SUSANA MENDES ALVES Comunicação Não-verbal de Instrutores de Atividades de Grupo de Fitness Estudo da comunicação cinésica e proxémica de instrutores com diferentes níveis de experiência profissional e em diferentes atividades de grupo Tese apresentada com vista à obtenção do grau de Doutor em Ciências do Desporto nos termos de Decreto-Lei nº 216/92 de 13 de Outubro, sob orientação do Professor Doutor José Jesus Fernandes Rodrigues (ESDRM) e co-orientação da Professora Doutora Susana Carla Alves Franco (ESDRM). UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2013 Para o João, Leonor e Joãozinho Por serem a melhor parte de mim, porque juntos somos um só! Obrigada por todos os vossos gestos de amor eterno e incondicional. II AGRADECIMENTOS Apesar do carácter individual deste trabalho, a sua consecução só se tornou possível graças à colaboração e participação de várias pessoas e instituições. Gostaria assim de aqui expressar os mais profundos e sinceros agradecimentos a todos aqueles que de uma forma direta ou indireta, muito me ajudaram e apoiaram ao longo da sua realização, particularmente: Ao Professor José Rodrigues por toda a confiança que depositou no meu trabalho, pela prontidão com que sempre me recebeu e ajudou, e pelas sugestões de melhoria deste trabalho. Fica aqui um agradecimento sincero pela amizade, apoio e pelas palavras de incentivo, entre as quais não esquecerei: “Vivemos, aprendemos e nunca desistimos.”; À Professora Susana Franco por ter caminhado ao meu lado em mais um desafio, por todos os ensinamentos académicos e pessoais, com a certeza que hoje sou uma pessoa mais rica. Muito obrigada pelo rigor e minuciosidade das correções efetuadas, sem esquecer claro, o apoio e a amizade de uma vida; Aos Professores Marta Castañer e Oleguer Camerino por terem gentilmente disponibilizado o Sistema de Observação SOCOP, pela colaboração nas fases de tradução, desenvolvimento e validação do SOPROX ao contexto do fitness, pela ajuda na compreensão da metodologia dos Padrões temporais e pela prontidão das suas respostas; À Professora Doutora Rita Santos Rocha, pela amizade e pelo apoio pessoal e instucional que deu à realização deste trabalho; Aos professores Pedro Sequeira, Ágata Aranha, Vera Simões, Nuno Pimenta, Hugo Louro, Alice Rodrigues, José Carlos Leitão e Hugo Sarmento pela partilha de conhecimento e tempo dispensado, com a certeza de que sem a vossa ajuda este trabalho seria mais pobre. Agradeço também a vossa amizade e simpatia; Aos instrutores que aceitaram fazer parte deste estudo e que gentilmente abriram as portas das suas salas, aos seus praticantes e aos responsáveis dos ginásios III que colocaram as suas instituições à disponibilidade e dessa forma possibilitaram a realização deste estudo. Obrigada também pela forma simpática como me receberam; À família fitness da ESDRM (Susana Franco, Nuno Pimenta, João Moutão, Vera Simões e Fátima Ramalho) por serem quem são e pelo que significam para mim; Aos funcionários docentes e não docentes da ESDRM, pelo vosso apoio, carinho e pela vossa simpatia, que é simplesmente, única! Muito obrigada a todos; A todos os meus queridos alunos, pelo apoio, pelo vosso carinho constante e por serem a minha inspiração para a realização deste trabalho. Espero continuar a contribuir para a vossa formação profissional e pessoal; Ao amigo Miguel Silva, pela sua amizade, apoio e por todas as recordações boas aglomeradas ao longo do Doutoramento, que muito contribuiu para alcançar este objetivo final. Sem ti podia ser? Podia! Mas não era a mesma coisa…; À minha treinadora Elisabete Martinho, porque sempre acreditou em mim. “Treina”: Consegui!; À Esmeralda, Cláudia, Vanessa e Sr. João pelo incentivo, carinho e por estarem a meu lado sempre que precisei de ajuda. Muito obrigada por tudo!; Aos meus queridos Pais, “Sr. Alves” e “Dona Elvira” e maninho Octávio, simplesmente, por TUDO! Sem o vosso amor nada seria possível!; Aos meus filhotes Leonor e João, por todas as demonstrações de amor incondicional, verbais e não-verbais. Vocês são a minha VIDA!; Por último, deixo um agradecimento muito especial ao João, pelo apoio incondicional e por nunca me ter deixado rir ou chorar sozinha! Obrigada por seres TU! MUITO OBRIGADA, do fundo do coração, a todos vocês! IV ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ...............................................................................................................................III ÍNDICE GERAL ....................................................................................................................................... V ÍNDICE DE QUADROS ............................................................................................................................IX ÍNDICE DE FIGURAS ...............................................................................................................................XI ÍNDICE DE ANEXOS...............................................................................................................................XII RESUMO .............................................................................................................................................XIII ABSTRACT .......................................................................................................................................... XIV 1 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 15 1.1 ENQUADRAMENTO ................................................................................................................. 16 1.2 PROBLEMA ............................................................................................................................. 22 1.3 OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO ................................................................................................. 23 1.4 ORGANIZAÇÃO DA TESE .......................................................................................................... 24 1.5 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 26 ENQUADRAMENTO TEÓRICO ...................................................................................................... 30 2.1 2.1.1 Comunicação cinésica .................................................................................................... 33 2.1.2 Comunicação proxémica ................................................................................................ 35 2.2 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL.................................................................................................... 38 2.2.1 Fases de desenvolvimento profissional ........................................................................... 38 2.2.2 Caraterísticas dos diferentes níveis de experiência profissional ....................................... 41 2.3 ATIVIDADES DE FITNESS .......................................................................................................... 44 2.3.1 Atividade de Ginástica Localizada .................................................................................. 47 2.3.2 Atividade de Step ........................................................................................................... 48 2.3.3 Atividade de Indoor Cycling ............................................................................................ 49 2.3.4 Atividade de Hidroginástica ........................................................................................... 51 2.4 3 COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL ................................................................................................. 31 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 53 METODOLOGIA ........................................................................................................................... 57 3.1 AMOSTRA ............................................................................................................................... 58 3.2 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS ........................................................................................ 58 3.2.1 Metodologia observacional ............................................................................................ 58 3.2.2 Desenho observacional .................................................................................................. 59 V 3.2.3 Fases de desenvolvimento da investigação ..................................................................... 60 3.2.4 Metodologia de tradução do SOPROX-Fitness................................................................. 63 3.2.5 Metodologia de desenvolvimento e validação do SOPROX-Fitness .................................. 65 3.3 3.3.1 Sistema de observação da comunicação cinésica (SOCIN-Fitness) ................................... 72 3.3.2 Sistema de observação da comunicação proxémica (SOPROX-Fitness) ............................ 78 3.3.3 Desenvolvimento e validação do SOPROX ao contexto do fitness .................................... 78 3.3.4 Fiabilidade inter-observadores e intra-observador do SOPROX original ........................... 78 3.3.5 Aperfeiçoamento do SOPROX para o contexto das atividades de grupo de fitness ........... 81 3.3.6 Validação facial do SOPROX-Fitness por especialistas (experts)....................................... 84 3.3.7 Fiabilidade inter-observadores SOPROX-Fitness .............................................................. 88 3.3.8 Fiabilidade intra-observador SOPROX-Fitness ................................................................. 89 3.3.9 Ilustração das categorias da versão final SOPROX-Fitness............................................... 90 3.4 PROCEDIMENTOS ................................................................................................................... 95 3.4.1 Procedimentos de recolha dos dados.............................................................................. 95 3.4.2 Procedimentos de codificação ........................................................................................ 97 3.5 TÉCNICAS ESTATÍSTICAS APLICADAS NO TRATAMENTO DOS DADOS ......................................... 98 3.5.1 Análise descritiva dos dados........................................................................................... 98 3.5.2 Análise comparativa dos dados ...................................................................................... 98 3.5.3 Análise dos padrões temporais de comportamento ...................................................... 101 3.6 4 INSTRUMENTOS...................................................................................................................... 71 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 103 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DO INSTRUTOR DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO ............................ 109 4.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 110 4.2 MÉTODO DE DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DO SISTEMA DE OBSERVAÇÃO...................... 112 4.2.1 4.3 5 As cinco fases de desenvolvimento e validação do sistema de observação .................... 112 MÉTODO DO ESTUDO PILOTO ............................................................................................... 115 4.3.1 Participantes no estudo piloto ...................................................................................... 116 4.3.2 Instrumentos ............................................................................................................... 117 4.3.3 Materiais e procedimentos de recolha de dados no estudo piloto ................................. 117 4.3.4 Procedimentos estatísticos no estudo piloto ................................................................. 117 4.4 RESULTADOS DO ESTUDO PILOTO ......................................................................................... 118 4.5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 121 4.6 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 125 4.7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 126 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS ............................................................ 130 VI 5.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 131 5.2 MÉTODO .............................................................................................................................. 132 5.2.1 Participantes ............................................................................................................... 132 5.2.2 Instrumentos ............................................................................................................... 133 5.2.3 Procedimentos de recolha e registo de dados ............................................................... 134 5.2.4 Procedimentos estatísticos........................................................................................... 134 5.3 6 RESULTADOS ........................................................................................................................ 135 5.3.1 Gestos com intenção comunicativa .............................................................................. 135 5.3.2 Gestos sem intenção comunicativa............................................................................... 137 5.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 138 5.5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 141 5.6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 143 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS ............................................................ 146 6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 147 6.2 MÉTODO .............................................................................................................................. 148 6.2.1 Participantes ............................................................................................................... 149 6.2.2 Instrumentos ............................................................................................................... 149 6.2.3 Procedimentos de recolha e registo de dados ............................................................... 150 6.2.4 Procedimentos estatísticos........................................................................................... 150 6.3 RESULTADOS ........................................................................................................................ 151 6.3.1 7 Análise da comunicação proxémica .............................................................................. 152 6.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 153 6.5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 156 6.6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 157 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS.................................................... 161 7.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 162 7.2 MÉTODO .............................................................................................................................. 163 7.2.1 Participantes ............................................................................................................... 164 7.2.2 Instrumentos ............................................................................................................... 165 7.2.3 Procedimentos ............................................................................................................. 165 7.3 RESULTADOS ........................................................................................................................ 166 7.3.1 Configurações de comportamentos .............................................................................. 167 7.3.2 Padrões-T dos instrutores experientes .......................................................................... 167 7.3.3 Padrões-T dos instrutores estagiários ........................................................................... 169 7.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 170 VII 8 7.5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 174 7.6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 175 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS ........................................ 180 8.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 181 8.2 MÉTODO .............................................................................................................................. 182 8.2.1 Participantes ............................................................................................................... 183 8.2.2 Instrumentos ............................................................................................................... 183 8.2.3 Procedimentos ............................................................................................................. 184 8.3 9 RESULTADOS ........................................................................................................................ 185 8.3.1 Configurações de comportamentos .............................................................................. 185 8.3.2 Padrões-T na atividade de Step .................................................................................... 186 8.3.3 Padrões-T na atividade de Localizada ........................................................................... 188 8.3.4 Padrões-T na atividade Hidroginástica ......................................................................... 189 8.3.5 Padrões-T na atividade de Indoor Cycling ..................................................................... 190 8.4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................... 191 8.5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 195 8.6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 196 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 200 9.1 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 201 9.2 LIMITAÇÕES .......................................................................................................................... 204 9.3 RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................ 206 9.4 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 207 ANEXOS ............................................................................................................................................. 209 VIII ÍNDICE DE QUADROS QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO SEMIÓTICA E FUNCIONAL DOS GESTOS. ..................................................................... 35 QUADRO 2 – COMPARAÇÃO ENTRE PROFESSORES EXPERIENTES E PRINCIPIANTES RELATIVAMENTE AO PERFIL PRÉINTERATIVO REFERENTE À DIMENSÃO “INSTRUÇÃO”. ............................................................................... 43 QUADRO 3 – COMPARAÇÃO ENTRE PROFESSORES EXPERIENTES E PRINCIPIANTES RELATIVAMENTE AO PERFIL INTERATIVO REFERENTE À DIMENSÃO “INSTRUÇÃO”. ................................................................................................ 44 QUADRO 4 – DIMENSÕES E CATEGORIAS DO SOCOP. ...................................................................................... 72 QUADRO 5 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO SOCIN-FITNESS. .................................................................................. 73 QUADRO 6 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “FUNÇÃO” DO SOCIN-FITNESS. ..................................... 74 QUADRO 7 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “MORFOLOGIA” E RESPETIVOS GRAUS DE ABERTURA, DO SOCIN-FITNESS. ............................................................................................................................. 74 QUADRO 8 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “SITUAÇÃO” E RESPETIVOS GRAUS DE ABERTURA, DO SOCINFITNESS. ........................................................................................................................................ 76 QUADRO 9 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “EXERCÍCIO” DO SOCIN-FITNESS. ................................... 77 QUADRO 10 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “ADAPTADOR” DO SOCIN-FITNESS. .............................. 77 QUADRO 11 – DIMENSÕES E CATEGORIAS DO SOPROX. .................................................................................. 78 QUADRO 12 - FIABILIDADE INTER-OBSERVADORES ENTRE O OBSERVADOR E OBSERVADOR-TREINADOR EM CADA UMA DAS CATEGORIAS DO SOPROX................................................................................................................. 79 QUADRO 13 - FIABILIDADE INTRA-OBSERVADOR EM CADA UMA DAS CATEGORIAS DO SOPROX. ................................ 80 QUADRO 14 - CARACTERIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DOS ESPECIALISTAS, QUE APERFEIÇOARAM O SISTEMA DE OBSERVAÇÃO SOPROX AO CONTEXTO DAS ATIVIDADES DE GRUPO DE FITNESS. ............................................................... 82 QUADRO 15 – DESCRIÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DAS ADAPTAÇÕES INTRODUZIDAS NO SISTEMA DE OBSERVAÇÃO SOPROX..... 83 QUADRO 16 – CARACTERIZAÇÃO DOS ESPECIALISTAS EM ATIVIDADES DE GRUPO DE FITNESS. ..................................... 85 QUADRO 17 - CARACTERIZAÇÃO DOS ESPECIALISTAS EM OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA. ............................................... 85 QUADRO 18 – SUGESTÕES REALIZADAS AO SOPROX-FITNESS PELOS DOIS PAINÉIS DE ESPECIALISTAS. ......................... 86 QUADRO 19 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO SOPROX-FITNESS. ............................................................................ 87 QUADRO 20 - FIABILIDADE INTER-OBSERVADORES ENTRE O OBSERVADOR E OBSERVADOR-TREINADOR EM CADA UMA DAS CATEGORIAS DO SOPROX-FITNESS. .................................................................................................... 88 QUADRO 21 - FIABILIDADE INTRA-OBSERVADOR EM CADA UMA DAS CATEGORIAS DO SOPROX-FITNESS. .................... 90 QUADRO 22 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “GRUPO” DO SOPROX-FITNESS................................... 91 QUADRO 23 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “TOPOLOGIA” DO SOPROX-FITNESS. ............................ 92 QUADRO 24 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “INTERAÇÃO” DO SOPROX-FITNESS. ............................ 92 QUADRO 25 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “ORIENTAÇÃO” DO SOPROX-FITNESS. .......................... 93 QUADRO 26 – ILUSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS DA DIMENSÃO “TRANSIÇÃO” DO SOPROX-FITNESS. ............................ 94 QUADRO 27 – ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE NORMALIDADE DE DISTRIBUIÇÃO E HOMOGENEIDADE DE VARIÂNCIA DOS RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DO SOCIN-FITNESS................................................................................ 99 IX QUADRO 28 – ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE NORMALIDADE DE DISTRIBUIÇÃO E HOMOGENEIDADE DE VARIÂNCIA DOS RESULTADOS OBTIDOS EM ATRAVÉS DO SOPROX-FITNESS. .................................................................... 100 QUADRO 29 – ANÁLISE DESCRITIVA E COMPARATIVA DAS FREQUÊNCIAS RELATIVAS REGISTADAS EM CADA UMA DAS CATEGORIAS DO SOPROX-FITNESS. .................................................................................................. 119 QUADRO 30 – ANÁLISE DESCRITIVA E COMPARATIVA DAS FREQUÊNCIAS RELATIVAS DE GESTOS COM INTENÇÃO COMUNICATIVA. ............................................................................................................................ 136 QUADRO 31 – ANÁLISE COMPARATIVA DAS FREQUÊNCIAS RELATIVAS DE GESTOS SEM INTENÇÃO COMUNICATIVA. ........ 137 QUADRO 32 – ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE COMPARATIVA DAS FREQUÊNCIAS RELATIVAS DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA. ................................................................................................................................. 152 QUADRO 33 – CONFIGURAÇÕES DE COMPORTAMENTOS MAIS FREQUENTES ENCONTRADAS EM CADA UM DOS GRUPOS DE INSTRUTORES. ............................................................................................................................... 167 QUADRO 34 – CONFIGURAÇÕES DE COMPORTAMENTO MAIS FREQUENTES ENCONTRADAS EM CADA UMA DAS ATIVIDADES. ................................................................................................................................................. 186 X ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1 – DIFERENTES COMPONENTES DA COMUNICAÇÃO CINÉSICA EM ANÁLISE. .................................................. 34 FIGURA 2 – MODELO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL (FAUCHER, 2011). ..................................................... 40 FIGURA 3 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS PRINCIPAIS MARCOS EVOLUCIONÁRIOS ASSOCIADOS ÀS ATIVIDADES DE FITNESS AO LONGO DAS ÚLTIMAS DÉCADAS. .......................................................................................................... 46 FIGURA 4 – ATIVIDADE DE GINÁSTICA LOCALIZADA. ......................................................................................... 47 FIGURA 5 – ATIVIDADE DE STEP. .................................................................................................................. 48 FIGURA 6 – ATIVIDADE DE INDOOR CYCLING. .................................................................................................. 50 FIGURA 7 – ATIVIDADE DE HIDROGINÁSTICA. .................................................................................................. 51 FIGURA 8 – FASES DE DESENVOLVIMENTO DA INVESTIGAÇÃO. ............................................................................. 60 FIGURA 9 - MÉTODO DE REGISTO DOS COMPORTAMENTOS DOS INSTRUTORES. ....................................................... 62 FIGURA 10 – SÍNTESE DAS ETAPAS ADOTADAS AO LONGO DO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE OBSERVAÇÃO. ............................................................................................................................. 65 FIGURA 11 – SÍNTESE DAS ETAPAS ADOTADAS AO LONGO DO PROCESSO DE TREINO DOS OBSERVADORES ENVOLVIDOS NA FASE DE FIABILIDADE INTER-OBSERVADORES. .......................................................................................... 70 FIGURA 12 – SÍNTESE DOS PROCEDIMENTOS ADOTADOS AO LONGO DO PROCESSO DE RECOLHA DE DADOS. ................... 95 FIGURA 13 – SÍNTESE DOS PROCEDIMENTOS ADOTADOS NAS FILMAGENS DOS INSTRUTORES. ..................................... 96 FIGURA 14 – JANELA DE TRABALHO DO PROGRAMA INFORMÁTICO LINCE® ONDE FORAM VISIONADOS E CODIFICADOS OS VÍDEOS. ......................................................................................................................................... 97 FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM PADRÃO TEMPORAL (MAGNUSSON, 1996, 2000). .................. 101 FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS SEIS INSTRUTORES EXPERIENTES DA ATIVIDADE DE LOCALIZADA. ................................ 168 FIGURA 17 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS SEIS INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS DA ATIVIDADE DE LOCALIZADA. ................................ 169 FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS TRÊS INSTRUTORES DA ATIVIDADE DE STEP ........................................................... 187 FIGURA 19 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS TRÊS INSTRUTORES DA ATIVIDADE DE LOCALIZADA ................................................. 188 FIGURA 20 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS TRÊS INSTRUTORES DA ATIVIDADE DE HIDROGINÁSTICA ........................................... 189 FIGURA 21 – REPRESENTAÇÃO DO PADRÃO-T DETETADO RELATIVAMENTE À COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA A PARTIR DA ANÁLISE DOS TRÊS INSTRUTORES DA ATIVIDADE DE INDOOR CYCLING ........................................... 190 XI ÍNDICE DE ANEXOS ANEXO A: CRONOGRAMA TEMPORAL DA INVESTIGAÇÃO ................................................................................. 210 ANEXO B: PLANO DE SUBMISSÃO DOS ARTIGOS ............................................................................................. 211 ANEXO C: FOLHA DE APRESENTAÇÃO DO SISTEMA DE OBSERVAÇÃO SOPROX-FITNESS AO PAINEL DE ESPECIALISTAS. .... 212 ANEXO D: MODELO DA CARTA DE PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO AOS GINÁSIOS PARA EFETUAR A RECOLHAS DOS DADOS. .... 215 ANEXO E: FREQUÊNCIA TOTAL DE GESTOS E DA DURAÇÃO DAS SESSÕES (INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS). ....................... 216 ANEXO F: FREQUÊNCIAS ABSOLUTAS OBTIDAS NAS CATEGORIAS DO SOCIN-FITNESS (INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS). ...... 217 ANEXO G: FREQUÊNCIAS ABSOLUTAS OBTIDAS NAS CATEGORIAS DO SOPROX-FITNESS (INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS). .. 218 ANEXO H: FREQUÊNCIA TOTAL DE GESTOS E DA DURAÇÃO DAS SESSÕES (INSTRUTORES EXPERIENTES). ....................... 219 ANEXO I: FREQUÊNCIAS ABSOLUTAS OBTIDAS NAS CATEGORIAS DO SOCIN-FITNESS (INSTRUTORES EXPERIENTES). ....... 220 ANEXO J: FREQUÊNCIAS ABSOLUTAS OBTIDAS NAS CATEGORIAS DO SOPROX-FITNESS (INSTRUTORES EXPERIENTES). ... 221 ANEXO K: ESTATÍSTICA DESCRITIVA (SOCIN-FITNESS - INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS). ............................................. 222 ANEXO L: ESTATÍSTICA DESCRITIVA (SOCIN-FITNESS - INSTRUTORES EXPERIENTES). .............................................. 223 ANEXO M: ESTATÍSTICA DESCRITIVA (SOPROX-FITNESS - INSTRUTORES ESTAGIÁRIOS).......................................... 224 ANEXO N: ESTATÍSTICA DESCRITIVA (SOPROX -FITNESS - INSTRUTORES EXPERIENTES). ......................................... 225 ANEXO O: ANÁLISE DA NORMALIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DOS DADOS (SOCIN-FITNESS). ........................................ 226 ANEXO P: ANÁLISE DE NORMALIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DOS DADOS (SOPROX-FITNESS). ...................................... 227 ANEXO Q: ANÁLISE DA HOMOGENEIDADE DE VARIÂNCIA DOS DADOS (SOCIN-FITNESS). ........................................ 228 ANEXO R: ANÁLISE DA HOMOGENEIDADE DE VARIÂNCIA DOS DADOS (SOPROX-FITNESS). ..................................... 229 ANEXO S: ANÁLISE DE DIFERENÇAS ENTRE ATIVIDADES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS). ......................................... 230 ANEXO T: ANÁLISE DE DIFERENÇAS ENTRE INSTRUTORES (SOCIN-FITNESS – GESTOS COM INTENÇÃO COMUNICATIVA). . 231 ANEXO U: ANÁLISE DE DIFERENÇAS ENTRE INSTRUTORES (SOCIN-FITNESS – GESTOS ADAPTADORES). ....................... 233 ANEXO V: ANÁLISE DE DIFERENÇAS ENTRE INSTRUTORES (SOPROX-FITNESS). ..................................................... 234 XII RESUMO Esta investigação centra-se na análise da comunicação não-verbal cinésica e proxémica dos instrutores fitness em contexto real de ensino de atividades de grupo. Para tal, primeiramente é abordada a problemática subjacente a esta investigação e definidos os objetivos do trabalho a ser realizado. Seguidamente é feito um enquadramento teórico onde se clarificam os principais conceitos abordados, e descritas as principais opções metodológicas inerentes a esta investigação. A componente experimental foi organizada em 5 estudos: estudo 1 - desenvolvido e validado um sistema de observação da comunicação proxémica do instrutor de fitness (SOPROX-Fitness) e sua a aplicação piloto; estudo 2 - a análise descritiva e comparativa entre instrutores experientes e estagiários ao nível da sua comunicação cinésica; estudo 3 - análise descritiva e comparativa entre instrutores experientes e estagiários ao nível da sua comunicação proxémica; estudo 4 - deteção de padrões temporais de comunicação cinésica e proxémica em instrutores de Localizada experientes e estagiários; estudo 5 - deteção de padrões temporais de comunicação cinésica e proxémica em instrutores de fitness de diferentes atividades de grupo. Os resultados obtidos nos diferentes estudos indicam a validade e fiabilidade do SOPROX-Fitness, bem como a existência de diferenças significativas entre instrutores experientes e estagiários de aulas de grupo de Localizada ao nível do comportamento cinésico e proxémico, sendo o comportamento dos instrutores experientes organizado em padrões temporais mais consistentes e complexos, os quais se diferenciam mediante o tipo de atividade de grupo. A informação recolhida poderá contribuir para a aprendizagem e reflexão futura sobre a utilização da comunicação não-verbal no contexto das atividades de grupo de fitness, tendo por base o pressuposto de que a comunicação não-verbal pode ser treinada e potenciada, e considerando as limitações inerentes a esta investigação. XIII ABSTRACT This dissertation focuses on the analysis of fitness instructors´ non-verbal kinesics and proxemics communication, in real context of group activities teaching. For this, it is first addressed the issue underlying this research and defined the objectives of the work to be performed. Then it´s clarified the theoretical framework, discussed the key concepts, and described the main methodological options inherent in this research. The experimental component was organized in 5 studies: Study 1 development and validation of an observational system to analyse the fitness instructors´ proxemics communication (SOPROX-Fitness) and its pilot application; study 2 - descriptive and comparative analysis between expert and novices fitness instructors in relation to their kinesics communication; study 3 - descriptive and comparative analysis between expert and novices fitness instructors in relation to their proxemics communication; study 4 - detection of kinesics and proxemics communication temporal patterns of expert and novices fitness instructors; study 5 - detection of kinesics and proxemics communication temporal patterns of expert fitness instructors in different group activities. The results obtained in the different studies show the validity and reliability of the SOPROX-Fitness, and the existence of significant differences between expert and novices fitness instructors in relation to their kinesics and proxemics communication behaviours, indicating that the expert instructors behaviour is organized in more consistent and complex temporal patterns, witch differ from each group activity. The collected information can contribute to the future learning and reflection about the use of nonverbal communication in the context of group fitness activities, based on the assumption that nonverbal communication can be trained and enhanced, and considering the limitations inherent in this research. XIV Capítulo I 1 INTRODUÇÃO RESUMO Neste capítulo é feito um enquadramento geral desta investigação através da problematização que motivou a sua realização, a descrição do contexto onde se desenrola, e a descrição dos principais objetivos de estudo e questões a que procuramos dar resposta. É também feita uma explicação sobre a forma como este trabalho se encontra estruturado, de forma a ajudar à sua leitura e compreensão. INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1.1 ENQUADRAMENTO A organização mundial de saúde (WHO) reconhece a atividade física como um dos comportamentos de saúde mais determinantes no combate à morbilidade e morte prematura (WHO, 2011). O exercício tem sido apontado como a “pílula mágica” (Pimlott, 2010) que pode aumentar substancialmente a longevidade e a expetativa de vida (Wen et al., 2011). Apesar disso, o mais recente estudo realizado sobre os hábitos de prática de atividade física dos europeus (Eurobarometer-334, 2010) demonstra que em média 55% dos portugueses não pratica, ou raramente pratica, uma atividade física ou exercício, valor que está acima da média europeia (39%). Estes dados também estão espelhados no estudo de monitorização mundial da prática de atividade física, onde se verificou que em Portugal mais de metade da população (51%), com mais de 15 anos, não cumpre os critérios mínimos de atividade física recomendados1, sendo que o género feminino é o mais sedentário (Hallal et al., 2012). As atividades de grupo de fitness apresentam-se como uma boa oportunidade para os indivíduos atingirem os níveis de atividade física recomendadas para a saúde. Esta forma estruturada de exercício possibilita a realização de atividade física vigorosa (Battista et al., 2008; Berry, Cline, Berry, & Davis, 1992), a qual tem demonstrado ter mais benefícios cardiorrespiratórios comparativamente com as atividades físicas de intensidade moderada (Haskell et al., 2007). Não obstante, as atividades de grupo de fitness podem ser também adaptadas ao nível de condição física dos praticantes pouco condicionados, permitido a realização de exercício com intensidade baixa a moderada. Todavia, grande parte destes benefícios depende da qualidade dos instrutores, já que são estes, que em última instância, têm a responsabilidade de organizar e 1 O American College of Sports Medicine (ACSM) e a American Heart Association (AHA), apresentaram em conjunto uma atualização das recomendações para a atividade física (Haskell et al., 2007), apontando 20 a 30 minutos de atividade física (aeróbia) moderada a vigorosa, 5 dias por semana, combinada com exercícios de força e flexibilidade 2 vezes por semana. Estas recomendações são apoiadas pela World Health Organization (WHO, 2010). Susana Mendes Alves 16 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I estruturar as atividades. Isso mesmo é corroborado por alguns estudos que têm demonstrado a existência de uma relação entre a forma como os instrutores lideram e comunicam e, o clima de aula e a adesão às atividades de grupo de fitness (Bray, Millen, Eidsness, & Leuzinger, 2005; Martin & Fox, 2001). Esta adesão ao exercício faz com que a satisfação dos praticantes seja uma preocupação central dos instrutores, até porque, como constataram Collishaw, Dyer e Boies (2008), existe uma relação positiva entre a satisfação dos praticantes e a sua fidelização para com o instrutor de fitness. Dessa forma, no contexto do ensino das atividades de grupo de fitness, a desmotivação dos praticantes, considerada como um reflexo da falta de eficácia pedagógica, pode também ser resultante de falhas de comunicação entre o instrutor e os praticantes. Talvez seja por essa razão que autores como Weinberg e Gould (2010) considerem que, no contexto das atividades físico-desportivas, a eficácia do processo comunicativo seja frequentemente a diferença entre técnicos com e sem sucesso. O mesmo é válido para o contexto das atividades de grupo de fitness, conforme corroboram diferentes autores que abordam os aspetos técnicos do ensino de aulas de grupo de fitness, e que referem que a capacidade de comunicação do instrutor é um dos factores que influencia a qualidade de intervenção neste contexto (Cerca, 2000; Colado & Moreno, 2001; Diégues & Pallarés, 2001; Franco & Santos, 1999; Franks & Howley, 2004; Papi, 2000; Sanchez, 1999; Shechtman, 2000). Uma das razões para esta importância pode estar relacionada com o facto de os instrutores estarem grande parte do tempo de aula em comportamentos de comunicação, conforme verificado no estudo realizado por Franco, Rodrigues, e Balcells (2008) onde se constatou que 60% dos comportamentos dos instrutores de ginástica localizada são de Instrução. Todavia, neste contexto específico, as condições acústicas dificultam a comunicação verbal (e.g. música com volume elevado; muitos praticantes; salas grandes). Este condicionalismo faz com que o recurso à comunicação não-verbal seja uma necessidade, pelo que o seu domínio e conhecimento são fundamentais, já que a sua utilização permite uma maior rapidez e clareza na comunicação, para além de ser mais cómoda e minimizar o uso da voz, protegendo as cordas vocais de possíveis lesões. Susana Mendes Alves 17 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I Note-se que no estudo realizado por Franco, Rodrigues, e Balcells (2008) os principais comportamentos pedagógicos (e.g., Instrução, Controlo) ocorreram maioritariamente em simultâneo com a realização de exercício, o que demonstra que os instrutores tendem a utilizar o seu próprio corpo como modelo para comunicar de forma nãoverbal. Para além da utilização do corpo, os instrutores de aulas de grupo de fitness tendem também a substituir as principais instruções verbais por um código gestual universal e/ou previamente estabelecido, que seja interpretado de igual forma pelos praticantes. Estes gestos, também denominados de “ordens de comando gestuais” encontram-se universalizados no contexto das aulas de grupo de fitness (Sanchez, 1999) e são utilizados pelos instrutores com diferentes funções ao longo da aula (Franco & Santos, 1999), tais como: o de retomar ao início da coreografia ou do exercício; solicitar a atenção dos praticantes; juntar blocos coreográficos ou exercícios; solicitar aos praticantes que parem de realizar os exercícios, etc.. Estes gestos não têm necessariamente de substituir a comunicação verbal podendo funcionar como seu reforço ou complemento. Por exemplo, Goldin-Meadow (2004) enfatizam a importância que os gestos podem assumir ao nível da componente visual do discurso verbal. No contexto do fitness essa componente visual ocorre, por exemplo, quando um instrutor informa os praticantes sobre a necessidade de realizarem um “pivot” girando o dedo indicador a apontar para cima, ilustrando dessa forma o movimento a realizar. Este gesto sugere um determinado pensamento que muitas vezes não é possível ser expresso por palavras, tendo dessa forma um impacto importante na aprendizagem das atividades (Goldin-Meadow, 2004). Por seu turno, Knapp e Hall (2007) identificam ainda um conjunto de outras funções, tais como: regular o fluxo e o ritmo da interação, manter a atenção, dar ênfase ou clareza ao discurso, ajudar a caraterizar e guardar na memória o conteúdo do discurso e agir como indicadores do discurso que está por vir. Sanchez (1999) refere ainda a existência de gestos caraterísticos de cada instrutor, os quais vão sendo criados ao longo da sua experiência profissional, originando a sua própria linguagem cinésico-gestual mediante aquilo que ao longo do tempo verifica ser mais eficaz para o processo de ensino-aprendizagem. Susana Mendes Alves 18 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I Pelas razões evocadas anteriormente, é fácil entender que o estudo da comunicação cinésica vai muito para além do simples estudo das ordens de comando, já que inclui também a análise de outras morfologias de gestos que são realizados pelos instrutores de fitness com outras finalidades. Outro aspeto de natureza não-verbal que carateriza o ensino das atividades de grupo de fitness é a dinâmica de mudança de posição do instrutor ao longo da sessão. Assim, é possível verificar, neste contexto de interações, que o instrutor e praticantes vão estabelecendo diferentes relações espaciais ao longo da aula. O instrutor pode, por exemplo, posicionar-se à frente da classe com o intuito de dar instrução ao grupo, colocando-se para tal a uma distância de carácter pessoal ou social relativamente aos praticantes. No entanto, durante o controlo da execução dos exercícios, o instrutor pode deslocar-se ao longo da sala e interagir a uma distância íntima com algum praticante, no sentido de fornecer um feedback individualizado. Daqui se conclui que as diferentes relações espaciais que são estabelecidas entre o instrutor e os praticantes, em ambiente real de aula, podem ter contribuições específicas no contexto do processo de ensino-aprendizagem das atividades de fitness. Todavia, apesar da redução da distância existente entre o instrutor e os praticantes poder contribuir para a eficácia do processo de ensino aprendizagem, a disposição habitual dos praticantes de fitness na sala de aula faz com que o instrutor privilegie os praticantes que estão na frente da sala e que estabeleça uma posição mais distante com os praticantes que estão no fundo da sala. Uma forma de os instrutores melhorarem a sua comunicação em aulas de grupo pode passar por deixarem, sempre que possível, a sua zona de conforto em frente à sala e se colocarem mais perto dos praticantes, contribuindo dessa forma para fortalecer os laços sociais e a acessibilidade ao “líder”. Esta constatação remete-nos para a necessidade de estudarmos as distâncias pessoais que normalmente são estabelecidas, mesmo as que não são intencionais, mas sim resultado do processo de aculturação, para estarmos conscientes das suas implicações no âmbito do processo de ensino das atividades de grupo de fitness. Susana Mendes Alves 19 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I Dada a importância dos aspetos comunicativos anteriormente referidos, alguns autores têm alertado para a pertinência dos instrutores de fitness estudarem a sua comunicação não-verbal, através da filmagem e análise da sua intervenção (Gavin, 2005). Este alerta tem por base o facto de a comunicação não-verbal ser considerada uma habilidade que, como tal, pode ser ensinada, aprendida e melhorada através do treino (Hargie, 1997). De acordo com Bull (2001) o treino das habilidades de comunicação não-verbal aplica-se a diversos contextos, tais como grupos profissionais de professores, médicos, enfermeiros, policias, etc.. Ainda de acordo com Bull (2001) estes programas de treino têm demonstrado valor na melhoria das competências de comunicação não-verbal, facilitando a mudança de comportamento, com base na análise detalhada de gravações em vídeo. Tendo em conta que os indivíduos se vão tornando mais competentes e eficazes na realização das suas atividades à medida que vão ganhando experiência (Berliner, 2001), será analisado este tipo de comunicação não-verbal em função da experiência profissional dos instrutores. Este tipo de análise comparativa, entre professores com e sem experiência, possibilita um melhor entendimento sobre o que constitui uma comunicação de sucesso, como refere Webster (2008), já que ao se ter acesso aos automatismos caraterísticos dos professores experientes (Berliner, 2001; Sabers, Cushing, & Berliner, 1991), se proporciona a aprendizagem dos professores menos experientes (Farrington-Darby & Wilson, 2006). A análise do comportamento tem como premissa a impossibilidade de se observar e reter todos os aspetos críticos presentes nesse mesmo comportamento (Franks & Miller, 1986). Por essa razão, é assumido que a observação do comportamento beneficia de uma recolha de informação complementar, de cariz quantitativo e qualitativo, que possa ser tratada e analisada. Este tipo de análise auxilia o processo de melhoria de um determinado comportamento, pois permite uma reflexão mais cuidadosa, sendo comum a elaboração de sistemas de observação para este efeito. Apesar destas evidências, Castañer (1999) adverte para o facto de os sistemas de observação desenvolvidos até ao momento se centrarem essencialmente nas funções mais gerais do ensino de conteúdos (informação, demostração, explicação…), Susana Mendes Alves 20 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I bem como de organização, feedback e observação. De forma análoga, consta-se que também no contexto do fitness os estudos desenvolvidos até ao momento se têm centrado essencialmente na análise dos comportamentos pedagógicos mais gerais dos instrutores de fitness (Franco et al., 2008) e do feedback pedagógico (Simões, Franco, & Rodrigues, 2009). Porém, como já foi referido anteriormente, a comunicação verbal é apenas uma parte do processo comunicativo e, como refere Zeki (2009), por vezes tende-se a subestimar a importância da comunicação não-verbal em contexto de ensino. Este tipo de análise tem-se tradicionalmente centrado num paradigma quantitativo, ou seja, utiliza a frequência de ocorrências como indicador (e.g., número de gestos realizados pelos instrutores por minuto ao longo da sessão). Todavia, num contexto onde um vasto conjunto de variáveis interagem entre si, este tipo de análise quantitativa reflete apenas uma parte da realidade (Jonsson et al., 2010). Para fazer face a esta situação novos métodos de análise têm sido desenvolvidos e explorados, como por exemplo, a deteção de padrões temporais que permite a análise de estruturas de comportamento que sucedem ao longo do tempo e que têm uma relação entre si. Os estudos com recurso aos padrões temporais têm conhecido um crescimento exponencial nos últimos anos no âmbito desportivo (Jonsson et al., 2010), sendo aplicado em modalidades tão distintas como a natação (Louro et al., 2010) o futebol (Sarmento, Anguera, Campaniço, & Leitão, 2010) e o Basquetebol (Fernandez, Camerino, Anguera, & Jonsson, 2009). Esta diversidade de aplicação dá garantias quanto à robustez desta abordagem. Tendo por base, as necessidades anteriormente identificadas e dando seguimento aos trabalhos anteriormente desenvolvidos sobre a análise dos comportamentos dos instrutores de fitness, pretenderemos com esta investigação centrarmo-nos na análise da comunicação cinésica (i.e. movimentos corporais) e proxémica (i.e. uso do espaço) dos instrutores de fitness no contexto das atividades de grupo. Para tal iremos analisar diferentes atividades de grupo e instrutores com diferentes níveis de experiência profissional, conjugando a análise quantitativa com a análise qualitativa do comportamento. Susana Mendes Alves 21 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1.2 PROBLEMA A problemática que está subjacente a esta investigação relaciona-se com o conhecimento do perfil de comunicação cinésica e proxémica dos instrutores de atividades de grupo de fitness, considerando que: 1) este tipo de comunicação assume uma grande importância neste contexto de prática; 2) não existem estudos realizados sobre esta temática, pelo que este estudo apresenta uma abordagem inovadora e especializada ao contexto do fitness; 3) a inexistência de um instrumento que permita a análise da componente proxémica da comunicação não-verbal no contexto das atividades de grupo de fitness; 4) o conhecimento deste perfil de comunicação permite a definição de estratégias para a sua melhoria. Partindo desta problemática pretende-se saber em concreto: Quais os comportamentos proxémicos mais frequentes de instrutores de diferentes atividades de grupo de fitness? Será que os instrutores de localizada com mais anos de experiência utilizam a comunicação cinésica de forma diferenciada, por comparação com os estagiários? Será que os instrutores de localizada com mais anos de experiência utilizam a comunicação proxémica de forma diferenciada, por comparação com os estagiários? Será que os Instrutores de localizada com mais anos de experiência apresentam um padrão de comportamento cinésico e proxémico diferente dos menos experientes? Será que o padrão de comunicação cinésica e proxémica dos instrutores difere entre atividades de grupo de fitness? Estas são algumas das questões a que pretenderemos dar resposta com o desenvolvimento desta investigação e que serão objetivadas seguidamente. Susana Mendes Alves 22 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1.3 OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO De acordo com a problemática definida no ponto anterior, foram definidos cinco grandes objetivos sobre os quais assentam a operacionalização desta investigação: 1º Objetivo – Desenvolver, validar e realizar um aplicação piloto de um instrumento ad hoc que permita a análise da componente proxémica da comunicação não-verbal do instrutor de atividades de grupo de fitness, designadamente o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica (SOPROXFitness); 2º Objetivo – Realizar uma análise quantitativa descritiva e comparativa da comunicação cinésica de instrutores de Localizada experientes e estagiários, com recurso ao sistema de observação SOCIN-Fitness; 3º Objetivo – Realizar uma análise quantitativa descritiva e comparativa da comunicação proxémica de instrutores de Localizada experientes e estagiários, com recurso aos sistemas de observação SOPROX-Fitness; 4º Objetivo – Realizar uma análise qualitativa da comunicação cinésica e proxémica de instrutores de Localizada experientes e estagiários, através da deteção de padrões temporais de comportamento. 