandes (2006) Tabela 2 – Passos para Encontrar Possíveis Gargalos 5.1 SQL Server Profiler Segundo Moraes (2007, p. 4), o SQL Server Profiler (Figura 2): é utilizado para capturar as informações que estão chegando no banco de dados. Trata-se de uma ferramenta extremamente útil para detecção de problemas de performance, depurar a aplicação ou mesmo entender de que maneira e quando as aplicações estão em interação com o SQL Server, sem a necessidade de abrir o código fonte da aplicação. Sysprocesses é uma tabela do sistema que contém informações sobre o Server Process ID (Servidor de Identificação de Processos ou SPID) ativo, que estão em execução no SQL Server (MICROSOFT, 2007). Existem outros pontos de gargalo que são decorrentes de ajustes no sistema, que consomem mais tempo de processamento (processador), E/S e memória, cujas possíveis causas são: edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA • Alteração ou atualização que possa ter levado a uma queda no desempenho do sistema, ou seja, em relação ao software: alguma nova instalação ou atualização. Já em relação ao banco de dados: adição e/ ou remoção de bases de dados, funções, procedimentos, consultas, tabelas, linhas, colunas e etc. É de extrema importância o planejamento de mudança e sua documentação, seja ela no software ou no BD; • Limitação de hardware, ou seja, trabalhando próximo de sua capacidade máxima; • Consultas mal elaboradas. 5. Ferramentas de Apoio Figura 2 – SQL Server Profiler 5.2 Database Engine Tuning Advisor Segundo Moraes (2007, p. 18), o Database Engine Tuning Advisor (DTA) (Figura 3): é uma poderosa ferramenta que auxilia os Administradores de Banco de Dados na seleção apropriada de projeto físico de uma instalação do Microsoft SQL Server 2005. O DTA pode ser utilizado tanto para ajuste de pequenas consultas que possam estar mal desenhadas e que apresentem problemas de desempenho, quanto para consultas mais complexas e que requerem maior conhecimento do DBA em relação ao desenho físico do banco de dados. Existem ferramentas disponibilizadas pelo SGBD que fornecem melhorias de desempenho nos sistemas de bancos de dados já existentes. A seguir serão apresentadas breves descrições das ferramentas que estão presentes no Microsoft SQL Server 2005. Figura 3 – Database Engine Tuning Advisor provê um diagrama visual de como o SQL Server está executando uma determinada consulta, quais índices estão sendo utilizados, além de uma série de outras informações que podem auxiliar os DBA’s no processo de otimização de índices ou outros dados requeridos pelo SQL Server para aumentar o desempenho das consultas. Figura 4 – Execution Plan 6. Otimização de Consultas T-SQL A Figura 5 apresenta um fluxograma ilustrando a otimização de consultas T-SQL. Segundo os passos mostrados no fluxograma, pode-se obter uma redução de custos e melhoria de qualidade, que está relacionada à disponibilidade da informação em tempo hábil, permitindo tomadas de decisões mais rápidas (SILVA, 2006, p. 6). A Tabela 3 sugere boas práticas ao se trabalhar com consultas T-SQL no SQL Server 2005 com o objetivo de melhorar significativamente o desempenho do BD. Boas Práticas em Consultas T-SQL Procurar escrever consultas levando em consideração boas práticas de desenvolvimento, tais como indentação e comentários (/* */ ou --). Informar os campos que devem aparecer na consulta, evitando utilizar o famoso select * from <NomeDaTabela>. Quando for utilizar operadores de comparação, evitar usar NOT em condições de pesquisa, pois podem diminuir a velocidade de recuperação de dados porque todos os registros em uma tabela são avaliados. Usar de forma restritiva a cláusula WHERE, pois é uma grande causadora de problemas em relação ao processador. Para testes de existência é sempre mais eficiente utilizar EXISTS ao invés de COUNT. Quando se utiliza COUNT, o BD não sabe que está sendo feito um teste de existência e continua pesquisando todas as linhas qualificadas. Já utilizando EXISTS, o BD sabe que é um teste de existência e interrompe a pesquisa quando encontra a primeira linha qualificada. Analisar a necessidade de utilização de CHAR e VARCHAR. Analisar a possibilidade de se usar o operador UNION ALL em substituição ao UNION – DISTINCT. As Procedures sempre devem retornar um valor de status de execução. Utilizar COUNT(1) ou COUNT (NomeDoCampo) ao invés de COUNT(*) . Utilizar as funções COALESCE e ISNULL. Não chamar funções SQL repetidamente, ao em vez disso, deve-se armazenar o valor em uma variável. Fonte: Silva (2006) Figura 5 – Fluxograma para Otimização de Consultas 23 Utilizar variáveis do tipo TABLE em substituição a tabelas temporárias – Recompilações. Usar SET NOCOUNT em Procedures, Functions e Triggers. edição nº 10, agosto/2009 Segundo Moraes (2007, p. 10), o Execution Plan (Figura 4): 7. Boas Práticas na Elaboração de Consultas T-SQL Cadernos UniFOA 5.3 Execution Plan 24 Boas Práticas em Consultas T-SQL Utilizar índices sempre que necessário. Em relação aos parâmetros, o ideal é garantir que tenha o mesmo datatype da coluna com a qual ele será comparado. Tabela 3 – Boas Práticas na Elaboração de Consultas edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 8. Considerações Finais Para a elaboração deste artigo foi realizado um estudo teórico sobre tuning em Banco de Dados, demonstrando sua importância para o desenvolvimento e manutenção de aplicações. É necessário uma monitoração constante assim como, ajuste e administração do ambiente, consistindo de políticas, procedimentos, ferramentas e utilitários integrados de gerenciamento de performance. Para conseguir melhores resultados no acesso ao Banco de Dados, critérios de desempenho devem ser considerados nas fases iniciais do desenvolvimento de software. Com isso também evita-se que seja necessário um grande esforço com re-projeto ou re-codificação para se atingir um nível de desempenho satisfatório e nem sempre consegue-se os mesmos resultados se os critérios de performance fossem considerados desde o início do desenvolvimento. A utilização de boas práticas em Banco de Dados traz benefícios para a organização, pois o tempo de resposta em uma consulta T-SQL é minimizado e a performance é garantida. Como trabalhos futuros, poderia-se utilizar o SBGD Oracle ou qualquer outro SGBD para avaliação em termos de tuning. 9. Referências ANDRADE, L. D. Otimização de Consultas de Aplicações T-SQL em Ambiente SQL Server 2000. 2005. 52 f. Monografia (Graduação em Ciência da Computação) – Departamento de Ciência da Computação, Instituto de Matemática, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005. Disponível em: <http://disciplinas.dcc.ufba. br/pub/MATA67/TrabalhosSemestre20051/ Monografia_Luciano_Andrade.pdf >. Acesso em: 05 maio 2008. BAPTISTA, C. de S. Administração de Sistemas de Gestão de Banco de Dados. 2008. Disponível em: <www.dsc.ufcg.edu. br/~baptista/cursos/ABD/ADM1.ppt>. Acesso em: 07 maio 2008. BIGGS, M.; VENEZIA, P. Combata os Gargalos de Desempenho. 2006. 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Carlos Eduardo Costa Vieira Sistemas de Informação – UniFOA [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Souza, Ana Paula dos Santos; Campos, Bruno Fidelis, Dias, Carla Glênia Guedes; Alves, Michel Batista; Vieira, Carlos Eduardo Costa, Carelli, Flávio Campos. e Luiz Fabiano Costa de Sá. Tuning em Banco de Dados. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/19.pdf> edição nº 10, agosto/2009 Endereço para Correspondência: Cadernos UniFOA SILVA, C. B. Otimizando o Desempenho de um Banco de Dados em um Ambiente Altamente Crítico. 2006. 79f. Monografia ( Bacharel em Sistemas de Informação ) Departamento de Sistemas de Informação, UNIMINAS, Uberlândia, 2006. Disponível em: <http://si.uniminas.br/TFC/monografias/ MONOGRAFIA-CLESIO.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2008. 27 A dificuldade no aprendizado da Língua Inglesa The difficulty in English Language Learning Original Paper Palavras-chaves: Resumo Aprendizado O objetivo deste trabalho é mostrar que a grande dificuldade no aprendizado de uma determinada língua estrangeira não pode se resumir simplesmente ao fato de que ela seja diferente de nossa língua materna. A língua estrangeira - neste caso o Inglês - deve ser ministrada de forma que o aluno sinta que pode adquiri-la e não crie medos ou frustrações prévias. De acordo com estudiosos, este artigo fala de métodos e técnicas que podem facilitar o processo de aquisição de uma segunda língua, bem como o estímulo que o professor pode dar a seu aluno para que ele esteja seguro de seu aprendizado e saiba contextualizá-lo com sua realidade. Realidade Abstract Key words: The aim of this work is to show that the big difficulty in learning a foreign language can not be summarized to the fact of being different from the mother tongue. The foreign language - in this case English - must be taught so that the learner feels that he / she can acquire it and does not develop previous fears or frustration. According to researchers, this work talks about methods and techniques which can facilitate the acquisition process of a second language, as well as the incentive the teacher can provide to the student so he / she can be confident of their learning e be able to use it according to real situations. Learning 1. Por que o Inglês é uma língua difícil para muitos estudantes? Muitos estudantes brasileiros têm dificuldades em aprender uma língua estrangeira e, ao acompanhar individualmente o desempenho de cada um, em diferentes faixas etárias, pode-se perceber que as dificuldades são maiores se o estudo da língua em questão é iniciado após os 10 anos de idade. O Inglês é a principal língua usada para comunicação internacional e, por isso, é o idioma estudado por um maior número de brasileiros. No entanto, se comparado ao Espanhol ou 1 2 Speech Reality Francês, por exemplo, pode ser considerado, por alguns estudantes, o idioma mais difícil de ser compreendido. Vários métodos são constantemente criados e inovados para tornar eficaz o processo ensino ↔ aprendizagem no inglês. O que faz então, com que ainda muitos adolescentes e adultos apontem-no como uma língua muito difícil? O que falta fazer para que esse senso comum possa ser diminuído ou pelo menos, compreendido? Para responder a essas questões, deve-se levar em conta, primeiramente, que a estrutura e origem da Língua Inglesa são diferentes da Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior - Centro Universitário Geraldo Di Biasi - UGB Mestrando em Letras Vernáculas - UFRJ edição nº 10, agosto/2009 Discurso Cadernos UniFOA Bethania Márcia Montrezor Alexandre Batista da Silva 2 Artigo Original 1 28 nossa Língua materna, o Português; em segundo lugar, é importante que aluno e professor tenham consciência de que para se aprender uma nova língua, é necessária a compreensão de alguns aspectos sociais e culturais dos falantes nativos desta. Finalmente, deve-se lembrar que, antes mesmo de aprender a falar, o ser humano passa por um processo de aquisição de linguagem desde os primeiros dias de vida e isso, de forma alguma, pode ser ignorado ao se tratar da aquisição de uma nova língua. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 2. A aquisição da linguagem No início do século XX, com Saussure e Bloomfield, a linguística passa a ser reconhecida como um estudo científico e torna-se a ciência da linguagem. Na segunda metade do século, Chomsky propõe uma análise linguística mais interessada na elaboração de uma teoria que explique as fases que poderiam ter sido produzidas por uma falante. Hoje, portanto, a linguística é descritiva e explicativa. O Empirismo foi uma das primeiras abordagens quanto à questão da aquisição da linguagem, serviu de base para a teoria behaviorista, em que o indivíduo só desenvolve conhecimento por meio de estímulo-resposta, imitação e reforço. Nessa teoria, Skinner encara o processo de aquisição da linguagem como um comportamento que possa aprendido, como outros comportamentos e ações. Com o Racionalismo, Noam Chomsky faz críticas às abordagens de Skinner e, na década de 1950, introduz, na linguística, a noção de Gramática Gerativa Transformacional. Chomsky propõe uma teoria que se baseia na convivência de uma criança num meio em que se fala determinada língua e, com o tempo, o indivíduo (criança) começa a produzir sons dessa língua, mais tarde a desenvolvê-la e, por fim, adquiri-la. Segundo esses estudos, as propriedades da língua são transmitidas geneticamente, contudo, esse conhecimento só é ativado no contato com outro falante. Chomsky analisa vários princípios e baseia-se na intuição do falante, pois com seu conhecimento internalizado, apenas ele será capaz de organizar uma frase e dizer o que é ou não permitido em sua língua. Intuitivamente, o indivíduo sabe “medir” a gramática de sua língua, porém, uma criança precisa ir à escola para que se torne capaz de elaborar enunciados mais complexos. Outros elementos que enfatizam essa competência são estudados por J. Piaget (cognitivismo) e por L. S. Vygotsky (interacionismo). Ambos baseiam a construção do conhecimento desde as primeiras interações da criança com o meio e, depois, a partir da comunicação entre a criança e o adulto. 3. A aquisição da Língua estrangeira Para entender como acontece a aquisição e apropriação de uma segunda língua deve-se, em primeiro lugar, estabelecer quais aspectos serão observados e estudados. Durante anos, o estudo e ensino da língua estrangeira estiveram atrelados à observação dos aspectos gramaticais para que estes fossem imitados e, consequentemente, interiorizados. Mais tarde, vários autores traziam à tona outro campo de estudos que chamaram de interlíngue, que seria um dialeto do aprendiz. O interlíngue seria determinado pela capacidade do aluno/locutor de entender uma língua estrangeira e pelo ponto em que esta língua seria compreendida, dada uma situação em que o locutor precisasse se comunicar1. As propostas e metodologias recomendadas por Corder, entre 1970 e 1990, foram as responsáveis pelos conhecimentos e avanços da evolução de língua dos aprendizes. Para estudar a interlíngue (dialeto/língua do aprendiz) devem ser levadas em conta três dimensões. Primeiramente, a dimensão sincrônica, que descreve os aspectos do sistema linguístico do aprendiz/locutor e as formas utilizadas por ele para comunicação; segue depois a dimensão diacrônica, que consiste em acompanhar, ao longo do tempo, as produções de um mesmo locutor e introduzir nelas a evolução das regras. A terceira dimensão é a comparação dos sistemas sincrônico e diacrônico, que podem estar relacionados a um ou mais locutores. Entre os anos 1983 e 1988, um projeto foi conduzido por cinco equipes europeias para realização de uma análise comparativa que visava distinguir traços interindividuais, 29 edição nº 10, agosto/2009 aprendiz, a competência no novo idioma será desenvolvida. Finalmente, Castro diz que a Teoria Cognitiva: vê o aprendizado da segunda língua como um processo mental, que passa pela prática estruturada de várias sub-habilidades até a automação e integração de padrões linguísticos. Essa teoria afirma que as habilidades tornam-se automáticas ou rotinizadas apenas após processos analíticos... Por outro lado, a Teoria Cognitiva postula uma reestruturação e integração constante e contínua dos aspectos linguísticos trabalhados para que o aprendiz desenvolva a linguagem. Segundo a teoria sociocultural (TSC), baseada em Vygotsky, a língua é um artefato cultural utilizada para mediações em atividades sociais. Portanto, a aprendizagem de uma segunda língua é um processo socialmente mediado, em que o aprendiz precisa interagir com outros indivíduos para poder observar e imitar. Voltando à corrente behaviorista, lembramos que Skinner explicava que a linguagem se fundamentava em estímulos externos, atribuindo relevante importância ao papel didático do professor no ato de ensinar. Com suas ideias nativistas, Chomsky reconhece a linguagem como característica geneticamente determinada e que, basta um mínimo conjunto de regras presente na mente do falante para que ele possa aprender sistemas mais complexos. Para alguns autores existem ainda as teorias interacionais, que combinam fatores inatos e ambientais para explicar a aprendizagem da língua. Há também um consenso entre a maioria dos estudiosos desse campo no fato de haver uma maior dificuldade no aprendizado de uma segunda língua na idade adulta. Um fato que pode explicar a dificuldade de aquisição da língua estrangeira após a adolescência é a falta de acesso à Gramática Universal por parte do aprendiz. Assim, a aquisição torna-se função exclusiva do processo cognitivo. Por um lado, possuir fluência numa língua significa também saber a realização adequada de fonemas e entonação. Quanto mais velho o aprendiz, menor flexibilidade ele terá para a aprendizagem desses novos automatismos. Já por outro lado, o conhecimento de um maior número de palavras e a capacidade de planejar discursos podem tornar-se mais fáceis com a maturidade. O indivíduo adulto pode, Cadernos UniFOA translinguísticos e do desenvolvimento da língua estrangeira. Como resultado das pesquisas, a preocupação com a interação do locutor com a língua na expressão de tempo e espaço ficou concretizada. Os meios linguísticos (léxico, morfologia, sintaxe e semântica) podem estar em diferentes níveis e, de certa forma, essa diferença marcará o desenvolvimento da nova língua. Estudos mostraram que depois da construção de uma base lexical (conjunto de palavras conhecidas pelo locutor) e gramatical (conhecimento construído ao longo do tempo) mínimas, deve-se priorizar a produção de narrativas, provocadas ou espontâneas, no âmbito dos assuntos mais comuns entre os aprendizes. Quando o indivíduo é inserido numa situação não-escolar em que precisa se comunicar na língua “do outro”, ele acaba por esforçar-se mais, independente das lacunas existentes no seu potencial linguístico. No ano de 1970, os estudos sobre língua estrangeira foram inseridos na área de linguística aplicada. Com isso, as pesquisas sobre o ensino ↔ aprendizagem de línguas, no Brasil, passaram a estabelecer que, em sala de aula, o ensino deve partir de estudos textuais para a produção de narrativas e descrições de acordo com as necessidades do aluno. Várias disciplinas se inter-relacionaram para auxiliar nessa questão de aprendizagem da nova língua para que todos tivessem suas ideias ouvidas, colaborando com o desenvolvimento do aprendiz. Segundo Castro (1996), algumas teorias foram elaboradas em relação à aquisição da língua estrangeira. A Psicolinguística Vygotskiana relaciona pensamento e linguagem e enfoca a compreensão do processo de aquisição, não somente o produto deste1. O Modelo do Monitor aparece com Krashen, que enfoca a aquisição de uma nova língua por adultos. Na teoria são descritos a distinção entre aquisição e aprendizagem; a ordem de aquisição da segunda língua diferente da língua materna; a motivação intrínseca do aluno, entre outros. A Teoria dos Universais Linguísticos classifica os aspectos gramaticais específicos de uma língua bem como as estruturas encontradas em todas as línguas. A Teoria do Discurso deixa claro que, somente através da interação comunicativa do 30 por exemplo, apoiar-se no uso da gramática, enquanto a criança chega às suas conclusões por inferência. É importante que o professor esteja preparado para uma situação comunicativa de ensino, em que promova o envolvimento do aluno com os aspectos a serem adquiridos e temas a serem discutidos. Dessa forma, o objeto a ser estudado torna-se mais familiar ao aluno e este, enquanto sujeito da linguagem, torna-se cada vez mais seguro no momento de formular seus próprios discursos e consciente do conhecimento que possui. 4. Ensino ↔ aprendizagem na prática Como professora de Inglês, tenho observado que cada vez mais, as metodologias para o Ensino da Língua Estrangeira têm tornadose mais interessantes e relacionados com a realidade dos estudantes, mas ainda são encontrados métodos que enfatizam somente a gramática, sem envolvê-la em contextos reais. Para exemplificar essas práticas transcrevo um texto bem humorado de Rubem Braga, publicado em 1945, intitulado “Aula de Inglês”. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA – Is this an elephant? – Is it a book? (...) – Is it a handkerchief? Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido: – No, it’s not! (...) – Is it an ash-tray? Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de comprimento. Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava. As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas – duas ou três – na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi: – Yes! Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente: (...) – Very well! Very well! Sou um homem de natural tímido, e ain da mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho. Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo (...) – No, it’s not! Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou: – It’s not an ash-tray! E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado. Maio, 1945 Vê-se que o método de memorização de gramática e vocabulário apenas, ignorandose a produção coerente de textos, bem como a finalidade do estudo da língua leva o aluno a protagonizar situações sem qualquer correspondência com a vida real. Há materiais didáticos hoje disponíveis que levam o aluno a imaginar ou vivenciar situações possíveis em sua realidade. Por exemplo, após o ensino de regras gramaticais do Simple Present, e a introdução de alguns exemplos de atividades diárias e um vocabulário pequeno em Inglês é possível pedir que os alunos façam uma redação descrevendo-se ou mesmo descrevendo outra pessoa. Esse mesmo tipo de exercício pode ser feito oralmente para desenvolver a habilidade de comunicação, desde que o professor apresente ao aluno um roteiro com a finalidade de facilitar o raciocínio e a organização das frases em um contexto. Vejamos o texto a seguir: My name’s Alessandra and I live in Argentina. I have a small family. My mother works in a bank and she gets home about 7.00 in the evening. She’s very hard-working and she usually brings her laptop home and does some more work after dinner. My father’s unemployed, so he doesn’t get up at the same time as my mother. He stays in bed until 9.00. I have a brother who really likes computers. He has a job with a computer company. We don’t have the same interests. He hates sport, but I love it. He’s 21 years old and I’m 19. I’m 31 Textos assim podem ser lidos ou escutados, em atividades de listening. Após interpretação, o professor pode solicitar ao aluno que fale um pouco de si mesmo e sua família. Para que não ocorra a “cópia” do texto, o professor apresentaria questões que serviriam de roteiro para a fala do aluno. Por exemplo: – What’s your name? Where do you live? – Do you live with your family? Do you have brothers and sisters? – What do the people in your family do? – What do you do? What do you like? What don’t you like? Essas questões podem ser aplicadas tanto para turmas de adolescentes quanto para adultos, e fazem com que os alunos não se desesperem por terem que falar a outros alunos ou ao professor. À medida que o aluno adquire novos conhecimentos, outros textos, em níveis mais complexos são usados. As aulas de Inglês devem se apresentar como um estímulo na forma de desafio, mas devem respeitar o nível de compreensão do aluno. Se forem muito fáceis ou muito difíceis, o aluno se desaponta, desiste e perde o incentivo que o levou a querer aprender. Em sala de aula também, o professor precisa estimular o uso do dicionário em diversas atividades como leitura de textos, músicas, vídeos ou charges. 