ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A OPERACIONALIZAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL ÀS FAMÍLIAS EM CAXIAS DO SUL EM 2009 Mara de Oliveira1 Gissele Carraro2 Ana Paula Pereira Flores3 I – INTRODUÇÃO No final do ano de 2007, o município de Caxias do Sul decidiu que a partir do ano de 2008 deveria ser edificada uma proposta de atenção integral às famílias demandatárias da política de assistência social, que se denominou Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF Caxias do Sul. A proposição de construção de tal Programa assentou-se na perspectiva de “criar uma referência teórico-metodológica de atendimento familiar junto à política de assistência social no município de Caxias do Sul, em acordo ao definido pela PNAS, 2004 e NOB-SUAS, 2005” (OLIVEIRA, et al, 2008, p. 1). Tal perspectiva somente está sendo possível porque é resultado da “responsabilidade compartilhada entre o CMAS, o gestor municipal e as entidades que compõe a rede socioassistencial na definição de uma proposta política e operacional” (OLIVEIRA, et al, 2008, p. 1). No ano de 2008, no cumprimento do processo de edificação do PAIF Caxias do Sul, desenvolveram-se quatro grandes ações que se intencionava pudessem se efetivar de forma totalmente articulada: a) adesão dos trabalhadores da assistência social lotados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), ao programa; b) articulação política entre o gestor municipal da política de assistência social, Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente 1 2 3 Assistente Social, Doutora em Serviço Social pela PUCRS, Professora titular do Curso de Serviço Social da Universidade de Caxias do Sul, RS. Fone: (54) 3261.11.26. E-mail: [email protected]. Assistente Social, Mestranda em Serviço Social do Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, RS. Fone: (54) 91390434. E-mail: [email protected]. Advogada, Coordenadora da Equipe de Apoio à Gestão da Fundação de Assistência Social do Município de Caxias do Sul, RS. (54) 3220.87.00. E-mail: [email protected]. 1 (COMDICA); c) testagem da proposta teórico-metodológica de atendimento familiar construída pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), junto a oito entidades da rede socioassistencial do município, enquanto projeto piloto; d) iniciar a construção das Orientações do PAIF Caxias do Sul (orientações técnicas, metodológicas e de gestão), documento norteador da concepção e da operacionalização do programa em Caxias do Sul. Para dar conta destas ações foram constituídos três comitês de trabalho: o grupo técnico de trabalho (GTT), o grupo das oito entidades executoras para implantação do PAIF Caxias do Sul, financiadas com recursos do Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS), e o grupo de trabalhadores da área de assistência social lotados nos CRAS e CREAS de Caxias do Sul. A descrição e análise acerca das ações desenvolvidas em 2008 encontram-se explicitadas em um relatório técnico final4 acerca do desenvolvimento do programa no ano de 2008. A finalidade do relatório foi o de que através do mesmo pudesse ser demonstrado a dinâmica que o programa assumiu, possibilitando verificar se houve ou não correspondência entre os propósitos perseguidos e o desempenho obtido e, diante disto, visualizar as necessárias correções de rumos à implementação do PAIF Caxias do Sul, particularmente no ano de 2009. Neste artigo, procura-se, de forma resumida, trazer a tona reflexões que de alguma forma encontram-se expostas nas várias partes do relatório, indicando particularmente algumas das limitações e dos avanços obtidos no ano de 2008, indicando, a partir disto, algumas recomendações e sugestões para o ano de 2009. II – AVANÇOS E LIMITES DO PAIF CAXIAS DO SUL NO ANO DE 2008 SOB O “OLHAR” DE ALGUNS COMPONENTES DO GTT Para assinalar alguns dos avanços e dos limites é imprescindível que se mencione duas questões de ordem positiva. A primeira é sobre os motivos definidores 4 CAXIAS DO SUL (2009a). Conselho Municipal de Assistência Social. Fundação de Assistência Social. Universidade de Caxias do Sul. Relatório Técnico Final: desenvolvimento do Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF Caxias do Sul, em 2008. Conselho Municipal de Assistência Social: Comissão de Trabalho, 2009. 