5º Objetivo – Realizar uma análise qualitativa da comunicação cinésica e proxémica de instrutores de diferentes atividades de grupo, através da deteção de padrões temporais de comportamento. Cada um destes objetivos será concretizado separadamente em cada um dos cinco estudos que fazem parte desta investigação. Susana Mendes Alves 23 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1.4 ORGANIZAÇÃO DA TESE Tendo em consideração a quantidade de dados recolhidos, o número de variáveis em estudo e, sobretudo, a diversidade das questões acima indicadas, optouse por organizar esta tese por estudos individuais. A opção por este modelo relacionase com a intenção de publicação dos resultados da investigação realizada, sendo que a organização das análises em diferentes artigos ajusta-se melhor a este propósito, dando mais eficiência ao trabalho desenvolvido. Este formato irá também permitir uma mais fácil leitura já que a informação estará organizada em torno de objetivos mais específicos. Por estas razões a componente empírica será desenvolvida em cinco estudos desenvolvidos sobre a forma de artigo dividido nas seções tradicionais (Resumo, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões). Apesar de neste formato de tese não ser usual a inclusão de um capítulo de revisão da literatura, já que esta se encontra realizada no âmbito da introdução dos diferentes estudos, no presente trabalho optou-se pela inclusão de um capítulo adicional denominado de enquadramento teórico onde serão abordados de forma mais extensiva alguns dos pressupostos teóricos que estão por base dos principais conceitos abordados (e.g., comunicação não-verbal; experiência profissional, atividades de fitness). Este capítulo poderá ser útil para o entendimento de alguns pressupostos que por razões de limitação de espaço nos artigos, para futura submissão a revistas científicas, não podem ser exaustivamente abordados no âmbito dos estudos. Pelas mesmas razões, optou-se pela inclusão de um capítulo adicional destinado à clarificação mais exaustiva dos diferentes pressupostos metodológicos adotados, onde estará incluída também uma apresentação mais exaustiva, com ilustrações, dos dois sistemas de observação que estão na base deste trabalho. Susana Mendes Alves 24 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I Em suma, o presente trabalho organiza-se em oito capítulos distintos: Capítulo 1 – Introdução: é dedicada à presente introdução, onde é abordada a problemática subjacente a esta investigação e definidos os objetivos que são estruturantes do trabalho a ser realizado; Capítulo 2 – Enquadramento teórico: iremos neste capítulo clarificar de forma mais exaustiva os principais conceitos abordados; Capítulo 3 – Metodologia: está orientada para a descrição dos aspetos metodológicos gerais inerentes à componente experimental; Capítulo 4 – Estudo 1: neste estudo objetiva-se o desenvolvimento, validação e aplicação piloto do sistema de observação da comunicação proxémica do instrutor de fitness (SOPROX-Fitness); Capítulo 5 – Estudo 2: neste estudo objetiva-se a análise descritiva e comparativa entre instrutores experientes e estagiários ao nível da sua comunicação cinésica; Capítulo 6 – Estudo 3: neste estudo objetiva-se a análise descritiva e comparativa entre instrutores experientes e estagiários ao nível da sua comunicação proxémica; Capítulo 7 – Estudo 4: neste estudo objetiva-se a deteção de padrões temporais de comunicação cinésica e proxémica em instrutores de Localizada experientes e estagiários; Capítulo 8 – Estudo 5: neste estudo objetiva-se a deteção de padrões temporais de comunicação cinésica e proxémica em instrutores de fitness de diferentes aulas de grupo; Capítulo 9 – Conclusões, recomendações e limitações: serão apresentadas as conclusões finais, procurando dar resposta às questões em estudo, sugerindo implicações práticas e novas linhas de investigação tendo em consideração as limitações identificadas. Susana Mendes Alves 25 INTRODUÇÃO CAPÍTULO I 1.5 REFERÊNCIAS Battista, R., Foster, C., Andrew, J., Wright, G., Lucia, A., & Porcari, J. (2008). Physiologic responses during indoor cycling. Journal of Strength and Conditioning Research, 22(4), 1236-1241. Berliner, D. C. (2001). Learning about and learning from expert teachers. International Journal of Educational Research, 35(5), 463-482. Berry, M., Cline, C., Berry, C., & Davis, M. (1992). A comparison between two forms of aerobic dance and treadmill running. Medicine and Science in Sports and Exercise, 24(8), 946-951. Bray, S., Millen, J., Eidsness, J., & Leuzinger, C. (2005). The effects of leadership style and exercise program choreography on enjoyment and intentions to exercise Psychology of Sport and Exercise 6(4), 415-425. Bull, P. (2001). State of the art: Nonverbal communication. The Psychologist, 14, 12. Castañer, M. (1999). 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Desta forma, é realizado um enquadramento dos conceitos de comunicação não-verbal, com especial ênfase sobre a comunicação cinésica e proxémica, bem como o conceito de experiência profissional, através da apresentação dos modelos conceptuais que suportam a classificação e caracterização dos vários níveis de experiência profissional. É dada também uma especial atenção, à caraterização de cada uma das atividades de grupo de fitness que fazem parte desta investigação, designadamente: Localizada, Step, Indoor Cycling e Hidroginástica. ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II 2.1 COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL Ao longo desta investigação iremos mencionar recorrentemente o conceito de “comunicação não-verbal”. Começando pela sua delimitação conceptual podemos referir que a comunicação não-verbal representa “todos os aspetos da comunicação que vão para além das palavras ditas ou escritas” (Knapp & Hall, 2010, p. 32). Ao invés de comunicação não-verbal, Castañer (2009) sugere a utilização alternativa de “comunicação paraverbal” que, no seu entender, não tem implícita uma relação de oposição e exclusividade relativamente à comunicação verbal, já que na maior parte das vezes estes dois tipos de comunicação se coadjuvam e ocorrem de forma paralela. Sendo estes conceitos sinónimos é provável que, ao longo deste trabalho ambos “comunicação não-verbal e “comunicação paraverbal” sejam referidos em função das fontes bibliográficas consultadas. A importância da comunicação não-verbal ao nível do comportamento humano tem sido corroborada através de variadas perspetivas. Por exemplo, Mehrabian (1968), nas suas investigações pioneiras sobre esta temática, verificou que o impacto total da comunicação no recetor era 7% verbal, 38% vocal e 55% não-verbal. Apesar de outros estudos terem encontrado valores diferentes de importância relativa para os diferentes tipos de comunicação, a preponderância da comunicação não-verbal no ato comunicativo é transversal a todos (Prabhu, 2010). Ainda, Remland (2000) destaca o facto de as pessoas tenderem a julgar a qualidade da comunicação por intermédio de sinais não-verbais. Em linha com o posicionamento de vários outros autores que referem que a comunicação não-verbal é mais credível do que a comunicação verbal quando estas duas formas de comunicação são incongruentes (Knapp, 1972; Malandro & Barker, 1983; Mehrabian, 1981). Segundo Argyle (1988), as cinco funções principais do comportamento nãoverbal são: i. a expressão de emoções através do rosto, do corpo e da voz; Susana Mendes Alves 31 ENQUADRAMENTO TEÓRICO ii. CAPÍTULO II a comunicação de atitudes interpessoais, em que o estabelecimento e manutenção das relações é feita através de sinais não-verbais (tom de voz, olhar, toque, etc.); iii. o acompanhamento e suporte do discurso, onde a vocalização e os comportamentos não-verbais são sincronizados com o discurso na conversação; iv. a autoapresentação por meio de atributos não-verbais, como a aparência e os adereços; v. e a realização de rituais do dia-a-dia (cumprimentos, apertos de mão, etc.). Richmond e McCroskey (2004) defendem ainda que uma outra função da comunicação não-verbal é definir o estatuto dos indivíduos dentro de um contexto de interação. A liderança é assim transmitida através de sinais não-verbais, como o contacto visual, a postura, o tempo gasto na comunicação e a colocação de ênfase nas palavras (Riggio & Feldman, 2005). Em ambientes informais a comunicação não-verbal assume uma importância ainda maior pelo facto de ser principalmente através desta que os papéis de liderança e afiliação são demonstrados (Richmond, McCroskey, & Payne, 1987). Dada a sua abrangência, a comunicação não-verbal tende a ser considerada sob o ponto de vista de quatro componentes distintas (Knapp & Hall, 2010), designadamente: A Cinésica - relativa ao estudo do movimento corporal que tem significado comunicativo, como a forma de gesticular, movimentar e posicionar o corpo; A Proxémica - descreve o espaço pessoal de indivíduos num meio social, definindoo como o conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico; A Paralinguística - ocupa-se dos aspetos semânticos da linguagem, prestando mais atenção à forma como se dizem as coisas do que com o seu conteúdo. A voz, a entoação, o ritmo do discurso, as pausas, são considerados elementos paralinguísticos. Através de vocalizações, transmitimos diferentes emoções: autoridade, sossego, raiva, felicidade, segurança, etc.; Susana Mendes Alves 32 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II A Cronémica - relativa ao estudo dos factores temporais que, em geral, incidem sobre as situações de comunicação. Apesar de singulares, estas dimensões de comunicação não-verbal podem ocorrer de forma simultânea ou concorrente, complexificando o estudo da comunicação não-verbal. Na presente investigação iremos centrar as atenções essencialmente nos aspetos da comunicação cinésica e proxémica. Por este motivo, em seguida exploradas mais detalhadamente cada uma destas formas de comunicação. 2.1.1 Comunicação cinésica O início do estudo da cinésica está associado a Birdwhistell, nas suas obras iniciais Introduction to Kinesics (Birdwhistell, 1952) e Kinesics and context (Birdwhistell, 1970). Nessas obras Birdwhistell define a cinésica como sendo a forma de gesticular, movimentar e posicionar o corpo, a qual considera ser responsável por 65 % da mensagem social numa conversa entre duas pessoas, sendo os restantes 35% transmitidos por intermédio das palavras. Ao longo do tempo vários autores têm-se dedicado ao estudo da comunicação cinésica nos mais variados contextos. Todavia, Castañer (2009) alerta para a dificuldade e complexidade do seu estudo, já que as diferentes partes do corpo produzem movimentos com morfologias e trajetórias muito próprias (e.g., movimentos da cabeça, movimentos dos braços e das mãos, movimentos do tronco), as quais podem ocorrer em simultâneo. Por exemplo, quando alguém pretende qualificar algo de “pequeno”, pode curvar os ombros para a frente, diminuindo a sua envergadura, cerrar os olhos e fazer um gesto de pinça, isto é, colocando o polegar perto do indicador esticado, marcando uma distância curta, ou fazendo outro gesto qualquer cujas características morfológicas indiquem uma distância curta. Por esta razão, como refere Rodrigues (2006), não existe uma unidade morfológica uniforme que possa ser usada na análise de todas as componentes da cinésica em simultâneo. Susana Mendes Alves 33 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Esta diversidade de formas de movimento levou a que diferentes autores se tenham especializado numa determinada cinésica corporal, também conhecidas por microcinésicas. As unidades de movimento que inicialmente mereceram mais atenção foram a mímica (Ekman, 1992; Ekman, Friesen, & Ellsworth, 1972), o olhar (Kendon, 1990) e os gestos (Efron, 1941; Ekman & Friesen, 1969). No caso específico desta investigação o objeto de estudo será a cinésica dos instrutores de fitness associada aos gestos que realizam, bem como à utilização do seu corpo para acompanhar os praticantes na realização dos exercícios, conforme ilustra a Figura 1. CINÉSICA (Movimento) Gestos Movimentos do corpo Figura 1 – Diferentes componentes da comunicação cinésica em análise. Uma vez que iremos analisar a componente cinésico-gestual, importa desde logo delimitar o conceito de gesto. A esse respeito, Knapp e Hall (2010) referem que “Typically, gestures are thought of as arm and hands moviments” (p. 223). Essa mesma perspetiva é corroborada por autores nacionais como Rodrigues (2005) que mencionam que “o termo gesto designa a subunidade de movimento das mãos e dos braços” (Rodrigues, 2005, p. 492). Contudo, como realça McNeill (1992), “gestures are not just the arms waving in the air but symbols that exhibit meaning in their own right” (p.105). Tendo em conta os diferentes significados atribuídos aos gestos, alguns autores propuseram-se a desenvolver sistemas para a sua classificação. Os autores que primeiramente desenvolveram um sistema de classificação dos gestos foram Ekman e Friesen (1969). Este sistema de classificação continua a ser ainda hoje utilizado e foi o quadro de referência utilizado também nesta investigação. Seguidamente, no Quadro Susana Mendes Alves 34 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II 1, são resumidas as tipologias de classificação semióticas e funcionais dos gestos conforme definidas inicialmente por Ekman e Friesen (1969). Quadro 1 - Classificação semiótica e funcional dos gestos. Dimensão dos gestos Categoria dos gestos Descrição Emblemas Atos não-verbais com tradução verbal direta, culturalmente aprendidos. Ilustradores Acompanham a fala e ilustram ou enfatizam o conteúdo da mensagem. Deícticos Apontam Cinetográficos Descrevem uma ação física Pictográficos Desenham uma figura no espaço Ideográficos Ilustram uma ideia ou pensamento Batutas Movimentos enfáticos Espaciais Identificam o espaço Rítmicos Acompanham a pulsação rítmica do discurso Adaptadores Gestos sem intenção comunicativa, facilitam a libertação de tensões Reguladores Controlam e coordenam a interação entre dois ou mais interlocutores Fonte: Ekman e Friesen (1969). 2.1.2 Comunicação proxémica O termo “proxémica” foi definido por Edward Hall, em 1963, como sendo o conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico (Hall, 1963). A partir deste trabalho inicial foi possível a definição de quatro tipos de distâncias sociais (Knapp & Hall, 2010), designadamente: Distância íntima: para abraçar, tocar ou sussurrar; envolve contacto físico entre os corpos; não permitida em público nalgumas das culturas (0-45 cm); o Modo próximo: maior proximidade possível, contacto entre a pele e músculos; Susana Mendes Alves 35 ENQUADRAMENTO TEÓRICO o CAPÍTULO II Modo afastado: apenas as mãos estão em contacto; proximidade provoca visão distorcida do outro, distância na qual se fala aos sussurros. Distância pessoal: para interação com amigos próximos; distância que o indivíduo guarda dos outros (45-120 cm); o Modo próximo: permite tocar no outro com os braços; a posição/distância revela o relacionamento que existe entre os indivíduos; o Modo afastado: limite do alcance físico em relação ao outro; distância habitual da conversação pessoal; Distância social: para interação entre conhecidos; a esta distância os indivíduos não se tocam (1,2-3,5 m); o Modo próximo: adotado quando várias pessoas dividem o mesmo espaço de trabalho ou em reuniões pouco formais; o Modo afastado: adotado quando de relações sociais ou profissionais formais; Distância pública: para falar em público; situa-se fora do círculo mais imediato do indivíduo; vista em conferências. (acima de 3,5 m). o Modo próximo: relações formais; permite a fuga ou a defesa caso o indivíduo se sinta ameaçado; o Modo afastado: modo no qual a possibilidade de estabelecer contato com alguém é nula, devido à distância. Geralmente a intimidade da relação que une os interlocutores tende a ditar também uma maior aproximação corporal no decurso da conversa, ao passo que o seu distanciamento corresponde também a uma maior distância da sua relação (Prabhu, 2010). De acordo com Knapp e Hall (2010) as diferenças na utilização do espaço dependem das características dos interlocutores (e.g., género e idade), o tema de conversa, a situação social e, principalmente, do grau de intimidade (e.g., quando Susana Mendes Alves 36 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II alguém que não conhecemos está sentado numa extremidade de um banco tendemos a sentar na extremidade oposta, preservando o nosso espaço íntimo e pessoal). Uma outra componente da proxémica diz respeito ao estudo da organização física dos espaços e disposição dos objetos. Para Hogan (2003) a proxémica poderá considerar o estudo de três componentes espaciais: Espaço fixo: referente à organização dos limites inamovíveis do espaço como as divisões dentro de um apartamento ou as salas dentro de uma escola; Espaço semifixo: referente à disposição no espaço de objetos amovíveis, como mesas e cadeiras; Espaço informal: referente ao espaço pessoal. De acordo com Prabhu (2010), ao nível educativo, vários estudos têm corroborado o impacto que os diferentes designs de salas e de disposições de cadeiras sobre o processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, a tradicional disposição das salas de aulas tem sido demonstrado menos eficaz devido à grande distância espacial existente entre o professor e os alunos, especialmente os colocados na última fila. Em resultado disso, várias outros tipos de disposição têm sido propostos, como a disposição dos alunos em semicírculo, que permite que o professor esteja à mesma distância de todos os alunos. Os mais recentes estudos de proxémica têm também sugerido como positivo a disposição dos alunos em pequenos grupos, de forma a permitir que haja uma maior interação entre eles e com o professor durante os processos de discussão (Prabhu, 2010). Nas atividades de grupo de fitness, a interação humana e o uso do espaço é algo inerente à própria atividade, pelo que poderão ser planeadas como parte da estratégia de ensino e, desta forma, potenciadas. Na presente investigação iremos centrar-nos sobre os aspetos da comunicação proxémica relacionados com o espaço semifixo e informal, já que são estes que poderão ser modificados pelos instrutores de fitness. Susana Mendes Alves 37 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II No caso de uma classe de fitness o posicionamento do professor em frente e ao meio de uma classe permite-lhe ter uma visão de todos os alunos, e o seu comando é sentido também em virtude dessa posição que ocupa no espaço. Todavia, os praticantes que se encontram à frente, mais próximos do instrutor, são normalmente os praticantes mais antigos, que se sentem mais à-vontade, por oposição aos mais tímidos e/ou menos confiantes que geralmente se posicionam no fundo da sala, mantendo uma maior distância para o professor. 2.2 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 2.2.1 Fases de desenvolvimento profissional O desenvolvimento profissional é um processo de aprendizagem complexo que envolve não só a aquisição de conhecimentos e competências mas também o desenvolvimento de uma identidade profissional (Penna, 1992). Para tal é necessário a integração de factores como a prática, a cultura e valores profissionais (Faucher, 2011), onde o factor tempo é determinante. As evidências acumuladas sobre as diferenças entre profissionais novatos e experientes verificadas no contexto do ensino e em outros contextos de atuação, tornaram clara a necessidade da existência de um modelo de caracterização das diferentes fases de desenvolvimento profissional (Berliner, 2004). Shuell (1990) analisou algumas teorias sobre o desempenho profissional, concluindo que as mesmas geralmente especificam três níveis ou estádios de desenvolvimento. O nível iniciado, onde os erros são frequentes. Um nível intermédio, onde existe a consolidação do desempenho profissional e é desenvolvida a automaticidade do comportamento. E, um nível avançado só para os profissionais que trabalham muito para atingir níveis elevados de performance é um estádio onde ocorrem altos níveis de desempenho. Susana Mendes Alves 38 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Dreyfus e Dreyfus (1980) apresentaram um modelo de desenvolvimento mais complexo. Este modelo foi posteriormente adaptado por Berliner (1994), que apresentou um modelo de desenvolvimento profissional de professores com formação superior, baseando-se em dados coletados relativamente à aquisição de conhecimentos pedagógicos. Este modelo holístico, especifica cinco fases de desenvolvimento, desde o professor novato ao especialista: Fase 1: Novato Aluno-professor no primeiro ano como profissional que apresenta um comportamento do professor iniciante sendo geralmente racional, relativamente inflexível e tende a comportar-se de acordo com as regras e procedimentos para os quais foram orientados a seguir. Este é um estágio para aprender os objetivos e as características das situações profissionais. Assim, nesta fase o principal objetivo é a obtenção de experiência no contexto de atuação, pois com essa experiência o alunoprofessor apercebe que a atuação vai para além da informação aprendida. Fase 2: Novato-Avançado Professor no segundo ou terceiro ano profissional, apresentando-se como suscetível ao desenvolvimento. Reconhece semelhanças nas situações, acumula na sua memória episódios que pode utilizar na sua experiência atual. Procura desenvolver um conhecimento estratégico relativo, isto é, quando pode intervir e como deve fazê-lo, respondendo assim ao contexto de uma forma mais apropriada. Fase 3: Competente Professor no terceiro ou quarto ano profissional, apresentando-se como professor com mais experiência, pois seleciona conscientemente o que é necessário para atuar e para tal recorre aos conhecimentos chave na condução da aula. Apresenta ainda, um comportamento que revela alguma motivação para ter sucesso. Pensa-se que a maioria dos novato-avançados, tornam-se competentes e adquirem habilidades necessárias na sua área de interesse. Susana Mendes Alves 39 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Fase 4: Experiente Professor a partir do quinto ano profissional, sendo esta a fase em que a intuição ou conhecimento se torna proeminente, pois já possue um vasto rol de experiências e de meios. Ensina de uma forma mais fluida e quase automática, sendo capaz de pôr em prática atos pedagógicos de forma consciente e espontânea. De acordo com o autor, talvez sobre o quinto ano, um número modesto de professores transitam para fase de desenvolvimento proficiente. Fase 5: Especialista Professor que possue um sentido global da situação, responde com fluidez e de forma automática. Atua de forma intuitiva, quase de forma inconsciente até que um problema específico exige uma intervenção do seu pensamento analítico. O autor afirma que só alguns conseguem atingir este nível. Recentemente Faucher (2011) apresenta um modelo também composto por cinco fases, que corrobora o modelo anteriormente apresentado. Todavia, este modelo divide o processo de desenvolvimento em duas partes, ou seja, a fase de profissionalização enquanto estudantes e a fase profissional, pelo facto de existirem cursos de formação superior que possuem uma grande componente técnica. (Figura 2). Figura 2 – Modelo de desenvolvimento profissional (Faucher, 2011). Susana Mendes Alves 40 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Importa salientar que os vários autores analisados indicam o factor tempo como sendo determinante para o desenvolvimento profissional, sendo o mesmo importante para identificar as várias fases de desenvolvimento. Posto isto, e apesar de existirem algumas diferenças apenas nas terminologias das fases, ambos os modelos teóricos são similares relativamente às características dos professores em cada fase e respetivos valores de corte que distinguem cada uma das fases de desenvolvimento profissional. Desta forma, dado que a presente investigação pretende comparar instrutores com diferentes níveis de experiência profissional, aceita-se os seguintes valores de corte para identificar os instrutores estagiários e os instrutores experientes: Estagiário – aluno-instrutor numa fase de pré-profissão, ou seja no primeiro ano de contato profissional como instrutores de fitness, exercendo a atividade com orientação académica; Experiente – instrutor de fitness com formação superior, que está há cinco ou mais anos em desenvolvimento profissional. 2.2.2 Caraterísticas dos diferentes níveis de experiência profissional De acordo com Berliner (2001) a generalização dos resultados obtidos sobre a experiência profissional é algo difícil de concretizar, uma vez que a maioria dos estudos se baseia em métodos qualitativos e em grupos pequenos de indivíduos que possuem características muito próprias. Apesar disso, os resultados acumulados de várias investigações têm proporcionado informações relevantes sobre a atuação profissional de acordo com a experiência. Por exemplo, Glaser (1987, 1990), em comparação com os inexperientes, identificou um conjunto de doze características dos profissionais experientes: A experiência é específica de um determinado contexto e de um vasto número de horas de contínuo desenvolvimento; O desenvolvimento obtido através de experiência profissional não é linear, podendo alternar fases de desenvolvimento mais rápido, que representam mudanças de perspetiva, com fases de estabilização e automaticidade; Susana Mendes Alves 41 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Têm o conhecimento mais estruturado para atuar com elevados índices de performance; Representam os problemas de uma forma qualitativamente diferente. As suas representações são mais profundas e ricas; Reconhecem mais rapidamente os aspetos críticos mais importantes; São mais flexíveis na sua forma de planear; Atribuem significado a estímulos ambíguos; São mais rápidos a resolver problemas; Desenvolvem automaticidade no seu comportamento libertando a sua atenção para o processamento de informações mais complexas; Têm mais em atenção os constrangimentos relacionados com as atividades e com o meio social; Desenvolvem processos de autorregulação. Estas características enunciadas sobre os profissionais experientes derivam de estudos realizados em diferentes contextos. Todavia, Berliner (2001) identifica um conjunto de características dos profissionais experientes, com base em estudos realizados apenas com professores. Desta forma, os professores experientes: Atuam melhor na sua área de conhecimento e contexto profissional específicos; Desenvolvem automaticidade nas tarefas que têm de ser realizadas repetitivamente para a obtenção dos seus objetivos; São mais oportunos e flexíveis no seu processo de ensino; São mais sensíveis às exigências das tarefas e ao contexto social; Representam os problemas de uma forma qualitativamente diferente; Possuem um mecanismo mais apurado de reconhecimento de situações importantes; Identificam e padronizam um conjunto mais vasto de situações significantes na área onde têm experiência; Utilizam fontes de informação mais ricas e pessoais para refletir sobre os problemas que pretendem resolver. Susana Mendes Alves 42 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II No que diz respeito aos estudos realizados em Portugal sobre as diferenças de atuação profissional, destacamos o estudo realizado por Moreira e Januário (2004) no contexto do ensino da educação física, onde foi comparado o perfil pré-interativo relativamente à instrução, dos professores experientes e principiantes. Neste estudo foi possível verificar que os professores experientes se diferenciavam dos principiantes (i.e., Estagiários) em vários aspetos, conforme apresentado no Quadro 2. Quadro 2 – Comparação entre professores experientes e principiantes relativamente ao perfil pré-interativo referente à dimensão “Instrução”. Experientes Principiantes Apresentação das tarefas, centrada nas Apresentação das tarefas centrada na necessidades dos alunos; prestação; Cuidadosa supervisão da aula; Baixa supervisão da aula; Alta autonomia de conteúdos; Baixa autonomia de conteúdos; Diversificação dos objetivos em função dos Objetivos alunos; conteúdos; em conformidade com os Objetivos explorados: Domínios motores, Objetivos explorados: Domínios motores, cognitivos, sócio afetivos e comportamentais; cognitivos; Gestão de acordo com as preocupações dos Gestão de acordo com as preocupações alunos; pessoais; No que diz respeito ao perfil interativo na dimensão “Instrução”, Moreira e Januário (2004) voltam a evidenciar a existência de um perfil de atuação profissional diferenciado entre os professores experientes e os principiantes, conforme se pode verificar através do Quadro 3. Susana Mendes Alves 43 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Quadro 3 – Comparação entre professores experientes e principiantes relativamente ao perfil interativo referente à dimensão “Instrução”. Experientes Feedback de qualidade, Principiantes frequente e Feedback direcionado aos erros comuns; apropriado; Apresentam as tarefas através de uma Privilegiam a demonstração na apresentação preleção clara e objetiva; das tarefas; Maior preocupação com a consecução dos Menor preocupação com a consecução dos objetivos. objetivos. Este tipo de análise comparativa, entre profissionais com diferentes níveis de experiência, foi também realizada em Portugal, no contexto do fitness por Simões, Franco e Rodrigues (2009). Neste estudo, os autores compararam o feedback pedagógico em instrutores de Localizada com diferentes níveis de experiência profissional, verificando-se a existência de diferenças significativas entre os instrutores com diferentes níveis de experiência profissional relativamente à frequência de emissão de feedback por minuto. No que respeita à forma do feedback, foram encontradas diferenças significativas entre os instrutores com 3 a 5 anos de experiência profissional e os instrutores com menos de 3 anos e com mais de cinco anos ao nível do feedback cinestésico. Foram também encontradas diferenças significativas ao nível do feedback interrogativo entre o grupo de instrutores com nenos de 3 anos e os instrutores com 3 a cinco anos de experiência na leccionação da atividade de Localizada. 2.3 ATIVIDADES DE FITNESS No âmbito desta investigação, são consideradas como atividades de fitness as que são habitualmente praticadas no âmbito dos ginásios, cujo objetivo essencial é o da melhoria ou manutenção da condição física e saúde. Considerando ser este o contexto de aplicação desta investigação, em seguida serão caracterizadas, de forma Susana Mendes Alves 44 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II genérica, este tipo atividades, com especial relevo para as atividades de Step, Localizada, Indoor Cycling e Hidroginástica, uma vez que, neste trabalho, a análise da comunicação não-verbal cinésica e proxémica dos instrutores de fitness se irá restringir a estas quatro atividades. A origem das atividades de fitness é de difícil contextualização, ainda que para alguns autores (Franco & Santos, 1999; Papí, 2000) elas surjam no seguimento da moda do “jogging” e dos exercícios aeróbios como forma de melhorar a condição física na sequência dos trabalhos desenvolvidos por Kenneth Cooper nos finais dos anos 60, e da publicação de algumas das suas obras literárias de que é exemplo o livro Aerobics em 1968 (Cooper, 1968). Em linha com esse “movimento”, na década de 70, Jacki Sorensen desenvolveu um programa denominado Aerobic Dance no qual combinava passos de dança, saltos e corrida com exercícios localizados, realizados ao som de músicas alegres e cativantes (Papí, 2000). Esta forma de realizar exercício foi sendo cada vez mais sistematizada e, já na década de 80, dá-se o aparecimento formal da Ginástica Aeróbica com Jane Fonda, a qual teve um papel preponderante na grande expansão mundial desta atividade, causado pelo destaque que tiveram os vários programas de exercícios que desenvolveu nos principais canais de comunicação norte americanos (Sanchez, 1999). Esta grande expansão da Ginástica Aeróbica contribuiu igualmente para o surgimento de uma nova área de atuação profissional e de diversas associações profissionais e organizações ligadas ao fitness, que contribuiram para a sua credibilização e afirmação ao nível técnico-científico, tais como: International Dance and Exercise Association (IDEA); American Fitness & Aerobics Association (AFAA); American Council on Exercise (ACE); ou mesmo o American College of Sports Medicine (ACSM). A partir dos anos 90 verifica-se um enorme “Boom” de novas atividades originadas a partir da Ginástica Aeróbica, como o Step, Slide, Funk, Hip-Hop, Hidroginástica. De igual forma surgem novos promotores e as grandes cadeias de ginásios. Susana Mendes Alves 45 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Esta tendência de inovação continua a verificar-se atualmente, com atividades novas a aparecerem e a desaparecerem regularmente. Assim esta primeira década do novo milénio caracteriza-se pelo forte incremento da componente comercial, de que são exemplo os diferentes programas e atividades de fitness adquiridos em regime de franchising. Estes marcos evolucionários associados às atividades de fitness nas últimas décadas são ilustrados na Figura 3. Anos 60 Kenneth Cooper “Aerobics” "Jogging” Anos 70 Jacki Sorensen “Aerobic Dance” Anos 80 Ginástica aeróbica Expansão Mundial Afirmação Jane Fonda IDEA; AFAA; ACE; ACSM Anos 90 “Boom” de novas atividades e promotores início Sec. XXI atividades de Fitness em franchising. Figura 3 – Caracterização geral dos principais marcos evolucionários associados às atividades de fitness ao longo das últimas décadas. A realidade das atividades de fitness, tal como as conhecemos presentemente, pouco ou nada tem a ver com a realidade dos anos 80 e início de 90, embora estas diferenças se façam sentir mais ao nível dos grandes centros urbanos, onde tradicionalmente as modas e novidades chegam mais depressa e se fazem sentir com maior intensidade. Ainda assim, existem um conjunto de atividades tidas de “tradicionais” que resistem às “novas tendências” e perduram de uma forma quase generalizada na maioria dos ginásios. Entre essas atividades encontram-se as de Step, Localizada, Indoor Cycling e Hidroginástica, e que por essa razão irão ser alvo de análise nesta Susana Mendes Alves 46 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II investigação. Para ajudar os leitores menos familiarizados com cada uma destas atividades serão em seguida referidas algumas das suas principais caraterísticas. 2.3.1 Atividade de Ginástica Localizada A Localizada é uma modalidade de fitness onde o indivíduo repete séries de exercícios que utilizam sobrecarga para criar resistência muscular (Costa, 2000; Novaes & Vianna, 2003). Para além do peso corporal, também podem ser utilizados outros tipos de materiais como forma de aumentar a resistência, tais como halteres, caneleiras, barras ou bastões, elásticos, steps. Podem também ser utilizados materiais instáveis como a bola Suíça, bosu, discos, rolos, colchões, etc. (Figura 4). Figura 4 – Atividade de Ginástica Localizada. Costa (2000) refere ainda que esta modalidade promove igualmente adaptações ao nível do desenvolvimento da coordenação neuro-muscular e do ritmo. De facto as aulas de ginástica Localizada são tipicamente realizadas ao ritmo de uma música que geralmente dita a velocidade de execução dos movimentos (exercícios) em função dos seus objetivos, das qualidades físicas desenvolvidas e da própria fase da uma aula/sessão de treino. Nas aulas de Localizada pode ser realizado um trabalho dinâmico concêntrico e excêntrico e um trabalho estático/isométrico, podendo ser Susana Mendes Alves 47 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II utilizadas diversas velocidades de execução (e.g. 4:4; 2:2; 3:1; direto), em consonância com a música. Durante as aulas, mediante o exercício realizado, é usual a adoção de diversas posições (em pé, sentado, deitado lateral, deitado ventral, deitado dorsal, de gatas, sentado com flexão do tronco ou da cabeça, em pé com flexão do tronco ou da cabeça), as quais poderão levar a que os instrutores possam ter uma melhor ou pior visualização dos alunos (Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008). 2.3.2 Atividade de Step A atividade de Step é considerada como uma forma simples de treino, caracterizado por um trabalho essencialmente vertical, realizado em grupo, que consiste em subir e descer uma ou mais plataformas em sincronia com a música, utilizando exercícios que mobilizam os grandes grupos musculares durante um período de tempo relativamente prolongado. Assim sendo esta modalidade, tem como principal objetivo a estimulação do sistema cardiorrespiratório, aliado à vantagem de ser uma atividade de baixo impacto sobre as articulações, ossos e demais estruturas corporais. O facto de se utilizar uma plataforma faz com que o instrutor e os praticantes fiquem condicionados ao seu espaço circundante (Figura 5). Figura 5 – Atividade de Step. Susana Mendes Alves 48 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Nesta modalidade são utilizadas habilidades motoras específicas (e.g., passo básico, joelho alternado, passo em “L”, etc.) apresentadas separadamente ou em sequências, a que damos o nome de coreografias. As habilidades motoras que compõem as sequências coreográficas podem sofrer alterações através da introdução de elementos de variação com mudanças de direção/deslocamento, variações rítmicas dos movimentos, aumento do impacto e amplitude articular, variação do estilo, utilização dos membros superiores. O uso de elementos de variação permite dar mais dinamismo às aulas de Step, tornando assim, as aulas mais intensas, complexas, diversificadas e motivantes para os praticantes. O facto de as aulas serem geralmente coreografadas, provoca no instrutor a necessidade de fazer frequentemente referência relativamente a habilidades motoras, a contagens de repetições e tempos musicais, à indicação do sentido do deslocamento, à descrição de um novo movimento (e.g. “voltas”), etc. 2.3.3 Atividade de Indoor Cycling Indoor Cycling é a expressão anglo-saxónica mais utilizada em todo o mundo, quando se pretende fazer referência à atividade de grupo pertencente à área do fitness, realizada sobre uma bicicleta estacionária especialmente desenhada e desenvolvida para a modalidade (Burke, 2002; Kory & Seabourne, 1999), cujos objetivos principais são o aumento da condição cardiorrespiratória e da resistência muscular dos membros inferiores (Burke, 2002). O facto de nesta ativiadade, os instrutores e os praticantes utilizarem uma bicicleta estacionária, faz com que fiquem condicionados no espaço, conforme se ilustra na Figura 6. Susana Mendes Alves 49 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II Figura 6 – Atividade de Indoor Cycling. Considerando a possibilidade de se ajustar a resistência da bicicleta às capacidades individuais dos praticantes, esta modalidade possibilita, em princípio, a inclusão de praticantes iniciados e avançados, ainda que a carga exigida não seja o único factor de intensidade, uma vez que a velocidade a que se pedala também condiciona o esforço exigido. É geralmente praticada ao ritmo de uma música estimulante e mediante as instruções do instrutor, são utilizadas técnicas específicas que simulam vários tipos de percursos, como exemplo, um terreno plano, uma subida e descida de ladeiras, e situações de terrenos sinuosos e obstáculos. Desta forma, ao pedalar em terreno plano, é aplicada pouca resistência ou resistência moderada e nas subidas é aplicada uma resistência mais elevada. Em cada tipo de terreno simulado existem duas posições básicas de pedalar (i.e. sentado e em pé), podendo as mãos estarem apoiodas em diferentes sítios do guiador (e.g. posição 1, 2 ou 3, conforme o tipo de guiador), sendo que, estas posições das mãos fazem com que exista uma maior ou menor flexão do troco influenciando diretamente no trabalho muscular. Os tipos de terrenos simulados e as respectivas posições são combinados com o objetivo transferir para o interior da sala de exercício situações do ciclismo de exterior, seja de estrada ou de todo-oterreno. Ou seja, é uma modalidade que associa as vantagens do ciclismo estacionário, ao divertimento das aulas em grupo e à motivação das atividades de outdoor. Susana Mendes Alves 50 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II 2.3.4 Atividade de Hidroginástica A Hidroginástica é uma atividade de grupo de fitness, desenvolvida em meio aquático, conforme se ilustra na Figura 7, que inclui exercícios aeróbios para o desenvolvimento da componente cardiorrespiratória e exercícios para o desenvolvimento da resistência e força muscular localizada e flexibilidade (Sanders & Rippee, 1993). Figura 7 – Atividade de Hidroginástica. Devido ao facto da Hidroginástica ser uma atividade realizada em meio aquático, não é possível uma transferência direta e simples das atividades realizadas em terra onde o efeito do envolvimento (ar) sobre o trabalho muscular é praticamente nulo. No caso da Hidroginástica ambos, instrutor e participante, devem estar conscientes das propriedades da água de forma a desenvolver um treino que reproduza os estímulos e as resistências pretendidas. De acordo com Sanders e Rippee (1993) através da utilização das características da água (i.e. viscosidade, flutuação, velocidade, inércia e superfície), bem como a utilização de diversos materiais de sobrecarga (e.g. halteres, coletes, esparguetes, caneleiras, aquafins, barbatanas, etc.) pode-se variar a intensidade do exercício. Por seu turno, mediante o tipo de exercício Susana Mendes Alves 51 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II realizado, pode-se adotar diversas posições corporais (e.g. em pé, deitado lateral, deitado ventral, deitado dorsal, etc.). No que diz respeito à profundidade da piscina onde se desenrola a atividade existem dois tipos de profundidades normalmente preconizadas: Shallow Water (i.e. profundidade da água ao nível do peito), Transitional (i.e. profundidade da água acima da linha do peito até ao nível do ombro) e Deep Water (i.e. profundidade da água acima do nível do peito). Relativamente ao ensino da Hidroginástica existem algumas limitações ao nível da participação do instrutor, já que este, ao contrário dos instrutores em salas de aulas de grupo, não possui espelhos para assistir na demonstração nem mesmo se deslocar por entre os praticantes. Por essa razão, muitas vezes poderá ser necessário o instrutor de Hidroginástica demostrar os exercícios no cais (Deck) sem participar diretamente na classe (Sanders & Rippee, 1993). Outros aspetos que também influenciam o ensino desta modalidade são o facto de a água esconder as partes do corpo submersas dos praticantes, dificultando assim a visualização e correção dos exercícios. Esta mesma correção assim como a comunicação em geral, é ainda afetada pela acústica das piscinas, que normalmente não é a mais favorável, o que só vem ainda valorizar mais o papel da linguagem não-verbal e a importância do seu estudo e domínio. Considerando todos estes constrangimentos os instrutores dão especial atenção à demonstração em segurança dos exercícios no Deck, à velocidade apropriada na água e à exploração do meio aquático. Por essa razão são muitas vezes utilizadas para a demonstração materiais como cadeiras ou barras que ajudem a suportar o corpo, calçado antiderrapante e, se possível, o uso de microfone à prova de água. Susana Mendes Alves 52 ENQUADRAMENTO TEÓRICO CAPÍTULO II 2.4 REFERÊNCIAS Argyle, M. (1988). Bodily Communication (2nd ed.). New York: Methuen. Berliner, D. C. (1994). Expertise: The wonders of exemplary performance. . In J. N. M. a. C. C. Block (Ed.), Creating powerful thinking in teachers and students (pp. 141186). Berliner, D. C. (2001). Learning about and learning from expert teachers. International Journal of Educational Research, 35(5), 463-482. Berliner, D. C. (2004). Describing the behavior and documenting the accomplishments of expert teachers. 