Projeto Pé-de-Pincha
Parceria de futuro para conservar
quelônios na várzea amazônica
1
Ministério do Meio Ambiente - MMA
Ministra: Marina Silva
Secretaria de Coordenação da Amazônia/SCA
Secretária: Muriel Saragoussi
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama
Presidente: Marcus Luiz Barroso Barros
Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7
Coordenadora: Nazaré Lima Soares
Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros - Difap
Diretor: Rômulo José Fernandes Barreto Mello
Coordenação-Geral de Gestão de Recursos Pesqueiros - CGREP
Coordenador: José Dias Neto
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea/Ibama
Coordenador: Mauro Luis Ruffino
Gerente-Executivo: Benedito A. Pessoa Reis
Peritos: Darren Andrew Evans (DFID) e Wolfram Maennling (GTZ)
Assessora de Comunicação: Marinês da Fonseca Ferreira
2
Gerente do Componente Iniciativas Promissoras: Evandro Pires Leal Câmara
Equipe ProVárzea/Ibama
Adriana M. Magalhães, Alzenilson S. Aquino, Anselmo C. de Oliveira, Antônia Lúcia F. Barroso, Aparecida Heiras, Aubermaya
Xabregas, César V. Teixeira, Cleucilene da Silva Nery, Emerson C. Soares e Silva, Flávio Bocarde, Joelcia C. Ribeiro de Figueiredo,
Kate Anne de Souza, Luiz Alexandre Chixaro Voss, Manuel da Silva Lima, Marcelo D. Vidal, Marcelo Parise, Marcelo B. Raseira,
Márcia G. da Silva Escóssio, Márcio M. Aguiar, Maria Clara Silva-Forsberg, Mário Thomé de Souza, Natália Aparecida de Souza
Lima, Núbia Maria Gonzaga, Raimunda Queiroz de Mello, Ricardo Pinheiro Lima, Rosilene B. da Silva, Simone N. Fonseca, Tatianna
de Souza Silva, Tatiane P. Souza dos Santos, Tiago Viana da Costa, Urbano L. da Silva Júnior, Willer Hermeto Almeida Pinto.
ProVárzea/Ibama
Rua Min. João Gonçalves de Souza, s/nº
Distrito Industrial - Manaus - AM
CEP 69.072-970
Tel.: (92) 613.3083 / 613.6246 / 613.6754
Fax: (92) 237.5616 / 237.6124
E-mail: [email protected]
Site: http://www.ibama.gov.br/provarzea
Projeto Pé-de-Pincha
Parceria de futuro para conservar
quelônios na várzea amazônica
Manaus - AM
Fevereiro de 2005
3
Autoria: Pesquisadores da Universidade Federal do
Amazonas (Ufam) e Ibama-AM, integrantes do Projeto
Pé-de-Pincha
Paulo César Machado Andrade (coordenador)
José Ribamar da Silva Pinto
Sandra Helena de Azevedo
Aldeniza C. Lima
Pedro Macedo da Costa
Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
João Alfredo da Mota Duarte
Edição: Tereza Moreira
Ilustrações: Rodrigo Oliveira
Projeto gráfico: Luiz Daré
Agradecimentos: às comunidades de Aninga,
Parananema e Valéria, no município de Parintins/AM,
pelas informações prestadas, aos Agentes Ambientais
Voluntários e ao Gerente Executivo do Ibama em
Parintins, José Ramos, pelo apoio logístico.
4
ISBN
Projeto Pé-de-Pincha
Laboratório de Animais Silvestres
Bloco E - Mini Campus
Universidade Federal do Amazonas
Av. Gal Rodrigo Otável Ramos, no 3000
Coroado - Manaus - AM - CEP 69.077-000
Tel: (92) 647.4047 e 644.1853
E-mail: [email protected]
Ficha Catalográfica
Sumário
Apresentação ............................................................................................................................... 7
Quelkônios, com muita honra ......................................................................................................
8
Projeto Pé-de-Pincha: um sinal de esperança ..............................................................................
10
Manejar é dar uma mâozinha para a natureza ..............................................................................
