FERNANDO DE SOUSA OLIVEIRA
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E TOXICOLÓGICA
DE (-)-HIDROXIDIIDROCARVONA EM ROEDORES
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA FARMACÊUTICA
PROF. DELBY FERNANDES DE MEDEIROS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E
SINTÉTICOS BIOATIVOS
JOÃO PESSOA
2009
Livros Grátis
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FERNANDO DE SOUSA OLIVEIRA
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E TOXICOLÓGICA
DE (-)-HIDROXIDIIDROCARVONA EM ROEDORES
Tese apresentada ao Programa de Pósgraduação em Produtos Naturais e Sintéticos
Bioativos do Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de
Medeiros da Universidade Federal da Paraíba,
para obtenção do grau de DOUTOR EM
PRODUTOS
NATURAIS
E
SINTÉTICOS
BIOATIVOS.
Área
de
concentração:
FARMACOLOGIA.
ORIENTADOR:
Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida
JOÃO PESSOA
2009
O48a Oliveira, Fernando de Sousa.
Avaliação da atividade antinociceptiva e toxicológica
de (-)-hidroxidiidrocarvona em roedores / Fernando de
Sousa Oliveira. – João Pessoa, 2009.
120p. : il.
Orientador: Reinaldo Nóbrega de Almeida
Tese (doutorado) – UFPB / CCS
1. Farmacologia 2. (-)-Hidroxidiidrocarvona 3.
Atividade antinociceptiva 4. Toxicologia 5. Monoterpeno.
UFPB / BC
CDU: 615(043)
FERNANDO DE SOUSA OLIVEIRA
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E TOXICOLÓGICA
DE (-)-HIDROXIDIIDROCARVONA EM ROEDORES
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Produtos Naturais e Sintéticos
Bioativos do Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de
Medeiros da Universidade Federal da Paraíba,
para obtenção do grau de DOUTOR EM
PRODUTOS
NATURAIS
E
SINTÉTICOS
BIOATIVOS.
Área
de
concentração:
FARMACOLOGIA.
Aprovado em 18 / 03 / 2009
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida
Orientador – UFPB
__________________________________________
Profª. Drª. Regina Helena da Silva
Examinadora – UFRN
__________________________________________
Profª. Drª. Carlúcia Ithamar Fernandes Franco
Examinadora – UEPB
__________________________________________
Profª. Drª. Rita de Cássia da Silveira e Sá
Examinadora – UFJF
__________________________________________
Profª. Drª. Leônia Maria Batista
Examinadora – UFPB
Aos meus pais, Ana Maria de Sousa Oliveira e José Eciene de Oliveira,
minha irmã Luciana de Sousa Oliveira e irmão Adriano de Sousa Oliveira,
dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela presença constante e oportunidades que coloca em meu
caminho no decorrer de minha vida.
Ao Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de Almeida, pela valiosa e sábia
orientação desde minha iniciação científica, em quem me espelho como exemplo de
profissionalismo.
Ao Prof. Dr. Damião Pergentino de Sousa, pela colaboração direta e
fornecimento da substância estudada.
A todos os professores do Curso de Pós-graduação, em especial as
Profªs Drªs Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz, Leônia Maria Batista e
Márcia Regina Piuvezam, pelos ensinamentos científicos.
A todos os amigos de turma do doutorado, em especial, Adalberto
Coelho, Karina Karla Medeiros, Marcelo Dantas, Raline dos Anjos e Nadábia
Souza pelo companheirismo e incentivo.
Aos amigos do LTF e pós-graduação Adriana Oliveira, Alecsandro
Marinho, Alessandra Castello Branco, David Antas, Gabriela Lemos, Islânia
Araújo, Raline dos Anjos, Sócrates Golzio e Vanine Mota, pela amizade e
atenção a mim prestadas.
A todos os amigos do Laboratório de Psicofarmacologia, em especial,
André Pinho, Camila Carolina Santos, Clécia Sena, Flávia Souto Maior, Leandra
Oliveira, Liana Morais, Raquel Lima, Rita Sá e Rubens Benedito, pela
colaboração na elaboração deste trabalho, companherismo e agradável convívio.
A todos os amigos do LABETOX, em especial, as Profªs Drªs
Margareth de Fátima F. Melo Diniz e Marianna Castelo Branco, a Drª Hosana
Santos e Kardilândia Oliveira pela amizade e colaboração nos testes de
toxicidade.
A todos os integrantes do Laboratório de eletrofisiologia que
colaboraram com a realização dos testes in vitro.
A todos os funcionários do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica e
da pós-graduação pelos serviços prestados.
A José Crispim Duarte, Luis Cordeiro e Adriano Silva, pela
disponibilidade e apoio técnico imprescindível na execução deste trabalho.
Ao Biotério Prof. Dr. Thomas George do Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica pelo fornecimento dos animais.
Desejo também deixar demonstrado meu respeito a todos os animais
utilizados durante a realização dos testes.
Ao
Conselho
Nacional
de
Desenvolvimento
Científico
e
Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro.
A todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram
para a execução deste trabalho.
“ Vós porém, esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa
obra terá uma recompensa.”
II Crônicas 15: 17
RESUMO
OLIVEIRA, F. S. Avaliação da Atividade Antinociceptiva e Toxicológica de (-)Hidroxidiidrocarvona em Roedores. 2009. 120p. Tese (Pós-graduação em
Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Farmacologia) Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
A (-)-hidroxidiidrocarvona (HC) é um intermediário semi-sintético obtido a partir da
hidratação da R-(-)-carvona. Estudos prévios demonstraram que esse composto
apresentava atividade no sistema nervoso central (SNC), em especial, atividade
antinociceptiva. O presente trabalho objetivou detalhar o estudo da atividade
antinociceptiva de HC. Inicialmente, foi avaliada o possível efeito de HC por via oral,
já que todos os estudos anteriores foram realizados por via intraperitoneal.
Determinou-se a dose letal 50% (DL50), o que permitiu estabelecer doses
relativamente seguras para os testes subsequentes. No teste da movimentação
espontânea, HC (100 e 200 mg/kg) provocou uma diminuição da ambulação dos
camundongos; já no teste de “rota rod”, HC não interferiu na coordenação motora
dos camundongos em nenhuma das doses utilizadas (50, 100 e 200 mg/kg). Em
seguida, HC (200 mg/kg) diminuiu o número de contorções abdominais provocadas
pelo ácido acético com indicativo de atividade antinociceptiva. De forma
complementar, no teste de imersão da cauda, os animais tratados com HC (200
mg/kg) apresentaram um aumento de tempo na resposta ao estímulo termoceptivo,
demonstrando assim que HC apresenta atividade antinociceptiva central quando
administrada por via oral. A segunda etapa deste trabalho consistiu da avaliação do
efeito de HC em longo prazo por via intraperitoneal (i.p.), com o intuito de observar
possíveis sinais de toxicidade. Durante 28 dias de tratamento, HC (200 mg/kg)
causou aumento no tempo de reação dos camundongos no teste da placa quente e
não induziu catatonia nos animais. HC promoveu uma redução na temperatura dos
animais e não apresentou qualquer efeito no consumo de água, ração e peso
corporal dos camundongos. Um aumento nos níveis de glicemia foi observado, no
entanto, não foram encontradas alterações bioquímicas no final do tratamento com
HC. Na análise hematológica, HC alterou apenas os números de neutrófilos, porém,
essa variação permaneceu dentro do intervalo aceitável para camundongos.
Nenhuma alteração foi encontrada no peso do fígado, coração ou rins dos animais
tratados com HC. Portanto, HC exerceu um efeito antinociceptivo central desprovido
de tolerância farmacológica e sem causar qualquer alteração toxicológica
significativa. A terceira fase desse estudo consistiu em determinar o mecanismo de
ação de HC. Nesta etapa, atropina (5 mg/kg, ip) e pirenzepina (75 mg/kg, ip), não
foram capazes de reverter o efeito antinociceptivo de HC (100 e 200 mg/kg, i.p.). Do
mesmo modo, sulpirida (20 mg/kg, ip), também não diminuiu o efeito de HC nos
testes utilizados. Os resultados também mostraram que HC reduziu a excitabilidade
neuronal em nervo isquiático de rato. Portanto, de acordo com os resultados obtidos
nas três etapas desse estudo, HC apresenta atividade antinociceptiva central por via
oral, sendo esse efeito desprovido de tolerância farmacológica e efeitos tóxicos
significativos, não tendo relação direta com receptores muscarínicos e
dopaminérgicos D2, e parece atuar em canais para Na+ dependentes de voltagem.
Palavras-chave: (-)-Hidroxidiidrocarvona. Atividade antinociceptiva. Monoterpeno.
ABSTRACT
OLIVEIRA, F. S. Evaluation of Antinociceptive Activity and Toxicity of (-)Hydroxydihydrocarvone in Rodents. 2009. 120p. Thesis (Post-graduation in
Natural Products and Synthetic Bioactives, Pharmacology) Laboratory of
Pharmaceutical Technology, Federal University of the Paraíba, João Pessoa.
(-)-Hydroxydihydrocarvone (HC) is a monoterpene analogue prepared as a semisynthetic intermediate by hydration of the R-(-)-carvone monoterpene. Previous
studies have shown that this compound exerts some activity on the central nervous
system, namely an antinociceptive activity. The present work was aimed at
performing a detailed investigation of HC antinociceptive activity. Initially, the
possible effect of HC was evaluated through the oral administration of this substance
as previous studies were performed using the intraperitoneal via. The lethal dose
50% was calculated and used as reference for the choice of relatively safe doses
(50, 100 and 200 mg/kg) for the subsequent tests. In the spontaneous motor activity
test, HC (100 and 200 mg/kg) decreased the motor activity in mice whereas no
changes in motor coordination were recorded in the rotarod test in any of the doses
used. In the acetic acid-induced writhing test, HC (200 mg/kg) reduced the number of
abdominal writhing which is indicative of an antinociceptive activity. Moreover, the
time of response to the thermoceptive stimulus in the tail immersion test was longer
in HC-treated animals (200 mg/kg), demonstrating that HC presents a central
antinociceptive activity following oral administration. The second part of this study
comprised the evaluation of the long-term exposure of HC with the purpose of
detecting possible signs of toxicity. During a 28-day-treatment period, HC (200
mg/kg) increased the reaction time of mice in the hot plate test and failed to produce
catalepsy. HC also reduced the rectal temperature of these animals and had no
effect on water and food consumption or on their body weight. By the end of
treatment, an increase in the glycemic level was observed; however, no biochemical
alterations were found. In the hematological analysis, HC affected only the neutrophil
counts, which remained within the acceptable range for neutrophils in mice. In
addition, the weight of the liver, heart or kidneys was not significantly altered by the
treatment. These results indicate that HC exerts a central antinociceptive effect
without causing pharmacological tolerance or any significant toxicological alteration.
The third part of this study involved the investigation of a possible mechanism of
action of HC. Atropine (5 mg/kg, i.p.), a nonselective muscarinic receptor antagonist,
and pirenzepine (75 mg/kg, i.p.), a muscarinic antagonist selective for M1 receptors,
were unable to reverse the antinociceptive effect of HC (100 and 200 mg/kg, i.p.).
Likewise, sulpiride (20 mg/kg, i.p.), a selective dopamine D2 receptor antagonist, also
failed to reduce the effect of HC in the tests used. The results have also shown that
HC reduced neuronal excitability of the rat sciatic nerve. According to the results
obtained in this study, HC presents a central antinociceptive action after oral
administration, without showing tolerance and significant toxic effect. It showed no
direct relation to the muscarinic and D2 receptors but appears to affect the voltagegated Na+ channels.
Key words: (-)-Hydroxydihydrocarvone. Antinociceptive activity. Monoterpeno.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 –
Estrutura química de linalol...........................................................
21
Figura 2 –
Estrutura química de mentol..........................................................
22
Figura 3 –
Estrutura química de R-(-)-carvona................................................ 22
Figura 4 –
Estrutura química de (-)-hidroxidiidrocarvona................................
Figura 5 –
Nociceptores e sua conexão com a medula e encéfalo.................
Figura 6A –
Camundongo Suíço macho e albino..............................................
42
Figura 6B –
Rato Wistar macho e albino...........................................................
42
Figura 7 –
Camundongos em grupo de 5 animais no interior da gaiola..........
Figura 8 –
Reação de hidratação de R-(-)-carvona......................................... 45
Figura 9 –
Aparelho de movimentação espontânea........................................ 46
Figura 10 –
Aparelho de “rota rod”....................................................................
47
Figura 11 –
Aparato para o teste imersão da cauda.........................................
48
Figura 12 –
Aparelho de placa quente.............................................................
48
23
31
43
Figura 13A – Visão superior da caixa de observação para o teste da formalina. 49
Figura 13B – Visão frontal da caixa de observação para o teste da formalina...
49
Figura 14 –
Aparato para técnica de “single sucrose gap”................................ 50
Figura 15 –
Câmara experimental para captação dos PAC’s...........................
Figura 16 –
Resumo esquemático do estudo da atividade antinociceptiva de
HC por via oral, em camundongos................................................. 51
Figura 17A – Camundongo na caixa de atividade...............................................
50
53
Figura 17B – Visão frontal do monitor central do aparelho de movimentação
espontânea (à esquerda) e de uma das caixas de atividade (à
53
direita)............................................................................................
Figura 18 –
Aspecto geral de um procedimento do teste de imersão da
cauda..............................................................................................
55
Figura 19 –
Procedimento experimental do tratamento subcrônico com HC 56
em camundongos...........................................................................
Figura 20A – Barra para o teste de catatonia......................................................
57
Figura 20B – Camundongo em posição catatônica.............................................
57
Figura 21 –
62
Aspecto geral de um procedimento do teste da formalina.............
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Seletividade de agonistas e antagonistas para os subtipos de
receptores opióides............................................................................ 35
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 –
Efeito de HC sobre o percentual de mortes em camundongos
tratados por v.o.................................................................................. 66
Tabela 2 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o tempo de
permanência na barra horizontal....................................................... 72
Tabela 3 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre os parâmetros
bioquímicos de camundongos........................................................... 78
Tabela 4 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre os parâmetros
hematológicos de camundongos....................................................... 79
Tabela 5 –
Efeito de HC sobre amplitude do PAC de nervo isquiático de rato...
Tabela 6 –
Efeito de HC sobre a velocidade de despolarização do PAC de
nervo isquiático de rato..................................................................... 88
Tabela 7 –
Efeito de HC sobre a constante de repolarização do PAC de nervo
isquiático de rato............................................................................... 89
87
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 –
Efeito de HC sobre a movimentação espontânea em
camundongos .................................................................................. 67
Gráfico 2 –
Efeito de HC sobre o tempo de permanência na barra giratória no
teste do “rota rod”............................................................................. 68
Gráfico 3 –
Efeito de HC sobre as contorções abdominais induzidas por ácido
acético, em camundongos................................................................ 69
Gráfico 4 –
Efeito da HC na imersão da cauda de camundongos tratados por
v.o.................................................................................................... 70
Gráfico 5 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a latência no teste
da placa quente em camundongos.................................................. 71
Gráfico 6 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a temperatura retal
de camundongos.............................................................................. 73
Gráfico 7 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o consumo de
ração de camundongos.................................................................... 74
Gráfico 8 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o consumo de
água de camundongos..................................................................... 75
Gráfico 9 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a evolução
ponderal de camundongos............................................................... 76
Gráfico 10 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a glicemia de
camundongos.................................................................................. 77
Gráfico 11 –
Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o peso de fígado,
rins e coração de camundongos....................................................... 80
Gráfico 12 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com ATR e PZN no teste da placa quente em
81
camundongos..................................................................................
Gráfico 13 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com ATR e PZN na 1ª fase do teste da
82
formalina em camundongos..............................................................
Gráfico 14 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com ATR e PZN na 2ª fase do teste da
83
formalina em camundongos..............................................................
Gráfico 15 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com SPD no teste da placa quente em
camundongos.................................................................................. 84
Gráfico 16 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com SPD na 1ª fase do teste da formalina em
85
camundongos..................................................................................
Gráfico 17 –
Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo
tratamento prévio com SPD na 2ª fase do teste da formalina em
86
camundongos..................................................................................
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
δκμμA –
μL –
τrep –
Aδ –
Aβ –
AAS –
ALT –
AST –
ATR –
Ca2+ CaCl2 –
CHCM –
COX –
dL –
DL50 –
e.p.m. –
E.U.A. –
EC –
EDTA –
et al –
fL –
g–
GABA –
GABAA –
HC –
HCM –
HEPES –
HPD –
Hz –
i.p. –
IASP –
K+KCl –
L–
LTF –
MgCl2 –
Min –
mM –
mm3 –
MRF –
ms –
mV –
N–
n–
Delta
Kappa
mü
Microampere
Microlitro
Constante de repolarização
A delta
A beta
Acido acetil salicílico
Alanina aminotransferase
Aspartato aminotransferase
Atropina
Íon cálcio
Cloreto de cálcio
Concentração de hemoglobina corpuscular média
Ciclooxigenase
Decilitro
Dose letal 50%
Erro padrão da média
Estados Unidos da América
Enzyme commission
Ácido etilenodiamino tetracético
e colaboradores
Fentolitro
Grama
Ácido gama amino butírico
Receptor de ácido gama amino butírico tipo A
(-)-Hidroxidiidrocarvona
Hemoglobina corpuscular média
Ácido-N-[2-hidroxietil]-piperazina-N’-[2-etanosulfônico]
Haloperidol
Hertz
Intraperitoneal
Associação internacional para o estudo da dor
Íon potássio
Cloreto de potássio
Litro
Laboratório de Tecnologia Farmacêutica
Cloreto de magnésio
Minuto
Milimolar
Milímetro cúbico
Morfina
Milisegundos
Milivolts
Normal
Número de animais
Na+ –
NaCl –
NaOH –
Nav –
NMDA –
PAC –
pg –
pH –
PZN –
r.p.m. –
s–
SNC –
SPD –
t.a. –
UI –
V–
v.o. –
VCM –
vs –
Íon sódio
Cloreto de sódio
Hidróxido de sódio
Canais para sódio dependentes de voltagem
N-metil-D-aspartato
Potencial de ação composto
Picograma
Potencial hidrogeniônico
Pirezenpina
Rotação por minuto
Segundo
Sistema Nervoso Central
Sulpirida
Temperatura ambiente
Unidade internacional
Volts
Via oral
Volume corpuscular médio
Versus
SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO...............................................................................................
19
II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................... 26
2.1 Considerações gerais sobre dor....................................................................
2.1.1 Conceito e classificação de dor.............................................................
2.1.2 Percepção da dor..................................................................................
2.2 Fármacos depressores do SNC....................................................................
2.2.1 Tratamento farmacológico da dor: os fármacos analgésicos................
2.3 Aspectos gerais sobre canais para Na+, K+ e antinocicepção.......................
26
27
29
31
33
36
III – OBJETIVOS................................................................................................. 40
IV – MATERIAL................................................................................................... 42
4.1 Animais..........................................................................................................
4.1.1 Condições experimentais......................................................................
4.2 Substâncias utilizadas...................................................................................
4.3 Preparação da (-)-hidroxidiidrocarvona.........................................................
4.4 Aparelhagem.................................................................................................
4.4.1 Aparelho para registro da movimentação espontânea..........................
4.4.2 Aparelho de “rota rod”...........................................................................
4.4.3 Aparato para imersão da cauda............................................................
4.4.4 Aparelho de placa quente....................................................................
4.4.5 Caixa de observação para o teste da formalina....................................
4.4.6 Aparato eletrofisiológico para registro extracelular dos PAC’s.............
42
43
44
44
45
46
47
47
48
49
49
V. MÉTODOS...................................................................................................... 51
5.1 Estudo da atividade antinociceptiva de HC por via oral................................
5.1.1 Determinação da dose letal 50%..........................................................
5.1.2 Teste da movimentação espontânea....................................................
5.1.3 Teste do rota rod...................................................................................
5.1.4 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético............
