IMPACTOS CAUSADOS PELA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA E PELA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL NA AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA. Hugo Ely dos Anjos Ramos1, Ludmila Monteiro da Silva2, Heloísa Márcia dos Reis Siqueira3, Hildo Giuseppe Garcia Caldas Nunes4, Josenilde Sargem Florêncio5. RESUMO -A floresta amazônica, sendo a maior floresta do trópico úmido, tem um importante papel no regulamento do clima global. Ultimamente, esse ecossistema vem sendo alterado devido à necessidade de suprir o comércio mundial do setor madeireiro, onde a área da floresta devastada vem crescendo anualmente, e conseqüentemente alterando a temperatura, o regime hídrico e a predominância dos ventos na região. Por outro lado, nos últimos anos indústrias siderúrgicas vieram se estabelecer na Amazônia, principalmente no sul e sudeste do estado do Pará e no oeste do estado do Maranhão. Pois, precisavam de custos com baixos valores para produzir o minério de ferro, encontrando na utilização do carvão vegetal o material para baratear os custos de produção. Mas, o processo de fabricação do carvão vegetal ocasiona problemas como a dispersão de gases, problemas sociais e de saúde na população local, e afeta o clima na Terra. ABSTRACT- The Amazonian forest, being the biggest forest of the humid tropic, has an important role in the regulation of the global climate. Lately, this ecosystem has being modified due to necessity to supply the world-wide commerce of the wood shop sector, where the deforestated forest area comes annually growing, and consequently modifying the temperature, the hydric regime and the predominance of the winds in the region. On the other side, siderurgical industries had in recent years come to establish in the Amazônia, mainly in the south and Southeast of the state of Pará and in the west of the state of the Maranhão. Therefore, they needed costs with low values to produce the iron ore, finding in the vegetal coal use material to lower the production costs. But, the vegetal coal manufacture process causes problems as the social dispersion of gases, social and health problems in the local population, and affects the climate of the Land. Palavras-Chave: Impactos; Madeira; Carvão. _____________________________________ 1 Estudante de Graduação em Meteorologia da UFPA. Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110, Tel.: (91) 32018106, Belém, PA. E-mail: [email protected]. 2 Estudante de Pós-graduação do Curso de Ciências Ambientais da UFPA-MPEG-EMBRAPA. Av. Perimetral, 1901, Terra Firme, CEP: 66077-530, Tel.: (91)3217-6060. E-mail: [email protected]. 3 Estudante de Graduação em Meteorologia da UFPA. Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110, Tel.: (91)32017412, Belém, PA. E-mail: [email protected]. 4 Estudante de Graduação em Meteorologia da UFPA. Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110, Tel.: (91)3201-7412, Belém, PA. E-mail: [email protected]. 5 Estudante de Graduação em Meteorologia da UFPA. Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110, Tel.: (91)3201-7412, Belém, PA. E-mail: [email protected]. INTRODUÇÃO O clima do mundo é afetado com a destruição das florestas tropicais, pois elas regulam a temperatura, o regime de ventos e de chuvas. De forma que, em áreas cobertas pela floresta amazônica, a remoção do dossel resulta no aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, maior regime hídrico dos igarapés, aumento da temperatura próxima à superfície do solo e maior perda de nutrientes através da decomposição e lixiviação do mesmo, Vieira et al. (1993). Por outro lado, a produção do carvão vegetal, que atende a modernização tecnológica advinda de uma estratégia de ocupação da região amazônica através da siderurgia, consome anualmente cerca de 1,9 milhões toneladas desse produto, Aquino (2003). Ou seja, o desmatamento, no qual o carvoejamento é mais vetor de reforço, intervém sobre ecossistemas que desempenham grande número de papéis ambientais profundamente interligados entre si, mas bastante frágeis e pouco conhecidos, Monteiro (1998). Sendo assim, com base em estudos realizados a partir de referências bibliográficas, o objetivo principal deste trabalho é mostrar alguns aspectos dos impactos causados pela exploração madeireira e pela fabricação de carvão vegetal, os quais contribuem para a destruição da Amazônia oriental, especialmente na região Sul e Sudeste do Pará e na parte Oeste do Maranhão. DISCUSSÕES Impactos ambientais causados pela exploração madeireira. A exploração de madeira na Amazônia vem ocorrendo há mais de 300 anos. Inicialmente, a atividade não causava grande impacto à floresta. Os madeireiros exploravam apenas um pequeno número de espécies, transportando as toras pelos