ESTUDO DA FORMA E DA RUGOSIDADE EM PRÓTESES ORTOPÉDICAS DE QUADRIL Marcos Motta de Souza Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Engenharia Mecânica. Orientador: Max Suell Dutra Rio de Janeiro Julho de 2011 Souza, Marcos Motta de Estudo da Forma e da Rugosidade em Próteses Ortopédicas de Quadril / Marcos Motta de Souza. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2011. XVIII, 129 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Max Suell Dutra Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2011. Referências Bibliográficas: p. 109-118. 1. Prótese ortopédica. 2. Rugosidade. 3. Incerteza de medição I. Dutra, Max Suell. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Titulo. iii Dedico este trabalho aos meus pais Solon e Lindaura (in memorian), pelo amor e educação recebidos. E principalmente à Adriana, Gabriel e Mariana, por iluminarem a minha vida. iv AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Professor Max Suell Dutra, pelo apoio e paciência no desenvolvimento deste trabalho. Ao Wellington Santos Barros, Chefe do Laboratório de Metrologia Dimensional e a Marcia Marie Maru, pelas discussões técnicas e pelo incentivo no desenvolvimento deste trabalho. Aos meus colegas, Sergio Pinheiro de Oliveira, Paulo Roberto Guimarães Couto, Flávio Carnelli Frade e Luiz Henrique Paraguassu de Oliveira, pelo suporte no desenvolvimento deste trabalho. Agradeço a José Carlos Valente de Oliveira, Chefe da Divisão de Metrologia Mecânica, Jailton Carreteiro Damasceno, Chefe da Divisão de Materiais e ao Prof. Carlos Alberto Achete, Coordenador de Laboratórios e Infraestrutura, pelo apoio institucional recebido ao longo deste trabalho. Aos colegas do Laboratório, Willian Lima, Gustavo da Fonseca e Felipe Camara, pelo apoio dado. A Vera Lucia P. S. Noronha, secretária da mecânica, pelo suporte, competência e dedicação aos alunos do curso. Aos colegas do Inmetro, Rafael Trommer, Lídia Sena e Leandro Lidizio, pelo auxílio no desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também a todos os colegas do Inmetro que participaram em fases deste trabalho. v Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.) ESTUDO DA FORMA E DA RUGOSIDADE EM PRÓTESES ORTOPÉDICAS DE QUADRIL Marcos Motta de Souza Julho/2011 Orientador: Max Suell Dutra Programa: Engenharia Mecânica Um dos fatores que contribui para a qualidade das próteses totais de quadril está relacionado ao grau de exatidão na fabricação das superfícies da articulação. A natureza das superfícies de deslizamento exige a minimização do atrito e a maximização das condições de lubrificação. Uma folga adequada entre os componentes necessita de uma geometria precisa, aliada ao atendimento das exigências de acabamento da superfície. O controle dimensional destes componentes articulares torna-se importante, pois influencia diretamente na sua durabilidade e consequentemente, uma melhoria na qualidade de vida do paciente. Este trabalho realiza um estudo da forma e da rugosidade das próteses ortopédicas de quadril fabricadas no Brasil e no exterior. Os resultados obtidos disponibilizam dados para o controle da qualidade das superfícies de cabeças femorais e componentes acetabulares de próteses de quadril. Estes resultados indicam a necessidade de melhoria nos procedimentos utilizados neste controle. vi Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.) STUDY OF THE FORM AND ROUGHNESS IN ORTHOPAEDIC HIP PROSTHESIS Marcos Motta de Souza July/2011 Advisor: Max Suell Dutra Department: Mechanical Engineering One of the factors that contribute to the quality of total hip prostheses is related to the degree of accuracy in the manufacture of the joint surfaces. The nature of the sliding surfaces requires the minimization of friction and the maximization of lubrication conditions. Adequate clearance between the components requires a precise geometry, coupled with meeting the demands of surface finish. The dimensional control of joint components becomes important because influences directly in durability and consequently in a better life quality of patients. This work studies the form and roughness of orthopedic hip prostheses manufactured in Brazil and abroad. The results provide data for quality control of the surfaces of the femoral heads and acetabular components of hip prostheses. These results indicate the need for improvement of the procedures used in this control. vii SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1 – Contexto ..............................................................................................................1 1.2 – Objetivo e justificativa ........................................................................................3 1.3 – Contribuições ......................................................................................................4 1.4 – Organização do trabalho .....................................................................................5 CAPÍTULO 2 – PRÓTESE DE QUADRIL 2.1 – Introdução ............................................................................................................6 2.2 – Artroplastia total de quadril (ATQ) primária.......................................................7 2.3 – Causas da artroplastia total de quadril .................................................................8 2.3.1 – Osteoartite ....................................................................................................9 2.3.2 – Artrite reumatóide ......................................................................................10 2.3.2 – Necrose avascular ......................................................................................10 2.3.2 – Outros motivos ...........................................................................................11 2.4 – Procedimento de substituição do quadril ...........................................................12 2.5 – Registros da substituição total do quadril ao longo do tempo ...........................12 2.6 – Modelos de próteses...........................................................................................14 2.6.1 – Tipos de fixação .........................................................................................15 2.6.2 – Geometria...................................................................................................16 2.6.3 – Haste e cabeça femoral ..............................................................................17 2.6.4 – Componentes acetabulares .........................................................................17 2.6.5 – Materiais utilizados em artroplastia total de quadril ..................................18 a) – Material cerâmico ...........................................................................................19 b) – Material metálico ............................................................................................20 c) – Material polimérico.........................................................................................21 d) – Pares e combinações .......................................................................................21 e) – Próxima geração de componente acetabular...................................................22 2.6.6 – Acabamento da superfície ..........................................................................23 2.7 – Cimentação na ATQ ..........................................................................................23 2.8 – Epidemiologia da artroplastia total de quadril primária ....................................25 viii CAPÍTULO 3 – METROLOGIA DE IMPLANTES ORTOPÉDICOS 3.1 – Introdução .........................................................................................................29 3.2 – Metrologia na indústria ortopédica ....................................................................29 3.3 – Especificação Geométrica de Produtos..............................................................31 3.4 – Instrumentos utilizados na medição de próteses................................................31 3.5 – Textura da superfície .........................................................................................39 3.5.1 – Conceitos Básicos ......................................................................................41 3.6 – Sistema de medição da rugosidade superficial ..................................................46 3.7 – Critérios para avaliar a rugosidade ....................................................................47 3.8 – Parâmetros de rugosidade ..................................................................................48 3.8.1 – Altura total do perfil (Pt, Rt e Wt)..............................................................49 3.8.2 – Desvio médio aritmético do perfil avaliado (Pa, Ra e Wa) .......................49 3.8.3 - Média dos cinco valores da rugosidade parcial (Rz) ..................................51 3.8.4 - Razão de material (Rm) fração de contato ..................................................52 3.8.5 - Razão de material (Rm) / curva de Abbott – Firestone...............................53 3.8.4 – Parâmetros obtidos a partir da representação linear curva de fração de material (curva de Abbott-Firestone) ISO 13565-2:1999 ..........................54 3.9 – Circularidade......................................................................................................56 3.9.1 – Círculo dos Mínimos Quadrados (CMQ)...................................................56 3.9.2 – Círculo Mínimo Circunscrito (CMC) ........................................................58 3.9.3 – Círculo da Mínima Zona (CMZ)................................................................59 3.9.3 – Círculo Máximo Inscrito (CMI).................................................................59 CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 – Materiais ............................................................................................................61 4.1.1 – Requisitos das superfícies ..........................................................................62 4.2 – Metodologia de medição das superfícies ...........................................................63 4.2.1 – Rugosidade.................................................................................................63 4.2.2 – Esfericidade e Circularidade ......................................................................64 4.2.3 – Diâmetro e esfericidade na Máquina de Medir por Coordenadas..............65 4.3 – Ensaio de simulação do desgaste .......................................................................67 4.3.1 – Ensaio inicial..............................................................................................68 ix CAPÍTULO 5 – RESULTADOS OBTIDOS 5.1 – Comparação Laboratorial ..................................................................................69 5.2 – Ensaio de Microdureza ......................................................................................71 5.3 – Ensaio de Desgaste Inicial .................................................................................71 5.3.1 – Medição do Diâmetro.................................................................................72 5.3.2 – Medição do Desvio de Esfericidade...........................................................72 5.3.3 – Medição da Rugosidade .............................................................................75 5.4 – Comparação entre Cabeça Femoral Nacional e Importada ...............................76 5.5 – Comparação entre Componente Acetabular Nacional e o Importado ...............78 5.6 – Análise dos Componentes Acetabulares com cut-off de 0,8 mm .....................81 5.7 – Segundo Ensaio de Desgaste .............................................................................82 5.8 – Comparação entre Cabeça Femoral Nacional, Importada e de Cerâmica .........85 5.9 – Medição de Circularidade da Cabeça Femoral ..................................................88 CAPÍTULO 6 – INCERTEZA DE MEDIÇÃO 6.1 – Introdução ..........................................................................................................91 6.1.1 – Etapas para o Cálculo da Incerteza de Medição.........................................91 6.1.2 – Modelo Matemático ...................................................................................92 6.2 – Determinação da incerteza das grandezas de entrada........................................93 6.2.1 – Padrão de referência...................................................................................93 6.2.2 – Incerteza Padrão do Tipo A (Repetitividade) ............................................94 6.2.3 – Topografia da prótese.................................................................................94 6.2.4 – Desvio de linearidade.................................................................................94 6.2.5 – Ruído de fundo...........................................................................................95 6.2.6 – Deformação plástica...................................................................................95 6.2.7 – Raio da ponta do apalpador........................................................................95 6.2.8 – Incerteza Total das Grandezas de Entrada .................................................96 6.3 – Coeficiente de sensibilidade ci ...........................................................................96 6.4 – Contribuição para a incerteza padrão.................................................................96 6.5 – Incerteza Padrão Combinada uc (y) ....................................................................97 6.6 – Incerteza Expandida U ......................................................................................97 6.7 – Planilhas de incerteza de medição .....................................................................97 6.8 – Simulação de Monte Carlo ..............................................................................102 x 6.8.1 – Passos para a Estimativa da Incerteza pelo Método de Monte Carlo ......103 6.8.2 – Estimativa da Incerteza pelo Método de Monte Carlo.............................103 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS 7.1 – Conclusão.........................................................................................................105 7.2 – Trabalhos Futuros ............................................................................................108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................109 ANEXOS.......................................................................................................................119 xi LISTA DE SÍMBOLOS λs Filtro de perfil que define a separação entre os componentes da rugosidade e os componentes de comprimento de onda mais curtos (ruídos de alta freqüência) presentes na superfície λc Filtro de perfil que define a separação entre os componentes da rugosidade e da ondulação λf Filtro de perfil que define a separação entre os componentes da ondulação e os componentes de ondas mais longas presentes na superfície lp, lr e lw Comprimento de amostragem, comprimento na direção do eixo X utilizado para identificar as irregularidades características do perfil sob avaliação ln Comprimento de avaliação, comprimento na direção do eixo X, utilizado para estabelecer o perfil sob avaliação Zp Pico de um perfil, parte do perfil avaliado dirigido para fora (do material para o meio ambiente), conectada a dois pontos adjacentes da interseção do perfil com o eixo X Zv Vale de um perfil, parte do perfil avaliado dirigido para dentro (do meio ambiente para o material), conectada a dois pontos adjacentes da interseção do perfil com o eixo X lv Distância para atingir a velocidade de medição lp Distância para atingir a parada do apalpador RSm Valor médio de espaçamento entre os picos do perfil e a linha média, medido dentro do comprimento de amostragem Pt Perfil primário, definido como a altura total de um perfil não filtrado Wt Perfil de ondulação, altura total, após utilização de um filtro passa baixa Rt Perfil de rugosidade, altura total, após utilização de um filtro passa alta Ra Média aritmética dos valores absolutos das ordenadas (Zx) no comprimento de amostragem. Perfil de rugosidade R após filtragem Pa Média aritmética do perfil primário P não filtrado Wa Média aritmética do perfil de ondulação W após filtragem Rz Parâmetro de rugosidade que corresponde à média dos cinco valores da rugosidade parcial Zi Rugosidade parcial Rm Razão de material (fração de contato) Rk Profundidade do núcleo do perfil de rugosidade Mr1 Nível determinado em percentual, pela linha de interseção que separa os picos mais altos, do núcleo do perfil de rugosidade xii Mr2 Nível determinado em percentual, pela linha de interseção que separa os vales mais profundos, do núcleo do perfil de rugosidade Rpk Altura média dos picos mais altos que estão acima do núcleo do perfil de rugosidade Rvk Altura média dos vales mais profundos que estão acima do núcleo do perfil de rugosidade Xi Grandezas de entrada u(xi) Incerteza padrão ui (y) Contribuição para incerteza padrão ci Coeficiente de sensibilidade U Incerteza expandida uc (y) Incerteza padrão combinada k Fator de abrangência νeff Graus de liberdade efetivos Ze (x) Perfil traçado G(Ze(x)) Função do instrumento Fs(Zg(x)) Função do filtro λs Fc(Zs (x)) Função do filtro λc P (Zc (x)) Função do parâmetro P Zg (x) Perfil total u 2 (z g ) Incerteza do perfil avaliado (total) u 2 ( Pt n ) Incerteza do padrão de referência u 2 (∆Pt ) Incerteza de medição por medir em um local (ponto) diferente u 2 (b) Incerteza da repetitividade do perfil avaliado u 2 ( ze ) Incerteza da topografia do padrão de referência u 2 ( z ref ) Incerteza do perfil de referência u 2 ( z0 ) Incerteza devida ao ruído u 2 ( z pl ) Incerteza devida à deformação plástica u 2 ( z sp ) Incerteza devida à geometria da ponta do apalpador Un Incerteza de medição da altura total do perfil do padrão de referência Ptn Altura total do perfil do padrão de referência xiii s (R) Incerteza padrão do valor médio na determinação da profundidade da ranhura calibrada no mesmo ponto Wt0 Valor médio do perfil de ondulação medido cinco vezes em um mesmo ponto, de um plano ótico Rz0 Média dos cinco valores da rugosidade parcial medido em um mesmo ponto, de um plano ótico (ruído) νi Graus de liberdade u (rt) Incerteza do raio efetivo da ponta do apalpador xiv LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Movimentos da articulação do quadril, notando-se no sentido horário os movimentos de flexão, adução, rotação interna, rotação externa, abdução e extensão. 6 Figura 2.2 Principais componentes da articulação do quadril ou coxo-femoral: componente acetabular (acetábulo), cabeça do fêmur e cartilagem. 7 Figura 2.3 Desenhos de quadris: a) quadril saudável; b) quadril com osteoartrite. 9 Figura 2.4 Cabeça do fêmur com osteoartrite. 10 Figura 2.5 Raios x de substituição total do quadril. 12 Figura 2.6 Prótese do tipo “Charnley”. 14 Figura 2.7 Prótese do tipo “Exeter”. 14 Figura 2.8 Prótese de haste cimentada onde se demonstra o implante, o cimento e o osso. 15 Figura 2.9 Prótese de haste não cimentada , onde se observa o implante, o manto poroso e o osso. 16 Figura 2.10 Prótese total de quadril composta por: componente femoral (haste e cabeça femoral) metálico, colo femoral e componentes acetabulares interno e externo constituídos, respectivamente, por um inserto de polietileno e uma cápsula metálica. 16 Figura 2.11 Componente acetabular Mitch™. 23 Figura 2.12 Pistola de cimento ou “cement gun”. 24 Figura 2.13 Números de Artroplastias Totais de Quadril realizadas na Suécia, desde 1967 (6 operações) até 2008 (14.451). 27 Figura 3.1 Sensor de toque resistivo. 32 Figura 3.2 Medição por contato. 34 Figura 3.3 Esquema de um transdutor indutivo. 34 Figura 3.4 Esquema de perfilômetro que utiliza a tecnologia Phase Grating Interferometric Transducer. 35 Figura 3.5 Limitações devida ao raio da ponta do apalpador. 36 Figura 3.6 Esquema do microscópio de força atômica. 38 Figura 3.7 Composição da textura da superfície. 39 Figura 3.8 Características de transmissão dos perfis de rugosidade e ondulação. 42 Figura 3.9 Pico e vale de um perfil. 43 Figura 3.10 Superfície geométrica é por definição, perfeita. 43 xv Figura 3.11 Superfície real, uma herança do método empregado na usinagem 44 Figura 3.12 Superfície efetiva apresentada com ampliação. 44 Figura 3.13 O perfil geométrico é, por definição, perfeito. 45 Figura 3.14 Perfil real, cortado por um plano perpendicular. 45 Figura 3.15 Perfil efetivo obtido com rugosímetro (sem filtrar ondulações). 45 Figura 3.16 Perfil de Rugosidade (com filtro). 46 Figura 3.17 Ondulação com filtro passa baixa. 46 Figura 3.18 Cálculo do sistema M. 47 Figura 3.19 Comprimentos para avaliação de rugosidade. 47 Figura 3.20 Parâmetro Sm. 48 Figura 3.21 Perfil não filtrado Pt. 49 Figura 3.22 Perfil filtrado Wt. 49 Figura 3.23 Perfil filtrado Rt. 49 Figura 3.24 Parâmetro Ra. 50 Figura 3.25 Rugosidade parcial Zi, para definir Rz. 52 Figura 3.26 Razão de material em relação a um percentual de contato. 53 Figura 3.27 Representação da curva de razão de material. 53 Figura 3.28 Cálculo de Rk, Mr1 e Mr2. 54 Figura 3.29 Cálculo de Rpk, e Rvk. 55 Figura 3.30 Derivação do círculo de mínimos quadrados. 57 Figura 3.31 Mínimo círculo circunscrito. 58 Figura 3.32 Círculo da mínima zona. 59 Figura 3.33 Círculo máximo inscrito. 60 Figura 4.1 Dispersão de energia de raios-X da cabeça femoral. 62 Figura 4.2 Rugosímetro. 63 Figura 4.3 Medição da rugosidade cabeça femoral. 64 Figura 4.4 Medição da rugosidade acetábulo. 64 Figura 4.5 Máquina de Medição de Forma. 65 Figura 4.6 Máquina de Medir Coordenadas. 65 Figura 4.7 Suportes de fixação com cabeça femoral acoplada. 66 Figura 4.8 Configuração de medição dos acetábulos. 66 Figura 4.9a Cabeça femoral. 67 Figura 4.9b Acetábulo. 67 xvi Figura 4.10 Simulador de ensaio de desgaste de 6 estações trabalho. 68 Figura 5.1 Posições para medição da rugosidade da cabeça femoral. 70 Figura 5.2 Gráfico da cabeça femoral 2 plano XZ. 73 Figura 5.3 Gráfico da cabeça femoral 3 plano XZ. 73 Figura 5.4 Gráfico da cabeça femoral 7 plano XZ antes e após desgaste. 73 Figura 5.5 Gráfico componente acetabular 2 plano ZY. 74 Figura 5.6 Gráfico componente acetabular 3 plano ZY. 74 Figura 5.7 Gráfico componente acetabular 7 plano ZY. 75 Figura 5.8 Gráfico do Ra para cabeças femorais nacionais e importadas. 76 Figura 5.9 Gráfico de Rt para cabeças femorais nacionais e importadas. 77 Figura 5.10 Gráfico de Rk, Rpk e Rvk para cabeças femorais nacionais e importadas. 77 Figura 5.11 Gráfico de Wt e Pt cabeças femorais nacionais e importadas. 78 Figura 5.12 Gráfico de Ra para componentes acetabulares nacionais e importados. 79 Figura 5.13 Gráfico de Rt para componentes acetabulares nacionais e importados. 79 Figura 5.14 Gráfico do parâmetro Rk com cut-off de 0,08 mm para componentes acetabulares nacionais e importados. 80 Figura 5.15 Gráfico dos parâmetros Rpk e Rvk com cut-off de 0,08 mm para componentes acetabulares nacionais e importados. 80 Figura 5.16 Gráfico de Wt e Pt para componentes acetabulares nacionais e importados. 81 Figura 5.17 Gráfico de Ra para componentes acetabulares nacionais e importados. 82 Figura 5.18 Valores de Ra de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 83 Figura 5.19 Valores de Rt de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 83 Figura 5.20 Valores de Rk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 84 Figura 5.21 Valores de Rpk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 84 Figura 5.22 Valores de Rvk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 85 Figura 5.23 Cabeça femoral nacional parâmetro Pt= 15,803 µm. 86 Figura 5.24 Cabeça femoral importada parâmetro Pt=7,811 µm. 86 Figura 5.25 Cabeça femoral de cerâmica parâmetro Pt= 0,1200 µm. 86 Figura 5.26 Comparação do parâmetro Ra das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. 87 xvii Figura 5.27 Comparação do parâmetro Wt das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. 87 Figura 5.28 Comparação dos parâmetros Rk, Rpk e Rvk das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. 88 Figura 5.29 Desvio de circularidade no hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. 88 Figura 5.30 Desvio de circularidade a 30º do hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. 89 Figura 5.31 Desvio de circularidade a 60º do hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. 