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SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
B182s
BARBALHO, Célia Regina Simonetti. Sob o olhar do usuário: um
estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas.
São Paulo, 2000. Tese (Doutorado em Comunicação e
Semiótica), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
234p. ilustrada
1. Semiótica discursiva 2. Bibliotecas 3. Visibilidade das bibliotecas
CDD: 302.202.748.113
CDU: 81’22:027.022 (811.3A/Z)
2
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
3
“ver, torna visível, é uma forma de
apropriação. O que o olhar abarca é o que se
torna ao alcance da mão. O visível (o
descoberto) é o preâmbulo do legível:
conhecido, relatado, codificado”.
Orlandi, 1990
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Tese defendida em 04 de dezembro de 2000.
Banca Examinadora
_______________________________________
Profª Drª Ana Cláudia Mei Alves de Oliveira
PRESIDENTE
_______________________________________
Profª Drª Vera Sílvia Marão Beraquet
MEMBRO
_______________________________________
Profª Drª Amélia Silveira
MEMBRO
_______________________________________
Profª Drª Ana Maria Marques Cintra
MEMBRO
_______________________________________
Profª Drª Aidar
MEMBRO
4
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
5
BARBALHO, Célia Regina Simonetti. Sob o olhar do usuário: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do
Estado do Amazonas. São Paulo, 2000. 234 p. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica),
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
RRESUMO
ESUMO
Este estudo visa descrever, com base nos conceitos da semiótica discursiva, a visibilidade
que as bibliotecas assumem diante das comunidades às quais servem. Elenca, a partir do olhar do usuário,
as características referentes às suas arquiteturas especialmente quanto às divisões interna e externa,
fachada, sinalização e localização e destaca os efeitos de sentido que esses textos provocam no público.
Resgata a trajetória histórica da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas – BPEAM e, especificamente,
sua visibilidade desde sua criação, em 1870, como Sala de Leitura até os dias atuais, examinando não só
as suas características, mas também as de seus freqüentadores, através dos trajetos que eles
estabelecem para utilizá-la. Apresenta, ainda, sugestões para que a Biblioteca Pública do Estado do
Amazonas melhor se coloque sob o olhar da comunidade manauense, criando, assim, uma atmosfera de
fácil utilização, a partir da concepção de um serviço de informação voltado verdadeiramente para seu
público.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
6
BARBALHO, Célia Regina Simonetti. Sob o olhar do usuário: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do
Estado do Amazonas. São Paulo, 2000. 234 p. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica),
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
AABSTRACT
BSTRACT
This study aims at describing the visibility assumed by libraries, grounded on concepts drawn from
discursive semiotics, before the community they serve, by listing the characteristics relative to their internal
and external divisions, architecture, facade, signaling and location, from the viewpoint of the user, thus
highlighting, the meaning effects these libraries cause in their public, later recovering the historical path of
the State of Amazonas Public Library – BPEAM, and, specifically, its visibility starting from its creation, in
1870, as Reading Room up to today, examining not only its characteristics, but also its users, through the
pathways they adopt in using it, as well as presents suggestions so that the State of Amazonas Public
Library be better placed under the perspective of the Manaus community, creating thus a user-friendly
atmosphere from the standpoint of an information public service truly geared towards its public.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
A M a r c e l o S a n to s B a r b a l ho
pelo vazio das ausências
ocorridas durante o
desenvolvimento deste trabalho
e
A P a u l o C a b r a l B a r b o sa
cujos valores de vida me ensinou
através de nossa convivência,
Dedico
7
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
8
Ao nível superior e a todas as forças imateriais que nos apóiam e amparam em todos os
momentos de nossa vida,
A Ana Claudia Mei Alves de Oliveira, que acreditou ser possível me conduzir
carinhosamente para atingir meu objetivo,
À Família Simonetti Barbosa, pela força, compreensão e amparo em todas as horas,
Á Família Barbalho, companheira e generosa em todos os momentos da caminhada,
Aos amigos que, sem nomeá-los para não correr o risco de esquecer de algum, fortaleceram
e embalaram meus sonhos,
Aos colegas do Departamento de Biblioteconomia da Universidade do Amazonas e, em
especial, ao amigo Raimundo Martins de Lima por suas incansáveis discussões na “hora da
carona”, na indicação de textos e leituras que tanto fortaleceram e influenciaram esse trabalho,
Agradeço
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
9
S
UMÁRIO
SUMÁRIO
EEPÍGRAFE
PÍGRAFE
FFOLHA
OLHA DDE
E AAPROVAÇÃO
PROVAÇÃO
RRESUMO
ESUMO
AABSTRACT
BSTRACT
DDEDICATÓRIA
EDICATÓRIA
AAGRADECIMENTOS
GRADECIMENTOS
iii
iv
v
vi
vii
viii
OO CCAMINHO
AMINHO DDOS
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LHARES
10
UUM
M OOLHAR
LHAR SSEMIOTIZADOR
EMIOTIZADOR
13
30
17
39
As máscaras da informação pública
A vazante da leitura pública no Amazonas
Tempestades de sentido
UUM
M OOLHAR
LHAR PPANORÂMICO
ANORÂMICO
Espaço demarcado
Ritos ambientais
Valorizando o uso
Valorizando a solução inteligente
Valorizando o vigor existencial
Valorizando a diversidade
Nomeando os destinos
UUM
M OOLHAR
LHAR DDIRECIONADO
IRECIONADO
A distribuição espacial do conjunto arquitetônico
O interior do conjunto arquitetônico
Os quatro tipos de usuários do conjunto arquitetônico
Usuário transcritor: um olhar míope
Usuário dissimulador: um olhar superficial
Usuário incidental: um olhar atento
Usuário pesquisador: um olhar perspicaz
UUM
M OOLHAR
LHAR SSUGESTIVO
UGESTIVO
Por um dabacuri na Biblioteca pública
Serviços local
Serviço extencionista
Metamorfoses do encantamento
Nas asas da borboleta
44
47
83
84
87
91
95
99
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126
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143
150
153
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164
166
169
175
182
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UUM
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212
ÍÍNDICE
NDICE EE RREFERÊNCIAS
EFERÊNCIAS DDAS
AS IILUSTRAÇÕES
LUSTRAÇÕES
216
RREFERÊNCI
EFERÊNCIA
S BBIBLIOGRÁFICAS
IBLIOGRÁFICAS
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224
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
10
O
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LHARES
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CAMINHO
DOS
OLHARES
O
interesse pelo estudo da visibilidade da Biblioteca Pública do Estado do
Amazonas – BPEAM é decorrente de reflexões sobre o modo como esse
pólo cultural de pesquisa e leitura está colocado na comunidade
manauense para o exercício de sua primeira vocação: a de estimular o desenvolvimento do amazonense.
Oriunda do discurso de uma criança de doze anos que, em entrevista a um jornal local, definiu a
BPEAM como um lugar para ler, escrever, entender e imaginar, tais reflexões se tornaram inquietações a
partir da releitura da modernidade das cinco leis de Ranganathan3 propostas por Nice Figueiredo4 em um
artigo publicado em 1987. Para o teórico indiano, a biblioteca é um organismo vivo que se integra à
comunidade a partir do atendimento das demandas particularizadas de seus usuários que deverão ser
atendidas à medida de suas expectativas.
Contudo uma questão se coloca como norteadora de tais inquietações e reflexões: como o usuário
de uma biblioteca pública a percebe a ponto de dirigir-se a ela para solucionar seu problema informacional
no atual estágio da sociedade da informação?
Deparamos-nos então com uma questão pouco vista, se não desprezada mesmo, pela
Biblioteconomia, mas que se mostrou basilar para o entendimento do uso ou não uso da biblioteca pública
pela comunidade onde está inserida. O modo como o usuário vê a instituição, entende-a como um
organismo capaz de fornecer a informação que ele deseja e busca, não se assemelhava com um estudo
comum na área até porque busca entendê-la a partir do olhar do usuário e não das expectativas do
profissional que atua no órgão.
3 Shiyali Ramamritam Ranganathan, matemático, professor e, posteriormente, bibliotecário da Universidade de Madras na Índia. Entre 1924-25
cursou a Escola de Biblioteconomia na College University, em Londres, quando visitou mais de 120 bibliotecas inglesas em estágios
diferenciados de desenvolvimento e criou as cinco leis basilares para a prática bibliotecária que são: os livros são para uso; a cada leitor seu
livro; a cada livro seu leitor; economize o tempo do leitor; uma biblioteca é um organismo em crescimento, publicadas na clássica obra The five
laws of library science, de 1967.
4 FIGUEIREDO, Nice. A modernidade das cinco leis de Ranganathan. p. 186-191.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
11
Com esse posicionamento em mente, elegemos os pressupostos teóricos da semiótica discursiva
para nos amparar nessa pesquisa, pois esses nos permitem de um lado definir os dispositivos que
organizam as relações de visibilidade da BPEAM e nossas proposições para ela a partir desses, de outro
permite entender como os percursos e os seus elementos constituintes estruturam as situações de
comunicação de um “saber” e de um “fazer” entre os sujeitos (dimensão cognitiva e dimensão pragmática).
A princípio, detivemos-nos a examinar o conteúdo histórico do surgimento da leitura pública no
Estado do Amazonas a partir da criação de uma sala de leitura que, posteriormente, viria a transforma-se
na Biblioteca Pública – nosso objeto de estudo, na expectativa de perceber os reais valores que
permearam o nascimento da instituição. Caracterizamos genericamente tais órgãos a partir da vasta
literatura nacional sobre o tema e delineamos o perfil, missão, função e objetivos da biblioteca pública no
cenário contemporâneo, de modo a perceber qual deve ser, atualmente, seu papel social nas comunidades
onde está inserida.
Nessa perspectiva, delineamos os elementos que, a nosso ver, influenciam o olhar físico do
usuário, bem como analisamos o modo como ele expressa seu olhar. Entendemos que o motivo que o leva
a entrar na biblioteca é expresso pelo trajeto que ele faz até encontrar a solução de seu problema
informacional e que o mesmo é influenciado pela disposição espacial interna e externa.
Dessa forma, detivemos-nos, no segundo capítulo, a entender como as fachadas, o ambiente e a
sinalização estão colocados nas mais diversas bibliotecas do mundo visando a constituir elementos para o
estudo do nosso objeto, fruto da análise realizada no terceiro capítulo – Um olhar direcionado.
Uma vez identificados e analisados os elementos que a BPEAM utiliza para se mostrar para seu
usuário, passamos a tecer um quadro sugestivo para, do nosso ponto de vista, qualificar esse se fazer ver
e resignificar a instituição para o público ao qual se destina.
Esta pesquisa não tem a pretensão de esgotar o assunto, senão introduzi-lo no universo da
semiótica discursiva, sob cujas bases acreditamos estarem os elementos possíveis de análise da relação
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
12
de visibilidade das bibliotecas, relação essa que necessita ser mais bem explorada e conhecida pelo
profissional que atua nessas agências de informação.
Toda a pesquisa nos revelou muitas surpresas, quer pelas dificuldades e relutâncias do
despojamento dos princípios que já havíamos construído em quinze anos de formação profissional, quer
pelo descobrimento da fantástica forma com que a semiótica discursiva nos coloca diante dos objetos que
serão analisados. Nesta pesquisa, isso representou setenta horas de observação in loco dos trajetos no
interior da BPEAM, onze visitas em bibliotecas no Brasil e dez no exterior além do estudo de trinta e oito
projetos arquitetônicos selecionados na literatura nacional e internacional.
Esse foi o desafio a que nos submetemos e que resultou nessa tese de doutoramento, início para
outras pesquisas que essa nos indica percursos.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
13
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R
eunir, organizar, preservar e disponibilizar informações5 é a função de instituições
culturais denominadas de bibliotecas6, cuja missão é promover, mais amplamente
possível, o acesso ao saber registrado nos mais variados suportes de modo a
contribuir, pela pluralidade de atividades que oferece à geração de conhecimento nos mais diversos
segmentos de público da comunidade a qual se destina.
Para cumprir o papel que lhe foi milenarmente destinado, o de intermediadora entre as demandas
comunitárias e os recursos informacionais existentes, a rigor, é necessário:
a) delinear seus objetivos, suas políticas e atividades de modo a tornar-se um organismo
partícipe da vida social;
b) possuir um acervo que responda às mais variadas demandas informacionais, bem como meios
para mantê-lo atualizado;
c) estabelecer os mecanismos para sua organização e sistematização de forma a ser um sistema
articulado da representação do saber;
d) conhecer e caracterizar sua comunidade de usuários, reais ou potenciais, de modo a
contemplar suas diferentes necessidades; e
Neste estudo, o termo informação está sendo utilizado conforme definição da Federação Internacional de Documentação (FID), ou seja:
“todo conhecimento de natureza técnica, econômica, mercadológica, gerencial, social, etc. que, por sua aplicação, favoreça o progresso na
forma de aperfeiçoamento e inovação” (Aguiar, 1991, p. 8). A mesma acepção é também utilizada por Cardoso (1989), que define informação
como conhecimento sobre alguém ou algo que é retirado da natureza, da cultura ou da sociedade e que só adquire sentido se relacionado ao
processo de comunicação (interação entre sujeitos sociais para compartilhamento de informações). É ainda utilizada por Chiavenato (1993)
que, em alusão à Teoria da Informação, elaborada por Shannon em 1975, a postula como conhecimento que permite orientar a ação ou reduzir
a margem de incertezas que cerca as decisões cotidianas.
6 Outros organismos culturais trabalham no sentido de reunir, tratar, preservar e disseminar a informação registrada, como os museus e
arquivos, entretanto, estes tratam da organização e preservação de documentos históricos, administrativos e culturais de uma empresa
(pessoa jurídica) ou de um indivíduo (pessoa física), enquanto que aqueles exibem todo tipo de objeto que apresente interesse histórico,
técnico, científico ou artístico, de modo a conservar e preservar coleções/acervos, permitindo o contato com peças únicas que são, na maioria
das vezes, bi ou tridimensionais.
5
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
14
e) ter um espaço, físico ou virtual, para expor seu acervo, atender a seus usuários e desenvolver
suas atividades.
Logo, para ser vista como um organismo ativo e partícipe da vida social, a biblioteca deve buscar,
através da memória coletiva por ela reunida, equacionar as necessidades de informação da comunidade,
mapeando suas demandas informacionais de modo a oferecer ao usuário um encontro com a cultura e
com o saber. De fato, a biblioteca não deve ser simplesmente uma coleção organizada de livros que os
disponibiliza quando solicitados, mas sim um espaço de convívio e de socialização dinâmico.
Para promover mais adequadamente o saber de acordo com a heterogeneidade do público, ela,
grosso modo, está subdividida em área específica do conhecimento que servem a usuários especializados
(bibliotecas especializadas) ou acervos especiais, como os em braile (bibliotecas especiais); coleções que
buscam favorecer o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão de funcionários,
discentes e docentes de instituições de ensino superior (bibliotecas universitárias); acervos gerais que
estão postos para suprir a necessidade de informação de toda a comunidade (bibliotecas públicas) e
acervos que agrupam obras que dão suporte às atividades educacionais dos escolares do ensino médio e
fundamental (bibliotecas escolares). A esta tipologia devem ser incluídas as bibliotecas nacionais. A função
dessas é reunir, conservar e difundir a memória do país, utilizando-se de dispositivos legislativos que
possibilitem a formação do patrimônio informacional nacional como o Depósito Legal7. Tais modelos,
caracterizados pela coleção e pelos usuários, também se diferenciam pelos serviços que oferecem e que
deverão estar em conformidade com o nível e a diversidade de seu público.
Dentre os serviços oferecidos atualmente pelas bibliotecas e sem a pretensão de ser uma listagem
exaustiva, os relacionados a seguir são aplicáveis a ambientes públicos, escolares, universitários e
especializados de acordo com suas particularidades:
O Depósito Legal, instituído inicialmente na França, determina o envio à Biblioteca Nacional dos exemplares de obras impressas ou
publicadas em qualquer lugar de um país, seja qual for a sua natureza e seu sistema de reprodução.
7
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
15
a) orientação dos usuários quanto ao uso da biblioteca e seus serviços, incluindo visitas
orientadas e cursos que servem para instruir no manejo e na prática da pesquisa bibliográfica8;
b) consulta local às obras disponíveis;
c) empréstimo domiciliar;
d) empréstimo entre bibliotecas;
e) acesso à base de dados da biblioteca;
f)
acesso à base de dados externas seja em rede, on line, em CD-ROM, of line ou em material
impresso;
g) levantamento bibliográfico;
h) assistência às necessidades informacionais com resposta questões simples e especificas;
i)
indicação de outros serviços de informação;
j)
fornecimento de cópias, inclusive de material existente em outras bibliotecas, como o COMUT
no Brasil, por exemplo;
k) sumários correntes, boletins de alerta ou outros serviços que sintetizam novas aquisições para
os usuários, antecipando-se à sua busca;
l)
divulgação e facilitação do uso da biblioteca através de impressos, de um ágil sistema de
comunicação visual, entre outros, com o objetivo de familiarizar o usuário com o ambiente e
facilitar o seu acesso;
m) tratamento da informação;
n) reserva de obras;
o) encontro com autores;
p) promoção de eventos culturais como exposições e concursos, por exemplo;
q) divulgação de obras literárias através de eventos como a hora do conto, da poesia, da crônica;
r) normalização bibliográfica;
s) livraria;
t)
cafeteria, lanchonete, etc.
A constituição de uma biblioteca, sua missão, objetivos, função, papel, tipologia e serviços acima
elencados visam, sobretudo, a operar transformações nos estados de saber do usuário, elevando seus
8 Um exemplo desse serviço é o Ateliers d’intiation à la recherche documentaire, desenvolvido pelo setor pedagógico da Biblioteca Nacional da
França cujo objetivo é permitir o conhecimento dos mecanismos de busca da informação através dos meios eletrônicos, inclusive a Internet.
(Retirado do site http://www.bnf.fr/web-bnf/pedagos/rechdoc.htm, em 05/03/1999).
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
16
níveis de modo a se colocar no papel de solucionadora dos problemas culturais, informacionais,
educacionais e de lazer da comunidade.
Mas, como a biblioteca, mais especificamente a biblioteca pública, se coloca para ser vista por seu
público? Como o público a vê? Quais as estratégias que ela se utiliza para se pôr sob o olhar de seu
público de modo a fazer com que ele queira ser um usuário real?
É justamente para tratar dos regimes de visibilidade da biblioteca pública, mas
pormenorizadamente da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas – BPEAM, cujo surgimento
examinaremos a seguir, que nos lançamos nesta pesquisa amparada pelos referenciais da semiótica
discursiva9 cuja perspectiva de apreensão da realidade significante engloba texto10 e contexto que,
indissociavelmente articulados entre si, são capazes de mostrar o que o texto diz e como faz para dizer o
que diz, com vista à construção do todo de sentido.
9 Há, pelo menos, três grandes teorias semióticas atualmente. Uma elaborada a partir dos estudos do norte-americano Charles Sanders
Peirce; outra que reúne os estudos do russo Iuri Lotman e da Escola de Tartu e a última que se construiu na França a partir da obra do
pesquisador lituano-francês Algirdas Julien Greimas. Para este estudo, a linha adotada é a da escola francesa.
10 Neste estudo, o entendimento de texto está estreitamente ligado à concepção semiótica que o vê como uma malha entrelaçada de relações
que dá sentido e que possibilita uma comunicação, uma interação entre o que é expresso, a forma como é expressado e o conteúdo do que é
expresso.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
17
A vazante11 da leitura pública no Amazonas12
A Sala de Leitura que serviu de núcleo para o posterior surgimento da Bibliotheca Pública
Provincial do Amazonas foi criada pela Lei nº. 205 de 17 de maio de 1870, com a missão de “auxiliar na
alfabetização e na educação da classe estudantil e culta da cidade de Manaós” como destacou o senhor
Clementino José Pereira Guimarães em seu discurso de inauguração, nove meses após a promulgação da
lei.
Instalada no sobrado alugado, onde funcionava o Lyceu e a Diretoria de Instrução Pública, a Sala
de Leitura foi fruto das reivindicações da elite intelectual manauense que, formada na Europa, ressentia-se
da ausência de um espaço destinado à leitura pública o que, segundo Mitsy Westphal Taylor13, também
ocorreu no Brasil colonial do final do século XVIII quando
“magistrados, professores e administradores brasileiros formados em Coimbra e estabelecidos
posteriormente no Brasil, dão início à formação das sociedades literárias, acadêmicas, gabinetes de
leitura e liceus. As bibliotecas retratam a formação humanística de seus idealizadores. Predominavam
textos em francês nas áreas de direito, literatura, filosofia, política e legislação além de textos em
química, física, mineralogia, botânica e medicina, em inglês e latim.”
A Sala de Leitura da Província do Amazonas resultou do empenho pessoal do senhor Gustavo
Ramos Ferreira, intelectual que exerceu o cargo de Presidente da Província, Deputado, Presidente da
Assembléia Legislativa Provincial e Diretor de Instrução Pública quando a inaugurou, com 1.200 obras
importadas, sendo parte doadas pela comunidade e as demais compradas no livreiro B. L. Guarnier na
Corte, e, concebida a partir do modelo europeu que se caracterizava por dispor de um pequeno espaço em
uma sala ou um corredor para abrigar estantes, mesas de leitura, decorada com uma mobília confortável e
O termo vazante está sendo empregado, nesse momento, no sentido utilizado pela vida que transcorre no interior da Amazônia quando do
período em que o nível das águas do rio baixa, após a enchente. Esse período é marcado, na realidade local, pela alegria do verão, pela
fartura e a abundância do plantio e da colheita em um solo fortificado pela enchente que depositou os nutrientes e pela época das grandes
pescarias nos rios com níveis de água baixos.
12 O resgate histórico apresentado nesse item baseia-se nas obras de Genesino Braga, Nascença e vivência da Biblioteca do Amazonas, de
Ednea Mascarenhas Dias, A ilusão do fausto e de Otoni Moreira Mesquita, Manaus: história e arquitetura, utilizadas como fontes secundárias e
em documentos primários existentes no acervo da BPEAM, todos relacionados na bibliografia.
13 TAYLOR, Mitsy Westphal. Bibliotecas públicas e sociedades periféricas. p. 17.
11
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
18
um ambiente agradável, muito comum nas livrarias francesas e portuguesas do final do século passado.
Tal influência, como nos relata Genesino Braga, era de se esperar já que
“nos grande centros europeus, faziam moda, nessa época os “Gabinetes de Leitura” ou “Salas de
Leitura”. O figurino europeu não poderia deixar de exercer sua influência, como tantas outras iniciativas
contemporâneas, na composição da nova biblioteca. Vinham de lá os livros, na sua grande maioria; vinha
o modelo de organização, vinha a cultura. A formação intelectual de nossas elites bebia no manancial
dos grandes centros de irradiação cultural que eram Londres, Berlim, Paris, Roma e Viena, passando por
Lisboa. Alguns de nossos intelectuais funcionários do Governo, homens de negócios, contavam estágio
de freqüência em universidades estrangeiras, ou viagens demoradas pelas capitais do Velho Mundo, de
modo que, por seus estudos, ou em resultado de observações durante as estadas nos grandes meios,
conheciam algo do que se processava na organização das biblioteca”.14
Com efeito, a implantação do modelo europeu efetivou-se em uma cidade que possuía três bairros
e comércio com cinqüenta e sete lojas que comercializavam, além de alimentos, perfumes, tranças
crespas, botinas, paletós, chapéus, linhos e veludos procedentes da França, de Londres, de Roma, enfim
das principais capitais européias, recebia as novidades através das freqüentes chegadas de barcos a
vapor que provinham à cidade, inclusive, dos jornais de Paris.
Ao ser alocada no Lyceu, a Sala de Leitura assume sua função educacional, uma das quatro
funções da biblioteca pública que serão abordadas posteriormente, procurando despertar, nos leitores
manauenses, especialmente nos alunos da escola ou em qualquer outra pessoa que desejasse freqüentála, o hábito e o gosto pela boa leitura, intenção essa retratada no discurso do senhor Wilkens de Matos,
quando da abertura dos trabalhos legislativo da Província em 1870, conforme afirma Genesino Braga.
Ora, naquela época, a cidade de Manaus possuía 27.610 habitantes15, 680 alunos freqüentando as
dez escolas existentes na Província, o que representava 3% da população, um índice de analfabetismo
superior a 79% e um Regimento Interno, publicado no jornal de maior circulação na cidade, o Amazonas de
25/03/1871, que determinava seu funcionamento no horário de 9:00 às 15:00 horas, além de se
responsabilizar pelo fornecimento de papel, tinta e pena aos leitores que desejassem tomar algum
apontamento e de franquear o acesso gratuito a todos que se enquadrassem nas seguintes condições:
14
15
BRAGA, Genesino. Op. Cit. p. 43.
Idem. p. 28 e 29.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
19
“apresentar-se decentemente vestido; não fumar, não conversar e nem perturbar por forma alguma o
silêncio e a tranqüilidade na sala”16. Para quem então, de fato, a Sala de Leitura se enunciava? De quem
ela buscava captar o olhar e a freqüência?
Chartier e Hébrard, ao analisarem os discursos sobre a leitura no período de 1880 a 1980 na
Europa, esclarecem que:
“quaisquer que sejam as intenções que presidam ao seu nascimento, a biblioteca é um dispositivo
evidente de controle das leituras populares; controle conservador, reformista ou revolucionário, conforme
o caso, mas sempre um controle privado ou público, conforme o Estado esteja ou não presente, mas
sempre um controle daqueles que ainda não sabem ler bem, ou escolher seus livros; daqueles que não
se deveria deixar a sós para enfrentar os perigos de certas leituras no universo cada vez mais amplo do
texto escrito.” 17
Cotejando a fala dos autores acima com o cenário da Manaus que fez surgir a Sala de Leitura,
pode-se afirmar que ela foi criada mais para transformar o já leitor em leitor acompanhado, ampliando a
oferta de obras disponíveis na cidade instalada no meio da selva, do que propriamente para criar novos
leitores e promover amplamente a instrução e a leitura públicas uma vez que somente 21% da população
da cidade do final do século XIX era possuidora do saber-ler e esse número se torna mais reduzido ainda
quando destacada a origem das obras, quase sempre em outro idioma.
Com efeito, tal argumento é reforçado pela tese de Ednea Mascarenhas Dias para quem o projeto
traçado pela municipalidade, que inclui a Sala de Leitura, não contemplou a totalidade da população,
privando, grande parte dela, de água potável, rede de esgoto, higiene, educação e saúde. Desta forma, o
espaço aberto para leitura pública se mostra e para um coletivo que, em número reduzido, é alfabetizado,
que sabe ler em outro idioma e que possui o comportamento exigido pelo Regimento Interno. Embora ela
tenha surgido com a missão de ser um meio capaz de auxiliar na educação, ela trata desiguais como iguais
e torna-se visível somente a uma minoria da população, a quem verdadeiramente se destina, por possuir
competências para utilizá-la.
16
17
BRAGA, Genesino. Nascença e vivência da biblioteca no Amazonas, p. 39.
CHARTIER, Anne-Marie, HÉBRARD, Jean. Os discursos dos bibliotecários. Em: Discursos sobre a leitura. p. 119.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
20
O poder-fazer da comunidade da época, não só impulsionou a criação, mas também estabeleceu
a qualidade deste processo, o que estava em conjunção com os anseios de crescimento da cidade e com o
nível de cultura almejado por uma sociedade que educava seus filhos em países europeus.
Os moldes do exterior influenciaram também os anseios dos dirigentes locais, impulsionados pela
intelectualidade da Província. De fato, a criação da Sala de Leitura se enquadrava no novo projeto de
cidade traçado pela municipalidade que buscava transformar Manaus em um lugar moderno, agradável e
que para tal fez deslanchar uma ampla reforma em todos os setores. “O modelo de inspiração foi a Europa,
especificamente Paris, como os boulevards, pontes de ferro, mercados, calçamentos, os grandes
magazines”, os quais serviram de exemplo para criar uma nova cidade a partir de outra que universalmente
era aclamada como um verdadeiro modelo de civilização da época, como esclarece Ednea Mascarenhas
Dias18. Tudo foi concebido de modo a introduzir a modernidade na cidade que se autodenominou de Paris
dos Trópicos e que substituiu a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarapé
pela avenida, a carroça pelos bondes elétricos, a iluminação a gás pela luz elétrica, fazendo chegar ao
porto de lenha o progresso com sua visão transformadora, como ainda expõe a autora, mostrando ser
possuidora do saber-poder-fazer sua trajetória que faria ser vista como uma metrópole moderna instalada
no seio da Amazônia.
É claro que o projeto da nova cidade não se limitou à transformação urbana. Ele requeria também
mudanças nos comportamentos e costumes da população, inserindo, desta forma, a Sala de Leitura, o
teatro, as pontes de ferro, a pavimentação das ruas, entre tantas outras, já que Manaus precisava deixar
de ser um lugar dedicado ao comércio, onde a maior parte dos moradores jamais havia aberto um livro e
desconhecia todo e qualquer tipo de ocupação intelectual e possuía hábitos não desejáveis, relata Ednea
citando Alfred Russel Wallace em sua obra Viagens pelos rios Amazonas e Negro19. O autor comenta
18
19
DIAS, Ednea Mascarenhas. A ilusão do fausto. p. 46.
Idem, p. 66.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
21
“como era de se esperar nessas circunstâncias, a moda é de suas maiores preocupações [da
população]. Aos domingos, na missa, trajam-se todos em grande estilo (…) Depois da missa, é hora de
visitas de cerimônia, quando todo mundo vai à casa de todo mundo, e lá ficam comentando os
escândalos que se acumulam durante a semana. A comunidade civilizada tem os costumes mais
decadentes possíveis”.
Nota-se, pelo que o autor o qual Ednea Mascarenhas deixa falar, que se pretendia, de fato, era
introduzir uma mudança comportamental nos hábitos da população de uma cidade cujos governantes
sonhavam em transformá-la em uma grande urbe. Para tal, conceber uma Sala de Leitura significava
associar à imagem desejada de cidade, um símbolo de cultura que, em vista da sua pouca utilização
desapareceu onze anos mais tarde, junto com o sonho da municipalidade de atender a uma grande
demanda educacional da população, sem, contudo, analisar a diversidade da comunidade de modo a
contribuir para a superação de suas deficiências culturais.
Contudo, antes da Sala de Leitura encerrar suas atividades, Domingos Monteiro Peixoto,
presidente provincial anunciou, segundo Otoni Mesquita, em março de 1874, o final das obras do Palacete
Provincial (Figura 01), ficando nele instalados o Lyceu, a Biblioteca Pública, a Assembléia Provincial, a
Repartição de Obras Públicas e o Tesouro Provincial. Assim, instalada, a biblioteca mostra-se como um
órgão de relevada importância para a cidade uma vez que se aloja junto a instituições que representam o
poder financeiro, legislativo e executivo da municipalidade.
Figura 1 - Prédio do Palácio Provincial, hoje Quartel da Polícia Militar
Em 1882, assume o governo da Província o Dr. José Paranaguá, que entrou para história do
estado pelas grandes, importantes e imponentes obras de sua administração. Coube a ele o lançamento
da pedra fundamental do Teatro Amazonas, a fundação do Museu Botânico Amazonense, o
restabelecimento do Instituto de Educandos Artífices, entre outras obras. O ponto que as une e que merece
destaque é a preocupação com o incentivo à cultura e às artes. Não poderia, então, ficar fora do projeto
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
22
cultural desse governante a Bibliotheca Pública Provincial, criada por ele em 03 de março de 1883, em
substituição a já extinta Sala de Leitura, e incorporando, dessa, o acervo.
Sob orientação de Paranaguá, vieram, diretamente da Europa, obras de editores parisienses e foi
autorizada a organização de uma seção para obras amazônicas. Assim, reinaugurada em 1883, a
Bibliotheca Pública Provincial foi alojada no consistório, ao lado oriental da Igreja Matriz de Nossa Senhora
da Conceição, a catedral de Manaus. O local não pode ser desconsiderado. A instalação de uma biblioteca
na catedral, instalar uma biblioteca, não deixa de colocar no mesmo nível dois templos sagrados já que
para a igreja convergem os passeios dos citadinos dessa época que, no sacro horário de domingo ao
entardecer, comparecem ao ato social da santa missa, conforme já relatado por Alfred Russel. A igreja se
estabelece como lugar de adoração a Deus e ponto de encontro da comunidade; a biblioteca, que se
coloca no segundo piso do templo, conduz o leitor pela escada especialmente construída para dar acesso
a ela e o eleva à cultura, à erudição.
A inauguração foi acontecimento marcante na cidade. À noite, comemorou-se no Teatro
Beneficente que, posteriormente, quando de sua construção definitiva, foi denominado de Teatro
Amazonas, a grande ocasião com a presença do primeiro bibliotecário, o abolicionista Lourenço Pessoa,
conforme relata Genesino Braga. Também para assinalar a modernidade do ato, houve a entrega de cartas
de alforrias na solenidade.
Não se pode deixar de lembrar que a Província do Amazonas foi a segunda no país a libertar seus
escravos e que tal fato está retratado, hoje, em uma gigantesca tela colocada no átrio superior da BPEAM.
Assim, a entrega de cartas de alforrias na inauguração da biblioteca constrói um enunciado qualificador de
Manaus que, à imagem intelectualizada da sociedade, associa a sua conduta de avanço nas idéias sociais
e de igualdade.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
23
Uma vista da cidade desse final do século XIX permite, não só ver a localização privilegiada da
biblioteca, mas também faz notar a localidade iluminada e com os trilhos do transporte público e, apesar da
alta temperatura local, a figura masculina porta terno e chapéu.
Figura 2- Imagem do lado oriental da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
onde se localizava a sala destinada à Biblioteca Pública Provincial
Quanto à importância do patrimônio arquitetônico que representa a Igreja da Matriz, Otoni Moreira
Mesquita20, em sua obra Manaus: história e arquitetura, destaca:
“A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi a primeira grande obra arquitetônica construída em
Manaus e a mais importante do período provincial. Apesar do crescimento da cidade nas últimas
décadas, o edifício conseguiu manter uma posição de destaque na visualidade da paisagem. A igreja
está localizada sobre uma pequena elevação em frente ao porto da cidade. A sua aparência é bastante
simples, com predomínio de linhas retas, sendo quase destituída de elementos ornamentais. Sua
estrutura construtiva é baseada no tradicional caixote greco-romano e o traçado de sua fachada segue
as linhas do estilo neoclássico”.
Por sua vez, a biblioteca, com essa localização espacial junto ao templo, passa a desfrutar da
imagem sacra, do culto ao santuário que, associativamente, incorpora e assume a metáfora de templo do
saber. Com efeito, Genesino Braga aponta que, em agosto de 1883, ela fora freqüentada por 244 pessoas
no horário estabelecido pelo novo regimento, de 18:00 às 21:00 horas; e, em 1887, para ter sua coleção
divulgada, conhecida e vista pela coletividade é publicado o Catálogo da Bibliotheca Pública do Amazonas
(Figura 3), com 226 páginas e organizado pelo sistema do francês Jacques-Charles Brunet. Com isso, a
biblioteca mostra sua competência para elaborar, com base em um método científico, seu catálogo e de se
ofertar ao usuário tornando-se vista através da adoção de mecanismos que disseminam o seu acervo.
Figura 3 - Folha de rosto do Catálogo da Bibliotheca Pública do Amazonas, impresso em 1887
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
24
Em 1888, a Biblioteca Pública foi transferida para o prédio definitivo e recém-inaugurado do Liceu
Provincial, onde passaria a ocupar uma das salas do pavimento superior, por ordem do cônego Raimundo
Amâncio de Miranda, 3º Vice-Presidente da Província, confirmando, pela localização, sua função
educacional, muito discutida pela literatura biblioteconômica da época segundo a revisão apresentada por
Susana Mueller21. Para a autora, nesse período, a biblioteca pública teve por meta educar as classes
baixas e promover a instrução pública.
O antigo Liceu Provincial (Figura 04), posteriormente Gymnasio Amazonense Pedro II e
atualmente Colégio Estadual do Amazonas, é um dos raros exemplares típicos da arquitetura neoclássica
em Manaus, que se destaca na paisagem da cidade por apresentar-se como uma grande obra que, à vista
das edificações existentes na época, compunha o cenário de uma cidade disposta a enfrentar os desafios
educacionais postos à capital que, escondida na floresta, mantinha-se no sério propósito de se expandir e
tornar-se uma metrópole. Ao ser alocada nesse espaço, a biblioteca não só mostrou-se capaz de contribuir
para a formação do manauense, mas também deixou-se ver como um indispensável aparato para a
instrução pública, alojada de modo a colocar-se em um prédio bastante visível na teia urbana da cidade do
final do século XIX.
Figura 4 - Liceu Provincial
Otoni Mesquita22, ao falar do prédio do Liceu, afirma que:
“A planta baixa do prédio e sua fachada são simétricas, gerando um equilíbrio visualmente previsível e,
também, por compromisso com o estilo, são raros os elementos ornamentais em sua fachada,
produzindo um aspecto um tanto austero. O edifício tem dois andares sobre um alto porão e segue a
estrutura da antiga "caixa" greco-romana, também muito utilizada durante o Renascimento”.
MESQUITA, O . M. Manaus: história e arquitetura. p. 70.
MULLER, Suzana. Bibliotecas e sociedade. p. 7-12.
22 Op. cit. p. 94.
20
21
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
25
O estilo caixa citado pelo autor, muito comum na arquitetura dos palácios citadinos e públicos da
Inglaterra, representa o paladianismo surgido no renascimento tardio (1550 a 1600) e no barroco italiano
(1590 a 1750). Inspirado na Antigüidade romana, reduz a decoração das fachadas e procura proporções
nítidas e rigorosas. Entre suas características principais, encontra-se a ordem colossal (pilares que ocupam
dois ou mais andares) e a serliana (abertura na parede formada por um arco sobre colunas ou pilares
ladeados por duas aberturas retangulares cuja arquitrave é da mesma altura da imposta do arco),
conforme explica Wilfried Koch23, na obra Dicionário dos Estilos Arquitetônicos. Apresenta nítida
semelhança com a descrição da primeira geração de edifícios de bibliotecas, a ser abordado
posteriormente, e influenciou o projeto do prédio que, mais tarde, seria construído para instalar a BPEAM
onde ela se encontra até os dias atuais.
Novamente a Biblioteca Pública é instalada junto a uma instituição de ensino o que a qualifica
como cumpridora de sua função educacional, motivo para o qual foi criada. Tal como está disposta, ela
passa a atuar mais próximo ao seu destinador inicialmente estabelecido, disseminando o saber registrado
e cumprindo o contrato inicialmente estabelecido para os órgãos de sua natureza e papel, daquela época,
tornando-se vista, principalmente pela parcela da coletividade que freqüenta o Liceu.
Em período posterior, ao retratar sua preocupação com as constantes mudanças da
biblioteca, que não possuía espaço próprio, o historiador Bento Terreiro Aranha24, citado por Genesino
Braga, desabafa:
“com a ascensão do regime republicano, essa instituição [a biblioteca], que tanto se já recomendava às
intelectualidades no nosso seleto e crescente meio social, foi pouco a pouco se extinguindo, devido às
mudanças de uma para outras casas e aos enormes desvios de livros de suas estantes, por incúria,
desleixo e desídia dos seus diretores (…). A Bibliotheca do Amazonas, se tivesse sido dirigida com
educação e zelo, probidade e patriotismo, seria hoje senão a primeira das existentes no Brasil …”
23
24
KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos. p. 188
Apud BRAGA, Genesino. Nascença e vivência da biblioteca no Amazonas, p. 78.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
26
Nota-se, pela crítica de Terreiro Aranha, que a situação em que se encontrava a Biblioteca Pública
incomodava a comunidade a qual ansiava por cobrar por um destino mais digno para a instituição. Isso nos
mostra, de certo modo, que ela já possuía um certo grau de visibilidade na comunidade levando o
governador Eduardo Ribeiro, na mensagem de 1º de março de 1896, a nomear um novo diretor e transferila para uma casa alugada na Praça da Constituição, sendo dois anos mais tarde novamente transferida
para o prédio da recém-criada Repartição de Estatística, Arquivo Público e Biblioteca, na rua do Progresso.
Tais transferências chamam-nos a atenção por dois fatores. O primeiro é que ela passa a ocupar
um prédio em via pública movimentada que a aproxima da comunidade em geral e a torna mais visível pela
facilidade de acesso. O segundo é quanto a sua ligação com a Estatística e o Arquivo Público, associandoa a instituições cujo caráter não é mais o educacional, mas o de fornecedoras de informações histórica,
científica, artística, entre outras. O fato é que tal associação a integra em outra função das bibliotecas
públicas que é a informacional, o que só seria recomendado para tais instituições a partir de meados do
século XX.
Contudo, no relato das atividades executadas em 1898, do responsável pela Secretaria de Estado
onde se encontrava agregada a Repartição de Estatística, Sr. Pedro Freire, encaminha mensagem ao
governador destacando que:
“… é tempo de pensar seriamente na necessidade de dotar-se esta capital com uma Bibliotheca bem
organizada (…) consignando na lei orçamentaria verba suficiente para acquisição de um prédio
apropriado (…). O prédio em que ela tenha que ser installada demanda de construcção adequada aos
seus fins, com acomodações regulares para salas de estudo”25.
No discurso da administração governamental, vê-se expressa a preocupação com a biblioteca uma
vez que, próxima de entrar no século XX, a capital do Amazonas estava praticamente transformada, com
aparência de uma cidade mais européia, resultado do projeto anteriormente traçado, servida por alguns
dos melhoramentos e serviços típicos (iluminação a gás, sistema de saneamento efetuado pela engenharia
inglesa, sistema de transportes através de bondes, etc.) das modernas sociedades em prosperidade.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
27
Experimentavam-se as “delícias do consumo” num delírio característico da belle-époque e ostentava-se
uma situação de riqueza e progresso ao almejar um estágio mais elevado de desenvolvimento e
civilização, que retrataria a inserção na modernidade.
A época, denominada como o período áureo da borracha, é assim chamada em função do ciclo
econômico que causou grandes transformações na região devido à exploração e comercialização da goma
elástica produzida pelo látex extraído da seringueira, que introduziu a prosperidade na sociedade
amazonense a partir da última década do século XIX. Outros fatores, no entanto, contribuíram para criar na
cidade o espírito próprio da belle-époque como a proclamação da República, a imigração nordestina que
vinha em busca dos empregos gerados pela exploração extrativista, o incremento da navegação a vapor
que possibilitou maior intercâmbio entre a isolada capital e o resto do mundo, a evolução da indústria
automobilística que necessitava da borracha para produção de pneus e a administração do Governador
Eduardo Ribeiro.
O governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro foi marcado pelo estabelecimento de um novo projeto
para uma cidade que estava em plena expansão de sua economia e vivia um período próspero. Nessa
época, pela projeção de crescimento vislumbrada pelo governo, cabia a Manaus estruturar-se para o
aumento da população e para os prósperos anos que estavam por vir. No último ano desse governo,
efetuou-se a compra do terreno que, mais tarde, seria ocupado pelo prédio definitivo da Biblioteca Pública.
Esse terreno abrigava um estábulo público e estava situado ao lado do que, posteriormente, viria a ser
Imprensa Oficial do Estado do Amazonas.
Um novo projeto de biblioteca se delineia a partir da necessidade de inserir a cidade em um novo
tempo, como expõe Ednea Mascarenhas Dias26,
“o estabelecimento de uma biblioteca e de escolas públicas em Manaus está na razão direta da
preocupação de mostrar, segundo padrão da elite extrativista, o grau de desenvolvimento e progresso
que a cidade está atingindo. A antiga biblioteca dos tempos provinciais já não apresenta instalações
25
26
AMAZONAS. Secretaria de Interior. Relatório. p. 02-31.
DIAS, Ednea Mascarenhas. A ilusão do fausto. p. 82.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
28
condizentes com a modernização; prédio improvisado, em ruínas, ameaçando desmoronar, acervo
deteriorando-se, ausência de freqüentadores”.
