1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NA ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO FUNDAMENTAL. Aluna: Maria Isabel Moret Gonçalves Orientadora: Caroline Sianlian Kwee Rio de Janeiro 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NA ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO FUNDAMENTAL. Apresentação de Candido Mendes obtenção do monografia como grau à requisito de Universidade parcial para especialista em Psicopedagogia. Por: Maria Isabel Moret Gonçalves 3 AGRADECIMENTOS À Universidade Cândido Mendes, Equipe docente e discente, pela excelência na aprendizagem e harmonia que proporcionaram; Em especial, à Orientadora, Carol Kwee, pela competência e apoio neste trabalho. 4 DEDICATÓRIA Aos meus familiares, pela paciência e amor na concretização desse sonho. 5 RESUMO Trata-se de uma revisão de literatura com o objetivo de ampliar a construção transdisciplinar do projeto de ensino pela contribuição que a Psicopedagogia pode oferecer aos professores do Ensino Fundamental na abordagem dos alunos. Para tanto, foram confrontadas as perspectivas da atuação do Professor e da Psicopedagogia, de forma a considerar uma nova dimensão que vem abrindo espaço nos meios educacionais brasileiros, revelando-se importante ferramenta para docentes que atuam nas escolas e percebem a incompatibilidade entre o desafio proposto aos professores pela LDB 9394/96 e os meios tradicionais de se perceber o aluno. 6 METODOLOGIA A pesquisa bibliográfica foi iniciada com o levantamento de fontes documentais e bibliográficas como forma de aproximação do tema e estruturação dos objetivos do trabalho. Caracteriza-se como uma pesquisa predominantemente descritiva, uma vez que expõe características do fenômeno estudado, além de ter características de natureza exploratória, buscando aproximação dos fatos. (GIL, 1987). Para tanto foram realizados procedimentos de coleta de dados, através de pesquisa documental-bibliográfica, entre artigos e livros sobre o tema (SANTOS, 2001). Para a coleta de dados, estrutura-se com o desenvolvimento do capítulo inicial que descreve aspectos essenciais da contribuição da Psicopedagogia, foram selecionados especialmente os autores João Beauclair, Robson Stigar, Marcos Vinícius Castro Souza, Mauro Maia Laruccia e Odair Sass. O segundo capítulo, referente à formação dos professores do ensino fundamental, são revistos os artigos de Olga Lídia Cunha Cordeiro Waldilene Lisboa De Souza, Anna Helena Altenfelder, Marlene Coelho Alexandroff, José Mário Pires Azanha. Ademais, será revisada a legislação estabelecida sobre a formação de professores de ensino fundamental Finalmente, será dado o tratamento e interpretação dos textos, de forma a estruturar as conclusões finais que possam responder à questão que fundamenta o trabalho. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 CAPÍTULO I - ASPECTOS DA PSICOPEDAGOGIA .................................. 11 1.1 - Percurso histórico ............................................................................. 11 1.2 - O saber da Psicopedagogia .............................................................. 13 1.3 - A escuta psicopedagógica no ambiente escolar ........................... 15 CAPÍTULO II - ATUAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL ......................................................................................... 17 2.1 - As bases legais da formação docente ............................................. 17 2.2 - A prática docente .............................................................................. 18 2.3 - O processo de aprendizagem e avaliação dos alunos .................. 19 2.4 - Dificuldades enfrentadas na relação professor x aluno ................ 20 CAPÍTULO III – ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES ............................................................. 22 3.1 - Intervenções possíveis ..................................................................... 22 3.2 – Atuação ............................................................................................. 25 3.3 - Novos olhares ................................................................................... 30 CONCLUSÃO .............................................................................................. 34 BIBLIOGRAFIA CITADA ............................................................................ 36 ÍNDICE ......................................................................................................... 39 FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................. 40 8 INTRODUÇÃO As reflexões sobre projetos pedagógicos têm como objeto prioritário o aluno. Dessa forma, levar o aluno a se situar positivamente no processo de aprendizagem, e seu conseqüente desenvolvimento, é o desafio maior proposto aos profissionais das disciplinas envolvidas no espaço educacional. É importante se levar em conta que a aprendizagem é um processo extraordinariamente complexo, que contempla aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. Pode-se dizer que a aprendizagem, no que concerne à escola, é uma resposta de cada aluno a partir do desenvolvimento de aptidões e conhecimentos, que possam ser usados em novas situações. Na prática, mais de 40 milhões de crianças estão freqüentando o ensino fundamental nas escolas públicas e particulares de todo o Brasil e, lamentavelmente, os índices de aprendizagem têm se mostrado muito baixos, na análise de Alexandroff (2009, p.131). Essa constatação levou o MEC e o CNE a proporem a ampliação da escolaridade obrigatória de oito para nove anos, de forma a dar possibilidades de aprendizagem e de inclusão das crianças brasileiras. A experiência da autora, ao longo de 32 anos à frente do 2º Segmento do Ensino Fundamental, tem mostrado que alguns alunos não apresentam o resultado esperado, diferenciando-se dos demais, e exigindo alternativas de abordagem capazes de apoiar sua diversidade de interesses e motivações para lograrem êxito em seu percurso de aprendizagem. Trata-se de um ponto estratégico para manter esses sujeitos integrados no processo, evitando conseqüências indesejáveis, como a reprovação ou evasão. 