89 Figura 5.32 Desvio de circularidade no hemisfério da cabeça femoral de aço inoxidável e 90 na de cerâmica, medido na MMC. Figura 6.1 Intervalo de incerteza obtida para quatro desvios - padrão, gerado pelo “software Crystal Ball”. xviii 104 1 - Introdução 1.1 Contexto A perda de um órgão ou de parte do corpo ocasiona, além da perda da função, conseqüências psicológicas e sociais. O avanço da medicina moderna e o aumento da expectativa de vida possibilitaram o desenvolvimento de novas técnicas que possibilitaram uma melhor qualidade de vida, com isso, foram oferecidas novas opções aos pacientes mutilados, como a utilização de implantes na substituição total ou parcial de ossos fraturados [1]. Quando esta substituição se refere ao quadril, é denominada artroplastia total do quadril (ATQ), que corresponde à cirurgia de substituição da articulação do quadril por componentes metálicos, poliméricos e/ou cerâmicos, chamados de próteses [2]. A articulação do quadril é composta por uma esfera (cabeça do fêmur – osso da coxa) e uma cavidade (componente acetabular – osso da bacia), onde a esfera deve se encaixar com perfeição. Faixas de tecido formam a cápsula articular do quadril que conectam a esfera ao componente acetabular e fornecem estabilidade à articulação. Entre os dois ossos existe uma camada de cartilagem recobrindo-os de tal maneira que não permite o contato osso com osso e facilita o deslizamento entre eles. Quando a cartilagem está preservada, sua espessura geralmente é maior que 5 milímetros, sua superfície é lisa e macia e está totalmente banhada pelo líquido sinovial, que é o lubrificante. Um tecido fino, liso chamado membrana sinovial reveste todas as superfícies restantes da articulação. Em um quadril saudável, esta membrana produz o líquido que lubrifica e reduz o atrito nesta articulação [2]. Normalmente, todas estas partes do quadril trabalham em harmonia, permitindo uma movimentação sem dor, porém, quando por algum motivo há destruição da cartilagem, geralmente aparecem dores e limitações de movimentos, impedindo a realização de tarefas de rotina. Estas limitações são progressivas e interferem cada vez mais na vida da pessoa. É importante observar que na articulação normal não há dor, porque o contato entre os ossos se dá na região da cartilagem. Porém, quando a cartilagem se desfaz, o contato osso com osso produz a dor; isto muitas vezes ocasiona a necessidade da substituição da articulação [2]. A primeira tentativa de substituição da articulação do quadril foi realizada em 1840, pelo cirurgião Carnocham, este colocou um bloco de madeira entre as 1 articulações danificadas. Ao longo do tempo outros materiais biológicos e estranhos foram utilizados nesta substituição tais como, pele, fáscia, músculo, bexiga de porco, folha de ouro, todas estas tentativas resultaram em dor nos pacientes e terminaram em falhas [3]. Durante o século XX diversas combinações destes materiais têm sido estudadas para substituição total do quadril. O primeiro implante metal-metal foi realizado por Wiles em 1930 e, posteriormente, desenvolvido nos anos 1950 e 1960 por cirurgiões pioneiros como McKee e Ring. Em 1958, Charnley apresentou ‘‘uma artroplastia de baixo atrito”, baseada no princípio de um componente articular metálico, a haste femoral, em contato com um componente acetabular polimérico e, em 1970, Boutin desenvolveu a primeira substituição total de quadril cerâmica-cerâmica. O conceito Charnley metal em polímero como alternativa estrutural prevaleceu ao metal em metal. A combinação de materiais mais utilizada em substituições de quadril consiste de uma cabeça de fêmur fabricada com uma liga de cromo-cobalto e molibdênio articulando em um componente polimérico fabricado com polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE). Esta combinação apresentou resultados consistentes em artroplastias totais do quadril em todo o mundo nas últimas quatro décadas. Estima-se que em 1998 aproximadamente 1,4 milhão de componentes de UHMWPE foram implantados em todo o mundo e cerca de metade destes foram implantados no quadril. Com base nos principais fabricantes de implantes ortopédicos, no máximo 200.000 implantes metal-metal ou cerâmica-cerâmica foram implantados em pacientes no mundo, entre 1988 e 2000, correspondendo a aproximadamente 10% das artroplastias totais de quadril durante o mesmo período de tempo. Portanto, mais de 90% das artroplastias totais de quadril implantadas no mundo incluiu um componente de UHMWPE e foram baseadas no conceito original de Charnley o de cabeça femoral de metal com componente acetabular de polímero [4]. Apesar do reconhecido sucesso e aceitação mundial, o desgaste dos componentes de UHMWPE ainda é um dos principais obstáculos que limita a longevidade destas substituições. Este tipo de prótese normalmente desgasta a uma taxa média de aproximadamente 0,1 mm por ano [4], e levaria um século para corroer um componente de UHMWPE com 10 mm de espessura. No entanto, nesta taxa de desgaste, 100 milhões de partículas de UHMWPE (considerando um diâmetro de 1µm) são liberadas todo dia no espaço entre a junta. Estas partículas geradas a partir da articulação entre a cabeça femoral e o componente acetabular iniciam uma rejeição do 2 tecido que ocasiona a osteólise (síndromes de destruição óssea) e em alguns casos, o afrouxamento dos componentes. A comunidade ortopédica através de tecnologias alternativas estudou o comportamento do desgaste em próteses totais a fim de aumentar sua longevidade. Desde 1970, pesquisadores têm tentado melhorar as características tribológicas do UHMWPE, modificando a estrutura do polímero com o objetivo de melhorar o desempenho clínico das articulações de quadril. Em 1970, foi introduzida uma fibra de carbono reforçado no UHMWPE (Poli-II®) que aumentava sua resistência ao desgaste, e na década de 1980 um UHMWPE de alta pressão recristalizado (Hylamer®) melhorou sua resistência à fluência. No final dos anos 1990, numerosos laboratórios em todo o mundo confirmaram que o UHMWPE com ligação cruzada por radiação, utilizando peróxido de hidrogênio ou silano, melhorou o desempenho ao desgaste em simuladores. Com base nessas análises in vitro, estes materiais foram introduzidos no mercado [4]. Hoje em dia, nos Estados Unidos realizam-se cerca de 1.000.000 destas cirurgias por ano e, esta operação é uma das mais bem sucedidas, uma vez que a grande maioria dos pacientes a ela submetida está satisfeita com seu resultado [5]. No Brasil ainda não existem dados disponíveis sobre o total de cirurgias realizadas por ano e ao material utilizado. Há casos isolados de hospitais que possuem estes dados, porém não os disponibiliza ao público, o inverso do que fazem na Noruega e na Suécia cujos dados estão acessíveis a qualquer pessoa. Verificou-se na pesquisa bibliográfica que existem poucos trabalhos referentes ao dimensionamento destas próteses. Este é o primeiro trabalho em nível nacional que estuda as dimensões, a forma e a rugosidade de próteses ortopédicas de quadril especificamente em cabeças femorais de aço inoxidável e cerâmica, e componentes acetabulares de polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE). A principal contribuição reside no estudo dos parâmetros de rugosidade relacionados à norma ISO 7206-2:2011 [6] e o estabelecimento de procedimentos para controle da qualidade das próteses nacionais e importadas no País, aliado ao cálculo de incerteza de medição correspondente. 1.2 Objetivo e Justificativa As próteses ortopédicas de quadril fabricadas no Brasil e mesmo as importadas estão sujeitas a falhas. Diversos motivos acarretam a necessidade de uma cirurgia de 3 revisão, os mais comuns são: qualidade do material, infecções, afrouxamento, fratura, perfil do paciente, habilidade médica, desgaste, etc. O maior desgaste ocorre entre a cabeça femoral e o componente acetabular e um dos motivos deste pode ser o acabamento superficial. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE [7] a população brasileira hoje é de 195 milhões de pessoas, dos quais 10,2% têm acima de 60 anos, em torno de 20 milhões de idosos. Segundo estimativas deste Instituto, em 2050 a população brasileira será de aproximadamente 215 milhões de pessoas, sendo 29,8% acima de 60 anos, ou seja, um número superior a 64 milhões de pessoas. A população de idosos aumentará mais que três vezes, conseqüentemente haverá um aumento de doenças crônicas e degenerativas ampliando a realização de cirurgias diversas, inclusive as artroplastias totais de quadril. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é verificar a superfície de próteses nacionais e importadas visando estabelecer parâmetros dimensionais, de rugosidade e forma, para controlar a qualidade tanto das próteses produzidas no País e quanto das importadas. Para realizar o estudo da cabeça femoral e do componente acetabular nacional e importado, foram utilizados os seguintes instrumentos: uma máquina de medição por coordenadas (MMC), uma máquina de medição de forma (MMF), um rugosímetro e uma máquina de ensaio de desgaste. Após as medições das próteses fabricadas no Brasil, o mesmo procedimento foi efetuado com as próteses importadas. Todas as amostras avaliadas foram do mesmo lote e fabricante. Ao final dos ensaios de desgaste todas as próteses foram medidas novamente. Uma análise dos resultados foi efetuada, visando estabelecer parâmetros de referência de dimensões, rugosidade e esfericidade das próteses produzidas no Brasil. 1.3 Contribuições Diversas contribuições deste trabalho podem ser elencadas. Entre elas podem ser destacadas: - Verificação da rugosidade e da esfericidade das próteses fabricadas no Brasil baseado nos valores estipulados pela norma ISO 7206-2:2011 [6]; - Verificação dos parâmetros de rugosidade Ra e Rt e sua adequação para a análise da rugosidade em próteses ortopédicas de quadril; 4 - Comparação da rugosidade e da forma nas próteses (cabeça femoral e componente acetabular) fabricadas no país com as importadas; - Fornecimento de dados para revisão da Norma nacional e/ou internacional sobre próteses ortopédicas de quadril; e - Análise dos parâmetros da curva de Abbott, Rk, Rpk e Rvk. 1.4 Organização do Trabalho A proposta deste trabalho é estudar as dimensões e o acabamento superficial das próteses ortopédicas fabricadas no Brasil. Este estudo foi realizado em próteses ortopédicas de quadril nacionais e importadas, através da utilização de uma máquina de medição por coordenadas, uma máquina de medição de circularidade, um rugosímetro e um simulador de desgaste universal. Uma breve descrição do desenvolvimento do trabalho encontra-se a seguir. O capítulo 2 apresenta os diversos tipos de próteses de quadril, as complicações que ocorreram e ainda ocorrem ao longo do tempo, a evolução dos materiais e os diferentes tipos empregados, os tipos de cabeças femorais, hastes femorais e componentes acetabulares. O capítulo 3 discorre sobre a metrologia em implantes ortopédicos e também sobre rugosidade superficial, conceitos básicos, critérios, definições e parâmetros da rugosidade. O capítulo 4 apresenta as Normas de referência, os métodos de medição e equipamentos utilizados na realização dos ensaios. O capítulo 5 apresenta os resultados obtidos das medições realizadas, inclusive um ensaio de microdureza realizado em uma cabeça femoral nacional e a participação em uma comparação interlaboratorial realizada em outubro de 2008. O capítulo 6 discorre sobre os cálculos da incerteza de medição das cabeças femorais e componentes acetabulares e as planilhas de incerteza correspondentes. O capítulo 7 apresenta as conclusões encontradas e os trabalhos futuros. 5 2. 2.1 Prótese Ortopédica de Quadril Introdução Prótese, na área médica, é um dispositivo implantado no corpo para suprir a falta de um órgão ausente ou para restaurar uma função comprometida. A prótese ortopédica é uma peça interna ou externa que substitui uma articulação ou membro ou parte dele [8]. A prótese de quadril é utilizada na substituição da articulação entre a cabeça do fêmur e o componente acetabular. A articulação do quadril possui três eixos e três graus de liberdade e nos permite efetuar os movimentos de flexão-extensão, abdução-adução, rotação interna e externa, apresentados na Figura 2.1, e ainda a circundução. Esta articulação é do tipo diartrose e esferóide. Os elementos de reforço e estabilização são as faixas de tecido que formam a cápsula articular do quadril e unem a cabeça ao componente acetabular como demonstra a Figura 2.2. Os movimentos do quadril são realizados por esta articulação única, a coxofemoral (Figura 2.2). A cabeça do fêmur articula-se com o componente acetabular do osso ilíaco, entre estes ossos há uma cartilagem que facilita o deslizamento e evita o contato osso com osso. A cartilagem de uma pessoa saudável normalmente tem espessura maior que 5 mm e é envolta pelo líquido sinovial que atua como lubrificante e facilita o deslizamento. Um tecido fino e liso, chamado membrana sinovial, reveste todas as superfícies restantes da articulação. Quando não há lesões tudo funciona perfeitamente e não sentimos dor; porém, quando a cartilagem é comprometida por alguma doença ou acidente, ocorre o contato entre os ossos que provoca a dor. Neste caso o tratamento indicado é a artroplastia total de quadril, mais conhecida como ATQ [9]. Flexão Adução Rotação interna Extensão Abdução Rotação externa Figura 2.1: Movimentos da articulação do quadril, notando-se no sentido horário os movimentos de flexão, adução, rotação interna, rotação externa, abdução e extensão [10]. 6 Líquido sinovial Cartilagem Ligamento e cápsula articular Acetábulo Membrana sinovial Cabeça do fêmur Fêmur Ligamento e cápsula articular Figura 2.2: Principais componentes da articulação do quadril ou coxo-femoral: componente acetabular (acetábulo), cabeça do fêmur e cartilagem [11]. 2.2 Artroplastia Total de Quadril (ATQ) Primária A principal causa para a substituição da articulação do quadril é sua falha, esta ocorre de diversas formas, todas dolorosas e muitas vezes debilitantes. A terapia medicamentosa pode aliviar a dor, no entanto, sabe-se que somente a restauração da função articular elimina a dor, neste caso uma Artroplastia Total de Quadril [12]. A ATQ primária é uma das cirurgias ortopédicas mais realizadas no mundo. Esta cirurgia torna-se necessária quando o indivíduo apresenta dores na articulação do quadril devido à osteoartrite, artrite reumatóide, necrose avascular do quadril, etc. Quando estas doenças evoluem e afetam a mobilidade do paciente, a cirurgia é necessária para melhorar a qualidade de vida do indivíduo [12]. Atualmente, uma prótese de quadril que dure mais de 15 anos é considerada um sucesso. Com o aumento da expectativa de vida, níveis de atividade em geral e outras demandas do paciente, há uma cobrança sobre a indústria ortopédica e as autoridades de saúde para garantir a vida funcional dos componentes protéticos. Um aumento na longevidade da prótese de quadril também resulta em benefícios econômicos para as autoridades de saúde, pois quando há uma falha é necessária uma operação de revisão. Estas revisões são operações mais caras do que a inicial, além disso, o índice de falhas é maior, resultando em mais uma cirurgia de revisão ocasionando mais custos para o sistema de saúde e traumas no paciente, que, além de outra cirurgia ainda enfrenta uma longa lista de espera nos hospitais. Hoje em dia, no Instituto Nacional de Traumatologia 7 e Ortopedia (INTO), centro de excelência no tratamento de doenças e traumas ortopédicos, a lista de espera de pessoas que aguardam por uma cirurgia é de aproximadamente dez mil pessoas. O tempo médio de espera é de aproximadamente 36 meses para as quatro especialidades mais requisitadas, que são joelho, trauma, quadril e coluna [13]. Geralmente a ATQ primária é um procedimento realizado em pacientes mais idosos em fase final de vida, a maioria das vezes devido à artrose. Com o passar dos anos o desgaste natural das articulações culmina em uma cirurgia. Ultimamente as cargas sobre o corpo, particularmente nas articulações, têm aumentado devido à prática de esportes radicais, à mudança no estilo de vida e outras atividades que sobrecarregam as articulações. Isto acarretou um aumento de pacientes jovens que necessitam desta cirurgia. O aumento da obesidade na população mundial também é outro fator a ser considerado, uma vez que o nosso esqueleto é uma estrutura que suporta uma determinada carga e o mesmo não foi “projetado” ou “construído” para lidar com a tensão maior que o excesso de peso exerce sobre ele, isto pode causar desgaste ou rompimento prematuro das articulações [12, 13]. Os fatores citados acima, juntamente com o aumento da expectativa de vida devido ao avanço da medicina moderna, ditam a necessidade de próteses mais duráveis e com melhor desempenho funcional. As diretrizes atuais para pacientes de ATQ primária sugerem que atividades diferentes da de caminhar devem ser minimizadas, a fim de prolongar a vida útil da prótese. Entretanto isto não satisfaz as demandas dos pacientes mais jovens, estes querem continuar a praticar esportes e desfrutar de atividades radicais e/ou extenuantes. Isto ocasiona uma cobrança sobre os fabricantes de próteses ortopédicas para atender às demandas de seus clientes, quer seja do paciente ou do cirurgião quanto a próteses mais resistentes e duráveis [12]. Atualmente a indústria ortopédica mundial investe milhões em lançamentos anuais de novos produtos [12], pois os benefícios na melhoria da tecnologia das próteses de quadril refletem diretamente na qualidade de vida dos usuários destes produtos. 2.3 Causas da Artroplastia Total de Quadril A degeneração da articulação do quadril é ocasionada por diversas doenças que terminam na necessidade da substituição total do quadril. A seguir será realizada uma breve definição destas. 8 2.3.1 Osteoartite A osteoartrite, conhecida no meio médico como artrose ou osteoartrose, apresentada na Figura 2.3 e Figura 2.4, é uma doença articular degenerativa. Esta é a doença reumática mais prevalente entre indivíduos com mais de 65 anos de idade. É uma afecção dolorosa das articulações que ocorre por insuficiência da cartilagem, ocasionada por um desequilíbrio entre a formação e a destruição dos seus principais elementos, associada a uma variedade de condições como: sobrecarga mecânica, alterações bioquímicas da cartilagem e membrana sinovial, e a fatores genéticos. A denominação mais aceita internacionalmente da doença é osteoartrite. O termo artrose ainda é muito utilizado, conhecido e associado aos aspectos mecânicos. É uma doença crônica, multifatorial, que leva a uma incapacidade funcional progressiva. A osteoartrite é a causa mais comum da ATQ primária [14]. Redução do espaço entre juntas Desgaste da cartilagem Osso áspero b) Quadril com osteoartrite a) Quadril normal Figura 2.3: Desenhos de quadris [15]: a) quadril saudável; b) quadril com osteoartrite. 9 Figura 2.4: Cabeça do fêmur com osteoartrite [16]. 2.3.2 Artrite Reumatóide A artrite reumatóide (AR) é uma doença auto-imune de causa desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e da cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos [14]. Com a progressão da doença, os pacientes desenvolvem incapacidade para realização de suas atividades tanto de vida diária como profissional, com impacto econômico significativo para o paciente e para a sociedade. O tratamento também é a artroplastia total do quadril [14]. 2.3.3 Necrose Avascular A cabeça do fêmur é composta por uma rede de artérias e veias que fornecem sangue e, por seu intermédio, oxigênio, para suas células ósseas. Quando ocorre uma interrupção no fluxo de entrada ou de saída desse sangue essas células sofrem um processo de isquemia e necrose pela falta de oxigenação [17]. 10 Ainda não se conhece uma razão que justifique o porquê dessa interrupção no fornecimento de sangue à cabeça femoral, daí a patologia ser chamada de necrose idiopática, ou seja, aquilo que não se conhece exatamente a causa. Ela pode ser asséptica, quando não existem germes ou fungos na cabeça necrosada, ou séptica, quando algum desses microorganismos está presente no local [17]. Existem algumas causas já relacionadas à enfermidade, como a ingestão de álcool, o fumo, o uso de corticosteróides ou cortisona, as radiações ionizantes, a anemia falciforme, as talassemias, a leucemia, os linfomas, a Doença de Gaucher, o disbarismo (trabalho em grande profundidade, como dos mineiros e mergulhadores), traumatismos, seqüelas de fraturas e luxações [17]. Neste caso a solução é a ATQ primária. 2.3.4 Outros Motivos A fratura do colo do fêmur ocorre na junção da cabeça femoral com a parte cilíndrica deste osso. O colo do fêmur tem função similar à de “um pescoço que sustenta uma cabeça” e, por estar em uma posição inclinada, suportaria todo o peso do corpo. Quando há um enfraquecimento nessa delicada área do fêmur, como na osteoporose, o osso fica mais frágil e predisposto às fraturas, que são mais comuns em idosos e em pessoas do sexo feminino. A luxação congênita do quadril, atualmente mais conhecida como displasia do desenvolvimento do quadril, ocorre quando a cabeça do fêmur e a cavidade acetabular apresentam uma forma anômala, comprometendo a estabilidade da articulação, pelo escorregamento progressivo de um osso sobre o outro e, conseqüentemente a perda das relações articulares [14]. O trauma severo do quadril também ocasiona a necessidade de substituição da articulação do quadril e, quando a estrutura óssea não pode ser reparada com dispositivos de fixação, a ATQ torna-se a única opção. Em pacientes mais jovens, quando há necessidade da cirurgia é importante à preservação máxima possível do osso original, de modo a permitir uma cirurgia de revisão caso a prótese falhe prematuramente [14]. Todas as doenças aqui descritas destacam a necessidade de próteses com maior durabilidade e longevidade. 11 2.4 Procedimento de Substituição do Quadril Durante a substituição total de quadril, a cabeça do fêmur é removida e substituída por uma cabeça femoral de aço inoxidável, titânio, cerâmica, etc., fixada a uma haste femoral metálica, que é inserida em uma cavidade no fêmur. O componente acetabular danificado é substituído por outro que é inserido na pélvis onde a cabeça femoral se articula. Uma representação da posição destes componentes pode ser vista na Figura 2.5 Figura 2.5: Raios x de substituição total do quadril [18]. Existem dois tipos de artroplastia total do quadril que são classificados de acordo com o tipo de fixação da haste no fêmur: a) Próteses não cimentadas, que dependem de um revestimento ou estrutura em sua superfície, permitindo a neoformação de osso na haste femoral a fim de estabilizar o implante; b) Prótese cimentada, que é o método mais tradicional de fixação da haste e iniciado por Sir John Charnley, que consiste na introdução de um manto no canal entre o osso e a haste femoral. Este manto é produzido com cimento ósseo, na maioria das vezes o polimetilmetacrilato (PMMA). O cimento ósseo de PMMA é pressurizado dentro da cavidade gerada pela remoção da cabeça do fêmur e da fresagem do canal medular antes da inserção da haste femoral, proporcionando fixação e melhor distribuição da tensão da haste, no osso [14]. 2.5 Registros da Substituição Total do Quadril ao Longo do Tempo A artroplastia total do quadril foi a técnica cirúrgica pioneira na moderna família de substituição de próteses. Nos anos 50, protótipos foram utilizados na substituição de articulações afetadas, embora com resultados muito pobres para os pacientes, geralmente com uma redução na qualidade de vida devido a traumas adicionais sofridos 12 durante a operação. A idéia inicial era recuperar as interfaces de suporte com uma variedade de materiais que vão desde o vidro a materiais biológicos, tais como as bexigas de porcos. Os modelos de próteses de substituição total de quadril, que estão disponíveis no mercado, foram introduzidos nos anos 60. Estas foram concebidas e desenvolvidas por Sir John Charnley 1911-1982. A principal característica desta técnica pioneira foi a substituição de toda a articulação, proporcionando assim uma nova cabeça femoral e um novo componente acetabular na superfície articular. Desde o desenvolvimento da ATQ em 1960, o conceito básico de substituição da estrutura articular através de componentes femoral e acetabular manteve-se constante, embora tenha havido um grande desenvolvimento em termos de geometria, material utilizado e técnica cirúrgica [12]. A Figura 2.6 demonstra o sistema de substituição do quadril "Charnley", que representa 60% do mercado disponível de próteses cimentadas [19]. Outro sistema com bons resultados em próteses de substituição de quadril é o sistema Exeter. A base é um sistema cimentado do mesmo tipo que a do Charnley, porém com desenho geométrico diferente. A Figura 2.7 apresenta o modelo atual da haste Exeter [20]. Os dois projetos descritos foram pioneiros e bem-sucedidos e ainda dominam o mercado mundial. Um avanço neste projeto foi a introdução da haste modular, que permitiu a seleção de cabeças, possibilitou aos cirurgiões a escolha com melhor precisão do tamanho adequado e ainda permitiu a fabricação da cabeça com materiais diferentes ao da haste, proporcionando o aperfeiçoamento do deslizamento entre as superfícies em contato [21]. Os fabricantes também têm se dedicado a pesquisas de novas técnicas de recapeamento da cabeça do fêmur, com utilização de novos materiais com excelentes propriedades de resistência e acabamento superficial. O objetivo é a minimização do atrito cabeça femoral/componente acetabular com o menor dano possível aos tecidos circundantes. Resultados em longo prazo deste recapeamento ainda não estão disponíveis, portanto, ainda não é possível a avaliação dos componentes da prótese ou da própria técnica em termos de sucesso in vivo [22]. 13 Figura 2.6: Prótese do tipo “Charnley” [19]. Figura 2.7: Prótese do tipo “Exeter” [20]. 2.6 Modelos de Próteses Os tipos de próteses mais utilizados são as cimentadas: dentro desta categoria de implante há várias diferenças entre os vários tipos de próteses no mercado. Antes de serem disponibilizadas várias pesquisas e testes exaustivos são realizados, entretanto o sucesso de um implante é medido pela sua durabilidade in vivo. Murray et al [23] realizaram uma extensa investigação sobre dados relativos a 60 dos implantes disponíveis para uso médico no mercado em 1995. Destes implantes poucos obtiveram resultados em longo prazo para confirmar seu sucesso. Um destes fracassos foi não existir um banco de dados dos resultados de durabilidade das próteses. A Suécia iniciou em 1979 o registro dos resultados, sendo a primeira nação a elaborar um registro nacional com todas as substituições de quadril realizadas em seus hospitais. Uma vez que foi bem-sucedida, uma série de outras nações seguiu o mesmo caminho [23], incluindo a Finlândia (1980), Noruega (1987), Dinamarca (1994), Nova Zelândia (1997), Hungria (1998), Austrália (2000), Canadá (2001) e Reino Unido (2004). O Brasil iniciou um registro em 2002, o que pode ser conferido no item 2.8 deste trabalho. 