Pode-se observar que, entre o ressurgimento dos sonhos de uma sociedade opulenta e próspera
idealizada pelo governante, uma das obras consideradas indispensáveis para o bem estar coletivo é a
biblioteca pública o que, decerto, qualifica a cidade criando para si um símbolo de cultura existente nas
metrópoles. O projeto de uma cidade desenvolvida perpassa pela necessidade de proporcionar à
população o contato com a cultura expressa pela construção do Teatro Amazonas, ou pelo
estabelecimento de um local definitivo para uma biblioteca que, transferida para diversos locais, não
consegue servir, ainda, de um órgão capaz de contribuir para o crescimento intelectual da população e,
dessa forma, colocar-se definitivamente para ser vista pelo público. Assim, em 1905, é inaugurado o prédio
definitivo da BPEAM, momento em que fazemos uma pausa na descrição do histórico da biblioteca em
virtude da análise de seu prédio ser objeto de estudo do Capítulo 3, no qual trataremos de examinar os
regimes de visibilidade da instituição no momento presente.
*****
Uma vez instalada em definitivo, a biblioteca pública, sonho de uma comunidade que, no interior da
Amazônia, mostra ser competente para tal, faz-se necessário compreender, no contexto atual, quais as
funções destinadas a estes órgãos de modo a constituir elementos que permitam o entendimento dos
regimes de visibilidade da BPEAM hoje, bem como construir referenciais, que nos permitam analisar sua
perfórmance na sociedade manauense.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
29
As máscaras da informação pública
As discussões em torno do desmascaramento da informação pública visam, sobretudo, a
contextualizar sua função no mundo contemporâneo, introduzindo-a em uma ampla compreensão da
temática desse estudo cujo objeto é a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas.
Para este estudo, a função de uma biblioteca verdadeiramente pública é promover o
desenvolvimento do contexto social onde atua. Para tal, no ambiente plural e multifacetado onde se insere,
deverá atender aos diferentes tipos de usuários que possuem múltiplas necessidades e características que
variam entre o infantil e o adulto, o alfabetizado, o neo-alfabetizado e o não-alfabetizado, o recluso e o
livre, o hospitalizado, o deficiente físico e visual, entre tantos outros. De fato, para intervir na vida social e
gerar conhecimento que promova o desenvolvimento, a biblioteca pública deve atuar em ambientes não
homogêneos e sim multifacetados, formados por núcleos com divergências profundas que se diferenciam
por condições como: grau de instrução, nível de renda, religião, interpretação dos códigos formais de
conduta moral e ética, acesso à informação, confiança no canal de transferência, codificação e
decodificação do código lingüístico comum, entre outros como os arrola Aldo Barreto27. Viabilizando o
acesso ao conhecimento, a biblioteca busca contribuir para o crescimento do público e,
conseqüentemente, a agir no fazer educativo, cultural, social e econômico da sociedade, de um modo mais
amplo.
O surgimento da biblioteca pública nos países anglo-saxões em meados do século XIX é um dos
fenômenos mais importantes para a história da biblioteca, que foi criada, fundamentalmente, sob o preceito
de que deveria proporcionar a educação, através da leitura, dos indivíduos que vivem na comunidade onde
se instala. Sua trajetória é pontuada pela adoção de diferentes funções, como as distingue Mitsy Westphal
Taylor28: inicialmente educacional, no final do século XIX, posteriormente introduzida, a de lazer e cultura
27
28
BARRETO, Aldo. Os destinos da ciência da informação. p. 3.
TAYLOR, Mitsy Westphal. Bibliotecas públicas e sociedades periféricas. p. 11-13.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
30
na primeira metade deste século, e finalmente, a de agente social de informação, na segunda metade do
século XX. Com efeito, ao cumprir as quatro funções básicas – educacional, de lazer, cultural e
informacional –, a biblioteca pública passa a desempenhar verdadeiramente o seu papel público,
especialmente quando busca atender as demandas coletivas e se oferecer como um espaço de encontro
com o saber através da integração de tais funções que não se efetivam isoladamente.
Dessa forma, cabe à função educacional da biblioteca pública, contribuir para o crescimento
progressivo do indivíduo , auxiliando-o, através do contato com os artefatos que dissemina, a transpor os
limites do conhecimento que já possui de modo a promover a instrução pública seja ela demandada pela
educação formal, não formal ou informal.
No que tange à função de lazer, cabe à biblioteca ser capaz de proporcionar o entretenimento e a
diversão de seu público seja através da leitura descompromissada e de livre escolha de um romance, um
jornal, uma revista, um gibi, por exemplo, com objetivo de promover o relaxamento e a recreação do
indivíduo ou ainda através da oferta de atividades como cine-clube, jogos interativos e educativos, hora do
conto, leitura para cegos além de espaços destinados para um bate papo, para audição de fitas-cassete,
discos, entre outros.
A função cultural é dinamizada através da organização de exposições, promoção de debates,
palestras, círculo de estudos, oficinas de arte, realização de dramatizações ou encenações teatrais, enfim,
atividades que, relacionadas à sua ação cultural, sejam capazes de promover o contato, a participação e
apreciação de diversas manifestações culturais de modo a deixar falar seu público e a contribuir para
salvagardar e disseminar a identidade cultural da sociedade em um mundo em rápida mutação.
A última função estabelecida para a biblioteca pública, a informacional, está diretamente
relacionada à sua condição de fornecedora de informação captada nas mais variadas fontes, de modo
confiável, rápido e eficiente, visando a atender a uma demanda que prescinde do texto impresso, mas que
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
31
tem origem nas necessidades prementes e momentâneas do público que a freqüenta, tais como, indicação
de emprego, localização de organismos governamentais ou não, burocracias para se tirar documentos,
entre tantas outras.
As funções que fizeram emergir a biblioteca pública, quando efetivamente cumpridas, visam a
ampliar sua participação na vida comunitária e a aumentar sua utilidade social de modo a se tornar
visivelmente pública.
Contudo a palavra público, na modernidade, toma o sentido de um direito social, patrocinado pelo
Estado o qual tem a função de zelar pelo bem-estar coletivo. Destaca-se, entretanto, que 95% da
população que freqüenta a biblioteca pública no Brasil, é composta de alunos do ensino fundamental e
médio que a buscam para efetivarem suas “pesquisas”, verdadeiras cópias sem uma reflexão sobre o
material lido, o que não contribui, de forma alguma, para a geração de conhecimento, conforme expõe a
totalidade dos autores que tratam dessa temática, determinando uma ampla predominância de sua função
educacional. Em sua maioria, as bibliotecas públicas são mantidas pelo poder estatal e visam a dar acesso
ao conhecimento, mas se utilizam de estratégias que não atingem a grande parte do coletivo que a
despreza por não conhecê-la, com ela não se identificar. Isto é conseqüência da má qualidade do acervo e
dos serviços que são oferecidos, dos horários em que está disponível para consulta ou até mesmo porque
a comunidade a vê como uma “repartição pública”, do governo e não como uma agência capaz de agir no
sentido de promover o desenvolvimento social. Mas, se o fato de ser uma instituição mantida pelo estado
não a torna pública, qual será então o modo de sê-la?
Tomando por base os jogos de situações e posições de comunicação propostos por Eric
Landowski29, temos o objetivo de estudar os modos que a biblioteca pública emprega para se tornar visível
na comunidade. Interessa-nos, pois, tratar seu regime de visibilidade que postulamos é formador de sua
identidade. A noção de público semiotizada pode ser tomada no sentido de sua visibilidade, isto é, da
29
LANDOWSKI, Eric. Jogos ópticos: situações e posições de comunicação. Em: A sociedade refletida. p . 85-101.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
32
posição de comunicação que a biblioteca assume perante sua comunidade. Em função desse seu situarse, é que ela pode ou não tornar-se vista e, conseqüentemente, ser ou não reconhecida por aqueles aos
quais ela se destina. O que torna uma biblioteca visível é sua perfórmance ou o seu fazer. Oferecer
serviços, ser útil e servir à população mediante o entendimento de suas reais necessidades informacionais,
direcionar os seus recursos e serviços em prol do desenvolvimento coletivo seriam os seus papéis
narrativos. Entretanto a maioria das bibliotecas públicas não são, sequer, percebidas pelas comunidades
onde estão inseridas, o que leva a pensar que elas não conseguem impor um regime de visibilidade, não
conseguem definir seus traços de identidade junto à comunidade, ou seja, não conseguem pôr em discurso
as estruturas semio-narrativas que abstratamente as definem.
Ora, se uma identidade é o que pode nos tornar reconhecíveis perante os demais através de
características que nos são próprias, a biblioteca, para obter tal reconhecimento e estabelecer sua
identidade, deve assumir-se como uma instituição posta a serviço das transformações coletivas, sendo
fundamental não restringir suas atividades no seu recinto, mas sim buscar uma ampla convivência com
seus usuários de modo a compreender seus estilos de vida, suas carências para atender às suas
expectativas e necessidades. Se não há um assumir de identidade da biblioteca é por ela não conhecer ou
buscar conhecer a de seus próprios usuários que são grupos socialmente diversificados, diferenciados e
mutáveis em suas motivações. Identidade, afirma Landowski, define-se em relação à alteridade. Com
efeito, a biblioteca pública deve ser capaz de diagnosticar seus públicos potenciais e transformá-los em
reais, cumprindo, assim, sua finalidade social básica que é a de integrar, pela leitura, pelo lazer, pela
educação, pela informação, os indivíduos à sua comunidade, à sociedade e ao tempo em que estão
vivendo; só assim se fará ver e ser vista por todos.
Ademais, para se tornar vista a partir de um articulado projeto unificador de realidades diversas, a
biblioteca pública deve ser atrativa, quer pela qualidade de seu acervo, quer pela variedade dos serviços
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
33
que oferecerá para desmistificar a aculturação do texto escrito, como também deve privilegiar os mais
diversos suportes de modo a trabalhar na direção de um público não-leitor, aumentar e diversificar seus
canais de comunicação, procurar não se tornar indiferente para com as reais necessidades da
comunidade, trabalhando no sentido de ser um lugar para o usuário e não um lugar só para os livros. Para
assumir este modo de existência, a biblioteca tem que pôr-se à disposição de um público de todas as
idades e de diversas categorias sócio-profissionais, alocando a sua coleção e seus serviços nos hospitais,
nas prisões, nas empresas, nos estabelecimentos bancários, comerciais, entre tantos outros locais, de
forma a proporcionar o máximo de possibilidades de consultas.
De que modo, então, a biblioteca pública poderá obter uma identificação com a sua comunidade
sendo vista como algo útil pela multiplicidade de usuários de seu habitat social – adolescentes, crianças,
iletrados, desempregados, idosos, deficientes, presidiários, hospitalizados, trabalhadores, entre tantos
outros?
O Manifesto da UNESCO30 sobre as bibliotecas públicas destaca como sua missão:
1.
2.
3.
4.
5.
Criar e fortalecer hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância;
Apoiar a educação individual e a auto formação, assim como a educação formal em todos os níveis;
Assegurar a cada pessoa os meios para evoluir de forma criativa;
Estimular a imaginação e a criatividade das crianças e dos jovens;
Promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e
inovações científicas;
6. Possibilitar o acesso a diferentes formas de expressão cultural das artes pelo espetáculo;
7. Fomentar o diálogo inter-cultural e, em especial, a diversidade cultural;
8. Apoiar a tradição oral;
9. Assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade local;
10. Proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e grupos de
interesse;
11 Facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática; e
12. Apoiar, participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabetização para diferentes
grupos etários.
Percebe-se que as recomendações da UNESCO lançam a biblioteca pública ao encontro das
necessidades comunitárias, já que elas apontam para a integralização das mensagens em seus mais
30
UNESCO. Manifesto da UNESCO sobre a biblioteca pública. p. 159-160.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
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variados suportes e meios, de modo que a informação não seja apenas assimilada, mas processada e
reelaborada criticamente, buscando viabilizar a conquista do saber. Com efeito, o sentido de formar e
informar um indivíduo e sua comunidade é o de desenvolver sua subjetividade, o de permitir a sintetização
do saber evitando a cristalização da ação, da razão e da emoção humana, tendo a informação como meio
e a biblioteca como viabilizadora deste processo.
As bibliotecas públicas, como as demais instituições, não estão separadas do restante da
sociedade. Elas têm que atuar junto ao seu usuário e ser um lugar de efervescência de idéias e ações a
partir da conjugação dos verbos informar, discutir e criar, propostos por Luiz Milanesi31, completando assim
um ciclo de ações capaz de promover o saber.
No que diz respeito à constituição do acervo, observa-se que este sempre foi constituído a partir
dos valores da elite intelectual que, a princípio, especialmente no Brasil, pautavam-se em modelos
europeus e, por conseguinte, as coleções das primeiras bibliotecas públicas brasileiras foram importadas,
principalmente, da França e em idiomas que a grande maioria da população sequer conhecia como afirma
Cecília Leite Oliveira32 ao descrever que, no acervo da primeira biblioteca pública brasileira, a do Estado da
Bahia, “estavam presentes autores clássicos e obras especializadas, na sua grande maioria em francês ou
inglês, importadas da Europa” e complementa,
“embora na gênese da Biblioteca Pública da Bahia estivesse a idéia de que ela fosse um instrumento
para promover a instrução popular, a prática apresentou-se completamente diferente. Seu público ficou
restrito aos leitores que dominassem um segundo idioma. A grande maioria da população brasileira, era
analfabeta não havendo espaço para ela naquele lugar onde só cabiam pessoas ricas e letradas”
Posteriormente, dada à escassez de recursos e à falta de identificação dos reais interesses da
comunidade, os acervos passaram a ser compostos por doações ou pela aquisição de obras selecionadas
de acordo com os valores dos profissionais que executam esta atividade e que nem sempre estão
integrados com as demandas dos usuários.
31
32
MILANESI, Luís. A casa da invenção. p. 172-185
OLIVEIRA, Cecília Leite. Biblioteca pública: centro convergente das aspirações comunitárias. p. 19 e 20.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
35
A leitura ainda é considerada, pela grande maioria das bibliotecas públicas, como uma habilidade
de decifrar códigos e os livros supervalorizados, sendo raro os casos que dispõem de recursos
audiovisuais ou que realizam práticas inovadoras como cursos, por exemplo, com objetivo de atender às
demandas da comunidade pela qual quer ser vista, espera ser estimada, apoiada e prestigiada, mas
coloca-se fora do alcance do olhar do usuário uma vez que se mantém alienada dos interesses locais,
reclusa em suas quatro paredes sem dinamizar suas relações com a comunidade que anseia por receber
aquilo que ela, de fato, deveria ofertar: cultura, lazer, educação e informação.
*****
O objetivo da biblioteca é proporcionar ao indivíduo a assimilação da informação capaz de gerar
conhecimento modificador e inovador que altere seu desconhecimento da realidade e proporcione um
encontro com o saber. Contudo, a comunicação que se dá entre o usuário e a biblioteca não se restringe à
transferência da informação. Ao contrário do que se imagina, esse é o fim de um processo que se inicia
com o modo como ela se enuncia para o usuário, como ela instala, nesse enunciar, sua competência para
equacionar problemas de educação, lazer, cultura e informação, tornado-se vista por todos.
Isso pode ocorrer tanto pela oferta de serviços fundamentais para a comunidade, o que faz com
que a biblioteca se torne útil e seja vista pelo usuário como no caso os serviços extensionistas da caixaestante ou do carro-biblioteca, quanto pela visualidade de sua comunicação estética, política e funcional
manifestada pela fachada, pelo lay out, pela ambientação, pela iluminação, enfim, pelos elementos que,
seduzindo o olhar físico do usuário, o faz aceitar o convite, de querer consultá-la e utilizá-la.
É, no segundo aspecto – o da comunicação estética, política e funcional do espaço físico –, que se
ocupa esta pesquisa, com o intuito de entender como, porque, para que e de que forma o usuário deixa-se
ou não envolver pelas estratégias que a biblioteca instala em seu ambiente.
Contudo, se cabe à biblioteca pública sensibilizar, atender, difundir o saber de modo a contribuir
para o desenvolvimento hegemônico de uma comunidade heterogênea, de que maneira sua organização
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
36
espacial pode ser capaz de manipular, de comunicar-se com este público, de modo a torná-lo, de fato,
usuário? Como se dá o processo de comunicação entre o público e o ambiente da biblioteca? Até que
ponto a ambientação favorece ou desfavorece as escolhas do usuário? O que é capaz de influenciar o
olhar do usuário e produzir ou não o uso da biblioteca? A partir do que é possível entender, descrever e
interpretar a heterogeneidade de comportamentos no interior da biblioteca? Estas questões, norteadoras
desta pesquisa, têm por objetivo entender como a perfórmance do ambiente da biblioteca é capaz de dirigir
a sua utilização a partir do estudo do comportamento do usuário.
A Biblioteconomia, há muito tempo, vem dedicando-se ao estabelecimento de critérios que
viabilizem estudos sobre o comportamento do usuário sobretudo do uso feito da informação, das fontes e
dos serviços oferecidos, chamando-os de estudos dos usuários, que passaram a ser realizados nas
bibliotecas americanas a partir de 1947 como decorrência da evolução do Serviço de Referência e dos
conceitos de consumidor e mercado introduzidos pelo surgimento da filosofia administrativa do marketing e
do planejamento estratégico. Tais estudos buscam traçar um perfil de demanda por determinados assuntos
e pelo uso da informação, ou se interessam pela relação entre produtividade e desempenho da informação
utilizada, ou, ainda, visam à obtenção de conhecimento a respeito da satisfação do usuário e do
desempenho da biblioteca, o que permite classificá-los como estudos de uso, de demandas e de
necessidades de informação pelo usuário. Tratam, portanto, de deixar falar o público da biblioteca de modo
a perceber os processos e mecanismos de manuseio da informação por ela armazenada e não de analisar
comportamentos que possibilitem o entendimento da utilização espacial da instituição biblioteca.
Com efeito, Odília Rebello33, ao discutir amplamente as abordagens que devem conduzir ao
conhecimento do comportamento do usuário na biblioteca, sugere que tais estudos dêem-se a partir dos
pontos de vista interno e externo. Quanto ao interno, a autora sugere que eles analisem os valores de
necessidades, demandas e uso da informação em sí, relacionando-as com a utilização dos recursos
33
REBELLO, Odília Clark P. Usuário – um campo em busca de sua identidade? p. 86.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
37
informacionais. Do ponto de vista externo, estes deverão deter-se no entendimento do usuário como
intérprete do ambiente da biblioteca com o qual ele se comunica, interage e efetua o uso, resultado do
estudos sobre o espaço físico e da compreensão de que diversos são os modos dele viver a biblioteca – o
que pode provocar uma tempestade, uma abundância de sentidos –, e o trajeto, resultado desta vivência, é
a pista trilhada que mostra o modo como ele interpretou e interagiu com o ambiente.
Com efeito, se tomarmos o espaço como lugares repletos de objetos naturais e artificiais que se
articulam para produzir significados e conduzem à sua utilização, podemos assumi-lo como pleno de
sentido capaz de emitir uma linguagem espacial passível de ser descrita e interpretada dada às reações
dinâmicas que provoca em seu destinador. Visto desta forma, o espaço passa a ser entendido a partir da
relação dos sujeitos com outros objetos que produz significação e que é passível de uma análise, como
propõe a autora acima.
Assim, passíveis de análise, o espaço e o trajeto necessitam ser definidos, discutidos e entendidos
para que, sob a ótica deste estudo, possam ser vistos como portadores de sentido, como um texto na
concepção semiótica. É especificamente sobre isso que trataremos a seguir.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
38
Tempestades de sentidos
As variedades de acepções sobre o espaço dão margem a generalizações que envolvem tanto
realidades físicas, quanto lugares concretos, e abstrações metaforizadas que se reportam a sensações,
qualidades e julgamentos que passam a compor os espaços cognitivos, ambos passíveis de apreensão
pelo sujeito que o interpreta e dá-lhe significado. Neste contexto, tanto lugares cognitivos refletem o
concreto, quanto esses são influenciados por aqueles e emitem significados que podem operar uma
tempestade de sentidos.
Definir o espaço, sobretudo o concreto, é aceitá-lo pela sua materialidade, pelo que os lugares, de
fato, são, como o campo, a cidade, o bairro, o edifício, a sala e que reúne uma forma susceptível de erigir
uma linguagem espacial que permite falar de uma coisa diferente do espaço em si, da mesma forma que a
linguagem sonora, por exemplo, não tem a função de falar dos sons, como explica Greimas34.
34
GREIMAS, Algirdas Julien. Por uma semiótica topológica. Em: Semiótica e ciências sociais. p. 116.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
39
O espaço pode ser tomado, na visão semiótica, enquanto texto – uma organização orgânica de
sentido. Como o texto, o espaço envolve:
a) O fixo, que vai do mais amplo ao mais restrito, ou seja, do arranjo territorial (localização das
cidades, dos países), passando pelo arranjo urbano (a cidade em si, seu bairros, suas
regiões), pela aglomeração das construções, seus contextos, localizações, pela arquitetura dos
aparelhos urbanos, sua técnica construtiva, seu estilo e, por fim, pela composição das
estruturas internas, suas divisões, seu mobiliário; e
b) O móvel, resultado do uso do espaço, do movimento do homem, sua circulação no elemento
fixo, sua mobilização corporal que revela a dinâmica do espaço afetada pela interface das
pessoas com seu ambiente.
Ambos elementos, fixo e móvel, interagem com a percepção visual, auditiva, olfativa e térmica,
permitindo vivenciar, experimentar e a interpretar o espaço.
Ao determinar suas coordenadas pessoais dentro do espaço fixo, o homem cria zonas de
distâncias ou de aproximação, estabelecendo o que Edward Hall entende ser uma dimensão oculta que
delimita implicitamente os limites de deslocamento do corpo e sua relação com outros corpos.
Desenvolvida entre as décadas de 50 e 60 e denominada de proxêmica, a teoria de Hall baseia-se no
estudo do território pessoal como um espaço mínimo onde as relações humanas se dão, de modo a
permitir a interação interpessoal. O autor aponta quatro distintas zonas de distância em que as pessoas
vivem, que são a pública, a social, a pessoal e a íntima.
Tais zonas, quando visitadas pelos estudos de Julius Panero e Martins Zelnik35, podem ser
percebidas conforme a Figura 5 e são a soma das intenções, interações, conhecimentos e
comportamentos sociais que regem o espaço pessoal.
Figura 5 – Zonas de distâncias propostas por Edward Hall (1966)
35
PANERO, Julius, ZELNIK, Martins. Las dimensiones humanas en los espacios interiores. p. 39.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
40
A semiótica entende por proxêmica36 uma disciplina que analisa a disposição dos sujeitos e dos
objetos no espaço, bem como as significações resultantes do uso que tais sujeitos fazem do espaço. Para
explorar a linguagem espacial, ela se preocupa em entender os critérios que organizam tais relações,
considerando que as percepções são provenientes do mundo exterior – exterioceptividade –, mas que
estão relacionadas a pressupostos individuais de cada sujeito – interioceptividade –, que são resultantes
da percepção que ele, o sujeito, possui de seu próprio corpo no espaço – proprioceptividade37.
Com efeito, a relação homem-espaço é construída pelo que é visto na forma externa e interpretado
a partir do repertório pessoal de cada sujeito, ou seja, pelo modo como ele vivencia, absorve e julga o que
está posto no ambiente mostrando, através de seus movimentos, os valores que o fizeram definir sua
trajetória.
Jean-Marie Floch38, ao analisar os trajetos dos viajantes do metrô de Paris, afirma que “un trajet
n’est pas une suite gratuite de mouvements et de stationnemnts, une pure gesticulation. Choisir d’analyser
sémiotiquement les trajets des voyageurs, c’est postuler qu’ils ont du sens, même si l’on ne sait pas encore
comment articuler celui-ci comment en construire la signification.”
Para o semioticista francês, os trajetos são textos, semioticamente falando, e as diferentes formas
de vivê-los constituem programas de ação que correspondem ao percurso narrativo mínimo do transeunte,
assim visto, o trajeto é marcado pela seqüência de atos do sujeito que o realiza. O sujeito transeunte deve
obter as competências necessárias à ação e execução de sua perfórmance, fazendo co-existir um ser que
vê e um ambiente que se propõe a ser visto.
Os trajetos, ao se concretizarem, mostram uma seqüência macro-gestual (em movimento versus
parado; lento versus acelerado) ou proxêmica (próximo versus distante) postulada no sentido da busca de
algo e, portanto, constituído de valores para um sujeito que os tornam objeto de valor. De fato, a escolha
36
GREIMAS, Algirdas Julien, COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. p. 359-360.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
41
do trajeto indica táticas de uso do ambiente, movimentos/gestos próprios que a estruturação da biblioteca
faz fazer. Nesse sentido, a biblioteca pode ser vista como um sujeito competente, um actante que, para
semiótica, é aquele que sofre ou realiza o ato39, podendo ser seres ou pessoas, já que participa do
processo através da organização do percurso que deseja que o sujeito-usuário percorra.
Contudo o trajeto do usuário da biblioteca resulta de uma escolha proveniente da exterio e
interioceptividade dele, mantendo a relação do corpo do sujeito com o espaço utilizado –
proprioceptividade. Com efeito, o usuário, ao determinar sua rota, mostra claramente o modo como vê e
vivencia a biblioteca, como a percebe, e ela, ao se colocar na condição de enunciadora, assume o modo
como articula o que deseja que o usuário faça.
Sob este aspecto, é que residem os esforços deste estudo, compreender que os trajetos dos
usuários de um serviço público de informação são resultantes do regime de visibilidade que o constrói, do
modo como ele se põe para ser visto e vivido, o que permitirá estabelecer uma tipologia comportamental
que indique como ele é visto e apreendido pelo coletivo heterogêneo.
Eleger o trajeto do usuário de uma biblioteca pública para estudo implica, inicialmente, reconhecer
que ele necessita ser possuidor de habilidades que permitirão o seu encontro como objeto-valor procurado
e que existem duas trajetórias passíveis de análise: uma que diz respeito aos deslocamentos físicos no
ambiente da biblioteca e à outra que representa o percurso intelectual realizado pelo usuário para
identificar a obra, o assunto a ser lido. De fato, o percurso intelectual é resultante da consulta às obras para
localização do assunto a ser pesquisado que é desenvolvido, minimamente, através de um programa que
envolve a identificação do tema, a localização no acervo, a leitura ou as leituras necessárias que permitem
a assimilação da informação. Enquanto que o percurso físico envolve o deslocamento no espaço; a
construção lógica de uma passada após a outra necessária para que os corpos movimentem-se no interior
Idem. p. 175, 239 e 357.
FLOCH, Jean-Marie. Êtes-vous arpenteur ou somnambule? Em: Semiotique, marketing e comunication. p. 22.
39 GREIMAS, Algirdas Julien, COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. p. 12.
37
38
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
42
da biblioteca. Tal percurso decomposto mínima e linearmente, efetiva-se pela entrada do usuário na
biblioteca seguida do deslocamento até o catálogo ou até o atendente, a recuperação da informação no
acervo, a retirada e posse da obra para leitura no salão onde se efetua sua consulta e dá-se o encontro
com o objeto-valor buscado, a informação.
O trajeto de consulta é subjetivo, pois depende da necessidade e do entendimento individual e é
manipulado no interior do catálogo, pela indexação e pela catalogação. Um usuário que busca, através do
assunto, uma obra sobre marketing poderá encontrar uma remissiva do tipo “ver também mercadologia”,
por exemplo. Já o trajeto físico pode ser manipulado pela ambientação à medida que orienta o
deslocamento do usuário e deve, portanto, agir como um adjuvante de seu fazer.
Reconhecer a existência dos dois trajetos significa que, ao se deter no estudo do trajeto físico,
essa pesquisa buscará, a partir da análise dos regimes de visibilidade da BPEAM, propor um
refuncionalizar dessa instituição pública de modo a ampliar sua interação com a comunidade amazonense.
O presente estudo pretende ser inovador quando, ao analisar o trajeto como percepção do
comportamento espacial e cinestésico não se detiver, como visto anteriormente, no estudo do movimento
do usuário no interior de uma biblioteca pública, até porque ele acontece no espaço fixo, instalando, nele,
sua ação. Com efeito, o trajeto como uma forma de estudo do comportamento do usuário objetiva analisar
as dificuldades de integração, levantar a cartografia do percurso de modo a explorar positivamente os
pontos fortes e fracos do meio ambiente e estruturar, com competência, os recursos disponíveis, de forma
a possibilitar o uso adequado da biblioteca e perceber, no espaço fixo e no móvel, o que, de alguma forma,
influencia o olhar do usuário.
Instalar um olhar sobre o trajeto implica focalizar a lente da análise sobre os elementos que,
externa e internamente, são captados pelo usuário e que são determinantes da posição de comunicação
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
43
que a biblioteca assume para se tornar visível. Tais elementos – o arquitetônico, a ambientação e a
sinalização –, compõem um olhar panorâmico que examinaremos a seguir.
U
MO
LHAR PPANORÂMICO
ANORÂMICO
UM
OLHAR
P
ara persuadir o olhar do usuário de modo a obter sua adesão e, conseqüentemente, sua
disposição em utilizá-la, a biblioteca se coloca para ser vista, inclusive, pelo modo como
ocupa o espaço que é manifestado através da localização de seu edifício, da sua
arquitetura exterior a qual busca transmitir ao público a importância das atividades que
ocorrem em seu seio, bem como através da concepção, desenho e funcionalidade da arquitetura de seu
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
44
interior, sua ambientação e sua sinalização. De fato, os arranjos dos espaços interno e externo são, de
certo modo, formas de a biblioteca se fazer ver, como um pólo de cultura.
Um olhar panorâmico dedica-se a examinar os regimes de visibilidade que bibliotecas em diversos
países instalam através dos seus textos espaciais sem, contudo, investigar aquela que é objeto de nosso
estudo. Tal estratégia objetiva chamar a atenção para as construções das outras bibliotecas para que, ao
cotejá-las no próximo capítulo com a existente em Manaus, ampliarem as possibilidades de entendimento
do modo de se fazer ver da biblioteca amazonense.
Para desencadear tal exame, a princípio, faz-se necessário entender que a enunciação não é
apenas o lugar de um só sujeito, mas o lugar de um sujeito complexo: um eu em relação com um outro,
ambos localizados num contexto referencial, como afirma Lúcia Teixeira40. Logo, o sujeito que enuncia – a
biblioteca –, ao mesmo tempo em que se projeta no discurso, para marcar sua encenação, instala nele
aquele a quem o discurso é enunciado – o usuário –, e constitui, como ainda esclarece a autora, duas
instâncias de poder entre as quais circulam não só uma fala, mas também um contexto em que se definem
papéis e uma estratégia argumentativa que marca a finalidade do discurso, de modo que a enunciação
enunciada pela biblioteca se constitui de um conjunto de marcas identificáveis que objetivam sua
apreensão pelo usuário, remetendo-o à instância da comunicação que lhe é dirigida e para qual, pelos
procedimentos de enunciação, ele é convocado a entrar em relação.
Analisar, portanto, o olhar do enunciador é mais do que encontrar as marcas espalhadas; é mapear
as redes de relações formais e os efeitos de sentido decorrentes, é elencar suas estratégias de persuasão,
ou seja, é na “cena enunciativa”, entender os valores investidos no discurso – preâmbulo de como a
biblioteca deseja ou não ser legível, apropriada, descoberta pelo seu usuário.
Entretanto, antes de proceder qualquer análise, faz-se necessário entender que, ao enunciar-se
pelo espaço, a biblioteca o faz através de uma das duas acepções que a semiótica possui sobre ele. A
40
TEIXEIRA, Lúcia. As cores do discurso. p. 92.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
45
primeira, espaço lingüístico, é determinada pelo momento da enunciação através de marcas instaladas no
enunciado, ou seja, é o espaço dos actantes. A segunda, o espaço tópico, é ao mesmo tempo “lugar que
se fala e dentro do qual se fala”41, isto é, o espaço pluridimensional onde os corpos estão dispostos.
Com efeito, o espaço lingüístico se distingue do tópico pela existência, no primeiro, de
demonstrativos e advérbios que desvelam a cena enunciativa situando a presença do actante no discurso,
enquanto que o outro está relacionado com o sentido de uso do espaço produzido e/ou consumido pelo
homem, descrevendo-o e interpretando-o.
Para analisar as manifestações do espaço tópico, faz-se necessário perceber inicialmente que:
a) o espaço construído, não necessariamente edificado, é lugar do homem, feito pelo homem,
para o homem. Nele estão contidas suas inseguranças/seguranças mais elementares e, portanto,
sua disposição torna-se portadora de sentido, de significados;
b) a distribuição espacial, sua circulação, sua continuidade ou contrates, sua modernidade ou
monumentalidade, são manifestações de uma intenção, de uma provocação, que mostram o
modo de ser e de agir de uma sociedade; e
c) o espaço social é determinado pelo comportamento, conhecimento e aspirações de uma
sociedade, tornando-se um produto de suas necessidades.
Assim visto, o estudo do espaço pode ser realizado a partir de duas abordagens distintas. A
primeira, que engloba os itens A e B, focaliza os processos pelos quais a sociedade se inscreve no espaço,
a forma como ela o constrói, efetivando as transformações que o amoldam para o seu uso. A segunda,
item C, envolve o sentido que o espaço dá à sociedade, ou seja, no processo contrário ao anterior, é o
modo como o espaço revela a sociedade. A esse sentido dual, Greimas42 o denominou respectivamente de
significante espacial e significante cultural que constituem dimensões susceptíveis de análise.
41
GREIMAS, Algirdas Julien. Por uma semiótica topológica. In: Semiótica e ciências sociais. p. 117.
42
Idem. p. 118
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
46
As análises sobre as articulações de sentido do espaço, em ambos os casos, permitem a
compreensão de como ele está estruturado, como os homens organizam sua sociedade e como a
concepção e uso que o homem faz do espaço sofrem mudanças tendo em vista que um destinadorprodutor o constrói para que um destinatário-leitor interaja com o seu objeto-mensagem, o que resulta na
sua produção enquanto artefato. O espaço pode ser considerado como um texto que produz significações
e caracteriza-se como objeto de comunicação, uma vez que é portador de uma infinidade de significações
que proporciona seu uso e inter-relaciona o destinador e o destinatário.
Uma vez que o espaço-artefato é fruto de um projeto, de uma proposta, de uma intenção,
Greimas43 identifica como princípios imanentes de sua produção os elementos estético, político e racional
que, implícitos em toda obra, devem ser ponto de partida para qualquer leitura que venha a ser feita sobre
ele. Isto permitirá o exame do sentido da manifestação textual através da análise de seus princípios
geradores que comportam o significante espacial e o sentido profundo do texto.
De fato, a manifestação ocorrida no espaço, vista pela sua globalidade, permite leituras que só
podem ser concebidas a partir da desarticulação do todo em suas partes construtivas, o que possibilita que
os valores em jogo sejam tratados, como propõe Greimas, pelos três sistemas – estético, político e racional
–, que visam à análise de conceitos como belo e feio, bom e mau, útil e inútil.
A análise estética, que articula o sentido de “feio” e “bonito”, é uma categoria abstrata que irá valerse da harmonia, da composição, do equilíbrio e do ritmo para mostrar o sentido. A análise política articula a
relação do espaço com o projeto de sociedade pretendido e revela a dinâmica social da ocupação do
ambiente. A análise racional atenta-se para compreensão da função ou disfunção que a obra arquitetônica
mostra.
Uma vez apreendido o estatuto que mediatiza a construção do espaço pelas categorias
gremasianas, outras combinações necessitam ser elencadas para auxiliarem no entendimento das
43
Idem p. 115-141.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
47
estratégias utilizadas pelo produtor do texto-espaço, como destaca o próprio autor ao considerar que a
significação se constrói sobre a diferença, mas se erige sobre a identidade de um determinado ambiente44.
Coelho Neto45, em sua obra A construção de sentido na arquitetura, elenca os “eixos
organizadores de sentido do espaço” que permitem a decomposição descritiva de modo a desarticular o
todo que são: interior vs exterior; privado vs comum; construído vs não construído; artificial vs natural;
amplo vs restrito; vertical vs horizontal e geométrico vs não geométrico. Ao se estabelecer uma relação de
contrariedade entre os dois termos permite-se a identificação e descrição dos traços do ato da enunciação
no produto enunciado.
De certo modo, os elementos propostos por Greimas complementam-se através dos eixos de
Coelho Neto e, quando associados, permitem a ampla interpretação do sentido do texto–espaço,
contribuindo sobremaneira para o entendimento dos valores e competências gerados pelo enunciado
espacial e reconstituem as marcas da enunciação.
A análise da organização lógica do enunciado espacial da biblioteca, a partir do que propõem os
autores, permitirá leituras integralizadoras conferindo significado àquilo que o usuário vê. Ao contemplar as
manifestações do espaço fixo, externo e interno, este capítulo se deterá, em seguida, na decomposição do
sujeito biblioteca, a partir do que propõe Greimas e Coelho Neto, visando a entender as estratégias que ela
se utiliza para se fazer ver.
À medida que, tanto a ambientação quanto a sinalização influenciam também o fazer interpretativo
deste olhar, os estudos de Jean-Marie Floch sobre a ideologia dos móveis analisada no texto La maison
d’Epicure, capítulo da obra Identité visuelles, subsidiarão o estudo sobre os efeitos de sentido que a
ambientação da biblioteca produz no usuário, e os de John Kupersmith, que possui os mais significativos
estudos, na literatura americana sobre a constituição de um sistema de sinalização para bibliotecas, sendo
44
45
Cf. FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação. p. 32-39.
COELHO NETO, José Teixeira. A construção de sentido na arquitetura. p. 6-74.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
48
referenciado nos mais diversos trabalhos que tratam do tema, bem como os de Reynolds e Barrett autores
da obra inglesa Signs and guiding for libraries, publicada em 1987, que trata da pragmática dos sistemas
de sinalização de biblioteca, serão basilar para a composição dos estudos apresentados neste capítulo.
São estes elementos – arquitetura interna e externa, ambientação e sinalização –, que se colocam
no espaço fixo da biblioteca, determinam a circulação em seu espaço móvel, influenciam e manipulam o
deslocamento do usuário, sua mobilização corporal e mostram como a dinâmica do espaço afeta a
utilização de seu ambiente que se dá através do olhar interpretativo daqueles que a freqüentam, tendo em
vista que
“l’analyse qui prévalait alors était, précisément, de refuser les dispositifs symboliques attachés aux du
savoir. Les entrées majestueuses, les escaliers nobles, les parquets craquants, la hiérarchie spatiale (la
salle d’étude à l’étage, la salle de prêt au rez-de-chaussée), les paliers à franchir, l’opicité des
circulations: tous ces éléments, considérés comme des obstacles, à la fréquentation, ont fait l’objet d’une
condamnation générale et ont inspiré, par contrepied, d’autres dispositifs susceptibles de faciliter l’accès
aux lieux. La vitrine sur la rue, la lisibilité de l’organisation interne, le décloisonnement des plateaux, la
libre circulation à intérieur des locaux: ces aménagements ont été promus par les bibliothécaires, dans
l’idée, sans doute ingénue, que le décloisonnement spatial devait permettre de surmonter les
cloisonnements sociaux”46
Com efeito, o espaço-biblioteca deixa pistas que marcam sua intencionalidade de informar,
comover e fazer agir o usuário que seleciona, organiza e dota as mensagens de sentido através da
movimentação de seu corpo no ambiente, e seus trajetos são resultados da interação que ele assume ao
deslocar-se no espaço demarcado pelas cartografias do serviço público de informação.
Espaço demarcado
A arquitetura, ao demarcar as fronteiras e limites do homem no espaço construído, opera de forma
globalizante na relação espaço-tempo do fruidor e age ativamente sobre a sua mobilidade corporal. De
fato, o movimento humano dentro de um determinado espaço é resultado da percepção visual, auditiva,
olfativa e tátil que, em conjunto, estabelecem a consciência espacial e definem o deslocamento do corpo a
partir, inclusive, da interpretação de características bi e tridimensionais como extensão, tamanho, forma,
46
BERTRAND, Anne-Marie. La bibliothèque dans l’espace et dans le temps. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.). Ouvrages et
volumes: architecture et bibliothèques. p. 136.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
49
profundidade, largura, distância, entre outros. Pode-se afirmar, então, que o movimento humano é um ato
de comunicação instalado através de seus deslocamentos e efetivado pelos seus trajetos no ambiente
delimitado pela obra arquitetônica.
Uma produção arquitetônica não é ingênua, pelo contrário, ela se articula para colocar-se, de certo
modo, no dia-a-dia daquele que ela abriga e que convive com suas formas interativa e subjetivamente.
Como qualquer texto, a arquitetura se manifesta pela localização no tecido urbano, pela
materialidade através da cor, textura, transparência, opacidade, geometricidade e pela dinâmica que
sintoniza o que, de fato, ela deseja comunicar. O prédio do Museu de Arte de São Paulo – MASP, na
avenida Paulista em São Paulo, por exemplo, é um argumento contra a verticalidade dos demais edifícios e
marca, pela contestação de suas formas, sua presença horizontalizante no espaço urbano. Ao diferenciarse dos demais, inclusive pela cor vermelha que usa, chama a atenção para o que abriga em seu interior: a
arte – expressão particular, individualizada, modo de ver o mundo a partir do que cada autor percebe e que
é manifestado através de suas obras, impõe ser visto com formas de vida, modos de visibilidade
coexistentes e para os existentes.
Logo, o material empregado na construção, o projeto do edifício, o estilo adotado, as cores e
formas que compõem o conjunto arquitetônico, a localização no meio são elementos constitutivos do plano
de expressão e de conteúdo que manifestam o sentido do texto. Este, por sua vez, possui uma
complexidade de interpretação que não se esgota no que é visível ao olhar físico, mas revela-se também
pelos sentimentos e sensações que provoca no seu observador-fruidor muito bem explorado, por exemplo,
pelos parques de diversão através da atração Casa do Terror ou Trem Fantasma, sempre evocando
através do negro da parede, da pouca iluminação, da textura empregada, ou de outras estratégias,
impressões de medo, pavor, terror.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
50
Efetuar estudos sobre o significado do espaço construído para biblioteca, implica primeiramente
observar que ela só pode ser apreendida se relacionada a um lugar diferente, ou seja, ela está colocada
para ser assumida como espaço de informação e de conhecimento, independente das variáveis que possa
apresentar – pública, especializada, escolar, universitária, nacional, etc. –, de modo a mostrar-se como
significante que, ao ser articulado com o seu significado, estabelece uma relação de uso que lhe é próprio.
De certo modo, analisar o espaço-biblioteca é entender os sentidos despertados no usuário e colocá-lo
como um lugar de enunciação cuja intencionalidade das marcas intertextuais que produz são orientações
construídas para o uso do ambiente.
De fato, uma biblioteca não é uma casa, um palácio, um templo, um teatro. Através de vários
elementos que evoca e nela se confrontam, ela se pronuncia como um lugar do saber, da conservação, da
pesquisa, propício para auxiliar na mudança de estados de ignorância, como aponta Daniel Payot47, ao
afirmar que
“sont des lieux d’articulation de l’inteligence e du sensible: une bibliothèque est donc un espace doublement articulé, une liaison
de composants qui sont déjá eux-mêmes des schème, la proposition d’une alliance d’elements dont chacun constitue déjà luimême une combinaison de verité et d’espace, d’universalité et de localité, de sens-signification et de sens-sensibilité”.
O edifício da biblioteca está investido de valores que são simbolicamente construídos por duas
dimensões que lhe dão um sentido amplo. A primeira é a de contribuir para o desenvolvimento do indivíduo
– valor de base –, e a segunda é a de proteção aos bens culturais que estão sob sua guarda facilitando,
pela freqüência espacial, a acessibilidade ao conhecimento – valor de uso.
Assim vistos, os prédios não são indiferentes, neutros, eles se inserem no cotidiano, influenciam o
universo urbano, a imagem da cidade e, conseqüentemente, a própria imagem da biblioteca e seu interior
47
PAYOT, Daniel. La bibliothèque comme espace architectural: digression théorique. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.).
Ouvrages et volumes: architecture et bibliothèques. p. 12.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
51
tanto pode invocar um sentido de disposição, de acessibilidade, quanto de escolha, de exposição, de
clausura.