5.1.5 Teste da imersão da cauda...................................................................
5.2 Estudo subcrônico de HC..............................................................................
5.2.1 Teste da placa quente...........................................................................
5.2.2 Teste da catatonia.................................................................................
5.2.3 Teste da temperatura retal....................................................................
5.2.4 Avaliação do consumo de água e alimento e evolução ponderal.........
5.2.5 Avaliação da glicose sanguínea............................................................
5.2.6 Avaliação laboratorial sanguínea..........................................................
5.2.6.1 Análise de parâmetros bioquímicos...........................................
5.2.6.2 Análise de parâmetros hematológicos.......................................
5.2.7 Pesagem de órgãos..............................................................................
5.3 Investigação do mecanismo de ação de HC.................................................
5.3.1 Avaliação in vivo....................................................................................
51
51
52
53
54
54
56
56
57
58
58
58
59
59
59
60
60
60
5.3.1.1 Bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos..........................................................
5.3.1.2 Bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com
antagonista dopaminérgico D2....................................................
5.3.1.3 Teste da placa quente................................................................
5.3.1.4 Teste da formalina.....................................................................
5.3.2 Avaliação in vitro...................................................................................
5.3.2.1 Técnica de “single sucrose gap”................................................
5.4 Análise estatística..........................................................................................
60
61
61
62
63
63
64
VI – RESULTADOS............................................................................................. 66
6.1 Estudo da atividade antinociceptiva de HC por via oral................................
6.1.1 Determinação da dose letal 50%..........................................................
6.1.2 Efeito de HC no teste da movimentação espontânea...........................
6.1.3 Efeito de HC no teste do rota rod..........................................................
6.1.4 Efeito de HC no teste das contorções abdominais induzidas por
ácido acético........................................................................................
6.1.5 Efeito de HC no teste da imersão da cauda..........................................
6.2 Efeito subcrônico de HC ...............................................................................
6.2.1 Efeito de HC no teste da placa quente..................................................
6.2.2 Efeito de HC no teste da catatonia........................................................
6.2.3 Efeito de HC no teste da temperatura retal...........................................
6.2.4 Efeito de HC no consumo de ração......................................................
6.2.5 Efeito de HC no consumo de água.......................................................
6.2.6 Efeito de HC na evolução ponderal.......................................................
6.2.7 Efeito de HC na glicemia.......................................................................
6.2.8 Efeito de HC nos parâmetros bioquímicos............................................
6.2.9 Efeito de HC nos parâmetros hematológicos........................................
6.2.9 Efeito de HC no peso de órgãos...........................................................
6.3 Investigaçâo do possível mecanismo de ação de HC
6.3.1 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos no teste da placa quente............................
6.3.2 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos no teste da formalina..................................
6.3.3 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonista dopaminérgico no teste da placa quente............................
6.3.4 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos no teste da formalina..................................
6.3.5 Efeito de HC na amplitude do PAC.......................................................
6.3.6 Efeito de HC sobre a velocidade de despolarização do PAC...............
6.3.7 Efeito de HC sobre a constante de repolarização do PAC...................
66
66
67
68
69
70
71
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
81
82
84
85
87
88
89
VII – DISCUSSÃO............................................................................................... 91
VIII – CONCLUSÕES.......................................................................................... 103
REFERÊNCIAS...................................................................................................
105
ANEXOS.............................................................................................................. 122
OLIVEIRA, F. S.
Introdução 20
I – INTRODUÇÃO
O tratamento da dor tem sido motivo de preocupação e de estudos
para pesquisadores e para a indústria farmacêutica, pois apesar da variedade de
substâncias e do avanço no desenvolvimento das terapias de controle da dor, ainda
há uma necessidade urgente de analgésicos potentes, principalmente para os casos
de dores crônicas, onde a melhor alternativa farmacológica ainda é a morfina,
mesmo considerando seus efeitos adversos. Neste sentido, inúmeros grupos de
pesquisa em todo mundo têm voltado sua atenção para a validação do uso de
plantas medicinais e o isolamento de seus metabólitos secundários, que possam vir
a ser fonte de substâncias similares à morfina, sem seus efeitos colaterais,
produzidas em menor tempo, com baixo custo e tornando-se economicamente
acessíveis à população (CALIXTO et al., 2000; LIRA, 2001).
A etnofarmacologia associada à descoberta de novas drogas, usando
produtos
naturais,
é
um
assunto
de
grande
importância
na
atualidade
(PATWARDHAN; VAIDYA; CHORGHADE, 2004). Dentro deste contexto, os óleos
essenciais representam uma promissora fonte de moléculas bioativas que muitas
vezes se mostram dotadas de atividade farmacológia. Estes óleos são produtos
naturais com diferentes aplicações, principalmente na área da saúde e na indústria
cosmética. Eles contribuem para o aroma e sabor de várias espécies vegetais, em
especial aquelas conhecidas como aromáticas (LIS-BALCHIN; HART, 1999;
CARDOSO et al., 2006). Os óleos essenciais constituem os elementos voláteis
contidos em vários órgãos das plantas. Sua composição lipofílica os difere
quimicamente da composição glicerídica dos verdadeiros óleos e gorduras (SIANI et
al., 2006).
Estudos sobre várias atividades biológicas de diversos óleos essenciais
já foram realizados, como a atividade no SNC, a exemplo da analgésica (ALMEIDA;
NAVARRO; BARBOSA-FILHO, 2001), anticonvulsivante (ALMEIDA; MOTTA; LEITE,
2003) e ansiolítica (UMEZU et al., 2002; ALMEIDA et al., 2004).
Pode-se mencionar como exemplos de investigações mais recentes, o
efeito ansiolítico do óleo essencial de Citrus aurantium L., conhecida como laranja,
em modelos experimentais de ansiedade utilizando camundongos (CARVALHOFREITAS; COSTA, 2002; PULTRINI; GALINDO; COSTA, 2006). O óleo essencial de
OLIVEIRA, F. S.
Introdução 21
Cymbopogon citratus Stapf., espécie vegetal conhecida por capim-santo e utilizada
como analgésica, antiinflamatória e antipirética, apresentou efeito antinociceptivo
central e periférico nas metodologias utilizando ácido acético, placa quente e
formalina (VIANA et al., 2000). A Lavandula angustifolia Mill., popularmente
conhecida como lavanda, é outra espécie que teve seu óleo essencial avaliado
quanto às propriedades antinociceptivas e que demonstrou resultados significativos
em diminuir a resposta dos animais a estímulos nociceptivos (HAJHASHEMI;
GHANNADI; SHARIF, 2003).
Outros estudos realizados com os óleos essenciais de Artemísia
dracunculus L. e Cuminum cyminum L., demonstraram a eficácia desses óleos em
atenuar as convulsões induzidas por pentilenotetrazol e eletrochoque máximo,
sugerindo uma atividade anticonvulsivante para essas espécies (SAYYAH;
MAHBOUBI; KAMALINEJAD, 2002; SAYYAH; NADJAFNIA; KAMALINEDJAD, 2004;
JANAHMADI et al., 2006).
Com relação à natureza química dos óleos essenciais, estes, em sua
maioria,
são
constituídos
de
substâncias
terpênicas
e
eventualmente
de
fenilpropanóides, acrescidos de moléculas menores, como álcoois, ésteres,
aldeídos, e cetonas de cadeia curta. O perfil terpênico apresenta normalmente
substâncias constituídas de 10 e de 15 carbonos, conhecidas por monoterpenos e
sesquiterpenos, respectivamente (SIANI et al., 2006).
Os efeitos farmacológicos encontrados são provavelmente devido a
essa diversidade químico-estrutural presente nos constituintes dos óleos essenciais.
Essa informação é baseada no fato de que vários monoterpenos presentes em
muitos óleos essenciais apresentaram atividade no SNC, a exemplo de estudos com
o linalol, mentol e rotundifolona.
No caso do linalol (Figura 1), tratase de um monoterpeno comumente encontrado
OH
como componente principal do óleo essencial de
várias espécies de plantas aromáticas. Possui
propriedades sedativas e age como antagonista
competitivo
de
receptores
do
N-metil-D-
aspartato (NMDA) (ELISABETSKY et al., 1995a;
ELISABETSKY; BRUM; SOUZA, 1999; SILVA
Figura 1 – Estrutura química de
linalol;
OLIVEIRA, F. S.
Introdução 22
BRUM; ELISABETSKY; SOUZA, 2001; SILVA BRUM et al., 2001), cuja inibição leva
a um efeito antinociceptivo (CODERRE; VAN EMPEL, 1994; CHIZH et al., 2001).
Estudos realizados com o (-)-linalol mostram que esse enantiômero é capaz de
reduzir as respostas de camundongos em testes de nocicepção por estimulação
química e térmica, indicativo de efeito antinociceptivo central, sendo sugerido, por
estudos utilizando antagonistas e bloqueadores de canais iônicos, que esse efeito
envolve mecanismos opióides, colinérgicos e dopaminérgicos (PEANA et al., 2003,
2004).
O
mentol
(Figura
2)
é
outro
monoterpeno com estudos sobre sua atividade
antinociceptiva
central.
Esse
composto
é
encontrado principalmente no óleo essencial de
OH
várias espécies do gênero Mentha como Mentha
piperita L., Mentha x Villosa Huds. e Mentha
arvensis L. Seu enantiômero (-)-mentol também
foi
efetivo
em
antinociceptividade,
teste
com
de
avaliação
resultados
Figura 2 – Estrutura
química de mentol;
de
que
mostram a relação desse efeito com o sistema
opióide (GALEOTTI et al., 2002).
Estudos
realizados
no
setor
de
Psicofarmacologia do Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica (LTF) da Universidade Federal da
Paraíba
(UFPB),
demonstraram
o
efeito
antinociceptivo central da R-(-)-carvona (Figura 3),
em ratos e camundongos. Esse monoterpeno
Figura 3 – Estrutura
química de R-(-)-carvona;
representa
um
dos
principais
constituintes
químicos do óleo essencial de muitas espécies do
gênero Mentha, sendo esse efeito não revertido
pela naloxona, um antagonista de receptores
opióides (GONÇALVES et al., 2008).
A (-)-hidroxidiidrocarvona (HC) é uma substância que se caracteriza
por ser originada de um composto natural, a R-(-)-carvona, sendo produzida a partir
de uma rota semi-sintética, e que apresenta estrutura química análoga a vários
monoterpenos com atividade no SNC, em especial, a antinociceptiva.
OLIVEIRA, F. S.
Introdução 23
Estudos
prévios
realizados
no
LTF/UFPB demonstraram o efeito de HC
(Figura 4) no SNC. A princípio, foi calculada a
O
dose letal 50% (DL50) da substância citada.
Realizou-se uma triagem que aliada a testes
gerais demonstraram o efeito psicodepressor
OH
de HC por via intraperitoneal (DE SOUSA;
OLIVEIRA; ALMEIDA, 2006).
A partir dos resultados obtidos
Figura 4 – Estrutura química de
(-)-hidroxidiidrocarvona;
nos dos testes gerais, foram realizadas
metodologias
caracterizar
mais
o
tipo
específicas
de
para
atividade
psicodepressora de HC, sendo então, observado que HC possuía atividade
antinociceptiva central, efeito esse não antagonizado pela naloxona (OLIVEIRA; DE
SOUSA; ALMEIDA, 2008).
As informações anteriormente descritas tiveram significativa parcela de
estímulo para a continuidade deste trabalho, aliado ao fato de não ter sido
encontrado na literatura relato de estudos por v.o. e toxicológicos controlados com
HC. Baseado na necessidade de novas alternativas farmacológicas que possam ser
utilizadas para o alívio da dor, que sejam desprovidas de efeitos tóxicos graves, e no
efeito promissor apresentado por HC, o presente trabalho avaliou a atividade
antinociceptiva central e toxicológica de HC em camundongos.
O presente trabalho avaliou se HC apresentava efeito por v.o.
Determinou-se a DL50, assim como testes gerais e específicos, esses últimos
baseados em estímulos de nocicepção.
A etapa seguinte deste trabalho foi conduzida tomando como base a
procura por substâncias que possuam atividade farmacológica de longa duração e
que possam ser utilizadas no tratamento de dores de natureza crônica. Essa etapa
consistiu de um tratamento subcrônico com HC que avaliou os possíveis efeitos
farmacológicos e toxicológicos da referida substância após uso contínuo. Foram
observados parâmetros como tolerância farmacológica, indução de catatonia,
alterações no consumo de água e ração, e no peso dos animais, dentre outras
observações. Para melhor caracterizar esse estudo, foi procedida análise
OLIVEIRA, F. S.
Introdução 24
laboratorial do sangue dos animais, observando-se os parâmetros bioquímicos e
hematológicos, além da pesagem de alguns órgãos vitais.
A terceira etapa desse estudo determinou de que forma HC estaria
atuando para exercer seu efeito antinociceptivo. Para tanto, foram realizadas
análises do efeito de HC na presença de antagonistas específicos, em duas
metodologias comportamentais onde a substância citada apresentou-se efetiva, com
o intuito de verificar um possível bloqueio de efeito e a interação deste com sistemas
de antinocicepção.
Para a complementação desse estudo, o efeito antinociceptivo de HC
foi avaliado no potencial de ação composto (PAC) em nervo isquiático de rato, na
perspectiva de um provável envolvimento com canais iônicos de forma a melhor
caracterizar seu mecanismo de ação.
Portanto, o presente trabalho contribuirá para a pesquisa científica no
que se refere à investigação farmacológica em modelos animais de uma nova
molécula bioativa originada de um composto natural, que já possui resultados
promissores em testes comportamentais, e de forma a proporcionar um estudo mais
detalhado de seu efeito antinociceptivo, com perspectivas para a elaboração de um
novo agente farmacológico, desprovido de efeitos adversos graves e que possa se
tornar um futuro fármaco com atividade antinociceptiva, utilizado no tratamento da
dor.
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 26
II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Considerações gerais sobre dor
A dor é um sintoma tão antigo quanto a própria humanidade. Nas
civilizações antigas, como a assíria-babilônica, egípcia e hebraica, o conceito de dor
adquiriu uma conotação religiosa. Eles acreditavam ser a dor uma intoxicação
produzida pelos espíritos malignos, ou um castigo divino resultado de pecados
cometidos (BRAUN FILHO, 1999).
Todos os indivíduos, exceto os portadores de insensibilidade
congênita, sabem o que é dor. Entretanto, é difícil para alguém descrever a própria
dor e impossível conhecer exatamente a experiência dolorosa do outro, isso porque
esta é uma experiência individual, com aspectos peculiares, associada às
características únicas de cada organismo (GUIMARÃES, 1999).
Dados da literatura norte-americana mostram que existiam em 2000,
cerca de 86 milhões de norte-americanos com dores crônicas, dos quais 65 milhões
apresentavam-se incapacitados total ou parcialmente. No Brasil, não se tem dados
epidemiológicos que permitam tais análises. Estimativas levantadas em um trabalho
realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mostram dados
aproximados de que 13,6 milhões de brasileiros seriam portadores de quadros
dolorosos persistentes e intensos, dos quais 50 a 60% seriam dores crônicas
(MARQUEZ, 2004).
Pressupõe-se a existência de dois componentes envolvidos no
processo doloroso: um é a sensação de dor ou “nocicepção”, induzida por estímulos
nocivos, que podem ser exógenos, tais como biológicos, químicos, físicos ou ainda
endógenos, caracterizados principalmente por processos inflamatórios, sendo
conseqüência da transmissão dos citados estímulos pelas vias nervosas até o córtex
cerebral. O outro componente seria a reação emocional à dor, que corresponderia à
interpretação afetiva a essa sensação. Esta é de caráter individual, sendo
representada principalmente por experiências prévias, tais como a lembrança de
alguma forma de sofrimento. A percepção final da dor será conseqüência da
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 27
integração de ambos os componentes (MORAES; CAMARGO, 1999; BRAUNFILHO; BRAUN, 2004).
2.1.1 Conceito e classificação de dor
Diante da complexidade e das várias influências que envolvem o
processo doloroso a “International Association for the Study of Pain” - IASP,
conceituou a dor como “uma experiência sensorial e emocional, em geral
desagradável, associada com dano tissular real ou potencial, ou descrita em termos
deste dano”. É essencialmente uma manifestação subjetiva, variando a apreciação
de um mesmo estímulo nóxico de indivíduo para indivíduo (VILELA FILHO, 1998).
Por outro lado, a nocicepção é definida como os mecanismos pelos
quais os estímulos periféricos nocivos são transmitidos ao SNC, sem, no entanto,
apresentar o componente subjetivo que é característico da dor (ALMEIDA;
OLIVEIRA, 2006a). Dentre os vários fatores que modificam esse componente afetivo
e subjetivo, podemos citar o estado emocional, posição social, nível cultural,
preferência religiosa, plano econômico-financeiro e fatores ambientais; esses
alteram profundamente o significado que a experiência dolorosa pode causar. A dor
ocorre em um momento específico da existência de uma pessoa, relacionada à sua
história e ao contexto no qual o acontecimento doloroso se desencadeou
(LEMONICA, 1997).
A dor pode ser classificada sob vários aspectos, um deles leva em
consideração sua distribuição temporal em aguda e crônica (VILELA-FILHO, 1998).
A dor aguda é aquela que se segue a um estímulo nóxico; deve-se à ativação das
vias da dor e se faz acompanhar de manifestações neurovegetativas, tais como
taquicardia e sudorese, desaparecendo com a resolução do processo patológico que
lhe originou. É uma importante modalidade de natureza sensorial, desempenhando
um papel de alerta para o próprio organismo.
De maneira geral, a dor crônica é aquela que persiste por um período
de tempo superior àquele necessário a função de alertar o indivíduo e gera
acentuado estresse e incapacidade para o trabalho. Sob o aspecto conceitual, pode
estar associada a patologias crônicas ou decorrentes de lesão do SNC ou periférico.
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 28
De fato, a dor provocada por estímulo lesivo tem a função de alertar o
indivíduo e, assim, lhe permite a possibilidade de fugir do estímulo prejudicial ou
diminuir o dano que causa a sensação dolorosa. Em alguns casos, a dor persiste por
tempo excessivamente longo e passa a representar sofrimento, sendo muitas vezes
prejudicial ao organismo. Portanto, o primeiro caso corresponde a “dor aguda”, e o
segundo, a “dor crônica”. Para alguns autores a dor crônica significa um processo
patológico (dor patológica) e não tem o caráter protetor da dor aguda (dor fisiológica)
(GRAEFF; GUIMARÃES, 2000).
Outras classificações e modalidades de dor, além das já citadas,
incluem a dor nociceptiva, a somática, a neuropática, a referida e a visceral.
A nociceptiva é a forma de dor que surge em todos os indivíduos
normais, como conseqüência da aplicação de estímulos que produzem dano ou
lesão nos órgãos somáticos ou viscerais. Origina-se da ativação dos nociceptores. A
dor somática tem origem na pele, músculos, articulações, ligamentos e ossos. Tratase de uma dor bem localizada, circunscrita à área lesada e caracteriza-se por
sensações claras e precisas (BRAUN-FILHO; BRAUN, 2004).