14 Estes registros monitoram e detalham as diferenças na utilização de implantes, tais como a técnica e condições da cirurgia, alterações de modelo e melhorias nas próteses. Os registros servem de orientação para médicos e pacientes na escolha de próteses com percentual de falhas menor e conseqüentemente uma durabilidade maior da prótese implantada. 2.6.1 Tipos de Fixação Como mencionado, existem duas maneiras para fixar a haste femoral no canal do fêmur: pela introdução de um manto de cimento como apresenta a Figura 2.8 [24] (onde são demonstrados o implante, o cimento e o osso) e o “não cimentado” Figura 2.9 [25] (onde se nota o implante, o manto poroso e o osso). Na fixação biológica ou nãocimentada a haste femoral é revestida por um material poroso de modo a permitir a osteointegração, além disso, as próteses deste tipo possuem um revestimento secundário de hidroxiapatita a fim de estimular ainda mais o crescimento dos ossos. A haste cimentada necessita da introdução de cimento ósseo de polimetilmetacrilato (PMMA) no canal femoral para proporcionar a fixação e estabilidade do implante. As próteses de quadril não cimentadas obtiveram bons resultados apesar de não existirem dados em longo prazo. Há restrições na sua utilização em pacientes idosos devido à baixa regeneração óssea destes. Apesar disto, Pieringer et al [26] relataram bons resultados com a substituição total de quadril não cimentada em pacientes com idade superior a 80 anos de idade, em um período de acompanhamento de 6 anos e meio. Implante Cimento Osso Figura 2.8: Prótese de haste cimentada [24] onde se demonstra o implante, o cimento e o osso. 15 Implante Manto poroso Osso Figura 2.9: Prótese de haste não cimentada [25], onde se observa o implante, o manto poroso e o osso. 2.6.2 Geometria Os componentes básicos de qualquer prótese total de quadril são comuns a todos os implantes: a cabeça do fêmur, uma haste femoral e um componente acetabular (Figura 2.10). Murray et al [27] determinaram que existem mais de 60 tipos de implantes disponíveis e a principal área onde as diferenças geométricas são mais aparentes é na haste femoral. Embora haja diferenças de comprimento, assim como do diâmetro entre a cabeça femoral e o componente acetabular, a geometria básica pode ser considerada semelhante, porém, as variações maiores são nas hastes. Componente acetabular externo Componente acetabular interno Cabeça femoral Colo Femoral (pescoço) Haste femoral Figura 2.10 Prótese total de quadril composta por: componente femoral (haste e cabeça femoral) metálico, colo femoral e componentes acetabulares interno e externo constituídos, respectivamente, por um inserto de polietileno e uma cápsula metálica [28]. 16 2.6.3 Haste e Cabeça Femoral Em casos específicos são necessários modelos diferentes de haste femoral, modificações específicas podem ser necessárias para fraturas graves em que a inclusão de parafusos e fixadores adicionais é necessária para reconstruir a articulação. Para a maioria dos pacientes que necessitam de uma ATQ uma haste de modelo simples é suficiente. Nas hastes disponíveis há pequenas diferenças de desenho, geometria e forma, porém, estas podem ter um grande efeito na sua durabilidade [29,30]. Inicialmente a haste e a cabeça femoral eram fabricadas em um único componente. O advento da modularidade, utilizando dois componentes distintos, permitiu aos cirurgiões a seleção da combinação haste-cabeça, o que possibilitou mais flexibilidade no dimensionamento e no posicionamento das próteses. A possibilidade de utilizar materiais mais resistentes ao desgaste foi outro benefício da introdução da modularidade. Um exemplo, disto é que enquanto as ligas de aço inoxidável proporcionam excelentes propriedades mecânicas para a haste, as ligas de cromocobalto da cabeça femoral, são mais resistentes ao desgaste [31]. A cabeça femoral é montada na haste através de um sistema de encaixe cônico, seu único inconveniente é a introdução de uma nova interface onde pode surgir algum desgaste. Cook et al [32] relataram que a interface cabeça/haste femoral é uma fonte de liberação de íons e resíduos de desgaste, mas estes foram minimizados pelo desenvolvimento das técnicas de fabricação. O volume do desgaste entre a cabeça e a haste femoral é superado pelos benefícios da seleção dos materiais. Além das ligas de cromo-cobalto, a utilização da cerâmica em cabeças femorais também é possível em próteses modulares. O processo de fabricação da cerâmica, tais como com a alumina e a zircônia, permite uma precisão elevada, aliada a um excelente acabamento superficial tanto na cabeça femoral como no componente acetabular [32]. 2.6.4 Componentes acetabulares A adoção de componentes acetabulares de polietileno com ligação cruzada em artroplastias totais de quadril foi rápida e generalizada. Estima-se que nos Estados Unidos estes componentes são utilizados em 70% das 500 000 artroplastias de quadril primária [33] e de revisão realizadas anualmente [34]. A idade média de pacientes que necessitam de ATQ primária está diminuindo [35], e estes pacientes mais jovens, por natureza mais ativos, precisam de próteses que durem décadas. É necessária a 17 compreensão dos limites biológicos da vida útil das próteses e da sua durabilidade, os quais estão relacionados com [35]: os resíduos do desgaste; os produtos químicos e íons; a reabsorção óssea do tecido na região proximal do fêmur (“stress shielding”) por componentes do implante; o tipo de fixação; ou a intolerância do paciente devido a aspectos negativos do desempenho mecânico. 2.6.5 Materiais Utilizados em Artroplastia Total de Quadril A seleção do material da cabeça femoral e do componente acetabular é baseada nas propriedades desejáveis de acoplamento e sua biocompatibilidade. A combinação ideal seria um acoplamento de baixo atrito, onde o desgaste dos componentes é desprezível [36]. Os materiais utilizados também têm que ser biocompatíveis para que se elimine a rejeição dos implantes após a cirurgia e também para prevenir os efeitos da toxicidade [36]. Tipicamente o componente acetabular é fabricado de polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE) devido aos seus baixos desgaste e atrito, além de características adequadas de dureza, impacto e resistência mecânica, que são as qualidades necessárias para a obtenção de bons resultados de desempenho. O UHMWPE também apresenta boa biocompatibilidade e pode ser esterilizado [36]. Estas características são importantes, pois permite menos rejeição do organismo e minimiza o risco de infecções. Os recentes avanços na pesquisa de materiais trouxeram a opção da cerâmica como um substituto para o UHMWPE na fabricação do componente acetabular e da cabeça femoral [36]. A utilização deste tipo de material em projetos de fabricação de implantes devido a suas propriedades é excelente para a aplicação em próteses. Estudos [37, 38, 39] têm demonstrado que a utilização de cerâmica reduz bastante o desgaste e resíduos nas próteses. O desafio na seleção de materiais para a haste femoral envolve uma série de fatores. As propriedades mecânicas desejáveis dos materiais são: flexão, compressão, torção e resistência à tração devido ao regime de carga in vivo; além disso, a durabilidade e a rigidez também são importantes [34]. A melhoria das propriedades mecânicas dos materiais para utilização em hastes femorais não é trivial. De qualquer maneira, os materiais necessitam de resistência e durabilidade a fim de evitar a fratura da articulação, ao passo que a alta rigidez provoca reabsorção óssea na região proximal do fêmur (“stress shielding”) [40], devido a uma transferência de carga maior para o 18 osso. Anteriormente as hastes femorais eram fabricadas exclusivamente de aço inoxidável cirúrgico, que exibia algumas das propriedades mecânicas necessárias e também possui uma boa biocompatibilidade. Embora o aço inoxidável cirúrgico seja amplamente utilizado para haste femoral do tipo cimentado, houve um desenvolvimento para melhoria das ligas e propriedades dos materiais das próteses. O aprofundamento da investigação sobre materiais alternativos trouxe a adição de ligas de titânio na fabricação de hastes femorais e ligas de cromo cobalto na fabricação de próteses, tanto para a haste como para a cabeça do fêmur [40, 41]. Pode-se citar que a mudança do material na cabeça femoral resultou em redução dos resíduos do desgaste [37, 38]. A modularidade típica de muitos dos projetos atuais facilita a combinação de diferentes materiais para a cabeça e haste femoral. Isto permite a escolha do componente de acordo com sua propriedade e atuação no implante. A utilização de cerâmica na fabricação de componente acetabular e na cabeça do fêmur resultou numa diminuição do atrito e conseqüentemente numa redução dos resíduos [36, 37]. a) Material cerâmico. Baixo atrito, alta resistência ao desgaste e boa biocompatibilidade fazem da prótese de cerâmica de alumina uma boa opção no longo prazo, principalmente para pacientes jovens e ativos, porque elas apresentam durabilidade maior e menos osteólise quando comparada à prótese metal-polietileno em intervalos maiores que 10 anos de utilização [42]. As falhas em próteses de alumina incluem pequenas quebras durante a inserção, fraturas ocasionais e rangidos [43]. A incidência de fratura de um componente cerâmico é rara e quando ocorre requer a remoção cuidadosa dos fragmentos nos tecidos durante a cirurgia de revisão. Um fragmento de cerâmica não retirado aumenta o desgaste na articulação substituída, principalmente quando o componente acetabular for de polietileno. Dependendo do tipo de fratura, o cirurgião pode optar e substituir por outra prótese de cerâmica. A tecnologia atual da cerâmica permite que a cabeça fraturada seja substituída por uma nova com um anel de metal embutido e componentes acetabulares podem ser substituídos por modelos com inserto de metal. A ocorrência de ruído, normalmente estalos e rangidos, em próteses de cerâmica variam de 0,48% a 10% [44, 45] das próteses implantadas. Verificou-se que riscos de desgaste nestas próteses são gerados por uma tensão na borda durante a flexão ou extensão do quadril [44]. Em um quadril relaxado, a microsseparação e posterior 19 impacto da cabeça durante a marcha também pode ocasionar riscos de desgaste [45]. Supõe-se que o ruído ocorre durante o carregamento na borda ou durante a articulação congruente com o movimento sob tensão ao longo dos riscos de desgaste [45, 46]. Nem todas as próteses com riscos de desgaste rangem, e nem todas são silenciosas. Não há evidências até o momento que o rangido seja um precursor da falha da cerâmica [44, 46]. Apesar da evolução das próteses de cerâmica através de novos materiais, como zircônia com alumina temperada e novas combinações como cerâmica com metal, ainda não há dados suficientes para sua utilização. Na verdade, o seu advento depende de necessidades mais pragmáticas, tais como cabeças femorais maiores e componentes acetabulares com espessuras menores [46]. b) Material metálico. A primeira geração de próteses metal-metal com liga de cromo-cobalto foi introduzida na década de 1960 [47], e a segunda geração [48] no final de 1980. As taxas de desgaste da segunda geração são 20 a 100 vezes menores que a de metal- polietileno convencional [49]. Estudos que comparam próteses de metal-metal com metalpolietileno de ligação cruzada ainda são desconhecidos, pois aparentemente os requisitos necessários para o baixo desgaste desse conjunto são determinados principalmente pela geometria da prótese, tolerâncias rígidas na circularidade, folgas, e rugosidade na superfície [50]. Em testes no simulador de desgaste (definido no item 4.3), um desvio entre a articulação está associado ao desgaste que libera grandes quantidades de resíduos metálicos que escurecem o lubrificante [51]. O conjunto metalmetal tem sido utilizado tanto em artroplastia total do quadril como em recapeamentos. Os metais têm propriedades que permitem a utilização de grandes cabeças femorais e componentes acetabulares de baixa espessura e acarretam a redução da incidência de luxação do quadril em pacientes jovens e mais ativos [52, 53]. Apesar das vantagens biomecânicas das próteses metal-metal a liberação de íons ao longo do tempo e os efeitos danosos deste acúmulo no corpo ainda preocupam [52, 53]. Hipersensibilidade cutânea a metais ocorre em cerca de 10% a 15% da população em geral, com o dobro da incidência em pacientes com próteses de quadril [50]. O tecido em torno de próteses metal-metal às vezes apresenta infiltração linfocítica [54] e inflamação precoce com dor [55]. O resíduo do desgaste de metal é biologicamente mais reativo quando comparado com resíduos de cerâmica ou polietileno [50]. A utilização de próteses metal-metal com revestimentos de superfície ou filmes que 20 reduzem a quantidade de resíduos e íons gerados pela articulação, aliada à vantagem de cabeças femorais maiores e componentes acetabulares menos espessos, aumentará sua aceitação [50]. c) Material polimérico. Devido à sua boa história clínica em longo prazo, polietileno convencional é considerado o material padrão em próteses de quadril quando comparado com outros materiais. A eventual ocorrência de osteólise aparece quando há taxas de desgastes maiores que 0,1 milímetros por ano, mas é incomum em taxas abaixo de 0,05 mm [56]. As moléculas de polietileno que são submetidas à radiação gama ou feixes de elétrons reduzem substancialmente o desgaste de componentes acetabulares em polietileno, sendo esta redução proporcional à quantidade de polietileno atingido pela radiação [57]. A primeira geração de polietileno com ligação cruzada está associada a resultados clínicos em que a redução do desgaste de quadril foi obtida como previsto [58, 59]. A utilização de tratamentos térmicos, tais como recozimento ou refusão foi utilizado, pois enquanto a refusão reduz propriedades mecânicas importantes do polímero [60], o recozimento deixa radicais livres e provoca susceptibilidade à oxidação [61]. A segunda geração de polietilenos com ligação cruzada, tais como o X3 (Stryker Orthopaedics, Mahwah, NJ), que utiliza um processo seqüencial de recozimento para ajudar a saturar radicais livres, e o EPoly (Biomet, Warsaw, IN) que usa vitamina E contra estes radicais, tem sido utilizados. d) Pares e combinações A atual geração de próteses de quadril metal-polietileno e metal-metal apresentam desgaste extremamente baixo quando comparada à tradicional cabeça femoral de cromo-cobalto com componente acetabular de polietileno convencional. Em acompanhamento de mais de 10 anos para próteses metal-metal e mais de cinco anos para polietilenos de ligação cruzada com metal, a osteólise tornou-se rara [58, 59]. Próteses de alumina-alumina são sensíveis ao posicionamento correto do componente acetabular e à tensão nas bordas, e em alguns casos, podem fraturar ou ranger. Próteses de metal-metal permitem o uso de cabeças maiores em componentes acetabulares com espessura menor, mas também são influenciadas pela posição do componente acetabular e o carregamento nas bordas, além de serem suspeitos de causar a inflamação biológica pelos íons metálicos liberados e de serem desconhecidos os efeitos em longo prazo. Próteses metal-polietileno de ligação cruzada parecem ser melhores do que as de metal21 metal, no entanto, devido ao carregamento nas bordas, frouxidão articular ou mau posicionamento do componente deste conjunto aumenta o desgaste sem emitir qualquer ruído detectável [58,59]. A alta tensão no polímero devido ao inserto muito fino ou à tensão nas bordas pode levar à fratura do componente. e) Próxima Geração de Componente Acetabular Todas as próteses são suportadas pela haste femoral e pelo componente acetabular que são mais rígidos que o osso adjacente. No componente acetabular, demonstrou-se que a presença de um inserto rígido pode levar à perda óssea em pacientes [62]. Um novo formato de componente acetabular é uma das novidades na área de implantes ortopédicos. Uma análise recente de elementos finitos demonstrou que a reabsorção e a perda óssea são inevitáveis em componentes acetabulares hemisféricos e a reabsorção óssea não é afetada pela espessura da parede do componente acetabular [63]. A utilização de um polímero em formato de “ferradura” (componente acetabular de polietileno, inserto de fibra de carbono reforçada, e revestimento de hidroxiapatita) da Cambridge Cup (Howmedica, Staines, Reino Unido) apresentou uma redução de perda óssea e recuperação da densidade óssea na região em torno do componente acetabular em dois anos de acompanhamento [64]. Outro componente acetabular de polímero em formato de “ferradura” de segunda geração, denominado MITCH ™ PCR (Figura 2.11) Cup da Stryker SA, Montreux, Suíça, possui um componente acetabular de fibra de carbono/composto de poliéter éter cetona CF/PEEK, que é fixado ao osso com um revestimento de hidroxiapatita. A cabeça femoral é de cerâmica de alumina. Análises de elementos finitos do MITCH ™ PCR Cup no osso mostrou carregamento maior na cúpula acetabular em comparação com componentes acetabulares hemisféricos tradicionais [65]. 22 Figura 2.11 Componente acetabular Mitch™ [65]. 2.6.6 Acabamento da Superfície A norma NBR ISO 7206-2 [6] determina que a rugosidade superficial deve ter valores apropriados para que as superfícies de articulação (cabeça e componentes acetabulares) funcionem adequadamente. Estabelece também que no acabamento da superfície a rugosidade média (Ra) não deve ser maior do que 50µm para componentes metálicos e não maior do que 30µm para componentes cerâmicos. Na realidade, são obtidos acabamentos melhores devido aos avanços nas técnicas de fabricação e o desenvolvimento dos materiais [12]. 2.6.7 Cimentação na ATQ O cimento ósseo PMMA é o meio utilizado para a fixação da prótese do tipo cimentada. Durante a ATQ a cavidade gerada no canal medular é preenchida com PMMA antes da inserção da haste. Esta substância é utilizada para fixação da haste em uma determinada posição e garantir a estabilidade do implante. Lewis [66] determinou que o cimento ósseo contribui na distribuição das cargas do peso corporal no osso e aumenta as propriedades de suporte entre a haste, o osso e o cimento ósseo. A substância é fornecida em dois componentes, um pó e um líquido e após a mistura de ambos o cimento fica pronto para ser utilizado durante o procedimento experimental. 23 Existem muitas marcas de cimento ósseo PMMA disponíveis no mercado, porém sua composição varia pouco. A principal diferença entre os cimentos ósseos é a viscosidade e a escolha é determinada pelo cirurgião. Para prevenir o aparecimento de infecção durante e logo após a cirurgia, alguns cimentos possuem antibióticos na sua composição. Em um estudo realizado por Baleani et al [67], verificou-se que a introdução de antibióticos na mistura de cimento ósseo não afetou suas propriedades mecânicas. Existe uma grande variedade de cimentos ósseos de PMMA disponíveis, sendo que a maioria dos fabricantes de implantes ortopédicos produz seu próprio cimento. Cimentos de alta viscosidade são os preferidos para aplicações tais como a inserção de componentes acetabulares e fixação dos componentes em uma prótese de substituição total do joelho. Cimentos de baixa viscosidade têm uma consistência de pasta, durante esta fase antes do processo de cura são pressurizados no canal femoral por meio de uma "pistola de cimento". A pistola de cimento, da Figura 2.12 assegura ao cirurgião a penetração do cimento no osso esponjoso em todas as interfaces e minimiza a ocorrência de vazios no manto poroso. As propriedades físicas e mecânicas do cimento ósseo PMMA foram pesquisadas e documentadas em várias ocasiões [65, 68, 69], além de haver também uma série de estudos que investigam a otimização das técnicas de cimentação (65, 70]. Figura 2.12: Pistola de cimento ou “cement gun” [67] A mistura dos componentes e a aplicação da substância resultante têm sido estudadas a fim de melhorar as condições e a função do cimento ósseo durante e após a ATQ. A penetração e a cura foram investigadas para melhorar a técnica de cimentação e os possíveis efeitos em artroplastias totais de quadril [72, 73]. A viscosidade do cimento aplicado influi no resultado da resistência ao cisalhamento na interface osso/cimento e haste/cimento [74]. Um estudo realizado por Bean et al [73] comparou cimentos ósseos de baixa e moderada viscosidade em diferentes níveis de pressurização para determinar qual resultaria em melhor resistência ao cisalhamento. Embora o cimento ósseo de baixa 24 viscosidade não penetre o osso esponjoso tão facilmente como o de viscosidade moderada, houve pouca diferença no cisalhamento entre ambos. Também foi determinado que uma pressurização maior que 4,14 bar não melhora as propriedades de cisalhamento interfacial concluindo-se que a pressurização deve ser entre 4,14 e 5.52 bar (60 - 80PSI) [74]. Vários estudos consideram que a pressurização do cimento é um fator determinante para o sucesso da artroplastia total do quadril [74, 75]. Para se obter um nível aceitável de estabilidade e resistência ao cisalhamento interfacial é necessária uma profundidade mínima de penetração no osso esponjoso. Um estudo realizado por Juliusson et al [70] determinou que a pressurização foi mais importante na penetração do cimento no osso esponjoso, do que a viscosidade. 2.7 Epidemiologia da Artroplastia Total de Quadril Primária De acordo com a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia SBOT apud Oliveira 2009 [76], a Portaria nº. 893 de 12 de novembro de 2002 introduziu no Brasil o formulário do Registro Brasileiro de Próteses Articulares Ortopédicas com a finalidade de formar uma base de dados sólida para o acompanhamento dos pacientes submetidos à artroplastia de quadril. Assim será garantida a qualidade dos produtos implantados e serão orientados os investimentos na área da Saúde. Estes dados são de livre acesso aos profissionais da saúde, hospitais e fabricantes ligados à área ortopédica, por meio de consulta a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). O formulário contém os seguintes dados: identificação do paciente (sexo, raça); dados clínicos (fatores de risco, cirurgia articular prévia, cirurgia ortopédica prévia); indicação clínica (sintomas, motivo do procedimento, grupo do procedimento, classe, exames não invasivos, dados de imagem, etiologia provável, lado tratado); dados sobre a prótese; informações sobre o procedimento realizado; dados sobre o resultado da cirurgia (farmacologia conjunta, causas do insucesso, manejo do insucesso, complicações maiores, etc.). Os dados coletados são digitalizados no final da internação do paciente e arquivados em banco de dados. Para tanto, o formulário é preenchido em duas vias sendo que, a primeira via fica arquivada no prontuário do paciente, e a segunda é encaminhada ao Centro de Controle de Próteses Articulares. No entanto, foram encontradas várias dificuldades para a implantação desta Portaria, dentre as quais, a falta de adesão dos médicos cirurgiões ao preenchimento do formulário. No ano de 2007, por iniciativa da SBOT, foi formatado o projeto piloto para implantação do 25 Registro Nacional de Artroplastias de Quadril e de Joelho o qual, atualmente, está em fase experimental apenas nas cidades brasileiras de Curitiba, Uberlândia e Batatais. Neste piloto, a responsabilidade pelo armazenamento dos dados é da SBOT - Regional. Uma das propostas é informar aos cirurgiões sobre as suas taxas de revisão e de infecção (quantas das próteses implantadas pelo cirurgião necessitaram de revisão ou infeccionaram), bem como sobre o desempenho das próteses que foi utilizada. Em comparação com outros cirurgiões que apresentem melhores resultados, o profissional poderá direcionar sua técnica, os tratamentos pós-cirúrgicos e o tipo de prótese para obter melhores resultados [76]. Até o momento, este registro não foi implantado em âmbito nacional e, por conta disso decidiu-se utilizar os registros de artroplastias da Suécia e da Noruega como referência, pois esses são fornecidos por quase todos os hospitais destes países e atualizados frequentemente. Na Suécia, de 1997 até 2008 foram realizadas 299.368 artroplastias totais de quadril, 36.307 re-operações e 29.401 revisões. Nos últimos 10 anos o número de artroplastias primárias aumentou aproximadamente para 4.000 operações por ano. No ano de 2008 foram registradas 14.451 artroplastias de quadril primária como apresentado na Figura 2.13, nota-se um aumento de 149 em relação ao ano de 2006. Desde 2005 a osteoartrite ainda é a causa mais comum de artroplastias de quadril primária, representando cerca de 83% [77] de todas as operações realizadas. A inflamação no quadril é muito pequena e está em constante queda, houve nos últimos cinco anos uma redução de 2,7 para 1,9%. Como comparação, pode-se mencionar que, em 1992, esta proporção era de 8,8% do número total de próteses de quadril primária implantadas. Já a fratura corresponde a cerca de 10% dos pacientes. Desde 2004 esta proporção tem variado entre 8,8 e 10,9%. Em 1998, estes pacientes constituíam 13,1% de todos os registros de artroplastias de quadril [76]. 