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Assim, inicialmente é feita a caracterização da amostra dos instrutores que participaram neste estudo, seguindo-se uma referência à metodologia observacional, bem como à metodologia de desenvolvimento e validação do Sistema de Observação da Comunicação Proxémica. Posteriormente são descritos os instrumentos, os materiais utilizados e os procedimentos adotados na recolha de dados. Por último são apresentadas as técnicas estatísticas aplicadas no tratamento dos dados. METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.1 AMOSTRA Esta investigação assenta no estudo do comportamento não-verbal cinésico e proxémico de instrutores de atividades de grupo de fitness. Tendo em conta os objetivos definidos em cada um dos estudos, foram constituídas diferentes amostras de instrutores que obedeciam às características pretendidas e que apresentaram o seu consentimento por escrito para a realização deste trabalho. Desta forma, participaram nesta investigação um total de 84 instrutores de vários ginásios distribuídos por Portugal continental (i.e. norte, centro e sul). As diferentes amostras que foram constituídas pelos motivos supramencionados são devidamente apresentadas e caracterizadas em pormenor em cada um dos diferentes estudos realizados. Importa referir que devido às características gerais da amostra, as gravações das aulas estavam condicionadas aos horários dos instrutores, sendo efetuadas em diferentes dias e horas. Todas as 84 aulas iniciaram com o aquecimento, seguindo-se da fase fundamental, concluído com o retorno à calma e alongamento. 3.2 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS 3.2.1 Metodologia observacional O presente estudo centra-se na análise da comunicação não-verbal cinésica e proxémica do instrutor de fitness no decorrer da lecionação de aulas de grupo. Para realizar esta análise recorreu-se à metodologia observacional conforme definida por Anguera, Blanco, Losada, e Hernández (2000). Este tipo de metodologia tem conhecido um inegável desenvolvimento nas últimas décadas e cuja validade científica está perfeitamente consolidada, como demonstram os estudos realizados a nível internacional (Castañer, Anguera, & Castellani, 2007; Castañer, Camerino, Anguera, & Jonsson, 2010; Castañer, Miguel, & Anguera, 2009; Castañer, Torrents, Anguera, & Dinušová, 2008; Castañer, Torrents, Anguera, Dinusova, & Jonsson, 2009; Fernandez, Camerino, Anguera, & Jonsson, 2009; Jonsson et al., 2006a; Jonsson et al., 2006b), bem como os estudos realizados sobre o Susana Mendes Alves 58 METODOLOGIA CAPÍTULO III comportamento pedagógico dos instrutores de fitness em Portugal (Castañer, Franco, Rodrigues, & Miguel, 2012; Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008; Simões, Franco, & Rodrigues, 2009). O conceito de observação distingue-se do ato de “olhar” uma vez que este implica dar significado ao que se observa através da seleção da parte da informação que é determinante (Sarmento, Campaniço, Leitão, Jonsson, & Anguera, 2011). Contudo, este processo não é totalmente objetivo nem, na maioria dos casos, neutro. Isto deve-se ao facto de ser um processo estritamente humano, onde as expetativas, dúvidas e incertezas se desenvolvem num quadro de referência próprio. Esta humanização do processo de observação, faz com que este esteja sempre associado a distorções sistemáticas ou assistemáticas que refletem os erros dos próprios observadores e dos procedimentos adotados. O recurso à observação sistemática tem como objetivo minimizar o efeito do erro através da utilização de instrumentos que apresentam validade interna, ou seja medem o que pretende ser medido (Anguera, 2009). 3.2.2 Desenho observacional A utilização da metodologia observacional tem como vantagem a sua flexibilidade, a sua capacidade de ajustamento a uma ampla variedade de comportamentos, o seu rigor, a sua natureza discreta e não restritiva. Por outro lado, o tempo que requer para o seu domínio e a complexidade do processo de treino dos observadores e as restrições de natureza ética constituem-se como aspetos menos vantajosos. Esta investigação propõe-se assim seguir esses mesmos eixos que caracterizam uma investigação desenvolvida a partir de uma metodologia observacional, caracterizada pelo estudo do comportamento espontâneo e habitual de um ou vários sujeitos, durante um tempo determinado, que executam tarefas ou atividades com vários níveis de resposta num contexto natural e habitual, pelo que se caracteriza por ser ideográfica, pontual e multidimensional, conforme a classificação proposta por Anguera, Villaseñor, Blanco e Losada (2001): Susana Mendes Alves 59 METODOLOGIA CAPÍTULO III Ideográfica (I) - centrada na análise de um indivíduo; Pontual (P) - é observada uma aula de grupo de cada um dos oitenta e quatro sujeitos; Multidimensional (M) - uma vez que a comunicação será analisada sob diferentes pontos de vista (dimensões ou critérios). De acordo com Castañer (2009), na aplicação da metodologia observacional ao estudo da comunicação não-verbal, uma das principais preocupações metodológicas que se coloca é o da viabilidade de se poder definir objetivamente e delimitar a grande diversidade de comportamentos. Existem, por exemplo, comportamentos fáceis de identificar, como os movimentos das mãos e braços que ilustram uma explicação verbal. No entanto, esta dimensão de comportamento cinésico de ilustração poderá estar subdividida em diversas categorias de ilustração, de aparência mais Pictográfica, Cinetográfica, etc. (Castañer, 2009). Por este motivo, a definição dos graus de abertura para cada dimensão e categoria é um aspeto que assume uma grande relevância em sistemas de observação do comportamento não-verbal. 3.2.3 Fases de desenvolvimento da investigação O desenvolvimento de uma investigação no âmbito da metodologia observacional pressupõe diferentes fases de desenvolvimento. De acordo com Anguera et al. (2000), é possível resumir esse processo em 4 grandes fases de desenvolvimento preconizadas (Figura 8). 1ª 2ª Fase Definição do contexto e dos comportamentos a observar Recolha de dados e sua otimização 3ª Fase Análise de dados 4ª Fase Interpretação dos resultados . Figura 8 – Fases de desenvolvimento da investigação. Susana Mendes Alves 60 METODOLOGIA CAPÍTULO III Definição do contexto e dos comportamentos a observar O primeiro passo de qualquer investigação no âmbito da metodologia observacional passa naturalmente pela caraterização do contexto de aplicação e dos comportamentos a serem observados. Esta investigação desenvolve-se no contexto das aulas de grupo de fitness e pretende analisar os comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores durante o processo de ensino das atividades de grupo. Para melhor suportar o trabalho desenvolvido, foi realizada uma breve caraterização das atividades de grupo de fitness analisadas na presente investigação. Esta realidade complexa foi delimitada na parcela que nos interessa, ou seja nos comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores. Esta delimitação teve em consideração a relevância destas componentes da comunicação não-verbal neste contexto específico. Para além disso, com base na análise de várias aulas de grupo, foi feita uma caraterização exaustiva dos comportamentos dos instrutores de fitness aquando do desenvolvimento dos dois sistemas de observação utilizados na presente investigação. 3.2.3.1 Recolha de dados e sua otimização A recolha de dados no âmbito da metodologia observacional pressupõe quase sempre o desenvolvimento de um sistema de observação ad hoc, totalmente adaptado ao contexto e comportamento que se pretende observar (Anguera, 2009). Por essa razão, os sistemas de observação utilizados nesta investigação foram desenvolvidos especificamente para a análise do comportamento cinésico e proxémico dos instrutores de aulas de grupo de fitness. Ambos os sistemas de observação do comportamento utilizados serão apresentados de forma mais extensa num ponto próprio da metodologia. No caso específico do sistema de observação do comportamento cinésico não serão incluídas as informações relativas ao seu desenvolvimento e validação pelo facto de as mesmas já terem sido apresentadas noutros estudos (Alves, 2012). No caso do sistema de observação do comportamento proxémico, será apresentado todo o seu processo de desenvolvimento. O estudo 1 desta investigação representa a fase de desenvolvimento Susana Mendes Alves 61 METODOLOGIA CAPÍTULO III e validação do SOPROX- fitness, onde para além da apresentação resumida de cada uma das etapas de desenvolvimento foi também incluída uma aplicação piloto deste sistema de observação. Considerando os objetivos desta investigação, o registo dos comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores de aulas de grupo foi realizado em termos da sua frequência e sequência temporal (Figura 9). Frequência Consiste na contagem do número comportamentos. Sequência Temporal Sequência temporal pela qual comportamentos ocorrem. os Figura 9 - Método de registo dos comportamentos dos instrutores. Estes dois tipos de registos de dados permitem a análise da mesma realidade sobre dois pontos de vista diferenciados. De acordo com Camerino et al. (2012), estes dois tipos de análises complementam-se, pelo que ao se optar pela utilização de apenas uma delas se estará a privar de informação pertinente. Ao nível do registo dos dados, é ainda de destacar os avanços realizados ao nível tecnológico com o desenvolvimento de programas informáticos de registo de dados que permitem uma maior precisão e velocidade do registo de dados, comparativamente às técnicas tradicionais de “lápis e papel”. Para o presente estudo iremos utilizar o programa informático Lince (Gabín, Camerino, Anguera, & Castañer, 2012). Uma vez que o ato de observar integra o observador, temos de assumir que existe sempre presente a probabilidade de existir algum erro associado à medida. Para garantir a qualidade dos dados é importante que a sua qualidade seja controlada através daquilo a que habitualmente se denomina de fiabilidade do registo observacional. A análise da fiabilidade permite analisar se uma ou mais pessoas codificam o mesmo comportamento da mesma forma. A qualidade dos dados foi efetuada através do controlo da fiabilidade interobservadores e intra-observador. Susana Mendes Alves 62 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.2.3.2 Análise de dados A análise dos dados foi efetuada de acordo com os objetivos definidos para cada um dos estudos que compõem esta investigação. Nos estudos 2 e 3 foram realizados dentro de um paradigma quantitativo e comparativo, considerando o número de ocorrências dos comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores. Para tal, a sua análise baseou-se em técnicas de estatística descritiva e comparativa que foram aplicadas com recurso ao programa informático estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 20. No caso dos estudos 5 e 6 a análise dos dados foi efetuada de acordo com o registo temporal da sequência dos comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores, dentro de um paradigma de análise qualitativa. Esta análise foi realizada com base na deteção de padrões de comportamento temporais, identificados com recurso ao programa informático Theme 5.0 (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005). 3.2.3.3 Interpretação dos resultados A interpretação dos resultados foi feita de acordo com os objetivos de cada estudo realizado. Foram tidos em conta as frequências e os padrões encontrados em diferentes modalidades e em instrutores com diferentes níveis de experiência profissional. 3.2.4 Metodologia de tradução do SOPROX-Fitness Potaka e Cochrane (2004) referem que as abordagens ao desenvolvimento de instrumentos de medida em mais de uma cultura envolvem um de três métodos: Tradução direta: envolve a tradução direta de um instrumento a partir da fonte original, por parte de uma pessoa fluente em ambas as línguas. Uma evolução deste método pode ser a realização da tradução por um comité de especialistas, que terão de estar em acordo com a versão final. Susana Mendes Alves 63 METODOLOGIA CAPÍTULO III Retrotradução (Back translation): Este método inicia-se com uma tradução direta mas adiciona alguns passos para avaliar a equivalência das traduções. Em suma, envolve uma tradução direta seguida de uma retrotradução para a língua original, feita por um tradutor independente. A confrontação entre ambas as versões é então realizada para se identificarem eventuais discrepâncias de significado. Equivalência conceptual: considerando que um conceito relevante numa cultura poderá ser irrelevante noutra cultura (Banville, Desrosiers, & GenetVolet, 2000; Vallerand, 1989), este método tem como principal objetivo o de reproduzir a equivalência conceptual do instrumento original. Dessa forma, a versão original é sempre revista quando se verificam problemas de equivalência conceptual a uma outra cultura. Para além destes três métodos, Potaka e Cochrane (2004) acrescentam ainda o método de desenvolvimento simultâneo de diferentes versões do mesmo instrumento para sua aplicação em diferentes países. Esta abordagem interativa integra os princípios do método de equivalência conceptual, mas o facto de os instrumentos serem desenvolvidos por dois grupos de trabalho em línguas diferentes, faz com que as questões relacionadas com a adaptação cultural sejam consideradas em todas as fases de desenvolvimento do instrumento. Uma outra vantagem adicional desta metodologia é a de se poder testar a compreensão dos instrumentos de uma forma rápida ainda durante a fase de desenvolvimento, através da confrontação dos instrumentos lado-a-lado e da realização de observações piloto. Para os referidos autores, esta será a metodologia que dará mais garantias de validade dos instrumentos desenvolvidos em culturas diferentes. Face ao exposto anteriormente, e considerando a mais-valia que representa o método de desenvolvimento simultâneo de instrumentos em duas culturas, a componente de tradução do instrumento foi realizada no âmbito do grupo de desenvolvimento e adaptação do SOPROX-Fitness, o qual integra os autores originais do SOPROX e especialistas bilingues com experiência na área da observação e/ou de intervenção no contexto do fitness. Susana Mendes Alves 64 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.2.5 Metodologia de desenvolvimento e validação do SOPROX-Fitness De acordo com Cushion, Harvey, Muir, e Lee (2012), é essencial que a metodologia de desenvolvimento e validação de um sistema de observação seja transparente. Tendo em consideração este princípio determinante, foi aceite a metodologia de desenvolvimento e validação de sistemas de observação proposta por Brewer e Jones (2002), a qual foi anteriormente utilizada noutros estudos que também objetivaram o desenvolvimento e validação de sistemas de observação, tanto ao nível do contexto do fitness (Franco, 2004, 2009) como no desportivo (Cushion et al., 2012; Ford, Yates, & Williams, 2010). Desta forma o processo de desenvolvimento e validação do novo sistema de observação SOPROX-Fitness foi efetuado em cinco fases distintas, conforme se apresenta resumidamente na Figura 1o. SOPROX 1ª Fase - Treino dos observadores e testagem da fiabilidade inter-observadores e intra-observador relativamente ao sistema de observação original. 2ª Fase - Aperfeiçoamento do sistema de observação para o contexto de aplicação. 3ª Fase - Validação facial do novo sistema de observação por especialistas. 4ª Fase - Fiabilidade inter-observadores relativamente ao novo sistema de observação. 5ª Fase - Fiabilidade intra-observador relativamente ao novo sistema de observação. SOPROX - Fitness Figura 10 – Síntese das etapas adotadas ao longo do processo de adaptação e validação dos instrumentos de observação. Susana Mendes Alves 65 METODOLOGIA CAPÍTULO III Seguidamente é explicado de forma mais pormenorizada todos os procedimentos adotados nas fases anteriormente referidas. 3.2.5.1 Treino dos observadores e testagem da fiabilidade inter-observadores e intra-observador relativamente ao sistema de observação já existente O treino inicial do observador, aconselhado por Brewer e Jones (2002), tem como objetivo a apresentação do instrumento original para assegurar que quem adaptou o instrumento o conhece na íntegra, demonstrando a consolidação de conceitos, procedimentos e metodologia inerente ao sistema de observação. Costa (1988), Mars (1989) e Rodrigues (1995) apresentam igualmente sugestões no que diz respeito ao treino do observador pelo observador-treinador. Estas sugestões já foram consideradas em estudos anteriores que tiveram como objetivo o desenvolvimento e validação de sistemas de observação no contexto do fitness (Franco, 2004, 2009), e foram também utilizadas neste estudo, designadamente: 1ª Fase - Identificação das categorias do sistema O observador treinador apresenta ao observador o sistema quanto à sua estrutura, objetivo e descrição do tipo de comportamentos que o sistema se propõe a analisar, em imagens e fichas, sendo esclarecidas as diferenças de interpretação da definição das categorias em causa. É importante salientar o facto de as crenças, história e experiência pessoal prévia não deverem influenciar o juízo nas observações. 2ª Fase - Discussão do protocolo de observação O observador aprende a definição e os códigos das categorias, discriminando-as com uma exatidão de 100%. São visualizados vídeos mostrando exemplos, sendo discutida qual a codificação adequada para os diferentes comportamentos que são observados, e definidos quais os limites das diferentes categorias. 3ª Fase - Avaliação da aprendizagem das categorias Nesta fase o observador realiza um teste oral, para demonstrar que conhece a definição das categorias. 4ª Fase - Prática e aplicação do sistema de observação O observador realiza um período de prática e aplicação do sistema de observação, levantando dúvidas para serem esclarecidas posteriormente. Susana Mendes Alves 66 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.2.5.2 Aperfeiçoamento do sistema de observação para o contexto do fitness O comportamento não-verbal, nomeadamente a proxémica dos instrutores no contexto de ensino das atividades de grupo de fitness, apresenta uma diversidade e especificidade de eventos e comportamentos, obrigando à adaptação do sistema de observação, conforme defendem Potrac, Brewer, Jones, Armour e Hoff (2000), pois afirmam que os sistemas de observação devem ser ajustados ao contexto específico de atuação para aumentar a validade e fiabilidade. Desta forma, esta fase teve como principal objetivo a contextualização do SOPROX original à realidade das atividades de grupo de fitness, bem como verificar se existem comportamentos que não são contemplados e que se verificam neste contexto. Para a consecução deste objetivo, foram realizadas várias observações piloto de diferentes atividades de fitness, conforme recomendado por Tuckman (2002), o qual refere que a observação de diversas realidades e situações contribui para garantir a validade de conteúdo de um instrumento de medida em construção, sendo que estes procedimentos têm sido comumente adotados noutros estudos de desenvolvimento de sistemas de observação neste mesmo contexto (Franco, 2004, 2009). No que diz respeito à validade de conteúdo das categorias, vários autores (Hill & Hill, 2005; Kaplan & Saccuzzo, 2008) assumem que um instrumento tem validade de conteúdo quando as suas categorias e dimensões representam razoavelmente todas as componentes importantes de uma determinada conceptualização teórica. Kaplan e Saccuzzo (2008) mencionam ainda que a validade de conteúdo é feita habitualmente por um painel de especialistas, podendo essas avaliações ser agregadas em indicadores. Ainda de acordo com os mesmos autores, poderão limitar a validade de conteúdo aspetos relacionados com as características dos enunciados (e.g. vocabulário e palavras desajustadas para a população a quem o instrumento se destina) ou mesmo com a própria seleção das categorias e dimensões que poderão não refletir o que se pretende avaliar. Um outro pressuposto metodológico fundamental é a garantia da mútua exclusividade das categorias, a qual pressupõe que não haja sobreposição entre as categorias que compõem um sistema, ou seja, que cada comportamento é atribuído a Susana Mendes Alves 67 METODOLOGIA CAPÍTULO III apenas uma das categorias (Anguera et al., 2001; Hernández Mendo & Molina Macías, 2002; Hernández Mendo, Díaz Martínez, & Morales Sánchez, 2010). Na inclusão de novas categorias de análise, serão seguidos os pressupostos metodológicos propostos por Baesler e Burgoon (1987), designadamente: Identificação e afiliação das categorias às respetivas dimensões; Enunciação das respetivas definições e morfologias; Definição dos respetivos graus de abertura. 3.2.5.3 Validação facial do novo sistema de observação por especialistas (experts) A fase de validação facial pretende avaliar se o sistema de observação em desenvolvimento e validação (i.e. SOPROX-Fitness) permite codificar e despistar os comportamentos não-verbais proxémicos dos instrutores de atividades de grupo de fitness, durante a lecionação das aulas, bem como se as definições das categorias avaliam o que se pretende avaliar com as mesmas. Um instrumento tem validade facial quando as suas dimensões e categorias aparentam ser relevantes e estão de acordo com o propósito do teste (Brewer & Jones, 2002; Kaplan & Saccuzzo, 2008). Kaplan e Saccuzzo (2008) referem que, apesar da validade facial e de conteúdo serem os únicos tipos de validade que se sustentam na lógica e intuição ao invés da estatística, a sua verificação reveste-se de alguma importância no desenvolvimento de instrumentos de medida, uma vez que garantem a relevância e adequação das dimensões e categorias desse mesmo instrumento. Assim, após as revisões efetuadas a validade facial foi realizada por painéis de especialistas em observação sistemática (i.e. que tenham utilizado a observação sistemática como instrumento de pesquisa nas suas investigações) e em atividades de grupo de fitness, tal como sugerido por Brewer e Jones (2002). Foi solicitado aos especialistas, que constituíam os dois painéis, que facultassem a sua opinião relativamente à definição das categorias de comportamento para contribuir para a sua clarificação e ainda foram-lhes colocadas as seguintes questões, como sugerem Brewer e Jones (2002): Susana Mendes Alves 68 METODOLOGIA CAPÍTULO III - Existe algum elemento importante que tenha sido omisso nas categorias de comportamentos? - Existe algum elemento que não seja importante que tenha sido erradamente incluído nas categorias de comportamentos? - O conjunto de elementos descritos reflete os comportamentos dos instrutores de fitness nas atividades de grupo? Importa referir que, os dois painéis de especialistas estiveram envolvidos unicamente nesta fase e que a revisão do sistema de observação foi realizada separadamente para que a sua opinião não sofresse qualquer tipo de influência. 3.2.5.4 Fiabilidade inter-observadores relativamente ao novo sistema de observação Após a construção do novo sistema de observação, foi testada a objetividade das definições atribuídas às categorias de comportamentos, de acordo com a metodologia proposta por Brewer e Jones (2002) e que têm sido comumente utilizado em estudos que visam o desenvolvimento e validação de sistemas de observação (Costa, Garganta, Greco, Mesquita, & Maia, 2011; Hernández Mendo et al., 2010) . Esta etapa tem como objetivo verificar se diferentes observadores codificam os mesmos comportamentos observados nas mesmas categorias. Desta forma, tal como realizado por Januário, Rosado e Mesquita (2006), a fiabilidade inter-observadores foi efetuada entre dois observadores, ou seja, testou-se a fiabilidade entre o observadorinvestigador e um observador. Considerando o facto de o nível de experiência em observação não ser determinante para a concretização dos objetivos desta fase (Brewer & Jones, 2002) optou-se por escolher um instrutor inexperiente em observação, já que se pretende que futuramente o instrumento possa vir a ser utilizado por sujeitos experientes e inexperientes em observação. Para o treino do observador envolvido nesta fase foram utilizadas as fases sugeridas por Costa (1988), Mars (1989) e Rodrigues (1995), anteriormente descritas e seguidamente resumidas na Figura 11. Susana Mendes Alves 69 METODOLOGIA CAPÍTULO III 1ª - Identificação das categorias do sistema. 2ª Fase - Discussão do protocolo de observação. 3ª Fase - Avaliação da aprendizagem das categorias. 4ª Fase - Prática e aplicação do sistema de observação Figura 11 – Síntese das etapas adotadas ao longo do processo de treino dos observadores envolvidos na fase de fiabilidade inter-observadores. Após o treino do observador pelo observador-investigador, foi testada a fiabilidade inter-observadores para verificar a consistência nas categorias das dimensões que compõem o novo sistema de observação. Para tal, o observadorinvestigador e o observador efetuaram a visualização de um vídeo e respetiva codificação, utilizando o método de Registo de Ocorrências, separadamente, de forma a não existir acesso aos registos de ambos, tal como sugerido por Mars (1989). No seguimento deste processo, para cada categoria do sistema de observação foi calculada a percentagem de acordos utilizando o teste Kappa de Cohen (K). De acordo com Pestana e Gageiro (2005), os valores de fiabilidade intra-observador deverão ser iguais ou superiores a .75, para que haja um elevado nível de concordância. 3.2.5.5 Fiabilidade intra-observador relativamente ao novo sistema de observação Considerando o envolvimento do observador-investigador no processo de adaptação e validação do sistema de observação SOPROX-Fitness, é necessário assegurar a sua fiabilidade intra-observador. Este procedimento foi realizado através da técnica de um teste-reteste, conforme proposto por Brewer e Jones (2002) e que têm sido utilizado em estudos que visam desenvolvimento e validação de sistemas de Susana Mendes Alves 70 METODOLOGIA CAPÍTULO III observação para o contexto desportivo (Costa et al., 2011; Hernández Mendo et al., 2010) . Assim sendo, o observador-investigador visionou o mesmo vídeo em duas ocasiões distintas, distando as observações pelo menos uma semana (7 dias), tal como sugerido por Mars (1989). Após o visionamento do vídeo em duas ocasiões distintas, procedeu-se à determinação do nível de confiança intra-observador utilizando, mais uma vez, o teste Kappa de Cohen, para cada categoria do novo sistema de observação. 3.3 INSTRUMENTOS Para a realização dos estudos que são parte integrante desta investigação e que visam a análise da comunicação cinésica e proxémica dos instrutores de atividades de grupo de fitness, foram utilizados dois instrumentos: 1) Sistema de Observação da Comunicação Cinésica do instrutor de atividades de grupo de fitness (SOCIN-Fitness); 2) Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do instrutor de atividades de grupo de fitness (SOPROX-Fitness). Estes sistemas foram desenvolvidos e validados para o contexto das atividades de grupo de fitness a partir do sistema de observação SOCIN e SOPROX, os quais fazem parte do “Sistema de Observação da Comunicação Paraverbal (SOCOP) desenvolvido por Castañer (2009) para o contexto do ensino da educação física. Este sistema de observação apresenta-se como um instrumento flexível e aplicável ao estudo e análise da comunicação não-verbal humana, analisando-a em quatro componentes distintas: a paralinguagem, a cinésica, a proxémia e a cronémia. Para a análise de cada uma destas componentes o SOCOP apresenta 4 subsistemas: 1) Sistema de Observação da Paralinguagem (SOPAR) – para o estudo da comunicação paralinguística; 2) Sistema de Observação da Comunicação Cinésica (SOCIN) – para o estudo da comunicação cinésica; 3) Sistema de Observação da Comunicação Proxémica (SOPROX) – para o estudo da Proxémia; 4)Sistema de Observação da Comunicação Cronémica (SOCRON) – para o estudo da Cronémica na comunicação; Todos estes instrumentos de observação foram construídos de forma ad hoc a partir da observação dos comportamentos de comunicação dos professores de Susana Mendes Alves 71 METODOLOGIA CAPÍTULO III educação física, e são estruturalmente semelhantes ao combinarem sistemas de categorias com formato de campo (Castañer, 2009). O SOCOP é constituído por quatro subsistemas de observação da comunicação não-verbal com as seguintes dimensões e categorias (Quadro 4): Quadro 4 – Dimensões e categorias do SOCOP. Sistemas de Observação SOPAR (Paralinguística) SOCIN (Cinésica) SOPROX (Proxémica) SOCRON (Cronémica) Dimensões 6 4 5 4 Categorias 11 16 17 12 O sistema de observação SOCIN-Fitness foi desenvolvido e validado no âmbito de uma investigação realizada anteriormente (Alves, 2012), pelo que apresentamos de seguida apenas a versão final deste sistema, contemplando as definições das dimensões, categorias e graus de abertura. No caso do sistema de observação SOPROX-Fitness, o mesmo foi desenvolvido e validado na presente investigação, sendo este processo apresentado pormenorizadamente no capítulo destinado à Metodologia (i.e. Capítulo III), bem como a versão final deste sistema, contemplando as definições das dimensões, categorias e graus de abertura. No estudo 1, para além da apresentação resumida deste processo, será realizada uma aplicação piloto deste sistema em diferentes atividades de grupo de fitness. 3.3.1 Sistema de observação da comunicação cinésica (SOCIN-Fitness) O sistema de Observação da Comunicação Cinésica do Instrutor de atividades de grupo de fitness (SOCIN-Fitness) foi desenvolvido e validado no âmbito de uma investigação (Alves, 2012), cujo objetivo foi a conceção de um novo sistema de observação que permitisse a análise desta componente da comunicação não-verbal. O SOCIN-Fitness foi desenvolvido e validado para o contexto das atividades de grupo de fitness a partir do sistema SOCIN, desenvolvido originalmente para o contexto de ensino da educação física por Castañer (2009). Este sistema de observação possibilita a Susana Mendes Alves 72 METODOLOGIA CAPÍTULO III análise da comunicação cinésica dos instrutores de fitness, sendo composto por 5 dimensões de análise e 21 categorias, conforme se apresenta no Quadro 5. Quadro 5 – Sistema de observação SOCIN-Fitness. Dimensão Função: Refere-se à função dos gestos, com intenção comunicativa, que acompanham ou não o discurso verbal. Categorias Regulator Código RE Illustrador IL Morfologia: Refere-se à forma icónica e biomecânica do gesto. Emblema Técnico EMBT Emblema Social EMBS Emblema Numérico EMBN Deítico DEI Pictografico PIC Cinetografico CIN Espacial ESP Rítmico RIT Batuta BAT Informação INF Feedback FEED Interação INT Organização ORG Exercício: Refere-se à participação do instrutor no exercício quando realiza o gesto. Com exercício Sem exercício CE SE O instrutor realiza o exercício. O instrutor não realiza o exercício. Adaptador: Refere-se a gestos em que o instrutor não tem intenção comunicativa. Objectual OB Auto- adaptador AA Hetero- adaptador HA Multi- adaptador MUL Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com objetos. Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com diferentes partes do seu corpo. Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com outras pessoas. Combinações de vários gestos adaptadores definidos anteriormente. Situação: Refere-se à função pedagógica do gesto no processo de ensino. Susana Mendes Alves Descrição Gestos cujo objetivo é obter uma resposta imediata dos praticantes. Gestos que não tem como objetivo obter uma resposta imediata dos praticantes, embora possa haver resposta num momento futuro. Gestos com um significado icónico próprio préestabelecido, codificados especificamente para o ensino da atividade e que só têm significado quando aplicados neste contexto. Gestos com um significado icónico próprio universalmente pré-estabelecido, com caráter socialmente instituído, não específico da atividade. Gestos com um significado icónico próprio préestabelecido, que indicam um número. Gestos que indicam ou apontam para pessoas, segmentos corporais, locais ou objetos. Gestos que desenham figuras ou formas no espaço. Gestos que imitam ações ou movimentos no espaço. Gestos que definem distâncias relativamente a pessoas, objetos e segmentos corporais. Gestos que marcam ou definem um ritmo ou velocidade de execução. Gestos exclusivos do instrutor, sem significado icónico, que usualmente acompanham e enfatizam a lógica do discurso verbal. Gestos realizados pelo instrutor para informar os praticantes sobre os exercícios. Gestos realizados pelo instrutor para ajudar, corrigir os praticantes ou avaliar a sua prestação motora. Gestos realizados pelo instrutor especificamente para encorajar ou interagir em termos relacionais com os praticantes, seja de forma positiva ou negativa. Gestos realizados pelo instrutor para gerir materiais ou organizar os praticantes no espaço. 73 METODOLOGIA CAPÍTULO III Tal como sugerem Baesler e Burgoon (1987), foram definidos graus de abertura para delimitar algumas categorias do sistema de observação de maneira a não existirem ameaças à mútua exclusividade (Anguera et al., 2001; Hernández Mendo & Molina Macías, 2002; Hernández Mendo et al., 2010), sendo ainda acompanhado por imagens que ilustram cada uma das 21 categorias do SOCIN-Fitness (Quadros 6-10). Quadro 6 – Ilustração das categorias da dimensão “Função” do SOCIN-Fitness. Categorias Figura Regulador Gestos cujo objetivo é obter uma resposta imediata dos praticantes. Ilustrador Gestos que não tem como objetivo obter uma resposta imediata dos praticantes, embora possa haver resposta num momento futuro. Quadro 7 – Ilustração das categorias da dimensão “Morfologia” e respetivos graus de abertura, do SOCIN-Fitness. Categorias Emblema Técnico Gestos com um significado icónico próprio pré-estabelecido, codificados para o ensino da atividade e que só têm significado quando aplicados neste contexto. Emblema Social Gesto com um significado icónico próprio, universalmente pré- Susana Mendes Alves Figura Grau de abertura Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que simbolizam as habilidades motoras (e.g. Passo em “V”, Grapevine, Passo Toque, Marcha, etc..), ou que informam sobre o recomeço da coreografia/exercício desde o princípio (Flexão do braço e antebraço e a mão “bate” no topo da cabeça). São considerados também os gestos icónicos criados pelo próprio instrutor no âmbito dos pressupostos anteriormente definidos. Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que simbolizam “Bom” ou “Mau” (e.g. Mão fechada com o polegar para cima ou para baixo, respetivamente) “Mais ou menos”, “Silêncio”, “O.K.”, “Venham cá”, “Parar”, “Observar”, etc. São também codificados gestos 74 METODOLOGIA CAPÍTULO III estabelecido, com caráter socialmente instituído, não específico da atividade produzidos pela cabeça, como por exemplo, os emblemas “Sim” (e.g. Movimento de flexão e extensão da cabeça) e “Não” (e.g. Movimentos de rotação da cabeça de um lado para o outro). Emblema Numérico Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que simbolizam números ou contagens numéricas (e.g. número (s) referente (s) a repetições de um determinado exercício, contagem do número de tempos musicais, etc..). Estes tipos de gestos indicam números, sendo realizados pelas mãos, tendo os dedos a função de indicar o número, podendo o braço estar em flexão e o antebraço em extensão total ou parcial. Gestos com um significado icónico próprio pré-estabelecido, que indicam um número. Deítico Gestos que indicam ou apontam para pessoas, segmentos corporais, locais ou objetos. Pictográfico Gestos que desenham figuras ou formas no espaço. Cinetográfico Gestos que imitam ações ou movimentos no espaço. Espacial Gestos que definem distâncias relativamente a pessoas, objetos e segmentos corporais. Rítmico Gestos que marcam ou definem um ritmo ou velocidade de execução. Susana Mendes Alves Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que indicam ou apontam. Codificam-se os gestos que são realizados com um ou ambos os dedos indicadores, com outros dedos em extensão, ou com a mão aberta (e.g. apoiar as mãos abertas sobre as coxas para indicar os grupos musculares ou segmentos corporais envolvidos na tarefa). São ainda codificados gestos que indicam locais para onde os praticantes se devem deslocar (e.g. direita e esquerda, frente ou trás). Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que fornecem aos praticantes a representação de uma imagem (e.g. gestos que desenham um quadrado, uma diagonal uma reta, etc..). Os gestos que produzem figuras, como por exemplo a letra “A” e a letra “V”, são codificados na categoria “Emblema Técnico” pelo facto de no contexto das atividades de grupo de fitness serem figuras que simbolizam habilidades motoras, respetivamente Passo em “A” e Passo em “V”. Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que imitam as ações (e.g. a ação de subir e descer, afastar e juntar) bem como os gestos referentes a movimentos de “voltas” (e.g. o indicador realiza um círculo referente a uma volta completa, com a mão ou braço em extensão total ou parcial). Gestos realizados com as mãos, antebraços e braços que sugerem uma distância. Por exemplo, um gesto que indica a distância dos membros inferiores, a distância para uma pega afastada ou junta num exercício com barra, a distância entre dois grupos ou entre pessoas, etc.. Gestos realizados com as mãos, antebraços, braços, cabeça ou pé que marcam o ritmo de execução dos exercícios ou batidas musicais. Codificam-se ainda os gestos realizados com os dedos de indicação numérica referente a velocidades de execução dos exercícios. Não são codificados os movimentos referentes à execução técnica dos exercícios, ainda que os mesmos também possuam um ritmo de execução. 75 METODOLOGIA CAPÍTULO III Gestos realizados com as mãos, antebraços, braços ou cabeça sem significado icónico e não têm uma descrição biomecânica definida. Batuta Gestos exclusivos do instrutor, sem significado icónico, que usualmente acompanham e enfatizam a lógica do discurso verbal. Quadro 8 – Ilustração das categorias da dimensão “Situação” e respetivos graus de abertura, do SOCIN-Fitness. Categorias Informação Figura Grau de abertura − Gestos realizados pelo instrutor para informar os praticantes sobre os exercícios. Feedback − Gestos realizados pelo instrutor para ajudar, corrigir os praticantes ou avaliar a sua prestação motora. Interação − Gestos realizados pelo instrutor especificamente para encorajar ou interagir em termos relacionais com os praticantes, seja de forma positiva ou negativa. Organização Gestos realizados pelo instrutor para gerir materiais ou organizar os praticantes no espaço. Susana Mendes Alves Nesta categoria codificam-se os gestos para organizar materiais e/ou praticantes e não a ação de organizar os materiais e/ou praticantes. Desta forma, não se codificam os gestos que o instrutor realiza para segurar, manipular ou colocar o material num segmento corporal. 76 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 9 – Ilustração das categorias da dimensão “Exercício” do SOCIN-Fitness. Categorias Com Exercício Figura O instrutor realiza o exercício. Sem Exercício O instrutor não realiza o exercício. Quadro 10 – Ilustração das categorias da dimensão “Adaptador” do SOCIN-Fitness. Categorias Objectual Figura Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com objetos. Auto-adaptador Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com diferentes partes do seu corpo. Hetero- adaptador Gestos sem intenção comunicativa, mantendo contato com outras pessoas. Multi- adaptador Combinações de vários gestos adaptadores definidos anteriormente. Susana Mendes Alves 77 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.3.2 Sistema de observação da comunicação proxémica (SOPROXFitness) Um dos objetivos desta investigação é o desenvolvimento e validação para o contexto do fitness do sistema de observação SOPROX (Castañer, 2009), originalmente organizado em 5 dimensões e 16 categorias (Quadro 11). Quadro 11 – Dimensões e categorias do SOPROX. Grupo Topologia Interação Macro-grupo Periférica Distanciada Micro-grupo Central Integrada Díade Contacto táctil Orientação À frente Atrás Entre À direita À esquerda Transição Bípede Sentada Em locomoção Em Suporte 3.3.3 Desenvolvimento e validação do SOPROX ao contexto do fitness Seguidamente são apresentados os dados relativos ao processo de desenvolvimento e adaptação do SOPROX-Fitness, considerando todas as etapas metodológicas anteriormente descritas. No final é apresentada a versão final adaptada ao contexto do fitness, onde se descreve detalhadamente cada uma das suas categorias e graus de abertura. 3.3.4 Fiabilidade inter-observadores e intra-observador do SOPROX original Após o treino do observador pelo observador-investigador, de acordo com os sugestões propostas por Costa (1988), Mars (1989) e Rodrigues (1995), foi feita a codificação de um vídeo de uma aula de grupo de fitness com o sistema de observação SOPROX original por ambos, em separado tal como aconselhado por Mars (1989). Importa referir que o observador-investigador foi o observador que esteve no processo de desenvolvimento do novo sistema de observação. O quadro 12 apresenta os valores de concordância entre os dois observadores, para cada uma das categorias que incorporam o SOPROX original. Susana Mendes Alves 78 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 12 - Fiabilidade inter-observadores entre o observador e observadortreinador em cada uma das categorias do SOPROX. Dimensão Grupo Categoria Macro-grupo Micro-grupo Díade Valor k .940 * .835 Erro Padrão .029 .061 T Aprox. 15.471 8.778 Sig. .000 .000 Topologia Periférica Central .915 .910 .060 .063 10.629 8.570 .000 .000 Interação Distanciada Integrada Contacto Táctil .922 .931 * .054 .049 - 8.218 11.874 - .000 .000 - Orientação À Frente Atrás No Meio À Direita À Esquerda .968 .867 .857 .817 * .018 .090 .138 .101 - 15.428 4.790 3.873 5.177 - .000 .000 .000 .000 - Transição Posição Bípede Posição Sentada Locomoção Suporte .970 .818 .789 * .021 .099 .114 - 11.724 5.262 4.912 - .000 .000 .000 - * Ambos os observadores não codificaram esta categoria, por ser inexistente, pelo que não pode ser calculado pela medida de concordância de Kappa de Cohen, embora exista concordância total (100%) entre os observadores. De acordo com o quadro anterior, verifica-se a existência de níveis elevados concordância entre os dois observadores, pois foram obtidos valores superiores a .750 em todas as categorias do SOPROX original, tendo os valores de Kappa variado entre .789 e .970. Ambos os observadores não codificaram comportamentos proxémicos nas categorias de “Micro-grupo”, “Contacto táctil”, “À Esquerda” e “Suporte”, por serem inexistentes no vídeo analisado, pelo que não pode ser calculado a medida de concordância de Kappa de Cohen, por ser considerado como constante, embora exista concordância total (100%) entre os observadores. Seguidamente foi calculado o valor de Kappa de Cohen, para analisar os níveis consistência e estabilidade temporal. Para tal, através do visionamento e subsequentemente codificação de um vídeo de uma aula de grupo de fitness em dois momentos distintos, com um intervalo de sete dias, para verificar se existe acordo nas Susana Mendes Alves 79 METODOLOGIA CAPÍTULO III observações realizadas pelo observador-investigador em diferentes ocasiões, como sugere Mars (1989). Os resultados obtidos podem ser observados no Quadro 13. Quadro 13 - Fiabilidade intra-observador em cada uma das categorias do SOPROX. Dimensão Grupo Categoria Macro-grupo Micro-grupo Díade Valor k .970 * .808 Erro Padrão .021 .065 T Aprox. 