CAPITANIA DE GOIÁS : SOCIABILIDADE E DEVOÇÕES
Bolsista PBIC/UEG - Isiquiel Divino Santana –
Orientador –Eduardo Gusmão de Quadros
Curso de Ciências Humanas – História
UnU Cora Coralina/Goiás-go. Universidade Estadual de Goiás
RESUMO.
O desenvolvimento econômico da capitania de Goiás, e o conseqüente
aumento populacional, estiveram ligados à mineração, e, submetidos à religião
católica romana, que atendendo a interesses portugueses possibilitou a formação
de uma
religião onde a participação popular se fazia presente, mesmo em um
ambiente de controle social e religioso, ou até mesmo, por isso.
Palavras chaves. Mineração, religião, sociedade, devoção.
INTRODUÇAO
O desenvolvimento econômico da capitania de Goiás, e o conseqüente
aumento populacional, estiveram ligados à mineração, e, submetidos à religião
católica romana, que atendendo a interesses portugueses, “cooperou para
formação de um tipo de religião que estava a serviço da exportação do ouro, o que
pode ser chamado de catolicismo mineiro”.
1
Uma religião onde a participação
popular se fazia presente, mesmo em um ambiente de controle social e religioso,
ou até mesmo, por isso.
Esse controle sócio-religioso encontrava justificativa mediante a visão da
Igreja, sobre a sociedade mineira. Tal concepção mostra como o controle do clero
se fazia necessário nas minas, no entendimento das autoridades eclesiásticas,
conforme evidencia a seguinte transcrição:
2
Como seja costume inveterado das Minas, viverem os seus moradores na
Sensualidade.Com os entendimentos tão cegos, que esquecendo se de
Salvação das Suas Almas não acabam de conhecer a gravidade das
ocasiões próximas, e costume, de pecar parecendo lhes que sem Largarem
as tais ocasiões pode receber validamente o Sacramento da Penitencia, e
serem absolutos pelos confessores, a quem. Reputam por impertinentes,
ou ignorantes ... 2
A partir das situações expostas, e dos documentos da época analisados,
observa-se o severo controle do clero e estatal sobre essa população sofrida,
humilhada e “suspeita”, que deveria ser fiscalizada de perto. Assim o foi porque,
segundo Hoornaert, “nenhuma comunidade brasileira sofreu tanta repressão
quanto à comunidade mineira”. 4
Festas Religiosas
Nesta comunidade com características patriarcais, era o trabalho árduo dos
escravos explorados nas minas, que sustentava o luxo das festas e procissões, e,
este espaço concebido como dever religioso e institucional ia alem, tornava-se um
local de confraternização e fuga da realidade vivida, tirando o caráter de obrigação
do exercício da fé, e transformando-o em momentos de alegria e socialização.
Como argumenta Mello e Sousa:
“Que esta sendo festejado é antes o êxito da empresa aurífera do que o
santíssimo sacramento e nesta exaltação visual caracteristicamente
barroca que a comunidade mineira se celebra a se própria esfumaçando na
celebração do metal precioso as diferenças sociais que separam os
homens que buscam o ouro daqueles que usufruem o seu produto”. 7
Este aspecto mostra o comportamento social da elite da capitania de Goiás,
que era de ostentar os ganhos em locais festivos como elemento de status. Isso
dentro de um contexto barroco, onde o luxo de poucos era repassado a um
numero maior de pessoas que “através da festa criam um largo espaço comum de
3
riqueza – riqueza que é de poucos, mas que um espetáculo luxuoso procura
apresentar como sendo de muitos.” 8 Festas e procissões eram importante espaço
de alegria e fé, embora não representasse realidade social nem religiosa dessa
sociedade colonial. Como nos mostra os documentos da época, era comum às
pessoas desconhecerem as doutrinas cristãs. Como a experiência mostra a falta
de doutrina cristã que há em os escravos menores, e ainda em muitas pessoas
livres, sendo necessária para a sua salvação. 9
Irmandades
As divisões sócias e raciais se mostravam evidentes quando se observa os
termos
de
compromisso
das
irmandades
e
confrarias
existentes,
que
representavam os grupos constituídos da Capitania. Destacam-se as irmandades
de negros, Nossa Senhora do Rosário, de pardos, Irmandade de São Benedito, e
outras elitizadas como as que congregavam militares, funcionários públicos e
comerciantes. Deduz-se destas informações que a estrutura social em grupos era
importante, apesar de unidos na fé católica e subservientes aos interesses
portugueses.