26 N u m e r o d e A T Q Ano Figura 2.13 - Números de Artroplastias Totais de Quadril realizadas na Suécia, desde 1967 (6 operações) até 2008 (14.451) [75]. Na Noruega, o Registro Norueguês de Artroplastia realiza pesquisas e controle da qualidade de todas as substituições de próteses ortopédicas realizadas nos hospitais do país. No período entre 1987 e 2009 o registro fornece informações sobre 145.695 operações de prótese de quadril das quais 124.877 foram operações primárias e 20.818 revisões como demonstra a Tabela 2.1. Em janeiro de 1994 o registro se expandiu para incluir também as substituições em outras articulações. No período de 1994 - 2009 foram registrados 41.542 substituições do joelho e 10.603 em outros tipos de articulações. A substituição total de quadril em mulheres norueguesas e irlandesas é maior do que em outros países nórdicos, ao passo que para os homens a incidência é a mesma [78]. Segundo este relatório, a prótese cimentada composta de haste e componentes acetabulares ainda predomina nas substituições tanto para o quadril como no joelho, assim como o uso do polietileno convencional na articulação. A utilização de hastes femorais não cimentadas em pacientes jovens tem aumentado e de acordo com estudos [78] tem se mostrado promissoras. Um dado interessante é que na Noruega em 2009 foram realizadas 7029 operações primárias de quadril destas 1955 de alumina com UHMWPE e 1011 de alumina com polietileno com ligação cruzada, perfazendo um total de 2966, ou seja, 42% do total de próteses implantadas neste ano. As de UHWPE e polietileno com ligação cruzada + liga de cromo-cobalto, perfazem 2119, ou seja, 30% do total. Nota-se 27 um avanço na utilização do par cabeça femoral de alumina com componente acetabular de polímero. Tabela 2.1: Número de operações primárias, número de revisões e número total de operações primárias e revisões por ano na Noruega [78]. Ano Operações primárias Revisões Total Na Noruega, recomenda-se que a utilização de outras articulações do tipo metal com metal e cerâmica com cerâmica, deve ser bem documentada para cada tipo de prótese e apenas em estudos controlados. Houve uma diminuição das revisões devido ao menor afrouxamento asséptico do componente femoral, tanto para a prótese cimentada quanto a não cimentada. Isto demonstra a melhora dos cimentos, da técnica de cimentação e da haste femoral não cimentada utilizada. Luxação, infecção, desgaste, osteólise e afrouxamento acetabular ainda são motivos freqüentes para a revisão, e esses somente serão resolvidos através do desenvolvimento da tecnologia e da pesquisa [78]. Na Noruega, entre os anos de 2006 e 2007, concluiu-se que as hastes femorais não cimentadas apresentaram bons resultados. A mais utilizada destas é a Corail revestida com hidroxiopatita que obteve o menor número de revisões, após 10 a 15 anos de acompanhamento. A diferença entre a haste femoral não cimentada e a cimentada foi pequena com relação ao afrouxamento asséptico, a sobrevida foi de 98-99%. O maior problema ainda é o resultado negativo em longo prazo, isto é, mais de 15 anos, devido a várias revisões de componentes acetabulares não cimentados ocasionados por desgaste e afrouxamento [78]. 28 3 3.1 Metrologia de Implantes Ortopédicos Introdução Nos últimos 50 anos, houve um crescimento global relacionado aos aspectos geométricos na metrologia de superfície com o desenvolvimento de projetos, instrumentos, tratamento de dados e padronização. Contribuições específicas dos ingleses, alemães, americanos, franceses, russos e polacos ocasionou um progresso considerável das técnicas de medição, métodos de caracterização e normalização na metrologia de superfície [79]. Este desenvolvimento consequentemente aprimorou também a manufatura e a metrologia de próteses ortopédicas de quadril. Na metrologia de implantes ortopédicos as medições geométricas e o acabamento da superfície são áreas fundamentais no projeto, na função e na avaliação destas próteses. A metrologia geométrica engloba várias técnicas de avaliação do comprimento e da forma, tais como a esfericidade ou cilindricidade com resolução menor do que o micrometro. Com as novas técnicas de fabricação e de acabamento da superfície, a avaliação na medição do acabamento superficial é da ordem de nanometros [12]. 3.2 Metrologia na Indústria Ortopédica O sucesso da utilização de próteses totais de quadril depende de um alto grau de exatidão na sua fabricação para garantir que as superfícies em contato funcionem adequadamente [80]. A natureza das superfícies de deslizamento exige a minimização do atrito e a maximização das condições de lubrificação. A folga entre os componentes necessita de uma geometria precisa, aliada as exigências de acabamento da superfície, estas são as qualidades metrológicas necessárias para que as próteses obtenham resultados satisfatórios na artroplastia total de quadril. Com os avanços na tecnologia de fabricação e na seleção de materiais, um dos desafios da metrologia é manter a dinâmica de medição. Todos os aspectos do projeto do implante e sua fabricação estão sujeitos a uma análise rigorosa por órgãos reguladores. A qualidade dos produtos é definida por uma série de normas, que precisam ser atendidas para 29 satisfazer as exigências regulamentares e a fabricação dos componentes têm que atender a regras rígidas definidas pelos fabricantes dos materiais ortopédicos [80]. As normas utilizadas estão constantemente desatualizadas em relação ao avanço do processo fabril e o principal motivo é a rápida evolução e o desenvolvimento na precisão de fabricação e na seleção dos materiais [12]. O processo de revisão e publicação de normas é lento, pois precisa garantir a compreensão e informações precisas, portanto é difícil atualizá-las em consonância com o rápido crescimento e evolução da indústria. As normas em vigor se referem às técnicas de medição necessárias para a garantia da qualidade, entretanto a indústria de metrologia sempre procura desenvolver novas tecnologias de medição e acompanhar o crescimento da indústria e da engenharia de precisão. Os novos métodos da metrologia moderna, além do controle da qualidade das próteses podem ser utilizados na detecção de falhas em implantes, na verificação da sua funcionabilidade e ainda na verificação do acabamento das superfícies em contato das próteses [81]. A principal preocupação com as superfícies em contato é a geração de partículas por desgaste na articulação. Os avanços na seleção do material permitiu uma redução deste e, o que antes podia ser facilmente detectado através de uma avaliação gravimétrica, agora tornou-se difícil. As restrições da avaliação por meio gravimétrico são amplificadas pelo tipo dos ensaios simulados, por exemplo, o teste é realizado em um meio líquido (soro bovino), e os componentes são freqüentemente fixados através de cimento ósseo ou equipamento de pressão. Ambos os métodos ocasionam alterações gravimétricas muitas vezes maior do que a produzida pelo desgaste no contato entre as superfícies in vivo. No caso da cerâmica, a absorção de líquidos durante o teste pode ser verificada através da utilização de amostras de controle, porém não é possível determinar a diferença entre o material perdido na superfície em contato com os danos ocorridos durante a fixação dos componentes. Isto é desprezível no desgaste de próteses de metal com componentes de polietileno, entretanto, em componentes metal-metal, é essencial isolar a superfície de contato para examinar a perda de material e obter uma imagem fiel das características do desgaste. Portanto, para se distinguir o desgaste de componentes de cerâmica, é essencial prover meios alternativos de avaliação deste desgaste. Esta é uma área onde a metrologia 30 geométrica e de superfície está sendo explorada e estudos iniciais demostram os benefícios dessa técnica [81]. 3.3 Especificação Geométrica de Produtos A importância da medição geométrica pode ser rastreada até tempos remotos em que partes do corpo foram utilizadas para quantificar uma distância ou tamanho. Estas medições eram aproximadas, pois cada pessoa tem uma dimensão diferente e os resultados variavam de acordo com quem media [82]. Tentativas foram feitas para padronizar os sistemas de medição e, historicamente, muitas mudanças foram efetuadas até chegarmos ao sistema internacional de unidades, o SI. Atualmente, a maioria das medidas de comprimento são rastreáveis ao padrão internacional do metro. Da mesma forma, todas as medições geométricas são determinadas por normas internacionais que garantem a rastreabilidade das medidas em nível mundial [12]. Com o aumento da exatidão devido a padronização mundial em diversas grandezas inclusive dimensional, houve necessidade dos instrumentos garantirem sua exatidão e repetitividade na medição. A facilidade da colaboração global e o aumento de empresas multinacionais que possuem fábricas em vários países têm tornado essa padronização fundamental na garantia da qualidade e no custo de produção. É importante também que os instrumentos de medição possam produzir resultados confiáveis e rastreáveis em todo o mundo [12]. 3.4 Instrumentos utilizados na medição de próteses Dentre os equipamentos de medição disponíveis a um custo viável e mais versátil está a máquina de medição por coordenadas (MMC). A MMC é utilizada para medir qualquer geometria de uma peça e é normalmente utilizada para avaliar dimensões e posicionamento. No setor de ortopedia, a MMC é considerada como uma ferramenta padrão no controle dimensional das peças produzidas. O conceito básico da tecnologia da MMC pouco mudou desde a sua primeira introdução no mercardo por Ferranti (Inglaterra, 1959), porém, novos softwares de análise e de medições permitiram maior rapidez e melhor 31 exatidão. A conFiguração de uma MMC é invariavelmente uma mesa de granito maciço com um apalpador que se move em 3 eixos (x, y, z). A ponta do apalpador geralmente é de rubi, devido à expansão térmica favorável, dureza e forma. A Figura 3.1 apresenta um esquema de um sensor de toque. É na cabeça do apalpador que as informações são coletadas e transmitidas para o software de análise. Figura 3.1: Sensor de toque resistivo [83]. O apalpador é conduzido para tocar suavemente uma amostra isto dá a posição e a medição relativa a um plano de referência. Programas de medição são criados no código de controle numérico computacional (CNC) ou são gerados através da operação manual da posição do apalpador, a MMC "Aprende" estas posições de forma a permitir a medição automatizada, uma vez que os planos de referência e programas foram definidos. O tipo de apalpador mais utilizado nas indústrias são os apalpadores de toque, denominados de apalpador por operação de sonda resistiva (touch trigger probe). Este apalpador é montado sobre um mecanismo de mola, como demonstra a Figura 3.1. O contato mecânico forma um circuito em torno de um pivô. Quando o apalpador encosta em uma amostra, o mecanismo se move em torno do pivô e o circuito é rompido. É essa ruptura no circuito que identifica o ponto de medição por meio de um aumento infinito na resistência do circuito, a posição deste ponto é então registrada. É fundamental que antes da medição da amostra, planos de referência sejam determinados para identificar a posição do objeto no espaço, e também para determinar a direção positiva de cada eixo. A verificação inicial é obtida através da medição de uma esfera padrão conhecida, localizada em um ponto conhecido na mesa da MMC [83]. Na indústria ortopédica a principal utilização das MMC’s é na verificação da qualidade. A medição da folga entre os componentes, do comprimento, do diâmetro, da 32 forma e da rugosidade dos componentes de uma prótese ortopédica devem ser o mais exatas possível a fim de minimizar o desgaste das superfícies em contato. As Normas de implantes ortopédicos, utilizadas pelas indústrias que regulam os métodos de medição de próteses indicam a MMC como a ferramenta padrão para a medição da forma e do comprimento. Além destas, tentativas são feitas para definir a taxa de desgaste volumétrica das superfícies do polietileno usando uma MMC com apalpador de toque. Os métodos desenvolvidos na época não eram adequados e não se conseguiu definir as condições de medição. Após os testes no simulador de desgaste, somente se detectava uma mudança de geometria. Um problema com o sistema de medição foi a questão da repetitividade, devido à dificuldade em se criar um dado de referência sólido para comparação das medições. Com o advento das próteses de cerâmica e das ligas de cromo cobalto houve necessidade de revisar a utilização de MMC como ferramenta para a determinação quantitativa de desgaste [82]. Outra medição importante é o acabamento da superfície. Este necessita de uma análise para estabelecer a precisão requerida e a faixa de medição. A melhora na seleção dos materiais e as novas técnicas de fabricação levaram à situação em que, para superfícies das próteses em artroplastia total de quadril, o acabamento superfícial está abaixo da resolução que alguns instrumentos comercialmente disponíveis podem detectar. As normas estabelecem que o acabamento da superfície rugosidade média (Ra) de uma cabeça femoral de cerâmica deve ser inferior a 0,03 µm e para as cabeças de metal até 0,05 µm. Nas novas próteses de cerâmica, ligas de cromo cobalto e até mesmo de aço inoxidável os componentes são fabricados com rugosidade superficial menor que 0,01 µm para o parâmetro Ra. Estes acabamentos evoluiram tanto que alguns instrumentos por contato de duas dimensões existentes na indústria não conseguem mais medir com a exatidão necessária [12]. Existem vários tipos de instrumentos de medição da superfície disponíveis no mercado. Estes podem ser divididos em duas categorias, dependendo do tipo de medição da topografia da superfície: com contato e sem contato. A técnica de medição tradicional do acabamento das superfícies são os instrumentos de medição por contato (Figura 3.2), estes transmitem o relevo da superfície através de um apalpador. As medições 2D são realizadas rotineiramente a fim de avaliar a qualidade da superfície. A medição com apalpador “método por contato” estabelece uma medição física 33 da rugosidade da superfície. Perfis 3D também podem ser obtidos com varreduras na superfície na direção y. Figura 3.2: Medição por contato. O perfilômetro por contato funciona através de um apalpador que transfere o movimento físico da ponta em medição da topografia da superfície. O movimento da ponta do apalpador é normalmente transmitida a um computador através de um transdutor e um conversor analógico-digital. Existem vários tipos de transdutores utilizados: Historicamente, o transdutor indutivo (Figura 3.3) tem sido o dispositivo preferido de coleta de dados. Este dispositivo possui duas bobinas coaxiais, uma das quais é montada no apalpador onde está a ponta e é energizado por uma tensão alternada. A conFiguração mais utilizada é com um transformador diferencial variável linear (LVDT). Em muitos casos, os perfilômetros por contato comerciais continuam a usar esta tecnologia. Bobina Ferrite Eixo Bobina Apalpador Pivô Figura 3.3: Esquema de um transdutor indutivo [84]. Outro dispositivo utiliza um laser interferométrico, que gera luz de um laser díodo que passa por um divisor de feixe, parte desta luz é refletida por um espelho fixo e outra por um espelho montado sobre o braço do apalpador. As franjas produzidas pela 34 recombinação dos feixes são contadas e a mudança no padrão das franjas é proporcional ao deslocamento do espelho em movimento solidário ao apalpador. Outra tecnologia utilizada em perfilômetros é o Phase Grating Interferometric Transducer (Figura 3.4) é também um dispositivo interferométrico, porém utiliza uma grade e o passo entre as linhas desta é que determina a resolução do sistema. Esta tecnologia permite uma faixa de medição maior, uma redução no espaço físico devido à utilização de um diodo laser em vez de um laser a gás. O princípio de funcionamento é através de uma grade de fase curva, esta é montada no final do eixo pivotado do apalpador parte móvel do interferômetro. O comprimento de onda da distância entre os traços da grade fornece a referência para a medição. Quatro fotodiodos detectam o padrão de franjas de interferência geradas pelo movimento do apalpador, que interpola o sinal de saída. Este tipo de transdutor apresenta uma boa relação resolução versus faixa de medição. A saída de fase e freqüência depende do passo entre as linhas da grade. Apalpador Figura 3.4: Esquema de perfilômetro que utiliza a tecnologia Phase Grating Interferometric Transducer [84]. Esta técnica alavancou o mercado com maior exatidão, resolução e aumento da faixa de medição nesta geração de perfilômetros por contato [84]. Neste trabalho foi utilizado um rugosímetro/perfilômetro com esta tecnologia. As desvantagens da perfilometria por contato na medição de superfícies são: a probabilidade de danificar a amostra a ser medida e o raio da ponta do apalpador que limita a utilização de instrumentos por contato. Durante o processo de medição por contato, a alta pressão transmitida a superfície por uma ponta com raio de 2 µm e uma tensão de 75 mg pode causar danos nas superfícies. 35 Estes danos geralmente se restringem a materiais macios, mas pode ser um fator decisivo na seleção da técnica de medição, onde ensaios não destrutivos são essenciais. Outra limitação é o raio da ponta do apalpador. A Figura 3.5 demonstra como este raio restringe a qualidade da medição obtida, devido à sua natureza ele apresenta limitações físicas quanto ao tamanho e a profundidade de penetração em vales e picos da superfície analisada. Apalpador Perfil traçado Perfil bruto Figura 3.5: Limitações devida ao raio da ponta do apalpador [85]. Este sistema é verificado através da medição de uma semi-esfera com valores conhecidos de forma e estrutura da superfície geométrica. O padrão utilizado é calibrado em um laboratório pertencente a uma rede acreditada para assegurar as medições realizadas pelo instrumento. Com as limitações de faixa de medição e resolução e a possibilidade de causar danos na superfície da prótese em instrumentos de medição por contato, uma opção é a utilização instrumentos de medição sem contato. Existem faixas de medição e resolução que não podem ser atendidas pelo grupo de instrumentos por contato, neste caso utiliza-se instrumentos de medição sem contato. Dentre uma das inúmeras formas de se determinar quantitativamente e qualitativamente a rugosidade de uma superfície em estudo, destaca-se o método da microscopia que vem a algum tempo dando uma grande contribuição na medição desta grandeza. Este salto iniciou-se com a invenção do microscópio de varredura por tunelamento ou STM que desencadeou o desenvolvimento de uma grande variedade de microscópios de varredura por sonda conhecidos como família SPM e é a partir dele que derivaram inúmeras técnicas comumente utilizadas, dentre eles o microscópio de força atômica (AFM), o Microscópio de Varredura por Tunelamento (STM), o Microscópio de Força Magnética (MFM), o Microscópio de Força Eletrostática (EFM), Microscópio de 36 Varredura Acústica (SAM), Microscópio de Varredura Térmica (STM), Microscópio Óptico de Varredura de Campo Próximo (NSOM), entre outros. A seguir apresenta-se uma breve descrição de alguns destes microscópios [86]. Um dos feitos mais importantes para o desenvolvimento da Nanotecnologia foi à invenção em 1981 do microscópio de varredura por tunelamento eletrônico (Scanning Tunneling Microscope - STM) por Gerd Binning e Heinrich Roher, do laboratório da IBM em Zurique. A concepção do STM é bastante simples, um apalpador extremamente fino, cuja ponta é constituída de alguns poucos átomos ou até mesmo de um único átomo, "tateia" uma superfície sem tocá-la, distante menos de um nanometro. Durante a varredura da ponta, elétrons tunelam (tunelamento é uma forma de movimento de origem quântica que ocorre na escala atômica) da ponta para a superfície e com base nessa corrente de tunelamento um computador constrói uma imagem extremamente ampliada da superfície, na qual ficam visíveis os seus átomos. Dessa forma, pela primeira vez o relevo atômico da superfície de um corpo pôde ser visto e investigado [86]. O STM deu origem a uma família de instrumentos de visualização e manipulação na escala atômica, coletivamente denominados microssondas eletrônicas de varredura (Scanning Probe Microscopes - SPM). Além da visualização nanométrica de uma superfície, os SPM’s permitem manipular átomos e moléculas, que podem ser arrastados de um ponto e depositados em outro ponto previamente selecionado. Em um sentido Figurado, os SPM podem operar como pinças capazes de manipular átomos e moléculas. Isso foi demonstrado em 1990, quando Donald Eigler e Erhard Schweizer, do laboratório da IBM em Almaden, Califórnia, escreveram o logotipo IBM posicionando precisamente 35 átomos de xenônio sobre uma superfície de níquel [86]. A análise estrutural de materiais experimentou um grande avanço nos últimos anos, associado ao desenvolvimento das técnicas de Microscopia de Varredura por Sonda Mecânica (SPM), surgidas nos anos 80 e consolidadas nos 90. No início dos anos 80, a Microscopia de Varredura por Sonda Mecânica (SPM – Scanning Probe Microscopy) impressionou o mundo com as primeiras imagens, no espaço real, da superfície de um monocristal de silício com resolução atômica. Desde então, a técnica de SPM vem sendo utilizada numa ampla variedade de disciplinas, incluindo 37 praticamente todas as áreas de Ciência dos Materiais e de Superfícies, incluindo a rugosidade, produzindo imagens tridimensionais das amostras avaliadas. A Microscopia de Varredura por Tunelamento (STM- Scanning Tunneling Microscopy) foi a primeira técnica de SPM a ser criada. A partir de uma modificação neste microscópio, combinado com um perfilômetro Stylus (instrumento para medir rugosidade em escala microscópica) deu origem ao Microscópio de Força Atômica (AFM – Atomic Force Microscopy) [86]. O Microscópio de Força Atômica (Figura 3.6) é um tipo de microscópio de alta resolução que possui uma ponta de apalpação da superfície de medição. Esta é montada em uma haste que pode girar livremente. Na parte superior da haste um espelho é acoplado e reflete a luz de um feixe de laser de HeNe. Após a reflexão, a luz do laser passa por uma lente e incide sobre um fotodetector. A incidência do feixe do laser no fotodetector provoca o aparecimento de uma diferença de potencial (ddp) em suas extremidades. Esta ddp depende da área iluminada pelo feixe de laser que por sua vez depende da altura da ponta de prova em relação à amostra. Conforme esta se aproxima da amostra uma força de interação (força de Van der Waals) age entre ambas. A posição da ponta do apalpador varia conforme o relevo da superfície em estudo e depende em parte da natureza da amostra, da geometria da ponta e da distância entre elas e de qualquer contaminação que houver na superfície da amostra [87]. apalpador Figura 3.6: Esquema do microscópio de força atômica [88]. Com o intuito de aprimorar o entendimento sobre a metrologia de implantes ortopédicos é também importante o conhecimento da textura da superfície. 38 3.5 Textura da Superfície Geralmente a olho nu a superfície de uma peça aparenta ser plana e lisa, entretanto examinando-a através de um dispositivo de amplificação, veremos uma estrutura complexa que é o resultado de fatores tais como estrutura cristalina e dos processos que foram utilizados na sua fabricação [89]. Esta é denominada textura da superfície (Figura 3.7) e é definida como um conjunto de todas as irregularidades da superfície real, isto é, a forma, a ondulação e a rugosidade [90], a influência destes fatores na funcionalidade da textura da superfície é demonstrada na tabela 3.1 [91]. Figura 3.7 – Composição da textura da superfície [88]. Tabela 3.1: Influência das propriedades funcionais no acabamento das superfícies [91] adaptado pelo autor. Propriedades Forma Assentamento Defeitos Ondulação Rugosidade Propriedades funcionais físicas Vedação X Exatidão X Juntas X X X X Propriedades Tensão e químicas dureza X X X X X X X X Corrosão X X X Atrito X X X X X X X X Desgaste X X X X X X X X Lubrificação X X X X X X X X X X X X X X X X Vazão do fluido Deformação X plástica Deformação elástica A tabela acima demonstra que a textura da superfície influencia substancialmente na funcionalidade de elementos em contato, principalmente a rugosidade. Por causa disto, a 39 análise das superfícies em contato, [91] cabeça femoral e componente acetabular, é de extrema importância, e frequentemente o acabamento superficial afeta o desempenho, a qualidade e o tempo de vida útil do produto. Em outras áreas e na fabricação de máquinas e equipamentos, também é crítico avaliar e controlar as características da superfície dos produtos. Para controlar a estrutura da superfície geométrica, o primeiro passo é medir. A medição durante o ciclo da fabricação pode influenciar nas decisões durante este processo, permitindo controlar e aperfeiçoar o produto. A medição da superfície ao final do processo de fabricação permite uma noção sobre a capacidade de desempenho do componente. Todas as superfícies partem de uma superfície ideal desejada. Esta variação do ideal para o fabricado caracteriza cada componente [88]. A durabilidade das superfícies acopladas, tal como eixos e mancais dependem da textura da superfície, comparando com um implante de quadril o componente acetabular seria o mancal, a cabeça femoral uma junta esférica e a haste femoral o eixo. O acabamento superficial é muito importante nestes componentes, pois está relacionado ao desgaste na cabeça e no componente acetabular, e no caso da haste a fixação. As falhas normalmente ocorrem nas superfícies irregulares, em geral quanto melhor a textura da superfície maior sua durabilidade. A vida útil de um produto é influenciada pela taxa de desgaste de seus componentes, e esta taxa depende das áreas de superfície em contato e do tipo de material. Uma superfície rugosa com picos altos terá menos área de contato e desgastará mais rápido que uma superfície mais lisa com picos pequenos. Uma superfície perfeitamente lisa também não é a ideal, pois pode ocorrer cisalhamento devido à dificuldade da manutenção de um filme lubrificante entre as superfícies em contato [88]. Os instrumentos utilizados tanto nos laboratórios como nas linhas de produção, são eletrônicos, que podem ser classificados em dois grandes grupos. Instrumentos que fornecem somente a leitura dos parâmetros de rugosidade. Instrumentos que, além da leitura permitem o registro em papel do perfil efetivo da superfície. Os primeiros são mais empregados em linhas de produção, enquanto os segundos são mais utilizados em laboratórios. Isso porque geram um gráfico ou uma imagem para análise da textura da superfície [88]. 