Doenças neurológicas que afetam as vias sensoriais podem produzir
dor crônica severa, sendo essa então designada por dor neuropática. Esse tipo de
dor, não está diretamente relacionada a qualquer lesão tecidual periférica. É
decorrente de distúrbios do SNC, tal como na esclerose múltipla (RANG et al.,
2007).
A dor visceral é a forma de dor que surge com mais frequência como
consequência de enfermidades. É o sintoma comum na maioria das síndromes
dolorosas agudas e crônicas de interesse clínico. É vaga, mal localizada e se
estende além do órgão lesado. Pode ser referida em regiões distantes da víscera
que a originou (BRAUN-FILHO; BRAUN, 2004).
Frequentemente uma pessoa sente dor em uma parte do corpo
consideravelmente distante dos tecidos que a causaram. Esse tipo de dor visceral é
chamada de referida, sendo iniciada em um dos órgãos viscerais e referida a uma
área na superfície corporal (GUYTON; HALL, 2002).
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 29
2.1.2 Percepção da dor
O reconhecimento da dor como reação sensitiva envolve três
mecanismos básicos: transdução, transmissão e modulação.
Denomina-se transdução ao fenômeno de ativação dos receptores da
dor, conhecidos como nociceptores (Figura 5), isto é, a transformação de um
estímulo mecânico, térmico ou químico nóxico em potencial de ação (impulso
nervoso) pelo nociceptor (VILELA-FILHO, 1998).
Encéfalo
Medula
Nociceptores
Figura 5 – Nociceptores e sua conexão com a medula e encéfalo.
No processo de transdução, no caso da sensação dolorosa, ocorre
uma amplificação dos eventos pela liberação local de uma grande variedade de
substâncias químicas, denominadas genericamente de substâncias algogênicas,
que surgem em grande quantidade nos tecidos em decorrência de processos
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 30
inflamatórios, traumáticos ou isquêmicos. Essas substâncias incluem serotonina,
bradicinina, noradrenalina, histamina, citocinas, prostaglandinas, leucotrienos e
substância P (MARQUEZ, 2004).
Os nociceptores são terminações nervosas livres das fibras mielínicas
Aδ e das fibras amielínicas C localizados na pele, músculos, articulações, tecido
conjuntivo e vísceras. Alguns tecidos possuem nociceptores que podem ser
térmicos, ativados por temperaturas extremas, nociceptores mecânicos que são
ativados por intensa pressão e os polimodais, ativados por estímulos químicos,
térmicos ou mecânicos de elevada intensidade (PINTO, 2000).
O processo de transmissão de mensagem da periferia até a medula
espinhal é feito por fibras nervosas, sendo as fibras Aδ e C já referidas, envolvidas
primariamente na nocicepção e, também, pelas fibras mielinizadas, de condução
rápida Aβ participando de forma conjunta no processo doloroso. Os sinais de dor
rápida são transmitidos nos nervos periféricos em direção a medula espinhal pelas
fibras tipo A (rápidas) e a dor lenta, por fibras tipo C amielínicas (MARQUEZ, 2004).
A informação nociceptiva é transmitida da medula espinhal para o tálamo e para o
córtex por cinco vias ascendentes: os tratos espinhotalâmico, espinoreticular,
espinomesencefálico, cervicotalâmico, espinohipotalâmico (BASBAUM; JESSELL,
2000; PINTO, 2000).
O sistema de modulação mais conhecido é o da Teoria da Comporta,
segundo a qual as fibras mielínicas grossas Aβ (responsáveis pela condução do tato,
propiocepção e pressão) excitariam os interneurônios inibitórios da substância
gelatinosa de Rolando (lâmina II), os quais promoveriam a inibição pré-sináptica dos
aferentes nociceptivos, que por sua vez, inibiriam os interneurônios inibitórios e, ao
mesmo tempo, excitariam os neurônios das vias de projeção da dor. Esta teoria
explicaria o fato de que a estimulação tátil de uma área dolorosa diminui a sensação
de dor (VILELA-FILHO, 1998).
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 31
2.2 Fármacos depressores do SNC
Os fármacos depressores do SNC, também conhecidos como
psicolépticos, têm como característica predominante a redução da atividade
funcional das estruturas encefálicas, como por exemplo, o cérebro. Dentre esses,
encontram-se
os
neurolépticos,
benzodiazepínicos,
barbitúricos
e
opióides
(ALMEIDA; BARBOSA-FILHO, 2006).
Os neurolépticos ou antipsicóticos são substâncias utilizadas para
atenuar ou abolir os sinais e sintomas da esquizofrenia e de outras psicoses. São
classificados em neurolépticos clássicos ou típicos e os de nova geração ou atípicos
(GALDURÓZ; BARBOSA, 2006). Os neurolépticos típicos são aqueles que atuam
bloqueando principalmente os receptores dopaminérgicos chamados D2, além dos
receptores muscarínicos do sistema colinérgico, atuando por antagonismo
farmacológico na via mesolímbica, via essa postulada como causadora de sinais e
sintomas das psicoses. Estão incluídos nessa classe de fármacos o haloperidol e a
clorpromazina. Já os neurolépticos atípicos ou de segunda geração são definidos
farmacologicamente
como
antagonistas
serotonina-dopamina,
sendo
menos
específicos que os neurolépticos típicos por bloquearem mais de um sistema,
apresentam menos efeitos extrapiramidais (agem menos na via nigroestriatal) e
possuem eficácia sobre os sintomas negativos da esquizofrenia (STHAL, 2000).
Os benzodiazepínicos representam os fármacos psicoativos mais
consumidos no mundo devido às suas propriedades anticonvulsivante, ansiolítica,
hipnótica e pré-anestésica. Entretanto, efeitos indesejáveis como relaxamento
muscular, sedação, dependência física e tolerância, são associados ao uso dessa
classe de fármacos (RUBIN et al., 2000).
Esses fármacos exercem suas ações farmacológicas pela interação
com receptores específicos no SNC, localizados em uma subunidade dos receptores
do GABAA, agindo como neuromoduladores alostéricos positivos. Esta interação
ocorre por acoplamento estrutural, formando um complexo macromolecular que
potencializa os efeitos do neurotransmissor inibitório GABA, aumentando a
transmissão gabaérgica pré e pós-sináptica (PAGE et al., 1999; OGA; CAMARGO;
BATISTUZZO, 2008).
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 32
Na subunidade de ligação dos benzodiazepínicos dos receptores
GABAA existem múltiplas formas de receptores benzodiazepínicos, com distintos
perfis farmacológicos. Os receptores ômega 1 são preferencialmente abundantes no
cerebelo
e
contém
sítios
de
reconhecimento
com
alta
afinidade
para
benzodiazepínicos e outras substâncias de diferentes estruturas químicas. São
responsáveis pelas ações ansiolíticas e hipno-sedativas. Os receptores ômega 2
estão localizados predominantemente na medula espinhal e estriato, e estão
envolvidos na mediação da atividade miorelaxante. Já os receptores ômega 3,
também conhecidos como tipo periférico, são abundantes nos rins e seu papel na
atividade ansiolítica permanece desconhecido (STHAL, 2000).
Outra classe de fármacos depressores do SNC que causam
especificamente sedação e hipnose são os barbitúricos. Esses também se ligam a
receptores associados ao ionóforo de GABA-cloreto; todavia, esses fármacos
parecem prolongar os efeitos do GABA, em lugar de intensificá-los (DAILEY, 2005).
Em doses baixas, os barbitúricos aumentam a duração de abertura do canal de
cloreto GABAA produzida pelo GABA. Em doses altas, produzem anestesia geral,
coma ou morte. Os barbitúricos abrem o canal independentemente do GABA. Por
outro lado, a ativação do receptor para benzodiazepínicos modula o receptor
GABAA, aumentando ou diminuindo a freqüência de abertura dos canais de cloreto
em resposta ao GABA (GRAEFF; GUIMARÃES, 2000).
O uso dos barbitúricos tornou-se obsoleto com o advento dos
benzodiazepínicos. Apenas aqueles mais específicos como o fenobarbital, usado por
sua atividade anticonvulsivante, e o tiopental, muito empregado como agente
anestésico intravenoso permanecem em ampla utilização (RANG et al., 2007).
Os analgésicos de ação central ou simplesmente opióides têm como
característica principal aumentar o limiar neuronal ao estímulo nocivo ou até mesmo
erradicar a sensação dolorosa (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a). O termo “opióide” é
habitualmente empregado para substâncias de natureza sintética ou peptídica com
ação semelhante à morfina, enquanto que “opiáceo” representa uma terminologia
mais antiga sendo aplicado a substâncias naturais isoladas do ópio como a morfina
e codeína. Entretanto, alguns autores relacionam o termo opióide de forma ampla a
todos os compostos que estão relacionados com o ópio, o suco extraído da papoula
(Papaver somniferum L.) (GUTSTEIN; AKIL, 2003).
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 33
Os efeitos destes fármacos incluem principalmente analgesia, sendo
este o mais relevante fator para a utilização desta classe de substâncias. São
também observados os efeitos de sedação, depressão respiratória, miose,
supressão do reflexo de tosse e efeitos no trato gastrointestinal, a exemplo de
constipação. É importante destacar que além dos efeitos citados, todos os agonistas
opióides produzem graus variados de tolerância e dependência física (WELCH;
MARTIN, 2005).
2.2.1 Tratamento farmacológico da dor: os fármacos analgésicos
Os analgésicos representam uma das classes de fármacos mais
vendidas no mundo. Em 2000, os analgésicos estiveram na quarta posição em
vendas chegando em 2001, ao segundo lugar, perdendo apenas para as drogas
antiinfecciosas, passando, em termos de vendas, de 6,8 bilhões de dólares em
1998, para 14,3 bilhões de dólares em 2001. Se forem somados aos analgésicos, os
considerados analgésicos adjuvantes, seguramente seriam atingidos números muito
acima do primeiro lugar em consumo e venda de fármacos no mundo (MARQUEZ,
2004).
Analgesia é o termo empregado para o alívio ou o cessar da sensação
dolorosa sem, no entanto, ocorrer a perda da consciência. As substâncias capazes
de causar analgesia são designadas por analgésicos, os quais podem ser divididos,
de maneira geral, em analgésicos periféricos, fármacos adjuvantes e os de ação
central (BRAINER-LIMA, 1997; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
Os analgésicos periféricos são representados pelos antiinflamatórios
não-esteroidais, também conhecidos por analgésicos não-opióides. Esses fármacos
são úteis no tratamento da dor, febre e inflamação, e para redução da agregação
plaquetária. Embora sejam menos eficazes do que os opióides no alívio da dor, eles
não causam tolerância nem dependência física. O mecanismo de ação dos
antiinflamatórios não-esteroidais tradicionais envolve o bloqueio da produção de
prostaglandinas pela inibição da enzima ciclooxigenase (COX) no local de lesão,
diminuindo assim a formação de mediadores da dor no sistema nervoso periférico
(WELCH; MARTIN, 2005).
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 34
Entre os efeitos colaterais a serem lembrados estão a influência sobre
a hemostase (inibição reversível sobre a COX), o risco de lesão da mucosa gástrica
(risco moderado se o tratamento for inferior a 5 dias), alteração da função renal
(aumento da resistência vascular renal, hipercalemia, retenção hidrossalina, risco
elevado em pacientes hipovolêmicos) e o risco de indução de broncoespasmo, em
pacientes asmáticos (SLULLITEL; SOUSA, 1998).
O ácido acetilsalicílico (AAS) é um dos antiinflamatórios não-esteroidais
mais importantes, visto que diminui a dor em locais predominantemente periféricos,
com pouca interação cortical, apresentando conseqüentemente poucos efeitos sobre
o SNC. Fazem ainda parte dessa classe de fármacos a indometacina, o piroxicam e
o diclofenaco (WELCH; MARTIN, 2005).
Existem fármacos que agem como adjuvantes no tratamento da dor e
podem ser definidos como aqueles que não têm indicação analgésica primária,
atuando como analgésicos em circunstâncias bem definidas. Os principais grupos
desta
classe
incluem
antidepressivos,
anticonvulsivantes,
ansiolíticos
e
antipsicóticos (REITAN, 1996; BRAINER-LIMA, 1997).
Os antidepressivos tricíclicos são analgésicos adjuvantes efetivos em
algumas condições dolorosas. O efeito deles é distinto daquele empregado nos
distúrbios do humor, sendo indicados principalmente no tratamento da dor
neuropática. O mecanismo de ação dos antidepressivos como analgésicos ainda
não está bem esclarecido. A explicação padrão é que eles agiriam em áreas
cerebrais moduladas pela serotonina e noradrenalina, que transmitem o estímulo
doloroso pela medula espinhal. Essa explicação é insatisfatória, mas o fato é que os
antidepressivos têm papel importante no alívio da dor crônica (McQUAY, 1997;
MORAES; CAMARGO, 1999).
Outra
classe
de
fármacos
analgésicos
adjuvantes
são
os
anticonvulsivantes efetivos no tratamento de dores crônicas, a exemplo da
carbamazepina, gabapentina, clonazepam e valproato de sódio, sendo esses dois
últimos úteis na profilaxia da enxaqueca (McQUAY, 1995; ROTHROCK, 1997;
MORAES; CAMARGO, 1999).
Os ansiolíticos são adjuvantes no tratamento da dor por atuarem
reduzindo a ansiedade, a insônia e também promovendo relaxamento muscular. Já
os antipsicóticos atuam com funções analgésicas através de mecanismos de
modulação
da
dor
que
levam
à
diminuição
da
excitabilidade
neuronal,
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 35
proporcionando sedação e analgesia (SAKATA; GOZZANI, 1994; TEIXEIRA et al.,
1999, LIRA, 2001).
Os opióides podem modificar tanto os aspectos sensitivos da dor
quanto o emocional. Agem via ligação a receptores específicos no SNC e periférico,
inibindo a nocicepção. O mecanismo de ação destas substâncias, no processo
nociceptivo, ocorre pela interação com receptores opióides, levando ao fechamento
de canais para Ca2+ voltagem-dependentes nas terminações nervosas présinápticas, o que reduz a liberação de neurotransmissores. Além disso, a ativação
destes receptores leva à abertura de canais para K+, produzindo hiperpolarização da
membrana celular de neurônios pós-sinápticos, reduzindo a liberação de
neurotransmissores, a exemplo da substância P (DICKENSON, 1997; GRAEFF;
GUIMARÃES, 2000).
Foram identificadas três principais classes de receptores opióides em
vários locais do SNC e em outros tecidos. Estas classes incluem receptores μ, κ e δ.
Em nível molecular, todos são membros da família de receptores acoplados à
proteína G, e, portanto, capazes de afetar a regulação iônica, o processamento do
Ca2+ intracelular e a fosforilação de proteínas. Foi sugerida a existência de diversos
subtipos de receptores opióides; atualmente, os mais caracterizados por critérios
farmacológicos incluem μ1, μ2, δ1, δ2, κ1, κ2 e κ3 (WAY; FIELDS; SCHUMACHER,
2003). No quadro 1 estão listados alguns agonistas e antagonistas e suas
respectivas atividades nos subtipos de receptores opióides.
Quadro 1 – Seletividade de agonistas e antagonistas para os subtipos de receptores opióides
μ
κ
δ
Morfina, codeína
+++
+
+
Meperidina
++
+
+
Etorfina
+++
+++
+++
Sulfentanil, fentanil
+++
-
+
Naloxona
+++
++
+
Naltrexona
+++
+++
+
Agonistas opióides
Antagonistas opióides
+ apresenta atividade; ++ atividade moderada; +++ alta atividade; - sem ou atividade fraca. Fonte:
RANG et al., 2007. p. [599]
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 36
Outros tipos de receptores como os serotoninérgicos, GABAérgicos,
glutamatérgicos e adrenérgicos estão envolvidos no processo de analgesia, sendo
que esses receptores respondem ao tratamento com opióides (PINTO, 2000).
O uso de fármacos opióides no tratamento da dor é limitado pela
intensa quantidade de efeitos colaterais graves que essas substâncias causam nos
pacientes. Dentre esses efeitos indesejáveis, merecem mais atenção a tolerância,
dependências física e psíquica, além de náuseas e vômitos.
A tolerância é o estado no qual doses progressivamente maiores do
fármaco são requeridas para manter o mesmo efeito analgésico. Desenvolver-se-á
sempre, seja em maior ou menor velocidade, dependendo do opióide que esteja
sendo utilizado. A dependência física está associada com a síndrome de abstinência
quando se suspende o fármaco ou quando se usa um antagonista puro como a
naloxona, levando o paciente a desenvolver sintomas e sinais em função dessa
retirada de tratamento (DELGADO, 2000).
A dependência psíquica é caracterizada por um desejo compulsivo pelo
uso do opióide apresentado pelo indivíduo. Náuseas e vômitos ocorrem em até 40%
dos pacientes quando tomam pela primeira vez morfina e esses efeitos não parecem
ser separáveis do efeito analgésico opióide (RANG et al., 2007).
2.3 Aspectos gerais sobre canais para Na+, K+ e antinocicepção
Os canais iônicos pertencem a uma família de proteínas que formam
poros macromoleculares através de membranas lipoprotéicas e que se encarregam
de controlar o fluxo de partículas carregadas eletricamente (íons) entre o meio
interno e externo das células (HERNANDEZ; FÉLIX, 2001).
Esses canais estão largamente envolvidos em vários mecanismos
fisiológicos e patológicos. A compreensão do funcionamento, da estrutura e
regulação desses canais leva ao entendimento de muitos processos fisiopatológicos.
Dentre esses processos, pode-se citar a sensação dolorosa.
Na maioria das células excitáveis, a corrente de entrada que dá início
ao potencial de ação resulta da ativação dos canais para sódio regulados por
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 37
voltagem (Nav). Até o momento foram identificadas pelo menos nove isoformas de
Nav (WOOD et al., 2004).
Os Nav são geralmente classificados em dois grandes grupos: os
sensíveis à tetrodotoxina (TTX-S), que estão presentes nas fibras Aδ, em todo
sistema nervoso e nos gânglios da raiz dorsal, e os resistentes à tetrodotoxina (TTXR), que são encontrados especialmente nas fibras C do gânglio da raiz dorsal (LAI et
al., 2002).
Alterações na atividade ou expressão dos subtipos dos Nav,
principalmente a excitabilidade, estão associados com a dor. Em particular, estados
de dor crônica que envolvem também alterações na composição dos subtipos dos
neurônios sensoriais (EKBERG, ADAM; 2006).
Dados clínicos e experimentais indicam que a mudança na expressão
dos Nav tem um papel fundamental na patogênese da dor neuropática e isso mostra
que drogas que bloqueiam esses canais são alvos potencialmente terapêuticos
(AMIR et al., 2006). Os bloqueadores dos Nav de interesse incluem os anestésicos
locais, usados em doses baixas sem que prejudiquem a propagação do impulso
nervoso ou a função cardiovascular, e os antidepressivos tricíclicos, cujo efeito
analgésico pode estar envolvido pelo menos em parte com o bloqueio dos Nav, bem
como os analgésicos centrais (MAO, CHEN, 2000; BURGESS et al., 2002).
Enquanto o papel preciso dos Nav em estados de dor está para ser
elucidado, é incontestável a importância desses canais na sensação dolorosa e
como alvo para futuros fármacos dotados de atividade analgésica.