15.826 8.505 Sig. .000 .000 Topologia Periférica Central .959 .956 .041 .043 11.109 8.979 .000 .000 Interação Distanciada Integrada Contacto Táctil .885 .899 * .065 .058 - 7.921 11.500 - .000 .000 - Orientação À Frente Atrás No Meio À Direita À Esquerda .979 .933 .875 .867 * .015 .065 .121 .091 - 15.518 5.123 3.944 5.533 - .000 .000 .000 .000 - Transição Posição Bípede Posição Sentada Locomoção Suporte .985 .832 .811 * .015 .093 .104 - 11.900 5.273 4.942 - .000 .000 .000 - * Em ambas as observações não foram registadas ocorrências nesta categoria, pelo que não pode ser calculada a medida de concordância de Kappa de Cohen, embora exista concordância total (100%) entre as observações. Pode-se constatar que foram obtidos valores de Kappa superiores a .750 em todas as categorias do SOPROX, sendo o valor mínimo de .808 na categoria “Díade” e o valor máximo .985 na categoria “Posição Bípede”. O observador, em ambos os momentos, não codificou comportamentos proxémicos nas categorias de “Micro-grupo”, “Contacto Táctil”, “À Esquerda” e “Suporte”, por serem inexistentes no vídeo analisado, pelo que não pode ser calculada a medida de concordância de Kappa de Cohen, por ser considerada como constante, embora exista concordância total (100%) entre as observações. Em suma, verificou-se que na testagem das fiabilidades inter-observadores e intra-observador foram obtidos valores superiores a .750, o que indica a existência de uma elevada fiabilidade e consistência (Fleiss, 1981) na análise das categorias do SOPROX original, sustentando o conhecimento prévio e adequado do sistema original. Susana Mendes Alves 80 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.3.5 Aperfeiçoamento do SOPROX para o contexto das atividades de grupo de fitness Tal com já foi anteriormente enunciado, o SOPROX foi originalmente desenvolvido para analisar os comportamentos proxémicos do professor de educação física no ensino de atividades físico-desportivas (Castañer, 1993). Neste sentido, aceitando a metodologia proposta por Potrac et al. (2000), o sistema de observação SOPROX foi adaptado ao contexto das atividades de grupo de fitness, com o objetivo de aumentar a sua validade e fiabilidade. Seguindo as recomendações de Kaplan e Saccuzzo (2008), foi constituído um painel de 4 especialistas, com experiência na metodologia de aperfeiçoamento de sistemas de observação e/ou experiência de intervenção contexto do fitness, incluído a autora original do SOPROX (Quadro 14). Susana Mendes Alves 81 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 14 - Caracterização da experiência dos especialistas, que aperfeiçoaram o sistema de observação SOPROX ao contexto das atividades de grupo de fitness. Especialistas Formação Académica Formador no ensino superior em atividades de grupo de fitness (anos) Formador no ensino superior em atividades de Pedagogia do Desporto (anos) Instrutor de aula de grupo de fitness (anos) Metodologia observacional (anos) I Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Educação Física; Doutoramento em Filosofia e Ciências da Educação - 25 - 25 II Licenciatura em Educação Física; Mestrado em Ciências da EducaçãoMetodologia da Educação Física; Doutoramento em Ciências do Desporto; Agregação em Pedagogia do Desporto - 28 - 28 III Licenciatura em Ciências do Desporto; Mestrado em Exercício e Saúde; Doutoramento em Fundamentos Metodológicos da Investigação em Atividade Física e Desporto 13 9 18 9 IV Licenciatura em DesportoVariante Condição Física; Mestrado em DesportoEspecialização em Condição Física e Saúde; Doutoranda em Ciências do Desporto 3 - 10 4 Para este propósito de adaptar o SOPROX ao contexto das atividades de grupo de fitness, o painel de especialistas realizou várias observações piloto de diferentes atividades de grupo de fitness, designadamente: Step, Localizada, Hidroginástica, Indoor Cycling e Stretching, tal como sugerido por Tuckman (2002). Neste processo de adaptação, foram identificadas e afiliadas novas categorias às respetivas dimensões, redigidas as definições e morfologias e definidos os graus de abertura (Baesler & Burgoon, 1987). Susana Mendes Alves 82 METODOLOGIA CAPÍTULO III Por conseguinte, após uma detalhada análise e pesquisa bibliográfica, visionamento de diversos vídeos seguidos de discussões efetuadas no seio do grupo de desenvolvimento, foram efetuadas por consenso as seguintes adaptações ao sistema de observação já existente (SOPROX), conforme se resume no Quadro 15. Quadro 15 – Descrição e justificação das adaptações introduzidas no sistema de observação SOPROX. Dimensão: Orientação Categoria: À Frente No ensino das atividades de grupo de fitness o instrutor deve estar em frente aos praticantes e no campo de visão de todos sem exceção, para garantir que a mensagem visual seja transmitida. Assim, existem situações no processo de ensino-aprendizagem e/ou condicionantes ao nível das instalações desportivas que obrigam o instrutor a modificar a sua orientação relativamente aos praticantes para favorecer a aprendizagem dos mesmos. Desta forma, vários são os livros técnicos que abordam os aspetos didáticos do processo de ensino das atividades de grupo de fitness, que distingue três tipos de orientações: à frente em correspondente, à frente em espelho e à frente em perfil. Esta distinção da orientação à frente suportou a divisão desta categoria em três categorias independentes. À Frente em Espelho A posição do instrutor à frente em espelho (de frente para os praticantes) coloca-o num foco atencional e permite uma melhor observação, sobretudo se a sala não possuir um espelho. Nesta posição os praticantes sentem-se mais observados, aumentando a sua competência na realização das tarefas motoras. São vários os motivos pelos quais o instrutor se coloca de frente para os praticantes: se a instalação desportiva não tiver espelhos na parede frontal; durante a execução das primeiras repetições, pois é quando se oferece mais informações verbais e visuais e o praticante necessita de mais atenção; favorece a transição de informação verbal; À Frente em Correspondente A orientação à frente em correspondente (de costas para os praticantes) permite criar uma imagem mais clara do movimento, adotando a mesma referência motora que os praticantes, facilitando a assimilação dos movimentos. São várias as situações pedagógicas em que o instrutor deve adotar a posição de costas para os praticantes: aplicação de movimentos com “voltas”, mudanças de direção e aumento de complexidade; se o instrutor tiver ao seu dispor um espelho na parte frontal da sala de aula, pois este recurso permite controlar e observar os praticantes através do espelho; a colocação do corpo em correspondente pelo instrutor relativamente aos praticantes permite uma melhor perceção das tarefas motoras e consequentemente e sua assimilação. À Frente em Perfil A orientação do instrutor à frente em perfil relativamente aos praticantes permite, em alguns casos específicos, uma melhor visualização do exercício que se pretende realizar, como no caso em que o instrutor pretende dar uma melhor imagem do alinhamento da coluna vertebral a adotar pelos praticantes. Posição Bípede com Exercício No contexto das atividades de grupo de fitness existem momentos e/ou atividades em que o instrutor está em posição bípede mas com deslocamento próprio dos exercícios. Assim, devido à inexistência de uma categoria que permita a análise desta postura adotada pelo instrutor de aluas de grupo, foi criada esta nova categoria com a seguinte definição: “O instrutor está em pé realizando os deslocamentos enquadrados no próprio exercício”. Dimensão: Transição Susana Mendes Alves 83 METODOLOGIA CAPÍTULO III Posição Fixa Bípede Na categoria posição fixa bípede analisam-se os momentos em que o instrutor está em pé sem se deslocar. Posição Fixa Sentada Em atividades de grupo como a Ginástica Localizada, o Indoor Cycling e o Stretching e em atividades de grupo coreografadas (e.g. Step, Aeróbica, e o Hip Hop, etc;) existem exercícios que são executados na posição fixa sentada pelo instrutor. Da mesma forma, na atividade de Hidroginástica, o instrutor que se encontra em meio terrestre necessita por vezes de sentar-se numa cadeira para poder exemplificar alguns exercícios aos praticantes, os quais se encontram em meio aquático. Posição Fixa Dorsal A posição fixa dorsal é adotada pelo instrutor de atividades de grupo de fitness, em atividades que na sua essência realizem exercício em posição dorsal como nas aulas de Localizada, suas variantes e Stretching. Posição Fixa Ventral O instrutor de atividades de grupo de fitness, utiliza esta posição corporal em aulas possuam exercícios que são realizados em posição ventral como nas aulas de Localizada, suas variantes e Stretching. Posição Fixa Lateral A posição fixa lateral é utilizada pelo instrutor em atividades de grupo de fitness, em atividades onde são realizados exercício em posição lateral como nas aulas de Localizada e suas variantes e Stretching. Após a introdução das referidas adaptações ao SOPROX original, a versão adotada passou a denominar-se SOPROX-Fitness, para especificar que se trata da versão com as alterações introduzidas, tendo a mesma prosseguido para a fase seguinte de validação facial por especialistas. 3.3.6 Validação facial do SOPROX-Fitness por especialistas (experts) Seguindo as recomendações de Brewer e Jones (2002), constituiu-se um painel composto por 6 especialistas, isto é, 3 especialistas em atividades de grupo de fitness e 3 especialistas em observação sistemática, com o objetivo de por um lado, avaliar se as dimensões e categorias do SOPROX-Fitness são relevantes e, por outro lado, se as mesmas permitem a análise da comunicação proxémica do instrutor em atividades de grupo de fitness, conforme definem Kaplan e Saccuzzo (2008). Os quadros 16 e 17 apresentam a caracterização dos dois grupos de especialistas que realizaram a validade facial do novo sistema de observação SOPROX-Fitness. Susana Mendes Alves 84 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 16 – Caracterização dos especialistas em atividades de grupo de fitness. Especialistas F-I F-II F-III Formação Académica (inicial e pós-graduada) Licenciatura em Educação Física; Pós-Graduação em Educação Física Licenciatura em Ciências do Desporto; Pós-graduação em Treino Desportivo, especialização em Musculação e Cardiofitness; Mestrado em Exercício e Saúde; Doutorando em Motricidade Humana, especialidade de Saúde e Condição Física Licenciatura em Desporto, variante de Condição Física; Pósgraduação em Exercício e Saúde, especialização em Atividades de Grupo e em Treino Personalizado; Mestrado em Psicologia do Desporto e Exercício; Doutorando em Ciências do Desporto Instrutor de atividades de grupo de fitness (anos) Formador no ensino técnico-profissional em atividades de grupo de fitness (anos) Formador no ensino superior em atividades de grupo de fitness (anos) 30 20 30 10 7 11 7 6 9 Quadro 17 - Caracterização dos especialistas em observação sistemática. Especialistas Formação Académica (inicial e pós-graduada) Experiência em observação sistemática (anos) Formador no ensino superior em aulas pedagogia do desporto (anos) Formador no ensino Técnicoprofissional de Formação de treinadores O-I Licenciatura em Educação Física; 20 20 20 Mestrado em Ciências do Desporto; Doutoramento em Ciências do Desporto O-II Licenciatura em Educação Física e 15 12 17 Desporto; Mestrado em Gestão da Formação Desportiva; Doutoramento em Ciências Sociais e Humanas-Ciências do Desporto O-III Licenciatura em Ciências do 11 12 12 Desporto; Mestrado em Treino de Jovens; Doutoramento em Ciências do Desporto Licenciatura em Desporto, 10 5 * variante de Condição Física; Pósgraduação em Exercício e Saúde, especialização em Atividades de Grupo e em Treino Personalizado; Mestrado em Psicologia do Desporto e Exercício; Doutorando em Ciências do Desporto * Este especialista apresenta simultaneamente experiência em atividades de grupo de fitness e em observação. Por esse motivo, este especialista, encontra-se também caracterizado no quadro dos especialistas em atividades de grupo de fitness, estando identificado como F-III. Susana Mendes Alves 85 METODOLOGIA CAPÍTULO III Durante as reuniões realizadas com os dois painéis de especialistas foram registados todos os comentários e sugestões efetuados, os quais são resumidamente apresentados no Quadro 18. Quadro 18 – Sugestões realizadas ao SOPROX-Fitness pelos dois painéis de especialistas. Categorias Comentários Especialistas Distanciada Substituir a palavra “ausente” por “abstraído”, devido ao facto de a palavra “ausente” pressupor a não presença do instrutor, não sendo esse o significado pretendido na definição desta categoria. O - II Locomoção Substituir a palavra “movimenta-se” por “circula”, devido ao facto de a palavra “movimenta-se” poder provocar ameaças à exclusividade da categoria “Posição Bípede com Deslocamento”. F-I Realizada a validação facial, com base nos comentários e sugestões efetuados, o grupo de desenvolvimento do SOPROX-Fitness realizou um 2º conjunto de adaptações, por consenso geral, as quais resultaram na versão final do Sistema de Observação da Comunicação Proxémica dos Instrutores de fitness (SOPROX-Fitness), a qual é composta por 5 dimensões de análise e 23 categorias. De acordo com a metodologia adotada, esta versão final SOPROX-Fitness terá ainda de ser submetida às fasees de testagem das fiabilidades inter-observadores e intra-observador. Susana Mendes Alves 86 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 19 – Sistema de observação SOPROX-Fitness. Dimensão Grupo: Refere-se ao número de praticantes para quem o instrutor comunica. Categorias Macro-grupo Micro-grupo Código MAC MIC Díade DIA Topologia: Refere-se à localização espacial onde o instrutor se encontra na sala. Periférica P Central C Interação: Refere-se à atitude corporal que indica o grau de envolvimento do instrutor com os praticantes para quem comunica. Distanciado DIS Integrado INT Contacto Táctil CT À Frente em Espelho FE À Frente Correspondente FC Orientação: Refere-se à localização espacial do instrutor relativamente aos praticantes, para quem comunica. Transição: Refere-se à postura corporal adotada pelo instrutor no espaço. Susana Mendes Alves em À Frente em Perfil FP Atrás AT No Meio NM À Direita DIR À Esquerda ESQ Bípede com Deslocamento Posição Fixa Bípede PBD Posição Fixa Sentada PFS Posição Fixa Dorsal PFD Posição Fixa Ventral PFV Posição Fixa Lateral PFL Locomoção LOC Suporte SU PFB Descrição Quando o instrutor comunica com toda a classe. Quando o instrutor comunica com um grupo de praticantes, mas não com toda a classe. Quando o instrutor comunica com apenas um praticante. O instrutor está localizado na zona periférica da sala. O instrutor está localizado na zona central da sala. Atitude corporal que revela que o instrutor está ausente do que ocorre na aula, ou que indica uma separação, quer física quer em termos de olhar ou atitude, relativamente aos praticantes. Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, sem existir contacto físico com os praticantes. Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, existindo contacto físico com os praticantes. O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de frente para o campo de visão dos praticantes. O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de costas relativamente ao campo de visão dos praticantes. O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de lado para estes. O instrutor encontra-se atrás dos praticantes, fora do seu campo de visão. O instrutor encontra-se no meio do espaço ocupado pelos praticantes. O instrutor encontra-se numa área à direita dos praticantes. O instrutor encontra-se numa área à esquerda dos praticantes. O instrutor está em pé realizando os deslocamentos enquadrados no próprio exercício. O instrutor está em pé, ou de joelhos, ou agachado, sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. O instrutor está sentado sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. O instrutor está deitado dorsal ou em outra posição dorsal sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. O instrutor está deitado ventral ou em outra posição ventral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. O instrutor está deitado lateral ou em outra posição lateral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. O instrutor circula pela sala com o objetivo de se deslocar ao longo do espaço. O instrutor está encostado a uma estrutura, material ou pessoa. 87 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.3.7 Fiabilidade inter-observadores SOPROX-Fitness Seguindo os mesmos procedimentos metodológicos adotados aquando do estudo do sistema original, relativamente ao treino dos observadores (Mars, 1989), foram calculados os valores de concordância entre os observadores, para testar a objetividade das definições atribuídas às categorias de comportamentos, de acordo com a metodologia proposta por Brewer e Jones (2002). Os valores obtidos em uma das categorias que incorporam o SOPROX-Fitness são apresentados no Quadro 20. Quadro 20 - Fiabilidade inter-observadores entre o observador e observadortreinador em cada uma das categorias do SOPROX-Fitness. Dimensão Categoria Macro-grupo Micro-grupo Díade Valor k .825 .846 .807 Erro Padrão .062 .065 .068 T Aprox. 7.495 6.906 6.981 Grupo .000 .000 .000 Topologia Periférica Central .767 .866 .096 .053 5.348 8.794 .000 .000 Interação Distanciada Integrada Contacto Táctil .818 .750 .855 .058 .078 .140 9.142 8.344 3.767 .000 .000 .000 Orientação À Frente em Espelho À Frente em Correspondente À Frente em Perfil Atrás No Meio À Direita À Esquerda .841 .754 .826 .751 .787 .758 .884 .108 .131 .117 .101 .075 .078 .078 5.912 5.181 4.439 5.115 6.590 6.395 6.411 .000 .000 .000 .000 .000 .000 .000 .810 .089 5.595 .000 .899 .919 .860 .841 .855 .875 * .044 .039 .051 .053 .080 .060 - 9.084 9.268 8.730 8.558 5.859 7.217 - .000 .000 .000 .000 .000 .000 - Transição Posição Bípede Deslocamento Posição Fixa Bípede Posição Fixa Sentada Posição Fixa Dorsal Posição Fixa Ventral Posição Fixa Lateral Locomoção Suporte c/ Sig. * Ambos os observadores não codificaram esta categoria, por ser inexistente, pelo que não pode ser calculado pela medida de concordância de Kappa de Cohen, embora exista concordância total (100%) entre os observadores. Susana Mendes Alves 88 METODOLOGIA CAPÍTULO III O quadro anterior, revela que foram obtidos valores de Kappa superiores a .750 em todas as categorias do SOPROX-Fitness, estando estes valores compreendidos entre .750 e .919, demonstrando existência de índices elevados de fiabilidade entre os dois observadores (Fleiss, 1981). Ambos os observadores não codificaram a categoria “Suporte”, por ser inexistentes, pelo que não pode ser calculado pela medida de concordância de Kappa de Cohen, por ser considerado como constante, embora exista concordância total (K = 1) entre os observadores. Pode-se assim afirmar que, de acordo com os resultados obtidos, as variáveis do sistema de observação são consistentes e objetivas. 3.3.8 Fiabilidade intra-observador SOPROX-Fitness Seguidamente foi calculado o valor de Kappa de Cohen, para analisar os níveis consistência intra-observador para averiguar se existe concordância nas observações do observador-investigador em diferentes ocasiões. Desta forma, à semelhança do procedimento anterior foi realizado o visionamento e subsequentemente codificação de um vídeo de uma aula de grupo de fitness em dois momentos distintos, com um intervalo de codificação de sete dias. Os resultados obtidos podem ser observados no Quadro 21. Analisando o Quadro 21, pode constatar-se que foram obtidos valores de Kappa superiores a .750 em todas as categorias do SOPROX-Fitness, sendo o valor mínimo de .766 na categoria “Integrada” e o valor máximo de 1 nas categorias “Contacto Táctil” “À frente em correspondente”, “Posição Fixa Bípede” e “Posição Fixa Lateral”. Em ambos os momentos o observador não codificou a categoria “Suporte”, por ser inexistente, pelo que a medida de concordância de Kappa de Cohen não pode ser calculada por ser uma constante, embora exista concordância total (100%) entre o observador nas duas ocasiões. Susana Mendes Alves 89 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 21 - Fiabilidade intra-observador em cada uma das categorias do SOPROXFitness. Dimensão Macro-grupo Micro-grupo Díade Valor k .916 .908 .875 Erro Padrão .047 .052 .054 T Aprox. 7.803 7.350 7.888 .000 .000 .000 Topologia Periférica Central .966 .945 .033 .037 8.832 9.034 .000 .000 Interação Distanciada Integrada Contacto Táctil .865 .766 1 .051 .084 .000 9.749 7.787 4.583 .000 .000 .000 Orientação À Frente em Espelho À Frente em Correspondente À Frente em Perfil Atrás No Meio À Direita À Esquerda .941 1 .905 .933 .900 .959 .901 .058 .000 .053 .044 .098 .028 .068 6.683 5.292 7.44 8.740 4.786 9.648 6143 .000 .000 .000 .000 .000 .000 .000 .815 .071 6.791 .000 1 .950 .968 .936 1 .845 * .000 .050 .032 .044 .000 .066 - 10.050 6.449 7.926 7.679 4.359 7.001 - .000 .000 .000 .000 .000 .000 - Grupo Transição Categoria Posição Bípede Deslocamento Posição Fixa Bípede Posição Fixa Sentada Posição Fixa Dorsal Posição Fixa Ventral Posição Fixa Lateral Locomoção Suporte c/ Sig. * Em ambas as observações não foram registadas ocorrências nesta categoria, pelo que não pode ser calculada a medida de concordância de Kappa de Cohen, embora exista concordância total (100%) entre as observações. . Em suma, verifica-se uma elevada consistência na análise das categorias do SOPROX-Fitness, considerando-se assim que o observador, independentemente do momento, observa e codifica sempre da mesma forma, ou seja, com elevada fiabilidade, já que todos os valores foram superiores a .75 (Fleiss, 1981). 3.3.9 Ilustração das categorias da versão final SOPROX-Fitness Após o cumprimento de todos os procedimentos metodológicos definidos para o desenvolvimento e validação do Sistema de Observação da Comunicação Proxémica Susana Mendes Alves 90 METODOLOGIA CAPÍTULO III dos Instrutores de fitness (SOPROX-Fitness), o qual permite a análise da comunicação proxémica dos instrutores de atividades de grupo de fitness, aquando da sua atuação profissional, será seguidamente ilustrada cada uma das 23 categorias definidas (Quadros 22-26). Quadro 22 – Ilustração das categorias da dimensão “Grupo” do SOPROX-Fitness. Categorias Figuras Macro-grupo Quando o instrutor comunica com toda a classe Micro-grupo Quando o instrutor comunica com um grupo de praticantes, mas não com toda a classe Díade Quando o instrutor comunica com apenas um praticante. Susana Mendes Alves 91 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 23 – Ilustração das categorias da dimensão “Topologia” do SOPROX-Fitness. Categorias Figuras Periférica O instrutor está localizado na zona periférica da sala. Central O instrutor está localizado na zona central da sala Quadro 24 – Ilustração das categorias da dimensão “Interação” do SOPROX-Fitness. Categorias Figuras Distanciado Atitude corporal que revela que o instrutor está ausente do que ocorre na aula, ou que indica uma separação, quer física quer em termos de olhar ou atitude, relativamente aos praticantes. Integrado Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, sem existir contacto físico com os praticantes. Contacto Táctil Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, existindo contacto físico com os praticantes. Susana Mendes Alves 92 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 25 – Ilustração das categorias da dimensão “Orientação” do SOPROX-Fitness. Categorias Figuras À Frente em Espelho O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de frente para o campo de visão dos praticantes. À Frente em Correspondente O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de costas relativamente ao campo de visão dos praticantes. À Frente em Perfil O instrutor encontra-se à frente dos praticantes, orientado de lado para estes. Atrás O instrutor encontra-se atrás dos praticantes, fora do seu campo de visão. No meio O instrutor encontra-se no meio do espaço ocupado pelos praticantes. À direita O instrutor encontra-se numa área à direita dos praticantes À esquerda O instrutor encontra-se numa área à esquerda dos praticantes. Susana Mendes Alves 93 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 26 – Ilustração das categorias da dimensão “Transição” do SOPROX-Fitness. Categorias Figuras Bípede com Deslocamento O instrutor está em pé realizando os deslocamentos enquadrados no próprio exercício. Posição Fixa Bípede O instrutor está em pé, ou de joelhos, ou agachado, sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição Fixa Sentada O instrutor está sentado sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição Fixa Dorsal O instrutor está deitado dorsal ou em outra posição dorsal sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição Fixa Ventral O instrutor está deitado ventral ou em outra posição ventral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição Fixa Lateral O instrutor está deitado lateral ou em outra posição lateral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Locomoção O instrutor circula pela sala com o objetivo de se deslocar ao longo do espaço. Susana Mendes Alves 94 METODOLOGIA CAPÍTULO III Suporte O instrutor está encostado a uma estrutura, material ou pessoa. 3.4 PROCEDIMENTOS 3.4.1 Procedimentos de recolha dos dados No processo de recolha de dados foram adotados um conjunto de procedimentos tidos como relevantes para o cumprimento dos valores de rigor e ética que devem conduzir a investigação científica. Seguidamente são apresentados cada um desses procedimentos na Figura 12. 1ª Fase: Realização de uma pré-seleção de instrutoras de fitness licenciadas há mais de 5 anos, com recurso a uma base de dados de técnicos formados na Escola Superior de Desporto de Rio Maior no Curso de Condição Física e Saúde no Desporto, assegurando assim o cumprimento dos critérios de inclusão definidos relativamente ao tipo de formação inicial da amostra. 2ª Fase: As instrutoras foram contactadas via telefone e questionadas sobre se no presente momento estariam a lecionar algumas das atividades de grupo em análise neste estudo (i.e Step, Localizada, Indoor Cycling e Hidroginástica). Em caso de resposta afirmativa, foi solicitada a sua colaboração neste estudo, após explicação sobre os objetivos do mesmo e procedimentos de recolha de dados. 3ª Fase: Foram solicitados, aos instrutores, os dados relativos ao ginásio onde trabalhavam, como o nome, morada, nº de telefone, e responsável para, seguidamente, ser enviada uma carta de pedido de autorização onde constava uma breve explicação sobre o objetivo do estudo, o nome da instrutora que iria ser filmada e identificada a respetiva atividade, bem como os procedimentos de recolha, esclarecendo que seria assegurado o normal funcionamento do ginásio. 4ª Fase: Nos casos em que se obteve autorização por parte da entidade acolhedora (Anexo D), bem como do instrutor e respetivos praticantes, procedeu-se à marcação do dia e hora das recolhas dos vídeos. Figura 12 – Síntese dos procedimentos adotados ao longo do processo de recolha de dados. Susana Mendes Alves 95 METODOLOGIA CAPÍTULO III No próprio dia da realização das filmagens foram também tidos em consideração alguns procedimentos importantes para a garantia da qualidade dos dados recolhidos. Assim, em cada recolha estiveram sempre presentes pelo menos 2 assistentes, os quais treinaram previamente todos os procedimentos a realizar durante as recolhas, conforme se apresentam resumidamente na Figura 13. O material necessário foi preparado e montado com pelo menos 15 minutos de antecedência relativamente ao horário de início das aulas, de forma a não perturbar o normal funcionamento das mesmas. Foi montado um tripé, para apoio da câmara de vídeo utilizada, num ponto estratégico da sala de forma a conseguir o melhor ângulo para a gravação do instrutor sem interferir no comportamento do mesmo. Antes do início de cada aula, foi feito um novo pedido de permissão aos praticantes, de modo verbal, para realizar as gravações em vídeo, sendo mais uma vez explicado qual o âmbito desta investigação e os seus pressupostos éticos de garantia de confidencialidade e de reserva na utilização das filmagens, as quais iriam incidir essencialmente no estudo do instrutor. Foi colocado o microfone de lapela no instrutor que ia ser filmado, o qual transmite o som directamente para a câmara de filmar via Bluetooth, ficando assim registada a voz do instrutor simultaneamente com o som ambiente e imagem captada. Durante a gravação os elementos da equipa de filmagem seguiram sempre o instrutor com a câmara, acompanhando os seus comportamentos ao longo de toda a aula. Após o término da aula todo o material foi novamente desmontado e guardado, sendo agradecida a colaboração dos praticantes, instrutores e responsáveis da entidade, aos quais foi facultado os contactos institucionais dos investigadores responsávies, para qualquer esclarecimento adicional. Figura 13 – Síntese dos procedimentos adotados nas filmagens dos instrutores. Após a realização das filmagens, os vídeos foram transferidos para o disco rígido de um computador para análise e codificação. Susana Mendes Alves 96 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.4.2 Procedimentos de codificação A análise e codificação dos vídeos foram realizadas com recurso ao programa informático Lince®. Este novo programa integra uma ampla gama de funções como a codificação, a gravação dos dados observados, a análise da qualidade dos dados e ainda, a análise dos dados em formatos específicos pois permite que sejam diretamente exportados para várias aplicações (Gabín et al., 2012). Desta forma, foi registada a ocorrência de cada comportamento observado sempre que os instrutores efetuavam um gesto realizado com a mão, antebraço, braço e cabeça com e sem intenção comunicativa. Na Figura 14, é demonstrada a janela de trabalho do Lince® onde foram visionados e codificados os vídeos. Figura 14 – Janela de trabalho do programa informático LINCE® onde foram visionados e codificados os vídeos. Antes de se proceder à codificação dos vídeos foi definido o início e o término das aulas, de forma a uniformizar o processo de codificação. Esta necessidade deveuse ao facto de existirem aulas em que o instrutor e/ou os praticantes entraram para as salas antes do horário previsto para, por exemplo, socializar, colocar alguns materiais ou mesmo para ocupar os lugares onde se sentem mais confortáveis, sendo que tais Susana Mendes Alves 97 METODOLOGIA CAPÍTULO III situações podem também acontecer no final da aula. Por esse motivo, foi considerado que a aula se iniciava quando o instrutor colocava a música e/ou se dirigia para os praticantes com o objetivo de iniciar a prática da atividade, dizendo por exemplo: “Vamos iniciar”, “Vamos começar”, “Vamos a isso”. Seguindo o mesmo pressuposto, foi considerado que aula terminava quando o instrutor se dirigia aos praticantes através do uso de expressões como “Por hoje é tudo”, “Muito obrigada por terem vindo”, e/ou batia palmas e/ou desligava a música. 3.5 TÉCNICAS ESTATÍSTICAS APLICADAS NO TRATAMENTO DOS DADOS Para a consecução de cada um dos objetivos que estruturam esta investigação foram utilizadas diferentes técnicas estatísticas, em função dos respetivos requisitos metodológicos. 3.5.1 Análise descritiva dos dados No que diz respeito ao estudo piloto, para a análise dos comportamentos cinésicos dos instrutores, foram calculadas as frequências absolutas e as frequências relativas, em percentagem, das ocorrências de cada comportamento definido nos sistemas de observação e utilizadas técnicas de estatística descritiva (i.e. média, desvio padrão, máximo, mínimo) 3.5.2 Análise comparativa dos dados De acordo com Pestana e Gageiro (2008) e Maroco (2007), para que se possam utilizar testes paramétricos existem dois pressupostos fundamentais: 1) que as variáveis dependentes possuam uma distribuição normal, podendo este pressuposto ser verificado pelo teste de Shapiro-Wilk (S-W), aconselhado para amostras com um n < 50 (um valor de p significativo indica que a distribuição não é normal); Susana Mendes Alves 98 METODOLOGIA CAPÍTULO III 2) que as variâncias populacionais sejam homogéneas, caso se estejam a comparar duas ou mais amostras, sendo este pressuposto verificado pelo teste de Levene (um valor de p significativo mostra que são homogéneas). Quando estes dois pressupostos não são cumpridos deve-se equacionar a utilização de testes estatísticos não-paramétricos em alternativa. Assim sendo, foi analisada previamente a normalidade da distribuição e homogeneidade de variância de todas as categorias de comportamento cinésico (Quadro 27) e proxémico (Quadro 28), para ambos dos grupos de instrutores estagiários e experientes. Quadro 27 – Análise dos pressupostos de normalidade de distribuição e homogeneidade de variância dos resultados obtidos através do SOCIN-Fitness. Estagiários Ass. Ach. S-W (p) -0.34 -0.56 .07 0.34 -0.56 .07 -0.58 0.58 -0.17 -0.17 .19 .19 .16 .16 Morfologia Técnico Social Numérico Deítico Pictográfico Cinetográfico Espacial Rítmico Batuta 1.05 -0.24 0.91 -0.04 0.89 0.40 0.67 0.40 0.72 -0.46 -0.88 -0.29 -0.64 0.15 -0.67 -0.40 -0.92 -0.10 .00 .18 .00 .88 .01 .11 .01 .04 .06 0.45 0.05 0.72 0.19 0.47 0.50 0.82 0.95 0.52 -0.78 -0.01 .015 -0.49 -0.63 -0.31 0.33 -0.26 -0.20 .11 .99 .05 .93 .13 .39 .00 .00 .29 .00 .02 .06 .04 .02 .89 .01 .74 .00 Situação Informação Feedback Interação Organização 0.30 0.28 0.48 0.42 -0.20 -0.03 0.12 -0.97 .58 .91 .29 .00 -0.14 0.15 0.55 1.05 -0.03 -0.19 -0.74 0.87 .99 .96 .02 .00 .03 .17 .39 .00 Exercício Com Exerc. Sem Exerc. 0.16 -0.16 -0.95 -0.95 .48 .48 0.04 -0.04 -0.58 -0.58 .62 .62 .69 .69 2.09 0.52 - 3.19 -1.67 - .00 .00 - 1.99 0.10 6.08 2.84 -1.94 37.00 .00 .00 .19 .89 .54 .05 Dimensão Função Categoria Regulador Ilustrador Adaptador Objetual Auto Hetero Multi Experientes Ass. Ach. S-W (p) Lev. (p) Legenda: Ass. = Assimetria; Ach. = Achatamento; S-W (p) = nível de significância do teste de Shapiro Wilk; Lev. (p) = nível de significância do teste de Levene. Susana Mendes Alves 99 METODOLOGIA CAPÍTULO III Quadro 28 – Análise dos pressupostos de normalidade de distribuição e homogeneidade de variância dos resultados obtidos em através do SOPROX-Fitness. Grupo Macro-grupo Micro-grupo Díade Estagiários Ass. Ach. S-W (p) -0.24 -0.69 .44 1.23 -0.25 .00 0.29 -0.60 .26 Topologia Periférica Central -0.54 0.54 Dimensão Categoria Experientes Ass. Ach. S-W (p) -0.21 -0.96 .22 0.65 0.69 .11 0.25 -0.84 .19 Lev. (p) .01 .00 .01 -0.36 -0.36 .17 .17 -0.83 0.83 0.17 0.17 .02 .02 .06 .06 Distanciada Integrada Contacto Táctil Orientação Frente Espelho Frente Corres. Frente Perfil Atrás No Meio Direita Esquerda 1.60 1.42 -2.80 10.28 3.46 15.04 .00 .00 .00 3.28 -1.81 2.10 11.67 2.72 4.48 .00 .00 .00 .38 .00 .01 0.05 -0.38 .90 0.54 -.34 .05 .33 0.66 0.74 1.00 0.99 0.85 0.77 -0.66 -0.48 -0.66 0.38 -0.46 -0.41 .01 .01 .00 .01 .00 .00 0.45 0.13 0.20 1.00 0.22 0.88 -.31 -.49 -.56 0.29 -0.61 1.05 .38 .79 .19 .00 .32 .09 .00 .00 .00 .01 .00 .00 Transição 0.63 0.17 0.59 0.85 1.47 1.38 0.80 - 1.07 -0.06 2.00 0.38 2.05 2.95 0.96 - .13 .99 .07 .06 .00 .00 .14 - 1.17 -0.01 0.99 0.63 0.35 0.15 1.43 - 1.55 -0.62 1.16 -0.49 -0.15 -0.91 4.03 - .01 .44 .03 .03 .76 .07 .00 - .61 .39 .00 .00 .00 .00 .00 - Interação P. B. Desloc. P.F. Bípede P.F. Sentado P.F. Dorsal P.F. Ventral P.F. Lateral Locomoção Suporte Legenda: Ass. = Assimetria; Ach. = Achatamento; S-W (p) = nível de significância do teste de Shapiro Wilk; Lev. (p) = nível de significância do teste de Levene. Nessas análises foi possível verificar que algumas das categorias de comportamento não cumpriam estes dois pressupostos. Por essa razão, foi utilizado o teste não paramétrico “U” de Mann-Whitney para a comparação das médias obtidas entre dois grupos (i.e. instrutores experientes vs estagiários). Na análise comparativa entre as quatro atividades de fitness examinadas foi utilizado e o teste não paramétrico de Kruskal Wallis, o qual, de acordo com Maroco (2010) é indicado para as comparações entre três ou mais amostras independentes. Susana Mendes Alves 100 METODOLOGIA CAPÍTULO III Para identificar entre que atividades realmente ocorreram as diferenças significativas apontadas no teste Kruskal Wallis, aplicou-se o teste post hoc não paramétrico de Dunn, o qual aplica a correção de Bonferroni. Esta correção reduz o nível de significância adotado nas comparações múltiplas entre pares de médias de amostras independentes, compensando assim o aumento da probabilidade de ocorrência do erro de tipo I que está associado a este procedimento (Maroco, 2010). Todas as análises estatísticas foram realizadas com recurso ao programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20. 3.5.3 Análise dos padrões temporais de comportamento Os padrões temporais de comportamento foram detetados pelo programa informático Theme 5.0 (Magnusson, 2000, 2005).O Theme utiliza um algoritmo único de deteção de padrões-T que foi desenhado especialmente para a investigação comportamental, ao longo de duas décadas (Magnusson, 1996, 2000). A obtenção dos padrões-T baseia-se na relação temporal entre os comportamentos e na complexidade da sua estrutura. Assim, o algoritmo desenvolvido por Magnusson (1996) deteta os padrões-T em dois processos distintos. O primeiro relaciona-se com a análise do intervalo crítico de relação temporal entre os diferentes comportamentos, com base na estrutura fixa da sua ordem de ocorrência e da similar distância temporal entre cada padrão detetado. Este processo de identificação está representado graficamente na Figura 15. Figura 15 – Representação Esquemática de um padrão temporal (Magnusson, 1996, 2000). Susana Mendes Alves 101 METODOLOGIA CAPÍTULO III Na parte de superior da figura estão representados os comportamentos ocorridos ao longo do tempo. Na linha de baixo, representado com letras minúsculas, estão os comportamentos a,b,c,d que estavam “ocultos” no meio de outros comportamentos w,k sem ligação entre si. Como refere Magnusson (2000), quando um determinado comportamento “a” antecede um comportamento “b” e mais tarde, após nova ocorrência de “a” voltar a ocorrer o “b” num determinado intervalo de tempo, a probabilidade de isso ocorrer por factores aleatórios é diminuta. A relação temporal ente “a” e ”b” é definida como “intervalo crítico”, que está na base dos algoritmos de deteção de padrões de comportamento. Ou seja, estes algoritmos têm em consideração a ordem e o tempo em que os comportamentos se sucedem. O segundo processo, relaciona-se com o conceito de competição entre os padrões-T mais completos (Magnusson, 2000, 2005). Nesta fase, os padrões que são versões menos completas de outros padrões são eliminados. Por exemplo, dados os padrões x e y (x = ABD e y = ABCD; em que C não ocorre em x), se todos os eventos que ocorrem em x também estão presentes em y, então x é considerado um padrão incompleto de y e por essa razão é eliminado automaticamente da análise pelo programa Theme, por se considerar que não acrescenta nenhuma informação adicional (Magnusson, 2000). Este mecanismo assegura que apenas os padrões mais completos constituem o resultado do processo de deteção. Estes dois processos de deteção dos padrões-T, presentes no algoritmo desenvolvido por Magnusson (1996), são extremamente importantes quando se procura analisar padrões que estão integrados em comportamentos complexos. Ambos os processos assentam na extensiva repetição de algumas operações computacionais simples que envolvem apenas a teoria bonominal de probabilidade, fazendo com que os resultados obtidos através deste algoritmo sejam relativamente transparentes (Magnusson, 2000). Susana Mendes Alves 102 METODOLOGIA CAPÍTULO III 3.6 REFERÊNCIAS Alves, S. (2012). Comunicação Cinésico-Gestual dos Instrutores de Aulas de Grupo de Fitness: Desenvolvimento, validação e aplicação piloto do sistema de observação SOCIN-Fitness. Documento não publicado, Mestrado em Desporto especialização em condição física e saúde, Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Rio Maior. Anguera, M. T., Blanco, Á., & Losada, J. L. (2001). 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Susana Mendes Alves 108 Capítulo IV 4 ESTUDO 1 – Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do Instrutor de Fitness (SOPROX-Fitness): Desenvolvimento, Validação e Estudo Piloto RESUMO Este estudo foi realizado com o propósito de desenvolver e validar o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do Instrutor de Fitness, assim como realizar uma aplicação piloto do mesmo. No processo de desenvolvimento e validação do novo sistema de observação foram consideradas cinco fases sequenciais. No final deste processo foi estabelecida a validade e fiabilidade de 5 dimensões e 23 categorias de comportamento proxémico dos instrutores, criando-se a versão final deste sistema de observação. Esta versão do sistema foi aplicada num estudo piloto a uma amostra de 12 instrutores de fitness de quatro atividades de grupo distintas. Os resultados indicam que o comportamento proxémico dos instrutores pode ser codificado com recurso ao Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do Instrutor de Fitness, tendo sido realizada uma análise comparativa acerca da sua intervenção nas diversas atividades, ainda que com uma amostra reduzida. Palavras-chave: comportamento, comunicação não-verbal, exercício, aptidão física ABSTRACT The purpose of this study was to develop and validate the Observational System for the Proxemic Communication of the Fitness Instructor, as well as conduct a pilot application of the same. During the development and validation process of the new observation system it was employed five sequential phases. At the end of this process, it was established the validity and reliability of 5 coding dimensions and 23 categories of instructor kinesics behavior to create the final version of the observational system. This version of the observational system was applied in a pilot study conducted in a sample of 12 fitness instructors from four different group-exercise classes. The results indicated that instructor proxemics behavior could be feasibly coded, with the Observational System for the Proxemic Communication of the Fitness Instructor, having been held a comparative analysis about its intervention in the various activities, albeit with a small sample size. Key words: behavior, nonverbal communication, exercise, physical fitness ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV 4.1 INTRODUÇÃO A comunicação não-verbal, enquanto “todos os aspetos da comunicação que vão para além das palavras ditas ou escritas” (Knapp & Hall, 2010, p. 32), integra diferentes subdomínios de expressão. Um desses subdomínios é o da comunicação proxémica, definida inicialmente por Hall (1963) como sendo o estudo da utilização e perceção do espaço físico durante as interações com os outros. De acordo com Knapp e Hall (2010) é possível identificar quatro tipos de distâncias sociais: 1) distância íntima (0 - 45 cm) – que permite o contato físico para abraçar, tocar ou sussurrar; 2) distância pessoal (45 - 120 cm) – utilizada durante a interação com amigos próximos; 3) distância social (1.2 - 3.5 m) – utilizada durante a interação entre conhecidos, impossibilitando o toque; 4) distância pública (acima de 3.5 m) – utilizada para falar em público, estando o individuo situado fora do círculo mais imediato das restantes pessoas, conforme visto em conferências. Tendo em conta este referencial teórico, este estudo centra-se na análise da comunicação proxémica dos instrutores de fitness em contexto real de ensino das atividades grupo. O interesse por esta temática nasce de uma necessidade sentida no “terreno”, já que os instrutores estão grande parte do tempo em comunicação (Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008) em condições onde a deslocação pelo espaço e a proximidade física e emocional com os praticantes são por vezes difíceis de operacionalizar (e.g. salas grandes; vários praticantes). Esta dificuldade representa um verdadeiro desafio para os instrutores levando-os a modificar a sua localização no espaço com frequência. Por exemplo, o instrutor pode posicionar-se à frente da classe com o intuito de dar instrução ao grupo, colocando-se a uma distância de carácter pessoal e social relativamente aos praticantes. No entanto, durante o controlo da execução dos exercícios, o instrutor pode deslocar-se ao longo da sala e interagir a uma distância próxima com algum praticante, no sentido de dar um feedback individualizado. As diferentes relações espaciais estabelecidas podem assim ser planeadas como parte da estratégia de ensino, contribuindo para uma melhor comunicação e, consequentemente, eficácia do processo de ensino. Susana Mendes Alves 110 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV Dos poucos estudos encontrados sobre a comunicação proxémica no contexto de ensino, destacam-se os realizados recentemente por Castañer, Camerino, Anguera e Jonsson (2010, 2011) em professores de educação física. Nestes estudos, com recurso ao sistema de observação da comunicação proxémica (SOPROX) desenvolvido para o contexto do ensino da educação física, foi possível verificar que os professores de educação física inexperientes nem sempre fazem um uso eficiente do espaço de ensino, posicionando-se no centro dos alunos quando a atividade é realizada para a classe em geral ou é direcionada para pequenos grupos, ao passo que os professores experientes se posicionam na periferia. A existência de uma ferramenta de observação desta natureza, adaptada para o contexto das aulas de grupo de fitness, poderá ser utilizada para a autoanálise dos instrutores, permitindo a melhoria do seu processo comunicativo. Esta ferramenta poderá também ser utilizada no desenvolvimento de investigações futuras que identifiquem os comportamentos caraterísticos dos instrutores experientes, permitindo dessa forma, como referem Farrington-Darby e Wilson (2006), a aprendizagem dos instrutores menos experientes. Tendo em conta estas preocupações e considerando a importância da comunicação proxémica no contexto das aulas de grupo de fitness, este estudo objetivou o desenvolvimento e validação de um sistema de observação que avalie a comunicação proxémica dos instrutores de atividades de grupo, assim como a realização de uma aplicação piloto deste novo sistema de observação. Considerando a natureza diferenciada destes dois objetivos, iremos na secção destinada ao método descrever as fases de desenvolvimento e validação do sistema de observação em conjunto com os resultados obtidos em cada fase, por se considerar que ajudará a compreensão de cada procedimento utilizado, seguindo a mesma opção adotada noutros estudos com o mesmo objetivo (Costa, Garganta, Greco, Mesquita, & Maia, 2011; Cushion et al., 2012; Hernández Mendo, Díaz Martínez, & Morales Sánchez, 2010; Prudente, Garganta, & Anguera, 2004). Após a apresentação do desenvolvimento do sistema de observação prosseguimos com a apresentação da metodologia e dos resultados do estudo piloto. Susana Mendes Alves 111 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV 4.2 MÉTODO DE DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DO SISTEMA DE OBSERVAÇÃO 4.2.1 As cinco fases de desenvolvimento e validação do sistema de observação Para o desenvolvimento e validação do SOPROX-Fitness partiu-se do sistema de sistema de observação da comunicação proxémica (SOPROX) desenvolvido para o contexto do ensino da educação física (Castañer, Camerino, Anguera, & Jonsson, 2010, 2011). No desenvolvimento e validação de um sistema de observação é essencial que a metodologia adotada seja transparente (Cushion, Harvey, Muir, & Lee, 2012). Desta forma, o processo de desenvolvimento e validação do SOPROX-Fitness foi realizado de acordo com as cinco fases propostas na metodologia de Brewer e Jones (2002), as quais têm sido aplicadas no desenvolvimento e validação de sistemas de observação no contexto desportivo (Cushion et al., 2012; Ford, Yates, & Williams, 2010) e no contexto do fitness (Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008). Fase 1: Treino dos observadores e testagem da fiabilidade inter e intra-observador relativamente ao sistema de observação original Esta fase teve como objetivo assegurar que quem adaptou o instrumento o conhece na íntegra na sua versão original, demonstrando a consolidação de conceitos, procedimentos e metodologia inerente ao sistema de observação. Assim, foram visionadas as aulas de três instrutores de fitness codificadas com recurso ao sistema inicial de observação da comunicação proxémica, desenvolvido e validado para o contexto da educação física (Castañer et al., 2010, 2011) e testadas as fiabilidades inter e intra-observadores através do cálculo do índice de concordância Kappa de Cohen (Cohen, 1960). Tendo em conta que o treino inicial do observador é importante para determinar a fiabilidade e objetividade de um instrumento de observação sistemática (Brewer & Jones, 2002) foi adotada a metodologia de treino de observadores proposta por Mars (1989). Os valores de Kappa obtidos nesta fase ficaram compreendidos entre .789 e 1 para a fiabilidade inter-observadores e .808 e 1 na fiabilidade intraobservadores, indicando excelentes índices de concordância (Fleiss, 1981) e sustentando a existência de um conhecimento prévio adequado do sistema original. Susana Mendes Alves 112 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV Fase 2: Aperfeiçoamento do sistema de observação para o contexto das aulas de grupo de fitness De acordo com Potrac, Brewer, Jones, Armour e Hoff (2000), os sistemas de observação devem ser ajustados ao contexto específico de atuação para aumentar a sua validade e fiabilidade. Assim, seguindo as recomendações de Tuckman (2002), foram realizadas várias observações piloto em diferentes atividades de grupo com o SOPROX. A partir destas observações iniciais verificou-se a necessidade de proceder a adaptações. Desta forma, na dimensão que se refere à localização espacial do instrutor relativamente aos praticantes para quem comunica (i.e. Orientação), verificou-se a necessidade de acrescentar algumas categorias, já que os instrutores colocam-se à frente orientados de frente e no campo de visão dos praticantes (i.e. frente em espelho), à frente orientados de costas e no campo de visão dos praticantes (i.e. frente em correspondente) e à frente orientados de perfil mas no campo de visão dos praticantes (i.e. frente em perfil), tendo-se mantido as restantes orientações contempladas no sistema de observação original, designadamente, atrás, no meio, à direita e à esquerda dos praticantes para quem comunicam. Ao nível da dimensão que se refere à postura corporal adotada pelo instrutor no espaço (i.e. Transição), verificou-se que os instrutores adotam a posição bípede mas de forma diferenciada, ou seja, de uma forma fixa (i.e. Posição Fixa Bípede) ou em deslocamento no espaço (i.e. Posição Bípede com Deslocamento). Verificou-se também que os instrutores adotam posições fixas do tipo deitado dorsal, ventral e lateral. Esta diversidade de posições corporais advém das caraterísticas dos exercícios que são efetuados nas várias atividades de grupo existentes no contexto do fitness. Na inclusão destas novas categorias de análise, foram seguidos os pressupostos metodológicos propostos por Baesler e Burgoon (1987), ou seja, a identificação e afiliação das categorias às respetivas dimensões, bem como a enunciação das definições, morfologias e graus de abertura. Fase 3: Validação facial do novo sistema de observação por especialistas Um instrumento tem validade facial quando as suas dimensões e categorias aparentam ser relevantes e estão de acordo com o propósito do teste (Brewer & Jones, 2002; Kaplan & Saccuzzo, 2008). Desta forma, após as revisões efetuadas nas Susana Mendes Alves 113 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV fases anteriores, o sistema de observação foi submetido a dois painéis de especialistas para um processo de revisão independente. Um dos painéis foi constituído por três especialistas em observação sistemática (i.e. três docentes do ensino superior com o doutoramento realizado na área da observação) sendo o outro painel constituído por três especialistas em atividades de grupo de fitness (i.e. instrutores de fitness com mais de 10 anos de experiência na lecionação de aulas de grupo e ligados à formação superior de instrutores de fitness). Seguindo as recomendações de Brewer e Jones (2002), foram colocadas a ambos os painéis as seguintes questões: i.) “Existe algum elemento importante que tenha sido omisso nas categorias de comportamentos?”; ii.) “Existe algum elemento que não seja importante que tenha sido erradamente incluído nas categorias de comportamentos?”; iii.) “O conjunto de elementos descritos reflete os comportamentos proxémicos dos instrutores de fitness nas aulas de grupo?”