. COLEÇÃO PAULÍSTlCA VOL. X ,... f ] . W asth Rodrigues TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO • TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA • Governador do Es lado : Paulo Egydio Martins Secretário do Governo: Péricles Eugênio da Silva Ramos Secretário de Cultura, Ciência e Tecnologia: Max Feff er CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Brasileira do Livro, SP R613t Rodrigues, Tropas drigues ; ilustrações São Paulo José Wasth, 1891-1957 . paulistas de outrora / J. Wasth Rointrodução de J osé de Barros Martins ; do autor e de Wladimir Douchkine. : Governo do Estado, 1978. Coleção paulística ; v. 10) l. São Paulo (Estado) - História 2. São Paulo (Estado) - Milícia I. Título. II. Série. CDD-355 . 31098155 -981 . 55 78-142 2 índices para catálogo sistemático: 1. São Paulo : Estado 2. São Paulo : Estado 355.31098155 História Tropas : 981 . 55 Ciência militar COLEÇÃO PAULiSTICA VOL.X J. WASTH RODRIGUES TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA Introdução de JOSÉ DE BARROS MARTINS Ilustrações do autor e de WLADIMIR DOUCHKINE GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO São Paulo - 1-E 1978 COLEÇÃO PAULíSTICA Volumes publicados: Volume I MARCELINO PEREIRA CLETO e outros ROTEIROS E NOTICIAS DE SÃO PAULO COLONIAL Volume II AnoLPI-IO AUGUSTO PINTO HISTORIA DA VIAÇÃO PúBLICA DE SÃO PAULO Volume III JosÉ AROUCI-IE DE TOLEDO RENDON OBRAS Volume IV J. J. MACHADO D ' OLIVEIRA QUADRO HISTóRICO DA PROV1NCIA DE SÃO PAULO Volume V FIRMO DE ALBUQUERQUE DIN IZ NOTAS DE VIAGEM Volume VI A. R. VELOSO DE OLIVEIRA MEMORIA SOBRE O MELHORAMENTO DA PROVfNCIA DE SÃO PAULO Volume VII JosÉ GERALDO EVANGELISTA LORENA NO SECULO XIX Volume VIII MELLO NÓBREGA HISTORIA DO RIO TIET~ Volume IX A. DE FREITAS TRADIÇÕES E REMINISC~NCIAS PAULISTANAS AFFONSO Volume X J. WASTH RODRIGUES TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA Volume XI D ANIEL PEDRO MüLLER ENSAIO D'UM QUADRO ESTATlSTICO DA PROVlNCIA DE S. PAULO Volume XII JOAQUIM FLORIANO DE GODOY A PROV1NCIA DE S. PAULO .. INTRODUÇÃO UM ARTISTA DO DOCUMENTÁRIO JosÉ DE BARROS MARTINS Artista ilustre, ao qual deve a cidade natal seu brasão com o " NON DUCOR, DUCO " ,......., e o seu estado as arma s com a divisa "PRO BRASILIA FIANT EXIMIA" , justo é que numa coleção histórica deste porte, não fosse esquecido José Wasth Rodrigues. E , louvando-se a inclusão de um trabalho seu nesta .série, seja realçado o valor da excelente iniciativa do Governador Paulo Egydio Martins ao fa zer editar esta "Paulística". Que este empr eendimento, exemplo raro nos homens públicos deste País, aproveite a estudantes e estudiosos, colocando-lhes à disposição a melhor bibliografia de nossa história, assim proporcionando o aparecimento de novos estudos, entre os quais seja nos permitido mencionar o de · uma verdadeira síntese da história geral de São Paulo. Prefaciando obra de Saint-Hilaire, já há anos, Rubens Borba de Moraes, acentuava essa falha : mÓnografias notáveis, grandes e inesgotáveis coleções de documentos têm sido publicadas, homens ilustres têm dedicado sua vida inteira ao estudo e a pesquisas, mas falta ainda o espírito latino, claro e arguto que intente resumir o essencial, salientar o importante, tirar as conclusões da história do povo paulista, para conhecimento do grande público. Que o esforço, tanto oficial nesta oportunidade, quanto o do constante trabalho dos edi• X J. WASTH RODRIGUES tores particulares, incentive o ap arecimento de obra desse padrão há tanto tempo aguardada. Apreciável o presente esforço oficial, que retoma a distante tradição deixada por Washington Luís, que quando prefeito da Capital e presidente do Estado , determinou a edição das Atas e do Registro Geral da Câmara Municipal e providenciou a publicação dos Inventários e Te stamentos, e a:;;sim permitiu o manuseio e o conhecimento da s mais fidedignas fontes de nossa história. Daí, como é notório , o aparecimento de excelentes obras , dentre as quais avultam as de Affonso d'E. Taunay, Alcantara Machado, Alfre .. do Ellis J (mior e do próprio presidente-historiador, legandonos o notável es·tudo Na Capitania de São Vicente, iniciado nos albores do s·éculo e somente terminado em 1956, após a sua volta do exílio voluntário. Com o de~aparecimento de José W asth Rodrigues np Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1957, perdia o Brasil um de seus maiores historiadores, que , sem haver formalmente escrito uma história, deixaria um conjunto de trabalhos dos mais importantes para a nossa historiografia. As imagens criadas por seu pincel ou seu lápis, após laboriosas pesquisas, abrangendo os setores em que se tornou erudito e mesfre, formam um documento de mérito indiscutível. Jo vem provinciano em Paris Nasceu Wasth Rodrigues na cidade de São Paulo, em 19 de março de 1891 . Como filho de família da média burguesia, fez seus estudos primários em grupo escolar e em escola particular, os de humanidades no Seminário Menor de Pirapora, onde permaneceu até 1907, quando, satisfazendo seu nascente pendor artístico, iniciou estudos com TROPAS P AULISTAS DE OUTRORA XI Oscar Pereira da Silva, o grande pintor, que, de volta da Europa, onde se aperfeiçoara de 1889 a 1896, se havia fixado em São Paulo. Sua permanência no Exterior, como pensionista do Estado, fora conseguida como prêmio, quando ainda cursava o último ano da Academia Imperial de Belas Artes. Como aluno, escolheu-o João Zeferino da Costa para um do s seus assiste ntes na realização dos painéis decorativos da nave p rincipal da Igreja da Candelária. Teve na época outros mestres, como Victor Meirelles e José Maria Medeiros. 0 A aplicação, o entusiasmo e o talento que Wasth Rodrigues demonstrou em seu aprendizado com Oscar Pereira da Silva foram tais que, já em 1910, apenas com 19 anos de idade, em exposição oficial, era contemplado com viagem à Europa, tornando-se, como seu mestre, pensionista do Estado. E x tremamente dedicado ao trabalho, consciente da oportunidade conquistada, chegando a Paris, entregou-se integralmente ao estudo, freqüentando assiduamente, entre outras, duas escolas do mais alto prestígio: a Academia Julien e a Escola de Belas Artes de Paris. Na primeira , foi discípulo de Jean Paul Laurens e, na segunda, teve como mestres Lucien Simon e Nandí. Para o jovem provinciano, Paris do início do século deve ter sido um deslumbramento, o que não seria novidade. Já em 1869, o Conde de Gobineau dizia ~ D. Pedro II que o brasileiro deseja apaixonadamente ir viver em Paris . Joaquim Nabuco em Minha Formação, referindo-se à sua primeira viagem à Europa, encontra explicação para esse desejo: a "atração de afinidades esquecidas, mas não apagadas,, que estão em todos nós, nossa comum origem européia" , e continua : "de um lado do mar sente-se a sua ausência do mundo; do outro a ausência do país. O sentimento XII J. W ASTH R'ODRIGUES em nós é brasileiro, a imaginação européia". Em 1910, o sentimento e a imaginação continuavam a persistir e podemos afirmar que ainda hoje permanecem. Não se confunda, entretanto, o "rastaquerismo" dos novos milionários com as rea ções da sensibilidade dos homens de cultura e inteligência. W asth conheceu então de perto o movimento artístico da época com .suas escolas, seus "ismos", seus mestres e também com a miséria dos jovens artistas que iriam marcar um dos períodos mais fascinantes da história das arte.s plásticas. Na sua correspondência familiar refere-se aos jovens brasileiros ricos , "rapazes de uma certa esfera social, fre- · qüentadores em São Paulo do "Guarany" ou do "Internacional" e que em Paris não saem do "Café de la Paix" e queixa-se daquela "rodinha que eu conheço, paulistas ricos e das melhores famílias , que não dão importância aos estudantes pa trícios." Período heróico para os artistas O mundo começara a viver um clima aviatório. No ano anterior, 1910, Louis Bleriot atravessara a Mancha em aeroplano. Em junho de 1911 escreve Wasth: " No domingo passado levantei-me às 4 horas da madrugada corri a Vincennes e no meio de um milhão de espectadores· assisti a partida de quarenta e tantos a viadores. Infe}izmente já morreram três." A esse mesmo tempo em São Paulo, dois aviadores italianos : Piccolo e Ruggerone, decolando respectivamente do Velódromo Paulista e do Hipódromo da Mooca vão ,s.e acidentar espetacularmente, vindo o primeiro a sucumbir. Um cavalariano da Polícia, ao ver a queda do segundo, enlouqueceu no local, investindo contra os populares, ferindo e matando alguns. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA XIII A vida do jovem artista é organizada, não se perde no turbilhão parisiense. W asth é parcimonioso nos gastos. De Barbizon, ao lado da C apital, informa na sua correspondên~ eia que aí foi passar um· mês para pôr em ordem as finan~ ças : "chegando a Paris vou mudar~me para Montparnasse, o verdadeiro quarti~r dos artistas" . . Também a vida é ba~ rata: "um fiac re do outro lado (Concorde) até a praça do Odeon custa 1,35 fr." e "un repas, 1111 potage ou hors d'oeuvre, un plat de viande et dessert 1,50 fr .... " É o período heróico em que a arte emigra do Norte para o Sul de Paris, em Montparnasse, onde já estão dois pólos de atração: Gertrudes e Leo Stein, os primeiros gran~ des compradores de telas cubistas, que iriam exercer papel preponderante na moderna história das artes. O urbanismo - os proprietários e os arquitetos - forçaram o êxodo dessa legião de artistas e poetas órficos. E , assim Montpar~ nasse tomou o lugar de Montmartre. Encontro com M.adígliani Wasth vai à "Academia, das 8 ao meio dia e ao atelier, de uma às tantas" e o seu sonho é não morar em hotéis, como o Odeon ou o Suez. Quer apenas um "logement", isto é, um quarto, sala e casinha , e, se. poss·ível. as refei~ ções feitas pela "femme de menage". Em 1913 , Amedeo Modigliani no dizer de Frank Elgar, "descend de la Butte et va promener dans Montparnasse son inquiétude et son ivresse, noctambule, misérable, bourré d'alcool, de drogues et de talents gaspillant ses dons autant que son argent". Conhece~o Wasth, vai ser seu vizinho de alojamento e de pobreza . Pode ser que esse conhecimento e posteriormente essa amizade entre jovens de formação tão diversa, tenha XIV ]. WASTH R!ODRIGUES se consolidado nas calçadas de algum café, no Rotonde ou no Dôme. . . Fica por conta de noss a imaginação: o certo é que são centenas de cafés e de tavernas que acolhem os gênio.& e os fracassados e em alg umas delas estariam o com~ portado brasileiro e o louco livornês. 1 É o tempo em que, no "Rotonde", Vladimir Ilitch Le ~ nine e Leon Nicolaievitch Trotsky jogam intermináveis partidas de xadrês e quando o jovem Charles Spencer Chaplin chega a . Paris, ·e m sua primeira "tournée", se apressa a conhecer o "Dôme". Quando Modig liani, na ,s ua constante inquietude, se transfere de .mansarda, Wasth o presenteia com um casaco azul, que de há muito era cobiçado, numa ambiciosa ternura, pelo gênio italiano. Em retribuição, dá-lhe este vários de seus estudos e esboços. Wasth, mais tarde, reconheceria em alguns dos auto-retratos de Modigliani o seu famoso casaco de inverno. Não é em vão que o jovem artista se dedica a aperfeiçoar sua técnica; o.s· três trabalhos que apresenta para -o salão de 1914 da Sociedade dos Artistas Franceses são aceit6s ·pefo júri e, mais,· do que a satisfação de apresentar seus trabalhos nessa exposição de alto nível , realizada ém abril no Grand Palais des Champ.s- Elysées, Wasth vendé ó seu primeiro quadro no estrangeiro. É o sucesso. . . O comprador, Mr. Henry Balantyne, é um escocês, que, em ·c:·a rta de 5 de maio, pede-lhe o preço, e como não tem cer• teza do número de catálogo especifica: ...the subject of the picture wich took my attention was the cloisters of an old .church with an old 'diligence' standing, without the horses atached." A aquisição é feita pela cifra marcada pelo autor, 400 francos e o quadro remetido para Tweed Vale House, W alkerburn, Scotland. TROPAS PAULISTAS DE 0UTRl0RA ·XV Estamos no fatídico 1914; Wasth regressa ao Brasil. Em 28 de junho, o estudante sérvio Prinzip abate a tiros em Serajevo, o herdeiro do Império Austro-Húngaro, ar~ quiduque Francisco Ferdinando. Os acontecimentos internacionais vão transformar a Europa num vasto e desolador campo de batalha. Apoio de Monteiro Lobato Aqui chegado, Wasth dedica-se de corpo e alma ao trabalho. Realiza exposições e desde aí os motivos brasileiros começam a ser um.a constante nos seus óleos, aquarelas ou d.e senhos. Enfrenta dificuldades de todo estreante, que quase o abatem. 'Não lhe faltam, porém, incentivadores e amigo.si e, entre eles, está Monteiro Lobato, então em pleno apogeu, o qual em carta de fevereiro de 1916, conta a Godofredo Rangel, que se está batendo no Estado, onde co'labora, "em prol do W asth Rodrigues, um pintor que ia passando despercebido. la, mas antes ninguém piava sobre ele, o que levou o pobre rapaz a mandar-me uma carta triste, pedindo socorro. Pelo Co·rreio. o Oswald de Andrade me combateu as idéias 'anti-litoralistas', e o caso foi que a exposição do Wasth está freqüentada e os quadros vendem-se". Ao artista Lobato escreve da Faz'enda do Buquira: "és moço ainda, quase uma criança. Isso de chegar, ver e vencer aconteceu a Cesar e a raros outros, quando um concurso de circunstâncias felizes ajudam. . . Nada vai sem luta. Fica, subsiste , vence o talento servido pelo esforço contínuo, pelo trabalho de mouro, a mira posta não em recompensas atuais, nem em gloriolas do momento, mas na escada de Jacob ·da perfeição . .. " Referindo-se aos motivos XVI ]. WASTH RODRIGUES nacionais dos seus trabalhos diz-lhe ainda: "Veja o que Rudyard Kipling extraiu da índia ,......., e compreenderás o que um artista de talento arrancará desta nossa terra vir~ gem .. . . " E prossegue no seu entusiasmo: "Vem passar um ano comigo, dois, três, dez anos. Irás de vez em quando a São Paulo ou Rio, com um punhado cintilante de telas". E , terminando: "Escrevi novamente ao Estado, falo de você, gabo-te, exalto o teu trabalho, coisa de chamar atenção sobre a expo·s ição. . . Adeus, e dispõe da casa, da mesa. das terras do Lobato". O apoio e o entusiasmo de Lobato continuam. Em outra carta, diz-lhe: "Se V. tem séria tenção de completar a do ~ mesticação do pincel e vir atacar as- assuntos nacionais, sem ser profeta auguro um sucesso estrçmdoso. Veja o A. J r.: com meia duzia de caipiras passou a perna em todos os afrancesado.s pintadores de bretões." Aí o conhecido exa~ gero, referindo~se a Almeida Júnior. Na recém~fundada Revista do Brasil, em 1916. Lo~ bato publica os desenhos do jovem artista e anuncia que "a revista ilustrará sempre a sua resenha do mês· com retratos de notabilidades brasileiras e estrangeiras, feitas a pena por artistas do valor de J. W asth Rodrigues e outros". Em julho de 1918, a parece a primeira edição de Ur:upês com capa de Wasth e inúmeros desenhos de "um curioso sem estudos" (o próprio autor) . Lobato dá~lhe a notícia do lançamento: "Meus Urupês saíram e já se venderam muitos. Vai um recorte do Estado para avaliar as tuas capas". :E: valioso o apoio de Lobato. Wasth continua a trabalhar exaustivamente. Realiza mais exposições. Faz retratos. Viaja. e muito, pelo interior. Vai acumulando o seu extraordinário material. E não pensa em "recompensas atuais, nem gloriolas do momento"; consolida a sua po~ sição de pintor documental. Estuda história. principalmente TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA XVII a militar. Inicia-se na heráldica. Freqüenta os museus e arquivos. Vai amealhando aqueles. conhecimentos que farão dele um erudito nos vários campos de sua predileção. Brasões e História Militar Já em 1917, e~ concurso aberto pela Prefeitura de São Paulo para o brasão da cidade, de todos os projetos apresentados o da parceria Wasth ~ Guilherme de Almeida é classificado em primeiro lugar e, com pequenas modificações sugeridas pela Comissão Julgadora, torna-se, por ato de 8 de março daquele ano do Prefeito Washington Luís, o brasão d'armas da cidade e do município de São Paulo. com a divisa Non . Ducor, Duco. Quanto aoSJ símbolos contidos no projeto inicial, diz Wasth "é a espada do Apóstolo Paulo é o gesto de Amador Bueno e o de D. Pedro .1, é o valor militar paulista". Nas alterações feitas a espada foi suprimida. Com Gustavo Barroso, estuda Wasth um projeto sobre uniformes militares, e escreve-lhe o academico "Se o projeto passar, o nosso trabalho ,s erá induzir o Governo a mudar os uniformes do Exército e criar para estes um plano nacional e decente". Esses estudos vão ,servir de muito por ocasião do 1.° Centenário da Independência, em 1922, quando Wasth realiza um dos seus mais importantes trabalhos. Com texto organizado por Gus:ta~o Barroso, é pu· blicado em Paris, por F . Ferroud os Uniformes do Exército Brasileiro 1730-1922 com as aquarelas e documentação de nosso artista. Seus estudos e pesquisas sobre nossa história militar vão possibilitar que, aos 30 anos de idade, elabore ele um dos mais belos trabalhos de nossa iccmografia: são 223 aquarelas, excelentemente impressas, re• compondo os uniformes militares desde os Dragões Reais XVIII ]. WASTH RODRIGUES de Minas ( 1730) aos recentes uniformes da infantaria de 1919. Cada estampa compreende dois, três e as vezes até cinco desenhos, o que propicia a reprodução de centenas de modelos. Obra monumental e definitiva. A esse tempo , Wasth tinha assumido no Ginásio do Estado, na Capital, a cadeira de desenho que pertencera ao seu antigo e pri . . meiro mestre Oscar Pereira da Silva. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista , a comissão nomeada para dirigir a Campanha do Ouro para a Vitoria, adotou o lema "Pro São Paulo fiant eximia" e, por sugestão de Wasth Rodrigues , também adotou a es . .. pada romana usada pelo Apóstolo S. Paulo, posta em pala , com a ponta ao alto e o punho sobre o cruzamento de dois ramos , um de lour.o e o outro de carvalho. Escolhido para compor o bra são de arma s do E stado de S ão Paulo, úni ca unidade da Federaç ão qu e ainda nã o possuía tal símbol o, apresenta o seu projeto, com memorial redigido por F ran · cisco Pati e Clovis Ribeiro. O Governador Pedro de T oledo aprova-o, apenas modificando a divisa para "Pro Brnsilia fiant eximia" afirmação de brasilidade de São Paulo, E a ssim, por decreto de 29 de agosto de 1932 , acompanhando os outros Estados da Federação, São Paulo passou a possuir oficialmente o seu próprio brasão d' armas. Ainda como con ... tribuição sua à Revolução Constitucionalista, deve-se lembrar o famo so mapa que desenhou e que na época ornou os lares paulistas: "Esta he a carta verdadeira da Revolução q : houve no estado de São Paulo no ano de . . . . .. . MCMXXX II " . Em 1933, Clovis Ribeiro publicou o seu valioso e nunca a ss-ás louvado estudo sobre Brasões e Bandeiras do Brasil. Mais uma vez Was th é chamado para dar sua contribuição , encarregando-se das ilustrações. O mestre preparou para essa edição uma série de projetos, reproduzindo , em suas TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA XIX cores indicadas, os brasões de cidades e Estados brasileiros . . Aí estão, entre outros, os brasões das cidades de Sabará, Diamantina, Caeté, Ouro Preto, Mariana, São João D'El Rey. Todos com as devidas justificações de História e Heráldica. O trabalho, único em nossa bibliografia, abrange o estudo da bandeirfi nacional e sua tradição, as· bandeiras dos nossos antepassados, as do Império, a da República, as armas nacionais, as bandeiras militares, as bandeiras da!: revoluções, as bandeiras e brasões dos Estados e cidades. São ao todo 253 composições parte das quais em suas cores oficiais. Foi Wasth um, dos maiores conhecedores de História Militar. Levou anos coligindo dados, pesquisando, estudando e preparando os verbetes para o que seria a sua mais impor~ tante obra o Dicionário Histórico Militar, ilustrado, com~ preendendo a história das forças armadas do Brasil em todos os tempos, informação histórica de caráter geral, artilharia antiga e armas de fogo, armas brancas, insígnias, etc., le~ gislação militar, uniformes antigos e modernos. Esse trabalho deixou~o inédito, pronto para publicação: Contém mais de 1 . 600 páginas de texto e cerca de 400 ilustrações, das quais uma centena a cores. A dificuldade de publicação, em vista das suas peculiaridades, foi contornada pela família do artista, que, num gesto significativo, doou todo ·e sse material ao Centro de Documentação do Exército, que se encarregotl da edição, levando~o assim oportunaménte ao conhecimet:ito dos brasileiros. Arquitetura e Mobiliário Os grandes conhecimentos adquiridos por Wasth. o abundante material por ele colhido e pesquisado, seu amor ao estudo, aos poucos são trazidos a público: com muito ·XX }. WASTH RODRIGUES cuidado, Wasth vai lançando uma série de trabalhos que marcam uma época na nossa historiografia. São coleções preciosas de desenhos" que revelam ao Brasil um passado esquecido, favorecendo um renascimento do interesse nacional pela nossa arte, assunto até então circunscrito a museus, bibliotecas e a reduzido número de especialistas. Entre esses muito.s trabalhos, devemos citar, em pri.meiro lugar, o Documentário Arquitetônico relativo à antiga construção civil no Br:asil: são 160 pranchas, das quais dez a cores, reproduzindo velhas casas, igrejas e chafarizes, com todos os seus detalhes, isto é, suas plantas, muro.sr e janelas, portas com suas guarnições, sacadas e cornijas , grades e suportes de luminárias, trincos e fechos de porta, grades de ferro, portais, vidraças antigas, azulejos•. . . enfim tudo . 1 Sobre o mobiliário do Brasil antigo, W asth chegou a preparar o ál~um relativo à Evolução das Cadeiras Luso-Brasileiras, que foi publicado em 1960, após a sua morte, em edição muito bem cuidada, colocando ao alcance dos estudiosos um conjunto de informações eruditas da mais alta valia. Pr:eciosa obra pictórica Além desse& trabalhos de fôlego, Wasth deixou inúmeros outros, publicados em jornais, revistas especializadas e folhetos , acrescentando-se ainda o seu amor aos "ex libris ", elaborados para dezenas de bibliófilos e colecionadores. A vasta obra pictórica de Wasth está espalhada por museus, instituições oficiais e particulares e inúmeros cole€ionadores. · Dadas as suas características, ela se concentra no Museu do lpiranga, onde se encontram quase cincoenta trabalhos entre óleos, aquarelas, guaches,. nanquim, avultando TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA ·XXI os quatro painéis do peristilo, relativos a D. João III, Martim Afonso, . Tibiriçá e João Ramalho. Em 1940, atendendo a pedido da Comissão Brasileira dos Centenários de Portugal, preparou seis quadros a óleo que figuraram na Exposição daquele ano em Lisboa: Batalha de Monte Caseros, Batalha de Tuíuty, Lemas Valentinas, Tiradentes, Conde de Bobadela e Avanço dos Mineiros sobre o Rio de Janeiro em 1710. Segundo a valiosa opinião do historiador Herculano Mathias, ex-diretor do ·M useu Histórico Nacional, o "Tiradentes" de Wasth é a mais convincente imagem criada na "arquetipia do mártir", que hoje se ·e ncontra nesse Museu, apresentando-o ainda jovem, cabelos cheios, sem barba e fardado. necessárío mencionar-se ainda a participação de W asth no livro brasileiro: foi um dos melhores e mais lúcidos ilustradores. Dezenas de obras ilustradas saídas do 9 prelos nacionais tiveram a rubrica de Wasth; entre elas, permitimo-nos citar apenas dois exemplos: Salões e Damas do Segundo Reinado, de Wanderley Pinho (São Paulo, 1942) e Santo Antonio de Lisboa, Militar no Brasil de José Carlos de Macedo Soares (Rio, 1942) . Ê O espírito militar paulista Tropas Paulistas de Outrora foi escrita por Wasth Rodrigues para publicação em 1954, no número especial d 'O Estado de São Paulo, comemorativo do IV Centenário da Fundação de São Paulo, colocando-se na mesma categoria de pesquisas e estudos que formam a sua obra. A apresentação desse trabalho em livro tornava-s e necessária, ·p odendo assim a nossa historiografia contar com mais um valioso subsídio, agora de fácil consulta. 2-E XX!l ]. WASTH RODRIGUES Da rude história dos três primeiros séculos, conseguiu Wasth o levantamento completo da formação das tropas pau~ listas e do seu comportamento militar, em minucioso estudo que abrange um mundo de ordenanças, ordens régiasi e alJ varás, incluindo os figurinos· de uniformes, num acervo no~ tável de informações em que conserva seu estilo sóbrio e erudito. Notório era o espírito militar que despontava com os primeiros colonizadores, entre os quaiS' já se encontravam ho~ mens d' armas assim como também conhecida era a índole belicosa das tribos indígenas do continente descoberto. Já no primeiro século es•s e espírito se- impõe quando , atendendo a pedido de Mem de Sá, partem de S . Vicente expedições formadas por colonos e indígenas• para defesa do Rio de Janeiro atacado e invadido por Villegaignon, os quais em defesa da própria São Vicente, lutam contra as incursões cor~ sárias de Fenton e depois Cavendish. Ante as ameaças do gentio bárbar.o e ameaçador, ao povoado de S . Paulo os índios de Tibiriçá, já catequizados, possibilitam a continuaJ ção do iniciado trabalho colonizador. Segue~se a longa série de lutas, que é a própria história das bandeiras, em suas· várias fases, atravessando os séculos XVI, XVII e XVIII : as expedições ao Guaíra, as lutas contra os espanhóis do Prata , a destrui_ção de Palmares, a guerra dos emboabas, além daquelas de menor vulto, como a de Bartolomeu Fernandes de Faria contra a cidade de Santos. Partiam armados de arcabuzes, escopetas , mosquetes e espadas e,. não se descuidavam de se defender das setas indígenas ·com acolchoados de algodão, com que se revestiam. ' ·Como acentua o autor, as bandeiraS' organizavam~se levando oficiais -inferiores, meirinhos e escrivães. Obede~ ciam aos rigorosos· códigos militares da época , como o atesta TROPAS PAULISTAS DE 0UTR:0RA XXII! o comportamento de Fernão Dias Paes', ao mandar enforcar o seu bastardo José Dias Paes, por traição e tentativa de .levante. Essa obediência. como lembra Washington· Luís, não era somente cega, · filha da disciplina e da força , mas impos-ta também como condição para o êxito da empresa , que a tod.? s intere,s sava. Os meirinho~ e escrivães vão deixar nos arrolamentos e inventários feitos em pleno sertão, subsidias importantíssimos para a reconstituição histórica, quer dos costumes e haveres dos sertanistas, quer das localizações geográficas, uma vez que tais documentos são sempre datados , .c om a menção pormenorizada do lugar em que se achavam: margem de rios, cabeça de morro ou aldeamento de índios. Em 1739 , foram criadas as Companhias de Aventureiros Paulistas, por D . Luiz de Mascarenhas. Muitas outras foram levantadas posteriormente, já combatendo no sul, em 1752, contra os castelhanos" O Conde da Cunha, em 1763, mandou organizar mais quatro Companhias e dizia "estou persuadido que os Paulistas são os mais próprios homens· que o Brasil tem para a vida militar". Na guarnição do forte de Iguatemi, de triste memória, figuravam três Companhias de A venturdros. Entretanto, somente com o Morgado de Mateus é que realmente vai aparecer a primeira tropa de caráter permanente, não mais uma força provisória, mas caracterizando-se como uma tropa auxiliar, com hierarquia militar instituída. As três linhas de triopas paulistas . No início deste estudo, Wasth recomenda que não se .perca de vista a magna divisão destas tropas em três linhas•: a das tropas pagas, a das auxiliares e a de ordenanças·, di- XXIV J. WASTH RODRIGUES visão essa que somente vai ser alterada pela Regência , em 1831. Essas três linhas são estudadas em seus detalhes de formação e atuação, tanto no que concerne à regulamentação de suasi finalidades , quanto no que se refere à parte externa dos uniformes. Quanto a estes, refere-se Martim Lopes ao estado em que encontrou essa tropa , em junho de 1775: "As companhias em lastimável esitado, formadas de meninos e velhos tendo sido fardados alguns deles para a formatura em sua chegada" e ainda: " Os numerosos re.crutas estavam nus, não vencendo o soldo sem que pos•s am aparecer pela sua indecência" . Respondendo a solicitação de Martim LopeS', preocupado com essa situação, o Marquei: do Lavradio lembra-lhe: "Quando os Paulistas fizeram grandes conquistas dessa Capitania, da de Goiás, de Mato Grosso, e em todas outras partes do Brasil, foi animando-os e deix ando-os obrar livremente. Nunca foram vestidos regularmente; eram armados à sua fantasia, alguns iam descalços, as selas dos cavalos eram uns couros; assim atravessando os pântanos, os rios , subiam e desciam serras; atacavam os inimigos e se faziam formidáveis." Evidente questão de recursos, pois, no seu relatório de 1788, Bernardo José de Lorena encontrou o Regimento de Santos "em alto preparo militar, formado só de brancos, bem armados e de baixo de exatíssimo uniforme". Em carta de 1789, o mesmo governador dizia a Martinho de Mello e Castro: "Os paulistas na cara e figura nenhuma diferença têm dos Europeus, se fosse possível aparecer um destes regimentos em Lishôa , todos sem os ouvir falar diriam que era gente de Portugal. Com toda a verdade: digo a V . Excia. que são os melhores soldados da América e que será muito útil a sua conservação para segurança dos domínios de S. Majestade." TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA xxv A Legião dos Voluntários Reais. Valorosa é também a história da Legião de Voluntários Reais da Companhia de São Paulo também chamada sim~ plesmente de Legião Paulista, tropa de primeira linha, desde 1775, quando foi cl:iada, até 1824, quai~do seus componentes foram transferidos para outras unidades do Exército, sem~ pre ligadas às lutas travadas no Sul. Lembra Osório que iniciou sua carreira militar aos 19 aneis na antiga Legião. Em 1865, em Corrientes, como comandante em chefe, passou diante do 7. 0 de Voluntários e disse: "Estes são soldados. E devem se~los, pois os paulistas seu~ antepassados, foram bravos como certifica a história." . Reproduz Wasth o relato deixado por Jacques Arago de um singular torneio havido no Rio de Janeiro entre um paulista e um lanceiro polonês. Leve,.-se ein conta a fértil imaginação do cronista, que não ·deve · ser confundido com seu irmão, o sábio François, titular da Academia Francesa, diretor do Observatório de Paris, ·membro do governo provisório de 1848, ministro da Marinha ·e da Guerra, o estadista que aboliu a escravatura nas colÔnfasi francesas. Jacques foi um inveterado viajante, autor de várias obras, entre as quais Voyage Autur du Mondé e Souvenirs d'un aveugle. Desta última Wasth repródüz esse famoso e discutido torneio com a ressalva: "Serve · ape~as para amenizar o assunto.'' Perfil de um artista l. Homem de modéstia exemplai, .comó já foi dito, artista dos mais sérios, foi sempre Wasth à.e .:convívio fácil. Não tendo p,a rticipado dos movimentos ·modernistas, nem por isso XX VI J. WASTH R0DRIGUES deixou de se interessar por todas as manifestações artísticas. Dava-se bem e compreendia os representantes das várias escolas. Em 1932, por exemplo, fez parte do reduzido· grupo que fundou a Sociedade Pró-Arte Moderna ( SPAM). No famoso baile de Carnaval realizado em fevereiro de 1933, no Trocadero, denominado "Carnaval na Cidade SPAM," projeto e direção de Lasar Segall, e no qual foram pintados centenas de metros quadrados de paredes, W asth foi um dos decoradores, ao lado de Vittorio Gobis, Anita Malfatti, John Graz, Rossi Osir e outros conhecidos modernistas. Ne·s se mesmo ano ao se realizar a l.ª Exposição de Arte Moderna SP AM , Wasth comparece, ao lado dos vanguardeiros Anita Malfatti, Gomide, Brecheret, Lasar Segall, Tarsila, War . . chavchik. Também na fase do Grupo do S anta Helena, aparecia, para convívio com os seus integrantes.: Rebolo , Gra~ ciano, Penacchi, Volpi, Bonadei, Manoel Martins. Atencioso quando solicitada sua colaboração, estava sempre ligado a iniciativas artísticas. Já fora assim em 1919, quando desenhou com precisão e arte todos os "croquis" para a cenografia da peça de Afonso Arinos O Contratad or: de Diamantes, levada à cena no Teatro Municipal por um grupo da sociedade paulista. Tal tipo de colaboração vai-se repetir muito mais tarde quando, em 1936, Alfredo Mesquita apresentou, no mesmo teatro, a sua Noite de São Palllo, em caráter beneficente : Wasth desenhou o cenário e forneceu ainda parte dos acessórios neces·sários. Menotti Dei Picchia, em 1920, achava-o taciturno "e de pouca prosa, não que não tenha um coração amabilís~ simo; temperamento meditativo, é como Brecheret ,......; um observador calado". Nos anos 50, continua assim. Retrata-o Carlos Drumond de Andrade: "Wasth não ostentava ciên~ cià , possuía-a simplesmente. Nfnguém o via deitando doutrina em rodas de artistas, críticos ou pesquisadores; con~ TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA XXV!I sultado, informava e calava-se, com um silêncio astuto de caipira - esse caipira civilizado, que perdurava ainda na sua voz. Diante de falastrões, olhava, no máximo sorria de leve, não contraditava" ·e Rodrigo Mello Franco de Andrade .observava que e!e não tinha o menor empenho em fazer prevalecer seu ponto .de vista. No Rio de Janeiro convivia com os freqüentadores do Instituto Histórico, com o grupo que se reunia na Biblioteca Nacional, ao tempo de Rodolfo Garcia, na casa de antiquária do erudito Marques dos Santos, mais tarde diretor do Museu Imperial de Petrópolis e, principalmente, no gabinete de Rodrigo Mello Franco de Andrade, no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do qual foi canse~ lheiro e ao qual prestou inestimáveis serviços. Em São Paulo, o seu grupo era muito grande. Freqüen~ tava assiduamente a redação d'"O Estado" do seu amigo Júlio de Mesquita Filho, o esoeritório da Editora Martins, da qual era editado e colaborador constante, assim como, entre outras , a casa de Y an de Almeida Prado e a de Octalles Marcondes Ferreira. Os amigos eram-lhe extremamente fiéis: Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Clovis Ribeiro , Tacito e Guilherme de Almeida, Manequinho Lopes, Menotti Dél Picchia , Carlos Pinto Alves, Roberto Moreira, Af fonso d'E. Taunay, Rubens Borba de Morais, Ruy Nogueira Martins1 e outros . Os desenhos de Douchkine Em 1954, Guilherme de Almeida, então presidente da Comissão do IV Centenário da Fundação de São Paulo, apresentou-nos ao artista russo Wladimir Douchkine, rea- X XVIII ·y.: WASTH . RODRIGUES lizando então uma exposição na ·Galeria ltá. Douchkine, conhecido no mundo· inteiro por· suas miniaturas' históricas, estava preparando dois dioramas para a Exposição do lbirapuera. Dele possui o Mtiseu :do White Hall em Londres dez dioramas sobre a história da Inglaterra. Suas figurinha s históricas ornam várias coleções, como as do General W eygand , dos artistas Sacha Guitry e Ferrand Grevey, do diretor Christian Gerard, do antiquário Vailland e do industrial Otto Gottesteir. Já tinha realizado com sucesso, exposições na Sociedade da Escola Militar de Paris, no Museu Cognac Gay, no Museu de Compiegne, em Nova York e em outras instituições conceituadas. Aproveitando a estada do artista em S. Paulo, conversamos com Wasth Rodrigues sobre a . possibilidade de solicitar-lhe algumas miniaturas de antigos soldados paulistas. Wasth, que já tinha então es·crito o seu trabalho Tropas Paulistas de Outrora, aprovou a idéia e, sob sua orientação foi posta à disposição do miniaturista russo o material necessário das coleções do Arquivo do · Estado e do Museu do lpiranga. Dessa forma realizou Douchkine uma série de