JORNAL DA ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO RIO DE JANEIRO ANO I N° 8 19 a 25 DE MAIO DE 2003 A máquina da informação Daniela Barcellos Através dos quiosques multimídia da Alerj, é possível tirar dúvidas sobre a legislação, conhecer o perfil dos deputados e fazer reclamações C onhecimento e cidadania com um simples toque na tela. Estes são os principais benefícios oferecidos pelos quiosques multimídia da Assembléia Legislativa, espalhados em pontos estratégicos do Estado do Rio de Janeiro. Desenvolvidos para prestar todas as informações necessárias sobre a Casa, os 11 terminais em funcionamento já receberam mais de 90 mil consultas, tendo como públicoalvo profissionais liberais, servidores públicos, estudantes e turistas. Todos compartilham o interesse em conhecer um pouco mais sobre o Legislativo. O programa começou em 1997, com apenas três quiosques instalados no Palácio Tiradentes e no Palácio 23 de Julho. A procura crescente trouxe a necessidade de ampliar o projeto, que foi estendido até a Barra da Tijuca, Maracanã e São Gonçalo. Os quiosques funcionam como um banco de dados, trazendo o perfil de cada deputado, os projetos em tramitação na Casa, as leis aprovadas e a composição das Comissões Permanentes. Tudo de forma simples e rápida. A tecnologia usada no projeto oferece linguagem fácil para garantir a todos os usuários um passeio virtual, repleto de informações úteis. O carrochefe é a história do Palácio Tiradentes, que utiliza recursos audiovisuais para contar o passado e o presente da Casa. Também é possível, através dos quiosques, fazer reclamações, tirar dúvidas e apresentar sugestões aos PÁGINAS 4 E 5 parlamentares. Ternos cortados sob medida para Albano Reis PÁGINA 2 Evangélicos mostram força no Parlamento PÁGINA 3 Deputado propõe abertura do Metrô aos domingos PÁGINA 8 2 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 19 A 25 DE MAIO DE 2003 PALAVRA DO EDITOR A transparência do processo legislativo ganhou contornos bastante nítidos na Alerj. No esforço de manter o cidadão bem informado sobre os trabalhos da Casa, 11 quiosques eletrônicos foram instalados para divulgar a atuação dos deputados, os projetos em tramitação e as leis aprovadas, entre outros pontos. Em apenas seis anos de funcionamento, os terminais espalhados pelo Centro, Maracanã, Barra da Tijuca e São Gonçalo tornaram-se um importante canal de diálogo com a população. Não é à toa que o banco de dados virtual já recebeu mais de 90 mil consultas desde sua implantação. Ao criar uma janela digital, o Parlamento fluminense abriu as portas do conhecimento para uma parcela da população que, de outra forma, não teria acesso ao que se passa na Casa. Mas é preciso ressaltar que os terminais estão longe de ser apenas um serviço de consultas. O cidadão interage de fato com os deputados, seja através de reclamações, críticas ou sugestões de projetos. A Assembléia contribui, assim, para democratizar a atividade legislativa, criando meios de os cidadãos exigirem o cumprimento da Constituição e das leis estaduais. Gabriel Oliven Diretor de Comunicação Social EXPEDIENTE Publicação semanal do Departamento de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Presidente: JORGE PICCIANI 1º Vice-presidente: Heloneida Studart 2º Vice-presidente: José Távora 3º Vice-presidente: Pedro Fernandes 4º Vice-presidente: Fábio Silva 1ª Secretária: Graça Matos 2ª Secretário: Léo Vivas 3º Secretário: Marco Figueiredo 4º Secretário: Nelson do Posto Jornalista responsável: Gabriel Oliven (Mat. 14954/88) Coordenadora: Sônia Moreira Repórteres: Erika Junger e Fernanda Galvão Estagiários: Fernanda Pizzotti, Fernanda Porto, Florence Jacq, Gabriel Mendes, Leandro Marins, Leonardo Hazan, Melissa Ornelas, Ramien Brum Fotografia: Daniela Barcellos Diagramação: Talitha Magalhães Projeto gráfico: Nel Figueiredo Coordenação Gráfica: Aranha Montagem: Silvana Abreu e Carlos Renes Impressão Digital: Gráfica Alerj Tiragem: 1.500 