DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Reflexões sobre o Uso da Tecnologia na Rede Municipal de Educação de São Paulo Autor: Prof. Dr. Cesar Nunes - Assessor da Secretaria Municipal de Educação para a área de Informática Educativa Data: 19/04/2012 1. Concepções sobre o uso da tecnologia O espanhol Jordi Vivancos fez uma análise muito interessante sobre os processos de formação para o uso da tecnologia em educação nos últimos vinte anos. Ele analisou a relação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) com o currículo e caracterizou quatro fases conforme mostrado na figura 1. Ele chamou essas fases de tecnologia suplementar ao currículo, complementar ao currículo, integrada ao currículo e impregnada ao currículo. TIC TIC TIC Currículo Suplementar Currículo Complementar Currículo Integrado Currículo Impregnado Figura 1 – Relação das TIC com o currículo segundo Jordi Vivancos. Suplementar – nessa fase as formações de professores para o uso das TIC se dão principalmente através de cursos sobre como usar os diversos software e recursos digitais. Por exemplo, um curso sobre os comandos do sistema operacional LINUX, ou um curso sobre todos os comandos e procedimentos para usar uma lousa digital. Não há nenhuma conexão com atividades curriculares. Note que embora esse tenha sido um modelo adotado nos primórdios do uso de tecnologia em educação, ainda encontramos muitos casos onde ele é adotado. Esse modelo mostrou-se usualmente pouco contextualizado para o professor que após o curso “esquece” os comandos e considera sempre que a formação foi insuficiente. Complementar – nessa fase a ênfase está em realizar com o uso da tecnologia as mesmas atividades que eram feitas antes. Por exemplo, os alunos escrevem uma redação digitando num blog ao invés de escrever em papel. Note novamente que hoje em dia também encontramos muitas formações que se caracterizam por esse tipo de abordagem. A crítica a formações desse tipo é que elas não exploram o potencial da tecnologia para fazer o que antes não era possível. Integrado – essa fase caracteriza-se pela realização de atividades que antes não eram possíveis, mas que são “guiadas” pela tecnologia. Por exemplo, o Ministério da Educação lança um Portal Educacional e os professores criam uma atividade para usar os conteúdos desse portal. A escola recebe computadores portáteis e então são criadas atividades para o uso desses computadores em sala de aula. Em princípio esse modelo de formação e uso pode significar um grande avanço. O perigo é o deslumbramento tecnológico, atividades para o uso da tecnologia, e não para melhorar a DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa aprendizagem. Impregnado – nessa fase, a mais avançada e também a mais difícil, a tecnologia entra de forma transparente, apenas onde ela de fato é útil. O que guia o uso da tecnologia é o processo educacional e não a tecnologia por si só. Logicamente para que um professor chegue a usar a tecnologia dessa forma transparente é necessária conhecimento e fluência! O caminho para se chegar ao uso transparente da tecnologia passa naturalmente pelo reconhecimento do seu potencial e pelo domínio de suas características básicas. É como se percorrêssemos as diversas fases mais rapidamente, lembrando sempre que queremos chegar à fase impregnada. Para isso é fundamental refletir o tempo inteiro sobre o processo. É essa a estratégia na política de implementação da informática educativa pela secretaria municipal. Ao mesmo tempo em que você será instrumentalizado para o uso básico de um ambiente colaborativo e para a criação e adaptação de atividades e recursos digitais, também transformará atividades que já faz sem o uso de tecnologia, criará novas atividades para usar o ambiente colaborativo e novos recursos digitais, até chegar a uma visão crítica e fluência tecnológica para decidir quando e como quer usar a tecnologia para que seus alunos aprendam mais e melhor! 2. Expectativas de aprendizagem Quando propomos uma atividade para os alunos temos sempre uma expectativa em mente. A atividade pode servir para motivar ou contextualizar um assunto, pode servir para exercitar conhecimentos já adquiridos, pode servir para relacionar novos conteúdos com conteúdos antigos, pode servir para o desenvolvimento de uma ou mais competências, pode servir para o desenvolvimento de habilidades de pensamento complexo, etc. Devem ter notado certo desconforto ao ler o parágrafo anterior. Talvez ficasse melhor usar a palavra contribuir ao invés de servir: a atividade pode contribuir para o desenvolvimento de uma ou mais competências, pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades de pensamento complexo. Esse desconforto deve-se ao fato de sabermos que uma única atividade pode servir para motivar os alunos ou para contextualizar um assunto, mas uma única atividade não bastará para o desenvolvimento de uma competência (ex.: autonomia, colaboração, criatividade, pensamento crítico) ou habilidade de pensamento complexo (ex: pensamento metacognitivo, transferência). Essa simples constatação nos induz a pensar que boas combinações de atividades podem contribuir de forma significativa para o desenvolvimento de objetivos de aprendizagem mais complexos. Sem entrar em longas discussões teóricas ou definições e diferenciações de conceitos, vamos chamar “sequências didáticas” as combinações de atividades voltadas para objetivos de aprendizagem complexos. Ainda, com o mesmo espírito prático, evitando entrar em longas discussões sobre competências e habilidades, vamos trabalhar com um objetivo de aprendizagem comum a todas as disciplinas e complexo o suficiente para não permitir que seja atingido com uma única atividade: a compreensão. A compreensão como definida por David Perkins (“Ensino para a Compreensão: Ligando Teoria e Prática”, M.S.Wiske (ed.), cap.2, editora Artmed, 2005) é: “a capacidade de pensar e agir flexivelmente com aquilo que se sabe” Se ensinamos para que os alunos compreendam, e se para compreender eles têm que ser capazes de agir flexivelmente com aquilo que sabem, vemos um dinamismo inerente no desenvolvimento da DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa compreensão: são necessárias atividades de aquisição e organização de conhecimento, mas também são necessárias atividades abertas que exijam flexibilidade no uso do conhecimento. Ao tentar usar o conhecimento de forma flexível percebe-se o que se sabe e o que não se sabe, consequentemente retroalimentando o ciclo de aquisição, organização e aplicação. O parágrafo anterior contém tal riqueza e complexidade que justifica-se apontar alguns desdobramentos e relacionamentos que provavelmente já passaram pela cabeça de muitos de vocês: • o pensar e agir flexivelmente como definido acima se contrapõe ao “decoreba”, à aplicação mecânica, sem pensar, daquilo que se aprende • as atividades de aplicação flexível do conhecimento estão relacionadas com as “atividades de desempenho” e também com a busca pela “transferência” (a capacidade de aplicar o que se aprende numa situação a situações distintas) • as atividades de desempenho (de aplicação flexível do que se sabe) são aquelas onde a tecnologia mais pode ajudar! (particularmente o ThinkQuest Projects, o ambiente que estamos usando na secretaria municipal) • o processo de aquisição e organização do conhecimento é o mesmo já enfatizado tantas vezes por tantos outros autores (p.ex. conhecimento prévio, subsunçores, rede conceitual, aprendizagem significativa, etc. de Ausubel, Novak, Moreira) • as sequências didáticas buscando objetivos complexos aparecem ressaltadas nos escritos de muitos autores (p.ex. Gagné) • a percepção do que se sabe e do que não se sabe tem a ver com o pensamento metacognitivo • a motivação para aprender aquilo que não se sabe e o sucesso nessa empreitada acontece de forma mais contundente quando é feito socialmente através dos processos de melhoria de ideias (a construção social do conhecimento, potencialmente muito facilitada pela tecnologia!) • a percepção daquilo que se sabe, do que não se sabe, e consequente melhoria, depende da criação de uma cultura de avaliação formativa (autoavaliação, avaliação por pares, feedbacks com linguagem apropriada e nos momentos apropriados) Como perceberam, com apenas um objetivo de aprendizagem, a compreensão, vimos a necessidade de sequências didáticas combinando diferentes tipos de atividades e avaliação condizente com os objetivos. Imaginem que essas necessidades se multiplicam conforme introduzimos outros objetivos (p.ex. as chamadas “competências do século 21”: criatividade, capacidade de resolução de problemas, pensamento crítico, autonomia, capacidade de colaboração, compreensão intercultural, capacidade para o uso da tecnologia). 