rios. Entretanto, nos últimos trinta anos, a demanda por madeiras da Amazônia cresceu, principalmente, após a destruição da Mata Atlântica, que era a principal fonte de matéria-prima do Brasil, Alho (1986). A velocidade da degradação da floresta na Amazônia e os protagonistas da destruição têm variado, e como não houve investimento suficiente em reflorestamento para abastecer o mercado, as florestas nativas da Amazônia tornaramse a principal fonte de madeira para o mercado nacional e, cada vez mais, para o internacional, Martins (1980). O processo destrutivo ocorre gradativamente. Primeiro, os madeireiros exploram as espécies mais valiosas como o mogno (Swietenia macrophyla), ipê (Tabebuia sp) e cedro (Cedrela odorata). Para isso, eles abrem estradas, depois selecionam e derrubam as melhores árvores. Tratores são usados para arrastar as toras do interior da floresta para pátios de estocagem na margem das estradas. A floresta explorada intensivamente é altamente suscetível a incêndios. A luz penetra no 2 interior da floresta através das clareiras e seca a matéria orgânica morta (folhas, troncos e galhos), tornando-a combustível, Veiga (1993). No entanto, os incêndios florestais têm sido muito freqüentes na Amazônia. O fogo usado para a limpeza de áreas desmatadas e pastagens, sem o devido controle, escapa para áreas exploradas. Um primeiro incêndio florestal rasteiro pode matar 40% das árvores. A morte destas árvores cria mais combustível (galhos e troncos caídos) que pode resultar em um incêndio devastador subseqüente. Neste caso, mais de um século seria necessário para a recuperação da área de floresta original, Nepstad (1999). A tabela 1 mostra uma demanda de área florestal amazônica destruída num período de dez anos. Tabela 1-Área desmatada da Amazônia, em quilômetros quadrados, nos últimos dez anos. Ano 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Área (Km²) 14.896 29.059 18.161 13.277 17.383 17.259 18.226 18.165 23.266 24.430 26.130 Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2004). Por outro lado, a tabela 2 mostra a participação de alguns estados no desmatamento entre os anos de 2001 e 2004. Podemos observar que entre agosto de 2003 e agosto de 2004, foram derrubados 26.130 km² de florestas na Amazônia Brasileira, segundo as estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa referente à 2004 só é inferior à marca histórica de 1995, quando 29.059 km² foram derrubados. Os estados do Pará e do Maranhão correspondem cerca de 30% do total devastado. E o estado do Mato Grosso, nos últimos anos tem aumentado a sua área devastada devido a expansão da fronteira agrícola, principalmente, para a cultura da soja, sendo o líder de desmatamento da floresta amazônica brasileira. Tabela 2: Participação de alguns estados brasileiros na devastação da floresta amazônica. Área total desmatada na Amazônia brasileira entre 2001 e 2004 2001-2002 2002-2003 2003-2004 ESTADOS Total Total (Km²) % Total (Km²) % % (Km²) 8.177 35,6 10.458 42,5 12.586 48,1 Mato Grosso 8.288 36,1 6.880 28,0 6.724 25,7 Pará 3.586 15,6 3.369 13,7 4.141 15,8 Rondônia 874 3,8 1.734 7,0 1.054 4,0 Amazonas 727 3,2 978 4,0 803 3,1 Acre 1.044 4,5 986 4,0 725 2,8 Maranhão 259 1,1 190 0,8 107 0,4 Tocantins 5 0,0 3 0,0 0,0 Roraima 23.143 100 24.597 100 26.130 100 Total Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2004). 3 Impactos causados pela fabricação de carvão vegetal. A produção do carvão vegetal no cenário amazônico, dentre outras finalidades é utilizada, principalmente, para atender a indústria siderúrgica localizada no Projeto Grande Carajás, que consiste em várias siderúrgicas localizadas nos estados do Pará e Maranhão, utilizando o carvão para produção de ferro gusa e outros minérios que são encontrados na região. Segundo Monteiro, (1998), a produção do carvão vegetal, utilizada como fonte de suprimento a biomassa oriunda da cobertura vegetal nativa, também, amplia a pressão sobre grandes áreas que abrigam florestas tropicais úmidas na Amazônia brasileira. Pois, a aquisição do carvão vegetal absorve parcela expressiva dos custos que envolvem a produção de ferro-gusa, ou seja, representam, em média, 40% dos custos operacionais relativos à produção de uma tonelada desse último. Para produção de uma tonelada de ferro-gusa são necessários em termos gerais, 875 kg de carvão vegetal, cuja produção, por sua vez, requer a utilização de pelo menos 2.600 kg de madeira seca, que em termos médios tem uma densidade de 360 kg/m³, o que implica – quando se utiliza lenha originária de matas nativas – necessidade de se recorrer a um desmatamento de pelo menos 600 m² de matas primárias, se esta possuir um potencial madeireiro útil para a carbonização em torno de 120 estéreos por hectare (st/ha), Monteiro (1998). Evolução do consumo nacional de Carvão