2 da construção do PAIF Caxias do Sul e o segundo sobre a opção escolhida para construí-lo. Quanto ao primeiro, os motivos, estes decorreram: de um diagnóstico desencadeado durante o ano de 2007 pelo gestor municipal da política pública de assistência social, com as várias entidades que compõem a rede socioassistencial auto declaradas terem trabalho com famílias quando ficaram perceptíveis a disparidade nas definições, formas e metodologias de atendimento às famílias em toda a rede socioassistencial de Caxias do Sul e, diante disto; da necessidade de ser criado uma “uma referência teórico-metodológica e técnico-político de atendimento familiar, de acordo com o observado, no exposto na PNAS (2004) e na NOB-SUAS (2005) [...] (CAXIAS DO SUL, 2009b, p. 5); Estes motivos foram identificados pelo CMAS, que no cumprimento de suas funções deliberou sobre a construção do PAIF Caxias do Sul. As tomar tal decisão o CMAS, concretizou-se como unidade política que é definindo “diretrizes e ações necessárias à efetivação dos aspectos da proteção social vinculados [as famílias usuárias da assistência social], assim como o controle social, fiscalizando e avaliando os resultados das ações” (OLIVEIRA, 2003, p. 3). Entende-se que é o grande aspecto positivo. Outro aspecto positivo relaciona-se a configuração de financiamento continuado proposto e executado pelo CMAS, a partir de 2008, através da liberação de recursos do FMAS, direcionados às ações com centralidade na família que contemplam, positivamente, elementos de qualificação da política pública de assistência social. Ou seja, a garantia de financiamento público destinado à contratação de profissionais de nível superior (assistente social e/ou psicólogo) para as entidades executoras, no desenvolvimento do referido programa. O terceiro elemento positivo foi a opção pela construção do programa de forma coletiva, que vem resultando na edificação das Orientações do PAIF 2009 em seus aspectos técnicos e de gestão, e metodológicos, através da testagem da proposta teóricometodológica de trabalho com famílias construída pela Universidade de Caxias do Sul, junto a oito entidades da rede socioassistencial. 3 O envolvimento de oito entidades, representando as organizações não governamentais; dos CRAS, CREAS e da gestão da Fundação de Assistência Social (FAS)5, representando organizações governamentais e de componentes do CMAS atestam uma determinada representatividade aos interesses coletivos através daqueles que de alguma forma discutiram e contribuíram com a edificação das Orientações do PAIF Caxias do Sul Caxias do Sul, definidas até o momento Ou seja, de direito, houve no ano de 2008, A representação de interesses coletivos é o que dá significação, demarca, de fato e de direito, a constituição dos sujeitos políticos coletivos [...], ou seja, determina os indivíduos que terão o poder de decisão, em igual proporção, por um período determinado. Sujeitos que naquele espaço político, diante das demandas postas, „exercem papel de mediadores‟. [...]. Quer dizer que „[...] ser representante, no sentido de ter representatividade reconhecida para tanto, significa transmitir de maneira mais adequada e similar possível, as idéias e os desejos dos demais membros de uma mesma classe, grupo ou espécie, em prol de um projeto comum [...]‟(OLIVEIRA, 2003, p. 8). A discussão sobre os elementos técnicos e de gestão que compõem as Orientações do PAIF concomitante a testagem da proposta teórico-metodológica, também é vista como elemento positivo. Pois, “uma teoria desligada da prática não chega sequer a ser uma teoria” (BRANDÃO, 1984, p. 105-106). Estas concepções foram a base da definição das quatro grandes ações para o desenvolvimento do programa no ano de 2008, mencionadas na introdução deste artigo: i. a adesão dos trabalhadores da assistência social lotados nos CRAS e CREAS ao PAIF Caxias do Sul que teve como finalidade sensibilizar estes trabalhadores sobre a importância da edificação de um programa desta natureza, entendendo a necessidade e relevância do mesmo. Sabe-se que tal adesão não ocorre apenas através da sensibilização, no entanto, é o início de um processo que intenciona culminar na aceitação, envolvimento e participação dos trabalhadores dos CRAS e CREAS na definição dos rumos que tal programa deve tomar; 5 A FAS é o órgão gestor da política pública de assistência social no município de Caxias do Sul. 4 ii. a articulação política entre o gestor municipal da política de assistência social, CMAS e COMDICA, a partir do pressuposto da imprescindibilidade da integração e da “[...] inter-relação entre as diversas áreas [...] de políticas [públicas sociais] e os diferentes campos de intervenção” (BAPTISTA, 2003, p. 57), constituindo-se como mediação para a implementação de serviços, programas e projetos. Teve como elementos constitutivos interligados e interdependentes entre si: dar visibilidade social ao que estava sendo efetuado no sentido de subsidiar deliberações políticas; democratização, propiciando a ampliação dos espaços de discussão, incorporando o maior número de sujeitos sociais; transparência, publicizando e disseminando informações e conhecimento que pudessem ser apreendidos pelos