3. Atividades abertas e atividades fechadas Sair da aprendizagem mecânica, decorada, da escola tradicional implica em trabalhar com atividades abertas - aquelas atividades que não têm uma única resposta correta. Essas atividades permitem levantar e inferir concepções, dão margem a discussões e sustentação de diferentes pontos de vista, abrem espaço para a criatividade, e permitem um processo coletivo de incorporação e melhoria de ideias. Como vimos na seção anterior, para o ensino para a compreensão, é imprescindível o trabalho com atividades abertas. A educadora Linda Darling-Hammond escreveu recentemente um livro (Powerful Learning: What we know about teaching for understanding, ed. Jossey-Bass, 2008) onde relata que o ensino para a compreensão leva à aprendizagem profunda e os resultados em teste educacionais superam os do ensino tradicional. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Com a ressalva de que uma única atividade não é suficiente para desenvolver a compreensão, e com o intuito de preparar o terreno para discutirmos o que fazer com as respostas dos alunos nas atividades abertas, exemplificamos atividades aberta e fechada com material do Caderno de Apoio e Aprendizagem do 5º Ano de Língua Portuguesa. Exemplo de atividade fechada Na página 37 do caderno do aluno encontramos a seguinte atividade: DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Como pode ser percebido, no item a) há uma “única resposta correta”. No item b), embora os alunos possam formular suas hipóteses, também há “uma resposta correta”. Exemplo de atividade aberta Logo em seguida no caderno do aluno, na página 38, encontramos a seguinte atividade: DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Como percebemos, para esse tipo de atividade não existe uma resposta correta única. Cada aluno pode escolher uma combinação de salas e descrever o percurso à sua maneira. A maneira como usam a linguagem demonstra seu domínio relativo a esse conteúdo. Embora mais aberta que a primeira, essa atividade ainda é bastante dirigida. É a combinação de atividades que permite desenvolver o conhecimento ao ponto do sujeito ser capaz de pensar e agir flexivelmente com ele. Existem algumas dimensões do conhecimento que precisam ser desenvolvidas para tal: • os novos conceitos devem se encaixar de maneira rica e coerente na estrutura conceitual que o aluno já tinha; • a maneira de pensar, argumentar, formular e testar hipóteses, escrever teorias, etc. deve seguir o método da área em questão (p.ex. há muita diferença nesse processo entre as áreas humanas e exatas); • todo conhecimento tem limitação quanto às possibilidades de aplicação, seja por questões éticas, seja por não estar totalmente desenvolvido. É importante ter clareza dos limites de aplicação daquilo que se sabe; • o domínio das diversas formas, linguagens e meios fazem diferença no momento em que se tenta aplicar o conhecimento para um determinado fim e determinado público. As atividades abertas nas quais o aluno vai usar de maneira flexível o que já sabe devem pressupor que o aluno já tem uma base suficiente em cada uma dessas dimensões. Se não tiver, é necessário que a sequência didática inclua atividades (de leitura, instrução, resolução de exercícios, pesquisa, etc.) para a construção dessa base. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa O desenvolvimento de cada uma dessas dimensões da compreensão pode ser feito ele mesmo também através de atividades abertas (que não são nesse caso necessariamente para transferência ou aplicação flexível). As ideias e produtos gerados nas atividades propostas em cada uma dessas dimensões são sempre passíveis de melhorias, e o processo de melhorar ideias e produtos faz parte da construção do conhecimento! 4. Construção do conhecimento, pequenos grupos e uso da tecnologia Conforme visto na seção anterior, o trabalho com atividades abertas é necessário para o desenvolvimento da compreensão. Alguns de vocês devem estar se questionando: se nas atividades abertas não existe “a resposta certa” e não se predispõe de um gabarito, o trabalho de correção não demandaria um tempo exagerado por parte do professor? Além disso, o simples fato de um aluno ter respondido uma atividade aberta não garante que ele compreendeu. O que garante a compreensão é a qualidade das respostas que ele apresenta, ou mesmo dos feedbacks que ele recebe do professor. Mas como lidar com classes com 35, 40, ou até mesmo 45 alunos? Para perceber que esse não é um problema sem solução vamos, outra vez sem nos aprofundar em discussões teóricas, beber na fonte de sabedoria de grandes educadores (Vigotsky, Bereiter e Scardamalia) que há muito apontaram a importância dos aspectos sociais na construção do conhecimento. Segundo Bereiter e Scardamalia, a existência de diferentes ideias partindo de diferentes alunos não só é bem vinda como também imprescindível para a construção do conhecimento. Para eles, a construção do conhecimento coletivo deve ser colocada como meta de qualquer grupo de aprendizes e eles devem assumir a responsabilidade por essa construção. Para eles, as ideias apresentadas por diferentes alunos ou grupo de alunos devem ser encaradas como primeiras ideias, melhoráveis, e o processo de melhoria envolve a comparação, a crítica, o reaproveitamento, e a re-elaboração e síntese de ideias. O processo para se chegar à ideia final do grupo envolve negociação, argumentação, aceitação da diversidade, etc. Todas essas “necessidades” para melhorar as ideias (argumentação, crítica, síntese, etc.) devem ser assumidas como responsabilidade do grupo e não do professor. Ainda, a participação “simétrica” de todos os membros do grupo na apresentação, compreensão e melhoria de ideias também é responsabilidade de todos no grupo. O uso de termos e linguagem que permitam a construção do conhecimento também é tarefa do grupo. A avaliação da qualidade, da aplicabilidade das ideias e suas limitações são também responsabilidade do grupo. Essa visão de construção social do conhecimento joga para os alunos a maior parte do trabalho! O professor intervém na condução do processo, mas o trabalho de ler, comentar, dar feedback, explicar, convencer, melhorar, sintetizar, etc. é primordialmente dos alunos. A avaliação dos alunos passa a envolver também como cada um colaborou com o processo de construção coletiva (melhoria de idéias). A tecnologia é crucial para a realização dessa construção coletiva! É inimaginável os alunos trocarem cadernos para que uns leiam o que os outros escreveram. É inimaginável construir ideias coletivas sem a visualização e comparação de ideias e comentários uns dos outros. É inimaginável a reescrita, combinação e melhoria das ideias sem um ambiente digital que favoreça copiar, recortar, colar, adicionar, etc. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa O envolvimento intelectual de cada aluno nas atividades propostas pelos professores passa necessariamente por uma fase onde cada um, individualmente, pensa e apresenta suas ideias e opiniões. O processo de discussão, argumentação, e melhoria de ideias acontece de forma mais eficaz se num primeiro momento for realizado em pequenos grupos. Nesse contexto é mais fácil para um aluno ajudar o outro (contribuindo para a “simetria” de conhecimento do grupo) e também para que todos tenham chance de participar. A passagem do trabalho dos pequenos grupos para o grande grupo pressupõe a coordenação, acompanhamento e feedback do professor. Notem que nesse momento ele já não lida com 30 ideias “brutas” diferentes e sim com 10 ideias já discutidas e buriladas, saídas dos trabalhos dos pequenos grupos. Esses grupos vão para as discussões com dúvidas já bem formuladas por terem trabalhado entre si. O fato de saberem que vão apresentar suas ideias para outros grupos e ter que convencê-los para chegar à ideia final da classe os leva a participar de uma maneira muito mais engajada no processo. O uso de um ambiente colaborativo como o que estamos usando para este curso, o ThinkQuest Projects, é um dos mais notáveis para a condução do processo descrito até aqui: registro de ideias individuais, comparação entre ideias no pequeno grupo e construção da “melhor ideia do grupo”, comparação entre ideias dos distintos grupos e construção da(s) “melhor ideia da classe”. As ferramentas disponíveis no ambiente (escrita de texto, brainstorm, painel de mensagens, debate, votação, etc.) são suficientes e adequadas para sustentar todo esse processo. Seguindo nossa linha de argumentação temos o seguinte: Objetivo de compreensão na disciplina inclusão de atividades abertas participação individual registrada em ambiente colaborativo melhoria de ideias no pequeno grupo melhoria de ideias no grande grupo Todo esse processo é acompanhado e coordenado pelo professor de maneira simples se ele, ao invés de caminhar de grupo em grupo para tentar inferir o que estão discutindo, senta-se no computador e acompanha a publicação das ideias individuais e dos pequenos grupos. O professor lê muito mais rápido do que os alunos produzem, portanto, quando os pequenos grupos chegam às suas conclusões o professor já leu e identificou todos os pontos fortes e fracos das ideias e discussões que poderá usar no processo de coordenar a discussão no grande grupo. Alguns fatores são cruciais para que todo esse processo dê certo: o desafio colocado aos alunos, a atividade aberta, deve ser tal que esteja no nível correto para não desanimá-los, ou por ser complexo demais, ou por simples demais, e deve estar conectado à sua realidade ou interesse. Muitas vezes ter “produtos” como resultado das atividades abertas traz engajamento e motivação extra (p.ex. na aprendizagem baseada em projetos), contudo, mesmo nesse caso, o processo de melhoria de ideias é que é a mola propulsora da compreensão. O outro fator crucial para que a compreensão aconteça dentro desse processo de construção coletiva do conhecimento é a reflexão por parte dos alunos e a avaliação formativa. Muitos dos fatores importantes nesse processo de construção podem ser explicitados através de rubricas instrucionais. Vamos então conhecer um pouco sobre esse instrumento tão versátil e poderoso. 5. Avaliação com rubricas Em inglês usam-se duas palavras distintas para avaliação enquanto em português temos apenas uma. Em inglês usa-se “evaluation” quando o sentido é o de “dar o valor” a algo, e “assessment” quando o DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa sentido é assessorar. Essa divisão é bastante feliz pois naturalmente associa a primeira ao sentido de avaliação somativa enquanto a segunda tem o caráter formativo. Em português não pensamos ao assessorar alguém o estamos julgando, muito pelo contrário, enquanto estamos assessorando estamos ajudando para que realize algo. É nesse sentido de “assessoria” que a avaliação formativa deve ser encarada. Ela é a ajuda que o aluno precisa! Um dos instrumentos mais úteis no processo de avaliação formativa é a rubrica que quando bem utilizada permite ajudar os alunos de forma muito efetiva. O texto a seguir foi publicado em “Educational Leadership Volume 57 Number 5 February 2000”, pode ser encontrado na Internet em http://www.ascd.org/readingroom/edlead/0002/andrade.html. A tradução e distribuição foram autorizadas pela autora. Usando rubricas para desenvolver o raciocínio e a aprendizagem Heidi Goodrich Andrade As avaliações por rubrica auxiliam os professores a ensinar assim como a avaliar os trabalhos do aluno. A criação de rubricas potencializa os processos de ensinoaprendizagem. As rubricas tornam a avaliação dos trabalhos dos alunos rápida e eficiente, ajudam os professores a se justificar aos pais e aos outros sobre as notas atribuídas aos alunos. Na melhor das hipóteses, as rubricas também constituem ferramentas de apoio ao aprendizado do aluno e ao desenvolvimento no refinamento das habilidades de raciocínio. Quando usadas corretamente, servem tanto ao propósito de aprendizado como ao de avaliação e ao de prestação de contas. As rubricas, como os portfólios, apresentações, e outras abordagens de avaliação autênticas, diminuem a distinção entre instrução e avaliação. Por esta razão, refiro-me a elas como avaliação por rubrica. O que é avaliação por rubrica? Uma avaliação por rubrica, em geral, se constitui em um documento de uma ou duas páginas que descreve vários níveis de qualidade, de excelente a insuficiente, para uma determinada tarefa. Freqüentemente é utilizada com uma tarefa complexa, tal como um projeto de longa duração, uma redação, ou um trabalho de pesquisa. Seu propósito é dar aos alunos um feedback informativo sobre seus trabalhos em andamento e dar avaliações detalhadas de seu trabalho final. Embora o formato de uma avaliação por rubrica possa variar, toda rubrica tem duas características comuns: (1) uma lista de critérios, ou "o que conta" em um projeto ou tarefa e (2) graduações de qualidade, com descrições dos trabalhos dos alunos como excelentes, medianos e que apresentam dificuldades. A Figura 1 é um exemplo de uma avaliação por rubrica que usei nas aulas de humanas e inglês para alunos dos 7º e dos 8 º anos para ajudá-los a fazer uma redação convincente. Os critérios são as afirmações feitas na redação, às razões dadas como apoio às afirmações, a consideração das razões em contraposição às afirmações, organização, interpretação, vocabulário, coerência e coesão textuais e regras ortográficas e gramaticais. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Figura 1. Avaliação por rubrica para uma redação convincente. Critérios A afirmação Argumentos a favor da afirmação Argumentos contra a afirmação Organização Interpretação Vocabulário Graduação de qualidade 3 2 Eu fiz uma Minha afirmação, mas afirmação é não expliquei confusa ou não por que ela é estava clara polêmica Eu argumentei, Eu dei um ou mas não me dois aprofundei na argumentos, discussão mas não dei suporte a minha argumentação e/ou que não tem relação com a afirmação Eu discuti as Eu discuti as Eu disse que razões contra a razões contra a existem razões contrarias as minha afirmação minha e expliquei afirmação, mas minhas porque isto foi esqueci de afirmações, válido explicar porque mas não as discuto a minha afirmativa ainda permanece Fiz uma Minha redação Minha redação introdução teve introdução, ficou convincente, um desenvolvimento comprometida desenvolvimento e conclusão porém viável. preciso e uma Às vezes fugiu conclusão do assunto satisfatória O tom da minha A minha A minha interpretação interpretação redação é mostra a minha está OK, mas a despretensiosa opinião sobre o redação poderia e sem ênfase. assunto ter sido feita por Eu não consigo qualquer pessoa. passar o meu sentimento Preciso expressar o que nesta redação penso e sinto Usei um Fiz algumas As palavras extraordinário escolhas de que usei foram vocabulário, palavras finas e freqüentemente natural, variado requintadas tolas ou sem 4 Eu fiz uma afirmação e expliquei por que ela é polêmica Argumentei de forma clara e que suporta minha afirmação 1 Eu não coloquei a argumentação Eu não dei argumentos que suportam a minha afirmação Eu não reconheci ou discuto as razões contra as minhas afirmações Minha redação ficou sem objetivo e desorganizada A minha redação oscila entre formal e informal. Dando a conotação de que o tópico abordado não me agrada Uso das mesmas palavras repetidamente. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa e vivaz Coerência e coesão textuais Regras ortográficas e gramaticais Minhas sentenças foram claras, completas e de tamanho variável Eu apliquei corretamente à gramática, pontuação e ortografia Eu construí bem as sentenças, mas elas carecem de alguma poesia Eu cometi alguns erros, mas no geral apliquei corretamente à gramática, pontuação e ortografia inspiração. Eu fui muito duro para impressionar Minhas sentenças são estranhas, falhas ou fragmentadas Eu cometi vários erros gramaticais e ortográficos na minha redação que dispersou a leitura Muitas palavras que causaram confusão. Muitas sentenças falhas que dificultam a leitura da redação Numerosos erros tornaram a minha redação inelegível Descrevo quatro níveis de qualidade, mas não os rotulo. Em minha experiência verifiquei que é difícil encontrar rótulos satisfatórios, e é óbvio, que um “4” é algo que todos deveriam tentar alcançar e “1” algo a ser evitado. Alguns professores indicam um ponto de corte na rubrica, por exemplo, desenhando um quadro em volta do nível considerado aceitável. A avaliação por rubrica, na Figura 1 tem dois componentes básicos de uma rubrica – critérios e graduações de qualidade. O segundo e terceiro critérios, “Argumentos a Favor da Afirmação” e “Argumentos contra a Afirmação”, enfatizam o bom raciocínio – uma ênfase que falta em várias rubricas. Elas não só mostram aos alunos que o bom pensamento crítico deve ser evidente em suas redações, mas também os orientam como fazer (ou como não fazer) para que a rubrica atue como uma ferramenta educacional e também avaliatória. Além disso, as graduações de qualidade descrevem os problemas que os alunos têm para escrever, tais como não expressar sua afirmação de maneira clara o suficiente para que o leitor compreenda (nível 2 do primeiro critério), e o uso das mesmas palavras repetidamente (nível 1 do sexto critério). Uma rubrica que reflita e revele problemas que os alunos vivenciam é mais informativa do que outra que, ou descreve erros que eles não reconhecem, ou define níveis de qualidade, tão vagamente, que é praticamente insignificante (“mal organizada ou “entediante”). As graduações de qualidade permitem aos alunos localizar onde a escrita é precária e lhes indica caminhos concretos para melhorar suas deficiências. Por que usar avaliação por rubrica? As rubricas se tornaram bastante populares, uma tendência reconhecida na educação. Entretanto, professores experientes têm visto várias tendências aparecerem e desaparecerem ao longo dos anos e muitas vezes, com razão, questionam: "Para que me importar com mais esta ?" Minha pesquisa e experiência propiciam várias respostas. As avaliações por rubrica são fáceis de ser usadas e explicadas. Faz sentido no primeiro momento; são concisas e de fácil compreensão. Por essas razões, os professores gostam de usá-las para avaliar o trabalho do aluno, os pais as apreciam quando ajudam seus filhos com a lição de casa, e os alunos freqüentemente as solicitam quando recebem novas tarefas. Após usar a rubrica num primeiro DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa trabalho e lhe designarem um segundo, um aluno declarou: “Sabe, agora, aquelas coisas com as caixinhas seriam úteis”. Isso não é uma solicitação incomum de alunos que já experimentaram trabalhar com rubricas. As avaliações por rubrica tornam bem claras as expectativas dos professores. Tradicionalmente, nós educadores guardamos nossos critérios e padrões para nós mesmos. As respostas dos exames eram secretas e os professores tinham a tendência de não informar o que contava quando davam as notas. Quando uma aluna do 5º ano voltou para casa com um boletim insatisfatório, seu pai ficou apavorado. “Olhe você é uma criança esperta e sempre foi bem na escola. Duas semanas atrás eu te perguntei como estava indo na escola e você respondeu: ’Bem, papai’. Como traz para casa um boletim desses”? Aos prantos a criança lhe respondeu – “Papai eu não sabia o que contava para as notas”. Muitas vezes esperamos que os alunos saibam como se faz uma boa redação, um bom desenho, um bom projeto científico, portanto não lhes dizemos quais são nossos padrões de qualidade. Se a professora daquela aluna entregasse suas expectativas por escrito – talvez na forma de rubrica – a aluna saberia o que contaria, e assim seria capaz de fazer um trabalho melhor. Aquela aluna precisava de ajuda para entender o que era levado em consideração para a definição das notas. Alguns alunos descobrem isto por eles mesmos, mas outros necessitam tomar conhecimento oralmente ou por escrito. A avaliação por rubrica é uma das maneiras de fazê-lo. As avaliações por rubrica proporcionam aos alunos mais feedback informativo, sobre seus pontos fortes e sobre as áreas que requerem uma melhora, do que as formas tradicionais de avaliação. Imagine que seu diretor está para fazer uma avaliação de seu desempenho. Você tem a opção de receber um conceito como nota ou uma rubrica com relatos que melhor descrevem seu desempenho, marcados e circulados. Que tipo de avaliação você escolheria? A maioria das pessoas escolhe a rubrica, sabendo que ela lhe dirá muito mais sobre seu desempenho. O mesmo se aplica aos alunos. Uma avaliação por rubrica bem redigida – aquela que descreve os tipos de erros que se tende a cometer, bem como os caminhos que o levem a um trabalho excelente - lhes propicia valiosas informações. Os alunos aprendem com a avaliação por rubrica de uma forma que não conseguem aprender com as notas. As avaliações por rubrica auxiliam no aprendizado. Há alguns anos, pesquisei os efeitos das rubricas e da auto-avaliação no aprendizado e na metacongnição - o ato de monitorar e regulamentar o pensamento (Goodrich, 1996). Uma tarefa de classificação foi atribuída a quarenta alunos do 7º ano. Para a metade dos alunos dei a avaliação por rubrica e periodicamente lhes pedi que avaliassem sua compreensão de leitura, o sistema de classificação que estabeleceram sua explicação para o sistema e assim por diante. Atribuí à outra metade a mesma tarefa, mas não lhes dei uma rubrica nem lhes pedi que avaliassem seu próprio trabalho. Quando terminaram a tarefa apliquei um teste tradicional para conhecimento de conteúdo básico. As notas das provas demonstraram que os alunos que usaram a rubrica para se auto-avaliarem aprenderam mais. Isto é especialmente significativo porque passei menos que 30 minutos com cada aluno e a tarefa não enfatizava memorização. No entanto, os alunos que utilizaram a rubrica aprenderam mais do que os que não a usaram. Concluí que a auto-avaliação apoiada pela rubrica estava relacionada a um aumento no aprendizado do conteúdo. Avaliações por rubrica ajudam o desenvolvimento de aptidões. Em outro estudo (Andrade, 1999) observou-se os efeitos de avaliação por rubrica em habilidades de escrita de alunos de 8º ano. Dois DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa grupos de alunos fizeram três redações durante vários meses. Um grupo recebeu uma rubrica antes de iniciar a redação; o outro não. No primeiro grupo notou-se a tendência de receber notas melhores em duas das três redações; para uma redação as diferenças foram estatisticamente significantes. O mero fato de receber a rubrica e sua explicação parece ter ajudado os alunos a escreverem melhor, embora não houvesse garantia de melhora. Parece que um trabalho mais intenso com a rubrica seria útil. Avaliações por rubrica ajudam o desenvolvimento da compreensão. Gostaria de saber se os alunos incorporariam os critérios contidos nas rubricas e por meio destes desenvolveriam um entendimento para a boa escrita. Várias semanas após os alunos redigirem a terceira redação para este estudo, perguntei-lhes: “Quando seus professores lêem suas redações como decidem se seu trabalho está excelente (A) ou muito bom (B)?”. Houve uma diferença notável entre os dois grupos. Aqueles que não usaram a rubrica tendiam a ter uma noção mais vaga de como os professores determinaram suas notas: Bem, eles nos designam uma tarefa, e sabem as qualificações, se todas forem atendidas a nota será “A” senão a nota será “F” e assim por diante. Este aluno sabe que a professora tem seus padrões ou “qualificações”, mas não sugeriu que soubessem quais eram eles. Entretanto, os alunos que usaram a rubrica, tendem a referir-se a elas, como “root braks”, ou “ruperts” como orientação de notas e, freqüentemente, relacionaram critérios a partir das rubricas que viram: A professora nos dá um papel conhecido por rubrica com informações de como fazer com que nossas redações mereçam um “A”. Se merecerem um “A” deve estar bem organizada, limpa, com boa ortografia, sem erros, e mais importante, com informações precisas. Para um “B”, há limpeza, organização, alguns erros, e com boas informações, porém não está perfeita. Outro aluno escreveu: Para um “A” há várias expressões boas e palavras importantes. Foram usados detalhes e exemplos relevantes e ricos. As sentenças são claras, começam de maneira distinta, algumas são mais longas que outras e não há fragmentos de frases. A gramática