12
Passos do manejo de quelônios ....................................................................................................
13
1. Descobrindo os locais de desova .......................................................................................
14
2. Mudando de lugar os ninhos em perigo ............................................................................
16
3. Chocadeira: construindo um lugar seguro .........................................................................
18
4. Eclosão: nascem os filhotes ...............................................................................................
20
5. Liberação dos filhotes: voltando às origens ......................................................................
24
Uma rede para proteger os quelônios...........................................................................................
26
Bibliografia consultada ................................................................................................................
27
5
6
Apresentação
Esta cartilha é fruto do trabalho da equipe do Projeto Pé-de-Pincha, que integra o Componente Iniciativas Promissoras do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama. O ProVárzea faz parte do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais
do Brasil – PPG7, e seu objetivo é contribuir para que a várzea da calha dos rios Solimões e
Amazonas seja conservada mediante o uso sustentável dos seus recursos naturais. Para isso,
trabalha em parceria com instituições governamentais e não-governamentais, organizações
pesqueiras e comunitárias. Entre as ações do ProVárzea está o apoio a projetos de manejo
dos recursos da várzea por meio do Componente Iniciativas Promissoras.
O Componente Iniciativas Promissoras visa desenvolver e testar novas formas de uso dos recursos naturais da várzea que sejam sustentáveis e promovam o bem-estar da população ribeirinha. Atualmente há vinte subprojetos em andamento e cinco em fase de contratação. Estes
subprojetos ocorrem de forma integrada em 32 municípios dos estados do Pará e Amazonas.
Entre os subprojetos apoiados pelo Componente Iniciativas Promissoras, o Projeto Pé-de-Pincha está disseminando técnicas de manejo de quelônios já consolidadas em cinco anos de
atividades em parceria com a Universidade Federal do Amazonas - Ufam, e com o Ibama.
O Projeto Pé de pincha ensina alunos de escolas locais, professores e ribeirinhos a protegerem
os ovos de quelônios colocados nas praias da várzea dos rios Amazonas e Solimões para que
estes ovos tenham maiores possibilidades de gerarem filhotes de quelônios para a natureza.
É ainda incentivada a criação comercial em cativeiro. São atingidas com o projeto cerca de 68
comunidades de várzea, em sete municípios dos estados do Amazonas e Pará (Parintins-AM,
Barreirinha-AM, Boa Vista do Ramos-AM, Nhamundá-AM, Terra Santa-PA, Oriximiná-PA e
Faro-PA).
A presente cartilha visa contribuir com a disseminação da técnica de manejo de quelônios
desenvolvida pelo Projeto Pé-de-Pincha, para que os quelônios aumentem sua população em
nossos rios, trazendo vida e beleza à nossa várzea.
Quem assina
Mauro ou Evandro???
7
Quelônios, com muita honra!
Os rios e os lagos da Amazônia sempre tiveram fartura.
Fartura de água, fartura de vegetação em suas margens, fartura de peixes e
fartura de quelônios.
Quem são eles?
8
Quelônio é aquele grupo de animais que
tem as tartarugas, os jabutis e os tracajás
como seus representantes mais conhecidos.
Em todo o mundo existem mais de 360
espécies de quelônios: oito espécies vivem
no mar, 83 são da terra firme e a maioria
vive em rios, igarapés e lagos.
Os quelônios possuem o corpo envolvido
por uma carapaça ou casco. Não têm
dentes, mas comem de tudo. Alimentamse principalmente de plantas aquáticas,
capim e frutos que caem na água. Comem
também restos de animais e matéria
orgânica flutuante.
Os mais famosos
Mil e uma utilidades
As espécies mais conhecidas dos
ribeirinhos são a tartaruga-verdadeira
ou tartaruga-amazônica (Podocnemis
expansa), o tracajá (Podocnemis
unifilis), o iaçá ou pitiú (Podocnemis
sextuberculata), o calalumã ou irapuca
(Podocnemis erytrocephala) e o cabeçudo
(Peltocephalus dumerilianus).