9 As dificuldades educacionais e os problemas contemporâneos de aprendizagem justificam um esforço conjunto de diversas disciplinas capazes de oferecer subsídios à atuação do professor para que este possa compreender as dificuldades de seus alunos e assim melhor desempenhar seu papel na sala de aula e junto à sociedade. O compromisso que fundamenta o espaço escolar é o aluno e o sucesso da sua aprendizagem e de sua formação constituem objetivos centrais ao corpo docente. Qual a contribuição que a Psicopedagogia pode oferecer aos professores do Ensino Fundamental, de forma a ampliar seu olhar aos alunos sob sua responsabilidade e assim aprimorar a sua abordagem? Essa parece ser uma pergunta importante a ser pesquisada, uma vez que pode conduzir a novas saídas e soluções que ferramentalizem o professor para exercer sua complexa tarefa. Portanto, o tema escolhido para investigação é a “contribuição da Psicopedagogia para atuação dos professores do Ensino Fundamental”. O objeto de estudo delimita-se à análise da aplicação da Psicopedagogia ao espaço escolar, referida à formação do professor do Ensino Fundamental. A hipótese de trabalho é que a Psicopedagogia pode propor uma orientação mais pragmática aos professores do Ensino Fundamental, capacitando o professor a novos olhares que permitam desdobrar sua compreensão e manejo sobre as diferenças individuais entre os alunos, com a possibilidade de um tratamento diferenciado e mais eficaz para o aprendizado. A pesquisa tem como objetivo principal ampliar a construção transdisciplinar do projeto de ensino com a contribuição que a Psicopedagogia pode oferecer aos professores do Ensino Fundamental na abordagem dos alunos. 10 Tem ainda como objetivos intermediários: avaliar os conhecimentos da Psicopedagogia e as possíveis contribuições ao professor; rever as questões pedagógicas referidas à formação dos professores do Ensino Fundamental; articular as abordagens Psicopedagógica e Pedagógica na formação dos professores do Ensino Fundamental. 11 CAPÍTULO I ASPECTOS DA PSICOPEDAGOGIA 1.1 Percurso histórico Os centros pioneiros criadores da Psicopedagogia surgiram na França, no relato de Gonçalves (2007), em 1946, nos quais havia equipes constituídas por psicólogos, pedagogos e psicanalistas, visando ao desenvolvimento de uma atuação mais efetiva com crianças que apresentavam problemas escolares e de comportamento. Os resultados ali obtidos foram tão compensadores que passam a interessar diversos países em busca de novos caminhos para atuar sobre o fracasso escolar. Para Lima (2011), as idéias francesas influenciaram a ação psicopedagógica argentina, de grandes nomes como Sara Paín, Alícia Fernandez e Jorge Visca. Foi a Psicopedagogia argentina, que influenciou a práxis brasileira. Pesquisas sobre a Psicopedagogia no Brasil ocorrem desde a década de 60, em forma de grupos de estudos, que refletiam sobre a prática educacional. Posteriormente, na década de 70 os primeiros cursos na área de Psicopedagogia foram oferecidos, mas, foi nos anos 90, que estes cursos se multiplicaram pelo Brasil - que têm nas Regiões Sul e Sudeste, maior demanda de especialização e trabalhos realizados (BEYER, 2011). A Psicopedagogia foi apresentada como um conjunto de conhecimentos de diversas disciplinas estruturados e especializados para solucionar o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem dos alunos, conforme Beaufils apud SASS (2003). 12 Essa nova área era um passo da Educação e da Saúde, que representava a reunião da Psicologia e da Pedagogia, para responder à demanda de uma intervenção em problemas de aprendizagem que dependiam de novas ferramentas para oferecer soluções mais eficazes. Sass (2003, p.1370) destaca que nesse modelo de Psicopedagogia, encontram-se diversos aspectos da organização escolar: Didática - na proposta do professor sobre as atividades dos alunos, seja na escola tradicional, na educação nova ou na escola ativa e suas variantes; Psicologia e Currículo - quando promove a identificação dos aspectos psicológicos envolvidos no ensino e na aprendizagem de conteúdos das disciplinas escolares; Centros psicopedagógicos para tratamento institucional de crianças com problemas de conduta e de aprendizagem; Terapêuticos: como modo de tratar crianças e adolescentes inaptas, que apresentam resultados escolares. Pode-se concluir que a Psicopedagogia no Brasil caminhou no sentido de resolver problemas de conduta e de aprendizagem dos alunos, assim como oferecendo uma consistente perspectiva da psicologia clínica para tratar essas dificuldades. A formação de alunos em Psicopedagogia no Brasil tem ocorrido desde a década de 70, em algumas instituições universitárias. A regulamentação brasileira progrediu a partir do Projeto de Lei nº 128/2000 e da Lei n.º 10.891, que autoriza o Poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem. Mas somente em 2005, o primeiro curso de graduação em Psicopedagogia foi reconhecido e, em 2006, foi recomendado pela 13 CAPES o primeiro mestrado acadêmico com área de concentração em Psicopedagogia (ABPp, 2011). 1.2 O saber da Psicopedagogia A prática clínica transformou-se em um campo de estudos sobre o processo de construção do conhecimento e das dificuldades que se apresentam nesse contexto. A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuação dirigida pelo e para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser, que apreende da realidade, e constrói o seu conhecimento, aprendendo. Visto que o conhecimento é construído natural e continuamente pelo sujeito, no seu viver, não sendo exclusividade do ambiente escolar, já que ocorre simultaneamente com o processo de vida, a Psicopedagogia pode auxiliar várias áreas da atividade humana. (BEYER, 2011, p.) A contribuição do psicopedagogo no processo de aprendizagem se dá na forma com que o aluno aprende, especialmente levando em conta que existem muitas variações de aluno para aluno. Essas diferenças podem ser observadas no interesse, no ritmo, nas aptidões etc. Caminhando mais além dessa perspectiva, Visca (2000) aborda uma visão de conjunto para o terceiro milênio, o que chama de Psicopedagogia convergente, isto é, contempla entre outras duas unidades que se somam ao trabalho psicopedagógico: a instituição e a comunidade. Esse paradigma consiste na assimilação recíproca de contribuições da Psicanálise, da Escola Piagetiana e da Psicologia Social. 14 É importante mencionar que, além dos trabalhos com as unidades de análise indivíduo e grupo, começaram as primeiras tentativas de sistematizar conceitual e tecnicamente outras duas unidades de análise: a instituição e a comunidade. Aproximadamente até 1996, eu acreditava que a psicopedagogia possuía somente duas unidades de análise: o indivíduo e o grupo, ambas como unidades funcionais ou seja, que o grupo apesar de possuir heterogeneidade estrutural - por seus diferentes integrantes - tinha homogeneidade funcional e aprendia como um todo, não como uma soma de indivíduos.