exemplares Papai Noel de Quintino lança moda em família ALBANO REIS TEM SEU PRÓPRIO ‘PERSONAL STYLIST’: O IRMÃO OSVALDO Daniela Barcellos Ex-morador do Morro da Caixa D’Água, Albano Reis garante: ‘Eu sei fugir do ridículo’ FERNANDA PORTO Engana-se quem pensa que a eloqüência é a única forma de se destacar na Assembléia Legislativa. Outros artifícios também servem a esse fim, ainda que não seja esta a intenção. O deputado Albano Reis (PMDB), apesar de ter, há 34 anos, sua imagem associada à do Papai Noel – em função de seu trabalho na área social em Quintino, Zona Norte do Rio –, não adere à monotonia cromática do bom velhinho na hora de escolher o que vestir para compor seu visual. Ternos incomuns, cores vibrantes e estampas compõem seu guarda-roupa, fazendo com que ele chame a atenção por onde passa. Nascido e criado no Morro da Caixa D`água, em Quintino, Albano orgulha-se de ser diferente. Afirma, com bom humor, que não poderia se vestir de forma comum pelo fato de não ser um político comum: garante não ter medo de dizer não e abominar demagogia – o parlamentar mantém em seu gabinete caixas de engraxate e kits para lavar carros, que são dados a quem lhe procura para pedir emprego ou dinheiro. Iniciando seu quinto mandato, o deputado afirma que a vontade de fugir do óbvio o acompanha desde a juventude. Sua mãe, que trabalhava como costureira, aproveitava as sobras de tecidos variados para fazer suas roupas. “Muito antes dessa moda de camisas e bermudas floridas, eu já usava roupas assim. Acho que ajudei a lançar esse movimento”, diverte-se. Hoje os tempos são outros. Desta vez, quem se encarrega de auxiliar o parlamentar nessa área é seu irmão, Osvaldo Reis, que trabalha com moda. Segundo Albano, seu irmão tem um gosto semelhante ao seu. Mas isto não o impede de interferir na confecção do modelito, para que ele fique exatamente a seu gosto. “Isso é muito importante. Uma roupa bem transada te deixa bem, te deixa feliz. A gente até trabalha melhor. Eu me visto de forma diferente, reconheço, mas não me considero inadequado. Muito menos cafona. Eu sei fugir do ridículo”, garante. JORNAL DA ALERJ 3 RIO DE JANEIRO, 19 A 25 DE MAIO DE 2003 A fé que move projetos na Alerj DEPUTADOS EVANGÉLICOS BUSCAM UNIÃO PARA APROVAR MATÉRIAS DE INTERESSE COMUM NO PARLAMENTO ESTADUAL Leandro Marins Deputados evangélicos mostram sua força no Legislativo e usam ensinamentos da Bíblia como inspiração para elaborar projetos de lei A FERNANDA GALVÃO E GABRIEL MENDES maior bancada da Assembléia Legislativa não é unida por um partido - e sim pela fé. Composta por 23 deputados, a bancada evangélica impressiona por seu tamanho e pela renovação que trouxe à Casa. Do total, 18 estão em primeiro mandato. “O crescimento evangélico se justifica pela credibilidade que transmitimos. O evangélico sério sempre cumpre a sua palavra”, justifica o deputado Caetano Amado (PL), bispo da Igreja Universal. “O coração do homem está muito duro. Os deputados evangélicos têm de encarar seus mandatos como uma missão cristã”, aponta a deputada Jurema Batista (PT), que freqüenta a Igreja de Nova Vida. Mas, como em toda bancada, às vezes falta união. “Devemos estar mais atentos e unidos”, alerta a petista. A dificuldade de coesão entre os evangélicos também é uma preocupação da deputada Edna Rodrigues, que é pastora da Igreja Universal do Reino de Deus. “Temos uma torcida pelos projetos dos outros deputados, mas é só. Se não nos reunimos sequer para orar, é porque não nos encontramos ainda”, reclama. Pensando nisso, a deputada presbiteriana Graça Pereira (PTdoB) enviou um abaixo-assinado para a Mesa Diretora com os nomes de todos os parlamentares evangélicos da Casa, solicitando um espaço para cultos e orações. “É importante termos estes momentos. Apesar das convicções e partidos diferentes, quando se trata da palavra de Deus estamos sempre unidos”, garante. Pastor da Assembléia de Deus, Edino Fonseca (Prona) vai além. “Sempre que o povo de Deus