gestores, conselheiros, usuários, trabalhadores da assistência social, no sentido de garantir espaços de discussões coletivas, seja para a realização do controle social, seja para concretizar um espaço democrático, com valorização da dimensão política com maior visibilidade, dando transparência ao processo de formulação, implantação do PAIF Caxias do Sul; iii. a testagem da proposta teórico-metodológica de atendimento familiar construída pela UCS, enquanto projeto piloto, junto a oito entidades da rede socioassistencial do município, previamente habilitadas pela FAS com repasse de recursos do FMAS; iv. o início da construção das Orientações do PAIF Caxias do Sul, particularmente em seus aspectos técnicos e de gestão, documento norteador da concepção e da operacionalização do programa em Caxias do Sul. O GTT, através de seus membros representantes institucionais, cumpriu com a maioria das atribuições a ele conferidas no ano de 2008, destarte: i) vem organizando o que foi construído até o momento quanto aos elementos técnicos e de gestão das Orientações do PAIF; ii) planejou e executou capacitações e supervisões aos profissionais das entidades executoras na perspectiva da testagem da proposta teóricometodológica; iii) assessorou os profissionais das entidades em elementos teóricometodológicos no que concerne o atendimento às famílias, conforme a proposta construída pela UCS; iv) elaborou conjuntamente com os CRAS, CREAS e as entidades 5 executoras, alguns instrumentos, rotinas, fluxos e procedimentos de trabalho, etc.; v) disponibilizou material de apoio técnico e teórico aos profissionais de referência das entidades executoras, enquanto subsídio na aplicação da proposta teórico-metodológica de intervenção utilizada pelo programa; vi) buscou e encaminhou discussões teóricas sobre trabalho com famílias; vii) emitiu pareceres, através da assistente social contratada para este fim, acerca dos relatórios e outros documentos apresentados pelos profissionais de referência do programa. O GTT não avançou em uma das atribuições a ele conferidas, quer seja a discussão que dirá a elaboração de diretrizes e formas de ações possibilitadoras da incorporação da gestão participativa que envolva além dos gestores, profissionais das entidades, CMAS e usuários, demanda que fica como uma das centrais para serem desenvolvidas no ano de 2009. Mas, apesar de quantitativamente a maioria das atribuições terem sido “cumpridas” estas precisam ser analisadas igualmente em sua qualidade. Logo, a partir, também, das atribuições colocadas e assumidas como compromisso pelas entidades executoras. As atribuições das entidades executoras congregavam participar, obrigatoriamente, através do (s) profissional (is) de referência, dos encontros de capacitação e supervisão, o que ocorreu. No entanto, por razões que vale a pena investigar no ano de 2009, estes profissionais não trouxeram “para este espaço coletivo temáticas para a discussão e indicando elementos básicos para a sistematização de propostas” (OLIVEIRA, et al, 2008, p. 4), nem levantaram problematizações que permitissem examinar e indicar correções/readequações à proposta teóricometodológica de atendimento as famílias, que se acredita ser necessário. Apesar das entidades terem participado “conjuntamente com o grupo técnico de trabalho [na formulação dos] instrumentos, das rotinas, dos fluxos, dos documentos e dos procedimentos gerais comuns a todas as instituições, bem como avaliá-los” (OLIVEIRA, et al, 2008, p. 2), várias delas não perceberam que estavam construindo e definindo de maneira coletiva tais ferramentas, conforme apreende-se das afirmações expostas em seus relatórios. Ainda como limite, tem-se o fato de não se ter conseguido avançar nas discussões e “cobrança” as entidades executoras dos outros níveis interventivos, que 6 compõem a proposta teórico-metodológica (estudos teóricos, organização e gestão, integração multidisciplinar e interinstitucional, avaliação, desengajamento), além do diagnóstico familiar e plano individual de atendimento familiar, o que permite afiançar que a testagem não ocorreu da forma planejada. Com isto posto é possível afirmar que o elaborado até o momento sobre as Orientações do PAIF Caxias do Sul, precisa ser bastante discutido com todas as entidades da rede socioassistencial, inclusive as oito que testaram a proposta teóricometodológica no ano de 2008. Isto justifica o fato de tais Orientações ainda agregarem o adjetivo proposta preliminar. Os limites comprovaram que construir um programa municipal de forma coletiva não é uma tarefa fácil. São muitos os desafios que precisam ser enfrentados: i. os diferentes sujeitos envolvidos no processo de edificação do PAIF Caxias do Sul (GTT, Ongs que compõem a rede