Uma das funções mais marcantes dos canais para K+ está na
manutenção do potencial de repouso da membrana de todas as células. No entanto,
à medida que os estudos acerca desses canais se intensificam, novas funções são
atribuídas a eles (HILLE, 2001).
Vários estudos descritos na literatura demonstram o envolvimento de
todos os tipos de canais de K+ no processo de antinocicepção. A abertura de canais
para K+ e o consequente aumento da condutância a esse íon para o exterior da
célula leva a hiperpolarização celular, assim não ocorrendo a propagação do
estímulo nociceptivo (RANG et al., 2007).
Estudos eletrofisiológicos demonstraram que agonistas de receptores
μ- e δ- opióides abrem canais para K+ retificadores de entrada em neurônios pela
ativação de proteínas Gi/o. O primeiro estudo que sugeriu o envolvimento da abertura
OLIVEIRA, F. S.
Fundamentação teórica 38
de canais para K+ na antinocicepção induzida por agonistas μ-opióide mostrou que a
glibenclamida, um bloqueador de canais para K+, inibiu o efeito da morfina no teste
da placa quente e retirada da cauda em roedores (OCAÑA; DEL POZO; BAEYENS,
1990; OCAÑA et al., 1993; 1995; 2004; ROANE; BOYD, 1993). Portanto, fármacos
capazes de ativar canais para K+ são importantes em mediar a antinocicepção
induzida por opióides.
Drogas que agem em determinados canais para K+ induz a
antinocicepção por ativarem esses canais, dessa forma, representando importantes
alvos para o desenvolvimento de novos agentes no tratamento da dor.
Drogas que bloqueiam esses canais podem ter eficácia terapêutica em
doses abaixo da que possa prejudicar a propagação do impulso nervoso ou a função
cardiovascular. Portanto, o entendimento da relação dos canais iônicos com o
processo nociceptivo pode levar a elaboração de fármacos analgésicos mais
específicos e seguros, com poucos efeitos colaterais e melhor eficácia clínica.
Contudo, em virtude dos vários efeitos indesejáveis graves advindos do
tratamento com os analgésicos, os farmacologistas pesquisam incessantemente
novas substâncias que apresentem atividade antinociceptiva e que possam ser
utilizadas na terapêutica, sejam desprovidas de efeitos adversos graves como os
apresentados pelos fármacos opióides e com melhor resposta farmacológica. Nesse
contexto se insere a avaliação da atividade antinociceptiva e toxicológica de (-)hidroxidiidrocarvona em camundongos.
OLIVEIRA, F. S.
Objetivos 40
III – OBJETIVOS
3.1 Geral
Ö Detalhar o estudo sobre a atividade antinociceptiva e investigar uma
possível atividade toxicológica de (-)-hidroxidiidrocavona.
3.2 Específicos
Ö Determinar a DL50 e investigar o efeito antinociceptivo central de HC
por via oral;
Ö Realizar um tratamento subcrônico com HC avaliando seu efeito
antinociceptivo central em teste específico;
Ö Observar o surgimento de possíveis efeitos tóxicos, assim como,
analisar as alterações bioquímicas e hematológicas de camundongos
em decorrência desse tratamento subcrônico;
Ö Avaliar alterações ponderais de alguns órgãos vitais de camundongos
tratados com HC;
Ö Elucidar os prováveis mecanismos de ação envolvidos na atividade
antinociceptiva de HC.
OLIVEIRA, F. S.
Material 42
IV – MATERIAL
4.1 Animais
No
desenvolvimento
do
presente
estudo,
foram
utilizados
camundongos (Mus musculus) machos albinos da linhagem Suíça, com 2 a 3 meses
de idade, pesando entre 25 a 35 g (Figura 6A) e ratos (Rattus norvegicus) machos
albinos da linhagem Wistar, com 3 a 4 meses de idade, pesando aproximadamente
350 g (Figura 6B), provenientes do Biotério Prof. Dr. Thomas George do Laboratório
de Tecnologia Farmacêutica Prof. Delby Fernandes de Medeiros da Universidade
Federal da Paraíba.
No biotério, os animais foram alojados em gaiolas de polietileno,
contendo 20 camundongos ou 7 ratos cada, mantidos sob condições monitoradas de
temperatura equivalente a 21 ± 1º C, com livre acesso a uma dieta controlada a base
de ração tipo pellets (Purina) e água disponível em garrafas de polietileno com bicos
de inox, encaixadas na parte superior da grade metálica da gaiola. Os animais foram
mantidos em ciclo claro/escuro de 12 horas, sendo a fase clara de 6:00 às 18:00
horas.
Figura 6A – Camundongo Suíço macho
e albino.
Figura 6B – Rato Wistar macho e albino.
OLIVEIRA, F. S.
Material 43
4.1.1 Condições experimentais
Os testes foram realizados no Biotério Prof. Dr. Thomas George, onde
os camundongos foram previamente alojados em gaiolas de polietileno, contendo 5
animais cada (Figura 7), com pelo menos 60 minutos de antecedência à execução
dos testes, visando minimizar as possíveis alterações comportamentais do animal
decorrentes da mudança de ambiente, bem como permitir uma adaptação à sala de
experimentação. Os camundongos foram mantidos a temperatura de 21 ± 1º C e
privados de água e ração 60 min antes dos testes.
Antes de cada procedimento, a bancada foi limpa com etanol 70%,
entretanto, durante os testes foi utilizado etanol de baixa graduação (30%). Os
experimentos foram executados no período compreendido entre as 12:00 e 17:00
horas, sendo os animais utilizados uma única vez e, em seguida, eutanasiados por
deslocamento cervical.
Todos
os
procedimentos
experimentais
foram
analisados
e
previamente aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) do LTF /
UFPB, sob a certidão nº 1206/ 06.
Figura 7 – Camundongos em grupo de 5
animais no interior da gaiola.
OLIVEIRA, F. S.
Material 44
4.2 Substâncias utilizadas
9 (-)-Hidroxidiidrocarvona (LTF / UFPB – Brasil);
9 Ácido acético glacial (Reagen – Brasil);
9 Ácido-N-[2-hidroxietil]-piperazina-N’-[2-etanosulfônico] (HEPES) (Sigma – Brasil);
9 Cloreto de cálcio (Vetec – Brasil);
9 Cloreto de magnésio (Vetec – Brasil);
9 Cloreto de potássio (Vetec – Brasil);
9 Cloreto de sódio (Merck – EUA);
9 Cloridrato de morfina (Merck – EUA);
9 Etanol (LTF / UFPB – Brasil);
9 Formaldeído 37% (Vetec – Brasil);
9 Haloperidol (Sigma – EUA);
9 Pirezenpina (Sigma – Brasil);
9 Sulfato de atropina (Sigma – Brasil);
9 Sulpirida (Sigma – Brasil);
9 Tween 80 (polioxetileno sorbitano monoleato) (Sigma – Brasil);
A preparação das doses foi realizada minutos antes de sua utilização,
dissolvidas em água destilada ou solução salina 0,9%, utilizando-se concentrações
decimais de forma a possibilitar a injeção de 0,1 mL/10 g de peso de camundongo.
4.3 Preparação da (-)-hidroxidiidrocarvona
A HC foi obtida como intermediário semi-sintético a partir da hidratação
do monoterpeno R-(-)-carvona, de acordo como o método descrito por Büchi e
Wüest (1979). Esta hidratação foi realizada através da reação de R-(-)-carvona com
ácido sulfúrico a 50%. Em seguida, deixou-se agitando o meio reacional em um
agitador magnético por 40 horas a temperatura ambiente (t.a.), obtendo-se a HC
OLIVEIRA, F. S.
Material 45
com 50% de rendimento (Figura 8). Essa preparação foi realizada no LTF / UFPB,
sendo cedida pelo Prof. Dr. Damião Pergentino de Sousa.
H2SO4 50%
40 hs, t.a. 50%
R-(-)-carvona
(-)-hidroxidiidrocarvona
Figura 8 – Reação de hidratação de R-(-)-carvona.
Imediatamente antes da realização dos testes, HC foi dissolvida em
solução salina 0,9%, com auxílio de uma gota de tween 80, seguindo a mesma
proporção das demais drogas utilizadas. Esta preparação de HC apresentou pH de
aproximadamente 6,1 (25º C).
4.4 Aparelhagem
9 Analisador bioquímico automático (Cobas Mira Plus® - Roche Diagnostic System
- Brasil);
9 Analisador hematológico ABC Vet (Animal Blood Counter Horiba ABX
Diagnosties - Brasil);
9 Banho-maria (FISATOM modelo 550 - Brasil);
9 Espectrofotômetro UV-Vis (Modelo Cary 50 – Varian Inc - Austrália);
9 Glicosímetro (Optium® – Abbott Laboratories - Reino Unido);
9 Microscópio estereoscópico (Zeiss – Alemanha);
9 Microscópio Olympus® (CBA-213 – Brasil);
9 Termômetro colônico digital (BD AccubeepTM – China).
OLIVEIRA, F. S.
Material 46
4.4.1 Aparelho de movimentação espontânea
O aparelho para registro da movimentação espontânea (modelo 7430 – Ugo
Basile) é composto de quatro caixas e uma unidade eletrônica contendo uma tela
gráfica onde são efetuadas as operações e os resultados observados.
A caixa de atividade é feita de persplex e acrílico de cor cinza, com as
dimensões de 35 cm de comprimento, 23 cm de largura e 20 cm de altura, podendo
ser utilizada para até quatro camundongos. O seu piso é constituído de 30 barras de
aço inoxidável, com 3 mm de diâmetro e espaços entre si de 11 mm. As barras
pares são eletrificadas, entretanto, a corrente conduzida através do corpo do animal
corresponde a poucos μA estando abaixo do limiar sensitivo, sem provocar danos ao
animal.
Figura 9 – Aparelho de movimentação espontânea.
Com a movimentação, o animal produz alterações nos pulsos que são
enviados, através das barras ativas ligadas à eletricidade, para o detector de
resistência e, em seguida, são convertidos em valores numéricos visíveis na tela que
podem ser impressos. A movimentação animal é registrada automaticamente, em
intervalos estabelecidos pelo experimentador (Figura 9).
OLIVEIRA, F. S.
Material 47
4.4.2 Aparelho de “rota rod”
O aparelho de “rota rod” (modelo 7750 – Ugo Basile) foi inicialmente
descrito por DUNHAM & MIYA (1957) e constituí-se de uma barra giratória com 2,5
cm de diâmetro, dividida por cinco discos em quatro segmentos de 20 cm, e
localizada a 40 cm de altura em relação a pequenas pranchas que desativavam
automaticamente um contador digital de tempo com a queda dos animais da barra.
O modelo utilizado possui dispositivos para ajuste de velocidade da barra giratória
em rotações por minuto (rpm) e para contabilizar, de forma automática, o tempo de
permanência dos animais na mesma (Figura 10).
Figura 10 – Aparelho de “rota rod”.
4.4.3 Aparato para imersão da cauda
O aparato foi montado no LTF / UFPB e consiste de um banho-maria
com termostato que funciona como fonte de calor elétrica e sobre esse é acoplado
um recipiente de alumínio de forma esférica sob o qual contém água. Um
termômetro é fixado por um suporte de ferro e submerso na água para registro da
temperatura (Figura 11).
OLIVEIRA, F. S.
Material 48
Figura 11 – Aparato para o teste de
imersão da cauda.
4.4.4. Aparelho de placa quente
A placa quente (modelo 7406 – LE) permite avaliar a atividade de
drogas antinociceptivas por meio de um aparelho cuja temperatura de sua placa,
localizada na superfície superior, pode ser controlada entre 45 e 62 ºC, em
incrementos de 0,1 ºC. Neste aparelho, um cronômetro acoplado era ativado por um
pedal externo, que permitia a medida precisa do tempo de reação do animal ao
estímulo térmico. Acoplado à placa, havia um cilindro de acrílico transparente, que
isolava o animal para observação sobre o aparelho (Figura 12).
Figura 12 – Aparelho de placa quente.
OLIVEIRA, F. S.
Material 49
4.4.5 Caixa de observação para o teste da formalina
Este aparato é formado de um encaixe de metal que forma uma caixa
triangular em ângulo de 45°, com os lados e altura medindo 25 cm cada, sendo duas
paredes formadas por espelho e uma de vidro transparente, que dá ao observador
um maior campo de visão (Figura 13A e 13B).
Figura 13A – Visão superior da caixa de
observação para o teste da formalina.
Figura 13B – Visão frontal da caixa de
observação para o teste da formalina.
4.4.6 Aparato eletrofisiológico para registro extracelular dos potenciais de
ação composto (PAC’s)
O aparato utilizado na técnica eletrofisiológica de “single sucrose gap”
era constituído por um estimulador (CF Palmer, modelo 8048, Reino Unido), uma
câmara de registros eletrofisiológicos, uma caixa de aquisição do sinal acoplada a
um amplificador, e uma placa conversora de sinais analógicos/digital A/D (Lynx,
Brasil) conectada a um computador PC-compatível (Figura 14).
O estimulador era composto por cinco botões que permitiam ajustar o
tipo de estímulo (único ou repetitivo), a duração do pulso (0,05-0,5 ms), a frequência
de estimulação (1-100 Hz) e a voltagem aplicada (0,1-25 V). Um outro botão permitia
ao experimentador disparar os estímulos manualmente.
OLIVEIRA, F. S.
Material 50
a
d
c
b
Figura 14 – Aparato para técnica de “single sucrose gap”. a)
estimulador; b) Câmara experimental para captação dos PAC’s; c)
Pré-amplificador de ganho fixo/variável; d) Placa conversora A/D +
PC-compatível.
A câmara experimental para captação dos PAC’s era feita de acrílico e
composta por cinco compartimentos que se comunicavam entre si, unicamente por
meio de uma linha sulcada disposta perpendicularmente aos mesmos, que era
utilizada para acomodar o tronco nervoso do animal. Por meio de eletrodos de
níquel-cromo conectavam-se ao estimulador, os compartimentos I e II, e ao préamplificador (de ganho fixo/variável), os compartimentos III e V. Por sua vez, o préamplificador era conectado à placa conversora A/D, e acoplava-se ao computador,
permitindo o armazenamento dos registros dos PAC’s. O compartimento IV,
perfurado nas extremidades, era utilizado para a perfusão da solução de sacarose
(292 mM), que caracteriza esta técnica (Figura 15).
IV
V
II
III
I
Figura 15 – Câmara experimental para
captação
dos
PAC’s.
Os
cinco
compartimentos estão indicados na figura.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 51
V. MÉTODOS
5.1 ESTUDO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DE HC POR VIA ORAL
Os testes realizados nessa etapa do estudo do efeito de HC estão
esquematizados na figura 16.
Teste
preliminar
Teste da movimentação espontânea
Teste do “rota rod”
Testes
gerais
Avaliação da atividade antinociceptiva central
Teste das contorções
abdominais induzidas
por ácido acético
Testes
específicos
Teste da imersão da
cauda
Figura 16 – Resumo esquemático do estudo da atividade antinociceptiva de HC por via oral, em
camundongos.
5.1.1 Determinação da DL50
A determinação da DL50 possibilita investigar os possíveis efeitos
tóxicos de substâncias e extratos, para estabelecer a dose responsável pela morte
de 50% dos animais em estudo (LITCHFIELD; WILCOXON, 1949), permitindo a
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 52
realização dos testes farmacológicos utilizando doses seguras (GRACIOSO et al.,
1998).
Para a realização desse teste, grupos de dez camundongos foram
tratados com doses crescentes de HC por via v.o.: 500, 1000, 1500 ou 2500 mg/kg,
além de um grupo controle tratado com solução salina 0,9% e tween 80. Após os
tratamentos, os camundongos foram colocados em caixas de polietileno, em grupos
de cinco animais cada e observados por um período de 4 horas. Em seguida, os
animais receberam água e comida, sendo observados a cada 12 horas por um
período de até 7 dias para o registro de possíveis mortes.
5.1.2 Teste da movimentação espontânea
Esse método é utilizado em animais de laboratório para identificar o
efeito comportamental induzido por fármacos (HSIEH et al., 1991; FILE;
FERNANDES, 1994), avaliando o nível de excitabilidade do SNC (MASUR; MARTZ;
CARLINI, 1971). Dessa forma, drogas que reduzem a locomoção sugerem efeito
inibitório do SNC (ADZU et al., 2002), por outro lado, o aumento da atividade motora
é característico de drogas estimulantes, a exemplo das do tipo anfetamina (RANG et
al., 2007).
Quatro grupos de 10 camundongos foram colocados individualmente
no aparelho de movimentação espontânea para registro da movimentação do animal
por 5 minutos, sendo essa considerada a leitura basal. Em seguida os animais
receberam os seguintes tratamentos: controle, HC nas doses de 50, 100 ou 200
mg/kg, todos tratados por via oral.
Posteriormente, a etapa de avaliação ocorreu após 30 minutos dos
respectivos tratamentos, sendo registrada a movimentação de cada camundongo
pelo monitor central do aparelho, prosseguindo as observações também aos 60 e
120 minutos pós-tratamento (Figuras 17A e 17B).
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 53
Figura 17A – Camundongo na caixa de
atividade.
Figura 17B – Visão frontal do monitor
central (à esquerda) e de uma das caixas
de atividade (à direita).
5.1.3 Teste do “rota rod”
O teste do rota rod é uma metodologia utilizada na triagem de drogas
com possível atividade neurotóxica/mio-relaxante e consiste em avaliar a
coordenação motora do animal, através do tempo de permanência deste em uma
barra giratória (CAPASSO et al., 1996).
Para
execução
deste
protocolo,
os
camundongos
foram
pré-
selecionados sem administração de nenhuma droga, sendo considerados aptos ao
teste aqueles animais que permaneceram na barra giratória (velocidade de 7 rpm)
por 180 segundos.
Após a seleção, os animais foram tratados com salina e tween 80
(controle), 50, 100 ou 200 mg/kg de HC. Transcorridos 30 minutos destes
tratamentos, os animais foram colocados nas barras giratórias e o tempo de
permanência foi registrado, limitando-se as observações ao tempo máximo de 3
minutos por animal ou três reconduções à barra. As leituras foram repetidas aos 60
e 120 minutos dos tratamentos.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 54
5.1.4 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético
Este teste baseia no fato de que a administração intraperitoneal do
ácido acético a 0,8% provoca irritação peritoneal, sendo tal efeito nociceptivo
caracterizado por contorções abdominais seguidas de extensões dos membros
posteriores (KOSTER; ANDERSON; DEBBER, 1959).
Para este experimento 3 grupos de 10 camundongos receberam por
via oral o pré-tratamento com 50, 100 ou 200 mg/kg de HC, além de um grupo que
recebeu o veículo e outro tratado com morfina 10 mg/kg (solúvel em água destilada)
que funcionou como padrão positivo.
Transcorridos 30 minutos dos tratamentos iniciais, os animais foram
tratados com solução de ácido acético 0,8% (0,1 mL/10 g) por via i.p. e colocados
em caixas de polietileno individuais, sendo então registrado o número total de
contorções abdominais apresentado por cada animal durante 10 minutos de
observação. Uma redução significativa do número de contorções quando comparado
ao grupo controle negativo foi considerado como uma resposta antinociceptiva
(NARAYANAN et al., 2000; BASTOS et al., 2006).