(VISCA, 2000, p.3) A prática na instituição escolar tem dupla natureza (STIGAR, 2011): a) para o grupo de alunos que apresenta dificuldades na escola, seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às suas necessidades e ritmos; e b) junto a pedagogos, orientadores e professores tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professoraluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, as diferentes áreas do conhecimento. A Psicopedagogia, na perspectiva de Beauclair (2004), vai mais além, pois é um campo do conhecimento que tem como objetivo integrar saberes e princípios de diferentes Ciências Humanas, visando a adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano, tais como: Psicologia, Psicanálise, Filosofia, Psicologia Transpessoal, Pedagogia, Neurologia, entre outras. Se a Psicopedagogia é importante para a compreensão dos alunos e suas dificuldades, de acordo com Altenfelder (2005, p.2), é possível também atuar na formação continuada em supervisão, elaboração ou coordenação de projetos de desenvolvimento profissional de educadores. Esse conhecimento se torna fundamental para os professores entenderem melhor seus alunos e procurarem atuar de forma mais eficaz no processo de aprendizagem. Portanto, para o Psicopedagogo interessa a constituição do sujeito, sua transformação nas diferentes etapas de vida, que recursos de conhecimento dispõe e a maneira pela qual produz 15 e aprende. É fundamental que o conhecimento psicopedagógico envolva o processo de ensino (transmissão) e o aprender (recepção); como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que atuam no aparecimento de transtornos de aprendizagem e no processo escolar. (ALTENFELDER, 2005, p.2), 1.3 A escuta psicopedagógica no ambiente escolar A atuação do psicopedagogo em instituições escolares requer a perspectiva da escuta psicopedagógica clínica como mecanismo de avaliar e tratar os diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano do trabalho docente. Nas escolas, a escuta Psicopedagogia é proposta com a intenção de abrir os canais entre os atores que desempenham os principais papéis – professor e aluno. Souza (2011) explicita que a prática psicopedagógica exige um olhar observador capaz de investigar e desvendar causas das dificuldades que muitas vezes se depara com emoções não expressas em palavras, ocultas, disfarçadas em crenças, valores e (pré)conceitos de ambos os lados. Abrir a mente para essa possibilidade de compreender o alunado de forma subjetiva permite ir mais além, atingindo o não visto, o não dito, aquilo que há por trás dos problemas que impedem a aprendizagem. Essa possibilidade é essencial para a busca de respostas e estratégias para a reconstrução do aprender. Dentro dessa perspectiva, há um olhar para questões específicas - vividas por cada um - que justificam o não-aprender. É possivelmente uma abertura para compreender a não aprendizagem, permitindo remover rótulos de indivíduos em formação, facilitando a emergência de suas potencialidades e reduzindo as dificuldades. Ademais, desmistifica diagnósticos apressados que levam pais a 16 providenciarem tratamentos dolorosos e inadequados em troca de novas e promissoras respostas. Para Martins (2003, p.44), a escuta da Psicopedagogia tem condições de propiciar ao professor a criação de um ambiente coletivo de tal forma que as dificuldades sejam discutidas e compartilhadas na procura de soluções. Essas soluções passam por questões individuais e privilegiam o processo de aprendizagem - o interesse de ensinar e de aprender - e não resultados, conteúdos ou estatísticas que possam mascarar as dificuldades pessoais e formar cidadãos incapazes de pensar por si próprios. Esse olhar da Psicopedagogia, diante da subjetivação da aprendizagem, permite reformular o conteúdo programático, de forma a procurar caminhos diferenciados de aplicação do conteúdo, para alcançar a realidade vivenciada pelo grupo. Isto significa que sejam privilegiadas atividades que amplie o interesse e as formas de aprendizagem, através de estratégias construídas caso a caso, de jogos e de tecnologia, para integrar interesses, raciocínio e informações que permitem ao aluno atuar operativamente (STIGAR, 2011). 17 CAPÍTULO II ATUAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL 2.1 As bases legais da formação docente A formação de professores, a partir da perspectiva da LDB 9394/96, originou a percepção de valores para a qualificação do trabalho docente com vistas a aperfeiçoar o aprendizado. A Lei, também denominada Lei Darcy Ribeiro, estrutura o ensino brasileiro dividido entre Educação Básica, que contempla a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; e a Educação Superior (BRASIL, LDB, 1996). O espírito da Lei propõe como objetivo formar o educando para o exercício da cidadania, bem como dar meios para que ele prossiga sua formação em estudos posteriores. A LDB prevê a carga horária mínima de 800 horas anuais, distribuídas em 200 dias letivos no mínimo, e define a classificação do aluno por séries, que pode ser feita por: promoção, por transferência, por avaliação feita pela escola em vista de definir o grau de desenvolvimento do educando, além de outras possibilidades. O Ensino Fundamental atribui ao docente a tarefa de desenvolver no aluno a capacidade de aprender, o domínio da leitura, da escrita, do cálculo, desenvolver a capacidade de aprendizagem, o fortalecimento dos vínculos de família, de solidariedade e de tolerância recíproca na vida social. O Ensino Fundamental pode ser dividido em ciclos e deve ser presencial, permitindo complementação dos estudos, por meio de ensino a distância. (BRASIL, LDB, 1996). Esses objetivos de ordem geral devem ficar alinhados ao cumprimento da carga de informações das disciplinas definidas para cada série. 18 2.2 A prática docente As ações diárias do professor estão acima das atribuições legais e exigem que esse profissional se referencie numa modalidade de pensar a educação. Isso significa que é necessário situar-se nos discursos que tematizem a educação como objeto de uma reflexão sistemática, preocupado com a realidade nacional. (SEVERINO, 2000). Para que melhor se compreenda essa questão, Rocha (1980) situa o processo de ensino e aprendizagem em componentes fundamentais (professor, aluno e conteúdo), destacando os seguintes modelos: a)clássico, no qual o foco é o professor no seu papel de transmissor do conhecimento; b)tecnológico, que ressalta domínio do conteúdo, transmissão de informações e desenvolvimento de competências orientadas para o futuro; c)personalizado, em que o aluno é o foco do processo, o professor torna-se um mediador e o processo de aprendizagem se desenvolve a partir de interesses, experiências e necessidades levantadas pelo aluno; d) internacional, em que a tarefa do professor é abrir diálogo e interação de experiências não pré-estabelecidas, mas fruto da análise crítica de problemas sócioculturais. Não há sistema ideal de ensino e aprendizagem, mas as estratégias que cada um deles oferece podem ser utilizadas pela habilidade e oportunidade do professor. O ideal seria mesclar todos eles, mas, diante de circunstâncias pouco favoráveis – número grande de alunos, dificuldade de aprofundar a relação professor-aluno, falta de recursos de ensino, cumprimento do repasse de conteúdo global etc – o docente é levado a permanecer no papel do modelo clássico. 