socioassistencial – gestores e profissionais –, trabalhadores dos CRAS e CREAS, CMAS, FAS), “precisam romper com a ainda frágil apropriação, [...] dos conceitos e proposições definidos pela PNAS, 2004 e NOB-SUAS, 2005 e nos vários documentos do gestor nacional sobre trabalho com família” (OLIVEIRA, et al, 2008, p. 2); ii. qualquer programa desta natureza somente é efetuado a contento se for construído de forma coletiva. Isto significa compreender, que tal Programa não sairá de “uma cartola mágica” (IAMAMOTO, 1998). Todos os envolvidos, com atribuições diferentes, são responsáveis pela sua definição e execução. Mas para isto é preciso apreender, de acordo com a concepção aqui veiculada, que a projeção/construção coletiva somente é possível através da conjugação de três elementos: “necessidade, consciência e vontade” (RAMOS, 2002, p. 83, grifo nosso). A necessidade encontra-se claramente exposta nas normatizações nacionais da política pública de assistência social, quando define como uma diretriz e um dos eixos estruturantes da política a matricilialidade sociofamiliar na concepção e operacionalização das ações. A consciência de cada sujeito, no caso aqui em prol do coletivo e, portanto, eminentemente política, “requisita a ruptura com diversos entraves postos no cotidiano, tais como: o corporativismo, a despolitização, a apatia, o comodismo” (RAMOS, 2002, p. 85). A vontade 7 envolve basicamente dois sujeitos: um coletivo e outro singular. O coletivo integra aqueles sujeitos que representam o poder público municipal, no caso a FAS e aqueles que representam o controle social da política de assistência social, o CMAS. Ambos decidiram, conjuntamente, diante de suas competências, pela construção de um programa municipal de atenção integral as famílias. Além disto, a FAS e o CMAS têm composto o fórum de discussão, construção, fiscalização e prestação de contas do PAIF Caxias do Sul através de sua participação no GTT. O singular contempla a vontade de cada indivíduo, aqui representado por cada trabalhador da área de assistência social, envolvido no processo de constituição do PAIF Caxias do Sul. O ponto de vista aqui assumido é o de que “só quem quer fortemente, identifica os elementos necessários à realização de sua vontade” (GRAMSCI, 2000, apud RAMOS, 2002, p. 85); iii. a representação dos sujeitos políticos coletivos, na construção de uma programa municipal “absorve alguns quesitos, um deles, que se acredita de fundamental importância, refere-se à representatividade, o que significa que o representante está imbuído de poder de decisão, dado pela coletividade ali representada. A representatividade será tanto mais qualificada quanto o forem as organizações daquela coletividade que o sujeito representa, isto é, pautada por reflexões coletivas, grau considerável de reivindicação e inserção política nos movimentos societários, em reuniões periódicas de avaliação e prestação de contas daquela delegação, na democracia interna etc. Isso dará maior sustentação às decisões e à gestão dos representantes, bem como maior fiscalização e usufruto por parte da maioria da sociedade” (OLIVEIRA, 2003, p. 8). Não houve, ainda, de forma satisfatória, adesão das entidades executoras, nem dos trabalhadores dos CRAS e CREAS ao PAIF Caxias do Sul. Por conseguinte, ainda há muito a avançar, inclusive com as obrigatórias articulações políticas. A adesão a uma perspectiva contrária a lógica dominante não é fácil, ela exige, além de tudo: Uma visão social inovadora, [...] pautada na dimensão ética de incluir „os invisíveis‟, os transformados em casos individuais, enquanto de fato são parte 8 de uma situação social coletiva; as diferenças e os diferentes, as disparidades e as desigualdades. Uma visão social de proteção, o que supõe conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos, bem como os recursos com que conta para enfrentar tais situações com menor dano pessoal e social possível. Isto supõe conhecer os riscos e as possibilidades de enfrentá-los. Uma visão social capaz de captar as diferenças sociais, entendendo que as circunstâncias e os requisitos sociais circundantes do indivíduo e dele em sua família são determinantes para sua proteção e autonomia. Isto exige confrontar a leitura macro social com a leitura micro social. Uma visão social capaz de entender que a população tem necessidades, mas também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas. Assim, uma análise de situação não pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos em superar a situação atual. Uma visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas situações de vida possui. Tudo isso significa que a situação atual para a construção da política pública de assistência social precisa levar