vegetal Metros cúbicos (m³) Metros cúbicos (m³) Consumo de carvão vegetal dos estados do Pará e Maranhão 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 1998 1999 2000 Quantidade consum ida 2001 2002 2003 2004 Anos 20.000 15.000 10.000 5.000 1998 1999 Floresta nativa Floresta plantada 2000 2001 2002 2003 2004 Anos Figura 1- (a) Consumo de carvão vegetal nos estados do Pará (PA) e Maranhão (MA); (b) Evolução do consumo nacional de carvão vegetal. Fonte: Associação Mineira de Silvicultura (2004). De acordo com a Figura (1.a), se pode observar que o consumo de carvão vegetal pelas siderúrgicas vem crescendo acentuadamente desde o ano 2000, devido ao seu baixo custo de produção, se comparado ao custo de produção do carvão mineral. Já a Figura (1.b), mostra o grande consumo de carvão proveniente de árvores derrubadas de florestas nativas, contribuindo, assim, para a modificação mais acentuada dessas áreas. Basicamente a produção de carvão vegetal implica na dispersão de grande quantidade de matéria e energia, iniciada com a derrubada da mata e prosseguindo durante o processo de 4 carbonização: a madeira pela ação da temperatura é decomposta em um produto sólido, o carvão vegetal; e gases voláteis, composto de uma fração que pode ser liquefeita: o material pirolenhoso, e em uma fração não condensável. Assim, do processo de carbonização aproveita-se apenas o carvão vegetal, dispersam-se gases, vapores d’água, líquidos orgânicos e alcatrão, Tabela 3. Este último tem significativo valor comercial e elevado poder calorífico (6,5x10³ Kcal/kg), Monteiro (1998). Tabela 3: Produtos obtidos na carbonização de 16 espécies de madeira da Amazônia Produtos Carvão vegetal Pirolenhosos Produtos orgânicos Água Gases Total Rendimento (base seca), %. 33,72 11,68 10,50 26,60 17,50 100 Fonte: Aquino (2003). Por outro lado, é relevante constatar o nível de caotização de espaços urbanos decorrentes da produção do carvão vegetal. Como um exemplo disso, se tem o município de Jacundá no Estado do Pará, onde todas as serrarias e carvoarias estão instaladas dentro da área urbana, submetendo a população aos efeitos danosos da fumaça e partículas emitidas durante o processo de carbonização. Essa condição de localização das carvoarias o mais próximo possível das madeireiras é uma das condições para que se garanta a viabilidade econômica da produção do carvão vegetal. Embora isto implique na poluição de áreas urbanas, trazendo problemas à saúde humana, como: deficiências respiratórias, dores de cabeça, febre constante, irritações nas vistas, queimaduras, mutilações, dentre outras. E em algumas áreas, a fumaça invade rodovias, cidades e algumas aeronaves ficam impossibilitadas de concluírem seus vôos por falta de visibilidade, Monteiro (1998). CONCLUSÃO Os impactos ambientais oriundos do desmatamento promovido para obtenção de recursos naturais (madeira) e energéticos (carvão), reduzem a Floresta Amazônica gradativamente. De modo que a destruição das florestas por queimadas ou desmatamento acarreta num duplo impacto ambiental. Pois, as queimadas desprendem uma grande quantidade de dióxido de carbono e os desmatamentos, ao retirar a cobertura vegetal, reduzem a quantidade de água evaporada do solo e a produzida pela transpiração das plantas (evapotranspiração), acarretando numa diminuição no ciclo das chuvas. Além de provocar os efeitos climáticos diretos, o calor adicional pode destruir o húmus (nutrientes, microorganismos e pequenos animais) que promove a fertilidade dos solos. Como um fator agravante, a fabricação de carvão, além de aumentar a área de devastação da floresta primária, 5 também, contribui para um aumento de gases na atmosfera através do processo de carbonização. Por outro lado, essa atividade pode apresentar à população local por problemas de saúde, como: irritação da mucosa do nariz, asfixiamento e toxidez, que diminuem a capacidade do sangue de transpor o oxigênio e reduz a acuidade visual da pessoa exposta. Além disso, existem os problemas sociais que influem na dinâmica populacional, pois devido o baixo custo de produção, muitas famílias tem no carvoejamento a única alternativa para garantir seu sustento, sendo obrigadas a manterem seus filhos nos postos de trabalho para complementar a renda familiar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALHO, C. J. R. Manejo de conservação da natureza In: ALMEIDA JR., José Maria Gonçalves (org.), Carajás: desafio político e desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense; CNPq, 1986.p. 516-533. ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE SILVICULTURA. Anuário de 2004. Disponível em: <http:// www.showsite.com.br/silviminas/html/AnexoCampo/ANUAR2003site.pdf>. Acesso em: 25/08/2006. AQUINO, J. N. 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