5. Conclusões De acordo com alguns artigos que tratam do ensino de línguas estrangeiras e sua importância na atualidade, um novo idioma só é realmente compreendido a partir do momento em que o aluno passa a entender os conteúdos comunicativos da língua e não somente seus aspectos gramaticais. Ou seja, só realmente tem-se o conhecimento da língua quando se conhece a cultura do povo. A gramática precisa ser apresentada ao aprendiz de forma que ele veja a finalidade do aprendizado e saiba edição nº 10, agosto/2009 in college and I study Economics. In my free time I like going to the movies and listening to music. Cadernos UniFOA firme e ao ver, na vitrine de uma loja,alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria: 32 como usufruir da nova língua para seu crescimento profissional e pessoal. Como professora de Inglês, tenho alunos em diversas faixas etárias e, ao longo dos 4 anos lecionando a Língua Inglesa, pude perceber a diferença no aprendizado do Inglês, entre crianças, adolescentes e adultos. Alunos mais velhos ou que começam a estudar uma segunda língua mais tarde, podem ter maiores dificuldades para quebrar alguns paradigmas devido à cristalização de estruturas gramaticais da língua materna. Mas ainda assim, eles podem aproveitar o fato de serem mais experientes e terem um maior vocabulário para, consequentemente, construir discursos mais complexos. Independentemente da idade, o aluno precisa estar motivado. Ele precisa ver como o aprendizado pode ajudá-lo a transformar-se, ele precisa saber aonde pode chegar e o que é capaz de fazer. O aprendizado verdadeiro de uma nova língua não ocorre simplesmente com a repetição automática de enunciados, mas com a relação que o aluno encontra com a sua língua materna e sua realidade. 6. Referências edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA DEL RÉ, A. Aquisição da Linguagem – Uma Abordagem Psicolinguística. São Paulo, 2006. OLIVEIRA E PAIVA, V. L. M. de. A Complexidade da Aquisição de Segunda Língua. 2008. Disponível em www.veramenezes.com OLIVEIRA E PAIVA, V. L. M. de. Como o Sujeito Vê a Aquisição da 2ª Língua. 2009. Disponível em www.veramenezes.com OLIVEIRA E PAIVA, V. L. M. de. Linguagem, Gênero e Aprendizagem de Língua Inglesa. 2005. Disponível em www.veramenezes.com Endereço para Correspondência: Bethania M. Montrezor [email protected] Joy English Course Rua 40, n° 20 - sala 715 Vila - Volta Redonda - RJ CEP: 27260-200 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Montrezor, Bethania Márcia; Silva, Alexandre Batista da. A dificuldade no aprendizado da Língua Inglesa. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/27.pdf> 33 Aplicações do Enfoque Sistêmico nas Estruturas de Ensino e Pesquisa em Administração Systemic Aspect Applications of the Education and Research Structures in Administration Artigo Original Agamêmnom Rocha Souza 1 Cláudia Cristine Zamboti Francisco 2 Cinthia Cristine Zamboti Francisco 3 Original Paper Palavras-chaves: Resumo Teoria geral dos sistemas A Teoria Geral dos Sistemas, conhecida também como T.G.S., é uma teoria interdisciplinar, desenvolvida pelo biólogo alemão Karl Ludwig Von Bertalanffy. Essa teoria nos possibilita uma visão mais abrangente, em que podemos integrar diversos campos do conhecimento. As Instituições de Ensino Superior têm buscado apoio nos conhecimentos administrativos por ter a função de tornar seus alunos agentes participativos nos processos políticos e sociais. Abstract Key words: The Systems Gerenal Theory, also known as T.G.S., is an interdisciplinary theory developed by a german biologist Karl Ludwig Von Bertalanffy. This theory enables us to a wide vison, where we can integrate a lot of knowledge areas. The Higher Education Institutes are looking for support in the administrative knowledge, because their function to turn their students in participative agents in the political and social process. System general theory 1. Introdução 1.1 Investigação Inicial A Teoria Geral dos Sistemas, também conhecida pela sigla T.G.S., foi desenvolvida pelo biólogo alemão Karl Ludwig Von Bertalanffy e publicada entre 1950 e 1968. Ela não visa solucionar problemas ou experimentar as soluções consideradas práticas, mas busca produzir teorias e formulações conceituais que criem condições de aplicação na realidade empírica. Por ser uma teoria de caráter geral, isto é, uma teoria interdisciplinar, pode ser aplicada em diversos campos do conhecimento. 2 Higher education institutes Segundo BOULDING (1964), existem cinco postulados que devem ser considerados pontos de partida para o desenvolvimento da T.G.S. moderna, dos quais aproveitamos quatro deles para o presente trabalho: • Ordem e regularidade não randômicas são preferíveis à falta de ordem ou irregularidade randômica; • Regularidade no mundo empírico faz o bem mundial; • Para estabelecer ordem, a quantificação e a matemática são de grande ajuda; Mestre e Docente do UniFOA. Graduado em Administração e Ciências Contábeis (UCL) Bióloga, pós-graduada em Administração Pública - UCAM/RJ 3 Discente do Curso de Administração do UniFOA 1 Systemic approach edição nº 10, agosto/2009 Instituições de ensino superior. Cadernos UniFOA Abordagem sistêmica edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 34 • A procura para ordem e lei necessariamente envolve a indagação para as realidades que absorvem estas leis abstratas e ordem – a referência empírica delas. Essa teoria pode apresentar uma visão mais abrangente para estudar os campos não físicos da ciência, especialmente das ciências sociais. Ela começou a ser aplicada na administração devido à necessidade de uma síntese e uma integração entre as teorias já existentes e do aumento da informatização das organizações. Por isso, deve-se identificar o maior número possível de variáveis internas e externas, que possam exercer algum tipo de influência no processo (tomado como um todo) existente na organização. Segundo MAXIMIANO (2004), uma das premissas mais importantes desse enfoque é a noção de que a natureza dos sistemas é definida pelo observador. É preciso aprender a delimitar as fronteiras dos sistemas para compreendê-los e manejá-los, isso se chama fazer recortes na realidade. A Teoria de Sistemas utiliza o conceito do “homem funcional” em detrimento ao conceito do homo economicus da Teoria Clássica, do “homem social” da Teoria das Relações Humanas, do “homem organizacional” da Teoria Estruturalista e do “homem administrativo” da Teoria Behaviorista, segundo CHIAVENATO (2004). Em suas ações, o “homem funcional” mantém expectativas quanto ao papel dos outros participantes e procura enviar aos demais as suas próprias expectativas de papel. Essa interação altera ou reforça o desempenho, visto que as organizações são sistemas de papéis, onde os participantes desempenham funções. A abordagem sistêmica “integra as funções universais da administração, a abordagem das funções do adminstrador e o planejamento estratégico, levando em conta fatores externos”(MEGGINSON, MOSLEY e PIETRI JR. apud ARAUJO, 2004). 2. Características de sistemas A característica mais importante, dentro do conceito de sistema, é a ideia de conjunto de elementos interligados formando um todo, que apresenta propriedades e características próprias as quais não são encontrados em nenhum dos elementos formadores, tomados individualmente. É o que chamam emergente sistêmico, segundo CHIAVENATO (2004). Ainda segundo o autor, do conceito de sistema decorrem outro dois: o de propósito e o de globalismo. Esses dois conceitos definem duas características consideradas básicas do sistema: Propósito – todo sistema tem um ou alguns propósitos. Seus elementos formadores e os relacionamentos definem uma organização que visa, sempre, a um objetivo ou uma finalidade. Globalismo – todo sistema possui uma natureza orgânica, através da qual uma mudança em uma das unidades do sistema acarreta mudanças nas outras unidades, devido ao relacionamento entre elas. O efeito total dessas mudanças acarretará em um ajustamento sistemático de todo o sistema; este sempre reagirá globalmente. O sistema pode ser estável, quando uma parte compensa a outra; e instável, quando não há compensação, sendo subdividido em uma parte de crescimento e outra de decrescimento. 3. Tipo de Sistemas Há uma variedade de sistemas e uma ampla tipologia para classificar, de acordo com suas características. Por exemplo, quanto à sua constituição, os sistemas podem ser: Físicos ou concretos – quando são compostos por equipamentos, maquinário, coisas reais. Abstratos ou conceituais – quando são compostos por conceitos, hipóteses, ideias. Os sistemas físicos e abstratos se complementam, pois os sistemas físicos precisam dos abstratos para funcionar, e os sistemas abstratos precisam ser aplicados a um sistema físico. Quanto à natureza, podem ser: Fechados – quando não recebem influências externas e nada do que é produzido é exportado. Abertos – quando apresentam entrada e saída de energia e matéria. • Nas partes não orgânicas. • Nas partes animais. • Na sociedade. A parte que interage no sistema (parte potencial) é chamada de potencial livre, e a parte que não interage é chamada de potencial próprio. Um sistema é alterado qualitativamente quando o potencial próprio é alterado quantitativamente. Através da concentração do potencial próprio podemos saber a quantidade relativa de potencial do sistema. Quando o potencial livre aumenta ou reduz, há um aumento ou redução do potencial total do sistema, haja vista que com o aumento do potencial livre, as interrelações e as interações também aumentam, e com a diminuição deste, elas também diminuem. O aumento desse potencial ocorre com a redução dele em um outro sistema, ambos fazendo parte de um sistema maior; mais potencial livre implica interações maiores e mais longas entre os componentes de um sistema. Essas permutas causam uma equivalência e simultaneidade entre dois processos opostos, o de concentração e o de separação. 5. A organização como um sistema aberto De acordo com KATZ e KAHN apud SOUZA e FERREIRA (2004), a organização como um sistema aberto apresenta as seguintes características, dentre outras: Transformação – a organização reorganiza as entradas, transformando os insumos em produtos acabados. 35 Ciclos de eventos – o funcionamento da organização é baseado nos ciclos decorrentes da importação-transformação-exportação. Entropia negativa – a organização procura fugir do esgotamento. Informação como insumo, retroação negativa e processo de decodificação – a organização importa informações sobre o ambiente externo, dele obtendo o necessário feedback. Estado firme e homeostase dinâmica – a organização precisa equilibrar a sua adaptabilidade às mudanças ambientais, preservando algumas características internas. Diferenciação – a organização tende a substituir padrões difusos por funções mais especializadas. Equifinalidade – um sistema pode alcançar, através de vários meios distintos, o mesmo resultado final, a partir de diferentes condições iniciais. Limites ou fronteiras – o espaço interno, a esfera de ação e o grau de abertura da organização são delimitados por limites ou fronteiras, em relação ao ambiente. Bertalanffy acreditava no sistema aberto como “um complexo de elementos em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente” (MOTTA e VASCONCELOS apud ARAUJO, 2004). 6. Sistemas sócio-técnicos Considerar a organização como um sistema sócio-técnico, significa prestar atenção no processo de transformação ou conversão, através da qual a organização tenta alcançar suas metas. Esses sistemas se relacionam com as interações entre os fatores psicológicos e sociais, e entre as demandas do fator humano da organização e seus requisitos estruturais e tecnológicos. Um estudo importante foi realizado pelo Instituto Tavistock de Relações Humanas, edição nº 10, agosto/2009 Os sistemas possuem um potencial que mostra suas situações internas, evidenciando sua estabilidade (que é proporcional ao potencial) e as forças e estabilidades das interrelações entre seus componentes. O potencial total de um sistema é o somatório dos potenciais de suas partes. A interação entre os componentes do sistema (movimentação), altera o seu potencial. Ela pode ocorrer de três maneiras distintas, dando suporte a existência do sistema, assim como as alterações de potencial: Exportação – a organização exporta produtos e serviços para o meio externo. Cadernos UniFOA 4. Potencial do sistema 36 em Londres, também conhecido como sistema sócio-técnico de Tavistock, sob o comando de Eric Trist em colaboração com K. W. Bamforth. Seu objetivo era o estudo dos efeitos da mecanização nas minas de carvão em Londres. O trabalho de Trist usa uma abordagem sistêmica para entender o comportamento organizacional. 7. Paralelos entre organismos e organizações ORGANISMOS ORGANIZAÇÕES São seres completos (não precisam pra- São seres incompleticar parasitismo ou tos simbiose) O problema é um A doença é um disdesvio nos procetúrbio no processo dimentos adotados vital pela organização Fonte: FERREIRA et al apud SOUZA e FERREIRA, 2004. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Os sistemas vivos, sejam considerados individualmente ou em grupos, são considerados sistemas abertos, mantendo uma troca com ambiente constante de matéria/energia/informações. De acordo com SOUZA e FERREIRA (2004), a abordagem sistêmica da administração adota na análise das organizações o modelo dos organismos vivos, em detrimento do modelo mecânico da concepção clássica. De acordo com SILVA (2002), as organizações são sistemas construídos pelos indivíduos em interação com o ambiente – consumidores, clientes, concorrentes, organizações de mão-de-obra, etc. Também são sistemas de partes inter-relacionadas que trabalham em conjunto para alcançar determinado número de metas, tantos das organizações como dos participantes. A intenção da T.G.S. é a tomada de decisão. Porém, é preciso que as diferenças existentes entre os seres vivos e as organizações sejam consideradas. O quadro a seguir ajuda na compreensão: Tabela 1: Diferenças existentes entre os seres vivos e as organizações. ORGANISMOS ORGANIZAÇÕES Herdam seus traços Adquirem estruturas em estágios Morrem Podem ser reorganizadas Têm um ciclo de Não têm um ciclo de vida predeterminado vida definido São seres concretos São seres abstratos Quando dizemos que os organismos herdam seus traços, estamos falando de genética e seleção natural, por exemplo. Mas quando se trata das estruturas adquiridas pelas organizações em estágios, estamos nos referindo ao ciclo de vida das organizações, da abordagem de Greiner, por exemplo. A abordagem de Greiner considera cinco fases sequenciais de crescimento lento e revolução rápida, onde cada estágio cria sua nova crise, que acabará em um novo estágio: Fase 1 – crescimento pela criatividade, crise pela liderança. Fase 2 – crescimento pela direção, crise de autonomia. Fase 3 – crescimento pela delegação, crise de controle. Fase 4 – crescimento pela coordenação, crise de burocracia. Fase 5 – crescimento pela colaboração, crise da saturação psicológica. É necessário frisar que, por mais que existam semelhanças entre um e outro, as diferenças devem sempre ser levada em consideração. Dessa forma, não é difícil admitirse que as Instituições de Ensino Superior, nesse contexto, estão inseridas, sendo os Cursos de Administração inegavelmente responsáveis pelas contribuições científicas, em nível de ensino e pesquisa, já que se esmeram para esse binômio acadêmico fluam constantemente. 9. Teoria Geral dos Sistemas e Sistemas Escolares (Educativos) Dentro do contexto atual de que a escola tem que formar integralmente o aluno, tornando-o um efetivo participante dos processos políticos e sociais, atuando principalmente como agente transformador destes sistemas e preparado para a competitividade do mercado de trabalho, as Instituições de Ensino Superior têm buscado Entradas (Input): Todo recurso material ou humano capaz de gerar insumos pedagógicos e administrativos; • Processamento (Trougput): Utilização dos insumos objetivando cumprir o papel de tranformação do aluno; • Saída (Output): Alunos preparados para o enfrentamento social e profissional; 37 edição nº 10, agosto/2009 A Teoria Geral dos Sistemas é muito abstrata para ser aplicada em situações gerenciais práticas. Mesmo apresentando “uma aplicabilidade geral ao comportamento de diferentes tipos de organizações e indivíduos em diferentes meios culturais” (ISARD apud CHIAVENATO, 2004), essa abordagem é muito geral, cobrindo todos os fenômenos da organização. Se especificarmos um problema dentro das quatro dimensões organizacionais (concepção organizacional, planejamento e controle organizacional, processos comportamentais e tomada de decisão), é só fazer as mudanças necessárias dentro de uma ou mais dimensões e resolvê-lo. Na T.G.S., essa especificidade não existe. Ela é uma síntese dos conceitos da abordagem clássica, neoclássica, estruturalista e behaviorista. Não identifica as relações específicas que existem entre as dimensões organizacionais e não faz distinção entre variáveis. A T.G.S. se apoia em hipóteses questionáveis. Segundo ANDRADE e AMBONI (2007), ela pode ser responsável por uma ilusão científica, pois apesar de apresentar semelhanças com um sistema biológico, o sistema administrativo possui características próprias. As relações entre a empresa e o ambiente externo devem ser consideradas dentro de limites claros, sem exageros de paralelismo. Ainda segundo os autores, os estudiosos parecem enfatizar mais o ambiente do que as relações entre organização e ambiente. A organização depende do crescimento e eficiência da sua adaptabilidade ao ambiente para sobreviver, o que implica na maior chance de sobrevivência das organizações nas quais as normas e os valores estejam mais de acordo com as demandas do ambiente. se orientarem à luz de conceitos administrativos, tendo em vista, tratar-se de uma organização composta por vários atores com papéis definidos e objetivos comuns. Por isso necessita planejar suas ações, organizar sua estrutura, executar seus planos e controlar seus resultados. Por apresentar um organograma com eixo definido e unidades inter-relacionáveis, o sistema escolar está mais suscetível aos critérios estabelecidos pela Teoria Geral dos Sistemas, uma vez que a escola é um sistema social (humano) complexo e aberto à influência ambiental, mais adaptativo pela capacidade de acumulação de conhecimento coletivo e diversidade de perfis individuais. O sistema escolar, devido sua complexidade, utiliza como ferramenta o enfoque sistêmico para visualizar a interação de seus componentes, entender a multiplicidade e interdependência das causas e variáveis dos problemas ( e. g. evasão, baixo rendimento, infrequência, desmotivação docente e discente.) e criar soluções para estes problemas. “ O sistema educativo formal organiza-se por níveis etários e segmentos educacionais que se caracterizam segundo finalidades e tipos de educação a prosseguir, de acordo com as funções sociais da escola e as necessidades de desenvolvimento pessoal e social dos educandos”, (RIBEIRO, ANTÓNIO CARRILHO apud SILVA, 2006). Na estrutura do sistema escolar, podemos considerar de uma forma simplificada que hierarquicamente ou funcionalmente, a classe dos alunos subordina-se à dos professores, e ambas se subordinam à direção. O sistema escolar apresenta componentes físicos e abstratos. Como um sistema dinâmico, o sistema escolar trabalha com elementos comuns aos da T.G.S., envolvendo o ensino e a pesquisa, especialmente nos Cursos de Administração: Cadernos UniFOA 8. Avaliando a T.G.S. 38 • Retroalimentação (Feedback): Informações relevantes para ajustar atividades e procedimentos administrativos/pedagógicos de modo a melhorar o desempenho (conselho de classe) • Controle ou Cibernética (Control or cybernation): Atividades ou processos utilizados para avaliar o desempenho da escola ( avaliações internas e externas); • Sistemas abertos (Open systems): A escola interage com todos os setores da sociedade realizando trocas de informações; • Subsistema (Subsystem): A escola está dividida em setores que compõem o sistema escolar (administrativo, pedagógico); • Objetivo (Goal): A escola tem como objetivo principal transformar o aluno em um cidadão integral, capaz de interagir na sociedade modificando-a quando necessário e preparado para o mercado de trabalho. • Equifinalidade (Equifinality): A escola utiliza de recursos, abordagens e procedimentos variados para atingir seus objetivos; edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA • Entropia negativa (Negative entropy): Como sistema aberto, a escola tem que manter o equlíbrio antecipando prováveis problemas (desistências, trancamento de matrícula) “Pode dizer-se que, em linhas gerais, no sistema escolar são considerados os seguintes subsistemas maiores: a) o curricular e o pedagógico (referente a planos de estudos, programa de ensino, métodos, organização pedagógica e avaliação do ensino-aprendizagem; b) o dos recursos humanos, designadamente pessoas e demais agentes educativos (referente à sua formação e regime de docência ou intervenção; c) o dos recursos físicos (respeitante à rede, instalações e equipamentos escolares); d) o de administração, organização e gestão escolares; e) o dos apoios e complementos educativos (designadamente a orientação educacional, saúde, apoios sócio-educativos e vários serviços complementares)”, ( RIBEIRO, ANTÓNIO CARRILHO apud SILVA, 2006). 