5.1.5 Teste de imersão da cauda
O método é fundamentado na exposição do animal a um estímulo
térmico (nociceptivo) proporcionado pela imersão de sua cauda em um aparelho
contendo água à temperatura de 50 ± 1 ºC, produzindo uma reação de retirada da
cauda do agente nociceptivo (JANSSEN; NIEMEGEERS; DONY, 1963). Neste teste,
é medido o tempo de reação, ou seja, o tempo que o animal leva para retirada da
cauda que está diretamente em contato com a água. Cinco grupos de 10
camundongos receberam os seguintes tratamentos: controle, 50, 100 ou 200 mg/kg
de HC por v.o., ou morfina 10 mg/kg por via i.p.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 55
Inicialmente foi realizada uma pré-seleção dos animais, onde aqueles
que permaneciam por mais que 4 segundos sem reagir ao estímulo não participaram
do teste (RUJJANAWATE; KANJANAPOTHI; PANTHONG, 2003).
Nas avaliações, cada animal foi posto no interior de uma caixa de
contenção, e no momento mais adequado, quando a cauda do animal estava imóvel,
foi feita a imersão de 2/3 desta na água pré-aquecida. Procedeu-se então o registro
desde o momento da introdução da cauda na água até a reação de retirada, que
consiste em agitar a cauda. A imersão da cauda não excedeu 12 segundos, para
evitar dano tecidual (ADEYEMI; OKPO; OKPAKA, 2004). Foi realizada uma medição
basal (antes do tratamento), e nos tempos de 30, 60, 120 e 180 minutos após os
referidos tratamentos (Figura 18).
Figura 18 – Aspecto geral de um
procedimento do teste de imersão da
cauda.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 56
5.2 ESTUDO SUBCRÔNICO DE HC
Para o estudo subcrônico de HC foi utilizado grupos de 12
camundongos, tratados por via i.p.: um grupo controle tratado com solução salina
0,9% e 0,5% de tween 80, um grupo experimental que recebeu HC na dose de 200
mg/kg, além de um grupo morfina (10 mg/kg) e outro tratado com haloperidol (5
mg/kg). O esquema de tratamento dos animais e os testes utilizados com seus
respectivos dias de realização estão esquematizados na figura 19.
Teste da placa
quente
Teste da
catatonia
Medição da
temperatura retal
Medição
da glicemia
Figura 19 – Procedimento experimental do tratamento subcrônico com HC em camundongos. Os
números significam os dias de tratamento e cada símbolo representa os testes utilizados.
5.2.1 Teste da placa quente
Este teste, descrito por Eddy e Leimback (1953), representa uma
modificação do modelo original de Woolfe e MacDonald (1944). Consiste em
quantificar o tempo de reação do animal ao estímulo térmico, ou seja, do momento
em que o animal é colocado em uma placa quente a 47,0 ± 0,5 ºC até apresentar o
comportamento de levantar (tentativa de pular) ou lamber uma das patas, sendo
essas respostas indicativas de nocicepção. Os animais foram submetidos a uma
seleção (resposta de até 15 s). Foi feita a leitura basal e 30 minutos após os
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 57
tratamentos os animais foram colocados no aparelho de placa quente, sendo
registrado o parâmetro citado.
As avaliações foram procedidas antes (basal) e no 1º, 7º, 14º, 21º e 28º
dia de tratamento. Os animais permaneceram na placa por um tempo máximo de 30
segundos para evitar dano tecidual (ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a).
5.2.2 Teste da catatonia
A avaliação da catatonia baseia-se no fato de que algumas espécies de
roedores quando sob efeito de uma droga psicodepressora, como opiáceos e
antipsicóticos típicos, apresentam rigidez muscular intensa, e dessa forma, no
momento em que são colocados com suas patas dianteiras apoiadas em uma barra
horizontal, permanecem nessa posição por um significativo período de tempo
(CARLINI, 1973).
Para esse teste, procedeu-se a avaliação do tempo de permanência
dos animais apoiados com as patas anteriores sobre um bastão de vidro horizontal
fixado em suportes de madeira a uma altura de 6 cm, por até 3 vezes consecutivas,
somando-se o tempo em segundos das três tentativas em um período máximo de 5
minutos (Figura 20A e 20B). Foi feita uma leitura basal no dia anterior ao início dos
respectivos tratamentos e no 3º, 10º, 17º e 24º dia de tratamento (TUFIK; LINDSEY;
CARLINI, 1979).
Figura 20A – Barra utilizada para o teste
de catatonia.
Figura 20B – Camundongo em posição
catatônica.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 58
5.2.3 Teste da temperatura retal
Para medida da temperatura retal foi utilizado um termômetro digital,
cujo sensor foi lubrificado com vaselina e cuidadosamente inserido no reto dos
animais. As avaliações foram procedidas antes dos tratamentos e aos 30 minutos do
5º, 12º, 19º e 26º dia de administração.
5.2.4 Avaliação do consumo de água e alimento e evolução ponderal
Neste experimento, foi avaliado o consumo de água, ração e peso
corporal. Com relação à água, foram colocadas mamadeiras cheias de água em
cada gaiola, sendo no dia seguinte registrado o volume de água ingerida pelos
animais com o auxílio de uma proveta.
Quanto ao consumo de alimentos, a ração na forma de “pellets”, foi
previamente pesada e colocada, diariamente, na parte superior da gaiola, sendo no
dia posterior registrado o peso de ração consumido pelos camundongos. Todos os
dias os animais foram pesados para cálculo da dose administrada e análise da
evolução ponderal.
5.2.5 Avaliação da glicose sanguínea
Durante as quatro semanas de tratamento, o nível glicêmico dos
animais foi avaliado antes das administrações e aos 30 minutos dos tratamentos do
9º e 23º dias de tratamento. Os camundongos foram submetidos a um jejum de 6
horas e, em seguida, imobilizados em caixas de contenção de madeira. Uma gota de
sangue foi cuidadosamente coletada da veia caudal e, posteriormente, analisada em
fita reativa para dosagem de glicemia. A leitura foi efetivada em um glicosímetro
específico (Optium® – Abbott Laboratories).
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 59
5.2.6 Avaliação laboratorial sanguínea
Ao final do período de tratamento, os camundongos foram submetidos
a um jejum de seis horas e anestesiados com éter, sendo então eutanasiados para
retirada de amostras de sangue. A coleta das amostras foi realizada através de
sangria do plexo braquial, sendo em seguida procedidas às análises bioquímica e
hematológica.
5.2.6.1 Análise de parâmetros bioquímicos
Para análise bioquímica foi utilizado um analisador bioquímico
automatizado (Cobas Mira Roche®), sendo o soro sanguíneo obtido por
centrifugação (3500 rpm x 5 min) do sangue total em microtubos de 0,8 mL com gel
separador (Minicollect® - Greiner Bio-one) sem anticoagulante. Kits de diagnóstico
padrão da Labtest® foram utilizados para avaliação espectrofotométrica dos
seguintes parâmetros bioquímicos: glicose, uréia, ácido úrico, creatinina, colesterol,
triglicerídeos, proteína total, albumina, globulina, aspartato aminotransferase (AST,
EC 2.6.1.1), alanina aminotransferase (ALT, EC 2.6.1.2), amilase (EC 3.2.1.1),
lactato desidrogenase (EC 1.1.1.27), creatina quinase (EC 2.7.3.2) e fosfatase
alcalina (EC 3.1.3.1.).
5.2.6.2 Análise de parâmetros hematológicos
Para determinação dos parâmetros hematológicos, o sangue foi
coletado em microtubos de 0,5 mL (Minicollect® Greiner Bio-one) com ácido
etilenodiamino tetracético (EDTA) como anticoagulante. Para essa análise foi
utilizado um analisador hematológico automatizado (Vet abc™ Animal Blood
Counter). Os seguintes parâmetros foram analisados: Hemácias, hemoglobina,
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 60
hematócrito, volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média
(HCM), Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), leucócitos,
neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e plaquetas.
5.2.7 Pesagem de órgãos
Após o final dos tratamentos e coleta das amostras de sangue,
procedeu-se a laparotomia sendo então removidos o coração, fígado e rins de cada
animal. Cada órgão foi lavado com solução fisiológica, e em seguida pesados
individualmente em balança analítica.
5.3 INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO DE HC
5.3.1 Avaliação in vivo
5.3.1.1 Bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos
Para determinar a possível participação do sistema muscarínico no
efeito antinociceptivo de HC, grupos de camundongos foram pré-tratados com
atropina (ATR - 5 mg/kg, i.p.), um antagonista não seletivo de receptores
muscarínicos, e pirenzepina (PZN - 75 mg/kg, i.p.), um antagonista seletivo de
receptores muscarínicos M1, 15 minutos antes da administração de HC (100 ou 200
mg/kg, i.p.). Em seguida, os animais foram submetidos ao teste da placa quente e
formalina, como descritos a seguir (PEANA et al., 2004).
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 61
5.3.1.2 Bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com
antagonista dopaminérgico D2
Para avaliar o possível envolvimento de receptores dopaminérgicos
tipo D2 no efeito antinociceptivo induzido por HC, grupos de 10 camundongos foram
previamente tratados com sulpirida (SPD - 20 mg/kg, i.p.), um antagonista seletivo
de receptores dopaminérgicos D2, 15 minutos antes do tratamento com HC (100 ou
200 mg/kg, i.p.). Posteriormente, os camundongos foram submetidos ao teste da
placa quente e formalina, como descritos a seguir (PEANA et al., 2004).
5.3.1.3 Teste da placa quente
Este teste foi conduzido de forma semelhante ao item 5.2.1 (ALMEIDA;
OLIVEIRA, 2006a). Os grupos de camundongos (n=10) foram tratados por via i.p.,
segundo o descrito abaixo:
9 1º grupo – controle (água destilada + 5% de tween 80);
9 2º grupo – HC (100 mg/kg);
9 3º grupo – HC (200 mg/kg);
9 4º grupo – antagonista (15 minutos) + HC (100 mg/kg);
9 5º grupo – antagonista (15 minutos) + HC (200 mg/kg);
Foi feita a leitura basal e, após os tratamentos, os animais foram
colocados no aparelho de placa quente, registrando-se o tempo em que o animal é
colocado na placa até apresentar o comportamento de pular ou lamber uma das
patas. As avaliações foram procedidas após 30, 60 e 120 minutos da administração
dos tratamentos.
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 62
5.3.1.4 Teste da formalina
O teste da formalina foi conduzido como descrito por Vaz et al., (1996),
que representa uma modificação do modelo original de Hunskaar, Fasmar e Hole,
(1985) e Santos et al., (1995).
Nesta metodologia, uma solução de formalina foi injetada na região
subplantar do camundongo, o que induziu a estimulação dos nociceptores, sendo o
tempo de lambida da pata considerado indicativo de resposta nociceptiva (SOUZA et
al., 2000). Esse teste consiste de duas fases em que é quantificado o tempo de
lambida da pata. A primeira fase ocorre nos 5 primeiros minutos após a injeção da
formalina, levando a uma resposta neurogênica. Em seguida, há uma interfase de
aproximadamente 10 minutos caracterizada por mecanismos inibitórios da dor. A
segunda fase (15-30 minutos) é conhecida principalmente por uma resposta
inflamatória (HUNSKAAR; HOLE, 1987).
Os grupos de camundongos receberam os mesmos tratamentos
citados no teste da placa quente. Após 30 minutos, 40 μL de solução de formalina
2,5% foi injetada na região subplantar da pata posterior direita de cada camundongo.
Em seguida, esses animais foram colocados nas caixas de observação, sendo então
registrado o tempo de lambida da pata que recebeu a formalina durante 5 minutos
(1ª fase). Após um período de 10 minutos, foi contabilizado o parâmetro citado por
mais 15 minutos, correspondente a 2ª fase (Figura 21).
Figura 21 – Aspecto geral de
procedimento do teste da formalina.
um
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 63
5.3.2 Avaliação in vitro
5.3.2.1 Técnica de “single sucrose gap”
Para esta técnica, descrita inicialmente por Stämpfli (1954), foi utilizado
o nervo isquiático de ratos. Inicialmente, os animais foram eutanasiados por
deslocamento cervical, retirando-se o tronco nervoso (isquiático). O nervo foi
imediatamente imerso em solução fisiológica de Locke modificado com a seguinte
composição (mM): NaCl, 150; KCl, 4; CaCl2; MgCl2, 1 e HEPES (ácido N-[2hidroxietil] piperazina – N’-[2-etanosulfônico]), 5. O pH da solução foi ajustado para
7,3 com NaOH (0,1 N). Após o isolamento do tronco nervoso, foi retirada a bainha
de tecido conjuntivo que o envolve. Esse processo foi procedido usando-se um
microscópio estereoscópio de modo que ao final obteve-se um conjunto de fibras
desnudas. Em seguida, o tronco nervoso foi acomodado cuidadosamente sobre a
linha sulcada de uma câmara de registros eletrofisiológicos.
A câmara possuía 5 compartimentos, os quais foram recobertos por
vaselina nas suas interseções, de modo que o percurso da corrente elétrica
ocorresse apenas através do nervo. No quarto compartimento, havia um fluxo
constante de solução de sacarose isotônica (290 mM, (1,0 mL/min), usado para
gerar um aumento na resistência elétrica do nervo, impedindo dessa forma, a sua
captação pelo eletrodo conectado ao quinto compartimento, obtendo-se assim, um
registro do PAC amplificado e do tipo monofásico (DE SOUSA et al., 2006). O
terceiro compartimento (compartimento-teste) foi utilizado para incubar a HC nas
seguintes concentrações: 0,25; 0,5; 1,0; 2,0; 4,0 ou 8,0 mM. Nos compartimentos 1,
2, 3 e 5 foi adicionada solução de Locke modificada. Ao primeiro e terceiro
compartimentos estava conectado um estimulador do qual foram disparados
estímulos elétricos supramáximos (4-6 V), com duração de 0,1 ms. Os registros
foram adquiridos com uma frequência de aquisição de 11.000 Hz. Uma placa A/D
fez a conversão do sinal analógico para digital conectada aos compartimentos três e
cinco. Esta placa A/D, por sua vez, fazia conecção a um microcomputador, no qual
as leituras do PAC foram verificadas. Com esse registro, pode-se avaliar o
OLIVEIRA, F. S.
Métodos 64
comportamento dos canais para Na+ e K+, na presença ou não de HC, durante as
fases do PAC (CRUZ et al., 2000; NONAKA et al., 2000). Os registros controles
(contendo apenas a solução fisiológica) foram gravados e, após a troca da solução
do compartimento-teste pela solução com HC, foram gravados os registros do
potencial de ação obtidos até 40 minutos.
Os parâmetros verificados foram: a amplitude, intervalo (em mV) entre
a linha de base e o ponto máximo do PAC, e a constante de tempo de repolarização
(tau), definida pela equação: V = V0*exp(-t/τ), onde V é a diferença de potencial, V0 é
o valor do potencial que cruza o eixo das ordenadas, t é o tempo e τ é o tau.
Para realizar o ajuste dos pontos experimentais, foram utilizados os
programas Sigmaplot, v 5.0 for DOS. O ajuste seguiu o método dos quadrados
mínimos. Cada concentração teve um N=5 experimentos.
5.4 Análise estatística
Com relação aos testes estatísticos, os resultados obtidos na primeira
etapa e nos testes in vivo da terceira etapa deste estudo foram analisados através
de ANOVA (análise de variância) de uma via “one way”, seguido do Teste de
Dunnett. A determinação da DL50 foi calculada por regressão não-linear. Na
avaliação toxicológica, os resultados foram analisados através do Teste “t” de
Student não pareado; já nos expermentos in vitro, foi utilizado esse mesmo teste,
entretanto, do tipo não pareado.
Os dados numéricos foram aplicados no programa Graph Pad Prism
versão 4 (GraphPad Software Inc., EUA). Os valores obtidos, exceto os da DL50,
foram expressos em média ± erro padrão da média (e.p.m.), sendo os resultados
considerados significativos quando apresentaram um valor de p < 0,05.
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 66
VI - RESULTADOS
6.1 ESTUDO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DE HC POR VIA ORAL
6.1.1 Determinação da dose letal 50%
De acordo com a tabela 1, o tratamento com HC na dose de 500 mg/kg
não promoveu mortalidade dos camundongos. No grupo de animais tratado com
1000 mg/kg, foi observado 10% de mortes. Já o grupo que recebeu 2000 mg/kg,
70% dos camundongos morreram, enquanto que, na dose de 2500 mg/kg registrouse 100% de letalidade. Com tais resultados, foi possível calcular, pelo método de
probitos, a DL50 de HC em camundongos tratados por v.o., sendo essa estimada em
1258,9 mg/kg com limite de confiança de 1000,0 – 1584,9 mg/kg.
Tabela 1 – Efeito de HC sobre o percentual de mortes em camundongos tratados por v.o
Dose (mg/kg, v.o.)
% de mortes
500
0
1000
10
2000
70
2500
100
(n=10 animais por grupo)
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 67
6.1.2 Efeito de HC no teste da movimentação espontânea
O gráfico 1 mostra que o tratamento com HC reduziu a movimentação
dos animais nas doses de 100 e 200 mg/kg de HC (78,1 ± 17,5; 46,0 ± 21,0) de
forma significativa, quando comparados ao controle (201,3 ± 30,0) aos 30 minutos de
observação. Aos 60 minutos, houve diminuição da ambulação com 100 e 200 mg/kg
de HC (44,5 ± 10,0; 37,0 ± 12,7; respectivamente), em relação ao controle (141,0 ±
32,8). Na dose de 50 mg/kg não ocorreu essa diminuição aos 30 minutos (158,9 ±
40,4), ou 60 minutos (97,0 ± 16,9). Aos 120 minutos, não houve diminuição
significativa da ambulação em todas as doses testadas: 50 (95,5 ± 27,4), 100 (73,4 ±
7,8) e 200 mg/kg (83,8 ± 22,5), respectivamente, em relação ao controle (98,5 ±
(unidade de pulsos elétricos)
Movimentação espontânea
22,3).
225
Controle
50 mg/kg HC
100 mg/kg HC
200 mg/kg HC
200
175
150
125
100
*
75
**
50
** **
25
0
30
60
120
Tempo de observação (min)
Gráfico 1 – Efeito de HC sobre a movimentação espontânea em camundongos Os valores estão
expressos em média ± e.p.m. (n=8), * p<0,05; ** p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de
Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 68
6.1.3 Efeito de HC no teste do “rota rod”
De acordo com o gráfico 2, os animais tratados com HC não
apresentaram perda da coordenação motora, como observado nas doses de 50, 100
ou 200 mg/kg aos 30 (178,0 ± 2,0; 178,7 ± 1,3; 179,9 ± 0,1), 60 (179,0 ± 0,7; 179,0 ±
1,0; 180,0 ± 0,0) e 120 minutos (180,0 ± 0,0; 180,0 ± 0,0; 179,6 ± 0,4) de
observação, quando comparados ao grupo controle (178,9 ± 1,1; 180,0 ± 0,0; 178,9
Tempo de permanência
na barra giratória (s)
± 1,1), respectivamente.
200
Controle
50 mg/kg HC
100 mg/kg HC
200 mg/kg HC
150
100
50
0
30
60
120
Tempo de observação (min)
Gráfico 2 – Efeito de HC sobre o tempo de permanência na barra giratória no teste do “rota rod”. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=8) (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 69
6.1.4 Efeito de HC no teste das contorções abdominais induzidas por ácido
acético
Neste teste, os resultados mostraram que na dose de 200 mg/kg de HC
ocorreu diminuição do número de contorções abdominais (13,8 ± 3,0), quando
comparado ao controle que apresentou 23,0 ± 1,4 contorções. O resultado
apresentado pelo grupo tratado com morfina foi de 1,1 ± 0,3 de contorções, enquanto
que, nas doses de 50 e 100 mg/kg de HC não houve diminuição do número de
contorções (17,9 ± 2,6; 18,5 ± 2,6; respectivamente), conforme o gráfico 3.