estiver ameaçado, os deputados evangélicos irão atuar em sua defesa”, garante ele, que é o presidente de uma Comissão Especial que vai avaliar o impacto do novo Código Civil nas entidades religiosas. Apesar de também defender a união, Samuel Malafaia (PSB), da Assembléia de Deus, rejeita o rótulo de “bancada evangélica”. “Este é um termo que define um conjunto de pessoas unidas por questões políticas. Somos uma associação de boas pessoas, que querem procurar as coisas de Deus”, acredita. Código Civil em debate na Casa A vigência do novo Código Civil trouxe turbulência para as entidades religiosas. Isto porque a nova legislação extingue o conceito de sociedade religiosa e pia, onde eram enquadradas as igrejas - que passam a ser sociedade civil. “Foi ouvida a sociedade de fato - e não a de direito. Nós queremos fazer o certo, ouvir juristas, teólogos e líderes religiosos. Nenhuma categoria está satisfeita com o novo Código Civil”, afirma o deputado Edino Fonseca (Prona), que além de pastor é juiz aposentado. Para Léo Vivas (PDT), a transformação foi proposital. “O novo Código Civil faz parte de um conjunto de leis que tenta bloquear o crescimento político dos evangélicos”, aponta ele, que é bispo da Igreja Universal. O temor é compartilhado pelo deputado Acarisi Ribeiro (Prona): “Não há equívocos, foi deliberado”. Conhecimento na 4 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 19 A QUIOSQUES ELETRÔNICOS PERMITEM ACOMPANHAR LEIS E PROJETOS DA ALERJ COM UM SIMPLES TOQUE atualizações), bem como a história do Palácio Tiradentes. O sistema oferece eja em São Gonçalo ou na ainda a opção de imprimir qualquer Central do Brasil, conhecer dado pesquisado, além de registrar o Legislativo estadual agora sugestões, dúvidas e reclamações, é simples, graças à tecnologia. A que são encaminhadas ao Alô, Alerj, Assembléia Legislativa encontrou central telefônica de atendimento da uma forma rápida e fácil de aproximar Assembléia. Hélio Nigri, diretor da Nigraph o cidadão de seus representantes no Parlamento, esclarecer seus direitos Tecnologia, empresa responsável legais e proporcionar espaço para pela criação do sistema utilizado reclamações. São os quiosques pelos quiosques multimídias, diz que multimídias, projeto que começou a parceria com a Mesa Diretora foi de forma experimental dentro da fundamental para o sucesso do projeto. Casa mas que já espalhou, em pontos “No início eram só três quiosques na estratégicos do estado e de grande Assembléia. Depois foram instalados circulação de pessoas, onze terminais mais oito em seis pontos estratégicos: de consulta virtual. O sucesso pode no Tribunal de Justiça (nos Fóruns ser visto nos mais de 90 mil acessos já do Centro e da Barra), no Centro Administrativo do Governo do estado computados nos aparelhos. na Central do Quando os “Através dos quiosques, Brasil e em dois três primeiros quiosques foram nosso objetivo é tornar a campi da Uerj (Maracanã e instalados, em Casa acessível para todos” 1997, o objetivo Jocelino Cabral, chefe de gabinete da Mesa Diretora São Gonçalo)”, afirma. Segundo era fazer com que os equipamentos servissem de ele, advogados, estudantes, turistas e “guia virtual”, para complementar as profissionais liberais compõem o perfil informações apresentadas durante as do usuário do quiosque. Segundo Jocelino Alves Cabral, visitas ao Palácio Tiradentes. Hoje, porém, o projeto é mais ambicioso: chefe de gabinete da Secretaria da ele tem como meta dar visibilidade Mesa Diretora, a maior preocupação às ações do Legislativo e ao da Casa foi simplificar a linguagem trabalho dos próprios parlamentares. utilizada pelos microcomputadores que “O que buscávamos, seguindo o compõem os quiosques multimídia. “Nossos esforços sempre foram ritmo de informatização que estava sendo implementado na Alerj, era para garantir que qualquer cidadão, descentralizar os dados, antes só com os mais variados níveis de e conhecimento de conhecidos por visitantes ou