10. Aplicações do Enfoque Sistêmico nos Sistemas Escolares A escola tanto pública quanto a privada, trabalha em busca da qualidade total, avaliando sempre os resultados de todos os setores que a compõe. Com isso é capaz de uma re-engenharia e redesenho de seus processos, o que leva a mudanças visando ajustes situacionais. A organização escolar para ser bem sucedida tem que assegurar o equilíbrio entre o sistema interno e externo através de estratégias que reduzam sua vulnerabilidade, garantindo assim sua existência. 11. Considerações Finais Por derradeiro, emerge como real necessidade, tão iminente quanto eminente, nas Organizações Escolares Superiores ofertantes de Curso de Administração, a inclusão ou manutenção da pesquisa, via PIC – Programa de Iniciação Científica ou similares, com a finalidade precípua de aprimorar o ensino, dotando, da merecida qualidade, todos os processos que se vinculem à formação do futuro Bacharel em Administrração, fechando-se o ciclo sistêmico educativo, de enorme importância para as Instituições de Ensino e, em consequência, para o Brasil. 12. Bibliografia ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de e AMBONI, Nério. Teoria Geral da Administração – Das Origens às Perspectivas Contemporâneas. São Paulo: M. Books, 2007. ARAUJO, Luis César G. de. Teoria Geral da Administração: Aplicação e Resultados nas Empresas Brasileiras. São Paulo: Atlas, 2004. ARAÚJO, Osnaldo. Teoria Geral dos Sistemas. Disponível em : http://www.dearaujo.ecn.br/ cgi-bin/asp/gst02.asp. Acesso em : 29 de maio de 2009. BRANDÃO, Zaia. Fluxos Escolares e Efeitos Agregados pelas Escolas. Disponível em: http://www.rbep.inep.gov.b.;index.php/emaberto/article/viewFile/1073/975. Acesso em: 29 de maio de 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração das Organizações. Rio de Janeiro: Campus, 2004. 39 MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: Da Revolução Urbana à Revolução Digital. São Paulo: Atlas, 2004. MICHALAK, Fernando Alves. Teoria Geral dos Sistemas. Disponível em : http://magno86.spaces.live.com/blog/ cns!1360ADD0FFE1343B!1331.entry. Acesso em : 29 de maio de 2009. PUGH, Derek S. e HICKSON, David J. Os Teóricos das Organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. SILVA, José Manuel. Tecnologia Educativa, Teoria Geral dos Sistemas e Teoria da Comunicação: Uma simbiose perfeita. Disponível em: http://www.ipg.pt. Acesso em: 29 de maio de 2009. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Agamêmnom Rocha Souza [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Souza, Agamêmnom Rocha; Francisco, Cláudia Cristine Zamboti; Francisco, Cinthia Cristine Zamboti. Aplicações do Enfoque Sistêmico nas Estruturas de Ensino e Pesquisa em Administração. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/33.pdf> edição nº 10, agosto/2009 Endereço para Correspondência: Cadernos UniFOA SOUZA, Agamêmnon Rocha e FERREIRA, Victor Cláudio Paradela. Introdução à Administração: Uma Iniciação ao Mundo das Organizações. Rio de Janeiro: Pontal, 2006. 41 CSN e Responsabilidade Sócio-Ambiental: Conscientização, Estratégia ou Necessidade? CSN and Corporate Social and Environmental Responsibility: Awareness, Strategy or Necessity? Rita de Cássia Santos Carvalho 1 José Luiz Trinta 2 Fátima Cristina Trindade Bacellar 3 Teoria geral dos sistemas O presente caso para ensino aborda temas relacionados à Responsabilidade Sócio-Ambiental em ações praticadas pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Para tal, primeiramente é relatado o histórico da empresa, começando por sua fundação como uma empresa estatal que, após passar por um processo de privatização, tornou-se uma empresa internacionalizada e de capital aberto. Em seguida, dentro desse contexto, busca-se caracterizar a responsabilidade sócio-ambiental como elemento do planejamento estratégico da empresa, bem como de sua internacionalização e da diversificação do campo de negócios. O objetivo é discutir, no caso da empresa, como tais ações podem contribuir para a sustentabilidade, trazer vantagens competitivas e auxiliar na ampliação de seus negócios, principalmente, no exterior. Também estão incluídas neste trabalho questões para discussão em sala de aula, assim como, notas de ensino que, além de relacionar a literatura pertinente ao tema, são finalizadas com depoimentos de especialistas em Meio Ambiente sobre a importância dos programas de responsabilidade social empresarial. Espera-se que este caso proporcione uma estimulante discussão junto a alunos de graduação e de pós-graduação, em especial de programas lato sensu, sobre um tema tão importante e atual. Instituições de ensino superior. Abstract Key words: This case for teaching addresses issues related to Social and Environmental Responsibility in actions taken by Companhia Siderurgica Nacional (CSN). To do this, first reported the company’s history beginning with its founding as a state body, after going through a privatization process, has become an internationalized company and traded. Then, within this context, we seek to characterize the social and environmental responsibility as part of strategic planning, as well as internationalization and the diversification of the business field. The objective is to discuss the case of the company, as such actions can contribute to sustainability, bringing competitive advantage and assist in growing their business, especially abroad. Also included in this study questions for discussion in the classroom, as well as teaching notes that in addition to the literature relating to the subject, are finished with testimony from experts on the Environment on the importance of the corporate social responsibility. It is hoped that this case provides a stimulating discussion with students at undergraduate and postgraduate, in particular, programs broadly on an issue as important and current. System general theory Mestre e Docente do UniFOA. Graduada em Comunicação Social (SOBEU) e em Pedagogia (FERP) Doutor em Administração - FEA/USP e Mestre em Administração - COPPEAD/UFRJ 3 Doutora em Administração - USP e Mestre em Administração - COPPEAD / UFRJ 1 2 Systemic approach Higher education institutes edição nº 10, agosto/2009 Resumo Cadernos UniFOA Original Paper Palavras-chaves: Abordagem sistêmica Artigo Original edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 42 1. Introdução Na medida em que trouxe implícita a evolução dos meios de comunicação e das tecnologias de informação, a globalização influenciou também a conduta das empresas, que passaram a observar com mais cuidado a imagem que a organização transmite ao público, pois seus atos passaram a ser mais divulgados e, portanto, mais sujeitos ao controle da sociedade. Esta passou, então, a ter uma tendência crescente de esperar das empresas um comportamento mais socialmente aceitável, incluindo desde a responsabilidade de assumir pelos atos por ela praticados- entre eles problemas ambientais - até o envolvimento em problemas sociais básicos, participando ativamente do crescimento e bem estar social das comunidades onde estão inseridas. Por outro lado, também é preciso considerar que o ritmo acelerado com que o homem vem consumindo os recursos naturais da Terra e poluindo a sua atmosfera, criou uma grande preocupação com o meio ambiente e com o desenvolvimento futuro da humanidade, que fica evidenciado pelas sucessivas reuniões e eventos, ocorridos a partir de 1972, sob o patrocínio da ONU, dos quais se destacam a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo, 1972) e o Relatório Brundtland (1987), também chamado de “Nosso Futuro Comum” – que já consolidava o conceito de Desenvolvimento Sustentável, Rio 92 (Rio de Janeiro, 1992) – que lançou as bases para a Agenda 21 e o Protocolo de Kioto e Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável. Essa pressão por parte da sociedade como um todo, juntamente com a preocupação em relação à sustentabilidade, está se tornando um dos fatores responsáveis pela criação nas empresas de uma cultura de responsabilidade social que vai bem além da tecnologia e do processo produtivo, reconhecendo a importância do meio ambiente como fator de sobrevivência das empresas no século XXI. Nota-se uma crescente conscientização das organizações no sentido de assumir um papel mais amplo dentro da sociedade, tendência que fica cada vez mais evidente pelos balanços sociais das empresas, publicados em seus relatórios anuais. Entre as organizações que estão assumindo esse novo papel destacam-se as do ramo siderúrgico, con- siderado de alto impacto ambiental, e dentro desse setor, a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, objeto do presente caso para ensino. Para a elaboração deste trabalho, foram utilizados documentos de diversas fontes, dentre elas: Relatórios Anuais da CSN (2004 2005 e 2006); sites da CSN, da Vale e do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) além de entrevistas com a Gerente de Relações Institucionais da Fundação CSN – FCSN e dois especialistas em Meio Ambiente. 2. O Contexto Siderúrgico A siderurgia é o ramo da indústria que se dedica à obtenção e ao tratamento do ferro e do aço. É uma indústria de base composta, em sua maioria, por empresas de grande porte. A crescente demanda por produtos de ferro e aço fez com que o setor evoluísse tecnologicamente e aumentasse sua produção. Em contrapartida, e como decorrência da própria natureza dos processos siderúrgicos, que trabalham com altas temperaturas e geram poeiras e gases, aumentaram também os problemas ambientais e os riscos para os operários e para as comunidades. Apesar dos protestos e dos movimentos sociais, somente a partir da segunda metade do século XX é que as empresas siderúrgicas passaram a investir mais em tecnologia e equipamentos, de modo a reduzir a emissão de poluentes e aumentar a segurança de seus operários e da comunidade, bem como diminuir o consumo relativo de matérias primas e insumos, principalmente a água. Graças a esse fato, o aço é hoje o produto mais reciclável e reciclado do mundo. O parque siderúrgico brasileiro em 2006 era composto por 25 usinas operadas por 11 empresas e dispunha de uma capacidade de produção instalada de 36,5 milhões de toneladas de aço bruto/ano. Essa capacidade colocou o Brasil como o oitavo maior produtor mundial de aço e o primeiro da América Latina. Nesse ano, a produção brasileira foi de 30,6 milhões de toneladas de aço, representando 3,1% da produção mundial e 51,5% da produção da América Latina. O faturamento do setor foi da ordem de US$ 53,8 bilhões, e gerou 110 mil empregos, dos quais 60 mil diretos e efetuou recolhimentos de impostos de aproximadamente R$10,4 bilhões. A Companhia Siderúrgica Nacional – CSN – foi fundada em 9 de abril de 1941, por ato do então Presidente da República, Getúlio Vargas e começou a operar na cidade de Volta Redonda – RJ, em 12 de outubro de 1946, data oficial da sua inauguração. É a primeira usina siderúrgica integrada a funcionar no Brasil, sendo considerado um marco no processo de industrialização brasileira. Sua produção de aços planos e não planos na época viabilizou a implantação das primeiras indústrias nacionais do parque fabril brasileiro. Atualmente, possui na Usina Presidente Vargas em Volta Redonda uma capacidade de produção instalada de 5,8 milhões de toneladas de aço por ano, empregando diretamente cerca de 8 mil pessoas. Com tecnologia inovadora e modernos equipamentos, oferece uma das mais completas linhas de aços planos e revestidos da América do Sul, de alto valor agregado. Seus produtos estão presentes em diversos segmentos, entre os quais se destacam o automotivo, da construção civil, de embalagem e linha branca, fornecidos para clientes no Brasil e no exterior. Após privatização, em 1993, a CSN se tornou uma empresa de capital aberto, com ações negociadas nas Bolsas de São Paulo e de Nova Iorque. Nos anos seguintes, a empresa experimentou um forte crescimento e diversificou sua atuação. Em 2001, iniciou um processo de internacionalização, com a aquisição dos ativos da Heartland Steel, constituindo a CSN LLC, nos Estados Unidos. Hoje, a CSN, possui entre seus ativos uma usina siderúrgica integrada, cinco unidades industriais, sendo duas delas no exterior (Estados Unidos e Portugal), minas de minério de ferro, calcário, dolomita e estanho, uma distribuidora de aços planos, terminais portuários, participação em estradas de ferro e em duas usinas hidroelétricas. 43 3.1. A fase estatal As medidas efetivas para a implantação da CSN tiveram início em 1931, com a criação, no governo Vargas, da Comissão Nacional de Siderurgia. Após 10 anos de disputas internas e externas, agravadas pela Segunda Guerra Mundial, foi realizada em 9 de abril de 1941, na cidade do Rio de Janeiro, a Assembleia Geral de constituição da Companhia Siderúrgica Nacional, que segundo o estatuto aprovado nessa assembleia (1941, art. 4), seria uma sociedade anônima com domicílio no Rio de Janeiro, “que tem por fim a fabricação e transformação de ferro gusa, de ferro, de aço e seus derivados, bem como o estabelecimento e exploração de qualquer indústria que, direta ou indiretamente, se relacione com esses objetivos.” A partir dessa data, deu-se início à construção da usina, no então distrito de Barra Mansa, Santo Antônio de Volta Redonda, hoje município de Volta Redonda – RJ. Em 1946, foi aceso o Alto Forno 1 e, em 12 de outubro de 1946, a usina foi inaugurada oficialmente pelo Presidente da República, na época, o general Eurico Gaspar Dutra. Em 1961, a usina passou a ser denominada Usina Presidente Vargas e, nesse mesmo ano, a mineração de ferro, Minerações Casa de Pedra, situada em Casa de Pedra – MG e a mineradora de fundentes (calcário e dolomita), Arcos, situada em Arcos – MG, foram incorporadas à CSN. Em 1954, a empresa concluiu a segunda fase do seu plano de expansão e a produção alcançou 680 mil toneladas/ano de aço bruto. Dando sequência à expansão, em 1960, a produção foi elevada para 1 milhão de toneladas e, em 1963, atingiu a marca de 1,3 milhões de toneladas/ano. Ainda em 1960, dois fatos sociais relevantes ocorreram: foi fundada a Caixa Beneficente dos Empregados da CSN – CSN Previdência, entidade fechada, de previdência privada, para os empregados da empresa, e foi instituída a Fundação General Edmundo de Macedo Soares e Silva, com a finalidade de manter a Escola Técnica de Congonhas, que a edição nº 10, agosto/2009 3. A Companhia Siderúrgica Nacional – CSN A empresa adota o gerenciamento da qualidade e meio ambiente, certificados pelas normas ISO 14001 e concentra suas ações de responsabilidade social na fundação por ela instituída, a Fundação CSN. Cadernos UniFOA O setor siderúrgico nacional está em franca expansão e prevê o investimento de US$ 13 bilhões, até 2010, para ampliar a capacidade de produção de aço bruto para 49 milhões de toneladas anuais. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 44 CSN criou no município de Congonhas – MG. No decorrer do tempo, o campo de atuação da Fundação foi sendo ampliado e, em 1998, já como empresa privada, seu estatuto foi alterado, o nome foi mudado para Fundação CSN e passou a constituir o braço social da CSN, com o objetivo de realizar ações voltadas para a construção da cidadania junto às comunidades onde a empresa atua. Dando sequência a um novo plano de expansão, iniciado em 1974, a CSN alcançou a capacidade de produção instalada de 2,5 milhões de toneladas em 1977 e 4,6 milhões de toneladas/ano, em 1989, com a construção do terceiro alto forno. No ano seguinte, 1990, com a implantação de novos processos e novos equipamentos, a empresa se torna a maior produtora mundial de folhas metálicas, em uma mesma usina, com a marca de 1 milhão de toneladas/ano. Nesse mesmo ano, o Governo Federal decide pela privatização da CSN e dá início ao processo de saneamento e reestruturação, preparando-a para a venda. Desde sua criação, na década de 1940, a CSN vem desenvolvendo políticas socialmente responsáveis. Na fase de implantação, devido à pobreza do local escolhido para construção da usina e à orientação governamental, da época, a política era de total assistencialismo, que garantia, ao empregado e seus dependentes, moradia a custo simbólico, assistência médica e odontológica inteiramente gratuitas, além de facilidades para aquisição de víveres, roupas, mobiliário e utensílios domésticos. Até a década de 1960 esta política foi pouco alterada. A partir da década seguinte, com o passar do tempo, essa política foi sendo modificada e se adequando à realidade do país e do mundo. Com relação ao meio ambiente, até a década de 1970, as ações de preservação eram mínimas e não sistematizadas. Somente a partir de 1980, no Estágio III do Plano de Expansão, em que predominou a instalação de equipamentos e tecnologia de origem japonesa é que as ações de preservação começaram a ser sistematizadas, dando início a um processo de conscientização ambiental, que foi crescendo gradativamente até o início da década de 1990, quando começou um tumultuado período em que a empresa se tornou altamente deficitária e teve seu fechamento cogitado pelo Governo Collor. Em 1993, a CSN foi vendida na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O Governo se desfez de 91% das ações da Companhia e o controlador atual, Grupo Vicunha, passou a ser um dos sócios controladores. A Companhia emite ADRs (American Depositary Receipts) de nível I (mercado de balcão) na Bolsa de Nova Iorque. 3.2. A fase pós-privatização Logo após a privatização, teve início um período de grandes investimentos com o objetivo de aprimorar a qualidade dos produtos e aumentar a produtividade das unidades produtoras. Esse objetivo buscava capacitar a empresa a competir no mercado, visando a sua recuperação financeira. Em contrapartida a demissão de quase dez mil empregados, trouxe sérios problemas para a cidade de Redonda e região, gerando uma grave crise social. Em 1996, a empresa amplia o seu Volta campo de atuação para os setores de infraestrutura e logística, passando a participar dos projetos de construção de duas novas usinas hidroelétricas, do Porto de Sepetiba, em Itaguaí – RJ e da ferrovia MRS. Em 1997, com pouco mais de cinquenta anos de existência, atinge a marca histórica de 100 milhões de toneladas de aço produzida. Nesse mesmo ano, outro fato importante acontece, a CSN passa a ter ações listadas no nível II da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Os anos que se seguem são de aquisições e crescimento. Em 1998, a empresa adquire a INAL e a Intermesa, duas importantes distribuidoras de aço, que têm suas operações fundidas, dando origem à nova INAL, empresa que passou a fazer parte do grupo CSN. Em 1999, foi inaugurada a central de cogeração termoelétrica na Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda - RJ, que além de suprir 60% das necessidades de energia elétrica da usina, representa um enorme benefício para o meio ambiente, pois utiliza, na sua operação, gases gerados no processo produtivo da usina que anteriormente eram lançados na atmosfera. Em 2000, foi inaugurada a hidroelétrica de Itá, em Santa Catarina, que torna a CSN autossuficiente em energia elétrica. É inaugurado, também, o TECON, Terminal de Contêineres, no Porto de Sepetiba-RJ, construído pela CSN em conjunto com a Companhia Vale do Rio Doce. Nesse mesmo ano, ocorre a reestruturação so- 45 edição nº 10, agosto/2009 Lusosider, em Portugal, passando a deter a totalidade do capital dessa empresa. Em 2006, a CSN adquiriu a PRADA, maior fabricante de embalagens de aço para a indústria química e alimentícia do país, com quatro unidades de produção, localizadas em São Paulo, Araçatuba, Gaspar e Uberlândia. Em 2007, a CSN deu início à construção da sua fábrica de cimento, que fica situada no interior da própria usina, em Volta Redonda, devendo iniciar a produção em 2008. Em 27 de setembro, a CSN realizou, no auditório da Associação Comercial Industrial e Agro Pastoril – ACIAP, em Volta Redonda, audiência pública, com a participação de seus dirigentes, empresários e autoridades locais, confirmando a construção, na cidade, de um dos seis módulos de produção de placas de aço, com os quais pretende elevar sua capacidade de produção de aços planos em 9 milhões de toneladas anuais. O investimento, orçado em U$ 805 milhões (cerca de R$1,5 bilhão), deve gerar mil empregos na operação, sendo 800 diretos na CSN e 200 em empresas terceirizadas. O empreendimento ficará pronto 36 meses, após o início da obra, condicionada ao recebimento da licença ambiental. O projeto do módulo de Volta Redondo inclui a construção do Alto Forno 4, cuja localização vinha sendo discutido pela empresa há algum tempo. Outro projeto importante para Volta Redonda é a “Fábrica de Aços Longos”, que vai produzir 500 mil toneladas por ano – 370 mil de barras, perfis e vergalhões e 130 mil de fio máquina. A fábrica deverá iniciar sua operação um ano antes do módulo de placas e o investimento será de U$ 112,7 milhões. Na operação dessa nova unidade, a CSN vai empregar 421 empregados diretos e gerar outros 100 postos terceirizados, totalizando 521 novos empregos. Além da fábrica em si, outro aspecto importante a ser destacado é que o fio-máquina a ser produzido pela fábrica de aços longos é matéria prima para vários outros segmentos industriais representando um forte atrativo para a instalação de novas indústrias na região. Quanto aos demais módulos de produção, que compõem o atual plano de expansão da empresa, ficarão assim localizados: dois em Itaguaí – RJ, onde a empresa tem o terminal portuário, na Baía de Sepetiba; dois em Congonhas – MG, próximo da mina de Casa de Pedra e o quinto, Cadernos UniFOA cietária em que a CSN realiza o descruzamento de participação acionária com a Companhia Vale do Rio Doce. A Vicunha Siderurgia aumenta sua participação de 14,1% para 46,5% na CSN e passa a ser o sócio controlador da empresa. Ainda nesse ano, a CSN vende sua participação acionária na Light. Em 2001, a empresa dá início ao processo de internacionalização, ao adquirir os direitos de compra dos ativos da concordatária americana Heartland Steel, constituindo a CSN LLC. Nesse mesmo ano, obtém a certificação na ISO 14001. Também realiza reformas no Alto Forno 3 e no Laminador de Tiras à Quente 2 (equipamentos vitais da Usina Presidente Vargas), que possibilitaram alcançar a capacidade nominal de 5,6 milhões de toneladas/ano de aço bruto e 5,1 milhões de toneladas/ano de produtos laminados. Em 2002, a CSN adquire a Metalic, fábrica de latas de aço de duas peças, localizada em Fortaleza – CE, sendo a única empresa da América Latina a fabricar esse produto, considerado de alta tecnologia. Em 2003, a CSN alcança a marca recorde de 5,3 milhões de toneladas de aço produzido. Nesse mesmo ano, inaugura uma nova linha de galvanização, a CSN Paraná, destinada à produção de aços revestidos e pré-pintados. Ainda nesse mesmo ano, em prosseguimento ao seu processo de internacionalização, adquire 50% do capital da Lusosider, em Portugal, e adquire o controle total da CSN LLC. Ainda nesse ano é feito o descruzamento em participações logísticas, entre a CSN e Vale do Rio Doce. A CSN passa a deter 100% do terminal de contêineres do Porto de Sepetiba (TECON), 49,9% das ações da Companhia Ferroviária do Nordeste e abre mão da sua participação na Ferrovia Centro Atlântica (FCA). Em 2004, a CSN adquire os 50% restantes do capital da Galvasud, situada em Porto Real – RJ, passando a deter a totalidade do capital dessa empresa. Em 2005, adquire 100% das ações da ERSA – Estanhos de Rondônia S.A., empresa composta por uma mina de estanho (Mineração Santa Bárbara) e uma fundição de estanho, ambas localizadas no estado de Rondônia. Nesse mesmo ano, em prosseguimento ao seu processo de internacionalização, a CSN adquire os 50% restantes das ações da 46 na Região Nordeste em local ainda não definido, no estado que oferecer, além da infraestrutura, o melhor pacote de incentivos tributários. Os investimentos totais previstos para esse plano são da ordem de U$ 6 bilhões. Assim, foram definidos como pilares do planejamento estratégico da empresa: • Aumentar valor para os acionistas. • Manter sua posição de indústria siderúrgica com o menor custo mundial e maior margem EBITDA. • Tornar-se uma global player otimizando seus ativos de infraestrutura (minas, portos e ferrovias) e suas vantagens competitivas de custo, permitindo um maior crescimento da CSN. • Focar no cliente e oferecer soluções completas em aço, apoiadas por produtos e serviços de excelente qualidade, no Brasil e no mundo. • Proporcionar aos seus colaboradores um ambiente de trabalho seguro e saudável. • Respeitar o meio ambiente e as comunidades onde atua. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 3.3. Ações de Responsabilidade Sócio-Ambiental Com a privatização em 1993, as políticas de responsabilidade social continuaram, com o apoio a projetos nas áreas de educação, desenvolvimento comunitário, saúde, cultura e esporte, agora concentradas na fundação instituída pela empresa, a Fundação CSN. Segundo dados da empresa, no ano de 2006, foram investidos R$ 13 milhões em projetos sociais, beneficiando mais de 400 mil pessoas, em doze municípios de cinco estados brasileiros. Em relação ao meio ambiente, a CSN herdou um grande passivo ambiental. Porém, consciente da necessidade estratégica de cuidar do meio ambiente celebrou acordo com a FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) em 27 de janeiro de 2000 pelo qual a empresa se comprometeu a realizar 130 projetos ambientais e atingir metas de desempenho relacionadas ao meio ambiente em Volta Redonda. Esse acordo, denominado Termo de Ajuste de Conduta (TAC), foi concluído em abril de 2003 e no total foram investidos R$ 252 milhões em equipamentos e ações de controle da poluição atmosférica e hídrica, tratamento de resíduos sólidos, monitoramento, estudos para desativação de equipamentos e gestão de risco. Das 130 obras do TAC, 55 foram voltadas para o controle da poluição do ar e representaram investimentos de R$ 162,2 milhões. A poluição da água mereceu outros R$ 66,7 milhões distribuídos em 41 ações. O tratamento de resíduos sólidos foi contemplado com 18 ações que somaram R$ 15,8 milhões. Outros R$ 4,1 milhões foram investidos em estudos para desativação de equipamentos, atividades de monitoramento e implementação de sistemas de gestão de risco. Além dessas obras, a comunidade de Volta Redonda recebeu da CSN três medidas compensatórias do TAC: duplicação da capacidade da Estação de Tratamento de Água Potável de Volta Redonda, doação de terreno para construção da Estação de Tratamento de Esgotos Domésticos e construção de moderno Aterro Sanitário para o lixo da cidade, em área escolhida pela Prefeitura Municipal. A conclusão das obras do TAC da Usina Presidente Vargas possibilitou à CSN atingir um novo patamar de desenvolvimento ambiental. A partir daí, os investimentos diminuíram, concentrando-se em dois tipos de iniciativas: projetos de melhoria e projetos de crescimento. Em contrapartida, as despesas com custeio aumentaram, isso porque a manutenção e operação dos novos equipamentos de controle ambiental são contabilizadas como custeio. O ano de 2004 representou para a CSN o início de uma nova etapa de crescimento e diversificação, com o desenvolvimento do novo negócio de exportação de minério de ferro. Para viabilizá-lo, ao longo do ano, foram solicitadas as licenças ambientais para os projetos de ampliação da mina de Casa de Pedra (Congonhas – MG) e para melhoria e ampliação do Terminal de Carvão, em Itaguaí – RJ. Foram solicitadas, também, as licenças para o Terminal Graneleiro do Tecon (Terminal de Contêineres), no Porto de Sepetiba. Outros focos do período, relacionados ao meio ambiente, foram a manutenção da certificação segundo a ISO 14001 para o sistema de gestão ambiental da empresa e a solicitação de licenças ambientais para projetos a serem realizados a partir de 2005. No ano de 2006, o grande destaque no campo dos investimentos em meio ambiente foi a conclusão das obras previstas no Termo de Compromisso Ambiental (TCA) do Terminal de Granéis Sólidos do porto de Itaguaí. Esse termo foi assinado com o Governo do estado do Rio de Janeiro em 30/11/2001, aditado em 28/05/2004 e previa a instalação de todos os sistemas de controle ambiental necessários à operação do Terminal. 47 A Tabela 1 mostra os dispêndios da empresa com meio ambiente entre 2004 e 2006. DISPÊNDIOS EM MEIO AMBIENTE INVESTIMENTOS DE CAPITAL (R$) 2004 2005 2006 Controle de Poluição Atmosférica Controle de Poluição Recursos Hídricos Controle de Poluição do Solo/ Gerenciamento de Resíduos Administração de Meio Ambiente Total de investimentos 4.401.445,00 4.410.939,00 13.378.064,00 49.124.044,00 22.777.421,00 16.357.899,00 2.063.844,00 3.242.443,00 6.578.247,00 774.583,00 11.650.812,00 602.622,00 66.347.175,00 12.740,00 58.453.728,00 CUSTEIO EM MEIO AMBIENTE (R$) 2004 2005 2006 58.281.258,00 71.288.743,00 82.906.820,00 65.974.828,00 69.445.441,00 77.349.972,00 11.594.846,00 12.102.503,00 7.025.172,00 11.934.761,00 147.785.694,00 159.436.507,00 10.059.464,00 162.896.151,00 229.243.326,00 11.549.098,00 178.831.063,00 237.284.791,00 Controle de Poluição Atmosférica Controle de Poluição de Recursos Hídricos Controle da Poluição do Solo/ Gerenciamento de Resíduos Administração de Meio Ambiente Total de Custeio TOTAL produzido, em 1998, para 39,07 m3 por tonelada, em 2006, ou seja, economizando mais de 61% desse insumo. Os resíduos gerados em sua maioria são reaproveitados seja como matéria prima na própria empresa ou vendidos para outros segmentos industriais ou para a construção civil. Em 2006, dos 660 quilos de resíduos gerados por tonelada de aço produzida, 26% foram reciclados na própria empresa e 73% vendidos, gerando um faturamento de R$ 190 milhões. 3.4. Resgatando erros do passado - CSN é condenada a reparar danos ambientais de período de estatal Em 2005, a CSN foi condenada a pagar indenização por seu passado de produção industrial ambientalmente irresponsável, embora, segundo palavras da juíza que condenou a empresa, Adriana Rizzoto, hoje ela seja um modelo de gestão ambiental, de acordo com a legislação vigente. edição nº 10, agosto/2009 O sistema de gestão ambiental da CSN estabelece indicadores ambientais para a qualidade do ar, para o consumo específico de água e para o controle de resíduos gerados. Com relação à qualidade do ar, atualmente, os equipamentos produtivos da CSN que podem gerar impactos atmosféricos contam com sistemas de controle de poluição próprios e específicos. Além disso, a empresa dispõe de uma rede de monitoramento da qualidade do ar de Volta Redonda, formada por estações de monitoramento que transmitem o Índice de Qualidade do Ar (IQA) diretamente para a FEEMA, que o disponibiliza, diariamente para os interessados, através do seu site. O mesmo indicador é divulgado 24 horas por dia, através de um painel eletrônico, situado em praça pública no centro da cidade. Com relação à água, importante insumo de qualquer processo siderúrgico, a CSN recircula 85% da água captada do Rio Paraíba do Sul, possibilitando a redução de seu consumo específico de 100,5 m3 por tonelada de aço Cadernos UniFOA Fonte: Relatório Anual 2006 – CSN, p.83 edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 48 A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi condenada a reparar os danos ambientais causados no passado pela sua atividade industrial por meio do pagamento de uma multa. A principal usina da companhia, a Presidente Vargas, é apontada como responsável pela deterioração da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Segundo a juíza responsável pela sentença, os danos ambientais causados pela CSN, além de confessados pela empresa, ficaram evidenciados em relatório feito pela Feema, o órgão estadual responsável pela fiscalização da aplicação das leis ambientais no Rio de Janeiro. Verificou-se a geração de bilhões de toneladas de resíduos industriais, o lançamento de cerca de 35 mil toneladas/ano de poluente na atmosfera e a contaminação das águas do Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 10 milhões de pessoas. Em sua decisão, a juíza ressalva a postura de vanguarda da empresa no respeito ao meio ambiente: “Cumpre salientar o fato notório de que, alguns anos após a privatização, a CSN, sob nova administração, passou a adotar política de gestão ambiental de vanguarda, bem como a investir seriamente em processos industriais mais limpos e eficientes”. No entanto, a juíza afirma que a “interrupção da causa degradadora ao ecossistema com o ajustamento da conduta atual da empresa às exigências da legislação ambiental, entretanto, não exclui o dever da Ré de indenizar a comunidade pelos danos causados durante sucessivos anos de produção industrial ambientalmente irresponsável”. 4. Considerações finais As transformações sociais e econômicas observadas a partir da publicação do Relatório Brundtland têm afetado profundamente o comportamento das organizações até então acostumadas em sua maioria à pura e exclusiva maximização do lucro. Pode-se perceber uma preocupação cada vez maior por parte das empresas e das comunidades, inclusive no Brasil, sobre temas ligados à responsabilidade sócioambiental. Observa-se o surgimento de novas demandas e maior pressão por transparência nos negócios, fazendo com que as empresas incorporem a ideia de responsabilidade sócioambiental às suas estratégias de negócios. Percebe-se que a gestão sócio-ambiental incorporada aos negócios das empresas é relativamente recente. Por outro lado, está em movimento crescente e sua prática vem se institucionalizando com o surgimento de organismos nacionais e internacionais que criaram indicadores, dispositivos e normas para aferir as ações de responsabilidade sócio-ambientais praticadas pelas organizações. É importante ressaltar a influência dos resultados dessas medições na imagem das empresas, com reflexos diretos nos negócios, estes atualmente vinculados ao processo de globalização. Ações sociais e postura em relação ao meio ambiente são reconhecidas pela sociedade e pelo mercado e passaram a fazer parte do planejamento estratégico das empresas. No caso da CSN, que tem planos para continuar a ampliação de seus negócios, inclusive no exterior, a prática da responsabilidade sócio-ambiental aparenta ser de fundamental importância, conforme evidenciado em seus relatórios anuais, com destaque para o Sistema de Gestão Ambiental adotado pela empresa e considerado indispensável para a sobrevivência da mesma, pois garante a gestão do desempenho ambiental da organização, bem como a gestão das informações ambientais demandadas pelo mercado (consumidores e mercado de capitais). Na mesma linha, há de se ressaltar a importância da sustentabilidade para os negócios da empresa, que no futuro, será fator de sobrevivência não apenas da CSN, mas de todas as empresas do setor de siderurgia. 5. Questões para discussão: 1 – Discuta as ações sócio-ambientais desenvolvidas pela CSN, em suas fases de empresa estatal e empresa privada, tendo em vista os conceitos de Filantropia e Responsabilidade Social. 2 – De que forma a prática da responsabilidade sócio-ambiental das organizações pode colaborar para o fortalecimento da marca junto aos seus stakeholders e demais públicos de uma empresa de siderurgia e, em especial, para a CSN? 3 – Quais possíveis vantagens competitivas as práticas de responsabilidade sócio-ambiental e de desenvolvimento sustentável podem trazer para uma organização como a CSN? Que pa- 6.1. Metas de Aprendizagem O caso de ensino apresentado é preferencialmente destinado a alunos de cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu de administração. Entretanto, pode ser também aplicado em cursos de graduação de administração, desde que respeitadas algumas limitações de seus alunos (por exemplo, modificando-se o grau de dificuldade das questões ou não as aplicando em sua integralidade). De acordo com a classificação proposta por Ikeda, Veludo-de-Oliveira e Campomar (2005), o caso em questão se enquadra como um caso com foco de decisão posto que sua finalidade pedagógica é despertar insights nos alunos, sua disponibilidade de informação é suficiente e seus níveis de estruturação e de complexidade são moderados. Considerando-se as três dimensões de dificuldade de casos (analítica, conceitual e de apresentação) propostas pelo modelo denominado Case Difficulty Cube, (LEENDERS; MAUFFETTE-LEENDERS; ERSKINE, 2001) que contemplam o desenvolvimento de um caso, verifica-se que o caso apresentado enquadra-se no chamado grau de dificuldade 3 da dimensão analítica. Tal enquadramento se justifica pelo fato do caso não fornecer uma pergunta específica para a tomada de decisão, mas sim um conjunto de ações que deve ser objeto de análise e discussão por parte dos alunos, inclusive podendo resultar em sugestões de outras atividades a serem realizadas pela empresa (CSN). Já na dimensão conceitual, pode-se dizer que o caso é compatível com o grau 2, pois embora os conceitos possam ser claramente entendidos pelos estudantes após cuidadosa leitura – característica do grau de dificuldade 1 – o tema é contraditório e polêmico sob o ponto de vista de alguns autores, não havendo ainda um consenso acerca das definições de marketing social, nem tampouco para as de marketing para causas sociais. O caso ainda exige conhecimentos simultâneos e de relativa complexidade que o leitor deverá trazer consigo como pré-requisito ao estudo do caso. 49 • Responsabilidade sócio-ambiental • Processo de internacionalização • Estratégia Ressalta-se que a não inclusão da teoria como elemento textual do caso baseou-se nos pressupostos de Mascarenhas et al (2007) que têm o entendimento de que o aluno ao qual se destina tem domínio das teorias e disciplinas que envolvem a narrativa e, ainda, este é um formato que tende a ser mais desafiador, já que incita o aluno à reflexão dos aspectos organizacionais que ligam a teoria à prática. O caso possibilita ao leitor se colocar no lugar do tomador de decisões ou solucionador de problemas. Em especial, o caso apresentado desafia e provoca o estudante a fazer uso de teorias implícitas, analisando-as e colocando-as em prática de modo a proporcionar o melhor resultado para a empresa. 6.2. Análise do caso Para a análise deste caso, aconselha-se o emprego de uma hora e meia, levando-se em consideração uma leitura prévia por parte da turma, com vistas a uma melhor compreensão do assunto. Previamente ao debate, devem ser formados grupos com não mais que quatro integrantes, de maneira que os alunos exponham seus pontos de vista e persigam um consenso. Tal tarefa deverá ter um tempo médio de 30 minutos. Em seguida, o professor poderá propor que a turma se disponha na formação de um círculo e em seguida inicie provocando e mediando as opiniões. Essa etapa deverá durar cerca de 30 minutos. Ao final, o professor deverá realizar um fechamento, gastando um edição nº 10, agosto/2009 6. Notas de Ensino Finalmente, no que tange a dimensão de apresentação, verifica-se que o caso pode ser enquadrado no grau de dificuldade 2 em função de sua relativa extensão de leitura. O caso ainda apresenta informações relevantes não concentradas em um único ponto do texto, ou seja, exige uma leitura atenta por parte do leitor. Embora haja um esforço em se organizar as informações, verifica-se que a realidade existente no mundo prático proporciona informações e dados muitas vezes espalhados pela linha do tempo, ou mesmo pelos diversos departamentos da organização. O caso tem por premissa explorar as temáticas: Cadernos UniFOA péis elas podem exercer para o crescimento e internacionalização da empresa? 50 tempo médio de 30 minutos. Nessa etapa, o professor poderá tecer comentários em relação às decisões adotadas pelos membros do debate fazendo uma ligação entre tais propostas e os pontos chaves da teoria. 6.3. Conceitos teóricos 1 - Melo Neto e Froes (2004) consideram que a responsabilidade social surgiu com a filantropia e tem a ver com a consciência social e o dever cívico, não é individual, reflete a ação de uma empresa em prol da cidadania. Sua ética social é centrada no dever cívico. As ações de responsabilidade social são extensivas a todos que participam da vida em sociedade – indivíduos, governo, empresas, grupos sociais, movimentos sociais, igrejas, partidos políticos e outras instituições. A filantropia se baseia no assistencialismo, que objetiva contribuir para a sobrevivência de grupos sociais menos favorecidos. Sua ética social é centrada no dever moral. Suas ações partem de vontades e desejos individuais. Quadro 1 - Diferenças entre filantropia e responsabilidade social Filantropia Responsabilidade Social Ações individuais e voluntárias Ação coletiva Fomento da caridade Fomento da cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários, filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Fonte: Melo Neto e Froes. Responsabilidade Social & cidadania empresarial: a administração do terceiro setor (2004, p28) 2 - Segundo Ashley (2002) “a nova realidade de mercado fez com que as empresas investissem mais em outros atributos hoje essenciais, além de preço e qualidade: confiabilidade, serviço de pós-venda, produtos ambientalmente corretos e relacionamento ético da empresa com seus consumidores, fornecedores e varejistas, além da valorização de práticas ligadas ao ambiente interno, como a política adotada em relação à segurança de seus funcionários ou produtos e à qualidade e preservação do meio ambiente.” 3 - Para Kotler (1998), “as empresas devem assumir a responsabilidade pelo meio ambiente, atendendo a três critérios quanto aos seus produtos: satisfação do cliente, interesse público e lucro da empresa”, abordagem que confirma a importância do meio ambiente como fator de sobrevivência das empresas no século XXI, numa clara alusão de com relação ao produto, “a qualidade é uma imagem que não mais se separa do impacto ambiental” (OTTMAN, 1983, p.8) 4 - Segundo Trevisan (2002), percebe-se no Brasil, um movimento crescente de empresas que estão assumindo responsabilidades em relação a seus “stakeholders”, pois cada vez mais essas empresas estão se defrontando com a necessidade de incorporar a responsabilidade social aos seus objetivos de lucro. “Para elas, ação socialmente responsável já se transformou em estratégia corporativa, deixando para trás o estágio de mera tendência.” 5 - Para Borger (2001), na década de 1980, surgiu a teoria do stakeholder, que visa atingir vários objetivos, tanto os da empresa quanto os propostos pelos agentes envolvidos. Essa teoria incorpora, ao modelo teórico da responsabilidade social empresarial, a visão sistêmica, segundo a qual as companhias interagem com vários agentes influindo no meio ambiente e recebendo a influência deste. 6 - Na década de 1990, a Responsabilidade Social Empresarial passou a integrar o desenvolvimento sustentável, dando origem a um novo conceito, cujo objetivo, segundo Tenório (2004), é obter crescimento econômico com a melhoria da qualidade de vida da sociedade, por meio da preservação do meio ambiente e pelo respeito aos anseios dos diversos agentes sociais. Dessa forma, as empresas conquista- 8 - Stakeholders – são todos os impactados e interessados direta e indiretamente por um negócio e que afetam estrategicamente o mesmo. De forma geral, podemos dizer que são stakeholders os seguintes atores: fornecedores, clientes, comunidade, sociedade civil, governo, etc. (HOMEM DA COSTA, 2007). 9 – Capra (2005) sustenta que “a humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, a capacidade de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às próprias necessidades”. 10 - Para Castells (1999) “os processos estruturais da economia, da tecnologia da comunicação, estão, sim, cada vez mais globalizados. Assim é o caso dos mercados financeiros, das redes produtivas e comerciais, das principais empresas industriais, dos serviços estratégicos das empresas (finanças, publicidade, marketing), dos grandes meios de comunicação, da ciência e da tecnologia. Este sistema global tem estrutura de rede que, valendo-se da flexibilidade proporcionada pelas tecnolo- 51 11 – De acordo com Sanches (2000), fatos como transformação na economia internacional e globalização da produção e do consumo têm sido acompanhados de outras mudanças como, por exemplo, um crescente grau de exigência dos consumidores, que por meio de seu poder de compra, estão mudando a própria sociedade quanto a valores e ideologias que envolvem suas expectativas em relação às empresas e aos negócios. “As empresas industriais que procuram se manter competitivas percebem cada vez mais que, diante das questões ambientais, são exigidas novas posturas, num processo de renovação contínua.” 12 - Segundo Capra (2005), a teoria dos sistemas vivos é o melhor arcabouço científico para o estudo da ecologia. Essa teoria tem raízes em vários campos da ciência e envolve uma nova maneira de ver o mundo e uma nova forma de pensar, conhecida como pensamento sistêmico, que significa pensar em termos de relações, padrões e contextos- um novo conjunto de conceitos utilizados para descrever a complexidade dos sistemas vivos. Quando essa nova forma de pensamento é aplicada ao estudo das múltiplas relações que interligam os membros da Casa Terra, alguns princípios básicos, que esse autor denomina “princípios da ecologia”, podem ser reconhecidos, dentre os quais um se destaca pelos ensinamentos que nele estão implícitos, e que se mostra tão necessário nos dias atuais: “a vida, desde o seu início há mais de três bilhões de anos, não conquistou o planeta pela força e, sim, através de cooperação, parcerias e trabalho em rede”. 