Nº de contorções
25
20
C o n tr o le
HC -50
HC -100
HC -200
M o r f in a - 6
*
15
10
5
**
0
T r atam en to s (m g /kg , v.o .)
Gráfico 3 – Efeito de HC sobre as contorções abdominais induzidas por ácido acético, em
camundongos Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=8) *p<0,05; **p<0,01 vs grupo
controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 70
6.1.5 Efeito de HC no teste da imersão da cauda
O gráfico 4 mostra que aos 30 minutos na dose de 200 mg/kg
observou-se aumento de tempo para retirada da cauda (5,4 ± 1,0), já o grupo morfina
apresentou média de 9,1 ± 1,1 contorções. Aos 60 minutos, com 50 (4,6 ± 0,7), 100
(4,6 ± 0,5) e 200 mg/kg (5,3 ± 0,6) obteve-se resultados significativos em relação ao
controle (2,6 ± 0,3). Com 120 minutos de observação, nas dose de 100 (5,2 ± 0,9) e
200 mg/kg (5,1 ± 0,4) de HC também houve aumento da latência em comparação ao
grupo controle (2,6 ± 0,3). Entretanto, aos 30 minutos de observação, os
camundongos tratados com 50 e 100 mg/kg de HC não apresentaram alterações
significativas no tempo de permanência da cauda na fonte de calor (3,1 ± 0,6; 2,1 ±
0,3; respectivamente), não diferindo do grupo controle (2,2 ± 0,4). Em ambas as
observações citadas, os animais tratados com o padrão também apresentaram
aumento de latência (7,3 ± 1,3; 5,1 ± 0,9). Já com 180 minutos pós-tratamento, não
foram obtidos resultados significativos (50: 4,6 ± 0,8; 100: 3,2 ± 0,6; 200: 4,4 ± 0,6;
morfina: 5,0 ± 1,0) em relação ao controle (3,9 ± 0,5).
Tempo para
retirada da cauda (s)
12.5
Controle
50 mg/kg HC
100 mg/kg HC
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
**
10.0
**
7.5
**
5.0
***
**
* **
2.5
0.0
30
60
120
180
Tempo de observação (min)
Gráfico 4 – Efeito da HC na imersão da cauda de camundongos tratados por v.o Os valores estão
expressos em média ± e.p.m. (n=8), *p<0,05; ** p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de
Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 71
6.2 EFEITO SUBCRÔNICO DE HC
6.2.1 Efeito de HC no teste da placa quente
De acordo com o gráfico 5, foi observado efeito significativo de HC ao longo
de toda a avaliação experimental. Nos primeiros dias, já foi possível observar o efeito
antinociceptivo de HC (1º: 15,3 ± 2,3; 7º: 10,9 ± 1,9; 14º: 12,9 ± 1,3). Esse efeito foi
observado até os últimos dias de avaliação (21º: 17,0 ± 2,9; 28º: 16,3 ± 2,0), quando
comparado aos animais do grupo controle (1º: 9,1 ± 0,9; 7º 6,8 ± 0,7; 14º: 5,9 ± 0,7;
21º: 7,1 ± 0,9; 28º: 6,2 ± 0,6). No grupo tratado com morfina, houve aumento de
tempo de resposta ao estímulo do teste até aproximadamente o 14º dia (1º: 21,0 ±
2,6; 7º: 14,9 ± 2,6; 14º: 13,2 ± 2,1). Em torno do 21º dia de avaliação em diante, não
foi observado efeito significativo (21º: 10,5 ± 1,7; 28º: 10,0 ± 2,1).
25
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
***
Latência (s)
20
**
15
*
10
*
**
**
***
21
28
***
5
0
0
7
14
Dias de tratamento
Gráfico 5 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a latência no teste da placa quente em
camundongos Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001
vs grupo controle (Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 72
6.2.2 Efeito de HC no teste da catatonia
Conforme a tabela 2, os animais tratados com HC não apresentaram
catatonia, quando comparados aos animais do grupo controle. Já o haloperidol
induziu catatonia nos quatro dias de avaliação após os tratamentos. Esses
resultados com o grupo haloperidol foram bem evidentes a partir da primeira
avaliação realizada no segundo dia de tratamento, sendo esse efeito significativo até
a última observação.
Tabela 2 - Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o tempo de permanência na barra
horizontal.
Tratamento
(mg/kg, i.p.)
Dia de tratamento
0
3º
10º
17º
24º
Controle
1,4 ± 0,8
0,0 ± 0,0
0,2 ± 0,1
0,1 ± 0,7
0,9 ± 0,7
HC-200
2,7 ± 2,6
1,5 ± 1,0
0,1 ± 0,1
0,1 ± 0,1
0,5 ± 0,3
Haloperidol-5
0,1 ± 0,0
206,7 ± 30,5***
247,5 ± 18,3***
262,8 ± 10,8***
237,5 ± 19,0***
Os valores representam media ± e.p.m. em segundos (n=12); ***p<0,001 vs grupo controle (Teste tStudent).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 73
6.2.3 Efeito de HC no teste da temperatura retal
O gráfico 6 mostra que o tratamento com HC reduziu de forma
significativa a temperatura dos animais na dose de 200 mg/kg, tanto nos primeiros
dias de observação (5º: 34,9 ± 0,3; 12º: 33,9 ± 0,2), quanto nas avaliações
posteriores (19º: 33,5 ± 0,2; 26º: 34,6 ± 0,2), quando comparado ao grupo controle
(36,9 ± 23,2; 37,0 ± 0,1; 37,0 ± 0,1; 37,5 ± 0,3). Esses resultados são semelhantes
ao grupo de animais tratados com 5 mg/kg de haloperidol (35,1 ± 0,2; 35,3 ± 0,2;
35,4 ± 0,2; 35,8 ± 0,2). Por outro lado, os animais tratados com 10 mg/kg de morfina,
apresentaram aumento de temperatura corporal nas primeiras observações após o
início do tratamento (37,9 ± 0,2; 37,8 ± 0,2), sendo esse efeito reduzido no 19º dia de
avaliação (35,4 ± 0,2) até não ser mais observado (35,8 ± 0,2).
***
Temperatura (ºC)
38
**
*
37
#
36
#
35
#
#
#
34
#
#
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
5 mg/kg Haloperidol
#
33
0
5
12
19
26
Dias de tratamento
Gráfico 6 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a temperatura retal de camundongos. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), *p<0,05; ** p<0,01; ***p<0,001; #p<0,001 vs grupo
controle (Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 74
6.2.4 Efeito de HC no consumo de ração
As médias de peso de ração em gramas obtidas com os camundongos
tratados com HC na primeira (21,5 ± 1,3), segunda (25,1 ± 2,2), terceira (28,6 ± 3,1)
e quarta semanas (32,0 ± 4,4), mostram que o tratamento com a referida substância
não interferiu no consumo de ração ao longo dos 28 dias de tratamento, quando
comparadas as do grupo controle (22,5 ± 2,1; 28,0 ± 2,9; 38,9 ± 4,9; 44,5 ± 5,7;
respectivamente). Os camundongos tratados com morfina não apresentaram
alterações no consumo de ração nas duas primeiras semanas (17,5 ± 1,6; 22,3 ±
1,7), sendo então observada diminuição da ingesta de ração nas duas últimas
semanas (23,9 ± 1,4; 29,9 ± 2,6), quando comparadas ao controle. O grupo que
recebeu haloperidol exibiu diminuição do consumo de alimento a partir da segunda
semana até a quarta (21,1 ± 1,0; 22,9 ± 1,1; 21,6 ± 1,0), não sendo observado efeito
na primeira avaliação (22,5 ± 3,7), como mostra a gráfico 7.
Consumo de ração (g)
60
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
5 mg/kg Haloperidol
50
40
*
30
*
20
** **
***
10
0
1
2
3
4
Nº de semanas
Gráfico 7 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o consumo de ração de camundongos. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), *p<0,05; **p<0,01; p<0,001 vs grupo controle
(Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 75
6.2.5 Efeito de HC no consumo de água
Conforme o gráfico 8, os animais tratados com HC (1ª: 45,4 ± 0,3; 2ª:
45,7 ± 0,1; 3ª: 45,0 ± 0,2; 4ª: 45,8 ± 1,0) e morfina (45,0 ± 0,3; 45,1 ± 0,2; 45,2 ± 0,2;
45,6 ± 0,9) não apresentaram alterações quanto ao consumo de água nas quatro
semanas de observação, em comparação ao grupo controle (45,0 ± 0,4; 44,8 ± 0,4;
44,0 ± 0,7; 42,8 ± 1,2). Os animais do grupo haloperidol apresentaram diminuição do
consumo de água durante todo o tratamento subcrônico (31,2 ± 1,8; 31,0 ± 1,2; 34,2
Consumo de água (mL)
± 1,8; 38,6 ± 1,5).
50
40
***
30
*
***
***
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
5 mg/kg Haloperidol
20
10
0
1
2
3
4
Nº de semanas
Gráfico 8 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o consumo de água de camundongos. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), *p<0,05; ***p<0,001 vs grupo controle (Teste tStudent).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 76
6.2.6 Efeito de HC na evolução ponderal
Os resultados expressos no gráfico 9 mostram que o tratamento com
HC não interferiu no ganho de peso normal dos animais durante as quatro semanas
de avaliação (1ª: 2,8 ± 0,4; 2ª: 3,5 ± 0,6; 3ª: 4,8 ± 0,6; 4ª: 6,5 ± 0,7) em relação ao
controle (2,2 ± 0,3; 3,8 ± 0,3; 4,9 ± 0,6; 6,6 ± 0,4; respectivamente). O grupo morfina
apresentou diminuição do ganho ponderal nas três primeiras semanas (1,3 ± 0,4; 1,9
± 0,5; 2,6 ± 0,8), sendo esse efeito não observado na última semana (5,4 ± 0,5). Já
nos camundongos tratados com haloperidol, foi observado redução do ganho de
peso em todas as semanas (0,9 ± 0,4; 2,2 ± 0,5; 1,3 ± 0,7; 3,3 ± 0,7).
Ganho ponderal (g)
7
6
5
4
**
**
3
2
*
1
*
**
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
5 mg/kg Haloperidol
***
***
0
0
1
2
3
4
Nº de semanas
Gráfico 9 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a evolução ponderal de camundongos. Os
valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001 vs grupo controle
(Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 77
6.2.7 Efeito de HC na glicemia
Conforme ilustrado no gráfico 10, não houve alteração da glicemia dos
animais no 9º dia de observação nos grupos avaliados (HC: 125,6 ± 2,4; morfina:
113,1 ± 7,7; haloperidol: 106,5 ± 6,6) em relação ao grupo controle (127,1 ± 7,1). No
23º dia de avaliação, o tratamento com 200 mg/kg de HC aumentou de forma
significativa a glicemia dos camundongos (223,7 ± 15,1), quando comparado ao
controle (112,6 ± 5,2). O mesmo não foi observado com os grupos tratados com
morfina (96,6 ± 5,5) e haloperidol (106,8 ± 6,6).
Glicemia (mg/dL)
250
***
200
150
Controle
HC 200 mg/kg
Morfina 10 mg/kg
Haloperidol 5 mg/kg
100
50
0
0
9
23
Dia de tratamento
Gráfico 10 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre a glicemia de camundongos. Os valores
estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), ***p<0,001 vs grupo controle (Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 78
6.2.8 Efeito de HC nos parâmetros bioquímicos
De acordo com a tabela 3, o tratamento com HC não alterou os
parâmetros bioquímicos analisados, em comparação aos animais do grupo controle.
Os camundongos tratados com morfina apresentaram uma redução significativa dos
níveis de ALT, enquanto que no grupo tratado com haloperidol, houve alterações nos
níveis de glicose, uréia, creatinina e triglicerídeos, assim como, proteína total,
globulina e lactato desidrogenase em relação ao grupo controle.
Tabela 3 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre os parâmetros bioquímicos de
camundongos
Parâmetro
Controle
HC
Morfina
Haloperidol
200 mg/kg
10 mg/kg
5 mg/kg
Glicose (mg/dL)
185,4 ± 6,8
171,0 ± 7,3
165,8 ± 5,5
144,1 ± 4,1***
Uréia (mg/dL)
42,0 ± 1,9
48,3 ± 4,2
35,3 ± 4,6
30,9 ± 1,3***
Ácido Úrico (mg/dL)
2,2 ± 0,2
1,9 ± 0,5
1,2 ± 0,4
2,2 ± 0,2
Creatinina (mg/dL)
0,4 ± 0,02
0,4 ± 0,02
0,3 ± 0,02
0,5 ± 0,02**
Colesterol (mg/dL)
76,3 ± 3,8
87,4 ± 2,4
79,5 ± 4,6
79,0 ± 2,3
Triglicerídeos (mg/dL)
103,4 ± 5,2
93,3 ± 8,5
88,5 ± 8,6
62,1 ± 4,8***
Proteína total (g/dL)
4,4 ± 0,3
4,3 ± 0,1
4,5 ± 0,1
5,7 ± 0,3**
Albumina (g/dL)
2,1 ± 0,2
2,1 ± 0,1
2,1 ± 0,2
2,0 ± 0,1
Globulina (g/dL)
2,2 ± 0,3
2,1 ± 0,1
2,4 ± 0,2
3,9 ± 0,3***
AST (UI/L)
245,0 ± 12,7
236,2 ± 15,1
250,2 ± 27,9
229,4 ± 16,1
ALT (UI/L)
73,1 ± 2,9
63,0 ± 4,0
63,7 ± 2,2*
77,7 ± 5,3
Amilase (UI/L)
2182 ± 268,3
2227 ± 365,0
1757 ± 295,9
1655 ± 115,8
Lactato desidrogenase (UI/L)
6526 ± 255,9
6296 ± 387,8
7045 ± 208,3
5302 ± 90,3***
Creatina quinase (UI/L)
1977 ± 342,5
2140 ± 397,7
1179 ± 123,8
3358 ± 578,2
101,0 ± 8,5
101,3 ± 6,6
92,0 ± 2,1
82,1 ± 4,9
Fosfatase Alcalina (UI/L)
Os valores representam media ± e.p.m. (n=12); *p<0,05, **p<0,01, ***p<0,001 vs grupo controle
(Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 79
6.2.9 Efeito de HC nos parâmetros hematológicos
A tabela 4 mostra que o tratamento com HC induziu o aumento do
percentual de neutrófilos, enquanto que a morfina não alterou os parâmetros
hematológicos analisados, em comparação aos animais do grupo controle. Os níveis
de hemoglobina, a HCM e a CHCM aumentaram no grupo tratado com haloperidol,
em relação aos animais controle.
Tabela 4 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre os parâmetros hematológicos de
camundongos
HC
Morfina
Haloperidol
200 mg/kg
10 mg/kg
5 mg/kg
8,0 ± 0,2
7,2 ± 0,5
8,1 ± 0,5
8,4 ± 0,1
Hemoglobina (g/dL)
12,4 ± 0,3
11,7 ± 0,9
12,7 ± 0,4
14,0 ± 0,1***
Hematócrito (%)
34,8 ± 1,0
31,4 ± 2,5
34,2 ± 1,5
37,0 ± 0,5
VCM (fL)
44,0 ± 0,7
43,7 ± 0,6
42,7 ± 0,8
43,7 ± 0,4
HCM (pg)
15,9 ± 0,2
16,4 ± 0,2
15,9 ± 0,5
16,4 ± 0,2*
CHCM (g/dL)
36,3 ± 0,4
37,1 ± 0,1
37,3 ± 0,7
37,5 ± 0,2*
Leucócitos (103/mm3)
7,1 ± 0,6
5,3 ± 1,1
8,4 ± 0,9
5,9 ± 0,4
Neutrófilos (%)
14,8 ± 1,5
21,7 ± 1,8*
24,3 ± 5,4
18,2 ± 1,2
Linfócitos (%)
77,8 ± 1,4
71,7 ± 3,0
68,8 ± 5,4
76,4 ± 1,2
Monócitos (%)
6,4 ± 0,8
4,6 ± 1,1
6,0 ± 0,5
4,3 ± 0,7
Eosinófilos (%)
1,1 ± 0,3
0,7 ± 0,2
0,8 ± 0,3
1,2 ± 0,2
759,2 ± 60,7
818,3 ± 105,9
826,7 ± 87,0
877,4 ± 42,3
Parâmetros
Controle
Hemácias (106/mm3)
Plaquetas (103/mm3)
Os valores representam media ± e.p.m. (n=12); *p<0,05; ***p<0,001 vs grupo controle (Teste tStudent).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 80
6.2.10 Efeito de HC no peso de órgãos
Segundo o gráfico 11, o tratamento com não alterou o peso dos órgãos
avaliados (fígado: 2,0 ± 0,1; rins: 0,2 ± 0,01; coração: 0,1 ± 0,01), quando
comparados aos do grupo controle (2,2 ± 0,1; 0,2 ± 0,02; 0,2 ± 0,01;
respectivamente).
Os
camundongos
tratados
com
morfina
também
não
apresentaram modificação ponderal dos órgãos (2,3 ± 0,1; 0,2 ± 0,01; 0,1 ± 0,01).
Entretanto, nos animais do grupo haloperidol, foi observado redução do peso de
fígado (1,9 ± 0,6), e nenhuma alteração no peso dos rins (0,2 ± 0,01) e coração (0,1
± 0,00).
2.5
**
2.0
Peso (g)
Controle
200 mg/kg HC
10 mg/kg Morfina
5 mg/kg Haloperidol
1.5
1.0
0.5
0.0
Fígado
Rins
Coração
Órgãos
Gráfico 11 – Efeito do tratamento subcrônico com HC sobre o peso de fígado, rins e coração de
camundongos. Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=12), **p<0,01 vs grupo controle
(Teste t-Student).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 81
6.3 INVESTIGAÇÂO DO POSSÍVEL MECANISMO DE AÇÃO DE HC
6.3.1 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos no teste da placa quente
Como pode ser visto no gráfico 12, os camundongos tratados com 100
ou 200 mg/kg de HC apresentaram aumento do tempo de reação ao estímulo do
teste da placa quente de forma significativa, tanto aos 30 (100: 18,7 ± 1,6 e 200: 19,9
± 4,0) como aos 60 minutos de observação (17,9 ± 1,4 e 18,0 ± 2,7), em relação ao
grupo controle (10,5 ± 1,0 e 10,9 ± 0,9). Nos grupos pré-tratados com atropina (ATR)
e a seguir tratados com HC, não foi observado bloqueio de efeito (30: 22,7 ± 2,5 e
19,3 ± 1,8; 60: 19,1 ± 1,6 e 24,1 ± 0,8), demonstrando resultados diferentes do
controle. Da mesma forma, os grupos pré-tratados com pirezenpina (PZN) e
posteriormente tratados com HC, demonstraram os seguintes resultados: 30 (21,2 ±
2,2 e 19,3 ± 3,3) e 60 minutos (18,2 ± 1,2 e 20,1 ± 2,9), não ocorrendo bloqueio do
efeito de HC. Aos 120 minutos, não foram observados resultados nos grupos
estudados.