40 3.5.1 Conceitos Básicos As superfícies dos componentes mecânicos devem ser adequadas ao tipo de função que exercem, portanto, a importância do estudo do acabamento superficial aumenta à medida que crescem as exigências do projeto. As superfícies dos componentes deslizantes, como a junta esférica de um mancal (cabeça femoral) e o mancal (componente acetabular), devem ser lisas para que o atrito seja o menor possível. Já as exigências de acabamento das superfícies do eixo (haste femoral) e da base do mancal (inserto) devem ser menores. Além destas, há as superfícies controladas a partir de normas que estabelecem um valor máximo para sua comercialização. A produção de superfícies lisas exige um custo de fabricação mais elevado. Os diferentes processos de fabricação de componentes mecânicos determinam acabamentos diversos nas suas superfícies. As superfícies, por mais perfeitas que sejam, apresentam irregularidades, e estas compreendem dois grupos de erros: erros macro geométricos e erros micro geométricos [89]. Erros macrogeométricos são os erros de forma, de fácil visualização por meio de instrumentos convencionais de medição, como micrômetros, relógios comparadores, projetores de perfil, etc. Entre esses erros, incluem-se, ovalização, retitude, planeza, circularidade etc. Estes erros geralmente são produzidos durante o processo de fabricação por trepidações, deformações das guias da máquina, passo excessivo no avanço das ferramentas, etc. [89]. Erros microgeométricos são os erros microscópicos provocados pelas ferramentas no processo de fabricação das peças, estes também são conhecidos como rugosidade. Toda superfície é uma combinação de erros macrogeométricos ou de forma, ondulações e erros microgeométricos ou rugosidade [89]. A textura da superfície é composta por rugosidade, ondulação e forma. O que separa uma da outra são os filtros utilizados nos instrumentos de medição de perfil e de rugosidade que citamos a seguir. Filtro de perfil λs, filtro que define a separação entre os componentes da rugosidade e os componentes de comprimento de onda mais curtos (ruídos de alta freqüência) presentes na superfície (Figura 3.8). 41 Filtro de perfil λc, filtro que define a separação entre os componentes da rugosidade e da ondulação (Figura 3.8). Filtro de perfil λf, filtro que define a separação entre os componentes da ondulação e os componentes de ondas mais longas presentes na superfície (Figura 3.7). Perfil primário, perfil total após a utilização do filtro de ondas curtas, λs [89]. Figura 3.8: Características de transmissão dos perfis de rugosidade e ondulação [90]. Perfil de rugosidade, perfil derivado do perfil primário pela eliminação dos componentes de comprimento de ondas longas utilizando o filtro de perfil λc, este perfil é modificado intencionalmente (Figura 3.8). Perfil de ondulação, perfil derivado do perfil primário pela aplicação sucessiva dos filtros de perfil λf e λc, eliminando assim os componentes de comprimento de onda longa por meio do filtro de perfil λf e os componentes de comprimento de onda curta por meio do filtro de perfil λc. Comprimento de amostragem (lp, lr e lw), comprimento na direção do eixo X utilizado para identificar as irregularidades características do perfil sob avaliação. Nota: O comprimento de amostragem para perfis de rugosidade lr e de ondulação lw é numericamente igual ao comprimento de onda característico dos filtros de perfil λc e λf, respectivamente. O comprimento de amostragem para o perfil primário λp é igual ao comprimento de avaliação. Comprimento de avaliação (ln), comprimento na direção do eixo X, utilizado para estabelecer o perfil sob avaliação [90, 92]. Pico de um perfil (Zp), parte do perfil avaliado dirigido para fora (do material para o meio ambiente), conectada a dois pontos adjacentes da interseção do perfil com o eixo X como demonstra a Figura 3.8. 42 Vale de um perfil (Zv), parte do perfil avaliado dirigido para dentro (do meio ambiente para o material), conectada a dois pontos adjacentes da interseção do perfil com o eixo X como demonstra a Figura 3.9. Figura 3.9: Pico e vale de um perfil [90]. A superfície geométrica (Figura 3.10) é a superfície ideal descrita no projeto, na qual não existem erros de forma e acabamento. Por exemplo: superfície plana, cilíndrica etc., que sejam, por definição, perfeitas. Na realidade a superfície ideal não existe; trata-se apenas de uma definição. Superfície Geométrica Figura 3.10: Superfície geométrica é por definição, perfeita [93]. A superfície real (Figura 3.11) é a superfície que limita o corpo e o separa do meio que o envolve. É a superfície que resulta do método empregado na sua produção. Por exemplo: torneamento, retífica, ataque químico etc. Superfície que podemos ver e tocar [93]. 43 Figura 3.11: Superfície real, uma herança do método empregado na usinagem [93]. A superfície efetiva (Figura 3 12) é a superfície avaliada pela técnica de medição, com forma aproximada da superfície real de uma peça. É a superfície apresentada e analisada pelo instrumento de medição. É importante esclarecer que existem diferentes sistemas e condições de medição que apresentam diferentes superfícies efetivas. Figura 3.12: Superfície efetiva apresentada com ampliação. O perfil geométrico (Figura 3.13) é a interseção da superfície geométrica com um plano perpendicular. Por exemplo: uma superfície plana perfeita cortada por um plano perpendicular originará um perfil geométrico que será uma linha reta. 44 Perfil Geométrico Figura 3.13: O perfil geométrico é, por definição, perfeito [93]. O perfil real (Figura 3.14) é a interseção da superfície real com um plano perpendicular. Neste caso, o plano perpendicular (imaginário) cortará a superfície que resultou do método de usinagem e originará uma linha irregular. Figura 3.14: Perfil real, cortado por um plano perpendicular [93]. A Figura 3.15 é a medição do perfil efetivo de um peso padrão é uma imagem aproximada do perfil real, obtido no rugosímetro utilizado neste trabalho. Este perfil apresentado no registro gráfico é denominado perfil primário. Figura 3.15: Perfil efetivo obtido com rugosímetro (sem filtrar ondulações). 45 O perfil de rugosidade (Figura 3.16) é obtido a partir do perfil efetivo por um instrumento de avaliação após filtragem (filtro de Gauss). É o perfil apresentado por um gráfico após utilizar um filtro passa alta para eliminar a ondulação à qual se sobrepõe geralmente a rugosidade. Figura 3.16: Perfil de Rugosidade com filtro passa alta. A ondulação (Figura 3.17) é obtida a partir do perfil efetivo por um instrumento de avaliação após filtragem. É o perfil apresentado por um gráfico após utilizar um filtro passa baixa para eliminar a rugosidade. Figura 3.17: Ondulação com filtro passa baixa. 3.6 Sistemas de medição da rugosidade superficial Para a medição da rugosidade superficial são utilizados dois sistemas de medida o da linha média M (Figura 3.18) e o da envolvente este está em desuso. O mais utilizado é o da linha média, o mesmo adotado no Brasil. No sistema da linha média, ou sistema M, todas as grandezas da medição da rugosidade são definidas a partir do seguinte conceito de linha média: linha média é a linha paralela à direção geral do perfil, no comprimento da amostragem, de tal modo que a soma 46 das áreas superiores, compreendidas entre ela e o perfil efetivo, seja igual à soma das áreas inferiores, no comprimento da amostragem (lr) [93]. Superfície efetiva A1 A2 Linha média A3 Comprimento de amostragem lr Figura 3.18: Cálculo do sistema M [93]. A1 e A2 áreas acima da linha média = A3 área abaixo da linha média. A1 + A2 = A3 3.7 Critérios para avaliar a rugosidade A norma ISO 4288:1996 [92] estabelece os critérios para aquisição do perfil efetivo pelo rugosímetro. O perfil efetivo é adquirido de uma superfície num comprimento de avaliação (ln), (Figura 3.19). Chama-se o comprimento (lr) de comprimento de amostragem. O comprimento de amostragem nos instrumentos eletrônicos é chamado de cut-off (lr). lv lr lr lr lr lr lp ln lt Figura 3.19: Comprimentos para avaliação de rugosidade [93]. A distância percorrida pelo apalpador deve ser igual a 5 lr = ln, mais a distância para atingir a velocidade de medição (lv) e para a parada do apalpador (lp). Como o perfil apresenta rugosidade e ondulação, o comprimento de amostragem filtra a ondulação. 47 Tabela 3.2: Comprimentos de amostragem de rugosidade para medições de parâmetros R de perfis periódicos e RSm de perfis periódicos e não-periódicos ISO 4288:1996 [92]. RSm Comprimento de amostragem de Comprimento de avaliação de (µm) rugosidade lr (mm) rugosidade ln (mm) 0,013 < RSm ≤ 0,04 0,08 0,4 0,04 < RSm ≤ 0,13 0,25 1,25 0,13 < RSm ≤ 0,4 0,8 4 0,4 < RSm ≤ 1,3 2,5 12,5 1,3 < RSm ≤ 4 8 40 O parâmetro Sm (Figura 3.20) é o valor médio de espaçamento entre os picos do perfil e a linha média medida dentro do comprimento de amostragem. Figura 3.20: Parâmetro Sm [94]. 3.8 Parâmetros de rugosidade O acabamento de qualquer superfície apresenta irregularidades, picos e vales que denominamos rugosidade, devido ao processo de fabricação. A fim de determinar o método de fabricação adequado é necessário estabelecer parâmetros para controle da superfície fabricada, ou seja, parâmetros para avaliação da rugosidade. 48 3.8.1 Altura total do perfil (Pt, Wt e Rt) [90] Soma das maiores altura de pico do perfil Zp e das maiores profundidades dos vales do perfil Zv no comprimento de avaliação. O parâmetro de rugosidade Pt (Figura 3.21) [95] é definido como a altura total de um perfil não filtrado, o Wt (Figura 3.20) [95] a altura total, após utilizar-se um filtro passa baixa, que resulta no perfil de ondulação e o Rt (Figura 3.22) [95] a altura total, após utilizar-se um filtro passa alta, que determina o perfil de rugosidade. Figura 3.21: Perfil não filtrado Pt [95]. Figura 3.22: Perfil filtrado Wt [95]. Figura 3.23: Perfil filtrado Rt [95]. 3.8.2 Desvio médio aritmético do perfil avaliado (Pa, Wa e Ra) [90] O parâmetro Ra é a média aritmética dos valores absolutos das ordenadas (Zx) no comprimento de amostragem (Figura 3.24) [92]. Este parâmetro é o mais utilizado nas 49 indústrias. O parâmetro Pa é a média aritmética do perfil primário P não filtrado e Wa é a média aritmética do perfil de ondulação W após filtragem. Comprimento de avaliação Figura 3.24: Parâmetro Ra [96]. O parâmetro Ra pode ser utilizado nos seguintes casos [93]: • Quando for necessário o controle contínuo da rugosidade nas linhas de produção; • Em superfícies em que o acabamento apresenta sulcos de usinagem bem orientados (torneamento, fresagem etc.); • Em superfícies de pouca responsabilidade, como no caso de acabamentos com fins apenas estéticos. Vantagens do parâmetro Ra [93]: • É o parâmetro de medição mais utilizado em todo o mundo. • É aplicável na maioria dos processos de fabricação. • Devido a sua grande utilização, quase todos os equipamentos apresentam esse parâmetro (de forma analógica ou digital eletrônica). • Os riscos superficiais inerentes ao processo não alteram muito seu valor. Para a maioria das superfícies, o valor da rugosidade nesse parâmetro está de acordo com a curva de Gauss, que caracteriza a distribuição de amplitude. Desvantagens do parâmetro Ra [93]: • Valor de Ra em um comprimento de amostragem indica a média da rugosidade. Por isso, se um pico ou vale não típico aparecer na superfície, o valor da média não sofrerá grande alteração, ocultando o defeito. • Valor de Ra não define a forma das irregularidades do perfil. Dessa forma, poderemos ter um valor de Ra para superfícies originadas de processos diferentes de usinagem. 50 • Nenhuma distinção é feita entre picos e vales. • Para alguns processos de fabricação com freqüência muito alta de vales ou picos, como é o caso dos sintetizados, o parâmetro não é adequado, já que a distorção, provocada pelo filtro eleva o erro a altos níveis [93]. • Indicação da rugosidade Ra pelos números de classe. No estudo das superfícies em Desenhos Técnicos a característica principal (o valor) da rugosidade Ra pode ser indicada pelos números da classe de rugosidade correspondente, conforme tabela 3.3. Tabela 3.3 – Classe da rugosidade [97]. 3.8.3 Classe de rugosidade Rugosidade Ra (µm) N12 50 N11 25 N10 12,5 N9 6,3 N8 3,2 N6 0,8 N5 0,4 N3 0,1 N2 0,05 N1 0,025 Média dos cinco valores da rugosidade parcial (Rz) O parâmetro de rugosidade Rz (Figura 3.25) corresponde à média dos cinco valores de rugosidade parcial. 51 Rugosidade parcial (Zi). Figura 3.25: Rugosidade parcial Zi, para definir Rz [90]. O parâmetro Rz pode ser empregado nos seguintes casos [93]: • Pontos isolados não influenciam na função da peça a ser controlada. Por exemplo: superfícies de apoio e de deslizamento, ajustes prensados, etc. • Em superfícies onde o perfil é periódico e conhecido. Vantagens do parâmetro Rz [93]: • Informa a distribuição média da superfície vertical. • É de fácil obtenção em equipamentos que fornecem gráficos. • Em perfis periódicos, define muito bem a superfície. Desvantagens do parâmetro Rz [93]: • 3.8.4 Nem todos os equipamentos fornecem esse parâmetro. Razão de material (Rm) (fração de contato) [98] O parâmetro razão de material (fração de contato) simula o desgaste que ocorre entre duas superfícies em contato e com movimento relativo entre elas. Para visualizar como este parâmetro funciona, utiliza-se uma superfície plana abrasiva (uma placa de polimento) repousando sobre o pico mais alto de um perfil. À medida que o pico se desgasta, a linha de topo de perfil remanescente (a linha de contato) move-se para baixo do perfil e o comprimento da superfície em contato com a placa de polimento (a superfície de contato) aumenta como demonstra a Figura 3.26 [98]. 52 A razão de material é a razão do comprimento da superfície de contato em qualquer profundidade especificada no perfil, em relação ao comprimento de avaliação e é expressa em porcentagem [98]. Figura 3.26: Razão de material em relação a um percentual de contato [98]. A equação que define a proporção da razão de material é a seguinte: Rm = a+b+c+d +e × 100% E Onde: A = placa de polimento B = linha de posição ln = Comprimento de avaliação 3.8.5 Razão de material (Rm)/curva de Abbott – Firestone [98] A curva de razão de material possui os limites entre o pico mais alto e o primeiro vale subseqüente. A maneira na qual o valor da razão de material varia com a profundidade é possível distinguir diferentes formas do perfil, como demonstra a Figura 3.27. Figura 3.27: Representação da curva de razão de material [98]. 53 3.8.6 Parâmetros obtidos a partir da representação linear da curva de fração de material (curva de Abbott) ISO 13565-2:1999 [99] A curva de fração de material é representada pelos parâmetros listados a seguir: a) Núcleo do perfil de rugosidade: perfil de rugosidade excluídos os picos mais altos e os vales mais profundos; b) Rk: profundidade do núcleo do perfil de rugosidade (Figura 3.28); c) Razão de material, Mr1: Nível determinado em percentual, pela linha de interseção que separa os picos mais altos, do núcleo do perfil de rugosidade (Figura 3.28); d) Razão de material, Mr2: Nível determinado em percentual, pela linha de interseção que separa os vales mais profundos, do núcleo do perfil de rugosidade (Figura 3.28); Figura 3.28: Cálculo de Rk, Mr1 e Mr2 [99]. O parâmetro Rk está associado à parte intermediária da rugosidade e influencia no desempenho das superfícies. Este parâmetro quantifica a taxa de desgaste das superfícies em contato [98]. 54 e) Rpk: altura média dos picos mais altos que estão acima do núcleo do perfil de rugosidade (Figura 3.29); f) Rvk: altura média dos vales mais profundos que estão acima do núcleo do perfil de rugosidade (Figura 3.29). Figura 3.29: Cálculo de Rpk, e Rvk [99]. O parâmetro Rpk é associado à região que se desgasta nos primeiros contatos relativos entre as superfícies em contato. Uma aplicação de Rpk é na verificação do amaciamento de motores de combustão interna [98]. O parâmetro Rvk é relacionado aos vales presentes na superfície avaliada. Este parâmetro está associado a capacidade da superfície em reter um fluido e tem grande emprego na indústria automotiva e aeroespacial. Devido aos motores de combustão interna necessitarem simultaneamente de pontos específicos de lubrificação e retenção de fluido [98]. 55 3.9 Circularidade A circularidade ideal de acordo com a norma ANSI B89.3.1-1972 [100] é, “a representação de um perfil plano em que todos os pontos são equidistantes ao centro deste plano”. O desvio de circularidade “é o desvio do perfil de circularidade medido em relação a um perfil de circularidade ideal” e o valor deste desvio é “a diferença entre o maior raio e o menor raio do perfil medido; estes raios devem ser medidos em relação ao mesmo ponto” [100]. A medição da circularidade, como a maioria dos outros tipos de medição, está sujeito a Normas nacionais e internacionais. Estas especificam o modo que as medições devem ser feitas e como os resultados devem ser expressos, por exemplo, que círculos de referência são mais adequados [88]. A conformidade com estas Normas irá garantir que quaisquer medidas realizadas com instrumentos diferentes serão compatíveis. Assim um componente fabricado em um país ajusta-se com quaisquer componentes produzidos em outros países [88]. Normalmente, os fabricantes de instrumentos de medição de circularidade tentam garantir que seus produtos estejam em conformidade com os requisitos de uma Norma. Quando um projetista estabelece uma tolerância de circularidade em um componente, este pode ser inspecionado, medido e aceito ou rejeitado, de acordo com as tolerâncias especificadas, tanto dentro da empresa, quanto em qualquer lugar do mundo [88]. As Normas da Grã-Bretanha, Alemanha, Japão, América e em outros países estabeleceram quatro círculos de referência, que preenchem os diferentes requisitos de circularidade: 3.9.1 Círculo dos Mínimos Quadrados (CMQ) O círculo dos mínimos quadrados (Figura 3.30) [88] pode ser considerado como o mais utilizado entre os quatro. É um círculo ajustado aos dados de tal forma que a soma dos quadrados dos desvios do perfil traçado, ou modificado a partir desse círculo é mínimo. Outra definição seria que a área delimitada pelo perfil de um lado do círculo, é igual à área 56 delimitada do outro lado deste. E ainda levando-se em conta a derivação matemática do círculo dos mínimos quadrados: "A soma dos quadrados de um número suficiente de coordenadas radiais espaçadas igualmente, medidos a partir do círculo em direção ao perfil, tem valor mínimo". O desvio da circularidade é demonstrado na parte inferior da Figura 3.30, e determinado como a distância radial do pico mais alto (P) do círculo, mais a distância do vale mais profundo (V), a partir deste círculo. Figura 3.30: Derivação do círculo de mínimos quadrados [88] Vantagens da utilização do círculo de mínimos quadrados [101]: • não sofre a influência direta de outliers (pontos extrapolados). • possui melhor repetitividade. 57 Desvantagens [101]: • para dimensões simples o resultado não é compatível com instrumentos de medição convencionais, tais como paquímetros e micrômetros. • para medição de forma não possui o baricentro no local correto. 3.9.2 Círculo Mínimo Circunscrito (CMC) O círculo mínimo circunscrito [88] é um círculo de raio mínimo que inclui os dados do perfil (Figura 3.31). O desvio-de-circularidade é o máximo vale do perfil deste círculo e geralmente é referido como “círculo de referência anel padrão”. O centro e o raio podem ser encontrados manualmente, por tentativa e erro, utilizando uma bússola, através de um modelo ou, para mais precisão através de instrumentos. Assim, o desvio de circularidade é a distância do menor vale (V) a partir do círculo, mais uma vez, sendo igual a P + V, entretanto agora o valor de P neste caso é zero (Z); Desvio de circularidade = V. Figura 3.31: Mínimo círculo circunscrito [88]. 58 3.9.3 Círculo da Mínima Zona (CMZ) O círculo da mínima zona [88] é determinado por dois círculos concêntricos que envolvem o perfil traçado ou medido de tal forma que seu desvio radial é mínimo (Figura 3.32). O valor do desvio de circularidade é dado como a separação radial; Este círculo também é conhecido como "círculo de mínima separação" é sem dúvida alguma o algoritmo mais influenciado por outliers (pontos extrapolados). Porém é o mais indicado na construção de elementos para avaliação de forma. Figura 3.32: Círculo da mínima zona [88]. 3.9.4 Círculo Máximo Inscrito (CMI) O círculo máximo inscrito [88] é um círculo de raio máximo que inclui os dados do perfil (Figura 3.33). O desvio de circularidade é o pico máximo do perfil do círculo e é ocasionalmente referido como "círculo de referência tampão padrão". Ambas as técnicas de análise manual e instrumental podem ser utilizadas para estabelecer o CMI. Portanto, os desvios de circularidade são especificados como a altura dos maiores picos (P) acima do círculo, ainda pode ser considerado como P + V, só que agora V equivale a zero (como não existe nenhum vale dentro do círculo). 59 Como mencionado acima, ambos os círculos o circunscrito (Figura 3.31) e o inscrito (Figura 3.33) são conhecidos como círculos padrão "anel" e "tampão", respectivamente, porque simulam esses padrões ao se verificar um eixo ou um furo. A escolha do círculo de referência será influenciada pelo processo de fabricação da peça. Por exemplo, o círculo de mínimos quadrados é menos influenciado por riscos que os outros tipos de círculo e é importante na avaliação da concentricidade, etc. Desvio de circularidade = P. Figura 3.33: Círculo máximo inscrito [88]. O círculo máximo inscrito é indicado para medições de diâmetro interno onde se obtêm resultados compatíveis com instrumentos de medição convencionais. No capítulo 4, discorre-se sobre os materiais e métodos utilizados nas medições realizadas nas cabeças femorais e nos componentes acetabulares. 60 4. Materiais e Métodos Neste capítulo serão apresentadas as características dos materiais utilizados, instrumentos e procedimentos utilizados para a realização das medições e dos ensaios. Foram realizadas a medição do diâmetro, do desvio de esfericidade e da rugosidade em cabeças femorais de aço inox e de acetábulos de polietileno de ultra-alto peso molecular (UHMWPE). Os parâmetros de rugosidade Ra, Rt, Rk, Rpk, Rvk, Wt e Pt foram avaliados com o objetivo de estabelecer sua aplicabilidade no controle da qualidade superficial das próteses ortopédicas nacionais e importadas e, além disso, comparar com os parâmetros de rugosidade estabelecidos em Normas. Os ensaios de desgaste foram realizados para observar a variação dos parâmetros de rugosidade, o primeiro com 1 ciclo de 397 mil e no segundo ensaio foram efetuados 3 ciclos, o primeiro com 440 mil e os seguintes com 500 mil, perfazendo um total de 1,44 milhão de ciclos. 4.1 Materiais Foram estudadas próteses constituídas de cabeça femoral metálica do tipo modular e componente acetabular polimérico do tipo não cimentado. Ambas as superfícies de articulação com diâmetro nominal de 26 mm. No estudo foram utilizados 6 conjuntos nacionais (cabeça e acetábulo), 2 cabeças femorais e 3 componentes acetabulares importados. As cabeças femorais avaliadas são de aço inoxidável austenítico em conformidade com a norma ASTM F138 [102]. Uma análise do material destas pela técnica de espectroscopia por dispersão de energia de raios-X (EDS) mostrou presença de ferro, níquel e cromo (Figura 4.1) compatível com aço inoxidável. Os componentes acetabulares são de polietileno de ultra-alto peso molecular em conformidade com a norma ASTM F648 [103]. 61 Figura 4.1: Dispersão de energia de raios-X da cabeça femoral. 4.1.1 Requisitos das superfícies De acordo com a norma ISO 7206-2:2011 [6], os requisitos básicos são: Cabeça femoral metálica: O desvio de esfericidade de cabeças femorais de metal ou de cerâmica deve ter um valor de separação radial não maior que 10 µm. O acabamento superficial ao se utilizar um comprimento de amostragem de 0,08 mm, o valor de Ra da superfície de articulação esférica dos componentes metálicos e cerâmicos não devem ser maiores que 0,05 µm e 0,02 µm, respectivamente. O valor de Rtmax não deve ultrapassar a 1,0 µm. As tolerâncias dimensionais em relação ao diâmetro nominal são de +0,0 e -0,2 mm. Componente acetabular polimérico: O desvio de esfericidade de componentes acetabulares poliméricos (plásticos) deve ter um valor de separação radial não maior que 100 µm. O acabamento superficial ao se utilizar um comprimento de amostragem de 0,08 mm, o valor de Ra da superfície de articulação esférica do implante não deve ser maior que 2 µm. O encaixe esférico deve ter um diâmetro igual ao diâmetro nominal, com uma tolerância de +0,1 e +0,3 mm a uma temperatura de 20±2ºC. Na medição da rugosidade nas cabeças femorais e nos componentes acetabulares poliméricos recomenda-se informar o raio da ponta do apalpador e a posição em que foram realizadas as medições na amostra. Quando inspecionados por visão normal ou corrigida, a superfície de articulação deve estar livre de partículas engastadas e de arranhões, marcas e riscos que não sejam oriundos do processo de fabricação [7]. 62 4.2 Metodologia de medição das superfícies 4.2.1 Rugosidade Na medição da rugosidade foi utilizado um rugosímetro/perfilômetro PGI 830 (Figura 4.2) com faixa de medição vertical de 8 mm e resolução de 0,8 nm. Este instrumento possui uma unidade transversal de 200 mm com retitude de 0,1 µm e resolução de 0,125 µm. O equipamento tem um sistema anti-vibração pneumático que minimiza o ruído obtendo um valor de Rq menor que 1 nm e possibilita medição simultânea de forma, dimensão e rugosidade. O raio da ponta do apalpador utilizado foi de 2 µm. Foram realizadas três medições de rugosidade da cabeça femoral espaçadas entre si de 0,1 mm, com filtro cut-off de 0,08 mm, filtro de onda Gauss, filtro de forma arco de circunferência por mínimos quadrados (LS ARC) ao longo de um comprimento de 15 mm, em duas direções a 0º e 90º como apresenta a Figura 4.3, passando no centro da peça. Na medição dos componentes acetabulares poliméricos, foram efetuados 3 ciclos de medição a 0°, 90°, 180° e 270° conforme demonstra a Figura 4.4, nas mesmas condições de medição da cabeça femoral. A referência para 0° nas cabeças femorais foi a inscrição do fabricante e nos acetábulos estabeleceu-se um ponto como demonstra a Figura 4.4. Antes das medições determinou-se o ponto de retorno, no eixo X e no eixo Y da cabeça femoral e no eixo Y do acetábulo e as superfícies de articulação foram inspecionadas visualmente para verificar se estavam livres de partículas engastadas, arranhões, marcas e riscos oriundos do processo de acabamento. Figura 4.2: Rugosímetro. 