Novamente Daniel Payot48, ao reforçar tal argumentação, afirma que
“En tant qu’architecture, la même bibliothèque parle un langage qui peut paraîte différent: elle nous
renseigne sur la compréhension de l’espace qui a dirigé sa conception, sur la physique qui a déterminé
son ordonnancement, sur la symbolique à laquelle sa construction s’est principalement référée. Là aussi,
la question du sens est présente, mais selon d’outres procédures: distribuitions spatiales, circulations,
continuités ou contrastes avec le tissu urbain, monumentalité ou modestie, facilitation de l’usage ou
manifestation d’une intention somptuaire”.
O edifício da biblioteca é uma manifestação de linguagem para contemplação dos transeuntes. Sob
o olhar do usuário, essa imagem comunica sua função, seus significados plásticos e icônicos, afirmando
sua presença no contexto no qual se insere, provocando ou não os passantes e despertando, no público,
sentidos que variam de acordo com a aparência geral do objeto. Como exemplifica Anne-Marie Bertrand ao
recorrer aos edifícios franceses:
“le Centre Beaubourg [Centre National d’Art et de Culture Georges Pompidou], baptisé «la reffinerie» ou
«Notre Dame des Tuyaux», le vocabulaire s’est enrichi, elargissant les références techniciennes (l’Intitut
national de l’information scientifique et technique comme une usine, l’ESIEE comme un vaisseau spatial)
aux comparaisons animales (l’ancien immeuble du Monde, rue Falguière, en baleine), nautiques (l’Institut
du monde arabe comme la proue d’un navire, la médiathèque d’Evreux comme une «nef à quai», dis Paul
Chemetov) ou guerrières (la Villette comme une forteresse urbaine)” 49
Valci Augostinho50, na dissertação sobre aclimatação ambiental dos prédios de bibliotecas centrais
universitárias, também destaca que o exterior reflete o que lhe vai dentro, exigindo que as especificações
arquitetônicas estimulem as pessoas a entrarem nos prédios.
O arquiteto Horácio Mayano Navarro51, na obra Elementos de la teoria de la arquitectura, afirma
que:
“arquitetonicamente falando, a biblioteca é um problema moderno. Pela descrição as bibliotecas da
Antigüidade e os exemplos das bibliotecas existentes do Renascimento, vê-se claramente que as
grandes coleções de livros eram conservadas simplesmente em habitações ou galerias abastecidas de
estantes, armários ou mesas. Entre estas bibliotecas, a mais famosa na História da Arquitetura é a
Biblioteca Laureziana de Firenze construída por Miguel Angelo para Laurenzo de Médicis. (…) É
Idem. p. 11.
BERTRAND, Anne-Marie. La bibliothèque dans l’espace et dans le temp. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.). Op. cit. p.
139.
50 AUGUSTINHO, Valci. Aclimatação ambiental dos prédios de bibliotecas centrais universitárias. p. 09.
51 NAVARRO, Horácio Moyano. Elementos de la teoria de la arquitectura. p. 186.
48
49
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
52
verdade que para bibliotecas reduzidas nos espaços de uma sala, o sistema clássico de estanteria
fixadas às paredes dificilmente será modificado; entretanto, é completamente inadequado quando se
trata de espaços de uso público.”
Alain Pélissier e Jean-François Pouss52, arquitetos franceses, que discordam das colocações de
Horácio Narravo, afirmam que independente do tamanho e quantidade de espaço disponível, as salas para
bibliotecas foram construídas historicamente considerando a qualidade e o fluxo de uso, bem como sua
contingência funcional que em Éfesos possuía um formato quadrangular (Figura 6) e na Laureziana, dos
Médicis de Florença, Itália, um formato retangular (Figura 7), sendo estas integrantes do que os autores
denominam de primeira geração da arquitetura de bibliotecas. Caracterizam-se por serem compostas de
salas contínuas, como a Biblioteca do Vaticano, em Roma, ou por um amplo salão onde dispõem, junto à
parede, estantes para armazenar o acervo, normalmente tabletes de argila ou rolos de papiro, deixando
livre para circulação o espaço central de modo a permitir uma boa distribuição de luz, inclusive pela quase
ausência de mobília.
Figura 6 – Formato quadrangular da Biblioteca de
Éfesos, Turquia
Figura 7 – Formato retangular da Biblioteca dos
Médicis, Itália
Os autores denominam esta primeira técnica construtiva de bibliotecas de box para livros ou cofres
de livros pela semelhança com caixotes, pela simplicidade que destaca uma pobreza tanto funcional como
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
53
estética e não concentra seus serviços e, finalmente, por estar fechada em espessas paredes, silenciosa
criando uma atmosfera reservada semelhante a um espaço privado, para manter o conhecimento trancado
dentro de seus muros de modo a não querer ser vista. Destaca-se, assim, que essa forma arquitetônica
privilegia a guarda e não o acesso ao conhecimento.
Boullée53 (1785) inaugura, ainda segundo os autores, a segunda geração das edificações de
bibliotecas, destacando, em seus projetos, o exercício à consagração de dar forma a um relicário, a um
conservatório das experiências expressadas pelo homem, transportando seus usuários a um lugar sublime,
por manter em destaque o espaço do acervo. O estilo boulleano se caracteriza por apresentar um formato
alongado como um largo corredor que possui intermináveis estantes onde o usuário deve buscar a obra.
Segundo Michel Melot, na obra Nouvelles Alexandrias, Boullée criou um estabelecimento cultural do
gênero basílica ao deixar aparente as obras para que os usuários pudessem admirá-las e serem por elas
seduzidos, o que tornava irresistível o contato visual mas mantinha os leitores fisicamente distantes do
acervo, separados, inclusive, por uma mureta. Tal arranjo os intimidava pela grandiosidade, destacando,
pelo estilo, a metáfora da biblioteca como memória do mundo e, portanto, a preservação e conservação –
valor de uso –, conforme pode ser observado na Figura 8, a qual permite ainda ver que a iluminação pela
luz natural era fator condicionante da leitura haja vista que os usuários concentram-se no espaço iluminado
e há uma ausência de claridade ao fundo, problemas que, possivelmente, não foram solucionados pelo
estilo boulleano.
PÉLISSIER, Alain, POUSS, Jean-François. De la nature du plan. Techiniques & Arquitecture. p. 102-105.
Etienne – Louis Boullée (1728-1799), arquiteto francês autor da obra Architecture, essai sur l’art e do projeto arquitetônico da Biblioteca Real
da França. Seus projetos se caracterizavam pelo apego à monumentalidade por pressupor que a emoção que a obra arquitetônica deve
52
53
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
54
Figura 8 - Projeto de Boullée para a Sala de Leitura da Biblioteca Real, França.
Labrouste54, em 1840, cria o projeto da biblioteca de Sainte Geneviève, em Paris (Figura 9), dando
destaque não mais à guarda de livros – valor de uso –, mas, ao estabelecer ambientes destinados à leitura,
transpõe o paradigma do acervo para ressaltar o de utilização e acesso ao saber – valor de base. Ao criar
uma atmosfera própria para uso, com a inclusão de mobiliário para que o usuário possa efetuar o mais
agradavelmente possível sua leitura, o arquiteto francês estabelece, ainda segundo Pélissier e Pouss, a
terceira geração dos edifícios destinados a bibliotecas.
Figura 9 – Biblioteca Sainte Geneviève – Paris, nos dias atuais.
A última e atual fase se caracteriza por projetos, os quais dão destaque à divisão interna, de zonas
distribuídas de acordo com a racionalidade do espaço, preocupando-se com o desempenho da função.
Com efeito, Anne-Marie Bertrand, em texto citado anteriormente, destaca que a tradução espacial da
biblioteca é operada pelo seu paradoxo funcional que é o de preservar e oferecer, encerrar e franquear,
transmitir é tão importante quanto à racionalidade da forma que, para ele, deveria ser simples e geométrica. Maiores informações, tanto sobre
o arquiteto quanto sobre suas obras, consultar o site www.greatbuilding.com/architects/Louis_Boullée.html.
54 Pierre François Henri Labrouste (1801-1875), arquiteto francês que acreditava que a arquitetura deveria refletir a sociedade e por isto criou o
estilo chamado de racionalismo romântico cuja distribuição funcional do espaço é o maior destaque. Sua obra foi influenciada pelos aspectos
tecnicistas da sociedade industrial. Acreditava ser a arquitetura um formulário de comunicação onde deveria ser transcrito as fases orgânicas
de uso da edificação e, com isso, expressar coerentemente, as reais necessidades da sociedade. É autor do projeto da Biblioteca nacional da
França, na rua Richelieu, onde está presente a influencia que sofreu de Boullée. Seu estilo influenciou a construção de diversas bibliotecas
americanas, sendo a Biblioteca Pública de Boston a que melhor o retratou. Para maiores esclarecimentos sobre sua obra, consultar o site
www.greatbuilding.com/architects/ Henri_Labroust.html.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
55
conservar e comunicar devendo articular-se através da oferta transparente, colocar-se para seu público
manifestando-se, pelo modo de se dispor no espaço, como um organismo vivo de cultura.
Dessa forma, vêem-se relacionadas na distribuição do espaço interno da biblioteca, as funções
básicas do serviço a ser prestado ao usuário que são:
a)
O depósito para acervo, indicador do processo de conservação e guarda;
b)
As salas de leitura diretamente relacionadas ao uso, cujo objetivo final é o de disponibilizar
o saber;
c)
O ambiente do fichário ou catálogo, como espaço para intermediação entre códigos de
acesso ao acervo;
d)
O balcão de atendimento, como instrumento de interação entre o acervo e o usuário, que
permite ser efetuada a relação entre o sujeito-biblioteca e os seus actantes funcionais;
e)
As salas de trabalho dos bibliotecários, onde se processa o desvelamento do conteúdo da
obra e são definidos os elementos de interação entre acervo e acesso/usuário;
f)
Espaços de sociabilização que deverão permitir o convívio entre os usuários e a cultura
representada, por exemplo, em exposições dos mais variados tipos; e
g)
Ambientes destinados a banheiros, por exemplo, que refletem a preocupação com o
conforto do usuário.
Os programas de competência e perfórmance que são estabelecidos no texto enunciado pela
biblioteca, seguem uma lógica que considera o usuário, em termos semióticos, um enunciatário, instalado
nessa construção. O enunciador, nesse caso, organiza seu discurso através de papéis e ações para que,
ao serem seguidas essas marcas, ele encontre o modo de usar o espaço.
Construídos para abrigar um acervo que venha a ser utilizado pelo homem, os edifícios da última
geração também manipulam seus usuários, pela forma como se apresentam ou como se organizam
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
56
expressando um conteúdo, uma harmonia, uma composição e um equilíbrio que deverão estar em
conjunção com o todo que ele representa.
Nesse sentido, o arquiteto inglês Faulkner-Brown em publicação da Federação Internacional de
Associações de Bibliotecários – FID, recomenda que os edifícios obedeçam a dez exigências para melhor
efetivar seu uso e criar uma ambiência capaz de responder aos anseios dos que a procuram. Tais
exigências são: ser compacta, adaptável, acessível, extensiva, variada, organizada para impor uma
confrontação máxima do leitor e do livro, confortável, com ambiência regular para uma boa conservação
dos documentos, segura, econômica e conservada.
A biblioteca é, então, apresentada como um código que deve ser dominado pelo usuário, pois seu
uso não é intuitivo, mas, apreendido. Ao dominar o código, ele passa a ter reais condições de uso e de
captação dos mais variados significados produzidos.
A localização do conjunto arquitetônico da biblioteca no espaço urbano é resultado de um projeto
político da municipalidade, desencadeando efeitos de sentido sobre aqueles que a usam. Quando central é
manipulada pelos atributos de prestígio e poder que ela exerce principalmente se estiver próxima à
Prefeitura, ao Tribunal de Justiça, à Assembléia Legislativa, por exemplo, edificações que simbolizam o
poder constituído e legítimo de uma cidade. Quando a construção se dá em espaço periférico como bairros
afastados, a localização é manipulada pelo sentido de ampla disseminação dos bens culturais, revestida da
idéia de popularização do saber, como descreve Maria Cecília Diniz Nogeira55, na sua dissertação sobre a
biblioteca pública de Santa Luzia, Minas Gerais, afirmando que “… quanto a localização geográfica, a
biblioteca está situada num dos pontos privilegiados da “parte alta” da cidade, que, por sua vez, é o centro
econômico-político do município. Fica fora da periferia, zona de concentração da classe trabalhadora…”.
Tal assertiva também é reforçada por Anne-Marie Bertrand56 para quem a decisão de construir um prédio
de uma biblioteca é resultante de um projeto cultural, urbano e político dos governos pois, a escolha do
55
NOGUEIRA, Maria Cecília Diniz. Biblioteca pública: contradição do seu papel. p. 66-68.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
57
lugar pode dotar o prédio de uma atmosfera de poder, se central, ou de intimidade, se instalada no bairro o
que requalifica o espaço periférico atribuindo-lhe reconhecimento.
Já as fachadas se colocam, de certo modo, como uma fronteira que separa o interior do exterior,
manifestando valores que, implícitos na obra arquitetônica, criam efeitos de curiosidade, de familiaridade,
de intimidação, de legitimidade, de abertura, de confronto, de nostalgia, de rejeição, de profanação ou
ainda de inteira aceitação. Com efeito, a autora francesa acima mencionada, discutindo os dispositivos
utilizados para criar efeitos de familiaridade, por exemplo, afirma que estes se constituem de três tipos que
são:
“… familiarité avec le lieu, familiarité avec l’institution, familiarité avec la collection. Familirité avec le lieu:
la transparence, les portes vitrées, l’organization des services dans un volume unique, les plateaux
déclosonnés, tout cela participe de la volunté de faire du lieu-bibliothèque une offre directement
compréhensible, où rien n’est caché, soustrait, secret, réservé. Familiarité avec institution: des outils
pédagogiques se multiplient pour démythifier l’établissement et rassurer l’usager, ainsi le Kaléidoscope
distribué à Valenciennes, mais aussi les classiques «guides du lecteur», jusqu’aux publications
accompagnant la construction et précédant lamise en service d’un nouveau bâtiment, comme le Journal
de la Médiathèque à Poitiers, ou Mediatexte à Limoges. Familiarité, enfin, avec la collection : aux
traditionnels efforts de mise en valeur et en espace (tables des nouveautés, présentoirs thématiques), on
peut ajouter des dispositifs-passerelles destinés à susciter la curiosité et encourager la lecture, comme
c’est le cas à Borges avec les «chemins de traverse», qui accueillent, à l’entrée de la section adultes, les
jeunes qui viennent de quitter la section jeunesse, ou à Bobigny, avec les réaménagements toujours
renouvelés des collections … ”57
De fato, fachadas como a da biblioteca pública do Condado de Monroe Bloomington, Indiana
(Figura 10), nos Estados Unidos, ou ainda como as das bibliotecas de Orléans (Figura 11), e de JeanPierre Melville (Figura 12), ambas na França, criam efeitos de curiosidade, de invasão concreta do espaço
exterior, de palco para que os passantes assistam o espetáculo da leitura pública seja assistido pelos
passantes a fim de provocar ou tentar provocar um convite à sua entrada através da exposição de suas
atividades com intuito de despertar o desejo de consumo dos produtos por elas oferecidos, já que quer ser
vista, como descreve Chistine Orloff sobre as de Melville:
“L’atout majeur de la médiathèque Melville est d’être une vaste vitrine, ouverte de plain-pied sur la ville.
La façade n’est plus un obstacle qui sépare le monde de la bibliothèque de la rue, mais une simple peau
BERTRAND, Anne-Marie. La bibliothèque comme projet. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.). Ouvrages et volumes:
architecture et bibliothèques. p. 130.
57 BERTRAND, Anne-Marie. La génie du lieu. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.). Op. Cit. P. 180-181.
56
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
58
qui autorise l’osmose entre les deux espaces. La bibliothèque cesse d’être un sanctuaire, un lieu de
fermeture. Les frontières entre l’interieur et l’extérieur s’estompent, on pourrait presque la qualifier de
bibliothèque extravertie. Le passant y est mis en situation de voyeur.
La façade, dévoilant les profondeurs de la bibliothèque et les activités que s’y déroulent, est un appel, une
invite pour le passant à entrer. Elle révéle l’intimité des lieux, le sage alignement des tables de lecture et
des rayonnages, l’atmosphère studieuse … “58
Figura 10 - Biblioteca do Condado de Monroe Bloomington, Indiana – USA
58
ORLOFF, Christine. La médiathèque Jean-Pierre Melville. Bulletin des Bibliothèque de France, n.5, v. 41, p. 22.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
59
Figura 11 - Biblioteca de Orléans, França
Figura 12 - Biblioteca de Jean-Pierre Melville, França
Já a fachada das bibliotecas instaladas em edifícios históricos , como a da Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro (Figura 13), no Brasil, criam efeitos de preservação, de isolamento, de intimidação, de
reserva de uso de seus espaços, vedando qualquer visibilidade do interior. O passante e a biblioteca estão
isolados pela imponente fachada que instala um sentido de privação, de algo que está sobre todos, uma
vez que uma imensa escadaria de mármore a separa do nível da rua, elevando-a. Assim posta, a biblioteca
desperta um sentimento de nostalgia no usuário, de profanação ao sitio histórico que é enriquecido pelo
prestígio da Antigüidade e que mostra, inclusive, traços e datas do passado registrados em sua fachada,
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
60
rememorizando a identidade da coletividade e apresentando dois tipos de efeitos na intervenção urbana.
Um desses efeitos é o de respeito, gerado pelo espírito de conservação do lugar, de seu valor enquanto
identidade cultural e um outro, mais ativo, é aquele dado pelo importante papel do prédio na localidade da
qual ele é participante e acumulador da cultura local. Os efeitos negativos provocados pela fachada
cessarão somente quando o espaço for apropriado pelo passante que necessita romper com a barreira
física provocada pela fachada para penetrar no universo interior daquilo que, a princípio, não quer ser visto.
Figura 13 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil
Fachadas como a da biblioteca Shiou Junior College em Hitachi (Figura 14), no Japão, que pouco
ou nada mostram do interior, funcionam como um recurso divisor do espaço dentro e fora. Sendo
completamente isoladas, preservam seu interior e, ao querer não ser vista pelo passante, manifestam-se
como um lugar reservado, exigindo que o usuário tome a iniciativa de abrir a porta e entrar, tal como nos
mostra Ana Claudia de Oliveira59, ao analisar os estabelecimentos comerciais.
59
OLIVEIRA, Ana Claudia de. Vitrinas, acidentes estéticos na contidianidade. p. 86-121.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
61
Figura 14 - Biblioteca do Shiou Junior College, no Japão
As bibliotecas chamadas por Michel Melot de as Novas Alexandrias, como referência à grande
biblioteca egípcia da Antigüidade, usam as suas fachadas como uma enunciação para o grande espetáculo
que ocorre em seu interior. Não querem não ser vistas, já que são monumentos que se colocam no espaço
urbano como uma provocação, uma ruptura, um descontinuismo, da ordem urbana, como um convite ao
encontro com a cultura. As fachadas não representam uma fronteira uma vez que, tanto no novo edifício da
Biblioteca Nacional da França (Figura 15), em Paris, quanto no da Britsh Library, (Figura 16) em Londres,
uma praça pública se coloca como intermediadora entre o espaço da rua e o acesso à biblioteca, incitando
o diálogo através da disposição de bancos postos à contemplação do suntuoso monumento, como afirma
Dominique Perrauet ao definir o seu projeto para a da França como “… une place pour Paris. Une
bibliothèque pour la France. Avec ses tours d’angle comme quatre livres ouverts se faisant face et qui
délimitent un lieu symbolique. (…) L’esplanade, grande comme la place de la Condorde, est conçue comme
une place publique accessible sur trois côtés par des emmarchements”60.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
62
Figura 15 - Conjunto arquitetônico da nova Biblioteca Nacional da França, Paris
Dessa forma, através do dispositivo que instala no conjunto arquitetônico, a praça – espaço público
disposto para o descanso, o relaxamento e o lazer do transeunte – , a biblioteca coloca-se como algo que
quer ser vista, admirada, contemplada pelo olhar de seu usuário.
Figura 16 - Conjunto arquitetônico da nova British Library, Londres
60
BLASSELLE, Bruno, MELET-SANSON, Jacqueline. La bibliothèque nationale de France. p. 99 e 108
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
63
Assim postos, o regime de presença da biblioteca no espaço urbano a dispõe para contemplação
do transeunte e a coloca como um convite para a entrada no seu fascinante mundo real e imaginário ou
como uma muralha posta para a defesa do patrimônio que guarda.
O sentido de abertura ou fechamento se prolonga para o interior, à medida que o transeunte, ao
aceitar o convite e entrar, depara com zonas funcionais, organizadas de modo a facilitarem ou não a
determinação do seu trajeto. Tais zonas possuem funções e requisitos distintos, como pode ser observado
no quadro abaixo.
Quadro 1 – Zonas Físicas da Biblioteca
ZONAS DA
BIBLIOTECA
FUNÇÃO
REQUISITOS
Funcional
Zona de
Acolhimento
Receber,
orientar
e distribuir
dos usuários
para as
demais
dependências
da biblioteca
Sinalizada
Bom conforto
ambiental
Iluminação de
boa qualidade
Acolhedora
Atender
Zona de
as
Confortável
RECOMENDAÇÕES GERAIS
ÁREAS
1.
•
•
•
•
•
•
•
2.
•
•
•
•
Fora do controle de ruídos
Informação Geral
•
Guarda volume
Banheiros
Telefones públicos
•
Cafeteria
Expositores gerais
Reprografia
Dentro do controle de ruídos
Catálogo
Balcão de Atendimento
Expositores de novas aquisições
Leitura informal como jornais,
revistas genéricas
3.
•
Atendimento
Balcão
de
devolução
empréstimo
Orientação bibliográfica
Estudo/Consulta
Individual
Grupo
Uso de material especial
•
4.
•
•
5.
e
Aclimatação adequada
Iluminação: fluorescentes
De 20 ampères
•
Umidade do ar:
em torno de 40 a 70%
•
Iluminação:
100 ampères
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Prestação de
demandas
Agradável
Serviços
Zona de
Estoque
informacionais
Armazenar
os recursos
informacionais
Aclimatação
adequada ao
suporte
•
•
•
•
6.
•
•
7.
8.
•
•
•
Vídeo
Microformas
Áudio
Slide
Exposição
Fixa
Móvel
Auditório
Áreas especiais
Infantil
Cegos
Outras
9.
Livros
10. Periódicos
11. Materiais especiais
12. Referência
ZONAS DA
BIBLIOTECA
FUNÇÃO
Processar
dos recursos
informacionais
Zona de
Serviços
Internos
Administrar
os serviços
necessários
para o bom
funcionamento
da biblioteca
REQUISITOS
Controle de
temperatura
Controle do
nível de
ruídos
ÁREAS
13. Recebimento e expedição do
material
• Aquisição
• Intercâmbio
14. Processamento Técnico
• Registro
• Catalogação
• Classificação
• Indexação
• Alimentação da base de dados
64
• Mesas:
1 pessoa: 1,10x0,90
4 pessoas: 1,80x1,20
Redonda para 4
Pessoas: 1,20 φ
•
Controle do nível de
ruídos
• Segurança contra
furtos e incêndios
• Umidade do ar em torno
de 55%
• Iluminação
fluorescente com filtro distante
das estantes
entre 0,80 a 1,70
RECOMENDAÇÕES GERAIS
Disposta de modo a
permitir fácil acesso
a coleção e ao catálogo,
quando este
não for automatizado
Umidade do ar: 45%
• Preparo físico
15. Direção e secretaria
16. Banheiros
17. Encadernação
A organização interna da biblioteca pode ser vista como um microuniverso urbano que se alterna
entre zonas mais densas, como as de acolhimento – igual às áreas centrais de uma cidade –, de prestação
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
65
de serviço, com espaços de convívio entre o saber e o usuário que se manifestam através de um hall, um
átrio, uma praça com cruzamentos que permitem a integração e de zonas menos densas como as
destinadas aos serviços técnicos – igual à periferia. A disposição do espaço interno não é ingênua, ela é,
sim, carregada de efeitos de sentido que manipulam o uso do espaço cultural, e podem evocar o sentido
de unidade, quando centraliza em um único lugar a coleção, ou de disponibilidade quando, ao procurar
responder à diversidade de públicos, setoriza seu acervo em espaços distintos, ou ainda de adaptabilidade
quando distribui sua coleção de acordo com os níveis dos usuários como o infantil, o adulto, o deficiente
visual.
Uma outra forma que expõe a intencionalidade do arranjo espacial pode ser entendida a partir da
localização do acervo na estrutura interna: se central mostra que ele é considerado o bem mais importante,
o que a biblioteca possui de mais valioso, que deve ser melhor protegido, como se fosse o seu coração e,
ao adotar essa postura, ela assume tacitamente que valoriza mais a guarda dos artefatos culturais e que
sua missão é preservação e a conservação. Já ao determinar que o uso do espaço central seja destinado a
exposições culturais, ela indica valorizar o acesso a qualquer tipo de informação porque, também distribui
seu acervo pelo ambiente que dispõe.
Ao analisar a disposição do acervo no interior dos edifícios, Navarro61 os classifica em:
a) Vertical - com sala de leitura iluminada por ambos os lados, onde os livros estão dispostos em
estantes as quais são colocadas junto às paredes e os depósitos se estendem perpendicularmente pelos
diversos pavimentos, como é o caso da Biblioteca Nacional do Chile, em Santiago (Figura 17). O acervo é
valorizado pelo olhar, e, como no estilo boulleano, a contemplação da obra na estante conduz a idéia de
relicário, posto para ser admirado, visto sob todos os ângulos, de modo a fazer-se presente em qualquer
olhar. Assim colocado, o arranjo valoriza os artefatos culturais ao expô-los e desperta, no usuário, um
61
NAVARRO, Horácio Moyano. Elementos de la teoria de la arquitectura. p. 188-193.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
66
sentimento de impotência de assimilação de todo o conhecimento ali armazenado. Além de reforçar a
metáfora da biblioteca como memória do mundo, esse regime de organização da visibilidade do acervo
indica que ela não quer não ser vista como um agente de desenvolvimento, mas sim como um lugar de
guarda.
Figura 17 - Biblioteca do tipo vertical: Biblioteca Nacional do Chile, Santiago
b) Paralela - com amplo salão de leitura que está disposto em sala diferente da destinada ao
acervo embora em alguns casos, este esteja visível ao usuário, porém fora do seu alcance, como é o caso
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil (Figura 13). Separado do usuário, o arranjo do acervo
aponta que o convívio direto é algo proibido, que sua intenção é de preservar os bens culturais mostrando
a biblioteca como uma zelosa instituição que quer, dado o regime como dispõe a coleção, não ser vista
pelo leitor.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
67
Figura 18 - Biblioteca do tipo paralelo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil
c) Circular - com o balcão de atendimento disposto em um círculo bem ao centro do salão de
leitura, na área destinada aos leitores, e os depósitos para o acervo postos entre o balcão e o salão, como
a Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos (Figura 19). Valorizando a continuidade, esta exposição do
acervo usa da estratégia de cumplicidade com o usuário, já que disponibiliza, no mesmo ambiente, o
acervo que vai ser consultado e que, portanto, é organizado a partir de um querer ser visto pelo usuário.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
68
Figura 19 - Biblioteca do tipo circular: Biblioteca do Congresso, Estados Unidos
Vê-se, desta forma, que a distribuição interna do espaço pode ser constituída a partir da geração
de um sentido de convívio, de sociabilidade que se acentua quando a biblioteca mantém um café62, uma
lanchonete, por exemplo, onde a conversa e a troca de idéias entre os usuários pode permitir o
rompimento do isolamento natural da leitura, ou ainda quando há a concepção de um ambiente destinado a
debates, reuniões, clube de leitores, que permite a manifestação dos usuários, e, assim, a instituição passa
a ouvir o que o coletivo pensa sobre o assunto proposto para discussão.
Para facilitar o processo de distribuição interna do espaço, atentando para a relação de
proximidade das principais áreas da zona de prestação de serviços, a Escriba63 - Manual de planejamento
de bibliotecas –, sugere que se observe a seguinte orientação:
Empréstimo
Devolução
Controle de saída de livros
Orientação bibliográfica
Fichário
Leitura formal
Leitura informal
Referência geral
Leitura geral
Literatura clássica e moderna
Mapas
Periódicos
Jornais
A
B
E
B
B
E
E
B
C
E
E
B
A
E
C
C
E
B
C
C
E
B
E
E
C
D
E
B
B
E
E
C
E
B
D
C
B
E
B
E
C
C
D
C
C
E
B
B
A
C
C
C
E
E
E
C
A
C
E
E
E
E
C
E
E
E
E
E
E
E E
B B B
E B B B
Grau de proximidade:
A
Mais próximo
B
Próximo
C
Separado
D
Mais separado possível
62 Na biblioteca de Orléans (Figura 11), na França, a cafeteria ocupa 143 m2 do mezanino – 50% do espaço –, e está alocada ao lado do setor
de xerox.
63
ESCRIBA. Manual de planejamento de bibliotecas. p. 04
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
69
Figura 20 - Modelo Escriba para distribuição do espaço interno
Observa-se, pelo esquema proposto pela Escriba, que o empréstimo, a devolução e o controle de
saída de livros devem ficar o mais próximo possível contudo ele tem que ficar o mais separado da leitura
formal.
De fato, o lugar biblioteca deve ser apreendido como uma estrutura construída por uma relação
entre partes de modo que seu catálogo, por exemplo, não tenha um significado autônomo, mas sim em
correlação com tudo mais que constitui o ambiente. Existe pois, uma verdadeira teia de significados
expressos na e pela disposição espacial.
As análises da disposição espacial de uma biblioteca permitem reconhecer a existência de uma
estrutura elementar do destinador-produtor e do destinatário-usuário, que se inscrevem no espaçobiblioteca e podem ser, desse texto, depreendidos.
Ao entrar no espaço de uma biblioteca, o usuário assume sua necessidade de contato com os
artefatos culturais que ela aloca e espera encontrar em seu interior a solução ou as respostas para suas
inquietações.
O seu espaço interior é criado para funcionar como um oásis de tranqüilidade que se contrapõe ao
mundo da rua, dos carros, do barulho, ao calor do asfalto ou à umidade de dias frios e à acelerada pressa
do transeunte. O espaço interior da biblioteca está devidamente preparado, com uma temperatura ideal,
uma serenidade que, sem pressa, opõe-se à cidade que fervilha, provocando um isolamento ideal para a
reflexão, para o estudo.
Ao dirigir-se para o interior da biblioteca o usuário rompe a barreira com mundo exterior, deixandose ser manipulado pela tentação de uso de um ambiente agradável e capaz de dinamizar sua busca pelo
saber.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
70
Observa-se que, na maioria dos edifícios de bibliotecas construídos contemporâneamente o
primeiro espaço de contato, colocado antes mesmo do balcão de informações, apresenta-se como um
rompimento entre o interno e o externo. Na maioria das vezes, são grandes átrios que, no caso da
Biblioteca Pública de Aichi, no Japão (Figura 21), permite observar, através da vidraça, o exterior.
Figura 21 - Biblioteca Pública de Aichi, Japão
Quanto à organização do espaço interno, os edifícios de bibliotecas possuem uma cartografia que
os divide em dois territórios distintos, sendo um de ampla circulação e outro restrito. Com efeito, as zonas
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
71
de acolhimento e de prestação de serviço estão disponíveis para que todo e qualquer indivíduo nelas
circulem especialmente quando são adaptadas para uso pelos deficientes físicos, visuais ou auditivos
atendendo, desse modo, à heterogeneidade dos públicos que a ela se dirigem. Já a zona de serviços
internos só é acessível aos funcionários, e a de estoque pode ou não ser aberta ao público embora as
recomendações de órgãos internacionais como a UNESCO e a FID, sejam para que a biblioteca promova o
encontro do usuário com as obras através do contato direto.
Nessa cartografia, a biblioteca opera um jogo discreto de restrições que ocorre de forma a não criar
constrangimento ao usuário. Em sua grande maioria a zona de serviços internos está localizada após o
acervo ou no andar mais elevado, por exemplo. Quando estas áreas necessitam interagir com o usuário,
como o balcão de referência, elas, na maioria das vezes, estão colocadas na entrada propondo-se a ser
intermediadoras entre o acervo e as necessidades informacionais.
Os balcões de atendimento, por exercerem a função de ligação entre a prestação do serviço de
informação e o usuário, são fartamente exemplificados na escassa literatura sobre arquitetura de
bibliotecas. O da biblioteca de Ichikawa, no Japão (Figura 22), busca minimizar os impactos causados
pelas restrições, apresentando-se como em uma espécie de supermercado, local que o usuário está
acostumando a freqüentar, cuja intenção é a de criar uma intimidade com o ambiente que se assemelha
com um lugar de consumo, onde a informação é o objeto de valor que o usuário busca.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
72
Figura 22 - Vista dos balcões de referência da Biblioteca Popular de Ichikawa, no Japão
Ainda quanto à zona de prestação de serviços, um outro ponto sobre a privacidade de uso nos
chama a atenção. Trata-se da mesa e cabina do salão de leitura que convocam o usuário para escolher
entre alojar-se em um espaço individualizado e, portanto, restrito, ou em outro que privilegia a convivência
com os demais usuários.
Um exemplo claro é o da biblioteca da Universidade de Wesleyan, em Middletown nos Estados
Unidos (Figura 23) onde o usuário opta entre usar as cabinas, locais reservados, ou a mesa, local coletivo.
Neste aspecto, o entendimento das dimensões ocultas de Edward Hall (Figura 5, Capítulo1), vistas
anteriormente, permite compreender por que a maioria dos usuários elegem as cabinas para se
acomodarem à medida em essas representam o respeito ao seu espaço pessoal privado.
Com efeito, pesquisas americanas64 indicam que a preferência por mesas coletivas dá-se quando
do trabalho em grupos e que, nesse caso 97% são compostos por duas ou três pessoas. Lamar afirma
ainda que a preferência pela privacidade em bibliotecas está relacionada com o ato isolado da leitura que
envolve o imaginário e as emoções individuais sendo por isto, que a demanda por uma área íntima é tão
grande já que a solidão, a intimidade, o anonimato e a reserva passam a ser uma exigência do usuário. O
autor finaliza afirmando que “because privacy involves the control of acess to oneself by other, it has
64
VEATCH, Lamar. Toward the environmental desing of library buildings. p. 361-376.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
73
implications for library designs. In public areas means providing different types of seating and study areas
so that individuals may make choice depending upon their needs and desires at the time”65.
Figura 23 - Salão de leitura da biblioteca da Universidade de Wesleyan, Estados Unidos
Embora o destinatário-usuário sinta-se investido da competência modal do querer, elegendo a
cabina ou a mesa para seu uso, ele, de fato, é manipulado pelo destinador-biblioteca que não lhe concede
o acesso irrestrito ao seu ambiente e exige dele um comportamento cujas marcas são encontradas nas
placas solicitando silêncio, que se desligue os aparelhos de telefonia móvel, nas salas de estudo em grupo
as quais são isoladas das demais para se permitir a conversa em tom mais elevado, nos tapetes que
abafam o som das passadas, nas luminárias com suas luzes diretas que determinam os locais de leituras,
o carrinho colocado junto às mesas indicando que as obras não devem ser devolvidas às estantes, no
porta-sombrinha posto junto à entrada para que o chão não fique molhado nos dias de chuva, entre outros.
65
Idem. p. 364.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
74
De fato, o uso do ambiente interno impõe normas de conduta e comportamento que levam o
usuário a manter o silêncio, por exemplo, indicando um respeito ao uso do espaço coletivo e é observado
pela educação (o falar alto em um ambiente de estudo representa uma má educação); sendo que sua
ausência se coloca como um rompimento de um código de postura, de bom comportamento, de respeito à
zona pessoal e intima, ou seja, há um comportamento espacial (sonoro, gestual) esperado do usuário e
que pode ser manipulado pela organização espacial .
Assim posta, a organização espacial funciona como informadora e formadora do comportamento
dos usuários no interior da biblioteca fazendo-os agir de acordo com as pistas deixadas no ambiente
interno da biblioteca. Sob este aspecto, especialmente, Coelho Netto66 destaca que “o modo de disposição
e de atribuição de significados ao espaço é na verdade um dos elementos da infra-estrutura do
comportamento humano”.
Figura 24 - Salão de leitura da nova Biblioteca Nacional da França, Paris
Ao elencar as dimensões do comportamento humano, os estudos proxêmicos de Hall permitem
entender que tais procedimentos são resultantes do respeito às zonas íntima e pessoal (Figura 5,
Capítulo1), apresentadas anteriormente. Tal procedimento social implica não violação do espaço do outro,
mostrando que um comportamento é esperado e, portanto, os territórios são estabelecidos para criar uma
66
COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. p. 41.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
75
atratividade ou orientar o uso. Isto se dá, por exemplo, com a criação da seção infantil ambientada para o
uso de crianças com cadeiras e mesas pequenas, com a criação de áreas onde é permitido o fumo ou
ainda com a colocação de um café que privilegia a socialização e o diálogo, lugar ideal para fluir a
conversa.
Após o usuário ter-se deixado manipular pelo que está implícito na distribuição interna da
biblioteca, o contato com o espaço interior apresenta novas marcas através do que está construído espaço ocupado pela construção, pelo concreto ou por qualquer outro material empregado – e pelos
ambientes não construídos.
O espaço construído, edificado, representa uma ocupação que poderá em um primeiro momento
indicar uma privação de circulação, ou seja, o prédio da biblioteca é um território cujas fronteiras são
delimitadas pelas paredes. Nesse sentido, o uso é estabelecido somente para o contato com os artefatos
culturais ali dispostos, opondo-se ao espaço livre, como as praças, por exemplo, onde é possível realizar
uma infinidade de atividades como correr, ler, brincar, descansar.
Assim, o espaço construído, embora possua aspectos positivos como a proteção, o recolhimento,
espera que o indivíduo nele se coloque – para fazer uso da biblioteca é necessário entrar no prédio –,
fazendo com que a obra arquitetônica apresente-se como uma limitação à circulação.
Que estratégia os textos arquitetônicos das bibliotecas poderão utilizar para minimizar os impactos
causados pela imobilidade de uso do espaço construído?
Muitos projetos têm privilegiado a criação de áreas de vivências através de jardins internos, como o
novo prédio da Biblioteca Nacional da França (Figura 25) construído às margens do rio Sena, ou salões de
leitura voltados para uma grande área de janelas que privilegiam a visão de um bosque, como a biblioteca
do Ninhama Municipal Besshi Cooper Nine Memorial, no Japão (Figura 26), ou ainda áreas para uma
livraria ou um café como na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
76
Figura 25 - Biblioteca Nacional da França, Paris
A adoção da estratégia dos jardins permite também a apresentação da análise de duas novas
contraposições do espaço, que são o natural e o artificial.
Em verdade, ao dispor elementos da natureza, a biblioteca procura deixar o usuário mais à
vontade, disjunto da idéia de que o concreto pode esmagá-lo quer por sua verticalidade, quer por seu
modo de aprisionamento. O espaço natural interage no espaço urbano que se destaca pela imperiosa
necessidade de se propor como um lugar agradável e tranqüilo para que efetue o uso.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
77
Figura 26 - Ninhama Municipal Besshi Cooper Nine Memorial, no Japão
No conjunto arquitetônico de uma cidade, as praças se entrelaçam com os prédios, proporcionando
agradáveis locais de descanso e de liberdade, como é o caso do parque localizado em frente ao MASP, na
Av. Paulista, em São Paulo.
Sob este prisma, é que muitos arquitetos têm privilegiado composições com a presença da
natureza em edifícios construídos especialmente para bibliotecas. A natureza se apresenta como elemento
mais próprio do instinto humano. O natural aproxima o homem do que lhe é inerente e o atrai para uma
atmosfera capaz de lhe transmitir serenidade.
Assim se apresenta o prédio da Biblioteca Pública de Imari, Japão (Figura 27), que valoriza os
espaços livres ressaltando a natureza como valor para a comunidade local. Com efeito, a utilização de
jardins assume, como afirma Dominique Perrault67, um paradoxo: “c’est un jardin fondateur du lieu,
évidemment symbolique. C’est un jardin qui apporte le calme et qui filtre la lumière pour lire. L’idée du
cloître qui a été énoncée au moment du concours est une forme de condition de lecture”, e Anne-Marie
Bertrand complementa afirmando que “le jardin est là apporter du calme, le jardin est une image du cloître
d’autrefois, le jardin est une idée de jardin”.
67 Autor do projeto da nova Biblioteca Nacional da França, citado por BERTRAND, Anne-Marie. La bibliothèque dans l’espace et dans les
temps. Em: Ouvrages et volumes. p. 156.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
78
Figura 27 - Detalhe do prédio da Biblioteca Pública de Imari, Japão
A presença da natureza nos edifícios de bibliotecas, através de jardins, reforça o discurso
ecológico do homem contemporâneo, cuja necessidade de preservar o meio ambiente tornou-se
fundamental para sua sobrevivência. Para estar em conjunto com esta nova ordem e manter uma
perfórmance competente, os prédios apresentam áreas verdes, com espécies em extinção que mostram
que a biblioteca pode e quer participar da conscientização preservacionista, fazendo seu usuário
reconhecer sua contribuição para a manutenção do ambiente; o destinatário, persuadido pela presença de
árvores, plantas raras e, por vezes, aves, deixa-se manipular discursos que, em alguns casos, são falsos.
Destaca-se o caso do projeto da nova Biblioteca Nacional da França (Figura 20) que dá destaque a um
imenso jardim interno, com cento e vinte pinheiros silvestres raros trazidos da Normandia, mas que possui
uma imensa escadaria que dá acesso do nível da rua a uma esplanada que serve de base para as quatro
torres em formato de livro aberto, toda revestida de pau-brasil.
Discutindo sobre o espaço da biblioteca e sua arquitetura, Michel Melot68 afirma ser ele resultado
de um imaginário coletivo que toma forma de um jardim pois “il doit méneger de vastes perspectives, des
coins bocagers, des terrasses, du soleil et de l’ombre”, ressaltando a simbologia dos lugares que mantém
uma pequena e representativa parcela dos artefatos culturais produzidos pelo homem, tal como o que
ocorre com os jardins, que reúnem parte de exemplares da natureza.
*****
68
MELOT, Miichel. La forme du fonds. Em: FIGUIER, Richard. La bibliothèque. p. 177.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
79
Os recursos informacionais disponíveis na biblioteca são a sua principal fonte de atração dos
usuários. São esses que dão sustentação à maioria dos serviços por ela oferecidos de forma que, o
destaque à sua disposição, sua organização no conjunto espacial se oferece como ponto fundamental no
texto arquitetônico, até porque, como apresentado anteriormente por Narvarro, a decisão sobre seu modo
de disposição (se junto ou separado do salão de leitura) estabelece o tipo de biblioteca codificado, a saber
como vertical, horizontal ou circular.
No que tange a organização do acervo, pode-se afirmar que as estratégias do texto contemplam o
acesso fechado (restrito) – modelo francês –, onde os funcionários é que retiram as obras para consulta, e
o aberto (amplo) – modelo anglo-saxão –, que permite ao usuário manusear a obra, bem como o conduz a
recuperá-la.
O efeito operado pelo acesso aberto está relacionado à idéia de amplidão, vastidão, imensidão
causado pelo contato direto com a totalidade dos artefatos existentes na coleção. A amplidão remete ao
poder inferir e decidir sobre o deslocamento para esta ou aquela estante, de poder ser o possuidor/leitor de
qualquer uma daquelas obras ali ordenadas; a vastidão como efeito de infinidade – presente na obra do
poeta argentino Jorge Luís Borges através da Biblioteca de Babel –, relaciona-se com o volume do acervo
que é sempre composto de um número realmente imenso de obras, de títulos, de letras, de pensamentos
expressados nos mais diversos suportes e que estão ao inteiro dispor do usuário; e a imensidão é causada
pelo efeito produzido pelo próprio tamanho do espaço ocupado pela coleção da biblioteca que sempre é
marcado por uma quantidade imensa de estantes que estão dispostas em amplos vãos livres, conforme na
Biblioteca Pública de Imari, Japão (Figura 28), onde o usuário pode ler ali mesmo a obra selecionada, junto
ao acervo, sentado em uma confortável cadeira, com iluminação individual acionada conforme sua
necessidade.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
80
Figura 28 - Salão do acervo da Biblioteca Pública de Imari, Japão
O poder de escolher a obra, o título a ser lido compara-se ao direito de transitar, de sentir-se parte
do grupo social para o qual a biblioteca está direcionada, o que permite uma fruição quanto ao uso do
material informacional disposto para o contato direto na estante onde o usuário opera uma seleção em
conformidade com a sua necessidade, seu interesse, seu nível de compreensão e sua capacidade de
aquisição de conhecimentos.