Os quelônios possuem grande valor para os
moradores da várzea: sua carne e seus ovos
fazem parte da alimentação das famílias
nortistas. A carapaça serve para produzir
objetos artesanais. A banha e os ovos são
usados nas indústrias de medicamentos e
de cosméticos. Mas isso significa também
uma constante ameaça para esses animais.
Por que essa fartura está ameaçada?
Tem mais gente pescando
nos lagos e nos rios.
O gado invadiu a várzea
e prejudica os ninhos dos
quelônios.
Muita gente usa os ovos
para comer e para vender.
9
Gavião, jacaré e outros
predadores naturais atacam
ninhos e filhotes.
Aumentou o comércio
ilegal de
animais silvestres.
Resultado:
Em alguns lugares, a tartaruga QUASE desapareceu e outros membros menos conhecidos desse grupo estão seguindo o mesmo caminho...
Por isso, ribeirinhos, produtores rurais, associações comunitárias, pesquisadores da
Universidade Federal do Amazonas e do Ibama resolveram dar as mãos para achar
uma solução e trazer os quelônios de volta.
Projeto Pé-de-Pincha:
Um sinal de esperança
10
Foram os moradores do
município de Terra Santa,
no Pará, que deram o alerta.
Em 1999, eles se uniram aos
pesquisadores da Universidade
Federal do Amazonas (Ufam)
e ao Ibama para impedir o
desaparecimento dos quelônios.
Nascia o Projeto Pé-de-Pincha,
assim chamado em homenagem
aos pequenos tracajás, que
deixam na areia marcas
parecidas com tampinhas de
refrigerante, conhecidas como
“pinchas” na região.
Hoje, 3.400 pessoas, de 68 comunidades
de várzea, estão diretamente envolvidas
nas atividades do projeto. Além de Terra
Santa, outros municípios entraram nessa
corrente em defesa dos quelônios: Faro e
Oriximiná, no Pará, e Barreirinha, Parintins,
Juruti, Nhamundá e Boa Vista do Ramos,
no Amazonas. Outras 20 mil pessoas
apóiam indiretamente o trabalho nas
prefeituras, nas associações ambientalistas,
na Fundação de Amparo à Pesquisa do
Amazonas, no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), no Ministério da Educação e no
módulo regional do Programa Universidade
Solidária.
A base trabalho é o envolvimento das comunidades
O Pé-de-Pincha busca o envolvimento de produtores rurais, lideranças comunitárias,
professores e alunos da rede de ensino. São as comunidades que indicam os Agentes
Ambientais Voluntários, pessoas treinadas pelo Pé-de-Pincha para liderar o manejo dos
quelônios em cada local. Este trabalho é todo feito na base da boa vontade.
Veja só o que o Pé-de-Pincha está fazendo...
Além de proteger os ninhos, coletar os
ovos, acompanhar a eclosão e soltar os
filhotes na natureza, o Projeto Pé-dePincha:
• realiza atividades de educação
ambiental com a rede pública de
ensino, por meio do Programa
Jovem Cientista;
• forma lideranças ambientalistas e
incentiva a criação de associações
comunitárias;
• incentiva a criação comercial de
quelônios e de outros animais
silvestres, como abelhas e capivaras;
• realiza cursos sobre alternativas de
geração de renda, como plantas
medicinais, hortas, criação de
galinha caipira.
Com isso, espera diminuir a pressão sobre
os recursos naturais e, ao mesmo tempo,
garantir bem-estar e progresso para as
famílias ribeirinhas.
Os resultados em números...
Ano
Filhotes soltos na natureza
1999
24.000
2000
29.476
2001
53.000
2002
71.725
2003
81.612
... E o projeto bumbou!
“Pé-de-pincha... Pé-de-pincha...!!!”. O Bumbódromo de Parintins vibrou quando milhares
de pessoas cantaram o refrão da música de Geandro Pantoja e Demetrius em homenagem
aos ribeirinhos e seu trabalho em defesa dos quelônios. Em 2004, o Projeto Pé-de-Pincha
consagrou-se na maior festa folclórica da Amazônia.
