Jesus continuava a surpreender a todos:
Deus está a chegar, não como o “Deus dos justos”,
mas como o “Deus dos que sofrem”.
O profeta do reino de Deus não tem nenhuma dúvida:
o que O move a actuar no meio do seu povo é o seu amor compassivo;
o Deus que quer reinar entre os homens e mulheres
é um “Deus que cura”.
Na memória dos primeiros cristãos ficou gravada esta recordação de Jesus:
“Ungido por Deus com a força do Espírito Santo,
passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo,
porque Deus estava com Ele”. (Actos 10,38)
José Antonio Pagola
“Jesús: uma abordagem histórica”
Marcos 1, 21-28
Quarto domingo Tempo Comum –B1 fevereiro 2009
Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na
sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua
doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas.
Sinagoga
de Cafarnaum.
Jesus estreia-Se hoje na sua misão pública. Começa a desempenhar uma dupla
actividade fundamental de ensinar e libertar.
Desde o princípio demonstra que a sua palavra não é como a dos outros mestres,
“que dizem e não fazem” (Mt 23,3).
A autoridade de Jesus vem da sua autenticidade. Não prega aos outros
obrigações que Ele não cumpre. Faz o que diz. Confirma as suas palavras com as
suas obras de libertação. Jesus cura ao sábado. O descanso sabático era de
estrito cumprimento. Curar ao sábado supunha quebrar a Lei. Jesus passará
muitas vezes por cima desta proibição, o que lhe trará graves e contínuas
confrontações com as autoridades religiosas.
Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a
gritar:
–Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem
Tu és: o Santo de Deus
Jesus repreendeu-o, dizendo:
–Cala-te e sai desse homem!
O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele.
No tempo de Jesus os desequilíbrios psicológicos, as grandes tensões, as
patologias inexplicáveis... eram interpretadas como possessões de certos espíritos
e convertia em marginalizadas as pessoas.
O primeiro gesto de Jesus é libertar e curar as pessoas de tudo o que as
escraviza e oprime. A palavra, o poder e a proximidade de Jess cura-nos, alivianos e liberta-nos . Jesus permite-nos respirar liberdade.
Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros:
–Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até
manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!
Jesus não fala por ofício, não se perde em largos comentários e citações de
autoridades na matéria, nem repete o mesmo de sempre, nem trata de impor seja
o que for a gritar ou a intimidar os seus ouvintes.
Fala com autoridade, arriscando, inovando. Fala com simplicidade, com
proximidade, de modo que todos O entendem e a todos assombra, convence e
enche de esperança. A sua autoridade é o dom de si mesmo e o serviço aos
outros. Exerce a sua autoridade pondo-se aos pés dos discípulos para realizar o
ofício de servo e lavar-lhes os pés.
Temos claro o seu convite:“Compreendeis o que vos fiz? Fazei-o vós também”.
E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da
Galileia.
Nós, os seguidores e seguidoras de Jesus, temos fama por realizar a sua tarefa
libertadora? Por semear alegria e comunicar esperança? Por ajudar os outros a
vencer os “demónios” da tristeza, do egoísmo, dos medos, da rotina, da falta de
solidariedade..., tudo o que impede as pessoas de serem livres e felizes?
Dizem os evangelhos que os demónios
Te rejeitavam violentamente
e não queriam nem ver-Te aparecer.
«Que tens Tu a ver connosco,
Jesus de Nazaré?».
Era a expressão da tua frontal oposição
ao mal.
Ah, Jesus, que mal entendemos o teu
evangelho!
Escapamo-nos para as nuvens,
quando havia que descer conTigo à arena.
Fugimos da realidade para os demónios
etéreos, quando havia que baixar conTigo
à terra.
Mas depois de Ti ensinam-nos a ver
os maus espíritos de cima,
sem descer a esta terra de barro,
que é onde se amassam
as obras diabólicas do mal.
Deturpamos a tua imagem e o teu
ensinamento, e fazemos o ridículo com
tontos exorcismos que provocam a meiavolta dos que queriam lutar contra os
verdadeiros demónios.
Será que não vemos o verdadeiro demónio
nos sistemas e poderes da injustiça
organizada?
E como não o vemos, não nos dói
nem nos indigna nem nos mobiliza.
E ficamos sentados,
aguardando falsamente o milagre,
entre o rom-rom das rezas
e a sonolência da espera.
Abre-nos os olhos, Senhor, abre-me os
olhos, e ensina-me a lutar contra o demónio
real: o pecado, a injustiça, a ruína dos
pobres e a destruição da tua obra.
Patxi Loidi
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