19 Alexandroff (2009) examina a dificuldade de aprendizagem como o fator preponderante para que o MEC e o CNE tenham proposto um aumento da escolaridade obrigatória de oito para nove anos, ampliando as possibilidades de aprendizagem e de inclusão das crianças brasileiras no ensino fundamental: Mais de 40 milhões de crianças estão freqüentando o ensino fundamental nas escolas públicas e particulares de todo o Brasil. Por sua vez, os índices de aprendizagem têm se mostrado muito baixos. Estima-se que um número elevado de crianças apresenta grandes dificuldades quanto à alfabetização enquanto que os demais, mesmo aprendendo, o fazem em índices inferiores ao que seria esperado. Por detrás dessa realidade temos diversos fatores, tais como, desrespeito às características etárias, sociais e psicológicas das crianças como sujeitos do aprendizado e aos conhecimentos prévios sobre o sistema de representação e o significado da leitura e da escrita que elas trazem por viverem, desde que nascem numa sociedade cuja cultura dominante é a letrada. (ALEXANDROFF, 2009, p.132) Essa análise leva à conclusão que, tal como os alunos sofrem no processo de aprendizagem, os professores passam por sérias dificuldades no processo de ensino. 2.3 O processo de aprendizagem e avaliação dos alunos As dificuldades ressaltadas têm criado impasses difíceis de transpor. Azanha (2004) analisa a permanente expansão das matrículas no ensino fundamental ao longo das últimas décadas como fator de inviabilização da estruturação da atividade pedagógica estabelecida a partir da relação professor-aluno. Diante da relação entre professor e aluno, existem múltiplas formas de avaliação que podem ser usadas, variando de acordo com a finalidade a verificar e se lançando mão dos modelos de sistemas de ensino. As formas mais habituais são a prova escrita, os trabalhos em grupo, a auto-avaliação estimulada pelos professores para auxiliarem os alunos a realizarem seu próprio julgamento de 20 desempenho. A tradicional prova escrita, diante da privilegiada posição do modelo clássico, é eleita preferencialmente o instrumento empregado pela maioria das escolas. Diante dessa realidade, Lima (2004) questiona os processos de avaliação da aprendizagem em que os alunos, usualmente, centrados num desempenho cognitivo, não são referidos a um projeto político-pedagógico de escola, direcionando o sentido, especialmente, para o ato de aprovar ou reprovar os alunos. 2.4 Dificuldades enfrentadas na relação professor x aluno A relação professor x aluno dá suporte ao processo de aprendizagem. Conhecer seus alunos para estimulá-los parece ser essencial nessa troca, pois uma relação é individual e única. Não é possível desconhecer as diferenças e respeitálas. Conforme observa Gomes (2007), apesar dos esforços e avanços promovidos pela LDB, a qualidade do ensino tem ficado a desejar e muitos alunos que completam o ensino fundamental não têm as habilidades e competências necessárias para a leitura e escrita que a LDB considera que deveriam alcançar. Poucos adquirem condições para prosseguir em sua aprendizagem, uma vez que não atingem a competência para leitura, escrita e interpretação que propiciem adquirir informações e capacidade de interpretar conhecimentos. A conseqüência é o bloqueio na evolução no processo de aprendizagem. Azanha (2004) adverte que a aprendizagem no “ponto de vista pedagógico não é uma soma de parcelas de saberes teóricos”. Não se pode reduzir a ação pedagógica nessa questão, pois são insuficientes para oferecer a sustentação do 21 entendimento da compreensão do cenário da escola e da formação dos critérios do educador. Torna-se evidente que não existem fórmulas prontas para orientar essa formação, mas o próprio conceito de vida escolar é básico para que se alcance esse discernimento. Nesse sentido, elucida Andrade (2011) a amplitude do termo “educador”: Podemos traduzir por diferentes palavras o agente da ação de ensinar – educador, orientador, professor, mestre, docente – e, a despeito da sinonímia, do que as iguala, cada qual revela uma determinada concepção do que seja ensinar e aprender. Por exemplo, o termo educador, que se origina na latina educatoris, tem sido usado como referência ao amplo processo de educação de um indivíduo, como desenvolvimento de suas capacidades – moral, intelectual, social, física. Termo cada vez mais usado pelos diferentes movimentos dos profissionais do ensino, porque revela adequadamente a amplitude do nosso papel atual e que não se restringe à sala de aula convencional, mas representa toda atividade educativa (educador de rua, por exemplo). (ANDRADE, 2011, p.2) Portanto, mais do que ampliar o tempo para aprendizagem, faz-se necessário melhor equipar o educador para atuar com sucesso ao longo de sua complexa missão. Uma das propostas, para tanto, é a ampliar a construção transdisciplinar do projeto de ensino com a contribuição que a Psicopedagogia oferece. 22 CAPÍTULO III ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES 3.1 Intervenções possíveis Conforme avaliado nos capítulos anteriores, a intervenção da Psicopedagogia na atuação dos professores parece bem vinda para auxiliar teoricamente, e principalmente na prática do cotidiano das escolas, a grave questão do fracasso escolar, diante do quadro de baixo rendimento que o Ensino Fundamental vem apresentando. O sintoma do problema de aprendizagem, de acordo com Pego (2004) é produto do desequilíbrio existente entre elementos internos ao sujeito - organismo e corpo - ou externos a ele - inteligência e desejo. Nessa perspectiva, se a intervenção da Psicopedagogia se limitar à eliminação do sintoma, não se estará tratando do sujeito como um todo, e os componentes sintomáticos podem ressurgir de novas formas. A eficácia de uma intervenção deve tomar por base conhecer o que leva o surgimento do sintoma, as condições que favoreceram seu surgimento. O reencontro com o equilíbrio encontra-se, “não na ênfase em suprir o que falta ao paciente, mas em possibilitar-lhe uma ação integradora do que ele já conquistou para que na ação possa construir ou resgatar o que lhe falta” (PEGO, 2004, p.129). Moreira (2002) destaca na intervenção psicopedagógica os pressupostos de Piaget, Vygostsky e Paulo Freire, no que diz respeito a uma cuidadosa reconstrução de vínculos com o conhecimento, baseada na apropriação de dados de identificação pessoal e história de vida. São conteúdos que abrem a via de compreensão de si e 23 do mundo e reconstrução da autoimagem, podendo ser ainda o conteúdo da produção de textos utilizados como recurso da leitura/escrita. Há outras formas de intervenção, sempre destacando elementos vivenciais do aluno, tais como cordel, quadrinhos, adivinhações, folhetos, out-doors, jornais, livros. Fagali (2001, apud Cardoso, 2005) destaca a construção do conhecimento, fundamentada de forma