A proibição de acesso ao acervo mostra a idéia de guarda, de preservação, de proteção uma vez
que o fechado apresenta-se como restrito, íntimo, secreto. Associam essas marcas a uma imagem austera,
rígida da biblioteca que parece não estar disposta a reconhecer o direito de uso infinito dos seus usuários.
Outra contraposição que se apresenta nas construções de uma maneira generalizada é a
verticalidade vs horizontalidade, sendo a primeira imediatamente associada ao gótico, na arquitetura, e a
segunda à compactação dos ambientes.
Analisando a idéia da verticalidade, observa-se que ela conduz a dois extremos: ao inferior e ao
superior, ou seja, ao início do eixo vertical que é a base e ao seu fim que é o topo e na construção civil
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
81
podem esses representar uma garagem (inferior) e uma cobertura (superior) de um edifício, por exemplo.
Uma garagem se reporta à idéia de lugar de guarda (estacionamento, depósito), já a cobertura representa
um lugar de status, de estar acima de todos no “topo”, de se ter poder. A árvore é vertical; suas raízes (o
inferior) estão ligadas ao solo que a alimenta e sua copa (o superior), por sua vez, é repleta de fertilidade e
disponibiliza os frutos.
Sob este aspecto, Anne Kupiec69, na obra Ouvrages et volumes, destaca que a verticalidade
também se faz presente, na maioria dos prédios de biblioteca, por uma escada ou mezaninos instalados
para maximizar o uso do espaço. A autora ainda afirma que,
“le choix de la verticalité permet parfois, quand il se traduit par une ascension, ne serait-ce que de
quelques degés, de créer un parcours Qui imprime dans l’édifice, mais aussi dans les corps de celui qui y
entre. Ce parcours, d’abord corporellement sensible, augure aussi de l’avancée vers l’intelligible”.
Em contraposição, a horizontalidade não prende nada ao solo, mas tem amplitude, infinidade – ao
olharmos o horizonte temos a idéia de expansão, de algo que não tem fim –, que embora marcada pelos
limites do terreno e pelos pavimentos, apresenta uma conformidade quando da utilização do espaço, uma
vez que deve comportar as necessidades daqueles que o usam.
Em se tratando de bibliotecas, esta contraposição se faz muito presente no novo conjunto
arquitetônico da Biblioteca Nacional da França (Figura 15). No projeto de Dominique Perrault, as categorias
vertical e horizontal são muito marcantes e estão destacadas através da funcionalidade do espaço. O
vertical – as quatro torres em forma de livros abertos –, é o espaço de guarda do acervo onde as obras
serão armazenadas de forma a contemplar a necessidade de crescimento e buscam atingir o céu como a
Torre de Babel; é o que se vê exposto ao primeiro olhar como se estivesse enraizada no solo que a nutre,
a faz produzir cultura representada em forma de livros. A amplidão é vista pela horizontalidade da
esplanada. Na parte inferior, como que dando suporte à “copa”, dois amplos subsolos – que não são vistos
no primeiro olhar –, estão colocados para a consulta dos mais variados suportes informacionais; dele o
69
KUPIEC, Anne. Introduction. Em: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (org.). Ouvrages et volumes: architecture et bibliothèques. p. 9.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
82
usuário “retira”, através da leitura, os “nutrientes” necessários para ampliar seus saberes uma vez que
estão submersos no universo do conhecimento e encravados no interior da terra já que está edificado no
subsolo. Por sua vez, a geração de conhecimentos implica o surgimento de novos livros, portanto, novos
frutos para a copa.
O homem percebe o meio ambiente e dele faz uso através de seus sentidos, que são comandados
pelo cérebro que obedece a um programa estabelecido pelos valores lingüisticos e culturais que moldam a
percepção do ambiente circundante. Aquele que percebe define-se como sujeito do fazer . Ele efetiva suas
ações de acordo com as informações percebidas e operadas por seqüências de enunciados de fazer.
Operam esses as transformações necessárias para o uso adequado do espaço, alterando constantemente
os enunciados de estado.
Quando se trata do meio ambiente construído percebe-se que este é passível de ser manipulado
de modo a produzir os efeitos desejados para que o indivíduo sinta-se à vontade ou não para utilizá-lo.
Assim a compreensão de que as relações arquitetônicas podem ser manipuladas de forma a
produzir os efeitos de uso desejados é, na verdade, a primeira estratégia concebida para o jogo de
sedução com o usuário que a biblioteca faz. O segundo lance deste jogo é resultado da ambiência criada
pela organização espacial interna – o lay-out –, que se utiliza de muitas estratégias para criar efeitos de
sentido, como será visto a seguir.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
83
Ritos ambientais
O ambiente, o clima e a atmosfera produzidos na biblioteca através da disposição espacial, do
mobiliário, do material empregado em seu interior, do ritmo cromático utilizado bem como pelas formas
criadas, resultam em percepções significantes para o olhar do usuário.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
84
Tais percepções já são significações para o sujeito que as vivencia. Assim, elas determinam o
comportamento, a forma de uso, os movimentos e uma série de sentimentos com relação aos valores
expressos pelo interior da biblioteca.
O estudo da ambientação da biblioteca deve, portanto, ocupar-se de mostrar os padrões e estilos
adotados que influenciam o modus vivante no espaço interior podendo configurar-se como um atrativo ou
como uma repulsa à sua utilização quer seja pela agradabilidade, pela beleza, pelo luxo ou pela praticidade
enunciada.
Jean-Marie Floch, ao analisar os valores existentes no catálogo de móveis de duas grandes
empresas francesas, a Habitat e a Ikea, estabeleceu uma axiologia de consumo do mobiliário que, pela
amplitude de seus princípios, pode ser aplicada para o estudo do ambiente da biblioteca. O autor afirma
que “les tables, les chaises, les lits ou les bibliothèques peuvent être vantés comme fonctionnels et
pratiques, sûrs et solides, modernes ou traditionnels, luxueux et raffinés, ou encore économiques et
astucieux.”. 70 (grifos nossos)
Tomando, por base, os estudos do autor, quatro tipos de axiologias constituem a ambiência das
bibliotecas. São essas que lhe dão identidade através das características existenciais de modo a criar
formas adequadas para favorecer a apropriação do conhecimento, permitir a exploração curiosa dos
artefatos culturais armazenados, beneficiar o imaginário e evitar a não-freqüência. São estas valorizações
ambientais: prática, criativa, histórica e versátil.
70
FLOCH, Jean-Marie. La maison d’Epicure. Em: Identités visuelles. p. 150.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
85
Valorizand
o o uso
A valorização prática manifesta-se através da criação de um ambiente funcional, utilitário, tratado
de modo a despertar no usuário a familiaridade, a intimidade, buscando deixá-lo à vontade para que ele
mesmo faça uso de acordo com as suas necessidades e interesses, despertando sua curiosidade quando
o deixa livre para usufruir do espaço da biblioteca e estabelecer seu próprio trajeto.
Para atingir esse objetivo, o ambiente é composto por mobiliário ergonomicamente adequado,
muitas vezes modular, bem sinalizado de modo a facilitar a livre locomoção, arejado, claro, bem iluminado,
como a biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP (Figuras
29 a 31).
Figura 29 – Detalhes da entrada da Biblioteca da ECA/USP, São Paulo – Brasil
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
86
Localizada no térreo do principal edifício da Escola, a biblioteca tem por objetivo dar suporte às
atividades de pesquisa e ensino da ECA e prestar serviços de informação e documentação especializada
nas áreas de artes plásticas, biblioteconomia e documentação, cinema, comunicação, editoração,
fotografia, música, teatro, turismo, TV e vídeo.
Possui um formato retangular como a Laureziana, dos Médicis de Florence, descrita anteriormente,
sendo seu aspecto construtivo semelhante ao da primeira geração de edifícios, conforme destacado por
Alain Péllissier e Jean-François Pouss, já citados. Como um grande corredor (Figura 30), a biblioteca
concebe seu ambiente sob o aspecto da horizontalidade que dá “sentido imanente, racional, intelectual”71
uma vez que é paralelo à terra sobre a qual o usuário caminha e, portanto, acompanha seu andar,
proporcionando-lhes segurança pela facilidade com que percebe a totalidade do ambiente, o que seguindo
a perspectiva linear do olhar é capaz de localizá-lo facilmente o que também é feito por um projeto de
sinalização bem tratado.
71
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. p. 161.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
87
Figura 30 - Ala esquerda da biblioteca da ECA/USP, São Paulo – Brasil,
com destaque para o sistema de sinalização das estantes
A horizontalidade permite a fruição melhor do ambiente, apresenta um discurso de unidade já que
tudo está disposto quer para direita, quer para esquerda, cabendo ao usuário definir sua locomoção, seu
trajeto, em função da racionalidade, funcionalidade, utilidade expressos pelo texto ambiental. Ao destacar a
linearidade, a visão do conjunto compõe harmoniosamente um jogo entre cheios e vazios, de contrastes
cromáticos, que, em sua simplicidade, valoriza o uso da biblioteca. Isto é possível ser percebido através
da disposição do acervo de livre acesso, posto em frente ao salão de leitura individual ou em grupo,
conforme a vontade do leitor e suas zonas dimensionadas pela violação ou não de seu espaço íntimo e
pessoal, bem como pela sala de leitura informal onde os jornais estão pendurados em um “varal” (Figura
31) preso à parede, o que enfatiza a informalidade do ambiente e permite, inclusive, que o usuário fique
descalço, à vontade, para efetuar sua leitura.
Figura 31 - Varal-jornal da biblioteca da ECA/USP, São Paulo - Brasil
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
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O jogo cromático do azul predominando sobre o branco e o amarelo e, por vezes, compondo com
o vermelho, é associado à serenidade, à paz e à intelectualidade provocadas pela ambiência.
Dessa forma, a valorização prática se expressa pela facilidade de localização das obras nas
estantes sinalizadas em cores de acordo com o suporte informacional, pela exposição, logo à entrada, do
arranjo físico e seu jogo cromático, pelas cabinas para áudio, vídeo, slides e negativos que dinamizam o
uso dos multimeios armazenados em práticas estantes deslizantes, pela indicação, nos catálogos, da
forma de busca dos recursos disponíveis, pela iluminação, pela disponibilidade de acesso on line a
diversas bases de dados através de três terminais de consultas postos próximos ao catálogo de fichas
valorizando e respeitando a escolha do usuário e destacando que o universo da informação não se esgota
naquele acervo, mas ele é sim um dinâmico espaço de encontro com o conhecimento.
Valorizand
o
a
solução
inteligente
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
89
A valorização inteligente do uso da biblioteca manifesta-se através do apelo por um ambiente
simples, econômico na forma, mas original nas soluções encontradas para incentivar sua utilização.
Destaca o necessário, a simplicidade, o essencial e dispensa o supérfluo, o luxo, a beleza, em busca do
benefício do melhor proveito, para o usuário, da informação ofertada.
Ao valorizar a economia das formas, o ambiente propõe-se a destacar o essencial da biblioteca
que é o seu acervo, o que concretamente pode ser percebido na biblioteca Sérgio Milliet do Centro Cultural
São Paulo – CCSP (Figuras 32 a 37).
Figura 32 - Biblioteca Sérgio Milliet do Centro Cultural São Paulo – CCPS, Brasil
Inaugurado em 13/05/1982, o CCSP, é um pólo de cultura da cidade e seu projeto arquitetônico
caracteriza-se pelas formas arrojadas em que vidros e imensos espaços vazados convivem em harmonia
com a rigidez do aço e do concreto. A biblioteca foi inaugurada em março de 1983 e possui atualmente um
acervo que abrange todas as áreas do conhecimento, permitindo o acesso direto às estantes que reúnem
vários tipos de suportes documentais.
O apelo ambiental pela simplicidade e economia se faz presente a partir de sua forma de acesso
através de uma imensa rampa que termina em um platô, palco central da biblioteca de onde o usuário pode
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
90
contemplar o espetáculo da leitura, passível de ocorrer em qualquer local. De fato, o arranjo é ordenado de
modo a não dispor de paredes que possam isolar o ambiente, exceto quando estes estão em obras, o que
valoriza a simplicidade e faz com que o usuário sinta-se muito a vontade para utilizá-la, como pode ser
visto, na Figura 33, pela distribuição de seu lay-out.
Figura 33 - Lay-out da biblioteca Sergio Millet do CCSP, São Paulo – Brasil
Uma sinalização diretiva fixa está posta ao final da rampa de acesso para que, em um primeiro plano, quando do
contato inicial, o usuário se veja diante dos catálogos impressos e expostos sob a forma de três grandes conjuntos de fichários
de aço.
Além do desnível, o platô se destaca especialmente pela clarabóia a qual permite que a iluminação natural inunde o
ambiente facilitando a leitura na hemeroteca, no setor de periódico, no atendimento e nas exposições, todas arranjadas sob a
plataforma. A valorização da informação ofertada está, já em destaque, nas exposições que são realizadas logo no primeiro
contato do usuário com a biblioteca, mostrando que a utilização do ambiente se dá em detrimento do benefício da geração de
conhecimento.
Figura 34 - Detalhes das consultas ao catálogo da biblioteca Sergio Millet do CCSP, São Paulo – Brasil
Na hemeroteca, os tradicionais fichários de quatro gavetas foram substituídos por estantes de madeira onde se
“penduram” os artigos de jornais em sacos transparentes (Figura 35), o que facilita demasiadamente sua consulta. Esta solução
inteligente proporciona a economia de tempo na consulta uma vez que os cabides que dispõem o material a ser consultado,
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
91
podem ser facilmente removidos do varal-estante, para deixar o usuário livre para proceder a sua consulta em pé, ao lado deste
acervo já que a transparência permite a leitura, ou sentado às mesas próximas.
Figura 35 – Setor da Hemeroteca da biblioteca Sergio Millet do CCSP,
São Paulo – Brasil, com destaque para a estante
O setor de periódico destaca-se pela presença de uma estante baixa com prateleiras inclinadas onde o usuário pode,
se desejar, fazer sua consulta em pé, lendo a revista ou o jornal apoiado na própria estante. Esta solução facilita a seleção
daquilo que o usuário quer, de fato, buscar, uma vez que ele pode fazer uma avaliação na própria estante para, posteriormente,
se for o caso e se o assunto lhe interessar, conduzir-se às mesas próximas (Figura 36).
Figura 36 - Detalhes do Setor de Periódico da biblioteca Sergio Millet do CCSP, São Paulo – Brasil
Placas sinalizadoras estão dispostas por toda a biblioteca, como pode ser visualizado na Figura 37, que optou pelo
código das cores para indicar ao usuário os grandes assuntos dispostos na área baixa. Têm-se, por exemplo, o verde para
ciência e tecnologia, o azul para filosofia e religião, o laranja para ciências sociais e história, o preto para o atendimento e o
branco para conhecimentos gerais. Todas as placas estão suspensas sobre a coleção tal como a que está posta sobre o
catálogo o qual orienta a recuperação do assunto desejado.
Figura 37 - Detalhes da sinalização da biblioteca Sergio Millet do CCSP, São Paulo – Brasil
A economia da distribuição espacial cria um ambiente aberto, uma vez que facilita o uso através das soluções
inteligentemente dispostas para que o usuário seja capaz de formular seu trajeto físico e intelectual. De fato, a biblioteca Sérgio
Milliet se coloca como um espaço de busca que se integra na sua comunidade através da manutenção, por exemplo, de
exposições, de concertos, de um acervo de acesso livre e fácil, de uma coleção em braille, de discos, fitas e partituras de
músicas erudita e popular, de estações de aprendizagem de informática, de um serviço de informação profissional, para
vestibular e em saúde, de um banco de peças teatrais, de uma farta literatura de Cordel, enfim de legítimas representações da
cultura popular deixando ver sua preocupação com todos os níveis e necessidades de seu público.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
92
Valorizand
o o vigor
existencial
Ao valorizar historicamente seu ambiente, a biblioteca exprime-se através de estratégias que se concretizam pela
nostalgia de uma época, simbolizando a existência de um estilo que se destaca pela representação dos mundos concretos ou
imaginários, modernos ou tradicionais, inserindo-se em uma atmosfera temporal que lhe dá identidade.
Ambientes assim investidos de valores existenciais, resgatam a sensibilidade da época que simbolizam seu ritmo, sua
melancolia, criando ou recriando universos próprios que expressam a felicidade, a ansiedade, a vocação de favorecer o bem
viver como no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro – Brasil (Figuras 38 a 41).
Figura 38 - Fachada do Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro – Brasil
Fundado em 1837, o Real Gabinete representa “o anseio do povo português residente na Colônia, de levantar um
monumento que representasse a sua cultura e demostrasse o seu amor à pátria distante”, destaca José Marcelino da Rocha
Cabral no discurso comemorativo do centenário da instituição72.
72
REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA. Fundamentos e actualidade do Real Gabinete Português de Leitura. p. 18.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
93
Sua rica fachada já expressa o vigor da existência de uma época em que as construções buscavam dar um sentido de
unidade entre o exterior e o interior através da composição, em um discurso unificado, quer seja pela presença de caravelas que
simbolizam as descobertas no novo mundo, quer seja pela marcante presença do estilo manuelino tão vivo na fachada, uma
representação da cultura portuguesa. De fato, tal estilo representa, na arquitetura da Renascença em Portugal, a resistência do
naturalismo nacional contra o classicismo estrangeiro sendo, portanto, marco e orgulho dos portugueses.
Figura 39 - Vista interna do Real Gabinete de Leitura Portuguesa - Rio de Janeiro, Brasil
Ao entrar em seu salão de leitura, o usuário submerge em uma atmosfera do século passado, onde as estantes fixadas
nas paredes tal como o estilo de Boullée consagram a forma de um relicário, de um conservatório das experiências expressadas
pelo homem, transportando-o a um lugar antigo, mas mantendo em destaque o espaço do acervo que se oferece ao olhar mais
alto, até o teto fazendo-o penetrar no ritmo do seu estilo manuelino, rico de elementos decorativos dourados que contrastam
com as estantes pretas em madeira de lei que se sustentam sobre um piso composto por um jogo simétrico opondo-se ao
mármore branco com o granito preto.
A atmosfera por vezes é quebrada pela presença de um computador ou um fichário em aço, como pode ser visto nas
Figuras 40 e 41, mas, rapidamente é recomposta pela existência de montras que são verdadeiras obras de arte e que se
expõem junto com os livros mostrando que também o é de valor.
Figura 40 - Antiguidade vs modernidade
Figura 41 - Monta relicário
As mesas individuais de leitura possuem um aparador que, ao mesmo tempo em que dá suporte ao livro, divide os
espaços da mesa delimitando as zonas de contato como destacou Hall (Figura 5, Capítulo1).
Embora não exista sinalização, a disposição das estantes, legítima representante do tipo vertical, descrito por Navarro
anteriormente, está organizada de modo a facilitar o contato daqueles que se utilizam do acervo nelas exposto. Uma barra
dourada, um toque de requinte, contorna todos os jogos de estanteria dos três andares para dar suporte à escada posta para o
acesso e recuperação das obras nas prateleiras mais elevadas.
No teto, um grande vitral em branco, vermelho e azul está colocado de modo decorativo e para anunciar, como
destaque de fundo, um imenso lustre de ferro decorado com flores, aros e com o brasão de Portugal.
Detalhes como a existência de luminárias do tipo abajour podem ser observados no último andar, como os recortes
dos bandôs que cercam as estantes do segundo andar e criam um rico efeito decorativo ou ainda como o parador do segundo e
terceiro andares, nos faz ver a agradabilidade e a beleza que estão presentes em todos os recantos deste espaço de cultura.
Posto dessa forma, o ambiente é como um mergulho a um tempo passado que resgata valores de clausura – como os
dos monges escribas –, de intimidação, de admiração, de contemplação, transportando o usuário a uma época em que a leitura
era um privilégio de pouquíssimos, como são os que hoje o freqüentam, já que desperta uma preocupação com a guarda e
preservação tanto dos livros quanto do mobiliário, dado seu valor histórico-social.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
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Valorizand
o
a
diversidad
e
As bibliotecas que adotam esta estratégia estabelecem sua composição espacial através da existência de vários
ambientes que possibilitam o acesso às mais diversificadas formas de expressão dos artefatos culturais de modo a se propor
como um jogo de atividades, um tabuleiro de opções que se cruzam e versatilmente valorizam a opção do usuário o qual deve
eleger o que melhor lhe aprover. Tal estratégia marca a presença de uma preocupação com a assimilação do conhecimento,
com a promoção da cultura expressada nos mais variados suportes, com a abundância de opções que, em última instância,
buscam encantar o usuário através da multiplicidade de modos de obtenção da informação.
Tal abundância é fator preponderante das oportunidades de escolha, como no jogo, e se faz presente por meio da
existência de espaços destinados a uma livraria, um café, uma galeria, um balcão para serviços de reprodução, capturação de
imagens, encadernação, um auditório, salas especiais para exposição, audiovisual, leitura, terminais para consulta a bases de
dados internas e externas e para conectar-se com a rede das redes, enfim pela oferta de uma série de ambientes que fomentem
a busca pelo saber armazenado na biblioteca.
Assim, surge, no campus universitário, o edifício de quatro andares da Biblioteca Central da Universidade de Campinas
– UNICAMP, em São Paulo (Figura 42). Trata-se de uma obra que assume o ritmo de uma instituição de ensino superior voltada
para dinamizar o processo de aprendizagem dos discentes, docentes e funcionários, mas que está aberta ao público em geral.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
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Figura 42 - Edifício da Biblioteca Central da Universidade de Campinas - UNICAMP, São Paulo – Brasil
No térreo, o usuário que, em grande parte, não reside na cidade mas para ela se dirige em busca
de uma formação profissional, encontra uma ampla galeria de arte, uma livraria, uma farmácia, e uma
agência de viagem. Os dois primeiros espaços permitem o contato com obras que são únicas – como os
elementos bi e tridimensionais expostos na galeria –, ou são recém lançadas e ainda não estão disponíveis
para consulta na biblioteca – como revistas científicas à venda na livraria. Esses ambientes estão
colocados de modo que o seu acesso é independente da entrada no hall da biblioteca.
A entrada na biblioteca propriamente dita é feita por uma ampla porta e, em seguida, um espaço
destinado ao controle dos transeuntes com catracas e balcões destinados à guarda de bolsas ou outros
objetos que o usuário julgar necessários.
É no térreo que se encontra, também, a chamada Coleção de Lazer que é composta de obras de
ficção, best-sellers, entre outros, cuja oferta evoca o ócio e a gratuidade do tempo a ser gasto nessa seção
e que se estende até o Café da Biblioteca (Figura 43), localizado no subsolo e de acesso possível através
desse piso.
Figura 43 - Folheto propaganda do Café da Biblioteca da UNICAMP
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
96
A concentração das atividades que valorizam o tempo livre no andar térreo não ocorre por acaso.
Essa estratégia permite que a biblioteca se ofereça à sua comunidade como um espaço dinâmico,
totalmente disposto a sanar as mais heterogêneas necessidades, inclusive as de informação, e como lugar
capaz de oferecer serviços eficientes em resposta às exigências de seu público estimulando-o,
versatilmente, a interagir no jogo competente de manipulações com vista ao uso de seu espaço.
Ao chamar a atenção para a existência dos demais andares pela presença de uma sinalização
orientativa-diretiva em forma de painel posto logo após as catracas, o andar térreo também coloca-se como
um lugar de articulação que acolhe o usuário e o distribui pelos ambientes existentes de acordo com suas
necessidades.
O primeiro andar ainda se apresenta como uma transposição entre o ócio e a ocupação, uma vez
que dispõe de um espaço para leitura de jornais e revistas como Veja, Isto é, entre outras e promove a
diversidade de consulta a fontes impressas e eletrônicas já que, nesse ambiente, está disponível a coleção
básica dos cursos de graduação, as obras de referência e os terminais para consulta on line a bases de
dados internas e externas.
No segundo piso, está localizada a coleção de engenharia e no terceiro as coleções especiais que
reúnem acervos de personalidades da vida acadêmica brasileira como a de Sérgio Buarque de Holanda,
além de um acervo de livros raros dos primeiros viajantes que passaram pelas terras brasileiras, do Centro
de Documentação de Música Contemporânea que reúne partituras, fitas de vídeo e cassetes e
documentação técnica sobre a temática e, por fim, uma coleção destinada ao uso dos profissionais que
nela trabalham e que é composta de um precioso acervo na área da Biblioteconomia.
Dentre os serviços ofertados pela Biblioteca Central da UNICAMP, as palestras orientadas, o
fornecimento de cópias de artigos, patentes e teses e a orientação para normalização de trabalhos
acadêmicos e referências bibliográficas são os que possuem uma grande demanda em virtude das
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
97
características da comunidade à qual ela se propõe a atender, aceitando as regras do jogo que o usuário
lhe impõe.
O ambiente ainda é enriquecido pela iluminação que as janelas, existentes em toda a fachada,
proporcionam, bem como pela transparência dos vidros no andar térreo, colocando-a, no amplo espaço do
campus universitário, como um ponto de referência que, através do modo de se colocar pelas janelas ou
vidraças, tanto vê o que está no exterior quando se deixa ver pelo transeunte, de modo a permitir uma ativa
relação entre o edifício e seu espectador, talvez sendo esta sua intenção primeira.
*****
As práticas de organização do ambiente da biblioteca, cujos valores de solução, uso, versatilidade,
diversidade, criatividade e existencialidade estão presentes na espacialidade, mostram o desejo natural da
instituição em se identificar com seus usuários através dos elementos práticos, críticos, utópicos e lúdicos
que ela se utiliza para, de certo modo, ser vista por eles. Contudo esta promoção pode também ser
manipulada pela nomeação dos destinos que ela quer ver sendo utilizados, e para tal, elege estratégias
que são montadas através do que será examinado a seguir.
Nomeando os destinos
A biblioteca, para oferecer-se como um espaço disseminador do saber, tem que empregar
estratégias que permitam o entendimento de sua organização espacial de modo a facilitar o deslocamento
de seu público, contribuindo para a execução de sua perfórmance quando da busca pela informação
desejada.
Tais estratégias tomam o formato do emprego de um sistema de comunicação visual – sinaléticas
ou sinalização –, cujo objetivo é assegurar a homogeneização de comportamentos e uso integrado do
ambiente da biblioteca, tornando-a amplamente percebida pelo público que a freqüenta.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
98
A existência de um sistema de comunicação visual na biblioteca pressupõe que ela deseja ser
facilmente utilizada por conhecer as necessidades do público que nela circula, bem como de seu fluxo e
trajetória de modo que disponibiliza seu espaço racionalmente reduzindo as incertezas.
Paradoxalmente, muitas bibliotecas possuem eficientes sistemas de recuperação dos artefatos
culturais que armazenam, ficando, entretanto, o acesso ao seu ambiente legado a uma forma de
comunicação que não facilita o uso, ou que, em muitos casos, privilegia o não uso pela confusão que
produz com sua apresentação, mostrando que elas não se vêem como um espaço físico de integração
entre o saber e as demandas oriundas de seus usuários.
Dentro da perspectiva semiótica, a produção de sentido de um sistema de comunicação visual é
constituída de um plano de expressão que se manifesta pela cor, pela densidade de informação, pela
textura do material, pela forma da letra ou da imagem empregadas, pela localização e forma de fixação no
ambiente, entre outras, e pelo plano de conteúdo que contempla o universo semântico existente na
sinalética.
Ao discutir os aspectos inerentes à concepção de um sistema de sinalização, John Kupersmith73
propõe que ela se dê através das etapas da Figura 44.
Figura 44 – Fases do Projeto para Sinalização, adaptado de John Kupersmith
Analisando o esquema proposto pelo autor, observa-se que ele contempla todos os aspectos de
análise, confecção e avaliação do sistema de sinalização a ser empregado, ou seja, propõe o estudo dos
elementos que determinarão sua funcionalidade. Para o autor, a base funcional é composta pelas etapas
de pesquisa e análise, manutenção e avaliação e a base estética contempla o protótipo ou esquema, o
desenvolvimento, a fabricação e a instalação.
Nessa ordem construtiva, a criação de um sistema de comunicação visual para uma biblioteca
estabelece inicialmente os componentes do plano de conteúdo para, em seguida, delinear através do plano
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
99
de expressão, os elementos que serão empregados para estimular o uso do ambiente e produzir o todo de
sentido da organização espacial.
Como um sistema, as fases arroladas na Figura 39 estão interrelacionadas, são interdependentes
e possuem tarefas distintas que são:
1. Pesquisa e Análise
Compreende o estudo do fluxo dos trajetos realizados com objetivo de observar as dificuldades no
deslocamento e as demandas por informação sobre o arranjo do espaço. Envolve o entendimento das
necessidades no:
•
Ambiente externo, de modo aperceber como se dá a identificação e localização da biblioteca no
contexto organizacional, quando for o caso, ou na teia urbana de uma cidade; e
•
Ambiente interno, inclusive através da análise das plantas e lay out, buscando visibilizar os
desconfortos gerados quando da circulação do público.
Trata-se, de fato, de um estudo da perfórmance do público no espaço físico da biblioteca a fim de
constituir subsídios para que ela possa, após a instalação do sistema de comunica,ao visual, favorecer o
uso adequado do ambiente e criar novas formas de tornar o usuário competente para utiliza-la.
2. Protótipo ou Esquema
A criação de um sistema de sinalização para uma biblioteca definirá, inicialmente, a identidade visual
que ela adotará e que será capaz de produzir uma comunicação imediata com o público através da reunião
de elementos que a mostre distinta das demais. Tais elementos, constituídos de um plano de expressão e
73
KUPERSMITH, John. Informational grafics and sign systems as library instruction media. p. 61.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
100
de um plano de conteúdo, poderão adotar letras ou palavras, imagem ou uma forma arbitrária como nos
exemplos coletados por Marielle de Miribel que integram o texto Les logos dês bibliothèques publiques.74
Figura 45 - Logotipo da Biblioteca
Municipal de Carouge, Suíça
Figura 46 - Logotipo da Biblioteca
Pública de Lund, Suécia
Figura 47 - Logotipo da Biblioteca
Municipal de Ludres, França
Pode-se observar, em um rápido olhar nos logotipos acima, que todos mostram o compromisso da
biblioteca pública com a localidade onde ela está inserida pelo do emprego do emblema da cidade, pela
adoção estilizada das torres de uma construção que é típica da localidade ou ainda pela presença de um
animal que simboliza a municipalidade.
O logotipo da Biblioteca Municipal de Carouge adota uma desordem tipográfica vazada que evoca
o sentido de desordenação dos livros na estante mostrando que o ambiente é cercado pela informalidade e
desapegado da rígida organização atribuída a órgãos desta natureza.
Já o logotipo da Biblioteca de Lund apresenta as torres do castelo de Luís II da Baviera, ponto
turístico da cidade e local onde ela está instalada. As duas torres estão postas sobre um jogo embaraçado
de palavras e letras em tipo cheio que toma o sentido de equilíbrio, solidez e segurança da construção
além de indicar os diversos andares do edifício.
74
MIRIBEL, Marielle de. Les logos dês bibliothèques publiques. p. 17, 19 e 23.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
101
O logotipo da Biblioteca Municipal de Ludre além de promover a leitura por meio da figura de um
animal aceito como símbolo da cidade, concilia a imagem do canguru com o tema da necessidade de
formação, desde a infância, do hábito de leitura também pela família.
O John Kupersmith75, um outro ponto é fundamental nessa fase de definição das características do
projeto de sinalização. Trata-se da seleção do tipo de sinalética a ser adotado. Segundo o autor, a decisão
se dará entre as seguintes opções constantes da Figura 48:
Figura 48 - Componentes de um sistema de sinalização segundo John Kupersmith
A figura acima destaca as seguintes opções para composição de um sistema de comunicação
visual:
A - Orientação: apresenta o lay out do ambiente;
B - Cotidiano: disponibiliza informações sobre o que ocorrerá na biblioteca tais como: eventos,
mudanças nos horários de funcionamento ou quaisquer outras informações similares;
C - Direção: possibilita a concepção dos pontos principais, permitindo o conhecimento do percurso
a ser utilizado bem como as decisões corretas que deverão ser tomadas quanto ao cumprimento do trajeto;
D - Identificação: é destinada a designar os espaços determinados pela distribuição interna tais
como: sala de periódico, de estudo em grupo etc.
E - Instrução: seu uso é destinado a circular informações básicas que maximize o rápido fluxo de
circulação do usuário;
F - Regulamentação: apresenta as normas para uso dos serviços, equipamentos ou produtos
disponibilizados pela biblioteca.
O emprego de tais componentes, localizados em pontos estratégicos, mostra que a biblioteca está
preocupada em articular seu uso e propor-se para o usuário como um espaço de informação a ser
75
KUPERSMITH, John. Informational grafics and sign systems as library instruction media. p. 56
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
102
explorado. Para definir tal disposição estratégica, o autor sugere ainda uma descrição detalhada de todas
as sinaléticas a serem utilizadas conformo o modelo abaixo.
N°
Conteúdo
Locali
zação
Descrição
Dimensão
Cor
Material
Letra
Fixar
Tipo
Tamanho
Cor
Material
Um dos objetivos da descrição é o de criar uma padronização do conteúdo das sinaléticas que
serão expostas. Neste sentido, as recomendações de Raynolds e Barret76 são para que sejam evitadas
siglas, abreviaturas, uso de termos técnicos e frases longas. De fato, ao definir as palavras ou termos que
serão empregados, deve-se considerar aspectos como legibilidade a distância em visão rápida assim como
a unicidade e a simplicidade.
As informações a serem repassadas pelas sinaléticas podem, também, assumir a forma de um
pictograma que são desenhos estereotipados que buscam uma aproximação figurativa com o objeto ou
conceito que designam e são comumente utilizados para mostrar um caminho, identificar um local, alertar o
perigo ou ações proibidas ou ainda instruir modos de operacionalização de certos instrumentos. Alguns são
de emprego universal, como os dispostos na Figura 49, e podem ser empregados no projeto de sinalização
de uma biblioteca.
76
REYNOLDS, Louise, BARRETT, Sydney. Signs and guiding for libraries. P. 58.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
103
Figura 49 - Pictogramas de utilização mundial e bibliotecas
Independente do emprego de palavras ou pictogramas, a forma do conteúdo organiza
concretamente aquilo que se deseja enunciar para que, de fato, o espaço venha a ser seguramente
utilizado. Contudo a valorização do uso de pictogramas, em detrimento de palavras ou termos, mostra que
a biblioteca deseja compartilhar seu ambiente com o heterogêneo público que a freqüenta principalmente
se isso implica ser neo-alfabetizado ou não alfabetizado que se dirigem à biblioteca para desencadear um
processo de auto aprendizagem. Segundo Michel Cartier77, os pictogramas são utilizados para favorecer o
grande público e não grupos específicos, criando uma comunicação visual uniforme e de fácil
compreensão.
3. Desenvolvimento do Projeto
O desenvolvimento do projeto envolve a decisão quanto a tipologia de letra, o estilo, as cores, a
harmonia e os pictogramas que serão aplicados no sistema de sinalização e que compõem o plano de
expressão adotado para se manifestar nos limites de uma placa.
A definição da composição de tais elementos se baseará no favorecimento da criação de
sinaléticas inteligíveis, informativas e convidativas que se tornarão eficazes pela sua legibilidade,
visibilidade e compreensão.
77
CARTIER, Michel. Alex: um code signalétique canadien. p. 61.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
104
O tipo de letra a ser adotado, quando do emprego de palavras ou termos, deverá observar as
variáveis explicitadas no quadro abaixo.
Formato
Modelos
Exemplos
Quanto à forma
Itálica, normal e negrito
Sala
Sala
Sala
Quanto ao tipo
fina, média e grossa
Sala
Sala
Sala
Quanto ao espaço
condensada, norma e expandida
Sala
Sala
Sala
Para seleção da tipografia a ser adotada, devem-se considerar os efeitos de legibilidade do texto produzidos pelas
letras de modo a evitar estilos que dificultem a leitura a distância como o gótico, por exemplo. Também os efeitos produzidos
pelo estilo adotado pode remeter à idéia de algo antigo, íntimo ou moderno.
Pesquisas americanas realizadas por Andrew Yeaman78 relatam que as bibliotecas, naquele país, adotam
normalmente a fonte Times ou Helvética em maiúsculo e sem sombra para sinalização, tendo em vista que tais caracteres
possibilitam uma boa leitura como pode ser observado nos modelos expostos abaixo.
BIBLIOTECA
BIBLIOTECA
Times New Roman
Helvética
BIBLIOTECA
BIBLIOTECA
Gótica
Cursiva
A textura é uma sensação tática produzida pela visualização. Segundo o Grupe µ79, trata-se de um fenômeno de
origem cinestésica que produz uma sensação que, para a semiótica, compreende uma unidade de conteúdo correspondente a
uma expressão constituída por estímulo visual. A granulação, o enrugamento, a lisura, a lustração são alguns dos efeitos
produzidos pela textura, que emprega os mais diversificados tipos de material para produzir as mais variadas sensações.
O todo de sentido desencadeado pela textura adotada está diretamente ligado ao material empregado, podendo
desencadear a sensação de desordem obtida pela enrugadura do papel, de imperfeição de uma superfície manchada, de
movimento como a massa corrida ou ainda de regularidade de uma superfície lisa como pode ser observado nos exemplos
abaixo.
Figura 50 - Modelos de textura
A apreensão de uma comunicação visual pelo do emprego da cores tem envolvido estudos que estão relacionados
tanto com a física das cores quanto com os seus mecanismos de percepção, ou seja, os primeiros estão ligados aos aspectos
que compõem a luminosidade e a capacidade de reflexo enquanto que os do segundo tipo estão voltados para o entendimento
do estímulo global que envolve a saturação, a superfície colorida e a iluminação.
O estudo das cores, enquanto produtoras de significado, tem sido desenvolvido por diversas áreas do conhecimento. A
psicologia social, por exemplo, atribui cinco adjetivos descritivos associados às cores relacionados aos comportamentos
humanos que são: felicidade, energia, ostentação, elegância e calor enquanto que a antropologia, através dos estudos de Barlin
e Kay e de Conklin, citados pelo Grupe µ, defendem a idéia de que há um vocabulário temático expressado pela associação de
cores como por exemplo, o vermelho alaranjado que produz a sensação de calor. Para a semiótica a atribuição do conteúdo da
cor delineia-se pela prática social como no caso do verde/vermelho que estão ligados ao sentido de permissão vs interdição no
trânsito.
Desta forma, a seleção das cores que serão adotadas deverá ser definida com base em três variáveis: matriz,
saturação e brilho. A matriz diz respeito ao nível de contraste proposto; a saturação está relacionada à legibilidade possível
78
79
YEAMAN, Andrew. Lost in the information supermarket. p. 44-45.
Grupe µ.. Traité du signe visuel. p. 70.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
105
através da cor adotada e o brilho relaciona-se ao efeito físico causado pela distância e seus efeitos analisados no contexto onde
serão empregadas.
A adoção de variadas cores poderá servir para codificação do espaço facilitando sua apreensão como acontece na
biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP (Figuras 29 a 31) ou ainda na Sérgio
Milliet do Centro Cultural São Paulo – CCSP (Figuras 32 a 37). Certas cores também oferecem a possibilidade de um jogo de
positivo vs negativo como na Figura 51 que pode, em função do contraste, criar um impacto ao romper com o arranjo do
ambiente, propondo a mostrar algo diferente, que chama mais a atenção pela seleção da cor escolhida para compor o fundo.
Figura 51 - Negativo vs positivo
4. Fabricação e Instalação
Esta fase envolve a confecção do sistema de sinalização bem como sua colocação no ambiente da
biblioteca, ou seja, a padronização estrutural que está relacionada à determinação do material a ser
utilizado e sua fixação.
A decisão quanto ao tipo de material a ser empregado tem que levar em consideração a
durabilidade e resistência. Normalmente são utilizados o acrílico, a madeira, a madeira revestida de
formica, lâminas plásticas, entre outros. Contudo o efeito produzido por cada um destes materiais varia em
função, por exemplo, da transparência ou opacidade que eles possuem.
A fabricação de painéis de orientação poderá, quando a biblioteca possuir mais de um andar,
adotar o modelo abaixo com a função de permitir o conhecimento global de todos os ambientes disponíveis
para facilitar a localização do usuário, principalmente se os painéis adotarem a indicação do tipo “você está
aqui”. Também é indicativo de que a biblioteca deseja ser facilmente assimilada pelo usuário o emprego de
placas de orientação fixadas logo na entrada como faz a biblioteca da ECA/USP (Figuras 29 a 31).
1
Informações
Administração Geral
Catálogo e Referência
2
Coleção de Periódicos
Acervo 000 - 500
1
Informações
Administração Geral
Catálogo e Referencia
2
Coleção de Periódicos
Acervo 000 - 500
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Toilet Feminino e Masculino
3
Acervo 600 - 900
Salas de Estudo em Grupo
Salas de Estudo Individual
106
Toilet Feminino e Masculino
3
Acervo 600 - 900
Salas de Estudo em Grupo
Salas de Estudo Individual
A adoção de placas com setas direcionadoras, para mostrar claramente o caminho correto, poderá
dar-se tendo com o uso de termos/palavras quanto com pictogramas como no modelo abaixo.
CATÁLOGOS
CATÁLOGOS
REFERÊNCIA
REFERÊNCIA
PERIÓDICOS
PERIÓDICOS
REPROGRAFIA
REPROGRAFIA
BANHEIRO MASCULINO
REFERÊNCIA
BANHEIRO FEMININO
ELEVADOR
ELEVADOR
BANHEIROS
Quanto à fixação, Raynolds e Barret80 sugerem que alguns cuidados sejam tomados no sentido de
manter maior segurança possível. Os autores chamam ainda a atenção para tipos de fixação mais comuna
que estão relacionados na Figura 52.
Figura 52 - Tipos de fixação, adaptado de Reynolds e Barret
80
REYNOLDS, Louise, BARRETT, Sydney. Signs and guiding for libraries. p. 102.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
107
5. Manutenção e Avaliação
Para assegurar que o sistema de comunicação visual adotado atinja o objetivo para o qual foi
criado, sua manutenção – limpeza e troca de placas danificadas –, é de fundamental importância. Da
mesma forma, a avaliação periódica funcionará como medida para assegurar a integração almejada pela
biblioteca com o seu usuário.
*****
Ao enunciar-se através dos enunciados estruturantes do edifício e da ambientação, a biblioteca
promove um diálogo com seu destinatário e o convoca para utilizar os artefatos culturais que mantêm
sobre sua guarda, permitindo inferir que esta enunciação sempre promove, de certo modo, o modo de
utilização ou subutilização do espaço.
Após o exame panorâmico do modo como a biblioteca se coloca para ser vista por intermédio de
seu texto espacial, cabe identificar como a BPEAM constrói o seu regime de visibilidade para se colocar
sob o olhar do usuário manauense, o que trataremos no próximo capítulo.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
108
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DIRECIONADO
O
edifício da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas – BPEAM, localizado na rua
Barroso nº57, entre a avenida Sete de Setembro e a rua Henrique Martins, ponto mais
central da cidade de Manaus, foi tombado como Monumento Histórico do Amazonas
pelo Decreto Estadual n.º 11.033 de 12/04/1988, objetivando contribuir para a preservação da memória
regional por:
a) ser uma construção datada do início do século XX, de inestimável valor histórico, cultural e
arquitetônico;
b) constituir-se a primeira e única Biblioteca Pública do Estado e por ser, também, a única construída
para esse fim;
c) estar localizada no centro da cidade, proporcionando maior facilidade de acesso ao público leitor;
d) ser um marco importante no desenvolvimento da intelectualidade amazonense – cita-se a título de
exemplo, o fato de a Academia Amazonense de Letras ter sido instalada nas suas dependências;
e) ser testemunho vivo do passado de um povo sequioso na busca do saber;
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
109
f) ter, durante muito tempo, abrigado em seu seio dentre outras instituições, a Assembléia Legislativa
do Estado;
g) ter sobrevivido a incêndio (22/08/45) e catástrofes de outras naturezas (como, por exemplo: descaso,
não reatualização de seu acervo etc).81
Como se pode observar, a Comissão que relatou o processo de tombamento do sítio da BPEAM,
ao justificar a solicitação de sua inclusão no rol dos bens imóveis de valor histórico cultural do estado,
destacou eventos importantes que ocorreram no edifício inaugurado em 05/09/1910, após cinco anos de
construção. Além de ser uma obra datada do início do século, alojar a única biblioteca mantida pelo
governo estadual, localizar-se no centro de Manaus e ter sobrevivido a catástrofes como o incêndio da
madrugada de setembro de 1945, o documento informa que o prédio alojou a Academia Amazonense de
Letras, a Assembléia Legislativa, a Pinacoteca e o Arquivo do Estado do Amazonas, mostrando que, pela
importância da localização, a biblioteca iguala-se ao nível de instituições ligadas ao poder legislativo e
intelectual da cidade.