em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e dentre elas seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família (PNAS, 2004, p. 11, grifo nosso). A adesão ao novo requer dos profissionais: o reexame constante de seus objetivos, procedimentos e saberes; o permanente aperfeiçoamento; postura reflexiva e identidade particular; determinação; renuncia a alguns aspectos necessários e aceitar algumas perdas; controlar o estresse ansiedades, medos, dirigindo a atenção ao essencial; mentalidade aberta ao outro; responsabilidade compartilhada; vontade social, profissional e política; ter crítica e autocrítica; romper com o senso comum: (aproximação entre o trabalho intelectual, de cunho teórico metodológico, e a intervenção profissional cotidiana), dentre outros (OLIVEIRA, 2007b, p. 30-31). Então, há muito para se avançar. A necessária implementação de ações qualificadas tendo como centro a família segue exigindo que o gestor municipal de política pública de assistência social de Caxias do Sul, juntamente com o CMAS continue investindo no processo de formação e qualificação dos profissionais que atuam na rede socioassistencial tanto vinculados a projetos, programas e serviços governamentais quanto não-governamentais, visto que esta política só conseguirá dar o salto de qualidade apregoado pelo marco legal se possuir recursos humanos suficientes e qualificados. Diante do apontado até aqui se indica algumas demandas de trabalho na implementação do PAIF Caxias do Sul no ano de 2009. Estas demandas serão apresentadas, a partir de algumas categorizações: ações específicas aos trabalhadores que implementarão o PAIF Caxias do Sul em 2009; ações específicas aos trabalhadores dos CRAS e CREAS; ações para os diferentes trabalhadores da assistência social do 9 município de Caxias do Sul; avanços indispensáveis para a implementação qualificada do PAIF Caxias do Sul em 2009: Ações específicas aos trabalhadores que efetuarão a testagem da proposta teórico-metodológica em 2009: a proposta teórico-metodológica construída pela Universidade de Caxias do Sul e eixo norteador das ações com famílias ainda precisa ser melhor testada, re-configurada, re-adequada, aperfeiçoada. Isto demanda que os trabalhadores da assistência social, particularmente das entidades executoras do projeto piloto em 2008, novas entidades a serem habilitadas no ano de 2009 e CRAS e CREAS, ao executarem tal proposta, estudem pesquisem, problematizem, sintam-se dispostos a reconstruírem (OLIVEIRA, et al, 2008); continuar investindo na capacitação e supervisão das entidades executoras sobre trabalho com famílias, entendendo que a modalidade proposta ainda precisa ser melhor apreendida; investir em atividades que ajudem as entidades a efetuarem maior articulação entre a proposta teórico-metodológica e a intervenção profissional uma vez que as análises efetuadas pelos profissionais, em sua maioria, ainda não estão imbuídas pelo conhecimento adquirido, exercitando análises críticas dos fatores causais/determinantes, dos fatores condicionantes e dos fatores de risco que afetam as famílias como um todo; buscar estratégias que contribuam para avaliar o tempo necessário para o atendimento profissional às famílias, considerando o afirmado pelas entidades executoras a este respeito. Ações específicas aos trabalhadores dos CRAS e CREAS: organizar os indicadores discutidos e delimitados no ano de 2008 e, através de reflexões coletivas, filtrar aqueles que são necessários para o PAIF Caxias do Sul ou para a política de assistência social; como muitos dos indicadores levantados não serão utilizados pela assistência social, apesar da importância que foi levantá-los, ficou a indicação de que seja pensando alternativas que conjuguem estes indicadores para com as demais políticas sociais públicas; 10 maiores e mais aprofundadas discussões sobre a proposta teóricometodológica de intervenção com famílias indicada no PAIF Caxias do Sul; avançar na definição dos fluxos (referência e contra-referência) das informações e dos encaminhamentos das famílias referenciadas nos CRAS para a rede e vice-versa, socializando o construído para toda a rede socioassistencial ; padronizar os dados a serem coletados e organizados pelos CRAS em função da importância da medição da efetividade da política de assistência social; construir um manual de competências dos profissionais dos CRAS e CREAS; criar indicadores para supervisão e avaliação dos CRAS e CREAS e destes junto as entidades que compõem a rede socioassistencial; montar capacitações que atinja todos os operadores da assistência que atuam junto aos CRAS e CREAS, inclusive acerca do uso dos instrumentais de supervisão. Ações para os diferentes trabalhadores da assistência social do município de Caxias do