CONHECIMENTO DE ENFERMEIRAS E TÉCNICOS ACERCA DO GERENCIAMENTOE DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOS SERVIÇOES DE SAÚDE BARROS, Adriana Gonçalves de 1 SILVA, Adriana Maria Pereira da 2 JÚNIOR, Luiz Carlos Gomes Costa 3 RODRIGUES, Talita Mireli 4 SANTOS, Viviane Euzébia Pereira 5 É de grande relevância a estreita relação entre o ambiente e a qualidade de vida do homem. Especificamente no que se refere aos resíduos sólidos dos serviços de saúde, essa relação ganha ainda mais atenção, visto que tais resíduos apresentam potencial infectante. Dessa forma, levandose em consideração que um dos elementos da vulnerabilidade da saúde e risco ambiental resulta da falta de conhecimento sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos de saúde, levantamos o seguinte problema: Qual o conhecimento de Enfermeiras e Técnicos de enfermagem sobre o Gerenciamento de Resíduos Sólidos dos Serviços de Saúde? O objetivo deste trabalho foi analisar o conhecimento de Enfermeiras e Técnicos de Enfermagem sobre o Gerenciamento dos Resíduos Sólidos em Saúde (GRSS). Metodologia: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualiquantitativa. O estudo foi desenvolvido com 20 membros da equipe de Enfermagem, sendo 10 enfermeiras e 10 técnicos de Enfermagem, das unidades de internação de um hospital público de Petrolina/ PE. A coleta de dados ocorreu através de um questionário com perguntas abertas e fechadas, durante o mês de novembro de 2009 e a análise dos dados ocorreu com o auxílio do programa EPI INFO 3.5.1 (agosto/2008). Ressalta-se que a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética do IMIP sob nº 1660. Mediante análise dos dados, pode-se observar que boa parte dos profissionais de saúde ainda desconhece o que sejam os Resíduos dos Serviços de Saúde e como classificá-los. Considerações finais: Com os resultados, torna-se pertinente a capacitação desses profissionais, visando sensibilizá-los quanto o manuseio correto de resíduos sólidos, prevenindo dessa forma, acidentes e melhorando a qualidade de vida da equipe e de seus clientes. Descritores: resíduos dos serviços de saúde, equipe de Enfermagem, resíduos sólidos. 1. INTRODUÇÃO Desde o aparecimento do ser humano neste Planeta, existe uma interação entre ele e o meio, a qual faz parte do desenvolvimento do homem. No entanto, utilizando o poder de transformar o meio ambiente em prol de suas ambições, ele modificou rapidamente o equilíbrio dos ecossistemas, trazendo sérios problemas à vida na Terra. Trilhando esse caminho ao longo da história, a humanidade chega ao limiar do século XXI como a civilização dos resíduos, marcada pelo desperdício e pelas contradições de um desenvolvimento industrial e tecnológico sem precedentes, enquanto populações inteiras são mantidas à margem, não só dos benefícios de tal desenvolvimento, mas das condições mínimas de ___________________ 1 Discente em Enfermagem pela UNIVASF. E-mail: [email protected]; Discente em Enfermagem pela UNIVASF. Bióloga pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB); 3 Discente em Enfermagem pela UNIVASF; 4 Discente em Enfermagem pela UNIVASF. 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Colegiado de Enfermagem da UNIVASF; membro dos grupos de pesquisa incubadora de procedimentos de enfermagem e laboratório de investigação do cuidado, segurança e tecnologias em saúde e enfermagem da UFRN. 2 1 subsistência. De acordo com alguns autores(1), os centros urbanos são pontos de indução de alterações ambientais, ocupando apenas 2% da superfície terrestre, porém, consumindo 75% dos seus recursos. Os resíduos produzidos nesses centros são o resultado de processos de diversas atividades da comunidade, podendo ser de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e ainda da varrição pública; e apresentam-se nos estados, gasoso, líquido e sólido, sendo este último um fator que resulta em problemas sanitário, ambiental, econômico e estético. Com isso, as atividades realizadas nos serviços de saúde também produzem quantidade significativa de resíduos decorrentes da diversidade de materiais utilizados na assistência aos pacientes. Dessa forma, todos os profissionais que atuam em tais estabelecimentos são responsáveis pelo destino dos mesmos. É importante salientar, que o destino adequado dos RSS, através de ações básicas, protege o meio