No discurso de inauguração do prédio, o Sr. Antônio Clemente Ribeiro Bitencourt82, governador do
Estado destacou que:
“a biblioteca surgiu não como um ornamento, mas como instrumento que se
fazia necessário para o amanho e o cultivo de uma gleba que já então rica e seivosa
se mostrava, pela inteligência de seus homens e pela vontade natural de quantos se
pronunciavam em anelos, na formação de um centro de estudos de mais amplo
contato com os mestres da literatura, da filosofia, das ciências”.
Grande parte das edificações públicas realizadas neste período em Manaus está relacionada ao
nome dos governantes, enquanto que a autoria do projeto passou a ser apenas um detalhe de pouca
81
82
GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS. Processo de pedido de tombamento da Biblioteca Pública. p. 1-4.
Apud BRAGA, Genesino. Nascença e vivência da biblioteca no Amazonas, p. 32
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
110
importância. Desta forma, são raras as referências a autores de projetos arquitetônicos produzidos durante
este período. Sobre esse problema, Otoni Mesquita83, em seu estudo, destaca que:
“Os autores são quase sempre anônimos ou resguardados pelo nome de um escritório ou empresa
responsável, como ocorreu com o projeto apresentado para a construção do Teatro Provincial em 1882, cuja
autoria é assumida pelo Gabinete de Architectura e Engenharia Civil de Lisboa. Um dado raro, neste sentido,
é fornecido pelo historiador Antônio Loureiro, em nota constante no Álbum A Cidade de Manaus e o País das
Seringueiras reeditado em 1988, indica o engenheiro Alexandre Haag como autor do projeto da ponte de
ferro dos Remédios”.
Em virtude desse procedimento, pouco ou quase nada se sabe sobre o projeto e a construção do
prédio definitivo da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. No que diz respeito às obras, o processo
de tombamento84, no item 25 – Histórico Geral –, destaca que entre 1904 e 1908 foram consiganadas
verbas para a conclusão do Palacete para os livros, o que é confirmado pela descrição de Genesino Braga.
Um olhar sobre a imagem do Palacete da Imprensa Oficial (Figura 53), inaugurado em 1894, nos permite
observar, ao lado esquerdo do prédio, tijolos dispostos no terreno onde funcionava o Estábulo Público e
onde seria construído o edifício da biblioteca nos possibilitando inferir que seria esse o primeiro sinal do
início das obras. Já na Figura 54, primeira imagem que se tem do prédio, é possível observar que a obra
estava em fase de conclusão, tendo em vista que à frente de sua porta de entrada pode-se ver o material
empregado na construção e no lado da rua Municipal, atual Sete de Setembro, uma figura masculina,
colocado em uma escada por trás do poste de energia elétrica, pinta as paredes externas.
83
84
MESQUITA, O . M. Manaus: história e arquitetura. p. 58.
GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS. Processo de pedido de tombamento da Biblioteca Pública. p. 25-26.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Figura 53 – Palacete da Imprensa Oficial e, ao seu lado
esquerdo, os tijolos postos para o início da construção
da BPEAM
111
Figura 54 - Prédio, em obras, da BPEAM, com destaque para o
prédio do Palacete da Imprensa Oficial ao lado
No que diz respeito à inauguração do palacete da rua Barroso, um outro ponto
não pode passar despercebido. Trata-se da data 05 de setembro que não deve ter sido
escolhida aleatoriamente, pois, em 1850, nesse mesmo dia, a Província foi elevada a
Estado evento que até hoje é comemorado com um feriado estadual, desfiles cívicos e
apresentação das bandas de fanfarras mantidas pelas escolas locais. Logo, pode-se
afirmar que a inauguração em um dia festivo fez parte das comemorações no ano de
1910, mostrando que o reconhecido desenvolvimento que permitiu a criação do estado
federativo se propagaria com o fortalecimento da instituição cultural instalada em prédio
próprio.
Em sua planta original (Figura 55), os espaços estão dispostos como ainda o são nos dias
atuais, ou seja, três pavimentos ocupando cada um uma área construída de 863.85 m2, totalizando
2.591.55m2, embora tenha passado por nove reformas até hoje, como se destaca do processo de
tombamento.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
112
Figura 55 - Planta original do prédio da Biblioteca Pública
Pela análise da planta original que compõe o acervo de obras raras da biblioteca, pode-se afirmar,
pela semelhança com os prédios da antiga Biblioteca Nacional de Paris (Figura 56) projetada pelo
arquiteto Henri Labrouste e com o da Biblioteca Pública de Boston (Figura 57) o qual também foi
influenciado pelo mesmo arquiteto, que o projeto da BPEAM sofre ascendência do estilo labrousteano,
aspecto que pode ainda ser confirmado pelo racionalismo disfuncional de sua distribuição interna, a ser
examinada posteriormente. Vê-se que os valores empregados para projetar o edifício da Biblioteca Pública
estão diretamente ligados a instituições reconhecidas por sua tradição cultural e pela esplendorosa beleza
enaltecida pelas obras de Labrouste. Manaus mostra-se competente ao fazer construir, no seio da floresta
amazônica, um legítimo exemplar espelhado na arquitetura internacional.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Figura 56 - Fachada do prédio da Biblioteca Nacional de
Paris, na França
113
Figura 57 - Fachada da Biblioteca Pública de Boston, nos
Estados Unidos
Nota-se que os três conjuntos arquitetônicos acima foram compostos em andares, com grande
quantidade de janelas, e com um frontão cimbrado na extremidade superior marcando a entrada principal.
A fachada da biblioteca amazonense é composta por uma baluastra no topo do prédio, seguida de
um friso de cornija que se repete abaixo das janelas que, no andar superior, possuem um balcão e são
ornadas com um arco retilíneo, contrapondo-se com as janelas inferiores que possuem arcos de volta
inteira. No conjunto citadino, a fachada age como uma enunuciação do grande espetáculo que ocorre no
interior e, pela ruptura, pelo descontinuísmo que promove na ordem urbana, mostra-se como um convite
para que o transeunte entre e encontre-se com a cultura. Ao colocar-se deste modo, ela faz com que a
biblioteca não queira não ser vista pelo seu usuário potencial, tal como ocorre com as chamadas Novas
Alexandrias.
O espaço ocupado pelo imponente prédio neoclássico é bastante amplo. No centro da cidade de
Manaus, a Biblioteca Pública, como os demais edifícios, está investida de uma imagem arquitetônica que
lhe possibilita propor à comunidade a que se destina, um certo tipo de relação. Ela é caracterizada como
detentora dos valores culturais que manipula. Igualmente pela facilidade de seu acesso, ela possibilita
ampla serventia aos que atende e é, na paisagem urbana, um destaque pela sua visualidade. A biblioteca
tem, pois, uma imagem que a faz ver e a mostra como domínio do saber que pode ser partilhado com a
comunidade. O sujeito competente, por ser público, partilha seu saber com outros sujeitos da comunidade.
Da mesma forma que, para o centro da cidade, convergem muitos interesses relacionados ao
comércio, aos principais bancos, às instituições públicas ali localizadas e que geram a quase necessidade
da população se locomover a este espaço a fim de estabelecer soluções para problemas relacionados às
importantes decisões do dia-a-dia, a biblioteca também está nesse roteiro essencial para a vida do
manauense. Relacionada à centralidade do acesso e ao seu caráter público, ela apresenta-se à
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
114
comunidade como um sujeito competente para solucionar problemas de ordem cultural, histórica,
informacional. Se há um centro que organiza a vida urbana e para o qual a população deve ir para
equacionar suas questões cotidianas, a biblioteca recebe, por esse seu posicionar e suas competências,
um papel de actante no sentido semiótico. Ela tem um valor no contexto e um fazer a desempenhar, como
o seu papel na sociedade.
Nesse sentido, a biblioteca apresenta-se à sociedade como um sujeito competente, que possui em
seu universo de letras, palavras, livros e resposta adequada à demanda informacional oriunda de todo e
qualquer tipo de usuário.
Uma vista aérea atual de Manaus permite ter a localização exata da BPEAM no conjunto de
edifícios de diversos estilos que compõe o centro da cidade que surge no meio da selva amazônica,
banhada pelo Rio Negro, e que se desenvolveu, alheia às dificuldades da localização, como grande
metrópole regional com avenidas largas e movimentadas e com a característica de ser verticalizada por
apresentar poucos edifícios com muitos andares em vista da possibilidade de expansão do local onde foi
fundada.
Palácio da Justiça
Biblioteca
Pública
Teatro
Amazonas
Instituto de
Educação do
Amazonas
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
115
Figura 58 - Vista aérea atual da cidade de Manaus
Pela localização central, o trajeto que o usuário, de onde quer que ele esteja, faz para chegar à
biblioteca, ir ao centro da cidade outorga-lhe ao seu eixo pulsional valores de competência modal de poderfazer e saber-fazer.
O acesso a esta competência viabiliza-se por meio da convergência da maioria das linhas de
transporte existentes na cidade para essa destinação. Assim, o sistema de transporte atua como facilitador
de acesso ao local, além de fazê-la estar sempre presente, como ponto de referência, na vida dos actantes
coletivos, quer eles a ela se dirijam ou não. Quando ela é a direção do usuário, ela está geograficamente
perto de tudo o mais que lhe feiciona como aquele sujeito capaz e com poder de dar soluções aos
problemas dos usuários.
Querer saber, ter vontade de saber mais, precisar saber, dever-saber são modalidades
delineadoras do usuário. Enfim, tornar-se também um sujeito competente é o que assume os trajetos do
usuário e, em especial, para o principal freqüentador da Biblioteca Pública, estudantes do ensino
fundamental e médio. Para este público específico, a própria ação de ter que se deslocar até o centro da
cidade já carrega em si um valor de elevada importância dado ao caráter de solucionador de problemas
estabelecidos em torno do setor central de Manaus.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
116
O prédio, por si mesmo, pelas características arquitetônicas, também se destaca no olhar dos que
passam pelo centro e dos que se propõem a utilizá-lo. Sua construção neoclássica impõe a idéia de cultura
inserida no ambiente uma vez que contrasta com as demais construções que a cercam.
Figura 59 - Vista externa da BPEAM, década de 60
A maioria dos prédios que ladeiam a biblioteca são construções recentes embora, antes das novas
edificações, fossem localizadas, na lateral esquerda, o prédio da Imprensa Oficial do Estado à sua frente, o
antigo Hotel Central e, posteriormente, o magazine Dragão dos Tecidos, especializado na venda de
produtos importados (Figura 59), que hoje funcionam como agências bancárias.
Quanto à localização da Biblioteca Pública, essa sempre se manteve junto a organismos de
relevada importância para a comunidade, conjunta, portanto, com o poder constituído pelas funções dos
que a cercam e pelo contrato de utilidade pública. Inicialmente colocada ao lado da Imprensa Oficial cuja
competência se estabelece pela sua função de agente comunicador e disseminador das atividades do
governo ao produzir o Diário Oficial do Estado, por exemplo, instrumento que dá conhecimento das leis e
regulamentos da administração estadual e que tem grande implicação na vida do citadino, ela se coloca
como parte dos órgãos de comunicação uma vez que associa sua imagem, por proximidade física e pelas
suas funções, àqueles que divulgam informações. Posteriormente, passam a rodeá-la instituições
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
117
financeiras que representam a base do poder econômico de uma sociedade capitalista. Em síntese, a sua
competência está associada aos valores determinantes das instituições que a cercam e que estão sempre
ligadas ao poder, quer de comunicação, quer econômico, o que faz o enunciatário reconhecer, mesmo que
implicitamente, as pistas da enunciação espacial da Biblioteca no conjunto arquitetônico do qual ela faz
parte.
Observam-se bem essas marcas de aliança ao poder dominante na Figura 59 e pode-se
reconhecer na centralidade direita a placa do “Bradesco”, no extremo esquerdo, há um destaque para um
prédio em verde e branco do Banco do Estado do Amazonas – BEA e, ao lado esquerdo da Biblioteca com
as sacadas em branco, vê-se o prédio central da Caixa Econômica Federal.
Presente na maioria dos prédios antigos da cidade de Manaus construídos no ciclo áureo da
borracha, o estilo neoclássico é associado ao bom gosto que ainda hoje é atribuído àquela época. Os
prédios do Teatro Amazonas (1896), do Palácio da Justiça (1900) e da Alfândega (1906), também do final
do século passado e início deste, têm grande destaque na visualidade do espaço central da cidade, como
pode ser observado na Figura 58, vista aérea de Manaus.
Banco do
Estado do
Amazonas
– BEA,
antigo
prédio da
Imprensa
Banco
Bradesco
Caixa
Econômica
Federal
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
118
Figura 60 - Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, vista externa atual
Isto implica afirmar que o estilo do prédio está associado à imagem de riqueza, opulência, além da
de cultura, transmitida por criações de uma sociedade que, na época se autodenominava como a Paris dos
Trópicos, vivia sob influência da comunidade européia, incorporando a competência de um saber fazer que
levou Manaus à riqueza, com tecnologia para transformar e idéias a implantar, arquitetônica e
geograficamente, construções de grande porte. São, em última instância, os atributos culturais dessa
influência que se exteriorizam pela arquitetura e transmitem a idéia de algo diferenciado, em termos de
cultura local, de um lugar sagrado.
Desta forma, em sua apresentação externa e na sua localização, o prédio está pronto para abrigar
uma relação do tipo conjuntivo entre a Biblioteca Púbica e aquele que a visita. Ao procurar cultura,
conhecimento, o usuário da BPEAM já os encontra no mero olhar de sua aparência. Fazendo-se ser vista
como um sujeito competente e importante, uma vez que valorada positivamente na comunidade, a
Biblioteca Pública gera efeitos de sentido de credibilidade no que ela tem a oferecer.
Desprovida de muitos elementos ornamentais85, a fachada possui janelas em grande quantidade –
36 maiores e 18 menores –, as quais permitem que a luminosidade dos trópicos penetre no ambiente
interno suavemente. As janelas contornam todo o prédio e favorecem um contato mais dinâmico através
dos olhos que elas configuram, permitindo que os olhares dos que a vêem de fora para dentro visite os
espaços internos da Biblioteca Pública e, no sentido contrário, de dentro para fora, que haja uma
aproximação com os transeuntes da rua, mesmo efeito causado pela Biblioteca Central da Universidade da
Campinas, São Paulo, descrito no item Ritos Ambientais do Capítulo 2.
85 O pensamento dos grande teóricos da arquitetura na época em que se constituiu o projeto da Biblioteca Pública pregava a ausência de
ornamentos em todas as partes do edifício que não fossem componentes essenciais da construção. A estrutura é evidenciada pelo valor
estético em si e, conforme afirma Wilfried Koch (KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos. p. 63.), privilegia-se o cubo e o ângulo
reto compondo as edificações com elementos pré-fabricados, marcada pela a racionalidade.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
119
O grande número de janelas também se coloca como uma forma de seduzir o usuário,
apresentado-as como mediadoras entre o interior e o exterior e permitindo um contato interpessoal
efetuado através dos olhos que não vêem o que está disposto no interior, mas também sentem, pelo que
representa o prédio, seu estilo e até mesmo o espírito próprio da belle-époque, e alcançam o conhecimento
disposto nas obras, nas exposições, enfim nas atividades desenvolvidas pela Biblioteca Pública.
Por trás das paredes, no ambiente interno, a cultura e o conhecimento se deixam ver pela
presença de cheios e vazios que é encontrada na fachada vazada pelas dezoito janelas do piso térreo,
permitindo que o interior seja visto pelo transeunte da rua, usuário potencial da Biblioteca Pública. A
visibilidade, entretanto, é modalizada de um lado pelo querer ser vista da biblioteca que mostra o seu
interior através das várias janelas, de outro, pelo não poder ser vista que se manifesta em decorrência da
vedação das janelas por causa do sistema de refrigeração já que a cidade de Manaus possui uma
temperatura constante acima dos 35º centígrados.
Sob a forma de pórtico, a entrada principal se destaca da estrutura caixote, como pode ser
examinado através de sua projeção em três dimensões na Figura 61, que representa a primeira geração de
edifícios de bibliotecas, visto anteriormente, de forma a indicar ao usuário o início do caminho a ser
percorrido. O desnível acentuado que se projeta para fora e onde ficam a porta principal e a janela maior,
avança na calçada como se fosse ao encontro do usuário e, assim, se traduzem um convite para a sua
entrada.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
120
Figura 61 - Projeção em 3D do edifício da BPEAM
A janela principal, no frontispício do prédio, é guardada e ladeada por duas janelas circulares
menores, romanticamente decoradas com uma guirlanda de flores e laço que, no vidro, apresenta uma
estrela de cinco pontas conhecida na religiosidade cristã como estrela de David. Mais uma vez, há uma
notável semelhança entre o estilo do edifício da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas e o racional
romântico desenvolvido por Labrouste e cuja maior referência é a biblioteca de Sainte Geneviève, na
França (Figura 9, do Capítulo 2), exemplo do terceiro estilo construtivo de biblioteca.
Acima da janela, na parte mais alta da construção, mais próximo do céu sob um frontão triangular
românico, está o escudo que apresenta as armas do Estado do Amazonas, guardado por duas faces de
animais que se assemelham a um leão, muito comum nas fontes de origem holandesas existentes em São
Luiz, capital do Maranhão. Têm essas origem entre o final do século XVI e o início do XVII no renascimento
alemão tardio por se tratar de um mascarão de orelha.
No primeiro plano do escudo, na elipse, vê-se o encontro dos rios Solimões e Negro que, pelas
suas confluências, formam o rio Amazonas.
A parte em azul representa o céu do Brasil. Uma estrela que indica paz e progresso se apresenta
exatamente no ponto de junção dos dois rios e marca a exata localização da cidade de Manaus.
No campo verde, que representa a floresta, duas setas entrelaçadas recordam a origem da
nacionalidade e duas penas representam as civilizações modernas. Uma corrente de ferro circunda a
elipse, simbolizando a inquebrantabilidade da autonomia política do Estado e da Nação. Presos à corrente
abaixo, estão os emblemas da navegação, ligados por uma laço verde com duas pontas desdobradas; na
ponta direita, a data 22 de julho de 1832 relembra a proclamação da Comarca do Alto Amazonas em
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
121
Província independente e a data à esquerda, 21 de novembro de 1889, o dia em que o Estado aderiu à
proclamação da República brasileira.
Na extremidade superior da elipse, desponta o sol e, no alto do escudo, a Águia Amazonense, de
asas estendidas, com as garras encravadas e o bico entreaberto, simbolizando a grandeza e a força da
civilização amazônica. Uma cártula serve de base a todo o escudo e tem origem no maneirismo, estilo
independente que se caracteriza pela imitação do real.
Figura 62 - Detalhes da fachada frontal do prédio da Biblioteca Pública
A porta, um elemento concreto que serve de elo entre o interno e o externo, pode ser vista como
desempenhadora de um importante papel o qual a aproxima da análise que lhe dedicou Ana Claudia de
Oliveira86. Nos estabelecimentos comerciais, a porta é
“um recurso persuasivo com força capaz de transformar o estímulo em ação. Fechada, ela de um lado
materializa a separação entre as zonas bem definidas: o consumidor deve empurrá-la para penetrar no
almejado interior; mas, de outro lado, ela é a preservação de tal espaço para o cliente. Aberta, ao
contrário, ela põe os mundos em sintonia. Essa abertura é já um elemento fático, estimulador do início da
relação intersubjetiva que se processará”.
86
OLIVEIRA, Ana Claudia. Vitrinas: acidentes estéticos na cotidianidade. p. 89
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
122
Tal qual a descrição da autora, a porta de bibliotecas é indicadora para a entrada no mundo do
saber e do conhecimento. Na BPEAM, o usuário se depara com uma grande porta branca de madeira com
aproximadamente cinco metros, trabalhada com formas nas quais se vêem colunas e figuras geométricas,
com destaque para os triângulos, que se repetem na superfície. Aberta, ela é um convite para o usuário
entrar no seu interior. A dimensão da porta, sua espessura e peso diferentes das existentes nos demais
ambientes, enfatizam o efeito de sentido de que a abertura é para a entrada de todos.
Disposta na construção de forma a estimular a relação intersubjetiva entre os dois mundos (externo
e interno), a porta está colocada na parte mais proeminente do prédio que extravasa seus limites e vai até
a calçada como se fosse ao encontro do usuário. A construção arquitetônica imponente que se abre para
receber os usuários vai sendo colocada como uma enunciadora guia que tem a competência para
contribuir na manutenção do saber e do conhecimento. Ao abrir-se para o usuário, cria-se um novo elo de
integração e desperta-se nele a idéia de que há um lugar à sua espera, reservado para seu uso.
Fechada, a porta mostra-se guardiã dos tesouros da biblioteca em função de sua estrutura,
apresentando semelhanças com a função e a aparência das portas dos castelos medievais.
Figura 63 - Porta de entrada
A porta aberta permite o olhar do transeunte adentrar antes mesmo do seu corpo. Pela ordem
visual, dá-se o primeiro percurso de reconhecimento do local: o olho encontra o balcão de informações e a
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
123
escadaria existentes no átrio que ocupa todo o vão central do piso térreo. De fora, o olhar começa a subir
os degraus para entrar na Biblioteca Pública.
Figura 64 - Visão do espaço interno visto através da porta de entrada
A distribuição espacial do conjunto arquitetônico
Uma das características da distribuição do espaço interno da Biblioteca Pública está diretamente
associada à técnica construtiva utilizada antes do movimento modernista. Esta técnica caracterizava-se
pela disfunção, ou seja, seus espaços eram determinados de forma a abrigar qualquer instituição caso
fosse necessário. Isto se faz presente, por exemplo, nos grandes salões que possibilitam a alocação de
qualquer atividade como a de uma Assembléia Legislativa, do Arquivo e da Pinacoteca, como foi
anteriormente o caso da BPEAM. Estas características desaparecem com o modernismo na arquitetura
uma vez que as edificações passam a ser elaboradas de acordo com o fim a que se destinam. Assim,
encontram-se vários prédios de bibliotecas com estas mesmas características que, em algumas vezes,
apresentam um jardim no lugar do hall.
Atualmente o espaço interno encontra-se distribuído em:
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
124
a) pavimento superior: um amplo átrio se coloca para receber os que acessam este pavimento
pela escada e efetiva a distribuição para as alas esquerda e direita. Na primeira, encontram-se
a direção da biblioteca, o acervo a ser processado e o local para os serviços técnicos, ou seja,
trata-se da zona de serviços internos conforme disposto no Quadro 1 – Zonas Físicas da
Biblioteca, no Capítulo 2. Na outra ala, há um amplo salão que contém mesas, cadeiras e
estantes e é denominado de Sala do Escritor, mas que se encontra desativado. Este nível
raramente é acessado pelo usuário, exceto quando ele faz uma visita à biblioteca.
b) pavimento térreo: possui a mesma distribuição do pavimento superior, ou seja, um grande átrio
que faz o papel da zona de acolhimento (Quadro 1, Capítulo 2) e distribui o usuário para a ala
esquerda, que abriga o salão de leitura, o acervo geral e os catálogos, e também para a ala
direita onde está alojada a Biblioteca Luso Brasileira Ferreira de Castro87, a coleção
amazoniana88 e o serviço de empréstimo. Ambas compõem a zona de prestação de serviço e
estoque da biblioteca e concentram, praticamente, todos os serviços oferecidos aos usuários,
sendo responsáveis pela circulação de 95% do público que a freqüenta. Embora considerado
térreo, não se encontra ao nível da rua, ficando um pouco mais elevado; e
c) pavimento subsolo: este pavimento possui duas alas que não se comunicam entre si. No
subsolo da ala esquerda encontram-se a maior coleção de jornais do Estado do Amazonas, o
setor de encadernação e os banheiros destinados ao uso de funcionários o que enquadra a
área como zona de estoques e serviços internos (Quadro 1, Capítulo 2) e a faz receber um
número muito reduzido de usuários, algo em torno de 2% do total dos que freqüentam a
biblioteca. No subsolo da ala direita encontram-se a Biblioteca Infantil Alfredo Fernandes, que
está desativada, os banheiros para uso público e uma copa para uso dos funcionários. Assim
Criada pelo governador do Estado do Amazonas através do Decreto nº. 17.744 de 03/04/1997, a Biblioteca Luso Brasileira encontra-se
alojada na Biblioteca Pública aguardando a construção de suas instalações no Centro Cultural Cláudio Santoro, na zona oeste da cidade de
Manaus.
88 Parte da coleção especializada em assuntos amazônicos, por ter bastante procura, fica destacada do restante do acervo.
87
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
125
organizada, ela se caracteriza como zona de prestação de serviço, contudo, quer pela falta de
sinalização ou pelo não funcionamento da biblioteca infantil, esta área não é utilizada pelo
usuário, nem para uso dos banheiros.
Com o objetivo de situar mais claramente a composição dos três andares, servimo-nos de um layout. Em cada página figura um dos andares que retrata a atual organização do espaço da Biblioteca
Pública do Estado do Amazonas a qual se constitui nosso objeto de estudo.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Escada de
acesso ao piso
inferior
Estantes de
acervo a ser
processado
Estantes
Estante
126
Mesas para
estudo
3
1
2
Mesa dos
Bibliotecários
Mesa da Direção
da Biblioteca
Fichários para
consultas
internas
Porta de
acesso
Janela
Carteiras
para
cursos
Mesa dos
computadores
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO SUPERIOR
1 - HALL - Zona de Acolhimento
2 - ALA ESQUERDA: ADMINISTRAÇÃO, ACERVO A SER PROCESSADO E RESTAURADO – Zona de Serviços Internos
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
127
3 - ALA DIREITA: SALA DO ESCRITOR – Zona de Prestação de Serviço
Estantes do
acervo geral
Porta B de
acesso à ala
esquerda
Escada de
acesso ao
subsolo
Xerox
Catálogo para
uso externo
Escada de
acesso ao
pavimento
Escada de
acesso ao
subsolo
Porta B de
acesso à ala
direita
Balcão de
Informações
Mesas de
estudo
Balcão de
Atendimento
Estante
3
1
2
Balcão de
Atendimento
Carteiras para
que o usuário
aguarde o
atendimento
Estantes
Entrada
Porta A de
acesso à
ala direita
Escada de
acesso ao piso
térreo
Porta A de
acesso à
ala direita
Carteiras
para que o
usuário
aguarde o
atendimento
Balcão de
Atendimento
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
128
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO TÉRREO
1 - RECEPÇÃO - Zona de acolhimento
2 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA ESQUERDA: Acervo geral – Zona de Prestação de Serviço
3 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA DIREITA: Biblioteca Luso Brasileira, Amazoniana e empréstimo domiciliar – Zona de Prestação de Serviço
Estantes para o
acervo de jornais
Escada de
acesso ao
térreo
Escada de
acesso ao
térreo
Teatro
Infantil
Salão de
leitura da
Biblioteca
Infantil
7
2
1
4
2
3
5
Guilhotina
Mesa para
encadernação
Estantes para o
acervo de
jornais
6
Mesas
para
as crianças
Estantes
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
ALA ESQUERDA - Zona de Prestação de Serviço Interno
1 – Acervo de Jornais
2 – Banheiros Internos
3 – Setor de Encadernação
PAVIMENTO SUBSOLO
ALA DIREITA - Zona de Prestação de Serviço e de Serviço Interno
4 – Biblioteca Infantil
5 – Banheiros para uso externo
6 – Sala desativada
7 – Copa de uso interno
129
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
130
O interior do conjunto arquitetônico
Ao entrar na Biblioteca Pública, o usuário, no primeiro olhar, depara com uma escadaria que
permite o acesso do nível da rua ao pavimento térreo, constituída de seis longos degraus em mármore
importados de Carrara, Itália e, ao se defrontar com ela, o olhar permite vislumbrar as colunas de ferro em
estilo jônico que dão sustentação ao grande átrio que distribui a circulação para as alas direita, esquerda e
o pavimento superior. É ainda neste olhar que o usuário se depara com o balcão de informações e com a
escadaria de ferro rendilhada.
Figura 65 - Vista parcial do Hall da Biblioteca Pública
Em destaque no átrio, a magnífica escadaria de ferro rendilhada (Figura 66) em forma de âncora
fora encomendada do catálogo da fábrica escocesa Macfarlane’s, que apresentava um modelo similar, o
qual dava destaque inclusive para as colunas (Figura 67). Como um componente arquitetural, nota-se que
a escada tem uma intenção decorativa e estrutural que caracteriza o espaço além de assumir uma vocação
plástica. A delicadeza, a elegância e a leveza de suas feituras se contrapõem com o peso, segurança e
resistência necessárias para sua função. Ela propõe uma elevação ao pavimento superior, rompendo a
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
131
áurea branca indicada pelo teto do andar térreo e permitindo o desvelamento do outro piso. Ocupando a
maior parte do átrio, a escadaria coloca-se firmemente instalada no solo, como a própria condição de uma
âncora a firmar-se em bases sólidas e permitir, entretanto, que por ela se possa chegar ao topo fazendo
um jogo entre horizontal e vertical.
Figura 66 - Escadaria de ferro do átrio da Biblioteca
Pública
Figura 67 – Catálogo da fábrica escocesa Macfarlane's,
1893
No primeiro plano, logo após a escada de acesso, o olhar depara-se com duas colunas em ferro,
também produzidas na Escócia, e que explicitam a verticalidade e a sustentação do espaço. Assim
colocadas, elas afirmam a preocupação com a segurança e colocam-se como duas guardiães, que estão
dispostas tais quais duas escravas ao lado de seu amo o qual determina destinos, aponta soluções e
concentra em si o poder de decisões, esperando, no seu pedestal, que aqueles que lhe venham falar,
aproximem-se. De fato, o balcão de informação apresenta-se como o senhor absoluto do espaço,
solucionador dos problema gerados para o uso da Biblioteca e como elemento fundamental para a ação do
usuário. As colunas são não só protetoras do espaço, elas, na verdade, proporcionam o destaque do
balcão que fica entre elas e a escadaria.
No hall, o olhar que leva ao balcão de informações no centro, observa uma espécie de brasão
onde está entalhado o nome Biblioteca Pública do Estado do Amazonas e um livro aberto. Símbolo maior
da
biblioteca, o livro representa o ato de ler, a conquista do saber, do conhecimento que estão
metonimicamente no volume e, remete o usuário a toda série de suportes da biblioteca. O brasão e o livro
são indicativos do universo de possibilidades de uso que, logo, o balcão de informações revelará ao
usuário.
Na arquitetura interna do edifício, o teto é composto de oito placas em gesso; quatro quadradas e
três retangulares. Ricamente decoradas em estilo romântico, essas placas sob as cabeças dos usuários,
são como contenção, no céu branco – presença de todas as cores –, de toda áurea do saber.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
132
Logo após a porta, no teto, destaca-se uma composição diferente das demais. Nela há a presença
de elementos humanos tratados de modo angelical. Colocados nos quatro cantos de uma composição
floral, estes anjos são uma espécie de guardiões da entrada que olham para todos os que penetram no
ambiente. A grande semelhança dessas figuras com as que estão sempre presentes em lugares
santificados e sagrados ladeando altares, imagens de santo, sugere que sejam protetoras dos que estão
no seu solo. Uma vez mais a biblioteca é qualificada como um sujeito guia, um protetor além de sujeito de
saber, nobre e austero.
Figura 68 - Detalhe do teto do hall da Biblioteca Pública
Desde o início, a predominância da cor cinza na escadaria de ferro, nas colunas e na parede
pintada em uma textura marmorizada, chama a atenção no universo que compõe o ambiente. Os detalhes
do teto do hall, em branco, estão em contraste com o rosa das portas de acesso às alas direita e esquerda
e com o marrom da madeira que compõe o balcão de informações.
O destaque colorido presente no átrio é atribuído à cor rosa das quatro portas de entrada dos
salões esquerdo e direito (Figura 69) que têm como ornamentação um arco sobre pé direito. A sensação
visual produzida pela cor rosa, cria um estímulo exterior relacionado à graça, pureza, feminilidade, ternura,
simpatia e infância. As portas, em madeira de lei, estão constantemente fechadas em função do sistema de
refrigeração, entretanto, uma vez que se estabelecem como elo entre o átrio e os salões, são também
utilizadas como quadro de avisos (Figura 70).
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Figura 69 - Porta de entrada para a ala esquerda da
Biblioteca Pública
133
Figura 70 - Detalhe da porta de entrada à ala direita da
Biblioteca Pública
Dessa forma, a porta está investida da competência de ser um elemento integrador na vida do
usuário e da biblioteca. À medida que se propõe a avisar o horário de funcionamento, por exemplo, ela se
apresenta diferenciadamente de sua função por não ser somente o elemento que dá passagem, que é
revelador de um outro ambiente, ela age sobre o usuário condicionando seu uso, orientando-o para
atividades culturais e para padrões de comportamentos exigidos (“Mantenha a porta fechada, por favor”).
Ao passar pela porta e penetrar na ala esquerda da Biblioteca Pública, o usuário depara com um
vasto salão onde estão ordenadas mesas, cadeiras, carteira, estantes, fichário, aparelho de ar
condicionado, fotocopiadora, etc. Neste primeiro olhar, o que mais se destaca é o contraste proposto pela
cor das paredes (verde claro) com a das janelas (rosa), a quantidade de colunas que dão sustentação e
que também são utilizadas como elemento de informação já que nelas se afixam cartazes, avisos, etc., e o
acervo posto ao fundo.
O verde da parede possui um efeito tranqüilizante, uma suavidade e o frescor da selva que envolve
a cidade e mostra uma realidade muito próxima ao usuário uma vez que representa a natureza sempre
presente na vida do homem amazônico. Isto dá ao ambiente uma áurea harmônica que minimiza os
impactos causados entre o externo e o interno.
Em uma vista (Figura 71) do Salão de Leitura da ala direita da Biblioteca Pública, observa-se que
este é bastante iluminado e seu espaço dividido em duas partes sendo uma de acesso livre – para o
usuário –, e outra de acesso restrito – somente para funcionários. Neste amplo ambiente, chama a atenção
do olhar uma figura masculina que usa camisa de mangas compridas apesar da alta temperatura local.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
134
Figura 71 - Salão de leitura da ala direita da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
O teto, em gesso branco, mantém a áurea existente no átrio e é composto por duas arquitraves
que se apóiam nas dez colunas cilíndricas jônicas com volutas e nervuras em ferro (Figura 72) de origem
escocesa – da mesma fábrica da escadaria do átrio –, e que tem alguma semelhança, tanto quanto ao
estilo e função, com as que estão dispostas no Salão de Impressos da Biblioteca Nacional de Paris, da rua
Richelieu (Figura 73).
Figura 72 - Detalhe do teto e das colunas da ala direita da Biblioteca Pública
A semelhança permite novamente afirmar que o projeto arquitetônico da BPEAM buscava
referências em uma sociedade mais evoluída culturalmente de modo a dar uma significação pela
contextualidade da imagem desejada pela belle-époque manauense.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
135
Figura 73 - Salão de Impressos da Biblioteca Nacional de Paris, rua Richelieu
O piso em verde, branco e vermelho (Figura 75) é composto por peças decoradas em concreto,
que lembram o desenho de um tapete oriental. O material permite a propagação do som e causa
desconforto tanto aos que transitam no espaço quanto aos que estão a efetuar suas leituras. Curiosamente
esta é a única ala que possui o piso com estas características, sendo, que nas demais áreas, ele é
constituído de madeira nobre originária da própria região. Tal substituição, muito provavelmente, deve-se à
reconstrução do prédio ocorrida após o incêndio de 22 de agosto de 1945 que destruiu por completo todo o
acervo e móveis da ala direita, ficando em pé apenas as grossas paredes laterais com grandes fendas de
alto a baixo.
Conforme destacado anteriormente, o uso de tapetes na maioria das bibliotecas tem por objetivo
primordial abafar o som e construir, assim, a imagem de ambiente tranqüilo e silencioso que um salão de
leitura deve ter de modo a permitir que as consultas conduzam os usuários à assimilação do
conhecimento. Deve-se observar, no entanto, que o uso de tapetes em locais muito úmidos, como Manaus,
facilita a propagação de fungos que contaminariam o acervo. O material empregado no piso mostra o
caráter de praticidade de um ambiente que valoriza o sólido, o funcional e o durável, bem como a solução
ideal para os problemas climáticos do local onde ela está inserida.
A colocação do acervo ao fundo do salão dá destaque a um aspecto importante. O primeiro referese à estratégia de localização que prioriza espaços de não circulação, e deixa o usuário impedido de
circular entre as estantes um vez que mesas estão postas tal como barreiras para evitar que pessoas não
recomendadas tenham acesso a ele. Isto provoca um isolamento e qualifica o acervo, âmago do
conhecimento existente na biblioteca, como algo sagrado, que pode ser contemplado em sua totalidade e
tocado na particularidade da obra a ser consultada, o que torna o universo de leituras do usuário restrito ao
que ele solicita sem ter contato com outras obras ou outros assuntos os quais poderiam contribuir
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
136
sobremaneira para a concepção de novos conhecimentos. Ao se colocar longe do alcance do usuário, o
acervo eleva-se a algo inatingível quando de sua totalidade, exclui a possibilidade de um contato irrestrito e
faz, mais uma vez, com que a biblioteca apresente-se como algo sagrado, como templo do saber.
Pela distribuição dos móveis no ambiente da ala esquerda, observa-se que o percurso privilegia a
consulta ao funcionário ao invés da pesquisa ao catálogo já que, ao se abrir a porta, uma espécie de
corredor, posto a partir da disposição dos móveis, leva o usuário a percorrer o caminho em busca do
balcão improvisado por mesas que separam o que é de acesso livre, de circulação permitida para o
usuário, do que é restrito aos funcionários, que é o próprio acervo.
Tal como a estrada de ouro que conduz a heroina do épico O mágico de Oz ao encontro do que
busca, o corredor da biblioteca apresenta-se como um convite para que, ao nele entrar, o usuário percorra
o caminho que o leva diretamente ao acervo de onde vem a solução de seu problema informacional.
Arranjado de modo a orientar o tráfego dentro da biblioteca, o corredor, do lado esquerdo (Figura 74),
disponibiliza carteiras que, como um recurso de argumentação, sugere que localizar a informação buscada
poderá demorar mais do que o desejado; contudo, a biblioteca, como sujeito competente, expressa-se
preocupada com o conforto e com a comodidade do usuário. Assim, o percurso do destinador-manipulador
– a biblioteca –, dá a impressão de bom cumprimento do contrato quando, na verdade, caberia ao sujeito
usuário ir inicialmente ao catálogo para que, ele próprio, selecionasse a obra desejada e a apresentasse ao
funcionário para ser resgatada no acervo. Vê-se então que os móveis estão arranjados de modo a delimitar
espaços de circulação e criar zonas claramente identificáveis no primeiro olhar.
Figura 74 – Detalhe do Salão de Leitura da ala direita da Biblioteca Pública,
com destaque para o atendimento no balcão de atendimento
Como um modelo oposto a ser observado e seguido está o da biblioteca Sérgio Millet do Centro Cultural
São Paulo (Figura 32, Capítulo 2), já descrita anteriormente, a qual manipula o trajeto do usuário pelo
único acesso disponível, uma rampa que finaliza em uma placa de sinalização e remete o usuário para
o catálogo, os bibliotecários de referência e os computadores para busca automatizada, nesta ordem.
Vê-se que o trajeto foi preparado de modo a incentivar que a pesquisa seja inicialmente feita no
catálogo onde o bibliotecário, literalmente, coloca-se como intermediador entre a busca manual e a
automatizada, sem, entretanto, interferir e selecionar a obra a ser consultada.
A grande quantidade de mesas (treze) e cadeiras (cento e quatro) colocadas para consulta indica a
construção de um espaço coletivizado que se revela pela ausência de cabinas de estudo individual, o que
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
137
mostra claramente uma despreocupação com as zonas pessoais e íntimas definidas por Edward Hall
(Figura 5, Capítulo 1). Os móveis, além de pouco confortáveis e hegonomicamente inadequados para o fim
ao qual se destinam, estão arranjados uns muito próximos aos outros de forma a dificultar a circulação
entre eles, o que obriga os usuários a esbarrarem nas cadeiras no momento em que a elas se dirigem.
Essa organização do ambiente mostra um sentido de preocupação com quantidade e não com a qualidade
do atendimento e possui, em vista da existência de mesas de madeira e de ferro, um sentido de
improvisação que é gerada pela não padronização dos móveis aparentando que estes foram captados de
vários lugares e postos para utilização na biblioteca, sem uma preocupação com a harmonia e
agradabilidade.
O sentido de improvisação também se faz presente no balcão de atendimento que é composto por
um ajuntamento de diversas mesas em estilo, tamanho e material variados, além de altura inadequada
para que o usuário consulte a obra e confirme se o assunto é o desejado. A mobília do Salão de Leitura
instaura, pela forma – existência de mesas, cadeira, balcão, fichário –, falsos pressupostos de adequação
da biblioteca às necessidades dos usuários.
O texto mobília, que é marcado pela disfunção dos móveis, apresenta dispositivos veridictórios que
indicam o descaso que os mantenedores têm para com a biblioteca. Embora este órgão esteja bem
localizado na cidade e possua uma estrutura física em boas condições – a última restauração foi em 1996
–, os móveis, a atualização do acervo e os baixos salários dos funcionários são marcas que, postas no
contexto global, indicam um descaso das autoridades para com a dinâmica de uso dessa instituição
cultural.
O ambiente não agradável e não confortável induz o usuário a permanecer pouco tempo no
espaço a ele destinado, e a existência de uma máquina fotocopiadora dentro do Salão de Leitura facilita a
cópia dos livros. São essas cópias de trechos, fragmentos que viabilizam as pesquisas recomendadas na
escola o que só reforça que a biblioteca não se preocupa com a permanência do público em seu espaço.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
138
A sinalização improvisada disposta nas colunas, nas mesas, nas paredes, mostram a falta de um
sistema cuidadosamente elaborado para informar o usuário. Nota-se que a sinalização existente é muito
mais determinante de padrões de comportamento e limites para o uso da biblioteca do que propriamente
integradora, com uma preocupação de permitir que o usuário faça, de forma segura e fácil, o uso da
biblioteca. Em verdade, a sinalização, ao chamar a atenção para o número máximo de obras a serem
retiradas para uso local, por exemplo, apresenta-se como uma sanção negativa e torna-se muito mais
proibitiva do que orientadora.
Do lado direito dessa ala, surge ainda, um elemento que a liga ao subsolo. Trata-se de uma pequena
escada com degraus em madeira e aparador na cor cinza que remete à encontrada no átrio. Seu
aspecto construtivo em nada lembra a escadaria escocesa da zona de acolhimento como pode ser
observado na Figura 75, a qual também permite observar os detalhes do piso. O acesso a essa escada
é restrito a poucos usuários autorizados pela direção da biblioteca para consultar a coleção de jornais.
Figura 75 - Escada de acesso ao subsolo pela ala direita
Ao descer, o usuário se insere em um espaço que se contrapõe, vertiginosamente, ao que lhe permite o
acesso. O ambiente é empoeirado e o ato da descida remete à idéia de enclausuramento, que é
desarticulada pela existência de pequenas janelas que possibilitam tanto a entrada de luz e barulho,
quanto o contato com o mundo exterior. Contudo a sensação de penetrar nesse espaço é semelhante à
da entrada em um porão, uma vez que a percepção olfativa do cheiro de mofo remete à idéia de um
lugar onde os objetos estão postos para aguardar um uso fortuito. Tal idéia é reforçada pela distribuição
do jogo de cinco estantes em madeira que ocupam todo o espaço e pela existência, de fato, de mobílias
que não são mais utilizadas pela biblioteca, como pode ser visto nas figuras 76 e 77.