11
Manejar é dar
uma mãozinha
para a natureza
O manejo envolve uma série de
procedimentos bastante simples,
destinados a garantir o nascimento do
maior número possível de filhotes. Além
de nascer em segurança, eles devem ser
protegidos até que sua carapaça fique
dura. Assim, eles podem resistir aos seus
inimigos naturais: aves (gaivotas e gaviões),
peixes (piranhas, traíras, aruanãs) e outros
seres aquáticos (sangue-sugas e jacarés).
12
Manejar é como fazer uma caderneta
de poupança. A cada ano que passa,
aumenta o número de quelônios. Com a
fartura voltando à várzea, ganha o meio
ambiente e ganham os seres humanos, pois
aumenta a oferta de alimentos e crescem
as possibilidades de se fazer criação
em cativeiro, gerando renda para as
comunidades locais com a venda de carne,
ovos e filhotes.
Importante
Para conservar quelônios por meio das
técnicas de manejo, é preciso:
• Procurar o posto do Ibama mais próximo;
• Pedir autorização e apoio para o trabalho.
Manejo sem autorização é crime previsto
nas leis No 5.197/67 e No 9.605/98.
Passos do manejo
de quelônios
Identificar
e proteger
os locais de
desova
Coletar
os ovos e
transportar
os ninhos
para lugares
seguros
Acompanhar
os ovos na
chocadeira
até o
nascimento
dos filhotes
Zelar dos
filhotes nos
viveiros
Soltar os
animais nos
locais de
origem
13
1
Descobrindo
os locais de desova
Entre os meses de outubro e novembro
é tempo de percorrer as praias em busca
dos ninhos dos quelônios. Essa atividade
deve ser iniciada bem cedo, antes do dia
clarear. Vale a pena trabalhar em equipe e
estar acompanhado de técnicos do Ibama.
Assim, enquanto uns seguem os rastros
e procuram da margem para o meio da
praia, outros buscam também os ninhos
próximos à vegetação.
14
Seguindo as pegadas,
dá para achar os ninhos
Tartarugas:
Deixam os maiores rastros, com distância
de 40 a 50 centímetros entre as marcas
das patas. Desovam em grupos e
preferem fazer seus ninhos na areia, a
80 centímetros de profundidade. Cada
ninhada possui entre 90 e 145 ovos, que
são grandes e têm formato arredondado,
com casca branca e meio-dura.
Tracajás
A distância entre as marcas das patas varia
de 14 a 25 centímetros. Preferem desovar
sozinhos e o mais escondido possível.
Seus ninhos podem ser encontrados no
barranco, na areia, entre as folhas ou no
meio do mato. Põem em média 22 ovos de
casca dura, branco-rosado ou amarelado, a
uma profundidade de 25 centímetros.
Iaçás
Deixam os menores rastros, com distância
entre pegadas de 13 centímetros.
Desovam em grupos de dois a quatro
animais. Colocam cerca de 17 ovos
na areia, a uma profundidade de 20
centímetros. Os ovos possuem forma
ovóide, de casca mais mole e branca.
Proteger, sim! Mas sem tirar do lugar.
Em praias afastadas de vilas e cidades
é melhor proteger os ninhadas em
vez de tirá-las do lugar. Onde existem
muitos ninhos deve-se proteger todo
o tabuleiro. Em locais com poucas
ninhadas, estas são marcadas com
piquetes, protegidas com tela ou
cercadas com galhos.
15
2
Mudando de lugar os
ninhos em perigo
Por que transplantar?
• Para evitar perdas de ovos por
inundações (repiquetes).
• Para impedir que os ovos sejam
destruídos por predadores naturais,
como gaivotas e gaviões.
• Para dificultar a coleta de ovos por
pessoas não autorizadas.
16
• Para que os filhotes nascidos consigam
endurecer os cascos, aumentando as
suas chances de sobrevivência nos
primeiros anos de vida.
Importante
Só se faz transplante de ninhos quando
já existe outro local preparado para
receber os ovos.