. Todos os especialistas validaram o sistema de observação, tendo no entanto feito algumas sugestões de melhoria. A partir das sugestões dadas pelos especialistas, foram corrigidas questões semânticas nalgumas definições de categorias, nomeadamente: na categoria “Distanciado” da dimensão “Interação” a palavra “ausente” foi substituída por “abstraído”, devido ao facto de a palavra “ausente” pressupor a não presença do instrutor; na categoria “Locomoção” da dimensão “Transição” a palavra “movimenta-se” foi substituída por “circula”, uma vez que a palavra “movimenta-se” poderia provocar ameaças à exclusividade da categoria “Posição Bípede com Deslocamento”. Importa referir que estas alterações foram introduzidas por consenso geral do grupo de desenvolvimento. Fase 4: Fiabilidade inter-observadores relativamente ao novo sistema de observação Esta fase pressupõe o teste da objetividade das definições atribuídas às categorias de comportamentos, de acordo com a metodologia proposta por Brewer e Jones (2002) e que têm sido comummente utilizada em estudos que visam o desenvolvimento e validação de sistemas de observação (Costa et al., 2011; Gorospe, Hernández Mendo, Anguera, & Martínez de Santos, 2005; Hernández Mendo et al., 2010; Hernández Mendo, Montoro Escaño, Reina Gómez, & Fernández García, 2012). Desta forma, pretendeu-se testar a consistência das observações, ou seja, verificar se diferentes observadores codificam os mesmos comportamentos observados nas Susana Mendes Alves 114 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV mesmas categorias. Para tal, dois observadores treinados de acordo com a metodologia de Mars (1989) efetuaram separadamente a respetiva codificação de um vídeo de aulas de grupo de fitness, de forma a não existir acesso aos registos de ambos. No seguimento deste processo, para cada categoria, foi calculado o índice de concordância através do teste Kappa de Cohen (Cohen, 1960). Em todas as categorias registaram-se valores de Kappa superiores a .750, variando entre .750 e 1. Estes valores revelam a existência de níveis elevados de fiabilidade inter-observadores (Fleiss, 1981), indicando que as variáveis do sistema de observação são consistentes e objetivas. Fase 5: Fiabilidade intra-observador relativamente ao novo sistema de observação O teste da fiabilidade intra-observador pretende verificar a existência de estabilidade temporal nas observações. Este procedimento foi realizado através da técnica de teste-reteste, conforme proposto por Brewer e Jones (2002) e aplicado noutros estudos que visam o desenvolvimento e validação de sistemas de observação (Costa et al., 2011; Cushion et al., 2012; Gorospe et al., 2005; Hernández Mendo et al., 2010; Hernández Mendo et al., 2012). Assim sendo, o observador-investigador visionou o mesmo vídeo em duas ocasiões distintas, distando as observações uma semana (7 dias), como proposto por Mars (1989). Para cada categoria do novo sistema de observação foram obtidos valores de Kappa superiores a .750 em todas as categorias de análise, sendo o valor mínimo de . 766 e máximo de 1. Estes resultados indicam a existência de excelentes índices de concordância (Fleiss, 1981), revelando que o sistema de observação é consistente e que o observador-investigador codifica da mesma forma os comportamentos dos instrutores de atividades de grupo de fitness, independentemente do momento. O Quadro 19 apresenta a versão final do SOPROXFitness, a qual é composta por 5 dimensões de análise e 23 categorias. 4.3 MÉTODO DO ESTUDO PILOTO Estando o processo de desenvolvimento e validação concluído, seguidamente será apresentado o estudo piloto realizado com a versão final do SOPROX-Fitness. O estudo piloto enquadra-se no âmbito da metodologia observacional (Anguera, 2003), Susana Mendes Alves 115 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV que permite o registo formal e análise de comportamentos e ações motoras em contexto natural (Anguera, 2009). Relativamente ao desenho observacional, este estudo caracteriza-se por ser ideográfico (I), pontual (P) e multidimensional (M) (Anguera, Blanco, & Losada, 2001; Anguera, Blanco Villaseñor, Hernández Mendo, & Losada, 2011). 4.3.1 Participantes no estudo piloto Participaram no estudo piloto 12 instrutores de fitness portugueses (i.e. 3 instrutores de Step; 3 instrutores de Localizada; 3 instrutores de Indoor Cycling e 3 instrutores de Hidroginástica) que aceitaram fazer parte desta investigação e que cumpriam os critérios de inclusão definidos: i) serem do género feminino, já que o género dos sujeitos poderia influenciar a comunicação proxémica dos instrutores (Kennedy & Camden, 1983); ii) serem licenciados em condição física e saúde no desporto, uma vez que alguns estudos apontam para o facto da formação inicial poder influenciar a atuação profissional dos treinadores/professores (Malek, Nalbone, Berger, & Coburn, 2002); iii) terem pelo menos 5 anos de experiência como instrutor de fitness, considerando que a taxonomia definida por Berliner (1994) e o estudo realizado no contexto do fitness (Simões, Franco, & Rodrigues, 2009) que indicam a experiência profissional como determinante para o comportamento dos instrutores; iv) terem pelo menos 5 anos de experiência na lecionação da respetiva atividade com uma frequência mínima de 3 sessões semanais, de forma a uniformizar a experiência dos instrutores. Os instrutores tinham idades compreendidas entre os 24 e os 48 anos (M = 31.50; DP = 6.14), para além de que contavam com uma experiência profissional como instrutor de fitness de 6 a 26 anos (M = 9.83; DP = 5.52) e experiência na lecionação da atividade de 5 a 17 anos (M = 8.25; DP = 3.75) com uma frequência semanal de 3 a 4 sessões (M = 3.67; DP = 0.49). Susana Mendes Alves 116 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV 4.3.2 Instrumentos Para a análise da comunicação proxémica dos instrutores foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica Fitness (SOPROX-Fitness), o qual foi anteriormente desenvolvido e validado para o contexto das atividades de grupo de fitness. 4.3.3 Materiais e procedimentos de recolha de dados no estudo piloto A recolha dos dados foi efetuada sempre mediante um pedido prévio de autorização ao responsável do ginásio, bem como aos instrutores e praticantes envolvidos. Todos os instrutores deram o seu consentimento informado para fazerem parte desta investigação. Foram cumpridas as recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação na área do desporto e exercício, garantindo dessa forma a proteção de todos os participantes. As gravações dos vídeos (i.e. imagem e som) foram realizadas com recurso a uma câmara digital, sendo o seu conteúdo posteriormente transferido para o disco rígido de um computador. Para o visionamento e registo das ocorrências foi utilizado o programa informático LINCE (Gabín, Camerino, Anguera, & Castañer, 2012), tendo sido observada uma sessão de cada instrutor que fez parte da amostra. O comportamento próxemico dos intrutores foi registado sempre que o instrutor se dirigiu ao(s) praticante(s) com o intuito de comunicar de forma não-verbal, através da realização de gestos com e sem intenção comunicativa. Os dados foram em seguida transportados para o programa informático SPSS – Statistical Pachage for Social Sciences, versão 20, para a realização dos cálculos estatísticos efetuados. 4.3.4 Procedimentos estatísticos no estudo piloto Para cada atividade foram calculadas as medidas de tendência central (i.e. média) e medidas de dispersão (i.e. desvio-padrão; valor mínimo e máximo) tendo em conta o número total de intervenções de comunicação não-verbal e a percentagem de ocorrências verificada em cada uma das categorias do SOPROX-Fitness. As diferenças Susana Mendes Alves 117 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV entre as médias obtidas para cada atividade foram analisadas com recurso ao teste estatístico não paramétrico de Kruskal Wallis, apropriado para comparações entre três ou mais amostras independentes (Maroco, 2010), considerando que a aplicação prévia do teste de Shapiro-Wilk indicou que as variáveis dependentes não possuíam uma distribuição normal. Para identificar entre que atividades ocorreram as diferenças significativas apontadas no teste Kruskal Wallis, foi utilizado o teste post hoc não paramétrico de Dunn, o qual aplica a correção de Bonferroni ao nível de significância utilizado nas comparações múltiplas entre pares de médias (Maroco, 2010). 4.4 RESULTADOS DO ESTUDO PILOTO Para a realização do estudo piloto foram observadas um total de 12 aulas de atividades grupo, com uma duração média de 47 minutos (DP = 45 segundos). Por cada aula registou-se uma média de 242 (DP = 78.53) intervenções não-verbais gestuais, o que equivale a uma média de 5.16 (DP = 1.96) intervenções por minuto. A atividade onde os instrutores interagiram mais vezes por minuto foi a de Step (M = 7.36; DP = 1.82), seguida pelas atividades de Indoor Cycling (M = 4.92; DP = 1.45), Hidroginástica (M = 4.73; DP = 1.69) e por fim a de Localizada (M = 3.68; DP = 1.72). No que diz respeito à comunicação proxémica, verifica-se que a maioria das intervenções não-verbais gestuais foram dirigidas para a classe (i.e. Macro-grupo), na zona periférica da sala, com uma atitude corporal que revela envolvimento no que se passa na aula (i.e. Integrada), na frente da sala e virados de frente para os praticantes, numa posição bípede sem deslocamento (Quadro 29). Todavia, o teste de KruskalWallis, aponta a existência de diferenças significativas entre as atividades (p < .05) nas categorias “Macro-grupo”, “Díade”, “Periférica”, “Central”, “Frente Espelho”, “Frente Correspondente”, “Frente Perfil”, “No Meio”, “Posição Fixa Bípede”, Posição Fixa Sentado, Posição “Bípede com Deslocamento”, “Locomoção” e “Posição Fixa Dorsal”. Susana Mendes Alves 118 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV Quadro 29 – Análise descritiva e comparativa das frequências relativas registadas em cada uma das categorias do SOPROX-Fitness. 1. Step Dimensão Categoria Grupo Topologia Interação M (%) DP (%) M (%) *4 2. Localizada DP (%) M (%) *4 Macro-grupo 87.67 9.58 99.09 1.35 87.98 Micro-grupo 2.52 2.78 0.32 0.36 1.16 *4 Díade 9.95 7.09 0.59 Periférica 96.84 5.17 99.83 *2 *2 0.12 1.02 0.15 0.15 DP (%) 3.73 0.89 3. Indoor M (%) *4 87.45 4.81 2.04 0.58 *4 6.92 10.51 *1,3,4 3.00 99.05 10.86 88.59 *1,3,4 Central 3.16 5.17 11.41 Distanciada 1.20 1.40 0.18 0.30 2.50 Integrada 98.35 1.95 99.82 0.30 95.72 Contacto 0.45 0.81 0.00 0.00 1.78 61.26 32.91 71.14 22.37 29.87 28.19 Frente Perfil 7.80 10.55 0.67 Atrás 2.52 3.00 2.07 1.79 0.23 DP (%) *4 7.21 *2 0.99 *2 0.95 0.99 4. Hidroginástica M (%) *1,2,3 75.63 6.55 DP (%) p 3.53 .032 2.84 .217 *1,2,3 9.45 .044 *2 0.30 .025 0.30 .025 17.82 99.83 *2 0.17 1.16 0.40 0.97 1.42 .091 98.84 0.40 99.03 1.42 .091 0.00 0.00 0.00 0.00 .317 11.83 .022 *1,2 1.18 .024 *1,2,3 8.52 .032 Táctil Orientação Frente *2,3 9.95 16.50 *1,3,4 21.95 98.44 *3,4 10.30 59.05 0.66 7.00 *1,2,4 1.40 58.97 *3,4 37.09 0.47 5.97 0.54 *2,3 *1,2 0.55 1.77 *4 0.94 23.01 Espelho Frente Corres. Transição 1.07 *4 0.00 0.00 *4 1.09 *1,3,4 0.00 0.00 3.16 4.93 .086 6.28 0.00 0.00 0.00 0.00 .013 No Meio 2.21 4.81 0.00 0.00 Direita 1.58 3.05 0.00 0.00 2.73 3.85 0.00 0.00 3.58 4.58 .171 Esquerda 3.71 5.69 0.00 0.00 4.78 2.56 0.55 0.95 9.51 9.12 .082 P.B. Desloc. 25.86 34.43 P.F. Bípede 29.69 P.F. Sentado 26.94 24.25 42.47 *2,3,4 78.77 *2,4 19.24 *3 0.79 *2 11.24 1.37 *1,3 32.66 *3 7.25 *1,3,4 7.31 7.71 *2,4 2.99 *1,2,4 97.01 *2 1.32 1.32 3.40 .047 *1,3 7.41 .015 *3 2.35 .034 *2 0.00 .013 63.85 2.71 0.67 0.00 0.00 1.45 0.38 0.00 0.00 0.00 0.00 .088 P.F. Lateral 0.31 0.79 0.00 0.00 1.23 1.33 0.00 0.00 0.00 0.00 .097 8.03 .025 0.00 1.000 Suporte 0.00 0.00 0.00 0.59 0.00 16.87 0.00 12.84 0.00 *2,4 0.00 0.00 0.00 *1,2 3.50 0.36 1.20 0.00 0.00 P.F. Ventral *1,3 14.13 *1,2 0.00 10.63 14.39 19.36 19.08 4.84 *2,4 0.00 *3,4 21.18 P.F. Dorsal Locomoção 12.00 0.00 12.61 8.85 0.83 0.00 0.00 0.00 *1,3 29.94 0.00 Legenda: M = Média; DP = desvio-padrão; Corres. = correspondente; P.B. Desloc. = posição bípede com deslocamento; P.F. = posição fíxa; p = significância do teste de Kruskal-Wallis. Para identificar entre que atividades ocorreram as diferenças identificadas no teste de Kruskal-Wallis foram realizadas comparações múltiplas entre cada par de atividades, com recurso ao teste post hoc não paramétrico de Dunn. Seguidamente, para cada categoria, são apresentadas as atividades onde ocorreram diferenças significativas: Susana Mendes Alves 119 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO i) CAPÍTULO IV Categoria “Macro-grupo” - os instrutores de Hidroginástica comunicaram significativamente menos para o Macro grupo comparativamente aos instrutores das restantes três modalidades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; ii) Categoria “Díade” - os instrutores de Hidroginástica comunicaram significativamente mais em “Díade” comparativamente aos instrutores das restantes três modalidades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; iii) Categoria “Periférica” - os instrutores de Localizada comunicaram significativamente menos a partir da periferia da sala comparativamente aos instrutores das restantes três modalidades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; iv) Categoria “Central” - os instrutores de Localizada comunicaram significativamente mais na zona central da sala comparativamente aos instrutores das restantes três modalidades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; v) Categoria “Frente em Espelho” - os instrutores de Localizada comunicaram significativamente menos a partir de uma orientação em espelho, sendo que na atividade de Indoor Cyling se passa o oposto, ou seja, os instrutores comunicaram significativamente mais a partir desta orientação, em ambos os casos comparativamente aos instrutores das restantes três atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; vi) Categoria “Frente em Correspondente” - os instrutores de Step e Localizada não se diferenciaram entre si e comunicaram significativamente mais a partir de uma orientação correspondente, comparando com os instrutores das restantes duas atividades; vii) Categoria “Frente em Perfil” - os instrutores de Hidroginástica comunicaram significativamente mais com uma orientação em perfil, comparativamente aos instrutores das restantes três atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; viii) Categoria “No Meio” - os instrutores de Localizada comunicaram significativamente mais a partir do meio dos praticantes, comparativamente aos Susana Mendes Alves 120 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV instrutores das restantes três atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; ix) Categoria “Posição Fixa Bípede” - os instrutores das atividades de Localizada e Hidroginástica não se diferenciaram entre si e comunicam significativamente mais a partir desta posição, comparativamente aos instrutores das restantes duas atividades; x) Categoria Posição Fixa Sentado - os instrutores de Indoor Cycling comunicaram significativamente mais a partir da posição fixa sentado, comparativamente aos instrutores das restantes três atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; xi) Categoria “Posição Bípede com Deslocamento” - os instrutores de Step comunicaram significativamente mais a partir da posição bípede com deslocamento, comparativamente às restantes três modalidades, sendo que os instrutores de Localizada também comunicaram mais a partir desta posição, comparativamente às atividades de Indoor Cycling e Hidroginástica; xii) Categoria “Locomoção” - os instrutores de Localizada e Hidroginástica não se diferenciaram e comunicaram significativamente mais em situação de Locomoção, comparativamente aos instrutores das restantes duas atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si; xiii) Categoria “Posição Fixa Dorsal” - os instrutores de Localizada comunicaram significativamente mais a partir desta posição, comparativamente aos instrutores das restantes três atividades, os quais não se diferenciaram significativamente entre si. 4.5 DISCUSSÃO O presente estudo objetivou o desenvolvimento e validação de um novo sistema de observação para a análise da comunicação proxémica de instrutores fitness, com o propósito de conceber uma ferramenta válida para a análise do perfil de comunicação proxémica dos instrutores de atividades de grupo. De acordo com Anguera (2003) o desenvolvimento de um instrumento ad hoc, deve ter a finalidade de estar totalmente adaptado à conduta e ao contexto onde se aplica. Para cumprir este Susana Mendes Alves 121 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV requisito, os procedimentos utilizados no desenvolvimento e validação do SOPROXFitness foram suportados pela literatura (Brewer & Jones, 2002; Cushion et al., 2012). Os resultados do processo de validação revelaram que o instrumento é objetivo, válido e consistente na sua aplicação, tendo em conta os critérios definidos por Hernández Mendo et al. (2010), sendo a versão final constituído por 5 dimensões de análise e 23 categorias. A versão desenvolvida e validada do SOPROX-Fitness foi posteriormente aplicada a 12 instrutores num estudo piloto. Os resultados evidenciaram a importância da comunicação neste contexto, já que os instrutores realizaram uma média de 242 (DP = 78.53) intervenções comunicativas por aula, ou seja uma média de 5.16 (DP = 1.96) intervenções por cada minuto. No que diz respeito ao número de praticantes para quem o instrutor comunica (i.e. Grupo) verificou-se que em todas as quatro atividades analisadas a grande maioria das intervenções orientaram-se para toda a classe (M = 87.67; DP = 9.58). Estes resultados justificam-se pelo facto de nas atividades de grupo de fitness, geralmente, toda a classe realizar os mesmos exercícios em simultâneo, levando a que os instrutores necessitem de transmitir a mesma informação a todo o grupo. Realçamos contudo que na atividade de Hidroginástica os instrutores individualizaram significativamente mais as intervenções, provavelmente pelo facto de esta atividade praticada dentro de uma piscina, estando os alunos mais dispersos entre si. No que concerne à localização espacial dos instrutores (i.e. Topologia), verificou-se que a maioria das intervenções foi realizada na zona periférica da sala (M = 96.84; DP = 5.17). O facto de a amostra ser constituída por instrutores experientes poderá ter contribuído para estes resultados, já que, como constatou Castañer et al. (2011), os professores experientes tendem a se colocar mais na periferia para facilitar a observação tendo todos, ou a maioria dos praticantes, no campo de visão. Importa ainda referir que os instrutores de Localizada efetuaram significativamente mais intervenções pedagógicas na parte central da sala, comparativamente às restantes atividades, onde esta categoria apresenta uma percentagem reduzida, ou mesmo nula no caso da Hidroginástica. Esta diferença Susana Mendes Alves 122 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV poderá estar relacionada com as próprias caraterísticas das atividades, já que, no caso da atividade de Hidroginástica, existe o condicionamento do meio, estando o instrutor no deck à volta da piscina onde se encontram os praticantes, sendo que no caso do Step e principalmente do Indoor Cycling existe também o condicionamento do material utilizado pelo professor (i.e. Step ou bicicleta estacionária) o qual se encontra geralmente colocado na periferia da sala. No que diz respeito ao grau de envolvimento do instrutor com os praticantes para quem comunica (i.e. Interação), a quase generalidade das intervenções ocorreram quando os instrutores tinham uma atitude corporal que revelava estarem envolvidos e próximos do que se passava na sessão (M = 98.35; DP = 1.95), sendo esta caraterística comum às quatro atividades. Quanto à localização espacial (i.e. Orientação), verificou-se que nas atividades de Step, Indoor Cycling e Hidroginástica os instrutores posicionaram-se maioritariamente à frente da classe e virados de frente para os praticantes (i.e. Frente em espelho). No caso do Indoor Cycling esta orientação foi significativa superior relativamente a todas as restantes atividades (M = 98.44; DP = 1.40), o que se poderá justificar pelo facto de os instrutores se posicionarem habitualmente numa bicicleta estacionária virada de frente para os praticantes, mantendo-se esta orientação durante grande parte da sessão. Na atividade de Step importa realçar que a 2.ª orientação mais utilizada é a orientação em correspondente (M = 28.19; DP = 10.30), talvez porque em certas habilidades motoras, particularmente as mais complexas, o posicionamento em correspondente permite uma melhor perceção dos praticantes acerca das habilidades motoras realizadas pelo instrutor. Tanto na atividade de Localizada como de Hidroginástica, os instrutores apresentam maior variabilidade de utilização de orientações, possivelmente por questões de exigência técnica e postural que é necessária e que se pretende que seja demonstrada no melhor plano (i.e. o plano em que se veem os movimentos do exercício) aos praticantes. Relativamente ao posicionamento dos instrutores à frente da classe, esta posição permite-lhes não só ter uma visão ampla de todos os praticantes, como também reafirmar o seu estatuto de “líder” em virtude dessa posição que ocupa no espaço, já que, como referem Knapp e Susana Mendes Alves 123 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV Hall (2010), o posicionamento dos intervenientes no espaço dá também indicações sobre a natureza da interação e o estatuto de cada um nessa mesma interação. Da análise efetuada à postura corporal adotada pelo instrutor no espaço (i.e. Transição), no caso do Step, verifica-se que os instrutores interagiram significativamente mais quando estavam numa posição bípede e em deslocamento (M = 78.77; DP = 12.61), provavelmente porque todas as habilidades motoras de Step são realizadas na posição de pé, estando geralmente associadas a algum tipo de deslocamento. Já no caso da atividade de Localizada, por ser uma atividade que explora exercícios musculares localizados, o instrutor tende a adotar ao longo da sessão vários tipos de posições sem deslocamentos, justificando as intervenções realizadas nas posições fixas bípede (M = 32.66; DP = 7.31), dorsal (M = 19.36; DP = 14.13) e sentado (M = 7.25; DP = 7.71). Sendo esta atividade constituída maioritariamente por exercícios estáticos, as intervenções que ocorreram na posição bípede com deslocamento (M = 21.18; DP = 19.08) poderão justificar-se pelas intervenções efetuadas durante a fase de aquecimento, onde usualmente são realizadas habilidades motoras simples de Step ou Aeróbica, ainda que a utilização desta estratégia varie muito entre os instrutores levando a que o desvio padrão seja acentuado. Já no caso da atividade de Indoor Cycling, as intervenções foram realizadas maioritariamente na posição fixa sentado (M = 97.01; DP = 1.32), o que se explica pelo facto de a atividade ser realizada numa bicicleta estacionária (Shechtman, 2000). Na atividade de Hidroginástica, as intervenções ocorreram significativamente mais a partir da posição fixa bípede (M = 63.85; DP = 7.41), já que à semelhança da Localizada também aqui são utilizados alguns exercícios sem deslocamento. Salienta-se o facto de nas atividades como o Step e o Indoor Cycling se registar uma percentagem significativamente baixa de intervenções em Locomoção, provavelmente por os instrutores estarem condicionadas à utilização de materiais (i.e. plataforma de Step; bicicleta estacionária) que tendem a “fixar” os instrutores. Já no caso da atividade de Hidroginástica os instrutores sentem muitas vezes a necessidade de se movimentar ao longo do deck para poderem comunicar com os praticantes, os quais tendem a se dispersar ao longo da piscina. Susana Mendes Alves 124 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV 4.6 CONCLUSÕES Os resultados referentes ao processo de adaptação e desenvolvimento do SOPROX-Fitness sugerem que este sistema é válido para a observação da comunicação proxémica dos instrutores de fitness em contexto real de ensino de atividades de grupo, considerando não só a validade facial e de conteúdo realizada pelos especialistas que fizeram parte da fase de desenvolvimento deste sistema, como também os resultados de fiabilidade inter-observadores e intra-observador. O estudo piloto realizado permitiu demonstrar o potencial do SOPROX- fitness para a análise do perfil de comunicação proxémica dos instrutores de fitness envolvidos nas atividades de Localizada, Step, Indoor Cycling e Hidroginástica. Os resultados evidenciaram que, estando os instrutores de atividades de grupo de fitness a maior parte do tempo de aula em exercício, e tendo as atividades exercícios específicos que exigem determinado tipo de posições, a comunicação proxémica do instrutor fica grandemente condicionamento pelos exercícios utilizados na respetiva atividade. Por esta razão será importante que no futuro, este sistema possa a vir a ser utilizado ao nível da formação de instrutores de fitness, assim como para autoanálise dos profissionais e que a sua aplicação seja estendida a amostras de maior dimensão e a mais atividades de grupo de fitness. Susana Mendes Alves 125 ESTUDO 1 – SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS (SOPROX-FITNESS): DESENVOLVIMENTO, VALIDAÇÃO E ESTUDO PILOTO CAPÍTULO IV 4.7 REFERÊNCIAS Anguera, M. T. (2003). Observational Methods (General). In R. Fernández-Ballesteros (Ed.), Encyclopedia of Psychological Assessment (Vol. 2, pp. 632-637). London: Sage. 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Susana Mendes Alves 129 Capítulo V 5 ESTUDO 2 – Comunicação Cinésica dos Instrutores de Fitness: Comparação entre instrutores de Localizada experientes e estagiários RESUMO Este estudo objetiva a análise comparativa da comunicação cinésica de instrutores de fitness de Localizada, em função de diferentes níveis de experiência profissional. Participaram neste estudo 72 instrutores de Localizada. Os instrutores foram divididos em dois grupos em função da sua experiência profissional: grupo de instrutores experientes (n = 37); grupo de instrutores estagiários (n = 35). As aulas foram filmadas e os comportamentos dos instrutores codificados com recurso ao Sistema de Observação da Comunicação Cinésica - Fitness (SOCIN-Fitness). Os resultados revelaram que instrutores experientes realizaram significativamente mais gestos que: 1) pressupõem uma resposta imediata por parte dos praticantes; 2) têm uma morfologia técnica, numérica ou deítica; 3) tiveram o objetivo de organizar a classe; 4) foram efetuados durante a realização dos exercícios. Por outro lado, os instrutores estagiários realizam significativamente mais gestos que: 1) não pressupôs uma resposta imediata dos praticantes; 2) tiveram uma morfologia social, espacial ou pouco definida; 3) objetivaram a interação com os praticantes; 4) foram efetuados sem a realização de exercício. Os resultados sugerem uma maior diversidade e eficiência na utilização da comunicação cinésica por parte dos instrutores experientes. Palavras-chave: comportamento, comunicação não-verbal, exercício, aptidão física ABSTRACT This study aimed the comparative analysis of fitness instructor’s kinesics communication, analysing different levels of professional experience. In this study 72 resistance group activity instructors participate. They were divided in to two groups accordingly their professional experience: expert group (n = 37); novice group (n = 35). The classes were recorded and their behaviour was coded using the Observational System for the Kinesics Communication of the Fitness Instructor (SOCIN-Fitness). Results show that expert instructors performed statistically significant more gestures that: 1) required exercisers immediate response; 2) have technical, numeric or deictic morphologies; 3) were concerned about class organisation; 4) were performed while during exercise. On the other hand, novice instructors performed significantly more gestures that: 1) didn´t require the exercisers immediate response; 2) have a social, spatial or less defined morphology; 3) aimed interaction with exercisers; 4) were performed without doing exercise themselves. The results suggest a more diverse and efficient use of the kinesics communication by the expert fitness instructors. Key words: behaviour, non-verbal communication, exercise, physical fitness ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 5.1 INTRODUÇÃO Este artigo centra-se na análise da comunicação cinésica dos instrutores de fitness durante o ensino de aulas de grupo de Localizada, designadamente do uso que fazem de gestos, com e sem intenção comunicativa, e do corpo para acompanhar e regular o comportamento dos praticantes de exercício. De acordo com Roth (2001), apesar da importância assumida pelos gestos durante o processo de ensinoaprendizagem, pouca investigação tem sido conduzida neste âmbito desde o início do estudo da comunicação cinésica com Birdwhistell (1952, 1970). Por essa razão, consideramos importante o desenvolvimento de estudos sobre essa temática no contexto das aulas de grupo de fitness, dada a importância que esta componente assume neste contexto específico, pelo facto de se utilizar música com volume elevado a acompanhar a realização dos exercícios (Mirbod et al., 1994; Yarenchuk & Kaczor, 1999). Nestas condições, os instrutores tendem a acompanhar ou a substituir as principais instruções verbais por um código gestual universal e/ou previamente estabelecido que permite uma maior rapidez e clareza na comunicação. Para além disso, esta comunicação gestual permite minimizar o uso da voz protegendo as cordas vocais de possíveis lesões, já que os instrutores de aulas de grupo de fitness experienciam frequentemente fadiga na voz e têm um risco elevado de desenvolver patologias associadas à sua utilização (Heidel & Torgerson, 1993; Long, Williford, Olson, & Wolfe, 1998), especialmente aqueles que utilizam a sua voz durante mais tempo e com um volume da música mais elevado durante as aulas de grupo (Wolfe, Long, Youngblood, Williford, & Olson, 2002). Considerando a sua importância no contexto das aulas de grupo de fitness, propomo-nos estudar a comunicação cinésica dos instrutores de fitness com base na sua experiência profissional, uma vez que, como refere Berliner (2001), à medida que os indivíduos vão ganhando experiência tendem a se tornar mais competentes e eficazes na realização das suas atividades. De acordo com Webster (2008), este tipo de análise comparativa, entre professores experientes e inexperientes, permite um melhor entendimento sobre o que constitui uma comunicação de sucesso, já que ao se ter acesso aos automatismos caraterísticos dos professores experientes (Berliner, Susana Mendes Alves 131 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 2001; Sabers, Cushing, & Berliner, 1991), possibilita-se a aprendizagem dos professores menos experientes (Farrington-Darby & Wilson, 2006). Isso mesmo foi evidenciado recentemente nalguns estudos realizados no contexto do ensino sobre o comportamento cinésico de professores de educação física com e sem experiência (Castañer et al., 2010, 2011). De acordo com estes estudos, os professores com menos experiência, apesar de realizarem uma maior quantidade de gestos, apresentavam uma comunicação gestual de menor qualidade, influenciando diretamente as aprendizagens dos alunos. Seguindo esta linha de investigação, o presente estudo objetiva a caracterização e comparação do comportamento cinésico de instrutores de Localizada com diferentes níveis de experiência profissional. 5.2 MÉTODO Este estudo será realizado de acordo com o paradigma da metodologia observacional (Anguera, 2003), a qual combina a abordagem qualitativa e quantitativa do comportamento (Castañer, Franco, Rodrigues, & Miguel, 2012) e permite o registo formal dos comportamentos e ações motoras em contexto natural (Anguera, 2009). Esta metodologia ajusta-se ao objetivo definido, já que a análise do efeito da experiência profissional em contextos onde a interação social está presente necessita de uma abordagem naturalística e contextualmente específica, uma vez que os sujeitos com mais experiência tendem a detetar estímulos do meio envolvente que não são percetíveis aos menos experientes (Allen & Casbergue, 1997; Farrington-Darby & Wilson, 2006; Sabers et al., 1991). Relativamente ao desenho observacional, este estudo pode ser caracterizado como sendo ideográfico (I), pontual (P) e multidimensional (M), conforme a classificação proposta por Anguera, Villaseñor, Blanco e Losada (2001). 5.2.1 Participantes Participaram neste estudo 72 instrutores de fitness portugueses, correspondendo a todos os instrutores da licenciatura em condição física e saúde no Susana Mendes Alves 132 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI desporto, que lecionavam a atividade de Localizada e que aceitaram participar nesta investigação. Para a análise comparativa, os sujeitos foram divididos em dois grupos em função da sua experiência profissional, tendo como referência o critério de primeiro ano de experiência profissional para os instrutores estagiários e o critério de 5 anos de experiência para os instrutores experientes. Estes valores de corte estão de acordo com o modelo de experiência profissional proposto por Berliner (1994). Seguidamente são caraterizados em separado cada um dos grupos definidos. Grupo de instrutores estagiários - fizeram parte deste grupo 35 instrutores de fitness estagiários do género masculino (n = 12; 34%) e feminino (n = 23; 66%), com idades compreendidas entre os 20 e os 35 anos (M = 22.54; DP = 2.91) e com uma experiência profissional que variou entre os 0.42 e os 0.92 anos (M = 0.64; DP = 0.15) e de experiência como instrutores de Localizada que variou entre os 0.17 e os 0.92 anos (M = 0.59; DP = 0.16). Grupos de instrutores experientes - fizeram parte deste grupo 37 instrutores de fitness do género masculino (n = 18; 49%) e feminino (n = 19; 51%), com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos (M = 30.32; DP = 4.24) e com uma experiência profissional que variou entre os 5 e os 14 anos (M = 7.64; DP = 2.24) e de experiência como instrutores de Localizada que variou entre os 5 e os 12.19 anos (M = 7.26; DP = 2.19). 5.2.2 Instrumentos Para a análise da comunicação cinésica dos instrutores de fitness foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Cinésica - Fitness (SOCIN-Fitness), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 21 categorias (Quadro 5). Este sistema de observação permite a análise da comunicação cinésica sobre o ponto de vista dos gestos com intenção comunicativa ao nível da sua função, morfologia, objetivo pedagógico e participação do instrutor nos exercícios, assim como dos gestos sem intenção comunicativa (i.e. gestos adaptadores). Susana Mendes Alves 133 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 5.2.3 Procedimentos de recolha e registo de dados A recolha dos dados foi efetuada sempre mediante um pedido prévio de autorização ao responsável do ginásio, bem como aos instrutores e praticantes envolvidos. Todos os instrutores deram o seu consentimento informado por escrito para fazerem parte desta investigação. Os procedimentos adotados cumprem as recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação na área do desporto e exercício, garantindo dessa forma a proteção de todos os participantes. As gravações dos vídeos (i.e. imagem e som) foram realizadas com recurso a uma câmara digital, sendo o seu conteúdo posteriormente transferido para o disco rígido de um computador para visionamento e registo das ocorrências com recurso ao programa LINCE (Gabín, Camerino, Anguera, & Castañer, 2012). Foi observada uma sessão por cada instrutor que fez parte da amostra, sendo registada uma ocorrência sempre que os instrutores efetuavam um gesto com ou sem intenção comunicativa. 5.2.4 Procedimentos estatísticos Para a análise da qualidade dos dados foi realizado o treino dos observadores e posteriormente, foi testada a fiabilidade inter-observadores e intra-observador em todas as categorias através do cálculo do índice de concordância Kappa de Cohen (Cohen, 1960), tendo-se para tal visionado e codificado um vídeo de uma aula de grupo de fitness. Esta análise permite garantir que o erro é reduzido e que existe estabilidade e consistência nas observações, assegurando que se pode prosseguir para o registo de dados (Blanco-Villaseñor & Anguera, 2003). Foram obtido valores compreendidos entre .75 e 1 em ambos os testes, revelando elevados níveis de concordância (Fleiss, 1981), em ambos os testes. A apresentação dos resultados obtidos foi realizada com recurso a medidas de tendência central (i.e. média) e medidas de dispersão (i.e. desvio-padrão; valor mínimo e máximo) para cada grupo de instrutores, tendo em conta o número total de intervenções de comunicação não-verbal e a percentagem de ocorrências verificada Susana Mendes Alves 134 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI em cada uma das categorias do SOCIN-Fitness. Para a realização das análises comparativas foi previamente avaliado o cumprimento dos dois pressupostos fundamentais para a utilização de testes paramétricos, ou seja: 1) que os dados tenham uma distribuição normal, sendo este pressuposto avaliado através do Teste de Shapiro Wilk, aconselhado para um n < 50; 2) que as variâncias populacionais sejam homogéneas, caso se estejam a comparar duas ou mais amostras, sendo este pressuposto verificado pelo teste de Levene. Uma vez que o cumprimento destes dois pressupostos não se verificou em algumas das variáveis dependentes, a análise comparativa foi realizada com recurso ao teste estatístico não paramétrico “U” de Mann-Whitney, seguindo as recomendações de Pestana e Gageiro (2008) e Maroco (2010). O nível de significância adotado foi de p < .05. Todas as análises estatísticas foram realizadas com recurso ao programa informático SPSS – Statistical Pachage for Social Sciences, versão 20. 5.3 RESULTADOS Foram observadas 72 aulas de Localizada, uma por cada instrutor que participou neste estudo. As sessões foram todas constituídas pelo aquecimento, parte fundamental e retorno à calma e tiveram uma duração média de 43 minutos (DP = 6). Foram registadas um total de 14519 ocorrências, referentes a gestos com intenção comunicativa (n = 14034; 96.66%) e gestos sem intenção comunicativo (n = 485; 3.34%). 5.3.1 Gestos com intenção comunicativa Relativamente aos gestos com intenção comunicativa, a frequência absoluta de gestos foi aproximadamente igual para o grupo dos instrutores estagiários (M = 195.09; DP = 96.04) e dos instrutores experientes (M = 194.67; DP = 84.30) não se registando diferenças significativas (U = 538.000; p = .217). Todavia, no quadro 30, é possível constatar a existência de diferenças significativas ao nível das percentagens relativas de alguns gestos realizados, conforme a categorização realizada através do SOCIN-Fitness. Susana Mendes Alves 135 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI Quadro 30 – Análise descritiva e comparativa das frequências relativas de gestos com intenção comunicativa. Dimensão Função M (%) DP (%) p M (%) DP (%) M (%) DP (%) Regulador 78.12 13.36 71.08 13.14 84.77 9.76 .000 Ilustrador 21.88 13.36 28.92 13.14 15.23 9.76 .000 1.18 1.17 0.33 0.48 1.99 1.05 .000 Social 21.01 9.35 25.21 9.57 17.03 7.25 .000 Numérico 13.60 9.69 11.33 10.65 15.76 8.26 .016 Deítico 31.99 9.54 28.45 7.09 35.35 10.40 .004 2.52 2.03 2.75 2.40 2.31 1.61 .765 Cinetográfico 17.61 9.06 17.12 9.21 18.07 9.02 .664 Espacial 1.96 1.82 2.59 2.12 1.36 1.24 .011 Rítmico 3.28 2.94 3.57 2.81 3.00 3.07 .278 Batuta 6.85 4.99 8.66 5.83 5.13 3.28 .010 Informação 70.77 10.56 69.63 8.22 71.85 12.40 .284 Feedback 18.08 7.97 17.48 7.00 18.66 8.86 .539 Interação 9.60 5.43 11.96 4.67 7.37 5.21 .000 Organização 1.54 1.67 0.93 0.85 2.12 2.03 .011 Pictográfico Exercício Experientes Categoria Morfologia Técnico Situação Estagiários Com Exerc. 50.60 20.47 44.43 20.24 56.44 19.16 .015 Sem Exerc. 49.40 20.47 55.57 20.24 43.56 19.16 .015 Legenda: M = Média; DP = desvio-padrão; Exerc. = Exercício; p = significância do teste “U”de MannWhitney. Verifica-se que para ambos os grupos os gestos realizados pelos instrutores de fitness tiveram maioritariamente a função de regular o comportamento dos praticantes. Esta função reguladora foi mais elevada no grupo de instrutores experientes comparativamente aos instrutores estagiários que realizaram mais gestos que não tinham como objetivo a obtenção de uma resposta imediata dos praticantes. Relativamente à forma biomecânica e significado icónico dos gestos é possível verificar que as morfologias do tipo deítico, cinetográfica, social e numérica foram as mais relevantes para ambos os grupos. Os instrutores experientes diferenciaram-se pela significativa maior utilização de gestos técnicos, numéricos e deíticos. Já os instrutores estagiários diferenciaram pelo uso significativamente maior de gestos sociais, espaciais e de batutas. Nos gestos com uma morfologia pictográfica e cinetográfica não se verificaram diferenças significativas entre os grupos. Susana Mendes Alves 136 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI Analisando o objetivo pedagógico do gesto no processo de ensino, verifica-se que, para ambos os grupos, os gestos foram realizados essencialmente para informar os praticantes sobre os exercícios. Contudo, os instrutores estagiários diferenciaram-se pelo maior uso de gestos de interação, ao passo que os instrutores experientes se diferenciam por realizarem mais de gestos de organização, sendo esta diferenças significativas. Por último, no que se refere-se à participação do instrutor na realização dos exercícios, verifica-se que os instrutores estagiários se diferenciam pela realização de mais gestos comunicativos quando não estão a participar nos exercícios, ao passo que os instrutores experientes realizam significativamente mais gestos comunicativos enquanto acompanham os praticantes na realização dos exercícios. 5.3.2 Gestos sem intenção comunicativa No caso dos gestos sem intenção comunicativa, por sessão os instrutores estagiários realizaram em média 15.85 (DP = 12.47) gestos adaptadores, sendo este valor também ligeiramente mais baixo nos instrutores experientes, ou seja 7.64 (DP = 4.77) gestos (U = 127.00; p = .019). No Quadro 31, é possível constatar que os adaptadores realizados pelos instrutores estagiários foram maioritariamente do tipo auto-adaptador ao passo que no caso dos instrutores experientes foram do tipo objetual. Não se verificou a ocorrência de nenhum gesto multi-adaptador. Quadro 31 – Análise comparativa das frequências relativas de gestos sem intenção comunicativa. Dimensão Categoria M (%) DP (%) Adaptador Objetual Auto Hetero Multi 54.84 30.04 38.58 30.27 Estagiários Experientes M (%) DP (%) M (%) DP (%) 37.08 28.90 57.65 29.72 71.00 20.79 21.24 18.10 p .001 .000 6.58 5.88 5.28 6.25 7.76 5.38 .188 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1.000 Legenda: M = Média; DP = desvio-padrão; Exerc. = Exercício; p = significância do teste “U”de MannWhitney. Susana Mendes Alves 137 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 5.4 DISCUSSÃO Este estudo foi realizado com o objetivo de caracterizar e comparar a comunicação cinésica dos instrutores experientes e estagiários durante o ensino da atividade de grupo de Localizada, através da observação do seu comportamento em contexto natural. Os resultados obtidos revelaram que tanto os instrutores experientes como os estagiários realizam um considerável número de gestos com intenção comunicativa por sessão. Estes resultados reforçam a importância que a comunicação cinésica assume neste contexto, a qual poderá auxilia o processo de ensino por permitir uma rápida identificação de algo, complementando, reforçando ou mesmo substituindo nalguns casos a comunicação verbal, a qual se encontra dificultada pelo facto de se utilizar música com volume por vezes elevado a acompanhar a realização dos exercícios (Mirbod et al., 1994; Yarenchuk & Kaczor, 1999). A opção pelo uso da comunicação cinésica, para além de acrescentar significado à comunicação, poderá também ter um efeito profilático, já que, como foi referido anteriormente, os instrutores de aulas de grupo de fitness tendem a experienciar frequentemente fadiga nas cordas vocais e têm um risco elevado de desenvolver patologias associadas à sua utilização (Heidel & Torgerson, 1993; Long et al., 1998), especialmente aqueles que utilizam a sua voz durante mais tempo e com um volume mais elevado (Wolfe et al., 2002). O facto de os dois grupos de instrutores não apresentarem diferenças significativas na quantidade de gestos realizados indicia que, independentemente da sua experiência, os instrutores utilizam a comunicação cinésica no ensino desta atividade e reconhecem a importância. Todavia, é possível verificar que o tipo de gestos difere entre os dois grupos ao nível da sua função, morfologia, objetivo pedagógico e participação no exercício, o que convida a uma análise mais pormenorizada dos resultados obtidos em cada uma das categorias do sistema de observação SOCIN-Fitness. Susana Mendes Alves 138 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI No que diz respeito à função dos gestos, os instrutores experientes diferenciaram-se por regularem mais o comportamento dos praticantes, realizando uma percentagem significativamente maior de gestos que pressupõem uma resposta imediata. Por outro lado, os instrutores estagiários destacaram-se por realizarem uma percentagem significativamente superior de gestos ilustradores, os quais não pressupõem uma resposta imediata dos praticantes. Estes resultados sugerem uma maior preocupação dos instrutores experientes na potenciação do exercício realizado pelos praticantes ao longo da aula uma vez que realizam mais gestos de regulação. Esta preocupação dos instrutores experientes poderá ter por base a sua maior consciência sobre a importância do tempo de prática, uma vez que nas aulas de grupo de fitness este tempo é simultaneamente reduzido e importante para a obtenção dos objetivos, tendo por isso de ser aproveitado ao máximo. O facto de os instrutores estagiários efetuarem mais gestos de ilustração poderá ser o resultado de alguma insegurança e da sua menor capacidade para serem sucintos e suficientemente esclarecedores, levando-os a fazer uma descrição mais extensa dos exercícios, o que terá implicações no tempo de prática. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Behets (1997) no contexto do ensino, onde se verificou que os professores mais eficazes despendiam mais tempo em atividades para os estudantes e menos em instrução. Relativamente à forma e significado do gesto, verifica-se que os instrutores experientes, comparativamente aos estagiários, realizaram mais gestos técnicos, emblemas numéricos e gestos de apontar para algo (i.e. Deíticos). A maior utilização destas três morfologias pode estar associada a função de regulação do comportamento, que também foi mais elevada nos instrutores experientes. Durante esta atividade de regulação é frequente os instrutores realizarem: 1) um gesto técnico para identificar a habilidade motora a ser realizada; 2) um gesto numérico a indicar o número de repetições; 3) um gesto deítico a apontar a direção para onde o exercício será realizado. Em contrapartida, os instrutores estagiários realizam mais gestos sociais, espaciais e batutas. A maior utilização destas morfologias neste grupo poderá dever-se à maior utilização de gestos com função ilustradora, que geralmente coincidem com o discurso verbal. Os gestos de indicação espacial poderão assim Susana Mendes Alves 139 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI ocorrer aquando da explicação dos exercícios, seguindo-se um emblema social associado à explicação. No caso das “batutas” a sua maior frequência nos instrutores estagiários poderá ser interpretado como estando associado à sua menor capacidade na utilização da comunicação cinésica, já que estes gestos não têm uma morfologia definida. Esta característica dos instrutores estagiários vai ao encontro dos resultados encontrados num estudo experimental realizado por Maricchiolo, Gnisci, Bonaiuto e Ficca (2009), onde se verificou que os comunicadores que utilizam gestos com morfologias definidas são percecionados como sendo mais competentes, efetivos e persuasivos comparativamente aos que usam gestos pouco definidos (i.e. batutas). Da análise à função pedagógica dos gestos (i.e. Situação) com intenção comunicativa constata-se que estes são realizados maioritariamente com a função pedagógica de informar e fornecer feedback aos praticantes, não existindo diferenças significativas entre os instrutores experientes e estagiários. Contudo, verifica-se que os instrutores experientes realizam uma percentagem significativamente superior de gestos com a função pedagógica de gerir materiais ou organizar os praticantes no espaço. Por outro lado, os instrutores estagiários efetuam uma percentagem significativamente superior de gestos com a função pedagógica de encorajar ou interagir com os praticantes. Estas diferenças poderão estar relacionadas, uma vez mais, com a maior preocupação dos instrutores experientes em regularem e maximizarem o tempo de aula dos praticantes, justificando a maior percentagens de gestos com a função de organização. No caso dos instrutores estagiários, o facto de realizarem mais gestos de ilustração faz com existam mais situações propícias para a interação com os praticantes. Relativamente à dimensão “Exercício”, referente à participação do instrutor no exercício quando efetua o gesto, verifica-se que os gestos realizados pelos instrutores experientes ocorrem maioritariamente quando estes estão a acompanhar os praticantes nos exercícios, ao contrário dos instrutores estagiários. Esta diferença indicia uma maior preocupação e capacidade dos instrutores experientes na utilização da sua cinésica corporal como estratégia no processo de ensino-aprendizagem, utilizando o corpo como um modelo a seguir na execução técnica dos exercícios, Susana Mendes Alves 140 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS potenciando desta forma a instrução, sendo rápida e CAPÍTULO VI esclarecedora e consequentemente, aumenta o tempo de prática dos praticantes. Por último, ao nível dos gestos sem intenção comunicativa (i.e. adaptadores) verificou-se que os instrutores estagiários realizaram uma maior frequência de gestos adaptadores. Num estudo realizado por Henningsen, Valde e Davies (2005) verificou-se que gestos adaptadores estão associados com a perceção de ansiedade, engano e nervosismo. O facto de os professores estagiários realizarem mais gestos desta natureza poderá assim se dever a alguma insegurança e nervosismo, comum em professores com pouca experiência de lecionação, como também concluiu (Castañer et al., 2011). Este tipo de gestos influencia também negativamente a perceção do discurso verbal (Maricchiolo, Livi, Bonaiuto, & Gnisci, 2011). 5.5 CONCLUSÕES Os resultados obtidos revelam que, se considerarmos o número total de gestos realizados, os instrutores estagiários e experientes não diferem significativamente um do outro. Todavia, ao olharmos para as percentagens relativas da sua função, morfologia, objetivo pedagógico e participação no exercício, verifica-se que os instrutores estagiários realizam uma percentagem significativamente mais elevada de gestos que: 1) não pressupõem uma resposta imediata dos praticantes; 2) possuem uma morfologia de emblema social, espacial ou revelam uma morfologia pouco definida; 3) com o objetivo pedagógico interagir com os praticantes; e 4) são efetuados enquanto não realizam exercício. Já os instrutores com experiência realizam uma percentagem significativamente mais elevada de gestos que: 1) objetivam a obtenção de uma resposta imediata por parte dos praticantes; 2) possuem uma morfologia de emblema técnico, numérico e deítico; 3) com o objetivo de organizar a classe; e 4) são efetuados enquanto realizam exercício. Verifica-se igualmente que os instrutores estagiários realizam significativamente mais adaptadores, e que esses adaptadores são maioritariamente do tipo auto-adaptador, ao contrário dos instrutores experientes que realizam maioritariamente adaptadores do tipo objetual. Susana Mendes Alves 141 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI Como qualquer outra investigação, também o presente estudo apresenta algumas limitações. O facto de ter sido realizado na atividade de Localizada limita a generalização dos resultados encontrados a outras modalidades. Sendo esta uma primeira abordagem ao estudo da comunicação cinésica nas aulas de grupo de fitness será importante prosseguir com investigações futuras que analisem as diferenças neste tipo de comunicação em função do género, das atividades e da formação dos instrutores, bem como da dimensão das salas e o número de praticantes. Susana Mendes Alves 142 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 5.6 REFERÊNCIAS Allen, R. M., & Casbergue, R. M. (1997). Evolution of novice through expert teachers’ recall: implications for effective reflection on practice. Teaching and Teacher Education, 13(7), 741–755. Anguera, M. T. (2003). Observational Methods (General). In R. Fernández-Ballesteros (Ed.), Encyclopedia of Psychological Assessment (Vol. 2, pp. 632-637). London: Sage. Anguera, M. T., Blanco, Á., & Losada, J. L. (2001). Diseños Observacionales, Cuestión Clave en el Proceso de la Metodología Observacional. Metodología de las Ciencias del Comportamiento, 3(2), 135-160. Anguera, T. (2009). Methodological observation in sport: Current situation and challenges for the next future. Motricidade 5(3), 15-25. Behets, D. (1997). Comparison of more and less effective teaching behaviors in secondary physical education. 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Observing the paraverbal communicative style of expert and novice PE teachers by means of Susana Mendes Alves 143 ESTUDO 2 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI SOCOP: a sequential analysis. Procedia - Social and Behavioral Sciences, 2(2), 5162-5167. Castañer, M., Camerino, O., Anguera, M. T., & Jonsson, G. K. (2011). Kinesics and proxemics communication of expert and novice PE teachers. Quality & Quantity, 18 November, 1-17. Castañer, M., Franco, S., Rodrigues, J., & Miguel, C. (2012). Optimizing verbal and nonverbal communication in PE teachers, instructors and sport coaches. In O. Camerino, M. Castañer & M. T. Anguera (Eds.), Mixed Methods Research in theMovement Sciences: Cases in Sport, Physical Education and Dance. London: Routledge. Cohen, J. (1960). A coefficient of agreement for nominal scales. Educational and Psychological Measurement, 20, 37-46. Farrington-Darby, T., & Wilson, J. 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Susana Mendes Alves 145 Capítulo VI 6 ESTUDO 3 – Comunicação Proxémica dos Instrutores de Fitness: comparação entre instrutores de Localizada experientes e estagiários RESUMO Este estudo objetiva análise comparativa da comunicação proxémica de instrutores de fitness em função da experiência profissional. Participaram neste estudo 72 instrutores de fitness divididos em dois grupos em função da sua experiência profissional: grupo de instrutores experientes (n = 37); grupo de instrutores estagiários (n = 35). As aulas foram filmadas e os comportamentos proxémicos dos instrutores codificados com recurso ao Sistema de Observação da Comunicação Proxémica – Fitness (SOPROX-Fitness). Da análise efetuada aos comportamentos proxémicos dos instrutores de fitness é possível verificar a existência de diferenças significativas relativamente ao número de praticantes para quem comunicam, à localização espacial do instrutor, tanto na sala como relativamente aos praticantes para quem comunica, bem como à postura corporal adotada no espaço. Os resultados sugerem uma maior diversidade e eficiência na utilização da comunicação proxémica por parte dos instrutores experientes. Palavras-chave: comportamento, comunicação não-verbal, exercício, aptidão física ABSTRACT This study aimed the comparative analysis of fitness instructor’s proxemics communication, considering different levels of professional experience. In this study participate 72 fitness instructors, divided in two groups accordingly with their professional experience: expert group (n = 37); novice group (n = 35). The classes were videotaped and fitness instructors’ proxemics behaviours coded using the Observational System for the Proxemics Communication of the Fitness Instructor (SOPROX-Fitness). The results revealed significant differences between the two groups of instructors in relation to the number of exercisers to whom they communicate, the spatial localization of the instructor, both in relation to the class and exercisers, as well as the corporal posture adopted in the space. These results suggest a more diverse and efficient use of the proxemics communication by the expert fitness instructors. Key words: behavior, nonverbal communication, exercise, physical fitness ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 6.1 INTRODUÇÃO Desde os trabalhos iniciais desenvolvidos por Hall (1966), que o estudo das distâncias interpessoais (i.e. proxémica) tem sido central na área da comunicação nãoverbal (Ciolek, 1983). No contexto educativo, a proximidade entre professor e aluno, baseada na redução das distâncias físicas, foi pioneiramente introduzida por Mehrabian (Mehrabian, 1971), no pressuposto de que as pessoas tendem a aproximarse daquilo que gostam e a evitar o que não gostam. Estudos experimentais recentemente realizados têm demonstrado que quando os estudantes percecionam um comportamento não-verbal dos professores de maior proximidade tendem a reportar mais sentimentos positivos e motivação (Pogue & Ahyun, 2006), o que faz com que estejam mais recetivos a cumprir com as exigências do processo de ensino (Burroughs, 2007). A localização no espaço de ensino é assim um dos aspetos identificados como importante para o desenvolvimento a melhoria da interação e proximidade professoraluno (Nixon, Vickerman, & Maynard, 2010), razão pela qual se considera importante o desenvolvimento de estudos sobre a comunicação proxémica em aulas de grupo de fitness, onde os instrutores estão grande parte do tempo em comunicação (Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008) em condições onde a deslocação pelo espaço e a proximidade física com os praticantes são difíceis de operacionalizar (i.e. salas grandes; vários praticantes). A proximidade poderá ter um papel importante no sucesso da intervenção pedagógica, uma vez que estudos que têm demonstrado que a forma como os instrutores comunicam influencia o clima de aula e a adesão às atividades de grupo de fitness (Bray, Millen, Eidsness, & Leuzinger, 2005; Martin & Fox, 2001). Uma das formas de estudar a comunicação proxémica dos instrutores de fitness é através da análise comparativa tendo em conta a experiência profissional dos instrutores, uma vez que, como refere Berliner (2001), à medida que os indivíduos vão ganhando experiência profissional tendem a se tornar mais competentes e eficazes na realização das suas atividades. Este tipo de análise comparativa entre professores experientes e inexperientes, no entender de Webster (2008), permite um melhor entendimento sobre o que constitui uma comunicação de sucesso, já que os Susana Mendes Alves 147 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI experientes tendem a detetar estímulos do meio envolvente que não são percetíveis aos inexperientes (Allen & Casbergue, 1997; Farrington-Darby & Wilson, 2006; Sabers, Cushing, & Berliner, 1991). O desempenho de professores experientes tem sido assim considerado diferente dos professores menos experientes de muitas formas (Berliner, 2001) e, no caso específico do fitness, a experiência profissional tem sido identificada como uma variável diferenciadora da comunicação verbal e cinestésica ao nível do feedback dado pelos instrutores de fitness (Simões, Franco, & Rodrigues, 2009). Os estudos pioneiros realizados recentemente no contexto do ensino, que analisaram o comportamento proxémico de professores de educação física com e sem experiência (Castañer, Camerino, Anguera, & Jonsson, 2010, 2011) revelaram que os professores inexperientes nem sempre fazem um uso eficiente do espaço de ensino, posicionando-se no centro dos praticantes tanto quando a atividade é realizada para a classe em geral como quando é direcionada para pequenos grupos, contrariamente aos professores experientes se posicionam na periferia. Seguindo esta linha de investigação, o presente estudo objetiva a caracterização e comparação do comportamento proxémico de instrutores de Localizada com diferentes níveis de experiência profissional. 6.2 MÉTODO Este estudo foi realizado de acordo com o paradigma da metodologia observacional (Anguera, 2003), a qual combina a abordagem qualitativa e quantitativa do comportamento (Castañer, Franco, Rodrigues, & Miguel, 2012) e permitem o registo formal dos comportamentos e ações motoras em contexto natural (Anguera, 2009). Esta metodologia ajusta-se ao objetivo definido, já que a análise do efeito da experiência profissional em contextos onde a interação social está presente necessita de uma abordagem naturalística e contextualmente específica, uma vez que os sujeitos com mais experiência tendem a detetar estímulos do meio envolvente que não são percetíveis aos menos experientes (Allen & Casbergue, 1997; Farrington-Darby & Wilson, 2006; Sabers et al., 1991). Relativamente ao desenho observacional, este estudo pode ser caracterizado como sendo ideográfico (I), pontual (P) e Susana Mendes Alves 148 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI multidimensional (M), conforme a classificação proposta por Anguera, Villaseñor, Blanco e Losada (2001). 6.2.1 Participantes Participaram neste estudo 72 instrutores de fitness portugueses, correspondendo a todos os instrutores da licenciatura em condição física e saúde no desporto, que lecionavam a atividade de Localizada e que aceitaram participar nesta investigação Para a análise comparativa, os sujeitos foram divididos em dois grupos em função da sua experiência profissional, tendo como referência o critério de primeiro ano de experiência profissional para os instrutores estagiários e o critério de 5 anos de experiência para os instrutores experientes. Estes valores de corte estão de acordo com o modelo de experiência profissional proposto por Berliner (1994). Seguidamente são caraterizados em separado cada um dos grupos definidos. Grupo de instrutores estagiários - fizeram parte deste grupo 35 instrutores de fitness do género masculino (n = 12; 34%) e feminino (n = 23; 66%), com idades compreendidas entre os 20 e os 35 anos (M = 22.54; DP = 2.91) e com uma experiência profissional que variou entre os 0.42 e os 0.92 anos (M = 0.64; DP = 0.15) e de experiência como instrutores de Localizada que variou entre os 0.17 e os 0.92 anos (M = 0.59; DP = 0.16). Grupo de instrutores experientes - fizeram parte deste grupo 37 instrutores de fitness do género masculino (n = 18; 49%) e feminino (n = 19; 51%), com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos (M = 30.32; DP = 4.24) e com uma experiência profissional que variou entre os 5 e os 14 anos (M = 7.64; DP = 2.24) e de experiência como instrutores de Localizada que variou entre os 5 e os 12.19 anos (M = 7.26; DP = 2.19). 6.2.2 Instrumentos Para a análise da comunicação proxémica dos instrutores de fitness foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica - Fitness (SOPROX-Fitness), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 23 categorias (Quadro 11). Este sistema Susana Mendes Alves 149 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI de observação permite a análise do uso do espaço sobre o ponto de vista do grupo (i.e. número de praticantes para quem comunica), da localização espacial na sala, da atitude corporal, da sua localização relativamente ao (s) praticante (s) para quem comunica e por último, da sua postura corporal adotada no espaço. 6.2.3 Procedimentos de recolha e registo de dados A recolha dos dados foi efetuada sempre mediante um pedido prévio de autorização ao responsável do ginásio, bem como aos instrutores e praticantes envolvidos. Todos os instrutores deram o seu consentimento informado por escrito para fazerem parte desta investigação. Os procedimentos adotados cumprem as recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação na área do desporto e exercício, garantindo dessa forma a proteção de todos os participantes. As gravações dos vídeos (i.e. imagem e som) foram realizadas com recurso a uma câmara digital, sendo o seu conteúdo posteriormente transferido para o disco rígido de um computador para visionamento e registo das ocorrências com recurso ao programa LINCE (Gabín, Camerino, Anguera, & Castañer, 2012). Foi registada a ocorrência de cada comportamento observado sempre que o instrutor se dirigiu intencionalmente ao(s) praticante(s) com o intuito de comunicar de forma não-verbal. 6.2.4 Procedimentos estatísticos A garantia de uma fiabilidade elevada nas observações é um requisito indispensável para assegurar a existência de estabilidade e consistência, para que se prossiga com o registo de dados (Blanco-Villaseñor & Anguera, 2003). Desta forma, para analisar a qualidade dos dados foi realizado o treino dos observadores e posteriormente, foi testada a fiabilidade inter-observadores e intra-observador em todas as categorias através do cálculo do índice de concordância Kappa de Cohen (Cohen, 1960), tendo-se para tal visionado e codificado um vídeo de uma aula de grupo de fitness. Foram obtidos valores compreendidos entre .75 e 1, revelando elevados níveis de concordância (Fleiss, 1981), em ambos os testes. Susana Mendes Alves 150 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI A análise dos dados foi realizada com recurso a medidas de tendência central (i.e. média), e medidas de dispersão (i.e. desvio-padrão) para cada um dos grupos de instrutores, tendo em conta o número total de intervenções de comunicação nãoverbal e a percentagem de ocorrências verificada em cada uma das categorias do SOPROX-Fitness. Considerando que nas análises prévias realizadas algumas das variáveis dependentes não cumpriam os dois pressupostos fundamentais para a utilização de testes paramétricos, ou seja terem uma distribuição normal (Teste de Shapiro wilk) e homogeneidade de variâncias (teste de Levenne), recorremos ao teste estatístico não paramétrico de “U” Mann-Whitney para a análise das diferenças entre as médias obtidas para os dois grupos, seguindo as recomendações de Pestana e Gageiro (2008) e Maroco (2010). O nível de significância adotado foi de p < .05. Todas as análises estatísticas foram realizadas com recurso ao programa informático SPSS – Statistical Pachage for Social Sciences, versão 20. 6.3 RESULTADOS Foram observadas 72 aulas de Localizada, que correspondem a uma por cada instrutor que participou neste estudo. As sessões foram todas constituídas pelo aquecimento, parte fundamental e retorno à calma e tiveram uma duração média de 43 minutos (DP = 6). Foram registadas um total de 14519 intervenções, tendo-se classificado a proxémica dos instrutores aquando da sua comunicação não-verbal cinésica. Por sessão, cada instrutor experiente realizou em média 194.67 (DP = 84.30) intervenções e no caso dos instrutores estagiários, cada instrutor realizou em média 195.09 (DP = 96.04) intervenções, sendo estes valores aproximadamente iguais, não se encontrando diferença estatisticamente significativa (U = 538.000; p = .217). Desta forma, importa analisar a existência de diferenças ao nível do tipo de comunicação proxémica das interações realizadas, conforme a categorização realizada através do SOPROX-Fitness. Susana Mendes Alves 151 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 6.3.1 Análise da comunicação proxémica No Quadro 32 são apresentadas as percentagens relativas obtidas em cada uma das categorias do SOPROX-Fitness. Quadro 32 – Estatística descritiva e análise comparativa das frequências relativas da comunicação proxémica. Dimensão Categoria Grupo Topologia Interação M (%) DP (%) Estagiários Experientes M (%) DP (%) M (%) DP (%) p Macro-grupo 82.94 7.00 86.37 7.45 79.70 4.68 .000 Micro-grupo 2.07 2.04 0.42 0.68 3.62 1.63 .000 Díade 14.99 6.22 13.20 7.37 16.68 4.37 .016 Periférica 82.50 12.25 76.05 12.05 88.59 8.97 .000 Central 17.50 12.25 23.95 12.05 11.41 8.97 .000 Distanciada 0.21 0.45 0.19 0.33 0.23 0.55 .864 Integrada 99.06 1.39 99.37 0.89 98.77 1.70 .219 Contacto Táctil 0.73 1.26 0.45 0.85 1.00 1.52 .102 Orientação Frente Espelho 41.53 22.79 59.93 12.46 24.13 15.41 .000 Frente Corres. 33.57 24.56 13.10 9.86 52.94 17.45 .000 Frente Perfil 7.68 5.57 10.41 6.46 5.10 2.79 .000 Atrás 1.82 2.15 0.32 0.46 3.25 2.16 .000 No Meio 9.37 7.89 13.29 8.56 5.67 4.96 .000 Direita 3.14 2.65 1.53 1.46 4.67 2.62 .000 Esquerda 2.88 2.48 1.43 1.29 4.25 2.58 .000 P. B. Desloc. 14.25 7.23 14.00 7.10 14.49 7.43 .897 P.F. Bípede 50.96 11.81 51.08 11.17 50.85 12.54 .937 P.F. Sentado 3.48 2.64 2.24 1.32 4.65 3.03 .000 P.F. Dorsal 7.75 6.28 3.77 2.03 11.52 6.62 .000 P.F. Ventral 3.27 2.75 1.55 1.26 4.89 2.80 .000 P.F. Lateral 2.02 2.05 0.79 0.76 3.19 2.21 .000 Locomoção 18.40 10.93 26.57 9.93 10.67 4.03 .000 Suporte 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1.000 Transição 0.00 Legenda: M = Média; DP = desvio-padrão; p = significância do teste “U” de Mann-Whitney. A análise comparativa realizada permitiu verificar que os dois grupos de instrutores (estagiários vs experientes) se diferenciaram significativamente (p < .05) em grande parte dos comportamento de comunicação proxémica analisados. Apenas não foram verificadas diferenças significativas nas categorias da dimensão “Interação” Susana Mendes Alves 152 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI e na utilização da posição bípede da dimensão “Transição”. Não se registaram comportamentos de “Suporte” em ambos os grupos. 6.4 DISCUSSÃO Este estudo foi realizado com o objetivo de caracterizar e comparar a comunicação proxémica dos instrutores experientes e estagiários durante o ensino da atividade de grupo de Localizada através da observação do comportamento em contexto natural (Anguera, 2003), com recurso a um instrumento ad hoc que permite a análise do uso do espaço, sobre o ponto de vista do número de praticantes para quem comunica, da localização espacial na sala, da atitude corporal, da sua localização relativamente aos praticantes e, por último, da postura corporal adotada no espaço. A análise comparativa realizada evidenciou a existência de diferenças significativas relativamente nos comportamentos de comunicação proxémica em função da experiência dos instrutores, as quais convidam a uma análise mais pormenorizada tendo em conta cada uma das categorias do sistema de observação SOPROX-Fitness: a) No que diz respeito à dimensão “Grupo”, referente ao número de praticantes para quem o instrutor comunica, os dados revelaram que ambos os grupos de instrutores comunicam maioritariamente para toda a classe (i.e. Macro-grupo). Todavia os instrutores experientes dirigirem-se significativamente mais para pequenos grupos (i.e. Micro-grupo) e para apenas um praticante (i.e. Díade) comparativamente aos instrutores estagiários que comunicam significativamente mais para toda a classe (i.e. Macro-grupo). Estes dados indiciam uma maior capacidade dos instrutores experientes para diferenciar a instrução que deve ser dada a todo o grupo e aquele que deve ser individualizada, revelando uma maior segurança na atuação profissional e uma maior preocupação com a individualização da instrução conforme verificado noutros estudos (Berliner, 2001, 2004; Krull, Oras, & Sisask, 2007), bem como uma maior proximidade com os praticantes a qual promove a afetividade e a confiança entre indivíduos, como refere Burgoon (1991); Susana Mendes Alves 153 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI b) No que concerne à localização espacial na sala de exercício (i.e. Topologia) verificou-se que ambos os grupos de instrutores comunicam maioritariamente localização mais periférica. Todavia, os instrutores experientes destacam-se por se localizarem significativamente mais na periferia da sala, comparativamente aos instrutores estagiários que se localizam significativamente mais na zona central da sala. Também num estudo realizado no contexto educativo, Castañer, Camerino, Anguera, e Jonsson (2011) se verificou que os professores de educação física experientes se diferenciavam por comunicarem a partir da periferia da sala. Os referidos autores justificaram esta diferença com o facto de os professores experientes pretenderem promover a autonomia da classe. Contrariamente, os professores estagiários, ao se localizarem numa zona central, focam mais a atenção dos praticantes em si, promovendo menos autonomia da classe; c) Ao nível da dimensão “Interação” não se verificaram diferenças significativas entre os dois grupos de instrutores. Ambos os grupos adotam maioritariamente uma atitude corporal que revela que estão envolvidos no que se passa na sessão, sendo quase inexistente a percentagem de vezes que estão ausentes do que ocorre na aula. Da mesma forma, e por razões de natureza ética, é pouco frequente a interação que envolva contacto físico com os praticantes; d) Quanto à localização espacial do instrutor relativamente aos praticantes, para quem comunica (i.e. Orientação), verificou-se a existência de diferenças significativas entre os instrutores experientes e estagiários em todas as categorias de análise. Assim, constatou-se que os instrutores experientes estão maioritariamente orientados de costas para os praticantes (i.e. Frente em Correspondente) ao passo que os instrutores estagiários estão maioritariamente orientados de frente para os praticantes (i.e. Frente em Espelho). Esta opção dos instrutores experientes para se orientarem de costas para praticantes sugere a sua maior capacidade na utilização do espelho como forma de controlar os praticantes, beneficiando, segundo Francis e Seibert, (2000), a compreensão dos exercícios que têm uma execução técnica mais exigente, ainda que a orientação em espelho possa ter a vantagem de proporcionar uma comunicação verbal mais direta. De acordo com Lynch, Chalmers, Knutzen e Martin (2009) o espelho pode assumir uma enorme importância ao longo do ensino da atividade por permitir, Susana Mendes Alves 154 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI que o instrutor observe os praticantes quando está de costas para estes. Contrariamente, os instrutores estagiários orientam-se significativamente mais à frente virados para os praticantes (i.e. à frente em espelho) e de perfil, o que se poderá justificar por estarem muito centrados no que têm que transmitir (Berliner), utilizando por isso menos o espelho para observar os praticantes, estando pouco cientes da importância de ajustar o seu posicionamento de modo a facilitar aos praticantes uma melhor visualização dos exercícios. Verificou-se ainda que os instrutores estagiários interagem mais vezes no meio do espaço ocupado pelos praticantes, ao passo que os instrutores experientes optam por interagir mais vezes atrás, à direita ou à esquerda dos praticantes para quem comunicam. e) Por último, no que diz respeito à postura corporal adotada pelo instrutor no espaço (i.e. Transição) verificou-se que, ambos os grupos de instrutores comunicaram maioritariamente na posição fixa bípede, facto que se poderá explicar pela natureza dos exercícios musculares localizados realizados nesta posição geralmente sem deslocamentos. A segunda posição a partir da qual ambos os grupos de instrutores mais comunicaram foi a posição bípede com descolamento, podendo este resultado dever-se à fase de aquecimento onde habitualmente são realizados algumas habilidades motoras com deslocamento. Nestas duas posições adotadas não existiram diferenças significativas. Porém, foram encontradas diferenças nas posições fixa sentado, fixa dorsal, fixa ventral e lateral, demonstrando que os instrutores experientes comunicam significativamente mais nestas posições do que os instrutores estagiários. Estes resultados poderão estar relacionados com o maior conhecimento adquirido pelos instrutores experientes ao logo do tempo, que leva a uma maior capacidade de comunicar a partir destas posições. Em contrapartida, os instrutores estagiários comunicam significativamente mais quando estão em locomoção. Esta opção pode-se relacionar com a insegurança na execução técnica dos exercícios e com a maior preocupação na explicação verbal dos exercícios. No estudo realizado por Schempp et al. (2006) no contexto da instrução na atividade de golf, verificou-se que os instrutores estagiários tinham uma preocupação excessiva com a verbalização da técnica e uma menor preocupação com a observação e reformulação da comunicação. Susana Mendes Alves 155 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 6.5 CONCLUSÕES Os resultados obtidos na análise da comunicação proxémica dos instrutores de Localizada experientes e estagiários revelam que, no geral, os instrutores de Localizada comunicam essencialmente com toda a classe, a partir da zona periférica da sala, com uma atitude corporal que revela que estão envolvidos no que se passa na aula, encontrando-se à frente dos praticantes, orientados maioritariamente de frente ou de costas para os mesmos, em posição bípede sem deslocamento. Apesar disso, os instrutores experientes: i) individualizam significativamente mais a sua comunicação tanto para grupos pequenos como para os praticantes individualmente; ii) intervêm significativamente mais a partir da periferia da sala, atentos ao que se passa na sessão; iii) assumem uma orientação maioritariamente correspondente, apesar de variarem significativamente mais a sua orientação, colocam-se também atrás, à direita e à esquerda dos praticantes; iv) tendem a adotar uma postura corporal fixa bípede, apesar de variarem significativamente mais a utilização de outras posturas como a posição fixa sentado, dorsal, ventral e lateral. Por sua vez, os instrutores estagiários: i) tendem a intervir significativamente mais na parte central da sala; ii) orientam-se maioritariamente de frente para os praticantes, apesar de também intervirem significativamente mais com uma orientação de perfil ou no meio dos praticantes; iv) tendem a intervir significativamente mais em locomoção. Estes resultados indiciam uma maior diversidade e possível eficiência de utilização da comunicação proxémica por parte dos instrutores experientes, o que poderá favorecer o processo de ensino aprendizagem nesta atividade de grupo. Como qualquer outra investigação, também o presente estudo apresenta algumas limitações. O facto de ter sido realizado na atividade de Localizada limita a generalização dos resultados encontrados a outras atividades. Sendo esta uma primeira abordagem ao estudo da comunicação proxémica nas aulas de grupo de fitness será importante prosseguir com investigações futuras que analisem as diferenças neste tipo de comunicação em função do género, das atividades e da formação dos instrutores, bem como da dimensão das salas e o número de praticantes. Susana Mendes Alves 156 ESTUDO 3 – COMUNICAÇÃO PROXÉMICA DOS INSTRUTORES DE FITNESS: COMPARAÇÃO ENTRE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS CAPÍTULO VI 6.6 REFERÊNCIAS Allen, R. M., & Casbergue, R. M. 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Susana Mendes Alves 160 Capítulo VII 7 ESTUDO 4 – Comunicação Cinésica e Proxémica de Instrutores de Localizada Experientes e Estagiários: Deteção de Padrões Temporais RESUMO O presente estudo centra-se na análise da comunicação não-verbal dos instrutores de fitness com recurso à metodologia observacional e objetiva a análise das configurações e padrões temporais de comportamento cinésico e proxémico de instrutores com diferentes níveis de experiência profissional. Participaram neste estudo 12 instrutores de fitness divididos em dois grupos em função da sua experiência profissional: grupo de instrutores experientes (n = 6); grupo de instrutores estagiários (n = 6). As sessões de exercício foram filmadas e os comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores codificados com recurso ao Sistema de Observação da Comunicação Cinésica - Fitness (SOCIN-Fitness) e ao Sistema de Observação da Comunicação Proxémica - Fitness (SOPROX-Fitness). Os resultados obtidos revelaram a existência de padrões temporais de comportamento cinésico e proxémico, próprios de cada grupo de instrutores. Foi possível verificar que os instrutores experientes apresentam um comportamento cinésico e proxémico mais consistente e complexo do que os estagiários, caraterizado pela regulação do comportamento dos praticantes, através do acompanhamento na realização dos exercícios a partir da posição correspondente, e da intercalação de comportamentos de informação e de feedback, com recurso à utilização de uma morfologia de gestos mais diversificadas. Palavras-chaves: Comunicação não-verbal, metodologia observacional, padrão-T ABSTRACT This study focuses on the analyses of the fitness instructors’ non-verbal communication using the observational methodology and it aims the analysis of the configuration and temporal pattern of kinesics and proxemics behaviour, considering different levels of professional experience. 12 fitness instructors participate in this study, divided in two groups accordingly with their professional experience: expert group (n = 6); novice group (n = 6). The exercise classes were videotaped and fitness instructors’ behaviours coded using the Observational System for the Kinesics Communication of the Fitness Instructor (SOCIN-Fitness) and the Observational System for the Proxemic Communication of the Fitness Instructor (SOPROXFitness). The results revealed the existence of kinesic and proxemic temporal patterns of communication distinct for each group of instructors. It was possible to verify that expert instructors have a more consistence and complex kinesic and proxemic behaviour than the novices, which was characterized by the regulation of exerciser´s behaviour, throughout their participation in exercise from a correspondent position, and the intercalation of behaviours to inform and give feedback, using more diverse morphologies of gestures. Key words: non-verbal communication, observational methodology, T-pattern ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII 7.1 INTRODUÇÃO As atividades de grupo de fitness representam uma boa oportunidade para os indivíduos atingirem os níveis de atividade física recomendadas para a saúde. Esta forma estruturada de exercício possibilita a realização de atividade física vigorosa (Battista et al., 2008; Berry, Cline, Berry, & Davis, 1992), a qual tem demonstrado ter mais benefícios cardiorespiratórios comparativamente as atividades físicas de intensidade moderada (Haskell et al., 2007). Este tipo de atividades, quando comparadas com as atividades individuais, tende também a prover mais benefícios psicossociais e mais adesão ao exercício (Carron & Burke, 2005). Todavia, grande parte destes benefícios depende da qualidade dos instrutores, já que são estes, que em última instância, têm a responsabilidade de organizar e estruturar as atividades. Esta tese é corroborada por alguns estudos que têm demonstrado a existência de uma relação entre a forma como os instrutores comunicam e o clima de aula e a adesão às atividades de grupo de fitness (Bray, Millen, Eidsness, & Leuzinger, 2005; Martin & Fox, 2001). Interessa pois entender os factores que influenciam a qualidade da intervenção dos instrutores de fitness de forma a utilizar esse conhecimento na formação de instrutores de sucesso. Tendo por base esta necessidade, este artigo centra-se na análise da comunicação cinésica (i.e. movimentos corporais) (Birdwhistell, 1970) e proxémica (i.e. uso do espaço) (Hall, 1966) dos instrutores de fitness de Ginástica Localizada, tendo em conta a sua experiência profissional. A opção pela análise deste tipo de comunicação em função da experiência profissional tem por base o facto de os indivíduos se irem tornando mais competentes e eficazes na realização das suas atividades à medida que vão ganhando experiência (Berliner, 2001). De acordo com Webster (2008), este tipo de análise comparativa, entre professores com e sem experiência, permite um melhor entendimento sobre o que constitui uma comunicação de sucesso, já que ao se ter acesso aos automatismos caraterísticos dos professores experientes (Berliner, 2001; Sabers et al., 1991), possibilita-se a aprendizagem dos professores menos experientes (Farrington-Darby & Wilson, 2006). Tendo em consideração este pressuposto, recentemente nalguns estudos realizados Susana Mendes Alves 162 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII no contexto do ensino que permitiram identificar a existência de padrões de comportamentos temporais próprios de professores de educação física com e sem experiência (Castañer et al., 2010, 2011). De acordo com estes estudos, os professores com menos experiência, apesar de realizarem uma maior quantidade de gestos, apresentavam uma comunicação gestual de menor qualidade e nem sempre tiravam o melhor partido da ocupação do espaço, influenciando diretamente as aprendizagens dos alunos. Estes resultados fazem acreditar que o estudo destas variáveis no contexto das atividades de grupo de fitness possa também contribuir para o conhecimento do perfil de comunicação dos instrutores, ajudando-os na melhoria do processo de ensino. Tendo por base esta expetativa, o presente estudo objetiva a análise dos padrões temporais de comportamento cinésico e proxémico dos instrutores de fitness, em contexto real. 7.2 MÉTODO Dada a complexidade e a dinâmica da interação entre os comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores de fitness recorremos ao seu estudo através da metodologia observacional (Anguera, 2003), a qual estrutura um conjunto de procedimentos científicos que permitem o registo formal e a análise de comportamentos e dinâmicas sociomotoras desde a lógica da investigação científica (Gorospe, Hernández Mendo, Anguera, & Martínez de Santos, 2005). A flexibilidade e o rigor desta metodologia fazem com que seja considerada a abordagem standard em estudos de observação do comportamento no contexto desportivo (Hernández Mendo & Anguera, 2002), combinando uma abordagem qualitativa e quantitativa de análise do comportamento (Camerino, Castañer, & Anguera, 2012). O desenho observacional definido para este estudo pode ser caracterizado como ideográfico (i.e. centrado na análise de um instrutor), pontual (i.e. cada instrutor é analisado apenas uma vez) e multidimensional (i.e. o comportamento é analisado em simultâneo a partir de diferentes dimensões e categorias), conforme a classificação proposta por Anguera, Villaseñor, Blanco e Losada (2001). Susana Mendes Alves 163 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII 7.2.1 Participantes Participaram neste estudo 12 instrutores portugueses de Localizada, os quais aceitaram participar nesta investigação e cumpriam os seguintes critérios de inclusão: i) serem instrutores do género feminino e masculino em igual número, pois o género dos sujeitos poderia influenciar a sua comunicação não-verbal (Kennedy & Camden, 1983); ii) terem a mesma formação académica, isto é licenciados e estagiários em condição física e saúde no desporto, uma vez que alguns estudos apontam para o facto de a formação inicial poder influenciar a atuação profissional dos treinadores/professores (Malek, Nalbone, Berger, & Coburn, 2002); iii) que lecionaram aulas de Localizada, com aproximadamente a mesma duração e terem no mínimo 4 praticantes na aula, bem como a utilização do mesmo tipo de materiais (i.e. barra com pesos, colchão, Step). Os instrutores selecionados foram divididos por dois grupos em função da sua experiência profissional, ou seja, 6 instrutores estagiários (i.e. instrutoraluno no primeiro ano de experiência profissional) e 6 instrutores experientes (i.e. instrutores com mais de 5 anos de experiência). Os valores de corte para a constituição de cada um dos grupos estão de acordo com o modelo de experiência profissional proposto por Berliner (1994). Grupo de instrutores experientes - os instrutores deste grupo tinham idades compreendidas entre os 29 e os 36 anos (M = 32; DP = 3), contavam com uma experiência profissional como instrutor de fitness entre os 7 e os 14 anos (M = 9.59; DP = 2.40) associada a uma experiência na lecionação da atividade de Localizada entre os 5 e os 14 anos (M = 8.44; DP = 3.26) e nas sessões observadas tiveram entre 4 a 16 praticantes (M = 11; DP = 5); Grupo de instrutores estagiários - os instrutores deste grupo tinham idades compreendidas entre os 20 e os 26 anos (M = 22; DP = 2), contavam com uma experiência profissional como instrutor de fitness entre os .75 e os .42 anos (M =.52; DP = .11), com uma experiência na lecionação da atividade de Localizada entre os .75 e os .42 anos (M =.52; DP = .11) e nas sessões observadas tiveram entre 4 a 13 praticantes (M = 8; DP = 4). Susana Mendes Alves 164 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII 7.2.2 Instrumentos Na metodologia observacional é recomendado o desenvolvimento de instrumentos de observação ad hoc com a finalidade de que estes se adaptem totalmente à conduta e ao contexto da investigação (Anguera, 2003, 2005). Seguindo esta recomendação, e tendo como ponto de partida os sistemas de observação da comunicação cinésica (SOCIN) e proxémica (SOPROX) desenvolvidas para o contexto do ensino (Castañer et al., 2010, 2011), foram utilizadas versões destes sistemas adaptadas para o contexto das atividades de grupo de fitness (i.e. SOCIN-Fitness e SOPROX-Fitness) de acordo com a metodologia proposta por Brewer e Jones (2002). Dessa forma, para a análise da comunicação cinésica dos instrutores de fitness foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Cinésica - Fitness (SOCIN-Fitness) (Alves, 2012), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 21 categorias (Quadro 5) e para a análise da comunicação proxémica dos instrutores de fitness foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica - Fitness (SOPROX-Fitness), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 23 categorias (Quadro 11). 7.2.3 Procedimentos A recolha dos dados foi efetuada sempre mediante um pedido prévio de autorização ao responsável do ginásio, bem como aos instrutores e praticantes envolvidos. Todos os instrutores deram o seu consentimento informado para fazerem parte desta investigação. Os procedimentos adotados cumprem as recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação na área do desporto e exercício. As gravações dos vídeos (i.e. imagem e som) foram realizadas com recurso a uma câmara digital, sendo o seu conteúdo posteriormente transferido para o disco rígido de um computador para visionamento e codificação com recurso ao programa LINCE (Gabín et al., 2012). Previamente foi analisada a qualidade dos dados através do teste das fiabilidades inter-observadores e intra-observador pelo cálculo do índice de concordância Kappa de Cohen (Cohen, 1960) em todas as categorias dos sistemas SOCIN-Fitness e SOPROX-Fitness, permitindo garantir que o erro é reduzido e que Susana Mendes Alves 165 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII existe estabilidade e consistência nas observações, assegurando que se pode prosseguir para o registo de dados (Blanco-Villaseñor & Anguera, 2003). Para tal, após o treino dos observadores foi visionado e codificado um vídeo de uma aula de grupo de fitness, tendo-se obtido valores compreendidos entre .75 e 1 em ambos os testes, revelando elevados níveis de concordância (Fleiss, 1981), em ambos os testes. Para analisar as configurações e sua relação em padrões temporais (Padrões-T) foi utilizado o programa Theme 5.0 (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005). Esta abordagem inovadora no contexto desportivo (Jonsson et al., 2010) permite a recolha de informações sobre a estrutura do comportamento que não podem ser observadas a “olho nu” ou através de qualquer outro método (Magnusson, 2000). A análise das principais configurações de comportamentos foi realizada através da apresentação do número total de configurações e da frequência absoluta e relativa das cinco principais configurações, em cada grupo de instrutores. No caso dos padrões temporais, as estruturas de comportamento detetadas são representadas através de um dendrograma que ilustra um padrão de comportamento composto por um conjunto de configurações, que ocorrem segundo a mesma ordem e dentro do mesmo intervalo temporal crítico (Jonsson et al., 2010). Os padrões foram detetados através da análise em simultâneo dos seis instrutores de cada um dos grupos, sendo definidos os critérios de inclusão de 3 ocorrências mínimas e um nível de significância de .05. Por cada atividade será apresentado um padrão-T que apresente a estrutura mais complexa (i.e. maior número de comportamentos combinados) e que retrate um comportamento lógico de atuação profissional. 7.3 RESULTADOS Das observações realizadas aos 12 instrutores de fitness (6 instrutores experientes e 6 instrutores estagiários) que participaram neste estudo, foi possível registar um total de 2837 comportamentos cinésicos e respetiva proxémica, considerando os dois grupos de instrutores (Experientes = 1662; Estagiários= 1175). Cada comportamento observado representa uma configuração de códigos cinésicos e Susana Mendes Alves 166 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII proxémicos registados nesse momento. A partir do programa Theme (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005) foi possível identificar configurações e sua relação sequencial ao longo do tempo (padrões-T). 7.3.1 Configurações de comportamentos Verificou-se a existência de 456 configurações de comportamentos diferentes no grupo de instrutores experientes e 488 para o grupo de instrutores estagiários. No Quadro 33 estão apresentadas as cinco configurações mais frequentes obtidas em cada grupo de instrutores e respetivas frequências absolutas, relativas e acumuladas. Quadro 33 – Configurações de comportamentos mais frequentes encontradas em cada um dos grupos de instrutores. Freq. % % Instrutores Configurações Nº Total Acum. Experientes 1ª) RE,DEI,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PFB 87 19.07 19.07 2ª) RE,EMBS,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PFB 82 17.98 37.05 3ª) RE,EMBN,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PFB 41 8.99 46.04 4ª) RE,DEI,FEED,CE,MAC,P,IINT,FC,PFB 36 7.89 53.93 5ª) RE,EMBS,FEED,CE,MAC,P,IINT,FC,PFB 29 6.35 60.28 Estagiários 1ª) IL,DEI,INF,SE,MAC,P,IINT,FE,PFB 2ª) RE,DEI,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PFB 3ª) RE,CIN,INF,SE,MAC,C,IINT,NM,LOC 4ª) IL,BAT,INF,SE,MAC,P,IINT,FE,PFB 5ª) RE,DEI,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PBD 19 19 17 16 16 3.89 3.89 3.48 3.27 3.27 3.89 7.78 11.26 14.53 17.80 Legenda: Freq. = Frequência; Acum. = Acumulada. 