Figura 76 - Antigo fichário da
Biblioteca
Figura 77 - Vista geral do subsolo
da ala direita
*****
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
139
De volta ao hall da biblioteca, nossa análise da distribuição espacial deveria voltar-se para a
ala esquerda. Entretanto o que se observa é uma reprodução fiel do que ocorre na ala direita alterandose, unicamente, o piso, em madeira nobre da região, como pode ser observado na planta oferecida para
o entendimento do lay out.
Logo após a entrada da ala direita, uma escada dá acesso ao subsolo, semelhante da ala
esquerda, que permite chegar à copa dos funcionários, aos banheiros para uso externo e biblioteca
infantil desativada que não recebe usuários desde 1996. Ao descer, o usuário depara-se com um
corredor todo branco, que lembra o dos hospitais e encontra aberta somente a porta dos banheiros.
Os quatro tipos de usuários do conjunto arquitetônico
Atualmente, a BPEAM atende, de segunda àà sexta, das 08:00 às 17:00 horas, a uma média diária
de 725 usuários dos quais 92% são alunos do ensino fundamental e médio que demandam, principalmente
por assuntos como geografia, história geral, do Brasil e do Amazonas e que, por falta de bibliotecas em
suas escolas ou nas proximidades de suas residências, buscam-na para equacionar seus problemas
educacionais. De fato, Manaus não conta com um sistema de bibliotecas públicas para atender aos seus
1.500.000 habitantes; dispõe, somente, de uma, mantida pelo poder estadual – objeto dessa pesquisa –, e
outra pelo municipal (Figura 78), também localizada no centro da cidade.
Figura 78 - Fachada da Biblioteca Pública Municipal de Manaus - Amazonas, Brasil
Ao transpor a porta da BPEAM, o usuário assume que já se deixou envolver pelas artimanhas do
discurso enunciado pela biblioteca amazonense. Isso pode ocorrer tanto pela enunciação projetada no
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
140
espaço urbano através da fachada, da localização, quanto pela posição que ela assume no meio social
onde está inserida e que a coloca como um agente mediador de cultura.
Um jogo de interesses marca a relação entre o usuário e a biblioteca. O primeiro deseja ver
solucionado o seu problema de informação, cultura ou lazer e o segundo aspira fornecer os conteúdos
buscados de modo a ser útil para a comunidade.
No espaço interno, o trajeto do usuário constitui um processo significante que nos permite analisar
como o público vivencia o afunilamento espacial ao qual é submetido uma vez que, no interior do amplo
átrio que o acolhe, ele se dirige para um dos salões de leitura onde estabelece um contato pessoal com o
atendente o qual lhe entrega a obra fazendo-o, em seguida, colocar-se no individualizado local destinado à
leitura.
Assim posto, o trajeto se estabelece através da passagem obrigatória pelo átrio, tanto na entrada
quanto na saída, seguindo do deslocamento para o salão de leitura da ala esquerda ou direita, conforme a
necessidade, do encaminhamento para o balcão de atendimento e para a mesa de leitura, estabelecendo
nesse transcurso, um ritmo, uma delimitação, uma segmentação própria das expectativas e interesses de
cada usuário.
Após a observação dos trajetos efetuados e análise do modo como o público testemunha o que
ocorre no interior da biblioteca, especialmente, quando se trata da interação com o ambiente e com os
serviços ofertados, uma categoria fundamental – uso vs desuso –, coloca-se como basilar para o exame do
modo como o usuário a utiliza e nos permite, através da reconstrução de seu comportamento, ver os
significados que permeiam tal utilização.
Ao eleger essa categoria para examinar como o usuário da BPEAM a valoriza, julga e interage com
o contexto, o seguinte dispositivo permite instalar a seqüência da análise:
Desuso
Uso
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Não-uso
141
Não-desuso
Tomando por base que a missão de uma biblioteca pública é favorecer a assimilação do
conhecimento para todos que a procuram e que integram o grupo de usuários para o qual ela presta
serviços; nesse estudo, os termos que compõem a categoria de análise foram estabelecidos a partir do
exame de como e por que a BPEAM é utilizada.
Assim, duas estratégias do trajeto dos usuários foram identificadas inicialmente – desuso vs uso. A
projeção dessas duas categorias sobre o quadrado semiótico permitiu o encontro das duas outras
correspondentes à negação das duas primeiras. Desuso é, nesse estudo, referente ao comportamento
daqueles usuários que procuram a BPEAM com o objetivo de executar um dever determinado pela escola
e não para interagir com o todo do contexto informacional ofertado por ela, ou seja, não a utilizam com a
função de adquirir novos conhecimentos e promover seu conhecimento. A negação do desuso, o nãodesuso, identifica-se com um tipo de usuário que freqüenta a biblioteca em busca de uma leitura para seu
entretenimento e utiliza somente o serviço de empréstimo domiciliar. Ao contrário do primeiro, que se dirige
a ela por uma obrigação não desejando ser usuário, o segundo a elege e nela se inscreve para utilizar um
serviço, contudo, não interage com o todo informacional que está disponível.
A categoria uso identifica um tipo de público que busca a BPEAM não só para apreender os
assuntos que demanda, construindo assim seu saber, mas também para descobrir ao acaso novas
informações uma vez que sabe como buscar o que necessita e, para tal, aceita todo e qualquer serviço que
lhe seja ofertado. A negação do uso, o não-uso, identifica um grupo de usuário que vê a biblioteca pública
como um espaço a lhe prestar informações turísticas ou utilitárias tendo em vista que ela está localizada no
centro histórico da cidade e seu conjunto arquitetônico, do início do século, integra esse patrimônio. Tal
tipo de usuário demanda por um serviço de resposta rápida, por um convite a uma visita a uma exposição
ou ao prédio e, portanto, não é um utilizador do acervo e dos serviços mais tradicionais.
SOB O OLHAR DO USUÁRIO: um estudo semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
142
O entendimento das estratégias dos quatro trajetos pode melhor ser percebida a partir de sua
visualização no interior da BPEAM, posto a seguir.
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144
3
2
1
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO TÉRREO
1 - RECEPÇÃO - Zona de acolhimento
2 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA ESQUERDA: Acervo geral – Zona de Prestação de Serviço
3 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA DIREITA: Biblioteca Luso Brasileira, Amazoniana e empréstimo domiciliar – Zona de Prestação de Serviço
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3
2
1
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO TÉRREO
1 - RECEPÇÃO - Zona de acolhimento
2 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA ESQUERDA: Acervo geral – Zona de Prestação de Serviço
3 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA DIREITA: Biblioteca Luso Brasileira, Amazoniana e empréstimo domiciliar – Zona de Prestação de Serviço
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BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO TÉRREO
1 - RECEPÇÃO - Zona de acolhimento
2 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA ESQUERDA: Acervo geral – Zona de Prestação de Serviço
3 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA DIREITA: Biblioteca Luso Brasileira, Amazoniana e empréstimo domiciliar – Zona de Prestação de Serviço
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BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DO AMAZONAS
PAVIMENTO TÉRREO
1 - RECEPÇÃO - Zona de acolhimento
2 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA ESQUERDA: Acervo geral – Zona de Prestação de Serviço
3 - SALÃO DE CONSULTA DA ALA DIREITA: Biblioteca Luso Brasileira, Amazoniana e empréstimo domiciliar – Zona de Prestação de Serviço
Após esse
exame,
é
possível
perceber os
regimes de
visibilidade
da BPEAM e
construir
uma
tipologia a
Usuário
transcritor
: um olhar
míope
O primeiro caso, o do usuário transcritor, representa a maioria dos que freqüentam a BPEAM
motivados por uma necessidade urgente e imediata de dever-fazer o seu trabalho escolar, o que a faz
ser vista somente pela sua função educacional.
Em geral, mas não exclusivamente, o usuário traja o uniforme da escola e identifica-se como
aluno do ensino fundamental ou médio das escolas públicas que, pela quase inexistência de bibliotecas
escolares, busca qualquer unidade de informação para que possa realizar o “dever de casa”, tornandose comum utilizar, em maior ou menor grau, as bibliotecas universitárias, especializadas ou públicas
sendo, entretanto, estas últimas, a de maior procura.
Chega à biblioteca acompanhado de um colega ou de um grupo, quando o trabalho é em
equipe. Quando o trabalho é para ser realizado individualmente, é acompanhado da mãe, do pai ou do
irmão mais velho quando tem dificuldades de acesso à biblioteca, quando sabe que a realização do
trabalho de cópia será muito extenso, ou quando alguém do ciclo familiar se desloca para o centro da
cidade, local para onde convergem muitas necessidades como o banco, o comércio, etc. Dirige-se ao
balcão improvisado no salão de leitura da ala esquerda para solicitar o assunto que traz anotado em
seu caderno, conforme a indicação do professor. Normalmente não aceita mais de uma obra e espera
encontrar, exatamente, os termos indicados pelo professor para só então, conduzir-se à mesa e copiar
integralmente o texto do livro indicado ou, como na maioria dos casos, ir à máquina fotocopiadora para
reproduzir mecanicamente o material entregue e abreviar seu tempo na biblioteca.
Tal comportamento é revelador de um não-saber-fazer uso, de fato, dos artefatos culturais que
a biblioteca mantém por reduzir a uma única obra sua consulta e, ao copiá-la mecanicamente, mostra
que não se preocupa com a assimilação do conteúdo que está sendo estudado.
Esse tipo de usuário é tímido, inseguro, sente-se pouco à vontade principalmente se for a
primeira vez que vai à biblioteca. Observa o comportamento dos demais para agir igual, caminha com
insegurança e é extremamente obediente às normas determinadas pela BPEAM bem como às pistas
por ela deixada. Ao chegar ao Salão de Leitura, o usuário é solicitado a identificar-se através do
preenchimento de um formulário (Figura 79) o qual, em seguida, é entregue ao funcionário com a
indicação do assunto desejado para que seja resgatado do acervo, de circulação restrita aos
trabalhadores da instituição, enquanto aguarda, sentado, nas cadeiras dispostas para esse fim.
Figura 79 - Formulário para solicitação de informações existente na Biblioteca Pública
Detectou-se que as necessidades desse tipo de usuário são sazonais e que surgem nos
períodos de avaliação escolar. A biblioteca, pela pouca quantidade de funcionários, 21 funcionários ao
todo sendo 06 bibliotecários e 15 auxiliares de biblioteca e ainda 19 estagiários de nível superior dos
cursos de Turismo, Biblioteconomia e Pedagogia, disponibiliza carteiras para que ele possa preencher
o formulário e aguardar sua vez de ser atendido. Isso valoriza o artefato cultural em detrimento da
assimilação do conhecimento já que, nesse caso, a busca é intermediada pelo funcionário, único que
tem acesso ao acervo e impõe pela sua seleção, a consulta à obra recuperada de acordo com seu
modo de ver o tema e o mundo. Ao aceitar ser manipulado por esse jogo, o usuário, assume uma clara
posição de submissão ao que foi indicado.
Seu trajeto é marcado por uma fiel obediência à sua determinação de efetuar
sua cópia e seu comportamento está de acordo com a exigências explicitadas pelo
texto ambiental pois, após entrar pelo grande átrio, dirige-se à ala direita do andar
térreo, recebe, preenche e entrega ao funcionário o formulário, aguarda sentado
para ser chamado e, ao receber a obra com a página aberta no assunto solicitado,
apenas confere se tem a mesma denominação solicitada pelo professor e não
questiona sobre qualquer outros autores que abordem a temática.
O usuário transcritor não usa o catálogo por não conhecê-lo, não sabe para
que serve e por que a organização espacial não o induz para efetuar essa
descoberta. Contudo acredita ser a cópia o resultado do esforço que faz para
realizar o seu trabalho e atender às exigências da escola já que é capaz de ir à
biblioteca para efetuá-lo. Isso o deixa orgulhoso e satisfeito com o que produz, mas
não consegue perceber que o modelo de consulta que a escola lhe exige não
favorece seu desenvolvimento.
A análise do seu comportamento no trajeto mostra que ele não pode e não quer ser usuário da
biblioteca e, no caso da reprodução na máquina fotocopiadora, deixa claro que não tem vontade de se
manter no lugar, mesmo que seja para fazer a cópia. É, de fato, um não-usuário que não quer fazer uso
da biblioteca e ela, por sua vez, ao permitir e incentivar esta prática, coloca-se como uma mera
guardadora de livros.
Ao não ser motivado para transformar seu estado de desconhecimento, esse usuário recebe
uma sanção negativa, embora acredite ser positiva e assume, veredictoriamente, uma mentirosa
posição de saber o conteúdo estudado enquanto que a biblioteca, ao fingir não perceber o que está
ocorrendo no seu interior, mostra-se incompetente para articular as demandas reais de seus usuários.
Ao exercer um papel estático a biblioteca é vista apenas como um “depósito de livros” para
onde o usuário se dirige quando, por algum motivo, não pode adquiri-los, e torna-se partícipe e
conivente deste processo quando assume a postura de “entregadora de livros”, normalmente com a
página aberta no assunto; ou ainda quando disponibiliza um eficiente serviço de reprografia no interior
da Sala de Leitura, acomodando-se, ajustando-se, adaptando-se aos fazeres do usuário-objeto. Dá a
ele a responsabilidade de informar-se, ao invés de contribuir para potencializar a assimilação dos
conhecimentos modificadores e inovadores que construirão seu saber, por acreditar que a
responsabilidade de adquirir informação é somente do usuário, enquanto que a sua é a de estocar
informação. É uma instituição iminentemente privada, já que não oportuniza ao indivíduo, ao seu grupo
e à sociedade, o acesso a um processo de desenvolvimento mínimo que seja. Mostra-se um sujeito
que não quer ser visto e reconhecido como um capaz de contribuir para o fazer do usuário.
Usuário
dissimula
dor:
um
olhar
superficial
O usuário dissimulador reconhece claramente a função de lazer da biblioteca e demanda,
exclusivamente, pelo serviço de empréstimo domicíliar de obras literárias que enriquecem seu capital
cultural. Com isto fortalece, em parte, também, a função cultural do serviço público de informação, no
sentido de acumular, através das experiências vividas pelas histórias lidas, pelos fatos narrados, um
conhecimento geral.
Possuidor do hábito de leitura, esse usuário geralmente não utiliza o catálogo; aceita, com
prazer, a indicação de duas ou três obras, principalmente quando são recém-adquiridas ou quando não
traz consigo um título pré-selecionado. Sua preferência é por romance policial, e Ágatha Cristie é a
autora mais lida. Na maioria dos casos, não conhece autores locais, exceto quando é vestibulando e
necessita dessas leituras para o processo seletivo de instituições de ensino superior. Com isto mostra
não se deixar seduzir pelos escritores amazonenses, e esta escolha não contribui para formar um
conhecimento sobre a cultura do homem amazônida, retratada na literatura amazonense.
Na BPEAM, este tipo de usuário representa, aproximadamente, 6% dos freqüentadores, mas
não costuma ficar no recinto além do tempo necessário para devolver e emprestar uma nova obra.
Normalmente é curioso, pontual na devolução, vaidoso de sua competência de poder-saber-fazer
rapidamente a leitura do material selecionado. Em sua maioria, são bancários, comerciários e
estudantes, sendo que estes últimos lêem, também, para atender às atividades da escola.
Sabe o que quer ler, é conhecido pelas pessoas que o atendem no Setor de Empréstimo e é o
único tipo de usuário que possui um registro com endereço comprovado na biblioteca, contudo não se
deixa atrair por quaisquer outros produtos ou serviços ofertados por negligenciar qualquer informação
que não venha ao encontro de suas necessidades específicas. Observa pouco o espaço, mas conhece
muito bem o seu trajeto, que é marcado pela firmeza de seu comportamento, pela segurança de seu
deslocamento, pela indiferença com o que transcorre no interior da biblioteca, pela certeza com que
transpassa o espaço em busca do que deseja, tornando-se alvo fácil para ser seduzido por um bom
serviço de divulgação das obras literárias ou por um agradável e confortável local onde possa,
pacientemente, selecionar as obras para empréstimo.
Vê a biblioteca como uma grande livraria que estoca os livros os quais irá ler, mas que, pela
quantidade de leituras efetivadas e desejadas, não tem condições de adquirir. Possui um status de
intelectual por estar sempre envolvido com alguma nova leitura e, uma vez que o livro é
valorizadamente um símbolo de cultura, é visto como uma pessoa inteligente que, aparentemente,
possui muito conhecimento por estar sempre lendo alguma obra. Entretanto sua competência se
esgota na leitura da obra literária já que se exime de utilizar qualquer outro serviço oferecido pela
biblioteca.
Ao agir assim, mostra que sua visão sobre o que um serviço público de informação pode-lhe
ofertar é superficial e, o não se deixar envolver pode significar que o espaço da biblioteca, pelo seu
modo de se colocar sob seu olhar, desinteressa-o e o leva a querer não ser um usuário da totalidade
dos serviços ofertados. A biblioteca, ao não desenvolver outros serviços que possam atrair sua
atenção, como um encontro com um escritor amazonense para disseminar tanto a produção local
quanto mostrar-lhe novas indicações de leitura, por exemplo, ou ainda por não manter um espaço
especialmente destinado à leitura informal, assume a postura de mera entregadora de livros sem se
preocupar com o processo de assimilação das leituras e não quer ser vista como um agente capaz de
promover o desenvolvimento de seu público.
Ao olhar a biblioteca pública de modo reduzido, mostra que seus procedimentos de trajeto
estão em consonância com as suas necessidades: entra na Biblioteca, dirige-se ao salão de consulta
da ala direita, entrega o livro que estava emprestado ao funcionário, seleciona outro previamente
estabelecido, aguarda que o funcionário efetive as rotinas de empréstimo para, em seguida, retirar-se
do ambiente da BPEAM. Geralmente não utiliza o catálogo e aceita a indicação de obras desde que os
autores já lhe sejam conhecidos. Contudo não que ser usuário e sim um mero utilizador de um serviço
– o de empréstimo – , que a biblioteca oferece.
A sanção, que pensa ser positiva, é, para ele, a leitura das obras que seleciona contudo, em
não são capazes de ampliar seu conhecimento.
Usuário
incidental:
um olhar
atento
O terceiro tipo de usuário, o incidental, deixa seduzir-se completamente pelo texto arquitetônico
e penetra no espaço interno com a expectativa de desvelar algo, com curiosidade e, muito
envergonhado pela invasão que pensa estar fazendo, não sabe, na maioria das vezes, que está
adentrando no prédio da BPEAM porque, na maioria das vez, não reside na capital amazonense.
De fato, os turistas que passeiam pela cidade – porta de entrada para o
ecoturismo na Amazônia brasileira –, em geral, caminham pelo centro de Manaus
em busca de conhecer as atrações artificiais e, ao se depararem com um rico
exemplar do patrimônio histórico, entram no ambiente desconhecendo que alí
funciona uma biblioteca, pela completa ausência de algo que indique. Isso reforça a
tese da sedução e fascínio que o prédio produz nos transeuntes.
Em alguns raros casos, quando residente na cidade, dirige-se ao balcão para solicitar uma
informação rápida sobre uma instituição, um trajeto de ônibus ou a localização do serviço de vacina
pública, por exemplo. Tais informações, conhecidas como utilitárias por serem de utilidade pública, não
são oferecidas pela biblioteca, e a resposta fica sempre condicionada ao conhecimento do atendente.
Também pode, ocasionalmente, o usuário incidental entrar na biblioteca para fazer uma fotocópia. No
primeiro caso, ele valoriza o papel informacional da biblioteca e deixa-se seduzir pelo enunciado no
espaço social onde ela se insere como um lugar que presta informação, embora tal discurso, como se
pode notar, seja falacioso. Já no segundo, a sedução dá-se pelo reconhecimento da qualidade ou
diversidade dos serviços que ela oferece.
Como se trata de uma visita sem continuidade que ocorre com 1,6% dos freqüentadores, é
difícil desenhar seu trajeto que pode finalizar no Balcão de Informação ou estender-se por todas as alas
e andares onde seja permitido o seu acesso. Enquadra-se na exceção à regra e sua competência
modal se estabelece pelo querer-fazer ou pelo querer-saber sobre o espaço que adentra.
Vê a biblioteca como um lugar curioso, como um espetáculo e seu olhar é, quase sempre,
muito dedicado aos detalhes do interior, mesmo quando este usuário é morador da cidade e, com a sua
freqüência, dá destaque à função cultural que ela possui. As informações inerentes às suas
necessidades processam-se pela oralidade e não pela consulta a documentos escritos.
Seu ritmo de deslocamento é lento uma vez que contempla o espaço como quem está
passeando em um lugar que lhe oferece o que ver e como deixa o tempo passar nos seus passos
aceita os convites que a biblioteca lhe faz como visitar exposições que estão ocorrendo.
Enquanto o turista, é especialmente o visível que atrai a sua atenção, uma vez que é capaz de
associar um detalhe arquitetônico a um semelhante visto anteriormente sem que isso, de fato, venha
contribuir para criar novos conhecimentos e, ao fotografar o espaço da biblioteca, o reapresenta como
um troféu de sua descoberta. É possuidor de um amplo capital social e, em quase 100% das
ocorrências, é de origem estrangeira e pouco fala o português. Mostra com sua procedência de fora do
local, que é possuidor de um poder-fazer seu deslocamento por essa uma cidade encravada no interior
da floresta amazônica, cujo acesso é dificultado pela distância que mantém das maiores cidades do
país e da própria região. A cidade de Manaus, por si só, já desperta, no turista estrangeiro, muita
curiosidade quer pela sua localização, quer pela riqueza de seu patrimônio natural. O seu trajeto,
então, é marcado pelo que desperta a atenção do seu olhar.
Ao desconsiderar esse tipo de usuário, a biblioteca pública não assume a heterogeneidade do
seu público quer por ignorar-se como parte do patrimônio histórico da cidade já que seu prédio foi
tombado como monumento histórico através do Decreto Estadual nº. 11.033 de 12 de abril de 1988,
quer por não possuir um serviço de informações utilitárias. Ao agir desse modo, coloca-se distante da
totalidade das demandas oriundas da comunidade e assume um papel tradicional e conservador
quanto à oferta de seus serviços. Nesse caso, seu discurso é de espoliação por privar seu público de
algo que lhe é de direito: a informação utilitária e turística.
Usuário
pesquisad
or:
um
olhar
perspicaz
O usuário pesquisador representa 1,7% dos freqüentadores da biblioteca pública e caracterizase por saber explorar a informação que busca com perspicácia, pois é capaz de articular seu capital
social de modo a produzir novos conhecimentos. Sabe o que deseja, onde localizá-lo na biblioteca e
goza de uma certa flexibilidade para fazê-lo uma vez que tem acesso permitido à coleção de jornais,
cujo exemplar mais antigo data de 1864, e à de obras raras que, no momento, está em processo de
avaliação. São ambas fechadas ao público em geral.
Normalmente consulta muitas obras, usa intensamente a biblioteca, chegando a ficar mais de
seis horas dedicado à sua pesquisa e retorna sempre no dia seguinte quando não a concluiu. Sua
competência se estabelece pelo saber-fazer a pesquisa desejada. É detalhista, metódico e habilidoso
no trato com a informação e é o usuário da biblioteca que mantém o trajeto mais longo se comparado
aos outros tipos descritos.
Tem preferência por um ambiente tranqüilo, por cabinas individuais de estudo e se sente
incomodado com o constante movimento do usuário copista no Salão de Leitura. Aprecia percorrer o
acervo, ao qual pode ter acesso, sem pressa para desfrutar de descobertas fortuitas – browsing. Não
tem horário fixo para suas pesquisas e, portanto, necessita que a biblioteca esteja aberta nos mais
variados turnos e que, de preferência ela possua salas de estudo individual, boa iluminação,
sinalização que facilite seu deslocamento, catálogos fáceis de manusear e, se possível, cadeiras ou
bancos no acervo e um lugar no interior da biblioteca onde possa tomar um café e relaxar por alguns
instantes, já que costuma gastar muitas horas fazendo suas leituras.
É o único tipo de usuário que consulta o catálogo, pois reúne condições para fazer uso da
informação ali registrada já que sabe localizá-la pela descrição proposta na ficha catalográfica.
Empreende demasiado esforço para refinar sua busca e seleciona, com objetividade, as obras que irá
consultar, pois sabe negociar a informação que deseja. É modalizado pelo saber-fazer o uso do
catálogo e quando, por ventura não encontra nele o que deseja, questiona os funcionários sobre a
existência da informação procurada que pode não estar ainda inserida no catálogo. Ao ter essa
postura, torna-se também o único tipo de usuário da BPEAM que tem acesso aos relatórios
preliminares resultantes do processo de automação uma vez que, dos 99.000 títulos existentes na
Biblioteca Pública, 66.000 já foram incluídos na base de dados, mas o software desenvolvido tem-se
mostrado ineficiente quanto ao seus modos de busca e, no momento, está em processo de adaptação
para dar suporte às demandas das pesquisas. Contudo alguns relatórios parciais encontram-se
impressos para a análise da direção, sendo esses que o usuário pesquisador tem acesso. Comunicase com facilidade e, em muitas vezes, dirige-se ao pavimento superior para negociar com a direção da
biblioteca, a flexibilização de sua consulta direta ao acervo o que é, quase sempre, consentido.
A biblioteca, ao permitir o acesso ao que é restrito – acervo, coleção de jornais, relatórios do
processo de automação –, doa a ele competências modais do poder-fazer o uso ilimitado dos artefatos
culturais que possui e o faz crer que é um usuário especial ou privilegiado. Ao aceitar esse contrato, o
pesquisador passa a vê-la como um lugar aberto, desprovido de qualquer limite, posto para contribuir
com o seu processo de desenvolvimento.
Seu comportamento mostra que espera que a biblioteca atue como facilitadora de suas buscas
disponibilizando o seu acervo, realizando palestras, cursos, etc., ou ainda indicando outros locais onde
possa recuperar a informação desejada caso ali não a encontre. Por agir de acordo com o seu projeto
de desenvolvimento, tem muitas expectativas em relação à biblioteca e espera que ela não crie
obstáculos para que ele efetue suas consultas.
Ao agir dessa forma, a BPEAM passa a exercer um papel dinâmico, integrador, revelando-se
não só como um agente de transformações sociais, mas também, ao não querer não ser vista, assumese como um lugar aprazível, como cúmplice das demandas informacionais, como elemento capaz de
provocar o desenvolvimento de seu usuário.
A perfórmance desse usuário é revestida de valores modais de poder, saber e querer-fazer uso
da informação, sendo-lhe isso muito prazeroso. Seu trajeto é marcado pela segurança de quem sabe
como localizar o que busca, pela flexibilidade com que articula seu acesso aos ambientes restritos e
pela firmeza com que transcorre o espaço, aborda os funcionários e elege aquilo que deseja ler. É
muito interessado em todas as atividades que a biblioteca realiza, sendo, portanto, um usuário certo de
serviços personalizados como a reserva de obras pelo telefone ou um de um café para descansar nas
horas que deseja.
Utiliza inicialmente a ala esquerda do pavimento térreo e dirige-se, seqüencialmente, ao
catálogo, ao funcionário, ao subsolo, quando é o caso, à mesa de estudos e, por vezes, à
fotocopiadora.
*****
A identificação dos quatro tipos de usuários, da BPEAM, através dos seus trajetos, permite
conhecer a heterogeneidade dos públicos que a freqüentam, suas reais demandas, seus perfis de
competência e perfórmance. Por sua vez, a biblioteca na condição de destinador-julgador dos fazeres
desses sujeitos, pode assumir diferente papéis e dinamizar adequadamente suas funções educacional,
cultural, informacional e de lazer de modo a, propor competentemente, o seu uso e privilegiar a
aquisição de conhecimento que viabilizará um fazer glorificante do usuário.
A partir dessa identificação pode ser projetado, no modelo teórico da semiótica, o quadrado
semiótico, que visualiza as relações mínimas da significação fundada nos percursos dos usuários
analisados. Poderá permitir várias inferências da biblioteca no contexto onde atua e gerar novas
posturas de ambas as partes – usuário e biblioteca pública –, com o objetivo de quebrar as barreiras
impostas pelos limites de cada tipo e elencar alternativas que fortaleçam a construção consciente do
projeto de cada um.
O reconhecimento dos tipos de usuários deverá, acima de tudo, gerar ações
por parte da biblioteca, que venham a contribuir para que eles transpassem as
barreiras impostas pelas suas limitações e atinjam níveis mais elevados. A
visualização proposta pelo quadrado semiótico tem, por objetivo, mostrar as
características das posições que cada tipo de usuário identificado ocupa, além de
permitir o entendimento de que essas posições são interligadas, e que é possível,
para ele, fazer o trânsito de um tipo para o outro a partir das transformações de suas
competências e perfórmances.
Transcritor
Pesquisador
Emergencialista
Não quer ser usuário
Obrigação
Explorador
Quer ser usuário
Prazer
Incidental
Dissimulador
Oportunista
Compulsivo
Não quer não ser usuário
Quer não ser usuário
Curiosidade
Lazer
Como destinatários, os usuários dos tipos denominados pesquisador e
incidental estão abertos à oferta e deixam-se manipular pela sedução e tentação que
organizam o discurso do destinador-manipulador, a BPEAM, que se enuncia
competentemente através do modo de se colocar no espaço físico e social. Ao
desejarem querer-fazer uso da biblioteca, tais usuários assumem que tencionam
compartilhar o que ela tem a lhes oferecer, pois possuem a imagem positiva de que
ela é capaz de responder às suas expectativas de lazer.
Contudo os destinatários transcritor e o dissimulador, ao se manterem
centrados somente naquilo que demandam – livros textos e literários –, assumem
que se deixam manipular pela provocação e intimidação, pelo dever-fazer uso da
biblioteca que, através da sua competência, é capaz de reunir as obras que eles
precisam utilizar quer seja pela obrigação da realização do trabalho escolar, quer
seja pela necessidade de mover-se, através da leitura, para lugares imaginários.
Para a semiótica, o fazer do usuário mostra suas verdadeiras intenções quando do uso da
biblioteca podendo, através da descrição de seus comportamentos, de suas ações, identificar o que, de
fato, são suas necessidades e seus objetivos. Os fazeres são capazes de mostrar como o sujeitousuário age, como sobre eles são operadas as transformações do seu estado inicial – de
desinformado, ao estado final, com graus de domínio da informação buscada e quais são os valores de
uso investidos na utilização da biblioteca, como esses são reflexos do valor de base dado ao objetoinformação estabelecedor do contrato que fixa o valor dos valores em jogo.
Chama especial atenção, no olhar que se coloca sobre a distribuição espacial
e, conseqüentemente, sobre os trajetos delineados, a disposição do catálogo. Nossa
análise
mostrou que essa não favorece a consulta do usuário mantendo esse
dependente dos funcionários da BPEAM, o que é agravado pelo tipo de acesso aos
livros. Como esse acesso é restrito, e ele não pode chegar até as estantes onde
estão armazenados os saberes, ele depende inteiramente dos representantes da
BPEAM, de seu saber que funciona como o único guia no qual só resta crer. Em
todos esses aspectos, a BPEAM é um destinador autoritário que não assume o seu
papel de diversificar o conhecimento e o fazer dos que a consultam.
A biblioteca, para ser vista como um organismo dinâmico, um agente transformador de um
maior número de usuários, partícipe do projeto de desenvolvimento de cada sujeito consultante e da
comunidade onde está inserida, deveria preocupar-se com o efeito das mensagens transmitidas pelos
seus estoques, assumindo que a relação entre a assimilação e a reelaboração do conhecimento pelos
seus freqüentadores é uma de suas competências a desenvolver. Cabe a ela dar meios para que essa
transformação se efetue e atuar sobre o valor de base tanto do usuário – obtenção da informação, do
conhecimento, como no da biblioteca – dar acesso à informação. Somente ao assim agir a biblioteca
desenvolve as suas competências e perfórmances e se coloca como um organismo de utilidade pública
capaz de iluminar os que se encontram na escuridão.
Ao tratar seus estoques como valores para os que os buscam ou ainda, ao valora-los para que
eles possam tornar-se um objeto de valor para alguém, a biblioteca está atuando como sujeito
competente na geração de conhecimentos de seus usuários, grupo de freqüentadores e, mais
amplamente, da sociedade em que se insere e a partir de qual seus papéis são delineados, ela pode
propor e sancionar contratos de relações com os usuários. São tais contratos que a fazem ser vista e
valorada pelo usuário.
Efetuada nossa análise, passamos a construir um olhar sugestivo que, em certa medida,
objetiva alterar os modos de visibilidade da BPEAM.
A
s práticas da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas -
U
MO
LHAR S
GESTIVO
UM
OBPEAM, elencadas através dos fazeres de seus usuários,
OLHAR
SU
UGESTIV
mostraram que, além de ela não estar
desempenhando seus papéis junto a esses, ela exclui de seu atendimento diversos segmentos da
sociedade como o infantil, o idoso, o deficiente físico e visual, entre outros, que nela não identificam
serviços voltados para seus interesses e necessidades.
Essa atuação de desigualdade é indicativa da fragilidade como ela assume sua missão de
agente promotor do saber e da leitura. Com efeito, a biblioteca amazonense precisa efetivar a transição
de uma biblioteca elitista para outra mais próxima de seu verdadeiro público, orientada pelas demandas
e anseios comunitários de modo a tornar-se um sujeito com visibilidade para a maioria da coletividade
e mostrar-se como um pólo público mediador e disseminador do conhecimento acumulado em seu
acervo.
Pelas análises realizadas, destaca-se que a BPEAM dirige suas atividades somente para 10%
do público da capital – Manaus –, sem atingir a população dos 62 municípios restantes que compõem,
de fato, o Estado do Amazonas. Ademais, observa-se ainda que mesmo a população manauara, na
sua expressiva maioria (90%), não a utiliza. Entre os que a percebem como sujeito armazenador do
saber, a quase totalidade, a ela se dirige para fazer cópia de seus trabalhos escolares. Esse quadro
marca o isolamento em que ela vive devido a sua acentuada preocupação com a ordenação e
conservação dos artefatos culturais.
Ao analisar o papel das bibliotecas públicas brasileiras, Luiz Tadeu Feitosa89 mostra-nos que a
realidade amazonense não difere das demais no país, e, afirma que uma
“nova ordenação das bibliotecas públicas seria a revisão completa dos seus
símbolos, do seu acervo, da sua forma de atuação, da sua política de seleção de
material, da sua estratégia de estudo de usuário, da sua política de marketing, da
renovação de seus serviços, da escolha de seu público e do prévio conhecimento
deste, da necessidade de uma plena atuação revisora de seu universo cultural; de
uma atualização maior frente às mudanças no universo informacional e, sobretudo,
de um trabalho em conjunto com outras instituições”.
Observa-se que, na fala do autor, se a biblioteca pública deseja transpor o fosso que a separa
de seu público deve aproximar-se dessa coletividade e, junto com ela, viver e vivenciar sua visão de
mundo. Em sua natureza pública, a biblioteca deve tornar o mais acessível possível a informação
convertendo-se em um centro de vida cultural da comunidade, promovendo eventos, ouvindo mais do
que falando e, sobretudo, disponibilizando seu espaço para as discussões e inquietações mais
prementes.
Para que isso ocorra, muitas modificações sugeridas por esse estudo deveriam ser
introduzidas a fim de ampliar, qualitativa e quantitativamente, o modo de a BPEAM se fazer ver pelo
usuário. Implicariam essa uma redefinição dos serviços ofertados que deverão estar afinados com o
aspecto heterogêneo da comunidade e um rearranjo do ambiente físico de modo a dinamizar
amplamente o seu uso.
89
FEITOSA, Luiz Tadeu. O Poço da Draga. p. 101.
Por um dabacuri90 na Biblioteca Pública
A transformação da BPEAM em um dinâmico pólo de convivência cultural onde a comunidade
local possa utilizá-la para as mais diversas atividades, como palestras, cursos, exposições, lançamento
de livros, leitura de jornal ou acesso à Internet, entre tantas outras, requer dela uma nova postura que
privilegie a participação ativa e efetiva de todos, sejam, alfabetizados, neo-alfabetizados, analfabetos,
semiletrados, leitores, não leitores, usuários e não usuários.
O caboclo amazônico chama dabacuri uma festa que um amigo ou parente oferece a outro. Tal
termo, de origem indígena, significa um banquete acompanhado de danças que dura enquanto houver
comida e bebida o que é, média, três dias. Aqui, o termo é empregado em alusão à grande festa que a
BPEAM, se modificada, pode promover ao permitir um amplo acesso aos bens culturais que ela
mantém.
Contudo, para assumir uma postura de órgão cultural que privilegie amplamente a variedade
de seu público, ela deve preliminarmente:
a) ampliar seu horário de funcionamento que hoje é de 8:00h às 17:00h, de segunda a sexta,
para o de 8:00h às 22:00h de segunda a sexta, de 8:00h às 18:00h aos sábados e
eventuais domingos em que se desenvolvam atividades especiais. Tal atitude, além de
permitir o acesso, o mais amplo possível, da comunidade como um todo, contribui para
dinamizar sua função social flexibilizando o atendimento de todos os públicos a que ela, na
condição de pública, deve atender. De fato, é comum chegar-se à porta da biblioteca
90
Para aprofundar sobre as expressões indígenas e caboclas ver SANTIAGO, Socorro. Uma poética das águas.
pública às 17:10h e encontrar alunos que, ao saírem das escolas próximas, procuram-na
para realizar suas tarefas escolares ou ainda quando, por volta das 18:00h, o comércio da
zona central começa a fechar e os comerciários buscam-na para uma atividade de lazer
que possa descontraí-los após um dia de trabalho.
b) permitir o acesso livre às estantes e aos artefatos culturais de que ela dispõe de modo a
maximizar a relação entre autor e leitor; fortalecer o processo natural de seleção por parte
do usuário; possibilitar que obras sejam folheadas ao acaso na expectativa de que algo de
novo desperte o interesse do usuário para outras leituras; incentivar o contato com todas
as obras sobre a temática buscada para que a variedade de leituras possa solidificar a
crítica e contribuir para a construção do saber e do conhecimento;
c) ampliar, qualitativamente, o seu quadro de funcionários, oferecendo reciclagem a todos de
modo a criar neles uma ação mais efetiva quando do seu fazer e desapertá-los para o
reconhecimento da importância de seu papel no amplo contexto onde a biblioteca se
insere;
d) promover o desenvolvimento de sua coleção, especialmente no que tange ao
debastamento de obras desatualizadas; a recuperação através da encadernação de obras
muito manuseadas e a formação de um acervo voltado para um público mais eclético,
tendo em vista que as necessidades informacionais extrapolam os acervos mais
tradicionais compostos apenas de livros e periódicos.
e) no âmbito da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado do Amazonas, órgão ao qual está
subordinada, promover uma discussão em torno da necessidade de criação de um Sistema
Estadual de Bibliotecas Públicas visando à implantação ou implementação de bibliotecas
públicas no interior do estado, bem como a criação de sucursais nos bairros mais
populosos e distantes do centro da cidade de Manaus, que hoje possui, aproximadamente,
1.500.000 habitantes e para quem essa descentralização do serviço público de informação
poderá facilitar o seu acesso aos artefatos culturais.
À luz dessas propostas primevas, o fortalecimento da identidade da BPEAM carece ainda de
estabelecer novas formas para dinamizar o amplo acesso aos artefatos culturais. Para tal, rever,
reciclar, atualizar, inovar são verbos que devem ser conjugados e praticados por ela para gerar novos
significados diante sua comunidade e se tornar visivel pela maioria da população manauara.
Especialmente no que diz respeito aos serviços a serem oferecidos pode-se, grosso modo, para efeito
desse estudo sugestivo, dividi-los em: locais e extensionaistas.
Serviços
locais
Estes serviços se caracterizam por serem ofertados no espaço físico do edifício da rua
Barroso, onde se localiza a BPEAM. Alguns, em verdade, já foram oferecidos pela biblioteca,
necessitando, apenas, serem reativados, outros são ofertados atualmente, mas necessitam ser
reformulados para causar maior impacto na comunidade e alguns serão propostos em função do
atendimento às necessidades heterogêneas do público potencial.
•
BIBLIOTECA INFANTIL ALFREDO FERNANDES
Situação:
Reativar
Missão:
Contribuir para a formação do hábito de leitura nas crianças de 4 a 10
anos
Objetivos:
a) Dinamizar o processo de leitura;
b) Desenvolver, através da brinquedoteca, o gosto pela leitura;
c) Criar, na infância manauara, a disposição para freqüentar a
biblioteca;
Serviços a serem oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Animação cultural
Exibição de desenhos animados, filmes infantis, grupos teatrais etc.
Atividades lúdicas
Acervo:
Literatura infantil
Brinquedoteca
•
BIBLIOTECA JUVENIL
Situação:
Criar
Missão:
Contribuir para a formação do hábito de leitura de modo a estimular o
espírito crítico no público de11 a 17 anos
Objetivos:
a) Desenvolver, através da gibiteca, o gosto pela leitura;
b) Criar, no público de 11 a 17 anos, a disposição para freqüentar a
biblioteca;
Serviços a serem oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Animação cultural
Exibição de desenhos animados, filmes de super heróis, entre outros
Intercâmbio de gibis entre colecionadores
Acervo:
Literatura juvenil
Gibiteca
•
BIBLIOTECA ESPECIAL
Situação:
Criar
Missão:
Proporcionar, ao deficiente visual e auditivo, a efetiva participação nas
atividades comunitárias
Objetivos:
a) Estimular a integração e participação social do deficiente visual e
auditivo;
b) Organizar programas de leitura para os deficientes visuais e
auditivos da cidade de Manaus;
c) Contribuir para a adaptação, reeducação ou reabilitação dos
deficientes visuais e auditivos;
Serviços a serem oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Transcrição, gravação e atendimento postal
Microinformática para impressão em Braille
Sistema de orientação por fita e folhetos em Braille
Audição local
Leitura voluntária (Projeto Ler)
Acervo:
Obras em Braille doadas por instituições como a Fundação Dorina
Nowill para cegos
Obras lidas (livros falados) doadas pelo Instituto Benjamin Constant
•
ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA
Situação:
Criar
Missão:
Ampliar as possibilidades de interação entre usuários, biblioteca e
novas tecnologias da informação
Objetivos:
a) Estimular o usuário para o contato com a nova tecnologia;
b) Oferecer serviços que aumentem o tempo que o usuário destina
para o uso da Biblioteca Pública;
c) Manter um agradável espaço de convivência para os usuários.
Serviços a serem oferecidos:
Leitura informal
Acesso a Internet
Máquina de refrigerante
Máquina de café
Acervo:
•
Revista, jornais locais e nacionais
MULTIMEIOS
Situação:
Dinamizar
Missão:
Proporcionar o acesso às fontes de informação existentes nos mais
variados suportes como vídeos, fitas K7, fotografias, mapas e
microformas
Objetivos:
a) Disseminar a informação sob os mais variados suportes;
b) Viabilizar o acesso aos mais variados suportes informacionais;
c) Substituir a coleção de jornais existentes no subsolo da Biblioteca
Pública, por microformas visando a seu amplo manuseio e
utilização.
Serviços a serem oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Acervo:
•
Todos os multimeios existentes na biblioteca
OBRAS RARAS
Situação:
Dinamizar
Missão:
Possibilitar o acesso às informações registradas nas obras
consideradas raras da BPEAM
Objetivos:
a) Preservar obras de relevada importância;
b) Viabilizar a consulta organizada a obras de caráter raro.
Serviços a serem oferecidos:
Consulta local
Índices especializados
Acervo:
Todas as obras identificadas como raras segundo critérios
estabelecidos pela BPEAM
•
EMPRÉSTIMO DOMICILIAR
Situação:
Dinamizar
Missão:
Diversificar o contato do usuário com a BPEAM
Objetivos:
a) Criar o Boletim do Empréstimo, indicando as obras mais lidas, o nível de
deteriorização do acervo, as obras recém adquiridas e os demais serviços
oferecidos pela BPEAM;
b) Implantar um serviço de bônus pontualidade;
c) Chamar a atenção, através de exposições, comentários críticos, resenhas
especiais ou já publicadas em jornais e revistas.
Acervo:
•
Obras destinadas ao empréstimo da Divisão de Atendimento ao Usuário
UTILIZAÇÃO DO CATÁLOGO COLETIVO
Situação:
Dinamizar
Missão:
Permitir um amplo acesso aos artefatos culturais existentes
Objetivos:
a) Treinar o usuário para o manuseio do Catálogo impresso e on line;
b) Propagar o uso do catálogo como intermediador do acervo;
c) Viabilizar a verdadeira utilização do Catálogo.
•
REGISTRO DA PRODUÇÃO AMAZONENSE
Situação:
Criar
Missão:
Registrar e disseminar a produção científica, literária e artística dos amazônidas
Objetivos:
a) Enriquecer o acervo da coleção Amazoniana;
b) Estabelecer um depósito das obras produzidas no e sobre o Estado do
Amazonas;
c) Reunir assuntos pertinentes a temática amazônica
•
ANIMAÇÃO CULTURAL
Situação:
Criar
Missão:
Dinamizar o processo de interação entre a biblioteca, seu acervo e seus usuários
Objetivos:
a) Contribuir para transformar a biblioteca em um espaço agradável de
convivência
b) Contextualizar a dimensão da ação cultural na biblioteca
c) Estimular a apropriação da biblioteca pelo usuário
•
EVENTOS
Situação:
Criar
Missão:
Elevar os níveis de interesse pela BPEAM
Objetivos:
a)
Implementar os mais variados eventos na Biblioteca Pública;
b)
Implantar um calendário de eventos;
c)
Ofertar palestras, cursos, concursos, encontro com autores, exposições e
demais eventos de acordo com as demandas percebidas.
d)
•
Implantar um serviço de visitas guiadas na BPEAM
INFORMAÇÃO COMUNITÁRIA
Os serviços de informação comunitária surgiram na Inglaterra como forma de assessoramento
cívico, praticado por voluntários com diversas formações profissionais, visando a agilizar a
comunicação entre a população e a administração pública durante a I Guerra Mundial tendo em vista o
volume de informações que a situação gerou. O modelo se propagou para o restante das bibliotecas
públicas mundiais como uma forma delas agenciarem informações gerais demandadas pela
comunidade.
Em geral, esse serviço oferece informações utilitárias que respondem às inquietações
prementes da sociedade e, na maioria das vezes, relegadas pelos sistemas de serviços estatais,
mantendo uma prioridade para a solução de problemas do cotidiano.
Ana Maria Polke citada por Emir Suaiden91, baseando-se em estudos da realidade mineira,
discute a modulação de um serviço de informação para a comunidade, sugerindo que esse aborde
aspectos essenciais como:
a) saúde: problema de assistência médica e hospitalar; como, onde e a quem recorrer para a
solução de problemas referentes à saúde, planejamento familiar, prevenção de doenças,
vacinação, planos de saúde;
b) emprego: problemas para obter trabalho, estabilidade ou flutuação, agências, conciliação de
atividades fora de casa com as tarefas domésticas;
c) legislação: problemas para obtenção de documentos, conhecimentos de direitos e deveres
legais, assistência jurídica, existência de associação de moradores, aposentadoria e obtenção
de benefícios;
91
SUAIDEN, Emir. Biblioteca pública e informação à comunidade. p. 57 e 58.
d) educação: problemas de vagas escolares, abandono da escola, reprovação, alfabetização de
adultos, formação profissional, obtenção de bolsas de estudo, orientação sexual, educação de
adultos;
e) lazer: problemas relacionados com a ocupação do tempo livre, horários e local de eventos,
horário de funcionamento de museus, cinemas, exposições;
f) moradia: problemas da posse da terra, aluguel, invasão de terras, serviço de água, esgoto e
luz, condições de residência, vizinhança;
g) finanças: imposto de renda, renda extra, divulgação de pesquisas de preço.
Para associar essas sugestões, a BPEAM deverá se articular com diversas instituições para
criar bases de dados referenciais como por exemplo:
a) Secretaria de Estado de Justiça, Segurança e Cidadania e a Seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB/AM –, para prestar informações referentes a procedimentos
jurídicos, fóruns, local para emissão de documentos, localização de instituições como
Delegacias, Juizado de Menores, PROCOM, entre outros.
b) Sindicatos, Associações de Classe, Empresas de Recursos Humanos e Serviço Nacional de
Empregos – SINE –, da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem Estar Social com objetivo de
disseminar informações sobre o Fundo de Assistência ao Trabalhador – FAT –, empregos,
elaboração de currículos, PIS/PASEP, FGTS, entre outros;
c) Secretaria de Saúde do Amazonas, Associações e Sindicatos ligados à área e empresas
prestadoras de serviços de saúde para compor informações sobre o atendimento em hospitais,
postos de saúde, realização de exames, campanhas de vacinação, horário para marcação de
consultas;
d) Empresa Municipal de Transportes Urbanos para disseminar informações sobre o trajeto dos
ônibus, pontos de parada, transporte seletivo coletivo, serviço de taxi;
e) Assembléia Legislativa e Câmara Municipal para disseminar os projetos aprovados e em
tramitação nessas esferas de poder público, bem como a legislação estadual e municipal.
Esses e outros tipos de informação atenderiam a demandas oriundas de pessoas que não
possuem uma referência de como minimizar suas dúvidas e buscar auxílio para a solução de um
problema do dia-a-dia, como procura o usuário incidental.
Situação:
Criar
Missão:
Contribuir para a solução de problemas enfrentados pela comunidade
Objetivos: a) Qualificar a visibilidade da BPEAM através da oferta de informações solucionadoras
dos problemas comunitários;
b) Orientar quanto ao uso da máquina pública;
c) Divulgar a legislação oficial do estado e do município.
•
ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DA BIBLIOTECA PÚBLICA
Situação:
Criar
Missão:
Fortalecer as ações da Biblioteca Pública no contexto manauara
Objetivos:
a) Obter apoio para as ações da Biblioteca Pública;
b) Criar novas fontes de captação de recursos;
c) Constituir um instrumento de representatividade da comunidade junto à
biblioteca.
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TRABALHO VOLUNTÁRIO
Situação:
Criar
Missão:
Dinamizar, através do trabalho voluntário, a oferta de serviços pela BPEAM
Objetivos:
a) Implantar o Projeto Ler: pessoas ajudando outras pessoas a ler quer esse
público seja constituído de deficiente visual ou de analfabetos, entre outros
b) Implantar o projeto Contadores de estórias, para o público infantil;
c)
Qualificar o atendimento na zona de acolhimento, prestação de serviço e
administrativa.
Serviços
extensioni
stas
A dimensão social almejada pela biblioteca pública enquanto agente de informação, requer
dela atitudes mais ousadas que diminuam o fosso entre seus usuários através de ações proativas que
a faça ir ao encontro daqueles que, por qualquer motivo, não utilizem seu espaço e seus serviços.
Nessa medida, é que se colocam os serviços extensionistas; ao transpor os limites físicos da
biblioteca e se lançarem em busca de atender a usuários potenciais, eles estabelecem uma
aproximação entre o público e a instituição, propondo-se a cativá-los através da utilidade e da
facilidade de acesso aos artefatos culturais, estejam onde estiverem, ou seja, em suas casas, nos
hospitais, nos presídios, nas palafitas dos beiradões de rio, nas cidades flutuantes, enfim em qualquer
lugar onde haja uma necessidade de informação, lazer, recreação ou educação. Ao adotar um modo
mais incisivo de abordar seus usuários, a BPEAM passará a ser vista pela maior parte dos habitantes
do extenso estado amazonense.
Assim entendido, o serviço extensionista na Biblioteca Pública se efetivará através do projeto
do Serviço de Leitura e Informação Móvel que deverá ser composto de três subprogramas que são:
•
CAIXA – ESTANTE
Situação:
Dinamizar
Missão:
Disseminar a leitura nos mais variados segmentos da comunidade manauara
Objetivos:
a) Permitir ao indivíduo que, por qualquer motivo, não freqüente a biblioteca
o acesso aos artefatos culturais;
b) Promover o fortalecimento dos hábitos de leitura;
c) Estimular o desenvolvimento do gosto pela leitura;
d) Atuar em empresas, asilos, hospitais, presídios, creches, centros
comunitários, associações de classe, sindicatos e demais organismos
onde haja possibilidade de ofertar tal serviço.
•
Serviços a serem
Consulta local
oferecidos:
Empréstimo domiciliar
Acervo:
Literatura infantil, juvenil e adulta
ÔNIBUS - BIBLIOTECA
Os ônibus-biblioteca ou bibliotecas circulantes, como prefere denominar a UNESCO92, foram
criados para assegurar a prestação de serviços de informação a um público que, por morar distante,
não freqüentava a biblioteca pública. Desta forma, ela se propunha a ir ao encontro dele que, na
maioria das vezes, era o necessitado e o que morava nas periferias das grandes cidades européias e
americanas.
Na década de 70, a BPEAM implantou um serviço denominado de carro-biblioteca, integrante
de uma política desenvolvida pelo Instituto Nacional do Livro – INL, órgão coordenador do Sistema
Nacional de Bibliotecas Públicas. O INL dotou as bibliotecas integrantes do Sistema de um veículo
modelo Kombi (Figura 80), adaptado para esse fim com um acervo de 1.500 obras literárias. O
programa objetivava, em nível nacional, atingir as comunidades periféricas das capitais brasileiras, que
estavam desprovidas de qualquer serviço de informação. Com a extinção do INL, em 1989, o repasse
de verbas foi suspenso e a Biblioteca Pública não teve força política para fazer com que o governo
estadual assumisse as despesas inerentes à prestação desse serviço.
Para maiores esclarecimentos, consultar a obra produzida sob os auspícios da UNESCO McCOLVIN, Lionel R. L’extension des
bibliothèque públiques.
92
Figura 80 - Modelo do Carro-Biblioteca do INL atuando em Belo Horizonte - Minas Gerais, Brasil
A proposta de reativação do modelo anterior através do ônibus-biblioteca se vê fortalecida pela
possibilidade do apoio da iniciativa privada.
O ônibus-biblioteca deverá imprimir, pela sua visualidade, uma identificação com a
comunidade. Partindo dessa premissa é que se sugere a cor verde – símbolo da floresta –, e a Vitória
Régia – fiel representante da flora amazônica –, para compor sua apresentação visual (Figura 81),
além de destacar o nome da biblioteca, que marcará, desta forma, sua presença no espaço urbano por
onde transitará. Com efeito, Lígia Drumont e Ricardo França93, discutindo sobre esse aspecto do carrobiblioteca da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, afirmam
que, “além do conteúdo e objetivo, a imagem é de fundamental importância num projeto desse porte.
Com seu visual, o carro-biblioteca consegue causar um grande impacto nos lugares onde chega,
abrindo caminho e corações”.
93
DRUMONT, Lígia, FRANÇA, Ricardo. Política e compromisso da prestação de serviço do programa carro-biblioteca. p. 335.
Figura 81 - Projeto gráfico do ônibus-biblioteca da BPEAM
O projeto gráfico do ônibus-biblioteca busca colocá-lo em destaque pelo modo como explorará
os símbolos amazônicos. Já quanto ao arranjo interno, sua definição se dará em função do fluxo de
usuários, sendo adotadas as sugestões dos autores anteriormente citados que orientam para a
confecção de estantes em placa de madeira compensada revestida de formica, com prateleiras
inclinadas em 12 graus para trás, com proteção frontal para evitar problemas quando do deslocamento
do veículo, além de armários e postos de trabalho, como pode ser observado na Figura 82.
Figura 82 - Proposta de distribuição interna do ônibus-biblioteca
Pode-se observar, na imagem acima, que o lay-out privilegia o livre acesso ao acervo e propõe
um convite à circulação e ao contato com os artefatos que ele transportará. Ademais, algumas
atividades, como a animação cultural, se darão no espaço exterior de modo a chamar a atenção para a
utilização do ônibus-biblioteca, marcar sua presença e tornar visíveis as novas formas da Biblioteca
Pública estar junto e servir sua comunidade.
Para promover uma racional utilização, o ônibus-biblioteca funcionará de segunda a domingo,
de 9:00hs às 15:30hs em cinco, das seis zonas em que a Prefeitura Municipal divide a cidade de
Manaus. Deve-se destacar que não está inclusa a zona centro sul tendo em vista que nela se localiza a
BPEAM e que a distribuição obedecerá um roteiro previamente estabelecido cuja sugestão segue
abaixo.
a) Zona Centro-Leste:
Av. Pedro Teixeira (2ª. Feira)
b) Zona Oeste:
Av. Brasil (3ª. Feira)
c) Zona Norte:
Av. Max Teixeira (4ª. Feira)
Av. Santos Dumont (6ª. Feira)
d) Zona Leste:
Av. Autaz Mirim (5ª. Feira)
Av. Grande Circular (Domingo)
e) Zona Sul:
Av. Presidente Kennedy (Sábado)
As zonas Norte e Leste receberão duas visitas do ônibus-biblioteca, tendo em vista serem as
mais populosas. A distribuição sugerida poderá ser observada na Figura 83.
Figura 83 - Mapa do atendimento do ônibus-biblioteca na cidade de Manaus, Amazonas
Situação:
Reativar
Missão:
Promover amplamente a leitura nos bairros da cidade de Manaus
Objetivos:
a)
Atender às necessidades da população manauara, levando em
conta suas expectativas com relação à informação e às atividades
culturais;
b)
Garantir o acesso à informação pela maioria da população
manauara;
c)
Promover a leitura pública nas zonas da cidade de Manaus;
d)
Estimular a leitura;
e)
Oportunizar o contato da população periférica da cidade de
Manaus com os artefatos culturais que a BPEAM dispõe
Serviços a serem
Animação cultural
oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Acervo:
Literatura infantil, juvenil e adulta
Periódicos
•
BARCO - BIBLIOTECA
O Estado do Amazonas possui uma área de 1.567.954 Km² e uma população estimada de
2.103.243 habitantes, sendo 60% residentes na capital. É o estado da federação que possui o menor
número de habitantes por metro quadrado quando se trata da população interiorana, contudo, esse
interior é possuidor de uma rica fauna e flora e é serpenteado por rios e igarapés que formam a maior
bacia hidrográfica do mundo. Os portugueses que o colonizaram costumavam afirmar que os rios são o
caminho natural do homem amazônida, configurando-se como suas verdadeiras estradas uma vez que
por eles são transportados os alimentos, a produção, as pessoas, enfim, que permitem, suavemente no
seu banzeiro, o transcorrer da vida no interior da bela Amazônia. De fato, a relação homem-rio na
região é muito forte, pois, como afirma Socorro Santiago94,
“tal como acontece com os habitantes das margens dos maiores rios do mundo, o ribeirinho
do Amazonas tem sua vida determinada, quase que inteiramente, pelo regime das águas
do grande rio e de seus afluentes. Esse é, sem dúvida, um dos elementos mais marcantes
do caráter do amazonense, somado à sua forte influência etnocultural indígena. Assim é
que vamos encontrar o homem típico do Amazonas, não nas grandes cidades, mas vivendo
à beira do rio em união física e espiritual com a natureza.”
Sabedor dessa realidade, o poder estatal têm criado alternativas para suplantar as dificuldades
de comunicação e atendimento das necessidades básicas da população que, nascedouras quase
sempre em uma margem de rio, necessitam receber por ele a educação, a saúde, o lazer. Sob esse
princípio, funcionam o hospital flutuante, o posto de combustível aquático, o supermercado móvel e o
barco-escola.
O projeto do barco-escola, denominado Luz do Saber (Figura 84), foi criado em 1996, com a
“finalidade de possibilitar que os programas de ação da Secretaria do Estado de Educação atinjam de
forma eficiente as regiões mais distantes do interior do Estado”95. Nele há um espaço destinado ao
serviço de biblioteca escolar, mas que, dada à carência de recursos e as facilidades de uso, poderá
ampliar sua atuação com o apoio da BPEAM e levar à comunidade interiorana artefatos produzidos por
outras culturas, bem como os que são originário do povo amazônico de modo a disseminar
amplamente o conhecimento e o saber.
94
95
SANTIAGO, Socorro. Uma poética das águas. p.43.
GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS. Secretaria de Estado de Educação. Projeto Luz do Saber. p. 14.
Figura 84 - Barco-escola Luz do Saber
Situação:
Criar
Missão:
Promover amplamente o desenvolvimento do gosto pela leitura pela
comunidade ribeirinha do Estado do Amazonas
Objetivos:
a) Atender às necessidades da população do interior do Estado do
Amazonas, levando em conta suas expectativas com relação à
informação e as atividades culturais;
b) Garantir o acesso à informação para uma parte da população
amazonense;
c) Promover a leitura pública no interior do estado;
d) Estimular a leitura;
e) Oportunizar o contato da população ribeirinha do Estado do Amazonas
com a informação.
Serviços a serem
Animação cultural
oferecidos:
Consulta local
Empréstimo domiciliar
Eventos
Acervo:
Literatura infantil, juvenil e adulta
Periódicos
Obras de referência
Obras técnicas
*****
A oferta de novos serviços e a dinamização de outros já existentes colocarão a BPEAM em
contato com a heterogeneidade de seus usuários com objetivo de, ao repropor-se à comunidade, criar
novas significações do seu fazer público que redimensionará sua visibilidade diante da sociedade
amazonense.
Contudo a oferta dos serviços sugeridos causam impactos profundos tanto na estrutura
organizacional, redelineada no organograma abaixo, em função da inserção e dinamização de
atividades, quanto na sua distribuição espacial que necessita de uma restruturação para acompanhar
as transformações produzidas pela implantação das sugestões.
Figura 85 - Proposta de organograma para a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Metamorfoses do encantamento
Na perspectiva de uma atuação dinâmica que promova sua visibilidade enquanto agente
cultural, a BPEAM necessita redimensionar o seu espaço físico de modo a contemplar a oferta de
serviços que atinjam a heterogeneidade de suas demandas. De fato, pela forma como hoje se
apresenta, a distribuição interna do prédio privilegia o atendimento de parte de seu público, e não da
totalidade a qual deveria atingir.
A nova estrutura deve contribuir para um fazer pro-ativo, colocando-se como um lugar que, ao
dialogar com o usuário, produza nele uma sensação de encantamento com a biblioteca, cativando-o
como usuário real. A organização interior deve, desta forma, fortalecer o princípio de que a biblioteca é
um prazeroso lugar de leitura, de mediação do conhecimento e produzir nele uma sensação de
encantamento, cativando-o em definitivo, motivando-o a querer utilizá-la, a desejar se apropriar da
informação que ela representa.
As sugestões, apresentadas a seguir, foram norteadas pelo entendimento de que a oferta de
informação deverá se dar a todos, indistintamente, de acordo com as especificidades do público de
modo a favorecer a diversidade da demanda. Dessa forma, o pavimento superior abrigará os serviços
internos, a sala para obras raras, um espaço para exposições e um amplo auditório onde poderão
ocorrer os mais variados eventos organizados tanto pela biblioteca pública quanto pelos que forem
demandados pela comunidade e por ela gerenciados. O pavimento térreo colocar-se-á como um lugar
consagrado ao acolhimento do usuário, para seu lazer, suas leituras, fortalecendo, através do modo
como se propõe a ser visto, a imagem do diálogo, enquanto que o pavimento subsolo será invadido
pela alegria da plena convivência, destinado a alojar o público com demandas específicas como o
juvenil e o infantil.
Todos os salões das alas direita e esquerda receberão uma denominação para facilitar sua
identificação. Para tal, adotar-se-á o nome dos principais mitos amazônicos com objetivo de propor um
resgate cultural uma vez que serão preservados seus nomes originais, sem prevalecer-se das
adaptações ocorridas quando das diversas visões e análises produzidas. Com isso, busca-se colocálos em evidência e valorizar o acervo precioso do folclore desencadeado pela magnitude da floresta
amazônica.
O pavimento superior, como mostrado no Capítulo 3, é composto de três amplos salões. O
ambiente central será destinado a exposições que poderão ser organizadas tanto pela biblioteca,
quanto pelos diversos segmentos representativos da sociedade manauara. A ele será apenas
acrescentado a sinalização, a ser descrita posteriormente, e bancos nos vãos que conduzem às
sacadas das três janelas para que o usuário sinta-se confortavelmente convidado a contemplar não só
movimento da rua, dos transeuntes, mas também os artefatos culturais que estarão postos para sua
admiração.
As paredes possuem uma textura marmorizada em amarelo que associa-a ao ouro, sinal de
requinte e sofisticação, e, o teto é composto de uma clarabóia que cumpre a função de permitir que a
luz solar penetre no interior do prédio. Ela, por sua vez, é ladeada por placas de gesso e, em cada uma
delas, um vulto histórico está representando uma área das letras e das artes que são Carlos Gomes e
os símbolos da música, Teixeira de Freitas com uma pena e um livro, Gonçalves Dias com os símbolos
das letras e Gutemberg com os da imprensa. Essa nobreza do teto é realçada por belíssimos estuques
que podem ser observados na Figura 86.
Figura 86 - Teto do hall do andar superior da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas - Brasil
Em madeira escura e clara, o piso é composto de magníficos exemplares da floresta
amazônica compondo um sentido de conjunto entre amarelo indicando o Rio Solimões e o negro o Rio
Negro. Esses elementos cromáticos repropõem o encontro das águas que ocorre a um quilômetro de
Manaus (Figura 87).
Figura 87 - O encontro das águas – Manaus, Amazonas
Um óleo sobre tela de grandes proporções está colocado ao fundo do salão. Trata-se da obra
de autoria de Aurélio de Figueiredo intitulada Redenpção do Amazonas. O quadro retrata a abolição da
escravatura e nele estão representados vários elementos da liberdade vivida pela sociedade. Ao lado
esquerdo, vê-se um homem de pele escura, acompanhado de um índia que representa a Tribo das
Amazonas, ícone de liberdade amazônica por escolher seu modo de viver. É a índia que apresenta
para o homem negro os retratos de liberdade, lado oposto da obra. Ao lado do homem negro, se faz
presente uma vegetação do tipo cactos, símbolo da resistência, e ele sustenta uma bandeira branca,
símbolo da paz, com seguinte inscrição em dourado “REDEMPÇÃO” e sob ela uma coroa de louros
usada pelos que atingem o triunfo de uma conquista. Do lado direito, representado por 12 figuras, uma
simbologia, do que seria a liberdade, está expressa pela música, o canto, a pintura, a arquitetura e
imprensa, como pode ser observado na Figura 88.
Figura 88 - Parede de fundo do hall do pavimento superior, com destaque para obra Redenção do Amazonas
No salão da ala esquerda funcionará a zona de serviços internos, a saber: a Diretoria, a
Divisão de Organização Técnica e a Secretaria, além da sala de obras raras da zona de prestação de
serviço. O arranjo espacial será composto de modo a permitir que a transparência seja o elemento
mais significativo, tendo em vista que as divisões que separam as zonas deverão ser em vidro fumê
temperado para não agredir a natureza histórica do prédio e a área, para os serviços internos, não
apresentará divisórias, privilegiando a ampla convivência. Estão previstos também a adoção de um
mobiliário prático e durável que evidencie a simplicidade com que a biblioteca tratará de reduzir a
fadiga e aumentar o conforto de seus funcionários. Já no pequeno salão de leitura de obras raras, a
padronagem do mobiliário será a mesma dos demais salões: estantes e mesas em madeira clara com
um detalhe colorido e iluminação individual igual ao modelo apresentado na Figura 10. Deve-se
destacar que cada salão da biblioteca pública adotará uma cor diferente que, no caso das obras raras,
será o verde como na ilustração.
Figura 89 - Móveis da biblioteca de Sagami Women’s Uuniversity Library,
no Japão que servirão de modelo para a BPEAM
Um sistema anti-furto será introduzido na BPEAM com o objetivo de minimizar os impactos
negativos causados pelo acesso livre. Sua instalação está prevista em três portas da biblioteca, a dos
salões direito do térreo e segundo pavimento e a do salão esquerdo do térreo. Esse sistema de
sinalização, semelhante ao instalado nos grande magazines, emite um sinal auditivo quando a obra
não foi anteriormente desmagnetizada pelos funcionários da biblioteca.
No salão em foco, a ser denominado de Salão das Amazonas em alusão à mitológica tribo de
mulheres guerreiras que habitavam a floresta, ainda se terá uma montra (Figura 91), para permitir a
exposição de obras raras ou para servir de ponto de divulgação do material que será comercializado
com a imagem da biblioteca como canecas, camisas, chaveiros, canetas, entre outros.
Figura 90 - Montra da Biblioteca Waseda University Center for Scholary Information, no Japão
A cor das paredes em tom azul claro predominará em todos os demais salões da BPEAM a fim
de provocar um efeito de sentido desencadeado pela associação com as águas tranqüilas, com o
espaço infinito, com a paz, a serenidade como destaca Modesto Farina na obra Psicodinâmica das
cores em comunicação.
O salão esquerdo, a ser denominado de Uiara em homenagem à mitológica mãe das águas na
Amazônia, abrigará um amplo auditório onde serão promovidos eventos culturais de toda a ordem.
Propositadamente, ele será posto nesse andar para privilegiar o amplo contato daqueles que
freqüentarão os eventos de modo a fazê-los dirigirem-se ao pavimento superior para aumentarem seu
contato com a biblioteca e com as exposições. Nele, além do palco, do telão e de um pequeno
camarim, encontrar-se-á uma ante-sala onde um balcão de atendimento orientará os participantes, e,
uma divisória, que também servirá de quadro de aviso, revestida por uma tela de cipó-titica produzida
pela tribo Dessana da região Alto Solimões. Também nessa ante-sala será disposta uma montra
(Figura 90), para divulgação do material promocional da biblioteca.
Tanto no Salão das Amazonas, quanto no da Uiara, o piso segue a mesma padronagem
descrita anteriormente na área destinada para exposições, ou seja, em madeira clara e escura que cria
uma associação com o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, que não se misturam, causando
um incrível fenômeno que pode ser observado na da Figura 87.
Descendo a imponente escada rendilhada, nosso olhar se deparará com uma proposta ousada
para o melhor aproveitamento do átrio que recebe os usuários. Ao acessá-lo pela porta principal, o
freqüentador encontrará, no primeiro nível, um sofá para seu descanso e, um pouco acima, o balcão de
informações que, ao invadir os degraus da escadaria de acesso, irá pôr-se como um zeloso anfitrião
que, na chegada de seus convidados, cumprimenta-os, recebe-os carinhosamente e agradece por sua
presença.
O balcão de informação deverá apresentar-se como um elemento de destaque no ambiente.
Em madeira clara, ele será revestido externamente com a mesma tela de cipó-titica que se encontra no
Auditório, chamando a atenção, pela presença do artefato indígena, para a representação que os
povos da floresta têm na cultura amazonense. Ao ocupar essa posição, ele oferecerá informações
quanto ao uso da biblioteca, será um suporte da sinalização a ser nele afixada e o local para a oferta
do serviço de Informação Comunitária.
Embaixo da grande escada em forma de âncora (Figura 66, Capítulo 3), como se estivesse sob
sua proteção, um espaço para a convivência será criado. O Espaço de Convivência oportunizará o
contado dos usuários com a Internet através da disponibilização de 12 terminais de computadores para
uso da coletividade; três televisores onde se poderá assistir a uma programação previamente
estabelecida além da oferta de jornais locais para leitura rápida que ficarão dispostos ao fundo, como
na biblioteca da ECA/USP (Figura 31, Capitulo 2). Deverão ser instalados ainda nesse espaço dois
orelhões, uma máquina de refrigerantes e outra de café, ambas no estilo self-service.
Esse espaço destinado à convivência, à leitura informal e ao contato virtual com o mundo
exterior, posto logo após o principal balcão de atendimento, visa a dar boas vindas àqueles que
chegam e a se colocar como um prenúncio da festa do conhecimento que ocorre diariamente na
BPEAM.
As bancadas, onde serão alocados os computadores, deverão ser confeccionadas de modo a
lembrar o banzeiro do rio, embora a navegação ocorra no espaço virtual tomando formas onduladas.
Os móveis para esse ambiente, como o dos televisores, baseados nos da Biblioteca Pública da Aichi
Prefectural, no Japão (Figura 91), serão em madeira clara e escura mantendo a identificação com o
fenômeno do encontro das águas do dois rios.
Figura 91 – Local de leitura informal da Biblioteca Pública de Aichi Prefectural, Japão
Ainda no átrio, serão dispostas duas montras, no lado direito e esquerdo, que oferecerão
material de mechandise da BPEAM como canecas, camisas, agendas, blocos, pastas, cadernos cuja
apuração, com suas vendas, será revertida para suprir as próprias necessidades da biblioteca. Em
madeira clara, as montras, se basearão no modelo da Figura 90 e poderão também abrigar uma
exposição que a biblioteca deseje fazer.
Serão mantidas as cores das paredes e do teto do átrio, já descritas no Capítulo 3, contudo o
piso será substituído pelo existente no andar superior, visando manter a harmonia do conjunto
arquitetônico. Já para os balcões dos dois janelões existentes, serão projetados bancos para que o
usuário sinta-se completamente à vontade para o uso do ambiente e da biblioteca. Será instalada, no
lado direito da escada de seis degraus que dá acesso do nível da rua ao átrio, uma rampa-elevador
para permitir o acesso do deficiente físico, assim como todo o restante da biblioteca será adaptado
para esse fim.
No ambiente, do átrio serão também colocados, em grande vasos, exemplares da fauna
amazônica que serão identificados de modo a chamar a atenção para a questão da preservação,
mostrando que a biblioteca também possui competência para discutir a problemática bastante
pertinente à comunidade. Tais vasos serão distribuídos em toda a biblioteca.
Assim construído, o átrio se transformará em um local de convite, não mais de espera, de
modo a chamar a atenção do transeunte que, passando pela rua Barroso, dirija o seu olhar para o
interior do prédio e sinta-se tentado a aceitar a sedução e entrar.
No interior, após explorar o átrio, deixamo-nos nos envolver pela atmosfera alegre que ele
despertou e iremos transpor a porta da ala esquerda seduzidos pela vontade de conhecer o que se
oferece por trás da porta cor de rosa, entreaberta sempre para despertar a curiosidade.
O salão esquerdo, a ser denominado de Curupira96 em alusão ao mito do mais famoso e
endiabrado duende da floresta, alojará o acervo de obras literárias disponíveis para empréstimo
domiciliar e o setor de atendimento ao deficiente visual e auditivo.
Ao fundo, uma divisória em vidro fumê temperado, igual à da seção de Obras Raras no
pavimento superior, delimitará o espaço reservado para atendimento do usuário deficiente visual e
auditivo. Esse cliente especial, ao transpor a porta, deparar-se-á com um balcão de atendimento no
formato oval, onde encontrará folhetos produzidos especialmente para minimizar o impacto de sua
deficiência. Nesse balcão, ao fundo, serão instaladas duas plataformas onde se alocarão três
computadores especiais, com teclado adaptado para os deficientes visuais e um equipamento de
impressão em Braille.
Do lado direito, estantes como as da Figura 92, da Mito West City Library, no Japão, permitirão
o apoio da obra para leitura. Tais móveis, em madeira clara, deverão colocar-se como facilitadores da
consulta, de modo a oportunizar ao leitor em Braille, por exemplo, o manejo do material a ser
consultado que será apoiado na parte superior, como ocorre no setor de periódicos da biblioteca Sergio
Millet do Centro Cultural São Paulo, no Brasil (Figura 36, Capitulo2).
Figura 92 - Estantes da Mito West City Library, no Japão
96 Cf. SANTIAGO, Socorro. Uma poética das águas. p 27, o Curupira, como conta o caboclo, é um dos defensores da floresta e se
apresenta, em geral, sob a figura de um menino de cabelos vermelhos, muito peludo por todo o corpo, com os pés virados para trás e
desprovido dos órgãos genitais.
No outro extremo da sala, um amplo e confortável sofá será instalado tanto para proporcionar
uma agradável leitura quanto para o desenvolvimento do Projeto Ler: pessoas ajudando pessoas a ler.
À sua frente, um jogo de cinco poltronas, semelhantes às da Figura 93, serão colocadas para a audição
de livros que poderão ser feitos através do equipamento instalado no chão e controlado no balcão de
atendimento.
Figura 93 - Poltronas da biblioteca Media Park Ichikawa, no Japão
Ao fundo da sala, três cabinas para áudio e vídeo serão dispostas para que o usuário possa
assistir a um filme legendado ou acompanhar programas especialmente desenvolvidos para portadores
das deficiências a serem atendidas, como a alfabetização de surdos-mudos.
A projeção do espaço, ao final do salão, busca fazer com que esses usuários especiais
convivam com o clima da biblioteca, ao atravessarem o Curupira, de forma que essa obrigatoriedade
do percurso favorecerá uma convivência com os demais usuários.
O empréstimo domiciliar, o acervo de literatura e a coleção Amazoniana, essa última
enriquecida pelo registro da produção amazonense, ocuparão o restante do Salão Curupira que, com o
objetivo de promoverem um lugar agradável e confortável para a leitura oferecerão estantes colocadas
do lado esquerdo intercaladas por sofá-estante – de um lado, o lugar para sentar e, do outro, para
armazenar as obras –, na expectativa de criar uma certa cumplicidade com o usuário emprestador
colocando, para ele, um espaço onde possa examinar a obra, folheá-la, ver outros títulos dos diversos
autores, mostrando claramente que ela, a biblioteca, gostaria que ele permanecesse em seu ambiente
e se sentisse à vontade para selecionar a obra que desejar.
As estantes obedecerão a uma codificação que facilitará o acesso aos artefatos culturais, bem
como sua ordenação nas prateleiras, seguindo o modelo propagado pela Biblio Visuael (Figura 94) em
seu Library Classification Method. As cores, indicativas do assunto, estarão presentes nas estantes, na
lombada dos livros e nas fichas do catálogo impresso, como um modo de facilitar a localização das
obras e contribuir para que o usuário tenha maior mobilidade no jogo ordenativo que a biblioteca lhe
impõe. Desse modo, ela não só cumprirá competentemente seu papel de dar acesso ao conhecimento,
facilitando o encontro do material procurado mas também permitirá que o usuário qualifique sua
perfórmance quando do contato com as estantes e sinta-se competente para selecionar o que, de fato,
deseja.
Figura 94 – Library Classification Method
A partir do modelo acima, a core adotada para a literatura será a amarela variando os ícones
conforme o estilo literário e para a Amazoniana, adotar-se-á o preto que indica outras classes,
facilitando a localização do assunto.
Um móvel igual ao que é oferecido pela Machida Central Library, no Japão (Figura 95) será
colocado junto às estantes da Amazoniana para destacar as obras recém-adquiridas, de modo a
chamar a atenção do usuário emprestador para obras que possam despertar seu interesse.
Figura 95 - Modelo da estante para obras recém adquiridas
À frente da escada que dá acesso ao subsolo, o balcão de atendimento seguindo a
padronagem dos demais, receberá o usuário que, logo ao entrar, se deparará com o catálogo
convencional onde as fichas catalográficas também utilizarão o código de cores das estantes.
Aproveitando uma das 12 pilastras, uma ilha será especialmente montada para alojar quatro
computadores que darão acesso à base de dados da biblioteca. Com isso, a distribuição espacial
favorecerá o uso do catálogo que é especialmente construído para descrever as obras, facilitando a
consulta ao acervo.
Distribuídas pelo Salão Curupira, as mesas para leitura local serão iguais às da Figura 89,
descritas anteriormente e as cabinas de estudo individual seguirão o modelo da Figura 96, da Ishigaki
City Library, no Japão, porém adotando o mesmo padrão das individuais. Os detalhes das mesas
desse salão serão na cor vermelha, lembrando a cor do cabelo do Curupira.
Figura 96 - Modelo, a ser adaptado, das cabinas de estudo individual
Assim posto, o salão descrito pretende impor um ritmo alegre ao ambiente e se colocar como
um espaço confortável, descontraído que favoreça a seleção das obras e atinja amplamente as
demanda comunitárias por leitura, sejam elas oriundas de deficientes ou não.
Descendo pela escada de concreto com o corrimão de ferro e os degraus em madeira escura,
vamos penetrar no Salão Matinta-Pereira, uma pequena coruja que goza, entre os nativos da
Amazônia, da faculdade de transformar-se em gente e brincar com as crianças. Nesse ambiente, estão
dispostos o atendimento infantil e juvenil.
Ao finalizar a descida, vamo-nos deparar com um corredor onde, à esquerda, está a porta que
conduz para a ala juvenil; ao fundo, a infantil e, à direita; a porta dos banheiros masculino e feminino,
todas essas são partes integrantes da zona de prestação de serviço.
A ala juvenil disporá de duas salas. Uma menor, à direita, que servirá de salão informal para
leitura e outra maior onde se alocarão a zona de estoque, o ambiente formal para leitura, o balcão de
atendimento, entre outros.
O salão informal de leitura será composto de um espaço livre, com um grande sofá colorido
contornando toda a parede esquerda, com a função de alojar, agradavelmente, o adolescente que irá
efetivar suas leituras; uma estante clara será colocada do outro lado da sala com gibis e revistas.
Almofadas estarão disponíveis para que a leitura possa ser feita no chão, bastante higienizado para tal,
em madeira como já descrito. O teto, com as vigas aparentes, comporá, com os demais elementos, a
informalidade do ambiente para que o público possa se sentir à vontade. Assim, se identificando com o
ambiente que esse leitor aprecia a biblioteca se mostrará como capaz de compreender a descontração
dos ambientes que esse tipo de público valoriza e, como cúmplice, oferecerá a ele um lugar adequado
as suas expectativas, esperando, desse modo, cativar a sua presença.
A outra sala para a atividade juvenil alojará, ao fundo, um jogo de seis estantes na cor amarela
– literatura de acordo com o sistema visual adotado –, que comportará o acervo de literatura juvenil e a
gibiteca. Ao centro da sala, o balcão de atendimento em formato circular manterá a semelhança com os
demais e, ao seu lado, como na sala de deficientes visuais e auditivos; no alongamento dele serão
dispostos dois computadores para consulta on line.
O catálogo impresso será posto junto à porta para chamar a atenção do usuário quanto à sua
função de intermediar o uso dos artefatos culturais e, do lado esquerdo, no formato semelhante ao do
Espaço de Convivência, uma bancada com quatro computadores estará colocada para o proporcionar
o acesso às informações dispostas em meios eletrônicos. Ainda, no pequeno salão de leitura, mesas
da mesma padronagem das demais alas e com detalhes na cor laranja, serão disponibilizadas de modo
a criar um ambiente mais formal que o da outra sala.
O teto manterá a mesma apresentação da sala informal de leitura com o objetivo de manter o
padrão estabelecido para o atendimento juvenil, que a biblioteca espera cativar, oferecendo para os
estudantes que a ela se dirigem para realização de seus trabalhos escolares, outras opções para que
ele queira ser, de fato, um usuário.
O espaço destinado ao público infantil terá um salão para a brinquedoteca, outro para a leitura
e o estoque. O primeiro ambiente, o dos brinquedos, será construído, mantendo grande semelhança
com a da Kanda-cho Public Library, no Japão (Figura 97), com estantes claras lembrando as casas de
bonecas e a parede decorada com um papel colorido repleto de figuras da literatura infantil. Ao centro
uma pequena mesa e ao lado dela, muitas almofadas criarão a informalidade do lugar.
Figura 97 - Modelo para a brinquedoteca da seção infantil
Logo à entrada, antecedendo até mesmo o balcão de atendimento, pequenas mesas com
árvores artificiais ao centro constituirão o lugar formal de leitura. Tais mesas, semelhantes às da seção
infantil da Imari Public Library, Japão (Figura 98), estarão postas de modo a brincar com o imaginário
infantil e a copa das árvores se espalhará por toda a ala cobrindo os vergalhões do teto e compondo
com o papel de parede um alegre ambiente semelhante à floresta que o cerca e que deve ser
preservada para seu próprio bem. Ao fundo, após as mesas, o balcão igual aos demais será colocado
para facilitar o atendimento da demanda infantil.
Figura 98 - Modelo das mesas para o atendimento Infantil
Do lado direito da sala, o espaço destinado ao acervo literário será composto por um jogo de
seis estantes baixas, semelhantes às da Figura 92 do salão dos deficientes, na cor amarela que indica
a literatura, de modo a permitir que as crianças selecionem as obras que desejam ler.
Com essa constituição, o ambiente infanto-juvenil buscará criar um espaço mágico onde o
contato com os artefatos culturais se transforme em brincadeira, em um momento agradável e
prazeroso incentivando a aquisição do gosto pela leitura.
Saindo da ala esquerda para a direita, nosso percurso nos faz entrar no Salão Mapinguari que,
segundo Thiago de Mello97 “é o duende mais poderoso e considera-se o dono da mata. Detesta
madereiros e caçadores, em cujos caminhos arma ciladas quase sempre fatais”.
Esse salão do acervo geral que exclui somente a coleção de literatura e a Amazoniana,
alocadas nos espaços já descritos, alojará, ao fundo, as estantes nas cores azul, vermelho, verde,
laranja, azul claro, róseo, mostarda e roxo, indicativa da classificação visual adotada (Figura 94). Entre
elas, o mesmo sofá-estante está posto com a função de criar um agradável e confortável ambiente para
a leitura casual, enquanto que as mesas e cabinas individuais, que estarão disponíveis no salão para o
estudo dos itens pesquisados, adotarão a cor azul para se destacar dos demais salões.
97
MELLO, Thiago. Mormaço na floresta. p. 90.
Um quiosque com terminais de computadores e um conjunto de fichários com fichas
catalográficas, indicando as cores das estantes em que estão as obras, assumem a posição de
intermediadores do acesso aos artefatos culturais e estão colocadas entre o balcão de atendimento e
as estantes. O arranjo do fichário segue o modelo existente na biblioteca Sérgio Millet do Centro
Cultural São Paulo (Figura 34, Capítulo 2).
O balcão a ser colocado logo após a entrada, como que a recepcionar o usuário, seguirá o
modelo dos demais e será ladeado por duas pequenas estantes para divulgação do acervo recém
adquirido (Figura 95). Tal organização espacial buscará manipular o usuário para que ele, ao contactar
pessoalmente com as obras, possa encontrar o assunto que deseja folheando os livros e selecionar
aquilo que, de fato, é de seu interesse. Esse encontro, promovido pelo livre acesso as estantes, tem a
intenção de favorecer, ao usuário copista, a realização de suas pesquisas a partir de sua própria
seleção do material a ser consultado.
Desse ponto, nosso passeio pela nova BPEAM nos conduzirá para a escada, semelhante à
que dá acesso ao Salão Matinta-Pereira, ao lado esquerdo. Já prontos para descer, será possível
observar as alterações produzidas no piso do Salão Mapinguarí que terá o atual, substituído pelo que
existe em toda a biblioteca (madeira clara e escura) visando promover o conforto, já que não propaga o
barulho, como o existente, e manter o mesmo padrão em toda a biblioteca. A descida nos introduzirá
no Salão Boto, peixe de água doce dotado de poderes mágicos, sem escamas, mamífero que, nas
místicas noites de lua cheia assume a forma de humano e, todo vestido de branco com um chapéu na
cabeça para esconder seu respiradouro, seduz as mulheres nativas, especialmente as virgens.
Esse salão, antes utilizado para o armazenamento do acervo de jornais, será completamente
revitalizado de modo a torná-lo um espaço de convivência, retirando dele o peso de ser um empoeirado
lugar destinado ao depósito de móveis velhos (Figura 76 e 77, Capítulo 3) e guarda de um acervo
subtilizado. A coleção de periódicos que hoje está alocada nesse salão, será removida para o Arquivo
Público do Estado do Amazonas após sua total digitalização. É função da biblioteca pública, como visto
anteriormente, promover a educação, o lazer, a informação e a cultura contudo ela não reúne
condições para conservar, adequadamente, um acervo com características históricas tão específicas
que poderá ser reproduzido para facilitar a consulta e minimizar os desgastes dos originais com o
manuseio. Ademais, a BPEAM não só dinamizará o acesso a essa coleção mas também disponibilizará
seus porões para atender a diversas demandas que hoje não poderia fazê-lo por falta de espaço em
sua estrutura física.