Tudo na ponta do lápis
Num caderninho devem ser anotadas
todas as informações sobre o transplante
das covas: data de coleta dos ovos, nome
da praia, espécie que desovou, número
de ovos, profundidade da cova, distância
da água. Isso vai facilitar a devolução dos
filhotes aos seus locais de origem.
ilustrações
abertura de cova
limpeza dos ovos
colocando em fôrmas
caixa de isopor
bloco de anotações
Como fazer
a coleta dos ovos
Verificar os ninhos em perigo,
ou seja, aqueles sujeitos a inundações e
aos ataques de animais.
Abrir as covas com cuidado,
retirando os ovos devagar. Eles devem
ficar na mesma posição em que estavam
dentro do ninho.
Limpar os ovos de todas as impurezas
e colocá-los em caixas de isopor.
Evitar que os ovos balancem. É bom
colocar as ninhadas em fôrmas de ovos
de galinha ou então forrar a caixa com
camadas de areia ou de capim seco.
Separar um ninho do outro,
escrevendo a data, espécie, número de
ovos e a praia da coleta. Cada caixa de
isopor de 25 litros comporta de quatro
a cinco ninhadas de tracajá.
Fazer o transporte até, no máximo,
9 horas da manhã.
17
3
Chocadeira: construindo
um lugar seguro
18
O melhor abrigo
A chocadeira é o local onde os ovos vão
permanecer por 45 a 60 dias. Deve ser
construída em local plano, sem pedregulhos,
raízes ou vegetação e ficar longe de áreas
sujeitas a alagamento. Será cercada com
tela ou com ripas de madeira (com 1,20m a
1,80m de altura) e coberta com malhadeira
ou fios de nylon para evitar ataques de
animais. O tamanho vai depender da
quantidade de ninhos. Uma chocadeira
para 100 ninhos deve ter 6 metros de
comprimento por seis metros de largura.
Curiosidades sobre
o sexo dos quelônios
Os cientistas descobriram que a
temperatura determina o número de
machos e de fêmeas. Nascem mais fêmeas
naqueles ninhos onde bate mais sol e que
têm temperaturas mais altas (acima de
32o C), ou seja, na areia do meio da praia.
Os ninhos situados no barro, próximos
à água ou em locais sombreados, com
temperaturas abaixo de 30o C, produzem
mais machos.
De “casa” nova
Fazer o transplante com a areia úmida. Os melhores momentos são pela
manhã ou à tardinha. Convém evitar o
sol a pino.
Arredar a areia mais quente e solta
da área a ser escavada.
Marcar os locais onde serão abertas
as covas, fazendo um espaçamento entre elas de meio em meio metro para
tracajás e de um em um metro para
tartarugas.
Abrir “covas-transplante” com 15cm
de profundidade no barro ou 25cm
na areia para ninhos de tracajá, e com
60cm a 80cm de profundidade para
ninhos de tartaruga.
As covas devem ter o formato de
uma bota (ver desenho abaixo). A
câmara no fundo da cova deve ficar do
lado oposto ao do rio.
Não misturar ovos de um ninho com
ovos de outro ninho.
Cobrir a cova com areia úmida e
amontoar terra sobre ela sem pressionar.
Bater de leve a tampa da cova com a
palma das mãos para dar mais resistência ao ninho.
Marcar o novo ninho com um piquete
numerado, indicando número da cova,
local da coleta, número de ovos e a
data prevista para a eclosão.
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4
Eclosão:
nascem os filhotes
Um sinal: a cova afunilou
Entre o fim de outubro e início de dezembro começam a nascer os filhotes. O primeiro sinal é o afunilamento da cova. A areia
acima do ninho começa a se movimentar,
os animais saem da câmara de postura e sobem para a parte mais superficial do ninho.
Durante cinco dias eles esperam o momento
de ir ao encontro das águas.
20
Pequenos e desprotegidos
Os filhotes nascem com
o “umbigo” saltado e
com um cheiro forte,
que atrai seus inimigos
naturais. Filhotes de
tracajás costumam
pesar entre 8 e 19
gramas. Tartarugas
são maiores e iaçás
menores.
Por isso, correm risco de serem atacados.
Eles só deixam o ninho quando
completaram a inclubação, no início do
período chuvoso.