63 90° 0° Figura 4.3: Medição da rugosidade cabeça femoral. 180° 270° 90° 0° Figura 4.4: Medição da rugosidade acetábulo. A determinação dos parâmetros de rugosidade foi de acordo com as normas NBR ISO 4287:1997 [90] para os valores de Ra, Rt, Wt e Pt e os valores de Rk, Rpk e Rvk pela norma NBR ISO 13565-2:1999 [99]. Todos os resultados obtidos estão no capítulo V. 4.2.2 Esfericidade e circularidade A circularidade foi medida em uma máquina de medição de forma (MMF) apresentada na Figura 4.5 com capacidade para medir diâmetros externos e internos até 355 mm com resolução de 0,001 µm. Este equipamento possui um software denominado High Precision Roundness-HPR que permite medir com uma incerteza de medição U=0,010 µm em condições ambientais controladas, com o apalpador de 63,5 mm de comprimento. A medição da cabeça femoral foi realizada em várias alturas, incluindo também as três alturas estabelecidas na norma ISO 7206-2:2011 [6] a fim de comparar com o resultado da circularidade obtido com a máquina de medição por coordenadas (MMC). 64 Figura 4.5: Máquina de Medição de Forma. 4.2.3 Diâmetro e esfericidade na Máquina de Medir por Coordenadas As medições do diâmetro, do desvio de esfericidade e da circularidade das cabeças femorais e acetábulos poliméricos objetos desta tese foram realizadas em uma máquina de medir por coordenadas MMC apresentada na Figura 4.6 que possui estrutura do tipo ponte fixa e mancais aerostáticos de precisão apoiados em guias rígidas que garantem sua estabilidade na movimentação e alta exatidão nas medições. Figura 4.6: Máquina de Medir por Coordenadas. A capacidade de medição da MMC utilizada é de 905 mm no eixo X, 1005 mm no eixo Y e 605 mm no eixo Z. Sua resolução é de 0,00001 mm com exatidão de (0,3+L/1000) µm, sendo L o comprimento medido em milímetros. Antes da medição todas as próteses foram limpas, as cabeças femorais com nitrogênio e os acetábulos com álcool isopropílico. As cabeças femorais foram coladas ou foram fixadas aos cones dos suportes de fixação do simulador de ensaio de desgaste 65 universal, através de pressão conforme apresenta a Figura 4.7. Os acetábulos importados foram colados na base apresentada na Figura 4.8 os nacionais fixados por pressão no suporte apresentado na Figura 4.4. As medições do diâmetro, do desvio de esfericidade e da circularidade foram automatizadas através de um programa específico tanto para a cabeça como para o acetábulo. As cabeças femorais e os acetábulos foram medidos em 8 pontos separados igualmente no plano diametral AA apresentado nas Figuras 4.9a e 4.9b. Foram efetuados 5 ciclos de medição e o resultado obtido foi o diâmetro médio D. Figura 4.7: Suportes de fixação com cabeça femoral acoplada. Figura 4.8: Configuração de medição dos acetábulos. A medição do desvio de esfericidade da cabeça femoral e do acetábulo foi realizada na MMC de acordo com o procedimento a seguir, baseado na norma ISO 7206-2:2011 [6]. A cabeça femoral e o componente acetabular foram medidos em 25 pontos P’ sobre a superfície de articulação, sendo 8 igualmente espaçados ao longo da circunferência em cada um dos planos AA, BB e CC, e um ponto no pólo (P) (Figura 4.9a e 4.9b). O pólo é a interseção do eixo do pescoço com a superfície de articulação. Os ângulos a, b e c definem as posições dos planos AA, BB e CC, quando AA é um plano diametral a= 90º, b= 60º e c=30º. Calcula-se, então, para cada um dos 25 pontos 66 medidos o desvio de esfericidade através da equação: De= distância OP’ – 0,5D Onde, De= Desvio de esfericidade D = diâmetro médio O = centro da cabeça femoral P’ = pontos medidos Superfície de articulação Pólo (P) Pólo (P) Figura 4.9a: Cabeça femoral. Figura 4.9b: Acetábulo [6]. Além destas medições foram realizadas outras em um comprimento de 15 mm no topo das cabeças femorais, com o objetivo de avaliar melhor a superfície que apresentou um vale profundo. 4.3 Ensaio de simulação do desgaste O Laboratório de Biomateriais e Tribologia (Labit) pertencente à Divisão de Metrologia de Materiais (Dimat) possui dois simuladores de desgaste, um de próteses de quadril com 6 estações de trabalho (Figura 4.10) e 2 estações de controle e um simulador de desgaste universal, para ensaios de próteses de quadril, de joelho e de coluna. Ambos os equipamentos estão capacitados para a realização de ensaios em conformidade com a norma ISO 14242-2:2000 [104]. De acordo com essa norma, durante o ensaio das próteses de quadril são aplicados movimentos e carregamentos cíclicos enquanto são lubrificadas com soro bovino, através de um banho circulante com temperatura controlada, simulando as condições reais de utilização dentro do corpo humano. Este ensaio deve ser realizado em 5 milhões de ciclos. Os simuladores de desgaste do Labit são equipados com sensores que permitem a medição de forças e 67 torques com 6 graus de liberdade. Figura 4.10: Simulador de ensaio de desgaste de 6 estações trabalho. 4.3.1 Ensaio inicial Este ensaio inicial foi realizado com o objetivo de estudar o comportamento das próteses nacionais. Foi utilizado o simulador citado acima sob condições de movimento e carregamento mecânico de acordo com a norma ISO 14242-2:2000 [104]. O fluido utilizado foi água destilada a 37 °C e foram realizados aproximadamente 400.000 ciclos em um período aproximado de 4 dias (Maru et al) [105]. Um segundo ensaio está em andamento e até agora foram realizados aproximadamente 1.440.000 ciclos de um total de 2.500.000 nas mesmas condições do ensaio inicial com exceção do fluido utilizado que foi o soro bovino, este é substituído a cada 500.000 ciclos. As superfícies ensaiadas foram medidas de acordo com a metodologia apresentada no capítulo 4.3. Os resultados parciais obtidos (o ensaio ainda está em andamento) estão no capítulo V. 68 5 Resultados obtidos Nas seções anteriores comentou-se sobre a artroplastia total de quadril e sua importância na melhoria da qualidade de vida de indivíduos que por algum motivo tiveram danos nas articulações do quadril. Discutiu-se sobre as causas mais comuns que acarretam a necessidade desta operação, os componentes utilizados e os tipos de materiais disponíveis no mercado. Comentou-se sobre alguns instrumentos utilizados na medição e no controle da qualidade das próteses ortopédicas. A seguir, serão apresentados os resultados experimentais obtidos divididos em subseções, discutindo as características principais de cada um desses. Segue a ordem dos tópicos e as suas respectivas subseções: 5.1) Comparação laboratorial 5.2) Ensaio de microdureza; 5.3) Ensaio de desgaste inicial; 5.4) Comparação entre a cabeça femoral nacional e a importada; 5.5) Comparação entre o acetábulo nacional e o importado; 5.6) Análise dos componentes acetabulares com cut-off de 0,8 mm: 5.7) Segundo ensaio de desgaste; 5.8) Comparação entre a cabeça femoral nacional, a importada e a de cerâmica; 5.9) Medição da circularidade da cabeça femoral. 5.1 Comparação Laboratorial Uma comparação laboratorial foi realizada em Outubro de 2008 com a participação do Laboratório de Metrologia Dimensional – Lamed do Inmetro. A “Comparação Interlaboratorial de Ensaios Geométricos e Dimensionais em Implantes Ortopédicos” foi organizada pela Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras – Certi. A comparação teve como objetivo verificar a compatibilidade entre os resultados fornecidos pelos laboratórios participantes ao realizarem uma série de medições dimensionais, geométricas e de superfície, em amostras diversas de implantes ortopédicos. Dentre as amostras havia uma cabeça femoral modular de prótese total de articulação de quadril, na qual devia se medir o diâmetro e a rugosidade. O protocolo de medição estabelecia que a medição do diâmetro da cabeça femoral e do acetábulo devia ser efetuada em uma máquina de medir coordenadas em 8 pontos espaçados igualmente e no mínimo três ciclos de medição. Na medição da rugosidade fixou-se o implante à mesa do rugosímetro e realizaram-se as medições em 69 cinco ciclos de medição nas 4 posições apresentadas na Figura 5.1. Figura 5.1: Posições para medição da rugosidade da cabeça femoral [106]. Nas medições da rugosidade para estabelecer o parâmetro Ra foram utilizados os seguintes ajustes iniciais: Filtro cut off λc=0,08 mm, filtro de onda Gauss, filtro de forma arco de circunferência por mínimos quadrados LS ARC, velocidade de medição 0,25 mm/s, comprimento avaliado 5 vezes o cut-off e filtro de perfil λs=0,0025mm. Durante todas as medições as condições ambientais foram controladas por um termômetro digital e mantidas dentro de 20º ±0,5ºC. A avaliação estatística dos resultados obtidos pelos participantes desta comparação foi realizada através da comparação entre pares de valores e incertezas, seguindo a ABNT ISO/IEC GUIA 43-1 [107], utilizando o erro normalizado (En) para avaliação de desempenho dos laboratórios participantes. A análise estatística foi realizada através da fórmula do En, conforme segue, onde: Vlab valor obtido pelo laboratório participante; Vref valor obtido pelo laboratório de referência; Ulab incerteza combinada obtida pelo laboratório participante; Uref incerteza combinada obtida pelo laboratório de referência. Após os resultados obtidos (Tabela 5.1) o desempenho de cada laboratório participante da comparação interlaboratorial foi considerado como compatíveis, quando |En| ≤ 1 ou incompatíveis, quando |En| > 1. 70 Tabela 5.1: Resultados obtidos na comparação laboratorial Diâmetro (mm) Valor U 27,9687 0,0008 27,9676 0,0015 0,65 Referência LAMED En Rugosidade Ra (µm) Valor U 0,010 0,005 0,014 0,027 0,16 Utilizando o erro normalizado verificou-se que as medições foram compatíveis tanto na medição do diâmetro quanto da rugosidade, pois os erros normalizados obtidos foram menores do que 1 para as medições realizadas. Quando esta comparação foi realizada utilizou-se como referência um padrão de rugosidade secundário do laboratório, pois o padrão de rugosidade utilizado neste trabalho estava em calibração no exterior. Isto acarretou a incerteza alta na medição da rugosidade. 5.2 Ensaio de Microdureza Um ensaio de microdureza Vickers foi realizado em uma cabeça femoral de aço inoxidável. Este ensaio foi efetuado em um microdurômetro Akashi modelo M - 400 H, conforme a norma NBR NM ISO 6507-1:2008 [108] nas medições utilizou-se uma carga de 1,961 N e os resultados obtidos estão na tabela 4.2. Tabela 5.2: Resultados obtidos no Ensaio de Microdureza d1 µm d2 µm Média µm 39,431 39,430 39,062 39,895 40,046 39,761 39,66 39,74 39,41 Cabeça femoral HV0,2 d/D 235,48 234,59 238,49 0,001422 0,001425 0,001413 Tab. B.1 HV 0,2 corrigido 0,995 0,995 0,995 234,30 233,42 237,30 HV0,2 Média corrigida 235,00 Após as correções necessárias para medições realizadas em peças esféricas a média final da microdureza foi de 235,00 HV 0,2. Este ensaio foi realizado com o intuito de se conhecer mais uma das propriedades mecânicas do material ensaiado. 5.3 Ensaio de Desgaste Inicial No primeiro ensaio de próteses ortopédicas de quadril realizado no Inmetro pelo Laboratório de Biomateriais e Tribologia (Labit), foram utilizados três pares de cabeças femorais e acetábulos, de um fabricante nacional. Foram medidos o diâmetro, a 71 esfericidade e a rugosidade destes conjuntos antes e após o ensaio, os seguintes resultados foram obtidos. 5.3.1 Medição do Diâmetro Os resultados obtidos na medição dos diâmetros são apresentados na Tabela 5.3, estes foram medidos na MMC de acordo com o item 4.2.3. Tabela 5.3 - Resultados obtidos na medição do diâmetro das cabeças femorais (CF) e dos acetábulos antes do ensaio de desgaste. Diâmetro antes (mm) CF 2 25,921 CF 3 25,976 CF 7 25,920 NA 2 26,214 NA 3 26,194 NA 7 26,202 U 0,001 Todos os diâmetros das cabeças femorais estão dentro da tolerância estabelecida na Norma [6], no diâmetro nominal a tolerância é de -0,2 a 0 mm, neste estudo o diâmetro foi de 26 mm. Todos os componentes acetabulares também estão adequados, pois a tolerância é de +0,1 a +0,3 mm. 5.3.2 Medição do Desvio de Esfericidade Os resultados obtidos na medição do desvio de esfericidade são apresentados na Tabela 5.4 para as cabeças femorais, as medições foram realizadas na máquina de medir por coordenadas de acordo com o item 4.2.3. Tabela 5.4 - Resultados obtidos do desvio de esfericidade das cabeças femorais (CF) antes e após ensaio de desgaste. Desvio de esfericidade antes (µm) após (µm) CF 2 CF 3 CF 7 U 30,65 31,19 27,47 27,45 17,73 18,94 1,40 1,40 O desvio de esfericidade em cabeças femorais não deve ser maior que 10 µm [6]. Através da análise da tabela 5.4 verificamos que todas as cabeças estão fora da tolerância estabelecida, isto ocorreu devido à medição no pólo que apresentou um vale profundo, este afetou o resultado final Figura 5.2, 5.3 e 5.4. 72 Vale profundo Antes Após Figura 5.2 - Gráfico da cabeça femoral 2 plano XZ. Antes Após Figura 5.3 - Gráfico da cabeça femoral 3 plano XZ. Antes Após Figura 5.4: Gráfico da cabeça femoral 7 plano XZ antes e após desgaste. Pelos gráficos apresentados pode-se inferir que o processo de fabricação da cabeça femoral provavelmente não está adequado para se obter a esfericidade descrita na Norma, visto que a medição no pólo foi prejudicada pela profundidade excessiva encontrada neste. 73 A Norma [6] estabelece que o desvio de esfericidade em componentes acetabulares não deve ser maior que 100 µm. Após análise dos resultados apresentados na Tabela 5.5, verificou-se que todos os componentes foram aprovados. Tabela 5.5 - Resultados obtidos na medição do desvio de esfericidade dos componentes acetabulares antes e após ensaio de desgaste. Desvio de esfericidade antes (µm) após (µm) NA 2 NA 3 NA 7 U 91,61 78,92 81,02 66,35 86,13 70,87 1,50 1,50 Antes Após Figura 5.5: Gráfico componente acetabular 2 plano ZY. Antes Após Figura 5.6: Gráfico componente acetabular 3 plano ZY. 74 Antes Após Figura 5.7: Gráfico componente acetabular 7 plano ZY. 5.3.3 Medição da Rugosidade A medição da rugosidade foi efetuada de acordo com o item 4.2.1 deste trabalho. Os resultados obtidos na medição de rugosidade das cabeças femorais nacionais são apresentados na Tabela 5.6. Tabela 5.6 - Resultados da medição da rugosidade em cabeças femorais (CF) antes e após ensaio de desgaste. Rugosidade Ra CF 2 CF 3 CF 7 U antes (µm) após (µm) Rugosidade Rt antes (µm) após (µm) 0,006 0,124 0,007 0,147 0,006 0,130 0,007 0,012 0,152 3,020 0,438 3,256 0,199 3,294 0,121 0,261 De acordo com a tabela verificou-se que todas as cabeças femorais estão de acordo com a Norma [6] que estabelece um valor de Ra não maior que 0,05 µm e um valor de Rt não maior que 1,0 µm em superfícies de articulação esférica metálicas. Na medição da rugosidade dos componentes acetabulares nacionais os seguintes resultados foram obtidos ver Tabela 5.7. Tabela 5.7 - Resultados obtidos na medição da rugosidade dos componentes acetabulares (CA) antes e após ensaio de desgaste. Rugosidade Ra CA 2 CA 3 CA 7 U antes (µm) após (µm) Rugosidade Rt antes (µm) após (µm) 1,267 0,272 1,373 0,283 1,112 0,301 0,018 0,012 10,966 4,233 11,575 7,668 8,820 5,902 0,252 0,897 De acordo com a tabela verificou-se que todos os componentes acetabulares 75 estão de acordo com a Norma [6] que estabelece um valor de Ra não maior que 2 µm para componentes acetabulares poliméricos, os valores de Rt não são normalizados. 5.4 Comparação entre a Cabeça Femoral Nacional e a Importada O estudo foi realizado entre 3 cabeças femorais nacionais e 2 importadas ambas de aço inox com diâmetros de 26 mm. Avaliaram-se os seguintes parâmetros de rugosidade: Ra, Rt, Rk, Rpk, Rvk, Wt e Pt. O objetivo foi determinar as diferenças entre as duas e estudar parâmetros de rugosidade que afetem a qualidade da superfície das próteses nacionais e importadas. Os gráficos obtidos são apresentados nas Figuras 5.8 a 5.11. Figura 5.8: Gráfico do Ra para cabeças femorais nacionais e importadas. Na análise do gráfico da Figura 5.8 fica evidenciado que todos os valores de Ra das cabeças femorais avaliadas estão de acordo com a Norma [6]. O valor estabelecido é de Ramax de 0,05 µm para cabeças femorais metálicas utilizando um cut-off de 0,08 mm. Verifica-se também que os valores obtidos são aproximadamente sete vezes menores do que o estabelecido. Fica evidente que o critério da Norma é bem “aberto” neste parâmetro com isto a Indústria Nacional demonstra ter capacidade para atender critérios mais rígidos de acabamento da superfície. Atender a estes critérios provavelmente significa próteses com desgaste minimizado devido a este parâmetro. Quando a Norma é abrangente os fabricantes iniciantes podem ser induzidos a fabricar próteses com acabamento superficial bem pior do que as importadas e consequentemente estas terão um desgaste maior e uma durabilidade menor, ocasionando desvantagem no mercado consumidor, prejuízos para o paciente e custos para o governo. 76 Figura 5.9: Gráfico de Rt para cabeças femorais nacionais e importadas. A análise do gráfico da Figura 5.9 nos indica que os valores de Rt estão de acordo com a Norma [6] que estabelece o valor do parâmetro Rtmax não maior do que 1 µm utilizando um cut-off de 0,08 mm. Devido ao número reduzido de informações, não foi possível afirmar se a diferença maior no parâmetro Rt de 0,145 µm na prótese nacional iria interferiria no desempenho desta. Figura 5.10: Gráfico de Rk, Rpk e Rvk para cabeças femorais nacionais e importadas. A análise do gráfico da Figura 5.10 indica que os valores de Rk, Rpk e Rvk nas cabeças femorais nacionais foram menores que as importadas para os parâmetros Rk e Rvk e para o parâmetro Rpk na importada 2 os valores foram bem maiores. Estes parâmetros são os primeiros em que os valores das importadas ficaram maiores do que as nacionais. 77 Figura 5.11: Gráfico de Wt e Pt cabeças femorais nacionais e importadas. Neste caso os valores dos parâmetros Wt e Pt apresentam diferenças que podem ser significativas ao analisar a forma das duas próteses, pode-se concluir que o acabamento da superfície da importada avaliada é melhor do que a nacional neste quesito. A maior diferença é de aproximadamente 6,0 µm entre Pt’s. Não se pode afirmar que esta diferença irá acarretar um desgaste maior na prótese nacional, porém este parâmetro deve ser estudado através de um ensaio de desgaste da prótese importada. Não foi possível realizar este ensaio devido às próteses importadas serem um empréstimo da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Pretende-se adquirir um conjunto de próteses importadas a fim de efetuar este estudo no futuro. 5.5 Comparação entre o Componente Acetabular nacional e o importado Neste estudo foram utilizados 3 componentes acetabulares nacionais e 3 importados, todos fabricados com polietileno de ultra alto peso molecular UHMWPE e com diâmetro de 26 mm. Todos os resultados se referem a um comprimento de amostragem (cut off) de 0,08 mm. Os parâmetros de rugosidade avaliados foram os mesmos da cabeça femoral Ra, Rt, Rk, Rpk, Rvk, Wt e Pt. Do mesmo modo o objetivo foi determinar diferenças entre os dois e estudar parâmetros de rugosidade que afetem a qualidade da superfície dos componentes acetabulares nacionais e importados. Os gráficos obtidos são apresentados nas Figuras 5.12 a 5.16. 78 Figura 5.12: Gráfico de Ra para componentes acetabulares nacionais e importados. A análise do gráfico da Figura 5.12 nos indica que os valores de Ra estão de acordo com a Norma [6] que estabelece um valor de Ra não maior que 2 µm. Entretanto verifica-se que o parâmetro Ra da nacional é de aproximadamente 3,8 vezes maior do que a importada. Figura 5.13: Gráfico de Rt para componentes acetabulares nacionais e importados. A Norma não estabelece valores para o parâmetro Rt em componentes acetabulares de plástico, no entanto verifica-se na Figura 5.13 que os valores dos acetábulos nacionais são mais que o dobro do que os importados. Isto evidencia uma inferioridade no acabamento do componente acetabular nacional, ou seja, uma superfície mais rugosa que provavelmente pode influenciar no desgaste. 79 Figura 5.14: Gráfico do parâmetro Rk com cut-off de 0,08 mm para componentes acetabulares nacionais e importados. A análise do parâmetro Rk da Figura 5.14 demonstra também que os valores dos componentes acetabulares nacionais são bem maiores do que os importados. Entretanto, neste parâmetro, isto significa que a rugosidade da área de suporte de carga (núcleo da rugosidade) é alta. Figura 5.15: Gráfico dos parâmetros Rpk e Rvk com cut-off de 0,08 mm para componentes acetabulares nacionais e importados. A análise dos parâmetros acima demonstra mais uma vez valores dos componentes acetabulares nacionais duas vezes maiores do que os importados. Com relação ao parâmetro Rpk estes valores mais altos podem significar um maior desgaste dos componentes acetabulares nacionais. Entretanto, com relação ao parâmetro Rvk os valores mais altos podem significar uma lubrificação melhor. 80 Figura 5.16: Gráfico de Wt e Pt para componentes acetabulares nacionais e importados. A análise gráfica nos demonstra mais uma vez a diferença a maior dos componentes acetabulares nacionais quando comparados com os importados. Após a análise de todos os parâmetros podemos inferir que os mesmos necessitam de uma melhora em seu acabamento superficial. 5.6 Análise dos Componentes Acetabulares com cut-off de 0,8mm O objetivo desta análise é verificar a compatibilidade dos resultados obtidos com o comprimento de amostragem (cut-off) de 0,08 mm determinado na ISO 7206-2:2011 [6] com o de 0,8 mm estabelecido na norma ISO 4288:1996 [92], visto que esta, é específica para análise de superfícies com rugosidade próximas a 2,0 µm como os componentes acetabulares avaliados. Além disto, o rugosímetro utilizado nas medições permite medir superfícies esféricas em um comprimento adequado para o cut off de 0,8 mm. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 5.17. 81 Figura 5.17: Gráfico de Ra para componentes acetabulares nacionais e importados. A análise do gráfico apresentado na Figura 5.17 indica que os acetábulos nacionais não estariam de acordo com a Norma [6], pois os valores obtidos de Ra ficaram entre 2,50 até 3,00 µm e o máximo permitido seria de 2,00 µm. Em contrapartida os acetábulos importados avaliados não ultrapassaram a 1 µm, portanto todos estariam aprovados apesar do cut-off diferente. Esta análise nos permite deduzir que o comprimento de amostragem sugerido pela norma ISO 7206-2:2011 [6], neste caso específico, não seria o adequado para controlar a qualidade do componente acetabular fabricado. Portanto é importante que os fabricantes fiquem atentos a este procedimento, pois este pode levar a falhas antecipadas principalmente com relação ao desgaste, devido a valores de rugosidade de 25 a 50% mais altos do que o estabelecido para este componente. Os resultados obtidos valem somente para as amostras ensaiadas. Como dito anteriormente as normas geralmente estão desatualizadas, mas neste caso a data de emissão é de Março de 2011. 5.7 Segundo Ensaio de Desgaste No segundo ensaio de próteses ortopédicas de quadril realizado no Labit, foram utilizados sete pares de cabeças femorais e componentes acetabulares poliméricos, do mesmo fabricante nacional do primeiro ensaio. Este ensaio continua em andamento e terminará após a realização dos 2,5 milhões de ciclos. O mesmo foi realizado nas condições dispostas no item 4.3.1 deste trabalho, porém as medições de rugosidade dos componentes acetabulares após o ensaio foram efetuadas a 5 mm da borda. Neste ensaio foram avaliados os mesmos parâmetros de rugosidade antes e após 440, 940 e 1.440 mil 82 ciclos. O objetivo foi analisar as alterações ocorridas com os parâmetros de rugosidade nos componentes acetabulares poliméricos e tentar relacionar com o desgaste acontecido durante este período. A Figura 5.18 demonstra os valores de Ra de 0 até 1.440.000 ciclos de ensaio realizados em 3 componentes acetabulares. Nota-se que os valores de Ra diminuíram consideravelmente devido ao desgaste, isto significa a existência de resíduos de polietileno dentro do corpo do paciente. Figura 5.18: Valores de Ra de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. A Figura 5.19 demonstra os valores de Rt de 0 até 1.440.000 ciclos realizados. Nota-se que os valores de Rt também diminuíram consideravelmente devido ao desgaste, do mesmo modo que a análise anterior, isto pode significar mais resíduos de polietileno dentro do corpo do paciente. Figura 5.19: Valores de Rt de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. A Figura 5.20 demonstra os valores do parâmetro de Rk como este é também um parâmetro médio verifica-se a similaridade com o parâmetro Ra do gráfico da Figura 83 5.18. Observa-se novamente um grande desgaste através deste parâmetro. Figura 5.20: Valores de Rk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. A Figura 5.21 demonstra os valores do parâmetro Rpk nota-se neste gráfico uma grande variação deste parâmetro entre os ciclos realizados. Por enquanto não há o que comentar, pois o ensaio de desgaste ainda não terminou. Figura 5.21: Valores de Rpk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. A Figura 5.22 demonstra os valores do parâmetro de Rvk nota-se também neste gráfico uma aleatoriedade deste parâmetro entre os ciclos realizados. 