originais, até hoje inéditos e pertencentes à nossa coleção. os quais são apresentados em "sruite" desta edição. Ao encerrarmos estas desataviadas anotações, repetimos as palavras de Monteiro Lobato em 1916: "Veja o que Rudyard Kipling extraiu da índia ~ e compreenderás o que um artista de talento arrancará desta terra virgem". Foi o que W asrth Rodrigues procurou fazer em seus quase cinqüenta anos de trabalho. Que o digam os cor1hecedores de sua obra. São Paulo, outubro de 1978. XXIX TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA FONTES CONSULTADAS Arquivo da Família Wasth Rodrigues Campos, Pedro Dias de S. Paulo, 1923 · O Espírito Militar Paulista. Elgar, Frank - in " Dictionnaire de la Peinture Moderne", P.ernand Hazan, Paris, 1954 Frank, Nino 1964 in "Dictionnaire de Paris" , Larousse, Paris Magro, Omar Simões . - A Legião de S . Paulo, in Revista do Arquivo Municipal, vol. 24, S. Paulo, 1936 Mendes de Almeida, Paulo . Paulo, 1977 De Anita Monteiro Lobato, José Bento Paulo, 1944 A Barca ao Museu, S. de Gleyre, S. Pontual, Roberto Rio, 1969 Dicionário das Artes Plásticas no Brasil. Ribeiro, Clovis Paulo, 1933 Brasões Taunay, Afonso d'E. - e Bandeiras do Brasil , S. Relatos Monçoeiros, S. Paulo, 1954 . Washington Luís - (Washington Luís Pereira de Souza) Na Capitania de S. Vicente, S. Paulo, 1956 TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 1 L- s hostes de Portugal, no momento em que se inicia a colonização do Brasil e a formação dos seus primeiros núcleos defensivos, tinham ainda por fundamento o R egimento dos Coudéis, de d . Duarte, o Regimento de Guerra, constante no livro 1 das Ordenanças Afonsinas, e as Instruções do Anadelmor, comandante-geral dos besteiros, compiladas no tempo de d. Afonso V , e que abriram caminho às reformas contra os preconceitos feudais já em desagregação. Outras ordens a seguir, devidas a d. João II, cuidam dos espingardeiros e dos bombardeiros. Com d. Manoel, as realizações são no material da artilharia, na renovação das unidades de infantes ou peões e na vulgarização da cavalaria, que, caminha rapidamente para o abandono do seu caráter feudal de místicos privilégios. A Os primeiros estabelecimentos defensivos nas costas do Brasil --- uns bem sucedidos, outros malbaratados --- foram devidos a alguns · donatários; na 3 4: ] . W ASTH RODRIGUES Capitania de São Vicente, a Martim Afonso de Sousa. A consolidação destes núcleos só se dá, real~ mente, depois da criação_do governo geral da Bahia. Em Portugal, as forças armadas são então compostas, como diz o general Ferreira Martins, das milícias concelhais, das guarnições dos .castelos das fronteiras e das praças de África, de voluntários: fidalgos~cavaleiros , cavaleiros~fidal,gos e escudeiros; das antigas Ordens Militares, da guarda real de ginetes, dos mercenários nacionais e estrangeiros contratados em tempo de guerra e, enfim, ainda das mesnadas senhoriais ( 1 ) • No correr do século XVI, os principais diplo~ ma~ sobre organização militar referem~se principal~ mente às ordenanças e são o Regimento de 7 de agosto de 1549, a Lei das Armas de 9 de dezembro de 1569, o Regimento das Ordenanças de 10 de dezembro de 1570 e a Provisão dos Capitães~mores, de 15 de maio de 1574. Após o domínio espanhol, restaurado o Reino de Portugal em 1640, um dos primeiros atos de d. João IV foi a formação do novo exército em três escalões de forças permanentes: 1<) ) , o Exército de linha; 2 9 ) , os Auxiliares; 3 9 ) , as -Ordenanças, nas quais eram _alistados homens de 16 a 60 anos. _ (1) Ferreira Martins (General) - ·tug-y,és, Lisboa, 1945. História do Exército· Por- TROPAS PAULISTA S DE !O UTRORA 5 O exército de linha (que vencia soldo) era for.macio de terços de infantaria, companhias de cava-laria, de troços de artilharia e dos pés de .castelo~ Os Auxiliares constituíam uma força de reserva, convocada em caso de necessidade. Seus terÇos de 600 homens eram ·comandados por mestres--de--campo e formados com os homens isentos da 1'). linha. As companhias de Ordenanças destinavam.-se a depósito de recrutamento para a tropa paga e auxi.liares. O terço de infantaria era dividido em companhias ou bandeiras (pois cada uma tinha sua insíg.nia) e instruído à suíça. Tinha o nome de esquadrão a formação de várias companhias de piqueiros, ladeada de mangas de arcabuzeiros e mosqueteiros. A denominação ---- bandeira ---- dada às expedi.ções paulistas que por esta época partiam para o o interior, em descobrimentos, em busca de índios ou, mais tarde, à procura de gemas preciosas e de . ouro, teve origem na sua própria organização, que era militar. Levavam bandeiras, oficiais, oficiais inferiores e soldados,. meirinho e escrivão. Obedeciam aos rigorosos códigos militares da época, que pu-nham ao arbítrio dos .c hefes os castigos e a vida dos subalternos. Eis a razão por que Fernão Dias Pais mandou enforcar seu filho natural, cúmplice do crime de traição e tentativa de levante. Fernão não o condenou levado pelo seu gênio violento, ou para 6 ]. WASTH RODRIGUES que o castigo servisse de exemplo, mas impelido pelo dever a que era obdgado como chefe militar; em caso contrário, estaria desfeita a bandeira. O Regimento das Fronteiras, baixado em 1645, pôs melhor ordem nas forças de Portugal e serviu de base à futura legislação militar . Terços de mer•Cenários estrangeiros foram criados, assim como restaurada a Guarda Real de Archeiros e Ginetes. Ao apresentar este ensaio sobre as tropas de São Paulo de outros tempos , recomendamos que não se perca de vista a questão de magna importância da sua divisão em três linhas, ou seja, como já foi dito: a primeira, de tropas pagas, a segunda, de auxilia-· res,. e a terceira, de ordenanças. Esta disposição foi constante em Portugal e no Brasil durante dois séculos e meio e, entre nós, só foi alterada na Regência com a substituição das 2'!- e 3~ linhas pela Guarda Nacional, em 1831. TROPAS PAGAS OU DE PRIMEIRA LINHA AVENTUREIROS LISTA ~ ~ LEGIÃO PAU~ REGIMENTO MEXIA ~ OUTROS CORPOS DE 1"' LINHA DE INFANTARIA, DE CAVALARIA, DE ARTILHARIA 3-E AVENTUREIROS eu-se, na Idade-Média, o nome de aventurei,... ros a ·s oldados voluntários, pagos ou não, que se agregavam às hostes, combatendo irregularmente e vivendo do saque. No século XIV, tornaram-se mercenários integrados às bandes, tropas compostas de vagabundos , salteadores e criminosos. Sua história é dramática pois esta gente indisciplinada e rixenta, que servia a quem melhor pagasse, foi uma das grandes preocupações dos chefes militares e dos monarcas, só melhorando no século XV, quando vieram a formar as Grandes Compagnies. D O nome "Aventureiros " aparece em Portugal, Jª com sentido inteiramente diferente, .c om D. Sebastião , em 1578, na batalha de Alcacer --- Quibir. É , então, assim chamado um esquadrão formado d~ 1400 voluntários fidalgos . 10 ]. WA STH RO DRIGUES No Brasil, em tempos coloniais, a presença de "Aventureiros" é constatada várias vezes. Na expe . . dição que partiu de Pernambuco em 1614 para a conquista do Maranhão, marcharam, além do corpo de infantaria, conforme relata Pereira da Costa, voluntários chamados Aventureiros " que, separada . . mente do mesmo •Corpo, teriam para comandá . . los, quando fosse necessário, o cabo que se lhe nomeasse". Os chamados Aventureiros da conquista eram companhias irregulares de índios e mestiços, criadas para preceder na penetração do sertão às forças regulares, sendo geralmente destinadas a combater as investidas do silvícola. Foram extintas pela Pro . . visão de 19 de dezembro de 1819. Companhias de Aventureiros Paulistas . A 1 de agosto de 1739, o governador D . Luís de Mascarenhas criou no território de Goiás ,. ._. ., então perten. . cente a São Paulo ,. ._. ., duas companhias de pedestres com designação de aventureiros, que, pouco depois, foram reduzidas a uma. A partir da segunda metade do século XVII 1, muitas companhias foram levantadas em São Paulo, como veremos, para acorrer às lutas no Sul ou guar . . necer fronteiras. Uma companhia de " Aventureiros" foi organi . . zada por Cristóvão Pereira de Abreu, criada por ordem de Gomes Freire de Andrade a 16 de janeiro de 1752, para integrar a expedição ao Rio Grande TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 11 Aventureiros paulistas de São Pedro, por motivo da execução do tratado de Madrid. Gomes Freire partiu de São Paulo co~ duas .companhias de Santos, ao todo 104 homens, e a Companhia de Aventureiros Paulistas que, com os Lagunenses, somaram 162 homens, sob o comando do capitão Mateus Camargo. Sobre os feitos desta expedição, diz Rio Branco que os Aventureiros de São Paulo e Santa Catarina ajudaram a repelir o ataque dos guaranis, comanda~ dos por Sepé, ao forte do Rio Pardo, a 29 de abril 12 ']'.: WASTH' R.0DRIGUES de 1754. O forte, que estava sob o comando do coronel Tomás Luís Osório, tinha por guarnição, além dos Aventureiros, infantaria do Rio de Janeiro e Dragões do Rio Grande ( 2 ) • Iniciada a luta no Sul contra os Castelhanos, motivada pelas hostilidades destes, chefiados por V ertiz y Salcedo, ordenou o Conde de Boba dela a 28 de março de 1762 ao Governador de Santos, Ale~ xandre Luís de Souza Menezes, que subisse a s·. Paulo e formasse um corpo de 200 homens. Informa Rio Branco que a 1 de janeiro de 1763, foi tomada "a trincheira espanhola do arroio de Santa Bárbara (Rio Grande do Sul) pelo Capitão Francisco Pinto Bandeira, à frente de 230 Dragões do Rio Grande e Aventureiros Paulistas . O principal herói do dia foi o Capitão Miguel Pedroso Leite, Comandante da infantaria de S. Paulo. A trincheira tinha 7 peças que foram transportadas para o forte do Rio Pardo e era defendida por 500 milicianos corrientinos e muitos índios, sob o comando do Te-nente-Coronel Antonio Catanix" . Trata-se, provavelmente, de Aventureiros que ficaram no Sul; remanescentes da expedição de Gomes Freire, ou das duas companhias de infantaria de Santos, que mar.charam para o ·Rio Grande em 1762. (2) Rio Bra nco - Efem ér ides, Rio, 19l 8. TROPAS PAULISTAS . DE · OUTRORA 13 O Conde da Cunha, ·que· substituiu Gomes Freire (conde de Bobadela) no governo do Brasil e no da capitania de S. Paufo eµi outubro de 1763, determinou ao governador de Santos, · que fossem levantadas 4 companhias de Aventureiros, em todo o território paulista, com 60 hômens cada uma, formando-se em Santos um núcleo de exército sob o . ' comando do cel. Mexia Leite. As companhias deviam socorrer o "continente do Viamão", pois, diz o Vke-Rei em sua carta, "estou persuadido que os Paulistas são os mais próprios homens que o Brasil tem para a vida militar" . E promete o pagamento do soldo "se~ demora de dois meses pontualissimamente e ajuda de custas antes de saírem de suas casas". O soldo oferecido foi de 4$800 por mês. D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus, nomeado governador de São Paulo em 1765, dirigiu em pessoa a , instrução das tropas reorganizadas por ele, sendo feitas espingar-das de pau para os exercícios que se realizavam no Pátio do Colégio ou na Várzea do Carmo. O armamento e o fardamento viera~ dep~is~ · do Rio de Janeiro. · Traiçoeiramente, D. Luís Antônio atraiu a tropa para São Bernardo e lá, compulsoriamente, escolheu os melhores homens, formando as' 4 "c ompanhias que, sob o comando do Sar·g~~t~~p+c:)~. T.e~t9nio José.Juzarte,. seguiram para Santos a 11 . de setembro de J. WASTH RO DRIGUES 1765 e lá ficaram de prontidão ( 3 ). Como sempre, o magnífico soldo e as vantagens prometidas aos aven.tureiros com tanto açodamento pelo Conde da Cunha foram esquecidos. Surge, neste momento, a grave questão da situação destas companhias em face da organização do exército pois, criadas em emergências, não se enquadravam em nenhuma das três linhas existentes : tropa paga, auxiliares, ou ordenanças; daí a dificuldade para a legalização do soldo prometido. Resolveu o Conde da Cunha, a 28 de novembro de 1765, que se pagasse o soldo ·especial prometido, mandando embarcar as companhias para o Rio Gran...de, e aqueles que não o aceitassem ou não quisessem embarcar, que fossem castigados. De fato , embarcaram a 3 de janeiro de 1766 e che,garam à fronteira do Viamão a 14 de fevereiro do mesmo ano. A 21 de maio de 17 67 foi feito um novo pedido, o de mais 90 aventureiros. Em carta de 14 de setem.bro do mesmo ano a D. Luís Antônio, pediu o Conde da Cunha que as 4 companhias se recolhessem aos seus quartéis pois chegara tropa de Lisboa com o general Bohm e o Engenheiro Brigadeiro Funck. (3) Simões Magro (Osmar) - Legiã o Pmtlis ta, in Rev. do Arq. Mu!licipal de S. Paulo, vol. 24. :__ Sobre Aventureiros vide Documentos Hi.~ t6 ria Interessantes par a a e Costumes de São Paulo, publ. eo Arq. do E. de S. Paulo, vóls. · 14 (ps. 32, 39, ·71), 17 (p. 43)e mais os vols. 8, 13, 20, 42, 59, 65. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 15 Efetivamente, os Aventureiros voltaram do Sul em janeiro de 1768. Bohm era alemão e estivera em Portugal na comitiva do Conde de Lippe, em 1762, sendo um dos seus mais distintos oficiais. EII! 17 65, voltou a Portugal a pedido de Lippe, e, em 1767, veio para o Brasil, enviado pelo Marquês de Pombal, como tenente-general .comandante em chefe de todas as tropas na campanha do Sul. Terminada esta com a vitória, voltou para o Rio em janeiro de 1779, sendo festivamente recebido. Devido a uma queda de cavalo, veio a · falecer em junho do mesmo ano (Rio Branco diz a 22 de dezembro de 1783) sendo sepultado no Convento de Santo Antônio, pois se havia convertido ao catolicismo. Em 1772, três companhias de Aventureiros figuram na guarnição do forte ou presídio do lguatemi. Este forte, situado à margem do rio I.guatemi, perto da foz do rio das Bogas, no Sul do Mato Grosso, foi fundado em 1765 pelo capitão João Martins de Barros, por ordem de D. Luís Antônio, para conter as incursões espanholas. Suas defesas, formadas de cinco baluartes e dois meios baluartes em terra batida e faxina, só terminaram em 1770, sendo armadas com 14 canhões. A guarnição foi composta de cinco companhias de Aventureiros Paulistas e uma de artilharia do Rio J. 16 WASTH RODRIGUES de Janeiro, num total de 300 homens. Sofreram estes soldados e a população civil, durante anos, toda a s~rte de provações, misérias e doenças , com enorme perda de vidas. Em 1774, o forte foi atacado pelos Guakurus. Em 1776, reicebeu um reforço de 7 8 soldados do Regimento de Infantaria de S. Paulo, de Mexia Leite. Rendeu-se aos castelhanos comandados por D . Agostinho Penedo, em 27 de outubro de 1777, sendo arrasado. Destacam-se, na triste história deste forte , o sertanista Teotônio José Juzarte que comandou por algum tempo sua guarnição e deixou um Diário onde narr a o que foi a vida na praça; o capitão João Martins de Barros e o vigário Antônio Ramos Louzada, que teve a desdita de assinar a capitulação ,_ pois estava a praça sem comando ---- e por tal crime pas ... sou 19 anos encarcerado no Forte da Barra, em Santos. A 1O de agosto de 1774, promete D. Luís Antônio' ao vice-rei a formação de mais uma companhia de aventureiros ou c açadores, precisando para isso de um oficial. Em 1775, são reor.gariizadas as tropas de S . Paulo a fim de se.guirem para o Sul em v ista de novas lutas, criando-se então a Legião de Voluntários Reais. Com isto, tendem a desaparecer os aven- TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 17 tureiros; no entanto, em carta de 1777 promete Mar-tim Lopes Lobo ao general Bohm a formação de uma companhia de aventureiros (de caçadores como então eram chamados) "de 100 homens fortes e resolutos que chamam canelados", projetando criar em seguida oufra. Esta notíci~ enche de júbilo o general em chefe, que a 2 de junho do mesmo ano, não escondendo sua alegria ao governador, escreve sobre a notícia: " é a mais agradável que v. excia. me dá da formatura de uma companhia de aventu-reiros de cem homens, que eu receberei com braços abertos, e beijos às mãos de v . ex.eia. pela mercê que nisto me faz particularmente". Tal promessa não teve efeito em vista do armistício assinado. Com relação aos uniformes dos aventureiros, vejamos o que contém a missiva de 26 de novembro de 1775 do Marquês do Lavradio ao governador de S . Paulo, Martim Lopes Lobo, então preocupado com o vestuário e armamento dos Voluntários Reais: . "quando os Paulistas fizeram as grandes conquistas dessa Capitania, da de Goiás, Mato Grosso, e em todas as outras partes deste nosso Brasil, foi ani-mando--os e deixando,...os obrar livremente. Nunca foram vestidos re.gularmente; eram armados à sua fantasia, al.g uns iam descalços, as selas dos cavaleiros eram uris couros; assim atravessando os pântanos,. os rios; subiam e desciam serras; atacavam os inimigos e se faziam formidáveis". Referindo--se 18 J. WASTH RODRIGUES especialmente aos aventureiros escreve: "Sempre que estes homens foram chamados ao Rio Grande nas companhias de aventureiros, iam quase em igual desordem; assim trabalhavam; e alguma coisa que por lá se f êz de boa quase sempre se lhe deveu a eles." Diz ainda na mesma carta: "O nosso mesmo Corpo de Voluntários formado no ano de 62, grandíssima parte dos soldados iam em véstia, outros, depois de estarem na cavalaria é que buscavam os meios de fazerem suas botas: uns iam com casacas brancas e canhões encarnados, outros com verdes E' amarelos; porém como o caso era formar-se aqueie corpo para as surpresas, emboscadas e inquietação do exército inimigo; tomar comboios; cortar outros; ganhar um posto rapidamente, e outros serviços semelhantes" ( .. .. ) "estes mesmos foram aqueles que mais se distinguiram no exército. Que podemos nós esperar dos Paulistas, que parecem ser aqueles, que Deus positivamente .criou para estes serviços"? Quando, em 1777, Martim Lopes Lobo projetou criar uma companhia de aventureiros caçadores, para enviar ao general Bohm, esclareceu a 14 de abril, que iriam "descalços dando-lhes só um calção e véstias muito curtas a que lhes chamam jaleco, de baeta, para menor despesa e rapidez na confecção" . Ao marquês de Lavradio informou que dispunha de 200 recrutas faltando-lhes fardamento "porque todos estavam com umas calças a que chamam bombaxas e uma camisa de algodão." 