que, durante a aprendizagem, sejam exploradas diferentes formas de captar e processar a realidade e os conhecimentos. Um dos aspectos mais eficazes é focalizar o imaginário, intuitivamente, de maneira a considerar os sentimentos, as construções do pensamento e as captações sensórioperceptivas. Nesse processo de ensinar e aprender abre-se espaço para manifestações das múltiplas formas de expressar, utilizando a linguagem verbal e não verbal. Para Peres & Oliveira (2007), existem na literatura três níveis de intervenção psicopedagógica. No primeiro nível, a atuação é relacionada aos processos educativos para evitar problemas de aprendizagem, levando em consideração questões didático-metodológicas, formação e orientação de professores, além do aconselhamento aos pais; o segundo nível busca reduzir e tratar problemas de aprendizagem já instalados, com a elaboração do diagnóstico da realidade institucional e a formulação de planos de intervenção em trabalho com os professores; finalmente, o terceiro nível tem como foco a eliminação de transtornos e prevenção do surgimento de problemas derivados ou novos. Portanto, o trabalho psicopedagógico preventivo também é extremamente importante, uma vez que se baseia principalmente na observação e análise profundas, com o objetivo de detectar precocemente possíveis perturbações que podem ocorrer no processo de aprendizagem, permitindo a busca de soluções alternativas e mais eficazes. Essa precaução promove orientações didático- 24 metodológicas, de acordo com as características dos indivíduos e grupos, antes que se configurem os problemas, trazendo novos caminhos para o professor percorrer. Na verdade sempre as soluções preventivas são a melhor opção (STIGAR, 2011). A perspectiva de Bossa (2008) sobre a legitimidade da produção teórica do campo da Psicopedagogia é de que muito empenho tem sido empreendido para que finalmente se constitua em um campo de conhecimento científico apto a intervir na atuação dos professores e demais áreas a que se propõe. Esse longo caminho já percorrido mostra que a Psicopedagogia já reuniu condições para integrar a academia e nela produzir saber, ou seja, para que se possa ter os subsídios necessários e o apoio destinado à pesquisa, principalmente para auxiliar na solução dos graves problemas educacionais enfrentados pelo nosso país. Dessa forma, esclarece: O aporte teórico do diagnóstico e do tratamento dos problemas escolares tem como objeto o sujeito da aprendizagem em sua dimensão biopsicocultural, o professor enquanto mediador na construção do conhecimento, a escola enquanto instituição sujeita às leis e à tradição da educação em nosso país, a família como instância responsável pela constituição e pelo desenvolvimento do sujeito. Todos esses aspectos são contemplados numa análise histórica. Por outro lado, o caráter da singularidade do processo individual deve estar no centro da cena. (BOSSA, 2008, p.6) Portanto, para a autora, pode-se consagrar a intervenção da Psicopedagogia no tratamento dos entraves no processo de aprendizagem escolar, na pesquisa e produção de um referencial teórico que contemple as formas de realizar o diagnóstico e tratamento de problemas escolares com foco no sujeito da aprendizagem em sua dimensão biopsicocultural, e na detecção e atuação prévias nos possíveis entraves do processo de aprendizagem. Bossa (2008), ao perceber o psicopedagogo dessa forma, também dimensiona outros atores em cena, principalmente o professor como interventor na 25 construção do conhecimento, bem como o espaço e as condições sob as quais atua, isto é, a escola, as leis e a tradição da educação em nosso país. Para completar, há a família, que é a instância responsável pela constituição e pelo desenvolvimento do sujeito. Embora esses elementos configurem o sistema de cada aluno, a autora faz questão de destacar: O caráter da singularidade do processo individual deve estar no centro da cena. Estudar com profundidade esse complexo sistema e, ao mesmo tempo, atender aos paradigmas científicos sem sucumbir ao aprisionamento conceitual, construindo uma concepção psicótica da realidade, resulta num extraordinário amadurecimento teórico. A exemplo de outras disciplinas, é preciso seguir em frente. (BOSSA, 2008, p.6) Dessa forma, mesmo que sejam muitas dificuldades a enfrentar, a Psicopedagogia se constrói permanentemente, sempre com o foco naquilo a que se propõe: dar um suporte ao ser humano de forma a que supere as adversidades por meio da aprendizagem. 3.2 Atuação Ruz (1998) adverte que a relação entre o técnico e o prático é a ferramenta que o professor deve estar sempre aprimorando para ensinar qualitativamente, e assim chama atenção para a deficiência ainda presente na formação do professor diante da realidade brasileira. Essa deficiência se reflete no que diz respeito aos currículos de disciplinas ligadas a relações humanas, interpessoais, até porque o docente articulará relações com outros sujeitos, em diferentes contextos sócio-culturais, destaca Ruz (1998). Fins e valores devem constituir a essência da formação do professor, e isso está 26 conforme com o que a sociedade expõe em expectativas para o trabalho docente, expressas em definições legais, como no caso da LDB, cujos parâmetros configuram o padrão humano a ser formado pela escola (RUZ, 1998). Visca (1987, p.70) determinou como resposta os pressupostos da Epistemologia Convergente que estabelece uma sequência de ações para atender às exigências da Psicopedagogia. Não se pode deixar de vislumbrar todo o cenário que cerca o aluno para qualquer diagnóstico: Epistemologia Convergente Fonte: Seixas (2007) A intervenção psicopedagógica somente pode ser eficiente se levar em conta, pela constante e atenta observação das dificuldades no processo de aprendizagem o indivíduo. O trabalho se estende ao grupo de alunos, à instituição, até atingir à dinâmica da comunidade, facilitando a integração, e realizando orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo. A Psicopedagogia oferece suporte a equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, permitindo com que professores, diretores e coordenadores reavaliem o papel da 27 escola frente à sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou do ensino. (VISCA, 1987). Nesse contexto, a formação psicopedagógica constitui-se para os professores como uma oportunidade para entender o sujeito em suas múltiplas dimensões e refazer suas concepções e atitudes frente ao processo de ensino-aprendizagem, dando-lhes instrumentalização necessária para atender as demandas da escola especialmente no que concerne aos alunos com dificuldades de aprendizagem, foco principal do estudo da Psicopedagogia. A intervenção psicopedagógica, exercida por um profissional habilitado na área da Psicopedagogia institucional fará um trabalho de prevenção a fim de perceber possíveis