ambiente e a sociedade. Porém, tal prática é ainda questionável em nossos dias, pois se tem relatos de exposições de RSS em locais inadequados onde circulam pessoas, podendo contaminar o subsolo, atingindo o lençol freático, chegando aos córregos, rios e mares. Em outras situações, são dispostos em lixões a céu aberto, colocando em risco a população de catadores de lixo atraídos pelos plásticos de armazenamento dos materiais descartáveis dos hospitais. As pessoas que residem próximas às esses locais estão expostas a contrair doenças sem ter contato direto com o lixo e também, através dos diversos vetores que ali proliferam. Nesse contexto, é de grande relevância a estreita relação entre o ambiente e a qualidade de vida do homem. Especificamente no que se refere aos resíduos sólidos dos serviços de saúde, essa relação ganha ainda mais atenção, visto que tais resíduos apresentam potencial infectante. Sendo assim, no âmbito da saúde pública, é de suma importância o desenvolvimento de estudos, projetos e programas que visem alternativas seguras para o manejo dos resíduos de saúde. O ambiente hospitalar envolve a exposição dos profissionais de saúde e demais trabalhadores a uma diversidade de riscos, especialmente os biológicos. As doenças infectocontagiosas se destacam como as principais fontes de transmissão de microrganismos para pacientes e para profissionais(2). O lixo hospitalar, constituído de resíduos biológicos, químicos, radioativos, medicamentosos e perfurocortantes, necessitam de cuidados especiais, pois é classificado como lixo perigoso, sendo fonte potencial de contaminação e disseminação de doenças. Devido a este fato, órgãos de saúde pública e ambiental criaram legislações que estabelecem a fiscalização, procedimentos e requisitos a serem cumpridos por parte das instituições geradoras destes resíduos. O reconhecimento dos riscos em função da negligência e/ou falta de instrução para uso adequado de EPI, manuseio dos resíduos sólidos em saúde e gerenciamento destes são fundamentais 2 para as mudanças comportamentais necessárias ao exercício das diversas atividades profissionais no ambiente hospitalar(3). De acordo com a RDC nº 306 o gerenciamento dos RSS constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente(4). Partindo do pressuposto que um dos elementos da vulnerabilidade da saúde e risco ambiental resulta da falta de conhecimento sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos de saúde, desenvolvemos este estudo com o objetivo de analisar o conhecimento da Enfermagem sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos em saúde (GRSS). 2. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada através de estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualiquantitativa, permitindo uma observação direta a respeito de como cada indivíduo, grupo ou instituição experimenta a realidade pesquisada(5). A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. A exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses(6). A pesquisa quantitativa permite quantificar, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. A qualitativa existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números(7). O estudo foi desenvolvido com 20 membros da equipe de Enfermagem sendo 10 enfermeiras e 10 técnicos de Enfermagem das unidades de internação de um hospital público de Petrolina/ PE, que aceitaram participar do estudo, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados ocorreu através de um questionário com perguntas abertas e fechadas, durante o mês de novembro de 2009, após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Professor Fernando Figueira – IMIP, nº 1660, atendendo exigências, aspectos éticos e legais da resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 3 A Análise dos dados correu com o auxílio do programa EPI INFO 3.5.1 (agosto/2008), em que os dados serão demonstrados e discutidos através de tabelas e analisados de acordo com a literatura pertinente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O lixo é constituído pelo resto das atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis(8). Partindo desse pressuposto, buscou-se através das entrevistas realizadas inquirir as enfermeiras e técnicos de enfermagem o que esses entendiam por Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), as respostas podem ser