7.3.2 Padrões-T dos instrutores experientes O padrão-T detetado nos instrutores experientes representa uma combinação de nove configurações diferentes de comportamentos cinésicos e proxémicos (Figura 16). Susana Mendes Alves 167 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII Figura 16 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos seis instrutores experientes da atividade de Localizada. O padrão inicia-se com uma configuração (01) onde os instrutores estão a regular o comportamento dos praticantes (RE) através da realização de um gesto socialmente pré- estabelecido (EMBS) informando-os sobre o que deve ser realizado (INF) e acompanhando-o na realização do exercício (CE). Esse gesto é dirigido para toda a classe (MAC) a partir de uma posição periférica na sala (P), estando os instrutores envolvidos nas atividades (IINT) à frente dos praticantes de costas para os mesmos (FC) numa posição bípede sem se deslocar no espaço (PFB). Nas duas configurações seguintes (02 e 03) os instrutores apenas mudam a morfologias dos gestos, apontando primeiramente para algo (DEI) e realizando em seguida um emblema numérico (EMBS). Na quarta (04) e quintas (5) configurações os instrutores regulam o comportamento dos praticantes através de um gesto deítico (DEI) e cinetográfico (CIN), respetivamente, com o objetivo pedagógico de fornecer feedback (FEED) a todos os praticantes (MAC), mantendo a restante proxémica. Nas configurações seis (06) e sete (07) os instrutores regulam o comportamento (RE), mantêm a morfologia cinetográfico (CIN) sendo que, seguidamente realizam um emblema social (EMBS), para fornecer feedback (FEED) individual (DIA). Por último (configurações 08 e 09), os instrutores voltam a regular o comportamento (RE) através Susana Mendes Alves 168 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII de um gestos que identifica o ritmo ou a velocidade dos exercício (RIT) e cinetográfico (CIN), com o objetivo de informar (INF) aquando da realização do exercício (CE) todos os praticantes (MAC), a partir de uma posição periférica na sala (P), estando os instrutores envolvidos nas atividades (IINT) à frente dos praticantes e de costas para os mesmos (FC) numa posição bípede sem se deslocar no espaço (PFB). 7.3.3 Padrões-T dos instrutores estagiários Relativamente aos instrutores estagiários, o padrão-T encontrado é composto por quatro configurações de comportamentos cinésicos e proxémicos (Figura 17). Figura 17 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos seis instrutores estagiários da atividade de Localizada. O padrão detetado inicia-se com uma combinação (01), onde os instrutores realizam um gesto com uma função ilustrativa, ou seja, não pressupõe uma resposta imediata dos praticantes (IL), através do uso de um gesto de apontar para algo (DEI) com o objetivo de informar (INF) não sendo acompanhado de exercício realizado pelos instrutores (SE). Esse gesto é dirigido para todo o grupo (MAC), estando os instrutores localizados na parte periférica da sala (P), demonstrando estar envolvidos nas atividades (IINT) à frente dos praticantes e de frente para os mesmos (FE) numa Susana Mendes Alves 169 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII posição bípede sem se deslocarem no espaço (PFB). Na configuração seguinte (02) os instrutores realizam novamente um gesto que não pressupõe uma resposta imediata pelos praticantes (IL), sem uma morfologia definida (BAT), com o objetivo de informar (INF), sem estarem a efetuar exercício (SE) e sem alterarem a sua proxémica. Na terceira configuração (03), os instrutores realizam um gesto que não pressupõe uma resposta imediata (IL), através de um emblema socialmente instituído (EMBS), com o objetivo de informar (INF) sem estarem a realizar o exercício (SE), mantendo também a sua proxémica. Na última combinação (04) do padrão, os instrutores realizam um gesto ilustrador, através de um gesto de apontar para algo (DEI) para informar (INF), não estando a realizar exercício (SE). Esse gesto é dirigido para todo o grupo de praticantes (MAC), a partir de uma localização periférica na sala (P), estando os instrutores envolvidos no que se passa na aula (IINT), à frente e com a mesma orientação dos praticantes (FC) estrando em locomoção, ou seja a circular na sala. 7.4 DISCUSSÃO O presente estudo centra-se na análise da comunicação não-verbal dos instrutores de fitness com recurso à metodologia observacional (Anguera, 2009) e objetiva a análise das configurações e padrões-T de comportamento cinésico e proxémico de instrutores com diferentes níveis de experiência profissional, com recurso ao programa informático Theme 5.0 (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005). Os resultados obtidos indicam que os instrutores experientes apresentam menor diverdidade de configurações de comportamento do que os instrutores estagiários e que as cinco configurações mais frequentes representaram 60.28% do total de comportamentos detetados. Por outro lado, os instrutores estagiários apresentam uma maior diversidade de configurações de comportamentos sendo que as cinco configurações mais frequentes apenas representaram 17.80% do total dos comportamentos detetados. Estes dados indiciam que os instrutores experientes atuam de uma forma mais consistente e estável. Esta consistência pode ser o reflexo da aprendizagem ao longo do tempo, fazendo com que os instrutores experientes já tenham vivenciado quais são os comportamentos que mais beneficiam o processo de ensino e aprendizagem, levando-os a repeti-los com maior frequência. Como ainda não Susana Mendes Alves 170 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII têm essa experiência, os instrutores estagiários tendem a apresentar um comportamento menos consistente. De acordo com (Berliner, 2001), este automatismo de comportamento é uma característica dos professores experientes que lhes permite libertar a atenção para o processamento de informações mais complexas. A análise da frequência de ocorrências das configurações de comportamentos foi subsequentemente complementada com a informação recolhida ao nível dos padrões-T detetados. Este tipo de análise permite a identificação de padrões “escondidos” de comportamento, fornecendo pistas sobre a dinâmica e sequência pela qual ocorrem as diferentes morfologias de gestos, orientações e posições no espaço. O padrão-T identificado nos instrutores experientes poderá refletir um comportamento de instrução de um exercício onde os instrutores regulam o comportamento dos praticantes, onde usam um gesto socialmente instituído para dar início ao exercício, sendo que já em exercício realizado pelos instrutores e praticantes executam um gesto de apontar para possivelmente informar sobre o grupo muscular ou o segmento muscular envolvido no exercício e dão seguidamente uma indicação numérica podendo ser referente ao número de repetições do exercício ou contagem de movimentos. Após o início dos exercícios, os instrutores realizam gestos que pressupõem uma resposta imediata de todo o grupo de praticantes, mas para fornecer feedback, através de um gesto onde apontam por exemplo para o grupo muscular que deve realizar a força no exercício, seguindo-se um gesto que imita um movimento com o possível objetivo de reforçar o movimento correto. As duas combinações que se seguem demonstram que, após o uso de gestos de feedback para todos os praticantes, se necessário os instrutores experientes individualizam o feedback para corrigir o praticante que ainda não corrigiu o movimento, através de um gesto que imita esse mesmo movimento, dando seguidamente um novo feedback através de um emblema social, avaliando a sua prestação motora. Após terem assegurado a correta execução motora dos praticantes os instrutores experientes alteram o ritmo dos exercícios através de gestos que identificam por exemplo, a velocidade do exercício, seguindo-se uma possível alteração no exercício, pois os instrutores realizam um gesto que imita um movimento, como objetivo de informar todos os praticantes de devem executá-lo nesse preciso momento. Susana Mendes Alves 171 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII Analisando o padrão-T identificado para os instrutores estagiários, verificou-se que o padrão poderá refletir um comportamento de instrução onde os instrutores realizam um gesto de sem pressupor uma resposta imediata dos praticantes onde utilizam gestos de apontar para algo (e.g. grupo muscular ou segmento corporal), batutas (i.e. gestos que não têm uma morfologia definida e que geralmente acompanham o discurso verbal), podendo ser para explicar o exercício que irão realizar e emblemas socialmente instituídos possivelmente para informar que é só isso que se pretende no exercício ou para dar início ao exercício interiormente explicado. Estes gestos para informar os praticantes não são complementados com realização de exercício que poderia auxiliar a instrução (i.e. demostração do exercício). A comunicação cinésica dos instrutores estagiários neste padrão é sempre dirigida para todo o grupo de praticantes, estando os instrutores localizados na periferia da sala, envolvidos no que se passa na sessão e orientados à frente dos praticantes em espelho (i.e. de frente para os praticantes). Nos três primeiros comportamentos, os instrutores adotam uma posição corporal fixa bípede, possivelmente derivada da explicação do exercício, sendo que no final do padrão alteram esta posição, passando a deslocar-se pela sala, possivelmente para informar que irão seguidamente realizar outro tipo de exercício, através do uso de um gesto de apontar para algo. Os padrões T de comportamento apresentados anteriormente possuem caraterísticas próprias que permitem discutir um perfil de atuação distinto para os dois grupos de instrutores analisados. De entre os aspetos mais diferenciadores destacamse os seguintes: a) Nos instrutores experientes o padrão mais complexo é composto por uma sequência de nove comportamentos enquanto nos instrutores estagiários o padrão mais complexo encontrado representa uma sequência de apenas quatro comportamentos. Tal como verificado anteriormente, o comportamento dos instrutores experientes foi mais estável sendo agora possível também verificar que é mais complexo e estruturado. Esta consistência e estruturação, reflete um automatismo do comportamento que é caraterístico dos professores experientes (Berliner, 2001; Sabers et al., 1991) sendo esta também a principal razão para o Susana Mendes Alves 172 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII seu estudo, por permitir a aprendizagem dos instrutores menos experientes (Farrington-Darby & Wilson, 2006); b) Os instrutores experientes estão sempre a regular o comportamento dos praticantes, com o objetivo de obterem uma resposta imediata (i.e. gestos reguladores), enquanto os instrutores estagiários se centram na utilização de gestos ilustradores que não pressupõem essa resposta imediata. Esta diferença de atuação indicia uma maior preocupação dos instrutores experientes em potenciar a tempo de prática dos praticantes, já que dão as informações enquanto regulam o comportamento, ao passo que os instrutores estagiários fazem-no em situações discursivas e ilustrativas. Note-se que uma das caraterísticas dos professores experientes é a sua maior capacidade para selecionar e estruturar as informações importantes (Berliner, 2001), o que faz com que despendam significativamente menos tempo em comportamentos de instrução (Behets, 1997). c) Os instrutores experientes estão sempre a acompanhar os praticantes na realização dos exercícios contrariamente aos instrutores estagiários. Esta diferença indicia uma maior capacidade dos instrutores experientes para utilizarem a sua cinésica corporal como modelo de execução, o que possibilita aos praticantes uma identificação rápida dos exercícios a realizar, bem como da sua correta execução, evitando parar a aula com a verbalização e a ilustração dos exercícios. A utilização o seu corpo como modelo pode servir também como uma estratégia de motivação para fazer com que os praticantes se empenhem nos exercícios (Franco et al., 2008); d) Os instrutores experientes intercalam os comportamentos para informar os praticantes sobre os exercícios (i.e. Informação) com comportamentos para ajudar, corrigir os praticantes ou avaliar a sua prestação motora (i.e. Feedback). Esta combinação não se verifica no comportamento dos instrutores estagiários que apenas dão informação sobre os exercícios. Estes resultados são consistentes com os encontrados por Hogan, Rabinowitz, e Craven (2003), onde se verificou uma tendência para os professores inexperientes para se focalizarem em si próprios estando primeiramente preocupados com a transmissão de informação, ao passo que os professores experientes se focalizavam nas aprendizagens dos Susana Mendes Alves 173 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII alunos, preocupando-se em dar resposta às necessidades sentidas pelos alunos numa dada situação específica. Por outro lado, também é sabido que os professores experientes monitorizam melhor as aprendizagens e as respostas dos alunos aos feedbacks (Berliner, 2001), o que também é evidenciado nos resultados obtidos. Note-se que a atenção recebida e a adequação dos exercícios é um dos aspetos tidos como mais importante pelos praticantes de exercício para a sua avaliação da qualidade do instrutor (Papadimitriou & Karteroliotis, 2000); e) Por fim, destaca-se o facto de os instrutores experientes recorrerem a cinco diferentes morfologias de gestos ao passo que os instrutores estagiários se cingiram à utilização de três morfologias distintas, onde se incluem a utilização de batutas, que representam gestos sem significado icónico, que usualmente acompanham e enfatizam a lógica do discurso verbal. Esta diferença revela uma maior capacidade por parte dos instrutores experientes de tirarem partido da comunicação cinésica gestual, já que utilizam morfologias mais diversificadas. A capacidade de utilização deste tipo de comunicação gestual tem sido identificada como um aspeto importante para a qualidade da comunicação (Cartmill, GoldinMeadow, & Beilock, 2012; Maricchiolo et al., 2009; Maricchiolo et al., 2011). 7.5 CONCLUSÕES Partindo dos objetivos inicialmente propostos, e com base nos resultados obtidos, verificamos que foi possível identificar características comuns e distintas de comportamento entre instrutores de Localizada experientes e estagiários, com recurso à análise de configurações de comportamento e padrões-T obtidos através do programa Theme 5.0. Verifica-se que os instrutores experientes apresentam um comportamento cinésico e proxémico mais consistente e complexo, centrado na regulação do comportamento dos praticantes, através do acompanhamento na realização dos exercícios a partir da posição correspondente, e da alternância entre comportamentos de informação e de feedback, com recurso à utilização de uma morfologia de gestos mais diversificadas. Estes resultados poderão ser úteis para guiar e potenciar a intervenção pedagógica dos instrutores de fitness. Susana Mendes Alves 174 ESTUDO 4 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA DE INSTRUTORES DE LOCALIZADA EXPERIENTES E ESTAGIÁRIOS: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VII 7.6 REFERÊNCIAS Alves, S. (2012). Comunicação Cinésico-Gestual dos Instrutores de Aulas de Grupo de Fitness: Desenvolvimento, validação e aplicação piloto do sistema de observação SOCIN-Fitness. 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Para tal foram observadas as aulas de 12 instrutores de fitness, em quatro atividades de grupo distintas (i.e. Step, Localizada, Hidroginástica e Indoor Cycling), através da aplicação de dois sistemas de observação de análise do comportamento cinésio e proxémico (SOCIN-Fitness e SOPROX-Fitness, respetivamente). Os instrutores eram todos do género feminino, licenciados em condição física e saúde e com mais de cinco anos de experiência profissional. Os resultados revelaram a existência de padrões temporais de comportamento cinésico e proxémico, próprios de cada atividade. As atividades distinguiram-se essencialmente na morfologia e sequência dos gestos utilizados, ao nível da cinésica, e na orientação e posição no espaço, ao nível da proxémica. Estes resultados contribuem para a caracterização e compreensão do processo comunicativo no contexto do fitness. Palavras-chaves: comunicação não-verbal, metodologia observacional, padrões-T ABSTRACT The present study introduces an innovate approach to the study of the kinesics and proxemics communications of the fitness instructors, by means of the observational methodology and the detection of temporal behaviours patters. For this, it were observed the classes of 12 fitness instructors in four different group activities (i.e. Step, group resistance training, Aquafitness and Indoor Cycling), throughout the application of two different observational systems to analyse the kinesics and proxemics behaviours (SOCINFitness and SOPROX-Fitness, respectively). The instructors were all female, graduated in health and physical fitness with more than five years of professional experience. Results reveals the existence of distinct kinesics and proxemics temporal patterns in each activity. The Activities were different essentially in the morphology and the gestures sequence, with respect to kinesics, and in the orientation and position in the space, regarding proxemics. These results contribute to the characterization and comprehension of the communicative process in the fitness context. Key words: non-verbal communication, observational methodology, T-pattern ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.1 INTRODUÇÃO Este estudo centra-se na análise da comunicação cinésica (i.e. movimentos corporais) (Birdwhistell, 1970) e proxémica (i.e. uso do espaço) (Hall, 1966) dos instrutores de fitness no contexto das atividades de grupo (Step, Localizada, Hidroginástica e Indoor Cycling). Estas duas componentes da comunicação não-verbal (Knapp & Hall, 2010) são críticas para o processo comunicativo dos instrutores de fitness, os quais estão a maior parte do tempo de aula em comportamentos de instrução (Castañer, Franco, Rodrigues, & Miguel, 2012; Franco, Rodrigues, & Balcells, 2008) em condições onde a comunicação verbal está limitada pela utilização de música com volume elevado a acompanhar a realização dos exercícios (Mirbod et al., 1994; Yarenchuk & Kaczor, 1999) e a proximidade espacial com os praticantes é algo difícil de operacionalizar (e.g. muitos praticantes; salas grandes; materiais). Estas condicionalidades fazem com que a comunicação do instrutor de fitness esteja fortemente dependente da utilização eficaz que faz de um conjunto de códigos cinésico-gestuais que acompanham ou substituem as principais informações verbais. Para além disso, estas contingências podem condicionar a forma como o instrutor se desloca e posiciona na sala ao longo da sessão, estabelecendo diferentes relações espaciais com os praticantes (Kennedy & Yoke, 2004). A componente gestual da comunicação (i.e. movimentos realizados essencialmente com os braços e mãos) (Cartmill, Goldin-Meadow, & Beilock, 2012) é parte integrante do processo comunicativo (Kendon, 2004) e contribui significativamente para a sua eficácia, conforme verificou Hostetter (2011) a partir de uma meta-análise realizada com base em 63 estudos realizados nos últimos 5 anos. Também os trabalhos pioneiros realizados por Hall (1968), no contexto da proxémica, revelaram que os indivíduos tendem a manter uma determinada distância entre si e que essa distância é um importante indicador de afetividade. Considerando a natureza inovadora do estudo da comunicação cinésica e proxémica no contexto das atividades de fitness teremos de nos socorrer de estudos realizados em contextos diferentes. Deste modo, os resultados obtidos através das aplicações do SOCIN e do SOPROX no contexto do ensino (Castañer, Camerino, Susana Mendes Alves 181 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII Anguera, & Jonsson, 2010, 2011) permitiram identificar a existência de padrões de comportamentos temporais próprios de professores de educação física com e sem experiência, verificando-se que os professores inexperientes, apesar de realizarem uma maior quantidade de gestos, apresentavam uma comunicação gestual de menor qualidade e nem sempre tiravam o melhor partido da ocupação do espaço, influenciando diretamente as aprendizagens dos alunos. Estes resultados fazem acreditar que o estudo destas variáveis no contexto das atividades de grupo de fitness possa também contribuir para o conhecimento do perfil de comunicação dos instrutores, ajudando-os na melhoria da sua comunicação não-verbal e, consequentemente, do processo de ensino aprendizagem nestas atividades de grupo. Tendo por base esta expetativa, o presente estudo objetiva a análise inovadora dos padrões temporais de comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores de fitness, em contexto natural de atuação. 8.2 MÉTODO Dada a complexidade e a dinâmica da interação entre os comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores de fitness recorremos ao seu estudo através da metodologia observacional (Anguera, 2003), a qual estrutura um conjunto de procedimentos científicos que permitem o registo formal e a análise de comportamentos e dinâmicas sociomotoras desde a lógica da investigação científica (Gorospe, Hernández Mendo, Anguera, & Martínez de Santos, 2005). A flexibilidade e o rigor desta metodologia fazem com que seja considerada a abordagem standard em estudos de observação do comportamento no contexto desportivo (Hernández Mendo & Anguera, 2002), combinando uma abordagem qualitativa e quantitativa do comportamento (Camerino, Castañer, & Anguera, 2012). O desenho observacional definido para este estudo pode ser caracterizado como ideográfico (i.e. centrado na análise de um instrutor), pontual (i.e. cada instrutor é analisado apenas uma vez) e multidimensional (i.e. o comportamento é analisado em simultâneo a partir de diferentes dimensões e categorias), conforme a classificação proposta por Anguera, Villaseñor, Blanco e Losada (2001). Susana Mendes Alves 182 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.2.1 Participantes Participaram neste estudo 12 instrutores de fitness portugueses de atividades de grupo distintas (i.e. 3 instrutores de Step; 3 instrutores de Localizada; 3 instrutores de Indoor Cycling e 3 instrutores de Hidroginástica). Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: i) serem instrutores do género feminino, pois o género dos sujeitos poderia influenciar a sua comunicação não-verbal (Kennedy & Camden, 1983); ii) serem licenciados em condição física e saúde no desporto, uma vez que alguns estudos apontam para o facto de a formação inicial poder influenciar a atuação profissional dos treinadores/professores (Malek, Nalbone, Berger, & Coburn, 2002); iii) terem pelo menos 5 anos de experiência como instrutor de fitness, já que a experiência profissional, definida por Berliner (1994) como tendo 5 anos ou mais anos de experiência, pode diferenciar o comportamento dos instrutores de fitness (Simões, Franco, & Rodrigues, 2009); iv) terem pelo menos 5 anos de experiência na lecionação da respetiva atividade com uma frequência mínima de 3 sessões semanais, de forma a uniformizar a experiência dos instrutores. Os instrutores analisados apresentaram idades compreendidas entre os 24 e os 48 anos (M = 31.50; DP = 6.14), contavam com uma experiência profissional como instrutor de fitness entre os 6 e os 26 anos (M = 9.83; DP = 5.52) associada a uma experiência na lecionação da atividade entre os 5 e os 17 anos (M = 8.25; DP = 3.75) com uma frequência semanal de 3 a 4 sessões (M = 3.67; DP = 0.49). 8.2.2 Instrumentos Na metodologia observacional é recomendado o desenvolvimento de instrumentos de observação ad hoc com a finalidade de que estes se adaptem totalmente à conduta e ao contexto da investigação (Anguera, 2003, 2005). Seguindo esta recomendação, e tendo como ponto de partida os sistemas de observação da comunicação cinésica (SOCIN) e proxémica (SOPROX) desenvolvidas para o contexto do ensino (Castañer et al., 2010, 2011), foram utilizadas versões destes sistemas adaptadas para o contexto das atividades de grupo de fitness (i.e. SOCIN-Fitness e SOPROX-Fitness) de acordo com a metodologia proposta por Brewer e Jones (2002). Susana Mendes Alves 183 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII Dessa forma, para a análise da comunicação cinésica foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Cinésica - Fitness (SOCIN-Fitness) (Alves, 2012), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 21 categorias (Quadro 5) e para a análise da comunicação proxémica foi utilizado o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica - Fitness (SOPROX-Fitness), o qual é composto por 5 dimensões de análise e 23 categorias (Quadro 11). 8.2.3 Procedimentos A recolha dos dados foi efetuada sempre mediante um pedido prévio de autorização ao responsável do ginásio, bem como aos instrutores e praticantes envolvidos. Todos os instrutores deram o seu consentimento informado para fazerem parte desta investigação. Os procedimentos adotados garantem o cumprimento das recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação na área do desporto e exercício. As gravações dos vídeos (i.e. imagem e som) foram realizadas com recurso a uma câmara digital, sendo o seu conteúdo posteriormente transferido para o disco rígido de um computador para visionamento e codificação com recurso ao programa LINCE (Gabín, Camerino, Anguera, & Castañer, 2012). A análise da qualidade dos dados (Blanco-Villaseñor & Anguera, 2003) foi previamente efetuada com recurso ao cálculo dos valores de fiabilidade interobservadores e intra-observador, através do coeficiente de concordância Kappa de Cohen (Cohen, 1960). Este procedimento visa garantir a fiabilidade e consistência do registo de dados através da obtenção de valores de Kappa de Cohen superiores .75 (Cohen, 1960). Para analisar as configurações e sua relação em padrões temporais (PadrõesT) foi utilizado o programa Theme 5.0 (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005). Esta abordagem inovadora no contexto desportivo (Jonsson et al., 2010) permite a recolha de informações sobre a estrutura do comportamento que não podem ser observadas a “olho nu” ou através de qualquer outro método (Magnusson, 2000). Susana Mendes Alves 184 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII A análise das principais configurações de comportamentos foi realizada através da apresentação do número total de configurações e da frequência absoluta e relativa das 5 configurações mais frequentes, em cada atividade. No caso dos padrões temporais, as estruturas de comportamento detetadas são representadas através de um dendrograma que ilustra um padrão de comportamento composto por um conjunto de configurações que ocorrem segundo a mesma ordem e dentro do mesmo intervalo temporal crítico (Jonsson et al., 2010). Os padrões foram detetados através da análise em simultâneo dos seis instrutores de cada um dos grupos, sendo definidos os critérios de inclusão de 3 ocorrências mínimas e um nível de significância de .05. Por cada atividade será apresentado um padrão-T que apresente a estrutura mais complexa (i.e. maior número de comportamentos combinados) e que retrate um comportamento lógico de atuação profissional. 8.3 RESULTADOS Das observações realizadas aos 12 instrutores de fitness que participaram neste estudo, foi possível registar um total de 3242 comportamentos cinésicos e proxémicos, considerando o conjunto das quatro atividades analisadas (Step = 957; Localizada = 591; Hidroginástica = 975; Indoor Cycling =719). A partir do programa Theme (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005) foi possível identificar configurações e sua relação sequencial ao longo do tempo (padrões-T). 8.3.1 Configurações de comportamentos Cada comportamento observado representa uma configuração, a qual consiste no encadeamento de códigos correspondentes aos comportamentos cinésicos e proxémicos registados nesse momento. O número total de configurações registadas foi de 127 na atividade de Step, 229 na atividade de Localizada, 358 na atividade de Hidroginástica e, por fim, de 130 na atividade de Indoor Cycling. No Susana Mendes Alves 185 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII Quadro 34 estão apresentadas as cinco principais configurações obtidas em cada atividade e respetivas frequências absolutas, relativas e acumuladas. Quadro 34 – Configurações de comportamento mais frequentes encontradas em cada uma das atividades. Freq. % % Atividades Configurações Nº Total Acum. Step 1ª) RE, EMBT, INF, CE, MAC, P, IINT, FE, PBD 130 13.58 13.58 2ª) RE, DEI, INF, CE, MAC, P, IINT, FE, PBD 129 13.47 27.05 3ª) RE, DEI, INF, CE, MAC, P, IINT, FC, PBD 87 9.09 36.14 4ª) RE,EMBN,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PBD 76 7.94 44.08 5ª) RE,EMBT,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PBD 54 5.64 49.72 Localizada 1ª) RE, DEI, INF, CE, MAC, P, IINT, FC, PBD 2ª) RE, EMBN, INF, CE, MAC, P, IINT, FC, PFD 3ª) RE, EMBN, INF, CE, MAC, P, IINT, FC, PBD 4ª) RE,CIN,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PFD 5ª) RE,EMBT,INF,CE,MAC,P,IINT,FC,PBD 31 28 26 18 17 5.24 4.73 4.39 3.04 2.87 5.24 9.97 14.36 17.4 20.27 Hidroginástica 1ª) RE,DEI,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PFB 2ª) RE,EMBN,INF,SE,MAC,P,IINT,FP,LOC 3ª) RE,DEI,INF,SE,MAC,P,IINT,FE,PFB 4ª) RE,CIN,INF,SE,MAC,P,IINT,FE,PFB 5ª) RE,EMBN,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PFB 44 37 34 32 25 4.51 3.79 3.48 3.28 2.56 4.51 8.30 11.78 15.06 17.62 Indoor Cycling 1ª) RE, CIN, INF, CE, MAC, P, IINT, FE, PFS 2ª) RE, EMBN, INF, CE, MAC, P, IINT, FE, PFS 3ª) RE, DEI, INF, CE, MAC, P, IINT, FE, PFS 4ª) RE,BAT,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PFS 5ª) RE,RIT,INF,CE,MAC,P,IINT,FE,PFS 115 76 75 49 41 15.99 10.57 10.43 6.81 5.70 15.99 26.56 36.99 43.8 49.5 Legenda: Freq. = Frequência; Acum. = Acumulada. 8.3.2 Padrões-T na atividade de Step Na atividade de Step foi identificado um padrão-T com uma combinação de sete configurações diferentes de comportamentos cinésico-gestuais e proxémicos (Figura 18). Susana Mendes Alves 186 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII Figura 18 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos três instrutores da atividade de Step Este padrão inicia-se com uma configuração (01) onde os instrutores estão a regular o comportamento dos praticantes (RE) através da realização de um gesto que simboliza uma habilidade motora específica desta atividade (EMBT) informando-os sobre o que deve ser realizado (INF) e acompanhando-os na realização do exercício (CE). Esse gesto é dirigido para toda a classe (MAC) a partir de uma posição periférica na sala (P), estando os instrutores envolvidos nas atividades (IINT) e virados de frente para os praticantes (FE) a realizar deslocamentos derivados dos exercícios (PBD). Nas duas configurações seguintes (02 e 03) os instrutores apenas mudam a morfologias dos gestos, apontando primeiramente para algo (DEI) e realizando em seguida um emblema social (EMBS). Na quarta configuração (04) os instrutores mudam a sua orientação, ficando de costas para os praticantes (FC). A partir desta orientação os instrutores realizam uma sequência de gestos com diferentes morfologias, começando por realizar um gesto numérico (EMBN), seguido de um emblema social (EMBS) e um emblema técnico (EMBT), terminando com um gesto de apontar para algo (DEI). Susana Mendes Alves 187 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.3.3 Padrões-T na atividade de Localizada No caso da atividade de Localizada foi identificado um padrão-T, composto por quatro configurações de comportamentos cinésico-gestuais e proxémicos (Figura 19). Figura 19 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos três instrutores da atividade de Localizada Ao longo de todas as configurações deste padrão-T detetado, os instrutores realizam sempre gestos que regulam o comportamento dos praticantes (RE) e os informam (INF), enquanto são acompanhados na realização dos exercícios (CE). Esses gestos são sempre dirigidos para toda a classe (MAC) a partir de uma posição periférica na sala (P), estando o instrutor envolvido no que se passa na aula (IINT), à frente e com a mesma orientação dos praticantes (FC) e numa posição deitado dorsal (PFD). Apesar disso, cada configuração está associada a um gesto com uma morfologia diferenciada. A primeira configuração diz respeito à realização de um gesto de apontar para algo (DEI), a que se segue um gesto de referência numéria (EMBN), de referência rítmica (RIT) e, por fim, a um gesto com caráter socialmente instituído, não específico da atividade (EMBS). Susana Mendes Alves 188 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.3.4 Padrões-T na atividade Hidroginástica Para a atividade de Hidroginástica foi identificado um padrão-T composto por três configurações de comportamentos cinésico-gestuais e proxémicos (Figura 20). Figura 20 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos três instrutores da atividade de Hidroginástica Neste padrão, verifica-se que ao longo das três configurações os instrutores realizam sempre gestos com a função de regular o comportamento dos praticantes (RE), informando-os (INF), sem os acompanhar na realização dos exercícios (SE). À semelhança das atividades anteriores os gestos são sempre dirigidos para toda a classe (MAC), neste caso a partir de uma posição periférica na piscina (P), estando o instrutor envolvido no que se passa na aula (IINT). As alterações que ocorrem ao longo das três configurações prendem-se com a morfologia do gesto realizado, bem como com a orientação e a postura corporal adotada no espaço. Na primeira configuração os instrutores realizam um gesto que imita uma ação (CIN) e estão orientados de frente para os praticantes (FE) numa posição fixa bípede (PFB). Na segunda configuração os instrutores mantêm a posição anterior e realizam um gesto rítmico (RIT). Na terceira configuração os instrutores continuam a realizar esses Susana Mendes Alves 189 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII gestos rítmicos (RIT) mas colocam-se de perfil para os mesmos (FP) e deslocam-se ao longo do deck (LOC). 8.3.5 Padrões-T na atividade de Indoor Cycling Por último, para a atividade de Indoor Cycling, foi identificado um padrão-T composto por quatro configurações de comportamentos cinésico-gestuais e proxémicos (Figura 21). Figura 21 – Representação do padrão-T detetado relativamente à comunicação cinésica e proxémica a partir da análise dos três instrutores da atividade de Indoor Cycling Neste padrão é possível verificar que ao longo das quatro configurações os instrutores realizam sempre gestos com a função de regular o comportamento dos praticantes (RE), com o objetivo de informar (INF) ao mesmo tempo que realizam exercício (CE). Também no caso desta atividade, os gestos são sempre realizados para toda a classe (MAC), a partir de uma posição periférica na sala (P), e com os instrutores envolvidos no que se passa na aula (IINT), orientados de frente para os praticantes (FE), mas neste caso específico a partir da posição de sentado na bicicleta Susana Mendes Alves 190 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII estacionária (PFS). A alteração que ocorre ao longo das quatro configurações registase na morfologia dos gestos realizados. Na primeira configuração é realizado um gesto pictográfico (PIC), na segunda um gesto espacial (ESP), na terceira um gesto numérico (EMBN) e, por fim, na quarta configuração é realizado um gesto que imita uma ação (CIN). 8.4 DISCUSSÃO O presente estudo centra-se na análise da comunicação cinésica e proxémica dos instrutores de fitness de atividades de grupo. Será importante referir que a literatura científica é escassa neste tipo de análise. Com base nos resultados obtidos verificou-se que foi possivel caraterizar o comportamento dos instrutores através da identificação de diferentes configurações e padrões temporais de comportamento em contexto natural, com recurso ao programa Theme 5.0 (Magnusson, 1996, 2000). Desta forma, no que diz respeito às configurações de comportamentos encontradas, verifica-se que em algumas atividades, os instrutores apresentam uma menor variabilidade de configurações, indicando que o seu comportamento nãoverbal é menos diversificado e, por essa razão, mais estável. Ou seja, os instrutores nas atividades de Step e Indoor Cycling apresentam uma maior estabilidade comportamental, uma vez que as cinco configurações mais comuns representam respetivamente 49,50% e 49.72% do total de comportamentos registados. Nos instrutores das atividades de Hidroginástica e Localizada, o número de configurações detetado foi mais elevado, sendo que as cinco configurações mais comuns representam, respetivamente, apenas 17,62% e 20,27% do total de comportamentos registados. É também interessante verificar que a grande maioria das cinco configurações mais comuns identificadas difere de atividade para atividade, podendo isso ser um indicador da existência de comportamentos cinésicos e proxémicos próprios de cada atividade. Todavia, existem aspetos que são transversais a todas as atividades, considerando que as cinco configurações mais importantes refletem comportamentos onde os instrutores realizaram gestos para obterem uma resposta imediata pelos praticantes (RE), realizados com o objetivo pedagógico de informar Susana Mendes Alves 191 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII (INF), comunicando para toda a classe (MAC), a partir da periferia da sala (P), enquanto estão envolvidos no que se passa na sessão (IINT). Os gestos de regulação são realizados pelos instrutores enquanto acompanham os praticantes na realização dos exercícios (CE), com exceção da atividade de Hidroginástica, onde se verificam algumas configurações onde os instrutores não realizam exercício em simultâneo com os praticantes (SE), provavelmente porque o instrutor se encontra num meio diferente (i.e. meio terrestre) o que dificulta e por vezes impossibilita a execução de determinados exercícios. As características comuns nas principais configurações poderão justificar-se pelo estilo de ensino por comando (Francis & Seibert, 2000) que carateriza a intervenção dos instrutores de fitness de aulas de grupo e que condicionam o seu estilo comunicacional. A variabilidade das configurações identificadas ocorre sobretudo ao nível da morfologia dos gestos, que são combinadas com diferentes localizações e posições corporais, sendo esta uma das características mais marcantes do comportamento dos instrutores de fitness de atividades de grupo. A análise das frequências de ocorrências das configurações de comportamentos dos instrutores de fitness foi subsequentemente complementada com a informação recolhida ao nível dos padrões T detetados, consiste na deteção de padrões “escondidos” de comportamento, fornecendo pistas sobre a dinâmica e sequência pela qual ocorrem as diferentes morfologias de gestos, orientações e posições no espaço. A riqueza e complexidade deste tipo de interação sugerem que a sua análise e discussão seja efetuada em seguida separadamente para cada atividade. No padrão apresentado na atividade de Step (Figura 18), os instrutores começam por identificar a habilidade motora padrão e apontar para algo, orientados de frente para os praticantes, em deslocamentos derivados dos exercícios. Seguidamente regulam o comportamento dos praticantes através de emblemas sociais e mudam a sua orientação ficando de costas para os praticantes. A partir desta orientação, realizam gestos de referência numérica, emblemas sociais e gestos que identificam habilidades motoras. Este padrão-T detetado poderá justificar-se pelas caraterísticas do processo de ensino da atividade de Step. Assim, os instrutores Susana Mendes Alves 192 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII inicialmente identificam as habilidades motoras padrão e apontam possivelmente para o local do Step onde as mesmas devem ser realizadas. Tratando-se de uma atividade coreografada, os instrutores poderão em seguida realizar um emblema social (configuração 03 - gesto de parar) para indicar aos praticantes que se vai realizar uma pausa com o objetivo de explicar a introdução de algo novo, que pode ser por exemplo as modificações/progressões nas habilidades motoras. Como por vezes estas modificações são mais facilmente percecionadas quando o instrutor está com a mesma orientação que os praticantes, o instrutor muda a sua orientação, passando de uma orientação de frente para os praticantes (i.e. frente em espelho) para a mesma orientação que os praticantes (i.e. frente em correspondente). A partir desta nova orientação, os instrutores continuam a regular o comportamento dos praticantes com recurso a gestos de referência numérica (configuração 05 contagem do número de repetições do movimento) e de emblemas sociais (configuração 06 - gesto para avançar) combinados com a realização de emblemas técnicos e deíticos que identificam rapidamente a habilidade motora pretendida e o local para a sua realização, sem causar dúvidas ou hesitações. No padrão-T identificado para a atividade de Localizada (Figura 19), verifica-se que os instrutores regulam o comportamento dos praticantes através de uma sequência de morfologias de gestos caraterizada pela realização de um gesto de apontar para algo (configuração 01), seguido da realização de um gesto de referência numérica e rítmica (configurações 02 e 03), finalizando com a realização de um emblema social (configuração 04). Este padrão poderá refletir um comportamento de instrução em que os instrutores apontam, por exemplo, para o grupo muscular que será solicitado no exercício para informar os praticantes, realizando em seguida gestos numéricos e rítmicos para informar sobre o número de repetições do exercício e a sua velocidade de execução, realizando no final um emblema social a informar sobre a finalização do exercício. O facto de este padrão-T ter sido detetado enquanto o instrutor está numa posição fixa dorsal pode indicar que nesta posição a utilização dos gestos se encontre mais padronizada. De facto, nesta posição, a visualização do corpo do instrutor fica mais dificultada, como demonstra o estudo sobre os Susana Mendes Alves 193 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII comportamentos pedagógicos dos instrutores de Localizada realizado por Franco et al. (2008). Na Hidroginástica o padrão-T apresentado (Figura 20) identifica que os instrutores regulam o comportamento dos participantes através de uma sequência de morfologias de gestos que imitam ações (configuração 01) e marcam um ritmo (configuração 02), ou seja, informam os praticantes sobre o movimento que devem realizar e a velocidade de execução, utilizando uma orientação de frente para os praticantes numa posição bípede sem se deslocar. Posteriormente, passam a regular os praticantes em locomoção pelo deck (configuração 03) orientados de perfil para os praticantes (i.e. de lado). A Hidroginástica distingue das restantes atividades analisadas, pelo facto de ocorrer numa piscina, estando tipicamente o instrutor no deck e os praticantes dentro da piscina. O facto de os instrutores estarem no meio terrestre e não conseguirem flutuar dificulta o acompanhamento dos praticantes na realização dos exercícios, fazendo com que utilizem gestos que imitam ações e marcam um ritmo para acompanharem os praticantes. Por outro lado, as características das piscinas fazem com que os praticantes estejam mais dispersos no espaço o que, associado às más condições acústicas das piscinas, leva a que os instrutores estejam em locomoção ao longo do deck para poderem comunicar de forma mais percetível e eficiente com os praticantes, promovendo consequentemente uma melhor aprendizagem das tarefas. No padrão-T detetado a partir da análise dos instrutores de Indoor Cycling (Figura 21) verifica-se que os mesmos regulam o comportamento dos praticantes numa sequência de morfologias de gestos que fornecem imagens (configuração 01), identificam uma distância entre algo (configuração 02), dão uma referência numérica (configuração 03) e imitam uma determinada ação (configuração 04), sempre a partir da posição de sentado na bicicleta estacionária. Este padrão poderá indicar um comportamento específico, onde o instrutor informa os praticantes que irão realizar, por exemplo, uma subida íngreme e que para tal devem colocar as mãos mais afastadas no guiador (i.e. posição 1, 2 ou 3, conforme o tipo de guiador) identificando o número da secção e, por fim, realiza um gesto que imita a ação de levantar da bicicleta para pedalar em pé. Susana Mendes Alves 194 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.5 CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos e partindo dos objetivos inicialmente propostos, verificamos que a metodologia observacional se revelou uma abordagem válida na observação da comunicação cinésica e proxémica, pois permitiu a sua investigação em contexto natural. De igual forma, a análise inovadora desses comportamentos, com recurso ao programa informático Theme 5.0, possibilitou a identificação de configurações e padrões-T de comportamento dos instrutores diferentes atividades de grupo. Assim, das análises efetuadas foi possível identificar características comuns e distintas de comportamento para cada atividade de grupo de fitness, sobretudo ao nível da morfologia e sequência dos gestos utilizados e da orientação e posição do instrutor no espaço. A diversidade de configurações e a complexidade dos padrões encontrados demonstra que existem atividades mais padronizadas ao nível do perfil de atuação, como no caso da atividades de Step, e outras menos padronizadas como no caso da Hidroginástica, revelando que o comportamento dos instrutores de fitness apresenta-se mais complexo do que aquele que o “olho humano” consegue detetar. A análise destes padrões complementa a informação resultante de uma abordagem centrada no número de ocorrências de comportamentos, e poderá contribuir para a otimização da comunicação dos instrutores de fitness. Sendo este um estudo exploratório, consideramos importante prosseguir com a realização de novas investigações futuras que possam replicar estes resultados noutras amostras e atividades de fitness já que, como referem Castañer et al., (2011), sendo a comunicação uma parte importante do processo de ensino-aprendizagem, uma das formas de melhorar esse processo passa por tomar atenção à forma de comunicar e melhorá-la ao longo do tempo. Susana Mendes Alves 195 ESTUDO 5 – COMUNICAÇÃO CINÉSICA E PROXÉMICA EM INSTRUTORES DE FITNESS DE DIFERENTES ATIVIDADES DE GRUPO: DETEÇÃO DE PADRÕES TEMPORAIS CAPÍTULO VIII 8.6 REFERÊNCIAS Alves, S. (2012). Comunicação Cinésico-Gestual dos Instrutores de Aulas de Grupo de Fitness: Desenvolvimento, validação e aplicação piloto do sistema de observação SOCIN-Fitness. Documento não publicado, Tese de Mestrado em Desporto - especialização em condição física e saúde, Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Rio Maior. Anguera, M. T. (2003). 