0 Legião de Voluntários Reais de São Paulo (Legião Paulista) (Arqui vo H istórico Colonial de Lisboa) 20 ]. WASTH R,ODRIGUES LEGIÃO PAULISTA A grande unidade militar a que se dá o nome de Legião tem origem em Roma antiga. Na França, Francisco 1 criou em 1534, a exemplo das legiões romanas, as legiões nacionais com 6.000 homens, uma em cada província, formadas de piqueiros e alabardeiros, sendo esta uma das primeiras orga.nizações para os exércitos modernos. Não deram contudo grandes resultados sendo logo dissolvidas. Outras legiões, de estrangeiros, foram criadas em diversas épocas, sendo que a atual Legião Estran-geira teve início em 1831 na África. Em Portugal houve legiões e diversas ocasiões como a de Tropas Li geiras, e 1796, a Legião Por~ tuguesa em 1808, a Legião Lusitana em 1809, etc. 0 No Brasil, além da Legião Paulista, existiram as de Cuiabá, do Rio Grande do Sul, da Bahia, do Mato Grosso, sem falar nas Legiões da Guarda Na-cional, simples agrupamento de corpos das três armas nas províncias ou ,comarcas. A Legião de Voluntários Reais da Capitania de São Paulo, mais ,conhecida por Legião Paulista, tropa paga de primeira linha, foi criada a 27 de maio de 1775 , pelo governador da Capitania Martim Lo.pes Lobo, sob determinação do marquês do Lavra.dio, vice..-rei do Brasil, conforme Ordem Régia de 14 de janeiro do mesmo ano. A Legião foi levantada TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 21 ·e m vista da campanha no Sul e para substituir as companhias irregulares de Aventureiros, ficando pronta a 1 de dezembro daquele ano. Para coronel foi nomeado o próprio governador da Capitania. Seu efetivo em tempo de paz era de 1.000 homens ,em 10 companhias,. 6 a pé e 4 -a cavalo; em tempo de guerra, as companhias a pé eram aumentadas para o dobro. Seu estado. . maior era formado de 1 coronel (o ·governador da Capitania) , 1 tenente. . coronel, 1 sar . . ·,gento . . mor, 1 ajudante, 1 ,capelão, 1 auditor (o ouvi ... .dor . . geral da Capitania), 1 cirurgião . . mor e seu aju . . <lante, 1 tambor . . mor e um quartel mestre. Cada ,companhia de infantaria, em tempo de paz,. compu. . :nha. . se de 1 capitão, 2 tenentes, 2 alferes, 2 sargen. . itos, 2 furriéis,. 1 porta. . bandeira, 4 cabos de esquadra, 4 anspeçadas, 2 tambores e 80 soldados. Na cavala... r ia, nas mesmas condições, cada uma: 1 capitão, 2 .tenentes, 1 alferes, 1 porta. . estandarte, 2 furriéis, 8 cabos, 1 trombeta e 80 soldados. Para seu comandante efetivo foi nomeado o paulista José Pedro Paes Leme, capitão_de grana ... .deiros do 2QRegto. de Infantaria do Rio de Janeiro. (Era filho de Pedro Dias Paes Leme, neto de Garcia Rodrigues Paes e bisneto de Fernando Paes Leme). Pelas instruções aprovadas, os soldados podiam ser brancos, mulatos ou índios, "contanto que fos- 22 J. WASTH RODRIGUES sem fortes e desembaraçados, casados ou não" . Deviam fazer manobras e tudo o que a Legião pi,.. lhasse ao inimiHO lhe ficaria pertencendo. O serviço era de 8 anos · e o soldado que permanecesse no corpo por mais 8 anos, teria além da reforma, uma fardeta de 2 em 2 anos e o meio soldo; com 24 anos. de serviço, teria, além do acima discriminado, pão ou farinha e uma farda inteira de 4 em 4 anos; Cuidou~se com a máxima urgência de instruir,. armar e vestir os soldados para seguirem o seu destino: o Rio Grande de São Pedro. Faltou tudo, armas, barracas, equipamento e pano para as fardas. Apesar das deficiências e "para evitar despesas", seguiram em novembro de 1775 algumas com,.. panhias de infantaria e de cavalaria, parte por terra e parte por mar,. e que chegaram ao Sul em meados de 1776. Os que seguiram por terra foram, em grande parte, vítimas da varíola, tanto em São Paulo· como em Santa Catarina, tendo o mal dizimado não só estas companhias como outros corpos. Sobre o estado em que se apresentaram as 3 companhias de cavalaria ao chegarem, diz o GeneraJ. Bohm em rearta de 18 de junho de 1776 a Martim Lopes Lobo, que os cavalos estavam arruinados, o armamento e o arreamento imprestáveis, "uns com selas, outros com selins, uns com pistolas, outros. sem elas, uns com espadas, outros com terçados; sem capotes, sem mochilas,. sem barracas e sem cal- TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 23 <leiras". Enfim, incapazes de servir, necessitando descanso e reorganização. E foi assim, nesta precariedade, que a Legião Paulista ao lado dos Dragões <lo Rio Grande e de outros. corpos, entrou na linha de resistência aos ataques de Ceballos. Serenada a luta, sugeriu o General Bohm, em fins de 1776, que a Legião voltasse a São Paulo para -descansar, retornando depois para o Sul, com o que não concordou o governador Martim Lopes pelos inúmeros inconvenientes de sua jornada; no que teve razão, pois no ano seguinte deram os espanhóis nova investida ocupando a Ilha de Santa Catarina. A Legião voltou a quartéis em 1778, e na carta -em que o general Bohm comunica a Martim Lopes tal fato, diz, ref erindcrse às duas .companhias de cavalaria, de Macedo e de Garcia Rodrigues: "Esti:marei que elas vão pela metade tão contentes de mim como eu sou satisfeito da sua conduta, do que con.servarei uma lembrança saudosa". Dez anos depois, em 1788, o governad.o r da ·Capitania d. Bernardo José de Lorena, 59 Conde de Sarzedas, baixou ordens disciplinares rigorosas para .a Legião e transformou a 3 ~ companhia em companhia de bombeiros (bombardeiros) , que na parada tomaria o lugar dos granadeiros. Estavam então a ·cargo da Legião as guardas do Palácio, .cadeia, casa ·da Pólvora, hospital, armazém e casa da fundição; fazia a ronda até a meia-noite e sua parada era no ·4-E 24 J. WASTH RODRIGUES Pátio do Colégio, pois o seu quartel (na rua do Quartel) estava em construção em 1790. A Legião se encontrava então muito reduzida, porém, bem fardada e bem armada, compondo~se a infantaria na maior parte de negros e mulatos. Em sua correspondência com o vice-rei, escreveu. d . Bernardo que ninguém excedia os paulistas em. fidelidade e amor à Soberana" . Em carta de 20 de fevereiro de 1789 conta o seguinte fato: .. . '. 'eu mesmo vi na recruta que tenho feito , vinham os pais. e algumas mães trazendo os seus filhos, e diziam. chorando que tinham saudade.$ deles mas que s. ma,.. jestade estava primeiro que tudo" ( ... ) "com toda a verdade digo a v. exa. que são os melhores soldados. da América". D. Antônio de Melo e Costa que sucedeu a. D . Bernardo no governo da capitania em 1797 •. aumentou a Legião naquele mesmo ano com uma bri-· gada de artilharia tanto a pé ·como a cavalo, um trem. bélico e um laboratório. Em 1801, têm início novas lutas no Sul e a cava~ laria com a artilharia foram para lá destacadas, vindo de Portugal o armamento. A infantaria ficou. ainda em São Paulo. Na carta em que pede o envio· da tropa, diz o vice-rei "por ter sido este corpo que· em 1774 ali estivera de guarnição e por mais próprio· para a guerra daquele país que é em campanha rasa" ~ TROPAS PAULISTAS DE OU.TR0 RA 25 Pelo alvará de 29 de agosto de 1808, a Legião de tropas Ligeiras (seu nome de então) passou por uma reorganização total, constituindo em pé de paz, estado~maior e 13 oficiais e ofkiais inferiores~ um corpo de infantaria com um estado--maior e 2 bata~ lhões, cada um com 4 comp~nhias e 504 homens; um corpo de .cavalaria com estado~maior e 4 esquadrões, cada um com 81 homens; um corpo de artilharia a cavalo com estado~maior e 2 companhias, cada uma com 96 homens, somando um total geral de 1.556 homens, elevados a 2.442 em tempo de guerra. Determinou o alvará, entre outros itens, que para o serviço na Legião, "tendo contemplação à natural aptidão que têm os paulistas para o exercício de tropas ligeiras", fossem os seus .corpos completa~ dos com voluntários, recrutados e indivíduos tirados dos corpos de milícias, servindo, os recrutados 16 anos, os voluntários 8, e os milicianos o tempo que fosse necessário. Todos os voluntários e milicianos deviam trazer na chapa das barretinas a letra. --Voluntário. Determinou, outrossim,. que as armas e troféus tomados ao inimigo fossem pagos na tesouraria competente pelos seguintes preços: cada espin~ garda com baioneta, 4$800; cada davina ou espingarda sem baioneta, 4$000; cada peça de artilharia, bandeira ou estandarte, 48$000. Os soldad"o·s da Legião eram divididos em duas classes: os Pe·rmanentes e os Licenciados. Os pri- J. WASTH R'ODRIGUES 26 meiros eram soldados que serviam efetivamente; os segundos, apenas três meses por ano, período em que deviam residir no quartel recebendo soldo e farda-· mento, e efetivamente licenciados os nove meses res.tantes. Nesta classe estavam compreendidos os pro,.. prietários, os filhos de agricultores, os artistas e os que, exemplarmente, se distinguissem pela disciplina e morigeração. 30 de dezembro de 1808 foi dada ordem para a artilharia da Legião seguir para o Sul por mar, levando dois obuses e 6 peças e deixando os cavalos e arreios. Em junho de 1809, partiram 600 homens de infantaria e 600 de cavalaria e artilharia, lá ficando sob as ordens do general Xavier Curado. À No ano de 181 O, procedeu,..se em toda a capitania ao recrutamento para as vagas de 300 homens na Legião, devendo ser, os recrutados, solteiros, de 15 a 35 anos, de boa estatura, brancos, índios ou pardos livres. Sobre o processo adotado pelo gover,.. nadar Franca e Horta, escreve Simões Magro, que num dia de parada cercavam o povo e levavam os homens para o quartel, selecionando~se aí os que estivessem em condições para o serviço da Legião. Em 1813, a Legião passou a ter banda de mú~ sica. Mais um batalhão de infantaria lhe foi acrescentado em 1816, totalizando sua tropa em 3.200 homens, sendo enviado para o Sul um reforço de 600 TROPAS .PAULISTAS DE OU:TR0RA 27 homens,. sob o comando do sargento~mor Lázaro José Gonçalves. Pela reorgànização procedida no exército, em 1 de dezembro de 1824, .os dóis batalhões de infan... taria da Legião foram reunidos e transformados no ? 9 Batalhão .d e Caçadores ,de J.~ linha do Exército~ com sede em São Paulo, batal~ão que, em 1831 , foi absorvido pelo ?9 • Este 69 . tomou o n. 1O em 1839 e foi transformado em 69 Batalhão de Fuzileiros em 1842. Em 1888, esta~a em l .Iruguaiana. Pela reor ... ganização geral de 1908, entrou na composição de 11 9 R. 1. na ddade do Salvador, regimento que, em 1919, foi transformado no 19 'B. C ; na mesma cidade. Esta unidade é, portanto, le.gítima representante da infantaria da Legião Paulista e do Regimento Mexia, como veremos logo mais. Pelo mesmo decreto de 1824, os quatro esqua. . drões da cavalaria da Legião Paulista foram unidos ao Esquadrão de Caval~ria da Cidade de São Paulo, formando o 3 9 Regimento de Cavalaria Ligeira de 1" linha do Exército. Este Regimento, sob o c:omando do tenente... ~coronel Xavier de Souza, portou..-se brilhantemente na batalha do Passo do Rosário, a 20 de fevereiro de 1827. Seu ímpeto ·combativo e sua bravura foram, então, reconhecidos pelo próprio general Alvear, comandante em .chefe do exército argentino, confor... .me a palavra insuspeita de I. M. Todd, oficial argen... 28 ]. WASTff•RObI<iGUÉS · . ·; ' dos· dei 'Exercito em tino que diz em · seus ·. "R ·· ecu~r operaciones contra el Emperador del Brasil", o seguinte: "Tambieni notamos que los reginiientos o ·esquadrones qüe ·rechazamos, se ·. parahan á retá·guarda de su linea; y reorganizando-se, volviam a ·concentrar-se com fos s,ujos. Estaba~os admirados de encontrar una resistencia á .la que no estábamos acostumbrados; pero despoes nos explicamos esto, 'quando supimos que hàbiari:J.os · combatido com los paulistas nombrados, que·'c onstituiam la ·mejor caballeria enemiga" ( 4 ). · Continuou o regimento .aquartelado no Rio Grande do Sul, em S. Borja. (Estava destinado à Bahia, conforme o plano de. 1.8.31 ) . A 21 de maio de 1836, a Regência ordenou. sua dissolução, juntamente com outros corpos por tei;em tomado parte na sedição do Rio Grande do Sul. Esta ordem de Feijó foi, porém, revogaqa. Conservou sempre o seu número 3 e a parada em S. Borja. Pela reorganização de 1908, passou a ser o 89 R , C., em Uruguaiana. A 11 de dezembro de 1919, tomou a den,ominação de 5 9 R. C. I., e assim se conserva até hoje. Por Decr. de 24 de dezembro de 1932 foi transferido para ·Rosário. As duas Baterias de Artilharia a Cavalo da Legião organizaram, em 1824, o 2 9 Grupo de Artilharia (4) Macedo Soares (Josê Carlos) - Falsos Troféus àe Ituzaing6 . TROPAS PAU:~.. ISTAS _DE OUTRO RA 29 Montada de 111- Lfnh.a qo Exército, em Santos. Foi extinto em 1831. A legendária história da Legião Paulista está ligada, pelos "Aventureiros·": a · todas as lutas tra; vadas no Sul desde as primeiras -invasões dos caste~ lhanos, na se.g unda -metade ,_d o século XVIII, até a extinção das divergências herdadas da colônia, com a independência do Uruguai. Inicia sua existência nas lutas contra CebaIIos, formando na primeira linha, sob as ordens de Bohm, dando~se então os combates no Canal do Rio Grande. Passados alguns anos de. paz em que a Legião se recolheu a São Paulo, é de novo chamada ao de~ ver nas campanhas de 1801, 18J lrl2 e 1816~21, voltando para o Sul onde recebe constantemente recrutas de São Paulo. Passam estes anos entre pelejas e bonanças, sucessos e revezes ,. . . . . o que então pouco significa, pois o tempo e. o espaço são ili~ mitados para ~s ajustes e desforras. O quadrilátero de seus movimentos é de largos limites: de Colônia, Montevidéu ou Maldonado a S. Borja e Missões, da Lagoa e Jaguarão a Paisandu e Salto. No vai~ervém das lutas que se renovam periodicamente~ a Legião ora avança ora recua, tornando~se, assim, senhora das planícies e cochilias, dos passos e rincões. Fez sua escola nos rápidos entreveros e nos pesados cho~ ques, com vitórias ou desastres, que foram São Borja, lbiraocaí, Carumbé, c;atalan, Arroio Grande, lndia 30 ]. WASTH RODRIGUES Muerta, Canelones, e muitos outros encontros. En~ tre seus chefes imediatos, destaca-se o coronel Joaquim de Oliveira Álvares ~. nos grandes comandos, Pinto Bandeira, Veiga Cabral, Chagas Santos, Manoel Marques de Sousa (segundo do nome) , José de Abreu, D. Diogo de Sousa, Curado, Calado, Mena Barreto, Alegrete e, já sob o nome de 3QRe~ gimento de Cavalaria, Lecor e Barbacena. A tática de embustes e negaças, de emboscadas e guerrilhas lhe era familiar, do mesmo modo 0 manejo do laço, das bolas e da espada. Diz o Padre Luís Gonçalves dos Santos que o general Lecor tinha reforços de "tropas do país e de S. Paulo visto serem os continerttistas 'e .os Paulistas homens práticos destes terrenos e pedtos no modo de pelejar dos insurgentes espanhóis e dos índios seus aliados que fazem a guerra à maneira dos tártaros, sem ordem nem disciplina, 'atacando sempre de improviso e pondo-se em fu.g a debandada, iogo tornam a voltar, quando menos se espera; man~jando com suma destreza a lança e laço bolas .. . e Conheceu a Legião., dias cr.uéis como aconteceu em 1815, quando famintos, maltrapilhos e sem soldo foram seus soldados relegados ao abandono, seja pelas próprias circunstâncias da guerra seja por de~ sídia do governo; ..- fato tão bem evocado pelo Coronel Pedro Dias de Campos.- Não perdeu por TROPAS PAULISTAS DE Oll;TRORA 31 isso o espírito de disciplina, pois, .- como diz o roes~ mo autor .- trazem sempre na m~mória o verbo inflamado do grande Monte Alverne que, ao fazer a entrega de uma bandeira a um corpo, em 1811, na Catedral de São Paulo, disse: "Que importa sejam esquecidos vossos serviços~ Que importa que a in~ veja obscureça os vossos talentos? A posteridade subtrairá vossa memória às injúrias do tempo e do predomínio das paixões. Seguida da justiça, susten~ · tada pela razão, ela vos distinguirá daqueles que dormem no túmulo o sono do esquecimento, terá em conta vossas virtudes e apreciará o vosso mérito". Osório, que na cavalaria da antiga Legião Paulista iniciou sua fulgurante vida militar, tinha nela o posto de alferes e a idade de 19 anos ao bater~se no Passo do Rosário, em 1827. Lembrou~se de sua mocidade quando, em 1865, em Corrientes, como comandante em chefe, passa diante do 79 de Voluntários e diz: "Estes são soldados. E devem sê~los, pois os paulistas, seus antepassados, foram bravos, como certifica a história". Depois, pales~ trando como os oficiais, recordou: "Entre os pau~ listas fui cadete do exército; m-u ito os apreciei, com eles vivi ligado no mais amplexo e estreito laço de fraternidade; com eles partilhei mais de uma vez a vida de campanha" ( 5 ). (5) Paulista. Pedro Dias da Silva (T. Coronel) - O Espírito Militar 32 ]. WASTH RODRIGUES Hoje, ao 59 R. C. I., cabe cultuar tão honrosas tradições que lhe deixaram há tanto seus maiores da cavalaria da Legião e transmiti-las como herança singular aos seus vindouros . ...