Latência (s)
30
20
** ** ***
*
*
**
* * **
Controle
100 mg/kg HC
200 mg/kg HC
ATR + Controle
ATR + 100 mg/kg
ATR + 200 mg/kg
PZN + Controle
PZN + 100 mg/kg
PZN + 200 mg/kg
**
*
10
0
30
60
HC
HC
HC
HC
120
Tempo de observação (min)
Gráfico 12 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com ATR
e PZN no teste da placa quente em camundongos. Os valores estão expressos em média ± e.p.m.
(n=10), *p<0,05; **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 82
6.3.2 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonistas muscarínicos no teste da formalina
Na 1ª fase do teste, os camundongos tratados com HC apresentaram
diminuição do tempo de lambida da pata de forma significativa (100: 62,3 ± 6,6 e
200: 33,3 ± 9,1), em relação ao grupo controle (96,7 ± 4,2). Os grupos inicialmente
tratados com ATR e a seguir tratados com HC não tiveram seus efeitos bloqueados
(58,6 ± 4,4 e 15,4 ± 6,5), quando comparados ao controle. De maneira similar, os
grupos pré-tratados com PZN e posteriormente com HC permaneceram com os
mesmos resultados observados sem o pré-tratamento com PZN (47,1 ± 6,8 e 11,0 ±
3,1), dessa forma não ocorrendo bloqueio da atividade antinociceptiva de HC, como
Tempo de lambida da pata (s)
demonstrado no gráfico 13.
125
100
75
50
25
**
**
**
**
**
0
**
C ontrole
HC -100
HC -200
ATR + C ontrole
ATR + HC -100
ATR + HC -200
PZN + C ontrole
PZN + HC -100
PZN + HC -200
Tratamentos (mg/kg, i.p.)
Gráfico 13 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com ATR
e PZN na 1ª fase do teste da formalina em camundongos. Os valores estão expressos em média ±
e.p.m. (n=10), **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 83
Segundo o gráfico 14, o tratamento com HC diminuiu o tempo de
lambida da pata de forma significativa também na 2ª fase do teste (100: 40,0 ± 19,0;
200: 1,4 ± 1,3), quando comparado ao controle (269,1 ± 32,4). Nos grupos prétratados com ATR e a seguir tratado com HC não foi observado antagonismo do
efeito de HC, (26,8 ± 22,2), em relação ao grupo controle. Resultados semelhantes
foram obtidos com os grupos inicialmente tratados com PZN e posteriormente com
HC (38,9 ± 19,3; 43,9 ± 42,8), mostrando que o efeito antinociceptivo da HC não foi
Tempo de lambida da pata (s)
antagonizado.
350
300
250
200
150
100
50
0
**
**
**
**
**
**
C ontrole
HC -100
HC -200
ATR + C ontrole
ATR + HC -100
ATR + HC -200
PZN + C ontrole
PZN + HC -100
PZN + HC -200
Tratamentos (mg/kg, i.p.)
Gráfico 14 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com ATR
e PZN na 2ª fase do teste da formalina em camundongos. Os valores estão expressos em média ±
e.p.m. (n=10), **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 84
6.3.3 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonista dopaminérgico no teste da placa quente
Como demonstrado no gráfico 15, os animais do grupo HC (100 ou 200
mg/kg) apresentaram aumento significativo de latência aos 30 (100: 11,9 ± 0,8 e 200:
15,2 ± 2,2), e 60 minutos de avaliação (10,6 ± 0,9 e 14,8 ± 2,7), em comparação ao
controle (30: 5,7 ± 0,5 e 60: 4,3 ± 1,3). Nos grupos pré-tratados com sulpirida (SPD)
e a seguir tratados com HC, não foi observado antagonismo de efeito (30: 12,2 ± 1,3
e 15,3 ± 2,9; 60: 11,5 ± 1,6 e 13,0 ± 1,2), demonstrando resultados diferentes do
controle. Com 120 minutos de tratamento, não foram observados resultados
significativos nos grupos estudados.
20
**
Latência (s)
**
15
**
**
Controle
100 mg/kg HC
200 mg/kg HC
SPD + Controle
SPD + 100 mg/kg HC
SPD + 200 mg/kg HC
**
*
*
**
10
5
0
30
60
120
Tempo de observação (min)
Gráfico 15 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com SPD
no teste da placa quente em camundongos. Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (n=10),
*p<0,05; **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 85
6.3.4 Bloqueio do efeito antinociceptivo de HC pelo tratamento prévio com
antagonista dopaminérgico no teste da formalina
Segundo o gráfico 16, os camundongos tratados com HC apresentaram
redução do tempo de lambida da pata de forma significativa (100: 46,1 ± 8,0 e 200:
12,6 ± 2,9), em relação ao grupo controle (93,4 ± 7,1). Os grupos pré-tratados com
SPD e secundariamente com HC apresentaram resultados similares aos observados
Tempo de lambida da pata (s)
sem o pré-tratamento (100: 41,1 ± 3,5; 200: 17,6 ± 3,8).
125
Controle
HC -100
HC -200
SPD + C ontrole
SPD + HC -100
SPD + HC -200
100
75
50
25
**
**
**
**
0
Tratamentos (mg/kg, i.p.)
Gráfico 16 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com SPD
na 1ª fase do teste da formalina em camundongos. Os valores estão expressos em média ± e.p.m.
(n=10), **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 86
Na 2ª fase do teste, o tratamento com HC também levou a uma
redução significativa do tempo de lambida da pata (100: 18,3 ± 11,3; 200: 0,0 ± 0,0),
quando comparado ao controle (266,1 ± 36,7). Nos grupos inicialmente tratados com
SPD e a seguir com HC, não ocorreu antagonismo do efeito de HC (61,9 ± 32,1; 0,2
Tempo de lambida da pata (s)
± 0,1) em relação ao grupo controle, como pode ser observado no gráfico 17.
400
C ontrole
HC -100
HC -200
SPD + C ont
SPD + HC -100
SPD + HC -200
350
300
250
200
150
**
100
50
0
**
**
**
Tratamentos (mg/kg, i.p.)
Gráfico 17 – Efeito de HC sobre o bloqueio do efeito antinociceptivo pelo tratamento prévio com SPD
na 2ª fase do teste da formalina em camundongos. Os valores estão expressos em média ± e.p.m.
(n=10), **p<0,01 vs grupo controle (ANOVA - Teste de Dunnett).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 87
6.3.5 Efeito de HC na amplitude do PAC
A tabela 5 mostra que a concentração de 0,25 mM de HC não produziu
efeito sobre a amplitude do potencial de ação composto (PAC) nos tempos de
incubação. Por outro lado, esse efeito foi alcançado com 0,5 mM de HC aos 20
minutos de incubação, em relação ao controle (0 minuto). A partir de 1,0 mM,
verificou-se redução significativa da amplitude do PAC já na primeira incubação (10
minutos), sendo esse efeito observado até os 40 minutos de aplicação de HC.
Tabela 5 – Efeito de HC sobre amplitude do PAC de nervo isquiático de rato
HC
(mM)
Amplitude do PAC (mV) após incubação
Controle
10 min
20 min
30 min
40 min
0,25
39,5 ± 5,3
38,8 ± 5,0
38,4 ± 5,3
38,3 ± 5,6
36,2 ± 5,1
0,5
53,8 ± 5,2
48,8 ± 5,2
48,6 ± 5,1*
46,9 ± 5,0**
45,6 ± 5,0***
1,0
47,5 ± 3,8
44,0 ± 3,7*
40,0 ± 3,9*
41,8 ± 3,5**
40,0 ± 2,9**
2,0
48,1 ± 3,8
45,4 ± 3,9*
40,9 ± 4,6*
42,4 ± 3,5**
40,3 ± 2,8**
4,0
50,6 ± 4,3
48,6 ± 4,2*
45,1 ± 3,7*
43,6 ± 4,0*
41,1 ± 4,0*
8,0
39,7 ± 3,0
35,6 ± 1,7
33,4 ± 1,9*
33,0 ± 1,9*
31,2 ± 2,1**
Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (N=5), *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001 vs controle
(Teste t-Student pareado).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 88
6.3.6 Efeito de HC sobre a velocidade de despolarização do PAC
De acordo com os resultados expressos na tabela 6, a incubação de
4,0 mM de HC em nervo de rato, induziu de forma significativa, diminuição na
velocidade de despolarização aos 30 minutos de incubação. Efeito semelhante foi
demonstrado na concentração de 8,0 mM de HC aos 30 minutos de incubação
quando comparado ao controle, sendo esse efeito observado até os 40 minutos,
nessa mesma concentração.
Tabela 6 – Efeito de HC sobre a velocidade de despolarização do PAC de nervo isquiático de rato
Velocidade de despolarização (ms)
HC
(mM)
Controle
10 min
20 min
30 min
40 min
0,25
55.0 ± 8.2
50,6 ± 8,0
49,7 ± 7,6
48,8 ± 7,7
53,3 ± 7,3
0,5
72,1 ± 9,1
68,6 ± 9,6
69,1 ± 7,1
79,1 ± 10,3
74,4 ± 11,7
1,0
70,3 ± 10,7
64,5 ± 9,8
65,2 ± 10,3
71,2 ± 11,9
66,8 ± 10,8
2,0
63,5 ± 5,2
60,9 ± 8,0
58,9 ± 7,8
62,1 ± 8,5
61,8 ± 7,2
4,0
91,9 ± 11,2
97,2 ± 18,9
82,2 ± 10,7
79,4 ± 11,1*
85,7 ± 16,2
8,0
61,1 ± 5,4
61,4 ± 7,0
57,0 ± 5,9
53,6 ± 4,0*
51,4 ± 5,6**
Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (N=5), *p<0,05; **p<0,01; vs controle (Teste t-Student
pareado).
OLIVEIRA, F. S.
Resultados 89
6.3.7 Efeito de HC sobre a constante de repolarização do PAC
Conforme a tabela 7, a incubação com HC não causou nenhum tipo de
alteração significativa na constante de repolarização do PAC em nenhuma das
concentrações utilizadas.
Tabela 7 – Efeito de HC sobre a constante de repolarização do PAC de nervo isquiático de rato
τrep (ms)
HC
(mM)
Controle
10 min
20 min
30 min
40 min
0,25
0,54 ± 0,04
0,54 ± 0,04
0,56 ± 0,04
0,59 ± 0,05
0,60 ± 0,03
0,5
0,52 ± 0,03
0,52 ± 0,02
0,53 ± 0,03
0,53 ± 0,04
0,53 ± 0,02
1,0
0,56 ± 0,07
0,52 ± 0,04
0,46 ± 0,02
0,54 ± 0,06
0,53 ± 0,04
2,0
0,54 ± 0,07
0,57 ± 0,06
0,56 ± 0,08
0,58 ± 0,07
0,56 ± 0,07
4,0
0,39 ± 0,02
0,41 ± 0,02
0,41 ± 0,03
0,41 ± 0,03
0,42 ± 0,03
8,0
0,42 ± 0,02
0,43 ± 0,04
0,47 ± 0,01
0,44 ± 0,04
0,43 ± 0,03
Os valores estão expressos em média ± e.p.m. (N=5), (Teste t-Student pareado).
OLIVEIRA, F. S.
91
VII – DISCUSSÃO
A avaliação da atividade antinociceptiva e toxicológica de HC consistiu
de três etapas. Inicialmente, foi investigada uma possível atividade da referida
substância administrada por via oral. A segunda etapa utilizou testes que avaliassem
seu perfil toxicológico. Em seguida, foram realizados testes direcionados a
determinar possíveis mecanismos de ação antinociceptivo de HC.
Levando-se em consideração que na literatura científica há poucos
registros de monoterpenos estudados por outras vias de administração que não a
i.p., e que esses registros parecem ser mais raros quando tais compostos são
administrados principalmente por v.o., tornou-se oportuno investigar o efeito
antinociceptivo de HC por v.o., já que essa via de administração é mais utilizada
pela população em geral. Para tanto, procedeu-se inicialmente a determinação da
DL50. Em seguida, foram realizados testes gerais e específicos que auxiliassem essa
investigação.
Na determinação da DL50, foram utilizadas doses elevadas que
possibilitassem a observação de mortalidade. Essas doses foram estabelecidas
baseando-se na toxicidade de monoterpenos com estrutura química semelhante à
HC e, principalmente, em sua DL50 por via i.p. de 800,2 mg/kg (724,6 – 883,6),
dessa forma auxiliando de maneira mais objetiva essa determinação (DE SOUSA;
OLIVEIRA; ALMEIDA, 2006).
A DL50 da HC por v.o. foi estabelecida em 1258,9 mg/kg (1000,0 –
1584,9) (Tabela 1). Valores de DL50 elevados como este, representam uma
toxicidade relativamente baixa, quando comparados a outros monoterpenos com
estrutura química semelhante a da HC. Essa DL50 apresentou-se maior que a
observada por via i.p., representando possivelmente uma via de administração mais
segura para HC.
Tendo como base a DL50 de HC e as doses utilizadas por via i.p., foram
padronizadas doses de 50, 100 e 200 mg/kg de forma que não extrapolassem um
quinto dessa DL50 (SOUZA BRITO, 1996). Isto possibilitou a escolha de doses a
serem utilizadas nos testes gerais e específicos, de modo que os resultados
encontrados não estivessem associados a efeitos tóxicos.
OLIVEIRA, F. S.
92
Como testes gerais, elegeu-se o teste da movimentação espontânea e
o teste do rota rod para analisar a possível atividade de HC no SNC, administrada
pela referida via de administração.
No teste da movimentação espontânea, o tratamento com a HC causou
nos animais uma diminuição significativa da movimentação até 60 minutos de
observação, sendo esse efeito aumentado com doses maiores de HC (Gráfico 1).
Uma redução na atividade motora pode ser causada por efeito inibitório da HC no
SNC ou uma atividade relaxante muscular (RADHAKRISHNAN et al., 2001). A
ambulação diminuída em camundongos é talvez a forma mais comum de verificar se
uma substância analisada apresenta efeito depressor do SNC (ALMEIDA,
OLIVEIRA, 2006b). Segundo Masur, Martz e Carlini (1971), a mobilidade é função
do grau de excitabilidade do SNC e uma diminuição desse parâmetro é sugestiva de
uma atividade depressora (OZTURK et al., 1996; FRANCO et al., 2005), possuindo
uma boa correlação desse efeito em humanos (AMOS et al., 2005); por outro lado, o
aumento da atividade motora é característico de drogas estimulantes, como por
exemplo, as drogas do tipo anfetamina (RANG et al., 2007).
Esta ação psicodepressora de HC, no entanto, não interfere com a
coordenação motora dos camundongos, uma vez que os animais submetidos ao
teste do “rota rod” não apresentaram alteração no tempo de permanência na barra
giratória em nenhuma das observações procedidas (Gráfico 2), descartando-se,
assim, a possibilidade de um efeito miorelaxante ou neurotóxico por v.o.
Portanto, por ter diminuído a ambulação dos animais no teste da
movimentação espontânea e não ter alterado a coordenação dos animais no teste
do rota rod, a HC fornece evidências de possuir uma ação do tipo central
semelhante à de drogas depressoras que diminuem a atividade do SNC (PEREZ et
al., 1998; FRANCO et al., 2005).
Para análise da atividade antinociceptiva de HC foram utilizadas
metodologias comportamentais com estimulação química e física para indução de
nocicepção, como o teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético,
que produz estímulo nociceptivo químico em nível periférico com componente
medular, e o teste da imersão da cauda, que utiliza a temperatura como agente
nociceptivo físico.
OLIVEIRA, F. S.
93
O teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético foi
escolhido por ser um teste simples, rápido e confiável para avaliar a atividade
antinociceptiva de substâncias (SHINDE, et al., 1999). Este teste é caracterizado por
ser uma metodologia de alta sensibilidade a drogas de ação central e periférica (VAZ
et al., 1996; VOGEL; VOGEL, 1997; RAMEZANI; HOSSINZADEH; DANESHMAND,
2001).
A resposta nociceptiva ao ácido acético pode envolver uma
estimulação direta das fibras aferentes nociceptivas, devido a uma redução do pH ou
a uma síntese de mediadores da inflamação, como os metabólitos do ácido
araquidônico pela via da ciclo-oxigenase, com consequente biossíntese de
prostaglandinas (DUARTE; NAKAMURA; FERREIRA, 1988; FRANZOTTI et al.,
2000) tais como prostaglandinas Eα e F2α no fluido peritoneal (DERAEDT et al.,
1976, 1980; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2006a). Estudos demonstraram que a atividade
nociceptiva do ácido acético pode ainda ser devido à liberação de citocinas, por
macrófagos e mastócitos peritoneais, tais como fator de necrose tumoral alfa,
interleucina-β1 e interleucina-8 (RIBEIRO et al., 2000; BASTOS et al., 2006).
O tratamento com HC provocou uma redução do número de contorções
abdominais (Gráfico 3). Com isso, fica demonstrado a eficácia da HC no teste das
contorções induzidas por ácido acético, o que possibilita propor que a HC apresenta
atividade antinociceptiva e/ou estaria inibindo a liberação de mediadores
inflamatórios ou citocinas. O fármaco padrão utilizado nesse teste foi a morfina, um
analgésico central, protótipo da classe dos opiáceos (ALMEIDA; BARBOSA-FILHO,
2006).
Esses resultados da HC são similares aos obtidos quando essa
substância foi administrada por via i.p. (DE SOUSA; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2006).
Peana et al (2003) encontrou resultados semelhantes com o monoterpeno (-)-linalol.
Entre outros monoterpenos avaliados na metodologia do ácido acético, pode-se citar
o mentol e a rotundifolona que levaram a uma diminuição do número de contorções,
entretanto, esses três últimos monoterpenos só foram estudados até então por via
i.p. (ALMEIDA; HIRUMA; BARBOSA-FILHO, 1996; GALEOTTI et al., 2002; PEANA
et al., 2004).
Na tentativa de melhor caracterizar a atividade antinociceptiva da HC
encontrada no teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético, já que
OLIVEIRA, F. S.
94
nesse método atuam indiferentemente substâncias centrais quanto periféricas,
utilizou-se o teste de imersão da cauda, onde um maior tempo de reação ao
estímulo térmico é geralmente considerado um importante parâmetro de atividade
antinociceptiva central (RUJJANAWATE; KANJANAPOTHI; PANTHONG, 2003),
sendo essa metodologia utilizada para diferenciar drogas de ação antinociceptiva
central daquelas de ação periférica (ASONGALEM et al., 2004).
Nesse teste, a atividade antinociceptiva da HC foi observada durante
os três períodos pós-tratamento, nas doses de 100 e 200 mg/kg (Gráfico 4). Este
teste possibilitou ainda demonstrar que o efeito antinociceptivo de HC nos
camundongos foi observado até 120 minutos após o tratamento, o que não foi
observado por via i.p. Dessa forma, o efeito antinociceptivo de HC por v.o. parece
ser mais duradouro e observado também em menores doses, já que por via i.p. HC
só foi eficaz na dose de 200 mg/kg (OLIVEIRA; DE SOUSA; ALMEIDA, 2008). A
rotundifolona também se mostrou efetiva no teste de imersão da cauda nas doses
de 125 e 250 mg/kg por via i.p., tendo seu efeito perdurado até 120 minutos de
observação (ALMEIDA; HIRUMA; BARBOSA-FILHO, 1996).
Alguns estudos sugerem que a resposta de retirada da cauda é
mediada por reflexo espinhal (CHAPMAN et al., 1985). Além disso, segundo
Grumbach (1966), agentes analgésicos centrais efetivos no modelo de imersão da
cauda apresentam alta correlação com o alívio da dor em humanos. Portanto, os
resultados do presente estudo indicam que a HC é eficaz em modelos onde não há
estímulos de natureza periférica, atuando por mecanismos adicionais que envolvem
transmissão nociceptiva em nível espinhal e supraspinhal (GONCALES et al., 2005).