observadas na tabela a seguir: Tabela1: O que são os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS)? (N= 20) RESPOSTAS ENFERMEIRAS TÉCNICOS DE (n=10) ENFERMAGEM (n=10) São resíduos provenientes de 03 02 03 02 01 0 03 0 01 0 Lixo hospitalar 01 02 São restos contaminados ou não 01 0 São materiais contaminados 0 03 São fraldas, material de curativo, 0 01 procedimentos feitos ao paciente São resíduos provenientes de procedimentos feitos ao paciente São resíduos de propriedade físico-química e infectocontagiosa São materiais contaminados provenientes de instituições de saúde São materiais que para serem manuseados os profissionais precisam de treinamentos que precisam de destino adequado frascos, ampolas, resíduos de 4 sangue, esparadrapos Não respondeu 0 02 Fonte: pesquisa de campo, nov. 2009. Como analisado, boa parte das enfermeiras entende que os Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) sejam resíduos provenientes de procedimentos feitos ao paciente, como também materiais contaminados provenientes de instituições de saúde. No entanto, na visão dos técnicos de enfermagem esses resíduos são classificados apenas como materiais contaminados. Contudo, conforme a literatura(9), os resíduos produzidos em unidades de saúde são aqueles constituídos de lixo comum (papel, restos de jardim, restos de comida de refeitórios e cozinhas etc.), resíduos infectantes ou de risco biológico (sangue, gaze, curativos, agulhas etc.) e resíduos especiais (químicos, farmacêuticos e radioativos). Apresentam-se sob estado sólido, semi-sólido ou líquido e, são amplamente classificados de acordo com sua natureza, composição química ou pelos riscos potenciais ao homem e ao meio ambiente. A partir dessa analise pode-se inferir que os profissionais de enfermagem estudados ainda têm visões precárias e/ ou distorcidas a respeito do conceito de resíduos sólidos de saúde, fator que leva ao descarte em local inapropriado e até mesmo a produção excessiva deste material. Com relação à produção desses resíduos e a manipulação desses pelos profissionais de saúde, percebe-se que esta ocorre em grande escala, e muitas vezes, está atrelada à utilização descomedida de certos materiais de forma incorreta, como também pelo descarte inadequado dos resíduos, o qual gera um volume maior do lixo contaminado. Assim, foi questionado aos técnicos e enfermeiras, quais são RSS que eles tem maior contato no seu cotidiano profissional, o que pode ser observado na figura 2: Tabela 2: quais são os que você tem maior contato no seu cotidiano profissional? (N=20) RESPOSTAS ENFERMEIRAS TÉCNICOS DE (n=10) ENFERMAGEM (n=10) Resíduos de sangue 09 08 Excreções, secreções, líquidos 10 07 Seringas 08 09 Material perfurante 09 09 Material cortante 08 07 orgânicos 5 Fraldas descartáveis e papel higiênico 03 08 Frascos e ampolas 07 09 Luvas 06 09 Bolsas de hemoderivados 05 04 Material de curativo 07 09 Cirúrgico 02 02 Fonte: pesquisa de campo, nov. 2009 Os resíduos infectantes, assim como os perfuro-cortantes, representam boa parte dos RSS que entram em contato com os profissionais da saúde na sua rotina profissional. Como observado na tabela acima, a maior parte das enfermeiras entrevistados refere ter mais contato no seu cotidiano profissional com excreções, secreções, líquidos orgânicos, resíduos de sangue e material perfurocortante. Em contrapartida, os técnicos de enfermagem, além de estarem, freqüentemente, em contato com esses materiais infectantes e perfuro-cortantes, também apresentam uma maior constância de manipulação, em relação às enfermeiras, com os materiais perfurantes e cortantes. Portanto, para a minimização desse risco de contaminação e outros acidentes, é que se faz necessário não somente conhecer o tipo de resíduo, sua classificação e descarte adequado, mas também usar de forma correta os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Como preconizado na RDC n°306 o gerenciamento também inclui práticas de preservação da saúde dos profissionais, bem com dos seus clientes, para tanto o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) é imprescindível nas práticas do cuidado. Tabela 3: Quais os equipamentos de proteção individual o que você utiliza na sua rotina profissional? (N=20) RESPOSTAS ENFERMEIRAS TÉCNICOS DE (n=10) ENFERMAGEM (n=10) Luvas 10 10 Avental 0 02 Máscaras 10 10 Gorro 07 09 6 Pró