- Uniformes. Ao criar o Corpo de V oluntários ·R eais a 27 de maio de 1775, escreveu o Marquês do Lavradio a Martim Lopes Lobo, que o corpo teria armas e uniformes, que lhe seriam dados e não com as que estavam acostumados até então (os antigos aventureiros). E que devia sujeitá-los à obediência e disciplina dando-lhes conselhos, pois os Paulistas eram conhecidos pelo orgulho e pela vai ... dade. A 26 de agosto do mesmo ano foi remetido do Rio para São Paulo todo o material para o fardamento: panos azuis e vermelhos aniagem, brim~ linha, camisas, botões, meias, gravatas vermelhas, chapéus, fita preta, pentes, botas, sapatos, catanas, etc., fal ... tando barracas, bandeiras e cartucheiras. Com relação à falta de bandeiras, escreve o Marquês do Lavradio a 7 de novembro a Martim Lopes Lobo,. que é melhor que as não tenham "isto é, agora, nesta ocasião, para lhe darem maior estímulo com que eles possam fazer alguns golpes mais fortes; dizendo-se-lhes, que eles as terão logo que as ganharem sobre os inimigos; isto para o gênio dos Paulistas poderá ser muito útil e vantajoso". (Contudo, vieram a recebê...Ias no ano seguinte). As instruções de 19 de dezembro de 1775 declaram que: "Os uniformes serão justos, ligeiros e sem TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 33 ornamentos que possam embaraçar, próprios enfim de uma tropa composta de sertanejos e caçadores, que mais há de marchar pelos matos e combater neles que em rasa campanha". E que, a Legião seria "armada na forma que ela quisesse". Para suprir a falta de davinas para a cavalaria, foram aproveitadas espingardas velhas cortando-se-lhes os canos; as espadas (catanas) foram feitas em S. Paulo; algumas pistolas foram compradas no Rio e os cavalos foram pagos pelos capitães das companhias. Partiram estes cavalarianos "sem cartucheiras nem pistolas por não as haver". Ajustaram-se todos os alfaiates de São Paulo e vilas .circunvizinhas até a distância de 16 léguas. Em 1776, vieram do Rio 800 uniformes mas faltaram os sapatos que ficavam muito caros em São Paulo por não haver couro nem sapateiros bastante. Por esta razão foi preciso prender alguns porque estavam escondendo cabedal, e assim foram feitos 60 pares em São Paulo e 30 em Santos. Havia falta de tudo. O Governador pedia incessantemente ao Vice-Rei cabedal, panos, etc. Além do mais~ era preciso vencer a aversão que começava a se manifestar entre os paulistas pela vida militar, cansados de tantos sacrifícios, misérias e ingratidões, e atraí-los novamente. Para transformá-los, muito concorreu o juramento das bandeiras, com o cerimonial estabelecido pelo Conde de Lippe, coisa que os 34 ]. WASTH R!ODRIGUES soldados nunca tinham visto e que muito os impressionou contendo-os de desertar. Pelos figurinos existentes, de 1777, tinha então o oficial da Legião o seguinte uniforme: farda e calç ão azul-ferrete; canhões, gola, forro e véstia vermelhos; dragonas, .casas e botões prateados, gravata vermelha, chapéu preto agaloado de prata, meias,. polainas pretas e sapatos; os soldados, casas e dragonas de lã branca, e, como armamento, espingarda, baioneta e patrona. Dos Armazéns Reais esperavam oratórios e barracas. Os oficiais da cavalaria tinham uniforme idêntico ao da infantaria com a diferença de serem douradas as casas. Faltaram para os seus soldados os capotes. digno de nota o fato de que "espadas muito boas" foram feitas em S. Paulo para a Legião, conforme .carta de 20 de fevereiro de 1789, de Bernardo José de Lorena. É Grande número de figurinos da Legião existem nos arquivos de Lisboa, e no Rio, no Arquivo Nacional e no Museu Histórico Nacional, alguns dos fins do século XVIII outros de 1800 e 1806. Novos uniformes foram criados no tempo de D. João VI, como é natural, mas a verdade é que os soldados da Legião Paulista preferiam - por influência do meio e pelo atraso de anos na entrega do fardamento reiúno - o chiripá com calçonsilho, o pala, a jaqueta e o chapéu de feltro, encontrando meios de .conciliar TROPAS PAULISTAS DE OUTR<0RA 35 farda com tais peças num pitoresco arranjo, como se vê na gravura da época da campanha cisplatina "Paolistas Soldiers" por E. E. Vidal ( 6 ). Los Paulistas, como eram conhecidos, não dispensavam o lenço atado sob o chapéu, as bolas pendentes do tirador, o .chiripá de grandes dobras à moda gaúcha, ou simples, de listras e com franjas, à moda corrientina. No arreamento campeiro, o laço ficava na anca, a soga e a manéia, no peito do animal. Do uniforme <:onservam a jaqueta desabotoada e a barretina ou um chapéu de feltro com penacho. Não usavam lança, pois sua arma preferida foi sempre um largo e pesado sabre. ;::i, A fim de amenizar a aridez fatigante deste ensaio, reproduzimos o que conta J. E. Arago ( 7 ) sobre a perícia dos paulistas no manejo do laço, perícia adquirida quando soldados nos .campos do Rio Grande e da Cisplatina. Arago esteve no Brasil por volta de 1820 e descreve os paulistas com hábitos e trajes dos .gaúchos, porém, com requintes na elegância e preciosismos nos pormenores: chapéu largo de feltro fino preso sob o queixo por fita de veludo, poncho de pano castanho, azul ou branco, calção de (6) Vidal (E.E.) .and Montevideit, 1817. Pictoresqm3 Illii,strations of Buenos Ayres (7) Arago (M.J.E.) - Souvenirs d'itn Aveugle, Voyage aittour de Monte. Paris, 1839, v. 1, p . 157. - Sobre Legião Paulista vide Does. Interess. vols. 15, 17 (ps. 1, 28, 33, etc.) 28, 29, 42 (p. 177, etc.), 43, 45 e 59. 36 ]. WASTH RIODRIGUES couro, botas e cinturão enfeitados com desenhos de diversas nuanças, "curiosos e sedutores à vista". Para mostrar a habilidade e o prestígio dos paulistas, descreve o autor um singular torneio havi·J do na Corte por aquela época. Chegado do Rio de pouco, um coronel polonês, lanceiro da velha guarda imperial, só ouvia falar dos paulistas, com os mais exaltados elogios, como exímios laçadores. Decidiu ... -se o lanceiro a uma prova e publicou nos jornais um desafio para um encontro entre a lança e o laço. No dia seguinte, recebeu um estranho visitante. o senhor o coronel,. que publicou ontem uma nota nos jornais? É __, Sim senhor, por que está interessado por ela? __, Eu sou paulista. __, E então aceita minha proposta? Porque não. Mas o sr. só tem cinco pés de altura! __, E o sr. não chega a seis. Eu ignorava que o Garonne corria no BrasiL __, Oh! Não me fale de vossos rios, coronel,. os nossos são mais largos que os seus não são com-· pridos. Prosseguem neste diálogo e fica marcado o encontro para o Campo de São Cristóvão. Um povO' enorme ali se reunfo no dia marcado. Ferviam as TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 37 ofertas de aposta no paulista. Na hora certa, tocou uma música militar anunciando os contendores. O coronel entrou primeiro, montado num magnífico alazão, que manejava com graça, e se precipita a galope de lança em riste. Um grito geral de admira..ção e palmas reboaram. Eis, porém, que entra o paulista, curto, magro, a'm.arfanhado, mas cujos olhos lançavam faíscas sob o largo bordo do chapéu de feltro; seu cavalo era pequeno mas vivo. Cumprimenta uma dúzia de camaradas e se dirige lenta..mente para seu adversário, ao qual saúda com a cabeça. --- É José! dizem uns; e outros, que teriam preferido Fernando, ou Antônio, ou Pedro! Não importa, as apostas são apregoadas, mas não a fa . . vor do polonês. Coronel, estou às suas ordens. Temi que o sr. não fosse exato. Um paulista não se faz esperar; e ainda não bateu nove horas. ,__ Mas o sr. não tem sela? Não é necessário. Trago o meu laço. Quanto a mim vou substituir o ferro da minha lança por um tampão de couro. Por quê? Ê que eu poderia matá-lo! 38 J. WASTH RODRIGUES _, Impossível. Para matar alguém é preciso tocá,..lo, e o sr. me não vai tocar. ,. . . . , O sr., brincando sempre! Sempre. Mesmo diante de uma onça. Mas os clarins soam e o povo impaciente espera o resultado final. Silêncio. Vejam agora o paulista. Sua montaria se torce, se levanta sobre as pernas nervosas e obedece, não só ao freio e às esporas como à _voz e à respiração do seu dono. José se anima com ele, o anão torna ... se um ·gigante e desde este instante adivinha,..se o vencedor; até o coronel parece estar também admirado. Os campeões vão lançar~se, o coronel de ferro em riste, o paulista agitando sobre a cabeça o laço perigoso ... ,. . . . , Ah, ah! grita este,. para se ligar aos seus hábitos de guerra. Ah, ah! E se precipitam um sobre o outro. O lanceiro errou o golpe. José não procurou laçar o contendor, como se tivesse querido negacear uma primeira vez; o coronel é arrancado da sela e rola na poeira sem poder desprender,..se do nó qu~ o aperta. O povo quer aplaudir, mas o paulista faz sinal, pois não é delicado, e ei,..lo levantando seu adversário. ,. . . . , Desculpe coronel, eu sou um desastrado, arranqueio'"'o com muita força. Serei mais prudente na próxima vez. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 39 Fui surpreendido,. diz o coronel. Eu já esperava. Nós pegamos sempre de surpresa. Pois bem, vamos ver. Vam'o s ver. Separaram-se um do outro em toda a extensão da pista e partiram a passos ... ,_., Ah, ah! fez o paulista. Ah, ah! Vai ser no pescoço desta vez! O seu cavalo partiu como uma flecha. O coronel novamente é atirado ao chão e José socorre-o para que não morra estrangulado. ,_., O negócio vai mal, diz o paulista o negócio vai mal, coronel; eu ainda não almocei e minha mão não está muito segura. Quer o sr. uma terceira prova? Eu lhe prometo prendê-lo pelo braço direito ou pela perna esquerda; à sua vontade. ,_., Não. Basta, diz o coronel vencido, rasgado e coberto de pó. É bastante. Acreditarei de hoje em diante em todos os prodígios que me contarem do sr. ,_., Coronel, o sr. não viu nada. Há uma dúzia de meus companheiros perto dos quais eu não passo de uma criança. Eles virão com o sr. almoçar comigo. O sr. não os conhece, eles são capazes de aceitar; mas eu, contento-me com sua amizade. 5-E 40 ]. WASTH RODRIGUES REGIMENTO MEXIA Os corpos militares mais antigos do Brasil, sem contar os soldados desembarcados com Tomé de Souza, na Bahia, em 1549, foram o "Regimento Velho", organizado em 1567 com os infantes vindos com Estácio de Sá e Mem de Sá, quando da expulsão dos franceses e fundação da Cidade de S. Se~ bastião do Rio de Janeiro, e o "Terço Novo" criado em 1699, que depois passou a ser 2 9 Regimento do Rio de Janeiro. Em S. Paulo, uma primeira 1Companhia de infantaria paga foi criada em Santos em 1710, no governo de d. Antônio de Albuquerque, pouco depois da elevação de S. Paulo a Capitania. Para as despesas desta pequena unidade determinou-se, no mesmo ano, que os contratadores de sal pagassem de taxa um cruzado por alqueire ( 8 ) • Por volta de 1712, o governador da praça de Santos já não tinha meios para usar de disciplina, pois os infantes não recebiam nem soldo nem fardamento e andavam maltrapilhos, empregando-se em vários misteres, nem sempre dignos da sua profissão, para poderem manter-se ( 9 ). (8) Does. Inter ess. vol. 52. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 41 Com a criação do governo privativo da Capitania de S. Paulo, a força foi aumentada pois, em 1722, eram 3 companhias e foram acrescidas de mais duas, tendo, nesta ocasião, recusado Cananéia ·em •Concorrer para tal com 9 sold'ados ( 10 ). Estas ·c ompanhias faziam todos os serviços da .época, tanto de guerra como de polícia. Uma delas foi para Santa Catarina em 1735, e outra, para Goiás, a fim de sustentar o ouvidor na cobrança dos 'quintos do ouro. Gomes Freire de Andrade,. ao .seguir para o Rio Grande do Sul, em 1754, para dar ·execução . ao tratado de Madrid, levou, com outras ·tropas, duas companhias de Santos, que voltaram em 1759. Com a guerra declarada no Sul contra os ·castelhanos, foram de novo destacadas para o Rio Grande, em 1762, duas companhias que combateram ·ao lado de outras forças ( 11 ). Pela Carta Régia de 22 de julho de 1766, foi ·determinado a d. Luís Antônio que, com as sete com~ :panhias existentes (estando duas no Rio Grande de .S. Pedro), se formasse o Regimento de Infantaria paga da Praça de Santos (chamado também "Regi~ ·mento de: Santos" e "Regimento Novo"), sendo ·nomeado seu comandante Manuel M uniz dos Santos. (9) Simões Magro, op. cit., p. 16. (10) Does. Interess., vol. 40, p. 251. (11) Simões Magro, op. cit., p. 34. 42 ]. WASTH RODRIGUES Em vista da Carta Régia de 14 de janeiro de 1775, foi o Regimento reorganizado ou criado de novo,. o que teve início meses depois, no governo de Martim Lopes Lobo. Deram motivo a esta medida as novas lutas que se anunciavam no Sul devido à guerra entre Portugal e Espanha. Tomou o Regi . . mento o nome de Regimento de Infantaria de S . Paulo e, por comandante, o tenente-coronel Manuel Messias Leite, que se achava no Sul. O coronel Mexia ,. . . . , como era conhecido ,. . . . , tevegrande projeção nas lutas de então e comandou o regimento por muitos anos. Nasceu em Elvas, em. 1735, foi tenente-coronel do P Re.gto. do Rio de Janeiro e faleceu em 1808. Durante o seu comando· o Regimento foi mais conhecido por Regimento· Mexia. Martim Lopes, ao tomar conta do governo de S . Paulo em junho de 1775, encontrou as 7 compa-· nhias em lastimável estado, formadas de meninos evelhos, tendo sido fardadas algumas delas para a formatura em sua chegada. Em dezembro do mesmo ano , algumas companhias seguiram para o Sul, sofrendo muitas baixas. em Santa Catarina devido à epidemia das bexigas. Em 1776, três companhias partiram por mar para. Santa Catarina, sem grande regularidade no farda-· mento e no armamento, de lá continuando a viagem. por terra. Ao chegarem no Rio Grande, a falta de- TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 43 roupas e de mantimentos era tal que os soldados, maltrapilhos, doentes e .ainda acossados pela fome, começaram a desertar ( 12 ). Esta situação não era, porém, nova para os soldados, pois mesmo em S. Paulo, confor... me disse 'M artim Lopes ao secretário de Estado em carta de 14 de fevereiro de 177 6: "a ·· miséria, a baixeza de espírito, · a ignorância e a nudez estavam vivamente pintadas nesta tropa como efeito do que expus a v. exa.". Sobre o estado dos recru..tas~ escreve o .g overnador a 15 de dezembro daquele ano: "Os numerosos recrutas esfa..: vam nus, não vencendo soldo sem que possam aparecer pela sua indecência". E pede a·o ' · governo de Portugal que man- . ._ de diretamente para Santos ·~:, . ·.> ···~ fardamento tanto grOSSO COmO Regimento Infantaria 13 miúdo ( ). Como justificação de Santos à opinião de Martim Lopes, é preciso lembrar a sua má vontade para com d. Luís Antônio, a quem culpava de todos ·os ·males, e a culpa .J (12) Does. Interess., vol. 28. (13) Does, Interess., voL 28, ps. 71 e 235. 44 J. WASTH RODRIGUES do próprio governo, que deixava os soldados lon ... ,g os meses sem soldo e sem roupa. Tudo isto concorre para ressaltar o valor destes homens,. como se vê nas palavras do general Bohm, comandante do Exército do Sul, a Martim Lopes em carta de 28 de fevereiro de 1778, anunciando a volta de cinco com... panhias do Regimento Mexia: "Confesso a v. exa. que me ficarão sinceramente saudades deles; eu mes~ mo me criei em um Regto. novo e formei também um, assim como vi muitos outros; porém um Regto. mais bem ·Criado, exercitado, asseado, sossegado e obedi ... ente como este nunca vi" ( 14 ). Em relatório de 1788, informa o governador Bernardo José de Lorena, 5Q conde· de Sarzedas, que o Regimento ----- então conhecido por Regimento de Santos ----- pois esteve sempre naquela praça, onde tinha excelente quartel, "estava com alto preparo militar, formado só de brancos, bem armado "e de ... baixo de exatíssimo uniforme". Em março de 1801, ainda sob o comando do coronel Mexia, marcham para o Sul 5 companhias a fim de reforçar Santa Catarina, ficando 2 na Capital. Por Decr. de 29 de agosto de 1808, o Regimento de Santos foi aumentado e dividido em dois batalhões com 4 companhias cada um, recebendo então a designação de Regimento de Caçadores, com 1.029 homens, um batalhão comandado pelo (14) Does. Interess., vol. 17, p. 385. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 45 Coronel Cândido Xavier de Almeida Lara, outro, pelo tenente~coronel José Pedro Galvão de Moura Lacerda. Passou mais tarde à denominação de R.egi,... menta da Província de São Paulo e recebeu banda de música em 1820 .com a competente dotação anual de 48$000. A criação de companhias de caçadores, em Portugal, teve início ,em 1796, uma em cada regimento. Unidades inteiras de caçadores datam de 13 de julho de 1808. No Brasil, coube ao Regimento de Santos ser a primeira unidade transformada nesta especialidade, exatamente em 1808. A seguir, pouco a pouco, · todos os corpos de infantaria passam por esta transformação, excetuando os de granadeiros. Em 1821 , seus dois batalhões de caçadores esta,.. vam, o 19 em Santos e o 29 na Capital. Deu~se então a rebelião de 3 de junho na qual este exigiu, de armas na mão, que lhes fosse paga a equiparação de soldo decretado por D. João VI antes de partir, o que foi feito sem demora. O fato estimulou seus camaradas do 19 , em Santos, que agiram de modo idêntico. Estes porém foram castigados com desa,.. piedade e exagerado rigor, quando as causas tinham sido as mesmas (alguns autores afirmam que o soldo não era pago havia já alguns anos, outros, que o atraso era de al.guns meses). Alguns militares foram executados, entre os quais o Chaguinhas. Além disso o Batalhão de Santos foi extinto ( 1 5 ) • (15 ) Albe rto Sousa - Os A ndrad as. 46 j. WA'STH .RODRIGUES Sobre esta extinçã6, há o segu:i nte: 'o u o batalhão foi logo resti:i.belecÚlo ou, ·depois da Independência, foi criado uni out~o lQpois 'passaram para a Corte onde eram conhecidos pelo apelido de "Guarda da Marquesa de Santos" ; Na reorganização geral de 1 de dezembro de 1824 foram aproveitados, tornando-se respectivamente os 5 9 e 69 ' Batalhões de Caçadores de J-?- linha ' . 