84 Figura 5.22: Valores de Rvk de componentes acetabulares antes e após segundo ensaio de desgaste. 5.8 Comparação entre a Cabeça Femoral Nacional, a Importada e a de Cerâmica Como comentado no item 2.7 deste trabalho, a Noruega utilizou no ano de 2009 o conjunto cabeça femoral de alumina com componente acetabular de polímero em 42% das próteses ortopédicas de quadril implantadas. Portanto, decidiu-se realizar uma comparação entre as cabeças femorais de aço inoxidável nacional, a importada e a de cerâmica, apesar de serem materiais totalmente diferentes. Inicialmente foi escolhido o parâmetro Pt, (Figuras 5.23, 5.24 e 5.25) devido ao mesmo ser o único não filtrado, seguido pelos parâmetros Ra e Rt que são os exigidos na Norma [6]. Também foram estudados os parâmetros Wt, Rk, Rpk e Rvk. Os resultados obtidos nos gráficos das Figuras 5.23, 5.24 e 5.25 demonstram uma diferença no parâmetro de perfil primário Pt da cabeça femoral de cerâmica, de aproximadamente 132 vezes maior em relação a nacional e de 65 vezes maior em relação à importada. Os gráficos apresentados demonstram o acabamento superficial muito superior da cabeça femoral de cerâmica. 85 Figura 5.23: Cabeça femoral nacional parâmetro Pt= 15,803 µm. Figura 5.24: Cabeça femoral importada parâmetro Pt=7,811 µm. Figura 5.25: Cabeça femoral de cerâmica parâmetro Pt= 0,1200 µm. A análise do parâmetro de rugosidade Ra do gráfico da Figura 5.26, apresentou também uma grande diferença de valores, quando comparados com a de cerâmica a importada é 2,6 vezes maior e a nacional 3,2 vezes. 86 Figura 5.26: Comparação do parâmetro Ra das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. O parâmetro de ondulação Wt da Figura 5.27 repete o acontecido com o parâmetro Pt, pois as diferenças da de cerâmica quando comparada com a nacional e a importada são respectivamente de 246 e 151 vezes maior. Isto demonstra claramente o melhor acabamento da superfície da cabeça femoral de cerâmica. Este pode ser um dos motivos do menor desgaste obtido ao se utilizar este material. Figura 5.27: Comparação do parâmetro Wt das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. Os parâmetros da curva de Abbott Rk, Rpk e Rvk apresentados na Figura 5.28 nos demonstra a melhor superfície de acabamento da cabeça femoral de cerâmica. Notase também que o acabamento superficial da prótese nacional nestes parâmetros específicos é bem melhor do que a importada. Estes foram os únicos parâmetros em que o acabamento superficial da nacional foi melhor do que a importada. 87 Figura 5.28: Comparação dos parâmetros Rk, Rpk e Rvk das cabeças femorais de cerâmica, nacional e importada. Como era esperado o acabamento superficial da cabeça femoral de cerâmica é bem superior às outras avaliadas provavelmente este é o motivo do crescimento do conjunto cabeça de alumina com componente acetabular de polietileno, na Noruega. 5.9 Medição de Circularidade da Cabeça Femoral A medição de circularidade das cabeças femorais foi realizada na máquina de medição de forma (MMF), apresentada no item 4.2.2 (Figura 4.5) desta tese e também na máquina de medição por coordenadas (MMC) conforme item 4.2.3 (Figura 4.6). As medições foram efetuadas no hemisfério a 30 e a 60 graus deste e no pólo, nas mesmas posições da medição da esfericidade (item 4.2.3), as Figuras 5.29, 5.30 e 5.31, comparam os resultados obtidos, considerando o erro normalizado En [107], conforme descrito no item 5.1 deste trabalho. Figura 5.29: Desvio de circularidade no hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. O desvio de circularidade obtido na MMC foi de 0,00551 mm e na MMF 88 0,00480 mm, os resultados foram compatíveis, pois o erro normalizado foi igual a 0,26. Figura 5.30: Desvio de circularidade a 30º do hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. O desvio de circularidade obtido na MMC foi de 0,00439 mm e na MMF 0,00367 mm, os resultados foram compatíveis, pois o erro normalizado foi igual a 0,62. Figura 5.31: Desvio de circularidade a 60º do hemisfério da cabeça medido na MMC e na MMF. O desvio de circularidade obtido na MMC foi de 0,00467 mm e na MMF 0,00438 mm, os resultados foram compatíveis, pois o erro normalizado foi igual a 0,25. Do mesmo modo que foram comparados os valores dos parâmetros de rugosidade das cabeças femorais de aço com os valores da de cerâmica, decidiu-se comparar os valores do desvio de esfericidade, estes são apresentados na Figura 5.32. 89 Figura 5.32: Desvio de circularidade no hemisfério da cabeça femoral de aço inoxidável e na de cerâmica, medido na MMC. O desvio de circularidade obtido na cabeça femoral foi de 0,00551 mm na de aço e de 0,00216 mm na de cerâmica. Nota-se também um desvio de esfericidade 2,5 vezes menor na cabeça femoral de cerâmica, isto pode indicar um menor desgaste, pois o acabamento superficial da de cerâmica é superior ao da cabeça femoral de aço inoxidável. 90 6. Incerteza de Medição 6.1 Introdução Quando se relata o resultado de medição de uma grandeza física, é obrigatório que se dê alguma indicação quantitativa da qualidade do resultado, de tal forma que aqueles que o utilizam possam avaliar sua confiabilidade. Sem essa indicação, resultados de medição não podem ser comparados, seja entre eles mesmos ou com valores de referência fornecidos em uma especificação ou norma, portanto, para se caracterizar com qualidade um resultado de medição é necessário avaliar e expressar sua incerteza. É amplamente reconhecido que, quando todos os componentes de erro conhecidos ou suspeitos tenham sido avaliados e as correções adequadas tenham sido aplicadas, ainda permanece uma incerteza sobre quão correto é o resultado declarado, isto é, uma dúvida acerca de quão corretamente o resultado de medição representa o valor da grandeza que está sendo medida. Mesmo sabendo que o resultado de medição não é perfeito, é possível obter informações confiáveis, desde que este venha acompanhado da respectiva incerteza [109]. A determinação da incerteza de medição requer, além do conhecimento do procedimento, uma experiência metrológica da área específica da grandeza em questão, pois só com isso podemos estimar quais são as possíveis fontes de incerteza. Segundo o VIM - Vocabulário Internacional de Metrologia [110], incerteza é um parâmetro associado ao resultado de medição que caracteriza a dispersão de valores que podem ser razoavelmente atribuídos ao mensurando. Em uma linguagem mais simples é uma faixa de valores em que o resultado de medição provavelmente está incluído, para determinado nível de confiança, isto quando os erros sistemáticos já foram compensados. 6.1.1 Etapas para o Cálculo da Incerteza de Medição Os passos seguintes constituem um guia para o cálculo de incerteza, segundo os Guias ISO GUM [109] e EA-4/02 [111] que foram utilizados em todas as avaliações de incerteza de medição do presente trabalho experimental: a. expressar no modelo matemático a dependência do mensurando (grandeza de saída) Y com as grandezas de entrada Xi, conforme a equação Y = f (X1, X2,...,Xn). b. identificar e aplicar todas as correções significativas ao resultado da medição 91 c. calcular a incerteza padrão u(xi) para as grandezas medidas repetidamente (tipo A); d. relacionar as fontes de incerteza na forma de uma análise de incertezas, incluir componentes sistemáticos da incerteza associada a correções e tratar efeitos sistemáticos não corrigidos como parcelas de incerteza; e. atribuir valores de incertezas e distribuição de probabilidades com base em conhecimentos experimentais práticos ou teóricos (tipo B); f. calcular a incerteza padrão u(xi) para cada componente de incerteza; g. calcular o coeficiente de sensibilidade ci associado com a estimativa de entrada xi, isto é, a derivada parcial da equação com relação à variável Xi, avaliada para as estimativas de entrada xi; h. calcular para cada grandeza de entrada Xi a contribuição para incerteza padrão ui (y) para a incerteza associada com a estimativa de saída resultante da estimativa de entrada xi. Sendo que ui (y) = ci u(xi ); i. calcular a incerteza combinada que é a raiz da soma quadrática das contribuições para incerteza padrão ui (y); j. calcular a incerteza expandida U por meio da multiplicação da incerteza padrão combinada uc (y) associada à grandeza de saída por um fator de abrangência k (escolhido da tabela de t student, em função dos graus de liberdade efetivos νeff para um nível de confiança de aproximadamente 95%). 6.1.2 Modelo Matemático [112] Para percursos traçados de acordo com a norma ISO 3274:1996 [113] se estabelece um modelo pelo qual os valores para os parâmetros da superfície são determinados a partir do perfil traçado Ze (x) através de uma cadeia de funções. Para o cálculo da incerteza de medição em conformidade com o GUM, o modelo é computado de dentro para fora a fim de se conhecer os efeitos exercidos pela incerteza das grandezas de entrada na incerteza do valor do resultado. O resultado é a grandeza de entrada para o cálculo da incerteza de cada função. Valor de K do parâmetro da superfície P: K = P{Fc[Fs(G(Ze(x))]} (6.1) Onde: G (Ze (x)) = Zg (x) Função do instrumento Fs (Zg (x)) = Zs (x) Função do filtro λs Fc(Zs (x)) (perfil de rugosidade) = Zc (x) Função do filtro λc 92 P (Zc (x)) = K Função do parâmetro P, calcula-se o valor de K. Em qualquer medição realizada, existem diversos fatores que contribuem para a determinação da incerteza de medição. É fundamental que se faça uma análise sobre esses fatores visto que as equações de cada um deles auxiliarão na determinação da incerteza de medição. As fontes de erros conhecidos são apresentadas a seguir, onde são definidas e descritas às formulações de suas correções, quando possível, para assim serem utilizadas como contribuições para a determinação da incerteza de medição. Como o perfil total Zg (x) inclui o perfil traçado Ze (x), assim como as influências decorrentes do dispositivo, sua interação com o objeto a ser medido e do meio ambiente. Os valores dos perfil total Zg (x) são os dados de entrada para o processamento de sinais, portanto para a incerteza dos pontos de medição u 2 ( z g ) do perfil total obteve-se o seguinte modelo: u 2 ( z g ) = u 2 ( Pt n ) + u 2 (∆Pt ) + u 2 (b) + u 2 ( z e ) + u 2 ( z ref ) + u 2 ( z 0 ) + u 2 ( z pl ) + u 2 ( z sp ) (6.2) onde: u 2 ( z g ) , Incerteza do perfil avaliado (total) u 2 ( Pt n ) , incerteza do padrão de referência + u 2 (∆Pt ) , incerteza de medição por medir em um local (ponto) diferente + u 2 (b) , repetitividade do perfil avaliado + u 2 ( z e ) , topografia do padrão de referência + u 2 ( z ref ) , incerteza do perfil de referência + u 2 ( z 0 ) , incerteza devida ao ruído + u 2 ( z pl ) , incerteza devida à deformação plástica + u 2 ( z sp ) , incerteza devida à geometria da ponta do apalpador. 6.2 Determinação da incerteza das grandezas de entrada 6.2.1 Padrão de referência A incerteza de medição (Un) da altura total do perfil Ptn do padrão de referência é indicada no certificado de calibração com um fator de abrangência k = 2. Esse valor é uma quantidade estatisticamente comprovada. A incerteza padrão empírica, portanto, é [112]: 93 u 2 ( Pt n ) = 1 2 ⋅U n 4 (6.3) 6.2.2 Incerteza Padrão do Tipo A (Repetitividade) A avaliação do Tipo A da incerteza padrão é obtida a partir das repetições das observações das grandezas de entrada em condições de repetitividade. A incerteza padrão do valor médio na determinação da profundidade da ranhura calibrada no mesmo ponto é s(R) . E a incerteza devida à repetitividade do perfil avaliado em calibração é [112], u 2 (b) = 1 2 s ( R) n (6.4) Assume-se uma distribuição Gaussiana. 6.2.3 Topografia da prótese Isto se manifesta por uma variação estatística dos parâmetros medidos na dependência de x e y. Para as cabeças femorais e acetábulos isso é levado em conta no plano do ponto de medição por escalonamento espacial das medições nas direções em x e y [112]. u 2 ( ze ) = 1 s 2 ( Rz ) 2 ⋅ fs S 2 f s2 ⋅ n ⋅ (6.5) 6.2.4 Desvio de linearidade Os componentes de onda longa dos desvios de linearidade são apresentados no perfil W, no parâmetro Wt, bem como desvios durante o tempo de medição. Após o alinhamento de um paralelo ótico, mede-se uma seção 5 vezes no mesmo ponto, determina-se assim o parâmetro Wt0 com cut-off de 0,8 mm, na hipótese de uma distribuição uniforme, o seguinte é válido [112]: 1 Wt u 2 ( zref ) = ( 0 ) 2 f s2 3 2 (6.6) Na medição de parâmetros de rugosidade o filtro λs elimina os componentes de onda longa da ondulação. 94 6.2.5 Ruído de fundo Quando um perfil é medido o ruído de fundo produzido pelas guias, bem como pelas interferências elétricas e mecânicas se sobrepõe diretamente sobre o perfil de medição. Este efeito é medido separadamente quando o ruído Rz0 é medido em um plano ótico. A experiência tem demonstrado que um Rz0 abaixo de 10 nm pode ser obtido em planos óticos e instrumentos de boa qualidade. O valor médio de cinco medições de Rz0 é utilizado. Partindo do pressuposto de um valor uniformemente distribuído, o seguinte é válido [112]: u 2 ( z0 ) = ( ) 1 1 ⋅ ⋅ Rz 0 S 2 12 2 f s2 (6.7) 6.2.6 Deformação plástica Durante o traçado, os resultados da deformação plástica na superfície depende do material, da força de contato e do raio da ponta do apalpador. Visto que a deformação produzida durante a calibração e as medições subsequentes são iguais, a mesma seria insignificante. 6.2.7 Raio da ponta do apalpador O perfil traçado difere da superfície real devido ao raio da ponta do apalpador. De acordo com a norma ISO 3274:1996 [113], esta influência do raio da ponta do apalpador nominal já é um componente do perfil traçado para avaliação futura. Os desvios em relação ao raio da ponta do apalpador no certificado de calibração, resulta em incertezas nas posições z. A simulação para o traçado do mesmo perfil, com diferentes raios da ponta do apalpador apresentou uma variação de -20 nm por 1 µm para os parâmetros Rz e Rz1max e de -5 nm/µm para o parâmetro Ra [113]. Se considerarmos o “fator de amortecimento” de Rz obtemos o seguinte [112]: 1 5 nm ∂z =− ⋅ ∂rt S µm (6.8) A incerteza do raio efetivo da ponta do apalpador para a medida é estimada em u (rt) = 1 µm assumindo uma distribuição uniforme. A incerteza da quantidade da entrada r é de ± 0,5 µm [112]. 95 2 u 2 ( zsp ) = 1 1 5nm ⋅ ⋅ ⋅ 0,5µm f s2 2 S 3 µm (6.9) 6.2.8 Incerteza Total das Grandezas de Entrada A soma de todas as componentes de incerteza anteriormente apresentadas resulta na equação final [112]: u 2 (zg ) = 2 Wt02 1 1 1 s 2 ( R) 2 S 2 × [ ⋅ U n2 + ⋅ (a y ⋅ G ) + s 2 ( Pt n ) + fs2 × 2 ⋅ 2 + + 12 ⋅ 1 ⋅ Rz0 + 4 3 12 S fs ⋅ n ⋅ S 12 fs 1 1 ⋅ 3 S2 2 5nm ⋅ ⋅ u (rsp ) ] µm (6.10) De acordo com as considerações das seções 6.2.7, 6.2.5 e 6.2.3 os valores estimados para a incerteza dos pontos dos perfis são determinados pelos valores estimados dos parâmetros das superfícies e também são os efeitos do filtro de amortecimento λs. Devido a S ser menor do que 1 e descartando as grandezas de entrada desprezíveis a seguinte aproximação é obtida [112]: u 2 ( zg ) ≤ 6.3 1 2 s 2 ( R) Rz02 + ⋅Un + 4 12 n (6.11) Coeficiente de sensibilidade ci O coeficiente de sensibilidade ci descreve o quanto a estimativa de saída y é influenciada por variações da estimativa de entrada xi. A derivada parcial do modelo matemático em relação a cada parâmetro avalia a mudança na estimativa de saída y devido à mudança na estimativa de entrada xi [109]. 6.4 Contribuição para a Incerteza Padrão A contribuição à incerteza padrão ui(y) associada à estimativa de saída y é resultante da incerteza padrão associada à estimativa de entrada xi multiplicada pelo coeficiente de sensibilidade, ou seja, [109]: ui (y) = ci u(xi ) (6.12) 96 6.5 Incerteza Padrão Combinada uc(y) A incerteza padrão combinada uc (y) é a raiz quadrada positiva da soma quadrática das contribuições para incerteza padrão que, no caso do presente trabalho, se expressa por [109]: ∑ [c u( x )] N uc ( y) = uc ( y) = 6.6 i =1 2 i i (6.13) (u ( Pt n ) )2 + (u (∆Pt ) )2 + (u (b) )2 + (u ( z e ) )2 + (u ( z ref ) )2 + (u ( z 0 ) 2 + (u ( z pl ) 2 + (u ( z sp ) 2 Incerteza Expandida U A incerteza expandida U é obtida multiplicando-se a incerteza padrão combinada uc (y) por um fator de abrangência k, ou seja, U = k uc (y). Para o cálculo do fator de abrangência k, deve-se obter uma incerteza padrão associada à estimativa de saída; estimar graus de liberdades efetivos νeff da incerteza padrão combinada uc (y), associada à estimativa de saída y a partir da fórmula de Welch-Satterhwaite abaixo ν eff 4 u ( y) = N c 4 ui ( xi ) ∑ i =1 νi (6.14) e obter o fator de abrangência k na tabela do Guia ISO GUM [109]. A referida tabela é baseada na distribuição-t avaliada para uma probabilidade de abrangência de 95,45 % [109]. Os graus de liberdade ν i são iguais a n–1 para uma grandeza única estimada pela média aritmética de n medições independentes (Incerteza Tipo A). Os graus de liberdade para uma incerteza padrão obtida pela avaliação do Tipo B são mais difíceis de calcular, o que implica em se considerar os graus de liberdade da incerteza padrão u (xi) obtidos de uma avaliação do Tipo B como sendo ν i → ∞ [109]. 6.7 Planilhas de incerteza de medição Cabeças femorais: As medições utilizadas para o cálculo da incerteza de medição das cabeças femorais foram todas realizadas antes do ensaio de desgaste, para os cálculos de incerteza utilizou-se o maior desvio padrão dentre as 3 cabeças femorais medidas, ou seja, as medições da cabeça femoral que apresentou resultados mais dispersos. 97 Tabela 6.1: Planilha de incerteza do parâmetro Ra da cabeça femoral. Grandeza Estimativa (nm) Xi xi 6,0 Ptn 7,2 Ra 0,0 Ze 5,0 Zo 1,0 Zsp uc(y)=3,3 U=6,7 nm Incerteza padrão u(xi) 3,0 0,2 14,4 1,4 0,3 Distribuição de probabilidade normal normal retangular retangular retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 3,0 1 0,2 0,001 0,0 1 1,4 0,00001 0,0 Nesta planilha do cálculo de incerteza do parâmetro Ra, podemos observar que a maior fonte de incerteza foi o padrão de referência com ui(y) =3,0 nm e a segunda foi a do ruído de fundo, com ui(y) =1,4 nm. Nota-se que a incerteza de medição expandida é de 6,7 nm para um valor médio de Ra da cabeça femoral de 7,2 nm, ou seja, muito alta 93%. O padrão de referência utilizado possui um valor nominal de Ra=0,264 µm e uma incerteza expandida de 6 nm, portanto herda-se este valor para o cálculo de incerteza das cabeças femorais. Estas apresentaram valores médios de medição de 7,2 nm muito próximos da incerteza expandida. Isto ocasionou a incerteza inadequada para medição destas cabeças femorais neste parâmetro. Por causa disto, pode-se concluir a necessidade de aquisição de um padrão com valor nominal na ordem de nanometro, a fim de se adequar o cálculo da incerteza de medição. Nos cálculos das planilhas de incerteza de medição a seguir foi utilizada a equação aproximada (6.11). Tabela 6.2: Planilha de incerteza do parâmetro Rt da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Rt Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 0,330 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,064 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,064 1 0,001 uc(y)=0,064 U=0,129 µm Na análise da planilha de incerteza do parâmetro Rt, o maior componente é a repetitividade com ui(y) =0,064 µm, esta ocasionou uma incerteza expandida um pouco alta U=0,129 µm, para um valor médio de Rt=0,33 µm, entretanto acredita-se que este valor está adequado para a amostra medida. 98 Tabela 6.3: Planilha de incerteza do parâmetro Wt da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Wt Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 11,000 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 1,225 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 1,225 1 0,001 uc(y)=1,225 U=2,450 µm Na análise da planilha de incerteza do parâmetro Wt, o maior componente de incerteza é a repetitividade com ui(y) =1,225 µm, acarretando uma incerteza expandida de U=2,450 µm para um valor médio de Wt =11,000 µm, este valor de incerteza está adequado para a amostra medida. Tabela 6.4: Planilha de incerteza do parâmetro Pt da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Ptm Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 12,116 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,966 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,966 1 0,001 uc(y)=0,966 U=1,932 µm A análise da planilha de incerteza do parâmetro Pt nos demonstra a mesma situação ocorrida com o parâmetro Wt, com uma incerteza expandida de U=1,932 µm totalmente adequada para o valor médio encontrado Pt=12,116 µm. Tabela 6.5: Planilha de incerteza do parâmetro Rk da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Rk Zpl Estimativa (nm) xi 6,0 8,0 10,0 Incerteza padrão u(xi) 3,0 2,1 1,4 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 3,0 1 2,1 1 1,4 uc(y)=3,9 U=7,9 nm A análise da planilha de incerteza da tabela 6.5, do parâmetro Rk demonstra o mesmo resultado obtido na análise do parâmetro Ra, ou seja, indica a necessidade de aquisição de um padrão de referência em nanometro, pois a incerteza expandida foi de 7,9 nm para um valor 99 médio de Rk de 8 nm. Tabela 6.6: Planilha de incerteza do parâmetro Rpk da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Rpk Zpl Estimativa (nm) xi 6,0 6,1 10,0 Incerteza padrão u(xi) 3,00 1,77 1,44 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 3,0 1 1,8 1 1,4 uc(y)=3,8 U=7,5 nm Tabela 6.7: Planilha de incerteza do parâmetro Rvk da cabeça femoral. Grandeza Xi Ptn Rvk Zpl Estimativa (nm) xi 6,0 5,2 10,0 Incerteza padrão u(xi) 3,0 1,5 1,4 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 3,0 1 1,5 1 1,4 uc(y)=3,7 U=7,3 nm A análise das planilhas de incerteza das tabelas 6.6 e 6.7, dos parâmetros Rpk e Rvk também demonstra o mesmo resultado obtido na análise do parâmetro Ra, ou seja, indica a necessidade de aquisição de um padrão de referência, pois a incerteza expandida obtida é inadequada para esta medição. Componentes acetabulares: As medições utilizadas para o cálculo da incerteza de medição dos componentes acetabulares foram todas realizadas antes do ensaio de desgaste. Tabela 6.8: Planilha de incerteza do parâmetro Ra do componente acetabular. Grandeza Estimativa (µm) Xi xi 0,006 Ptn 1,373 Ra 0,000 Ze 0,005 Zo 1,000 Zsp uc(y)=0,008 U=0,016 µm Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,007 0,001 0,001 0,000 Distribuição de probabilidade normal normal retangular retangular retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,007 1 0,001 1 0,001 0,01 0,000 A análise da planilha de incerteza da tabela 6.8 do parâmetro Ra, do componente acetabular nos demonstra que o maior componente de incerteza é a repetitividade com ui(y) =0,007 µm, acarretando uma incerteza expandida de U=0,016 µm para um valor médio 100 de Ra=1,373 µm, este valor de incerteza está adequado para a amostra medida. Tabela 6.9: Planilha de incerteza do parâmetro Rt da componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Rt Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 11,575 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,251 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,251 1 0,001 uc(y)=0,251 U=0,502 µm A análise da planilha de incerteza da tabela 6.9 do parâmetro Rt, do componente acetabular nos demonstra que o maior componente de incerteza é a repetitividade com ui(y) =0,251 µm, acarretando uma incerteza expandida de U=0,502 µm para um valor médio de Ra=11,575µm, este valor de incerteza está adequado para a amostra medida. Tabela 6.10: Planilha de incerteza do parâmetro Wt do componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Wt Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 13,670 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,769 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,769 1 0,001 uc(y)=0,769 U=1,538 µm Tabela 6.11: Planilha de incerteza do parâmetro Pt do componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Ptm Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 18,596 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,599 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,599 1 0,001 uc(y)=0,599 U=1,197 µm A análise das planilhas de incerteza das tabelas 6.10 e 6.11, dos parâmetros Wt e Pt demonstram incertezas expandidas adequadas para as medições realizadas. 101 Tabela 6.12: Planilha de incerteza do parâmetro Rk do componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Rk Zpl Estimativa (µm) xi 0,006 9,927 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,003 0,136 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de Contribuição sensibilidade para incerteza ci ui (y) 1 0,003 1 0,136 1 0,001 uc(y)=0,136 U=0,271 µm Tabela 6.13: Planilha de incerteza do parâmetro Rpk do componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Rpk Zpl Estimativa (mm) xi 0,006 2,194 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,00 0,11 0,00 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de sensibilidade ci 1 1 1 Contribuição para incerteza ui (y) 0,003 0,110 0,001 uc(y)=0,110 U=0,220 µm Tabela 6.14: Planilha de incerteza do parâmetro Rvk do componente acetabular. Grandeza Xi Ptn Rvk Zpl Estimativa (mm) xi 0,006 1,338 0,000 Incerteza padrão u(xi) 0,00 0,07 0,001 Distribuição de probabilidade normal normal retangular Coeficiente de sensibilidade ci 1 1 1 Contribuição para incerteza ui (y) 0,003 0,071 0,001 uc(y)=0,071 U=0,142 µm A análise das planilhas de incerteza das tabelas 6.12, 6.13 e 6.14, dos parâmetros Rk, Rpk e Rvk demonstram incertezas expandidas adequadas para as medições realizadas. 6.8 Simulação de Monte Carlo [114] De modo a superar as limitações do ISO GUM 2008 a simulação de Monte Carlo foi empregada de forma alternativa, para verificar a convergência dos cálculos da incerteza de medição efetuados neste trabalho. Segundo Herrador e González, o Método de Monte Carlo é um procedimento numérico para a solução de problemas matemáticos por meio da simulação de variáveis aleatórias [114]. 