Ajudando a nascer
Nem sempre a ninhada eclode
ao mesmo tempo. Em geral,
os filhotes saem das covas
em momentos diferentes, ao
anoitecer ou quando começa a
chover. Até o terceiro dia após a
saída dos primeiros animais devese deixar o processo ocorrer naturalmente.
Somente depois disso é que se faz a
abertura da cova para facilitar a saída dos
que não conseguiram nascer sozinhos.
21
Como se faz
Cuidados especiais
A retirada dos
filhotes deve ser
feita com as mãos.
Afasta-se a areia
seca da superfície,
escavando a areia
úmida com muito
cuidado, até a completa retirada dos
filhotes. Assim que são retirados das covas,
os filhotes seguem para o berçário.
Os filhotes com umbigo
grande, ferimentos ou
fungos devem ficar isolados
e receber tratamento antes
de serem colocados nos
berçários. Iodo é o melhor
remédio para eles. Pode-se
colocar algumas gotas diretamente nos
ferimentos ou deixá-los por um ou dois
dias em banho de água iodada. Bastam 10
gotas de iodo para cada 100 litros de água.
A boa vida do berçário
Os filhotes permanecerão no berçário
durante dois meses, até que estejam com o
casco duro. Isso fará com que tenham mais
chances de sobrevivência em seu ambiente
natural.
22
O berçário deve ser construído de acordo
com as condições de cada local e com os
materiais disponíveis. Convém estar com
esses espaços prontos em novembro,
pouco antes da eclosão dos ovos. Há vários
modelos possíveis
Tanques-rede
feitos de madeira e tela, são colocados
às margens dos rios, presos em bóias de
madeira. Esse modelo permite a renovação
constante da água.
Proteção e vigilância
Seja feita com tela ou com estacas,
a cerca do berçário deverá ficar a
aproximadamente 50 cm de altura da
linha d’água. É preciso garantir que o
espaçamento entre as estacas evite a
presença de predadores da água, como
piranhas e jacarés. Há locais em que os
filhotes são atacados por sanguessugas.
Por isso, é preciso contar com vigilância
constante. Vale a pena trançar fios de
náilon na parte de cima para dificultar o
ataque de gaivotas, gaviões e outras aves
de rapina.
Depressões naturais
Pode-se usar áreas represadas e protegidas
por cercas de tábuas e troncos.
Filhotes saudáveis
A quantidade de animais por metro quatro
e o tipo de alimento fornecido é que vão
determinar o desenvolvimento dos filhotes.
Aconselha-se criar entre 65 e 80 animais
por metro quadrado.
E a comida?
Cada grupo de mil filhotes come entre meio
quilo e um quilo de alimentos por dia. Eles
devem se acostumar desde cedo com os
alimentos que encontrarão mais tarde na
natureza.
Berçário de alvenaria
construído com os cantos arredondados
para evitar acúmulo de sujeira. A água deve
ser renovada periodicamente.
Alimentos mais indicados:
• plantas aquáticas, como mureru,
capim-canarana, arroz-de-várzea;
• frutas que costumam encontrar na
água, como murici, mungumbeira, fruta
da vitória-régia, caimbé, catauari;
• plantas de quintal, como beldroega,
erva-de-jabuti, cariru, alface, couve.
A alimentação pode ser enriquecida com
peixe cru ou assado, cortado em pedaços
bem pequenos ou moído. Algumas
comunidades que estão se preparando
para fazer criação em cativeiro usam ração
balanceada para alevinos (com 35 % de
proteína) com pellets bem pequenos.
Importante
Caixas d’água
De fibra de vidro ou material plástico, devem
ter a água renovada de dois em dois dias.
Renovar a água dos berçários,
especialmente quando se trata de caixas
d’água, evita o acúmulo de sujeira e
o aparecimento de doenças entre os
filhotes.
23
5
Liberação dos filhotes:
voltando às origens
24
De novo na água
Onde soltar
A estadia de ovos e animais em terra
chegou ao fim. Famílias e escolas dizem
adeus aos filhotes, sabendo que daqui a
cerca de oito anos alguns deles voltarão
para desovar nas mesmas praias. É a
certeza do dever
cumprido: garantir a
continuidade no ciclo
de reprodução dos
quelônios e, assim, poder
se beneficiar com a
existência desses animais.