13 - Para Melo Neto e Froes (2004), o marketing, tornou-se um imperativo de sucesso empresarial em qualquer setor de atividades. Expandindo suas ações, alcançou recentemente o social, fazendo surgir um questionamento: afinal, existe marketing social? 14 - Segundo Zenone (2006) “o papel até então do marketing, de satisfazer a necessidade edição nº 10, agosto/2009 7 – Ainda de acordo com Borger (2001), “as questões éticas e sociais são complexas e voláteis, sendo extremamente difícil definir o que é um comportamento socialmente responsável, com uma percepção clara do que é certo ou errado, preto ou branco; as decisões são dicotômicas. Depende do momento histórico, varia de cultura para cultura, constituindo-se num desafio para a gestão empresarial e determina a busca de modelos teóricos para engajar na responsabilidade social. Algumas perguntas são levantadas: As empresas devem ser responsáveis pelo quê? Quanto é o suficiente? E quem decide? Não há respostas para essas perguntas, não podemos apertar os botões automáticos e detonar um processo de reconstrução moral e social para resolvermos os problemas sócio-ambientais que as empresas e a sociedade enfrentam; não existe um modelo que sirva para todos.” gias de informação, conecta tudo o que vale e desconecta tudo aquilo que não vale ou se desvaloriza: pessoas, empresas, territórios, organizações. Por isso, a globalização é por vez segmentação e diferenciação.” Cadernos UniFOA riam o respeito e admiração de empregados, consumidores, fornecedores e sociedade, garantindo a sustentabilidade e a continuidade dos negócios no longo prazo. 52 do cliente a qualquer custo, está se alterando – e com isso vem incorporando a preocupação com o bem estar social. Além de conhecer os consumidores, as empresas devem analisar o impacto dos seus produtos no ambiente onde são comercializados.” edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 15 - Segundo Etzel et al. (2001), hoje uma empresa orientada para o marketing “deve ter como filosofia satisfazer as necessidades dos consumidores e, ao mesmo tempo, cumprir sua responsabilidade social”. Essa situação requer um novo estágio que amplie a visão do marketing: a orientação social. A orientação social leva as empresas a incluir os conceitos de responsabilidade social e ética empresarial em suas práticas de marketing. O marketing institucional atua na sociedade onde a empresa está inserida fisicamente ou através de seus produtos, com o objetivo de garantir a boa imagem da marca. No marketing institucional, o objetivo é formar uma boa imagem institucional (goodwill) perante o público de interesse, que, mesmo que indiretamente, auxilia na comercialização do produto ou serviço. É no marketing institucional que há a aproximação da empresa com as causas sociais. A palavra institucional é usada para identificar as iniciativas através das quais uma empresa procura fixar no público uma imagem positiva. Para tanto, busca associar seu nome a determinados valores e conceitos consagrados pela opinião pública. A expressão marketing institucional deve ser classificada como uma categoria geral, na qual a expressão marketing de causas sociais está incluída. 16 - Não existe nenhum mal em uma empresa se aproximar de causas sociais, desde que isso seja feito de forma transparente e clara, a fim de não induzir a sociedade de uma falsa percepção da imagem da organização. Segundo Credidio (2002), o que as empresas devem evitar é “mostrar através da mídia que apoiam determinadas causas sociais e estão comprometidas com elas, o que na maioria das vezes não é totalmente verdade”. 6.4. Depoimentos obtidos junto a especialistas em Meio Ambiente sobre a importância dos programas de responsabilidade social empresarial 1 - Depoimento fornecido por Sonia Morcerf, Gerente de Relações Institucionais da Fundação CSN (FCSN). “O programa de Responsabilidade Social Empresarial, hoje, é tão requerido para se manter num mercado altamente competitivo, como foram os programas e as certificações em Qualidade Total na década de 1990. Todo o mercado quer se relacionar com empresas socialmente responsáveis e que minimizem impactos negativos. A empresa deve prever ações de responsabilidade social para, pelo menos, sete públicos de sua interface: empregados, comunidade, meio ambiente, fornecedores, clientes, governos e acionistas [...]. E por último a empresa deve ser rentável para os seus investidores e acionistas, remunerando, adequadamente o capital investido na organização. Agindo dessa forma, as organizações gerenciam seus riscos, junto aos diversos públicos de interesse, e se tornam alvos de bons investimentos no mercado do mundo todo, pois sua reputação e sua marca são reconhecidas e requeridas.” 2 - Depoimento fornecido por Marcus Vinicius Araujo (Mestre em Meio ambiente), professor e coordenador do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA). “Produtos ambientalmente corretos tendem a agregar, em seus preços, os custos com a proteção ambiental, fazendo com que os mesmos sejam mais caros. [...] No Brasil, os governos investem pouco em educação/conscientização ambiental, devido a outras prioridades como: segurança pública, habitação, saúde, etc.” 3 - Depoimento fornecido por Rosana Ravaglia (Doutora em Meio Ambiente), professora e pesquisadora do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA). “A consciência ambiental tem crescido muito desde a década de 1980, após a publicação do relatório da ONU sobre as questões ambientais mundiais (Nosso Futuro Comum). Dessa forma, as empresas que investem em responsabilidade sócio-ambiental ganham cada vez mais credibilidade, porque estão aplicando os conceitos atuais de meio ambiente e desenvolvimento sustentável.” CARVALHO, Rita. Responsabilidade social empresarial e gestão ambiental: o caso da CSN. 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2008. Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Relatório anual 2004. Rio de Janeiro, 2005 _____ . Relatório anual 2005. Rio de Janeiro, 2006. _____ . Relatório anual 2006. Rio de Janeiro, 2007. Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Disponível em http://www.csn.com.br. Acesso em 22/mai./2007. Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS. Disponível em http://www.ibs.org.br Acesso em 16/jul./2007. DANTAS, Edna. CSN é condenada a reparar danos ambientais do passado. Disponível em http:// www.conjur.com.br/2005-jul-06/csn_condenada_reparar_danos_ambientais_passado. Acesso em 30/out. 2008. MORCERF, Sonia. Estudo de Caso CSN. Volta Redonda: 2007. Entrevista concedida em 11 set. 2007. RAVAGLIA, Rosana. Estudo de Caso CSN. Volta Redonda: 2007. Entrevista concedida em 24 set. 2007. Nota 3 KOTLER, P. Marketing para organizações que não visam o lucro. São Paulo: Atlas, 1978. Nota 4 TREVISAN, F. A. Balanço social como instrumento de marketing. RAEletrônica, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 1–12, 2002. Notas 5 e 7 BORGER, F. G. Responsabilidade Social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese (Doutorado em Administração) apresentada à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 2001. Nota 6 TENÓRIO, F. G. Responsabilidade social empresarial: teoria e prática. Rio de Janeiro: FGV, 2004. Nota 8 HOMEM da COSTA, E. Fundamentos de responsabilidade social empresarial. Rio de Janeiro: La Salle, 2007. Notas 9 e 12 CAPRA, F. Educação. In: TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Autores Associados, 2005, p. 19-33. Nota 10 CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. V.1 – A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. VALE. Disponível em http://www.vale.com. br. Acesso em 02/ago./2007. Nota 11 SANCHES, C. S. Gestão ambiental proativa. RA Eletrônica, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 76-87, 2000. 8. Referências Nota 14 ZENONE, L. C. Marketing social. São Paulo: Thomson Learning, 2006. Notas 1 e 13 MELO NETO, F. P.; FROES C. Responsabilidade Social & cidadania empresarial: a administração do terceiro setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 53 Nota 15 ETZEL, M. J. et al. Marketing. São Paulo: Makron Books, 2001. edição nº 10, agosto/2009 ARAUJO, Marcus Vinicius. Estudo de Caso CSN. Volta Redonda: 2007. Entrevista concedida em 24 set. 2007. Nota 2 ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. Cadernos UniFOA 7. Fontes 54 Nota 16 CREDIDIO, F. A. Empresas e marketing cultural. Revista Marketing Cultural, São Paulo, n. 72, p. 29-30, nov. 2002. 9. Bibliografia ERSKINE, LEENDERS, M.R., MauffetteLeenders, L.A Teaching with Cases, Research and Publications Division, School of Business Administration. The University of Western Ontario, London, Ontario, Canada, 1981. ______, J.A, LEENDERS, M.R. Case Research: The Case Writing Process, Research and Publications Division, School of Business Administration. The University of Western Ontario, London, Ontario, Canada, 1989. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA ______, Learning with cases. Research and Publications Division, School of Business administration. The University of Western Ontario, London, Ontario, Canada, 1997. GOMES, J. S. O Método do Caso de Ensino aplicado à gestão de negócios. São Paulo: Atlas, 2006. IKEDA, A. A.; VELUDO-DE-OLIVEIRA, T. M.; CAMPOMAR, M. C.; O Método do Caso no Ensino de Marketing. RAC-Eletrônica, v. 1, n. 3, art. 4, p. 52-68, Set./Dez. 2007. Disponível em: < http://www.anpad.org.br/ rac-e>, acesso em mar.2008. MASCARENHAS, S. A., et al. Do Pau Brasil ao Avião: O Caso Embraer. In: ENCONTRO ANPAD, 31., 2007, Rio de Janeiro/RJ. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. CD-ROOM. MEDEIROS, J. B. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. São Paulo : Atlas, 2005. ROESCH, S. M. A. Notas sobre a construção de casos para ensino. In: Enanpad, 30., Salvador-BA, set./2006. Endereço para Correspondência: Rita de Cassia Santos Carvalho [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Carvalho, Rita de Cássia Santos; Trinta, José Luiz; Bacellar, Fátima Cristina Trindade. CSN e Responsabilidade Sócio-Ambiental: Conscientização, Estratégia ou Necessidade? Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/41.pdf> 55 Aneurisma Dissecante de Aorta: A importância do diagnóstico precoce. Revisão de Literatura e Relato de Caso Dissecting aortic aneurysm: the importance of the early diagnostic. Literature review and reported case. Original Paper Fernanda Lopes Marinho 1 Lucas Mendes 1 Renata F. Carvalho 1 Mauro Tavares 2 Palavras-chaves: Resumo Aneurisma Dissecante de Aorta Os autores fizeram uma revisão de literatura, enfatizando aspectos semiológicos e histológicos, sendo este último o ponto essencial para o entendimento sobre a dissecção aórtica. Abordam, também, aspectos patológicos da doença, incluindo sua definição, classificação e etiologia, suas principais manifestações clínicas, o manejo clínico inicial e tratamento cirúrgico. Concomitantemente, relata-se um caso clínico oriundo do SPA do Hospital SAMER, em Resende no estado do Rio de Janeiro. Abstract Key words: The authors did a literature review,about aspects of semiology and histology,and the last one is the most important point to understanding the pathology of dissecting aortic aneurysm.They also tell us about the sickness itself,how it happens,how the pacient fells,clinical manifestations,how is the treatment of the pacient on the beggining of the desease and the surgery. Also,they report about a real case that hapenned at the Hospital SAMAER in Resende,Rio de Janeiro. Dissecting Aortic Aneurysm 1. Introdução Entre as razões que definiram a escolha do tema, influiu a dificuldade do seu diagnóstico, podendo variar do simples, se os sintomas do paciente são claros, ao complexo, por apresentar sintomas que confundem o clínico, levando ao diagnóstico errôneo de embolia pulmonar ou infarto agudo do miocárdio, entre outros (HURST, 1977). 1 2 Surgery Semiology A aorta, maior e principal artéria do organismo, recebe todo o sangue ejetado do ventrículo esquerdo, distribuindo-o para todo o corpo, com exceção dos dois pulmões. Sua parede apresenta três elementos principais: a íntima (revestimento interno em contato direto com o sangue), a camada média (formada por camadas circulares, dispostas de forma concêntrica, de fibras elásticas e musculares, e que chega a representar 80% da espessura Monitores da disciplina de Técnica Operatória do Curso de Medicina do UniFOA Doutor e Docente do Curso de Medicina do UniFOA edição nº 10, agosto/2009 Semiologia Cadernos UniFOA Cirurgia Artigo Original edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 56 total da parede do vaso) e a adventícia (camada mais externa, constituída por tecido conjuntivo com fibras elásticas) (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1974). A aorta apresenta características peculiares. Admiravelmente constituída para resistir a pressão sistólica e iniciar a retração diastólica, tem suas paredes nutridas pelos “vasa vasorum” originados de seus próprios ramos e também contém fibras pressoreceptoras cuja estimulação produz “reação” vagal, com queda da pressão arterial e da frequência cardíaca (GARDENER, 1988). O aneurisma dissecante decorre da penetração de sangue na parede da aorta, quase sempre associada à ruptura da íntima, com dissecção das fibras elásticas, separação das camadas e formação de um “falso lúmen” de extensão variável. Na dissecção aórtica, ocorre hemorragia, com formação ou não de hematoma, na túnica média da parede aórtica o que leva a uma separação das camadas. De extensão variável, pode ou não recanalizar para a luz verdadeira, não necessitando, obrigatoriamente, de uma ruptura da íntima para seu início (RESENDE, 1974). O aneurisma dissecante da aorta é muito menos comum, mas bem mais grave que o infarto agudo do miocárdio, sendo as manifestações clínicas derivadas, principalmente, da própria dissecção e da oclusão de ramos da aorta, com alterações nos órgãos terminais supridos por estes vasos (HURST, 1977). Na fase aguda da doença, costuma surgir dor retroesternal lancinante, opressiva, sem melhora com a medicação habitual, sendo que o alívio vem apenas com grandes doses de morfina. Geralmente a dor se irradia para o dorso, podendo também irradiar-se para o abdome, membro superior, cabeça, pescoço e membro inferior, dependendo do local para onde se estende a dissecção. A principal característica da dor é a sua instalação com intensidade máxima, com a sensação de que “algo está se rasgando”, ao contrario do infarto do miocárdio, que tem caráter progressivo (RESENDE, 1974 e HURST, 1977). É uma doença incomum, mas potencialmente catastrófica. É, das patologias que se manifestam por dor torácica, de maior mortalidade, com 1% por hora nas primeiras 48h e 75% ao final da segunda semana. Para evitar esse quadro é necessária a aplicação do trata- mento adequado, ou seja, uma medida clínica inicial para deter a progressão adicional da dissecção e reduzir o risco de ruptura e lançar mão de tratamento cirúrgico nos casos adequados (HURST, 1977). Assim, desenvolvemos este artigo, cujo principal objetivo é chamar a atenção para o diagnóstico precoce do aneurisma dissecante de aorta, identificando sua etiologia e os segmentos aórticos acometidos, cotejando com a sua fisiopatologia. 2. Revisão de Literatura 2.1 Definição Segundo BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1476): a dissecção aórtica se inicia pelo desenvolvimento súbito de uma laceração na íntima aórtica, que expõe diretamente a camada ‘média comprometida subjacente à força propulsora (ou pressão de pulso) do sangue intraluminal. O sangue penetra na camada média comprometida, separando-a longitudinalmente, desta forma, dissecando a parede da aorta. O espaço preenchido por sangue entre as camadas dissecadas da parede da aorta torna-se o falso lúmem. Conforme KNOBEL (2006, p. 436) “define-se dissecção da aorta como a delaminação das suas paredes produzidas pela infiltração de uma coluna de sangue que percorre um espaço virtual (luz falsa) entre a adventícia e a íntima”. Para GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p. 533) a dissecção aórtica classicamente começa com uma laceração na íntima da aorta que expõe uma camada da média já lesada à pressão sistêmica do sangue intraluminal. O sangue penetra dentro da média, clivando-a em duas camadas longitudinalmente, e produzindo um falso lúmem cheio de sangue dentro da parede aórtica. Este falso lúmem propaga-se distalmente (ou, algumas vezes, retrogradamente) a uma distância variável ao longo da aorta a partir do local da laceração intimal. Já para GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p.533,534): grande parte dos esquemas de classificação da dissecção aórtica está baseada no fato de que a vasta maioria das dissecções aórticas inicia-se num desses dois locais: 1. aorta ascendente, a alguns centímetros da válvula aórtica; e 2. aorta descendente, distalmente à origem da artéria subclávia esquerda, no local do ligamento arterioso. Cerca de 65% das lacerações da íntima ocorrem na aorta ascendente , 20% na aorta descendente, 10% no arco aórtico e 5% na aorta abdominal. Utilizam-se três sistemas principais de classificação para definir a localização e a extensão do comprometimento aórtico conforme demonstrado na tabela 1.1. Tipo Ponto de Origem e Extensão do Envolvimento da Aorta DeBakey Tipo I Origina-se na aorta ascendente e propaga-se, pelo menos, para o arco aórtico e, com frequência, além deste no sentido distal. Tipo II Origina-se a aorta ascendente e é confinado a ela. Tipo III Origina-se na aorta descendente e estende-se distalmente para baixo nesta ou, raramente, é retrógrado para o arco aórtico e aorta ascendente. Stanford Tipo A Todas as dissecções envolvendo a aorta ascendente, independentemente do ponto de origem. Tipo B Todas as dissecções que não envolvem a aorta ascendente Descritivo Proximal Inclui os Tipos I e II de DeBakey ou tipo A de Stanford Distal Inclui o Tipo III de DeBakey ou o Tipo B de Stanford Tabela 1.1. Sistemas de classificação comumente utilizados para descrever a localização de uma dissecção aórtica pode ser descrita de acordo com um dos diversos tipos de classificação. Dois terços da dissecção aórtica são do Tipo A (proximal) e o outro terço é do tipo B (distal). Todos os esquemas de classificação servem ao mesmo propósito, ou seja, distinguir as dissecções que envolvem a aorta ascendente das dissecções que não o fazem. 2.3 Etiologia e Patogênese De acordo com BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1478). A degeneração da camada média, evidenciada pela deterioração do colágeno e da elastina desta, é considerada o principal fator predisponente na maioria dos casos não traumáticos de dissecção aórtica. Portanto, qualquer processo mórbido ou outra condição que comprometa a integridade dos componentes musculares ou elásticos da média predispõem a aorta à dissecção. A degeneração cística da média é uma característica intrínseca de várias alterações hereditárias do tecido conjuntivo, principalmente as síndromes de Marfan e de Ehles-Danlos. O pico de incidência de dissecção aórtica é na sexta e sétima décadas de vida e os homens são afetados duas vezes mais do que as mulheres. Encontra-se a concomitância em 72% a 80% dos casos de dissecção aórtica. Existe uma inexplicável relação entre gravidez e dissecção aórtica. “[...] metade das dissecções aórticas na mulher abaixo de 40 anos ocorre durante a gravidez [...]”. O trauma iatrogênico, por outro lado, associa-se a verdadeira dissecção da aorta. “[...] cateterismo intraluminal a inserção de balão intra-aórtico podem induzir à dissecção aórtica [...]”. A cirurgia cardíaca se associa a um risco muito pequeno de dissecção. edição nº 10, agosto/2009 BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1477) definem que: 57 Cadernos UniFOA 2.2 Classificação 58 Conforme GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p. 534): a doença da média da aorta, com a degeneração do colágeno e da elastina medial, representa o fator predisponente mais comum para dissecção aórtica. Pacientes com síndrome de Marfan têm uma clássica degeneração cística da média e estão sob um risco particularmente alto de dissecção aórtica em uma idade relativamente jovem. [...] Raramente uma dissecção aórtica pode ocorrer em uma mulher jovem durante o período periparto. O trauma iatrogênico pelos procedimentos de cateterismo intra-aórticos ou cirurgia cardíaca também podem causar dissecção aórtica. Ressalta CARVALHO (1993) ainda não é conhecida uma causa da doença. Entre as diversas condições associadas à sua presença, a mais frequente é a hipertensão arterial. A produção e a extensão da dissecção dependiam da pressão elevada associada a fluxo pulsátil. Como as forças hidrodinâmicas atuam mais intensamente na aorta proximal, que recebe toda a pressão de ejeção do ventrículo esquerdo, considera-se ser esta a razão do maior envolvimento da aorta ascendente na doença. 2.4 Quadro Clínico edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA KNOBEL (2006, p. 438) define que a manifestação principal da dissecção aórtica e de suas variantes é a dor torácica, habitualmente de forte intensidade e que é acompanhada de sintomas neurovegetativos. A dor tem localização variada com tendência a migrar para as costas e para o abdômen, não melhorando com decúbito, uso de vasodilatadores e analgésicos habituais. Frequentemente na fase de instalação a dor se confunde com a dor do infarto do miocárdio, todavia na evolução pode haver sintomas decorrentes dos ramos da aorta dissecados acometidos pelo processo de delaminação. KNOBEL (2006, p. 439) diz ainda que poderemos ter sintomas neurológicos discretos ou permanentes decorrentes da compressão de vasos da base ou ramos medulares, determinando acidentes vasculares cerebrais, paraparesia ou paraplegia, sintomas gastrointestinais decorrentes de obstrução de vasos mesentéricos e ainda isquemia de membros inferiores. A hematúria com oligúria ou anúria, embora rara, pressupõe comprometimento das artérias renais. O choque cardiogênico súbito deve levantar a suspeita de rotura intrapericárdica da aorta (causa mais comum de morte nas dissecções) ou insuficiência aórtica maciça. Conforme GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p. 534): a dor, que ocorre em 96% dos casos, e é tipicamente intensa, constitui o sintoma de apresentação mais comum de dissecção aórtica. A dor pode ser retroesternal, no pescoço, na garganta, interescapular, na região inferior das costas, abdominal ou nas extremidades inferiores, dependendo da localização da dissecção aórtica. A dor pode migrar conforme a dissecção migra distalmente. “[...] Os pacientes também podem apresentar-se com insuficiência aórtica aguda, oclusão da artéria coronária direita, hemopericárdio, síncope, acidente cerebrovascular ou neuropatia periférica isquêmica”. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p. 534) ressalta ainda que a hipertensão é um achado comum no exame clínico e está presente em 70% dos pacientes com dissecção aórtica distal. A hipotensão também pode ocorrer, particularmente entre os pacientes com dissecções proximais, e geralmente deve-se a uma ruptura para dentro do pericárdio ou por insuficiência aórtica grave. Completa ainda “[...] A insuficiência aórtica é um outro achado clínico importante, que ocorre em um terço dos pacientes com dissecção proximal”. [...] quando uma dissecção estende-se para dentro da aorta abdominal, pode haver um comprometimento do fluxo para uma ou ambas as artérias renais, produzindo insuficiência renal aguda, que pode exacerbar a hipertensão. “[...] a dissecção pode estender-se distalmente para a bifurcação aórtica e comprometer ou ocluir uma das artérias ilíacas comuns, produzindo um déficit no pulso femoral e isquemia nas extremidades inferiores”. Para BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1481) Uma vez que haja suspeita diagnóstica de dissecção aórtica em termos clínicos, é essencial confirmar este diagnóstico com rapidez e precisão. As modalidades diagnósticas disponíveis atualmente para essa finalidade incluem a aortografia, TC intensificada por contraste, IRM e ecocardigrafia trasntorácica ou transesofágica. Quando se comparam as quatro modalidades de imagem, deve-se iniciar considerando qual informação diagnóstica é necessária [...]. Segundo COLAFRANCESCHI (2008) o diagnóstico diferencial é feito com infarto agudo do miocárdio,ruptura de aneurisma de seio de valsalva, acidente vascular cerebral, abdome agudo cirúrgico,embolia pulmonar, pericardite, insuficiência aórtica sem dissecção, aneurisma da aorta sem dissecção, dor musculoesquelética, trombo-embolia arterial periférica. 2.5.1 Ecocardigrafia Transtorácico/ Transesofágico Conforme KNOBEL (2006, p. 439) A suspeita clínica é a chave do diagnóstico e fundamental para implementação das medidas terapêuticas. Além da suspeita clínica, o diagnóstico deve ser confirmado por exames de imagem. Nesses exames são informações fundamentais: • Presença de dupla luz; • Envolvimento da aorta ascendente • Presença de derrame pericárdico. A presença da dupla luz confirma o diagnóstico de dissecção aórtica, enquanto o envolvimento da aorta ascendente ou a presença de derrame pericárdico determina a tratamento cirúrgico de emergência pelo alto risco de rotura aórtica destes pacientes. Para KNOBEL (2006, p. 439) O ecocardiograma transtorácico é de grande importância na dissecção aórtica por ser um método disponível na maioria dos hospitais, é barato e não invasivo. Sua principal vantagem é poder ser realizado à beira do leito e repetido várias vezes. É muito mais sensível e específico nas dissecções do tipo A, sendo pouco informativo nas dissecções da aorta descendente. 2.5 DIAGNÓSTICO 59 [...] para obter estas informações, são quatro os exames subsidiários empregados para o diagnóstico e para orientação terapêutica das dissecções aórticas: ecocardiografia transtorácico ou transesofágico; tomografia com contraste convencional ou helicoidal; ressonância magnética nuclear e aortografia. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis (2005, p. 534) conclui que “Uma anormalidade em uma radiografia frequentemente levanta a primeira suspeita de dissecção aórtica. No entanto, os achados na radiografia de tórax são inespecíficos e raramente diagnósticos”. Ressalta ainda KNOBEL (2006, p.439) que KNOBEL (2006, p. 439) relata que a ecocardiografia fornece ainda informações a respeito da função ventricular, presença ou não de insufuciência aórtica e derrame pericárdico, e fluxos anterógrado e retrógado na luz falsa, dados que os outros exames apresentam falhas diagnósticas. É capaz de determinar a localização das lesões intimais. edição nº 10, agosto/2009 O autor continua, completando que Cadernos UniFOA 60 Conforme BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1484) “a ecocardiografia é bem apropiada para avaliação dos pacientes com suspeita de dissecção aórtica porque se encontra disponível na maioria dos hospitais, não é invasiva, é realizada com rapidez e todo o exame pode ser completado à beira do leito”. Completa ainda que “[...] o achado ecocardiográfico, considerado diagnóstico para dissecção aórtica, é a identificação de um retalho da íntima ondulante dentro do lúmem da aorta separando os canais falso e verdadeiro [...]”. 2.5.3 Ressonância Magnética Conforme BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1482,1483) a utilização da IRM tem um papel especial no diagnóstico de dissecção aórtica, uma vez que é inteiramente não invasiva e não requer o uso de contraste endovenoso ou radiação ionizante. Além disso, a IRM fornece imagens de alta qualidade no planos transversal, sagital e coronal, bem como na incidência oblíqua anterior esquerda, que exibe a aorta toarácica interna num único plano. 2.5.2 Tomografia Computadorizada [...] A IRM é ideal para a avaliação de pacientes com doença aórtica preexistente, como os portadores de aneurismas aórticos torácicos ou tratamento cirúrgico prévio com enxerto da aorta, porque fornece detalhes anatômicos suficientes para distinguir dissecção aórtica de outras patologias dessa artéria. De acordo com KNOBEL (2006, p. 440) a tomografia computadorizada é [...] exame não invasivo que permite imagens em dois planos que dão uma ideia muito fidedigna do envolvimento da aorta em toda sua extensão, assim como o comprometimento dos seus ramos. Tem alta sensibilidade e especificidade sendo comparável em eficiência à aortografia e à ecocardiografia. Permite ainda a detecção de derrame pericárdico ou pleural. Ainda de acordo com BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1483) A precisão caracteristicamente elevada da IRM trasnformou-se no padrão ouro anual para o diagnóstico da presença ou ausência de dissecção aórtica. Mesmo assim, a IRM tem várias desvantagens. [...] pacientes com marca-passo, estão contraindicados certos tipos de clipes vasculares e certos tipos mais antigos de próteses valvares metálicas. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA O autor ainda diz que o exame “[...] dificilmente detecta o local da lesão íntima, informação de interesse fundamental para o planejamento do ato cirúrgico ou endovascular”. BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1482) sustentam que na TC intensificada por contraste, a dissecção aórtica é diagnosticada pela presença de dois lumens aórticos distintos, visivelmente separados por um retalho da íntima ou distinguidos por um índice de opacificação diferencial do contraste. [...] a desvantagem da TC é que o local de laceração da íntima raramente é identificado, ainda, o método não pode detectar com segurança o desenvolvimento de regurgitação aórtica”. Ainda BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1482) dizem “[...] A TC espiral, que foi introduzida mais recentemente e permite uma imagem tridimensional da aorta e seus ramos, melhorou a precisão da TC para o diagnóstico [...]”. Sustenta ainda BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY(2003,p.1483)“[...]Compreensivelmente, a preocupação com a segurança dos pacientes instáveis levou muitos médicos a concluir que o uso da IRM está relativamente contraindicado para os pacientes instáveis”. KNOBEL (2006, p. 440) afirma que Apesar de ser não invasiva, não tem sido usada como rotina no diagnóstico em virtude de não estar disponível na maioria dos locais de atendimento, e pelo fato de exigir imobilidade do paciente por períodos de tempo por maiores do que seria aceitável. É um exame inadequado para pacientes instáveis do ponto de vista clínico. KNOBEL (2006, p. 442) afirma que “sedação e analgesia são medidas fundamentais, pois a dor, pelo aumento do tônus adrenérgico, leva a um aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial, podendo contribuir com o processo da dissecção”. Para o controle da pressão arterial, conforme KNOBEL (2006, p. 442) “O tratamento clínico tem por objetivo um rigoroso controle da pressão arterial, o que é frequentemente conseguido pela associação de um agente betabloqueador com um vasodilatador, habitualmente o nitroprussiato de sódio”. O autor relata que “[...] A dose a ser administrada é aquela que permite uma pressão arterial mínima, porém, com perfusão tecidual satisfatória, e o parâmetro clínico de eficácia desse agente é a manutenção de uma frequência cardíaca entre 55-65 bpm”. KNOBEL (2006, p. 442) ainda afirma que “O nitroprussiato de sódio é o agente vasodilatador de escolha no tratamento dos pacientes com suspeita de dissecção aórtica e hipertensão arterial, pelo fato de produzir seu efeito de forma rápida e com dose que pode ser titulável”. De acordo com BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1488,1489) “o tamponamento cardíaco frequentemente complica a dissecção aórtica aguda proximal e é um dos mecanismos mais comuns de morte nesses pacientes”. Conforme KNOBEL (2006, p. 441) a técnica permite localizar as lesões da íntima, o flapping, a luz verdadeira e a luz falsa. Demonstra ainda com propriedade quais os ramos da aorta estão acometidos pela dissecção e permite visualizar os orifícios da reentrada distais na porção descendente e abdominal, frequentes nas dissecções crônicas. O cateterismo cardíaco permite a realização de coronariografia, sendo insubstituível para esta finalidade. De acordo com BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1483) “A aortografia é considerada há muito tempo o método diagnóstico padrão para avaliação de dissecção aórtica porque, por várias décadas, foi o único exame preciso para o diagnóstico antemortem de dissecção aórtica, embora sua verdadeira sensibilidade não possa ser definida”. 2.6 TRATAMENTO De acordo com KNOBEL (2006, p. 442) por ser uma patologia com alta mortalidade, todo paciente com suspeita clínica deve ser admitido em uma unidade de tratamento intensivo, e os exames de imagem devem ser solicitados em caráter de emergência para definição diagnóstica. O tratamento clínico deve iniciar imediatamente e visa, basicamente, ao controle da dor e da pressão arterial. ConformeGOLDMAN,Lee;AUSIELLO, Dennis (2005, p. 534) O objetivo do tratamento clínico inicial para dissecção aórtica aguda é deter a progressão adicional da dissecção aórtica e reduzir o risco de ruptura. Sempre que existir uma suspeita de dissecção aórtica, deve-se instituir imediatamente uma terapia enquanto se realizam os estudos de imagens, independentemente da confirmação do diagnóstico. Sustentam BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1489) [...] quando um paciente com dissecção aórtica aguda desenvolve tamponamento cardíaco e se encontra relativamente estável, os riscos da pericardiocentese provavelmente superam os benefícios e deve-se fazer todo o esforço para encaminhá-lo o mais urgente possível à sala de cirurgia, para intervenção cirúrgica direta da aorta, com drenagem intraoperatória do hemopericárdio. 61 edição nº 10, agosto/2009 2.6.1 Tratamento Medicamentoso Cadernos UniFOA 2.5.4 Aortografia 62 2.6.2 Tratamento Cirúrgico Conforme BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1489) Apesar de pequenas variações de centro para centro, surgiu um consenso razoável sobre a terapêutica definitiva da dissecção aórtica nas últimas décadas. Há uma concordância universal de que o tratamento cirúrgico é superior ao clínico para a dissecção proximal aguda. Com a progressão ainda limitada da dissecção proximal, os pacientes podem sofrer consequências potencialmente devastadoras, como ruptura da aorta ou tamponamento cardíaco [...]. Ainda de acordo com BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1489) edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA [...] os pacientes que desenvolvem dissecção aórtica aguda distal geralmente têm menor risco de óbito precoce decorrente das complicações da dissecção do que aqueles com dissecção proximal. Ainda, como os pacientes com dissecção distal tendem a ser mais velhos e a ter uma prevalência relativamente elevada de aterosclerose avançada ou doença cardiopulmonar, com frequência o risco cirúrgico é consideravelmente mais alto. Sustentam ainda BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1489) “A indicação cirúrgica deve ser determinada sempre que possível no início da avaliação do paciente, porque nesta opção orienta a seleção dos exames diagnósticos.” Explicam ainda BRAUNWALD, ZIPES, LIBBY (2003, p. 1489) Os objetivos da terapêutica cirúrgica definitiva incluem a ressecção do segmento mais intensamente danificado da aorta, excisão da laceração da íntima, quando possível e obliteração da entrada para o lúmen falso, pela sutura das bordas da aorta dissecada proximal e distalmente. Após a ressecção do segmento doente contendo a laceração da íntima, tipicamente um segmento da aorta ascendente nas dissecções proximais ou da aorta descendente proximal nas distais, a continuidade da aorta é restabelecida pela interposição de um enxerto protético conectando as duas extremidades da aorta. Relata ainda o autor “[...] algumas vezes, é necessária a substituição da valva aórtica por prótese, porque as tentativas de reparação da valva não foram bem-sucedidas ou já existia uma valvopatia ou da síndrome de Marfan”. De acordo com GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis, sempre que uma dissecção aórtica envolver a aorta ascendente, está indicado um reparo cirúrgico para minizar o risco de complicações ameaçadoras à vida, como ruptura, tamponamento cardíaco, insuficiência aórtica grave, ou acidente vascular cerebral. Pacientes com dissecção aguda confinada à aorta descendente estão sob um risco muito mais baixo destas complicações e tendem a evoluir tão bem com a terapia medicamentosa quanto com a cirurgia. Completam ainda GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis “ Quando a dissecção do tipo B está associada a uma complicação grave, no entanto, tal como isquemia de órgãoalvo, a cirurgia está indicada.” 3. Relato de um caso clínico Paciente LLP, 53 anos, branco, natural de Santa Catarina, deu entrada no SPA do Hospital SAMER, Resende-RJ, às 15:45h do dia 20/10/2008, com quadro de: ansiedade, e queixando-se de dor precordial. Sem história pregressa de cardiopatia ou outras doenças. Ao exame clínico: indivíduo ansioso, normolíneo, massa: 78 kg, mucosas coradas, hidratadas, acianótico, anictérico, afebril com fácies ansiosa (sentindo dor). Pressão arterial: 160 x 90 mmHg, em ambos os braços; pulso: 155bpm. ACV: RCI 2T. MV + bilateralmente e sem ruídos adventíceos. A dor descrita pelo paciente era forte, do tipo lancenante, que ia do precórdio até a região interescapular. Abdome normal. Membros inferiores normais. Sistema neurológico normal. O paciente foi medicado com: analgésicos (diclofenaco sódico 75mg IM, 3ml de dipirona sódica venosa), O2 úmido nasal 6l/min. Além disso, Braunwald, Zipes, Libby (2003) e Goldman, Ausiello (2005) consideram como principal fator predisponerte dos casos não traumáticos de dissecção aórtica a doença da média da aorta, com a degeneração do colágeno e da elastina medial. Segundo eles, o trauma iatrogênico pelos procedimentos de cateterismo intra-aórticos ou cirurgia cardíaca também podem causar dissecção aórtica. Além disso, ambos concordam que os homens são mais afetados do que as mulheres. Já Carvalho (1993) relata ser a hipertensão arterial como à condição mais frequente associada à dissecção aórtica. Knobel (2006) e Goldman, Ausiello (2005) definem como a principal manifestação clínica a dor que é tipicamente intensa, sendo na maioria dos casos uma dor torácica, mas pode variar dependendo da localização da dissecção aórtica. Essa dor pode migrar conforme a dissecção migra distalmente e ainda pode vir acompanhada de sintomas neurovegetativos. Fig 2 – Tomografia computadorizada de tórax, com contraste, evidenciando um derrame pericárdico. Segundo Goldman, Ausiello (2005) a hipertensão é um achado comum no exame clínico e está presente em 70% dos pacientes com dissecção aórtica distal. Além de estar presente a insuficiência aórtica em um terço dos pacientes com dissecção proximal. Às 16:15h foi realizado um ecocardiograma, em que foi confirmado um aneurisma dissecante de aorta ascendente. O paciente foi encaminhado ao Serviço de Cirurgia Cardíaca da Santa Casa da Misericórdia de Barra Mansa-RJ, onde foi operado. Teve alta hospitalar em 10 dias e ficou sob acompanhamento ambulatorial. Knobel (2006) e Braunwald, Zipes, Libby (2003) relatam que a suspeita clínica é essencial para um rápido diagnóstico e que esse deve ser confirmado através de exames de imagem como ecocardiografia transtorácico ou transesofágico; tomografia com contraste convencional ou helicoidal; ressonância magnética nuclear e aortografia. 4. Discussão Os autores Braunwald, Zipes, Libby (2003) relatam que cerca de 65% das lacerações da íntima ocorrem na aorta ascendente , 20% na aorta descendente, 10% no arco 63 Em relação à ecocardigrafia Knobel (2006) e Braunwald, Zipes, Libby (2003) dizem ser de grande importância por estar disponível na maioria dos hospitais, ter baixo custo, ser não invasivo, além de poder ser realizado na beira do leito. edição nº 10, agosto/2009 Fig 1 – Tomografia computadorizada de tórax, com contraste, evidenciando acúmulo de sangue junto ao arco aórtico. aórtico e 5% na aorta abdominal. Goldman, Ausiello (2005) mostram que dois terços da dissecção aórtica são do tipo A (proximal) e o outro terço é do tipo B (distal). Cadernos UniFOA Foi solicitado ECG, cujo laudo era TAQUICARDIA SINUSAL. Foi dosada a troponina, cujo valor encontrado foi 1,6 ng/ ml. A CK/MB foi de 15 U/L na admissão do paciente; e a LDH-1 de 17 UI/L. Em função da dor não ter sido abolida, o paciente recebeu 30mg de meperidina + 2 ml de metoclopramida endovenosos. A radiografia de tórax demonstrou uma área cardíaca ligeiramente aumentada. Foi solicitada uma tomografia de tórax (Fig. 1 e 2). edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 64 Já em relação à tomografia computadorizada Knobel (2006) e Braunwald, Zipes, Libby (2003) sustentam que a desvantagem do seu uso é que ele raramente identifica o local de laceração da íntima. Ainda em relação aos exames diagnósticos Braunwald, Zipes, Libby (2003) afirmam que a ressonância trasnformou-se no padrão ouro anual para o diagnóstico da presença ou ausência de dissecção aórtica. Diferente de Knobel (2006) que acredita que a ressonância não é utilizada na rotina do diagnóstico por não estar disponível na maioria dos locais e exigir a imobilidade do paciente. Porém ambos concordam que existem algumas desvantagem no uso da ressonância como ele ser inadequado para pacientes instáveis do ponto de vista clínico. 5. Conclusão Conforme Knobel (2006) a aortografia tem sua importância, pois permite localizar as lesões da íntima, o flapping, a luz verdadeira e a luz falsa, além dos ramos da aorta que podem estar acometidos pela dissecção. Braunwald, Zipes, Libby (2003) sustentam que esse exame é o método diagnóstico padrão para avaliação de dissecção aórtica, embora sua verdadeira sensibilidade não possa ser definida. KNOBEL, Elias. Condutas do paciente grave. 3 ª ed. São Paulo. Atheneu. 2006. Sobre o tratamento da dissecção aórtica, Knobel (2006) acredita que todo paciente com suspeita clínica deve ser admitido em uma unidade de tratamento intensivo e devem ser solicitados os exames de imagem. O tratamento clínico deve iniciar imediatamente para controle da dor para que impeça o aumento do tônus adrenérgico, e da pressão para que se permita uma pressão arterial mínima, porém, que mantenha uma perfusão tecidual satisfatória. Em relação ao tratamento cirúrgico, os autores Braunwald, Zipes, Libby (2003) e Goldman, Ausiello (2005) acreditam que exista um consenso sobre a terapêutica definitiva da dissecção aórtica assim, quando a dissecção aórtica envolver a aorta ascendente, está indicado um reparo cirúrgico devido aos riscos de complicações, porém se ela estiver restrita a aorta descendente ela tende a evoluir bem com terapia medicamentosa. O aneurisma dissecante de aorta é uma doença grave que exige terapêutica adequada e rápida. É fundamental para o médico que atende em unidades de urgências/emergências, o conhecimento não só da fisiopatologia desta doença, como também o propedêutica aplicada, pois o diagnóstico precoce diminuirá sensivelmente o prognóstico desta entidade mórbida. 6. Referências Bibliográficas BRAUNWALD, E.; ZIPES, D. P.; LIBBY, P.. Tratado de Medicina Cardiovascular. 6ª ed. Roca LTDA. 2003. NOBRE, Fernando; SERRANO Jr, Carlos V.. Tratado de Cardiologia SOCESP. 1ª ed, brasileira.São Paulo. 2005. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil tratado de medicina interna. 22ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. LOPES, Antônio Carlos. Tratado de clínica médica. São Paulo. Roca LTDA. 2006. CARVALHO, A. C. P. Contribuição da Tomografia Computadorizada ao Diagnóstico de Aneurisma dissecante de aorta. Tese de Mestrado em Radiologia. Rio de Janeiro: FM/ CCS/UFRJ, 1993. ROBBINS, Stanley L.; COTRAN, Ramzi S.. Robbins e Cotran: patologia - bases patológicas das doenças. 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Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Marinho, Fernanda Lopes; Mendes, Lucas; Carvalho, Renata F.; Tavares, Mauro. Aneurisma Dissecante de Aorta: A importância do diagnóstico precoce. Revisão de Literatura e Relato de Caso. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/55.pdf> edição nº 10, agosto/2009 STRANIN, V.G.; CHIGOGIDZE, N.A.; KHADZH MUSSA, IF.: Roentgenosurgical diagnosis of ascending aortic arch aneurysm. Klin Med (Mosk);87(3):8-11, 2009. WONG, D.R.; LEMAIRE, A.S.; COSELLI, J.S.: Managing dissections of the thoracic aorta. Am Surg;74(5):364-80, 2008 May. 