O USO DE CURATIVOS A VÁCUO COMO TRATAMENTO
INTERMEDIÁRIO NO TRAUMA COMPLEXO DE EXTREMIDADE:
EXPERIÊNCIA CLÍNICA E PADRONIZAÇÃO DA TÉCNICA
THE USE OF VACUUM DRESSING IN INTERMEDIATE TREATMENT ON COMPLEX
TRAUMAC OF EXTREMITYS: CLINIC EXPERIENCE AND TECNIC STANDARDISATION
LUCAS, Leonardo da Silveira*; PIZZONI, Valentim Rodrigues Salgado Vieira*; FRANCIOSI, Luiz Fernando Nobrega**;
MUELLER, Susana Fabíola***; CASTAN, Marcio Rosembergas*; SOUZA, Marcos Roberto Pacheco de*
* Médico Residente em Cirurgia Plástica. Hospital Cristo Redentor, Porto Alegre, RS.
** Membro Titular da Soc. Bras. de Cirurgia Plástica; Membro Titular da Soc. Bras. de Microcirurgia Reconstrutiva; Chefe do Serviço de
Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Cristo Redentor –Grupo Hospitalar Conceição; Preceptor da Residência Médica do Hospital
Ernesto Dornelles em Porto Alegre, RS. *** Membro Titular da Soc. Bras. de Cirurgia Plástica; Mestre em Técnica Operatória em
Cirurgia Experimental, Doutoranda em Bases Gerais de Cirurgia pela UNESP.
VALENTIM PIZZONI
Rua Alegrete n° 325, apt. 402 CEP: 90040-401 Azenha, Porto Alegre – RS
[email protected]
DESCRITORES
vácuo, trauma, procedimentos cirúrgicos, reconstrutivos, cirurgia plástica, extremidades
KEYWORDS
vacuum dressing, trauma, reconstructive surgery, plastic surgery, extremitys
RESUMO
Ferimentos com extensos danos aos tecidos e
exposição de estruturas nobres, tradicionalmente, têm
sido tratados com múltiplos procedimentos.
O curativo a vácuo aplicado sobre uma lesão está
associado à melhora da perfusão local, controle da
infecção, diminuição do edema e proliferação do tecido
de granulação.
O curativo a vácuo é realizado utilizando-se técnica
asséptica, no centro cirúrgico, de maneira padronizada
com materiais facilmente acessíveis e de baixo custo. O
mesmo é trocado a cada 48h, sob anestesia e o
tratamento definitivo, é realizado quando as condições
locais da lesão forem favoráveis.
Em todos os pacientes incluídos no protocolo deste
trabalho obtiveram boa evolução, com resolução da
infecção, desenvolvimento de tecido de granulação,
melhora da circulação local, possibilitando a execução
do tratamento definitivo (retalhos ou enxertos). Dois dos
pacientes que foram encaminhados com indicação de
amputação do membro tiveram a função do membro
preservada.
O sucesso no tratamento dos pacientes submetidos
ao curativo a vácuo demonstra a eficácia do método. Os
materiais utilizados na confecção do mesmo
possibilitaram uma grande economia uma vez que podem
ser adquiridos facilmente no comércio local e apresentam
baixo custo. Tem-se como rotina no serviço onde se
aplicou o protocolo, a utilização deste método em
pacientes com lesões graves do membro inferior e
superior.
ABSTRACT
Wounds with extensive damages to tissues and
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exposition of noble structures, traditionally, have been
treated with multiple procedures. The vacuum applied on
an injury is associated with the improvement of the local
perfusion, control of infection, reduction of edema and
proliferation of the granulation tissue.
The dressing is carried through using aseptic
technique, in the surgical center, in standardized way with
easily accessible materials and of low cost. Each 48h it
is changed under general anesthesia and the definitive
treatment is carried through when the local conditions of
the injury will be favorable.
All patients in the protocol have been presented
with good evolution, resolution of the infection,
development of granulation tissue, improve of the local
circulation, making possible the execution of the definitive
treatment (free flaps or skin grafs).
Two of the patients who had been proposed
amputation of the member, had had the function
preserved.
The success in the treatment of the patients
submitted to the vacuum demonstrates the effectiveness
of this method. The materials used can be acquired easily
in the local commerce and are cost effective. It is routine
in the service of plastic surgery and reconstructive
microsurgery at the Cristo Redentor Hospital, to use this
method in patients with serious injuries of the inferior
and superior member.
INTRODUÇÃO
Ferimentos com extensos danos aos tecidos,
contaminados, infectados ou crônicos são reconhecidamente de difícil manejo. Tradicionalmente, têm
sido tratados com múltiplos desbridamentos1-3 e troca
sucessiva de curativos. Posteriormente, encontram a sua
resolução através da utilização de retalhos ou enxertos.
Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 36 - Suplemento 01 - 2007
A obtenção de condições propícias para tais
procedimentos pode exigir várias semanas de tratamento4.
O curativo a vácuo foi introduzido por Fleischmann em
1987 e popularizado por Argenta e Morykwas1. O vácuo,
aplicado sobre uma lesão está associado à melhora da
perfusão local, controle da infecção, diminuição do edema
e proliferação do tecido de granulação1,4.
fechamento 3,3 ± 2,59 trocas.
Todos os pacientes incluídos no protocolo
obtiveram boa evolução, com resolução da infecção,
desenvolvimento de tecido de granulação, melhora da
circulação local, possibilitando a execução do tratamento
definitivo (retalhos ou enxertos). Dois dos pacientes que
foram encaminhados com indicação de amputação do
membro tiveram a função do membro preservada.