falhas no sistema educativo que dificultam a aprendizagem dos alunos participando do processo de reorientação metodológica da escola. Ao mesmo tempo em que realiza o trabalho preventivo poderá diagnosticar perturbações na aprendizagem do aluno numa ação educativa que envolva a escola, a família e outros profissionais na busca de soluções para o problema de aprendizagem que o aluno apresenta (BENZONI, 2007). Essa contextualização do aluno, na perspectiva de Benzoni (2007), é fundamental para situá-lo no tempo e espaço a que se refere o seu aprendizado. Percebemos que a educação foi construída de uma forma em que o professor se obrigava a dar respostas prontas para todas as questões que surgiam. O professor, agindo assim, tornou-se um repetidor do livro. Nesse ambiente, ficava difícil elaborar criativamente novas situações, que estivessem adaptadas à capacidade do aluno de ouvir e participar das respostas. Para que conteúdos sejam escutados pelos alunos, faz-se necessário esses indivíduos, para que sejam fixados, é preciso que eles os integrem com sua própria elaboração, ritmo e dinâmica. É fundamental estimulá-los 28 a pensar, com seus recursos próprios, ainda que restritos e pobres. É preciso preparar a terra para plantar sementes que possam frutificar. Às questões formuladas da maneira com que podem no momento, os alunos pensam e atribuem novos significados, deixando surgir oportunidades - novas contextualizações para suas falas, da compreensão de seu mundo, de suas fantasias, de seus medos - que se refletem significativamente sobre o aprender. O professor inicia seu próprio processo de aprendizagem sobre seus alunos, favorecendo uma relação dialética que é ao mesmo tempo em que vai se compreendendo como o indivíduo aprende, vai se modificando o jeito deste indivíduo aprender (BENZONI,2007). Ferreira (2002, p.260) analisa a contribuição do saber da Psicopedagogia para com a atuação dos professores na escola fundamental e relaciona as seguintes ações possíveis: a) colaborar junto com os professores no estabelecimento dos planos de ação de regência mediante análise e a avaliação de modelos, técnicas e instrumentos para o exercício da mesma, assim como de outros elementos de apoio para a realização de atividades docentes de reforço,recuperação e adaptação escolar; b) assessorar o corpo docente na definição de procedimentos e instrumentos de avaliação, tanto das aprendizagens realizadas pelos alunos como dos próprios processos de ensino; c) assessorar o corpo docente para o tratamento flexível e diferenciado da diversidade de aptidões, interesse e motivação dos alunos, colaborando na adoção das medidas educacionais oportunas. Como também, trabalhar as concepções dos professores sobre os processos de ensino aprendizagem, assinalando a multidimensionalidade dos problemas de aprendizagem, a importância de se considerar fatores orgânicos, cognitivos,afetivos/sociais e pedagógicos para análise 29 e a necessidade de se trabalhar com a diversidade, ou seja, respeitando as características de cada aluno; d) colaborar com professores e orientador na orientação educacional e profissional dos alunos, favorecendo neles a capacidade de tomar decisões e promovendo a maturidade profissional; e) colaborar para a prevenção e para a rápida detecção de dificuldades e ou problemas de desenvolvimento pessoal e de aprendizagem que os alunos possam apresentar, realizar avaliações psicopedagógicas cabíveis e participar, em função dos resultados desta, da elaboração das adaptações curriculares e da programação de atividades de recuperação e de reforço; f) colaborar com os professores e equipe de apoio no acompanhamento dos alunos com necessidades educacionais especiais e orientar sua escolaridade no início de cada etapa educacional; g) promover a cooperação entre a escola e a família para uma melhor educação dos alunos, participar no planejamento de reuniões com os pais, privilegiando a integração, a cooperação e a informação, como também, atender individualmente alguns pais quando for necessário; h) atuar na modificação das expectativas e atitudes dos professores diante do insucesso escolar dos alunos, ou seja, atenuar concepções preconceituosas da escola e dos professores, sobre as dificuldades de aprendizagem da criança; i) participar de tarefas junto com o ensino de educação especial e j) realizar atendimentos a alunos ou a grupos de alunos com necessidades específicas, fora da sala de aula. As considerações da Psicopedagogia que se relacionam diretamente ao ensino fundamental, momento de aquisição da leitura e escrita, lembra Carvalho 30 (2007), tomam por base a subjetividade dos alunos. Assim, enquanto alguns mostram sérias dificuldades em algum nível, outros passam direto do primeiro nível para o último. É um processo subjetivo de aprendizagem e vivencial, que abre experiências e oportunidades significativas, cujo progresso diferenciado em cada um, quando compreendido pelo professor, pode ser acompanhado, solucionado e desmistificado, com a repetência e evasão eliminadas ou reduzidas. Mas, tais mudanças requerem nova atitude em relação à compreensão dos sujeitos e do objeto da alfabetização e dos primeiros anos que a sucedem. Obrigam o entendimento de que: “a escrita não é um produto escolar, mas sim objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade e não uma utilização de técnicas e métodos que um sujeito reproduz”. O processo de alfabetização é construção de conhecimento, uma tarefa desafiadora para alunos e professores (CARVALHO, 2007). 3.3 Novos olhares Portanto, novos olhares significam que os conhecimentos psicopedagógicos permitem situar o pensar do aluno como um sujeito capaz - que se posiciona em um contexto familiar, escolar e social específico – e vivencia esses espaços de maneira diferente, única; apenas dessa maneira é possível estimulá-lo a ser autor e não apenas ator de sua própria história (FÉRNANDEZ, 2001). O olhar psicopedagógico e a escuta psicopedagógica não têm como finalidade rotular alunos, fixando-os em padrões - disléxico, distraído, discálculo, hipercinético – que os acompanham pela vida. Tem, sim, como perspectiva verificar como o indivíduo está aprendendo e como facilitar o desenvolvimento de suas 31 potencialidades. É privilegiar a observação do processo de aprendizagem em detrimento da visão médica ou psicológica, cujos saberes são convocados em outra dimensão (BENZONI, 2007). Educadores estão constantemente em construção, tendo em vista que diariamente novos desafios aparecem no dia a dia da escola, e ela se por constituir em um espaço vivo e social, agrega rotineiramente novas questões, novas maneiras de compreender as diferentes formas de se ensinar e aprender. Assim, as mais recentes teorias pedagógicas e psicológicas apontam, conforme leciona Beauclair (2005, p.47), “para a pluridimensionalidade de nossas