Uma esperança que se
renova a cada ano.
Os filhotes deverão ser liberados nas
margens dos igarapés, rios e lagos onde
foram coletados os ovos. Convém escolher
locais próximos a abrigos naturais, como
troncos caídos nas margens, aningais,
capins flutuantes etc.
Soltá-los nos locais de
origem garante a simpatia
dos proprietários das
terras e a certeza de que o
trabalho realizado destinase à conservação das
espécies.
É tempo de festa nas comunidades
As pessoas que se empenharam na
proteção dos ovos e dos filhotes têm
motivos de sobra para comemorar.
Algumas comunidades aproveitam esse
período – entre fevereiro e março – para
fazer grandes festas. Armam barracas,
vendem produtos diversos, criam
concursos de beleza, montam cenários
para realizar a soltura dos filhotes. As
escolas participam, apresentando peças
de teatro, gincanas, música e poesia.
Dessa forma, atraem a atenção da TV e
dos jornais, dando destaque à sua luta
em defesa dos quelônios. Uma luta que
começou em poucas comunidades e que
pretende se estender para toda a várzea
amazônica.
25
Uma rede para proteger os quelônios
Quem pode auxiliar?
• Comerciantes - podem doar alimentos, pilha, caixas de isopor, fôrmas de
ovos e apoiar as comunidades na coleta
dos ovos e na manutenção dos filhotes.
• Fazendeiros - podem orientar seus vaqueiros a demarcar e proteger os ninhos
e tabuleiros e tratar bem as equipes que
fazem a coleta dos ovos.
• Bancos, gráficas e imprensa podem patrocinar e divulgar a luta das
comunidades em defesa dos quelônios.
26
• Igrejas - podem utilizar este trabalho
para aumentar a união entre as pessoas e estimular o amor pela natureza.
• Escolas - podem usar a defesa dos
quelônio como uma oportunidade de
ensinar e de aprender;
Este é um trabalho coletivo.
Merece e precisa do apoio de
todos. Quem se dedica a proteger
os peixes, os quelônios e as matas
sabe que está fazendo isso para
conservar esse ambiente para
seus filhos, netos, bisnetos... um
trabalho que beneficia toda a
sociedade.
• Vereadores e vereadoras - podem
aprovar leis municipais que garantam o
livre acesso às praias na época da desova e a coleta de ovos sem conflitos com
os fazendeiros.
• Prefeituras - podem transformar a
defesa dos quelônios em oportunidade
para realizar festas e outras atividades
voltadas para os turistas e que garantam o desenvolvimento sustentável do
município.
Referências bibliográficas
ANDRADE, P.C.M. Criação e manejo de quelônios no Amazonas. Projeto Diagnóstico da Criação de
Animais Silvestres no Estado do Amazonas. IBAMA/UFAM/SDS: Manaus. 2004. 492 p.
ANDRADE, P.C.M.; LIMA, A.C.; CANTO, S.L.O. et al. Projeto “Pé-de-Pincha”: manejo sustentável de quelônios (Podocnemis sp.) no baixo Amazonas. Coleção socializando experiências, vol. 3, p.1:14.
São Paulo: Universidade de Mogi das Cruzes. Extensão Universitária/Olho D’água. 2003.
ANDRADE, P.C.M.; LIMA, A.C.; et al. Projeto Pé-de-pincha 2002. Anais da Amostra de Extensão, no 133.
PROEXT/UFAM, 26-28 Nov. 2003 (em CD).
27
Esta iniciativa tem apoio do Projeto Manejo de
Recursos Naturais da Várzea / ProVárzea, executado
pelo Ibama, através do Programa Piloto para
Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7, e
vem promovendo o desenvolvimento de alternativas
de manejo sustentável e participativo dos recursos
da várzea na calha dos rios Amazonas e Solimões,
na Amazônia, para influenciar políticas públicas e
modelos de co-gestão para áreas de várzea.
28
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QUELONIOS COM CORREÇÕES finais.indd - Projeto Pé-de