9 do Exército. O 5 , · que continuou na Corte, foi extinto a 4 de maio de 1831 ; na mesma data, o 79 (antiga Legião) foi incorporado ao 69 (a evolução deste corpo até o presente já foi . descrita na parte referente à infantaria da Legião Paulista). Seu uniforme no século XVIII era azul com ·gola, canhões, bandas e véstia encarnadas, dragonas e botões brancos, trkórnio preto etc. Depois da Independência, distinguia-se pela .gola e canhões azul claro. O UTROS CORPOS DA PRIMEIRA LINHA D E INFANTARIA, DE CAVALARIA DE ARTILHARIA As numerosas extinções de unidades em 1831 e em anos seguintes merecem uma rápida referência. A Regência, levada pela efervescência política do TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 47 momento, exaltação partidária e pretexto econômico, reduziu o nosso já pequeno exérdto em um punhado de minguados corpos, sem atender às necessidades da defesa nacional, extinguindo unidades nas diversas armas, desarmando fortalezas e reformando centenas de oficiais. A 4 de dezembro de 1831, os 29 batalhões foram reduzidos -a 16; pouco depois, mais 3 foram suprimidos. A 4 de fevereiro de 1833, procede-se a novas reduções, o que restringe a infantaria a 8 batalhões. Esta política estranha se prolonga até 1833 quando, devido aos constantes levantes e revoltas ---- pois os poucos corpos tinham que atender sem cessar ao · Norte e ao Sul, mudando de quartel, de número, de nome ou de arma,. numa balbúrdia tre... menda ,___ começa o aumento gradual das forças do exército. Conseqüências da ação nefasta da Regência, fez-se sentir até em 1863, na questão Cristie, quando o País, em face de ameaças, se achou com suas fortalezas desmanteladas e desarmadas, sendo então remediada a situação com a maior urgência. Um fato a assinalar deu-se na Revolução de 1842: a criação do 19 Batall~.ão de Fuzileiros em Areias, do amálgama de soldados e voluntários os mais diversos, reunidos às pressas pelo Barão de Caxias na cidade fronteiriça de São Paulo. Este é o verdadeiro antepassado do 19 Batalhão do atual 1? R. I. (Regimento Sampaio), e não ,___ como querem alguns historiadores ,___ o velho regimento colonial, 48 ]. WASTH RODRIGUES 19 do Rio de Janeiro, extinto em 1793; ou o Regi . . mento de Bragança, que lhe seguiu no número e que passou a 29 em 1822; ou o 19 Batalhão de Caçadores, ·criado em 1818 e extinto em 1833. Outro batalhão que sediou em São Paulo foi o 37 , organizado a 28 de fevereiro de 1894, por oca. . ·sião da Revolta no Rio Grande do Sul e que seguiu logo para Santa Catarina, sendo extinto em 1908 formando o 549 B. C. 9 Um esquadrão de cavalaria com O nome de Esquadrão da Cidad e de São Paulo foi criado em 22 de novembro de 1820, por estar destacada no Sul a cavalaria da Legião. Foi formado de duas compa'"' nhias cada uma com 80 homens e comandada pelo tenente. . coronel José Pinto Gavião Peixoto. Achando . . se o Esquadrão no Rio de Janeiro por ocasião da coroação de D. Pedro 1, em 1 de dezem . . bro de 1822, formou, com os caçadores paulistas, a ala esquerda dentro da Capela Imperial, sendo que a ala direita era composta de archeiros e porta . . ma. . chados. Pela reorganização do exército, em 1824, o Esquadrão foi englobado à cavalaria da Legião e assim, transformados no 3 9 Regimento de Cavalaria do Exército, indo para o Sul e cuja história já foi descrita ao tratarmos da Legião Paulista. O aumento de corpos no exército, determinado em 18 de agosto de 1888,. ,c oncedeu a São Paulo um TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 49 Regimento de cavalaria: o 109 R. C., organizado com a companhia avulsa de cavalaria e que foi aquartelado no antigo Quartel de Linha na rua do Quartel. e que de São Paulo foi para Santa Vitória. Em 1908, tornou-se o 9 9 em Alegrete: em 1919~ passou a 69 em Guareí, indo depois para Alegrete. Devido às lutas no Sul conseqüentes da Revolta da Armada, foi formado em 1894, no Paraná, o 13 9 R. C., para cuja composição entrou considerável pessoal do Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo. Em 1908, passou a ser o 2 9' R. C. 1. na Capital Federal: em 1915, tornou-se o 59 R. C. D. em Guarapuava; sediou depois em Castro e, em 1934, em Curitiba. Em 29 de novembro de 1822, foi organizado· um batalhão de artilharia para .guarnição e defesa da Praça de Santos,. com 4 companhias, somando ao· todo 398 homens. Na reorganização de 1824, passou a 3 9 Batalhão de Artilharia de Posição de 1"" linha do Exército, sendo extinto em 4 de maio de 1831. Corpos Fixos ou de Guarnição. Durante grande parte do Império, foram .criados corpos de 1'I linha com o objetivo principal de dar guarnição estável em. cada província, e por isso chamados Corpos Fixos, em contraposição aos Corpos Móveis, ou seja, ao exército propriamente dito, que se deslocava de um ponto para outro do Império à medida das ocorJ rências. Tiveram começo com pedestres, ligeiros e 50 J, W ASTH R0DRIG UES caçadores de montanha, que foram reorganizados em 1842, formando corpos de caçadores, companhias de cavalaria e companhias de artilharia (estas, apertas em Mato Grosso e Amazonas). Com exceção do Rio Grande do Sul, Pará e o Estado do Rio, existi~ ram nas demais províncias. Durante a guerra do Paraguai foram todos incluídos nas unidades então criadas. O Corpo Fixo de São Paulo foi criado a 23 de agosto de 184 7 e teve por casco a Companhia de Caçadores de Montanha .criada em 1839. Formou,..,se em duas companhias de caçadores e uma de cava,., laria, num total de 384 homens. A partir de 1852 passa a ser conhecido por Corpo de Guarnição. Em 1865, dissolvido, seus caçadores foram reunidos aos do Corpo de guarnição de Minas Gerais, for,., mando,..,se o 21 9 Batalhão de Caçadores, que seguiu por terra para Mato Grosso e, com outros corpos, ·tomou parte na epopéia da Retirada da Laguna. Em 1870, restabeleceu,..,se a infantaria de guar,.., nição sob a denominação de 7~ Companhia de Infan,.., taria Ligeira. Pela Portaria de 5 de novembro de 1888, foi, como a cavalaria, transferida para Minas onde foi extinta em 1889. As companhias de ,cavalaria de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais formaram, em 1865, o l 9 corpo de Caçadores a cavalo, o qual, depois da guerra, foi extinto, sendo então reconstituídas em TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 5J cada província as antigas companhias de cavalaria. A de São Paulo transferiu-se para Minas em 1888, para onde também enviaram uma .companhia de Goiás ; e supõe-se, escreve o cel. Rego Monteiro, que com estas •Companhias foi organizado naquele ano o 9 9 Regto. de Cavalaria do Exército em Ouro Preto. CORPOS DE AUXILIARES, DE MILíCIAS OU DE SEGUNDA LINHA RESUMO HISTÓRICO Os terços, depois regimentos de auxiliares foram criados em Portugal após a Restauração. Pela Carta Régia de 7 de janeiro de 1645, determinou-se que, para evitar as levas ordinárias, se criasse, em cada comarca de Portugal, um troço de gente desobdgada com o título de soldados auxiliares, gozando de todos os privilégios concedidos aos pagos alistados, e aos capitães, pessoas experientes, patente .com as honras e preeminências de capitães pagos, sendo escolhidos de preferência os nobres e honrados por não costumarem entrar na tropa paga. Esta tropa estando pronta, disciplinada, seria levada à Raia e paga pontualmente. 52 J. WASTH RODRIGUES Por Carta Régia de 11 de setembro de 1697, os corpos de cavalaria tiveram garantidos todos os pri~ vilégios dos de infantaria; a Provisão de 27 de de~ zembro de 1754, porém, considerou~se de ordenan~ ças; voltaram, contudo às condições de tropa auxiliar pela Provisão de 22 de agosto de 1760. Nos portos de mar do Brasil, os terços de auxi~ liares foram criados em observância à Provisão de 21 de abril de 1739, expedida sobre ·R esolução de 9 de abril de 1728 ,......., diz Cunha Matos ,......., "e em todo o Estado,. em conseqüência da Carta Régia de 22 de março de 1766, a qual mandou alistar para Au xi~ liares todas as pessoas de jurisdição real sem exceção de nobres ou plebeus, brancos ou mulatos, com as classificações, uniformes, divisas e gêneros de armas" ( 1 6 ) • Entretanto, corpos de auxiliares já exis-tiam no Brasil em época anterior àqueles atos, como facilmente se verifica em inúmeros documentos. A propósito, diz Pizarro: "Ainda que o povo da cidade estivesse alistado, muito antes de 1697, em três classes, Brancos, Pardos e Pretos, como se alcança da ordem datada de 29 de janeiro de 1700 ( .. . ) fez o vice~rei Conde da Cunha novo alista~ menta e principiou a ouganizar os Terços, para o que lhes nomeou alguns oficiais; mas a sua regularidade e disciplina foi obra dos desvelos mui ativos do vice(16) Cunha Matos (Brig. R. J. d a) - M i l i tar, Rio, 1 834. R ep ertório de Legislaç/J,o TROPAS PAULISTAS DE O_UTR0RA 53 -rei Marquez, [do Lavradio] fazendo exercitar os novos Auxiliares nas manobras competentes, em modo que ficaram substituindo os Regimentos de Linha destacados no Continente do Sul, como substi.tuem hoje, fazendo as guardas e serviço regular da Corte" ( 17 ). A formação de corpos auxiliares tomou impulso a partir de 1765, reorganizando~as o Conde da Cunha por toda a parte em razão do envio de Por-tugal da cópia do Alvará de 6 de outubro de 1698. Desde então, não houve cidade no Brasil que não tivesse um ou mais terços ou regimentos com suas companhias espalhadas pelos bairros, nem vila ou arraial que não formasse, ao menos, uma companhia de pardos ou pretos, o que representou, praticamente a força territorial do Estado. Todos os homens válidos serviam então às armas, fosse na tropa paga, nas ordenações, auxiliares ou ainda, nas ordenanças. Os .c orpos de auxiliares não tinham quartéis ~ pois sendo compostos de civis, se reuniam em lugares marcados, geralmente praças públicas, a que davam o nome de Assembléias Gerais. Em 1776,..,77, devida a invasão dos Castelhanos no Rio Grande de São Pedro, houve um recensea-mento .geral das forças de auxiliares disponíveis em todo o Brasil. No Rio foram reunidos terços e regi(17) Pizarro cfe Araujo Monsenhor J . S. Azevedo rias Históricas do Rio de Janeiro, Rio, 1882. Memó- 54 J. WASTH RODRIGUES mentos vindos de Minas e Bahia, ficando de prontidão outras unidades em suas capitanias, criando-s2 também muitos corpos novos. Seguiram para o Sul vários regimentos de 1" linha como já vimos. Nova organização total foi procedida na 2 ~ linha pelo Decr. de 7 de agosto de 1796, sendo então substituída a denominação de Auxiliares por Milícias. Cada regimento passou a ter estado-maior, 8 companhias de fuzileiros , uma de granadeiros e uma de caçadores, num total de 800 homens; o título de mestre-de-campo foi substituído pelo de coronel. Por esta reorganização, muitos corpos e compa~ nhias foram extintos, outros, reagrupados e consolidados ou melhor organizados, formando , como os antigos auxiliares, três classes: brancos, pardos e pretos. Santos Vilhena, historiando em 1798 a ,guarni ... ção da Bahia, diz que, para o serviço de recrutamento, em dada hora, todos os soldados deviam prender todos os homens brancos que entrassem na ddade, procedendo-se depois à escolha ( 1 8 ) • O Alvará de 17 de dezembro de 1802, regulando as promoções, estabeleceu que o comando dos Regimentos de Milícias no Brasil coubesse a antigos oficiais de Linha ou a outras pessoas submetidas a exame e concurso; assim como, por concurso, os - · ·.:. . :. . :. :. ____ (18) A rquivo Nacional, Rio. TROPAS PAULISTAS DE O.UTRORA 55 outros oficiais ~ e que, a promoção fosse gradual e sucessiva ~ havendo algumas ex.ceções. Extenso regulamento para as milícias foi aprovado pelo Alvará de 20 de dezembro de 1808. Passam os regimentos de infantaria a ter dois batalhões num total de 1.1O1 homens (em Portugal, pois no Brasil, tal determinação não foi posta em prática) ; o posto de major passa a ser ocupado por oficial da tropa de 1~ linha; procede-se ao sorteio para o recrutamento; desenvolve-se a instrução militar; aprovam-se as obriogações, garantias e privilégios estabelecidos pelo Alvará de 24 de novembro de 1645, modificado pelo de i de setembro de 1800. Assim, (em Portugal) não se lhes podiam embargar bestas ou carros, nem casas, adegas, estrebarias, pão, vinho, palha cevada, galinhas, gados ou outros quaisquer gêneros. Os voluntários serviam 8 anos,. os sorteados 16; quando licenciados deviam guardar o fardamento por 8 anos. Por aviso de 25 de janeiro de 1811, foi · rec0mendado que as fardas fossem confeccionadas à custa própria ou do comandante, ou recebendo-se para isso um auxílio do governo, mas nunca por meio de subscrições entre pessoas abastadas ou do povo em geral. A Portaria de 28 de setembro de 1813 declarou as pessoas que se deviam reputar isentas do recrutamento (na agricultura, pes.ca, navegação, artes, etc.). 6-E 56 ]. WASTH RODRIGUES . A 6 de agosto de 1817, o gozo de privilégio de foro militar para julgamento em conselhos de guerra foi estendido aos oficiais milicianos até sargentos, e, quanto aos soldados, apenas aos que estivessem em exercício efetivo. Pelo Decreto de 1 de dezembro de 1824, que remodelou todas as forças militares do Brasil, proce~ <lendo a uma depuração esmerada, aproveitando os corpos em condições, e por outros de 1826 e de 1827,. nova dassificação e numeração geral foram dadas aos corpos de milícias que passaram a ser de Segunda Linha, formando em todo · o País 4 regimentos de infantaria, 140 batalhões de caçadores, 51 regimen~ tos de cavalaria, 4 brigadas de artilharia montada guarda~costa e 4 corpos de artilharia de posição. Esta numerosa força de 2~ linha durou apenas sete anos, pois foi extinta em 1831, criando~se em seu lugar a Guarda Nacional. AUXILIARES E MILíCIAS NA CAPITANIA E PROVíNCIA DE SÃO PAULO As primeiras notícias que se têm sobre tropas de auxiliares em São Paulo datam dos começos do século XVIII, e só se tornam mais precisas depois TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 57 da 1criação da capitania, e da elevação da Vila de São Paulo a Capital em 1721. O que a seguir tolheu a progressão destes corpos foi a sujeição da capitania à direção do governo do Rio de Janeiro entre 1748 a 1765. A 20 de maio de 1702, Artur de Sá e Menezes concede a José de Goes a patente ad honorem em auxiliares; a 1O de junho do mesmo ano, idêntica patente de capitão de cavalaria é dada a D. Francisco Rendon. Por ocasião da revolta em Minas provocada por Felício dos Santos, em 1720, soldados de S. Paulo foram para lá destacados e a Provisão de 27 de abril de 1722 mandou que voltassem 150 deles, os quais, provavelmente, seriam de auxiliares. Em 1722, prontificou~se o Provedor da Fazenda Real em São Paulo, Sebastião Fernandes Rego, a formar à sua custa uma companhia de cavalos. Sobre esta proposta, que foi aprovada, não temos mais notícias; o certo é que, anos depois, o Provedor foi preso por fraudes e espertezas sendo remetido preso para o Rio. Entre 1727 e 1730, terços ou companhias de auxiliares estavam já organizados, pois patentes de oficiais foram dadas neste período para as compa~ nhias das vilas de Jacareí, Mogi, Taubaté, Pindamonhangaba~ Itu, Araritaguava, Sorocaba ·e Guara~ J. 58 WASTH RODRIGUES tinguetá. Em Santos havia companhias de pardos. Entre 1729 e 1733, os corpos de Itu e de Sorocaba são citados como regimentos. Cabe a D. Luís Antônio reorganizar os corpos de auxiliares dando,...lhes forma e existência efetivas. Compunha,...se esta tropa, em 1765, dos seguintes corpos: Companhia de Pardos de Santos, Cavalaria Ligeira de Guaratinguetá, Companhias de Ussares de Curitiba, Corpo de Infantaria de S. Paulo e Vilas do Norte e o Corpo de Infantaria da Marinha e Vila de Paranaguá. Demorando alguns meses em Santos, D . Luís Antônio tomou,...se de entusiasmo pelos seus projetos militares e declarou, em bando de 1 de novembro de 1765, que ia criar um regimento de cavalaria formado da melhor gente: o "Regimento do General" ,_., e diz: "diante do qual montarei a cavalo postando,...me na frente dele nas ocasiões mais públicas que se ofe ~ recerem e outrossim, que todas as pessoas que foram alistadas nessa tropa passam a usar de uniformes, •Cairéis d~ ouro e prata a meu arbítrio, como é permi,... tido às tropas pagas, sem embargo das ordens em contrário" ( 19 ) • Para a instrução da Milícia, prontificou,...se o próprio governador a ensiná,...la aos domingos tanto em Santos como em São Paulo. Data de então o (19) Does. Interess., vols. 20 e 65. TROPA S PAULISTA S DE OUTRORA 2• Corpo d e Cava laria d e Gua ratinguetá e Vilas do Norte 59 1° Corpo de Dragões d e S. Paulo e Vila s do Sul Re.gimento de Dragões da Capitania,. formado " da melhor .g ente e de mais notório luzimento". Em obediência à Carta Régia de 22 de março de 1766, formou o governador 4 regimentos de infantaria e 2 de cavalaria; no Regimento de Infantaria da cidade de S. Paulo mandou organizar no mês de maio uma companhia de granadeiros, a seguir levan- 60 ]. WASTH RODRIGUES tou um regimento na vila de Sorocaba e outro na de Cunha. O Estado Militar da Capitania em 1767 ( 20 ), conforme carta do Governador ao Vice ... Rei, era o seguinte: 19 Corpo de Dragões de S. Paulo e Vilas de Sul de Serra acima, com 384 homens em 6 compa~ nhias, aquarteladas, duas em S. Paulo e as restantes em Conceição, S. Bernardo,_ Santo Amaro, Cotia, Parnaíba, Itu, Sorocaba, Jundiaí, Mogi Guaçu E Mogi Mirim. 29 Corpo de Cavalaria de Guaratinguetá e Vi,. las do Norte de serra acima, com 384 homens em 6 companhias, distribuía,.. se entre Facão (Cunha) , Pin,.. damonhangaba, Taubaté, Jacareí e Mogi das Cruzes, (esta, criada a 28 de junho de 1766). Ambos os corpos estavam às ordens do sargento ...mor Dr. José de Macedo Sotto Maior. 3 9 Corpo de Infantaria de S. Paulo e Vilas de serra acima: 975 homens em 15 companhias. distri,.. buídas entre a Capital, Juqueri, Conceição, S. Ber,.. nardo, Santo Amaro, Cotia, Atibai~, Nazaré, Par,.. naíba, Itu, Sorocaba, Jundiaí, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, e Jaguari, nesta última, os granadeiros. (20) Does. Interess., vol. 20. TROPAS PAULISTAS DE ÓUTRORA 61 4 9 Corpo de Infantaria de Guaratinguetá e Vilas do Norte: 390 homens em 6 companhias, compreendendo Guaratinguetá, Piedade, Pindamonhangaba, Taubaté, Jacareí e Mogi das Cruzes. Os dois corpos sob o comando do Sargento-mor Manuel Caetano Z~niga. 5 9 Corpo de Infantaria da Marinha de Santos e Vilas do Norte,. 520 homens em 8 companhias. 