e a ortografia são boas. “AB” seria como um “A”, mas não haveria muita coisa escrita. Vários dos critérios mencionados por esses alunos saíram diretamente das rubricas que utilizaram durante o estudo. Ao comparar os critérios usados pelos alunos constatei que aqueles sem experiência no uso de rubricas tendem a mencionar poucos critérios e os mais tradicionais. Os alunos que já usaram as rubricas tendem a mencionar os critérios tradicionais e também uma grande variedade de outros critérios – com freqüência, os critérios de suas rubricas. Conclui que as avaliações por rubrica podem ajudar os alunos a compreender as qualidades de uma boa redação. Avaliações por rubrica favorecem o bom raciocínio. No estudo, anteriormente mencionado, solicitei a mais de 100 alunos do 7º ano que fizessem uma redação convincente. “Apenas alguns alunos receberam avaliação por rubrica semelhante às da Figura 1”. As rubricas incluíam três critérios focados no raciocínio: “Faça uma afirmação”, “Dê argumentos que apóiem sua afirmação” e “Leve em consideração pontos contrários à sua afirmação”. O terceiro critério, considerar o outro lado de um argumento e explicar porque sua posição se mantém a mesma, é um refinamento das habilidades de raciocínio. Os adultos e os alunos tendem a não ter esse tipo de raciocínio. Temos um argumento, que defendemos e esperamos pelo melhor. Os DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa que refletem detalhadamente, por outro lado, sabem que precisam antecipar a contraposição de um argumento e estar preparados para explicar porque o outro ponto de vista não enfraquece sua alegação. Quando inclui esse critério nas rubricas das redações convincentes, os alunos que fizeram uso das rubricas tenderam a levar em consideração os argumentos contra sua afirmação. Os alunos sem rubricas não levaram esse ponto em consideração. As rubricas focadas no pensamento parecem ajudar os alunos a pensar de uma forma mais profunda. Como elaborar uma avaliação por rubrica? Idealizar uma avaliação por rubrica leva tempo. Se você precisar de uma para amanhã, provavelmente, se sentará e tentará escrevê-la. Pode funcionar se você tiver uma vasta experiência na elaboração de rubricas, caso contrário não se desespere. Use um pouco do tempo da aula para criar uma rubrica com seus alunos. Pensar e falar sobre as características de um trabalho bom e de um ruim é muito instrutivo. Seus alunos não apenas ajudarão você a fazer uma rubrica, como também aprenderão muito sobre o assunto. 1. Observe os modelos. Reveja exemplos de trabalhos bons e ruins de um projeto similar ao que seus alunos irão elaborar. Por exemplo, caso forem fazer uma apresentação oral, mostre a eles uma apresentação excelente, talvez um discurso televisionado, e uma apresentação imperfeita, talvez um vídeo da palestra de um aluno do ano passado (isso se você conseguir a autorização para usá-lo). Pergunte aos alunos o que faz com que o bom seja bom e com que os outros sejam fracos. 2. Relação de critérios. Diga aos alunos que farão um projeto similar e que você quer trocar uma idéia de como ele deve ser avaliado. Eles irão recorrer às informações geradas durante a discussão sobre os modelos. Relacione suas idéias em “Critérios” ou “O que conta”. Quando ficarem sem idéias, peça que pensem em critérios menos óbvios. Caso tenham relacionado critérios que você não considere importantes, tal como os focados no raciocínio, acrescente você mesmo, e explique porque são importantes. Bairros, estados e padrões nacionais são, com freqüência, boas fontes de critérios de raciocínio focado. 3. Agrupar e desagrupar os critérios. Provavelmente, você terminará com uma lista longa de critérios sendo que muitos estão relacionados ou até coincidem. Após a aula combine os critérios. Evite criar categorias muito extensas e não oculte os critérios que você quer enfatizar. Por exemplo, se você solicita uma redação e ensina aos alunos o formato dos parágrafos, você pode determinar a formatação correta como um critério separado. 4. Expresse os níveis de qualidade. Recorrendo, novamente, aos comentários dos alunos durante a discussão sobre os modelos bons e ruins, faça um rascunho de quatro níveis de qualidade para cada critério. Você pode experimentar a técnica que aprendi com um professor em Gloucester, Massachussetts. Eu a chamo de “sim: sim, mas: não, mas: não”. Procure utilizar os quatro termos como estrutura da frase. Por exemplo, caso o critério seja “Faça um resumo breve do enredo da história”, os quatro níveis podem ser: Nível 4 – “Sim, fiz um resumo breve do enredo”. Nível 3 - “Sim, resumi o enredo. Mas, também inclui detalhes desnecessários ou deixei de lado informações importantes”. Nível 2 – “Não, não fiz o resumo do enredo. Mas. Inclui alguns detalhes da história”. Nível 1 – “Não, não fiz o resumo”. Não se preocupe em ser exato: apenas apreenda um pouco da linguagem que descreva o bom trabalho e os problemas típicos que os alunos encontram. Peça aos alunos que conversem com você sobre os tipos de erros que fizeram no passado. 5. Crie uma rubrica rascunho. Após a aula rascunhe uma rubrica que inclua a relação de critérios que você obteve com sua classe e amplie os níveis de qualidade. Não se prenda demais ao rascunho, você provavelmente o revisará mais de uma vez. 6. Revise o rascunho. Mostre o rascunho a seus alunos e peça que façam comentários. Eles, DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa provavelmente, pedirão que você faça algumas correções. Após as correções a rubrica está pronta para ser usada. Entregue-a junto com a tarefa para que os alunos a utilizem para avaliarem seus próprios rascunhos (primeiro e segundo) e os rascunhos de seus colegas. É importante que você utilize as rubricas para dar sua avaliação. Para transformar uma rubrica em nota, simplesmente, circule o nível apropriado de qualidade para cada um dos critérios, altere 4s, 3s, 2s, e 1s para um número que represente a média de variação da nota (A = 10, B = 8, e assim por diante), calcule a pontuação, e atribua a nota apropriada. Como as Rubricas Auxiliam no Raciocínio e na Aprendizagem? Anteriormente, sugeri que os alunos podem precisar de um trabalho mais intensivo com a rubrica caso necessitem um desempenho melhor. Para verificar isso, trabalhei com professores qualificados em San Diego, incluindo Anne Gramm, no desenvolvimento de um processo de auto-avaliação para os alunos. O processo compreende o uso das avaliações por rubrica pelos alunos para olharem seu próprio trabalho de maneira critica e honesta. Entreguei a avaliação por rubrica para alunos dos 7º e 8º anos durante a avaliação de suas redações. Algumas classes tiveram duas aulas de auto-avaliação. Durante as aulas, os alunos, olhavam as rubricas, então, olhavam seu trabalho, e identificavam o conteúdo no trabalho que demonstrava os critérios. Por exemplo, os alunos escreveram uma história de ficção usando como critério “Mostre a Época e Local onde Seu Personagem Viveu”. Na aula de auto-avaliação solicitei aos alunos que sublinhassem, com marca texto verde, as palavras época e local em suas rubricas. Pedi que sublinhassem, com o mesmo marca texto verde, nos seus trabalhos as informações sobre época e local nos quais os personagens viveram. Confiantes que levariam apenas alguns segundos, os alunos se voltaram, de imediato, para os seus trabalhos com os marca-textos verdes e com freqüência não conseguiam encontrar o que procuravam. Para espanto dos alunos, a informação não estava lá. Aparentemente, por que as informações estavam em suas mentes, eles pensaram que também estavam nos seus trabalhos. A auto-avaliação exigiu que eles enxergassem o que estava e o que não estava lá. Fizemos esse processo com cada critério da rubrica, utilizando marca-textos de cores diferentes. Isto foi muito enriquecedor para os alunos. Os resultados dos dados analisados sugerem que o processo de auto-avaliação teve um efeito positivo na redação de muitos alunos. (Andrade & Delamater, 1999). Recomendo uma técnica de auto-avaliação cuidadosa e específica em qualquer processo de avaliação em andamento, em especial, os apoiados por avaliação por rubrica. Recentemente, após um workshop, um professor me disse: Anteriormente, considerava as rubricas como algo bem vago, perda de tempo e um aborrecimento na avaliação. Hoje, gosto de rubricas e até me animo a usar algumas. Espero que você também esteja motivado e apto a elaborar e a usar a avaliação por rubrica com seus alunos. Os educadores podem melhorar o processo de aprendizagem de seus alunos ao ultrapassarem a aplicação básica da rubrica, através da inclusão de seus alunos na elaboração das rubricas, através da busca e inclusão dos critérios focados no raciocínio e também do envolvimento dos alunos na cuidadosa avaliação do próprio trabalho e na do colega. Separar a educação da avaliação através das rubricas gera um efeito poderoso no resultado de seu ensino e, por outro lado, no aprendizado de seus alunos. Referências Andrade, H (1999). The effect of instructional rubrics on student writing. Manuscrito em andamento. Andrade, H., & Delamater, B. (1999). Gender and the role of rubric-referred Self-assessment in learning to write. Manuscrito apresentado para publicação. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Goodrich, H. (1996). Student self-assessment: At the intersection of Metacognition and authentic assessment. Tese de doutorado não publicada, Harvard University, Cambridge, MA. Nota do autor: a pesquisa aqui relatada foi conduzida no Harvard Project Zero e apoiada pela Edna McConnell Clark Foundation. Heidi Goodrich Andrade é professora assistente na Ohio University, College of Education, McCracken. Salas 201/202. Athens. OH 45701-2979 (e-mail: [email protected]) Tradução e Revisão Beatriz Helena Moura e Campos Silvia Alonso Baptista Profª. Renata Guimarães Pastore 6. Perguntas para reflexão colocamos duas perguntas para reflexão: - ao longo do processo de aprendizagem você ou seus alunos fazem registros que tornam a aprendizagem visível? - como você lida com a heterogeneidade dos seus alunos (diferentes ritmos, aptidões, interesses, conhecimentos prévios, etc.)? Nossa resposta para essas questões é que somente usando estratégias pedagógicas diversificadas concomitantes, e registrando e analisando os processos para tornar a aprendizagem visível é possível atingir a totalidade dos alunos, motivando-os, aproveitando seu conhecimento prévio e respeitando os diferentes ritmos. As próximas seções servirão para elaborar um pouco esses pontos. 7. Tornando a Aprendizagem Visível Saber o que se passa na cabeça de cada aluno é fundamental para que, como professores, possamos intervir no processo de construção do conhecimento. Contudo, saber tudo que se passa na cabeça de todos os alunos seria uma sobrecarga excessiva para qualquer professor! A solução para esse impasse é usar artefatos que facilitem o processo e registrar apenas passos e ações previamente selecionadas que nos permitam tornar a aprendizagem visível, ou seja, nos permitam saber o quanto cada aluno sabe, como pensa naquela particular situação, como interage com os colegas, que ideias dá, como argumenta, como sustenta suas opiniões, como planeja ações, como avalia e reavalia seus passos enquanto uma ação está acontecendo ... O simples fato de registrar por si só já induz à reflexão. Contudo, pode ser importante também fazer “paradas” propositais para analisar os registros, comparar registros de diferentes grupos, de diferentes alunos, discutir com a classe toda. O sistema de educação infantil da cidade de Reggio-Emilia é um exemplo notável do bom processo de registro. Nesse caso os registros não são simplesmente para mostrar para pais ou para permitir avaliações, mas fazem parte do processo de participação, de colaboração e de aprendizagem (www.reggiochildren.it; www.reggioalliance.org 1). 1 Se tiver dificuldades para ler páginas de sites que estão em inglês use uma ferramenta como o Google Translator (http://translator.google.com ). Copie o trecho que quer traduzir da página do site onde o encontrou e cole no Translator DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Um dos grupos expoentes na educação do mundo de hoje é liderado por Howard Gardner e David Perkins da Universidade de Harvard. Um dos projetos no qual Perkins está diretamente envolvido no momento chama-se “Making Learning Visible” (Tornando a Aprendizagem Visível http://pzweb.harvard.edu/mlv/). Nesse projeto a utilização de registros tem um papel fundamental no suporte à aprendizagem e à formação de grupos de aprendizagem. Os documentos capturam: pensamentos, estratégias e processos. Ao documentar e tornar públicos esses documentos gera-se uma influência na maneira como cada aluno aprende. Cada um aprende autonomamente através das maneiras como outras pessoas aprendem. Um alerta: o processo de documentação não pode ser feito unicamente pelo professor! Seria uma sobrecarga enorme. Os próprios alunos podem e devem assumir o papel de documentadores. Quando os trabalhos são feitos em grupo pode-se designar um ou mais alunos do grupo como responsáveis pela documentação. Esse papel pode ser rotativo dentre os membros do grupo. Algumas maneiras interessantes de documentar são: uso de diagramas, mapas de ideias, diários, fotografias, vídeo ou áudio de encontros de trabalho, fotografias das diversas fases da construção de protótipos e produtos, etc. O uso da tecnologia facilita muitíssimo o processo de documentação e compartilhamento dos documentos para análise. Imaginem o trabalho e o tempo envolvidos no uso dos registros de atividades nos cadernos dos alunos. Nessa “tecnologia” de papel e lápis torna-se quase inviável uma troca de cadernos para que uns conheçam as ideias dos outros e deixem feedbacks. No entanto, quando os alunos registram suas ideias num ambiente colaborativo que lista as ideias “empilhandoas”, é quase natural que os alunos leiam e se interessem pelas ideias dos colegas. Ambientes colaborativos permitem ainda que os alunos escrevam comentários e sugestões uns aos outros no mesmo espaço onde estão, sem a necessidade de abrir novas aplicações ou fazer grandes navegações. Na secretaria de educação municipal temos feito uso intensivo do ambiente colaborativo ThinkQuest Projects que tem exatamente essas características. Resumindo o que vimos nesta seção: o processo de registrar ideias, estratégias, processos e produtos tem impacto na aprendizagem dos alunos. O conhecimento das ideias dos colegas ajuda na construção da aprendizagem de cada aluno. Os registros tornam a aprendizagem explícita. Para que não haja sobrecarga dos alunos ou dos professores deve haver uma seleção criteriosa do que vai ser registrado. O uso da tecnologia facilita e amplia muito o processo de registro e análise. 8. Lidando com Grupos Heterogêneos Nos cursos de formação que fizeram devem ter notado a diversidade de abordagens possíveis e os diferentes graus de sucesso em uma ou outra abordagem. Um curso pode ser mais ou menos interativo, pode estar pautado em conteúdo, pode estar pautado em resolução de problemas, pode dar muito espaço para discussões a partir de casos trazidos pelos professores, etc. Cada uma dessas abordagens tem prós e contras. O especialista em cursos com tecnologia Marc Rosenberg publicou o livro “Além do e-Learning” onde “indica” os tipos de cursos mais adequados para os diferentes tipos de público. Reproduzimos a seguir uma figura extraída desse livro. selecionando a tradução para português. Se preferir, como alternativa, instale o Google Chrome, abra diretamente a página nesse navegador e escolha mostrar em português. A tradução não é perfeita, mas é muito simples e rápido de usar e permite entender os textos. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Como vemos, para Rosenberg, um novato num certo tipo de atividade ou no domínio de certo tipo de conhecimento, precisará de um curso mais estruturado, mais formal, ou como ele diz, precisa que “mostrem-lhe como”. Alguém que já tenha alguma experiência na atividade gosta de aprender interagindo com alguém mais experiente ou com colegas, de maneira um pouco menos estruturada, na linha do “ajude-me a fazer melhor”, ou “ajude-me a encontrar o que necessito”. E alguém que seja especialista num certo tipo de atividade quer aprender com pares do mesmo nível, com quem possa interagir de igual para igual, mas com autonomia para decidir seu próprio caminho. Segundo Rosenberg, quando desenhamos um curso identificamos qual o público-alvo e a partir daí estabelecemos as estratégias de ensino (curso mais formal, mais estruturado, baseado em comunidades de prática, uso de repositórios, interação entre pares, etc.). Contudo, basta olhar para uma das suas turmas de alunos para perceber que dificilmente conseguimos identificar “um nível de domínio”. Alguns alunos poderiam ser considerados novatos enquanto outros têm mais experiência. Sempre temos grupos heterogêneos! Uma das vantagens da tecnologia é permitir que exploremos ao mesmo tempo diferentes caminhos ou estratégias para dar conta da diversidade do grupo. No caso de vocês POIE ingressantes, se analisarmos o domínio que têm nos três quesitos a seguir, veremos que a disparidade é grande: 1) Uso de tecnologia: a experiência prévia que têm no uso da tecnologia no dia a dia e a experiência e cacoetes que já adquiriram no uso da tecnologia com alunos mostram que temos um leque extremamente diversificado. Alguns POIE têm dificuldades em itens básicos DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa e precisam de instruções e demonstrações detalhadas. Outros têm ideias próprias, soluções, dúvidas concretas, e gostariam de começar uma nova aprendizagem partir daí! 2) Ensino para a aprendizagem significativa: o ensino para a aprendizagem significativa pressupõe aproveitar os conhecimentos prévios dos alunos, criar momentos de reflexão, oportunidades para aplicar em situações concretas e reais os novos conhecimentos, momentos de organização e síntese, etc. Também neste caso encontramos novatos e especialistas no grupo! 3) Papel de aprendiz: existem especialistas que mudam de área e em pouco tempo são especialistas na nova área também. Ou seja, ele é um especialista em aprender. Por outro lado, existem especialistas que ao mudar de área ou se deparar com novidades não evoluem. Esses em geral são arrogantes, sentem-se donos de uma verdade já consumada, e são fechados a novas ideias. Pró-atividade, autonomia, iniciativa própria, modéstia, valorização da diversidade de ideias, pensamento crítico para o estabelecimento de conexões, para a apropriação e para a adaptação à própria realidade, colaboração para aprender com colegas e professores, comunicação para extrair o máximo dos colegas e professores, gerenciamento do próprio tempo, dos esforços, dos resultados, pensamento metacognitivo ... tudo isso é necessário para um “aprendiz especialista”! Num novo grupo de POIE sempre temos “especialistas estacionados” e “aprendizes especialistas”. Cabe a você decidir em que grupo quer estar! 9. Redes Sociais, Ferramentas Sociais, Ambientes Colaborativos e Comunidades de Aprendizagem e de Prática Ao longo do ano vamos explorar as diferenças entre todos esses termos e veremos como aproveitar com os alunos as possibilidades de aprendizagem abertas pelas novas tecnologias quando usadas em rede. Neste momento, fazendo referência ao que foi dito anteriormente, vamos apenas enfatizar a ideia de que o aprendiz que já ultrapassou o nível de novato, ao invés de aprender lendo como num curso tradicional, aprende melhor interagindo com seus colegas, com especialistas, conhecendo casos, resolvendo problemas, escolhendo o que ler e acessando materiais por conta própria. “A primeira ideia é simplesmente a primeira, não a melhor”! Quando é colocado um desafio a um aprendiz, uma pergunta aberta, um problema complexo, ele apresenta uma ideia, uma solução. Se essa ideia for encarada como a primeira, mas houver a demanda de melhorá-la, o processo naturalmente induz à aprendizagem significativa e a construção social do conhecimento passa a acontecer. A estratégia de induzir a aprendizagem profunda a partir do processo de melhoria de ideias vem sendo muito utilizada por Carl Bereiter e Marlene Scardamalia (ver textos em http://www.ikit.org ). Para eles, cobrar que as primeiras ideias sejam melhoradas leva à necessidade de conhecer as ideias dos colegas, de entendê-las, de aproveitar o que há de bom nas outras ideias, de ser aberto, de ver mais de um ponto de vista, de fazer pesquisas para conhecer mais, de contatar especialistas para poder avançar no conhecimento, etc. Quando se incentiva que as ideias dos vários alunos sejam combinadas para chegar à ideia do grupo ou da classe, acontece a construção social do conhecimento – a ideia final sempre é melhor do que qualquer ideia individual que tenha surgido no grupo. Esse processo de melhoria de ideias pode ser mais facilmente implementado nas comunidades de DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa aprendizagem ou de prática e pode ser suportado pelo uso de ferramentas sociais. Vamos citar exemplos dessas ferramentas mais abaixo. A construção social do conhecimento acontece de fato quando há a preocupação com o avanço do conhecimento através da valorização da diversidade de ideias, da participação balanceada de todos os integrantes do grupo, do uso da linguagem do pensar, da conexão das ideias com suas aplicações práticas. O primeiro passo para que ocorra o processo de melhoria de ideias é dar ideias! Redes Sociais e Ferramentas Sociais Os professores estão entre os profissionais que mais usam a tecnologia! Contudo, não usam em sua prática de sala de aula. Dessa constatação vemos que a dificuldade em usar a tecnologia não está nos quesitos técnicos e sim na integração com a cultura escolar vigente. Sendo tão grandes usuários de tecnologia onde a usam então os professores? Em palestras que tenho feito sempre pergunto se os professores têm conta em ambientes como Facebook, Orkut e Twitter. Por volta de 90% dos professores levanta a mão. O que há de tão atraente nesses ambientes? Eles são classificados como redes sociais. Eles ampliam nossas possibilidades de socialização. Em sociedade já interagimos com pares trocando ideias, manifestando gostos, sendo solidários, ajudando. Também manifestamos nossos valores e crenças ao participar de atos e desempenhar nossas atividades profissionais e pessoais. Ao participar de redes sociais agregamos novas possibilidades: podemos conhecer ideias e gostos com mais frequência, podemos interagir com amigos com mais frequência, podemos conhecer e ter acesso às ideias de pessoas que não fariam parte de nosso círculo de amizades se não fosse pela facilidade trazida pelas redes. Uma diferença fundamental entre a vida social nessas redes sociais digitais e as “físicas” é que no mundo virtual nossa prática social se torna visível! Existe a possibilidade de fechar ou restringir o que outras pessoas veem de nossas ações no mundo virtual, mas um grande apelo está justamente no fato de podermos acompanhar nossos amigos ou conhecer novas pessoas pelo que estão “fazendo” no mundo virtual. Para alguns existe até o efeito terapêutico de aumentar a autoestima, de não sentirse só. Nessas redes sociais, além de tornar nossos próprios pensamentos e vivências visíveis, existe outro grande apelo: podermos recomendar e trocar “conteúdos”. Podemos recomendar artigos e sites da Internet, recomendar, trocar e publicar fotos e vídeos, feitos por nós ou não. Diferentemente de recursos enviados por nós como anexos para um pequeno grupo de amigos, esses recursos quando publicados na Internet usando as “ferramentas sociais” podem ser vistos por muitos usuários, independentemente de serem nossos amigos. Essas ferramentas sociais transformaram completamente a maneira como participávamos da Internet. Um vídeo criado por mim e publicado no YouTube pode ser visto por qualquer pessoa. Fotos publicados no Flickr e outros bancos de imagens, textos publicados em Blogs, arquivos salvos em repositórios como o Dropbox, etc. todos podem permitir acesso por parte de terceiros. Essas ferramentas sociais caracterizam o que foi chamado de Web 2.0, uma internet onde o usuário passa a ter facilitado o papel de ser autor e publicar suas criações. A grande maioria dessas ferramentas sociais é gratuita e permite definir o grau de abertura e visibilidade que os recursos terão. Esquemas de permissão como o Creative Commons tornam-se cada vez mais conhecidos e aceitos e ajudam a definir o que pode ou não ser feito com os recursos publicados na web: copiar, reutilizar, modificar, etc. DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa Algumas das ferramentas sociais de publicação de vídeo, foto, texto e arquivo permitem que se crie interação social a partir delas mesmas: fazer comentários, criar link e publicar em redes sociais