por instrução aqueles que tinham acesso à página informática, conseguisse entender o da Assembléia na Internet”, destaca o sistema utilizado. O objetivo era, e assessor de gabinete da Presidência, ainda é, tornar a Casa acessível para Artur Vieira Bastos, um dos criadores todos”, explica Jocelino, que também participou da implantação do projeto. do projeto-piloto. No Menu Principal podem ser A busca por uma interface mais encontradas informações sobre a Mesa simples levou a Nigraph Tecnologia Diretora, os perfis dos deputados, a criar um teclado virtual na tela do dados sobre o funcionamento da Casa quiosque, facilitando ainda mais as e leis estaduais vigentes (com suas consultas dos usuários. FERNANDA GALVÃO E FLORENCE JACQ S A estudante Jandielem Benfica, 13 anos, conhece Palácio Tiradentes. Desde então, ela utiliza o term gente não apenas passa a conhecer os nossos direit ela, aluna do 1º ano do Ensino Médio do Colégio a ponta dos dedos JORNAL DA ALERJ 5 25 DE MAIO DE 2003 Daniela Barcellos eu o quiosque multimídia durante visita guiada ao minal da Central do Brasil sempre que precisa. “A tos, como também pode fazer reclamações”, elogia Estadual Felipe dos Santos Reis, em Santa Cruz APRENDA A USAR OS TERMINAIS ELETRÔNICOS Para conhecer o histórico dos deputados da Alerj: (faça sua escolha com um toque na tela) (fig. 1) (fig. 2) 1) Escolha o idioma: PORTUGUÊS, INGLÊS, ESPANHOL. (fig. 1) 2) Selecione a opção DEPUTADOS. (fig. 2) 3) Em seguida, opte pela legenda: POR PARTIDO ou POR ORDEM ALFABÉTICA. 4) Toque no ícone com a foto do deputado de sua escolha. 5) Consulte as listas que reúnem LEIS e PROPOSIÇÕES. 6) Para obter cópia do texto toque no ícone IMPRESSORA. Ponto forte é a atualização Um dos destaques do conteúdo apresentado pelos quiosques multimídia é a atualização constante de seus dados. Segundo Jocelino Alves Cabral, no início do projeto, as páginas eram fixas e o conteúdo, alterado somente uma vez por mês. “Sentimos a necessidade de atualização, principalmente nos itens sobre a legislação vigente e as proposições da Casa. Não poderíamos estar passando informações erradas ou incompletas para os usuários do serviço”, aponta. As informações podem ser acessadas em Português, Inglês ou Espanhol. O sucesso dos quiosques pode ser traduzido pelo número de acessos em cada um dos terminais. Ao todo, já foram feitas mais de 90 mil consultas nos 11 terminais em funcionamento. Liderando o ranking de acessos, estão os quiosques instalados nos campi da Uerj e os do Tribunal de Justiça, com sete mil buscas. O TJ conta com quatro quiosques: três no Fórum do Centro e um no Fórum da Barra da Tijuca. O terminal mais procurado para receber reclamações, porém, é o instalado na Central do Brasil. João Paulo de Oliveira, 17 anos; Shaiane Rocha e Jandielem Benfica, 13 anos, alunos do Colégio Estadual Felipe dos Santos Reis, em Santa Cruz, utilizam os terminais com este fim. A queixa mais freqüente diz respeito ao passe livre para estudantes da rede pública, garantido pela Lei 3.339/99. “Quando enxergam poucos estudantes no ponto de ônibus, os motoristas até param. Mas se estiverem mais de três, eles passam direto e não deixam ninguém entrar”, reclama João Paulo. Os três estudantes destacam também que os terminais são importantes instrumentos para o desenvolvimento da cidadania. Segundo João Paulo, as informações contidas nos quiosques são fundamentais para auxiliar o eleitor na hora de comparecer às urnas. “Esta iniciativa me ajudou muito no ano passado, quando votei pela primeira vez. Eu pude conhecer o perfil e o trabalho de todos os deputados da Assembléia”, aponta ele. 6 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 19 A 25 DE MAIO DE 2003 EM DEBATE: A OCUPAÇÃO POLICIAL NAS FAVELAS CONTRA: PAULO RAMOS A FAVOR: ALBERTO BRIZOLA DEPUTADO ESTADUAL PELO PDT DEPUTADO ESTADUAL PELO PSB Chega de mortes Daniela Barcellos As favelas são testemunho do modelo excludente que joga na rua milhões de