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Os resultados mostraram inadequação do estado nutricional da maioria (52,5%) das idosas pelo índice de massa corporal, circunferência da cintura (75%) e razão cintura-quadril (90%). A maioria das idosas apresentou adequação em relação à reserva de tecido adiposo e muscular braquial. Verificou-se neste grupo uma baixa ingestão de fibra alimentar, com média de 10,76 g. Pode-se concluir que prevaleceu a inadequação do estado nutricional, indicativa de sua maior susceptibilidade à morbidade e à mortalidade e inadequação pela maioria idosas em relação ao consumo alimentar de fibra. Idosa Estado Nutricional Abstract Key words: The aim of work was evaluate the nutritional profile elderly women who frequent the Third Age Faculty in São José dos Campos, São Paulo State, Brazil. The research was a controlled transverse study constituted by 40 elderly women with average age of 68.22 years old. It was carried out anthropometric evaluation (body mass index, waist circumference, waist-hip ratio, triceps skinfold thicknesses and midarm circumference) and alimentary injury. The results showed inadequacy of nutritional status for majority (52.5%) of the elderly women by body mass index, waist circumference (75%) and waist-hip ratio (90%). The majority of elderly women presented adequacy for fat and muscular tissue reserves. It was noted in this group a low ingestion of alimentary fiber with average of 10.76 g. It is concluded that prevailed the inadequacy of nutritional status, which indicate the higher susceptibility to the morbidity and mortality and inadequacy of alimentary fiber use by the elderly women. Anthropometry 1. Introdução O aumento gradativo da população com 60 anos ou mais de idade no Brasil nos últimos 1 2 Alimentary Injury Elderly Nutritional Status anos indica que o país se encontra em processo de envelhecimento populacional. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a população brasileira de Acadêmicas do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Paraíba, SP. Docente do Curso de Nutrição da Faculdade de Ciência da Saúde, Universidade do Vale do Paraíba, SP. edição nº 10, agosto/2009 Inquérito Alimentar Cadernos UniFOA Érica Cristina Moreira Guimarães Lorena Silva dos Santos 1 Bruna Moraes de Jesus 1 Natalia Almeida Pastana 1 Margareth Lopes Galvão Saron 2 Artigo Original 1 edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 68 idosos, no período de 1997 a 2007, apresentou um crescimento relativo da ordem de 47,8%. Em 2007, a PNAD revelou a existência no Brasil de quase 20 milhões de idosos, correspondendo a 10,5% do total da população. A distribuição etária da população mundial tem apresentado visível alteração nas últimas décadas, em razão da expansão da expectativa de vida e do consequente aumento de idosos, o que representa novos desafios no campo da pesquisa nutricional. Esse fato gera maior necessidade em aprofundar a compreensão sobre o papel da nutrição na promoção e manutenção da independência e autonomia dos idosos. Nas últimas décadas, a população brasileira vem mostrando importantes mudanças em seus hábitos alimentares e estilo de vida, existindo uma escassez de informações sobre a situação alimentar dos idosos. Com o envelhecimento, além do aumento da gordura corporal, observa-se redistribuição desse tecido, havendo diminuição nos membros e acúmulo preferencialmente na região abdominal. A massa muscular tende a diminuir, assim como há modificações no padrão de distribuição da gordura corporal, onde o tecido gorduroso dos braços e pernas diminui, no entanto aumenta no tronco. A identificação do tipo de distribuição de gordura corporal é importante, pois o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreita relação com alterações metabólicas, as quais podem desencadear o aparecimento de enfermidades como as cardiovasculares e diabetes mellitus. Estudos evidenciam que, com o avançar da idade, ocorre aumento da gordura visceral e que a relação entre acúmulo de gordura abdominal e alterações metabólicas se mantém com a idade. Dentre os métodos mais utilizados para a determinação de fator de risco coronariano, destacam-se o índice de massa corporal (IMC), razão cintura quadril (RCQ), circunferência da cintura (CC), índice de conicidade (IC) e medidas de espessura de pregas cutâneas. No âmbito educacional, as Universidades Abertas à Terceira Idade têm favorecido a implementação de recursos auxiliares, procurando suprir a escassez de projetos sociais e educacionais mais densos e abrangentes para esta faixa etária. O objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil nutricional das idosas frequentadoras de uma Faculdade da Terceira Idade do município de São José dos Campos, Estado de São Paulo. 2. Metodologia A pesquisa foi realizada na Faculdade da Terceira Idade da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) de São José dos Campos, São Paulo, Brasil. O estudo foi transversal e controlado, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVAP, parecer H168/ CEP/2008. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi obtido de todas as participantes. Os critérios de inclusão das idosas foram: estar matriculada na Faculdade da Terceira Idade da UNIVAP, ser do gênero feminino, de todas as etnias, com idade superior ou igual a 60 anos, demonstrar interesse em participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de exclusão foram a presença de ascite e/ou edema. As medidas antropométricas utilizadas neste estudo foram a massa corporal e a estatura, de acordo com a técnica recomendada por Lohman et al. Com os dados da massa corporal e estatura, foi calculado o Índice de Massa Corpórea (IMC) (WHO, 1995). O IMC foi classificado de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS. A composição corporal foi determinada a partir da obtenção da prega cutânea triciptal (PCT), da circunferência braquial (CB) e da circunferência muscular braquial (CMB), utilizando-se a seguinte equação: CMB (cm) = [CB (cm) – (π x PCT (cm))] de acordo com o procedimento descrito por Lohman et al. Os valores de referência para PCT e CMB foram do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III). As medidas de circunferência da cintura (CC) e circunferência do quadril (CQ) foram aferidas conforme o procedimento descrito por Lohman et al. A circunferência da cintura (CC) foi utilizada para classificar as idosas com relação ao risco de doenças crônicas e complicações metabólicas associadas à obesidade tendo como ponto de corte a CC ≥ 88 cm (WHO). A razão cintura-quadril (RCQ) foi obtida dividindo-se o valor numérico da circun- Legenda de figuras ferência da cintura pelo do quadril, ambos em centímetros. O resultado foi avaliado segundo o ponto de corte para RCQ ≥ 0,85 (WHO). O inquérito alimentar foi determinado por meio da aplicação do recordatório habitual. Para os cálculos da ingestão de energia, do percentual de macronutrientes e de fibra total, as informações do registro alimentar foram analisadas no programa computacional Dietpro, versão 5. O tratamento estatístico de todos os resultados foi efetuado por meio do Programa SPSS (Statistical Package for Social Science). Utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão, mínimo e máximo) para as variáveis contínuas e os gráficos para a frequência das variáveis categóricas (classificação nutricional). 50% 69 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Baixo Peso Eutrófico Sobrepeso Obesidade Figura 1. Distribuição das idosas segundo o estadonutricional pelo índice de Figura 1. Distribuição das idosas segundo o estado nutricional pelo índice de massa corporal (IMC). massa corporal (IMC). A Figura 2 mostra a frequência das idosas segundo a presença ou ausência de risco de doenças cardiovasculares pelos parâmetros de CC e RCQ. Os resultados mostraram uma elevada prevalência de risco de doenças cardiovasculares na população estudada por meio das medidas de CC (75%) e do índice de RCQ (90%). 100% 3. Resultados 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% Legenda de tabelas 0% CC Sem Risco 68,14 (± 12,01) Estatura (cm) 1,56 (± 0,084) Índice de Massa Corporal (kg/m2) 27,93 (± 4,61) Circunferência da Cintura (cm) 95,83 (± 9,68) Circunferência do Quadril (cm) 102,93 (± 8,53) Razão Cintura-Quadril 0,94 (± 0,058) Tabela 1. Valores médios dos parâmetros antropométricos das idosas. circunferência muscular braquial. Tabela 2. Distribuição das idosas segundo a prega cutânea 2. Distribuição idosas com Figura Figura 2. Distribuição dasdasidosas com relação relação ao risco de doenças Média (Desvio Padrão) ao risco depor doenças por cardiovasculares, meio cardiovasculares, das medidas de circunferência da cintura (CC) e n (40) meio das medidas de circunferência da cintura razão cintura quadril (RCQ). Massa Corporal (kg) 68,14 (± 12,01) (CC) e razão cintura quadril (RCQ). Estatura (cm) 1,56 (± 0,084) Índice de Massa Corporal (kg/m2) 27,93 (± 4,61) Cintura (cm) 95,83 (± 9,68) Circunferência Comdarelação à PCT e CMB, observouCircunferência do Quadril (cm) 102,93 (± 8,53) se queCintura-Quadril a maioria das idosas apresenta reservas Razão 0,94 (± 0,058) adequadas de tecido adiposo braquial (80%) e Tabela 2. Distribuição das idosas segundo a prega cutânea dee tecido muscular braquial (60%) (Tabela 2). muscular braquial. triciptal circunferência Classificação Os valores médios de IMC das idosas foPrega cutânea triciptal ram de 27,93 Kg/m2, esse índice apresentou-se Depleção severa 1 5% Risco de depleção 3 dentro da normalidade, de acordo com7,5% o ponEutrofia 32 80% toExcesso de de corte proposto pela Organização Pangordura 4 10% Circunferência muscular braquial Americana de Saúde. O valor médio do parâmeDepleção severa 7 17,5% tro da CC foi de 95,83 cm e a RCQ foi 22,5% de 0,94; Risco de depleção 9 Eutrofia apresentaram valores acima 24 ambos dos60% pontos de corte utilizados para a determinação de risco à saúde em mulheres. A classificação nutricional das idosas pelo parâmetro IMC revelou a prevalência (52,5%) de risco nutricional (baixo peso, sobrepeso e obesidade) em relação ao IMC normal (47,5%), conforme mostra a Figura 1. O percentual de ocorrência do risco nutricional das idosas foi para a obesidade de 25%, sobrepeso de 22,50% e baixo peso de 5%. Classificação N % RCQ Com Risco N % Prega cutânea triciptal Depleção severa 1 5% Risco de depleção 3 7,5% Eutrofia 32 80% Excesso de gordura 4 10% Circunferência muscular braquial Depleção severa 7 17,5% Risco de depleção 9 22,5% Eutrofia 24 60% Tabela 2. Distribuição das idosas segundo a prega cutânea triciptal e circunferência muscular braquial. A análise da ingestão alimentar das idosas participantes da pesquisa está apresentada na Tabela 3. Observa-se que as idosas consomem em média 1455,38 Kcal, variando de 889,82 a 2740,52 Kcal, enquanto o desvio-padrão foi de 482,82 Kcal. A média de distribuição percentual dos macronutrientes ingeridos triciptal e edição nº 10, agosto/2009 n (40) Massa Corporal (kg) CC Com Risco Tabela 1. Valores médios dos parâmetros antropométricos das idosas. Tabela 1. Valores médios dos parâmetros antropométricos das idosas. Média (Desvio Padrão) RCQ Sem Risco Cadernos UniFOA Foram avaliadas 40 idosas, com média de idade de 68,22 anos, variando entre 60 a 84 anos, enquanto o desvio-padrão foi de 6,41 anos. Os valores obtidos dos parâmetros antropométricos Legenda de tabelas como massa corporal, estatura, IMC, CC, CQ e RCQ das idosas estão apresentados na Tabela 1. 70 pelas idosas está dentro da faixa de normalidade, porém verificou-se uma baixa ingestão de fibra com média de 10,76 g. da Faculdade Tabelaalimentar 3. Ingestão de calorias e nutrientes pelas idosas da Terceira Idade. Média (Desvio Padrão) Energia (kcal) 1455,38 (± 482,82) Fibra (g) 10,76 (± 16,18) Distribuição dos macronutrientes Carboidrato (%) 56,89 (± 9,91) Lipídio (%) 27,09 (± 8,47) 16,47 (± 4,65) Proteína (%) Tabela 3. Ingestão de calorias e nutrientes pelas Faculdade da Terceira Idade. Legenda de figurasda idosas 50% 4. Discussão 45% 40% 35% 30% Os valores médios encontrados de IMC das idosas avaliadas estão dentro da faixa de normalidade, conforme recomendado pela OPAS, porém a classificação nutricional, por meio IMC, indicou, a preFigura do 1. Distribuição das idosas nessa segundo população, o estado nutricional pelo índice de massa corporal (IMC). valência da inadequação do estado nutricional com predominância da obesidade (25%) e sobrepeso (22,50%), sendo também encontrado o baixo peso (5%). A elevada prevalência de desvio nutricional na população idosa vem sendo demonstrada por meio de diferentes estudos em vários países, onde a desnutrição, o sobrepeso e a obesidade predominam sobre os indivíduos eutróficos. O baixo peso entre a população idosa é apontado como fator fortemente associado à morbidade e mortalidade, pois o impacto da desnutrição na saúde dos idosos provoca pior prognóstico para os agravos da saúde. Por outro lado, a obesidade também representa um problema nutricional com grande repercussão e está claramente associado também com o aumento da morbidade e mortalidade e este risco aumenta progressivamente de acordo com o ganho de peso. Observou-se que o diabetes mellitus e a hipertensão ocorrem 2,9 vezes mais em indivíduos obesos do que naqueles com peso adequado e, embora não haja uma associação absolutamente definida entre a obesidade e as doenças cardiovasculares, alguns autores consideram que um indivíduo obeso tem 1,5 vezes mais propensão a apresentar níveis sanguíneos elevados de triglicerídeos e colesterol. Apesar do uso frequente do IMC, ele deve estar sempre associado a outros indicadores, tendo em vista que o mesmo não reflete 25% 20% 15% 10% 5% 0% edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Baixo Peso Eutrófico Sobrepeso Obesidade a distribuição regional de gordura ou qualquer mudança na distribuição de gordura ocorrida com o processo de envelhecimento, sendo considerado, portanto, um indicador pobre para avaliar riscos em idosos. Os resultados do estudo feito por Cabrera e colaboradores ressaltam a importância da aferição da RCQ como parâmetro antropométrico de distribuição de gordura central na análise de risco entre as idosas, cujo aumento demonstrou ser um fator de risco para a mortalidade total. Os valores médios e a própria classificação nutricional obtidos da CC e RCQ neste estudo, sugerem que as idosas apresentam risco para doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos. No estudo feito por Tinoco e colaboradores com idosos da Zona da Mata Mineira, os resultados mostraram a frequência de CC aumentada e de RCQ inadequada foi alta em ambos os sexos (61,4%), sendo significativamente maior nas mulheres. Uma das principais limitações desses dois indicadores (CC e RCQ) de distribuição de gordura corporal é a ausência de pontos de corte específicos para população idosa. Utilizam-se, até o momento, as recomendações propostas para os adultos jovens, sem considerar as alterações na distribuição de gordura inerentes ao processo de envelhecimento. Com relação à prega cutânea triciptal observou-se neste estudo baixa porcentagem de idosas com redução do tecido adiposo braquial e também com baixa perda de massa muscular pelo parâmetro de circunferência muscular braquial. Apesar deste estudo apresentar baixa porcentagem de idosas com redução do tecido adiposo e massa magra, sabe-se que com o envelhecimento, ocorrem a redistribuição do tecido adiposo. Nos membros inferiores e superiores, a quantidade de tecido adiposo diminui e seu acúmulo aumenta progressivamente na região abdominal, podendo ainda ser observada a diminuição da massa corporal magra. Neste estudo, a distribuição percentual dos macronutrientes está de acordo com recomendação do Food and Nutrition Board que recomenda 45-65% para carboidrato, 10-35% de proteína e 20-35% de lipídios, enquanto que a ingestão de fibra alimentar pelas idosas avaliadas apresentou-se inferior à quantidade padronizada como normal para adultos, que é As idosas participantes da Universidade da Terceira Idade têm maior prevalência da inadequação do estado nutricional, assim como verificado em estudos nacionais. A inadequação é revelada tanto pelo índice de massa corporal quanto pela circunferência da cintura e razão cintura-quadril, que indicam a maior susceptibilidade destas idosas à morbidade e à mortalidade. Com relação às reservas de gordura e de massa muscular braquial, a maioria das idosas apresenta reservas adequadas, que é um fator positivo. Assim, faz-se necessário adotar medidas para recuperar o baixo peso e prevenir o sobrepeso ou obesidade entre as idosas. Para tanto, recomenda-se uma prática regular de atividade física e a adoção de hábitos alimentares saudáveis. 6. Referências 1- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Diretoria de pesquisas, Coordenação de população e indicadores sociais. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2008. IBGE, 2008. 2- CAMPOS, M.T.F.S. et al. Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Rev. Nutr., v.13, n.3, p. 157-165, 2000. 3- SAMPAIO, L.R. Avaliação nutricional e envelhecimento. Rev. Nutr., v.17, n. 4, p. 507-514, 2004. 4- TINOCO, A.L.A. et al. Sobrepeso e obesidade medidos pelo índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC) e relação cintura/quadril (RCQ), de idosos de um município da Zona da Mata Mineira. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., v.9, n.2, 2006. 71 6- GOMES, M.A. et al. 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Morbidade por desnutrição em idosos, região Sudeste do Brasil, 1980-1987. Rev Saúde Pública. 2002; 32(2):141-8. 16- WAITZBERG, D.L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral. 3ª ed. Editora Atheneu. São Paulo, 2000. 17- CABRERA, M.A.S. et al. Relação do índice de massa corporal, da relação cinturaquadril e da circunferência abdominal com a mortalidade em mulheres idosas: seguimento de 5 anos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n.3, p.767-775, 2005. 18- SAMPAIO, L.R.; FIGUEIREDO, V.C. Correlação entre o índice de massa corporal e os indicadores antropométricos de distribuição de gordura corporal em adultos e idosos. Revista de Nutrição, Campinas, v.18, n.1, p.53-61, 2005. 19- FOOD AND NUTRITION BOARD. Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids (macronutrients). Washington: National Academy Press; 2002. 936p. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 20- Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileitos de Cardiologia, v. 88, supl. I, Abril, 2007. 21- LOPES, A.C.S. et al. Consumo de nutrientes em adultos e idosos em estudo de base populacional: Projeto Bambuí. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.21, n.4, p.12011209, 2005. Endereço para Correspondência: Margareth Lopes Galvão Saron Curso de Nutrição - Faculdade de Ciência da Saúde. Universidade do Vale do Paraíba, SP [email protected] Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova - São José dos Campos - SP CEP: 12.244-000 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Guimarães, Érica Cristina Moreira; Santos, Lorena Silva dos; Jesus, Bruna Moraes de; Pastana, Natalia Almeida; Saron, Margareth Lopes Galvão. Perfil Nutricional de Idosas frequentadoras da Faculdade da Terceira Idade. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/67.pdf> 73 Propriedades de cerâmicas dentárias consolidadas pela técnica gelcasting Properties of dental ceramics obtained by gelcasting method Arthur Kimura 1 Claudinei dos Santos 2 Fernando dos Santos Ortega 3 Rockfeller Maciel Peçanha 4 Alexandre Fernandes Habibe 5 Sizue Ota Rogero 6 Artigo Original Resumo Cerâmicas Gelcastng é uma nova técnica de consolidação de partes cerâmicas que tem sido empregada com muito sucesso na preparação de peças cerâmicas estruturais de geometrias extremamente complexas. Neste trabalho, cerâmicas biocompatíveis a base de óxido de alumínio Al2O3, óxido de zircônio ZrO2 e seus compósitos foram moldados por gelcasting, usando monômeros do sistema MAM-MBAM, com subsequente sinterização e caracterizações preliminares. Pós de alta pureza de ZrO2 tetragonal (3%Y2O3) e a–Al2O3 foram usados como matérias-primas. Misturas de pós contendo 80% em peso de alumina e 20% de zircônia foram obtidas por moagem/homogeneização. Em todos os casos, as suspensões obtidas apresentaram aproximadamente 55% vol. de carga sólida. Após consolidação em molde de borracha, os corpos cerâmicos foram desmoldados, secados e caracterizados por sua densidade relativa a verde. Os compactos foram sinterizados ao ar a 1575ºC, por 120 minutos, com taxas de aquecimento controladas para facilitar a remoção dos orgânicos responsáveis pela polimerização. As amostras sinterizadas foram caracterizadas por sua densidade relativa e analisadas por difração de raios –X, e microscopia eletrônica de varredura. Os valores de dureza e tenacidade à fratura foram determinados usando método de indentação Vickers. Gelcasting Sinterização Propriedades mecânicas Caracterização Abstract Key words: Gelcasting is a novel method of forming ceramics and has been increasingly employed in preparing complex-shaped, near-net-shape advanced materials. In this work, alumina, zirconia and aluminazirconia bioceramics were shaped by gelcasting, using MAM-MBAM monomer system, with subsequent sintering and characterization. High purity tetragonal ZrO2 (3mol%Y2O3) and a–Al2O3 powders were used as starting powders. Powder mixture containing 80 wt.% of alumina and 20 wt.% of tetragonal zirconia were obtained by milling/ homogenization. In all cases, the suspension obtained had at least 55 vol.