Sul: a proposta das Orientações do PAIF, inclusive a metodologia de atendimento às famílias edificada pela UCS, deve abarcar todos os profissionais das entidades da rede socioassistencial; buscar estratégias que contribuam com a efetivação, de fato, da articulação e da interface entre as entidades da rede socioassistencial e destas com as demais redes de políticas sociais públicas. Avanços indispensáveis quanto a edificação do PAIF Caxias do Sul em 2009: melhor definição sobre o que cabe particularmente as modalidades de atendimento às famílias na proteção social básica e na proteção social especial; agregar à proposta teórico-metodológica de atendimento familiar a construção de mapas familiares, ferramentas de gestão e informática em nível avançado; 11 realizar diagnósticos territoriais, responsabilidade do gestor municipal, que possibilitem a identificação e interpretação da realidade social onde as famílias se encontram inseridas; viabilizar espaços propiciadores de avaliações por parte dos usuários, para que efetivamente se possa medir a execução do programa e o efeito do mesmo na vida do destinatário da ação; reeditar o curso de iniciação em análise de indicadores socioeconômicos e edição de um módulo avançado; buscar alternativas que contribuam para que as entidades da rede socioassistencial reconhecerem o tipo de serviço que prestam, seus objetivos, demandatários e procedimentos, aspectos essenciais para o estabelecimento das diretrizes e ações a serem efetuadas e para a delimitação da proteção social (básica ou especial) que será desenvolvida; elaborar critérios para a inclusão de novas entidades ao PAIF Caxias do Sul. III – CONCLUSÃO Entende-se que o presente artigo, possivelmente por ser parte das considerações finais de um relatório, contempla, quase em sua totalidade, conclusões. No entanto, nunca é demais reforçar afirmações e resumir avaliações ao se finalizar uma sistematização. Em síntese, os processos de edificação das Orientações Técnicas, Metodológicas e de Gestão do Programa de Atenção Integral às Famílias de Caxias do Sul encontramse, ainda, em fase inicial, requerendo vários movimentos, inclusive de ordem política. Há necessidade de muitos investimentos, entre eles no efetivo compartilhamento de responsabilidades. Isto demanda, além do já exposto, em concordância com Oliveira (2003): informações qualificadas que permitam aos diferentes sujeitos encolvidos saberem e aprenderem sobre a importância e o caráter daquilo que estão construindo; assunção da co-responsabilidade inerente à prática política de decisão, operacionalização e gestão. Responsabilidades que torna os vários sujeitos envolvidos parceiros e portanto, co-responsaveis. “Dito de outro modo, responsabilidade compartilhada, [...] é processo que precisa ser construído” (OLIVEIRA, 2003, p. 10). 12 REFERÊNCIAS BAPTISTA, Myriam Veras. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. 2ª ed. São Paulo: Veras, 2003. BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa participante. 2 ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984. CAXIAS DO SUL (2009a). Conselho Municipal de Assistência Social. Fundação de Assistência Social. Universidade de Caxias do Sul. Relatório Técnico Final: desenvolvimento do Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF Caxias do Sul, em 2008. Conselho Municipal de Assistência Social: Comissão de Trabalho, 2009. CAXIAS DO SUL (2009b). Conselho Municipal de Assistência Social. Fundação de Assistência Social. Universidade de Caxias do Sul. Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF Caxias do Sul: Orientações Técnicas Metodológicas e de Gestão: versão preliminar. Conselho Municipal de Assistência Social: Comissão de Trabalho, 2009. GRAMSCI, 2000 apud RAMOS, Sâmya Rodrigues. A construção de projetos coletivos: refletindo aspectos do projeto profissional do serviço social. In: Temporalis. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Ano 3, n. 5 (jan/jun. 2002), Brasília: ABEPSS, 2002. IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998. NOB/SUAS. Norma Operacional Básica NOB/SUAS: construindo as bases para a implantação do Sistema Único de Assistência Social. Secretaria do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Governo Federal. Brasília - DF, julho de 2006. OLIVEIRA, Mara de. Interlocuções Políticas: alguns espaços legais e legítimos de participação popular na defesa de políticas sociais públicas. 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Brasília - DF, 2004. RAMOS, Sâmya Rodrigues. A construção de projetos coletivos: refletindo aspectos do projeto profissional do serviço social. In: Temporalis. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Ano 3, n. 5 (jan/jun. 2002), Brasília: ABEPSS, 2002. 14