brasileiros, que, não tendo onde morar, amontoam carências, reivindicando transformações que nunca vêm, mesmo quando a esperança vence o medo. Não obstante, os governantes, a fim de justificar o aparelho repressivo do Estado, sem coragem para enfrentar as raízes da insegurança pública, resolvem impor o entendimento de que a causa de todos os males está no crime organizado, que se faz representar com exclusividade no tráfico de entorpecentes nas favelas. A partir daí, com a visão militar do confronto e da eliminação do inimigo, atrofiaram o policiamento ostensivo e preventivo, transformando em rotina operações policiais de grande vulto. As conseqüências não poderiam ser piores, na medida em que comunidades, já penalizadas pelo abandono, ainda se vêem invadidas, agredidas e violentadas. O contraditório é que os grandes chefes do tráfico não moram na favela, que o volume maior da venda de entorpecentes não se dá na favela e que quem compra entorpecentes na favela é o viciado pobre ou desesperado. E que, para prender o traficante, da favela ou do asfalto, há “Chega de massacre, de a necessidade de trabalho de jogar pobre contra pobre. inteligência. Chega de cumplicidade Este confronto com o crime organizado” já produziu mortes demais. Não se tem estatística sobre o número de mortos nas comunidades faveladas em conseqüência da ação do Estado. Entretanto, nos últimos oito anos, aproximadamente mil policiais militares foram mortos por ferimentos de arma de fogo. Ademais, os policiais militares são oriundos de comunidades carentes, sendo obrigados a reprimir a sua própria origem, de onde são expulsos ou mortos quando descoberta a sua atividade profissional. Enfim, chega de massacre, de jogar pobre contra pobre, chega de mentira, de incompetência. Chega de cumplicidade com o verdadeiro crime organizado. Ocupar para preencher Divulgação O ato de ocupar, segundo a definição do dicionário Aurélio, pressupõe estar ou ficar na posse de, invadir, conquistar, tomar ou preencher (algum lugar no espaço), entre outras definições. Partindo deste princípio lingüístico, o sentido mais próximo que encontramos para o ato de ocupar, quando nos referimos à ação da política de Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro, deve ser o de preencher. Isto porque a ocupação pura e simples, a conquista ou a invasão não devem ser o objetivo precípuo das Polícias Civil e Militar, quando forem fazer seus deveres nas comunidades carentes. Sim, é preciso preencher o imenso vazio deixado por anos de abandono e descaso do Poder Público; preencher a falta de moradia, de saneamento básico, de acesso à Saúde e à escola pública, preencher, enfim, a dignidade; o mínimo direito dos que já quase não têm direitos, a vida, principalmente, nestas comunidades tão desabrigadas. Mas, por favor! Preencher, sim, mas com respeito aos direitos humanos, sem violência, sem invasões desnecessárias e truculentas nas casas dos inocentes, sem discriminação de qualquer tipo. Essas medidas estão fora de cogitação. Preencher, com “Preencher, sim, mas responsabilidade, com respeito aos direitos o lugar que o Poder Executivo humanos, sem invasões nunca ocupou. desnecessárias” Não para assustar a população trabalhadora, não para o pânico das criancinhas de colo, mas para intimidar os criminosos, para espremê-los contra o seu próprio destino, seu devido lugar, que é atrás das grades. Nestes termos, sou a favor desta ação da Segurança Pública do Estado Rio de Janeiro. E aproveito a ocasião para parabenizar o secretário Anthony Garotinho, que, em tempo, “preencheu” o espaço que faltava na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Sem dúvida, seremos, em breve, exemplo a ser copiado por todo o Brasil. É preciso trazer a esperança de paz aos corações do povo deste estado. JORNAL DA ALERJ 7 RIO DE JANEIRO, 19 A 25 DE MAIO DE 2003 Um tratado contra a corrupção Leandro Marins RELATÓRIO DA CPI PEDE INDICIAMENTO DE 26 PESSOAS E MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA DO RIO ERIKA JUNGER O resultado de três meses de trabalho deu origem ao maior documento já produzido no Rio contra a corrupção. O relatório final da CPI que investigou denúncias de corrupção na Secretaria Estadual de Fazenda pede a demissão dos fiscais de renda Rodrigo Silveirinha, Carlos Eduardo Pereira Ramos, Lúcio Manoel Picanço, Rômulo Gonçalves e Júlio Cezar Nogueira, além do afastamento de 13 servidores estaduais denunciados por improbidade administrativa. O material apurado foi entregue ao juiz da 3ª Vara Federal Criminal, Lafredo Lisboa, e à governadora Rosinha Garotinho, além de encaminhado ao Ministério Público Federal e Estadual e à Delegacia da Polícia Fazendária. Aprovado em plenário por unanimidade, o documento, que gerou o maior Diário Oficial já editado no estado (com 1.368 páginas), pede ainda o indiciamento de 26 pessoas, em dez crimes diferentes – peculato, concussão, corrupção passiva e ativa, prevaricação, sonegação fiscal, improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e evasão de divisas. Ao todo, as penas previstas para estes crimes somam 56 anos de reclusão. Também foi proposta a criação de Comissão Especial na Casa para rever a legislação tributária e fiscal. Os deputados também propuseram a alteração do Conselho dos Contribuintes para Tribunal Tributário e o cancelamento dos atos da Junta de Revisão Fiscal considerados improcedentes, procedentes em parte ou nulos. Os quatro fiscais e os quatro auditores que estão presos devem ser julgados até o fim de agosto. O delegado da Polícia Federal que apura o caso, David Salem, afirmou que a investigação dará origem a pelo menos mais seis inquéritos, para apurar a participação de outros suspeitos que não foram denunciados. Membros da CPI entregaram o relatório ao juiz Lafredo Lisboa (E), da 3ª Vara Federal Empresas serão investigadas Empresas também estiveram na mira da CPI. O relatório final da Comissão recomenda que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem a empresa SmithKline (atual Glaxo) e a Rio de Janeiro Refrescos (engarrafadora da Coca-Cola), por suposto crime de corrupção ativa. A CPI quer ainda o indiciamento de Elias Marinho, Edésio Quintal e José Srur, todos membros da diretoria da Light, pelo crime de falso testemunho perante à Comissão. Além disso, os três teriam cometido, em tese, crime de corrupção ativa. O lobista Romeu Sufan também é mencionado entre os pedidos de indiciamento, por tráfico de influência e corrupção ativa. A CPI pede ainda que o relatório do caso Coca-Cola seja enviado à matriz da empresa, em Atlanta, nos Estados Unidos. Também recomenda o envio, à Presidência da República e aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, de proposta de emenda constitucional pedindo que o Brasil não mantenha relações diplomáticas nem comerciais com paraísos fiscais. Por último, os deputados sugerem a revogação da Carta Circular n° 5 (CC5), do Banco Central, que permite a remessa de dólares ao exterior. PELAS COMISSÕES Deputados discutem a Secretário fala sobre segurança e cidadania reestruturação da PM O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, vai apresentar a palestra “Segurança e Cidadania - um projeto nacional”, no dia 22 de maio, às 18h30, no Plenário Barbosa Lima Sobrinho, no Palácio Tiradentes. O evento é uma iniciativa da Comissão de Trabalho, Legislação Social e Seguridade Social e da Comissão de Direitos Humanos da Alerj. A Alerj instalou este mês comissão especial para elaborar proposta de reestruturação da Polícia Militar no estado. Segundo o presidente da comissão, deputado Altineu Côrtes (PMDB), participarão dos debates o secretário de Segurança Anthony Garotinho, o ex-secretário da pasta Josias Quintal e o comandante geral da PM, Renato Hottz. Em pauta: salários e gratificações por mérito. 