% solid loading. Ceramic bodies were demolded, dried and characterized by green relative density. The compacts were sintered in air at 1550 and 1575ºC, for 120 minutes, with controlled heatingrate to facilitate organic compounds removal. Sintered samples were characterized by relative density, and analyzed by X-Ray diffraction and scanning electronic microscopy. Hardness and fracture toughness were determined using Vicker’s indentation method. Ceramics Discente do Curso de Engenharia Mecânica - UNIFOA Pós-Doutor em Biomateriais - EEL-USP Doutor em Engenharia de Materiais - UFSCAR 4 Doutor em Engenharoa Mecânica - UNICAMP 5 Mestre em Engenharia de Materiais - EEL-USP 6 Mestre em Biotecnologia - IPEN 1 2 3 Gelcasting Sintering Mechanical properties Characterization edição nº 10, agosto/2009 Palavras-chaves: Cadernos UniFOA Original Paper edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA 74 1. Introdução Ligas metálicas têm sido correntemente utilizadas como materiais para coroas ou abutments (pilares) em sistemas de próteses ou implantes osseointegráveis. Os materiais que se apresentam para tais aplicações devem apresentar biocompatibilidade, não devem promover adesão de placas bacterianas, além de possuírem resistência, permitirem forças oclusais do implante para o osso, entre outras propriedades como resistência a fadiga. Além das propriedades previamente descritas, um outro fator de extrema significância é a estética, a qual facilita manter os aspectos naturais dos dentes. Todas essas propriedades são necessárias e se complementam visando a aplicações intraorais [1-3]. Um grande avanço tem sido obtido pelo uso de sistemas “metal free”, a base de materiais cerâmicos. Os sistemas “all-ceramic” são atrativos à comunidade odontológica devido à maior resistência e resistência a abrasão melhor biocompatibilidade e estética quando comparados com restaurações metálicas e de resina [2,4]. Por outro lado, a aplicação de coroas ou pontes totalmente cerâmicas tem sido limitada devido ao seu comportamento frágil, longos tempos de processamento e usinagem [5-6]. Os materiais cerâmicos mais utilizados são alumina (Al2O3) e zircônia (ZrO2), devido a sua excelente biocompatibilidade e estética. A principal vantagem do Al2O3 é a alta dureza, resistência ao desgaste e estabilidade química, enquanto o ZrO2 exibe maior resistência mecânica e tenacidade à fratura [7-8]. Gelcasting é uma nova e atrativa técnica de conformação de cerâmicas, sendo um processo de fabricação indicado quando se deseja produtos de complexa geometria com qualidade superficial [9-12]. Nessa técnica, uma suspensão devidamente homogeneizada e isenta de bolhas, consistindo de pós cerâmicos e uma solução a base de água e monômeros é despejada em um molde de borracha, visando ao preenchimento de todos os espaços desse molde com a suspensão e, em seguida, essa suspensão é polimerizada in-situ para a imobilização das partículas pela gelificação da suspensão e pela aplicação de um catalisador do processo de polimerização. O corpo gelificado é secado e, em seguida, segue para o processo de sinterização. O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento e a caracterização de cerâmica à base de ZrO2, Al2O3 e Al2O3 -ZrO2 (80:20) % em peso, pela técnica gelcasting, visando à obtenção de peças cerâmicas sinterizadas de geometria complexa para futuro uso em materiais de sistemas de próteses dentárias. 2. Procedimentos Experimentais Pós comerciais de alta pureza ZrO2(3mol.%Y2O3) (tamanho médio de partículas de 0.65mm) contendo 15% vol. de fase ZrO2Monoclinica (Tosoh Grade TZ3YSB-Japão) e a-Al2O3 (A-1000 SG, Almatis-USA) (tamanho médio de partículas de 0.45mm) foram usados como pós de partida. Três composições foram estudadas nesse trabalho, baseadas em pó ZrO2(3Y2O3) monolítico, pó de Al2O3 e uma mistura de pós composta de Al2O3-ZrO2 (80:20.%peso), previamente misturada/homogeneizada por moagem. Suspensões cerâmicas foram preparadas para cada composição com cerca de 50 %vol. de carga sólida dispersa em água destilada, contendo 20% peso de monômeros previamente misturados. Metacrilamida-MAM foi usada como monômero principal e metilenobisacrilamida-MBAM foi o comonômero cruzado, a uma razão molar de 3:1, ambos adquiridos da empresa Acros Organics (Bélgica). Poliacrilato de amônia (Dispersal 130, Lubrizol) foi usado como defloculante e as suspensões foram moídas em moinho de bolas por 15 minutos para completa dispersão dos componentes da mistura. A concentração otima de defloculante foi previamente determinada por testes reologicos como sendo 0.8% em peso. Os pH’s das suspensões foram ajustados para 9,0 com pequenas adições de KOH (Synth) para melhorar a dispersão. Pequenas quantidades de persulfato de amônio - APS (iniciador, Acros Organics) e tetrametilmetilenodiamida-TMED (catalizador, Sigma-Aldrich) foram adicionados às suspensões, as quais foram vigorosamente misturadas e preenchidas em moldes onde a gelificação ocorreu. Vários tipos de moldes e de formas foram testadas visando a melhor reprodução dos pequenos detalhes superficiais. As suspensões gelificaram em poucos minutos e puderam ser facilmente desmoldados. As 75 3. Resultados e Discussão 3.1. Corpos a verde Após gelificação e secagem, os compactos apresentaram densidade relativa próxima a 60% da densidade teórica, para todas as composições. A maior compactação obtida por esta técnica promove um aumento do número de contatos entre partículas individuais, ao contrário do que acontece com sistemas particulados sólidos consolidados por prensagem, onde dominam os aglomerados e agregados. O maior número de contatos favorece a ativação de mecanismos difusionais durante a sinterização por fase sólida. Além disso, a alta qualidade das superfícies e a reprodução precisa dos detalhes dos moldes foram observadas nas peças desenvolvidas, conforme apresentado na Figura 2. edição nº 10, agosto/2009 Figura 1 - Representação esquemática do campo de tensões gerado em diferentes sistemas de trincas gerados por impressão Vickers. Os testes in vitro para a análise da citotoxicidade, através do método de incorporação do Vermelho Neutro, foram realizados de acordo com a ISO 10993-5 [14]. Amostras dos materiais foram esterilizadas e adicionadas em Meio Mínimo de Eagle (MEM) na proporção de 1 cm2/mL e incubado por 48h a 37ºC. Diluições seriadas foram feitas dos extratos de amostras, de Al2O3 (controle negativo) e de solução de fenol 2% (controle positivo). O ensaio propriamente dito foi realizado através da adição de 200mL de cada diluição do extrato em contato com as células aderidas em cada poço, em triplicata. Controles positivo e negativo receberam o mesmo procedimento da amostra, com concentrações de extrato de: 1= 100%; 2= 50%; 3= 25%; 4= 12,5% e 5= 6,25%. Os poços com controle de células receberam Meio uso e este controle corresponde a 100% de sobrevida celular. Por último, foi calculada a média das leituras de densidade óptica de cada diluição e feita a comparação com a média do controle de células (100%), obtendo-se a % de sobrevida das células em cada diluição. Projetando-se em gráfico a % de sobrevida em função da diluição do extrato obteve-se uma curva, na qual pode ser encontrado o índice de citotoxicidade (IC50%) do material. IC50% significa a concentração do extrato que lesa ou mata 50% da população celular no ensaio de citotoxicidade. Cadernos UniFOA amostras foram inicialmente secas a temperatura ambiente por 24h e então secas em estufa a 110ºC por 48h. Corpos a verde foram sinterizados a 1575ºC, por 60 minutos. Diferentes taxas de aquecimento foram usadas, dependendo da temperatura alcançada: 10ºC/min até 300ºC, 1ºC/min de 300 a 600ºC e 10ºC/min de 600ºC até a temperatura final de sinterização. A taxa de resfriamento foi de 8ºC/min. A densidade a verde foi determinada a partir da razão entre a massa e o volume das amostras. Além disso, método de Arquimedes foi utilizado para determinar a densidade das amostras sinterizadas. As fases cristalinas foram determinadas por difração de raios X (XRD) usando radiação Cu-ka na faixa de 2q entre 20º e 80º, com passos angulares de 0.05º e 3s como tempo de exposição a radiação, por ponto de contagem. Aspectos microestruturais das amostras sinterizadas foram examinados por microscopia eletrônica de varredura (MEV), usando microscópio LEO-1450VP. As superfícies foram lixadas, polidas e, em seguida, atacadas termicamente a 1400ºC por 15min, com taxa de aquecimento e resfriamento de 25ºC/min. Dureza e tenacidade a fratura, KIC, foram determinadas, usando o método indentação Vickers e usando um microdurômetro. A seção transversal polida de cada amostra foi submetida a 10 indentações sob uma carga de 2000gf por 30s. 5 amostras de cada composição foram utilizadas nestes testes, perfazendo um total de 50 medidas. A tenacidade à fratura foi calculada pela medida da relação entre o comprimento da trinca (c) e o comprimento da indentação (a), conforme Figura 1, usando a relação proposta por Niihara et al [13], válida para trincas do tipo Palmqvist, as quais apresentam uma relação c/a < 3,5. 76 Figura 2. Modelos de amostras de ZrO2 e Al2O3 obtidas pelo método gelcasting, após sinterização. 3.2. Caracterizações após sinterização licitadas. Densificação próxima a 99% foi obtida para zirconia monolítica e para os compósitos alumina zircônia. A similaridade de densidade a verde reflete nos valores de retração linear próximos a 18%, para todas as composições estudadas. A Figura 3 mostra difratogramas de raios X representativos das amostras sinterizadas. edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA As amostras sinterizadas apresentaram densidade relativa de 99,2%±0,3 (ZrO2), 94,6%±0,8 (Al2O3) e 98,8%±0.4 (Al2O3-ZrO2). As cerâmicas a base de alumina, como esperado, apresentaram menor densificação. Ao contrario, cerâmicas a base de ZrO2(3%Y2O3) responderam bem às condições de sinterizações a elas so- a) b) c) Figura 3. Difratogramas das amostras sinterizadas a 1575ºC: (a) Al2O3, (b) ZrO2 e (c) Al2O3 ZrO2. Os difratogramas apresentados na Figura 3(a) indicam a presença somente da fase cristalina corundum, a-Al2O3. Na Fig 3(b), somente a fase cristalina ZrO2 tetragonal foi detectada, indicando que toda a fase monoclinica residual presente no pó-de-partida foi convertida em fase tetragonal durante a sinterização. Na Fig. 3(c), a presença de a-Al2O3, t-ZrO2 e m-ZrO2 indica que, durante o resfriamento, tensões térmicas residuais geradas pela diferença de coeficientes de expansão térmica de Al2O3 (a = 7.5 x 10-6/ºC) e ZrO2 (a = 10.5 x 10-6/ºC) promoveu transformação martensítica parcial (cerca de 10%) da fase ZrO2. A Figura 4 apresenta micrografias obtidas por MEV das cerâmicas sinterizadas. Os resultados apresentados na Fig. 4 mostram típicas microestruturas de Al2O3 e ZrO2 com tamanho de grão compatível com o tamanho de partículas inicial fornecido pelo fabricante e com a temperatura de sinterização utilizada. Por outro lado, os compósitos Al2O3-ZrO2 apresentaram alguma heterogeneidade na distribuição de ZrO2 na matriz de alumina, provavelmente devido a não eficiência do processo de mistura realizado na suspensão. A homogeneidade pode ser facilmente melhorada pelo aumento do tempo de moagem/mistura. 77 Figura 4. Microestruturas de amostras sinterizadas a 1575ºC. Tabela 1 apresenta resultados de dureza Vickers e KIC das amostras sinterizadas. Pode ser observado que amostras a base de Al2O3 apresentam maior dureza, mesmo com densidade relativa menor que as amostras ricas de ZrO2. Por outro lado, a presença de ZrO2 aumenta a tenacidade dos corpos cerâmicos devido a dois mecanismos principais, a transformação martensítica, que ocorre durante o crescimento de trincas, a qual promove uma expansão volumétrica de 3 a 5% nos grãos transformados, e como consequência, promove uma barreira ao crescimento da trinca. Um outro mecanismo ocorre em compósitos cerâmicos com diferentes coeficientes de expansão térmica, gerando campos de tensão compressiva ao redor dos grãos de diferentes fases, os quais dificultam o crescimento de trincas. Os valores de tenacidade a fratura foram 4,9 MPam1/2 para amostras de Al2O3 resultados que estão bem de acordo com dados obtidos na literatura [10]. Os valores de Amostras Temperatura de Sinterização (ºC) Módulo de Elasticidade Dureza (HV) Tenacidade à Fratura KIC (MPa•m1/2) Al2O3 1575 390 1474 ± 63 4,9±0,3 ZrO2 1575 190 1265 ± 31 8,2 ± 0,3 Al2O3:ZrO2 (80:20%) 1575 340 1402 ± 86 6,2 ± 0,3 toxicidade, ou seja, o material não causa dano ao crescimento celular periférico. edição nº 10, agosto/2009 A tenacidade à fratura das amostras de zircônia foram maiores, alcançando 8MPa•m1/2 para os materiais monoliticos e 6,2 MPa•m1/2 para os compósitos. Como já foi dito, esses resultados ocorrem devido a esse material exibir uma transformação de fase martensítica (tetragonal-monoclinica), a qual ativa o mecanismo de tenacificação por transformação de fases [6]. Os baixos valores de desvio-padrão apresentados pelos materiais desenvolvidos neste trabalho indicam uma alta homogeneidade microestrutural das amostras produzidas por gelcasting. Os resultados dos testes biológicos são apresentados na Figura 5, e indicam que o material não apresenta cito- Cadernos UniFOA Tabela 1 – Propriedades mecânicas dos corpos sinterizados. Figura 5 – Teste de citotoxicidade das amostras sinterizadas, obtidas por gelcasting. 78 4. Conclusões Os resultados apresentados indicam que as condições de processamento, usadas nesse trabalho para fabricação de peças cerâmicas por gelcasting, foram eficientes para produzir biocerâmicas à base de Al2O3 e ZrO2. Os materiais apresentaram acabamento superficial, propriedades mecânicas satisfatórias e compatibilidade biológica. O uso de condições otimizadas de processamento (relação líquido-sólido, concentração de monômeros, ajuste de pH, temperatura de sinterização, etc), e a capacidade de produzir partes com geometrias complexas favorece seu uso no desenvolvimento de partes cerâmicas dentárias. Os resultados de citotoxicidade indicam que os diferentes extratos preparados com os materiais cerâmicos desenvolvidos não causaram morte celular, indicando que o material não apresenta citotoxicidade. [7] D. Basu, B.K. Sarkar, J. Mater. Res., 11 (12) (1996) 3057-3062. [8] M. A. Janney, S. D. Nunn, C. A. Walls, et al. Review-Gelcasting, in The Handbook of Ceramic Engineering, ed by Mohamed N. Rahaman, Marcel Dekker, 1998. 1-33, [9]. R&D 100 Award, “Gelcasting, na Alternative to Current Ceramic Processes,” R&D Magazine, p. 29, September 1995. [10]. M. A. Janney, O. O. Omatete, C. A. Walls, S. D. Nunn, R. J. Ogle, and C.G. Westmoreland, J. Am. Ceram. Soc., 1998. [11] J. Ma, Zhongzhou Yi, et al. Ceram Internat, 31 (2005) 1015–1019 [12] J. Wang, L. Gao, Ceramics International 26 (2000) 187-191 [13] K. Niihara, R.Moreno, D.P.H. Hasselman, J Mat. Sci. Letters (1) (1982), 13-16. 5. Agradecimentos Os autores agradecem a FAPESP, a UNIFOA e ao CNPq pelo fornecimento de bolsas de estudo. [14] ISO document 10993-5, 1992 Biological evaluation of medical devices, Part 5, Tests for cytotoxicity: in vitro methods. 6. Referências Bibliográficas edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA [1] B. I. Ardlin, Dental Materials, 18 (8) (2002) 590-595. [2] M. Guazzato, M. Albakry, et. al. Dental Materials, 20 (5) (2004) 449-456. [3] D.-J. Kim, M.-H. Lee, D. Y. Lee, J.-S. Han, J. Biomed Mater Res, 2000 53 (4) 438-443. [4] X.-J. Sheng, H. Xu, Z.-H. Jin, Y-L.Wang, Materials Letters, 58 (11) (2004) 1750-1753. [5] J.-M. Tang, Y.-L. Zhang, S.-X. Zhang, J. Am. Ceram. Soc. 82 (6) (1999) 1592. [6] R. Stevens, An introduction to zirconia: Zirconia and zirconia ceramics. 2nd Ed Twickenham: Magnesium elektrum, (1986), (Magnesium Elektron Publications, n113). Endereço para Correspondência: Claudinei dos Santos [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Kimura, Arthur; Santos, Claudinei dos; Ortega, Fernando dos Santos; Peçanha, Rockfeller Maciel; Habibe, Alexandre Fernandes; Rogero, Sizue Ota. Propriedades de cerâmicas dentárias consolidadas pela técnica gelcasting. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano IV, n. 10, agosto. 2009. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/edicao/10/73.pdf> Apresentação do Texto Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial Times New Roman, tamanho 12, com margens de 2,5cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Todos os artigos deverão ser encaminhados acompanhados de disquete ou CD contendo o arquivo do trabalho e indicação quanto ao programa e à versão utilizada (somente programas compatíveis com Windows). Notas de rodapé não serão aceitas. É imprescindível o 79 edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA é uma publicação semestral arbitrada que visa sustentar um espaço editorial de natureza inter e multidisciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emergentes e comunicações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções: (1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 8.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais - os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte). envio de carta informando se o artigo está sendo encaminhado pela primeira vez ou sendo reapresentado à nossa secretaria. No envio da segunda versão do artigo deverá ser encaminhada uma cópia impressa, acompanhada de disquete ou CD. Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em impressão de alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. Os mapas que não forem gerados em meio eletrônico devem ser encaminhados em papel branco (não utilizar papel vegetal). O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras). Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 250 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavraschave. Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas. Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http:// www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Após a aceitação do trabalho para publicação, todos os autores deverão assinar um formulário, a ser fornecido pela Secretaria Editorial do Cadernos UniFOA – Pós-Graduação, indicando o cumprimento integral de princípios éticos e legislações específicas. Cadernos UniFOA Instruções para Autores 80 Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria, devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros. Declarações: o autor principal deve enviar, via correio, declaração sobre a Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais. Referências: as referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acordo com a ordem em que forem sendo citadas no texto. Devem ser identificadas por números arábicos sobrescritos (Ex.: Oliveira1). As referências citadas somente em tabelas e figuras devem ser numeradas a partir do número da última referência citada no texto. As referências citadas deverão ser listadas ao final do artigo, em ordem numérica. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es). edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA Exemplos: a) Artigos de periódicos Hedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke survivors: nurses as moderators of the communication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007. b) Instituição como autor European Cardiac Arrhythmia Society 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France. Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006. c) Sem indicação de autoria Rubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptothecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamptothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004. d) Livros e outras monografias Freire P e Shor I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor ou organizador como autor Denzin NK, Lincoln YS, editors. Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications; 1994. · Instituição como autor e publicador Institute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006. e) Capítulo de livro Aggio OA. A revolução passiva como hipótese interpretativa da história política latino- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998. f) Eventos (anais de conferências) Vitti G.C. & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMINÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985. g) Trabalho apresentado em evento Bengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Coangress on Medical Informatics. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5. h) Dissertação e tese Rodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004. i) Outros trabalhos publicados · Artigo de jornal Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3. · Documentos legais Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Portaria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regulamentadora N° 9: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais. j) Material eletrônico · CD-ROM Severino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repicagem de plântulas de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004. · Internet UMI ProQuest Digital Dissertations. Disponível em: <http://wwwlib.umi.com/dissertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001. Envio de manuscritos Os artigos devem ser enviados para o seguinte endereço eletrônico: [email protected]. Documentos adicionais (declarações, fotos, mapas), devem ser enviados para UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – Prédio 1 - Núcleo de Pesquisa/ NUPE. Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] 81 ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA Facudade 2 de Julho - Salvador/BA Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ Faculdade de Ciências - Bauru/SP Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS Faculdade SPEI - Curitiba/PR Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA edição nº 10, agosto/2009 Faculdade de Minas - Muriaé/MG Cadernos UniFOA Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG 82 Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG Fundação Santo André - Santo André/SP Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação de Informações - Rio de Janeiro/RJ Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ edição nº 10, agosto/2009 Cadernos UniFOA TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] 83 UNIPAR - Universidade Paranaense - Cianorte/PR UNISAL - Centro Universitário Salesiano - Americana/SP Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo/RS UNIVEM - Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha - Marília/SP Universidade Bandeirante de São Paulo - São Paulo/SP Universidade Brás Cubas - Mogi das Cruzes/SP Universidade Católica de Brasília - Brasília/DF Universidade da Cidade de São Paulo - Tatuapé/SP Universidade da Região de Joinville - Joinville/SC Universidade de Brasília - Brasília/DF Universidade de Caxias do Sul - Caxias do Sul/RS Universidade de Coimbra - Pólo II - Coimbra/RJ Universidade de Cuiabá - Cuiabá/MT Universidade de Marília - Marília/SP Universidade de Passo Fundo - Passos Findo/RS Universidade de Sorocaba - Sorocaba/SP Universidade de Taubaté - Taubaté/SP Universidade do Vale do Paraíba - São José dos Campos/SP Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro/RJ Universidade Estadual de Maringá - Maringá/PR Universidade Federal de Alfenas - Alfenas/MG Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis/SC Universidade Luterana do Brasil - Paraná/RO Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP Universidade Paranaense - Umuarama/PR Universidade Paulista - São Paulo/SP Universidade Severino Sombra - Vassouras/RJ Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações - Três Corações/MG UnoChapeco - Centro Universitário de Chapecó - Chapecó/SC UPIS - União Pioneira de Integração Social - Brasília/DF UVA - Universidade Veiga de Almeida - Tijuca/RJ UVV - Centro Universitário de Vila Velha - Vila Velha/ES edição nº 10, agosto/2009 Universidade São Francisco - São Paulo/SP Cadernos UniFOA Universidade Regional de Blumenau - Blumenau/SC Formando para vida.