inteligências e de nossas formas de elaborarmos nossas interações com o mundo, com os outros e com o saber”. Diariamente, os professores são desafiados para caminhar na direção da ampliação de perspectivas para lidar com as diferentes modalidades do aprender. Essa lição mostra o jeito próprio de cada um interagir com o mundo e as dificuldades subjetivas que surgem desse processo. Há, dessa forma, um permanente estímulo da Psicopedagogia em levar o professor a continuadamente buscar o entendimento dos diferentes fatores que levam ao surgimento das dificuldades de aprendizagem, principalmente no que concerne ao âmbito escolar. Na formação inicial, continuada e permanente dos educadores, são necessários conhecimentos do campo psicopedagógico para que estes possam se habilitar no que concerne a identificação de possíveis dificuldades. Temas tais como cognição, desenvolvimento cognitivo, inteligência, aprendizagem, modalidades aprendizagem, autoria de pensamento, transtornos, distúrbios e dificuldades de aprendizagem, entre outros devem estar sempre presentes em cursos de formação e atualização. (BEAUCLAIR, 2005, p.47) 32 Weiss (2011), em entrevista à Associação Brasileira de Psicopedagogia, adverte que o ato de aprender envolve domínios corporais, cognitivos, afetivos e sociais do aluno, em interação com a objetividade do meio escolar, ou seja, professor, sua didática, metodologia, material didático, avaliações, a escola. Trata-se de uma relação de dupla via: aquele que ensina está aprendendo e quem aprende está sempre ensinando. O domínio dessa dinâmica pelo professor dá recursos para avaliar sua própria atuação e a do aluno. É tão importante que leva ao questionamento de seus vínculos afetivos com a turma, com cada aluno em particular e também com a matéria que ensina. E, no outro pólo, o aluno, sua conduta ao enfrentar os primeiros erros, suas demonstrações de ansiedade na aprendizagem que lhe é difícil, como a distração, a paralisação, a agitação, o início de indisciplina, enfim, olhar mais, ouvir mais. Essa dinâmica, considerada interminável, é chamada de aprenderensinar. Consistente com Weis, o autor Beauclair chama atenção em entrevista à ABPp (2011, p.1): No aprenderensinar e no ensinaraprender reside a nossa tarefa maior, nosso desafio inadiável: humanizar o ser humano. Neste sentido, acredito que a Psicopedagogia pode contribuir, cada vez, mais, de modo ímpar, sendo reconhecida como necessária, importante, fundamental. Também creio que a maior possibilidade, hoje, reside em nossa inserção em redes cada vez mais amplas, redimensionando nossas práticas e teorias para assim tecermos, como novos fios, novos tecidos, novas e significativas aprendizagens, mais prazerosas, efetivas e próprias de cada um/a de nós, aprendentes nesta imensa teia da vida. (BEAUCLAIR, 2011, p.1) É demandado, portanto, que os docentes tenham novos saberes que lhes ofereça a compreensão de sua prática e os meios necessários de promoção do progresso dos alunos. Uma das formas de se alcançar é através das contribuições que a Psicopedagogia dá, uma vez que é a disciplina que estuda e lida com o 33 processo da aprendizagem e com as dificuldades dele decorrentes. Esse novo olhar é apresentado pela Psicopedagogia, que abre espaço nos meios educacionais brasileiros, interessando diretamente os profissionais que atuam nas escolas e buscam novas ferramentas para sua prática (STIGAR, 2011). 34 CONCLUSÃO A revisão de literatura pode oferecer algumas respostas acerca das possibilidades da Psicopedagogia e abrir novos caminhos aos professores do Ensino Fundamental em busca de soluções para alunos que não apresentam o resultado esperado, alunos que perdem o interesse pela escola e, muitas vezes, desistem precocemente do longo percurso a ser cumprido no currículo escolar. A Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96, no que concerne ao Ensino Fundamental, delega audaciosa atribuição ao docente, quando lhe confere a tarefa de desenvolver no aluno o domínio sobre os fundamentos do conteúdo selecionado, além do fortalecimento dos vínculos de família, de solidariedade e de tolerância recíproca na vida social. Essa competência, que ultrapassa os muros da escola, somente pode ser realizada com a convergência dos atores - que dinamizam a vida do estudante - em prol do mesmo fim, como proposto na teoria de Visca sobre a Psicopedagogia Convergente. O ensino tradicional mostra-se incapaz de dar conta desse desafio, problema refletido nas estatísticas assustadoras sobre a ineficiência dos métodos ditos tradicionais e na enorme responsabilidade que pesa sobre o professor e o sobrecarrega diante de resultados tão desastrosos. Conhecer a vivência do alunado e utilizá-la no dia a dia pode produzir a identificação e conseqüente intimidade do aluno com o espaço e conteúdo do trabalho escolar. O processo, como indica a Psicopedagogia, não pode vir de fora 35 para dentro, mas deve ser estimulado para que surja sob a forma da curiosidade, participação crítica e cidadania. Conclui-se, assim, que a Psicopedagogia abre caminhos de conhecimento e intervenção no processo de aprendizagem, principalmente no que diz respeito a um tratamento individualizado do sujeito, onde cada aluno é visto como portador de características próprias e diferentes dos demais. Entendê-los como uma massa única que deve chegar a um lugar preconcebido é fechar os olhos para a realidade que os cerca e para as conseqüências de um processo que vem se mostrando ineficaz. A percepção da Psicopedagogia mostra a possibilidade de um trabalho preventivo que situa professor e aluno num cenário comum, permitindo que falem a mesma linguagem, trabalhem os mesmos significados, enfim, travem uma relação de troca permanente. Devido à riqueza de literatura sobre o tema e a multiplicidade de fatores que podem ser levantados, parece importante que haja pesquisas de campo, de forma a melhor mensurar na prática a dimensão da contribuição da Psicopedagogia na atuação do ensino fundamental. Dessa forma, fica a sugestão para próximas pesquisas. 36 BIBLIOGRAFIA CITADA ALTENFELDER, Anna Helena. Desafios e tendências em formação continuada. Constr. psicopedag. v.13 n.10 São Paulo 2005. ALEXANDROFF, Marlene Coelho. Ensino fundamental de nove anos: avanços e contradições. Constr. psicopedag., Dez 2009, v.17, n.15, p.131-143 ANDRADE, Claudia Cristina et al. Práticas de letramento e processos de aprendizagem: formas de inclusão. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sub-Reitoria de Graduação. CETREINA, 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA (ABPq). Diretrizes básicas da formação de psicopedagogos no Brasil. Documento revisado pela Comissão de Cursos e Regulamentação da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) São Paulo, 12/12/2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA (ABPq). Assembléia aprova Lei que institui assistência psicopedagógica nas escolas. Pesquisado em Disponível em http://www.abpp.com.br/leis.htm AZANHA, José Mário Pires. Uma reflexão sobre a formação do professor da escola básica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 369-378, maio/ago. 2004. BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades. Coleção Olhar Psicopedagógico, Editora WAK, Rio de Janeiro, 2004 _______________. Entrevista com João Beauclair. ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia. 2005. Pesquisado em maio de 2011. Disponível em: http://www.abpp.com.br/entrevistas.htm BENZONI, Selma Aparecida Geraldo. Reflexões psicopedagógico. ABPp. São Paulo: Saraiva, 2007 BEYER, Marlei Adriana. Psicopedagogia: psicopedagogia. São Paulo: ISEE, 2011. ação e sobre parceria, o diagnóstico Introdução à BEAUFILS, F. Os centros psicopedagógicos, os centros de reeducação e de psicoterapia. In: DEBESSE, M.; MIALARET, G. (Org). Tratado das ciências pedagógicas. São Paulo: Nacional; EDUSP, 1974. v.5, p.325-334. BRASIL, Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. BOSSA, Nadia Aparecida. A emergência da Psicopedagogia como ciência. Rev. psicopedag. v.25 n.76, São Paulo, 2008. 37 CARDOSO, Bruna Puglisi de Assumpção. Intervenção psicopedagógica institucional: os heróis e a busca da alteridade: aprendizagem em sala de aula. Constr. psicopedag., Dez 2007, v.15, n.12, p.55-71. CARVALHO, Maria Cristina Monteiro Pereira. Lugares da leitura e da escrita numa escola de formação. Rio de Janeiro: PUC, 2007. FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: A Psicopedagogia propriciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artimed, 2001. FERREIRA, R.T.S. A importância da psicopedagogia no ensino fundamental – 1ª a 4ªséries. Psicol Educ & Saúde, v.3, n.2, p.258-270, 2002. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1987. Gomes all et al. Formação Continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2007. GONÇALVES, Luciana dos Santos. Psicopedagogia: formação, identidade e atuação profissional. Campinas: PUC, 2007. LIMA, Samantha Dias de. Conhecendo psicopedagogia. São Paulo: ISEE, 2011. a Psicopedagogia. Introdução à MARTINS, João Batista. A atuação do psicólogo escolar: multirreferencialidade, implicação e escuta clínica. Rev. Psicologia em Estudo: Maringá. v.8, n.2, p. 39-45, 2003. MOREIRA, Maria Helena Camargos. Projeto Psicopedagogia terapêutica: intervenção no processo de construção identitária de sujeitos com dificuldades escolares. Belo Horizonte: PUC, 2002. PEGO, MARCIA GOULART TOZZI. A intervenção psicopedagogica: uma ação integradora do sujeito. Psicol Educ & Saúde, v.3, n.5, p.127-130, 2004. PERES, Maria Regina; OLIVEIRA, Maria Helena Mourão Alves. Psicopedagogia: limites e possibilidades a partir de relatos de profissionais. Ciências & Cognição 2007; v.12, p. 115-133. ROCHA, E.M.B. O processo de ensino-aprendizagem: modelos e componentes. In: PENTEADO, W.M.A. (org) Psicologia e Ensino. São Paulo: Papelivros, 1980. RUZ, Cláudio Roberto. Formação do Educador no Processo Continuado. In: BICUDO: Maria Aparecida. (Org). Formação do Educador e Avaliação Educacional. São Paulo: UNESP, 1998. 38 SANTOS, Antonio Raimundo. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. SASS, Odair. Problemas da Educação: o caso da Psicopedagogia. Educ Soc, v.24, n.85, p.1363-1373, 2003. SEVERINO, Antonio Joaquim. A Psicopedagogia e o espaço transdisciplinar. In: NOFFS, N. A.; FABRÍCIO, N. C. e SOUZA, V. C. B. A Psicopedagogia em direção ao espaço transdisciplinar. São Paulo: Frôntis Editoria, 2000. SOUZA, Marcos Vinícius Castro. A escuta psicopedagógica aos professores na escola. ABPp. São Paulo, v.3, n.5, 2010. STIGAR, Robson. O Fracasso Escolar Segundo a Psicopedagogia.Rev Port SF v.27 n.5, 2011. VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre,Artes Médicas, 1987. ____________. Os caminhos da Psicopedagogia no terceiro milênio Rev Psico Milenio Hermes UCS v.3, n.2, 2000. WEISS, Maria Lúcia. Entrevista com Weiss. ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2005. Pesquisado em maio de 2011. Disponível em: http://www.abpp.com.br/entrevistas.htm 39 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO .................................................................................... 2 AGRADECIMENTO .................................................................................... 3 DEDICATÓRIA ........................................................................................... 4 RESUMO ..................................................................................................... 5 METODOLOGIA ......................................................................................... 6 SUMÁRIO ................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 CAPÍTULO I - ASPECTOS DA PSICOPEDAGOGIA .................................. 11 1.1 - Percurso histórico ............................................................................. 11 1.2 - O saber da Psicopedagogia .............................................................. 13 1.3 - A escuta psicopedagógica no ambiente escolar ........................... 15 CAPÍTULO II - ATUAÇÃO DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL ......................................................................................... 17 2.1 - As bases legais da formação docente ............................................. 17 2.2 - A prática docente .............................................................................. 18 2.3 - O processo de aprendizagem e avaliação dos alunos .................. 19 2.4 - Dificuldades enfrentadas na relação professor x aluno ................ 20 CAPÍTULO III – ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOPEDAGOGIA E A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES ............................................................. 22 3.1 - Intervenções possíveis ..................................................................... 22 3.2 – Atuação ............................................................................................. 25 3.3 - Novos olhares ................................................................................... 30 CONCLUSÃO .............................................................................................. 34 BIBLIOGRAFIA CITADA ............................................................................ 36 ÍNDICE ......................................................................................................... 39 FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................. 40 40 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Título da Monografia: A contribuição da psicopedagogia na atuação do professor de ensino fundamental. Autor: Maria Isabel Moret Gonçalves Data da entrega: Avaliado por: Conceito: