II Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica, Lisboa, 25 e 26 de Outubro 2007
JOSÉ JÚLIO RODRIGUES E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA
CARTOGRAFIA PORTUGUESA E DOS PROCESSOS FOTOMECÂNICOS DO SÉCULO XIX
JARDIM, Maria Estela1, COSTA, Fernanda Madalena2 e PERES, Isabel Marília3
3
1.
A Fotografia e as Inovações da Cartografia no século XIX
As inovações científicas e tecnológicas do século XIX provocaram grandes alterações em muitos
ramos do conhecimento. A fotografia, bem como o desenvolvimento dos métodos gráficos de
reprodução de cartas, tornaram a cartografia mais acessível.
Antes de 1850 o desenho manual do mapa era transferido para uma imagem impressa numa placa de
cobre, bloco de madeira ou pedra litográfica. Na década de 1850-1860 a fotografia começou a ser
utilizada na produção e reprodução de cartas e nas reduções e ampliações de escala. Deste modo, a
produção de uma carta, utilizando, por exemplo a heliogravura, tornou-se um processo
extremamente rápido, pouco dispendioso e mais perfeito4.
Se anteriormente os cartógrafos quando necessitavam de reduzir ou ampliar cartas utilizavam
métodos demorados e trabalhosos, como era a utilização do pantógrafo, com a utilização do
caoutchouc e graças à sua elasticidade passou a ser possível executar reduções ou ampliações,
alterando a assim a escala para o valor pretendido.
Também, a introdução da cor por meios fotográficos e fotomecânicos veio substituir a coloração
manual das cartas, tornando o processo mais económico. A coloração deixou de ter uma função
apenas decorativa para se tornar num elemento chave para a cartografia5. Os métodos de impressão
passaram a empregar cores variadas para tornar distintos aspectos diferentes da natureza o que
facilitava a leitura das cartas a uma menor escala.
Durante cerca de um século (de 1870 a 1970) os processos fotomecânicos ocuparam um lugar
primordial na produção de mapas. Estes métodos combinam a criação automática da imagem por
1
Dep. de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, [email protected].
2
Centro de Ciências Moleculares e Materiais da Universidade de Lisboa, [email protected].
3
Centro de Ciências Moleculares e Materiais da Universidade de Lisboa, [email protected]
4
Segundo Grandidier a heliogravura permite fazer em seis semanas o que um desenhador levaria cerca de um ano e meio a fazer e um artista cerca de
quatro a cinco a gravar. In GRANDIDIER, Alfred (1882), Exposition Universelle Internationale de 1878 à Paris. Rapports du Jury, Paris, Ministère de l'
Agriculture et du Commerce, p. 359.
5
PEARSON, Karen (1980), The Nineteenth-Century Colour Revolution: Maps in Geographical Jour-nals, Imago Mundi, 32, pp. 9-20.
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métodos fotográficos com a possibilidade do processo de impressão através de relevo, entalhe ou
litografia, permitindo reproduzir cópias múltiplas6.
Na produção de mapas o conjunto das técnicas fotomecânicas consiste essencialmente em copiar
uma imagem de uma superfície para outra, modificando-a no que diz respeito à escala ou à
introdução de meios-tons ou mesmo da cor.
Estes métodos apresentam diversas vantagens como a facilidade e rapidez de execução, a economia
de meios, a impressão a cores, a obtenção dos meios-tons bem como a possibilidade de alterar a
escala. A utilização destes processos teve como consequência o aumento do uso e a difusão dos
mapas no ensino e em publicações de uso corrente.
A partir de 1860 as soluções encontradas para a impressão de mapas de elevada qualidade com os
processos fotomecânicos, utilizando a gravação em superfícies leves em vez de pedras e a execução
de impressão a cores foram desenvolvidas pelos Institutos Cartográficos e Geodésicos Militares de
países como a França, Inglaterra e de pequenos países como Portugal, Holanda e Áustria.
Na Holanda, no Departamento Topográfico do Ministério da Defesa foi inventado o primeiro método
sistemático de fotocromolitografia com tricromia desenvolvido por Charles Eckstein. Foram aí
realizadas cartas topográficas e militares da Holanda e suas colónias7.
Em Viena de Áustria, entre 1872 e 1885, o Instituto Geográfico Militar executou diversos mapas
topográficos de excelente qualidade por heliogravura sobre cobre8.
2.
A Secção Photographica e a acção de José Júlio Rodrigues
O desenvolvimento da cartografia científica em Portugal deve-se a Filipe Folque (1800 – 1874, figura
1), enquanto Director-Geral do organismo que deu origem ao actual Instituto Geográfico Português.
Foi sob a sua direcção que se elaborou a Carta Geral do Reino à escala 1:100 000. Esta carta
desenhada com grande detalhe e informação obteve vários prémios internacionais.
Em 1852 a Comissão dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos e Cadastrais do Reino passou a
pertencer ao Ministério das Obras Públicas. Um ano depois, Filipe Folque contratou o artista polaco
João Lewicki, para introduzir o sistema de gravura de cartas em pedra.
A primeira folha gravada da carta Corográfica de Portugal na escala de 1:100.000 é publicada em
1856, a segunda em 1858 e a terceira em 1859.
6
NADEAU, Luis (2006), Encyclopedia of Printing, Photographic and Photomechanical Processes, Fredericton, NB (Canada), 1st eBook ed., V. 1.1.
7
WOODWARD, D. (edit) (1975). Five Centuries of Map Printing, Chicago, the University of Chicago Press, p. 146.
WOODWARD, D. (edit) (1975). Op. cit., p. 149.
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Fig. 1 - Filipe Folque9
Em 1872 é criada a Secção Fotográfica para reprodução cartográfica com a designação de Secção
Photographica da Direcção Geral dos trabalhos Geodesicos, Topographicos, Hydrographicos e
Geologicos do Reino, mais tarde chamada de Secção Artística e é nomeado José Júlio Rodrigues para
seu director.
José Júlio Bettencourt Rodrigues (1843-1893, figura 2), formou-se na Universidade de Coimbra em
1867 com um Bacharelato em Matemática e Filosofia. Foi professor da 6.ª cadeira (Química
Inorgânica) da Escola Politécnica, como lente Substituto de 1867 a 1887 e como lente proprietário de
1887 a 189310. Exerceu igualmente a docência no Instituto Industrial de Lisboa. Foi director da
Secção Photographica (Artistica) da Direcção Geral dos Trabalhos Geodesicos, Topographicos,
Hydrographicos e Geologicos do Reino de 1872 a 1879 e director da fábrica nacional de tinta de
impressão em 1872. Foi sócio da Academia de Ciências de Lisboa, sócio fundador da Sociedade de
Geografia de Lisboa, membro da Sociedade de Geografia de Paris e membro da Société Française de
Photographie (SFP) desde 1875.
“O Illmº e Exmº Sr. Conselheiro / FILIPPE FOLQUE GENERAL DE BRIGADA GRADUADO / Director Geral dos Trabalhos Geodesicos Estatisticos e de
Pesos e Medidas Presidente da Commissão Directora dos Trabalhos Geologicos do Reino”. Gravador: Novaes. Sem data. Arquivo Histórico do IGP.
10 MATOS, Ana Maria (1996). O Final do Século XIX Português visto através de 28 anos de Vida Pública de José Júlio Rodrigues in O Laboratório de
Química Mineral da Escola Politécnica de Lisboa (1884-1894), Lisboa, Ed. por Ana Luísa Janeiro, Elisa Maia e Pilar Pereira, p. 99.
José Júlio Rodrigues destacou-se a nível europeu na área da Química, estando ligado a Wurtz, von Hofmann e M. Frémy. Teve um papel preponderante
no dimensionamento, modernização e organização do Laboratório Chimico da Escola Politécnica de Lisboa. Introduziu um curso prático de Química,
alterando o modelo vigente em que os alunos se limitavam a ouvir ou a visualizar demonstrações feitas pelo professor.
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Fig. 2 – José Júlio Rodrigues11 (segundo uma fotografia de Camacho)
Antes de iniciar as actividades da Secção Fotográfica, José Júlio Rodrigues promoveu a realização de
obras de reparação no edifício no antigo Convento de Jesus12, tendo a Secção ficado com 46
compartimentos e uma área útil de cerca de 700 m2. Foi o primeiro estabelecimento do mundo a
utilizar a energia eléctrica para este tipo de trabalhos. Segundo Rodrigues: “Devo apontar ainda, por
me parecerem dignas de attenção: - as disposições preventivas contra incêndio; - as canalisações do
gaz, da água, dos despejos líquidos inúteis e dos resíduos photographicos aproveitáveis; - a
ventilação das officinas; - a distribuição da electricidade (iluminação d’ officinas, photographia
eléctrica, luz eléctrica simples).” 13
Os trabalhos realizados pela Secção Fotográfica foram agrupados de acordo com a seguinte
classificação: Processos Fotográficos (figura 3), Reducções pelo Cahouchou e Estampagem com tintas
de impressão (figura 4)14:
11
OCCIDENTE (1892), Vol. 15, nº 496, pag. 217
12RODRIGUES,
José Júlio (1876). A Secção Photographica ou Artística da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésico no dia 1 de Dezembro de 1876,
Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias, p. 14.
13
RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 15.
14
RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 28 e 29.
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Fig. 3 – Processos Fotográficos
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Fig. 4 – Estampagem com Tintas de Impressão
Dos processos utilizados destacam-se:
Fotolitografia
Método de impressão pela fotografia do desenho de uma carta sobre pedra, utilizando gelatina
bicromatada e atintamento com tintas gordas seguido da revelação da imagem. Rodrigues utilizava
pedras particularmente planas e recobria-as com uma camada muito fina de gelatina bicromatada,
de tal maneira que a mistura restante era praticamente a que ficava nos poros da pedra, e que não
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afectava a qualidade das reproduções. Era feita a exposição durante alguns minutos ao Sol ou à luz
eléctrica15.
Devido à dificuldade de obter pedras com superfícies completamente planas para estender sobre
elas uma camada muito fina de gelatina, este processo foi parcialmente abandonado e passou a
utilizar folhas de estanho ou de zinco muito finas (fotozincografia - figura 5)
Deste modo podia obter fac-simile de desenhos primitivos obtendo depois na prensa tipo litográfica
dezenas de provas que podia colocar directamente sobre a pedra ou o cobre.
Segundo Rodrigues16 a fotolitografia sobre estanho tinha a vantagem de se poder obter dezenas de
provas sendo o único método que podia aplicar-se à fotolitografia geográfica, qualquer que fosse a
dimensão do trabalho final.
Fig. 5 – Placa de zinco utilizada para Fotozincografia17
15
GRANDIDIER, Alfred (1882). Op. cit., p. 362.
16
SOCIÉTÉ FRANÇAISE DE PHOTOGRAPHIE (1874). Bulletin de la Société Française de Photo-graphie, Paris, Gauthier –Villars, p. 148 a 154.
17
Placa de zinco utilizada na primeira zincografia feita em Portugal sob a direcção de José Júlio Rodrigues em 1875 (espólio do Instituto Geográfico
Português - IGP)
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Heliogravura (fotogravura) tipográfica em relevo
A Secção Fotográfica utilizava dois processos de heliogravura sobre cobre, com recurso à gelatina
bicromatada e ao betume da Judeia.
Este método consistia em recobrir uma placa de cobre com uma camada de gelatina bicromatada ou
betume da Judeia, que era exposta ao Sol através do cliché ou desenho que se queria gravar. A luz
atravessava o cliché que o interceptava mais ou menos completamente, esculpia a imagem na
camada de gelatina, tornado parte insolúvel, protegendo o metal. As superfícies que não sofreriam
alteração eram permeáveis ao percloreto de ferro (cloreto de ferro III) e eram atacadas na razão
inversa da acção luminosa. A heliogravura com gelatina era melhor para obras delicadas. Pelo
contrário a utilização do betume da Judeia era mais simples, sendo de grande utilidade para a
cartografia, devido a ser um processo muito rápido e pouco dispendioso16.
Rodrigues organizou um conjunto de trabalhos onde utilizou a luz eléctrica em vez da do Sol,
obtendo uma nitidez e um detalhe maior (figura 6).
Redução e ampliação das cartas pelo Caoutchouc
A utilização do caouchouc passou a permitir executar com rapidez ampliações ou reduções graças à
sua elasticidade. Tomava-se uma folha muito fina não vulcanizada que se colocava sobre uma
moldura de lados móveis e obrigava-se por tracções sucessivas a sua dilatação em todos os sentidos.
Segundo Rodrigues: “Se agora estamparmos sobre a lamina, convenientemente distendida, um
desenho qualquer, deixando-a depois da estampagem retomar as dimensões antigas, encolherá com
ella a estampa que recebeu e que póde por uma nova operação litographica ser deposta sobre outra
pedra, que receberá o trabalho já reduzido e até mais perfeito (..).”
18
Apesar de este método na forma tipográfica ser conhecido desde 1860, com Henri Plon, só com
Rodrigues, é que se tornou uma verdadeira prática (figura 7).
18
RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 48.
8
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Fig. 6 – Carta Geográfica de Portugal – Heliogravura sobre Cobre19
19
Carta elaborada em Março de 1876 na Secção Fotográfica (espólio do IGP)
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Fig. 7 – Carta Geográfica de Goa com redução
Principais Trabalhos Executados pela Secção Fotográfica
Além da elaboração de mapas, a secção fotográfica também realizava trabalhos para outras
instituições
ou
particulares,
nomeadamente
reproduções
fotográficas,
fotolitografias
e
heliogravuras.
No livro de receitas da secção de 1873 a 187820 podemos encontrar a referência a trabalhos
realizados para o Observatório Infante D. Luiz, Academia de Ciências, Escola Médico-Cirúrgica de
Lisboa, e para diversos jornais e instituições. Foram também executados serviços nesta secção a May
Figueira, José Barbosa du Bocage e Raphael Bordallo Pinheiro
20RECEITA
EVENTUAL DA SECÇÃO PHOTOGRAPHICA DE 1873 a 1878, Arquivo do Instituto Geográfico Português.
10
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3.
Processos Fotomecânicos e Elaboração dos Mapas a Cor
Cromolitografia-Método de Charles Eckstein
Este método utilizava a impressão fotolitográfica e cromolitográfica para a reprodução de mapas no
Departamento Topográfico do Ministério da Defesa, Holanda (1864-1910) onde C. Eckstein era
director. De todos os métodos novos este foi sem dúvida um dos mais fecundos para a reprodução
das cartas, permitindo à arte cartográfica um grande desenvolvimento após 1867.
Os métodos de impressão usados na época da Exposição Universal de 1878 empregavam cores
variadas para tornar diferentes aspectos distintos da natureza. A maior parte das cartas que
figuravam na exposição eram policromáticas.
A cromolitografia permitia a representação de documentos complexos de geologia, estatística,
etnologia, etc. O procedimento normal era simples: fazia-se um transporte da carta sobre a pedra,
com a qual se obtinha sobre outras pedras um certo número de decalques. Deixava-se sobre uma
delas as vias, sobre outra as construções e as casas, sobre uma terceira as águas, etc. Fazia-se um
registo em bistre para orografia, a primeira pedra decalcava-se a negro, a segunda a vermelho, a
terceira a azul, etc. Com os diferentes traçados sobrepostos obtinha-se assim uma carta em
diferentes cores, que reproduzia fielmente o original.
Para evitar a utilização de um grande número de pedras, cerca de 1860, Eckstein inventou um
método mais simples, que não exigia para a tiragem da carta cromolitográfica mais do que cinco
pedras: uma para o relevo, uma segunda para a toponímia e três para as cores primárias (azul,
vermelho e amarelo) e cada uma originava numa só tiragem as diversas nuances da sua cor, sendo
que a sobreposição de diversas cores produzia uma grande variedade de tons.
As três pedras que eram destinadas a imprimir as três cores primárias, depois de serem
delicadamente polidas, recebiam do mesmo negativo uma imagem fotográfica (a carvão) e eram
cobertas de seguida de uma camada, resistente aos ácidos, de cera e de betume da Judeia que, uma
vez seca, era cortada por um diamante embutido numa máquina de gravar, num processo
semelhante ao desenvolvido em 1882 por Messenbach21 (figura 8).
21
GRANDIDIER, Alfred (1882). Op. cit., p. 370.
11
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Fig. 8 – Cartas Topográficas da Holanda (topo e pormenor no centro) e de Java obtidas pelo método
de Eckstein22
José Júlio Rodrigues utilizou igualmente a cromolitografia na produção de cartas. É exemplo disso a
primeira carta geológica publicada por este método (figuras 9 e 10) feita em duas metades com
vinte cores na escala de 1:500 000.
22
Conjunto de mapas enviados pelo ministro de Guerra da Holanda, G. J. Klerck, em conjunto com uma carta onde refere a
disponibilidade para receber um técnico português a fim de estudar os métodos utilizados no Instituto Topográfico da Holanda
(Arquivo do IGP).
12
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Fig. 9 – Carta Geológica de Portugal23
Fig. 10 – Pormenor da Carta Geológica24
23
Carta Geológica de Portugal, obtida por cromolitografia em 1876 sob a direcção de Rodrigues. (Arquivo do Ex-Instituto
Geológico e Mineiro: Biblioteca do Campus de ASlfragide / I.N.E.T.I.).
24
“Primeira carta publicada em chromolytographia pelo serviço geológico de Portugal. Gravou-se expressamente uma nova
base geographica, que é cópia simplificada da carta geographica levantada pelo “Instituto Geographico” em 1860 a 1865.
Desta primeira edição da Carta geológica fizeram-se duas tiragens: uma de um reduzido numero de exemplares, para figurar
na exposição de Philadelphia de 1876, e outra, mais numerosa, poucos meses depois, diferindo da primeira em alguns pontos
13
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Cromocuprografia
Utilizando esta técnica era possível
obter-se diversos tons de uma mesma
cor, com concen-trações graduais do
mordente
percloreto
de
ferro
(cloreto de ferro III) sobre uma placa
revestida de pó fino de resina que se
sujeitava a um início de fusão para
obter as rugosidades superficiais.
Fig. 11 - Ensaios de Cromocupografia
realizados por José Júlio Rodrigues25
Este método permitia obter desta forma
uma quantidade grande de tons diferentes
e por tiragens sucessivas, praticamente
todas as cores.
Rodrigues conseguiu obter uma graduação
mais
suave e fina, adicionando
uma
substância opaca em pó à camada sensível,
como a argila vermelha ou o sesquióxido
de ferro (óxido de ferro III), que não
atacam a gelatina bicromatada, nem o
percloreto de ferro26 (figuras 11 e 12).
Fig. 12 - Ensaios de Cromocupografia realizados por José Júlio Rodrigues27
das formações paleozóicas do Baixo Alentejo e em algumas cores convencionais. A tiragem total foi de 1:000 exemplares.
Esta prova pertence à edição de 1876, que foi a Philadelphia. L. Couceiro” (Arquivo do IGP).
25
Cromocupografia realizada por Rodrigues com a data 24 de Outubro de 1877. ©Societé Française de Photographie_tous
droits reserves.
26
GRANDIDIER, Alfred (1882). Op. cit., p. 371.
27
Cromocupografia realizada por Rodrigues com a data 24 de de Outubro de 1877. ©Societé Française de Photographie_tous
droits reserves.
14
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4.
Aplicação da Tipografia na Composição e no Desenho das Cartas - Processo de
typoautographia
A gravura à mão da Toponímia nas cartas era habitualmente demorada e fastidiosa. Por volta de
1870 começaram-se a utilizar vários processos tipo-autográficos com bons resultados. Os nomes,
palavras ou algarismos eram escritos em separado e compostos em tipo usual e estampados
tipograficamente sobre uma tira de papel especial.
A impressão era trabalhada de diferentes modos. Nos originais para reproduções fotográficas a carta
era desenhada a lápis sobre cartão e os elementos impressos eram colocados nos respectivos lugares,
cobrindo-se depois com tinta e posteriormente fotografada. Nas cartas obtidas por transporte
autográfico, esta era desenhada sobre papel autográfico, e repetia-se o procedimento anterior, com
a diferença de que eram impressas em papel de transporte as palavras ou algarismos.
Segundo WALLIS e ROBINSON28 este método foi utilizado pela primeira vez em 1878 por Rodrigues e
manteve-se inalterável até cerca de 1920. Como o próprio Rodrigues referiu: “Estes processos typoautographicos,
existem
de
vários
que
ja
specimens
(figura 13), fabricados pela
Secção
Photographica,
parecem-me
de
utilíssima
inovação, com a qual muito
lucrará a Direcção geral dos
trabalhos geodésicos”.29
Fig. 13 - Pormenor de Extracto Chorografico dos Concelhos de Mafra e Cintra30
28
WALLIS, H. M. e ROBINSON, A. H. ( edit) (1987). Cartographic Innovations – An International Handbook of Mapping Terms to
1900, Map Collector Publications Ltd. Com a International Cartographic Association, p. 259.
29
RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 54.
30
“Typo-autographia reduzida pelo cahoutchouc e estampada a vapor no prelo litographico de Voirin. Pertence o original d ’este
specimen a um excelente trabalho do Sr. Estacio da Veiga, cuja copia, em parte inexacta, se apresenta aqui tão sómente a
titulo de exemplo do processo, que foi descripto (...)” in RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., espécimen 12.
15
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5.
Câmaras e Objectivas
Ao ser convidado por Filipe Folque para dirigir a Secção Fotográfica, José Júlio Rodrigues não só
estudou e aprofundou as inovações existentes na época sobre os processos fotográficos e
fotomecânicos, como se propôs equipar esta Secção com máquinas e aparelhos vindos de várias
parte da Europa de fabricantes de instrumentos de reconhecida reputação31.
Destes equipamentos são de destacar:
o
prelo
litográfico
Voirin
para
estampagem a cromo, movido a vapor,
permitia 280 a 300 tiragens por hora;
máquina magneto-eléctrica de Gram-me
– movida a vapor, podia funcionar
durante muitas horas consecutivas;
grande aparelho fotográfico Dall-meyer,
que
compreendia
uma
câmara
fotográfica de mogno, com 1,08 m de
altura, 1,08 m de largura e 2,70 m de
comprimento, (figura 14)32.
Fig. 14 – Aparelho fotográfico Dallmeyer33
pequeno aparelho fotográfico Dallmeyer com câmara de mogno, de gaveta, tendo 0,56 m de
altura por 0,55 m de largura e 1,13 m de comprimento.
câmara Dallmeyer de dimensões 24,5 cm x 28,0 cm x 18,0 cm (figura 15).
31
“Raros são os estabelecimentos que, como este, no curto espaço de 4 annos, apesar de muitos mezes perdidos com
trabalhos de instalação , dotaram o paiz com processos novos, seus e alheios, importando e fazendo funccionar com
promptidão e manifesta utilidade diversas machinas e apparelhos, absolutamente desconhecidos entre nós e ainda hoje
pouco vulgarisados no estrangeiro.” In RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 13.
32
RODRIGUES, José Júlio (1876). Op. cit., p. 20.
33
Fotografia do arquivo do IGP.
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câmara fotográfica G. Hare (figura 16)
objectivas Dallmeyer (triple Achromatic lens, rapid rectilinear- figura 17)
objectivas Lerebours (figura 18 )
objectivas aplanáticas Steinheil, com grande angular, indicada para a reprodução e ampliação
de cartas.
Fig. 15 – Câmara fotográfica Dallmeyer, n.º de
inventário M 35934
Fig. 16 – Câmara fotográfica G. Hare, n.º de
inventário M 36035
Fig. 18 – Objectivas Lerebours, n.ºs de inventário
M 47 e M 48 37
Fig. 17 – Objectivas Dallmeyer, N.º de
inventário M 168 e M 16736
34
Câmara fotográfica do espólio do IGP, n.º de inventário M 359, de cerca de 1860.
35
Câmara fotografia do espólio do IGP, n.º de inventário M 360: “IGC 360”, inscrição em placa de marfim “G. Hare /
Manufacturer / 24 Caltorpe – S.I. London”, de cerca de 1877.
36
Objectivas do espólio do IGP: N.º de inventário M 168: “IGC 168”, possui a inscrição: “Triple Achromatic lens / J. H. Dallmeyer
London N. 2500”. É referida por Rodrigues como “(33). – Dallmeyer – triple achromatic [diâmetro visível da lente anterior = ]
0m,115”. O seu número de série indica que é anterior a 1860. N.º de inventário M 167: “IGC 2463”; inscrição “N. 24001 J.H.
Dallmeyer 22x20 London / Rapid Rectilinear Patent”. É referida por Rodrigues como: “(32). – Dallmeyer – rapid rectilinear
[diâmetro visível da lente anterior = ] 0m,093”. O seu número de série indica que é de final de 1874.
37
Objectivas pertencentes ao espólio do IGP, com os seguintes números de inventário: M 47 e M 48. Possuem as seguintes
inscrições: “N.º 4030 Lerebours et Secretan à Paris” e “N.º 3679 Lerebours et Secretan à Paris”. Os seus números de série
indicam que são de cerca de 1847.
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6.
Participação da Secção Fotográfica em Exposições Internacionais e Prémios
A Secção Fotográfica participou nas seguintes exposições internacionais:
Em 1874, na 10.ª Exposição Internacional da Sociedade Francesa de Fotografia (SFP) em Paris,
tendo recebido uma Medalha.
Em 1875, na Exposição do Congresso Internacional de Ciências Geográficas da SGP, onde recebeu
uma Carta de Distinção no 1.º grupo, uma Medalha de 2.ª classe no 2.º grupo e uma Menção
Honrosa no 5.º grupo.
Em 1876, na 11.ª Exposição Internacional da SFP em Paris, tendo recebido uma Medalha de
prata. Neste mesmo ano participou na Exposição Internacional de Filadélfia, tendo recebido uma
Medalha. Nesta exposição foi apresentada a carta geológica de Portugal (fig. 9) que também foi
exposta na Exposição Universal de Paris de 1878.
7.
Em 1878 participou na Exposição Universal de Paris tendo recebido dois diplomas de honra.
Conclusões:
A Secção Photographica e o seu Director José Júlio Rodrigues foram pioneiros na introdução em
Portugal da aplicação dos processos fotomecânicos na elaboração de mapas, tendo desenvolvido e
aperfeiçoado alguns destes processos, nomeadamente, a fotozincografia, a fotolitografia com placas
de estanho, a toponímia, bem como a impressão a cores.
Como futuras investigações pretendemos realizar um estudo detalhado dos processos químicos
utilizados na fotografia e nos processos fotomecânicos bem como dos aparelhos fotográficos e
objectivas empregues na sua execução. Pretendemos igualmente aprofundar o papel de Rodrigues
nas expedições científicas a Africa, a correspondência e colaboração com outros institutos
geográficos europeus e ainda as relações que estabeleceu com o Brasil.
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Agradecimentos:
Agradece-se a colaboração prestada:
Ao Instituto Geográfico Português (IGP), nomeadamente ao Dr. Paulo Estrela, pela sua participação
activa na investigação do espólio existente.
À Societé Française de Photographie (SFP) e aos historiadores António Sena e Luis Nadeau.
Bibliografia:
Fontes primárias:
-
Documentos do Espólio da Secção Photographica, IGP.
Fontes Impressas:
-
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1 josé júlio rodrigues e a sua contribuição para o