pés 04 05 Botas de cano longo 0 0 Fonte: pesquisa de campo, nov. 2009. De acordo com a tabela 3, dentre os EPIs mais utilizados estão as luvas e as máscaras. Em segundo lugar pode-se observar o uso de gorro. O uso correto de EPIs no cotidiano dos profissionais de saúde se faz de suma importância, visto que tais equipamentos constituem numa forma não apenas de proteger a integridade dos profissionais, como também de evitar as chamada infecções cruzadas. No entanto, o que pode ser observado em várias instituições de saúde é o uso inadequado de EPI ou até mesmo falta de alguns desses equipamentos nas unidades. Vale ressaltar que o ambiente hospitalar envolve a exposição dos profissionais de saúde e demais trabalhadores a uma diversidade de riscos(3), daí a importância do manuseio correto, como forma de minimização de riscos, e da biossegurança que, aplicada nos hospitais, corresponde à adoção de normas e procedimentos seguros e adequados à manutenção da saúde dos pacientes, dos profissionais e dos visitantes. O trabalhador não se protege e despreoculpa-se com a sua própria saúde, possivelmente por desconhecer os fatores de riscos ocupacionais existindo algumas situações a qual os deixam desestimulado, tais como baixa remuneração, a insatisfação no trabalho pela falta de realização pessoal, as condições inadequadas do trabalho, podendo aumentar a sua exposição aos riscos, possibilitando o acontecimento de acidentes de trabalho ou enfermidades(10). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os dados obtidos, fica claro que boa parte dos profissionais de saúde tem uma visão distorcida do que sejam os Resíduos dos Serviços de Saúde e como classificá-los. Outro ponto importante a ser ressaltado diz respeito ao uso de EPI, visto que há uma tendência viciosa pelo uso apenas de máscaras e luvas, esquecendo que uma série de outros equipamentos de proteção deveriam ser utilizados no cotidiano profissional. Isso deixa evidente a necessidade de capacitações sobre essa temática, visto que, em se tratando de ambiente hospitalar, há riscos físicos, químicos e biológicos e para cada um deles há normas específicas disponíveis visando proteger a clientela dos estabelecimentos, a saber: o paciente, o trabalhador da saúde e o acompanhante. A educação deve ser desenvolvida de modo a abranger as reais necessidades e contextos das atividades das enfermeiras e seus conhecimentos, procurando aprimorar as ações desenvolvidas por eles(8). 7 Além disso, e por definição, há ainda a preservação do meio ambiente. Portanto, o respeito às normas de biossegurança e a atuação de uma CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) nos hospitais são fatores necessários ao gerenciamento dos RSS, visto que, contribuem para a eficácia do trabalho das equipes e proteção desses e de seus clientes. 5. REFERÊNCIAS 1. Dias, S.M.F.;Figueiredo, L. A educação ambiental como estratégia para a redução da geração de resíduos de serviços de saúde em hospital de Feira de Santana - BA. In: Anais do XX Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro - RJ: ABES, 2002. 2. Hoefel HHK, Sheneider LO. O profissional de saúde na cadeia epidemiológica. In: Rodrigues, EAC, editor. Infecções hospitalares: prevenção e controle. São Paulo: Savier, 1997. p.78-86. 3. Ribeiro Filho VO. Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. In: Martins MA, editor. Manual de infecções hospitalares. 2aed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001. p. 643-73. 4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução n° 33 de 25 de fev. de 2003. Diário Oficial da União, Brasília, 05 de mar. de 2003. 5. Goldenberg, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 3aed. Rio de Janeiro: Record, 1999. 6. Gil, AC. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas, 2002. 7. Silva, CRO. Metodologia e Organização do projeto de pesquisa. Guia prático. Fortaleza: maio de 2004. 8. Jardim, NS. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT/CEMPRE. São Paulo: 1995. 9. ANVISA. Separar os resíduos traz ganhos qualitativos e até redução de custos [periódico na Internet].[acesso em 2003 maio 04]. Disponível em http:// www.camargocorrea.com.br/revista/arquivo 8 10. Rozario S, Silva JLL, Teixeira ER. Acidents with cutting and piercing material among nursing workers. Rev Enferm UFPE on line. 2009 out/dez; 3(4):291-98. 9