102 A análise de Monte Carlo é uma ferramenta para combinar distribuições, desse modo, significa muito mais do que simplesmente propagar incertezas estatísticas. A técnica de Monte Carlo utiliza a geração de números aleatórios para simular os valores de variáveis aleatórias, caracterizado como um procedimento de estimação de incerteza de medição mais elaborado que os cálculos analíticos. Com isso vem sendo cada vez mais usado devido à ampliação da velocidade de processamentos dos dados pelos computadores atualmente. 6.8.1 Passos para a Estimativa da Incerteza pelo Método de Monte Carlo O Método de Monte Carlo pode ser usado da mesma forma que o ISO GUM para estimar a incerteza de medição, com os seguintes passos principais: a) Definição do mensurando. b) Estimativas das incertezas das fontes de entrada. c) Identificação das funções densidade de probabilidade, correspondentes a cada fonte de entrada. d) Seleção do número de iterações de Monte Carlo. e) Identificação função densidade de probabilidade do mensurando p( i). f) Estimativa da incerteza expandida. Quando o valor de “skewness” (simetria) da distribuição discreta prevista de y estiver próximo de zero, o intervalo de confiança torna-se simétrico e a incerteza expandida U(y) pode ser aproximada pela equação (6.15), apresentada a seguir: U ( y) = 6.8.2 y(1+ p ) M / 2 − y(1− p ) M / 2 2 (6.15) Estimativa da Incerteza pelo Método de Monte Carlo A fim de simplificar a estimativa da incerteza de medição pelo Método de Monte Carlo, é conveniente utilizar um “software” comercial denominado de “Crystal Ball”, que é citado por Herrador em seu artigo [114]. Nos casos dos cálculos de incerteza de medição empregando o Método de Monte Carlo nessa Tese, optou-se por realizar as validações para o parâmetro de rugosidade Ra. 103 Adotou-se para a obtenção do resultado final das estimativas das incertezas de medição a realização de 20000 iterações para a calibração realizada. Uma das características de apresentação do “Crystal Ball” é fornecer uma carta de frequência para um intervalo de incerteza para uma probabilidade de abrangência escolhida, normalmente 95 % ou 95,45 %. Na figura (6.1) é apresentada a aparência de um dos tipos de carta de frequência que pode ser fornecida pelo “Crystal Ball”. Figura 6.1: Intervalo de incerteza obtida para quatro desvios - padrão, gerado pelo “software Crystal Ball”. A estimativa de incerteza para o parâmetro de rugosidade Ra calculado pelo método de Monte Carlo apresentou um resultado similar ao valor encontrado com o ISO GUM [109] Os valores encontrados foram de U=6,1 µm por Monte Carlo e U=6,7 µm pelo ISO GUM. No próximo capítulo as conclusões finais deste trabalho. 104 7. Conclusão e Trabalhos Futuros 7.1. Conclusão Neste trabalho foi realizado um estudo da rugosidade, do diâmetro e da esfericidade de cabeças femorais e componentes acetabulares, nacionais e importados. Neste estudo as cabeças femorais foram medidas em uma máquina de medição por coordenadas (MMC) com uma resolução de 0,00001 mm, e em condições ambientais controladas sua incerteza de medição foi de U=0,3 mm. A máquina de medição por coordenadas estava rastreada para medições de circularidade, a uma máquina de medição de forma com resolução de 0,001 µm e incerteza de medição U=0,010 µm esta, é calibrada através de um padrão semi-esférico de circularidade rastreado a um laboratório na Inglaterra. As cabeças femorais também foram medidas na máquina de medição de forma e todas as medições foram compatíveis com a MMC com erro normalizado menor que um. As medições foram realizadas em três alturas, no hemisfério e a 30˚ e 60˚ deste, em 8 posições igualmente espaçadas e um ponto no pólo, perfazendo um total de 25 pontos em cada ciclo de medição. Após as medições, verificou-se que as cabeças femorais nacionais de aço inoxidável avaliadas possuem características que atendem a maioria dos requisitos da norma ISO 7206-2:2011 [6]. No entanto todas as cabeças seriam rejeitadas em relação ao desvio de esfericidade, pois a norma estabelece um erro de separação radial máximo de 10 µm e nas próteses analisadas os valores apresentados foram de 17,7; 27,5 e 30,7 µm, quando medidas antes do primeiro ensaio de desgaste. Isto ocorreu devido ao resultado da medição no pólo que apresentou um vale profundo na medição interferindo totalmente no resultado final. Os desvios de esfericidade dos componentes acetabulares foram medidos na mesma MMC que as cabeças femorais, a Norma estabelece um erro de separação radial máximo de 100 µm e os valores obtidos foram 81,02; 86,13 e 91,61 µm, portanto todos os componentes foram aprovados. Na medição da rugosidade foi utilizado um rugosímetro/perfilômetro com resolução de 0,8 nm, faixa de medição vertical de 8 mm e raio da ponta do apalpador de 2 µm. Este instrumento possui a capacidade de medição simultânea de forma, dimensão e rugosidade e está rastreado ao instituto de padronização alemão o Physikalisch 105 Technische Bundesanstalt (PTB), através de um padrão de amplificação vertical e três padrões de rugosidade aperiódicos. As medições de rugosidade da cabeça femoral foram realizadas em três ciclos de medição e foram utilizados os seguintes filtros: um filtro de comprimento de amostragem (cut-off) de 0,08 mm, um filtro de onda Gauss e por fim um filtro de forma arco de circunferência por mínimos quadrados (LS ARC). O comprimento total percorrido foi de 15 mm em duas direções a 0º e 90º no pólo. Nas medições realizadas constatou-se que todas as cabeças femorais foram aprovadas, visto que os valores médios apresentados Ra=0,007 µm e Rt=0,438 µm são inferiores ao solicitado em norma, ou seja, Ra não maior que 0,05 µm e Rt não maior que 1,0 µm para superfícies de articulação esférica metálica. Nota-se que o valor de Ra é aproximadamente sete vezes menor que o estabelecido. Fica evidente que o critério da Norma é bem “aberto” neste parâmetro com isto as próteses medidas de fabricação nacional atendem a critérios mais rígidos de acabamento da superfície. Entretanto, quando as cabeças femorais são comparadas com as importadas seu acabamento superficial apresentou valores maiores nos parâmetros de rugosidade avaliados Ra, Rt, Wt e Pt a exceção foi em relação aos parâmetros da curva de Abbott Rk, Rpk e Rvk, que demonstraram serem menores que as importadas. É importante comentar que só foram analisadas próteses nacionais e importadas de um único fabricante tornando-se necessário avaliar uma amostra maior, diferentes modelos, outros materiais e também fabricantes diferentes. As medições de rugosidade dos componentes acetabulares de polietileno foram efetuadas no mesmo rugosímetro/perfilômetro que as cabeças femorais em três ciclos de medição a 0°, 90°, 180° e 270°. Os filtros utilizados foram os mesmos utilizados nas medições da cabeça femoral, ou seja, cut-off de 0,08 mm, filtro de onda Gauss e filtro LS ARC, em um comprimento de 15 mm. O valor médio do parâmetro de rugosidade Ra foi de 1,373 µm, com um comprimento de amostragem de 0,08 mm, este foi inferior ao valor estipulado em Norma que estabelece um valor de Ra não maior que 2 µm para a superfície esférica de articulação do implante, portanto constatou-se que todos os componentes acetabulares foram aprovados. Entretanto decidiu-se realizar novas medições com um comprimento de amostragem (cut-off) de 0,8 mm que consta em uma nota da própria Norma (item 4.2.3) e também por ser este o comprimento de amostragem recomendado pela norma ISO 4288:1996 [92], esta específica para medição de parâmetros de rugosidade. Após a 106 análise dos resultados obtidos, os valores de Ra variaram de 2,5 a 3,0 µm. Pode-se concluir com esta análise que todos os componentes acetabulares estariam reprovados. Foi utilizado o mesmo cut-off para medição e análise dos acetábulos importados e verificou-se que todos continuariam aprovados. Esta análise indica para que os fabricantes nacionais estabeleçam procedimentos para verificação dos componentes acetabulares considerando este comprimento de amostragem. Na comparação entre cabeças femorais nacionais, importadas e de cerâmica verificou-se que o acabamento superficial da de cerâmica foi superior, este pode ser um dos principais motivos da sua utilização com componentes acetabulares de polietileno, em 42% das próteses, implantadas em 2009 na Noruega. Na análise das planilhas de incerteza das cabeças femorais verificou-se uma incerteza expandida muito alta ao se efetuar o cálculo do parâmetro de rugosidade Ra, esta incerteza foi de 93% do valor médio encontrado. Isto ocorreu devido à incerteza expandida do padrão de referência 6 nm ser muito alta e inadequada para a medição de amostras com valores médios de 7,2 nm. Pode-se concluir que existe a necessidade de aquisição de um padrão de referência novo com valor nominal na ordem do nanometro, a fim de se adequar o cálculo da incerteza de medição. Os registros de artroplastias de quadril da Suécia e da Noruega foram utilizados como referência neste trabalho, devido a estes possuírem dados desde 1967 e 1987 respectivamente e ainda por serem atualizados anualmente. Com relação ao Brasil, no ano de 2007, por iniciativa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), iniciou-se a implantação do Registro Nacional de Artroplastias de Quadril e de Joelho, este em fase experimental apenas nas cidades brasileiras de Curitiba, Uberlândia e Batatais. Os dados destes registros somente são de livre acesso aos profissionais da saúde, hospitais e fabricantes ligados à área ortopédica, por meio de consulta a SBOT. Esta foi a grande diferença do Brasil em relação à Suécia e a Noruega, pois nestes países os dados, estão disponíveis a qualquer um que tenha acesso a internet. Uma das maiores contribuições deste trabalho foi a descoberta de que a utilização de um comprimento de amostragem (0,8mm) diferente do recomendado em norma, rejeitaria todos os componentes acetabulares nacionais, demonstrando ao fabricante a necessidade da melhora do acabamento superficial destes componentes. Caso isto aconteça, provavelmente acarretará um menor desgaste dos acetábulos e sua maior durabilidade, consequentemente menos traumas para o paciente e menos custos para o governo. 107 Outra contribuição foi através da análise das incertezas de medição obtidas nas cabeças femorais que demonstrou a necessidade de aquisição de um novo padrão de referência para o laboratório, que é de grande importância para a rastreabilidade das medições de rugosidade de próteses no país. E ainda foi elaborado um procedimento de medição de rugosidade para próteses ortopédicas de quadril (Anexos). Esta também é uma contribuição muito importante, pois este poderá ser utilizado por todos os laboratórios que controlam a qualidade das próteses nacionais fabricadas e também das importadas. O objetivo principal desta Tese, que foi conhecer o acabamento superficial das próteses ortopédicas de quadril, comparar com as importadas e fornecer dados dimensionais importantes para elaboração de procedimentos de medição em próteses, foi plenamente cumprido, entretanto há necessidade de mais estudos e pesquisas como está descrito nos trabalhos futuros. 7.2. Trabalhos Futuros - Sugere-se como trabalho futuro a análise da forma e da rugosidade utilizando próteses ortopédicas de outros fabricantes nacionais e importadas, visto que neste trabalho só foi possível um fabricante de cada. - Um estudo de medição da rugosidade utilizando microscópios óticos e comparação dos resultados obtidos com instrumentos por contato. - Estudar dimensões e parâmetros da rugosidade em próteses de joelho, tornozelo e dentária. - Uma avaliação mais aprofundada da influência da esfericidade em cabeças femorais de aço inoxidável, de liga de cromo-cobalto e de cerâmica. - Ensaio de desgaste de cabeça femoral de cerâmica com polietileno com ligação cruzada e análise da forma e da rugosidade destes componentes. 108 Referências Bibliográficas [1] ANÁLISE DE MATERIAL DE PRÓTESE DE JOELHO EXPLANTADA. Disponível em: www.metallum.com.br/17cbecimat/.../17Cbecimat-301-011.pdf Acesso em: 01maio 2011. [2] INSTITUTO AFONSO FERREIRA ORTOPEDIA E FISIOTERAPIA. 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Articulação Esferóide ou Enartrose - É uma forma de articulação na qual o osso distal é capaz de movimentar-se em torno de vários eixos, que tem um centro comum. Exemplos: Articulações do quadril e ombro. Circundução - Como para todas as articulações de três graus de liberdade, o movimento de circundução do quadril define-se como sendo a combinação dos movimentos elementares simultaneamente em torno dos três eixos. Plano sagital, no qual se efetuam movimentos de flexão-extensão. Plano frontal, no qual acontece o movimento de abdução e adução e plano horizontal. A circundução levada a sua amplitude extrema, forma no espaço um cone irregular, cujo vértice é ocupado pelo centro da articulação coxo-femoral. É o cone de circundução. Poliartrite periférica - Apesar do nome, não é um tipo de artrite. É um quadro clínico que os portadores de AR podem apresentar e que se caracteriza quando mais de cinco juntas apresentam dor e inchaço por mais de seis semanas. Anemia falciforme - é uma doença hereditária (passa dos pais para os filhos) caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os parecidos com uma foice, daí o nome falciforme. Essas células têm sua membrana alterada e rompem-se mais facilmente, causando anemia. 119 Talassemia - A talassemia é uma forma de anemia crônica, de origem genética (hereditária), ou seja, passada dos pais para os filhos. Não é transmitida pelo sangue, ar, água, contato físico ou sexual e não é causada por deficiência na alimentação, carência de vitaminas ou sais minerais. A talassemia faz parte de um grupo de doenças do sangue (hemoglobinopatias) caracterizadas por defeito genético que resulta em diminuição da produção de um dos dois tipos de cadeias que formam a molécula de hemoglobina. Dependendo dos genes envolvidos, o defeito é identificado como a-talassemia (defeito na cadeia alfa) ou b-talassemia (defeito na cadeia beta). Doença de Gaucher - é uma doença genética, progressiva, e a mais comum das doenças lisossômicas de depósito, que recebem esse nome devido ao acúmulo de restos de células envelhecidas depositadas nos lisossomos (pequenas estruturas celulares que contêm enzimas essenciais ao equilíbrio do organismo). Essas doenças fazem parte de um conjunto de mais de 40 enfermidades genéticas que têm como característica a deficiência de uma ou mais enzimas. A enzima que falta nas pessoas com Doença de Gaucher é a ß-glicosidase ácida, ou glicocerebrosidase. Sua função habitual, nas pessoas sem a doença, é fazer a “digestão” de um substrato lipídico (tipo de gordura), o glicocerebrosídeo, dentro da célula. Por causa da alteração no gene que produz a enzima, seu nível é insuficiente e ela não consegue, com a rapidez necessária, decompor o substrato, que então se acumula nos lisossomos. Os lisossomos situam-se no interior dos macrófagos, que funcionam como células “lixeiras” do organismo, responsáveis pela “limpeza” dos restos de células velhas. Devido ao acúmulo do substrato lipídico, os macrófagos são impedidos de realizar suas funções. Ficam pesados, “gordos”, cheios de glicocerebrosídeo não digerido – como ficaria alguém que não digerisse os alimentos após uma refeição – e passam a ser chamados de células de Gaucher. As células de Gaucher acumulam-se principalmente nos tecidos do fígado, do baço, do pulmão e da medula óssea. Também os rins, os gânglios e a pele podem ser afetados. Em menor escala registra-se o acúmulo nos tecidos do sistema nervoso central. Os órgãos que contêm tais células aumentam de tamanho, o que ocasiona manifestações clínicas de tipo e gravidade variáveis. Hidroxiapatita - A hidroxiapatita, Ca10 (PO4)6(OH)2, é o constituinte mineral do osso natural representando de 30 a 70% da massa dos ossos e dentes. A hidroxiapatita sintética possui propriedades de biocompatibilidade e osteointegração o 120 que a torna substituta do osso humano em implantes e próteses (Eanes, 1980), daí o grande interesse em sua produção. Região proximal e distal - A região entre o disco epifisiário e a extremidade do osso, onde se localiza a superfície articular, é referida por epífise. A região no outro lado da físe - o lado distal da físe proximal e o lado proximal da físe distal- é chamada metáfise. A região do osso entre a metáfise proximal e a distal de um osso longo é chamada diáfise. Infiltração linfocítica - Desordem infiltrativa de células T benigna, crônica, geralmente em pele exposta, afetando mais comumente indivíduos com menos de 45 anos de idade. As lesões se apresentam como pápulas ou placas não-escamosas, lisas, eritematosas, que são comumente assintomáticas e geralmente aparecem na face. Podem involuir espontaneamente, mas geralmente são persistentes e aumentam em número. Força de Van de Waals - As forças de van der Waals ou conhecidas também como forças intermoleculares têm origem eletrônica: surgem de uma atração eletrostática entre nuvens de elétrons e núcleos atômicos. São fracas, se comparadas às ligações covalentes ou iônicas. Estas forças podem surgir de 3 fontes: dipolo-dipolo, dipolo-dipolo induzido e forças de dispersão (ou forças de London). 121 Procedimento de Medição de Rugosidade em Implantes Ortopédicos de Quadril 1 Cabeça Femoral 1.1 Montagem e Fixação As cabeças femorais foram apoiadas e fixadas em uma mesa angular e na mesa XY do rugosímetro conforme figura 1. Figura 1 – Medição rugosidade cabeça femoral 1.2 Limpeza Foi utilizado álcool isopropílico para a limpeza das próteses. Antes das medições, utilizou-se uma bomba manual de ar para retirar qualquer resíduo na superfície da amostra. 1.3 Estabilização Após o manuseio das amostras, fez-se necessário um tempo para a estabilização térmica e acomodação mecânica dos componentes de fixação, minimizando erros por efeitos de vibração. Foi adotado um tempo aproximado de 30 minutos. 1.4 Procedimento de Medição A medição da rugosidade foi realizada com um rugosímetro/perfilômetro com faixa de medição vertical de 8 mm e resolução de 0,8 nm. Este possui uma unidade transversal de 200 mm com retitude de 0,1 µm e resolução de 0,125 µm. O raio da ponta do apalpador utilizado foi de 2 µm. A referência para 0° nas cabeças femorais foi à inscrição do fabricante. Antes das medições determinou-se o ponto de retorno, no eixo X e no eixo Y. As superfícies de articulação foram inspecionadas visualmente para verificar se estavam livres de partículas engastadas, arranhões, marcas e riscos oriundos do processo de acabamento. Foram realizadas duas medições de rugosidade da cabeça femoral, com um cut-off de 0,08 mm, ao longo de um comprimento de 15 mm, a 0º e a 90º como apresenta a Figura 2, passando no centro da peça. Recomenda-se quando possível que as medições incluam a área do ângulo α= 30º. 122 15 mm α Figura 2 Localização das medições 2 Componente acetabular 2.1 Montagem e Fixação O componente acetabular foi apoiado em um prisma e fixado na mesa do rugosímetro conforme figura 3.. Figura 3 – Montagem do acetábulo no rugosímetro 2.2 Limpeza Os procedimentos de limpeza dos acetábulos são os mesmos realizados para as cabeças femorais (ver item 1.2). 2.3 Estabilização O procedimento de estabilização dos acetábulos são os mesmos realizados para as cabeças femorais (ver item 1.3). 2.4 Procedimento de medição Na medição do componente acetabular polimérico, foi efetuado 1 ciclo de medição a 0°, 90°, 180° e 270° conforme demonstra a Figura 4, o cut-off e o comprimento de amostragem foi o mesmo da cabeça femoral. Recomenda-se estabelecer um ponto de referência para 0°, neste caso utilizou-se o furo do suporte. Antes das medições determinou-se o ponto de retorno no eixo Y. As superfícies de articulação foram 123 inspecionadas visualmente para verificar se estavam livres de partículas engastadas, arranhões, marcas e riscos oriundos do processo de acabamento. 180° 270° 90° 0° Figura 4 – Localização das medições Os parâmetros de rugosidade avaliados foram Ra, Rt de acordo com as norma NBR ISO 4287:1997 Especificações geométricas do produto (GPS) - Rugosidade: Método do perfil - Termos, definições e parâmetros da rugosidade. Bibliografia ISO 9206:2011 - Implantes para cirurgia - Próteses parcial e total de articulação de quadril Parte 2: Superfícies de articulação feitas de materiais metálico, cerâmico e plástico. NBR ISO 4287:1997 Especificações geométricas do produto (GPS) - Rugosidade: Método do perfil - Termos, definições e parâmetros da rugosidade. 124 Procedimento de Medição para Controle Geométrico de Implantes de Articulação Femoral 1 CABEÇA FEMORAL 1.1 Montagem e Fixação As cabeças femorais foram apoiadas e fixadas na mesa da máquina de medição por coordenadas (MMC) através da base a qual estão montadas conforme figura 1. Foram utilizados grampos, dentre outros acessórios para fixar e posicionar adequadamente a amostra no volume de trabalho pré-estabelecido para as medições. Figura 1 – Montagem da cabeça femural na mesa MMC 1.2 Limpeza Foi utilizado álcool isopropílico para a limpeza das próteses. Antes das medições, utilizou-se uma bomba manual de ar para retirar qualquer resíduo na superfície da amostra. 1.3 Alinhamento O suporte de fixação (holder) da cabeça femoral foi posicionado manualmente, na mesa da MMC, de modo que o eixo do furo lateral do holder ficasse alinhado aproximadamente com o eixo X da MMC. Y Holder Cabeça Femoral X Furo do holder Figura 2 – Detalhe do alinhamento da amostra com os eixos da MMC 125 Este forma de alinhamento foi utilizada para todas as amostras fixadas em holders. Para qualquer outra forma de fixação, foi estabelecido um ponto de referência visual no corpo ou haste da amostra. 1.4 Estabilização Após o manuseio das amostras, fez-se necessário um tempo para a estabilização térmica e acomodação mecânica dos componentes de fixação, minimizando erros por efeitos de vibração. Foi adotado um tempo aproximado de 30 minutos. 2. Procedimento de medição 2.1 Foi desenvolvido um programa através do software da MMC para medição do diâmetro e do desvio de esfericidade das cabeças femorais. As rotinas para determinação dos parâmetros citados acima foram implementadas de acordo com as especificações da norma NBR ISO 7206-2 conforme será detalhado a seguir. O valor medido do diâmetro das cabeças femorais consiste de um valor determinado usando o método dos mínimos quadrados, a partir de 25 pontos distribuídos sobre a superfície de articulação conforme descrito na norma NBR ISO 7206-2. São distribuídos 8 pontos ao longo da circunferência de cada plano AA, BB, CC, e um ponto no pólo (P) (ver figura 2) Figura 2 – Representação dos planos para distribuição dos pontos de palpação 2.2 O valor medido do desvio de esfericidade das cabeças femorais é o máximo valor de Rs obtido a partir da equação (1). RS = OP’ – 0,5 · D (1) Onde: RS: Separação radial OP’: Raios obtidos para cada ponto medido D: Valor do diâmetro (por mínimos quadrados) 126 2.3 Para prover rastreabilidade às medições de diâmetro e separação radial foi empregado o método da substituição para a calibração de medidas materializadas, utilizando máquinas de medir por coordenadas. Utilizou-se uma esfera padrão de 30 mm de diâmetro para a determinação do erro de apalpação da MMC. Foram realizadas cinco medições. Os dados das medições são salvos em formato de texto e importados para uma planilha de aquisição e tratamento de dados, onde são realizados os cálculos do diâmetro e do desvio de esfericidade bem como o da incerteza de medição. 3 ACETÁBULOS 3.1 Montagem e Fixação Os Acetábulos foram apoiados e fixados na mesa da máquina de medição por coordenadas (MMC), através da base a qual estão montadas conforme figura 3. Foram utilizados grampos, um bloco paralelo, dentre outros acessórios para fixar e posicionar adequadamente a amostra no volume de trabalho pré-estabelecido para as medições. Figura 3 – Montagem do acetábulo na mesa MMC 3.2 Os procedimentos de limpeza dos acetábulos são os mesmos realizados para as cabeças femorais (ver item 1.2). 3.3 Alinhamento O suporte de fixação (holder) do acetábulo foi posicionado manualmente, na mesa da MMC, de modo que o eixo do furo lateral do holder ficasse alinhado aproximadamente com o eixo X da MMC (ver figura 5). 127 Y Holder Furo do Holder Acetábulo X Figura 5 – Detalhe do alinhamento da amostra com os eixos da MMC 3.4 O procedimento de estabilização dos acetábulos são os mesmos realizados para as cabeças femorais (ver item 1.4). 4. Procedimento de medição 4.1 Foi desenvolvido um programa através do software da MMC para medição do diâmetro e do desvio de esfericidade dos acetábulos. As rotinas para determinação dos parâmetros citados acima foram implementadas de acordo com as especificações da norma NBR ISO 7206-2 conforme será detalhado a seguir. O valor medido do diâmetro interno dos acetábulos consiste de um valor determinado usando o método dos mínimos quadrados, a partir de 25 pontos distribuídos sobre a superfície de articulação conforme a determinação da norma NBR ISO 7206-2. São distribuídos 8 pontos ao longo da circunferência de cada plano AA, BB, CC, e um ponto no pólo (P) (ver figura 5) Figura 2 – Representação dos planos para distribuição dos pontos de palpação 128 Para a obtenção do desvio de esfericidade dos acetábulos foram adotados os mesmos procedimentos de cálculos adotados para as cabeças femorais (ver item 2.2) 4.2 Os resultados das medições dos acetábulos possuem rastreabilidade assegurada a partir da determinação do erro de apalpação da MMC, de forma semelhante ao procedimento realizado para cabeças femorais (ver item 2.3). Foram realizadas cinco medições. Os dados das medições são salvos em formato de texto e importados para uma planilha de aquisição e tratamento de dados, onde são realizados os cálculos do diâmetro e esfericidade bem como o da incerteza de medição. 129