8 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 19 A 25 DE MAIO DE 2003 ENTREVISTA / EDMILSON VALENTIM DEPUTADO ESTADUAL PELO PCdoB Pelo metrô aos domingos Daniela Barcellos DEPUTADO BRIGA PELA REFINARIA DO NORTE FLUMINENSE E PELA MELHORIA DOS TRANSPORTES FERNANDA GALVÃO E m 1990, o então deputado federal Edmilson Valentim viveu um momento histórico, ao presenciar a libertação do líder sul-africano Nelson Mandela, após 28 anos de prisão. Ausente do Brasil, o parlamentar perdeu o nascimento do filho Tadeu. De lá para cá, o ex-metalúrgico Valentim já colecionou mais três mandatos como deputado estadual, “com mais alegrias que derrotas”, atesta. É o autor da Lei Valentim, que impõe a isonomia de ICMS - 18% - entre equipamentos de extração de petróleo importados e os fabricados no País, e que começa a valer em junho. Os benefícios poderão ser colhidos logo: a Petrobras fará o levantamento dos preços para a construção das plataformas P-51 e P-52, já considerando a nova alíquota do tributo. Mas o deputado também está de olho no transporte público: tramita na Alerj projeto de lei que amplia o horário de funcionamento do Metrô. A idéia é fazer com que o transporte funcione de segunda-feira a domingo, das 5h à meia-noite. Valentim quer o apoio dos passageiros para garantir a aprovação do projeto. “Vamos fazer um abaixo-assinado nas estações do Metrô”, anuncia o parlamentar. De onde veio a idéia de mudar o horário do Metrô? Pouca gente sabe, mas o que existe hoje era para ser somente um horário de teste, que acabou se perpetuando através dos anos. Em uma cidade como o Rio de Janeiro, isso é inadmissível. Somos a única cidade da América Latina cujo metrô não funciona aos domingos. Já conversei com o secretário estadual de Transportes, Augusto Ariston, que se mostrou favorável à proposta. E antes de elaborar o projeto, nós verificamos o contrato de concessão, e já vimos que essa mudança de horário pode ser feita. Inclusive, a Opportrans, que é a empresa que opera o Metrô no Rio, já funciona aos domingos em Buenos Aires. Não há por que ter problemas aqui. Também pensamos na questão da segurança: depois de um certo horário, as pessoas têm medo de andar de ônibus. O Metrô é um meio de transporte mais seguro. Normalmente, sua atuação é mais voltada para a questão da indústria e do petróleo. Os transportes são uma nova vertente? Hoje em dia, legislar nesta questão é melhorar a qualidade de vida da população da Região Metropolitana. As idéias são simples, mas repercutem na vida de todas as pessoas. O nosso objetivo é oferecer um transporte de massa de qualidade, que interaja com os demais meios de transporte. Na questão do petróleo, o Estado do Rio está em campanha para abrigar a Refinaria do Norte Fluminense. Existem outras necessidades? A Renorte, que se chamará Refinaria Barbosa Lima Sobrinho, não é só uma questão de justiça para com o estado, que produz 80% do petróleo do País e só refina 12%. É também sinônimo de desenvolvimento para uma das regiões mais pobres do País. Temos todas as condições técnicas de abrigar esta refinaria. Só um motivo político mesquinho tiraria esta conquista de nós. Também queremos que o petróleo seja tributado na origem, e não no destino. Hoje o senhor é o presidente da Comissão de Energia. Antes de ser deputado, era metalúrgico. Em que sua experiência profissional o ajuda nesta caminhada? Eu trabalhava como inspetor de qualidade em uma indústria que fabricava equipamentos para as indústrias naval, de petróleo e nuclear. Sabemos que o Rio concentra 85% da indústria naval de todo o País. Não podemos desperdiçar este potencial. Desta forma, consegui a aprovação da Lei 3.851/2002, que ficou conhecida como Lei Valentim e que dá isonomia tributária para os fabricantes de equipamentos das indústrias naval e de petróleo. As empresas comemoraram, porque vínhamos comprando no exterior o que poderia ser feito aqui, devido à isenção de ICMS para a importação. O sucesso pode ser visto agora, pois a Petrobras vai incluir os 18% do ICMS na tomada de preços que fará para a construção da P-51 e da P-52.