a partir de dentro das próprias ferramentas, “assinar” publicações de um autor para ser informado a cada vez que publicar algo novo, etc. Mesmo ferramentas que não nasceram originalmente “sociais” passaram a incorporar essas características: com o ConceptMap e o MindMeister é possível criar, comentar e colaborar na criação de mapas conceituais e mentais. O MentorMob permite publicar e comentar sequências de atividades que fazem uso de recursos da Web, etc. A interface entre redes sociais e ferramentas sociais dilui-se cada vez mais. No caso dessas ferramentas sociais tornamos nossos produtos visíveis! Ambientes Colaborativos e Comunidades de Aprendizagem Sem dúvida aprender a viver no mundo de hoje implica em aprender a participar de redes sociais. A escola como uma das responsáveis por preparar os jovens para a vida não pode se negar a participar desse processo de formação. Contudo, da mesma maneira que não enviamos crianças sem acompanhamento e preparação para excursões fora da escola, não podemos “enviá-los” para incursões no mundo social virtual e deixa-los. O caminho para a preparação para participar no mundo virtual onde encontrarão conhecidos e desconhecidos pode e deve começar cedo. A escola tem papel importante nessa preparação, mas deve começar criando situações de aprendizagem como faz em qualquer outra área. Nesse mundo virtual é preciso aprender a lidar construtivamente com ideias, produtos, e práticas sociais. Dentro da escola os alunos aprendem a participar da comunidade da sala, da série, e da escola. Da mesma forma, no mundo virtual é possível “delimitar” comunidades para que os alunos aprendam tanto a interagir socialmente como a construir conhecimento. Essa delimitação tem a finalidade de permitir que se trabalhe com um foco de cada vez. Se o foco é o desenvolvimento da capacidade de colaborar, pode-se trabalhar em pequenos grupos, em grande grupo, colaborando com alunos de outra sala, de outra série, de outra escola, com especialistas, com pessoas de fora do sistema educacional, etc. Em cada um desses casos é possível usar as ferramentas tecnológicas para facilitar e potencializar a colaboração. Da mesma maneira, quando o foco está no desenvolvimento da criatividade pode-se trabalhar desenvolvendo as características pessoais de manifestação da criatividade através de ideias, comportamentos e produtos, mas também se pode trabalhar na participação em comunidades que incentivam o desenvolvimento da criatividade. Nesse caso novamente essa “comunidade” pode ser local da sala de aula, da escola, envolvendo pessoas de fora da escola, ou acontecer no mundo virtual. O mesmo vale para outras competências do século 21: capacidade de se comunicar, de pensar criticamente, de resolver problemas, de aceitar a diversidade, etc. Os ambientes colaborativos permitem a delimitação de quem são os “membros” da comunidade que colabora. Esses espaços de colaboração podem estar imersos dentro de redes sociais como os grupo criados no Facebook, podem estar ligados a cursos como os alunos de uma determinada disciplina dentro de ambientes como o Moodle que interagem num fórum, blog ou wiki, como podem estar em ambientes educacionais criados especificamente para a aprendizagem colaborativa como o ThinkQuest. Logicamente a aprendizagem pode acontecer também em qualquer espaço aberto. O que caracteriza uma comunidade de aprendizagem é que existe a publicação de ideias e recursos que permitem que uns aprendam com os outros. Essa aprendizagem pode acontecer de maneira DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa indireta, pela simples participação, seja ela ativa ou passiva (sem publicar ideias ou comentários, apenas vendo o que outros publicam e discutem). Quando a intenção de que aconteça a aprendizagem é explícita muitas vezes existe também um “moderador” para fomentar as participações e provocar reflexões e aprofundamentos. Como vimos anteriormente, a compreensão acontece quando usamos de maneira flexível o que aprendemos, quando participamos do processo de construção do conhecimento dando, criticando e melhorando ideias, quando adquirimos hábitos de pensamento e as competências do século 21: criatividade, pensamento sistêmico, pensamento crítico, capacidade de resolver problemas, de nos comunicarmos, de colaborar, de usar a tecnologia nos mais diferentes tipos de processos, de aceitar a diversidade, de gerenciamento pessoal. Para que nos tornemos conscientes do quanto sabemos e quanto não sabemos, de quão diferentes são nossos pensamentos e estratégias comparadas com colegas e especialistas, para podermos melhorar e sermos ajudados precisamos tornar nossos pensamentos e produtos visíveis. As comunidades de aprendizagem criadas em ambientes colaborativos podem e devem ter esse papel de tornar pensamentos e produtos visíveis e, a partir deles, estabelecer processos conscientes de melhoria. O educador “arquiteta” esses espaços para que as possibilidades de aprendizagem sejam maximizadas. Em alguns casos é útil que haja colaboração apenas entre poucos alunos, de uma mesma sala. Eu outros, é útil “colaborar” ou publicar para o grande público, de fora da escola. De qualquer forma, o que maximiza a aprendizagem não é o ambiente em si, mas a clareza na intenção da aprendizagem, os desafios, os feedbacks recebidos, as paradas para reflexão e a autoregulação. Durante o ano faremos uso de todo esse arsenal: ambientes colaborativos configurados para a colaboração em pequenos grupos, em grandes grupos, com visibilidade interna, com visibilidade externa, para aprendizagem planejada em sequências didáticas, em projetos, mais dirigidos, menos dirigidos, com temas curriculares, com temas interdisciplinares, etc. Comunidades de Prática e Práticas Educacionais Abertas Você deve estar se perguntando como vai fazer tudo isso, como aprenderá, quem vai ajuda-lo e apoiá-lo. A estratégia que tem sido utilizada na rede municipal é tornar também a prática visível! Quando um professor vê como outro professor está usando a tecnologia e os ambientes colaborativos com seus alunos pode analisar criticamente, incorporar as boas ideias e estratégias, pode dar sugestões ao colega. Dessa maneira é possível disseminar boas práticas e também criar uma cultura de uso e colaboração. Para que uma comunidade de prática seja verdadeiramente de prática é necessário que se vá além do nível do discurso. No mundo digital tudo fica registrado. Se os professores “abrem” suas práticas, ou seja, mostram o que estão fazendo com seus alunos (as atividades e desafios que propõem, as participações e produtos dos alunos, os instrumentos de acompanhamento e feedback, os instrumentos e resultados de avaliação), a discussão passa a ser sobre essa prática e não sobre crenças ou posicionamentos filosóficos. O fato de refletir, criticar, colaborar e construir sobre a prática usando a própria tecnologia para isso transforma a comunidade de prática também numa comunidade de aprendizagem. Vivenciar essa participação numa comunidade de prática e acostumar-se a publicar e participar ativamente em ambientes colaborativos permite que os professores desenvolvam sua capacidade para DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA Gabinete - Informática Educativa criar e gerenciar comunidades de aprendizagem com seus alunos. Como último ponto para encerrar essa “abertura” de ideias para o trabalho ao longo do ano queremos ressaltar que no mundo hoje existe um movimento grande de abertura que está mudando as regras de negócio. Um dos sistemas operacionais mais importantes hoje é o Linux que foi criado sob uma filosofia de abertura à participação coletiva e amplo acesso. As redes sociais e as ferramentas sociais que comentamos ao longo do texto são na sua maioria gratuitas e os fornecedores sustentam-se com propaganda, não cobrando acesso. Os recursos educacionais mais e mais se transformam em recursos educacionais abertos, permitindo que sejam gratuitos e usados e reutilizados em diversos contextos. Muitos cursos oferecidos por universidades de ponta como MIT e Stanford são “abertos”, ou seja, podem ser acessados e assistidos gratuitamente por qualquer pessoa. O que estamos criando na secretaria municipal de educação é uma cultura de práticas educacionais abertas. Com isso podemos todos crescer e aprender uns com os outros.