OBJETIVOS
DISCUSSÃO
O objetivo deste trabalho é demonstrar a eficiência
do curativo a vácuo em pacientes internados devido a
extensas lesões de extremidade. Padronizou-se esta
técnica com a utilização de material de baixo custo e
facilmente acessível.
MÉTODOS
Foram selecionados retrospectivamente, pacientes
que apresentavam lesões graves de extremidade, com
perda de cobertura e exposição de estruturas teciduais
nobres e/ou contaminação local, cujas condições
impossibilitavam a utilização de técnicas que propiciariam
o fechamento das lesões. Os pacientes foram atendidos
no Serviço de Microcirurgia Reconstrutiva e Cirurgia
Plástica do Hospital Cristo Redentor – GHC – em Porto
Alegre no período compreendido entre fevereiro de 2005
e maio de 2006.
O curativo a vácuo é realizado utilizando-se técnica
asséptica, no centro cirúrgico. Após o desbridamento
dos tecidos desvitalizados, hemostasia e limpeza rigorosa
do ferimento a lesão é coberta, por espuma de
poliuretano de cinco cm de espessura e estéril, modelada,
de forma a cobrir a lesão.
Em tubo flexível de silicone, o mesmo utilizado no
sistema de aspiração cirúrgica; são confeccionadas
múltiplas fenestras. Com um bisturi faz-se uma incisão
na espuma onde se coloca o tubo. Este conjunto é
envolvido por várias voltas de um filme de PVC de forma
a manter a zona do curativo fechada hermeticamente. O
vácuo é produzido ligando-se o tubo a rede de vácuo do
hospital tendo-se como intermediário um frasco para a
coleta das secreções.
Os pacientes recebem inspeções freqüentes devido
à possibilidade de isquemia quando o curativo envolve
os dedos da mão ou os artelhos dos pés. O curativo é
trocado a cada 48h, sob anestesia e o tratamento
definitivo, é realizado quando as condições locais da lesão
forem favoráveis.
RESULTADOS
Foram selecionados nove pacientes todos com
traumas graves de extremidade encaminhados para
tratamento no serviço onde se aplicou o protocolo. Quanto
ao sexo dividiam-se em seis homens e três mulheres. A
idade variou entre 02 anos e 80 anos, com média de
27,1 anos. O tempo médio de internação foi de 56 ± 47,4
dias. O número de trocas de curativos a vácuo antes do
As lesões provocadas pelos acidentes de trânsito
foram as mais freqüentes entre os pacientes que
necessitaram do curativo a vácuo, seguidos das lesões
provocadas pelas queimaduras, ferimentos por arma de
fogo com síndrome compartimental secundária.
Nota-se um período de internação médio prolongado,
porém o tempo total de internação não corresponde ao
tempo em que foi aplicado o protocolo sendo que estes
pacientes apresentavam traumas múltiplos e longo
período de convalescência. O tempo em que os paciente
foram submetidos à terapia com vácuo é melhor refletido
pelo número de troca de curativos, sendo o intervalo entre
elas de 48h.
Apesar de não haver um grupo controle, pode ser
constatado pela equipe médica que as lesões
semelhantes tratadas de maneira convencional, com
curativos diários despenderam muito mais tempo e um
número muito maior de procedimentos intermediários
antes do tratamento definitivo. Cabe ressaltar que fazem
parte deste trabalho, dois pacientes que foram
encaminhados para o Hospital Cristo Redentor com
indicação formal de amputação, e encontraram, no
curativo a vácuo, seguidos da transferência de retalhos
livres, um tratamento eficaz das lesões sendo que não
foi necessária a amputação. Estes dois pacientes
deambulam sem o auxilio de qualquer tipo de aparelho.
Observou-se que o número de procedimentos
intermediários e posteriores ao tratamento definitivo foi
maior nos casos mais graves, e que o tempo de
internação foi substantivamente abreviado com o uso da
técnica descrita.
CONCLUSÃO
O sucesso no tratamento dos pacientes submetidos
ao curativo a vácuo demonstra a eficácia do método. Os
materiais utilizados na confecção do mesmo
possibilitaram uma grande economia uma vez que podem
ser adquiridos facilmente no comércio local e apresentam
baixo custo. Tem-se como rotina nos serviços de cirurgia
plástica e microcirurgia do Hospital Cristo Redentor a
utilização deste método em pacientes com lesões graves
do membro inferior e superior.
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Figura 2 – Curativo a vácuo instalado>
Figura 1 – Lesão antes do tratamento com vácuo
Figura 4 – Resultado Final
Figura 3 – Depois da retirada do curativo a vácuo, reconstrução
definitiva com retalho livre
REFERÊNCIAS
1 - Wu S., Zecha P., Feitz R., Hovius S. – Vacuum
therapy as an intermediate phase in wound closure: a clínical
experience – European j plast surg. 2000, 23, 174-7.
2 - DeFranzo A., Argenta L., Marks M., Molnar J.,
David L., Webb L., Ward W., Teasdall R. – The use of
vacuum-assisted closure therapy for the treatment of
lower-extremity wounds with exposed bone – Plast
188
Reconstr Surg. 2001, 108, 1184-91.
3 - Müllner t., Mrkonjic L., Kwasny O., Vécsei V. –
The use of negative pressure to promote the healing of
tissue defects: a clinical trial using the vacuum sealing
technique – Br J Plast Surg. 1997, 50, 194-9.
4 - Evans D., Land L. - Topical negative pressure
for treating chronic wounds: a systematic review - Br J
Plast Surg. 2001, 54, 238–42.
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