O Salão Boto será ocupado pela zona de prestação de serviços e de serviços internos. Seu
ambiente, iluminado e decorado com a vegetação amazônica, como toda a biblioteca, está dividido em
oito espaços destinados a sala de multimeios, de reprografia, de cursos e banheiros, todos projetados
para o usuário e as salas de coordenação dos órgãos de Leitura e Informação Móvel, Informação
Comunitária, Eventos e Conservação/Encadernação integrantes das atividades internas que serão
realizadas pela BPEAM.
As salas de serviço interno terão armários fixos e mobiliário semelhante ao encontrado no
Salão das Amazonas sendo que a de Informação Comunitária e a de Eventos possuirão um balcão de
informação para atendimento direto do público, caso deseje alguma orientação que não lhe tenha sido
claramente prestada no balcão do átrio ou que necessite de auxílio para alguma questão específica e
pertinente a um evento, por exemplo.
A reprografia, primeiro espaço a ser encontrado após a descida da escada, será colocada
nesse andar para não incentivar o uso exagerado desse recurso por parte do público. Ela possuirá um
balcão para que as fotocópias sejam solicitadas e, à frente dele, serão colocadas cadeiras para
provocar no usuário a sensação de que ele poderá perder mais tempo do que imaginava ao esperar
pelo material que busca reproduzir.
Ao dirigir-se para as demais salas, o usuário se deparará com um corredor que, ao final,
possuirá três computadores para acesso à base de dados e à Internet.
Especialmente, a segunda sala, à esquerda, será de ampla valia para os que desejem fazer um
dos cursos a serem oferecidos pela biblioteca. Trata-se de um ambiente simples e funcional de sala de
aula com carteiras, quadro branco para uso de hidrocor e uma mesa para o instrutor, que se colocará
como mais um serviço que busca atender aos anseios da população no que tange a uma demanda a
ser levantada pela biblioteca.
Já a segunda porta do lado direito dará acesso ao serviço de multimeios que disporá, ao fundo,
de um sistema de estantes deslizantes (Figura 99) para armazenar o acervo de slides, fotos, CDROM’s, microformas, fitas K-7, de vídeo, disquetes e outros materiais especiais. Tal sistema de
estantes tanto permite o melhor aproveitamento do espaço, quanto é capaz de manter as condições
ideais para a conservação desses materiais. Do mesmo modo que nos ambientes já descritos, o
usuário poderá optar por consultas ou a base impressa ou a base on line ou dirigir-se ao balcão de
atendimento com as mesmas características dos existentes nos outros salões. Estarão disponíveis
também cabinas para consulta desses tipos de materiais com mesa de luz, aparelho de som, televisão
com vídeo, computador com CD-ROM ou ainda leitora de microformas. Tais cabinas serão
semelhantes às demais mesas para leitura, sofrendo as adaptações necessárias para atender aos
requisitos dos equipamentos e terão o negro nos detalhes. A criação dessa seção visa facilitar o
acesso aos variados suportes de informação existentes de modo a ampliar o contato do usuário com as
diversas fontes de informação.
Figura 99 - Modelo de estantes deslizantes
Todos os ambientes do Salão Boto serão em cor azul, com o piso em madeira (clara e escura)
e o teto em gesso branco para esconder as vigas existentes e produzir o mesmo efeito do teto do átrio,
descrito no Capítulo 3.
*****
Os esforços que deverão ser conduzidos para enquadrar a atual BPEAM na situação acima
descrita serão recompensados em função de ela passar a assumir-se enquanto núcleo de irradiação da
informação e pesquisa, como centro de aperfeiçoamento intelectual, enfim, como meio, por excelência,
de acesso ao conhecimento.
Contudo, embora os espaços tenham sido dinamicamente redimensionados, a revitalização
não estará completa se ela não for capaz de promover, amplamente, os modos de circulação no interior
do edifício. Desse modo, o último tópico desse capítulo abordará a criação do sistema de comunicação
visual que deverá colocar em jogo a mobilidade dos novos trajetos no espaço resignificado.
Nas asas da borboleta
Para criar um sistema de comunicação visual que possa acompanhar as mudanças propostas
para a BPEAM, sentimo-nos estimulados, inicialmente, a fazê-lo a partir de uma concepção macro,
articulada com as vivências e experiências do homem da Amazônia, de modo a propor uma sincronia
entre sua realidade e a da biblioteca pública.
Assim, inicialmente nos propusemos a criar algo que marcasse, mais pertinentemente, a
imagem da biblioteca na comunidade e produzisse uma certa identidade com a realidade amazônica.
Surgiu então a seguinte proposta para o logotipo da BPEAM (Figura 100).
Figura 100 - Proposta de logotipo para a BPEAM
A borboleta Morpha é, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA –, uma
das espécies de insetos lepidópiteros mais representativa da fauna Amazônica. Suas asas possuem
dois olhos a vigiar a floresta e as cores preto, vermelho, marrom e amarelo ajudam a produzir uma
alegria carnavalesca quando do bater das asas, como se fosse um sinal da festa da vida que ocorre
diariamente no interior do mundo amazônico.
Ademais, a borboleta representa, com muita peculiaridade, as transformações que a BPEAM
pretende auxiliar a operar em seus usuários. A metamorfose pela qual ela passa quando deixa de ser
uma lagarta para ser uma borboleta, alterando radicalmente suas formas físicas, seu modo de se
locomover que deixa de ocorrer unicamente no solo para alcançar o céu, voar e viajar pela planície
amazônica, representa tudo que, de uma certa maneira, a biblioteca deseja oportunizar para o seu
usuário. De fato, quando busca agir como um agente de acesso ao conhecimento, a biblioteca pública
espera contribuir para a mudança dos estados de desconhecimento de seus usuários, na expectativa
de que eles, com isso, possam voar para o amplo conhecimento. O logotipo traz ainda as cores da
vegetação amazônica no nome da BPAEM.
A seguir, com base no que foi visto anteriormente no Capítulo 2, no item Nomeando os
destinos, uma proposta de sinalização será apresentada com objetivo de facilitar os trajetos no interior
do conjunto arquitetônico.
a) Sinalização de identificação, que nomeia as salas e/ou espaços internos. Assim a teremos
distribuídas do seguinte modo nos andares da biblioteca.
Quadro 2 - Sinalização de Identificação
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
Salão das Amazonas
Porta de entrada do Salão
Fixa
Serviço de Obras Raras
Porta de entrada da Sala
Fixa
Diretoria
Sobre a mesa da Diretora
Suspensa
Divisão de Organização
Ao lado da divisória de vidro
Projetada
Técnica
2º. Andar
Planta da Espécie XXX
No vaso
Fixa
Ala Direita
Livros
Estante de Obras Raras
Projetada
Periódicos
Estante de Obras raras
Projetada
Mapoteca
Sobre a mapoteca
Suspensa
Balcão de Atendimento
Sobre o Balcão da Sala de Obras
Suspensa
Raras
2º. Andar
Salão Uiara
Porta de entrada do Salão
Fixa
Ala Esquerda
Auditório
Sobre a entrada
Suspensa
Obras recém adquiridas
Sobre a estante
Fixa
Conhecimentos Gerais
Na estante
Projetada
Filosofia
Na estante
Projetada
Religião
Na estante
Projetada
Sociologia
Na estante
Projetada
Linguagem
Na estante
Projetada
Ciências Puras
Na estante
Projetada
1º. Andar
Ciências Aplicadas
Na estante
Projetada
Ala Direita
Artes
Na estante
Projetada
Geografia e História
Na estante
Projetada
000 a 099
Na estante
Fixa
100 a 199
Na estante
Fixa
200 a 299
Na estante
Fixa
300 a 399
Na estante
Fixa
400 a 499
Na estante
Fixa
500 a 599
Na estante
Fixa
600 a 699
Na estante
Fixa
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
700 a 799
Na estante
Fixa
900 a 999
Na estante
Fixa
Balcão de Atendimento
Sobre o balcão
Suspensa
Planta da Espécie XXX
No vaso
Fixa
Obras recém adquiridas
Sobre a estante
Fixa
Literatura
Na estante
Projetada
Amazoniana
Na estante
Projetada
PAVIMENTO
800 a 899
Na estante
Fixa
900 a 999
Na estante
Fixa
1º. Andar
Atendimento ao Deficiente
Na porta de entrada
Fixa
Ala Esquerda
Visual e Auditivo
Livros em Braille
Na estante
Projetada
Audio-Livros
Na estante
Projetada
Revistas em Braille
Na estante
Projetada
Balcão de Atendimento
Sobre o balcão
Suspensa
Planta da Espécie XXX
No vaso
Fixa
Salão Curupira
Porta de entrada do Salão
Fixa
Salão Mapinguarí
Porta de entrada do Salão
Fixa
1º. Andar
Planta da Espécie XXX
No vaso
Fixa
Átrio
Balcão de Informações
Sobre o balcão
Suspensa
Café Cibernético
Na parede do fundo do átrio
Fixa
Salão Boto
Ao final da escada
Fixa
Sala de Reprografia
Na porta da sala
Fixa
Banheiro Masculina
Na porta do banheiro
Fixa
Banheiro Feminino
Na poeta do banheiro
Fixa
Subsolo
Sala de Encadernação
Na porta da sala
Fixa
Ala Direita
Serviço de Multimeios
Na porta da sala
Fixa
Setor de Informação
Na porta do setor
Fixa
Na porta do setor
Fixa
Na porta da sala
Fixa
Comunitária
Setor de Leitura e Informação
Móvel
Sala de cursos
Serviço de Eventos
Na porta da sala
Fixa
Salão Matinta-Pereira
Ao final da escada
Fixa
Setor de Atendimento Juvenil
Na porta de entrada
Fixa
Salão de Leitura Juvenil
Na entrada
Suspensa
Setor de Atendimento Infantil
Na entrada
Suspensa
Banheiro Masculino
Na porta de entrada
Fixa
Banheiro Feminino
Na porta de entrada
Fixa
Literatura Juvenil
Na estante
Projetada
800 a 899
Na estante do setor juvenil
Fixa
Subsolo
Literatura Infantil
Na estante
Projetada
Ala esquerda
800 a 899
Na estante do setor infantil
Fixa
Gibiteca
Na estante do setor juvenil
Fixa
Gibiteca
Na estante do salão de leitura juvenil
Fixa
Brinquedoteca
Na estrada
Suspensa
Balcão de atendimento
No setor juvenil
Suspensa
Balcão de atendimento
No setor infantil
Suspensa
A Figura 101, apresentada a seguir, exemplifica alguns dos modelos de sinalização apontados
no Quadro 2.
SALÃO BOTO
SALÃO CURUPIRA
Literatura
Empréstimo Domiciliar
Setor de Atendimento ao Deficiente Visual e Auditivo
BALCÃO DE ATENDIMENTO
Setor de Atendimento Juvenil
Setor de Atendimento Infantil
LITERATURA INFANTIL
Figura 101 - Modelos para sinalização de Identificação
b) Sinalização de direção, usada para indicar o acesso aos ambientes procurados que
apresenta, através das setas, o caminho a seguir.
Quadro 3 - Sinalização de Direção
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
Salão das Amazonas
Ao final da escada
Temporário
Ao final da escada
Temporário
Após a entrada
Temporário
Balcão de Informações
Fixa
Balcão de Informações
Fixa
Diretoria
2º. Andar
Obras Raras
Hall
Salão Uiara
Auditório
Diretoria
2º. Andar
Secretaria
Ala Direita
Obras Raras
Ala Direita
Obras Raras
Diretoria
1º Andar
Acervo Geral
Átrio
Setor de Informação Comunitária
Setor de Informação Móvel
Multimeios
Reprografia
Ala Esquerda
Auditório
Literatura
1º Andar
Setor de Atendimento ao Deficiente
Átrio
Auditivo e Visual
Setor de Atendimento Juvenil
Setor de Atendimento Infantil
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
1º Andar
Salão Boto
Sobre a escada de acesso
Suspensa
Ala Direita
1º Andar
ao Salão
Salão Matinta-Pereira
Ala Esquerda
Sobre a escada de acesso
Suspensa
ao Salão
Abaixo, na Figura 102, estão postos alguns modelos da sinalização de direção proposta para a
BPEAM.
ALA ESQUERDA
2º. Andar
Auditório
1º. Andar
Literatura
Setor de Atendimento ao Deficiente
Visual e Auditivo
Empréstimo Domiciliar
Setor de Atendimento Infantil
Setor de Atendimento Juvenil
Banheiros
→
→
Subsolo
→
ALA DIREITA
2º. Andar
←
1º. Andar
←
Subsolo
←
Obras Raras
Diretoria
Acervo Geral
Setor de Informação Comunitária
Setor de Leitura e Informação Móvel
Serviço de Eventos
Multimeios
Reprografia
Figura 102 - Modelos da Sinalização de Direção
c) Sinalização de orientação, que promoverá informações sobre a distribuição interna dos
salões e do átrio.
Quadro 4 - Sinalização de Orientação
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
2º. Andar
Distribuição espacial do Salão das
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Direita
Amazonas
2º. Andar
Distribuição Espacial do Salão
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Esquerda
Uiara
1º. Andar
Distribuição Espacial do Salão
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Direita
Curupira
1º. Andar
Distribuição Espacial do Salão
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Esquerda
Mapinguari
1º. Andar
Distribuição Espacial da Ala
Na parede do lado direito do Átrio
Fixo
Átrio
Direita da BPEAM
1º. Andar
Distribuição Espacial da Ala
Na parede do lado esquerdo do
Fixo
Átrio
Esquerda da BPEAM
Átrio
Subsolo
Distribuição Espacial do Salão
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Direita
Matinta-Pereira
Subsolo
Distribuição Espacial do Salão
Porta de entrada do Salão
Fixo
Ala Esquerda
Boto
A Figura 103, abaixo, nos permite visualizar alguns dos modelos de sinalização de orientação
proposto para a biblioteca pública.
SALÃO CURUPIRA
SALÃO UIARA
Figura 103 - Modelo da Sinalização de Orientação
d) Sinalização do cotidiano, que divulgará as informações referentes aos eventos, alterações
no horário de funcionamento, novos serviços implantados, enfim do fazer diário da BPEAM.
Quadro 5 - Sinalização do Cotidiano
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
2º. Andar
Variado em função de cada evento
Na entrada do Hall
Temporária
1º Andar
Variado em função de cada
Na entrada principal da
Temporária
Átrio
comunicado que se deseje fazer
BPEAM
Hall
Um modelo da sinalização cotidiana pode ser observado na Figura 104.
FEIRA DE GIBIS
DOMINGO A
PARTIR DAS
10:00 HORAS
DOMINGO A
BIBLIOTECA
ABRIRÁ DAS 12:00
ÀS 18:00
Figura 104 - Sinalização do Cotidiano
e) Sinalização de instrução, destinada a promover o uso dos espaços e dos recursos
existentes e instruir para sua melhor exploração e utilização.
Quadro 6 - Sinalização de Instrução
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o catálogo impresso da sala de
Suspensa
2º. Andar
Impresso
Obras Raras
Ala Direita
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
On line
de dados da sala de Obras Raras
2º. Andar
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
Ala Esquerda
On line
de dados
Instruções para uso do Catálogo
Na bancada dos computadores do Café
1º Andar
On line
Cibernético
Átrio
Instruções para uso dos
Nas bancadas dos computadores de
computadores
Café Cibernético
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o catálogo impresso do Salão
1º Andar
Impresso
Mapinguari
Ala Direita
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
On line
de dados do Salão Mapinguari
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
PAVIMENTO
Suspensa
Fixa
Fixo
Fixo
Suspensa
Suspensa
TIPO
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o catálogo impresso do Salão
1º Andar
Impresso
Curupira
Ala Esquerda
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
On line
de dados do Salão Curupira
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o catálogo impresso da sala de
Subsolo
Impresso
Multimeios
Ala Direta
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
On line
de dados da sala de Multimeios
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o catálogo impresso do Setor de
Subsolo
Impresso
Atendimento Juvenil
Ala Esquerda
Instruções para uso do Catálogo
Sobre o computador para acesso à base
On line
de dados do Setor de Atendimento
Suspensa
Suspensa
Suspensa
Suspensa
Suspensa
Suspensa
Juvenil
A figura 105 permite a exemplificação da sinalização de instrução.
PARA UTILIZAÇÃO DO
CATÁLOGO IMPRESSO
OBSERVE AS ANOTAÇÕES
QUE CONSTAM NA FICHA
CATALOGRÁFICA
Figura 105 - Modelo da Sinalização de Instrução
f) Sinalização de regulamentação para uso do espaço, dos serviços e dos equipamento
assim como da própria biblioteca de modo a estabelecer os direitos e deveres dos usuários.
Quadro 7 - Sinalização de Regulamentação
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
Favor não fazer uso de telefones
Sala de Obras Raras
Fixa
Não é permitido fumar
Na entrada do Salão das Amazonas
Fixa
Favor não se alimentar nesse ambiente
Sala de Obras Raras
Fixa
Favor não fazer uso de telefones
Divisória do Salão Uiara
Fixa
celulares
2º. Andar
Ala Direita
2º. Andar
celulares
Ala Esquerda
Favor não se alimentar nesse ambiente
Divisória do Salão Uiara
Fixa
PAVIMENTO
CONTEÚDO
LOCALIZAÇÃO
TIPO
Observar o horário disponível para o
Sobre os computadores
Fixa
1º. Andar
uso do computador
Átrio
É permitido fumar
No Café Cibernético
Fixa
Favor não deixar restos de comida
Nas bancadas dos computadores
Fixa
No interior do Salão Mapingari
Fixa
Favor não se alimentar nesse ambiente
No interior do Salão Mapinguari
Fixa
Não é permitido fumar
Na entrada do Salão Mapinguari
Fixa
Favor não fazer uso de telefones
No interior do Salão Curupira
Fixa
Favor não se alimentar nesse ambiente
No interior do Salão Curupira
Fixa
Não é permitido fumar
Na entrada do SalãoCurupira
Fixa
Favor não fazer uso de telefones
Na sala de Multimeios
Fixa
próximo das máquinas
Favor não fazer uso de telefones
celulares
1º Andar
Ala Direita
celulares
1º Andar
Ala Esquerda
celulares
Subsolo
Favor não se alimentar nesse ambiente
Ao final da escada do Salão Boto
Fixa
Não é permitido fumar
Ao final da escada do Salão Boto
Fixa
Favor não fazer uso de telefones
Na sala da leitura informal do
Fixa
celulares
Atendimento Juvenil
Favor não se alimentar nesse ambiente
Ao final da escada do Salão Matinta-
Ala Direita
Subsolo
Ala Esquerda
Fixa
Pereira
Não é permitido fumar
Ao final da escada do Salão Matinta-
Fixa
Pereira
A Figura 106, exemplifica os modelos da sinalização de regulamentação.
Figura 106 - Modelos da Sinalização de Regulamentação
O projeto de comunicação visual proposto buscará, fundamentalmente, melhorar as condições
de uso da BPEAM pela facilidade com que o usuário, orientado, circulará no espaço interno. Bem
articulado, ele promoverá a interelação entre o ambiente e o público sendo capaz de produzir um
impacto positivo até mesmo naqueles que entram na biblioteca pública pela primeira vez para solicitar
uma informação no balcão do Átrio. Contudo deve ser destacado que tais propostas foram elaboradas
para o conjunto arquitetônico atual da biblioteca que poderá ser alterado em função de propostas
governamentais que alterem o que hoje está analisado.
Ao reorganizar a circulação em seu espaço interior, a biblioteca mostra-se competente para
seus freqüentadores uma vez que, ao ser uma instituição que promove o acesso à informação, ela,
acima de tudo, é capaz de doar as informações sobre si própria para agilizar o trajeto de seus usuários.
A comunicação visual, além de ser capaz de colocar em destaque a forma como a biblioteca
está ordenada internamente, deverá constituir-se de um elemento de manipulação do uso do espaço
evitando que a circulação seja confusa, como em um labirinto.
A sinalização deverá causar um efeito de sedução naqueles que utilizam a BPEAM,
estimulando-os a querer-fazer uso do ambiente pois sabem que, através dela, poderão conduzir-se
com segurança no espaço reordenado.
*****
O refuncionar proposto nesse capítulo para a BPEAM tem o propósito fundamental de torná-la
de fato pública, inserindo-a na sociedade amazonense como uma instituição posta para seu uso, capaz
de atender as suas mais variadas expectativas de informação, lazer, educação e cultura. Ao
resignificar-se para a sua comunidade, ela estará assumindo uma nova forma de se fazer ver como
uma agência que contribui para o desenvolvimento do saber e do conhecimento.
Ao propormos tais mudanças, a fim de ampliarmos sua visibilidade esperamos poder ter
contribuído para que a BPEAM venha a desempenhar um significativo papel para a comunidade
amazonense que se autodenomina de povo da floresta.
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NOVO
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que torna uma biblioteca visível para a comunidade onde está
inserida? Essa inquietação motivadora dessa pesquisa
originou-se no questionamento de muitas vozes que discutem
o verdadeiro papel e a missão desses órgãos culturais na chamada sociedade do conhecimento.
Contudo essa temática tem envolvido muitas pesquisas que abordam o fenômeno a partir das teorias
que envolvem a Biblioteconomia.
Ao tomar a iniciativa de estudar a biblioteca pública, especialmente a Biblioteca Pública do
Estado do Amazonas – BPEAM, nos preocupamos em instalar uma outra forma de examinar o seu
fazer a partir dos modos de presença e de visibilidade que ela instala para ver e ser vista por seu
público.
Com essa preocupação em mente, a de conhecer os valores que permeiam o uso dessa
instituições, buscamos encontrar outros suportes teóricos que não os da Biblioteconomia para
perceber, no seio das ações desencadeadas no processo de utilização, o que ela é capaz de
comunicar, a quem e de que modo, ou seja, investigar a partir dos trajetos do usuário a forma como ele
acredita que ela possa servi-lo.
Os caminhos nos levaram ao encontro com a semiótica da escola francesa por ela eleger,
entre os seus objetos de estudo, as práticas sociais tratadas enquanto processos significantes que,
analisados como linguagens geradoras de efeitos de sentido, amplia os modos de olhar o corpus
selecionado. Permitiu esse posicionamento teórico e metodológico dinamizar o entendimento do
complexo jogo de significados existentes na relação entre a biblioteca e seu usuário, considerando que
os objetivos das organizações sociais são determinados para a sociedade na qual opera o seu fazer.
Efetuando esse estudo chegamos à determinação dos regimes de visibilidade da BPEAM.
Procuramos, inicialmente, examinar nosso objeto de pesquisa no período de 1870 a 1910 que
compreende a criação da Sala de Leitura – núcleo inicial da Biblioteca Pública –, até a sua instalação
definitiva no prédio construído especialmente para alojá-la.
O espaço da biblioteca e as suas possibilidades interacionais apresentou-se como um
elemento constitutivo da pesquisa, capaz de permitir a compreensão dos atos de comunicação em que
ele protagoniza uma vez que ele é o lugar onde as práticas sociais são vivenciadas. Observá-lo,
permitiu mostrar quais as estratégias que a biblioteca se utiliza para se colocar sob o olhar do usuário
e, de certo modo, enunciar seu contrato para que o seu destinador julgador confie nos valores
enunciados, assuma-os ao utilizar a Biblioteca. Assim, elegemos para análise semiótica a fachada, a
ambientação e a sinalização, por acreditarmos que tais elementos são, fisicamente falando,
determinantes da visibilidade da biblioteca no contexto ao qual ela se insere e demarcantes do texto
espacial onde o usuário efetua sua trajetória.
Assim delineado, esse trabalho se caracterizou como um estudo do uso que é feito da
biblioteca a partir de seus estatutos de visibilidade, tanto física quanto social. Contribuem esses
enormemente para permitir o entendimento dos atos de comunicação que ela desencadeia e podem
constituir-se em um rico elemento para redefinir ou alterar suas rotas. Com efeito, os tradicionais
estudos de usuários estão preocupados com a forma de uso dos artefatos culturais e não buscam
empreender uma analise dos modos, aparentes ou não, de utilização do ambiente-biblioteca para que,
de uma forma mais ampliada, ela possa estabelecer novas manifestações de linguagem
compreensíveis e mais próxima do heterogêneo público que a freqüenta. Tal entendimento pode
agregar novos valores de uso à biblioteca e permitir que ela crie novas estratégias para envolver seu
usuário.
É justamente no cruzamento dos elementos elencados que acreditamos resida a grande
contribuição desse estudo para a Biblioteconomia e para as considerações sobre o fazer da biblioteca.
Ao identificar os tipos de usuários e de suas práticas no ambiente da BPEAM, observamos,
concretamente, as estratégias de enunciação de seu projeto político, estético e racional no sentido de
favorecer a formação dos manauaras.
A abordagem desse estudo, amparada pela ampla noção de texto da semiótica francesa,
permitiu o entendimento dos diversos discursos que a biblioteca amazonense enuncia sob diferentes
modos e que vão estar sempre, sob o olhar do usuário, provocando nele interpretações que o levam
a entender a rede de relações significantes em torno das quais ele, o público da biblioteca, vai instituir
seu comportamento para utilizá-la. Cabe a ela, portanto, consciente de seu papel social, ser capaz de
construir, estrategicamente, seus sistemas de significações para reforçar sua existência enquanto
agente que pode contribuir para o amplo desenvolvimento da sociedade manauara e pode viabilizar a
geração do conhecimento que fará do homem da Amazônia um indivíduo de um mundo sem fronteiras,
que é o da informação. Assim, na busca de orientar novas práticas a partir dos elementos analisados é
que se apresentou uma série de sugestões visando à dinamização do fazer da Biblioteca Pública do
Estado do Amazonas.
Ao longo dessa pesquisa, muitas barreiras foram sendo vencidas para apreendermos
semioticamente os princípios de funcionamento da visibilidade da biblioteca enquanto espaço de
interação e mediação cultural; contudo a contribuição da semiótica não se restringiu a colocar-se como
uma lente para nos permitir ampliar nosso campo de visão sob o que está posto para ser visto, física e
socialmente, ou ainda como uma simples ferramenta que, ao ser bem utilizada, viabiliza o sucesso dos
procedimentos de análise do objeto em estudo. Ela diversificou os horizontes perceptivos e permitiu ver
muito além da superficialidade dos discursos enunciados quando, ao mostrar a totalidade dos efeitos
de sentido, descortinou as diferentes formas de manifestação da biblioteca e de seus usuários.
Permitiu-nos a partir da simplicidade das aparências chegar à existência identitária da BPEAM
permitindo-nos apreender o sentido mais ampliado das cinco leis criadas pelo bibliotecário indiano
Ranganathan no princípio desse século. “Os livros são para uso. A cada leitor o seu livro. A cada livro o
seu leitor. Economize o tempo de seu leitor. A biblioteca é um organismo em crescimento”.
De fato, o estudo semiótico da biblioteca discutiu não só suas funções, mas também polarizou
pontos fundamentais para discussão do cumprimento de seu papel social como a formação de
estoques e a transferência da informação colocando em destaque o conflito entre acervo e
acessibilidade da coleção e dos serviços; a oferta e o perfil de demandas dos usuários; a preocupação
com a questão custo benefício e com a satisfação das necessidades do público; a agilidade com que a
disseminação deve dar-se de modo a possibilitar a assimilação ágil da informação; a passividade e a
dinâmicidade das práticas na busca pelo usuário potencial e manutenção do usuário real; a rapidez,
eficácia e qualidade com que os sistemas de recuperação da informação devem ocupar-se; a
associação da técnica à tecnologia para o incremento das atividades; a valorização do planejamento
sistemático das atividades de modo a fazer da biblioteca um organismo flexível e ágil. Por essas vias, a
semiótica nos permitiu resgatar a discussão da biblioteca na sua complexa rede de umbricamentos
comunicacionais que significam e fazem ser e ter uma existência pública.
ÍÍNDI
NDIC
E EE R
EFERÊNCIA D
AS IILUSTRAÇÕES
LUSTRAÇÕES
IC
CE
REFERÊNCIA
DAS
Um olhar semiotizado
A vazante da leitura pública no Amazonas
Figura 1
p. 21
Prédio do Palácio Provincial, hoje Quartel da Polícia Militar
Retirado de: MESQUITA, Otoni. Manaus: história e arquitetura/1852 – 1910. Manaus: Valer
Editora, 1999. p. 76. (ISBN 85-86512-38-9).
Figura 2
p. 23
Lado oriental da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde se localizava a sala
destinada à Biblioteca Pública Provincial
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. p. 31 (Folheto).
Figura 3
p. 24
Folha de rosto do Catálogo da Bibliotheca Pública do Amazonas, impresso em 1887.
Retirado de: BRAGA, Genesino. Nascença e vivência da biblioteca do Amazonas. 2. ed.
Manaus: Imprensa Oficial, 1986. p. 72.
Figura 4
p. 25
Liceu Provincial
Retirado de: MESQUITA, Otoni. Manaus: história e arquitetura/1852 – 1910. Manaus: Valer
Editora, 1999. p. 94. (ISBN 85-86512-38-9).
Tempestades de sentido
Figura 5
p. 40
Zonas de distâncias propostas por Edward Hall (1966)
Retirado de: PANERO, Julius, ZELNIK, Martin. Las dimensiones humanas en los espacios
interiores. México: Ediciones G. Gili, 1996. p. 36. (ISNB 968-387-328-4).
Um olhar panorâmico
Espaço Demarcado
Figura 6
p. 52
Formato quadrangular da Biblioteca de Éfesos, Turquia
Retirado de: PÉLISSIER, Alain, POUSSE, Jean-François. De la nature du plan. Technique &
Architecture. Paris, n. 384, juillet, 1989, p.384.
Figura 7
p. 52
Formato retangular da Biblioteca dos Médicis
Retirado de: PÉLISSIER, Alain, POUSSE, Jean-François. De la nature du plan. Technique &
Architecture. Paris, n. 384, juillet, 1989, p.385.
Figura 8
p. 53
Projeto de Boullée para sala de leitura da Biblioteca Real, França
Retirado de: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (orgs.). Ovrages et volumes:
architecture et bibliothèques. Paris: Electre – Ed. du Circle de la Librairie, 1997. p. 27. (ISBN
2-7654-0657-X).
Figura 9
p. 54
Biblioteca Sainte Geneviève, Paris, nos dias atuais
Retirado do site www.panoramix.univ-paris1.fr/bsg/html, em 13/03/2000.
Figura 10
p. 58
Biblioteca do Condado de Monroe Bloomington, Indiana - USA
Retirado do site www.bloomingtonpl.org, em 15/01/2000.
Figura 11
p. 58
Biblioteca de Orléans, França
Retirado de: BERTRAND, Anne-Marie, KUPIEC, Anne (orgs.). Ovrages et volumes:
architecture et bibliothèques. Paris: Electre – Ed. du Circle de la Librairie, 1997. p. 152. (ISBN
2-7654-0657-X).
Figura 12
p. 59
Biblioteca de Jean-Pierre Melville, França
Retirado de: MELLOT, Michel (org.). Nouvelles Alexandries: les grands chantiers de
bibliothèques dans le monde. Paris: Éditions du Cercle de la Librairie, 1996. p. 17. (ISBN 27654-0619-7).
Figura 13
p. 60
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil
Retirado do site www.dpt.bn.br, em 12/10/1999.
Figura 14
p. 60
Biblioteca de Shiou Junior College, Hitachi - Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design. Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 117. (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 15
p. 61
O conjunto arquitetônico da nova Biblioteca Nacional da França, Paris
Retirado de: BIBLIOTHÈQUE nationale de France. Connaissance des Arts , Paris, número
especial. p 75.
Figura 16
p. 62
O conjunto arquitetônico da nova British Lirary, Londres
Retirado de: MELLOT, Michel (org.). Nouvelles Alexandries: les grands chantiers de
bibliothèques dans le monde. Paris: Éditions du Cercle de la Librairie, 1996. p. 209. (ISBN 27654-0619-7).
Figura 17
p. 65
Biblioteca do tipo vertical - Biblioteca Nacional do Chile, Santiago
Retirado do site www.bn.ch, em 30/09/2000
Figura 18
p. 66
Biblioteca do tipo paralelo - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Brasil
Retirado do site www.dpt.bn.br, em 12/10/1999.
Figura 19
p. 67
Biblioteca do tipo circular - Biblioteca do Congresso, Estados Unidos
Retirado de: Library Building - 1986: interiors. Library Journal , New York, v. 111, n. 20.
December, 1996. Capa (ISSN 0363-0277).
Figura 20
Modelo Escriba para distribuição do espaço interno
p. 68
Retirado de: ESCRIBA Indústria e Comércio de Móveis Ltda. Manual para planejamento de
bibliotecas. Taboão da Serra: Escriba, 1984. p. 4.
Figura 21
p. 70
Biblioteca Pública de Aichi, Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 12 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 22
p. 71
Vista dos balcões de referência da Biblioteca Popular de Ichikawa, no Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 28 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 23
p. 72
Salão de leitura da biblioteca da Universidade de Wesleyan, Estados Unidos
Retirado de: Library Buildingd - 1986: interiors. Library Journal , New York, v. 111, n. 20.
December, 1996. p 46. (ISSN 0363-0277).
Figura 24
p. 74
Salão de leitura da nova Biblioteca Nacional da França, Paris
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 25
p. 75
Biblioteca Nacional da França, Paris
Retirado de: BLASSELLE, Bruno, MELET-SANSON, Jacqueline. La Bibliothèque Nationale de
France: mémorire de l’avenir. Paris: Découverts Gallimard. 1996. p 86 (ISBN 2-07-053111-2).
Figura 26
p. 76
Ninhama Municipal Besshi Cooper Nine Memorial, no Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design. Tokyo: Meisei Publications:
1995. p 117 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 27
p. 77
Detalhe do prédio da Biblioteca Pública de Imari, Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p 34 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 28
p. 79
Salão do acervo da Biblioteca Pública de Imari, Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design. Tokyo: Meisei Publications:
1995. p 38 e 39 (ISBN 4-938812-21-5).
Ritos Ambientais
Valorizando o uso
Figura 29
p. 84
Detalhes da entrada da Biblioteca da ECA/USP, Brasil
Foto de: Marcelo Santos Barbalho
Figura 30
p. 85
Ala direita da Biblioteca da ECA/USP, Brasil, com destaque para o sistema de sinalização das
estantes
Foto de: Marcelo Santos Barbalho
Figura 31
p. 86
Varal-jornal da Biblioteca da ECA/USP, Brasil
Foto de: Marcelo Santos Barbalho
Valorizando a solução inteligente
Figura 32
Biblioteca Sérgio Milliet do Centro Cultural São Paulo, Brasil
p. 87
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 33
p. 86
Detalhe do lay out da biblioteca Sérgio Milliet do CCSP – São Paulo, Brasil
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 34
p. 89
Detalhes das consultas ao catálogo da biblioteca Sérgio Milliet do CCSP – São Paulo, Brasil
Fotos de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 35
p. 89
Setor de Hemeroteca da biblioteca Sérgio Milliet do CCSP – São Paulo, Brasil, com destaque
para as estantes
Fotos de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 36
p. 90
Detalhes do Setor de Periódico da biblioteca Sergio Millet do CCSP, São Paulo – Brasil
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 37
p. 90
Detalhes da sinalização biblioteca Sérgio Milliet do CCSP – São Paulo, Brasil
Fotos de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Valorizando o vigor existencial
Figura 38
p. 92
Fachada do Real Gabinete de Leitura Portuguesa - Rio de Janeiro, Brasil
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 39
p. 93
Vista interna do Real Gabinete de Leitura Portuguesa - Rio de Janeiro, Brasil
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 40
p. 94
Antigüidade vs modernidade
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 41
p. 94
Montra relicário
Foto de: Célia Regina Simonetti Barbalho
Valorizando a diversidade
Figura 42
p. 96
Edifício da Biblioteca Central da Universidade de Campinas - UNICAMP, Brasil
Retirado do site www.unicamp.br/bc/Hpcb100.htm, 10/03/200
Figura 43
p. 97
Folheto propaganda do Café da Biblioteca da UNICAMP, Brasil
Retirado do folheto distribuído na Biblioteca Central da UNICAMP
Nomeando Destinos
Figura 44
p. 100
Fases do projeto para sinalização adaptado de John Kupersmith
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 45
p. 101
Logotipo da Biblioteca Municipal de Carouge, França
Retirado de MIRIBEL, Marielle de. Les logos dês bibliothèques publiques. Bulletin des
Bibliothèques de France, Paris, v. 40, n. 4, p. 17, 1995.
Figura 46
p. 101
Logotipo da Biblioteca Pública de lundo, Suécia
Retirado de MIRIBEL, Marielle de. Les logos dês bibliothèques publiques. Bulletin des
Bibliothèques de France, Paris, v. 40, n. 4, p. 19, 1995.
Figura 47
p. 101
Logotipo da Biblioteca Municipal de Ludre, França
Retirado de MIRIBEL, Marielle de. Les logos dês bibliothèques publiques. Bulletin des
Bibliothèques de France, Paris, v. 40, n. 4, p. 23, 1995.
Figura 48
p. 102
Componentes de um sistema de sinalização segundo John Kupersmith
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 49
p. 104
Pictogramas de utilização mundial e bibliotecas
Retirados do: clip-art’s do Programa Power Point, versão 7.0 Copyright 1988-1995,
Microsoft Corporation
Figura 50
p. 106
Modelos de textura
Retirado do: Programa Word, versão 7.0 Copyright 1988-1995, Microsoft Corporation
Figura 51
p. 107
Negativo vs positivo
Retirado dos clip-art’s do Programa Power Point, versão 7.0 Copyright 1988-1995, Microsoft
Corporation
Figura 52
p. 109
Tipos de fixação, adaptado de Reynolds e Barret
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Um olhar direcionado
Figura 53
p. 113
Palacete da Imprensa Oficial
Retirado de: MESQUITA, Ottoni Mesquita. Manaus: história e arquitetura. 2. ed. Manaus:
Editora Valer, 1999. p. 247
Figura 54
p. 113
Biblioteca Pública do Estado do Amazonas - vista externa
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. p. 31 (Folheto)
Figura 55
p. 114
Detalhe da planta original do prédio da Biblioteca Pública
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 56
p. 115
Fachada do prédio da Biblioteca Nacional de Paris, França
Foto de Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 57
p. 115
Fachada do prédio da Biblioteca Pública de Boston, Estados Unidos
Retirado do site www.greatbuilding.com/cgi.cgi/Boston_Public_ Library.html/60a6330-BostonPublic-Lib-s.gbi, em 19/04/2000
Figura 58
p. 117
Vista aérea atual da Cidade de Manaus
Foto de Antônio Neto
Figura 59
p. 118
Vista externa da BPEAM, década de 60
Retirado de: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO AMAZONAS. Manaus: memória
fotográfica. Manaus: SUFRAMA, 1985. p. 68
Figura 60
p. 120
Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, vista externa atual
Foto de Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 61
p. 122
Projeção em 3D do edifício da BPEAM
Confeccionado por Emmerson Santa Rita da Silva
Figura 62
p. 123
Detalhes da fachada frontal do prédio da Biblioteca Pública
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. p. 31 (Folheto)
Figura 63
p. 125
Porta de entrada
Foto de Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 64
p. 125
Visão do espaço interno visto através da porta de entrada
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
O interior do conjunto arquitetônico
Figura 65
p. 131
Vista parcial do hall da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 66
p. 132
Escadaria de ferro do átrio da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. (Folheto).
Figura 67
p. 132
Catálogo da fábrica escocesa Macfarlane's, 1893
Retirado de: SILVA, Geraldo Gomes da. Arquitetura de ferro no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Nobel, 1987. p. 178 (ISBN 85-213-0464-1)
Figura 68
p. 133
Detalhes do teto do hall da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 69
p. 134
Porta de entrada para a ala esquerda da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. (Folheto)
Figura 70
p. 134
Detalhe da porta de entrada à ala direita da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 71
p. 135
Salão de leitura da ala direita da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 72
p. 136
Detalhe do teto e das colunas da ala direita da Biblioteca Pública
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 73
p. 136
Detalhe do salão de impressos da Biblioteca Nacional de Paris, França
BIBLIOTHÈQUE nationale de France. Connaissance des Arts , Paris, número especial. p 7.
Figura 74
p. 139
Detalhes do Salão de Leitura da ala direita da Biblioteca Pública, com destaque para o
acesso ao balcão de atendimento
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 75
p. 141
Escada de acesso ao subsolo da ala direita
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 76
p. 142
Antigo fichário da Biblioteca
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Figura 77
p. 142
Vista geral do subsolo da ala direita
Foto de Afrânio Esteves Ribeiro
Os quatro tipos de usuários do conjunto arquitetônico
Figura 78
p. 143
Fachada da Biblioteca Pública Municipal de Manaus
Retirado do site www.internexte.com.br/biblioteca-pmm, em 12/04/2000
Usuário copista: um olhar míope
Figura 79
p. 151
Formulário para solicitação de recursos informacionias
Retirado de: Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Um olhar sugestivo
Por um dabacuri na Biblioteca Pública
Figura 80
p. 176
Modelo do Carro-Biblioteca do INL atuando em Belo Horizonte - Minas Gerais, Brasil
Retirado de: DUMONT, Lígia Maria Moreira . Carro-biblioteca e a leitura no Brasil: um
binômio inseparável. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 197,
jul./dez.1995.
Figura 81
p. 177
Projeto gráfico do ônibus-biblioteca da BPEAM
Confeccionado por Emmerson Santa Rita da Silva
Figura 82
p. 174
Proposta de distribuição interna do ônibus-biblioteca
Confeccionado por: Cláudio Brandão Nina
Figura 83
p. 178
Mapa do atendimento do ônibus-biblioteca na cidade de Manaus, Amazonas
Confeccionado por Emmerson Santa Rita da Silva
Figura 84
p. 180
Barco-escola Luz do Saber
Retirado de: GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS. Secretaria de Estado de Educação.
Projeto Luz do Saber. p. 14. (Folheto)
Figura 85
p. 181
Proposta de organograma para a Biblioteca Pública do Estado do Amazonas
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Metamorfoses do encantamento
Figura 86
p. 183
Teto do hall do andar superior da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas – Brasil
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. p. 34 (Folheto)
Figura 87
p. 184
O encontro das águas – Manaus, Amazonas
Retirado de: www.argo.com.br/amazonasturismo/manaus/a_turistico2.htm#
encontro, em 12/04/2000
Figura 88
p. 185
Parede de fundo do hall do pavimento superior, com destaque para obra Redenção do
Amazonas
Retirado de: Governo do Estado do Amazonas. Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus:
Sérgio Cardoso & Cia, s/d. p. 34 (Folheto)
Figura 89
p. 186
Móveis da biblioteca de Sagami Women’s university Library, no Japão que servirão de
modelo para a BPEAM
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 175 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 90
p. 186
Montra da Biblioteca Waseda University Center for Scholary Information, no Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 201 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 91
p. 188
Local de leitura informal da Biblioteca pública de Aichi Prefectural, Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 38 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 92
p. 190
Estantes da Mito West City Library, no Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 5 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 93
p. 191
Poltronas da biblioteca Media Park Ichikawa, no Japão
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 30 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 94
p. 192
Library Classification Method
Retirado de: Biblio Visuael. Library Classification Method (Cartaz)
Figura 95
p. 193
Modelo da estante para obras recém adquiridas
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 139 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 96
p. 194
Modelo, a ser adaptado, das cabinas de estudo individual
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 20 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 97
p. 196
Modelo para a brinquedoteca da seção infantil
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 62 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 98
p. 197
Modelo das mesas para o atendimento Infantil
Retirado de: LIBRARIES: new concepts in architecture & design.Tokyo: Meisei Publications:
1995. p. 40 (ISBN 4-938812-21-5).
Figura 99
p. 200
Modelo de estantes deslizantes
Retirado de: www.aceco.com.br, em 09/010/1999
Nas asas da borboleta
Figura 100
p. 202
Proposta de logotipo para a BPEAM
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 101
p. 205
Modelos para sinalização de identificação
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 102
p. 206
Modelos da Sinalização de Direção
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 103
p. 207
Modelo da Sinalização de Orientação
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 104
p. 208
Sinalização do Cotidiana
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 105
p. 209
Modelo da Sinalização de Instrução
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
Figura 106
p. 210
Modelos da Sinalização de Regulamentação
Confeccionado por Célia Regina Simonetti Barbalho
R
EFERÊNCIAS B
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