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CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX 9.1 CONCLUSÕES O presente trabalho de investigação centrou-se no estudo de duas componentes da comunicação não-verbal dos instrutores de atividades de grupo de fitness, ou seja, a análise dos comportamentos de comunicação cinésica e proxémica. Desta forma, esta investigação procurou apresentar-se como inovadora através do uso de métodos que permitiram uma análise quantitativa e qualitativa deste tipo de comunicação no contexto das atividades de grupo de fitness. Considerando que, a maioria das conclusões já se encontram sintetizadas e discutidas num quadro mais compreensivo no final dos respetivos estudos, neste capítulo, serão apenas apresentadas as conclusões gerais do trabalho, referindo os aspetos que se consideram mais interessantes face aos objetivos propostos, por forma a não repetir as sínteses já realizadas. Serão igualmente mencionadas algumas implicações para a intervenção profissional aplicada ao ensino das atividades de grupo de fitness, assim como algumas das limitações associadas à presente investigação, tomando-as em consideração para investigações futuras. Assim sendo, e partindo do pressuposto de que a análise de um determinado comportamento com recurso à metodologia observacional necessita do desenvolvimento de um sistema de observação ad hoc, totalmente adaptado ao contexto e comportamento que se pretende observar (Anguera, 2009), foi possível verificar através dos resultados obtidos ao longo das fases do processo de desenvolvimento e validação do SOPROX-Fitness, que este sistema de observação é válido para a análise da comunicação proxémica dos instrutores de fitness em contexto real de ensino de atividades de grupo. Esta conclusão teve por base a avaliação realizada pelos especialistas durante a fase de desenvolvimento deste sistema, assim como os resultados de fiabilidade inter-observadores e intra-observador, bem como o estudo piloto realizado, que permitiu demonstrar o seu potencial para a análise do comportamento proxémico dos instrutores de fitness. Seguidamente, partindo do pressuposto de que a capacidade de comunicar de forma clara e próxima dos praticantes precisa estar assegurada para que as Susana Mendes Alves 201 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX aprendizagens aconteçam, tentou-se compreender como é que a comunicação cinésica e proxémica dos instrutores fitness ocorre em ambiente real de sala de exercício. De igual forma, pretendeu-se caraterizar o comportamento dos instrutores fitness experientes partindo do pressuposto que este se encontra automatizado e potenciado pelos anos de prática contínua. Esta análise permitiu identificar aspetos que poderão ser úteis para a aprendizagem dos instrutores menos experientes, tal como é referido por Farrington-Darby e Wilson (2006), relativamente a este tipo de análise comparativa. Assim, nos estudos quantitativos (i.e. estudos 2 e 3), onde foi comparado o comportamento dos instrutores experientes com o dos estagiários, foi possível constatar que ambos os grupos utilizam de forma diferenciada estes recursos comunicativos cinésicos e proxémicos. Relativamente à comunicação cinésica, verificou-se que os instrutores experientes tendem a potenciar mais o tempo de prática dos praticantes através do maior recurso a gestos reguladores do comportamento dos praticantes, com maior diversidade de morfologias de gestos, incluindo os gestos técnicos, e com maior utilização do movimento corporal global, possivelmente para auxiliar a instrução. No que respeita à comunicação proxémica, verificou-se que os instrutores experientes, apesar de comunicarem maioritariamente para todo o grupo, individualizam também mais a instrução ao se deslocarem mais até ao (s) praticante (s). Estes instrutores, comunicam também maioritariamente à frente dos praticantes, de costas para os mesmos, controlando-os através da utilização do espelho que usualmente existe nas salas de exercício. O facto de utilizarem mais os movimentos corporais globais para comunicar, faz com que também comuniquem mais a partir das várias posições corporais que derivam da execução técnica dos exercícios. Tendo em consideração a complementaridade que advêm da utilização de ambos os métodos qualitativos e qualitativos, referida por Camerino et al. (2012), estudou-se os padrões temporais de comportamento cinésicos e proxémicos dos instrutores de Localizada experientes e estagiários, com recurso ao programa informático Theme 5.0 (Magnusson, 2000; Magnusson, 2005). Susana Mendes Alves 202 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX Os padrões temporais (padrões-T) detetados em ambos os grupos de instrutores demonstraram que os instrutores experientes apresentam um comportamento mais consistente e com uma estrutura mais complexa do que os instrutores estagiários. Dessa análise, foi ainda possível concluir que os instrutores experientes apresentam gestos de regulação dos praticantes, acompanhando com realização dos exercícios, colocando-se à frente dos praticantes, em posição correspondente, e intercalando gestos de informação com feedback, com recurso à utilização de uma morfologia de gestos mais diversificadas. Por seu turno, os instrutores estagiários apresentam gestos de ilustração que não pressupõem uma resposta imediata, para informar os praticantes através de gestos de apontar e gestos sem uma morfologia definida, sendo que não acompanham com a realização de exercício e colocam-se à frente e de frente para os praticantes (i.e. à frente em espelho). Com a intenção de ir mais além nesta análise qualitativa, realizou-se um último estudo com o objetivo de verificar qual o padrão-T do comportamento dos instrutores em diferentes atividades de grupo de fitness, controlando a variável experiência profissional. Desta forma, foram estudados os padrões de comportamento cinésicos e proxémicos de instrutores experientes de Step, Localizada, Hidroginástica e Indoor Cycling. Foi possível concluir que cada atividade apresenta um padrão de comportamento cinésico e proxémico próprio, tendo-se verificado a existência de uma grande diversidade de configurações e padrões com complexidades distintas. Os padrões encontrados permitiram demonstrar que existem atividades mais padronizadas ao nível do perfil de atuação, como no caso das atividades de Step, e outras menos padronizadas como no caso da Hidroginástica. Estas análises complementaram a informação resultante da abordagem quantitativa, centrada no número de ocorrências de comportamentos, revelando que o comportamento dos instrutores de fitness apresenta-se mais complexo do que aquele que o “olho humano” consegue detetar. Em suma, esta investigação coloca à disposição da comunidade científica instrumentos para o estudo da comunicação cinésica e proxémica e fornece aos Susana Mendes Alves 203 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX instrutores ferramentas para o autodiagnóstico, bem como, dá a conhecer o comportamento dos instrutores e, nomeadamente, dos que têm mais experiência profissional adquirida ao longo do tempo, permitindo aos futuros instrutores, com menos tempo de experiência profissional, aprenderem com estas análises. Este contributo assenta no pressuposto que a comunicação não-verbal pode ser treinada e potenciada, podendo beneficiar positivamente os praticantes ao nível das suas aprendizagens. Para além disso, alguns estudos que têm demonstrado a existência de uma relação entre a forma como os instrutores comunicam e o clima de aula e a adesão às atividades de grupo de fitness (Bray, Millen, Eidsness, & Leuzinger, 2005; Martin & Fox, 2001). Por essa razão consideramos importante que no futuro, para além do desenvolvimento de competências ao nível da comunicação verbal se promova e desenvolva competências de comunicação não-verbal ao nível da formação técnica dos instrutores de fitness, já que esta está presente em todos os momentos de intervenção com os praticantes, podendo por isso interferir na qualidade da intervenção profissional neste contexto. Apesar de acreditarmos que os resultados alcançados acrescentam conhecimento no âmbito da comunicação não-verbal dos instrutores de atividades de grupo de fitness, este trabalho apresenta-se apenas como um contributo neste sentido, existindo ainda muitas questões em aberto. Por essa razão torna-se importante continuar a investigar e a refletir sobre a temática da comunicação nãoverbal tal como ela ocorre em contexto real, para assim melhor compreendermos e potenciarmos a intervenção pedagógica dos instrutores de atividades de grupo de fitness. 9.2 LIMITAÇÕES As conclusões anteriormente efetuadas estão limitadas pelo conjunto de opções metodológicas assumidas, sendo que, seguidamente, são referidas algumas dessas limitações. Susana Mendes Alves 204 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX De maneira a garantir as recomendações éticas definidas por Harriss e Atkinson (2009, 2011) para a investigação nesta área, foi necessário pedir a autorização antecipada para a realização das gravações das aulas dos instrutores. Por este motivo, foi previamente efetuada uma breve explicação sobre a razão da recolha dados e o âmbito do estudo, o que poderá ter levado alguns instrutores a alterarem o seu comportamento. Para minimizar este efeito foi apenas informado que seria estudado o comportamento do instrutor, não especificando que seria estudada a comunicação não-verbal. Contudo, o efeito de reatividade dos instrutores à presença da câmara de vídeo poderá ter afetado alguma da espontaneidade do comportamento, sendo esta uma limitação inerente ao uso da metodologia observacional, tal como referido por Anguera et al. (2000). Em relação aos instrumentos aplicados e dada a complexidade que envolvem os comportamentos cinésicos e proxémicos, os mesmos poderiam ser acompanhados por outras medidas de auto-análise (e.g. questionários), permitindo assim a triangulação de dados com a perceção dos instrutores e com a opinião dos praticantes. No que se refere ao estudo dos comportamentos cinésicos e proxémicos dos instrutores, nomeadamente à comparação entre os instrutores experientes e estagiários, não foram tidas em consideração variáveis como o género dos instrutores, a dimensão das salas e o número de praticantes, sendo que estas variáveis podem ter influência na comunicação cinésica e proxémica dos instrutores. De igual forma, o facto de estas análises comparativas se terem realizado na atividade de Localizada limita a generalização dos resultados encontrados a outras atividades. Note-se que no estudo 5 foi possível verificar que o perfil de comunicação cinésica e proxémica difere de atividade para atividade. Susana Mendes Alves 205 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX 9.3 RECOMENDAÇÕES Tendo em conta o conhecimento adquirido na elaboração da presente investigação e considerando a experiência vivenciada, serão apresentadas sugestões para a realização de novos estudos que abordem a temática da comunicação nãoverbal aplicada ao contexto do fitness. Assim recomenda-se de futuro: Caracterizar e comparar a comunicação cinésica e/ou proxémica de instrutores com diferentes níveis profissionais e identificar os respetivos padrões comportamentais em outras atividades de fitness; Caracterizar e comparar a comunicação cinésica e/ou proxémica de instrutores com diferentes géneros e identificar os respetivos padrões comportamentais; Caracterizar e comparar a comunicação cinésica e/ou proxémica de instrutores de atividades de grupo com sala grandes e pequenas; Caracterizar e comparar a comunicação cinésica e/ou proxémica de instrutores de atividades de grupo com muitos e poucos praticantes; Realizar um estudo longitudinal para verificar se existe estabilidade da comunicação cinésica e/ou proxémica e ao longo de um período de intervenção; Desenvolver e validar questionários para analisar a auto-perceção dos instrutores e a perceção e perferência dos praticantes e triangular com o comportamento não-verbal observado; Relacionar a comunicação cinésica com a comunicação verbal, como a instrução; Caracterizar e comparar a comunicação cinésica e/ou proxémica de instrutores de atividades de grupo de fitness e instrutores atividades individuais como o treino personalizado. Susana Mendes Alves 206 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX 9.4 REFERÊNCIAS Anguera, M. T., Blanco, Á., Losada, J. L., & Hernández, A. (2000). La Metodología Observacional en el Deporte: Conceptos Básicos. Journal, 24. Acedido em 2 de Junho. http://www.efdeportes.com/efd Anguera, T. (2009). Methodological observation in sport: Current situation and challenges for the next future. Motricidade 5(3), 15-25. Bray, S., Millen, J., Eidsness, J., & Leuzinger, C. (2005). The effects of leadership style and exercise program choreography on enjoyment and intentions to exercise Psychology of Sport and Exercise 6(4), 415-425. Camerino, O., Jonsson, G. K., Sánchez-Algarra, P., Anguera, M. T., Lopes, A., & Chaverri, J. (2012). Detecting hidden patterns in the dynamics of play in team sports. In O. Camerino, M. Castaner & T. Anguera (Eds.), Mixed Methods Research in the Movement Sciences - Case Studies in Sport, Physical Education and Dance. London: Routledge. 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Susana Mendes Alves 207 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES CAPÍTULO IX Martin, K., & Fox, L. (2001). Group and leadership effects on social anxiety experienced during an exercise class. Journal of Applied Social Psychology, 31(5), 1000-1016. Susana Mendes Alves 208 ANEXOS Anexo A: Cronograma temporal da investigação Tarefas Revisão bibliográfica Data de início Janeiro 2010 Data de conclusão ---------- Estudo 1: Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do Instrutor de Fitness (SOPROX-Fitness): Desenvolvimento, Validação e Estudo Piloto Outubro 2010 Outubro 2011 Procedimentos de recolha dos dados Abril 2011 Maio 2011 Recolha de dados Maio 2011 Abril 2012 Codificação das gravações e análise das codificações Junho 2011 Junho 2012 Estudo 2: Comunicação Cinésica dos Instrutores de Fitness: Comparação entre instrutores de Localizada experientes e estagiários Julho 2012 Agosto 2012 Estudo 3: Comunicação Proxémica dos Instrutores de Fitness: Comparação entre instrutores de Localizada experientes e estagiários Agosto 2012 Setembro 2012 Estudo 4: Comunicação Cinésica e Proxémica de Instrutores de Localizada Experientes e Estagiários: Deteção de Padrões Temporais Setembro 2012 Outubro 2012 Estudo 5: Comunicação Cinésica e Proxémica de Instrutores de Fitness em Diferentes Atividades de Grupo: Deteção de Padrões Temporais Outubro 2012 Novembro 2012 Entrega 1ª versão da tese Dezembro 2012 Dezembro 2012 Revisão bibliográfica ---------- Dezembro 2012 Entrega da Versão final da tese ---------- Janeiro 2013 Susana Mendes Alves 210 Anexo B: Plano de submissão dos artigos Artigos Sistema de Observação da Comunicação Proxémica do Instrutor de Fitness (SOPROX-Fitness): Desenvolvimento, Validação e Estudo Piloto (Submetido) Revistas Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercício y del Deporte Comunicação Cinésica dos Instrutores de Fitness: Comparação entre Psicologia Reflexão e Crítica instrutores de Localizada experientes e estagiários (Submetido) Comunicação Proxémica dos Instrutores de Fitness: Comparação entre Revista de Psicología del Deporte instrutores de Localizada experientes e estagiários (Submetido) Comunicação Cinésica e Proxémica de Instrutores de Localizada Spanish Journal of Psychology Experientes e Estagiários: Deteção de Padrões Temporais (Submetido) Comunicação Cinésica e Proxémica de Instrutores de Fitness em European Diferentes Atividades de Grupo: Deteção de Padrões Temporais (Em Science preparação para Subemissão) Susana Mendes Alves Journal of Sport 211 Anexo C: Folha de apresentação do sistema de observação SOPROX-Fitness ao painel de especialistas. SISTEMA DE OBSERVAÇÃO DA COMUNICAÇÃO PROXÉMICA (SOPROX-Fitness) 1 1 Marta Castañer ; Oleguer Camerino ; Susana Alves2; Susana Franco2; José Rodrigues2 1 Institut Nacional d’educació Física de Catalunya – Universidad de Lleida 2 Escola Superior de Desporto de Rio Maior - IPS Este estudo está integrado num projeto de investigação internacional desenvolvido no âmbito da Sub-área Científica de Pedagogia do Desporto da ESDRM, linha de investigação da Intervenção Pedagógica em Desporto subordinada ao tema da comunicação não-verbal em Instrutores de Fitness, e tem como objetivo o estudo da Comunicação Não-verbal dos Instrutores de Atividades de Grupo de Fitness. Desta forma, será desenvolvido e validado para o contexto das atividades de grupo de fitness o Sistema de Observação da Comunicação Proxémica (SOPROX), sob a orientação da Prof.ª Doutora Susana Franco e do Prof. Doutor José Rodrigues. Quadro Teórico Subjacente ao SOPROX A comunicação não-verbal refere-se aos aspectos que vão para além das palavras ditas ou escritas. Este tipo de comunicação está sempre presente e pode ocorrer em simultâneo com a linguagem verbal, acrescentando um significado mais profundo e verdadeiro àquilo que se pretende verbalmente transmitir. Existem quatro componentes da comunicação não-verbal: a cinésica, a proxémica, a paralinguagem e a cronémica. A comunicação proxémica é relativa ao estudo das relações espaciais e respetivas componentes comunicativas que sugerem. Nas atividades de grupo de fitness, a interacção entre instrutor e os praticantes e a utilização do espaço pelo instrutor é algo que é inerente à própria atividade, não só pelo facto de seres humanos, com toda sua complexidade, entrarem em contacto entre si, mas também pelo simples facto de poderem ser planeadas como parte da estratégia de ensino. Assim este sistema de observação será desenvolvido com o objetivo de estudar a proxémica dos instrutores aquando da sua interação ao longo do ensino das atividades de grupo de fitness. Susana Mendes Alves 212 Sistema de Observação da Comunicação Proxémica – SOPROX-Fitness Dimensão: Grupo Dimensão que se refere ao número de praticantes para quem o instrutor comunica. Macro-grupo Micro-grupo Quando o instrutor comunica com toda a classe. Quando o instrutor comunica com um grupo de praticantes, mas não com toda a classe. Díade Quando o instrutor comunica com apenas um praticante. Dimensão: Topologia Dimensão que se refere à localização espacial onde o instrutor se encontra na sala. Periférica Central O instrutor está localizado na zona periférica da sala. O instrutor está localizado na zona central da sala. Dimensão: Interacção Dimensão que se refere à atitude corporal que indica o grau de envolvimento do instrutor com os praticantes para quem comunica. Distanciada Atitude corporal que revela que o instrutor está ausente do que ocorre na aula, ou que indica uma separação, quer física quer em termos de olhar ou atitude, relativamente aos praticantes. Integrada Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, sem existir contacto físico com os praticantes. Contacto táctil Atitude corporal que revela que o instrutor está envolvido no que se passa na aula, existindo contacto físico com os praticantes. Dimensão: Orientação Dimensão que se refere à localização espacial do instrutor relativamente aos praticantes para quem comunica. À frente espelho em O instrutor encontra-se à frente dos praticantes para quem comunica, orientado de frente para o campo de visão dos praticantes. À frente em O instrutor encontra-se à frente dos praticantes para quem correspondente comunica, orientado de costas relativamente ao campo de visão dos praticantes. À frente de perfil O instrutor encontra-se à frente dos praticantes para quem comunica, orientado de lado para estes. Atrás O instrutor encontra-se atrás dos praticantes para quem comunica, fora do seu campo de visão. Susana Mendes Alves 213 No meio O instrutor encontra-se no meio do espaço ocupado pelos praticantes para quem comunica. À direita O instrutor encontra-se numa área à direita dos praticantes para quem comunica. À esquerda O instrutor encontra-se numa área à esquerda dos praticantes para quem comunica. Dimensão: Transição Dimensão que se refere à postura corporal adoptada pelo instrutor no espaço. Posição Bípede O instrutor está em pé realizando os deslocamentos com deslocamento enquadrados no próprio exercício. Posição fixa bípede O instrutor está em pé, ou de joelhos, ou agachado, sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição fixa O instrutor está sentado sem se deslocar, embora possa sentada movimentar os seus segmentos corporais. Posição fixa dorsal O instrutor está deitado dorsal ou em outra posição dorsal sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição fixa ventral O instrutor está deitado ventral ou em outra posição ventral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Posição fixa lateral O instrutor está deitado lateral ou em outra posição lateral sem se deslocar, embora possa movimentar os seus segmentos corporais. Locomoção O instrutor movimenta-se pela sala com o objectivo de se deslocar ao longo do espaço. Suporte O instrutor está encostado a uma estrutura, material ou pessoa. Registo de dados Após a aplicação do Sistema de Observação da Comunicação Cinésica (SOCINFitness) iremos determinar: A frequência de ocorrência de cada categoria de análise. Susana Mendes Alves 214 Anexo D: Modelo da carta de pedido de autorização aos ginásios para efetuar a recolhas dos dados. Exmo. __________________________ No âmbito do Doutoramento em Ciências do Desporto, da Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro (UTAD), está a ser realizado um estudo sobre a atividade de Localizada. Sendo a investigação científica um importante meio para o desenvolvimento da intervenção no Desporto, designadamente na área do fitness, vimos solicitar a colaboração da instituição que dirige no sentido de autorizar a recolha de dados, através da filmagem de uma aula de Localizada. O instrutor _________________________ já foi previamente contactado, tendo apresentado o seu consentimento informado para participar neste estudo. Posto isto, vimos por este meio pedir autorização para realizarmos a recolha de dados no dia ___________ às___________. Caso autorize a recolha de dados anteriormente enunciada, informamos que antes da recolha, o instrutor será contactado para confirmação do dia e hora da recolha dos dados e será solicitado ao instrutor que peça o consentimento dos praticantes para a recolha de dados, sendo este pedido reforçado no próprio dia da recolha. Desde já agradecemos a sua colaboração. Atenciosamente, Rio Maior, ___________________________ Susana Alves Contacto: Telefone: 938543236 (Susana Alves) Morada: Escola Superior de Desporto de Rio Maior Avenida Dr. Mário Soares, Pavilhão Multiusos 2040-413 Rio Maior Fax: 243999292 E-mail: [email protected] Susana Mendes Alves 215 Anexo E: Frequência total de gestos e da duração das sessões (Instrutores Estagiários). Instrutor Nº Gestos Nº Adap. Nº Total minutos segundos 1 – Estagiário 166 2 168 46 7 2 – Estagiário 154 14 168 38 2 3 – Estagiário 158 15 173 35 2 4 – Estagiário 364 0 364 60 56 5 – Estagiário 175 0 175 48 59 6 – Estagiário 113 43 156 42 10 7 – Estagiário 319 0 319 47 48 8 – Estagiário 293 0 293 42 14 9 – Estagiário 374 0 374 43 25 10 – Estagiário 136 10 146 44 33 11 – Estagiário 149 5 154 45 36 12 – Estagiário 353 0 353 49 42 13 – Estagiário 200 1 201 43 56 14 – Estagiário 379 1 380 43 2 15 – Estagiário 300 0 300 37 36 16 – Estagiário 100 11 111 31 29 17 – Estagiário 171 4 175 42 43 18 – Estagiário 151 15 166 30 18 19 – Estagiário 273 36 309 51 34 20 – Estagiário 29 0 29 26 45 21 – Estagiário 211 17 228 41 30 22 – Estagiário 85 2 87 40 41 23 – Estagiário 126 36 162 37 24 24 – Estagiário 77 0 77 36 32 25 – Estagiário 102 0 102 34 34 26 – Estagiário 239 0 239 52 40 27 – Estagiário 192 8 200 52 41 28 – Estagiário 342 0 342 51 38 29 – Estagiário 162 0 162 38 0 30 – Estagiário 102 11 113 36 21 31 – Estagiário 222 12 234 44 26 32 – Estagiário 190 0 190 43 36 33 – Estagiário 235 0 235 38 46 34 – Estagiário 115 0 115 30 57 35 – Estagiário 74 0 74 37 49 Susana Mendes Alves Duração (minutos) 46.12 38.03 35.03 60.93 48.98 42.17 47.80 42.23 43.42 44.55 45.60 49.70 43.93 43.03 37.60 31.48 42.72 30.30 51.57 26.75 41.50 40.68 37.40 36.53 34.57 52.67 52.68 51.63 38.00 36.35 44.43 43.60 38.77 30.95 37.82 Freq. Gestos Min. 3.64 4.42 4.94 5.97 3.57 3.70 6.67 6.94 8.61 3.28 3.38 7.10 4.58 8.83 7.98 3.53 4.10 5.48 5.99 1.08 5.49 2.14 4.33 2.11 2.95 4.54 3.80 6.62 4.26 3.11 5.27 4.36 6.06 3.72 1.96 216 Anexo F: Frequências absolutas obtidas nas categorias do SOCIN-Fitness (Instrutores Estagiários). Instrutores RE IL 1 – Estagiário 143 23 0 2 – Estagiário 85 70 3 – Estagiário 88 4 – Estagiário 5 – Estagiário 6 – Estagiário OB AA HA MUL 28 0 2 0 0 18 137 5 8 1 0 2 54 104 4 9 2 0 46 0 202 162 0 0 0 0 15 4 100 75 0 0 0 0 25 13 0 36 77 16 20 7 0 216 74 27 2 58 261 0 0 0 0 28 236 18 37 2 128 165 0 0 0 0 1 62 237 90 46 1 187 187 0 0 0 0 1 8 14 85 44 7 0 28 108 3 6 1 0 5 5 3 21 108 16 24 1 58 91 2 3 0 0 1 62 1 22 28 266 46 36 5 222 131 0 0 0 0 1 20 0 1 8 140 34 22 4 146 54 0 1 0 0 144 12 29 12 21 24 288 38 48 5 280 99 0 1 0 0 12 81 11 25 10 6 59 162 63 67 8 67 233 0 0 0 0 19 1 32 9 19 7 0 12 86 9 5 0 60 40 4 7 0 0 2 42 55 32 0 29 3 1 7 147 19 5 0 138 33 1 3 0 0 46 2 56 14 36 5 24 3 5 6 114 22 13 2 84 67 3 10 2 0 233 40 2 27 22 59 12 96 5 22 28 194 55 23 1 26 247 12 23 1 0 14 15 0 2 0 10 2 7 2 0 6 15 4 10 0 11 18 0 0 0 0 170 41 2 12 74 71 17 15 10 0 10 183 6 22 0 108 103 5 10 2 0 77 8 0 14 0 28 5 27 2 4 5 53 25 7 0 16 69 0 2 0 0 58 68 0 43 8 45 2 5 1 3 19 78 20 28 0 36 90 11 22 3 0 57 20 0 30 19 19 0 2 2 5 0 47 18 12 0 26 51 0 0 0 0 51 51 0 36 0 40 5 10 1 1 9 64 18 18 2 24 78 0 0 0 0 163 76 0 70 13 72 10 30 4 12 28 160 36 40 3 106 133 0 0 0 0 134 58 2 45 14 80 7 16 5 5 18 115 48 25 4 135 57 2 5 1 0 250 92 0 54 78 72 1 54 8 34 41 236 66 40 0 193 149 0 0 0 0 115 47 0 63 29 34 1 16 3 5 11 109 23 28 2 72 90 0 0 0 0 85 17 1 15 10 31 1 29 0 3 12 69 16 16 1 31 71 4 6 1 0 154 68 2 52 3 83 4 47 10 13 8 166 29 24 3 101 121 3 8 1 0 132 58 0 65 8 26 1 61 10 15 4 133 36 19 2 53 137 0 0 0 0 189 46 0 46 29 54 4 64 16 10 12 156 42 33 4 158 77 0 0 0 0 34 – Estagiário 54 61 0 34 7 33 3 20 0 8 10 87 11 14 3 31 84 0 0 0 0 35 – Estagiário 56 18 0 16 24 23 4 4 0 0 3 57 10 7 0 48 26 0 0 0 0 7 – Estagiário 8 – Estagiário 9 – Estagiário 10 – Estagiário 11 – Estagiário 12 – Estagiário 13 – Estagiário 14 – Estagiário 15 – Estagiário 16 – Estagiário 17 – Estagiário 18 – Estagiário 19 – Estagiário 20 – Estagiário 21 – Estagiário 22 – Estagiário 23 – Estagiário 24 – Estagiário 25 – Estagiário 26 – Estagiário 27 – Estagiário 28 – Estagiário 29 – Estagiário 30 – Estagiário 31 – Estagiário 32 – Estagiário 33 – Estagiário EMBN DEI PIC CIN ESP RIT BAT INF FEED INT ORG CE SE 34 24 58 4 34 10 2 0 111 43 9 3 138 0 62 3 53 1 24 3 2 7 86 51 16 2 70 1 55 5 33 1 25 0 2 36 92 31 33 323 41 0 64 55 56 15 119 20 28 7 120 55 0 61 1 54 10 26 5 11 7 283 35 125 31 99 14 0 37 2 30 0 38 0 1 5 75 202 117 0 69 14 75 11 76 9 13 52 224 69 0 59 55 74 6 53 4 14 283 91 0 104 22 103 6 64 12 90 46 2 49 3 36 2 21 105 44 1 33 48 32 1 248 105 0 73 184 16 0 62 66 100 27 81 275 104 2 46 89 150 150 0 96 67 33 1 155 16 105 Susana Mendes Alves EMBT EMBS 217 Anexo G: Frequências absolutas obtidas nas categorias do SOPROX-Fitness (Instrutores Estagiários). Instrutores DIS IINT CT DIR ESQ PBD PFB PFS PFD PFV PFL LOC SU 130 3 35 102 66 1 166 1 110 10 10 0 26 6 6 0 122 6 6 2 1 31 0 160 0 13 135 38 2 171 0 78 23 20 0 38 6 8 18 82 4 1 1 1 66 0 353 0 11 317 47 0 364 0 269 10 63 0 21 1 0 40 172 3 9 6 4 130 0 166 0 9 152 23 0 175 0 150 1 15 0 9 0 0 0 134 4 3 2 3 29 0 136 0 20 106 50 1 155 0 88 7 35 0 19 5 2 18 80 5 2 1 1 49 0 234 0 85 230 89 0 318 1 181 7 66 2 46 11 6 25 189 9 9 2 1 84 0 7 – Estagiário 280 0 13 248 45 0 293 0 220 25 17 1 26 2 2 43 125 8 14 6 6 91 0 8 – Estagiário 291 6 77 302 72 0 371 3 222 30 76 2 36 3 5 53 203 6 20 4 3 85 0 9 – Estagiário 118 0 28 98 48 1 145 0 54 40 15 0 32 1 4 11 70 4 4 8 1 48 0 10 – Estagiário 137 0 17 131 23 0 154 0 78 51 10 0 11 2 2 44 64 4 2 3 0 37 0 11 – Estagiário 318 1 34 301 52 1 350 2 217 66 30 0 34 3 3 119 130 8 20 2 2 72 0 12 – Estagiário 186 0 15 171 30 0 199 2 145 4 26 0 22 2 2 12 138 4 8 1 0 38 0 13 – Estagiário 307 0 73 273 107 0 380 0 262 63 11 0 40 3 1 126 187 4 8 5 0 50 0 14 – Estagiário 221 3 76 195 105 1 298 1 175 28 22 3 52 11 9 21 195 1 7 6 0 70 0 15 – Estagiário 105 1 5 89 22 1 108 2 67 8 18 1 15 1 1 12 49 4 10 4 0 32 0 16 – Estagiário 168 0 7 141 34 0 175 0 104 58 4 0 9 0 0 27 104 0 6 0 3 35 0 17 – Estagiário 151 0 15 142 24 0 166 0 125 12 6 0 23 0 0 35 58 5 12 7 3 46 0 18 – Estagiário 271 2 36 153 156 0 306 3 134 21 33 4 98 8 11 31 98 3 6 3 2 166 0 19 – Estagiário 23 0 6 24 5 0 29 0 19 1 0 6 0 1 4 8 1 1 0 1 14 0 20 – Estagiário 191 37 1 227 0 137 60 14 0 15 1 1 72 90 3 10 9 0 44 0 1 – Estagiário 2 – Estagiário 3 – Estagiário 4 – Estagiário 5 – Estagiário 6 – Estagiário MAC MIC DIA P C FE FC FP 2 AT NM 224 0 4 21 – Estagiário 69 0 18 55 32 0 87 0 32 8 15 1 26 3 2 10 40 0 3 1 0 33 0 22 – Estagiário 134 0 28 124 38 0 161 1 87 16 36 2 19 0 2 4 96 4 7 4 1 46 0 23 – Estagiário 54 0 23 46 31 0 76 1 54 3 0 14 1 1 8 48 1 1 0 0 19 0 24 – Estagiário 89 0 13 69 33 0 102 0 56 10 15 1 18 1 1 3 64 3 5 1 1 25 0 25 – Estagiário 189 0 50 168 71 0 239 0 154 0 36 0 30 12 7 31 123 6 6 3 3 67 0 26 – Estagiário 170 3 27 179 21 0 191 9 95 62 12 2 15 9 5 35 125 13 11 3 0 13 0 27 – Estagiário 284 1 57 324 18 0 339 3 182 90 36 0 29 3 2 13 231 8 26 2 3 59 0 28 – Estagiário 122 40 0 162 0 93 39 9 1 16 1 3 27 91 3 7 3 1 30 0 4 143 0 19 29 – Estagiário 97 2 14 59 54 1 112 0 44 18 10 0 38 3 0 4 54 0 2 1 1 51 0 30 – Estagiário 197 0 37 197 37 0 234 0 156 29 28 1 8 4 8 46 112 7 7 3 2 57 0 31 – Estagiário 161 3 26 100 90 0 188 2 90 28 4 2 60 5 1 8 117 4 5 7 0 49 0 32 – Estagiário 199 4 32 209 26 0 233 2 184 35 11 0 1 2 2 41 129 5 7 4 2 47 0 33 – Estagiário 109 2 4 90 25 0 115 0 60 21 29 0 4 0 1 14 49 4 6 1 1 40 0 130 3 35 102 66 1 166 1 110 10 10 0 26 6 6 0 122 6 6 2 1 31 0 160 0 13 135 38 2 171 0 78 23 20 0 38 6 8 18 82 4 1 1 1 66 0 34 – Estagiário 35 – Estagiário Susana Mendes Alves 218 Anexo H: Frequência total de gestos e da duração das sessões (Instrutores Experientes). Instrutor Nº Gestos Nº Adap. Nº Total minutos segundos 1 – Experiente 275 6 281 51 0 2 – Experiente 235 0 235 48 15 3 – Experiente 181 1 182 45 3 4 – Experiente 270 17 287 56 6 5 – Experiente 108 0 108 45 0 6 – Experiente 258 0 258 46 34 7 – Experiente 276 5 281 40 47 8 – Experiente 316 5 321 43 7 9 – Experiente 227 0 227 47 24 10 – Experiente 154 0 154 45 34 11 – Experiente 191 10 201 47 23 12 – Experiente 200 13 213 54 48 13 – Experiente 189 4 193 41 0 14 – Experiente 104 3 107 43 22 15 – Experiente 269 17 286 46 13 16 – Experiente 42 16 58 48 35 17 – Experiente 337 29 366 39 1 18 – Experiente 23 0 23 43 37 19 – Experiente 299 0 299 32 1 20 – Experiente 103 6 109 33 15 21 – Experiente 97 10 107 40 48 22 – Experiente 102 0 102 45 6 23 – Experiente 109 2 111 41 45 24 – Experiente 225 10 235 44 1 25 – Experiente 159 14 173 43 0 26 – Experiente 107 0 107 45 14 27 – Experiente 177 12 189 52 40 28 – Experiente 363 11 374 52 46 29 – Experiente 117 0 117 38 22 30 – Experiente 283 0 283 42 55 31 – Experiente 225 8 233 45 45 32 – Experiente 83 29 112 38 53 33 – Experiente 172 0 172 38 55 34 – Experiente 227 0 227 44 59 35 – Experiente 205 3 208 56 53 36 – Experiente 218 1 219 48 15 37 – Experiente 277 10 287 54 51 Susana Mendes Alves Duração (minutos) 51.00 48.25 45.05 56.10 45.00 46.57 40.78 43.12 47.40 45.57 47.38 54.80 41.00 43.37 46.22 48.58 39.02 43.62 32.02 33.25 40.80 45.10 41.75 44.02 43.00 45.23 52.67 52.77 38.37 42.92 45.75 38.88 38.92 44.98 56.88 48.25 54.85 Freq. gestos Min. 5.51 4.87 4.04 5.12 2.40 5.54 6.89 7.44 4.79 3.38 4.24 3.89 4.71 2.47 6.19 1.19 9.38 0.53 9.34 3.28 2.62 2.26 2.66 5.34 4.02 2.37 3.59 7.09 3.05 6.59 5.09 2.88 4.42 5.05 3.66 4.54 5.23 219 Anexo I: Frequências absolutas obtidas nas categorias do SOCIN-Fitness (Instrutores Experientes). Instrutores RE IL EMBN DEI PIC CIN ESP RIT BAT INF FEED INT ORG CE SE OB AA HA MUL 1 – Experiente 234 41 2 57 65 72 5 39 5 25 5 209 49 7 10 201 74 4 1 1 0 2 – Experiente 156 81 7 47 27 60 7 62 4 2 21 175 32 20 10 96 141 0 0 0 0 3 – Experiente 158 23 2 47 26 76 1 25 1 1 2 159 13 4 5 134 47 1 0 0 0 4 – Experiente 242 28 9 45 27 100 13 44 5 16 11 214 50 5 1 140 130 12 4 1 0 5 – Experiente 6 – Experiente 102 6 2 11 13 32 3 37 3 0 7 50 42 8 8 25 83 0 0 0 0 202 56 2 22 47 90 9 64 7 14 3 176 68 5 9 78 180 0 0 0 0 257 19 9 23 78 41 3 94 0 5 23 234 25 6 11 122 154 4 1 0 0 278 38 9 75 64 113 4 27 6 7 11 245 45 24 2 244 72 4 1 0 0 207 20 5 21 28 70 2 61 6 16 18 163 54 9 1 50 177 0 0 0 0 126 28 2 27 25 60 7 21 2 2 8 110 24 15 5 95 59 0 0 0 0 169 22 6 19 27 97 2 32 1 0 7 148 30 13 0 85 106 6 2 2 0 122 78 8 43 17 89 7 7 3 2 24 111 56 30 3 82 118 10 2 1 0 166 23 5 35 33 45 4 42 5 7 13 159 20 10 0 68 121 3 1 0 0 89 15 1 14 6 30 2 42 1 0 8 64 32 7 1 24 80 3 0 0 0 268 1 9 1 87 132 2 15 0 5 18 251 15 1 2 204 65 13 3 1 0 7 – Experiente 8 – Experiente 9 – Experiente 10 – Experiente 11 – Experiente 12 – Experiente 13 – Experiente 14 – Experiente 15 – Experiente 16 – Experiente 17 – Experiente 18 – Experiente 19 – Experiente 20 – Experiente 21 – Experiente 22 – Experiente 23 – Experiente 24 – Experiente 25 – Experiente 26 – Experiente 27 – Experiente 28 – Experiente 29 – Experiente 30 – Experiente 31 – Experiente 32 – Experiente EMBT EMBS 31 11 1 9 0 24 0 4 0 0 4 23 11 6 2 26 16 12 3 1 0 290 47 4 111 36 112 14 44 7 3 6 217 80 31 9 249 88 21 6 2 0 21 2 1 7 2 9 1 1 0 2 0 15 4 3 1 19 4 0 0 0 0 259 40 2 75 48 92 6 55 9 6 6 182 78 22 17 166 133 0 0 0 0 81 22 3 22 8 44 3 10 1 2 10 66 22 15 0 75 28 4 1 1 0 92 5 2 9 13 37 0 23 1 9 3 82 13 2 0 34 63 7 2 1 0 86 16 2 17 13 39 6 17 1 7 0 84 15 3 0 44 58 0 0 0 0 92 17 2 4 24 61 3 9 0 0 6 91 15 3 0 73 36 2 0 0 0 151 74 6 66 9 102 6 21 4 1 10 161 42 21 1 129 96 7 2 1 0 151 8 2 37 14 75 1 17 3 7 3 112 43 4 0 103 56 10 3 1 0 83 24 2 27 11 19 6 33 0 0 9 47 39 17 4 48 59 0 0 0 0 152 25 2 26 30 41 3 49 5 18 3 118 34 22 3 118 59 9 2 1 0 314 49 1 41 123 110 2 45 2 22 17 282 44 29 8 212 151 8 2 1 0 89 28 2 18 10 57 2 20 1 0 7 66 32 17 2 102 15 0 0 0 0 241 42 4 50 45 94 8 61 5 3 13 200 58 18 7 195 88 0 0 0 0 225 0 2 36 77 50 10 20 0 0 30 224 1 0 0 225 0 6 1 1 0 80 3 3 13 17 29 1 15 0 1 4 64 9 6 4 48 35 20 6 3 0 161 11 2 25 21 50 6 49 8 3 8 107 50 11 4 109 63 0 0 0 0 34 – Experiente 35 – Experiente 170 57 2 45 28 103 7 29 0 7 6 141 42 40 4 104 123 0 0 0 0 148 57 2 32 31 70 1 42 9 7 11 141 52 10 2 87 118 3 0 0 0 36 – Experiente 153 65 3 26 65 47 3 49 0 7 18 168 6 40 4 89 129 1 0 0 0 37 – Experiente 274 3 7 40 67 75 0 64 2 16 6 240 30 3 4 220 57 7 2 1 0 33 – Experiente Susana Mendes Alves 220 Anexo J: Frequências absolutas obtidas nas categorias do SOPROX-Fitness (Instrutores Experientes). Instrutores DIS IINT CT DIR ESQ PBD PFB PFS PFD PFV PFL LOC SU 1 – Experiente 236 5 40 259 22 1 279 1 152 80 14 0 17 9 9 24 215 1 6 8 12 15 0 2 – Experiente 190 5 40 205 30 1 233 1 56 103 19 17 20 10 10 19 132 6 22 15 6 35 0 3 – Experiente 157 5 20 178 4 0 182 0 11 133 16 5 3 7 7 9 139 8 5 6 0 15 0 4 – Experiente 251 9 27 260 27 1 284 2 61 158 20 10 16 11 11 55 172 15 9 8 0 28 0 5 – Experiente 6 – Experiente 79 4 25 69 39 0 101 7 50 20 5 6 6 8 13 0 78 5 8 3 3 11 0 192 7 59 206 52 0 257 1 30 125 7 10 43 22 21 35 128 13 30 12 6 34 0 240 8 33 233 48 0 279 2 44 152 4 14 48 8 11 20 197 10 10 4 0 40 0 274 6 41 316 5 1 320 0 63 196 20 12 4 13 13 121 92 24 38 31 2 13 0 185 5 37 218 9 0 220 7 46 104 12 18 4 23 20 10 92 7 46 17 14 41 0 120 7 27 146 8 0 154 0 46 89 10 0 4 2 3 30 85 7 6 0 0 26 0 160 8 33 174 27 0 191 10 52 84 6 10 23 13 13 19 102 2 50 9 0 19 0 167 5 41 186 27 0 211 2 34 120 19 4 22 8 6 2 127 16 26 14 8 20 0 155 9 29 164 29 0 193 0 45 92 14 7 10 15 10 26 107 5 22 13 5 15 0 80 5 22 80 27 1 106 0 21 44 3 6 14 10 9 10 46 6 19 8 8 10 0 240 9 37 275 11 0 286 0 32 196 17 6 9 13 13 109 70 5 34 18 16 34 0 58 0 1 51 2 1 1 1 1 5 14 8 15 7 3 6 0 353 13 105 207 9 5 12 16 12 22 195 25 39 30 20 35 0 21 0 0 0 0 0 0 13 1 5 0 1 3 0 151 20 17 10 19 17 15 209 3 23 11 7 31 0 7 – Experiente 8 – Experiente 9 – Experiente 10 – Experiente 11 – Experiente 12 – Experiente 13 – Experiente 14 – Experiente 15 – Experiente 16 – Experiente 17 – Experiente 18 – Experiente 19 – Experiente 20 – Experiente 21 – Experiente 22 – Experiente 23 – Experiente 24 – Experiente 25 – Experiente 26 – Experiente 27 – Experiente 28 – Experiente 29 – Experiente 30 – Experiente 31 – Experiente 32 – Experiente MAC MIC DIA P C FE FC FP AT NM 41 3 14 57 1 0 273 3 90 331 35 0 19 1 3 22 1 0 23 0 2 215 13 71 280 19 0 299 0 65 81 5 23 108 1 0 109 0 60 35 2 1 0 9 2 28 51 7 6 5 2 10 0 93 5 9 86 21 0 107 0 27 50 6 0 19 3 2 7 51 7 16 10 6 10 0 81 6 15 73 29 0 101 1 27 46 8 4 10 5 2 0 41 2 19 7 7 26 0 88 9 14 102 9 0 111 0 10 93 1 2 1 1 3 19 71 1 10 3 1 6 0 190 6 39 220 15 0 233 2 56 126 9 4 11 20 9 70 78 22 15 10 15 25 0 137 8 28 150 23 0 169 4 5 129 9 4 19 5 2 54 78 6 12 2 2 19 0 78 8 21 79 28 0 107 0 40 43 6 4 3 5 6 2 55 11 16 8 3 12 0 155 9 25 167 22 5 178 6 6 147 12 1 16 2 5 6 77 20 45 16 5 20 0 300 6 68 293 81 0 372 2 126 130 23 15 28 26 26 66 167 15 32 17 25 52 0 90 6 21 116 1 0 117 0 64 1 0 0 0 0 14 78 1 8 6 3 7 0 234 6 43 279 4 0 283 0 150 83 17 10 3 10 10 55 189 4 9 7 0 19 0 201 2 30 232 1 2 230 1 1 173 27 10 0 11 11 25 127 13 42 4 7 15 0 52 88 3 21 98 14 2 108 2 31 43 5 8 9 8 8 30 40 4 10 6 6 16 0 125 7 40 140 32 0 170 2 72 59 17 6 8 5 5 26 84 8 20 7 6 21 0 34 – Experiente 35 – Experiente 170 7 50 175 52 0 227 0 90 93 4 9 16 9 6 10 163 6 15 6 6 21 0 170 10 28 188 20 1 206 1 43 102 18 12 8 10 15 0 142 6 21 13 6 20 0 36 – Experiente 184 5 30 214 5 0 215 4 53 131 10 5 5 8 7 39 96 15 25 12 8 24 0 37 – Experiente 238 10 39 262 25 1 281 5 24 206 12 5 21 15 107 70 14 60 5 12 19 0 33 – Experiente Susana Mendes Alves 4 221 Anexo K: Estatística descritiva (SOCIN-Fitness - Instrutores Estagiários). a Descriptive Statistics N Minimum Maximum Mean Std. Deviation RE_rel 35 46.03 92.00 71.0809 13.14462 IL_rel 35 8.00 53.97 28.9191 13.14462 EMBT_rel 35 .00 1.47 .3257 .48490 EMBS_rel 35 5.69 40.00 25.2149 9.57285 EMBN_rel 35 .00 35.07 11.3259 10.65346 DEI_rel 35 13.68 41.67 28.4510 7.08610 PIC_rel 35 .00 9.00 2.7479 2.40479 CIN_rel 35 2.60 35.16 17.1151 9.21085 ESP_rel 35 .00 7.00 2.5874 2.12358 RIT_rel 35 .00 9.94 3.5710 2.81344 BAT_rel 35 .00 22.78 8.6611 5.83243 INF_rel 35 54.00 86.73 69.6301 8.21700 FEED_rel 35 2.84 32.90 17.4790 6.99809 INT_rel 35 2.92 22.33 11.9598 4.66889 ORG_rel 35 .00 2.67 .9310 .84998 CE_rel 35 9.52 83.13 44.4269 20.24108 SE_rel 35 16.87 90.48 55.5731 20.24108 OB_rel 35 .00 100.00 21.1860 28.51512 AA_rel 35 .00 100.00 32.9422 36.49095 HA_rel 35 .00 16.67 3.0147 5.37271 Valid N (listwise) 35 a. Exp_Instrutor = Inexperiente (Estagiário) Susana Mendes Alves 222 Anexo L: Estatística descritiva (SOCIN-Fitness - Instrutores Experientes). a Descriptive Statistics N Mean Statistic Statistic Skewness Statistic Kurtosis Std. Error Statistic Std. Error RE_rel 37 84.7733 -.581 .388 -.171 .759 IL_rel 37 15.2267 .581 .388 -.171 .759 EMBT_rel 37 1.9879 .451 .388 -.776 .759 EMBS_rel 37 17.0347 .049 .388 -.014 .759 EMBN_rel 37 15.7579 .720 .388 .147 .759 DEI_rel 37 35.3473 .193 .388 -.494 .759 PIC_rel 37 2.3065 .467 .388 -.631 .759 CIN_rel 37 18.0708 .496 .388 -.311 .759 ESP_rel 37 1.3613 .825 .388 .327 .759 RIT_rel 37 3.0006 .952 .388 -.258 .759 BAT_rel 37 5.1329 .515 .388 -.198 .759 INF_rel 37 71.8510 -.138 .388 -.026 .759 FEED_rel 37 18.6581 .150 .388 -.190 .759 INT_rel 37 7.3749 .547 .388 -.744 .759 ORG_rel 37 2.1160 1.055 .388 .867 .759 CE_rel 37 56.4356 .038 .388 -.584 .759 SE_rel 37 43.5644 -.038 .388 -.584 .759 OB_rel 37 16.5052 1.992 .388 2.839 .759 AA_rel 37 45.6570 .096 .388 -1.942 .759 HA_rel 37 .0000 . . . . MUL_rel 37 2.7027 6.083 .388 37.000 .759 Valid N (listwise) 37 a. Exp_Instrutor = Experiente Susana Mendes Alves 223 Anexo M: Estatística descritiva (SOPROX-Fitness - Instrutores Estagiários). a Descriptive Statistics N Minimum Maximum Mean Std. Deviation MAC_rel 35 70.13 98.25 86.3747 7.44805 MIC_rel 35 .00 1.79 .4230 .67942 DIA_rel 35 1.75 29.87 13.2024 7.36793 P_rel 35 49.51 97.02 76.0488 12.05024 C_rel 35 2.98 50.49 23.9512 12.05024 DIS_rel 35 .00 1.16 .1861 .32950 IINT_rel 35 95.50 100.00 99.3689 .89259 CT_rel 35 .00 4.50 .4450 .85226 FE_rel 35 36.78 85.71 59.9251 12.45947 FC_rel 35 .00 33.14 13.0985 9.86171 FP_rel 35 2.11 25.22 10.4055 6.45523 AT_rel 35 .00 1.29 .3189 .46026 NM_rel 35 .43 33.63 13.2857 8.56093 DIR_rel 35 .00 5.02 1.5316 1.45788 ESQ_rel 35 .00 4.62 1.4347 1.28989 PBD_rel 35 .00 33.16 13.9951 7.10209 PFB_rel 35 27.59 76.57 51.0844 11.17060 PFS_rel 35 .00 6.50 2.2441 1.31674 PFD_rel 35 .58 9.01 3.7685 2.03422 PFV_rel 35 .00 5.48 1.5499 1.26169 PFL_rel 35 .00 3.45 .7887 .76296 LOC_rel 35 6.50 53.72 26.5693 9.93243 SU_rel 35 .00 .00 .0000 .00000 Valid N (listwise) 35 a. Exp_Instrutor = Inexperiente (Estagiário) Susana Mendes Alves 224 Anexo N: Estatística descritiva (SOPROX -Fitness - Instrutores Experientes). a Descriptive Statistics N Minimum Maximum Mean Std. Deviation MAC_rel 37 70.69 87.46 79.6993 4.67546 MIC_rel 37 .82 8.11 3.6204 1.63202 DIA_rel 37 8.41 24.59 16.6803 4.36682 P_rel 37 63.89 99.57 88.5942 8.96597 C_rel 37 .43 36.11 11.4058 8.96597 DIS_rel 37 .00 2.65 .2296 .54585 IINT_rel 37 93.52 100.00 98.7734 1.69673 CT_rel 37 .00 6.48 .9970 1.51990 FE_rel 37 .43 55.05 24.1259 15.41333 FC_rel 37 18.52 91.30 52.9418 17.45380 FP_rel 37 .00 11.59 5.0974 2.78538 AT_rel 37 .00 7.93 3.2459 2.16059 NM_rel 37 .00 17.76 5.6695 4.96157 DIR_rel 37 .00 10.13 4.6684 2.62270 ESQ_rel 37 .00 12.04 4.2510 2.57729 PBD_rel 37 4.41 37.69 14.4855 7.43393 PFB_rel 37 24.14 71.81 50.8482 12.53757 PFS_rel 37 .36 13.79 4.6526 3.02645 PFD_rel 37 2.14 25.86 11.5245 6.61855 PFV_rel 37 .00 12.07 4.8938 2.80270 PFL_rel 37 .00 7.48 3.1923 2.20605 LOC_rel 37 4.05 25.49 10.6703 4.02735 SU_rel 37 .00 .00 .0000 .00000 Valid N (listwise) 37 a. Exp_Instrutor = Experiente Susana Mendes Alves 225 Anexo O: Análise da normalidade de distribuição dos dados (SOCIN-Fitness). c.d.e Tests of Normality a Kolmogorov-Smirnov Shapiro-Wilk Exp_Instrutor Exp_Instrutor Inexperiente (Estagiário) Statistic Df Sig. Experiente Statistic df Inexperiente (Estagiário) Sig. Statistic df Sig. Experiente Statistic df Sig. RE_rel .128 35 .162 .157 37 .022 .943 35 .069 .959 37 .187 IL_rel .128 35 .162 .157 37 .022 .943 35 .069 .959 37 .187 EMBT_rel .406 35 .000 .140 37 .064 .691 35 .000 .952 37 .111 * * .063 37 .200 .956 35 .175 .991 37 .988 .126 37 .148 .874 35 .001 .942 37 .053 * .984 35 .885 .987 37 .928 * .909 35 .007 .954 37 .127 * .099 37 .200 .950 35 .110 .969 37 .391 EMBS_rel .110 35 EMBN_rel .166 35 .016 35 * DEI_rel PIC_rel .061 .139 .200 .200 35 .086 * .096 37 .200 CIN_rel .115 35 ESP_rel .130 35 .142 .137 37 .077 .915 35 .010 .900 37 .003 RIT_rel .134 35 .114 .195 37 .001 .936 35 .041 .859 37 .000 * .941 35 .058 .965 37 .293 * .975 35 .581 .991 37 .988 * .070 37 .200 .985 35 .915 .989 37 .963 BAT_rel INF_rel .129 .078 .200 .073 37 .200 35 .151 35 * .200 * .068 37 .200 FEED_rel .066 35 INT_rel .126 35 .178 .127 37 .138 .964 35 .293 .930 37 .022 ORG_rel .178 35 .007 .148 37 .039 .893 35 .003 .887 37 .001 35 * * .971 35 .477 .977 37 .623 * .116 37 .200 .971 35 .477 .977 37 .623 CE_rel .094 .200 .087 37 .200 .200 * .200 .116 37 .200 SE_rel .094 35 OB_rel .373 35 .000 .327 37 .000 .554 35 .000 .602 37 .000 AA_rel .338 35 .000 .302 37 .000 .707 35 .000 .743 37 .000 .538 37 .000 MUL_rel .155 37 .000 *. This is a lower bound of the true significance. a. Lilliefors Significance Correction c. HA_rel is constant when Exp_Instrutor = Inexperiente (Estagiário). It has been omitted. d. HA_rel is constant when Exp_Instrutor = Experiente. It has been omitted. e. MUL_rel is constant when Exp_Instrutor = Inexperiente (Estagiário). It has been omitted. Susana Mendes Alves 226 Anexo P: Análise de normalidade de distribuição dos dados (SOPROX-Fitness). c.d Tests of Normality a Kolmogorov-Smirnov Shapiro-Wilk Exp_Instrutor Exp_Instrutor Inexperiente (Estagiário) Statistic MAC_rel MIC_rel DIA_rel P_rel .094 .390 .102 .120 df Sig. 35 .200 Statistic df * 35 .000 35 * 35 Experiente .200 * .200 * Sig. Statistic df Sig. Experiente Statistic df Sig. * .970 35 .436 .961 37 .223 * .640 35 .000 .952 37 .114 * .962 35 .262 .959 37 .186 * .956 35 .169 .927 37 .018 * .120 37 .200 .956 35 .169 .927 37 .018 .118 37 .200 .101 37 .200 .104 37 .200 .120 37 .200 C_rel .120 35 DIS_rel .428 35 .000 .393 37 .000 .630 35 .000 .491 37 .000 IINT_rel .240 35 .000 .245 37 .000 .674 35 .000 .738 37 .000 CT_rel .301 35 .000 .256 37 .000 .567 35 .000 .705 37 .000 35 * * .985 35 .904 .942 37 .052 * .918 35 .012 .969 37 .381 * .918 35 .012 .982 37 .791 * FE_rel FC_rel FP_rel .057 .171 .143 35 35 .200 Inexperiente (Estagiário) .200 .011 .069 .115 37 .200 .102 37 .200 .073 37 .200 AT_rel .384 35 .000 .112 37 .200 .701 35 .000 .959 37 .189 NM_rel .134 35 .113 .140 37 .065 .909 35 .007 .895 37 .002 DIR_rel .215 35 .000 .140 37 .064 .868 35 .001 .967 37 .323 ESQ_rel .187 35 .003 .126 37 .148 .898 35 .004 .948 37 .086 35 * .129 37 .121 .952 35 .132 .915 37 .008 * .991 35 .992 .971 37 .438 * PBD_rel PFB_rel PFS_rel PFD_rel PFV_rel .111 .068 .094 .110 .191 35 35 35 35 .200 * .200 .084 37 .200 * .106 37 .200 .944 35 .074 .935 37 .033 * .162 37 .016 .942 35 .064 .936 37 .034 * .852 35 .000 .981 37 .763 * .037 .200 .200 .002 .092 37 .200 PFL_rel .164 35 .018 .102 37 .200 .861 35 .000 .946 37 .072 LOC_rel .124 35 .189 .149 37 .953 35 .143 .902 37 .003 *. This is a lower bound of the true significance. a. Lilliefors Significance Correction c. SU_rel is constant when Exp_Instrutor = Inexperiente (Estagiário). It has been omitted. d. SU_rel is constant when Exp_Instrutor = Experiente. It has been omitted. Susana Mendes Alves 227 Anexo Q: Análise da homogeneidade de variância dos dados (SOCIN-Fitness). Test of Homogeneity of Variances Levene Statistic df2 Sig. RE_rel 2.036 1 70 .158 IL_rel 2.036 1 70 .158 EMBT_rel 22.067 1 70 .000 EMBS_rel 5.425 1 70 .023 EMBN_rel 3.790 1 70 .056 DEI_rel 4.525 1 70 .037 PIC_rel 5.675 1 70 .020 CIN_rel .019 1 70 .890 ESP_rel 7.464 1 70 .008 RIT_rel .107 1 70 .744 BAT_rel 10.568 1 70 .002 INF_rel 4.877 1 70 .030 FEED_rel 1.954 1 70 .167 .747 1 70 .390 17.302 1 70 .000 CE_rel .161 1 70 .690 SE_rel .161 1 70 .690 OB_rel .020 1 70 .888 AA_rel .384 1 70 .537 HA_rel . 1 . . 4.000 1 70 .049 INT_rel ORG_rel MUL_rel Susana Mendes Alves df1 228 Anexo R: Análise da homogeneidade de variância dos dados (SOPROX-Fitness). Test of Homogeneity of Variances Levene Statistic df2 Sig. MAC_rel 7.660 1 70 .007 MIC_rel 19.576 1 70 .000 DIA_rel 7.943 1 70 .006 P_rel 3.798 1 70 .055 C_rel 3.798 1 70 .055 DIS_rel .774 1 70 .382 IINT_rel 8.550 1 70 .005 CT_rel 6.854 1 70 .011 FE_rel .969 1 70 .328 FC_rel 8.678 1 70 .004 FP_rel 22.738 1 70 .000 AT_rel 42.399 1 70 .000 NM_rel 7.007 1 70 .010 DIR_rel 8.709 1 70 .004 ESQ_rel 9.526 1 70 .003 PBD_rel .263 1 70 .609 PFB_rel .752 1 70 .389 PFS_rel 13.224 1 70 .001 PFD_rel 26.612 1 70 .000 PFV_rel 19.934 1 70 .000 PFL_rel 30.864 1 70 .000 LOC_rel 16.041 1 70 .000 . 1 . . SU_rel Susana Mendes Alves df1 229 Anexo S: Análise de diferenças entre atividades de fitness (SOPROX-Fitness). a.b Test Statistics Chi-Square df Asymp. Sig. MAC_rel 8.774 3 .032 MIC_rel 4.447 3 .217 DIA_rel 8.078 3 .044 P_rel 9.312 3 .025 C_rel 9.312 3 .025 DIS_rel 6.475 3 .091 IINT_rel 6.475 3 .091 CT_rel .000 3 .317 FE_rel 9.667 3 .022 FC_rel 9.462 3 .024 FP_rel 8.781 3 .032 AT_rel 6.698 3 .086 NM_rel 10.735 3 .013 DIR_rel 10.182 3 .171 ESQ_rel 9.831 3 .082 PBD_rel 10.421 3 .047 PFB_rel 8.641 3 .015 PFS_rel 7.931 3 .034 PFD_rel 9.312 3 .013 PFV_rel 10.735 3 .088 PFL_rel 6.545 3 .097 LOC_rel 9.186 3 .025 SU_rel 6.545 3 1.000 a. Kruskal Wallis Test b. Grouping Variable: Atividade Susana Mendes Alves 230 Anexo T: Análise de diferenças entre Instrutores (SOCIN-Fitness – gestos com intenção comunicativa). Susana Mendes Alves 231 Susana Mendes Alves 232 Anexo U: Análise de diferenças entre Instrutores (SOCIN-Fitness – gestos adaptadores). Susana Mendes Alves 233 Anexo V: Análise de diferenças entre Instrutores (SOPROX-Fitness). Susana Mendes Alves 234 Susana Mendes Alves 235 Susana Mendes Alves 236