Documentos
referentes
às
irmandades
mostram
que
elas
eram
constituídas por um grupo indeterminado de pessoas, fato evidenciado na
transcrição do termo de compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos da Cidade de Goiás “não haverá numero certo de irmãos e
irmãs”
12
. Estas pessoas se reuniam em torno de um santo , como pode ser
observado no documento da irmandade de são Miguel e Almas “que desde o ano
de 1733, se congregarão alguns dos moradores desta Villa, e entre se
estabelecerão um Corpo de Irmandade, sendo o protetor da mesma o glorioso
Arcanjo São Miguel e Almas”. 13
A preocupação com o além
4
A situação pós-morte ou a vida eterna estava voltada para o local onde as
pessoas seriam agraciadas de acordo com os merecimentos terrestres. Isso
fundia os dois mundos (o terrestre e o celestial), e foi importante para domesticar a
mão-de-obra escrava introduzida na fé ocidental, tornando o sofrimento do
trabalho tolerável, por causa da grandiosidade que seria a recompensa eterna
dada por Deus.
A morte mexia com o imaginário da época, e no momento chegado, à
extrema-unção era um “conforto e auxilio na ora da morte em que as tentações do
nosso comum inimigo Costumam Ser mais fortes e perigosos Sabendo que tem
pouco tempo para nos tentar”,
16
. Sendo um socorro no qual todo cristão deveria
constar, era um momento de suma importância, pois confessar e receber o perdão
era limpar a alma deixando o pecado para usufruir o gloria de Deus naquele
momento de transição.
Os corpos eram sepultados nas igrejas, local que eram realizadas
igualmente as missas. As disposições das sepulturas seguiam as hierarquias
sociais existentes, como nos mostram os documentos das Irmandades:
Falecendo alguns dos oficiais no ano em que servirem de mesa ou já
tiveram servido lhes darão a sepultura na seguinte forma:juiz, juíza, rei,
rainha, na capela maior, para dentro do arco com doze missas a cada um
da esmola costumada; escrivão, tesoureiro e procurador, dos quadros do
cruzeiro ate o arco com oito missa cada um; os irmãos de mesa no corpo
da igreja com seis missas cada um: os irmãos rasos no corredor com
quatro missas cada um e nos casos que assim dito não achem lugar
desocupados nos que acima lhes destinam sempre lhes dará no lugar mais
próprio dos seus cargos 17
Compreende-se perante tal informação uma forma de socialização entre
vivos e mortos, é como se os defuntos participassem das celebrações realizadas e
também respeitassem as hierarquias sociais instituídas por Deus.
Entende-se, portanto, que Vida e Morte estavam interligadas, não era um
rompimento, mas uma conseqüência de um período passageiro para a vida
5
eterna, onde encontraria Deus, os santos e os seus entes mortos, além da
felicidade pregada, prometida de uma vida melhor.
BIBLIOGRAFIA
a) Fontes primárias (manuscritas)
- Termos de visitas pastorais, cartas pastorais, provisões, certificados,
editais etc. 1734-1824. (acervo do IPEHBC)
- Termo de compromisso da irmandade de SAM MIGUEL E ALMAS de Vlla
Boa de Goiás (1733)
-
(acervo do IPEHBC)
Termo de compromisso da irmandade de NOSSA SENHORA DO
ROZARIO DOS PRETOS de Vlla Boa de Goiás (1811) (Acervo do Arquivo
Frei Simão Dorvi).
b) Bibliografia geral
Chaim, Marivone Matos. A Sociedade Colonial – 1749 – 1822. Goiânia: UFG,
1987.
Hoornaert, Eduardo. Formação do Catolicismo Brasileiro, 1550 – 1800 2ª Ed.
Editora Vozes.
Petrópolis –RJ: 1978
Souza, Laura de Melo e. Desclassificados do Ouro: pobreza mineira no século
XVIII. Rio de Janeiro: 2ª Ed. 1986.
NOTAS
1 HOORNAERT, Eduardo. Formação do Catolicismo Brasileiro, 1550 – 1800 2ª Ed. Editora Vozes. Petrópolis
–RJ
1978. p.88
2.IPEHBC, Termos de visitas pastorais, cartas pastorais, provisões, certificados, editais etc. 17341824. p.1
3 HOORNAERT, Eduardo. Formação do Catolicismo Brasileiro, 1550 – 1800 2ª Ed. Editora Vozes. Petrópolis
–RJ, 1978, pp. 50
6
p.97
4.SOUZA, Laura de Melo e, Desclassificados do Ouro: pobreza mineira no século XVIII – Rio de
Janeiro: 2ª Ed. 1986. p.21
5.SOUZA, Laura de Melo e, Desclassificados do Ouro: pobreza mineira no século XVIII – Rio de
Janeiro: 2ª Ed. 1986. p.23
9.IPEHBC, Termos de visitas pastorais, cartas pastorais, provisões, certificados, editais etc. 17341824. p.4
6. Termo de compromisso da irmandade de NOSSA SENHORA DO ROZARIO DOS PRETOS
de Vlla Boa de Goiás .1811
7 Termo de compromisso da irmandade de SAM MIGUEL E ALMAS de Vlla Boa de
Goiás1733
8.IPEHBC, Termos de visitas pastorais, cartas pastorais, provisões, certificados, editais etc. 17341824. p.38
9 Termo de compromisso da irmandade de NOSSA SENHORA DO ROZARIO DOS PRETOS
de Vlla Boa de Goiás
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