No teste de imersão da cauda, o efeito farmacológico de analgésicos
como a morfina, utilizada como droga padrão, é mediado por receptores do tipo μopióide ao invés de κ- e δ-opióides (SCHMAUSS; YAKSH, 1984; AYDIN et al.,
1999).
Analgésicos moderados como AAS possuem atividade antinociceptiva
fraca em testes por estimulação térmica, como o teste de imersão da cauda,
entretanto, apresentam bons resultados naqueles de estimulação química direta de
nociceptores. Agentes nociceptivos térmicos e químicos apresentam seletividade
para estimulação de fibras A-δ e fibras C, respectivamente (YEOMANS; PIREC;
PROUDFIT, 1996). Com base nessa afirmativa, é possível propor que a HC pode
OLIVEIRA, F. S.
95
interferir na transmissão de ambas as fibras ou possuir uma via comum, tais como a
espinhal e a via talâmica (GONCALES et al., 2005).
Portanto, o conjunto de resultados encontrados na primeira etapa
desse estudo permitiu inferir que a HC apresenta atividade antinociceptiva mediada
por mecanismos centrais quando administrada por v.o., sendo que esse efeito não
interfere na atividade motora dos animais.
Para detalhar o estudo da atividade antinociceptiva central de HC, a
segunda fase desse estudo consistiu em investigar se o efeito antinociceptivo dessa
substância está associado a efeitos tóxicos graves. Com esse intuito, foi realizado
um tratamento subcrônico com HC, utilizando-se a dose de 200 mg/kg. A escolha
dessa dose para a avaliação toxicológica de HC se deve ao fato de ser a maior e
mais efetiva dose dessa substância utilizada nos estudos anteriores.
Estes testes objetivaram avaliar ações qualitativas ou quantitativas
diferentes, produzidas pelo maior tempo de exposição à substância estudada,
permitindo assim observar os possíveis efeitos tóxicos de HC (LARINI, 1999; OGA;
CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).
Durante o tratamento subcrônico, foram avaliados parâmetros como:
temperatura retal, consumo de ração e água, ganho ponderal e glicemia. Um item
importante desse estudo toxicológico foi a análise do efeito antinociceptivo central de
HC com tratamento de longa duração, além de avaliar a ocorrência de um possível
efeito catatônico nos animais durante os 28 dias de observação. Ao final, foram
mensuradas alterações de parâmetros bioquímicos e hematológicos, pela análise
laboratorial do sangue de camundongos e realizada a pesagem de alguns órgãos
vitais dos animais.
O principal fator responsável pelo estudo subcrônico com HC foi o de
avaliar uma possível tolerância farmacológica ao longo dos 28 dias de tratamento.
Para tanto, foi utilizada a metodologia da placa quente onde a substância estudada
se mostrou efetiva em demonstrar resultados significativos previamente (OLIVEIRA;
DE SOUSA: ALMEIDA, 2008). O teste da placa quente é utilizado na pesquisa de
sustâncias antinociceptivas de ação central através da avaliação do bloqueio da
resposta nociceptiva provocada por estímulo térmico em animais (ALMEIDA;
OLIVEIRA, 2006a). Sabe-se que essa metodologia é reconhecida por ser sensível a
OLIVEIRA, F. S.
96
drogas que atuam em nível supraespinhal (CAMPOS et al., 2002; FRANÇA et al.,
2001; PEANA et al., 2003).
Neste teste, o efeito antinociceptivo de HC foi observado em todas as
cinco avaliações, do 1º ao 28º dia de experimentação (Gráfico 5). Dessa forma, HC
parece não induzir tolerância farmacológica durante os 28 dias de tratamento. Por
outro lado, com a morfina, um fármaco opiáceo, foi possível observar o declínio de
seu efeito antinociceptivo, representando a tolerância típica dos fármacos opiáceos.
O uso repetido de fármacos dessa classe induz prontamente tolerância
que reduz o efeito ou requer um aumento da dose para alívio da dor. Os
mecanismos neurobiológicos do desenvolvimento da tolerância opióide são
complexos e até agora parcialmente compreendidos (GABRA et al., 2007).
Dando continuidade ao estudo, procurou-se identificar se HC induz
catatonia em camundongos em longo prazo.
A catatonia, em animais de laboratório, é definida como um estado de
imobilidade em uma posição não habitual, com duração de vários minutos. Neste
teste, a HC não causou catatonia nos camundongos, quando comparado ao grupo
controle (Tabela 2). Esse parâmetro também é observado em outros tipos de drogas
depressoras centrais, além dos analgésicos centrais, a exemplo de efeitos
indesejáveis durante o uso de antipsicóticos. Dessa forma, a HC não provocou
estado catatônico nos animais, não apresentando esse efeito tóxico comum a outras
substâncias antinociceptivas.
Por outro lado, o haloperidol foi capaz de induzir catatonia durante todo
o tratamento. Fármacos antipsicóticos típicos como o haloperidol, produzem
distúrbios motores ao antagonizar os receptores pós-sinápticos, do tipo D2, para o
neurotransmissor
dopamina,
levando
ao
aparecimento
de
sintomas
como
bradicinesia, acinesia, catatonia, entre outros (MARCUS; NOMIKOS; SVENSSON,
1996).
Anatomicamente, as fibras A-δ e C, presentes nas raízes nervosas e
nos nervos periféricos aferentes, são conhecidos por conduzir os impulsos
relacionados com a sensação dolorosa e a temperatura através das raízes do corno
dorsal (CARPENTER; MACKEY, 1992). Mudanças na temperatura corporal são um
dos principais efeitos farmacológicos dos agonistas opióides, como a morfina e
outras drogas como o haloperidol. Os opióides atuam diretamente no centro
OLIVEIRA, F. S.
97
termorregulador presente no hipotálamo para produzir tal mudança (SMITH et al.,
1995; ADEBIYI; ELSA; AGAIE; ETUK, 2006). A HC, da mesma maneira que a
morfina e o haloperidol, alterou a temperatura dos animais fornecendo mais
evidências do envolvimento de sua atividade com as vias da dor e controle de
temperatura (Gráfico 6).
Com relação às avaliações do consumo de ração e água, não foram
encontradas alterações na ingestão de água e no consumo de alimento nos
camundongos tratados com HC. Os resultados desses testes também demonstraram
que a morfina induz a diminuição da ingestão de alimento e no grupo haloperidol
houve diminuição do consumo de alimento e água (Gráficos 7 e 8). A definição
desses parâmetros é um componente essencial no estudo da segurança de
fármacos, que tem de ser realizada em qualquer produto destinado a fins
terapêuticos. Uma nutrição adequada é essencial para o estado fisiológico dos
animais e para garantir que a resposta a uma droga testada seja confiável e não
uma "falsa" resposta inadequada devido a deficientes condições nutricionais
(STEVENS; MYLECRAINE, 1994; IVERSEN; NICOLAYSEN, 2003). Além disso,
alterações no peso corporal de camundongos são indicativos de efeitos
indesejáveis, uma vez que, animais que sobrevivem a tratamento com fármacos
administrados por longos períodos, não podem perder mais de 10% do seu peso
inicial (RAZA et al., 2002; TEO et al., 2002; FÉRES et al., 2006).
No presente estudo, não houve diferença significativa no peso corporal
dos animais tratados com HC e os do grupo controle, no entanto, nos grupos morfina
e haloperidol foram observadas diminuição do peso dos camundongos (Gráfico 9).
Contudo, HC não alterou os parâmetros citados, demonstrando relativa segurança
no que se refere ao consumo de água e ração, e ganho de peso.
A análise laboratorial do sangue de roedores representa uma
importante forma de se investigar a segurança de uma substância-teste. A
administração de HC conduziu a um aumento de glicose no 23ª dia de tratamento
(Gráfico 10), no entanto, no final do tratamento, esse aumento não foi mais
observado. Além do mais, não foram constatadas diferenças estatisticamente
significativas nos parâmetros bioquímicos de camundongos tratados com HC, em
comparação com o grupo controle (Tabela 3). Por outro lado, a morfina alterou os
níveis de ALT, enquanto o haloperidol alterou vários parâmetros bioquímicos. No
OLIVEIRA, F. S.
98
que diz respeito ao estudo hematológico, não ocorreram mudanças nos parâmetros
analisados nos camundongos tratados com HC, exceto na contagem diferencial de
leucócitos que revelou um aumento nos níveis de neutrófilos (Tabela 4), no entanto,
os níveis se mantiveram dentro da normalidade para os valores de referência e não
são considerados como sendo clinicamente significativos. No grupo tratado com
morfina, não foram encontradas anormalidades hematológicas. Por outro lado, o
tratamento com haloperidol induziu pequenas flutuações nos níveis de hemoglobina
e no HCM e CHCM.
A análise do peso do fígado, coração e rins de camundongos
demonstrou que HC não teve efeito sobre o peso destes órgãos, porém o tratamento
com haloperidol reduziu o peso do fígado (Gráfico 11), o principal órgão envolvido na
biotransformação de fármacos.
Com base nestes resultados, a administração subcrônica de HC em
camundongos por um período de 28 dias não levou à tolerância farmacológica no
teste da placa quente, induziu alterações na temperatura semelhantes àquelas
encontradas com outras drogas que atuam sobre o SNC, e não produziu efeitos
tóxicos significativos na dose e via testadas, no entanto, existem outros estudos a
serem realizados sobre a segurança na utilização de HC (por exemplo,
fetotoxicidade, genotoxicidade). Estes resultados podem servir para estimular ainda
mais estudos complementares que permitam o uso seguro de HC.
A terceira etapa da avaliação do efeito antinociceptivo de HC consistiu
na elucidação do mecanismo de ação de HC. Essa fase do trabalho foi
fundamentada
em
estudos
prévios
relatados
para
alguns
monoterpenos
semelhantes quimicamente à HC, como por exemplo, mentol e linalol.
O efeito antinociceptivo do (-)-mentol foi bloqueado por antagonistas de
receptores opióides (GALLEOTTI et al., 2002), enquanto o efeito antinociceptivo do
(-)-linalol foi revertido por antagonistas opióides, muscarínicos e dopaminérgicos D2,
assim como por glibenclamida, um bloqueador de canais para potássio sensíveis à
ATP (Peana et al., 2003). Além disso, citronelol, outro monoterpeno hidroxilado, e a
(R)-(-)-carvona foram capazes de reduzir a excitabilidade em nervo isquiático de rato
pela redução da amplitude do potencial de ação composto (DE SOUSA et al., 2006;
GONÇALVEZ et al., 2008). Estes resultados reforçam as informações sobre o
mecanismo de ação antinociceptivo do citronelol e da (R)-(-)-carvona, pois
OLIVEIRA, F. S.
99
compostos que bloqueiam canais iônicos dependentes de voltagem constituem uma
ferramenta importante para o tratamento da dor (AMIR et al., 2006).
Os resultados com HC demonstraram a eficácia dessa substância em
diferentes modelos de nocicepção gerados pela exposição física, por estímulo
nociceptivo térmico aplicado no teste da placa quente, já comentado anteriormente,
e por indução química, por administração de formalina (HALEY; SULLIVAN;
DICKINSON, 1990) ou ainda, utilizando a técnica do “single sucrose gap”.
O teste da formalina é um modelo seguro e válido de nocicepção
sensível a várias classes de drogas analgésicas. A formalina produz uma resposta
bifásica distinta, onde drogas analgésicas podem atuar diferentemente na primeira e
segunda fases do teste (MORTEZA-SEMNANI et al., 2002).
A primeira fase do modelo da formalina ocorre devido à liberação de
substância P e à estimulação química nociceptiva direta de fibras aferentes,
principalmente as fibras C (HEAPY; JAMIESON; RUSSEL, 1987), sendo sensível a
drogas que agem em nível central como a morfina. Já a segunda fase, resulta da
ação de mediadores inflamatórios locais, como por exemplo, prostaglandinas,
serotonina, histamina e bradicinina (MURRAY; PORRECA; COWAN, 1988;
TORNOS et al., 1999; RUJJANAWATE; KANJANAPOTHI; PANTHONG, 2003), ou
por uma facilitação da transmissão sináptica espinhal (TJOLSEN et al., 1992;
FRANÇA et al., 2001).
Entre a primeira e a segunda fase do teste da formalina, ainda há um
período de repouso chamado de “interfase” que ocorre devido a uma ativação de
processos inibitórios não regulados por mecanismos que envolvem o GABA, já que
agonistas gabaérgicos tipo A inibem a diminuição de manifestações de dor durante
esse período (HENRY et al., 1999; LIRA, 2001).
Drogas que atuam em nível central, tais como analgésicos opióides,
inibem ambas as fases do teste da formalina, entretanto, drogas de ação periférica
como os antiinflamatórios somente são eficazes na segunda fase (SANTOS et al.,
1994; FARSAM et al., 2000; ADEYEMI; OKPO; OKPAKA, 2004). Segundo Hunskaar
e Hole (1987), tanto os antiinflamatórios não-esteroidais quanto os corticosteróides
agem na segunda fase da formalina, como por exemplo a indometacina e a
dexametasona; o AAS não possui qualquer atividade na primeira fase quando
comparado ao efeito da morfina (RUJJANAWATE; KANJANAPOTHI; PANTHONG,
OLIVEIRA, F. S.
100
2003). Assim, essa metodologia representa um modelo que pode ser utilizado para
estudar o mecanismo de drogas antinociceptivas e que tem boa correlação com a
dor clínica (TJOLSEN et al., 1992; CAMPOS et al., 2002).
Estudos recentes realizados com HC mostraram que seu efeito
antinociceptivo não foi antagonizado pela naloxona, um antagonista opiáceo, tanto
na placa quente quanto no teste da formalina (OLIVEIRA; DE SOUSA; ALMEIDA,
2008). O fato de que o linalol, outro monoterpeno hidroxilado, assim como a HC, ter
tido
seu
efeito
antinociceptivo
reduzido
por
antagonistas
muscarínicos
e
dopaminérgicos serviu de base para essa etapa do estudo. No presente trabalho, a
atropina, um antagonista não seletivo de receptores muscarínicos, não antagonizou
o efeito de HC, em ambos os testes utilizados. Além disso, a pirenzepina, um
antagonista seletivo de receptores muscarínicos M1, também não conseguiu inverter
a antinocicepção induzida por HC (Gráficos 12, 13 e 14). Estes resultados sugerem
que a transmissão muscarínica não está envolvida diretamente no mecanismo de
ação de HC. Da mesma forma, a administração prévia de sulpirida, um antagonista
de receptores da dopamina D2, não alterou a atividade antinociceptiva de HC nas
doses utilizadas, tanto na placa quente quanto no teste da formalina (Gráficos 15, 16
e 17), sugerindo que esse subtipo de receptor dopaminérgico não está envolvido de
forma direta no efeito de HC. Portanto, os resultados encontrados para HC diferem
daqueles encontrados para o linalol, uma vez que o efeito antinociceptivo deste
monoterpeno foi antagonizado pela atropina e sulpirida. Os autores sugerem que
seu efeito está envolvido com receptores muscarínicos e dopaminérgicos D2, com
consequente abertura dos canais para K+ (PEANA et al., 2004).
Na técnica do “single sucrose gap”, a inibição da excitabilidade
neuronal está associada com o bloqueio dos canais para Na+ dependente de
voltagem. HC diminuiu a amplitude e a velocidade de despolarização do PAC
(Tabelas 5 e 6), levando à hipótese de que o efeito antinociceptivo observado nos
diferentes modelos utilizados em estudos anteriores, provavelmente ocorra como
resultado do bloqueio desses canais. Por outro lado, HC não afetou o tempo da
constante de repolarização (Tabela 7), sugerindo que HC não tem efeito direto sobre
os canais para K+ dependentes de voltagem, responsáveis pela repolarização do
potencial de ação em nervos periféricos.
OLIVEIRA, F. S.
101
Um grande número de tipos de canais iônicos está presente em
axônios mielinizados. Cada tipo de canal é regionalmente distribuído de forma nãouniforme nesses axônios (KOCSIS et al., 1987; ENG et al., 1988; ROPER;
SCHWARZ, 1989; WAXMAN, 1995). Os canais para Na+ são encontrados em
grande quantidade na membrana do axônio na região dos nódulos de Ranvier, onde
eles são necessários para a geração do potencial de ação. Em contrapartida, o
número de canais para Na+ diminui expressivamente nas regiões dos internódulos e
há uma densidade menor desses canais na membrana internodular do axônio,
abaixo da bainha de mielina (BLACK; KOCSIS; WAXMAN, 1990; RASBAND;
TRIMMER, 2001). Além disso, estudos mostraram que canais para K+ dependentes
de voltagem podem ser encontrados em zonas nodulares e internodulares (GUVEN
et al., 2006).
Os resultados mostraram que o efeito antinociceptivo de HC não está
diretamente
envolvido
com
o
sistema
muscarínico
ou
com
receptores
dopaminérgicos D2. Por outro lado, demonstraram que a HC tem um efeito
antinociceptivo que poderia estar relacionado a uma redução da excitabilidade
neuronal através da inibição dos canais para Na+ dependentes de voltagem.
Os resultados apresentados nesse trabalho mostram o promissor efeito
antinociceptivo de HC no SNC, observado também por v.o., desprovido de tolerância
e toxicidade grave após tratamento subcrônico de 28 dias.. Entretanto, estudos
adicionais são necessários para elucidar eventuais mecanismos de ação de HC em
nível molecular, com o intuito de fornecer subsídios capazes de estabelecer a
participação da HC nos mecanismo inibitórios da dor em nível central.
OLIVEIRA, F. S.
103
VIII – CONCLUSÕES
Diante dos resultados obtidos nas metodologias utilizadas neste
estudo, conclui-se que HC nas doses e vias testadas:
Ö Apresentou uma elevada DL50 por via oral, o que representa uma baixa
toxicidade aguda, permitindo a utilização de doses nos testes
subseqüentes, desprovidas da observação de efeitos tóxicos;
Ö Apresentou atividade antinociceptiva por via oral mediada por
mecanismos centrais como evidenciado nos testes das contorções
abdominais induzidas por ácido acético e da imersão da cauda;
Ö Não induziu tolerância farmacológica durante 28 dias de avaliação e
alterou a temperatura dos animais, bem como não causou efeitos
comportamentais tóxicos relevantes ao longo de todo o tratamento
subcrônico;
Ö Não provocou alterações bioquímicas e hematológicas importantes,
assim como, não interferiu no peso de alguns órgãos vitais dos
camundongos;
Ö Seu efeito antinociceptivo central provavelmente não envolve de forma
direta o sistema muscarínico e os receptores dopaminérgicos D2, e
parece atuar bloqueando os canais para Na+ dependentes de voltagem.
OLIVEIRA, F. S.
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Brasileiro de Farmacologia e Terapêutica Experimental – SBFTE, Ribeirão Preto
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OLIVEIRA, F. S; SOUSA, D. P.; SANTOS, C. C. M. P.; LIMA, M. R. V.;
ALMEIDA,
R.
N.
Avaliação
da
possível
tolerância
farmacológica
de
hidroxidiidrocarvona no teste da placa quente durante um tratamento subcrônico.
Resumos da 39º Congresso Brasileiro de Farmacologia e Terapêutica
Experimental – SBFTE, Ribeirão Preto / SP, 2007.
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FERNANDO DE SOUSA OLIVEIRA