6 9 Corpo de Infantaria da Marinha de Paran aguá e Vilas do Sul, com 715 homens em 10 companhias (lguape, Cananéia, S. Francisco, Laguna, etc. ) . As três companhias de Ussares de Curitiba, de 80 homens cada uma, somando com os oficiais 252 homens, estavam, as l '> e 2<' em Curitiba,. e a 3~ nos Campos Gerais . Comandava-as o mesmo sargento-mor Francisco José Monteiro, nomeado naquele ano para comandante da infantaria de Paranaguá. Formavam todos os corpos, inclusive oficiais, 21 companhias de .cavalaria e_40 de infantaria num total .geral de 4 .004 homens. Quanto aos pardos ou mulatos e pretos, ordenara D . Luís Antônio, a 29 de agosto de 1765, ao capitão Caetano Francisco de São Tiago, que fazia as vezes de capitão da antiga companhia dos Pardos de Santos, que alistasse todos os pardos forros 62 J. WASTH RODRIGUES da vila "para aumentar quanto fosse possível a Mi..lícia" até completar 100 homens. Conforme a carta do Governador, de 5 de janeiro de 1767, as 5 compa..nhias de mulatos estavam distribuídas entre Santos (a desta, "muito boa"), S. Vicente, S. Sebastião, Taubaté e Pindamonhangaba; as do litoral eram armadas de compridos chuços. Os terços e companh1as de pretos tiveram no Recife, Bahia, etc. o nome de terços ou Regimentos de Henriques, em honra ao herói pernambucano da guerra holandesa, Henrique Dias, "Cabo e governador dos Crioulos, Negros e Mulatos do Exército do Brasil, "e que 1° Corpo de Infanta ria da Marinha de Santos e Vilas depois da guerra foi Mestre do Norte de Campo do Terço dos Minas . O Terço de Auxiliares de Pretos do Rio de Janeiro foi transformado, em 1810, no Regi.menta de Caçadores dos Henriques da Cidade do Rio de Janeiro, a fim de "conservar a doce memória da lealdade e fidelidade com que estes corpos sempre serviram nos Estados do Brasil, e que TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 63 são fiadores de que sempre se hão de distinguir por uma i,gual conduta". Tiveram uniforme branco real,... çado de vermelho. Em Minas e São Paulo foram denominados "Libertos" ou "Pretos". Ainda em 1767, D. Luís Antônio promoveu o alistamento · em grande escala, "sem exceção de nobres, plebeus, brancos, mestiços, indígenas e li,... bertos". Passam-se os anos e pouco antes de deixar 1J governo, a 4 de janeiro de 1775, D. Luís Antônio cria ainda uma companhia de mulatos na Capital. Martim Lopes Lobo ao substituir D. Luís Antô,... nio em junho de 1775, encontrou ,. . . ., ao que parece - os corpos de auxiliares na mais completa desorganização e em franca de.cadência. No mesmo ano, determina um recrutamento geral em vista da Carta Régia de 7 de abril de 177 4, pela qual todos os ho,... mens solteiros deviam ser considerados ao serviço. Conforme escreveu a 19 de fevereiro de 1776, as 41 companhias de infantaria e as 22 de cavalaria esta'"' vam dispersas pelas freguesias, vilas e matos, muitas desfalcadas ou formadas de velhos e meninos, sem armas nem patronas nem fardas, sendo que grande parte dos milicianos estavam em Minas negociando ou trabalhando. Teve o novo governo .grandes dificuldad'e s em atrair os paulistas para as armas, pois, como já dis,... semos, tinham então verdadeiro horror em _servir, depois que D. Luís Antônio o:S enganara mandando 61 J. WASTH RODRIGUES as tropas esperar o Bispo a 3 léguas da cidade e, a seguir, .fazendo . . as mar.char diretamente para Santa Catarina . .. isto na primeira invasão dos Castelha . . nos. Assim mesmo, com a população desconfiada, conseguiu Martim Lopes reorganizar esta linha. Em 1777 houve a "Recruta Grande" em razão da invasão da Ilha de Santa Catarina por Ceballos, e o governador mandou levantar tropas em Curitiba e Paranaguá, sendo esta vila transformada em praça de guerra. Marcharam seis companhias, sendo duas de curitibanos, duas de infantaria e duas de cava ... laria. Aprontaram. . se em São Paulo 600 homens de auxiliares que não puderam partir por falta absoluta de armamento e fardamento. Pediu o governador ao Rio com que vesti. . los e armá . . Ios "porque estavam nus" A 5 de abril do mesmo ano, estavam os terços de auxiliares recompostos, tendo cada companhia de infantaria 60 homens e as de cavalaria 50, nas se~ guintes localidades ( 21 ) : I<1 Terço Auxiliar da Cidade de São Paulo; P companhia, na cidade; z~, Juqueri; 3'\ Santo Amaro; 4 ~ , Cotia; 51l-, Parnaíba; 61l-, ltu; 7~, Sorocaba; 8'\ Mogi Guaçu; 9~, Mogi Mirim e uma companhia de granadeiros em Ja guari. Comandante, Alexandre Barreto de Lima e Morais. · (21) Does. Interess., vol. 28. TROPAS PAULISTAS DE OUTRO RA 65 Regimento de D ragões Auxiliares ·da Cidade de São Paulo Figm'ino aiitênti c o de 1788, no Museu Pauli.sta 2<! Terço Auxiliar d.a Capitania de São Paulo: P comp., Conceição dos Guarulhos; 2'-', S. Bernardo; 3'-', Atibaia; 4'-', Nazaré; 5'}, Guaratinguetá; 6'\ Piedade; 7'-', Pinda; 8'-', Taubaté; 9 ~, Jacareí; 10~ . Mogi das Cruzes. Comandante, José de Góes Siqueira. 66 J. WASTH RODRIGUES Terço Auxiliar da Marinha de Santos: P e 2 ~ comps . Santos; 3'-', S. Vicente; 4" e 5'-', S. Sebastião ; 6:;, Ubatuba; ?'!", Itanhaém; 8" e 9'-', Iguape; 10", Xiri..rica. Comandante, o Mestre de Campo Fernando Leite de Guimarães. Terço Auxiliar a pé da Marinha de Paranaguá: 1~. 2ª, Y e 4'' companhias na Vila de Paranaguá; 5ª, Pilar, Cubatão de Paranaguá; 6ª e 7", Paranaguá; 9:). e 1Oª em Curitiba; uma companhia de artilharia em Paranaguá. Comandante o Sargento..-mor Fran..·cisco José Monteiro. Regimento de Dragões Auxiliares da Cidade de São Paulo: P comp., do Coronel, capital ; 2:). comp ., do tenente..-coronel, Parnaíba; 3'', Sorocaba; 4'-', Santo Amaro; 5", Cotia; 6'-', Itu; 7ª, Jundiaí; 8ª, Jaraguá. Comandante, o coronel Bonifácio José de Andrade (pai dos três Andradas.) . Regimento de Cavalaria Ligeira de Auxiliares da Capitania de São Paulo: 1" comp., Guarulhos; 2", São Bernardo; 3", Mogi das Cruzes; 4ª, Jacareí; 5ª, Taubaté; 6'', Pinda; 7", Guaratinguetá; 8'-', Facão Cunha . Comandante, o Coronel Joaquim Manoel de Souza e Castro. Cavalaria de Curitiba: 1ª e 2" companhias na dita cidade; 3" em Campos Gerais; 4", em Santo Antônio da Lapa. Estas companhias (de Ussares) estiveram constantemente adjtíptas ao Regto. de In..fantaria de Milícias de Parariaguá. Por volta de TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 67 1788 havia uma companhia com o nome de Cavalaria Franca da Vila de Lage. Foi neste ano que o Governador de Minas Gerais mandou 4.000 homens brancos, pretos e ·m ulatos para São Paulo a fim de seguirem para o Sul. Não tinham, porém, fard.a mento e nem instrução, sendo armados apenas de chuços. Poucos foram aproveitados. A correspondência entre Martim Lopes, D. Antônio de Noronha, José Marcelino de Figueiredo, o general Bohm e o Marquês do Lavradio revela fatos incríveis sobre esta expedição. "Aquela Capitania nunca foi militar, ignora-se nela tudo o que é serviço regular", diz o Marquês em carta. Esta gente bisonha foi devolvida depois de serem escolhidos cerca de mil homens dos quais se aproveitaram 140 de .c açadores, 200 de cavaleiros e 100 para o cultivo da terra. A impressão Companhia de Auxiliares da Cavalaria de Curitiba causada ao .general Bohm por esta paisanada está estampada na carta de 2 de junho de 1777: "semelhante socorro seria capaz de fazer desesperar o homem mais fleumático" ( 22 ) • (22) 7 Does. Interess., vols. 17 (ps. 247, 308, 322, etc. ). e 42. 68 J. WASTH RODRIGUES Em 1788, os 'corpos de auxiliares de São Paulo continuavam mais ou menos na mesma disposição já conhecida. Na capital eram três as companhias de mulatos, as quais, onze anos depois, a 1 de agosto de 1796, foram aumentadas de mais sete, formando-se o Regimento dos úteis. No governo de D. Antônio Manoel de Melo e Castro e Mendonça, procedeu--se, a 19 de agosto de 1797, à reorganização geral das tropas de 2i:c linha, em vista das determinações dos Decretos de 1 e 7 de agosto do ano anterior, passando a Capitania a ter 3 regimentos de cavalaria e 8 de infantaria. O antigo Regimento de Dragões tornou--se o 19 Regto. de Cavalaria de Milícias, 29 Regto. con-tinuou o mesmo; ambos em S. Paulo. As compa-nhias de Ussares e a de Lage foram desanexadas do Regto. de Infantaria de Parana_guá passando a ser o 3 9 ·Regto. de Cavalaria de Milícias do Distrito de Curitiba. Um novo corpo surge em 1798: o Regimento de Sertanejos de Itu. Em carta de 26 de abril da-quele ano ao Vice--Rei, diz D. Antônio de Melo e Castro que criou "por respeito aos sertões daquela vizinhança onde vem desembarcar a estrada do Sul ou Curitiba, como para domesticar e fazer sociáveis estes homens, sujeitando... os à disciplina dos seus respectivos Cabos, com o que serão de grande importância na ocasião de algum rompimento de guerra". TROP AS .PAULISTAS DE OUTRORA Com relação ao recrutamento para as Milícias, uma representação foi feita em 1808 pela câmara de Paranaguá ao governador da Capitania, na qual expôs o grande ffagelo que era para a comarca o aprontamento de milicianos em turnos mensais para dfügências e guarnição da fortaleza. Os contingentes eram formados de homens retirados dos trabalhos da lavoura, que assim era abandonada, do que resultavam a escassez dos produtos e o seu encarecimento incessante. Por ato de 29 de agosto de 1808, resolveu o Príncipe Regente dar nova organização às milícias da Capitania,. não só para atender às novas lutas contra os castelhanos no Sul como para ocupação dos Campos de Guarapuava. Estes Campos, no atual Estado do Paraná, que tinham sido atravessados pelos bandeirantes em épocas remotas, foram explorados em 1770 pelo tenente Cândido Xavier de Oliveira e Sousa e, no ano seguinte, por outra expedição chefiada por Afonso Botelho de Sampaio . . Para a expedição aos ditos Campos, deu-se início à criação de um corpo de voluntários de milídas a cavalo, com 502 homens, que deveria ser formada com elementos dos três regimentos existentes na Capitania e um esquadrão de curitibanos, devendo se.r designado seu Comandante, o Sar g_ento-mor do Re_gto. de Cavalaria de Curitiba, Diogo Pinto de Azevedo Portugal. 70 J. WAST.H RODRIGUES Na realidade, o Corpo veio a ser formado diferentemente, pois o conde de Linhares determinou "que se formasse do maior número de curitibanos que fosse possível". Entraram também na sua composição outros milicianos da Capitania assim como soldados de linha e ordenanças, ao todo 200, e mais o pessoal civil, todos de Santos, Curitiba, Lapa e Castro. Os civis e os soldados do Regto. de Caça.dores de Santos foram requisitados pelo próprio Diogo Pinto. Depois de terminada a expedição, os militares dever iam voltar aos seus antigos corpos. A expedição partiu em agosto de 1809 e voltou em 1820, tendo Diogo Pinto deixado seu comando em 1816. Para a sua manutenção, foi criado um tributo por 1O anos, de 200 r éis, sobre toda a cabeça de gado que passasse pelo registro de Sorocaba. Facilitou-se também com isenção de pagamento de dívidas à Fazenda Real e dízimos aos que quisessem ir povoar os campos de Guarapuava. Os índios que fossem aprisionados seriam cativos por 15 anos ( 23 ) • Por outro lado, a reorganização para atender às lutas no Sul ainda não tinha sido feita em 1"814 (segundo o conde de Palma) . Cada um dos 3 Regi(23) Vieir a dos Sa ntos (Antônio) - M emórias H istóricas, etc., da Cidade de Paranagitá e seib Muni cíp i o. Curitiba, 1950. Sobre Auxilia r es e Milícias de Sã o P a ulo vide a inda Documentos Interessantes , vols. 15, 18, 19, 24, 26, 27, 28, 29, 32, 41, 46, 50, 51, 54, 56, 58, 60 e 64. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 71 mentes da Capitania formava então 604 homens, dos quais cerca de 276 tinham se passado para a Legião Paulista. Conforme diz Pizarro, somente em 181 7, dois corpos de voluntários Milicianos foram formados para irem ao Rio Grande. Na arma de artilharia, os Regtos. de Santos e de Paranaguá, antigos da Marinha e que guarneciam as fortalezas com companhias de artilharia, foram declarados, pela Carta Régia de 1 de setembro de 1808 e A viso de 22 de março de 181 O. respectivamente', 1 e 2 9 Regtos. de Artilharia da Capi,... tania de São Paulo. Em 1819, o Regto. de Cavalaria de Milícias de Curitiba recebeu ordem para marchar em defesa da Ilha de Santa Catarina; porém, sua marcha foi sustada quando já se achava em Paranaguá. Atendendo ao pedido do príncipe regente d. Pedro, o Governo Provisório de São Paulo organizou, em janeiro de 1822, um corpo de 1.000 homens, formado de soldados de 1'-" linha, milícias e voluntários, sob o título de Leais Paulistanos, o qual seguiu para o Rio. Entre seus elementos figuravam um Batalhão da Infantaria de Milícias, um Esquadrão e soldados de outros corpos também de Milícias. Em maio de 1822, o Regto. dos úteis passou a ser o 3Q Regto. de Infantaria de Milícias da cidade de S. Paulo. Por ocasião da chegada do príncipe D. Pedro a São Paulo, a 25 de agosto daquele ano, os regimentos de infantaria de milícia formaram, em Q 7-E 72 J. WASTH RODRIGUES grande gala, sob o comando do ceL José Joaquim César d'e Cerqueira Leme, comandante do 3 9 , desde a ponte do Carmo até a igreja da Sé e pela rua da Fundição até o Palácio do Governo. Pelos De.eretos de 13 de outubro e 1 de dezembro de 1824, são os seguintes os corpos existentes de infantaria e artilharia e que entram para a numeração geral como batalhões de caçadores de 2"' linha: 10 R egto. da Cidade de S. Paulo . . . . . . . . . . . . . 2 9 Regto. da Cidade cTe S. Paulo ... . .... . .. . . 39 Regto. da Cidade de S. Paulo (úteis) .. . . Sertanejos de Itu ..... . Regto. de Sorocaba .. . . Regto. G.e Cunha .. . .•. Artilharia da Praça de Santos . . . . . . . ... . . .. . Artilharia da Praça de Paranaguá . .... .. ...• Regto. de S. Francisco . . 1• Regto. de Cavalaria de S·. Piau!lo . .. . . . . .... . 2• Regto. de Cavalaria de S. Pau lo . . . . .. .. . .. . . Regimento de Curitiba 329 B. C. de 2• L. do Ex. São Paulo 339 B. C . de 2• L. do Ex. São Paulo 34" B. C. de 35• B. C. d e 36° B . C. d e 379 B. C. de 2• 2• 2° 2• L. L. L. L. C.o Ex. do E x . do E x . cTo Ex. S ã o Paulo Vila de Itu V. de Sorocaba Vila de Cunha 38° B. C. d e 2• L. do Ex. Santos 39• B. C. de 2• L. do Ex. 40° B. C. de 2• L. do Ex. Paranaguá Vila de São Francisco Regto. de Cav. de 2• L . do Ex . . . . . ..... . 17• Regto. de Cav. d e Cidade de 16• São Paulo 2• L . do Ex.... . ... . . . Taubaté 18• Regto. de Cav. de 2• L. do Ex . ... .... . . . Curitiba Em 1829, o Regto. de Artilharia de Milícias de Paranaguá contava 10 companhias, sendo as l", 2", 3", 4", T1' e a de bombeiros, em Paranaguá; a 611 e a TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 73 de mineiros, em Antonina; a 5" em Morretes e a · 8" em Cananéia. Cada uma com 64 sóldàdos. ,......, Uniformes. Em 1765, d . Luís Antônio submeteu ao conde de Oeiras os figurinos para os corpos de Auxiliares de São Paulo. Tais Hgurinos se encontram · no Arquivo dó ltamarati e no Arquivo Público de São Paulo. Um bando de 1 de outubro de 1766 fez saber ao povo que os novos corpos levantados, na capitania podiam usar divisas e cairéis no chapéu, os oficiais, de ouro ou prata, e os soldados, de lã ou seda, devendo ter à sua custa espadas e armas; os de cavalária, cavalo e um escravo para cuidar dele, não podendo haver penhora nem dos cavalos nem dos escravos. Malgrado os belos figurinos, as ordens e bandos, a verdade era bem outra. Lutavam os governadores com a falta quase completa de panos para far-das, ;c ouro para calçado, equipamento e armas em condições. Em 1776, Martim Lopes Lobo pede insis~ tentemente ao vice-rei e ao .governo da metrópole, utensílios, armas e tecidos. Reorganizando as tropas para socorrer o 'R io Grande, ordena que os soldados que tivessem meios comprassem "cavalo e meio de baeta azul ou algodão tinto da mesma cor", para fazer farda com as divisas respectivas , e armas; e os 0utros que "se aprontassem com os facões que usam pelos matos". Suplica a Lisboa para que mandem "400 patronas e armas já sem uso das que estão nos 74 ] WASTH RODRIGUES Armazéns do Além Tejo". Em 1777, .consegue, com muito custo, fardar a tropa de baeta azul com suas divisas ( droganas) e a infantaria com calção branco sobressalente e botinas pretas (polainas). A cavalaria tem botas, espada, chairel, bolsas (coldres) , bandoleira e cartucheira; a infantaria,. patrona. Mas as espingardas não prestavam, pois eram "umas pequenas e outras grandes e todas tão estreitas que não cabem nenhuma bala das dos adarmes dos armazéns". Somente nos governos de Gama Lobo e de Bernardo José de Lorena cordge-se a situação de pobreza nos .corpos de auxiliares, com a vinda dos fornecimentos necessários. Com a data de 1788, possui o Museu Paulista magníficos figurinos dos Dragões Auxiliares da Cidade de S. Paulo, oferecidos pelo sr. Alberto Lamego. Em completa série de figurinos das milícias paulistas de 1806, existente no Museu Histórico Nacional, vê-se, através da ingênua execução, toda a originalidade dos uniformes de então. Debret apresenta na estampa 43 de sua obra ,. . _., "Caça ao tigre" --- diversos soldados de cavalaria de Milícias --- provavelmente do Regto. de Curitiba ,. . _., e alguns de infantaria, dando caça a uma onça por meio do laço. Os ,cavaleiros têm capacete guarnecido de crina, e penacho à esquerda, no modelo adotado pelo plano de 1806. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 75 Possui o Departamento Histórico da Prefeitura de S . Paulo um manuscrito do bri.gadeiro Machado de Oliveira, completado com desenhos, que dá ótimos esclareciment0s sobre os uniformes da 2~ Jinha em 1825. COMPANHIAS. E TERÇOS DE ORDENANÇAS OU TERCEIRA LINHA RESUMO HISTÓRICO As bases dos exércitos permanentes tiveram inído na França, com a criação das companhias de ordenanças por Carlos VII, em 1445. Em Portugal, as ordenanças foram estabelecidas como tropa de reserva por d. João Ili, com o regimento baixado a 7 de agosto de 1549, que procurou definir as obrigações da gente de guerra. No governo de d. Sebastião, foram publicadas a Lei ~as Armas, a 9 de dezembro de 1569, que melhorou a legislação vigente, o Regimento das Ordenanças, a 1O de dezembro de 1570, e a Provisão dos Capitães-mores, a 15 de maio de 1574, regulamentos já citados. O diploma de 1570 deu forma estável e definitiva às Ordenanças Sebásticas com suas companhias de 250 homens a pé ou a cavalo, em todas as comarcas do Reino, 7'6 J .. W ASTH RODRIGUES sob o comando dos capitães-mores, cujos deveres foram melhor definidos pela Provisão de 1574. Os capitães-mores comandavam as ordenanças nas cidades, vilas e conselhos, recebendo este posto os donatários, os senhores dos mesmos lugares ou os alcaides-mores e,. onde não os houvessem, eram os capitães-mores eleitos pelas câmaras. Os demais oficiais, com o sargento-mor, o ajudante, eram também eleitos e prestavam juramento. Cada companhia ou bandeira se compunha de 250 homens divididos em fO esquadras, com um capitão, um alferes, um sargentb, um meirinho, um escrivão, dez cabos, um tambor (este, um familiar ou criado -do capitão) e 234 soldados. O meirinho e o escrivão foram depois suprimidos. Em 1574, o Reino foi dividido em Capitanias governadas pelos mesmos capitães-mores auxiliados pelos sargentos-mores que procediam ao alistamento de todos os homens válidos de 20 aos 60 anos de idâde, que não fossem fidalgos , eclesiásticos, oficiais de justiça ou de fazenda, assim como os que não tivessem cavalos. Os ofidais eram propostos à aprovação do rei e gozavam do privilégio de cavaleiro ..--- fidalgo, posto que o não fossem . Formavam as Ordenanças uma reserva para preencher os claros nas tropas de linha, com homens que pela idade ou condição, como os casados, não podiam pertencer a 1'l- ou 2" linhas. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 77 Deviam exercitar~se em dias determinados, com suas armas, arcabuzeiros, besteiros e piqueiros; os de cavalo com suas lanças e espadas. Prêmios de. um tostão e meio tostão foram estabelecidos para os me~ lhores atiradores e para, os que apresentassem as armas mais limpas. Seus oficiais só tinham este título a bem do serviço. Exerciam vigilância diurna e no~ turna nos portos de mar, "calhetas, praias e pedras". As disposições destes regulamentos que isenta~ vam os capitães e oficiais de obediência aos grandes donatários de terras, de quem eram vassalos, pro~ vocaram protestos destes,. escreve o .general Ferreira Martins, "e das rivalidades assim criadas entre estes e os oficiais nasceu a desordem de que enfermaram as Ordenanças do reino". Outra causa foi a desmo~ ralização no recrutamento por causa das expedições em Marrocos. A dominação filipina revo_g,ou praticamente com a organização das Ordenanças, "não convindo aos mesmos reis de Castela que no reino de Po'rtugal houvesse gente armada. Por tal motivo nenhum di~ ploma importante de caráter militar fora promulgado nos sessenta anos de dominação castelhana além do Regimento dos Sar,gentos-mores das Comarcas em novembro de 1598 ", diz o autor citado. Com a Restauração, as forças militares passa~ ram a ser divididas em três linhas, .como já foi dito. Conforme o alvará de 13 de março de 164:6, as Ordenanças "não deviam ir às fronteiras por serem 78 ] . WASTH ROE>RIGUES lavradores e isto prejudicar ao País, e não teriam cabedal para pagar as contribuições para o sustento da guerra; salvo em caso de notório perigo, invasão e acometimento grande do inimi.go, que conhecidamente se não pudesse rebater, com os soldados pagos e Auxiliares". Os artilheiros de Ordenanças que guarneciam as praças e presídios tinham o nome de pés de castelo, e cessaram pelo Alv . de 9 de abril de 1762. No Brasil, as Ordenanças foram estabelecidas nas provações já no séiculo XVI , logo após o Regimento de 1570. Nos começos do século XVIII , já estavam organizadas em todo o território,. em maior ou menor quantidade, conforme a densidade da população e as distâncias entre as sedes das comarcas e os povoados e vilas, formando terços ou compa·nhias. A Provisão de 21 de abril de 1739 confirma os regulamentos anteriores e esclarece serem os capitães-mores, os sargentos mores e os simples capitães eleitos pelas câmaras, prestando juramento nas mãos dos governadores. Os ajudantes eram nomeados pelos capitães-mores; os alferes , sargentos e cabos, pelos capitães das companhias. A 12 de dezembro de 1749 resolveu-se que os capitães-mores fossem vitalícios e não mais trienais. O preito de homenagem prestado pelos capitãesmores nas mãos do Capitão General era feito " de joelhos com as mãos juntas uma com a outra e entre TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 79 as do ,governador e sobre o missal dos Santos Evangelhos". conforme se lê em .correspondência de S. Paulo de 1766. Por ordem de 23 de março do mesmo ano, declarou-se que os oficiais das ordenanças tinham as mesmas honras q:ue os da tropa paga e dos auxiliares. Para se ter uma idéia da extensão a que atingiram as ordenanças, além das outras linhas, basta lembrar que na Bahia, conforme o Livro que da Rezon do Estado do Brasil, de 1612, havia na cidade, "2 companhias de ordenanças; 300 homens arcabuzeiros no alardo, sem contar estudantes nobres e familiados que o alardo não podia obrigar". No Recôncavo, 8 companhias ''que acudindo à cidade metem no alardo oitocentos homens com suas armas , oficiais e bandeiras ficando nas fazendas e mais par.tes a respeito dos escravos e índios da terra" ( 24 )' . Por ordem expedida ao Conde de Óbidos, em 1665, foram organizados 8 regimentos , mais tarde transformados em terços. Em 1791. guarneciam o território baiano 21 terços. Segundo Pizarro, por volta de 1818, havia em Minas Gerais 210 companhias de brancos, pardos e pretos,. e discrimina-as todas; e em Goiás, 23. É verdade que muitas delfis (24) Manuscrito acompanhado de mapas de autor desconhecido. Inst.- Hist. e Geogr. Bras. Rio. - Sobre Orc!enanças vide Documentos Interessantes, vols. 15, 19 e · 22. 80 J. WASTH RODRIGUES viviam desfalcadas e, algumas, só existiam no papel. Em cidades onde abundavam as tropas de linha e de auxiliares, as de ordenanças eram reduzidas e bas,.., tava o descaso de alguns anos para desaparecerem. CAPITANIA E PROVíNCIA DE SÃO PAULO Numerosas são as alusões às ordenanças em documentos e vereanças das câmaras de São Paulo e de outras vilas no correr do século XVII; mais tarde, na correspondência dos governadores. Em 1660, Gabriel de Lara foi feito Capitão.-mor de Ordenança·s, Ouvidor e Alcaide-mor de P aranaguá. Em Iguapé, já havia, em 1699, a "companhia dos homens casados e a dos reformados" , denominações que indicam tratar,..,se de ordenanças. A partir de 1700, intensifica,..,se a criação de companhias em todas as vilas e povoados, sendo constante, desde então, a distribuição de patentes de coronéis, capitães,..,mores e capitães de ordenanças tanto em São Paulo como, depois de 1707, nos distritos de Minas. Em 1721, havia,. em Paranaguá, du_a s Companhias de Ordenanças que foram então desdobradas em quatro para guarnecerem os povoados e ilhas TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 81 próximas, compondo um regimento em conjunto com as companhias de Cavalaria de Ordenanças de Curitiba. Por Decreto de 1725 foi determinado que formasse 1O companhias de 60 homens cada uma. A 5 de ·fevereiro de 1722, o Governador D. Ro..drigo César de Menezes baixou um Regimento dando nova organização às Ordenanças da Capitania de São Paulo e esclarecendo seus deveres. Em 1765, somavam já 76 companhias , sendo que na cidade de São Paulo e nas freguesias do seu termo: Santo Amaro, Cotia, Guarulhos, Nazaré, Atibaia, Juqueri e Ja guari, formavam 11 companhias Pela Ordem Régia de 22 de março de 1766, foi determinado que as Ordenanças se reorganizassem no casco das antigas, sem distinção de cor, apenas separando..-se os nobres nos exercícios; que fossem nomeados cabos para cada 15 a 25 homens vizinhos e sar.gentos para cada 3 ou 4 esquadras. No ano seguinte as ordenanças da capital formavam -duas companhias a cavalo e uma a pé. Ao inidar-se o século XIX, entre 1802 e 1810, as ordenanças estavam organizadas com seus capitães-mores nas seguintes cidade e vilas da Capitania: São Paulo, Parnaíba, São Sebastião, Ubatuba, São Luís do Paraitinga, Jundiaí, Freguesia do Ó, São Carlos, Piracicaba, Santos, Jacareí, Mogi. . Mirim, Atibaia, Mogi das Cruzes, São José de Sales, Itanhaém, lguape, Porto Feliz, Apiaí, Cananéia, Soro- 82 J . WASTH RODRIGUES caba , Guaratinguetá, Vila Bela, Nova Bragança, P indamonhangaba, Lorena, Cotia, Itapeva, Areas. No atual Estado do Paraná: Curitiba, Antonina, P aranaguá, Guaratuba, Castro, Lage. Em muitos destes lugares existiam diversas companhias. Quanto aos uniformes dava-se com as ordenanças a mesma dificuldade que com as outras linhas, •Como já vimos, devido à constante falta de panos, aviamentos e couro. Em Goiás, determinou--se, em 1739, que os sold ados das ordenanças se fardassem somente de linhagem sem guarnição de ouro ou de p ra ta, devido aos negociantes levantarem os preços dos tecidos , e que os negociantes não vendessem panos escarlates e bernes por mais de duas oitavas e meia o côvado, holandas .cruas a 12 vinténs e linhagens a 2 tostões. Quanto ao armamento, foi sempre deficiente, vl'lho ou estragado, armando-se as ordenanças com armas de fogo de calibre e tamanho diversos e esp:idas reformadas ou fabricadas pelos ferreiros locais. Pelo Decreto de 24 de agosto de 1762, tiveram as Ordenanças uniformes semelhantes aos da 1 linha, segundo os princípios do Decreto de 21 de abril de 1761. Anteriormente, por av. de Julho de 1754, fora concedido "aos oficiais de ordenanças que rondavam com os dos regimentos" o uso de galão de ouro ou de .p rata no chapéu. Seu uniforme compunha-se de chapéu, farda, véstia, camisa, gravata, calção, meias Q. TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA 83 e sapatos. Quanto às dragonas e metais, eram, no geral, amarelos; até certa época não usaram banda. Conforme figurinos dos arquivos de Lisboa e do Museu . Histórico Nacional, este uniforme variava de corpo para corpo, ou de uma comarca, vila ou cidade para outra, uso, aliás, existente também na tropa µaga nas milícias. A 5 de janeiro de 1775, permitiu-se às orde~· nanças e aos negros cativos de São Paulo armarem~se de chuços paus ferrados de 14 palmos de com~ primento . . e A lei de 9 de maio de 1806, que estabeleceu novo padrão de uniforme para todas as forças arma .. das , determinou para o s oficiais de Ordenanças uniforme verde, chapéu armado, banda encarnada, botifarras , dragonas, botôes e espada de metal dourado. Este plano não foi obedecido a dgor, mesmo -porque, a partir desta época, houve constante mudança de . uniforme . Entram as ordenanças em declínio depois da Independência e são finalmente extintas em todo o lmpério pela R eg ência, em 1831. íNDICE INTRODUÇÃO VII TROPAS PAULISTAS DE OUTRORA . . . . . . . . 3 TROPAS PAGAS OU DE PRIMEIRA LINHA 7 Aventureiros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Legião Paulista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Regimento Mexia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Outros corpos da 1.ª Linha de Infantaria, de Cavalaria, de Artilharia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Corpos de Auxiliares, de Milícias ou de Segunda Linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Auxiliares e Milícias na Capitania e Província de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Companhias e Terços de ordenanças ou Terceira Linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ti Capitania e Província de São. Paulo . . . . . . . . . 80 ANTIGOS SOLDADOS DE SÃO PAULO 89 ANTIGOS SOLDADOS DE SAO PAULO Reprodução da série original de Wladimir Douchkine (Coleção José de Barros Martins) 3.3.T.A. ;D11.li1a'm1lw1?- ~lrr,lJlJ ne ~an.tma)e ~lllltatill!111ttir ~tlla~ lin ~llrlt T?.õ~ ~»l~M~ )~ ~llm,panhtr tr~ ~auailarta &uxiliat b.t ~:urit~a 17,5,5 .5'»00» lru1q ~B Dt ~ Dt ,S®laul» elhua:o M,s'td 17»,5' %irlllabl1 b1r :ie~imfltt.tr n-.e ~mantarta: 17E5 ~.e jantlf~ j5JJih'~J1 ~~~ QfD!;p,O' ~e 3flf(arirt~a ,b'.e ja:ntu55 ,e ~tUa$ lJ,tJjfute 17õ~ Compost o e impr esso em 1978, n a oficina da EMPRESA GRAFICA DA REVI STA DOS TRIBUNAIS S/A Rua Co nde de Sarzedas, 38 T el. 36-6958 (PBX) 01512 São Paulo, SP, Brasil. , JOSE WASTH RODRIGUES Breve escorço histórico ~·· , ' ;it r; · ·-~ ' t~-~ -.' Manuel Soriano Neto* ~ l . \ \. " r . 1 1.[. .. ~I dicou -se, entre outros misteres, ao longo de sua vida, à pintura, à heráldica, à escultura, à medalhística e à história militar. Consagradós pintores como Victor Meirellcs, Oscar Pereira da Si lva e José Maria Medeiros foram seus mestres e, por sua aplicação à pintura, ele conseguiu uma bolsa de estudos na França, tendo freqüentado, com raro brilhantismo , a Escola 50-REB tura de ·ó leos e aquarelas com motivos tão-somente brasileiros. À época, juntamente com o historiador Gustavo Barroso, iniciou um projeto tendo como tema os uniformes do Exército. Seus trabalhos redundaram em uma primorosa obra histórico-militar publicada em Paris, sob o título Uniformes rio l•_,'xérrito limsi!eil'O, 1730-19:?2, com texto cJo parceiro historiador. Contendo mais de 200 aquarelas, essa obra é, ainda hoje, única referencial para pesquisadores que se dedicam ao estudo da indumentária militar brasileira. " _,,&• t' ,"': / "'· ·:'A crescente-se, que o então Coronel José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, o ideali za dor da Aca demia .M i 1i tardas Ag ulhas Negras, quando comandante da Escola Militar do Real e ngo , no início da década ele 30, ins pirou -se nesse belo trabalho histórico e iconográfico, para a criação de novos uniformes destina dos aos, então, a lunos dessa Escola. Os uniformes , até hoje envergados pelos cadete~ da Al\ IAN, foi«l rn pois desenha dos por José Wasth Rodrigues, de quem José Pessoa era gran de admirador, sendo idênticos aos cios batalhões de 185 1/52 , qu a ndo das Campanhas no U ruguai e Arge nt111a. Além do mencionado livro U11{/on11es rio Exénilo Bl(1sileiro , l 73O-192 2, Jos é W as r h Rodrigu es foi au ror de dois ourros alentados trabalhos, l 11ifon11es e Armas e Dicio7!rírio Histórico-Militar, suas duas obras-primas. O primeiro deles, e m 90 volumes, contém 1.600 páginas e cerca de 500 ilusuações de aquarelas, desenhadas e pintadas à mão, com o auxílio de sua filha Rachel. O segundo registra inúmeros termos militares, utilizados pelas nossas Forças Armadas, desde prísçinos tempos, distribuídos em 26 volumes. Tal a importância dessa produção literária e históricomilirar, que o Exército houve por bem escolhê-la para publicação, de forrna a mpliada .e atualizada, no presente a no, como um dos projeros da Força 'Ierresrre pa ra as comemorações do 5º cenrenário do descobrimento do Brasil. A tarefa e ncon rra-se em fase adiantada de exec ução na Biblioteca do E xé rciro. Esse fabuloso acervo docurnenral foi doado, ao Ccn rro d e Documenra çã o do Exército (C Doe E x), pela filha de \Vasrh Rodri g ues, a Sra. Rach e l Orávia Wasrh Rodr igues Berrini, rece nremente falecida, não h aven do, e m nenhum ourro lo ca l, ex em pi a res dessas prec iosidades. Alé m dessas verdadeiras ohms de San/a F11grríria, que lhe consumiram anos seguidos de incansável labor, José \ Vasth Rodrigu es dei xou, para a post e rid a d e, muitas ourras, rarnbérn de grande ff>lcgo, como inum eráveis ex-li/Jris para bibliófilos e colecion ·1 dores. Publicou ainda, em jornais, revistas especializadas, folhetos, etc , excepcionais rra balhos, sobretudo os refere n res à heráldic a, tendo sido considerado, pelo poe ta Ca rlos Dru mond de Andrade , como 111aior hemlrlis- !a brasileiro . Hoj e , museus , centros de documentação, arqui vos, bibliotecas, entidades culturais oficiais e particulares, colecionadores etc. detêm parte do in vejcí ve l acervo legado por aq u e le invulgar artista, de vas ta e poliédrica cultura. Desrnque-se o J'vJ useu do 1piranga, São Paulo-SP, onde se enconrrn a maior part e das coleções h isrórico-picrcíricas de José Wasrh Rodrigues, cm especia l o belo brasão do es tado de São Paulo , no qual, cm listei , csrCl inscrito o lema Pro /Jmsi/i({ /ia111 cxi111ir1. O Cenrro de Docurncnração do E xérc iro, dcposir:irio de parecia s ubstancial da mcmcí ria da Força' 1l:rrcsrrc, propôs dar se u nome, cm no vem bro de 1994, parn a S U<l biblioteca, a qu a l, hoj e, ostenta a denominação hi srcí rica de !1i- /Jliotem .José \Vaslh Ror!Fig11t's. 'n11 faro é motivo de g rande ufania para os inregranres do Centro, loca l onde se custo- dia porção muito significa tiv a da herança cultura l do grande patriota que foi José \ Vas th Rodrigues. T ão patriota, que niio admitia, corno nos declarou a sua filha Rachel, a pronúncia, à in g lesa, do sobrencm\e Wasth, o qual deveria ser pronunciado corno a palavra portuguesa , ou seja, VOS!... Com a d e nominação con cedic..la à biblioteca do C Doe Ex, cremos que a nossa lnsti tuição resgatou, de for ~11<1 superlativa, de um injusrn semi-anonimato, não condizente com os tantos e tamanhos serviços por ele prestados ao Exército e ao Brasil , à memóri a d e Jos é Wasth Rodrig ues , esre pró-homem das . . . artes nacwna 1s, que veio a falecer, no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1959. Na a w al fase por que passamos, de d es nac ionalizante colonia lismo (ou sa1eli1is1110) culrural, que o edificante exemplo a ncís legado , por .José \\ asth Rodrigues, sirva de lu1.eiro a rocfos que busc1m cu ltuar o passado, na glorific1 ção de seus fotos históricos , so b a inspiração dos ve rsos de J ,uiz de Camõcs: /\r7o 111t 111r111r/({s m111r1r J•:.11rr111hr1 histâria, ,)/as mr!llr!r1s-me lolfvar /)os 111ms r1 glô1ir1 C!2ill * Coronel de Infantaria e Estado -Maior. Chefe do Centro de Documentação do Exército .